REMOÇÃO DE ÍONS COBRE DE EFLUENTES AQUOSOS POR ELETRODEPOSIÇÃO EM REATOR ELETROQUÍMICO DE LEITO DE JORRO R. MARTINS 1, L. A. M. RUOTOLO2 1 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Química e-mail: [email protected] 2 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Química e-mail: [email protected] RESUMO – Neste trabalho foi estudado o processo de remoção de íons cobre presentes em efluentes aquosos simulados utilizando reator eletroquímico de leito de jorro composto por partículas condutoras de cobre que compunham o cátodo poroso. Aplicando-se um planejamento fatorial Box-Behnken foram estudados os efeitos da corrente elétrica (I), espessura do reator (L), espaçamento do canal central (d) e concentração de eletrólito suporte (Cs) sobre a eficiência de corrente (EC), rendimento espaço-tempo (Y) e consumo energético (CE) do processo. Os resultados foram analisados estatisticamente e o efeito de cada variável sobre as respostas estudadas foi feito utilizando-se superfícies de resposta. Os resultados mostraram que a concentração de eletrólito suporte mostrou-se uma variável bastante importante para a otimização do processo. O valor da corrente a ser aplicada deve ser ajustado de maneira a propiciar um elevado rendimento em consonância com valores elevados de EC e valores baixos de CE. O uso de espessuras de leito maiores que 1,3 cm mostrou-se inadequado e verificou-se a taxa de circulação das partículas dada pela distância do canal central da base do reator não teve efeito estatístico significativo. PALAVRAS-CHAVE: tratamento de efluentes, metais tóxicos, reatores eletroquímicos, leito de jorro. 1. INTRODUÇÃO A recuperação de metais pesados (Cu, Pb, Ni, Zn, Cr etc.) de soluções aquosas diluídas presentes em resíduos industriais no setor de galvanoplastia, metalurgia extrativa, eletrônica, entre outras, é necessária por estar associada a problemas de impacto ambiental e econômico. Do ponto de vista de impacto ambiental, estes efluentes contendo íons metálicos, mesmo em baixas concentrações, constituem efluentes muito tóxicos podendo ocasionar vários tipos de poluição, tais como, formação de bancos de ISSN 2178-3659 lodo, extermínio da vida aquática e problemas relacionados à saúde humana (Ruotolo e Gubulin, 2002). Os métodos clássicos (precipitação química de sais e hidróxidos, abaixamento do pH, floculação, coagulação e outros) adotados atualmente estão se tornando cada vez menos viáveis. Principalmente pela grande quantidade de subprodutos a serem recuperados e por apresentarem alto custo para as indústrias devido ao uso de grande quantidade de reagentes químico e à área necessária para a estocagem de grande quantidade de lama residual formada nos 6322 decantadores. Atualmente, a disposição dessa lama no meio ambiente, acarreta enormes penas previstas pela lei devendo ser armazenada ou convenientemente disposta em aterros sanitários adequados (Lanza e Bertazzoli, 2000). A tecnologia eletroquímica, através do emprego de reatores eletroquímicos, oferece uma alternativa eficiente para o controle da concentração dos íons metálicos em solução aquosa através de sua remoção via reações de redução. Na eletrodeposição, os íons metálicos são reduzidos eletroquimicamente sobre a superfície de um eletrodo à medida que o eletrólito circula pelo interior do mesmo, onde o metal é recuperado em sua forma mais valiosa, metálica, podendo inclusive ser reaproveitado. Nesse tratamento não é, tipicamente, necessária a adição de reagente químico, o que facilita a recuperação da água, reduzindo o custo final do produto (Pletcher e Walsh, 1990). Dentre as tecnologias eletroquímicas existentes destaca-se o uso de eletrodos particulados os quais, devido à sua grande área superficial e às altas taxas de transferência de massas obtidas, tornam-se ideais para a recuperação de metais em soluções diluídas, as quais são controladas pelo processo de transferência de massa. Nesses eletrodos o movimento das partículas, resultante da passagem do eletrólito no interior da matriz porosa, define o tipo do reator como sendo eletrodo de leito fixo, fluidizado, jorro, etc. O objetivo deste trabalho foi estudar o processo de eletrodeposição de íons cobre utilizando o eletrodo de leito de jorro. O desempenho do reator eletroquímico foi analisado em termos da eficiência de corrente, rendimento espaço-tempo, e consumo energético utilizando-se a técnica de planejamento fatorial de experimentos, especificamente o planejamento Box-Behnken. Os resultados foram analisados estatisticamente e o efeito de cada variável sobre as respostas estudadas foi feito utilizando-se superfícies de resposta. ISSN 2178-3659 2. MATERIAIS E MÉTODOS Os experimentos de eletrodeposição de foram realizados no sistema cobre experimental esquematizado na Figura 1. O eletrólito foi preparado utilizando-se sulfato de cobre pentahidratado como fonte de íons cobre e ácido sulfúrico como eletrólito suporte. Todas as soluções foram preparadas utilizando-se água deionizada. Figura 1 - Representação esquemática do sistema experimental. 1) reservatório de eletrólito; 2) bomba centrífuga; 3) válvula de controle da vazão ao reator; 4) voltímetro; 5) reator eletroquímico; 6) fonte de corrente; 7) sistema de controle da temperatura; 8) válvula do by-pass e 9) válvula de esgotamento do sistema. A Figura 2 mostra uma visão mais detalhada do reator eletroquímico de leito de jorro. O reator de leito de jorro era formado por placas retangulares que eram justapostas, vedadas por meio de mantas de silicone (3) e fixadas por meio de porcas e parafusos (Figura 2b). À placa da direita da Figura 2 estava embutido o contraeletrodo (6) de Ti/Ti0,7Ru0,3O2 (De Nora do Brasil, Sorocaba-SP). O contra-eletrodo era revestido por uma tela de polietileno recoberta com tecido de poliamida (7) para evitar o curto circuito do sistema. À placa mais à esquerda da Figura 2 estava embutido o alimentador de corrente (1), que se constituía de uma placa de aço inox AISI 316. As partículas eletroativas de cobre constituíam o cátodo poroso e eram acondicionadas no interior da placa central da Figura 2 (4), por onde também escoava o 6323 eletrólito, que entrava pela base e saía pelo topo do reator. No centro da placa intermediária estava disposto também o draft ou canal central (2), composto por duas placas paralelas de acrílico com distância de 13 mm entre si. Estas placas eram encaixadas nas duas placas laterais através de pequenas ranhuras que permitiam seu deslocamento para cima e para baixo, possibilitando assim que se variasse o espaçamento entre o canal central e a base do leito de jorro. Logo acima da entrada do eletrólito no reator e abaixo do leito de partículas eletroativas havia um meio poroso de partículas de polietileno cuja função era a de um distribuidor de fluxo (8). (a) (b) Figura 2 – Reator eletroquímico de leito jorro. (a) Vistas frontal e lateral; (b) vista explodida. (1) contra-eletrodo; (2) draft ou canal central; (3) borrachas de silicone; (4) placa central com aberturas de entrada e saída de eletrólito; (5) distribuidor de fluxo; (6) tela de polietileno revestida por tecido de poliamida e (7) alimentador de corrente. ISSN 2178-3659 Para o estudo das quatro variáveis independentes foi empregado um planejamento fatorial do tipo Box-Behnken (Box e Behnken, 1960), cuja codificação e condições experimentais estão mostradas nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. Tabela 1 - Codificação do planejamento BoxBehnken para quatro variáveis. Experimento I* Cs* d* L* 1 -1 -1 0 0 2 1 -1 0 0 3 -1 1 0 0 4 1 1 0 0 5 0 0 -1 -1 6 0 0 1 -1 7 0 0 -1 1 8 0 0 1 1 9 0 0 0 0 10 -1 0 0 -1 11 1 0 0 -1 12 -1 0 0 1 13 1 0 0 1 14 0 -1 -1 0 15 0 1 -1 0 16 0 -1 1 0 17 0 1 1 0 18 0 0 0 0 19 -1 0 -1 0 20 1 0 -1 0 21 -1 0 1 0 22 1 0 1 0 23 0 -1 0 -1 24 0 1 0 -1 25 0 -1 0 1 26 0 1 0 1 27 0 0 0 0 Observação: * indica os valores na forma codificada. Tabela 2 - Valores assumidos pelas variáveis no planejamento Box-Behnken. Variável -1 0 +1 I (A) 4,0 6,0 8,0 Cs (M) 0,1 0,5 0,9 d (cm) 1,0 1,5 2,0 L (cm) 1,3 1,9 2,5 6324 EC = Y= 100 z F V dC MI dt EC M I 10 5 z F VR CE = 2,78 x 10 -2 z F ∆U EC M (1) (2) (3) Nestas equações, z corresponde ao número de elétrons envolvidos na reação eletroquímica, F é a constante de Faraday, V o volume de eletrólito, M a massa molecular, C a concentração da espécie eletroativa, t o tempo, VR o volume do eletrodo e ∆U o potencial de célula. A constante 2,78 x 10-2 é um fator de conversão que tem unidade de h s-1. ISSN 2178-3659 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A Figura 3 mostra alguns resultados típicos de curvas de concentração normalizada em função do tempo obtidas nos experimentos de eletrodeposição de cobre. 1,0 4 A; 0,5 M; 1,3 cm 8 A; 0,5 M; 1,3 cm 8 A; 0,5 M; 2,5 cm 6 A; 0,1 M; 1,3 cm 6 A; 0,9 M; 1,3 cm 0,8 C/C0 O procedimento experimental consistiu na montagem do reator nas condições desejadas de espessura de leito e espaçamento do canal central e em seguida seu acoplamento à unidade experimental da Figura 1. Preparava-se o eletrólito na condição de concentração de eletrólito suporte desejada e acionava-se a bomba centrífuga fazendo a solução permear para o reator. Ajustava-se a vazão de maneira a se obter a condição de jorro desejada e em seguida acionava-se simultaneamente a fonte de corrente e o cronômetro, iniciando-se assim o processo de eletrodeposição. Em intervalos de tempos regulares media-se o potencial de célula e retirava-se uma amostra para posterior análise de cobre em espectrofotômetro de absorção atômica (Varian, modelo SpetrAA200). A temperatura do eletrólito foi controlado entre 25 e 28 oC durante todo o experimento. As variáveis resposta estudadas foram a eficiência de corrente (EC, em %), rendimento espaço-tempo (Y, em kg m-3 h-1) e consumo energético (CE, kWh kg-1), calculadas pelas Equações 1 a 3, respectivamente (Goodridge e Scott,1995). 0,6 0,4 0,2 0,0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 t / min Figura 3 - Concentração normalizada em função do tempo. C0 = 1000 mg L-1, d = 1,5 cm. Observando-se a Figura 3 verifica-se que existem duas regiões distintas nas curvas apresentadas, isto é, uma região de queda de concentração linear, correspondente a um controle cinético da reação, e outra região exponencial, indicando um controle por transferência de massa. Constata-se também que as condições de corrente, concentração de eletrólito suporte e espessura do eletrodo também exercem influência sobre a cinética do processo. Aplicando-se a Equação 1 calculou-se a eficiência de corrente em função da concentração normalizada, conforme mostrado na Figura 4. Nas curvas de eficiência de corrente em função da concentração normalizada é possível também observar duas regiões distintas, uma de EC constante, que corresponde àquela em que a taxa de reação é constante. À medida que a concentração de íons cobre diminui, o processo passa a ser também controlado pelo transporte de massa e a taxa de reação passa a ser função da concentração de cobre; assim, após atingir-se um valor de concentração em que a corrente aplicada torna-se superior à corrente limite do processo (denominada concentração de 6325 60 50 40 EC / % cinético em que o CE é menor, assim, o consumo energético global será minimizado. 70 4 A; 0,5 M; 1,3 cm 8 A; 0,5 M; 1,3 cm 8 A; 0,5 M; 2,5 cm 6 A; 0,1 M; 1,3 cm 6 A; 0,9 M; 1,3 cm -1 60 CEI / kWh kg transição), a EC diminui rapidamente. É possível observar também que a concentração de transição depende das condições operacionais impostas ao sistema, podendo o processo operar por mais ou menos tempo em condições de maior EC, tendo assim influência sobre a EC global do processo. 50 40 30 20 10 30 0 4 A; 0,5 M; 1,3 cm 8 A; 0,5 M; 1,3 cm 8 A; 0,5 M; 2,5 cm 6 A; 0,1 M; 1,3 cm 6 A; 0,9 M; 1,3 cm 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 C/C0 Figura 4 – EC em função da concentração normalizada. C0 = 1000 mg L-1, d = 1,5 cm. Na Figura 5 são apresentadas as curvas de CE em função da concentração normalizada. Observa-se nesta figura uma primeira região nas condições de concentração mais elevada, em que o pequeno aumento do CE pode ser atribuído ao aumento do potencial de célula devido à perda de condutividade da solução decorrente da remoção dos íons cobre. De maneira geral, o CE nestas condições está abaixo de 10 kWh kg-1, o que pode ser considerado um valor bastante satisfatório e que pode ser significativamente melhorado através do estabelecimento de condições experimentais que levem a um aumento da EC na região de controle cinético. Após atingida a concentração de transição, o consumo energético aumenta rapidamente devido principalmente à perda de EC nas condições de processo controlado por transporte de massa. Uma vez que o CE aumenta rapidamente após atingir-se a concentração de transição, é desejável um processo que possa trabalhar o máximo possível na condição de controle ISSN 2178-3659 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 C/C0 Figura 5 – CE em função da concentração normalizada. C0 = 1000 mg L-1, d = 1,5 cm. Utilizando-se apenas a região de taxa de reação constante das curvas de concentração em função do tempo foram calculados os valores de EC, Y e CE utilizados no planejamento fatorial de experimentos. Os resultados obtidos estão mostrados na Tabela 3. Verifica-se na Tabela 3 que as eficiências de corrente foram, de maneira geral, muito baixas, sendo que o maior valor obtido foi de 57%, indicando então que as variáveis estudadas podem ser otimizadas de maneira a melhorar significativamente a eficácia do processo. De qualquer maneira, mesmo diante dos valores baixos de EC, o rendimento espaço-tempo podem ser considerados elevados e em muitos casos com consumos energéticos inferiores a 10 kWh kg-1. Diante destes resultados, foram construídas superfícies de resposta para as três variáveis dependentes estudadas de maneira a verificar a influência de cada uma sobre o processo, facilitando assim o entendimento dos parâmetros operacionais mais importantes e que devem ser otimizados de maneira a se obter os melhores valores de EC e Y aliados com os menores valores de CE. 6326 Tabela 3 – Resultados experimentais do planejamento fatorial Box-Behnken. Y CE d L EC (kg m-3 (kWh Exp. I Cs (A) (M) (cm) (cm) (%) h-1) kg-1) 1 4 0,1 1,5 1,9 22 11,5 14,2 2 8 0,1 1,5 1,9 16 16,3 28,3 3 4 0,9 1,5 1,9 49 25,5 4,4 4 8 0,9 1,5 1,9 41 42,1 6,5 5 6 0,5 1 1,3 41 46,2 6,7 6 6 0,5 2 1,3 44 49,6 6,0 7 6 0,5 1 2,5 25 14,7 10,8 8 6 0,5 2 2,5 33 19,6 7,9 9 6 0,5 1,5 1,9 32 25,0 9,0 10 4 0,5 1,5 1,3 30 23,1 7,3 11 8 0,5 1,5 1,3 57 86,1 5,1 12 4 0,5 1,5 2,5 47 18,6 4,8 13 8 0,5 1,5 2,5 21 16,7 13,7 14 6 0,1 1 1,9 15 11,7 28,8 15 6 0,9 1 1,9 45 35,3 5,2 16 6 0,1 2 1,9 21 16,2 17,7 17 6 0,9 2 1,9 45 35,4 5,3 18 6 0,5 1,5 1,9 41 31,8 6,8 19 4 0,5 1 1,9 46 24,0 5,1 20 8 0,5 1 1,9 36 37,9 7,8 21 4 0,5 2 1,9 41 21,4 5,8 22 8 0,5 2 1,9 28 28,8 9,9 23 6 0,1 1,5 1,3 27 30,8 14,2 24 6 0,9 1,5 1,3 49 55,6 4,8 25 6 0,1 1,5 2,5 13 7,6 36,4 26 6 0,9 1,5 2,5 49 29,1 5,1 27 6 0,5 1,5 1,9 46 35,7 6,2 Inicialmente, através dos resultados do tratamento estatístico verificou-se que a variável espaçamento do canal central não exercia influência sobre o processo, tanto em termos da EC e Y quanto do CE. Assim sendo, o espaçamento do canal central, o qual tem influência direta sobre a taxa de circulação das partículas pelo canal de jorro, não foi considerado na análise das superfícies de resposta. ISSN 2178-3659 Na Figura 6 são mostradas as superfícies de resposta para a EC em função da concentração de eletrólito suporte e da corrente, para as três espessuras de leito estudadas. (a) (b) (c) Figura 6 – EC em função de Cs e I. (a) L = 1,3 cm; (b) L = 1,9 cm e (c) L = 2,5 cm. d = 1,5 cm. 6327 Analisando-se o comportamento da superfície de resposta para a EC verificam-se três comportamentos diferentes da influência da corrente elétrica sobre o processo; esse comportamento depende da espessura do leito com o qual está se trabalhando. Para leitos de pequena espessura (Figura 6a) o aumento da corrente aplicado leva a uma melhoria do processo em termos da EC. Este efeito pode ser entendido em termos de uma melhor distribuição da corrente no interior do eletrodo particulado, fazendo com que a região próxima ao alimentador de corrente se torno mais ativa eletroquimicamente, isto é, fazendo com que a taxa de eletrodeposição aumente nesta região evitando ou diminuindo a ocorrência de regiões de dissolução anódica do cobre eletrodepositado. O aumento da espessura do leito para 1,9 cm faz com que a corrente exerça pouca influência sobre o processo dentro da faixa estudada. Já quando se utiliza o leito com 2,5 cm, ou aumento da corrente causa uma diminuição da EC, o que pode ser explicado por um aumento do sobrepotencial na região próxima ao contra-eletrodo que favorece a reação paralela de evolução de hidrogênio (RDH), sem uma contrapartida em termos de uma melhor distribuição da corrente na região próxima ao alimentador de corrente, em que uma possível dissolução anódica seria a responsável pelos baixos valores de EC observados. Com relação à concentração de eletrólito suporte verificou-se em todos os casos que o seu aumento causa uma melhoria da EC do processo e que o seu efeito foi o mais significativo estatisticamente falando. A equação que descreve as superfícies de resposta para a EC, considerando-se apenas os efeitos significativos, é a seguinte: 2 ( ) EC = 37,89 − 3,18I * + 13,71C *s − 5,19 C *s * * * (4) − 4,87 L − 13,09I L Analisando-se a Equação 4 verifica-se também um forte efeito de interação entre a ISSN 2178-3659 corrente e a espessura do eletrodo, a qual pode ser melhor visualizada na Figura 7. Figura 7 – EC em função de I e L. (a) Cs = 0,5 M. d = 1,5 cm. Como foi comentado anteriormente, o efeito de interação entre a corrente e a espessura é responsável pela morfologia da superfície de resposta da Figura 7, em que se verifica mais claramente que para leitos de menor espessura o aumento da corrente é benéfico, sendo inclusive que na condição de 8,0 A e 1,3 cm obtém-se o melhor valor de EC mostrado na Tabela 3, de 57%. Uma possível estratégia visando melhorar a EC do processo poderia ser o aumento da corrente para valores maiores que 8,0 A ou então aumentar a concentração de eletrólito suporte para 0,9 M. Para leitos de maior espessura este comportamento se inverte, sendo que os melhores valores de EC são obtidos em condições de baixa corrente. Na Figura 8 são apresentadas as superfícies de resposta do rendimento em função da concentração de eletrólito suporte e da corrente aplicada. Mais uma vez verifica-se a o aumento de Cs causa um grande aumento do rendimento, principalmente para o leito de menor espessura. Com relação à espessura, verifica-se que este é o parâmetro que exerce maior influência sobre o rendimento, conforme pode ser constatado pela Equação 5, em que são considerados apenas os efeitos significativos. 6328 Y = 29,54 + 17,29I * + 21,46C *s - 30,82L* − 32,48I * L* (5) (a) Nota-se nas superfícies de resposta que o aumento de L causa uma diminuição do rendimento, indicando que o aumento da espessura leva a uma distribuição menos uniforme do sobrepotencial no interior do eletrodo causando uma diminuição da EC que é responsável, juntamente com o aumento do volume do eletrodo, pelos baixos valores de rendimento observado nestas condições. Com relação à corrente, verifica-se novamente um efeito muito significativo de sua interação com a espessura do eletrodo, conforme pode ser constatado na Figura 9. Da mesma forma que ocorre para a EC, para leitos de pequena espessura ocorre um aumento bastante significativo do rendimento com o aumento da corrente aplicada, enquanto que para leitos de maior espessura o aumento da corrente praticamente não tem influência sobre o rendimento. (b) Figura 9 – Y em função de I e L. Cs = 0,5 M. d = 1,5 cm. (c) Figura 8 – Y em função de Cs e I. (a) L = 1,3 cm; (b) L = 1,9 cm e (c) L = 2,5 cm. d = 1,5 cm. ISSN 2178-3659 O uso de correntes elevadas, de maneira geral, promove um aumento do rendimento do reator eletroquímico em termos da eletrodeposição, porém, valores elevados de corrente podem causar uma grande diminuição da EC e, consequentemente, um aumento proibitivo do CE. Desta forma, a análise isolada da Figura 7 poderia sugerir que um leito de maior espessura e 6329 baixas correntes poderia otimizar o processo, pelo menos em termos da EC. No entanto, quando se faz a análise conjunta da EC e do Y (Figura 9) verifica-se que a condição de maior espessura e menor corrente apresenta um baixo rendimento. Finalmente, é necessário analisar também o CE do processo. Verificou-se que no caso desta variável, o parâmetro que exerceu maior influência foi a concentração de eletrólito suporte, conforme pode ser constatado pela análise da Equação 6, que leva em consideração apenas os efeitos significativos. 2 ( ) CE = 7,53 + 2,45I * − 9,04C *s + 6,71 C *s + 2,89L* − 5,47C *s L* Na Figura 11 são apresentadas as superfícies de resposta do CE em função de L e I para as três concentrações de eletrólito suporte estudadas. (6) A Figura 10 mostra o CE em função de Cs e I para o leito de 1,9 cm. Verifica-se que o aumento da concentração de eletrólito suporte causa uma grande diminuição do consumo energético para a eletrodeposição em leito de jorro, atingindo-se valores menores que 5 kWh kg-1 nas condições de maior Cs. Por outro lado, a corrente teve um efeito menos significativo, causando apenas um pequeno aumento do CE, indicando que o aumento da condutividade do eletrólito decorrente do aumento da concentração de eletrólito suporte é um fenômeno preponderante para a diminuição do consumo energético do processo. (a) (b) (c) Figura 10 – CE em função de Cs e I. L = 1,9 cm. ISSN 2178-3659 Figura 11 – CE em função de I e L. (a) Cs = 0,1 M; (b) Cs = 0,5 M e (c) Cs = 0,9 M. d = 1,5 cm. 6330 Analisando o efeito da espessura, verifica-se que o seu aumento em condições de concentrações baixas e médias de Cs (0,1 M e 0,5 M) causa um aumento de CE devido principalmente à perda de eficiência de corrente do processo. No entanto, em condições de elevada condutividade (Cs = 0,9 M), o efeito da espessura torna-se insignificante e o consumo energético praticamente não é influenciado por este parâmetro. De maneira geral, os coeficientes de correção obtidos podem ser considerados satisfatório considerando o número de parâmetros estudados e a natureza dos experimentos. Os coeficientes de correlação foram de 0,8974 para a EC, 0,86526 para Y e 0,87821 para o CE. Os gráficos de resíduos apresentaram pontos aleatórios, mostrando que o modelo polinomial proposto foi adequado. o aumento de L causa uma diminuição expressiva de Y; o aumento de Cs causa uma melhoria de Y em todas as situações estudadas; o CE é influenciado pelas variáveis Cs, Cs2, Cs x L, L e I, sendo que Cs foi a variável com efeito mais significativo; o aumento de L em condições de Cs de 0,1 M e 0,5 M causa um aumento de CE, enquanto que para a condição de 0,9 M o aumento de L diminui levemente o valor de CE; o aumento de Cs diminui fortemente o CE em todas as condições de I estudadas; o modelo polinomial proposto foi adequado e os coeficientes de correlação obtidos satisfatórios; os resultados obtidos sugerem que a condição para operação ótima do ELJ seria em Cs = 0,9 M, I = 8 A e L = 1,3 cm. 4. CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos e levandose em consideração os valores dos parâmetros estudados neste trabalho, a seguintes conclusões podem ser apresentadas: a EC, Y e CE são influenciadas pela concentração de cobre no eletrólito; o espaçamento do canal central não tem influência estatística sobre a EC, Y e CE; a EC é influenciada pelas variáveis I, Cs, Cs2, L e pela interação de I x L. Cs e I x L foram os efeitos mais significativos; para leitos de menor espessura, o aumento da corrente causa um aumento de EC, enquanto para o leito de 2,5 cm ocorre uma diminuição da EC com o aumento de I; o aumento de Cs causa um grande aumento da EC; o Y é influenciado pelos parâmetros L, Cs, I x L e I. A espessura foi a variável de maior influencia sobre o rendimento; para leitos de 1,3 cm e 1,9 cm o aumento de I causa uma melhoria de Y, enquanto para L = 2,5 cm o rendimento é pouco influenciado pela corrente; ISSN 2178-3659 5. REFERÊNCIAS BOX, G.E.P.; BEHNKEN, D.W. 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