A REPRESENTAÇÃO NO CONSELHO DE SAÚDE MUNICÍPIO DE SÃO PAULO: UM ESTUDO DE CASO DO Jenifer Santos Souza1 RESUMO: Este artigo pretendeu entender o processo de representação da sociedade civil no Conselho de saúde do Município de São Paulo, no mandato de 2010/2011. Para fazer essa investigação nos perguntamos como ocorre o processo de legitimação da representação da sociedade civil no CMSSP? A representação é legítima tendo em vista a relação que conecta os representantes da sociedade civil (conselheiros) e sua base societária? Para tentar responder essas e outras questões foram realizadas observações no pleno do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo, análise das atas do período e entrevistas com representantes dos conselheiros, gestores públicos e lideranças locais. PALAVRAS-CHAVE: Representação. Conselhos Gestores. Sociedade civil. INTRODUÇÃO O presente artigo se propõe analisar o processo de representação no Conselho de Saúde do município de São Paulo no período de 2010 e 20112. Os conselhos de políticas públicas são fruto de um conjunto de lutas pela reabertura democrática brasileira que se intensificaram a partir do final da década de 1970 e início da década 1980. Nesse período, vários segmentos da sociedade civil, como as associações de moradores, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), as pastorais da saúde e os movimentos sociais intensificaram suas reivindicações em busca de uma sociedade democrática e com condições dignas para a população. Os conselhos gestores de políticas públicas são uma consequência das lutas da sociedade por uma ampliação da participação da sociedade civil na elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas. Essas reivindicações por uma maior participação da sociedade nos processos decisórios possibilitaram que na construção da Constituição Brasileira de 1988 a participação da comunidade fosse incluída na gestão pública. Segundo Luciana Tatagiba (2004), com a Constituição de 1988 foi possível implementar os conselhos de políticas públicas, nos níveis federal, estadual e 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), sob a orientação do Prof. Dr. Bruno Konder Comparato. Email: [email protected]. 2 Todas as vezes que nos referirmos ao Conselho de Saúde do Município de São Paulo nessa análise estaremos nos reportando ao recorte temporal que fizemos do mandato de 2010/2011. municipal, que se afirmam como parte da estrutura administrativa do Estado, e ao mesmo tempo, canal de expressão e decisão autônomas, compostos por representantes do poder público e da sociedade civil. Esse processo foi percebido como um momento de emancipação popular e de uma verdadeira democracia (AVRITZER, 2005). Finalmente, o Brasil parecia estar no caminho rumo a uma democracia em que os cidadãos tinham espaço para ver seus interesses dialogarem com o Estado. Com o desenvolvimento de mais de duas décadas de pesquisas sobre esses novos espaços de participação popular, a comunidade acadêmica percebeu a importância de estudar o controle que a sociedade civil faz sobre o governo, mas, além disso, seria necessário estudar também como os próprios controladores (conselheiros da sociedade civil) exercem essa representação nesses espaços deliberativos. Portanto, inicialmente, os conselhos gestores foram pensados como mecanismos de controle governamental, com o papel de fiscalizar, aprovar e elaborar propostas executivas para a política local. O conceito que surge entre os cientistas políticos para expressar esse controle é o conceito de accountability. O accountability governamental implica justamente na obrigação de prestação de contas do governo à sociedade. Ele é tanto um valor político quanto um processo. Enquanto valor, a ideia de accountability está relacionada com o princípio da soberania popular, partindo da premissa de que o poder emana do povo, e este deve poder controlar os governantes. Enquanto processo, designa o efeito – a responsabilização – que se espera da atuação de um conjunto de mecanismos institucionais que garantam o controle público sobre as ações governamentais – através das eleições e ao longo do mandato (OLIVIERI, 2010, p.17). Dessa forma, a princípio, a discussão sobre os conselhos gestores diz respeito ao conceito de accountability, isto é, à necessidade de um controle e da fiscalização sobre o poder público. No entanto, a partir de pesquisas realizadas sobre os conselhos gestores, verificou-se outro tipo de problema, não mais apenas no que diz respeito à fiscalização da sociedade civil sobre o Estado, mas no que diz respeito às relações entre a sociedade como um todo (beneficiários) e seus representantes (conselheiros) nestes espaços deliberativos. A partir dessa constatação, foi detectada uma dupla face do accountability social. De um lado, há uma pretensão de controle da sociedade civil sobre as ações dos atores governamentais e, de outro, há uma necessidade de um controle dos controladores (LAVALLE et al., 2008, p.68). Ao mesmo tempo em que é necessário saber fiscalizar os governantes e reivindicar que tenham um desempenho adequado, é também preciso verificar se a própria representatividade da sociedade civil nos espaços deliberativos está ocorrendo de forma legítima. Além dessa discussão sobre a legitimidade da participação dos representantes da sociedade civil nesses espaços deliberativos, a literatura começou a questionar o próprio conceito de representação adotado pela maioria dos autores que se baseiam no conceito elaborado por Pitkin. “O estudo clássico de Pitkin (1967) definiu representação política como uma relação que conecta representantes e representados. O representante tem legitimidade em função de mecanismos de autorização e prestação de contas que expressam tal relação” (ABERS e KECK, p.100, 2008). Segundo Abers e Keck (2008), esse conceito de representação não dá conta da realidade, pois, nos estudos sobre os conselhos gestores, não parece haver uma prestação de contas entre os representantes e sua base de representação. Ao invés disso, as autoras propõem que a representação se baseie mais num princípio de advocacy, no qual os representantes, por conhecerem os interesses de grupos determinados da sociedade, reivindicam o direito de advogar em prol das suas causas. Isso significa uma mudança radical no modo como se sustenta o controle, porque ao contrário do princípio da accountability, a legitimidade não se dá pelo princípio de autorização, através de eleições, por exemplo. Essa legitimidade não é diretamente fornecida pelos representados, mas é, ao contrário, reivindicada pelos representantes, pelo princípio de identidade. Lavalle e Castelo (2008) caracterizam esse modo de representação como “presuntiva, ou seja, unilaterais por parte daqueles que as exercem e não autorizadas pelos beneficiários em nome dos quais são exercidas” (LAVALLE e CASTELO, 2008, p. 70). Dada a importância desse debate para a discussão sobre a democracia e sobre a necessidade de estudar a dupla face da accountability social, esse trabalho buscou compreender o processo de legitimação da representação da sociedade civil no Conselho de Saúde do Município de São Paulo, no mandato de 2010/2011. Neste sentido, tentamos entender: como ocorre o processo de escolha dos representantes da sociedade civil nesse espaço? A representação proposta é legítima, tendo em vista o diálogo entre representantes e representados? Para responder a essas perguntas foram realizadas observações presenciais nas reuniões do pleno do Conselho de Saúde do Município de São Paulo, no período de setembro a novembro de 2011; além disso, foram feitas leituras das atas das reuniões do período da gestão então vigente (2010 e 2011) e também foram realizadas doze entrevistas com representantes da sociedade civil, do poder público, e das bases societárias. Esses procedimentos metodológicos foram importantes para verificar como ocorre no dia a dia o funcionamento do Conselho, de modo a permitir uma compreensão do processo de construção da legitimidade desses conselheiros e como ocorre a relação destes representantes com a base que os elegeu. Esse artigo é composto por três sessões. Na primeira sessão, Contexto e surgimento dos conselhos gestores no Brasil, estudamos a importância da criação de novos espaços de participação democrática para uma construção conjunta entre atores da sociedade civil e do Estado na elaboração, fiscalização e execução de políticas públicas no Brasil. Na segunda sessão, Dinâmicas do Conselho de Saúde do Município de São Paulo, será apresentado o histórico e funcionamento do Conselho de Saúde do Município de São Paulo. E na última sessão, O processo de construção da representação entre os conselheiros da sociedade civil, foi analisado como as questões sobre a representação aparecem no conselho, tanto no que se refere às eleições dos conselheiros da sociedade civil, quanto na própria relação desses conselheiros com a base societária que os elegeu. Além disso, nas considerações finais, é explicado como esse estudo contribuiu para pensar a experiência do Conselho de Saúde do Município de São Paulo, na gestão 2010/2011 e as contribuições desse espaço para o avanço das experiências de participação popular. Por fim, após as considerações finais, será apresentado o perfil dos entrevistados que foram diretamente citados no artigo. CONTEXTO DE SURGIMENTO DOS CONSELHOS GESTORES NO BRASIL O Brasil, desde sua redemocratização, passou por profundas mudanças no âmbito da criação de arranjos institucionais para a participação cidadã na elaboração de políticas públicas. Diferente do período ditatorial (1964-1985), que perpetuou um projeto de governo altamente autoritário, centralizador e indiferente às demandas das camadas mais vulneráveis da população, o Brasil pós-ditadura, apresentou um projeto de inclusão das demandas de participação conjunta entre Estado e sociedade civil na administração da “coisa pública” (COELHO, 2007; TATAGIBA, 2004). Na Constituição Federal de 1988, em vários artigos, estão presentes princípios que fundamentam essa mudança em relação à participação cidadã, tendo em vista “[...] a cidadania, a dignidade da pessoa humana, e o pluralismo político” (art. 1º, II, III e V); “[...] cooperação das associações representativas no planejamento Municipal” (art. 29, XII); “[...] caráter democrático e descentralizado da administração [...]” (art. 194, VII); “[...] descentralização, com direção única em cada esfera de governo e participação da comunidade [...]” (art. 198, I e III); “[...] participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis [...]” (art. 204, II). Essas transformações são resultado de um processo de luta da sociedade civil brasileira, que pautaria os caminhos da reforma do Estado e da administração pública no Brasil, acenando com a possibilidade de superação de um legado de centralização, desarticulação, burocratização e autoritarismo. (TATAGIBA, 2009). Para Luciana Tatagiba, foi a Constituição de 1988 que, com base num novo arranjo federativo, retirou os municípios da condição de coadjuvantes e lhes conferiu o papel central na gestão das políticas sociais, ao mesmo tempo em que determinou, assim como as demais instâncias administrativas, a gestão participativa como princípio para a elaboração e execução das políticas (TATAGIBA, 2009). Esse alicerce legal promoveu o desenvolvimento de uma estrutura institucional abrangente para a participação dos cidadãos, que incluiu: conselhos gestores, ouvidorias públicas, conferências, orçamento participativo, fóruns, redes, entre outros mecanismos reguladores para a participação dos cidadãos. Segundo Coelho e Nobre (2004), a criação de espaços como os conselhos gestores tem o objetivo de tornar o processo de formulação e gestão das políticas públicas mais permeáveis às reais demandas da população e, também, mais transparentes e abertas ao controle social. Essa contribuição seria decisiva para aproximar essas políticas das reais necessidades da população e contornar problemas como a falta de qualidade e a iniquidade na elaboração de políticas públicas. Luciana Tatagiba, em seu texto A institucionalização da participação: os conselhos municipais de políticas públicas na cidade de São Paulo (2004) descreve a trajetória do surgimento dos Conselhos gestores do Município de São Paulo. Segundo Tatagiba, o Conselho Municipal de Saúde da cidade de São Paulo foi criado no contexto da discussão da elaboração da Lei Orgânica Municipal de São Paulo de 1990 (LOM)3, na ocasião em que foram propostos por vereadores e organizações da sociedade civil, a criação de diversos tipos de conselhos nas mais diversas áreas de elaboração de políticas públicas. Na elaboração dessa LOM, foi sugerida a criação de 41 conselhos municipais4. Entretanto, destes, apenas três foram efetivamente criados nesse período: o Conselho de Representantes, o Conselho Municipal de Saúde e o Conselho Municipal de Educação. Foi no primeiro ano do governo da prefeita Luiza Erundina, em 1989, que o Conselho de Saúde do Município de São Paulo foi criado, mas só foi regulamentado pela lei nº 12.546, de 07 de janeiro de 1998. Onde foi definido que ele tem por finalidade: [...] I – Deliberar, sobre estratégias e atuar no controle da execução da Política Municipal de Saúde, inclusive nos seus aspectos econômicos e financeiros; II - Deliberar, analisar, controlar e apreciar, no nível municipal, o funcionamento do Sistema Único de Saúde; III - Aprovar, controlar, acompanhar e avaliar o Plano Municipal de Saúde; IV - Apreciar, previamente, emitindo parecer sobre o Plano e aplicação dos recursos financeiros transferidos pelos Governos Federal, Estadual e do orçamento municipal consignados ao Sistema Único de Saúde; V - Apreciar a movimentação de recursos 3 A lei Orgânica referida foi aprovada em 5 de abril de 1990. Tinha como um dos seus objetivos principais a ampliação da participação popular. Para mais informações sobre a LOM de 1990 ver (CALDERÓN, 2000). 4 Para ver a tabela dos conselhos propostos no processo de elaboração da lei Orgânica do Município de São Paulo, ver (TATAGIBA, 2004, p. 333). financeiros do Sistema Único de Saúde, no âmbito municipal e pronunciar-se conclusivamente sobre os relatórios de gestão do Sistema Único de Saúde, apresentados pela Secretaria Municipal da Saúde; VI - Acompanhar e fiscalizar os procedimentos do Fundo Municipal de Saúde - FUMDES, através de comissão de análise do FUMDES[...] (DECRETO 38.756/99, p. 33) Segundo Vera Coelho (2007), a força dos Conselhos Municipais de Saúde deriva dessa lei baseada na Constituição Federal de 1988, que garante aos conselheiros da sociedade civil o poder de veto em planos e na prestação de contas da Secretaria Municipal de Saúde. Portanto, se o conselho rejeita o plano e o orçamento que a Secretaria de Saúde é obrigada a apresentar anualmente, o Ministério da Saúde, que maneja 55% do orçamento público do setor, não transfere os fundos ao Município. Dessa forma, segundo a autora, os CMS, como os de São Paulo, são particularmente importantes na gestão da saúde, uma vez que um dos princípios norteadores do SUS é a descentralização do sistema de saúde. Com essa descentralização houve um processo maior de autonomia local o que também possibilitou uma participação mais significativa da sociedade civil na gestão local. Para entender como os conselheiros são escolhidos e qual é a relação dos conselheiros com a base que os elegeu é importante entender a composição desse conselho. DINÂMICAS DO CONSELHO DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Tendo este contexto em mente, esta pesquisa pode agora discutir as regras de funcionamento do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo. O regimento interno dos conselhos municipais define as principais regras de funcionamento, as condições de negociação, os procedimentos para a tomada de decisões, as disposições referentes à sua composição e as regras para as eleições de cada segmento do conselho. Desse modo, o regimento interno é um documento que regula as ações dos conselheiros, fazendo com que todos apoiem suas ações baseadas numa mesma base de legitimação5. (TATAGIBA, 2002). No caso do Conselho de Saúde do Município de São Paulo (CSMSP), foi definido em seu regimento que este é deliberativo e consultivo; possuindo uma formação paritária e quadripartite, uma vez que existe uma equidade dos usuários em relação ao conjunto dos demais seguimentos, sendo a composição dividida por 50% de cadeiras para os usuários, 25% entidades dos trabalhadores de saúde e 25% divididos entre o poder público e os prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos. 5 O regimento interno é definido pelos próprios conselheiros quando o conselho foi instaurado e uma vez regulamentado passa a ter estatuto de lei. (MENDES, 2002 apud COELHO, 2004) Nesse conselho, existem 32 conselheiros titulares e 32 suplentes. A representação do governo é realizada por funcionários indicados pelo secretário de saúde, e no caso dos demais segmentos – dos usuários, dos trabalhadores de saúde e dos prestadores de serviço públicos e privados os seus representantes –, os conselheiros são indicados em fóruns próprios, referentes a cada cadeira a ser ocupada. No segmento dos usuários existem 16 cadeiras; seis representantes do movimento popular de saúde, cinco dos movimentos sociais/comunitários, dois representantes dos sindicatos, dois dos representantes de doenças crônicas e um representante dos portadores de deficiência6. Com o intuito de entender como ocorre o processo de construção de legitimidade dos conselheiros da sociedade civil, discutiremos como ocorre o processo de escolha dos conselheiros do CSMSP do segmento dos usuários. Segundo o regimento interno, a preparação para o processo de eleição das cadeiras dos segmentos de usuários começa três meses antes da data prevista para as eleições. No caso dos movimentos sociais e comunitários as eleições ocorrem em uma plenária unificada em que as diferentes instituições que fazem parte desses movimentos indicam seus candidatos para que todos esses grupos elejam os representantes para as cinco cadeiras para titularidade e cinco cadeiras para a suplência no conselho. Já no segmento dos movimentos populares de saúde, que possui seis cadeiras, organizam-se as eleições dividindo as seis cadeiras disponíveis, para o segmento dos movimentos sociais, nas seis regiões, que correspondem às regiões Leste, Sudeste, Sul, Oeste, Norte e Centro. Ou seja, cada região que abrange uma quantidade específica de bairros, possui plenária própria e essas diferentes plenárias das diferentes regiões elegem uma cadeira no CSMSP. E no período das eleições, a comissão eleitoral do conselho divulga as datas das eleições e o local no qual serão realizadas as eleições para que os candidatos das diferentes regiões se organizem e se candidatem para serem escolhidos em uma plenária composta por cidadãos da região. Por exemplo, na plenária do movimento popular de saúde da região Sudeste, o conjunto dos cidadãos envolvidos com as questões de saúde daquela região fica sabendo do período das eleições, se organiza de modo a pleitear uma vaga no conselho para titular ou suplente. A regra básica para que alguém possa se candidatar para ser conselheiro é que participe de algum movimento de saúde7 há no mínimo doze meses. 6 As escolhas da distribuição das cadeiras foram feitas no período de construção do regimento interno deste conselho, não havendo uma justificativa clara para essa distribuição (COELHO, 2004). 7 Como de conselhos gestores de unidades básicas de saúde, movimentos comunitários, associações de bairros, organizações não governamentais ligados à saúde. Apesar do conjunto de regras que existem para que o processo de eleição dos conselheiros seja o mais democrático e representativo possível, os diferentes segmentos da sociedade civil do Conselho de Saúde do Município de São Paulo possuem diversas estratégias para eleger os seus candidatos. Para exemplificar essa diversidade é importante entender como diferentes representantes do segmento dos usuários entendem como ocorre o processo de escolha dos conselheiros. O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA REPRESENTAÇÃO ENTRE OS CONSELHEIROS DA SOCIEDADE CIVIL Vejamos alguns relatos sobre as escolhas dos representantes do conselho de saúde, por exemplo, o caso da região Sudeste, nessa última indicação (eleição para o mandato 2012/2013) feita em 14 de janeiro de 2012, tal qual foi relatada por um dos entrevistados: Não foi preciso fazer mais de uma chapa porque o movimento se articulou da seguinte maneira: Ipiranga, Jabaquara, Vila Mariana, Vila Prudente e Sapopemba. A gente se reuniu e chegamos num consenso que a gente iria “afunilar” com dois nomes: um para titularidade e outro para suplência, até isso nós amarramos né, nós fomos para uma assembleia já com tudo isso amarrado. Um concorreria à titularidade e o outro à suplência, as duas cadeiras nessa região que a gente tinha na região sudeste. E assim fizemos, convocamos a convocatória para todos os conselheiros, todos os movimentos. Conforme uma coisa regimental você tem. [...] Para clarear todas as dúvidas. Não é que se escolhe o conselheiro no dia da assembleia, essas discussões são feitas antecipadamente no segmento nas reuniões dos movimentos. Daí se fala tem fulano, tem ciclano. Aí nós temos várias reuniões. Além das reuniões dos conselhos. Nós fazemos as reuniões nas comunidades, nos movimentos populares em diversos lugares. Aí só tá o movimento mesmo, não é que ela seja fechada, às vezes a gente chama representantes de governo, mas normalmente são os representantes do movimento que participam dessas decisões. Aí para chegar nessa decisão, se vamos ter chapa ou não, a gente faz discussão que antecedem a data da indicação oficial. Então a gente faz todas essas conversas nas bases, sem ferir os princípios democráticos da cidadania nem coisa nenhuma. Levamos em consideração tudo isso. Igual eu disse isso para você, eu sou daqui do Ipiranga, mas eu gastei praticamente um dia para ficar lá no Sapopemba, porque lá estava na iminência de ter uma chapa. A gente chegou lá e fizemos uma conversa [para não haver mais uma chapa], aí depois da nossa conversa uma das pessoas que ia compor a chapa de lá já retirou o nome em apoio ao nosso nome e com isso a gente já levou o segundo nome de lá também. Aí refletimos um pouco e acabamos chegando à conclusão que era melhor nós sairmos nós dois, no caso ele e eu (alguém da chapa que estava na iminência de se formar e ele). Essa condição é melhor do que criar uma outra chapa porque acaba criando mais divisão e é bobeira isso. […] No mandato anterior eu era suplente de uma pessoa de lá (Sapopemba) e nesse eu fiquei como titular e a pessoa de lá ficou como suplente. Normalmente a gente conversa e chega a um consenso: Vamos trocar, esta extremidade fica na titularidade um mandato e depois essa daqui fica na suplência. Essa é uma maneira de você contemplar todo mundo e fazer com que seu trabalho possa fluir de uma maneira mais democrática possível (Entrevista 2). Nessa entrevista, fica evidente que a escolha do representante da região sudeste foi feita pelo movimento antes das assembleias e que para diminuir as disputas dentro do movimento, existe um processo de desmobilização entre os diferentes grupos dentro do movimento para que não haja competição política. Ou seja, se um determinado grupo dentro do movimento escolhe um representante, na iminência do surgimento de um concorrente, existe uma negociação para que não ocorra a formação de duas chapas. Nesse caso, eles resolveram esse impasse incluindo alguém do grupo concorrente pra que não houvesse competição. O problema desse tipo de acordo é que a escolha dos representantes no conselho não ocorre por um processo de disputa que envolve uma ampla parcela da sociedade civil, mas se restringe a acordos entre diferentes grupos políticos. Em outra conversa com um representante do Movimento Popular de Saúde sobre o processo de indicação, foi nos relatado o seguinte: A representante titular do Movimento Popular de Saúde Centro falou para eu não me candidatar alegando que eu não tenho interesse pela saúde, mas eu falei com ela: como eu não tenho interesse pela saúde? Eu sou conselheiro gestor da unidade básica da Santa Cecília, aí eu falei, engraçado eu posso mostrar que eu tenho interesse pela saúde, vai lá na unidade básica que eu fico e pergunta para os usuários. Além disso, eu sou seu suplente no CSMSP. E aí, ela falou nessa reunião que queria indicar outra pessoa para titular do conselho. E um amigo meu falou, olha, você está pensando que é você que manda? Qualquer pessoa pode se candidatar para ser conselheiro e nós temos que aceitar, isso é uma coisa pública de interesse público, isso não é uma firma particular. Mas ela quer colocar alguém que vai beneficiar ela, de qualquer forma ou com dinheiro em espécie ou com alguma coisa que ela pedir. (Entrevista 1). Já nesse caso, o relato menciona a existência de uma espécie de filtro dentro das lideranças do movimento popular de saúde que facilita ou não a inscrição de diferentes atores para se candidatar à representação no conselho. Esse filtro pode estar relacionado ao tipo de influência política que as lideranças do Movimento Popular de Saúde exercem. Segundo as entrevistas e observações realizadas, existem diferentes influências partidárias nos grupos políticos que participam do conselho. Essa influência partidária pode ser um dos fatores que dá mais poder a alguns atores do que outros, fazendo com que aqueles que possuem um partido político, que dá suporte à sua participação, tenham uma influência política maior do que aqueles que não defendem a legenda de nenhum partido. Além disso, há indícios de que os interesses particulares dos candidatos ao conselho podem se sobrepor aos interesses coletivos. Partindo dessas reflexões, é válido perguntar quais interesses levam esses indivíduos a participar do conselho? QUAIS INTERESSES LEVAM OS INDIVÍDUOS A PARTICIPAREM DO CONSELHO? Segundo uma das entrevistadas, a conselheira do movimento comunitário, os interesses dos conselheiros podem ser muito variados: O que acontece com alguns dos nossos representantes? O que se representa, se representa para conseguir uma acessoria. Se representa, porque defende a causa do poder legislativo. Aí você garante um curral eleitoral, ou garante um poder. Ou [representa] a causa da comunidade. [Mas] se você defende a causa da comunidade, você precisa fazer a unidade com a diferença. Porque é fácil para mim? Eu não defendo a causa de nenhuma ONG, eu não defendo a causa de nenhum partido, eu não defendo nenhuma igreja. Eu sigo como princípio fundamental defender o povo. (Entrevista 4). Algumas pesquisas sobre os conselhos gestores de políticas públicas e o estudo do regimento interno do conselho de saúde do município de São Paulo afirmam que a representação no Conselho de Saúde do Município de São Paulo tem como propósito principal possuir uma representação sem mediações partidárias e ampliar a participação da comunidade na fiscalização e elaboração de políticas públicas. Nesse sentido, [...] os conselheiros são considerados espaços de participação direta, principalmente em virtude da ausência de mediação dos partidos políticos no processo. Ou seja, a perspectiva como essas inúmeras experiências vem sendo analisadas tem sido a de ruptura com os mecanismos tradicionais de representação da democracia, principalmente a representação partidária/parlamentar. (FERRAZ, 2009) De acordo com essa perspectiva, os representantes não possuem uma remuneração por sua participação, não possuem vínculos partidários, mas sua atuação é de “relevância pública”. Entretanto, o relato da entrevista 3 indica que existem pelo menos três razões para que os conselheiros participem desse espaço deliberativo: a) para conseguir uma acessoria política; b) para defender a causa de alguém do poder legislativo e conseguir um curral eleitoral; c) para defender os interesses da comunidade. Pensando também em quais interesses motivam a participação nos conselhos, Mário Fuks (2005) defende a ideia de que existem pelo menos três dimensões que são importantes para analisar a ação política nos conselhos de políticas públicas: 1) a primeira, mais subjetiva, diz respeito à propensão dos conselheiros para o engajamento político (medida em termos de interesse – cognitivo e emocional – por política e da competência política subjetiva); 2) a segunda, mais prática, assume a forma de engajamento eleitoral, associativismo e filiação partidária; 3) a terceira – também de natureza política – refere-se a atributos coletivos de caráter mais complexo do que os recursos organizacionais, como a de redes de apoio político e a ação reiterada junto às instituições estatais (FUKS, 2005). No intuito de esclarecer qual dessas razões vigora com mais intensidade, cabe investigar a visão dos participantes do conselho sobre os interesses que motivam a participação. Para a representante do Secretário de Saúde no Conselho, o que mais ocorre no Conselho é a defesa de interesses partidários: O que ocorre no Conselho é uma politicagem partidária e ela é horrível. Porque a política de saúde como está na constituição ou no regimento interno do conselho não pode ser partidária. Porque a partidária é momentânea. Porque os partidos mudam, mas a política de saúde, ela, é permanente, ela precisa ser permanente. E o que acontece? Ninguém constrói. A nossa experiência política, do nosso povo, ainda é pequena, a gente não se envolve muito politicamente com o processo político, com a estrutura política, ainda a gente ver tudo assim por cima, aí a gente vê os conselheiros do segmento dos usuários se envolvendo com o político e não com a política. Eu (conselheiro) que faço parte da política partidária confundo as coisas. Eu (conselheiro da sociedade civil) me envolvo com a pessoa do político. Aí fica aquela coisa, eles se desentendendo entre si, porque a pessoa que o conselheiro representa, é contra a pessoa que o outro conselheiro representa e, dessa forma, não se constrói nada. Esquecendo o porquê de se estar ali: fazer política de saúde, e não fazer política partidária. (Entrevista 5) Em outro relato, a questão da participação por interesses partidários aparece novamente: Eu sei que isso é muito forte, mas alguns conselheiros possuem interesses particulares. Aí eles se vendem e não forçam a lei para cumprir aquilo que está na constituição. Eles se vendem para um vereador, para um deputado. Aí chega um vereador e lança uma lei que quer que faça “isso e isso” nas unidades, mas na verdade não é ele, na verdade aquilo foi do conselho, mas alguém lá do conselho pegou aquela história e levou lá para o vereador. Você está entendendo como é o negócio? É um jogo de interesses muito grande (Entrevista 1). Interessa, ainda, observar como os conselheiros percebem a influência dos partidos dentro do conselho: Isso não é muito difícil de explicar. Eu particularmente sou contrário a você deixar transparecer no conselho o partido político que você faz parte, porque no espaço do conselho você está pensando na elaboração de políticas públicas, mas não dá para negar de forma nenhuma, que toda militância é ligada a um partido, a um sindicato. Ela não é, como se diz, totalmente autônoma dona de suas escolhas sozinha. Essa pessoa vem de uma base, essa base tem afinidade com o partido A, B, C. Não é novidade nenhuma dizer que nós temos no conselho municipal cinco ou seis partidos diferentes. A maioria dos partidos no conselho é composta de partidos de esquerda, se é que nós temos partidos de esquerda no Brasil, essa é uma visão minha (Entrevista 2). Outro conselheiro relatou sua percepção: O grande defeito do conselho é a defesa partidária. Olha, eu sou do PC do B, mas eu nunca vim para uma reunião para defender ideias do PC do B, aqui eu venho defender controle social, porque as ideias do PC do B eu defendo no fórum do PC do B. Eu defendo o controle social da forma que eu acredito e é claro que eu aprendi algumas coisas no meu partido, mas eu não vou defender bandeira partidária, eu não vou falar no nome do Jamil [Murad]. [...] A minha explicação [para a defesa partidária] é a falta de maturidade política que o conselho tem. Que, apesar de ser um conselho de luta, ainda não tem maturidade política para entender que aquele espaço é um espaço importantíssimo para fazer a política do controle social e não a política partidária (Entrevista 3). É importante deixar claro que não apenas os interesses partidários motivam a participação de representantes da sociedade civil no conselho, mas existem também interesses genuínos de contribuir na construção de melhorias das políticas sociais e na ampliação da participação da comunidade na gestão pública. Esse ideal de compromisso social, guiado por um propósito coletivo e engajado em um ideal político, por vezes está relacionado com as consequências do período histórico da ditadura, do qual participaram a maioria desses indivíduos, que sofreram com a supressão de seus direitos sociais e políticos: Eu me cansei de tanta injustiça. De ver a população ser maltratada e não ter ninguém para defendê-los. A única coisa que essas pessoas poderiam fazer é abaixar a cabeça. Eu lutei contra a ditadura, lutei pela democracia e para mim não dava para ver pessoas em pleno regime democrático serem tratados com injustiça. Por isso resolvi participar desses espaços (Entrevista 2). Os espaços deliberativos como os conselhos gestores são tratados pela maioria da literatura sobre o tema como uma alternativa à democracia representativa (a democracia eleitoral, dos partidos políticos), ou seja, espaços onde a população, ao participar da política, aprende sobre o processo político e se organiza de forma autônoma sem necessitar da intermediação de partidos políticos (PATEMAN, 1992). Entretanto, essa pesquisa aponta para uma forte influência dos partidos sobre a representação de lideranças da sociedade civil. Apesar de, na teoria, esse espaço ter sido pensado como autônomo em relação aos partidos, o que a experiência com esses espaços vem demonstrando (TEIXEIRA, 2008; FUKS, 2005; FERRAZ, 2009) é que a participação dos partidos ali é recorrente. Portanto, talvez seja necessária uma discussão mais clara sobre a participação dos partidos dentro do próprio conselho, uma vez que os próprios conselheiros declaram que estão filiados a partidos políticos, mas se posicionam contra a inserção de partidos nesse espaço. Diante dessa diversidade de interesses para participar do CSMSP, é importante verificar como esses conselheiros constroem suas ações dentro do conselho. Para Ana Claúdia Teixeira (2008), o grau de comprometimento dos sujeitos nos conselhos está relacionado ao significado da participação no projeto político de cada ator. “Ou seja, os projetos políticos dos atores que compõem o conselho influenciam a qualidade do debate sobre a política pública, a explicitação e produtividade dos conflitos e, em consequência, o nível de incidência dos conselhos”. (TEIXEIRA, 2008, p. 19) No mandato de 2010 e 2011 do Conselho de Saúde do Município de São Paulo, foi possível observar que a presença da maioria dos representantes no conselho foi constante, ou seja, em todas as reuniões ordinárias do pleno do CSMSP sempre houve quórum mínimo (cinquenta por cento mais um) para o início das reuniões. Esse é um indício de que existe um real interesse da maioria dos conselheiros para que o conselho esteja ativo, ao contrário de outros conselhos que não funcionam devido à falta desse quórum8. CONFLITO ENTRE REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL E ESTADO Outro fator que precisa de uma atenção com relação ao funcionamento do conselho é a relação conflituosa entre os representantes da sociedade civil e os representantes da Secretaria de Saúde. O que as observações realizadas do conselho nesse mandato indicam é que existe uma grande dificuldade de diálogo entre esses atores. Do ponto de vista dos conselheiros da sociedade civil, o secretário de saúde não quer dividir o poder e construir uma relação de diálogo com os conselheiros. Ele não leva em conta a participação da comunidade na deliberação das políticas 8 Ver Silva, M e Junior, B (2009, p. 81). públicas. Já do ponto de vista do gestor, existe uma rejeição a priori com relação ao conselho, partindo do pressuposto de que ele não tem o intuito de trabalhar em parceria com o governo, mas tão somente de rejeitar qualquer tipo de tentativa de aproximação. O que prega a lei é que é necessária uma construção conjunta entre sociedade civil e gestor. Mas para que essa parceria ocorra ainda existe um longo caminho para ser construído. Porque apesar da participação da comunidade na constituição ter sido uma conquista, as conquistas para serem efetivadas precisam ser transformadas, adaptadas. A conquista (da participação da sociedade na gestão pública) naquele momento foi um grande “boom”, mas depois vai tendo que ser alicerçada. Mas no conselho não existe um índice de confiabilidade. Quando eles (conselheiros da sociedade civil) falam, “eu sou do controle social”, eles dão um enfoque que eu só sou “controle cobrador” a participação da comunidade fica restrita a esse controle, mas para que se construa junto é necessário um esforço, é necessário que exista confiança. Confiança, porque eu estou no mesmo conselho que você, mas como pode haver confiança se você olha para mim como um rival? Tudo o que eu falar você vai ser contra, simplesmente porque sou eu que estou falando, por mais que você se esforce, por mais que eu me esforce, a construção sem confiança não é possível. [...] O primeiro contato desse conselho com o secretário foi muito ruim. Sabe aquela primeira impressão catastrófica? O que aconteceu? Ele foi à câmera fazer a prestação de contas. Na primeira vez que chegou aqui ele foi. Lá, os conselheiros se levantaram e chamaram o homem de mentiroso. E o representante da comissão de saúde da câmera daquela época não se colocou nem a favor e nem contra a essa situação. Aí, ele se levantou, saiu da câmera e nunca mais voltou. (Entrevista 5) Para exemplificar essa dificuldade, podemos citar um tema bastante discutido nesse mandato, que foi a organização da décima quinta conferência municipal de saúde. Quando esse mandato começou, a 15ª conferência já estava atrasada fazia três anos. Em todas as reuniões, esse tema esteve em pauta. E esse foi um tema de intenso conflito entre representantes da sociedade civil, trabalhadores e gestores, porque houve uma dificuldade entre representantes da sociedade civil e gestores para chegar a um acordo com relação à organização da 15ª conferência. Essas divergências resultaram na recusa dos conselheiros da sociedade civil e dos trabalhadores em participar da organização da referida conferência, o que possibilitou que ela fosse realizada com a organização exclusiva da Secretaria de Saúde. A Secretaria de Saúde, por sua vez, realizou a conferência com o foco na participação dos conselheiros das unidades básicas de saúde (UBS)9. O conselho municipal entrou 9 Em 2000, a cidade de São Paulo foi dividida em 41 distritos de saúde, aos quais correspondiam 41 conselhos distritais. Em meados de 2003, no governo da Prefeita Marta Suplicy, a administração petista subdividiu a cidade em 31 regiões político-administrativas que na justiça para deslegitimar a décima quinta conferência, mas, como a sociedade civil, na figura dos conselheiros das unidades básicas, havia participado da conferência, o pedido de anulação foi recusado. De acordo com um conselheiro de uma unidade básica, um indício do acirramento da relação entre esses atores é o fato dos conselheiros acessarem muito a via judicial para discutir questões com o secretário de saúde: Tudo dali eles não falam direto com o secretário, mas vão direto falar com um promotor. Existe um promotor que é da área da saúde que é o doutor Virgílio, promotor da vara da saúde, e é ele quem cobra [as ações do secretário]. Mas ele está tão cheio de processo, já tem processo de dois, três anos, que as cobranças só acontecem quando é véspera de eleição. Só nesse momento é que eles percebem que alguma coisa pode melhorar, que podem ajudar o povo, porque o povo vê as melhorias e vota. Mas passou aquele momento, acabou. Aí as outras pendências ficam para o dia que eles quiserem. Entretanto, quanto a essa atitude do conselho municipal, acho que deveria ser um pouco mais flexível, ponderado e acho que eles deveriam interagir com o secretário. Quando o secretário quis participar, foi recebido com pau e pedra nas mãos. Ele tentou dialogar, mas os conselheiros queriam apenas massacrá-lo. O que ele fez? Ele colocou aquela senhora para representá-lo, mas eles começaram a massacrá-la também. (Entrevista 1) Diante desses fatos, esse relato explicita que o conselho municipal desistiu de dialogar com o secretário de saúde ou com sua representante no conselho. Eles escolheram acessar a via jurídica após algumas tentativas de relacionamento com o conselho e após repetidas rejeições por parte dos conselheiros. A exemplo do que aconteceu na tentativa de formulação conjunta da décima quinta conferência, o secretário passou a tentar se relacionar diretamente com os conselhos gestores das unidades básicas de saúde, e não com o conselho municipal. Além disso, O secretário não participa do conselho porque ele não gosta do conselho. Na verdade não é que ele não goste do conselho, mas ele acha o conselho muito partidário e deixa claro nas atitudes dele, que com os conselheiros que só querem massacrar, ele não quer conversar. Por isso ele quer ampliar o número de participantes da sociedade civil, incluindo vagas para representantes das UBS, para ver se entra gente nova e areja essa participação que está muito viciada. (Entrevista 8) Fica evidente, com esta passagem, o posicionamento do secretário, que desistiu de dialogar com o conselho municipal. Ele acredita que esse conselho é muito partidarizado e que ele precisa ser renovado para que haja uma possibilidade de foram chamadas subprefeituras. Em cada subprefeitura foi criado um conselho local e posteriormente foram criados Conselhos gestores em cada Unidade Básica de Saúde de São Paulo. Para mais informações sobre o assunto, ver (COELHO, 2004a e COELHO, 2007). construção conjunta entre esses atores. Tanto que, no início do ano de 2012, criou-se uma resolução para aumentar o número de participantes no conselho, de modo a incluir a participação dos conselheiros das unidades básicas. Evidentemente, os conselheiros do conselho municipal se posicionam contra essa resolução, inclusive porque toda resolução deve ter a aprovação do conselho para ser publicada. Além disso, alguns conselheiros consideram essa inclusão de novos dos conselheiros das unidades básicas como um mecanismo de cooptação por parte do governo na sociedade civil: Veja bem, eu vou ser bem claro, eu sou favorável [à ampliação da participação dos conselheiros das unidades básicas no conselho municipal] desde que essas pessoas sejam atuantes, mas que não sejam aliados a esses ou aquele. O governo ele não é nenhum bobo, tem nosso dinheiro que pode proporcionar tudo isso. Por isso até a dificuldade que eles colocam para o controle social para não andar em conformidade com a lei. O que tem acontecido ultimamente é que tem havido tentativa de cooptação de conselheiros, mas o êxito tem sido pequeno, pela consciência dos conselheiros. Mas é frequente se chegar nas UBSs e ver um gerente orientado pelo supervisor a convidar aquelas pessoas que não vai te dar problema. Em minha opinião, os movimentos precisam preparar sua militância, levar eles nas UBS, ter conselheiros, trabalhar junto com os trabalhadores, com os gerentes, mas às vezes ocorrerá a cooptação. (Entrevista 2) Nesse momento, cabe uma pergunta: a resistência ou o medo da ampliação de participantes no conselho estaria relacionada a um receio de parte dos representantes da sociedade civil por uma renovação dos grupos políticos? Essa é uma questão que ultrapassa o alcance desse trabalho. Nosso foco, aqui, foi investigar o cenário atual do conselho municipal de saúde, enfatizando a representação da sociedade civil na figura dos seus conselheiros. Pelo que pudemos verificar, a representação ocorre apenas de forma parcial. A começar pelo próprio processo de eleição dos conselheiros, via indicações, que, ao que parece, são elaboradas sem uma ampla participação da comunidade nesse processo. Como foi verificado em alguns processos de indicação no movimento popular de saúde, os representantes são indicados a partir de um processo de negociação interna, entre os líderes desse movimento e não, como esperado, pela livre emergência de um candidato da comunidade. Outro ponto importante quanto à representação no conselho é a constatação de uma forte influência dos partidos políticos nas pautas e, principalmente, nas falas dos conselheiros. Foi através das falas dos conselheiros que se verificou a presença marcante de uma acirrada disputa partidária. Os interesses particulares e partidários dos representantes na medida em que se sobrepõem aos interesses comuns na elaboração e controle das políticas públicas, provocam um confronto entre os próprios atores da sociedade civil e representantes do governo, abafando problemas que poderiam ser até mais pertinentes no que diz respeito ao controle social. Entretanto, como foi apontado, essa resistência ocorre em ambos os lados – tanto dos conselheiros com relação ao governo, quanto do governo com relação aos conselheiros – o que indica que, apesar da institucionalização dos espaço de diálogo entre sociedade civil e Estado, existem desafios a serem superados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Até aqui, se discutiu a importância da criação de novos espaços de participação democrática para uma construção conjunta entre atores da sociedade civil e do Estado na elaboração, fiscalização e execução de políticas públicas. Além disso, vimos em maiores detalhes como funciona um desses espaços de participação, o Conselho de Saúde do Município de São Paulo. Foi também apresentado o dia a dia do referido conselho, na tentativa de entender o modo com que o conselho lida com o processo de representação da sociedade civil, bem como a relação com o gestor e com a base que o elegeu. Agora, cabe retomar as ideias iniciais, no intuito de verificar quais foram às contribuições dessa pesquisa para o universo dos conselhos gestores de políticas públicas. O conceito chave que permeia todo esse trabalho é o conceito de representação. Por isso, ele será retomado, no intuito de deixar claro o que se pode verificar com essa experiência, no que diz respeito a esse tema. O conceito clássico de representação, usado como referência para se pensar esses espaços de participação política é o de Pitkin, no qual a legitimidade é baseada numa autorização conferida por parte dos representados aos representantes. Como foi observado, esse modelo não funciona nesses moldes, uma vez que leva em conta uma sociedade na qual a comunidade elege seus representantes em uma competição e que os representantes eleitos são autorizados pelos representados, e suas ações são por eles fiscalizadas. Conforme já haviam alertado Abers e Keck (2008), esse conceito de representação não dá conta da realidade, pois, nos estudos sobre os conselhos gestores, não parece haver uma prestação de contas entre os representantes e sua base de representação. Por isso mesmo, as autoras propõem o princípio de advocacy para traduzir melhor esse processo. Vale lembrar que, na ideia de advocacy, os representantes, se dizendo conhecedores dos interesses de grupos determinados da sociedade, reivindicam o direito de advogar em prol de suas causas. Fazendo uma reflexão sobre o que foi observado nessa pesquisa, pode-se dizer que, no conselho de saúde de São Paulo, os representantes da sociedade civil nem sempre são eleitos por uma ampla base societária, dentro de um processo de autorização desses representantes. O que ocorreu, na maioria das vezes, foi um processo de negociação, no qual os candidatos foram designados como representantes por seus grupos políticos antes mesmo das eleições. E como foi dito anteriormente, caso surja à possibilidade de uma competição de fato, esses grupos entram em acordo, formando uma coligação. Essas características no processo de escolha de representantes estão de acordo, muito mais com o princípio de advocacy do que propriamente com o princípio de accountability. Como vimos anteriormente, a legitimidade não é dada pela autorização, mas é reivindicada pelo princípio de identidade, que, segundo Lavalle, se caracteriza pelo princípio presuntivo, “ou seja, unilaterais por parte daqueles que as exercem e não autorizadas pelos beneficiários em nome dos quais são exercidos” (LAVALLE, 2008, p.70). No que se refere aos mecanismos de estabelecimento da legitimidade da representação dos conselheiros, entende-se que existe uma convivência entre esses dois processos. Por exemplo, no movimento popular de saúde da região Sudeste, o representante foi escolhido antes do dia da eleição, enquanto que os representantes do movimento comunitário são eleitos em assembleia, com ampla participação da comunidade. Além da questão da representação, cabe ressaltar o tema da diversidade de interesses na participação dos conselheiros. Foi constatada, com relação a esse aspecto, a existência de diversos motivos para a participação nesses espaços. Dentre eles, cabe destacar: a busca pela melhoria do Sistema Único de Saúde, as denúncias de irregularidades na área da saúde, a unificação das vozes da comunidade perante a gestão pública. Mas, além desses interesses também foram verificados interesses relacionados a questões político-partidárias. Vários representantes do conselho carregam consigo a legenda partidária a que são filiados e seus vínculos com políticos individuais. Um dos entrevistados, inclusive, mencionou a ligação entre a participação de um conselheiro e a formação de um curral eleitoral. De acordo com o seu relato, haveria um vereador que financia a participação de um conselheiro que, em troca, divulga o nome deste político junto à comunidade, tendo em vista a formação de uma base eleitoral local. Outro exemplo de benefício entre político e conselheiro identificado neste estudo, foi à possibilidade de ajuda de conselheiros na elaboração de programas para um representante político. Outro fato importante que essa pesquisa permitiu revelar foi à influência dos partidos políticos dentro do Conselho de Saúde do Município de São Paulo. Lembrando que, inicialmente, a criação de espaços deliberativos com participação popular estava vinculada a uma espécie de alternativa aos modelos de representação tradicionais e, de modo mais específico, representava uma alternativa à presença dos próprios partidos políticos. Entretanto, conforme algumas pesquisas já haviam indicado (FUKS, 2005; TATAGIBA, 2007; MOURA et al.: 2008), a presença do partido político pautando as falas dos representantes tem sido recorrente. Pode-se perceber, com as observações realizadas, uma dificuldade de diálogo entre os próprios representantes da sociedade civil, bem como entre os representantes da sociedade civil e o governo por conta de interesses ligados aos partidos políticos. Para ilustrar essa dificuldade, pode-se mencionar a desistência da participação de uma conselheira vinculada a um partido específico em plenárias do movimento de saúde vinculado a outro partido. Ou seja, os conflitos partidários acabam por influenciar diretamente nas ações dos próprios representantes do conselho em atividades que seriam de interesse comum. Outro tema relevante diz respeito ao diálogo dos representantes da sociedade civil no conselho com a Secretaria de Saúde. Diálogo este repleto de conflitos, uma vez que não há um entendimento fácil entre essas partes, pois se de um lado o secretário de saúde age como se não concordasse com o posicionamento da atual gestão, do outro lado o conselho dificulta o diálogo com o secretário, partindo da ideia de que ele é intransigente com relação às propostas apresentadas. Apesar da Secretaria de Saúde viabilizar o funcionamento do conselho, através da disponibilização de um espaço físico, de verbas para a locomoção dos conselheiros, e da disponibilização de funcionários que acompanham as reuniões, pode-se dizer que a secretaria, de forma recorrente, não homologa a legitimidade dos conselheiros eleitos, como ocorrido na gestão de 2008/2009 e de 2011/2012, nas quais os conselheiros precisaram entrar na justiça para terem a legitimidade da posse das cadeiras conquistadas no Conselho Municipal de Saúde de São Paulo. Em contrapartida, os conselheiros tem dificuldade em estabelecer um diálogo construtivo com o governo (na figura do secretário de saúde), como em diversas situações em que o secretário foi insultado por representantes do conselho, ponto a partir do qual o próprio secretário não mais apareceu no conselho, tendo nomeado sua suplente para exercer a função. Mesmo com essa nomeação, ainda não foi possível se estabelecer um diálogo construtivo, uma vez que os conselheiros não aceitaram a representação da suplente como legítima, nem criaram condições para que o próprio secretário participasse do conselho. Representantes do próprio conselho acreditam que essa postura intransigente, dificulta ainda mais um funcionamento produtivo do conselho. Vale lembrar que, em sua origem, o conselho foi pensado como um espaço de diálogo entre atores da sociedade civil e do Estado para a avaliação, implementação e fiscalização de políticas públicas. Entretanto, parece que os interesses partidários, tanto por parte do secretário, mas principalmente por parte dos representantes da sociedade civil fazem com que a relação entre esses dois atores seja uma espécie de cabo de força, no qual interessa mais do que a construção conjunta, a sobreposição de posicionamentos políticos, capaz de priorizar o confronto em detrimento do diálogo. O cenário apresentado pode parecer excessivamente problemático, se compararmos o funcionamento do Conselho de Saúde de São Paulo (no mandato de 2010-2011) com a proposta inicial de servir como mecanismo de estabelecimento de diálogo e construção conjunta entre Estado e sociedade civil. No entanto, não há dúvida que existe uma interação entre os atores dessas duas esferas, ainda que essa interação possa e deva ser aprimorada, tendo em vista sempre os ideias democráticos que se pretende construir. Além disso, cabe ressaltar que esse caso específico não pode ser generalizado como o paradigma de funcionamento dos conselhos gestores. Ele representa quando muito um modo de funcionamento particular, mas que pode servir para refletir sobre como as ideias iniciais sobre democracia participativa tem se concretizado nas diversas experiências de conselhos no Brasil. Segundo Margaret Keck (2007), essas arenas vem se apresentando não como espaço de conciliação de interesses comuns, mas sim como possibilidades de expressão de construção a partir das diferenças. Apesar da diversidade de interesses e dos conflitos que lhes são inerentes, esses espaços se apresentam como um lugar de “interações fecundas”. Ou seja, a partir de interações não imaginadas inicialmente, os indivíduos podem se dar conta de novas possibilidades de construção democrática, a partir de recursos disponíveis. Dessa forma, a criação de novos espaços de interação como esses gera a possibilidade de trabalhar com os recursos disponíveis de uma forma inédita, contribuindo para a construção continuada de uma sociedade mais democrática. PERFIL DOS ENTREVISTADOS QUE FORAM DIRETAMENTE CITADOS NO ARTIGO Entrevista 1 – Representante suplente do segmento dos movimentos sociais de Saúde da região Centro no Conselho de Saúde do Município de São Paulo no mandato passado (2010/2011). Representante titular da unidade básica de saúde da Santa Cecília. Iniciou sua militância na década de 1990 na Ação da Cidadania e participa do Movimento social de habitação. Entrevista realizada no dia 20/11/2011. Entrevista 2 – Representante suplente do segmento dos movimentos populares de saúde da região Sudeste no Conselho de Saúde do Município de São Paulo no mandato passado (2010/2011) e foi eleito titular da região sudeste no mandato atual (2012/2013). É Conselheiro em uma Unidade básica, supervisão técnica e do CONDEF. Foi um dos fundadores do Partido dos trabalhadores (PT) em São Paulo e também militou pela reabertura democrática durante a ditadura. Entrevista realizada no dia 22/03/2012. Entrevista 3 – Representante do segmento dos movimentos Comunitários no Conselho de Saúde do Município de São Paulo na gestão (2010/2011). Também é assessora parlamentar de um Vereador do PCdoB. Entrevista realizada no dia 26/03/2012. Entrevista 4 – Representante titular do segmento dos movimentos Comunitários no Conselho de Saúde do Município de São Paulo no mandato passado (2010/2011). Foi representante do Conselho Municipal de Saúde em 1999 e também já fez parte do Conselho Estadual de Saúde de São Paulo. Faz parte do Conselho Nacional Do Laicato Do Brasil (CNLB) e fez parte dos representantes da sociedade civil na elaboração da Constituição de 1988 em Brasília. Entrevista realizada no dia 26/04/2012. Entrevista 5 – Suplente do Secretário de Saúde no Conselho Municipal, na gestão de 2010/2011. Na década de 1980 participou de movimentos pela promoção da saúde como instrutora da prefeitura no CEFOR e no projeto “Larga Escala”. Foi instrutora na formação de lideranças comunitária para o controle social na região Sudeste. Trabalhou como dentista em Unidades básicas em São Paulo e quando se aposentou foi convidada pela Secretaria de Saúde para coordenar o setor de participação popular. Entrevista realizada no dia 26/04/2012. Entrevista 7 – Representante suplente do segmento do movimento popular de saúde da Zona Norte eleito no mandato atual (2012/2013). Antes de se tornar conselheiro, participou de todas as reuniões do mandato anterior, também é militante do movimento antimanicomial. Entrevista realizada no dia 26/04/2012. Entrevista 8 – Secretário geral do Conselho de Saúde do Município de são Paulo. É funcionário da Secretaria de Saúde. Entrevista realizada no dia 08/05/2012. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERS. Rebecca Neaera; KECK, Margaret E. Representando a diversidade: Estado, sociedade e “relações fecundas” nos conselhos gestores. In: Cadernos CRH, vol. 21, n° 52, 2008. AVRITZER, Leonardo; NAVARRO, Zander (Org.) A inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003. AVRITZER, Leonardo. Democracia, Participação e Instituições Híbridas. In: Teoria & Sociedade, Belo Horizonte, n° especial, março de 20 05. BRASIL. 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