Conteúdo étnico- racial no ensino da arte através dos museus virtuais:
um caminho para a inclusão social
Janine Alessandra Perini1
Larissa Antonia Bellé2
Universidade Estadual de Santa Catarina/UDESC
Resumo
Este artigo tem como objetivo a reflexão acerca da situação do aluno afrodescendente na
educação, visando a importância da aplicação da Lei 10.639/2003 e a relevância dos museus
virtuais com conteúdo étnico-racial. Acreditamos que as tecnologias da informação e da
comunicação, como a internet, sejam uma ferramenta pedagógica necessária para que o
professor de artes possa trabalhar a inclusão do aluno afrodescendente e de sua cultura.
Palavras-chave
Lei 10.639/2003; Museu Virtual; Afrodescendente; Inclusão; Internet.
Sommaire
Cet article a pour objectif une réfléxion autour de la situation de l'élève d'ascendance
africaine dans l'éducation, en vue de signaler l'importance de l'application de la Loi
10.639/2003 et la pertinence des musées virtuels ayant des contenus ethnoraciaux. Nous
soutenons que les technologies de l'information et de la communication telles que
l'internet soient un instrument pédagogique nécessaire pour que le professeur d'art
puisse travailler l'inclusion de l'élève d'ascendance africaine et de sa culture.
Mots-clés
Loi 10.639/2003; Musée Virtuel; Ascendance Africaine; Inclusion ; Internet.
1
Professora de Artes do Instituto Técnico Federal de Santa Catarina, IF-SC. Mestranda do Programa de PósGraduação em Artes Visuais/PPGAV da Universidade do Estado de Santa Catarina-CEART/UDESC sob orientação
da Prof. Dra. Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva. Integrante do Grupo de Pesquisa Educação, Artes e Inclusão
UDESC/CNPq. Contato: [email protected]
2
Professora de Artes da Educação Básica da Rede Pública Estadual de SC e do Curso de Licenciatura em Artes
Visuais do Centro Universitário Leonardo da Vinci/UNIASSELVI-Polo FAMELAGES. Mestranda do Programa de
Pós-Graduação em Artes Visuais/PPGAV da Universidade do Estado de Santa Catarina-CEART/UDESC sob
orientação da Prof. Dra. Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva. Bolsista da CAPES. Integrante do Grupo de
Pesquisa Educação, Artes e Inclusão UDESC/CNPq. Contato: [email protected]
166
O povo afro-brasileiro há muito tempo vem lutando pela igualdade de
oportunidades e de condições sócio-econômicas nos diversos setores da sociedade
brasileira. Estudos surgem para comprovar que a educação é um dos fatores principais
para que a população afrodescendente ascenda socialmente em nosso país.
Ao inserir a cultura afro-brasileira, incluindo conteúdos de história da África,
dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e suas contribuições
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil, estamos
ampliando a autoestima de nossos alunos e reconhecendo a importância dessa cultura
em nosso país. O aluno afrodescendente buscará sua identidade e o aluno de outra
origem poderá ter um olhar diferenciado, sem preconceito, mas de reconhecimento de
uma diversidade racial e, principalmente, cultural. Com isso, estaremos corrigindo
injustiças, eliminando discriminações e promovendo a inclusão e a cidadania para todos
no sistema educacional brasileiro.
A inclusão, neste texto, refere-se à inserção do afro-brasileiro nas diversas
camadas sociais do país, bem como nos diversos setores da sociedade brasileira. São
conceitos recentes no universo educacional, em que alguns teóricos consideram apenas
como inclusão as pessoas com deficiência, outros, que qualquer pessoa que esteja à
margem da sociedade, do ponto de vista social e econômico e que não tenha acesso a
todas as necessidades básicas para sua plena satisfação pessoal, ou, ainda, que passe por
situações de humilhação ou inferiorização diante de características pessoais físicas ou
culturais, como raça/cor, gênero, religião, sexualidade, entre outros.
O conceito de inclusão, como salienta ANJOS (2009), passou por um processo
de transformação, porém sempre levou em conta o lugar do indivíduo na sociedade, o
foco adotado pelo campo científico e as práticas decorrentes. O termo inclusão surgiu na
luta das pessoas com deficiência por acesso à educação.
Nunes explica que a partir das diretrizes básicas para a Educação Especial da
LDB, “o conceito de inclusão escolar começa a aparecer com frequência nos
documentos legais, e torna-se um termo abrangente, uma espécie de conceito “guardachuva”, que abriga toda sorte de sujeitos excluídos”. (MENDES, 2009, p. 18).
Conceitos como diferença, igualdade, equidade, integração e “o outro” vêm
colaborar para este estudo, mas também para pulverizar a convicção de que o ser
humano deve estar incluído em todos os espaços, independente de suas características.
167
Mantoan ressalta que “temos o direito de ser, sendo diferentes e, se já
reconhecemos que somos diferentes de fato, a novidade está em querermos ser
diferentes de direito”. (MANTOAN, 2004, p. 01) E neste ponto deve-se ressaltar a
sensibilidade e a generosidade do ser humano em ter capacidade de perceber no outro a
sua infinita diferença, respeitando-o e valorizando-o. Questionamentos de Mantoan são
pertinentes neste contexto:
Que valores éticos iluminam as nossas ações, na direção da inclusão escolar,
ou melhor, o que nos leva a lutar em favor de uma escola para todos?
Propostas e políticas educacionais que proclamam a inclusão estão realmente
considerando as diferenças na escola, ou seja, alunos com deficiências e
todos os demais excluídos e que são as sementes da sua transformação? Essas
propostas reconhecem e valorizam as diferenças, como condição que
possibilita o avanço, mudanças, desenvolvimento e aperfeiçoamento da
educação escolar? (MANTOAN, 2004, p. 02).
Essas e outras reflexões devem permear nossa prática para que tenhamos senso
crítico na escolha de nossas posturas como profissionais da educação, pois possuímos
um sério compromisso com o desenvolvimento e a formação da sociedade e com o
rompimento de velhos pensamentos e ideologias de dominação e superioridade de
alguns sobre outros.
A Lei 10.639/2003: a formação de professores de artes e o ensino de arte
A Lei 10.639/2003 é resultado de uma luta dos movimentos negros com o
objetivo de o Brasil reparar o sofrimento causado ao povo afro-brasileiro devido à
escravidão e à constante situação de discriminação, preconceito e racismo ocorridos
ainda hoje. A Lei estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana
e Afro-brasileira, principalmente nas disciplinas de História, Literatura e Artes no
currículo oficial da Educação Básica em escolas públicas e privadas.
Em nosso país, foi preciso essa Lei existir para que os conteúdos referentes às
questões étnico- raciais - excetuando temas como escravidão e pobreza na África, tão
largamente difundidos - pudessem estar assegurados nos bancos escolares. Porém, ainda
é comum as escolas e as instituições reguladoras das escolas, como secretarias de
168
educação, não terem em sua pauta de governo a aplicação da Lei como de fato deveria
ser.
Edson França, coordenador geral da União de Negros pela Igualdade (Unegro)
e membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), órgão
ligado à Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), fala
numa entrevista à revista Guia Prático para professores de ensino fundamental sobre
como o poder público se posicionou a respeito da aplicabilidade da lei:
Tenho percebido tímidos passos do poder público. Lamento que, após seis
anos de sancionada, não temos, por parte do MEC, uma proposta de
implantação da lei. Dependemos ainda de iniciativas de pessoas ou grupos
sensíveis à causa, embora a pressão social para a implantação seja contínua.
(FRANÇA, 2009, p. 07).
Por que discutir isso em um país como o Brasil, em que quase a metade da
população é afro-brasileira? Se juntarmos os habitantes pretos e pardos que foram
recenseados pelo IBGE em 2000, teremos um total de 69.649.861 habitantes, 47% do
total nacional. A população brasileira de matriz africana não é minoria, mas como
ressalta Souza e Croso, “o racismo no Brasil é fenômeno marcante, arraigado e vigente
na sociedade, e com contornos bastante particulares, capazes de caracterizar práticas e
manifestações racistas e preconceituosas, bem como os conflitos raciais e seus efeitos”.
(SOUZA e CROSO, 2007, p. 17).
Apesar de o Brasil ser considerado o segundo país em maior número de
população afrodescendente, ainda se fazem necessárias políticas públicas de reparação a
essa população, pois temos no senso comum e nas diversas instituições públicas e
privadas, o racismo institucionalizado, escamoteado nas relações humanas e sociais. “A
grande maioria - chamada de minorias - que, por sua vulnerabilidade, é mais atingida
por este fenômeno da exclusão social, carece de igualdade de condições para se inserir
como cidadãos na sociedade”. (SILVA, 2002, p. 30).
Nesse cenário, o professor de artes tem um papel social muito importante ao
envolver a temática sobre o negro e os afrodescendentes, trazendo à tona sentimentos de
justiça, dignidade e respeito às diferenças, rompendo com o naturalismo da
superioridade branca. Como revela NUNES (2009), a formação de professores de artes
visuais deve buscar os processos inclusivos e ter a pesquisa e os resultados como
169
referência para ações e práticas concretas em arte e inclusão escolar, social e cultural em
suas múltiplas determinações.
O professor, de modo geral, se não possuir sensibilidade e conhecimento na
questão das relações raciais, não percebe situações em que o aluno afrodescendente
possa estar sendo excluído, pois a exclusão escolar é o primeiro passo para a exclusão
social. A exclusão escolar pode vir associada ao silêncio praticado peles professores
quando vêm situações vexatórias de discriminação e de racismo que, segundo Rocha:
Na proposta educacional que se deseja construir, é necessário priorizar uma
visão positiva das diferenças étnico-raciais, edificando entre alunos e
educadores, relações mútuas de respeito, essenciais para a convivência entre
as diferentes identidades. O diálogo deve ser um dos instrumentos de
inclusão/interação entre os sujeitos socioculturais. (ROCHA 2009, p. 18)
Uma das formas de inclusão do aluno afrodescendente na escola são os museus
virtuais, pois o acesso está para todos neste espaço social, e ao tratar de conteúdo
étnico- racial, especificamente, nesse caso, de arte africana e afro-brasileira, faz com
este aluno se identifique de forma positiva e digna. Segundo Fonseca da Silva:
A escola reúne diversas ferramentas para propor mudanças deste quadro
produzindo a partir da reflexão de seus profissionais, estratégias que ampliem
a condição dos afro-descendentes dentro da sociedade na medida em que
sejam educados para orgulhar-se do seu pertencimento étnico. (FONSECA
DA SILVA 2005, p. 2)
O aluno afrodescendente precisa sentir-se parte integrante da escola, não sendo
exposto ao currículo oculto dos professores, que, em muitas ocasiões reforçam situações
de discriminação. Para que isso não aconteça, o professor deve estar em constante
processo de formação continuada, a respeito das políticas públicas e das concepções
sobre inclusão, tratados aqui, especificamente do aluno afrodescendente, como frisa
Souza e Pereira:
Constata-se que existe uma dicotomização entre o discurso e a prática, pois
as práticas são, geralmente, pseudo-inclusivas. E essa questão pode confundir
os professores a respeito de sua concepção/ação no campo da inclusão,
sobretudo, porque eles, geralmente, não sendo capacitados, não têm
condições de fazerem o discernimento. MAGALHÃES (2006 apud SOUZA e
OLIVEIRA 2007, p. 04)
170
O professor de artes, em sua prática pedagógica, precisa compreender a
importância de seu papel como formador de opinião frente à sociedade, levando para a
sala de aula referenciais sobre a história e a cultura afro-brasileira e africana, rompendo
com a exclusiva europeização dos conteúdos no currículo oficial.
Por esse mesmo caminho passam as tecnologias da informação e comunicação,
como a informática e a internet, segmentos contemporâneos utilizados na educação
como forma de aprendizagem, mas também de inclusão, e que podem colaborar para a
inserção do aluno afrodescendente a bens culturais que por muito tempo foram
elitizados e destinados a poucas pessoas privilegiadas.
Os museus virtuais com conteúdo étnico- racial na educação
Nos dias atuais não podemos negar a relevância das tecnologias da informação
e comunicação de ponta em nossas vidas, caso contrário estaremos regredindo. Basta
irmos a qualquer estabelecimento comercial ou órgão público ou privado para ver que
os computadores e a rede de alcance mundial (Internet) asseguram as transações que
antes levavam mais tempo e de forma menos eficiente.
Nesse ínterim, surgem os museus virtuais para estender seu acervo a todos que
têm acesso à Internet, sem a preocupação do espaço/tempo, ou seja, a preocupação com
deslocamento e acessibilidade física e temporal. Segundo Lima:
O surgimento do que se convencionou denominar ciberespaço abriu um novo
tipo de espaço para a inserção dos museus, de modo diferente do que se
acostumara a ver. Ou seja, de um tradicional espaço físico relacionado à
ocupação de um território material, tangível, o museu passou a se deparar
com o espaço virtual, material, intangível e também identificado por muitos
autores como desterritorializado. (LIMA, 2010, p. 1 e 2).
Os conceitos sobre o que é um museu virtual ainda diferem entre os
especialistas, mas Henriques, em sua dissertação de mestrado em Museologia, intitulada
“Memória, museologia e virtualidade: um estudo sobre o Museu da Pessoa” denomina
museu virtual como “um espaço virtual de mediação e de relação do patrimônio com os
utilizadores. É um museu paralelo e complementar, que privilegia a comunicação como
171
forma de envolver e dar a conhecer determinado patrimônio”. (HENRIQUES, 2005, p.
11). Também cito Nascimento que define como museu virtual:
Uma coleção logicamente relacionada de objetos digitais composta de
variados suportes, que em função de sua capacidade de proporcionar
conectividade e vários pontos de acesso possibilita-lhe transcender métodos
tradicionais de comunicar e interagir com visitantes (...), não há lugar ou
espaço físico, seus objetos e as informações relacionadas podem ser
disseminados em todo o mundo. ANDREWS e SCHWEIBENZ (1998 apud
NASCIMENTO 2009, p. 06)
Diante desse paradigma, deparamo-nos com a inserção do museu e seu acervo
em todos os espaços possuidores de tecnologias da informação e comunicação, e não
mais em um espaço restrito geograficamente, limitado a um grupo de pessoas com
facilidade de deslocamento e provido de condições econômicas favoráveis.
Levando-se em consideração que temos poucos museus físicos em nossas
cidades brasileiras, e muito menos, museus de arte, além do mais com conteúdo étnicoracial voltado para a arte africana e afro-brasileira, o surgimento dos museus virtuais
leva os bens contidos em espaços físicos apropriados para abrigar a arte, a cultura e a
história da humanidade a todos os alunos que estudem em escolas providas de
computadores conectados com a Internet e que tenham professores dispostos a encarar
esta ferramenta com o conhecimento apropriado.
A inclusão, atualmente, dá largos passos dentro do espaço escolar, por meio da
inclusão digital. Se o conteúdo for de cunho étnico- racial, voltado para a arte africana e
afro-brasileira, está sendo aplicada a Lei 10.639/2003, dando visibilidade à cultura afrobrasileira, tão importante na formação da identidade do povo brasileiro. O aluno
afrodescendente vê-se refletido nesta cultura, porque diz respeito aos valores éticos e
aos códigos estéticos do Brasil e da África e então se reconhece, porque percebe a
valorização e o respeito contidos nesta prática pedagógica.
Segundo Silva “a arte afro-brasileira é uma arte viva, não estereotipada. Mas na
sua evolução até as últimas transformações, ela vem preservando as estruturas tanto
mentais como puramente estéticas da África”. SILVA (2005, p.126 apud
BASTIDE,1979)
Isso é observado em museus de arte africana e afro-brasileira como o Museu
Afro Brasil, criado em 2004, tendo como mentor e idealizador Emanoel Araujo, que
172
abarca obras e objetos ligados ao povo africano e afro-brasileiro, enfatizando diversos
temas como a história, a cultura, a arte, a religião, a escravidão e a diáspora africana. O
museu possui o site http://www.museuafrobrasil.org.br, o que o torna um museu virtual,
expondo uma gama de imagens de manifestações artísticas africanas e afro-brasileiras
de diversos povos da África e de diferentes épocas da humanidade.
É emergencial o resgate da história afro-brasileira tão negada pelo perverso
sistema colonialista, como Emanoel Araújo nos faz refletir:
Parar e pensar, fazer e refazer são os desafios que o Museu Afro Brasil tem
de enfrentar ao mesmo tempo em que os apresenta para a sociedade. Não por
introduzir o politicamente correto, pois não será esse o meio para curar as
feridas de uma história de violências, mas sim por apresentar novos
conteúdos que sirvam à desconstrução dos conteúdos restantes do
esquartejamento de uma história que nunca se materializou de fato como
visualidade museológica; de uma história contada em arremedos quase
sempre metafóricos ou poéticos, antropológicos ou etnológicos, ou ainda
folclóricos. (ARAÚJO, 2006, p. 01).
Por meio do museu virtual com conteúdo étnico- racial, o aluno tem acesso a
uma variedade de objetos artísticos e materiais escritos e imagéticos, e pela intervenção
do professor acontece a aprendizagem significativa que diz respeito às suas origens e ao
seu país. Muchacho (2005) diz que o museu virtual é um museu sem fronteiras, que cria
um diálogo virtual com o visitante, um contato interativo, proporcionando uma visão
dinâmica e multidisciplinar.
Trata-se de um universo artístico e cultural a que, talvez, o aluno jamais tivesse
acesso pessoalmente, vistas as dimensões territoriais do país e as condições econômicas
da maioria da população. Segundo o site http://miditizandoci.blogspot.com/, no texto
intitulado Museus Virtuais acessado em 12. 10. 2010:
Desse modo podemos pensar no museu virtual como um meio de
conformação da arte com a tela do computador, proporcionando um ponto de
vista diferente do presencial. A tela do artista é visto de outro ângulo pelo
usuário, trazendo para perto de si, o que talvez nunca teria contato se não
fosse pela internet.
Diante disso, temos o museu virtual como uma extensão do museu físico,
tornando-se um recurso para o professor trabalhar em sala de aula a arte e a cultura e um
173
novo espectador diante da arte, por meio de uma tela virtual, fazendo com que a função
do museólogo também se modifique. Como salienta Braga:
Até uma certa época, as exposições eram apenas presenciais e limitavam-se a
reunir grande quantidade de objetos, um pouco ao acaso, por curiosidade. Ao
museólogo competia arrumar esses objetos, identificá-los, catalogá-los,
etiquetá-los e, ao fim, limitar-se a elaborar pesquisas em seus gabinetes de
estudo. Hoje, essa forma de apresentação mudou e novas tendências
tecnológicas surgiram, entre elas a construção de museus virtuais. (BRAGA,
2003, p. 260).
Os museus virtuais surgem como mais um subsídio para o professor de arte em
sala de aula. É um recurso eficiente, do ponto de vista didático-pedagógico e
econômico, se a escola já possui a tecnologia computacional e Internet. O professor
também precisa estar habituado a navegar em sites e usá-los como fonte de pesquisa e
conhecimento para atualizar-se e propor-se usá-lo como instrumento em sala de aula.
Temos como exemplos uma gama de museus virtuais que disponibilizam sua
arte de forma online, independente do tempo e do espaço, privilegiando os alunos de
todas as camadas sociais, e dentro dos conteúdos artísticos étnico-raciais podemos citar
o site do Museu Afro Brasil, que conta com um grande acervo de arte africana e afrobrasileira e que, ao contato com a criança afro-brasileira, reforça sua identidade e
pertencimento.
Vivemos em um mundo dominado pelas tecnologias de informação e
comunicação e a escola precisa estar inserida, levando alunos e professores a participar
deste processo. COSTA e PEREIRA (2008) colocam que essa participação requer do
profissional docente uma constante preparação e planejamento das ações educativas
para possibilitar condições significativas de aprendizagem com o auxílio das
tecnologias.
A importância de o professor atualizar-se com as tecnologias da informação e
comunicação, as quais os alunos tão bem dominam e que fazem do espaço global o seu
entorno, trazendo o mundo para seu mundo por meio da Internet, é uma realidade que
deve ser encarada pelas instituições educacionais e pelos agentes da educação.
A chave para a inclusão digital se dá quando o professor de artes também
domina as habilidades necessárias para o uso das tecnologias de informação e
comunicação, passando por formação continuada nesta área e possuindo a vontade de
174
ampliar seus recursos pedagógicos para além do material didático-pedagógico
convencional.
O desafio é grande ao tratar de temas tão recentes como as tecnologias de
informação e de comunicação e de temas tão sensíveis e relevantes, como a questão da
inclusão escolar e da busca pela igualdade de oportunidades e condições entre negros e
brancos em nosso país. Esse desafio está nas mãos dos professores e dos sistemas
educacionais, pois a lei já está promulgada há quase uma década. É necessária força de
vontade e mudança para desconstruir conceitos arcaicos, inconcebíveis para uma
humanidade fraterna.
Referências
ANJOS, Hildete Pereira dos; ANDRADE, Emmanuele Pereira de; PEREIRA, Mirian
Rosa. A inclusão do ponto de vista dos professores: o processo de constituição de um
discurso. In: Revista Brasileira de Educação, v. 14, nº 40, jan/abr. 2009.
ARAUJO, Emanoel. Texto extraído do livro Museu Afro Brasil: um conceito em
perspectiva. São Paulo: Instituto Florestan Fernandes: Prefeitura de São Paulo, 2006.
Disponível em: http://www.museuafrobrasil.org.br. Acesso em 20/11/2010.
BRAGA, Isis Fernandes. Cibermuseus. In: MEDEIROS, Maria Beatriz (org.). A Arte
Pesquisa. Vol. 1. Ensino e Aprendizagem da arte. Linguagens visuais. Anais do 11º
Encontro Nacional da ANPAP. Brasília: Mestrado em Artes/UnB, 2003. p. 260-269.
COSTA, José Wilson da; PEREIRA, Juliana Danielle dos Reis. Os museus virtuais e
suas possibilidades na educação. In: Anais do I Seminário Nacional de Educação
Profissional e tecnológica/SENEPT, 2008.
FONSECA DA SILVA, Maria Cristina da Rosa. Os professores de arte e a inclusão: o
caso da lei 10.639/2003. In: Anais da 28ª Reunião Anual da ANPED, 2005.
FRANÇA, Edson. Preconceito em alta (infelizmente). 2009. Guia Prático para
professores de Ensino Fundamental. Nº63, p. 6-7. Maio 2009. Entrevista concedida a
Melissa Rossi.
HENRIQUES, Rosali. Museus virtuais e cibermuseus: a internet e os museus. In:
Memória, museologia e virtualidade: um estudo sobre o Museu da Pessoa.
Dissertação de Mestrado, 2004.
175
LIMA, Diana Farjalla Correia. O que se pode designar como museu virtual segundo os
museus que assim se apresentam... In: Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em
Ciência da Informação/ENANCIB, 2010.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. O direito à diferença nas escolas: questões sobre a
inclusão escolar de pessoas com e sem deficiência. In: Revista do Centro de
Educação, nº 23, 2004.
MENDES, Geovana Mendonça Lunardi. Inclusão escolar: o que dizem as políticas e as
pesquisas? In: MENDES, Geovana Mendonça Lunardi; FONSECA DA SILVA, Maria
Cristina da Rosa (orgs.). Educação, arte e inclusão: trajetórias de pesquisa.
Florianópolis: UDESC, 2009.
MUCHACHO, Rute. Museus virtuais: A importância da usabilidade na mediação entre
o público e o objecto museológico. In: Livro de actas: 4º SOPCOM. Portugal:
Universidade de Aveiro, 2005.
MUSEUS VIRTUAIS. Disponível em: <http://miditizandoci.blogspot.com/>. Acesso
em 12. 12. 2010
NASCIMENTO, Tereza Cristina Moraes do. Museus virtuais de Ciências:
historicizando o conceito de museu, popularização da ciência e inclusão digital. In:
Revista EducaOnline, Vol. 3, Nº. 3, p. 1-13, set. - dez. 2009.
NUNES, Ana Luiza Ruschel. Panorama da pesquisa em artes visuais em inter-relação
com a inclusão. In: MENDES, Geovana Mendonça Lunardi; FONSECA DA SILVA,
Maria Cristina da Rosa (orgs.). Educação, arte e inclusão: trajetórias de pesquisa.
Florianópolis: UDESC, 2009.
ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. Pedagogia da diferença: a tradição oral
africana como subsídio para a prática pedagógica brasileira. Belo Horizonte: Nandyala,
2009.
SILVA, Ana Maria. Auto-estima e educação. In: BRASIL. Núcleo de Estudos Negros/
NEN. Florianópolis: Atilènde, 2002.
SILVA, Maria José Lopes da. As artes e a diversidade étnico-cultural na escola básica.
In: MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. 2 ed. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade, 2005.
176
SOUZA, Ana Lúcia; CROSO, Camila (coords.). Igualdade das relações étnico-raciais
na escola: possibilidades e desafios para a implementação da Lei 10.639/2003. São
Paulo: Peirópolis: Ação Educativa, Ceafro, Ceert, 2007.
SOUZA, Sandra Freitas de; OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro. Políticas para a
inclusão: ênfase na formação de docentes. In: Anais da 30ª Reunião Anual da
ANPED, 2007.
177
Download

Conteúdo étnico- racial no ensino da arte através dos museus