UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitetura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitetura
Alentejo e casa pátio em Aires Mateus
Realizado por:
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Orientado por:
Prof. Doutor Arqt. Bernardo d'Orey Manoel
Constituição do Júri:
Presidente:
Orientador:
Arguente:
Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha
Prof. Doutor Arqt. Bernardo d'Orey Manoel
Prof. Doutor Arqt. Rui Manuel Reis Alves
Dissertação aprovada em:
22 de Abril de 2015
Lisboa
2014
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N I V E R S I D A D E
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U S Í A D A
D E
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I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
Alentejo e casa pátio em Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Lisboa
Dezembro 2014
U
N I V E R S I D A D E
L
U S Í A D A
D E
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I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
Alentejo e casa pátio em Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Lisboa
Dezembro 2014
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Alentejo e casa pátio em Aires Mateus
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.
Orientador: Prof. Doutor Arqt. Bernardo d'Orey Manoel
Lisboa
Dezembro 2014
Ficha Técnica
Autor
Orientador
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Prof. Doutor Arqt. Bernardo d'Orey Manoel
Título
Alentejo e casa pátio em Aires Mateus
Local
Lisboa
Ano
2014
Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação
CACHOLA, Luís Manuel Moreira Godinho, 1986Alentejo e casa pátio em Aires Mateus / Luís Manuel Moreira Godinho Cachola ; orientado por Bernardo
d'Orey Manoel. - Lisboa : [s.n.], 2014. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade
de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.
I - MANOEL, Bernardo de Orey, 1969LCSH
1. Casas com pátio - Portugal - Alentejo
2. Pátios - Portugal - Alentejo
3. Arquitectura de habitação - Portugal - Alentejo
4. Aires Mateus (Firma) - Crítica e interpretação
5. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
6. Teses - Portugal - Lisboa
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Courtyard houses - Portugal - Alentejo
Courtyards - Portugal - Alentejo
Architecture, Domestic - Portugal - Alentejo
Aires Mateus (Firm) - Criticism and interpretation
Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon
LCC
1. NA7523.C33 2014
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a todos os que tornaram possível, direta ou indiretamente, a realização
desta Dissertação de Mestrado. Desta forma, passo a citar os nomes das pessoas que
contribuíram para a realização de todo o processo:
A todos os meus colegas e amigos, com quem partilhei bons momentos, mas também
preocupações e dificuldades.
Aos meus familiares, que me incentivaram, aconselharam e compreenderam todas as
minhas dificuldades.
Ao atelier Aires Mateus pela disponibilidade demonstrada.
Ao orientador Prof. Doutor Arqt. Bernardo d’Orey Manoel, pelo acompanhamento e
orientação que teve ao longo deste processo.
Enfim, a estes e outros mais, quero agradecer o simples facto de me terem
proporcionado a realização desta dissertação, que se revelou um momento importante
para a minha formação.
A todos um muito obrigado!
APRESENTAÇÃO
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
A presente dissertação tem como tema a Casa Pátio. O pátio entendido como modo de
construir, de habitar. Este modo de viver com origem em civilizações primitivas, vai neste
trabalho focar-se nas culturas e tradições que deixaram marcas na Península Ibérica, e
concretamente na região a Sul de Portugal - o Alentejo. Pretende, também mostrar as
marcas que ainda hoje testemunham essas presenças, verificáveis através das
inúmeras características que ainda hoje são referências na composição arquitetónica
desta região.
O trabalho pretende ainda centrar-se no modo como a arquitetura contemporânea do
atelier Aires Mateus, foi influenciada por este modo de construir da casa pátio e do modo
de ser que constrói a arquitetura alentejana
Seleciona-mos este atelier devido à sua produção arquitetónica, mais precisamente
aquela que se desenvolve na região alentejana. Neste contexto foram evidenciadas três
habitações unifamiliares de exemplo de Casa Pátio – A casa em Alvalade do Sado; a
casa Barreira Antunes em Melides e a casa na Quinta da Fontinha, também em Melides.
Por último, apresenta-se o trabalho que desenvolvemos ao longo do ano letivo
2010/2011. Trabalho esse que é o resultado da investigação efetuada. Projetamos tendo
em conta a Casa-Pátio, o pátio na arquitetura alentejana visto através daqueles
criadores e da observação in loco que fomos fazendo a par da investigação. Demos
forma ao projeto final, certos de que fomos fortemente influenciados por todos os
aspetos já enumerados.
Palavras-Chave: Pátio, Casa-Pátio, Alentejo, Aires Mateus, Privacidade, Intimidade,
Luz.
ABSTRACT
Alentejo and Courtyard-House in Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
The present dissertation has as theme the courtyard house. The courtyard understood
as a way to build, dwelling. This way of life originating from primitive civilizations, in this
work will focus on the cultures and traditions that have left marks on the Iberian
Peninsula, and specifically in the region south of Portugal - Alentejo.
The work also aims to focus on how the firm of contemporary architecture Aires Mateus,
was influenced by this way of building the courtyard house and on the manner of being
that builds Alentejo architecture.
We have selected this firm because of its architectural production, more precisely the
one that is developed in the Alentejo region. In this context were shown three single
family houses as an example of Patio House - The house in Alvalade Sado; house
Barreira Antunes in Melides and the house at Quinta da Fontinha also in Melides.
Finally, we present the work we have done throughout the school year 2010/2011. Work
that is the outcome of the research performed. The Design have taking into account the
Courtyard House, the courtyard in the Alentejo architecture seen through those creators
and on-site observation that we were doing alongside the research. We gave way to the
final design, certain that we were strongly influenced by all aspects already listed.
Keywords: Courtyard, Courtyard House, Alentejo, Aires Mateus, Privacy, Intimacy,
Light.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Praça, Templo Romano em Évora e construções contiguas, exemplo de
Humanização da paisagem e sobreposição de culturas, fotografia nossa, 2013......... 25
Ilustração 2 - Templo e Casas, Arquitetura Mesopotâmica. (Daniel, 2014)................ 27
Ilustração 3 - Exemplo de Domus Pompeiana, neste exemplo com peristilo (Wikipedia,
2014) .......................................................................................................................... 28
Ilustração 4 - Exemplo de ínsula em Óstia, evidência da utilização do pátio para a
composição das mesmas (Wiene, 2013) .................................................................... 29
Ilustração 5 - Pátio dos Leões, Palácio de Alhambra (Wikipedia, 2014) .................... 31
Ilustração 6 - Casas pátio do bairro de alcáçova, Mértola (Macias, 1996,p.71) ......... 32
Ilustração 7 - Casas pátio do bairro de alcáçova, Mértola (in Macias, 1996, P. 70) ... 33
Ilustração 8 - Casas pátio do bairro de alcáçova, Mértola, Pátio (Macias,1996, p.84) 35
Ilustração 9 - Claustro do Mosteiro dos Jerónimos (Wikimedia, 2012). ...................... 36
Ilustração 10 - Domus Romana (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992, p.7) ....................... 38
Ilustração 11 - Casa unifamiliar muçulmana. (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992, p.7) ... 39
Ilustração 12 - Casa com Pátio, Mies Van der Rohe (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992,
p.11) ........................................................................................................................... 39
Ilustração 13 - Casa com Pátio, Mies Van der Rohe (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992,
p.11) ........................................................................................................................... 39
Ilustração 14 - Pavilhão Chines com Pátio (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992, p.7) ...... 40
Ilustração 15 - Paisagem Alentejana, Terra e Água, suaves ondulações no território (
Mattos, 2012) .............................................................................................................. 41
Ilustração 16 - Alentejo, Plano de rua, onde se evidência a importância da chaminé, e
os poucos vãos das fachadas (Oliveira, Galhano, 1992, P. 161) ................................ 43
Ilustração 17 - Casa Alentejana, onde se evidencia a utilização de duas águas, no
telhado, e onde se verifica a importância da cozinha e da chaminé na composição da
casa (Associação dos Arquitetos Portuueses, p.98) ................................................... 44
Ilustração 18 - Serpa, Monte da Cascalheira, onde se evidencia a estrutura composta
em volta do pátio central (Oliveira, Galhano, 1992, P. 154) ........................................ 45
Ilustração 19 - Monte, Herdade da Terrosa, Estremoz, exemplo da disposição dos
equipamentos do monte em torno do pátio central, centro de todo o equipamento
(Oliveira, Galhano, 1992, p. 168) ................................................................................ 46
Ilustração 20 - Alentejo, plano de rua, exemplo da expressividade dos materiais
utilizados, com ou sem a cal a revestir ....................................................................... 47
Ilustração 21 – “A Cidade dos Príncipes”, pintura de Nadir Afonso, Arquiteto, Pintor,
Artista abstrato, importância da arquitetura na pintura do autor (Afonsor, 2014) ......... 49
Ilustração 22 - RADIX, Bienal de Veneza 2012, Escultura dos Arquitetos Aires Mateus,
fotografia por Saleh, 2012 (Basulto, 2012) .................................................................. 49
Ilustração 23 - Cabanas do Rio, Aires Mateus, fotografia por Garrido, 2013 (Frearsoon,
2013) .......................................................................................................................... 50
Ilustração 24 - - Reitoria da Universidade Nova de Lisboa (1998-01), (Wikipedia, 2014)
................................................................................................................................... 50
Ilustração 25 - Residência de Estudantes do Campus II da Universidade de Coimbra
(1996-99), (Loko, 2012) .............................................................................................. 50
Ilustração 26 - Maqueta, Casa em Alenquer (Otxotorena, 2003, p. 13) ..................... 51
Ilustração 27 - Maqueta, Casa em Coruche, (in Baptista; Ventosa,2007, P.50) ......... 52
Ilustração 28 - Plantas e Cortes, Casa em Coruche (in Baptista; Ventosa,2007, P.50)
................................................................................................................................... 53
Ilustração 29 - Casa na Aroeira, vista do acesso á moradia (in Vita, 2013, p.75) ...... 53
Ilustração 30 - Casa na Aroeira, vista para o pátio (in Vita, 2013, p.75) .................... 54
Ilustração 31 - Casa na Aroeira, Planta e corte (in Vita, 2013, p.77) .......................... 55
Ilustração 32 - Casa em Leiria, vista onde se evidencia a importância dos pátios (in
Vita, 2013, p.70) ......................................................................................................... 55
Ilustração 33 - Casa em Leiria, Maqueta onde se verifica que a casa nasce no subsolo
e a importância do pátio para a iluminação, (Figueiredo, 2012) .................................. 56
Ilustração 34 - Casa em Leiria, Cortes, onde se verifica a importância dos pátios e a
alteração da forma do mesmo ao longo do edifício, (desenho obtido através de
comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ............................................. 56
Ilustração 35 - Casa em Leiria, Vista do pátio central, do piso inferior para o térreo, onde
se verifica a relação visual entre os espaços (in Vita, 2013, p.73) .............................. 57
Ilustração 36 - Alvalade do Sado, Paisagem Alentejana onde se verificam as suaves
ondulações do terreno e o pontilhar dos carvalhos (in Otxotorena. 2003, p. 16)) ........ 59
Ilustração 37 - Espaços principais inseridos no quadrado que compõem o projeto
(fotografia de SILVA; Jorge P 2000; obtida através de comunicação pessoal) ........... 60
Ilustração 38 - espaços de serviço, pensados e dispostos como se tratassem de um
muro escavado (fotografia de SILVA; Jorge P 2000; obtida através de comunicação
pessoal) ...................................................................................................................... 61
Ilustração 39 - O pátio como objeto principal da casa. (fotografia de SILVA; Jorge P
2000; obtida através de comunicação pessoal) .......................................................... 62
Ilustração 40 - Fotografia de maqueta onde se pode verificar os vão inseridos na
fachada (fotografia de SILVA; Jorge P 2000; obtida através de comunicação pessoal)
................................................................................................................................... 63
Ilustração 41 - - Fotografia de maqueta onde se pode verificar os vão inseridos na
fachada (fotografia de SILVA; Jorge P 2000; obtida através de comunicação pessoal)
................................................................................................................................... 63
Ilustração 42 - Corte que evidencia as diferentes alturas dos tetos dos espaços
secundários e principais, assim como a claraboia da cozinha (desenho obtido através
de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)......................................... 63
Ilustração 43 - Planta da casa em Alvalade do Sado (desenho obtido através de
comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ............................................. 64
Ilustração 44 - Planta da casa em Alvalade do Sado, Pátios (desenho obtido através de
comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ............................................. 64
Ilustração 45 - Planta da casa em Alvalade do Sado, onde se verifica o modo de compor
o projeto, espaços principais a branco e secundários a preto (desenho obtido através de
comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ............................................. 64
Ilustração 46 - Casa Barreira Antunes, Vista da Piscina (fotografia de Daniel Malhão
(2000) obtida através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ...... 65
Ilustração 47 - Casa Barreira Antunes, Casa como um ponto branco (fotografia de
Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov.
2014) .......................................................................................................................... 66
Ilustração 48 - Casa Barreira Antunes, Vista de uma das aberturas situadas a Nascente
e a Poente (fotografia de Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação pessoal
com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ................................................................................ 67
Ilustração 49 - Casa Barreira Antunes, Pátio central que serve para impedir o
atravessamento da visualização da casa (fotografia de Daniel Malhão (2000) obtida
através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ............................ 67
Ilustração 50 - Casa Barreira Antunes, Cortes, onde se verifica a diferenciação das
alturas entre os espaços principais e secundários para se obter a sensação de muro
escavado (desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov.
2014) .......................................................................................................................... 68
Ilustração 51 - Vista de uma das entradas de luz que reflete bem o ambiente calmo e
tranquilo pretendido. (fotografia de Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação
pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ................................................................... 69
Ilustração 52 - Vista para um dos espaços secundários escavados nas grossas paredes
(fotografia de Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação pessoal com SILVA;
Jorge P, Nov. 2014) .................................................................................................... 70
Ilustração 53 - Vista para dois espaços secundários escavados nas grossas paredes,
onde se evidencia a subida de um degrau e a descida do teto em relação ao espaço
principal (fotografia de Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação pessoal
com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ................................................................................ 70
Ilustração 54 - Pormenor da planta na zona de um dos quartos, onde se evidencia a
importância dos pequenos pátios para a iluminação destes espaços (desenho obtido
através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ............................ 70
Ilustração 55 - Casa Barreira Antunes, Planta onde se verifica a preto os espaços
secundários e a branco o espaço principal, a sala, e também a relação entre cheios e
vazios, descrita por Manuel Aires Mateus (desenho obtido através de comunicação
pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ................................................................... 71
Ilustração 56 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista, fotografia por GUERRA (2013) (in
SPIROU, 2014) ........................................................................................................... 72
Ilustração 57 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista de Cima, onde se verifica que a casa
se fecha do lado da estrada e se abre para a encosta e que se desenvolve torno do
pátio, fotografia por Guerra (2013) (SPIROU, 2014) ................................................... 73
Ilustração 58 - Casa na Fontinha, principais volumes do edifício têm uma forma
trapezoidal que subtilmente distorce a sua proporção, Fotografia por Guerra (2013)
(FREARSOON, 2013) ................................................................................................. 74
Ilustração 59 - Canto cortado de forma curva, Fotografia por Guerra (2013) (in
FREARSOON, 2013) .................................................................................................. 74
Ilustração 60 - Entrada para a sala do piso inferior, Fotografia por Guerra (2013) (in
FREARSOON, 2013) .................................................................................................. 74
Ilustração 61 - Teto de forma curva, Fotografia por Guerra (2013) (FREARSOON, 2013)
................................................................................................................................... 74
Ilustração 62 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista, aspeto austero da do edifício,
fotografia por Guerra (2013) (SPIROU, 2014) ............................................................. 75
Ilustração 63 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista, aspeto austero da do edifício
compensado pela subtileza das formas curvas, fotografia por Guerra (2013) (SPIROU,
2014) .......................................................................................................................... 75
Ilustração 64 - Casa na Quinta da Fontinha, vista do pátio para o plano de água e para
a envolvente, fotografia por Guerra (2013) (SPIROU, 2014) ....................................... 75
Ilustração 65 - Casa na Quinta da Fontinha, vista do pátio para o plano de água e para
a envolvente, fotografia por GUERRA (2013) (SPIROU, 2014)................................... 75
Ilustração 66 - Lareira triangular, fotografia por Guerra (2013) (SPIROU,2014) ........ 76
Ilustração 67 - Balcão, armário e clarabóia da cozinha, Fotografia por Guerra (2013)
(FREARSOON, 2013) ................................................................................................. 76
Ilustração 68 - Casa de banho do quarto principal, fotografia por Guerra (2013)
(SPIROU, 2014).......................................................................................................... 76
Ilustração 69 - Porta curva dos quartos secundários, fotografia por Guerra (2013)
(SPIROU, 2014).......................................................................................................... 76
Ilustração 70 - Planta da zona da entrada, onde se verificam os dois espaços para
armazenamento, e a sala secundária (desenho obtido através de comunicação pessoal
com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) ................................................................................ 77
Ilustração 71 - Planta do piso principal, onde se localizam os quartos, cozinha e pátio.
(desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014) .. 78
Ilustração 72 - Corte pelas escadas, evidência da forma curva como elemento da
composição (desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P,
Nov. 2014) .................................................................................................................. 78
Ilustração 73 - O Sítio de Lisboa, a sua morfologia em planta, desenho nosso, 2011 82
Ilustração 74 - O Sítio de Lisboa, a sua morfologia Alçado, desenho nosso, 2011 .... 82
Ilustração 75 - Lisboa, Plantas Ilustrativas da sua evolução Histórica (Romana,
Muçulmana e Atual), Desenhos nossos, 2011 ............................................................ 83
Ilustração 76 - Lisboa; Área de estudo (intervenção), Alfama, Fotomontagem sobre
fotografia de Lisboa retirada de Google Maps ............................................................ 83
Ilustração 77 - Morfologia do Bairro de Alfama, alçado (desenho nosso, 2011)......... 84
Ilustração 78 - Morfologia do Bairro de Alfama, corte transversal (desenho nosso, 2011)
................................................................................................................................... 84
Ilustração 79 - Morfologia do Bairro de Alfama, corte longitudinal (desenho nosso, 2011)
................................................................................................................................... 84
Ilustração 80 - Pátio dos Quintalinhos (Silva, 2004)................................................... 84
Ilustração 81 - Pátio do Curvo (Silva, 2004) .............................................................. 85
Ilustração 82 - Pátio da Cruz (Silva, 2004) ................................................................ 86
Ilustração 83 - Pátio da Cruz (Silva, 2004) ................................................................ 86
Ilustração 84 - Pátio da Pascácia (Silva, 2004).......................................................... 86
Ilustração 85 - Pátio da Pascácia (Silva, 2004).......................................................... 86
Ilustração 86 - Pátio do Carrasco (Silva, 2004).......................................................... 87
Ilustração 87 - Pátio do Carrasco (Silva, 2004).......................................................... 87
Ilustração 88 - Pátio Dom Fradique (Silva, 2004) ...................................................... 87
Ilustração 89 - Pátio Dom Fradique (Silva, 2004) ...................................................... 87
Ilustração 90 - Pátio das Cozinhas (Silva, 2004) ....................................................... 88
Ilustração 91 - Pátio das Cozinhas (Silva, 2004) ....................................................... 88
Ilustração 92 - - Calçada do Marquês de Tancos, pintura de Carlos Botelho (1949).. 88
Ilustração 93 - Chão do Loureiro, pintura de Carlos Botelho (1949) .......................... 88
Ilustração 94 - Fotomontagem, Mercado do chão de Loureiro, edifício como charneira
entre o largo da atafona, a calçada do Marquês de Tancos e o Largo do chão do
Loureiro. Entre Alfama e a Baixa Pombalina (fotomontagem nossa sobre fotografias
nossas, 2011) ............................................................................................................. 89
Ilustração 95 - Mercado do Chão de Loureiro, visto do Largo do Chão de Loureiro
(fotografia nossa, 2011) .............................................................................................. 89
Ilustração 96 – Mercado do Chão de Loureiro, visto do Beco da Atafona (fotografia
nossa, 2011) ............................................................................................................... 89
Ilustração 97 - Mercado do Chão de Loureiro, vista da calçada do Marques de Tancos
(fotografia nossa, 2011) .............................................................................................. 90
Ilustração 98 - Mercado do Chão do Loureiro, vista das escadas de acesso á calçada
do Marquês de Tancos (fotografia nossa, 2011) ......................................................... 90
Ilustração 99 - Largo da Atafona (fotografia nossa, 2011) ......................................... 90
Ilustração 100 - Mercado do Chão do Loureiro Vista para o miradouro (fotografia nossa,
2011) .......................................................................................................................... 90
Ilustração 101 - Planta atual da Zona da Intervenção (desenho nosso, sobre planta de
Lisboa, 2011) .............................................................................................................. 91
Ilustração 102 - "Das Cabinet des Dr. Caligari", filme expressionista alemão realizado
por Robert Wiene, 1920 .............................................................................................. 92
Ilustração 103 - "Das Cabinet des Dr. Caligari", filme expressionista alemão realizado
por Robert Wiene, 1920 .............................................................................................. 92
Ilustração 104 - Sala de concertos da Filarmónica de Berlim fotografia de Wikimedia
Commons (in KROLL, 2011) ....................................................................................... 92
Ilustração 105 - Entrada Principal da Filarmónica de Berlim, fotografia de Wikimedia
Commons (in KROLL, 2011) ....................................................................................... 92
Ilustração 106 - Maqueta da Filarmónica de Berlim, fotografia de Wikimedia Commons
(in KROLL, 2011) ........................................................................................................ 93
Ilustração 107 - Planta da Sala de concertos da Filarmónica de Berlim, desenho cedido
por de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011 ............................................................ 93
Ilustração 108 - Planta de acessos da Filarmónica de Berlim, desenho cedido por de
Wikimedia Commons (in KROLL, 2011 ....................................................................... 93
Ilustração 109 - Corte Transversal da Filarmónica de Berlim, desenho cedido por
Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)...................................................................... 94
Ilustração 110 - Vista da Filarmónica de Berlim, fotografia de Wikimedia Commons (in
KROLL, 2011) ............................................................................................................. 95
Ilustração 111 - Vista da Filarmónica de Berlim, fotografia de Wikimedia Commons (in
KROLL, 2011 .............................................................................................................. 95
Ilustração 112 - zona interior/exterior do edifício Franjinhas (fotografia nossa, 2011) 96
Ilustração 113 - zona interior/exterior do edifício Franjinhas (fotografia nossa, 2011) 96
Ilustração 114 - Planta corte e vista do Edifício Franjinhas (CML, 2014) ................... 97
Ilustração 115 - Fotomontagem nossa sobre fotografia de Guerra, 2014 .................. 98
Ilustração 116 - Fotomontagem nossa, sobre fotografia de Silva., 2000 .................... 98
Ilustração 117 - Desenho Referencia, expressionismo alemão, desenho de Mendelsohn
(in ZEVI, 2002) " ......................................................................................................... 99
Ilustração 118 - Edifício como uma Montanha, Desenho conceptual nosso, 2011 ..... 99
Ilustração 119 - Edifício como uma montanha escavada, Desenho conceptual nosso,
2011 ........................................................................................................................... 99
Ilustração 120 - Anjo do "Wings of Desire" olhando Lisboa, Fotomontagem nossa, sobre
fotografia nossa e imagem do filme "Wings of Desire" de Wim Wenders, 1987 .......... 99
Ilustração 121 - O anjo ouvindo os pensamentos do humano, a relação visual entre
pisos, Imagem retirada do filme "Wings of Desire" de Wim Wenders, 1987 .............. 100
Ilustração 122 - Desenho sobre referência, pátio central e muros a rodeá-lo, Desenho
nosso, 2011 .............................................................................................................. 100
Ilustração 123 - Desenho sobre referência, muros ao redor do pátio, Desenho nosso,
2011 ......................................................................................................................... 100
Ilustração 124 - Desenho sobre referência, muros escavados ao redor de um pátio,
Desenho nosso, 2011 ............................................................................................... 100
Ilustração 125 - Tensões e acessos dentro de um pátio, Desenho nosso, 2011...... 100
Ilustração 126 - Desenho sobre referência, muros ao redor de um pátio, Desenho
nosso, 2011 .............................................................................................................. 100
Ilustração 127 - Maqueta conceptual, solido compacto, com cobertura separada tipo
tenda aberta, Fotografia nossa, 2011 ....................................................................... 101
Ilustração 128 - Maqueta conceptual, solido decomposto por níveis, tipo topografia,
como uma montanha, Fotografia nossa, 2011 .......................................................... 101
Ilustração 129- Maqueta conceptual, solido decomposto por níveis, tipo topografia,
como uma montanha escavada no centro, Pátio, Fotografia nossa, 2011 ................ 101
Ilustração 130 - Diagrama do Programa, Desenho nosso, 2011 .............................. 103
Ilustração 131 - relações com a envolvente próxima, Desenho nosso, 2011 ........... 104
Ilustração 132 - relações com a envolvente próxima, sistema viário, largos, praças e
momentos, desenho nosso, 2011 ............................................................................. 104
Ilustração 133 - relação com o Rio Tejo e Praça do Comercio, Desenho nosso, 2011
................................................................................................................................. 104
Ilustração 134 - Planta do Ingresso 1, cota -00,60 m ............................................... 105
Ilustração 135 - Planta do ingresso 1, cota de projeto 0,00 m, Desenho nosso, 2011
................................................................................................................................. 105
Ilustração 136 - Planta do Ingresso 2, cota 05,50 m, Desenho nosso, 2011 ............ 106
Ilustração 137 - Planta do Ingresso 3, cota 21,38 m, Desenho nosso, 2011 ............ 106
Ilustração 138 - Sistema Distributivo da zona do ingresso 1, Desenho nosso, 2011 107
Ilustração 139 - Sistema Distributivo da zona do ingresso 2, Desenho nosso, 2011 107
Ilustração 140 - Sistema distributivo do piso tipo, Desenho nosso, 2011 ................. 108
Ilustração 141 - Sistema distributivo da zona do ingresso 3, desenho nosso, 2011 . 108
Ilustração 142 - Sistema estrutural do Edifício, desenho nosso, 2011 ..................... 108
Ilustração 143 - Sistema Estrutural do Edifício, desenho nosso, 2011 ..................... 109
Ilustração 144 - Planta nível - 1 (Estacionamento e cargas e descargas do mini
mercado), cota -03,6 m, Desenho nosso, 2011......................................................... 110
Ilustração 145 - Planta nível 1 (ingresso para as residências, para a biblioteca, e para
o mini mercado Pingo Doce) cota -00,6m, Desenho nosso, 2011 ............................. 110
Ilustração 146 - Fotomontagem, Atmosfera Expressionista, ingresso 1, sobre
fotografias nossas, imagem do filme "Das Cabinet des Dr. Caligari", realizado por Robert
Wiene, 1920 e fotografia da filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in KROLL,
2011) ........................................................................................................................ 111
Ilustração 147 - Fotomontagem, Atmosfera Expressionista, ingresso 1, sobre
fotografias nossas, e fotografia da Filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in
KROLL, 2011) ........................................................................................................... 111
Ilustração 148 - Fotomontagem, Atmosfera Expressionista, ingresso 1, sobre imagem
do filme "Das Cabinet des Dr. Caligari", realizado por Robert Wiene, 1920 e fotografia
da Filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011) ....................... 112
Ilustração 149 - Planta nível 2 (plataforma para apresentação de espetáculos / pátio
central visível de todo o edifício que o circunda) cota 02,4m, desenho nosso, 2011 . 112
Ilustração 150 – Fotomontagem género, Atmosfera Expressionista da plataforma, sobre
fotografia da Filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011),
Fotografia nossa e imagem do filme "Das Cabinet des Dr. Caligari", realizado por Robert
Wiene, 1920 ............................................................................................................. 113
Ilustração 151 - Planta nível 3 (zona do ingresso 2 - em frente ao pátio da atafona onde se localizam os serviços da escola de artes circenses, o refeitório, cozinha e os
primeiro quartos da residencial) cota 05,0m, desenho nosso, 2011 .......................... 113
Ilustração 152 - Fotomontagem, ingresso 2, sobre fotografia nossa, e fotografia da
Filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)............................ 114
Ilustração 153 - Planta do nível 4 (localização do auditório e respetivo Back Stage do
mesmo, sala de estar dos professores, mais 5 quartos da residencial assim como uma
plataforma em mezanine que funciona como complemento do refeitório) cota 09,35 e de
7,75 m, Desenho nosso, 2011 .................................................................................. 114
Ilustração 154 - Planta do Nível 5 (contem 5 quartos da residencial, 4 salas de aulas
teóricas e um bar) cota 12,65 m, Desenho nosso, 2011 ........................................... 115
Ilustração 155 - Fotomontagem, sobre fotografias nossas de Lisboa e do Circe du Soleil
(2011) e imagens do filme "Das Cabinet des Dr. Caligari", realizado por Robert Wiene,
1920 ......................................................................................................................... 116
Ilustração 156 - Planta nível 6 á cota 15,00 m, desenho nosso, 2011 ..................... 117
Ilustração 157 - Planta nível 7 á cota 17,75 m, desenho nosso, 2011 ..................... 117
Ilustração 158 - Planta de Nível 8, Ingresso 3, sala de espetáculos, cota 21,38m,
desenho nosso, 2011................................................................................................ 118
Ilustração 159 - Planta de Cobertura, Desenho nosso, 2011 ................................... 118
Ilustração 160 - Fotomontagem do Ingresso 3, Cobertura, Sobre fotografias nossas de
Lisboa e de Maquetas, 2011 ..................................................................................... 119
Ilustração 161 - Fotomontagem, atmosfera da sala de espetáculos ........................ 119
Ilustração 162 - Alçado do Largo do chão do Loureiro, desenho nosso, 2011 ......... 120
Ilustração 163 - Fotomontagem, Vista do Largo do Chão do Loureiro, sobre fotografia
e desenho nosso, 2011............................................................................................. 121
Ilustração 164 - Alçado do lago da Atafona, desenho nosso, 2011.......................... 121
Ilustração 165 - Fotomontagem, vista do largo da atafona, Sobre fotografia e desenho
nossos, 2011 ............................................................................................................ 122
Ilustração 166 - Alçado da Calçada do Marquês de Tancos, desenho nosso, 2011 122
Ilustração 167 - Vista sobre a cobertura e para o Alçado da calçada do Marquês de
Tancos, fotomontagem sobre fotografia e desenho nossos, 2011 ............................ 123
Ilustração 168 - Corte Longitudinal, desenho nosso, 2011 ...................................... 123
Ilustração 169 - Corte Transversal, desenho nosso, 2011 ....................................... 124
Ilustração 170 - Imagem da Biblioteca de Berlim, retiradas do Filme "Wings of Desire"
de Wim Wenders, 1987 ............................................................................................ 124
Ilustração 171 - Imagem da Biblioteca de Berlim, retiradas do Filme "Wings of Desire"
de Wim Wenders, 1987 ............................................................................................ 124
Ilustração 172 - Corte Longitudinais da Biblioteca, desenho nosso, 2011 ............... 125
Ilustração 173 - Corte Longitudinais da Biblioteca, desenho nosso, 2011 ............... 125
Ilustração 174 - Corte Transversal da Biblioteca, desenho nosso, 2011 .................. 126
Ilustração 175 - Corte Transversal da Biblioteca, desenho nosso, 2011 .................. 126
Ilustração 176 - Pormenor construtivo da cobertura, desenho nosso, 2011 ............. 127
Ilustração 177 - Pormenor construtivo tipo da laje e parede, desenho nosso, 2011 127
SUMÁRIO
1. Introdução .................................................................................................... 21
2. Território e cultura ........................................................................................ 25
2.1. Pátio e evolução .................................................................................... 25
2.2. Pátio e Território .................................................................................... 40
2.3. Pátio e Aires Mateus .............................................................................. 47
3. Pátio e Referência........................................................................................ 59
3.1. Casa em Alvalade do Sado ................................................................... 59
3.2. Casa Barreira Antunes, Melides ............................................................ 65
3.3. Casa na Quinta da Fontinha, Melides .................................................... 72
4. Pátio e Projeto.............................................................................................. 81
4.1. Sítio e Lugar .......................................................................................... 82
4.2. Relações e Programa ............................................................................ 91
4.2.1. Arquétipos ....................................................................................... 91
4.2.2. Conceito .......................................................................................... 98
4.2.3. Programa ....................................................................................... 101
4.2.4. Relações - Os edifícios e zonas envolventes e o Rio Tejo ............ 103
4.3. Espaço e Articulações ......................................................................... 105
4.3.1. Ingressos ....................................................................................... 105
4.3.2. Sistema Distributivo ....................................................................... 107
4.3.3. Sistema Estrutural ......................................................................... 108
4.3.4. Plantas do Projeto e Atmosferas ................................................... 109
4.3.5. Alçados, Cortes e Vistas do Projeto .............................................. 120
5. Considerações Finais ................................................................................. 129
Referências .................................................................................................... 133
Bibliografia...................................................................................................... 137
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
1. INTRODUÇÃO
O assunto da presente dissertação prende-se com a influência da casa pátio e da cultura
alentejana na arquitetura de Manuel e Francisco Aires Mateus. Neste sentido, surgenos o paradigma – de que modo poderá, este modo de habitar a casa, ser reinterpretado
ou adaptado a diferentes locais e a diferentes programas, assim como diferentes
culturas? De que maneira foram estes arquitetos influenciados e vieram, igualmente, a
influenciar/desenvolver aquela cultura (alentejana) através do seu modo de
arquitetar/conceber projetos? E de que modo, estas duas questões, influenciaram a
conceção do projeto final de curso realizado pelo aluno?
Estas serão as questões que conduzirão esta dissertação e que pretendemos
desenvolver ao longo do trabalho através do tema “ Alentejo e Casa-Pátio em Aires
Mateus”.
Tivemos, como orientador, o Prof. Doutor Arqt. Bernardo d’Orey Manoel, docente na
Universidade Lusíada de Lisboa, Faculdade de Arquitetura e Artes.
A presente dissertação encontra-se dividida em três capítulos que, por sua vez, serão
subdivididos em subcapítulos, sendo cada um deles correspondente a uma fase de
investigação.
O primeiro capítulo tem como tema Território e Cultura, onde são apresentados alguns
conceitos, tendo em conta a opinião de diferentes autores sobre o Pátio e Evolução, o
Pátio e Território e o Pátio em Aires Mateus. Neste capítulo pretende-se, em primeiro
lugar, dar a conhecer a evolução da casa-pátio ao longo dos séculos, conhecer a sua
origem, relação com as diferentes civilizações que habitaram o nosso território,
nomeadamente o Sul do país, tendo em conta que nos focamos, principalmente, no
Alentejo, de modo a entendermos as diferenças das casas pátio, criadas pelos
diferentes modos de habitar, pelas diferentes culturas e religiões, pelas diferentes
Sociedades que habitaram esta zona do mediterrâneo.
Assim, tivemos em conta fatores como o clima mediterrânico, característico do nosso
território, a cultura, a religião e costumes de várias civilizações e as principais marcas
habitacionais deixadas por estas, no Alentejo.
Pretende-se, também, relacionar a casa habitacional do aglomerado urbano com a do
meio rural, ou seja do monte no Alentejo, com as das diferentes civilizações e
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
21
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
compreender de que forma o pátio tem evoluído ao longo dos séculos até à atualidade,
ou seja, como a aculturação ao longo dos tempos, contribuiu para a utilização deste
elemento habitacional pátio.
Por fim, ainda neste capítulo, será realizada uma apresentação dos arquitetos Aires
Mateus de forma a entendermos a origem da sua escola arquitetónica, como se
caracteriza o seu modo de projetar e de que modo a casa pátio e a importância que lhe
é conferida enquanto espaço/elemento habitacional, assim como de que modo a
arquitetura alentejana, influenciam no seu modo de arquitetar.
No segundo capítulo concentrar-nos-emos em Pátio e Referência. Neste serão
apresentadas, como objeto de estudo, três obras, casas pátio importantes, obras dos
arquitetos Aires Mateus no Alentejo, como forma de conhecermos, mais em pormenor,
o seu estilo de arquitetar e percebermos como a integração do elemento pátio na
habitação funciona nestes casos. As três obras apresentadas neste capítulo são: a Casa
em Alvalade do Sado, uma das suas primeiras experiências projetais conhecidas em
termos de casa pátio no Alentejo, a Casa Barreira Antunes em Melides, considerada a
casa pátio por excelência e onde surge uma reinterpretação bastante interessante do
modo de atuar do pátio na habitação e a Casa na quinta da Fontinha, também esta
situada em Melides, que evidencia claras influências do modo de arquitetar da região
do Alentejo, não querendo com isto dizer que os outros dois projetos referidos não o
evidenciem igualmente.
O terceiro, e último capítulo, corresponde à relação Pátio e Projeto. O pátio como
elemento base de toda a investigação da presente dissertação e o Projeto final de curso,
que realizámos. Projeto este que tem como lugar de intervenção o Mercado do Chão do
Loureiro e que consistiu na reinterpretação da casa pátio, tanto a popular alentejana
como a casa pátio dos arquitetos Aires Mateus, mas também do arquétipo Filarmónica
de Berlim. Como tal, tentou-se uma adaptação dos paradigmas da mesma ao sítio e
lugar de Lisboa e ao contexto de um complexo edificado com um programa mais variado
do que a própria casa.
Este
último
capítulo
encontra-se
dividido
em
subcapítulos
-
sendo
estes
correspondentes ao Sítio e Lugar, onde será apresentada uma breve descrição sobre o
sítio de Lisboa, mais em particular do Bairro de Alfama, nomeadamente a sua
geomorfologia, onde fica situado o lugar de intervenção do projeto, as Relações que o
complexo edificado estabelece tanto com a sua envolvente mais próxima como com a
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
22
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
sua envolvente visual, mais longínqua, o programa inserido neste edifício e, por fim,
Espaços e Articulações, onde são apresentadas em pormenor as plantas, vistas, cortes,
atmosferas e pormenores da referida intervenção.
Será, deste modo, apresentado, ao longo de todo este capítulo, uma reflexão que
permite dar a conhecer o projeto desenvolvido e estabelecer a relação com o elemento
chave desta dissertação, isto é, a casa pátio e a arquitetura dos arquitetos Aires Mateus.
Por fim, poderão ser consultadas as referências e bibliografia utilizada na redação do
presente documento e os apêndices e anexos referentes a todo o corpus do trabalho.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
23
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
24
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
2. TERRITÓRIO E CULTURA
2.1. PÁTIO E EVOLUÇÃO
Uma paisagem, um local, um monumento, uma simples habitação, tem história, uma
identidade própria, cujos traços, pistas e marcas resultam, muitas vezes, da Acão do
Homem [...] a humanização das paisagens é um fenómeno quase generalizado e que,
frequentemente é essa Acão que confere personalidade, comunicação, significado a
determinadas zonas.” (Correia, 1995, p. 9)
No que respeita à ocupação do nosso território, conhece-se a sucessão de culturas que
cronologicamente passaram pela região deixando marcas na arquitetura do Alentejo,
isto pode-se verificar na sobreposição homogénea de culturas que resulta numa
paisagem muito peculiar (ilustração 1).
Ilustração 1 - Praça, Templo Romano em Évora e construções contiguas, exemplo de Humanização da paisagem e sobreposição de
culturas, fotografia nossa, 2013
(...) estamos em crer que o seu tipo de construção é o resultado de uma longa evolução,
que os séculos foram modelando, cheia de contradições e anacronismos, mas talvez
mais condicionada pelas circunstâncias em que se processam a exploração de terra, a
transacção de produtos e gados, o mercado em que se fez a sua colocação, os
rendimentos que estes proporcionaram e a forma como se repartiam, do que por
influencias de carácter erudito, advindas directamente de teorias arquitetónicas ou
técnicas particulares de construir” (Associação dos Arquitectos Portugueses, 1988, p.
22)
Importa focar neste ponto, as principais características da arquitetura dessas diferentes
culturas para podermos entender a forma como elas intervêm na arquitetura desta
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
25
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
região, dando principal destaque à habitação – à casa pátio, à sua definição e evolução
uma vez que é ai que incide o presente trabalho/ dissertação.
Antes de mais apresentaremos a definição de pátio. Este pode ser definido como “ […]
recinto descoberto, no interior de um edifício, ou rodeado por outros edifícios; terreno
murado contíguo a um edifício; vestíbulo; átrio […]” (Infopédia, 2014) E como:
Pátio – Espaço aberto frente a um edifício (pátio de honra) ou compreendido no interior
do edifício. Este é ladeado, geralmente rodeado de arcadas, servindo de passeio. Parte
de terreno descoberto que, situado no centro de um complexo arquitetónico, serve para
iluminar e arejar os recintos internos […] ” (Calado; Silva, 2005)
Através destas definições, podemos descrever o pátio como sendo um espaço onde
ocorre o relacionamento com a natureza, com o ar livre, suscetível à chuva, ao sol, ao
vento, ao movimento das pessoas.
Capitel “ […] define o pátio como um tipo, quando encarado como um modo de habitar,
como um sistema. Assim sendo, este arquétipo é sistemático e versátil, sendo capaz de
abarcar uma grande diversidade de usos, formas, dimensões e características […]”
(Neves, 2012, p.6). Sendo que Peters defende que:
A defesa aos intrusos e o abrigo contra o clima são os aspetos que estão na origem da
casa-pátio, foram estes os fatores que levaram as primitivas colónias humanas a fazerem
foras de casas introvertidas, nas quais os diferentes espaços se agrupavam ao redor de
um pequeno pátio que era simultaneamente zona de distribuição, lugar de permanência
e muitas vezes incluía a cozinha. (Neves,2012, p.7)
A origem da tipologia pátio remonta ao começo da história da Humanidade, estendendose desde as habitações de antigas comunidades, nas grandes civilizações préclássicas, transpondo-se também para as clássicas até à atualidade.
A Mesopotâmia, uma região fechada pelos seus dois rios – Tigre e Eufrates - por
montanhas, mar, e pelo mundo árabe, foi marcada por uma sucessão de povos: os
Sumérios, os Acadianos, de língua semita, divididos em Assírios, ao Norte, e em
Babilónios, ao Sul. A produção artística ao serviço da sociedade desenvolve-se,
inspirada pela fé e pela religiosidade dos povos. Todo este cenário levou à construção
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
26
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
dos templos1 em honra dos deuses (Ilustração 2), através da qual podemos verificar a
utilização do pátio nas casas e no templo.
No Sul, as construções desses templos eram feitas com tijolos de argila, modelados e
secos ao sol. Como refere Moscati “ […] eram sobrepostos de maneira tão compacta e
maciça que raramente o muro aparece rasgado de janelas, que lhe comprometeriam a
compactidade […] ” (Moscati,1985, p.10). Neles, não existiam colunas com uma função
estrutural, apenas tinham funções ornamentais. As suas paredes apresentavam se
articuladas com saliências e concavidades e a luz dos espaços era obtida por meio de
aberturas no sofito. As portas de entrada eram de grandes dimensões, sendo a única
interrupção na continuidade das paredes.
Ilustração 2 - Templo e Casas, Arquitetura Mesopotâmica. (Daniel, 2014)
No que respeita à planta dos Templos:
O templo mesopotâmico começa por ser um único espaço retangular, que apresenta o
altar no lado mais pequeno e a mesa das oferendas diante dele (...) A entrada está
habitualmente num dos lados mais compridos, ou em ambos, na parte oposta ao altar.
No desenvolvimento posterior do santuário – que se inicia já no período pré-histórico -,
ao vão único são acrescentados ulteriores vãos e intervém o uso do pátio interior, regra
geral sobre um dos lados mais compridos da sala sagrada. (Moscati,1985, p.10)
O Pátio surge, então, integrado no meio de vãos de vãos dispostos à sua volta, sendo
o ponto de referência de um conjunto de habitações/salas. Este é completado por uma
“Local de culto, para que o deus possa comprazer-se e assegurar, em troca, o grande recurso necessário
á vida da região, ou seja, a água” (Moscati,1978:9)
1
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
27
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
cintura de muralhas, ficando isolado do resto da área citadina, sendo assumido como
um témenos 2.
Relativamente à arquitetura Romana, esta, esteve ligada, essencialmente, às
instalações urbanas e às exigências dos cidadãos. As suas construções caraterizamse, fundamentalmente, pela utilização correta dos materiais de construção, isto é, “ […]
de maneira a pôr em plena luz a evidência das relações de força entre os diversos
membros da estrutura.” (Tarella,1985, p.20)
Entenda-se por casa tipicamente romana, a domus Pompeiana (ilustração 3), a casa
com átrio. Esse átrio consistia num pátio central, onde se realizava o fogo doméstico e
eram dispostas à sua volta as restantes salas, quase sempre com uma rigorosa simetria.
Ilustração 3 - Exemplo de Domus Pompeiana, neste exemplo com peristilo (Wikipedia, 2014)
Após escavações em Herculano, Óstia e na própria Roma, surgiu uma variedade de
tipos de habitações. Sendo que a domus pompeiana continuou a ser fundamental numa
boa parte da civilização latina.
[…] pelo facto de ser encerrada em si própria por meio de altas paredes exteriores e de
se encontrar alinhada – na maioria dos casos – segundo uma orientação precisa, que
respeitava as exigências urbanísticas. Pela porta (ostium), rasgada para a rua, passa-se
por um curto pátio, ou seja, para o atrium, impropriamente traduzido por «átrio», com
uma abertura rectangular (impluvium) no alto, para o qual abriam as outras divisões.
(Tarella,1985, p. 23)
2
Palavra grega que designa a área sagrada, ou seja, pertencente a uma divindade.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
28
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Nesta casa a sala mais importante, destinada às principais funções da família, era o
tablinum. Esta sala estava disposta de modo a ficar alinhada com o corredor de acesso,
para lá do atrium.
Contudo, da Grécia veio uma modificação à planta da domus tradicional, um pátio com
colunas, o peristilo, que permitia um desenvolvimento articulado das divisões. A casa
podia compreender mais de um piso, aumentando, assim, o número de salas que se
abriam para o pátio/átrio e para a rua.
No contexto da Grécia Antiga, as casas mais primitivas, possuem estruturas domésticas
muito simples, de origem popular, onde a única abertura nos seus muros exteriores se
traduz ao vão da porta. Desta forma, toda a luz reservada à habitação era proveniente
do pátio, que surgia, assim, como o lugar ao ar livre completamente próprio, privado,
interior e é esta a sua essência.
Na época imperial, o aumento da população limitou a domus, a morada unifamiliar, às
classes privilegiadas. A resposta dos especuladores à necessidade de casas foram as
altíssimas insulae, edifícios com numerosíssimos apartamentos [...] origem da insula
continua a ser incerta. Pensa-se no Próximo Oriente, em particular na Síria. (Tarella
1985, p. 24).
Ilustração 4 - Exemplo de ínsula em Óstia, evidência da utilização do pátio para a composição das mesmas (Wiene, 2013)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
29
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
A insula (ilustração 4) tem os seus exemplos mais típicos em Óstia.3. Neste tipo de
habitação multifamiliar, o pátio servia de traço de união entre os diversos corpos da
edificação.
Em Herculano, a casa das Taipas assinala a passagem da habitação unifamiliar para
multifamiliar, esta faz parte da evolução da domus com átrio e peristilo, que usava uma
armação de madeira formando a alvenaria das paredes com bastante cal.
Nas duas superiores civilizações, no vale do Rio Nilo ou dos Rios Tigre e Eufrates, nasce
o meio que o muçulmano irá usar na área do Magreb. Pensa-se que a casa muçulmana
nasce aqui muito influenciada pela casa Egípcia que por sua vez é a transformação da
casa da civilização Caldaica, uma vez que o seu pátio não é mais do que um quintal,
logradouro ou conjunto de espaços descobertos, de utilidade lúdica ou de interesse
rural. A casa caldaica dá uma resposta, talvez mais imediata, mais natural, às
características climáticas da região e, por isso, talvez seja a origem desta casa pátio.
O muçulmano conheceu-a quando dominou a Mesopotâmia. Entendemos poder ter sido
o muçulmano, o berbere e o africano que terão trazido esta estrutura de habitação para
a Península Ibérica, nomeadamente para Portugal, estabelecendo-se a Sul do Tejo.
A composição da casa muçulmana é diferente da casa romana, já apresentada neste
capítulo, isto por por razões culturais e religiosas. Enquanto que o Romano abre a sua
casa, quando abre a porta que o separa da rua, a casa muçulmana apresenta a mesma
forma retangular e tem o mesmo pátio mas o efeito perspético da entrada não existe,
isto de modo a resguardar o centro da vida na casa, o seio familiar, da rua.
“Óstia talvez seja um dos mais preciosos testemunhos das insula. [...] onde as encontramos com sete,
oito andares de habitações independentes, atrás de fachadas com numerosas janelas rasgadas. As
divisões dos pisos térreos serviam para lojas, oficinas de artesãos e tabernas. As entradas davam para a
rua, os diversos edifícios eram ligados por um pátio interior.” (Tarella,1985,p.24)
3
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
30
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
No mundo árabe, na arquitetura islâmica, os dois elementos construtivos a destacar são
o arco4 e a cúpula, e os dois elementos construtivo-decorativos: iwan5 e as muqarnas6,
que as construções islâmicas, tanto religiosas como civis tinham em comum.
Na arquitetura civil islâmica, os palácios dos soberanos foram construídos, inicialmente,
na época Omeiade, no deserto, segundo uma planta com pátio interior (ilustração 5).
Com os Abássidas, vieram a ser construídos nas cidades e foram, muitas vezes,
agregados às mesquitas, mantendo, geralmente, a planta com pátio interior.
Ilustração 5 - Pátio dos Leões, Palácio de Alhambra (Wikipedia, 2014)
A casa de habitação islâmica variou em conformidade com as épocas e as regiões. Nas
ricas residências das dinastias Omeiade e Abássida subsistiram elementos deveras
reconhecíveis do período Sassânida, os quais, por sua vez, repetem para a estrutura
dos grandes palácios Partas. A residência senhorial Omeiade previa a existência de três
salas abertas para um dos lados do pátio. As casas abássidas, pelo menos em
“A arte islâmica desenvolveu muito dos arcos, que no decorrer dos tempos conheceu uma multiplicidade
de formas e de estruturas cada vez mais requintadas e fantasiosas.” (Mandel,1975,p.12)
4
O iwan […] era uma sala coberta com uma abóbada de berço, completamente aberta para um lado, no
qual o imperador administrava a justiça. (Mandel,1975.p.12)
5
[…] inicialmente serviam para ligar a calote da cúpula ao quadrado que a sustentava, através de nichos
angulares ou de aberturas. Estas foram depois transformadas numa serie de nichos com alvéolos e
estalactites, obtendo-se um efeito muito decorativo. (Mandel,1975.p.12)
6
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
31
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
determinadas zonas, eram muito mais amplas, com vários pátios interiores para os quais
abriam numerosíssimas salas, sendo uma delas um grande salão.
Como exemplo de casa do período islâmico podemos aqui destacar a cidade de Mértola,
localizada no Alentejo, nomeadamente a alcáçova de Mértola (Ilustração 6).
Ilustração 6 - Casas pátio do bairro de alcáçova, Mértola (Macias, 1996,p.71)
[…] com aproximadamente 4000m2 para a zona do antigo fórum romano e área
adjacente, albergava no seu interior um pequeno bairro que não deveria, no total,
exceder as três dezenas de habitações (...) As casas deste bairro desenvolvem-se em
torno de um pátio central, de indiscutível utilidade como fonte de iluminação e ventilação.
É em volta desse espaço que se organizavam os restantes compartimentos (átrio,
salões, cozinha, latrina e áreas de trabalho). (Macias,1996, p.69)
Todas essas casas se organizavam em torno de um pátio central descoberto, que
marcava de forma indiscutível, tanto um modo de conceção espacial como identificava
os hábitos culturais dos seus moradores. “Torna-se quase ocioso e desnecessário referir
a paternidade greco-romana […] destas casas, que estão presentes em qualquer bairro
das urbes helenísticas, vários séculos antes de Cristo”. (Macias,1996, p.73)
Esta tipologia é comum em inúmeras cidades islâmicas da mesma época, de forma
generalizada ao longo da Península Ibérica no séc. XII e XIII. As casas do bairro islâmico
de Mértola situam-se, por norma, ao fundo de becos sem saída, em vias que teriam
certamente carácter semiprivado ou, pelo menos, em áreas onde não seria vulgar
encontrar gente que ali não vivesse. Estas habitações de um só piso eram por norma,
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
casas encerradas em si, viradas para dentro, tendo raras aberturas ao exterior para
além da porta. A área da casa variava em função do espaço disponível e do estatuto do
proprietário.
Organizadas em torno de um pátio central, as casas da alcáçova de Mértola (Ilustração
7) dispunham, com pequenas variações, de idênticos compartimentos.
Ilustração 7 - Casas pátio do bairro de alcáçova, Mértola (in Macias, 1996, P. 70)
A entrada das casas era um local que merecia cuidado, nomeadamente a colocação de
portas da rua. Estas entradas estavam exatamente em frente às dos vizinhos,
organizando-se em dois pares. Umas das características mais marcantes destas
entradas relaciona-se com o reaproveitamento de materiais pertencentes aos antigos
edifícios de época romana do fórum, fragmentos de colunas e frisos em mármores foram
reutilizados como soleiras e marcavam o local de entrada.
A porta dava acesso a um pequeno átrio (satwan), antecâmara de entrada na habitação
e local destinado a proteger a intimidade dos moradores de olhares mais indiscretos da
rua. Este corredor de entrada, por vezes com duas ou três portas organizadas em
ziguezague e com diversos pontos em cotovelo, teve origem na arquitetura do mundo
clássico, era o local de receção da casa e para se tratar de negócios.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Os átrios ligavam sempre e somente ao pátio. As portas de acesso ao pátio tinham
dimensões maiores do que as portas da rua, o que mostra a importância que tinham
estes espaços no interior da casa. Estes eram peça fundamental da casa, fornecendo a
iluminação e a ventilação - o mais favorável às características climatéricas da região,
que favoreciam a reunião das pessoas nesse espaço.
O pátio desempenhava grande relevo no quotidiano da população, sendo o local de
trabalho das mulheres da casa e onde se confecionavam algumas refeições. A zona
central dos pátios pode ter sido, em certos casos, utilizada para cultivo de ervas
aromáticas. Quando o espaço central era ocupado por um tanque, destacava-se, com
frequência, um pequeno canal envolvente, delimitado por tijoleiras e ligado aos sistemas
de esgoto das casas. “A necessidade de escoar eventuais excedentes de água
causados pela chuva ou, com maior probabilidade, resultantes da limpeza do pátio,
apresenta-se como hipótese de funcionalidade mais logica para este sistema […]”.
(Macias,1996, p.86).
Os pátios tinham um sistema complementar para resolver este problema, pois nenhum
deles estava completamente nivelado, de modo a que as águas pluviais pudessem ser
escoadas.
Eram normalmente ladrilhados, sendo também características comuns o facto de nunca
confinarem diretamente com a rua, podendo fazê-lo com outras casas, ou com outros
pátios. Estes desempenhavam um lugar de destaque no âmbito das habitações, pelo
seu posicionamento central, pelo facto de desembocarem a praticamente todos os
compartimentos da casa, por serem ponto de iluminação, local de trabalho e lazer, e por
ser à sua volta e no seu interior que a vida se desenrolava. Estes eram também os
compartimentos de maiores dimensões da casa.
Por desempenharem um papel de maior importância (como núcleo fundamental da
atividade domestica) no contexto da casa, os pátios foram as zonas que mais
remodelações sofreram ao longo dos tempos, o que é visível em particular nas
repavimentações e reparações identificadas pela arqueologia (Ilustração 8).
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 8 - Casas pátio do bairro de alcáçova, Mértola, Pátio (Macias,1996, p.84)
Ao longo do tempo, o conceito tradicional de casa-pátio da antiguidade continuou a usarse, nascendo, na Idade Média, um novo elemento estruturante dos edifícios, o Claustro,
que surge associado às catedrais e, principalmente, aos mosteiros. O pátio deu lugar
ao claustro (Ilustração 9), uma galeria abobadada em torno do pátio que integra os
mosteiros (no centro), sendo frequentemente ajardinados, possuindo, muitas das vezes,
um lago ou uma fonte. Protegem ainda os seus habitantes do encontro e do ruído do
mundo exterior. A claridade e a obscuridade da zona aberta e da zona coberta convidam
ao silêncio e à meditação.
Contudo, é no período do Renascimento que o pátio parece atingir o seu máximo
protagonismo na organização da casa, produzindo arquiteturas espacialmente intensas,
como é o caso dos palácios, que eram ordenados em torno de um pátio central. Na sua
maioria, foram concebidos tendo como base o quadrado, cubos sólidos, de tendência
horizontal e com não mais de três pisos.
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 9 - Claustro do Mosteiro dos Jerónimos (Wikimedia, 2012).
A partir do século XVIII, e até mesmo no século XIX, produziu-se a substituição dessa
organização em torno do pátio ou claustral. Durante a evolução da arquitetura moderna,
o pátio foi-se libertando das suas condições originárias através de novas tecnologias de
construção, novos materiais, novos usos e hábitos culturais.
Esse pátio possuí características modernas que se baseiam nas condições e premissas
tipológicas de uma mudança da unidade arquitetónica básica que deixa de consistir
apenas num edifício isolado e passa a ser parte de um conjunto construtivo, não
esquecendo, contudo, que as premissas originárias do pátio se mantêm e adaptam à
época moderna, numa representação de uma qualidade espacial e na relação com o
mundo exterior, aumentando a qualidade de vida em zonas urbanas, tanto no espaço
íntimo da casa pela captação de luz, como numa visão mais urbana, proporcionando
uma forma de habitação mais natural na densidade de construção da cidade.
Podemos, assim, dizer que sob uma perspetiva histórica, o pátio albergava as mais
diversas atividades.
Tipologicamente, as casas-pátio divergem no que respeita à comunicação (luz e acesso)
entre o pátio e os espaços ou divisões contíguas.
No que respeita à configuração física, segundo Alves, citado por Neves (2012) é
possível classificar, de uma forma geral, dois tipos distintos de pátios:
O pátio externo, espaço externo e descoberto, anexo a um edifício e o pátio interno,
espaço interno e descoberto, envolvido pelo corpo de um ou vários edifícios (...) possui
fechamentos laterais, limites físicos, seja o próprio corpo edificado e/ou muros. Mas,
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
sempre descoberto, desnudo, relacionando-se directamente com a abóbada celeste e,
consequentemente, com todas as manifestações climáticas. (apud Alves, 2005, citado
por Neves, 2012, p. 22)
Na casa-pátio, o pátio surge como elemento unificador e ordenador conferindo a
ordenação estrutural e o aspeto visual, da mesma. O edifício torna-se indissociável do
pátio e vice-versa, situação que, como verificámos neste capítulo, se repete desde o
conhecimento da utilização deste tipo de casa, até á modernidade.
Tanto a casa grega como a casa romana caracterizavam-se pela organização em torno
de um pátio sobre o qual se abriam os aposentos, o que, simultaneamente, permitia que
se restringissem as aberturas para o exterior, conferindo deste modo, segurança e
privacidade. Razão que levou a que no nosso século, particularmente no período entre
as grandes guerras, a tipologia viesse a surgir, novamente, como a melhor resposta
para a segurança e privacidade, surgindo como um elemento de defesa.
Segundo os autores Cambi, Di Sivo e Steiner (1992), as casas com pátio distinguemse, das casas geminadas e das casas unifamiliares isoladas, pela disposição em volta
de espaços descobertos privados e por falta de aberturas ao exterior, o que permite
formar tecidos compactos. Também têm algumas semelhanças com distintas formas de
casa individual, utilizadas nas várias épocas históricas, sendo, de facto, as mais
conhecidas - as casas com átrio da época romana e as domus de Pompeia e Herculano.
A análise do processo tipológico e dos estudos da história da construção demonstraram
a continuidade entre os tipos residenciais tardo-romanos e as distintas formas de
edificação com pátio, difundida até finais do Séc. XVI, em algumas regiões italianas que
apresentam traços característicos. Encontram-se também tipos de construções
semelhantes nos países mediterrânicos (Ilustração.10 e 11), onde as condições
climatéricas e o contexto social e religioso asseguraram a sua sobrevivência até
influências europeias terem quebrado o seu isolamento cultural.
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 10 - Domus Romana (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992, p.7)
Os autores referem, ainda, que nos textos publicados desde os anos cinquenta e que
mostram a divulgação da investigação racional sobre a casa, em toda a Europa, a casa
com pátio apresenta-se, por vezes, junto dos seus antecedentes históricos da seguinte
forma: casa com átrio da Antiguidade clássica (ilustração 10) e casas com pátio de
diversas culturas (ilustração 11). Isso produziu uma superposição de termos que,
expressam a intenção de adaptar aos diferentes contextos culturais os protótipos
estudados entre as duas guerras, no sentido que “ […] el mismo tipo de casa se llama
de maneras diversas según los precedents y los oríges a los que se quiere hacer
referencia.”7 (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992, p. 7).
7
o mesmo tipo de casa é chamado de maneiras diferentes segundo os precedentes e origens a que se
queira fazer referencia (tradução nossa)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 11 - Casa unifamiliar muçulmana. (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992, p.7)
Desde as edificações civis e templos mesopotâmicos, das casas de Pompeia, e
Herculano às insulae de Óstia, dos palácios das grandes dinastias árabes, aos
pequenos aglomerados urbanos árabes como o conhecido em Mértola, desde os
grandes claustros dos mosteiros até às casas unifamiliares do séc. XX, todos eles têm
um denominador comum, o pátio como gerador e organizador dos espaços que o
rodeiam e que para ele se abrem, o pátio como centro da casa, como centro da vida na
casa (Ilustração12, 13,14).
Ilustração 12 - Casa com Pátio, Mies Van der Rohe (Cambi, Di
Sivo e Steiner, 1992, p.11)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 13 - Casa com Pátio, Mies Van der Rohe (Cambi, Di
Sivo e Steiner, 1992, p.11)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 14 - Pavilhão Chines com Pátio (Cambi, Di Sivo e Steiner, 1992, p.7)
2.2. PÁTIO E TERRITÓRIO
Após esta investigação, podemos dizer que a região do Alentejo, assim como a sua
cultura, absorveu bastantes referências das civilizações primitivas que por ali passaram
e se fixaram. Desde as tribos primitivas, à cultura romana, muçulmana e, mais tarde,
cristã, todas elas deixaram o seu cunho que, como poderemos verificar ao longo deste
subcapítulo, influenciaram tanto a arquitetura nas suas aldeias, nas casas na urbe, como
no monte no cabeço, no meio rural, assim como vários costumes e tradições desta
região do Sul de Portugal.
Neste subcapítulo vamos, então, descrever a arquitetura popular alentejana tanto da
casa, situada nas aldeias, vilas e cidades, como do monte, situado no cabeço rural, na
colina do território agrícola, e de que modo o pátio, como maneira de arquitetar,
influenciou a arquitetura desta região.
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 15 - Paisagem Alentejana, Terra e Água, suaves ondulações no território ( Mattos, 2012)
Pertence a zona a um gigantesco anfiteatro de face voltada para o Atlântico, até onde
desce em largos plainos, num jogo subtil, de vastas e suaves ondulações, que lhe dá
horizontes recuados. Não lhe falta, aqui e ali, a cortina brusca, mas sempre modesta, de
alguma serra que acrescenta à sua beleza própria a nota de imprevisto e à sensação de
planura o instrumento de contraste (GEORGE; GOMES; ANTUNES, 1988, p. 3)
(ilustração 15)
O Alentejo ocupa cerca de um terço do território Português e é constituído por extensas
planícies secas, sendo uma região de pouco relevo orográfico e de pouca densidade
populacional.
Importa aqui focar as principais características desta região e todas as influências
naturais que incidem na sua estrutura habitacional, uma vez que a casa popular é
expressão do clima, natureza e cultura da região em que se insere, apresentando
características claras que a definem.
O clima mediterrânico-continental é caracterizado por um estio bastante regular, quente
e seco e o resto do ano instável, com predominância de chuvas fortes no inverno. Tem
importância direta sobre as habitações, onde é utilizado o emprego da cal branca,
exterior e interiormente, e a quase ausência de aberturas para o exterior, como meio de
defesa contra a luz e o calor. Os terrenos são, sobretudo, de constituição paleozoica e
granítica.
(…) sempre mais aberto a influências exteriores que penetravam normalmente pela
planície, mostrou maior receptividade ao invasor (...) A especificidade civilizacional do
Sul tem sido desde sempre acentuada e sublinhada e a região constitui o cadinho onde
se caldearam as referencias mais díspares: fenícios e cartaginenses, que já antes dos
romanos influenciaram a caracterização urbanística das povoações meridionais;
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Túrdulos e celtas, que também potenciaram o desenvolvimento urbano.” (Correia,1994,
p. 32,33)
A conquista Romana, com início a 218 A.C., foi um dos fatores de civilização mais
poderosos na Península Ibérica e, de entre os outros povos que aqui deixaram marcas
do seu viver, foram os romanos que mais radicalmente influíram na formação e
caracterização do espaço português. O povo romano deixou nesta região inúmeros
vestígios, mas o domínio árabe veio alterar o povoamento primitivo. No entanto, no seio
das aldeias alentejanas, o modo de urbanizar ainda se mantem como as origens
romanas, apesar de existirem tanto na construção como na própria arquitetura, vestígios
da herança muçulmana.
A casa tradicional alentejana possui poucas janelas e de dimensões reduzidas, não
havendo aberturas frontais, além da porta de entrada. Não possui varandas, alpendres
e escadas exteriores (embora em muitas casas existam 3 ou 4 degraus nas entradas).
O pavimento é normalmente de tijoleira, ou de lajes de xisto e o telhado, de pouca
inclinação, é normalmente de uma só água (ilustração 16). Sendo, porém, muito
frequentes também, os telhados de duas águas de um único cume assente sobre a trave
mestra, as casas são constituídas, em muitos casos, por dois telhados de uma só água
encostados um ao outro, a partir de uma parede alta, situada a meio do edifício. Isto é
particularmente evidente em certos casos, de resto muito frequentes, em que esses dois
telhados se apoiam em paredes contíguas mas de alturas diferentes.
Esta casa é normalmente plana, de planta retangular simples, de um só piso térreo.
Facto que se explica pela natureza do material corrente de que ela é feita, cuja
fragilidade não consentiria uma edificação elevada, mas relaciona-se, certamente, com
a sua especialização funcional caraterística, uma vez que serve “[...] exclusivamente à
habitação das pessoas, que a ocupam inteiramente, ficando os celeiros, palheiros,
currais e outras dependências de lavoura em edifícios próprios e independentes”.
(Oliveira; Galhano,1992, p. 152)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 16 - Alentejo, Plano de rua, onde se evidência a importância da chaminé, e os poucos vãos das fachadas (Oliveira, Galhano,
1992, P. 161)
No interior da casa, podemos dar destaque à cozinha, podendo ser considerada a
divisão principal (ilustração 17), pois esta assume uma função de destaque nesta região.
Nesta divisão, encontramos ” […] um tempo cozinha, sala de estar, de trabalhar, onde
se recebe quem chega de fora, etc.“ (Oliveira; Galhano,1992, p.153)
Segundo Pinheiro, o pátio que sempre fez parte da arquitetura da região,”[…] não se
manteve como característico da arquitectura da casa Alentejana […] A cozinha passou
a ser “o pátio muçulmano” […] é ali que o alentejano vive quando está em família”.
(Pinheiro, 1997, p.282)
A cozinha é a principal e maior divisão da casa, é nessa divisão que a família convive,
que passa o serão, onde se recebem as visitas e onde se situa a lareira que aquece a
casa e que serve para cozinhar e aquecer os pratos, cafés nas chocolateiras, onde se
colocam os enchidos em fumeiro, isto no sentido mais caseiro desta produção de
alimentos.
A lareira e respetiva chaminé são elementos arquitetónicos muito importantes, visto que
além da sua importância para o interior da habitação, a chaminé é, também, um dos
elementos, ou talvez o único, da ornamentação exterior da fachada e do volume do
edifício, compondo não só o edifício em si, mas também as ruas compostas de várias
casas, com as grandes e vistosas chaminés, ou seja, é o elemento que dá caráter a
este volume quase em tudo semelhante ao muçulmano, que surge como elemento
unificador, criador da harmonia do edifício e dos conjuntos de edifícios que definem a
rua.
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 17 - Casa Alentejana, onde se evidencia a utilização de duas águas, no telhado, e onde se verifica a importância da cozinha
e da chaminé na composição da casa (Associação dos Arquitetos Portuueses, p.98)
Esta casa mantém segundo Pinheiro, “ […]a combinação de volumes puros da
arquitetura muçulmana e […] traz para a sua fachada, com pequenas fenestrações, a
interpretação singela do “muro muçulmano”[…] ”. (Pinheiro, 1997, p.282)
Contudo, ao falarmos de casa alentejana, devemos distinguir dois grupos de
construções, a que predomina nos aglomerados populacionais cujo objetivo é a
habitação, a casa urbana já referida neste capitulo e a que existe nos montes, a casa
rural, isolada, e que está destinada à exploração agrícola (ilustração 18).
O monte é formado pelas edificações de apoio agrícola e a casa do lavrador. A
construção é de um só piso térreo, de planta retangular, com paredes bastante grossas,
em alvenaria de tijolo maciço ou taipa, o chão de xisto ou tijoleira, com uma grande
cozinha, grande lareira e respetiva chaminé, com forno e poço exterior. A casa do
lavrador é também de um só piso térreo, planta retangular ou quadrada, apresentando
várias divisões (sala de fora, cozinha interior e cozinha exterior, vários quartos,
dispensa, arrumos, amassaria, etc.), isto no monte do grande senhorio.
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 18 - Serpa, Monte da Cascalheira, onde se evidencia a estrutura composta em volta do pátio central (Oliveira, Galhano,
1992, P. 154)
A estrutura do monte alentejano nada tem a ver com a civilização muçulmana, “ […] na
realidade, o monte alentejano aparece com a ruralização do Alentejo, palavra que o
muçulmano “pretendia” não conhecer, dadas as suas características urbanas.”
(Pinheiro,1997, p.282) Uma vez que, como se entende pelo desenvolvimento do
subcapítulo anterior, o pátio é um denominador comum a todas as civilizações ligadas
ao mediterrâneo, no entanto, a sua função, dentro da composição arquitetónica, tem
muito a ver com questões sociais e culturais. Nesse sentido, entende-se este monte
alentejano como intimamente ligado ao complexo rural romano, politeísta e cristão, que,
como referido no capítulo anterior, utilizava, na composição das suas villas, o pátio como
elemento central e unificador do edifício e seus espaços.
O monte Alentejano tem como local de implantação o sítio mais alto do terreno, da
colina, isto pelo facto de nessa localização se poder visualizar todo o terreno ou toda a
envolvente.
Tendo como forma o quadrado, a sua organização espacial é em torno do pátio central.
Essa forma quadrada simboliza, o perfeito ordenamento, com o pátio interior
absorvendo a filosofia de uma estrutura rural que, como acima referido, é bastante usual
na cultura romana, e é sobretudo o reflexo da vida e paisagem humanas.
O monte compreende as habitações, cavalarias e palheiros, armazéns para recolha de
gado, produtos e material agrícola, normalmente de formas geométricas simples e de
carácter térreo (ilustração 18) e que “ […] aberto à vastidão das searas, é um exemplo
muito certo do tipo complexo de casa pátio aberto, que traduz a vida da terra e se ajusta
perfeitamente às condições da grande propriedade […] “ (Oliveira; Galhano,1992, p.169)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 19 - Monte, Herdade da Terrosa, Estremoz, exemplo da disposição dos equipamentos do monte em torno do pátio central,
centro de todo o equipamento (Oliveira, Galhano, 1992, p. 168)
Relativamente à decoração, no Baixo Alentejo, a sua origem provém de várias vertentes,
no entanto, o carácter fundamental é a continuidade branca da fachada.
Os volumes são geometricamente simples, com formas básicas, com aspeto sólido e
compacto.
Definem-se pelos grandes contrafortes construtivamente necessários que criam ritmo e
cortam a monotonia do grande plano de parede. Arcos cegos emolduram portas ou
janelas e nichos toscos, na sua execução, emolduram as paredes. (Pinheiro, 1997,
p.287)
As paredes são, normalmente, bastante grossas, com uma espessura mínima de 45 cm,
isto, fundamentalmente, devido à utilização da taipa 8, ou do tijolo de burro, maciço, feito
em argila, ou seja, com materiais da região.
8 “A taipa era enformada entre “taipais” de madeira com uma dimensão de aproximadamente 2m, entre os
quais a massa é posta e batida com “malhos”. Os troços são executados horizontalmente e as paredes têm
uma espessura mínima de 45 cm.” In Pinheiro (1997,p.292)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
A brancura das paredes é obtida através do uso da cal branca, material de revestimento
que, de certa forma, uniformiza toda a construção (ilustração 20).
Mas o Alentejo não é só brancura e cal nas paredes, há texturas bem mais expressivas,
mas mais difíceis de descobrir, pois, geralmente, os materiais são rebocados a
argamassa de cal e perdem as texturas. Seja como for, a verdade é que uma parede de
um material tradicional, caiado ou não, tem personalidade, tem expressividade, tem a
força da arquitetura alentejana.” (Correia,1994, p.58)
Ilustração 20 - Alentejo, plano de rua, exemplo da expressividade dos materiais utilizados, com ou sem a cal a revestir
2.3. PÁTIO E AIRES MATEUS
Ao percebermos o conteúdo da arquitetura popular alentejana, vamos passar a
descrever, sucintamente, as influências dos arquitetos Aires Mateus de forma a
entendermos a origem da sua escola arquitetónica, bem como se caracteriza o seu
modo de projetar. Salienta-se, assim, a casa pátio e a importância que lhe é conferida
enquanto espaço/elemento habitacional, revelando de que modo a arquitetura
alentejana influenciam, claramente, no seu modo de arquitetar/projetar.
No início do milénio em que, segundo Fernandes e Cannotá, (2001, p.15) a “[…]
velocidade, aceleração, decomposição, choque, fragmentação, sectorização e
diversidade[…] “ são conceitos que demonstram uma sociedade agarrada às novas
tecnologias de comunicação, que permitem uma globalização da informação tanto
eletrónica como visual, o que cria uma imagem de, de acordo com os autores referidos
neste parágrafo, um mundo sem forma e decomposto que se verifica tanto na produção
de obras arte como na própria arquitetura. Interpretada segundo Fernandes e Cannotá
(2001, p.15) como a “[…] arte que serve o homem[…]”.
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
É neste contexto, aqui muito simplificado, que surge o atelier dos arquitetos Aires
Mateus; a sua escola e influências; o seu tipo arquitetónico, tanto a nível conceptual
como na formação do projeto final, assim como a importância do Pátio na formação do
projeto, tanto de equipamentos como da casa.
Pertencentes à terceira geração de arquitetos do século XX, introduziram “ […] na
cultura arquitetónica portuguesa, durante a década de 90, temas, de certo modo,
estranhos à pesquisa unitária que Fernando Távora, Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura
vinham a desenvolver.” (Castro,2008, p.179)
Geração que “[…]fecha o último século e que está marcada pelo rompimento inexorável
das fronteiras culturais e disciplinares [...] onde talvez só os princípios e os fins
permanecem imutáveis no legado recebido de gerações anteriores” (Fernandes;
Cannotá, 2001, p.241).
Percebe-se perfeitamente, na maioria dos seus projetos realizados, as influências das
figuras conceituadas da arquitetura portuguesa, pelos conceitos neomodernistas e
minimalistas presentes na sua obra, no agarrar dos seu projetos ao território e á cultura
local do mesmo, no entanto o seu cunho pessoal, o seu modo de pensar a arquitetura
é bem visível em cada uma das suas obras, criando quase um estilo próprio só seu.
Na verdade, os ateliers de Fernando Távora, Álvaro Siza, Eduardo Souto Moura,
Gonçalo Byrne ou carrilho da Graça têm servido de autênticas “escolas de formação”
para a maioria dos arquitetos novos arquitetos que seguiram carreiras próprias na última
década, isoladamente ou em dupla. Assim aconteceu, entre outros, com Elisiário
Miranda e Carlos Martins, Cristina Guedes e Francisco Campos, Paulo Providência e
José Fernando Gonçalves, Manuel e Francisco Aires Mateus, Inês Lobo ou Ricardo Back
Gordon“ (Fernandes; Cannotá, 2001, p.24).
Para os arquitetos Aires Mateus, o ponto de maior interesse é, precisamente, a atividade
de caracter conceptual, da investigação e da experimentação, onde “ […] cada projeto
é entendido como uma nova possibilidade o qual nos interessa a maneira como o projeto
pode ser potenciado num limite qualquer ” (Baptista; Ventosa, 2007, p23).
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 21 – “A Cidade dos Príncipes”, pintura de Nadir Afonso, Arquiteto, Pintor, Artista abstrato, importância da arquitetura na
pintura do autor (Afonsor, 2014)
Ou seja, onde a experimentação ocupa um carácter central, onde o erro é bem-vindo,
onde a investigação é o centro, uma ideia de arquitetura aproximada do campo da
experimentação artística, da obra de arte, onde a arquitetura, a escultura, pintura, etc.
se unem para a criação do projeto (ilustração 21), como diz o próprio Manuel Aires
Mateus “Já não têm utilidade as definições clássicas da diferença entre a arquitetura e
a escultura, porque são bastante redutoras.” (Baptista; Ventosa, 2007, p25) (ilustração
22)
Ilustração 22 - RADIX, Bienal de Veneza 2012, Escultura dos Arquitetos Aires Mateus, fotografia por Saleh, 2012 (Basulto, 2012)
Neste processo de investigação, os Aires Mateus conseguem abstrair-se, de certa
forma, dos componentes secundários da arquitetura, isolando uma ideia conceptual que
procuram explorar e ultrapassar os seus limites na conceção da obra (ilustração 23).
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 23 - Cabanas do Rio, Aires Mateus, fotografia por Garrido, 2013 (Frearsoon, 2013)
[…] para que a arquitectura encontre uma autonomia que está para lá do aspecto
programático ou construtivo […] encontrando na abstração o suporte linguístico que lhes
permite traduzir com rigor o sentido conceptual que pretendem transportar para
objectivos arquitetónicos (Adrião; Carvalho, 2007, p.71)
No entanto, segundo o próprio Manuel Aires Mateus, esse carácter de experimentação
só foi tomado com consciência do interesse conceptual das propostas a partir do projeto
da casa de Alenquer, estando ainda os seus primeiros trabalhos muito conotados,
formalmente, com outros arquitetos portugueses como Álvaro Siza, Souto Moura,
Carrilho da Graça.
Nesta fase, considerada inicial, do seu percurso, as obras mais relevantes, foram a
Residência de Estudantes do Campus II da Universidade de Coimbra (1996-99)
(ilustração 24) e a Reitoria da Universidade Nova de Lisboa (1998-01) (ilustração 25),
que ainda se encontram bastante conotados com a arquitetura de autores como
Fernando Távora, Álvaro Siza e Souto Moura.
Ilustração 24 - - Reitoria da Universidade Nova de Lisboa
(1998-01), (Wikipedia, 2014)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 25 - Residência de Estudantes do Campus II da
Universidade de Coimbra (1996-99), (Loko, 2012)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Foi, portanto, um percurso necessário onde a aprendizagem relativa à construção teve
um carácter central. Esse percurso conclui-se na reitoria da Universidade Nova de
Lisboa, sendo um momento de viragem. “ […] A casa de Alenquer é a primeira a ser
construída nessa nova fase. Depois, com a casa de Azeitão, percebemos que esta
condição de investigação era possível.” (Baptista; Ventosa, 2007, p23)
Ilustração 26 - Maqueta, Casa em Alenquer (Otxotorena, 2003, p. 13)
Efectivamente foi um momento de viragem no percurso de maturação desta dupla de
arquitectos. O Alenquer foi decisivo, sendo que o seu processo durou muito tempo, ao
longo do qual as condições iniciais mudaram, revelando inesperadamente novas
circunstâncias de projecto sobre as quais surgiu a necessidade de começar de novo.”
(Vita, 2013, p.26) (ilustração 26)
Ao entendermos o contexto da sua formação, onde se inserem as diferentes fases
conceptuais do percurso, a importância da investigação e da abstração na conceção do
projeto, passamos agora a apresentar, sucintamente, algumas obras dos Arquitetos
Aires Mateus, obras essas em que a utilização do pátio na evolução do projeto se
evidencia e em que a arquitetura se foca na realização de projetos de casas.
A casa em Coruche data de 2006 (ilustração 27). O projeto realizado pelo arquiteto
Manuel Aires Mateus tem uma forma fascinante de abordar o tema casa, onde a
premissa principal é a casa com sabor tradicional com quatro paredes e o respetivo
telhado de 4 águas.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
51
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 27 - Maqueta, Casa em Coruche, (in Baptista; Ventosa,2007, P.50)
De uma forma clara, o projeto consiste na abstração dessa forma tradicional,
desconstruindo-a, onde todas as premissas permanecem imutáveis, as linhas principais
são mantidas como uma memória das mesmas. Esta abstração é conseguida através
do carácter monomatérico do edifício, paredes e cobertura, todas revestidas de branco,
sugerindo um bloco compacto.
O elemento principal desta casa, o que dá vida à mesma e o principal responsável pela
desconstrução do volume puro, dando-lhe a verdadeira essência da vida na casa, é o
pátio (ilustração 28), o centro da casa, rasgando o volume puro e, como referido
anteriormente, deixando a memória das principais arestas.
Todos os principais espaços, cozinha, sala, quarto principal e sala de crianças, abremse para o pátio, sendo através do mesmo que recebem iluminação, desenvolvendo,
desta forma, uma relação íntima com o exterior sem se exporem aos olhares da rua. Os
acabamentos são tradicionais, brancos, com o chão em soalho à antiga portuguesa. Os
espaços de serviços, ou de transição, que se localizam entre os espaços principais e o
muro exterior teriam outro acabamento que iria evoluir na obra.9
In Arq./a, Fevereiro 2007, notas de autor: “Procurava-se nesta casa um “sabor tradicional”. Leu-se nesta
ideia um preconceito de forma. Procurou-se encontrar o limite de existência de uma forma. O volume em
quatro águas é tornado abstracto, monomatérico, branco, paredes e cobertura. Um pátio é rasgado
deixando a memória das arestas. Neste pátio abrem-se também os vãos dos quatro espaços principais:
cozinha, sala, quarto principal e uma sala de crianças, para a qual dão as alcovas. A casa tem formas
reconhecíveis e acabamentos tradicionais, brancos com chão em soalho à antiga portuguesa. Os espaços
9
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 28 - Plantas e Cortes, Casa em Coruche (in Baptista; Ventosa,2007, P.50)
A “Casa Flor” (ilustração 29) situa-se no interior de um pinhal, perto da Aroeira, onde se
abre ao olhar um largo que inesperadamente deixa sobressair um raso muro branco.
Ilustração 29 - Casa na Aroeira, vista do acesso á moradia (in Vita, 2013, p.75)
Com uma cobertura plana e larga, à primeira vista não se consegue perceber com
exatidão a forma, o volume, da casa, como uma obra de arte e, como em toda a obra
dos arquitetos, a arquitetura e a escultura unem-se.
Como estando em frente a uma escultura, é necessário circundá-la para perceber
completamente o seu aspecto e a sua razão de existir. Apenas seguindo o caminho, que
lentamente se aproxima da habitação, a forma da casa se torna mais clara: o raso muro
de transição desenhados entre os espaços principais e o muro exterior terão outros acabamentos que se
descobrirão na obra.”
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
branco ergue-se até assumir a altura das paredes e, finalmente, o maravilhoso pátio
abre-se e revela-nos a essência do volume.” (Vita; 2013; p.74)
A forma do volume deriva da morfologia hexagonal dos lotes contíguos e segue os
limites da propriedade. O pátio exterior, para onde todos os espaços interiores se abrem,
funciona como o elemento central de toda a habitação que o envolve, como um muro,
que protege a privacidade da vida na casa, abrindo-a para o bosque dos pinheiros e
separando-a das habitações mais próximas.
Ilustração 30 - Casa na Aroeira, vista para o pátio (in Vita, 2013, p.75)
O pátio é, efectivamente, o centro da vivência da casa […] que assume a característica
forma de flor, é resultante de sobreposição de três linhas de confim, que definem o
conjunto: o limite interior dos muros perimetrais, o limite da cobertura e o limite da
varanda em madeira que une as aberturas dos quartos para o pátio.” (Vita, 2013, P 74)
(ilustração 30)
Os espaços interiores principais, sala, cozinha, quartos, são separados pelos espaços
de serviço, casas de banho, dispostas de forma radial (ilustração 31) em relação ao
centro do pátio, compondo e separando os espaços segundo os diferentes níveis de
intimidade.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 31 - Casa na Aroeira, Planta e corte (in Vita, 2013, p.77)
A casa em Leiria (ilustração 32) caracteriza-se, à primeira vista, pelo seu volume denso
e monomatérico, obtido através do branco empregue quer nas paredes quer na
cobertura e nas suas formas geométricas simples, sintetizadas que nos leva “ […] às
nossas memórias infantis que temos da casa: desenhada por duas paredes e um
telhado inclinado.” (Vita,2013, p. 73)
Ilustração 32 - Casa em Leiria, vista onde se evidencia a importância dos pátios (in Vita, 2013, p.70)
Aqui, nesta casa, como em quase todos os projetos de casas dos arquitetos Aires
Mateus, o pátio atinge um carácter central, sendo que a casa se fecha à sua envolvente,
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
abrindo-se apenas em alguns pontos estratégicos, de onde se contempla apenas o
castelo de Leiria, pontos esses que são preenchidos pelos vazios obtidos pelos pátios
(ilustração 33).
Ilustração 33 - Casa em Leiria, Maqueta onde se verifica que a casa nasce no subsolo e a importância do pátio para a iluminação,
(Figueiredo, 2012)
A casa nasce através do subsolo (ilustração 34), por forma a resolver o problema da
justa relação entre a extensão do terreno e a dimensão da casa, onde reside a maior
parte da habitação, as zonas privadas, os quartos, principal, individual e das visitas, que
obtêm iluminação através dos pátios privados, o que lhes permite desenvolver uma
relação direta com o ambiente exterior e com o céu.
Ilustração 34 - Casa em Leiria, Cortes, onde se verifica a importância dos pátios e a alteração da forma do mesmo ao longo do edifício,
(desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Os restantes espaços da casa, sala de estar e de jantar, cozinha e quarto das visitas,
desenvolvem-se ao redor do pátio central, que atravessa toda a habitação de uma forma
vertical, chegando a todos os pisos, no entanto “ […] assumindo em cada um uma
geometria e dimensão diferente. O pátio para além de cumprir a função de poço de luz,
garante uma relação visual entre os espaços a níveis diferentes […]” (Vita,2013,p.72),
garantindo, assim, uma relação visual entre todos espaços interiores (figura 35).
Ilustração 35 - Casa em Leiria, Vista do pátio central, do piso inferior para o térreo, onde se verifica a relação visual entre os espaços
(in Vita, 2013, p.73)
Podemos então considerar que, no modo de pensar a arquitetura dos Aires Mateus,
além das influencias da pesquisa unitária, das grandes referencias dos arquitetos
portugueses de renome como Fernando Távora Álvaro Siza, Souto Moura, nos seus
conteúdos minimalistas, abstracionistas e de complexa relação com o território, existe
também uma grande influência da arquitetura alentejana, isto evidencia-se pelos tipos
de formas utilizadas, sempre muito elementares, de formas geométricas simples e
tradicionais, pelas fachadas completamente brancas, como se fossem caiadas, pouco
ou nada ornamentadas, pelas espessura das paredes, que se assemelham às paredes
grossas de taipa ou de tijolo maciço, para além da relação peculiar com a envolvente.
No entanto, estes arquitetos não deixam de inovar e melhorar estes instrumentos, que
lhes são dados por estas influências, oferecendo-lhe o seu cunho pessoal, inovando e
conferindo uma nova qualidade à arquitetura desta região alentejana, que vamos passar
a analisar, mais em pormenor, no próximo capítulo “Pátio e Referência”, através da
apresentação de três obras, tais como, a casa em Alvalade do Sado, a Casa Barreira
Antunes, em Melides, e a Casa na quinta da Fontinha, também em Melides.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
3. PÁTIO E REFERÊNCIA
3.1. CASA EM ALVALADE DO SADO
Ilustração 36 - Alvalade do Sado, Paisagem Alentejana onde se verificam as suaves ondulações do terreno e o pontilhar dos carvalhos
(in Otxotorena. 2003, p. 16))
[…]a parcela es infinita, un terreno de suave ondulación punteado por alcornoques. El
proyecto surge como un punto en el paisaje, un cuadrado mínimo. El programa extenso
obliga a proximidades y distancias como en un labirinto. Los espácios se organizan en
dos grupos; espácios de apoyo (despensa, cuartos de baño y circulaciones) y zonas
principales (salones, cocina, dormitórios y pátios). Las de apoyo se disponen como un
“muro habitado”, entre paredes que contienen un espácio y un macizo total. Las zonas
nobles se diseñan una a una, cubiertas o descubiertas, y se relacionan entre sí a través
de los muros/caminos que crean largas perspectivas. Caminhando a través de la casa,
perspectivas semejantes varían com la acción del espácio y la luz.” 10 (Otxotorena. 2003,
p. 16) (ilustração 36)
A casa situa-se no Alentejo, mais precisamente em Alvalade do Sado, sendo um projeto
que não chegou a ser construído, data de 1999-2000, elaborado pelos arquitetos Manuel
Aires Mateus e Francisco Aires Mateus, com a colaboração de Rodolfo Reis Dias, Jorge
P Silva, Maria Victoria Diaz Saraiva e Carla Leitão.
Num terreno imenso, com características de zonas tipicamente alentejanas, com suaves
ondulações, onde surgem aqui e ali árvores (neste caso carvalhos), o projeto do
O lote é “infinito”, um terreno de ondulação suave pontuado por sobreiros. O projeto surge como um
ponto no território, um mínimo, um quadrado. O programa muito extenso obriga a proximidades e distâncias
como um labirinto. Os espaços organizam-se por dois grupos: os espaços de apoio -arrumos, instalações
sanitárias e circulações; os espaços principais – salas, cozinha, quartos e pátios. Os espaços de apoio são
dispostos como um “muro habitado”, entre paredes que contém um espaço e um maciço total. Os espaços
principais desenham-se um a um, cobertos ou descobertos, e relacionam-se entre si através dos
muros/percursos, criando longos enfiamentos. No percurso através da casa, perspetivas semelhantes
variam pela ação do espaço e da luz. (tradução nossa)
10
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
arquiteto Manuel Aires Mateus surge, com uma forma abstrata, como um pequeno ponto
branco na imensidão da paisagem alentejana.
Este projeto é pensado, em primeiro lugar, pela disposição dos espaços principais, que
são dispostos, segundo a sua importância, no quadrado que o compõe, sendo esses
espaços divididos por grossas paredes, ou muros, onde só são delineadas as aberturas
entre esses espaços.
Ilustração 37 - Espaços principais inseridos no quadrado que compõem o projeto (fotografia de SILVA; Jorge P 2000; obtida através de
comunicação pessoal)
Com a forma simples e abstrata, de um pequeno e mínimo quadrado, o projeto alberga
um programa bastante extenso. Como acima referido, o mesmo surge como um
quadrado branco, na paisagem, sendo que essa forma sugere um sólido e compacto
muro, um cubo que se apresenta escavado por forma a inserir o programa necessário
à arquitetura. A extensão do programa obriga, então, a proximidades e distâncias
sugerindo um complexo labiríntico onde os espaços se organizam em dois grupos, os
espaços de serviços (apoio) e os espaços principais (nobres).
Os espaços principais são pensados isoladamente, como acima referido, segundo a sua
importância, um a um, um coberto, um descoberto (pátio), sendo que estabelecem uma
relação entre si através dos espaços de serviço, dos muros/percursos, que sugerem
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
longas perspetivas. Perspetivas essas muito semelhantes que variam consoante a ação
da luz e a sua relação com o espaço. Esses espaços principais são dois quartos
principais com 15,70 m2 cada, cinco quartos secundários com 11,8 m2 cada, uma sala
principal com 55,20 m2, uma outra sala, ou sala secundária com 38 m2, uma cozinha
com 24 m2, e quatro pátios principais que vão intermediando os restantes espaços.
Ilustração 38 - espaços de serviço, pensados e dispostos como se tratassem de um muro escavado (fotografia de SILVA; Jorge P
2000; obtida através de comunicação pessoal)
Os espaços de serviço são pensados e dispostos como se tratassem de um muro
habitado, de paredes maciças, que são escavadas e habitadas por essas zonas que
servem os espaços principais. Essa ideia é reforçada pelo facto de o teto destes
espaços de serviço ser rebaixado em relação aos espaços principais. Estes espaços de
serviço são compostos pelo sistema distributivo que são os percursos que levam o
usuário de um lugar para outro, cinco pequenas casas de banho que servem os cinco
quartos secundários, cinco pátios, seis pequenos pátios, que iluminam, indiretamente,
os referidos quartos e casas de banho, uma casa de banho maior que serve tanto os
dois quartos principais como a sala principal, um pátio junto à cozinha que a ilumina
indiretamente e as dispensas para armazenamento.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 39 - O pátio como objeto principal da casa. (fotografia de SILVA; Jorge P 2000; obtida através de comunicação pessoal)
Neste projeto, o pátio surge como um objeto principal da casa, surgindo em várias
disposições tanto nos espaços principais como nos secundários. Casa pátio por
excelência, uma vez que quase toda a relação dos espaços com o exterior se dá através
dos referidos pátios, que permitem que a relação dos espaços com a luz os componha
e os altere consoante a mesma.
Contudo, nem toda a iluminação dos espaços surge através dos pátios, uma vez que os
espaços secundários e percursos deste projeto são também iluminados pelas aberturas
nas fachadas, aberturas essas que vão alterar as perspetivas e atmosferas dos referidos
percursos, tendo mais ou menos aberturas, consoante a fachada e os espaços
principais que estão intimamente ligados a ela.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 40 - Fotografia de maqueta onde se pode verificar os
vão inseridos na fachada (fotografia de SILVA; Jorge P 2000;
obtida através de comunicação pessoal)
Ilustração 41 - - Fotografia de maqueta onde se pode verificar os
vão inseridos na fachada (fotografia de SILVA; Jorge P 2000;
obtida através de comunicação pessoal)
Todos os cinco quartos e respetivas casas de banho são iluminados, como já referido,
pelos seis pequenos pátios que se encontram nas suas laterais. Isto permite uma
iluminação não direta, criando atmosferas sem demasiada iluminação que podem
transmitir calma e tranquilidade. O mesmo acontece com o pequeno pátio colocado junto
à cozinha, no entanto, este espaço recebe uma iluminação extra através de uma
claraboia situada no seu centro, como se pode verificar pelo corte apresentado na
ilustração 42.
Um dos pátios principais é pensado e desenhado como um peristilo, referência direta
ao modo de habitar grego e romano que tanto influenciou a arquitetura, principalmente
dos montes desta região (Alentejo). E este distingue-se pelo carácter moderno,
minimalista, sem a utilização das colunas que o circundavam, mas que, no entanto,
capta a sua essência.
Ilustração 42 - Corte que evidencia as diferentes alturas dos tetos dos espaços secundários e principais, assim como a claraboia da
cozinha (desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Os três restantes pátios, de diferentes dimensões, fortalecem a relação direta com o
exterior. Relação essa com o céu, pelo que a privacidade pretendida fica como tal,
garantida. O pátio de maiores dimensões ilumina, indiretamente, tanto os dois quartos
principais, como a sala principal (55,20 m2), assim como os percursos adjacentes. O
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
pátio mais pequeno ilumina, indiretamente, tanto um dos quartos principais como dois
dos quartos mais pequenos e o pátio de dimensão intermédia serve dois dos quartos
secundários bem como os percursos que o envolvem e a sala secundária (38 m2).
Ilustração 43 - Planta da casa em Alvalade do Sado (desenho
obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P,
Nov. 2014)
Ilustração 44 - Planta da casa em Alvalade do Sado, Pátios
(desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA;
Jorge P, Nov. 2014)
Ilustração 45 - Planta da casa em Alvalade do Sado, onde se verifica o modo de compor o projeto, espaços principais a branco e
secundários a preto (desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Esta casa, ou este projeto, relembra as antigas habitações romanas e gregas que se
compunham em relação direta com os pátios interiores, no entanto, neste caso,
podemos falar de uma reinterpretação moderna, com o cunho pessoal e carácter das
obras abstratas e minimalistas dos arquitetos Aires Mateus e com estrita relação com o
modo de habitar mediterrâneo.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
3.2. CASA BARREIRA ANTUNES, MELIDES
Ilustração 46 - Casa Barreira Antunes, Vista da Piscina (fotografia de Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação pessoal
com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Nesta parte da Costa Alentejana existem várias casas abandonadas dispersas pela
paisagem. Os vestígios de cal ainda resistem em muitas delas, envolvendo as espessas
paredes, apoiadas por contrafortes, desproporcionados em relação à modesta dimensão
das construções. São volumes elementares com poucas aberturas e que estabeleceram
com a paisagem, eventualmente como as pessoas que neles habitaram, uma relação de
total reciprocidade. Dir-se-ia que estão, no seu abandono lacônico, o mais distante
possível da contemporaneidade, esta última muitas vezes associada a construções
diáfanas em vidro, tecnologicamente sofisticadas. A casa concebida pelos arquitetos
Manuel e Francisco Aires Mateus, sendo inequivocamente contemporânea, nas suas
qualidades e limitações, é o resultado de um olhar atento, e nada nostálgico, sobre essa
forma secular de habitar a paisagem. (Carvalho; 2009)
O projeto de uma casa unifamiliar foi realizado e construído no ano 2000, localizado no
litoral Alentejano, em Melides, foi elaborado pelos arquitetos Manuel e Francisco Aires
Mateus em colaboração com Maria Rebelo Pinto e Patrícia Marques e, é tido como uma
reinterpretação moderna do modo de habitar daquela região.
Nesta casa, a investigação dos arquitetos aires Mateus incide, como na sequência do
seu trabalho, na exploração de limites, neste caso o limite explorado pelos arquitetos é
um limite físico, composto por massa ou matéria. Uma linha que divide ambientes e
atmosferas diferentes, esse limite é o muro que é, efetivamente, uma barreira, algo que
separa, ou que aproxima, o público e o privado, o interior e o exterior.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Neste caso, o projeto pretende superar essa ideia de um limite entre duas realidades,
tornando o muro num campo que pode ser trabalhado, conter espaços e infraestruturas,
deixando de ser o muro típico, cheio e passando a ser um muro trabalhado, vazado, e
preenchido pela arquitetura.
Tendo sido a primeira habitação de um programa que incluiria a realização de mais três
habitações unifamiliares e de uma piscina, esta é uma habitação que surge como um
sólido de forma quadrangular, monolítico, uma vez que não existem quaisquer aberturas
e branco, colocado numa colina.
Ilustração 47 - Casa Barreira Antunes, Casa como um ponto branco (fotografia de Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação
pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Este edifício, como já referido, é uma reinterpretação do modo de habitar desta região,
pelo que vai beber muitas das características do monte e casa alentejanas, uma vez
que tem o seu carácter simplista e minimalista, sem ornamentação, neste caso com um
toque bastante moderno, mas que representa bem essas características, tais como a
branquidão da fachada, a centralidade do elemento preponderante que é o pátio nos
montes e a cozinha na casa alentejana e, nesta casa, o pátio central, as paredes
espessas que eram assim devido ao material utilizado, tal como a taipa ou o tijolo maciço
ou de burro e que, neste caso, são o muro vazado e trabalhado onde se inserem os
espaços de serviço que acompanham os espaços principais.
Com exceção das duas aberturas a poente e a nascente, efetuadas por dois painéis
deslizantes em madeira que, quando abertos, permitem uma relação bastante peculiar
e até algo acanhada, entre a envolvente e a casa, não existem quaisquer aberturas
diretas para o exterior.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 48 - Casa Barreira Antunes, Vista de uma das aberturas situadas a Nascente e a Poente (fotografia de Daniel Malhão (2000)
obtida através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
A casa pode estar totalmente aberta ao exterior, e em simultâneo ser um organismo de
espaços escavados na massa “branca”. E nesta dualidade, entre máxima
permeabilidade com a paisagem e máxima introspeção, reside a sua riqueza conceptual
e espacial. (Carvalho; 2009)
Relativamente à organização interior da casa, ela tem como elemento central e
preponderante o pátio, elemento em relação ao qual os restantes espaços se
disponibilizam. Ao contrário do pátio habitual, completamente aberto à casa, este tem
como objetivo “ […] impedir que a casa seja atravessada com olhar, funciona novamente
com o sentido de muro e de espessura.” (Carvalho; 2009), ou seja, vai funcionar como
um limite para a visão, como um resguardo que não permite que das entradas se
visualize o interior da casa, uma vez que as grandes janelas envidraçadas se localizam
nas paredes laterais do muro espesso onde se inserem os quartos e sala de jantar.
[...] o pátio que costuma representar um vazio na matéria da Arquitectura, neste caso,
torna-se um cheio, e o muro que costuma representar um cheio esvazia-se escondendo
por de trás espaços inesperados. (…) os ambientes articulam-se a partir dos espaços
localizados no perímetro. (Vita; 2013; p.42)
Ilustração 49 - Casa Barreira Antunes, Pátio central que serve para impedir o atravessamento da visualização da casa (fotografia de
Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
A casa divide-se em duas áreas, a sala de estar, que ocupa o espaço ao redor do pátio
central e o seu perímetro/limite, que é definido a partir da disposição dos restantes
compartimentos que se organizam envolvendo a própria sala e o pátio central.
O espaço principal da casa é a sala de estar que rodeia ou envolve o pátio central, no
entanto, o seu limite é desenhado pelos muros ou paredes espessas que a envolvem e
que são definidos pela disposição dos espaços secundários, que criam zonas de maior
ou menor privacidade, que podem ser aproveitados como o usuário, ou cliente o
pretender.
Como um muro muito espesso, estes compartimentos que são os quartos, a cozinha, as
casas de banho e os espaços de serviço, desenham o ambiente vácuo e desarticulado
da sala que nas reentrâncias e na espessura destes volumes, encontra nichos de
privacidade que foram aproveitados como sala de estar, sala de jantar ou espaços de
descanso. (Vita; 2013; p. 42)
Ilustração 50 - Casa Barreira Antunes, Cortes, onde se verifica a diferenciação das alturas entre os espaços principais e secundários
para se obter a sensação de muro escavado (desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
O pátio volta a ter papel preponderante na arquitetura, uma vez que o pátio que nos
habituamos a ver, e que é praticamente repetido em todas as culturas e épocas
apresentadas no capítulo anterior, é o centro da composição, aberto a todas as divisões
da casa e para o qual todos os espaços se disponibilizam. Neste caso, funciona também
como o centro da composição e tem, até certo ponto, o carácter de um pátio
mediterrâneo tradicional, uma vez que é o centro da casa e sendo a mesma fechada ao
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
exterior, os ambientes são iluminados pelos dois vãos de acesso ao edifício e pela
entrada de luz central, criada pelo pátio, manipulada serenamente que entra pelo
interior, branco, criando um ambiente quase zenital.
Ilustração 51 - Vista de uma das entradas de luz que reflete bem o ambiente calmo e tranquilo pretendido. (fotografia de Daniel Malhão
(2000) obtida através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Este estratagema de entrada de luz, ou de iluminação dos espaços mais privados, vai
repetir-se numa teia de pequenos pátios que iluminam todos os espaços domésticos,
tais como os quartos, casas de banho e cozinha e que permitem relações visuais entre
os mesmos.
Mais pormenorizadamente vamos passar a descrever a planta desta intervenção. A
casa, como já referido, dispõe de duas entradas, a nascente e a poente, para aproveitar
e beneficiar da luz direta do sol. Essas duas entradas não têm a porta tradicional, mas
são como dois vãos enormes que se abrem, ou fecham, por meio de uma placa de
madeira que as cobre na totalidade e que funciona também como único ornamento
exterior da fachada.
As referidas entradas são ladeadas por duas grandes aberturas envidraçadas, que
beneficiam destas entradas de luz, sendo que a Norte se localizam os quartos e a Sul
os locais de serviço e cozinha.
Estes espaços secundários, quartos e serviços, são o tal muro escavado, sendo que
para se dar esta ideia de muro escavado, foram elevados por um degrau, e rebaixados
em relação ao teto do espaço principal, que é a sala que rodeia o pátio.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 52 - Vista para um dos espaços secundários
escavados nas grossas paredes (fotografia de Daniel Malhão
(2000) obtida através de comunicação pessoal com SILVA;
Jorge P, Nov. 2014)
Ilustração 53 - Vista para dois espaços secundários escavados
nas grossas paredes, onde se evidencia a subida de um degrau
e a descida do teto em relação ao espaço principal (fotografia de
Daniel Malhão (2000) obtida através de comunicação pessoal
com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Os quartos localizados a norte são iluminados por intermédio dos grandes envidraçados,
acima referidos e por intermédio de pequenos pátios que são inseridos entre os quartos
e as casas de banho, pelo que também as iluminam. Esta iluminação é sempre obtida
indiretamente através do céu que ilumina os pátios de paredes brancas.
Como anteriormente referido, esta situação é repetida em toda a habitação unifamiliar,
pelo que os espaços secundários localizados a sul, tais como a cozinha e respetivos
espaços de serviço são também elevados um degrau em relação ao chão e rebaixados
em relação ao teto, do espaço principal. São iluminados indiretamente pelo pequeno
pátio que se situa entre a cozinha e a casa de banho e pelos envidraçados laterais que
são adjacentes às entradas principais.
Ilustração 54 - Pormenor da planta na zona de um dos quartos, onde se evidencia a importância dos pequenos pátios para a
iluminação destes espaços (desenho obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
A essência da casa em Melides constrói-se na controversa leitura dos cheios e dos
vazios, que no fundo são a mesma coisa não há vazio sem cheio e não há cheio sem
vazio. Para desenhar um vazio tem que se desenhar um cheio e para se desenhar um
cheio tem que se desenhar também um vazio. ( apud Mateus, Manuel Aires, citado por
Vita; 2013; p. 45)
Sendo a essência da casa a relação entre a leitura dos cheios e vazios, podem-se
considerar cheios os quartos e espaços de serviço, uma vez que, como já referido, se
inserem dentro da parede grossa ou muro escavado. Estes cheios vão limitar ou delinear
o espaço principal, ou o espaço privilegiado pelo programa, que é a sala que circunda
o pátio central, e vão organizar a mesma, criando nichos de privacidade que são
aproveitados como sala de estar, de jantar e ou espaços de simples descanso.
Ilustração 55 - Casa Barreira Antunes, Planta onde se verifica a preto os espaços secundários e a branco o espaço principal, a sala, e
também a relação entre cheios e vazios, descrita por Manuel Aires Mateus (desenho obtido através de comunicação pessoal com
SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
71
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
3.3. CASA NA QUINTA DA FONTINHA, MELIDES
Ilustração 56 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista, fotografia por GUERRA (2013) (in SPIROU, 2014)
Na serra de Grândola a casa desenha-se como uma casa pátio que ao mesmo tempo se
abre ao mar. O lugar escolhido é o ponto mais alto, procurando o nível com vista direta
e clara para o Oceano. O volume protege esta vista e lugar de vida exterior da casa. Um
piso inferior resolve as relações com as cotas do terreno e contem os espaços de apoio.
O piso principal é desenhado com um limite que pela sua forma define os grandes
espaços e as transições entre eles. Os espaços são volumétricos, altos e possíveis de
serem habitados por construções no seu interior que acomodam as suas funções e
atmosferas. (apud Mateus, Manuel Aires, citado por Silva, 2014, p.9)
Localizada na serra de Grândola, mais precisamente em Melides, o projeto denominado
de Casa na Fontainha, foi elaborado por Manuel Aires Mateus em colaboração com Ana
Cravinho, Inês Cordovil e Ana Rita Martins arquitetas fundadoras do atelier SIA
arquitetura. Num terreno que ocupa cerca de 50000 m2 foi escolhido o sítio mais alto do
mesmo, por forma à casa estabelecer uma relação visual com um elemento
preponderante, o plano de água (figura 48).
Perto da pequena vila de Melides, esta residência é situada, como referido acima, no
topo de uma colina, de onde se visualiza toda a quinta da Fontinha e foi concebida como
um posto de observação, como um miradouro, de tal modo que lembra as antigas casas
da época medieval, construídas pelos senhorios na região do mediterrâneo para
supervisionar as suas vastas propriedades agrícolas, assim como os montes
alentejanos já referidos nesta dissertação, onde a influência do pátio se faz notar.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Construída em torno de um terraço central olhando para fora, para o Atlântico, a casa
possui três quartos, uma cozinha com sala de estar adjacente e uma piscina, além de
uma sala de estar adicional, ladeada por duas áreas de armazenamento, que ocupam
o andar inferior.
A sua essência é a de uma casa-pátio fechada ao exterior, que se desenvolve em torno
do elemento central, o pátio que, como mencionado em capítulos anteriores, promove
a privacidade da vivência da casa, sendo o elemento exterior e privado em torno do qual
todos os espaços se desenvolvem e iluminam. Neste pátio, ou nesta casa pátio, foi
inserido um elemento que a abre ao exterior, ao mar, esse elemento é a vista para qual
a mesma se abre, vista essa para o Oceano, para o plano de água.
Ilustração 57 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista de Cima, onde se verifica que a casa se fecha do lado da estrada e se abre para a
encosta e que se desenvolve torno do pátio, fotografia por Guerra (2013) (SPIROU, 2014)
A casa foi projetada como um espaço limite, fechando-se a nascente, do lado da estrada
de acesso e abrindo-se em forma de estrela, a partir do pátio central, até aos terraços
situados sobre a encosta, com o objetivo, como já referido, de alcançar o mar. O pátio
central funciona como uma área comum para onde todos os espaços confluem, se
abrem, também uma característica típica das casas pátio tradicionais do Mediterrâneo.
Como referido acima, desenha-se como um limite, que por sua vez funciona como um
muro espesso, no qual se desenvolvem os espaços e as transições entre eles. A sua
forma delimita os volumes, fecha-os ao exterior e por sua vez abre-os ao pátio, elemento
central que é envolvido pelos espaços principais, e à vista para o plano território e plano
de água.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Com um toque bastante contemporâneo, uma característica da obra de Aires Mateus,
os principais volumes do edifício têm uma forma trapezoidal que subtilmente distorce a
sua proporção, tornando-os maiores e mais longos do que realmente são.
Ilustração 58 - Casa na Fontinha, principais volumes do edifício têm uma forma trapezoidal que subtilmente distorce a sua proporção,
Fotografia por Guerra (2013) (FREARSOON, 2013)
No seu exterior, a casa tem um aspeto monolítico, um tanto austero. Esta austeridade
é compensada inteligentemente pelo uso subtil de formas curvas, obtidas através do
canto cortado no exterior da casa, que cria um arco parcial e integra a entrada para a
sala de estar no piso inferior, e, no seu sentido geral, de transparência encontrado no
seu interior, minimalista, que acomoda um teto com uma forma curva que se prolonga
até á escada.
Ilustração 59 - Canto cortado de forma
curva, Fotografia por Guerra (2013) (in
FREARSOON, 2013)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 60 - Entrada para a sala do piso
inferior, Fotografia por Guerra (2013) (in
FREARSOON, 2013)
Ilustração 61 - Teto de forma curva,
Fotografia
por
Guerra
(2013)
(FREARSOON, 2013)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 62 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista, aspeto
austero da do edifício, fotografia por Guerra (2013) (SPIROU,
2014)
Ilustração 63 - Casa na Quinta da Fontinha, Vista, aspeto
austero da do edifício compensado pela subtileza das formas
curvas, fotografia por Guerra (2013) (SPIROU, 2014)
Os espaços interiores são abertos, bastante luminosos, habilmente esboçados pelo
arquiteto Aires Mateus no início do processo criativo, têm generosas vistas sobre a
circundante natureza e piscina, criando um sensação de tranquilidade quase zenital,
uma das qualidades exigidas pelo cliente.
A relação com o território e a envolvente é explorada de um modo exímio, uma vez que
capta os principais traços da arquitetura tradicional alentejana, as poucas aberturas ao
exterior, a disposição dos espaços em torno de um elemento central, que na arquitetura
alentejana se fazia representar pela cozinha, tendo como um elemento preponderante
a chaminé, as paredes espessas, devido à utilização da taipa e tijolo maciço, e a
brancura das paredes obtida pela caiação. Neste caso, as paredes espessas são cheios
esvaziados onde se localizam os espaços de apoio aos espaços principais, os tês
volumes do piso principal são vazados e são construídos no seu interior elementos que
definem as suas funções principais.
Ilustração 64 - Casa na Quinta da Fontinha, vista do pátio
para o plano de água e para a envolvente, fotografia por
Guerra (2013) (SPIROU, 2014)
Ilustração 65 - Casa na Quinta da Fontinha, vista do pátio para o
plano de água e para a envolvente, fotografia por GUERRA
(2013) (SPIROU, 2014)
Os elementos acima referidos são mais uma característica notável desta casa, o modo
como a lareira de forma triangular é camuflada na área da cozinha, a casa de banho
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
75
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
revestida a mármore é escondida atrás da uma parede no quarto principal e a porta
curva, dos quartos secundários, que se abre para as colinas extensamente arborizadas.
Ilustração 66 - Lareira triangular, fotografia por Guerra (2013)
(SPIROU,2014)
Ilustração 67 - Balcão, armário e clarabóia da cozinha,
Fotografia por Guerra (2013) (FREARSOON, 2013)
Ilustração 68 - Casa de banho do quarto principal, fotografia por
Guerra (2013) (SPIROU, 2014)
Ilustração 69 - Porta curva dos quartos secundários, fotografia
por Guerra (2013) (SPIROU, 2014)
Após esta introdução sobre o desenvolvimento do projeto, damos conta da leitura
realizada em torno dos desenhos da mesma.
O edifício desenvolve-se ao longo de uma área útil de 130 + 108 m2 e uma área bruta
de 130 + 160 m2. Como referido anteriormente, o edifício desenvolve-se em dois pisos,
por forma a resolver a questão da topografia do sítio e, como salientado pelo arquiteto
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Manuel Aires Mateus, para proteger a habitação da estrada de acesso e de modo a abrir
o volume sobre a vista e o seu perímetro delineia os espaços e as suas transições.
O primeiro piso, ou piso onde se situa a entrada, como já referido, com uma forma
curvada, caracteriza-se pela localização da sala de estar secundária que, para além de
funcionar como sala de estar, tem também uma função de hall de entrada, onde em
frente à porta de entrada se visualiza a escada de acesso ao piso superior, principal, e
é também onde se situam dois espaços de armazenamento que funcionam como
espaços escavados num imenso muro grosso.
Ilustração 70 - Planta da zona da entrada, onde se verificam os dois espaços para armazenamento, e a sala secundária (desenho
obtido através de comunicação pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Como casa-pátio por excelência, o segundo piso, ou piso principal, onde se situam todos
os principais espaços da mesma, como o quarto principal, cozinha e sala de estar, os
dois quartos secundários e o terraço ou pátio, desenvolve-se em torno do referido pátio,
circundando-o, no entanto não o fechando para a vista, como as antigas casas
mediterrâneas, mas abrindo-o para a sua envolvente.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 71 - Planta do piso principal, onde se localizam os quartos, cozinha e pátio. (desenho obtido através de comunicação pessoal
com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
Os principais espaços são habitados por construções que definem as funções e
atmosferas pretendidas, construções essas como o balcão e armário da cozinha e a
claraboia situada por cima do balcão, como a lareira na sala de estar principal, a casa
de banho forrada a mármore e escondida atrás de uma parede no quarto principal e as
duas casas de banho nos quartos secundários. Os referidos espaços são bastante
iluminados e abertos, permitindo uma utilização bastante vasta por parte dos seus
usuários, apenas definindo, como já salientado, as suas funções, mas sem delimitar o
seu aproveitamento, assim como o carácter de transparência e calma pretendido pelos
primeiros esboços do processo criativo.
Ilustração 72 - Corte pelas escadas, evidência da forma curva como elemento da composição (desenho obtido através de comunicação
pessoal com SILVA; Jorge P, Nov. 2014)
As escadas que se visualizam da entrada no piso inferior, terminam em frente a uma
das aberturas para o pátio e são ladeadas pelas duas portas de entradas para os quartos
secundários, concebidas com uma forma curva, bastante peculiar e certamente com
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
inspiração nas influências muçulmanas da arquitetura Alentejana, referida no capítulo
anterior.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
4. PÁTIO E PROJETO
Ao finalizarmos esta análise sobre três obras dos arquitetos Aires Mateus, demos conta
de várias características e conteúdos, tanto minimalistas e abstracionistas, como da
complexa relação com o território, além da grande influência da arquitetura alentejana
e da influência bastante percetível do pátio na composição do projeto das suas obras.
O pátio é sempre tido como um dos principais espaços da casa e como o elemento
gerador da organização do programa. A relação com a arquitetura alentejana evidenciase pelos tipos de formas utilizadas, sempre muito elementares e de formas geométricas
simples. Revela-se na maneira inovadora de (re) interpretar o tipo de habitação desta
região, pelas fachadas completamente brancas, como se fossem caiadas e pouco ou
nada ornamentadas, pelas espessuras das paredes, que se assemelham às paredes
grossas de taipa ou de tijolo maciço e que foram reinterpretadas. Como um muro que
pode ser escavado, onde só havia matéria pode agora existir arquitetura. Revela-se,
ainda, pela relação peculiar com a envolvente, que para além de beber várias
características formais da arquitetura da região, já apresentadas, pretende sempre
experimentar novas ideias, novos conceitos, oferecendo-lhe o seu cunho pessoal,
inovando e, como já anteriormente referido, conferindo uma nova qualidade à
arquitetura desta região alentejana e à casa pátio.
Este modo de atuar e de pensar a arquitetura foi, obviamente, influência direta na
conceção do projeto que apresentamos neste capítulo.
Neste caso não tanto as influências da arquitetura alentejana, uma vez que o arquétipo
ativo deste é o projeto do arquiteto expressionista alemão Hans Scharoun, a Filarmónica
de Berlim, mas a sua influência denota-se a nível formal, pela implementação de uma
forma geométrica simplificada, considerada como um sólido puro, elementar e abstrata,
forma essa que foi sendo desconstruída no processo de crescimento do projeto, tal
como o é nas obras dos arquitetos Aires Mateus, sempre em primeiro lugar pelos
espaços principais, neste caso o pátio, e onde todos os outros espaços se desenvolvem
nos muros grossos que rodeiam esse objeto abstrato, escavado no seu centro, ou que
rodeiam o pátio escavado no objeto primário abstrato.
Passamos, agora, a apresentar o referido projeto, onde começamos por apresentar as
características do Sítio de Lisboa, as relações e programa e, por fim, os espaços e
articulações.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
4.1. SÍTIO E LUGAR
Lisboa pela implantação e desenvolvimento histórico, situada entre montes e vales,
entre a barra e o estuário, nasceu como uma cidade naturalmente em diálogo. Diálogo
consigo própria e entre as partes que a constituem (do miradouro para as ruas e
telhados lá em baixo ou das traseiras envidraçadas, para cúpulas e coberturas de igrejas
e monumentos), diálogo com o rio que a envolve, areja e antes penetrava e marginava
com areias.
Ilustração 73 - O Sítio de Lisboa, a sua morfologia em planta, desenho nosso, 2011
Ilustração 74 - O Sítio de Lisboa, a sua morfologia Alçado, desenho nosso, 2011
As condições morfológicas do sítio de Lisboa (ilustração 69 e 70), a sua localização
privilegiada que surge em função da sua estreita relação com o rio Tejo, relação essa
reforçada ao longo da sua existência por diversas culturas que ao longo do tempo se
foram fixando nesta localização, tudo isto torna Lisboa uma cidade original e
arquitetonicamente privilegiada.
Há vestígios de tribos primitivas, cultura Romana, Árabe/Muçulmana e outras várias, até
aos nossos tempos (ilustração 71). Esta diversificação de Culturas deu azo a várias
transformações deste sítio em Lugar, através da intervenção humana na sua intenção
de tirar partido das melhores condições que esta localização dispõe.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 75 - Lisboa, Plantas Ilustrativas da sua evolução Histórica (Romana, Muçulmana e Atual), Desenhos nossos, 2011
Com a ajuda da sua posição geográfica, onde se insere num estuário do Tejo, abrigado
das intempéries e de ataques de inimigos, com uma topografia elevada mas suave e de
fácil ocupação, composta pelas pequenas colinas, com solos férteis e cheios de
recursos naturais, com um clima ameno, com bastante água e de fácil acesso ao mar e
com características de luminosidade, originais desta região mediterrânea, o sítio de
Lisboa foi sempre bastante atrativo para a implantação de várias civilizações.
Foi a partir desta geografia que as sucessivas Lisboas foram sendo construídas. E por
isso o actual território da área metropolitana de Lisboa pode ser lido como um
palimpsesto.
Vestígios vagos, persistências surpreendentes, reconstituições bem sucedidas ou
discutidas coexistem lado a lado, por vezes de forma conflitual, com elementos modernos
e pós modernos.
A história dos sucessivos aproveitamentos humanos da linha de costa exemplifica bem
esta complexa estratificação.” (Ferrão, 2004, p 7)
Ilustração 76 - Lisboa; Área de estudo (intervenção), Alfama, Fotomontagem sobre fotografia de Lisboa retirada de Google Maps
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 77 - Morfologia do Bairro de Alfama, alçado (desenho nosso, 2011)
Ilustração 78 - Morfologia do Bairro de Alfama, corte transversal (desenho nosso, 2011)
Ilustração 79 - Morfologia do Bairro de Alfama, corte longitudinal (desenho nosso, 2011)
Alfama é a zona onde se localiza o lugar da intervenção, e o seu nome deriva do árabe
al-hamma, que significa banhos ou fontes.
Alfama, com as suas ruas estreitas, escadarias, miradouros (ilustrações 73, 74 e 75),
becos e pátios antigos (ilustração 77), com as suas casas coloridas (ilustração 76) as
suas lojas tradicionais e as marcantes casas de Fado, é um dos bairros mais antigos e
genuínos da cidade de Lisboa, que mantém uma peculiar forma de viver que se
assemelha à de uma antiga aldeia onde todos se conhecem.
Ilustração 80 - Pátio dos Quintalinhos (Silva, 2004)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 81 - Pátio do Curvo (Silva, 2004)
Este bairro tem das vistas mais arrebatadoras sobre a cidade de Lisboa e sobre o rio
Tejo, sendo o mesmo envolvido pela colina do Castelo de S. Jorge e pela colina de S.
Vicente e os seus principais monumentos são a Igreja de Santo Estevão, a Igreja se
São Vicente de Fora, a Sé de Lisboa, o Teatro Romano entre outros.
Durante o domínio muçulmano, poder-se-ia falar de uma Alfama do Alto, mais nobre,
situada dentro da Cerca Moura, na parte oriental da atual freguesia da Sé, que
comunicaria pela Porta de Alfama ou de São Pedro (na atual rua de São João da Praça)
com uma Alfama do Mar, arrabalde popular.
Com o domínio cristão o bairro de Alfama foi-se alargando mais para nascente, dentro
dos limites da Cerca Nova ou Cerca Fernandina, ultrapassando o Chafariz de Dentro.
No terramoto de 1755 este bairro e as suas edificações resistiram em na sua grande
maioria ao mesmo, e atualmente apesar de já não existirem casas mouriscas, o bairro
conserva um pouco do ambiente da cidadela árabe com as suas ruelas, escadarias e
roupa a secar nas janelas. As áreas mais arruinadas estão a ser restauradas e a vida
desenvolve-se em volta das pequenas mercearias e tabernas, pequenos restaurantes,
e miradouros que vão trazendo turistas, e dando uma nova vida a esta bela zona da
cidade.
Como verificamos no primeiro capítulo desta dissertação, a urbe muçulmana, pelas suas
características sociais e religiosas, sempre se pautou pelo uso do pátio como zona de
convívio e de reunião, assim como zona agrícola entre vários outros usos. Pelo que se
julgamos que este registo tem como origem essa civilização que se fixou nesta colina
de Lisboa.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Não há registo histórico do aparecimento dos primeiros pátios em Lisboa, mas sabe-se
terem origem na civilização Árabe. Sendo esta uma sociedade de fortes laços
comunitários, os pátios não só permitiam convivência entre vizinhos mas também, ler e
ensinar o Corão num ambiente intimista.” (SILVA, 2004) (ilustração 78 e 79)
Ilustração 82 - Pátio da Cruz (Silva, 2004)
Ilustração 83 - Pátio da Cruz (Silva, 2004)
Quando da conquista de Lisboa pelos cristãos, no séc. XII, os pátios muçulmanos são
reaproveitados, transformados em pequenas quintas, pequenas hortas (ilustração 80 e
81), uma vez que Lisboa crescia e se dispersava ao longo da colina do castelo e alfama
sem um sentido, sem planificação. No entanto, no período medieval são retomados ou
reaproveitados os pátios para as mesmas intenções socio comunitárias e mantêm os
mesmos traços físico-urbanísticos, sendo, então, novamente, as quintas e hortas
transformadas em pátios.
Ilustração 84 - Pátio da Pascácia (Silva, 2004)
Ilustração 85 - Pátio da Pascácia (Silva, 2004)
A partir do séc. XV são vários os factores que levam ao aparecimento de novos espaços.
A instalação da Corte no Terreiro do Paço altera o tecido social da colina (…) como
consequência os pátios perdem o seu estatuto intimista para fazer parte da grande
azáfama das cidades portuárias e comerciais. (SILVA, 2004)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 86 - Pátio do Carrasco (Silva, 2004)
Ilustração 87 - Pátio do Carrasco (Silva, 2004)
Esta alteração do tecido social fez com que esta parte mais antiga da cidade sofresse
mais alterações, uma vez que a franja mais pobre da população ocupa os pátios
existentes, tornando-os menos próprios para habitação e fazendo com que fosse
aparecendo um novo tipo de pátios, as vilas, que surgem do aproveitamento/ocupação
de antigos pátios de palácios abandonados, pela população que os utilizava como
pequenas comunidades em torno do pátio central (ilustrações 82 e 83).
Ilustração 88 - Pátio Dom Fradique (Silva, 2004)
Ilustração 89 - Pátio Dom Fradique (Silva, 2004)
Até ao século XX estes espaços irão funcionar como habitação assim como o próprio
edifício, que por sua vez irá dar nome ao pátio. Com o surgimento da industrialização, a
cidade de Lisboa recebe uma franja de população de operários. Procurando sítio para
se alojarem, estas acomodações, geralmente fornecidas pelos próprios proprietários
fabris, adquirem o nome de "vilas", que não são mais que pátios da era contemporânea,
normalmente constituídas por dois ou três andares separadas por uma rua e isoladas do
exterior por um portão. É neste século que a devida importância é dada aos pátios como
espaço social importante no meio arquitectónico português, eles são feitos de figuras
reais, de tristezas e alegrias à semelhança de quem os habita, mas é, enfim, na alegria
que se potencia todo o valor destes organismos vivos. (SILVA, 2004) (ilustração 84, 85,
86 e 87)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 90 - Pátio das Cozinhas (Silva, 2004)
Ilustração 91 - Pátio das Cozinhas (Silva, 2004)
Após esta pequena introdução sobre o bairro de Alfama, as suas origens e os seus
pátios, passamos a apresentar o lugar da intervenção.
Nas ilustrações abaixo (ilustrações 92 e 93) são apresentadas duas pinturas de João
Botelho que introduzem bem as características já descritas do bairro de Alfama e do
lugar do chão do Loureiro, uma vez que é uma zona de transição, charneira (ilustração
94), entre a estrutura urbana pombalina, de forma ortogonal com as mesmas cores e
mesmos traços entre os edifícios e a área da Alfama e da colina do castelo
anteriormente descrita. Apresentamos, também, uma fotomontagem que ilustra como o
edifício do Chão do Loureiro funciona como edifico charneira.
Ilustração 92 - - Calçada do Marquês de Tancos, pintura de
Carlos Botelho (1949)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 93 - Chão do Loureiro, pintura de Carlos Botelho
(1949)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 94 - Fotomontagem, Mercado do chão de Loureiro, edifício como charneira
entre o largo da atafona, a calçada do Marquês de Tancos e o Largo do chão do Loureiro.
Entre Alfama e a Baixa Pombalina (fotomontagem nossa sobre fotografias nossas, 2011)
O lugar da intervenção, o Mercado do Chão de Loureiro, fica situado na freguesia de
São Cristóvão. O edifício, como acima descrito, funciona como um edifício charneira,
entre o largo do Chão de Loureiro (ilustração 95), o largo, ou beco, da Atafona
(ilustrações 96 e 99) e a calçada do Marquês de Tancos. (ilustração 97)
Ilustração 95 - Mercado do Chão de Loureiro, visto do Largo do
Chão de Loureiro (fotografia nossa, 2011)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 96 – Mercado do Chão de Loureiro, visto do Beco da
Atafona (fotografia nossa, 2011)
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 97 - Mercado do Chão de Loureiro, vista da calçada do Marques de Tancos (fotografia nossa, 2011)
Em tempos, e como o nome indica, albergou o mercado da região além de no seu
terraço albergar um miradouro artificial (ilustração 100) com uma das melhores vistas
da cidade. Atualmente o mesmo alberga um silo automóvel, uma vez que a zona
apresenta uma grande carência de lugares de estacionamento, e um supermercado
Pingo Doce, no seu terraço, ou no último andar fica o Restaurante Zambeze, que
aproveita o magnífico miradouro como esplanada.
Ilustração 98 - Mercado do Chão do Loureiro, vista das
escadas de acesso á calçada do Marquês de Tancos
(fotografia nossa, 2011)
Ilustração 99 - Largo da Atafona (fotografia nossa, 2011)
Ilustração 100 - Mercado do Chão do Loureiro Vista para o miradouro (fotografia nossa, 2011)
O sistema urbano desta freguesia assemelha-se bastante ao sistema do bairro de
Alfama. Mantendo a estrutura mourisca e medieval quase intacta, fazendo uso dos
largos, praças e pátios como zonas de organização da estrutura urbana. Abaixo na
ilustração 101, apresentamos a planta atual do lugar da intervenção, desde a escola
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
atual do Chapitô até ao mercado do Chão do Loureiro, assim como o sistema viário, e
principais locais de encontro, largos, pátios, praças etc..
Ilustração 101 - Planta atual da Zona da Intervenção (desenho nosso, sobre planta de Lisboa, 2011)
4.2. RELAÇÕES E PROGRAMA
4.2.1. ARQUÉTIPOS
4.2.1.1.
HANS SCHAROUN E O EXPRESSIONISMO ALEMÃO
Podemos, sucintamente, resumir os pressupostos do movimento expressionista, um
movimento onde os artistas nos apresentam a sua expressão da realidade, que vem de
dentro para fora, do interior para o exterior, onde os conceitos fenomenológicos
assumem um caráter central; conceitos internos da nossa mente que nos trazem a
emoção, a nossa intuição e a nossa própria maneira de ver a realidade, não afetada por
ela.
Relativamente à forma como esse conceito se formaliza, podemos dizer, por exemplo,
que as formas só assumem o seu valor total quando iluminadas. E assim sendo, o
expressionismo hiperboliza o uso da luz, criando uma luz própria, tornando a forma de
ver o mundo muito pessoal, onde os contornos das formas, dos planos e dos contrastes
claros-escuros assumem um caráter central na expressão pretendida (ilustrações 102 e
103).
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
91
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 102 - "Das Cabinet des Dr. Caligari", filme
expressionista alemão realizado por Robert Wiene, 1920
Ilustração 103 - "Das Cabinet des Dr. Caligari", filme
expressionista alemão realizado por Robert Wiene, 1920
Após alguns anos do término da Segunda Guerra Mundial é comprovado que a
pretendida unidade do movimento moderno não era total.
Algumas das tendências marginalizadas pela ortodoxia […] não desaparecem senão que
nos anos 50 e 60 se desenvolvem com inusitada força. Uma destas correntes é o
expressionismo alemão que, na base da arquitectura dos anos 20 […] mostra a
permanência da sua vitalidade na última obra de Hans Scharoun. Especialmente a sala
Filarmónica de concertos em Berlim (1956-1963). […] Hans Scharoun (1893-1932) foi
um dos arquitectos que melhor soube unir os experimentos da transparência, da luz e
da fluidez espacial […] A filarmónica destaca-se exteriormente pela expressividade e
organização de paramentos e coberturas; e o interior pela energia e tensão, criadas pelos
itinerários de vestíbulos e corredores. Interior e Exterior são a expressão da vitalidade
orgânica do edifício.” (Montaner, 2001, p.52,53)
Ilustração 104 - Sala de concertos da Filarmónica de Berlim
fotografia de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 105 - Entrada Principal da Filarmónica de Berlim,
fotografia de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
92
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 106 - Maqueta da Filarmónica de Berlim, fotografia de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
A Filarmónica compõem-se por três pentágonos torcidos entre si, sob uma casca de
betão tipo tenda, que definem a sala de concertos da filarmónica de Berlim. O Homem
e a Música encontram-se no centro da obra e o palco envolvido por balcões constitui o
centro ideal desta composição arquitetónica.
Os 2200 espectadores encontram-se em contacto uns com os outros através dos
acessos de ligação, do espaço e da acústica, que tem a mesma qualidade, qualquer
que seja o local. (ilustrações 93, 94, 95).
Ilustração 107 - Planta da Sala de concertos da Filarmónica de
Berlim, desenho cedido por de Wikimedia Commons (in KROLL,
2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 108 - Planta de acessos da Filarmónica de Berlim,
desenho cedido por de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011
93
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Como la música misma, se trata de un mundo lleno de secretos, que se van descubriendo
mediante el movimento en el spacio y en el tiempo, y conducen al oyente hacia la
esclarecedora experiencia que oferece el interior. Al mismo tiempo, que este vestíbulo
prepara el encuentro con el agitado mundo urbano del exterior: es como una ciudad,
grandiosa e íntima e infinitamente varidada. La Filarmónica demuestra que el entorno del
hombre en su totalidad adquiere sentido quando una multitud de elementos se relaciona
con un centro significativo. La Filarmónica es la obra maestra de la arquitectura orgánica.
Aquí, comprendemos que el concepto de forma orgánica no está limitado al ambiente
natural que es el punto de partida de las obras de Aalto, u arquitecto básicamente “rural”.
En la Filarmónica, el entorno urbano se ha tornado orgánico, y recuerda la imagen de
una ciudad que consta de órganos vivos y de sus prolongaciones. Constitiuye un modelo
possible para la edificación urbana; después de ver la Filarmónica, el arquitecto y
urbanista holandés Bakema obsrevó: “Así deberíamos edificar nuestras ciudades.”11
(Schulz, p. 217, 218)
Ilustração 109 - Corte Transversal da Filarmónica de Berlim, desenho cedido por Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
Após a referência aos pressupostos da arquitetura expressionista do arquiteto Hans
Scharoun, verificaremos agora a maneira como a mesma atuou como referência na
composição do projeto.
11
Como a música em si mesma, trata-se de um mundo cheio de segredos, que se vão descobrindo
mediante o movimento no espaço e no tempo, e conduzem ao ouvinte para a esclarecedora experiência
que oferece o interior. Ao mesmo tempo, que este vestíbulo prepara o encontro com o agitado mundo
urbano do exterior: é como uma cidade, grandiosa e íntima e infinitamente variada. A Filarmónica demonstra
que o meio envolvente do homem, na sua totalidade, adquire sentido quando uma multidão de elementos
se relaciona com um centro significativo. A Filarmónica é a obra-mestra da arquitetura orgânica. Aqui,
compreendemos que o conceito de forma orgânica não está limitado ao ambiente natural que é o ponto de
partida das obras de Aalto, o arquiteto basicamente “rural”. Na Filarmónica, o meio urbano tornou-se
orgânico, e recorda a imagem de uma cidade constituída de órgãos vivos e seus prolongamentos. Constitui
um modelo possível para a edificação urbana; após ver a Filarmónica, o arquiteto e urbanista holandês
Bakema observou: “Assim deveríamos edificar as nossas cidades”. (Tradução nossa)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
94
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Como na Filarmónica a Música é o centro (ilustração 104), é o “pátio” da composição,
neste projeto (no Chão do Loureiro) a sala de espetáculos é o centro. No entanto a
composição espacial, os circuitos, circulações (ilustração 103), vão beber a esta forma
de projetar, visto que a intenção foi criar tensões espaciais criadas pelas formas
escavadas no seu interior.
Se na Filarmónica os espectadores se encontram em contacto uns com os outros
através da posição dos balcões e dos percursos entre os mesmos, neste projeto (no
Chão do Loureiro), o ambicionado foi que os usuários, ou intervenientes que o vivem,
se encontrem em constante contacto uns com os outros através dos percursos, escadas
e circulações que se desenvolvem em torno do pátio central.
Neste caso, o pátio e a sala de espetáculos são o centro entre os quais todos os
percursos e espaços se desenvolvem, se alargam e se encurtam, se relacionam
visualmente entre si.
Ilustração 110 - Vista da Filarmónica de Berlim, fotografia de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
Ilustração 111 - Vista da Filarmónica de Berlim, fotografia de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
95
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
4.2.1.2.
EDIFÍCIO FRANJINHAS – RELAÇÃO ESPACIAL INTERIOR/EXTERIOR
Mandado construir por Nuno Franco de Oliveira Falcão, entre 1969 e 1971,foi projectado
pelos arquitectos Nuno Teotónio Pereira e João Braula Reis, tendo recebido o Prémio
Valmor de 1971.
Classificado como Monumento de Interesse Público, trata-se de um edifício com uma
funcionalidade mista, pois recupera a galeria de lojas aberta à rua e acolhe escritórios
nos pisos superiores. (…) É este diálogo inovador entre a espacialidade interior e
exterior, fortemente impressa nas franjas da fachada, que traduz o elemento marcante
da sua linguagem arquitectónica, muito influenciada pela arquitectura de Turim do final
dos anos 60.”12 (ilustração 109)
Este projeto dos arquitetos Nuno Teotónio Pereira e João Braula Reis foi tido como
referência, devido à sua relação peculiar e inovadora entre interior e exterior (ilustrações
107 e 108), em particular, a maneira como o interior privado se relaciona com o exterior
público, uma vez que o piso térreo é, de certa forma, privado, albergando um centro
comercial que funciona, contudo, como um complemento da rua, onde se pode vaguear
como em qualquer rua da cidade.
Ilustração 112 - zona interior/exterior do edifício Franjinhas
(fotografia nossa, 2011)
12
Ilustração 113 - zona interior/exterior do edifício Franjinhas
(fotografia nossa, 2011)
In http://www.cm-lisboa.pt/en/equipments/equipment/info/edificio-franjinhas
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
96
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 114 - Planta corte e vista do Edifício Franjinhas (CML, 2014)
4.2.1.3.
MANUEL E FRANCISCO AIRES MATEUS – O PÁTIO E A CENTRALIDADE
DA COMPOSIÇÃO ESPACIAL
Aires Mateus e associados, sendo um tema desta dissertação, não poderia deixar de
ser considerado uma das referências ativas na composição do projeto.
A sua influência denota-se a nível formal, uma vez que todo o estudo da forma do edifício
deriva, de certa forma, de uma abstração de uma forma geométrica simples que, por
sua vez, foi desconstruída, escavada, trabalhada por forma a inserir um programa.
Apesar de ter como base do projeto a Filarmónica de Berlim e a sua música como o
centro, neste projeto, e tal como nos projetos referência dos arquitetos Aires Mateus, o
centro é a sala de espetáculos, que surge nos pisos superiores da intervenção. No
entanto, essa centralidade é reforçada em todo o complexo, criando de certa forma um
pátio, aberto ao exterior e para o qual todo o seu interior se disponibiliza. Apesar de ser
fechado ao céu é aberto a todos os espaços internos, salas de aulas, biblioteca,
refeitório, residências para estudantes e professores, todos beneficiam da centralidade
do edifício e do seu pátio central.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
97
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Tal como nos projetos referência dos arquitetos Aires Mateus, o pátio não é tido como
um normal pátio, mas sim como uma reinterpretação do mesmo. Na casa Barreira
Antunes, o pátio aberto ao céu funciona como uma barreira que impede o
atravessamento da casa, no projeto em Alvalade do Sado, o pátio funciona como toda
a fonte de iluminação da casa, na casa da Aroeira é tido como o centro da composição.
A intervenção no Chão do Loureiro não foge a esta regra, apesar de ser fechado ao céu,
é aberto à rua, é o centro da composição e é a fonte da vida de todo o edifício.
Além da referência do pátio foi também tido em conta a forma de atuar e de compor o
programa, sendo que o mesmo é inserido dentro de muros escavados que rodeiam o
espaço central (Ilustrações 110 e 111), assim, o pátio é o centro, e todos os restantes
espaços, que o servem e que compõem o programa, são inseridos dentro das paredes
grossas, ou muros escavados, que o rodeiam.
Ilustração 115 - Fotomontagem nossa sobre fotografia de
Guerra, 2014
Ilustração 116 - Fotomontagem nossa, sobre fotografia de Silva.,
2000
4.2.2. CONCEITO
Após salientarmos as referências conceptuais deste projeto, podemos, então, definir e
apresentar o seu conceito.
Neste caso, o edifício surge de modo a resolver uma difícil topografia, com três zonas
distintas, sendo essas, o largo do Chão do Loureiro, o beco da Atafona e a calçada do
Marquês de Tancos. Desenvolve-se, então, como uma montanha, que se comporta
como a topografia do sítio de Alfama (ilustrações 73, 74 e 75), escavada no seu interior,
escavada em torno de um centro, sendo que nos muros que rodeiam esse centro se iria
inserir e compor o programa apresentado (ilustração 125), sendo o seu topo a
localização da sala de espetáculos, do circo da cidade, aberta à cidade de Lisboa, por
onde a iluminação entra e dá forma ao seu interior.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 117 - Desenho Referencia, expressionismo alemão, desenho de Mendelsohn (in ZEVI, 2002) "
Ilustração 118 - Edifício como uma Montanha, Desenho
conceptual nosso, 2011
Ilustração 119 - Edifício como uma montanha escavada, Desenho
conceptual nosso, 2011
A ideia era que o edifício se comportasse como uma continuação da rua, como uma
cidade em si mesmo, podendo-se vaguear livremente no mesmo, apreciando-o e
estabelecendo uma relação visual com todos os seus utilizadores (ilustração 121), seja
qual for a sua localização, como na própria cidade de Lisboa, em particular no bairro de
Alfama, onde a relação visual descendente (ilustração 120) assume um carácter central.
Ilustração 120 - Anjo do "Wings of Desire" olhando Lisboa, Fotomontagem nossa, sobre fotografia nossa e imagem do filme "Wings of
Desire" de Wim Wenders, 1987
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
99
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 121 - O anjo ouvindo os pensamentos do humano, a relação visual entre pisos, Imagem retirada do filme "Wings of Desire"
de Wim Wenders, 1987
A forma do edifício parte de uma desconstrução da planta da Filarmónica de Berlim,
tendo como ponto de partida o seu centro, a sala de espetáculos, pelo que todo o
restante programa a rodeia, como se envolvesse um pátio (figura 113).
Ilustração 122 - Desenho sobre
referência, pátio central e muros a
rodeá-lo, Desenho nosso, 2011
Ilustração 123 - Desenho sobre referência,
muros ao redor do pátio, Desenho nosso, 2011
Ilustração 125 - Tensões e acessos dentro de um pátio, Desenho
nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 124 - Desenho sobre
referência, muros escavados ao
redor de um pátio, Desenho nosso,
2011
Ilustração 126 - Desenho sobre referência, muros ao redor
de um pátio, Desenho nosso, 2011
100
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Essa forma partiu de um sólido compacto (ilustração 122), como se de uma pedra se
tratasse, pedra essa que foi desconstruída, como se fosse uma planta topográfica,
desconstruída por níveis (ilustração 123). Tendo sempre como ponto de referência o
centro, o pátio, que acompanha todo o edifício (ilustração 124).
Ilustração 127 - Maqueta conceptual, solido compacto, com
cobertura separada tipo tenda aberta, Fotografia nossa, 2011
Ilustração 128 - Maqueta conceptual, solido decomposto por
níveis, tipo topografia, como uma montanha, Fotografia nossa,
2011
Ilustração 129- Maqueta conceptual, solido decomposto por níveis, tipo topografia, como uma montanha escavada no centro, Pátio,
Fotografia nossa, 2011
4.2.3. PROGRAMA
O programa extenso contempla a integração de uma casa de espetáculos completando
a escola do Chapitô com uma residencial para estudantes e professores do mesmo,
integrando também um complemento da respetiva escola de artes circenses com
secretaria, salas de aulas teóricas e práticas, um auditório, uma biblioteca, um refeitório
e respetiva cozinha e um mini mercado Pingo Doce, com a respetiva área de cargas e
descargas. Como o edifício iria integrar-se no lugar do mercado do Chão do Loureiro,
em Alfama, e o mesmo tem uma imensa necessidade de lugares para estacionamento
de automóveis, foi também integrado um parque de estacionamento que iria servir tanto
a escola de artes circenses como a sala de espetáculos da mesma.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
101
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Como zona primordial do complexo, temos a sala de espetáculos com 356 m2, centro
da composição, sendo que se denota a sua presença em todo o edifício. Essa zona de
espetáculos tem como complemento toda a zona de foyer que se pode transformar em
espaço de exposições temáticas e respetivos bares para o atendimento ao público com
763 m2, a sala de aquecimentos que funciona também como sala de aulas práticas com
156 m2 e o Back Stage com 90 m2.
Como ampliação da escola de artes circenses do Chapitô são integradas salas de aulas
teóricas (cerca de 315 m2) e sala de aulas práticas (cerca de 156 m2), assim como uma
secretaria com 70 m2 biblioteca com 800 m2, um auditório com 90 m2, um refeitório com
270 m2 acompanhado de uma cozinha com 100 m2.
No subsolo é integrado um parque de estacionamento com 1000 m2, que serve tanto de
apoio à escola, ao mini mercado e à sala de espetáculos, tendo cerca de 38 lugares de
estacionamento e acessos verticais a todo o edifício nas duas extremidades do mesmo.
Nesta parte do edifício fica também localizada a área de cargas e descargas que serve
o mini mercado Pingo Doce, com cerca de 135 m2.
Abaixo apresentamos uma imagem tipo diagrama onde se visualiza a localização das
áreas apresentadas (figura 125).
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
102
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 130 - Diagrama do Programa, Desenho nosso, 2011
4.2.4. RELAÇÕES - OS EDIFÍCIOS E ZONAS ENVOLVENTES E O RIO TEJO
As relações do edifício com a envolvente podem dividir-se em duas, em primeiro plano
a relação com a envolvente imediata, que são os edifícios que circundam o edificado,
assim como as ruas, largos/praças/pátios com maior proximidade.
Abaixo são apresentados dois desenhos (ilustrações 126 e 127) que representam,
através da imagem, as relações, assim como as principais ruas, largos/praças/pátios da
envolvente imediata, pelo que podemos afirmar que o que influencia direta ou
indiretamente é a relação com os edifícios que circundam a intervenção, assim como os
largos, praças e pátios e os próprios sistemas aqui apresentados diagramaticamente,
que diferenciam as diferentes zonas, tais como a zona com um sistema mais mourisco
de Alfama e o sistema ortogonal da área Pombalina.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
103
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 131 - relações com a envolvente próxima, Desenho
nosso, 2011
Ilustração 132 - relações com a envolvente próxima, sistema
viário, largos, praças e momentos, desenho nosso, 2011
A relação indireta ou mais longínqua, embora não menos importante, é a relação visual
com o rio Tejo e Praça do Comercio (ilustração 128), neste caso obtida através da vista
do miradouro construído, que se localiza no topo da intervenção, aqui apresentada
diagramaticamente.
Ilustração 133 - relação com o Rio Tejo e Praça do Comercio, Desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
104
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
4.3. ESPAÇO E ARTICULAÇÕES
4.3.1. INGRESSOS
O edifício é composto por vários níveis a diferentes cotas, e como apresentado na
definição do lugar onde se insere o Chão do Loureiro, existiam três cotas principais, as
quais necessitavam de um cuidado especial, sendo essas a entrada situada no Largo
do Chão do Loureiro, a situada frente ao Pátio/Largo da Atafona e a situada na calçada
do Marquês de Tancos.
Neste caso foram inseridos três ingressos/entradas no edifício, o primeiro abaixo
apresentado (ilustração 135), situado no Largo do Chão de Loureiro que tem a cota de
32,5m, considerada a cota de projeto 00,00m, uma vez que o edifício é rebaixado cerca
de 60 cm em relação ao terreno, na cota de -00,60 m, onde se insere a entrada para a
residencial, para a biblioteca e para o mini mercado Pingo Doce.
Ilustração 134 - Planta do Ingresso 1, cota -00,60 m
Ilustração 135 - Planta do ingresso 1, cota de projeto 0,00 m, Desenho nosso, 2011
A planta abaixo apresentada (ilustração 136) refere-se ao ingresso 2, localizado frente
ao pátio da Atafona, na cota 05,5, onde se situa o ingresso para escola de artes
circenses, os serviços administrativos e o balcão de atendimento ao público.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
105
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 136 - Planta do Ingresso 2, cota 05,50 m, Desenho nosso, 2011
Por último, temos o ingresso 3 (ilustração 137), localizado na calçada do Marquês de
Tancos, na cota de 21,38 m, onde se situa a entrada para a sala de espetáculos da
escola de artes circenses, para o centro de exposições temáticas e para o miradouro
construído, sobre a cidade de Lisboa e sobre o Rio Tejo, as grandes relações diretas do
edifício.
Ilustração 137 - Planta do Ingresso 3, cota 21,38 m, Desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
106
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
4.3.2. SISTEMA DISTRIBUTIVO
O sistema distributivo do edifício é bastante simples, demonstra a forma de pensar o
edifício no seu todo. O edifício envolve o pátio central, o sistema distributivo também
acompanha o seu desenvolvimento circundando o pátio central.
Ilustração 138 - Sistema Distributivo da zona do ingresso 1, Desenho nosso, 2011
Ilustração 139 - Sistema Distributivo da zona do ingresso 2, Desenho nosso, 2011
Podemos diferenciar três zonas distintas de acesso no edifício, o do largo do Chão de
Loureiro (ilustração 138), o do pátio da Atafona (ilustração 139), e o da calçada do
Marquês de Tancos (ilustração 141). No entanto, apesar destes três acessos, o sistema
distributivo permanece quase imutável, com algumas diferenças de acesso para acesso,
permanece o essencial, ou seja, o seu percurso circunda e envolve o espaço central do
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
107
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
edifício, o que também permanece visível no sistema distributivo do piso tipo do edifício
(ilustração 140).
Ilustração 140 - Sistema distributivo do piso tipo, Desenho
nosso, 2011
Ilustração 141 - Sistema distributivo da zona do ingresso 3,
desenho nosso, 2011
4.3.3. SISTEMA ESTRUTURAL
O Sistema Estrutural é composto por uma estrutura de 11 pilares que acompanham todo
o edifício (ilustrações 142 e 143), desde o parque de estacionamento até à cobertura da
sala de espetáculos e que envolvem o pátio central por forma a libertar essa zona
específica de qualquer elemento estruturante.
Ilustração 142 - Sistema estrutural do Edifício, desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
108
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Além dos referidos pilares, o sistema estrutural baseia-se também num sistema em
betão armado reforçado, de maneira a isolar os esforços do sólido decomposto, sem
interferir com a maioria dos pilares para que os mesmos se tornem independentes da
restante estrutura, isto para reforçar a importância da centralidade em todo o edifício
(ilustrações 142 e 143).
Ilustração 143 - Sistema Estrutural do Edifício, desenho nosso, 2011
4.3.4. PLANTAS DO PROJETO E ATMOSFERAS
Após a apresentação dos sistemas distributivo e estrutural, passamos a apresentar as
plantas do edifício e das atmosferas pretendidas.
A primeira planta (ilustração 144) será, de nível -1, na cota -03,6 m, onde se localiza a
zona de estacionamento e de cargas e descargas referente ao minimercado Pingo
Doce.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
109
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 144 - Planta nível - 1 (Estacionamento e cargas e descargas do mini mercado), cota -03,6 m, Desenho nosso, 2011
A planta de nível 1 (ilustração 145), na cota -00,6, onde se desenvolve o acesso para a
residencial, para a biblioteca (com pé direito duplo) e para o mini mercado Pingo Doce
(com pé direito duplo). Nesta cota começa-se já a sentir a presença do pátio central que,
para além de um pátio de rua, pode também ser uma zona de espetáculos circenses,
incluídos na escola Chapitô.
Ilustração 145 - Planta nível 1 (ingresso para as residências, para a biblioteca, e para o mini mercado Pingo Doce) cota -00,6m,
Desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
110
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 146 - Fotomontagem, Atmosfera Expressionista, ingresso 1, sobre fotografias nossas, imagem do filme "Das Cabinet des Dr.
Caligari", realizado por Robert Wiene, 1920 e fotografia da filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
Ilustração 147 - Fotomontagem, Atmosfera Expressionista, ingresso 1, sobre fotografias nossas, e fotografia da Filarmónica de Berlim
de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 148 - Fotomontagem, Atmosfera Expressionista, ingresso 1, sobre imagem do filme "Das Cabinet des Dr. Caligari", realizado
por Robert Wiene, 1920 e fotografia da Filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in KROLL, 2011)
As atmosferas acima apresentadas (ilustrações 146, 147 e 148), através de
fotomontagens, ilustram o ambiente pretendido, uma vez que todo o edifício circunda o
pátio central. Esse pátio deverá ser tido em conta como uma zona de possíveis
apresentações de espetáculos, demonstrações circenses ou até mesmo como local de
aulas práticas, uma vez que todo o edifício é tido como um circo para a cidade, como
um complemento da escola Chapitô.
Este acesso ao edifício é como um primeiro impacto, uma primeira entrada no mundo
da escola de artes circenses, mas é, também, como um complemento da rua, como uma
continuação do largo do Chão do Loureiro.
Ilustração 149 - Planta nível 2 (plataforma para apresentação de espetáculos / pátio central visível de todo o edifício que o circunda)
cota 02,4m, desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
112
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 150 – Fotomontagem género, Atmosfera Expressionista da plataforma, sobre fotografia da Filarmónica de Berlim de
Wikimedia Commons (in KROLL, 2011), Fotografia nossa e imagem do filme "Das Cabinet des Dr. Caligari", realizado por Robert Wiene,
1920
A atmosfera aqui apresentada (ilustração 150) ilustra o que se pretende desta
plataforma localizada na cota 2.4m (ilustração 144), sendo visível de todo o edifício,
principalmente da biblioteca e dos circuitos que envolvem esta plataforma. Para além
de servir como pátio central e como continuação da rua, poderá também ser utilizada
como área para a realização de espetáculos de qualquer tipo, ou como uma simples
varanda sobre a rua, um pequeno miradouro interior/exterior.
Ilustração 151 - Planta nível 3 (zona do ingresso 2 - em frente ao pátio da atafona - onde se localizam os serviços da escola de artes
circenses, o refeitório, cozinha e os primeiro quartos da residencial) cota 05,0m, desenho nosso, 2011
Na planta de nível 3 (ilustração 151) onde se localiza o acesso que se situa na rua em
frente ao pátio/largo da Atafona, a cota já se situa nos 05,0m e é onde se encontram os
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
113
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
primeiros cinco quartos da residencial, o refeitório (com pé direito duplo) e respetiva
cozinha, assim como os serviços da escola de artes circenses, tais como a secretaria,
os gabinetes de apoio e o balcão de atendimento ao público.
Todos estes serviços, assim como circuitos / sistemas distributivos, circundam o pátio
central que é visível em todo o edifício.
Ilustração 152 - Fotomontagem, ingresso 2, sobre fotografia nossa, e fotografia da Filarmónica de Berlim de Wikimedia Commons (in
KROLL, 2011)
A atmosfera exterior aqui apresentada (figura 152) ilustra, de certa forma, o carácter
pretendido no acesso pelo largo da Atafona, como uma continuação da rua.
Ilustração 153 - Planta do nível 4 (localização do auditório e respetivo Back Stage do mesmo, sala de estar dos professores, mais 5
quartos da residencial assim como uma plataforma em mezanine que funciona como complemento do refeitório) cota 09,35 e de 7,75 m,
Desenho nosso, 2011
Na planta do nível 4 acima apresentada (ilustração 153), onde se situam mais 5 quartos
pertencentes à residencial, a sala de estar dos professores da escola de artes circenses,
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
o auditório e respetivo back stage, assim como uma sala de aulas teóricas, e uma
plataforma em mezanine que serve o refeitório.
Praticamente toda a planta se situa na cota 09,35m com exceção do palco do auditório
e da plataforma que serve o refeitório que se situam a na cota de 07,75m.
Ilustração 154 - Planta do Nível 5 (contem 5 quartos da residencial, 4 salas de aulas teóricas e um bar) cota 12,65 m, Desenho nosso,
2011
Na planta do nível 5 (ilustração 154), na cota 12,65m, o sistema distributivo mantém-se
o mesmo, envolvendo o pátio central. Neste piso incluem-se os últimos 5 quartos
pertencentes à residencial, os quartos dos professores, as 4 salas de aulas teóricas e
um bar para estudantes e professores. Neste piso foi dada grande importância às zonas
de circulação, que funcionam como zonas de estar, enquanto não decorrem aulas e que
permitem, como nos outros pisos uma visualização dos pisos descendentes.
Essa relação visual obtida através do pátio central é essencial à composição do edifício
e a atmosfera pretendida é ilustrada na fotomontagem abaixo apresentada (ilustração
155), sendo essencial à relação entre os pisos. A mesma é obtida não nos espaços mais
resguardados, como os quartos pertencentes à residencial, mas sim pelo sistema
distributivo, pelas circulações que circundam o pátio central.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 155 - Fotomontagem, sobre fotografias nossas de Lisboa e do Circe du Soleil (2011) e imagens do filme "Das Cabinet des
Dr. Caligari", realizado por Robert Wiene, 1920
Nas plantas de Nível 6 e 7 (ilustrações 156 e 157) já é introduzida a sala de espetáculos.
O sistema distributivo mantém-se idêntico, circundando o pátio central, no entanto, neste
caso o centro que é envolvido é o pátio aberto ao exterior, a sala de espetáculos aberta
à envolvente.
O Foyer que envolve a referida sala tem propositadamente uma área maior até que a
própria sala, isto porque também serve de centro de exposições temáticas e onde se
localizam também bares de apoio a quem usufrui daquele espaço, servindo também de
miradouro sobre a cidade e sobre o Tejo.
A planta do Nível 6 na cota de 15,00 incluí a sala de aulas práticas/sala de aquecimento,
o back stage da sala de espetáculos e um bar para atendimento ao público.
Na planta de Nível 7 na cota de 17,75 m, situa-se uma das duas entradas para o circo
da cidade, assim como área de foyer e um dos bares para atendimento ao público. Estas
duas plantas relacionam-se através das escadas que se situam em duas zonas distintas,
em forma de cotovelo, com um patamar intermédio que permite o descanso para quem
sobe ou desce e serve também de miradouro para a sala.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 156 - Planta nível 6 á cota 15,00 m, desenho nosso, 2011
Ilustração 157 - Planta nível 7 á cota 17,75 m, desenho nosso, 2011
Na última planta, do nível 8 (ilustração 158), situa-se o acesso ao circo da cidade/sala
de espetáculos, na cota de 21,38 m. Além de entrada principal para a sala de
espetáculos, este último piso mantém, também, o seu uso de miradouro sobre cidade
de Lisboa e sobre o Tejo. Este miradouro/foyer circunda a sala de espetáculos tida como
pátio central. Toda a sala é aberta ao exterior apenas coberta com uma cobertura
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
inspirada na cobertura da Filarmónica de Berlim e nas tendas de circos, por isso
funciona isolada, separada e como se estivesse descolada do edifício.
Ilustração 158 - Planta de Nível 8, Ingresso 3, sala de espetáculos, cota 21,38m, desenho nosso, 2011
O objetivo passa por separar essa cobertura do edifício (ilustrações 159 e 160), como
se fosse uma tenda sobre o mesmo e essa tenda abre-se para a cidade, para o rio, para
a sua envolvente.
Ilustração 159 - Planta de Cobertura, Desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 160 - Fotomontagem do Ingresso 3, Cobertura, Sobre fotografias nossas de Lisboa e de Maquetas, 2011
A atmosfera pretendida é ilustrada através da fotomontagem apresentada (ilustração
161), que sobrepõe artistas do “Cirque Du Soleil”, à cobertura apresentada, que aqui é
de um céu estrelado, retirado da pintura “The Queen of the Nigth”, de Friedrich Schinkel,
e do auditório da Filarmónica de Berlim. O pretendido aqui como atmosfera é a ligação
dos artistas, à envolvente exterior, e ao público, mas também a ligação do público à
envolvente exterior, numa relação reforçada com a cidade e com o rio.
Ilustração 161 - Fotomontagem, atmosfera da sala de espetáculos
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
4.3.5. ALÇADOS, CORTES E VISTAS DO PROJETO
Como nos projetos referência dos arquitetos Aires Mateus, também este projeto se
assemelha a uma escultura, sendo necessário circundá-lo para percebê-lo na sua
plenitude. De modo a entender a sua forma, passamos a apresentar os alçados e vistas,
assim como dois cortes, longitudinal e transversal do edifício.
Ilustração 162 - Alçado do Largo do chão do Loureiro, desenho nosso, 2011
No alçado (ilustração 162) e vista do Chão do Loureiro (ilustração163), percebemos que
o edifício dispõe de poucas aberturas ao exterior, tendo alguns vãos nos quartos e nas
salas de aulas e biblioteca, para uma melhor iluminação dos espaços, uma vez que o
pátio interior dispõe de iluminação artificial. Nesta vista (ilustração 163), percebemos
que o acesso funciona como um complemento da rua, aumentando e qualificando o
largo do Chão do Loureiro, numa tentativa de integração do edifício com a relação
imediata do referido largo.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 163 - Fotomontagem, Vista do Largo do Chão do Loureiro, sobre fotografia e desenho nosso, 2011
No alçado (ilustração 164) e vista (ilustração 165) abaixo apresentados, o objetivo é
demonstrar que o edifício vive com zonas distintas. Se no alçado anterior o mesmo vive
do pátio central e complementa o largo do Chão do Loureiro, neste, o edifício continua
como uma sequência da rua, em que se pode entrar e seguir a mesma saindo depois
pelo largo do Chão do Loureiro sem ter de se contornar o edifício, mas podendo
percorrê-lo no seu interior, percebendo-se, aí sim, a importância do seu pátio interior.
Sendo a parte mais afastada do centro da composição, a mesma necessita de mais
vãos por forma a iluminar as salas de aulas, assim como a sala de aquecimento ou de
aulas práticas.
Ilustração 164 - Alçado do lago da Atafona, desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 165 - Fotomontagem, vista do largo da atafona, Sobre fotografia e desenho nossos, 2011
No alçado da calçada do Marquês de Tancos (ilustração 166), o edifício não tem o
mesmo impacto, apenas saindo ligeiramente da cota topográfica do local. Começa-se
aqui a perceber a sua volumetria, ressaltando o mais importante nesta zona, a cobertura
do circo da cidade, da sala de espetáculos da escola de artes circenses.
Sendo esta cobertura separada do corpo do edifício, a sua cor difere do restante,
aumentando o seu impacto visual, uma vez que nos restantes alçados, à escala
humana, percorrendo a rua, não se tem a noção da parte superior do edifício assim
como da sua cobertura.
Na vista apresentada (ilustração 167), feita através de montagem sobre fotografia de
uma cota superior à calçada do Marquês de Tancos, o que sobressai do complexo é a
sua cobertura é o circo da cidade e o miradouro artificial no seu topo.
Ilustração 166 - Alçado da Calçada do Marquês de Tancos, desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 167 - Vista sobre a cobertura e para o Alçado da calçada do Marquês de Tancos, fotomontagem sobre fotografia e desenho
nossos, 2011
Após a apresentação dos alçados e vistas principais do edifício passamos a apresentar
os cortes do mesmo.
No corte longitudinal (ilustração 168), percebemos principalmente a estrutura geral do
edifício em betão armado que se vai abrindo e circundando o pátio central, assim como
os sistemas de distribuição verticais.
Este corte longitudinal permite também verificar a cobertura “descolada” do restante
edifício, apesar de não ser visível a sua estrutura de suporte.
Ilustração 168 - Corte Longitudinal, desenho nosso, 2011
No corte transversal (ilustração169), abaixo apresentado, conseguimos perceber a
diferenciação entre a estrutura do edifício, em betão armado e a estrutura que suporta
a cobertura.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Além desta perceção estrutural do edifício e da sua cobertura, verifica-se perfeitamente
a presença do pátio central em todo o edifício, em todos os pisos e os sistemas
distributivos que o envolvem e circundam.
Ilustração 169 - Corte Transversal, desenho nosso, 2011
Em pormenor, apresentamos cortes que permitem uma perceção da atmosfera
pretendida para a biblioteca, que se assemelha à do restante edifício, muito à
semelhança da biblioteca de Berlim onde a relação visual entre os pisos é determinante.
As escadas e áreas de estudo são complementadas por essa mesma relação visual, no
caso do filme de Wim Wenders, “Wings of Desire” de 1987 (ilustrações 165 e 166), onde
os anjos vão ver e ouvir os pensamentos, e movimentos, dos humanos.
Ilustração 170 - Imagem da Biblioteca de Berlim, retiradas do
Filme "Wings of Desire" de Wim Wenders, 1987
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
Ilustração 171 - Imagem da Biblioteca de Berlim, retiradas do
Filme "Wings of Desire" de Wim Wenders, 1987
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
A biblioteca tem pé direito duplo, aproveitado para a inserção de dois pisos em
mezanine. Todo o piso principal é onde se situa o ingresso na biblioteca, zonas
administrativas. A zona em mezanine que circunda a biblioteca deverá ser utilizada
como zona de leitura.
A zona principal de leitura situa-se no topo das escadas que se localizam no centro da
biblioteca e circundam-na como se de um pátio se tratasse, mantendo o mesmo conceito
do edifício, onde o todo o programa envolve o pátio central. Aqui, todo o piso superior
circunda o centro da biblioteca, permitindo uma relação visual entre os dois pisos
Ilustração 172 - Corte Longitudinais da Biblioteca, desenho nosso, 2011
Ilustração 173 - Corte Longitudinais da Biblioteca, desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Ilustração 174 - Corte Transversal da Biblioteca, desenho nosso, 2011
Ilustração 175 - Corte Transversal da Biblioteca, desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Por último, são apresentados os cortes construtivos que permitem exemplificar o
sistema de construção utilizado (ilustrações 176 e 177).
Ilustração 176 - Pormenor construtivo da cobertura, desenho nosso, 2011
Ilustração 177 - Pormenor construtivo tipo da laje e parede, desenho nosso, 2011
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente dissertação teve por base uma investigação, pesquisa e reflexão de
conceitos e ideias, considerados relevantes para a elaboração de um projeto de
arquitetura, realizado na unidade curricular do Projeto III. A investigação incidiu sobre o
objeto de estudo, casa-pátio, sobre a arquitetura popular alentejana e sobre a obra do
atelier Aires Mateus.
A origem da tipologia pátio remonta ao começo da História da Humanidade, estendendose desde as habitações de antigas comunidades, nas grandes civilizações préclássicas, transpondo-se também para as clássicas até à atualidade. Desenvolveu-se
durante todos os séculos da humanidade e em todos os locais do mundo, mostrandose flexível o suficiente para responder a diversas necessidades culturais (dos povos) e
físicas (dos locais). Este caráter transversal vem comprovar o facto de este ser um
elemento fulcral no modo como o Homem habita o espaço, desde as épocas primitivas
até à atualidade.
Na sua qualidade de espaço exterior que serve e organiza uma massa edificada
envolvente, o Pátio poderá ser descrito, de forma simples, como um espaço que se
relaciona com espaços, com movimentos, com pessoas. Um espaço onde ocorre o
relacionamento com a natureza, com o ar livre. Um espaço suscetível à chuva, ao sol,
ao vento e ao movimento das pessoas, público ou privado, de relações sociais
(convívio), de contemplação e intimidade, ou outras tantas atividades que possam ser
lá desenvolvidas.
Podemos então concluir que na casa-pátio, este surge como elemento unificador e
ordenador. Conferindo a ordenação estrutural e o aspeto visual da mesma. A habitação
torna-se indissociável do pátio e vice-versa. O denominador comum da casa e da
arquitetura da casa é o pátio, tido como um elemento central, sendo a restante estrutura
habitacional e o modo como se desenrola, dependente de características sociais,
culturais e religiosas.
Neste contexto verificarmos que a região do Alentejo, a sua cultura, o seu modo de ser
e de habitar tem referências das várias civilizações que por ali passaram e se fixaram.
Desde as tribos primitivas, à cultura romana, muçulmana e, mais tarde, cristã, todas elas
deixaram o seu cunho, influenciaram tanto a arquitetura nas suas aldeias, como o monte
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
no cabeço, no meio rural, assim como vários costumes e tradições desta região do Sul
de Portugal.
Face ao exposto podemos concluir, que apesar de ter os seus traços indissociáveis
característicos do modo de ser desta região, tais como a planta regular de uma forma
geométrica simples, de um só piso e de paredes grossas (muito devido aos materiais
utilizados na construção), o seu aspeto sólido e compacto com utilização de poucos
vãos e de dimensões reduzidas, a branquidão das fachadas devido à caiação das
paredes, o pátio mantém a mesma influência sobre o seu modo de habitar, como
manteve em todas as outras civilizações.
Não influencia tanto a casa na urbe, uma vez que a divisão principal da casa
mediterrânea das várias culturas que por ali passaram era o pátio. Na casa alentejana
este espaço primordial para onde todos os outros se disponibilizam é a cozinha. Esta
assume uma função de destaque, como zona de confeção de alimentos, de sala de
refeições e de estar, sala de convívio, de receção das visitas, entre outras atividades
que lá possam ser desenvolvidas, tal como o pátio sem ter a relação com o exterior que
este apresenta. Esta cozinha tem como elemento fulcral a lareira, que é abrigada por
uma chaminé, de grandes dimensões, e que faz parte do alçado da casa e que surge
como elemento unificador, criador da harmonia do edifício e dos conjuntos de edifício
que definem a rua.
Esse pátio central, organizador da composição arquitetónica surge no monte, na casa
do terreno agrícola, associada ao modo de habitar romano. Nesta os traços
característicos do modo de construir mantêm-se, no entanto, a composição dos
diferentes edifícios que o compõem dá-se ao redor do pátio, que serve como elemento
unificador dos vários espaços envolventes, tais como a casa do agricultor, as
cavalariças e abrigos para os animais, armazéns, fornos, entre outras funções
necessárias à lavoura diária da agricultura.
No modo de pensar a arquitetura do atelier Aires Mateus, além das influências da
pesquisa unitária das grandes referências dos arquitetos portugueses de renome como
Fernando Távora, Álvaro Siza, Souto Moura, nos seus conteúdos minimalistas,
abstracionistas e de complexa relação com o território, existe também uma grande
influência da arquitetura alentejana. Isto evidencia-se pelos tipos de formas utilizadas,
sempre muito elementares, de formas geométricas simples e tradicionais, pelas
fachadas completamente brancas, como se fossem caiadas e pouco ou nada
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
ornamentadas, pela espessura das paredes, que se assemelham às paredes grossas
de taipa ou de tijolo maciço, os poucos vãos utilizados nas fachadas, além da relação
peculiar com a envolvente, características do modo de habitar desta região.
Além desta relação com o modo de construir e habitar alentejano, o atelier Aires Mateus
também se encontra bastante conotado com o modo de habitar a Casa-Pátio, como se
pôde verificar nas casas referencia evidenciadas nesta investigação. Todas elas tinham
como denominador comum o pátio, como elemento gerador da organização espacial,
para onde todos os espaços de disponibilizam, se abrem e se iluminam, onde a casa
vai buscar a sua relação com o exterior, mantendo o caracter intimo necessário á vida
familiar. Como em toda a evolução da casa pátio, nestes exemplos, a casa e o pátio
surgem como elementos indissociáveis, um não pode viver sem o outro.
Apesar desta relação intima com o modo de habitar alentejano e da Casa-Pátio, este
atelier não deixa de inovar, melhorar, estes instrumentos que lhes são dados por estas
influências, ou seja, são deixadas as principais linhas como se tratassem de uma
memória daquele tipo de construção. Oferecendo-lhe, desse modo, o seu cunho
pessoal, inovando e conferindo uma nova qualidade à arquitetura desta região
alentejana. Para além deste carácter experimental e inovador, o elemento principal da
casa, o que dá vida à mesma e o principal responsável pela desconstrução do volume
puro, dando-lhe a verdadeira essência da vida na casa, é o Pátio, o centro da casa, que
também
surge
reinterpretado,
inovando
e
experimentando
várias
soluções
referenciadas historicamente.
Este modo de atuar e de pensar a arquitetura foi obviamente influência direta na
conceção do projeto que apresentamos no capítulo final desta dissertação.
Mas, mais do que as influências da arquitetura alentejana, a base do projeto final é a
Filarmónica de Berlim, uma vez que o arquétipo ativo deste trabalho é o projeto do
arquiteto expressionista alemão Hans Scharoun, para aquela sala.
No entanto, a influência do modo de atuar e de pensar a arquitetura inerente ao atelier
Aires Mateus denota-se a nível formal pela implementação de uma geometria
simplificada, considerada como um sólido puro, elementar e abstrata. Obtida através da
apropriação da planta da Filarmónica de Berlim que foi tridimensionalmente
desconstruída no processo de crescimento do projeto.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
131
Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
Tal como o é nas obras do atelier Aires Mateus, a composição espacial foi efetuada em
primeiro lugar pelos espaços principais, neste caso o pátio e a sala de espetáculos.
Todos os outros espaços desenvolvem-se nos muros grossos deixados no objeto
abstrato que rodeiam o seu centro escavado, ou que rodeiam o pátio escavado do objeto
primário abstrato.
Neste caso, o edifício surge de modo a resolver uma difícil topografia com três zonas
distintas, sendo essas o largo do Chão do Loureiro, o beco da Atafona e a calçada do
Marquês de Tancos. Desenvolve-se, então, como uma montanha, que se comportaria
como a topografia do sítio de Alfama.
A ideia era que o edifício se comportasse como uma continuação da rua, assim como a
Filarmónica de Berlim, como uma cidade em si mesmo, podendo-se vaguear livremente
no mesmo, apreciando-o e estabelecendo uma relação visual com todos os seus
usuários seja qual for a sua localização, sem no entanto se perder a intimidade inerente
a qualquer um dos espaços. Como na própria cidade de Lisboa através das suas ruelas,
largos, praças, miradouros.
A metodologia da elaboração do projeto foi concebida tendo em conta a base teórica
comprovada num processo de investigação, pesquisa e reflexão, desenvolvendo uma
capacidade de crítica e um modo de atuar onde se tenta encontrar soluções, nessa
investigação, para os problemas encontrados no desenvolvimento do projeto.
Estando muito conscientes de que a arquitetura não contém verdades universais prédefinidas, não como a matemática, a arquitetura é um processo de investigação,
reinterpretação, tentativa de inovação, experimentação e aplicação. Ou seja, podemos
apoiar-nos numa base tradicional, como por exemplo a Casa-Pátio, que, ao ser
reinterpretada, pode levar a soluções capazes de resolver problemas qualquer que seja
a época em que eles surjam.
Concluindo, consideramos, e tendo em conta o objeto de estudo desta dissertação, o
pátio, que a utilização sistemática do mesmo num exercício de reinterpretação e
inovação, pode oferecer, assim, várias soluções para problemáticas passadas, atuais e
futuras. No entanto, como já referido, nada na arquitetura pode ser tido como uma
solução pré-definida, mas sim como objeto de estudo e interpretação.
Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
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Luís Manuel Moreira Godinho Cachola
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Alentejo e Casa Pátio em Aires Mateus
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