A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL A PESSOA COM DEFICIÊNCIA
E O MUNDO DO TRABALHO
CABRAL, Nelson
INTRODUÇÃO
No Brasil, historicamente pode-se observar que a profissionalização das pessoas com
deficiências ocorre quase que exclusivamente nas instituições especializadas, através
das oficinas pedagógicas abrigadas ou protegidas constituindo-se assim, numa forma
segregada de profissionalização alvo de inúmeras reflexões sobre sua viabilidade ou
não. Atendimentos estes que vêm sendo alvo de muitas críticas. Segundo Glat
“o objetivo de profissionalização nas oficinas, cumpre na maioria dos casos, um papel
apenas formal, uma vez que a oficina dá mais importância à finalidade de produzir do
que de ensinar aos aprendizes” (Glat,1998, p. 99 apud Goyos, 1996),
evidenciando uma contradição entre o que a instituição explicita e o que ela, na
realidade faz na prática.
O Brasil dispõe de uma das mais avançadas legislações mundiais de proteção e apoio às
pessoas com deficiência, no que se refere ao acesso no mercado do trabalho. Nossa
legislação deixa bem clara a importância da profissionalização com vistas à futura
inserção destas pessoas no mercado de trabalho. Entretanto, nem sempre a sociedade
tem oferecido à pessoa com deficiência condições para o exercício do direito ao
trabalho. Também, os estereótipos relativos às deficiências mantêm os empresários, em
geral, avessos a uma política de inclusão das pessoas com deficiências nos seus quadros.
As portas que se abrem para elas são poucas e tendem a fechar-se de modo definitivo
quando alguma delas, porventura empregada, não se adapta às exigências da empresa.
Nesse caso, a inadequação individual passa a estender-se, por força do estigma
preexistente, ao conjunto das pessoas com deficiências, como categoria.
OBJETIVOS
Desenvolver um estudo sobre as políticas públicas da educação profissional e as
concepções que orientam essas políticas.
Identificar como estas políticas vem sendo recebidas pela sociedade e empresariado, sua
viabilidade na preparação das pessoas com deficiência para sua inserção no mundo do
trabalho.
METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se como estudo exploratório de abordagem qualitativa,
realizado a partir da análise da legislação específica sobre a educação profissional e de
pesquisa de campo. Serão utilizados como instrumento de pesquisa, questionários
estruturados que serão aplicados às pessoas com deficiência física e visual, empregadas
e desempregadas.
RESULTADOS
Com a evolução e as mudanças sociais no mercado de trabalho, com a entrada de novas
tecnologias, da robotização e da informatização decorrentes do processo de
globalização, as empresas estão a exigir um novo perfil do trabalhador, que se torna
indispensável à preparação das pessoas para esta nova forma de produzir, garantindolhes o direito ao trabalho, básico para todo cidadão.
O mercado de trabalho busca pessoas cada vez mais habilitadas e com experiência na
área em que as vagas são ofertadas. Mediante essa nova realidade, evidencia-se uma
preocupação para que os trabalhadores estejam preparados para assumir novos postos de
trabalho e que possam se manter nas funções que essa nova realidade vem criando.
Em experiência na Agência do Trabalhador de Cascavel, pode-se observar que as
pessoas com deficiência encaminhadas para o mercado do trabalho, supostamente
qualificadas, normalmente preenchiam o perfil exigido pelo empregador, porém, em
média apenas 20% eram contratadas e em geral somente 5% permaneciam no emprego
por mais de noventa dias (período de experiência), ocorrendo uma grande rotatividade
entre pessoas e postos de trabalho.
Acreditando que as pessoas com deficiência são capazes e podem ser tão produtivas,
quanto qualquer outro trabalhador. Evidencia-se uma preocupação sobre a qualificação
das pessoas com deficiência, para que estejam preparadas para assumir postos de
trabalho que atualmente são ocupados por pessoas sem deficiência, procurando assim
encontrar o caminho para romper o modelo clínico-terapêutico historicamente utilizado
na área das pessoas com deficiência.
Uma das formas de inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, é através de
alternativas que multipliquem as oportunidades sociais, e sendo o trabalho um processo
histórico de suma importância na vida das pessoas, espera-se com esta investigação,
colaborar significativamente para com o processo de conquista da cidadania da pessoa
com deficiência.
Ao mesmo tempo, pretende-se identificar qual o impacto destas políticas dentro das
empresas e das instituições para pessoas com deficiência física e visual, no que se refere
à intermediação e inserção ao mercado de trabalho. Ou seja, onde está o problema para
o ingresso e permanência no emprego, na legislação, na educação profissional, na
intermediação ou na sociedade em geral?
Sendo o trabalho elemento central na vida do homem, as pessoas com deficiência
vítimas de discriminação e historicamente segregadas e alijadas do processo produtivo e
pelo fato de estarmos vivendo uma situação delicada no tocante ao emprego –
especialmente neste momento por que passa o modo de produção capitalista - com
menos postos de trabalho e pelo avanço das tecnologias e uma exigência cada vez maior
de qualificação para inserção neste mercado competitivo, pergunta-se: como colocar a
pessoa com deficiência neste contexto? Qual o impacto das políticas direcionadas a
prepará-la para inseri-la neste mercado? Como a pessoa com deficiência, responde às
novas exigências do mercado de trabalho? As concepções de educação profissional que
orientam as políticas públicas estão condizentes com as necessidades do mercado de
trabalho local? Como a pessoa que tem alguma seqüela pode ser inserida nesta
sociedade excludente e cheia de preconceitos, regras, normas, valores culturais que se
refletem no pensamento dos homens e norteiam suas ações, gestos, seus pensamentos e
terminam por refletir em suas palavras e ações?
CONCEITO DE TRABALHO AO LONGO DA HISTÓRIA
Constata-se que ao longo da história, o trabalho assume diferentes concepções e os
homens se relacionam para produzirem suas necessidades, nos diferentes sistemas
produtivos artesanal, manufatureiro e fabril.
No estudo de Carmo (1991), encontramos um trabalho que se propõe a percorrer a
história e a filosofia, buscando compreender o significado do trabalho e do papel social
das “pessoas com deficiência”. Assim ele coloca:
“ O trabalho e sua divisão no movimento da história, apresentam-se sob
diferentes formas. Existe a separação entre o trabalho na cidade e no
campo. Na zona urbana há divisão entre o trabalho industrial e comercial e,
dentro deste existem inúmeras outras subdivisões, atreladas aos diferentes
setores, porém, todas condicionadas às distintas formas de exploração do
trabalho vividas pelos homens em cada época” (Carmo, 1991, p, 46).
No final da Idade Média, com o aparecimento da burguesia, surge um novo modo de
produção que exige mais especializações; tal mudança é causada pela quase extinção
das atividades próprias do campo e da transferência para a cidade, de grandes
contingentes de pessoas em busca da liberdade e outros ganhos. Mais tarde com a
revolução industrial, o jeito de produzir e o modo de viver das pessoas são
drasticamente alterados: a produção artesanal cede espaço para a produção fabril. Neste
contexto surgem as fábricas e as escolas públicas. A revolução modifica as exigências
de formação dos homens. Todo esse processo, além de deslocar massas de populações
para as cidades, provoca conflitos e transformações substanciais. Para consolidar o seu
novo modo de produção e ascender ao poder, a burguesia necessitava criar mecanismos
para garantir a sua dominação, rompendo assim com o Estado Absolutista e a servidão,
inaugurando-se uma nova sociedade (burguesia), baseada num novo antagonismo de
classe, ou seja, a que detém os meios de produção e a outra que vende a sua força de
trabalho (proletariado). É decretada, então, a “libertação” dos servos, tornando os
trabalhadores livres.
De fato, o trabalhador, a partir do século XVII, já adquire nome e
cidadania desde seu nascimento, pois a nova forma de trabalho, o labor, o
libertou do antigo tripalium, isto é, soltou-o desse instrumento de tortura,
colocando-o no mercado de trabalho onde poderá dispor de sua força, de
seu corpo, como sua propriedade inalienável e “livremente” comercializá-la
com o capitalista, em troca de salário (Nosella, 1989, p. 32).
É dentro deste contexto que o conceito de trabalho sofreu uma ressignificação – de
tripalium da escravatura passou ao labor da burguesia, seguido pela criação de
mecanismos para condenar a indolência, combater a ociosidade e preparar mão-de-obra
adequada às novas funções de acordo com a nova divisão social do trabalho, instaurada
com a sociedade capitalista (Nosella, 1989 apud Rodrigues e Brandalise, 1998, p. 27).
Essa nova relação permitiu produzir a exploração, característica da sociedade
capitalista, mudando o sentido do trabalho para labor, porque liberta o homem de ser
escravo, mas não liberta de ser explorado.
Nesta nova forma de trabalho, o proletariado poderia vender ou dispor de sua força de
trabalho “livremente”, em troca de um salário.
Nesta nova organização social estabelecia-se claramente a dicotomia entre trabalho
intelectual e trabalho manual. Enquanto a alguns privilegiados é destinada a tarefa de
pensar, a uma maioria é destinado o trabalho manual.
Atualmente – após sucessivas formas de reorganização do mundo do trabalho visando
sempre garantir o acúmulo do capitalista a partir da exploração da mais valia do
trabalhador - este modelo de tarefas rotineiras e repetitivas, está deixando de existir com
o surgimento das novas tecnologias, que em nada melhoraram as condições de vida do
trabalhador quando grande parte é excluída do mercado de trabalho. Como resultado da
introdução de novas tecnologias, ocorre a redução de vagas, extinção de postos de
trabalho, propiciando a exigência de um alto grau de qualificação do trabalhador para
manter-se ou para entrar neste mercado de trabalho altamente competitivo.
Nesse contexto sócio-econômico conflitivo, se encontram as pessoas com deficiência,
que paralelamente a outros grupos, foram estigmatizadas socialmente, por serem
consideradas improdutivas ao sistema.
Apesar de o capitalismo na contemporaneidade, inaugurar uma forma mais acentuada da
divisão das classes sociais, entre aqueles que são úteis e inúteis, aptos ou inaptos ao
mercado de trabalho, a discriminação e o preconceito são anteriores a ele, especialmente
em relação às pessoas com deficiência. Na comunidade tribal, por exemplo, os membros
da tribo “considerados fora do padrão de “normalidade” da época (homem forte, robusto
e valente), eram segregados ou sumariamente eliminados”(Carmo, 1991, p.48).
Ainda, segundo Carmo (1.991, p. 49),
Nas tribos que os suprimiam, os deficientes eram eliminados na maioria
das vezes ao nascerem ou, quando adultos (doentes, velhos e mutilados de
guerra) eram abandonados às feras, quando a tribo mudava de território em
busca de segurança e sobrevivência. Muitas vezes o membro da tribo era
eliminado ao apresentar sintomas de doenças consideradas misteriosas e/ou
desconhecidas dos sacerdotes, médicos e feiticeiros, tais como a lepra, a
epilepsia e outras (Carmo, 1991:49).
CONCEITO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Ao longo da história do atendimento às pessoas com deficiência, cada uma das
denominações utilizadas foi objeto de repetidas revisões conceituais, em busca não
apenas de definições mais precisas do fenômeno que recobria, mas também de
designações oficialmente mais aceitáveis, nunca chegando-se a um consenso. Ainda
hoje, é comum ao nos referirmos a uma pessoa com deficiência, identificá-la com a
própria “deficiência”, colocando em primeiro plano a deficiência e em segundo a pessoa
em sua condição de ser humano.
Quanto à legislação para regulamentar a Lei nº 7.853/89, foi editado o Decreto Federal
nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que institui a “Política Nacional para a Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência” expondo o seguinte conceito em seu Artigo 3º “Considera-se pessoa portadora de deficiência aquela que apresenta, em caráter
permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica
ou anatômica, que gerem incapacidade para o desenvolvimento de atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano”.
Atualmente estudos vêm sendo realizados, no sentido de dissecar ainda mais a questão
da deficiência. O uso do termo “portador” vem sendo questionado. Embora ele ainda se
encontre na legislação e em boa parte da literatura, hoje existe um certo consenso de que
ele é impróprio, pois a deficiência não é algo que se carrega por algum tempo e do qual
depois se desfaz. Com base neste novo enfoque, usaremos neste trabalho o termo
“Pessoa com Deficiência” centrando o discurso na “Pessoa” e não na diferença. Para
caracterizar a área da deficiência usaremos o termo “pessoa com deficiência física” e
assim por diante.
A intenção em apresentar resumidamente estes conceitos se deve à necessidade de
termos clara a idéia de como, a questão da deficiência está presente em nosso dia a dia,
de forma marcante, evitando assim a utilização de termos genéricos que dificultam o
entendimento e que cristalizam, ainda mais os preconceitos.
Todo o marco jurídico no qual se enquadram os textos normativos – leis, decretos,
convenções, resoluções, recomendações – referentes ao tema, deriva-se da Declaração
Universal dos Direitos Humanos que instituiu a defesa dos princípios fundamentais
extensivos a todos os homens, quando proclama:
Art. I – Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com
espírito de fraternidade.
Art. II – Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição(CORDE,
1996).
Nesse sentido, parece paradoxal o fato de se ter elaborado, para as pessoas com
deficiência, um conjunto específico de medidas normativas, aparentemente redundantes,
uma vez que elas estão incluídas na expressão “toda pessoa”, sendo portanto titulares
dos mesmos direitos que a legislação garante aos demais cidadãos.
O TRABALHO E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA
A trajetória histórica dos direitos concedidos às pessoas com necessidades especiais
segundo Sassaki (1997), é uma das mais longas da história. Iniciou-se com a exclusão
social, onde todas as pessoas com deficiência eram segregadas, pois eram consideradas
inválidas e sem nenhum valor para a sociedade. Segundo este autor:
“Começou com um longo período de exclusão social das pessoas com
deficiência, passou para a segregação institucional, daí para a integração
social sob diferentes formas, e finalmente, para a inclusão social” (Sassaki,
1997, p. 1).
Historicamente, as iniciativas de profissionalização de pessoas com deficiência vêm
marcadas
por
um
viés
assistencial
e
compensatório.
As
experiências
de
profissionalização nas oficinas abrigadas ou protegidas, com caráter puramente formal,
vigente durante três décadas do último século (50-80), estão presentes na maioria das
instituições, para pessoas com deficiências (Glat, 1998).
Os programas de educação para o trabalho desenvolvidos nas oficinas pedagógicas
abrigadas ou protegidas, são considerados parte do processo de formação do indivíduo
com deficiência, representando uma etapa de sua trajetória educativa, geralmente se
constituindo no último nível de atendimento em Educação Especial. Nelas são
proporcionadas
atividades
às
pessoas
com
deficiência,
consideradas
“profissionalizantes”, podendo ser remuneradas ou não, com objetivo de integrá-los
socialmente através do trabalho (Glat, 1998, p. 99).
Faz-se necessário salientar a diferença de objetivos que existem entre as oficinas
pedagógicas e as abrigadas ou protegidas. As oficinas pedagógicas são mais vinculadas
a um processo educacional tendo objetivo de formação, buscando a inserção do
aprendiz no mercado competitivo. Já as oficinas protegidas ou abrigadas, se constituem
numa modalidade de emprego, ou numa colocação profissional em uma espécie de
empresa, é responsabilidade da área do trabalho, e tem como objetivo a produção.
Conforme Glat (l998) tais práticas dificultam a integração social das pessoas com
deficiências:
A segregação do indivíduo com deficiências, em escolas ou instituições
especiais, pode reduzir sua participação na vida da comunidade e excluí-lo das
relações tecidas nas várias instâncias socais, inclusive de lazer, uma vez que a
maioria das pessoas, de fato, tem pouca oportunidade de interagir com esse
indivíduo, e vice-versa. Conseqüentemente, quando ele chega a mercado de
trabalho, mesmo que esteja tecnicamente capacitado, socialmente é um
estrangeiro (Glat, l998, p.98).
A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA
A dificuldade encontrada pela pessoa com deficiência para a qualificação profissional e
inserção no mercado de trabalho é histórica. A desinformação e o conseqüente estigma
associado à pessoa e à deficiência, numa sociedade que tem na aparência, um dos
critérios fundamentais para a seleção de mão-de-obra, constituem obstáculo de tal
modo, que as conquistas nesse campo, embora significativas, continuam tímidas.
Embora, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial, na Educação Básica
preconizem que as escolas das redes regulares de educação profissional, públicas e
privadas, devem atender alunos que apresentem necessidades especiais, mediante a
promoção das condições de acessibilidade, a capacitação de recursos humanos, a
flexibilização e adaptação do currículo e encaminhamento para o trabalho, além de
avaliar e certificar competências laborais, não conseguem minimizar os graves efeitos
da reiterada exclusão desse segmento de seu interior e da sociedade, de forma geral, não
só porque a Educação Profissional especialmente no Paraná praticamente inexistente a
partir do governo Lerner, mas também pelo próprio sistema capitalista que
“naturalmente” exclui estas pessoas.
Vale ressaltar, porém, que o ato de estudar não significa apenas a busca de titulação ou
de um diploma, mas sim a busca de qualificação com vistas a uma sólida formação
como ser humano e a conquista de um trabalho digno, embora esta afirmação mereça
uma reflexão mais aprofundada, tendo em vista que o ato de estudar não garante
emprego ou ascenção social.
No capítulo II da Lei nº 9.394/96, o Art.35 estabelece dentre as finalidades do ensino
médio, a preparação básica para o trabalho e a cidadania do aluno, para continuar
aprendendo de modo a ser capaz de se adaptar às novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores.
Em Cascavel constatamos também, que graças à pressão das entidades representativas
sobre os responsáveis pelo cumprimento das leis que salvaguardam os direitos das
pessoas com deficiências, têm sido adotadas medidas com o objetivo de ampliar suas
possibilidades no mercado de trabalho. Tais medidas, consideradas ações positivas ou
afirmativas variam, no entanto, de contexto para contexto, em virtude da maior ou
menor capacidade de liderança e força política das instituições em defender os direitos
constitucionais dessa parcela da sociedade.
INSERÇÃO
DE
PESSOAS
COM
DEFICIÊNCIA
NO MERCADO DE TRABALHO,
NA
REALIDADE DE CASCAVEL -PR
A pesquisa realizada no estudo de Carmo (1991) traz uma constatação importante no
que se refere à inserção de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho, ou seja,
esta inserção ocorre mais facilmente se realizada através de Associação ou com
entidades que oferecem cursos profissionalizantes. Afirma ele que “a busca individual é
sempre marcada pela discriminação e dificilmente o portador de deficiência é
contratado ”(Carmo, 1991, p. 68).
Objetiva-se neste estudo apresentar dados sobre o trabalho para pessoas com
deficiência, no município de Cascavel-PR através de uma pesquisa que tem como
campo de investigação órgãos públicos e instituições que atuam com a educação e/ou
qualificação profissional e colocação no mercado de trabalho de pessoas com
deficiência física e visual, no período compreendido entre 1995 e meados de 2004, com
o objetivo de analisá-las e também verificar o êxito destas na intermediação de mão-deobra de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
As discussões envolvendo os direitos das pessoas com deficiência no Brasil, ganharam
impulso significativo a partir da década de oitenta. Desse processo de mobilização
resultou um conjunto de direitos estabelecidos pela constituição de 1988, alguns deles
expressos na Lei 7.853/89, posteriormente regulamentada pelo decreto 3.298/99.
Em Cascavel, este processo de mobilização em torno da garantia dos direitos da pessoa
com deficiência, foi impulsionado a partir de 1995, com a implantação do NID-PPD
Núcleo de Iniciação Desportiva para Pessoas Portadoras de Deficiência, criação da
ACADEVI – Associação Cascavelense de Deficientes Visuais e da ADEFICA Associação de Deficientes Físicos de Cascavel, sendo as duas últimas, instituições de
pessoas com deficiência, administradas pelas próprias pessoas com deficiência, dando
início a uma política que sai da tutela de pais e amigos em busca dos direitos à
cidadania, sendo no ano seguinte realizado um seminário com o mesmo enfoque, “Da
tutela à cidadania”. Desse processo de mobilização e reflexão, surge o “Fórum em
Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência”. Em 2000, por iniciativa de um grupo
de pessoas com lesão medular, surge o CVI – Centro de Vida Independente, que mesmo
trazendo uma filosofia internacional, não foge das características das duas primeiras. O
município de Cascavel cria importantes leis: dentre elas, uma que trata da reserva de
vagas para Pessoas com Deficiência no serviço público, uma sobre passe livre no
transporte coletivo urbano e outra que trata da remoção de barreiras arquitetônicas;
como resultado, a prefeitura firma convênio com a CORDE – Ministério da Justiça, para
a execução do projeto “CIDADE PARA TODOS”, promovendo a adequação dos
espaços públicos, tornando a cidade mais acessível a esse grupo social.
Com a necessidade de ampliar as ações de cidadania das Pessoas com Deficiência, é
criada a Assessoria de Políticas Públicas e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência,
através da Lei 3268/2001.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo encontra-se na fase inicial da elaboração, através das pesquisas
bibliográficas e também, buscando informações nas instituições de pessoas com
deficiência física e visual que desenvolvem um processo de inserção ao mercado de
trabalho, Núcleo Regional de Educação, Secretaria Municipal de Educação, Conselho
Municipal do Trabalho e Agência do trabalhador. Buscaremos também, informações
sobre a formação de professores nas Instituições de Ensino Superior e como pesquisa de
campo trabalharemos com pessoas com deficiência física e visual empregadas ou não,
visando analisar a eficiência da preparação, através do ensino, para o mundo do
trabalho.
Estamos buscando no passado, elementos de reflexões que auxiliem a
compreensão do presente e de concepções que fundamentam programas que atualmente
são propostos por órgãos públicos e instituições de e para pessoas com deficiência física
e visual do município de Cascavel. Apesar deste trabalho ainda não estar concluído já é
possível constatar que não existem até agora, informações mais precisas que possam
elucidar o quadro atual da população de pessoas com deficiência, no município de
Cascavel. Não há dados referentes a quantas trabalham, onde trabalham, o que fazem,
quantas participam de programas de qualificação profissional e quais as áreas
potencialmente mais capazes de absorver mão-de-obra. Essa lacuna dificulta a produção
de documentos capazes de subsidiar ações nessa área.
Sem base de dados mais precisos, são grandes as dificuldades para se investigar o
processo de inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Mas, este
estudo vem revelando que apesar das experiências destas instituições serem
relativamente pequenas, existe uma preocupação muito grande em conscientizar as
pessoas com deficiência sobre a importância da educação e do trabalho na vida das
pessoas.
Graças à pressão das instituições representativas e dos movimentos sociais de pessoas
com deficiência, sobre os responsáveis pelas leis que salvaguardam os direitos das
pessoas com deficiências, têm sido adotadas medidas com o objetivo de ampliar suas
possibilidades na educação e no mercado de trabalho. Tais medidas, consideradas ações
positivas ou afirmativas variam, no entanto, de contexto para contexto, em virtude da
maior ou menor força política e poder de convencimento das instituições; em
contrapartida, o Fórum em Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência de
Cascavel, vem se tornando no instrumento representativo com maior agilidade na
solução de problemas de interesses comuns e principalmente dos respaldados nos
dispositivos constitucionais.
Constata-se também, que as instituições de pessoas com deficiência que são dirigidas,
por elas próprias, possuem uma filosofia de trabalho que passa ao longe de práticas
paternalistas e assistencialistas.
Neste sentido constatamos que este trabalho vem sendo desenvolvido de maneira muito
competente porque, diferentemente das políticas colocadas atualmente que priorizam a
empregabilidade, sem analisar as condições atuais do mercado de trabalho, na
ACADEVI, por exemplo, o trabalho não é reduzido a um emprego ou preparação para
uma ocupação, mas principalmente para uma formação sócio-política que indique o
caminho da cidadania plena e das contradições que marcam o atual modelo de
sociedade. Estas instituições avançam justamente por estarem preocupadas com o
trabalhador e em desvelar suas reais condições de trabalho e não simplesmente em
colocá-lo no mercado de trabalho.
A primeira análise das entrevistas, revela a rica experiência na inserção de pessoas com
deficiência no mercado de trabalho, o interesse demonstrado pelo Conselho Municipal
do Trabalho e principalmente o empenho e a dedicação da equipe do Programa de
Apoio à inclusão da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho da Agência do
trabalhador, demonstrando a evolução profissional tanto do poder público como das
Instituições, principalmente as de pessoas com deficiência, que através do Fórum vem
garantindo a aplicação da legislação vigente.
Convém ressaltar que uma das partes considerada mais importante deste trabalho, ainda
está em fase inicial, que é a aplicação do questionário às pessoas com deficiência,
visando identificar a eficiência dos programas de educação para o “Mundo do Trabalho”
no ensino médio e a análise do real preparo demonstrado pelas pessoas com deficiência
que conclui este nível de ensino para enfrentar a diversidade na era da globalização,
ressaltando porém que será realizado amplo estudo sobre Educação Profissional no
Ensino Médio, nas atuais condições, espacialmente no estado do Paraná, nos últimos
oito anos.
Especialista, Docente do Ensino Superior - Faculdade Assis Gurgacz/Dom Bosco.
Mestrando em Ciências da Educação – Universidade Internacional de Coimbra, Pt.
Rua Expedicionário, 604 – CEP 85. 819.580, Cascavel, PR - [email protected] -(45) 9966.3094
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a educação profissional a pessoa com deficiência e o