1 Subsídios para a construção da agenda de transição para uma economia includente, verde e responsável. CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 2 Apresentação A Conferência Ethos 2011, que ocorreu nos dias 8 e 9 de agosto, no Centro Fecomércio de Eventos, em São Paulo, foi certamente uma das mais densas de todas as 13 edições já realizadas pelo Ethos desde 1999, tanto pela abrangência dos temas quanto pelo envolvimento dos participantes. Um total de 926 inscritos revezaram-se entre as duas grandes plenárias, três mesas-redondas e 14 painéis, dos quais participaram 104 palestrantes. O evento foi coberto por 182 jornalistas de todo o Brasil, que puderam publicar em seus veículos uma visão de mundo e do processo econômico bem diferente daquela que resultou na crise financeira e ética em que estão mergulhadas as principais economias do planeta. Outro aspecto inovador foi a própria construção do conteúdo da Conferência, que contou com a participação de 36 organizações do setor empresarial, da sociedade civil, dos trabalhadores, da área acadêmica e de órgãos públicos, de modo a garantir as diferentes visões de como chegar a uma sociedade justa e sustentável. Nas mesas de debate, reuniram-se lideranças da sociedade civil, CEOs de empresas representativas, membros de órgãos do governo e especialistas nos temas abordados. A plenária de abertura discutiu as necessidades, desafios e oportunidades para o país, sob a perspectiva de uma economia sustentável. A de encerramento foi dedicada à Rio+20, a Conferência sobre desenvolvimento sustentável que será realizada pela ONU em 2012, pela qual pretendese estabelecer regras para a implementação global dessa nova economia. As três mesas-redondas discutiram, respectivamente, governança, produção e consumo e inovação para a sustentabilidade. Os assuntos abordados nos painéis foram água, energia, biodiversidade, florestas, mudanças climáticas, direitos humanos, erradicação da miséria, finanças sustentáveis, infraestrutura, integridade, resíduos, cidades sustentáveis, trabalho e educação. O objetivo era mostrar experiências e sugerir os rumos necessários em cada uma dessas áreas, a fim de constituir uma plataforma de sustentação para a mudança do modelo econômico do país. O documento que ora apresentamos traz uma síntese de tudo o que transcorreu nas 19 atividades da Conferência, bem como os caminhos sugeridos por cada uma das mesas. Seu objetivo não é trazer uma fórmula pronta que nos conduza à nova economia, mas sim estimular toda a sociedade a continuar trabalhando os resultados obtidos, para que possamos propor ao país uma agenda de transição para um modelo econômico efetivamente sustentável e justo. Instituto Ethos Foto: Clóvis Fabiano Com o tema central Protagonistas de uma Nova Economia – Rumo à Rio+20, esta edição debateu as questões de maior impacto socioambiental na economia brasileira, tendo em vista sua transição para o modelo sustentável preconizado pela Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável, documento lançado pelo Instituto Ethos e parceiros que resultou das reflexões da Conferência Ethos 2010 e de amplos debates com as empresas associadas e entidades representativas de todos os setores da sociedade. Duas inovações caracterizaram a Conferência deste ano. Ao contrário das anteriores, que procuravam discutir o futuro do país e da sociedade, a Conferência Ethos 2011 buscou debater a situação atual da economia brasileira, em seus vários aspectos, a fim de subsidiar a agenda de transição para a nova economia proposta. Assim, o grande objetivo do encontro foi identificar, em cada um dos temas apresentados, as mudanças necessárias para essa transição, bem como os avanços que já houve nesse sentido e os gargalos que devemos superar para continuar avançando. Da esquerda para a direita: Paulo Itacarambi, Jorge Abrahão e Sergio Mindlin 3 Foto: Fernando Manuel Nova economia: includente, verde e responsável Da esquerda para a direita: Wilson Ferreira Junior, Ricardo Abramovay, Marcelo Cardoso, Ronaldo Motta, Daniela di Fiori e João Batista Menezes Objetivo: Discutir as necessidades, desafios e oportunidades para o Brasil sob a perspectiva da transição para uma economia sustentável, buscando as sínteses que orientem o setor produtivo nesse momento crucial para a transformação das vantagens comparativas do Brasil em vantagens competitivas. A plenária foi a atividade oficial de abertura da Conferência Ethos 2011 e contou no primeiro momento com os seguintes expositores: Sérgio Mindlin, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos; Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos; Paulo Itacarambi, vice-presidente do Instituto Ethos e coordenador-geral da Conferência. O segundo momento foi um debate com a moderação de Ricardo Abramovay, professor titular da FEA/ USP, do qual participaram representantes das empresas parceiras institucionais do Ethos: Daniela di Fiori, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade do Walmart Brasil e presidente do Conselho do Instituto Walmart; Marcelo Cardoso, vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional e Sustentabilidade da Natura; Wilson Ferreira Junior, presidente da CPFL Energia; e João Batista Menezes, diretor de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade da Alcoa América Latina e Caribe1. Também participou do debate 1 - As empresas Suzano e Vale também são empresas parceiras institucionais do Instituto Ethos, porém devido à incompatibilidade de agenda de seus executivos não participaram da plenária. Ronaldo Mota, Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). No primeiro momento os três expositores, além de dar as boas-vindas aos participantes, atualizaram o público sobre algumas das iniciativas em que o Instituto Ethos está envolvido, como a Comissão Nacional para a Rio+20, apresentaram suas visões sobre o tema do evento e a forma como o conteúdo havia sido preparado, com outras 35 organizações parceiras, e como os trabalhos continuarão junto a esses parceiros. Paulo Itacarambi informou o público sobre o sistema de consultas desenvolvido para a contribuição dos participantes, que continuará disponível após o evento, e sobre os cadernos que o jornal Valor Econômico estava produzindo antes e após o evento, abordando os conteúdos debatidos e outras informações sobre a Conferência. Também apresentou a Versão Intermediária para AplicaçãoPiloto dos Indicadores Ethos – 3ª Geração, um amplo processo de revisão da ferramenta, iniciado em outubro de 2010 e com previsão de lançamento para outubro de 2012. O segundo momento teve início com a apresentação de Paulo Itacarambi sobre os principais elementos da Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável. Ele começou por esclarecer o que estamos chamando de economia verde: uma economia que propõe a redução do uso dos recursos naturais, seja pela ecoeficiência, seja pela reutilização de materiais, e a redução dos impactos negativos dos processos de produção e consumo. Para isso, precisaríamos reduzir as emissões, ampliar o uso das fontes limpas e renováveis de energia, utilizar modais mais eficientes e internalizar as externalidades desse processo. Mas não só. Também seria preciso recuperar o que já foi degradado e preservar os ecossistemas. Para construir uma sociedade sustentável, porém, Paulo lembrou que é necessário mais do que uma economia verde. Precisamos que ela seja ainda includente e responsável. Includente: que tenhamos uma distribuição equitativa da riqueza, que erradiquemos a miséria, que tenhamos uma diversidade e equidade tanto de gênero quanto de raça, nas empresas, no mercado e na sociedade, que se promova o trabalho decente, com respeito CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 4 e ampliação dos direitos humanos – isso também como responsabilidade das empresas. E responsável: que combatamos permanentemente a corrupção e a impunidade, que valorizemos o comportamento íntegro, que ampliemos a transparência e nos comportemos valorizando a transparência, respeitando leis, regras e contratos, que estimulemos a concorrência leal e principalmente a cooperação, pois é possível ser competitivo com cooperação, e não apenas competindo. “ ” Segundo ele, a sociedade civil, o movimento dos trabalhadores, o mundo empresarial e as organizações públicas já estão engajados em diversas iniciativas nesse campo. O que falta é um projeto nacional que articule essas iniciativas, lhes dê escala e possa integrar as três dimensões: includente, verde e responsável. Mencionou, assim, a necessidade de um projeto de sociedade de desenvolvimento sustentável, objetivo a ser trabalhado na Conferência. Por fim, trouxe algumas questões para provocar a reflexão dos palestrantes. Como transitar da situação atual para uma economia com essas características? Onde podemos perceber avanços e valorizar esses avanços, construir sobre o construído? Quais são os gargalos que precisam ser removidos? O debate começou com uma provocação de Ricardo Abramovay, a partir de algumas informações: estamos vivendo um momento positivo na economia, no qual 80 milhões, 90 milhões de pessoas por ano estão entrando no mercado de consumo e 29% da população mundial está na faixa de renda entre US$ 6 mil e US$ 30 mil, percentual que sobe para 50% em 2030. Atualmente, cada unidade de produto oferecida ao mercado tem usado menos energia e menos materiais e, eventualmente, emitido menos gases de efeito estufa. No entanto, o consumo global de energia e de materiais e as emissões não param de crescer, devido fundamentalmente à desigualdade. “Atualmente consumimos 60 bilhões de toneladas anuais de matérias, sem falar no que removemos para obter esses materiais.” Ricardo perguntou, então, aos demais palestrantes se o progresso técnico por si só é capaz de propiciar crescimento tão significativo que torne irrelevante essa desigualdade. E afirmou, com relação à responsabilidade socioambiental corporativa, que tem de se referir aos efeitos imediatos dos produtos sobre a vida dos indivíduos das comunidades e dos territórios. Entre os palestrantes, a reação às provocações de Ricardo foi inaugurada por Daniela di Fiori, apresentando a visão do setor de varejo e de comércio sobre o tema. Para ela, um dos desafios para a atual economia seria a falta de um “incentivo a mais”, seja tributário, seja na forma de comercialização e manufatura dos produtos, deixando de ser para um nicho de consumidores, de modo que as pessoas possam democratizar o conceito de sustentabilidade. “O plano de produção e consumo sustentável, do Ministério do Meio Ambiente, é um bom exemplo de uma iniciativa nesse sentido.” Daniela mostrou que há avanços importantes na construção de produtos de menor impacto, inclusive com a participação de empresas globais e marcas líderes em seus segmentos. No entanto, ainda falta uma métrica para a sustentabilidade. “É preciso mostrar à sociedade que as opções de produtos e serviços de menor impacto estão disponíveis.” E o Brasil, em sua opinião, precisa ser capaz de transferir conhecimento para o setor produtivo para melhorar a vida e o bemestar da população. Foto: Clóvis Fabiano Para Paulo, o Brasil pode ter uma economia com essas características: includente, verde e responsável. O país tem potencial e pode ser uma liderança nesse processo em termos mundiais, uma vez que possui um grande capital natural, rico em biodiversidade, tem uma população sociodiversificada e conta com organizações sociais ativas, ou seja, com um capital social rico. “O Brasil possui uma economia dinâmica e com uma boa matriz energética, tem um processo real de mobilidade social recente, caminhando na redução das desigualdades sociais.” Mas ele lembra que é preciso acelerar esse processo, aumentar a distribuição de riquezas. É necessário aumentar a capacidade competitiva brasileira em todo leque de negócio e, para que isso seja viável, a palavra inovação é chave nesse processo Paulo Itacarambi 5 Para Marcelo Cardoso, da Natura, estamos no momento de questionar quais valores queremos para uma nova sociedade, precisamos nos reinventar como sociedade e propor novas alternativas. Marcelo defende a necessidade de uma nova economia, uma economia que seja a base para a formação de uma nova sociedade. E, nesse contexto, promover a discussão sobre quais são os valores e culturas em que essa nova sociedade precisa se fundar. Apresentou também os esforços da Natura nesse sentido, a partir de ações nos temas de controle de emissões e resíduos, redução de massa dos produtos, consumo de água, inclusão de mulheres na economia e no bom desempenho da empresa no tema da biodiversidade. Em sua apresentação, Wilson Ferreira Júnior abordou o tema consumo de energia, apresentando dados como o aumento de 33% no consumo mundial nos próximos 20 anos e, no mesmo período, a necessidade de expandir em 142% a oferta de energia no Brasil, para atender às necessidades de crescimento do país. Para Marcelo, além da mitigação dos impactos já contratados para as próximas décadas, a transição para uma economia sustentável e verde não é mais uma opção. O diálogo com o governo é muito importante para a criação de políticas públicas que viabilizem o estabelecimento de uma economia sustentável: “Devemos trabalhar em prol de políticas públicas que estimulem a criação de energias limpas”. Segundo João Batista Menezes, é preciso trabalhar no sentido de as empresas de fato colocarem a manutenção de ecossistemas, qualidade do ar e da água como principal objetivo de sua estratégia de negócio. Para ele, não basta analisarmos o desempenho individual de cada uma. É preciso pensar no desempenho das empresas e da sociedade como um todo, rumo a uma economia inclusiva, verde e responsável. Nesse contexto, apresentou a estratégia corporativa da Alcoa, alinhada com os valores de uma nova economia. Ronaldo Mota, do Ministério da Ciência e Tecnologia, iniciou sua exposição tratando da questão dos avanços tecnológicos. Na sequencia, abordou a necessidade de desenvolvimento para o país, porém desenvolvimento em um modelo sustentável. Destacou que outros modelos de desenvolvimento têm sido acompanhados de incremento de desigualdade social. Em sua apresentação, não teve dúvidas sobre o crescimento do Brasil, mas questionou se esse crescimento será sustentável. Para Ronaldo, “é necessário aumentar a capacidade competitiva brasileira em todo leque de negócio e, para que isso seja viável, a palavra inovação é chave nesse processo.” O Brasil, segundo ele, deve ser um dos países que menos têm demonstrado capacidade de transformar conhecimento em melhor qualidade de vida, em negócio, afetando efetivamente o mundo das empresas e o mundo do setor produtivo. Durante o debate da plenária, o moderador fez as seguintes perguntas ao público: O aumento da taxa de crescimento do PIB deve ser o objetivo central da política macroeconômica do Brasil. 44% 8% 19% 10% 20% Concordo Plenamente Nesse contexto, porém, destacou o agronegócio como um segmento em que o Brasil exemplarmente conseguiu transformar conhecimento em setor produtivo. De maneira otimista, lembrou que a indústria nacional tem procurado incorporar conhecimento a seus processos, como um elemento diferencial, capaz de transformá-la em altamente competitiva no mercado internacional. Dessa forma, concluiu sua exposição dizendo que a capacidade de produzir conhecimento, também fortemente influenciado pela demanda, é o que poderá garantir sustentabilidade. Embora não seja o único elemento desse processo, é um dos mais importantes. Concordo Parcialmente Sem opinião Discordo Parcialmente Discordo É possível que as empresas coloquem o uso e a conservação sustentável dos serviços ecossistêmicos no centro de suas estratégias? 41% 47% Você é favorável a que a legislação do comércio seja mais flexível? Sim Não 90% 3% 10% 1% Devemos ter como objetivo o aumento do consumo per capita de energia? Sim Não 24% Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Sem opinião 76% Discordo Parcialmente Discordo A renovação das concessões deve ser feita ou é preciso abrir um novo leilão? Sim Não 47% 63% 8% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 6 Foto: Clóvis Fabiano Governança na nova economia Da esquerda para a direita: Oded Grajew, Gilberto Carvalho, Gilberto Milfano e Chico Whitaker Objetivo: Aprofundar as reflexões sobre a nova economia e a discussão em torno da governança necessária para o novo modelo econômico. Como palestrantes foram convidados: Odilon Faccio, diretor do Instituto Primeiro Plano; Aron Belinky, consultor especialista em responsabilidade social e sustentabilidade e coordenador de projetos da Vitae Civilis; Daniela Mariuzzo, do Banco Rabobank; Carlos Eduardo Lessa Brandão, vice-presidente do Conselho de Stakeholders da Global Reporting Initiative. Os palestrantes abordaram o tema da nova economia de forma direta e provocante, refletindo sobre os mecanismos de boa governança, autorregulação e democracia participativa, entre outros modelos de governança empresarial. Em seguida, três debatedores – Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República; Gilberto Milfano, presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa; e Chico Whitaker, co-fundador do Fórum Social Mundial e Prêmio Nobel Alternativo de 2006 – reagiram às exposições, trazendo as próprias visões, estabelecendo, assim, um diálogo que contou com a moderação de Oded Grajew, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo. mercados decidem e os governos atuam, para estimular práticas que definam a nova economia. É preciso estabelecer diálogos entre os diversos públicos e trabalhar por pactos e compromissos de mudança. Estamos falando de governança nessa nova economia, que deve ser focada em compromissos e ter como objetivo melhorar o bem-estar humano e buscar a redução contínua das desigualdades (Pnuma, 2010). A governança possui claras implicações sobre pobreza, equidade e qualidade de vida. O modelo econômico exige uma nova governança. Mudar a economia significa, também, mudar a maneira como as empresas se planejam, os Debater a governança na nova economia significa enfrentar o desafio da construção de conceitos e práticas transformadores, focados em participação, Para isso, as estratégias empresariais e as políticas públicas têm de considerar a sustentabilidade dentro de uma perspectiva de futuro e incorporála a seus planos, controlando, minimizando e eliminando riscos ambientais, escassez ecológica e condições precárias para a sobrevivência. Empresas e governos precisam estabelecer padrões de controle e aferição de resultados e impactos socioambientais de suas atividades. transparência e responsabilidade (Strandenaes, 2011). Esse debate deve ser levado para a Rio+20 pelos países, representados por quase duas centenas de chefes de Estado e de governo. Deve fortalecer o diálogo para o estabelecimento da participação, leis e regras claras, transparência, capacidade de resposta, consenso orientado (mediação de diferentes interesses), equidade, efetividade e eficiência, accountability e visão estratégica. Governança se refere ao conjunto de iniciativas, regras, instâncias e processos que permitem às pessoas, por meio de comunidades e organizações, exercer o controle social, público e transparente das estruturas estatais e das políticas públicas, com vistas a atingir interesses comuns. Para a instituição de um novo modelo econômico, frente à atual crise, os debatedores apontaram a necessidade de promover condições para que todos os agentes da sociedade possam ter acesso aos processos de tomada de decisão e gestão do desenvolvimento, em especial com base na sustentabilidade. Diante desse cenário, há mais questionamentos do que respostas. Como representantes de diversos setores da sociedade, eles trouxeram aspectos fundamentais inerentes à governança, como a ampliação da cidadania pelo 7 acesso a direitos básicos, a criação de espaço para o desempenho do papel de consumidores com responsabilidade e o desenvolvimento de instrumentos e espaços de debate com a sociedade para a fomentação de políticas públicas e do diálogo social. Foi também destacado o papel do Estado de induzir e legitimar esse processo para a consolidação da nova governança. Entre os principais desafios colocados pelos debatedores, destacaram-se mudanças estruturais, ações e políticas públicas que reflitam os interesses da sociedade. Outros pontos tidos como indispensáveis em uma economia que considere os anseios da sociedade foram a ampliação da transparência, maior equidade, estabelecimento de processos de prestação de contas e responsabilidade corporativa. A economia verde apareceu como oportunidade e desafio nessa direção, considerando seu potencial de experimentar a promoção de um sistema que esteja baseado nas necessidades humanas, e não no acúmulo de riquezas e lucros. Para as empresas, espera-se cada vez mais a divulgação contínua de relatórios de sustentabilidade com evidências de suas práticas e de modo que possam ser acompanhados pela sociedade, assim como a formação de conselhos que reflitam a diversidade dos públicos com os quais se relacionam. Um ponto que ainda pode significar um entrave a avanços nesse sentido é a tirania do curto prazo sobre as empresas, por conta da atual demanda e pressão por resultados trimestrais. “ Mudar a economia significa, também, mudar a maneira como as empresas se planejam, os mercados decidem e os governos atuam, para estimular práticas que definam a nova economia ” Além dos desafios, os palestrantes e debatedores apontaram mudanças essenciais para alcançar a governança para a nova economia, entre elas modificar estruturas consolidadas, como maior participação de outros países na ONU, tornar efetivos os acordos e mecanismos internacionais, qualificar e investir nos novos consumidores-cidadãos, a adoção, pela mídia, de um comportamento ativo na formação cidadã, qualificar a participação social nos principais debates, promover uma mudança radical da economia baseada na produção e consumo. Vieram propostas a partir dessas necessidades de mudanças, como o diálogo para legitimar os diferentes atores, traçar metas e objetivos realistas e promover o comprometimento, além de o Estado assumir seu papel de indutor do diálogo social e da transição. As perguntas feitas pelo moderador ao público do painel foram as seguintes: Vocês se lembra do nome e partido do Deputado Federal e Estadual em que votaram? Sim Não 61% 39% Vocês acham que os presidentes das empresas devem ser eleitos pelos funcionários? Sim Não 46% 54% O governo deve sugerir às empresas que publiquem relatórios de sustentabilidade ou expliquem porque não o fazem? Sim Não 3% 97% Você é favorável à proposta de que eleitos a cargos executivos devem apresentar plano de metas e prestação de contas? 99% Sim Não 1% Você concorda com Chico Whitaker: é necessária uma mudança mais radical do que um economia includente, verde e responsável? 77% 2% Foto: Clóvis Fabiano Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Sem opinião Discordo Parcialmente Gilberto Carvalho 17% 3% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 8 Foto: Clóvis Fabiano Novos padrões de produção e consumo para a sustentabilidade Da esquerda para a direita: Clemente Ganz Lucio, Samyra Crespo, Daniela di Fiori, Helio Mattar e Tasso Azevedo Objetivo: Aprofundar as discussões sobre a nova economia a partir de reflexões sobre as mudanças necessárias na cultura e nos hábitos de consumo, no estilo de vida, nos modelos de negócio, nas relações de trabalho e na qualificação profissional, para aumentar a competitividade da economia brasileira e melhorar a distribuição da riqueza, ampliando a participação do trabalho e melhorando a qualidade de vida, enquanto se reduzem os impactos das atividades econômicas sobre os ecossistemas. Essa mesa-redonda se iniciou com os seguintes palestrantes: Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese, que discorreu sobre as relações de trabalho e a qualificação profissional; Lisa Gunn, coordenadora executiva do Idec, sobre o interesse dos consumidores; Rosa Alegria, vice-presidente do NEF, da PUC-SP, sobre as questões de comportamento dos indivíduos; e Sonia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da BM&FBOVESPA, sobre o papel das empresas. A partir das exposições, debatedores fizeram suas intervenções e estabeleceram um diálogo moderado por Tasso Azevedo, consultor em questões do clima do Ministério do Meio Ambiente. Os debatedores presentes foram Daniela di Fiori, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade do Walmart Brasil; Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu; Samyra Crespo, secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do MMA. Há o entendimento de que as empresas precisam incluir em seus processos preocupações muito específicas em relação aos insumos que utilizam para produzir. Mas a sociedade também tem de repensar suas decisões de consumo, a partir de fatores que devem levar em conta questões como o consumismo e os impactos socioambientais dos produtos e serviços adquiridos. Há que pensar, ainda, nos critérios para compras públicas e para a formação das cadeias de fornecedores das empresas. No Brasil, o governo elabora o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), que tem por objetivo fomentar a ampliação de iniciativas alinhadas com a promoção da sustentabilidade. Algumas prioridades eleitas são o varejo e consumo sustentáveis, a agenda ambiental na administração pública, a educação para o consumo sustentável, o aumento da reciclagem de resíduos sólidos, compras públicas sustentáveis e construção civil sustentável. Por outro lado, falta uma maior articulação do PPCS com a principal política de desenvolvimento de longo prazo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O mesmo ocorre com relação às políticas de curto prazo, como as medidas adotadas na administração da crise financeira mundial de 2008 e no fomento às exportações, que podem sabotar ou anular os esforços do programa. A discussão sobre mudança dos padrões de consumo faz parte de um capítulo da Agenda 21, documento lançado na Rio92, que já alertava os países para a importância de refletir sobre as questões socioambientais. De acordo com Lisa Gunn, esse documento afirma que a principal causa dos problemas sociais e ambientais enfrentados atualmente decorre dos atuais padrões insustentáveis de produção e consumo. 9 A questão fundamental discutida durante o painel foi estabelecer quem seria o responsável por criar novos padrões de consumo: o governo, as empresas ou os consumidores? Para Clemente Ganz Lucio, o modo de produção como um todo não está estruturado para produzir qualidade de vida, mas sim para produzir riqueza mensurada pelo PIB, não significando, necessariamente, uma vida digna. Segundo ele, esse sistema de produção atual gera mais pobreza e desigualdade e tem o trabalhador inserido nele. A mudança para um novo padrão não virá dos trabalhadores: “Se imaginarmos que o trabalho pode produzir algo diferente, vamos ter de olhar para o sistema, inevitavelmente, e os trabalhadores o farão a depender da condução que o sistema de produção faz”. Lisa Gunn também acredita que o papel fundamental nessa mudança de padrão deve ser das empresas, que deveriam oferecer mais alternativas sustentáveis aos consumidores. Lisa não vê motivo para comemoração dos 20 da Agenda 21. “As empresas ainda estão a dever modelos de negócios para que produtos e serviços sejam disponibilizados aos consumidores de forma parcimoniosa, com informação e orientação sobre o exagero da utilização dos recursos naturais e como e para onde os resíduos devem ser encaminhados.” Ela aponta para o desafio de garantir o acesso a bens e serviços para milhares de pessoas que estão ascendendo ao mercado com uma consciência consumidora que ainda não leva em consideração os impactos sociais e ambientais de produtos. “O que a gente observa é que existe uma distância bastante grande entre consciência do problema e mudança do hábito de consumo.” tem a força de mudar o rumo da história econômica, das políticas trabalhistas e até de transformar conceitos como o que se entende por consumo.” A requalificação das escolhas individuais, assim, é a chave para uma mudança de paradigma, que, segundo ela, pode ser iniciada conectando a palavra consumidor à sua real definição: destruidor. Samyra Crespo afirmou que o papel do governo nesse processo de mudança pode ser incentivado e deve servir de exemplo para as empresas por meio de uma política de compras e licitações sustentáveis. O poder público tem o poder de induzir a economia nesse sentido, pois compras governamentais impactam 17,5% do PIB brasileiro. Mas exigir do governo uma agenda visionária e antecipatória, em sua opinião, é bobagem, contando que o governo escuta as demandas da sociedade e muda suas políticas a partir disso. Helio Mattar “ A mudança de padrões não ocorre porque há uma pressuposição, muitas vezes, de que sustentabilidade significa sacrifício, significa menor qualidade de vida ” acredita que “a mudança de padrões não ocorre porque há uma pressuposição, muitas vezes, de que sustentabilidade significa sacrifício, significa menor qualidade de vida”. Mesmo sabendo que cada agente – sociedade civil, governo e empresas – tem seu papel e sua relevância para tornar o consumo e a produção cada vez mais sustentáveis, “o crucial é que o consumo deixe de ser um fim em si mesmo e se torne uma ferramenta de escolha”, finalizou Tasso Azevedo. Foto: Clóvis Fabiano Para exemplificar boas práticas existentes, Daniela explicou um programa do Walmart que criou alternativas ambiental e socialmente sustentáveis aos seus produtos, com pouca ou nenhuma alteração em preços. Para o Walmart, criar novos padrões de produção é uma estratégica de sobrevivência em longo prazo, pois a empresa acredita que o cenário futuro de consumo será diferente e quer estar preparada para esse novo modelo, ajudando a construí-lo. No painel, a requalificação de escolhas foi o assunto de Rosa Alegria. “Com sua escolha, o consumidor Helio Mattar CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 10 As seguintes perguntas foram elaboradas pelo moderador aos participantes: Num estado democrático e legítimo que os Agentes Públicos eleitos imponham uma agenda de produção e Consumo Sustentável 47% 41% Eu sou o que compro e uso e não há nada de errado c/ isso? 46% Os principais sistemas de certificado são voluntários, mas ainda com abrangência / resultados ainda em desenvolvimento. Neste contexto, o governo pode ter um papel (de ajudar a transformar a realidade dos mercados? Como? 59% 6% 3% 1% 16% 12% 26% 8% 25% 10% Concordo Plenamente Concordo Plenamente Transformando sistemas voluntários em mandatários Concordo Parcialmente Concordo Parcialmente Aumentando fiscalização e criando leis mais rígidas Sem opinião Sem opinião Incentivando economicamente o consumo de Discordo Parcialmente Discordo Parcialmente “produtos sustentáveis” Discordo Discordo Você é favorável à proposta de que eleitos a cargos executivos devem apresentar plano de metas e prestação de contas? 63% Os meios de comunicação não contribuem efetivamente para a formação de uma consciência cidadã Quem é o PRINCIPAL ator capaz de transformar os padrões atuais de produção e consumo? 24% 50% 30% 34% 19% 18% 18% 4% 0% 11% 1% 22% 6% Governo Concordo Plenamente Precisamos deixar de ser consumidores para ser usuários Empresas Concordo Parcialmente O trabalhador deve ser sujeito nos locais de trabalho se Consumidores Sem opinião quisermos que ele influencie a produção sustentável ONGs Discordo Parcialmente Existe um descompasso entre a crescente preocupação Discordo com sustentabilidade expressa nas pesquisas e comportamento de consumidor Sustentabilidade ganhará cetralização, seja pelo amor, pela dor e pela inteligência Nenhuma das anteriores 11 Foto: Marcio Bulhões+ Inovação para a sustentabilidade Da esquerda para a direita: Sérgio Mindlin, Carlos Alberto dos Santos, Claudio Boechat, Fernando Reinach e Ricardo Correa Martins Objetivo: Discutir os diversos fatores que podem aumentar o investimento público e privado em ciência e tecnologia para reduzir a intensidade energética e material nos processos produtivos e dar escala às diversas tecnologias sustentáveis que estão em desenvolvimento. A mesa-redonda contou com exposições de quatro palestrantes, que após considerações iniciais debateram o tema intensamente em um diálogo moderado por Sérgio Mindlin, presidente do Conselho do Instituto Ethos. Os debatedores foram Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae, que falou sobre o papel do empreendedorismo e das pequenas empresas no desenvolvimento da inovação; Claudio Boechat, professor da Fundação Dom Cabral, sobre novos modelos de negócio; Fernando Reinach, sócio-gestor do Fundo Pitanga, biólogo e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, sobre os novos formatos de financiamento da inovação; e Ricardo Correa Martins, diretor executivo da FNQ, sobre o potencial brasileiro de inovação tecnológica. Boa parte da competitividade brasileira ainda é baseada na produção de bens que fazem uso intensivo de recursos naturais, na forma de energia, de insumos, no transporte. A crença de que esses recursos existem em abundância e o modo como se dá a gestão financeira tradicional dos negócios não contabilizam os impactos negativos ao meio ambiente e não entram na formação dos preços de mercado. Novos caminhos para a inovação podem incluir, por exemplo, investimento em ciência e tecnologia, novos modelos de negócio, novos formatos de financiamento da inovação, o empreendedorismo e pequenas empresas no desenvolvimento da inovação. Os financiamentos de atividades de pesquisa e desenvolvimento são, em sua maior parte, realizados por empresas (64,5% em 2008), enquanto os financiamentos do governo decresceram em relação ao total. O apoio governamental às atividades de pesquisa é uma forma de promover o crescimento econômico sustentável em longo prazo, por meio da inovação. No Brasil, mesmo com os avanços registrados em algumas áreas, o setor de ciência e tecnologia apresenta baixo investimento (equivalente a 1,1% do PIB em 2008), carências em termos de qualificação dos recursos humanos para a área e baixo número de registro de patentes (0,3 patente por milhão de habitantes em 2008), apesar do aumento na produção científica e do número de doutores (ph.D.) per capita. A questão da inovação no Brasil passa pelos usuais gargalos: falta de infraestrutura, baixa qualificação da mão de obra, insegurança jurídica, burocracia excessiva, além da oscilação dos recursos. O principal foco da inovação no país ainda é a transformação industrial, mas não deveria se restringir ao campo da tecnologia. O foco principal do apoio à inovação deve estar na criação de mercados e de negócios voltados não apenas a ganhos econômicos, mas também a ganhos sociais e ambientais. É preciso instituir novas formas de gestão e novas relações nas cadeias de produção. O aperfeiçoamento do sistema de apoio e fomento à inovação também passa pelo desenvolvimento de novas formas de cooperação entre os diferentes atores – governos, instituições de pesquisa, empresas e empreendedores – e pela criação de sinergias entre os diferentes objetivos. Em muitos países as políticas de inovação visam à competitividade no comércio exterior. Políticas de apoio à exportação são um reduto especial para a inovação. Para que o Brasil siga essa trilha, em um modelo de desenvolvimento voltado para uma economia de baixo carbono, é necessário alinhar a essa visão as políticas e os instrumentos de incentivo e fomento à pesquisa. Políticas de comércio exterior, comercial, industrial e de inovação devem ser articuladas e coordenadas com objetivos que confluam para o desenvolvimento de uma economia verde. CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 12 Esse cenário ficou como pano de fundo do debate, que girou em torno do desafio ao fomento à inovação para sustentabilidade nas pequenas e médias empresas brasileiras, que representam 60% da força de trabalho e 99% de todas as empresas do país. Mas ainda há muito o que fazer nesse sentido – e com políticas públicas para valorizar práticas inovadoras. Pesquisa divulgada no evento pelo Sebrae revelou que 58% das companhias não têm nenhum conhecimento sobre sustentabilidade. “A sondagem evidencia a dimensão do desafio de inovar a agenda da sustentabilidade na gestão dos pequenos negócios”, disse Carlos Alberto. Para ele, as pequenas empresas carregam uma grande responsabilidade para a formação de uma economia sustentável. “Combinar desenvolvimento socioeconômico com a utilização de recursos naturais, sem comprometer o meio ambiente, é um grande desafio e requer soluções inovadoras.” Com isso em mente, o Sebrae está formando um banco de consultores para atender os empreendedores e ajudá-los a tornar os negócios cada vez mais sustentáveis. Esses “ A inovação permite ao homem escolher que rumo seguir, cada nova tecnologia abre um leque de opções ” capacitadores são responsáveis por levar o tema para dentro das empresas. Carlos Alberto acredita que o desenvolvimento sustentável é nada mais que a competitividade ao longo do tempo. “Empresas que adotam a sustentabilidade têm maiores chances de se manter no mercado”, afirmou. Para ele, essa política tem uma relação direta com a perenidade do negócio. Cláudio Boechat afirmou que o problema de inovação vai além das empresas e seria preciso formar líderes mais capazes para levar inovações aos negócios. “Para isso, deve-se inovar também em métodos e conteúdos educacionais que gerem mentalidades e ideias mais sustentáveis.” A inovação para a sustentabilidade, assim, depende de um novo modelo mental, além da inovação tecnológica. Ele também é de opinião que os países mais inovadores são aqueles que têm setores públicos norteando o mercado. “É o governo que puxa o barco, e não o setor empresarial. O desempenho da administração pública é essencial para inovar com sustentabilidade, e nesse sentido é fundamental ter políticas como a de Resíduos Sólidos.”. Em sua visão, as empresas carecem de inovação em setores-chave, como saúde, educação, habitação etc. “Por isso digo que é preciso mudar a mentalidade empresarial para o que costumamos chamar de liderança mentalmente responsável.” Para Ricardo Correa, além de políticas públicas, é a excelência da gestão nas empresas que vai fazer a diferença na hora de inovar. “O grande desafio é cultural, muito mais que tecnológico”, afirmou. “Mas será difícil vencermos esse desafio. A educação básica no país deixa muito a desejar.” Foto: Fernando Manuel Fernando Reinach vê a inovação tecnológica como uma faca de dois gumes. “As coisas que a gente mais preza são as que nos trouxeram até aqui, que deram sentido ao que vivemos hoje”, explicou. Inovar para a sustentabilidade, segundo ele, é algo que depende muito das opções que fazemos, depende de nos liberarmos desse instinto animal de consumo exagerado, e isso, do ponto de vista biológico, não é normal, mas racionalmente é. A inovação permite ao homem escolher que rumo seguir, cada nova tecnologia abre um leque de opções. “Mas a inovação em si vai continuar sendo uma faca de dois gumes, o que diferencia são as escolhas”, finalizou Reinach. Fernando Reinach 13 Foto: Fernando Manuel Os impactos de um novo código florestal Da esquerda para a direita: Elizabeth de Carvalhaes, André Nassar, Ricardo Ribeiro Rodrigues, Eliziário Toledo e Raul Silva Telles Objetivo: Discutir a proposta de alteração do Código Florestal aprovada na Câmara Federal e em discussão no Senado. Para discutir o tema foram convidados quatro expositores, representando os setores empresarial, acadêmico e da sociedade civil: Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa); Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP); André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) e coordenador da RedeAgro; Eliziário Toledo, assessor de meio ambiente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). A moderação do painel foi conduzida por Raul Silva Telles do Valle, coordenador adjunto do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA). A proposta de alteração do Código Florestal, aprovada na Câmara, chegou ao Senado com os mesmos dilemas que causaram meses de debates acalorados principalmente entre ruralistas, ambientalistas e governo. A expectativa dos debatedores e do público é de que nos próximos meses se viabilize a construção de uma proposta que contemple alguns dos pontos mais polêmicos da lei, como as Áreas de Reserva Legal (ARLs), as Áreas de Preservação Permanente (APPs), a anistia das multas aplicadas até 2008 e a dispensa da reposição florestal de áreas inferiores a quatro módulos fiscais. Diante desses dilemas, e considerando a contraposição de duas visões sobre o crescimento da produção agropecuária baseada, por um lado, na incorporação de novos territórios (base do argumento dos grupos de apoio à nova legislação) e, por outro lado, na expansão da produtividade agropecuária com a incorporação de ciência e tecnologia (base da argumentação de cientistas e ambientalistas), os participantes desse painel expuseram suas opiniões e seu conhecimento em relação às propostas de alteração do PL. Durante sua apresentação, André Nassar, coordenador da RedeAgro, defendeu a criação de incentivos para a preservação de áreas privadas como primordial para que o Código seja um instrumento aplicável. A questão do cadastro e a necessidade de legalizar as propriedades também foram defendidas por ele. “O Brasil precisa ter um cadastro de extensão nacional para controlar o que acontece nas terras. É preciso oferecer oportunidades para agricultores entrarem na legalidade.” Para Elizabeth de Carvalhaes, mudanças no Código Florestal devem incorporar estímulos a propriedades que mantêm ARLs e APPs. “Atualmente, os incentivos econômicos são modestos. A legislação deve permitir a compensação, seja tributária, seja de qualquer outra forma, para tornar mais viável a preservação das áreas de matas.” O moderador Raul Silva Telles do Valle, por sua vez, acredita que a legalização implica flexibilidades. “A anistia gera uma cultura de que não é preciso cumprir as leis ambientais. Quem desmata vai ficar confiante de que no futuro sempre haverá uma lei que o exima dos erros do passado.” Outro aspecto levantado no painel diz respeito à produtividade das terras agrícolas. Para Ricardo Ribeiro Rodrigues, alguns pontos da reforma do Código Florestal estão ligados também à política agrícola nacional. “Dos 275 milhões de hectares utilizados pelo setor produtivo rural brasileiro, 211 milhões são pastagens. E a produtividade geral por hectare é muito baixa.” Em sua opinião, essas terras CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 14 de alta produtividade poderiam ser revertidas para a produção de alimentos. A questão da agricultura familiar, por sua vez, merecia ter um capítulo à parte no texto, para Elizário Toledo. No Código Florestal, não existe distinção entre donos de terra de 50 mil hectares ou 10 mil hectares. “A agricultura familiar não pode ser tratada da mesma forma que as grandes propriedades direcionadas para exportação”, afirmou. Ponto comum entre os expositores: o pagamento por serviços ambientais que geram compensações para aqueles que ajudam a conservar a vegetação é um instrumento que deveria fazer parte do novo texto. Os debates também mostraram que ainda está distante um consenso em relação aos critérios para uso da terra e aos limites da preservação ambiental para manutenção dos serviços ambientais e da resiliência regenerativa dos biomas. Comitê Paulista em Defesa das Florestas contra o projeto do Código Florestal, que deverá entrar na pauta do Senado ainda neste ano. Durante o painel, foi distribuído o “Manifesto em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável”, um abaixo-assinado lançado pelo Entre os posicionamentos constantes nesse manifesto, está o de que “devemos usar, sim, nossos recursos naturais, mas de maneira sustentável, ou seja, com o conhecimento, os cuidados e técnicas que evitam sua destruição pura e simples. Portanto, é necessário aproveitar a discussão do Código Florestal para avançar na construção do desenvolvimento sustentável”. “ Atualmente, os incentivos econômicos são modestos. A legislação deve permitir a compensação, seja tributária, seja de qualquer outra forma, para tornar mais viável a preservação das áreas de matas ” O Comitê, que reúne 97 organizações, entre as quais CNBB, OAB, Instituto Ethos, SOS Florestas e CUT, e lidera a campanha nacional de mobilização #Florestafazadiferença, convoca a sociedade brasileira a se unir a esse desafio, contribuindo para a promoção do debate e a apresentação de propostas, de modo que o Senado tenha a seu alcance elementos para aprovar uma lei à altura do Brasil. Durante o debate, o moderador do painel fez a seguinte consulta ao público: Sou favorável a usar recursos públicos para apoiar a proteção de florestas pelos proprietários rurais? 47% 31% 6% 11% Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Foto: Marcio Bulhões+ Sem opinião Discordo Parcialmente Discordo Elizabeth de Carvalhaes 5% 15 Foto: Marcio Bulhões+ Empresas e direitos humanos Da esquerda para a direita: Antonio Jacinto Matias, Juliana Monteiro, Liesel Filgueiras e Caio Magri Objetivo: Realizar um debate sobre as responsabilidades e oportunidades do setor empresarial para o respeito e a promoção dos direitos humanos. Participaram do debate a advogada da área de responsabilidade social do escritório Mattos Filho Advogados, Juliana Monteiro; Liesel Filgueiras, gerente-geral de responsabilidade social corporativa da Vale; Caio Magri, gerente executivo de políticas públicas do Instituto Ethos; e como moderador Antonio Jacinto Matias, vice-presidente da Fundação Itaú Social e diretor executivo do Instituto Itaú Cultural. Também foram convidados para o debate a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, que infelizmente não puderam comparecer por problemas no tráfego aéreo no dia. No contexto social e político brasileiro de crescimento econômico e de avanços no campo social, os desafios para a garantia dos direitos humanos de boa parte da população ainda são enormes, e as empresas podem assumir um papel fundamental e protagonista nessa agenda, como adotar uma postura preventiva em relação a possíveis violações de direitos humanos e uma postura proativa no combate ao trabalho escravo nas cadeias de valor e na promoção da diversidade no quadro de funcionários. A advogada Juliana Monteiro, que esteve envolvida no desenvolvimento do trabalho do representante especial das Nações Unidas para o tema Empresas e Direitos Humanos, John Ruggie, realizou uma introdução a respeito do tema, trazendo o histórico das discussões sobre as responsabilidades e o papel das empresas sobre os direitos humanos. Esse debate veio à tona na década de 1990, quando a atuação e o poder de empresas multinacionais em todo o mundo ganharam grande dimensão, com o faturamento de algumas delas maiores que o PIB de diversos países. De lá para cá, houve alguns avanços nessa temática, com o surgimento de iniciativas das empresas para a promoção da responsabilidade social e seu envolvimento em agendas importantes em todo o mundo. No âmbito das Nações Unidas, as principais ações foram a criação do Pacto Global e a instituição do mandato de John Ruggie como representante especial para o tema, originando o relatório que estabelece padrões internacionais para o escopo das responsabilidades das empresas em relação ao respeito aos direitos humanos em todo o mundo. Juliana também destacou a importância de as empresas estarem atentas aos tratados e convenções internacionais de direitos humanos, desenvolvendo políticas e práticas para cumpri-los em sua atuação, monitorando constantemente seus impactos negativos e riscos, com a garantia do acesso de eventuais vítimas a mecanismos eficazes de remediação. Já a intervenção de Liesel Filgueiras trouxe o olhar do setor empresarial, em especial o da Vale, para essa temática. A companhia vem trabalhando ativamente na promoção dos direitos humanos. Participou, inclusive, de um grupo-piloto de empresas para aplicação dos princípios do John Ruggie. Liesel falou a respeito das políticas e práticas da Vale para o respeito aos direitos humanos, tendo em vista a necessidade do envolvimento de todos na empresa, desde a alta direção até os funcionários na ponta da operação. Liesel deu destaque para a recém-implementada política de direitos humanos da Vale, com desdobramentos na capacitação de todos os funcionários para que a apliquem no desempenho de suas funções. Também citou o trabalho desenvolvido para diminuir o número de seguranças armados da empresa e a capacitação desses funcionários para o respeito aos direitos humanos em sua atuação na proteção do patrimônio. Liesel também apresentou CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 16 as políticas para avaliação prévia dos impactos negativos e riscos para a instalação de novos empreendimentos, bem como para a atuação da empresa em comunidades tradicionais e indígenas. Caio Magri trouxe um olhar da sociedade civil para o tema, por meio da agenda com a qual o Instituto Ethos vem trabalhando desde sua fundação, como o combate ao trabalho escravo e as iniciativas, em parceria com a Inter-American Foundation (IAF), para a promoção da diversidade de raça e gênero dentro das empresas, com a publicação de estatísticas e guias para adoção de práticas empresariais nesses temas. Também apresentou o Grupo de Trabalho Empresas e Direitos Humanos, iniciativa que aglutinará os esforços da organização nesse tema e será focada no desenvolvimento de “ As empresas podem assumir um papel fundamental e protagonista nessa agenda, como adotar uma postura preventiva em relação a possíveis violações de direitos humanos e uma postura proativa no combate ao trabalho escravo nas cadeias de valor e na promoção da diversidade no quadro de funcionários ” práticas empresariais e na influência de políticas públicas para o respeito aos direitos humanos e, especificamente, na promoção da agenda do trabalho decente. Participam atualmente do GT as empresas BP, CPFL Energia, Eletrobras, Itaú Unibanco, Mattos Filho Advogados, Santander, Syngenta, Wilson Sons e Vale. No debate realizado entre os palestrantes, discutiuse a importância de as empresas respeitarem os direitos humanos mesmo em contextos políticos em que o estado democrático de direito é falho, ou mesmo inexistente. Juliana citou o caso da Toyota em Mianmar (antiga Birmânia). Ao realizar a avaliação prévia dos impactos negativos e riscos para a implantação de suas operações no país, a empresa decidiu suspender o projeto, pelo alto risco de envolvimento com graves violações de direitos humanos, já que o país vive sob um regime ditatorial severo. Foto: Fernando Manuel Também se discutiu a necessidade de promoção da diversidade nas empresas, sobretudo no Brasil, onde a população negra enfrenta grande dificuldade de acesso a melhores cargos e salários no mercado de trabalho. Os debatedores chegaram ao consenso de que as empresas podem desempenhar papel fundamental na promoção da equidade e inclusão das pessoas negras, combatendo o preconceito e desenvolvendo ações positivas nos processos de contratação e de gestão de pessoas dentro das organizações. Liesel Mack Filgueiras 17 As perguntas feitas à plateia trouxeram igualmente contribuições quanto ao papel das empresas em relação aos direitos humanos. A maior parte do público presente ao debate acredita que políticas públicas mais robustas são necessárias para regulamentar a atuação das empresas, como pode ser observado nas pesquisas a seguir, realizadas com o público: As empresas brasileiras deveriam ser obrigadas a prestar contas à sociedade, tornando públicas suas políticas e práticas de promoção dos direitos humanos nos negócios? 77% A existência de um estado democrático é précondição para se exigir das empresas políticas e práticas de respeito dos direitos humanos? 50% 14% 3% 49% 5% 3% A posição do Brasil em relação aos direitos humanos comparativamente ao cenário global é: 47% 34% 8% 2% 3% 2% 3% Concordo Plenamente Concordo Plenamente Excelente Concordo Parcialmente Concordo Parcialmente Boa Sem opinião Sem opinião Ruim Discordo Parcialmente Discordo Parcialmente Péssimo Discordo Discordo Quando eu tomo conhecimento da violação de algum direito, atuo, procurando uma solução? Qual é o impacto potencial do legislativo em relação às empresas na questão dos direitos humanos? 38% 22% 47% Sim Não 34% 26% 12% 6% Nossa legislação é suficiente para orientar a atuação das empresas em relação aos direitos humanos? 13% 2% Muito grande Sempre Grande As vezes Moderado Raramente Pequeno Nunca Nulo 22% 78% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 18 Foto: Clóvis Fabiano Financiamento da nova economia Da esquerda para a direita: Luiz Ros, Reginaldo Ferreira Alexandre, Marco Antônio Fujihara e Antônio Moraes Neto Objetivo: Debater os tipos de ação com os investidores, os programas de fomento e as políticas de incentivo e crédito que ampliam a competitividade e os investimentos em novos modelos de negócio, bem como as tecnologias e produtos de uma economia includente, verde e responsável. O painel contou com os seguintes palestrantes: Antônio Moraes Neto, sócio e cofundador da Vox Capital; Luiz Ros, gerente de oportunidades para a maioria do Banco Interamericano de Desenvolvimento; Marco Antônio Fujihara, diretor da Keyassociados; e moderação de Reginaldo Ferreira Alexandre, presidente da Apimec São Paulo. As instituições financeiras têm um papel decisivo na transição para uma nova economia, criando serviços financeiros que estimulem a inovação, a sustentabilidade e a inclusão social. Avanços importantes já foram dados pelos bancos brasileiros nessa direção. O mercado financeiro brasileiro é um dos menos vulneráveis do mundo e já incorpora padrões internacionais de sustentabilidade. Mas há, por outro lado, um grande desafio a ser superado: as elevadas taxas de juros do país. Qual o melhor caminho para financiar a nova economia foi o tema desse painel. O debate ocorreu num contexto de grandes expectativas quanto ao futuro das economias globais. A crise econômica dos países europeus e as dificuldades políticas e econômicas nos Estados Unidos já colocam a economia brasileira em dificuldades. Esse cenário reforça a importância da discussão sobre uma nova economia e sobre o papel das instituições financeiras. Para Antônio Moraes, uma das principais conclusões do debate é que instituições financeiras podem dar uma grande contribuição para a inclusão social. Para Luis Ros, um dos maiores desafios é a busca de novos modelos de negócios para incluir a população mais vulnerável. O estímulo a “negócios inclusivos” é um dos caminhos que estão sendo apoiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As instituições financeiras precisam inovar. Pequenos empreendimentos necessitam de outros serviços, além de empréstimos. como garantias parciais de crédito, consultoria, capacitação. Em Guarulhos, por exemplo, o grupo Tenda Atacado, com financiamento do BID, oferece crédito e capacitação para pequenos empreendedores de produção de alimentos das classes D e E. Outro exemplo são as Empresas Públicas de Medellín, que investem em eficiência energética para populações de baixa renda, o que ajuda a minimizar impactos ambientais negativos e, ao mesmo tempo, a reduzir custos para as famílias. Marco Fujihara mostrou como a abordagem multistakeholder é essencial na geração de valor para os negócios e para a sociedade. É possível alinhar os negócios ao desenvolvimento de uma nova economia, com inclusão social e sustentabilidade. Além disso, ele ressaltou a importância da criatividade, da inovação e do desenvolvimento de novos produtos. Pequenos fundos também estão indo nessa direção, caso do Vox Capital, apresentado por um de seus fundadores e sócio, Antonio Moraes Neto. O fundo de impact investing está investindo na rede de lan houses CDI Lan e transformando-as em centros de inclusão digital, formação profissional e acessos a serviços financeiros para baixa renda. A empresa faz parceria com o Itaú, para as lan houses atuarem como correspondentes bancárias e ofertar crédito, microcrédito e crédito consignado; com a Microsoft, para oferecer pacotes Office com preço diferenciado, que consegue gerar maior inclusão digital; e com a Coca-Cola, para fazer qualificação profissional de jovens das comunidades. Essa experiência é um exemplo prático do conceito 19 desenvolvido por Antônio Moraes e seus colegas da FGV, o conceito de setor dois e meio, um novo segmento que surja da aproximação de empresas com ONGs, superando a grande dificuldade que tem o terceiro setor de conseguir escala para impactos sociais positivos, seja por causa do modelo econômico, seja pela falta de modelo econômico na gestão das organizações sociais. Segundo o sócio da Vox Capital, é possível causar impacto social na redução da pobreza e ter, ao mesmo tempo, um modelo de negócio lucrativo. Esse é um dilema, no entanto, constantemente presente nos fundos privados. É preciso desenvolver mecanismos capazes de alinhar o retorno financeiro ao desempenho social. A Vox Capital criou uma forma de atrelar a taxa de sucesso como gestora “ As instituições financeiras têm um papel decisivo na transição para uma nova economia, criando serviços financeiros que estimulem a inovação, a sustentabilidade e a inclusão social ” do fundo ao impacto social e ao retorno financeiro. A taxa de sucesso está relacionada tanto com o retorno financeiro quanto com o impacto social do fundo. No caso do Climate Investment Fund, está ligada às reduções de dióxido de carbono. Um dos problemas levantados no debate é a baixa penetração do microcrédito. O Brasil conta com um dos melhores sistemas bancários do mundo em termos tecnológicos, de eficiência e de capilaridade, mas tem 40 milhões de pessoas que estão excluídas do acesso a uma conta bancária, ao crédito. Fortalecer parcerias entre setor público, empresas privadas e comunidades pode ser um caminho para ampliar os impactos sociais positivos e a escala dos investimentos em negócios inclusivos e sociais. Apesar de existirem iniciativas privadas bemsucedidas de investimentos em negócios inclusivos no Brasil, para a maioria dos participantes do painel, o governo tem um papel decisivo. Durante o debate entre os expositores, o moderador do painel fez a seguinte pergunta: Qual é a influência de subsídios governamentais nos negócios sociais e inclusivos? 31% 28% 25% 13% 3% Muito Grande Grande Moderado Foto: Clóvis Fabiano Pequeno Nulo Luiz Ros CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 20 Foto: Clóvis Fabiano Energia Da esquerda para a direita: Pedro Bara Neto, Ildo Luis Sauer, Marcelo Furtado, Augusto Rodrigues e Ricardo Abramovay Antônio Moraes Neto Objetivo: Refletir sobre a matriz energética que melhor explora o potencial das fontes limpas e renováveis do Brasil e, ao mesmo tempo, atende à demanda energética necessária para sustentar o crescimento da economia. Para discutir o tema foram convidados quatro debatedores, que apresentaram distintas visões sobre o tema e participaram de uma discussão moderada por Pedro Bara Neto, líder da estratégia de infraestrutura da Iniciativa Amazônia Viva, da rede WWF. O diálogo iniciou-se com Augusto Rodrigues, do Grupo CPFL Energia, que expôs o ponto de vista empresarial na transição para modelos de geração cada vez menos emissores e mais includentes. Em seguida, Ildo Luis Sauer, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, discutiu a demanda brasileira vis-à-vis um modelo de crescimento includente e verde. Logo após, Marcelo Furtado, do Greenpeace Brasil, provocou, com o ponto de vista do movimento ambientalista sobre a matriz e o potencial energético brasileiro. Por último, o painel de Energia contou com o esclarecimento de Ricardo Abramovay, da FEA/ USP, que tratou do novo momento da economia, menos intensivo em energia tanto nos processos produtivos quanto nos hábitos do consumidor. O painel aprofundou as discussões sobre a nova economia a partir de reflexões sobre as mudanças necessárias nos modelos de produção, consumo e regulação energética no país, de modo a garantir a manutenção do equilíbrio da matriz energética total e a ampliação do potencial renovável da matriz elétrica. Como o Brasil poderia explorar o potencial das fontes limpas e, ao mesmo tempo, atender à demanda energética necessária para sustentar o crescimento da economia? Para isso, é preciso enfrentar a questão do diálogo entre os vários atores na discussão e implementação de estratégias energéticas. Em um mundo no qual a matriz energética total é 80% derivada de fontes fósseis, o Brasil desponta com uma matriz energética total 47% renovável e uma matriz elétrica com 83% de composição renovável. Além disso, o país tem um amplo potencial de crescimento nas principais fontes renováveis (hidrelétrica, eólica, solar e de bioeletricidade) e tecnologia própria em biocombustíveis. Nossas matrizes energéticas total e elétrica representam, portanto, importante diferencial competitivo, tornando os produtos brasileiros mais “limpos” e, dessa forma, mais desejados no mercado internacional. Expandir a oferta de energia – atendendo ao crescimento dos mercados interno e externo –, manter e ampliar o aspecto renovável das matrizes e assegurar a modicidade tarifária são desafios para o país. Os viabilizadores desse novo desenho são a ampliação dos estímulos regulatórios e fiscais à geração de energias renováveis e o aprofundamento do diálogo nacional sobre qual matriz energética queremos e podemos ter. Interesses e visões das diversas esferas governamentais, do setor privado e dos movimentos sociais e ambientalistas precisam ser debatidos com a frequência e profundidade exigidas por esse tema, central e decisivo para o país e para o mundo. Monitorar o carbono na cadeia produtiva, investir em eficiência energética e no consumo consciente, conquistar políticas tecnológicas inovadoras, mobilizar a sociedade e estimular as mudanças culturais e comportamentais necessárias são alguns elementos essenciais que só serão atingidos por meio desse imprescindível diálogo. As exposições e debates evidenciaram que a questão que mais preocupa é como manter as altas porcentagens brasileiras de matriz energética renovável nas próximas décadas. Augusto Rodrigues aponta três principais desafios para o tema. O primeiro considera o preço da energia, que é, em média, o dobro do preço da energia mundial e pode prejudicar a vantagem competitiva do Brasil, levando 21 empresas energeticamente intensivas a buscar outros países para suas operações. O segundo desafio é suprir a demanda por energia, um bem que permite acesso a todos os outros, das classes sociais emergentes, e vem sendo viabilizado, na atual condição brasileira, por um sistema hídrico-térmico. Pedro Bara Neto apontou também o avanço que essa demanda está forçando na Amazônia, onde são feitas licitações, caso a caso, de hidrelétricas, sem uma visão integrada. Por conta dessa pressão em relação às hidrelétricas, empresas de energia como a CPFL tiveram de “investir em térmicas por segurança. Mas é bom frisar: há grande capacidade de geração Na questão da crescente demanda por energia, Furtado defende uma diversificação da matriz brasileira, descentralizando-a e pulverizando-a, tecnológica e regionalmente, criando um sistema seguro e confiável a partir da biomassa de cana, que poderia ser estimulada pelo governo”, explicou Rodrigues. Isso o levou a abordar o terceiro desafio: a questão dos estímulos governamentais às energias renováveis, que direcionariam o fornecimento de energia brasileiro. Para Marcelo Furtado, no entanto, esses desafios representam oportunidades para o país. Ele adiciona o aspecto cidadania ao debate, lembrando a audiência de seu papel como consumidor responsável e influente nas decisões políticas nacionais, que incluem a discussão do preço da energia. Na questão da crescente demanda por energia, Furtado defende uma diversificação da matriz brasileira, descentralizando-a e pulverizando-a, tecnológica e regionalmente, criando um sistema seguro e confiável. Sauer apontou dados do IBGE que preveem a estabilização da população em cerca de 220 milhões de brasileiros em 2043. Dobrando o consumo energético atual, o Brasil poderá atender a essa demanda com 70% do potencial hidráulico remanescente e 50% do potencial eólico, cujos custos são decrescentes. “De maneira que, complementando hidráulica com eólica e com cogeração de bagaço de cana, de outras fontes térmicas como gás natural e outros resíduos da biomassa, poderíamos manter a trajetória de sustentabilidade”, complementou. Marcelo Furtado foi além, apresentando relatórios de sua organização que projetaram uma matriz brasileira para 2050. Levando em consideração as tecnologias existentes hoje, essa matriz asseguraria ao país 92% de energia renovável em meados deste século. Para Furtado, faltam no Brasil “visão e ambição energéticas”. Em sua opinião, o país é capaz de se colocar em uma posição de liderança no tema, contando, para isso, com políticas públicas que garantam ao consumidor o poder de escolha de sua fonte de energia e com indutores estaduais, por meio do BNDES. “Do mesmo jeito que na década de 70 se falava que a paz era o debate mais importante para a sobrevivência da raça humana, hoje eu diria que o meio ambiente é o grande paradigma de sobrevivência da sociedade”, finalizou Furtado. Procurando envolver os participantes no debate, o moderador elaborou as seguintes perguntas: Você gostaria de ter liberdade de decidir de quem comprar sua energia elétrica(fornecedor/fonte)? Sim Não 0% 100% Você acha de o Brasil deve autorizar a exploração de petróleo em Abrolhos Sim Não 10% 90% Foto: Clóvis Fabiano Deve-se coordenar o ritmo de produção de petróleo com os investimentos em educação. saúde e preservação de meio ambiente? Sim Não Marcelo Furtado 92% 8% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 22 Foto: Clóvis Fabiano Biodiversidade Da esquerda para a direita: José Luciano Penido, Cláudio Maretti, Helena Pavese, Rodolfo Guttilla e Manoel da Cunha Objetivo: Identificar as contribuições que as empresas e as organizações dos trabalhadores e da sociedade civil podem dar para o aperfeiçoamento das políticas públicas e a implementação no Brasil dos objetivos e metas para 2020 do Plano Estratégico da Convenção da Biodiversidade (CDB). Para discutir o tema, estavam presentes a gerente de política ambiental da Conservação Internacional (CI), Helena Pavese, e o líder da Iniciativa Amazônica do WWF, Cláudio Maretti, que fizeram uma apresentação inicial de contextualização e problematização do tema. Em seguida, com a moderação de José Luciano Penido, três convidados debateram as oportunidades e desafios colocados para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e deram contribuições para o aperfeiçoamento das políticas públicas e a implementação no Brasil das Metas de Aichi. Foram eles: o secretário nacional de Florestas e Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bráulio Dias; o presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Manoel da Cunha; e o diretor de assuntos corporativos e relações governamentais da Natura, Rodolfo Guttilla, representando o Movimento Empresarial pela Biodiversidade (MEB) e o setor empresarial. Nesse sentido, foram previamente encaminhadas aos palestrantes algumas perguntas. Qual é o impacto do novo Código Florestal no cumprimento dos objetivos e metas desse plano? Quais são os avanços das atuais políticas públicas? Como reduzir os impactos das atividades tradicionais (agricultura, pecuária, silvicultura e piscicultura) sobre as florestas e os ecossistemas? Como aumentar a competitividade das atividades econômicas que promovam a conservação e o uso sustentável da biodiversidade? Como dar escala às iniciativas de pagamento dos serviços ecossistêmicos? Que boas práticas devem ser disseminadas? No Brasil, país detentor da maior floresta tropical ainda preservada, com cerca de 20% de toda a diversidade de vida da Terra, a valoração da biodiversidade desponta como um dos principais desafios do modelo econômico atual. Incorporar a biodiversidade como valor, inseri-la nos processos econômicos e mediar os conflitos entre a preservação e os múltiplos usos do solo são questões estratégicas na transição para uma nova economia includente, verde e responsável. Para tanto, é essencial conjugar as políticas relacionadas à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade com as demandas de crescimento econômico, por meio da redução de impactos ambientais negativos, do aumento da competitividade de atividades sustentáveis e da precificação de serviços ecossistêmicos. Esse painel dedicado à Biodiversidade buscou, assim, identificar os desafios e dilemas a serem equacionados para o aperfeiçoamento das políticas públicas e a implantação no Brasil das Metas de Aichi. No debate, foram considerados dilemas como os impactos do novo Código Florestal, das atividades tradicionais (agricultura, pecuária, silvicultura e piscicultura) e da construção de barragens, para geração de eletricidade, sobre as florestas e os ecossistemas. Esse painel consolidou a importância da criação de metas nacionais sobre biodiversidade, cinco dias após o encontro de líderes empresariais de todo o país com representantes do governo na primeira reunião setorial dos Diálogos sobre Biodiversidade: Construindo a Estratégia Brasileira para 2020. Essa iniciativa tem como objetivo a nacionalização das Metas de Aichi, bem como a necessidade de o setor privado e a sociedade assumirem compromissos frente ao tema. Para o secretário do MMA, Bráulio Dias, a sociedade ainda não possui consciência da gravidade do processo de colapso da biodiversidade, como a perda de florestas, do solo, dos recursos pesqueiros ou da oferta de água. Em suas próprias palavras: “Somos o ‘G1’ da biodiversidade, mas estamos dilapidando esse potencial, em vez de darmos centralidade ao tema, com incentivos econômicos corretos.” As Metas de Aichi são um importante referencial para o 23 futuro, mas devem ser internalizadas por todos. Helena Pavesi, da CI, lembra que essa incompreensão resultou na perda de 35% dos mangues do planeta, na total extinção das florestas em 25 países e na completa degradação de 50% das áreas úmidas da Terra. Do mesmo modo, 30% dos recifes de corais do mundo chegaram a um ponto em que a recuperação é impossível. “ Somos o ‘G1’ da biodiversidade, mas estamos dilapidando esse potencial, em vez de darmos centralidade ao tema, com incentivos econômicos corretos ” Na opinião de Cláudio Maretti, “o modelo que temos hoje é contra a biodiversidade, e tanto o governo como as empresas deveriam olhar a biodiversidade como uma oportunidade de negócio”. O líder da Iniciativa Amazônica do WWF enumerou providências básicas e urgentes: investimento no desenvolvimento do valor econômico da floresta e dos ecossistemas, mecanismos de compensação para quem não desmata (item que o Código Florestal não prevê), além da valorização dos ativos da floresta. E mostrou- se otimista em toda a sua participação, afirmando que o Brasil é o país que mais reduziu emissões de carbono associadas ao desmatamento, o que nos leva a prever desmatamento zero até 2020. Rodolfo Gutilla, representante do MEB, afirmou que o evidente valor da biodiversidade para o bemestar humano e as vantagens competitivas do Brasil para o desenvolvimento sustentável não são acompanhados de mecanismos de incentivo ao uso dessa biodiversidade no país. Criticou a atual Medida Provisória (MP) 2.186-16/01, de acesso ao patrimônio genético, e a morosidade dos processos de autorização. “Enquanto se estima haver 1,8 milhão de espécies no Brasil, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético liberou somente 25 autorizações de acesso em 2010. Como explicar aos acionistas que o governo leva 17 meses para aprovar uma autorização de acesso ao cacau ou à andiroba?” Após essa análise, Rodolfo ficou entusiasmado com a manifestação do secretário Bráulio Dias, que disse reconhecer que a legislação brasileira está a merecer um item específico que contemple o acesso das empresas ao patrimônio genético. A relação entre negócios e biodiversidade vem sendo internalizada pelas empresas, segundo Helena Pavese, que citou estudo da consultoria McKinsey: 53% dos CEOs de grandes empresas se preocupam com as perdas de biodiversidade. “Mas essas organizações devem trabalhar no sentido de identificar seus impactos negativos, gerenciar riscos e abraçar as oportunidades em conjunto com outros setores.” E revelou, como bons exemplos, que empresas como a Coca-Cola já se comprometem a retornar à natureza a quantidade de água equivalente à usada em suas bebidas e a Danone pretende alcançar a neutralização do carbono embutido na maioria de seus produtos até final de 2011. Apenas 29% das empresas presentes na plateia (gráfico ao final) sempre consideram a biodiversidade em suas operações/investimentos, demonstrando que, apesar dos avanços e da preocupação com as perdas, ainda há um longo caminho para que a biodiversidade seja integrada à estratégia de negócios da maior parte das empresas. O desafio é assegurar que o valor dos recursos naturais e dos serviços ecossistêmicos seja considerado na contabilidade nacional e global, bem como na gestão financeira da produção. Foto: Clóvis Fabiano Para Manoel Cunha, do CNS e morador da Resex Médio Juruá, a manutenção da biodiversidade é determinante para os povos da floresta, que dependem dos recursos naturais para sua sobrevivência. Daí a importância de políticas públicas voltadas “aos 80% do território amazônico protegidos pelo Código Florestal, e não aos 20% desmatados para atividades econômicas convencionais”. Cunha ressaltou ainda que atividades conservadoras da floresta mereceriam maior valor na economia e nas políticas públicas. O desafio é encontrar valores econômicos que contemplem a sobrevivência das populações extrativistas e representem vantagem para investidores. ”O extrativista é um caboclo que depende não só de políticas públicas, mas precisa de orientações técnicas diferenciadas sobre como lidar com as culturas, precisa aprender a tratar com os mercados e obter compensações para desenvolver uma atividade em harmonia com o meio ambiente”, afirmou Cunha. Braulio Dias CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 24 O moderador fez ainda as seguintes perguntas ao público: Qual será o impacto do plano estratégico sobre biodiversidade na competitividade da economia brasileira? Devemos ser ambiciosos e propor desmatamento ZERO para o Brasil? Você concorda com Chico Whitaker: é necessária uma mudança mais radical do que um economia includente, verde e responsável? 0% 31% 43% 46% 56% 17% 2% 38% 34% 0% 6% 7% 0% Muito grande Concordo Plenamente Muito grande Grande Concordo Parcialmente Grande Moderado Discordo Parcialmente Moderado Pequeno Sem opinião Pequeno Nulo Discordo Nulo Sua empresa / organização considera aspectos de biodiversidade nas suas operações / investimento 20% 0% Você ou sua empresa tem interesse em participar da definição de metas de biodiversidade no Brasil para 2020? Você estaria disposto a pagar mais por um produto que tenha menos impacto no meio ambiente? 34% Sim Não 29% 14% Sempre As vezes Raramente Nunca 23% 91% 9% Sim Não 81% 19% 25 Foto: Fernando Manuel Resíduos sólidos Da esquerda para a direita: Fernando von Zuben, Henrique Lian, Márcio Quintino, Silvano Silvério, Edison Castro Martins, Roberto Laureano da Rocha, Eugênio Deliberato e Lucien Belmonte Objetivo: Tratar dos principais desafios para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e discutir questões relacionadas à viabilização dos acordos setoriais para estabelecer a logística reversa e como efetivar a coleta seletiva e a reciclagem nos municípios. Para discutir esse tema foram, inicialmente, convidados quatro expositores, que apresentaram os principais desafios para a implantação da PNRS, em um debate mediado por Henrique Lian, gerente executivo de relações institucionais do Instituto Ethos. Os expositores foram Eugênio Deliberato, da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, sobre os avanços e dificuldades do setor de pneus; Fernando von Zuben, da Tetra Pak América Latina, com a visão da indústria de embalagens; Lucien Belmonte, da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro, que abordou a questão do vidro sob a perspectiva da PNRS; e Márcio Quintino, da Philips do Brasil, com os desafios à logística reversa de pilhas, baterias e lâmpadas. Em um segundo momento, quatro debatedores comentaram as exposições, estabelecendo um diálogo construtivo e esclarecedor a partir da experiência em sua área de atuação. Edison Castro Martins, da Confederação Nacional dos Municípios, apresentou os desafios para a gestão municipal de resíduos sólidos; Vitor Bicca, do Compromisso Empresarial pela Reciclagem, a visão empresarial sobre as oportunidades e desafios da nova política; Roberto Laureano da Rocha, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, a visão dos catadores e a importância da colaboração entre as partes envolvidas no processo; e Silvano Silvério, do Departamento de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, a visão do governo. Empresas, governos e consumidores têm o desafio de entender o que significa o termo “responsabilidade compartilhada”, presente na nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que precisa de um forte empenho coletivo para sua plena implantação. Para atingir os objetivos da lei, será necessário que todos os envolvidos contribuam com ações para estabelecer a logística reversa para o destinamento correto de todas as classes de resíduos para a reciclagem. A nova lei exige que, no prazo de dois anos, sejam elaborados planos de resíduos sólidos em âmbitos nacional, estadual e municipal, que erradiquem os lixões. Esses planos devem apresentar metas de redução, reutilização e reciclagem. E a logística reversa deve ser estruturada de forma independente do serviço de limpeza urbana. Contudo, a nova legislação prevê acordos setoriais com governos para ampliação da coleta seletiva e ainda a possibilidade de remuneração do setor público pelas empresas, caso o Poder Executivo se disponha a operar o retorno dos materiais ao ciclo produtivo. A PNRS também prevê a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, assim como instrumentos de incentivos à criação e ao desenvolvimento de cooperativas nessa área. Uma das expectativas é que essa estrutura se converta em um verdadeiro negócio, capaz de oferecer ganhos de capital e benefícios trabalhistas, econômicos e sociais a toda a cadeia. Durante o debate, os expositores trataram das principais questões de viabilização do acordo setorial para implementar a logística reversa nas cidades brasileiras. O balanço geral sobre a PNRS foi positivo, a começar pelo caráter participativo de elaboração dessa legislação. No entanto, Eugênio Deliberato destacou que “o comprometimento da sociedade como um todo é o segredo e, ao mesmo tempo, no caso brasileiro, o gargalo para implementar a logística reversa nos municípios”. Roberto Laureano da Rocha vê CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 26 justamente nesse aspecto o grande mérito da lei, mas garante que a aprovação da política complicou a situação dos catadores. Apresentou um dado preocupante: “quase 30% dos municípios não dispõem de catadores, que são um ator fundamental para a logística reversa.” O Ministério do Desenvolvimento Social estima haver hoje um contingente entre 300 mil e 1 milhão. Mais de 80 mil estão incluídos em cooperativas ou associações, condição para fazer parte do processo. A dificuldade está em organizar o restante. Entendendo que o catador é o gerenciador oficial da logística reversa, Rocha declarou que “somos os atores principais no recolhimento de material reciclável e atuamos no processo como agentes ambientais. Recolhemos gratuitamente e precisamos receber por isso”. “ Quase 30% dos municípios não dispõem de catadores, que são um ator fundamental para a logística reversa ” Também o custo de todo o procedimento causa preocupação. “É preciso pensar em todas as etapas, como a coleta, a separação do lixo em sua origem, beneficiando a produção”, afirmou Lucien Belmonte, chamando a atenção para o fato de esse processo, além de implicar um custo alto, não ser algo simples, principalmente a depender do segmento em que ocorra. “Tem de haver uma política municipal forte uma condução mais enérgica e efetiva do Ministério do Meio Ambiente.” Foto: Marcio Bulhões No aspecto próprio da produção final na logística reversa, Victor Bicca reivindica “competição igualitária no mercado, com regras aplicadas a todos: fabricantes, importadores, comércio, varejo”. Ao que Fernando von Zuben acrescenta a necessidade de justiça tributária sobre produtos recicláveis: “Se uma garrafa é jogada no lixo, tem-se impacto ambiental; se é reciclada, cabe a toda a cadeia pagar, pois há custos. Não há mágica, mas matemática”. Roberto Laureano da Rocha 27 Organizar mais de 5 mil municípios, muitos deles com menos de 40 mil habitantes, é outro grande desafio. O público presente foi instado a dizer se concorda com o fato de as coletas serem assumidas pelos municípios: 21% manifestaram-se favoráveis, 42% apenas parcialmente e o restante de modo negativo. Edison Castro Martins foi um dos contrários. Essa obrigação, a seu ver, seria do setor industrial, que gerou esses produtos. “Se forem obrigados a esse custeio, os municípios terão de realocar recursos de áreas básicas como educação e saúde”. Ao ser perguntada sobre a possibilidade de essa política gerar milhões de empregos verdes, 87% da plateia concordou plena ou parcialmente com a perspectiva. Victor Bicca chamou a atenção para o fato de que “a lei levou 20 anos para ser gestada e só estamos com dez anos de discussões sobre sustentabilidade”. Naturalmente, há muito que avançar, mas, como declarou, “a própria presença de todas essas empresas aqui, comprometidas com o debate, demonstra estar havendo importantes mudanças de hábitos e discussões para que não se enverede por projetos equivocados”. A qualidade desse debate multissetorial evidenciou que a sociedade civil encontra-se em estágio de maturidade para um diálogo complexo em torno desse tema. Uma evidência disso foi a mudança de posicionamento da plateia à pergunta inicial do moderador. Na abertura do painel Henrique Lian perguntou aos participantes se acreditam que já temos, no Brasil, processos estruturados de diálogos sociais que permitam a negociação dos acordos setoriais. Apenas 13% das respostas foram afirmativas. Após as duas horas de exposições e discussões no painel, a mesma pergunta foi feita. As respostas afirmativas subiram para 56%. As seguintes perguntas foram feitas pelo moderador ao público do painel: A Política Nacional de Resíduos é uma das legislações mais avançadas e complexas da gestão de resíduos sólidos do mundo. Sua implementação. depende. por exemplo, de acordos setoriais para a logística reversa. Você acredita que já temos, no Brasil, processos estruturados de diálogos social que permitam a negociação dos acordos setoriais necessários à implementação da PNRS? Sim Não Como você se posiciona em relação a seguinte afirmação: “a PNRS deverá gerar milhões de empregos verdes, como os agentes ambientais de reciclagem e agentes ambientais selecionadores”? 77% 13% 87% 17% 2% 0% Os municípios devem ficar com os custos para coletar, transportar e armazenar os resíduos que fazem parte da logística reversa? 3% Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Sem opinião Sim, totalmente Sim, parcialmente Não 21% Discordo Parcialmente 69% Discordo 10% Posicione-se quanto à afirmação: “A queima dos resíduos sólidos (recuperação energética) é um procedimento alternativo à logística reversa”: 35% Quem faz a separação do lixo em sua casa? Uma pessoa Mais de 1 pessoa Ninguém 23% 61% 16% 25% 34% 4% Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Sem opinião Discordo Parcialmente Discordo 1% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 28 Foto: Marcio Bulhões Mudanças climáticas e os impactos na nova economia Da esquerda para a direita: Luiz Pinguelli Rosa, Izabella Teixeira, Jorge Abrahão, Paula Bennati e Tasso Azevedo Objetivo: Discutir os principais desafios para definir as metas setoriais decorrentes da implantação da Política Nacional sobre Mudança do Clima e como atingir a meta brasileira de redução de emissões. Para o painel foram convidados quatro palestrantes, representando quatro iniciativas distintas junto às empresas, apresentaram suas respectivas visões e propostas relativas aos desafios para a implantação da Política Nacional sobre Mudanças Climáticas e para atingir a meta brasileira de redução de emissões. Para esse momento, foram convidados, David Canassa, da Votorantim e representante do Fórum Clima; Paula Bennati, da Confederação Nacional da Indústria (CNI); Bárbara Oliveira, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (Gvces); e Marina Grossi, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Na segunda parte, três debatedores comentaram as exposições, trazendo suas visões e estabelecendo um diálogo mediado por Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos. Estavam presentes a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; Luiz Pinguelli Rosa, representante do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas; e Tasso Azevedo, consultor em questões de clima, florestas e sustentabilidade. A mudança global do clima está na pauta de países, empresas e indivíduos como o maior desafio do século XXI. Além de questão de sobrevivência de espécies, incluindo a humana, trata-se de um deflagrador de significativas mudanças nos modelos de produção e de vida. Ainda à espera de formas eficazes de governança – global e local –, o tema já provocou o surgimento de milhares de iniciativas, dispersas, mas com alto poder de inovação e transformação, que caminham para a consolidação de uma nova fase da economia. Países como o Brasil e a África do Sul representam importante contraponto. Com sua matriz elétrica 80% renovável, e contando também com uma das mais equilibradas matrizes energéticas totais, o Brasil vem despontando como possível liderança climática, especialmente após a significativa redução de emissões por desmatamento e a adoção de compromissos voluntários de redução de emissões durante a COP-15 (média de 38% até 2020). Esses avanços estão consubstanciados na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), sancionada em dezembro de 2009, e nos mecanismos de redução (NAMAS) que o país enviou à ONU em janeiro do ano seguinte. Para a ministra Izabella Teixeira, é preciso ter ousadia para tratar do tema. Ela citou “três grandes desafios: o controle do desmatamento; a definição de planos setoriais com uma agenda convergente entre as propostas estaduais e federal; e o mercado de carbono.” Tasso Azevedo acrescentou aos desafios citados pela ministra a necessidade de criação de “um sistema robusto de monitoramento anual das emissões e um modelo de governança que funcione”. “Ao contrário da nossa autoimagem, não somos um país próximo à economia de baixo carbono. Estamos muito longe”, comentou Azevedo. Ele lembra que, das 50 gigatoneladas de gases de efeito estufa emitidas mundialmente, o Brasil é responsável por 2 gigatoneladas, mas precisa baixar esse total para 0,4 gigatonelada até 2050. Para ele, o desafio é dividir a conta entre vários setores e, sobretudo, reduzir drasticamente as taxas de desmatamento. “Mudar profundamente os padrões de produção e consumo talvez seja a solução. As mudanças climáticas colocam ricos e pobres no mesmo 29 barco e, por isso, cooperar é preciso”, afirmou Luiz Pinguelli Rosa. “ Três grandes desafios: o controle do desmatamento; a definição de planos setoriais com uma agenda convergente entre as propostas estaduais e federal; e o mercado de carbono ” Marina Grossi vê com otimismo o cenário atual: “Avançamos muito desde a COP-15. Mitos foram quebrados e hoje o Brasil já tem uma série de iniciativas, como empregos verdes”. “O que é mensurável pode ser mitigado, mas não haverá mitigação de emissões sem gestão, sem diálogo e sem inovação”, ponderou Bárbara Oliveira. Em sua opinião, é preciso pensar além do clima, além das emissões. “Precisamos falar sobre o modelo de desenvolvimento que queremos.” Como desdobramento das discussões do painel, o Ethos, que realiza a Secretaria Executiva do Fórum Clima – iniciativa empresarial de combate às mudanças climáticas –, organiza em outubro uma reunião de trabalho com o Ministério do Meio Ambiente, com a presença da ministra Izabella Teixeira, do secretário Eduardo Assad e de secretários de Estado de Meio Ambiente. O propósito do encontro é trazer uma análise sobre as atuais legislações estaduais e federal sobre mudanças climáticas, ressaltando suas divergências e convergências, e criar um fio condutor entre elas, de forma a viabilizar a implementação da PNMC e o alcance da meta brasileira de redução de emissões. Foto: Fernando Manuel Paula Bennati acredita que o Brasil pode vir a ser um protagonista internacional. “Não estamos num momento de elevar custos nem tributos. Precisamos de mecanismos mais eficazes para avançar na agenda das mudanças climáticas”, avaliou a analista. O painel contou também com a apresentação de importantes iniciativas para a mitigação das mudanças climáticas. Davi Canassa citou as reuniões mensais realizadas pelas empresas que assinaram a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas. Segundo ele, o objetivo do fórum é debater, buscar propostas e elevar o tema a um novo patamar. “As empresas participantes acreditam que o setor empresarial pode contribuir para a transição para uma economia de baixo carbono.” Izabella Teixeira, Jorge Abrahão e Tasso Azevedo CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 30 Foto: Fernando Manuel Infraestrutura para a nova economia Da esquerda para a direita: Roberto Garibe, Celina Borges Torrealba Carpi e Marcio Wohlers de Almeida Objetivo: Debater o estado da infraestrutura brasileira do ponto de vista da transição para uma economia includente, verde e responsável. Para discutir esse tema estratégico foram convidados dois expositores, representando por um lado o setor público e, por outro, uma instituição de pesquisa: Roberto Garibe, diretor de infraestrutura do PAC, e Marcio Wohlers de Almeida, diretor de estudos e políticas setoriais de inovação, regulação e infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A moderação do painel foi conduzida por Celina Borges Torrealba Carpi, membro do conselho de administração da Libra Holding. de infraestrutura, uma vez que apenas 17% advém desse segmento. De maneira geral, a discussão foi em torno de quais seriam as mudanças inerentes à nova economia necessárias para ampliar os benefícios pretendidos pelos investimentos em infraestrutura já previstos no país, como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), entre outros. Com o agravante da dominância dos automóveis no modal de transportes urbanos, também salientado, o que agrava a emissão de poluentes e o deslocamento de pessoas e produtos. O crescimento do número de veículos nas grandes cidades é muito superior à expansão da infraestrutura, em função do acesso mais abundante ao crédito e da ascensão das classes sociais mais baixas. O transporte público continua precário e a frota de veículos de passeio convive com caminhões trafegando pelas principais vias para chegar aos portos e escoar mercadorias, uma vez que, no Brasil, 60% delas são movimentadas por rodovias. O painel iniciou-se com uma provocação da moderadora Celina Carpi, quanto à nossa infraestrutura atual ser um fator limitante ao desenvolvimento, afirmação corroborada pela plateia. Além disso, clamou pela maior participação do setor privado nos investimentos Em seguida, Marcio reafirmou que de fato a infraestrutura pode, sim, dificultar a velocidade de transição para a nova economia. Segundo ele, isso se deve principalmente à matriz de transportes, que, diferentemente da matriz energética, na qual o predomínio é de fontes renováveis, possui somente 15% das fontes de energia provenientes de fontes limpas. Na opinião de Marcio, para superar os gargalos atuais, o Brasil terá de alterar alguns princípios em relação à sua matriz de transportes: encurtar viagens, integrar modais, planejar o uso do solo, ampliar o uso da bicicleta como meio de deslocamento e melhorar a competitividade dos combustíveis renováveis. Para isso, será fundamental investir no sistema de transporte público, com a construção de corredores de ônibus, metrôs, veículos leves sobre trilhos (VLTs), além de obras viárias para retirar caminhões de ruas e avenidas nos centros das cidades. É necessário, entretanto, buscar soluções integradas: “Como aumentar a infraestrutura sem aumentar as emissões? Como reduzir as emissões e ampliar a inclusão social?”, questionou. “Ficamos cerca de 20 anos sem ter um plano claro de direcionamento do que fazer na infraestrutura nacional”, pontuou Roberto Garibe, à luz das questões colocadas pela moderação e pela exposição anterior. Segundo ele, a constante média de crescimento do país nos últimos anos dialoga com os investimentos do PAC e do setor privado, estimulados pelo plano. Em 2010, a participação dos investimentos totais no PIB chegou a 18,4%, 31 “ Como aumentar a infraestrutura sem aumentar as emissões? Como reduzir as emissões e ampliar a inclusão social? ” alta em relação aos 16,4% apurados quatro anos antes. O PAC 2 prevê a aplicação de R$ 955 bilhões em recursos, dos quais R$ 247 bilhões após 2014. Em relação à movimentação de cargas, por exemplo, o Plano Nacional de Logística de Transportes, elaborado pelo governo federal, estabelece aumento da participação das ferrovias, de 25% para 35%, e redução no transporte rodoviário, de 58% para 30%, até 2025. Roberto confirmou que se trata de um plano ousado, mas crê que isso faz parte do papel do Estado como indutor do crescimento. “O papel do setor público é ser um incentivador. Nós debatemos e buscamos formas de incentivo para ter o setor privado como parceiro”, disse. “O PAC ampliou essas parcerias, mas ainda não é o suficiente. Esse é um desafio para a segunda fase.” Ainda segundo Roberto, uma questão que dificulta esse direcionamento dos investimentos em infraestrutura é o planejamento. O ideal seria que a infraestrutura fosse pensada como incentivadora do crescimento. Entretanto, em países periféricos, o histórico mostra o contrário: “Sempre corremos atrás do crescimento econômico. E, de alguma forma, é isso que estamos tentando fazer, agora de uma maneira organizada”. Roberto chamou a atenção também para a importância do PAC para projetos apresentados por Estados e municípios. As linhas de financiamento estáveis e os recursos disponíveis vêm atraindo cada vez mais os governos locais a pleitear projetos de infraestrutura. “Se estão bem feitos, é quase 100% a chance de tê-los aprovados. É essa a nossa luta nas discussões com Estados e municípios: apostem em projetos.” Foto: Fernando Manuel A urgência de uma maior articulação entre a esfera privada e o Estado, portanto, foi uma das principais conclusões do painel para superar os gargalos atuais da infraestrutura nacional e adequá-la à transição para uma nova economia. Marcio Wohlers CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 32 Foto: Marcio Bulhões Erradicação da miséria Da esquerda para a direita: Tereza Campello, Andreia Rabetim, Jorge Streit, Jorge Abrahão, Carlos Alberto dos Santos, Daniela di Fiori, Lucilene Silva Prado e Vinicius Precioso Objetivo: Refletir sobre como as empresas poderão estimular o empreendedorismo e ampliar as oportunidades de trabalho e emprego para o público do Programa Brasil sem Miséria, sob a perspectiva do desenvolvimento territorial sustentável. O painel contou com a moderação de Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, e foi estruturado em dois momentos. Inicialmente, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, apresentou o Programa Brasil sem Miséria, salientando formas de maior participação empresarial e da sociedade civil nessa iniciativa. Em seguida, Andreia Rabetim, gerente de relações intersetoriais de desenvolvimento da Vale; Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae; Daniela di Fiori, vice-presidente de assuntos corporativos e sustentabilidade do Walmart Brasil; Jorge Streit, presidente da Fundação do Banco do Brasil; Lucilene Silva Prado, diretora jurídica da Natura; e Vinicius Precioso, gerente socioambiental da Suzano Papel e Celulose, apresentaram visões sobre como as empresas e as fundações poderiam participar e contribuir para os objetivos do programa, a partir da atuação de cada uma. Erradicar a miséria é um compromisso assumido pelo governo federal que deveria ter prioridade na agenda global e ser abraçado por todos os setores da sociedade brasileira. O governo brasileiro lançou, no primeiro semestre deste ano, o Plano Nacional de Erradicação da Miséria, que tem como alvo principal os 16,2 milhões de brasileiros identificados pelo Censo 2010 do IBGE como aqueles que vivem em lares cuja renda familiar é de até R$ 70 mensais por pessoa. Entenda-se a miséria ou pobreza extrema, definida pelo Banco Mundial, como a privação do bem-estar que compreende uma série de dimensões, incluindo-se nessa equação rendimentos insuficientes, acesso limitado à aquisição de produtos básicos e aos serviços necessários para a sobrevivência digna, como alimentação, vestuário, educação, habitação e saúde. Em consequência dessas carências, as pessoas possuem capacidades e oportunidades muito limitadas para melhorar sua vida e a da família. Para obter os resultados almejados, o plano pretende estabelecer parcerias com Estados, municípios, empresas públicas e privadas, organizações da sociedade civil, para, assim, incluir a população mais pobre nas oportunidades geradas pelo crescimento econômico do país. Ao lado das propostas apresentadas no plano de combate à miséria do governo, as organizações do terceiro setor, empresas e entidades de classe privadas podem exercer papel de extrema relevância, contribuindo na orientação e capacitação profissional, no apoio a ações de empreendedorismo e de comércio justo e solidário, além de colaborar para a geração de empregos, inclusive os chamados empregos verdes. É consenso a importância da maior inserção de pessoas no mercado de trabalho para o crescimento econômico, a produção, a geração de riquezas. A renda propiciada pelo trabalho garante estabilidade e desenvolvimento social. Por meio do trabalho, as pessoas são capazes de construir sua identidade e fazer valer seus direitos de cidadania plena. As empresas também têm uma forte influência nos territórios-sede de suas unidades. Por conhecer as demandas das comunidades do entorno, podem integrar suas ações aos projetos de políticas públicas nas diversas esferas de governo. O papel de empresas e governo foi bastante debatido no encontro. O programa Brasil sem Miséria assinalou os progressos do Estado brasileiro em busca do fim da pobreza extrema, ressaltando o trabalho em três eixos principais: a renda, em primeiro lugar, como recorte para identificar essa população; em segundo, a inclusão produtiva, com ações diferenciadas para capacitar esses cidadãos 33 nas áreas urbanas e rurais; e, em terceiro, a oferta de serviços públicos a essas pessoas – as que mais precisam e, em geral, nem sequer conhecem seus direitos. Essas ações do governo federal, no entanto, devem ser complementadas por empresas O governo brasileiro lançou, no primeiro semestre deste ano, o Plano Nacional de Erradicação da Miséria, que tem como alvo principal os 16,2 milhões de brasileiros identificados pelo Censo 2010 do IBGE como aqueles que vivem em lares cuja renda familiar é de até R$ 70 mensais por pessoa e investidores, têm peso decisivo na melhora de vida da população considerada de extrema pobreza. Esse público ao qual se destina o programa, porém, não está dentro de organizações sociais, como cooperativas e sindicatos. É necessário encontrar uma maneira de apoiar sua organização, conforme ressaltado pela Fundação Banco do Brasil, que aumentou seus investimentos no semiárido, concentrando hoje 38% do montante. E esse fomento não se dá apenas com transferência de renda. Envolve tecnologia social, saneamento básico rural, programas de inclusão digital e de alfabetização de jovens e adultos. O Sebrae apontou números expressivos sobre a formalização desse público. Atualmente há mais de 1,4 milhão de empreendedores individuais no país enquadrados no Supersimples. O microempreendedorismo também é estimulado pelo governo federal, que tem incentivado as prefeituras a comprar merenda escolar de microprodutores locais, adquirindo assim uma mercadoria fresca, mais barata e com menor impacto ambiental. Criar portas de saída dos programas de transferência de renda governamentais foi outra necessidade debatida. Para isso, é indispensável um esforço coletivo, com o engajamento das empresas, como setor muito produtivo e gerador de emprego e de oportunidades em torno de sua cadeia de valor, e dos demais setores da sociedade na articulação dos apoios fundamentais. As empresas apresentaram suas ações de inclusão social nas atividades econômicas, demonstrando a viabilidade de avançar na construção das parcerias públicoprivadas para erradicar a miséria e evidenciando o longo caminho que ainda se pode percorrer na construção de arranjos intersetoriais que promovam o desenvolvimento territorial, em especial nas regiões atendidas pelo programa Brasil sem Miséria. Como lição de casa, ficou a construção de um plano que ponha em marcha essas parcerias. Procurando envolver o público do painel nas reflexões do debate, o moderador fez a seguinte pergunta: Comente a afirmação: “está ao alcance das empresas promover a inclusão social em suas áreas de atuação, com ou sem a parceria dos governos locais”? 49% 2% 2% 5% Foto: Fernando Manuel Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Sem opinião Discordo Parcialmente Discordo Tereza Campello 42% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 34 Trabalho decente e empregos verdes Da esquerda para a direita: Paulo Sergio Muçouçah, Manuel Messias, Mario Barbosa, Sue Wolter Viana, Marcio Pochmann e Caio Magri Objetivo: Debater os avanços alcançados até o momento para concretizar o trabalho decente como parâmetro no país e os principais entraves nesse aspecto para chegar a uma economia includente, verde e responsável. A partir dessa discussão, tratar também dos desafios para viabilizar empregos verdes e decentes, da jornada de trabalho e qualidade de vida e das relações da empresa com o público interno e com os sindicatos. O painel contou com a presença do presidente do IPEA, Marcio Pochmann; de Mario Barbosa, assessor especial do Ministério do Trabalho e Emprego; do secretário de relações de trabalho da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Manuel Messias; da gerente de orientação e práticas de RSE da Petrobras, Sue Wolter Viana; do coordenador dos programas de trabalho decente e empregos verdes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Paulo Sergio Muçouçah; e do assessor especial do Ministério do Trabalho e Emprego, Mario Barbosa. Na perspectiva da transição para uma economia includente, verde e responsável, a agenda do trabalho decente assume uma prioridade estratégica. A necessidade histórica de alterar os padrões de produção e consumo está acompanhada do enorme desafio de melhorar substancialmente a qualidade e oferta de trabalho. Esse painel se desenvolveu a partir da intervenção inicial do presidente do IPEA, que trouxe para a discussão sua análise sobre a crise que vivemos. Descrente de que a crise, profunda e estrutural, terá solução imediata, Pochmann pontuou cinco questões para definir elementos que ajudariam no modo de ver e entender o trabalho decente nos dias de hoje. Em primeiro lugar, ressaltou que estamos diante da consolidação de novas centralidades no mundo. A economia atual, que gira em torno dos Estados Unidos, está transitando muito rapidamente para um mundo novo, certamente para a Ásia e também para a América Latina, com forte protagonismo brasileiro. Traçando um paralelo com outros momentos da história da humanidade, em que velhas centralidades foram abandonadas, afirmou que os Estados Unidos têm hoje uma economia oca, doente, que continuará certamente importante, do ponto de vista do dinamismo mundial, mas não será como foi até então. E, desse contexto de novas centralidades, emerge a oportunidade de pensar uma relação de trabalho diferente da atual. O segundo ponto tratado por ele foi a urgência de transitarmos para outro padrão de produção e distribuição de bens e serviços, ilustrando sua insustentabilidade ao relembrar que necessitaríamos de cinco planetas para sua universalização. “Não há condições, nesse sentido, de difundir um padrão de consumo norte-americano para o mundo. Casarões com três carros na garagem, não é possível.” Como terceiro ponto, apresentou a capacidade dos governos de criar políticas públicas que alterem esses padrões, superando os interesses sustentados até o momento, através de uma nova governança que oriente a transição. O padrão de governança global constituído a partir do encerramento da Segunda Guerra Mundial, com a criação das Nações Unidas, mostra uma ineficácia brutal nos dias de hoje: “A crise de 2008 revelou uma série de problemas na ordem da governança mundial, e essa governança se torna ainda mais frágil diante do poder das grandes corporações transnacionais.” Hoje, 500 multinacionais concentram 47% do PIB mundial. Para exemplificar, Pochmann apontou o faturamento da Petrobras, que já chega a ser maior que o PIB da Argentina. Ele pergunta: “A Petrobras é do Brasil ou o Brasil é da Petrobras?” Hoje a empresa responde por 12% do PIB brasileiro e, com as explorações do présal, pode chegar a 40%. “Dos engenheiros brasileiros com carteira assinada, 40% estão vinculados às atividades desenvolvidas pela empresa.” 35 O quarto ponto de Pochmann está relacionado à brutal transição demográfica que estamos vivendo. Em duas décadas, o Brasil, por exemplo, terá mais 17 milhões de habitantes. A partir de 2030, porém, entraremos em uma fase de redução absoluta do número de brasileiros, porque a taxa de fecundidade vem se reduzindo, o que fará com que passe a ser menor que a de mortalidade. Teremos não apenas mais idosos como menos jovens. Haverá também uma mudança substancial quanto à etnia. Hoje, 52% dos brasileiros se declaram não brancos. Mas, tendo em vista que a taxa de fecundidade feminina das mulheres não brancas é até três vezes maior que a das mulheres brancas, haverá cerca de 70% de brasileiros não brancos em 2030. Pochmann retomou a relação com o tema lembrando que essa futura população brasileira terá maior dificuldade de acesso a boa educação e bons empregos. 2008 deixou clara a insustentabilidade desse modelo em longo prazo também do ponto de vista ambiental. As conclusões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, divulgadas em 2007, corroboram esse fato, na medida em que as emissões de carbono provocadas e aceleradas por esse modelo, nos últimos tempos, levariam a uma situação de insustentabilidade total em função do fenômeno das mudanças climáticas. O quinto elemento que Pochmann abordou é bastante desafiador, pois está associado justamente à transição do trabalho material para o trabalho imaterial. “O material é aquele cujo resultado físico e mental do homem é um produto concreto, um alimento, uma vestimenta, um automóvel etc. Está na indústria, na agricultura, na construção civil. Mas, estamos cada vez mais assumindo o imaterial. É o que eu estou fazendo aqui – pode não parecer, mas é trabalho”, explicou. A regulação existente hoje, no entanto, é associada ao trabalho material, pois é exercido em um local específico e facilmente reconhecido. Outros tipos são mais dificilmente identificados, como o trabalho doméstico, por exemplo. O que cresce hoje são os serviços, que somam 70% dos postos de trabalho criados no Brasil – e cada vez mais associados à tecnologia da informação. Não basta que se intensifique a nova economia pensando que isso, por si só, terá um efeito positivo do ponto de vista dos seus impactos sociais. É fundamental que esses investimentos sejam também intensivos em emprego e, estes, por sua vez, garantam proteção social, direitos do trabalho e diálogo social. Muçouçah, por sua vez, expôs o conceito de trabalho decente, criado pela OIT e adotado formalmente em 1999 para reagir a uma situação criada pelo modelo econômico em crise, que produziu cerca de 200 milhões de desempregados no mundo, como resultado do fenômeno da “financeirização” da economia. O trabalho decente tem uma atualidade inquestionável. Suas quatro dimensões – oferta de emprego, direitos do trabalho, proteção social e diálogo social – apresentam uma agenda que emergiu para o mundo no século XIX. Para Paulo Sergio, a crise financeira de No contexto das Nações Unidas, Muçouçah lembrou que o desenvolvimento sustentável está pautado como economia verde e erradicação da pobreza. Entretanto, destacou a ausência de um elemento entre esses dois termos: “Por enquanto, infelizmente não vamos erradicar a pobreza, seja por meio da economia verde, seja por qualquer outro tipo de economia, senão através do trabalho”. Manuel Messias trouxe ao debate ações desenvolvidas pelo governo para promover o trabalho decente. Na indústria da cana, por exemplo, os objetivos de uma iniciativa governamental integram os aspectos da economia verde, ao garantir condições de produção ao etanol brasileiro, assim como aspectos trabalhistas por meio de melhores condições de trabalho no campo e na indústria. Foram dois anos de discussão entre representantes dos trabalhadores, do governo e da indústria da cana. O compromisso, firmado voluntariamente por empresas sobretudo da Região Sudeste, vem sendo monitorado e auditado para verificar seus resultados. As consequências são novas relações de trabalho que questionam a precariedade daquelas persistentes na indústria de cana do Nordeste, marcada pela informalidade e por baixas condições de vida, graças ao uso intensivo de agrotóxico em canaviais. Tanto na indústria da cana-de-açúcar ou de energia renovável, como no teleatendimento, que representa uma economia do conhecimento, não há mudanças significativas para a melhora das relações de trabalho. Na opinião de Manoel Messias, precisamos reconhecer que as indústrias que podem gerar empregos verdes ainda não geram trabalho decente. A quarta intervenção no painel foi de Sue Wolner Viana com a reflexão sobre o enfrentamento do trabalho escravo na perspectiva da promoção do trabalho decente. “A Petrobras é signatária do Pacto Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo desde o início, em 2005, com o compromisso de desenvolver ações assertivas dentro da cadeia produtiva”, pontuou. Ou seja, para mitigar e prevenir a ocorrência de trabalho escravo, as empresas têm a responsabilidade de estabelecer relações nos mais distantes elos da sua cadeia, o que gera corresponsabilidade com todos os fornecedores. Segundo ela, é preciso um exercício permanente de controle interno e de dialogo, com cláusulas em contratos, ações de fiscalização e mecanismos de ação setorial. Os desafios são para todos – empresas, sociedade, governos e trabalhadores. Para Mario Barbosa, os países emergentes viram com muita desconfiança a economia verde, uma iniciativa inaugurada pelos países desenvolvidos. Entretanto, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, ao colocar a erradicação da pobreza em relação direta com a transição para a economia verde, demonstra uma inflexão muito importante em relação a esse tema e como passa a ser percebido como uma oportunidade para os países em desenvolvimento. O Brasil começa a ter uma percepção nessa direção, na opinião de Mario Barbosa, que reforça alguns dos elementos que Pochmman introduziu em sua intervenção: o esgotamento do padrão de desenvolvimento, a necessidade de um novo padrão e a governança do ponto de vista do sistema multilateral e nacional. Para Barbosa, um ponto de partida importante são as condições que hoje estão colocadas para a inserção do Brasil no contexto da globalização e como nossos problemas estruturais poderão ser superados. É nesse contexto que se expressa a agenda do trabalho decente. Surge justamente como resposta a um modelo injusto de desenvolvimento, que precisa CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 36 Descrente de que a crise, profunda e estrutural, terá solução imediata, Pochmann pontuou cinco questões para definir elementos que ajudariam no modo de ver e entender o trabalho decente nos dias de hoje ser enfrentado com novas ferramentas, capazes de incluir as populações e gerar postos de trabalho suficientes para todos. E reconheceu também a importância das organizações da sociedade civil no enfrentamento desse desafio. A referência política é o Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente, construído a partir de um compromisso firmado entre o Brasil e a OIT em 2003, que estabelece três prioridades para a agenda nacional de trabalho decente: a promoção de mais e melhores empregos, a prevenção e erradicação do trabalho escravo e o fortalecimento dos atores sociais para o exercício da governabilidade democrática. Mario Barbosa colocou para o debate possibilidades reais para o aperfeiçoamento e a construção de políticas públicas que implementem a agenda do trabalho decente também na forma de empregos verdes. Para encerrar o painel, o mediador afirmou que o diálogo provocado pelas reflexões apresentadas no painel avança sobre os desafios para uma nova economia verde, includente, responsável, na perspectiva da agenda do trabalho decente, deixando a todos o convite para participação ativa nos mais diferentes espaços de diálogo em construção. O moderador elaborou as seguintes perguntas ao público: A legislação brasileira está adequada para que o país cumpra com seus compromissos internacionais nas convenções da OIT? Sim Não 25% 75% Você acredita que com as recentes medidas do governo federal para desordenar a folha de pagamentos deveria ser acompanhada de metas para as empresas na geração de oportunidades de trabalho decente e empregos verdes? Sim Não 94% 6% Você é a favor da aprovação da Emenda Constitucional que confisca as propriedades onde se constata o trabalho escravo? Sim Não 91% 9% Qual a sua posição sobre a afirmação: “Criar oportunidade de trabalho decente e empregos verdes é condição dundamental para o desenvolvimento sustentável” 81% 0% 0% 3% Concordo Plenamente Foto: Clóvis Fabiano Concordo Parcialmente Sem opinião Discordo Parcialmente Discordo Marcio Pochman 16% 37 Foto: Clóvis Fabiano Educação para a sustentabilidade Da esquerda para a direita: Ricardo Young, Bernardo Toro, Antonio Ronca, Vera Masagão, Rangel Mohedano, Roberto Leão e Fernando Rossetti Objetivo: Identificar os avanços na integração dos conhecimentos, valores e habilidades necessários para uma sociedade sustentável, nos processos de educação formal e informal. Participaram do painel Bernardo Toro, filósofo e educador Colombiano; Antonio Carlos Caruso Ronca, representante do MEC e presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE); Fernando Rossetti, secretário-geral do GIFE; Rangel Mohedano, consultor em políticas públicas da Rede de Juventude pelo Meio Ambiente; Vera Masagão Ribeiro, diretora executiva da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG); Roberto Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE); com a moderação de Ricardo Young, membro do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos. Antônio Carlos Ronca apresentou os avanços e desafios do Brasil no campo da educação. Trouxe dados importantes sobre a universalização da educação no país nos últimos anos, bem como o aumento da escolaridade média da população brasileira e conquistas para incluir questões relacionadas ao meio ambiente e à sustentabilidade na estrutura curricular das escolas brasileiras. Os principais desafios colocados por ele estão no campo da garantia da qualidade da educação, em todos os cantos do país. Bernardo Toro apresentou questões fundamentais a respeito da educação e seu papel para que a humanidade possa encontrar saídas para as atuais crises pelas quais estamos passando. Salientou que vivemos atualmente um paradoxo: “ao mesmo tempo em que criamos condições que podem levar ao desaparecimento da espécie humana, desenvolvemos o conhecimento e os meios que podem possibilitar uma convivência harmônica com a natureza e uns com os outros, com a comunicação e interligação entre todos os povos do planeta.” Para que esse paradoxo seja solucionado, necessitamos de uma educação humana que tenha como fundamentos a ética do cuidado – o cuidado com o próximo, com a natureza e as gerações futuras –, e não a lógica de competição que prepondera em nossa educação atualmente, preparando os indivíduos para um mercado em que o objetivo maior é vencer o concorrente e conseguir uma posição vantajosa. O modelo atual, ao invés de promover a ética do cuidado e da responsabilidade, promove uma verdadeira rachadura no tecido social. Aparta diferentes grupos sociais e cria relações de desigualdade e desconfiança. Por esse motivo, precisamos de uma educação que contemple o respeito, a solidariedade e a hospitalidade, tanto entre as pessoas quanto na sua relação com a natureza. Também foi debatido o papel das empresas para a promoção da educação no Brasil, em ações de responsabilidade social e investimento social privado. Fernando Rossetti apresentou dados relativos aos investimentos do setor privado em educação no Brasil. A maior parte das organizações associadas ao GIFE investe na área, sobretudo no ensino fundamental e médio. Há o movimento “Educação para Todos”, em sua opinião um dos grandes exemplos de ação de empresas nesse campo, que propõe que todos tenham acesso à educação de qualidade. E há ainda um bom número de empresas que investem em capacitação de professores, embora a precarização da situação trabalhista desses profissionais deixe-lhes pouco tempo para se dedicar a atividades e projetos de aperfeiçoamento. Roberto Leão trouxe o ponto de vista dos trabalhadores da área de educação salientando esse aspecto. A capacitação e a reciclagem para o bom desempenho de um trabalho tão determinante como o dos professores são CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 38 prejudicadas pelas extensas jornadas de trabalho que eles precisam cumprir para engordar os baixos salários. Mas destacou, por outro lado, o envolvimento das organizações de professores com a luta pela qualidade da educação, tendo em vista a necessidade de incluir as pautas da sustentabilidade nas atividades escolares. “ ” uma alternativa para a inclusão dos jovens no mercado de trabalho, como um dos grandes desafios dessa agenda. Vera Masagão Ribeiro ressaltou a importância de as organizações e movimentos ocuparem o debate e o processo de decisão políticos para colocar a pauta da educação como prioridade, assim como o papel fundamental dos jovens nesse sentido, exercendo sua cidadania para reivindicar seu direito à educação. O moderador Ricardo Young ressaltou a importância de os educadores possuírem papel protagonista na Conferência Rio+20, tendo em vista ser a educação um tema fundamental para seu objetivo – debater a construção de uma nova sociedade planetária, mais justa e sustentável. Foto: Clóvis Fabiano Rangel Mohedano abordou o ponto de vista da juventude: a atual geração de jovens tem um papel crucial no enfrentamento da presente crise econômica, social e ambiental, que põe em risco a vida no planeta. Falou a respeito das conferências infanto-juvenis sobre meio ambiente, realizadas em âmbito nacional e internacional, e outras iniciativas que buscaram pautar a importância dos temas meio ambiente e juventude. Pontuou a falta de uma política de promoção de empregos verdes, que seria Ao mesmo tempo em que criamos condições que podem levar ao desaparecimento da espécie humana, desenvolvemos o conhecimento e os meios que podem possibilitar uma convivência harmônica com a natureza e uns com os outros, com a comunicação e interligação entre todos os povos do planeta Bernardo Toro 39 Os resultados das pesquisas realizadas com a plateia presente confirmaram alguns pontos discutidos no painel: Na discussão sobre a Rio+20, os educadores estão tendo o papel que deveriam ter na formulação das propostas para a conferência? Sim Não 4% A crise civilizatória que vivemos é uma oportunidade para aglutinar os jovens em torno de novas formas de participação política 58% Os conteúdos curriculares do ensino fundamental e médio não atendem às necessidades de uma sociedade sustentável. 77% 96% Para uma sociedade sustentável deveríamos ter, transversalmente nis currículos educação ambiental? 33% Sim Não 89% 98% 2% 75% 25% A sociedade brasileira está preparada para pagar aos professores salários condizentes ao que a sociedade exige deles? Sim Não 54% 46% 1% 3% 0% O melhor investimento para melhorar a educação deve envolver ainda mais o setor privado nas políticas públicas? Sim Não 4% 1% 11% Para uma sociedade sustentável deveríamos ter, transversalmente nis currículos educação política? Sim Não 7% Concordo Plenamente Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Concordo Parcialmente Sem opinião Sem opinião Discordo Parcialmente Discordo Parcialmente Discordo Discordo 15% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 40 Foto: Fernando Manuel Gestão da água Da esquerda para a direita: Lupércio Ziroldo, Benedito Braga, Vicente Andreu, Adalgiso Telles e José Otávio Franco Objetivo: Discutir, a partir de um panorama apresentado pela Agência Nacional de Águas (ANA), as implicações do tema nos processos produtivos, nos padrões de consumo e no próprio enfrentamento das mudanças climáticas. O painel contou com uma exposição inicial de Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), que contextualizou os dilemas atuais dos avanços e gargalos da gestão hídrica no Brasil e seus desafios infraestruturais clássicos. Mediado por Benedito Braga, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o debate contou com Adalgiso Telles, diretor corporativo da Bunge no Brasil, que apresentou a visão do setor de agronegócio sobre o tema; Lupércio Ziroldo, presidente do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, com sua visão sobre o atual modelo de governança e os aprimoramentos regulatórios que se fazem necessários na gestão hídrica brasileira; e José Otávio Andrade Franco, gerente de meio ambiente da ArcelorMittal Brasil. Insumo econômico e, ao mesmo tempo, um direito social, a água tem de ser urgentemente incorporada ao debate geral da sustentabilidade, de infraestrutura. “Isso mostra que a questão da água continua grave, não está apenas no tratamento de resíduos ou no saneamento, embora estes causem sérios danos à saúde pública”, disse Vicente Andreu Guillo. desde os processos produtivos até os hábitos de consumo, contemplando, evidentemente, a relação com a questão das mudanças climáticas. É preciso despertar para o fato de que, embora renovável, a água não é um recurso inesgotável. Especialistas apontam a questão da água, pelo menos no caso brasileiro, mais ligada a problemas relacionados à governança do que à escassez propriamente dita. Embora detenha 12% da água doce encontrada no planeta, o Brasil não está livre de enfrentar desafios para assegurar o abastecimento contínuo nos próximos anos. De fato, o setor de saneamento básico é um dos maiores poluidores da água brasileira. O país está muito longe de chegar à universalização dos serviços de coleta e tratamento de esgoto. Em pleno século XXI, cerca de 13% da população ainda não tem banheiro em casa e mais de 700 mil pessoas recorrem aos serviços de saúde a cada ano em virtude de doenças provocadas pelo contato com água contaminada por esgotos. De acordo com o estudo da ANA, terão de ser investidos nessa área cerca de R$ 48 bilhões. Além da distribuição desigual pelo território, principalmente quando comparada à concentração da população, o abastecimento contínuo de água é um problema generalizado no país. E, segundo levantamento divulgado este ano pela ANA, até 2015 deve atingir mais da metade dos 5.565 municípios brasileiros. Para tentar adiá-lo por pelo menos uma década, será preciso desembolsar R$ 22 bilhões em obras Outros pontos que tornam o assunto urgente são a falta de regulamentação e a mentalidade errônea de abundância do insumo por parte da maioria das empresas. O desperdício chega a 50% do total de uso de água, por vazamentos, redes de distribuição e reservatórios, e por erros na medição, fraudes, ligações clandestinas e falhas no cadastro comercial. Isso corrobora uma das principais bandeiras levantadas 41 “ Além da distribuição desigual pelo território, principalmente quando comparada à concentração da população, o abastecimento contínuo de água é um problema generalizado no país ” por Guillo para uma gestão mais efetiva dos recursos hídricos brasileiros: a cobrança das indústrias pelo uso da água. “O setor produtivo tem resistido a esse pagamento, que é fundamental”, afirmou. “Apesar de sua óbvia importância, a água tem muito pouca relevância política na tomada de decisões.” Muitas empresas, no entanto, já estão adiantadas na gestão do uso da água no processo produtivo. A indústria de celulose, por exemplo, reduziu pela metade suas necessidades de água por tonelada de produto, desde a década de 1970. Segundo a associação do setor, a média caiu de 100 para os atuais 47 metros cúbicos de água por tonelada de celulose. Outros setores seguiram a mesma linha, não apenas ao reduzir a quantidade de água necessária por unidade de produto, mas também ao implantar sistemas de tratamento de águas industriais que permitem fechar o ciclo entre o uso e o reúso. Foto: Marcio Bulhões Dois outros desafios para a boa governança da água são sua valoração nos processos produtivos e o estabelecimento de padrões para mensuração da quantidade implicada em cada etapa, ou seja, aquilo que se tem chamado de “pegada hídrica”. Avanços nessa agenda poderiam resultar em novos critérios para a concessão de empréstimos a empresas e obras de infraestrutura. A ANA firmará um acordo de cooperação com o Instituto Ethos para o desenvolvimento de indicadores de recursos hídricos que possam servir de parâmetros para as empresas. “Assim Vicente Andreu CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 42 poderemos estabelecer metas, porque é fundamental que possamos comparar índices e melhorar”, disse Guillo. Uma das alternativas para aumentar o controle e melhorar a gestão dos recursos hídricos atualmente são os comitês gestores de bacias hidrográficas, que estimulam o debate entre todos os atores envolvidos – poder público, sociedade civil organizada e indústrias. Atualmente, há 180 comitês desse tipo e mais 20 organizações de bacias hidrográficas espalhados pelo país, compartilhando informações sobre o uso correto dos corpos de água. “Onde há conflito, degradação e escassez de água, os comitês discutem a melhor forma de gestão”, afirmou Lupércio Ziroldo. “Sem gestão das bacias hidrográficas, pode haver cidades fantasmas no mundo nas próximas décadas.” “A questão da água é um assunto também de segurança alimentar”, apontou o moderador do debate, Benedito Braga. Para Adalgiso Telles as perspectivas futuras para o mundo e para a indústria de alimentos não serão fáceis. Estima-se que a população mundial passará de 6,8 bilhões de pessoas para mais de 9 bilhões nos próximos 40 anos, 70% delas nas cidades. Os efeitos do aquecimento global serão bastantes sentidos pelo setor de recursos hídricos, apontou Benedito Braga. “O segmento será um dos mais afetados, seja com enchentes, seja com secas, o que poderá criar a exigência de investimentos em infraestrutura, como barragens, para nos proteger dessas situações extremas. E isso coloca a gestão de recursos hídricos na agenda de todos.” Durante o debate o moderador fez as seguintes enquetes ao público do painel: Sendo evidente a necessidade do debate social sobre a gestão hidrica, qual o grau de maturidade atual da sociedade brasileira para enfrentá-lo? A água tem sido considerada como insumo estratégico e relevante nas decisões do setor produtivo? A gestão dos recursos hidricos no setor produtivo deveria ser objeto de políticos baseados em metas, individuais e/ou setoriais? 70% 65% 69% 18% 23% 6% 20% 0% 10% 0% 0% 0% 12% 0% 8% Muito grande Concordo Plenamente Concordo Plenamente Grande Concordo Parcialmente Concordo Parcialmente Moderado Sem opinião Sem opinião Pequeno Discordo Parcialmente Discordo Parcialmente Nulo Discordo Discordo 43 Foto: Julio Endo Cidades sustentáveis Da esquerda para a direita: Valdemar de Oliveira Neto, Denise Hills, Tião Soares, Jorge Miguel Samek, Ana Lúcia Ancona, José Police Neto e Oded Grajew Objetivo: Abordar as ações de natureza política, social, econômica, ambiental e cultural para que as cidades brasileiras se organizem e se desenvolvam de forma sustentável, identificando indicadores, os gargalos que devem ser transpostos, metas, boas práticas de sustentabilidade urbana em várias cidades do mundo, experiências empresariais e medidas governamentais, assim como apresentar propostas e sugestões para a construção de uma agenda de transição para uma economia inclusiva, verde e responsável. Para discutir a temática Cidades Sustentáveis, o painel 13 da Conferência Ethos de 2011 contou com a colaboração de Oded Grajew, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo; Ana Lúcia Ancona, diretora de gestão ambiental urbana do Ministério do Meio Ambiente (MMA); Denise T. Hills, superintendente de sustentabilidade do Itaú-Unibanco; Jorge Miguel Samek, diretor-geral Brasileiro da Itaipu Binacional; José Police Neto, presidente da Câmara Municipal de São Paulo; e Tião Soares, coordenador de cultura e relações institucionais da Fundação TIDE Setubal; com a moderação de Valdemar de Oliveira Neto, da Fundação Avina. O crescimento descontrolado dos núcleos urbanos, com a degradação da qualidade ambiental e o aumento dos problemas sociais, requer urgentemente a atenção de gestores públicos, empresas, organizações sociais e da sociedade em geral. Atualmente, mais de 75% da população brasileira e metade da população mundial vive em áreas urbanas, e a tendência é de ampliação. Nesse cenário, fica evidente o papel-chave das cidades na transição para uma economia includente, verde e responsável, visando ao desenvolvimento de uma sociedade justa e sustentável. Mas o que seria exatamente uma cidade sustentável? Como estaria organizada? É preciso reconstruir as cidades ou existem alternativas para colocá-las na lógica da sustentabilidade? Oded Grajew relatou os esforços da Rede Nossa São Paulo para implantar a Lei Orgânica do Município, que obriga o prefeito a apresentar, em 90 dias a partir da posse, um plano de metas, quebrando a perversa lógica das promessas de campanha que caem no esquecimento após a eleição. “Hoje, São Paulo tem 223 metas, fruto de um processo participativo que se incorporou à cultura paulistana. Outros municípios brasileiros já seguem o exemplo, além de uma rede de 20 cidades latino-americanas que adotam uma plataforma apartidária balizada por indicadores que conduzem à sustentabilidade.” José Police Neto explicou que o Legislativo municipal tem feito esforços para reorganizar o município e “estabelecer o pleno direito à cidade”. Mas a tarefa não é fácil. A capital tem 31 planos diretores regionais e há pouco diálogo entre eles. Uma das sugestões de Police é descentralizar a instalação de indústrias e grandes empresas para reduzir os deslocamentos de cerca de 3,5 milhões de pessoas, que perdem em média três horas por dia no trânsito, para trabalhar, estudar, cuidar da saúde, fazer compras. Sua proposta é que os planejadores trabalhem com planos regionais para as 31 subprefeituras, em vez de focar um único plano para a cidade. Ana Lúcia Ancona destacou os grandes prejuízos nas condições de moradia e no meio ambiente das metrópoles decorrentes da acelerada transição do ambiente rural para o urbano, nos últimos 50 anos. Assinalou também os problemas ambientais associados às mudanças climáticas, que criaram novas e urgentes demandas. Segundo ela, porém, já estão em estudo algumas propostas para conduzir o planejamento urbano a uma condição de sustentabilidade, como o pagamento de serviços ambientais, o controle da expansão urbana, a CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 44 melhor análise dos grandes empreendimentos para licenciamento, a gestão das águas, com medidas de proteção dos mananciais e qualificação dos projetos de drenagem, para reduzir o impacto das enchentes. O aspecto financeiro da questão da urbanização em escala global foi tema de Denise Hills, superintendente de sustentabilidade do ItaúUnibanco. “Como as cidades consomem 70% da energia e originam 75% das emissões de gases de efeito estufa, as soluções também devem ter escala”, comparou. Ela acredita que o financiamento da nova economia nesse cenário exige novos sistemas de métrica e implica o desafio de fazer escolhas considerando elementos que transcendem a expectativa de resultado financeiro. Jorge Samek, presidente da Itaipu Binacional, contou que a empresa atua em diversas cidades do Paraná com projetos de sustentabilidade, como a promoção da agricultura orgânica, da produção local de energia pelos produtores rurais a partir do biogás, da recuperação da mata ciliar, entre outros. O objetivo é fomentar a sustentabilidade nas cidades do interior a partir do aproveitamento dos recursos naturais. Nesse processo de construção de cidades mais justas, democráticas e sustentáveis no Brasil, o Programa Cidades Sustentáveis, desenvolvido pelo Instituto Ethos, pela Rede Nossa São Paulo e pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, representa um passo importantíssimo. Engloba uma plataforma de princípios desenvolvida ao longo de 2010 “ Hoje, São Paulo tem 223 metas, fruto de um processo participativo que se incorporou à cultura paulistana. Outros municípios brasileiros já seguem o exemplo, além de uma rede de 20 cidades latino-americanas que adotam uma plataforma apartidária balizada por indicadores que conduzem à sustentabilidade ” que apresenta indicadores de sustentabilidade urbana em 12 eixos temáticos, boas práticas de sustentabilidade urbana em várias cidades do mundo, experiências empresariais e medidas governamentais exemplares. Esses dados servem de referencial para ações públicas e privadas no Brasil e contribuem com os processos eleitorais e os programas dos candidatos, a fim de promover melhor qualidade de vida nas regiões urbanas. Foto: Clóvis Fabiano Outro parâmetro primordial que não se pode perder de vista foi sintetizado pelo coordenador de cultura e relações institucionais da Fundação Tide Setubal, Tião Soares: “A dimensão cultural da experiência humana é essencial em um amplo diálogo para definir a cidade sustentável que queremos”. Oded Grajew 45 Foto: Clovis Fabiano Integridade e transparência Da esquerda para a direita: Luiz Fernando Nery, Vânia Vieira, Paulo Itacarambi, Josmar Verillo, Marcos Túlio de Melo e Fábio Cavalcanti Objetivo: Discutir as medidas de políticas públicas e os principais mecanismos utilizados pela sociedade civil para aumentar a integridade e a transparência nas práticas empresariais e o combate à corrupção. O painel moderado por Paulo Itacarambi, vicepresidente do Instituto Ethos, contou com a expositora Vânia Vieira, diretora de Prevenção da Corrupção da Controladoria-Geral da União (CGU). Os debatedores foram Josmar Verillo, conselheiro da Amarribo Brasil; Luiz Fernando Nery, presidente do Comitê Brasileiro do Pacto Global; Marcos Túlio de Melo, presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA); e Fábio Cavalcanti, gerente de relações corporativas da Shell. Se de um lado esses eventos exigem grande volume de investimentos no país, de outro a transparência deve ser proporcional. Paulo Itacarambi abriu a mesa sobre Integridade e Transparência na Conferência do Ethos de 2011 afirmando que sem ética e sem integridade não é possível ter uma economia verde e includente. “Ou nós elevamos o padrão ético de funcionamento do mercado, tanto nas relações privadas quanto nas relações públicas, ou não vai funcionar.” A diretora do CGU relatou ao público a evolução das políticas de transparência no Brasil. Em 2000 foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece limites-teto de gastos da União, dos Estados e dos municípios. Em 2004, o Portal da Transparência representou outro marco, ao passar a publicar informações atualizadas sobre execução orçamentária, licitações, contratos, convênios, diárias e passagens de qualquer órgão ou entidade do Poder Executivo Federal. Quais seriam os principais desafios, avanços e gargalos quanto à integridade e à transparência no Brasil? Essa foi a questão colocada aos participantes do painel, em especial sob a perspectiva da realização dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo no Brasil. A primeira expositora foi Vânia Vieira, que teve a incumbência de apresentar, à luz da visão governamental, mecanismos já existentes e aqueles que devem ser construídos para combater a corrupção nas relações entre os setores privado e público. Destacam-se ainda outros três avanços. A criação do Cadastro de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) lista empresas punidas pela administração pública em todo o Brasil. O projeto de lei de acesso à informação, enviado em 2009 ao Parlamento, já aguarda votação no Senado. E, em 2010, uma iniciativa pioneira: o lançamento do Cadastro Empresa Pró-Ética, em parceria com o Instituto Ethos, para avaliar e divulgar empresas voluntariamente engajadas na construção de um ambiente de integridade e confiança nas relações comerciais. Sobre Copa e Olimpíadas, há os portais da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, que trazem informações sobre projetos, orçamentos, contratos, licitações, financiamentos, convênios, cronogramas, legislação sobre os responsáveis por essas obras. Vânia Vieira reconhece, no entanto, que o Brasil ainda carrega o desafio crucial da impunidade. Sobre o canal de denúncias disponível no site da CGU, Vânia apontou haver uma lacuna quanto à participação das empresas. Desde 2003, das 42 mil denúncias recebidas pela CGU, apenas 0,32% provém de empresas. Sem informações de irregularidades, será difícil combater a corrupção. Em um segundo momento os quatro debatedores se posicionaram com distintas visões sobre controle social e promoção de integridade no Brasil, CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 46 complementando o cenário traçado por Vania Vieira. Josmar Verillo levantou importantes gargalos a ser enfrentados nesse tema. A impunidade foi um dos principais aspectos apontados como deficiência pelo Conselho de Administração da Amarribo Brasil, que avaliou o descumprimento do país aos princípios da convenção da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre corrupção. As críticas se estendem à não criminalização por enriquecimento ilícito e passam pelas dualidades do Código Penal, pelos foros privilegiados e também pela falta de acesso à informação pública. Foi citada ainda por ele a prática da partilha política da máquina pública, ou seja, o loteamento de cargos do Executivo entre partidos da base aliada. Marcos Túlio concordou com as críticas feitas pela Amarribo aos gargalos para a transparência Ou nós elevamos o padrão ético de funcionamento do mercado, tanto nas relações privadas quanto nas relações públicas, ou não vai funcionar “ ” no Brasil, especialmente no que tange ao aprimoramento da legislação, “que consolide não só os instrumentos, mas também o conteúdo de defesa social”. Destacou o Movimento Anticorrupção da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia, que reúne mais de cem organizações comprometidas com o código de ética profissional e com uma prática efetiva contra situações que levem à corrupção. “Não há como exigirmos apenas de governos, apenas de empresas, se o comportamento social continuar da mesma forma: buscando privilégios.” Outra crítica contundente de Marcos Túlio diz respeito ao Modelo do Regime Diferenciado de Contratação, aprovado há pouco para os jogos. Discorda de um dispositivo que permite a contratação de serviços para um empreendimento público com base apenas no plano de necessidades, sem ter sequer um projeto básico referencial que possa balizar o preço. Nesse ponto, chamou a atenção para a morosidade da revisão da Lei nº 8.666, de licitações e contratos da administração pública, para alcançarmos verdadeiros avanços de transparência, assim como para a aprovação urgente das leis de acesso à informação e de responsabilização da pessoa jurídica por atos de corrupção (PL nº 6.826/2010). Nery também destacou a falta de punição como a principal questão para a transparência no Brasil e fez duas importantes ofertas: o engajamento das 372 empresas signatárias do Pacto Global no Brasil no manifesto público pela aprovação do PL nº 6.826/2010 e na inscrição do Cadastro Pro-Ética. O representante da Shell apresentou sua estrutura de compliance, como uma referência do que empresas têm feito em direção à promoção da integridade. A companhia tem uma orientação global para seus contratantes e 100 mil funcionários, com princípios, manuais e treinamentos anticorrupção. “O suborno é inaceitável em nossos negócios, apesar de ser normal no jogo empresarial de muitos países onde atuamos”, apontou Fábio Cavalcanti. Outro iniciativa da corporação foi a disponibilização de um canal de monitoramento, para que funcionários possam, sigilosamente, denunciar favorecimentos, assédios ou qualquer ação ilícita. Foto: Julio Endo A discussão foi concluída com uma proposta concreta: o recolhimento de assinaturas dos participantes da Conferência Ethos 2011 para endossar a aprovação do PL nº 6.826/2010. Do mesmo modo, os avanços e gargalos estruturados no diálogo promovido na conferência vão embasar estratégias de participação na Rio + 20. Vânia Vieira 47 O moderador propôs as seguintes questões ao público: Qual o impacto do preenchimento dos cargos de confiança pelos partidos da base do governo para corrupção no Brasil? Sem combate à impunidade não teremos sucesso no combate a corrupção. Empresas não denunciam porque têm medo da represália de órgão públicos ou empresas concorrentes ou clientes 84% 60% 31% 20% 31% 0% 31% 0% 15% 0% 16% 0% 0% 6% Muito grande Concordo Plenamente Concordo Plenamente Grande Concordo Parcialmente Concordo Parcialmente Moderado Sem opinião Sem opinião Pequeno Discordo Parcialmente Discordo Parcialmente Nulo Discordo Discordo A adesão a um cadastro positivo e voluntario de prevenção e combate a corrupção gera valor para as empresas? O comportamento atual da maioria dos cidadãos favorece o desenvolvimento da corrupção no Brasil? 65% 72% 0% 0% Você acredita que os cidadãos brasileiros participarão da mobilização nacional pelo controle social dos investimentos para os jogos de 2014 e 2016? Sim Não 22% 30% 0% 0% 6% 5% Concordo Plenamente Concordo Plenamente Concordo Parcialmente Concordo Parcialmente Sem opinião Sem opinião Discordo Parcialmente Discordo Parcialmente Discordo Discordo 5% 32% 68% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 48 Foto: Clovis Fabiano Plenária Rio+20 Organizações parceiras Objetivo: Trazer as informações oficiais sobre a Rio+20, as iniciativas da sociedade civil e das empresas com relação ao evento e apresentar as organizações que planejaram a Conferência Ethos e darão prosseguimento aos trabalhos de elaboração de uma proposta de agenda para uma economia includente, verde e responsável. Participaram da plenária o presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão; o vice-presidente do Instituto Ethos e coordenador-geral da Conferência, Paulo Itacarambi; a representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Elisa Tonda; e o embaixador André Corrêa do Lago, diretor do Departamento de Meio Ambiente e Temas Especiais do Ministério das Relações Exteriores. A Conferência Rio+20 é uma oportunidade privilegiada para a discussão de medidas e mecanismos de implementação das decisões e acordos já firmados há 20 anos, na Rio(Eco)92. Essa conferência soube avançar nos temas anteriormente propostos, sob forma ainda incipiente, na Conferência de Estocolmo, em 1972, e produzir um conjunto robusto de compromissos entre as nações, expressos nos 27 Princípios da Declaração do Rio, na Agenda 21, na Declaração de Princípios sobre as Florestas e nas Convenções de Biodiversidade Biológica, Mudanças Climáticas e Combate à Desertificação, além de abrir caminho para diversos compromissos posteriores, como a Declaração do Milênio e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e o Plano de Implementação de Johanesburgo, entre outros. São muito expressivas as diferenças contextuais entre as grandes conferências anteriores – Estocolmo (1972), Rio (1992) e Johanesburgo (2002) – e a cúpula de 2012. As três constituíram, em suas discussões e decisões, mundos paralelos em relação ao ambiente econômico em que se situaram. A Conferência de Estocolmo realizou-se no final do período de real efetividade das instituições de Bretton Woods e antecedeu as duas crises do petróleo (1973 e 1979), que mudaram a economia global. A Rio92 ocorreu em meio ao processo de desregulamentação da economia, superação de barreiras nacionais e redução das redes de proteção social, na contracorrente de um esforço de desenvolvimento sustentável. Os acordos por ela produzidos, fundamentais, não foram implementados por contrariar a lógica de uma globalização nascente que também buscava afirmar-se. A cúpula de Johanesburgo coincidiu com o ápice do movimento de financeirização da economia global, no qual o capital mundial foi alocado predominantemente a serviço da própria reprodução. Em cada um desses momentos históricos verificou-se um descolamento entre as propostas e deliberações das cúpulas e as decisões cotidianas de governos e empresas. Nas duas últimas predominaram a visão e a lógica econômica tradicional, em detrimento dos compromissos políticos. A Rio+20 terá o desafio e a oportunidade de analisar a crise mundial – iniciada em 2008 e desdobrada em 2010-2011 –, tendo em vista o esgotamento do modelo tradicional de desenvolvimento e a reiterada imposição dos imperativos econômicos de curto prazo sobre as decisões políticas, e propor uma mudança de rumo baseada nos princípios e imperativos do crescimento sustentável. Obviamente, haverá disputas de interesses e de visões. Às vozes mais avançadas, entre elas o Brasil, caberá defender uma afirmação da política, em sua dimensão multilateral, com impactos nas ordens internas, conduzindo, também, à saída da crise. Para tanto, deve-se apresentar propostas concretas para a internalização das decisões na política real e na economia real, em sua dimensão global e local. Se a Rio+20 não construir esse caminho, haverá grande risco de pôr-se a perder todo o acúmulo de decisões mencionadas, fundamentais para a construção de uma ordem global mais justa, includente, íntegra e ambientalmente amigável. A Conferência Ethos 2011 finalizou suas atividades com um debate, inaugurado pelo embaixador André Corrêa do Lago, que contribuiu com dados oficiais sobre a organização da Rio+20, as expectativas do governo brasileiro e as oportunidades de participação 49 das empresas e da sociedade civil. O embaixador destacou os seguintes pontos: O modelo atual de crescimento, herdado dos países desenvolvidos, está em xeque, enquanto as economias emergentes vêm ampliando seu espaço no mundo, com um crescimento que permite tirar milhões de pessoas da linha da pobreza. Nesse contexto, “a Rio+20 deve tratar da questão da inclusão de bilhões de cidadãos em um novo modelo de desenvolvimento, construído sobre um novo conceito”; Ao incluir as dimensões econômica e social à agenda ambiental, o debate do desenvolvimento sustentável – no qual, por questões históricas, o Brasil entrou um pouco atrasado – recupera o diálogo entre países ricos e pobres; A Rio+20 poderá ser não apenas mais uma etapa no processo multilateral, mas um divisor de águas, desde que deslanche uma agenda para os próximos 20 anos de um novo modelo de desenvolvimento, que incorpore a realidade e a dinâmica das economias emergentes; O Brasil é o mais ocidental, democrático e aberto dos quatro países do BRIC em seu processo de consulta para a conferência; O resultado-chave do encontro em 2012, liderado pelo Brasil, é integrar o desenvolvimento sustentável ao planejamento estratégico de todos os países e às reuniões decisivas do Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, G20, entre outros. A Rio+20 deve tratar da questão da inclusão de bilhões de cidadãos em um novo modelo de desenvolvimento, construído sobre um novo conceito “ ” Chamou a atenção em especial para o documento de posicionamento e sugestões às instâncias oficiais de consulta que foi redigido e se encontra em consulta pública, bem como os diversos fóruns, nacionais e internacionais, nos quais o Ethos debaterá propostas para os atores multilaterais e formas de mobilização e participação do setor produtivo. Os resultados esperados, sejam documentos, sejam convenções ou decisões. Ela aponta os dois principais resultados da Rio92 – a Convenção de Mudança do Clima e a Convenção da Biodiversidade – como as maiores e mais importantes negociações internacionais em andamento. No debate, mediado por Paulo Itacarambi, vieram à tona questões contundentes. A controvérsia em torno da expressão “economia verde”, considerada por muitos países em desenvolvimento uma possível estratégia dos países desenvolvidos para impor padrões tecnológicos e econômicos. A necessidade de criação de mecanismos do desenvolvimento sustentável, bem como de uma reforma urgente no marco institucional das Nações Unidas para sua governança. Quanto a esse último tema, destacamse atualmente visões quanto à criação de uma instância guarda-chuva, no nível do Conselho de Segurança da ONU: Jorge Abrahão concordou com o que foi exposto. “Pode ser utópico, mas eu acredito que o Brasil tem condições de ser ousado e propor caminhos em direção ao desenvolvimento sustentável”, afirmou, destacando o trabalho de preparação e contribuição para a Rio+20 que vem sendo realizado pelo instituto. 1- Fortalecimento do PNUMA; 2- Fortalecimento do Conselho de Desenvolvimento Sustentável; 3- Fortalecimento do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (ECOSOC); 4- Coordenação das anteriores. O papel internacional do Brasil, como um país de vanguarda em várias questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, que, pressionado pela sociedade civil e pelo setor privado, legitima seu mandado para atuar na conferência; Em seguida, Elisa Tonda expôs as expectativas de sua organização em relação à Rio+20. A conferência, segundo ela, é um processo de construção contínuo: “A Rio+20 não é um fim em si mesmo, mas uma excelente oportunidade para definir caminhos, atores e medidas práticas e claras para alcançar o desenvolvimento sustentável”. Salientou também que a transição para a economia verde exige investimentos de curto prazo que vão gerar benefícios sociais, ambientais e econômicos em um tempo mais alongado. E pontuou três dimensões relevantes da Rio+20: Foto: Julio Endo O processo preparatório brasileiro, que envolve a Conferência Ethos 2011 e outras diversas ações multistakeholders de definição e consulta do que deve ser proposto; Embaixador André Correa do Lago CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 50 perfil dos participantes Estatística de participantes por sexo Estatística de participantes por faixa etária 58% 32,5% Estatística de participantes por região 29% 12% 20,4% 65% 21,6% 10,4% 0,5% 5,5% 1,5% 15% 0,1% 1,8% 6,4% 5,6% Masculino De 18 a 20 anos Sudeste Feminino De 21 a 30 anos Sul Não definido De 31 a 40 anos Centro-Oeste De 41 a 50 anos Nordeste De 51 a 60 anos Norte Acima de 60 anos Internacional Não definido avaliação do evento pelos participantes Você achou que a Conferência Ethos 2011 b) Trouxe idéias que poderão ser implantadas na sua empresa? a) Apresentou temas interessantes para sua empresa? Sim Não 92 10 d) Foi inovadora em medidas de sustentabilidade? Sim Não 53 42 Sim Não 72 29 e) Propiciou trocas de experiências entre profissionais? Sim Não 68 32 c) Foi inovadora em idéias, práticas, ferramentas e modelos? Sim Não 53 44 f) Ofereceu tempo adequado para os debates? Sim Não 52 52 51 Dê uma nota de 1 a 5 (sendo 5 excelente): NOTAS 1 2 3 4 5 0% 10% 28% 42% 19% 6% 17% 33% 20% 27% 2% 15% 20% 34% 31% 33% 17% 8% 25% 17% 21% 23% 32% 15% 9% 2% 10% 11% 31% 36% 0% 2% 14% 34% 49% 1% 5% 23% 31% 41% ÍTENS 1) Atividades realizadas 2) Local do evento 3) Atendimento durante o evento 4) Tradução simultânea 5) Alimentação 6) Acessibilidade 7) Recursos audiovisuais 8) Materiais de divulgação Suas expectativas em relação ao evento deste ano foram: Como você soube deste evento? 43% 39% 11% 5% 38% 28% 28% 19% 1% 3% Superadas Revista Atendidas Jornal Parcialmente atendidas Rádio Não atendidas Site Não responderam Email Marketing Indicação Outros 2% 0% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 Rumo à Rio+20 52 Cite três atividades de que você tenha participado e, baseando-se nos aspectos negativos e positivos, dê a elas notas de 1 a 5 (sendo 1 a pior e 5 a melhor nota) nos quesitos Conteúdo, Compreensão do tema e Discussões sobre o tema. CONTEÚDO ATIVIDADE Nova Economia Rio+20 Governança Novos Padrões Inovação Código Florestal Direitos Humanos Financiamento Energia Biodiversidade Resíduos Sólidos Mudanças Climáticas Infraestrutura Erradicação da Miséria Trabalho Decente Educação Integridade Gestão da Água Cidades Sustentáveis COMPREENSÃO DISCUSSÕES 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 7% 14% 29% 21% 29% 4% 11% 18% 25% 43% 14% 18% 25% 18% 25% 0% 0% 20% 20% 60% 0% 0% 0% 60% 40% 0% 0% 0% 60% 40% 0% 0% 19% 44% 37% 0% 0% 6% 63% 31% 0% 0% 13% 50% 37% 0% 0% 18% 45% 36% 0% 0% 0% 45% 55% 0% 0% 27% 55% 18% 8% 8% 27% 31% 27% 8% 4% 23% 23% 42% 8% 15% 19% 23% 35% 0% 0% 50% 50% 0% 0% 0% 25% 37% 37% 0% 12% 12% 62% 12% 12% 18% 18% 29% 23% 0% 6% 24% 29% 41% 6% 18% 47% 23% 6% 0% 11% 39% 33% 17% 0% 0% 22% 56% 22% 0% 28% 28% 22% 22% 0% 0% 20% 40% 40% 0% 0% 0% 40% 60% 0% 0% 60% 20% 20% 0% 0% 14% 29% 57% 0% 0% 0% 29% 71% 0% 0% 0% 57% 43% 0% 5% 5% 45% 45% 0% 0% 8% 42% 50% 0% 4% 23% 23% 50% 5% 0% 26% 37% 32% 5% 5% 11% 42% 37% 5% 11% 16% 37% 32% 0% 40% 50% 10% 0% 0% 60% 20% 10% 10% 10% 60% 20% 10% 0% 0% 0% 6% 29% 65% 0% 0% 6% 24% 71% 0% 18% 29% 6% 47% 0% 5% 25% 35% 35% 5% 5% 25% 15% 50% 5% 10% 20% 40% 25% 0% 5% 9% 32% 55% 5% 0% 18% 27% 50% 5% 0% 27% 23% 45% 0% 0% 0% 50% 50% 0% 0% 25% 25% 50% 0% 0% 0% 50% 50% 0% 17% 33% 33% 17% 0% 17% 33% 17% 33% 0% 33% 33% 0% 33% 0% 0% 37% 37% 26% 0% 25% 25% 25% 25% 12% 12% 12% 38% 26% CONFERÊNCIA ETHOS 2011 54 Rumo à Rio+20 Realização Patrocinadores Institucionais Patrocinadores Ouro Patrocinadores Prata Parceiro Estratégico Parceiros Alcoa • Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) • Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) • Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) • Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) • BM&FBOVESPA • Central Única dos Trabalhadores (CUT) • Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) • Comitê Brasileiro do Pacto Global da ONU • Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) • Controladoria-Geral da União (CGU) • CPFL Energia • Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) • Fundação Avina • Fundação Dom Cabral (FDC) • Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) • Greenpeace Brasil • Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) • Instituto Akatu pelo Consumo Consciente • Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) • Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) • Instituto Socioambiental (ISA) • Instituto Vitae Civilis • Natura Cosméticos • Núcleo de Economia Socioambiental da Universidade de São Paulo (Nesa/USP) • Núcleo de Estudos do Futuro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (NEF/PUC-SP) • Organização Internacional do Trabalho (OIT Brasil) • Rede Nossa São Paulo • Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis • Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional) • Suzano Papel e Celulose • Vale • Walmart Brasil • WWF-Brasil © Copyright 2011, Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. 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