CHAPADADiamaNTiNa
Diamante lapidado
Já se foi o tempo em que a Chapada Diamantina,
na Bahia, era destino só de bichos-grilos e
mochileiros. além das belezas naturais, a região brilha
agora com outra preciosidade: o conforto
P O R
F O T O s
D e
L u í s
P A t R I A n I
v A L D e M I R
C u n H A
SEM STRESS
Que tal, depois
de visitar o
Poço Azul, uma
massagem no Hotel
Canto das Águas?
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Luís Patriani
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Ninguém precisa ser atleta de triatlo. a caminho da cidade de Lencóis, pare o carro: bastam 20
minutos de caminhada para chegar ao alto do morro do Pai inácio. e ganhar esta vista de presente
O Morro do Pai Inácio
tem 1 150 metros.
Mas a maior parte
da subida é feita de
automóvel
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Luís Patriani
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I
CHAPADADiamaNTiNa
Início do século 19. Os naturalistas alemães Johann von Spix e Carl von Martius descobrem
diamantes na região serrana do interior da Bahia. As autoridades brasileiras tentam esconder a
informação, assim como haviam feito com o ouro. Mas, como formigas atrás do açucareiro, milhares
de garimpeiros rumam com suas picaretas em direção às montanhas encravadas no meio do semiárido
baiano. Não havia como contê-los.
31 de julho de 1992. A principal fonte de riqueza se esgotara há décadas na Chapada Diamantina,
esvaziando cidades até então prósperas e opulentas. Alheios à história dos diamantes e à decadência
da economia local, milhões de telespectadores assistem ao último capítulo da novela Pedra sobre Pedra.
Lá estavam cenas externas gravadas em alguns dos lugares mais bonitos da Chapada.
A ficção de Aguinaldo Silva e uma reportagem do programa Globo Repórter foram um novo marco para
estas primitivas escarpas e vales, forjados há 800 milhões de anos, quando o sertão ainda era mar. Assim
como os garimpeiros do passado, muitos aventureiros voltaram seus olhos e seus pés para cá, contando
anacrônicos hippies, consolidando a área de 38 mil quilômetros quadrados (equivalente a 7% do estado
da Bahia) como um dos mais chamativos destinos de ecoturismo no Brasil. Antes da ajuda global, nem
os baianos vinham à Chapada. No máximo, alguns gringos e paulistas davam as caras por aqui.
Verão de 2009. A Chapada Diamantina é, agora, o Shangri-lá dos mochileiros e amantes do
a partir de abril, um
trekking. Mas um tipo diferente de viajante já aparece por estas bandas. Ele não está em busca
avião comercial voará de diamantes (apesar de ainda haver extração de pequenas pedras), nem de comunidades
de salvador a Lençóis. Já alternativas (algumas ainda resistem aqui), tampouco das fortes emoções de caminhar no mato
era tempo. Dispensará por várias horas, às vezes dias (veja quadro).
Esses novos forasteiros descobriram outra vocação para a chapada baiana. Claro que eles
as seis horas de penosa
também vêm atrás de natureza, mas — eis aí o grande diferencial — querem usufruí-la com
viagem pelas estradas conforto. Nada de esgotar o ar dos pulmões ou gastar em demasia a sola das botas. Assim como
esburacadas da Bahia não lhes parece nada animador perder sete horas percorrendo os 430 quilômetros de estradas
esburacadas entre Salvador e Lençóis, a principal cidade da região. É por causa deles que,
a partir de abril, um avião bimotor da Trip Linhas Aéreas de 68 lugares passará a
percorrer o trecho, uma vez por semana, em apenas 50 minutos.
Mudança doS TEMpoS
As sandálias de couro cru
O Vale do Capão, no distrito de Palmeiras, é um ótimo exemplo das transformações
ainda lembram os idos
dos jagunços. Agora,
chapadianas, com o perdão do pobre neologismo. É certo que a pacata vila de Caetê-açu
são os tempos do
ainda se parece com uma versão baiana da hippie São Tomé das Letras, em Minas Gerais.
restaurante Cozinha Aberta,
da Galeria Arte & Memória,
Vide o fim de tarde: entre uma música do Bob Marley e outra do Raul Seixas, o visual do
da loja de decoração
Morro Branco e de seu paredão psicodélico, alaranjado pelos raios do sol rebatidos nas
Mandalas Fotográficas e
da piscina da pousada
nuvens, enlouquecem a galera. Alguns temperam a “viagem” com um pedaço da pizza
villa Lagoa das Cores.
integral de banana, feita com esmero pelo suíço Thomas, ou com o legítimo pastel de jaca
verde de dona Dalva.
Mas o que dizer dos viajantes (agora, no
sentido literal da palavra) que admiraram
a imponência do Morrão (outra atração do
Capão) sentados confortavelmente na varanda
envidraçada do restaurante Casa das Fadas,
e, ainda por cima, brindando a excepcional
vista com um bom vinho do Porto? O Monte
Tabor, como a montanha também é conhecida,
parece um bolo de chocolate dentro de uma
vitrine. Escalar, aqui, só se for da entrada para
o prato principal.
Quem escalou muito — não paredes
íngremes, mas diferentes estilos de vida — foi
o soteropolitano Marcos Monteiro. Saído
de Salvador para morar numa comunidade
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Luís Patriani
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RúSTIco E
RoMânTIco
Depois de um
belo mergulho
na Cachoeira do
Buracão, nada
como um pouco
de requinte
para relaxar. nas
imagens ao lado,
a galeria Casa das
Fadas, a suíte do
Hotel de Lençóis
e um detalhe do
restaurante da
Pousada villa
Lagoa das Cores.
alternativa perto do Morrão, acabou montando há três anos a pousada
de charme Villa Lagoa das Cores, a mais incrementada da Chapada.
“Eu e a minha mulher notamos que muitos turistas queriam curtir o Capão,
mas com comodidade. Mas por aqui só havia campings e pousadas muito
simples.” Difícil é convencer os hóspedes a trocar a cômoda transpiração da
sauna com vista panorâmica do vale pelo cansativo suor da trilha de duas
horas que sobe até o topo da Cachoeira da Fumaça, a segunda maior do Brasil,
com 340 metros de queda. Gosto, enfim, não se discute.
Para os hóspedes menos aventureiros, sair da piscina da Lagoa das Cores, só
se for para fazer flutuação com máscara e snorkel no Poço Azul, no município
de Andaraí. Ou, então, na Gruta da Pratinha, no distrito de Iraquara, onde
está a maior concentração de cavernas do Nordeste (150 delas já foram
catalogadas). Dá para seguir nadando até o fim da Pratinha, de lanterna em
punho, acompanhado de perto por um guia num caiaque. A brincadeira
pode durar horas. Antes mesmo do mergulho, o lago em frente à entrada
da gruta já impressiona pela transparência da água, tão limpa que dá para
enxergar os milhares de búzios que forram o leito. Dentro da água, o show
fica por conta dos lambaris. Os cardumes nadam sincronizados em meio às
plantas aquáticas e não dão a mínima importância para os mergulhadores. Já
as tartarugas, também presentes na Pratinha, são menos exibidas. Seu balé
submerso é mais reservado.
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Cachoeira é o que não falta por aqui. Na dúvida, escolha logo a mais bonita de todas: a do Buracão
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Tanto o Poço Azul quanto a Gruta da Pratinha ficam dentro da Fazenda da Pratinha, conhecida
por aqui como Oásis do Sertão, dada a beleza da paisagem. Nos tempos da jagunçagem, há 100 anos,
a propriedade também foi uma área de trégua. Seu antigo dono, o major Simpliciano Lima, era
referência de ponderação e tido como o grande conciliador entre os belicosos coronéis sertanejos do
início do século 20. Certa vez convenceu o coronel Horácio de Matos — o mais aguerrido caudilho
do sertão baiano — a soltar o filho do fazendeiro Doca Medrada — que o coronel mandara sequestrar.
Nem o temido Lampião se meteu a besta com Simpliciano, que, claro, também tinhas seus jagunços.
A Gruta da Lapa Doce, também no distrito de Iraquara, mas fora dos limites da fazenda, teria sido
um bom esconderijo para os inimigos do poderoso coronel. Seus salões são imensos: chegam a ter
50 metros de altura por 300 de largura. Já sua extensão alcança dezenas e dezenas de
embora haja hotéis com quilômetros de pura escuridão. Até agora, 24 foram mapeados — mas são muito mais.
A boa ventilação e o piso plano ajudam a credenciar a gruta entre as melhores do mundo para
o maior conforto, ainda o turismo. Mesmo no breu, crianças e idosos, devidamente conduzidos por um guia munido
existem figuras como de um lampião, não encontram problemas para percorrer os 850 metros de caverna abertos à
seu Binha, que gosta visitação. Uma vez lá dentro, qualquer um se diverte com o formato dos espeleotemas, formados
de dormir numa toca e há milhares de anos pela água que se infiltra com paciência na rocha calcária. Seja no teto
(estalactites), seja no chão (estalagmites), as figuras esculpidas pelo tempo brincam com nossa
de procurar diamantes, imaginação. Uma delas lembra um mexicano devorado por um crocodilo; outra, o personagem
quase sempre sem êxito Pateta, de Walt Disney.
Mas não são apenas as cavernas da Chapada Diamantina que intrigam quem chegar até aqui.
Rodar de carro pela BR-242 — que liga Salvador a Brasília — é como circular num cinema
a céu aberto com 360 graus de tela. A partir de certa altura da estrada, seguindo em direção
duaS cHapadaS
Duas imagens da
a Lençóis, a Serra do Sincorá expõe lado a lado algumas de suas principais montanhas. São
Chapada do século 21:
sauna com vista para
impressionantes os contornos recortados desses imensos paredões rochosos de milhões
os vales (ao lado, na
de anos. Lá estão o Morro Pai Inácio, Morrão, Morro Branco, Morro do Castelo e o Morro
Villa Lagoa das Cores)
ou restaurante com
do Camelo. Este último assemelha-se ao animal até nas proporções da corcova. Já o Morrão
comida de vanguarda
confirma seu status de maior bolo do mundo. Nesse caso, o Morro do Pai Inácio, por sua
(na foto, Cozinha
Aberta). e duas do
vez, não é para ser apenas admirado. Não é difícil subir seus 1150 metros.
século 19: a toca onde
Basta ir de carro até a torre de telecomunicação próxima ao cume e seguir o resto a pé.
vive o garimpeiro
seu Binha e o Centro
Serão apenas 20 minutos de trilha. Lá em cima, a sensação é a de estar passeando num
preservado de Lençóis.
jardim rupestre suspenso. É preciso parabenizar o jardineiro (seja ele quem for). Ele fez
um trabalho primoroso.
Há vários caminhos a seguir. Todos eles devidamente pavimentados de pedra, não
pelo trabalho do homem, mas pela ação do tempo e do vento. Em cada canto você verá
bromélias, orquídeas, begônias e quaresmeiras. Como se não bastassem os arranjos
florais, a vista lá do alto dá vontade de sair voando.
Com os pés firmes no chão, há muito que
caminhar, ver e sentir em Lençóis, a antiga capital
do diamante. Seu casario colonial do século 19,
suas ladeiras de paralelepípedos, as histórias
O censo e a Xuxa
dos moradores mais velhos. Tudo nesta cidade
A loja do Amarildo dos Santos,
em Igatu, já chama atenção pela
de 10 mil habitantes remete ao passado. A não
placa da entrada. “O ponto. Entre
ser por alguns requintes contemporâneos.
aqui e compre alguma coisa...”.
O conceito slow food, por exemplo. O movimento
Quem se levar pelo slogan pode
até não comprar nada, mas vai sair
gastronômico nascido há duas décadas na Itália
sabendo tudo sobre Igatu e a Xuxa:
como resposta ao fast food, já aterrissou em Lençóis,
Explica-se: Amarildo escreve livros
no ótimo restaurante Cozinha Aberta, de cardápio
com todos os dados estatísticos
sobre a vila, como números de
multicultural. E, convenhamos, de slow food os
nascimentos, óbitos, automóveis,
baianos entendem.
telefones etc. Quanto à Rainha
dos Baixinhos, ele tem todas os
Ninguém vem a Lençóis sem percorrer a Rua
discos dela e fotos e mais fotos.
das Pedras. Ela deixou para trás o comércio de
Só falta é marcar um encontro com
pedras preciosas (daí o nome) para se transformar
a loira, seu maior sonho.
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Luís Patriani
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e bom você saber: a alguns dos lugares mais bonitos da Chapada só se chega a pé ou de bike.
esta ainda é uma das capitais da aventura no país
Para quem não gosta de ficar parado
Muitas atrações da Chapada Diamantina são fáceis de conhecer.
Outras tantas exigem fôlego e disposição para alcançá-las, seja
a pé, seja de bicicleta. O que para alguns significa um legítimo
programa de índio, para outros é puro deleite. Selecionamos as
principais trilhas da Chapada, considerada a meca do trekking no Brasil.
trilha Capão–Andaraí
O caminho para o Vale do Pati é para muitos a trilha mais bonita
do Brasil. Ela começa no povoado do Bomba, no sul do Vale do
Capão, sobe a Serra do Candombá, segue pelos Gerais do Vieira
(uma planície a 1 200 metros de altura) e termina do outro lado da
Serra do Sincorá, na cidade de Andaraí. O percurso tem 70 quilômetros,
dura cinco dias e os pernoites são em casas de moradores.
trilha Capão–Guiné
É uma alternativa mais tranquila ao trekking Capão–Andaraí. Até os
Gerais do Vieira, as trilhas são idênticas. Depois o caminho faz um
desvio e segue entre paredões imensos até chegar ao povoado do
Guiné. O percurso tem 16 quilômetros e dura oito horas (em média).
travessia norte–sul do parque nacional
Esta longa travessia percorre de norte a sul os 110 quilômetros de
extensão do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Ela começa
no Morro do Pai Inácio, passa pelo Capão, Gerais do Vieira, Mucugê
(com direito a descida do Rio Preto em canoas canadenses) e termina
nas cachoeiras da Fumacinha e do Buracão. Duração de dez dias.
Os pernoites são em barracas, casas de moradores e pousadas.
Cachoeira da Fumaça por baixo
A Cachoeira da Fumaça é uma das grandes atrações da Chapada.
Quem quiser conhecê-la por baixo, para ficar aos pés dos 340 metros
de queda, há duas opções de trilha: a primeira vai pelo leito do Rio
Capivara (25 km); a segunda cruza a Serra do Veneno e segue pelo
mesmo rio (20 km). Duram três dias, com pernoite em barracas.
Bike no sul da Chapada
O percurso de cinco dias e 180 quilômetros é feito de bicicleta.
Alguns trechos contam com carro de apoio. Os caminhos são:
cidade de Ibicoara até a Cachoeira do Buracão; Mucugê a Palmeiras;
e a desconhecida cidade de Rio das Contas (no extremo sul),
até o Pico das Almas, o terceiro mais alto do Nordeste, com
1960 metros. Pernoite em pousadas.
Os roteiros descritos são operados pelas seguintes agências: Venturas &
Aventuras, % (11) 3872-0362, www.venturas.com.br; CiaEco Turismo, % (11)
5571-2525, www.ciaeco.tur.br; Freeway, % (11) 5088-0999, www.freeway.tur.br; e
Terra Chapada Expedições, % (75) 3334-1428, www.terrachapada.com.br.
MuITaS
vIagEnS
Gruta Azul
Pratinha
Lapa
Doce
Brasília
Areal Mosquito
Pai Inácio
Poço do Diabo
Palmeiras
Vale do
Capão
Salvador
BR 242
Morrão
Lençóis
Fumaça
Andataí
Poço Azul
A Chapada
Diamantina ocupa
7% do território
baiano, ou
38 mil quilômetros
quadrados.
É impossível
conhecê-la
numa única
viagem. Quem
vem, fica mesmo
é com vontade
de voltar.
Igatu
Mucugê
É possível conhecer
a Chapada inteira
de bicicleta.
Mas prepare-se:
são cinco dias
pedalando
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Poço Encantado
Limites
do
parque
Gruta
Cachoeira
Cidade
Buracão
Morro
Aeroporto
Ibicoara
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Luís Patriani
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CHAPADADiamaNTiNa
a
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no ponto mais agitado da cidade, com bares, restaurantes, lojinhas e gente do mundo inteiro. E o que
uM dIa pERFEITo
Para começar, um
pensar do Hotel Canto das Águas? A dúvida fica entre espiar as corredeiras do Rio Lençóis, antigo ponto
delicioso café-da-manhã
na Pousada do Alcino.
de garimpo, deitar nas tendas de massagem ao lado da piscina ou entregar-se à hidromassagem com vista
Depois, um mergulho
panorâmica da suíte superior. Eis a Chapada Diamantina do século 21.
na Gruta da Pratinha.
À noite, uma volta pela
O município de Ibicoara, no sul da Chapada, não tem passado glorioso nem uma boa infra voltada ao
animada Rua das Pedras,
turismo. Mas abriga dentro de sua jurisdição a Cachoeira do Buracão, considerada a mais bonita da área.
em Lençóis.
Ela nem é tão alta (são só 85 metros), mas se esconde dentro de um estranho buraco semicircular ao qual
se chega cuzando um desfiladeiro de 60 metros de altura. Depois de conhecer uma cachoeira muito
curiosa, que tal ser apresentado a um vilarejo com características para lá de especiais?
Seu nome é Igatu. Fica no meio das montanhas, suas casas são todas de pedra e há ruínas
espalhadas
por todos os lados. Quase abandonada na década de 70, chegou a ter mais de
No fim do século 19,
4 mil habitantes no auge do ciclo do diamante, entre o final do século 19 e o começo do século
extração do diamante
20. Naquela época, as pedras eram achadas no cascalho a poucos metros de profundidade.
encheu a Chapada A cidade tinha então orquestra filarmônica, lojas com produtos importados e até cinema. Para
de riqueza. Hoje, ter uma idéia da riqueza dos moradores, saiba que a igreja foi erguida em 1854 com o dinheiro
seu maior tesouro de um único garimpeiro, como pagamento de promessa. Boa parte dos tempos áureos de Igatu
vem sendo resgatada pelo trabalho do artista plástico Marcos Zacariades. À frente do centro
são as inesgotáveis cultural da vila, ele fez um inventário patrimonial, colhendo fotos, objetos de uso cotidiano,
belezas naturais partituras e instrumentos usados no garimpo. Uma fração do acervo está exposta entre algumas
ruínas na Galeria Arte & Memória. A montagem feita por Marcos impressiona pelo cuidado
extremo. No momento, 371 moradores vivem em Igatu. Um dos mais folclóricos é
“seu Binha”, 73 anos. Sua vida confunde-se com a história do vilarejo. Ele morou até os 9 anos
numa toca junto com a família, no garimpo do Come Gente. Depois se mudou para uma casa,
mas nunca deixou de garimpar, mesmo após o declínio na extração. E não é que o seu Binha
arrumou outra toca? Vez ou outra ele passa a noite dentro dela para não ter de enfrentar a
chuva depois de horas atrás do cristal — que, agora, insiste em não aparecer. Seu Binha já não
procura com a convicção de antes. Mas não consegue parar com o velho hábito que está tão
enraizado em seu cotidiano quanto os diamantes incrustados na terra da Chapada Diamantina
há 200 anos. Para ele, a Chapada ainda está longe de chegar ao século 21.
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Luís Patriani
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CHAPADADiamaNTiNa
AGenDADevIAGeM ➔ CHAPADA
galeria com obras de artistas
plásticos locais. As peças vão
Para ligar, disque antes 75
desde uma virgem de madeira
(R$ 38) até um trabalho em
argila cozida com massa
Travesseiros de
ervas aromáticas,
ofurô, camas
king-size: eis o
que oferecem as
novas pousadas
da Chapada
acrílica (R$ 450).
uma roda d’água e um museu
IGATu
mineradores de Igatu, reunindo
com objetos do século 19.
Pousada Pedras de Igatu
objetos do rico passado do
Hoje oferece um ótimo
Rua São Sebastião, s/nº,
vilarejo, além de obras suas
restaurante e quartos confortáveis.
% 3335-2281
e de artistas baianos.
O melhor de todos é o
A melhor pousada de Igatu. Tem
“Terraço Romântico”, com cama
sauna, piscina natural e uma
king-size e vista da cidade.
varanda (onde são servidas as
Diárias a partir de R$ 250.
refeições) com vista para o vale.
a entrada do spa, onde são feitas
massagens e banhos de aroma
(R$ 60). Diárias a partir de R$ 180.
Quarto da Pousada dos 4 Cantos, situada bem no centro da cidade
■ Hotel de Lençóis
Rua Altina Alves, 747, % 33341102, www.hoteldelencois.com
O hotel fica numa área de
50 mil metros quadrados
onde existia uma antiga fazenda
de gado. Do passado, restaram
VALE DO CAPãO
Rua Luís dos Santos, s/s,
% 3335-2510
O artista plástico baiano
Marcos Zacariades montou
um museu entre as ruínas
das casas dos antigos
Guia
Prático
COMO CHeGAR
De carro, a partir de
Salvador, siga pela BR-342
até Feira de Santana e depois
pela BR-242 até Lençóis. De ônibus,
a Viação Real Expresso faz a linha
entre Salvador e Lençóis. A partir
de abril, um avião da Trip fará vôos
semanais entre Salvador e Lençóis.
na melhor pousada da Chapada, um restaurante à sua altura: o Arômata d’Lagoa
para pessoas de fora por R$ 25.
■ villa Lagoa das Cores
■ neco’s Bar e Restaurante
pousadalagoadascores.com.br
Pça. Maestro Clarindo Pacheco, 15,
A melhor pousada
interessados e
s A B O R e A R
% 3334-1179
da Chapada (Villa Lagoa das
LENçóIS
A melhor comida caseira da
Cores) tem um restaurante
■ Mandalas Fotográficas
confortáveis. Diárias a R$ 90.
C O M P R A R
Rua da Lagoa, % 3344-1114, www.
por frutas, pães, tortas, bolos,
pousadalagoadascores.com.br
correspondem ao período de alta
geléias, tapiocas, manteiga
É a mais sofisticada da
LENçóIS
Chapada. Seu Neco e sua esposa
à sua altura.
Rua 7 de Setembro, s/nº
temporada. Na baixa estação, eles
com folhas de manjericão
Chapada. Alguns hóspedes
■ Cozinha Aberta
capricham tanto na hora de fazer
A cozinha contemporânea
O casal Ana e Wellington escolhe
sofrem, em média, um desconto
e por aí vai. Alcino, o proprietário,
nem saem da pousada,
Av. Rui Barbosa, 42, % 3334-1321,
o godó de banana (refogado de
à base de ervas e especiarias
um ponto específico de uma foto
de 15 por cento.
também vende porcelanas
de tão mal-acostumados
A paulista Débora trouxe
banana verde e carne-de-sol) e o
é facilmente percebida em
da Chapada, amplia centenas de
pintadas por ele mesmo.
com mimos como ofurô,
o conceito slow food (que
cortado de palma (um tipo de cacto),
pratos como salmão ao molho
vezes e cola o papel fotográfico
LENçóIS
Diárias a partir de R$ 90.
sauna com vista para o
prega uma alimentação
que é preciso fazer reserva. R$ 15.
de ervas (R$ 40) e filé picante
sobre uma superfície redonda
■ Canto das Águas
■ vila serrano
Morro Branco, chá servido no
mais consciente) para a
■ Roda d’Água Gourmet
com pimentas pretas (R$ 35).
de madeira. O resultado são
Av. Senhor dos Passos, 1,
Rua Alto do Bonfim, 08, % 3334-
quarto à noite e sabonetes e
Chapada. Entenda o que é isso
Rua Altina Alves, 747, % 3334-1102
■ Casa das Fadas
mandalas de várias formas, cores
% 3334-1154, www.lencois.com.br
1486, www.vilaserrano.com.br
travesseiros de ervas aromáticas
experimentando uma carne-de-
O restaurante do hotel de Lençóis
Estrada Palmeiras–Capão, km 12,
e preços (entre R$ 24 e R$ 295).
O melhor hotel de Lençóis fica
A fachada de parte dos 11
feitos no ateliê da pousada,
sol com purê de banana-da-terra,
é eclético em seus pratos. O menu
% 3344-1166
A loja também vende sandálias
às margens do rio homônimo.
apartamentos é réplica das casas
além de um excelente restaurante.
farofa de castanha-do-pará
vai desde a carne-de-sol com
Em pleno Vale do Capão está
indianas (R$ 120).
Os quartos vêm equipados com
coloniais de Lençóis, assim como
Diária a partir de R$ 161.
e quiabo (R$ 23).
purê de aipim (R$ 30) até o filé ao
um dos melhores restaurantes
TV, ar-condicionado e o barulho
molho de mostarda dijon (R$ 30)
da Chapada.
VALE DO CAPãO
das corredeiras, onde antes eram
e o frango thai (R$ 24).
Se não bastassem os pratos da
■ Galeria da Casa das Fadas
culinária italiana, como scaloppine
Estrada Palmeiras–Capão, km 12,
VALE DO CAPãO
ao creme de funghi com tagliatelle
% 3344-1166
■ Arômata d’Lagoa
(R$ 38), o lugar tem uma excelente
Em um anexo do restaurante Casa
Rua da Lagoa, % 3344-1114, www.
vista do Morrão.
das Fadas funciona esta pequena
para a suíte superior, com cama
super-king, TV LCD, banheira
de hidromassagem e diária de
R$ 860. Os quartos standard
custam a partir de R$ 207.
■ Alcino estalagem Atelier
Rua Tomba Surrão, 139, % 33341171, www.alcinoestalagem.com
A pousada se equivale as outras
recomendadas em Lençóis. Mas
seu café-da-manhã é inigualável.
O desjejum, inclusive, é servido
P R Ó X I M A v i a g e m
VICTOR ANDRADE
O banquete matinal é composto
Os preços das diárias
lavados os diamantes. Destaque
60
■ Galeria Arte & Memória
Os quartos são simples, mas
As acomodações da vila serrano fazem você se sentir no tempo dos diamantes
F I C A R
IGATu
encanto lacrado
Tão famoso como o Morro do Pai Inácio,
o Poço Encantado (foto) sempre foi um dos grandes
atrativos da Chapada Diamantina. Sobretudo
no inverno, quando um feixe de luz solar penetra
por uma fresta na gruta e invade o lago de
55 metros de profundidade, dando às águas um
incrível tonalidade azul. Se você já está babando
de vontade para conhecê-la, saiba que a caverna
está há 15 meses lacrada pelo Ibama. A interdição
aconteceu porque o proprietário do sítio onde
ela se encontra fez degraus de tijolo e cimento
em seu interior. A explicação dele foi de que a
escada — nada ecológica — evitaria acidentes
entre os turistas. O órgão ambiental promete
enviar em fevereiro um arquiteto para sugerir
correções e liberar o lugar o mais rápido possível.
C
O
M
O
v
I
A
J A
M
O
MeLHOR ÉPOCA
No verão, de dezembro a março,
chove mais e as cachoeiras ficam
mais cheias. Entre março e outubro,
além de chover menos, é o período
em que os raios do sol incidem nos
poços Azul e Encantado.
PACOtes
A Venturas & Aventuras, % (11)
3872-0362, www.venturas.com.br,
tem vários pacotes para a Chapada.
O roteiro de oito dias visita o Morro
do Pai Inácio, Poço do Diabo, Gruta
Azul, Pratinha e Lapa Doce (R$ 1 030,
com aéreo saindo de Salvador). O
pacote de oito dias da Americanas.
com Viagens, % (11) 4003-4313,
www.viagens.americanas.com.br,
abrange um tour por Lençóis, Rio
Serrano e Cachoeira da Primavera.
Custa R$ 2 720, com aéreo a partir
de São Paulo e ônibus até Lençóis.
InFORMAÇÕes tuRístICAs
Apoio ao visitante: % (75) 3334-1378.
s
“O fotógrafo Valdemir Cunha e eu viajamos com o apoio da Venturas & Aventuras, uma das
agências especializadas na Chapada Diamantina. Sempre leve um guia para fazer os passeios.
As trilhas são belas, mas podem ser traiçoeiras para quem não as conhece.”
Luís Patriani
P R Ó X I M A v i a g e m
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Luís Patriani
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