Capítulo 6 Colisões de Particulas Carregadas As interações de partículas carregadas em movimento em qualquer meio material são governadas pelas propriedades das colisões. Normalmente chamaremos a partícula incidente de “projétil” e as componentes da matéria com as quais ele interage como “partículas alvo” ou simplesmente “alvos”. A situação mais simples que podemos imaginar é que a matéria consiste de partículas carregadas livres, elétrons e núcleos. Esta é exatamente a situação que se aplica se a matéria com a qual a partícula está interagindo é um plasma. Podemos pensar que neste caso, a interação mútua entre as partículas alvo podem ser ignoradas, e as colisões tratadas como se simplesmente fossem colisões entre dois corpos. Isto não é bem verdade por causa da natureza de longo alcance da força eletromagnética, como veremos, mas é possível, não obstante, tratar as colisões como colisões entre dois corpos, mas corrigidas pela influência des outras partículas alvo neste processo. Em interações com os átomos de sólidos, líquidos ou gases (neutros), é óbvio que o fato de os elétrons-alvo estarem ligados ao núcleo de seus átomos, é importante para o processo de interação. Os átomos podem, geralmente, ser tratados, ignorando suas interações mútuas, pelo menos para projéteis com energia cinética significativa. A análise aproximada mais simples vai além, e começa através de uma visão altamente simplificada de que os elétrons podem ser inicialmente tratados ignorando sua força de ligação com os átomos. As correções para esta aproximação são naturalmente significativas, e o tratamento não pode sempre fornecer resultados precisos. Não obstante ele representa um tipo de linha de base com o qual cálculos mais precisos e medidas podem ser comparadas. Os núcleos do alvo são importantes em colisões com plasmas. Porém, em interações com átomos neutros, a interação eletromagnética direta com os núcleos exige que o projétil penetre a blindagem dos elétrons que orbitam o átomo. Somente as partículas com momento muito alto são capazes de fazer isso. Então os elétrons do alvosão normalmente os mais importantes a considerar, e tendem a dominar a perda de energia. O tópico das colisões atômicas é imenso e complexo, no qual a mecânica quântica naturalmente exerce um papel crucial. Isto nos levaria, muito além da intenção, A tentativa de introduzir este tópico de maneira adequada, nos levaria muito além de nossa presente intenção. Dois fatores simplificantes nos permitem, não obstante, desenvolver este aspecto das interações eletromagnéticas com detalhamento suficiente para muitos propósitos práticos. O primeiro fator é que os detalhes de estrutura atômica se tornam menos influentes em colisões com energias muito maiores que as energias de ligação dos átomos (as quais são aproximadamente da ordem de dez elétrons volts). O segundo fato é que mesmo quando os efeitos quânticos são importantes nas colisões, fórmulas aproximadas com ampla aplicabilidade, mas ignorando os detalhes das espécies atômicas em particular, podem ser obtidas através de argumentos semi clássicos. As correções quânticas são então aplicadas de maneira que pareçam de alguma forma ad hoc, mas freqüentemente representam a forma com que os mais recentes cálculos foram feitos, e fornecem fórmulas 123 analíticas simples. 6.1 Colisões Elásticas 6.1.1 Sistemas de Referência e Ângulos de Colisão Considere uma colisão não relativística idealizada entre duas partículas interagentes, de sub-índices 1 e 2, com posições r1,2 e velocidades v1,2 , sob as quais não estão atuando nenhuma força além de suas interações mútuas e que não experimentam nenhuma mudança em suas energias internas, assim a colisão é elástica. O seu momento total (combinado), m1v1 + m2 v 2 , é constante, de forma que o seu centro de massa, m1r1 + m2r2 m1 + m2 R≡ , (6.1) se move em velocidade constante, a velocidade do centro de massa: V≡ m1v1 + m2 v 2 m1 + m2 , (6.2) É útil também introduzir a notação mr ≡ (6.3) m1m2 ( m1 + m2 ) a qual chamamos de “massa reduzida”. Em termos desta quantidade e do vetor de posição relativa r ≡ r1 − r2 , as posições das partículas podem ser escritas: mr r m1 r2 = R − mr r m2 , mr v m1 v2 = V − mr v m2 , r1 = R + (6.4) e suas velocidades: v1 = V + (6.5) onde v ≡ r é a velocidade relativa. Alguns de nossos cálculos precisam ser feitos no referencial do centro de massa, no qual R é estacionário. Outros cálculos precisam ser feitos no referencial de laboratório ou em outros referenciais, por exemplo nos quais uma ou outra das partículas está inicialmente 124 estacionária. Os ângulos dos vetores nestes referenciais são importantes. As direções de todos os vetores posição e de todas as diferenças de velocidade estão no mesmo referencial inercial. Porém as direções das velocidades não são as mesmas em diferentes referenciais. Por exemplo, considere a colisão ilustrada na Figura 6.1. Colisões podem ser consideradas em um único plano de espalhamento o qual é perpendicular ao momento angular do sistema, ele mesmo uma constante. O ângulo de espalhamento, o qual denotamos por χ é exatamente o ângulo entre a direção inicial da velocidade relativa v e de sua direção final, v′ . Este ângulo é diferente em diferentes referenciais. Vamos chamar de χ c o ângulo no referencial do centro de massa. Pela conservação da energia, a velocidade relativa final v′ , possui magnitude absoluta igual aquela da velocidade relativa inicial, v0 . Assim a velocidade final pode ser escrita sob a forma de componente, no referencial do centro de massa, como v′ = v0 ( cos χ c ,sin χ c ) , onde escolhemos a direção da velocidade relativa inicial como sendo a do eixo x. Figura 6.1: Colisões nos referenciais centro de massa e de laboratório 125 (6.6) Substitutindo na equação (6.5) encontramos as velocidades finais no referencial de laboratório, dadas por v1′ = v′2 = − ⎛m ⎞ mr m v′ + V = ⎜ r v0 cos χ c + V , r v0 sin χ c ⎟ m1 m1 ⎝ m1 ⎠ (6.7) , ⎛ m ⎞ mr m v′ + V = ⎜ − r v0 cos χ c + V , − r v0 sin χ c ⎟ m2 m2 ⎝ m2 ⎠ . (6.8) O ângulo no referencial de laboratório da velocidade final da partícula 1, em relação à sua velocidade inicial (que está na direção x), digamos χ1 , é então dada exatamente pela razão das componentes da velocodade final, mr v0 cos χ c + V V m1 m1 cot χ1 = = cot χ c + csc χ c mr v m r 0 v0 sin χ c m1 . (6.9) Para o caso específico quando a particular 2 é um alvo estacionário, com velocidade inicial zero no referencial de laboratório, a velocidade do centro de massa é V = m1v0 ( m1 + m2 ) = ( mr m2 ) v0 e assim cot χ1 = cot χ c + m1 csc χ c m2 . (6.10) Queremos freqüentemente saber o quanto de energia ou momento é transferido de um projétil incidente, (partícula 1) para um alvo inicialmente estacionário (partícula 2). Claramente, através da equação (6.8), podemos obter estas quantidades em termos do ângulo de espalhamento χ c . Assim, a mudança no momento – x da partícula 1 é simplesmente ⎛m ⎞ ⎛ m ⎞ m1 ⎜ r v0 cos χ c + V ⎟ − mv0 = mr v0 ⎜ cos χ c + 1 ⎟ m2 ⎠ ⎝ m1 ⎠ ⎝ e a energia final de recuo da partícula 2 (que é a energia perdida pela partícula 1) é 126 (6.11) 2 2 ⎞ ⎛ mr ⎞ ⎤ 1 ⎡⎛ mr Q ≡ m2 ⎢⎜ − v0 cos χ c + V ⎟ + ⎜ − v0 sin χ c ⎟ ⎥ = 2 ⎢⎝ m2 ⎠ ⎝ m2 ⎠ ⎥⎦ ⎣ 2 1 ⎛ mr ⎞ ⎡ 2 m2 ⎜ v0 ⎟ ( − cos χ c + 1) + sin 2 χ c ⎤ = ⎣ ⎦ 2 ⎝ m2 ⎠ (6.12) 1 mr2 2 1 mr2 2 ⎛χ ⎞ v0 2 (1 − cos χ c ) = v0 4sin 2 ⎜ c ⎟ 2 m2 2 m2 ⎝ 2 ⎠ Note que a transferência maxima de energia possivel, que ocorre quando χ c = 180 , é Qmax = 4mr2 1 m1v02 m1m2 2 . (6.13) Todas essas relações são completamente independents da natureza de interação entre as partículas, desde que invocamos somente a conservação do momento e da energia. Parâmetro de Impacto e Seção de Choque Pela definição, a seção de choque, σ , para qualquer processo de colisão específicado, quando uma partícula está passando através de uma densidade n2 de alvos, é esta quantidade que faz o número de tais colisões por unidade de comprimento do percurso igual n2σ 1. Às vezes uma quantidade contínua de tipos de colisão está em consideração. Por exemplo, podemos considerar colisões que dão origem a diferentes ângulos de espalhamento ( χ ) distintos. Neste caso, falamos em termos de seções de choque diferenciais, e definimos a seção de choque diferencial dσ d χ ( por exemplo) como sendo a quantidade tal que o número de colisões dentro de um elemento angular d χ por unidade de comprimento do percurso é N2 dσ dχ . dχ Às vezes outros autores usam notações diferente para a seção de choque diferencial, por exemplo σ ( χ ) . Entretanto, nossa notação, com a qual estamos familiarizados através do cálculo, é altamente sugestiva e as seções de choque obedecem regras naturais para as diferenciais implicadas pela notação. Para colisões clássicas, o parâmetro de impacto, b, mostrado na Figura 6.1, é um parâmetro conveniente pelo qual se caracterizar a colisão. Ele é a menor aproximação que pode ocorrer para as partículas em colisão, se elas apenas seguissem as trajetórias iniciais 1 Uma definição alternativa pode ser invocada, equivalente a esta primeira definição, mas em um referencial no qual a única partícula (1) é estacionária, e as partículas de densidade n2 estão se movendo. 127 em linha reta. Alternativamente, o parâmetro de impacto pode ser considerado como sendo a medida do momento angular do sistema no referencial centro de massa, que é mr v0b . Figura: 6.2: Volume diferencial para contagem do número de colisões no comprimento dl com parâmetro de impacto b. A seção de choque diferencial, com respeito ao parâmetro de impacto, é definida puramente através da geometria. Como ilustrado na Figura 6.2, podemos pensar no projétil (partícula 1) arrastando cosigo um cilindro de raio b e espessura db conforme ele se move ao longo da distância dl em seu comprimento de percurso. Este cilindro arrasta um volume dl 2π bdb , e o número de alvos que estão neste volume, e conseqüentemente foram encontrados no elemento do parâmetro de impacto db em b neste comprimento de percurso é n2 dl 2π bdb . Consequentemente, pela nossa defnição, a seção de choque diferencial para o espalhamento com o parâmetro de impacto b é dσ = 2π b . db (6.14) Note que a integral desta quantidade sobre todos os parâmetros de impacto (isto é, 0 < b < ∞ ) certamente divergirá, porque ele considera que o projétil está colidindo com todas as partículas do alvo que ele encontra, não importando o quão longe elas estejam. Então o número total de “colisões” de todos os tipos possíveis, por unidade de comprimento em um meio alvo infinito é infinito. Esta singularidade matemática na “seção de choque total” aponta a necessidade de se definir mais de perto o que constitui uma colisão, e nos alerta ao fato de que, para colisões governadas por interações de alcance infinito, tais como as forças entre partículas carregadas, temos que definir nossas colisões de tal forma a contabilizar uma finalização efetiva para a integração do parâmetro de impacto2. Esta finalização, que é freqüentemente expressa, de forma aproximada, como um corte na integração do parâmetro de impacto, em um valor máximo bmax , será regida pela consideração do parâmetro da partícula, cuja mudança, devido às colisões, estamos tentando calcular. Por exemplo, a variação do momento ou da energia em uma colisão pode 2 Isto mostra também a incoerência fundamental da noção do número total de colisões por unidade de comprimento e dos conceitos que dependem delas, tais como a média da mudança em algum parâmetro por colisão, que alguns autores infelizmente empregam. 128 se tornar desprezível para b > bmax . Existe normalmente uma relação um para um entre o parâmetro de impacto e o ângulo de espalhamento e conseqüentemente com a transferência de energia, Q, dada pela equação (6.12). Por conseguinte a seção de choque diferencial, com respeito à transferência de energia, ângulo de espalhamento e parâmetro de impacto estão todas relacionadas, da seguinte maneira: dσ dσ d χ c dσ db d χ c = = dQ d χ c dQ db d χ c dQ (6.15) Se nos preocuparmos com uma quantidade, tal como a energia do projétil, a qual está mudando devido às colisões, sendo que a mudança em cada colisão, é uma quantidade Q ( b ) que depende do parâmetro de impacto, então a taxa total de variação por unidade de comprimento, devido a todos os tipos possíveis de colisões, é obtida como n2 ∫ Qdσ = n2 ∫ Q 2π bdb (6.16) 6.1.2 Colisões Classicas Coulombianas A relação exata entre o parâmetro de impacto, b, e o ângulo de espalhamento é determinada pelo campo de força existente entre as partículas em colisão. Para interações eletromagnéticas de partículas carregadas, a força fundamental é a interação de Coulomb entre as forças, a lei do inverso quadrado. Como mostrou Isaac Newton, a órbita de uma partícula que se move sob uma força, cuja lei é do inverso quadrado, é uma seção cônica; quer dizer, uma elipse para órbitas fechadas ou uma hipérbole para órbitas abertas pertinentes a colisões. A análise elementar mostra que o ângulo de espalhamento resultante χ c , para uma colisão com parâmetro de impacto b, é determinado por ⎛χ ⎞ b cot ⎜ c ⎟ = ⎝ 2 ⎠ b90 (6.17) , onde, para partículas de carga q1 e q2 e velocidade inicial de colisão v0 , a quantidade b90 é dada por b90 ≡ q1q2 1 4πε 0 mr v02 . (6.18) Vemos claramente na equação (6. 17), que b90 é o parâmetro de impacto no qual o ângulo de espalhamento no centro de massa é 90º. As identidades trigonométricas nos permitem deduzir imediatamente através da equação (6. 17) que 129 sin 2 ( χ c 2 ) = 1 1 + ( b b90 ) 2 e db b = − 90 csc 2 ( χ c 2 ) d χc 2 (6.19) De forma que a transferência de energia em uma colisão (veja equação 6.12) é Q= 1 mr2 2 1 v0 4 2 2 m2 1 + ( b b90 ) (6.20) e a taxa de transferência de energia por unidade de comprimentopara uma partícula com energia K ≡ 1 2 m1v02 colidindo com alvos estacionários é − dK m v 2 4mr2 2π bdb 4mr2 2 = n2 1 0 = n K π b902 ln ⎡1 + ( bmax b90 ) ⎤ , 2 2 ∫ ⎣ ⎦ 2 m1m2 1 + ( b b90 ) d m1m2 (6.21) onde o limite superior da integração de b, bmax o qual previne que a integral seja divergente, será discutido em um momento. Uma forma de pensdar nesta equação é considerar a 2 quantidade π b902 ( 4mr2 m1m2 ) ln ⎡1 + ( bmax b90 ) ⎤ como uma seção de choque efetiva de ⎣ ⎦ colisão para a perda total de energia. Quando multiplicada pela densidade de alvos n2 fornece o inverso da escala de comprimento para a perda de energia, d ln K d . Figura 6.3: ângulo de espalhamento e parâmetro de impacto mostrados esquematicamente para diferentes colisões Coulombianas. A integral sobre os parâmetros de impacto diverge se a estendermos até o infinito b. Isto é porque a lei do inverso quadrado possui essencialmente um alcance infinito. Como resultado, a contribuição dominante para a perda de energia da seção de choque vem de colisões distantes, nas quais, b b90 , e conseqüentemente o ângulo de espalhamento é pequeno. Vários efeitos físicos diferentes podem entrar para grandes parâmetros de impacto a fim de mudar a lei de força efetiva e prevenir assim a divergência. Trataremos estes efeitos separadamente nas seções posteriores, mas em quase todos casos, o valor exato do limite superior não é um efeito quantitativo muito forte sobre a seção de choque porque bmax b90 é grande e aparece dentro de um termo logarítmico que pode ser escrito aproximadamente por ln ( bmax b90 ) , que portanto varia muito lentamente com bmax . Muitos 130 tratamentos adotam uma aproximação de pequeno ângulo para a seção de choque diferencial na derivação anterior, conduzindo a uma expressão Q ∝ 1 b 2 e uma integral que diverge tanto para b pequeno quanto para b grande. Tais tratamentos precisam invocar um bmin de corte na integração, justificando o fato com base na quebra da aproximação, e naturalmente adotar b90 como sendo o corte no caso clássico. A expressão resultante é então essencialmente idêntica à nossa, a qual foi obtida de forma mais rigorosa. Há, em algumas circunstâncias, efeitos físicos importantes que requerem uma integração de corte para b pequeno mesmo antes de ser alcançado o b90 . Nesses casos, substituímos 2 simplesmente o termo ln ⎡1 + ( bmax b90 ) ⎤ por 2ln ( bmax b90 ) . ⎣ ⎦ 6.2 Colisões Inelásticas Os efeitos que dão origem ao corte no logaritmo de Coulomb são principalmente associados com a presença de outras partículas e forças no sistema. Se as partículas alvo experimentam o campo de força de uma outra partícula próxima, tais como seria o caso se os alvos fossem elétrons ligados aos núcleos para formar os átomos de um material alvo, então a dinâmica de sua ligação dá origem a um corte. Uma forma de pensar neste efeito, é considerar os elétrons se comportando como que se eles fossem livres somente em colisões, nas quais a transferência de energia dos projéteis é maior que suas energias de ligação no átomo. Colisões distantes, de ângulo pequeno, transferem menos energia. Um corte bmax deve ser aplicado no parâmetro de impacto onde a transferência de energia é igual, aproximadamente, a energia de ligação. Alternativamente, e mais fisicamente, podemos considerar estas colisões como sendo um sistema complexo de alvos, o átomo, no qual há uma transferência inelastica de energia para o sistema, a energia sendo parcialmente tomada para a ionização ou energia de excitação do átomo. Claramente, um cálculo rigoroso de tais colisões exige a consideração da estrutura quântica do átomo, sendo assim um problema intrínseco da mecânica quântica. Não obstante, cálculos semi-clássicos, levando em consideração os efeitos quânticos, como e quando necessários, fornecem uma idéia substancial dos princípios que regem o problema e, na realidade, são capazes de fornecer quantitativamente formas corretas, para as seções de choque e perdas de energia. 131 Figura 6.4: Colisões com um sistema atômico podem excitar ou ejetar elétrons do átomo. 6.2.1 Transferência de energia para uma partícula oscilante Uma abordagem para o problema de colisões com partículas ligadas, que podem ser tratadas classicamente, e se torna a base para uma descrição quântica, é aproximar o sistema como uma carga ligada em um poço de potencial harmônico simples. Porque estamos interessados principalmente em parâmetros de impacto grandes, consideraremos o campo elétrico do projétil como uniforme no átomo e então fazemos a pergunta, no encontro do projétil com este elétron oscilante, quanta energia o oscilador ganha como o resultado da flutuação do campo elétrico do projétil em trânsito Assim considere uma partícula oscilante simples, em um campo elétrico uniforme, E ( t ) . Sua posição x é governada pela equação x + ω2 x = q E (t ) . m (6.22) Resolvemos esta equação no intervalo de tempo ( t1 , t2 ) , com alguma condição inicial assumida t1 para determinar a energia ganha pela partícula no tempo t2 . Esta solução é obtida facilmente usando o que chamamos de “Função de Green unilateral” como segue. As soluções para o problema homogêneo (a equação com zero no lado direito) são sin ωt e cos ωt . A função de Green é construída como H ( t ,τ ) = ( sin ωt cos ωτ − cos ωt sin ωτ ) ω (6.23) e a solução geral é então t x ( t ) = A sin ωt + B cos ωt + ∫ H ( t ,τ ) t1 132 q E (τ ) dτ , m (6.24) onde A e B são constantes determinadas pelas condições iniciais. De fato, não precisamos resolver para A e B porque quando calculamos a energia do oscilador, média sobre um período do oscilador, A e B dão exatamente a mesma contribuição ao término da integração, como fizeram no início e qualquer termo cruzado entre eles e H possuem média zero. [O ponto sobre os termos cruzados não é realmente óbvio, mas para poupar tempo, não provaremos isto.] Então, o ganho em energia é determinado apenas pelo termo integral e podemos simplesmente fixar A = B = 0 . Então para o tempo t2 a solução pode ser escrita ωm q t2 t2 x ( t2 ) = sin ωt2 ∫ cos ωτ E (τ ) dτ − cos ωt2 ∫ sin ωτ E (τ ) dτ . t1 (6.25) t1 Quando essa expressão é diferenciada, ostermos que surgem das diferenciais dos limites se cancelam e temos ωm q t2 t2 t1 t1 x ( t2 ) = ω cos ωt2 ∫ cos ωτ E (τ ) dτ + ω sin ωt2 ∫ sin ωτ E (τ ) dτ . (6.26) Assim a energia total (cinética mais potencial) no oscilador pode então ser obtida rapidamente como 2 2 ⎡ t ⎞ ⎛ t2 ⎞ ⎤ 1 q2 ⎢⎛ 2 2 2 m (ω x + x ) = ⎜ cos ωτ E (τ ) dτ ⎟ + ⎜ ∫ sin ωτ E (τ ) dτ ⎟ ⎥ ⎟ ⎜t ⎟ ⎥ 2 2m ⎢ ⎜⎝ ∫t1 ⎠ ⎝1 ⎠ ⎦ ⎣ 2 q2 = E (ω ) , 2m (6.27) com a transformada de Fourier do campo elétrico escrita como E (ω ) = ∫ exp ( iωτ ) E (τ ) dτ . (6.28) Fizemos esta integração sobre um tempo finito que evita algumas dificuldades matemáticas, mas podemos agora facilmente fazer t1 → −∞ e t2 → ∞ e obter o domínio completo da integral de Fourier. Obtivemos um importante resultado geral de que a energia transferida a um oscilador harmônico é proporcional à transformada de Fourier do campo elétrico calculado na freqüência de ressonância do oscilador, equação (6.27) . 6.2.2 Colisão em linha reta Estamos principalmente interessados em colisões de pequeno ângulo, porque, como previamente notamos, eles dominam o comportamento, especialmente no corte bmax . Aproximamos a órbita do projétil, neste caso, como uma linha reta. Então, como ilustrado 133 na Figura 6.5, o campo elétrico Figura 6.5: A aproximação de uma órbita linear fornece uma expressão simples para o campo elétrico em função do tempo. no átomo é exatamente aquele devido a uma carga que se move com um parâmetro de impacto b e uma velocidade constante. Para uma velocidade não relativística v as componentes do campo elétrico em função do tempo são Ex ( t ) = −q1 vt 4πε 0 ( b 2 + v 2t 2 )3 2 e Ey (t ) = −q1 b 4πε 0 ( b 2 + v 2t 2 )3 2 (6.29) . as formas relativísticas são qualitativamente similares, e foram previamente calculadas na seção 4.2, veja equação (4.40) Ex ( t ) = −q1 γ vt 4πε 0 ( b 2 + γ 2v 2t 2 )3 2 onde γ é o fator relativístico (1 − v 2 / c 2 ) e Ey (t ) = −1 2 −q1 γb 4πε 0 ( b 2 + γ 2v 2t 2 )3 2 , (6.30) . As componentes do campo são plotadas em função do tempo na Figura 6.6. Claramente, por inspeção da Figura 6.6, e da equação (6.28) haverá uma mudança qualitativa no comportamento da transformada de Fourier de E ( t ) e consequentemente a energia se transfere para ωb γ v 1 comparada com ωb γ v 1 . A duração característica do tempo de colisão é ∼ b γ v . Se este termo é menor que o tempo característico de oscilação, 1 ω , podemos tomar ω ≈ 0 e obter por integração elementar E y (ω ) = −2q1 4πε 0bv . (6.31) Porque E x ( t ) é anti-simétrico, Ex (ω ) = 0 neste pequeno limite de parâmetro de impacto. No limite oposto, que é para colisões nas quais b é maior que ωb γ v 134 1 , E (ω ) será pequeno porque na equação (6.28) há muitas oscilações do fator exp ( −iωt ) dentro da variação suave de E ( t ) . Assim vemos que em colisões com um oscilador harmônico simples, de freqüência ω , há um corte natural para a transferencia de energia no parâmetro de impacto máximo bmax ≈ γv ω (6.32) Substitutindo a equação (6.31) na equação (6.27), e restaurando nossa notação de subíndice 2 para o alvo e sub-índice 0 para a velocidade incidente, obtemos a transferência de energia para a colisão em linha reta da forma Q (b ) = q12 q22 ( 4πε 0 ) 2 2 1 mr2 2 ⎛ b90 ⎞ v0 4 ⎜ ⎟ = m 2v02b 2 2 m2 ⎝ b ⎠ 2 (6.33) Figura 6.6: Componentes do campo elétrico na colisão em linha reta. Note que esta é essencialmente a mesma expressão como na equação (6.20), da transferência de energia para um elétron livre, exceto que o parâmetro de impacto menor de corte não está presente aqui, porque a suposição de uma órbita linear para o projétil é injustificada para parâmetros de impacto pequeno. A taxa de perda de energia é obtida então, como antes, por integração sobre os parâmetros de impacto do mínimo para o máximo, correspondendo aos limites de aplicabilidade da equação (6.31) 2 ⎛ q q ⎞ 4π dK mr2 b γ v0 − = n2 Kπ b902 8 ln max = n2 ⎜ 1 2 ⎟ ln 2 d m1m2 bmin ⎝ 4πε 0 ⎠ m2v0 ωb90 135 . (6.34) 6.2.3 Fórmula Clássica daTaxa de Perda de Energia Uma consideração final é necessária antes de termos uma fórmula útil de perda de energia para propósitos práticos. Devemos ter uma forma de aplicar o cálculo idealizado do oscilador harmônico para os átomos reais. Um átomo, em geral, possui um número Z, digamos, de elétrons ligados ao núcleo. Cada elétron pode atuar como um alvo oscilante para transferência de energia, e de fato cada elétron pode atuar como um dos infinitos conjuntos de osciladores, correspondentes a cada uma das possíveis transições quânticas. Transições de energia de magnitude ε i , correspondem a osciladores de freqüência ωi = ε i , é claro. Para a i-ésima transição pode ser atribuído um oscilador de força, fi , definido como a razão da taxa atual de absorção de energia pela transição correspondente àquele oscilador harmônico. O argumento semi clássico é então que, cada elétron gasta uma fração de seu tempo se comportando como se fosse cada um dos possíveis osciladores, e por conseguinte ∑ f i = Z . Existe um teorema mais rigoroso em física quântica chamado (Thomas-Reiche-Kuhn) regra da soma de f a qual afirma que a soma de todas as transições possíveis do oscilador força, de um nível específico, é igual ao número de elétrons naquele nível. Se isto fosse aplicado sem reflexão para todos os elétrons do átomo, forneceria a mesma equação. Para obter a taxa da perda de energia total que surge das colisões com uma densidade de de átomos na , cujo número atômico é Z, somaríamos as contribuições oriundas de todas as transições possíveis, ponderada pelo oscilador de força da transição. Assim obtemos para o termo logarítmico: γ v0 ∑ f ln ω b i i i 90 = Z ln γ v0 b90 − ∑ f i lnωi = Z ln γ v0 ω b90 , (6.35) Onde definimos um tipo de frquencia média do oscilador ω pela equação Z ln ω ≡ ∑ f i ln ωi . (6.36) i A taxa total clássica da perda de energia é então 2 ⎛ q e ⎞ 4π dK Z lnΛ , = na ⎜ 1 ⎟ 2 d ⎝ 4πε 0 ⎠ mev0 (6.37) Onde substituimos a carga do elétron e a massa, e por brevidade denotamos o argumento do logaritmo por Λ= γ v0 ω b90 136 . (6.38) De fato, parece ser possível calcular a transformada de Fourier dos campos relativísticos na equação (6.30) de forma fechada e leva a cabo a integração das funções modificadas de Bessel assim obtidas [ref 6.2.3]. Quando isso é feito, aparecem duas correções muito pequenas em nossa fórmula. O argumento do logaritmo é multiplicado pelo fator 1,123 e um termo adicional relativístico é somado, equivalente à substituição 1,123γ v0 v02 − 2 ln Λ → ln ω b90 2c . (6.39) Nenhuma destas correções é quantitativamente significante. O resultado foi obtido primeiramente por Bohr em 1913, anterior ao desenvolvimento da mecânica quântica. É dificil completar como se apresenta, desde que a média ω `deve ser estimada. Porém, devido ao fato de ω aparecer somente no logaritmo, mesmo uma estimativa grosseira, por exemplo, colocando ω igual ao potencial de ionização do átomo, fornecerá uma fórmula quantitativa útil para a perda de energia. 6.2.4 Efeitos Quânticos em colisões próximas Para que o parâmetro de impacto mínimo clássico b90 seja aplicável se requer que as partículas da colisão se comportem como partículas pontuais menores que o parâmetro de impacto. Porém, a mecânica quântica nos ensina que as partículas não se comportam como pontos perfeitos. O princípio da incerteza de Heizenberg afirma que a partícula só é localizada dentro de uma incerteza de posição ∆x , se a incerteza do momento é ∆p , tal que ∆x∆p ≈ . Alternativamente podemos dizer que uma partícula com momento p = γ mv se comporta como uma onda com vetor de onda k = p . Ou novamente, podemos dizer que o momento angular orbital é quantizado em unidades indivisíveis de . Todas essas são maneiras de indicar que em colisões, a posição efetiva de uma partícula é esparramada em torno de uma distância da ordem de p . Por conseguinte, os efeitos quanticos nos impedem de estender a integração clássica sobre os parâmetros de impacto abaixo de um valor de bq ≈ γ mv . (6.40) O valor clássico do parâmetro de impacto baixo de corte b90 será aplicável somente se b90 qq qq c ≈ 1 2 = 1 22 α > 1 bq 4πε 0 v e v , (6.41) onde α é a constante de estrutura fina, aproximadamente 1/137. Este critério é um requerimento que a velocidade de colisão com os elétrons alvo deve ser menor que 137 Z1c 137 . Na prática isso significa que os elétros com energies maiores que 1, 9 keV , protons com energia maior que 3,5 MeV , ou partículas alfa com energia maior que 55 Me V não serão tratadas apropriadamente usando o parâmetro clássico de impacto baixo de corte. Ao invés disso, a aproximação de um resultado da mecânica quântica pode ser obtido simplesmente cortando a integração do parâmetro de impacto em bq ao invés de b90 . Se escolhermos3 bq = 2γ mev , então nas colisões de partículas pesadas com átomos, para os quais mr = me , bmax 2γ 2me v02 ln = ln bmin ω (6.42) Este valor é então consistente com o que foi obtido para o caso relativístico usando o tratamento de espalhamento quântico e a primeira aproximação de Born, por Bethe (1930), ⎛ 2γ 2me v02 v02 ⎞ ⎛ q1e ⎞ 4π dK Z ⎜ ln − = na ⎜ − 2⎟ ⎟ 2 d ω c ⎟⎠ ⎝ 4πε 0 ⎠ me v0 ⎜⎝ 2 (6.43) aqui novamente o termo final, v02 c 2 , o qual não derivamos, é no máximo uma pequena correção. Se o projétil é um electron ou positron, então o corte quântico deve ser estimado no referencial do centro de massa, e a expressão se torna 2 ⎛ ⎛ γ + 1 ⎞1 2 (γ + 1) me c 2 ⎛ e2 ⎞ 4π dK v02 ⎞ − = na ⎜ − 2⎟ Z ⎜ ln ⎜ ⎟ ⎟ 2 d ω 2c ⎟⎠ ⎝ 4πε 0 ⎠ me v0 ⎜⎝ ⎝ 2 ⎠ (6.44) 6.2.5 Valores de Potência de Parada Temos deixado em aberto a questão sobre qual valor devemos tomar para ω . Bloch (1933) mostrou através de uma análise do modelo, de distribuição de carga do elétron no átomo, de Thomas-Fermi, que podemos esperar que ω ∝ Z . Em reconhecimento do trabalho de Bethe e Bloch, a equação 6.43 é freqüentemente referida como a fórmula de Bethe-Bloch. A fórmula é escrita como 2 ⎛ q e ⎞ 4π dK − = na ⎜ 1 ⎟ B 2 d ⎝ 4πε 0 ⎠ me v0 (6.45) com a quantidade B, chamada de “número atômico de parada”, correspondente ao fator 3 O fator de dois aqui é nosso único real artifício. Ele fornece o argumento do logarítmo igual àquele obtido utilizando totalmente a mecânica quântica. 138 ⎛ 2γ 2 me v02 v02 ⎞ Z ⎜ ln − 2⎟ ⎜ ω c ⎟⎠ ⎝ Também, B Z é chamada de “potência de parada” por elétron (atômico), reconhecendo que um átomo possui Z elétrons. A potência de parada é determinada por experimentos, e o valor apropriado de ω que devemos usar, é determinado por essas medidas. Uma complicação que não discutimos, surge porque o nosso tratamento assumiu que a velocidade orbital dos elétrons no átomo pode ser ignorada em relação à velocidade da partícula incidente. Este não é o caso ao lidar com os elétrons das camadas internas de átomos com Zgrande, ou com projéteis de energia incidente muito baixa. Então a redução no valor da potência de parada acontece porque (por exemplo) os elétrons da camada K (mais internos) são ineficazes na remoção da energia dos projéteis. Este efeito é compensado numericamente quando subtraímos o termo de correção CK de forma que ⎛ 2γ 2 mev02 v02 ⎞ − 2 ⎟ − CK B = Z ⎜ ln ⎜ ω c ⎟⎠ ⎝ Desta forma, o valor de (6.46) ω é determinado empiricamente como sendo 11,5 × Z eV , e, e CK é uma função da quantidade ξ ≡ ( c 2 v02 ) ( Z − 0,3) α 2 (que representa a relação 2 quadrada da velocidade da camada K em relação à velocidade do projétil). Uma forma aproximada simples para CK é CK ( ξ ) = 2,3ξ 1 + 1,3ξ 2 correta dentro de 10% de ξ = 0 a ξ = 2 . Tende a zero para alta energia de projétil e tem um pico em torno da unidade para baixa velocidade, onde ξ ≈ 1 . Estes e outros detalhes foram revisados por Evans (1955). 6.2.6 Efeitos de Partículas Circunvizinhas em Colisões Distantes Vamos retornar agora para nosso cálculo primitivo da taxa de perda de energia, equação 6.34 que pode ser considerada da forma 2 ⎛ q q ⎞ 4π dK b = n2 ⎜ 1 2 ⎟ ln max 2 d bmin ⎝ 4πε 0 ⎠ m2v0 (6.47) Nas seções precedentes discutimos as escolhas apropriadas de bmin , baseada tanto nos 139 efeitos clássicos para espalhamento de grandes ângulos (fornecendo b90 ) quanto em efeitos mecânico quânticos do comprimento de onda de Broglie, da combinação do projétil/alvo. Também discutimos o bmax apropriado, baseado no efeito de ligação dos elétrons alvos com os seus núcleos. Porém, outro efeito pode às vezes ser mais importante que a estrutura atômica de ligação na determinação de bmax , isto é, a influência das partículas circunvizinhas. Nós temos assumido tácitamente há muito tempo que a interação do projétil e qualquer alvo especifico podem ser tratados ignorando os efeitos dos outros alvos na vizinhança. Calculamos a interação projétil/alvo isoladamente, e então presumimos que podemos adicionar os efeitos de todos os diferentes alvos por meio de uma simples integração do parâmetro de impacto. Este pode não ser o caso. Por exemplo, definitivamente isto não é o caso quando os elétrons do alvo forem livres; ou em outras palavras, para um alvo de plasma. Neste caso não há nenhum corte intrínseco para a integral de colisão, surgindo do efeito oscilador introduzido na seção 6.2.1, e o efeito das partículas próximas, em essência, sempre determina bmax . Mesmo em colisões com matéria atômica, especialmente para elétrons relativísticos, o efeito das partículas vizinhas podem significantemente diminuir a taxa de transferência de energia. No contexto das colisões atômicas, as correções são freqüentemente referido como “efeito de densidade” porque eles são mais significantes para matéria de alta densidade. Este é ainda o caso onde a transferência de energia para alvo, surge do campo elétrico produzido pelo projétil incidente. Porém, o que precisamos fazer é contabilizar a influência das outras partículas do alvo, sob a influência do campo elétrico produzido pelo projétil, no alvo específico. Expresso desta forma, é imediatamente claro que o que precisamos é levar em conta as propriedades dielétricas do meio material de que é feito o alvo. As partículas individuais do meio respondem à influência da carga (neste caso o projétil) para alterar o campo elétrico no meio de forma a voltar o que era antes. Isto é exatamente o que queremos dizer por resposta dielétrica do meio. É claro que esta não é a resposta dielétrica de steadystate que nós procuramos, mas a resposta á altas freqüências de interesse nas colisões. Além disso, quando pensamos sobre o meio do alvo, consistindo de uma densidade de osciladores idealizados, como fizemos antes, são as propriedades desses osciladores que determinam a resposta dielétrica em freqüências próximas às suas freqüências de ressonância. Assim a resposta dielétrica e a resposta da perda de energia colisional não são duas propriedades separadas do meio; elas estão intimamente ligadas. O modelo do oscilador idealizado pode ser generalizado para discutir um meio com qualquer permissividade dielétrica relativa ε (ω ) , tendo uma forma ( ressonante ε − 1 ∝ (ω − ωi ) −1 ) , e uma expressão para a taxa de perda de energia de um projétil incidente, para que essa ressonância então possa ser obtida. Fermi (1940) foi o primeiro a obter a seguinte fórmula, a qual levou muito tempo para ser re-obtida, para a perda de energia atribuível à colisões com parâmetros de impacto maiores que a, como segue 140 dK d = b>a ⎛ 1 ⎞ ∞ ℜ∫ is∗ K1 ( s∗ ) K 0 ( s ) ⎜⎜ − β 2 ⎟⎟ dω 0 π 4πε v ⎝ ε (ω ) ⎠ 2 q12 2 0 0 (6.48) onde ℜ denota a parte real, β = v0 c , K1 e K 2 são as funções de Bessel modificadas, e seus argumentos são s tais que s2 ≡ a 2ω 2 ⎡1 − β 2ε (ω ) ⎤⎦ 2 ⎣ v0 (6.49) Podemos mostrar, mas não trivialmente, [Jackson] que este dK dl se reduz à expressão de Bohr (equação 6.39) se o termo β 2ε (ω ) em s é negligenciado. Em vez de procurar o tópico para o caso atômico, vamos considerar um argumento simples para o plasma. A constante dielétrica para um plasma (livre de campo magnético ) à altas freqüências é ε (ω ) = 1 − ω p2 ω2 (6.50) onde nee2 ωp ≡ meε 0 é chamado de freqüência de plasma. Então quando a freqüência de interesse do campo é menor que ω p , a constante dielétrica é negativa e as ondas de campo elétrico já não propagam no meio; ao contrário, elas decaem exponencialmente com a distância de suas fontes. Em colisões, como vimos antes, a freqüência da interação do campo elétrico é aproximadamente v0 b . Então, para o parâmetro de impacto, b, maior que v0 ω p esperamos que a eficiência das colisões poderiam decair devido aos efeitos do dielétrico. Aplicando este valor para bmax obtemos uma expressão para a taxa de perda de energia correspondente à equação 6.37 como 2 ⎛ q1e ⎞ 4π dK q12 ω p = ne ⎜ lnΛ = ln Λ ⎟ 2 d 4πε 0 v02 ⎝ 4πε 0 ⎠ mev0 2 (6.51) mas com Λ dado aproximadamente por Λ= v0 ω p b90 141 (6.52) O que fizemos, em efeito então, é substituir o valor bmax = γ v0 ω `na definição de Λ , equação (6.38) com bmax = v0 (6.53) ωp O fator pelo qual o argumento logarítmico Λ da fórmula de Bethe-Bloch é multiplicado, é então γω p ω . Mas o efeito da densidade pode somente diminuir a taxa de absorção, de forma que deveríamos ter usado mais propriamente bmax = min ( v0 ω p , γ v0 ω ) . Os elétrons se comportam como se eles fossem livres quando ω > ωij ∼ ω . Conseqüentemente tipo-plasma, isto é elétron livre, comportamento ocorre somente quando ω p > ω , que é quando a expressão do plasma se aplica para bmax , porque é a menor. Uma estimativa grosseira da razão de ω p / ω pode ser obtida tomando a densidade dos átomos em um sólido como sendo por volta de 1030 m −3 , e a densidade do elétron sendo Z vezes isto. Então ω p ≈ 37 Z eV ⋅ Para um meio ponderado de elementos sólidos, (6.54) ω ∼ 11Z eV assim esperamos que o efeito plasma seja ligeiramente notável desde que sobre esta base ω p ω > 1 . A questão é um pouco mais complicada que isto, pois nem todos os elétrons se comportam como se fossem livres, assim temos algo superestimando a densidade dos elétrons que se comportam desta forma. Em casos relativísticos extremos, γ 1 o efeito plasma (densidade) sempre dominará. 6.3 Espalhamento Angular do Núcleo Até este ponto discutimos a perda de energia do projétil e focalizamos suas interações com elétrons. Este foco sobre os alvos de elétrons é totalmente apropriado para calcular a perda de energia porque, como ilustrado pela equação (6.21) ou (6.34), a taxa de perda de energia é, classicamente, inversamente proporcional à massa da partícula alvo4. Então a perda de energia é de fato predominante para partículas leves, elétrons, e esta predominância depende somente da dinâmica elementar das colisões. Porém, em adição à perda de energia, o projétil também geralmente sofre espalhamento angular na direção de sua velocidade. Se o espalhamento angular é a nossa preocupação, como o foi no experimento original de Rutherford sobre o espalhamento angular de partículas alfa, o qual estabeleceu que o núcleo 4 Esta proporcionalidade pode ser investigada na dependência inversa da transferência de energia em uma colisão sobre m2 , mas somente devido ao cancelamento dos fatores de massa reduzida que ocorrem no 2 produto Qb90 . 142 é muito menor que o átomo, então as colisões com partículas pesadas em nosso meio de espalhamento, o núcleo dos átomos ou os íones de um plasma, são importantes. Este processo, ilustrado na Figura 6.7, é chamado freqüentemente “de espalhamento elástico”, embora a expressão possa ser considerada um pouco enganosa, pois uma parcela de energia é perdida pelo projétil na colisão, e assim o processo não é mais elástico que uma colisão com um elétron livre, por exemplo. Figura 6.7: espalhamento angular do núcleo ocorre somente se o parâmetro de impacto for menor que o tamanho da nuvem de elétrons Qualitativamente, a importância relativa da perda de energia e do espalhamento angular podem ser compreendidas, imaginando a diferença entre uma bola de pingue pongue que colide com um arranjo médio de bolas de bilhar, ou uma bola de bilhar que colide com um arranjo médio de bolas de pingue pongue. No primeiro caso, o projétil leve irá saltar por toda parte, mudando sua direção de movimento muitas vezes antes de perder sua energia; enquanto que no segundo caso, o projétil pesado irá abrir um caminho por entre os alvos leves, perdendo energia mais rápido do que sua direção é desviada. O espalhamento angular de uma partícula numa colisão clássica coulombiana é governada pela fórmula de Rutherford para a seção de choque diferencial de espalhamento por unidade ângulo sólido em um ângulo de espalhamento no referencial do centro massa, χ c , dσ b902 = d Ω 4sin 4 χ c 2 (6.55) Esta fórmula pode ser derivada prontamente das considerações presentes na seção 6.1.1. Ela mostra que o espalhamento predominante é por ângulos pequenos. Esses ângulos pequenos surgem de parâmetros de impacto grandes. Há algumas colisões, é claro, as quais surgem de parâmetros de impacto pequenos, próximos à b90 que dão origem a ângulos grandes de espalhamento, mas estes são em número bem menor que as colisões de ângulo pequeno; assim até que a probabilidade de espalhamento por um ângulo grande seja significante, espalhamentos múltiplos por ângulos pequenos terão causado um tipo de difusão na direção das partículas em velocidade perpendicular. A Figura 6.8 ilustra uma situação idealizada, na qual a perda de energia do projétil é tomada como zero, assim seu vetor de velocidade tem módulo constante e se move sobre uma esfera. Tomando a direção 143 inicial ao longo do eixo z, cada colisão de pequeno ângulo origina um passo aleatório a ser dado dentro do plano ( vx, vy ) . Figura 6.8: Colisões múltiplas de pequenos ângulos de Coulomb causam um “caminho médio” difuso do ângulo da velocidade do projétil, ou de forma equivalente suas componentes perpendiculares. Colocando as colisões de ângulos grandes de lado por um momento, podemos tratar do espalhamento angular total experimentado por um projétil, que atravessa um comprimento finito do caminho de espalhamento, como resultado de muitos espalhamentos pequenos, cada um dos quais tem direção aleatória e magnitude, e são governados por cot ( χ c 2 ) = b b90 (equação 6.17). Embora não possamos calcular, para qualquer projétil individual, qual será o seu ângulo final, podemos tratar todo o processo estatisticamente presumindo que haja muitos espalhamentos de pequeno ângulo. De fato, este cálculo não requer a seção de choque diferencial por unidade de ângulo sólido Ω de Rutherford, mas a seção de choque diferencial por unidade do ângulo de espalhamento χ c , dσ db dσ b90 = = csc2 ( χ c 2 ) 2π b = π b902 csc 2 ( χ c 2 ) cot ( χ c 2 ) d χ c d χ c db 2 (6.56) Cujo resultado é obtido imediatamente através de nossa fórmula anterior. O espalhamento angular médio experimentado pelos projéteis é sempre zero, porque há uma probabilidade igual de espalhamento em ângulos positivos e negativos; o espalhamento é isotropico no plano ( vx , v y ) . A expansão dos ângulos espalhamento é quantificada pelo ângulo de espalhamento quadratico médio, que não é zero e pode ser calculado como segue. Colisões sucessivas são estatisticamente independentes umas das outras. O valor final de vx é dado pela soma dos passos em vx para cada colisão individual. (Semelhantemente para v y ) Portanto, fazemos uso do teorema estatístico básico onde a variância (que é o valor médio quadratico da variável aleatória de média zero) da soma de variáveis aleatórias independentes é a soma das variâncias. Executamos esta soma dividindo as colisões em faixas apropriadas de ângulo de espalhamento d χ c e ângulo 144 azimuthal dφ . O número de passos por unidade de comprimento do percurso pertencentes a essas faixas é dN = n2 dσ dφ d χc d χc 2π (6.57) e a mudança em vx que tal colisão causa é δ vx = ( mr m1 ) v0 sin χ c cos φ (6.58) Aqui, a quantidade ( mr m1 ) v0 é a velocidade inicial (e final) da partícula incidente (1) no referencial do centro de massa. Consequentemente, a variância total de vx por unidade do comprimento do percurso que surge através de todos os tipos de colisões possíveis é d vx2 = ∫ (δ vx ) dN = ∫∫ n2v02 ( mr m1 ) sin 2 χ c cos 2 φ 2 d 2 dσ dσ d χc d χc 2π (6.59) Resolvendo a integral em relação ao ângulo azimutal, φ , e substituindo na seção de choque diferencial da equação (6.56) temos d vx2 d 1 dσ 2 = n2v02 ( mr m1 ) ∫ sin 2 χ c d χc d χc 2 (6.60) 1 2 = n2v02 ( mr m1 ) π b902 ∫ sin 2 χ c csc 2 ( χ c 2 ) cot ( χ c 2 ) d χ c 2 A última integral pode ser transformadas usando as identidades trigonométricas, resultando ∫ sin 2 1 s χ c csc 2 ( χ c 2 ) cot ( χ c 2 ) d χ c = 8∫ − sds ( s ≡ sin χ c 2 ) (6.61) O limite superior da integral é s = 1 . A singularidade desta expressão no limite inferior da integral em s = 0 , mostra novamente a agora familiar necessidade do corte na integral de colisão para parâmetros de impacto grande ( χ c pequeno ou s). Este corte e a equação (6.19) fazem o valor do integral 8 ( ln bmax b90 − 1 2 ) , onde bmax é o parâmetro de impacto máximo, e o termo 1 2 deveria ser abandonado, pois é um artefato da aproximação implicada pelo uso da equação (6.58). No caso do espalhamento por um plasma, o corte relevante do parâmetro de impacto é o comprimento além do qual as interações coletivas no plasma separam o campo elétrico dos núcleos individuais. Esta distância é chamada de comprimento de Debye. Quando o espalhamento é de átomos neutros, o comprimento de corte relevante corresponde ao tamanho do átomo, porque para parâmetros de impacto maiores que o átomo, o projétil vê o átomo inteiro, neutro por causa de seus elétrons, ao 145 invés de ver somente o núcleo. Um tratamento idêntico governa a componente y v y , e consequentemente o quadrado da velocidade total transversal v⊥2 = vx2 + v y2 evolui como d v⊥2 d = n2v02 ( mr m1 ) π b902 8ln bmax b90 2 (6.62) com bmax aproximadamente do tamanho do átomo. Para ângulos pequenos θ ≈ v⊥ v e assim a equação pode ser escrita em termos do ângulo da direção da velocidade espalhada: d θ2 d = n2 ( mr m1 ) π b902 8ln bmax b90 2 (6.63) Depois de um comprimento finito de percurso l, há uma distribuição de v ⊥ com variância vx2 = v y2 = n2v02 ( mr m1 ) π b902 4ln bmax b90 2 (6.64) a qual assumimos ainda ser pequena comparada com v02 de forma que as aproximações de ângulo pequeno permaneçam válidas. Devido ao fato desta distribuição surgir de muitos espalhamentos independentes, se torna Gaussiana (seguindo o teorema do Limite Central da estatística): ⎛ 1 f ( vx , v y ) = ⎜ ⎜ 2π v x2 ⎝ com ⎧⎪ − ( v x2 + v 2y ) ⎫⎪ ⎞ ⎟ exp ⎨ ⎬ 2 ⎟ 2 v x ⎪ ⎩ ⎭⎪ ⎠ (6.65) v x2 dado pela equação (6.64). Podemos alternativamente considerar a forma da Gaussiana como oriunda de uma distribuição de partículas, que experimenta uma difusão de velocidades, a partir de uma distribuição inicialmente localizada (função delta) em v⊥ = 0 . A solução da equação de difusão neste caso é uma Gaussiana. O parâmetro de impacto máximo ( χ c mínimo) é determinado pela blidagem do núcleo por seus elétrons atômicos. Somente para pequenos parâmetros de impacto comparados ao tamanho do átomo, o projétil verá somente o núcleo porque então penetrará a fundo no inteior da nuvem de elétrons. Assim bmax é aproximadamente o raio da nuvem de elétrons que cerca o núcleo. Geralmente consideramos o tamanho característico aproximadamente5 1 por a0 Z 3 . 5 Veja M.Born “Atomic Physics” 8ª ed., Blackie pág. 199, para dedução da distribuição de Thomas-Fermi da densidade dos elétrons em torno de um átomo baseado no princípio de exclusão de Pauli e da aproximação contínua. 146 Não há compulsão matemática para o corte do limite superior da integral de χ c exceto χ c = π , que é s = 1 . Porém, se partículas muito enérgicas forem envolvidas, o valor de b90 , que é inversamente proporcional à energia de partícula, se torna muito pequeno, eventualmente tão pequeno que é menor que o tamanho do núcleo. Neste caso, o espalhamento de ângulo grande é afetado pela estrutura do próprio núcleo assim como o limite superior. Naturalmente, esta é a base para investigações experimentais da estrutura nuclear em física de alta energia por espalhamento de elétrons, mas isto requer elétrons com energias, de um modo grosseiro, maiores que Ze 2 ( 4πε 0 rn )( ≈ Z MeV ) , onde rn o raio nuclear, da ordem de 10−15 m , e Z é a carga nuclear. 147 6.4 Sumário Colisões de partículas carregadas são governadas pela força de longo alcance de Coulomb. A extensão da força é limitada por um dos vários processos diferentes, dependendo da situação física exata para um parâmetro de impacto máximo bmax . Um parâmetro de impacto mínimo para o processo é necessário se são feitas aproximações tais como colisões em linha reta, ou se os efeitos quânticos são importantes. A Tabela 6.1 apresenta um resumo das situações discutidas. Parâmetros de Impacto Tipos de Colisão Coulomb Clássica Perda de Energia Clássica do Átomo Perda Iônica Quântica dos Átomos Efeitos de Correção para as Camadas Internas Perda de Elétrons Quântica dos Átomos Efeito Densidade (Plasma não Relativístico) Espalhamento Angular do Núcleo Potência de Parada (por elétron) bmin bmax ln Λ = B Z b90 γ v0 ω ln ( γ v0 ωb90 ) ln 1,123γ v0 ω b90 − ( v02 2c 2 ) ∼ γ mv γ v0 ω ln 2γ 2 mev02 ω − ( v02 c 2 ) ω − ( v02 c 2 ) − ( Ck Z ) ln 2γ 2 mev02 ω ⎤⎦ − ( v02 2c 2 ) ln ( γ + 1 2 ) ⎡⎣( γ − 1) mec 2 12 γ v0 ω ∼ γ mv b90 b90 v0 ω p ln v0 (ω pb90 ) ln a0 ∼ a0 Z 1 3 (Z b90 ) 13 Tabela 6.1: Sumário dos cálculos de colisão. Em colisões do projétil particular 1, a velocidade inicial v0 , com partículas do tipo 2, densidade n2 , a taxa da perda de energia cinética K por unidade de comprimento do percurso l é dada por 2 ⎛ q q ⎞ 4π dK mr2 2 8ln Λ = − n2 ⎜ 1 2 ⎟ ln Λ = − K n2π b90 2 d m1m2 ⎝ 4πε 0 ⎠ m2v0 148 e o espalhamento angular do núcleo por d v⊥2 d 2 ⎛ q q ⎞ 8π mr2 8ln Λ = n2 ⎜ 1 2 ⎟ 2 2 ln Λ = v n2π b 2 m1 ⎝ 4πε 0 ⎠ m1 v0 2 0 2 90 Com os valores de ln Λ indicados. Veja as equações (6.18) e (6.3) para outras definições. 149