HISTÓRIA E PERSPECTIVAS DE VIDA DE ALCOOLISTAS Jéssica Molina Quessada* Mariana Caroline Brancalhão Guerra* Renata Caroline Barros Garcia* Simone Taís Andrade Guizelini* Prof. Dr. João Juliani** RESUMO: Esta pesquisa foi realizada no CAPS - AD (Centro de ajuda psicossocial) de uma cidade do interior do Paraná, e teve por objetivos analisar a compreensão que os alcoolistas em processo de recuperação têm sobre sua dependência, conhecer suas realidades, levantar dificuldades e perspectivas de vida. Participaram da pesquisa três homens e uma mulher com idades entre 30 e 55 anos. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas enfocando aspectos da infância, adolescência e vida adulta relacionados com a dependência. A maioria dos participantes relatou que começou a beber antes dos vinte anos de idade. Que no início a bebida não representava um problema, que ao longo dos anos as dificuldades foram aumentando e que perderam bens materiais e enfrentaram muitas dificuldades no relacionamento com a família. Estes relatos confirmam os aspectos apontados na literatura da área. Os participantes relataram, também, que a família exerce papel importante no desenvolvimento do tratamento, que a partir do momento em que a mesma posiciona-se de uma forma diferente aceitando o alcoolismo como doença, sem negar o que está acontecendo, o tempo de abstinência aumenta. PALAVRAS-CHAVE: Alcoolismo; dependência; tratamento. INTRODUÇÃO A ingestão exagerada e prolongada de bebidas alcoólicas pode levar uma pessoa a ficar dependente, perder o controle sobre sua vontade de beber, e trazer consequências físicas, mentais e sociais, como síndromes amnésicas (envolvendo esquecimentos de suas obrigações sociais, de trabalho e etc.), alucinações, alterações de humor, doenças no estômago, fígado, pâncreas e coração, faltas no trabalho e problemas familiares. A tudo isso se atribui o nome alcoolismo (MAROT, 2004). * Estudantes do curso de Psicologia - Centro Universitário Filadélfia – UniFil Orientador - Centro Universitário Filadélfia – UniFil - E-mail: [email protected] ** A ingestão de bebidas alcoólica por homens e mulheres ocorrem em muitas culturas, desde as mais primitivas. Estas bebidas eram produzidas artesanalmente na forma de vinho e alguns tipos de cerveja. O caráter do álcool mudou após a revolução industrial. Esse deixou de ser produzido artesanalmente e começou a ser produzido em grandes quantidades. Devido à melhora na tecnologia, o tipo de bebida fabricada também mudou, acrescentando uma dosagem da substância muito maior. Depois, com o aumento da produção, o preço do álcool diminuiu muito, facilitando o acesso ao produto por parte de um maior número de pessoas. (LARANJEIRA; PINKSY, 2005). Por ser um produto de fácil acesso, o consumo é precoce, fazendo com que o uso de bebidas alcoólicas comece cedo (entre o início e o meio da adolescência), em festividades e até no ambiente domiciliar, isto é, os próprios pais influenciam os filhos, não levando em conta que o álcool é uma substância psicoativa, considerado como droga. Atualmente não existe nenhuma forma de cura para o alcoolismo, até porque nunca foi encontrado uma substância psicoativa que fizesse o dependente deixar de ter o desejo incontrolável pelo álcool. O que existe para essas pessoas são tratamento com medicamentos e psicoterapias. E é imprescindível lembrar que o tratamento deve ser realizado de forma individualizada, ou seja, ele deve ser preparado de acordo com as necessidades do paciente e de sua família, principalmente por não existir nenhuma forma de tratamento que atenda todos os dependentes químicos. De início, é preciso fazer com que o paciente perceba sua real situação, e entenda a importância de abster-se. Na maioria das vezes o procedimento deve começar pelo ambulatório que é a forma de tratamento mais acessível, pois, além de reduzir custos, também possui suas vantagens. Ao contrário do que se possa imaginar, o tratamento ambulatorial é mais efetivo do que uma internação, pois procura tratar sem tirar aquela pessoa do seu ambiente e de suas atividades rotineiras. Quando o paciente entra em um serviço ambulatorial é necessário que a família esteja envolvida com o tratamento, e o paciente ciente da sua importância. A família deve agir como alicerce para o indivíduo, acolhendo-o sempre que necessário (PILLON, 2000). OBJETIVOS Analisar a compreensão que os alcoolistas, em processo de recuperação, têm sobre sua dependência, conhecer suas realidades, identificar as dificuldades e perspectivas de vida. Levantar a compreensão dos participantes quanto à dependência, isto é, se eles veem o alcoolismo como uma doença e se compreendem o próprio problema. Identificar os aspectos relevantes quanto à aquisição do alcoolismo, os motivos, as opiniões, as dificuldades atuais, a visão sobre o tratamento, perspectivas para o futuro e expectativas quanto ao trabalho, relações amorosas, entre outros. PARTICIPANTES Participaram da pesquisa três homens e uma mulher com idades entre 30 e 55 anos, sendo três deles de classe baixa e um de classe média. PROCEDIMENTO Foram realizados seis encontros semanais, de forma individual (com exceção do primeiro encontro, em que todos estavam presentes), sendo que no primeiro encontro, foi lido aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ( TCLE) explicado a pesquisa e esclarecidas as dúvidas relacionadas ao projeto. Aos participantes que concordaram em participar, foi solicitada a assinatura do TCLE. No segundo encontro, foi abordado o tema infância, a passagem por essa fase e o relacionamento familiar e interpessoal, verificando fatos marcantes, além do período escolar. O terceiro encontro teve enfoque na passagem pela adolescência e a possível relação do participante com a bebida nessa época. No quarto encontro, foi focada a fase adulta e se houve contato com a bebida e sua relação. No quinto encontro o tema alcoolismo foi abordado diretamente com o intuito de investigar a compreensão do participante sobre os motivos, opiniões, histórias e dificuldades do alcoolismo. No sexto encontro foram abordados assuntos relacionados a perspectivas futuras. Suas expectativas de trabalho, relacionamentos amorosos, entre outros. RESULTADOS É importante ressaltar que o nome utilizados neste relato são fictícios. Em relação ao histórico de alcoolismo na família, dois dos quatro participantes atribuem o vício de alguma maneira, ainda que indiretamente, a histórias e/ou comportamentos familiares. “Quando meu pai traía minha mãe, ela bebia. A carreguei várias vezes para casa, quando estava bêbada. Quando descobri que meu marido estava me traindo, nunca tinha colocado uma gota de bebida na boca. Mas naquele dia minha única certeza foi passar no mercado e comprar uma garrafa de pinga.” (Meire). A maioria dos participantes tive o alcoolismo presente em sua infância, isto é, o pai ou a mãe era alcoolista “Meu tio, foi o meu pai e a minha mãe na minha infância. Meu pai era alcoólatra e não aceitava o fato de minha mãe não fazer nada com aquela situação. Ela aceitava o vício dele.” (Wilson) Três participantes atribuíram o início do alcoolismo na adolescência sob influencia de amigos. “Depois do expediente quando trabalhava no supermercado, saíamos para beber alguma coisa. Minha irmã mais velha ficava preocupada, me dava conselhos. Mas eu sempre dizia “Poxa! Não sou nenhuma criança!”, Tempos depois, passei a ir trabalhar alcoolizado.”(Sílvio) “Sempre tive amigos mais velhos que eu, e quando adolescente, isso com certeza influenciou nas minhas escolhas. Fugia do colégio para sair com estes amigos, com eles conheci a bebida, as drogas” (Wilson). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Os relatos dos participantes deixam claros os efeitos negativos tanto relacionados aos aspectos financeiros, bem como aos relacionamentos sociais. A família, colocada como um fator que pode facilitar o alcoolismo, também possui papel fundamental no tratamento. O tratamento ambulatorial, para os participantes, é de extrema importância, pois os mesmos afirmam que ocupam a mente, e que ao chegarem a sua casa, cansados, não pensam em beber. Eles recebem atenção dos profissionais, que são “a peça fundamental para a recuperação’’. Também apontam que ainda podem ter uma vida social após o horário de tratamento. Esta pesquisa possibilitou a experiência de verificar, na prática, as informações encontradas na teoria que enfatizam a importância de atendimento ambulatorial e a atenção aos sentimentos dos alcoolistas em tratamento ambulatorial. REFERÊNCIAS LARANJEIRA, Ronaldo. O alcoolismo. Editora Contexto: São Paulo, 2005. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=lang_pt&id=bTKHcST4V4C&oi=fnd&pg=PA7&dq=caracterist%C3%ADcas+do+al coolismo&ots=5ppbq1ckhb&sig=qz1CekmlUQwnTSk6w0QG-khn5c#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 28 mar. 2010. MAROT, Rodrigo. Alcoolismo. Psicosite, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: <http://www.psicosite.com.br/tra/drg/alcoolismo.htm>. Acesso em: 5 mar. 2010. PILLON, S.C; CASTRO, L.A. Organização de Serviço Para Alcoolismo: Uma proposta Ambulatorial. Scielo, São Paulo, 2000. Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhospdf/alcoolismo-proposta ambulatorial/alcoolismo-proposta-ambulatorial.pdf>. Acesso em 29 mar. 2010.