RELAÇÃO DE MANUEL DO NASCIMENTO COM MONCHIQUE 1. Introdução Monchique faz parte da história da Literatura Portuguesa; em Monchique nasceu e viveu Manuel do Nascimento, onde foi escrita parte importante da sua obra. Para Monchique é de grande importância ter um escritor, que foi seu, que teve projeção nacional e com obra publicada no estrangeiro, para além da obra jornalística e editorial que nos deixou. Trata‐se de uma referência de indiscutível valor histórico, de que Monchique deve apropriar‐se, expandindo‐a, e disso tirando proveito. Nos anos recentes, e no presente, a obra de Manuel do Nascimento tem servido de base à expansão dos hábitos de leitura, e, portanto, da expansão cultural, entre os alunos da Escola EB 2 3 de Monchique, expansão esta que a mesma escola alargou meritoriamente aos pais dos alunos. Recentemente, em 07.12.12, o Museu do Neorrealismo realizou uma sessão comemorativa do centenário do escritor (figura 1). Figura 1: Convite para a sessão de homenagem prestada a Manuel do Nascimento em 7‐12‐2012, no âmbito do centenário do escritor monchiquense. Também em novembro e dezembro de 2012, a Biblioteca Municipal de Portimão levou a cabo uma exposição bibliográfica da obra de Manuel do Nascimento. São sinais importantes de que a obra do escritor, e, por via dela, Monchique, ganham importância exterior ao concelho. Mas é sobretudo no futuro que, se aproveitarmos, como temos a obrigação de o fazer, Monchique poderá tirar proveito da obra que Manuel do Nascimento nos deixou. A cooperação que atualmente se desenha com a Universidade do Algarve e com o Museu do Neorrealismo vai no sentido de externalizar, em muito maior escala, relativamente ao concelho, a obra do escritor. 1 Assim, desenvolvendo a obra já feita no sentido de divulgar a obra do escritor, Monchique multiplicará cidadãos com mais e melhor cultura, dando‐lhes referências, enfim, valorizando o que é seu. E exportando valores. A ligação da cultura às coisas económicas é evidente. Cidadãos com mais e melhor cultura, com referências e com mais largos horizontes, só podem beneficiar social e economicamente o concelho. 2 2. Monchique na vida e obra de Manuel do Nascimento Manuel do Nascimento Correia nasceu em Monchique a 27 de dezembro, no ano de 1912 (figura 2), e viveu grande parte da infância na atual Rua dos Combatentes do Ultramar, numa casa de boa traça, ainda hoje existente e devidamente assinalada em lápide colocada pela Junta de Freguesia de Monchique e pelos descendentes do escritor, em 2006, por ocasião das comemorações do 96º aniversário do seu nascimento. Ao longo da carreira de escritor e do destino de homem, a sua relação com a terra natal é marcada, essencialmente, não tanto pelo rasto cívico que nela deixou, mas, em contrapartida, pelo diálogo permanente com a paisagem física e humana da Serra de Monchique, gravado de forma subtil, mas indelével e engenhosa, na quase totalidade da sua narrativa. Figura 2: Extrato de Registo de nascimento de Manuel do Nascimento. Filho de uma família de pequenos burgueses dedicada ao comércio de produtos da economia local, pouco ou quase nada se sabe das vivências de infância de Manuel do Nascimento na vila de Monchique. No entanto, pelo facto de ter partido, ainda muito jovem, da terra que o viu nascer, tendo frequentado o Liceu Nacional, em Faro, primeiro, e a Escola Académica, em Lisboa, depois, conclui‐se que não terá partilhado as privações de educação e más condições de vida a que a generalidade das crianças da mesma idade, naquele tempo, se encontrava submetida. Durante a estadia na capital algarvia, com apenas quinze anos de idade, desenvolve uma primeira aproximação à literatura, com a publicação do conto A Lenda das Campânulas (Sampaio, 2006). Com os estudos na capital, diante de uma realidade completamente distinta do contexto socioeconómico e cultural de uma serra algarvia geograficamente encravada e assente numa base económica vincadamente agrária e rural, vêm os primeiros desvarios da juventude, as primeiras paixões, as primeiras convivências com alguns dos futuros nomes da vida pública e artística portuguesa e, com eles, os abalos dos primeiros impulsos criativos. O efeito apaziguador da serra de Monchique sobre as macerações causadas por essas tortuosas introversões é demonstrado pelo autor no livro Encontros, I vol., 1961, dedicado a uma série de entrevistas e depoimentos recolhidos na intimidade de algumas das mais proeminentes personalidades da literatura e das artes da primeira metade do século XIX: 3 Para encurtar os dias de umas longas férias, com a compostura de um estudante que chumbou duas cadeiras por causa de uma rapariga de vestido verde, carreguei‐me de livros e parti para casa (...) Mais tarde, voltaram as paixões. Fiz versos; os primeiros, a mulheres suculentas e sem olheiras (...) e, nos últimos, só consegui pôr a minha sinceridade e um anseio de justiça que me atormenta desde que me conheço. (Encontros, vol.I, 1961: 20). Esse contacto primordial com a literatura terá sido grandemente influenciado pela proximidade à fecunda e diversificada biblioteca privada de Ilídio de Oliveira Correia, seu tio e juiz de Direito (Sampaio, 2006). E se um dia, após conclusão do percurso académico, Manuel do Nascimento parte para Jales, uma mina beirã onde exercerá distintamente a sua profissão de engenheiro técnico, é descendo aos abismos infernais nos fundos precários das galerias que se vê confrontado com as cruéis condições de vida a que se encontram votados os mineiros. Na sua consciência, começa então a acalorar‐se uma luta permanente por um mundo melhor, menos desigual, mais justo, em que a realidade pudesse ser moldada pelo sonho. E embora seja nessa província que se começam a desenhar as traves mestras do seu primeiro romance, é, já no repouso convalescente e terapêutico dos ares purificados da Serra de Monchique, depois de tolhido por doença do foro pneumológico, que assina o seu primeiro trabalho, lavrado em 1938. Com uma matriz identitária altamente autobiográfica, Mineiros, publicado apenas cinco anos depois de redigido, é, pois, o primeiro vértice de toda a geodesia literária de Manuel do Nascimento, permanentemente triangulada pelo crivo da realidade social, etnográfica e paisagística relevada não apenas da sua experiência profissional e pessoal, mas, principalmente, do contacto direto, constante e simultâneo com a rudeza perturbadora da vida no meio rural e com a seiva criativa e inspiradora que brotam do quadro sumptuoso e fresco da paisagem. Em Manuel do Nascimento, Monchique define‐se como cenário ideal de resguardo inventivo e de materialização do espaço da narrativa ficcionada. Homem sensível, humanista, preocupado com as andanças do mundo, marcado por um ideal de fraternidade, Manuel do Nascimento era, igualmente, um homem de caráter tímido e reservado, amarfanhado pelas suas próprias inquietações e pelas perseguições impostas por um regime totalitário alicerçado na repressão das liberdades individuais e na censura implacável às artes apostadas na emancipação das grandes massas, nas quais se incluem os propósitos do movimento neorrealista. Por ocasião da reedição de O Último Espectáculo, 2006, Luís de Sousa Rebelo, amigo íntimo do escritor, revela que o autor «não exibia os seus talentos nem falava dos seus escritos, a não ser que fosse instado por quem neles tivesse genuíno interesse. Passou despercebido do grande público. Morreu no anonimato...» (in O Último Espectáculo, 2ª ed., 2006: 13). No entanto, os trabalhos desenvolvidos por alguns seus concidadãos, nomeadamente José Rosa Sampaio, historiador que dedicou uma grande fatia das suas investigações à vida e 4 obra do autor, e Ana Paula Almeida, professora na Escola E.B. 2,3 de Monchique, tornam‐se dinamizadores primordiais de uma acesa batalha contra o esquecimento deste literato nascido em Monchique. Com meritórios trabalhos levados a cabo, sobretudo, a partir do ano de 2002, envolvendo a comunidade local, mormente os mais jovens, nesse desígnio abnegado, ambos devolvem o exemplo de tenacidade criativa e de cidadania interventiva deixados por Manuel do Nascimento, abrindo a vida e obra do escritor a um novo mar de perspetivas na raiz do seu berço nativo. Com efeito, um conjunto de entrevistas a conterrâneos do escritor ‐ alguns deles amigos pessoais, dos quais se destaca José Leal Varela ‐ suportadas por um aturado trabalho de pesquisa literária desenvolvida pelos alunos da Escola E.B. 2,3 de Monchique, permitiram desvendar um pouco mais sobre a vida e obra de Manuel do Nascimento, nomeadamente no que diz respeito à sua relação com a terra natal. Este esforço trouxe uma luz fresca e retemperadora à memória do literato serrano, contrariando um certo desprezo militante a que tanto o homem como o escritor se encontravam injustamente votados, mesmo na própria terra onde nasceu! Em boa hora, dessa profícua investigação, resultou a ruína da pretensiosa torre de marfim a que se acorrentava a ideia de um homem difícil e de convívio não imediato, da qual, infelizmente, ainda hoje permanecem resquícios bloqueando a divulgação dos livros frutificados no pensamento e amadurecidos na sua pena. Quer no debate de ideias, quer na celebração de afetos, quer na exaltação da amizade, Manuel do Nascimento deixou, junto de quem com ele privou de perto, a convicção de que a intimidade é, igualmente, uma forma de sociabilidade mais profunda e mais calorosa. Exemplo disso são os inúmeros livros que ofertou e dedicou, de forma cúmplice e sentida, a amigos chegados; a utilização da máquina de escrever de um amigo monchiquense, ferramenta indispensável na arte de polir e refinar o sentido das palavras; as vastas fotografias tiradas à paisagem, atualmente documentadas em obras de referência sobre a história contemporânea da região e do concelho de Monchique; as aulas de educação física e clubes de basquetebol implementados no antigo Colégio de Santa Catarina, onde foi professor, durante o período de recuperação da doença. É, contudo, no resguardo da intimidade criadora, no inviolável sentido pessoal da responsabilidade assumida no ofício de escritor, que Manuel do Nascimento estabelece um vínculo, ao mesmo tempo nítido e subtil, com Monchique e com a sua matriz autêntica e identitária. É a permanência de espaços e lugares, enredos e personagens de tal modo enraizados na paisagem social, cultural e ambiental da Serra de Monchique que dá uma nova significação literária à terra natal do autor. Entre Manuel do Nascimento e as personagens nas quais se insinua a realidade que o rodeia, entre a sensibilidade do escritor e o quadro fisiográfico inspirador, entre o pensamento e as duras condições de vida das populações rurais, as relações de interlocução apenas se mantêm na estreiteza apurada das páginas dos livros que escreveu. Sem nunca atraiçoar a raiz, Manuel do Nascimento identifica‐se de modo profundo e coerente com o particular retirado das suas vivências, das suas incursões meditativas sobre Monchique e, sem nunca referir o nome deste «último maciço montanhoso do sul1», alarga fielmente os dramas singulares dos que aí vivem, bem como os seus gritos de revolta e indignação aos confins da geografia sensível do leitor. É o próprio autor quem, nas palavras com que enceta O Último Espectáculo, 1955, salienta o exercício indutivo da sua obra: 1
"O Vizinho", O Último Espetáculo, 2ª ed., 2006: 81. 5 Estas histórias de "O Último Espectáculo", arrancadas aqui e além, no calcorrear desta terra portuguesa que tem sido a minha vida, não saíram trajadas à maneira do local onde aconteceram (...) Sofrendo como homem e com a vida dos homens preocupado, esqueço sempre o que me rodeia. (...) Vejo sempre a paisagem pintada como um reflexo de sentimentos. (O Último Espectáculo, 1955: 21.) Se, de acordo com as palavras de Miguel Torga, «o local é o universal sem paredes2», mesmo transplantada para realidades imaginadas, na obra de Manuel do Nascimento, a linfa de onde jorraram os estímulos inspiradores do escritor transparece enquanto nó cego do autêntico absoluto. O escritor encarna, assim, proficientemente, o seu papel na arte de derrubar as paredes ao local que o viu nascer e, deste modo, torna Monchique numa síntese de tantas outras geografias análogas, colocando‐a nos mapas literários do país, universalizando‐a. Independentemente da interpretação, da sensibilidade e do pensamento do leitor e por muito que a possam transfigurar, será justo, a qualquer monchiquense conhecedor do chão que pisa e dos recantos que lhe moldam a têmpera dos genes, aceitar que a incorruptível raiz monchiquense medra nos vários horizontes da obra do escritor. Nesse sentido, a leitura cuidada da obra de Manuel do Nascimento permite concluir com relativa facilidade, ainda que, por vezes, apenas de modo telepático, que a alma diegética de Manuel do Nascimento cabe perfeitamente nas dimensões latitudinais e longitudinais da Serra de Monchique. Reinventando ambientes que lhe são familiares, entretecendo os factos com tintas mais castas ou mais agrestes, acrescentando, vivificando, enriquecendo sem ferir a verdade discreta no ponto de partida, recriando personagens imaginadas no real, Monchique, sem deixar de o ser na sua essência nuclear, situa‐se fora da sua localização concreta e ganha as coordenadas literárias da Beira, do Alentejo, de Trás‐os‐Montes, ou de qualquer outra região do país ou do mundo, viajando à velocidade de quem folheia as páginas dos livros. Na parte derradeira de Eu Queria Viver!, 1943, romance de estreia na edição, para além da colagem autobiográfica ‐ à semelhança da protagonista, também o autor se viu obrigado a recobrar energias no meio da verdura luxuriante da serra, após doença do foro pulmonar ‐ há uma clara sobreposição da paisagem literária com a morfologia da vila e da Serra de Monchique no final da primeira metade do século XX: Agora, estou numa vila pequena. Ruas estreitas, torcidas, casas pequenas, quasi tôdas de barro e de um reboco de cal muito branca a tapar‐lhes a pobreza. Casas térreas, e lá dentro panelas ao lume no alto de tripeças; madeira em fogo cozendo batatas. (Eu Queria Viver!, 1943: 174‐175) Vila pequena cheia de anseios. Anseios amortecidos num dia de rega, num dia de monda, num dia de ceifa, num dia de cava... (...) Os mais velhos vão esperá‐lo a uma volta qualquer, donde se avista a serra toda. (...) E as crianças pendem a um canto. Ele grita: «Mulher, deita os moços»... (Eu Queria Viver!, 1943: 175‐176) 2
"Trás‐os‐Montes no Brasil", Traço de União, in Ensaios e Discursos, 2001: 147. 6 Longe em longe, em cada rua, uma casa alta a desgarrar do todo. Mais cuidada, fita de pedra e cal. Gente melhor na vida (...) Porco para matar no Natal. (Eu Queria Viver!, 1943: 176) Andávamos por uma estrada de eucaliptos e ele falava com entusiasmo... (Eu Queria Viver!, 1943: 180) Festa... Tudo esqueceu o trabalho dos campos. O suor e as imprecações ficaram com as enxadas, e os camponeses descem as encostas da serra à vila para ver as árvores de fogo, para comprar cinco tostões de bilhetes no bazar. (Eu Queria Viver!, 1943: 186) Na vila a mesma coisa para quasi todos. Trabalho no outro dia na forja, na serração e mesmo no campo. (Eu Queria Viver!, 1943: 187‐188) Em Eu Queria Viver!, 1943, mais que a alusão concreta a uma realidade palpável, dando formas ao passado da vida na vila, esvurmando a relação de forças no plano funcional, laboral e social entre a vila e o campo, entre o homem prepotente e o homem acossado, surge a concretização da força criadora de Manuel do Nascimento, inextricavelmente ligada à realidade das Caldas de Monchique, local de predileção do escritor e que não desmente a sua ligação mística ao torrão nativo: «Estive nas termas. Há em todas as termas um parque. Às vezes, um quadrado de terra com dez metros e quatro árvores à roda...» (Eu Queria Viver!, 1943: 190) E se em Mineiros, 1944, poucos indícios se encontram a desvendar Monchique no trajeto de cariz essencialmente autobiográfico da narrativa a não ser a assinatura final: «Monchique, 1938», situando a obra no laboratório criativo da sua terra natal, em "Dona Maria Morreu no Outono", publicada na antologia Campanha, Novelas e Contos, 1943, o contexto social e afetivo local voltam a servir de base para uma novela que, embora ficcionada, causou bastante polémica nas fronteiras domésticas do concelho, por se supor inspirada num caso real de casamento interesseiro e consequente adultério, cujos protagonistas incluíam gente de famílias influentes e, até, imagine‐se, familiares do autor. À margem dos acontecimentos, dos juízos formulados, dos ódios erguidos e dos rancores crispados que terão levado ao aprofundamento das distâncias do autor para com os segmentos mais influentes da vida pública local, a obra de Manuel do Nascimento tornava‐se cada vez mais tangível na realidade patrícia, estreitando‐se numa conexão progressivamente inseparável da realidade de Monchique. 7 É, em O Aço Mudou de Têmpera, 1946, no pós‐guerra, que este eleito do virtuosismo das palavras concebe um espaço geográfico de Monchique mais real, até, que a própria realidade. Embora a ação se desenrole na Beira, nesta obra, as suas paisagens, os topónimos, os nomes de algumas famílias que ainda hoje perduram no quotidiano monchiquense, fundem‐se com a sua experiência enquanto homem sofredor, sensível às violentas condições de vida dos mineiros, mas, também, às ideias revolucionárias relacionadas com a luta por um mundo mais justo e mais igual. Mesmo com entre meridianos e paralelos beirãos, Monchique surge, pois, povoado de literatura. Na medida em que o Homem não o é sem o rasgo definidor do espaço ‐ o que se vê e o que se intui ‐ o espaço que o enquadrou na superfície do passado e o espaço que o há de enquadrar nos lugares futuros, Manuel do Nascimento volta a fazer corresponder ao seu fervor literário e pessoal o cenário natural e social de Monchique. Tudo o que no livro é passível de ser conotado com Monchique pode ser identificado como tal, sem quaisquer sortilégios pretensiosos ou feitiçarias intelectuais. Tendo como ponto de partida a paisagem física e psicossociológica da sua terra natal, a essência junta‐se ao essencial. Os lugares, as personagens e o enredo surgem habitados e animados pela experiência profissional e pessoal do autor, colando‐se, com notável sucesso, em cada página, o cruzamento de dois pressupostos que só a mestria com que Manuel do Nascimento manuseava os cimentos literários poderia fundir. À prosa terrosa, envolvida pela mesma névoa narrativa demonstrada em Eu Queria Viver!, 1943, em O Aço Mudou de Têmpera, 1946, igualmente redigido em Monchique, Manuel do Nascimento adiciona‐lhe as mesmas miragens panorâmicas com uma tal objetividade que se torna inconsciente e inevitável estabelecer uma dimensão de paralelismo entre a Serra de Monchique e a paisagem narrativa. Manuel do Nascimento demonstra um conhecimento geográfico invulgar da terra natal, no que respeita à orientação das massas orográficas dominantes e da sua influência no clima e na economia rural locais, transcrevendo‐a, com uma invulgar segurança imaginativa, nas características morfológicas do lugar onde a ação da obra se desenrola: «A serra azulada, sem‐fim, fazia de trincheira contra os ventos que vinham do Norte e da terra levantava‐se uma neblina azulada que esbatia os contornos das árvores e das casas.» (O Aço Mudou de Têmpera, 1946: 21). Ora só quem desconhece a disposição do relevo da Serra de Monchique e o efeito de barreira que este exerce contra as massas de ar provenientes do Norte, bem como as neblinas constantes que cobrem os dias de um branco gasoso comprimido contra a vegetação e os edifícios, pode ignorar a indissociabilidade entre a geografia monchiquense e a geografia ficcionada na obra. E se o processo referido anteriormente pode, de igual modo, ser aplicado a outros complexos montanhosos do país, como o Caldeirão, ou mesmo a Serra da Estrela, mais próxima da Beira, as certezas de uma inspiração em Monchique ganham um novo alento quando Manuel do Nascimento quebra todas as dúvidas e ceticismos remanescentes e refere, logo no amanhecer da obra, um conjunto de topónimos integrantes da paisagem da sua terra natal (Casais, Carvalho, Chã, etc. ), ao mesmo tempo que atribui a algumas das suas personagens nomes que, por estes dias, permanecem integrados no imaginário de alcunhas 8 pelo qual são conhecidas algumas famílias em Monchique, tornando‐as, deste modo, mais humanas, de carne e osso, no pensamento do leitor. Semelhante manha artística é aplicada em Histórias de Mineiros, 1960, onde Manuel do Nascimento se consolida como o cronista príncipe dos Mineiros. Na obra, o autor torna a referir‐se explicitamente a alguns topónimos da terra natal, sem quaisquer condicionalismos: ‐ Há bocado apontaste aquele moinho que parecia o da Portela do vento. Gostaria de voltar lá. (...) Olhei novamente o fundo do vale. Sem querer, voltei‐me para a minha infância. No Sul, junto da povoação onde tinha nascido, também havia um vale como aquele... ‐ Gostava de voltar lá... ‐ continuou a Janette ‐ gostava de ouvir novamente a história daqueles homens que viviam no moinho, de beijar a água da Ribeira Grande.» (in Histórias de Mineiros, 1960, p. 141). Apesar do andar apressado do tempo, a obra de Manuel do Nascimento permanece viva entre os monchiquenses. O Aço Mudou de Têmpera, 1946, a par de O Último Espectáculo, 1955, é um dos títulos publicados pelo autor que terá acolhido maior aprovação por parte dos seus conterrâneos. As duas publicações continuam a ser bastante repetidas por parte da população quando instada a pronunciar‐se sobre este ilustre filho da terra. Já em Roteiro da Província do Algarve, 1951, obra calcorreada nos horizontes da exuberância paisagística e da singularidade das gentes algarvias, surgida como uma radiografia transparente aos defeitos e virtudes da região que o viu nascer, Manuel do Nascimento relata‐
nos, de modo desassombrado e isento, a crónica de uma devotada peregrinação pela região mais meridional de Portugal. Sem os tradicionais pretensiosismos conselheirais que impedem uma perceção isenta do que nos é afetivamente mais próximo, Monchique surge, então, descrito de modo cru e ao pormenor, como uma espécie de Paraíso às avessas onde a essência do Homem e do Meio, desencontrados da significação primordial de cada um, surgem de costas voltadas, numa harmonia preguiçosa ainda por despertar, conforme se pode comprovar com a seguinte transcrição: A beleza cansa pelo que nos transmite em emoção. Basta que a cor seja um grito, basta que as mutações se entrechoquem. Fujamos pois dos azuis, dos vermelhos, dos amarelos, reconfortemos um pouco o espírito cansado. Só o verde nos servirá de bálsamo e Monchique será o próximo ponto a atingir. A serra, vista de longe, não passa de um bom fundo fotográfico. Deixe de olhar esses terrenos salgados. São tristes e estéreis como a morte. Corre‐nos à esquerda a ribeira de Boina e o solo começa a convulsionar‐se. Os montes tomam gradualmente altura, unem‐se uns aos outros em pregas profundas e a estrada serpenteada entre as barreiras de xisto como um réptil fustigado pelo sol. A vegetação adensa‐se. Acácias perfiladas ladeiam a faixa de rolagem alcatroada, negra e aos pequenas manchas de pinhal descem até nós. Um regato, morrendo à míngua de água, montes e mais montes e um casebre em ruínas... 9 Agora, acácias, cedros e eucaliptos quase se entrelaçam desafiando os raios de sol a atravessar‐lhes a folhagem compacta. Um ramal de duas escassas dezenas de metros nos leva até às termas. Que ninguém pense em encontrar nas Caldas de Monchique a sumptuosidade dos "palaces“. Aqui tudo é pobre menos a paisagem e o valor terapêutico das águas. Desçamos ao Paraíso. Uma abobada de folhagem nos protege e a ribeira límpida corre molemente rodeando calhaus ora negros, ora avermelhados. Pequenos olhos de sol marcam na terra castanha círculos luminosos. Uma ponte... As cigarras cantam e tudo é verde à nossa volta. A água vai cavando os estratos xistosos, aprofunda‐se cada vez mais e o caminho aperta‐se, estrangula‐se. Em baixo uma represa desconjuntada, mais além o arco de uma ponte. Um pequeno apontamento. Uma escada... Hortenses azuis... Um lago snob de jardim... Três eucaliptos em cujos troncos meninas românticas, cravaram corações e escreveram versos... Uma mesa de pedra... Uma fonte... A fonte dos amores (figura 3). Figura 3: Fotografia de Monchique e do panorama visto das Caldas de Monchique. Autoria: Manuel do Nascimento. In: Roteiro da Província do Algarve, 1951. Tornejemos a capela e internemo‐nos na mata. Conforta‐nos o ar perfumado pela resina dos pinheiros e lá do alto contemplamos um dos mais variados panoramas do Sul. Algumas pedras avantajadas, que pararam ao encontrar qualquer obstáculo, lembram os polos semeados no vale do Zêzere. A caminho de Monchique, as encostas talhadas em socalcos têm por vezes o aspecto de anfiteatros romanos. Monchique é terra cinzenta e insensível. Não vê as folhas das árvores, não ouve o cantar das águas que saltam de canteiro em canteiro, não sente o pulsar da seiva, não respira o ar purificado pela vegetação exuberante. 10 Começada a subida para a Fóia olhemos em volta. Na frente o retalho verde suave dos soutos que sobrem de um e do outro lado da ribeira da Serra; a nossos pés os degraus de uma escada monumental que desce até ao Pé da Cruz e a norte a vila que parece deitada na aba de um cerro. Onde encontrou um palmo de terra cultivável, o homem, ergueu muros de defesa contra a erosão e plantou jardins. Quão penoso o seu esforço... A água corre por toda a parte. Dá‐nos vontade de cair de borco numa prece à terra... A arborização baixa de densidade à medidada que subimos, as arestas vivas das massas de pedra são punhais que procuram ferir‐nos, o ar torna‐se mais puro, a temperatura desce e a montanha recebe‐nos desdenhosamente. Uma curva larga... A pirâmide da Fóia... Perde‐se a noção das distâncias, +parece que nos debruçamos ante um mapa em relevo. O Alentejo, na sua vastidão, como que se espreguiça... O recorte da costa surge‐nos nítido, vincado... manchas claras de muitas casas juntas. Portimão... Alvor... Lagos... As areias da Meia Praia... Mais longe, Sagres e S. Vicente... E para os lados de Aljezur os montes parecem ventres pejados.» Roteiro da Província do Algarve,1955: 11 ‐ 13. A uma paisagem geográfica que se exalta diante de si e lhe deslumbra os sentidos, Manuel do Nascimento contrapõe uma paisagem humana amorfa, desintegrada da primeira, a quem carecem as virtudes de amar a terra com o sentimento de posse, e não de possuída, próprio das paixões verdadeiras, conforme atesta a seguinte passagem do conto "O Vizinho", incluído em O Último Espectáculo,2ª ed., 2006, cuja trama narrativa pode muito bem ser circunstanciada nas palavras reproduzidas anteriormente: Pouco me interessava aquela povoação triste, onde nada acontecia, a vida daqueles homens e daquelas mulheres que vinham às portas olhar os desconhecidos que passam nas ruas. (...) Cá fora o suão movia o bafo abrasador do sol e os homens, nas lombas dos cerros, deitavam fogo aos matos. Dias e dias naquele trabalho maldito. O cheiro picante das urzes e da terra queimada punha um amargo nas bocas e arrastava um pigarro desconfortante. O Último Espectáculo,2ª ed., 2006: 81, 82 Mais do que um singelo roteiro turístico, Roteiro da Província do Algarve, 1951, é, acima de tudo, uma crónica literária pormenorizada da geografia poética de Manuel do Nascimento. À qualidade de observador atento aos homens e às forças da natureza que, de certa forma, o determinam, o escritor monchiquense revela‐nos uma nova faceta: a arte de captar a realidade num segundo, eternizando a palavra escrita no negativo de uma imagem e vice‐versa (figura 3). São ainda muitos os que se recordam das caminhadas solitárias do escritor pelas ruas da vila de Monchique, de câmara fotográfica a tiracolo. Os espaços sensíveis entre as palavras que Manuel do Nacimento escreveu foram, pois, convenientemente ocupados e ilustrados pela força descritiva das suas fotografias. Daí que muitas das descrições presentes nos seus livros tivessem a força expressiva de uma fotografia e as suas fotografias 11 tivessem a definição pictórica de um texto. Vistas das altitudes panorâmicas da atualidade, o que uma imagem deixa por dizer, um texto revela. E vice‐versa. Pese embora a forma sarcástica, irónica, e algo ressentida com que Manuel do Nascimento se refere à localidade onde nasceu ‐ o que, decerto, terá sido causa e efeito de um maior afastamento entre o homem e o edifício social local ‐ o final do livro demonstra que a publicação da obra mereceu a diligente consideração por parte do tecido económico local. Tratando‐se de uma edição de autor, dada ao prelo graças a fundos próprios e ao mecenato de empresas privadas, são várias as referências a sociedades mercantis sediadas no concelho de Monchique, através de reclamos publicitários concebidos pela mão imaginativa do próprio escritor, onde se acrescenta o oportuno apêndice de uma ilustração com recurso a fotografias da sua autoria (figura 4). Figura 4: Publicidade a algumas empresas do concelho de Monchique no Roteiro da Província do Algarve, 1951, com textos, fotografia e caligrafia de Manuel do Nascimento. Se em Agonia, 1955, a relação literária com Monchique apenas se consegue deslindar por um suspicaz e tendencioso exercício de adivinhação circunscrito a alguns traços de cariz autobiográfico encarnados pelo protagonista César Madeira, em O Último Espectáculo,1955, reforça‐se a premissa de que a envolvente física, humana e social de Monchique se converte na matéria‐prima trabalhada com delicadeza pelo artifício literário do escritor. O conto de abertura dá nome à própria coletânea e enceta essa perfuração literária do concreto rumo ao filão do inefável, contextualizando‐o no espaço e no tempo em que decorre a feira de Monchique3: 3
A Feira de Monchique realiza‐se, anualmente, em finais do mês de Outubro. Até à década de oitenta do século passado, esta ocupava o espaço do Largo Afonso Henriques, vulgo Largo dos Chorões, e o Largo de São Sebastião, onde hoje se encontra o parque de estacionamento subterrâneo. 12 Foi em Outubro na feira da vila. (...) Homens e mulheres, rostos brancos e morenos, tipos de muitas raças e irmãos na angústia, vestidos o mais sumariamente possível, faziam buracos no chão dum largo que tinha por fundo dois chorões enormes» (O Último Espectáculo, 2ª ed., 2006: 25) Já o enredo de "O Vizinho", retrata fielmente as agruras de uma família humilde com quem o escritor privou de perto aquando da sua estadia em Monchique, juntamente com a mulher e filho, conforme tem sido reconhecido pelo próprio descendente do autor no conjunto de iniciativas levadas a cabo pela Escola E.B. 2,3 e pela Junta de Freguesia de Monchique com o propósito de devolver Manuel do Nascimento aos escaparates da literatura nacional. Em "Sapo e Lagarto", Manuel do Nascimento discorre uma prosa condoída nas amarguras de um ser marginalizado por todos e que, nos tempos de hoje, muitos dos seus conterrâneos nomeiam como sendo a transposição literária de um antigo habitante sem recursos financeiros e afetivos, excluído e gozado por todos durante o tempo de vida do escritor. Mas se este exemplo não nos traz o chão firme de uma relação definitiva entre Monchique e a obra, os contos "A Fuga" ou "A Esperança Voltou de Manhã", fazem antever nova aproximação às particularidades físicas e sociais do Monchique de então: Nascera ali mesmo, no fundo do barranco, em dez anos não vira mais do que a ribeira correndo e a montanha fechada, coberta por um mato ralo e enegrecido. Ali ouvia o zumbido do vento, o choro da chuva e o rumor da ribeira... (O Último Espectáculo, 2ª ed., 2006: 123). E novamente vem o espectro da feira, a determinar o andamento do calendário da vida na serra: Pensou na vila, nas casas da vila, procurou assobiar a música do carrossel. (O Último Espectáculo 2ª ed., 2006: 124) As cores da vila... Cores de que não sabia o nome sequer. (...) De uma vez, a mão disse‐lhe de uma voz gritada: " Este ano vamos à feira, Joaquim". Como tudo estava diferente do dia da feira. No largo nem meninos com gaitas, nem barracas, nem a fanfarra alegre do circo.» (O Último Espectáculo 2ª ed., 2006: 127 e 128) "A Esperança Voltou de Manhã" é um conto que novamente nos situa no desconsolo fisionómico do isolamento e da pobreza rústicos. Na sua leitura, arrepia‐nos a severidade do clima da Serra, caracterizado pela abundância de chuvas contínuas que a observância empírica do povo transformou num verdadeiro Penico do Céu4. De certo modo, este conto assume uma 4
in Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, 1945, Orlando Ribeiro. 13 visão preditiva no sentido em que as chuvas diluvianas descritas nos remetem ao episódio torrencial de 26 de Outubro de 1997, causador de estragos e prejuízos avultados, cuja magnitude destrutiva ainda hoje permanece bem vincada na memória dos que o vivenciaram: Nada viu a não ser as cordas grossas de água que caíam das telas. A ribeira, pelo barulho, parecia levar tudo à frente. Desceria ao fundo do vale se não fosse a escuridão e pensou: "Com certeza que a represa se vai despedaçar". (O Último Espectáculo, 2ª ed., 2006: 143) Apesar de envolto numa adversidade cinzenta, toda a narrativa é perpassada por uma doçura subentendida na relação dos protagonistas, um casal de camponeses ligados por uma coragem ternurenta, uma disponibilidade de amor simples, sem reservas, e uma solidariedade emotiva que nenhum cataclismo exterior, nenhuma forma de injustiça humana ou divina, podem abalar. Traços que, num mundo cada vez mais regulado por maquinações fúteis, mesquinhas e imediatas, ainda hoje se podem encontrar nos mais autênticos filhos da Serra de Monchique, onde, por muito que o tolham as misérias, o Homem continua a ser Homem para além dos muros da sua própria essência. A personalidade discreta e acanhada de Manuel do Nascimento não terá contribuído da mesma forma que o seu talento para uma inveterada ligação à sua terra natal. As vicissitudes da vida, que o obrigaram a partir cedo; a doença, que o obrigou ao recolhimento; a perseguição movida pela censura e os apodos que lhe foram inculcados ao longo da vida, dificultaram que esse elo literário permanente não se tivesse plasmado num vínculo social mais evidente a Monchique. São raros ou inexistentes os retratos, as entrevistas, as aparições públicas de Manuel do Nascimento registados na imprensa. Como o próprio admite: Falar de mim... Sou um animal fugidio, um misto de lobo acossado e roído pela angústia e de um ser que, metido consigo próprio, aparece aos outros como o homem mais desinteressado deste mundo. Se às vezes parto quase sem deixar rasto faço‐o sempre não por desamor, não por menos simpatia. Aos outros pouco pode interessar este bicho chorado por dentro que arranjou à custa de desenganos e de quebras de sonhos inconsistentes, uma cara de cavalo de pau donde nada transparece» (Encontros, vol. I, 196: 105) É certo que Manuel do Nascimento viveu e morreu5 sem ver o seu sonho de liberdade realizado em abril de 1974. Ainda assim, a sua obra deixou‐nos a marca de uma personalidade crítica, um indivíduo probo com uma fé inabalável nas virtudes do homem, em que sobressai, de forma implícita, um incontestável apego umbilical à terra onde nasceu e de quem, à sua maneira, herdou a singularidade. 5
Manuel do Nascimento faleceu a 30 de dezembro de 1966. Aos 54 anos de idade, tinha ainda uma longa carreira pela frente, a prometer‐lhe novos sucessos, não apenas no mundo da escrita, mas, também, da edição literária e do jornalismo. 14 Apesar de avesso aos jogos sociais, a acuidade e a precisão concisas com que despreconceituosamente exaltou e denunciou as pequenas realidades do torrão nativo, engrandecendo‐lhe os horizontes literários que se ambicionam ver estendidos no futuro, fazem com que a atribuição do nome de Manuel do Nascimento à Escola E.B. 2,3 de Monchique possa, finalmente, conceder ao autor um lugar digno e de destaque junto do seu povo, dando‐lhe a provar um pouco da paz plena que a vida não lhe consentiu. É que nenhum filho pródigo se enraíza na eternidade sem regressar ao húmus primário da origem. 3. Referências Bibliográficas Nascimento, M. (1943). Eu Queria Viver! Lisboa: Editorial Inquérito. Nascimento, M. (1944). Mineiros. Porto: Livraria Latina Editora. Nascimento, M. (1946). O Aço Mudou de Têmpera. Porto: Livraria Latina Editora. Nascimento, M. (1951). Roteiro da Província do Algarve. Tavira. Nascimento, M. (1954). Agonia. Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural. Nascimento, M. (1955). O Último Espectáculo. Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural. Nascimento, M. (1960). Histórias de Mineiros. Lisboa: Editora Arcádia Limitada. Nascimento, M. (2006). O Último Espectáculo (2ª edição). Monchique: Junta de Freguesia de Monchique e descendentes do autor. Ribeiro, O. (2011). Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Lisboa: Letra Livre. Sampaio, J.R. (2006). Manuel do Nascimento (1912 ‐ 1966) Uma Bio‐bibliografia. Monchique. Torga, M. (2001). Ensaios e Discursos. Lisboa: Publicações D. Quixote. 15 
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