1 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE CLASSIFICAÇÃO BI-RADS DE 1035 LESÕES MAMÁRIAS COM RESULTADOS ANATOMOPATOLÓGICOS Autora: Ana Carolina Silva de Castro Orientadora: Profª. Drª. Patrícia El Beitune Co-orientadores: Prof. Dr. Gustavo Py Gomes da Silveira Prof. Dr. Cláudio Galleano Zettler Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Patologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre como requisito para a obtenção do grau de Mestre 2010 2 DEDICATÓRIA Aos meus pais, por sempre terem acreditado na minha capacidade de realização. Ao meu marido, pelo estímulo e apoio integral. 3 AGRADECIMENTOS A Dra. Patrícia El Beitune, orientadora deste trabalho, pelo incentivo, confiança e decisiva contribuição. Aos Dr. Cláudio Zettler e Dr. Gustavo Py G. da Silveira que abriram todas as portas para que eu pudesse alcançar o meu objetivo. Ao Programa de Pós-Graduação em Patologia, pela oportunidade. À colega Christine Heckmann que esteve solícita em todos os momentos. À mestre em radiologia mamária, Dra. Radiá Pereira dos Santos, que sempre acreditou no meu trabalho e me incentivou na realização de novas conquistas. A todas as pessoas que direta ou indiretamente me apoiaram durante esta caminhada. 4 SUMÁRIO Listas de abreviaturas e siglas..........................................................................VI Introdução..............................................................................................................7 1. Revisão bibliográfica.......................................................................................9 1.1 Epidemiologia.................................................................................................9 1.2 Diagnóstico do câncer de mama.................................................................10 1.2.1 Exame clínico..............................................................................................10 1.2.2 Avaliação por imagem...............................................................................10 1.2.2.1 Mamografia..............................................................................................10 1.2.2.2 Ultrassonografia......................................................................................11 1.2.2.3 Ressonância Nuclear Magnética...........................................................12 1.3 Achados radiológicos..................................................................................13 1.3.1 Nódulos......................................................................................................13 1.3.1.1 Mamografia.............................................................................................14 1.3.1.2 Ultrassonografia.....................................................................................15 1.3.2 Microcalcificações.....................................................................................16 1.3.3 Distorção Arquitetural...............................................................................17 1.3.4 Assimetrias................................................................................................17 1.3.4.1 Assimetria...............................................................................................18 1.3.4.2 Assimetria focal......................................................................................18 1.3.4.3 Assimetria global.....................................................................................19 1.3.4.4 Assimetria em desenvolvimento............................................................19 1.4 Classificação BI-RADS..................................................................................20 1.5 Procedimentos diagnósticos invasivos.....................................................24 1.5.1 Punção aspirativa com agulha fina..........................................................24 1.5.2 Biópsia com agulha grossa......................................................................25 1.5.3 Agulhamento..............................................................................................26 1.5.3.1 Agulhamento com fio metálico...............................................................27 1.5.3.2 Agulhamento com radiofármaco...........................................................27 1.5.4 Mamotomia.................................................................................................28 1.6 Classificação BI-RADS e diagnóstico anatomopatológico.......................28 2.0 Objetivos........................................................................................................30 2.1 Objetivo principal...........................................................................................30 5 2.2 Objetivos específicos...................................................................................30 3. Artigo em inglês..............................................................................................36 4. Artigo em português.......................................................................................54 5. Anexo...............................................................................................................72 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AG Localização pré-operatória AP Anatomopatológico BI-RADS Breast Imaging Reporting and Data System CB Biópsia com agulha grossa (do inglês Core Biopsy) CDI Carcinoma ductal invasor CDIS Carcinoma ductal in situ CM Câncer de mama ECR Ensaio clínico randomizado FN Falso-negativo FP Falso-positivo INCA Instituto Nacional do Câncer MMG Mamografia OMS Organização Mundial da Saúde PAAF Punção Aspirativa com Agulha Fina RNM Ressonância Nuclear Magnética ROC Receiver-Operator Characteristic Tc99 Tecnécio 99 US Ultrassonografia VN Verdadeiro-negativo VP Verdadeiro-positivo VPN Valor preditivo negativo VPP Valor preditivo positivo 7 INTRODUÇÃO O câncer de mama (CM) é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres no nosso meio. A redução da taxa de mortalidade depende da sua detecção precoce. A mamografia (MMG) é recomendada como método de rastreamento e, associada ao exame clínico, promove a redução da mortalidade (INCA, 2007). A MMG apresenta alta sensibilidade na detecção de lesões mamárias clinicamente ocultas. Outros métodos de imagem suplementares para rastrear e avaliar mamas densas têm sido realizados, incluindo principalmente a ultrassonografia (US) (Aguillar e cols., 2009). Entretanto, os achados mamográficos muitas vezes são imprecisos e subjetivos, podendo haver pacientes com CM e achados radiológicos de aspecto benigno, bem como algumas alterações benignas podem simular lesões malignas perante à MMG e US (Boff e cols., 2007). O Breast Imaging Reporting And Data System - BI-RADS® (BI-RADS) preconiza a padronização do laudo radiológico com o objetivo de minimizar o grau de variação interpessoal na descrição e interpretação das imagens na MMG e US, além de sugerir uma conduta e facilitar a monitorização do resultado final da lesão. Essa classificação é dividida em categorias numeradas de 0 a 6, conforme o potencial de malignidade do achado radiológico (American College of Radiology, 2003). Em lesões potencialmente malignas é sugerido o prosseguimento da investigação fazendo-se uso de procedimentos invasivos, preferencialmente através de biópsia com agulha grossa (CB). Também pode ser realizada localização pré-operatória com agulhamento da lesão suspeita (AG) (Boff e cols., 2007). 8 No intuito de melhorar a especificidade dos métodos invasivos no diagnóstico de CM, têm sido realizados estudos avaliando os valores preditivos positivos (VPP) e negativos (VPN) dos achados mamográficos, especialmente das categorias intermediárias. Entretanto, não se dispõe de dados consistentes na literatura definindo valores preditivos especialmente em casos duvidosos, geralmente enquadrados nas subcategorias 4A, 4B e 4C. Assim, a avaliação da correlação dos achados descritos na MMG e na US com os resultados AP pode fornecer dados importantes para a melhor orientação da conduta e seguimento dos pacientes com lesões mamárias, especialmente em relação à definição entre prosseguir a investigação de maneira invasiva ou acompanhar os achados através de avaliação clínica e por imagem (Muller-Schimpfle e cols., 2005). Portanto, face à escassez de dados frente a esses índices, o objetivo do presente estudo é o de determinar a acurácia, avaliando-se a sensibilidade, especificidade e valores preditivos da classificação BI-RADS na MMG e US na caracterização das lesões mamárias nas categorias 3, 4 e 5 e das subcategorias 4A, 4B e 4C do BI-RADS. Adicionalmente, procurou-se avaliar as alterações mais comumente encontradas em relação à localização e tipo de lesão encontrada na MMG e US (Muller-Schimpfle e cols., 2005). 9 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 EPIDEMIOLOGIA O câncer de mama (CM) representa nos países ocidentais uma das principais causas de morte em mulheres. Dados de Tavassoli e colaboradores (2003) registram que na década de 60 e 70 a Organização Mundial da Saúde (OMS) já destacava de acordo com seus Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes, um aumento de pelo menos dez vezes nas taxas de incidência do CM ajustadas por idade (INCA, 2007). No Brasil, o CM é a principal causa de morte entre as mulheres, conforme atesta o Instituto Nacional do Câncer (INCA). De acordo com as Estimativas de Incidência de Câncer no Brasil para 2008, o CM seria o mais incidente na Região Sul do país com 67 casos a cada 100.000 mulheres, sendo a segunda maior taxa do país, ficando atrás apenas da Região Sudeste (INCA, 2007). Sabe-se que a redução da taxa de mortalidade depende da detecção precoce do CM. Dessa forma, as recomendações do INCA para o Sistema Único de Saúde incluem a realização anual do exame clínico das mamas a partir do 40 anos e mamografia (MMG) em mulheres entre 50 e 69 anos pelo menos a cada dois anos. Em pacientes de alto risco, é sugerido que a avaliação deva ser realizada anualmente a partir dos 35 anos. Por outro lado, muitos centros de referência e instituições, como a Sociedade Brasileira de Mastologia, têm optado em seguir as orientações recomendadas pela American Cancer Society (2007), onde é sugerido a realização de MMG anual a partir dos 40 anos enquanto a mulher estiver com boa saúde (American Cancer Society, 2007; INCA, 2007). 10 1.2 DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA 1.1 .1 Exame clínico É de fundamental importância no diagnóstico do CM, fazendo parte do exame físico e ginecológico e constitui base para solicitação de exames de imagem para complemento da investigação. Deve ser realizado anualmente a partir dos 40 anos, em pacientes não consideradas de alto risco para desenvolver CM, segundo orientação contida no Consenso do INCA para Câncer de Mama publicado em 2004 (INCA, 2004). 1.2.2 Avaliação por imagem 1.2.2.1 Mamografia (MMG) A MMG apresenta alta sensibilidade na detecção de lesões mamárias clinicamente ocultas, sendo considerado método de rastreamento preferencial no diagnóstico de lesões mamárias, com redução variável da mortalidade do CM de acordo com a faixa etária da mulher. A maioria dos ECR e metanálises demonstraram redução significativa de 20 a 35% na mortalidade pelo CM na faixa etária dos 50-69 anos em pacientes que realizaram MMG para rastreamento (Aguillar e cols., 2009). Segundo recentes revisões de ensaios clínicos publicados por Kestelman e colaboradores em 2007, os valores de sensibilidade da MMG variam de 71 a 98%, sendo o único método de imagem que comprovadamente promove redução da mortalidade do CM (Aguillar e cols., 2009). A capacidade da MMG em detectar essas lesões depende de alguns fatores, sendo a densidade mamária o mais importante. Desta forma, outros métodos de imagem têm sido agregados no rastreamento e diagnóstico do CM (Boff e cols., 2007). 11 1.2.2.2 Ultrassonografia (US) A US é um método de imagem suplementar muito utilizado para rastrear e avaliar mamas densas. Dessa forma, a US mamária representa atualmente o principal exame adjunto à MMG e ao exame clínico, no diagnóstico de lesões mamárias, apresentando índices elevados de sensibilidade e valores preditivos para o CM. Isso se deve à evolução tecnológica dos equipamentos, com uso de transdutores de alta frequência e imagens harmônicas, oferecendo alta resolução (Chala, 2007; Nascimento J, 2009). O benefício da US em detectar neoplasia em mamas densas já é bem estabelecido na literatura. Corsetti e colaboradores avaliaram 17.626 pacientes com MMG sem indício de malignidade. Destas, 6.449 foram classificadas como mamas densas, sendo submetidas à realização de US, onde foram detectados 29 casos de CM (0,44%) (Corsetti e cols., 2006). Nos últimos anos um grande número de lesões mamárias impalpáveis tem sido demonstrado por meio da MMG e US. Com a detecção de determinada alteração através de métodos de imagem, faz-se necessária a sua caracterização e impressão diagnóstica, definindo e graduando o potencial de benignidade ou de malignidade da mesma. Essa avaliação é determinada principalmente pelas características morfológicas e evolutivas dos achados (Kestelman e cols., 2007). Não existem evidências na literatura que demonstrem redução da mortalidade pelo CM com a realização exclusiva da US como método de rastreamento. Este método deve ser utilizado como complementar à MMG em mulheres de alto risco e em pacientes com mamas densas conforme orientações da Sociedade Brasileira de Mastologia. Conforme dados do estudo ACRIN 6666, publicado em 2008, a US deve fazer parte do rastreio do CM em pacientes de alto risco, já que aumenta o número de diagnósticos de 12 CM, na maioria dos casos em lesões de pequenas dimensões e sem linfonodos comprometidos. Este estudo, realizado com 2.725 pacientes, com pelo menos um quadrante das mamas com estrutura fibroglandular densa, foi desenvolvido em 21 diferentes centros, onde as pacientes realizaram exames de rastreamento, sendo submetidas à MMG e US de forma randomizada, sendo que os médicos interpretadores não tinham conhecimento do resultado dos demais exames. O diagnóstico de CM por mamografia nesta amostra de 2725 pacientes foi de 20 casos, sendo que quando agregada à ultrassonografia foram detectadas 31 neoplasias. Entretanto, cabe lembrar que a utilização da US no rastreamento destas pacientes aumenta o índice de resultados falso positivos (Berg e cols., 2008). 1.2.2.3 Ressonância nuclear magnética (RNM) A ressonância é um método diagnóstico complementar na detecção do CM. Este exame pode diagnosticar tumores que não são visualizados por MMG, US ou clinicamente ocultos. Estudos atuais têm demonstrado que mulheres com alto risco de desenvolver CM se beneficiam com este método, já que a RNM detecta focos de carcinoma ocultos, com índices de detecção em torno de 8% nesta população (Libermann e cols., 2005) Em pacientes com diagnóstico recente de CM este método detecta focos adicionais ipsilaterais e contralaterais, respectivamente de 6-34% e 4-24% (Libermann e cols., 2003). A sensibilidade da RNM é alta, sendo descrita em alguns estudos com valores de até 100%, entretanto a especificidade é considerada moderada e variável, com valores de 35 a 97% (Berg e cols., 2004). Dentre algumas indicações para realização deste exame podemos destacar o rastreamento em pacientes de alto risco, a detecção de carcinoma oculto, a avaliação da extensão tumoral para pacientes com diagnóstico de CM e controle de tratamento para pacientes submetidas à quimioterapia neoadjuvante (Aguillar e cols., 2009). 13 Cabe lembrar que procedimentos invasivos também podem ser realizados guiados por RNM. Entretanto, esta abordagem deve ser reservada para lesões que somente são visualizadas à RNM, pois trata-se de um método diagnóstico de alto custo e mais invasivo que os demais, já que necessita da injeção endovenosa de gadolínio para localização da exata topografia da lesão (Aguillar e cols., 2009). 1.3 ACHADOS RADIOLÓGICOS A maioria dos achados radiológicos detectados através dos métodos de imagem são nódulos e microcalcificações. Outras alterações mamográficas detectáveis são a distorção da arquitetura e assimetria focal (Aguillar e cols., 2009). A seguir descreveremos resumidamente estes achados. 1.3.1 Nódulos Conceitua-se por um achado que ocupa espaço e deve ser visualizado em duas diferentes projeções, apresentando contornos convexos. Podem ser visualizados tanto à MMG, quanto à US, ou em ambos os métodos, ou até mesmo corresponder a achados palpáveis sem expressão imageneológica (Aguillar e cols., 2009). O CM geralmente se traduz, em cerca de 60 a 70% dos casos, como um nódulo espiculado ou esferóide, de margens irregulares ou indistintas, sem calcificações associadas (Boff e cols, 2008). Quando detectado, é mais facilmente caracterizado que as microcalcificações como mais ou menos suspeito de acordo com suas características, através dos métodos de imagem. Em pacientes com mamas radiotransparentes, os nódulos são detectados mais facilmente à MMG, pois na sua maioria apresentam maior densidade, observando-se 14 contraste entre a densidade do tecido e a densidade do mesmo (American College of Radiology, 2003). A ultrassonografia fornece informações adicionais à MMG, particularmente em pacientes com mamas densas, pois nestes casos também há um maior contraste, já que os nódulos na ultrassonografia são geralmente hipoecóicos (escuros) e o tecido mamário é branco (American College of Radiology, 2003). 1.3.1.1 Mamografia Os critérios utilizados para caracterizar os nódulos à MMG são a forma, que varia entre oval, redonda, lobulada e irregular. Outra característica avaliada é a margem dos nódulos que pode ser descrita como circunscrita, indistinta, obscurecida, microlobulada ou espiculada. Também, avalia-se a densidade que classifica os nódulos como hiperdenso, isodenso, hipodenso e radiotransparente (American College of Radiology, 2003). Uma das características clássicas do CM é a margem espiculada. As espículas são estruturas filamentares orientadas radialmente, correspondendo a fibrose entremeada ao tumor, representando uma reação à infiltração tumoral. Aproximadamente 93-95% das lesões espiculadas mamárias são tumores malignos. Entretanto, algumas lesões benignas podem se apresentar como lesões espiculadas, como a cicatriz radial, necrose gordurosa e tumor desmóide (Aguillar e cols., 2009). Liberman e colaboradores, em 1998, avaliaram prospectivamente 492 lesões mamográficas impalpáveis, sendo que todas foram submetidas à biópsia cirúrgica. Todas as lesões foram classificadas pelo sistema BI-RADS, dentre os nódulos categorizados como 5, os maiores VPP foram para margem espiculada e forma irregular (Liberman L e cols., 1998). 15 1.3.1.2 Ultrassonografia Em relação à US, os critérios utilizados para caracterizar os nódulos são semelhantes aos acima descritos. Avalia-se a forma, que varia entre oval, redonda e irregular. Outra característica avaliada é a margem dos nódulos que podem ser descritas como circunscrita e não circunscrita (indistinta, angulada, microlobulada e espiculada). Também, avalia-se o padrão de ecogenicidade: anecóico, hiperecóico, hipoecóico, complexo e isoecóico. A orientação do nódulo em relação à superfície cutânea, também é utilizada na avaliação e pode ser caracterizada como paralela ou perpendicular à pele (American College of Radiology, 2003). Outro aspecto avaliado é a transmissão acústica posterior do nódulo, que pode ser sem sombra ou reforço, somente com reforço ou somente com sombra. Além disso, o limite da lesão com o tecido adjacente faz parte da caracterização e pode apresentar uma interface abrupta ou mesmo halo ecogênico circundando o nódulo (American College of Radiology, 2003). Alterações no tecido adjacente ao nódulo como espessamento cutâneo, retificação dos ligamentos de Cooper e extensão da lesão para o interior de ducto, também são descritas como critérios utilizados para descrever os nódulos e caracterizá-los quanto ao seu potencial de malignidade (American College of Radiology, 2003). Critérios ultrassonográficos na diferenciação de lesões benignas e malignas têm sido amplamente aplicados. Em uma série de 750 nódulos mamários Stravos e colaboradores avaliaram as características ultrassonográficas dos nódulos. Os cinco sinais mais específicos para malignidade encontrados no estudo foram a presença de espículas, lesão com maior eixo perpendicular à pele, microlobulações, presença de calcificações e extensão intraductal (Stravos e cols., 1995). 16 Já Skaane e colaboradores, descreveram que os achados de maior VPP para malignidade foram a forma e o contorno irregular, hipoecogenicidade, presença de sombra acústica e de halo hiperecogênico, bem como distorção do tecido adjacente (Skanne e cols., 1998). 1.3.2. Microcalcificações A MMG ainda é a única modalidade de imagem que seguramente identifica as calcificações, podendo anunciar a presença de uma neoplasia intraductal ou até mesmo de uma lesão infiltrativa precoce. O reconhecimento deste achado é importante já que representa mais de 25% das lesões malignas. Entretanto, a sua detecção gera um grande número de biópsias com diagnóstico benigno, cerca de 70 a 80%. Portanto é de extrema importância a sua adequada caracterização (Aguillar e cols., 2009). Dentre as calcificações tipicamente benignas podemos listar as cutâneas, puntiformes, esparsas, vasculares, com forma de pipoca ou bastões, com centro radiotransparente, tipo “leite-de-cálcio” e distróficas as quais são frequentemente encontradas em pacientes submetidas à cirurgia (Aguillar e cols., 2009). Há um grupo de microcalcificações que apresenta intermediário grau de suspeição que são as calcificações amorfas ou indistintas (Aguillar e cols., 2009). Já as microcalcificações com alta suspeição para malignidade são finas e pleomórficas, finas e lineares e ramificadas (Aguillar e cols., 2009). Burnside e colaboradores, em 2007, avaliaram consecutivamente 115 pacientes que foram submetidas à CB de microcalcificações. Dentre as formas e padrão de distribuição de microcalcificações com maiores VPP para CM encontraram microcalcificações finas e lineares, finas e pleomórficas e amorfas, respectivamente. 17 Em estudo realizado por Libermann e colaboradores, em 1998, os resultados foram semelhantes com maiores VPP as microcalcificações com forma linear, distribuição linear e distribuição segmentar, respectivamente. 1.3.3 Distorção arquitetural Define-se como a desorganização das estruturas lineares e curvilíneas densas de tecido fibroso, sem a presença de um nódulo definido. Pode se manifestar como espículas irradiando-se em um ponto excêntrico à papila. Também é descrita como um achado mamográfico secundário, quando associada a nódulos, assimetrias ou microcalcificações (Aguillar e cols., 2009). A distorção arquitetural é descrita como importante sinal de malignidade, na ausência de história de cirurgia, trauma ou processo inflamatório. Este achado sempre deve ser considerado suspeito e investigado com exame anatomopatológico. Na maioria dos casos, a exérese cirúrgica para a retirada completa da lesão é recomendada (Aguillar e cols., 2009). Em estudo retrospectivo de 300 tumores mamários não palpáveis, detectados em rastreamento mamográfico, nove por cento dos tumores desta casuística se manifestaram apenas como distorção arquitetural ao estudo radiológico (Sickles, 1986). 1.3.4. Assimetrias Na maioria das mulheres, o tecido mamário é relativamente simétrico na mamografia. Assimetria é ocasionalmente identificada no exame radiológico, sendo definida como área densa com contornos côncavos e tecido adiposo de permeio, sem estar associada a nódulo, microcalcificação ou distorção da arquitetura (Aguillar e cols., 2009). Em grande parte dos casos, as assimetrias representam variação da normalidade, superposição de estruturas mamárias normais ou área de tecido fibroglandular residual. No 18 entanto, ocasionalmente carcinomas infiltrativos, especialmente lobulares, podem apresentar-se desta forma (Aguillar e cols., 2009). No estudo publicado em 1986, retrospectivo, que avaliou 300 tumores mamários não palpáveis, detectados em rastreamento mamográfico, 20% dos carcinomas tiveram achados radiológicos indiretos, sendo que em 9% dos tumores desta casuística, a única manifestação de câncer foi revelada pela assimetria ao estudo radiológico (Sickles, 1986). São reconhecidos quatro tipos de assimetrias: 1.3.4.1 Assimetria Definida como uma opacidade observada em apenas uma incidência mamográfica. Provavelmente é o achado mamográfico mais comum no rastramento, sendo que na grande maioria dos casos, representa apenas superposição de estruturas mamárias normais (Aguillar e cols., 2009). Em estudo realizado por Sickles, com o intuito de determinar os achados mamográficos não palpáveis, observados em apenas uma incidência, foram analisadas 61.273 MMG. Detectou-se alteração em apenas uma incidência em 3,3% dos exames, não sendo detectado CM em nenhum caso. Estas pacientes foram seguidas através de exames clínico e de imagem (Sickles, 1998). 1.3.4.2 Assimetria focal Descrita como uma opacidade assimétrica, visualizada nas duas incidências mamográficas, apresenta densidade semelhante ao tecido mamário permeada de tecido adiposo, com contornos côncavos e sem critérios para ser caracterizada como um nódulo. Este achado ocupa menos que um quadrante da mama e deve ser investigado se corresponder à alteração palpável (Aguillar e cols., 2009). 19 Segundo Sickles, em estudo realizado em lesões provavelmente benignas com 85.188 mamografias, em 0,87% foram detectadas assimetrias focais (Sickles, 1999). 1.3.4.3 Assimetria global Consiste em uma quantidade substancialmente maior de tecido fibroglandular em uma mama, ocupando pelo menos um quadrante, em relação à mama oposta, sem estar associado a outro achado. A assimetria global é descrita em 3% dos exames mamográficos de rastreamento e na grande maioria dos casos, exceto quando palpável, representa apenas variação da normalidade (Aguillar e cols., 2009). Kopans e colaboradores realizaram estudo prospectivo para avaliar a importância das assimetrias em 8.408 MMG de rastreamento, este achado foi detectado em 2,7% dos casos, sendo que somente 3 destas apresentaram carcinoma de mama (Kopans e cols., 1989). 1.3.4.4 Assimetria em desenvolvimento Conceitua-se como uma assimetria focal que apresentou modificação em relação ao exame prévio. Embora seja um achado pouco freqüente, ocorrendo em menos de 1% das MMG é reconhecida como importante sinal de malignidade (Aguillar e cols., 2009). Dentre os tipos de assimetrias, é a mais comumente associada ao CM, com índice de malignidade variando de 13-27% (Youk e cols., 2008). Em recente estudo realizado nos Estados Unidos, este tipo de assimetria foi encontrado em menos de 0,2% de 208.000 MMG para rastreamento, dentre estas foram detectados 36 casos de CM, correspondendo a 12,8% (Leung e cols., 2007). 20 1.4 CLASSIFICAÇÃO BI-RADS Entre as alterações altamente sugestivas de benignidade e malignidade, há um grande número de lesões indeterminadas que não apresentam características clássicas, dificultando a sua avaliação, na medida em que há uma expressiva sobreposição na morfologia de lesões benignas e malignas, principalmente no que se relaciona a microcalcificações (Kemp e cols., 2003). No intuito de uniformizar os critérios empregados para caracterizar as lesões evidenciadas pela MMG e US, o Colégio Americano de Radiologia criou o Breast Imaging Reporting and Data System ® (BI-RADS), publicado inicialmente em 1993, com novas edições em 1995, 1998 e 2003, desenvolvido por um grupo de radiologistas americanos de renome com dedicação exclusiva em radiologia mamária. Em 2003, os dados foram atualizados, com maior detalhamento na descrição das microcalcificações e com introdução da classificação para US e para RNM (American College of Radiology, 2003). O BI-RADS preconiza a padronização do laudo radiológico com o objetivo de minimizar o grau de variação inter-pessoal na descrição e interpretação das imagens, além de sugerir uma conduta e facilitar a monitorização do resultado final da lesão (American College of Radiology, 2003). A tabela 1 resume outras vantagens da classificação BI-RADS. 21 Tabela 1- Vantagens da classificação BI-RADS Classificação BI-RADS: Vantagens • Sistematização dos achados radiológicos • Facilitador da comunicação entre os profissionais • Redução do tempo de interpretação • Melhora da organização e monitorização dos achados • Facilitador na realização de pesquisas e auditorias * Modificado de Lacquement MA e colaboradores, 1999. Divide-se a classificação BI-RADS em categorias numeradas de 0 a 6, conforme o potencial de malignidade do achado radiológico. A seguir são descritas as características que determinam a categorização de cada lesão (American College of Radiology, 2003). A categoria 0 é utilizada quando a avaliação da alteração está incompleta, sendo necessário a realização de exame adicional. Para avaliação de nódulos ou lesões indeterminadas classificadas à MMG frequentemente se utiliza estudo complementar por meio de outras incidências mamográficas não usuais, como compressão localizada e ampliação, ou mesmo realização de exame adicional por meio da US ou da RNM. Sempre que disponível deve-se comparar a MMG atual com estudo mamográfico prévio. Entretanto, em alguns casos especiais, quando não dispomos de exames anteriores, há lesões que podem ser classificadas como indeterminadas devido à ausência dos exames prévios (American College of Radiology, 2003). Na categoria 1 não há alterações mamárias dignas de descrição, sendo o exame considerado com ausência de alterações. Nesse grupo as pacientes apresentam mamas 22 simétricas, não se observam nódulos, distorções arquiteturais ou calcificações (American College of Radiology, 2003). A categoria 2 é utilizada para achados benignos que mereçam ser descritos, mas que são tipicamente benignos. Podemos citar como exemplos de lesões classificadas nesta categoria calcificações vasculares e cutâneas, linfonodos intramamários, fibroadenomas em involução e pacientes que foram submetidas a qualquer tipo de cirurgia mamária (American College of Radiology, 2003). Já a categoria 3 envolve achados provavelmente benignos, sendo sugerido inicialmente o controle evolutivo a cada 6 meses. Após o acompanhamento e confirmação de sua estabilidade por pelo menos 30 meses de observação, a lesão poderá ser classificada como benigna, classificando-a então como BI-RADS 2. Segundo dados da literatura, estima-se que menos de 2% das lesões definidas como categoria 3 sejam histologicamente malignas (American College of Radiology, 2003). A categoria 4 refere-se a uma anormalidade suspeita de malignidade, ainda que se encontre um significativo número de lesões benignas. A maioria das lesões mamárias biopsiadas encontram-se nessa categoria. Na última edição do BI-RADS, realizada em 2003, essa categoria foi subdividida em subcategorias A, B e C (American College of Radiology, 2003). Mesmo em lesões classificadas como 4A já se observa a necessidade de intervenção, ainda que com baixa suspeição de malignidade. Nessa classe podemos encontrar nódulos com características morfológicas de provavelmente benignos, porém palpáveis (American College of Radiology, 2003). 23 A subcategoria 4B inclui lesões com suspeição intermediária, sendo indicada intervenção e seguimento criterioso de eventuais resultados benignos, sendo classificados nesta categoria nódulos parcialmente circunscritos e microcalcificações heterogêneas agrupadas (American College of Radiology, 2003). No grupo de lesões subcategorizadas como 4C, incluem-se achados com moderada suspeição de malignidade, ainda não clássicos, conforme caracteriza a categoria 5, reservada para achados altamente sugestivos de malignidade, onde se enquadram microcalcificações pleomórficas com distribuição ductal e nódulos hiperdensos com forma irregular e contornos espiculados ou microlobulados (American College of Radiology, 2003). Na categoria 5, cerca de 95% dos casos são malignos (American College of Radiology, 2003). Finalmente, a categoria 6 é utilizada para casos comprovadamente malignos através de exame anatomopatológico (AP). Nesse grupo, a maioria envolve pacientes em tratamento quimioterápico neoadjuvante (American College of Radiology, 2003). A tabela 2 resume as principais características do sistema BI-RADS. 24 Tabela 2 Categoria Achados Conduta 0 exame incompleto avaliação adicional 1 exame normal seguimento anual 2 achados tipicamente benignos seguimento anual 3 achados provavelmente benignos seguimento semestral 4A baixa suspeição de malignidade biópsia/seguimento 4B intermediária suspeição de malignidade biópsia/seguimento 4C moderada suspeição de malignidade biópsia/cirurgia 5 achados típicos de malignidade biópsia/cirurgia 6 malignidade comprovada conduta apropriada Modificado de Nascimento JHR e colaboradores, 2009. 1.5 PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS INVASIVOS Nas lesões potencialmente malignas, em geral é sugerido o prosseguimento da investigação através de procedimentos invasivos, como a punção aspirativa com agulha fina (PAAF), a biópsia com agulha grossa também conhecida como core biopsy (CB) e a localização pré-operatória (AG) (Fornage e cols., 2002). 1.5.1 Punção aspirativa com agulha fina (PAAF) A PAAF é o método mais rápido, menos doloroso e de menor custo, permitindo análise citológica do material coletado, sendo rara a ocorrência de complicações conforme Centeno. A citologia, no entanto, não nos fornece diagnóstico definitivo que possa orientar a terapêutica. Além disso, é dependente da habilidade do executor, bem como do patologista que realiza a análise do material coletado, sendo o índice estimado de material insatisfatório 25 em torno de 20 a 30% relatado por Roveda-Junior, já Franzen e Svane relataram índices menores que 5% de material insatisfatório (Boff, 2001; Centeno e cols., 2004; Roveda-Junior e cols., 2007). A PAAF apresenta índices de acurácia variável, sendo descritos valores de 90 % e especificidade em torno de 95% (Fornage, 1987). Em estudo publicado por Fornage foi relatado cerca de 20% de amostras insatisfatórias para o diagnóstico citológico de fibroadenoma, refere também neste estudo que a maior limitação deste método para o diagnóstico de CM são os tumores com baixa celularidade. Outra limitação deste procedimento é a dificuldade da diferenciação do tumor filóide com o fibroadenoma, também observado na CB, porém com menor frequência. Manfrin e colaboradores também avaliaram fatores limitantes da PAAF, atestando que nódulos menores que 1cm, neoplasia de baixo grau e tipos histológicos lobular e tubular podem acarretar em achados falsos-negativos (Fornage e cols. 2002; Manfrin e cols. 2009). 1.5.2. Biópsia com agulha grossa (CB) Desde o início da década de 90, está bem estabelecida a eficácia da biópsia guiada por MMG por técnica esterotáxica ou da biópsia guiada por US, sendo consideradas mais econômicas e melhor toleradas que a biópsia cirúrgica, sem acréscimos significativos de complicações. Parker e colaboradores obtiveram amostras satisfatórias para estudo histológico em todas as 181 biópsias guiadas por US, sem complicações significativas. O mesmo autor em 1994 corroborou esses achados em estudo multi-institucional, com biópsias de 6152 lesões sólidas (Parker e cols., 1994). A partir desses dados, foi fortalecida a idéia de agregar o radiologista na equipe de diagnóstico e tratamento das lesões mamárias, promovendo uma interação mais consistente com o mastologista (Parker e cols., 1993). 26 A CB pode ser realizada nas lesões impalpáveis guiada por MMG, através da estereotaxia, ou US, sendo coletados fragmentos para posterior avaliação anatomopatológica (Fornage e cols., 2002). A sensibilidade da CB com agulhas de calibre 14-17 Gauge varia de 85-97%, sendo a especificidade descrita de até 100%, sendo esta a grande vantagem do método (Zuiani e cols., 2007). A CB apresenta maior custo e maior potencial de complicações em relação à PAAF, pois trata-se de um procedimento mais invasivo, sendo maior o índice de sangramento e formação de hematoma (Basset e cols, 2007). Apesar de elevada acurácia, casos de CB negativa e elevada suspeição de malignidade devem ser levados à biópsia excisional, pois é de extrema importância a concordância dos achados radiológicos com a clínica e com o resultado anatomopatológico (Basset e cols., 2007). 1.5.3. Localização pré-operatória (AG) A AG permite a demarcação precisa de lesões impalpáveis, determinando a sua exata topografia, orientando e facilitando a exérese cirúrgica. Pode ser realizada guiada por MMG, RM, bem como por US, sempre preferindo-se este último método, pela facilidade da execução, ausência de radiação ionizante, além do baixo custo (Fornage e cols., 2002). O procedimento pode ser realizado injetando-se material radioativo no interior da lesão, introduzindo um fio-metálico com um arpão na ponta, bem como a injeção de carvão vegetal, a qual não tem sido utilizada atualmente (Aguillar e cols., 2009). 27 1.5.3.1. Localização pré-operatória com fio-metálico Inicialmente, avalia-se previamente à data da cirurgia, os exames de imagem e então faz-se a escolha do método de imagem que irá ser utilizado para guiar o procedimento, como já referido anteriormente, sempre que possível através da US (Aguillar e cols., 2009). Com o objetivo de facilitar a exérese da lesão pelo cirurgião, o radiologista deve realizar o procedimento procurando o menor trajeto da pele até a lesão. Neste exame é inserida uma agulha no interior da lesão, que contém um fio-metálico com a ponta dobrada e preferencialmente um segmento espesso próximo a esta, denominado fio de Kopans (Fornage e cols., 2002). Este método é amplamente utilizado na demarcação das lesões mamárias, pois não requer sonda para localização do local da injeção, nem mesmo o material radioativo (Aguillar e cols., 2009). 1.5.3.2. Localização pré-operatória com Radiofármaco Quando a localização pré-operatória é realizada com radiofármaco, o procedimento é idêntico à AG, sendo o fio-metálico substituído por radiomarcador. Este exame também é conhecido pela sigla inglesa ROLL - localização de lesão oculta radioguiada. Este método pode ser guiado tanto por MMG como por US (Aguillar et al., 2009). Esta técnica foi desenvolvida na Itália, mais precisamente no Instituto Europeu de Oncologia em 1996, utilizando-se a injeção intratumoral de macropartículas de albumina humana marcadas com Tecnécio 99 (Tc). Após a injeção, utiliza-se uma sonda para localizar a exata topografia da lesão. Em estudo desenvolvido em Milão, com 647 pacientes que realizaram este procedimento o índice de excisão completa da lesão foi de 99,5% (Gennari e cols., 2000). 28 Em outro trabalho também desenvolvido na Itália, Luini e colaboradores, concluíram em estudo onde foi comparado o AG com fio com o AG com Tc, que o método realizado com radiotraçador permite excisão mais rápida, precisa e fácil, além de retirar menor volume de tecido mamário. Quanto à exposição à radiação o procedimento é seguro tanto para o paciente quanto para a equipe médica devido à curta meia vida do radiofármaco (Luini e cols., 1999). 1.5.4. Mamotomia Este método de exame foi criado com o objetivo de superar as limitações da CB, para obtenção de maior quantidade de tecido amostrado. Isto se faz especialmente importante quando as lesões são de pequenas dimensões, como grupos de microcalcificações e pequenas densidades. Através deste procedimento lesões de até 1,5 cm podem ser totalmente excisadas. Também, é possível introduzir um clipe metálico para a demarcação do local biopsiado para posterior análise, se necessário (Aguillar e cols., 2009). O procedimento é idêntico a CB, exceto pela pistola utilizada, pois a mesma possui um dispositivo a vácuo, bem como pelo calibre da agulha que é maior, sendo a agulha 11 Gauge a mais utilizada atualmente (Zuiani e cols., 2005). A grande vantagem do método é a obtenção de fragmentos maiores, o que reduz o índice de lesões subestimadas, entretanto é um procedimento de custo elevado. Desta forma, este método ainda não é amplamente utilizado na amostragem de lesões mamárias no nosso meio (Zuiani e cols., 2005). 1.6 CLASSIFICAÇÃO BI-RADS E DIAGNÓSTICO ANATOMOPATOLÓGICO Apesar das recomendações descritas no BI-RADS, muitas vezes os achados radiológicos são suscetíveis à análise subjetiva, com potencial de variação interpessoal, especialmente entre as lesões intermediárias (categorias 3 ou 4). Conforme já descrito, estima-se que menos de 2% das lesões definidas como categoria 3 são histologicamente 29 malignas. Entretanto, ainda que o próprio BI-RADS desaconselhe a realização de biópsias em lesões da categoria 3, procedimentos invasivos são realizados em grande número de casos. Há diversos estudos clínicos prospectivos demonstrando a segurança e eficácia de um controle inicial a curto prazo para as lesões enquadradas na categoria 3. Sickles e colaboradores mostraram, com base no custo-benefício, que as lesões classificadas na categoria 3 não necessitam inicialmente de biópsia, mas devem ser seguidas, a curto prazo. Procedimentos invasivos estariam indicados em casos de aumento das dimensões da lesão ou surgimento de achado suspeito associado. Além disso, a realização de biópsia nesses casos na maioria das vezes não altera o estadiamento desses pacientes (Sickles, 1991). Entretanto, algumas das lesões classificadas radiologicamente como provavelmente benignas são encaminhadas a procedimentos invasivos (PAAF, CB ou cirurgia), muitas vezes em função de ansiedade da paciente ou mesmo devido à incerteza do médico assistente perante uma lesão classificada como BI-RADS 3. Lacquement e colaboradores ressaltam esse aspecto, sugerindo que futuras investigações devem ser realizadas no intuito de evitar procedimentos desnecessários (Lacquement e cols., 1999). Um número significativo de lesões benignas também é encontrado na categoria 4. Segundo Liberman, os valores preditivos positivos (VPP) para CM apresentam ampla variabilidade, entre 2 a 80% nessa categoria. Dessa forma, a maioria das lesões mamárias biopsiadas encontra-se na categoria 4 (Liberman, 2000). No intuito de melhorar a especificidade dos métodos invasivos no diagnóstico de CM, têm sido realizados estudos avaliando os valores preditivos positivos (VPP) e negativos (VPN) da classificação BI-RADS. Alguns autores mostraram correlação significativa entre a classificação BI-RADS e a histologia. Schimpfle e colaboradores evidenciaram significância nessa associação de 199 lesões submetidas à biópsia, revelando índices de malignidade de 30 5,9%, 17,6% e 90,9% nas categorias 3, 4 e 5, respectivamente (Muller-Schimpfle e cols., 2005). Masroor também mostrou resultados semelhantes, com VPP de 5%, 34% e 83% nas categorias 3, 4 e 5, respectivamente em 114 lesões mamárias biopsiadas (Masroor, 2005). Mais recentemente, Venkatesan e colaboradores analisaram os VPP de achados mamográficos específicos, de acordo com a sua morfologia, mas sem categorizá-los conforme a classificação BI-RADS (Venkatesan e cols., 2009). Dessa forma, não se dispõe de dados consistentes na literatura definindo valores preditivos especialmente em casos duvidosos, geralmente enquadrados na categoria 4. Além disso, não há estudos com amostras significativas avaliando VPP especificamente das subcategorias 4A, 4B e 4C Assim, a avaliação da associação dos achados descritos na MMG e na US conforme BI-RADS com os resultados AP pode fornecer dados importantes para a melhor orientação da conduta e seguimento dos pacientes com lesões mamárias, especialmente em relação à definição entre prosseguir a investigação de maneira invasiva ou acompanhar os achados através de avaliação clínica e por imagem (Muller-Schimpfle e cols., 2005). 2. OBJETIVOS 2.1 Principal Determinar a acurácia, avaliando a sensibilidade, especificidade e VPP e VPN da impressão diagnóstica da MMG e US na caracterização das lesões mamárias nas categorias 3 e 5 e das subcategorias 4A, 4B e 4C do BI-RADS em amostra de pacientes do Hospital Dom Vicente Scherer da Santa Casa de Porto Alegre. 2.2 Específicos Avaliar as alterações mais comumente encontradas em relação à localização e tipo de lesão encontrada na MMG e US. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguillar VLN, Bauab S, Maranhão N. Mama: Diagnóstico por Imagem mamografia, Ultrassonografia, Ressonância Magnética. RJ Revinter, 2009. American Cancer Society Guidelines for Early Detection of Cancer 2007. Breast Cancer Facts & Figures 2007-2008. Atlanta: American Cancer Society, Inc. Disponível em www.cancer.org American College of Radiology. Illustrated Breast Imaging and Data System Atlas (BIRADS): In: 4th ed. Reston, VA: 2003. Bassett LW, Mahoney MC, Apple SK. 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Postgraduate Program in Pathology, University of Health Sciences of Porto Alegre (UFCSPA) ² Department of Radiology, Hospital Dom Vicente Scherer, Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericordia de Porto Alegre (ISCMPA) Porto Alegre, Brazil. ³ Medical, post-graduate program of Gastroenterology, Federal University of Rio Grande do Sul 4 Teachers of the Graduate Program of Pathology UFCSPA Mail Address: Ana Carolina Silva de Castro 37 Rua General Rondon 312; CEP 91900-120; Porto Alegre, RS, Brazil Phone #: (55) 51.3279.4535 / email: [email protected] ABSTRACT Introduction: Breast Imaging Reporting And Data System, BI-RADS ® (BI-RADS) recommends the standardization of the radiological reports in order to minimize the degree of interpersonal variation in image interpretation. In potentially malignant lesions, it is suggested that further research. Objectives: To determine the accuracy by sensitivity, specificity and positive predictive values and negative BI-RADS in MMG and U.S. in the characterization of breast lesions in Categories 3, 4 and 5 and the subcategories 4A, 4B and 4C of the BI-RADS. To evaluate the most commonly found changes in relation to the location and type of lesion found in the MMG and US. Methods: A retrospective study of the diagnostic test of consecutive patients who underwent invasive procedures guided by US or MMG for breast lesions at the Department of Radiology, Hospital Dom Vicente Scherer, ISCMPA, from July 2005 to December 2007. We selected 1035 breast lesions submitted to CB or AG for AP diagnosis, being the BI-RADS lesion correlated with the AP. The results were divided into benign lesions, ductal carcinoma in situ (DCIS) and invasive carcinoma (IC). Diagnostic tests were conducted as sensitivity, specificity and positive predictive value (PPV) and negative predictive value (NPV) using the ROC curve. Results: The nodules were the most common injuries, seen in 652 cases (63%). Microcalcifications were found in 332 (32.1%). Most of the lesions studied were benign, with 38 760 cases (73%). Malignant lesions were found in 275 cases, including 67 DCIS (6.5%) and 208 CI (20.1%). The sensitivity of the methods was 89.1% (ROC curve). The sensitivity and PPV found in categories 3, 4A, 4B, 4C and 5 were 100% and 26.6%, 99.3% and 32.3%, 94.9% and 44.2%, 76.4% and 70.9% and 58.2% and 83.3%, respectively (p <0.001). Conclusion: The majority of lesions undergoing invasive procedures were benign. The higher the BI-RADS classification, the higher prevalence of malignant lesions, especially in sub-4. We believe that further research using the BI-RADS, especially in relation to subcategories 4A, 4B and 4C, may contribute to standardize the medical procedure, avoiding unnecessary procedures and costs. Keywords: BI-RADS, mammography, breast biopsy. 39 INTRODUCTION Breast cancer (BC) is the leading cause of death among women in our country (1). Reduction in the mortality rate depends on early detection. Mammography (MMG) is recommended as a screening method, combined with clinical examination, providing the reduction of mortality (1, 2, 3). The MMG has high sensitivity in detecting clinically occult breast lesions (1). Other imaging techniques needed to track and evaluate dense breasts have been made, mainly including ultrasonography (US) (2,4,5).However, the mammographic findings are often imprecise and subjective, and there may be patients with BC without changes in MMG and US (1). The Breast Imaging Reporting and Data System, BI-RADS ® (BI-RADS) recommends the standardization of the radiological reports in order to minimize the degree of interpersonal variation in the description and interpretation of images on the MMG and US, besides suggesting a conduct and facilitating the monitoring of the final result of the injury. This classification is divided into categories numbered 0 to 6, as the potential for malignancy of radiological findings (6). In potentially malignant lesions, it is suggested that further research is making use of invasive procedures, preferably by core needle biopsy (CB). It can also be performed preoperative localization with needling on the suspicious lesion (AG) (3, 5, 6, 7). In order to improve the targeting of invasive methods in the diagnosis of BC, studies have been conducted evaluating the positive predictive value (PPV) and the negative predictive value (NPV) of mammography and US, especially of intermediate categories (7, 8). 40 Thus, the evaluation of the association of the findings described in the MMG and in the US with the AP results can provide important data for better targeting of conduct and monitoring of patients with breast lesions, especially in relation to the definition of further research so invasive or follow findings by clinical evaluation and imaging. The objective of this study is to determine the accuracy, sensitivity, specificity and positive and negative predictive values of the BI-RADS classification at MMG in the characterization of breast lesions in Categories 3, 4 and 5 and the subcategories 4A, 4B and 4C of the BI-RADS. In addition, alterations were more commonly found in relation to the location and type of lesion found in the MMG and US. METHODS A retrospective study of the diagnostic test of consecutive patients who underwent invasive procedures guided by US or MMG for breast lesions at the Department of Radiology, Hospital Dom Vicente Scherer, Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericordia de Porto Alegre (ISBCPA) from July 2005 to December 2007. We included the medical records of all patients who had breast lesions and who underwent invasive procedures in the period. In patients who underwent AG after CB, only AG data were considered. The study was approved by the Ethics and Research of the institution including all patients who agreed to participate in the program and signed an informed consent or, failing that, a confidentiality agreement and liability was applied, and data were obtained by searching the records. Based on an analysis of a pilot test with the first 200 consecutive patients, whereas a PPV of their breast carcinoma, 5%, 30% and 60% for subcategories 4A, 4B and 4C, that 41 there is a need for an estimated sample of 1300 patients (considering the potential losses of close to 20%) to get 95% more representative, with a standard error of these ratios of less than 3 for each of the BI-RADS tracks represented. Out of 1,300 patients initially selected, 265 patients were excluded. Exclusions happened in cases of incomplete data records, as well as those who underwent incomplete CB, less than 3 pieces, usually associated with complications such as hematoma, or syncope. We also excluded patients who refused to participate in the study. In all the patients, CB or AG was conducted for AP diagnosis. All procedures were performed by two performers (ACC and CH), exclusively dedicated breast radiology and invasive procedures in breast for at least 5 years. Procedures guided by MMG were performed in a Siemens® Mamomat 3000 device using stereotactic technique for CB and the biplane technique for AG. All US-guided procedures were performed using the technique of hands-free device with Logic 5 (General Electric, GE™) with a 12 megaHertz (MHz) linear transducer. The diagnostic method of choice for image guided procedures was, when possible, the US, by presenting a lower cost, faster delivery and greater comfort for the patient (9). The CB is performed after sterilization, under local anesthesia and with 5 to 10 ml of 2% lidocaine without vasoconstrictor, followed by a 3 mm incision in the skin with an 11blade scalpel, when an average of 5 fragments are collected with 12Gauge needle attached to Magnum pistol, Bard™ (10). The material was sent to AP diagnosis at the Pathology Service of the Hospital Santa Rita of the Santa Casa Hospital Complex in Porto Alegre. When the biopsied lesion was composed of a group consisting of microcalcifications, 42 an amplified MMG of the fragments biopsied was performed to confirm the presence of microcalcifications in the material collected. The AG was performed by MMG or US, a few hours before surgery, preferably on the same day of surgery to try to avoid a possible displacement of the wire. The preoperative localization was also carried out preferably by US. The procedure was performed after asepsis and local anesthesia, followed by introduction of wire inside the lesion or the injection of 0.2 ml of the radiopharmaceutical technetium 99 (Tc99) in the center of the lesion, followed by injection of 0.4 ml of contrast nonionic radiopaque for radiographic confirmation of the success of the procedure (11). After completion of the AG, two orthogonal mammography views were performed to demonstrate the topography of the lesion and the procedure performed. In addition, in US guided demarcation, a skin demarcation was performed in the topography of the lesion. In cases of nodules with mammographic expression and microcalcifications, mammograms of the operative part in the transoperative period was performed in order to confirm the immediate removal of the lesion. All specimens were then taken to AP study. The AP analysis of materials obtained by CB or resection of the number previously marked were performed by two pathologists at the service with more than 25 years of experience in breast pathology. Prior to the procedure, evaluation of morphological characteristics of the lesions to be biopsied or marked were performed, as well as the BI-RADS classification. These tests were performed by two radiologists with at least 5 years of dedication to Breast Radiology. 43 They cataloged age, location of the lesion, the BI-RADS classification and type of lesion and type of procedure performed. The data collected were analyzed and compared to the AP results. The AP results were divided into benign lesions, ductal carcinoma in situ (DCIS) and invasive carcinoma (IC), according to the International Classification of Diseases for Oncology (3). The calculation of the PPV and NPV were performed according to methodology recommended in Chapter 5 of the BI-RADS, where the classification of images and their AP results are taken into account and considered the following concepts: true-positive (TP), those with BI-RADS 4 or 5 MMG and biopsy positive for malignancy, true-negative (TN), those with BI-RADS 3 MMG and biopsy negative for malignancy, false-negative (FN), those with BI-RADS 3 MMG and with biopsy positive for malignancy, false-positive (FP), those with BI-RADS 4 or 5 MMG and with biopsy negative for malignancy (2.6). The PPV was defined by the formula: PPV = VP / (VP + FP). The NPV was defined by the formula: NPV = TN / (TN + FN). STATISTICAL ANALYSIS The data were tabulated on spreadsheets of version 10.0 of the SPSS program, when diagnostic tests were conducted, including assessment of sensitivity, specificity and positive and negative predictive values. Each of the listed variables was analyzed by obtaining the average of the proportions and their confidence intervals at 95% of each BI-RADS to the use of ROC (Receiver-Operator Characteristic). An analysis of likelihood ratios for multiple levels was added to these testes. To measure the degree of agreement between different specialists in radiology breast, evaluation of the characteristics according to the lexicon were 44 confronted by two radiologists in a double blind at least 100 random cases by the method of Kappa. Statistical significance was considered when it obtained a value of p <0.05. RESULTS We studied 1035 breast lesions undergoing diagnostic procedures guided by US or MMG. Most lesions were located in the upper-outer quadrant, 261 to the right (25.2%) and 267 to the left (25.8%), followed by the upper-inner quadrant of the right breast (119 cases, 11.5% ). As for the procedures carried out, most of the diagnoses were obtained by US-guided CB (35.1%), followed by MMG guided wired AG by (21.2%), as demonstrated in Table 1. Table 1 n % CB - US 363 35.1 CB- MMG 138 13.3 AG/needle-MMG 219 21.2 AG/Tc99- MMG 57 5.5 AG/ needle -US 204 19.7 54 5.2 AG/Tc99-US CB, think needle biopsy; US, ultrasonography; MMG, mammography; AG, needling; Tc99, 45 Regarding the presentation of the lesions, the nodules were the most common, seen in 652 cases (63%). Microcalcifications were found in 332 (32.1%). Asymmetry and architectural distortion were found in 14 and 19 cases, respectively (1.4 and 1.8%). Most of the lesions studied were benign, with 760 cases (73%). Malignant lesions were found in 275 cases, including 67 DCIS (6.5%) and 208 CI (20.1%). The most common diagnosis was fibrocystic mastopathy (MF), with 242 cases (23.3%), followed by fibroadenoma (FA), with 230 cases (22.2%). Among the malignant lesions, CI was found in 187 (18.06%) and DCIS in 67 (6.47%). The correlation of BI-RADS with the AP results was statistically significant (p<0.001). Table 2 shows the most frequent AP results and their respective BI-RADS classification. Table 2 BI-RADS Classification AP Diagnosis n(%) 3(n,%) 4A(n,%) 4B(n,%) 4C (n,%) MF 242(23,3) 44(4,2) FA 230(22,2) Other benign alt. CI 5(n,%) 99(9,5) 77(7,4) 17(1,6) 5(0,4) 84(8,1) 63(6,0) 72(6,9) 8 (0,7) 3(0,2) 153(14,7) 32(3,0) 44(4,2) 46(4,4) 19(1,8) 12(1,1) 187(18,0) 0(0) 4(0,3) 27(2,6) 34(3,2) 122(11,7) CDIS 67(6,4) 2(0,1) 7(0,6) 23(2,2) 13(1,2) 22(2,1) Typical hyperplasia 51(4,9) 16(1,5) 19(1,8) Atypical hyperplasia 28(2,7) 2(0,1) Lobular IC 21(2,0) 0(0) 9(0,8) 5(0,4) 2(0,1) 4(0,3) 17(1,6) 1(0,0) 4(0,3) 1(0,0) 1(0,1) 3(0,2) 16(1,5) AP, anatomy-pathology, MF, fibrocystic mastopathy, FA, fibroadenoma; IC, invasive carcinoma; DCIS, ductal carcinoma in situ. 46 Regarding the most prevalent presentations and its AP classification, the majority of microcalcifications were benign (72.9%), as compared to nodules, 72% benign.However, 7.8% of microcalcifications found were placed in category 3, and 32.8%, 33.0% and 13.0% were classified as 4A, 4B and 4C, respectively, while 13.2% of microcalcifications were category 5. As for the nodules, 24% were classified in category 3, and 19.6%, 25.0% and 9.0% in subcategories 4A, 4B and 4C, respectively. Since 22.2% of nodules were category 5. The association of injury and presentation of their respective BI-RADS classification was statistically significant, as well as for the AP classification (p=0.03). The average age found was 50 years. There were also statistically significance (p<0.001) in the correlation between the average age and AP classification, with benign lesions showing average age of 47.85 years at presentation, and malignant lesions with an average age of 55.2 years. The BI-RADS classification of the lesions is listed in Table 3. Table 3 BI-RADS n % 3 188 18,2 4A 256 24,7 4B 295 28,5 4C 104 10,0 5 192 18,6 BI-RADS, Breast Imaging Reporting and Data System 47 The sensitivity of the methods employed was 89%, as demonstrated by Figure 1 (95% - 86 to 91.3%). Figure 1 - ROC curve 1,00 Figura 1- Curva ROC ,75 Figura 1 Sensitivity ,50 ,25 0,00 0,00 ,25 ,50 ,75 1,00 1 - Specificity The area under the curve is 0.891 (IC95%, 0.87 to 0.91). P <0.0005. The BI-RADS classification showed statistically significant correlation (p <0.001) with the AP diagnosis, with the figures obtained summarized in Table 4. Table 4 - Correlation BI-RADS and AP Classification 3 4A 4B 4C 5 Benign Ca in situ Ca invasive Ca, carcinoma. Total 186 244 244 54 32 760 2 7 23 13 22 67 28 37 138 208 / 5 48 The sensitivity, specificity, PPV and NPV of BI-RADS categories are shown in Table 5. Table 5 BIRADS Sens (%) Spec (%) PPV (%) NPV (%) 3 100 100 26.6 4A 99.3 24.5 32.3 98.9 4B 94.9 56.5 44.2 96.8 4C 76.4 88.7 70.9 91.2 5 58.2 95.8 83.3 86.3 BI-RADS, Breast Imaging Reporting and Data System; Sens, sensitivity; Spec, specificity, PPV, positive predictive value, NPV, negative predictive value. For category 4, 82.75% of the lesions were benign, with 6.56% of carcinoma in situ and 10.69% of invasive carcinoma.In subcategory 4A, the vast majority of lesions were benign (95.31%). DCIS and IC were found in 2.73% and 1.95% respectively. In subcategory 4B, benign lesions were seen in 82.71%, 7.80% in DCIS and IC in 9.49%. In subcategory 4C, benign lesions were seen in 51.92%, DCIS in 12.5% and 35.58% in IC.The correlation of the subcategory with the AP results was statistically significant (p <0.001). Table 6 shows the data of subcategories 4A, 4B and 4C as predictors of malignancy. 49 Table 6 BI-RADS Benign DCIS IC PPV 4A 95.31% 2.73% 1.95% 32.3% 4B 82.71% 7.80% 9.49% 44.2% 4C 51.92% 12.5% 35.58% 70.9% BI-RADS, Breast Imaging Reporting and Data System; CDIS, ductal carcinoma in situ; CI, invasive carcinoma; PPV, positive predictive value. DISCUSSION Our study describes the sensitivity, specificity, PPV and NPV of 1035 breast lesions that underwent biopsy or preoperative localization by AG based on the BI-RADS in categories 3 and 5 and subcategories 4A, 4B and 4C in relation to the AP. The results are comparable to the literature. Margolin and colleagues studied 1333 breast lesions, and 1183 were classified according to BI-RADS. All lesions were submitted to CB, with 506 guided by MMG and 827 guided by US. These authors found IC in 3% of the lesions classified as category 3, 10% in 4 and 92% in category 5 (12). Our results showed IC index in Categories 3, 4 and 5, respectively 0%, 10.69% and 71.87%. Kestelman and colleagues published a review of 11 studies evaluating PPV for categories 3, 4 and 5. The samples showed a wide variability in relation to selection criteria. In 11 studies, the PPV ranged from 0% to 8% (median of 2%) in category 3, between 4% and 63% (median 21%) in category 4 and between 54% and 100% (median 89% ) in category 5 (1). It is noteworthy that in none of these studies was considered the evaluation of subcategories 4A, 4B and 4C, with wide variation of results in category 4. Our study 50 evaluated discriminately these categories, with statistically significant results in relation to AP results, resulting in the malignancy rate of 4.68%, 17.29% and 48.08% in subcategories 4A, 4B and 4C, respectively. Similarly, Lazarus and colleagues found rates of malignancy, 6%, 15% and 53% in subcategories 4A, 4B and 4C, respectively (7). Recently, Sanders and colleagues also conducted analysis of the subcategorization of BI-RADS 4 with a correlation of microcalcifications with AP diagnosis. These authors performed a retrospective study of 191 lesions submitted to CB, being the most common result of MF (28%). They found DCIS in 10%, 21% and 70% in subcategories 4A, 4B and 4C (13). Our study showed DCIS of 2.73%, 7.8% and 12.5% subcategories 4A, 4B and 4C, respectively. Our study reinforces the idea that many breast lesions are unnecessarily biopsied. Out of the 188 biopsied lesions classified as category 3, 186 were benign (98.9%), with only 2 cases of DCIS. These data are similar to those described by Margolin and colleagues, where 3% of the lesions classified as category 3 were malignant (12). The PPV obtained are also similar to the literature. Lacquement and colleagues showed PPV of 3, 23 and 92% in category 3, 4 and 5, respectively, in 688 lesions which underwent CB (8). Masroor found PPV 5%, 34% and 83% in category 3, 4 and 5 (14). In our study, we obtained a PPV of 26.6% in category 3, 83.3% in category 5 and 32.3%, 44.2% and 70.9% in subcategories 4A, 4B and 4C, respectively. 51 These data reinforce the benefit of the subdivisions of category 4 in subcategories, which can modify the behavior in intermediate cases. Thus, in lesions classified as 4A, the short-term follow-up can be balanced. Some limitations of this study will be described here. This is a retrospective analysis. A follow-up of patients studied to date was not performed, because it was not the initial objective of the work, this analysis will be performed later, being planned a revaluation of all patients who had up to now the result of benign findings in AP. The focus of the study was to confront the BI-RADS classification of the lesion subjected to procedures of the institution in the period with the AP results. CONCLUSIONS Most of the lesions submitted to invasive procedures were benign. The rates of malignancy were similar to those of the literature. The BI-RADS classification showed a statistically significant correlation regarding the AP in obtained the sample. We believe that further research using the BI-RADS, especially in relation to subcategories 4A, 4B and 4C can collaborate in order to optimize and standardize the medical management of these cases, avoiding unnecessary procedures and costs. REFERENCES 1. Kestelman FP, De Souza GA, Thuler LC, Martins G, Rolim de Freitas VA, Canella EO. Breast Imaging Reporting and Data System- BI-RADS®: Valor preditivo positivo das categorias 3,4 e 5. Revisão sistemática da literatura. Radiol Bras 2007; 40(3): 173177. 2. Roveda Junior D, Piato S, Marques de Oliveira V, Rinaldi JF, Ferreira CAP, Fleury ECF. Valores preditivos das categorias 3,4 e 5 do sistema BI-RADS® em lesões 52 mamárias nodulares não-palpáveis avaliadas por mamografia, ultra-sonografia e ressonância magnética. Radiol Bras 2007; 40(2): 93-98. 3. Venkatesan A, Chu P, Kerlikowske K, Sickles EA, Smith-Bindman R. Positive predictive value of specific mammographic findings according to readers and patient variables. Radiology 2009; 250(3): 648-657. 4. Nascimento JHR, Da Silva VD, Maciel AC. Acurácia dos achados ultrassonográficos do câncer de mama: correlação da classificação BI-RADS e achados histológicos. Radiol Bras 2009 jul/ago; 42(4): 235-240. 5. Centeno AD, Koch RS, Freund L, Koch HA. Correlação anatomorradiológica de alterações mamárias através de core biopsy e punção aspirativa por agulha fina. Rev Bras de Mastologia 2004; (14) n1: 29-34. 6. American College of Radiology. Illustrated Breast Imaging and Data System Atlas (BIRADS): In: 4th ed. Reston, VA: 2003. 7. Lazarus E, Mainiero MB, Schepps B, Koelliker SL, Livingston LS. BI-RADS lexicon for US and mammography: interobserver variability and positive predictive value. Radiology 2006; 239: 385-391. 8. Lacquement MA, Mitchell D, Hollingsworth AB. Positive predictive value of breast imaging reporting data system. J Am Coll Surg 1999 jul; 189(1): 34-40. 9. Boff R, Wisintainer F, Amorim G. Manual de Diagnóstico e Terapêutica em Mastologia. Editora Mesa Redonda; Caxias do Sul, RS; 2007;27-29. 10. Meunier M, Clough K. Fine needle aspiration cytology versus percutaneous biopsy of nonpalpable brast lesions. Eur J Radiol 2002 (42); 10-16. 11. Gennari R, Galimberti V, De Cicco C, Zurrida S, Zerwes F, et al. Use of technetium99m-labeled colloid albumin for preoperative and intraopertive localization of nonpalpable breast lesions. J Am Coll Surg 2000; 190(6):692-699. 53 12. Margolin F, Leung J, Jacobs R, Denny SR. Percutaneous Imaging-Guided Core Breast Biopsy: 5 Years Experience in a Community Hospital. AJR 2001; 177: 559-564. 13. Sanders MA, Roland L, Sahoo S. Clinical implications of subcategorizing BI-RADS 4 breast lesions associated with microcalcifications: A radiology-pathology correlation study. Breast J 2009 Nov (19). 14. Masroor I. Prediction of benignity or malignancy of a lesion using BI-RADS. J Coll Physicians Surg Park 2005 Nov; 15(11): 686-688. 54 4.0 ARTIGO EM PORTUGUÊS CLASSIFICAÇÃO BI-RADS COM RESULTADOS ANATOMOPATOLÓGICOS DE 1035 LESÕES MAMÁRIAS ¹Castro ACS ²Heckmann CA ³Scaffaro LA 4 Zettler CG 4 Py Gomes da Silveira G 4 El Beitune P ¹Serviço de Radiologia do Hospital Dom Vicente Scherer do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA) Porto Alegre, RS, Brasil. Pós-graduanda do Programa de Patologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) ²Serviço de Radiologia do Hospital Dom Vicente Scherer do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA) Porto Alegre, RS, Brasil. ³Médico, pós-graduando do Programa de Gastroenterologia da Universidade Federal de Rio Grande do Sul. 4 Professores do Programa de Pós-graduação de Patologia da UFCSPA Endereço para correspondência: Ana Carolina Silva de Castro Rua General Rondon 312 CEP 91900-120 Porto Alegre, RS, Brasil Fone: (55) 51.3279.4535 / email: [email protected] 55 RESUMO Introdução: o Breast Imaging Reporting And Data System- BI-RADS® (BI-RADS) preconiza a padronização do laudo radiológico com o objetivo de minimizar o grau de variação inter-pessoal na interpretação das imagens radiológicas. Em lesões potencialmente malignas é sugerido o prosseguimento da investigação. Objetivos: determinar a acurácia, por meio da sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo e negativo da classificação BI-RADS na MMG e US na caracterização das lesões mamárias nas categorias 3, 4 e 5 e das subcategorias 4A, 4B e 4C do BI-RADS. Avaliar as alterações mais comumente encontradas em relação à localização e tipo de lesão detectada na MMG e US. Material e métodos: estudo retrospectivo de teste diagnóstico de pacientes consecutivas que realizaram procedimentos invasivos guiados por MMG ou US em lesões mamárias no Serviço de Radiologia do Hospital Dom Vicente Scherer do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre no período de julho de 2005 a dezembro de 2007. Foram selecionadas 1035 lesões mamárias submetidas a CB ou AG para diagnóstico AP, sendo a classificação BI-RADS das lesões correlacionadas com o AP. Os resultados obtidos foram divididos em lesões benignas, carcinoma ductal in situ (CDIS) e carcinoma invasor (CI). Foram realizados testes diagnósticos como sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo (VPP) e negativo (VPN) por meio da curva ROC. Resultados: os nódulos foram as lesões mais comuns, vistos em 652 casos (63%). Microcalcificações foram encontradas em 332 (32,1%). A maioria das lesões estudadas foram benignas, com 760 casos (73%). Lesões malignas foram encontradas em 275 casos, sendo 67 CDIS (6,5%) e 208 CI (20,1%). A sensibilidade geral dos métodos foi de 89,1% (curva ROC). A sensibilidade e VPP encontrados nas categorias 3, 4A, 4B , 4C e 5 foram 56 100% e 26,6%, 99,3% e 32,3%, 94,9% e 44,2%, 76,4% e 70,9% e 58,2% e 83,3%, respectivamente (p < 0,001). Conclusão: a maioria das lesões submetidas a procedimentos invasivos foram benignas. Quanto maior a classificação BI-RADS, maior prevalência de lesões malignas, especialmente na subcategoria 4. Acreditamos que novas pesquisas utilizando o BI-RADS, especialmente em relação às subcategorias 4A, 4B e 4C, podem colaborar para uniformizar a conduta médica, evitando procedimentos desnecessários e custos adicionais. Unitermos: BI-RADS, mamografia, biópsia por agulha grossa. 57 INTRODUÇÃO O câncer de mama (CM) é a principal causa de morte entre as mulheres no nosso meio (1). A redução da taxa de mortalidade depende da sua detecção precoce. A mamografia (MMG) é recomendada como método de rastreamento, associada ao exame clínico, promovendo redução da mortalidade (1,2, 3). A MMG apresenta alta sensibilidade na detecção de lesões mamárias clinicamente ocultas (1). Outros métodos de imagem suplementares para rastrear e avaliar mamas densas têm sido realizados, incluindo principalmente a ultrassonografia (US) (2,4,5) Entretanto, os achados mamográficos muitas vezes são imprecisos e subjetivos, podendo haver pacientes com CM sem alterações na MMG e na US (1). O Breast Imaging Reporting And Data System- BI-RADS® (BI-RADS) preconiza a padronização do laudo radiológico com o objetivo de minimizar o grau de variação inter-pessoal na descrição e interpretação das imagens na MMG e US, além de sugerir uma conduta e facilitar a monitorização do resultado final da lesão. Essa classificação é dividida em categorias numeradas de 0 a 6, conforme o potencial de malignidade do achado radiológico (6). Em lesões potencialmente malignas é sugerido o prosseguimento da investigação fazendo-se uso de procedimentos invasivos, preferencialmente através de biópsia com agulha grossa (CB). Também pode ser realizada localização pré-operatória da lesão suspeita (AG) (3,5,6,7). No intuito de melhorar a especificidade dos métodos invasivos no diagnóstico de CM, têm sido realizados estudos avaliando os valores preditivos positivos (VPP) e negativos (VPN) dos achados mamográficos, especialmente das categorias intermediárias (7,8). Dessa forma, a avaliação da associação dos achados descritos na MMG e na US com os resultados AP pode fornecer dados importantes para a melhor orientação da 58 conduta e seguimento dos pacientes com lesões mamárias, especialmente em relação à definição entre prosseguir a investigação de maneira invasiva ou acompanhar os achados através de avaliação clínica e por imagem. O objetivo deste estudo é determinar a acurácia, sensibilidade, especificidade e valores preditivo positivo e negativo da classificação BI-RADS na MMG na caracterização das lesões mamárias nas categorias 3, 4 e 5 e das subcategorias 4A, 4B e 4C do BI-RADS. Adicionalmente, foram avaliadas as alterações mais comumente encontradas em relação à localização e tipo de lesão encontrada na MMG e US. MÉTODOS Estudo retrospectivo de teste diagnóstico de pacientes consecutivas que realizaram procedimentos invasivos guiados por MMG ou US em lesões mamárias no Serviço de Radiologia do Hospital Dom Vicente Scherer do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA) no período de julho de 2005 a dezembro de 2007. Foram incluídos dados de prontuário de todas as pacientes que realizaram procedimentos invasivos em lesões mamárias neste período. Em pacientes que realizaram AG após CB, foram considerados dados apenas do AG. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição (NP 1863/08) incluindo-se todas as pacientes que aceitaram participar do mesmo e assinaram o termo de consentimento pós-informado ou, na ausência deste, um termo de confidencialidade e responsabilidade foi aplicado, e os dados foram obtidos através de pesquisa dos prontuários. Baseado em uma análise de teste piloto com as primeiras 200 pacientes consecutivas, considerando um VPP de carcinoma mamário respectivo de 5%, 30% e 60% para as subcategorias 4A, 4B e 4C, concluiu-se pela necessidade de uma amostra estimada 59 de 1300 pacientes (considerando-se o potencial de perdas próximas a 20%) para se obter o IC 95% mais representativo, com erro padrão destas proporções inferior a 3 para cada uma das faixas BI-RADS representadas. De 1300 pacientes selecionadas inicialmente, 265 pacientes foram excluídas. As exclusões se deram em casos de dados de prontuário incompletos, assim como aqueles que realizaram CB incompleta, com menos de 3 fragmentos, geralmente associada a complicações como hematoma ou síncope. Também foram excluídas pacientes que não aceitaram participar do referido estudo. Em todas os pacientes foram realizados CB ou AG para diagnóstico AP. Todos os procedimentos foram realizados por dois executores (ACC e CH), com dedicação exclusiva em radiologia mamária e procedimentos invasivos em mama por no mínimo 5 anos. Os procedimentos guiados por MMG foram realizados em aparelho Mamomat 3000 Siemens® utilizando-se as técnicas estereotaxia para CB e método biplanar para agulhamento. Todos os procedimentos guiados por US foram realizados através da técnica de mãos livres, com aparelho Logic 5 (General Eletric, GE™) com transdutor linear de 12 mega Hertz (MHz). O método de diagnóstico por imagem preferencial para guiar os procedimentos foi, sempre que possível, a US, por apresentar menor custo, rápida execução e maior conforto para a paciente (9). A CB é efetuada após assepsia e anestesia local com 5 a 10 ml de lidocaína 2% sem vasoconstrictor, seguida de incisão de 3 mm na pele com bisturi lâmina 11, quando então coletam-se em média 5 fragmentos com agulha 12 Gauge acoplada a pistola Magnum, Bard™ (10). O material foi encaminhado para diagnóstico anatomopatológico(AP) no Serviço de Patologia do Hospital Santa Rita do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre. Quando a lesão biopsiada era composta de grupo de microcalcificações, foi 60 realizada MMG ampliada dos fragmentos biopsiados para confirmação da presença de microcalcificações no material coletado. O AG foi realizado através da MMG ou US, algumas horas antes do procedimento cirúrgico, preferencialmente na mesma data da cirurgia, para tentar evitar ao máximo o eventual deslocamento do fio, quando inserido. A localização pré-operatória também foi realizada preferencialmente por US. O procedimento foi realizado após assepsia e anestesia local, seguidos de introdução de fio metálico no interior da lesão ou da injeção de 0,2 ml de radiofármaco tecnécio 99 (Tc99) no centro da lesão, seguido da injeção de 0,4 ml de contraste radiopaco não-iônico para confirmação radiográfica do sucesso do procedimento (11). Após a realização do AG, foram realizados dois clichês mamográficos ortogonais, para demonstração da topografia da lesão e do procedimento realizado. Além disso, em demarcações guiadas por US, foi feita demarcação cutânea na topografia da lesão. Em casos de nódulos com expressão mamográfica e sempre quando microcalcificações foram demarcadas foram realizadas mamografias da peça operatória no período trans-operatório com intuito de confirmar a exérese imediata da lesão. Todas as peças cirúrgicas foram posteriormente encaminhadas para estudo AP. As análises AP dos materiais obtidos por CB ou por ressecção da peça previamente demarcada foram realizadas por dois patologistas do Serviço com mais de 25 anos de experiência em patologia mamária. Previamente ao procedimento, foi realizada avaliação das características morfológicas das lesões a serem biopsiadas ou demarcadas, bem como foi efetuada a classificação BI-RADS. Essas análises foram realizadas por dois médicos radiologistas com pelo menos 5 anos de dedicação exclusiva em Radiologia Mamária. 61 Foram catalogados a idade, localização da lesão, o tipo de lesão, a classificação BIRADS e o tipo de procedimento realizado. Os dados coletados foram analisados e confrontados com os resultados AP. Os resultados AP foram divididos em lesões benignas, carcinoma ductal in situ (CDIS) e carcinoma invasor (CI), segundo a International Classification of Diseases for Oncology (3). O cálculo do VPP e do VPN foi realizado segundo metodologia recomendada no capitulo 5 do BI-RADS, onde são levados em conta a classificação das imagens e seu respectivo resultado AP, sendo considerados os seguintes conceitos: verdadeiro- positivo (VP), aqueles com MMG BI-RADS 4 ou 5 e com biópsia positiva para malignidade; verdadeiro-negativo (VN), aqueles com MMG BI-RADS 3 e com biópsia negativa para malignidade; falso-negativo (FN), aqueles com MMG BI-RADS 3 e com biópsia positiva para malignidade; falso-positivo (FP), aqueles com MMG BI-RADS 4 ou 5 e com biópsia negativa para malignidade (2,6). O VPP foi definido através da fórmula: VPP= VP/( VP + FP). O VPN foi definido através da fórmula: VPN= VN/(VN+FN). ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram tabulados em planilhas do programa SPSS versão 10.0, sendo realizado testes diagnósticos incluindo a avaliação de sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo e negativo. Cada uma das variáveis listadas foram analisadas obtendo-se a média das proporções e os respectivos intervalos de confiança a 95% de cada uma das categorias BI-RADS com a utilização da curva ROC (Receiver-Operator Characteristic). Adicionando-se a estes testes a análise de razões de verossimilhança de múltiplos níveis. Para aferirmos o grau de concordância entre diferentes especialistas em radiologia mamária, 62 a avaliação das características de acordo com o BIRADS foram confrontadas pelas duas radiologistas, em um estudo duplo cego de pelo menos 100 casos aleatórios por meio do método de Kappa. Foi considerada significância estatística quando se obteve um valor de p < 0,05. RESULTADOS Foram estudadas 1035 lesões mamárias submetidas a procedimentos diagnósticos guiados por US ou MMG. A maioria das lesões foram localizadas no quadrante súpero-externo, sendo 261 à direita (25,2%) e 267 à esquerda (25,8%), seguido do quadrante súpero-interno da mama direita (119 casos, 11,5%). Quanto aos procedimentos realizados, a maioria dos diagnósticos foram obtidos através de CB guiada por US (35,1%), seguido de AG com fio guiado por MMG (21,2%), conforme atesta a tabela 1. Tabela 1 n % CB - US 363 35,1 CB- MMG 138 13,3 AG/fio-MMG 219 21,2 57 5,5 204 19,7 54 5,2 AG/Tc99- MMG AG/fio-US AG/Tc99-US 63 Em relação à apresentação das lesões, os nódulos foram os mais comuns, vistos em 652 casos (63%). Microcalcificações foram encontradas em 332 (32,1%). Assimetria e distorção arquitetural foram os achados em 14 e 19 casos, respectivamente (1,4 e 1,8%). A maioria das lesões estudadas foram benignas, com 760 casos (73%). Lesões malignas foram encontradas em 275 casos, sendo 67 CDIS (6,5%) e 208 CI (20,1%). O diagnóstico mais comum foi de mastopatia fibrocística (MF), com 242 casos (23,3%), seguido de fibroadenoma (FA), com 230 casos (22,2%). Entre as lesões malignas, CI foi encontrado em 187( 18,06%) e CDIS em 67(6,47%). A correlação da classificação BI-RADS com os resultados AP foi estatisticamente significativa (p < 0,001). A tabela 2 mostra os resultados AP mais frequentes e suas respectivas classificação BI-RADS. Tabela 2 Classificação BI-RADS Diagnóstico AP n(%) 3(n,%) 4A(n,%) MF 242(23,3) 44(4,2) 99(9,5) FA 230(22,2) 84(8,1) 4B(n,%) 4C (n,%) 5(n,%) 77(7,4) 17(1,6) 5(0,4) 63(6,0) 72(6,9) 8 (0,7) 3(0,2) 46(4,4) 19(1,8) 12(1,1) Outras alt. benignas 153(14,7) 32(3,0) 44(4,2) CI 187(18,0) 0(0) 4(0,3) 27(2,6) 34(3,2) 122(11,7) CDIS 67(6,4) 2(0,1) 7(0,6) 23(2,2) 13(1,2) 22(2,1) Hiperplasia típica 51(4,9) 16(1,5) 19(1,8) 9(0,8) 5(0,4) 2(0,1) Hiperplasia atípica 28(2,7) 2(0,1) 4(0,3) 17(1,6) 1(0,1) 4(0,3) CI lobular 21(2,0) 0(0) 1(0,1) 1(0,1) 3(0,2) 16(1,5) AP, anatomopatológico; MF, mastopatia fibrocística; FA, fibroadenoma; Alt., alterações; CI, carcinoma invasor; CDIS, carcinoma ductal in situ. 64 Em relação às apresentações mais prevalentes e sua classificação AP, a maioria das microcalcificações foram benignas (72,9%), assim como em relação aos nódulos, sendo 72% benignos. Já 7,8% das microcalcificações encontradas foram enquadradas na categoria 3, e 32,8%, 33,0% e 13,0% foram classificadas como 4A, 4B e 4C, respectivamente, enquanto que 13,2% das microcalcificações foram categoria 5. Quanto aos nódulos, 24% foram classificados na categoria 3, e 19,6%, 25,0% e 9,0% nas categorias 4A, 4B e 4C, respectivamente. Já 22,2% dos nódulos foram categoria 5. A associação da apresentação das lesões e sua respectiva classificação BI-RADS foi estatisticamente significativa, assim como em relação à classificação AP (p=0,03). A idade média encontrada foi de 50 anos. Também houve significância estatística (p < 0,001) na correlação entra a idade média e a classificação AP, com lesões benignas apresentando idade média de 47,85 anos na apresentação, e lesões malignas com idade média de 55,2 anos. A classificação BI-RADS das lesões encontradas é listada na tabela 3. Tabela 3 BI-RADS n % 3 188 18,2 4A 256 24,7 4B 295 28,5 4C 104 10,0 5 192 18,6 BI-RADS, Breast Imaging Reporting and Data System 65 A sensibilidade geral dos métodos empregados foi de 89%, conforme atesta a figura 1 (IC 95%- 86 a 91,3%). Figura 1- Curva ROC 1,00 Figura 1 ,75 Sensitivity ,50 ,25 0,00 0,00 ,25 ,50 ,75 1,00 1 - Specificity A área sob a curva é de 0,891 (IC95%, 0,87 a 0,91). p<0,0005. A classificação BI-RADS mostrou correlação estatisticamente significativa (p < 0,001) com o diagnóstico AP, com os números obtidos resumidos na tabela 4. Tabela 4- Correlação BI-RADS e AP Classificação 3 4A 4B 4C 5 Benigno 186 244 244 54 32 760 Ca in situ 2 7 23 13 22 67 / 5 28 37 138 208 Ca invasor total Ca, carcinoma. A sensibilidade, especificidade, VPP e VPN das categorias BI-RADS são mostradas na tabela 5. 66 Tabela 5 BIRADS Sens (%) Espec (%) VPP (%) VPN (%) 3 100 100 26,6 4A 99,3 24,5 32,3 98,9 4B 94,9 56,5 44,2 96,8 4C 76,4 88,7 70,9 91,2 5 58,2 95,8 83,3 86,3 BI-RADS, Breast Imaging Reporting and Data System; Sens, sensibilidade; Espec, especificidade; VPP, valor preditivo positivo; VPN, valor preditivo negativo. Em relação à categoria 4, 82,75% das lesões foram benignas, com 6,56% de carcinoma in situ e 10,69% de carcinoma invasor. Na subcategoria 4A, a grande maioria das lesões foram benignas (95,31%). CDIS e CI foram encontrados em 2,73% e 1,95%, respectivamente. Na subcategoria 4B, lesões benignas foram vistas em 82,71%, CDIS em 7,80% e CI em 9,49%. Na subcategoria 4C, lesões benignas foram vistas em 51,92%, CDIS em 12,5% e CI em 35,58%. A correlação das subcategorias com os resultados AP foi estatisticamente significativa (p <0,001). A tabela 6 mostra os dados das subcategorias 4A, 4B e 4C como preditores de malignidade. 67 Tabela 6 BI-RADS Benigno CDIS CI VPP 4A 95,31% 2,73% 1,95% 32,3% 4B 82,71% 7,80% 9,49% 44,2% 4C 51,92% 12,5% 35,58% 70,9% BI-RADS, Breast Imaging Reporting and Data System; CDIS, carcinoma ductal in situ; CI, carcinoma invasor; VPP, valor preditivo positivo. DISCUSSÃO Nosso estudo descreve a sensibilidade, especificidade, VPP e VPN de 1035 lesões mamárias biopsiadas ou submetidas à localização pré-operatória através de AG utilizando a classificação BI-RADS nas categorias 3 e 5 e subcategorias 4A, 4B e 4C em relação ao AP. Os resultados obtidos são superponíveis aos da literatura. Margolin e colaboradores estudaram 1333 lesões mamárias, sendo que 1183 foram classificadas de acordo com o BIRADS. Todas as lesões foram submetidas a CB, sendo 506 guiadas por MMG e 827 guiadas por US. Esses autores encontraram CI em 3% das lesões classificadas na categoria 3, 10% na 4 e 92% na categoria 5 (12). Nossos resultados demonstraram índice de CI nas categorias 3, 4 e 5, respectivamente de 0%, 10,69% e 71,87%. Kestelman e colaboradores publicaram uma revisão de 11 estudos avaliando VPP das categorias 3, 4 e 5. As amostras obtidas apresentaram ampla variabilidade em relação a critérios de seleção. Nos 11 estudos, o VPP variou entre 0% a 8% (mediana de 2%) na categoria 3, entre 4% e 63% (mediana de 21%) na categoria 4 e entre 54% e 100% (mediana de 89%) na categoria 5 (1). Cabe ressaltar que em nenhum desses estudos foi considerada a avaliação das subcategorias 4A, 4B e 4C, com ampla variação de resultados na categoria 4. Nosso estudo 68 avaliou discriminadamente essas subcategorias, com correlação estatisticamente significativa em relação aos resultados AP, obtendo-se o índice de malignidade de 4,68%, 17,29% e de 48,08% nas subcategorias 4A, 4B e 4C, respectivamente. De forma semelhante, Lazarus e colaboradores encontraram índices de malignidade de 6%, 15% e 53% nas subcategorias 4A, 4B e 4C, respectivamente (7). Recententemente, Sanders e colaboradores também realizaram análise da subcategorização do BI-RADS 4 com correlação de microcalcificações com diagnóstico AP. Esses autores realizaram estudo retrospectivo de 191 lesões submetidas a CB, sendo o resultado mais comum de MF (28%). Foram encontrados CDIS em 10%, 21% e 70% nas subcategorias 4A, 4B e 4C (13). Nosso estudo mostrou CDIS em 2,73%, 7,8% e 12,5% subcategorias 4A, 4B e 4C, respectivamente. Nosso estudo reforça a idéia de que muitas lesões mamárias são biopsiadas desnecessariamente. Das 188 lesões biopsiadas classificadas na categoria 3, 186 foram benignas (98,9%), sendo apenas 2 casos de CDIS. Esses dados são semelhantes aos descritos por Margolin e colaboradores, onde 3% das lesões classificadas na categoria 3 foram malignas (12). Os VPP obtidos também são semelhantes aos dados da literatura. Lacquement e colaboradores mostraram VPP de 3, 23 e 92% nas categorias 3, 4 e 5, respectivamente, em 688 lesões submetidas à CB (8). Masroor encontrou VPP de 5%, 34% e 83% nas categorias 3, 4 e 5 (14). No nosso estudo, obtivemos VPP de 26,6% na categoria 3, 83,3% na categoria 5 e 32,3%, 44,2% e 70,9% nas subcategorias 4A, 4B e 4C, respectivamente. Esses dados reforçam o benefício das subdivisões da categoria 4 em subcategorias, podendo modificar a conduta em casos intermediários. Dessa forma, em lesões classificadas como 4A pode ser ponderado o seguimento a curto prazo. 69 Algumas limitações do presente estudo serão aqui descritas. Trata-se de uma análise retrospectiva. Não foi realizado seguimento dos pacientes estudados até o presente, pois não era objetivo inicial do trabalho, essa análise será realizada posteriormente sendo planejado a reavaliação de todas as pacientes que tiveram até o momento o resultado de achados benignos no AP. O foco do estudo era confrontar a classificação BI-RADS das lesões submetidas a procedimentos realizados na instituição no período com os resultados AP. CONCLUSÕES A maioria das lesões submetidas a procedimentos invasivos foram benignas. Os índices de malignidade encontrados foram semelhantes aos da literatura. A classificação BI-RADS apresentou correlação estatisticamente significativa em relação ao AP na amostra obtida. Acreditamos que novas pesquisas utilizando o BI-RADS, especialmente em relação às subcategorias 4A, 4B e 4C, podem colaborar no intuito de otimizar e uniformizar a conduta médica desses casos, evitando procedimentos desnecessários e custos adicionais. REFERÊNCIAS 1. Kestelman FP, De Souza GA, Thuler LC, Martins G, Rolim de Freitas VA, Canella EO. Breast Imaging Reporting and Data System- BI-RADS®: Valor preditivo positivo das categorias 3,4 e 5. Revisão sistemática da literatura. Radiol Bras 2007; 40:173-177. 2. Roveda Junior D, Piato S, Marques de Oliveira V, Rinaldi JF, Ferreira CAP, Fleury ECF. Valores preditivos das categorias 3,4 e 5 do sistema BI-RADS® em lesões mamárias nodulares não-palpáveis avaliadas por mamografia, ultra-sonografia e ressonância magnética. Radiol Bras 2007; 40:93-98. 70 3. Venkatesan A, Chu P, Kerlikowske K, Sickles EA, Smith-Bindman R. Positive predictive value of specific mammographic findings according to readers and patient variables. Radiology 2009; 250:648-657. 4. Nascimento JHR, Da Silva VD, Maciel AC. Acurácia dos achados ultrassonográficos do câncer de mama: correlação da classificação BI-RADS e achados histológicos. Radiol Bras 2009 jul/ago; 42:235-240. 5. Centeno AD, Koch RS, Freund L, Koch HA. Correlação anatomorradiológica de alterações mamárias através de core biopsy e punção aspirativa por agulha fina. Rev Bras de Mastologia 2004;(14)n1:29-34. 6. American College of Radiology. Illustrated Breast Imaging and Data System Atlas (BIRADS): In: 4th ed. Reston, VA:2003. 7. Lazarus E, Mainiero MB, Schepps B, Koelliker SL, Livingston LS. BI-RADS lexicon for US and mammography: interobserver variability and positive predictive value. Radiology 2006; 239:385-391. 8. Lacquement MA, Mitchell D, Hollingsworth AB. Positive predictive value of breast imaging reporting data system. J Am Coll Surg 1999 jul;189(1):34-40. 9. Boff R, Wisintainer F, Amorim G. Manual de Diagnóstico e Terapêutica em Mastologia. Editora Mesa Redonda; Caxias do Sul, RS;2007;27-29. 10. Meunier M, Clough K. Fine needle aspiration cytology versus percutaneous biopsy of nonpalpable brast lesions. Eur J Radiol 2002 (42);10-16. 11. Gennari R, Galimberti V, De Cicco C, Zurrida S, Zerwes F, et al. Use of technetium99m-labeled colloid albumin for preoperative and intraopertive localization of nonpalpable breast lesions. J Am Coll Surg 2000;190(6):692-699. 12. Margolin F, Leung J, Jacobs R, Denny SR. Percutaneous Imaging-Guided Core Breast Biopsy: 5 Years Experience in a Community Hospital. AJR 2001;177:559-564. 71 13. Sanders MA, Roland L, Sahoo S. Clinical implications of subcategorizing BI-RADS 4 breast lesions associated with microcalcifications: A radiology-pathology correlation study. Breast J 2009 Nov (19). 14. Masroor I. Prediction of benignity or malignancy of a lesion using BI-RADS. J Coll Physicians Surg Park 2005 Nov;15(11):686-688. 72 5. ANEXO O artigo será encaminhado para publicação internacional inicialmente para o periódico The Breast.