ORDEM DIRETA DE ORAÇÕES E PERÍODOS E OS USOS DA VÍRGULA
O que é a ordem direta da oração
Em língua portuguesa, na maioria das vezes, as orações são estruturadas na seguinte
sequência:
sujeito + verbo significativo + objeto + adjunto adverbial
OU
verbo de ligação+ predicativo do sujeito+ adjunto adverbial
A essa sequência chamamos de ordem direta ou canônica.
Ainda que falte algum desses termos, caso a sequência não seja alterada, a oração será
considerada como estando em ordem direta. Observe:
sujeito
+ verbo significativo
+ objeto
+ adjunto adverbial
sujeito
+ verbo significativo
+ objeto
+ adjunto adverbial
sujeito desinencial + verbo significativo
+ objeto
+ adjunto adverbial
sujeito
+ verbo haver
+ objeto
+ adjunto adverbial
sujeito
+ verbo significativo
+ objeto
+ adjunto adverbial
OU
sujeito desinencial + verbo de ligação
+ predicativo do sujeito
+ adjunto adverbial
sujeito
+ predicativo do sujeito
+ adjunto adverbial
+ verbo de ligação
Algumas vezes, o autor ou falante pode mudar essa ordem com o objetivo de destacar alguma
ideia, e, quando isso ocorre, dizemos que ele deslocou o termo. Ao fazer esse deslocamento, o
autor, consciente ou inconscientemente, dá maior destaque para o termo levado para uma
posição anterior à que ocupava na oração. Pode ainda, tirar o foco de algum termo que foi
levado para uma posição posterior à que ocupava.
Observe:
Ordem direta
Sujeito
verbo
objeto
adjunto adverbial
O menino corajoso
comprou
chocolate
à noite
Nessa ordem, não se percebe a intenção do autor em destacar parte dessa informação.
Casos que exemplificam o deslocamento:
Caso I
Quebra na ordem direta
adjunto adverbial
sujeito
verbo
objeto
À noite
o menino corajoso
comprou
chocolate
Neste caso, o adjunto adverbial foi deslocado, já que ele saiu de sua posição clássica e foi para
antes do sujeito. Ao colocá-lo ao início do período, evidencia-se a circunstância, como se ela já
antecipasse para o leitor a característica que será atribuída ao garoto: “corajoso”.
Caso II
Quebra na ordem direta
objeto
sujeito
verbo
adjunto adverbial
Chocolate
o menino corajoso
comprou
à noite
Neste caso, o objeto foi deslocado, já que ele saiu de sua posição clássica e foi para antes do
sujeito. O que se destaca é o produto comprado, não a circunstância em que isso ocorreu. Nesta
sequência, é como se o autor desse maior importância ao produto adquirido que ao horário da
aquisição ou ao responsável por ela. O efeito que decorre desse deslocamento poderia ser, por
exemplo, que chocolate é um produto que justifica uma ação corajosa: um garoto sair à noite.
Caso III
Quebra na ordem direta
sujeito
adjunto adverbial
verbo
objeto
O menino corajoso
à noite
comprou
chocolate
Neste caso, o adjunto adverbial foi deslocado, mas não foi para o início da oração. O efeito
produzido é que, para o autor, o sujeito da ação é mais importante que a ação ou a circunstância
em que ela ocorre. Evidencia-se que um garoto saiu à noite, levando à inferência de que essa
não é uma ação habitual para garotos. O objetivo da saída do garoto e o produto adquirido
importam menos que a parte topicalizada, isto é, colocadas ao início da oração.
Caso IV
Quebra na ordem direta
Sujeito
verbo
adjunto adverbial
objeto
o menino corajoso
comprou
à noite
chocolate
Neste caso, o adjunto adverbial foi deslocado, mas ganhou apenas uma posição na oração, já
que de último termo passou a antepenúltimo. Aqui se mantém destaque ao sujeito da ação e à
ação, porém a circunstância em que a compra ocorre é mais evidenciada que o produto
adquirido.
Caso V
Quebra na ordem direta
Sujeito
objeto
verbo
adjunto adverbial
O menino corajoso
chocolate
comprou
à noite
Nesta ordem, o que ganha destaque é o objeto, cuja posição clássica é depois do verbo e, neste
caso, o antecede.
Caso VI
Quebra na ordem direta
Objeto
adjunto adverbial
verbo
sujeito
Chocolate
à noite
comprou
o menino corajoso
Nesta ordem, o mais importante é o produto adquirido, que, de certa forma, justificaria a saída
de alguém à noite.
Observa-se, então, que a quebra da ordem direta pode estar a serviço de uma intenção
discursiva.
Usos da vírgula separando termos ou orações deslocadas
Quando o autor opta por pelo deslocamento de um termo para destacar parte da informação, é
necessário que o termo que saiu de sua posição clássica seja separado por vírgula. Assim,
teremos:
Ordem direta
sujeito
verbo
Objeto
adjunto adverbial
O menino corajoso
comprou
Chocolate
à noite.
adjunto adverbial
sujeito
Verbo
objeto
À noite,
o menino corajoso
Comprou
chocolate
objeto
sujeito
Verbo
adjunto adverbial
Chocolate,
o menino corajoso
Comprou
à noite
sujeito
adjunto adverbial
Verbo
objeto
O menino corajoso
,à noite,
Comprou
Chocolate
sujeito
verbo
adjunto adverbial
objeto
O menino corajoso
comprou
,à noite,
chocolate
sujeito
objeto
Verbo
adjunto adverbial
O menino corajoso
,chocolate,
Comprou
à noite
objeto
adjunto adverbial
Verbo
sujeito
Chocolate,
à noite,
comprou,
o menino corajoso
Quebra na ordem direta
Observe que, neste caso, se as vírgulas não sejam usadas, passa-se um sentido absurdo: o
chocolate comprou o garoto, não contrário.
Quando deslocamos um termo de sua ordem direta, ele ganha destaque e será
obrigatoriamente marcado por vírgula.
Quando a oração está em sua ordem direta, não se pode usar vírgula entre sujeito e
verbo; entre verbo e objeto; ou entre substantivo e seu complemento nominal.
Pode-se, porém, usar a vírgula separando o adjunto adverbial, mesmo quando ele está em
sua ordem direta, mas, nesse caso, ainda que não esteja deslocado, o adjunto adverbial
será evidenciado.
Lembramos que, quando a oração está em ordem direta, o uso da vírgula é facultativo
antes do adjunto adverbial.
Ressalta-se que os termos vocativo e aposto, em qualquer posição que estejam na
oração, sempre serão separados por vírgula.
Ordem direta sem inserção da vírgula
Sujeito
verbo significativo
Objeto
adjunto adverbial
João
fez
o para casa
hoje.
Sem a vírgula, um efeito de sentido possível é que João, usualmente, faz o para casa e que não
há novidade no fato declarado.
Nesse caso, a vírgula não é obrigatória para separar o adjunto adverbial, mas veja o efeito que
decorre da inserção desse sinal de pontuação no exemplo.
Ordem direta com inserção da vírgula
Sujeito
verbo significativo
Objeto
adjunto adverbial
João
fez
o para casa
,hoje.
Com a vírgula, a oração gera um novo efeito de sentido, já que evidencia o adjunto adverbial
“hoje”. Passa-se a ideia de que João, usualmente, não faz o para casa, e que,
excepcionalmente, “hoje”, ele o fez. O que sugere, por exemplo, um aluno que leva um bilhete
de advertência para os responsáveis, que alegam, na defesa do filho: “João fez o para casa
hoje”! Ao que o professor responde: Sim, João fez o para casa, hoje. A nova pontuação e
entonação sugerem que a ficha não foi em função do para casa daquele dia, mas dos
anteriores, não feitos.
A inserção da vírgula nessa oração poderia também possibilitar um novo efeito de sentido,
supondo que o aluno estuda pela manhã: João fez o para casa em classe no decorrer de
alguma aula ou o copiou de um colega também durante alguma aula do dia.
A vírgula no período composto – separando orações subordinadas adverbiais
Considerando que uma oração pode exercer função sintática em relação a outra, vejamos como
ocorre os usos da vírgula nas orações subordinadas adverbiais, isto é, nas que exercem a
função de adjunto adverbial em relação a outra.
período simples
ordem direta
sujeito
Verbo
objeto
adjunto adverbial
O menino corajoso
comprou
chocolate
à noite
período composto
ordem direta
O menino corajoso comprou chocolates
quando anoiteceu.
1ª oração
2ª oração
oração principal
or. subordinada adverbial temporal
Observação: a 2ª oração exerce uma função sintática em relação à 1ª oração, por isso ela é
subordinada em relação à 1ª. A função sintática exercida é de adjunto adverbial de tempo, logo
a 2ª é classificada como oração subordinada adverbial temporal.
A 1ª é classificada como oração principal já que recebe a 2ª como termo sintático.
Neste caso, o período está em ordem direta, isto é, a oração principal aparece antes da
subordinada. Este é o pré-requisito para que um período com orações subordinadas esteja em
ordem direta e aplica-se também às subordinadas substantivas.
Assim teremos:
período composto
ordem direta
O menino necessita
de que reconheçam sua coragem
1ª oração
2ª oração
oração principal
or. subordinada subst..objetiva indireta
Veja como nem sempre a oração principal aparece antes de sua subordinada. Quando isso
ocorre, temos a ordem indireta.
período composto
ordem indireta
Quando anoiteceu,
o menino corajoso comprou chocolates
1ª oração
2ª oração
or. subordinada adverbial temporal
oração principal
período composto
ordem indireta
De que reconheçam sua coragem,
o menino necessita
1ª oração
2ª oração
or. subordinada substantiva objetiva indireta
oração principal
Assim como os termos deslocados devem ser separados por vírgula, as orações
subordinadas adverbiais deslocadas também devem ser.
Do mesmo modo que um adjunto adverbial em ordem direta pode ser facultativamente
separado por vírgula, as orações subordinadas adverbiais que vêm depois da principal
também podem ser.
Da mesma maneira que um adjunto adverbial não deslocado e separado por vírgula é
evidenciado em relação às demais informações da oração, a vírgula inserida ao início de
uma oração subordinada adverbial não deslocada também evidenciará a circunstância
por ela expressa em relação ao que se informa na oração principal.
Especificidades a serem observadas quanto à pontuação das orações subordinadas:
1ª – Orações subordinadas adverbiais consecutivas não são separadas por vírgula em ordem
direta ainda que se deseje evidenciá-las.
Exemplo:
período composto
ordem direta
Pulou do automóvel em movimento
de modo que caiu.
1ª oração
2ª oração
oração principal
or. subordinada adverbial consecutiva
Não é possível a ordem indireta com as subordinadas adverbiais consecutivas.
período composto
ordem indireta
de modo que caiu.
Pulou do automóvel em movimento
1ª oração
2ª oração
or. subordinada adverbial consecutiva
oração principal
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