UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU Curso de Pós Graduação- Strictu Sensu Arquitetura e Urbanismo CAROLINE DE ANGELIS Dimensões para projetos hoteleiros São Paulo 2010 CAROLINE DE ANGELIS Dimensões para projetos hoteleiros Dissertação apresentada à Universidade São Judas para obtenção do Título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. ORIENTADOR: Professor Doutor Paulo de Assunção São Paulo 2010 De Angelis, Caroline Dimensões para projetos hoteleiros / Caroline de Angelis. - São Paulo, 2011. 149 f. , il. ; 30 cm Orientador: Paulo de Assunção Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2011. 1. Arquitetura. 2. Indústria hoteleira - Projeto arquitetônico. I. Assunção, Paulo de. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo. IV. Título “A dinâmica da vida faz com que as coisas, os edifícios, as cidades, os ambientes sofram constantes transformações, nas quais muitas vezes o velho tem que dar lugar ao novo.” (Um século de Luz. Marisa Midori Deaecto) AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram na execução desta pesquisa e que, mesmo não citadas nesta página, merecem minha sincera gratidão. À Profº. Dr. Paulo de Assunção pela orientação e solicitude. À minha família pelos cuidados e permanente incentivo. À minha irmã, Nathália, pela compreensão e amizade. À banca formada pela Profª Drª Ana Paula Koury e Profª Drª Eneida de Almeida, pelos pertinentes comentários e sugestões. RESUMO O objeto do nosso estudo foi analisar o processo de transformação dos projetos arquitetônicos hoteleiros, na cidade de São Paulo por meio do Código de Obras. A proposta é apresentar diretrizes para o dimensionamento dos meios de hospedagem a fim de apresentar o melhor uso dos equipamentos que cada categoria disponibiliza. Procuramos tecer um foco único: o novo regulamento de classificação para os meios de hospedagem, os estudos arquitetônicos – uma visão dos arquitetos – e a ABNT NBR9050 resultado em legislações que permitem fornecer claras informações na construção de hotéis. Palavras-chaves: hotelaria / projetos arquitetônicos / Legislação ABSTRACT The main purpose of this study was to analyze the transformation process in the hotel architectural projects in the city of São Paulo through the Construction Standard. The aim is to suggest directives to dimension accommodations in order to make the best use of the equipment made available by each category. There was an attempt to amalgamate one focus: the new accommodation classification regulation, architectural studies – from the architects‟ point of view – and ABNT NBR9050 (Brazilian Association of Technical Regulations), resulting in regulations which allow the provision of clear information on hotel construction. Key words: hospitality / architectural projects / Legislation SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE TABELAS 1 Introdução 23 O início 25 1.1 O Hotel Paris Ritz – um marco para a hotelaria 35 1.2 As maiores redes hoteleiras do mundo 37 1.3 A hotelaria no Brasil 48 2 Hotéis na cidade de São Paulo e o Código de Obras 79 3 Regras e referências no mercado hoteleiro 104 3.1 Regulamento e classificação dos Meios de Hospedagem 104 3.1.1 Hotel com estrela 3.1.2 Hotel com estrelas 105 3.1.3 Hotel com estrelas 105 3.1.4 Hotel com estrelas 106 3.1.5 Hotel com estrelas 106 3.2 Planejamento e projeto de hotéis 104 107 3.3 ABNT NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. 114 Considerações finais 129 Referências Bibliográficas 131 Anexo I – Portaria nº 100 – 21/06/2011 140 LISTA DE ABREVIATURAS ABIH Associação Brasileira da Industria de Hoteis ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social FIABCI Federação Internacional das Profissões Imobiliárias FUNGETUR Fundo Geral do Turismo IHG Inter Continental Hotels Group SECOVI Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia SUDECO Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste SUDESUL Superintendência de Desenvolvimento do Sul UH Unidade Habitacional LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Tremont House. 29 Disponível em <http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/fa267/tremnths.jpg> Acesso em: 23/08/2010. Figura 2 – Statler Hotel 32 Disponível em: <http://wnyheritagepress.org/photos_week_2007/statler/hotel/statler_hotel.htm> Acesso em: 23/08/2010. Figura 3 – Hyatt Regent Atlanta - 1967 34 Disponível em: <http://blog.aia.org/favorites/2007/02/103_hyatt_regency_atlanta_1967.html> Acesso em: 23/08/2010. Figura 4 – Hyatt San Francisco Atlanta - 1973 34 Disponível em: < http://www.inetours.com/Pages/SF-photos/FD/Hyatt-interior.html> Acesso em: 23/08/2010. Figura 5 – Ritz Paris 37 Disponível em: < http://www.ritzparis.com/jump_to.asp?id_target=1123&id_lang=2> Acesso em: 23/08/2010. Figura 6 – Hotel Holiday Inn – Londres Disponível em: <http://www.hiexpress.com/hotels/us/en/london/lonsw/hoteldetail/photos-tours.> 39 Acesso em: 20/11/2010. Figura 7 – Hotel Galvez & SPA, Wyndham Grand Hotel – Texas 40 Disponível em: < http://www.wyndham.com/hotels/GLSHG/main.wnt> Acesso em: 20/11/2010. Figura 8 – Courtyard Philadelphia Downtown – USA 41 Disponível em: < http://www.wyndham.com/hotels/GLSHG/main.wnt> Acesso em: 20/11/2010. Figura 9 – Hotel Hilton Checkers – Los Angeles 41 Disponível em: <http://www1.hilton.com/en_US/hi/hotel/LAXCHHF/photoGallery.do> Acesso em: 20/11/2010. Figura 10 – Hotel Mercure Paris Terminus Nord –Paris 43 Disponível em: < http://www.accorhotels.com/pt-br/hotel-2761-mercure-paris-terminus-nord/index.shtml > Acesso em: 20/11/2010. Figura 11 – Comfort Inn & Suites – Califórnia 44 Disponível em: <http://www.comfortinn.com/es/hotel-lancaster-california> Acesso em: 20/11/2010. Figura 12 – Best Western Plaza Kokai Cancún – México Disponível em: 45 <http://book.bestwestern.com/bestwestern/MX/Cancun-hotels/BEST-WESTERN-PlazaKokai-Cancun> Acesso em: 20/11/2010. Figura 13 – Sheraton Chicago Hotel & Towers – Chicago 46 Disponível em: < http://www.starwoodhotels.com/sheraton/property> Acesso em: 20/11/2010. Figura 14 – Park Plaza Wallstreet Berlim – Alemanha 46 Disponível em: <http://www.parkplaza.com/> Acesso em: 21/11/2010. Figura 15 – Hyatt Regency San Francisco Airport – Califórnia 47 Disponível em: <http://www.hyatt.com/hyatt/hotels/gallery/photos.jsp?hotelId=2224&start=1> Acesso em: 21/11/2010. Figura 16 - Hotel Pharoux. 49 Disponível em: <http://correiogourmand.com.br/roteiros_02_turismo_02_primordios_brasil.htm> Acesso em 22/08/2010. Figura 17 – Hotel Palm 50 Fonte: CAMPOS, Eudes. A cidade de São Paulo e a era dos melhoramentos materiaes: Obras públicas e arquitetura vistas por meio de fotografias de Militão Augusto de Azevedo. Figura 18 – Anúncio do Hôtel des Voyageurs Fonte: Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. 51 Figura 19 – Grande Hotel 52 Fonte: A cidade da Light, 1899-1930, São Paulo, Eletropaulo, vol. 1, 1990, p.121. Figura 20 – Reconstituição gráfica da fachada principal do Grande Hotel. Vista da Rua São Bento 52 Fonte: CAMPOS, Eudes. O antigo Beco da Lapa e o Grande Hotel - Informativo AHM. Figura 21 – Reconstituição gráfica da fachada lateral do Grande Hotel. Vista da Rua Miguel Couto 52 Fonte: CAMPOS, Eudes. O antigo Beco da Lapa e o Grande Hotel - Informativo da AHM. Figura 22 – Hotel da Paz 53 Disponível em: <http://correiogourmand.com.br/roteiros_03_turismo_05_historia_primeiros_hoteis_sao_paul o.htm> Acesso em 22/08/2010. Figura 23 – Grande Hotel d´Oeste (o prédio do Hotel à esquerda) 53 Fonte: São Paulo de Piratininga: de pouso de tropas a metrópole. O Estado de São Paulo Terceiro nome. Figura 24 – Reconstituição gráfica do Grande Hotel d´Oeste, 1887 e 1890 54 Fonte: Os primeiros hotéis da cidade de São Paulo século XIX: Império e República, Informativo do AHM. Figura 25 – Reconstituição gráfica do Grande Hotel d´Oeste, 1900. 54 Fonte: Os primeiros hotéis da cidade de São Paulo século XIX: Império e República, Informativo do AHM. Figura 26 – Hotel Brasil-Itália 54 Fonte: São Paulo de Piratininga: de pouso de tropas a metrópole. O Estado de São Paulo, Terceiro nome. Figura 27 – Grande Hotel Metropolitano. Escala 1:100 56 Fonte: Grande Hotel Metropolitano, Informativo AHM. Figura 28 – Fachada do Grande Hotel Metropolitano. Escala 1:100 56 Fonte: GrandeHotel Metropolitano, Informativo AHM. Figura 29 - Largo São Bento. 57 À direita, ao fundo, futuro Hotel Rebecchino. À esquerda, ao fundo, o Grande Hotel Paulista. À esquerda, o Hotel D’Oeste. Fonte: O centro de São Paulo há cem anos (exposição online) AHMWL. Figura 30 – Grand Hôtel de La Rotisserie Sportman 57 Fonte: Acervo de São Paulo (online) Figura 31 – Hotel São Paulo Inn 58 Fonte: Acervo de São Paulo (online) Figura 32 - Hotel Copacabana Palace 59 Fonte: Almanaque Brasil (online). Figura 33 - Andar térreo do Hotel Copacabana Palace 59 Fonte: Copacabana Palace: um hotel e sua história. Figura 34 - Hotel Esplanada. À esquerda, o Teatro Municipal. À direita, o Hotel Esplanada. 60 Fonte: Histórico demográfico do município de São Paulo (online). Figura 35 - Grande Hotel de Araxá 60 Fonte: CBF (online). Figura 36 - Grande Hotel São Pedro 61 Disponível em: <www.grandehotelsenac.com.br > Acesso em 15/06/2010. Figura 37 – Grande Hotel Ouro Preto 62 Disponível em: <http://mail.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.122/3486> Acesso em: 25/08/2010. Figura 38 – Grande Hotel Ouro Preto. (térreo, 1º andar, 2º andar, 3º andar) 62 Disponível em: <http://mail.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.122/3486> Acesso em: 25/08/2010. Figura 39 – Hotel Excelsior. 63 Fonte: Os hotéis da Metrópole. Figura 40 – Fachada norte do Park Hotel, Nova Friburgo – RJ. 65 Disponível em: < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3513> Acesso em: 25/08/2010. Figura 41 – Fachada sul do Park Hotel, Nova Friburgo – RJ 65 Disponível em: <http://www.arcoweb.com.br/artigos/roberto-segre-humanismo-tecnica-22-03-2002.html> Acesso em: 28/10/2010. Figura 42 – Hotel Quitandinha 66 Disponível em: <http://www.museuhistoriconacional.com.br/images/galeria22/mh-g22a052.htm> Acesso em 15/06/2010. Figura 43 – Hotel Comodoro 67 Disponível em: <www.piratininga.org> Acesso em: 12/11/2010. Figura 44 – Hotel Tambaú 70 Disponível em: <http://www.tropicaltambau.com.br/portuguese/index.cfm> Acesso em: 12/11/2010 Figura 45 – Renaissance Hotel – São Paulo 72 Disponível em: < http://www.ruyohtake.com.br/index.html> Acesso em: 21/09/2010. Figura 46 – Unique Hotel 73 Disponível em: < http://www.ruyohtake.com.br/index.html> Acesso em: 21/09/2010. Figura 47 – Alvorada Park Hotel 74 Disponível em: < http://www.ruyohtake.com.br/index.html> Acesso em: 21/09/2010. Figura 48 – Costa do Sauipe 75 Disponível em: <http://www.costadosauipeonline.com.br/> Acesso em: 21/09/2010. Figura 49 – Hotel Anhembi Holiday Inn 76 Disponível em: <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/miguel-juliano-hotel-anhembi-11-03-2004.html> Acesso em: 03/11/2010. Figura 50 – Bourbon Joinville Business Hotel – Santa Catarina 77 Disponível em: <http://www.dorialopesfiuza.com.br/> Acesso em: 03/11/2010. Figura 51 – Hotel Excelsior 81 Fonte: Acervo Digital Rino Levi – FAU PUC Campinas Figura 52 - Planta do 7º ao 11º andar 82 Fonte: Acervo Digital Rino Levi – FAU PUC Campinas Figura 53 – Hotel Jaraguá 84 Disponível em: <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/miguel-juliano-hotel-holiday-11-03-2004.html> Acesso em: 22/08/2010 Figura 54 – São Paulo Hilton Hotel 86 Fonte: Acervo de São Paulo (online) Figura 55 – Planta de um dos andares de apartamentos 86 Fonte: Revista Projeto e Construção Setembro de 1970 Figura 56 – Renaissance Hotel 90 Disponível em: <http://www.ruyohtake.com.br/index.html> Acesso em: 03/09/2010. Figura 57 – Planta do pavimento-tipo 91 Disponível em: <http://www.ruyohtake.com.br/index.html> Acesso em: 03/09/2010. Figura 58 – Apartamento Superior 97 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/default.aspx?pageid=0A69A07A49AA69AA55A5A53A4> Acesso em: 30/08/2010. Figura 59 – Apartamento Luxo 97 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A09A49AA69A0808> Acesso em: 30/08/2010. Figura 60 – Apartamento Executivo 98 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A0A69AA49A503A53A7> Acesso em: 30/08/2010 Figura 61 – Apartamento Golden class 98 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A0A70AA49AA69A03A55AA 69A > Acesso em: 30/08/2010. Figura 62 – Apartamento adaptado para deficiente 99 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A0A71AA49A7A52A306> Acesso em: 30/08/2010. Figura 63 – Suíte Alvorada 99 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A0A73AA49AA72AA52AA69 AA54AA69A> Acesso em: 30/08/2010. Figura 64 – Suíte Diplomata 100 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A0A72AA49AA71AA58A5A5 8A4> Acesso em: 30/08/2010. Figura 65 – Suíte Transamérica 100 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A17A49AA69AA56A5A56A5 > Acesso em: 30/08/2010. Figura 66 – Suíte Itamaraty 101 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A18A49A50A69AA53A9> Acesso em: 30/08/2010. Figura 67 – Suíte Presidencial 101 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A19A49AA69AA58A6A56AA 69A> Acesso em: 30/08/2010. Figura 68 – Suíte Presidencial 102 Disponível em: <http://www.transamerica.com.br/Default.aspx?pageid=0A69A19A49AA69AA58A6A56AA 69A> Acesso em: 30/08/2010. Figura 69 – UH de padrão econômico 110 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.208. Figura 70 - UH de padrão econômico 110 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.208. Figura 71 – UH de padrão econômico 111 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.209. Figura 72 - UH de padrão médio 111 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.209. Figura 73 – UH de padrão médio 112 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.210. Figura 74 – UH de padrão médio 112 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.210. Figura 75 – UH de padrão superior 113 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.211. Figura 76 – UH de padrão superior 113 Fonte: ANDRADE, Nelson. Hotel: planejamento e projeto. 4. Ed., São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000, p.211. Figura 77 - Dimensões referenciais para deslocamento de pessoa em pé 114 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 78 – Dimensões referenciais para deslocamento em cadeira de rodas 115 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 79 – Alcance manual frontal – Pessoa em pé 115 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 80 – Alcance manual frontal – Pessoa sentada Fonte: ABNT NBR 9050. 115 Figura 81 – Alcance manual lateral – Relação entre altura e profundidade – 116 pessoa em cadeira de rodas Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 82 – Alcance manual frontal - Pessoa em cadeira de rodas 116 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 83 – Aproximação de porta frontal 117 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 84 – Visão frontal de porta de sanitário 118 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 85 – Sinalização de vagas 119 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 86 – Sinalização de vagas 119 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 87 - Áreas de transferência para bacia sanitária 120 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 88 – Dimensões para instalação da bacia sanitária 120 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 89 – Altura da bacia sanitária – vista lateral 121 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 90 – Altura do acionamento da descarga 121 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 91 – Mictórios 122 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 92 – Boxe para pessoas com deficiência 122 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 93 – Boxe adaptado com área de manobra 123 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 94 – Boxe para chuveiro com barras vertical e horizontal 123 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 95 – Boxe para chuveiro com barra de apoio em L 124 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 96 – Perspectiva do boxe com as barras de apoio 124 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 97 – Dimensões para banheira acessível 125 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 98 – Acessórios junto ao lavatório 125 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 99 – Cabina para vestiário acessível 126 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 100 – Circulação mínima para quarto acessível 126 Fonte: ABNT NBR 9050. Figura 101 – Balcão de autoatendimento – Vista frontal Fonte: ABNT NBR 9050. 127 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Instalações sanitárias 87 Tabela 1 – Classificação hoteleira 93 Tabela 2 – Áreas médias do hotel (m²/apto) 108 Tabela 3 – Área de serviço 10 Introdução O setor de serviços – de que é parte expressiva o turismo – vem crescendo significativamente nos últimos anos. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Turismo relata que, em 2009, o Brasil recebeu 4,8 milhões de turistas estrangeiros e movimentou aproximadamente 56 milhões de voos domésticos. Grande polo de desenvolvimento desse setor, segundo a São Paulo Turismo (SPTuris), a capital de São Paulo recebe anualmente 11 milhões de visitantes, com permanência média de 3 a 5 dias. Para atender a essa demanda, existem 42 mil apartamentos, com média de ocupação no mercado hoteleiro de 62,2% e preço médio de diária de R$197,00. Esse é o cenário do mercado hoteleiro, cujo crescimento – nos últimos 20 anos – tem acompanhado as necessidades da demanda. Notável nesse período foi a chegada das redes hoteleiras internacionais, que vislumbraram amplas possibilidades em uma economia favorável para investimentos, ganharam mercado e contribuíram para padronizar a estrutura física e dos serviços prestados. Foi uma questão de tempo para que as redes hoteleiras disseminassem hotéis de diversas categorias por diferentes regiões da cidade a fim de atender clientes de perfis específicos. A vinda das redes hoteleiras internacionais estimulou não só a competitividade nos aspectos construtivos e de profissionalização como também no marketing do estabelecimento ou marca. Além desses benefícios, as grandes redes impulsionaram a modernização dos equipamentos, devido à exigência da qualidade internacional, e uma política flexível de preços e condições. Ao longo desse período, houve o cuidado de manter às características tipicamente brasileiras e paulistas, tanto na estrutura física como na profissionalização dos prestadores de serviços, visando fidelizar o maior número de clientes. Atualmente, a variedade de meios de hospedagem na cidade São Paulo, compreende desde hotéis de propriedade de grandes redes internacionais até estabelecimentos independentes de porte médio. A importância desse ramo de atividade para a economia justifica uma análise detida dos vários aspectos que a envolvem. Esta dissertação tem por objetivo analisar o processo de transformação dos projetos hoteleiros no Brasil, tomando por referência a cidade de São Paulo, e indicar as diretrizes que dimensionam categorias dos meios de hospedagem. 23 A iniciativa de discorrer sobre o tema explica-se pela experiência da autora no segmento hoteleiro e sua formação em administração nessa área. O foco da pesquisa é buscar informações que levam a correta construção das áreas funcionais, facilitando a rotina hoteleira. O primeiro capítulo versa sobre a origem e a evolução da hotelaria no mundo e no Brasil, mensurando os principais empreendimentos, suas características de funcionamento e serviços oferecidos. No fim do capítulo, listam-se as maiores redes hoteleiras do mundo com suas respectivas características e marcas. O segundo capítulo relata os critérios estabelecidos pelo Código de Obras do município de São Paulo que regram a construção de hospedarias no período de 1930 a 1990, apontando as transformações dos projetos e suas influências nas condições de uso dos equipamentos. Examina-se a uma legislação específica para o setor, até há pouco controlada pela ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), através do regulamento e classificação de meios de hospedagem. O capítulo final analisa os pontos relevantes do novo regulamento de classificação para os meios de hospedagem, controlado pelo Ministério do Turismo, as considerações de Nelson de Andrade em Hotel- planejamento e projeto e as normas de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos da ABNT NBR 9050. O estudo se encerra com uma conclusão que reflete todos os aspectos analisados ao longo dos capítulos anteriores. 24 1. O início Este capítulo pretende esboçar um panorama histórico dos meios de hospedagem no mundo e no Brasil, ressaltando a entrada das principais redes hoteleiras e as mudanças dos projetos arquitetônicos no decorrer dos anos. Viajar é atividade intrínseca ao ser humano, seja por sobrevivência, fuga, religião ou interesse social. Segundo Ycarim Melgaço Barbosa, “desde o período em que a Terra foi povoada por seres que praticavam caça e coleta, atividades que surgiram pelo menos desde o desenvolvimento dos primeiros instrumentos de pedra, há 2,5 milhões de anos, os seres humanos já se deslocavam” (BARBOSA, 2002, p.12). Na Idade Antiga, com a introdução da moeda concebida pelos sumérios, simplificaram-se as transações comerciais e o comércio se desenvolveu. A esse povo deve-se ainda a invenção da escrita e da roda, que permitiu uma mobilidade antes inimaginável. Os egípcios e gregos deslocavam-se pelos mares, desertos e montanhas, deixando um legado de conhecimentos e experiências. Com tantos deslocamentos e meios de transporte inadequados, começam os primeiros viajantes a conceber formas de acomodação temporária, embrião das atividades hoteleiras. No século V a.C., surgem as hospedarias, ainda precárias, ao longo das estradas, nos portos e grandes centros. Joaquim Janeiro afirma que “as hospedarias apareceram por volta do século IV a.C. e tinham como objetivo prestar serviços correspondentes às mais elementares necessidades humanas – alimentação e abrigo” (JANEIRO, 1991, p.15). Convém ressaltar que os Jogos Olímpicos da Grécia antiga atraíram muitos viajantes para as cidades que os sediavam. Os gregos providenciaram vias mais largas e adequadas para o tráfego de veículos, construindo redes de vias que davam acesso aos lugares mais procurados pelos viajantes. Os romanos também contribuíram, com veículos de transporte de vários tipos e técnicas inovadoras de construir estradas e pontes, uma vez que se deslocavam para pontos sempre mais distantes, quer já integrados ao Império, quer por integrar-se a ele. Ao lado do intuito militar ou comercial, passou a figurar também o do descanso e divertimento. Durante esse período, os nobres escolhiam as hospedarias de acordo com o luxo e os serviços cerimoniais oferecidos aos clientes. 25 Segundo Janeiro: Na antiga Roma, as hospedarias de maior qualidade eram identificadas pela denominação de mansiones; havia-as espalhadas por todo o Império. Havia também a taverna, local onde oficiais e legionários comiam e bebiam. Após a queda do Império Romano, a Europa esteve durante dezenas de anos sujeita a um risco diabólico: para poder viajar estava-se sujeito a uma autêntica aventura. No entanto, foi criada a Fundação da Ordem dos Cavaleiros Hospitalares, e com ela passou a existir segurança, criando-se uma série de hospitais e refúgios. Aí se abrigavam as cruzadas e peregrinos que se dirigiam à Terra Santa (JANEIRO,1991, p.15). Com a crise do Império Romano, as estradas deterioraram-se, infestando-se de assaltantes, risco que prejudicava as viagens e afastava das hospedarias os viajantes. Lentamente, na Idade Média, foram aparecendo as cidades feudais, fortificadas, que celebravam importantes festas religiosas e atraíam peregrinos. O período foi marcado ainda pelas Cruzadas, movimento armado para a defesa dos lugares santos da Cristandade, e as viagens de peregrinos cristãos que iam à Terra Santa, Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela. A circulação de homens que participavam das Cruzadas e dos peregrinos propiciou naturalmente o crescimento do número de hospedarias e alojamentos ao longo das rotas. Segundo John Urry, “nos séculos XII e XIV as peregrinações haviam se tornado um amplo fenômeno servido por uma indústria crescente de redes de hospedarias para viajantes, mantidas por religiosos e por manuais de indulgência produzidos em massa. Essas peregrinações incluíam frequentemente uma mescla de devoções religiosas, cultura e prazer” (URRY, 2001, p.19). Apesar da precariedade das hospedarias e alojamentos, em 1282 foi criado o Grêmio das Hospedagens em Florença, união de empresários de alojamentos com o propósito de ajudar e defender os interesses comuns. Em 1300, no porto de Veneza, têm início as viagens anuais de peregrinos em caravanas para Jerusalém. É nesse período que o conhecido viajante Marco Polo relatou suas viagens e colaborou com seus conhecimentos sobre diferentes povos, conforme afirma Yacarim Barbosa, tendo “influenciado as viagens de Cristóvão Colombo, que chegou a confundir a ilha de São Domingos, no Caribe, aonde chegou em 1492, com as praias do Cipango (Japão), narradas muito tempo antes por Marco Polo. Marco Polo sempre foi citado como o grande viajante a manter contato com a China, sendo responsável pela introdução do macarrão e da pizza na Itália” (BARBOSA, 2002, p.27). 26 No final da Idade Média, a Revolução Mercantil e o crescimento das cidades, estimularam ainda mais o desenvolvimento das hospedarias, que passaram a oferecer refeições e vinhos, cocheiras e alimentação para os cavalos, troca de parelhas e serviços de manutenção, limpeza para as charretes ou outro tipo de veículo, além dos serviços de alojamento. Em 1407, na França, foi criada a primeira lei para registro de hóspede, com a finalidade de aumentar a segurança nas hospedarias. Vladir Vieira Duarte informa que “é também desse período o costume de identificar os estabelecimentos comerciais colocando-se adornos em sua entrada. Na França, as hospedarias usavam ramos verdes de cipreste ou tecidos em mastro nessa mesma cor. Na Inglaterra, colocava-se um mastro, bem alto, pintado na cor vermelha” (DUARTE, 1996, p.9). Com o início da Idade Moderna, duas novas justificativas somam-se às já conhecidas: a ampliação dos territórios europeus e a expansão das fronteiras culturais. Surge o Grand Tour, viagens com propósitos educacionais destinadas aos jovens recém-saídos de Oxford ou de Cambridge. As hospedarias desenvolviam-se como consequência do crescimento e destino das viagens. Por volta de 1561, em busca de maior conforto para os hóspedes, a França regulamentou as tarifas das hospedarias, enquanto se editava em Londres o primeiro guia de viagens de que se tem notícias, determinando os diferentes tipos de acomodações disponíveis para viajantes a negócio ou passeio. Aproximadamente em 1659, surgem as diligências, carruagens puxadas por cavalos, como importante meio de transporte na Europa. Pelos 200 anos seguintes, esses veículos facilitaram a locomoção, garantindo um fluxo de hóspedes para as pousadas e hotéis. É no século XVIII que o Grand Tour tornou-se comum entre a elite britânica, dando ênfase não somente à instrução mas também ao lazer. As viagens duravam de seis meses a um ano e meio, e os jovens se alojavam em castelos, mansões feudais e fortalezas. É interessante destacar a importância da imprensa, que publicava relatos dessas viagens, aguçando o desejo dos leitores por conhecer novos lugares. Ycarim Barbosa relata que “as descrições dessas viagens constavam de livros ou eram publicadas nos jornais em breve se transformariam numa moda para os letrados e intelectuais. Nesse renovado gênero literário, eram enaltecidas as belezas paisagísticas, o patrimônio histórico e cultural, a gastronomia, o conforto das estalagens e hospedarias, as vias de comunicação, os melhores meios de transportes” (BARBOSA, 2002, p.35). 27 Alguns médicos do século XVIII acreditavam que banhos de determinadas águas poderiam contribuir para curar doenças. Entre 1720 e 1730 descobriu-se na Pensilvânia um manancial de águas com características térmicas e minerais, descoberta que gerou a necessidade de hotéis na região. No mesmo período, a pequena cidade de Bath, na Inglaterra, e a cidade de Spa, na Bélgica, ofereciam banhos termais. O êxito da iniciativa levou à construção de outros hotéis em diversas zonas de atrativos naturais, como quedas de Niágara, Cape May e Long Branch. Segundo Duarte, Na Inglaterra, no período de 1750 a 1820, no bojo da Revolução Industrial, as estalagens foram substituídas pelos inns, que conquistaram a reputação de serem os melhores hospedeiros daquela época. Tiveram seu desenvolvimento em Londres e arredores, onde os innkeepers diversificaram e valorizaram seus serviços, que passaram a ser vistos como alto padrão de limpeza e excelente alimentação. Na medida em que foram sendo construídas estradas de rodagem e ferrovias que ligavam os grandes centros às cidades portuárias, houve grande aumento na quantidade de hotéis, principalmente nessas cidades portuárias. Os modelos de hotéis não evoluíram fisicamente, e as novas construções mantiveram o conceito dos existentes (DUARTE, 1996, p.10). Com a Revolução Industrial, foi grande o avanço tecnológico no setor de transportes e significava a melhoria nas condições de vida dos assalariados, o que se refletiu na expansão do setor hoteleiro. Nos Estados Unidos, os albergues já eram os maiores do mundo e ofereciam os melhores serviços da época. Em 1794, inaugurou-se em Nova York o City Hotel. O prédio foi construído com a finalidade específica de hotel, com 73 quartos e 70% da área total destinadas a funções áreas sociais. Os próximos 35 anos foram uma época de ouro para a hotelaria norte-americana, uma vez que muitos foram os edifícios construídos com essa finalidade em importantes lugares, como Boston, Baltimore, Filadélfia e Nova York. O número de hotéis próximos de estações termais, mares e montanhas também foi crescente, devido às ações terapêuticas que os banhos proporcionavam. Para Yacarim Barbosa, “era o prenúncio do turismo. A água mineral ou termal como cura são exemplos disso. Surgiram hotéis para acolher a população e os médicos, que desempenham um papel de destaque, pois eram eles que convenciam as pessoas da necessidade de consumir esses novos produtos, a água e o ar, o „ar da montanha‟ ”(BARBOSA, 2002, p.44). 28 Em 1829, Boston ganha o hotel mais caro e mais inovador de até então – o Tremont House. Projetado pelo arquiteto Isaiah Rogers1, o hotel oferecia quartos com acomodação privada, single e double, portas com fechaduras, bacia, jarros e sabonetes para higiene pessoal nos quartos. Para caracterizar ainda mais o luxo hoteleiro, todos os hóspedes poderiam ser localizados no hotel por um mensageiro, serviço até então desconhecidos nos hotéis. O Tremont House ganhou destaque também pela sua administração, já que os funcionários eram treinados para oferecer ao hóspede o melhor atendimento. Figura 1 - Tremont House. Os primeiros anos do século XIX foram marcados pela evolução dos meios de transportes. Em 1830, consolidava-se a estrada de ferro e a locomotiva a vapor de George Stephenson. Nos anos seguintes, com a expansão da estrada de ferro, os deslocamentos tornaram-se mais fáceis, rápidos e confortáveis. Viagens que levavam semanas foram reduzidas para dias. Em 1883, aconteceu a primeira viagem do “Expresso d´Oriente”, famosa por ligar o Ocidente ao Oriente numa composição sobre trilhos que esbanjava luxo. A Wagons-Lits, empresa responsável pela linha, ampliou o negócio com a construção de hotéis de luxo no trecho que o trem percorria, uma vez que a intenção era proporcionar ao viajante o mesmo conforto e luxo 1 Arquiteto americano (1800-1869), responsável por desenvolver o protótipo para o sistema de encanamento de água. 29 dos vagões. Ainda nas décadas de 40 a 70, viu-se desenvolver o transporte marítimo turístico, que soube adaptar-se depressa a fim de trazer conforto aos viajantes. Voltando ao século XIX, é imprescindível mencionar que, em 1847, Thomas Cook2 abre a primeira agência de viagens, tendo organizado uma excursão de trem para Leicester (Inglaterra) da qual participaram 500 pessoas. O seu diferencial era o valor reduzido das tarifas de trem, obtido junto à empresa ferroviária por conta do aumento da demanda. Cook também foi o primeiro a fazer uso das campanhas publicitárias e de marketing de massa para formar uma clientela. Com o sucesso dos negócios, a agência passou a organizar viagens para diversos lugares, com grupos cada vez maiores. Interessado na satisfação contínua dos viajantes, pôs à disposição de cada grupo um guia para conduzir aos lugares corretos. Cook não parou com suas inovações: negociava com os hotéis que estavam no itinerário dos trens e criou os cupons de hotel, com direito, além da acomodação, a café da manhã, almoço e jantar. Sua intenção era atrair clientes com as tarifas diferenciadas e com a grande comodidade de garantir reservas. As ideias de Cook deixaram um imenso legado para o que vivenciamos no turismo e nas redes hoteleiras. Tantos deslocamentos – independente da finalidade – beneficiaram, sobremaneira o mercado hoteleiro, gerando um crescimento segundo a necessidade de cada região e público. Por volta de 1884, Theodor Baur abre o Hotel Baur au Lac, em Zurique e consciente de que era preciso melhorar a mão de obra para desenvolver a hotelaria, funda a primeira escola de formação de pessoal para hotelaria em Ouchy, Lausana. Em 1889, inaugurou o Hotel Savoy, em Londres, sob administração do hoteleiro suíço César Ritz. O hotel foi considerado o primeiro de luxo europeu, com instalações elétricas e quartos suítes para banhos. Nos Estados Unidos, nesse mesmo período, à medida que se estendia a rede ferroviária, mais hotéis eram construídos nas imediações das vias. Segundo Duarte, Até o final do século XIX, o desenvolvimento hoteleiro foi muito grande, chegando a comprometer a qualidade, afetada pelo baixo número de bons hotéis no país e pela larga oferta de hotéis pequenos, sem conforto, carentes de normas de serviço, de boa alimentação e limpeza, geralmente próximos às estações ferroviárias. A grande massa da população não encontrava satisfação. No hotel modesto havia falta do conforto e nos de luxo a insatisfação vinha dos elevados preços. Essa concorrência 2 Empresário inglês (1808-1892), um dos pioneiros na utilização das campanhas de marketing para atrair clientes. 30 entre hoteleiros, nas mais diversas localidades, resultou em consideráveis desvios da tradição americana de hotéis destinados à satisfação e igualdade de tratamento (DUARTE,1996, p.12). Geraldo Castelli, ao analisar o assunto, acrescenta que, “em território europeu no fim do século XIX, homens como César Ritz, procuraram dar forma e organização aos hotéis. É bem verdade que estes se destinavam às classes abastadas. Nessa época, o importante para o hotel era o título do cliente, que valia fortunas, pois sua permanência no hotel se estendia por longos períodos” (CASTELLI, 1977, p. 32). Nesse momento, surgiram os hotéis de grande luxo, como Savoy, Ritz, Claridge, Carlton e outros, acompanhando a tendência dos trens e navios de passageiros. O Hotel Savoy, em Londres, impressionou pelas modernas técnicas de arquitetura, como a construção à prova de fogo, com estruturas de aço e concreto, luz elétrica e elevadores. Nos Estados Unidos, os navios eram embarcações luxuosas que ofereciam hospedagem, cassino e diversões aos clientes, porém as interrupções provocadas pelos vários dias de reparos de falhas mecânicas ensejaram construir hospedarias de apoio ao longo dos rios navegáveis. Por volta de 1908, na cidade americana de Búfalo, Ellsworth M. Statler inaugurava o Statler Hotel, o primeiro hotel comercial moderno a enfrentar a saturação de mercado. Entre as novidades que oferecia, contavam-se porta corta-fogo nas escadarias principais, interruptor de luz ao lado das portas de entrada nos ambientes, água corrente, banheiros privativos e espelho de corpo inteiro em todos os apartamentos e jornal matutino gratuito para os hóspedes. Statler atentou para que o projeto arquitetônico se estruturasse de modo a facilitar a prestação de serviço e limpeza. O slogan que identificava seu hotel era A room and a bath for a dollar and a half. Com tantas inovações, não demorou para que Statler criasse uma das primeiras cadeias hoteleiras: a Statler Hotel Company. 31 Figura 2 - Statler Hotel. A desfeito do sério entrave econômico representado pela Primeira Guerra Mundial, o período de 1910 a 1920, nos Estados Unidos, foi considerado a segunda época de ouro para as construções hoteleiras, que atingiu altos números de hotéis e dólares gastos. Entre os hotéis famosos construídos nessa década, importa mencionar o Hotel Pensilvânia, em Nova York, e o New Yorker, de Ralf Ritz e Stevens Hotel, em Chicago, com mais 3 mil apartamentos. Castelli afirma que, na Europa, Após a Primeira Guerra, de 1914-18, verificou-se profunda mudança. O progresso técnico mudou as estruturas sociais existentes. (...) Começou a trabalhar nas indústrias, obtendo-se direito a férias. Este fato deu surgimento a um outro, o chamado „pecado original‟ do turismo, que é a sazonalidade, ainda mais agravada com o surgimento do automóvel, que permitiu maior mobilidade (CASTELLI,1977, p.32). Em contraposição à década anterior, os anos 30 – de forte recessão econômica – foram os piores para o mercado hoteleiro, tendo 85% das propriedades ficado sob intervenção judicial. Ao fim da década, apesar dos sinais de recuperação, os investidores não se mostravam seguros com o negócio hoteleiro. A recuperação efetiva veio somente com a Segunda Guerra Mundial: 32 Milhões de norte-americanos foram para as Forças Armadas. Áreas de concentração de produção de armamento deslocaram pessoas de seus lares. Com essa atividade em força total, a demanda de apartamentos e serviços nos hotéis atingiu o máximo. Era comum ver pessoas dormindo nos lobbies dos hotéis, porque faltavam apartamentos disponíveis. Tendo perdido 50% de seu pessoal treinado, que foi requisitado pelas Forças Armadas, evidentemente os padrões de serviços também caíram. Mas a forma como o serviço foi mantido acabou por ser considerada espantosa (levando-se em conta todas as deficiências que o hotel tinha que superar em sua operação). Embora a hotelaria não fosse classificada como atividade essencial, os hoteleiros puderam sentir-se orgulhosos pela contribuição ao esforço de guerra e felizes pelos altos lucros (DUARTE, 1996, p.14). No período pós-guerra, poucas construções foram feitas e os hotéis já estabelecidos mantiveram o número de apartamentos. Joaquim Janeiro apresenta uma visão global sobre o mercado hoteleiro: É a partir do final da Segunda Guerra Mundial que se verifica no mundo a chamada “indústria turística”. O incremento qualitativo e quantitativo que se observa oferecenos uma definição significativa: - Hotel – estabelecimento formado por um conjunto de explorações destinadas a oferecer os serviços próprios, alojamento e mesa; ou - Hotel - estabelecimento que deverá fornecer um bom serviço de alojamento, de refeições, bar, tratamento de roupa, informações turísticas e de caráter geral, instalações confortáveis, zonas coletivas que proporcionem oportunidades de convívio (JANEIRO,1991, p.17). Na década de 50, as famílias norte-americanas já viajavam em veículo próprio e preferiam a informalidade no atendimento, o que impulsionou o fortalecimento do mercado de motéis. Em 1963, havia 36 mil motéis ao longo das estradas. Dois anos mais tarde, os hoteleiros sentem a concorrência e decidem agregar os motéis à American Hotel Association, cuja sigla passa a ser AHMT. E neste mesmo período, o mercado norte-americano realizou um amplo programa de modernização, estimado em vários bilhões de dólares. As décadas de 60 e 70 foram marcadas pela construção dos hotéis Hyatt e suas inovações arquitetônicas. Os projetos de John Calvin Portman, o arquiteto responsável, evidenciavam o lobby do hotel, com altura de pés-direitos de 20 ou mais andares, elevadores de vidro, lagos internos, instalações para lazer e iluminação feérica. 33 Figura 3 - Hyatt Regent Atlanta - 1967. Figura 4 - Hyatt San Francisco Atlanta - 1973. Nas décadas seguintes, o mercado hoteleiro se desenvolveu de acordo com a demanda de cada região e as exigências dos clientes. Verifica-se grande quantidade de fusões e aquisições de hotéis, principalmente nas redes norte-americanas, europeias e asiáticas, dando origem a grandes grupos hoteleiros, os quais dominaram o mercado pela diversidade e facilidade que podiam e podem oferecer, como estruturas luxuosas e serviços padronizados. Com o propósito de ilustrar o avanço do mercado hoteleiro no final do século XX e início do século XXI, enumeraram-se as principais redes hoteleiras. 34 1.1 O Hotel Paris Ritz – um marco para a hotelaria É valido destacar o Hotel Paris Ritz3 devido à sua grande contribuição na história da hotelaria. Seu fundador, Cesar Ritz, iniciou aos 15 anos sua trajetória hoteleira como aprendiz de garçom. Nos anos seguintes, trabalhou em diversos hotéis e restaurantes da Europa e, aos 27 anos, assumiu o cargo de gerência e transformou o Grand National de Lucerna, na Suíça, num dos hotéis mais elegantes do Velho Mundo. Após onze anos na gerência, Ritz decidiu dirigir seu próprio bufê, e depois um pequeno hotel, porém as curtas temporadas causaram prejuízos financeiros, levando ao encerramento das atividades. Nessa época, aceitou uma proposta de gerência num hotel em Monte Carlo e conheceu o chef Auguste Escoffier, com quem desenvolveu um trabalho de excelência na prestação de serviço para a alta culinária. Em 1889, o hotel Savoy, de Londres, convidou a dupla para transformar seu restaurante num lugar de encontro socialmente aceitável, costume até então não aprovado pela alta sociedade. Ritz permaneceu nove anos no Savoy, mas durante esse período esteve envolvido com outros hotéis localizados em Roma, Frankfurt, Monte Carlo, Salsomaggiore, Wiesbaden, Biarritz, Lucerna, Mentone e Palermo. Em 1896, fundou The Ritz Hotel Syndicate Limited, com o apoio financeiro de alguns de seus clientes. Dois anos mais tarde, Ritz deixou o Savoy e desenvolveu a ideia de uma galeria de butiques dentro do Hotel Pilote, em Paris. A cada ano, aumentava o desejo de Ritz em construir seu próprio hotel em Paris, com o intuito de ser o mais bonito e moderno da cidade. Em 1º de junho de 1898, inaugurou o Ritz Paris, na Place Vendôme, com o auxílio do arquiteto Charles Mewés. O edifício que Ritz escolheu para seu hotel já contava mais de um século, e seu objetivo era preservar a aparência externa. Mewés reformou o prédio, modificando apenas quatro das seis arcadas da fachada, para obter mais espaço para carruagens. O hotel oferecia uma diversidade de amplas salas decoradas com mobiliário, tapeçarias e lustres nos estilos clássicos da decoração francesa, da época de Luís XV até o período imperial. As poltronas da sala de jantar tinham todas um pequeno gancho de metal, para que as damas pudessem pendurar as bolsas. 3 As informações citadas no capítulo são baseadas no site oficial do hotel. 35 A decoração de cada apartamento era exclusiva, com pinturas holandesas, armários embutidos e closets, móveis de luxo, abajures revestidos com seda rosa e cortinas de musselina branca que podiam ser lavadas com frequência. Nos quartos voltados para o sul, as cores utilizadas eram azul, branco e cinza e, nos quartos voltados para o norte, tonalidades de amarelo, devido à carência de luz durante o dia. Toda a estrutura física do hotel era acompanhada por atendimento 24 horas por dia, com a maior prontidão e atenção possível, por mais complexo que fosse o pedido. O sucesso do empreendimento Ritz levou um dos investidores a fundar The Ritz Hotels Developmente Company Limited, empresa que oferecia aos que hoje chamaríamos franqueados o nome, gerentes, o prestígio, a confiança e a publicidade. Em 1910, inauguravam-se o Ritz de Madri e Nova York; em seguida, em Lucerna, Buenos Aires, Mentone, Evian, Roma, Lisboa, Nápoles, Barcelona, Salsomaggiore, Montreal e Atlantic City. Em 1918, ano em que faleceu Ritz, seu hotel de Paris já contava com uma galeria de lojas luxuosas e exclusivas de Paris, já que era sua convicção que as coisas belas deveriam ficar expostas para tornar a estadia do hóspede mais prazerosa. A viúva de César, Marie Louise, vinda de família hoteleira e com conhecimento na área, assumiu o hotel. Em 1953, aos 85 anos de idade, passou a presidência a seu filho Charles, que se deparou com um hotel construído no século XVIII, com problemas de fiação e encanamentos, num período em que o perfil da clientela estava muito distante do que fora no começo do século. A modernização e redecoração eram tabu no Ritz e em 1976, falece Charles sem que o hotel tivesse passado por mudança alguma. Sua esposa, Monique, assumiu a presidência de um hotel ao qual faltava praticamente tudo, exceto a boa reputação. 36 Figura 5 - Ritz Paris. Em 1979, o Ritz Paris foi vendido, por 30 milhões de dólares, para Mohamed, Salah e Ali Al Fayed, donos do Alfayde Investment and Trust, administradora de negócios no setor bancário, de navegação, construção e petróleo. A reforma, que custou 100 milhões de dólares, não descaracterizou a construção do hotel. Todos os ambientes foram redecorados, o sistema de aquecimento substituído, os banheiros receberam novas instalações, o ar-condicionado foi instalado em todo o hotel, construíram-se piscinas, clinica médica, quadras de squash, salões para bailes, uma cozinha nova e instalações para funcionários. Surgem as suítes Chopin, Windsor, Proust e Cocteau, redecoradas para atender um público com interesse em pernoitar onde personalidades importantes e famosas se hospedaram. Os novos proprietários mantiveram o perfeccionismo de Ritz na prestação de serviço, aliando a imponência de um palácio criado para príncipes à comodidade de um lar hóspedes habituais. Neste breve panorama do processo histórico da hotelaria, examinamos a evolução do segmento seja nos aspectos físicos como no de atendimento, de acordo com a demanda e influência cultural de cada região do mundo. Focalizam-se a seguir as principais redes hoteleiras a fim de apontar um recente mercado no segmento hoteleiro. 1.2 As maiores redes hoteleiras do mundo Considerar-se-ão agora as principais redes hoteleiras para demonstrar como evoluiu o mercado nesse segmento, proporcionando forte movimentação econômica para o setor. 37 A revista americana Hotels Magazine, em junho de 2009, divulgou o ranking das 300 maiores redes hoteleiras do mundo, avaliação que considera – entre os tópicos relevantes - a quantidade de apartamentos. O maior grupo hoteleiro é o InterContinental Hotels Group4 (IHG), empresa do Reino Unido, que possui, administra, arrenda ou franqueia, por meio de várias subsidiarias, mais de 4.186 hotéis, 619.851 apartamentos em aproximadamente 100 países ao redor do mundo. Comercializa as marcas InterContinental Hotels & Resorts, Holiday Inn Hotels & Resorts, Holiday Inn Express, Staybridge Suites, Crowne Plaza Hotels & Resorts, Hotel Indigo e Candlewood Suites. A história do IHG pode ser considerada a partir de 1777, quando William Bass deu sequência à sua carreira e à de sua família, fortalecendo o ramo de malte e cerveja na região de Burtonon-Trent, no leste de Staffordshire, Inglaterra, fundando a Bass Brewery. Em 1989, o governo britânico limitou o número de cervejarias, forçando a Bass Brewery a diversificar suas atividades e investir em pequenos hotéis. Dois anos mais tarde, comprou a marca Holiday Inn International, expandindo os negócios para a América do Norte. Em março de 1998, adquiriu a marca InterContinental, estendendo-se para o mercado de luxo. Dois anos mais tarde, a Bass Brewery vendeu seus ativos para a principal cervejeira belga, a Interbrew, mudando seu nome para Six Continents PLC. Em 2003, criou-se a razão social IHG após a Six Continents dividir-se em duas empresas: Mitchells and Butlers e InterContinental Hotels Group. A IHG lidera o ranking das 300 maiores redes hoteleiras desde 2004 e registrou em 2010 crescimento de 5,9%. 4 Disponível em: http://www.ichotelsgroup.com/h/d/6c/220/pt/home Acesso em 02/04/2010. 38 Figura 6 – Hotel Holiday Inn – Londres A segunda maior rede é a Wyndham Hotel Group5, fundada em Dallas, Texas, por Trammel Crow. O crescimento da empresa acelerou-se após ter-se integrado a um REIT (Real Estate Investment Trust)6, chamado Patriot American Hospitality (PAH). No final dos anos 90, adquiriu várias carteiras de hotéis, rebatizando-os como Wyndhans. Em 1998, para criar uma marca com serviço elitizado, adquiriu a Hotel Summerfield Corporation, que passou a chamar-se Summerfield Suites Wyndham. No mesmo ano, adquiriu a Grand Bay Hotels & Resorts, que incluía 11 hotéis de luxo. Em seguida, lançou a Wyndham Garden Hotéis, propriedades de pequeno porte localizadas nas imediações de aeroportos. A empresa também adquiriu hotéis na Europa, como o Great Eastern Hotel, de Londres. Em março de 1999, o Grupo realizou uma reestruturação, transformando-se no Wyndham Internacional. Para saldar dívidas, até 2004 teve de vender muitos de seus hotéis para o InterContinental Group. No ano seguinte, a Wyndham Internacional foi adquirida pelo Blackstone Group por aproximadamente US$ 3,24 bilhões. No decorrer de 2005, alguns hotéis foram vendidos para o Goldman Sachs Group e Columbia Sussex. A Blackstone revigorou a marca da maioria dos seus ativos, como LXR Luxury Resorts, e vendeu a Wyndham e Wyndham Garden Hotel para a Cedant e a marca Summerfield Suites para a Global Hyatt. Em agosto de 2006, todos os hotéis da Cedant 5 Disponível em: http://www.wyndham.com/main.wnt Acesso em 21/04/2010. 6 É a designação do imposto de uma empresa que investe em imóveis com o benefício de reduzir ou eliminar imposto sobre rendimento das sociedades. Os REITs são obrigados a distribuir 90% dos seus rendimentos entre os investidores. 39 tornaram-se parte da Wyndham Worldwide. No início de 2009, a Wyndham Worldwide atuava em todos os continentes com as marcas: Wyndham, Ramada, Days Inn, Super 8, Wingate by Wyndham, Baymont Inn & Suites, Microtel Inn & Suites, Hawthorn Suites, Howard Johnson, Travelodge e KnightsInn, totalizando 7.043 hotéis e 592.880 apartamentos. Figura 7 – Hotel Galvez & SPA, Wyndham Grand Hotel – Texas A terceira maior rede é a Marriott Internacional7, com 2.800 hotéis localizados nos Estados Unidos e outros 69 países, com as marcas Marriott Hotels & Resorts, JW Marriott Hotels & Resorts, Renaissance Hotels & Resorts, Courtyard, Marriott Executive Apartments, Residence Inn, Fairfield Inn, Marriott Conference Centers, Town Place Suites, Spring Hill Suites by Marriott e Marriott Vacation Club. A quarta rede hoteleira é a Hilton Hotel Corporation, cuja história começa em 1917 com Conrad Hilton, quando comprou seu primeiro hotel, The Mobley, em Cisco, Texas. Em 1925, ele constrói o primeiro hotel com o nome Hilton, em Dallas. Anos depois, adquiriu dois hotéis em NYC, The Roosevelt e The Plaza. Por volta de 1953, é inaugurado o primeiro Hilton na Europa: The Castellana Hilton, em Madrid. No ano seguinte, o Grupo Hilton adquire a Hotels Statler Company, a transação imobiliária mais cara até então. Em 1964, a companhia separou suas operações internacionais, conhecida como Hilton Hotels Corporation. Um ano depois, Hilton deu início ao franchising dos seus hotéis nos Estados Unidos. Em 2009, o Grupo atuava em 80 países com 10 marcas: Hilton, Conrad Hotels & Resorts, Doubletree, Embassy Suites, Hampton, Hilton Garden Inn, Hilton Grand Vacation, 7 Os dados históricos sobre a rede estão apenas disponíveis no site da empresa, que narra o início da trajetória, com a abertura de um pequeno quiosque de refresco em Washington, DC, em 1927, por J.Willard e Alice S. Marriott. 40 Home 2 Suites by Hilton, Homewood Suites e Waldorf Astoria, totalizando 3.300 hotéis da rede. Figura 8 – Courtyard Philadelphia Downtown - USA Figura 9 – Hotel Hilton Checkers – Los Angeles. 41 A Accor Group Hotels8 ocupa o quinto lugar no ranking, com 3.983 hotéis e 478.975 quartos. O grupo iniciou sua história em 1967, com a abertura do primeiro hotel, Novotel, em Lille, França, por Gérald Pélisson e Paul Dubrule. Em 1974, inaugura o primeiro Hotel Ibis em Bordeaux. No ano seguinte, adquiriu a cadeia Mercure, considerada, na época, 3 estrelas. No início dos anos 80, continuaram com suas aquisições, como a cadeia Sofitel, de 4 estrelas, e a Jacques Borel Internacional. Em 1983, o grupo tornou-se oficialmente Accor, com 440 hotéis em 45 países diferentes. Dois anos mais tarde, a rede inaugurou o Formule 1, um hotel com conceito econômico. No mesmo ano, criaram a Academia Accor, a primeira universidade corporativa na França, destinada às atividades de serviço. Nos anos 90, adquiriram as cadeias de hotéis econômicos Motel6, EtapHotel e a Lenôtre, conhecida empresa de gastronomia. Em 2002, inauguraram o Sofitel Chicago Water Tower e outros 13 hotéis em grandes cidades. O ano de 2004 foi repleto de aquisições, como a participação de 34% no grupo Lucien Barrière, companhia europeia de cassinos, 28,9% de participação no Club Méditerrané, e participação nos Jogos Olímpicos de Atenas, apoiando as equipes francesa e australiana. Em 2005 a rede inaugurou seu 4.000º hotel, o Novotel Madrid, em Sanchinarro, Espanha. Nesse mesmo ano, a Colony Capital9 investiu €1 bilhão na Accor com o intuito de alavancar o grupo. O resultado desse investimento apareceu no final do ano: mais de 10.000 quartos só na China com as marcas Sofitel, Novotel e Ibis. Em 2006, os investimentos continuaram em diversos países do mundo, como na Índia, com a inauguração de hotéis das marcas Sofitel, Novotel, Mercure, Ibis e Formule 1. O ano seguinte também foi de expansão, com a aquisição de 50 hotéis da marca Dorint na Alemanha, a inauguração do 300º hotel da rede na Ásia, a reconfiguração da marca Sofitel como a mais luxuosa do mercado internacional o lançamento de uma nova marca de luxo dedicada aos executivos: Pullman. A novidade da rede em 2008 foi o lançamento do programa fidelidade A│Club e o 800º Ibis Hotel em Xangai, na China. No início de 2009, a Accor e o Mastercard fizeram uma aliança estratégica da qual surgiu a da PrePay Solutions, a líder europeia em pré-programas para companhias e instituições públicas. O Grupo Accor oferece ao público, em 2009, 15 marcas da mais luxuosa até a econômica, como o Sofitel, Pullman, MGallery, Novotel, Mercure, 8 Disponível em: http://www.accor.com/en.html Acceso em 22/04/2010. 9 É uma empresa privada que se concentra em investimentos imobiliários por todo o mundo. 42 SuiteHotel, Ibis, All Seasons, Etap Hotel, Hotel F1, Motel6, Accor Thalassa, Orbis, Adago e Studio6. Figura 10 – Hotel Mercure Paris Terminus Nord – Paris Em sexto lugar no ranking das maiores redes hoteleiras focou a Choice Hotels Internacional10. A rede teve início nos anos 40 e foi a primeira a controlar as normas e regras nos seus hotéis. Dez anos mais tarde, os hotéis da rede foram pioneiros em oferecer telefones nos quartos. Em 1970, a rede começa a utilizar um sistema de reservas por meio de número gratuito, 800, e com serviço 24 horas. Nos anos 80, a rede inaugurou as marcas Quality Royale e Confort Inn. Em 1983, desenvolveram um sistema de reservas que uniu os centros de reservas dos hotéis dos Estados Unidos, Canadá, México, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Itália, Alemanha e Japão com os sistemas das empresas áreas e agências de viagens. No final da década, lançaram a marca Sleep Inn. No início dos anos 90, a companhia ficou o nome do grupo em Choice Hotel Internacional. Nos anos seguintes, inauguraram a marca Rodeway Inn e Main Stay Suites. Em 1996, lançaram o primeiro sistema geográfico para identificar os pontos comerciais próximos a cada hotel da rede. Um ano mais tarde, lançaram no site da rede um espaço dedicado aos agentes de viagens. Em 2004, a rede inaugurou uma filial no México, o primeiro passo para levar seus hotéis. Um ano depois, lançou uma nova marca de hotéis de luxo, a Cambria Suites. Nesse mesmo ano, abriu seu 5.000º hotel com o Comfort Suites, em Geneva. Adquiriram a Suburban Franchise 10 Disponível em: http://www.choicehotels.com/ Acesso em 20/04/2010. 43 Holding Company e sua filial Suburban Franchise Systems, acumulando 9.000 quartos somente na faixa de hotéis econômicos. Em 2009, a rede reúne 10 marcas: a Comfort Inn, Comfort Suites, Quality, Sleep Inn, Clarion, Cambria Suites, MainStay Suites, Suburban, Econo Lodge e Rodeway Inn, totalizando 5.827 hotéis com 475.000 quartos em mais de 30 países. Segundo o site da Choice Hotel Internacional, registrado em março de 2009, a rede tem 896 hotéis em construção. Figura 11 – Comfort Inn & Suites – Califórnia A sétima maior rede do mundo é a Best Western Internacional11, fundada em 1946 por MK Guertin, um hoteleiro com 23 anos de experiência. A cadeia começou informalmente, com cada hotel recomendando outro local de acomodação que estivesse na rota dos viajantes e turistas. Em 1962, a Best Western era a única rede que cobria todos os Estados Unidos e o Canadá. Um ano mais tarde, a rede era a maior cadeia hoteleira, com 699 hotéis e 35.201 quartos. Em 1966, a rede transferiu seu escritório central de Long Beach, Califórnia, para Phoenix, Arizona. A direção da empresa decidiu pela mudança devido à forte redução de despesas que adviria com a centralização das operações assim como pelo potencial para expandir os serviços de fidelização. Uma nova expansão dos serviços da Best Western foi anunciada. As mudanças incluíam: estabelecimento de um novo centro de reservas, oferecendo atendimento telefônico gratuito para viajantes a negócios com estadia breve, agentes de viagens e turistas em férias organizadas pelo American Express; ampliação para a Europa, Caribe e Pacífico; melhoria dos padrões do serviço de fidelização; abrindo escritórios de vendas em Washington, 11 Disponível em: http://www.bestwestern.com/ Acesso em 20/04/2010. 44 Montreal, Phoenix e Seattle. Em 1976, a rede tinha hotéis no México, Austrália e Nova Zelândia. Em 1979, a própria rede surpreendeu-se com o imponente número de 15 milhões de hóspedes, que geraram 1 bilhão de dólares. Um ano depois, a rede tinha 19 hotéis na Dinamarca, 120 hotéis na França, 19 na Finlândia, 23 na Espanha, 19 na Suécia e 93 na Suíça. Nos anos seguintes, a rede ganhou espaço em Israel, Noruega, Portugal, Rússia, Lituânia, Japão e China. Em 2009, a rede administrava 4.000 hotéis em 80 países. Figura 12 – Best Western Plaza Kokai Cancún – México Em oitavo lugar no ranking está a Starwood Hotels & Resorts Worldwide12, com 942 hotéis e 284.800 quartos. A rede foi formada pela Starwood Capital, iniciada em 1991, mas somente a partir de 1995 envolvida em projetos no mercado hoteleiro, tendo adquirido ou lançado algumas marcas ao longos do anos, como o Sheraton, Four Points by Sheraton, The Luxury Collection, Meridien, Westin, Aloft Hotels, Element Hotels, W Hotel e The St.Regis. O nono lugar é da Carlson Hotels Worldwide13, com 6 marcas: Regent Hotels & Resorts, Radisson Hotels & Resorts, Park Plaza Hotels & Resorts, Country Inn & Suites, Park Inn e Carlson Wagonlit Travel, totalizando 1.013 hotéis com 151.077 quartos. 12 Disponível em: http://www.starwoodhotels.com/ Acesso em 21/04/2010. 13 Disponível em: http://www.carlson.com/ Acesso em 21/04/2010. 45 Figura 13 – Sheraton Chicago Hotel & Towers – Chicago A história da rede começou em 1938, quando Curtis L. Carlson fundou a Gold Bond Stamp Company, em Minneapolis, Minnesota. Ele sabia que o mercado de lojas de conveniências, farmácias, postos de gasolina, entre outros, poderia usar selos para distinguir seus serviços dos concorrentes. No final dos anos 60, decidiu expandir seus negócios para a indústria hoteleira. Dez anos depois, a empresa adquiriu muitas outras empresas, como T.G.I Friday´s e Radisson Hotels e, com o intenso crescimento, a empresa passou a chamar-se Carlson Companies. A diversidade de setores mantém-se até hoje, com operações de viagens, cruzeiros, hotéis, restaurantes e eventos. Figura 14 – Park Plaza Wallstreet Berlim - Alemanha 46 Em décimo lugar no ranking está a Global Hyatt Corporation14, em atividade desde 1957, quando inaugurou seu primeiro hotel, próximo ao aeroporto de Los Angeles. Ao longo dos anos, a empresa prosperou administrando hotéis econômicos. Em 1967, abriu a Hyatt Regency Atlanta, na Geórgia. A arquitetura desse hotel chamou a atenção do mercado hoteleiro devido à sua estrutura e à decoração do lobby do hotel. Em 1969, já funcionavam 13 hotéis Hyatt nos Estados Unidos e um Hyatt Regency em Hong Kong. Com essas inaugurações, a empresa instituiu a Hyatt International Corporation. Na década de 80, surgem as marcas Grand Hyatt, Park Hyatt e Hyatt Regency Maui Resort & Spa. Em 2009, são seis as marcas do grupo: Andaz, Hyatt Regency, Park Hyatt, Grand Hyatt, Hyatt Place e Hyatt Summerfield Suites, totalizando 365 hotéis e resorts, com 111.332 apartamentos em 45 países. Figura 15 - Hyatt Regency San Francisco Airport - Califórnia As redes hoteleiras, como as citadas acima, são empresas de grande poder aquisitivo, que investem maciçamente para manter-se ativas e atualizadas nesse mercado exigente. É relevante observar que cada empresa se distingue por traços próprios de estilo de construção, o que identifica os estabelecimentos de cada rede e facilita a fidelização dos clientes. Num mundo globalizado, não podia ser outro cenário nesse ramo da economia. 14 Disponível em: http://www.hyatt.com/hyatt/about/index.jsp Acesso em 21/04/2010. 47 1.3 A hotelaria no Brasil A finalidade básica das hospedarias, desde a sua gênese, é abrigar e alimentar comodamente viajantes em trânsito, seja seu deslocamento por razões de negócios, lazer, peregrinação religiosa ou qualquer outra. A evolução dos meios de transporte sempre desempenhou papel de relevo no destino e perfil das hospedarias, especificamente em países de grande extensão territorial, como o Brasil. A atividade hoteleira no Brasil teve início no período colonial, quando os viajantes hospedavam-se nos casarões das cidades, conventos, fazendas e ranchos à beira das estradas. Em 1554, a primeira hospedaria em São Paulo foi casa do Pe. Anchieta no Planalto, que hospedava viajantes, peregrinos e religiosos. Até 1609, a hotelaria pouco evoluiu, porém não escapava da fiscalização. O Procurador da Câmara visitava as tabernas e hospedarias, identificando as que comercializavam vinhos e as caracterizava com um ramo verde na porta, o que facilitava a cobrança de impostos. Sobre a cidade do Rio de Janeiro, Trigo afirma: Em 1703, um anônimo viajante francês, de passagem pelo Rio de Janeiro, no dia 10 de julho, deixou relatado que foi obrigado a dormir a bordo de seu navio porque não havia “como em França, hospedarias nem quartos mobiliados para alugar”. Essa situação perdurou durante muito tempo. Em 1787, o cirurgião inglês John White, cansado de percorrer com outros passageiros de seu navio as ruas estreitas do Rio de Janeiro, considerou o maior incômodo não achar “café ou hotéis onde pudéssemos tomar refresco ou passar uma ou duas noites em terra”. A mesma situação ocorria em outras cidades brasileiras, como Salvador (TRIGO, 2000, p.153). No Rio de Janeiro, somente no século XVIII, começam a surgir estalagens ou casas de pastos, que inicialmente ofereciam refeições e depois ampliaram seus negócios com quartos para dormir. Ana Maria Dinis Rosalini afirma que “no século XVIII é que surgiu a primeira classificação das hospedarias paulistanas. A primeira Categoria é definida como simples pouso de tropeiro, a segunda Categoria como telheiro coberto ou rancho ao lado das pastagens, a terceira Categoria é composta por venda, mistura de venda e hospedaria, a quarta Categoria abrange estalagem ou hospedarias e a quinta Categoria os hotéis”(ROSALINA, 2006, p. 20). As casas de pouso e estalagens para tropeiros e viajantes começam a aparecer no século XIX. Em São Paulo, os viajantes só podiam hospedar-se com cartas de recomendação. Nesse mesmo período, com a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro e a abertura dos portos, 48 o fluxo de estrangeiros aumentou, e provocando aumento de demanda de alojamentos, casas de pensão, hospedarias e tabernas. Na cidade de São Paulo, o número de hospedarias também crescia, mas o viajante só tinha direito a hospedar-se nelas se junto de sua bagagem trouxesse uma carta de recomendação. É interessante salientar que as hospedarias consistiam em poucos quartos pequenos, desprovidos de janelas, sem conforto e pouco limpos, eram casas de pousos destinadas a atender às necessidades simples dos viajantes. Aqueles que desejassem ficar mais bem acomodados tinham de contar com a hospitalidade oferecida por particulares. Em 1828, o Governo Imperial autorizou por Carta de Lei a construção e exploração de estradas em geral, dando início à construção de ferrovias e rodovias. Em 1835, investidores privados daqui e do exterior aceleram a construção de estradas de ferro com o intuito de facilitar as viagens entre as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia. A primeira destinação da ferrovia foi transportar cargas, até então levadas em lombo de mulas. Trechos de caminho de ferro são inaugurados a partir de 1852. Ao longo dos anos, muitos estabelecimentos valeram-se da denominação hotel, a fim de elevar o padrão do local, independentemente do número de quartos ou da qualidade do serviço. Em 1842, inaugurou-se o Hotel Pharoux, com sua casa de banhos aberta ao público, no Largo do Paço, junto ao cais do porto do Rio de Janeiro. Convém salientar que toda a estrutura era importada, já que – por não estar no Brasil ainda industrializado – todos os materiais que integraram a obra – azulejos, móveis, cerâmicas – precisavam vir de fora. Figura 16 - Hotel Pharoux. 49 A partir de 1850, com a construção da estrada de ferro, a cidade de São Paulo experimenta grandes transformações econômicas, sociais e urbanas. Em 1854, muitos hotéis foram inaugurados em locais privilegiados, como o Hotel Paulistano, na rua São Bento, o Hotel do Comércio, de Hilário Magro, na rua Floriano Peixoto, o Hotel da Província, na rua do Comércio, o Hotel Universal, no Pátio do Colégio, e o Hotel Quatro Nações, transformando em Hotel da Itália e em seguida em Hotel de França. Nos fim dos anos 50, São Paulo tinha o pequeno Hotel Palm, erguido por Carlos Abraão Bresser, construção que apresentava, seguindo “indícios de que poderia constituir um dos primeiros exemplares edilícios na cidade em que se empregaram tijolos, ao menos na execução de suas paredes externas” (CAMPOS, 2009, p.24). Figura 17 - Hotel Palm. Foto de autoria de Militão Augusto de Azevedo, 1862. Carlos Abraão Bresser ergueu também um prédio, conhecido como Casa de Sotéia, que abrigava um restaurante, e onde se instalou em 1856, o Hotel do Lion d´Or, pouco tempo depois rebatizado de Hotel des Voyageurs. A edição de 1858 do Almanaque Laemmert reúne numa única referência hotéis e casas de pastos, vestígio da identidade original que havia entre esses estabelecimentos. Entre estalagens e hotéis, havia em São Paulo 195 estabelecimentos, dos quais 78 pertencentes a brasileiros. 50 Figura 18 - Anúncio do Hôtel des Voyageurs. Em 1867, com o funcionamento da estrada de ferro de Santos a Jundiaí, a facilidade de locomoção fez crescer o fluxo de comerciantes e forasteiros na Província de São Paulo, o que demandava de hotéis maiores e mais bem elaborados, coisa inédita até então, uma vez que os hotéis paulistanos ocupavam sobrados adaptados de outros uso. Os novos hotéis, Hotel Europa e Hotel do Globo, ofereciam acomodações limpas acompanhadas de boas refeições, mas o destaque desse período foi o Grande Hotel, projetado de acordo com os padrões internacionais. Inaugurado em 1º de julho de 1878, o Grande Hotel, na Rua São Bento, apresentava três luxuosos pavimentos projetados pelo arquiteto Hermann Von Puttkamer. Segundo Antônio Rodrigues Porto, “era o único hotel de luxo existente no Brasil, naquele período”, ao que acrescenta Geraldo Simões: Era um estabelecimento que não tinha igual na Corte nem nas outras capitais da província (...) Kozeritz, que conheceu a cidade em 1883, disse que era um edifício magnifico, com estilo soberbo. Candelabros a gás iluminavam o vestíbulo e por uma escada de mármore branco subia-se ao primeiro andar, onde um empregado de irrepreensível estilo e toalete, avisado pelo porteiro por uma campainha elétrica, recebia o recém-chegado (SIMÕES, 2004, p.65/66). 51 Figura 19 - Grande Hotel. Figura 10 - Reconstituição gráfica da fachada principal do Grande Hotel. Vista da Rua de São Bento. Figura 21 - Reconstituição gráfica da fachada lateral do Grande Hotel. Vista da Rua Miguel Couto. 52 Nesse mesmo período, no Rio de Janeiro, os hotéis começaram a fazer uso da eletricidade e alguns até mesmo do telefone. Por volta de 1877, o empresário Jules Martin e o engenheiro Fernando de Albuquerque lançaram um mapa turístico da Capital, em formato dobrável e de bolso, contendo as informações necessárias para os viajantes e forasteiros, como edifícios públicos, sedes de jornais, fábricas, estações de trens e bondes e o traçado das linhas, escolas, escritórios das principais companhias férreas e 4 principais hotéis: Grande Hotel, Hotel da Europa, Hotel de França e Hotel da Paz. Figura 22 - Hotel da Paz. Em 1878, o Hotel do Oeste iniciava suas atividades numa casinha térrea tradicional, com um combustor de gás na esquina. Com o passar dos anos, foi aumentando, chegando a ocupar três casas vizinhas. No período de 1885 a 1890, foi outra vez ampliado, ganhando mais um andar, porém logo em seguida, o edifício se incendiou e o hotel foi reconstruído com apenas dois pavimentos, ganhando o novo nome de Grande Hotel d´Oeste. Figura 23 - Grande Hotel d´Oeste (o prédio do Hotel à esquerda). 53 Figura 24 - Reconstituição gráfica do Grande Hotel d´Oeste, 1887 e 1890. Figura 25 - Reconstituição gráfica do Grande Hotel d´Oeste, 1900. Em 1885, o Almanaque da Província de São Paulo identificou outros hotéis na cidade: Hotel Brasil-Itália, na rua Boa Vista, Hotel Fasoli e Hotel Boa Vista, na Senador Feijó, Hotel Albion, na rua Alegre, Hotel Maragliano e Hotel das Famílias. Figura 26 - Hotel Brasil-Itália. 54 Alguns fatores, como as mudanças políticas, as campanhas em favor da abolição da escravatura e a proclamação da República, foram de extrema importância para o desenvolvimento e crescimento da hotelaria em São Paulo. Segundo Vladir Vieira Duarte, “ o grande impulso veio com a circulação dos primeiros trens da São Paulo Railway, conhecida como „Inglesa‟, a primeira ligação ferroviária entre Santos e São Paulo, posteriormente estendida até Jundiaí” (DUARTE,1996, p.17). Em 1890, o Hotel de França passou por uma expansão, ocupando vários sobrados vizinhos. O hotel era um dos mais frequentados, principalmente por artistas de teatro com mais recursos, mas dois anos mais tarde, depois de passar por vários donos, foi demolido. No final desse década, surge um concorrente para o Grande Hotel na Rua São Bento: o Grande Hotel Paulista. Por volta de 1895, o Grande Hotel Metropolitano abriu suas portas, oferecendo conforto no suntuoso edifício construído entre 1893 e 1894. O hotel foi erguido em terreno de grande declive no Vale do Anhangabaú, compondo-se seu edifício de diversos pavimentos muito bem aproveitados. O andar térreo, voltado para a Rua Formosa, foi destinado a casa comerciais, com um espaço para exposição das mercadorias e atendimentos aos clientes, um mezanino para depósito, um escritório e uma latrina no fundo do estabelecimento. Na fachada, voltada para o viaduto, estava a entrada do hotel com um átrio composto de uma grande escadaria de madeira e elevadores. No térreo, virado para a Rua do Paredão, estava a área destinada aos serviços do hotel, como espaços para maquinas, depósitos, sanitários e salas dos criados, cozinha, depósito de carvão e monta-cargas. O primeiro andar era composto pelas áreas sociais, com sala de convenção, sala de jantar, sala de fumar, sala de leitura, sala particular de jantar, sala de jantar para famílias, salão para dançar, com palco para orquestra, e alguns quartos de solteiros, que poderiam transformar-se em suítes em virtude das portas de comunicação. No segundo e terceiro andar, estavam dispostos os demais quartos, que utilizavam as banheiras e latrinas distribuídas nos andares. O hotel oferecia 131 quartos, sendo 103 individuais, 15 quartos de tamanho médio para 2 leitos, 13 quartos de tamanho grande para 4 leitos, 15 latrinas e 4 banheiras. De acordo com Eudes Campos, “a proporção de latrinas se encaixava perfeitamente dentro do exigido pelo Código Sanitário de 1894, que impunha aos hotéis o mínimo de uma latrina para 20 pessoas” Campos ainda afirma que, em relação às instalações elétricas, não foi possível identificá-las nas plantas. 55 Figura 27 - Grande Hotel Metropolitano. Escala 1:100. Figura 28 - Fachada do Grande Hotel Metropolitano. Escala 1:100. Por volta de 1898, outros hotéis de grande porte surgiram, como o Joachim´s Hotel, na Rua São João, e o Hotel Rebecchino, no Largo São Bento. O Hotel Rebecchino estabeleceu-se num prédio de três pavimentos, construído para servir de prédio de escritórios, e posteriormente adaptado para funcionar como hotel. Em 1910, tornou-se Hotel Magnani. 56 Figura 29 - Largo São Bento. À direita, ao fundo, futuro Hotel Rebecchino. À esquerda, ao fundo, o Grande Hotel Paulista. À esquerda, o Hotel d´Oeste. Ainda na última década do século XIX, foi fundado o Grand Hôtel de La Rotisserie Sportman, na Rua São Bento, com 40 quartos luxuosamente mobiliados, um grande salão nobre, com palco para orquestra, e uma adega no subsolo. O hotel foi propriedade do francês Antoine Daniel Souquières e projeto foi assinado pelo arquiteto Samuel das Neves15. Em 1909, mudou-se para outro prédio, e passou a oferecer 110 quartos. Por fim, mudou-se em 1918 para um palacete, antiga residência do Conde Prates. Figura 30 – Grand Hôtel de La Rotisserie Sportman. 15 Arquiteto responsável pelos projetos da Estação Julio Prestes, Secretaria da Agricultura e Casa de Detenção de São Paulo. 57 Em 23 de dezembro de 1907, por força do Decreto nº 1160, o governo do Rio de Janeiro isentou os cinco maiores hotéis, de todos os impostos municipais por sete anos. Em 1908, entrava em funcionamento o Hotel Avenida, o maior do país com 220 quartos. Em São Paulo, por volta de 1915, o arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo16 foi responsável pelo projeto do Hotel Central, o primeiro hotel com quatro pavimentos. Poucos anos mais tarde, o escritório Ramos de Azevedo construiu o São Paulo Center Hotel, no Largo de Santa Ifigênia, concebido como hotel luxuoso, mas transformando em sede do Ministério da Aeronáutica, voltando algum tempo depois à atividade hoteleira com o nome de Hotel São Paulo Inn. Figura 31 – Hotel São Paulo Inn. Segundo Trigo, em 1921 foi “formada a União de Proprietários de Hotéis e Restaurantes, Bares, Confeitarias, Cafés e Casas Congêneres de São Paulo” (TRIGO, 2000, p.154). Em 1923, foi inaugurado o Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, a fim de hospedar o Rei Alberto I, da Bélgica. O arquiteto, Joseph Gire17, foi impetuoso ao projetar uma fachada voltada para o mar, o que provocou inédita valorização das áreas litorâneas. O hotel oferecia diversas dependências luxuosas, dois restaurantes, uma sala para espetáculos e seis salões para eventos. Toda essa estrutura prezava pela excelência no atendimento, com mais de 1.000 16 Arquiteto brasileiro (1851-1928), entre os principais projetos destacam-se a Pinacoteca do Estado (SP), Teatro Municipal de São Paulo, Mercado Municipal de São Paulo e Palácio da Justiça (SP). 17 Arquiteto francês (1872-1933), construiu inúmeros prédios e residências no Rio de Janeiro. Destacam-se o Edifício A Noite, Palácio das Laranjeiras e o Palácio da Ilha Brocoió. 58 funcionários para atender as 230 unidades habitacionais e transporte gratuito para o centro da cidade, numa linha exclusiva de jardineiras. Figura 32 – Hotel Copacabana Palace. Figura 33 - Andar térreo do Hotel Copacabana Palace. Nesse mesmo ano, em São Paulo, inaugurava-se o Hotel Esplanada, num prédio imponente ao lado do Teatro Municipal. Considerando o melhor hotel para a época, o Esplanada contribuiu para levar à falência o Grand Hôtel de la Rotisserie Sportman. 59 Figura 34 - Hotel Esplanada. À esquerda, o Teatro Municipal. À direita, o Hotel Esplanada. Na década de 30, os cassinos impulsionavam os grandes hotéis nas capitais,oferecendo, além dos jogos de azar, espetáculos nacionais e internacionais. Em 1937, deu-se início à construção do Grande Hotel em Araxá, Minas Gerais, projetado por Luiz Signorelli18. O gigantesco projeto, com aproximadamente 43.000 m² de área construída, oferecia imponentes salões revestidos de mármore de Carrara, decorados por luxuoso mobiliário, janelas e lustres de cristal importado. Foi inaugurado em 1944 por Benedito Valadares, então Governador de Minas Gerais, e pelo Presidente Getúlio Vargas, que tinham suítes no segundo andar do hotel. Figura 35 - Grande Hotel de Araxá. 18 Arquiteto brasileiro (1896-1964), um dos mais atuantes no cenário belo-horizontino, fundador da a Escola de Arquitetura de Belo Horizonte. 60 Ainda nos anos 30, alguns hotéis foram inaugurados na região da Estação da Luz, em São Paulo, como o Hotel do Comércio, Hotel Roma e Hotel Federal Paulista. Eram prédios de três pavimentos construídos em alvenaria de tijolos. Em 9 de novembro de 1936, fundou-se no Rio de Janeiro a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, com o intuito de regulamentar as entidades hoteleiras. A ABIH, entretanto, viu consolidar-se seu crescimento somente em 1948. Na década de 40, foi inaugurado o Grande Hotel São Pedro, em Águas de São Pedro, São Paulo, propriedade da família Moura Andrade, que passaria mais tarde ao controle do Estado em virtude de dívidas acumuladas durante a operação do hotel. Em 1969, a propriedade foi cedida ao Senac-SP, em regime de comodato, com a intuito de transformá-lo em hotel-escola. Figura 36 - Grande Hotel São Pedro. Por volta de 1938, tem início a construção do Grande Hotel em Outro Preto, por iniciativa do prefeito Washington Dias e projeto do arquiteto Oscar Niemeyer19. A localização do hotel era excepcional, com vista panorâmica do restaurante e das varandas de alguns dos 20 quartos de solteiro, 7 quartos de casal e 17 suítes duplex. 19 Arquiteto brasileiro, entre seus inúmeros projetos destacam-se, em Brasília ,o Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada, Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida e o Edifício do Congresso; em São Paulo, o Parque do Ibirapuera e o Edifício Copan. 61 Figura 37 - Grande Hotel Ouro Preto. Henrique Mindlin relata alguns aspectos construtivos que incluiu o hotel na mostra Brazil Builds: O corpo do edifício, de apenas quatro pavimentos, se estende horizontalmente. A cobertura em telhas coloniais, as treliças em madeira nos terraços, o revestimento de pedras e azulejos e o colorido característico contribuem para a integração do edifício à paisagem. Os pilotis vão até o piso do terceiro pavimento, dando leveza à construção. O térreo abriga a cozinha e a administração, além de uma sala de jogos e um grande terraço coberto. Uma rampa conduz ao primeiro andar, onde estão o restaurante e os salões. O segundo andar é dividido por um corredor central, com os quartos de solteiro e de casal na parte de trás do edifício e o living dos apartamentos duplex na parte da frente. Cada duplex tem um pequeno solário e uma escada em caracol que dá acesso ao quarto (MINDLIN, 2000, p.126). Figura 38 - Grande Hotel Ouro Preto. (térreo, 1º andar, 2º andar e 3º andar). 62 Em 4 de agosto de 1941, o arquiteto Rino Levi20 inaugura o Hotel Excelsior, na avenida Ipiranga, São Paulo. O edifício apresentava um hotel de tamanho nunca visto na cidade, com 17 andares, além de abrigar um cinema (Cine Ipiranga) com 2 mil lugares. Segundo a descrição de Ana Carla Monteiro, “o edifício tinha dois grandes volumes bem definidos. No bloco horizontal, localizavam-se os acessos distintos ao cinema e ao hotel, a sala de cinema e as dependências do hotel ao público geral: restaurantes e salas de convenções. O hotel localizava-se no bloco vertical” (MONTEIRO, 2006, p.113). Figura 39 – Hotel Excelsior. Em 1943, o engenheiro-arquiteto Taddeu Giuzio21 foi o responsável pelo projeto do Hotel Inca, localizado na Avenida São João, esquina com a Rua dos Timbiras. O edifício apresentava 8 andares, com 55 apartamentos simples com banheiros individuais. No ano seguinte, a Sociedade Brasileira de Engenharia Ltda abre as portas do Hotel Terminus, situado na esquina da Praça da República. O hotel oferecia 70 apartamentos luxuosamente decorados, distribuídos em 9 andares-tipo, e no térreo o projeto de uma loja. Segundo descrição de Ana Carla Monteiro: 20 Arquiteto brasileiro (1901-1965), foi um dos responsáveis pela transformação da cidade de São Paulo, destacando-se os projetos do Cine Ipiranga, Teatro Cultura Artística e Hospital Albert Einstein. 21 Arquiteto responsável pelo projeto do Cine para todos e o Edifício Gonçalvez Biar. 63 Similar ao Hotel Inca, o Terminus teve poucas soluções inovadoras, quer seja em sua inserção no lote ou em seus avanços tecnológicos. O volume desenhou a esquina com linhas arredondadas e a profundidade dos terraços conferiu mobilidade a superfície da fachada. Em suas plantas internas, há uma grande diversidade de soluções. Os apartamentos tinham diferenças no que diz respeito às soluções de forma e tamanho dos quartos, dos banheiros e das varandas. Há varandas para todos os apartamentos com vista para a Avenida Ipiranga. Os banheiros, a maioria com ventilação natural, compunham os quartos (MONTEIRO, 2006, p.130). No mesmo ano, 1944, o arquiteto Dacio Aguiar de Moraes22 apresenta o Hotel São Paulo, na rua São Francisco, com 20 andares e 202 amplos apartamentos com armários embutidos e banheiros. O hotel foi considerado o mais moderno de São Paulo por diversas revistas da época, sendo comparado a hotéis de outros países. Outro importante arquiteto participa da história da hotelaria no ano de 1944. Lúcio Costa23 foi o responsável pelo projeto do Park Hotel, em Nova Friburgo – Rio de Janeiro, que, a princípio, foi construído para alojar os loteadores do Parque São Clemente e, devido às suas características arquitetônicas e à qualidade do serviço, tornou-se um pequeno hotel de 10 quartos. Com apenas dois pavimentos e uma concepção rústica, que fez uso de materiais locais, como pedra e madeira, o projeto ainda inclui a utilização de extensos panos de vidros. O arquiteto Guilherme Wisnik acrescenta algumas informações, como “a interpenetrabilidade dos espaços, dada a independência da estrutura de madeira em relação aos vedos, sua forma trapezoidal, que permite a iluminação dos banheiros sobre a galeria de circulação, e a dominância contínua da varanda dos quartos” (WISNIK, 2001, p.80). 22 Arquiteto brasileiro (1875-1958), atuou com diversos projetos para as cidades da zona da Estrada de Ferro Sorocabana. 23 Arquiteto brasileiro (1902-1998), ficou conhecido pelo projeto do Plano Piloto de Brasília, determinando novos rumos ao movimento moderno no Brasil. 64 Figura 40 – Fachada norte do Park Hotel, Nova Friburgo - RJ. Figura 41 – Fachada sul do Park Hotel, Nova Friburgo - RJ. Ainda na década de 40, tivemos outro famoso hotel-cassino, o Hotel Quitandinha, em Petrópolis, Rio de Janeiro. Inaugurado em 12 de fevereiro de 1944, o Quitandinha apresentava estilo normando, distribuído em 50 mil metros quadrados de área construída. O projeto, realizado por Luiz Fossati24 e decorado por Dorothy Drope, oferecia 440 apartamentos, 13 salões decorados com lustres de pingentes de cristal, um dos quais, o Salão de Mauá, ostentava cúpula de 30 metros de altura e 50 metros de diâmetro, teatro mecanizado, boate, 24 Arquiteto italiano, responsável pelo projeto do Cassino Hotel Balneário Icarahy e o Trampolim da Praia de Icaraí. 65 piscina térmica em formato de piano de cauda, praia artificial, pista de equitação, rinque de patinação e um lago de 18 mil metros quadrados no formato do mapa do Brasil. Figura 42 – Hotel Quitandinha. O período de glamour dos hotéis-cassinos chegou ao fim com o decreto-lei 9215, de 30 de abril de 1946, que proibiu os jogos de azar levou ao fechamento dos hotéis-cassino. A desfeito desse percalço para o mercado hoteleiro, São Paulo saudou o aparecimento de três novos hotéis: o Hotel Marabá, Príncipe Hotel e Hotel Flórida. O Hotel Marabá, na avenida Ipiranga, dispunha de 120 apartamentos com terraços e espaços para banheiros, distribuídos nos 10 andares do edifício, além de proporcionar a união do hotel com um cinema. O Príncipe Hotel, situado na avenida São João, oferecia 84 apartamentos nos 12 andares de um edifício simples, projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon. O Hotel Flórida, inaugurado somente em 1949, embora iniciado em 1946, estava situado na região de Santa Ifigênia e contava 83 apartamentos amplos, com mobiliário especialmente projetado, dispostos em 16 andares. Em 1948, conforme relata Trigo, foi: Inaugurada a colônia de férias Ruy Fonseca, do Sesc, em Bertioga, litoral de São Paulo. Em uma época em que não se imaginava o que seria um resort no Brasil, o Sesc inaugurava um centro de mais de 2.000.000 metros quadrados, com sofisticado equipamento de hospedagem e lazer destinado aos trabalhadores do comércio, incluindo programa de lazer segmentado (TRIGO, 2000, p.13). A década de 50 foi a época dos complexos hoteleiros nos balneários e dos palacetes suntuosos, nas cidades mais importantes, com um serviço de luxo restrito a uma minoria 66 muito rica. Em São Paulo, foram inaugurados importantes hotéis da história hoteleira, como Hotel Cambridge, Hotel Plaza Comodoro, Othon Palace Hotel, Hotel Jaraguá e o Grand Hotel Ca‟d‟Oro. O edifício do Hotel Cambridge, localizado na avenida Nove de Julho, contava com 17 andares, 94 apartamentos e 26 suítes com móveis planejados. O arquiteto Francisco Beck ainda projetou, no térreo, um restaurante e um bar e na sobreloja, um salão de beleza. Não muito longe, na avenida Duque de Caxias, inaugurava-se o Hotel Comodoro, com 19 andares e 132 apartamentos com banheiros individuais, equipados com trincos elétricos e vista para a Estação Júlio Prestes. O grande diferencial do hotel foram os dois restaurantes, um no térreo e outro na sobreloja, que acomodavam um painel, de 7,63 X 2,50m, de Cândido Portinari. Figura 43 – Hotel Comodoro. O conhecido Hotel Jaraguá25, com projeto inicial do arquiteto Jacques Pilon e refeito por Adolf Franz Heep, localizado na rua Martins Fontes esquina com rua Major Quedinho, ocupava do 8º ao 21º andar do edifício onde também funcionava o jornal “O Estado de São Paulo” e a rádio Eldorado. O hotel oferecia 164 apartamentos, salões de estar e leitura, bar, restaurante, jardim de inverno, boate e um painel de Clóvis Graciano no hall. É interessante 25 O Hotel Jaraguá será mencionado com maiores detalhes no próximo capítulo. 67 ressaltar que as entradas e circulações do hotel, rádio e jornal eram independentes, garantindo a privacidade dos hóspedes. Segundo Camen Alvarez e Cândido Campos, O edifício passou a ser considerado um dos símbolos da arquitetura modernista em São Paulo, por fazer uso de elementos característicos do repertório do Movimento Moderno, como brises, modulação, estrutura independente e integração entre arquitetura e artes plásticas, com perfil e volumetria arrojados, muito bem adaptados ao local (ALVAREZ,CAMPOS, 2007, p.8). Em 1953, foi inaugurado o Hotel Ca‟d‟Oro, projeto de Helio Gianotti, com aproximadamente 270 apartamentos, que proporcionavam amplos terraços, todos virados para a frente, na rua Augusta. No ano seguinte, foi a vez do Othon Palace Hotel, na rua Líbero Badaró, com 26 andares e 267 apartamentos. Projetado por Philipp Lohbauer, o edifício oferecia amplos apartamentos, com móveis planejados e banheiros, embora o maior atrativo fosse a boate localizada no subsolo. É interessante destacar o edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer em 1951, sob responsabilidade de Henrique Mindlin, e finalizado somente em 1956. A intenção era proporcionar diferentes atrativos num único local, como acomodação luxuosa e diversas áreas de convivências, porém o projeto do hotel e algumas áreas nunca saíram do papel. Por volta de 1961, os conhecidos arquitetos Carlos Cascaldi26 e Vilanovas Artigas27 assumem uma obra inacabada, que deveria ser o Grande Hotel Interlagos, localizada na Represa de Guarapiranga. A obra foi finalizada como Santa Paula Iate Clube, apresentando um grande complexo de lazer e garagens para barcos. No Brasil inteiro, em 1963, já tínhamos aproximadamente quarenta mil leitos em estabelecimentos de primeira e segunda classe. Em 18 de novembro de 1966, foi criada a Embratur, com o objetivo de promover a atividade turística, gerando renda, empregos e desenvolvimento no País. No final dos anos 60, foram instituídos incentivos fiscais (SUDENE para a Região Nordeste, SUDAM para a Região Amazônica, SUDECO para a Região Centro-Oeste e SUDESUL para a Região Sul) e financiamentos sob condições especiais para as empresas que pretendiam investir em projetos 26 Arquiteto brasileiro, trabalhou em parceria com Vilanovas Artigas. 27 Arquiteto brasileiro, associado ao movimento arquitetônico conhecido como Escola Paulista. Destacam-se entre suas obras o Estádio do Morumbi (SP), a Estação Rodoviária de Londrina e o Edifício da FAU-USP. 68 hoteleiros ou ligados ao turismo e garantissem a criação de empregos e desenvolvimento local. Segundo Andrade, Em 1966 é criada a Embratur e, junto com ela, o Fungetur (Fundo Geral de Turismo) que atua através de incentivos fiscais na implantação de hotéis, promovendo uma nova fase da hotelaria brasileira, principalmente no segmento de hotéis de luxo, os chamados cinco estrelas. Esse novo surto hoteleiro leva também à mudança nas leis de zoneamento das grandes capitais, tornando a legislação mais flexível e favorável à construção de hotéis. Nos anos 60 e 70, chegam ao Brasil as redes hoteleiras internacionais. Mesmo sem um número importante de hotéis, essas redes vão criar uma nova orientação na oferta hoteleira, com novos padrões de serviços e de preços (ANDRADE, 2001, p.22). Por decorrência da criação da Embratur, muitos projetos do segmento de turismo e hotelaria foram aprovados na década de 70, dobrando a capacidade de grandes empresas hoteleiras e abrindo o mercado para as empresas internacionais. Os Estados e prefeituras das regiões beneficiadas passaram a oferecer aos investidores total isenção de impostos por período determinado ou redução de alíquotas nos impostos estaduais e municipais. Em 1971, inaugurou-se o São Paulo Hilton Hotel, primeiro hotel internacional de luxo, na Avenida Ipiranga. Um projeto de Mário Bardelli – Consórcio Scuracchio, o edifício, de 116 m de altura e aproximadamente 40 mil m² de área construída, em forma de cilindro, oferecia 339 apartamentos, diversos departamentos funcionais e atrativos como cinema para 436 pessoas. O hotel ainda foi o primeiro a oferecer um sistema de ar condicionado central, instalações para televisão em circuito fechado e sistema de rádio e som que permitiam transmitir música para os apartamentos. No mesmo ano, no Rio de Janeiro inaugurava o Hotel Nacional, construído na praia de São Conrado. Esse hotel chamou a atenção por ser uma torre com trinta andares de altura, coberta de vidro e com amplas entradas de mármore. Em 1972, são inaugurados o Casa Grande Hotel, no Guarujá (SP), Majestic, em Águas de Lindoia (SP) e Lancaster, em Curitiba (PR). Em 1973, o Bourbon & Tower Foz do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR), Sheraton Rio Hotel & Towers, no Rio de Janeiro (RJ), e Ouro Branco Praia, em João Pessoa (PB). Nos anos seguintes, grandes hotéis são inaugurados em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Amazonas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 69 É ainda dessa década o hotel Tambaú, em João Pessoa, cuja estrutura arredondada, que abriga 173 apartamentos, é projeto do arquiteto Sérgio Bernardes28. Construído na orla marítima, o hotel passa aos hóspedes dos andares mais altos a sensação de estar em pleno oceano. Figura 44 – Hotel Tambaú. Em 1978, depois da abertura de diversos meios de hospedagem, a Embratur classificou os primeiros hotéis cinco estrelas, cabendo tal distinção apenas ao São Paulo Hilton e ao Caesar‟s Park. Ainda no mesmo ano, 568 hotéis foram classificados com duas estrelas. Em 1979, foi inaugurado o luxuoso Hotel Maksoud Plaza, do engenheiro Henry Maksoud, famoso pela frequência de hóspedes ilustres. No início dos anos 80, as perspectivas de lucro com investimentos imobiliários hoteleiros não eram animadoras, e os pequenos e médios investidores começaram a desenvolver outro mercado com retorno atrativo, o de apart hotéis e flat services. Os resultados logo apareceram, principalmente na cidade de São Paulo, onde o mercado ganhou muitos clientes devido à hospedagem barata. Em 1981, a Embratur lançou o Guia de Hotéis Brasileiros com 1.500 hotéis, classificados de uma a cinco estrelas. Três anos mais tarde, esse número subiria para 1.711 hotéis classificados. De acordo com Ana Maria Rosalini, 28 Arquiteto brasileiro (1919-2002), ganhou diversos prêmios e trabalhou em parceria com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. 70 O meio da década de 80 marca um novo modelo de desenvolvimento da área de serviços no Brasil com a chegada das franquias. Essa modalidade de negócio da área de serviços empresta grande contribuição à qualidade, tanto na alimentação quanto na hospedagem. O crescimento do setor de alimentação é brutal e a qualidade da gestão dos produtos e do atendimento começa a mudar. Essas mudanças trouxeram novos referenciais e melhor qualidade, favorecendo o consumidor. É ainda na referida década que as mudanças nos hotéis responderam mais a uma mudança de enfoque em suas estratégias, com a simples redução de pessoal (ROSALINI, 2006, p.23). Em 1987, a rede Accor lançou a marca Pathernon e dois anos mais tarde, a marca Sofitel. Nos anos 80 e 90, muitos projetos hoteleiros foram voltados para segmentos específicos, identificados por marcas próprias, com implantação de sistemas informatizados integrando procedimentos e agilizando a prestação de serviço. No ano de 1989, a Sea Containers comprou o Hotel Copacabana Palace por $23 milhões de dólares e deu início a uma grande reforma, sob permanente orientação do Patrimônio Histórico do Ministério da Cultura. A decoração já estava ultrapassada e as instalações elétricas e hidráulicas apresentavam problemas, razão por que todas as suítes foram reformadas e o 5º andar modificado, com apartamentos executivos e um business center para atender o público dos homens de negócios. Tais mudanças não interferiram na arquitetura da fachada, que foi inteiramente restaurada e ganhou iluminação especial. Na década de 90, o Governo Fernando Collor, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) começou a oferecer uma linha de crédito especial para a construção de hotéis. Mas o melhor período veio depois com o Plano Real, quando a economia do País estabilizou e a indústria hoteleira expandiu-se por diversos Estados. O período é marcado pela entrada definitiva das cadeias hoteleiras internacionais, a exemplo dos hotéis Meliá, InterContinental e Sofitel, na cidade de São Paulo, hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte, do Sheraton, em Porto Alegre, do Blue Tree, no Cabo de Santo Agostinho, do hotel SummerVille, em Pernambuco e do conhecido Costa do Sauipe, na Bahia. É indispensável mencionar Ruy Ohtake29, que também contribuiu para o mercado hoteleiro com alguns projetos, como o Renaissance Hotel (1986), com 500 apartamentos distribuídos 29 Preeminente arquiteto brasileiro cuja obra é referência para a moderna arquitetura brasileira. 71 por 25 pavimentos, dispostos em 2 blocos com 10 UHs30 em um núcleo central de circulação e serviços. O projeto do edifício31 baseou-se em 3 elementos: a torre, a cor e o embasamento curvilíneo, notado na face lateral por meio dos terraços de grandes curvas que acompanham o desnível da rua. Figura 45 – Renaissance Hotel – São Paulo. Também de Ruy Ohtake é o Unique Hotel, que ganhou destaque em 1995 como edifício provocador na paisagem de São Paulo. Em formato de arco inventido suspenso do solo, o edifício apresenta uma estrutura de 90 metros de comprimento, 25 metros de altura, 20.500m² de área construída e janelas circulares, de 1,80m de diâmetro, e placas de cobre pré-oxidado em tons de verde que dão à fachada um aspecto exuberante e ilustram um novo conceito de hotel de luxo. Composto de 6 pavimentos, totalizando 96 apartamentos, áreas públicas no térreo, restaurante na cobertura, centro de convenções no 1º subsolo e 3 subsolos de estacionamento e área de infraestrutura, foi extensamente notificado pela mídia e analisado no meio acadêmico. O projeto32 tem inúmeras particularidades, como “a proposta de janelas para 30 Unidades habitacionais. 31 Disponível em: http://www.ruyohtake.com.br/index.html Acesso em 28/06/2010. 32 Segundo texto na ArcoWeb. 72 os apartamentos e corredores de circulação do edifício [que] considerou dois fatores: primeiro, possibilitar ao hóspede uma vista emoldurada da cidade, sem interferências; segundo, a preferência do hóspede por alternar a utilização de ar-condicionado com o sistema de ventilação natural de janelas móveis; dos estudos desses dois elementos resultou o desenho de uma janela circular, com abertura de 12 cm, promovida por uma leve inclinação do vidro”. Figura 46 – Unique Hotel. Ruy Ohtake também foi responsável pelo projeto do Alvorada Park Hotel, localizado em Brasília, obra cuja construção levou cinco anos para ser iniciado (2001), mas constitui exemplo de imponente e arrojado hotel de alto padrão. O edifício, em formato de ferradura, acompanha a curva do Lago Paranoá e se caracteriza por faixas vermelhas (alumínio) e pretas (vidro fumê), somando 395 apartamentos nos três pavimentos. Do conjunto hoteleiro constam ainda outros dois prédios com unidades habitacionais, o apart hotel com 448 apartamentos, além de restaurantes, bares, piscinas, salão de ginástica, quadras de tênis, centro de convenções com 7.000m² de área e anfiteatro com capacidade para 400 pessoas. Anos mais tarde, Ohtake participou também do projeto Unique Garden Hotel & Spa, com área de 300 mil m² no Parque Estadual da Cantareira,. São 25 requintados chalés, dois restaurantes, horta orgânica, campo de golfe, espaço cultural, piscina coberta e descoberta, cyber-café, heliporto, canil, pet kit no chalé (que acomoda o animal de estimação do hóspede) e fontes naturais de água mineral. Destaque do projeto é o pavilhão Bem-Estar, com 100m de comprimento, de frente para o lago, fechado por de vidro tratado com película e teto com curvas coloridas. 73 Figura 47 – Alvorada Park Hotel. Por volta de 1998, grandes e luxuosos hotéis foram inaugurados, como o Grand Hyatt São Paulo, o JW Marriott Hotel Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, e o novo Hilton, em São Paulo. No final da década de 90, o mercado turístico oferecia uma hotelaria tanto de negócios como de lazer, com opções econômicas e de luxo. Alguns escritórios de arquitetura ganharam destaque pela inovação dos projetos, como Konigsberger Vannucchi Arquitetos Associados, com diversos projetos hoteleiros, dentre os quais o Novotel Morumbi e o Caesar Towers, e o Escritório Aflalo e Gasperini Arquitetos, com atuação em São Paulo e na Bahia, com os hotéis Mercure Jardins e Transamérica e o Club Med Trancoso. Em 2001, segundo a ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), tínhamos 10 mil meios de hospedagem em território nacional, sendo apenas 1.392 registrados na Embratur. Nos anos seguintes, os hotéis de redes correspondiam a cerca de 15% do total de empreendimentos no País, demonstrando notável avanço do segmento, que soube adaptar-se ao mercado e à economia do País. Com esse crescimento, outros arquitetos e escritórios de arquitetura ganharam destaque, como o projeto de Arthur Matos Casas33 (2001) para o Hotel Emiliano, considerado o primeiro hotel boutique de São Paulo, integrante do The Leading Small Hotel of the world, com 38 33 Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, foi responsável por projetos residenciais e comerciais através do escritório Studio Arthur Casas. 74 apartamentos e 19 suítes luxuosos. No ano seguinte, os arquitetos André Sá e Francisco Mota34 inauguraram o primeiro resort do País, Costa do Sauipe, em uma área ambiental do norte da Bahia. Um projeto com 141 mil m² de área construída, com centro comercial, 15 quadras de tênis, centro náutico com jet sky e caiaques, playground, campos de golfe, inúmeras piscinas, centro de convenções, 5 hotéis e 6 pousadas, totalizando aproximadamente 1.617 apartamentos. Figura 48 – Costa do Sauipe. Em 2003, os arquitetos Marcio Kogan35 e Isay Weinfeld36 foram os responsáveis pelo projeto do Hotel Fasano, em São Paulo, com 64 luxuosos apartamentos distribuídos por 19 andares. 34 35 Arquitetos responsáveis, há 35 anos, pelo escritório André Sá e Francisco Mota Arquitetos. Arquiteto brasileiro, formado na Universidade Mackenzie. 36 Foi professor de “Teoria da Arquitetura” na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie e “Expressão cinética” da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado. Ganhador de diversos prêmios nas categorias arquitetura e cinema. 75 Poucos anos depois, o designer francês Philippe Starck37 inaugurou o Hotel Fasano em Ipanema, com 91 apartamentos e 10 suítes. No ano seguinte, foi a vez do arquiteto Miguel Juliano38, com o Hotel Holiday Inn, inserido dentro do Parque Anhembi, em São Paulo, que oferece 780 apartamentos de 26,33 m² e 41 m² e diversas áreas sociais. De acordo com a ArcoWeb39, “a volumetria do hotel faz parte da concepção espacial do Parque Anhembi: único volume verticalizado, o prisma de 160 metros de comprimento por 13 de largura “flutua” sobre a plataforma do centro de convenções. Apoiado em grandes pilotes (à maneira do conjunto habitacional de Marselha, de Le Corbusier), sua estrutura de transição é ponto de partida para as duas linhas estruturais do edifício, modulado em 1,50 metro.” Miguel Juliano também foi responsável pela reforma do Holiday Inn Select Jaraguá, antigo Hotel Jaraguá, citado neste capítulo. Figura 49 – Hotel Anhembi Holiday Inn. O escritório Dória Lopes Fiúza40 contribuiu para o mercado hoteleiro brasileiro com um projeto significativo em Santa Catarina, que harmoniza um shopping center ao Bourbon Joinville Business Hotel. O edifício marcado por um volume cilíndrico, apresenta um hotel com 140 apartamentos, centro de eventos, restaurante e café. 37 Designer francês, autor de premiadas peças de mobiliário e design industrial. 38 Arquiteto brasileiro (1928-2009), projetou o Edifício Quinta Avenida, na Avenida Paulista, e o Parque Anhembi, em São Paulo, 39 Texto divulgado no site ArcoWeb. 40 Escritório fundado em Curitiba em 1989 por Manoel Dória, José Vicente Lopes e Waldeny Fiúza. 76 Figura 50 – Bourbon Joinville Business Hotel – Santa Catarina. Publicadas em 2008, as Estatísticas básicas de Turismo, elaboradas pelo Ministério do Turismo, apresentam os índices de equipamentos e prestadores de serviço turístico. Sabemos por essa fonte que em 2006 havia 4.293 meios de hospedagem cadastrados e, em 2007, 5.184 unidades. O panorama de 2010 aponta as principais redes hoteleiras administrando o maior número de hotéis, como a Best Western, com 162 unidades e a Accor, com 155 unidades das marcas Sofitel, Mercure, Novotel, Ibis e Formule1. Outras redes hoteleiras, nacionais e internacionais, também merecem destaque: Choice Hotel International com 50 unidades das marcas Comfort Inn, Comfort Suites, Quality Suites, Sleep Inn e Clarion; a rede Blue Tree Hotels, com 23 hotéis; a Bristol Hotéis e Resorts, com 22; a Hotéis Othon, com 21; a InterContinental Hotels Group, com 11 hotéis das marcas Staybridge Suites, Holiday Inn, Holiday Inn Express, Crowne Plaza; a rede Deville, com 10 unidades das marcas Deville e Deville Express; a Caesar Park Hotels e Resorts, com 9; a Marriot International com 4; a rede Transamérica, com 2 e Hyatt, com 1 hotel. Diante da evolução da hotelaria, cujo objetivo inicial tinha sido tão somente alojar o hóspede oferecendo-lhe quarto com cama, percebemos o mercado hoteleiro com um novo perfil: atender a todas as necessidades das pessoas em circulação e atraí-las para consumir produtos e serviços em determinadas regiões. Alguns clientes desejam hospedar-se em locais modernos e automatizados, outros em locais simples, mas confortáveis. Por ser a clientela exigente e 77 diversificada, o mercado hoteleiro precisa estar pronto a atendê-la dentro de um padrão de prestação de serviços em harmonia com a legislação pertinente. Os aspectos construtivos dos estabelecimentos devem estar de acordo com o padrão do hotel, atendendo às normas e regras da classificação hoteleira e acessibilidade, satisfazendo os hóspedes nos seus anseios e expectativas de hospedagem. É valido ressaltar a importância das dimensões, não só das áreas sociais e de hospedagem, como também das áreas funcionais no que se refere à excelência na prestação de serviço. A abordagem histórica dos empreendimentos hoteleiros permite uma breve avalição do processo de transformação dos projetos arquitetônicos, ressaltando principais arquitetos e suas ideias, que ganharam destaque para o período. 78 2. Hotéis na cidade de São Paulo e o Código de Obras. A intenção da pesquisa é abordar as mudanças na legislação no que se refere a projetos arquitetônicos para hotéis, padrão luxo, na cidade de São Paulo, para o que fez-se necessário buscar informações sobre o crescimento urbanístico da cidade, a partir da década de 20. É notório que a evolução urbana da cidade de São Paulo foi assunto estudado e analisado por diversos historiadores, mas agrupamos alguns fatores que nos parecem essenciais para compreender a evolução e o crescimento do setor hoteleiro paulistano, de maneira a fundamentar nossa análise e conclusões. As décadas de 20 e 30 foram marcadas pela utilização do automóvel e introdução da iluminação pública noturna, prolongando o período para outras atividades na cidade, como idas ao cinema, teatro, bares e restaurantes. De acordo com Ana Carla Monteiro, A cidade necessitava de novas edificações, que simbolizassem seu crescimento populacional e espacial. Espaços estes que assumissem o papel de centro aglutinador das massas que as ruas e praças, no passado, exerciam. A demanda por novos serviços e a industrialização em grande escala favoreciam o surgimento de novos edifícios (MONTEIRO, 2006, p. 76). Muitos fatores contribuíram para essas mudanças, mas entre eles avulta a chegada dos imigrantes41, vindos para suprir a falta de mão de obra nas plantações de café. Como fossem duras as condições rurais, houve uma transferência sistemática para as cidades, o que fez desenvolverem-se muitos núcleos urbanos. Para Azevedo, uma série de fatores contribuiu para o desenvolvimento da cidade paulistana: 1) a facilidade de obtenção de energia elétrica; 2) a existência de um mercado consumidor interno; 3) o afluxo de capitais tanto estrangeiros, como nacionais; 41 Segundo o Arquivo da Hospedaria dos Imigrantes, um dos picos de entrada de imigrantes se deu em 1929, com 103.408 pessoas. 79 4) a facilidade de mão de obra operária, oriunda da crise cafeeira de 1929-30 e 5) a existência de uma rede de transporte já consolidada (AZEVEDO, 1958, p.102). A cidade ganhou forte influência europeia e transformou-se num espaço moderno, com novos hábitos, costumes e materiais. Conforme Sevcenkro, “o moderno tornou-se o novo absoluto, a palavra-futuro, a palavra-ação, a palavra-potência, a palavra-libertação, a palavrareencatamento. O moderno introduziu um novo sentido à história, onde o passado foi revisto” (SEVCENKRO, 2003, p.228). Com o crescimento da cidade, novas demandas surgiram e novas leis e decretos foram criados visando regularizar os novos empreendimentos, como o Código Arthur Saboya, ato nº 663, de 1934, que orientava as novas construções. Dele consta uma das primeiras alusões às implantações hoteleiras, dispostas em apenas cinco artigos: Art 454 – Nos hotéis haverá, na proporção de um para cada grupo de vinte hospedes, gabinetes sanitários e instalações para banhos quentes e frios, devidamente para um e outro sexo. § Único – Nos hotéis de classe, todos os aposentos destinados à habitação noturna deverão ser providos de lavatórios com água quente. Art. 455 – Nos hotéis e casas de pensão, o revestimento das paredes da cozinha será feito com ladrilho branco vidrado ou material congênere. Art. 456 – Nos hotéis e casas de pensão, não só os banheiros e as latrinas, como as copas, terão o piso revestido de ladrilho cerâmico e as paredes, até a altura de um metro e cincoenta centímetros, de ladrilho branco ou material congênere. Art. 457 – Nos hotéis, os cômodos de habitação noturna deverão ter as paredes internas, até um metro e cincoenta centímetros de altura, revestidas de substâncias lisas, não absorventes e capazes de resistir a frequentes lavagens; são proibidas as divisões de madeira. Art. 458 – Nos hotéis e casas de pensão, o piso das latrinas e dos mictórios será de ladrilho cerâmico e os revestimentos das paredes ladrilho branco vidrado ou material congênere (Código de Obras “Arthur Saboya”,1934, p.107/108). 80 Nota- se a preocupação com a higiene oferecida aos hóspedes, o que corrobora o espírito do Código Sanitário do Estado de São Paulo42, de 1894, com recomendações sobre as instalações de água e esgoto nas construções. Houve uma atualização do Código em 1918, tornando mais ampla a lei que regulava o serviço sanitário estadual e municipal nas questões urbanas e rurais. Como destaque da década de 40 e já fazendo uso do Código de Obras de Arthur Saboya, o Hotel Excelsior, projeto do arquiteto Rino Levi43, apresentava, juntamente com as 183 acomodações, um cinema de grande porte, o Cine Ipiranga. Ana Carla Monteiro faz uma leitura interessante da arquitetura, descrevendo o edifício da seguinte forma: O bloco inferior é marcado pelo uso de grandes pilares e de uma marquise que convidavam o público a entrar e usufruir tanto do cinema, como do hotel. No bloco horizontal, foram utilizados grandes painéis envidraçados, pequenas sacadas e muitos elementos vazados. Estes elementos evidenciavam que as áreas comuns do hotel deveriam ter uma relação próxima com a cidade, emoldurando a linda vista da cidade e da Praça da República. No bloco superior, predominantemente vertical, o ritmo contínuo das janelas se refere aos apartamentos do hotel (MONTEIRO, 2006, p.116). Figura 51 – Hotel Excelsior 42 Composto de 520 artigos, regulava aspectos referentes às condições sanitárias das moradias, cortiços e hotéis; das condições de ambiente de trabalho, das escolas, teatros e do lazer; do abastecimento e da produção de alimentos; do esgoto e das águas. 43 Mencionado no capítulo 1. 81 Figura 52 – Planta do 7º ao 11º andar. O hotel ainda proporcionava restaurante e salas de convenções. Os apartamentos tinham amplo espaço, banheiro com banheira e mobiliário projetado para o hotel. As instalações proporcionavam atrativos suficientes para os hóspedes, ao mesmo tempo que seu perfil caracterizava a Avenida Ipiranga, “com um projeto inovador pelo uso de novos materiais e pelo programa misto arrojado” (MONTEIRO, 2006, p.80). Nos anos 40 e 50, a cidade apresentou vários eixos de desenvolvimento econômico, como a Avenida Ipiranga, a Nove de Julho e a São Luiz. O período também foi marcado pelo crescimento dos espaços públicos, como praças, teatros, cinemas e o uso noturno de diversos estabelecimentos graças à da iluminação pública, ensejando nova vida social aos paulistanos. Acompanhando o crescimento da cidade, o Código de Obras foi atualizado em 1955, originando a Lei nº 4.615. Para as construções voltadas aos hotéis, o anexo 5.2 apresentou mudanças pertinentes à grande demanda da época. Eram elas: 5.2.1 – Nos hotéis que tenham de 3 a 6 pavimentos, inclusive, será obrigatoriamente instalado pelo menos um elevador. Quando tiver mais de 6 pavimentos, deverá conter um mínimo de 2 elevadores, em todos os casos obedecidas as normas técnicas brasileiras. 5.2.2 – Nos hotéis, a área mínima de dormitórios será de 10 m². 5.2.3 – Nos hotéis, os dormitórios deverão ter as paredes internas, até a altura mínima de 1,5 m, revestidas de material liso, impermeável e resistente a frequentes lavagens. 82 5.2.4 – Os hotéis que não disponham de instalações sanitárias privativas, correspondentes a todos os quartos, deverão ter compartimentos sanitários separados para um e outro sexo. 1) Esses compartimentos, em cada pavimento, deverão ser dotados, em sua totalidade, de latrinas, chuveiros e lavatórios em número correspondente, no mínimo, a um conjunto para cada 6 quartos que não disponham de instalações sanitárias privativas. 2) Além das instalações de que trata este artigo, serão exigidos compartimentos sanitários independentes, para uso dos empregados. 5.2.5 – Os compartimentos destinados à lavanderia deverão satisfazer as mesmas exigências previstas para copas e cozinhas, relativamente a paredes, pisos, iluminação e acessos. 5.2.6 – As copas, para uso geral, deverão ter a área mínima de 9 m² e, as destinadas para servir um único andar, a área mínima de 5 m². 5.2.7 – As cozinhas para uso geral deverão ter a área mínima de 10m². 5.2.8 – Os hotéis deverão ser dotados de instalações e equipamentos adequados contra incêndios, de acordo com as normas legais e regulamentares em vigor (AYRES NETTOS; RAMOS, 1968, p.26). O destaque de utilização mista de um edifício repetiu-se na década de 50, porém de forma mais ousada. Com projeto inicial do arquiteto Jacques Pilon, modificado e realizado por Franz Heep, o Hotel Jaraguá foi símbolo da arquitetura modernista. O edifício apresentava 21 pavimentos, com os dois subsolos destinados aos depósitos, caixas d´água, vestiários e instalações para os operários e as máquinas de impressão. Os primeiros três andares eram destinados à redação do jornal, o 4º e 5º andar estavam alocados à administração, diretoria, gabinetes, salão nobre e parte da redação do jornal. O 6º andar era ocupado pela Rádio Eldorado, começando as instalações do hotel a aparecer somente a partir do 7º andar, com a portaria, lobby, restaurante, cozinha e dependências de serviço. Do 8º andar em diante localizavam-se os apartamentos. Cada andar abrigava 16 apartamentos luxuosos, com móveis projetados especialmente para o hotel. As camas de cada quarto ofereciam uma mesa de cabeceira com rádio e autofalante embutidos. O interessante do projeto é que o grande destaque para a década de 50 não foram os empreendimentos em si instalados, bem sequer o funcionamento de segmentos diferentes no 83 mesmo edifício, mas sua estrutura arquitetônica. Segundo Patrícia Viceconti Nahas, Do ponto de vista formal, as incursões de Heep no partido arquitetônico do prédio deram ao edifício um caráter moderno. O arquiteto introduziu na fachada uma grelha de modulação vertical de 1,80 metros e modulação horizontal alternada entre 3,20 metros e 1,00 metro. Dentro dessas grelhas foram distribuídos brises de alumínio acionados por alavancas. Foram introduzidas subtrações e adições nos 5º e 6º andares, como os grandes terraços para a praça Dom José Gaspar e o volume do auditório, projetado além do alinhamento da fachada. Tais alterações mais a movimentação dos brises, dão certo dinamismo às fachadas (NAHAS, 2007, p.8). A fachada do edifício ainda levava um grande relógio, que acrescentava mais 20 metros à altura do prédio. Carmen Alvarez encarece os elogios afirmando que o edifico foi um símbolo da arquitetura devido ao uso de alguns elementos, como “brises, modulação, estrutura independente, pilotis e integração entre arquitetura e artes plásticas, com perfil e volumetria arrojados, muito bem adaptados ao local” (ALVAREZ, 2007, p. 5). Figura 53 – Hotel Jaraguá 84 A construção do Hotel Jaraguá ficou submetidos ao novo Código de Obras de 1955 e, apesar de suportar no mesmo edifício diferentes segmentos, conseguiu cumprir com as regras e normas das edificações, proporcionando excelente hospedagem para os visitantes até 1998. Nas décadas de 50 e 60, a prefeitura de São Paulo incentivou as construções hoteleiras através da Lei nº 428144, e a cidade, que buscava um crescimento rápido, correspondeu. Alguns fatores, como a industrialização, que possibilitou produzir em larga escala, e o uso de certos materiais, trouxeram maior agilidade e reduziram o tempo de obras. Na década de 70, a cidade passou a apreciar um novo empreendimento: o São Paulo Hilton Hotel, o primeiro hotel internacional de luxo. A intenção do uso misto nos edifícios ainda se matinha, razão por que o prédio abrigava 48 lojas, cinema para 436 pessoas e o hotel, com 399 apartamentos e suas instalações, aí incluso seu próprio estacionamento, com 300 vagas, piscina, sala de ginástica, lavanderia, marcenaria, departamento de engenharia e gráfica. O hotel apresentou inovações desconhecidas na cidade, como a instalação de um sistema de ar condicionado central, sistema de televisão de circuito fechado e um sistema de rádio e som que permitia transmitir em tempo real concertos ou conferências do salão de convenções para os apartamentos. Com projeto do arquiteto Mário Bardelli, o edifício compunha-se de uma base em forma de prisma, de 10 pavimentos, e de outro volume em forma cilíndrica, de 22 pavimentos, resultando num edifício de 116 metros de altura e 40mil m² de área construída. 44 Lei nº4281, de 3 de setembro de 1952, que incentivou a instalação hoteleira visando atender à demanda esperada para as comemorações do IV Centenário. 85 Figura 54 – São Paulo Hilton Hotel Devido à sua forma cilíndrica, o projeto proporcionava menor distanciamento entre os apartamentos e os elevadores, porém reduzia a área dos quartos oferecidos pelos hotéis de luxo. Os apartamentos, apesar de menores, continuavam com decoração luxuosa e instalações até então inéditas. Figura 55 – Planta de um dos andares de apartamentos. 86 A edificação do hotel seguiu as determinações do Código de Obras atualizado, de 1955, e até mesmo os apartamentos, embora fossem menores que os do padrão para hotéis de luxo, por causa da forma arquitetônica escolhida, cumpriram com a metragem mínima citada no Código. Segundo Ana Paula Spolon, “em termos arquitetônicos e como sub produto da última geração do movimento moderno (ou dos primeiros sinais do pós-modernismo na arquitetura), o projeto foi ousado comparado ao seus predecessores” (SPOLON, 2007, p. 7). Ainda na década de 70, precisamos salientar a criação da Embratur45, que promoveu uma nova fase para o mercado hoteleiro, abrindo portas para as redes hoteleiras internacionais, dobrando o número de hotéis da cidade. Em 1975, o Código passou por outra atualização e tornou-se a Lei nº. 8.266, com observância de padrões de segurança, higiene, salubridade e conforto. Os arts. 244 a 247 esclareciam que os edifícios destinados à hospedagem de permanência temporária eram os hotéis, pensionatos, casas de pensão e motéis, e deveriam dispor de recepção, quartos, acesso e circulação para pessoas, instalações sanitárias, acesso e estacionamento de veículos. O art. 248 determinava que se providenciassem instalações sanitárias exclusivas para empregados, novidade que os Códigos anteriores desconheciam. A tabela abaixo apresentava as instalações mínimas obrigatórias: Tabela 1 – Instalações sanitárias Fonte: Código de Obras de 1975 45 Mencionada no capítulo 1. 87 Ainda no art. 248, a distância de qualquer quarto até a instalação sanitária não deveria passar de 50 m. Os edifícios com área total de construção superior a 750 m² deveriam dispor de banheira, em número correspondente a 1/600, com área mínima do compartimento de 3 m². O artigo seguinte estabelecia que construções com área total superior a 250 m² e até 750 m² oferecer instalações sanitárias aos empregados, com área mínima de 1,20 m² e depósito para guarda de material de limpeza e consertos. Para os edifícios com construção superior a 750 m², além de enquadrar-se nos itens já descritos, cumpria propiciar vestiários com área mínima de 4 m². Os arts. 250 e 251 faziam referência à instalação de pias com água corrente nas copas, cozinhas e compartimentos destinados à recepção e refeições. Os artigos seguintes faziam menção somente aos edifícios destinados a hotéis: Art. 525 – Os hotéis com área total de construção superior a 750,00 m² deverão satisfazer, ainda, aos seguintes requisitos: I – A porta principal de ingresso, ressalvado o disposto no Capítulo II da Parte A, terá largura mínima de 1,20 m. Próximo a essa porta deverá ficar o compartimento ou ambiente de recepção, espera e portaria, com área mínima de 16,00 m². II – Os quartos de hóspedes terão: a) área mínima de 6,00 m², quando destinados a uma pessoa; b) área mínima de 10,00 m², quando destinados a duas pessoas; III – Os apartamentos de hóspedes observarão as mesmas áreas mínimas estabelecidas no item anterior e terão em anexo, pelo menos, a instalação sanitária mínima de que trata o item I do artigo 58. § 1º Além dos compartimentos expressamente exigidos nos artigos anteriores deste título, os hotéis terão, pelo menos, salas de estar ou de visitas e compartimentos destinados a refeições, copa, cozinha, despensa, lavanderia, vestiário dos empregados e escritório do encarregado do estabelecimento, de acordo com as seguintes condições: I – As salas de estar ou de visitas, bem como os compartimentos destinados a refeições e cozinha, deverão, cada um, ter: a) área mínima de 12,00 m², se o total das áreas dos compartimentos, que possam ser utilizados para hospedagem, for igual ou inferior a 250,00 m²; b) a área mínima fixada na letra anterior, acrescida de 1,00 m² para cada 30,00 m² ou fração da área total dos compartimentos para hospedagem que exceder de 250,00 m². 88 II – Os compartimentos da copa, despensa e lavanderia terão, cada um, área mínima de 6,00 m², a qual será também acrescida de 1,00 m² para cada 50,00 m² ou fração da área total de compartimento para hospedagem que exceder de 250,00 m². III – Além das exigências, cada andar que contiver quartos ou apartamentos de hóspedes, cujas áreas somem mais de 250,00 m², deverá dispor, no próprio andar ou em andar imediatamente inferior ou superior, de compartimentos destinados a : a) copa ou sala de permanência de empregados, com área mínima de 4,00 m²; b) depósito para guarda de material de limpeza, rouparia e outros afins, com área mínima de 2,00 m²; c) instalação sanitária para empregados, tendo, pelo menos, lavatório, latrina, chuveiro, com área inferior a 1,50 m² e que poderá ser incluída no cáculo de que trata o artigo 248. IV – O vestiário de empregados terá área mínima de 4,00 m², a qual será acrescida de 1,0 m² para cada 60,00 m² ou fração da área total de compartimentos para hospedagem que exceder de 250,00 m². V – O compartimento ou ambiente destinado à administração do estabelecimento terá área mínima de 10,00 m². § 2º Os compartimentos de que trata o parágrafo anterior poderão ser distribuídos pelos respectivos setores ou andares, observadas as proporcionalidades e os totais obrigatórios, bem como a área mínima de cada compartimento, fixados nos itens do mencionados parágrafo. § 3º Os compartimentos de utilização comum ou coletiva não poderão ter acesso através de outros compartimentos de utilização restrita. Art. 253 – Os hotéis, com área total de construção igual ou inferior a 750,00 m², poderão satisfazer apenas as exigências das casas de pensão, previstas no Capítulo II deste título (HIRSCHFELD, 1987, p. 99/100/101/102). É evidente que os artigos que faziam referência aos meios de hospedagem do Código de 1975 mencionavam outros artigos do próprio Código para assegurar os padrões de construção propostos para a cidade. O modelo que será apresentado seguiu as normas do Código de 1975, principalmente quanto 89 às áreas destinadas aos serviços e empregados, exigências até então não observadas. Projeto do arquiteto Ruy Ohtake, o Renaissance Hotel movimentou o mercado hoteleiro no final da década de 80. O edifício, constituído por 25 pavimentos, apresentava planta-tipo formada por dois blocos de 10 apartamentos em cada andar e um núcleo de circulação e serviço. Com três subsolos, um para as áreas de serviço e os outros para estacionamento, os próximos seis andares seguintes mantêm contato com a rua, disponibilizando as áreas públicas e de serviço do hotel. Figura 56 – Renaissance Hotel A fachada do hotel – seu grande destaque – constituiu-se de uma estreita faixa (22cm) de alumínio branco, que se compõe com faixas de vidro fumê e de alumínio cor vinho. O restaurante do hotel recebe luz externa devido à estrutura de vidro e alumínio que fecha o local. Os 25 pavimentos acomodavam os 388 apartamentos e 56 suítes com modernas instalações e comodidades de um hotel de luxo. O projeto do Renaissance Hotel ganhou o Prêmio Master de Arquitetura de 1996, outorgado pela Fiabci e Secovi. Lê-se no site de Ruy Ohtake: Provocamos dois „diálogos‟. Um entre os apartamentos e o espaço cinzento da cidade 90 através das torres com suas cores; o outro „dialogo‟ entre a base do hotel e o espaço da rua, com os transeuntes, os carros e as copas das árvores através dos terraços curvos e generosos que acompanham o desnível da rua Haddock Lobo, provocando diferentes formas de cheios e vazios, claros e escuros (Ruy Ohtake). Figura 57 – Planta do pavimento-tipo. O Código não foi alterado por longo período, tendo recebido atualizações em 1992 com regras a ser respeitadas pelos projetos, licenciamento, execução, manutenção e utilização de obras e edificações no município de São Paulo. O anexo 8.5 faz menção aos edifícios destinados a hospedagem: Destinadas à prestação de serviços de hospedagem ou moradia de caráter transitório incluindo, dentre outros, os seguintes tipos: a) hotéis, hotéis-residência e motéis; b) pensões, hospedarias e albergues (COE , 1992, p.32). Conforme observado no capítulo 1, o mercado hoteleiro cresceu a olhos vistos na década de 90, exigindo a criação de uma legislação específica que controlasse a qualidade dos meios de hospedagem por meio de uma classificação. 91 Um regulamento específico para o mercado hoteleiro apareceu somente em 2002, com a ABIH. Segundo o Regulamento Geral dos Meios de Hospedagens, publicado em 23 de abril, considera-se empresa hoteleira a pessoa jurídica que explore ou administre meio de hospedagem, cujo serviço mínimo a oferecer é o alojamento. No que se refere aos aspectos construtivos, o art. 7 esclarece que as edificações devem ser construídas ou expressamente adaptadas para a atividade. As áreas destinadas aos serviços de alojamento, portaria/recepção, circulação, serviços de alimentação, lazer e uso comum, além de outros serviços de conveniência do hóspede ou usuário, precisam estar separadas entre si, ou seja, ser independentes. Essas áreas, em determinadas circunstâncias, requerem tratamento sonoro, conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e legislação aplicável. Estabelece ainda o art. 7, o regulamento determina que as salas e quartos de dormir das unidades habitacionais precisam dispor de aberturas para o exterior, para fins de iluminação e ventilação, e que todos os banheiros dispunham de ventilação natural, com abertura direta para o exterior, ou através de duto. O quarto de dormir da unidade habitacional deve oferecer mobiliário mínimo, como cama, mesa de cabeceira, cadeira e equipamentos para guardar roupas e objetos pessoais. Quanto às adaptações para os hóspedes com necessidades especiais, o artigo menciona a NBR 9050-1994, para as facilidades construtivas, de instalações e de uso. As instalações elétricas e hidráulicas devem acompanhar as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT - e legislação aplicável, enquanto as instalações e equipamentos de segurança contra incêndio seguem as normas estabelecidas pelo Corpo de Bombeiros local. As instalações de emergência precisam oferecer iluminação nas áreas comuns, proporcionando segurança aos hóspedes e funcionários. A ABIH Nacional fazia o gerenciamento operacional do processo de classificação oficial dos meios de hospedagem. Em cada Estado ou Região é instituído um Comitê de Classificação, composto por sete membros, designados pelo Conselho Técnico Nacional, ao qual competirá homologar as avaliações técnicas, expedir recomendações de adaptação, sugerir medidas, receber denúncias e reclamações, conceder a classificação nas categorias Simples, Econômico, Turismo e Superior e encaminhar ao Conselho Técnico Nacional os processos de classificação nas categorias Luxo e Superluxo. É importante lembrar que a classificação de estrelas não é obrigatória. O artigo 11 apresenta a classificação através de símbolos, conforme abaixo: 92 Categoria Símbolo Superluxo SL Luxo Superior Turístico Econômico Simples Tabela 2 - Classificação hoteleira. Fonte:ABIH Nacional. Convém relembrar alguns aspectos construtivos do meio de hospedagem que definiam sua classificação na categoria, tendo presente que as áreas de um hotel são sempre medidas de “face a face” das paredes, ou seja, utilizando a área útil dos ambientes. Em casos especiais, como o da portaria em relação ao Setor Social, pode ser delimitada pelo mobiliário. Para melhor entendimento, as categorias serão apresentadas uma a uma, com atenção especial à categoria luxo, o que contribuirá para a finalidade da pesquisa. – Categoria Simples Os meios de hospedagem enquadrados na categoria simples deveriam oferecer unidades habitacionais com 9,00 m² de área total e banheiros de 1,80 m² em no mínimo 65% das UH do estabelecimento. Em 100% das UH, o banheiro precisa oferecer a água quente no chuveiro e vedação para o box. É importante ressaltar que a área total da unidade habitacional é a soma das áreas úteis do quarto e do banheiro e que a menor dimensão, comprimento ou largura, tem de ser sempre igual ou superior a 2,5 m. Caso o lavatório fique fora do banheiro, é dentro da área total desta que deve incluir-se sua metragem. As áreas sociais deveriam proporcionar 0,50 m² por unidade habitacional. Essas áreas são o somatório dos espaços de portaria, hall de recepção e bar, ambientes de estar, de TV, de jogos e de leitura, e terraços cobertos e equipados com móveis de estar, não incluídos na UH. 93 – Categoria Econômica Estabelecimentos enquadrados na categoria econômica precisavam disponibilizar unidades habitacionais com 10,00 m² de área total, tendo a menor dimensão (comprimento ou largura) de ser sempre igual ou superior a 2,5m, com banheiros de 2,30m², em no mínimo, 65% das UH. Em 100% das UH, o banheiro precisa oferecer água quente no chuveiro e vedação para o box. Para as unidades habitacionais do tipo suíte, a sala de estar precisa medir 8,00 m² e ficar separada do quarto por paredes e porta de comunicação. As áreas sociais mantém os requisitos dos estabelecimentos da categoria simples. – Categoria Turística A Categoria Turística prevê meios de hospedagem com unidades habitacionais de 12,00 m² de área total, tendo a menor dimensão (comprimento ou largura) de ser sempre igual ou superior a 2,5 m, com banheiros de 3,00 m², em, no mínimo, 70% das UH do estabelecimento. Em hotéis que proporcionem UH do tipo suíte, a a´rea da sala de estar precisa ser igual ou superior a 9,00 m². Todas as unidades habitacionais precisam dispor de climatização adequada. Em 100% das UH, o banheiro deve oferecer água quente no chuveiro, box com área igual ou superior a 0,80m², com vedação e suporte ou apoio para produtos de banho, bidê ou ducha manual e tomada a meia altura. As áreas sociais necessitavam de 1,00 m² por UH, oferecendo banheiros sociais separados para homens e mulheres, com lavatório e bacia sanitária, espelho sobre o lavatório, sistema de secagem das mãos, saboneteira e cesta de papéis. Quanto às ações ambientais, a categoria turística exigia local adequado para armazenamento de resíduos sólidos separados, sendo importante utilizar lixeiras identificadas (papéis, vidros, plásticos e metais). – Categoria Superior Os hotéis enquadrados na categoria superior apresentavam unidades habitacionais com 14,00 m² de área total, tendo a menor dimensão (comprimento ou largura) de ser sempre igual ou superior a 2,5 m, com banheiros de 3,30 m², em, no mínimo, 80% das UH do estabelecimento. Em estabelecimento com UH do tipo suíte, a sala de estar precisa ter área igual ou superior a 10,00 m². Todas as unidades habitacionais têm de dispor de climatização adequada e espelho de corpo inteiro com dimensões de 1,20 m x 0,40 m. Em 60% das Uhs é obrigatório haver 94 cofres. Em 100% das UH, o banheiro deve oferecer água quente no chuveiro e lavatório, box com área igual ou superior a 0,80 m², com vedação e suporte ou apoio para produtos de banho, bidê ou ducha manual, lavatório com bancada, espelho e tomada a meia altura. Como suporte para as camareiras, é preciso haver local específico para guardar de material de limpeza a cada três pavimentos, no mínimo. As áreas sociais proporcionavam 1,50 m² por UH, oferecendo climatização adequada e banheiros separados para homens e mulheres, com lavatório e bacia sanitária, espelho sobre o lavatório, sistema de secagem das mãos, saboneteira e cesta de papéis. A área de A&B (alimentos e bebidas) era considerada o somatório das salas de refeições de todos os restaurantes existentes no estabelecimento e deveria oferecer ambientes de, no mínimo, 0,80 m² por lugar com climatização adequada. Esses ambientes precisam de área especifica para despensa, em condição de armazenar a quantidade de alimentos suficientes para o uso diário, cozinha(s) com sistema de exaustão, geralmente através de duto e câmaras frigoríficas ou equipamento similar que proporcione isolamento térmico. O hotel precisava dispor de, no mínimo, um bar, com área de serviço atrás do balcão para guarda de copos e garrafas, pia para lavagem de copos e refrigerador para gelo e bebidas. No caso de haver atendimento apenas no balcão, cumpre providenciar assentos ao longo de sua extensão. Esses estabelecimentos precisavam oferecer ambientes apropriados para reuniões, com revestimento acústico e instalações eletroeletrônicas adequados para o uso dos hóspedes. A disposição nos ambientes encontram-se aparelhos de fax, máquinas para reprodução xerográfica, computadores, conexão com internet, TV, aparelhos retroprojetores, telas e aparelhos para projeção de slides, entre outros. Quanto às ações ambientais, a categoria superior seguia as mesmas indicações da categoria turística, incluindo um local independente e vedado para armazenar resíduos sólidos contaminantes. – Categoria Luxo A categoria luxo oferecia unidades habitacionais com 16,00 m² de área total, tendo a menor dimensão (comprimento ou largura) de ser sempre igual ou superior a 2,5 m, com banheiros de 4,00 m² em, no mínimo, 90% das UH do estabelecimento. Em estabelecimento com UH do tipo suíte, a sala de estar deveria ter área igual ou superior a 11,00 m². Todas as unidades habitacionais precisavam dispor de climatização adequada, espelho de corpo inteiro com dimensões de 1,20 m x 0,40 m, cofre e mesa de trabalho com iluminação própria, ponto de 95 energia e telefone. As camas de casal deviam seguir a dimensão igual ou superior a 2,00 m comprimento x 1,40 m de largura, e as camas de solteiro, 2,00m de comprimento x 1,20 m de largura, ambas com travesseiros antialérgicos. Em 100% das UH, o banheiro devia oferecer água quente em todas as instalações, box com área igual ou superior a 0,80m², com vedação e suporte ou apoio para produtos de banho, bidê ou ducha manual, lavatório com bancada e espelho, tomada a meia altura e banheira em 30% das suítes. Os revestimentos, pisos, forração, mobiliário e decoração com equipamentos de todas as UH e banheiros precisavam estar entre os melhores que oferecia o mercado, senão melhor. Como suporte para as camareiras, deveria haver um local específico para armazenar material de limpeza e rouparias auxiliares a cada três pavimentos, no mínimo. As áreas sociais proporcionam 2,00 m² por UH, com tratamento paisagístico, climatização adequada e banheiros separados para homens e mulheres, com o lavatório e bacia sanitária, espelho sobre lavatório, sistema de secagem das mãos, saboneteira e cesta de papéis. O estacionamento precisava pôr à disposição número de vagas igual ou superior a 10% do número de UH, com local apropriado para embarque e desembarque devidamente sinalizado e manobrista habilitado. A área de A&B (alimentos e bebidas) seguia o mesmo padrão de hotéis enquadrados na categoria superior. No que se refere às áreas de lazer, os ambientes reservados para leitura, jogos ou atividades, dispunham de iluminação e mobiliário adequados, como sala(s) de ginástica equipada(s) e com instrutor com formação específica. A sauna, seca ou a vapor, precisava contar com de sala de repouso equipada com móveis especiais para descanso, sanitários e vestiários. As salas de reuniões adotavam o mesmo padrão da categoria superior, incluindo ambientes com instalações e equipamentos para eventos e banquetes. Os estabelecimentos dessa categoria deveriam oferecer no mínimo três serviços especiais, como salão de beleza, baby sitting, venda de jornais e revistas, farmácia, loja de conveniência, câmbio, transporte especial, agência de viagem, entre outros serviços convenientes ao tipo de hotel. Como diferencial, o hotel dessa categoria oferecia sala VIP, com equipamentos apropriados, para atender hóspedes executivos. Quanto às ações ambientais, a categoria luxo acompanha as indicações da categoria superior. Como destaque da categoria, enfatizamos o Hotel Transamérica, estabelecido na região nobre da área industrial de Santo Amaro, de fácil acesso à Marginal Pinheiros e à Avenida 96 Washington Luis. No decorrer da descrição, fica evidente que o estabelecimento apresenta dimensões muito superiores ao que determinam a classificação hoteleira. O hotel dispõe de 389 apartamentos e 11 suítes, uma das quais presidencial. Todos estão equipados com ar condicionado, telefone com discagem direta, cofre, mesa de trabalho com ponto de acesso à internet, wi-fi, frigobar e banheiro com box, banheira, secador, roupão, chinelos e amenities. Os 191 apartamentos superiores compõem-se de 43 unidades double e 148 unidades single, com 32m². Figura 58 – Apartamento Superior. Os 97 apartamentos denominados luxo se dividem em 6 unidades double e 91 unidades single, com 36m². Figura 59 – Apartamento Luxo. Os 56 apartamentos executivo têm 40m², sendo 35 unidades double e 21 unidades single. 97 Figura 60 – Apartamento Executivo. Os 38 apartamentos golden class medem 40 m², sendo 13 unidades double e 25 unidades single. Figura 61 – Apartamento Golden class. Quanto aos apartamentos adaptados para deficientes, o hotel dispõe de duas unidades, um apartamento superior, com 32m², e outro, luxo, com 36m². Ambos estão equipados com cama, frigobar, armário com TV, escrivaninha, filtro de linha para conectar aparelhos, mesinha redonda, banheiro adaptado com porta deslizante, barras de apoio na pia, no vaso sanitário e no chuveiro, cadeira de banho, ducha, secador de cabelos e closet com suporte para cabides rebaixado. 98 Figura 62 – Apartamento adaptado para deficiente. O hotel oferece apenas uma suíte Alvorada, com 64m², cujo diferencial consiste numa sala composta pelo bar com banquetas, móvel com TV e CD player, sofá com 3 lugares, mesa redonda com 4 cadeiras, mesa de centro, mesa de canto, e, no quarto, uma escrivaninha e poltrona com mesa de canto. Figura 63 – Suíte Alvorada. As sete suítes com 80m² são chamadas de Diplomata e Esplanada, sendo seis unidades double e uma unidade single, composta pelos mesmos itens da suíte Alvorada, com o diferencial de haver hidromassagem no banheiro. 99 Figura 64 – Suíte Diplomata. Apenas uma suíte com 108m², chamada de Transamérica, oferece cama de casal na suíte, sala com lavabo, bar, móvel com TV, sofá de três lugares, duas poltronas, mesa de centro e duas cadeiras de canto, sala de jantar com mesa de 8 lugares, aparador e espelho, escritório com sofá de 2 lugares, estante e mesa com cadeira; banheiro com banheira, box com chuveiro, telefone, secador, roupão, balança e kit completo de amenities. Figura 65 – Suíte Transamérica. A suíte Itamaraty, com 138m², oferece cama de casal na suíte, sala de estar, sala de jantar, closet, lavabo e copa, sala com bar, dois sofás de três lugares, duas poltronas, escrivaninha com três cadeiras, mesa de centro, duas mesas de canto, TV e vídeo, sala de jantar com mesa de dez lugares e dois aparadores; banheiro com banheira de hidromassagem, box com chuveiro, telefone, secador, roupão, balança e amenities. 100 Figura 66 – Suíte Itamaraty. A suíte presidencial, com 240m², compõe-se de uma suíte master com cama de casal king size, mesa de centro, mesa de canto, dois criados-mudos, banqueta, cabideiro, móvel com TV embutida e sofá com 2 lugares com poltrona, uma segunda suíte com cama de casal king size, móvel com TV embutida, escrivaninha com cadeira, poltrona, mesa de canto, dois criadosmudos e closet, dois banheiros com hidromassagem, chuveiro com box, balança e secador, uma sala de estar com bar e três banquetas, duas mesas de canto, mesa oval, três mesas de centro, dois conjuntos de sofá e cristaleira com cadeira; uma sala com lareira, mesa de jogos com quatro cadeiras, sofá de dois lugares com poltrona, mesa de centro, quatro mesas de canto, rack com TV, vídeo, CD player e livros; uma sala de jantar com mesa retangular de catorze lugares e dois aparadores. Figura 67 - Suíte Presidencial. 101 Figura 68 - Suíte Presidencial. O hotel oferece dois restaurantes e um piano-bar com vista para o minicampo de golfe. O grande diferencial está nas dimensões generosas da área de lazer, com minicampo de golfe, piscina climatizada, duas quadras de tênis, campo de futebol, fitness center, salas de massagem com duchas circular e escocesa, sauna seca e a vapor, pista de cooper, totalizando 15.000m2 de área. Conta também com um centro de convenções com 23 salas moduláveis, que comportam até 3.500 pessoas, além de um auditório de 200 lugares. - Categoria Superluxo SL Os estabelecimentos da categoria Superluxo ofereciam em todas as unidades habitacionais com 18,00 m² de área total, tendo a menor dimensão (comprimento ou largura) de ser sempre igual ou superior a 2,5 m, com banheiros de 4,00 m². Nos estabelecimento com UH do tipo suíte, a sala de estar deveria ter área igual ou superior a 12,00 m². Todas as unidades habitacionais precisavam dispor de climatização adequada, espelho de corpo inteiro com dimensões de 1,20 m X 0,40 m, cofre e mesa de trabalho com iluminação própria, ponto de energia e telefone. As camas de casal deveriam seguir dimensão igual ou superior a 2,00m de comprimento X 1,40 m de largura, e as camas de solteiro, 2,00 m de comprimento X 1,20m de largura, ambas com travesseiros antialérgicos. Em 100% das UH, o banheiro deveria oferecer água quente em todas as instalações, box com área igual ou superior a 0,80m², com vedação e suporte ou apoio para produtos de banho, bidê ou ducha manual, lavatório com bancada e espelho, tomada a meia altura e banheira em 30% das suítes. Os revestimentos, pisos, forração, mobiliário e decoração com equipamentos de todas as UH e banheiros 102 deveriam ser os melhores disponíveis no mercado. Como suporte para as camareiras, deveria haver um local específico para guardar material de limpeza e rouparia auxiliares a cada três pavimentos, no mínimo. As áreas sociais proporcionavam 2,50 m² por UH, com os mesmo padrões da categoria luxo, incluindo um heliporto. A área de A&B (alimentos e bebidas) deveria proporcionar área mínima de 1,00 m² por lugar, obedecendo às indicações de hotéis enquadrados na categoria luxo, incluindo, no mínimo, dois ambientes de bar, que também seguem o padrão da categoria anterior. No que se refere às áreas de lazer, as referências eram as da categoria luxo, com acréscimo da piscina climatizada, com medidas mínimas de 4 m X 12 m e serviço especializado de guarda-vidas. Os espaços destinados às salas de reuniões seguiam o padrão da categoria luxo. Também os serviços adicionais adotavam os critérios da categoria anterior, oferecendo, contudo, um mínimo de seis serviços especiais. Referente às ações ambientais, a categoria superluxo acompanhava as indicações da categoria luxo. Em 18 de agosto de 2010, o Ministério do Turismo divulgou uma nova classificação dos meios de hospedagem. A nova classificação estipulava sete tipos de meios de hospedagem, classificados por estrelas, que deveriam atender a itens obrigatórios e flexíveis. O próximo capítulo abordará essa importante transição no regulamento dos Meios de Hospedagem. 103 3. Regras e referências no mercado hoteleiro 3.1. Regulamento e classificação dos Meios de Hospedagem Pela a Portaria nº 100, de 16 de junho de 2011, o Ministério do Turismo instituiu o novo Sistema Brasileiro de Classificação de Hospedagem – SBClass e criou o Conselho Técnico Nacional de Classificação de Meios de Hospedagem. O objetivo da Portaria é informar e orientar o mercado turístico e os consumidores, estabelecendo uma estrutura que aborda os tipos passíveis de classificação, as categorias de cada tipo, os requisitos de infraestrutura, serviços e sustentabilidade de cada categoria, os critérios de classificação e os processos de verificação, monitoramento e avaliação permanentes. A SBClass utiliza o símbolo “estrela” para identificar as categorias, numa escala de até cinco estrelas, ficando proibido recorrer a esse símbolo classificatório sem que a Portaria o autorize. Os critérios foram definidos de forma participativa, mediante ampla parceria com o Immetro, a Sociedade Brasileira de Metrologia – SBM e a sociedade civil. As matrizes, elaboradas em oficinas realizadas em oito cidades brasileiras, estão divididas em serviço, sustentabilidade e infraestrutura, e os requisitos são divididos em obrigatórios e de livre escolha do empreendimento. Os tipos de meios de hospedagem adotados são Hotel, Resort, Hotel Fazenda, Cama & Café, Hotel Histórico, Pousada e Flat/Apart-Hotel. Como continuidade da proposta de pesquisa, serão examinados apenas os critérios de infraestrutura, que compreendem instalações e equipamentos, do tipo de meios de hospedagem Hotel. Os demais tipos de hospedagem encontram-se em anexo. Segundo a SBClass, o Hotel é um estabelecimento com serviço de recepção, alojamento temporário, com ou sem alimentação, ofertados em unidades individuais e de uso exclusivo do hóspede, mediante cobrança de diária. 3.1.1 - Hotel com estrela Os empreendimentos devem oferecer uma unidade habitacional – UH com área útil de 9,00 m², em, no mínimo, 65% das UH e banheiro de 2,00 m² com chuveiro quente, suporte para produtos de banho no box e lavatório com bancada, espelho e sinalização de água quente e fria. Todos os quartos devem ter tranca interna, armário ou local específico para guardar roupas, televisores com controle remoto e climatização adequada. Caso o hotel tenha quartos conjugados, as portas devem ser duplas, evitando a transmissão de ruídos. Como requisito a 104 ser aceito ou não pelo hotel, o mini refrigerador, mesa de cabeceira com lâmpada para leitura por leito, mesa com cadeira e cortinas podem transformar o quarto em um espaço mais confortável. Para as áreas comuns, o hotel precisa oferecer banheiros sociais, com ventilação natural ou forçada, equipamento telefônico e climatização. Uma possível sala com televisor seria considerada diferencial para a classificação. O estado de conservação e manutenção das instalações de construção, equipamentos e mobiliário deve ser compatível com a categoria. 3.1.2 - Hotel com estrelas Os hotéis com duas estrelas proporcionam nas suas unidades habitacionais os mesmos itens da categoria anterior, com exceção da metragem, que deve ser 11,00 m² para os quartos e 2,00 m² para os banheiros, no total de 70% das unidades habitacionais do hotel. Como fatores diferenciais, o quarto pode apresentar tomadas, espelho de corpo inteiro e porta-mala ou local apropriado para abrir a mala em 100% das UH. Para as áreas comuns, repetem os requisitos da categoria anterior, mas incluem elevador e restaurante com cardápio em português e em outro idioma. 3.1.3 - Hotel com estrelas As unidades habitacionais com três estrelas acomodam 13,00 m² de área útil e banheiro com 3,00 m². Os itens citados, obrigatórios ou não, na categoria anterior tornam-se obrigatórios nesta categoria, incluindo televisor com canais de TV por assinatura, ramais telefônicos, acesso à internet e controle de temperatura de climatização. Os diferenciais para a categoria seriam água potável, minibar equipado, vedação opaca móvel nas janelas, mesa de trabalho com cadeira, iluminação própria e ponto de energia e telefone, água quente no lavatório e secador de cabelos. O edifício deve apresentar aspectos externos compatíveis com a categoria, com entradas de serviços distintas das sociais. O hotel precisa oferecer área de estacionamento e os itens das áreas comuns da categoria anterior, podendo proporcionar como diferencial sala para escritório virtual equipada, sala de reuniões equipada, salão para eventos, sala de ginástica e musculação, gerador de emergência com partida automática ou manual e sistema de sinalização interno, em português e outro idioma, que permita fácil circulação no estabelecimento. O restaurante é item obrigatório, enquanto o bar torna-se apenas diferencial. 105 3.1.4 - Hotel com estrelas Os quartos da categoria em questão devem apresentar 15,00 m² e 3,00 m² no banheiro. Os itens obrigatórios da categoria anterior permanecem, mas alguns diferenciais tornam-se obrigatórios, como controle de climatização, mesa de trabalho, água quente no lavatório e secador de cabelos. Outros substituem os não obrigatórios, como colchão de tamanho superior ao padrão nacional, espelho com lente de aumento, dispositivo para regular a intensidade de luz, canais de TV a cabo pay per view e dispositivo para reproduzir de filmes. Alguns itens que são diferenciais passam a ser obrigatórios nesta categoria, como sala para escritório virtual, sala de ginástica, bar e gerador de emergência. Surgem itens não obrigatórios para as áreas comuns, como jardim paisagístico, espaço para leitura, salão de jogos, sauna seca ou a vapor e entrada separadas para banhistas com lava-pés, quando pertinente. O restaurante deve oferecer um número de lugares correspondente a pelo menos 50% da ocupação máxima dos hóspedes, com facilidades para bebês, como cadeiras altas e aquecimento para mamadeiras. Como diferencial do restaurante, o cardápio pode sugerir uma cozinha regional ou típica. 3.1.5 - Hotel com estrelas O hotel cinco estrelas deve apresentar UH com 17,00 m² e banheiro com 4,00 m² em 100% das unidades, com varanda em pelo menos 25% delas como diferencial. Os itens obrigatórios que compõem o quarto permanecem e alguns diferenciais tornam-se obrigatórios, como as dimensões do colchão, minibar equipado, poltrona ou sofá, espelho com lente de aumento e extensão telefônica no banheiro. As áreas comuns mantêm as da categoria anterior, tornando-se, porém, obrigatório itens que podiam ser diferenciais, como salão para eventos e restaurante com cardápio regional ou típico. É notável o esforço de tonar a classificação um instrumento de critérios claros e técnicos, que padroniza os meios de hospedagem e leva nosso mercado hoteleiro a um patamar internacional de excelência. A adesão ao SBClass é de natureza voluntária, cabendo ao Ministério do Turismo excluir os meios de hospedagem que estejam em desacordo com as normas da classificação. Os estabelecimentos que obtiverem a classificação são incluídos 106 numa lista de divulgação para operadoras nacionais e internacionais e ganham a chancela do governo brasileiro. 3.2. Planejamento e projeto de hotéis Nelson Andrade, Paulo Lucio de Brito e Wilson Edson Jorge – arquitetos formados pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – apresentam em Hotel – planejamento e projeto, algumas referências de dimensionamento geral e de diversas dependências do hotel, ressaltando que é muito difícil estabelecer parâmetros universais, já que cada estabelecimento se adapta ao seu público-alvo. Os autores somam longos anos de experiência em planejamento e projetos no segmento hoteleiro. A obra em questão propõe três categorias a examinar: econômica, média e superior. Os hotéis de padrão econômico oferecem UH com 17 a 25m²; as áreas públicas e sociais totalizam de 3 a 10% e as áreas de serviço, de 3 a 10%. No padrão médio, as UH proporcionam de 25 a 30m², com áreas públicas e sociais somando de 10 a 15%, percentuais que se repetem nas áreas de serviços. Hotéis de padrão superior apresentam UH de 30 a 35m², áreas públicas e sociais de 10 a 15% e áreas de serviço de 10 a 15%. O quadro baixo relaciona as áreas médias de diferentes setores do hotel. Setores do Hotel Padrão econômico Padrão médio Padrão Superior Lobby 25 a 35 m²/UH 35 a 45 m²/UH 45 a 55 m²/UH Bares e restaurante 0,5 a 1,5 m²/UH 1 a 2,5 m²/UH 2 a 3,5 m²/UH Eventos 0 a 3 m²/UH 3 a 4 m²/UH 4 a 6 m²/UH Administração 0,5 a 1 m²/UH 0,5 a 1,5 m²/UH 1,5 a 2 m²/UH Preparo de alimentos 0,6 a 1 m²/UH 1 a 1,5 m²/UH 1,5 a 2 m²/UH 0,5 a 0,7 m²/UH 0,7 a 1 m²/UH 1 a 2 m²/UH Recebimento e armazenamento 107 Áreas para funcionários 0,5 a 0,7 m²/UH 0,7 a 1 m²/UH 1 a 1,5 m²/UH Lavanderia e governança 1 m²/UH 1 a 1,5 m²/UH 1,5 a 2 m²/UH Engenharia / Manutenção 0,6 a 1 m²/UH 1 a 2 m²/UH 2 m²/UH Outras áreas - 0 a 4 m²/UH 4 a 7 m²/UH TOTAL do hotel 30 a 45 m²/UH 45 a 65 m²/UH 65 a 85 m²/UH Tabela 3 - Áreas médias do hotel (m²/apto) Fonte: Hotel - planejamento e projeto. O lobby é o primeiro espaço do estabelecimento com que o hóspede tem contato, o que justifica precisar torna-lo o mais agradável possível. Os lobbies pequenos oferecem 0,5 m² por UH, os moderados entre 0,5 m² e 1 m² e os grandes mais de 1m² por UH. Os bares e restaurantes do hotel consideram a variação de 1,2 e 18 m² de área por pessoa, levando em consideração que, quanto mais alto o padrão do estabelecimento, maior é sua área. O dimensionamento necessário para a área de preparo e armazenagem dos alimentos depende do número de refeições servidas, da diversidade do cardápio e do sistema operacional adotado. As salas de reuniões ou espaços destinados aos eventos sofrem pequenas variações devido à configuração do espaço, sendo recomendado o critério, na recepção, de 0,7 a 0,8 m² por pessoa; nas salas em formato de auditório, de 0,7 a 0,9 m² por assento; nas salas destinadas a banquetes, de 1 a 1,1 m² por assento e nas salas em formato de sala de aula, 1,3 m² por assento. As áreas de serviço variam em função do tipo, tamanho e localização do hotel, cabendo à área destinada aos funcionários parte significativa. Em geral, comportam a sala para controle e revista, sanitários e vestiários masculinos e femininos, refeitório, sala de descanso e sala de treinamento. Os vestiários dispõem de armários para 90% dos funcionários, chuveiros para 54%, bacia sanitária em quantidade mínima equivalente à metade do número de chuveiros e lavatórios em quantidade equivalente ao número de chuveiros. Na área de serviço ocorrem ainda o recebimento e a triagem, distribuídos pela área de estacionamento de caminhões, plataforma de descarga de material, escritório de controle, compartimento de lixo seco, câmaras frigoríficas de lixo úmido e área de pré-higienização dos alimentos que chegam ao hotel. O quadro abaixo esclarece as dimensões necessárias. 108 60 a 100 UH Padrão do hotel Econômico Médio Superior Área de recebimento 100 a 200 UH 200 a 500 UH 36m² 72m² 1 vaga 2 vagas - Área de triagem 4,5 a 5,5m² 9 a 11m² - Área de recebimento 36m² 72m² 108m² 1 vaga 2 vagas 3 vagas Área de triagem 4,5 a 5,5m² 9 a 11m² 13,5 a 16,5m² Área de recebimento 36 a 72m² 72 a 108m² 108 a 144m² 1 a 2 vagas 2 a 3 vagas 3 a 4 vagas 9 a 11m² 13,5 a 16,5m² 18 a 22m² Área de triagem Tabela 4 - Área de serviço Fonte: Hotel - planejamento e projeto. A área da governança inclui a sala da chefia, almoxarifado de materiais de limpeza, almoxarifado dos itens para as UH e rouparia. Hotéis de padrão econômico com 60 a 100 UH destinam 30m² para a governança; com 100 a 200 UH, 60m². Hotéis de padrão médio com 60 a 100 UH oferecem 35m²; de 100 a 200 UH, 100m² e 200 a 500 UH, 200m². O padrão superior com 60 a 100 UH destina 50m²; 100 a 200 UH, 125m² e 200 a 500 UH, 250m². No que se refere às UH, as dimensões variam de acordo com o tipo e padrão do hotel, mas, principalmente, com o posicionamento das camas no quarto. As figuras abaixo representam as UH em cada padrão de hotel. 109 Figura 69 - UH de padrão econômico. Figura 70 - UH de padrão econômico. 110 Figura 71 - UH de padrão econômico. Figura 72 - UH de padrão médio. 111 Figura 73 - UH de padrão médio. Figura 74 - UH de padrão médio. 112 Figura 75 - UH de padrão superior. Figura 76 - UH de padrão superior. A dimensão dos corredores deve variar entre 1,20m e 1,40m, até mesmo por questão de segurança. O cuidado com as escadas também provém da segurança. A NBR9077 estabelece uma fórmula para o cálculo da largura das escadas e recomenda um mínimo de duas escadas por andar. A recomendação quanto aos elevadores foi que os estabelecimentos com 5 andares mantivessem 2 elevadores sociais e 1 de serviço; hotéis de 10 a 20 andares, de 4 a 5 elevadores sociais e 2 a 3 de serviço; entre 15 a 25 andares, oferecer de 5 a 6 elevadores 113 sociais e 3 e 4 de serviço e para 20 a 30 andares, de 7 a 8 elevadores sociais e 5 a 6 de serviço. Para halls com elevadores sociais dispostos frente a frente, prevê-se largura mínima de 3,5m. Para elevadores posicionados em linha, considera-se um terço mais largo do que os corredores adjacentes. Para os elevadores de serviço, destinar espaço suficiente para a circulação dos carrinhos de arrumação e limpeza de UH, que medem 0,60m de largura e 1,10m de comprimento. 3.3. ABNT NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. A fim de nortear qualquer projeto hoteleiro, existe o suporte da ABNT NBR 9050, norma que estabelece critérios e parâmetros técnicos nos aspectos construtivos e de adaptação de edifício, visando proporcionar a mobilidade do maior número de pessoas no estabelecimento. Todos os espaços, edificações, mobiliário e equipamentos que vierem a ser projetados e construídos devem atender a todos os critérios da norma. Independentemente do tipo e padrão do hotel, algumas áreas devem cumprir a dimensão mínima para circulação, como as dimensões referenciais para deslocamento de pessoas em pé e em cadeira de rodas. Figura 77 - Dimensões referenciais para deslocamento de pessoa em pé. 114 Figura 78 - Dimensões referenciais para deslocamento em cadeira de rodas. Além da circulação, é importante considerar as dimensões referenciais máximas, mínimas e confortáveis para alcance manual. Figura 79 — Alcance manual frontal – Pessoa em pé. Figura 80 — Alcance manual frontal – Pessoa sentada 115 Figura 81 - Alcance manual lateral - Relação entre altura e profundidade – pessoa em cadeira de rodas. Figura 82 — Alcance manual frontal - Pessoa em cadeira de rodas 116 A partir da p. 39 da ABNT NBR 9050, recomenda-se que as condições gerais das áreas de circulação apresentem pisos de superfície regular, estável e antiderrapante, que não provoquem impedimentos para a passagem de cadeiras de rodas. Os tapetes devem ser evitados, os capachos devem ser embutidos no piso ou nivelados e os carpetes firmemente fixados, para evitar enrugamento na superfície. Os desníveis devem ser evitados: até 5mm não demandam modificação. Desníveis superiores devem seguir os procedimentos da norma. Evitar as grelhas, juntas de dilatação e tampas de caixas de inspeção nas principais áreas de circulação. Quando instaladas, devem ter dimensão máxima de 15mm e ficar em sentido transversal ao movimento. Para o acesso das áreas de circulação, deve haver sinalização informativa, indicativa e direcional da localização da entrada acessível. No caso de o acesso ser uma rampa, existe uma fórmula específica para definir seu dimensionamento. Quanto às escadas, principalmente as de rotas de fuga, seguem a ABNT NBR 9077. No que se refere à circulação interna, os corredores devem ser dimensionados de acordo com o fluxo de pessoas. As larguras mínimas são de 0,90m para corredor com extensão de 4m, 1,20m para extensão de até 10m e 1,50m para extensão acima de 10m. As portas também devem respeitar medidas, conforme figuras abaixo. Figura 83 — Aproximação de porta frontal Quando as portas estão localizadas em rotas acessíveis, recomenda-se que sua parte inferior e batente tenham revestimentos resistentes a impactos, até a altura de 0,40m a partir do piso. 117 Devem apresentar maçanetas a uma altera entre 0,90m e 1,10m do piso. As portas do tipo vaivém devem ter visor entre o eixo vertical central da porta com largura mínima de 0,20m. Para as portas de correr, recomenda-se instalar trilhos na sua parte superior, ou os trilhos inferiores nivelados com a superfície do piso. As portas dos elevadores devem ter vão livre mínimo de 0,80 m e altura mínima de 2,10 m. Em portas de duas ou mais folhas, pelo menos uma delas deve ter o vão livre de 0,80 m. As portas de sanitários devem apresentar as dimensões da figura abaixo. Figura 84 - Visão frontal de porta de sanitário. Referente à área do estacionamento, o seu acesso deve ser feito exclusivamente dentro do imóvel, de forma a não criar desníveis nos passeios. As vagas devem ser sinalizadas e contar com um espaço adicional de circulação de, no mínimo, 1,20m de largura. Para estacionamentos com até 10 vagas, não é necessário demarcar vaga para pessoas com deficiência; de 11 a 100 vagas, deve-se demarcar apenas uma e, acima de 100 vagas, calculase 1% do total de vagas. 118 Figura 85 - Sinalização de vagas. Figura 86 — Sinalização de vagas Os sanitários destinados ao público, os vestiários de funcionários e os banheiros das unidades habitacionais que precisam ser adaptados a deficientes devem dispor da barra de apoio, instalação da bacia sanitária e acionamento da descarga. As figuras abaixo explicam as corretas dimensões. 119 Figura 87 — Áreas de transferência para bacia sanitária. Figura 88 — Dimensões para instalação da bacia sanitária. 120 Figura 89 — Altura da bacia sanitária – vista lateral. Figura 90 - Altura do acionamento da descarga. As papeleiras podem ser embutidas ou avançar até 0,10 m em relação à parede, ambas localizadas a uma altura de 0,50 m a 0,60 m do piso acabado e a distância máxima de 0,15 m da borda frontal da bacia. Para os sanitários com mictórios, recomenda-se o uso de bacias suspensas, com uma altura de 0,60 m a 0,65 m da borda frontal ao piso acabado, providos de barras verticais de apoio, conforme figura 47. 121 Figura 91 — Mictórios. Os sanitários e vestiários com boxe para bacia sanitária comum devem oferecer 0,80m de largura e 0,60m da porta aberta à bacia, para boxe com porta abrindo para o interior. Para boxe com porta sanfonada, 0,80m de largura e 0,60m da porta à bacia. Boxe com bacia acessível a pessoas com deficiência deve apresentar a porta abrindo para o exterior, com lavatório e dimensões específicas, como mostra a figura abaixo. Figura 92 — Boxe para pessoas com deficiência. Em caso de reformas ou adaptação, devido à limitação da instalação de boxes, são admissíveis boxes com dimensões mínimas, capazes de oferecer transferência e área de manobra, e porta com 1,00m de largura, como a figura abaixo. 122 Figura 93 — Boxe adaptado com área de manobra. A partir da p. 64 da ABNT NBR 9050, considera-se que os boxes para chuveiros sigam dimensões mínimas de 0,90 m por 0,95 m, providos de banco articulado ou removível, com cantos arredondados e superfície antiderrapante, com profundidade mínima de 0,45m, altura de 0,46m do piso acabado e comprimento mínimo de 0,70m. Deve ser prevista área de transferência externa do boxe, devendo a transposição da cadeira de rodas para o banco estar livre de obstáculos. No caso de haver porta, essa não deve interferir na transposição e ser de material resistente a impacto. O piso dos boxes para chuveiro pode apresentar desnível máximo de 1,5cm do restante. A instalação das barras de apoio, do chuveiro, ducha manual e controle fluxo precisa ter em conta a facilidade de uso. As figuras seguintes esclarecem as medidas necessárias. Figura 94 — Boxe para chuveiro com barras vertical e horizontal. 123 Figura 95 — Boxe para chuveiro com barra de apoio em L. Figura 96 — Perspectiva do boxe com as barras de apoio. Hotéis que ofereçam UH com banheiras para pessoas com deficiência devem respeitar medidas adequadas, barras de apoio e instalação de plataforma para transferência, cuja superfície deve ser antiderrapante, como o fundo da banheira. Os registros ou misturadores devem ser do tipo alavanca, com altura de 0,75m do piso acabado, e posicionados, preferencialmente, na parede lateral à banheira. 124 Figura 97 – Dimensões para banheira acessível. Os lavatórios devem ser suspensos, com altura de 0,78m a 0,80m do piso acabado. As torneiras situadas no máximo a 0,50m da face frontal do lavatório e os acessórios localizados no alcance adequado. Figura 98 — Acessórios junto ao lavatório. 125 Os vestiários devem oferecer bancos com encosto, profundidade mínima de 0,45m e altura de 0,46m do piso acabado. O posicionamento dos bancos precisa garantir a manobra, transferência e circulação de cadeiras de rodas. Os armários devem estar entre 0,40 m e 1,20 m do piso acabado e a projeção de abertura das portas não deve interferir na área de circulação mínima de 0,90 m. Quando houver cabinas individuais, precisam ter as dimensões mínimas de 1,80 m x 1,80 m, com barras de apoio, espelho, cabide e uma superfície para troca de roupas na posição deitado, de dimensões mínimas de 0,80 m de largura, 1,80 m de comprimento e 0,46 m de altura. Figura 99 — Cabina para vestiário acessível. De acordo com a ABNT BNR 9050, no que se refere aos quartos, recomenda-se que 10% do total de UH sejam adaptáveis para acessibilidade. As dimensões devem atender as condições de alcance manual e visual, permitindo a circulação interna. Deve haver pelo menos uma área com diâmetro de, no mínimo, 1,50 m que possibilite um o de 360°. Figura 100 – Circulação mínima para quarto acessível. 126 Estabelecimentos que ofereçam suítes com cozinha acoplada devem garantir a circulação aproximação e alcance dos utensílios. As pias devem possuir altura de, no máximo, 0,85m, com altura livre inferior de, no mínimo, 0,73m. A partir da p. 80 da ABNT NBR 9050, recomenda-se que as salas de reuniões estejam localizadas em rota acessível, vinculada a uma rota de fuga, e destinem espaço para cadeira de rodas, com dimensões mínimas de 0,80m por 1,20m. Em salas com capacidade para 25 pessoas, reserve-se espaço para 1 cadeira de rodas; de 26 a 50 pessoas, espaço para 2 cadeiras de rodas; de 51 a 100 pessoas, 3 cadeiras de rodas; de 101 a 200 pessoas, 4 cadeiras de rodas; de 201 a 500, calcular 2% do total para cadeiras de rodas; de 501 a 1.000, reservar 10 espaços para cadeiras de rodas mais 1% do que exceder 500; acima de 1.000 assentos, reservar 15 espaços para cadeiras de rodas mais 0,1% do que exceder 1.000. Os restaurantes, refeitórios e bares devem adequar pelo menos 5% do total de mesas a pessoas em cadeiras de rodas. As mesas ou superfícies para refeições ou trabalho devem ter altura livre inferior de, no mínimo, 0,73m e, no máximo, 0,85m do piso, o que permite que a cadeira avance no máximo 0,50m. Importante assegurar faixa livre para circulação e manobra para acesso. Os balcões de serviços precisam ter altura máxima de 0,90m do piso. Em caso de aproximação frontal, a altura livre inferior do balcão deve ser, no mínimo, de 0,73m com profundidade de 0,30m. Os balcões de autosserviço precisam prever passa-pratos com altura entre 0,75m e 0,85m do piso, garantindo o alcance manual das bandejas, pratos, copos, talheres, alimentos e bebidas. Figura 101 — Balcão de autoatendimento – Vista frontal. 127 Estabelecimentos que oferecem piscinas, locais de esporte e lazer precisam garantir o acesso de todos mediante degraus, rampas submersas ou bancos de transferência. A rampa ou escada deve oferecer corrimão em três alturas: de 0,45m, 0,70m e 0,92m, de ambos os lados, localizados na altura do nível da água. Os degraus submersos devem ter, no mínimo, 0,46m e espelho máximo de 0,20m. Caso o acesso seja feito por banco de transferência, deve haver área para aproximação e manobra, com banco de 0,46m de altura, 0,45m de profundidade e 1,20m de extensão. As normas da SBClass e da ABNT e os parâmetros exemplificados no capítulo, orientam a padronização dos meios de hospedagem e proporcionam aos hóspedes o melhor serviço. Com dados concretos, elas possibilitam aos profissionais não especializados no setor hoteleiro que compreendam e ponham em prática as providências adequadas para cada categoria de hotel. É indiscutível que a crescente demanda proporcionou atualizações constantes, levando o ramo hoteleiro a responder às expectativas de hóspedes ou clientes. E o resultado de muitas mudanças aparece no número de meios de hospedagem espalhados pelo País. Através dos parâmetros apresentados, foi possível constatar que o mercado dispõe de estabelecimentos com instalações e equipamento que ultrapassam as solicitações da legislação brasileira. 128 Considerações finais A evolução do mercado hoteleiro, no Brasil e em São Paulo, foi a grande base deste estudo. Procuramos compreender, ao longo de três capítulos, de que modo os projetos arquitetônicos souberam adaptar-se às demandas existentes e potenciais e à legislação pertinente ao período. Embora os projetos seguissem as normas de construção, o fator que predominava era o processo de transformação dos aspectos construtivos no que tange à arquitetura na cidade de São Paulo. A influência da verticalização na cidade estimulou a construção de hotéis cada vez mais altos e inovadores. Os edifícios mistos foram destaques durante três décadas, atendendo à grande demanda por lazer e, consequentemente, prolongando a vida noturna na cidade. Os cinemas, teatros, bares e restaurantes transformaram São Paulo não só numa capital de negócios, mas numa cidade de entretenimento de qualidade. Os fatores determinantes dessa transformação estão presentes no capítulo dois, que relata a influência dos acontecimentos históricos da cidade nos projetos arquitetônicos dos hotéis. O programa do Hotel Excelsior fez parte das normas do Código de Arthur Saboya, que priorizava os aspectos higiênicos dos hotéis, como o uso de pisos e revestimentos de paredes adequados para banheiros, latrinas e copas. Com o aumento das grandes construções, já que a cidade passava por acelerado processo de verticalização, o Código foi atualizado em 1955, gerando regras até então inéditas. Determinaram-se metragens adequadas para cada espaço do hotel, introduziram-se elevadores nos edifícios com mais de 3 andares e tornou-se obrigatório o uso de equipamentos contra incêndios. Bons exemplos para esse período foram os hotéis Jaraguá e Hilton, que apresentaram edifícios com mais de 20 pavimentos e diversas áreas sociais. O Código de 1975 foi o mais detalhado, visto que subdividia os empreendimentos em hotéis, pensionato, casas de pensão e motéis, criando regras e normas de edificação diferentes para cada obra. As exigências eram minuciosas, comparadas às do códigos anteriores, precisando cuidadosamente as metragens até mesmo para as áreas designadas aos empregados. O programa do Renaissance Hotel seguiu o último Código, mas sem abandonar as ideias inovadoras do arquiteto responsável pelo projeto. Em 1992, o Código foi reconfigurado, mas uma legislação própria para empreendimentos hoteleiros só viria em 2002. A ABIH, juntamente com a ABNT, controlava, através do Regulamento Geral dos Meios de Hospedagem, a qualidade dos estabelecimentos. O regulamento classificava os meios de 129 hospedagem, ilustrados pelo símbolo estrela, em superluxo, luxo, superior, turístico, econômico e simples. Cada categoria definia as áreas e as dimensões a ser respeitadas pelos estabelecimentos. O capítulo três apresentou o novo e atuante Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass), instituído pelo Ministério do Turismo. A nova classificação continua utilizando o símbolo estrela, porém com novas divisões. Os meios de hospedagem passaram a ser subdivididos em Hotel, Resort, Hotel-Fazenda, Cama e Café, Hotel Histórico, Pousada e Flat/Apart-Hotel, havendo para cada tipo uma classificação que varia de uma a cinco estrelas. Os critérios de avaliação abordam infraestrutura, serviços e sustentabilidade de cada categoria. Os detalhes apresentados no capítulo comprovaram os critérios de infraestrutura do tipo Hotel e permitiram concluir a evolução do mercado hoteleiro, objetivo principal de nossa pesquisa. Devido à recente mudança da classificação, o Ministério do Turismo divulga as novas regras, esperando um breve retorno dos empreendimentos para apresentar um mercado hoteleiro dentro dos padrões internacionais. Espera-se que este trabalho tenha contribuído para o entendimento do desenvolvimento dos projetos hoteleiros, tornando claras a legislação do Código de Obras e as classificações hoteleiras. 130 Referências bibliográficas ANDRADE, Nelson; BRITO, Paulo Lucio; JORGE, Wilson Edson. Hotel: planejamento e projeto. 4. ed., São Paulo: Senac, 2000, 246 p. ASSUNÇÃO, Paulo de. São Paulo imperial: a cidade em transformação. São Paulo: Arké, 2004, 270 p. AZEVEDO, Aroldo de. A cidade de São Paulo – estudo de geografia urbana. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1958. BARBOSA, Yacarim Melgaço. História das viagens e do Turismo. São Paulo: Aleph, 2002, 99 p. BARBUY, Heloisa. A cidade-exposição: Comércio e Cosmopolitismo em São Paulo, 18601914. São Paulo; Universidade de São Paulo, 2006, 304 p. 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