Til – José de Alencar Enredo Besita, moça pobre, porém das mais belas da região, é objeto de desejo tanto de Luis Galvão, jovem fazendeiro, quanto de Jão, um órfão que foi criado junto com Luis Galvão. A moça corresponde ao amor do rico fazendeiro, mas este não tem interesse em desposar Besita, pois ela é pobre. Influenciada por seu pai, Besita acaba casando-se com Ribeiro. Esse, logo após a noite de núpcias, parte em viagem para resolver problemas relacionados a uma herança de família e fica anos afastado. Durante o período em que Ribeiro não se encontra pela região, Luis procura Besita, que o recebe achando tratar-se de seu marido. Desse encontro nasce Berta. Uma tarde, Ribeiro retorna e, ao encontrar sua esposa com uma filha, descontrola-se e assassina Besita. Jão não consegue evitar a morte dela, mas consegue salvar Berta, que passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Zana, uma negra que vivia com Besita, enlouquece após presenciar o assassinato desta. Jão torna-se capanga dos ricos da região, cometendo vários assassinatos e tornando-se o temido o Jão Fera. Quinze anos depois de assassinar sua esposa, Ribeiro retorna irreconhecível e com o nome de Barroso. Com o propósito de vingar-se de Luis Galvão, ele contrata Jão Fera, que não o reconhece. Porém, Berta descobre os intentos de Ribeiro e consegue salvar Luis. Em uma segunda tentativa, dessa vez com a ajuda de alguns escravos da Fazenda das Palmas, Ribeiro incendeia o canavial. Ao tentar apagar o fogo sozinho, Luis leva uma pancada na cabeça. Quando está para ser lançado ao canavial em chamas, Luis é salvo por Jão, que mata os responsáveis pelo incêndio, com exceção de Ribeiro. Após isso, Jão Fera é preso em Campinas. Sabendo da ausência desse, Ribeiro planeja uma outra vingança, dessa vez contra Berta. Aproxima-se dela, que está com Zana, mas nesse momento chega Jão (que tinha se libertado) e mata Ribeiro de forma violenta. Brás, sobrinho de Luis com problemas mentais, leva Berta para ver a cena. Ela foge horrorizada e João, sabendo que a moça o desprezava a partir de então, entrega-se a polícia. Em certo momento, Luis decide contar toda a verdade para sua esposa, D. Ermelinda. Em um primeiro momento ela se entristece, mas depois passa a apoiar o marido e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. Dessa forma, os dois a procuram e contam tudo, omitindo as partes desagradáveis. Jão foge mais uma vez da prisão e vai procurar Berta. Desconfiada que Luis Galvão e sua esposa escondem algo, ela implora a Jão que conte toda a verdade sobre a história de sua mãe Besita, o que Jão faz. Berta se emociona com a história e abraça Jão, dizendo que ele sempre cuidou dela, sendo, então, seu pai. Luis quer que Berta vá morar com ele, mas ela nega e pede que ele leve Miguel. Todos partem e Berta fica na fazenda com Jão Fera e Brás. O livro é dividido em duas partes. A primeira serve como apresentação das personagens e das tramas e é nela que conhecemos Berta, personagem central do romance e típico arquétipo da heroína romântica. Nessa primeira metade da obra, o que mais chama a atenção é a contrariedade do comportamento de Berta (cujo apelido é Til): sempre movida por boas intenções, ela usa de sua influência e bondade para manipular as outras personagens. Já na segunda metade do romance temos o desembaraço das tramas apresentadas e suas revelações. Os cenários deixam de ter uma descrição objetiva e material para adquirir um significado mais subjetivo, relacionado ao passado oculto das personagens. É nessa parte do livro que acompanhamos Berta em seu descobrimento sobre a morte de sua mãe e suas consequências. Em um final surpreendente, Berta abre mão de sua própria felicidade em prol das demais personagens. O romance é narrado em terceira pessoa e o narrador é onisciente neutro, ou seja, ele conhece todos os pensamentos e planos das personagens e os revela ao leitor, mas não há intromissões autorais diretas. O tempo é predominantemente psicológico, ou seja, o romance não segue uma narrativa linear e o narrador manipula o tempo conforme as circunstâncias. Assim, o narrador pode ir ao passado e ao futuro sem obedecer às ordens do tempo cronológico. Após a independência política do Brasil, os escritores românticos param de buscar na figura idealizada do índio o modelo de brasilidade. Agora, o “ser brasileiro” não se encontra mais na floresta, entre rios e animais selvagens, mas sim nas cantigas do povo, nas fazendas e até mesmo na corte. "Til", como um dos mais destacados romances regionalistas de Alencar, é um retrato do Brasil rural do século XIX. A cidade que José de Alencar utiliza para a ambientação do romance é Campinas, localizada no interior de São Paulo. Nessa região encontram-se aspectos sociais conflitantes e o escritor demonstra-os no livro. Por exemplo, Miguel é um homem pobre e marginalizado que precisa terminar os estudos na capital se quiser se casar com Linda. Entre outros temas, o romance apresenta festas regionais caipiras como a de São João e o namoro que envolve essa data. Berta é a meiga e bela heroína, que atrai o carinho e a atenção de todos. Sempre com a decisão e força de todo bom herói, não mede esforços para conseguir realizar seus intentos e não hesita em se sacrificar pelo bem dos outros. Ela é um arquétipo das virtudes cristãs: a caridade, a solidariedade, a fraternidade, entre outras. Moça simples e bondosa, não tem nenhuma atitude estudada para ganhar proveito próprio. Sua influência sobre as demais personagens da obra são reflexo de personalidade franca e atenciosa. Dessa forma, Berta surge como elemento de ligação e fraternidade entre todos. Outro dado que sustenta esta interpretação é o fato de Berta ensinar rezas à Brás, sempre com a atitude compassiva própria de uma freira. Personagens: a) Afonso, irmão de Linda e apaixonado por Berta; b) Berta, também conhecida como Til, personagem principal, descrita como "pequena, esbelta, ligeira, buliça, altruísta"; c) Besita, mãe de Berta, assassinada pelo seu marido, Ribeiro; d) Brás, deficiente mental, sobrinho de Luís Galvão; e) Chico Tinguá, dono da hospedagem da estrada de Santa Bárbara, amigo de Jão Fera e marido de Nhanica. f) Domingão, professor de "primeiras letras", um "mestre latagão de verbo alto e punho rijo"; g) Dona Ermelinda, esposa de Luís Galvão, não conhece o passado do marido; h) Faustino, pajem de Luís Galvão, participante da trama para matar seu amo. Foi morto por Jão Fera; i) Gonçalo Suçuarana, também conhecido com Pinta, jagunço, tinha inveja da fama ameaçadora de Jão Fera. Foi morto por Jão Fera; j) Inhá Tudinha, viúva, mãe de Miguel e mãe adotiva de Berta; k) Jão Fera, também conhecido como Jão Bugre, jagunço, apaixonado por Besita (mãe de Berta) na juventude, zela por Berta à pedido de sua amada; l) Linda, filha de Luís Galvão e amiga de Berta, apaixonada por Miguel; m) Luís Galvão, pai de Linda, marido de dona Ermelinda; n) Miguel, filho de Inhá Tudinha, inicialmente apaixonado por Berta, passa a gostar de Linda à pedido de sua amada; o) Monjolo, escravo de Luís Galvão, participante da trama para matar seu amo. Foi morto por Jão Fera; p) Ribeiro, também conhecido como Barroso, marido de Besita, matou sua esposa por ciúmes; q) Zana, mucama de Besita, enlouqueceu após presenciar a morte da ama; r) Eugênio de Figueiredo, marido de Nhá Tudinha; companheiro e amigo de Luís Galvão; s) Fausta, preta de meia idade, escrava de Nhá Tudinha; t) Pai Quicé, escravo da fazenda das Palmas.