PANORAMA HISTÓRICO E SOCIAL DA LITERATURA EM LÍNGUA ESPANHOLA
AULA 02: RENASCIMENTO
TÓPICO 02: CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO
José Rico Verdú, na sua edição da obra de Garcilaso de La Vega, escreve
bem no início do seu texto:
En historia los fenómenos sociales siempre surgen tras un periodo de gestación
más o menos largo. El renacimiento se puede decir que, gracias a ciertas
corrientes humanistas, venía preparándose desde el siglo XI y que alcanza su
plenitud en la Italia del XV .
(VERDÚ, 2002)
Com efeito, desde o capítulo anterior desse estudo, percebe-se que o
mundo feudal como organização social, econômica e cultural foi perdendo
sua força à medida que o humanismo teve maior repercussão na sociedade.
Os valores que o humanismo defendia tal como a volta de questionamentos
centrados nas angústias humanas, levou a um paulatino afastamento do
teocentrismo característico do medievalismo para o antropocentrismo
próprio do Renascimento Cultural.
O QUE FOI O RENASCIMENTO
O renascimento é o resgate da cultura clássica e, através dela, a
formação de uma concepção da realidade firmada no antropocentrismo. Ou
seja, é a compreensão do mundo a partir dos valores humanos. O homem,
suas angústias, seus desafios, seus males e qualidades tornam-se o centro
dos questionamentos filosóficos, sociais e artístico-culturais.
Tal como concepção coletiva de vida, reflete-se de maneira inevitável
nas artes que passam a retratar em sua materialidade o que se concebe de
vida então. Com relação à Espanha, essa transformação, esse resgate dos
Fonte [1]
valores clássicos teve seus próprios matizes.
Conforme registra Bertil Malmberg (1992), a colonização da América foi
a válvula de escape para o forte poder adquirido como consequência da
expulsão dos mouros e da unificação, sob uma só dinastia, dos reinos
hispânicos.
Assim, o Renascimento espanhol se configurou com suas próprias
tintas, na medida em que o avanço das ideias próprias dessa concepção de
vida foi diferente na Península Ibérica que, por exemplo, na Itália.
Alguns estudiosos consideram que o Renascimento só chega
efetivamente à Espanha, com a subida ao trono dos Reis Católicos, Isabel e
Fernando. Contudo, o que se percebe é que, diferentemente de Itália e
França, a Espanha segue produzindo uma literatura medieval, ainda que
tenha havido a introdução de novas formas renascentistas, como se verá
adiante. Isso ocorrerá tanto na metrópole como na América que manterá
viva as tradições medievais de escritura.
ASSISTA
Para que você se informe um pouco mais sobre o Renascimento, veja
o seguinte vídeo:
El renacimiento en españa [2]
O ROMANCERO VIEJO
Comprovando essa tese, vemos a consolidação, através da imprensa, de
uma produção literária que tem suas bases na fragmentação dos poemas
épicos medievais: O Romacero Viejo.
Conforme indica González (2010):
Fonte [3]
O que conhecemos como Romacero Viejo é o conjunto desses romances
anônimos impressos no fim do século XV e durante o XVI, fixados, assim,
evidentemente, naquele estágio de uma evolução imposta pela tradição oral, ou
recolhidos depois, já no século XVII, pelo teatro (p. 149).
De uma forma ou de outra, além de conservarem os modelos medievais
de escritura, os chamados romances, apontam por outro lado para a própria
fragmentação medieval.
Tal como o professor González afirma acima na citação destacada, este
cancioneiro tem uma forte tradição oral e é a manifestação artística dos
segmentos mais inferiores da sociedade que ainda tinha em suas bases um
intenso tradicionalismo. Muito sabiamente, o estudioso supracitado indica o
que outros pesquisadores corroboram, que o Romacero chega desde a idade
média e vai atingir seu estabelecimento no teatro como o de Lope de Vega ou
o de Tirso de Molina.
De toda forma, muitos desses poemas trarão em suas linhas o espelho
dos problemas e condições sociais vivenciados à época, visto pelo prisma
popular, reflexionando um período de transformações profundas na
sociedade.
Serão textos carregados de simbolismo, onde se vê claramente uma
separação entre uma cultura popular e uma cultura dominante, que, segundo
Aguinaga, Puértolas & Zavala (2000), acabarão por desembocar na criação
do chamado folclore. Alguns trarão explicitados em seus versos as relações
entre senhores feudais e as vassalas:
Sacado de: AGUINAGA, PUÉRTOLAS & ZAVALA (2000). Historia
Social de la Literatura Española (en lengua castellana) vol. II. Madrid:
Akal, 2000.
Ou o anticlericalismo claro da popularidade:
Sacado de: Aguinaga, Puértolas & Zavala (2000). Historia Social de la
Literatura Española (en lengua castellana) vol. II. Madrid: Akal, 2000.
Própria do Reino de Castela, a mescla de culturas, cujo auge é alcançado
com a Reconquista do reino de Granada e com o anexo ao império de mais
de meio milhão de mouriscos, é também uma marca nesses textos. Textos
que, como dito anteriormente, farão óbvias alusões a realidades sociais do
período final da era medieval.
Assim, paralela à desintegração do mundo medieval corre na literatura a
decadência e quase desaparecimento da poesia épica:
Fonte [4]
Es en ese mismo siglo XIV cuando aparecen las primeras muestras de un género
nuevo, el romance, que cristalizado en un forma octosílaba de versos pares
asonantados e impares libres, llegará a constituir el núcleo representativo de la
poesía hispánica popular de todos los tiempos.
(Aguinaga, Puértolas & Zavala, 2000)l
Ainda que se tenha notícias de romances derivados de crônicas e de
outros que nada têm a ver com a épica, parece estar claro que esses textos
têm origem na fragmentação de grandes poemas épicos. Assim o pensam
autoridades no assunto como os autores acima citados, além de outros como
González (2010) e Peláez (1999).
Levando em consideração a temática dos poemas,clique aqui para ver
como González os classifica.
Para o referido autor, o primeiro traço marcante dos romances é esse
fragmentarismo, decorrente da decomposição de poemas épicos. Outro
traço é a brevidade que leva à condensação de fatos e também à omissão de
fatos em benefício de uma intensa apresentação dos aspectos dramáticos.
Para completar, pode-se apontar outros traços:
GONZÁLEZ, Mario M. Leituras de Literatura Espanhola – da idade média ao século XVII.
São Paulo: Letraviva, Fapesp, 2010.
• Uma substituição das relações do homem com Deus por relações com a
natureza que possui uma força própria;
• Sinais e signos de tragédias anunciadas combinadas com finais trágicos;
• Um herói humanizado, cheio de dúvidas e angústias, e que está sem as
inverossímeis características de invencibilidade das épicas medievais;
• Personagens cheios de conflitos, sozinhos;
• O amor como relação e não como objeto de adoração, num mundo
subjetivo;
Fonte [5]
Dir-se-ia que, como os velhos valores em crise, os romances seriam uma
das manifestações dessa crise. Conforme aponta Aguinaga, Puértolas &
Zavala (2000): “El hombre no parece ya sentirse seguro ni integrante de un
orden social y cósmico coherente; a la unicidad orgánica sucede la
fragmentación múltiple de la realidad. El ser humano está solo, como el
héroe del Romancero.”
Leia este fragmento:
júntase boca com boca,
nadie no los impedia.
Valdovinos com angustiaun suspiro dado había.
Trata-se de um fragmento de um romance intitulado Por los caños de
Carmona, nos versos se percebe o herói complexado e cheio de culpa por
haver-se amancebado com uma moura bonita. Veja então, o afastamento da
épica medieval, na qual o herói jamais estava sozinho. Lembre-se do
fragmento estudado na aula passada do Cantar de Mio Cid, no qual o herói,
mesmo desterrado pelo rei e acusado injustamente, contava com o povo, que
lhe apoiava moralmente. Ele não estava só. Aqui, com suas angústias,
frustrações, dúvidas e conflitos, o herói do Romancero está sozinho,
refletindo a solidão do homem do final da idade média que se vê incluso,
gradativamente, a partir do absolutismo centralizador do estado e da
modernidade, num mundo onde ele se volta para si mesmo.
Assim, a épica segue, mas em um tom diferente, de novo estilo: la del
ser humano em un mundo que le es ajeno, imconprensible y hostil
(Aguinaga, Puértolas & Zavala, 2000). Ver-se-á nos versos dos romances:
• Uma substituição das relações do homem com Deus por relações com a
natureza que possui uma força própria;
• Sinais e signos de tragédias anunciadas combinadas com finais trágicos;
• Um herói humanizado, cheio de dúvidas e angústias, e que está sem as
inverossímeis características de invencibilidade das épicas medievais;
• Personagens cheios de conflitos, sozinhos;
• O amor como relação e não como objeto de adoração, num mundo
subjetivo;
Além de todas essas características de que se falou até agora, há que se
chamar a atenção para o toque de modernidade existente nos romances que
foi resgatado séculos mais tarde por García Lorca em seu Romancero
Gitano, do qual temos notícias até hoje.
ASSISTA
Veja o vídeo abaixo:
Romancero Gitano - La Casada Infiel [6]
Podemos falar ainda da herança do Romancero Viejo espanhol nas
tradições orais do nordeste brasileiro e nos cordéis que cantam as
vicissitudes da gente sofrida da região. O octossílabo e a estrutura impostas a
esses últimos, tal qual a brevidade e abundância dos fatos narrados, seu
caráter crônico entre outros aspectos nos recordarão os primeiros.
Resumindo, e usando as palavras dos autores já citados:
El Romancero es la historia de una frustración y de un extrañamiento, la del ser
humano en un momento de crisis religiosa política, social y económica. Es ya la
historia de hombres y mujeres modernos
(Aguinaga, Puértolas & Zavala, 2000, p. 177).
UMA ESPANHA E DOIS RENASCIMENTOS?
Os reinados de Carlos V e Felipe II, os chamados Austrias Maiores,
representam o período de hegemonia da Espanha no mundo. Como já
indicado antes, outros fatos juntam-se ao poderio político e econômico de
Castela. Por outro lado, a colonização da América, a intensa atividade
intelectual e artística consolidam finalmente o período áureo espanhol que se
estenderá por todo o século XVI e terá seu auge no XVII.
Como já afirmado, o Renascimento nas terras espanholas teve matiz
próprio. Alguns estudiosos, por uma questão didática costumam, então,
dividir o renascimento espanhol em primeiro e segundo renascimento.
Em um primeiro momento, sob o reinado de Carlos V, a Espanha
experimentou uma abertura para os influxos estrangeiros, sobretudo da
Itália. Nesse período, devido ao poder de herança, boa parte do território
italiano pertencia à Espanha. Foi então que na literatura, os valores clássicos
greco-romanos eram usados com abundância nas artes.
Na literatura, as chamadas formas italianizantes se materializam de
maneira magistral na figura de um escritor: Garcilaso de la Vega.
Fonte [7]
Foi o período em que o humanismo teve sua maior influência no mundo
espanhol. Ainda que a Espanha seguisse sendo um país agrário e muito
interiorizado, conservando, todavia, traços marcantes do mundo feudal, a
burguesia, pelo aumento da atividade mercantil e monetária, teve seu poder
aumentado e, aos poucos, os seu valores que alcançariam o auge no século
XVIII, com a Ilustração, começariam a ganhar território. Na Alemanha,
Lutero houvera promovido a Reforma que afrontava diretamente o poder da
Igreja Católica. O pensamento humano e tudo que estava ligado ao homem
eram a principal preocupação.
Contudo, a partir do reinado de Felipe II, herdeiro de Carlos V, a
situação política mudou. Considerado o braço secular da Igreja, o Império
Espanhol passou a deter mais os influxos estrangeiros e a pensar o
renascimento a partir do prisma das características da sociedade espanhola.
A contra-reforma ganhou força com Felipe II, que passou a estabelecer
como meta a perseguição daqueles que seriam os hereges que desafiavam a
fé de Roma. Tal perseguição ganhou materialidade mais forte na perseguição
à rainha Elizabeth da Inglaterra, uma rainha protestante.
Nas letras castelhanas, encontraremos escritores como Frei Luis de
León, Santa Teresa de Jesus e San Juan de la Cruz como expoentes máximos
do período, sendo nesse último a conjunção perfeita do conflito do mundo
religioso e renascentista.
Fonte [8]
Por outro lado, a construção da armada espanhola enfraqueceria o
estado que não teria forças para lutar em todas as frentes em que se via
obrigado a defender as sucessivas tentativas de tomada de seus territórios.
Ao final do século XVI, o poder dos Austrias maiores estaria reduzido e a
Espanha entraria no século XVII combalida no campo político, mas veria
registrar nas páginas da história o período de sua maior contribuição para a
cultura e para a arte, o chamado Siglo de Oro.
Seria em meio a essa crise de poder e áureo momento artístico, que se
publicaria por primeira vez, em 1604, a parte primeira da obra magna da
literatura espanhola, Don Quijote de la Mancha, do escritor Miguel de
Cervantes.
LA POESÍA GARCILASIANA
Para Lapesa (1999), os elogios que Garcilaso de la Vega faz a Juan
Boscán (o primeiro poeta espanhol a introduzir as formas italianas em sua
poesia) a seguir, podem ser considerados não apenas como requisitos para
uma boa tradução, mas como um verdadeiro manifesto da nova corrente
literária, presente durante o reinado de Carlos V. Diz Garcilaso que Boscán:
[…] guardó una cosa en la lengua castellana que muy pocos la han alcanzado,
que fue huir de la afectación sin dar consigo en ninguna sequedad, y con gran
limpieza de estilo usó términos muy cortesanos y muy admitidos de los buenos
oídos, y no nuevos ni al traductor, porque no se ató al rigor de la letra, como
hacen algunos, sino a la verdad de las sentencias
(LA VEGA apud LAPESA, 1999, p. 301).
O autor chama a atenção para essa afirmação de Garcilaso para que, ao
ler a poesia do poeta toledano, perceba-se a defesa que ele (o poeta) faz da
simplicidade conjugada ao estilo elegante e refinado de sua poesia. Assim,
efetivamente, as palavras acima transcritas poderiam ser um manifesto do
estilo a que se filia Gacilaso.
García Laso de La Vega nasceu em Toledo, em 1501 ou 1503, não se tem
certeza. Filho de nobres, o poeta de formas italianas, viveu como homem de
sua casta e de seu tempo: filiou-se às armas e à intelectualidade, servindo à
coroa espanhola em diversos cargos e produzindo a mais representativa
poesia do início do século XVI. Representante maior do influxo dos modelos
da antiguidade clássica, vindos da Itália, Gracilaso escreveu canções,
sonetos, églogas e elegias.
Garcilaso usa palavras correntes, construindo metáforas e comparações
fáceis, mas diferentes do didatismo anterior, tendo seu significado
preenchido pelo leitor que as deverá entender. A poesia garcilasiana é cheia
de musicalidade, conferida pela métrica adotada por ele, através,
principalmente do decassílabo que será o metro característico do
Renascimento.
Como temática, apresentará a natureza como uma quase protagonista
da poesia. Numa visão platônica, ela serviria como resposta ao eu lírico e aos
seus sentimentos plasmados nos versos. Com o mesmo vigor, terá o amor
como outro tema, senão como o principal, de sua poesia. Observe o seguinte
soneto:
VERSÃO TEXTUAL
Percebe-se, assim, a confluência dos elementos próprios da tradição
clássica se materializarem na poesia de Garcilaso de la Vega, principal
representante do estilo renascentista na poesia espanhola do início do século
XVI.
ASSISTA
Aqui um vídeo com o Soneto I, por Diana:
Garcilaso de la Vega, Soneto I, por Diana. [9]
LA ARAUCANA
As colônias espanholas de América participam extraordinariamente do
processo cultural da metrópole, conforme indica Malmberg (1992). A
primeira forma de governo que se estabelece nas colônias é o vice-reinado
das Índias, a partir da cidade de Santo Domingo, fundada desde o
desembarque de Colombo no novo mundo. Um vice-reinado governado por
seu filho, Diego Colombo entre 1509 e 1526. Com a sua morte, as terras
conquistadas passaram a ser divididas administrativamente nos vice-
Fonte [10]
reinados de Nova Espanha, com México como capital, a partir de 1534; e o de
Peru, tendo Lima como capital, a partir de 1543. No século XVIII, são
incluídos os vice-reinados de Santa Fé de Bogotá, em 1739 e o vice-reinado
de La Plata, com Buenos Aires como sede, a partir de 1776.
Com a profusão de fundações de cidades na América e o crescimento da
população houve o início de uma produção artística nesses territórios, ainda
que acanhada e com bases no que vinha da metrópole.
Nos primeiros anos, vem-se representações de teatro para fins de
catequização dos índios e só adquirindo um caráter mais culto com a
chegada dos jesuítas no México em 1572, tendo estes, por sua vez, incluído o
teatro escrito em latim ou castelhano. Contudo, em ambos os casos, a
religião e a conversão dos gentios era o principal propósito das peças escritas
e representadas.
No entanto, ainda como afirma Malmberg (1992), a conquista da
América foi um empreendimento de grandes proporções, do tipo que se
costuma glorificar sempre através dos poemas épicos e das crônicas.
Segundo o autor, ambos os estilos literários floresceram na América
espanhola. Pertencem a esse período, textos como La historia verdadera de
la conquista de Nueva España, de Bernás Días de Castillo, membro das
expedições de Cortés; Historia del Perú (1553), de Cieza de León, um dos
soldados de Pizarro e Historia de Chile (1575), de Alonso de Góngora
Marmolejo, acompanhante de Pedro de Valdivia àquele país.
A maioria das obras foram escritas por imigrantes espanhóis. São, em
sua quase totalidade, testemunhos de batalhas, conquistas e epítetos às
cidades fundadas nas colônias. Mas, segue Malmberg, “a medida que indios,
mestizos o criollos fueron asumiendo el papel de escritores, dichas obras
resultaron americanas en el sentido más estricto.”
Por outro lado, é com a publicação de Flores de varia poesia (1577),
organizada, de acordo com Margarita Peña (apud ARCE, 1992), por Juan de
la Cueva que vê-se a implantação da poesia italianista na Hispanoamérica. O
texto é uma compilação de poemas de vários poetas dentre eles, Cueva,
Gutierre de Cetina, Francisco de Terrazas, Juan de Mestanza, entre outros.
Finalmente, o mais alto testemunho da poesia épica da Espanha colonial
é o poema La Araucana de Alonso de Ercilla. Pedraza & Rodríguez (2000)
consideram o referido texto como uma exceção à escassez do panorama
poético das Américas. Ercilla havia participado da expedição, a mando de
Fonte [11]
Don García Hurtado de Mendoza, contra os araucanos que tinham se
sublevado e matado Pedro de Valdivia. Da experiência, ele criará seu poema,
publicado em 1569, em Madrid.
O poema de Ercilla transformou-se num símbolo da conquista
americana. Nele o autor narra a conquista do território chileno, a sublevação
dos araucanos, a morte de Valdivia e a expedição para derrotá-los.
Conforme palavras de Pedraza & Rodríguez (2000), La Araucana se
situa numa posição paradoxal como continuadora da épica italiana ao gosto
de Ariosto. No poema, são exaltados os guerreiros como heróis, há um clima
de tragédia e grandeza nas figuras e nos seus feitos. O texto dá detalhes
minuciosos do plantel espanhol e admira-se da resistência dos araucanos.
Assim, a obra é reconhecida como a mais notável criação da épica culta
espanhola. A seus altos valores poéticos há que se acrescentar uma visão da
história na qual se reflete com generosidade a complexa realidade
hispanomericana (Pedraza & Rodríguez, 2000).
AS NOVELAS DE CAVALARIA
Em seu livro “Historia de la lengua española”, Rafael Lapesa afirma que
o prosador mais artificioso da época de Carlos V era o frei Antonio de
Guevara, escrevendo com traços muito em voga no século XV. Contudo, não
há como se passar pela literatura do século XVI sem falar em um gênero
literário das letras espanholas que, além de marcar o seu próprio tempo,
marcarão a literatura desse país, inspirando logo depois Miguel de Cervantes
a construir a sua obra mais importante.
Fonte [12]
As novelas de cavalaria têm sua origem na idade média, porém dada a
empresa castelhana de expulsão dos mouros de seu território que se
estendeu até fins do século XV, a figura do cavaleiro de armas preservou-se
da mesma forma na sociedade e no imaginário popular. Com a invenção de
Gutenberg na Alemanha, as novelas de cavalaria passaram a ter suas edições
impressas.
Para um efeito de conhecimento do gênero, destacar-se-á aqui a mais
famosa delas, tida como o modelo desse gênero: Amadís de Gaula.
Com segurança, o Amadís de Gaula é a mais
importante e mais famosa das novelas de cavalaria. Foi
publicada em 1508 pela primeira vez, em Zaragoza,
Espanha. O texto narra as aventuras do protagonista que
dá nome ao livro, feitos e façanhas que ocorrem em
praticamente toda a Europa. Tal como seu gênero
cavalheiresco, a novela faz uma exaltação ao amor e aos
ideais do cavaleiro, defensor da coroa e dos mais fracos.
O cavaleiro medieval, herói dessas novelas, por sua vez é um espelho de
todo o valor e qualidades valorizadas então: enfrenta todos os obstáculos que
lhe são colocados em frente com o extremo da honra e do bom caráter. O
herói dessas novelas nunca abandona seus valores e os defende, juntamente
com o rei a quem jura fidelidade, dando para isso até mesmo sua vida, que
inúmeras vezes põe em risco para a defesa de tais ideais.
Em Amadís de Gaula, não é diferente: O protagonista é o próprio
estereótipo do cavaleiro.
ESTEREÓTIPO DO CAVALEIRO
• Tem uma amada a quem jura eterno amor, e a quem dedica suas
façanhas (Oriana);
• Enfrenta as mais perigosas, engenhosas e fantasiosas provas e
perigos para provar seu valor.
O herói das novelas de cavalaria, afirma González:
[...] se caracteriza por levar aos extremos dos mais inverossímeis uma série de
qualidades vistas como positivas por seus leitores contemporâneos [...]
(GONZÁLEZ, 2010, p. 311)
Clique nas abas abaixo e observe as características das novelas de
cavalaria:
Um protagonista com uma característica que o identifica: um amor a
qual é fiel, a fidelidade ao rei, a defesa dos mais humildes, a
impetuosidade, etc.
Sempre há personagens femininas com as mesmas características de
virtude, pureza e bondade.
Há um padrão nas novelas quanto ao curso de vida do cavaleiro:
abandono na infância, o resgate, a educação, a investidura das armas, a
retomada dos seus direitos de nascimento (geralmente o cavaleiro é filho
de um nobre) e o desenvolvimento de suas aventuras.
Presença de antagonistas que desafiam a honra e a bravura do
cavaleiro.
Coadjuvação por parte de um personagem ajudante do cavaleiro que,
além de auxiliá-lo, também serve de testemunha dos seus feitos que
deverão ser contados.
O cavaleiro sempre defenderá alguém que necessita: o rei, a donzela, o
mais fraco, o injustiçado, viúvas perseguidas, etc.
Sempre há que se ter as testemunhas de seus feitos para que os
passem à posteridade.
No livro El Amadís de Gaula, todas essas características são
encontradas, por isso a obra é considerada modelar do estilo das novelas de
cavalaria. Como já foi dito, esse gênero de texto, tão ao gosto dos leitores
espanhóis, servirá como inspiração para a composição da mais famosa obra
em língua espanhola: Don Quijote de la Mancha, conforme se verá mais
adiante.
A NOVELA PICARESCA
O panorama social já desenhado anteriormente aqui, no qual se via uma
forte transformação dos valores existentes na idade média, servirá como
pano de fundo para uma literatura polêmica, carregada de um tom satírico e
de composição moderna. A mais genial delas será: Lazarillo de Tormes.
Fonte [13]
Fonte [14]
Tudo é novo neste texto anônimo, cuja discussão de autoria não se
levará em conta aqui: o protagonista, o narrador, o anti-herói, a
linguagem, a ácida crítica.
A primeira edição da obra “La vida de Lazarillo de Tormes – su
vida y sus aventuras” foi em 1554, em três cidades diferentes (Burgos,
Alcalá de Henares y Amberes), fato que indica ser a obra já conhecida
então.
É uma obra de cunho já moderno, porque apresenta pela primeira
vez um protagonista nascido na miséria e cheio de defeitos. O antiherói, Lázaro, entregue por sua mãe na infância a um cego a quem
serviria de guia, paulatinamente vai ascendendo socialmente, passando
de senhor e senhor, até chegar ao seu objetivo final: a ascensão social.
Tal escalada social e a luta para fugir da miséria é uma das
características do Pícaro.
Entre ser entregue por sua mãe até chegar à almejada condição,
Lázaro narra em primeira pessoa suas aventuras e desventuras, para
uma pessoa específica (o texto seria uma resposta em carta a alguém
que lhe solicitara mais detalhes de sua jornada).
O abandono do narrador onisciente e todo-poderoso típico dos
modelos anteriores, para a primeira pessoa, que conta de acordo com
uma perspectiva, deixando vazios a serem preenchidos pelo leitor é a
primeira grande contribuição à modernidade dessa novela.
Outro ponto de modernidade no texto é o anti-herói Lázaro que,
sob o pretexto de sobreviver ante as adversidades da vida, engana,
usando seu engenho, os que lhe rodeiam, inaugurando a figura do
pícaro na literatura. Pícaro que será resgatado séculos depois por
autores como Ariano Suassuna, em livros como A Pedra do Reino
(GONZÁLEZ, 2010).
A narração, feita na maioria do tempo através do diálogo intenso,
pelos próprios personagens, confere à obra uma linguagem bastante
aproximada da época, cheia de ditos populares e coloquialismos.
Por fim, a crítica ácida em “Lazarrilo de Tormes” será um dos
pontos altos da obra. Dos vários amos que Lázaro tem, a maioria são
pessoas ligadas ao clero. Ao contar sua história, Lázaro desnuda a
hipocrisia dessa classe social tão poderosa da época e das outras
camadas sociais de então, trazendo à tona o que só se atrevia falar na
alcova. De tal forma que o livro foi imediatamente inserido na lista
negra da Inquisição que o proibiu, inutilmente, e até chegou a ser criada
uma versão “oficiosa”, em cujas linhas se tentava desfazer o
desnudamento da crítica do original.
Por todas essas razões e por outras mais, a novela picaresca
“Lazarrilo de Tormes” é considerada a que inaugura um gênero literário
e contribui de forma decisiva para a criação da chamada novela
moderna.
ASSISTA
Acessa o seguinte endereço e assista ao vídeo sobre as características
da novela picaresca:
Características de la novela picaresca [15]
LEITURA COMPLEMENTAR
Aqui um sitio onde encontrará mais informação se desejar:
La novela picaresca – El Lazarrilo de Tormes [16]
A POESIA DE FREI JUAN DE LA CRUZ
De acordo com o exposto no início de nossa aula, percebemos que a
Espanha teve em seu renascimento características próprias devido à
conjuntura política e social daquele país.
Assim, depois de um primeiro momento de influxo estrangeiro nas
letras espanholas, sobretudo dos modelos italianos, centrados
principalmente na poesia de Garcilaso de la Vega, veremos uma outra
situação na produção literária.
Sobe ao trono espanhol o herdeiro de Carlos V, Felipe II, o segundo
grande da casa dos Austrias. Seu governo estará pautado pela forte influência
do poder da Igreja e pela perseguição daqueles que não professavam a fé de
Roma. Mesclada à crise social instalada pelo renascimento e pela
decomposição do modo medieval de vida, estará a imposição do estado
absolutista e da religião católica como única opção.
Reagindo à Reforma realizada por Lutero na Alemanha, a igreja
instaurará a Contrareforma, cujo maior instrumento de imposição será a
Inquisição, organização que contará com o estado espanhol como maior
parceiro. Além disso, buscar-se-á anular o pensamento libertário humanista
que afastava perigosamente, aos olhos da igreja, o homem de Deus. Assim,
deve-se entender que a igreja não rechaçou o amor pelas letras antigas ou
tampouco o Renascimento, mas sim tentou aproveitar as suas conquistas
com fins religiosos e atrelá-lo ao cristianismo.
Assim nos adverte Rafael Lapesa:
La poesía de Garcilaso, los didácticos humanistas y el Lazarillo de Tormes
encarnan las diversas corrientes del pleno Renacimiento. En cambio los
cuarenta últimos años del siglo, impregnados del espíritu de la Contrarreforma,
se caracterizan por el esplendor que alcanza la literatura religiosa
(LAPESA, 1999, p. 315).
Nessa conjuntura, da segunda metade do século XVI, a poesia de um
frei, cuja obra decantará em seus versos a situação vivida naqueles
momentos, será a grande representação da produção poética do período: San
Juan de la Cruz. Será a conjunção perfeita entre o religioso e o temporal.
Mesmo escrevendo com temas religiosos, será na poesia com tema no amor
que alcançará a sua maior grandeza.
Em “Noche Oscura”, narrará, por exemplo, em verso, uma aventura
amorosa noturna, onde amantes ofegantes se encontram e realizam-se um
no braço do outro. Questionado por sua produção, tentará explicar sob um
olhar didático e redutor a poesia como sendo de ensinamento. Redutor,
porque sua poesia não poderá ser contida sob um rótulo de moralizante, mas
sim como produção poética de lirismo forte. Corroborando a isso, afirma
González:
Para o frade, o amor era a maneira de expressar a união do indivíduo
com Deus prescindindo da intermediação institucional da Igreja. O frade
teve que “traduzi-los” para textos em prosa e a Igreja, até hoje, quer que
sejam lidos apenas como teologia em verso. A maioria dos críticos curvou-se
a isso e rotulou o poeta como “poeta místico”, numa inaceitável redução de
sua pluralidade de sentidos (GONZÁLEZ, 2010b).
A vida do frade que foi perseguido, excomungado e condenado pelos
seus pares, pela vontade de ver sua irmandade e a própria igreja retornarem
aos valores evangélicos do cristianismo primitivo, talvez explique a pungente
força de sua poesia lírica amorosa. Ainda que depois de sua morte e com sua
fama, tenha sido canonizado pela própria igreja que o perseguiu e que, ao seu
tempo, tentou impor a visão redutora explicada acima e conforme adverte o
texto do professor González, da Universidade São Paulo.
Também pertencem ao período do esplendor da literatura religiosa da
segunda metade do século XV:
Os escritos de Santa Teresa de Jesus, com suas alegorias místicas.
Escritos com forte inspiração no amor, cheios de emoção e de indubitável
grandeza literária;
A produção de Frei Luis de Granada e Frei Luis de León, cujas obras
buscaram materializar os ideais da igreja de mesclar os valores
renascentistas com as bases cristãs. De tal forma que, González (2010)
considera aquele último como sendo o que, depois de Garcilaso, melhor
aclimatou o verso italiano na literatura espanhola, contudo,
desenvolvendo o tema religioso.
Esses autores diferem dos medievais que desenvolviam também os
temas religiosos não só pela métrica renascentista, mas pela forma de
encarar as experiências místicas. Para eles, a experiência de ascensão do
espírito rumo a Deus era lenta e penosa. Nessa jornada a alma teria,
paradoxalmente, que experenciar não só a mais profunda solidão, como
também o gozo de mergulhar finalmente na consciência do Criador.
Para a expressão desse complexo mundo, os autores se valiam do
simbolismo, das metáforas e das alegorias já citadas anteriormente. Eram,
pois, textos de extrema qualidade literária, de cuidadosa composição
métrica, lexical e sintática e, finalmente, de temas religiosos que usavam a
expressão do amor humano para explicar o amor a Deus.
O NASCIMENTO DA NOVELA MODERNA: DON QUIJOTE DE LA
MANCHA
O século XVII ficará conhecido como “El Siglo de Oro”. Será a centúria
na qual a expressão artística será dominada pelas artes espanholas. Nas
terras de Castela nascerão grandes literatos que marcarão seus nomes na
história das artes. Além dos escritores renomados dos quais se falará mais
adiante, haverá pintores, músicos, arquitetos, escultores. Artistas que estarão
envolvidos na criação da estética barroca que influenciará não só a Europa,
mas também as colônias americanas.
Por outro lado, na arena política e econômica, o reinado de Felipe II e
sua empreitada contra os hereges protestantes, sobretudo o seu retumbante
fracasso ante as forças inglesas e o fim de sua armada, mergulharam o
império espanhol em uma crise. As riquezas vindas da América em
abundância eram mal gastas. Além disso, a isenção de impostos pela
nobreza; uma mão de obra cada vez mais sobrecarregada, em um país onde o
trabalho era considerado algo de classes baixas; a situação ainda agrária e
atrasada do estado espanhol; tudo fez com que a Espanha entrasse no século
XVII em sérias condições econômicas.
Em meio a esse clima de fracasso nacional, uma obra literária entrará na
história das letras da humanidade: Don Quijote de la Mancha, de Miguel de
Cervantes.
O escritor, nascido em Alcalá de Henares, em 1547, era filho de um
cirurgião (uma profissão não muito nobre à época.) , Rodrigo de Cervantes, e
de uma mulher de cultura rara para a época, Leonor de Cortinas. Cervantes,
à guisa de parodiar as novelas de cavalaria, inaugurou com seu livro a novela
Fonte [17]
moderna. As contribuições de Miguel de Cervantes com sua obra são
imensuráveis.
No campo literário, a obra se estabelece como sendo a inaugural das
novelas (romance, se usamos o termo em português) moderna.
Don Quijote de la Mancha, narra a história de um fidalgo que é
amante compulsivo de novelas de cavalaria. De tanto lê-las, um dia
decide converter-se em um cavaleiro andante, tais como aqueles que via
descritos nos livros prediletos. Para tal, escolhe seu nome (de Don
Quijano passaria a chamar-se Don Quijote), dá o nome de Rocinante a
seu cavalo, escolhe um vizinho seu como escudeiro e ajudante fiel, elege
como dama e musa de suas aventuras uma camponesa simplória e a
quem passa a chamar Dulcinéia. Depois de eleger tais detalhes,
fundamentais para a composição de seu personagem herói, Don
Quijano sai em busca de aventuras, bem ao gosto das novelas que tanto
amava.
A narração é feita por um narrador que não deixa claro quem conta a
história e que está longe de ser o onisciente característico das histórias
medievais. Longe disso, já no primeiro capítulo, Cervantes cria muito bem o
clima de sátira que será uma das características do livro. Observa-se,
também no primeiro capítulo, que todos os elementos próprios do gênero
cavaleiresco estão presentes na composição de Don Quijano e de sua
personalidade Don Quixote.
Contudo, hoje, está mais do que óbvio que a leitura do livro permite ir
muito mais além da paródia feita por Cervantes aos livros medievais das
aventuras de heróis. A obra é inovadora, além desse, em vários aspectos. O
primeiro é destacado por Valbuena y del Saz (1986), que nos diz:
Obra maestra de nuestra literatura y donde el idioma castellano llega a su
plenitud”.
Outro será o narrador, já mencionado antes, que consolida
definitivamente o papel do leitor moderno, responsável pela criação dos
sentidos do texto, dada a desconstrução do narrador onisciente. Tal
constatação pode ser feita ao passo que se percebe que a história é conduzida
pela perspectiva do próprio protagonista que a direciona. Outrossim, a
abundância de diálogos permite que as próprias falas sejam o fio condutor da
narrativa.
Outro aspecto, dessa vez trazido à tona por González (2010), é o
paradoxo vivido em toda a narrativa pelas personagens Sancho (escudeiro de
Quixote) e o protagonista. No início da história, Don Quixote convence seu
vizinho, Sancho a acompanhá-lo, com a promessa de lhe dar o governo de
uma ilha. Apesar de descrente das loucuras de Don Quixote, o vizinho o
acompanha, o que já dá uma mostra de paradoxo da personagem Sancho, na
medida em que se percebe o conflito entre realidade e fantasia.
Ao largo da história se percebe que Sancho vai, aos poucos, sendo
convencido por D. Quixote de suas fantasias e crendo no que ele lhe diz. Em
contraposição, ao final do livro, o próprio Don Quixote se “cura” de sua
loucura e Sancho parece não querer abandonar o que finalmente passou a
acreditar. O pesquisador a que nos referimos, indica ainda que o paradoxo é
uma marca do maneirismo, corrente estilística localizada entre os séculos
XVI e XVII, na qual o professor Mário M. González localiza a obra de
Cervantes.
De uma forma ou de outra, e superando a discussão que não é unânime
em localizar a obra de Cervantes sob uma estética específica, Don Quijote de
la Mancha é sem dúvida a mais representativa obra da língua espanhola, seja
por sua contribuição literária, seja por seu papel na cultura da nação
espanhola.
Além de tudo o que foi dito anteriormente, a obra de Cervantes ainda
contribui para o pensamento humano, ao passo que plasma na figura de seu
protagonista uma imensa flexibilidade de olhares sobre a realidade. A
suposta loucura de Don Quijano e sua busca por uma realidade afastada da
realidade imposta aparecem em momento oportuno de uma sociedade em
crise, na qual o homem se via ainda mais acossado pelas inúmeras
dificuldades de se localizar em um mundo que lhe era tão hostil.
Frente ao absolutismo do estado, haverá um relativismo encontrado nas
personagens que terão suas crenças e posturas invertidas conforme a
narrativa avança, mostrando a “inutilidade” da defesa inexorável da
realidade imposta.
Bastante aclaradores são os comentários feitos por Aguinaga, Puértolas
& Zavala (2000) e que destacamos a seguir. Segundo os autores, há em Don
Quijote:
La defensa de esta capacidad volitiva del querer ser frente a lo
que se impone exteriormente: enquanto Don Quijano vai se
convencendo da inutilidade de sua busca pela aventura, Sancho passa a
aceitar essa mesma realidade, reforçando que os autores diz, numa
“capacidade volitiva” de querer ser frente ao que se impõe.
Vivir es donde todo ser humano se encuentra a sí mismo y a
los demás: é vivendo que as personagens encontram seu caminho, a sua
realidade. Não na realidade que lhes é imposta, mas na vivência de suas
existências.
El conflicto entre realidad y apariencia, que en el turbio
ambiente de la crisis imperial española adquiría caracteres
trágicos: ante a hipocrisia social, a aparência, Cervantes nos apresenta
uma personagem de realidade relativizada, cujo olhar ia para mais além
do permitido. Em consonância perfeita com a crise do império de valores
ultrapassados.
Assim, Don Quijote mistura a paródia literária de um gênero
ultrapassado; a agilidade na narração; a atenta observação das pessoas e das
coisas; um singular domínio da linguagem (natural, espontâneo, porém
denso e elaborado); surpreendentes novidades técnicas (jogo com distintos
narradores que se corrigem e contradizem; presença e influxo da primeira
parte da novela sobre a segunda) e boas doses de humor, compreensão e
malícia (PEDRAZA & RODRÍGUEZ, 2000).
Em resumo, pode-se dizer que a novela moderna tem seu inaugural na
publicação em 1605, da primeira parte de Don Quijote de la Mancha, por
Miguel de Cervantes, que aportou em sua obra valores literários de extrema
importância para a história dessa arte e para a nação espanhola.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.guiarte.com/noticias/obra-clave-de-juan-de-flandes-parael-prado.html
2. http://www.youtube.com/watch?v=i_RYApL2CLU
3. http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Portadaromancero.jpg
4. http://papisdi.files.wordpress.com/2010/09/grabado-expulsionmoriscos.jpg
5. http://theconceptartblog.com/wp-content/uploads/2010/06/costumeseuropa-medieval.jpg
6. http://www.youtube.com/watch?v=hhoxEAlSeLw
7. http://files.lasluces.webnode.es/200000070-67dac68d4d/burgesia.jpg
8. http://madriddelosaustrias.wikispaces.com/Felipe+II+de+Espa%C3%
B1a
9. http://www.youtube.com/watch?v=59EtzW1NH7s&feature=related
10. http://1.bp.blogspot.com/-M5rHYHmHQOI/T6PwcBb5D7I/AAAAAAA
AAB4/EhCjAsU28PY/s1600/araucana11.gif
11. http://1.bp.blogspot.com/_eaS04CdCy8/S9EItf7obzI/AAAAAAAAAQg/XrMgH_M3enQ/s1600/Mapa+Am%
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12. http://alerce.pntic.mec.es/jinm0000/respuestas_multiples.htm
13. http://mediateca.educa.madrid.org/imagen/imagenes/publicas/tam3/j
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14. http://2.bp.blogspot.com/-RUUWZOiRtgA/TWD4fQlkB6I/AAAAAAA
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15. http://www.youtube.com/watch?v=0gpy8jAiKbk
16. http://www2.ups.edu/faculty/velez/Span_402/lazarobow.htm
17. http://3.bp.blogspot.com/_rbz11D88MOA/TN7t9srFjoI/AAAAAAAAB
KY/bDU9MkZ8e8Y/s1600/Cervantes000543930.jpg
Responsável: Prof. Jimmy Robson
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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