OFICINAS PEDAGÓGICAS: INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR MARTINS, Francine Netto - UFSM [email protected] FREITAS, Deisi Sangoi - UFSM [email protected] FELDKERCHER, Nadiane [email protected] Área Temática: Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade Resumo A presente pesquisa faz parte das investigações realizadas pelo grupo de Pesquisa e Estudos em Educação - INTERNEXUS, junto ao Projeto “Diversidade Sexual e Igualdade de Gênero”, realizado junto à 8ª Coordenadoria de Educação e Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria – Rio Grande do Sul. O grupo tem realizado pesquisas que almejam reflexões e o desenvolvimento de atividades pedagógicas que envolvam o combate ao preconceito e a violência às pessoas nas quais as identidades não se enquadram ao modelo majoritário em que estamos inseridos. Apresentamos a oficina “O bom o belo e o verdadeiro no contexto escolar”, realizada com 36 alunos do Ensino Médio de uma escola Estadual da Região Norte de Santa Maria/RS, em que a mesma foi inspirada nos três momentos pedagógicos de Delizoicov a Angotti (2006). A coleta de dados se deu através da observação e análise das histórias produzidas pelos participantes, ou seja, caracterizando uma abordagem qualitativa de pesquisa. O estudo delineou os desafios de lidar, na escola, com o diferente do padrão que nos foi apresentado desde a infância, ou pela não problematização desses assuntos. Nesta perspectiva problematizamos os temas Sexualidade, Gênero e Etnia, a partir das dicotomizações como certo/errado, verdade/mentira, apresentadas pelos alunos. A partir da problematização dessas questões, percebemos que assuntos que geram polêmicas não são abordados em sala de aula. Conforme Louro (2003), os educadores se sentem pouco à vontade quando são confrontados com as idéias de incerteza, preferem contar com referencias seguras e inequívocas. Ao contrário dessas práticas, acreditamos que a valorização da diversidade na escola assume um papel inquestionável para a construção de um contexto social inclusivo e que reconhece diferenças. Através deste trabalho também notamos que as metodologias no ambiente educativo ainda são marcadas, por concepções tradicionais de ensino, onde o aprendiz que apenas recebe informações e conceitos. 4355 Palavras-chave: Diversidade. Escola inclusiva. Oficinas pedagógicas. Introdução A valorização da diversidade assume um papel inquestionável para a construção de um contexto social que inclui todos, bem como reconhece suas diferenças. Nesta perspectiva, é assegurado que cada cidadão, de maneira livre e criativa, desenvolva seus talentos, igualdade de oportunidade e as mesmas possibilidades de expressar seus valores, afetos e desejos (SECAD/MEC, 2007). Inspirando-se nessas idéias, o grupo INTERNEXUS – Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação1, através do Projeto “Diversidade Sexual e Igualdade de Gênero”2, tem realizado ações de pesquisa, ensino e extensão buscando aprofundar reflexões e desenvolver atividades pedagógicas que envolvam o combate ao preconceito e a violência às pessoas nas quais as identidades não se enquadram ao modelo majoritário em que a sociedade está inserida. O presente trabalho relata a partir de uma intervenção na escola por meio da oficina pedagógica “O Bom, o Belo e o Verdadeiro no Contexto Escolar”, o desafio e a necessidade de trabalharmos, com temáticas relativas à sexualidade, gênero e etnias, num formato diferente do que nos foi apresentado desde a infância, se desejamos modificar o cenário atual de omissão e perpetuação de injustiças sociais. Essa oficina foi implementada em uma escola da região norte de Santa Maria com 36 alunos do Ensino Médio. Nesta ocasião, mapeamos as representações dos estudantes, frente às questões que envolvem Gêneros, Sexualidades e Etnias, a partir das noções de Bom, Belo e Verdadeiro no contexto escolar. As oficinas pedagógicas como metodologia de trabalho 1 Grupo de Pesquisa registrado no CNPq Projeto realizado junto à 8ª Coordenadoria de Educação (8ªCRE) e Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria (SMED), que recebeu apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD /MEC). 2 4356 Para a elaboração de uma oficina, a escolha do tema de estudo é fator determinante. Corrêa (2000), aponta como estratégias para a realização desta perspectiva de trabalho, as seguintes etapas: decidir o tema de estudo, que se refere à escolha realizada por pessoas que se propõe a construir uma oficina, reunir todo o material possível sobre o tema, buscando subsídios em materiais como revistas, filmes, livros, mas também nas conversas cotidianas; o entendimento do tema que será abordado, que se dará através do Estudo e Desenvolver estratégias para poder dizer sobre o tema, podendo referir-se a qualquer meio disponível ou possível de ser criado. (CORRÊA, 2000, p.150). As oficinas também trazem como característica, a abertura de espaços de aprendizado que buscam o diálogo entre os participantes. Na oficina surge um novo tipo de comunicação entre professores e alunos. É formada uma equipe de trabalho, onde cada um contribui com sua experiência. O professor é dirigente, mas também aprendiz. Cabe a ele diagnosticar o que cada participante sabe e promover o ir além do imediato. (VIEIRA et al, 2002. p.17). Diante disso, almejamos promover um trabalho que incluí a participação de todos os envolvidos, não distribuindo as pessoas em funções fixas como coloca Corrêa (2000, p.122) no livro Pedagogia Libertária. O autor sinaliza que a oficina pode permitir a quebra das “hierarquias do conhecimento o (...) que se dá muitas vezes, pela detenção de um discurso especializado que justifica a maior importância de quem profere em relação aos outros”. Sendo assim, pensamos que a oficina pode estabelecer uma independência das ações educacionais em relação aos modelos que priorizam mais uma área do saber do que outra, ou seja, oportuniza estratégias de resistência à qualificação ou desqualificação de saberes pelas agências oficiais de ensino. Ainda, cabe ressaltar que as ações do Grupo INTERNEXUS envolvendo oficinas, contemplam os três momentos de Delizoicov e Angotti que consistem em: “Primeiro momento ou problematização inicial”: são apresentadas aos alunos situações reais, para que os mesmos sejam desafiados a expor suas posições ou concepções prévias sobre o tema. O ponto culminante dessa problematização é fazer que o aluno sinta a necessidade da aquisição de outros conhecimentos que ainda não detém, ou seja, procura-se 4357 configurar a situação em discussão como um problema que precisa ser enfrentado. (DELIZOICOV e ANGOTTI 2002, p. 200). O objetivo desta primeira etapa é problematizar estes conhecimentos prévios acerca do tema proposto, bem como compreender o que os educandos percebem diante das questões que estão sendo colocadas em pauta. O Segundo momento ou organização do conhecimento: caracteriza-se pelo desenvolvimento de atividades que auxiliem o aluno a compreender e partilhar os conhecimentos sistematizados pela Ciência permitindo, a ele construir uma resposta mais aprofundada para a questão proposta inicialmente. As mais variadas atividades são então empregadas, de modo que o professor possa desenvolver a conceituação identificada como fundamental para uma compreensão científica das situações problematizadas.(DELIZOICOV e ANGOTTI 2002, p. 201). Nesse momento podem ser desenvolvidas atividades que utilizem recursos como vídeos, sites de internet, livros, reportagens entre outros. Finalmente, o Terceiro momento ou aplicação do conhecimento: Destina-se, sobretudo, a abordar sistematicamente o conhecimento que vem sendo incorporado pelo aluno, para analisar e interpretar tanto situações iniciais que determinaram seu estudo como outras situações que, embora não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial, podem ser compreendidas pelo mesmo conhecimento. (DELIZOICOV e ANGOTTI 2002, p.2002) É nesse momento que ocorre a retomada das questões iniciais e da proposição de novos questionamentos ou novas situações-problema que possibilitem ao aluno a utilização dos novos conhecimentos desenvolvidos. Dentro deste contexto, os instrumentos para a coleta de dados partiram da análise das histórias dos alunos, (realizadas no terceiro momento da oficina) e pelos relatos das problematizações, que foram inspiradas nos Três momentos, descritos anteriormente. Para o primeiro momento da oficina selecionamos textos veiculados em jornais e revistas (figura1), especificamente aqueles que continham situações polêmicas e que envolvessem noções de Sexualidade, Gênero e Etnia. O motivo pelo qual estes materiais foram escolhidos foi a tentativa de problematizar em sala de aula, às representações dos 4358 alunos frente às situações que envolvem “o diferente” de um padrão moral majoritário, bem como refletir sobre dicotomizações como bom-ruim, mau-bom, feio-belo, certo-errado. Figura 1- Reportagens utilizadas no primeiro momento da oficina Solicitamos, então, que os alunos, distribuídos em duplas3, lessem as reportagens, e após cada leitura colocassem para o grupo suas percepções frente ao que foi lido. Para o segundo momento, selecionamos o conto “Patinho Feio” de Clarissa Pinkola (1994) em seu livro “Mulheres que correm com os Lobos”. O texto, apresenta o personagem principal (patinho feio), como inaceitável e rejeitado no ambiente em que vive, por apresentar uma aparência diferente do desejável. Além disso, Pinkola, aponta em sua obra que o referido conto, propõe inúmeras relações com o nosso cotidiano e faz referências à questão de gênero, afirmando que: Em muitas culturas existe uma expectativa, quando nasce uma filha, de que ela é e será um certo tipo de pessoa, que haja de um certo modo consagrado pelo tempo, que siga um certo conjunto de valores, pelo menos os valores da família e que seja como for não abale os alicerces (1994, p. 219). Nestas perspectivas, escolhemos este conto, pelas possibilidades de reflexões que poderiam ser suscitadas a partir dele. Para tanto, nesta etapa do trabalho, pedimos aos alunos que, em duplas, encontrassem fragmentos no texto que fossem ao encontro do que foi discutido no primeiro momento com as reportagens de jornal. 3 Os trabalhos das oficinas são realizados em dupla ou grupos pequenos para que haja uma boa troca de conhecimentos entre os participantes, aqui no caso alunos ; conhecimentos que posteriormente serão socializados com o grande grupo. 4359 No terceiro momento solicitamos aos alunos que observassem um painel com imagens de pessoas que contrastam por inúmeras diferenças (como cor de pele, cultura, profissões, idades), que os alunos colocassem por escrito se eles se identificavam com alguma daquelas imagens (figura 2) e se estas lhes faziam lembrar de algum momento ou situação vivida, associada ao primeiro e ao segundo momento da oficina. Figura 2 - Painel utilizado no 3º momento da oficina O desafio de problematizar a diversidade no ambiente escolar As formas de vida propagadas pela globalização e especialmente pelas mídias reforçam inúmeras peculiaridades de opiniões e culturas, que fazem parte do dia a dia das sociedades. Segundo Rolinik (1996), tudo leva a crer que a criação individual e coletiva se encontraria em alta, pois, “(...) muitas são as cartografias de forças que pedem novas maneiras de viver, numerosos os recursos para criá-las e incontáveis os mundos possíveis” (1996, p.1). Porém (...) a mesma globalização que intensifica as misturas e pulveriza as identidades, implica também na produção de kits de perfis-padrão de acordo com cada órbita do mercado, para serem consumidos pelas subjetividades, independentemente de contexto geográfico, nacional, cultural, etc. Identidades locais fixas desaparecem para dar lugar a identidades globalizadas flexíveis que mudam ao sabor dos movimentos do mercado e com igual velocidade. Esta nova situação, no entanto, não implica forçosamente o abandono da referência identitária. (Rolnik, 1996.p.1) 4360 Dentro deste contexto, acreditamos que essa produção de Kits de perfis-padrão pode ser associada ao espaço escolar, que ao colocar em seus Projetos Políticos Pedagógicos e currículos, propostas de trabalho que devem contemplar modos de vida diferenciados, se contradiz ao selecionar de forma fechada, quais os saberes são necessários para a formação de seus alunos. Acreditamos que as escolas têm um importante papel no desenvolvimento de estratégias que permitam os educandos a refletir, reinventar-se e propor o pensar criativo, sem imposições. Larrosa, afirma que “um dispositivo pedagógico será, então qualquer lugar no qual se constitui ou se transforma a experiência de si4. Sendo assim, a educação, além de um simples ambiente de possibilidades para o desenvolvimento da autoconfiança, pode produzir “formas de experiência de si nas quais os indivíduos podem se tornar sujeitos de um modo particular” (LARROSA, 1994, p.57). Nas oficinas, os alunos associaram a palavra preconceito a tudo aquilo que é considerado diferente ou fora de um padrão majoritário. Os preconceitos são realidades historicamente construídas, (...) são reinventados e reinstalados no imaginário social continuamente. Os preconceitos atuam como filtros de nossa percepção, fortemente impregnados de emoções, colorindo nosso olhar, modulando o ouvir, modelando o tocar, fazendo com que tenhamos uma visão simplificada e enviesada da realidade (Candau, 2002. p.17) Dessa maneira, percebe-se o preconceito como a rejeição de tudo aquilo que acreditamos ser bom, belo e verdadeiro na cultura que estamos inseridos. O mesmo norteia pontos de vista e atitudes diante de determinadas situações, as quais não identificamos como absolutas. Ainda, para considerarem essas diferenças, em muitos discursos foram colocadas as palavras “bom”, “estranho”, “certo”, como se estivessem tratando com parâmetros e regras que não poderiam ser quebrados. Dentro deste contexto, os estudos culturais afirmam que 4 “estudar a constituição do sujeito como objeto para si mesmo: a formação de procedimentos pelos quais o sujeito é induzido a observar-se a si mesmo, analisar-se, decifrar-se, reconhecer-se como um domínio do saber possível”. (FOUCAULT apud LARROSA 1994. p. 55 ) 4361 (...) todo o conhecimento, ao constituir um sistema de significação, é cultural e vinculado às relações de poder. É dessa perspectiva que os Estudos Culturais analisam instancias, instituições e processos culturais diversos como a TV, o cinema, a publicidade, entre outros, abordando-os como produções culturais que participariam na construção de modos determinados de ser/estar no mundo. (BICCA, 2007 apud SILVA, 1999 p.332). As relações de poder estão nitidamente presentes através dos conceitos considerados como “normais”. Isto pode ser percebido através dos seguintes relatos durante a oficina: “Eu tinha duas vizinhas que ninguém poderia dizer que elas eram homossexuais porque elas nunca brigavam, estavam sempre bem, viviam na delas, eram super normais e uma delas tinha uma filha. Eu confesso para vocês que eu fui preconceituosa, mas depois eu fiquei pensando: o que eu tenho que ver? Cada um vive a vida que quer. Elas não estavam fazendo mal a ninguém”. “(...) as gordinhas não tem vez”, “nunca vi uma protagonista de novela ser gorda nem preta”. “(...) bicha também é gente”. “(...) isso é uma doença”. “(...) é um desvio que eles têm desde pequeno”. “(...) as bichas não respeitam a gente”, “tem gay que não respeita”. “(...) esses dias eu vi dois gays que estavam em plena praça, era quase de noite e começaram a se beijar”. “(...) eu respeito desde que fique longe de mim”. “(...) minha irmã queria tanto uma filha mulher que o meu sobrinho é aviadado”. “(...) isso depende da criação”. “(...) é uma opção que eles têm”. Partindo dessas falas, entendemos que as mesmas partilham do que afirma Foucault, em seu livro Os anormais onde o “Monstro humano”, “o indivíduo a ser corrigível”, é o ponto de inflexão da lei, combina com o impossível e com o proibido. O contexto de referência do monstro humano é a lei, é claro. A noção de monstro é essencialmente uma noção jurídica – jurídica, claro, no sentido lato do termo pois o que define o monstro é o fato de que ele constitui, em sua existência mesma e em sua forma, não apenas uma violação das leis da natureza. Ele é um registro duplo, infração às leis em sua existência mesma. O campo de aparecimento do monstro é, portanto, um domínio que podemos dizer “jurídico biológico” Por outro lado, nesse espaço, o monstro aparece como um fenômeno e ao mesmo tempo extremo e extremamente raro (2002, p.71) 4362 Notou-se ainda, que a questão associada ao “monstro humano”, da “violação as leis da natureza” é especialmente voltadas à questão da homossexualidade, que na maioria das falas dos alunos é colocada como uma doença, uma falta de respeito à moralidade. Além disso, pensamos que estas representações e significados, se dão pelo fato de estarmos inseridos em uma sociedade historicamente marcada por exclusões e delimitações. (...) existe uma extraordinária continuidade entre as diferentes formas através das quais os conhecimentos dos países centrais legitimaram a missão civilizadora ou normatizadora a partir das deficiências – desvios em relação ao padrão normal civilizado – de outras sociedades. Os diferentes recursos históricos (evangelização, civilização, o fardo do homem branco, modernização, desenvolvimento, globalização) têm todos como sustentáculo a concepção de que há um padrão civilizatório que é, simultaneamente, superior e normal. (WIELEWICKI e OLIVEIRA apud LANDER, 2005). No contexto desse “padrão civilizatório”, nas oficinas, a mulher quando não está incluída em um papel recatado de esposa e dona do lar, também é considerada indivíduo anormal. A posição social inferior da mulher na sociedade mantém fortes nexos com a divisão sexual do trabalho. Essa divisão resulta de uma correlação de formas antagônicas entre homens e mulheres e dos valores diferentemente atribuídos ao trabalho feminino e masculino. (SECAD, 2007. P. 17) Estas questões são sinalizadas pelas seguintes falas: “(...) um absurdo um amigo casar com uma mulher que não sabe nem fritar um ovo”. ”(...) é que nem aquele ditado: mulher esquenta a barriga no fogão e esfria no tanque”. “(...) as pessoas não casam mais no religioso como antigamente, hoje há divisão de tarefas, porém ainda existem mulheres que ganham menos que os homens para exercer a mesma função”. Para Meyer De vários modos, os estudos contemporâneos sobre o espaço escolar, as práticas pedagógicas que nele se desenvolvem, bem como os estudos que se tem envolvido com as pedagogias culturais têm mostrado como estamos, em nossa sociedade 4363 sempre operando a partir de uma identidade que é norma, que é aceita e legitimada e que se torna por isso mesmo, quase invisível (...) (MEYER, 2003. p. 24) Em relação à questão da diversidade Étnica, foi percebido através dos discursos dos alunos como algo “fora do padrão majoritário”, pois fazemos parte de uma sociedade regida esteticamente por um paradigma branco, onde a clareza da pele persiste como uma marca simbólica de uma superioridade imaginária (CANDAU, 2003.p.22). Concordamos com a mesma autora, que afirma ser muito presente em nossas vidas, a questão histórica, onde a escravidão marcou território e marca ainda hoje as relações sociais. Diante do que foi exposto, pensamos que o ambiente escolar, ao negar ou imunizar-se, por exemplo, dos temas que foram problematizados nas oficinas, confirma e contribui para a efetivação de uma educação carregada de verdades absolutas, discriminações e relações de poder. Segundo Tomaz Tadeu da Silva O poder está inscrito no currículo através das divisões entre saberes e narrativas inerentes ao processo de seleção do conhecimento e das resultantes divisões entre os diferentes grupos sociais. Aquilo que divide e, portanto, aquilo que inclui/exclui, isso é o poder. Aquilo que divide o currículo-que diz o que é conhecimento, e o que não é - e aquilo que essa divisão divide -que estabelece desigualdades entre os indivíduos e grupos sociais - isso é precisamente o poder (SILVA, 1995.p.197). Neste sentido, coloca-se a oficina como além de um espaço autônomo de investigação para o pesquisador, uma maneira de levar para sala de aula, assuntos que comumente não são explorados dentro da escola. Isso se fez evidente quando pedimos aos alunos que escrevessem sugestões a respeito do trabalho realizado. Dessa maneira, algumas questões apontadas por eles foram: “(...) gostei muito da oficina, afinal de contas não é toda a hora que temos a oportunidade de discutir certos assuntos”. “(...) as oficinas são diferentes das aulas normais”. “(...) esta oficina serviu muito como aprendizado, e deu abertura para todos se expressarem, um modo diferente de dar aula”. Diante dessas colocações, entendemos que as práticas educativas ainda são marcadas, por métodos tradicionais de ensino, configurando uma educação que determina o aprendiz como um indivíduo que recebe informações e conceitos. O Ensino Tradicional é marcado pela 4364 memorização mecânica dos conteúdos narrados, ou seja, a narração transforma os alunos em “vasilhas”, em recipientes a serem enchidos pelo educador. Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão. (FREIRE, 1987, p. 58). Ao contrário destas perspectivas, as características da oficina atuaram como um importante instrumento para que os alunos “tivessem voz” dentro daquele contexto. A mesma colaborou para que tivéssemos um espaço onde todos puderam participar, percebendo esta característica fundamental para o rompimento de estratégias de ensino que contemplam o professor como detentor do saber. Vale ressaltar que a problemática das relações entre diversidade no cotidiano escolar constitui um tema de especial relevância para construção de uma escola democrática. Dessa maneira, consideramos a mesma como um espaço privilegiado para trabalhar a diversidade da cultura humana e os valores éticos de respeito ao outro. Ainda, por intermédio deste estudo, percebemos a importância do professor avaliar sua prática, ser crítico em relação a ela, e a todo o momento abordar se o que se propõe em sala de aula, terá algum significado na vida do educando. Apesar das escolas terem um currículo a seguir, é indispensável que o educador destine espaços para conversar e problematizar sobre assuntos que freqüentemente ficam de lado, pela preocupação em “vencer” os conteúdos do ano letivo. Acreditamos também, que não é apenas a escola, o único local no qual as pessoas podem problematizar os pontos centrais deste trabalho, mas que isto possa ocorrer também em outros espaços, bem como em cursos de formação de professores para que haja a possibilidade da “experiência de si”. Com este trabalho, esperamos contribuir para provocar inquietações dentro do espaço escolar, assim como reflexões acerca de assuntos que fazem parte de nosso cotidiano e sobre os quais pouco refletimos. Acreditamos ainda, que este estudo serve como base para novas perspectivas de trabalho, bem como um estudo mais aprofundado das questões que foram problematizadas. 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