ANAIS SEMINÁRIO NACIONAL ESTATÍSTICAS SOBRE DOENÇAS E ACIDENTES DO TRABALHO NO BRASIL: SITUAÇÃO E PERSPECTIVAS 6 A 8 DE NOVEMBRO DE 2000 Auditório da FUNDACENTRO Centro Técnico Nacional São Paulo - SP Equipe do Programa Nacional de Melhoria de Informações e Estatísticas sobre Doenças e Acidentes do Trabalho - PRODAT Coordenação Celso Amorim Salim (Coordenador Técnico) Maria Inês Franco Motti (Coordenadora Pedagógica) Edna Corrêa (Coordenadora Pedagógica) Pesquisadores José Damásio de Aquino Maria Inês dos Santos Maria Isabel Yuki Myriam Matsuo Analista Consultor Paulo Jurza Comissão Organizadora do Seminário Celso Amorim Salim Edna Corrêa Maria Inês Franco Motti Maria Isabel Gonçalves Yuki Maria Inês dos Santos Durante a finalização desses Anais, tivemos a triste notícia do falecimento do estimado amigo e colega Luiz Armando de Medeiros Frias, ocorrido em janeiro de 2002. Como eminente estatístico e demógrafo, Luiz Armando, com sua vasta experiência e sólidos conhecimentos, em muito colaborou para o sucesso desse Seminário, através de ativa participação, com pertinentes colaborações, críticas e comentários. Ao registrarmos nossa tristeza, destacamos, ainda, o nosso reconhecimento e profunda gratidão pela sua inestimável contribuição. Nesse sentido, lhe prestamos uma singela homenagem, dedicando-lhe esse trabalho final. Sumário APRESENTAÇÃO................................................................................................................................................... 7 ABERTURA............................................................................................................................................................. 9 JOSÉ GASPAR FERRAZ DE CAMPOS ................................................................................................................................. 9 SÔNIA BOMBARDI .......................................................................................................................................................... 11 CELSO AMORIM SALIM ................................................................................................................................................... 13 CONFERÊNCIAS INAUGURAIS........................................................................................................................ 15 O PROGRAMA BRASILEIRO DE QUALIDADE E PRODUTIVIDADE E A SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO .......................................................................................................................... 15 POPULAÇÃO E CONDIÇÕES DE TRABALHO NO BRASIL:TEMAS E PERSPECTIVAS...................................................... 21 PAINEL I – BASES DE DADOS E ESTATÍSTICAS SOBRE A RELAÇÃO SAÚDE-TRABALHO NO BRASIL.................. 27 INFORMAÇÕES E CONTROLE DA “COMUNICAÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO - CAT” SEGUNDO O MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL. ........................................................................ 29 DADOS SOBRE A SAÚDE DO TRABALHADOR SEGUNDO O DATASUS/MS.................................................................... 35 MORTALIDADE POR CAUSAS E ACIDENTES DO TRABALHO SEGUNDO O SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE MORTALIDADE ................................................................................................................... 43 AFASTAMENTOS E LICENCIAMENTOS SEGUNDO O SISTEMA RAIS-CAGED ................................................................ 47 COMENTÁRIOS............................................................................................................................................................... 53 PAINEL II – GESTÃO, INTEGRAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS ................................. 57 INFORMAÇÕES DO SISTEMA FEDERAL DE INSPEÇÃO DO TRABALHO/SFIT ............................................................... 59 INDICADORES SOCIAIS SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO SEGUNDO AS BASES DE DADOS DO IBGE .............. 63 POSSIBILIDADES DE USO DAS GRANDES BASES DE DADOS NACIONAIS .................................................................... 67 COMENTÁRIOS............................................................................................................................................................... 75 PAINEL III – ESTATÍSTICAS SOBRE DOENÇAS E ACIDENTES DO TRABALHO: QUESTÕES GERAIS, TÉCNICAS DE MENSURAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE INDICADORES ....................................................................... 81 ESTATÍSTICAS SOBRE DOENÇAS E ACIDENTES DO TRABALHO NO BRASIL: LIMITES E POSSIBILIDADES .................. 83 ACIDENTES DE TRABALHO: IDENTIFICAÇÃO E MENSURAÇÃO DOS CASOS FATAIS................................................... 89 ACIDENTES DE TRABALHO EM TRABALHADORES DOS SETORES ’FORMAL E INFORMAL DA ECONOMIA NA RMSP......................................................................................................... 95 ACIDENTES DO TRABALHO COMO REALIDADE TRÁGICA NO TRÂNSITO: PROBLEMAS, HIPÓTESES E MENSURAÇÃO. ................................................................................................................... 95 COMENTÁRIOS............................................................................................................................................................. 103 4 PAINEL IV – ESTATÍSTICAS SOBRE DOENÇAS E ACIDENTES DE TRABALHO: PESQUISAS E RELATO DE EXPERIÊNCIAS ............................................................................................................................... 107 ACIDENTES DO TRABALHO DENTRE OS ATENDIMENTOS POR CAUSAS EXTERNAS NUM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA EM SALVADOR, BAHIA. .................................................................................................................... 109 TRABALHO E VIOLÊNCIA: BUSCA ATIVA DE ACIDENTES DE TRABALHO FATAIS........................................................ 113 ACIDENTES DE TRABALHO NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO: ESTATÍSTICAS EXTRAÍDAS DOS ANEXOS I E II DA NR-18 ................................................................................................................................................................ 117 DOENÇAS OCUPACIONAIS E ACIDENTES DO TRABALHO NO SETOR MINERAL ....................................................... 123 COMENTÁRIOS............................................................................................................................................................. 133 MINICURRÍCULOS............................................................................................................................................ 137 ANEXO ............................................................................................................................................................ 143 Painel I........................................................................................................................................................................... 143 Painel II ......................................................................................................................................................................... 146 Painel III ........................................................................................................................................................................ 151 PAINEL IV ...................................................................................................................................................................... 154 ENCERRAMENTO............................................................................................................................................. 159 5 6 Apresentação E sse Seminário constitui parte das metas do Programa Nacional de Melhoria das Informações e Estatísticas sobre Doenças e Acidentes do Trabalho – PRODAT, desenvolvido pela FUNDACENTRO. Criado em 1999, o PRODAT tem como escopo maior desenvolver, por meio de ações cooperativas, estudos, pesquisas e atividades educativas, objetivando a consolidação de proposta técnica para a melhoria na geração, tratamento, análise e disseminação sistemática de informações e estatísticas que cobrem o universo dos eventos relacionados ao quadro de acidentes e doenças do trabalho no Brasil. Nesse sentido, vem privilegiando pelo menos três requisitos: primeiro, estudos envolvendo a testabilidade de novos métodos de análise e mensuração ou aperfeiçoamento dos existentes; segundo, pesquisas que, estrategicamente, busquem mensurar o quadro de saúde e segurança no setor informal do mercado de trabalho; terceiro, a capacitação de corpo técnico tanto para gerir e operar bancos de dados, como para realizar trabalhos de modelagem estatística. Apesar dos percalços que lhe são inerentes, esse Programa, transformado em espécie de fórum especializado, paulatinamente vem agregando pessoas e instituições capazes de efetivamente alavancar as principais metas consignadas em seus objetivos. Exatamente por isso, a sua equipe técnica sente-se mais do que motivada a dar continuidade ao enfrentamento de seus desafios intrínsecos. Celso Amorim Salim Coordenador do PRODAT 7 8 Abertura José Gaspar Ferraz de Campos Diretor Executivo da FUNDACENTRO A qui neste seminário sobre estatística, lembrei-me do artigo do Professor e Economista Roberto Campos, que li há algum tempo, o qual dizia que a estatística é como a moça de biquíni na praia, sempre esconde aquilo que a gente gostaria de ver. A estatística tem essa capacidade, às vezes, os números não revelam a verdade, não revelam a essência da verdade, eles revelam parte da verdade, não os números em si, mas a leitura dos números. Ela tem que ser política com p maiúsculo, e ela não pode ser uma leitura cartesiana, porque o resultado vai revelar coisas muito estranhas . Por exemplo, a Europa denuncia que o Brasil, em alguns anos queimou dez ou cem mil campos de futebol na Amazônia. Se vocês fizerem a conta, isso eu já escuto há alguns anos, desde a véspera da Rio 92, da quantidade de campo de futebol que já queimou na Amazônia, com certeza vocês não vão sobrevoar a região Amazônica durante quatro horas olhando para baixo, aquele tapete verde. Admito que se queime, mas não é tanto campo de futebol assim, não tem conta que resista a uma coisa dessas, e a estatística também é isso, a somatória dos números tem que ter uma somatória e uma leitura teórica à luz de uma concepção, Outro exemplo: a OIT publicou há alguns anos um caderninho de estatística, no qual colocava o Brasil com mais acidente do que Burundi, um país da África onde penso que não tenha nem Ministério do Trabalho, onde não tem nem indústria, é um país extremamente agrário, um país muito pequeno, não só dentro do contexto internacional, como do Africano. Primeiro, isso demonstra uma grande má vontade com o Brasil e, segundo, uma leitura muito terrível sobre os acidentes de trabalho, de onde tiraram esse número, que Burundi tem menos acidente de trabalho do que o Brasil, quantos cidadãos de Burundi estão inseridos na indústria, quantos trabalham com máquina proporcionalmente relacionando isso com o Brasil, não dá nem para discutir uma coisa dessa. Então, nós precisamos ter muito cuidado com a leitura dos números. Esse seminário adquire uma importância bastante grande por não camuflar os dados sobre acidentes de trabalho no Brasil. Porém, nós não temos um diagnóstico dos acidentes de trabalho no Brasil, nós temos números, diagnósticos dispersos, e não um diagnóstico claro dos acidentes de trabalho. Continuamos dizendo que a construção civil é o principal responsável pelos acidentes de trabalho no País pelos números que temos, e isso precisa ser revisto, precisa ter uma política de Estado no Brasil para que tenhamos um diagnóstico claro dos acidentes de trabalho, de que tipo de acidente de trabalho e quais vão ser as prioridades no combate. Nós começamos a trabalhar agora um programa junto ao Ministério da Justiça na questão de acidentes com produtos perigosos no transporte. Os dados têm revelado coisas da área ambiental que têm relação direta com o trabalho e vice-versa. São dados que nós na FUNDACENTRO não tínhamos e que agora estamos começando a trabalhar juntamente com a Confederação Nacional do Transporte, por meio do Dr. Dário Ferraz que é o representante no Conselho Curador, e outras instituições, para termos uma idéia do nível de acidente do trabalho que ocorre no transporte de 9 carga e no transporte, (intermunicipal e interestadual), de passageiros no Brasil. Então, a estatística é uma questão muito importante, é fundamental, mas nós precisamos saber trabalhar com os números para que não trabalhemos contra nós mesmos, porque hoje vivemos uma situação globalizada. Eu nunca vi os Estados Unidos e a França abrir mercado para o Brasil sem preço.Vocês devem ter visto a retaliação que nós sofremos recentemente e isso tem a ver com posto de trabalho no País. A retaliação sofrida, muitas vezes, na Organização Mundial do Comércio, no Mercosul, aqui pertinho de nós, e a retaliação que nós sofremos para exportar alguns produtos nossos para os países do Norte, ou seja, Estados Unidos e Canadá. É importante que tenhamos em conta que a globalização não derrubou fronteiras nacionais. Pergunte para algum americano se você entra nos Estados Unidos e vende alguma coisa lá sem um acordo prévio. Não, não vende. Então, quando importamos produtos e não temos a compensação na balança comercial, a conseqüência não é só esse desajuste, que são números, mas também um problema de desemprego no País. É importante a questão das estatísticas de acidente de trabalho, eu tenho dito isso em todos os foros. Nós temos que tratar essa questão profissionalmente, definir políticas como se está definindo agora o Ministério do Trabalho da redução dos acidentes fatais, assim como a questão dos empregos formais e informais. Nós temos que ter uma política, por quê? Porque isso vai transformar-se em barreiras alfandegárias num futuro muito próximo, na Organização Mundial do Comércio, na Alca, no Mercosul, vai ser o castigo que os países vão pagar, assim como querem nos fazer pagar pela devastação da Amazônia. Então, é fundamental que nós, a FUNDACENTRO e as pessoas aqui presentes, representando as instituições, tenham uma leitura muito séria e saiam desse seminário com uma proposta técnica para ser encaminhada para o governo brasileiro e para os órgãos competentes do Ministério do Trabalho. Precisamos saber, claro, quais são os acidentes de trabalho no Brasil que causam mortes fatais, que causam doenças profissionais, algumas irreversíveis, para que se tenha uma política pública muito articulada com o Ministério da Saúde, porque parte da recuperação de alguns acidentes de trabalho é feita pelas Universidades Federais que recebem recursos do Ministério da Saúde. Então, é importante que, não só o acidente de trabalho, mas a correção do acidentado seja muito bem encaminhada para que nós não criemos, porque já temos, não vou dizer um exército, mas uma unidade importante no País de pessoas mutiladas que não têm mais nenhuma chance de voltar ao mercado de trabalho. Quem viu o livro que o Clemente produziu em Osasco, já na quinta edição? Quero aqui abrir um parêntese para cumprimentar o Clemente que se elegeu vereador em Osasco, pelo Partido Socialista Brasileiro e que, em janeiro, estará tomando posse. O Clemente é um grande batalhador e parceiro da FUNDACENTRO na busca de números e estatísticas sobre acidentes de trabalho. As vítimas, vocês vão ver, são pessoas que não têm nenhuma condição de se recuperar. Não têm técnica, não têm ciência, que consiga recuperar uma pessoa que perdeu os dois braços, que perdeu as duas pernas na altura da virilha. Não só o problema em nível pessoal, em nível econômico para o País, mas, principalmente, a desagregação familiar. A pessoa acidentada, que perde uma parte do corpo, passa a ter uma relação muito complicada com a família, de se aceitar, da família aceitar. Em geral, ele parte para o alcoolismo, o filho vira bandido e a filha vira prostituta. Isso, falando muito francamente, é a realidade, nós temos visto isso, nós que andamos por aí, como o Clemente sabe muito bem, pelas quebradas dessa grande São Paulo e desse Brasil, vemos isso claramente. Parabéns a vocês pela iniciativa deste importante seminário que conta com coordenação técnica da FUNDACENTRO, da Dra. Sônia Bombardi. Podemos dar a nossa contribuição para que o País, o Estado brasileiro, possam ter uma revelação real dos números de acidente de trabalho para que haja uma política de redução de acidente de trabalho e de doenças profissionais. Obrigado e bom dia a todos. 10 Sônia Maria José Bombardi Diretora técnica da FUNDACENTRO B om dia. Depois dessas considerações do Dr. Gaspar, eu gostaria de lembrar para vocês como essa atividade está inserida no contexto das atividades técnicas da FUNDACENTRO. Bom, nós distribuímos nossas atividades, dentre outras, entre programas prioritários nacionais. Então, nós temos programas que envolvem o nosso pessoal do Centro Técnico Nacional e das unidades descentralizadas, que são treze, distribuídos em várias áreas do conhecimento, por exemplo: nós temos um programa prioritário na área de educação, outro na área da agricultura, para pequenas empresas, para proteção ao trabalhador adolescente. Especificamente, um dos programas que nós temos é o que está vinculado à questão das estatísticas de acidentes do trabalho. Por isso, na minha opinião, esse seminário vai se constituir num momento histórico para a FUNDACENTRO e para o Ministério do Trabalho e Emprego. Por que eu estou falando isso? Porque há muito tempo nós temos uma demanda, tanto dos empresários, como dos trabalhadores e dos técnicos que trabalham na área de segurança e saúde, de possibilitar ou promover a melhoria da qualidade dos dados em estatísticas em acidentes de trabalho. Em vários seminários e congressos que a gente faz, quando as pessoas perguntam quais são as atividades da FUNDACENTRO, o que faz, como está trabalhando, por muitos anos somos cobrados, e nós estivemos nos preparando por um tempo para poder responder essas demandas. E foi com muita satisfação que nós recebemos há dois ou três anos, vindo do CNPq, o Celso Salim, que é o coordenador do nosso programa de estatísticas como funcionário da FUNDACENTRO. Ele é uma pessoa que tem experiência na área e conhece as pessoas que tratam do assunto. E foi através da nossa regional, em Minas Gerais, que nós começamos a desenvolver esse trabalho. Obviamente, com a ajuda de algumas pessoas aqui do Centro Técnico, que também se preocupavam com isso, como a Monika Schorr e o José Damásio de Aquino. São pessoas que também se interessam pelo assunto e que também têm outras atribuições, além dessa questão. O José Damásio, por exemplo, é o chefe do nosso Setor de EPI’s. Então, além do conteúdo técnico, qual foi o mérito principal do Celso Salim? Foi conseguir integrar ou pelo menos chamar as pessoas que trabalham com o assunto em diversos órgãos, ou seja, que trabalham com estatísticas, não apenas de acidentes, mas também com aquelas relacionadas à questão das doenças para discutir.A primeira atividade, afora todas as articulações feitas com os diversos órgãos, foi coordenar um curso para o próprio pessoal da FUNDACENTRO e para outros interessados lá em Minas Gerais sobre a questão.Alguns de vocês estiveram lá, ou como docentes, ou como professores, e foi extremamente interessante. De onde, aliás, surgiu a idéia de realizarmos esse Seminário, no qual discutiremos, não apenas questões relativas à melhoria da qualidade dos dados em estatísticas de acidentes e doenças no trabalho, como, além de evitar, ou para que possamos argumentar quando, por um acaso, depararmos com estatísticas camufladas, como o Dr. Gaspar citou, mas, principalmente, para poder subsidiar as políticas de governo na área de segurança e saúde no trabalho. Vários órgãos que estão representados aqui não têm especificamente essa atribuição, mas têm, com certeza, estatísticas que vão nos ajudar muito nesse campo. E essa melhoria só vai ser conseguida se a gente conseguir integrar e conversar, aliás, seguindo até uma tendência do próprio Ministério da Saúde, que há algum tempo vem promovendo reuniões como aquelas da RIPSA, que é uma rede integrada, e vocês também devem conhecer. Portanto, dando seqüência àquela série de discussões, que é uma discussão extremamente interessante, porque a maioria das bases de dados que a gente precisa consultar para ter um determinado planejamento na área de segurança e saúde, em especial 11 na FUNDACENTRO, como é dito aí na linguagem corrente, não se conversam e, por isso, temos um série de dificuldades. E nós precisamos saber o que está acontecendo. Nós estamos trabalhando há muitos anos, por exemplo, a FUNDACENTRO, há mais de trinta anos, trabalha na área de segurança e saúde e ela tem que mostrar para a sociedade quanto é, qual foi a contribuição efetiva dela na diminuição dos acidentes, porque falamos: não, nós diminuímos, nós, indiretamente colaboramos, fizemos isso, fizemos aquilo, nós temos relatórios e relatórios aí de tudo que nós fizemos, mas as pessoas não se contentam com isso e mais do que as pessoas não se contentarem, em todos os países o que as pessoas precisam são dados concretos e nós também precisamos deles para demonstrar claramente que, em algumas das nossas atividades, ou em alguns dos setores econômicos que nós nos dedicamos, o número de acidentes efetivamente diminuiu. Mas tem que demonstrar e tem que explicar muito bem, com base em dados técnico-científicos, que estamos indo na direção certa, ou, se não estamos, então nós precisamos corrigir os nossos rumos. Por isso, eu tenho uma expectativa muito grande em relação a esse Seminário. Então, eu quero cumprimentar o pessoal, a equipe do Celso Salim, que, por meio da nossa Regional de Minas Gerais, teve a iniciativa de propor esse Seminário, e a equipe toda aqui do CTN, tanto da Área de Educação como da Divisão de Eventos, que está colaborando para que esse Seminário seja o mais eficaz possível, no sentido de resolver esses problemas. Se for pelo nível das pessoas de fora da FUNDACENTRO, que foram convidadas para expor, com certeza vamos ter ótimos resultados. Eu espero que na quarta-feira, nós estejamos todos aqui de novo para poder sair com algumas conclusões ou alguns rumos. Se não resolver, pelo menos as questões que aqui foram levantadas pelo Dr. Gaspar, ou melhor, uma parte delas, tenhamos, então, proposições e encaminhamentos. Obrigada. 12 Celso Amorim Salim Coordenador do PRODAT, FUNDACENTRO-MG B om dia a todos. Antes de tudo, externamos as nossas boas vindas a todos os participantes. Neste momento, também gostaríamos de registrar alguns agradecimentos. Em primeiro lugar, agradecemos, enfaticamente, a direção dessa casa, que nos deu um apoio decisivo nessa reta final, e, ao fazê-lo, mesmo sob o risco de cometer injustiça, destacamos os nomes da Dra. Sônia Bombardi, Diretora Técnica da FUNDACENTRO, e do Dr. Paulo Bregunci, Chefe do Centro Regional de Minas Gerais. Em particular, gostaríamos de agradecer a todo pessoal que compõe a Equipe Técnica do PRODAT, a Comissão Organizadora e a Divisão de Eventos. As duas últimas, em curto espaço de tempo, não mediram esforços, e de forma muito determinada, cuidaram, com competência, de todas as atividades burocráticas relacionadas a esse Seminário. Por fim, agradecemos aos órgãos e às pessoas que aqui vieram na condição de palestrantes ou para realizar importantes comentários relativos aos painéis programados. Destacamos, ainda, que estamos confiantes, concordando com o Dr. José Gaspar e a Dra. Sônia Bombardi que esse Seminário traduz-se em evento histórico e singular, posto que não temos notícia de outro evento dessa natureza no País, em período recente. Como tal, ele faz parte, ou melhor, é uma das metas do programa que coordenamos, que é o Programa de Melhoria das Informações e Estatísticas sobre Doenças e Acidentes do Trabalho no Brasil - PRODAT. Programa esse sobre o qual iremos, agora, discorrer rapidamente. Em sua extensão, o título desse Programa resume simultaneamente o seu objetivo e meta maiores, ao propor um avanço em relação ao atual quadro das estatísticas disponíveis na área. Neste sentido, o objetivo geral do Programa é promover e desenvolver estudos, pesquisas, atividades e propostas técnicas visando a melhoria de dados, estatísticas e indicadores sobre o quadro de doenças e acidentes de trabalho no Brasil. Seus objetivos específicos são: 1) apoiar estudos e pesquisas que incluam a testabilidade de novos métodos e técnicas capazes de cobrir o setor informal do mercado de trabalho, nos quesitos relacionados às condições de saúde e segurança - lacuna, registre-se, bastante expressiva no rol das informações disponíveis; 2) capacitar equipes técnicas, tanto para gerir e operar banco de dados, como para as atividades específicas, mas essenciais, de análise e modelagem estatística; 3) desenvolver metodologia e programas para o acesso integrado às bases de dados corporativas, já mencionadas pela Dra. Sônia Bombardi, que são SIM, RAIS-CAGED, DATAPREV, DATASUS, etc. Sem dúvida, isso é um pouco de “sonho” do Programa. Todavia, nós já estamos tentando viabilizar essa integração, por meio de um sistema de informações que estamos implantando em Minas Gerais, o SIDAT, ou seja, Sistema de Informações sobre Doenças e Acidentes do Trabalho; 4) realizar, em áreas selecionadas, pesquisa em nível domiciliar relativa a três grandes temas: exposição aos riscos no ambiente de trabalho, perfil acidentário e doenças ocupacionais; 5) avaliar, em termos técnico e financeiro, a viabilidade de se realizar, em caráter sistemático e periódico, pesquisa de base populacional com abrangência nacional; 6) fornecer subsídios aos programas, projetos e atividades técnicas desenvolvidas pela FUNDACENTRO. Já a metodologia adotada, por ser tipicamente processual, elimina a idéia de algo acabado ou fechado. Sendo assim, suporta-se, dinamicamente, nas seguintes atividades: 1) diagnósticos sobre as bases de dados nacionais atinentes à relação saúde-trabalho e outras fontes de informações convergentes ou afins; 2) seminários temáticos como esse aqui e reuniões técnicas nacionais e regionais; 3) cursos e treinamento visando efeitos multiplicadores. Como a Dra. Sônia Bombardi mencionou, nós acabamos de realizar, em Minas Gerais, um curso intensivo, com 36 horas de duração, intitulado “Base de Dados Relacionados à Saúde do Trabalhador: limites e possibilidades”. A propósito, já temos uma demanda razoável para novos cursos no próximo ano em várias regiões do país; 4) ações cooperativas, via parcerias, com institutos de pesquisa no País; 5) acompanhamento dos projetos, atividades e estudos incorporados pelo Programa; 6) busca de cooperação técnico-científica com organismos internacionais; 7) padronização das informações estatísticas a serem geradas, dotando-as de comparabilidade em nível internacional; 8) por fim, documentação exaustiva da execução desse Programa, por 13 meio de relatórios e publicações diversas. E pretendemos fazer isso a partir desse Seminário, para o qual, inclusive, já planejamos a publicação de seus anais sob a forma de CD-ROM e livro. As metas para esse ano que está se encerrando, e praticamente cumpridas como um todo, foram são essas: 1) realização de diagnóstico sobre as bases de dados relacionadas com as doenças e acidentes de trabalho, que está em andamento e, de certa forma, resume o trabalho que apresentaremos aqui, amanhã à tarde; 2) negociação, via parcerias, de projetos regionais ou tópicos de pesquisa. É claro que não funcionamos como balcão, mas mesmo assim, vale registrar que temos recebido algumas propostas bastante interessantes de parceria, ou até de solicitação de financiamento para projetos voltados para soluções, para pesquisar questões tópicas, ou mesmo análise de aspectos específicos relacionados com os objetivos ou metas desse Programa; 3) realização de cursos técnicos; 4) promoção e participação em seminários temáticos e fóruns especializados; 5) implantação de sistema de informações capaz de compatibilizar dados e gerar novas estatísticas e indicadores sobre as condições de saúde e segurança no trabalho, nos moldes aventados pelo SIDAT, que mencionamos anteriormente; 6) divulgação ampla do PRODAT. Meta, aliás, que pretendemos ampliar para o ano 2001.Vale lembrar que o Programa é novo e, mesmo tendo sido formalmente criado em maio de 99, apenas agora, ou melhor, no segundo semestre do ano 2000, é que efetivamente se deslanchou. Quais seriam os principais desafios que temos nessa área? Evidentemente são vários, sendo difícil, neste espaço, enumerá-los com precisão. Todavia, acreditamos que o principal deles diz respeito aos compromissos interinstitucionais para melhoria dos dados cadastrais das principais bases de dados da Administração Federal que cobrem a relação saúde-trabalho. Apesar do papel pioneiro que teve a RIPSA, a Rede Interagencial de Informações para a Saúde, ao chamar para si essa discussão, avanços significativos e concretos ainda não ocorreram. Exatamente por isso, ou melhor, mais especificamente, estamos chamando a nós a discussão temática com relação ao ambiente de trabalho ou, em particular, sobre as suas condições de saúde e segurança. Em termos concretos, isso significaria não apenas retomar mas, principalmente, avançar em termos do que já foi feito pelo Comitê Temático “Saúde, Seguro e Trabalho” da RIPSA. Outro desafio, reporta-se à incorporação de quesitos sobre saúde e segurança no trabalho em levantamentos socioeconômicos de base populacional ampla, via, por exemplo, Censos, PNAD, PME, PED, etc., Lembramos aqui, que a FUNDACENTRO tem uma experiência rica em passado recente, quando contratou, via PED, executada pela Fundação SEADE, uma pesquisa que trouxe resultados bastante instigantes, sobre os quais o Professor Manoel Ribeiro vai discorrer para vocês amanhã.Trata-se de pesquisa importante porque também aporta conhecimentos sobre as reais condições de saúde e segurança no setor informal. Setor esse que, como já destacamos, constitui-se em importante desafio para nós e que outros palestrantes também vão estar discutindo. Além disso, questões remetidas aos aspectos conceituais, à construção de indicadores segundo categorias de acidentes e doenças do trabalho ou, mais especificamente, à definição das principais fontes de dados para os numeradores e denominadores específicos constituem, hoje, questões passíveis de maiores discussões pelos nossos especialistas. Por fim, ainda quanto aos desafios, lembramos à direção da FUNDACENTRO, da importância de se criar linhas de financiamento efetivas, uma vez que investimentos nessa área, ainda que de baixo valor, muito representam em termos de benefício e bem estar social e, portanto, de proteção à saúde do trabalhador. Como consideração final, destacamos que, pela sua natureza e extensão, uma proposta como o PRODAT, que privilegia a investigação estatística em saúde e segurança no trabalho, deve, invariavelmente, pautar-se de forma cautelosa para consecução das metas consignadas em seus objetivos. Mesmo certos disso, temos, porém, plena consciência que essa atitude não pode se confundir com o prazo largo na sua execução, posto que é inquestionável a urgência de um melhor conhecimento sobre os agravos que ocorrem na população trabalhadora em geral. Por isso, destacamos a emergência de se reter variáveis essenciais ao estabelecimento de um quadro epidemiológico capaz de gerar ações diversas que objetivem a saúde do trabalhador, independentemente da sua relação de trabalho ou do seu vínculo empregatício, ou seja, se público ou privado, se urbano ou rural, se informal ou formal. Muito obrigado. 14 Conferências Inaugurais O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade e a Saúde e Segurança no Trabalho Sônia Maria José Bombardi Diretora Técnica da FUNDACENTRO A coordenação desse evento solicitou-me que expusesse, em algumas palavras, os objetivos do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade - PBQP e a sua relação com a atividade que nós estamos desenvolvendo hoje. Em primeiro lugar, vou fazer um resumo do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade. É um resumo mesmo, porque podemos ficar horas falando sobre as questões pertinentes ao Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade e, em especial, como este programa se relaciona com o conteúdo deste evento. Bom, como vocês sabem, o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade teve o seu início por volta de 1990. Nessa época, ele era mais voltado para as questões, como o próprio nome diz, Qualidade e Produtividade, envolvendo, não apenas vários órgãos de governo, mas também alguns representantes da sociedade ligados mais diretamente com o tema “produtividade”. À época, houve um grande envolvimento, principalmente do Ministério da Indústria e Comércio, sendo que, alguns resultados relacionados ao aumento da produtividade, realmente foram alcançados. No entanto, com o tempo, o próprio conceito de qualidade foi se ampliando, ou, pelo menos, foi sendo entendido de maneira mais ampla, com a inclusão de questões de segurança, saúde e qualidade de vida no trabalho. Com a mudança de enfoque para a questão de qualidade, e também em função de toda a modernização e dos impactos da globalização sobre a indústria nacional, houve a necessidade do Programa sofrer um realinhamento, o que ocorreu há uns dois ou três anos, ou seja, por volta de 1998. Nesse realinhamento, além dos ministérios e órgãos de governo que estavam envolvidos, outros ministérios, que também se preocupam com as questões sociais, foram chamados a participar, como Ministério da Educação, o Ministério do Trabalho e Empre- go e Ministério da Habitação e da Saúde. Bom, de que forma isso aconteceu? No âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, esse realinhamento aconteceu de uma forma extremamente democrática e foi proporcionada pelo então Secretário de Segurança e Saúde no Trabalho, Dr. Zuher Handar, que convocou para diversas reuniões, os representantes dos empregadores, dos trabalhadores e do governo para discutir a questão. Nesse realinhamento, quais foram as principais mudanças? A primeira mudança, como eu já mencionei, relaciona-se à adesão de Órgãos do Governo envolvidos com as questões sociais, inclusive nas metas parciais. A outra mudança, diz respeito à coordenação do programa, que ficou a cargo de um órgão governamental e uma entidade da sociedade civil. Hoje, depois de algumas alterações, inclusive depois dessa de 1998, que estou citando, a coordenação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade está a cargo da Secretaria de Políticas Industriais do Ministério de Indústria, Comércio e Desenvolvimento e do Instituto de Qualidade e Produtividade, representando a Sociedade Civil. No último ano especialmente, passamos a ter representação dos trabalhadores na própria Comissão Executiva do Programa. Foi também introduzido um sistema de gerenciamento integrado que, no começo da implantação, apresentou muitos problemas. Como sistema, deveria permitir a integração de todos os órgãos de governo que participam de cada meta e a integração entre as metas de cada ministério. Agora, na versão nova, estabelecida há dois meses, esperamos não ter os problemas que tivemos anteriormente. Para cada um dos ministérios envolvidos foi criada uma expressão mobilizante – nós veremos a seguir qual é a do Ministério do Trabalho e Emprego – e cada um teve que estabelecer uma meta mobilizadora nacional. Essa objetividade, de ter uma meta mobilizadora nacional e a criação de uma expressão mobilizante, não existia naquela época de 1990. Ao 15 mesmo tempo em que o programa teve que se adaptar às mudanças que estavam acontecendo, incluindo outros órgãos de governo que tratam das questões sociais e representantes dos empregadores e trabalhadores, por outro lado, também teve que se tornar mais objetivo, até por uma questão de sobrevivência. No caso do Ministério do Trabalho e Emprego, tínhamos que definir uma meta que tivesse adesão de todos os segmentos envolvidos (a sociedade em geral), poder de mobilizar as pessoas e os órgãos que eventualmente estivessem envolvidos e que fosse de fácil divulgação, que tivesse visibilidade, ou seja, a meta tinha que ser percebida pelas pessoas. Caso contrário, haveria dificuldades para se conseguir a participação das pessoas nos trabalhos que pretendíamos desenvolver. Em outras palavras, uma meta que possibilitasse levantar recursos físicos, financeiros e humanos para o seu desenvolvimento e que realmente viabilizasse uma melhor integração e articulação entre os órgãos de governo. E mais, que pudesse ser gerenciada, inclusive do ponto de vista quantitativo. Obviamente, uma meta em que as pessoas envolvidas na coordenação das atividades tivessem uma certa liderança. E como foi feito isso no Ministério do Trabalho? Nós fizemos dois workshops em Brasília, quando foram convidados todos os profissionais que faziam parte da Comissão Tripartite Paritária Permanente do Ministério do Trabalho, que é uma Comissão com representantes de todas as Centrais Sindicais e Confederações Patronal do empresariado de vários Ministérios. Aliás, algumas pessoas que aqui estão participaram das discussões. Foram convidados também técnicos do governo, ou não, que tratam da questão de segurança e saúde e consultores. Por meio de dinâmicas especiais, possibilitou-se a discussão sobre qual deveria ser a meta do Ministério do Trabalho e se quantificaríamos essa meta ou não. Esse histórico é importante porque, às vezes, as pessoas não têm conhecimento de como as coisas se desenvolveram e se questionam: Como surgiu essa meta? De onde saiu? Quem a inventou? Então, considero importante dizer que essa meta representa uma discussão que envolveu segmentos de toda a sociedade. Não foi uma central que disse:“Eu quero que seja essa meta” ou então, o ministro afirmou: “Não, eu quero que seja essa meta” ou o próprio Secretário da época, que era o Dr. Zuher, determinou que fosse assim. Foi feita toda uma dinâmica pedagógica, com metodologia especial, para se chegar a nossa meta. Enfim, uma coisa muito trabalhosa, de muita discussão, mas, sobretudo, um trabalho democrático, uma vez que foi uma meta realmente consensual. 16 Depois de muita discussão, chegamos à expressão mobilizante, que é “TRABALHO É VIDA” e a meta de redução dos acidentes fatais em cinco anos. Tanto a expressão mobilizante como a meta atendem àquelas características de fatores de progresso e de sucesso, que acabamos de mencionar. Em relação a essa meta mobilizadora, falaremos sobre dois aspectos: primeiro, a questão de reduzir a taxa de acidentes fatais. É claro que nós, as pessoas que lidam com a questão de segurança e saúde, em especial a FUNDACENTRO, que é encarregada de estudos e pesquisas na área de segurança e saúde, não vamos nos preocupar apenas com as questões relacionadas a acidentes fatais. Nós temos todas as questões relacionadas a doenças profissionais e doenças relacionadas ao trabalho, que também são objetos de nossa preocupação. Eu estou expondo aqui apenas uma das atividades da FUNDACENTRO, que é essa relacionada a acidentes fatais. O Ministério do Trabalho e Emprego não está preocupado apenas com isso, uma vez que ele tem todas as outras secretarias que compõem a sua estrutura. Assim como a FUNDACENTRO, cada um com as suas competências, têm que desenvolver a sua missão, mas essa é a meta prioritária para os próximos cinco anos e vamos investir o nosso maior poder de articulação de integração, não obstante as nossas outras atividades que têm que continuar. Uma outra questão é o índice de 40%. Claro que, quando foram realizadas as duas reuniões em Brasília para discutir o índice, todos nós gostaríamos que a redução fosse de 100%, que não tivéssemos mais nenhum acidente fatal em nenhuma das atividades. É claro! Só que nós temos que ter metas que sejam factíveis, não adianta acharmos que em um ano vamos acabar com todos os acidentes do Brasil. Isso é impossível! Nós gostaríamos, é necessário. Mas temos consciência que não conseguiríamos, por mais esforços que fizéssemos. Então, o que se estabeleceu na época, era que deveríamos reduzir os acidentes de trabalho em 25%, em cinco anos. Esse índice de redução foi sugerido por representantes de trabalhadores. Registre-se que foi aceito depois de muita discussão. O que aconteceu depois? Aconteceu que esse Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade pressupõe e tem agendado Reuniões de Avaliação Estratégica, as RAVES. Em certos períodos, os coordenadores gerais de cada meta se reúnem com os seus respectivos Diretores ou Ministros das instituições que representam e fazem uma avaliação das metas, baseados nas informações do pessoal que executa as metas. No nosso caso, somos todos nós. Em uma dessas ocasiões, o Ministro do Trabalho e Emprego estava participando de uma reunião de avaliação estratégica muito crítica, porque apenas alguns dos ministérios que estavam envolvidos apresentaram resultados bons. Um deles foi o Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da FUNDACENTRO e do atual Departamento de Segurança e Saúde do Trabalho. Na ocasião, o Ministro ficou muito empolgado, porque era um dos poucos que estava recebendo elogios e, por conta própria, elevou o índice de 25% para 40%. Lembramos que esse número realmente não foi levantado com base em um consenso; o que foi estabelecido, por sugestão dos trabalhadores, foi 25%. Mas é claro que o Ministro ficou empolgado e ninguém pode ir contra. Quem vai ser contra diminuir os acidentes em 40%? Se ele falasse 80, nós iríamos dizer: que bom, o Ministro quer 80%! No entanto, essa foi uma questão que deu muita discussão. É claro, depois de termos feito reuniões e reuniões e estabelecido 25%, alguém, de repente, com a melhor das boas intenções, eu diria, muda para 40, os participantes não gostaram muito. Mas como é uma mudança para melhor, não podemos nem reclamar muito. Enfim, hoje nós temos essa responsabilidade de reduzir, em cinco anos, o índice de acidentes fatais no Brasil em 40%. Como eu disse, para viabilizarmos a nossa meta, temos que ter articulação com vários ministérios, ou seja, juntamente com os parceiros temos que desenvolver as metas do Ministério do Trabalho. Aliás, o Ministério do Trabalho, com a adoção do modelo de discussão tripartite que tem adotado para resolver todas as questões relacionadas ao trabalho, está sendo um modelo para os outros ministérios. Assim, quando vamos a algumas reuniões, por exemplo, de um grupo interinstitucional que envolve os ministérios, e contamos a experiência que o Ministério do Trabalho e a FUNDACENTRO têm, obviamente, as experiências positivas que estamos tendo com a adoção desse modelo tripartite, as pessoas, a princípio, ficam um pouco desconfiadas, por quê? Porque sabem que a questão de democratizar a discussão é trabalhosa e, por isso, podem pensar assim: bom, isso vai dar trabalho, vai demorar um pouco mais, a gente não tem tempo, nós precisamos mostrar os resultados em pouco tempo, e se esquecem que depois que se está discutido e estabelecido é muito mais fácil conseguir os resultados. E eu acredito que é isso que está acontecendo no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, especialmente com a questão da meta trabalho. Esses são os principais parceiros que temos e que têm trabalhado: Ministério da Saúde, Previdência, Meio Ambiente, Trabalhadores, Empregadores e ABNT. Não relacionamos todos, mas alguns. E todos vocês os conhecem, inclusive alguns representantes dessas Instituições estão aqui. Os representantes dos trabalhadores todos e dos empregadores, inclusive porque fazem parte do Conselho Curador da FUNDACENTRO. Pois bem, como é que foi decidido naquele Seminário que se desenvolveria na área de trabalho essa meta, que eu acho ambiciosa, de redução de 40% dos acidentes fatais? Na realidade, foram definidos quatro objetivos principais, que são esses: rever e reconstruir o modelo de organização do sistema integrado de segurança e saúde, potencializar políticas em segurança e saúde, implementar o sistema integrado de gestão em segurança e saúde e aperfeiçoar e organizar o sistema de informação de pesquisa de interesse na área. Só para lembrar, tudo isso faz parte da meta da área trabalho, relacionada à redução de 25%, ou melhor, 40% de acidentes fatais em cinco anos. Como é que foi estruturado esse programa dentro do Ministério do Trabalho e Emprego? Os coordenadores gerais são: Dr. Juarez Correa Barros Júnior, Diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, e o Dr. Humberto Carlos Parro, Presidente da FUNDACENTRO. Como coordenadores, eles participam de todas as reuniões de avaliação estratégica e representam o ministério. O Ministro também participa das reuniões. Por sua vez, o comitê gestor é a Comissão Tripartite Paritária Permanente, instituída pelo Ministério do Trabalho para acompanhar e definir linhas na área de atuação em Segurança e Saúde para o Ministério do Trabalho. A Secretaria Executiva é também exercida pelo Departamento e pela FUNDACENTRO. Normalmente, quem toma as iniciativas pela coordenação executiva é Dr. Mário Grawszewski e eu, pela Diretoria Técnica. Agora, vocês estão vendo de uma forma mais objetiva que cada um daqueles objetivos foi transformado, vamos dizer assim, em projeto. Na verdade, temos 10 projetos que são desenvolvidos por todos aqueles parceiros que vocês viram no quadro anterior. Então, no primeiro objetivo, que é a reconstrução do modelo da organização do sistema integrado de segurança e saúde no trabalho, a gerente inicial foi a Emília Câmara Sant’Anna. Como a gerência está para ser mudada, não sei se já houve nova indicação. Acho que não. Mas a Emília representa a CUT e participou também das discussões iniciais e este grupo está se dedicando à revisão de toda a parte de legislação do sistema integrado de segurança de saúde do trabalho, incluindo toda a parte de legislação desde o capítulo V da CLT até a todas as Normas Regulamentadoras, as NRs. Aqui, deixe-me colocar um parêntese: a FUNDACENTRO participa de todos esses projetos, participamos da Coordenação Geral, por meio do Dr. Parro, que, juntamente com o Dr. Juarez, respondem pela Comissão Executiva, por meio da Diretoria Técnica e de todos os projetos, mas não coordenando tudo. Assim, o primeiro projeto foi coordenado pela Emília, e uma das atividades que foi desenvolvida – vou citar alguns exemplos para vocês saberem a abrangência de tudo que nós temos que fazer – foi no começo 17 do ano. Nós tivemos aqui na FUNDACENTRO um Seminário no qual vários países vieram expor quais são os seus sistemas de segurança e saúde para que a gente pudesse propor mudanças. Uma das mudanças que está sendo proposta e que está sendo usada é, por exemplo, a criação de Código Nacional de Segurança e Saúde, a exemplo do Código Nacional de Saúde, para introduzir um novo modelo de sistema integrado de segurança e saúde. O Projeto 2 é um plano de ação integrada para redução de acidentes e doenças, e a Gerente é a Maria de Fátima Cantídeo Mota, que representa a CNI. Uma das atividades foi a nossa participação mais efetiva em grupos de ação interinstitucional, por exemplo, a FUNDACENTRO e o Ministério do Trabalho que, em especial, faz parte do grupo de estudos interinstitucionais sobre segurança e saúde do trabalho. Mas esse grupo encontra-se um pouco desativado. Então, o que aconteceu? Através de gestões desse grupo, nós pudemos motivar a realização de outras reuniões e, como vocês sabem, nós temos tido uma atuação extremamente grande, tanto a FUNDACENTRO como o Ministério do Trabalho nessa questão do SAT, até porque nos envolve diretamente com a questão do repasse dos recursos para a FUNDACENTRO. Mas, mesmo que não envolvesse a questão do repasse à FUNDACENTRO, obviamente a questão da SAT é uma questão que envolve a segurança e a saúde do trabalhador e a FUNDACENTRO deveria estar, como está, sempre preocupada com essa questão e, portanto, envolvida. Já o Projeto 3, dentro daquele objetivo de potencializar as políticas, busca-se, além da inspeção, aprimorar a atenção ao trabalhador acidentado. Obviamente, na questão da inspeção, quem tinha que ser o Gerente deveria ser mesmo o Departamento de Segurança e Saúde do Trabalho. E é através do Geraldo, que é um inspetor do trabalho, um dos coordenadores que trabalha lá com os assessores do Dr. Juarez, que estão estabelecendo procedimentos para otimizar a inspeção, de preferência com base em estudos estatísticos que a gente possa ter em mãos. O Projeto 4, que busca aprimorar a atenção ao trabalhador acidentado, é também importante. Não que a gente queira ter um trabalhador acidentado, mas obviamente isso existe e alguém tem que dar atenção para ele e se preocupar com isso, e essa ação tem que ser do Ministério da Saúde, através da Jacinta de Fátima Sena da Silva. A Jacinta não pôde vir a esse Seminário, mas ela disse que ia mandar alguém no lugar dela. Pois bem, a Jacinta é a Gerente desse projeto. Esperamos que ela esteja aqui ou algum representante do Ministério da Saúde. 18 Os demais projetos, totalizando um total de cinco, são os seguintes: o Projeto 5 é coordenado pelo Domingos Lino, que é um representante da CUT, cuida do sistema integrado de gestão em segurança e saúde nos locais de trabalho. O Projeto 6, voltado para a articulação de campanhas de prevenção de acidentes e doenças do trabalho, é gerenciado pelo Arnaldo Gonçalves, que, por sua vez, representa a Força Sindical. O Projeto 7, intitulado Programa Nacional de Formação e Capacitação em Segurança e Saúde no Trabalho, como o próprio nome diz, é uma das atribuições da FUNDACENTRO e, portanto, está sendo gerenciado pela nossa Gerente da Área da Educação, a Moira Martins de Andrade. Este Projeto, busca capacitar as pessoas em segurança e saúde. Neste caso, dentro desse programa do PBPQ, que se refere a acidentes fatais em especial, como já disse, a nossa área de educação, não trata apenas das questões dos acidentes fatais, mas já foram realizadas 437 ações educativas com 16 mil participantes, três vídeos e oito publicações específicas no combate aos acidentes fatais. Bom, são só exemplos para vocês verem as ações que nós temos feito, isso aqui é uma parte do que é feito pela FUNDACENTRO. O Projeto 8, objetivando o financiamento para melhoria das condições de trabalho, é gerenciado pelo Roque Puiatti, que é vinculado à área de inspeção do Rio Grande do Sul. Ele desenvolve e tem articulações para encontrar fontes de financiamento para aquelas soluções que são sugeridas pela FUNDACENTRO ou outros órgãos. O Projeto 9 é justamente voltado para melhorar o sistema de informações e pesquisa em segurança e saúde no trabalho. É também coordenado pela FUNDACENTRO, sendo eu a responsável pelo seu gerenciamento. Uma das questões que nos foram muito cobradas naqueles workshops iniciais, em que foram levantados os principais problemas que o Ministério do Trabalho e a FUNDACENTRO enfrentam, é que, apesar de nós termos na FUNDACENTRO e nas Instituições Acadêmicas, nas Faculdades, nas Universidades um grande número de pessoas que desenvolvem temas relacionados à área de segurança e saúde, essas informações não chegam principalmente aos trabalhadores. Então, são informações que ficam na forma acadêmica, sendo divulgadas em revistas científicas sobre as formas de teses de mestrado e doutorado, mas que muitas vezes não chegam. Então a gente tinha uma crítica, como fazer para que essas informações todas fossem democratizadas? Bom, esse é um trabalho que a FUNDACENTRO assumiu e que nós estamos desenvolvendo e que parece uma coisa simples, mas não é tão simples. Os trabalhos que são propriamente da FUNDACENTRO todos eles já estão disponíveis, mas o que temos que fazer é o seguinte: primeiro, conseguir levantar todos os trabalhos na área de Segurança e Saúde no Trabalho que são realizados em nível de Brasil na FUNDACENTRO e fora dela: segundo, criar os bancos de dados de acordo com aquilo que foi produzido, ou seja, temos que organizar isso e criar os bancos de dados e depois colocar à disposição para posterior desenvolvimento. Nesta direção, o Projeto 9 tem quatro hipóteses que são as que eu vou mostrar agora e cujo objetivo é tornar acessível justamente as informações. Então, nós vamos definir linhas para promover o desenvolvimento de pesquisas, estabelecendo ou promovendo fóruns de discussão, desenvolvendo os projetos de pesquisa e promovendo a apresentação das pessoas que estão relacionadas ao programa. Esses fóruns serão realizados e estão previstos para o ano que vem em um total de cinco, sendo um em cada região. Porque aí, nós vamos pegar toda a produção que acontece naquelas regiões, discutir se as linhas de pesquisa, que estão sendo, inclusive, patrocinadas e promovidas pelos órgãos de governo que interessam à questão de segurança e saúde do trabalho. Mas não fazemos nada disso sozinhos e, sim, em conjunto com os órgãos de governo que são os responsáveis pelo financiamento de pesquisas, tais como: CNPq, CAPES, FAPESP, FINEP e Universidades. Realizamos uma reunião em Brasília, na qual convocamos as Instituições de Pesquisas e, para a nossa surpresa, a sala ficou completamente cheia, ou seja, as pessoas querem discutir quais são as melhores pesquisas, quais devem ser feitas para resolver determinados problemas. Como não faremos isso sozinhos, precisamos promover fóruns para que isso seja discutido. Isto vai ser feito, ou seja, as discussões de quais as ações são as mais importantes para se atingir a meta. Nós estamos criando os bancos de dados, por meio do nosso Centro de Documentação e Biblioteca, aqui no próprio CTN, em conjunto com as nossas Regionais que têm mais afinidade com a questão como, por exemplo, a Regional de Minas, identificando as fontes, levantando os bancos, estruturando e implementando o banco de dados para que todos possam ter acesso, principalmente por meio da Internet, a todas informações que existem.A próxima ação é monitorar esses bancos de dados criando comitês para acompanhar o sistema, informações do sistema de pesquisa e capacitar pessoas da FUNDACENTRO ou de fora para acompanhar esse desenvolvimento. E, por fim, depois de estruturarmos todo esse sistema de informações, obviamente, iremos disponibilizá-lo. E nós tivemos várias idéias nesta direção, sendo que algumas estão em prática, como desenvolvimento de páginas na Internet sobre o assunto e disponibilidade das informações também através de publicações, multimídia etc., implantando sistemas de teletrabalho, que ainda não está estabelecido, mas pretende-se, usando rádio e televisão – nesse momento estamos fazendo uma série de vídeos e de programas de televisão para divulgar os assuntos, e realizando eventos para divulgação desses projetos e seus produtos, incluindo teleconferências. Es- sas são algumas das formas e campanhas também para divulgar todas essas ações. Um outro projeto, que faz parte do último objetivo, é o Projeto 10. Ele cuida justamente do sistema de notificação de acidentes e doenças do trabalho. No caso das estatísticas ou da notificação, a coordenação deve estar em conformidade com a missão institucional, e esta é do Ministério da Previdência Social. A Coordenadora que foi sugerida para esse Projeto 10 é Josefa Barros Cardoso de Ávila. Finalmente, chegamos ao ponto, ou seja, o motivo pelo qual estamos aqui, e no qual se insere essa atividade que estamos fazendo hoje, ou seja, este Seminário. Aqui, referimos-nos justamente às atividades do programa da FUNDACENTRO que é o Programa Nacional de Estatísticas de Doenças e Acidentes do Trabalho, coordenado pelo Celso Salim. Ele explicou para vocês como é a sua estrutura. Como tal, é um programa que vai justamente subsidiar uma parte das atividades do Projeto 10 do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade. Então, foi uma feliz coincidência, mas as coincidências não acontecem por acaso. É que a FUNDACENTRO já estava se preocupando com isso e uma das linhas que foram desenvolvidas, ou que serão desenvolvidas dentro PBPQ, é justamente essa.Ademais, Celso também já conhecia a Josefa lá no Ministério da Previdência e vários de vocês que estão aqui já vêm trabalhando esta questão. Então, desde o nosso próprio programa, como o Celso já disse, nós já demos aquele curso em Minas, fizemos em Agosto com 28 participantes e nesse Seminário de hoje, que é um Seminário de Estatística, iremos analisar as situações e as perspectivas possíveis para melhorar a qualidade dos dados e integrá-los. Portanto, isso faz parte dessa ação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade. A Josefa é a Coordenadora e eu queria dizer o seguinte: infelizmente ela não pôde estar aqui e gostaríamos que mais pessoas do Ministério do Trabalho inclusive estivessem, porque os dados que nós temos na área de segurança e saúde do trabalho de acidentes e doenças hoje são de responsabilidade do Ministério da Previdência se sabe que existem dados no Ministério da Previdência que podem ser tratados para se ter informações melhores para se obter subsídios de informações às políticas de segurança e saúde. Porque hoje, nós não temos essa análise. O que temos são várias bases de dados, como o Celso citou. É importantíssimo o que muitos de vocês vão expor aqui, ou seja, quais são as perspectivas de integração, quais são os pontos fortes, quais são os pontos fracos, de que formas esses bancos de dados que existem nos diversos órgãos de governo podem colaborar com a definição de políticas para a prevenção de acidentes e doenças na área de segurança e saúde. Então, por isso que quando 19 eu fiz aqui a abertura do Seminário, eu disse que é realmente um Seminário Histórico, porque não houve nenhum outro em que nós discutíssemos exatamente isso. Existiram seminários para mostrar quais foram os resultados de uma ação, mas em um Seminário como este, as pessoas que foram convidadas e que aqui se encontram, são efetivamente as responsáveis pela divulgação de dados em segurança e saúde. Realmente isso nunca aconteceu e é um momento histórico mesmo. Então, o que nós podemos fazer? Nós todos que estamos aqui, somos os responsáveis pela implementação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, em especial do Projeto 10. Hoje, o assunto aqui é o Projeto 10, que é o sistema de notificação de acidentes e doenças. Vimos que esse Projeto 10 faz parte de um Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, que é um dos programas prioritários da FUNDACENTRO e do Ministério do Trabalho. E se nós queremos que as políticas nos próximos anos de 2001 a 2003 alcancem, realmente, de uma forma objetiva e eficiente as questões de segurança e saúde, ou seja, que os nossos recursos humanos e financeiros sejam realmente investidos naquilo que é o mais importante, o mais urgente, 20 nós precisamos melhorar a qualidade dos dados. E os responsáveis pela qualidade dos dados estão aqui, ou melhor, as pessoas que vêm falar aqui são os responsáveis por esses dados. Neste sentido, esse é um Seminário Histórico primeiro porque o assunto é novo e segundo porque os responsáveis estão aqui. Então, eu acredito que na quarta-feira nós vamos ter propostas para melhorar essa situação. Em breve, talvez a partir da semana que vem, nós vamos poder dizer assim: ah, mas por que as pessoas não ouvem, por que será que as pessoas não definem as políticas com base em informações melhores? Nós é que temos o compromisso social de melhorar esses dados. Eu espero que a gente consiga durante esses dias, e o tempo é curto, é lógico, não responder a todas as dúvidas que nós temos, mas certamente nós iremos avançar um pouco. E eu acredito que então essa integração, que foi possibilitada e coordenada pelo Celso Salim, vai ser a base de muitos trabalhos, inclusive algumas pessoas já vieram falar comigo aqui, durante o intervalo, de projetos que estão desenvolvendo e que precisam ter mais articulação e integração, inclusive, com o Ministério do Trabalho e Emprego e as pessoas estão aqui. Nós precisamos fazer. A responsabilidade é nossa. Obrigada. População e condições de trabalho no Brasil: Temas e Perspectivas Eduardo Rios Neto B om, em primeiro lugar eu gostaria de dizer que é uma honra muito grande estar aqui nesse Seminário e agradecer, em particular, ao amigo Celso Salim a oportunidade que ele dá dessa participação, em primeiro lugar por causa da ABEP que é a Associação Brasileira de Estudos Populacionais da qual eu sou Presidente e acabei de ser reeleito para, não é nenhuma questão de ambição, é uma questão de certa tradição lá que, geralmente, o Presidente fica dois termos, mas nós acabamos de realizar um encontro em Caxambu e uma das propostas da ABEP é exatamente a demografia voltada para políticas públicas, então, talvez esse tenha sido um encontro que tenha contado com maior participação de Ministérios e de Interação Científica aplicada, tinha gente do Ministério da Educação, do Ministério da Saúde, do Ministério da Previdência, do Ministério do Trabalho, enfim, a demografia não perdendo, é claro, uma associação científica, a sua conotação acadêmica, mas, interagindo num monitoramento científico das políticas públicas. Eu acho que a tendência é cada vez mais, pelo menos, no segmento da demografia estar voltada para essa área. E segundo lugar, como pesquisador e professor de CEDEPLAR, eu tenho uma interação muito grande com o Ministério do Trabalho Emprego, em vários, eu tenho projeto com idéia de avaliação do PLANFOR, avaliação nacional, agora eu estou participando de um projeto de descrição das famílias ocupacionais da CBO. Nesse projeto estão envolvidos o CEDEPLAR, a USP, a UNICAMP e o SENAI. Então, foram divididos e o CEDEPLAR ficou encarregado de descrever 106 famílias ocupacionais, a gente faz um “chart” com as tarefas e etc., é pena que isso ainda seja um projeto que começou a implementação agora em julho e que eu não possa ter incorporado ainda muita informação, porque eu acho que essa seria uma área que certamente depois que essa nova CBO foi criada terá implicações em outras áreas feitas ao Ministério do Trabalho e, certamente, a área de acidentes do trabalho pode se beneficiar bastante do tipo de descrição que está sendo feita. Finalmente, eu também faço parte de uma comissão que foi recentemente criada do Ministério do Trabalho que é de avaliação das políticas do Ministério, de avaliação das várias políticas do Ministério, uma comissão que acho que foi criada há três meses e que a gente tomou posse, e a idéia é ir avaliando as áreas políticas do Ministério e sugerindo modificações. Então, dentro deste contexto, para mim, quando o Celso me convidou eu não tinha nem como, meu envolvimento institucional com o Ministério do Trabalho, não só o interesse nessa área não só pelas razões abordadas pelo Celso não me permitia deixar de vir, porque eu vejo aqui um grande potencial nessa área de atuação da FUNDACENTRO que eu até desconhecia. O Celso me deu um quadro e a apresentação ele acabou de me dar outro quadro e acho que foi fundamental. A apresentação que eu vou fazer, foge inteiramente a esse contexto todo de desenvolvimento do Ministério do Trabalho que eu acabei de descrever. Eu falar mais passando ali para o próximo quadro, mais da minha atuação, mais como demógrafo e como demógrafo do trabalho, menos do que como economista do trabalho. Existe uma distinção grande, assim, em partes desproporcionais que mexem com o trabalho entre o lado da oferta e o lado da demanda. Entendendo como o lado da oferta o lado do indivíduo, da família, das características pessoais, das feições, e o lado da demanda as condições na fábrica e na empresa. E eu tenho interesse nas duas áreas como economista do trabalho. Geralmente, a gente mexe muito mais com a fábrica e com o Departamento de Pessoal, com o lado chamado de demanda, mas, como demógrafo eu me considero especialista do lado da oferta. Então, resolvi revisar tendências demográficas e mostrar um pouco como é que essas tendências demográficas afetam uma projeção de população economicamente ativa, que é uma projeção de oferta agregada de trabalho, projeção essa, inclusive os dados que eu estou usando aqui estão precisando ser atualizados, foram dados que eu fiz num convênio institucional exatamente com o Ministério do Trabalho, um ano ou dois anos atrás. Pode passar para a próxima. Então, uma coisa importante, quer dizer, o meu objetivo, continuando, mas já entrando nesses dados, é tentar mostrar como a dinâmica demográfica, que é um aspecto que, aparentemente, a não ser que você faça algumas mediações, não tem nada a ver com uma política de segurança no trabalho, de produtividade e de qualidade, ela acaba sendo importante, até eu acho que esse é resultado das várias interações que a demografia está 21 tendo com o setor público, e ela tem uma implicação importante na medida em que permite uma melhor focalização dos programas, quer dizer, não adianta você fazer um programa – e eu vou dar exemplos disso – para públicos de clientelas de segurança e trabalho que estão reduzindo o seu tamanho, por exemplo, não quer dizer que você vai abandoná-las, mas, de repente, você vai ter que preparar a alça de mira para segmentos diferentes. Então, rapidamente ali, o que a gente vê é o seguinte: o padrão demográfico brasileiro era marcado por uma taxa de fecundidade relativamente alto, nosso mestre Luiz Armando está aí, ele pode esclarecer muito mais, eu só estou contextualizando, a partir de meados da década de 70, essa taxa de fecundidade declinou muito rapidamente, a ponto de ter passado de mais de seis filhos por mulher no final do período reprodutivo, lá na década de 40, a uma média de 2.5, aproximadamente. Essa estimativa – eu vou falar um pouco daqui a pouco – deve estar superestimada, inclusive, as referências são mais antigas de filhos por mulher. Por outro lado, a queda da mortalidade tem aumentado também a esperança de vida ao nascer. Só o ponto de vista das projeções de população que eu vou fazer aqui, e de população economicamente ativa, o impacto tende a ser maior na estrutura etária, e a estrutura etária, entendendo como uma participação de seguimentos de idades diferentes na população total. Vários exercícios de demografia mostram que a estrutura etária, principalmente numa fase de transição, é muito mais afetada pelas variações na fecundidade do que pelas variações na mortalidade, não é que as variações na mortalidade não tenham impacto, mas isso é até um pouco contra-senso, porque o senso comum você pensa o seguinte: bom, se aumentou a esperança de vida, a população está envelhecendo, mas, na realidade, a população envelhece muito mais pelo fato das mulheres estarem tendo menos filhos do que por se viver mais. Isso porque a estrutura etária exatamente participação relativa e se a base da pirâmide encolhe, nós vamos ver um pouco esse fenômeno aí, a percentagem de jovens no total da população cai abruptamente. Pode passar para a próxima. Muitas das projeções, por exemplo, a projeção que eu fiz para o Ministério do Trabalho há algum tempo era muito conservadora, existia um certo tabu, assim, na demografia, de que, sinteticamente, as famílias chegariam ao ideal de dois filhos, as mulheres em idade reprodutiva, de dois filhos no final. Isso seria, o que é chamado pelos demógrafos, de nível de reposição, que se essa parte de fecundidade persiste 2.1 por muito tempo, a população acaba crescendo com taxa num longo prazo. Os vários países europeus, por exemplo, tem a fecundidade abaixo desse nível. Infelizmente eu não tenho exercícios sobre isso, os que eu vou apresentar aqui já são informativos em si, são exercícios com esse tipo de cenário, quando, na realidade, hoje eu acho que é bastante plausível fazer cen22 ários nos quais esse dois que a gente chegou em 2000, em 20; em 2025 ou 2,03 entre 2015 e 2020 pode estar chegando agora nesse qüinqüênio, então é um processo que pode estar sendo mais rápido do que se imaginava com implicações na estrutura etária bastante interessantes. Então, isso aqui eu já falei, pode passar. Uma suspeita que eu tenho disso foi um ajuste que fiz dos dados do grande mestre, o Luiz Armando. No nosso encontro, coloquei aqui só porque esse negócio ainda está me incomodando, a curvinha vermelha mostra os dados que o Luiz Armando calculou e eu ajustei um modelo. A gente percebe pelo modelo ajustado, o azulzinho, que, pelo andar da carruagem, há não ser que, por decreto, se fale: não pare, pare de controlar e fique no nível 2, muito provavelmente, já em 2003, a gente estaria próximo de um, porque eu não ousaria em fazer aquela previsão ali, mas, certamente, estaria no mínimo em dois, ou um pouco abaixo disso. E vocês viram que as projeções que eu vou usar assumem que a gente chegaria em dois de fecundidade em 2020. Isso significa menos filhos na base da pirâmide muito mais rapidamente, ainda sim, eu estou falando isso mais como uma provocação, porque a maioria dos resultados que eu vou apresentar usa projeções mais conservadoras. Eu acho importante termos esse quadro em vista, pelo menos como um cenário, demógrafo sempre faz um cenário otimista, um pessimista e uma média, na abertura aqui do encontro a gente estava discutindo a questão do biquíni, de mostrar o que pode, o que não pode e etc., mas tem hora que, às vezes, a gente tem que ousar, porque acho que os dados são provocativos. Eu fiz, inclusive, um outro cálculo usando esses dados do Luiz Armando e os dados que eu calculei sobre a escolaridade das mulheres. Então, consegui, encadeando vários censos, gerar uma série histórica da escolaridade das mulheres e, pelo menos, num período recente, há uma relação claramente invertida entre a escolaridade das mulheres e a fecundidade. Fiz uma regressão, deu um R2 quase igual a seis, eu até suspeitei e falei: “quando a esmola é boa demais, o santo até desconfia”, então, isso eu estou mostrando também de provocação, mas tenho muita desconfiança. Agora, de todo jeito, se for verdade essa relação, quando as mulheres estiverem em 1998, provavelmente vão ter sete anos de estudo. Grande parte da revolução na educação que teve no Brasil, se deu nos anos 90. Então, já é possível agora, no final da década de 90, a gente ter esses oito anos que eu coloquei aí, então, eu não acho que seria implausível, não. Claro que a gente teria que ter dados, porque quando você pega 15 a 19 anos, como eu disse, para gerar essa média de oito anos, eu tenho que esperar as pessoas completarem a faculdade e etc., para ter a média da corte. Então, o que eu estou levantando aqui, as projeções que estou fazendo, vão dar um cenário, vamos dizer assim, da hipótese otimista de crescimento populacional, que já é relati- vamente pessimista, que é aquela hipótese nos parâmetros colocados. Acho que está na hora de refazer alguma dessas hipóteses. Eu não sou muito familiarizado com isso, mas acho que vai ajudar. Bom, então, agora vamos analisar um pouco as tendências da população economicamente ativa. Até agora, nós só estávamos falando de população, a chamada PEA. E, particularmente, cortando por sexo e idade, a gente vai enfatizar muito a faixa específica de atividade, as chamadas PEAS, que são a percentagem de homens ou mulheres em cada idade que trabalham, não só que trabalham, mas que trabalham e/ou procuram emprego, porque senão seria taxa de ocupação. O que é interessante aqui é mostrar que, não só o crescimento da PEA total que reflete o próprio processo de desenvolvimento econômico, aqui eu estou comparando os censos de 1950 até 1991, mas o crescimento da PEA feminina.As mulheres, capa da Veja, entrou isso. Não foi sugestionado por isso, mas a taxa de atividade refinada, que é uma taxa bruta feminina, passou de 13.5% para 32%, em 1991. Algumas pessoas podem estar achando esses 32% baixo, porque os dados afinados geralmente são um pouco mais altos, mas eu até gosto mais dos dados do censo, porque eles mostram aquele segmento das mulheres que são mais persistentes no mercado de trabalho, que são mais captadas pelo censo. Aqui, tem a taxa de crescimento da PEA feminina, que foi muito maior do que o crescimento da PEA masculina, gerando um peso no crescimento da PEA total. Então, outra coisa interessante, é quando você analisa, porque, para projetar a PEA, que é a população masculina ou feminina que trabalha, geralmente você não projeta pegando uma taxa bruta, uma população total, e isso dá um quadro muito grosseiro, geralmente você corta por sexo e por idade, então, você pega uma projeção populacional por idade e aplica essa projeção populacional, a taxa de atividade em cada grupo etário.Aqui, até os grupos estão mais agregados, 10 a 19, 20 a 29 etc., e o que eu quis mostrar aqui é aquela evidência de que a participação feminina cresceu muito entre 1950 e 1991 e, mostrando um outro dado, quando comecei a estudar essa área eu aprendi muito com o Paulo Paiva, que era especialista nisso e a gente tinha uma visão muito culturalista, a gente acha que esse padrão que subia e depois descia era quase como se as mulheres entravam no mercado de trabalho antes de casar, até ter filho e, depois que tinham o filho, saiam do mercado de trabalho e a taxa decrescia, a gente chamava isso de padrão ibérico, porque parecia muito com as taxas mediterrâneas, da Espanha, de Portugal, e depois descobrimos que isso tudo era uma baboseira, porque isso reflete um pouco uma composição, porque cada mulher tem uma trajetória de trabalho diferente. É um trabalho muito parecido com o que o nosso guru Luiz Armando fez com a fertilidade. Quer dizer, o efeito de composição são as mulheres de gerações diferentes, que re- fletiam o fato das mais idosas virem de uma geração com uma participação no mercado de trabalho mais baixa do que as outras. Por causa desse efeito de composição e do efeito crescente de entradas cada vez maiores das mulheres no mercado de trabalho, você passou a ter esse formato aqui, que é mais parecido com o dos homens. Depois, nós vamos ver o dos homens, mas não quer dizer que as mulheres antigamente saiam do mercado de trabalho e agora resolveram ficar, elas sempre ficaram, só que antes elas trabalhavam menos, essa é uma característica da participação feminina, ela é sempre crescente com a idade, porque ocorre até ao contrário, mulheres que nunca trabalharam, depois que criam os filhos, lá pelos seus 45, 49 anos, vão procurar o primeiro emprego. Então, esse efeito aqui, era muito mais um efeito de composição estatística do que um efeito real que eu possa ficar criando explicação. No caso das PNAD, que são as experiências mais recentes, a taxa de produtividade feminina é bem mais do que a de vocês mesmo. Aqui, nós tivemos que fazer uma correção, porque houve uma mudança de critério na PNAD no início dos anos 90, e é curioso que, mesmo quando você aplica o algoritmo do IBGE por causa da ordem das perguntas no questionário, há um aumento na taxa de atividade que dificilmente é aceitável que seja real, então, demos uma martelada para baixo e temos, por exemplo, 95 sem a martelada é 43, com a martelada é 40. E a gente percebe claramente que, mesmo nos dados da PNAD a mudança aqui do início de 1975 tinha aquele formato que eu falei, um formato totalmente diferente, no qual as maiores taxas de atividade estavam no grupo de mulheres de 35 a 39, de 40 a 44, isso, como eu falei, é mais um efeito de composição do que alguma coisa comportamental, se eu ficar querendo inventar historinha sobre isso aqui, vou estar mentindo. Os prepostos da projeção populacional eu já coloquei, agora resta saber quais foram os prepostos que eu fiz para a taxa de atividade feminina, porque até agora eu só descrevi o padrão passado. Para o caso da taxa masculina, caso a gente tivesse ficado nessa curva cor de rosa a gente teria um padrão de taxa de atividade constante dos homens.Agora, um padrão que é até um pouco universal, ocorreu em todos os países que tiveram uma política de seguridade social muito forte. O que acontece é que, as duas causas da participação masculina, quer dizer, os homens têm um nível de atividade muito alto, vamos dizer assim, que é 25 a 29 em diante, mas aqui, deixa-me ver, aqui só 50 a 59, 55 a 59 aqui, antes de 60 anos e, muitas vezes, até bem antes do que 55, 59, mas, já aqui, a gente percebe uma queda grande em relação, isso envolve tanto a aposentadoria de tempo de serviço quanto à informalidade, então, a PEA masculina tem um decréscimo da atividade no tempo marcado por essas curvas aqui, pelas idades mais jovens e, sendo marcado com o grupo 20 a 24 aqui, e 55 a 59 aqui, um decreto também 23 nas idades mais elevadas. No Brasil, é mais acentuado por aposentadoria, por tempo de serviço, etc., é um padrão observado por vários países do mundo, não é nada especificamente brasileiro. Então, a gente fez a projeção levando em conta essas tendências, e esse foi o cenário para a taxa de atividade masculina. No caso de taxa de atividade feminina, um dos cenários seria a extrapolação dos níveis colocados aqui que vai de 1995 até 2020, isso foi um método que eu não vou entrar aqui, mas foi um método de encadeamento de gerações muito parecido com o método do Luiz Armando para fecundidade. Esse cenário seria aquele no qual a tendência dos anos 80 e aquela tendência histórica da PEA feminina se corroborariam, mas eu acabei optando nessa palestra aqui, para esse Seminário aqui, onde ocorre esse aumento da atividade feminina que é acima de 25 anos até 49 anos, entre 2000 e 2020, mas incorporando a tendência dos anos 90 a uma queda na entrada da mulher no mercado de trabalho, queda tanto na entrada do homem quanto da mulher, isso refletiria essa queda na taxa de atividade. Eu quis fazer isso para, exatamente, tentar dar um cenário, quer dizer, como eu disse sempre, um cenário marcante no que pode estar acontecendo sobre reduzir o acidente de trabalho em 2010, mais ou menos, esse era o objetivo, então, eu quis radicalizar um pouco o cenário para forçar mais os resultados. Então, vou analisar os resultados. Comparei 2000 e 2020 para não ficar repetindo muito as coisas. Vocês olham o seguinte, isso aqui não é uma pirâmide etária que todo demógrafo conhece, porque eu chamei de pirâmide etária da população em idade ativa, que é a população de 10 anos e mais. Se a gente tivesse aqui a população de 5 a 9 e de 0 a 4, a queda da fecundidade estaria ali refletida, a gente teria, até parece, não parece que é 2000 para um demógrafo, porque eu cortei nos 10 anos e soma 100% nos 10 anos. Mas o que é interessante mostrar, e aí é o contraste, é o que seria a PIA, o que o especialista chama de PIA, a População Idade Ativa, em 2000, que é praticamente agora, e isso aqui é projetado, porque o censo não saiu, mas, quando o censo sair, vamos ter um universo do que será a PIA aqui em 2020, e essa PIA, em 2020, já vai ser assim, com essa entrada aqui, por exemplo, esse é o grupo 20 a 24, aqui é 15 a 19, 10 a 14 aqui, provavelmente, vai ser até mais fechada se essas previsões da queda da fecundidade abaixo de 2 ocorrerem, é claro que a queda da fecundidade abaixo de 2 depois de 2.000 ela só vai se refletir no grupo 10 a 14 aqui entre 2.010, 2.015 tem uma defasagem, mas aqui nós já estamos em 2.020. Então, é possível que até essa entradinha aqui esteja superestimada que era uma projeção, o você tem aqui, esse já está dado, esse já estava dado desde aqui, o Luiz Armando estava falando que era exatamente esses grupos aqui, é o grupo 25 a 29, 30, 34 como sendo o grupo mais largo da população, tanto de homens como de mulheres 24 da PIA da População Idade Ativa, com uma novidade também, que é o que eu chamo de adulto maduro. Eu tenho assim: “jovem”, que eu chamo de 10 a 24, “adolescentes” cada vez mais estendidos, eu tenho um trabalho demográfico que chamo de morcego, aqueles filhos que ficam em casa até 29 anos, que não querem sair de casa de jeito nenhum, as mães ficam doidas para casar os bichos, eles ficam morcegando lá porque não querem gastar dinheiro. Então, você já tem essa adolescência tardia que eu adotei de 20 a 24 como adolescente, apesar de não ser fim. O jovem adulto, que seria de 25 a 39, o adulto maduro que seria de 40 a 59, e 60 e mais eu não chamaria de idoso, mas, enfim, o adulto mais do que maduro, vamos dizer assim. E o segmento de 2020, ou seja, de 2000 a 2020, as atenções vão estar voltadas muito para esse segmento do jovem adulto e do adulto maduro, que são aqueles que, numericamente, em termos de PIA, daqui a pouco vamos ver em termos de PEA, o que nós vamos ver que em termos de PEA, a PEA só agrava essa tendência da PIA, porque, como eu mostrei aquelas projeções, as pessoas estão retardando a entrada no mercado de trabalho, tanto as meninas quanto os meninos, parte por causa do sistema escolar, parte por causa da crise e parte por aspectos culturais que devem ser estudados. Então, passando para a próxima, quando a gente vê em PIA, olha o que acontece: esse grupo aqui que hoje é de 10 a 14, aquele grupo ali que é 15 a 19 em 2000, já é muito relevante, principalmente do lado masculino, quase 7% da PEA total está nos homens de 15 a 19 anos, nos jovens. O que ocorre, qual é o cenário da mudança demográfica e da mudança na PEA que eu projetei? Praticamente, nós não vamos ter jovens de 15 a 19 anos trabalhando no peso que a gente está acostumado a ver hoje. Não é que não vai ter, mas vai ter numa proporção muito menor, e salta os olhos aqui, tanto de meninas quanto de meninos, mesmo no grupo 20 a 24, que tinha quase 10% aqui, vai passar a ter muito menos do que 10%, vai estar muito mais próximo de 5%, ou seja, compara esse com esse, e esse aqui com esse aqui, ou seja, 20 a 24. Se essa tendência eu radicalizei, não estou dizendo que elas vão ser, eu fiz um cenário radicalizado para tentar vender o peixe aqui, mesmo para dar a importância de se analisar isso, 20 a 24 vai ser adolescente nessa década, cada vez mais, e isso as reportagens já estão falando, já viram PIN há muito tempo e o que vai ter de crescimento em 2020, e aí um crescimento maior do que tinha, é do grupo 30 a 34, 25 a 29 e 35 a 39, que são o que eu chamo de jovens adultos. Posteriormente a eles, o grande grau de atividade é a chamada PEA madura que é a PEA de 40 a 60 anos. Inclusive, na PEA madura é onde se tem o maior número de renda econômica. O topo, eu não vou ter esses dados, mas o topo da renda por idade nas várias pesquisas do IBGE ocorre entre 45 e 49 anos e 50 e 55 anos, depois é como se você estivesse num escorregador, se você não ganhou dinheiro até essa idade, você pode preparar o saco de linhagem que você vai cair no fundo do poço, então, esse outro segmento aqui. Então, veja bem, o meu ponto aqui é mostrar que esses números oferecem parâmetros quantitativos de políticas. No caso da PEA masculina, o grupo 25 a 39 tem um crescimento alto em todos os três períodos, é claro que esse período aqui é muito pequeno e esse daqui é muito grande, eu só coloquei para efeito de comparação, mas todo jeito é sempre negativo no grupo de 10 a 24, ou seja, esse segmento aí não vai ser mais importante de agora em diante. No caso da PEA feminina, também, está vendo, mesmo agora em 95, 2000 já foi de crescimento 0, o grupo de 10 a 24 e depois ele passa a ter um crescimento negativo. O crescimento grande vai ser, no caso das mulheres, tanto aqui no grupo 25 a 39, como em termos de taxa de crescimento porque veja bem na pirâmide eu não é taxa de crescimento, é o tamanho, aqui é o dinamismo e teve taxa de crescimento até o adulto maduro cresce mais, o demógrafo sabe disso porque o segmento que vai estar crescendo mais é o adulto maduro. Mas o segmento maior vai ser esse, até questão de tamanho aí é meio esquisito porque eu não, não tem simetria em anos nesses grupos que eu cortei, eu cortei pura e simplesmente para dar uma idéia genérica. Mas, de todo jeito, a pirâmide etária dá um quadro legal, porque a pirâmide era cinco anos em tudo. Então, só para ilustrar isso de uma outra forma, a gente tem aqui o crescimento da PIA em números absolutos, a PIA em 2000, masculina, que é a população de 10 anos e mais, e a estrutura etária dela. Então, a gente vê que, em 2000, a proporção de 10 a 24 ainda era grande. Em 2020 há um decréscimo absoluto a despeito da população ter crescido em termos absolutos, o grupo de 10 a 24 decresce, o grupo de 25 a 39 e o grupo de 40 a 59 e mesas de idosos cresce muito. Sobre o ponto de vista da PEA os dois grandes ganhos vão ser exatamente no grupo 25 a 39 e 40 a 59. No caso das mulheres, o quadro é bastante parecido e eu não vou reprisar muito. Então, toda a exposição feita até agora foi voltada para a PEA, e o que ela está dizendo é que esse Seminário é estatístico, eu entendo pouco de estatística nessa área, gostaria de entender, há uma tentativa de padronizar, mas já fica bem claro o seguinte: se os ascendentes não são neutros com relação à idade e sexo e os afastamentos, há de se esperar que as estatísticas vão ser muito mais prevalentes de agora em diante, no grupo 25 a 39 e no grupo 40 a 60, e crescentemente de mulheres, mas não tanto como no passado, quer dizer, a participação feminina na PEA, baseada na minha experiência, já está chegando numa assíntota, agora, para se ter o mesmo número de mulheres e homens no mercado de trabalho, vai ter que haver muita motivação política, aquilo que era para ser feito de inércia, mais ou menos já foi feito e já foi con- quistado.Agora, ainda tem mais um pouco, a inércia, que são aquelas curvas que eu mostrei, mas você vai chegar no total da PEA de mulheres em torno de 42, 43%, para chegar a ser meio a meio, aí é onde vai entrar a política, a coisa mais brava, mas de todo jeito, fiz uma coisa que ignorou a informalidade do mercado de trabalho e ignorou a estrutura ocupacional, que é até uma coisa que estou trabalhando e foi de propósito, porque eu acho que, num nível mais geral, o meu ponto é mostrar tendências mais numéricas, mas só a título de ilustração, e eu já trabalhei muito, demógrafo adora trabalhar com idade, então, tudo que demógrafo vê, ele corta por sexo e idade, é a primeira coisa que demógrafo faz para analisar. Por quê? Porque ele sempre quer saber se as coisas são neutras ou com relação a sexo e idade. Se os processos que ele está analisando, se os riscos são iguais ou não, o que a gente percebe aqui, no caso masculino, na década de 90, foi antes da chamada informalidade que cresceu muito, então, a tendência pode até ter piorado, agravado nesse quadro, então, nesse caso, o quadro de ciclo de vida que esse vermelhinho aqui, esse aqui é conta própria, esse aqui é empregado sem carteira, o azulzinho é empregador, conta própria, empregado sem carteira, empregado com carteira. E aqui é o grupo de 15 a 19, 20 a 24, e etc., e aqui é o total de ocupados. Então, o que a gente percebe é o seguinte: grande parte dos empregados sem carteira está nos grupos 15 a 19, 20 a 24, o que eu posso inferir, então, se esse é o grupo que está saindo, que está perdendo participação relativa na PEA, sobre o ponto de vista da tendência demográfica ignorando a globalização, fordismo e essas coisas todas, eu estou falando uma coisa mais demográfica não que eu esteja dizendo que o resto seja relevante eu só quero mostrar a força demográfica pura, sobre o ponto de vista da força demográfica pura, que a percentagem de empregado sem carteira no mercado de trabalho vai tender a diminuir, mas isso não significa formalização, porque se a gente pegar aqueles grupos que eu estava dizendo que estavam crescendo, a parte de formalização é mais ou menos constante. O que vai ocorrer é uma mudança interna no informal, você vai ter menos pessoas sem carteira e mais conta própria. Hoje, é mais ou menos meio a meio. As conseqüências disso em termos de política de saúde e qualidade de trabalho são coisas a ser trabalhadas. Mas, claramente, quando a PEA envelhece, nós vamos ter mais gente aqui nessa faixinha amarela e menos gente aqui nessa faixinha vermelha, o informal, provavelmente, vai ficar do mesmo tamanho, só que você vai ter muito mais empregados por conta própria do que sem carteira, então, isso já seria o resultado dessa dinâmica demográfica associada ao mercado de trabalho. Então, o que é que isso significaria em riscos de acidente de trabalho e outros afastamentos? Aí, já estou chegando ao final, porque é uma área que eu não entendo, só botei aí para conclusão em termos pro25 vocativos. Mas ficaria uma necessidade de se diferenciar os riscos por idade e sexo, os acidentes e afastamentos mais claramente associados com os grupos 25 a 39 a 59 estarão em alta, quer dizer, isso deve ser objeto de análise específica. Há também um crescimento em ritmos decrescentes das fatalidades tipicamente femininas, por que? Porque as fatalidades femininas – eu tenho certeza que qualquer seleção que a gente pegar aí entre 70 e 90 – deve ter crescido muito, por quê? Efeito de composição, mesmo que o risco seja o mesmo, o fato de você ter mais mulher trabalhando, vai ter mais acidente de trabalho feminino. Como as mulheres estão chegando na assíntota, então, isso vai continuar crescendo, mas em ritmos decrescentes, ainda assim, crescendo mais do que a masculina. O que poderia ser dito em termos de riscos, levando-se em conta os componentes ocupacionais? A análise deve levar em conta a estrutura ocupacional, mas, certamente, há uma interação com o componente demográfico, porque qualquer que seja a estrutura ocupacional, não neutra como a idade, do mesmo jeito que a posição na ocupação a gente teria os conta própria fosse maior facilidade de se tornarem contribuintes do que os empregados sem carteira, então, por exemplo, há uma possibilidade de universalização aí, que o Ministério da Previdência já está fazendo esforços grandes nessa área, eu acho que isso pode ser colocado como um ponto de interação do Ministério da Previdência com o Ministério do Trabalho. Eu não sei dizer qual é a relação dessa tendência com a cobertura de acidentes de trabalho porque isso é algo a ser estudado, porque a cobertura de acidentes de trabalho no setor informal é algo que eu desconheço por ignorância. O que pode ser dito sobre os riscos a partir das tendências setoriais das ocupações – aí eu fiquei satisfeito com a abertura hoje aqui, porque eu não tinha acesso a abertura, mas tinha colocado uma característica marcando os anos 90 – foi o decrescente peso no emprego industrial, incluindo a construção civil e o crescente papel no setor de serviços como empregadores de mão-de-obra não qualificada. Os riscos de acidentes de trabalho na construção civil e no setor de serviços pessoais devem ser diferenciados, eu imagino que eles sejam muitos menores no setor de serviços pessoais. Nesse caso, eu peço um declínio no volume de acidentes, coisa que eu tinha usado a lógica e que foi confirmado aqui, porque parece que há um declínio na construção civil. Eu acho que, parte desse declínio acontece porque não tenha nada a ver com uma redução na taxa de risco, pode ser pura e simplesmente um declínio por 26 causa da mudança na estrutura ocupacional no setor de construção civil, mas isso daí é uma hipótese. Um outro setor, como dizer, bem nos anos 90, foi o setor de serviços de informática, abrangendo empresas específicas do ramo e atividades administrativas. Parte dessa mãode-obra é tipicamente feminina e o componente de aumento nas ocorrências de LER poderia estar associado a essa dinâmica estrutural, é mostrando como a análise ocupacional pode se tornar uma análise de risco. Então, as análises de trabalho, numa ótica editorial, ou seja, os riscos ainda estão nos seus primórdios, quer dizer, numa área que eu acho que caberia independente, mesmo mantendo o acidente de trabalho como o seguro público de cidadania é a concepção de risco, porque permite que o fundo financie atividades mais ou menos periculosas, ou seja, para ter essa concepção de risco é necessário fazer um tipo de padronização da base de dados na linha que eu estou sugerindo aqui, então, uma primeira tarefa a ser desenvolvida, isso na perspectiva de um demógrafo, seria uma tábua de vida afastada por acidentes, levando-se em conta afastamentos permanentes e temporários. O desenvolvimento desse tipo de modelo depende de bons registros administrativos ou de um suplemento de um tipo sério. O objetivo é medir, botei entre aspas porque acho que isso não existe no português, todas “desabilidades” temporárias e permanentes, causadas no exercício do trabalho. Na fase de vida passada, possibilitaria a operação do sistema de seguros. Em cotejo do registro de acidentes com os dados da RAIS, CAGED, a linha que o Celso falou permite isso, é muito importante a coisa do denominador no cálculo do risco, então, o fato da gente ter um censo saindo agora é fundamental o Ministério da Saúde, o RIPS, o pessoal sabe disso, quer dizer, um dos grandes problemas com os registros administrativos é como se calcula a taxa, porque se acredita, ou não ,no denominador em risco, então, eu acho que esse é um grande desafio, o CEDEPLAR está avançando um curso de graduação, quer dizer, o Departamento de Demografia junto com a Estatística, que é um curso de Ciências Atuariais. O primeiro vestibular será agora este ano. Então, eu conversando com o Celso, comecei a achar que, num curso dessa natureza, claramente a área de acidente de trabalho poderia ser uma especialização da área de Ciências Atuariais, tal qual o seguro de saúde e seguro previdenciário. Imagino que essa é uma área que, via implementação das propostas aqui apresentadas, teria muito a oferecer num trabalho cooperativo, então, por isso mesmo, agradeço muito a oportunidade de ter vindo aqui para falar isso. Painel I Bases de Dados e Estatísticas Sobre a Relação Saúde-Trabalho no Brasil Coordenação: Dr. Celso Amorim Salim - FUNDACENTRO Informações e controle da “Comunicação de Acidentes do Trabalho - CAT” segundo o Ministério da Previdência e Assistência Social. Teresa Cristina Amendola Maia Dados Sobre a Saúde do Trabalhador segundo o DATASUS/MS José Américo Serafim Mortalidade por causas e acidentes do trabalho segundo o Sistema de Informações sobre mortalidade Roberto Men Fernandes Afastamentos e licenciamentos segundo o Sistema RAIS CAGED Maria Emília Piccinini Veras Comentários Luiz Armando Medeiros Frias – IBGE 27 28 Informações e Controle da “Comunicação de Acidentes do Trabalho - CAT” Segundo o Ministério da Previdência e Assistência Social. Teresa Cristina Amendola Maia O antigo documento da CAT foi criado em 1955. Depois disso, convivemos com esse documento, já defasado, até a criação de um grupo para estudar uma nova CAT, em final de 1998. Em termos históricos, a CAT começou a ser historiada em setembro de 1993. O que acontecia em 1993? Empregador POSTO INSS Segurado ou dependente IN CADASTR A CAT Sindicato SUS O sistema de COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO (CAT) foi desenvolvido para historiar e apoiar a concessão dos Benefícios Acidentários, nos Postos da Previdência Social. Em Setembro de 1993 foi implementado o Módulo da CAT, no PRISMA, com o escopo do projeto atendendo ao modelo existente. O empregador, segurado, dependente, sindicato ou SUS preenchia a CAT e a enviava ao posto do INSS para que fosse registrada. O cadastramento da CAT era feito no sistema PRISMA, simplesmente para embasar a concessão de um benefício acidentário. Desse modo, quan- do a CAT não era emitida pelo empregador, só chegavam aos Postos de Benefício as CAT que iriam gerar benefício. Suas informações eram armazenadas, muitas das quais como texto livre. Com isso, não era possível extrair alguns indicadores solicitados para compor as demandas solicitadas pelo Ministério da Previdência, assim como para outros órgãos. No final de 1994, foi solicitado pelo MPAS à Divisão de Gestão de Informações (DIGI.E), um controle maior das informações de Acidente de Trabalho que chegavam aos Postos, mas não eram digitadas. 29 Informações convertidas Relatórios Informações da CAT Solicitado em caráter de urgência à área responsável pelo PRISMA que as informações da CAT fossem transmitidas para o Grande Porte para que pudesse ser extraído um total anual das CAT digitadas nos Postos. Foi gerado em arquivo convencional, já que seria utilizado uma única vez. OBS: Nada mais natural, pois tínhamos um acervo das “Comunicações de Acidente de Trabalho” desde 1993 nos Postos. No final de 1994, foi feito o controle das CAT cadastradas nos Postos do Seguro Social e verificado que nem todas eram registradas no sistema. Foi feita uma grande ação conjunta ao INSS de transmissão de todas as CAT que estavam nas bases do PRISMA para o grande porte (Sistema SUB), de qualquer forma. Isso porque foi verificado que os postos só cadastravam as CAT que geravam benefício, as que eram até simples Assistência Médica ou até 15 dias, não eram cadastradas, problemas que não cabem aqui discutir. Feito um primeiro levantamento, e com isso obrigou que os postos fossem mais ágeis, cadastrassem, foi feito um mutirão naquela época, só que, aí, o pessoal gostou muito, porque, com tudo que foi armazenado no grande porte, as informações foram convertidas e saíram alguns relatórios de informações gerenciais que auxiliaram o ANUÁRIO. Então, tudo o que era feito, ou, de forma assim, não digo manual, mas que era mais demorado, conseguia se perceber que tinha tudo ali da CAT, só que a CAT era um documento arcaico. Foi necessária a criação de uma nova estrutura para que se guardasse a CAT em um banco de dados próprio, no SUB, que é o Sistema Único de Benefício, porque, a cada ano que passava, se fala: “ah, não, nós vamos precisar. Cadê as informações? Não era só para a contagem daquele ano?”. Aí, tínhamos que fazer a transmissão de todas as CAT novamente. 30 Gerenciais Muitas vezes, fomos contatados por órgãos do Ministério da Saúde e do Trabalho, visando obter informações da CAT para estatísticas, tomadas de decisões junto às empresas para aplicar o grau de risco (por setores). Com o passar do tempo, fomos observando a importância do documento supracitado. Fizemos diversas tentativas de elaborar um projeto que contemplasse um banco de dados para as informações da CAT, pois a cada ano que passa é necessário fazer uma nova extração de informações. No final de 1998, fui convocada para participar de um grupo de trabalho, junto à Coordenação Geral de Estatística e Atuária, pela Sra. Josefa Barros Cardoso de Ávila, do Ministério da Previdência e Assistência Social, para a reformulação do documento “Comunicação de Acidente de Trabalho”. Essa convocação, deve-se ao fato de ter desenvolvido e estar mantendo até hoje o Módulo da CAT, respondendo solicitações, informalmente, de outros órgãos federais sempre que necessitavam de esclarecimentos sobre o documento de Comunicação do Acidente de Trabalho. Após 40 anos, conseguimos fazer a reformulação do documento, e já que será necessário adequar o sistema atual ao novo modelo, porque não partirmos para um novo Modelo? Conforme a Legislação Previdenciária, na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública; Conforme a Portaria 5200, de 17 de maio de 1999, que possibilita a captação da CAT via Internet. Em outubro de 1998, foi formado um grupo, no qual havia participantes de vários órgãos. Técnicos da Data- HISTÓRICO Em outubro de 1998 É debatido o Novo modelo da Comunicação de Acidente de Trabalho DATAPRE V Método MPAS Coord. Geral de Estatística e Atuária Quantita INSS Direção Geral INSS Direção Geral DATAPREV Prisma INSS Div. Perícia Médica MT (DRT) prev, pelas áreas de sistema - PRISMA e Métodos Quantitativos, funcionários da Direção Geral do INSS, Divisão de Perícia Médica, técnicos do Ministério do Trabalho, médica do Ministério do Trabalho, e Dra Josefa e Luiz Eduardo pela área de Coordenação Geral de Estatística e Atuária. Foram colocados os objetivos e, a partir daí, criada uma sistemática de trabalho. ternet em 24 de janeiro de 2000. Houve grande atuação do INSS, por ser ele o responsável pela entrada da CAT. Ou seja, é a área operacional que vai ser responsável por todas as informações. E, a partir daí, pensamos: “porque não partimos para um novo modelo sistêmico, já que estava sendo feito um novo formulário de Comunicação de Acidente de Trabalho, onde todas as informações poderiam ser armazenadas, exceto testemunha?”. A partir da implementação do novo modelo da CAT, o SUB conterá, também, as informações de Comunicação de Acidente de Trabalho, que poderão gerar benefícios ou não. Permitirá, também, a emissão de relatórios gerenciais e estatísticos que integrem as informações da CAT e seus benefícios. O novo documento da CAT foi implementado na In- Com a execução desse projeto, criamos um banco de dados específico para a CAT. Problemas existem, ainda não está ideal, mas as melhorias serão implementadas numa segunda etapa, pois estávamos comprometidos com o prazo. A partir do projeto acima descrito, a CAT passou a ser cadastrada também pela Internet, além de todos os Postos de Benefício. Qualquer pessoa física ou jurídica 31 pode cadastrar uma CAT por meio da Internet. Para isso, é necessário que seja feito um download do aplicativo específico, através do site da Previdência Social. Na primeira fase, foi colocada como premissa que, para aceitar a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) pela Internet, todas as informações deverão estar preenchidas. A partir do momento que a mesma é confirmada, o usuário recebe a numeração da CAT, e a mesma já está cadastrada em nossa base de dados e registrada junto ao INSS. Se foi uma simples Assistência Médica ou até 15 dias, essa CAT não precisará ir para o posto de benefício. Caso passe de 15 dias, o segurado se dirige a uma Agência da Previdência Social para requerer seu benefício acidentário. A área de habilitação vai verificar se a CAT está cadastrada, como? Por meio do NIT do segurado, CGC, data do acidente e data do afastamento, se houver. Essa é a chave da CAT para verificar se a mesma existe. Então, é feita uma consulta on-line, para verificar se a CAT está cadastrada. Em caso afirmativo, será feito um povoamento das informações cadastradas via Internet para o posto. Somente nesse momento, é que as informações digitadas erradamente pela Internet poderão ser alteradas. Existe também a possibilidade do empregador não aceitar aquele registro como acidente de trabalho. Caso a mesma ainda não tenha sido cadastrada, o funcionário executa a função de cadastramento. Após todo cadastramento, via Internet ou Agência, é emitida uma carta para o emitente. Caso o emitente não seja o empregador, será emitida sempre uma carta para esse último. Na Internet, no momento em que é digitado o CGC do empregador e o NIT do empregado, vêm todas as informações de ambos. Caso o CGC não exista ainda, é possível cadastrar as informações daquela empresa e o NIT também, em caso do empregado novo ainda não estar cadastrado.A consulta on-line é feita em nossa base do CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais. Após o cadastramento, não é possível alterar o endereço de empregador. Por que? Se a CAT não foi cadastrada pelo empregador, ele receberá uma carta de comunicação, com a informação de comparecimento a uma Agência da Previdência Social, no prazo máximo de 15 dias. Com numeração própria, possibilidade em relacionar o mesmo acidente a todos os benefícios a ele correspondente (reabertura, óbito), e captação de todas as Novo Modelo da CAT HABILITAÇ CA CADASTRA Solicitaç Cadas- N SEGURA Benefício Concedido Habilitação e Concess ão de Benefício S Solicita Povoament Transmissã o dos Povoame Atualização de Intern Emprega DATAP Cadastra CAT Cadastramento de Benefícios Dados Estatísticos C. Emitente Carta do Empregad 32 Sistema Único de Benefício Atualização de Dados Cadastrament o de Benefícios Dados Estatísticos Balancete Mensal Desempenho informações do Atestado Médico, incluindo tabelas de CID, descrição e natureza da lesão, partes do corpo atingidas e agente causador, as informações são armazenadas em base de dados própria, de forma a permitir em qualquer momento a extração de Relatórios Gerenciais e Estatísticos. Na segunda etapa, que ainda não começou, teremos que fazer a migração das bases. A base da CAT – documento antigo (sem informações precisas e consistentes) e a nova base de dados da CAT. Uma maior qualidade no controle de gestão de informações, mais rápidas, seguras e consistentes. Tivemos que adequar o sistema PRISMA a esse novo documento que ficou três vezes maior. Com a Portaria, o Ministro da Previdência possibilitou o cadastramento da CAT pela Internet para facilitar a vida do empregador. Tínhamos problemas com a CAT - formulário antigo que aqui eu chamo de atual, e quanto à CAT nova. Por que? Quando da sua criação, não se contemplavam todas as informações que constavam no documento, e não conseguimos vencer a batalha da CAT ter um número próprio, então, a CAT obedecia a numeração de benefício. O problema é que, em caso de reabertura de CAT, perdíamos a referência da CAT inicial. Uma CAT gerava um benefício e ambos tinham o mesmo número. Em caso de reabertura, não tínhamos ligação com a outra CAT (de reabertura) e o benefício vinculado. O laudo do exame médico não era digitado por não haver codificação de informações. Já a CAT nova, que está implementada desde 24 de janeiro de 2000, tem número próprio. A partir daí, conseguiremos percorrer a vida do acidente desde a sua comunicação de acidente de trabalho, desde a inicial, e várias reaberturas até seu óbito, se for o caso, pois não existe número máximo de reaberturas. Houve a possibilidade de relacionar o mesmo acidente a todos os benefícios a ele correspondente. Então, é fácil saber quantos benefícios um acidente de trabalho gerou. Captamos todas as informações do atestado médico, incluindo tabela do CID, descrição e natureza da lesão, parte do corpo atingida, tudo isso. A parte de vinculação da CAT a um benefício estão prontas e funcionando à contento. Já os relatórios, extrações de informações de acidente, totalização e indicadores ficarão para uma segunda etapa. O objetivo do sistema é dotar os clientes com informações gerenciais e estatísticas confiáveis de fácil e rápido acesso, aí viria o INSS, o Ministério do Trabalho, Saúde, até a própria DATAPREV, quando tem que confeccionar o Anuário Estatístico. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA I MINISTÉRIO DO TRABALHO C MINISTÉRIO Facilitar e agilizar o registro do acidente de trabalho, bem como de doenças ocupacionais junto ao empregador por meio da Internet. Durante esse processo de implementação do projeto, verificamos que precisaremos fazer um trabalho de conscientização junto aos funcionários do INSS que cadastram a CAT, quanto ao empregador, por meio de comunicação, via televisão, jornal, da importância de registrar um acidente de trabalho, até mesmo para que possamos, enquanto cidadãos brasileiros, ter nosso direito garantido. Temos a preocupação quanto à migração das informações das CAT – documento antigo – referente a 2000 para o novo documento, porque muita informação nós não temos ali, e o que aconteceu? A CAT entrou na Internet em 24 de janeiro, aí vocês vão falar: “ah, mas tem pouquinho”, mas acontece que muitos empregadores se negam a entrar na Internet. Eles vão cadastrar suas CAT através das Agências da Previdência Social. Como a nossa área de abrangência é muito grande, cada vez que o PRISMA solta uma versão são, no mínimo, dois meses para ser instalada em todo Brasil. Em 24 de janeiro, a nova CAT entrou na Internet, entrando no PRISMA somente a partir de março ou abril. Acredito que maio foi o mês em que todo o Brasil já estava com o novo documento, e, a partir daí, temos como historiar toda e qualquer informação em nossa base de dados. 33 Estamos estudando uma forma de migrar o que entrou desde 1° de janeiro de 2000, vamos dizer, até meados de junho que entrou na forma antiga, está numa base de dados antiga, separada da nova base. Mas essa informação vai precisar ser refinada para que se agregue à nova base da CAT que está na rua. Os objetivos gerais do novo sistema são: ● subsidiar as áreas envolvidas com acidente de trabalho; ● proporcionar ferramentas de trabalho à área de fiscalização da Previdência Social; ● relatórios gerenciais para tomadas de decisão. Qualquer pessoa pode entrar na Internet e cadastrar a CAT. Só que, se um empregado cadastrou uma CAT na Internet antes do empregador, e se o empregador entrar depois na Internet, ele vai ter prioridade sobre essa CAT. Por que? Existe o enquadramento de empresa quanto à Adequação das Alíquotas de Contribuição para que a mesma possa pagar a rubrica do SAT na sua Guia de Recolhimento da Previdência Social. O empregador pode pagar o ônus de ter informado em atraso, mas nunca de omissão. A partir do momento em que o empregador entra com a CAT na Internet, a do empregado fica invalidada, não sendo permitido mais nada. Não adianta o empregador tentar informar que cadastrou antes, o sistema grava, na data de cadastramento, o dia do processamento. Vocês receberam dois manuais, um é o manual e o outro, as transparências que estou apresentando. 34 Armazenamos as informações do empregador, do acidentado, do acidente e do atestado médico. Nós temos isso dividido em grandes blocos, armazenado em nossa base de dados. Bem, esse foi o meu recado. Não preparei nenhum tipo de estatística. Mas eu tenho as informações para, como disse hoje pela manhã o Dr. José Gaspar sobre a estatística estar associada ao uso do biquíni, nós estamos aqui para informar qual é a melhor forma possível do seu uso. Qualquer dúvida, estarei aqui nesses três dias à disposição de vocês. Dados Sobre a Saúde do Trabalhador Segundo o DATASUS/MS José Américo Serafim T rabalho no Ministério da Saúde na Secretaria de documento para a pessoa ser internada pelo SUS, e nela vai também a informação a respeito de acidente de trabalho, porque, no preenchimento desse documento, tem um campo chamado Caráter de Internação, quer dizer, identifica porque esse paciente foi internado. Depois, vamos trabalhar as planilhas, porque que esse paciente foi internado e, se em caso de acidente de trabalho, porque tem: foi eletiva, foi uma emergência, foi um acidente de trabalho, foi um acidente de trajeto, ou um acidente de trânsito, ele tem diversos caracteres de internação. No caso de acidente de trabalho, é obrigatório o preenchimento da CAT que a Tereza acabou de falar aqui agora, e do CGC do empregador. Então, a gente vai ver os números agora.Você vê que são números relativamente baixos, pequenos. Bom, para comparar, fiz uma pesquisa em cima dos três últimos anos de 1998 a 2000, e, na projeção de 2000, os dados são relativos até agosto. Então, os números, apesar de serem parecidos, foram projetados a partir de uma média mensal. A gente vê que, em cima de um total de internações por Estado, temos o total de internações por acidente de trabalho ou acidente de trajeto. Temos um dado muito interessante aqui em Alagoas que ficou muito marcado porque, num total de uma média de 200 mil, 200 e poucas mil de internações/ano, ele teve 1.600 em 1998, 1.300 em 1999 e, pela projeção para 2.000, nove. Quer dizer, o número que veio, a média mensal até agosto, estava abaixo de um, onde a gente vê que houve realmente um subnotificação. Em compensação, no Distrito Federal houve um aumento, não sei se começaram a trabalhar mais, está vendo, teve um em 1998, 10 no ano de 1999, e já uma projeção para 2000 de 125. Então, são números que a gente sabe que não mostram a realidade, a gente sabe que o número de acidentes de trabalho que provoca internações é maior do que isso, mas, devido a esses problemas que a gente tem no preenchimento do papel da autorização de internação hospitalar, você já tem que ter o número de CAT e, como eu falei, o caráter de internação emergência ou urgência também é um acidentado de trabalho. Dependendo do estado dele é uma urgência, então, ao invés de ele colocar lá que foi acidente de trabalho, a emergência é urgência, por isso não conseguimos caracterizar isso. E aqui, quanto o Ministério está gastando nos acidentes. A gente tem uma média de 16 a 18 milhões de reais/ano, nesse acidente caracterizado nas internações de acidente de trabalho. No ambulatório, isso parte de internação, especificamente internação hospitalar, o paciente foi internado por problema de acidente de trabalho, o SIA essa tabela, esse aqui seria o número de consultas. SIA é o Sistema de Informações Ambulatoriais, esse seria só, simplesmente a consulta. O paciente ou o acidentado não precisou ficar internado, teve um acidente, foi lá no ambulatório do hospital, tratou, colocou um gesso, tomou uma aspirina, alguma coisa. A gente vê que o número também é muito menor até do que o número de EH, em comparação ao número de atendimentos ambulatoriais que temos durante o ano, comparado com o número de internações que a gente tem, é muito menor, a gente vê que têm Estados que não informam, é simplesmente como se não existisse. Roraima não tem atendimento. Sergipe, em 1998 não apresentou nada de atendimento ambulatorial como sendo acidente de trabalho, começou a apresentar em 1999, e você vê que a projeção para 2000 triplica, quer dizer, aí também é um pouco de conscientização das pessoas que trabalham, quer dizer, o próprio Ministério do Trabalho fazendo um trabalho de conscientização em cima, o próprio gestor do SUS (Sistema Único), porque isso é interessante também, não só para o trabalho, para o Ministério do Trabalho, mas também para o Ministério da Saúde, porque há uma conta corrente entre o Ministério do Trabalho e a Previdência e a Saúde para, em matéria de repasse de recurso, para saber quanto a Previdência vai repassar para o SUS e tal. Então, a gente vê que começa a ter um aumento, que nos grandes Estados, a média, quer dizer, São Paulo caiu um pouco, em compensação, o Rio Grande do Sul quase dobrou de 1998 para 2000. No Rio de Janeiro também houve um aumento considerável. Então, na média, a gente vê que os Estados estão tentando fazer alguma coisa. Aqui, eu peguei algumas causas de internações, porque o paciente é internado. Então, o procedimento mais freqüente na somatória total dos anos é redução cirúrgica de fratura dos ossos do antebraço com fixação, quer dizer, quebrou, teve fratura, provavelmente exposta, que precisou de pino ou parafuso. Depois, vem perda de substâncias, isso aí, geralmente, é causada por queimadura.Aí vem, basicamente, poli traumatismos, redução de tornozelo, tratamento do crânio, isso é na internação, isso aqui são causas de internações hospitalares, você vê que a redução cirúrgica de redução de ossos do antebraço tem uma média de 2000, 2500/ano das causas internadas como acidente de trabalho ou acidente de trajeto, queimado ele está aqui, queimado em oitavo lugar na média dos três anos, na somatória dos três anos no caso. E assim a gente vai vendo, tem mais uma planilha que seria o percentual de morte. Isso aqui seriam as internações, cujas saídas se 35 deram por morte, quer dizer, a pessoa foi acidentada de trabalho e morreu durante o período de internação. Ele saiu já do hospital morto. Também vemos que tem um número até que considerável. A projeção para esse ano já é de 696 mortes por acidentes de trabalho relativos a internação. Esse material todo vai estar sendo distribuído para vocês, é que houve um probleminha aqui na minha viagem, atrasou um pouco, eu só consegui pegar aqui em cima da hora. Bom, isso são só alguns números, e como é que a gente os consegue? Esses números não são nossos, eles estão principalmente na parte hospitalar, seria na AIH.A DATASUS produz mensalmente um CD-ROM com os dados das internações que demora de três a quatro meses para ficar pronto com os dados completos, mas, mensalmente, assim que acaba, a gente hoje está em novembro, 08 de novembro, daqui a umas duas, uma semana mais ou menos, a gente já tem os dados relativos de setembro, das internações, os chamados arquivos reduzidos, por que reduzido? Porque no documento AIH, como a Tereza mostrou, a CAT tem muita informação, então, para a gente agilizar o processo, a gente faz um resumo desses dados, colocando só os pontos principais, esses dados, esses arquivos são distribuídos, são disponibilizados mensalmente na Internet, no site do DATASUS, separados por Estado.Tem um programa que até o Roberto vai falar depois aqui, da mortalidade, provavelmente, ele vai falar desse problema também, que é um programa genérico, é um tabulador genérico para os dados, para todos os dados do Ministério da Saúde, tanto da parte hospitalar, quanto da parte ambulatorial, do sistema de mortalidade, do sistema de nascidos vivos, que ele tabula dados, faz essas planilhas todas que eu coloquei no Excel só para facilitar a apresentação aqui, foram todos gerados nesse tabulador. Então, esses dados estão lá, são disponibilizados mensalmente, basta ter acesso à Internet, entrar no site do DATASUS, pegá-los e baixá-los. Os CD-ROMs são distribuídos também gratuitamente, se não me engano, a FUNDACENTRO, pelo menos, a FUNDACENTRO de Minas, com o Celso, eu sei que recebem mensalmente esse material, que é voltado para as Instituições de Pesquisa, Universidades, Secretarias de Saúdes Estaduais ou Municipais, enfim, toda pessoa ou organização que queira fazer trabalho de pesquisa em cima dos dados de internação podem se cadastrar no DATASUS junto ao DATASUS e receber mensalmente esses CD’s. Eles já vêm com esse programa tabulador próprio que ensina como se faz. É um programa muito simples de ser usado, como diziam os camelôs lá do Rio: “não requer prática, nem tampouco habilidade”, ele é bem autodidata, é questão de saber o que se quer tirar desses dados. No Ministério do Trabalho, trabalhamos as tabulações feitas em nível nacional, mas se pode trabalhar em nível estadual, municipal, hospitalar ou ambulatorial. Ver qual o hospital ou ambulatório que está 36 atendendo mais. Tem recursos no tabulador que, quando você trabalha em nível estadual ou municipal, permitem mapear, você fazer o mapa do Estado ou do Brasil e aponta onde está ocorrendo a incidência maior dessas internações por esses motivos. Então ele fica disponível para acesso de todos, além das informações na própria Internet. No caso da internação, não se pode tirar, chegar a esse nível que eu mostrei aqui porque ele fica em um arquivo muito pesado, ficaria um trabalho muito pesado para se fazer, ele vai chegar em nível Municipal, no máximo. No ambulatorial não, neste você pode chegar lá também, pegar por procedimento. Eu quero ver determinado procedimento, eu quero ver como é que foi o atendimento. No sistema ambulatorial existe uma consulta por acidente de trabalho de onde eu tirei esses dados. Foi rápido, sucinto. Considerações sobre a saúde do trabalhador através dos dados do Ministério da Saúde: Nas internações hospitalares pagas pelo SUS, nós podemos acompanhar os acidentes de trabalho através do caráter de internação do paciente, pois existem códigos próprios para identificar os acidentes de trabalho e os acidentes de percurso; No atendimento ambulatorial, existe em código próprio para consulta de acidentado de trabalho. Estes dados estão disponíveis para download no site www.datasus.gov.br, opção Arquivos; Os dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SAI/SUS) também podem ser visualizados diretamente no site do DATASUS através do link Informações em Saúde; podem ser agrupados por Região/Estado ou Município. O Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) disponibiliza os dados através de arquivos, como descrito acima, e também através de CD-ROM, que são distribuídos gratuitamente às secretarias Estaduais/Municipais de Saúde e outros órgãos que utilizam os dados, tais como: universidades, conselhos de classes, entre outros. O CD-ROM acompanha um programa para a tabulação dos dados, chamado TABWIN, na versão para Windows e TABX na versão para MS-DOS. Este mesmo programa é utilizado na Internet, o que permite a tabulação dos dados via WEB. A diferença entre a versão para microcomputador e da versão para Internet está no nível de informação que pode ser obtida. Como já foi dito anteriormente, na Internet, o nível mínimo a que se chega é o Município enquanto que com os dados obtidos atra- vés do download do arquivo ou do CD-ROM, pode-se chegar ao hospital/ambulatório que realizou o procedimento. Os dados apresentados em anexo foram tirados, parte da Internet (SAI/SUS) e parte dos arquivos disponibilizados pelo DATASUS através dos CD-ROMS e vemos que o percentual de internações causadas por acidentes do trabalho não chega, na média Brasil, a 0,35% do total; Devemos supor que este número é subestimado, pois, na AIH (Autorização de Internação Hospitalar), que é o documento de entrada no SIH/SUS, existem outros caráter de internação, e o mais utilizado é o urgência/ emergência, como um acidentado de trabalho, é uma internação de urgência/emergência, o hospital caracteriza a internação dessa maneira ao invés de caracterizá-la como internação por acidente de trabalho/trajeto; Da mesma maneira, devemos ver o Sistema de informação Ambulatorial, pois a informação é prestada pela unidade prestadora de serviço, e ela pode caracterizar a consulta causada por acidente de trabalho por uma consulta de emergência. Tabela 1 Total de Mortes em Pacientes Internados por Acidente de Trabalho Estado Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal Total 1998 4 4 3 11 1 10 9 13 1 6 3 2 6 3 22 91 5 56 186 10 16 26 4 15 507 1999 5 18 1 9 1 10 11 1 12 8 7 11 119 7 121 178 18 9 8 1 9 11 1 576 2000 * 2 2 2 2 12 2 9 20 15 5 9 98 3 186 254 11 9 41 3 14 3 696 Fonte: MS/SAS/DCAS – DATASUS * Previsão a partir de média mensal 37 Tabela 2 Procedimentos mais freqüentes em internações causadas por acidente de trabalho Procedimento Realizado 39013081 Redução cirúrgica da fratura dos ossos do antebraço com fixação 38025019 Perda de substância cutânea - lesôes extensas planos superficiais 39011160 Redução cirúrgica da fratura do tornozelo, com fixação 40001008 Tratamento conservador do traumatismo cranioencefálico 39013138 Redução cirúrgica da fratura transtrocanteriana 91500079 Tratamento clínico do traumatismo cranioencefalico 39011151 Redução cirúrgica da diáfise da tíbia, com fixação 38003147 Médio queimado 39009130 Redução cirúrgica da fratura da diáfise do fêmur, 39024083 Redução incruenta da fratura dos ossos do antebraço 31000002 Cirurgia múltipla 90500164 Acidente por queda 39016080 Redução cirúrgica da fratura do radio, com fixação 39012190 Tenorrafia 39013073 Redução cirúrgica da fratura dos ossos do cotovelo com fixação 90500067 Acidente por picada de animais peçonhentos 39000001 Politraumatizado 39012131 Redução cirúrgica da fratura do colo do fêmur 33016119 Laparotomia exploradora 39023087 Redução incruenta da fratura do radio 39015068 Redução cirúrgica da fratura supra-condiliana do úmero com fixação 39018105 Redução cirúrgica de fratura das falanges, com fixação 39013146 Redução cirúrgica da fratura do joelho, com fixação 38011018 Sutura de ferida com ou sem debridamento 38006014 Excisão e sutura simples 40200000 Tratamento conservador do traumatismo cranioencefálico 39020100 Redução cirúrgica da fratura dos metacarpianos com fixação 91500141 Complicações de procedimentos cirúrgicos ou médicos 38001144 Pequeno queimado 38005077 Suturas e reparações de perda de substancia da mão 91300061 Tratamento clínico do traumatismo cranioencefálico 39019152 Redução incruenta da fratura da tíbia 39011135 Redução cirúrgica de fratura da extremidade do fêmur 39003108 Amputação do dedo (cada) 43000002 Diagnóstico e/ou primeiro atendimento em clinica cirúrgica 89500059 Intoxicação por álcool 37011057 Redução cirúrgica da fratura dos ossos próprios do nariz 39001210 Retirada de fio de Kirschner intra-osseo 72500000 Diagnóstico e/ou primeiro atendimento em clinica medica 39013162 Redução cirúrgica da fratura-luxação do tornozelo, 39006042 Redução cirúrgica da fratura da clavícula 39009068 Redução cirúrgica da fratura da diáfase do úmero 39016145 Tratamento cirúrgico da rotura do ligamento do joelho 39003124 Artroplastia coxo femoral 38007142 Grande queimado 39016129 Artroplastia coxo femoral com prótese não cimentada 39005216 Retirada de pino de Steinnan 91500109 Lacerações e ferimentos de localizações diversas 39011062 Redução cirúrgica da fratura da extremidade superior do úmero com fixação 39011097 Redução incruenta da(s) fratura(s) do (s) osso(s) do punho 1998 2.343 1.806 1.545 1.106 1.288 1.288 1.182 948 904 1.147 782 637 743 862 771 420 681 553 823 652 701 579 513 570 278 1 391 362 398 454 421 444 355 469 397 202 390 270 240 303 250 281 267 217 370 209 210 289 224 308 1999 2000 * 2.493 2.001 1.749 1.166 1.508 1.404 1.514 1.125 1.224 1.107 1.127 982 1.205 998 1.115 864 926 873 835 643 796 825 773 813 695 747 757 593 731 603 577 842 652 537 590 631 738 353 557 466 519 427 464 453 494 465 490 422 370 516 248 735 367 379 389 379 432 300 364 302 321 326 333 300 375 286 306 254 261 307 277 406 260 273 384 267 259 363 282 297 300 312 302 278 271 305 326 255 225 199 240 271 309 219 225 218 219 237 171 204 Total 6.837 4.721 4.457 3.745 3.619 3.397 3.385 2.927 2.703 2.625 2.403 2.223 2.185 2.212 2.105 1.839 1.870 1.774 1.914 1.675 1.647 1.496 1.472 1.482 1.164 984 1.137 1.130 1.130 1.120 1.068 1.077 1.016 1.029 965 885 923 921 862 882 862 861 843 798 794 720 738 732 680 683 Total 42.794 42.616 40.642 126.052 Fonte: MS/SAS/DCAS – DATASUS 38 * Previsão a partir de média mensal Tabela 3 Tabela 4 Gastos em Atendimentos Ambulatoriais por Acidente de Trabalho Freqüência de atendimentos Ambulatoriais em Acidente de Trabalho UF ACRE ALAGOAS AMAPA AMAZONAS BAHIA CEARA DISTRITO FEDERAL ESPIRITO SANTO GOIAS MARANHAO MATO GROSSO MATO GROSSO DO SUL MINAS GERAIS PARA PARAIBA PARANA PERNAMBUCO PIAUI RIO DE JANEIRO RIO GRANDE DO NORTE RIO GRANDE DO SUL RONDONIA RORAIMA SANTA CATARINA SAO PAULO SERGIPE TOCANTINS Total Fonte: MS/SAS/DCAS – DATASUS * Previsão a partir de média mensal 1998 0 668,1 0 63,75 5020,95 367,2 0 20,4 19555,95 140,25 3790,83 2,55 48018,54 1741,65 168,3 0 2998,8 849,15 55998 130,05 27455,85 15,3 0 21096,15 231185,6 0 3014,1 422301,4 1999 66,3 805,8 0 0 9180 0 0 191,25 17008,5 1020 11903,4 33,15 51734,4 1530 155,55 5102,55 9366,15 2613,75 63298,65 553,35 28725,75 520,2 0 25525,5 225361,4 8019,75 12339,45 475054,8 2000 * 21,86 2.500,46 1.036,03 25.153,20 9.193,11 126,77 55.215,51 778,11 32.610,86 253,54 69.003,00 7.051,11 104,91 29.301,69 43.189,71 1.145,31 93.404,31 12.646,54 48.575,18 1.342,03 14.880,34 221.679,51 24.886,54 1.097,23 695.196,89 UF ACRE ALAGOAS AMAPA AMAZONAS BAHIA CEARA DISTRITO FEDERAL ESPIRITO SANTO GOIAS MARANHAO MATO GROSSO MATO GROSSO DO SUL MINAS GERAIS PARA PARAIBA PARANA PERNAMBUCO PIAUI RIO DE JANEIRO RIO GRANDE DO NORTE RIO GRANDE DO SUL RONDONIA RORAIMA SANTA CATARINA SAO PAULO SERGIPE TOCANTINS Total 1998 262 25 1.969 144 8 7.669 55 1.487 1 18.838 683 66 1.176 333 21.960 51 10.767 6 8.273 90.661 1.182 165.616 1999 26 316 3.600 75 6.670 400 4.668 13 20.288 600 61 2.001 3.673 1.025 24.823 217 11.265 204 10.010 88.377 3.145 4.839 186.296 Fonte: MS/SAS/DCAS – DATASUS * Previsão a partir de média mensal 39 2000 * 9 981 406 9.864 3.605 50 21.653 305 12.789 99 27.060 2.765 41 11.491 16.937 449 36.629 4.959 19.042 526 5.835 86.933 9.759 430 272.619 Tabela 5 Gastos com Internações por Acidentes de Trabalho UF - ZI Acre Alagoas Amapá Amazonas Bahia Ceará Distrito Federal Espírito Santo Goiás Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Pará Paraíba Paraná Pernambuco Piauí Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondônia Roraima Santa Catarina São Paulo Sergipe Tocantins Total 1998 2000 * 121.198,51 131.938,19 89.965,70 569.675,07 464.479,60 2.107,03 7.791,18 24.293,20 33.172,90 27.732,71 31.918,33 41.826,91 1.271.036,52 1.521.242,22 1.218.107,49 18.264,55 17.970,47 317.084,14 170,16 12.130,20 41.037,69 123.240,36 120.114,91 93.262,73 248.569,95 307.849,51 479.652,19 230.987,06 340.518,65 200.931,82 151.262,75 179.524,36 279.297,99 76.296,14 85.048,28 105.679,01 1.646.665,19 2.030.962,91 2.000.116,49 380.842,30 481.620,58 692.813,08 63.298,52 271.779,90 237.154,23 474.422,08 402.985,58 616.049,67 104.949,81 176.787,89 173.601,48 216.525,72 474.006,22 41.447,57 1.582.951,92 2.663.471,54 3.685.637,28 90.936,91 12.448,90 22.484,37 663.615,22 600.176,26 1.187.610,41 246.635,48 140.174,28 162.500,37 733,35 1.153,80 185,08 503.055,46 490.536,00 472.473,53 6.841.783,32 6.367.628,90 6.115.777,53 308.650,79 197.483,98 239.399,98 127.017,37 376.166,56 449.387,42 16.098.308,40 17.944.315,59 18.978.859,73 Fonte: MS/SAS/DCAS – DATASUS * Previsão a partir de média mensal 40 1999 Tabela 6 1998 1999 2000 Total de Total de Total de Total de Percentua Total de Total de Percentua Unid.Federação Percentual Internações Acidentes Internações Acidentes l Internações Acidentes l Acre 34.437 456 1,32% 48.331 427 0,88% 46.334 310 0,67% Alagoas 208.023 1.608 0,77% 201.952 1.335 0,66% 209.964 9 0,00% Amapá 18.624 31 0,17% 23.393 63 0,27% 31.557 91 0,29% Amazonas 115.546 165 0,14% 127.219 211 0,17% 129.444 221 0,17% Bahia 1.044.609 4.066 0,39% 1.085.236 4.231 0,39% 1.098.770 2.832 0,26% Ceará 518.898 69 0,01% 531.989 121 0,02% 540.962 698 0,13% Distrito Federal 159.493 1 0,00% 158.214 10 0,01% 180.023 125 0,07% Espírito Santo 209.286 637 0,30% 206.771 732 0,35% 197.768 537 0,27% Goiás 344.762 644 0,19% 377.962 712 0,19% 380.132 969 0,25% Maranhão 404.948 1.050 0,26% 397.762 1.397 0,35% 398.706 873 0,22% Mato Grosso 201.656 593 0,29% 196.190 679 0,35% 201.614 799 0,40% Mato Grosso do Sul 164.652 372 0,23% 167.119 462 0,28% 178.488 463 0,26% Minas Gerais 1.311.803 4.463 0,34% 1.285.526 4.787 0,37% 1.317.390 4.771 0,36% Pará 455.588 1.262 0,28% 486.384 1.692 0,35% 500.477 1.291 0,26% Paraíba 259.825 171 0,07% 270.939 579 0,21% 273.872 483 0,18% Paraná 807.192 1.312 0,16% 827.352 1.607 0,19% 829.767 1.113 0,13% Pernambuco 599.860 340 0,06% 595.909 473 0,08% 587.718 393 0,07% Piauí 239.608 458 0,19% 259.261 156 0,06% 287.433 1.752 0,61% Rio de Janeiro 1.002.890 3.322 0,33% 1.000.324 4.831 0,48% 1.015.385 5.599 0,55% Rio Grande do Norte 195.814 301 0,15% 195.677 132 0,07% 203.289 60 0,03% Rio Grande do Sul 801.608 1.993 0,25% 809.269 1.689 0,21% 821.265 2.997 0,36% Rondônia 116.576 1.235 1,06% 124.376 797 0,64% 113.450 564 0,50% Roraima 15.747 6 0,04% 17.298 2 0,01% 5.322 2 0,03% Santa Catarina 411.558 1.567 0,38% 415.143 1.380 0,33% 417.909 1.250 0,30% São Paulo 2.380.248 14.825 0,62% 2.393.348 11.803 0,49% 2.441.004 10.116 0,41% Sergipe 130.145 1.273 0,98% 136.353 1.023 0,75% 139.628 1.008 0,72% Tocantins 95.236 574 0,60% 99.079 1.285 1,30% 98.336 1.320 1,34% Total 12.248.632 42.794 0,35% 12.438.376 42.616 0,34% 12.646.001 40.642 0,32% Fonte: MS/SAS/DCAS – DATASUS * Previsão a partir de média mensal 41 Tabela 7 Freqüência de Internações por Acidente de Trabalho UF - ZI Acre Alagoas Amapá Amazonas Bahia Ceará Distrito Federal Espírito Santo Goiás Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Pará Paraíba Paraná Pernambuco Piauí Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondônia Roraima Santa Catarina São Paulo Sergipe Tocantins Total Fonte: MS/SAS/DCAS – DATASUS * Previsão a partir de média mensal 42 1998 456 1.608 31 165 4.066 69 1 637 644 1.050 593 372 4.463 1.262 171 1.312 340 458 3.322 301 1.993 1.235 6 1.567 14.825 1.273 574 42.794 1999 2000 * 427 310 1.335 9 63 91 211 221 4.231 2.832 121 698 10 125 732 537 712 969 1.397 873 679 799 462 463 4.787 4.771 1.692 1.291 579 483 1.607 1.113 473 393 156 1.752 4.831 5.599 132 60 1.689 2.997 797 564 2 2 1.380 1.250 11.803 10.116 1.023 1.008 1.285 1.320 42.616 40.642 Mortalidade por causas e acidentes do trabalho segundo o Sistema de Informações sobre mortalidade Roberto Men Fernandes B oa tarde, meu nome é Roberto e trabalho no Centro Nacional de Epidemiologia da Fundação Nacional de Saúde em Brasília, diretamente com sistemas de informações de Saúde, como vou mostrar aqui: Sistema de Informações de Notificação de doenças compulsória, sistema de informações sobre nascimentos no Brasil, e mais diretamente com o sistema de informações sobre mortalidade.Tereza, você falou uma coisa interessante aqui no começo, que a sua paixão é a CAT, e eu estou vendo agora que a paixão é uma coisa meio esquisita, porque a minha paixão é trabalhar com tabulações de óbitos. Mais interessante ainda, o sistema de informação sobre mortalidade está aí na praça com dados desde 79 até 98, este último inclusive, fechado, como denominamos. Também dispomos em Brasília de mais 17 Estados, que enviaram os dados relativos ao ano de 99. O sistema é tão bom, não é porque estou trabalhando com ele não, mas o sistema é tão bom, tão bom, que ele foi regulamentado há pouco tempo e está funcionando desde 79.A declaração de óbito é o documento padrão para efeito de coleta de dados. Bom, eu já tinha dito a princípio, trabalhamos com notificação compulsória que são aquelas doenças que desencadeiam programas por parte governamental na área de saúde, com informações sobre nascimentos e óbitos na mesma Coordenação. Ocorrendo um evento de nascimento no Brasil e o médico preenchendo a Declaração de Nascido Vivo, esse documento é preenchido, (como eu vou falar da D.O.) em 3 vias, a 1ª via fica retida para o serviço de coleta, de busca ativa, para se fazer a entrada desses dados no sistema, que quando fechado no Estado, esse arquivo é remetido para Brasília para que possamos fazer a consolidação dos mesmos.A mesma coisa com a mortalidade, ocorrendo o evento e se um médico ou o próprio cartório preencher a declaração de óbito, a 1ª via também é retida e os serviços estaduais de saúde coletam as informações destes documentos, fazendo a entrada de dados dos mesmos e mandam para Brasília também para fazermos a consolidação nacional. Toda essa rotina começou em junho de 75, quando o Ministério da Saúde resolveu implantar um sistema de vigilância epidemiológica em nível nacional, a dificuldade na época era a abrangência, e a obtenção regular dos dados. Na época, adotou-se o formulário padrão que é o próprio atestado de óbito porque, até então, tínhamos mais de 40 documentos existentes na praça e cada Estado com a sua declaração, às vezes, o médico atestava no próprio receituário a declaração, então, resolveu-se padronizar o documento, trazendo um ganho significativo. Hoje não se consegue registrar nenhum óbito no cartório se não tiver a Declaração de Óbito devidamente preenchida pelo médico. Na época, o Ministério da Saúde centralizou o processamento em Brasília.A coleta era feita de uma maneira retrógrada, vamos dizer assim, através de codificação da Declaração de Óbito. Na Secretaria de Saúde, onde ficava a Vigilância Epidemiológica, ou o Planejamento, o serviço responsável concentrava a coleta da Declaração de Óbito preenchida pelo médico, codificava tudo numa planilha e remetia para Brasília para a digitação dos dados. Então, era um processo que demorava muito. A partir de 92, com os avanços tecnológicos e a difusão da microinformática, resolveu-se descentralizar o sistema, então, foi feito um sistema na época em plataforma DOS para microcomputador, distribuída as versões para todos os Estados, e os Estados para os municípios, ou a área de seu interesse, tipo alguma regional de saúde ou município de maior porte, para fazer a coleta desses dados diretamente da declaração. Em 95 foi incorporado e um módulo denominado SCB que é o Selecionador de Causa Básica de Óbito, falaremos a seguir sobre a causa básica de óbito. O digitador, fazendo a entrada dos dados desse documento, na parte de condições e causas existe uma codificação da doença que levou o indivíduo a óbito com os códigos da Classificação Internacional de Doenças. Neste módulo SCB, o próprio sistema devolve a causa básica de óbito, que tem toda uma metodologia e regras para seleção. São 13 regras para codificação, seguindo as orientações da Organização Pan-Americana de Saúde. Ocorrendo um evento, o atestado é preenchido por um médico que colocará as doenças que levaram o indivíduo a óbito, o codificador no caso, de posse desse documento, codifica cada doença de acordo com a Classificação Internacional de Doenças seguindo as regras de codificação. A Classificação Internacional de Doenças já foi até falado aqui pela minha amiga Tereza, a CID, a famosa CID que adotamos a CID 10, a partir de 96 que também falaremos. O ria, o documento é digitado, enviado para a Secretaria Estadual de Saúde que concentra os dados no Estado e os remete trimestralmente para o CENEPI que é o órgão gestor do sistema. A questão da causa básica de óbito, denomina-se como sendo a doença, o estado mórbido ou lesão que produziram a morte ou contribuíram para ela e as circunstâncias de acidentes ou violências que produziram essas lesões. Para entendimento vou utilizar um exemplo clássico. As pessoas saem de casa, uma família dentro de um veículo, 43 vão viajar e sofrem um acidente qualquer. Em cima de uma ponte o carro cai e morre todo mundo afogado dentro do rio. Para efeitos de causa básica do óbito ou óbitos considera-se o acidente de trânsito, apesar daqueles ocupantes terem ido a óbito por afogamento, que foi a causa terminal, então, o que causou o óbito desses indivíduos foi o acidente de trânsito e não no caso o afogamento que foi uma causa terminal. Também tem a questão daquelas que denominamos de “as mal definidas”, que as vezes, encontra-se alguma declaração que o médico declara como circunstância que levou a óbito, falência de múltiplos órgãos, todo mundo morre disto, parada cardiorrespiratória, todo mundo morre disto também, mas teve alguma doença que provocou ou levou a essa falência ou essa parada, teve alguma coisa, mas aí é questão de preenchimento mesmo. A CID de onde é que ela surgiu? No começo do século XIX, a classificação mais utilizada era a de William Cullen, surgida em 1785 sob o título de Synopis Nosologiae Methodicae. Em 1837 Willian Farr, estatístico médico, trabalhou para aperfeiçoar as classificações existentes e a uniformidade internacional do seu uso. Hoje, existem os Centros colaboradores da OMS para classificação e uso em questões relacionadas à saúde e particularmente na CID. As atualizações partem das conferências internacionais com representantes das nações unidas, ONG’s, etc. Dentro da CID dispomos de subdivisões que denominamos capítulos, dos quais, 19 utilizados pela mortalidade. O primeiro capítulo, que trata das doenças infecciosas parasitárias, é um capítulo que vai do código da CID A00 a B99, entrando todas as infecções, as doenças infecciosas parasitárias tipo as diarréias, AIDS, etc, e aquelas doenças que os insetos transmitem, malária como exemplo, e aquelas transmitidas por animais, tipo leishmaniose. O segundo capítulo trata das neoplasias, neoplasia é a denominação de câncer, e assim por diante, doenças do sangue até chegar num capítulo que depois a gente vai falar alguma coisa aqui também, o XIX que são aquelas ocorrências que levam o indivíduo a óbito provocado por uma agressão de um meio externo ao interno, que não ocorre diretamente do corpo, então, a gente denomina isso de causa externa, os acidentes de uma maneira geral. Bom, como eu tinha falado um pouquinho antes, de 79 a 95 os dados de mortalidade estão disponibilizados de acordo com a CID 09 que era a nona revisão. A diferença para a décima revisão utilizada de 96 em diante é que na CID 09 os códigos das doenças eram numéricos de 000 até 999 e hoje ele passou a ser alfa numérico. Uma outra mudança que ocorreu foi a inclusão da Aids com seus códigos específicos de B20 a B24, que na Cid 09 era codificado como deficiência da imunidade celular, código 279.1, e o tétano neonatal que pertencia ao Capítulo XV da Cid 09, passou para o Capítulo I da Cid 10. Bom, como a gente divulga isso? Recebemos esses dados 44 em Brasília, fazemos uma consolidação e o fechamento estatístico. Entramos em contato com os Estados para averiguarmos se existem mais dados referentes ao ano em questão, com a afirmativa do fechamento por parte dos Estados, fazemos a consolidação dos mesmos e damos como fechado o ano. A partir daí, encaminhamos esses arquivos para o Departamento de Informática do SUS, o DATASUS para divulgação dos dados na Internet e confecção de CD-ROM para distribuição. Vou mostrar algumas tabelas para vocês, dos dados que coletamos, referentes ao total Brasil em 96. Tivemos a ocorrência de 908.882 óbitos, aí está a distribuição por região, por Estado. Em 1997, observamos uma queda onsiderável 903.663, em 98 conseguimos coletar 929.023 óbitos. Isso daí é uma proporção de Município com informação regular, esta tabela dá um panorama geral no país para ver quem é que está mandando dados para Brasília, os Municípios hoje no Brasil são 5.507, os dados são de 98, o número de Municípios com informação 5.289, então, 96% dos Municípios do Brasil informaram que houve pelo menos um evento de óbito no seu local, os demais Estados, só nas regiões Norte e Nordeste que observamos uma pequena deficiência, a Sudeste um pouco também por causa do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Minas também teve uma caidinha e o resto, 100% de cobertura dos Municípios. Esta é uma tabela que mostra a taxa bruta de mortalidade que denominamos. Nesta tabulação, o número de óbitos ocorridos representam uma média de 5,7 por 1.000. Normalmente, a expectativa é de uma faixa de 6,5 por 1.000 de ocorrência de óbito para o Brasil. E aí, distribuído por Estados também, observamos o Norte que tem uma taxa de 3.7, o Nordeste 4.7 e quando você vem para o Sudeste já é 6.7, aqui em São Paulo, observamos 6.6, o Rio 8.3 por 1.000. Isto demonstra que, quanto menor a taxa bruta, menor a cobertura e no caso específico do Rio e São Paulo, a população é considerada mais velha, razão dos índices acima de 6,5. E é aquela velha história das mal definidas, em 98 dos 929.023 óbitos que computamos, 138.533 óbitos são de causas mal definidas ou 14.9% do total e dentro das mal definidas, 61.4% referem-se às ocorrências sem Assistência Médica, quer dizer, ocorre o evento em qualquer lugar, em casa e sem assistência de um profissional da saúde. Assim finalizamos a primeira parte desta apresentação, vocês vão me agüentar mais um pouquinho, eu tenho mais quanto tempo? Isso que eu vou mostrar agora, não é nenhum trabalho com conotação científica, é mais em relação aos dados brutos que dispomos, inclusive, eu terminei isso no domingo, ontem, para trazer para cá. Então, é só para demonstrar para vocês o que ocorreu em 98 em cima das causas externas. As causas externas de mortalidade compreendem o capítulo XX da CID 10, correspondentes aos códigos iniciados pela letra V, V01 a V99 acidente de transporte, com seus re- spectivos códigos relacionado a acidentes de trânsito, inclusive, W para quedas, X para homicídios e suicídios e Y para outras lesões e eventos da natureza. Dispõe de 400 categorias a CID 10 e 4.000 subcategorias, utilizamos 372 categorias e 3.309 subcategorias. As subcategorias ou o 4° dígito, como denominamos na causa básica do óbito, significa a especificidade em si da doença. Um exemplo: neoplasia da lábio é C00 na categoria de três algarismos, se fosse da parte superior C00.0, parte externa C00.1, etc, é o 4° dígito que especifica onde está a doença, o local. O capítulo XX, conforme as recomendações da Classificação Internacional, é utilizado para codificar os fatores externos associados com afecções mórbidas, todas as mortes provocadas por fatores externos que atuam sobre o indivíduo, denominamos um agente externo agindo de uma forma violenta, agressiva de fora para dentro, são incluídas no capítulo das causas externas. Nesta tabela que vamos mostrar logo em seguida, falaremos das incidências das causas externas. Em 1998, ocorreram 929.023 óbitos no Brasil, 117.600 (12.6%) correspondem a causas externas, representando a segunda maior incidência de causas de óbitos determinadas, sendo a primeira as doenças relacionadas ao aparelho circulatório 256.333 (27.59%) e a terceira relacionada ao grupo de neoplasias (canceres) 110.765 (11,92%) do total e assim por diante. Os principais tipos de mortes não naturais são os homicídios e acidentes (com predominância para os de trânsito), etc. Assim temos 117.600 óbitos por causas externas, sendo homicídios com 41.916 (35.64%) e acidentes de transportes 30.859 (26,24%), depois vem as de intenção indeterminadas, suicídios, afogamentos, quedas, etc. No grupo etário, de 10 a 49 anos, a mortalidade por causas externas representam 38% de todas as mortes ocorridas na mesma faixa etária, conforme demonstrado nesta tabela. As causas externas em todas as faixas etárias são 117.600 e na faixa de 10 a 49, são 86.748, representando 73.7% de todas as ocorrências. Na tabela abaixo, dessas 73% de 10 a 49 anos que ocorrem nas causas externas, 31.34% referem-se a agressões, depois entra com 18% nos acidentes de transporte, e assim por diante. Depois eu quis ver também o que está na mídia direto, saiu na Veja desta semana, saiu no Fantástico ontem, mais alguma reportagem na Globo sobre os casos de óbitos no Brasil por armas de fogo, fizemos uma tabela contendo os óbitos no Brasil por agressões(homicídios), totalizando 41.916 em todas as idades e o que chama a atenção é que, destes 87.52 % estão na faixa etária de 10 a 49 anos, e nestas ocorrências por homicídios separamos aqueles ligados diretamente às armas de fogo, ou seja, 25.644 em todas as idades e novamente observamos que deste total os homicídios por armas de fogo no grupo etário de 10 a 49 anos, re- presentam 89,74% de ocorrências. Dentre todos os homicídios, as agressões com armas de fogo totalizaram 25.644, 61% sobressaindo o Estado de Pernambuco, onde mais se mata por arma de fogo nessa faixa etária, depois vem Rio de Janeiro, o Distrito Federal, Alagoas e Espírito Santo. Agora veremos nesta outra tabela, os homicídios e homicídios por armas de fogo no Brasil, a Região Norte: 2.332 homicídios totais e 2.041 no grupo etário de 10 a 49, representando 87.52% e, dentre estes, 88.99% referem-se a homicídios por arma de fogo. Na outra coluna aparecem as ocorrências por armas de fogo, representando 61.18% dos homicídios no Brasil. Nesta tabela, as ocorrências estão em todas as idades e no grupo etário de 10 a 49, por Unidade da Federação e um coeficiente, para cada coluna de idades no sexo masculino, tendo em vista que este representa 93% ou 94% de todos esses eventos. Em comparação com os coeficientes de alguns países publicados no Demographic Yearbook, Edição de 1998, observamos que o risco de morrer aqui no Brasil assassinado é superior a 20 vezes ao do Canadá, nove vezes ao dos Estados Unidos e cinco vezes ao do México, entre outros países. Aqui temos uma tabela em que a taxa é por 100.000 habitantes, todas as idades, os homicídios no Norte são 90.57 em todas as idades, com uma taxa de 38 por 100.000, Rondônia mostra o 75 por 100.000, Pernambuco 121 por 100.000. Quando vemos a coluna da faixa de 10 a 49 observamos 143 por 100.000 no Espírito Santo, 138 no Rio de Janeiro, 102 em São Paulo e 162 em Pernambuco e 111 em Rondônia. Brasília 81.87.Agora que eu já falei de tantas ocorrências por homicídios por armas de fogo, passaremos a falar um pouco de óbitos por acidente de trabalho, que é o motivo desse evento.A questão de óbito por acidente de trabalho é uma coisa complicada, por que? A Declaração de Óbito é um documento que contempla inúmeras informações, desde a identificação da pessoa, sexo, idade, doenças que provocaram ou levaram a óbito e, no caso de algum evento acidental, existe uma variável para identificar se foi acidente de trabalho. Normalmente, as declarações de óbitos por acidentes (causas externas) são emitidas por IML, algumas vezes os legistas encontram dificuldades para especificar acidente de trabalho, pois dependeriam desta informação constar em boletim de ocorrência ou outro documento especificando o acidente. Uma outra maneira que dificulta a tipificação do acidente de trabalho na declaração de óbito é quando ocorre o evento como conseqüência de uma causa ou alguma seqüela. A descentralização do sistema é um fator fundamental para a realização de análises, pois o município é o local privilegiado, podendo desencadear ações, vigilância e monitoramento sobre mortes evitáveis, etc., Esta em estudo e em fase adiantada a notificação de óbitos via In45 ternet, para que se tenha um perfil das ocorrências com maior agilidade. Assim como o pessoal da Secretaria de Saúde de São Paulo (PROAIM) dispõe das informações sobre os óbitos dois dias após o evento, facilitando assim o desencadear de algum programa ou ação. Com relação ainda a acidentes de trabalho, eu já comentei com alguém aqui hoje aquele acidente da TAM ocorrido aqui em São Paulo, na hora de fazer a declaração de óbito pelo menos para a tripulação, com certeza foi acidente de trabalho, e os demais passageiros? Ali você sabia que tinham passageiros a trabalho, tinham passageiros a passeio, etc, então, é um outro fator que complica também a tipificação da variável acidente de trabalho. A Declaração de Óbito dispõe de uma casela que trata de ocupação, no caso do preenchimento deste campo, o sistema adota uma codificação da CBO, que é o Código Brasileiro de Ocupação. A seguir, mostraremos a tabela de ocorrência de óbitos de 1998 no Brasil, no grupo etário de 10 a 59 anos por acidentes de trabalho. Podemos observar que prevalecem lógicos os acidentes de transporte, porque aí entram todas as ocorrências com ônibus, aquele que o povo utiliza bastante no Nordeste o “pau-de-arara”, os bóias frias que vão no caminhão de qualquer jeito, etc são 986 óbitos por acidentes de trans- 46 portes, depois vem as quedas com 309 óbitos, as forças mecânicas e as maquinarias com 91 óbitos, afogamentos 59, aí vem a inalação de produtos tóxicos e riscos, a respiração 45, intoxicação com substâncias nocivas 12, os pesticidas estão neste grupo, 272 óbitos devido a outros fatores. Neste exemplo computamos 2.006 óbitos no ano de 1998 por acidente de trabalho e que está disponível nos arquivos. Na tabela a seguir, procuramos mostrar o percentual dos grandes grupos de causas sobre o total de ocorrências. Podemos observar que as mortes por causas externas no Brasil, de 10 a 59 representam também, um número representativo, 81.3% das causas, no caso gravidez é lógico, tem que ser 100, pois as ocorrências estão na faixa etária considerada como idade fértil da mulher, a seguir vem o grupo das doenças do aparelho digestivo, com 48% e os demais grupos classificados. Este exemplo foi só para mostrar que se morre muito no Brasil, por causas externas neste grupo etário que podemos considerar como faixa produtiva da população, não tendo muito sentido estas ocorrências, pois poderiam ser evitadas, tendo em vista que 96.608 óbitos nesta faixa é um número bem representativo. Bem, era mais ou menos isto que queríamos mostrar, gostaria de agradecer a todos pela atenção e me colocar à disposição de vocês, em Brasília no Centro Nacional de Epidemiologia. Afastamentos e licenciamentos segundo o Sistema RAIS-CAGED Maria Emília Piccinini Veras B oa tarde. É uma satisfação muito grande estar aqui com vocês, eu queria dizer... nós fazemos parte da Coordenação Geral de Estatísticas do Trabalho e Identificação Profissional que faz parte da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho. E a nossa coordenação gerência 2 registros administrativos. Eu estive aqui conversando com o pessoal e já sei que muita gente já ouviu falar da RAIS e do CAGED, mas muita gente já ouviu falar assim ao passar, não sei muito bem o que é, mas já ouviu falar. Então, a idéia nossa hoje é passar para vocês uma idéia do que realmente está contido dentro da RAIS CAGED o que é que esses registros administrativos passam, quais são essas informações. O CAGED é o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e foi instituído pela Lei 4923 de 1.965, e a RAIS Relação Anual de Informações Sociais instituída pelo Decreto 76900 de 75. Eu queria caracterizar bem que registros administrativos têm uma característica interessante, é uma informação prestada pelo empregador, então, a gente sempre fala em pesquisa, em pesquisa, em pesquisa e você vai diretamente lá na fonte, você vai direto lá conversar com aquela pessoa que está sendo pesquisada. Essas informações que são contidas dentro do registro administrativo são passadas pelo empregador, são informações a respeito do seu estabelecimento e dos seus funcionários, dos seus empregados. E nós queremos caracterizar aqui os objetivos do CAGED. O CAGED é um Cadastro Geral de Empregados e Desempregados que é de periodicidade mensal, é informação que todo empregador presta todo mês caso ele tenha tido uma movimentação em seu estabelecimento. Então, ele fala sobre as admissões e os desligamentos. Vamos supor que tenha uma padaria do Sr. José ali na esquina que ele não empregou e nem demitiu ninguém, então, ele não vai informar o CAGED, então, é uma movimentação, uma informação de fluxo somente sobre admissões e desligamentos. O objetivo do CAGED é acompanhar e fiscalizar o processo de admissão e dispensa do empregado, estabelecer medidas contra o desemprego e dar assistência aos desempregados, subsidiar a fiscalização do trabalho, viabilizar o pagamento do seguro desemprego, esse é um dos nossos maiores objetivos depois nós vamos falar mais, atender a reciclagem profissional, a recolocação no mercado de trabalho, compor o Cadastro Nacional de Informações Sociais e gerar estatísticas conjunturais sobre o mercado de trabalho formal brasileiro. Então, nós devemos ter em mente que o CAGED só fala das movimentações, só das admissões e desligamentos. Já a RAIS, como o próprio nome está dizendo: Relação Anual de Informações Sociais, já é uma informação dada todo o ano pelos estabelecimentos como se fosse um mapa do estabelecimento, aí já conta a vida todinha do estabelecimento desde aquele ano todo, todos os admitidos, todos os desligados, toda a remuneração, toda a vida do estabelecimento e dos seus empregados. O objetivo da RAIS inicial foi subsidiar o controle da nacionalização do trabalho, conforme a lei dos 2/3. É assegurar a participação, uma menor participação dos estrangeiros no mercado de trabalho. Prestar subsídios ao controle relativo ao FGTS e à Previdência, viabilizar o pagamento do abono salarial aos trabalhadores com renda média de até 2 salários mínimos, compor o Cadastro Nacional de Informações Sociais subsidiadas às políticas de formação de mão-de-obra e fornecer informações sobre Mercado Formal Brasileiro.Voltando um pouquinho, eu quero lembrar que os registros administrativos RAIS e CAGED só tratam do Mercado Formal Brasileiro, a informação que a gente tem é somente sobre o Mercado Formal.Vamos falar um pouquinho mais sobre o CAGED, sobre as características do CAGED. Então, nós já comentamos que é uma periodicidade mensal, só informa o CAGED aquele estabelecimento que tiver feito uma movimentação, caso ele passe o ano sem fazer nenhuma movimentação, admissão e dispensa, não há necessidade de informar o CAGED. A abrangência geográfica é todo o território nacional, nós chegamos até o nível de Municípios, então, nós temos essa informação em nível de Brasil, UF, regiões naturais, micro regiões, chega até o nível de Municípios. Então, se a gente pensar bem no tamanho do Brasil, na imensidão do Brasil, e a gente chega numa celulazinha lá que é o estabelecimento, então, é uma informação muito rica que a gente tem. A cobertura é de 80, 85% do universo do mercado formal celetista, só informa o CAGED aqueles que têm empregados celetistas regidos pela CLT, não entra em momento algum dentro do CAGED estatutários, só mesmo celetistas. Número de estabelecimentos declarantes, mais ou menos, 450.000 por mês, a gente fala: mas só isso, mas se a gente lembrar é somente quem tem movimentação. Principais variáveis investigadas, então, dentro do CAGED, nós temos condições de ter quais tipos de informação? Número de admitidos e desligados, segundo o sexo, segundo o grau de instrução, segundo faixa etária, salários, tempo de emprego aqueles que foram desligados, quanto tempo eles permaneceram no emprego. Desagregados em nível geográfico, setorial e ocupacional. Geográfico 47 eu já disse que chega até lá em nível de Município, setorial as informações são prestadas pelos estabelecimentos de acordo com a CNAE 95 Classificação Nacional de Atividades Econômicas e ocupacional as informações são captadas pela CBO que é Classificação Brasileira de Ocupações. De acordo com as informações que são captadas pelo CAGED, nós temos algumas estatísticas divulgadas, dentre elas nós podemos chegar ao índice de emprego, à flutuação, à taxa de rotatividade e desagregados sempre em nível geográfico e setorial. Bom, acho que deu para caracterizar bem o que é o CAGED. Então, agora a gente precisa saber qual é a diferença entre CAGED e RAIS, senão a gente mistura, tem um livrinho que eu deixei lá para vocês pegarem caso haja interesse sobre a RAIS e o CAGED e um dia desses uma amiga minha pegou e disse assim: isso aqui parece um romance o RAIS e a CAGED, então, é pensar bem, que é para a gente diferenciar o que é, ambos são registros administrativos mas são diferentes. Bom, a RAIS o próprio nome está dizendo que é uma informação anual, a abrangência geográfica é a mesma do CAGED, ela chega até em nível de Município, a cobertura da RAIS é cerca de 93% do Mercado Formal Brasileiro, agora essa cobertura não é uma cobertura uniforme. Nos Estados do Norte, Nordeste, nos setores da construção civil, da agricultura nós temos uma média um pouco inferior de cobertura. Tipos de vínculos empregatícios que são captados pela RAIS aí sim, celetistas, estatutários, avulsos, temporários por prazo indeterminado, enquanto que no CAGED a gente não vê os estatutários. Número de estabelecimentos declarantes, nós temos em torno de 4 milhões e meio de declarantes dos quais 2.000.000 mais ou menos possuem vínculos empregatícios. Nós temos aqui pela RAIS de 98, são 24.000.000 mais ou menos de vínculos empregatícios, sendo 19.000.000 de celetistas e mais ou menos 5.000.000 de estatutários.As principais variáveis investigadas, então, pela RAIS nós ficamos sabendo empregos em 31/12, por que a gente coloca empregos em 31/12? Porque é o mapa do ano todo do estabelecimento, então ele fecha em 31/12, é a situação daquele estabelecimento em 31/12. Segundo sexo, faixa etária, grau de instrução, tempo de serviço, nacionalidade, rendimentos, e sempre desagregados em nível geográfico, setorial e ocupacional. Agora, como é que a gente capta essas informações, como chegam até a gente as informações da RAIS e CAGED, voltando um pouquinho, aqueles estabelecimentos que não declaram a RAIS, além de ter uma multa um tanto quanto elevada eles são impossibilitados de participar de licitação, de tirar empréstimos no Banco do Brasil, de participar de concorrência, então, eles têm algumas dificuldades que fazem com que a cobertura da RAIS seja maior do que a cobertura do CAGED, porque o CAGED a multa é menor, então, e a fiscalização em cima da RAIS é bem maior. Então, a cobertura da RAIS como a gente 48 falou é uma cobertura bem grande para essa imensidão do Brasil se nós pensarmos assim, 93% em todo o território nacional. Essas informações são captadas muito pela Internet, nós temos buscado sempre uma melhor qualidade da informação, não só uma maior quantidade. E essa informação, vinda através do formulário padrão, está escrita ali em baixo, que é aquele papelzinho que está ali escrito, era assim, cheio de problemas, de omissões, campos em branco, campos preenchidos errado, uma série de dificuldades, então, foi feito um trabalho muito grande em cima da Internet e a questão de dois anos, a grande maioria das informações, tanto da RAIS quanto do CAGED, têm vindo através da Internet. Então, isso aí tem dado uma melhor qualidade na informação. Em disquete também ela vem, o CAGED também tem mais em disquete até do que em Internet, enquanto que a RAIS tem mais via Internet. E nós vamos dizer que existe um aplicativo que já vai fazendo uma correção, uma pré-correção na informação, então, a qualidade da informação é muito melhor. Em fita magnética, em cartucho, em formulário padrão, que é o papelzinho só aceito pelo CAGED, a RAIS a partir deste ano agora de, a RAIS de 99 não vai mais ser informada via papel, somente o CAGED que ainda pode porque são os estabelecimentos pequenos, às vezes, têm uma ou duas movimentações apenas que ainda fazem em papel. O uso das informações, são todas as informações captadas da RAIS e CAGED, o que a gente faz com ela? Qual é o uso dessa informação? Então, o primeiro uso dela, o uso operativo, o Seguro Desemprego. Então, há um batimento de todas as informações, todos aqueles empregados que solicitam o Seguro Desemprego, há um batimento com o CAGED para ver se eles não foram empregados novamente, muitas vezes nós temos uma economia mais ou menos em torno de 4.000.000 por mês fazendo esse batimento da Solicitação do benefício do Seguro Desemprego com as informações do CAGED. Porque, geralmente, eles pagam a primeira parcela, a segunda, quando vai checar, a pessoa já está empregada e continuaria pagando esse benefício caso não houvesse esse abatimento. Então, o uso operativo do CAGED é exatamente subsidiar o Seguro Desemprego. A RAIS subsidia o Abono Salarial que é o único mecanismo que o Governo tem para ver quem é, qual é o trabalhador que realmente tem direito ao Abono Salarial. Os dados do CAGED e da RAIS também auxiliam a fiscalização, auxiliam a intermediação, a qualificação, a requalificação profissional, através de você analisando os dados CAGED de admissões e desligamentos, você observa quais são as ocupações que estão mais sendo solicitadas, quais as ocupações que deixaram de existir praticamente e você direciona a sua intermediação, a sua qualificação em cima das ocupações que realmente estão mais sendo procuradas, e também auxiliam a compor o CNIS que é o Cadastro Nacional de Informações Soci- ais. Agora, existe também além da parte operativa, também a parte estatística, então, através das informações do CAGED, nós temos o acompanhamento do nível, flutuação e caracterização do emprego através dos dados da RAIS, política, evolução salarial, subsidia a política e a evolução salarial, temos a caracterização do perfil dos admitidos e desligados, sabemos exatamente quais são as ocupações que estão sendo mais admitidas, se sabe se é sexo masculino, se sabe a faixa etária, qual é o grau de escolaridade desses admitidos e desses desligados.As informações auxiliam também na implantação de projetos, estudos e pesquisas em geral. Bom, existem vantagens e desvantagens, limitações dentro dos registros administrativos. Eu acredito que, fazendo aí um peso, as vantagens são maiores que as limitações, porque as vantagens são, primeiramente, eu já até comentei, o levantamento em nível de estabelecimento, então, uma celulazinha lá pequenininha que a gente tem condições de chegar em nível de Município, de microrregião e tudo mais.Tempestividade, essas informações chegam rápido, por exemplo, a gente tem através da RAIS, nós estamos recebendo já, a última RAIS que nós temos disponível é a RAIS 1998, agora no final do ano já deve sair a RAIS preliminar 1999 – o ano passado – essas informações foram informadas aqui, antes de janeiro a abril, então já estão sendo processadas, já vai ter acesso até o fim do ano, pelo menos uma parte preliminar dessas informações. E o CAGED é muito mais rápido ainda porque todo estabelecimento tem até o dia 15 do mês subseqüente para informar o CAGED. Então, por exemplo, nós estamos em novembro, até o dia 15 de novembro os estabelecimentos vão informar as movimentações de outubro. Quando chega no finzinho, até dia 15, até dia 30 de novembro, há um processamento, entre os dias 1 ou 2 de dezembro nós já temos as informações de outubro, então, é assim, mais ou menos, uma defasagem de 45 dias, entre eles prestarem a informação, processarem e chegar até o interesse das pessoas.Amplo caráter censal é que passa por todo o Brasil como um todo, é como se fosse um censo realmente do Mercado Formal Brasileiro, chega a todos os estabelecimentos. Um amplo conteúdo de variáveis que realmente nós falamos lá, é grau de escolaridade, sexo, por setor de economia, por ocupação, por nível geográfico, e tal. Estabilidade do conteúdo ao longo do tempo, você tem a RAIS desde 83, o CAGED também, então, você pode fazer um acompanhamento, um estudo histórico, uma série histórica das informações. Mas, nós temos limitações, uma das limitações acho até que a gente já percebeu isso em tudo que foi falado até agora, são as omissões. Muitos estabelecimentos omitem e não declaram a RAIS e o CAGED. Desde o dia primeiro e segundo do mês, o senhor ministro faz a divulgação do índice de emprego, do com- portamento do emprego, do mês, geralmente do mês, ele fez agora em novembro do mês de setembro quando logo já sai o índice baseado no CAGED. Nós temos publicações regulares que são aquelas publicações do informativo e análise do mercado de trabalho. É uma informação, publicação em papel que algumas instituições que eu sei que aqui recebem, mas quem tiver interesse de receber também é só falar com a gente, existem processamentos específicos, existe algumas solicitações especiais, acesso on-line, CD- ROM e via Internet. Fazendo um balanço geral, é o seguinte: na Internet, vocês dispõem na página do Ministério do Trabalho: mte.gov.br, todas as informações sobre a RAIS, desde a parte de legislação, como declarar, como informar, até a parte estatística também. Na parte estatística, assim que sai o índice, que o índice é divulgado pelo ministro, no mesmo dia, geralmente dia um ou dois do mês, está saindo na Internet também essas informações. Então, vocês têm essas informações do CAGED e tem informação também das três últimas RAIS, tem algumas tabelas específicas que vocês vão achar também dentro da página do Ministério do Trabalho; e também tem a possibilidade de você fazer um acesso aos dados da RAIS também. Entrando na página do Ministério, há um Termo de Responsabilidade, no qual você pode acessar os dados da RAIS, também fazendo suas próprias tabulações. Agora, em CD-ROM, o Ministério do Trabalho também tem um Programa de Disseminação, que nós fazemos um Termo de Compromisso entre a instituição e o Ministério e dá acesso a receber mensalmente os CD’s do CAGED e anualmente os CD’s da RAIS.Toda instituição pode ter acesso a essas informações, você entrando na página do Ministério, no Programa de Disseminação das bases você vai ver lá tem um Termo de Compromisso, é só clicar, tirar o termo de compromisso, preencher e mandar para o Ministério do Trabalho que a gente já faz a ligação para que vocês possam receber os CD’s da RAIS e do CAGED. Nós temos várias instituições que acessam as bases de dados, mais ou menos, umas 800 instituições cadastradas, que recebem mensalmente essas informações e, dentre elas, nós temos algumas que são da área de saúde e toda instituição que faz algum trabalho usando os dados do CAGED e da RAIS, ela manda esses trabalhos para o Ministério. E nós já vimos que, dentre estes da área de saúde, nós temos algumas pesquisas que foram feitas por instituições que acessam as bases de dados sobre: evolução do salário de contratação de trabalhadores do setor de serviços, índice de admitidos por área funcional, número de empregos nos serviços médicos e odontológicos, salário médio de contratação e média de horas semanais trabalhadas por ocupação na área de saúde e índice de participação geográfica do pessoal da área de saúde. Esses são alguns trabalhos que existem lá no Ministério feitos por instituições da área de saúde. 49 Agora nós estamos falando aqui sobre desligamentos, o tema é exatamente afastamentos e licenciamentos. O tema que foi me passado. Eu até falei para o Celso que ele me deu um tema muito difícil, porque dentro do CAGED nós não falamos em afastamentos e licenciamentos, nós falamos em desligamentos, então são essas informações que o CAGED capta com relação a desligamentos. Nós temos dispensa sem justa causa, desligamentos por iniciativa própria, término de contrato, desligamento por aposentadoria, desligamento por morte e saída por transferência. Então, o CAGED tem informações de fluxo e informações de movimentação, então, são só os admitidos e os desligados. E dentro dos desligados só temos esse tipo de desligamentos. A RAIS não é uma informação de fluxo, é uma informação de estoque, de número de empregados e também não contempla afastamentos e licenciamentos. Dentro da RAIS existem os desligamentos. Quando a gente fala em afastamentos e licenciamentos, pressupõe-se que o vínculo empregatício seja mantido com o estabelecimento e os desligamentos, cortados. O vínculo empregatício pressupõe-se que haja uma remuneração, neste caso, o vínculo empregatício é cortado, por isso que a gente fala em tipos de desligamentos. Quais são os tipos de desligamentos que a gente tem dentro da RAIS? Rescisão com e sem justa causa por iniciativa do empregador, término do contrato de trabalho, rescisão com e sem justa por iniciativa do empregado, transferência, movimentação do empregado, servidor ou dirigente sindical, entre estabelecimentos da mesma empresa e entidade, ou para outra empresa e entidade, com e sem ônus para a entidade, mudança de regime trabalhista, reforma de militar para reserva remunerada, falecimento. Esses vermelhinhos que a gente botou aí, que acho que possa talvez interessar um pouquinho mais a vocês, falecimento decorrente de acidente de trabalho, isso a gente capta, falecimento decorrente de doença profissional, aposentadoria por tempo de serviço com e sem rescisão contratual, aposentadoria por idade com e sem rescisão contratual, aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho, aposentadoria por invalidez decorrente de doença profissional, aposentadoria compulsória, aposentadoria por invalidez, exceto a decorrente de doença profissional ou acidente de trabalho, aposentadoria especial. Mas é bom a gente pensar sempre o seguinte: registro administrativo é uma informação prestada pelo empregador, então, nós temos que ver, às vezes, pode ter uma série de omissões. Então, nós temos esses tipos de desligamentos que talvez possam interessar ao nosso assunto aqui no momento. 50 Nós temos também dentro das informações da RAIS, mais ou menos, uns 300 mil trabalhadores que têm uma média anual de remuneração perto de zero. Então, a gente pressupõe o seguinte: se o vínculo empregatício, ele é ligado à remuneração, se aquele trabalhador está sem remuneração, será que ele estaria desligado? Então a gente pode inferir por esse lado, mas isso também seria apenas uma dedução que pode nos levar ao erro. Eu estou querendo dizer para vocês que a gente não tem, assim, como medir realmente os afastamentos e os licenciamentos, nós poderemos inferir que, quem não está recebendo salário esteja afastado. A gente pode pensar assim, mas ao mesmo tempo pode ser que não seja isso que esteja acontecendo, então nós não temos como medir exatamente, como quantificar quem é que está afastado ou licenciado, apenas quem está desligado. Nós fizemos alguns exemplos numéricos para mostrar para vocês o que a RAIS e o CAGED capta. Então, botamos, Brasil, número de empregos por ocupações selecionadas na área de saúde, segundo remuneração média em dezembro em salário mínimo e gênero. Eu disse que existem umas variáveis que são muito boas. Tem a área geográfica, sexo, faixa etária, remuneração e tal, isso a gente pode mesclar essa informação toda, então nós selecionamos ali algumas ocupações: médicos, cirurgiões dentistas, nutricionistas e assemelhados, enfermeiros e psicólogos.Aleatoriamente querendo contemplar alguns que estejam por aqui, pensamos assim. Então nós vamos ver que essa informação é da RAIS 98, que é a última informação que nós temos. E nós temos que, médicos do sexo masculino nós temos 82.937, do sexo feminino 51.719, ao todo nós tínhamos médicos 134.456. Interessante observar a remuneração do gênero masculino e do feminino. Se nós observarmos, os médicos recebem, em média, em salário mínimo, 12.89, e as mulheres, 11.60.A remuneração feminina está menor que a masculina para a mesma atividade. Cirurgiões dentistas nós vamos ver que é interessante, que nós temos mais dentistas do sexo feminino do que do sexo masculino. O sexo feminino recebendo 8.95, e o masculino, 9.41. A diferença não é grande, mas existe. Nutricionistas e trabalhadores assemelhados: interessante que o sexo feminino também, olha quanta diferença de número de empregos do sexo feminino do que masculino, muito mais nutricionistas mulheres – 11.068, contra somente 664 do sexo masculino. E observando aí que o salário já é mais equiparado, 7.32 contra 7.82, é bem melhor. Enfermeiros também, observem só quanto é o número de enfermeiras em relação aos enfermeiros: 61.000 feminino contra 7.800 masculino, aí, nós estamos ganhado bem mais, sexo feminino está ganhando 8.83 contra 7.95 dos enfermeiros. Os psicólogos, nós temos muito mais mulheres psicólogas do que homens também, e o salário também já é mais ou menos igual. O que a gente está querendo mostrar para vocês é que dá uma infinidade de variáveis para vocês fazerem trabalhos. Pergunta: Nós temos aí ocupações? E o número total de trabalhadores nos campos do Brasil? Em 1998, nós tivemos, mais ou menos, 24 milhões de trabalhadores, sendo em torno de 19 milhões celetistas e 5 milhões estatuários. Flutuação do emprego no primeiro semestre de 2000, sendo que essa informação é do CAGED, que fala em movimentação, admitidos e desligados. Então, nós botamos de janeiro a junho para vocês verem qual o número de admitidos e qual o número de desligados do Brasil, do total. Nós tivemos, então, 4.930.000 admitidos e 4.340.000 desligados, o que dá um saldo de 590 mil que são gerados, ou seja, 590 mil postos de trabalho do primeiro semestre de 2000. Então, foi aí, um índice positivo sempre, a gente não teve perda de postos de trabalho nesse início do ano, apenas ganhamos postos de trabalho. Nós colocamos aqui também flutuação de emprego em algumas ocupações selecionadas. Admissões e desligamentos nós botamos médico, dentista, veterinário e enfermeiro. De janeiro a junho, foram admitidos 8.627 e desligados 7.838 médicos, tivemos um saldo positivo de 789 postos de trabalho na área dos médicos. Dos dentistas, nós tivemos admitidos 1.713, desligados 1630, um saldo positivo de 83 profissionais. Veterinários, 572 admitidos, 416 desligados e um saldo positivo de 156. Enfermeiros, 7.713 admitidos, desligados 6.306, um saldo positivo de 1407. Isso é só para mostrar o que vocês podem fazer com os dados da RAIS e do CAGED, é uma imensidão de cruzamentos. Nós colocamos aqui o número de desligamentos e distribuição, o percentual por tipo, por tipo de desligamentos. Nós pegamos os desligamentos da RAIS 98 e queremos mostrar para vocês qual foi o tipo desligamento, percentualmente, quais os que foram mais desligados. E, percentualmente, o maior número foi demissão sem justa causa, teve 61.08% de percentual de desligamentos. Depois nós vemos desligamentos sem justa causa, a demissão é por iniciativa do empregador e o desligamento por iniciativa do empregado, de 15.10% também, término de contrato 14.28%, falecimento decorrente de acidente de trabalho foi mínimo, o notificado o que foi realmente declarado na RAIS. Foram 935 desligamentos no ano de 1998 todo, decorrentes de acidentes de trabalho. Falecimento decorrente de doença profissional foram apenas 118 declarados. Nós temos aposentadoria também, 4.496 por invalidez decorrente de acidente de trabalho, um percentual mínimo com relação ao total de desligamentos. E também apenas 3.920 aposentadorias por invalidez decorrente de doença profissional. Então, você vê que o percentual com relação ao total é muito pouco, o que nós queremos frisar é que existe um grupo técnico da RAIS, que anualmente avalia todos aqueles critérios para declaração da RAIS e determina os novos critérios para a RAIS seguinte. É um grupo técnico formado pelo Ministério do Trabalho, Ministério da Previdência, pelo IBGE, pelo SERPRO, e acho que outros órgãos também. O que consta da RAIS, o que é captado pela RAIS, é determinado por esse grupo técnico que faz a avaliação das informações. Está ali o nosso e-mail da CEGETIP, que é a Coordenação Geral de Estatística, qualquer coisa pode se reportar à gente, nós teremos o maior prazer em atender. E está aí a página do Ministério do Trabalho onde vocês vão achar essas informações, desde a parte de legislação até a parte estatística e tudo mais. Pergunta: No CAGED, o desligamento sem justa causa abrange o desligamento por morte? Por que o CAGED não diz se desligou porque morreu. Diz, mas está especificado no desligamento. Então, se vocês precisarem de alguma coisa a gente está à disposição. 51 52 Comentários Luiz Armando de Medeiros Frias É com prazer que eu estou aqui atendendo uma solicitação, quase que uma convocação, do meu amigo Celso, para participar deste seminário e quero que fique bem clara a minha formação: eu sou estatístico e tenho especialização em demografia, não me caracterizando, a princípio, como um especialista na área de trabalho e de acidentes de trabalho, ou seja, a minha postura aqui é de uma pessoa que trabalhou muito tempo no IBGE, como profissional na análise de dados demográficos e sócio-econômicos, envolvendo variados tipos de levantamentos. Há uma dificuldade muito grande em fazer comentários, na medida que estou tomando conhecimento dos trabalhos durante a exposição dos mesmos. Este fato ocasiona ao comentarista uma certa dificuldade. Adicionalmente, pelas exposições que foram feitas, todas bastante claras, certos comentários eu acho que seriam muito mais bem respondidos por perguntas diretas aos próprios expositores. Assim sendo, vou fazer algumas ponderações rápidas e reservar um tempo de debate mais amplo, o que será muito mais profícuo para todos nós. Acho que nós temos duas linhas de produção de dados: a linha de produção de dados oriundos de levantamentos domiciliares, e a linha de produção de dados calcada em registros administrativos. No meu entendimento, ambas têm características diferentes, mas são complementares. Nesse sentido, acho que é bastante claro, que grande parte dos registros administrativos vão fornecer numeradores, aqueles que foram atingidos pelo agravo e, os levantamentos domiciliares, os denominadores, a população exposta ao risco. Por exemplo, o mais famoso e conhecido levantamento, o Censo Demográfico, fornece denominadores na obtenção de uma gama variada de indicadores demográficos e sócioeconômicos. Gostaria de enfatizar que os Censos Demográficos brasileiros são reconhecidos internacionalmente como de qualidade excelente. Podemos pensar que estamos realizando censos desde 1872, com pequenas lacunas, até 1940. É nessa década que se iniciam os denominados censos modernos, nos quais uma variedade de temas tem sido investigada, com expressiva riqueza de detalhes. A partir de 1960, com a introdução de amostras na pesquisa censitária, aumentamos o elenco e a profundidade dos temas abordados. Então, enveredamos pela década de 70, mais propriamente, finais dos anos 60, onde aparecem as pesquisas domiciliares por amostragem, buscando produzir informações nos intervalos intercensitários. Onde podemos citar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, que todos conhecem como PNAD, concebida originalmente com o objetivo de avaliar a situação do emprego e de rendimentos e acabou se tornando, através da introdução de temas paralelos, numa pesquisa muito ampla, na qual tivemos investigados temas sobre saúde, educação, habitação, previdência etc..., recheando as décadas de dados extremamente relevantes. Por que o censo e, posteriormente a PNAD, se tornaram tão variados na sua temática e tão aprofundados nas questões? Exatamente porque, apesar dos registros administrativos terem uma larga existência, eles não criaram nenhuma tradição de confiabilidade, principalmente por não terem sido disseminados, ou seja, não eram devidamente coletados, apurados e divulgados, e não existiam cuidados nas avaliações quanto à qualidade dos dados ou cobertura dos mesmos. É importante que a gente veja que nós fomos obrigados, em décadas passadas, a usar pesquisas domiciliares para cobrir lacunas que deveriam estar sendo devidamente preenchidas por registros administrativos. Vou dar um exemplo: nós demos tratos à bola para saber quantos nasciam e quantos morriam no Brasil, apesar de termos legislações regulando o registro de nascimentos, óbitos e casamentos, muitas delas desde o tempo do Império. Felizmente, eu acho que nós estamos iniciando agora um momento melhor. A inexistência até perto de 1974, de um registro confiável de nascidos vivos e óbitos, fez com que se investisse fortemente em perguntas e questões dentro dos Censos Demográficos, buscando conhecer pelo menos a totalidade dos nascimentos e óbitos ou a taxa bruta de natalidade ou mortalidade do país. Eu acho que, de uma certa maneira, houve um viés depositando sobre as pesquisas domiciliares, ou seja, de entrevistas domiciliares, uma série de questionamentos que na realidade não são exatamente próprios para esse tipo de levantamento. Eu digo isso porque, seja um censo ou seja uma pesquisa domiciliar por amostras, é uma fotografia que espelha um determinado instante de um fenômeno. Já os registros administrativos são cinematográficos, eles permitem que a gente vá acompanhando o fenômeno ao longo do tempo. 53 Gostaria de explicitar que os registros administrativos não foram criados com a finalidade de produzir dados estatísticos, eles foram ou são criados para cumprir determinações legais, é o caso explícito do Registro Civil de Pessoas Naturais. Nós não podemos dizer que o Registro Civil foi feito para produzir estatísticas de nascimentos e óbitos, foi feito para dar a cidadania. O uso de dados oriundos de registros administrativos para fins estatísticos, padece de uma restrição muito simples. É óbvio que o informante, ou seja, aquele que vai produzir a informação, não tem possivelmente nenhum conhecimento que aquele registro vai servir paralelamente para alimentar análises e estudos que poderão, inclusive, lhe ocasionar benefícios. Então a gente tem que pensar que esse informante, se ele é um funcionário que está trabalhando em um determinado lugar, não tem nenhum conhecimento disso, aquilo para ele, na realidade, é um peso, um fardo, lamentavelmente caracterizando um traço cultural. Há uma tendência, entre nós pesquisadores, e eu observei isso hoje, de que, quando vamos começar alguma coisa, investigamos mais profundamente, queremos abarcar todos os aspectos daquele fenômeno, e aí podemos criar armadilhas, nós vamos com muita “sede ao pote” e às vezes o quebramos. Ou seja, às vezes é melhor iniciar com pequenas ambições, com mais humildade na investigação. Dando um exemplo: quantos acidentes de trabalho ocorrem no Brasil? Seria muito importante conhecermos precisamente este número, contudo não o sabemos. Eu, como demógrafo, não sei até hoje quantos nascimentos e óbitos ocorrem por ano no Brasil. Somos obrigados a lançar mão de artifícios para estimar aproximadamente estes números. Então, nós temos uma tendência a sofisticar a profundidade da investigação, mas sem pensar que na realidade é muito mais importante simplificar para tentar resgatar o universo, do que realmente ficar muitas vezes com uma amostra não representativa. Se dispusermos de um conjunto de dados, temos que referenciá-lo ao universo de onde provém. Foi apresentada uma tabela na qual estava registrado aquilo que seriam as internações provocadas por algum tipo de acidente. Imaginemos que as referidas internações girassem, segundo observei, em torno de 1% do total. Isso não pode ser considerado nem uma amostra, porque nós não sabemos o tipo de acidente e, possivelmente, sem conhecermos os critérios, não se têm garantias de representatividade da mesma. Então, nós temos que pensar com um pouco mais de humildade quando vamos investigar.A primeira apresentadora, quando fala da sua ansiedade em ter um registro 54 em todo o Brasil. A experiência mostrou que alguns sistemas de geração de informação, principalmente de registros administrativos, às vezes demoraram 30, 40 anos ou mais para serem implantadas em nível nacional. Temos uma tendência, queremos que a coisa se resolva de uma maneira muito rápida. Nós temos que olhar esse país na sua magnitude territorial e na complexidade espacial. Eu participei em diversas pesquisas no IBGE, tem lugares que você não pode ir porque não tem como ir, ou seja, tem que esperar o rio baixar para chegar. O Norte, o Centro-Oeste e o Sul do país são totalmente diferentes, cultural e sócio-economicamente falando, e ocasionam implicações totalmente diferentes com relação à produção de dados estatísticos. Devemos ter um pouco mais de paciência e de humildade, sem deixar de perseverar. Principalmente, em casos de doenças do trabalho, que se inicia hoje aqui o primeiro seminário para discutir o tema, eu vejo diversas fontes, mas elas me parecem muito mais produtoras de dados absolutos do que produtoras de indicadores. Digo isso porque tive a oportunidade de trabalhar num projeto, que buscava com os dados de casos de Aids, tentar fazer alguma ligação entre Aids e ocupação. Quando se avalia os casos de Aids, segundo a ocupação declarada no formulário, verifica-se, por exemplo, que existe uma incidência muito alta de Aids na indústria da transformação. O maior número de casos se situa neste ramo da indústria. Fomos tentar resgatar quais seriam os denominadores desses casos, então, fizemos um trabalho que foi encontrar uma ligação entre o cadastro de ocupação do SINASC, com o cadastro de ocupações do IBGE, que seria o fornecedor das populações expostas ao risco. O cadastro do IBGE tem oito mil ocupações e é um cadastro gerado por declaração das próprias pessoas. No SINASC, tínhamos três mil. Então, nós temos aqui uma diferença muito grande, o SINASC ignorava, por exemplo, uma coisa que o IBGE considera importante que é a posição na ocupação. O que é posição na ocupação? Se é empregado, se é conta própria, empregador etc.... Não era possível fazer a ligação com o setor de atividade, se a ocupação não tinha uma clara definição do setor de atividade. Por exemplo, se nós estamos falando de acidente de trabalho: será que o motorista particular e o motorista de ônibus, quando são declarados apenas como motoristas, sem se identificar onde eles estão trabalhando, estão expostos ao mesmo risco? Não. Paradoxalmente, a grande incidência absoluta da Aids, na indústria de transformação, quando se divide pelo número de pessoas envolvidas na citada indústria, pulverizou-se, a taxa de incidência é pequena. Contudo, as taxas de incidência em outros grupos ocupacionais se revelaram elevadas, aparecendo os ocupados nos serviços de higiene pessoal, imprensa, universidades, os trabalhadores da indústria têxtil e outras ocupações. Então, muda-se totalmente a visão do quadro quando se analisa por taxas de incidência, indicando que valores absolutos têm valor relativo, desculpem o trocadilho. Por que eu peguei esse exemplo? Por experiência pessoal, não adianta trabalhar somente com casos, com números absolutos de informações. Nós temos que encontrar denominadores que ainda não sei como vamos buscar, porque estou iniciando um contato. Nós temos que pensar que estamos trabalhando com fontes de várias instituições. Eu acredito piamente que, no caso de acidentes de trabalho, onde a ocupação é um fator importante, nós não vamos ter comparabilidade. Eu acho que estamos aqui falando de fontes diferentes, mas um dos trabalhos, não sei se já foi iniciado, desculpem-me se eu estiver falando alguma coisa que já tenha sido pensada e feita, era, exatamente, tentar balizar as informações que estão sendo captadas como possíveis indicativos ou indicadores de acidentes de trabalho. Verificar, primeiro, se elas são compatíveis entre si. Porque acho que, com relação a acidentes de trabalho, as informações podem ter uma boa qualidade sobre a ocupação. As informações sobre idade e sexo, eu como demógrafo e, como o Celso disse, todo demógrafo quer idade e sexo, considero as mesmas, fundamentais nos estudos dos temas citados. é melhor você ter, setorialmente, boas informações, do que ter um aglomerado, sem garantias, ao nível geral. Eu compreendo a sua ansiedade, a gente quer fazer logo, mas eu diria a você para migrar as informações antigas para um novo sistema, é tarefa complicada. Aborde com mais tranqüilidade, porque, não necessariamente você precisa ter isso de uma hora para outra. Tudo o que a gente cria, não deve acabar naquele momento e esperar, pois o tempo é um bom conselheiro. Eu acho que na sua apresentação, o Doutor Serafim tentou, naquilo que estava disponível, mostrar que realmente existe uma grande dificuldade em realizar o seu trabalho. Eu diria o seguinte: em grande parte da geração dessas informações, a classe médica está envolvida, é a classe médica que está por trás de muitos atestados, de muitas declarações, ou seja, são os médicos os responsáveis.Acho muito importante que a gente pense que sejam eles os elementos chave a serem cooptados para o lado da geração de informações. Compreendo o Roberto quando diz que o médico está aqui preenchendo uma coisa e tem um monte de gente para ele atender. Sim, está certo, então vamos colocar mais médicos, mas não vamos usar isso como justificativa para prestar uma informação de qualidade ruim. Retornando ao Doutor Serafim, inegavelmente o esforço dele foi meritório, mas realmente mostrou que ainda estamos engatinhando. Eu confesso a minha grande dificuldade em fazer esses comentários, mas agora eu vou pontuar aqui um pouco: Quanto à Emília Feres, foi uma apresentação de um sistema que eu já tive a oportunidade de trabalhar, não tão profundamente, é claro. Acho que tem problemas também com o informante, porque na oportunidade de trabalhar com a RAIS, tive muita ausência de informação e tive de fazer uma pesquisa de campo para identificar até se as empresas cadastradas existiam ainda ou não. Não sei até que ponto, penalidades versus qualidade, uma questão que sempre me assustou, é uma solução. Será que se a gente colocar penalidades significa que nós estamos obtendo qualidade ou estamos obtendo apenas a obrigação de cumprir? Com relação à Tereza, diria: Tereza, pela heterogeneidade desse país, você deveria pensar em uma implementação por partes, não ficar ansiosa. Faça um bom trabalho e vá paulatinamente chegando, porque, às vezes, Acho que já falei bastante e espero ter, de alguma forma, acrescentado algo para a reflexão, naquilo que vocês todos já tinham explanado e gostaria de abrir o debate para todos. As observações ou recomendações que estou tentando transmitir foram fruto do meu sentimento durante as apresentações e, creio que, de uma certa maneira, muito disso foi colocado aqui, durante as apresentações. 55 56 Painel II Gestão, Integração e Disseminação de Informações Estatísticas Coordenador: José Damásio de Aquino – FUNDACENTRO Informações do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho – SFIT Lie Tjiap Liung Indicadores Sociais sobre as Condições de Trabalho segundo as Bases de Dados do IBGE Ana Lúcia Sabóia Possibilidades de Uso das Grandes Bases de Dados Nacionais Déa Carvalho Comentários Profa. Dra. Vilma Souza Santana – UFBA 57 58 Informações do sistema federal de inspeção do trabalho/SFIT Lie Tjiap Liung A fiscalização do trabalho é regulamentada pelo RIT – Regulamento de Inspeção do Trabalho, de 1965. O RIT, no seu artigo 3 , fala sobre a zona de inspeção. O que é zona de inspeção? Vamos supor que na Capital de São Paulo haja 500 auditores fiscais, divide-se toda a capital em zonas para 500 auditores, onde cada auditor fica com uma zona para fiscalizar. E o critério de fiscalização dependia do humor do dia do auditor fiscal, que pode variar de um boteco a uma metalurgia.A falta de planejamento, as fiscalizações pontuais que não resultam em nenhuma objetividade para efetiva proteção ao trabalhador, levou à necessidade de desenvolver um sistema e ter um banco de dados de empresa, para planejar e ter um critério de trabalho. Em meados de 1994 para 1995, o Ministério do Trabalho assinou um convênio para desenvolver um sistema baseado na RAIS e foi formado um grupo de sustentação e apoio para desenvolver esse software. Eu participei até Abril de 2000 no grupo de sustentação. Esse software utiliza o banco de dados da RAIS e foi implantado em nível nacional no final de 1996 para 1997, com a finalidade de planejar e direcionar a fiscalização, ou seja, o chamado SFIT (Sistema Federal de Inspeção do Trabalho). O que o sistema faz? Possui uma série de informações geradas pela RAIS e atualizada nas fiscalizações do dia-a-dia (como, por exemplo: o nome da empresa/ fantasia, CNPJ, endereço, CEP, bairro, município, número de funcionários, salários, CNAE, grau de risco, data Figura 1 da última fiscalização, relatório das fiscalizações e outros) que podem ser cruzadas de uma forma para auxiliar a direcionar a fiscalização. Vamos dar um exemplo de como é feita a extração. O direcionamento pode ser por atividade econômica, por grau de risco da empresa, por número de trabalhador, por localização geográfica (CEP, unidade da federação, município ou por UORG (unidade organizacional)).A UORG é um número que identifica, dentro da estrutura do Ministério do Trabalho, o Estado correspondente. Exemplo: São Paulo – a unidade de São Paulo é 018.000.000; Distrito Federal – 014.000.000; Sorocaba – 018.924.000 (o número 018 identifica-o como pertencente ao Estado de São Paulo, e o número 924 como sub-delegacia). Podemos fazer o direcionamento das fiscalizações também por natureza jurídica (S/A, Fundação, Ltda...) e por área de atuação, podendo ser urbana ou rural. Exemplo de uma extração de um dado feito aleatoriamente: foi pego um CEP 02 (02 são empresas selecionadas pelo critério geográfico 02, que é Zona Norte. Os CEP são divididos em 01, 02, 03 e 04, onde 01 é a região central, 02 a região norte, 03 a região leste, 04 a região sul e 05 a região oeste da capital de São Paulo). Foi selecionado por atividade econômica 45217 (é o código de atividade que inicializa a construção civil), em seguida, selecionamos qual a faixa da categoria econômica da construção civil que quero variar, por exemplo: entre 45217 a 45999, posso também selecionar a faixa de empregados que eu quero direcionar(no Sistema SFIT as faixas variam de 01 a 26 que significa de 1 empregado até 1000 empregados). Na figura 1, há um exemplo de uma extração que pode ser retirada do SFIT para fazer um planejamento de trabalho. Podemos observar as empresa em questão. Algumas nunca foram fiscalizada pelo Ministério do Trabalho (pela DRT), outras foram fiscalizadas pelos auditores fis- 59 Classe de Atividade Econômica D - Indústria da Transformação I – Transporte, Armazenagem e Comunicações F – Construção G – Comércio, Reparação de Veículos Automotores, Objetos Pessoais e Domésticos K – Atividades Imobiliárias, Aluguéis e Serviços Prestados às Empresas O – Outros Serviços Coletivos, Sociais e Pessoais A – Agricultura, Pecuária, Silvicultura e Exploração Florestal H – Alojamento e Alimentação J – Intermediação Financeira L – Administração Pública, Defesa e Seguridade Social N – Saúde e Serviços Sociais E – Prod. E Distribuição de Eletricidade, Gás e Água M – Educação C – Indústria Extrativa Total Acidente Típico 38 18 16 52 21 1 108 20,0 49 7 10 9 0 75 13,9 12 18 26 10 1 67 12,4 9 13 7 15 1 45 8,3 6 6 13 3 0 28 5,2 12 2 1 1 0 16 2,8 0 0 3 1 4 3 3 6 0 1 10 11 1,9 2,0 0 2 4 0 0 6 1,1 2 5 1 0 0 8 1,5 5 4 0 1 0 10 1,9 0 4 155 1 1 131 1 0 158 0 0 86 1 1 6 3 6 540 0,6 1,1 100 cais da área da legislação de trabalho e segurança do trabalho e outras, exclusivamente, por uma área ou por outra. Por exemplo: o condomínio edifício Ana Alexandrina foi fiscalizado somente pelo auditor da área de segurança do trabalho. E o outro pela área da legislação do trabalho. Então, por meio disso, conseguimos gerenciar e planejar as fiscalizações de acordo com política governamental à proteção ao trabalhador. O planejamento e o critério de fiscalização são baseados no estudo da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho do INSS) e da política à proteção ao trabalhador. Em 1997 foi realizado um estudo das CAT de 1995, que está disponível na Internet no site (www.mte.gov.br), sobre os acidentes de trabalho no Estado de São Paulo. Identificamos a atividade econômica que gera maiores índices de acidentes e a classificação do acidente. Pode ser típico, de trajeto, de trânsito ou homicídio. Conforme mostra o gráfico abaixo é a indústria de transformação que tem o maior índice de acidentes fatais. Dos casos que nós estudamos (540 casos), nós recebemos em torno de 830 óbitos em 95. No entanto, nós tivemos que descartar muitos óbitos em virtude de que nessa época o INSS contabilizava óbito por ano que foi pago o benefício. Então, muitos acidentes, apesar do benefício ser pago em 95, ocorreram há dez anos, portan60 Acidente Acidente Morte Freq. % Homicídio de Trajeto de Trânsito Natural 52 36 17 4 147 27,3 to, não era justificável estudar um caso desse. E outros casos que foram desprezados por não ter encontrado a empresa ou outras a qual a empresa alega que ali nunca ocorreu um acidente, nunca houve um óbito. Nós trabalhamos com um universo de 540 (vide a figura acima). Desses 540, a indústria de transformação tem 27,3% do total de acidentes que nós estudamos. O setor de transportes tem 20% e a construção civil, em terceiro, com 13,9%. Pode-se ver que na indústria de transformação houve 147 óbitos; esses 147 óbitos são funcionários da indústria de transformação. Ocorre que, nos acidentes de trajeto, correspondem a 52, e acidentes de trânsito, 36. Se você somar acidentes de trajeto com acidentes de trânsito, praticamente, você tem 60% dos acidentes fatais dentro da indústria de transformação, mas que ocorreram no trânsito ou trajeto. O mesmo acontece no total dos 540 óbitos. Houve, praticamente, mais de 55% que ocorreram no trânsito e no trajeto. Conclusão: na pesquisa, verificamos que, apesar da estatística apontar para a indústria da transformação, a grande vilã nos acidentes fatais, na verdade a grande vilã está no trânsito e no trajeto. Por isso na estatística tudo é questão de interpretação, conforme a circunstância podemos interpretar de acordo com nosso interesse. Hoje, nós temos um banco de dados que estamos tentando tipificar; estamos tentando criar um Banco de Dados anualizada; porém, hoje, infelizmente, esse banco de dados contabiliza 65 acidentes fatais que nós tipificamos aqui em São Paulo. Vamos pegar algum exemplo. O que é tipificação? Vamos supor, que um acidente fatal ocorreu esse ano: em 14 de abril de 2000 – foi queda (vide a figura abaixo. E as estatísticas que nós recebíamos da CAT vinham como objeto causador: queda). Não havia um detalhamento na descrição do CAT. É isso que nós estamos fazendo: codificando o detalhamento. Vamos supor, que essa queda é da carroceria do caminhão ou é da rampa de acesso ao elevador, como aconteceu em junho deste ano. Nós estamos procurando diferenciar isso para que se possa ter um perfil do acidente e direcionar a fiscalização. Para que, ao fiscalizar o setor econômico, se tenha a idéia de onde está ocorrendo mais acidente, ou seja, direcionar a prevenção de acordo com memória do banco de dados, em outras palavras, tendo a idéia de onde está ocorrendo acidente e qual é o acidente naquele setor econômico, não fazer uma prevenção ampla que, muitas vezes, não dá o mesmo resultado, podemos, com isso, diminuir a taxa de acidente de trabalho. 61 62 Indicadores Sociais sobre as condições de trabalho segundo as bases de dados do IBGE Ana Lúcia Sabóia G ostaria de agradecer o convite, que não foi feito a mim diretamente, e sim, ao Luiz Antônio Pinto de Oliveira, demógrafo, chefe do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE. O Luiz Antônio, não pôde aceitar o convite, pois se encontra ocupado com os últimos retoques Censo Demográfico 2000, cujos primeiros resultados deverão ser divulgados no próximo dia 22 de dezembro. A minha apresentação será baseada nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD, que é uma das principais fontes do IBGE sobre mercado de trabalho. Uma outra muito importante e, também, bastante conhecida é a Pesquisa Mensal de Emprego – PME, realizada em seis regiões metropolitanas do País. Essa pesquisa é muito utilizada para cálculo das taxas de desemprego pelo governo federal. Voltando para PNAD, vale acrescentar que o corpo básico desta pesquisa é muito rico, contendo uma série de outras informações sobre as características das pessoas. Nossa escolha da PNAD para a exposição de hoje deve-se ao fato da mesma cobrir todo o território nacional, exceto as áreas rurais da Região Norte, fornecendo um retrato abrangente do país. A amostra pesquisada é extremamente robusta, em torno de quase 100.000 domicílios, podendo esta pesquisa ser considerada um dos maiores surveys da América Latina. O questionário básico da PNAD é sobre mão-de-obra, quer dizer, o que estamos investigando são informações sobre a mão-de-obra. Entretanto, como o questionário faz perguntas sobre todos os moradores do domicílio, a PNAD torna-se uma fonte demográfica e sócio-econômica excelente, permitindo o cruzamento de todas as informações das pessoas moradoras do domicílio. Na verdade, o que eu vou mostrar hoje, é um aspecto bastante diferente do que as outras conferências do seminário tratam. Tentaremos caracterizar sócio-economicamente a mão-de-obra ocupada no mercado de trabalho. Os indicadores de mercado de trabalho revelam que a economia brasileira ainda convive com uma estrutura sócio-econômica dualista e concentradora de renda, onde a maior parte da população economicamente ativa – PEA – pessoas de 10 anos e mais se encontra na área urbana. A PEA, essa População Economicamente Ativa, envolvia aproximadamente 76,9 milhões de pessoas em 1998 contra 50,8 milhões de pessoas inativas, o que representa uma taxa de atividade em torno de 60,2%. O conceito de taxa de atividade utilizado é a porcentagem da população de 10 anos e mais, que participa efetivamente do mercado de trabalho estando ocupada ou não, trabalhando ou procurando emprego.Ainda que essa taxa de participação na força de trabalho da população masculina seja mais elevada (73,6%), o mercado de trabalho vem apresentando cada vez mais uma maior participação de mulheres com uma taxa de 47,5% ultrapassando 31 milhões de trabalhadores. O ingresso maciço de mulheres no mercado de trabalho se iniciou na década de 80 e cada vez está se intensificando mais, sendo possível verificar tendência de crescimento nas próximas décadas. A Região Sudeste continua absorvendo a maior parcela da população economicamente ativa. Contudo, não é a que registra a maior taxa de atividade, é no Sul do País onde se encontra a taxa mais elevada de 65.1%, sendo a taxa masculina em torno de 77.6%, quer dizer, quase 80% dos homens que vivem na Região Sul estão no mercado de trabalho e a feminina 53.2%, ou seja, de cada duas mulheres, um pouco mais estão no mercado de trabalho na Região Sul. Mesmo sendo a PEA mais concentrada nas áreas urbanas, o setor rural apresenta uma taxa de atividade superior a 69% contra os 58 da urbana. A taxa de atividade também tem uma associação com a faixa etária, cresce, obviamente, à medida que aumenta a idade, atingindo um máximo de 80% no grupo de 25 a 49 anos. Entre as crianças de 10 a 14 anos, a taxa de atividade é de 16.6, correspondendo a um contingente significativo de crianças no mercado de trabalho – cerca de 2,8 milhões. No grupo etário de 15 a 17 anos, dos adolescentes, de cada 100 adolescentes, 45 estavam trabalhando. Um quarto dos idosos de 65 anos ou mais participam ativamente do mercado de trabalho, podendo significar, em parte, que devido aos baixos proventos percebidos da aposentadoria, eles ainda precisam buscar algum complemento de renda no mercado. De forma similar, a taxa de atividade é mais alta quando aumenta a escolaridade, ou seja, quanto maior for o 63 grau de instrução, mais viável para as pessoas encontrarem uma ocupação no mercado de trabalho. Essa taxa situa-se em torno de 54.3 para as pessoas que possuem uma instrução de menos de 1 ano de estudo atingindo 82.7 para as pessoas com 12 anos ou mais de estudos. Quanto melhor a escolaridade, maior é o seu poder de barganha para conseguir uma posição no mercado de trabalho. Esse comportamento é absolutamente verdadeiro para todas as regiões do País. Da população ocupada, as categorias mais expressivas são os empregados – 46% e os conta próprias – 23%. É esse o grande bolo do mercado de trabalho, são as pessoas que trabalham como empregados e os conta própria. Os empregados somam um pouco mais de 32 milhões, porém, apenas 61.8 (em torno de 62%) têm carteira de trabalho assinada pelo empregador. A posse da carteira é maior para as mulheres empregadas do que para os homens nessa mesma categoria. Provavelmente em função de que grande parte da força de trabalho feminina está no emprego doméstico sendo esta considerada outra categoria de emprego. Na distribuição da população ocupada, o trabalho não remunerado ainda é representativo e abarca 8,7% da população que está no mercado de trabalho, que trabalha sem auferir rendimento. No geral, toda essa situação de emprego acaba refletindo de forma negativa para a previdência social porque somente 25,5 milhões de ocupados contribuem para fins de aposentadoria – 39% - além dos militares e estatutários que somam 4,5 milhões e contribuem para uma outra conta de previdência – o regime jurídico humano. Essa baixa cobertura da legislação trabalhista e social é mais preocupante ainda quando se observam os dados relativos aos trabalhadores domésticos, cerca de 75% desses trabalhadores estão sem posse da carteira, e o peso relativo de trabalhadores domésticos dentro da população ocupada é em torno de 5,5%. Os índices desses trabalhadores sem carteira são elevadíssimos para as regiões. Na Região Norte, 90% dos trabalhadores domésticos não têm carteira assinada. Outro aspecto que é muito significativo para estudar a mão-de-obra é saber a renda familiar dessas pessoas. Uma parte significativa da população ocupada vive em famílias cujo rendimento é de até meio salário mínimo per capita. Foram consideradas como pobres famílias ou pessoas que declararam viver com até meio salário mínimo per capita. Exemplificando: uma família, em média de quatro pessoas, que vive mensalmente com uma renda de dois salários mínimos. Mais de um quarto dos tra64 balhadores sem carteira (26,7%) vive com essa renda, grande parte dos trabalhadores domésticos e 23% dos conta própria, enquanto dos militares, apenas 4%, e poucos empregadores são pobres. No outro extremo, com uma renda per capita acima de três salários mínimos, são apenas 59,4% dos empregadores que vivem com essa renda. Obviamente, entre os “ricos”, grande parte são empregadores. No que diz respeito à distribuição de renda, o perfil brasileiro ainda continua a ter como traço marcante a desigualdade. O rendimento médio dos ocupados que ainda é muito baixo no Brasil, cerca de 4,1 salários mínimos. As diferenças estaduais são muito grandes: enquanto no Distrito Federal e em São Paulo este rendimento fica em torno de sete salários mínimos, no Maranhão e no Piauí não conseguem atingir dois salários mínimos. Entre a população ocupada com rendimento, os 10% mais ricos possuem uma renda média de 19,8 vezes maior do que as dos 40% mais pobres, quer dizer, a desigualdade ainda é muito grande, é o grande problema, é o grande desafio. O Índice de Gini que é um indicador super clássico para se medir desigualdade, é calculado a partir do rendimento mensal de todos os trabalhos de pessoas de 10 anos e mais com rendimento, quer dizer, só entra para o cálculo, pessoas que têm rendimento. No ano de 98, o Gini apresentava valores bastante elevados nos Estados menos desenvolvidos, e mais baixo nos estados mais desenvolvidos. No Nordeste, por exemplo, além de ser uma região pobre, é uma região com grandes desigualdades. Esse índice apresenta valores em um intervalo entre 0 e 1. Quanto mais elevado for o Gini, maior a desigualdade. A desigualdade não está só pautada na renda. Quando se compara alguns indicadores, verifica-se que apenas 31% dos domicílios que estão nos 40% mais pobres contam com condições de saneamento adequados enquanto entre os “ricos” mais de 80% dos seus domicílios tem boas condições. Nos estratos mais pobres, encontra-se uma proporção extremamente elevada de empregados sem carteira de trabalho e de trabalhadores na agropecuária, sendo também, mais elevados os percentuais de trabalhadores por conta própria. O acesso ao estudo de nível superior, por exemplo, é restrito a apenas 8% daqueles que estão nos 40% mais pobres. Esses indicadores apresentados revelam uma diversidade de situações muito grande do mercado de trabalho. Agora eu vou ilustrar o que eu falei com algumas transparências e tecer alguns comentários. Este mapa mostra a taxa de atividade nos Estados bra- sileiros. Nos estados onde a tonalidade aparece mais clara representa a faixa mais baixa de atividade, começando com 49,4 referente ao Estado do Rio de Janeiro e terminando no Maranhão com 70,7. Este mapa nos dá uma idéia de como é a atividade econômica da mão-deobra no País; isto é, a pressão do mercado de trabalho entre os que estão querendo adquirir um posto procurando um emprego e os que já estão efetivamente ocupados trabalhando. O próximo slide mostra a taxa de atividade das crianças. É possível perceber que em alguns Estados do Nordeste ainda têm muita criança trabalhando. A taxa média dessas crianças trabalhando gira em torno de 16,6 %, isto é, cerca de 2,8 milhões. Houve uma queda durante a década de 90 da taxa de atividade das crianças. No início, em 1992, era em torno de 22%, e agora está caindo para cerca de 16%. Podemos considerar então que houve uma melhora de condições de vida das crianças brasileiras. O Estado que tem mais crianças trabalhando é o Maranhão e o que tem menos é o Rio de Janeiro. Em Roraima, a pesquisa não registra crianças trabalhando. Este mapa ilustra como estão os conta própria: 23% dos ocupados estão nessa categoria, trabalham por conta própria. No Rio de Janeiro, a proporção fica em torno de 22,7%. Em São Paulo, apenas 19% da mão-de-obra ocupada declara conta própria. O próximo slide é referente a empregados e trabalhadores com carteira assinada, conta própria, empregadores que contribuem para a previdência. É possível ter uma idéia da “conta” da previdência para os próximos anos. A quantidade de ocupados/trabalhadores que que não contribuem para a previdência é elevada. Quem tem carteira assinada são os empregados – 61,8% – . No Norte e no Nordeste, bem menos da metade dos empregados tem carteira assinada. Com os trabalhadores domésticos a situação é pior ainda. São poucos os que contribuem como conta própria e empregadores; essa dívida está cada hora aumentando mais. Mostra-se o contraste, essa primeira coluna é dos empregados com carteira que tem uma situação muito melhor do que os empregados sem carteira. Parece óbvio, mas é importante que o dado mostre exatamente o que acontece na prática. Tem muitos poucos empregados sem carteira que vivem numa família com mais de três salários mínimos per capita. Já os militares e estatutários estão numa situação muito melhor, são poucos aqueles militares que são considerados pobres. Obviamente, os trabalhadores domésticos, em grande parte, são pessoas com renda baixa e os conta própria também têm uma parcela significativa, e os empregadores são os que estão na melhor situação. Esse é o bolo dos 50% mais pobres e do 1% mais rico. Quanto que cada um tem de renda do País.Aqui se vê que os 40% mais pobres estão em franca desvantagem quando comparados ao 1% mais rico em todas as regiões. Inclusive no Nordeste, onde o 1% mais rico detém 16,4%, da renda enquanto os 40% só detêm 15,4%. Tudo isso, é calculado em cima da renda que as pessoas auferem no mercado de trabalho, dos ocupados com rendimento. Estas são algumas características da população que mostram as disparidades entre os ocupados, que estão nos 40% mais pobres, e no 1% mais rico. Essa tabela mostra que o rendimento médio da população em Reais era de R$ 125,00 – um pouco abaixo de um salário mínimo. Podemos ver que o Nordeste se destaca por ser a região com menor rendimento médio. O rendimento médio é calculado da seguinte forma: são somados os rendimentos de todos os ocupados, dividindo-se esta soma pelo número de pessoas. O próximo é o Índice de Gini, que mostra que o Nordeste ainda tem a maior desigualdade, além de ser o estado mais pobre. O gráfico referente à população ocupada pelos ramos de atividade dá um retrato de como está distribuída. A mão-de-obra brasileira está toda ocupada no comércio e nos serviços, praticamente de um lado só da pizza. Tem poucos ocupados na indústria. Se somar, o grupo é menor. A nossa mão-de-obra está concentrada nesses ramos de atividade, caracterizando –se como um país terciário. O que eu pude mostrar hoje no tempo que me foi destinado e com os dados disponíveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, dá para se ter uma idéia do perfil da mão-de-obra brasileira. O Departamento de Indicadores Sociais publica todos os anos esse livro que se chama Síntese de Indicadores Sociais, que tem muito mais informações sobre o mercado de trabalho com informações de todos os Estados e todas as regiões metropolitanas. É interessante usar esse tipo de material quando se quer desenhar minimamente um perfil de um Estado ou de um grupo de Estados ou mesmo do País como um todo com esta série de indicadores já construídos. O próximo slide é sobre a renda dos trabalhadores. É possível ter acesso a este livro na agência do IBGE 65 nos estados procurando o serviço de atendimento ao usuário. O nome da publicação é Síntese de Indicadores Sociais. Na Internet tem também as informações sobre essa síntese de indicadores sociais. Uma comparação entre os indicadores referentes aos anos de 1992 e 1999 deverá estar pronta em breve, além de um CD ROM com todos os indicadores calculados para os anos de 66 1993,1995, 1996, 1997 e 1998. Os primeiros resultados da população por município e por sexo, vindas do Censo Demográfico, devem estar disponíveis muito em breve. Acho que para o próximo ano, o IBGE estará se esforçando para divulgar dados importantes sobre a população brasileira. Possibilidades de uso das grandes Bases de Dados Nacionais Déa Carvalho Bom dia a todos. E u acho que, antes de entrar nas bases de dados nacionais, até porque vocês já viram muitas delas: a RAIS - RELATÓRIO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS, a CAT - COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO, o Sistema de Informações de Mortalidade, a SIA e SIH. Já houve uma apresentação geral dos vários dados que podem ser abordados por essas grandes bases de dados nacionais. Então, eu vou especificar um pouco do que vou falar aqui. Muitas vezes, quem trabalha com informações, e isso tem sido o meu trabalho há 10 anos, normalmente as busca a partir de perguntas que são formuladas, e essas perguntas nem sempre são respondidas com um sistema de informações só. Para construir um sistema de informações que responda a todos os universos de perguntas possíveis, seguramente nós teríamos que coletar uma série de dados que seriam até redundantes com certos sistemas de informações já existentes. Cada vez mais, há uma tendência de fazermos uma aproximação entre os diversos sistemas de bases de dados de tal forma que a gente consiga ampliar a possibilidade de resposta para as perguntas que a gente tem. Já há algum tempo, pelo menos seis anos, a gente vem trabalhando, e os diversos produtores de informações no Brasil têm tentado se juntar e trabalhar junto para tentar compatibilizar essas bases de dados. O que nós estamos caracterizando como grande base de dados nacionais são aquelas, porque, apesar de existirem diversos sistemas de informação, que estão em diversos municípios, em diversos Estados e só funcionam lá, têm alguns sistemas de informação que funcionam para o Brasil inteiro. Eles podem não estar implantados em todos os municípios, mas, seguramente, cobrem a maioria absoluta deles, a maioria absoluta da população brasileira está coberta com esses sistemas. Eu não estou falando dos sistemas que são feitos pelo Ministério da Saúde, esses não entram. Por exemplo, aqueles sistemas que são optativos como SIGAB, OSPUB, que são sistemas específicos de gerenciamento de unidade de saúde e são optativos. Ou sistemas muito restritos a determinados programas ou situações que cobrem uma abrangência pequena. Grandes bases de dados nacionais são aquelas que realmente cobrem a maioria da população brasileira ou a maioria do alvo desses registros do que existe no Brasil. Eu listei aqui, alguns dos que a gente vem trabalhando na área de saúde no Ministério da Saúde, ou seja, algumas dessas grandes bases de dados. Inclusive, não tem os registro da CAT - COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO e da RAIS - RELATÓRIO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS, porque a última vez que nós tentamos incorporar isso aos nossos registros foi em 95 e não houve possibilidade possível de fazermos essa aproximação na época. Talvez até possamos retomar isso. A gente tem tentado trabalhar com essas que estão aqui de uma forma mais próxima, de tal forma que uma potencialize a capacidade da outra de dar resposta. Tem aí: o Sistema de Informação sobre a Mortalidade (SIM), que é o mais antigo dos sistemas de informação, implantado pelo Ministério da Saúde; o Sistema de Informação sobre os Nascidos Vivos; o Sistema de Informação sobre Agravo de Notificações; o Sistema de Informações Hospitalares do SUS; o Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS. Esses cinco já possuem uma base de dados mais estruturada, mais acessível através da Internet. Está disponível para todo mundo e eles já são um pouco mais antigos; tem uma estrutura melhor de base de dados e são todos do Ministério da Saúde, essa é uma característica que eles têm em comum. Além desses, o Ministério da Saúde tem outros sistemas de informação de outras bases que a gente também tem, uma característica nacional, embora tenham algumas restrições no uso. Entre esses seriam o SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica; o SPNI – que é um nome genérico para três sistemas relacionados ao programa de imunização; e o SIOPS – Sistema de Informações de Orçamentos Públicos em Saúde, que está começando ainda, ainda está engatinhando, mas é um sistema muito interessante que vai poder aportar uma série de informações interessantes. 67 O IBGE é muito crítico sempre, até para a gente entender qual é a população sobre a qual nós estamos trabalhando nos outros sistemas. Tem três grandes bases que nós trabalhamos demais com elas. Uma delas é o censo; a outra, a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios e a Pesquisa de Assistência Médica Sanitária – a AMS – que só trata de estabelecimentos de Saúde. Mas aí, trata de todos: SUS e todos os tipos de estabelecimento. de, não tem sido muito cumprida, mas esse seria o sistema que captaria essas informações. Nós tentamos cada vez mais trabalhar com bases de dados de conselhos de classe como o Conselho Federal de Medicina, enfermagem, odontologia, psicologia e bases de dados do Setor Médico Supletivo, que está muito incipiente também, mas a gente está começando a ver qual é a população coberta, como é a abrangência dessa cobertura. O que nós estimamos é que eles estejam cobrindo atualmente, em torno de 70% dos atendimentos realizados no Brasil. Claro que algumas coisas mais e outras menos, porque uma coisa que a gente tem visto é que a distribuição da atenção básica (vacina, visita domiciliar, etc) é muito pública, é muito feita pelo setor público. A outra complexidade, ou seja, a parte de diálise, transplantes, etc, também é muito feito pelo setor público porque dificilmente alguém tem capacidade de bancar. A saúde supletiva e a saúde privada atuam principalmente na parte secundária, no nível secundário de atenção. Esse 70% que estou falando é distribuído irregularmente entre esses três níveis de atenção. Em torno de 60 a 70% estaria coberto pelo SIA e pelo SIH. Algumas características deles são a referência – o SIM é o óbito; o SINASC SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS, os nascidos vivos; o SINAN, o grau de notificação; o SIH, internações hospitalares; e o SAI, atendimentos ambulatoriais pagos pelo SUS. O que eu vou tentar é, ao invés de dar enfoque específico em cada um desses sistemas, falar deles em uma perspectiva comparada. Qual a possibilidade de se trabalhar com mais de um sistema ao mesmo tempo até para fazer os nossos indicadores. Vou falar primeiro dos cinco grandes do Ministério da Saúde, que são os mais antigos: o SIM – Sistema de Informação de Mortalidade; o SINASC - SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS; o SINAN – Sistema de Informações de Agravos de Notificações; o SIH – Sistema de Informações Hospitalares e o SIA – Sistema de Informações Ambulatoriais. O SIM, o SINAN e o SINASC têm uma característica de serem universais. O SIM e o SINASC - SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS registram aqueles eventos vitais radicais (nascimento e morte). Então, a partir do momento em que você nasceu começa a ter registros no decorrer de sua vida e a partir do momento em que você morreu parou de ter registros no decorrer da sua vida. Então eles são bem radicais mesmo. A idéia é que eles cubram todo o universo de unidades de saúde, ou seja, qualquer hospital, qualquer pessoa que morra em qualquer hospital, em casa, que nasça em casa, em um centro de saúde, em qualquer clínica particular ou em qualquer lugar, eles deveriam, em princípio, estar registrados por esses dois sistemas. O SINAN – agravo de notificações também tem essa característica de universalidade porque ele é um sistema no qual nós fazemos a avaliação da lei, que obriga que qualquer agravo potencialmente transmissível, que tenha um poder de transmissão muito grande, seja notificado de imediato para que seja feito o bloqueio para proteger o resto da população.Tem uma lei que obriga a isso e, na verda68 O SIH e o SIA já têm uma característica diferente, eles atuam sobre uma clientela que é atendida pelo sistema único de saúde. São restritos àquelas unidades de saúde que tem convênio com o SUS ou que trabalham para o SUS ou que são públicas. É só sobre essa clientela que eles dão essas informações. A alimentação deles é feita através da declaração de óbito e declaração de nascidos vivos; eles não se sobrepõem ao atestado de óbito ou à certidão de nascimento. Na verdade, eles estão sendo usados como instrumento legal para serem levados ao cartório e isso ser registrado, mas eles não substituem. No caso do SINAN, as fichas de notificação de agravo e investigação e do SIH e SIA são autorizações, são formulários que são usados para pagamento por esses serviços prestados. Eles são utilizados em grande parte tanto pela vigilância epidemiológica como pela vigilância sanitária, planejamento, para avaliação ou controle e auditoria. Alguns se prestam a todos esses, outros tem um peso maior ou menor em cada um desses. O último ano em que temos uma base de dados fechada desses sistemas também é variável. No caso do SIM e do SINASC - SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS, em 1998 que não tem muito problema porque a tendência que eles mostram, que a gente consegue enxergar não muda muito rápido; nós não conseguimos ter uma interferência tão eficaz que reduz significativa- mente, por exemplo, a posição de uma doença em relação à outra no ranking baseado em declarações de óbitos. Esse atraso, o Ministério da Saúde tem tentado cada vez mais reduzir, mas para efeito de análise de informações, ele não é significativo. O SINAN, o SIH e o SIA, o último ano fechado foi 99, sendo que o SIH e o SIA SUS nós conseguimos consultar até na Internet com 60 dias de diferença do evento até a data da consulta. Eles são muito ágeis e é por isso que são bases de dados muito boas para a gente conseguir fazer uma avaliação sucessiva. Esses são outros sistemas que já têm outras características. Eles já são mais específicos, não estão falando mais tão especificamente de todas as pessoas, de todas as idades. Tem esses três do Ministério da Saúde, o SIAB - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA, que é a atenção básica e a abrangência dele é a população coberta pelo programa de agentes comunitários de saúde e pelo programa de saúde familiar. Embora o SIAB seja um sistema muito interessante porque tem condições de residência, ele tem um problema muito sério que é assim: na hora que um agente comunitário de saúde, por exemplo, é afastado ele reduz a abrangência, na hora que mais um é incorporado ele aumenta a abrangência. Então nós não conseguimos trabalhar direito com a totalidade da população, nós não conseguimos correlacionar muito essa população com as outras bases de dados. Principalmente no nível local, onde as pessoas sabem perfeitamente o que está sendo coberto por ele, ele apresenta um potencial para planejamento e avaliação fantástico. Ele talvez seja o mais específico, mas indicado para o trabalho em uso local, não em uso estadual ou nacional. O SPNI, na verdade, a abrangência dele é a população alvo, ou seja, toda a população que está de alguma forma contemplada nos esquemas formais de imunização. Tem toda a população: menores de 1 ano, depois de 1 a 5 anos. Agora que entrou a hepatite B, tem também a parte dos adolescentes de 15 anos de idade, mulheres em idade fértil (principalmente grávidas) e idosos. Ele cobre, basicamente, essa população, dizendo quantas doses foram aplicadas, etc. Mas o formulário de entrada dele é também muito genérico, não é individualizado, é um formulário de coleta que vai marcando alternativas, é muito agregado pela unidade que está realizando esse procedimento. Mas ele faz a diferenciação de qual é a vacina que foi aplicada e qual é a faixa etária da pessoa que está usando (sexo, faixa etária e local), e tem também um outro sistema que é meio acoplado a esse que seria o sistema de estoque de vacina que foi enviado; é uma parte de controle de estoque de vacina imunobiológicos que também está contemplado no SPNI. O SIOPS é um sistema que está começando agora. Na verdade, o primeiro e único ano que está disponível até agora é o de 98. Na realidade, ele é uma base de dados que é uma planilha e está sendo feito em associação com o ministério público e está tendo um certo sucesso, porque as pessoas se sentem pressionadas pela presença do Ministério Público. Os municípios e Estados preenchem todas as suas receitas: IPTU, ISS, ICMS, etc. e depois preenchem uma outra planilha do que está destinado a saúde.Ainda é orçamentário, não é de execução orçamentária. Eles preenchem tudo o que está destinado para a saúde e, especificamente, para tratamento ambulatorial, para tratamento hospitalar, convênio. São essas duas planilhas que acompanham o SIOPS, é um sistema informatizado que também foi desenvolvido pelo Datasus - DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA DO SUS e tem sofrido algumas modificações até para ir ficando cada vez mais específico, para conseguirmos enxergar melhor, o que é um gasto que o município tirou da receita própria, o que foi que o Estado passou para o município, o que foi que o nível federal passou, como está a contribuição de cada um desses. Já tem a base de dados de 99 que está praticamente fechada, só não está disponibilizada ainda porque é um pouco diferente da de 98 e com uma abrangência maior, mas em torno de 4000 municípios já estão respondendo com regularidade e nós já conseguimos acompanhar bem. O IBGE tem o censo, a PNAD - PESQUISA NACIONAL DE AMOSTRA DOMICILIAR, a AMS que são muito críticos para a gente, embora nós usamos outras pesquisas do IBGE também. O censo – há cada dez anos, o último disponível foi em 91 e está ocorrendo outro nesse momento. É universal, em princípio, todo mundo e é feito através de um formulário que é discutido sempre que o censo vai sair. A PNAD – PESQUISA NACIONAL DE AMOSTRA DOMICILIAR tem dados populacionais também. É universal, mas é feita por amostragem, ela permite, ela tem um suplemento (a PNAD - PESQUISA NACIONAL DE AMOSTRA DOMICILIAR) que cada ano é diferente do anterior. Então, nesse ano 2000 até o suplemento vai ser sobre o trabalho no menor, mas tem um suplemento de 1998, por exemplo, que foi sobre saúde, acesso a serviço de saúde que também é um que a gente já tem uma comparabilidade com um que foi feito anteriormente e a gente já sabe o que mudou. A AMS – Assistência Médica Sanitária – em princípio, 69 deveria ser feita todo ano, mas não é de fato. O último AMS foi feito um agora, em 98/99, mas o último antes desse era de 92. Isso, antes de 1992, vinha sendo feito anualmente. Em 1992 houve um problema de falta de recursos e aí, nessa negociação de quem financia, como é que vai fazer porque é uma pesquisa muito grande, pesada e cara, só saiu um novo em 1999. Na verdade, embora diversas perguntas se relacionem ao ano de 1998, ele é de 1999. Então, o que aconteceu? Todos esses dados e informações de bases de dados têm diversos gerentes, são instituições diferentes ou áreas diferentes dentro do próprio Ministério da Saúde. Então, por iniciativa do Ministério e da Organização Panamericana de Saúde – foi uma iniciativa conjunta – a gente resolveu reunir todas essas pessoas que produzem esses dados para tentar fazer uma compatibilização. Vamos ver quais são as chaves críticas através das quais a gente pode ir juntando um sistema de informação com outro. Nós começamos: o que a cada um desses sistemas utilizaria para caracterização do indivíduo? A idéia foi pegar que tipo de atributos que identificam o indivíduo e que todo mundo poderia estar usando isso como uma base de dados linear, através de todos os sistemas de informação. Esse é um levantamento do que existe, no caso, nome – aí o sistema de informação de mortalidade tem, o SINASC - SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS tem, o SINAN tem, o SIH tem, o SIAB SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA tem, os demais não têm o nome do indivíduo; residência (se tem logradouro, número, etc.) – fica mais ou menos nos mesmos; o CEP – o SINAN e o SIH têm. No caso, aqui é CEP de residência do indivíduo porque tem o CEP de ocorrência que aí está na caracterização do estabelecimento de saúde. E outros atributos que aqui talvez entre a parte que mais interessaria a quem trabalha com estatística sobre a saúde do trabalhador, que seria instrução, ocupação. No caso de ocupação, a gente tem trabalhado com dois atributos: ocupação e ramo de atividade. Ocupação seria pela classificação da CBO - CADASTRO BRASILEIRO DE OCUPAÇÃO e o ramo de atividade pela CNAE - CADASTRO NACIONAL DE ESPECIALIDADE. O grande problema aí é que, apesar do SIM, SINASC - SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS e SINAN já terem os campos exatamente dessa forma, eles são muito mal preenchidos, e a grande queixa que a gente escuta é que essas tabelas existentes não se prestam a isso, são muito difíceis de trabalhar, são repetitivas, ninguém se encontra dentro delas e, assim, a idéia é que até a gente possa propor, eventualmente, uma revisão; rever e ver 70 qual seria a forma melhor de classificar. Aí, data de nascimento, sexo, raça, cor. Na verdade, o que a gente encontra são buracos importantes. Claro que não cabe, por exemplo, no censo, ele disponibilizar nome e, também nome é sempre uma chave ruim; mas se todos tivessem o CEP, por exemplo, porque no caso dos sistemas do IBGE eles trabalham com o setor censitário que é bem diferente do CEP, então, alguns municípios conseguem fazer a compatibilização entre uma coisa e outra, mas não é uma relação direta.A idéia seria que a gente pudesse, por exemplo, a população que mora no território abrangido pelo CEP tal então qual é a raça predominante, qual é a ocupação predominante, buscar na PNAD - PESQUISA NACIONAL DE AMOSTRA DOMICILIAR faixa de renda, situação domiciliar, do que elas adoecem, do que eles estão morrendo, como é que eles estão nascendo, etc. mas isso aí, dando uma olhada geral, a gente já vê que não é possível pelo menos captar todos. A gente conseguiu captar alguns dados sobre isso. Na caracterização do estabelecimento de saúde que, geralmente, pelo menos no sistema de informação do Ministério de Saúde é onde a maior parte dos dados são registrados. A idéia é que se tenha o nome do estabelecimento, razão social, CGC, código do estabelecimento quando não usa CGC direto, a localização dele e aí entra um outro conceito porque lá, a gente tinha local de residência e aqui nós temos o local de ocorrência do evento. Então seria o CEP de ocorrência e o outro seria o CEP de residência. Muitas vezes, é muito interessante a gente cruzar essas duas coisas até para ver quais são os caminhos que a população tem feito: se algo acontece – se ela mora em algum lugar, mas onde ela é de fato atendida. Esse é um tipo de dado que a gente trabalha com bastante freqüência. O código do município que a maioria absoluta tem e a unidade da federação. Aqui, a caracterização do evento que gerou o registro. Tem alguns que trabalham com o CID – CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS. Outros usam códigos específicos que são de agravo que estão sendo muito aproximados do CID - CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS. Às vezes, não dá para ter uma correlação exata, mas, na medida, do possível a gente está tentando fazer essa migração: enquanto os agravos tinham um código próprio, eles estão passando a ter um código de classificação internacional de doença. Procedimento hospitalar e procedimento ambulatorial são tabelas feitas pelo próprio Ministério da Saúde e alguns outros atributos: data da ocorrência, local da ocorrência e se foi acidente de trabalho. De fato, a gente vê que acidente de trabalho só tem em dois, por exem- plo, que é o SIM – Sistema de Informações de Mortalidade – e no SIH SUS que especifica se isso foi mesmo acidente de trabalho. O local da ocorrência também, no caso de acidente de trabalho, seria importante e um pouco mais abrangente. maior possibilidade que existe hoje, é usar como chave de aproximação ao município.Territórios, trabalhar com territórios e, aí, tentar enxergar quem mora lá, o que tem lá de unidade de saúde e o que está acontecendo dentro dessa unidade de saúde: eventos, doenças, etc. Uma coisa que a gente começou a observar é que, entre os principais problemas de trabalhar com o ajuntamento dessas bases de dados, era a ausência de variáveis que fossem comum a todos; e a segunda, é a incompatibilidade conceitual, porque, muitas vezes, até com sistemas que trabalham com o mesmo dado, com a mesma variável, o conceito aplicável a cada um deles é um pouco diferente. Então, qual o trabalho que foi feito nessa área de compatibilização? É um trabalho que ainda está sendo realizado. Primeiro, foram estabelecidas essas variáveis, quer dizer, na caracterização do indivíduo, quais os atributos que deveriam ser considerados como variáveis, caso fosse necessário caracterizar o indivíduo, o que todos os sistemas deveriam ter e com que conceito. Cada vez mais a gente tem visto que isso tem sido o ponto crítico: enxergar todos os eventos correlacionados na mesma base territorial. Aqui, uma coisa que eu tinha esquecido de falar quando eu falei do SINASC - SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS, que também foi um dado que foi incluído recentemente, mas que é muito interessante, que é o Sistema de Informações de Nascidos Vivos, é que a maior parte dos dados objetivos são sobre a mãe do recém-nascido. Tem o grau de instrução, a ocupação e ramo de atividade da mãe e tem também se a criança nasceu com má formação congênita ou não. No caso da caracterização do estabelecimento, a mesma coisa; na caracterização do evento, a mesma coisa e na caracterização do profissional que fez, que realizou o procedimento, a mesma coisa. Foi isso que deu origem à portaria do Ministério da Saúde e o próprio IBGE, que não estava sujeito à portaria, mas também incorporou diversos desses conceitos. Houve um pacto, na verdade, foi uma negociação: vamos a partir de agora, todo mundo usar os mesmos conceitos para algumas coisas, tentar usar mais ou menos os mesmos atributos para fazer as bases dos dados se aproximarem cada vez mais. De fato, a gente ainda não conseguiu. Apesar disso estar sendo trabalhado desde 1995, a gente ainda não conseguiu essa compatibilização total de todos os sistemas de informação. Mas está indo... Por outro lado, eu acho que dá para perceber que é possível relacionar a maioria dos indivíduos a um território. Até porque a gente deu uma olhada lá e viu que quase todos têm o código do Município pelo IBGE e a UF - UNIDADE FEDERADA. Então, se a gente correlacionar o indivíduo que mora em determinado município aos eventos que ocorreram naquele município pela residência ou pela ocorrência, a gente já começa a ter uma boa dica do que está se passando ali. Então torna-se possível relacionar a maioria dos indivíduos por sexo, faixa etária – que são dados do IBGE- e diversidades que apareçam nos outros sistemas, a uma área residencial que é correlacionada por sua vez, não apenas aos equipamentos de saúde instalados sobre produção, como também aos eventos registrados pelos diversos sistemas de informação. A idéia principal, o que a gente entendeu como Eu acho que é uma base de dados que, eventualmente, será muito interessante trabalhar até para a saúde da mulher trabalhadora. O que é o nível de exposição, o que acontece, etc. Como o seminário chama perspectivas, o que eu resolvi é mostrar um pouco uma luz no fim do túnel. A gente está trabalhando agora no Ministério da Saúde. Tem esse projeto que é o Projeto Cartão Nacional de Saúde que, na realidade, é a atribuição de um número único a cada indivíduo que nesse caso seria o PIS/PASEP, o número do PIS/PASEP. É a Caixa Econômica Federal quem está produzindo esse número e nós fazemos toda a parte de cadastro, mandamos para a Caixa Econômica Federal, ela bate com os registros dela, quem já tem PIS/ PASEP ela só manda e aí a gente está gerando número único. Por enquanto, este projeto é um projeto piloto; ele está restrito a 44 municípios. No Brasil, ele é um projeto que foi desenvolvido e está sendo financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e prevê um sistema de informação associado onde a idéia é a de que seja expandido o mais rápido possível: a partir do ano que vem. Isso é uma proposta também já do Ministério: 100% da população deverá estar cadastrada e deverá ter seu número único. Agora, o sistema informatizado vai demorar um pouco mais porque, por enquanto, é um projeto piloto. É muito complicado, as bases de dados são muito grandes quando a gente pensa em atendimento de tudo. Mas a idéia é que esse sistema informatizado de cartão nacional de saúde permita a integração de quatro grandes cadastros. 71 Vamos ter o quê? O cadastro de usuários, ou seja, em princípio seria toda a população brasileira cadastrada e nesse cadastro – depois eu vou explicar o que tem de dados específicos de cada pessoa – já tem também ocupação, faixa etária, local de residência, etc. O cadastro do estabelecimento de saúde e aí, 100% dos estabelecimentos de saúde também, não só os que trabalham no SUS. A idéia é que sejam todos cadastrados. Neste projeto piloto, a gente deve trabalhar só com o SUS, mas, eventualmente, a idéia é que todos os estabelecimentos sejam cadastrados. Cadastro de profissionais de saúde que já foi iniciado também.Também já está sendo feito em correlação com o cadastro de estabelecimentos.A idéia é ver um médico em um município e ver qual é a produtividade dele, o tipo de atendimento e quais são os médicos que fazem. É mais uma avaliação e uma possibilidade de avaliação mesmo, de capacidade e de produção que, hoje em dia, a gente às vezes fala: “olha, tal município produz pouco, mas a gente não se prende muito em saber se ele tem capacidade de aumentar essa produção ou não tem, em qual é a restrição específica, até porque, a gente não sabe qual é a disponibilidade de recursos humanos que tem lá”. A idéia é ter um cadastro de profissionais de saúde, o cadastro de eventos que são todos os procedimentos realizados. Ele possibilitará melhor integração das bases de dados a partir do número único e já tem esse espaço para o número único, por exemplo, no SIM, no SINASC SISTEMA NACIONAL DE NASCIDOS VIVOS, e no SINAN; o SIH deverá estar fazendo agora e o próprio sistema de cartão deverá identificar todas as consultas ambulatoriais que forem realizadas para serem identificadas. Dá para trabalhar com isso também. Vai possibilitar melhor planejamento, avaliação, controle; nós vamos parar de trabalhar com média. Em vez de falar que cada habitante daquele município teve três consultas no ano, falaremos que os habitantes daquele município do Bairro tal tiveram dez e os habitantes do bairro tal tiveram nenhum. Como é que a gente faz até a locação de recursos para construção de unidades e todo esse tipo de coisa? Ele vai possibilitar pela identificação da pessoa. Então, no cadastro de usuários, além do número do cartão SUS, ele vai contemplar o nome completo da pessoa, data de nascimento, sexo, o nome completo da mãe, que é sempre um diferencial no caso de homônimos, naturalidade, endereço, escolaridade, raça, cor, ocupação e atividade econômica, do jeito que está colocado agora nesta portaria de compatibilização que a gente está trabalhando, mas que, provavelmente, deverá ser revista. Já tem uma solicitação para a CONCLA – COMISSÃO NACIONAL DE 72 CLASSIFICAÇÃO para rever a CBO - CADASTRO BRASILEIRO DE OCUPAÇÃO, pelo menos para ver se fica mais fácil trabalhar com ela e tem uma maior adesão a isso como uma variável preenchida, um campo bem preenchido. Então, o cadastro de profissionais tem o número do cartão do profissional, o nome completo, a categoria profissional, o número do registro em conselho, a categoria funcional ou especialidade. Isso ainda está sendo discutido, então tem algumas coisas que estão sendo mudadas, mas a idéia é que se tenha isso sobre o profissional que atende. Cadastro de estabelecimento: número do CGC, nome completo, razão social, endereço e tipo de estabelecimento. Em cada evento, então assim: cada vez, uma consulta ambulatorial, um exame de sangue, qualquer que seja o procedimento realizado na rede, a idéia que a gente tenha: qual é o número do cartão daquele usuário, qual é o número do estabelecimento e o número do profissional. Então, com esses três dados, que são a chave desse banco de eventos, a gente correlaciona com os demais cadastros. Na verdade, se alguém for tirar sangue em determinado lugar, o que a gente vai ter de dados? A partir dos registros de evento, que depois têm diagnóstico, procedimento, encaminhamento, medicamento prescrito, deficiência funcional em conseqüência de: deficiência funcional foi feito um código específico que a gente descobriu que não conseguia trabalhar com nada, com nenhuma das classificações anteriores. Foi feito uma tabelinha muito simples que é combinatória e a idéia aí é pegar diversas restrições funcionais mesmo; então, se a pessoa tem alguma seqüela, por exemplo, ela tem uma deficiência funcional de membro inferiores, uma paralisia de membros inferiores em conseqüência de um trauma de acidente de trabalho, um trauma de trânsito. O que foi? É congênito, espinha bífida? O que houve? A idéia é ver a prevalência disso em cada uma dessas coisas porque, na verdade, embora tenha havido algumas tentativas de ver qual é a prevalência de deficientes no Brasil, é muito difícil a gente pegar por procedimento porque muita gente, alguns deles vão três vezes no mesmo estabelecimento, outros não vão em nenhum. Para a gente coletar os dados como a gente vinha coletando não dava certo; tem que estar correlacionado com cadastro de pessoas para a gente ver qual é a prevalência disso, então a gente achou que aí seria o lugar ideal para começar a coletar esses dados e ver o que acontece. Então, a idéia é a seguinte: mesmo que esse evento seja um exame de sangue, a gente vai saber tudo: o nome da pessoa, onde é que ela mora, raça, cor, qual a unidade, qual a característica da unidade, qual o profissional que foi responsável, qual a característica do profissional. Além de ter todas as características do evento, também... então, assim... Claro que todo esse sistema de cartão está protegido por uma série de questões éticas. Nós temos trabalhado com o conselho federal de medicina e com o conselho nacional de saúde para o estabelecimento dessas normas éticas e ver o que a gente faz em termos de lei, até para a proteção disso aí, porque vai ser meio invasivo na vida da pessoa e em termos de informática também tem sido muito trabalhada a questão do sigilo, da proteção da... dificultar ao máximo que se chegue à identificação específica que seria o nome, o endereço, etc, mas que a gente possa trabalhar o máximo em termos estatísticos com esses outros dados, com essas outras variáveis. Eu queria parar aqui agora até porque eu acho que fico falando muito e vai ficando muito chato e me coloco à disposição para responder às perguntas que vocês, eventualmente, possam ter. 73 74 Comentários Profa. Dra. Vilma Souza Santana B em, bom dia para todos. Como todos os demais convidados, eu agradeço muito o convite que foi feito pelo Celso, e também toda a boa acolhida que nós vimos recebendo aqui em São Paulo para a participação desse evento. Acho que este seminário é de natureza histórica, no sentido de que está desencadeando não apenas mais uma discussão, mas também a apresentação de compromissos, motivações e propostas, bastante determinadas, de se superar problemas, que todos nós já estamos cansados de conhecer e de nos indignarmos. Mas que constatamos, infelizmente, que ainda não caminhamos muito na perspectiva de fornecer estatísticas com o nível de correção que leve à segurança no uso desses dados por gestores e pesquisadores. E como ontem o Luiz Armando também comentou, o fato de não termos tido acesso aos trabalhos que seriam apresentados, dificultou a elaboração de um comentário mais específico. Então, eu encadeei algumas coisas mais gerais, que talvez possam constituir uma contribuição para esta discussão. Para vocês compreenderem um pouco dos possíveis vieses da minha fala, eu sou médica, e venho trabalhando por muito tempo com Epidemiologia. Inicialmente, voltei-me mais para o estudo das doenças mentais, pois minha formação foi em Psiquiatria. Mas, a partir dos finais dos anos 80, eu comecei a me interessar pelas questões das relações entre trabalho e saúde mental. Ao concluir o meu doutorado, eu resolvi passar de “mala e cuia”, como se diz na Bahia, para a área de saúde do trabalhador, que me parece um campo extremamente fascinante, instigante e desafiador. Isto porque se parte de um princípio de que tudo o que acontece em relação a saúde e que é causado pelo trabalho, é potencialmente previsível. E mais, de que já existe um conhecimento estabelecido sobre o papel causal de vários agentes, de medidas de prevenção, e também de promoção da saúde do trabalhador.Todavia, este é um campo onde há muito por ser feito, e muito por ser feito com mais efetividade. Daí que eu passei, como professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, a trabalhar com estudos epidemiológicos na área de saúde do trabalhador. Começando os meus comentários, eu gostaria de retomar um ponto, que eu acho central em todas as discussões que a gente traçou até aqui, a partir das apresentações que foram feitas. Este primeiro ponto é de que a informação é uma questão central, especifica- mente, para a vigilância a saúde e, obviamente, para a vigilância da saúde do trabalhador. E, além do mais, para que essa informação seja viva e legítima, é necessário que seja uma informação voltada para a ação. Ou seja, a gente não quer somente uma informação para que fique disponível na Internet, ou para virar papel em fundo de gaveta. Além disso, para que essa informação seja efetiva ou útil para a ação, ela tem que ter algumas características: distintamente, por exemplo, da pesquisa, a informação para a tomada de decisões precisa ser rápida, ela não pode estar delimitada por grandes discussões, limitações, críticas ou incertezas, diferentemente do campo da produção de conhecimentos. Se eu, por exemplo, faço uma pesquisa e digo: “olha, eu encontrei uma incidência anual de acidentes de 5%, mas que pode variar entre 2% e 9%, e que isso vai depender deste ou daquele viés”,... do ponto de vista da produção do conhecimento, poderia publicar o meu trabalho, e este até seria bem acolhido pelos meus pares acadêmicos, por conta do rigor técnico. Mas do ponto de vista do gestor, ele não está muito interessado em certos detalhes, que ele consideraria – vamos dizer assim – cosméticos, secundárias. Ele quer saber de fato, quanto é, ou qual a magnitude do problema, quais são os grupos de risco e o que é que eles precisam fazer em termos de definição de programas e ações, alocação de recursos, etc., Muitas vezes, estas decisões são “para ontem”. Todavia, muitas das informações que geramos encontram-se tão eivadas de detalhes técnicos, que intimidam ou impedem que os gestores as utilizem. Bem, quanto a esses modelos de sistemas de informação que nós vimos tão interessantemente apresentados aqui, acho que embora estejam todos muito bem estruturados em seus próprios âmbitos internos, expressaram uma certa fragmentação das atuações entre as diversas instituições. Eu perguntaria, e isso vale como uma provocação para discussão, tanto pelo plenário como pelos apresentadores, qual seria o modelo de vigilância à saúde que está sendo empregado, que está subjacente em todas essas diferentes abordagens de produção de informação? Quem é que está alimentando o sistema, que sistema ou quais sistemas existem, e como esses sistemas estão dialogando entre si? A Déa apresentou muito bem o desenvolvimento da construção de mecanismos de “linkagem” ou de diálogo entre os diversos sistemas de informação do Ministério da Saúde, mas o Ministério do Trabalho também 75 está produzindo informações. Assim posto, como é que poderemos trabalhar no sentido desta integração? A universidade também tem centros e núcleos de pesquisas que estão produzindo informações. Como é que podemos pensar em começar a construir esta integração das diversas instituições, ou melhor, dessas diversas informações? E não somente em termos da informação, mas também do modo como tudo isso vai poder adquirir ou integrar uma racionalidade, que permita a sua utilização, tanto pelo gestor como pelos pesquisadores? Então, esta é uma pergunta que eu coloco: qual é o modelo de vigilância à saúde do trabalhador com o qual a gente está trabalhando, ou de qual modelo a gente está falando? Uma das coisas que... ou melhor, duas coisas que eu acho que são aspectos básicos para a gente compreender esse conjunto de informações e de sistemas de informação, têm a ver com a complexidade e a ineficiência. Em termos de complexidade, eu alinharia, como já mencionei anteriormente, o problema devido a que as diversas instituições envolvidas muitas vezes competem entre si, e muitas vezes, as informações têm até mesmo finalidades cujos interesses subjacentes são antagônicos. Estas são, ao meu ver, as principais razões para a ineficiência do(s) sistema(s) havendo portanto, a necessidade de uma melhor classificação, de explicitação, ou de compreensão das relações entre o fluxo de informações, especialmente no que toca aos processos de alimentação dos sistemas. Eu também não sei em que medida a gente vai poder continuar pensando apenas na unificação do sistema de informação em saúde do trabalhador, desde que está mais do que patente, que a maioria dos nossos trabalhadores não está coberta pelo sistema previdenciário, como bem apresentou a Ana e outras pessoas que mostraram seus trabalhos aqui. Especificando, mesmo que os sistemas de informação existentes se integrem, ainda assim, estarão de fora os trabalhadores do setor de economia informal, que representam uma enorme quantidade de trabalhadores. Isto sem considerar as donas de casa, que são também trabalhadoras, que estão também sujeitas a riscos no trabalho, mas que a gente ainda continua a recusar a sua posição social de trabalhadoras, a demarcar a invisibilidade deste segmento, que é bastante significativo. E qual seria a solução para isto? Obviamente, isso implica numa outra coisa, que está para além do sistema de informações, mas que também é dever do Estado, do próprio sistema jurídico, que é o de regular, de proteger, e de promover a saúde desses segmentos excluídos, até mesmo das estatísticas. Isto porque, o atual sistema de legislação entra em efeito apenas quando existe um conflito entre partes: patrão e empregado. Quando nós estamos falando do trabalhador por conta própria ou do trabalhador do setor infor76 mal, como não existe em tese, o conflito entre partes, a legislação não se aplica. Por exemplo, se um trabalhador de uma oficina mecânica de fundo de quintal, ao abrir o radiador de um carro, sofre queimaduras graves, pelo fato de não ter carteira, e não se configurar um conflito entre partes, ele se encontrará à mercê de sua sorte. Há uma conta, mas de quem é a responsabilidade por esta conta? Tanto do tratamento, como do afastamento, possível incapacidade e de suas implicações para a família? Eu e minha equipe estamos fazendo um estudo sobre acidentes, lá em Salvador, com base em uma amostra populacional, e estamos vendo algumas situações extremamente dramáticas, de família inteiras que se desestruturam no momento em que acontecem acidentes, por exemplo com pais de família, porque quando isto ocorre, ele fica à mercê da caridade pública; completamente desassistidos, e muitas vezes é o filho que deixa de estudar para ir trabalhar, que passa então a cumprir o papel do pai, e desse modo, há toda uma série de impactos, de implicações sociais muito graves e para as quais a gente ainda não abriu os olhos devidamente. Eu acho que essa é uma questão que a gente vai precisar considerar urgentemente, e me parece que, nessa perspectiva, o SUS deveria começar a atuar mais, a ter maior responsabilidade. Isto porque, como o SUS, pela sua própria natureza, abrange 100% da população, é, portanto, universal. Assim é o SUS, que poderia gerar dados para todo o universo de trabalhadores. Infelizmente, parece que o SUS não está aqui representado, pois a Jacinta não pode comparecer. A Déa falou bastante sobre estes aspectos, mas eu senti muita falta da Jacinta aqui hoje. Além da complexidade, um outro ponto a que eu gostaria de me referir para esse conjunto de sistemas de informação, é a ineficiência, que já foi mencionada e reconhecida por todos, mas que eu gostaria novamente de retomar que é a questão da subnotificação. A subnotificação traz para a gente um problema muito grande, porque quando há sub-registro deixa de haver uma representatividade, não somente quantitativa, mas também qualitativa. No sentido de que a gente deixa de saber qual é o retrato que está sendo representado naquele conjunto de dados, porque não sabemos quem ficou de fora. Obviamente, muitas vezes a gente começa assumindo que o grupo que ficou de fora, teve a sua exclusão decorrente do acaso, ou seja, sem nenhuma determinação. O fato ocorreu simplesmente ao acaso, e os excluídos se parecem com aqueles que entraram para o sistema de informações. Mas a gente sabe que, de fato, quem ficou de fora, assim permaneceu por certas determinações. E se existem essas determinações, vamos estar trabalhando com um retrato bastante distorcido da realidade. Além da subnotificação, a gente tem também a má qualidade do registro, que também já foi falada aqui em prosa e verso por todos. Dentro dessa má qualidade do registro, eu ressaltaria uma questão que eu acho fundamental, que é a falta de utilização de uma classificação de ocupação padronizada. A gente que trabalha em pesquisa, vê que em alguns países existem sistemas de classificação e codificação da ocupação, cujos códigos remetem a categorias homogêneas de risco, também já classificadas. Isto facilita bastante a construção de denominadores, de que tanto falava o Luiz Armando ontem, e que ainda não temos disponibilizado de uma forma confiável e abrangente. Um outro problema é a quantidade de ocupações que, geralmente, advém de registros “abertos”. Nesses registros abertos, a multiplicidade de formas de redação para a mesma ocupação leva a um enorme trabalho de codificação em programação computacional. Por exemplo, se você trabalha como auxiliar administrativo, que é uma ocupação, e você digita aux. adm., e um outro vem e registra a. adm., este já será um outro registro. Então, além da padronização, é preciso que se faça algum tipo de codificação de entrada para facilitar a análise. Um exemplo disso, recentemente, uma de minhas alunas do mestrado, que acabou de fazer um trabalho de avaliação de impacto nutricional do PAT, em Salvador, com uma amostra de 8400 trabalhadores, teve que digitar cerca de quatro mil vezes, o que quer dizer, quatro mil linhas no programa, para recodificar a variável ocupação por causa dessa multiplicidade de registros. Uma outra questão é que, em que pesem os avanços, principalmente pelo lado do Ministério da Saúde de disponibilizar rapidamente as informações – cerca de dois meses, eu acho – muitos dados ainda demoram para chegar a todos os sistemas. A razão para tal pode estar na própria motivação do pessoal que produz a informação, no momento mesmo em que a informação é gerada. Por exemplo, ontem eu estava conversando com o Paulo Conceição do CESAT/BAHIA, e ele estava me dizendo que a CAT ainda continua sendo algo bastante difícil, duro, chato de preencher. Há muitas queixas relativas ao seu preenchimento que é um processo complexo e muito difícil. Será que o SUS não poderia ter a responsabilidade de desenvolver algum tipo de instrumento mais rápido, menos complexo e com menos burocracia, e que pudesse envolver uma checagem ou inspeção da qualidade do preenchimento imediata, na própria origem da informação? Os limites de integração com outras bases de dados constituem um outro problema, que foi aqui extensivamente apresentado por Déa, que trouxe como contri- buição, algumas formas de superação, que me pareceram muito simpáticas. Mas eu questionaria o seguinte: será que o cartão do SUS vai cobrir 100% da população, considerando que, talvez, 20% da população não utiliza o SUS? Será que a gente não poderia pensar em - obviamente, ninguém vai inventar a roda aqui embaixo do Equador, mas ver as experiências bem sucedidas de outros países - um número de identificação único que vem sendo utilizado, e que é empregado para a integração de diferentes sistemas? Um outro ponto que me parece crucial na discussão é algo que muitas das apresentações também já focalizaram, é a questão dos avanços no aperfeiçoamento dos próprios sistemas per se, que me pareceram bastante pertinentes, legítimos, e têm todo o meu apoio. Todavia, existe uma questão que se apresenta antes mesmo da produção da informação, que me parece importante mencionar: é a questão da falta de motivação do pessoal que cuida da entrada de dados, do registro dos dados, essencial para a produção da informação, insumo que é fundamental para qualquer sistema de informação (mostrando transparências). Existe também o grau de vulnerabilidade do sistema, que é também, obviamente, relacionado com algumas questões macroestruturais, como por exemplo, algo que a gente ainda não falou aqui. Por exemplo, como a privatização do seguro acidente de trabalho vai afetar o registro ou a motivação das pessoas ao nível do registro dos acidentes? Em seguida, gostaria de apresentar aqui alguns indicadores estatísticos que podem ser empregados para a avaliação da efetividade dos sistemas, como por exemplo, a proporção de pessoas e agências que efetivamente participam, a proporção de registros (notificações) completados, de recusas, cobertura e proporção de médicos especialistas, de laboratórios, ambulatórios e hospitais que participam e que podem ser utilizados para gerar dados indicativos também da aceitabilidade do sistema; enquanto que, os fatores determinantes da aceitabilidade, que tem a ver com essa motivação de que falávamos, envolveria desde a importância para a saúde pública percebida pelos profissionais de saúde, como também o nível de consciência da população, dos profissionais de saúde, dos trabalhadores, empresários, etc., para o registro dos dados. Além disso, vale notar a importância que tem para a efetividade do sistema o reconhecimento pelo que se dá para a contribuição individual, ou seja, o indivíduo, em uma perspectiva de integração em nível individual, e também a capacidade do sistema em dar respostas efetivas e imediatas; o tempo consumido em função do tempo disponível para o registro; uma legislação que ga77 ranta a confidencialidade; uma legislação que regule a obrigatoriedade do registro; e ações direcionadas para eliminar o estigma relacionado com a informação – i.e., a gente sabe que muitas vezes o próprio trabalhador se recusa, solicitando ao médico que o acidente não seja registrado, de modo que ele não fique “marcado”, e, conseqüentemente, não seja discriminado em seguida, especialmente para o acesso ao emprego formal; e ainda a falta de clareza de responsabilidades e de instruções normativas que ainda existem, em que pese a existência de alguns manuais. Como a gente sabe que existe um dinamismo muito grande nos sistemas, o nível de esclarecimento de responsabilidade das instituições nem sempre é de amplo conhecimento como foi falado ontem, inclusive, sobre o fato de que muitos médicos se recusam a preencher a notificação, alegando a preocupação com implicações criminais ou jurídicas em relação ao exercício profissional. Ou seja, em resumo, isto tudo conforma a falta de incentivos e a existência de muitos “(des) incentivos”. Do ponto de vista de uma usuária dessas informações, como eu sou, para os dados desses sistemas de informação, eu recomendaria alguns pontos bastante gerais: 1) um maior diálogo entre as bases de dados, através da maior integração entre eles, tomando como referência básica o SUS, na medida em que este é de cobertura universal; 2) apoio à capacitação dos profissionais de saúde no manejo dessas bases de dados (uma maior utilização de CD ROM seria muito bem vinda). 3) maior capacitação e incentivo no uso e manejo de múltiplas fontes de dados. Quanto a isto, é surpreendente que em epidemiologia, apesar da grande freqüência com que pesquisadores usam, sem nenhuma cerimônia, múltiplas fontes de dados, inclusive fazendo estimações, obviamente assumindo certos pressupostos, como na Suécia, Finlândia, Estados Unidos, a gente aqui no Brasil se comporta muito timidamente na utilização simultânea e combinada dessas múltiplas fontes de dados. Existem, inclusive, alguns métodos, a esta altura já consagrados, chamados “métodos de captura e recaptura” que precisam ser mais divulgados. Eles podem permitir a estimativa de sub-registros de uma base de dados em relação a outra, através de estudos de superposições e diferenças de cobertura entre as diversas bases de dados. Uma outra questão seria a necessidade de complementação das informações desse sistema, cujos dados, em geral, provêm de bases de registros administrativos, que poderia ser feita com dados gerados em pesquisas realizadas diretamente com a população, ou certos serviços, ou seja, com dados primários. O IBGE, por exemplo, complementa os dados do censo com pesquisas po78 pulacionais por amostragem de domicílios. Por que a gente também não poderia fazer pesquisas complementares às bases de dados nacionais existentes? Estas pesquisas, obviamente não necessitariam ser realizadas em todo o País, obviamente, mas obedeceria a uma lógica de aleatorização e de priorização de acordo com fatores e critérios populacionais, de morbidade, concentração de indústrias perigosas, etc. Seria possível assim, estabelecer o monitoramento do sub-registro de doenças ou acidentes, e, desse modo, os dados poderiam nos alertar e nos capacitar, nos habilitar para a estimativa de medidas corrigidas para a subnotificação. Na área de doenças infecciosas, por exemplo, já estão em curso, experiências de monitoramento, não apenas de eventos sentinela, mas o monitoramento de áreas sentinelas que são identificadas e utilizadas para o monitoramento. Isto é recomendado quando não se dispõe de dados completos para toda a população, e não há uma boa razão custo/benefício para o monitoramento integral de certas informações que podem ser obtidas mais rapidamente e a menor custo em áreas selecionadas. Existe também em epidemiologia, os chamados métodos de avaliação rápida, o “Rapid Assessment Methods”, que vêm sendo utilizados em epidemiologia e poderiam dar um suporte bastante fundamental e significativo, nessa perspectiva da vigilância de áreas sentinelas. Um outro ponto que me parece bastante importante, é que na área de mortalidade, e mesmo na área de doenças infecciosas, já se avançou bastante, mas nós ainda não dispomos disso, pelo menos ao meu conhecimento, na área de saúde do trabalhador, que é a atenção para a devolução da informação para consumidores e gestores. Acho isso fundamental, até mesmo para motivar as pessoas que participam na geração/produção do dado bruto. Isto poderia ser feito mediante a preparação de boletins informativos que poderiam ser mensais, bimestrais... Com isto, poder-se-ia divulgar as informações sistematicamente, da mesma forma, por exemplo, como são feitos e preparados dados de divulgação semanal em epidemiologia. Assim, a gente teria um instrumento que permitiria ao usuário entender que a informação que ele está prestando, o dado que é chato de preencher, vale alguma coisa e, para a qual ele tem acesso. Eu acho que essa seria uma medida simples e que pode ter uma repercussão significativa. Eu recebo alguns boletins do Amazonas e de Campinas que venho utilizando como recurso didático para os meus alunos de epidemiologia, porque são dados bastante sucintos e muito contundentes no sentido de apresentar, expressar e revelar a situação de saúde. Por fim, eu considero que seria importante nesses registros, a utilização de narrativas sobre o acidente.A gen- te tem visto que muitas vezes, é na narrativa do acidente e não no que está registrado na CAT, do modo como ela está formatada atualmente, com variáveis fechadas, campos fechados, etc., que é possível construir uma compreensão dos fatores causais, e, desse modo, podermos estabelecer medidas preventivas. Com o aumento da capacidade dos computadores, é possível se utilizar métodos e técnicas da análise de narrativas de modo bastante rápido. Isso, por exemplo, já está sendo feito nos Estados Unidos que estão utilizando narrativas na notificação do acidente de trabalho. Bem, essas são as palavras que eu tinha em resumo para apresentar e, mais uma vez, falar da minha alegria e satisfação em estar compartilhando esse momento com todos vocês. 79 80 Painel III Estatísticas sobre Doenças e Acidentes do Trabalho: questões gerais, técnicas de mensuração e construção de indicadores Coordenador: Marco Antônio Bussacos - FUNDACENTRO Estatísticas sobre doenças e acidentes do trabalho no Brasil: limites e possibilidades Dr. Celso Amorim Salim Acidentes de Trabalho: identificação e mensuração dos casos fatais Antonio Benedito Marangone Camargo Acidentes de trabalho em trabalhadores dos setores formal e informal da economia na RMSP Manoel Carlos S. A. Ribeiro Acidentes do trabalho como realidade trágica no trânsito: problemas, hipóteses e mensuração. David Duarte Lima Comentários Duval Magalhães Fernandes 81 82 Estatísticas sobre doenças e acidentes do trabalho no Brasil: limites e possibilidades Celso Amorim Salim Coordenador do PRODAT – CRMG/FUNDACENTRO Boa tarde a todos. E ste é um trabalho que ainda se encontra em fase de execução. Como tal, faz parte daqueles objetivos que nós apresentamos ontem. Em função disso, muitas das colocações que se seguem ainda não são conclusivas. No entanto, enquanto suporte para uma reflexão maior, serão colocadas como elementos para debates e discussões neste Seminário. Aqui nós estamos discutindo a relação entres fontes de informações. Basicamente, essas fontes se subdividem em dois grandes troncos: as originárias dos chamados registros administrativos e aquelas baseadas em levantamentos de base populacional. O nosso objetivo maior é contribuir para o debate acerca dos limites e possibilidades das estatísticas que cobrem os eventos globalmente relacionados às doenças e acidentes de trabalho, através de balanços críticos e de uma análise comparativa sobre as informações quantitativas disponíveis e oriundas de várias fontes de dados, independentemente de sua natureza ou finalidade imediata. Como há muita confusão acerca desse tema, a nossa discussão tem um caráter mais metodológico. Estratégia que julgamos importante na medida em que, ao nos chamar para um pensar coletivo, constitui, em si mesma, um verdadeiro ponto de partida para soluções mais concretas. Isso porque há, entre os especialistas, um certo consenso de que as estatísticas sobre os eventos que comprometem o quadro de saúde e segurança do trabalhador ainda são parciais e não representativas. Neste sentido, as principais questões remetem-se, invariavelmente, ao grau de cobertura e à qualidade intrínseca dos dados disponíveis. E mesmo que isso varie de uma base de dados para outra, no geral, esses limites persistem. De qualquer forma, é patente que o caráter parcial e limitado se verifica em razão da má cobertura, subnotificações e/ou deficiências cadastrais. Ademais, gerados em contextos institucionais distintos, esses dados, a par de se situarem em bases de dados corporativos não intercambiáveis, ainda não são devidamente explorados quanto às possibilidades cognitivas ou mesmo quanto às condições técnicas de sua disseminação sob dois aspectos: primeiro, de forma seletiva, para fins de planejamento e gerenciamento de ações; segundo, de forma ampla, para fins de informação aos diversos segmentos da sociedade. Sob forma de balanço, selecionamos alguns dos principais problemas encontrados nessas fontes, se administrativas ou não, independentemente de qualquer ordem de prioridade na seqüência de sua apresentação. Vejamos: é público e notório a subnumeração e a falta de integração dos órgãos que detêm informações sobre a relação saúde – trabalho. Infelizmente, a Dra Jacinta de Fátima, Coordenadora Nacional de Saúde do Trabalhador, não compareceu aqui hoje, apesar de estar confirmada a sua presença, para discutirmos com mais acuidade essa questão. Afinal, trata-se de uma questão muito atrelada às informações do Ministério da Saúde, ou às suas relações externas nesta área. No caso das informações atreladas à CAT e aos benefícios previdenciários, o problema é que tais informações resumem-se, via de regra, a indicadores mínimos e de cunho burocrático sobre o quadro de acidentes típicos e de trajeto, incapacidades permanentes ou temporárias e mortes provocadas. No geral, cobrindo os trabalhadores registrados, excluem uma grande maioria de trabalhadores rurais do País e, o que é pior, um contingente crescente de trabalhadores do setor informal urbano; setor esse que, enraizado ao processo generalizado de precarização das condições de trabalho, tem crescido celeremente. Portanto, cada vez mais, as estatísticas originárias da CAT se distanciam dessa realidade imediata. Em geral, as informações disponíveis, independentemente de suas origens, dificultam, por um lado, comparabilidades no transcurso do tempo ou mesmo em um único momento e, por outro, não permitem procedimentos essenciais como desagregação para os seguintes temas: a) exposições aos riscos associados às condições de trabalho - basicamente, referimo-nos, aqui, aos processos de trabalho e ambiente de trabalho; b) indicadores de proteção, prevenção e segurança do trabalho – uso de EPI, riscos no trabalho, medidas de segurança, etc.; c) perfis diferenciados das doenças ocupacionais e acidentes do trabalho. Aliás, as doenças ocupacionais propriamente ditas ficam um pouco à margem desse processo; dá-se muita ênfase em acidentes, sendo que, muitas vezes, esse conceito é confundido com acidentes típicos, e a quantificação das doenças ocupacionais aca83 ba sendo relegada a um segundo plano. Hoje uma importante questão foi aqui colocada. Diz respeito aos levantamentos de base populacional, quando foram discutidas algumas possibilidades de levantamento, especialmente através da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, e da Pesquisa de Emprego e Desemprego, da Fundação SEADE e DIEESE. Uma coisa é certa: o Dr.Luiz Armando Frias disse ontem que esse tipo de levantamento é um perfil, é um retrato, e de nada adiantam levantamentos apenas com um ponto no tempo. Teríamos que ter sempre a possibilidade de fazer as comparações. Portanto, seriam necessários, pelo menos, dois momentos no tempo para que essas estatísticas revertam-se de algum valor. Em termos de material e método, adotamos alguns procedimentos para a análise dessas bases. Um seria o diagnóstico exaustivo das informações de diferentes bases de dados e registros administrativos – aquilo que os estatísticos gostam de chamar de análise covariada ou análise de consistência dos registros existentes. De fato, ainda não foi feita uma garimpagem dessas bases para saber o que existe e o que não existe, ou seja, a quantificação de campos mal preenchidos, a detecção das variáveis que têm um índice Y de não registro, a imputação de dados missing, etc. Esse trabalho ainda não foi feito, mas, programaticamente, lembramos que se constitui em uma das linhas de pesquisa do PRODAT. Sem dúvida, a discussão de formas de se compatibilizarem as informações das bases de dados distribuídas, as chamadas bases corporativas federais, constitui-se em um grande desafio. Essas bases foram distintamente concebidas ao longo do tempo e apresentam processos diferenciados de tratamento da informação, de modernização (nível tecnológico). Há toda uma discussão realizada pela RIPSA. Essa Rede teve um papel histórico importante ao, pioneiramente, chamar para si essa discussão. Todavia, entendemos que, se a RIPSA deu um primeiro e importante passo, muito há que se fazer, sobretudo no que tange às possíveis inter-relações entre as áreas Trabalho, Seguro e Previdência Social. Mais especificamente, na definição de parâmetros para uma disseminação mais acurada de estatísticas setoriais sobre o quadro de doenças e acidentes de trabalho no País. Quer dizer: temos aí um campo bastante vasto para trabalhar e isso fica bastante evidente, mesmo quando lemos os relatórios da RIPSA com a intenção de captar informações ou identificar problemas críticos. Assim, apesar do primeiro passo dado pela RIPSA, constata-se que ainda há muito que se fazer nessa direção. Isso nós estamos percebendo desde ontem, ao detectarmos que, nos dias de hoje, já no Século XXI, ainda não temos cla84 ramente um mapeamento dos problemas críticos dessas bases, sobretudo das bases de cunho administrativo de interesse à área de Saúde e Segurança no Trabalho. Bases, registre-se, que apresentam informações estatísticas não como fim, mas como uma de suas possibilidades, como um de seus subprodutos. Também é problemático e isso aí precisa ser bastante analisado: a definição de parâmetros para se construir indicadores métricos relacionados ao universo das doenças e acidentes de trabalho; não há consenso nenhum quanto às alternativas para se definir os indicadores utilizados para calcular coeficientes ou taxas de acidentes do trabalho. Por exemplo: o que seria numerador, denominador, população exposta ao risco, etc. Isso sem contar que há problemas diversos enraizados nas principais bases. A exemplo da RIPSA, seria pertinente formular um mínimo de proposições com as seguintes finalidades: a “consensualização e compatibilização” de bases de dados afins e o desenvolvimento de conceitos e metodologias aplicáveis tanto à notificação de casos de doenças e acidentes como às informações sobre os riscos à saúde do trabalhador. Alguns críticos mais ácidos dizem que nós estamos muito bem resolvidos na parte instrumental, ou seja, de infra-estrutura em Informática. Nós temos hoje programas sofisticados, temos uma roupagem muito bonita para um conteúdo que nem sempre corresponde a essa formalização, a essa roupagem. Quer dizer: nós temos um problema sério de conteúdo. E esse fato marcante vai, evidentemente, dificultando a obtenção, a concretização de proposições como essas, voltadas para a compatibilização, para a integração interbases, etc. Também é mister desenvolver manuais, discutir mais a questão conceitual, as metodologias aplicáveis, tanto na notificação de casos de doenças e acidentes como naquelas informações as quais me referi anteriormente sobre os riscos à saúde do trabalhador. E isso é ainda mais problemático. A seguir, apresentamos um diagnóstico sobre as principais bases de dados remetidas à relação saúde-trabalho. Na verdade, rigorosamente, não seria um diagnóstico, pois se tratam de resultados preliminares de um trabalho em andamento. Melhor, então, seria falarmos de levantamento prévio da situação atual. Neste sentido, pegamos alguns elementos de algumas bases e destacamos alguns limites e possibilidades das mesmas. Sendo assim, e lembrando que há muito que se fazer com este tema, destacamos os seguintes aspectos, segundo a distribuição das bases pelos seus respectivos raios de abrangência na esfera federal: Ministério do Trabalho e Emprego ● Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED – registra dados sobre os fluxos mensais de admissões e demissões de celetistas; ● Relação Anual de Informações Sociais - RAIS – cobre cerca de 90% das empresas e engloba trabalhadores celetistas e estatutários, mas deficiente nos setores da construção civil e agropecuária. Problema com o período de referência: dados dos empregados em 31 de dezembro. Alguns pesquisadores já destacaram os limites de se trabalhar com esses dados enquanto indicador de denominador, como a Bernadette Waldvogel, da Fundação SEADE; ● Sistema Federal de Inspeção do Trabalho – SFIT – suporta-se na RAIS e informações da área de fiscalização; possibilita avaliar riscos ao trabalhador, por setor de atividade econômica. Limitações: concebido para uso interno; não dissemina suas informações.Tende a trabalhar com informações em um nível de agregação elevado, o que impossibilita desagregações em níveis mais específicos, ou melhor, esse tipo de informação não está disponível. Ministério da Previdência e Assistência Social: ● Sistema Único de Benefícios – SUB – basicamente relacionado à Comunicação de Acidentes do Trabalho – CAT e aos respectivos benefícios acidentários; ● Sistema CAT/SUB – concentra-se em acidentes traumáticos e possui pouca informação sobre doenças ocupacionais. A digitação da CID não era obrigatória; para “Ocupação”, adota a CBO; para o setor de atividade, a CNAE. Hoje, a obrigatoriedade desses campos possibilita alguma análise retrospectiva, mas de qualquer forma esses limites existiam até pouco atrás, o que, sem dúvida, compromete a construção de séries históricas, etc. Vale lembrar que os dados do MPAS sobre acidentes de trabalho fatais dizem respeito aos “processos abertos e liquidados”, ou seja, não se referem ao ano/período de ocorrência do evento. Ministério da Saúde: ● Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM – com cobertura nacional, vem apresentando baixos índices de preenchimento do campo que caracteriza acidente de trabalho. Isso já foi demonstrado pela Déa Carvalho, em um de seus trabalhos publicados no Boletim Epidemiológico. O Roberto Men, com muita propriedade, nos mostrou ainda os problemas na codificação da causa básica, de grande freqüência de óbitos com causas mal definidas e de alta subnotificação em certas regiões. Aliás, a diferenciação é muito grande no plano regional. Apenas em Minas Gerais, por exemplo, temos não apenas indicadores com qualidade diferenciada, como padrões distintos de mortalidade do ponto de vista demográfico; ● Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA/SUS – aplicável à gestão de serviços; faculta indicadores de cobertura; não individualiza procedimentos, dificultando registros de acidentes do trabalho, cujo atendimento, via de regra, é genericamente caracterizado como emergência.Aqui destacamos que os dados que o José Américo Serafim nos apresentou são, por si mesmos, bastante eloqüentes, ou seja, em média, os registros de acidentes de trabalho nesse Sistema representam menos de 0,5% do total. Para o Luiz Armando Frias, esse índice, além de problemático, não serviria sequer para estabelecer um plano amostral para uma análise mais efetiva; ● Sistema de Informações Hospitalares – SIH/SUS – tem fins contábeis, não faz registros longitudinais sobre a saúde do indivíduo. Em 1997, o campo “Caráter da Internação” da AIH passou a incorporar, mesmo omitindo a “ocupação”, informações sobre acidentes do trabalho típico e de trajeto – esses, no geral, são caracterizados como urgência/emergência. Portanto, seus números também apresentam problemas quanto à efetividade dos registros de acidentes do trabalho; ● Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação – SINAN – concebido para as doenças transmissíveis encontra-se em reformulação, devendo incorporar outras variáveis. Por enquanto, não nos foi possível analisá-lo com mais acuidade, estabelecendo possíveis relações de suas informações com a questão das condições de trabalho; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: ● Censos e Contagens Populacionais – as informações sócio-demográficas do IBGE foram muito exploradas aqui e, por isso, não vou me alongar muito sobre o assunto. O Censo de 1991 fornece, entre outras, informações desagregadas por ocupação, em nível municipal; a Contagem Populacional, de 1996, as exclui. Apesar de termos censos com regularidade decenal, houve um atraso no censo de 1990, quando foi realizado em 1991. De qualquer forma, o nosso Censo Demográfico tem um alto padrão técnico e grandes possibilidades no campo da pesquisa, ao ofertar um vasto elenco de variáveis realmente importantes no nosso campo de trabalho. Infelizmente, isso não tem sido muito explorado; ● Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 85 PNAD – informações anuais sobre trabalho e rendimento, por ocupação e posição na ocupação, desagregando-as por UF.Trata-se de uma pesquisa importante, como vimos anteriormente. No caso de uma pesquisa domiciliar em nível nacional, a PNAD, mesmo com os limites que foram apresentados – região Norte, área rural etc. – é um veículo estratégico, uma vez que poderia, por exemplo, ter um anexo que permitiria, com o apoio dos diversos postos do IBGE e de seus setores censitário, uma investigação objetiva sobre as condições de saúde e segurança no trabalho. ● Pesquisa Mensal de Emprego – PME – apresenta informações sobre emprego e desemprego relativas às regiões metropolitanas. Possibilita análises tópicas sobre o setor informal do mercado de trabalho.A propósito, com metodologia e definições diferentes, temos, ainda, a Pesquisa de Emprego e Desemprego, da Fundação SEADE/DIEESE, que, igualmente, cobre as regiões metropolitanas. Ambas, guardadas suas particularidades, possibilitam um leque cruzamento de informações muito rico; seriam bons veículos, por exemplo, para um anexo para se analisar objetivamente as condições de saúde e segurança no trabalho. Mas não teriam abrangência nacional. Suas informações são ricas e quem tiver oportunidade de consultá-las vai poder constatar isso. Enfim, esse seria um diagnóstico baseado em alguns aspectos previamente selecionados; aspectos que resumem questões que, de alguma forma, me parecem consensuais. Todavia, esse diagnóstico vem muito em cima de uma análise de situação, a partir de pontos específicos. Por isso, sem a intenção de alongar muito, afirmaríamos que, em termos gerais, a conclusão maior a que chegamos poderia assim ser resumida: é patente a inexistência de um sistema de informação encarregado do registro dos eventos e ordenamento dos fluxos em termos de coleta, tratamento e disseminação de estatísticas diversas no campo da saúde e segurança do trabalho. Neste particular, uma solução maior seria possível desde que fosse fruto de vontade política. Afinal, temos vários exemplos de sistemas eficientes e eficazes, como a Receita Federal, o Serviço de Proteção ao Crédito, o SERASA etc. Com relação às condições de trabalho, à situação do trabalhador, essa situação é complicada. Por quê? É claro que temos problemas com relação às bases de dados. Alguns são mais sérios, outros não. Todavia, não temos problemas em termos de resolução via meios informáticos, etc. Deste modo, em termos técnicos, o problema mais sério então se relacionaria, antes de tudo, à melhoria dos dados básicos e, posteriormente, à definição dos indicadores, ao conhecimento da freqüência total dos eventos, à correção de numeradores normalmente subestimados e das falhas ou erros re86 lacionados à população efetivamente exposta ao risco. Afinal, que população é essa? Seria efetivamente toda a população ocupada? Como é que ficaria o trabalho informal crescente e que está às nossas vistas? Obviamente, o crescimento do setor informal não é vegetativo em sentido estrito; ele se dá também em função de depuração do setor formal que transfere, que amplia, via encurtamento do próprio setor formal. E isso tem que ser considerado na construção de novos indicadores. Para a ABRASCO, e nós temos representantes dela aqui, pelo menos dois problemas imediatos ainda se impõem: primeiro, a incompatibilidade operativa de alguns sistemas de informação e dificuldades diferenciadas de acesso aos bancos de dados existentes; segundo, os conhecimentos disponíveis não nos permitem avaliar quantitativa e qualitativamente – importante: nós não podemos nos ater apenas ao quantitativo – a necessidade, adequação e efetividade dos serviços na área de saúde e segurança do trabalho. Vale dizer: não temos estatísticas suficientes para elaborar políticas preventivas mais efetivas nesse campo. Situação que, mais que um limite, traduz-se como um verdadeiro obstáculo. Hoje nós teríamos uma apresentação da Dra. Jacinta de Fátima sobre esse assunto. De qualquer forma, eu tive a felicidade de reter alguns itens relacionados ao seu tema, a partir de registros e relatórios da RIPSA. Para o Comitê Temático “Saúde, Seguro e Trabalho” da RIPSA, a partir da definição de um conjunto de dados mínimos a serem padronizados em nível do indivíduo ou eventos, seriam exeqüíveis quatro recomendações básicas que, por sua vez, possibilitariam resultados imediatos em termos de melhoria das informações disponíveis. Vejamos: ● nos indicadores cujo denominador é a população trabalhadora, a adoção do conceito demográfico de “população ocupada” do IBGE, ou seja, a população economicamente ativa efetivamente ocupada, abrangendo os setores formal e informal do mercado de trabalho, ou seja, a população total exposta a riscos no trabalho; ● para todos os sistemas ou bases de dados, quando da notificação ou coleta, a inclusão do código da Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, no segundo nível de agregação – i.é, dois dígitos. Não há problemas nessa ordem de classificação das atividades por ramo de atividades; há níveis bastante distintos de indexação. E esse procedimento já implicaria em importante avanço; ● à semelhança do SIH/SUS, a introdução para os demais sistemas ou bases de dados no Setor Saúde quesitos para o registro dos acidentes – típico e de traje- to – e doenças do trabalho. Mas não esquecendo de cruzar isso com a ocupação, porque senão não teria sentido investir neste quesito, ou seja, a ocupação; ● nas informações geradas pela CAT, considerar obrigatório o campo referente à Classificação Internacional de Doenças – CID. Aliás, como já destacou a Teresa Maia, esse assunto já foi resolvido com o acréscimo de campos obrigatórios na digitação da CAT. Nessas condições, além de melhorarmos a recuperação das informações, teríamos, no plano tabular um leque maior de opções, especialmente no que diz respeito ao detalhamento das informações. Por conseguinte, seria possível rever, aprimorar e redimensionar indicadores básicos anuais, desagregados por regiões, unidade da federação – incluindo até o nível municipal - setor de atividade econômica, etc., como: ● incidência de acidentes típicos e de trajeto relacionados ao trabalho, segundo as categorias simples assistência médica, afastamentos inferiores ou superiores a 15 dias e incapacidade permanente; ● incidência de doenças ocupacionais, segundo as categorias anteriores.A propósito, hoje temos um crescimento exponencial das doenças ocupacionais que não se resume apenas ao setor formal, como evidenciam as estatísticas oficiais. No geral, as estatísticas acabam subestimando aquele crescimento que, hoje, como vimos, enraíza-se ao processo de precarização do trabalho; ● taxas de mortalidade por acidentes típicos e de trajeto; ● taxa de letalidade por acidentes de trabalho típico e de trajeto; ● mortalidade proporcional por acidentes de trabalho nas causas externas. Para efeito de reflexão, destacamos que, em tese, as taxas globais relativas aos acidentes ou doenças de trabalho, ou seja, com a inclusão do setor informal, seriam possíveis se a fonte do numerador fossem os dados referentes aos sistemas e bases de dados do Ministério da Saúde. Isso, é claro, desde que aqueles dados fossem melhorados em termos de conteúdo e grau de cobertura. Caso contrário, além da operacionalização das recomendações anteriores, dever-se-ia adotar o pressuposto – aliás, discutível – de que os trabalhadores informais estariam submetidos às mesmas taxas de risco dos trabalhadores formalmente registrados. Obviamente, as evidências imediatas criam dificuldades para a aceitação desse pressuposto.A hipótese mais razoável é que sendo piores as condições no setor informal, as taxas ali devem ser diferenciadas em função dessas condições. Para finalizar, destacamos, mais como proposições, al- gumas conclusões gerais. Vejamos: ● soluções direcionadas à efetiva integração de sistemas e bases de dados sobre a relação saúde-trabalho, deveriam envolver tanto a potencialização de recursos institucionais para a coleta, processamento, análise e crítica de dados, como a articulação interinstitucional; ● em nível operativo, isso implicaria, inclusive, na constituição de equipes multidisciplinares, trabalhando em perspectiva interdisciplinar. Isso é bastante importante, pois o problema não é estritamente estatístico. Não há, por exemplo, como trabalhar na melhoria desses dados sem aporte do pessoal da área médica; a questão da informática e da modelagem estatística nos parece menos problemática. Portanto, é preciso adotar uma visão interdisciplinar, envolvendo, até mesmo, aspectos como o conhecimento da dinâmica do próprio mercado de trabalho. Em nível micro, nós estamos tentando essa experiência em Minas Gerais; ● para tanto, também seriam necessários o desenvolvimento de condições materiais e o aperfeiçoamento do instrumental de cada base de dados e seus respectivos sistemas para se obter alternativa unificadora, ou seja, a comunicabilidade interbases; ● futuramente, buscar integrar tais informações através da estruturação dos diversos relatórios ou tabelas numa única plataforma, preferencialmente associada a um sistema ou rede de informações; ● cenário que, além de possibilitar a obtenção de estatísticas de melhor qualidade, com dados compatíveis e de fácil acesso, facultaria até mesmo a incorporação do georeferenciamento de dados, onde técnicas de geoprocessamento, pudessem, estrategicamente, viabilizar um poderoso instrumento para o planejamento e monitoramento de ações diversas voltadas à saúde do trabalhador. Em resumo, temos que pensar em alternativas convergentes. Foi apresentada hoje e aqui a alternativa do cartão de saúde. Há dúvidas, pois trata-se de uma experiência nova, ainda não implantada e com algumas discussões a respeito. Mas, apesar disso, não deixa de ser um indicativo, uma vez que possibilidade como essa pode vir a contribuir para uma alternativa unificadora dos dados, ao apontar para a amarração dos diversos eventos em nível do indivíduo. Sem dúvida, essa poderia ser uma das possibilidades. De qualquer forma, isso não impossibilita a busca de estruturação das informações, dos diversos relatórios ou mesmo tabelas, em uma única plataforma. Pode ser um pouco de sonho mas acreditamos que seria fundamental caminhar nessa direção. Aí sim, como estamos partindo do pressuposto que a questão não é tecnológica, seria possível viabilizar a hipóte87 se de se trabalhar em rede, convergindo, finalmente, as informações dos diversos sistemas que atuam na área. Como o tempo é curto e já esgotou, não podemos deixar de registrar que investimentos nessa área, por maior 88 que possam ser considerados, poderão resultar na consolidação de uma ferramenta poderosa de interesse maior, posto que muito poderá contribuir para intervenções em uma realidade que é dramática. Com isso, ganham o trabalhador, a sociedade e o País. Enfim, todos. Acidentes de Trabalho: identificação e mensuração dos casos fatais Antonio Benedito Marangone Camargo – Fundação SEADE B om, inicialmente eu gostaria de agradecer o convite para participar desse Seminário. Estou substituindo a Bernadette Waldvogel que, devido a problemas familiares, não pôde comparecer.Assim, eu espero poder apresentar alguns dos resultados do trabalho que ela desenvolveu na Fundação SEADE em convênio com a FUNDACENTRO, com informações de 1991 e 1992. Bom, nós trabalhamos na Fundação SEADE, na Gerência de Estudos Populacionais, mais especificamente, na Divisão de Indicadores Demográficos. A Divisão de Indicadores Demográficos responde por todas as estatísticas vitais do Estado onde nós recebemos mensalmente todas as informações dos Cartórios de Registro Civil. São mais ou menos os 850 cartórios existentes no Estado que mandam os dados mensalmente. Trabalhamos com um volume bastante grande de informações – cerca de 1.200.000 registros e, desse total, cerca de 750.000 correspondem aos nascimentos, 250.000 aos óbitos e óbitos fetais, e 200.000 aos casamentos. Todos os meses, nós recebemos essas informações, as processamos, consistimos e depois as colocamos à disposição dos mais diferentes usuários.Agora em novembro, por exemplo, nós estamos concluindo as estatísticas do trimestre – julho, agosto e setembro – para todos os municípios do Estado e os Distritos da Capital. Então, ao final desse mês, o terceiro trimestre do ano já vai estar disponível para os mais diferentes usuários. Bem, o trabalho que a Bernadette desenvolveu correspondeu ao período de 1991 e 1992 e se iniciou, em parte, com as informações que recebemos do Registro Civil referente à parte de mortalidade. Como o pessoal já destacou, na Declaração de Óbito existe um campo específico ao acidente de trabalho que, como se ressaltou, é bastante subnotificado, e não seria o suficiente para dar um panorama da mortalidade por acidente de trabalho aqui em São Paulo. Então, o que aconteceu? A Bernadette estava interessada em analisar os casos fatais de acidentes de trabalho típicos e de trajeto e, ao mesmo tempo, tinha como tema central analisar a mortalidade por acidente de trabalho no Estado de São Paulo, mensurando esses casos fatais e conhecendo um pouco de como são essas pessoas: quais as principais categorias, os principais grupos etários, quais as pessoas estavam mais expostas a mortalidade por acidente de trabalho. Para isso então, além da Declaração de Óbito, ela lançou mão de uma segunda fonte que são os processos de acidente de trabalho do Instituto Nacional de Seguridade Social. A partir dessas duas fontes o objetivo geral era propor uma metodologia para identificar e quantificar os casos fatais de acidente de trabalho que viabilizasse a utilização dos registros existentes e fazendo a vinculação entre eles. E depois obter aquelas características, inclusive coeficientes de mortalidade para algumas dessas categorias. A primeira fonte de dados – a Declaração de Óbito – já deve ter sido bastante destacada aqui e é um instrumento, um documento impresso pelo Ministério da Saúde. Como eu destaquei para vocês, os Cartórios as mandam todos os meses e nós dispomos de informações demográficas, não de acidente de trabalho, desde 1.896, de séries contínuas. É um sistema que já conta com mais de 100 anos de existência. O SEADE é o sucessor de órgãos que respondiam por essa tarefa inicialmente a Divisão Demógrafo Sanitária, que existiu aqui no Estado até o início dos anos 30, depois o Departamento Estadual de Estatística, depois por um curto período, uma Coordenadoria de Análise de Dados. De 79 para cá, a Fundação SEADE assumiu a função do Departamento de Estatística com todos os encargos que cabiam a ele, inclusive na parte demográfica. E, dentro disso, continuamos recebendo o material desses Cartórios aqui do Estado de São Paulo. A Declaração de Óbito tem algumas vantagens e algumas desvantagens. Entre as principais vantagens ressalta-se que ela tem várias informações sobre o falecido, como idade, ocupação, as causas de morte. Ela abrange todos os trabalhadores, independente deles serem vinculados ao INSS, é atualizada mensalmente e pode ser classificada por município e ter os endereços dessas pessoas. Como desvantagens, tem os problemas de serem subnotificados e de uma boa parte dos casos não serem anotados no campo correspondente. Também não se sabe como foi o tipo: se foi de trajeto ou típico, pois não consta. Constam apenas as causas – relacionadas pelos médicos – e como se tratam de causas violentas são preenchidas no IML, mas não sabemos se foi a serviço da empresa ou de trajeto. Em relação à segunda fonte de dados, que a Bernadette utilizou: os processos de acidentes do trabalho constituem aqueles processos abertos e liquidados pelo INSS, por ocasião da entrada pelos dependentes do segurado da documentação relativa à ocorrência da morte devido ao acidente de trabalho. Isto é, feito a partir da comunicação do acidente de trabalho. Como vantagem eles 89 contêm diversas informações e também toda a especificação do acidente de trabalho, se foi de trajeto, o local do acidente, se estava em serviço, o momento, a data do acidente, que não temos nas Declarações de Óbitos. Como desvantagem – que já foi destacada – eles referem-se apenas ao conjunto da força de trabalho contribuinte do INSS. Além disso, se aqueles dependentes desconhecem se foi uma causa de acidente de trabalho, eles não dão entrada ao processo. Se são trabalhadores rurais, funcionários públicos, trabalhadores não contribuintes do INSS ou os dependentes estão em outro local também não dão entrada. O sistema também apresenta outra limitação: ele apresenta apenas um total – ao menos quando a pesquisa foi feita, ou seja, sem os detalhes dos casos, que somente é possível mediante o levantamento das informações junto às Agências do INSS. Nós estamos voltando a campo para fazer uma nova pesquisa de acidentes de trabalho em todo o Estado e envolvendo todas as Agências do INSS com os dados de 1997, 1998 e 1999. O levantamento dessas informações deve estar pronto em mais ou menos três meses. Um grupo já saiu em campo e está encontrando uma série de dificuldades: ● às vezes, esses registros estão em locais inconvenientes, ● as pessoas estão trabalhando até em porão do posto do INSS, em condições muito precárias, mas estamos fazendo o levantamento das informações. Então, a partir desses dados, nós teremos quatro subconjuntos de informação. ● O primeiro conjunto é aquele que foi relacionado como acidente de trabalho na Declaração de Óbito, e o INSS também tem nos seus processos. Então, coincidem os casos formando o primeiro subconjunto. ● No segundo subconjunto – que é esse daqui – não existe o processo no INSS, mas nós temos relacionado na Declaração de Óbito. ● Depois, nós temos esse conjunto aqui, que não consta da Declaração de Óbito, mas existe no processo do INSS. ● E existe um último grupo que não consta em nenhum dos dois documentos e que não sabemos quantos são. Quer dizer, não consta nem no documento da Declaração de Óbito e nem no processo do INSS e são aquelas pessoas que ficam totalmente fora e que realmente não temos como saber, ao menos com esse tipo de pesquisa. Baseados nesses resultados então, o que foi feito? Saindo a campo consultando esses processos do INSS, recolhemos todos os casos que se tratavam de acidente de trabalho, ou seja, de mortes por acidente de trabalho, 90 voltamos às Declarações de Óbitos e tentamos então localizar essas declarações. A partir dessas informações, formamos o primeiro subconjunto de informações, aquele em que conseguimos juntar as declarações do INSS com as declarações de Óbito. Esses, portanto, formam o primeiro subconjunto. O segundo subconjunto foi formado apenas por aqueles que constavam da Declaração de Óbito, mas não constavam do INSS. A partir desses dois grupos pudemos, então, obter as características de cada um deles. Então, o que aconteceu? No Estado, todos foram encontrados através do levantamento do INSS, 2.086 óbitos por acidente de trabalho e, desses, 569 ocorreram na Capital e 1.517 no Interior. Como vocês vêm, dos 569 casos que tinham sido encontrados nos boletins do INSS, apenas 198 também constavam das Declarações de Óbitos como acidentes de trabalho, ou seja, pouco mais de 30% dos casos. No Interior, a situação também não foi muito diferente: de 1.517 casos, 435 foram encontrados nas Declarações de Óbito, assinalados como acidente de trabalho. Na Capital, nós encontramos, além dos 569 casos declarados nos Boletins, mais 364 que constavam apenas das Declarações de Óbitos. Ou seja, esse número deve então ser bem maior porque ainda tem aquele subgrupo D, que não consta em nenhum outro. Quer dizer, se apenas 30% da população coberta pelo INSS está sendo apontada na Declaração de Óbito como acidente de trabalho, se encontramos apenas na Capital mais 364 casos que não constavam no Boletim do INSS e ainda têm aqueles casos que não foram colocados na Declaração de Óbito. Então, só na Capital já seriam no mínimo, 933 casos em 1991 e 1992. A partir dos resultados do INSS, pode se observar também, diferenciais entre Capital e Interior. Enquanto na Capital 55% dos casos eram típicos, ou seja, ocorriam a serviço da empresa, os outros 45% ocorriam no trajeto. No Interior a situação era um pouco diferente: 76% ocorriam no serviço e apenas 24% no trajeto, mostrando os riscos maiores aqui na Capital da pessoa ser acidentada em termos de trajeto: atropelamentos, acidentes no caminho ou em horário de almoço. Outra característica importante encontrada também é que, aqui no Estado de São Paulo, 24% dos casos ocorreram dentro da própria empresa e 65% na via pública, o que mostra os riscos que as pessoas estão expostas quando estão a serviço fora, inclusive pelo aumento da violência que tem sido registrado aqui na Capital em 91-92. Nós sabemos que de 91 para cá a situação piorou bastante e então, com os dados de 1997, 1998 e 1999, nós vamos poder observar as principais mudanças que ocorreram desde então. Outra informação importante é que dos óbitos por acidentes de trabalho aqui na Capital, 93% eram homens, e no Interior, 96%, mostrando que as pessoas do sexo masculino estão mais expostas, além de terem ocupações de maior risco como da construção civil, acidentes de transporte, de mineração de construção civil. As informações do estado civil mostram que aqui na Capital, 35% eram solteiros e 59% casados. No Interior, essa proporção diminuía um pouco. Então, 7% eram mulheres e 93% homens aqui na Capital. No Interior 4% mulheres. Outra informação, mais a título de ilustração, é a da idade média do acidentado que estava ao redor de 36 anos para os homens e de 34 anos para as mulheres. Dos 2.086 casos fatais, quase a totalidade ocorreu na faixa de 15 a 69 anos, como seria de se esperar, por ser a faixa que concentra a população em idade ativa.Apenas alguns casos estavam acima de 70 anos e abaixo dos 14. Quando olhamos o tipo de causa, observamos que há algumas diferenças importantes entre Capital e Interior. Na Capital e no Interior, o atropelamento constituise na maior causa de mortes no trajeto, enquanto que, o típico acidente de veículo a motor aparece como a principal causa. O homicídio é a segunda causa aqui na Capital. No Interior, os homicídios diminuem bastante, eram bem menores e por isso acabavam sendo superados pelos choques, explosões e esmagamentos. Os atropelamentos eram mais importantes quando se considerava a parte do trajeto. Então, aqui na Capital o homicídio aparece como uma das principais causas de mortalidade por acidente de trabalho. Aqui é um detalhamento do grupo anterior. Nós vimos que na Capital os acidentes de veículo a motor – como tinha sido mostrado – apareciam como principal causa, quando se reuniam todos os casos, tanto de trajeto como os típicos. Depois, apareciam o atropelamento e o homicídio, esta como terceira causa, mas, praticamente, junto com o atropelamento e com pouco mais de 20% do total. No Interior, os acidentes com veículos a motor representam quase 45% no total, vindo depois, os atropelamentos. Os homicídios apareciam em 4° lugar, vindo depois outras causas tais como, os acidentes com instrumentos de trabalho, as quedas, os acidentes de trem, os acidentes com animais - já bem menor- e com algumas diferenças bem importantes também entre Capital e Interior. No Interior, a porcentagem de aci- dentes com veículos a motor é muito mais importante que na Capital. Por idade, vemos que, em termos de freqüência, e não de taxa, que há uma predominância das pessoas jovens, com maior percentual ao redor dos 30 anos.Aqui, temos os dois subconjuntos: aquele primeiro, cor laranja, é a o da população coberta pelo INSS; e o segundo, da população não coberta pelo INSS, que só foi relacionada nas Declarações de Óbitos. De qualquer forma, há uma prevalência dos grupos jovens nos dois grupos e mais alta para aqueles que não são cobertos pelo INSS. Quando olhamos as profissões mais expostas e as consideramos de uma forma mais detalhada, vemos que, tanto na Capital como no Interior, os maiores números de casos correspondiam aos condutores de automóveis, de ônibus e de caminhões e também aos guardas de segurança e assemelhados, o que seria esperado, uma vez que exercem profissões de muito risco. Aparecem depois os trabalhadores braçais, os de construção civil, maquinistas e eletricistas. Quando consideramos grupos maiores, nós vemos que na Capital, aquele que exerce atividades ligadas ao comércio é o que tem maior participação, seguido das pessoas ligadas aos transportes e comunicações. No Interior isto é diferente e inverte-se. O setor de transportes de comunicações apareceu como o principal responsável pela mortalidade das pessoas, relacionado aos acidentes de trabalho. Depois, vêm os serviços de comunicações e, em terceiro, a construção civil. Aliás, no Interior a construção civil até aparece em segundo lugar, acima dos serviços de comunicações. Quando nós cruzamos as informações dos grupos com o tipo de causa, vemos no primeiro subconjunto de pessoas referentes à Capital, que as que exercem atividade, serviço de comércio com homicídio, aparecem como o principal, com 14% do total. Depois, vinham o do transporte e comunicação com demais acidentes de trânsito (Os demais acidentes de trânsito são aqueles que excluem o atropelamento), seguido pelo serviço de comércio com demais acidentes de trânsito, os serviços de comércio com atropelamento. No segundo subconjunto, mais uma vez aparece em primeiro lugar o serviço e comércio com o homicídio com 21%, estando assim, mais expostos a essa causa do que no primeiro grupo. Depois, vem o serviço e comércio com atropelamento e que inclui os guardas e seguranças, com 7% no total. Só depois aparece a construção civil com atropelamento, com quase 7% próximos daqueles construção civil e outros, e de transporte e comunicação com homicídio. Quando consideramos o total do grupo daqueles dois subconjuntos de dados, os demais acidentes de 91 trânsito aparecem como principal causa no primeiro e o no segundo com quase 40% do total. Ou seja, estes estão exercendo funções por conta própria ou estão menos preparados, fazendo bico e/ou dupla jornada de trabalho. É muito comum aqui em São Paulo, as pessoas que trabalham na polícia exercerem o segundo trabalho por conta própria como vigilantes e acabam se expondo mais. Depois, o atropelamento aparece como a segunda causa, no segundo subconjunto, enquanto no primeiro subconjunto, o homicídio aparece como segunda causa próxima do atropelamento. Agora, já tratando das taxas, observamos que, no Estado, o coeficiente de mortalidade era de 15 óbitos por 100.000 pessoas entre os homens e 1,74 para as mulheres, semelhante aos do Interior. Na Capital, a diferença era menor devido, principalmente, aos acidentes de trânsito que são maiores no Interior. Na Capital, a taxa estava ao redor de 13 por cem mil para os homens e entre as mulheres semelhantes ao do Interior. Aqui, nós podemos ver que risco por idade aumenta. Quer dizer, a mortalidade vai aumentando na medida em que aumenta a idade, expondo-se mais a atropelamentos, aos próprios acidentes de veículos. Elas começam menores no grupo dos 15 aos 19 e vão aumentando bastante, começando ao redor de 10 para os homens. Para as mulheres também aumentam na faixa de 65 a 69 que foi considerada aqui. A comparação feita para a Capital mostra que as pessoas que não têm vínculo com o INSS tinham taxas de mortalidade maiores do que aquelas que tinham.Apenas nos últimos grupos etários tornam-se semelhantes, mas nós vemos que em toda faixa de 15 a 60 anos, as taxas das pessoas que não estão vinculadas ao INSS são maiores do que a do outro grupo. Como ressaltei, as taxas são maiores também no Interior do que na Capital. Apenas nos últimos grupos, onde o número de casos torna-se menor, assemelham-se e são altos. Isso é uma característica daqui de São Paulo, onde até a metade da década de 80, a mortalidade por acidentes de veículos a motor era menor no Interior. De 1985 em diante, as taxas do Interior foram aumentando sempre mais do que na Capital. Hoje, as taxas da Capital são menores do que na maior parte dos municípios de grande porte do Interior. Recentemente, uma reportagem feita pela “Folha” mostrava que, entre os Municípios de mais de 200.000 habitantes, as maiores taxas por acidentes de veículos a motor eram de Ribeirão Preto. Aqui temos as taxas por ocupação, idade e ocupação. Vemos que, aquelas pessoas envolvidas no setor de transporte e comunicação, têm taxas de mortalidade 92 maiores em todos grupos etários. Aparecem depois os serviços e comércio bem mais distante e da indústria de construção civil, que se aproximam nas idades finais. As taxas da agropecuária, administração técnica e científica estão entre as menores. Isso mostra bem esse risco para esses setores, ou seja, por 100.000 pessoas. Enquanto entre as pessoas da administração ou da agropecuária as taxas estavam entre dois e quatro, aumentava na extração mineral para 12 por 100.000. Depois, vinha a indústria e construção civil, com 15 por 100.000, o serviço e comércio com quase 15 também, o transporte e comunicação com 50 por 100.000. Quer dizer, é um risco muito maior do que em todas as outras categorias, mais que três vezes, quase quatro vezes a do segundo grupo. Aqui tem mais uma outra informação, a dos óbitos de acidente de trabalho que ocorreram dentro da empresa. A maior parte – 36%, foi devido a homicídio, e só depois aparecem a queda e choque, explosão e esmagamento. Quando o óbito ocorre na via pública, o acidente com veículo a motor é maior, mas o homicídio aparece com 18%. Quando nós olhamos os dados do Interior dentro da empresa, o choque, explosão e esmagamento aparecem como primeira causa, vindo depois a queda e, somente depois, o homicídio. Na via pública, 75% correspondiam aos acidentes de veículo a motor e os 7% aos homicídios. Em vista desses resultados, a Bernadette apresenta algumas considerações finais: ● a vinculação desses dois bancos mostrou ser um importante instrumento para o estudo da mortalidade por acidente de trabalho, ● os homens têm um risco de morte quase nove vezes maior que as mulheres; ● os coeficientes de mortalidade do Interior foram 40% maiores que da Capital; ● os coeficientes da população solteira eram 50% maiores que os da população casada, os coeficientes da Capital são 30%; ● os coeficientes de mortalidade da população na Capital, quando considerados os ocupados, foram 30% maiores que os da população contribuinte do INSS; ● os tipos de morte mais freqüentes não estão mais associados apenas às atividades realizadas dentro do ambiente de trabalho restrito às empresas; ● as formas de violência crescentes nas áreas urbanas têm atingido de forma importante os trabalhadores; ● a elevada participação dos homicídios como o acidente de trabalho ressalta a sua importância na questão acidentária e revela a necessidade de revisão das regras e codificação da Declaração de Óbito, no sentido de permitir a associação de homicídio com o acidente de trabalho, que hoje ainda não acontece; ● os acidentes com veículos automotores e os atropelamentos, juntamente com os homicídios, aparecem como as principais causas de mortalidade; ● as repercussões negativas para a família, para as empresas, para os colegas, para a sociedade, em geral, representam um alto custo econômico para todas as esferas. Um acidente desestrutura por completo a família atingida, inclusive em termos econômicos; ● as reflexões mostram que a questão acidentária deve ser tratada dentro de um contexto maior, no qual as medidas adicionais de segurança do trabalho e os programas de saúde ocupacional não são suficientes para prevenir ou reduzir esses acidentes fatais. Esse é um pouco do resultado do trabalho da Bernadette. Espero ter conseguido passar alguma coisa do que ela iria apresentar para vocês, certamente com um pouco mais de detalhe. Obrigado. 93 94 Acidentes de trabalho em trabalhadores dos setores formal e informal da economia na RMSP Manoel Carlos S. A. Ribeiro –DMS Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo E ste estudo sobre os Acidentes de Trabalho em Trabalhadores dos Setores Formal e Informal da Economia na região Metropolitana de São Paulo em 1994, foi realizado no Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo por mim e pela Professora Rita Barradas Barata, em cima de um inquérito da Fundação SEADE em parceria com a FUNDACENTRO, em 1994. Esse estudo foi desenvolvido paralelamente à minha dissertação de Mestrado, a qual tem por objeto os acidentes de trabalho na região metropolitana, sem enfocar o setor formal e informal da economia. Parece-me oportuno discutir também o potencial desta metodologia na investigação dos acidentes e das condições de trabalho. Para começar a discutir um pouco os acidentes de trabalho no setor formal e informal, acho que vale a pena considerar um pouco o contexto econômico e político no qual esses setores formal e informal acabam se constituindo. Nas últimas décadas, tanto no mundo como no Brasil, especificamente, uma série de transformações econômicas puxadas aí pela globalização, pela incorporação tecnológica, bem como associada a uma política econômica e recessiva, acabaram resultando num conjunto de fatores adversos para essa relação entre saúde e trabalho com níveis importantes de desemprego, crescimento do setor terciário. Na realidade, isso muda o perfil dos riscos de industriais para serviço e comércio, um contingente maior de postos de trabalho no setor terciário, um crescimento do setor informal, condições de trabalho que ainda os estudos carecem um pouco, no sentido de revelar se essas condições de trabalho efetivamente pioraram, como é um pouco o senso comum. Os estudos têm falado de um trabalho precário, ou seja, de um trabalho que não possui respaldo da legislação trabalhista e previdenciária, além de um enfraquecimento de um poder político dos trabalhadores organizados, ou seja, dos sindicatos. É um pouco dentro deste contexto e em função da carência de estudos sobre as condições de trabalho, sobre acidentes de trabalho no setor informal, que a gente deve situar esse estudo. Genericamente, pode-se entender acidente de trabalho como um dano agudo à saúde do trabalhador resultado direto da interação dos instrumentos de trabalho com o corpo do trabalhador, ou seja, essa definição, mesmo que genérica, já nos remete a compreender os deter- minantes do acidente de trabalho como um dos elementos que constituem o processo de trabalho. Do ponto de vista médico, como boa parte dos estudos em acidentes de trabalho fazem, considera-se o acidente de trabalho a partir da lesão orgânica que o acidente significa ou do seu agente causal mais imediato, e é preciso lembrar que acidente de trabalho na realidade é um conjunto bem variado de manifestações clínicas que possui também uma gama variada de etiologias ou de determinante. Segundo a definição legal de acidente de trabalho, a qual estabelece que aquele que ocorre pelo exercício de trabalho a serviço da empresa, em horário de trabalho, provocando uma lesão corporal, perturbação funcional que cause morte, a perda ou a redução temporária da capacidade do trabalho, definindo ainda, acidente tipo ou acidente de trabalho. Tentando detalhar um pouco essa relação do acidente com o processo de trabalho, pode-se estabelecer algumas dimensões de determinantes desse acidente de trabalho. O primeiro determinante seria a estrutura do processo de trabalho, tanto relativa a sua base material, como a base organizacional do processo de trabalho, num segundo nível, uma segunda dimensão diz respeito à inserção do trabalhador no processo de trabalho, quer dizer, que papel ele ocupa no processo de trabalho, e um terceiro nível a gente entende como relacionado às condições de trabalho. É nesse nível que a maioria dos trabalhos que investiga a relação dos determinantes de acidente de trabalho acabam imperando. No nosso entender, a gente precisa considerar acidente de trabalho como um dos produtos possíveis, indesejáveis, desse processo de trabalho. Isso porque o processo de trabalho acaba sendo um produto, ou melhor, uma expressão de uma relação social entre capital e trabalho, relação essa que é de conflito dependente da organização social dos trabalhadores e, por ser de conflito, sofrendo regulação do Estado. Em síntese, a gente pode considerar que as condições de trabalho do setor formal, do setor informal e, bem como os riscos de acidentes de trabalho são, resultados de estratégias patronais, sindicais e de comportamentos individuais. As estatísticas oficiais com base na CAT acabam falando só de uma parte da população trabalhadora, só daqueles que têm registro em carteira, que fazem a contribuição previdenciária, e essa estatística oficial, ou seja, deixando de lado todo o mercado informal mostra que, nas últimas duas décadas no Brasil, há um declínio da 95 incidência e da mortalidade de acidente de trabalho e um aumento da letalidade, diversos estudos têm apontado como causa dessas tendências a subnotificação dos acidentes mais leves, um crescimento dos setores terciários, ou seja, você tem um número maior de trabalhadores expostos a condições que oferecem um risco menor de acidente de trabalho, oferecem outros riscos, mas para acidente de trabalho, o risco é menor efetivamente, a incorporação de informática e a robotização do processo do trabalho acaba também por diminuir o número de trabalhadores expostos a funções perigosas e os estudos relativos um pouco a efetividade das medidas preventivas, no sentido de explicar essa tendência de diminuição de incidência de mortalidade. Então, com base nessa carência de informações sobre acidentes e condições de trabalho no setor informal que a gente encaminhou esse trabalho, colocando como objetivo estimar a prevalência de acidentes de trabalho referidos por trabalhadores do setor formal e informal da economia na região metropolitana, e estudar um pouco os fatores associados a esses acidentes de trabalho. Utilizou-se um inquérito domiciliar desenvolvido na região metropolitana de São Paulo que constitui uma parte da pesquisa de condições de vida feita pela Fundação SEADE em 1994, em parceria com a FUNDACENTRO. Para esse inquérito foi obtida uma amostra probabilística dos domicílios da região metropolitana, na verdade, foi feito para o Estado de São Paulo, os dados que eu vou apresentar aqui são da região metropolitana. A Fundação SEADE dispõe dos dados do Interior também. A gente acabou trabalhando em cima de um conjunto de 6.021 trabalhadores ocupados no momento da entrevista. Esses trabalhadores foram visitados nas suas residências e foram aplicados os questionários padronizados, questionários da PCV que levantam informações sobre moradia, renda, trabalho, escolaridade e acesso a serviço de saúde, e, nessa versão da PCV, havia uma parte do questionário sobre condições de trabalho e acidentes de trabalho na PCV. Na última PCV, de 98 se não me falha a memória, já não tem mais esse questionário. O conjunto de informações que a gente vai trabalhar nesse estudo está relacionado a parte do questionário que diz respeito a tributos pessoais, os acidentes de trabalho nos últimos 12 meses, quer dizer, isso era uma pergunta assim posta: sofreu acidente de trabalho, definindo o que era o acidente de trabalho nos últimos 12 meses, através de um “check list”, ou seja, através de uma especificação de uma série de condições que caracterizavam o acidente de trabalho se perguntou depois sobre o acidente de trabalho nos últimos 30 dias, se detalha uma série de condições de trabalho bem como a existência de equipamento de proteção individual e coletivo. Tentou-se construir um perfil das condições de traba96 lho no setor formal e informal, a caracterização desses acidentes de trabalho e se fez também uma análise multivariada, tentando controlar um pouco as diversas variáveis que cumprem um papel na determinação do acidente de trabalho. Então, como variável de desfecho, a gente tem o acidente tipo nos últimos 12 meses, os acidentes tipo nos últimos 30 dias, em variáveis à disposição a gente acabou utilizando uma classificação do ramo de atividade econômica da empresa que o trabalhador referiu indústria de transformação, construção civil, comércio, serviço, transporte, manutenção, em função dos riscos diferenciados para acidente de trabalho, ou seja, detalhando o transporte como um ramo de serviço a parte para tentar detalhar um pouco melhor o risco de acidente e assim por diante. Tipo da empresa, se pública ou privada, tamanho da empresa, a ocupação a gente criou uma classificação na qual a gente levou em consideração um pouco o papel que a inserção do trabalhador no processo de trabalho e o grau de especialização, qualificação que esse trabalhador tinha. Foram criadas cinco categorias, direção, planejamento, gerenciamento, execução, ou seja, trabalhadores diretamente ligados à produção na execução qualificado, na execução semiqualificada, não qualificada e serviços de escrito. Também pensando em diferenciar melhor o risco de acidente. A escolaridade, sexo, idade, jornada, quer dizer, a doação da jornada semanal, turno, se turno diurno ou turno noturno ou alternado, desgaste, que é uma pergunta interessante na qual se indagava sobre o grau de cansaço referido no final da jornada e os problemas do ambiente de trabalho, os tradicionais riscos físicos, químicos, mecânicos, ergonômicos e biológicos, também avaliados através de um “check list”.As variáveis que a divisão de setor formal e informal que eu acabei utilizando foram: ● Formal: assalariados com registro ou o funcionário público, assalariado com contrato de autônomo com registro ou funcionário público, empregado doméstico mensalista com registro. ● Informal: os assalariados sem registro, os assalariados com contrato de autônomo sem registro, empregado doméstico mensalista sem registro e empregado doméstico diarista e autônomo não com nível superior ● Autônomo: profissional liberal com nível universitário. ● Empregador 44% dos trabalhadores que responderam o questionário se encontravam ocupados no momento da entrevista, estavam no ramo de serviço; 24% na indústria de transformação, comércio 17%. Se a gente pegar o setor terciário, ou seja, serviços e comércio, vai dar por volta de 70% dos trabalhadores. Em termos de tipo de empre- sa, a gente tem: 17% dos trabalhadores preferiram trabalhar em empresas públicas, aí, o grosso é a educação e saúde. Em relação ao tamanho da empresa, 18% dos trabalhadores falaram que preferiam trabalhar sozinhos, 41% de 1 a 49 trabalhadores, 50 e mais 39%. Essa foi uma divisão que a gente não pode muito alterar porque o dado já da Fundação SEADE, na realidade, o dado foi obtido assim, as opções para serem preenchidas no questionário eram essas, então a gente não tinha muito como alterar, a gente acha que não discrimina muito bem as médias, as pequenas e médias e grandes empresas, mas é isso que a gente dispõe. Em relação ao tipo de ocupação, a gente tem 14% em função de gerenciamento, de planejamento, de execução, mais de 60%; e realizando serviço de escritório, 13%, em relação ao tipo de vínculo, a gente tem 57% dos trabalhadores com vínculo formal, 33% com vínculo informal, são esses daqui que a gente vai detalhar daqui para a frente, ou seja, a gente vai excluir os autônomos, os empregadores e os mal definidos. A distribuição de setor formal e informal varia conforme os ramos de atividade, a gente tem manutenção e construção civil com mais de 60% dos trabalhadores no setor informal, comércio e serviço de transporte variando de 35 a quase 50% e indústria de transformação com 80% dos trabalhadores registrados, quer dizer, no mercado formal. Em relação ao tipo de empresa, 20% dos trabalhadores de empresas privadas se encontram no setor informal um contingente menor que 8%, porém, significativo de empresas públicas, os trabalhadores de empresas públicas se encontram no setor informal. Em relação ao tamanho da empresa, conforme aumenta o seu tamanho, diminui o contingente de trabalhadores no setor informal, 100% dos trabalhadores que preferiram trabalhar sozinhos, estavam no setor informal. Em relação ao tipo de ocupação, mais uma vez, diminui a qualificação, aumenta o número de trabalhadores do setor informal, há exceção feita um pouquinho aqui que justifica a separação que a gente fez dos trabalhadores de serviço de escritório, que também estão todos na sua imensa maioria no mercado formal. Comparativamente ao sexo masculino uma importância do sexo feminino no mercado informal não houve diferença em relação a idade em termos de mercado formal e informal e a escolaridade foi menor no setor informal, os trabalhadores preferiram trabalhar no setor informal. Em relação a duração da jornada, os trabalhadores do setor informal tiveram jornadas maiores em relação ao turno, aí é o contrário, trabalhadores do setor formal tiveram turno, uma maior referência, embora 10%, uma maior referência de turnos noturnos alternados, grau de cansaço maior foi mais referido por trabalhadores do setor informal e problemas no ambiente de trabalho os riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos foram mais referidos por trabalhadores do setor formal. Em relação a acidente trabalho, pegando o conjunto de trabalhadores sem diferenciar ainda em setor formal e informal, a gente tem o risco nos últimos 12 meses de 3,3% e risco nos últimos 30 dias de 16%, a idéia é que nesses últimos 30 dias são maiores, quer dizer, tiveram o risco maior do que os últimos 12 meses em questão da forma com que a informação foi obtida, ou seja, através desse “check list” abrangendo um contingente de eventos, ou seja, os acidentes mais leves, aqueles que os trabalhadores não lembravam como foram mais referidos é que aumenta aí um pouco o risco, um pouco não, aumenta muito. Separando por setor formal ou informal a gente encontra diferença, ao contrário, um pouco do que talvez o nosso censo comum espera um risco maior de acidente de trabalho nos últimos dois meses no setor formal do que no informal, uns com um pouco não muito maior nos últimos 30 dias e não houve diferença estatisticamente significativa. Em relação ao risco, considerando agora o ramo de atividade, tentando ver o que estava acontecendo porque no setor formal o risco foi maior, o risco nos últimos 12 meses, a única diferença que a gente observa dividindo por ramo de atividade é no ramo de comércio no qual o risco é maior é bem maior, cinco vezes maior no setor formal do que no informal, nos outros ramos de atividade não houve diferença. Nos últimos 30 dias, os dados sugerem um pouco uma diferença no ramo de atividade de manutenção aqui sugerindo um pouco uma tendência de maior risco no setor informal. O transporte, por outro lado, volta a tendência de maior risco no setor formal, os outros não apresentaram também diferenças. Uma das conclusões possíveis desses dados são, essas estimativas, esses estudos a partir dos dois módulos de mensurar o acidente de trabalho nos últimos 30 dias, nos últimos 12 meses, revelaram a importância da subnotificação, isso é só a gente comparar grosseiramente com as estatísticas oficiais. As condições de ambiente de trabalho referidas pelos trabalhadores mostraramse diferentes conforme o setor formal ou informal e, no nosso entender, quer dizer, dependente tanto do ramo de atividade quanto desse contexto político econômico em que a produção se organiza. O setor informal apresentou jornadas maiores e maior referência de cansaço ao final da jornada ou trabalho em turno, e a existência de problemas no ambiente foram mais referidos pelos trabalhadores do setor formal, quer dizer, sugerindo um pouco que a gente, se essas condições de trabalho nos setores formal e informal são diferentes se uma é exatamente pior do que a outra, a gente depende um pouco do enfoque ou do aspecto que a gente está considerando. É claro que a gente pode verificar se as condições são melhores ou piores olhando para a saúde dos trabalhadores, isso é um pouco o que a gente tentou fazer. A partir do acidente de trabalho, e o que a gente encontrou um pouco, foi que o acidente de trabalho nos 97 últimos 12 meses foi maior para os trabalhadores do setor formal. Essa diferença é muito explicada em função do ramo de atividade quando a gente controla as diferenças de distribuição de ramo de atividade em relação a outras variáveis importantes, que são diferentes nos dois ramos, nos dois setores como problemas, escolaridade, o próprio grau de desgaste essa diferença some, essa diferença nos últimos 12 meses some, a gente não encontrou diferença no risco de trabalho dos últimos 30 dias, conforme o setor da economia, exceto para trabalhador do comércio e transporte, quer dizer, não houve diferença do risco de acidente de trabalho segundo o ramo de atividade, ou seja, as condições de trabalho são diferentes, entende que é preciso investigar mais essas condições de trabalho, os acidentes de trabalho se não são maiores no setor informal como a gente supunha, eles não são menores e, com certeza, as conseqüências de um acidente de trabalho num mercado informal são muito mais da- 98 nosas do que naquele trabalhador que está sob o respaldo da legislação trabalhista e previdenciária. É um pouco isso que eu tinha para falar e acho que é interessante só colocar que um outro conjunto de informações relativo a esse conjunto de dados que a gente gosta de dizer que são um conjunto de dados, é um banco de dados, é uma fonte de informação bem interessante que a gente podia continuar a produzir no sentido de obter informações sobre as condições de trabalho mais abrangentes, a gente conta além desse trabalhinho que a gente apresentou para vocês um relatório que está na Fundação SEAD e para quem já teve contato não é aquele relatório que está só uma descrição das variáveis, na realidade, é um relatório pouco mais detalhado com algumas análises e algumas considerações que a gente lá do departamento fez lá para a Fundação SEAD e tem a minha dissertação de mestrado também, que aí pega os acidentes de trabalho na região metropolitana. É isso. Acidentes do trabalho como realidade trágica no trânsito: problemas, hipóteses e mensuração. David Duarte Lima – UnB Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento da Segurança no Trânsito E m primeiro lugar, obrigado pelo convite. Eu gostaria de agradecer este convite à FUNDACENTRO, especialmente ao Dr. Celso Salim, por essa oportunidade para falar um pouco sobre a relação entre acidente de trânsito e acidente de trabalho. Eu serei bastante breve, gostaria apenas de colocar algumas questões que considero básicas para a compreensão desse fenômeno. A primeira coisa é que o trânsito, todo mundo sabe, tem muitos efeitos nocivos. Porém, hoje a vida moderna nos exige dirigir, os deslocamentos são cada vez mais freqüentes e dirigir faz parte dessa nossa vida. Eu considero que os três problemas mais sérios causados por essa nova forma de locomoção são a economia de energia, a poluição e os acidentes. O primeiro é um problema de compromisso com as gerações futuras. É preciso que se tenha noção do que estamos fazendo com a nossa casa, o nosso planeta. O desperdício absurdo de energia é um problema bastante atual. Parece que a nossa geração e a geração passada, talvez também a próxima, vão consumir todo o petróleo do mundo. É preciso que tenhamos um compromisso com as gerações futuras. É um problema atual toda essa discussão do preço do barril do petróleo, a Petrobrás vazando aqui e ali, e toda essa energia é não renovável. Tudo é conseqüência, ou pelo menos está fortemente relacionado, com a nova forma de circulação que adotamos. O segundo problema, que também é um problema sério, e que pode ser observado aqui em São Paulo, na Cidade do México, em Los Angeles e em outras cidades, já de um porte razoável, é o problema de poluição. Poluição do ar, poluição visual, etc. Obviamente, a poluição gera problemas para as pessoas, para quem vive em um ambiente poluído. E o terceiro grande problema é a questão dos reflexos do trânsito na saúde, em particular, naquilo que toca os acidentes de trânsito. Os acidentes causam danos materiais e danos físicos. Mas essa nova forma de circular gera também estresse. O tempo que uma pessoa dirige, e que às vezes nós negligenciamos, é muito grande. O tempo que as pessoas passam no trânsito, se nós fizermos as contas, a maioria das pessoas, ou pelo menos uma boa parte delas passa, pelo menos, umas duas horas no trânsito por dia. Ou seja, quem passa esse tempo no trânsito por dia, passa 60 horas por mês, conseqüentemente, 720 horas por ano. Dividindo 720 horas por 24 horas, encontramos 30 dias. Essa pessoa passou um mês inteiro dentro do seu carro dirigindo com as mãos no volante. É muito tempo, e nós estamos falando do motorista comum. Uma pessoa que dirige duas horas por dia – e observemos que muita gente passa duas horas só no congestionamento – mora dentro do carro durante um mês. Imaginemos um motorista profissional que passa muito mais tempo dentro do seu veículo. Obviamente, há um estresse permanente no trânsito. Qual é o efeito disso a longo prazo? Será que isso ao longo dos anos não terá uma influência muito grande em certas doenças, por exemplo, como doenças cardiovasculares? É uma questão séria, mas que até agora tem recebido pouca atenção dos pesquisadores. No tempo antigo, no tempo das cavernas, havia um estresse por luta ou por briga, ou para brigar com uma fera. O estresse chama adrenalina para o sangue, ele joga adrenalina no sangue, e o que faz adrenalina? Adrenalina chama a gordura, e gordura é gordura, é energia. Aquela gordura é uma espécie de “turbo” para as pessoas. Antigamente isso era queimado em forma de exercício, o sujeito corria, lutava, etc. Hoje, no trânsito você tem um estresse, por uma situação de risco ou um conflito qualquer com outro usuário da via, o estresse joga adrenalina no sangue, a adrenalina chama a gordura para o sangue e aquilo você não queima, você está atrás do volante. Imaginemos um motorista de ônibus, um motorista profissional que dirige várias horas por dia e fica sentado, quase inerte. Será que, a médio e longo prazos, isso tem um efeito sobre outras doenças, por exemplo, doenças cardiovasculares? É muito provável que seja pelo menos um fator contributivo, um fator que esteja associado com outros agravos à saúde. Não é uma questão aguda daquele momento, mas, provavelmente, estará relacionado a outras doenças. Outra coisa é que negligenciamos muito os acidentes de trânsito. Acreditamos que vamos ganhar na Mega Sena, mas ninguém acredita que será ferido num acidente. Alguém aqui já ganhou na Mega Sena? Certamente não! Alguém já se acidentou? Para fazer um teste, quem aqui já se envolveu num acidente de trânsito, levante 99 a mão, por favor. Dêem uma olhada, a epidemia que é o problema. No entanto, a gente não acredita que isso acontece com a gente.Vejam quanta gente! Nós fazemos uma fezinha achando que ganharemos na loteria, mas acidente de trânsito nunca acontecerá comigo. Então, essa é uma forma até burra de a gente ser. Acidente de trânsito é um fenômeno tão freqüente e ao mesmo tempo não negligenciado. Por outro lado, a gente não se dá conta de quantas mortes já ocorreram aqui neste país. Desde o tempo que o Olavo Bilac sofreu aquele primeiro acidente dirigindo o carro de José do Patrocínio na estrada velha da Tijuca. Depois daquilo já morreu muita gente, cerca de um milhão de pessoas já perderam a vida no Brasil vítimas de acidente de trânsito. É muita gente. De certa forma, isso denuncia a tragédia das nossas estatísticas, porque no DENATRAN você tem 27 mil, mas, segundo os dados do SIM Sistema de Informação de Mortalidade, por exemplo, em 95, houve 39 mil, quase 40 mil mortos. Depois que mudou da CID 9 para a CID 10 houve um problema de quebra de série e aí baixou, mas aí é provável que neste ano e no ano passado também a gente esteja na casa dos 45 mil mortos por ano. Em relação à frota, significa que nossos veículos são cerca de 7 ou 8 vezes mais letais do que os americanos. Os carros brasileiros, proporcionalmente, matam sete ou oito vezes mais que os carros americanos, 20 vezes mais do que os carros japoneses. Aí tem outra discussão de tipo de transporte, modalidade, etc., mas não vamos entrar nesse detalhe. Nós temos no Brasil cerca de 500 mil feridos a cada ano, o DENATRAN registra 350 mil, nós temos 100 mil pessoas com lesões irreversíveis definitivas, e isso é uma estimativa bastante modesta. Nessas estão as lesões medulares. Essa tragédia, segundo uma estimativa nossa, chega a custar ao país cerca de 20 bilhões de reais por ano. No entanto, é um fenômeno absolutamente negligenciado, levado como se fosse uma coisa do acaso que tem pouca importância. Essa é a cara da tragédia. Entremos numa questão que mais diz respeito ao nosso problema. Por que a gente mede mal e negligencia esse fenômeno? Bom, primeiro, há toda uma discussão que damos pouco valor à vida. Outro dia eu participei de um debate em que uma pessoa falava que tinha 27 mil óbitos, mortes por acidentes de trânsito, a outra falava que tinham 81 mil, um Professor do Rio Grande do Sul. Ele fez umas estimativas aparentemente inconsistentes, não conheço bem a metodologia que ele usou, mas é provável que tenha alguma deficiência, até porque se fossem 81 mil mortes por ano no Brasil, as nossas taxas realmente seriam muito mais graves. Mais fácil de medir é o número de óbitos, muito mais fácil que medir o número de feridos, até porque, quanto mais grave a 100 lesão, mais provável é que ela seja registrada. Isso vale também para os acidentes de trabalho. Mais sério o problema, mais provável o registro nos sistemas competentes. Se no óbito a gente está assim, imagine quando quisermos detalhar esses dados de uma forma mais específica. Um problema é que a CID 10, infelizmente, complicou um pouco e piorou porque registra também mal, a CID 10. CID 10 é a Décima Classificação Internacional de Doenças, que o Estados Unidos vêm se negando a adotar, até por essas razões, porque piora, porque quebra a série etc. Registrar bem é muito difícil, e aqui no Brasil os sistemas são relativamente falhos com relação a isso. Por exemplo, o tipo de usuário, se a gente considera o tipo de usuário do trânsito que foi vítima de acidente de trânsito, o registro é bastante deficiente. Falar de trabalhador, trabalhador no trânsito, trabalhador em trânsito, é igualmente complicado. Acidentes do trajeto, ou do trabalhador no trânsito, identificar se é um motorista de ônibus, um motorista de táxi, um moto-taxista, um motoqueiro de entrega e assim, sucessivamente. Temos outros usuários que estão no trânsito por outros motivos, por lazer, para levar filho à escola, fazer compras etc.Temos pouco esse detalhamento, vejam como é difícil ter um registro conveniente. Vou levantar aqui algumas dificuldades de se ter um registro robusto, consistente e conseqüente e que possamos usar com segurança na questão do acidente de trabalho relacionado à acidente de trânsito. A outra coisa são as fontes. De uma forma geral as fontes disponíveis – DETRANs, DENATRAN, as autorizações de internação hospitalar (AIH), o próprio SIM, o CAT – captam mal e com pouca especificidade o fenômeno. Captam mal porque não consideram variáveis específicas de interesse para utilização na prevenção ou no conhecimento e no tratamento desse mal. Outro problema, é que a gente tem uma grande quantidade de trabalho informal no trânsito e que isso raramente é captado como acidente de trabalho. A própria CAT tem essa dificuldade. Um trabalhador informal, se ele não está numa empresa, há uma área meio nebulosa em tudo isso, e sabemos a dificuldade de cobertura das fontes. Sabemos que aqui em São Paulo é coisa de 8.7%, acho que não chega a 9%, os acidentes de trabalho que ocorrem no trânsito. No entanto, a letalidade dos acidentes de trânsito ou de trabalho ocorridos no trânsito é muito maior. A letalidade em algumas áreas chega, segundo tabelas apresentadas pelo Marangoni, a 50%, ou seja, metade dos acidentes de trabalho mortais ocorre no trânsito. E, obviamente, é porque os acidentes de tra- balho ocorridos no trânsito, que são acidentes de trânsito, são muito mais violentos. É diferente um cara deixar cair uma marreta no pé, me desculpe aqui a forma simplória que eu vou expressar isso, quando cai a marreta no pé do indivíduo ele tem obviamente uma lesão etc. Só que o acidente de trânsito tem uma grande quantidade de energia cinética. Gráfico 2 Taxas de mortalidade por acidentes de trânsito por sexo e idade. Brasil. 1995 80,0 70,0 Masculino Feminino Total 60,0 50,0 40,0 Os acidentes ocorrem quando a máquina foge ao controle, a energia foge ao controle, seja uma energia circular de uma serra circular, seja de um veículo. Quando se perde o controle daquela energia, a energia do trânsito é cinética, energia de movimento, quando você perde o controle de um veículo ocorre muitas vezes o acidente. A violência e a virulência dos acidentes de trânsito são muito maiores. Para que se tenha uma idéia a 50 km/h o peso do corpo da pessoa é multiplicado cerca de 40 vezes. Uma pessoa de 70 kg vai para quase três toneladas. Esse acidente será muito violento, mas também muito virulento. As fontes de dados no Brasil não têm cobertura completa e eu tinha falado um pouco antes, não têm a especificidade necessária para captar toda a dimensão dos acidentes de trabalho ocorridos no trânsito. Temos também deficiências nos denominadores, por exemplo, quantos por cento dos acidentes de trânsito são acidentes de trabalho? A gente não tem essa proporção, essa relação. E nem de trajeto. O denominador é muito fluido e há uma área de ninguém. Por exemplo, eu vou ao trabalho, mas estou passando ali para deixar o meu filho, que é caminho. Aí acontece um acidente. É de trajeto? É de trabalho? Há um nível meio nebuloso nessa coisa toda e é realmente difícil de captar. Algumas taxas de mortalidade dos não pedestres, coeficiente de mortalidade para alguns, a maioria é motorista. A linha azul do gráfico é referente aos homens, linha Gráfico 1 Taxas de mortalidade por acidentes de trânsito por sexo e idade. Brasil. 1995 80,0 70,0 Masculino Feminino Total 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 <1 1-4 5-9 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e + 30,0 20,0 10,0 0,0 <1 1-4 5-9 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80e+ rosa são as mulheres e tem uma linha amarela, é a média, a taxa total. Esse comportamento da mortalidade de pedestres é bastante característico. À medida que aumenta a idade, aumenta o risco, até porque o idoso vai perdendo reflexos, de certa forma a visão diminui bastante, a visão dinâmica. A diferença entre os dois gráficos, pedestres e não-pedestres, é marcante. Se nós verificarmos os riscos de acidentes, basta separar um pouquinho por grupo, e se nós pegarmos também categorias outras categorias de trabalho a gente vai verificar isso diferenças. Só rapidamente a razão de sexos, veja como homem, o rosa aqui no caso é para 01 ano e o azul para outro ano, é 95 e 97 não me lembro exatamente qual é 95 ou 97, mas só para ver o comportamento da razão de sexos aqui, há uma determinada idade em que os acidentes de trânsito matam muito mais o jovem do sexo masculino, isso é bem visível, e se nós fizermos isso com as quedas acidentais, por exemplo, a razão de sexo fica, parecendo-se bem no final da vida a mulher tem outro tipo de senso, quando a gente começa a medir isso, temos uma série de efeitos superpostos, por exemplo, o indivíduo que tira a carteira, a pessoa que tira a habilitação, o jovem que começa a trabalhar como motorista, entregador de alguma coisa, você começa a ter uma série de efeitos superpostos como, por exemplo, a formação do condutor e que se confunde um pouco com a idade, há uma superposição de efeitos e é difícil separar e arrancar ou isolar, melhor dito, isolar efeito de um grupo ou de outro, uma situação específica ou de outra, e isso todas essas nossas fontes, elas não captam. Outra coisa, as fontes tão pouco captam, e aí é uma longa discussão sobre maior exposição de alguns grupos específicos ou tipos de veículos, por exemplo, o motorista de ônibus. Ele se envolve seis vezes mais em acidentes do que o motorista de carros particulares, proporcionalmente a frota. Mas ele fica muito mais tempo exposto, mas em termos de ferimentos pela massa do 101 seu veículo, o ônibus é grande motorista de ônibus, raramente tem acidente com lesão corporal, então é uma coisa que passa batido, então, há uma série de nuanças nessas coisas todas e que ficam escondidas debaixo de um determinado nível. Além disso, quando a gente vai começar a medir, temos que começar a pensar em uma série de coisas. Gráfico 3 Taxas de mortalidade por por sexo e idade de não pedestres. Brasil. 1991 4,5 4,0 Masculino Feminino Total 3,5 3,0 elas são, eu não diria incompatíveis, mas difíceis de se integrar, até porque algumas são heterogêneas. Então, a questão da mensuração do fenômeno em si, acidente de trabalho, acidente de trânsito é difícil porque há uma dificuldade de integração das fontes. A segunda coisa e que nem o DENATRAN tem isso, a gente não mede por frota de veículos, por tipo, por estado de conservação por coisas que são importantes para conhecer e captar o fenômeno e a gente passa batido em tudo isso porque só tem sentido ou talvez o principal sentido em medir, em conhecer o fenômeno é isso para prevenção, aliás, na saúde de certa forma na questão de acidente de trabalho também é um sentido do registro entre outras coisas é para que seja usado para prevenção e a gente não tem essa especificação. 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 <1 Ano 1-4 5-9 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e+ Gráfico 4 Taxas de mortalidade por sexo e idade de pedestres. Brasil. 1991 Finalmente, a integração dessas fontes todas e com alguns estudos por amostragem, seriam importantes para a gente chegar em algumas estimativas, primeiro de custo, quanto é que custa isso para o país para as pessoas. Porque, gostando ou não, nós vivemos numa sociedade capitalista que toda a energia ou grande parte da energia expressa monetariamente. E, uma das formas de sensibilização, é falar quanto é que custa até na hora que chega a conta e que a gente vê claramente o preço até aí gente, é nessa hora que a gente presta atenção. 50,0 45,0 A segunda coisa é o impacto, não é só a mortalidade, não é só o número de feridos, é só medir efetivamente qual é o impacto desse fenômeno todo sobre a saúde e que é captado ainda de uma forma, repetindo, a gente mal sabe quantos morrem, então, aprimorar essa medição. Masculino Feminino Total 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 <1 Ano 1-4 5-9 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e+ Primeiro: alguém aqui já fez isso, os dados lá da Bernadete que o Marangone apresentou de certa forma é uma tentativa nesse sentido, vejam bem, como é que você integra diversas fontes, bom, alguém aqui tem a questão de pegar a Declaração de Óbito e juntar com o Boletim de Ocorrência, juntar com a CAT, juntar com não sei o que, mas se a gente observar bem algumas dessas fontes 102 A terceira coisa é o impacto na previdência que a gente negligencia sempre, mas alguns milhões de dólares vão pelo ralo.Alguns acidentes de trabalho que ocorrem no trânsito, que vão pelo ralo e que ninguém sabe quanto, e talvez aqui fica uma sugestão um pouco idealista dessa nossa exposição, talvez a gente precise realmente se reunir, reunir DENATRAN, reunir Ministério do Trabalho, da Saúde e ver o que interessa para a sociedade e preencher algumas lacunas para que a gente possa compreender esses fenômenos e começar medi-los com eficiência e começar realmente a conhecer a dimensão, a especificidade dessa tragédia dos acidentes de trabalho que ocorrem no trânsito. Obrigado. Comentários Prof. Dr. Duval Magalhães Fernandes – PUCMINAS e Instituto de Relações do Trabalho A pós as apresentações deste painel, podemos dizer que estamos dando um passo histórico no tocante às estatísticas sobre doenças e acidentes do trabalho no Brasil.Várias instituições estão apresentando informações, seus dados e, efetivamente, estamos percebendo um diálogo que vai abrir um caminho. Então, eu falarei um pouco sobre cada trabalho e, ao final, apresentarei alguns comentários gerais. O primeiro texto, elaborado pelo doutor Celso Salim, deixa claro a preocupação da abertura de caminhos. A apresentação feita no primeiro dia e complementada neste momento mostra o esforço da FUNDACENTRO e, especificamente, no caso do grupo de Belo Horizonte, em Minas Gerais para a sistematização das informações disponíveis e agregação de dados provenientes de outras fontes como a Pesquisa de Emprego e Desemprego e a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar-PNAD.Também foi sugerido incluir na PNAD um questionário suplementar versando sobre o tema “acidentes de trabalho”, como deverá acontecer, no próximo ano, com a questão do trabalho infantil. Mas se assim for, fica uma indagação: quem pagará a conta? Para se ter uma idéia, esse questionário sobre o trabalho infantil incorporado a PNAD teria um custo aproximado, de US$ 1 milhão. Um ponto a considerar, no entanto, é a incapacidade nossa, daqueles que trabalham em demografia, em conseguir colocar o nosso dossiê para ser levado em conta. Um exemplo foi a discussão que tivemos, nós demógrafos, há duas semanas, no XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, quando se discutiu o censo demográfico e falávamos da impossibilidade de agregar ao questionário do universo, questão sobre a ocorrência de óbito no domicílio visitado. Essa questão e algumas outras, permitiriam levantar o padrão de mortalidade do Brasil. E muito se falou aqui sobre este assunto e do desconhecimento do padrão de mortalidade do Brasil. O nosso decani e guru da demografia formal, Professor Luiz Armando, pai das primeiras tábuas de mortalidade brasileiras, conhece muito bem essa dificuldade. Portanto, a nossa tarefa não é somente levantar essa discussão, mas também temos a tarefa de colocar o dossiê das estatísticas sobre doenças e acidentes do trabalho para o governo e alavancar pressões políticas para incluí-lo na pauta das discussões nos ministérios e do Congresso Nacional. Outro ponto que gostaria de destacar do trabalho do Celso Salim, é o reconhecimento das dificuldades de se trabalhar com algumas fontes como a CAT e o contingente de trabalhadores que não é coberto por esta fonte. Eu me recordo que um colega de Campinas levantava a questão do seguro que, comenta-se, será privatizado. Esta é uma discussão que está sendo colocada, pegando um pouco o gancho do Professor Eduardo Rios Neto, que falava de uma tábua de mortalidade, uma tábua de sobrevivência, que serviria para a elaboração desse seguro, eu penso:“ou as seguradoras vão falir porque a informação que nós temos é muito precária, ou vai ser um negócio muito lucrativo, porque vão cobrar um prêmio muito alto e pagar um seguro muito baixo quando do acidente”. Em outras palavras, não se conhece ainda esse aspecto da mortalidade, então, como vamos começar a falar em privatizar alguma coisa que não se conhece, quer dizer, voltamos àquele ponto que foi levantado pelo Manoel, a questão da globalização. Na discussão econômica, a questão do trabalho está sendo colocada como a relação entre o formal e o informal e nossa economia nos empurrando cada vez mais para a informalidade. Levantou-se aqui, buscar dentro da CLT alguns pontos, mas há todo um movimento e está claro e dito por todos os Ministros em reduzir o máximo possível a regulamentação do trabalho no Brasil. Já se falou até mesmo em acabar com a nossa previdência, já se falou em acabar com o Fundo de Garantia, estudos foram mostrados, balões de ensaios e depois é evidente, a opinião pública conseguiu estancar isso. Então, realmente nós temos que lutar em duas frentes, uma, para que o nosso dossiê vá para frente e, por outro lado, nós temos que também tentar estancar essa idéia de liberalismo econômico que só funciona ou só tenta funcionar no caso do Brasil. Com relação ao trabalho apresentado pelo Antonio Marangone, é muito interessante observar que a questão do acidente de trabalho é colocada em referência aos acidentes de trânsito e homicídios. Isso nos indica que estamos frente a questões de políticas públicas, nós não estamos necessitando convencer o trabalhador a usar o seu equipamento de segurança, e nem mesmo ao empresário para que coloque o equipamento de segurança, é claro que isso é importante e deve continuar em todas as campanhas, mas há um caminho que está em nossas mãos e nós podemos pressionar. Neste particular, lembro o caso do Distrito Federal. Durante um certo período de tempo eu vivi no Distrito Federal e, quando o Governo do Cristóvão assumiu, ficou muito clara a preocupação com a questão do trânsito. As políticas implementadas reduziram a mortalidade, quando tem início um novo governo no DF, ele volta a subir. Os comentários do Professor Davi Duarte mostram isso: em 99, 10% de aumento nos acidente de trânsito e esse 103 ano, 2000, a perspectiva é de 30%. Este quadro mostra que as reduções dos acidentes de trânsito estão, em certa medida, na mão dos eleitores. Como ocorreu com o trânsito, também em relação aos acidentes de trabalho pode acontecer. Talvez este trabalho desenvolvido pela Secretaria e SEAD, incorporará um novo componente de análise que é o Código de Trânsito que não estava atuando em 1991, mas quem sabe isso vai ter algum impacto. Talvez o Davi possa falar um pouco disso. Muito tem se falado sobre o código e, hoje, comenta-se em modificálo porque ele está muito severo, como uma vez vendo uma reportagem sobre estes escritórios que defendem as pessoas que têm algum problema de multa, o dono do estabelecimento justificava: o código é muito pesado, pobre não pode ter multa, como se a multa de trânsito fosse alguma coisa que não está relacionada à infração de trânsito. Esse aspecto mostra a categoria de setor terciário sobre modificações. Aqui deixo uma pergunta: quando se fala sobre aquela mortalidade do setor formal um pouco maior do que o setor informal, quer dizer, não é mortalidade, é acidente do trabalho, se o que nos apresentou Marangone é a realidade, eu acredito que sim, mostra que o risco desses dois grupos é diverso. Então, em uma entrevista domiciliar, se entrevista o trabalhador e, sendo ele do setor informal, as suas chances de sofrer um acidente são maiores em comparação ao inserido no setor formal. Assim, a pessoa captada na pesquisa é o sobrevivente, como há riscos diferenciados entre as duas categorias, a maior chance de aparecer na pesquisa será daquele trabalhador do setor formal e com acidente menos grave. Informal, ele tem a probabilidade de morrer muito maior num acidente de trabalho do que o formal. Certamente aí, a pessoa que foi captada, o sobrevivente que, no caso do informal não sobreviveu, então, esse daí não vai entrar, mas eu acho que é muito importante, é claro. Isso não é uma crítica ao trabalho, mas a sugestão de um ponto a ser considerado. Com relação ao trabalho do Professor Davi, ele também mencionou a questão da estatística usando o exemplo da moda feminina para a praia. Pode-se usar outra comparação, por exemplo, como falava Stalin: uma morte é uma tragédia, e um massacre é simplesmente uma estatística. Hoje, no nosso País, o que assistindo é um massacre, é uma estatística a mais e é mais uma tragédia. Acho que é muito importante lembrar que o número de pessoas que estão morrendo todo dia não é simplesmente um valor numérico, são vidas, são pessoas. No fundo, uma vida não vale nada, mas nada vale uma vida, então, realmente tem que se preocupar que são pessoas. Quando o professor Davi mostra o pedestre e o não pedestre, ficou muito interessante porque mostra que, no caso dos pedestres, que são aqueles citados pelo Eduardo Rio Neto, em idade madura, podem ser pessoas incorporadas no mercado de trabalho, porque hoje já se 104 tornou praxe as pessoas se aposentam e retornarem ao mercado de trabalho. Por exemplo, nos bancos já ficou muito caracterizada aquela fila especial para os 65 anos e mais, as empresas tendem a contratar, o termo é “boy”, pessoas que já estão numa idade mais elevada para poder entrar naquela sessão sem fila, porque fazem o serviço bancário mais rapidamente. Isso já tem acontecido, e é claro, essas pessoas saem dos bancos se expondo ao risco de atravessar uma rua já com alguma dificuldade, já não tão ágeis como os rapazes, as pessoas mais novas. Em relação a uma visão geral, eu acho que realmente nós estamos chegando a uma situação que lembra um pouco o Milton Santos, quando ele falava das duas cidades, a cidade brilhante e a cidade opaca. Nós estamos vendo que nós vamos ter sim as estatísticas, nós podemos trabalhar as estatísticas de acidentes de trabalho, nós vamos ter essa estatística para a cidade brilhante ou para aquelas pessoas relacionadas à cidade brilhante, que são as que estão dentro do sistema de globalização. Sobre essas, nós vamos conseguir levantar as informações. Por outro lado, para aquelas que estão dentro da cidade opaca e, na visão de Santos, são os que dominam o espaço físico, mas não estão dentro dessa sociedade globalizada e sim os excluídos dessa sociedade, nós estamos vendo que a cada vez mais as estatísticas vão desaparecendo, cada vez mais nós não vamos encontrá-los nos domicílios porque eles não sobreviveram, cada vez mais nós vamos ter que procurá-los nos Atestados de Óbito e possivelmente fazer, buscas ativas em Delegacias para tentar entender se aquele acidente foi um acidente de trabalho ou não foi um acidente de trabalho. Isso nos divide cada vez mais e essa divisão, é lógico, dentro do sistema capitalista globalizado e de exclusão, é muito lógica quando se fala em privatizar seguro. Mas será privatizado para quem? Para aqueles que podem pagar. E esse contingente maior, vai ficar como alguns jornalistas falam para a viúva? E são esses que podem pagar também aquela contribuição, porque se nós estamos falando da previdência, alguém vai ter que pagar e o que essas pessoas irão receber, esses que não estão dentro dessa cidade luminosa, que estão na cidade opaca onde se concentra o grande contingente da população. Quando vai ser resolvido esse problema? Quando se falou aqui do histórico eu acho que é isso, aqui nós estamos colocando claramente que temos sim para aqueles que estão no mercado formal de trabalho, para aqueles que estão com a sua carteira assinada, esse nós vamos conseguir levantar as informações melhorando alguns pontos aqui, outros ali. Por exemplo, nos foi mostrado em relação a fiscalização do trabalho algumas apresentações e algumas telas de computador com dois casos, um acidente queda de carroceria de caminhão e o outro caso que acredito foi uma queda de andaime. Nós observamos o preenchimento na queda de caminhão a data de nascimento da pessoa estava registrada, mas para o outro não estava registrado, então, se nós estivéssemos trabalhando no calculo de fatores de risco, como falou o Eduardo, sexo e idade é mania de demógrafo, no primeiro caso nós teríamos a idade. Para o segundo não, mas poderíamos recuperar a informação. No entanto para aquela parcela que está fora do mercado de tra- balho formal seria impossível qualquer procedimento. Para esses, como vai ficar a situação mais a frente, quando a globalização for aumentando e cada vez mais passarmos pelo processo de privatização, onde se privatiza o bom e permanece a viúva com o ruim? Certamente é um momento histórico e que nós temos que colocar nosso dossiê na mesa política. Obrigado. 105 106 Painel IV Estatísticas sobre Doenças e Acidentes de Trabalho: Pesquisas e Relato de Experiências Coordenadora: Myrian Matsuo Affonso Beltrão – FUNDACENTRO Acidentes do trabalho dentre os atendimentos por causas externas num serviço de emergência em Salvador, Bahia. Paulo Sérgio de Andrade Conceição Trabalho e violência: busca ativa de acidentes de trabalho fatais Sérgio Antônio Martins Carneiro Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção: Estatísticas extraídas dos Anexos I e II da NR-18 Dorival Custódio e Monika Schorr Doenças Ocupacionais e Acidentes do Trabalho no Setor Mineral Giuseppe Vincenzo De Lorenzo Comentários Anadergh Barbosa de Abreu Branco 107 108 Acidentes do trabalho dentre os atendimentos por causas externas num serviço de emergência em Salvador, Bahia. Paulo Sérgio de Andrade Conceição Bom dia a todos. E m primeiro lugar, eu gostaria também de agradecer a FUNDACENTRO, o convite da pessoa do Dr. Celso e também a acolhida, esse trato super especial que eles têm dado a gente aqui, a atenção a todos nós. A gente vai falar sobre esse trabalho, que é Acidentes de Trabalho dentre os atendimentos por causas externas num serviço de emergência em Salvador – BA – 99, os autores estão ali colocados, próximo. Ficou fácil falar sobre esse nosso trabalho nesse Seminário porque deixaram mais para o final a apresentação de experiências. Então, os antecedentes de todo o nosso trabalho são exatamente as justificativas dos problemas e das questões que foram levantadas por todos vocês durante esses dois primeiros dias. Então, assim, só rapidamente, a gente não vai precisar fazer a introdução, como talvez faríamos, a gente só quer lembrar algumas das questões que foram abordadas aqui. Uma delas, por exemplo, é a questão de que a notificação oficial dos acidentes de trabalho no Brasil, ainda é somente dos trabalhadores celetistas. Os números de celetistas variam de acordo com a base de dados que a gente estaria utilizando, mas, pelo menos em 97, dados da RAIS do Ministério do Trabalho – Emprego que foram dados eram de 19,1 milhões de trabalhadores celetistas, então, de um total em 97, segundo o IBGE, da população ocupada de cerca de 70 milhões de trabalhadores, ou seja, independentemente de falar em subnotificação ou não, a notificação pela CAT só diz respeito a menos de um terço da população ocupada no Brasil. As várias iniciativas de se conhecer essa realidade ainda, têm sido limitadas, ou a determinadas regiões ou limitadas em relação a sua cobertura, que também foi bastante exposta aqui, esclarecido em relação, por exemplo, aos dados do sistema de informação de mortalidade, que, embora fosse para cobrir todos os trabalhadores, acaba tendo menos informações do que as informações que temos hoje oficialmente pela CAT, entre outros problemas que já foram abordados aqui anteriormente. Fizemos uma avaliação dos acidentes de trabalho dentro dos atendimentos por causas externas numa emergência, para conhecer esses eventos na perspectiva da implantação da sua vigilância nas emergências, ou seja, sabemos que grande parte dos acidentes de trabalho é atendida em emergências de saúde, em emergência de saúde pública inclusive, e esses eventos muitas vezes passam despercebidos, não existem sistemas de controle, a não ser em poucos hospitais. Se esses trabalhadores forem internados, mais recentemente a partir de 98 já se registra a partir da AIH, que foi o sistema discutido no primeiro dia, a causa da internação por acidente de trabalho. Mas sabemos que a maioria dos acidentes atendidos na emergência não deve levar internações que devem ser acidentes leves ou mesmo graves, mas que necessariamente não levariam a internações. Então, se não levam a internações não entrariam no sistema de AIH que é só a Autorização de Internação Hospitalar, ou seja, somente dos pacientes internados. Então, a nossa idéia é que houvesse uma vigilância dos acidentes, mesmo para que esses não chegassem a ser internados, então, dessa forma nós teríamos condições de conhecer os acidentes de todos aqueles que precisassem demandar um atendimento em serviço de saúde. Ficariam de fora somente aqueles acidentes muito leves que não precisassem de assistência médica ou aqueles que fossem resolvidos somente dentro do local de trabalho, ou em casa mesmo, que não precisassem chegar ao Posto de Saúde ou Emergência de Saúde. Considerou-se causas externas, todo tipo de agravo não natural, ou seja, causas externas de lesões e envenenamentos. Foi realizado um censo dos atendimentos por causas externas de oito plantões diurnos em uma das principais emergências de Salvador. Nós escolhemos plantões diurnos por questões operacionais para fazer coleta de dados e também porque de dia é o horário que deve chegar mais acidente de trabalho, porque é o momento que tem mais pessoas trabalhando. Foi elaborado um questionário único e para todos os eventos e complementamos com uma outra ficha caso fosse acidente de trabalho. Não coletamos somente os acidentes de trabalho, mas todas as causas externas que chegaram naquele hospital durante aqueles plantões e, dentre as causas externas, nós pinçamos aqueles que foram decorrentes de acidente de trabalho. A nossa ficha era simples, nós treinamos estudantes de medicina e alguns estagiários para a aplicarem. Era aplicada logo depois que a pessoa era atendida pelo médico. Tivemos poucas recusas, apenas dois pacientes recusaram-se a responder ao nosso questionário e a gente questionava se aquele evento teria sido decorrente de um acidente no local 109 de trabalho ou de um acidente indo para o trabalho ou voltando do trabalho. Se a resposta fosse afirmativa, para uma dessas questões a gente completava então com a ficha adicional daqueles casos de acidente de trabalho. As variáveis trabalhadas foram sexo, idade, ocupação, escolaridade, município de residência, as circunstâncias do evento (agressão interpessoal, violência doméstica, acidente de trânsito, quedas e outros), município de ocorrência do evento. Se fosse caracterizado acidente, coletávamos também o nome da empresa, local de trabalho, o ramo de atividade econômica, município e localização da empresa, o tipo de vínculo trabalhista a parte do corpo atingida e o diagnóstico das lesões. Os nossos resultados. Levantamos nesse censo 215 eventos, sendo que 68, ou seja, 31,6% foram considerados acidentes de trabalho. É interessante chamar a atenção disso, de todas as causas externas atendidas naquele hospital durante aqueles plantões que nós coletamos, 31% quase, 1/3 foram decorrentes de acidentes de trabalho. Pelo censo comum, pensa-se que o acidente de trabalho deve ser uma importante causa também de morbidade por causas externas, mas não esperávamos que fosse tão grande, falaremos depois sobre essa questão. As principais ocupações dos acidentados foram pedreiro e carpinteiro, 10% e 8,8. Mesmo sendo um número pequeno de pessoas, mas é sempre difícil trabalhar com a ocupação, lembrando daquela questão que foi colocada para se tentar sistematizar melhor, simplificar mais a classificação da ocupação. Essa tabela é a única que a gente vai apresentar alguns dados, tanto para os acidentes de trabalho quanto para os eventos que aconteceram. A gente tem a descrição para o sexo, quando foi o grupo só dos acidentados por trabalho temos 90% de homens e 10% de mulheres, quando pegamos todos os eventos a proporção de mulheres sobe, sendo 70% em homens e 30% em mulheres. A média de idade foi um pouco menor quando a gente pegava somente acidente de trabalho 31,1 anos contra 33,7 anos, a variação foi de 10 a 90 anos. Deixamos de referir anteriormente que a coleta foi a partir de 10 anos porque é considerada a idade ativa pelo IBGE, então, a gente não fez coleta para idades inferiores a essas. Em relação aos acidentados do trabalho que só foram 18 anos a 54, não captamos nenhum acidente em trabalhadores infantis, nem na faixa etária logo abaixo de 18 anos. A escolaridade está muito baixa, tanto para quem sofreu acidente de trabalho quanto para quem sofreu acidentes mais gerais, só para vocês terem uma idéia, 70% dos acidentados do trabalho não tinham completado nem mesmo o 1° grau de escolaridade e 74,4%, quando considerados todos os eventos de causas externas. Bem, esse gráfico daqui é muito interessante para a gente observar uma coisa.A partir daqui são só os dados 110 daquelas 68 pessoas que tiveram acidente de trabalho. Temos o seguinte, o principal vínculo de trabalho era o trabalho do autônomo e no nosso estudo, a gente não ficou muito preocupado se era autônomo, contribuinte para a previdência ou não contribuinte, só o fato de ser autônomo realmente. 41,2%, 35,3% são os celetistas, 14,7% são empregados sem carteira, aqui é aquela questão mesmo daquelas pessoas que trabalham têm os seus patrões, mas só que não têm a sua carteira de trabalho assinada, e 7,4% empregados domésticos, nesse casso aqui a gente não se preocupou tanto se o empregado tinha a carteira assinada ou não, porque esse gráfico a gente quer explicitar mais, é a questão de quem tem direito ou não à CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho. Somente essa faixa azul escura de 35,3% seria a faixa de pessoas que teriam uma CAT, então, todos os outros grupos daqui seriam aqueles correspondentes a acidente de trabalho “invisíveis” para a gente, pelo menos até o momento, isso batendo mais ou menos com aquele 1/3 de pessoas que estão no mercado de trabalho formal de trabalho mostrado na primeira transparência. Aqui temos os principais ramos de atividades das empresas, nos quais os trabalhadores acidentados trabalhavam, a gente tem 26,5% na construção, 25% no setor de comércio, a indústria de transformação com 14,7%, serviço doméstico 7,4% - o serviço doméstico normalmente nunca aparece nas estatísticas oficiais porque são pessoas que não têm direito a acidentes de trabalho, agricultura 5,9% mesmo sendo emergência pública em Salvador, mas muitas pessoas do interior são atendidas também em Salvador, por isso que a agricultura aparece aqui também e as demais atividades com 20,5%.As principais causas dos acidentes típicos e de trajetos. Separamos aqui somente para dar a idéia, até porque a casualidade de um e outro são diferentes a situação que leva a um e outro. Então, em relação aos seguintes tipos, nós temos: 18,9% queda de peso sobre o corpo, algum objeto que cai sobre as pessoas, e, em segundo lugar, com 15,1% aparecem quedas do mesmo nível e com diferença de nível não diferenciando o local da queda, empatadas com acidentes com máquinas. Os acidentes de trânsito também são importantes, dentre os acidentes típicos são aquelas pessoas que estão no trabalho e que estão no trânsito, motoristas, outras pessoas, mas também pessoas que têm que se deslocar durante o trabalho, a gente tem que lembrar dessa categoria também de pessoas que se acidentam no trânsito mesmo estando no horário de trabalho. As outras causas somaram 37,7%. Já em relação aos acidentes de trajeto, como já era de se esperar aparece o acidente de trânsito com quase a metade das causas, mas também é importante a questão das quedas como causa de acidente de trajeto. A parte do corpo atingida, as principais nós temos a mão 27,3%, cabeça 19,5%, 15,6% os membros inferiores, múltiplas localizações 11,7% e outros locais 26,0%. Principais diagnósticos foram os ferimentos leves para o primeiro motivo, mas a gente tem também essas causas daqui que foram consideradas causas de acidentes que classificaríamos como acidentes graves, que seriam as fraturas, luxações, os chamados ferimentos graves e politraumatismo, a diferença entre entre ferimentos leves e graves é de uma classificação que é feita aqui pelo pessoal de São Paulo, do programa da Zona Norte, o ferimento leve seria aquele que não tivesse a menção de lesão de alguma víscera, algum tendão ou algum músculo importante, e o ferimento grave, em contraposição, aquele que tivesse alguma lesão de víscera, tendão ou músculos, essa é a diferenciação. Então, isso daqui deve estar ilustrando quase 50% dos casos, como graves, mas era de se esperar realmente porque a gente estava pegando os acidentes de uma grande emergência, então para lá devem ser enviados os casos mais graves e os casos mais simples resolvidos em outros locais. A gente fez uma diferenciação aqui só para complementar em relação a trabalhadores formais e informais essa divisão de formal e informal foi mais voltada para a questão da notificação do acidente de trabalho e não notificação do acidente de trabalho, porque a gente pegou o seguinte, formal, só os celetistas com carteira de trabalho assinada e informal, o restante, autônomos, empregados domésticos e empregados sem carteira assinada, então essa divisão é mais nesse sentido do que no sentido do formal e informal, por exemplo, que o Manoel apresentou ontem para a gente. Então, temos no total a distribuição por sexo, aquela que tínhamos falado de 90% de homens e 10% de mulheres, quando a gente pega um mercado somente formal o percentual de mulheres ainda cai mais ainda, basicamente 96% e 4% de feminino. No mercado informal, a participação feminina em contraposição aumenta um pouco. Os principais ramos de atividades no total era aquele que nós tínhamos falado, no mercado formal aumenta um pouco a participação da construção civil, aumenta um pouco a participação no comércio e aumenta bastante também a participação da indústria de transformação, isso não sei se vocês prestaram atenção ontem, quando o Manoel apresentou, é até um pouco coincidente. Na indústria de transformação, basicamente, as pessoas são mais empregadas realmente, o mercado informal dentro da indústria de transformação ele passa a ser um pouco menor. E em relação ao mercado informal aparece novamente como importante os serviços domésticos. O tipo de acidente também, em relação ao mercado formal é mais acidente típico, ele aumenta a participação do acidente típico, diminui a participação do aci- dente de trajeto e o oposto acontece em relação ao mercado informal, os acidentes de trajeto passam a ter mais importância no mercado informal. Quanto à escolaridade, a gente observa que continua baixa, tanto no mercado formal quanto no informal, mas há uma pequena melhora, por assim dizer, para aquelas pessoas que estão inseridas no mercado formal, a gente usou esse indicador aqui como indicador de baixa escolaridade, ou seja, as pessoas analfabetas e as pessoas com o 1° grau incompleto. O Rio de Janeiro foi feito um estudo semelhante a esse nosso em 99 pela Sueli Deslandes em dois Hospitais Municipais, os principais do Rio de Janeiro e eles fizeram o censo na verdade em todos os atendimentos e em todos os horários, nós fizemos o censo dos atendimentos das causas externas nos horários diurnos, e ali encontraram uma proporção de acidentes de trabalho dentre as causas externas de 18,7% em hospital e 15% no outro, contra os 31,6% que encontramos no presente estudo. Além do fato dessa pesquisa incluir todos os atendimentos, a grande diferença que tivemos aqui, na verdade, foi porque, por algum problema metodológico, eles não conseguiram captar os acidentes de trajeto pegaram somente os acidentes típicos. Segundo o Ministério da Previdência, a proporção de acidente de trajeto entre o total de acidentes em 98 foi de 9,5% Brasil, 10,7 para Bahia, bastante inferior ao que nós encontramos, que foi de 22,9%. Isso aqui talvez esteja ilustrando para a gente que os acidentes de trajeto possam tender a ser um pouco mais “invisíveis” do que os acidentes típicos, pelo fato das pessoas não caracterizá-los como relacionados ao trabalho. Então, talvez a gente deva realmente ter, na verdade, mais acidentes de trajeto que aqueles que oficialmente são registrados. De acordo com a participação feminina, houve o inverso, os dados do Ministério da Previdência nesse ano no Brasil foram de 17,1% contra 10,3% no presente estudo nosso. A gente pegou o Brasil porque o Ministério da Previdência não informa por Estado, por sexo, somente por Brasil. Na região Metropolitana, as CAT que chegam no CESAT, nós avaliamos que a proporção de mulheres ainda é um pouco superior 19,5%, mas é uma coisa que pode se investigar mais, porque no nosso estudo a gente observa que apenas 10% de participação de mulheres dentro de um total de pessoas atendidas. Uma outra questão que eu queria também ressaltar, é em relação ao grau de escolaridade das pessoas, a gente não colocou isso na discussão, basicamente as pessoas que foram atendidas naquele serviço de emergência são pessoas com muita baixa escolaridade, e a gente 111 sabe que os trabalhadores nem sempre são atendidos nas emergências públicas, então há um direcionamento, quando a gente pegou também a descrição das empresas no geral foram pequenas empresas que levaram seus trabalhadores a serem atendidos naquela emergência, não foram as grandes empresas, então, na verdade , mesmo a gente pegando as emergências públicas, é capaz de não estar pegando na realidade todos os acidentes e nem a distribuição aleatória dos mesmos, porque mesmo as pessoas das grandes empresas, os convênios, não cobrindo acidente de trabalho, mas essas empresas têm outro tipo de convênio para cobrir a assistência dos seus acidentados, então é possível que haja esse direcionamento, certamente por isso encontramos poucos trabalhadores. Tentamos conseguir na Previdência a informação se esses trabalhadores que eram celetistas, tiveram sua CAT emitida não conseguimos a informação com a Previdência, mas nas próprias empresas a gente foi buscar para saber se tinha sido emitida a CAT e, mesmo para aqueles celetistas que eram 1/3 do grupo, somente 45,5% tinham notificado com a CAT. Claro que isso aqui é um indicador apenas, não podemos extrapolar esses dados, mas quero só lembrar vocês que, parte desses acidentes daqui foram acidentes classificados como graves, politraumatismo, fraturas, luxações, então, mesmo assim, mesmo acidentes graves que são acidentes que levam ao afastamento, prolongados mesmo nessa situação, menos da metade das CAT foram emitidas. Concluindo já a nossa apresentação, entendemos que a implantação da vigilância dos acidentes de trabalho nas emergências, será um passo importante para conhecer melhor a realidade desses eventos no conjunto de 112 trabalhadores, ainda que seja necessário outros estudos, pesquisas epidemiológicas para complementação da informação. Acho que isso aqui concorda muito com o que foi falado aqui ontem, inclusive nos comentários da professora Vilma, da necessidade que a gente tem de estar fazendo a vigilância desses eventos nos vários sistemas, registros administrativos e outras formas de informação, mas também seria necessário outras pesquisas, como por exemplo, inquéritos epidemiológicos que estão sendo feitos agora para se conhecer melhor essa realidade e complementar mais essa informação. A gente entende que a vigilância de acidente de trabalho no entanto, é melhor que seja feita num conjunto da vigilância também de outras causas externas, pois verdade se considera o acidente de trabalho como uma expressão da violência contra um seguimento da população e que a gente deva estar vigiando esses eventos mas também vigiar outros eventos que levam violência contra as pessoas, trabalhadoras ou não. Isso dentro da saúde, o que é mais estratégico, porque você não teria que fazer sistemas separados um para vigiar acidentes de trabalho, outro para vigiar a violência doméstica, outro para vigiar a violência contra a criança, então seria interessante que dentro de escopo de ação de vigilância contra a redução de morbidade, contra as causas externas, a gente também vigiasse o acidente de trabalho. Acho que isso é mais lógico de acordo com a ótica do SUS de prevenção, de promoção da saúde e também muito mais possível de trabalhar com outros grupos de pessoas que estão aí discutindo a violência contra a mulher, contra o menor e também agora contra o trabalhador. É basicamente isso que eu queria falar. Trabalho e violência: busca ativa de acidentes de trabalho fatais Sérgio Antônio Martins Carneiro B om, bom dia a todos, eu queria agradecer o convite que foi feito pelo Celso, que nos conhecemos há pouco tempo na Bahia, ele assistiu a apresentação do nosso trabalho no Congresso da ABRASCO e nos convidou para apresentar essa experiência, que é uma experiência de um serviço de referência em saúde do trabalhador que abrange a região Norte de São Paulo, que é essa região que está aí na cor laranja, é uma região com 13 Distritos Administrativos, com 183,4 km2 e uma população calculada para 1999 de 1.570.000 habitantes, bem superior a muitas cidades brasileiras. O Centro de Referência da Freguesia do Ó já trabalha há 70 anos com o sistema de informação em vigilância de acidente de trabalho. Inicialmente, trabalhava só com a comunicação de acidente de trabalho, posteriormente foi implantado um relatório chamado RAAT que é o Relatório de Atendimento ao Acidentado do Trabalho junto aos Hospitais Públicos da região. Os hospitais públicos identificam o acidente de trabalho e enviam uma cópia do relatório, Centro de Referência. Essa ampliação do sistema de informação com a RAAT modificou muito o perfil de novidade da região, tanto é que, no ano de 1998, dentre todas as informações recebidas pelo Centro de Referências, 60% foi dos Hospitais, o restante foi das Comunicações de Acidente de Trabalho. Posteriormente, incorporou-se também as informações do Sistema de Informação Ambulatorial (SIAMA), que é o sistema que informatiza os dados dos trabalhadores atendidos no ambulatório do Centro de Referência. O que a gente percebeu é que não existiam informações de acidentes fatais, apesar de ter uma notificação grande dos hospitais da região e das comunicações de acidente de trabalho, do INSS, (CAT) e do próprio SIAMA. As informações de acidentes fatais praticamente não existiam no sistema. Bom, diante disso, começou-se a pensar num projeto para investigação de acidente de trabalho fatal na região e, nesse momento, houve a confluência de dois interesses, um do próprio serviço de ampliar essas informações e o outro particular de estudar a relação entre trabalho e violência. As primeiras informações vieram das Declarações de Óbito, através do Programa de Aprimoramento de Informações sobre Mortalidade (PROAIM) do município de São Paulo, verificou-se que a Declaração de Óbito trouxe informações para a região, mas é um instrumento, como já foi aqui citado, que tem dificuldades como instrumento para informações para acidente de trabalho, primeiro pela subnotificação, para vocês terem uma idéia, no ano de 1998, que foi o ano estudado, 75% daquele campo que tem lá no Atestado de Óbito o SIM, NÃO, IGNORADO, 75% foi marcado IGNORADO0. O campo NÃO é pouco marcado, significando falta de informação para que o perito que examina a morte violenta possa estabelecer ou negar o nexo com o trabalho. Poucos são marcados como acidente de trabalho, então, há uma grande subnotificação da Declaração de Óbito, além do fato de que traz poucas informações do empregador e da descrição de como ocorreu o acidente de trabalho. Foi isso que motivou a investigar o Boletim de Ocorrência Policial. Essa região aqui tem 13 Delegacias Policiais, dessas 13, tem uma que é de Defesa da Mulher, coordenados pela 4ª Seccional de Polícia Civil de São Paulo. Foi feito contato com a Polícia para ter acesso ao Boletim de Ocorrência e nós tivemos a possibilidade de ter acesso aos Boletins de Ocorrência. Definiu-se dois objetivos para esse trabalho. O primeiro objetivo é o de avaliar o Boletim de Ocorrência enquanto instrumento para o sistema de informações de acidente de trabalho, e o segundo foi identificar e descrever as condições de como a violência se manifestou no ano de 1998 na região. Como a gente desconhecia esse instrumento, pois o Boletim de Ocorrência não é um instrumento que normalmente manipula-se na área da saúde, fizemos um estudo piloto de janeiro de 1997 para poder avaliar se trabalharíamos com amostra ou se a gente ia trabalhar com o total das informações. Resolveu-se trabalhar com o universo de 98 apesar da quantidade de Boletins de Ocorrência. Definiu, então, quais foram as variáveis que eram possíveis de serem coletadas no Boletim de Ocorrência, as variáveis são: o tipo de ocorrência que, na verdade, é a natureza do B.O., o tipo de lesão que causou ao trabalhador, a ocupação e o horário de ocorrência, então, esses dados foram coletados. Estabeleceuse também, através desse estudo piloto, um plano de análise que fez a seguinte separação: número total de casos, números totais com lesões corporais, número total com lesões corporais graves e o número de mortes. Definiuse como caso de violência no trabalho: todo o B.O. registrado numa das três Delegacias e aqui com qualquer vínculo empregatício, tanto resultante de relações internas de trabalho, como desentendimento entre colegas ou chefias que geraram B.O., assim como as decorrentes de violência social ocorrida, tanto dentro do trabalho quanto na rua por roubo com ou sem arma, que tenha gerado lesão corporal ou não, e o acidente de trânsito; quer dizer, é um conceito que amplia o conceito de acidente de trabalho da Previdência Social. Foram tra113 balhados 67.981 Boletins de Ocorrência no ano de 98 e os Boletins estão divididos por Delegacia, por mês, eles foram pelo menos manipulados. Fez-se a seguinte seleção: alguns eventos não poderiam ser acidente de trabalho como perda de documento, furto, roubo de água na rua, o restante foi examinado como desentendimento, injúria, roubo de todas as naturezas. Foram lidos os históricos e, a partir disso, viu-se ocupações que se classificariam como casos ou não. Desse total de Boletins de Ocorrência, separou-se 5.558 casos que podem ser distribuídos por Delegacia, por região, mas não é o caso aqui neste seminário. O roubo com arma de fogo foi a principal ocorrência e se somarmos roubo com arma de fogo com simulação e roubo sem arma, isso aí significou 91% de todos os eventos ocorrendo com o trabalhador. Vale a pena destacar que tem acidente de trabalho identificados como tal pela polícia, principalmente, os casos dos acidentes típicos como amputação, apreensão de membros.Apareceram casos de violência sexual que são, principalmente, registrados na Delegacia de Defesa da Mulher, que são os casos de estupro na ida ou na volta do trabalho. Aqui também tem um caso de verificação de óbito que foi incorretamente colocado pela polícia, porque, na verdade, a verificação de óbito é para morte natural, essa aqui foi uma morte violenta de um ajudante de caminhão, mas foi classificada pela polícia como SVO. Em termos de lesão, a grande maioria dos eventos não gerou lesão física aparente, tem um número também elevado de seqüestro, principalmente motorista de carga, que são assaltados ali na região, que eles seqüestram o motorista e depois jogam o motorista em algum local e levam a carga. Apareceram 172 lesões corporais e 41 mortes. Não dá para mensurar o que a ameaça sem lesão causa de sofrimento para o trabalhador, mas deve ser muito grande porque a gente ouve relatos de cobradores que dizem assim: eu já sei que todo dia naquele horário eu vou ser assaltado quando eu vou naquela linha, naquele bairro, então, há um nível de sofrimento nesse tipo de ameaça que não é mensurado. Bom, em termos das ocupações, a principal ocupação exposta à violência, porque eu diria que o acidente de trabalho é vinculado com a violência no Boletim de Ocorrência, é o motorista e o cobrador, que são as principais vítimas dos assaltos. Aparece também um número elevado do trabalhador do comércio, mas, se juntarmos motorista de ônibus, com os de carga, com taxistas e com motoboys, veremos que mais de 50% são profissões vinculadas ao transporte que são vítimas da violência. Destacou-se algumas profissões com o bancário, mas que esses casos são mais graves, são assaltos às agências. Um destaque que deve ser lembrado é com relação aos carteiros, quando se iniciou a pesquisa havia um número elevado de casos envolvendo carteiros, com o passar dos meses foi caindo, foi caindo e chegou a zero em outubro. A hipótese para isso é que 114 o assalto ao carteiro virou crime federal e passou a ser obrigatoriamente registrado em Delegacia Federal, não necessariamente ser registrado numa Delegacia local. Outra hipótese, é que se implantou no ano de 1998 as entregas de talão de cheque e cartões de crédito por carros expressos, motoboys e não mais o carteiro.A pesquisa durou sete meses e envolveu sete profissionais de nível superior, quatro Médicos, um Assistente Social, uma Enfermeira e uma Técnica de Segurança. Com relação aos horários, a maioria das lesões corporais e das mortes foi no horário da tarde. Este quadro mostra um cruzamento interessante de duas categorias de motorista, o motorista de carga que começa o dia com violência, já que a maioria dos assaltos e da violência ao motorista de carga é de manhã, que abaixa à tarde e à noite e de madrugada tem pouco registro; e com o motorista de táxi, que é justamente o contrário; de manhã tem pouco assalto, aumenta à tarde, à noite e de madrugada é quando ocorre o maior número de assaltados. O assaltante do motorista de carga geralmente é do crime organizado e, na maioria das vezes, não causa lesão, são mais especializados no roubo, já os assaltos aos taxistas são mais graves porque o taxista tenta defender o seu patrimônio e o assaltante noturno quer algum dinheiro e acaba assaltando o taxista. Em termos de lesão corporal, cabe destacar que aqui já aparece o trabalhador da indústria e aí podemos botar uma vírgula, a construção civil como a principal vítima de lesões corporais e são, principalmente, lesões graves. Já os registros envolvendo policiais são lesões mais leves, são agressões com punho envolvendo agentes penitenciários do Carandirú, que é o maior complexo penitenciário da América Latina e tem muitos agentes penitenciários vítimas de brigas com os presidiários e que fazem notificação na Delegacia de Polícia da região. Os motoristas e os cobradores que aparecem como grande número de casos, apresentaram poucos casos de lesão corporal. Em termos de lesão, a agressão com punho, que é lesão leve, foi a principal notificação, e foi devido aos agentes penitenciários. Os casos classificados como acidente de trabalho geralmente são acidentes graves porque, quando a Polícia reconhece como acidente de trabalho, geralmente é acidente grave. Consideramos como acidente grave todos os trabalhadores que foram hospitalizados, que levaram tiro, facada ou que houve amputação, esmagamento, exposição de membros, assim como os casos de estupro e de trabalho escravo. Aqui cabe uma explicação, nós encontramos boletins com denúncia de trabalho escravo, inclusive o título do Boletim de Ocorrência era trabalho escravo, que são geralmente trabalhadores de países vizinhos como a Bolívia, e que viviam presos e não ganhavam salários, denunciaram na Polícia e pegamos seis casos de trabalho escravo numa empresa têxtil da região. O tiro aparece como a principal causa de acidente grave e há que se ressaltar que vários destes casos devem ter morrido. O B.O. registra o fato, depois o que aconteceu nós não temos informação, talvez no processo, mais tarde pode haver confirmação, tem tiro na cabeça, por exemplo, que provavelmente morreu e nós não sabemos quantos desses morreram. A queda ocorreu, principalmente, na construção civil. Em termos de vítimas de acidentes graves, a primeira ocupação é trabalhador da indústria, principalmente da construção civil, aparecendo também o trabalhador do comércio, o vigia e o policial como vítimas de acidente grave. Quanto aos acidentes fatais foram encontrados 41 óbitos vítimas de acidentes de trabalho, a principal causa de morte foi homicídio e latrocínio com 14 óbitos. Seguem-se as quedas e eletrocussões. Há que se ressaltar que a grande ausência é o acidente de trânsito, nós não conseguimos identificar no Boletim de Ocorrência o acidente de trânsito porque não é possível saber se era um trabalhador que estava se deslocando para o trabalho ou que estava voltando, porque o B.O. não traz essa informação, que, aliás, a maioria dos estudos brasileiros apontam o acidente de trânsito como a principal causa de morte para os trabalhadores. Este estudo é comparável com o estudo da Bernadete que foi apresentado ontem neste Seminário, o estudo aponta, na cidade de São Paulo, o homicídio como a principal causa. Existe também o estudo no Rio Grande do Sul, da Jussara Mendes, também muito interessante, feito com as Declarações de Óbitos e eles fizeram um processo que chamaram de Autópsia Verbal que a partir da informação que eles tinham nos prontos-socorros eles foram entrevistar família para saber se aquela causa externa foi ou não relacionada com o trabalho e nesse estudo lá no Rio Grande do Sul, 58% dos casos de morte por acidente de trabalho foram identificados como homicídio, mas a maioria dos estudos brasileiros coloca o acidente de trânsito que a gente não conseguiu pegar. As quedas aqui foram na construção civil. Em termo da profissão, o trabalhador da construção civil foi o que mais teve morte. Foi possível identificar pessoalmente as vítimas porque foi tirada fotocópia de todos os Boletins de ocorrência de morte e de lesão grave, os outros casos foram preenchidos em planilha. Aqui, o trabalhador da indústria da construção civil aparece como a principal vítima do óbito e aqui é, principalmente, queda e eletrocussão.Todos os casos de morte envolvendo trabalhadores do comércio deveram-se a homicídios. O motorista de carga aparece como a profissão que tem mais variações de tipos de morte: homicídio, trânsito, esmagamento pelo próprio caminhão, afogamento, então, tem uma variedade, é uma profissão exposta a vários tipos de risco. Separou-se os taxistas porque os estudos no Estados Unidos apontam essa categoria com maior incidência de mortalidade por acidente de trabalho e aqui na região nós encontramos só um caso de morte por taxista. Comparando as diversas fontes de informação, identificou-se que, dos 41 Boletins de Ocorrência, houve cruzamento com 11 Declarações de Óbito, tinham lá registrado como acidente de trabalho entre esses 41, apenas duas CAT’s aparecem registradas e uma no relatório dos hospitais. O total de óbitos na região foi, portanto, de 58 se considerarmos as diversas fontes que não coincidiram. Há quase uma superposição, pois se nenhuma informação cruzasse, totalizariam 72 mortes, só houve o cruzamento de 14 casos entre quatro fontes existentes no sistema, na região Norte de São Paulo no ano de 1998. As fontes são quase complementares, só 20% das informações cruzam uma fonte com outra, por exemplo, não houve cruzamento de uma CAT com uma RAAT e o B.O. foi o único instrumento que cruzou com todas as outras fontes. Agora, há que se ressaltar aqui que todas essas fontes a CAT e a RAAT são informações passivas, elas chegam no nosso sistema de informação, já o B.O. teve um processo de busca ativa, quer dizer, teve o olhar de quem foi pesquisar. A informação não está disponível, pois o acidente não está caracterizado.A polícia faz estatísticas e, só para vocês terem uma idéia, dessas 41 mortes só 8 foram identificadas pela Polícia como acidente de trabalho, aliás, só oito foram identificadas como acidente de trabalho e aparece na natureza do Boletim da Polícia relacionada com o trabalho. A Polícia faz um sistema de notificação regular tem um boletim chamado de boletim N° 8, no qual eles totalizam o acidente de trabalho, porém a pesquisa neste boletim revelou que não existe correspondência entre o que estava sendo levantado e o que sai na Polícia. Tem caso que está contabilizado no boletim e não tem B.O. correspondente, tem B.O. que está como acidente de trabalho e que não aparece no Boletim da Polícia registrado como tal. Mas eu diria que o Boletim de Ocorrência mostrou-se uma boa fonte de informação. Além dos casos em que não é possível correlacionar o fato registrado no B.O. como acidente de trabalho, existe também a subnotificação dos casos de AT, que deve ser menor do que os casos de furto e violência sexual que possuem pesquisas dessa subnotificação no Rio de Janeiro. A subnotificação é menor porque existe uma obrigatoriedade do empregador e do empregado em fazer o registro, é o caso dos roubos, se o trabalhador não notificar poderá ser incriminado a pagar. Bom, eu, gostaria de fazer só alguns comentários, dizer o seguinte: que neste trabalho partiu-se do pressuposto de que há uma mudança nos riscos que acometem os trabalhadores, e que essa mudança tem levado a uma diminuição dos acidentes típicos, do mercado formal, isso aí é real, pelo menos parece pelos estudos que têm sido feitos. Eu cito o estudo do Vítor, eu cito o estudo do Herval, em que há realmente uma redução dos acidentes de trabalhos típicos. Mas a gente poderia introduzir uma outra discussão, de que há uma mudança no perfil do tipo de acidente de trabalho, e isso inclui a questão da 115 violência, essa reformulação do processo de produção que foi citado aqui durante esses dias, eu acho que não causou somente a precarização das relações de trabalho, em função da terceirização e do aumento do trabalho informal, ela trouxe outras características de tipo de trabalho, como o aumento do trabalho solitário e noturno, o incremento do trabalho da mulher e, principalmente, crescimento do trabalho na rua, como os courriers, os motoboys, os office-boys, trabalhos de todos os tipos, que expõem esses trabalhadores a um tipo de violência que os sistemas tradicionais de acidente de trabalho que coletam informações de CAT não são capazes de coletarem. Importante ressaltar que a história do trabalho é vinculada com a história da violência, se a gente for ver até a origem mitológica do trabalho, o trabalho veio para o homem como um castigo de Deus pelo pecado original. Por outro lado, etmologicamente a palavra trabalho tem a ver com castigo, com “tripalium” – instrumento de tortura, então, a violência está muito vinculada com toda a história do trabalho, do escravagista, do sistema capitalista, mesmo do sistema socialista que não resolveu o problema da apropriação do trabalho.Acho que a abordagem da violência social, que hoje é discutida por to- 116 dos os campos do saber, tem que ser incorporada aqui na discussão dos acidentes de trabalho, porque a gente pode perguntar: bom, o que é que mudou? Em termos de violência do que era na época do trabalho infantil no início do capitalismo, das jornadas de 14 horas, o que mudou? Acho que a mudança está na generalização da violência, como diz Nilo Odália, está ocorrendo uma horizontalização ou a democratização da violência, a violência não é mais só dos de cima contra os de baixo, está entre as próprias camadas, está disseminada, é o pobre roubando e matando o pobre. O assalto e a violência ao cobrador de ônibus, que por vezes é assaltado mais de uma vez ao dia, são um exemplo deste tipo de horizontalização da violência. Pode-se citar outros tipos de violência a que estão expostos os trabalhadores como o desemprego e a falta de amparo estatal. Ocorrem também outros tipos de violência não percebidos, como a perda do tempo livre. Nesta sociedade que gira em torno do trabalho, as pessoas estão transformando o trabalho em uma finalidade em si e não como um meio para alcançar realizações pessoais. O papel do trabalho e a forma como o trabalho vem sujeitando o indivíduo em nossa sociedade precisa ser questionado. Obrigado. Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção: Estatísticas extraídas dos Anexos I e II da NR-18 Dorival Custódio e Monika Schorr T entaremos aqui, relatar de forma sucinta alguns aspectos do que vem sendo realizado pela FUNDACENTRO no âmbito da Indústria da Construção no Brasil, através de suas Regionais e do Centro Técnico Nacional. No ano de 1994, a Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho tomou a iniciativa de, em conjunto com a FUNDACENTRO, instituir um grupo de estudo para análise e modificação da Norma Regulamentadora-18 (NR-18), cujo objetivo é o de implementar medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na indústria da construção. O texto desta Norma foi elaborado em consenso com participantes do Governo (SSMT/MTb, DRT e FUNDACENTRO), dos Empregadores (CNI, CBIC e CNICM) e dos Trabalhadores (CNTI, CUT e Força Sindical). Dentre os itens que a compõem, foi especialmente enfocada a questão das estatísticas de acidentes do trabalho neste setor, tema este, bastante controverso devido à ausência de informações consistentes na área. Falava-se, na época, que os acidentes de trabalho na indústria da construção eram responsáveis por 25% do total dos acidentes ocorridos no país. Este percentual era estabelecido sem o embasamento de um estudo sistemático dessas ocorrências e não havia uma forma de acompanhar o comportamento desses acidentes ao longo do tempo. dentes do trabalho, assim como na avaliação contínua de seus resultados. Este item estabelece que todos os acidentes de trabalho ocorridos na indústria da construção devem ser comunicados pelo empregador à FUNDACENTRO através de dois instrumentos de coleta de dados: ANEXO I (Ficha de Acidente do Trabalho) e ANEXO II (Resumo Estatístico Anual). A NR-18 revisada e modificada passou a vigorar em 1995. Ambos os anexos contém uma série de variáveis que permitem não só a elaboração de uma estatística descritiva da distribuição dos acidentes de trabalho, como também o cálculo de indicadores epidemiológicos, utilizados para medir o risco no trabalho e estabelecer comparações entre determinados intervalos de tempo e entre os diversos setores de atividade econômica no país. Como exemplo, podemos citar os índices de freqüência e gravidade e as taxas de incidência, mortalidade e letalidade. Além desses, outros indicadores podem ser construídos e, com isso, aprofundar a análise sobre o comportamento e características dos acidentes de trabalho. Apresentamos a seguir algumas tabelas e resultados obtidos no período de 1997 a 1999, seguidos de comentários. Tabela 1 Inseriu-se, então, um item na NR-18, o de número 18.32, voltado à implantação de um sistema estatístico de coleta, análise e divulgação de dados relativos aos acidentes de trabalho na indústria da construção, em nível nacional, que se constituirá em importante referência na adoção de medidas eficazes para a prevenção de aci- Anexo I – Ficha de Acidente do Trabalho Freqüência do Número de Fichas Recebidas 1997, 1998 e 1999 – Brasil ANO 1997 1998 1999 Nº DE FICHAS RECEBIDAS 2864 2093 1757 Tabela 2 Freqüência dos Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção, Segundo o Tipo de Acidente 1997,1998 e 1999 – Brasil TIPO DE ACIDENTE Típico Trajeto Doença profissional Sem informação Total 1997 2566 178 33 87 2864 1998 1976 73 13 31 2093 117 1999 1594 63 18 82 1757 Tabela 3 Freqüência dos Acidentes de Trabalho Na Indústria da Construção, Segundo Parte do Corpo Atingida 1997, 1998 e 1999 - Brasil PARTE DO CORPO ATINGIDA Cabeça (exceto olhos) Tronco Olhos Membros inferiores Membros superiores Sistemas e aparelhos Múltiplas partes Sem informação Total 1997 241 301 222 842 944 84 171 59 2864 1998 196 232 193 627 416 361 24 44 2093 1999 137 213 120 513 647 25 68 33 1757 1998 89 14 23 23 26 111 160 174 75 321 122 167 23 73 4 10 23 594 61 2093 1999 56 10 20 17 21 90 161 170 30 238 105 150 20 93 4 3 16 484 69 1757 Tabela 4 Freqüência dos Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção, Segundo o Agente da Lesão 1997, 1998 e 1999 - Brasil AGENTE DA LESÃO Andaime Cerâmica, azulejo Descarga ou substância química Embalagens ou recipientes Entulho, sucata ou resíduo Ferramenta sem força motriz Madeira (peças soltas) Máquinas e equipamentos em movimento Partículas ou aerodispersóides Peças metálicas ou vergalhão Peça portátil Piso ou parede Portas, portões, janelas Prego Pressão Ruído Temperatura Outros Sem informação Total 118 1997 145 18 34 33 52 171 183 257 87 460 197 270 28 119 7 20 31 643 109 2864 Tabela 5 Freqüência dos Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção, Segundo a Natureza do Acidente 1997, 1998 e 1999 – Brasil NATUREZA DO ACIDENTE Afogamento Aprisionamento ou prensagem Ataque de ser vivo Atrito ou abrasão Contato com substância Contato com temperatura Corpo estranho Esforço excessivo ou inadequado Exposição à energia elétrica Exposição à temperatura Exposição ao ruído ou pressão Inalação ou ingestão Impacto contra Impacto sofrido Queda com diferença de nível Queda em mesmo nível Reação do corpo e seus movimentos Soterramento Transporte Outros Sem informação Total 1997 3 308 7 121 17 35 122 114 31 18 17 11 373 796 331 161 147 7 36 92 117 2864 1998 5 213 17 82 19 20 104 73 30 19 14 5 270 573 234 76 161 4 18 78 78 2093 1999 1 212 14 55 8 20 62 90 17 8 4 2 236 460 177 83 106 8 6 102 86 1757 Tabela 6 Freqüência dos Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção, Segundo a Natureza da Lesão 1997, 1998 e 1999 - Brasil NATUREZA DA LESÃO Amputação Choque elétrico Contusão Corte Distensão Entorse Escoriação Fratura Hematoma Irritação nos olhos Laceração Lesões múltiplas Luxação Morte Punctura Queimadura Sem informação Total 1997 50 15 622 546 75 166 182 252 135 179 44 150 105 51 82 72 138 2864 1998 118 14 322 224 89 76 259 134 258 160 37 30 121 31 76 69 75 2093 119 1999 14 11 409 340 60 70 122 186 65 93 44 22 84 31 70 47 89 1757 Tabela 7 Anexo II – Resumo Estatístico Anual 1997 - Brasil ASSUNTO Total de homens/horas de trabalho no ano (*) Número de meses computados = N1 Número médio de trabalhadores no ano = N2 (N2 = soma total de trabalhadores a cada mês 1997 386.614.926 18.147 N1) Número de acidentados sem afastamento = N3 Número de acidentados com afastamento (até 15 dias) = N4 Número de acidentados com afastamento (acima de 15 dias) =N5 Total de dias perdidos (devido N4) = D1 Total de dias perdidos (devido N5) = D2 Total de dias debitados = D2 Total de acidentes fatais = F1 Total de horas/aulas de treinamentos(conforme item 18.28) =T1 Número de trabalhadores treinados (devido T1) = T2 468.909 6.817 3.691 3.585 38.925 122.771 308.082 175 751.704 322.537 *ITEM 1= hora-homem de exposição ao risco (NB 18 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT) 1998 - Brasil ASSUNTO Total de homens/horas de trabalho no ano (*) Número de meses computados = N1 Número médio de trabalhadores no ano = N2 (N2 = soma total de trabalhadores a cada mês ⴓN1) Número de acidentados sem afastamento = N3 Número de acidentados com afastamento (até 15 dias) = N4 Número de acidentados com afastamento (acima de 15 dias) =N5 Total de dias perdidos (devido N4) = D1 Total de dias perdidos (devido N5) = D2 Total de dias debitados = D2 Total de acidentes fatais = F1 Total de horas/aulas de treinamentos(conforme item 18.28) =T1 Número de trabalhadores treinados (devido T1) = T2 *ITEM 1= hora-homem de exposição ao risco (NB 18 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT) 120 1998 343.117.511 13.690 351.084 6.104 2.873 1.487 27.907 115.509 320.518 68 672.594 289.988 1999 - Brasil ASSUNTO Total de homens/horas de trabalho no ano (*) Número de meses computados = N1 Número médio de trabalhadores no ano = N2 (N2 = soma total de trabalhadores a cada mês N1) Número de acidentados sem afastamento = N3 Número de acidentados com afastamento (até 15 dias) = N4 Número de acidentados com afastamento (acima de 15 dias) =N5 Total de dias perdidos (devido N4) = D1 Total de dias perdidos (devido N5) = D2 Total de dias debitados = D2 Total de acidentes fatais = F1 Total de horas/aulas de treinamentos (conforme item 18.28) =T1 Número de trabalhadores treinados (devido T1) = T2 1999 423.601.735 13.762 244.149 10.724 2.742 1.356 28.703 95.817 184.669 27 582.730 192.396 *ITEM 1= hora-homem de exposição ao risco (NB 18 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT) Os resultados preliminares obtidos indicam que as partes do corpo mais atingidas nestes acidentes são os membros superiores e inferiores e o tronco. Nota-se ainda que impactos, quedas e aprisionamento ou prensagem são as ocorrências preponderantes. Quanto aos agentes da lesão, as peças metálicas ou vergalhões, pisos ou paredes, máquinas e equipamentos em movimento e ferramentas sem força motriz são os mais freqüentes. Contusões, cortes, fraturas, hematomas e irritação nos olhos aparecem como as lesões mais importantes. As estatísticas aqui constantes devem ser analisadas de forma criteriosa e sempre em função de nossa complexa economia nacional e, mais especificamente, dentro de uma visão abrangente da não menos complexa realidade do setor da indústria da construção no país. Comparando-se os Anexos I e II entre si, observamos que existe uma disparidade entre o total de acidentes do trabalho ocorridos, o que leva a detectar uma provável subnotificação de informações do Anexo I em relação ao Anexo II de, em média, 83,00% para o período observado. Dados da Previdência Social mostram que em 1997, 1998 e 1999 foram registrados, respectivamente, 27186, 31959 e 26176 acidentes de trabalho na indústria da construção. Fatos importantes a considerar são a terceirização de serviços que vem aumentando no país de forma acelerada e o nível de subcontratação que existe neste ramo de atividade, o que reforça a hipótese de que esses números não correspondam à realidade em função de uma possível subnotificação cuja ordem de grandeza ainda não foi possível estimar.Todos estes fatores contri- buem para que os dados oficiais sobre os acidentes de trabalho estejam, possivelmente, subestimados. Feitas estas ressalvas e, comparando-se as estatísticas obtidas através do Anexo II com as divulgadas pelo MPAS, obtemos uma subnotificação de aproximadamente 48,16% em 1997, 68,57% em 1998 e 43,38% em 1999. Além destas considerações, cabe lembrar ainda que as informações sobre a ocorrência de acidentes do trabalho enviadas à FUNDACENTRO referem-se apenas aos trabalhadores registrados junto à Previdência Social. Segundo a NR-18 e a dinâmica do sistema, estaríamos trabalhando, teoricamente, com o Universo dos acidentes de trabalho e não com uma amostra adequada, preestabelecida através de um plano de amostragem estatístico. Este fato, aliado às evidências da existência de um alto índice de subnotificação de informações, impossibilitou o cálculo de indicadores epidemiológicos importantes, uma vez que sua interpretação poderia induzir a erros na análise do comportamento dos acidentes de trabalho na indústria da construção. A avaliação e diagnóstico realista do sistema de captação de dados é um passo importante para que se possa empreender um estudo e conseqüente reformulação gradativa dos fatores e mecanismos que vêm dificultando a obtenção de estatísticas confiáveis sobre acidentes do trabalho. Este é um desafio que faz parte do objetivo do governo de reduzir os acidentes de trabalho no país e elevar a qualidade de vida de seus cidadãos. 121 122 Doenças Ocupacionais e Acidentes do Trabalho no Setor Mineral Giuseppe Vincenzo De Lorenzo B om dia a todos, meu nome é Giuseppe, eu sou Assessor Técnico da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Setor Mineral – CNTSM, filiada à CUT e a ICEM (Tela 01), e eu queria inicialmente aqui, agradecer a esta oportunidade dada pela FUNDACENTRO, em nome do Diretor Regional da FUNDACENTRO de Minas Gerais, Doutor Paulo Bregunci, e do Técnico Celso Amorim, por este espaço e talvez por esta missão final aqui de tentar encerrar este seminário, mostrando a ansiedade e a angústia dos trabalhadores, enquanto envolvidos nesse processo, como é que eles ficam inseridos, e que eles não estão bem representados nesses levantamentos, nessas pesquisas, nessas informações. Tela 01 levantar esses dados. A gente se sente perdido como usuário do sistema nacional. Eu não vou ficar aqui repetindo tudo o que já foi colocado sobre as bases de dados de vários órgãos federais, mas eu vou tentar dar uma pincelada aqui, dessa angústia nossa como usuário do sistema, principalmente quando se levanta dados da economia formal e informal. O mineiro, para quem não conhece, é o trabalhador que está inserido na produção mineral, desde a pesquisa mineral, que passa pelo processo da extração do bem mineral e do tratamento, aquele tratamento físico do bem mineral, até a sua comercialização. E isso, se você pegar pela própria classificação do IBGE, pela CNAE, não está claro. Lá, você tem a indústria extrativa classificada. Mas quando você vai na parte da indústria da transformação – a transformação é entendida inclusive pelo Ministério de Minas e Energia, aquela depois que você tem alteração química do bem mineral, enquanto você tem um tratamento físico do bem mineral ele é considerado ainda como bem mineral – os malefícios todos que esse bem mineral traz, dentro do setor mineral, é, no entanto, pela classificação da CNAE, já como dito anteriormente, ela tem a extração e, de repente, ela tem a transformação. A CNAE não tem essa interface do tratamento mineral, não está claro e, às vezes, ela joga parte desses trabalhadores, que seriam do setor mineral, dentro da indústria da transformação e outros ficam sem classificação. Tela 02 Geralmente, a gente vê e fica bem claro que quem presta informações aos bancos de dados oficiais é sempre o empregador. E a pesquisa, quando é feita, geralmente é buscada a informação junto ao trabalhador que fica sempre naquela ansiedade, aguardando uma resposta dessa pesquisa, em benefício a si próprio. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Setor Mineral é uma confederação nova, vai fazer oito anos agora no final de novembro e nasceu nesse intuito de tentar organizar essa classe dos trabalhadores do setor mineral – os mineiros, porque é uma categoria totalmente pulverizada nesse interior do país, praticamente com um baixo índice de organização e de dados coletados. É a gente que está praticamente há quatro anos assessorando a Confederação, tentando organizar isso aí, Q U EM SO MO S ? MINEIROS FORMAIS DAS MINERAÇÕES A CÉU ABERTO DAS MINERAÇÕES SUBTERRÂNEAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DA METALURGIA DA EXTRAÇÃO DO PETRÓLEO Os mineiros são eles, conforme na Tela 02, das minerações a céu aberto, das minerações subterrâneas. Aí, nessa classificação do CNAE nós encontramos vários 123 mineiros na construção civil, principalmente os dos areais, olarias e pedreiras. A maioria dessa base que são mineiros está na categoria, classificados dentro de sindicatos da construção civil, e não classificados como mineiros. Muitos estão classificados na metalurgia, é o caso do nióbio, por exemplo, em Araxá, e da bauxita para produzir alumínio em Ouro Preto. Os sindicatos lá são metalúrgicos, mas eles têm uma grande parcela de mineiros. E o calcário, que é transformado em cimento. A maioria está classificada na indústria da transformação e inserida na construção civil. Não está classificado o trabalhador que está lá na pedreira, tirando calcário, produzindo, britando, moendo, e entregando isto para fazer cimento. Ele está classificado fora da categoria, mas são mineiros. E a extração do petróleo, que tem uma categoria, toda já separada, os petroleiros. O gás natural e o petróleo estão fora dos mineiros. E as pedreiras de rochas ornamentais no Estado do Rio, que muitos dos mineiros da extração da rocha estão classificados como comerciários. E os terceirizados nas minas que estão classificados em serviços. ras, essa categoria para produção de matéria-prima para a construção civil, quase toda é informal. Quase todo mundo que já viveu no interior ou já foi ao interior – exceto algumas grandes pedreiras ou olarias em regiões próximas às regiões metropolitanas – para o interior, a maioria dessa produção minera é informal, sem organização nenhuma, sem contabilização nenhuma, sem nenhuma licença. Tela 04 ONDE E STA MOS ? As jazidas minerais estão pulverizadas no interior deste País e o minério só dá uma safra. Assim, exaurida a mina, os mineiros são obrigados a seguir viagem ou abandonar o ramo de atividade Tela 03 QUE M S O MO S ? MINEIROS INFORMAIS DAS LAVRAS CLANDESTINA DOS GARIMPOS DAS PEDREIRAS DAS OLARIAS DOS AREAIS Isso aqui, que está na Tela 04, é uma característica do setor mineral. O setor mineral não se monta onde você quer, e sim onde existe uma jazida mineral. As comunidades, a maioria que foi criada em torno de uma mina, nasce em função da mina e, assim que essa mina exaure, acaba o minério, o trabalhador vai atrás da empresa em outra localidade, trabalhar onde tem um outro bem mineral para continuar na atividade ou ele muda de ramo, porque o setor mineral tem essa rigidez. Tela 05 RR AC AL TO 124 DF PI PB Unidades da Federação Se você começar a levantar os mineiros informais, de acordo com a Tela 03, o que nós temos muito nesse país são as chamadas lavras clandestinas, que o próprio Ministério de Minas e Energia até hoje não consegue legalizar isso aqui. É uma grande parcela da produção mineral ilegal. Só para exemplificar aqui, a Bolívia, por exemplo, quase não tem produção de cassiterita, mas é um dos maiores produtores de cassiterita para produzir estanho nas Américas.Também o Uruguai, por exemplo, não tem minas de ouro e tem produção de ouro. Então, grande parte vem dos nossos garimpos. Como todo segmento econômico, você tem o ambulante ou camelô lá no comércio, um informal. Como você tem o perueiro no transporte, um informal. O garimpeiro é o informal na mineração. E você tem a maioria das pedreiras, das olarias que fazem tijolos, telhas, dos areais, das cascalhei- SE AP MS MA RN MT AM RO RS PE CE PA ES PR SC RJ GO BA SP MG 0,00 Distribuição da Mão-de-obra utilizada na Mineração, por 0,01 0,30 Unidades da Federação em 1.996. (Fonte: Anuário 0,33 Mineral Brasileiro - 1.997 DNPM / MME) 0,34 0,34 0,70 0,72 0,72 0,86 0,88 0,91 0,93 1,64 1,66 1,84 2,29 2,30 3,53 3,87 4,23 5,18 5,37 Porcentagem de trabalhadores 6,68 7,38 16,23 30,75 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 Isso aqui, que está na Tela 05, é só para mostrar uma distribuição da mão-de-obra, segundo o Ministério de Minas e Energia. Essa distribuição é só para se ter uma idéia de onde estão os trabalhadores mineiros, onde eles estão distribuídos no Brasil. O Estado de Minas Gerais não tem o nome à toa de Minas Gerais, porque ele pega praticamente 30% da mão-de-obra dos trabalhadores mineiros, isto é, dos trabalhadores do setor mineral. Aí são mineiros duas vezes. São Paulo está com 16%. Depois vem Bahia, Goiás ... e aí vai até chegar lá em cima, Distrito Federal, Tocantins, Alagoas, Acre e Roraima. Este último não tem mineiros formais. Tela 06 Q UA NT O S S O MO S ? CERCA DE EM 1.997 PELO DNPM / MME = 76.623 PELO PIA / IBGE = 92.350 PELA RAIS / MTE = 365.438 PELO IBRAM = 500.000 rias, areais, cascalheiras, que todo interior do Brasil tem, toda a cidade tem um lugar que produz tijolo, telha, areia, pedra, brita, cascalho para a construção civil, e mais 500.000 de garimpeiros. Baseado, inclusive, num estudo que o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) do Ministério de Minas e Energia fez em 93, que eles conseguiram catalogar e registrar 85.000 garimpeiros no país e estimar mais 300.000 não cadastrados, a gente acredita que teremos ainda uma parcela considerável aí, principalmente de garimpeiros que estão na área de cassiterita, no Norte do país; de ouro, pelo país afora; ou de gemas – pedras preciosas, também pelo país afora. Isso aqui, que está na Tela 07, é a cadeia ascendente e descendente da indústria mineral, segundo a Secretaria Nacional de Minas e Metalurgia do Ministério de Minas e Energia. Eles tentaram fazer um levantamento onde cruzaram informações do IBGE com as do DNPM. A indústria extrativa mineral teria 261.000 trabalhadores, onde esse bem mineral produzido, na primeira transTela 07 PELA CNTSM = 1.500.000 PESSOAL OCUPADO NO SETOR MINERAL EM 1.997 (Fonte: IBGE e DNPM - Elaboração SNMM / MME) 1.512 Isso aqui, que está na Tela 06, é mais uma coisa que Transformação a gente começou a questionar, tentar levantar, quantos mineiros existem? Quantos somos no Brasil? Aí nas ba261 Extrativa ses de dados de 1997, pelo Ministério de Minas e Energia, pelo Anuário Mineral Brasileiro, estão catalogadas as mãos-de-obra de mineiros em torno de 76.000 trabalha1.044 Fornecedores dores. Quando você pega pelo IBGE, tem na classificação dele, pelo PIA, cerca de 92.000 trabalhadores na extra0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 tiva mineral. Pela RAIS do Ministério do Trabalho, isso Total de trabalhadores X 1.000 (Total = 2.817 mil) vai para 365 mil, já contando aquela parte da transformação que pega o bem mineral. Pelo IBRAM – IBRAM é o Insti- Tela 08 tuto Brasileiro de Mineração e é PESSOAL OCUPADO NO SETOR MINERAL EM 1.997 (Fonte: IBGE e DNPM - Elaboração SMM/MME) uma entidade que reúne os maiores sindicatos patronais do setor mineral, e representa o setor mi159 neral empresarial lá fora, para o 76 mercado externo, porque grande 68 parte da produção mineral brasi613 leira é exportada – eles calculam 56 em torno de 500 mil trabalha96 dores na extrativa mineral, con444 siderando os terceirizados aqui 31 deles. E a Confederação estima 230 cerca de um milhão e meio de mineiros no Brasil, quer aqui, esses 0 100 200 300 400 500 600 700 Total de trabalhadores X 1.000 500.000 calculados pelo IBRAM (Total = 1.773 mil) mais 500.000 entre pedreiras, olaQuímicos diversos Elementos químicos Transformação Refino de petróleo Outros metalúrgicos Metalurgia dos não-ferrosos Siderurgia Extrativa Transformação dos não metálicos Extração de petróleo e gás Extrativa mineral 125 Tela 09 do no setor mineral em 95, já dividindo lá dentro da extrativa miPESSOAL OCUPADO NO SETOR MINERAL EM 1.995 (Fonte: IBGE e RAIS-95/MTE) neral pelo número do CNAE por elementos. O que produzimos? Está demostrado na Tela 10. O Brasil é 10,1 23,1 um produtor de bens minerais. 2,9 Ele é o primeiro produtor mun19,4 1,7 dial, com 93% do nióbio produ3,1 0,9 zido no mundo, ele é o segundo 11,5 colocado com 19% da partici0,7 8,0 pação mundial da produção de 54,6 6,5 ferro, de caulim e de tantalita; é 10,2 o terceiro com 10% da produção 28,1 1,4 mundial de alumínio e grafita. 0,4 23,6 E aí vai...; rochas ornamentais é 26,1 10,3 o quinto produtor mundial, com 4,6% da produção mundial e isso 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Total de trabalhadores X 1.000 tudo dados fornecidos pelos em(Total = 242,6 mil) pregadores ao Ministério de Minas e Energia, isso dentro da chaformação, passaria para o trabalhador da transformação, mada economia formal, produção legal, porque, fora isso, que são em torno de 1.500.000 trabalhadores. E aqui nós temos toda uma outra gama da produção ilegal, claneles levantaram os fornecedores, aqueles que entregam destina; da produção garimpeira; da produção informal. O que é que os mineiros representam? Está demonspara a indústria mineral, insumos, máquinas, equipamentos e outras coisas, que seriam mais de um milhão de Tela 11 trabalhadores. Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE Extr.carvão mineral Extr.petróleo e gás Serv.relac.com petróleo e gás Extr.minério de ferro Extr.minério de alumínio Extr.minério de estanho Extr.minério de manganês Extr.min. metais preciosos Extr.minerais radioativos Extr.outros min.metálicos não-ferrosos Extr.pedra, areia e argila Extr.min.p/fabr.adubos, fert.e prod.quím. Extr.sal marinho e sal-gema Extr.outros min.não-metálicos Coquerias Elab.combustiveis nucleares Fabr.de cimento Brit., aparelh. e outros trab.em pedras Fabr.de cal e gesso Aqui, que está na Tela 08, é também a mesma coisa. É a cadeia produtiva da indústria mineral. Eles tentaram dividir aqui a indústria extrativa em 230.000 trabalhadores da extrativa mineral mesmo e em 31.000 da extração do gás e petróleo. Aqui a indústria da transformação já dividida em não-metálicos, siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos, outros metalúrgicos, refino do petróleo, elementos químicos e química diversos. Aqui também, o que está na Tela 09, é o pessoal ocupa- Q UE RE P RE S EN T AMO S Importância dos Bens Minerais na Economia Nacional PIB = US$ 777 bilhões - Fonte: Sumário Mineral 1.999 Ano base 1.998 - DNPM / MME PITM - Produto da indústria de transformação mineral (siderurgia, metalurgia, etc.) - US$ 64,2 PIEM - Produto da indústria extrativa mineral (minas, pedreiras, etc.) - US$ 6,7 IBPM - Importação dos bens primários minerais (petróleo, carvão, enxofre, etc.) US$ 3,7 Resto do PIB - Produto Interno Bruto de 1.998 - US$ 702 0,48% 0,86% 8,26% 90,40% Tela 10 QUE PRODU ZIMO S MINERAL POSIÇÃO DO BRASIL PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO MUNDIAL NIÓBIO FERRO CAULIM TANTALITA ALUMÍNIO GRAFITA AMIANTO ESTANHO MAGNESITA VERMICULITA MANGANÊS ROCHAS ORNAM. TALCO 1a 2a 2a 2a 3a 3a 4a 4a 4a 4a 5a 5a 6a 93,3% 19,2% 6,1% 28,2% 10,1% 8,0% 10,0% 8,7% 9,5% 5,3% 11,1% 4,6% 5,5% Fonte: Sumário Mineral 1.999 - Ano base 1.998 - DNPM / MME 126 trado na Tela 11, que, dentro do PIB, dentro do Produto Interno Bruto do país, praticamente a produção mineral bruta legal, representa em torno de 1% do PIB. Se você fizer, na primeira transformação, que é a indústria da transformação, já passa praticamente a quase 10% do PIB o valor agregado. Aí, essas são as perguntas que a Confederação vem fazendo desde a constituição dela. Na Tela 12 perguntamos: Como estamos? Aí, começa a se levantar alguns dados. Eu fiz parte da Comissão Tripartite Paritária (com representantes do governo, empresários e trabalhadores) como membro da CUT, que analisou a mudança da Tela 12 CO M O E ST AM O S ? DOENTES MUTILADOS HUMILHADOS EXCLUÍDOS MORRENDO NR-22. E para quem não conhece essa Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho, ela estava em vigor até abril de 2.000, e tratava o mineiro como animal, quando determinava o ar utilizado nas minas subterrâneas, calculado na ventilação principal da mina, para os animais. Quer dizer, a gente começa a questionar: Os animais são os mineiros? Ou os animais são os burros do século passado que existiam nas minas? Porque os equipamentos que estão lá dentro das minas hoje são outros. Equipamentos à diesel ou elétricos, não mais burros que tiravam na sacolinha o minério até fora da mina. Ela, a norma, tratava lá que o feitor.., que o capataz... Quem duvidar está lá na velha NR-22. Ela saiu, ela perdeu sua vigência em abril desse ano (2000). E até abril desse ano, esses eram os tratamentos dados aos mineiros. Essa nova NR-22, deu um salto do regime escravocrata para um regime de gestão de risco baseada na BS 8800. E aí, pela primeira vez, nós, trabalhadores, conseguimos nessa Comissão Tripartite, inclusive negociar com a bancada dos empresários, onde o gerenciamento desse risco não passaria só pelos empresários, é responsabilidade deles de implantar, mas o trabalhador tem de ser ouvido e participar da elaboração e do levantamento desse risco ambiental dentro do setor mineral. Mas aí vem um outro questionamento, o que é aplicável a essa nova NR-22? Nem 25% a 30% dos mineiros. Mais de 70% estariam fora dessa aplicação porque estão na informalidade. Conseguimos negociar, inclusive com o governo, que fez parte na Comissão Tripartite o Ministério de Minas e Energia.A competência legal de fiscalizar garimpo é do Ministério de Minas e Energia e o Ministério do Trabalho não tem competência legal, jurídica para fiscalizar garimpo. E aí colocamos na NR-22 a responsabilidade, inclusive da organização dos garimpeiros, através da NR-22 pelo Ministério de Minas e Energia. Isso passou, foi consensado na Comissão Tripartite, mas na hora de levar a portaria, para ser assinada uma portaria conjunta entre o Ministro do Trabalho e Emprego e o Ministro de Minas e Energia, a CONJUR do Ministério do Trabalho e Emprego, teve um racha, não aceitou, não assinou. Aí, a portaria saiu assinada só pelo Ministro do Trabalho e Emprego. Não foi assinada pelo Ministro de Minas e Energia e toda essa parte que estava na NR-22 a respeito de garimpo ficou inó- cua. Não tem mais validade. E aí a gente levanta mais uma coisa, a importância da assinatura dessa portaria pelo Ministro do Trabalho e Emprego, que desde 1978, quando foram constituídas as NR´s, toda portaria de alteração ou inclusão de qualquer norma foi assinada pelo Secretário de Saúde e Segurança do Trabalho. A importância de se fazer uma norma específica para o setor mineral, deu um status tão grande em nível do ministério, que o próprio Ministro, ele abriu essa exceção e assinou a portaria que constituiu a nova NR-22, que passou a entrar em vigor em abril desse ano, e, com isso, nós começamos a fazer esse questionamento de como estamos? Doentes, mutilados, morrendo, a maioria dos mineiros. Nós temos alguns sindicatos que vêm fazendo essa pesquisa, e dentro dessas pesquisas de como está a saúde do trabalhador mineiro, principalmente os aposentados ou os demitidos, que às vezes são demitidos como aptos. Ele praticamente se sente humilhado, às vezes excluído do mercado de trabalho. Porque ele está como apto no seu atestado demissional e vai arrumar um outro emprego em uma outra empresa, ele chega lá e é inapto para ser admitido, porque ele tem uma Tela 13 Um trabalhador sofre um acidente de trabalho quando uma das três situações é verificada: 1- É vítima de um acidente em decorrência das características da atividade profissional por ele desempenhada (acidente típico); 2- É vítima de um acidente ocorrido no trajeto entre a residência e o local de trabalho (acidente de trajeto); ou 3- É vítima de um acidente ocasionado por qualquer tipo de doença profissional produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho, peculiar a determinado ramo de atividade constante de relação existente no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, ou por doença do trabalho adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, desde que constante da relação citada anteriormente (acidente por doença do trabalho). Fonte: Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS Tela 14 Ocorrido um acidente de trabalho, suas conseqüências podem ser categorizadas em: 1- Simples assistência médica - o segurado recebe atendimento médico e retorna imediatamente às suas atividades profissionais; 2- Incapacidade temporária - o segurado fica afastado do trabalho por um período, até que esteja apto para retomar sua atividade profissional. Para a Previdência Social é importante particionar esse período em inferior a 15 dias e superior a 15 dias, uma vez que, no segundo caso, é gerado um benefício pecuniário, o auxílio-doença por acidente do trabalho; Fonte: Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS 127 Tela 15 Ocorrido um acidente de trabalho, suas conseqüências podem ser categorizadas em: 3- Incapacidade permanente - o segurado fica incapacitado de exercer a atividade profissional que exercia à época do acidente. Essa incapacidade permanente pode ser total ou parcial. No primeiro caso, o segurado fica impossibilitado de exercer qualquer tipo de trabalho e passa a receber uma aposentadoria por invalidez. No segundo caso, o segurado recebe uma indenização pela incapacidade sofrida (auxílio acidente), mas é considerado apto para o desenvolvimento de outra atividade profissional; e 4- Óbito - o segurado falece em função do acidente de trabalho. Fonte: Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS nanceiras (os bancos) em terceiro. Se você pegar 1997, indústria da mineração: primeiro, indústria de transformação: segundo, financeiro: terceiro. Na Tela 17, se pegar a B-92 – Aposentadoria por Invalidez, aquele trabalhador que foi lesionado, não tem condições mais de trabalhar; 1995, mineração: primeiro lugar, construção civil: segundo, agricultura: terceiro. Primeiro lugar em 1996: mineração, instituições financeiras: segundo, e distribuição de eletricidade e gás: terceiro. 1997, mineração: primeiro lugar, instituições financeiras: segundo, e distribuição de gás e eletricidade: terceiro. Na Tela 18, está a B-93 – que é a pensão por morte, essa a gente acredita que é a mais Tela 16 precisa em termos de dados sobre Rank do coeficiente de Benefícios Concedidos por acidentes de trabalho trabalhadores formais. A que tem (Auxílio-Doença - B91), no Brasil (1.995 a 1.997) (Fonte: INSS/MPAS e RAIS/MTE - Elaboração: SSST/MTE) menos subnotificações, porque as outras não vou nem entrar na disClasses de Atividades Econômicas Coeficiente - 1/100.000 cussão, porque já foi bem debatida (CNAE / IBGE) 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 Rank aqui nesse seminário a quantida0 C - Indústrias extrativas (Mineração) 1.511,32 Ano de 1.995 de de subnotificações. Mas, se pe1 gar, 95: mineração, 96: mineração, 0 A - Agric., pec., silvic.e expl.florestal 1.476,14 Ano de 1.995 2 97: mineração. E porque a mineF - Construção 0 1.296,21 ração vem caindo aqui, a pensão Ano de 1.995 3 por morte, conforme demonstraC Indústrias extrativas (Mineração) 0 1.128,99 Ano de 1.996 1 do na tabela? Fomos buscar essa 0 D - Indústrias de transformação 1.032,94 resposta junto aos sindicatos e Ano de 1.996 2 conseguimos descobrir: uma das J - Intermediação financeira 1.029,6 Ano de 1.996 30 respostas está clara, evidente aí, a 0 C - Indústrias extrativas (Mineração) 1.260,43 maior empresa de mineração que Ano de 1.997 1 foi privatizada agora, assim que 0 D - Indústrias de transformação 1.077,95 Ano de 1.997 2 ela privatizou, a gente começa a J - Intermediação financeira 0 questionar: ela não foi privatizada, 998,87 Ano de 1.997 3 ela foi terceirizada. E nessa terceirização, ela teve nove mortes no seqüela. E vários trabalhadores se submeteram a exames ano passado (1999). Isso aqui é uma resposta que está nos sindicatos para estudo, e nós levantamos, estimamos sendo dada para gente, que é a única resposta que nós aí que, desses aposentados demitidos, em torno de 60, temos, que, na verdade, não é que diminuíram as mortes, 70% têm alguma seqüela na saúde por causa do traba- estão terceirizando as mortes. Que as empresas de minelho. E que não tem CAT, não tem levantamento estatísti- ração formais legais aqui no país, estão buscando a ISO co, que a empresa não apresenta dados, inclusive não dá 14000 para vender o produto lá fora, e toda a parte suja elas têm que passar para os outros. E “isso aí é trabalhaacesso para a gente entrar no seu estabelecimento. dor de terceiro, não é meu”. As Telas 13, 14 e 15 são as definições do INSS. E aqui, na Tela 19, está a B-94, o Auxílio-Acidente, Na Tela 16, se você pegar aquela parcela formal do que é a incapacidade parcial permanente. Aquele trabatrabalhador mineiro, se pegar aqui na tabela, 1995 (em lhador que tem uma lesão permanente, mas ainda tem azul), 1996 (em vermelho), 1997 (em verde) na B-91 – condições de trabalhar. Ele pega aqui 1995: mineração Auxílio-Doença, que é uma concessão do INSS; 1995, mi- disparada em primeiro, 1996: mineração em primeiro; neração: primeiro lugar, depois agricultura e construção e 1997, pela primeira vez, apareceu aqui mineração em civil. Se você pegar aqui, 1996, mineração: primeiro lu- segundo, perdeu aqui para instituições financeiras.A jusgar, indústria de transformação: segundo, instituições fi- tificativa é que em 97, houve uma quantidade de sindica128 Tela 17 Rank do coeficiente de Invalidez Permanente por acidentes de trabalho (Aposentadoria por Invalidez - B92), no Brasil (1.995 a 1.997) (Fonte: INSS/MPAS e RAIS/MTE - Elaboração: SSST/MTE) Rank 10 20 30 10 20 30 10 20 30 Classes de Atividades Econômicas (CNAE / IBGE) Coeficiente - 1/100.000 0 20 40 60 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.995 80 100 120 72,57 F - Construção Ano de 1.995 42,94 A - Agric., pec., silvic.e expl.florestal Ano de 1.995 27,63 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.996 79,49 J - Intermediação financeira Ano de 1.996 73,79 E - Prod.e distrib.de eletricidade, gás e água Ano de 1.996 setores econômicos. A mineração não tem nem 1% do potencial de fiscalização das DRTE,s. O setor mineral está pulverizado no interior e, geralmente, as fiscalizações ocorrem depois de denúncias graves ou acidentes com mortes. E isso que está na Tela 20, o Ministério do Trabalho colocou a partir desse ano (2.000). Está no site do Ministério do Trabalho disponível para todo mundo acessar pelo CNAE esses dados de janeiro a agosto de 2000. 43,09 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.997 O que a Confederação quer com esses bancos de dados e esse leJ - Intermediação financeira 86,27 Ano de 1.997 vantamento? Conhecer o mineiro, E - Prod.e distrib.de eletricidade, gás e água 72,81 saber onde é que está o mineiro, Ano de 1.997 como ele está. Conforme Tela 21, ela quer ter os seus eixos de lutas, Tela 18 no movimento sindical, como semRank do coeficiente dos Acidentes Fatais no trabalho pre: a unificação da data base; acor(Pensão por Morte - B93), no Brasil (1.995 a 1.997) do coletivo nacional; piso de salário nacional; fim da terceirização, Rank porque hoje, até a atividade produ0 tiva está sendo terceirizada dentro 1 do setor mineral, e aí é uma discus20 são com os sindicatos: o que é ati30 vidade meio e atividade fim. Con0 tinuidade do IADZ – esse IADZ é 1 um projeto que nós lançamos há 20 dois anos, que é o Índice de Aci30 dentes e Doenças Zero, já que os 0 empresários estão na busca da ISO 1 14000, eles estão buscando a ISO 20 9000 da qualidade e a ISO 14000 30 do selo verde, ambiental, nós criamos o nosso selo também. Utopia por utopia, vamos fazer a nossa, tos de bancários que abriram CAT’s com o problema da nós queremos doenças e acidentes zero, aí começamos LER nos bancos. Acreditamos que para 98 e 99 isso aqui um projeto da cidadania na mineração. Nós já fizemos vai inverter de novo porque aí os bancos terceirizaram trinta e seis seminários por esse interior do Brasil, onde a gente começa a levantar várias questões, a respeito do – ou socializaram? – a LER com os caixas eletrônicos. setor mineral. – Ratificação da Convenção da OIT 176, Quando se falou na fiscalização das DRTE`s foi apre- que é específica para a segurança das minas, segurança sentado aqui neste seminário, inclusive ontem, sobre o e saúde das minas. Ela já está no Congresso Nacional, já Sistema Federal de Inspeção do Trabalho. Conforme a está em processo de ratificação pelo Brasil. Nós estamos Tela 20, a gente vinha questionando a respeito disso da- correndo atrás, inclusive a nova NR-22 já está dentro do qui: 26% da fiscalização do Ministério do Trabalho e Em- espírito dos conceitos da Convenção 176 da OIT. E a imprego são no comércio que estão nos centros urbanos, plementação imediata da nova NR-22. 24% é na indústria de transformação que está em volta Para concluir, temos na Tela 22, como fazer isso? E aí dos centros urbanos, 20% na construção civil que está geralmente nos grandes centros urbanos, e aí vem por eu venho agradecer novamente a FUNDACENTRO, Mi114,23 (Fonte: INSS/MPAS e RAIS/MTE - Elaboração: SSST/MTE) Classes de Atividades Econômicas (CNAE / IBGE) Coeficiente - 1/100.000 0 10 20 30 40 50 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.995 52,32 A - Agric., pec., silvic.e expl.florestal Ano de 1.995 42,89 F - Construção Ano de 1.995 41,59 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.996 40,59 I - Transporte, armaz.e comunicações Ano de 1.996 34,57 F - Construção Ano de 1.996 27,72 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.997 38,40 I - Transporte, armaz.e comunicações Ano de 1.997 F - Construção Ano de 1.997 29,09 25,40 129 Tela 19 Rank do coeficiente de Incapacidade Parcial Permanente no trabalho (Auxílio-Acidente - B94), no Brasil (1.995 a 1.997) (Fonte: INSS/MPAS e RAIS/MTE - Elaboração: SSST/MTE) Classes de Atividades Econômicas (CNAE / IBGE) Rank Coeficiente - 1/100.000 0 50 100 150 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.995 10 20 30 10 20 30 10 20 30 200 155,27 J - Intermediação financeira Ano de 1.995 73,37 F - Construção Ano de 1.995 66,88 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.996 153,92 J - Intermediação financeira Ano de 1.996 145,63 D - Indústrias de transformação Ano de 1.996 76,46 J - Intermediação financeira Ano de 1.997 221,40 C - Indústrias extrativas (Mineração) Ano de 1.997 149,68 D - Indústrias de transformação Ano de 1.997 81,83 Tela 20 Distribuição do Número de Fiscalizações em todos os Setores Econômicos, realizadas pelas DRTE's do Brasil, de janeiro a agosto de 2.000. (Fonte: Sistema Federal de Inspeção do Trabalho - SFIT / MTE) Q - Organ.internacionais e outras inst.extraterritoriais 0,00 P - Serviços domésticos 0,01 0,04 B - Pesca E - Prod.e distrib.de eletricidade, gás e água 0,24 L - Adm.pública, defesa e seguridade social 0,44 0,85 CNAE C - Indústrias extrativas (Mineração) M - Educação 1,35 J - Intermediação financeira 1,39 O - Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 2,57 N - Saúde e serviços sociais 2,80 3,44 A - Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal H - Alojamento e alimentação 4,43 I - Transporte, armazenagem e comunicações 4,59 7,61 K - Ativ.imobiliárias, aluguéis e serv.prest.às empresas 19,86 F - Construção 24,47 D - Indústrias de transformação 25,90 G - Comércio; repar.de veíc., obj.pessoais e domésticos 0 5 10 15 20 25 Porcentagem das fiscalizações realizadas Tela 21 30 nas Gerais, que nos deu o apoio, depois de 2 anos, que a gente vem correndo atrás para viabilizar este estudo, após ficar questionando: para onde vai o FAT? O Fundo de Amparo ao Trabalhador, que a gente está cansado de ver que se pega um pedreiro, ensina ele a ser carpinteiro. Pega um carpinteiro, ensina a ser pedreiro. E os dois continuam desempregados. Quando a gente tenta buscar algum recurso do FAT para se fazer isso aqui não nos foi viabilizado. A gente conseguiu agora uma parceria com a FUNDACENTRO, inclusive aqui com a FUNDACENTRO Nacional, para poder acompanhar o PRODAT da FUNDACENTRO e inserir dentro do PRODAT um apêndice do setor mineral. Acompanhar e agilizar esse acesso único integrado às várias atividades, porque o trabalhador, enquanto trabalhador, ele pega um banco de dados que está disponível na Internet, ele se perde. Ele não sabe o que é que está ali disponível de informação, e a gente como assessor, tem que conseguir primeiro digerir estes dados e transformá-los em informações. Alguma coisa já está disponível na Internet a partir do ano passado (1.999) para cá, mas há quatro anos, quando eu fui levantar esses dados, a dificuldade de arrumar anuários, de ter acesso dentro das universidades, foi grande. Para você ter acesso à infor- Tela 22 QU E QUE RE MOS EIXOS DE LUTA: w UNIFICAÇÃO DA DATA BASE w ACORDO COLETIVO NACIONAL w PISO SALARIAL NACIONAL w FIM DA TECEIRIZAÇÃO w CONTINUIDADE DO IADZ (Cidadania na Mineração) w RATIFICAÇÃO DA CONVENÇÃO OIT 176 w IMPLANTAÇÃO IMEDIATA DA NR-22 130 COMO FAZ ER w acompanhar o PRODAT da FUNDACENTRO; w agilizar o acesso único e integrado às bases de dados; w conhecer a real situação sobre a integridade física e a saúde dos trabalhadores do Setor Mineral Brasileiro; w averiguar os possíveis impactos à saúde dos trabalhadores com a implantação da nova NR-22, dando subsídios a CPN/Min, constituída pela Portaria MTE nº 2.038/99; w testar novos métodos de avaliação e/ou aperfeiçoar os existentes, com inclusão do setor informal do mercado de trabalho; w capacitar os sindicatos filiados da CNTSM; w desenvolver metodologia e implantar procedimentos de comparabilidade em nível nacional e internacional em parceria com a ICEM. mação sendo ex-aluno, você não consegue acesso fácil à informação. Ou até mesmo ir ao INSS atrás do anuário do INSS, ou conseguir na Universidade o anuário da OIT que a informação é ipsis litteris do anuário brasileiro na parte do Brasil. Consegui informação por lá porque o INSS em Minas, por exemplo, não tinha e ninguém tinha, nem o superintendente, o anuário disponível, e essa dificuldade de pegar esses dados, mastigar isso, digerir isso, transformar isso em informação e passar em nível de informação de uma base de trabalhadores que praticamente não tem o primário. A maioria dos trabalhadores minerais, como foi colocado aqui pelo Dorival da construção civil, também é um trabalhador, quase todos semi-analfabetos. Conhecer a real situação sobre a integridade física e a saúde dos trabalhadores do setor mineral, hoje, antes de se implantar a NR-22, inclusive para ver se a nova NR-22 está progredindo, está melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores do setor mineral, averiguando os possíveis impactos na saúde do trabalhador com a implantação da nova NR-22, dando subsídio, inclusive, para a Comissão Permanente Nacional da Mineração, constituída pela portaria do Ministério do Trabalho, que tem esse papel, essa Comissão.Testar novos métodos de avaliação e aperfeiçoamento dos existentes, com inclusão do mercado informal que o setor mineral, a gente estima que está na ordem do 70%, capacitar os sindicatos filiados da Confederação. Hoje, 95% dos sindicatos mineiros, são filiados à Confederação que é filiada à CUT. E desenvolver metodologia e implantar procedimentos de comparabilidade de níveis nacionais e internacionais, em parceria com a ICEM. A Confederação é filiada a ICEM também. A ICEM é uma Federação Internacional de Trabalhadores Químicos, Energéticos e Mineiros, que tem sede na Bélgica e está lançando agora no final do ano (2000), a rede internacional de dados dos mineiros. A Confederação até hoje não tem ainda esses dados, nós estamos tentando monta-los e as respostas para poder entrar com um link nessa rede internacional de como está o mineiro brasileiro. Era isso que eu tinha a colocar, me coloco à disposição para mais esclarecimentos, e agradecer essa oportunidade, inclusive de convidar parceiros que, juntos com a Confederação e junto com a FUNDACENTRO, nos ajudem a fazer essa empreitada de levantar como está a situação dos mineiros que estamos ansiosos para levantar isso. Obrigado. 131 132 Comentários Profa. Dra. Anadergh Barbosa de Abreu Branco- UnB B em, eu gostaria em primeiro lugar de agradecer à FUNDACENTRO e em particular ao Doutor Celso Salim. Agradecer não só pelo convite para a participação, mas principalmente pela oportunidade de participar de um evento como este, considerando, sobretudo, o nível de qualidade e de seriedade imposto ao mesmo. Neste encontro foi possível ver que as pessoas que aqui se encontram, seja participando, discutindo e/ou apresentando trabalhos, são pessoas que estão realmente preocupadas com a questão da saúde e segurança do trabalhador, e isso realmente nos deixa muito contente. Poder participar desta parte do programa, já no encerramento do evento, por um lado foi um privilégio, já que permite uma avaliação geral do seminário, mas por outro lado, ficou muito pouco para ser dito, já que as pessoas realmente se empenharam em esmiuçar ao máximo os problemas que a área vem enfrentando. No entanto, baseado em tudo o que foi apresentado, tanto hoje quanto nos dias anteriores, e também na nossa própria experiência, tornou possível identificar alguns pontos importantes para reflexão e quem sabe discussão ao longo dos próximos dias, meses e talvez anos, o mais importante é que mantenhamos isso em mente para que possamos então mudar esse quadro, esse cenário tão complexo, conforme foi apresentado aqui. Uma das dificuldades que nós temos pela frente, é, sem dúvida, a forma de vermos o trabalhador, a forma de vermos a questão do acidente de trabalho e das doenças do trabalho. É isso que precisa inicialmente passar por uma mudança, trata-se, na realidade de uma mudança de comportamento, e mudanças de comportamento normalmente não se conseguem a curto prazo. É um processo lento, porque existe e envolve, inclusive, um processo de conscientização de todos os envolvidos, em relação aos direitos e deveres de cada envolvido . Em relação à saúde e segurança do trabalhador, temos hoje problemas tanto de ordem político-ideológica quanto quantitativa e mesmo qualitativa.A primeira diz respeito a questões tais como: quem é trabalhador ? quem são as pessoas foco de nossa atenção, enquanto profissionais de saúde e segurança do trabalho? trabalhador é quem trabalha ou é apenas quem tem emprego formal ? A segunda, que envolve o aspecto quantitativo da questão, diz respeito, antes de mais nada a questões como quantos são os trabalhadores?, onde estão? o que estão fazendo? em que condições estão fazendo? de que adoecem? o quê os está incapacitando? do quê estão morrendo? Esta parte é, sem dúvida, a menina dos olhos daqueles que aqui se encontram, mas independente do esforço de cada um de nós para tentarmos transformar os tantos dados em informação, nos deparamos com o terceiro aspecto, ou seja, a questão da qualidade dos dados. Por exemplo, analisando dados publicados em fontes oficiais, como interpretar uma queda de 50% de um ano para o outro na quantidade de acidentes registrado em um determinado estado? ou ainda, estados com 7 acidentes do trabalho registrados em um ano? Portanto, o processo de conscientização do qual lhes falei há pouco, envolve o empregador, o empregado, os sindicatos, os profissionais de saúde que atendem o trabalhador acidentado ou faz uma perícia médica, os agentes administrativos responsáveis por encaminhar as CATs as instâncias devidas. Os dois últimos aspectos referidos são interdependentes, para que se tenha dados estatísticos confiáveis. Para que possamos transformar dados realmente em informação, eles precisam antes de mais nada chegarem até nós em quantidade e qualidade suficientes. Então, para que possamos resolver esse problema, nós temos que começar enfrentando a base do problema. E essa base envolve desde o trabalhador até os profissionais de saúde e segurança que estão no local de trabalho e ainda, aqueles profissionais que estão nos postos de atendimento, ou nos pronto-socorros. É necessário encontrar-se formas de conscientiza-los quanto à necessidade do preenchimento adequado dos instrumentos (legais e informais) pertinentes. Na realidade deve-se tentar envolver toda a sociedade, de tal forma que ela possa entender a importância de ser feita a devida caracterização de um acidente do trabalho ou de uma doença do trabalho Porque o problema é o seguinte, se nós não temos conhecimento de um problema que está acontecendo, ele simplesmente não existe, para nós um problema só passa a existir a partir do momento que a gente toma ciência dele. Então se nós não temos dados para mostrar para todo mundo que, por exemplo, que hoje a LER é uma pandemia, ou seja, um problema que acontece no mundo inteiro, e que vem realmente incapacitando mais e mais, se nós não temos dados para mostrar isso, esse problema não existe, por exemplo, hoje, o problema da LER ou DORT, da PAIR, das pneumoconioses, eles só representam uma preocupação para quem está diretamente envolvido com eles, não se conseguiu ainda, sensibilizar o conjunto de profissionais de saúde para as consequências de ordem sócio-econômica que essas doenças podem gerar. O trabalho de base ao qual me referi anteriormente, é na realidade responsabilidade de todos. É responsabilidade de sindicalistas, 133 é responsabilidade dos profissionais de medicina e segurança nas empresas, é responsabilidade nossa, dos professores que estão envolvidos na área da educação tanto de graduação quanto de pós-graduação, portanto, é responsabilidade de todo o mundo, se nós tentarmos, se empunharmos essa bandeira de mudança, da importância desse quadro, eu acho que alguma coisa acaba realmente acontecendo. Bem, um outro ponto sobre o qual eu gostaria de fazer algumas colocações é sobre a questão do trabalhador formal x informal passando pela discussão teórico conceitual em das idéias que se têm de trabalhador, das idéias que se têm de acidente de trabalho, dos chamados atos inseguros, condições inseguras e todos esses conceitos e as evoluções/alterações que os mesmos já sofreram ao longo, principalmente, dos últimos vinte anos. Sem dúvida, evoluiu-se muito, então, está na hora de nós darmos um passo muito maior, porque nós vimos que essa questão de ficarmos discutindo o problema dos acidentes e das doenças do trabalho em cima do trabalhador formal é o que poderíamos chamar de fazer estatística para inglês ver, é fechar os olhos para o problema e dizer “não, essa é a situação e tal”. Nós hoje, já estamos plenamente conscientes de que trabalharmos em cima de dados restritos ao trabalhador formal, e mesmo assim, quase sempre o celetista, está muito aquém da realidade, é subestimar a dimensão do problema. Então eu acho que só tem uma forma de enfrentar a questão e ela é sem dúvida um grande desafio para o SUS, que já vem enfrentando tantos outros, mas a partir do momento que o próprio SUS assume essa questão dos acidentes de trabalho, e vem inclusive, apesar do pouco consenso existente entre os ministérios da saúde e do trabalho e emprego quanto à vigilância à saúde do trabalhador e fiscalização dos ambientes de trabalho, apesar disso, ou até em função disso, é que nós devemos procurar visualizar a questão da saúde do trabalhador, como saúde e segurança do trabalhador, para todos os trabalhadores, independente da questão formal ou informal, CLT, estatutários, isso tem que passar a ser mera variável na análise, quer dizer, nós só vamos realmente resolver o problema da saúde no trabalho no dia que encararmos como trabalhador todo aquele que trabalha. Então eu acho que esse é um dos nossos desafios. Então, como fazer isso? É complicado, a gente sabe que não vai ser do dia para a noite, mas se nós começamos a mudar exatamente a nossa forma de ver o trabalhador, e isso eu realmente acho que é um desafio, porque durante muito tempo essa questão ficou muito voltada para a medicina de empresa, de medicina e de segurança na empresa, quer dizer, hoje já se conseguiu sair um pouco desses muros, mas ainda não se conseguiu realmente atingir o conjunto de trabalhadores e é aí, ao que tudo indica, está o maior problema. 134 Uma outra questão muito importante, que eu gostaria de salientar, é quanto a trabalhar os dados existentes. Eu vejo que na realidade não faltam dados, bons ou ruins, com grande cobertura, com pequena cobertura, eles estão aí. Então o que falta é transformar esses dados em informação. E é aí que eu acho que nós precisamos realmente sair dos nossos quintais e buscar parcerias interinstitucionais, e as universidades estão aí realmente abertas a provocações, e neste aspecto vejo a FUNDACENTRO com um grande desafio pela frente. A FUNDACENTRO tem todas as condições para provocar, digamos, as agências de fomento, para chamadas realmente em cima de temas que são prioritários. Então quer dizer, se de repente é considerado que existe esse problema, vamos ver em que nível esse problema se encontra, em que condições, o que pode ser feito, qual é a realidade desse problema. Muitas vezes os sindicatos identificam um determinado problema, mas eles não conseguem realmente saber com exatidão a dimensão desse problema, ou seja, o que está acontecendo. Então se vocês estão percebendo que estão tendo um problema numa determinada área, vamos buscar parcerias nas Universidades que estão aí abertas e até, digamos assim, ávidas por um desafio como esse, vamos buscar parcerias e com certeza, nós iremos somar esforços e isso vai reverter em melhoria da segurança e da saúde do trabalhador. Bem, como eu disse, pouca coisa restou, mas tem um outro ponto que eu gostaria de salientar, é a questão dos acidentes de trânsito. Acidentes de trânsito, os mesmos que passam pelos acidentes de trajeto, bem como pelos acidentes no trânsito e de, trânsito. Nós vimos aqui pelos trabalhos apresentados, e eu posso até endossar esses dados aqui apresentados, com um trabalho que fizemos no Distrito Federal sobre acidentes do trabalho fatais, o qual mostrou que numa série histórica de 6 anos, o trânsito foi responsável por 58% de todas as mortes no Distrito Federal por acidentes no trabalho, quer dizer, mortes formais, trabalhadores formais. Vejam, nós continuamos com todo nosso eixo de prevenção de acidentes do trabalho voltado para o acidente típico e principalmente para aquele acidente típico ocorrido na empresa. Então espera aí, se nós já temos os problemas que foram colocados aqui da questão de limitação do universo que está sendo abrangido e aí nós ainda estamos deixando de fora mais da metade do problema, do nosso real problema, então nós estamos na realidade pegando uma fatia mínima para trabalharmos. Então, é hora de pensarmos num redirecionamento no eixo das campanhas de acidentes do trabalho, e também na própria forma de abordagem dada pelas empresas ao problema. Se já é sabido que o acidente de trabalho é prejuízo para todo mundo, inclusive para a empresa, então não seria hora das empresas começarem a pensar em formas de evitar isso, quer dizer, de investir no transporte desses trabalhadores, de encontrar mecanismos realmente que venham a minimizar o problema, já que é só o acidente de trânsito que precisa ser considerado, os homicídios estão aí, os homicídios ocorridos no deslocamento casatrabalho-casa tem se mostrado extremamente importante no Distrito Federal, e eu não creio que seja muito diferente em outros lugares, não sei se tem havido estudos nesta vertente, mas um outro dado importante nesta pesquisa no Distrito Federal, é que entre os acidentes de trajeto, o que mais matou não foram as colisões, porque se deve até pensar que sim, afinal de contas é uma cidade desenhada para carros, mas na realidade, o que mais matou foram os atropelamentos. Logo, estes dados reforçam essa necessidade de se pensar numa mudança de eixo dessas campanhas. Quando discutimos essa questão dos acidentes de trânsito, pode até parecer aos menos atentos, que a gente tem muito pouco a fazer, não é verdade, acho que nós temos desde uma campanha geral de prevenção de acidentes de trabalho no trânsito e de trânsito, até a operacionalização de for- mas de transporte administrados pela empresa ou empresas, com participação financeira tanto do empregador quanto do empregado. Essa questão das parcerias em relação provocação de temas de pesquisa se torna particularmente importante à medida que a gente possa vir a desenvolver estudos multicêntricos, ou seja, estudos sobre um mesmo assunto, mas feitos em vários locais, porque nós sabemos que as bases de dados existentes em relação à saúde e segurança no trabalho, e principalmente em relação aos acidentes no trabalho, ela realmente é bastante incompleta. Então talvez uma forma de chegarmos o mais próximo possível da realidade do que está acontecendo seria realmente através de estudos multicêntricos, feitos realmente em várias partes do Brasil, e que com isso permitir um delineamento da real situação do Brasil em relação ao tema. Sei que minha fala foi mais uma provocação, mas tenham todos a certeza de que foi com a melhor das intenções. Muito obrigado a todos e em particular àqueles que se sentiram provocados. 135 136 Mini Currículos Ana Lúcia Sabóia Formação Bacharel em Sociologia Ocupação/profissão: Chefe da Divisão de Indicadores Sociais do IBGE desde 1998. E-mail: [email protected] Anadergh Barbosa Formação Bacharel em Enfermagem do Trabalho, Mestre em Saúde do Adulto (UFSC) e PhD em Saúde do Trabalhador – Worksafe Australia/Univ. Sidney Ocupação/profissão: Professora Adjunta do Departamento de Saúde Coletiva/ UnB E-mail: [email protected] Antonio Benedito Marangone Camargo Formação Bacharel em Estatística; Mestrado em Demografia, Doutorado em Saúde Pública – Fundação SEADE. Ocupação/profissão E-mail [email protected] Celso Amorim Salim Formação Bacharel Ciências Sociais - UnB, Mestre em Sociologia – UnB, Doutor em Demografia – UFMG/CEDEPLAR, Pós Doutor em Estudos Populacionais - UNICAMP Ocupação/profissão: Pesquisador da FUNDACENTRO, lotado no Centro Regional de Minas Gerais, Coordenador do PRODAT E-mail [email protected] 137 David Duarte Lima Formação Bacharel em Estatística, mestre em Epidemiologia e doutor em Saúde pública – Université de Louvain - Bélgica Ocupação/profissão Professor da UnB, presidente da IST Instituto Brasileiro de Segurança no Transito. E-mail [email protected] Dorival Custódio Formação Técnico em Segurança do Trabalho Ocupação/profissão Tecnologista, lotado na FUNDACENTRO CPT/CTN E-mail [email protected] Giuseppe Vincenzo De Lorenzo Formação Engenheiro de Minas e de Segurança do Trabalho Ocupação/profissão Assessor Técnico da CNTSM – Confederação Nacional dos Trabalhadores do Setor Mineral E-mail [email protected] José Américo Serafim Formação Analista de Sistemas Mestrando em Gestão de Sistemas de Saúde IMS / UERJ Ocupação/profissão Coordenador Geral de Suporte Operacional de Sistemas/Ministério da Saúde E-mail [email protected] Lie Tjiap Liung Formação Bacharel em Engenharia Mecânica Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho Ocupação/profissão Ministério do Trabalho e Emprego Delegacia R egional do Trabalho em São Paulo E-mail [email protected]; [email protected] 138 Maria Emília Piccinini Veras Formação Bacharel em Relações Públicas Pedagoga Ocupação/profissão Chefe da Divisão de Informações Sociais/ CGETIP/Ministério do Trabalho e Emprego E-mail [email protected] Manoel Carlos S. A. Ribeiro Formação Bacharel em Medicina; Mestre em Medicina Preventiva. Ocupação/profissão Deptº de Medicina Social/Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP E-mail [email protected]; [email protected] Monika Schorr Formação Bacharel em Estatística Ocupação/profissão Pesquisadora FUNDACENTRO, lotada na Divisão de Epidemiologia CTN E-mail [email protected] Roberto Men Fernandes Formação Tecnólogo Processamento de Dados Ocupação/profissão Coordenador Monitoramento da Situação de Saúde Centro Nacional de Epidemiologia Fundação Nacional de Saúde E-mail [email protected] Sérgio Antônio Martins Carneiro Formação Bacharel em Medicina, médico do trabalho Mestre em Saúde Publica Ocupação/profissão Médico do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – Freguesia do “O” CRST/FÓ. Diretor do Departamento Médico da Prefeitura Municipal de São Paulo E-mail [email protected] 139 Teresa Cristina Amendola Maia Formação Técnica em Estatística / ENCE Bacharel em Ciências Econômicas/Universidade Estácio de Sá Ocupação/profissão Analista de Sistemas – Depto. de Negócios e Benefícios DATAPREV E-mail [email protected] Vilma Sousa Santana Formação Bacharel em Medicina (UFBA), Mestre em Saúde Comunitária (UFBA), Ph.D. em Epidemiologia (Universidade Carolina do Norte –EUA) Ocupação/profissão Professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA. Coordenadora do Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador, PISAT, do ISC/UFBA. E-mail [email protected] Déa Carvalho Formação Bacharel em Medicina, Especialização em Informática, Mestre em Política, Planejamento e Administração em Saúde Ocupação/profissão Coordenadora Geral de Planejamento e Informações em Saúde/Secretaria de Assistência à Saúde/Ministério da Saúde E-mail [email protected] Eduardo Rios Neto Formação Bacharel em Ciências Econômicas, PhD em Demografia – Universidade da Califórnia - Berkeley Ocupação/profissão Prof.Titular de Demografia – CEDEPLAR/UFMG Presidente da ABEP E-mail [email protected] Duval Magalhães Fernandes Formação Bacharel em Ciências Econômicas, Especialista em Demografia, Mestre em Economia, Doutor em Demografia – CEDEPLAR/UFMG Ocupação/profissão Professor Adjunto PUCMINAS Pesquisador do IRT Secretário da ABEP E-mail [email protected] 140 Paulo Sérgio Andrade Conceição Formação Bacharel em Medicina do Trabalho Ocupação/profissão Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador – CESAT – Secretaria Estadual de Saúde - BA E-mail [email protected] Sônia Maria José Bombardi Formação Bacharel em Química Doutora em Ciências Ambientais - USP Ocupação/profissão Pesquisadora FUNDACENTRO Diretora Técnica da FUNDACENTRO E-mail [email protected] José Gaspar Ferraz de Campos Formação Bacharel em Ciências Sociais Ocupação/profissão Diretor Executivo da FUNDACENTRO E-mail [email protected] Luiz Armando de Medeiros Frias Formação Bacharel em Estatística Especialista em Demografia – CELADE - Chile Ocupação/profissão Departamento de População do IBGE Ex Gerente do Censo Demográfico Aposentado Consultor E-mail [email protected] 141 142 Anexo Debates PAINEL I M ediador: Eu gostaria de convidar os palestrantes para comporem a mesa e abrir a palavra ao auditório. Vai circular um microfone, porque nos estamos gravando, então é importante falar ao microfone. Obrigado. Pergunta: Eu tenho uma observação, só que o Doutor Eduardo Rios não se encontra. Eu acredito que tenha uma errata. Quando no final ele colocou que as notificações de acidente de trabalho saem do CAGED e da RAIS e não é a realidade. Só isso que eu queria dizer. Luís Armando Medeiros Frias: Olha eu vou falar com a produção dele para ser mais cuidadosa. Pergunta: Uma pergunta para o Roberto Fernandes. Acompanhando os dados de acidente de trabalho nas causas, eu notei a ausência do homicídio na causa de acidente de trabalho que aparece assim: transportes, quedas, máquinas, afogamentos; e eu não sei se não deu para ver, mas ao que você atribui o fato de não aparecer homicídio já que tive acesso aos dados do PROAIM de 98, em termos de declaração de óbito que apresentaram na região onde eu trabalho, que é região Norte aqui de São Paulo, apareceram várias declarações de óbito de homicídio marcadas como acidente de trabalho naquele campo sim/não ignorado, e eu não vi isso na estatística nacional, só uma curiosidade. Roberto Men Fernandes: Na hora que foi confeccionada esta tabela, como eu falei, a princípio, os dados que eu ia mostrar eram dados brutos e não foi nenhum estudo científico, então na hora que eu confeccionei as tabelas, só “elenquei” a lista que foi realmente apresentada, ou seja, não entroram homicídios. Se você observar, não entraram aquelas causas relacionadas diretamente com saúde, saúde ocupacional como trabalhadores de minas de carvão, foi mais direcionada àqueles acidentes mesmo. Pergunta: Para senhora Teresa Cristina sobre a CAT. A CAT, notificada pela Internet, a notificação pode ser feita também pelo trabalhador no serviço de saúde? É aceita essa notificação pela Internet, também? Teresa Cristina Amêndola Maia: Sim. Pergunta: E, nos últimos momentos de sua fala, parece que eu entendi, pode estar havendo alguma alteração no formulário da CAT, algumas implementações nessa notificação dos acidentes, nas informações. Teresa Cristina Amêndola Maia: Não. Todo e qualquer cadastramento via Internet pode ser feito por qualquer um, conforme reza a legislação previdenciária. A CAT é o único documento da previdência que pode ser preenchido senão pelo empregador, pelo dependente, pelo prótese dentado, pela autoridade pública, pelo médico que atendeu ou por um passante na rua, qualquer um pode preencher a CAT. A partir do momento que ela esteja cadastrada na Internet, não há mais alteração via Internet, tem que se ir ao posto de benefício porque ali existe o embasamento do porquê da alteração. Não é aberto para alteração via Internet. Pergunta: O número da notificação constando o campo, é o número de notificação ou o de benefício? Porque agora são 2 números um é da notificação e se ocorrer o benefício vai ter outro número, então no campo número da CAT? Teresa Cristina Amêndola Maia: É numero da CAT mesmo, a CAT tem número próprio mesmo. Pergunta: Não é número de benefício? Teresa Cristina Amêndola Maia: Não, isso foi anteriormente, até a entrada do novo documento, ele recebeu um número de benefício. E a partir de agora, a CAT tem 13 dígitos. Os 4 primeiros são o ano, então todas as CAT começam por 2000 esse ano. Tem 6 dígitos mais 1 dígito verificador e 2 dígitos no final de seqüencial: 01 inicial, 02 reabertura, e assim por diante. Sendo que, não 143 necessariamente o 01 tem que ser a inicial, porque nós não pudemos fazer um corte e esquecer o passado. Então a primeira CAT da Internet que esteja sendo digitada 01 pode ser uma reabertura, nós tivemos de abrir esse precedente. Pergunta: Meu nome é Vilma Santana, eu sou professora de Epidemiologia da Universidade Federal da Bahia, e eu gostaria de resgatar um pouco a fala de Sônia Bombardi pela manhã, que este deve ser um momento que tem um significado histórico. E eu que venho acompanhado a produção de conhecimento na área de saúde do trabalhador, especialmente a questão de estatísticas e dados epidemiológicos sobre doença e acidente de trabalho no Brasil, sempre tenho me surpreendido com a escassez de dados epidemiológicos. Não vou falar de qualidade de dados epidemiológicos, então para mim é realmente um grande prazer ver como as pessoas estão, como Tânia, que falou da ansiedade, que eu faço a minha leitura de que essa ansiedade é mais um entusiasmo e um compromisso que você está compartilhando com a gente e querendo comunicar, no sentido de sua determinação de contribuir para a produção de dados epidemiológicos aqui no País. Eu fico realmente feliz de ver que têm pessoas que estão com esse compromisso e determinação, porque ainda há um caminho muito grande a percorrer. Com relação aos dados que foram apresentados, por mais que a gente possa questionar, e como foi muito bem questionado, criticado e comento, ainda muito a desejar. Mas é a primeira que vez que eu estou vendo uma apresentação de dados de AIH, de dados de mortalidade para todo Brasil, exceto alguns dados se encontram disponibilizados na Internet, com esse nível de desagregação. Quer dizer, pior que sejam esses dados em termos de sub-registro, de notificação, de viéses que podem ter ocorrido eu acho que é um pedaço da realidade que está começando a ser desvelado. Eu não acho que aqui a idéia é a gente ficar triste ou desanimado, porque ainda está muito ruim a qualidade, eu acho que é um começo e acho que a gente deve fazer nesse momento uma reflexão de quais parcerias, por exemplo, com a Universidade que tem pessoal qualificado que poderia dar contribuições no sentido de melhorar ou até mesmo de analisar e de interpretar. Um outro ponto que eu estava até guardando para amanhã, que é meu dia de fazer comentário, é de que, diferentemente da estatística, a epidemiologia se permite muitas transgressões no uso, na aplicação da estatística, você deve saber disso. Os estatísticos geralmente não gostam dos epidemiologistas porque os epidemiologistas permitem uma porção de usos e de especulações, de usos menos ortodoxos, vamos dizer assim, da estatística. E na epidemiologia, se vocês pegarem um tratado, um compêndio de Epidemiologia, vocês vão ver uma coisa que não se en144 contra nos compêndios da Estatística, que são os capítulos sobre os erros. O erro, não aquele erro aleatório, erro devido à amostra, mas erro devido à classificação e erro devido à seleção de população. E a gente, na Epidemiologia, entende que melhor que nenhuma informação, é qualquer informação, e com qualquer informação a gente tem desenvolvido muitas estratégicas analíticprocessualas, de mensuração, de aferição, de direção e de magnitude de erro. Com isso, a gente pode especular em termos de direções, com relação aos dados que a gente pode dispor. Era isso que queria, só queria parabenizar mesmo, eu não teria nenhuma pergunta especificamente, mas assim, uma força, vamos para diante! Pergunta: Eu, Paulo Conceição, sou do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador em Salvador – Bahia. Eu tinha umas observações, não são perguntas também diretas, mas algumas observações em relação aos dados que foram apresentados. Uma primeira, em relação à questão dos médicos, eu também sou médico, médico do trabalho e eu sei dessa responsabilidade que temos no sentido de preenchimento de dados de formulários. Mas infelizmente, em relação à questão de declaração de óbito, tem uma complicação que independe dessas questões que foram colocados por Roberto e depois também ressaltadas. Em relação à intenção de fato em não estar se registrando o que aconteceu em termos causas externas naquelas declarações de óbito. Porque estou dizendo isso? Em relação às causas externas, todos os órgãos devem ser afirmados em Institutos médicos legais, porque passou uma certa intenção em determinado momento que talvez fosse aquela questão do médico que está atendendo e tem que preencher uma declaração, etc, mas não é este exatamente o caso. No caso de ser uma declaração de óbito, por ser uma causa externa, tem que ser afirmada no Instituto Médico Legal. E nesse momento, claro, o médico que faz a autopsia e a necropsia, afirma que não tem informação se foi acidente de trabalho sim ou não, se um homicídio, se um suicídio, se foi afogamento, afogamento não teria, mas qual foi a causa que está escrita aqui? Queda, queda de andaime, queda de qual setor que teria sido. Mas, na verdade, todos esses órgãos têm de ter um boletim de ocorrência policial, com um estudo que deve ser apresentado, e que, nesse boletim de ocorrência policial, deve ter as circunstâncias que ocorreram esse óbito. Só para se ter uma idéia, do nosso Estado, na Bahia no Instituto Médico Legal, que é localizado em Salvador, nenhuma declaração de óbito nesse campo é preenchido, e a justificativa desses profissionais é de que eles não querem afirmar uma coisa que eles podem ter certeza do ocorrido, pensando que possa ter alguma implicação legal em relação a isso, embora na declaração de óbito se ressalte apenas na questão epidemiológica. Ninguém vai ser processado por dizer que um acidente de trabalho por informação que ele teve, algo que não foi ou vice-versa. Ninguém seria processado se dizer que foi homicídio, suicídio ou vice-versa, já que o cunho seria apenas epidemiológico, não processual, criminal, em determinado momento depois. Então, é uma complicação a mais que também tem de ser resolvida e que independe dessa questão de sobrecarga, mas também, talvez de não entendimento, ou de complicações em relação ao documento. Agora, um detalhamento muito importante também, e que talvez tenha passado não visto por todas pessoas, é em relação aos números, aos quantitativos que nós temos no Brasil, que foi até o que chamou depois atenção do professor no final, que nós não sabemos quantas pessoas que morrerem por ano por acidente de trabalho, porque existe sub-registro tem que se definir, etc. Somente para se ter idéia, em termos de número nas apresentações, o Ministério da Previdência através da CAT tem algo em torno de 3.500 a 4.000 óbitos registrados por ano, por acidente de trabalho. Neste estudo que o Roberto fez rapidamente, ele mostrou 2.026 óbitos por acidente de trabalho, registrados na declaração óbito. Já aí, a gente vê essa grande diferença, na declaração de óbito que pegaria todos os óbitos, não só aqueles celetistas, deveria obviamente ter muito mais óbitos declarados por acidente de trabalho do que na CAT, que pegaria somente os celetistas. Mas mesmo assim é o inverso, na verdade, aparecem menos óbitos na declaração de óbitos, que seria de abrangência nacional e global de todos os trabalhadores, do que naquela que é registrada na CAT, que é de celetistas. E aí há um terceiro dado que eu não conhecia, apresentado por Emília, em relação aos empregadores que declaram através da RAIS por desligamentos, por falecimentos, não sei como é que chama exatamente isso, que apenas de 985 no ano de 98. Ou seja, são dados muito díspares em relação ao quantitativo de pessoas que morrem por ano, por acidente de trabalho.A gente ainda está distante de ter essa realidade definida por esses registros administrativos. Mas eu concordo com a Professora Vilma, que estamos caminhando, não quer dizer que vamos desanimar. Mas a gente acha ainda que tem um caminho muito longo pela frente e eu acho que também, quanto mais utilizarmos, divulgarmos as estatísticas, também problematizarmos essas questões, teremos condições de estarmos nos aproximando de dados mais reais. Uma última colocação e observação é em relação aos denominadores. Eu acho que hoje, mais recentemente, uns 5-7 anos para cá, já estamos usando e falando de coeficientes de incidência, coisa que não fazíamos há um pouco tempo, ninguém falava de coeficiente de incidência, falava-se apenas de números brutos. Hoje já se fala. Mas mesmo assim a gente ainda encontra diferenças de números de traba- lhadores segurados, quando pegam dados da Previdência, de números de trabalhadores e celetistas, quando pego dados da RAIS, e a gente encontra diferenças, às vezes grandes, de 2,3 milhões a mais ou a menos de trabalhadores de uma estatística para outra estatística, que ainda continua sendo um problema muito sério, pois isso dá diferenças muito grandes quando você vai calcular os seus indicadores, seus índices de incidência. Mas eu acho que a gente tem que estar pelo menos padronizando e uniformizando para que, sempre quando calcular, se calcule de forma parecida para que possam ser dados comparáveis também nacionalmente. Eram essas as observações. Moderador: Muito obrigado Paulo. Posso fazer um aparte? Já é a segunda vez que eu estou ouvindo que não existe uma totalização de mortes por acidente de trabalho. O Ministério da Previdência, de dois em dois anos, emite o BEAT – Boletim Estatístico de Acidente de Trabalho – e no BEAT ele tem a totalização anual por morte, por acidente de trabalho, aposentadorias, invalidez, tudo com relação à acidente de trabalho. Isso existe sim, essa totalização, não só com relação ao comunicado como em relação as pensões que aparecem mesmo sem ter sido comunicado. Fazendo um comentário a sua colocação é o seguinte: nós temos hoje um processo acelerado de precarização do trabalho, de informalização, já se fala em quarteirização, então, quando nós falamos em totais, o total que você se referiu, é um total parcial e isso é que eu acho que está sendo colocado. E outra coisa, é o seguinte: alguns dados da previdência por exemplo, de acidentes liquidados não coincide com a data do evento, então você tem um problema bastante sério para se realizar a estimativa. E outros problemas, eu acho que, basicamente, todas as bases têm problemas e, uns dos objetivos, o principal objetivo desse seminário, é levantar esse estado da arte da melhor forma possível, para que, na seqüência, ele possa vir a fazer umas ações, ou desenvolver algumas atividades para minimizar este quadro. Pergunta: Eu sou Alcides, sou de Campinas, representante dos trabalhadores do Sindicato da Construção Civil da região. Em relação aos dados estatísticos, inclusive os de acidente de trabalho, eu não quero aqui manifestar posição contrária, mas a gente tem até entendimento que dado ao desemprego, esses números e dados estatísticos não apresentam a realidade, devido, justamente, ao desemprego que nós temos no país, este é um fator que eu queria deixar ressalvado em consideração. A outra pergunta que eu gostaria de fazer, que acontece muito no setor, e não sei se seria para Teresa, é que, em relação à sonegação de comunicação de acidente de tra145 balho, por parte de empresas, inclusive da iniciativa privada, o que se pode fazer, ou o que se tem pensado em fazer em relação a essas empresas que sonegam? Porque é comum a gente participar ou ver essa situação onde as empresas, para ganhar licitações, concorrências, elas não podem apresentar certos números de acidentes. E então são negados, a gente vê trabalhadores em almoxarifados, outros setores assim visíveis, trabalhando com acidentes que a gente sabia que ele entraria, a partir do 15º dia útil, para uma comunicação de acidente. Assim, os trabalhadores, nem a comunicação, nem a CAT é feita, e a empresa banca aqueles dias, banca os trabalhadores nesse setor de trabalho para não fazer comunicações. Este é um ponto. O outro ponto, que tem muitos acidentes do trabalho e que não entram na minha compreensão e que gostaria que fizesse a exposição disso nessa avaliação estatística, é também relacionado aos chamados acidentes domésticos, este vem da parte informal. Muitas empresas não constituídas contratam os trabalhadores que sofrem acidentes e que mereciam justamente a comunicação do acidente do trabalho, porque ele entra para, justamente, a assistência da Previdência Social e a contribuição, e esses acidentes também não entram nesses dados estatísticos. Como é trabalhar isso? Tem um meio de fiscalizar, de ver qual a forma que trataria isso para entrar? Porque é um grande número de trabalhadores acidentados e é claro que não entra, mas esse debate a gente tem que fazer. Essa exposição a gente tem que fazer a partir dessa compreensão e dessa verificação, porque existem muitos acidentes ainda que não estão relacionados devido a esses pontos. A negativa por parte de solicitações, ISOs, que muitas empresas grandes também concorrem a isso, porque não podem aparecer, e os outros chamados acidentes domésticos. Teresa Cristina Amêndola Maia: Bom, eu vou colocar a minha parte aqui porque eu acho que é ampla e para todo mundo. A comunicação de acidente de trabalho derruba muita empresa quando o segurado chega 5 anos depois e consegue comprovar que aquela doença profissional ou qualquer coisa que o valha, que ele está tendo foi de um acidente de trabalho que não foi comunicado. Não sei se vocês sabem, mas a multa é uma progressão geométrica, não é vezes 2, é a multa vezes a multa, vezes a multa, vezes a multa.Agora, na construção civil, por exemplo, alguém que não tenha parentes ou esteja em local desconhecido, se morre, não tem dependente e ninguém sabe, é lógico que não vai haver comunicação de acidente de trabalho mesmo. Porque, além de ganhar concorrência, quanto mais acidente houver naquela, naquele empregador, ele vai pagar mais no GRPS. Porque aumenta o percentual do SAT que ele paga, que é o Seguro de Acidente de Trabalho. Então eu acho que aqui é o lugar que nós devemos até pensar o que fazer 146 com essas pessoas, porque o colega viu que morreu. Uma coisa que eu só vou colocar o último gancho, que eu acho fundamental e que vi, tanto eu quanto José Américo e quanto o Roberto reclamarmos, e nós termos a base é o seguinte: é fundamental fazer o que o IBGE fez no censo, que outro dia eu tomei um susto quando eu cheguei em casa e tinha uma mulher na minha sala e a faxineira falou: “não, a televisão falou – é a menina do censo”. Mas porquê a televisão falou entrou na casa de todo mundo. Então, eu acho viável sim, mas tem que ser amplamente divulgado. A CAT tem uma carência muito grande disso, tanto por parte da casa do INSS quanto por parte do empregador. Por parte do empregado ou do sindicato que, muitas vezes, reclama que a CAT ficou grande demais, mas é a forma mínima que nós temos e aquele ali é o momento porque existe uma pessoa interessada que é o segurado que poderá se beneficiar ou não. PAINEL II Pergunta: Eu tenho uma questão com relação à apresentação da Déa. Um cartão universal parece mascaradamente um registro de população, ou seja, seria uma espécie de registro de população. Eu pergunto: dentro daquele elenco de variáveis que você coloca, você tem variáveis ali que são de prazo indeterminado praticamente: o nome, a data de nascimento.Agora a ocupação, o endereço, são coisas variáveis e de mais a mais, é um sistema que pelo menos vamos ter um milhão e meio de entradas. Já se pensou nisso? Déa Carvalho: Isso tudo está sendo visto, sem dúvida. Na verdade, o que começou a ser discutido, esse cartão nacional de saúde foi até meio na esteira da discussão do número único do cidadão, do RIC (Registro Individual do Cidadão) que é lei, só não está sendo levado a efeito, mas é uma lei que existe, até o PIS/PASEP era o número que estava sendo discutido para ser o RIC e não o número cartão nacional de saúde. A gente sabe das dificuldades, inclusive, de atualização disso aí e, isso está sendo trabalhado junto com o pessoal da Caixa Econômica e, na verdade, é de interesse de todas as áreas. Só nesse cadastramento dos municípios, desses 44 municípios que estão no projeto piloto, a Caixa Econômica já atualizou demais a parte toda de PIS/PASEP e até passou essas atualizações para a receita e para o Tribunal Eleitoral porque também estão relacionados a ela, que tem utilizado para atribuir esse número do PIS/PASEP. Esse problema a gente já sabe, quer dizer, na hora que a gente acabou de fazer o cadastramento de um município, na mesma hora já começou a nascer gente, começou a migrar entrada ou saída, começou a mudar residência; isso aí são coisas que a gente tem previsto mais de uma forma passiva... no caso, é difícil até conceituar o que é passivo ou ativo, porque no cadastramento inicial muitas vezes foram usados cadastradores – pessoas que iam nas casas e cadastravam todas as pessoas daquela família. Mas tem também aquele cadastramento mais passivo: a pessoa vai na unidade de saúde e aí é feito uma atualização desses dados. A idéia aí não é que a agente mantenha perenemente, ou mesmo periodicamente um grupo de cadastradores que saiam pela cidade cadastrando.Tem esse cadastro inicial e depois disso, a idéia é que eles sejam mais passivos mesmo; claro que aí a gente pode ir fazendo ajustes. Só respondendo uma coisa em relação a isso que a Prof. Vilma tinha levantado: a gente tem tido sim dificuldade de cadastrar pessoas de classe média, classe mais alta em diversas cidades e, já entrando um pouco na coisa da motivação também, a gente vê que isso é tão mais difícil quanto menor é a tradição de participação cidadã que essas pessoas têm.A região metropolitana de Curitiba, a gente até tem algum outro tipo de dificuldade mas não relacionado a isso aí.As pessoas até entendem o que isso traz de bom, as necessidades estatísticas, como é que se usa, o que se vai fazer com isso, mas isso de fato não é verdade para o Brasil. Tem algumas coisas nessa questão de sub-registros e má qualidade de dados... porque antigamente, quando eu comecei a trabalhar com informática que eu fui médica, depois fui analista de sistemas, mas agora eu não sei direito em que eu estou. Mas quando eu comecei a trabalhar com informática, o pessoal dizia: entra lixo, sai lixo”, e esse é um problema que a gente tem no sistema de informação; a maior parte das vezes a gente vê que o problema não é a informática, é todo um processo anterior a isso. Eu trabalhei há um tempo atrás no CENEPI com os três grandes sistemas: o SIM, o SINASC e o SINAN e uma coisa que a gente teve um empenho tremendo foi através de um projeto específico, um plano micro para todos os municípios do Brasil e aí fomos capacitando pessoas; cada município tinha pelo menos uma pessoa capacitada a fazer isso e aí depois nós fomos voltando para ver como é que estava indo. Em Roraima, por exemplo, pegamos um município com uma pessoa capacitada, um menino ótimo, muito bom, que era um índio, ele começou a aprender a usar aquilo e disparou, começou a usar milhões de outros softwares. Tinha um micro lá, tinha um software e esse garoto muito bem treinado, muito interessado. Mas durante um ano, ele recebeu uma notificação de agravo e duas declarações de óbitos para dar entrada no sistema. Não existe realmente interesse; o pessoal mesmo, não me lembro se foi no Piauí ou no Maranhão, que alguém falou assim:“olha, não sei nem como esses dados de notificação compulsória chegam aqui porque não tem a cultura de registro disso lá; os médicos não estão nem aí”. A gente vê pela própria declaração de óbito quando a gente faz, pega assim, o Brasil tem uma das maiores quantidades de óbitos por causas mal definidas do mundo. Do mundo, considerando o mundo que tem informações de óbitos de qualidade razoável, porque a gente até tem declaração de óbito em quantidade razoável, tem abrangência razoável, o sistema é muito bom, mas não tem médicos fazendo diagnóstico. Então, tirando causas externas e todos os demais, porque mesmo aquelas pessoas que morrem na rua deveriam ter serviço de verificação de óbito e a gente deveria ser capaz de detectar a causa. Então, normalmente, nos outros lugares que está em torno de 2%, a gente está em torno de 15%. Isso é muito alto. Então, isso vai se replicar em tudo, não tem jeito. Eu acho que essa coisa de motivação passa por uma coisa de construção da cidadania mesmo. E, assim, só aproveitando esse gancho aqui, porque eu já queria antes mesmo comentar algumas das coisas que a Prof.Vilma tinha falado, então, a parte da universalidade do cartão, a dúvida, a gente também tem, mas eu acho que a gente nunca vai conseguir fazer alguma coisa para as pessoas, apesar delas. Acho que é uma coisa que vai tendo adesão na hora que mostrar resultado e isso é um outro ponto crítico. Só a Paraíba tem 51,9% de causa mal definida, das pessoas que morreram e não se sabe a causa, não se sabe do que elas morreram. É muito é muita coisa até para trabalhar. Eu acho que também, o outro problema, e aí é uma das coisas que todo o tempo dentro das provocações, está a coisa da parte do SUS aumentar um pouco a abrangência para incorporar mais esses dados do trabalhador, até pensando na parte do mercado de trabalho informal que ele cobriria eventualmente. Eu acho que o SUS tem um problema que ele mesmo não tem conseguido dar resposta às coisas que são estritamente da área dele. Porque eu acho que também tem muito isso, as pessoas notificariam se, a partir dessa notificação tivesse uma resposta. E isso não é verdade, é até em alguns lugares, mas em outros nada acontece. Eu não sei e aí eu não posso falar pelo SUS, mas eu não veria muito como abrir muito esse corpo de traba147 lho; eu acho que o interesse estaria no contrário: uma definição bem precisa de qual é a responsabilidade de cada área até para que ela atue bem dentro daquilo que é considerada sua responsabilidade. Pergunta: Bom, meu nome é Edson Nakada Yang, médico do trabalho da Via Norte Transportes Urbanos Ltda. Uma pergunta para o engenheiro Lie: nos casos de acidentes de trabalho de trajeto e de trânsito, quais seriam os meios de tornar mais fidedigna essas estatísticas, sabendo-se que existe dificuldade para a caracterização e a notificação por meio da CAT? Lie Tjap Liung: Bom, a estatística que nós apresentamos para verificar a dificuldade que nós temos de manipular dados é de 95 e já está à disposição para a gente trabalhar o CAT 98 e isso nós não conseguimos fazer ainda, inclusive nós estamos anualizando a de 2000. Então essa questão de acidentes de trajeto e acidente de trânsito é uma complicação porque é muito difícil você conseguir gerenciar isso aí. Principalmente, como se pode fazer uma prevenção de acidente de trânsito ou de trajeto? É uma discussão que pode levar séculos e não vai se chegar a conclusão nenhuma... Pergunta: Eu sou Paulo Conceição, sou da secretaria do Estado da Bahia. Primeiro uma notícia em relação ao que foi falado da RIPSA. Eu não sou representante do Ministério da Saúde, mas somente para dar uma notícia a todo mundo que o grupo temático de saúde ao trabalho que se reuniu, definiu alguns indicadores de saúde do trabalhador que deveriam estar fazendo parte dos indicadores de dados básicos da RIPSA. Esses indicadores já estão calculados para dois anos e estão disponíveis inclusive pela Internet, que são dos anos de 97 e 98 já calculados. Essa RIPSA teve a participação de vários órgãos, embora a promoção fosse a OPAS e o Ministério da Saúde, vários órgãos e instituições participaram entre universidades, o próprio IBGE e o Ministério da Saúde, o Ministério do Trabalho, o Ministério da Previdência entre outros. Em relação à saúde do trabalhador, os indicadores definidos e publicados nessas estatísticas, em relação à incidência de acidentes de trabalho típicos e acidentes de trabalho de trajeto, em relação ao coeficiente de mortalidade de acidentes de trabalho e à incidência de doenças relacionadas ao trabalho. A base de dados para isso foi, obviamente, a base de dados disponíveis das CATs ( Comunicações de Acidentes de Trabalho) e do Ministério da Previdência e Assistência Social. A grande discussão da RIPSA no momento era se esses indicadores poderiam ser utilizados no País, já que não englobava a grande maioria dos trabalhadores que estão fora 148 desse sistema, mas a conclusão final do grupo foi de que, se não existem os dados estatísticos disponíveis para a totalidade de trabalhadores, vamos por enquanto, utilizar aqueles que estão disponíveis, publicar esses dados, ainda que se possa, depois, fazer extrapolações como a Prof. Vilma estava recomendando e sugerindo que fizéssemos para depois estar abarcando todos os outros trabalhadores. Então, sugestão: quem quiser conhecer esses dados, inclusive porque tem as notas técnicas publicadas também, na Internet, no site da DATASUS que já foi citado que ontem existem os indicadores publicados em 97 e 98 que podem ser pesquisados e avaliados por quem tiver interesse em relação a isso. Se chamam IDB 97 e IDB 98 e a minha pergunta é em relação ao Lie, em relação ao SFIT que é o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho. Na Internet, o Ministério do Trabalho tem publicado um volume de inspeções que são realizados e parece que alguma coisa em torno das principais infrações que são encontradas também e o Lie acabou não falando sobre isso, e é uma curiosidade que eu tinha e me parece que são volumes bastante grande de trabalhadores que são cobertos pela expressão federal de trabalho; trabalhadores, obviamente do sistema previdenciário, mas é um grande número de trabalhadores e não sei se ele teria disponível algum dado, alguma informação que ele pudesse trazer para a gente nesse seminário em relação a esse volume; a quantidade, principais fiscalizações que são feitas, principais ramos que são fiscalizados e o que o Ministério do Trabalho vem fazendo. Lie Tjiap Liung: Bom, eu não apresentei esses dados. Eu tenho aqui, mas eu não apresentei porque o que me passaram era para especificar mais o acidente de trabalho. Eu tenho alguns dados aqui, por exemplo, em nível de Brasil e em nível São Paulo. Você gostaria em que nível? Pergunta: Brasil. Lie Tjiap Liung: Bom, a média de fiscalização nesse ano, de janeiro até setembro, foi 105289 empresas fiscalizadas e a proporção de setor econômico fiscalizado: setor comércio correspondeu a 25,83% da nossa fiscalização; a da indústria correspondeu a 25,44%; construção civil – 19,85%; setor de hotéis e restaurantes – 4,43%; agricultura – 3,52%; transportes – 4,58%; setor financeiro – 1,36%; serviço – 10,43%; e por aí em diante. Mas a totalização foram 105.000 de Janeiro a Setembro desse ano. Agora, do ano passado, de Janeiro a Dezembro de 1999, em nível de Brasil, foram fiscalizadas 162.858 empresas e as proporções, mais ou menos, são essas: comér- cio – 27,5%; indústrias de transformação – 23,5%; construção civil – 19,48% e assim por diante. Quem quiser, tem as transparências aqui. E, em 1998 correspondeu a 160.950 fiscalizações totais, sendo que 28,51`% correspondeu ao setor de transformação e assim por diante. Essas informações estão disponíveis para quem quiser e também estão site do Ministério do Trabalho à disposição dentro da estatística. De 95 a 99, constam todas nossas fiscalizações, autuações, quais os itens mais fiscalizados, etc. Está tudo no site do Ministério do Trabalho. Dra Vilma questionou uma questão de compatibilização de base de dados interministerial. Quanto à questão interministerial, eu não posso falar muito, mas dentro do SFIT a gente trabalha em sistema “mainframe”. “Mainframe” é um sistema em que o microcomputador acessa o computador de grande porte e essa extração de dados que a gente faz é tudo, são todos os dados trazidos em forma de texto para que todos possam acessar, mesmo aqueles que tenham programa de Windows ou aqueles que não tenham. Qualquer editor de texto, ele abre e consegue traduzir aquelas informações. Aproveitando a sugestão da Dra. Vilma de fazer um “survey” sobre acidentes de trabalho, eu gostaria de perguntar a Ana Lúcia como a gente poderia incluir uma pesquisa desse tipo nas pesquisas do IBGE ou na PNAD. E depois eu gostaria de fazer também uma pergunta para a Vilma e para a Déia. Ana Lúcia Sabóia: No ano de 98, o IBGE fez um suplemento especial da PNAD de 98, foi o que chamamos de suplemento saúde de acesso a serviços de saúde. Isso já está bastante divulgado, já está na Internet e tem um número grande de informações sobre a saúde em geral: das pessoas que têm plano de saúde, a avaliação do seu estado de saúde, uma série de dados bastante interessantes.Acho que sempre é interessante fazer isso.A PNAD é feita de uma maneira que, atualmente, todas as perguntas são feitas em blocos. Você tem uma possibilidade de colocar ou tirar um bloco como a gente chama mais ou menos de um suplemento especial. Durante a década de 90, nós fizemos alguns suplementos sobre temas diversificados, mas nós estamos planejando a década de 2000, como vai ser. Eu acho que há espaço para uma demanda da sociedade, de algum ministério. Acho que isso é possível. Operacionalmente é isso: mais ou menos como funcionou esse suplemento saúde, o processo. O procedimento foi o seguinte: havia um interesse do Ministério da Saúde para saber uma série de informações. O Ministério da Saúde propôs isso ao IBGE, pagou o suplemento da PNAD, colocou recursos do Ministério da Saúde e se montou um grupo de especialistas com o Ministério da Saúde e o IBGE e assim foi feito; foi feito o questionário, a pesquisa e foi avaliada por esse mesmo grupo. Os resultados estão aí disponíveis para a sociedade. É normalmente assim que funciona; é muito simples, não é nada complicado. Precisa ter interesse e ter dinheiro. Vilma Sousa Santana: Eu gostaria de informar que na Bahia, nós iniciamos um “survey”, inclusive nas negociações, no planejamento.A gente entrou em contato com o pessoal da PED de lá que é feito pela Faculdade de Economia mais a Secretaria de Planejamento de Tecnologia para a gente utilizar a mesma base, o mesmo desenho amostral e obter comparabilidade. Até pensamos em pegar uma carona numa das “replicagens” da PED e acrescentar as nossas perguntas, só que nós tínhamos uma batelada de perguntas e, como eles consideraram que era um tema muito sensível, poderia implicar em recusa e isso poderia prejudicar operacionalmente a PED. Então, a gente resolveu fazer uma coisa parecida, mas não pegar carona. A PED não é do IBGE, mas é uma recomendação. A PED é bem diferente; o IBGE faz a pesquisa mensal de emprego e a PED é a pesquisa de emprego/desemprego que é uma outra maneira de perguntar sobre o emprego e o desemprego que é feita com bases nos moldes da Fundação SEADE de São Paulo. Então, é um pouco diferente do IBGE. Enfim, é mais ou menos a mesma coisa. Nessa pesquisa que nós estamos realizando, estamos atualmente com 2000 famílias e nós pretendemos identificar 3000 famílias de forma aleatória da cidade de Salvador, da região metropolitana da cidade de Salvador. Uma amostra de domicílio onde nós fazemos um cadastramento de todas as pessoas e identificamos aquelas elegíveis para a aplicação dos questionários individuais. Elegíveis são todas as pessoas de 10 a 65 anos que tenham algum tipo de remuneração, algum tipo de atividade paga ou que façam algum trabalho para a família de, pelo menos, oito horas durante a semana. Estamos identificando pessoas por várias caracterizações sobre o tipo de seção, o tipo de ocupação e também dados específicos com um questionário específico para a trabalhadora 149 doméstica, a empregada doméstica, inclusive verificando a questão do assédio sexual e violência sofrida no local de trabalho. Temos um específico para aspectos mentais e psicológicos para o grupo de idade de 10 a 21 anos porque a gente sabe que o adolescente, por exemplo, precisa dormir mais e ele tem a dupla jornada: trabalha e ao mesmo tempo estuda e isso afeta padrão de sono, afeta sintomatologia, por exemplo, depressiva e de ansiedade que pode colocá-lo mais vulnerável para a ocorrência de acidentes. Então a gente está estudando isso especificamente e estamos finalizando essa coleta de dados. Do que nós vimos digitados até o momento, antes de vir para cá, eu dei uma olhada para poder ter algum dado para vocês, então, nós temos a incidência anual de acidentes para esta população em 5,3%, não é 5,3 por mil, é 5,3%. Embora alguns possam dizer:“Mas Vilma, isso é morbidade referida”. Não é uma morbidade referida: se sofreu acidente ou não sofreu acidente; é um trabalho bastante rigoroso, inclusive a gente encaminhou e foi aprovado, mas não deram o dinheiro porque falaram que não tinham interesse para os Estados Unidos, mas foi inclusive aprovado lá e isso é algum indício do rigor do desenho e da metodologia. Então, nós fazemos uma narrativa, de qualquer acidente e, a partir dessa narrativa é que a gente classifica como acidente ocupacional ou não e daí a gente pega uma série de dados. Está na faixa de 5,3%. Surpreendentemente, 70% das pessoas acidentadas, individualmente referem ter tido algum tipo de assistência a saúde devido a ocorrência desse acidente. Dentre 70% que teve algum atendimento, 55,6% foi atendida pelo SUS e 70% dessas 55% que foram atendidas pelo SUS, disseram que se encontravam satisfeitas com o tipo de atenção recebida. Nós estamos agora numa segunda etapa, indo no serviço de saúde que foi mencionado pela pessoa devidamente autorizada por escrito e vamos pegar as informações registradas nos prontuários e verificar a compatibilidade, inclusive podendo identificar o nível da própria unidade de saúde, porque nós não estamos nem considerando se foi para CAT ou não. É possível que a gente se articule se houve a produção da CAT, mas será que no prontuário foi registrado isso? Eu acho que daqui para o ano que vem, a gente vai ter condições, pelo menos para Salvador, de ter uma estimativa de subnotificação. Nesse estudo, a gente está cheio de entusiasmo e de motivação para concluí-lo. Nós temos recurso do CNPq do Estado da Bahia.Atualmente, já foi iniciada a reaplicação desse estudo em Aracaju e, pos150 sivelmente, com recursos da FAPESP, esse estudo vai ser realizado na cidade de Botucatu no ano que vem pelo Professor Ricardo Cordeiro. Nós estamos caminhando e já estamos acumulando o conhecimento no sentido de realizar pesquisas complementares do tipo “survey”. Pergunta: Eu sou Alcides, do Sindicato da Construção Civil de Campinas e região. Gostaria de ver se alguém da mesa poderia dar uma contribuição nessa pergunta que eu vou fazer, que é uma das coisas preocupantes que a Vilma tocou bem no assunto em relação a uma discussão que se tem em relação à privatização do seguro acidente. Essa é uma das coisas fundamentais que eu acho que o seminário, a temática dele toca no assunto: acidente de trabalho. Então, a gente tem que procurar debater um pouco em cima disso aí, diante da fala que ela se posicionou muito bem, em relação ao trabalhador que não tem carteira assinada, o trabalhador que está na economia informal. Como fica isso? em relação à privatização do seguro acidente, que nós sabemos que a previdência social que cobre todas essas pessoas, inclusive hoje, dentro daquilo que eu toquei ontem em relação aos trabalhadores que estão acidentados. Como ficariam os trabalhadores sem carteira assinada ou dentro da informalidade? Vilma Sousa Santana: Eu fico muito feliz de ver um sindicalista trazendo essa questão. No estudo que nós estamos fazendo lá em Salvador, nós começamos a entrar em contato com alguns sindicatos e também com algumas associações de profissionais. Por exemplo, a associação dos taxistas, a associação das empregadas domésticas que não tem exatamente a feição de um sindicato mas, elas representam a categoria. E vimos que, além de toda a marginalidade, a marginalização com que esses trabalhadores lidam, muitos sindicatos não querem nem saber do trabalhador sem carteira. O sindicato da Construção Civil lá em Salvador nos disse: “não. Apareçam com a carteira assinada e nós então nos responsabilizamos, mas sem carteira assinada...” Esse tipo de discriminação existe, e esse recorte de carteira assinada e não ter a carteira assinada, mas também, por exemplo, o sindicato dos feirantes onde era colocado o seguinte: “O feirante fixo a gente toma conta, mas o feirante móvel, a associação não toma conta”. Então, quer dizer, se a gente pensar em termos de cobertura, de universalidade, de notificação, de medidas de prevenção, de incorporação, a gente vai ter que ter um reconhecimento, que é um segmento bastante diversificado e para o qual a gente vai precisar de várias estratégias e de várias abordagens. Isso não é uma coisa somente aqui no Brasil, onde nós ficamos surpresos porque ainda não tomamos conhecimento disso, mas eu já participei de duas oficinas de trabalho internacionais onde isso é uma preocupação, por exemplo, na Suécia, na Itália, na Austrália. Inclusive, eu trouxe um livro e se alguém tiver interesse... na Austrália isso está sendo discutido; tem livros publicados sobre essa questão da terceirização, do subcontrato, que tem a ver com o nosso setor informal e as questões relacionadas com a segurança e saúde do trabalhador. Parece que essa vai ser a grande questão do novo milênio para a gente se defrontar, porque se esses locais de trabalho não são inspecionados, se não existe CIPA, como é que a gente pode pensar em termos de estratégia de prevenção? Algumas perspectivas estão saindo naquele ponto da interface entre as obrigações do Estado de direito à saúde e das pessoas enquanto cidadãos, e sua representação de cidadania diante do Estado. Mas isso ainda é algo por ser construído e não vejo, a não ser pela perspectiva do SUS, a gente poder pensar em algum tipo de incorporação. fessora Vilma sobre a associação do adolescente, a questão do sono e o risco maior que ele corre. A idéia de enxergar o trabalhador através de todos os fatores que estão atuando sobre ele; então, é a idéia de, cada vez mais, na medida do possível, tentar somar isso com a vigilância de um evento. Só um pouco mais - chamar a atenção: nas estatísticas relacionadas à saúde do trabalhador, tentar evitar ao máximo pensar só no acidente de trabalho, mas tentar enxergar o trabalhador em relação ao conjunto de doenças que afetam, de fatores que estão atuando em cima e que eu acho que só podem se dar mesmo, com a compatibilização que eu acho que seria interessante se a gente conseguisse trazer, até como uma sugestão, os dados da CAT – por maior que seja a dificuldade de digitação dele, de preenchimento de digitação, etc., tentar colocar com esse grupo que está trabalhando em compatibilização de bases de dados que eu acho que seria interessante enxergar esse território. Por exemplo, a questão da empregada doméstica, que todos nós sabemos da questão do assédio sexual. Quem toma conta disso? A quem elas se dirigem? Que tipo de estratégias que elas podem ter? Ao meu ver, o SUS vai mais além do trabalhador com carteira ou do trabalhador da indústria e pode realmente, mesmo que ainda não tenha essa clareza; é algo que a gente deve começar a pensar. O lugar do cidadão é no lugar do SUS, acho que esse cartão, inclusive, é talvez o emblema da cidadania e, a partir daí, como é que a gente pode construir, a partir do SUS, métodos e estratégias de promoção da saúde? Eu não sei se eu respondi, mas eu tenho também muito mais perguntas do que respostas nesse momento. Déa Carvalho: A Dra Vilma colocou uma questão de informalidade dentro da segurança de saúde do trabalho. A secretaria já deu algumas idéias de criar um código de trabalho. Esse código de trabalho sairia da CLT; seria aplicável em todos os setores, inclusive informal, cooperativa, etc. Então, essa é a tendência daqui para frente: tirar a legislação de segurança e saúde de dentro da CLT e criar um código de segurança e saúde. Uma coisa que eu acho importante, é a abordagem do trabalhador via SUS, formal, informal, etc. Mas eu conheço a experiência da Bahia, com a experiência de áreas sentinelas, acho que isso reforça muito porque acho que trabalhador e outras coisas que foram ditas pela Pro- PAINEL III P ergunta: A pergunta é para o David Duarte Lima. Meu nome é Edson Nakada Yang, Médico do Trabalho da Via Norte Transportes Urbanos Ltda. Quais os fatores que justificam o fato dos carros brasileiros matarem mais, em relação aos americanos e aos japoneses? E é possível reduzir a taxa de acidentes de trabalho no trânsito no Brasil, e como? David Duarte Lima: Bom, eu vou responder de uma forma geral a sua pergunta. Há muitos anos se diz, especialmente os americanos dizem, que o problema do trânsito se resolve com três E’s, o primeiro é E de engenharia, então, esse E de Engenharia, você precisa ter um espaço de circulação seguro, para o motorista, para o pedestre, para o ciclista, separação de fluxos, etc. A gente viu naquele gráfico, por exemplo, da mortalidade dos pedestres o que acontece também é que o pedestre é também muito mais vulnerável, então ele morre muito mais, quer dizer, um choque a 40 km/h, por exemplo, mil choques, mil atropelamentos a 40 km/h matam metade das pessoas atropeladas, então, vejam que a 40 km/h é um choque muito brutal, então, o 1° E é E de Engenharia, de um lado, a Engenharia do Espaço para promover ou propiciar uma circulação segura, e de outro, a Engenharia dos Veículos também, que é importante toda essa parte que a gente pode até depois conversar. O 2° 151 E é o E de Educação, Educação para o Trânsito não é só gentileza, é formação teórica decente. Eu conversava agora pouco com o Diretor do DENATRAN e a gente vinha com aquele instrutor, o Roberto Manzini, que tem uma escola de pilotos e tal, olha a formação que recebe o motorista no Brasil, um garoto que faz 18 anos, é a mesma que a gente daria para um chimpanzé movimentar o carro, sabe, porque, fazer o carro andar para frente e para trás, virar à direita, virar à esquerda, coisa que até um chimpanzé adestrado faz. Dirigir é muitomais complexo, dirigir é uma atividade complexa num trânsito denso e complicado como o de São Paulo,, e aí está outra fonte de estresse do trânsito, um motorista muitas vezes tem que tomar mais de 80 decisões por minuto, é mais de 1 por segundo, então é uma situação muito complexa, e Educação, seja na formação do condutor, seja nessa Educação transformadora, por que se usa o cinto de segurança, ora, por que não se pode beber e dirigir, qual é a velocidade da via? As pessoas precisam incorporar isso. Porque, como eu disse, a questão da violência do impacto, a 50 km/h o teu peso é 40 vezes maior e você não consegue segurar com os braços toneladas, ninguém segura, então é por isso que a gente precisa do cinto de segurança e por aí vai. Então, Educação é isso, Educação Transformadora que precisa que as pessoas compreendam isso para que não tenham atitudes anti-sociais no trânsito, esse é o 2° E. E o 3° E, é o chamado E de “Enforcement”, o esforço legal ou é a punição, é a palmadinha, se você deu um espaço seguro, se você formou bem o motorista, deu Educação, promove campanhas educativas de compreensão da população de uma forma geral, aqueles que continuam infringindo a lei e que não respeitam o semelhante e etc., esses caras merecem uma palmadinha. Então, como a gente faz para resolver os problemas do trânsito no Brasil? Primeiro: Engenharia, segundo: Educação; e terceiro: Multa. Agora, por outro lado, o Estado exige muito da gente, mas está cheio de placas por aí, assim: atenção: curva da morte, agora, isso é Engenharia, esse é o próprio reconhecimento do Estado sobre a incompetência dos seus engenheiros que botam lá: curva da morte, quer dizer, põem uma armadilha para o motorista, e por aí vai, e para o deficiente, nem se fala. Esse é um coitado, nem rebaixamento de meio fio tem. Então, a gente pode reduzir os acidentes de trânsito assim e, com isso, a gente reduziria também os acidentes de trabalho, e aí talvez valha o esforço específico para quem trabalha no trânsito e que passa muito tempo no trânsito, que é um grupo importante ter programas específicos de formação para o motorista de ônibus, para o motorista de caminhão, para o motorista de táxi, para os “motoboys” e por aí vai, porque é um grupo de altíssimo risco e de altíssima exposição, porque é quem fica no trânsito, então, programas específicos para isso aí, ao meu ver, seria um bom co152 meço, bem em linhas gerais para a gente começar a resolver o problema. Pergunta: Meu nome é Valdivino dos Santos e eu atuo como motorista de ônibus do Estado de São Paulo, pertenço ao Sindicato dos Condutores. Há uns anos, o Presidente cortou a nossa aposentadoria especial, tínhamos uma aposentadoria com 25 anos de motorista de ônibus. O Dr. David, na sua fala, disse que o trabalho do motorista de ônibus é penoso e pode provar acidentes de acordo com o trabalho dele em longo prazo. Então, será que essa medida do Presidente ter aumentado mais 10 anos não seria uma forma de aumentar os acidentes com o transporte coletivo, porque aí, o motorista já estará mais velho, mais cansado e com todos aqueles problemas que o Senhor colocou. Eu gostaria que o Senhor fizesse um apanhado sobre isso. David Duarte Lima: E se ele for reeleito, vai aumentar ainda mais 10. Olha, esse é um problema sério e há ainda uma questão séria, por exemplo, para motoristas de táxis, outro dia eu peguei um táxi em Goiânia e o cara estava há 23 h sem dormir, dirigindo o táxi e ele falou: não, aqui é 24 por 24, quer dizer, é um negócio sério, grande parte dos motoristas, inclusive motorista de ônibus, em várias cidades trabalham muito além do período desejado com pouco tempo de descanso. É uma atividade estressante até porque grande parte dos ônibus, se a gente for olhar o ônibus, se a gente for olhar o ambiente de trabalho do motorista de ônibus, é barulhento, é estressante, é cheio de automatismos e de riscos permanentes, agora, infelizmente eu acho que a gente está numa situação que é preciso que nós, inclusive, nos unamos e comecemos a mostrar, olha, espera aí, isso vai aumentar o risco, vai aumentar o trabalho penoso do motorista, então, é preciso construir condições não exclusivamente para o lucro, mas para que as pessoas consigam viver com qualidade. Eu estou perfeitamente de acordo com o senhor, o senhor tem razão, agora, eu acho que isso aí é todo um processo de luta, que, infelizmente, ultimamente a gente tem perdido muitas. Vilma Souza Santana: Eu gostei muito do trabalho do Marangoni e da Bernadete porque ele toca num aspecto que eu acho crucial, que é a questão da subnotificação e, nesse caso, a subnotificação do desfecho mais grave do acidente que é a morte. Eu tinha feito uma estimativa há umas duas semanas, usando dados do Paulo e os meus próprios de mortalidade em Salvador e encontrei uma estimativa exatamente muito próxima 2/10, próxima da que seria a estimativa, que você apresentou. Com todas as deficiências que você apresentou, quer dizer, com todas as deficiências que a gente teve, quando a gente faz os exercícios de estimativa eles estão bem pró- ximos. Bem, observando os dados desse livro que foi distribuído para a gente aqui e que mostra que o Brasil já é campeão de óbitos por acidente de trabalho no mundo, eu acho que talvez, até em parte, porque aqui no Brasil se incorporam os acidentes de trajeto dentro dessa estatística, mas de todo modo, se a gente considerar que apenas 30%, 26%, 28% estão sendo notificados, vamos imaginar quanto é que isso seria em termos estimativos, então, o que está acontecendo é um verdadeiro genocídio, uma coisa assim, obscena do ponto de vista da saúde pública. Eu acho que a gente está aqui trazendo elementos para ter um primeiro desvelamento dessa realidade, esse é um ponto. Outro ponto é com relação ao trabalho do Manoel, eu estou fazendo um trabalho semelhante a esse, já conheço o seu trabalho há muito tempo porque a Rita me mandou o relatório e eu sempre fiquei muito intrigada por causa dessa estatística que mostra uma menor freqüência no setor informal em relação ao formal, quando a maioria dos estudos que têm sido feitos em outros países, têm mostrado o contrário, pelo menos coisas parecidas, porque, da situação mesmo do Brasil, a gente não tem. Os dados que eu estou encontrando, por enquanto, são muito poucos ainda do que temos que visitar, também estão mostrando um pouco nessa direção, mas lá eu estou também trabalhando. O meu denominador inclui também as mulheres donas de casa, então, isso pode diluir um pouco.Agora, uma coisa que a gente constatou durante o pré-teste dos instrumentos de pesquisa foi que, como o sentido o acidente de trabalho, acidente ocupacional é muito pecuniário, o beneficiário, a própria população incorpora essa representação, só fala de acidente de trabalho se for um trabalhador celetista e que pode vir a obter uma compensação. Isso no pré-teste ficou muito claro, se a gente fosse perguntar: o senhor sofreu acidente de trabalho, um camelô, um feirante, jamais ele diria. Daí é que a gente entrou com uma outra forma de abordagem que era perguntar algum acidente, como foi esse acidente? Como foi que aconteceu? Tínhamos quatro perguntas. Por que, como, quando e onde. E, então, com a narrativa a gente fazia a identificação. Essa é uma questão que me preocupa e uma outra coisa também que me ficou assim, será que é algum problema de classificação, algum erro de classificação, é quando você mostra que a estatística dos últimos 30 dias foi diferente do último ano, quer dizer, a gente não esperaria que isso acontecesse, seria uma média. Bem, só um outro ponto aí, não é para nenhuma pessoa especificamente, mas a questão é a seguinte, uma grande questão metodológica quando está trabalhando acidente setor informal é também a questão do denominador em questão de horas trabalhadas, porque, obviamente vai depender do tempo que o indivíduo ficou ao risco e como a gente vai fazer a estimativa de tempo, de jornada de trabalho do setor informal, quando há um trabalho desregulado. Eu já tentei fazer exercícios de amostra de semanas, de fazer diários, isso não tem funcionado e, até o momento, se alguém tiver alguma contribuição para esse dado eu ficaria satisfeita em ouvir. Pergunta: Meu nome é Paula, trabalho no Centro de Documentação e Informação da Secretaria de Estado da Saúde - Informação em Saúde do Trabalhador. A minha questão é um pouco colada na dela inclusive, com relação à questão da percepção do risco que você tocou, eu ia até desistir de fazer a pergunta em função disso, mas enfim, quando faz a morte domiciliar o que é acidente de trabalho, é uma doença, para essas pessoas é um acidente de trabalho? Eu não sei se na amostra foi discutido isso com os próprios entrevistados, o que que é risco, eu não sei se você teria a informação para complementar essa questão. Manoel Carlos Ribeiro: As questões metodológicas obviamente que vocês colocaram acho que são absolutamente pertinentes só para relativizar um pouco, acho valida a utilização de inquérito domiciliar, principalmente, porque ele dá uma abrangência em termos de população que a gente não tem. Eu não pude acompanhar todo o treinamento e a discussão que foi feita em relação ao instrumento, ao questionário feito e desenvolvido em relação a acidente de trabalho que foi desenvolvido por gente da FUNDACENTRO, gente da Santa Casa, relacionada à Medicina do Trabalho especificamente, e do SEADE. Pareceu-me que havia uma preocupação do Manual do Entrevistador, coisas assim, uma preocupação grande em tentar caracterizar o que seria o acidente de trabalho, então, quer dizer, conseguir discriminar isso corretamente e aí a gente tem aquele problema dos acidentes nos últimos 12 meses, os acidentes nos últimos 30 dias, que são um pouco reflexo disso. Como é que foi feito? Colocando um pouco de uma forma mais clara. Essa questão dos acidentes nos últimos 12 meses, se perguntava genericamente sobre os acidentes relacionados ao trabalho nos últimos 12 meses, num primeiro momento do questionário. Num segundo momento, quer dizer, mais para frente do questionário, depois de responder algumas questões do coitado lá, respondia uma séria de questões, o questionário da PCV é bem grande, se fez um “check list”, aí se detalhava cada condição: sofreu torção, caiu peso no pé, sofreu queimadura, sofreu escoriações, uma série de condições que se encaixariam em acidente de trabalho foram levantadas, isso dá uma abrangência em termos de eventos que estão sendo considerados importantes e é por isso que a freqüência 153 dos acidentes dos últimos 30 dias, quer dizer, o risco dos acidentes nos últimos 30 dias é maior do que nos últimos 12 meses. Então, a forma com que ele foi perguntado, se a gente quiser entender, pelo menos fizesse o entendimento que a gente fez de que esses acidentes nos últimos 12 meses são aqueles acidentes mais graves, são os que geraram afastamento por mais de 15 dias, são os que não morreram, porque os que morreram estão fora mesmo, não responderam o questionário, mas foram os que deram benefício acidentário para o trabalhador, ou seja, a gente acha que são os acidentes mais graves. Os acidentes dos últimos 30 dias incluem os acidentes mais leves mesmo, aquela forma com que foi perguntada. Em relação a essa diferença de risco, em relação ao setor formal e informal, eu acho que ainda espanta um pouco, acho que ainda há também uma necessidade de se refinar o instrumento, no sentido de classificar melhor a ocupação, o ramo de atividade, a exposição, essa questão das horas de trabalho, a gente obteve, olhando para os dados em termos de jornada de trabalho, jornadas que eram absolutamente estranhas de cinco horas por semana, quer dizer, eram pessoas ocupadas, não eram pessoas fazendo “bico”, e que referiram jornadas meio complicadas da gente entender, então eu acho que precisaria refinar. Por outro lado, eu acho que, quer dizer, se o risco é maior, talvez se a gente pegasse numa mesma categoria profissional ou dentro de um mesmo ramo de atividade, a gente encontre essas diferenças de risco nesse nível genérico, o mais genérico que a gente está trabalhando, eu acho que a tendência é esse risco ser um pouco equiparado com algumas exceções que aí vão ser por ramo de atividade mesmo. Celso Amorim Salim: Nós temos aqui uma colocação da Professora Vilma Paula, e me despertou a colocação pelo seguinte fato, eu particularmente tenho uma simpatia pelo levantamento de base populacional, eu acho que modificar registros administrativos é uma coisa penosa, difícil, complicada do ponto de vista institucional. Nós temos dois exemplos aqui bastante claros: hoje, o Marangoni apresentou o trabalho da Bernadete que suporta também no enquete de base populacional que teve a participação da FUNDACENTRO, e o trabalho do Professor Manoel que explorou exaustivamente essa base de dados apontando caminhos importantes. Mas há um problema, ou melhor, dois problemas: primeiro vocês notaram que o setor informal era bem menor. Há seis anos era menos de 1/3; o segundo, que não dá para tirar muita conclusão com a pesquisa datada num momento só, eu acho que a perspectiva diacrônica a gente não pode perder. Eu acho que revela a importância de se repensar esse tipo de experiência e ter cuidado em não se fazer uma pesquisa que não vai ser repetida ou 154 não vai ser replicada posteriormente. Isso dá maior importância. Eram esses os comentários. Eu gostaria de parabenizar o Professor Manoel pelo excelente trabalho, eu fiquei bastante satisfeito quando no encontro da ABRASCO, em Salvador, disse, perante a todos, que utilizou aquela enorme massa de dados, que resultou de pesquisa contratada pela FUNDACENTRO, junto a Fundação SEADE, obrigado. Teresa Cristina Amêndola Maia: Não é uma pergunta mas só mais um dado para o Dr. Davi, porque, primeiro, os acidentes de trajeto ou de trabalho que nós dizemos quando eles são letais, primeiro existe dentro da própria Previdência um nexo administrativo que se ele estava dentro do caminho, do trabalho para casa, esse negócio todo. Nós temos que pensar, aí vai mais uma vez a conscientização da população, porque pode não ter nexo hoje. Aqui em São Paulo, uma passa lá pelo outro lado porque está tendo uma semi greve e quando vai para o INSS será que vai ser caracterizado como acidente de trabalho? Tem que estar dentro do percurso, isso é uma coisa. E quando há morte, se o dependente não sabe, vai pedir uma pensão por morte simplesmente, porque ele não sabe e aí vai mudar muito a estatística porque ele não sabe se ele disse que a pessoa morreu, que o marido ou o pai morreu no acidente de trabalho, ele estava vindo da casa, ele vai pegar é uma pensão por morte que hoje em dia é a mesma coisa. Há anos era diferenciado, um acidente de trabalho levava 95% da renda mensal e o outro levava 75%. Hoje em dia, todo mundo leva 75%, só que para nós é um percentual grande, mas para quem não é informado, para a dona de casa que já vai levar um tempão para receber a pensão e tudo isso, tanto faz pensão por morte por acidente quanto pensão por morte normal de um trabalhador, então eu acho mais uma vez que é necessário nós conscientizarmos a população do que é que vem causar um acidente de trabalho, ou uma doença profissional, a extensão disso, é só isso. Obrigada. PAINEL IV P ergunta: Meu nome é Borges, a minha pergunta é para o Dorival. A FUNDACENTRO está fazendo alguma pesquisa para descobrir o porquê que as empresas não estão enviando os anexos 1 e 2 da NR 18? Dorival Custódio: Olha, desde 1997, a gente vem fazendo um trabalho de divulgação da norma. Muitas são as situações, as empresas não estão comunicando, até porque, até foi citado por um colega aí também, a questão da terceirização, a gente vê que dessas obras, muitas empresas, a principal, comunicam seus acidentes, mas o terceirizado acaba não comunicando, a gente conhece diversos, já identificamos diversas situações, estamos apenas fazendo nosso estudo e como é que vai ser a estratégia para chegarmos a isso. A colega fez uma sugestão que é a questão de chamar as universidades, chamarmos também, no caso, o sindicato dos trabalhadores, chamarmos os empresários, para que todos juntos, venhamos a achar um encaminhamento para que a gente possa conseguir conscientizar o empresário para que ele continue, e aqueles que não estão dando, passem a nos enviar esses anexos para que nós possamos ter um registro fiel dos acidentes de trabalho para podermos traçar nossas ações voltadas à prevenção de acidentes e chegarmos então à redução. Pergunta: Meu nome é Valdivino dos Santos, do Sindicato dos Condutores de São Paulo. Aqui foi levantado que os motoristas e cobradores por estimativa da região norte, é uma das categorias mais envolvidas em acidentes do trabalho. Mas o que eu quero colocar é sobre processos policiais que os motoristas sofrem, por acidentes que acontecem com passageiros. É que nós entendemos que não é totalmente responsabilidade nossa, por exemplo, foi colocado que o cinto de segurança é um dever de uso porque, num acidente a 50 por hora, a pessoa que está dentro do veículo é arremessada num peso igual a 40 vezes o peso do seu corpo. Bom, os passageiros viajam em pé nos ônibus urbanos, de repente, o motorista precisa fazer uma parada brusca, porque um pedestre entrou na frente ou algo parecido, e o passageiro de pé é deslocado, se o motorista tiver a 30 por hora, o peso daquele passageiro é deslocado pela inércia a 40 vezes o peso do corpo dele, e ele não vai conseguir segurar nos balaústres, ele cai no assoalho do ônibus, ou, se não cair, vai sofrer lesões na coluna. Ele abre um processo e quem é responsabilizado é o motorista, quer dizer, se o cinto de segurança é um dever de uso, nessa situação nós entendemos que se torna um direito de uso. O passageiro deveria ter o direito de estar com o cinto de segurança para não sofrer aquele acidente. Então, nós entendemos que os passageiros não deveriam viajar de pé. Uma outra situação é a lombada física, nós já questionamos isso perante vários governos municipais, no sentido de que se acabasse com a lombada física e fosse colocada só a lombada eletrônica. O argumento é que a lombada eletrônica é muito cara. Nós entendemos então, que o governo não quer investir na segurança e saúde do trabalhador e as empresas também não tomam conhecimento. E nós pensamos da seguinte forma: se todos os passageiros que passam por essa situação, pas- sarem a pedir o CAT em suas empresas, como é que vai ficar a população de São Paulo? Então, vai ficar todo mundo afastado pelo INSS porque isso acontece todos os dias. E as empresas não colocam mais carros não fazem nada para minimizar essa situação. Então o que nós gostaríamos é que as autoridades que por aqui passaram e fazem parte dessa estatística, que está preocupada com essa situação, que fomentasse mais esse tipo de coisa perante aos empresários, perante o governo, porque isso aí faz parte do acidente de trajeto, e toda a população está envolvida nesse acidente de trajeto, porque isso é todo dia, é constante e o governo não está fazendo nada para melhorar, e eu gostaria de algum comentário de alguém da mesa a esse respeito. Sérgio Carneiro: Seu Valdivino, pediram para alguém da mesa comentar, eu fui médico do trabalho há alguns anos no sindicato dos motoristas aqui de São Paulo. E um dos motivos que levaram a elaboração desse trabalho, foi perceber a violência sobre os trabalhadores no transporte coletivo de São Paulo. Eu acho que ontem ou anteontem, você levantou um aspecto aqui da aposentadoria especial do motorista de ônibus, e dos cobradores, eu acho que talvez a categoria mais penalizada com a perda da aposentadoria especial, foi a categoria dos cobradores e motoristas de ônibus, admitidas até pelo ministro, na época o Reinhold Stefanes, de que precisava fazer um adendo nessa nova legislação que fala sobre aposentadoria, pelo motivo dos motoristas de ônibus, porque, como a legislação obriga que você faça mensuração dos níveis de risco, físico, químico ou biológico, para haver a aposentadoria especial, essa categoria que o principal problema é, fundamentalmente, a condição penosa de trabalho, não tem registro, não tem possibilidade de você atribuir números a isto. Ela perdeu, aliás foi uma das primeiras categorias a ter a aposentadoria especial e ela perdeu a aposentadoria especial. A gente pode citar que essa categoria está exposta ao risco, primeiro de agressão do usuário do ônibus, ao stress do ônibus que obriga uma carga cognitiva muito grande em termos de atenção para o motorista que tem que estar atendo ao trânsito, atento ao pedestre, atento ao usuário do ônibus. Então, tem uma carga de informações e de desgaste sobre o trabalhador de transporte coletivo muito grande, eu acho que é assim, me parece que é uma categoria que tem que ser repensada em torno disso aí do tempo de serviço, porque, primeiro ele começa a trabalhar com 18 anos, ninguém começa, 18 não, 21, porque ele precisa tirar a carteira, ter alguns anos de experiência para ser motorista. Depois disso, ele tem mais 35 anos, quer dizer, tem que ser pensada que é uma categoria que tem uma situação especial, principalmente, em São Paulo, que tem o problema do trânsito, que tem o problema das condições de trabalho do próprio ôni155 bus, nós argumentamos isso nessa negociação que houve em Brasília, eu fui representando vários sindicatos aí mais não teve repercussão, me parece que o que eles disseram é o seguinte: não, não dá para abrir exceção, a aposentadoria não é por categoria, é por exposição a risco. Então, se é por exposição a risco são para todas as categorias e aí a categoria ficou prejudicada. Acho que um dos problemas principais que o sindicato tem que estar apontando é a questão da violência, sem sombra de dúvida, até as paralisações que ocorreram recentemente em São Paulo é pedindo melhoria das condições de trabalho. Nós, só para complementar, apresentamos esses dados daqui que aparece a categoria dos motoristas e cobradores, para todos os treze delegados da região norte e para cem escrivães que são quem fazem os boletins de ocorrência apresentando esse dado e dando retorno à polícia, e os próprios delegados disseram o seguinte: que com relação aos motoristas de ônibus é possível fazer várias medidas para diminuir a violência. Eles propuseram câmeras, eles propuseram uma luz que avisa pelo lado de fora quando o ônibus está sendo assaltado, e vários procedimentos que estão sendo tomados nos países onde isso é problema. Mas eles disseram que não está no âmbito da polícia, está no âmbito dos trabalhadores e no âmbito das empresas poderem estar fazendo isso, porque o objeto deles não é a vítima, o objeto da polícia é identificar quem foi o infrator, e ele vai atrás da infração, entende, ele não vai atrás da vítima, se nós que estamos aqui, estamos com esse olhar para a vítima, para o trabalhador, a gente tem que estar pensando que isso são riscos que estão sendo incorporados e não é uma violência que vem de fora para dentro. Faz parte da atividade do motorista essa exposição diária, e freqüente à questão da violência. Eu acho que aí tem que ser os próprios trabalhadores que têm que estar levantando isso, que eu acho que é uma coisa que requer uma atenção especial e que tem que estar essa cobrança junto aos órgãos e principalmente aos empresários. Aqui em São Paulo, por exemplo, a Transurb, tem que estar respondendo um pouco por isso, pela questão da violência. Pergunta: Seu Dorival, eu gostaria de perguntar se vocês têm uma explicação para essa queda no número de fichas, não vou nem dizer em termos de número de acidentes, e sim, em número de fichas. Porque, normalmente, quando você está envolvido, você consegue às vezes, pelo menos, potencialmente, imaginar o que é que poderia estar acontecendo. Dorival Custódio: Sim, vários fatores. Existe uma questão que é a falta de fiscalização, até porque existem sanções em relação ao não encaminhamento do docu156 mento. Como existe também a questão, é um dos fatores. A questão de muitos trabalhadores saindo da formalidade para a informalidade, reconhece alguns pontos. Outros pontos aí a gente ainda precisa estar estudando, estar verificando e como é que a gente vai modificar esse perfil, modificar essa situação, seriam muitos outros, eu levaria muito tempo para tentar mostrar, mas existe sim. Pergunta: Bom, eu sou Alcides, sou do sindicato da Construção Civil de Campinas e Região. É, sobre o tema relacionado a acidente do trabalho, e como nós já falamos bastante sobre essa questão nesse campo e em se tratando de acidente de trabalho não quero aqui limitar e nem colocar fronteiras para a discussão de prevenção de acidentes de trabalho. Mas, como foi relacionado muito ao setor da construção civil, eu gostaria de ponderar algumas questões. Primeiro, em relação aos comentários da professora e que coloca com muita propriedade, em relação aos dados para podermos trabalhar com dados. Agora, uma coisa que nós temos que resgatar, inclusive no setor, é o seguinte, que é um contraponto, professora, nós temos que fazer uma divulgação muito ampla do que já existe, porque dentro do setor de construção civil, nós temos uma NR específica, que é do conhecimento de todos, e, aliás, uma coisa é não ter conhecimento, outra coisa é negar o conhecimento disso. Isso existe muito, dentro daquilo que foi abordado pelos vários expositores aí, em relação ao não fornecimento da CAT, que é contraditório e, pegando bem a fala do companheiro Dorival, e também do Sérgio, e depois eu quero fazer uma pergunta para o Sérgio, acho que está correto, dentro desses dados, inclusive de notificações por parte das empresas, é interessante quando aparece ali, num número de vinte e sete acidentes, no ano de 99. Ora, nós podemos aqui, é fazer uma comparação muito correta e até por provas de dados que a gente tem em relação aos acompanhamentos no município de Campinas. Se a Construcap, a construtora do Eduardo Capobianco, que foi presidente do Sinduscon de São Paulo, em Campinas, em uma subempreitada da demolição do Pão de Açúcar, matou dois trabalhadores só na região de Campinas, como é que nós temos um dado em relação do Brasil? Com quantas cidades brasileiras, de vinte e sete acidentes. Então, há uma contradição muito grande nesse campo, inclusive da parte de sonegação. Isso eu estou apontando só um dado com sinceridade, um dado real para a gente fazer esse contraponto em relação aos dados estatísticos que aparecem. E aí não vamos aqui também fazer esse questionamento de uma forma crítica, porque nós estamos trabalhando isso e dentro do que temos. Esse é o ponto de vista. E muito bem também finalizado pelo companheiro da Confederação dos Mineiros, que ele coloca a partir do momento que estamos terceirizando os acidentes, é claro que muitos não aparecerão, essa é uma resposta também para os acidentes de trabalho no Brasil e em relação entre capital e trabalho e as sonegações. Dentro da exposição do companheiro do Cerest, do Centro de Referência de Saúde ao Trabalhador, é uma pergunta que nós temos também um Cerest em Campinas, queremos implementar ao Cerest e já tem uma discussão em algumas cidades da base municipal que abrange nosso sindicato, e é um trabalho muito importante nessa área. A pergunta é a seguinte: nas chamadas doenças ocupacionais, vocês também fiscalizam as origens dessas doenças, fazem um trabalho ligado a essa área ou apenas são dados estatísticos? Porque é muito importante isso, e quais são justamente os parceiros, a partir da sua exposição, que eu ouvi atentamente, de denúncias dos trabalhadores, quais são os parceiros que contribuem para com essas informações? Os sindicatos têm esse papel desenvolvido em conjunto com o Cerest? Essa é a minha pergunta a respeito da mesa. Dorival Custódio: Para os demais foi apenas, mencionei apenas algumas questões importantes e dentro da questão inclusive da NR 18 que já existe desde 1995, portanto há mais de cinco anos e muitos desconhecem ou, se conhecem, não praticam. Mesmo porque é muito comum na empresa e aí nós podemos abrir esse debate francamente com os empresários. Ela sabe que existe lá a determinação dentro da Norma Regulamentadora 18, justamente de preparar o canteiro. Mas, não se começa o canteiro de forma errada, atrasada e equivocada. Primeiro, não se tem prevenção nenhuma de AIDS, é de vivência que é o primeiro trabalho a ser executado. Primeiro, já começa com a obra para depois ver, inclusive a forma de contratação, ou de prevenção dos trabalhadores até na questão dos exames médicos. Há essa contradição muito grande dentro dessa área. Sérgio Carneiro: É, esse trabalho que a gente fez aí com relação aos boletins de ocorrência, na verdade é uma parte desse montante de informações que a gente tem lá no Centro Referência e Saúde ao Trabalhador, o CRST da Freguesia do Ó, porque essas informações servem para orientar as ações de vigilância. Então, a gente trabalha tanto com as informações de acidente tipo e acidente fatal, quanto informações de doença, aliás, um dos principais motivadores de ação de vigilância nos ambientes de trabalho são as doenças que são colhidas, as informações das CAT´s, e que são colhidas do próprio sistema de informação ambulatorial do Centro de Referência. Nós levantamos e vimos quais são as empresas que têm o maior número de doenças profissionais na região e solicitando ao Ministério Público a abertura de um inquérito. O Ministério Público designa técnicos do Centro de Referência como assistentes técnicos e a gente faz a investigação dos ambientes das empresas. Então, essas informações servem para o nível local, no caso, na região norte de São Paulo, para orientar as ações de vigilância. Nós temos uns sete grupos de vigilância que são técnicos multiprofissionais e que atuam nos diversos ramos aí, indústria plástica, têxtil e tal e química, metalúrgica, e tem um grupo específico da construção civil que a gente ainda não consegue dar uma boa resposta, porque às vezes demora para abrir o inquérito, quando vai na empresa da construção civil, a obra já acabou. Então, tem um problema que precisa ser abordado com relação à fiscalização aos ambientes nas empresas. Os trabalhadores participam do conselho gestor, essa unidade tem um conselho gestor, que tem a participação dos trabalhadores. Então, toda informação que entra vai para o banco de dados que a gente seleciona as empresas que vão ter tanto os acidentes graves e os acidentes fatais, ele requer uma atenção especial. Não conseguimos ainda essas informações que estão agora, elas já estão no sistema de informação do Centro de Referência. Mas nós ainda não conseguimos dar uma resposta ainda no Centro de Referência às informações, até porque tem uma série de mortes que não sabemos o que fazer. Como é que faz com um homicídio num ambiente de trabalho? Qual é a intervenção possível com relação à questão das quedas? E da eletrocussão que é na via pública, como é que faz? Nós temos dificuldades de lidar com algumas, principalmente mortes e tal. Agora, essas informações estão fazendo parte e os trabalhadores têm acesso a elas através do conselho gestor. Pergunta: Eu queria fazer um comentário rápido antes, Clemente, do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e da Força Sindical. Primeiro, parabenizar aí pela qualidade do seminário, que põe um dedo numa ferida, que parece que não havia interesse de ser mostrado em outros espaços e aqui, numa discussão técnica, isso está vindo a público. Acho que é importantíssimo o conteúdo que hoje sai aqui. Eu queria levantar algumas questões que eu acho importantíssimas para a gente pensar: a questão das estatísticas de acidente de trabalho. Primeira questão, que não foi muito abordada durante o seminário, é em relação a essas alterações, citadas pela nossa professora, que faz uma análise que evoluímos na questão do ato inseguro, da condição insegura, de acabar com esses conceitos, realmente, no papel nós acabamos com esses conceitos, está nos novos, nas novas publicações não se fala mais nisso, mas hoje, se a gente sair daqui hoje, pegar um acidente grave, que ocorreu em qualquer local aqui, de São Paulo ou do município de São Paulo, na Grande São Paulo, a ata de reunião extraordinária da CIPA, se a empresa tiver CIPA, vai concluir que houve um ato inseguro por aquele acidentado grave e, se ele 157 morreu, o culpado foi o próprio morto. Na ata da reunião da CIPA vai estar assim. Nos últimos três anos tenho me dedicado a acompanhar justamente isso, qual é a conduta da CIPA no momento seguinte a um acidente grave ou um acidente fatal. E não encontrei uma no setor metalúrgico em Osasco. Não encontrei uma reunião nos últimos três anos que dissesse o contrário. E, em seguida, quando conseguimos ir no local com o Ministério do Trabalho fazer uma fiscalização, documentar a situação, aí a situação era totalmente diferente daquilo que estava naquela ata. Acho que é importantíssimo a gente começar a pensar como que essas questões que nós discutimos aqui podem caminhar realmente para o chão da fábrica, para o mundo do trabalho, caminhar não apenas na área técnica engenheiros, médicos das empresas, negociadores das empresas, mas caminhar sim, para os trabalhadores. É, e acho uma dificuldade muito grande e a gente tenta trabalhar esse aspecto e sei da dificuldade disso. Então, fazendo as alterações virarem de fato uma realidade no mundo do trabalho ali das pessoas que estão sofrendo os riscos dos acidentes. Uma segunda questão que eu queria comentar rapidamente, é que foi falado aqui que, se a gente olhar o anuário da organização internacional do Trabalho e o da Previdência, o Giuseppe falou, é o mesmo número. Não é, infelizmente não é. Nos últimos dez anuários agora da década, da Organização Internacional do Trabalho, a informação brasileira sobre acidentes e mortes no trabalho teve que ser modificado sete vezes consecutivas porque saíram errados, a menor, e, de repente, nós alertávamos à direção da OIT brasileira e no ano seguinte havia correção. No anuário relativo ao ano de 99 que tem aqui na biblioteca da FUNDACENTRO, a informação, a última informação brasileira está errada novamente. Então é um fato que é importante, quando temos que olhar fontes diferentes, mas sobre a mesma fonte brasileira no exterior, ela aparece seguidamente e sistematicamente de forma errada. Um terceiro comentário, eu acho que o Dorival abriu a cabeça da gente, muito para isso para o trabalho que ele fez com a Monika, aqui a respeito dos dados que chegam dos acidentes da construção civil que é a menina dos olhos, não se pode dizer ao contrário, é a menina dos olhos do Ministério do Trabalho hoje, é construção civil brasileira. Todo discurso está centrado nisso. Eu acho que aí, seguramente o Ministro já conseguiu, já que ele tinha aumentado, foi dito aqui na segunda-feira. De 25% aquela meta de redução de acidentes fatais, que nós discutimos lá na sede da OIT brasileira, no começo de 98 e o Ministro por conta própria resolveu aumentar para 40%, nos dados aqui apresentados da FUNDACENTRO, seguramente o Ministro já conseguiu o seu intento, que já conseguiu uma re- 158 dução de mais de 40% das mortes, pelo menos nas informações que estão chegando aqui na FUNDACENTRO. Mas acho que é importante a gente repensar as nossas informações, porque o que aparece na FUNDACENTRO não é de, quer dizer, o sub-registro que aparece nesse setor que é a menina dos olhos, não é diferente do sub-registro que aparece ali na polícia, não é diferente. E o Sérgio levantou a questão do BO. Se a gente para o Boletim de Ocorrência é uma informação que chega na delegacia , não é que a delegacia vai buscar, mas quando a gente pega o Boletim de Ocorrência numa delegacia policial e vamos ver quantos inquéritos policiais aquela informação foi, foi a conseqüência do BO, quantos Boletins, quantos inquéritos policiais de investigação daquele fato foi feito pela polícia ou a forma como ela trabalha isso, aí é um abismo enorme que pelo menos pontualmente está sendo levantado na grande São Paulo. Mas acho que são dados novos que nós precisamos trabalhar, precisamos mudar, mas mais do que nunca eu acho que esse seminário aqui ele começa a dar um cheiro de povo na discussão nacional dos acidentes de trabalho. Porque, se começa a levantar problemas, pelo menos quem está na área da pesquisa de linha de frente, estão vendo que existem possibilidades de atuação, mas nós precisamos traduzir agora em fazer chegar nos trabalhadores para os dados verdadeiros realmente serem colocados a público para conseguirmos mudar essa situação que é conhecida assim da maioria de todos nós que estamos aqui dentro. Moderador: Bom, respeitando o horário, gostaria de encerrar esse momento do debate apesar de estar muito importante, eu acho que as pessoas interessadas podem falar com os próprios palestrantes, e quero agradecer a todos que estão aqui, Professora Anadergh, Giuseppe, Paulo, Mônica, Dorival e o Sérgio, e também quero ressaltar uma coisa. Os dados do trabalho do Sérgio, estão saindo agora assim do forno, fresquinho, na dissertação de mestrado dele, que foi defendida na Faculdade de Saúde Pública, certo, e logo mais deve estar no acervo da biblioteca. O nome “Trabalho e Violência – Relação de Proximidade”, violência a trabalhadores durante jornada de trabalho na zona norte de São Paulo em 1998. Certo? Então o nome, o orientador Doutor René Mendes, Sérgio Antônio Martins Carneiro. Vai estar na Saúde Pública, na biblioteca. Também, claro, ele vai fornecer uma para a biblioteca da FUNDACENTRO, óbvio? E agora eu gostaria, agradecendo a todos, nós vamos nos retirar, e chamar aqui para encerramento, é, a Doutora Sônia Maria Bombardi, Diretora Técnica da FUNDACENTRO, e o Doutor Celso Amorim Salim, coordenador do PRODAT, Programa de Melhoria das Informações Estatísticas sobre Doenças e Acidentes de Trabalho no Brasil. Encerramento C elso Amorim Salim: Entendemos que esse Seminário é o início de uma importante e intensiva jornada de trabalho. Nesse sentido, já programamos para o próximo ano, o ano 2001, várias oficinas de trabalho e seminários regionais. Com isso, pretendemos regionalizar um pouco essa discussão, junto com algumas atividades concretas, ou melhor, ações tanto educativas, como investigativas, envolvendo parceiros realmente comprometidos com a melhoria das estatísticas sobre doenças e acidentes do trabalho. Sônia Maria José Bombardi: Bom, eu só quero fazer alguns esclarecimentos aí, depois da manifestação dos dias de hoje, ontem e anteontem, que são as seguintes: a FUNDACENTRO tem buscado uma integração muito grande com os demais órgãos de governo e obviamente que a nossa integração com os trabalhadores e empregadores já vem há muito tempo. Mas, na verdade, o que a gente está precisando mais mesmo, nesse momento, é a integração maior com os órgãos do governo. Nós convidamos vários, e infelizmente, nós convidamos o Ministério da Saúde que infelizmente, a Jacinta, ela não pôde vir, mas outros órgãos relacionados ao Ministério da Saúde estiveram aqui, de modo que nós sentimos que, embora ela não tenha vindo, a área da saúde esteve representada aqui. No entanto, esse é um esforço que nós precisamos fazer. E depois desse seminário, eu fiquei mais convencida mesmo sobre isso, a FUNDACENTRO recebe, por forças dos vários eventos que ela desenvolve, muitas sugestões, como essas todas que foram levantadas aqui e muitas sugestões de encaminhamento, sugestões de mudança de legislação, sugestões de atividades que a gente deve fazer. Nós somos muito motivados a promover a integração com todos os segmentos, trabalhadores, empresários e governo, e para fazer tudo isso que foi sugerido aqui, a gente precisa dessa integração e nós estamos buscando isso, é, não apenas é, informalmente, mas também formalmente com os demais órgãos de governo. A gente viu várias sugestões aqui, desde o Ministério de Meio Ambiente, como citou o Giuseppe, até o próprio Ministério da Saúde, até com os próprios órgãos de governo do próprio ministério, e nós precisamos então, melhorar isso. A outra questão que foi a sugestão da gente estar es- tudando e também se preocupando com a questão do trabalho informal, eu queria deixar para vocês uma esperança ou uma informação, de que a gente tem previsto para esse final de ano ainda, apesar de nós estarmos já em novembro. E nós ainda temos muitas atividades até o fim do ano, nós temos previsto trabalhos com instituições com as quais nós fizemos convênio, para estar estudando um pouco mais essa questão do trabalho informal. Nesse fim de ano e no começo do ano que vem, isso não apenas em São Paulo mais em alguns outros Estados. A gente tem uma previsão de fazer um levantamento pelo menos na metade dos Estados brasileiros até 2004. Então, são planejamentos a longo prazo, mas que eu queria deixar bem claro assim, que não que a FUNDACENTRO não esteja se preocupando com isso, a gente também, além de todas as outras coisas que a gente faz, a gente se preocupa com isso. É, obviamente, esperando que essas condições de trabalho que foram citadas aqui no setor informal, provavelmente são piores, ou nos terceirizados com certeza são piores, é, esperando que essas coisas melhorem. A outra coisa que eu queria deixar bem claro, explicar para vocês, é que houve essa sugestão agora, da gente estar promovendo, a chamada em conjunto com os órgãos de pesquisa nacionais, o CNPq, CAPES, FINEP, FAPESP e assim os órgãos estaduais de estarem promovendo então, chamadas para a promoção e financiamento de pesquisas em áreas, de estudos que são realmente interessantes. Então, eu queria informar para vocês que nós fizemos isso há um ano, há dois anos, com a questão da erradicação do trabalho infantil. E foi um trabalho extremamente interessante que deu, por parte da FUNDACENTRO, conseguimos, por várias questões, não é por questão de mérito das propostas que foram enviadas, nós recebemos 40 propostas, para trabalhar na questão da erradicação do trabalho infantil e proteção ao trabalhador adolescente. Dessas 40, a FUNDACENTRO pôde promover, colaborar e financiar uma parte de quatro pesquisas que estão já terminadas, com o relatório finalizado, e que ajudaram muito nos Estados em nível nacional, nos fóruns nacionais de erradicação do trabalho infantil. Se vocês forem hoje, passear aqui em São Paulo, lá na USP, ou aqui mesmo na FUNDACENTRO ou em Santa Catarina, eu estou citando alguns exemplos, nessa sema159 na mesmo, vocês têm um cartaz em nível nacional e está sendo promovida uma discussão sobre essa questão, sendo que uma parte desses estudos que estão sendo divulgados agora foram promovidos em parceria com a FUNDACENTRO. Então, acho que essa sugestão da professora, realmente já foi experimentada pela FUNDACENTRO com resultados muito bons. E a gente pode, a partir desse seminário, levar como sugestão que um dos assuntos, nós temos ainda mais quatro temas que são possíveis de serem feitos com esse, que já estão, vamos dizer, no acordo, no termo de cooperação com essas instituições. Eram cinco, nós já fizemos um, faltam quatro. Então, desses quatro a gente pode, por sugestão aqui do grupo todo, que nós estamos discutindo aqui há três dias, afinal das contas, é, sugerir que um desses temas, então, seja justamente a questão de estatísticas em acidentes de trabalho e podemos até, quem sabe, dessa forma, conforme as sugestões, as propostas virem das Universidades do país todo, talvez estar privilegiando uma ou outra área de atividade, setor de atividade, que tenha maior necessidade. Um dos setores que já está trabalhando com a gente é o setor da mineração, e esse setor já está contemplado. Mais nada impede que eles promovam, junto com as instituições do Estado de Minas Gerais, ou de outros Estados, outros tipos de pesquisa. Então, eu acho que a gente tem uma, começou a estar trilhando alguns caminhos, que tem importância e que realmente vocês mesmos estão referendando, durante esse evento. E alguns outros que nós não estamos trilhando e que nós vislumbramos aqui durante esses três dias e que nós esperamos poder ter a competência, a força de vontade, e obviamente, aliada à vontade política, também de poder fazer essas coisas que foram sugeridas aqui. Eu acho que foram levantadas muitas deficiências, muitas dificuldades, essas deficiências e dificuldades com certeza, pelo que eu vejo aqui e por parte da FUNDACENTRO e com certeza não vão nos desanimar, muito pelo contrário, é, em especial não nos desanimam, porque, pelo menos durante o período que eu estava aqui na FUNDACENTRO, que são já 14 anos, nós sempre tivemos, graças a Deus, nas ações que realmente vão nos ajudar a melhorar a qualidade de vida do trabalhador, parceiros de valor inestimável. Então, nós nunca fizemos as nossas ações sozinhos, numa forma individualista, ou muito menos olhando para as nossas próprias pessoas aqui dentro. Então, se nós conseguimos alguma coisa durante esses anos, e de fato eu acredito que nós conseguimos, foi porque os nossos parceiros são muito importantes, eles sempre nos ajudaram, eles sempre estiveram colaborando com vocês todos que, nesse momento vieram aqui. Vários professores vieram, eu sei, e moderadores, os participantes deixaram as suas atividades para vir aqui.Trazer a sua sugestão, trazer a sua contribuição. E é por isso que a gente tem a perspectiva e 160 tem a esperança que nós iremos conseguir mudar alguma coisa e colaborar para que as coisas melhorem nessa questão de estatísticas, pelo menos que é o assunto do seminário de hoje, fora os outros todos. E nós temos, então, essas atividades previstas, que o Celso falou, e estaremos incorporando que, realmente o mês de novembro é o mês ideal para isso, as sugestões que foram possíveis que vocês levantaram aqui. Isso vai estar tudo registrado, não só nos anais, mas também no resumo de todas as palestras que foram apresentadas e esperamos então contar com vocês para essa, para o desenvolvimento dessas atividades. Como vocês sabem, a gente quer que esse seminário, como eu falei no início, anteontem, tenha continuidade, e vai ter, em especial pela FUNDACENTRO, através do programa que está vinculado ao PPA, que está vinculado ao Ministério do Trabalho, enfim, tem toda uma política de ação, pelo menos da FUNDACENTRO, no que se refere à questão de estatística. E a nossa principal disposição, é que realmente os dados que existem sejam divulgados como são, os dados verdadeiros, a gente não quer esconder nada, nem muito menos fazer de conta que eles não existem. Agora, enfrentar isso exige parceria. Nós não vamos conseguir mesmo nada sozinhos e enfrentar isso tudo não é simples, como vocês mesmos falaram, nós precisamos das parcerias. Sejam das universidades, dos sindicatos, das centrais, dos empresários, dos nossos técnicos, enfim, nós precisamos dessas parcerias. E sabemos que podemos contar com vocês. Nós estamos distribuindo para vocês nesse momento, uma ficha para vocês colocarem os nomes, as pessoas que realmente estão aqui podem contribuir, nós precisamos de ações, além destas como a de hoje, que é um simples seminário, nós sabemos disso, sabemos da nossa responsabilidade, mas queremos contar com vocês. E é por isso que nós estamos distribuindo aí uma ficha, para vocês colocarem o nome, e-mail, nós esperamos, assim que for possível, fazer, senão um seminário, que é uma questão mais de divulgação das informações, como foi sugerido aqui, mas pelo menos um workshop para ver, a partir desse seminário, afinal das contas, o que é que nós precisamos fazer a médio prazo e a curto prazo e a médio e longo prazo. Então, eu gostaria de agradecer a presença de vocês todos e espero que vocês preencham a ficha aí e a gente em seguida, assim que for possível, a gente vai fazer um workshop aqui com a coordenação do Celso. E não posso deixar de agradecer obviamente a iniciativa do Celso e de toda a equipe técnica que trabalhou com ele, tanto do CTN, como do nosso centro, lá de Minas Gerais, e, obviamente, a participação de todos vocês. Muito obrigado e vamos dar por encerrado, então o Seminário.