PROFESSOR DALVANI
LÍNGUA PORTUGUESA
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A Literatura é a arte de compor e expor
escritos artísticos, em prosa ou em verso, de acordo
com princípios teóricos e práticos, o exercício dessa
arte ou da eloquência e poesia.
A palavra Literatura vem do latim "litteris"
que significa "Letras", e possivelmente uma
tradução do grego "grammatikee". Em latim,
literatura significa uma instrução ou um conjunto de
saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se
relaciona com as artes da gramática, da retórica e
da poética. Por extensão, se refere especificamente
à arte ou ofício de escrever de forma artística. O
termo Literatura também é usado como referência a
um corpo ou um conjunto escolhido de textos como,
por exemplo, a literatura médica, a literatura
inglesa, literatura portuguesa, literatura japonesa
etc.
Mais produtivo do que tentar definir
Literatura talvez seja encontrar um caminho para
decidir o que torna um texto, em sentido lato,
literário. A definição de literatura está comumente
associada à ideia de estética, ou melhor, da
ocorrência de algum procedimento estético.
Entretanto, nem todo texto é literário, e quando
consegue produzir um efeito estético provoca
catarse, o efeito de definição aristotélica, no
receptor. A própria natureza do caráter estético,
contudo, reconduz à dificuldade de elaborar alguma
definição verdadeiramente estável para o texto
literário. Para simplificar, pode-se exemplificar
através de uma comparação por oposição. Vamos
opor o texto científico ao texto artístico: o texto
científico emprega as palavras sem preocupação
com a beleza, o efeito emocional. No texto artístico,
ao contrário, essa será a preocupação maior do
artista. É óbvio que também o escritor busca
instruir, e perpassar ao leitor uma determinada
ideia; mas, diferentemente do texto científico, o
texto literário une essa instrução à necessidade
estética que toda obra de arte exige. O texto
científico emprega as palavras no seu sentido
dicionarizado, denotativamente, enquanto o texto
artístico busca empregar as palavras com liberdade,
preferindo o seu sentido conotativo, figurado. O
texto literário é, portanto, aquele que pretende
emocionar e que, para isso, emprega a língua com
liberdade e beleza, utilizando-se, muitas vezes, do
sentido metafórico das palavras.
A compreensão do fenômeno literário tende
a ser marcada por alguns sentidos, alguns
marcados de forma mais enfática na história da
cultura ocidental, outros diluídos entre os diversos
usos que o termo assume nos circuitos de cada
sistema literário particular.
Assim
encontramos
uma
concepção
"clássica", surgida durante o Iluminismo (que
podemos chamar de "definição moderna clássica",
que organiza e estabelece as bases de periodização
usadas na estruturação do cânone ocidental); uma
definição "romântica" (na qual a presença de uma
intenção estética do próprio autor torna-se decisiva
para essa caracterização); e, finalmente, uma
"concepção crítica" (na qual as definições estáveis
tornam-se passíveis de confronto, e a partir da qual
se buscam modelos teóricos capazes de localizar o
fenômeno literário e, apenas nesse movimento,
"defini-lo"). Deixar a cargo do leitor individual a
definição implica uma boa dose de subjetivismo,
(postura identificada com a matriz romântica do
conceito de "Literatura"); a menos que se queira ir
às raias do solipsismo, encontrar-se-á alguma
necessidade para um diálogo quanto a esta questão.
Isto pode, entretanto, levar ao extremo oposto, de
considerar como literatura apenas aquilo que é
entendido como tal por toda a sociedade ou por
parte dela, tida como autorizada à definição. Esta
posição não só sufocaria a renovação na arte
literária, como também limitaria excessivamente o
corpus já reconhecido.
De qualquer forma, destas três fontes (a
"clássica", a "romântica" e a "crítica") surgem
conceitos de literatura, cuja pluralidade não impede
de prosseguir a classificações de gênero e exposição
de autores e obras.
O que estuda a teoria da literatura?
A teoria da literatura objetiva-se a estudar a
obra, o autor, o leitor e todo o processo que envolve
as obras literárias. É com base na teoria da
literatura que se fazem as resenhas, as análises, as
críticas literárias. É uma base de dados, que permite
construir-se um método de reflexão e análise dos
textos literários. No cruzamento dos dados da
história literária, pode-se estabelecer as mudanças
ocorridas no processo histórico com relação ao
homem e tudo que o envolve.
Alguns conceitos
Discurso: corresponde ao plano de expressão da
história. Toda narrativa possui: plano de expressão
(plano do discurso) e plano de conteúdo (plano da
história).
Espaço: é toda a organização física que compõe o
cenário no qual o enredo vai se desenvolver.
Estrutura da obra literária:
- narrador (a quem se atribui a elaboração do texto
uma estória)
- narrativa (uma estória, um fragmento de estória
ou sugestão de estórias)
História: conjunto de elementos que constituem o
significado (conteúdo).
Linguagem: a matéria do escritor.
Literariedade: o foco está no uso da palavra, da
forma de expressão. A forma discursiva é rica em
expressão, o que se pretende mencionar vai ter um
discurso atraente e muito original - as palavras vão
ser escolhidas propositalmente para dar um sentido
de recriação da realidade. Quando há literariedade o
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plano de conteúdo é expresso de forma literária,
isto é, numa linguagem literária.
referencial. Volta-se para o contexto, para
assunto, visando a informação (função utilitária).
Literatura: manifestação artística cujo material é a
arte que se manifesta por meio de palavras.
Verossimilhança: qualidade que faz a arte parecer
verdadeira, apesar de todas as coisas impossíveis
que ela possa dizer.
Linguagens verbais: línguas naturais (português,
inglês etc).
Linguagens
não
verbais:
dança,
escultura, música instrumental, etc.
pintura,
Narrador: personagem de ficção: sua primeira
função é relatar a história.
Narratário: personagem de ficção. Não se
confunde com o leitor. O narrador simula que o
narratário seja um leitor de carne e osso.
Obra literária: uma hipótese permanente - contém
uma realidade inventada, fingida, criada pela
imaginação do autor. Antigamente era qualquer
texto impresso: história, geografia, economia etc.
Atualmente o conceito é mais amplo.
Personagens:
 personagem
plana:
personagem
mais
definida - maquineísta: ou possui o símbolo
da magnitude ou o símbolo da maldade.
 personagem
redonda
(esférica):
mais
imprevisível, mais rica, mais perto da
verossimilhança.
Polissemia: é a característica que possui um signo
de ter vários valores semânticos (vários sentidos):
Aquele garoto tem um coração de ouro (garoto
muito bondoso).
o
Os gêneros literários: são como grupos familiares
que reúnem nas mesmas categorias obras com
atributos semelhantes. Estes textos são organizados
conforme suas propriedades formais. As primeiras
divisões surgiram na Era Antiga com os filósofos
gregos Platão e Aristóteles. Esta categorização é
elástica, portanto um determinado conteúdo pode
transitar entre uma e outra modalidade, as quais
são normalmente classificadas em subgrupos.
Todos os gêneros, porém, partem de uma
classificação padrão, adotada desde a Antiguidade:
narrativo ou épico; lírico e dramático. Deste tronco
principal partem as ramificações menores, ou seja,
os subgêneros.
Gênero lírico
Na modalidade lírica o poeta exprime seus
sentimentos mais íntimos, as emoções que povoam
seu universo interior. E o faz através do ritmo, da
melodia que embala os versos. As palavras ganham
uma intensa sonoridade. A palavra “lírico” provém
do latim e tem o sentido de “lira”, o instrumento
mais comum na Grécia Antiga, com o qual se
imprimia um tom melódico à poesia da época. O
âmago deste gênero é a subjetividade do autor,
melhor dizendo, do eu-lírico. Ele se divide em:
Poesia: Sua essência é a harmonização da palavra.
Ode: Composição calorosa e sonora.
Tempo:
 cronológico
 psicológico
Sátira: Texto que escarnece de alguém ou de um
determinado contexto.
Tempo verbal predominante no texto narrativo é o
passado: como é uma narração, os tempos verbais
aparecem
no
pretérito
(passado):
pretérito
imperfeito (ia, iam, brincavam, ensinava, aprendia);
pretérito perfeito (foi, derrubaram, confundiram,
ensinaram); pretérito mais-que-perfeito (ficara,
entregara, buscara, fizera); futuro do pretérito
(fariam, estudariam, ensinariam).
Hino: Criação que louva ou engrandece algo. Por
exemplo, uma nação ou uma divindade.
Texto literário: enfatiza a função poética. Enfatiza
a mensagem. Ele pode ter um caráter ficcional mas
necessariamente ele não tem que ser ficcional.
Possui linguagem conotativa, figurada. Tem função
poética. Há todo um trabalho de reconstrução da
linguagem
para
enfatizar
a
mensagem.
Características: uso de repetição sonora, palavra e
estrutura sintáticas.
Acróstico: Poesia na qual as primeiras letras de
cada verso, ou em alguns casos as da posição
central ou as do final, compõem, na vertical, um ou
mais nomes, uma ideia, axiomas, entre outras
concepções.
Texto não literário: enfatiza o conteúdo.
Linguagem predominante é denotativa. Sem função
Soneto: Poema com 14 versos: dois quartetos e
dois tercetos.
Haicai: Poemas japoneses, desprovidos de rima,
compostos geralmente por três versos.
Gênero narrativo
No gênero narrativo o autor estrutura uma história,
quase sempre em prosa, que pode se inspirar em
eventos reais ou ser apenas de natureza fictícia.
Nessa modalidade as cenas se desenrolam de forma
consecutiva no espaço e no tempo. Ele pode ser
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classificado nos subgêneros romance, conto,
crônicas, novelas, entre outros. Esta modalidade se
distingue, estruturalmente, por apresentar uma
trama com início, um clímax e uma conclusão.
Romance: As produções literárias que aqui se
enquadram trazem um enredo integral, com marcas
temporais, cenários e personagens determinados
com precisão. Ele nasceu na Era Medieval e Dom
Quixote, de Cervantes, é seu modelo principal.
Romance
de
Aprendizagem:
Sua
característica principal é apresentar um personagem
principal em jornada, da infância à maturidade, em
busca de crescimento espiritual, político, social,
psicológico, físico ou moral.
Romance Policial: é uma categoria literária
estruturada em torno da ocorrência de um
assassinato, das indagações, pesquisas, inquirições
de testemunhas e, finalmente, da descoberta do
criminoso. Todo o enfoque do autor recai sobre o
mecanismo de desvendamento dos segredos
envolvidos no crime, levado a cabo normalmente
por um detetive profissionalizado ou de natureza
amadora.
Romance Psicológico: principal característica
a imersão nas razões dos motivos, escolhas e ações
dos seres humanos, no fluxo inconsciente das
memórias que passa a determinar o comportamento
dos personagens. Ao contrário de outros tipos de
romance, onde o ambiente sociocultural é fator
crucial para o desenvolvimento da trama, o
psicológico apega-se à análise das decisões e
motivos íntimos.
Romances Históricos: é um tipo de romance
que mistura história e ficção, reconstruindo
ficticiamente
acontecimentos,
costumes
e
personagens históricos.
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filosóficas sobre um determinado tópico. Ele é mais
informal e elástico que o tratado.
Poesia Épica ou Epopeia: Poemas narrativos mais ou
menos breves, os quais retratam quase sempre
ações heroicas. Exemplo: As Canções de Gesta
produzidas no âmbito da poesia medieval francesa.
Gênero dramático
A modalidade dramática teve início na Grécia
Antiga, possivelmente em festas realizadas em
honra de Dionísio, deus do vinho. As obras que se
filiam a este gênero são especialmente criadas para
serem exibidas em montagens teatrais. Hoje é mais
complicado distinguir um drama de outro gênero da
literatura, pois se generalizou a prática de converter
qualquer produção literária em roteiro para
apresentação nos palcos.
Farsa: Tende para o cômico; a ação é corriqueira e
se baseia na rotina diária e no ambiente familiar.
Tragédia: Reproduz um evento trágico e tem por
fim suscitar piedade e horror.
Elegia: Louva a morte de uma pessoa; este evento
é o ponto central da peça. Exemplo: Romeu e
Julieta, de Shakespeare.
Fábula: Criação no estilo fantástico, comprometida
apenas com a esfera imaginária. Os personagens
que desfilam por estas histórias são normalmente
animais ou artefatos; a intenção é difundir, por
meio da história, mensagens de cunho moral.
Figuras de linguagem são recursos estilísticos
utilizados por quem fala ou escreve para dar maior
expressividade, intensidade, força ou beleza à
comunicação. Ocorrem com mais frequência nas
obras literárias, mas, para realçar uma ideia,
aparecem também em:

Propagandas: “Caneta Parker: a máquina
de escrever”.
 Gírias: “Pai, será que dá pra descolar uma
grana?”.
 Artigos da imprensa: “Assunto novo em
briga antiga”.
 Músicas: “O amor é um grande laço, um
passo pr’uma armadilha”.
Novela: Narrativa mais concisa que o romance e
maior que o conto, mas tão sucinta quanto o
mesmo. Exemplo: O Alienista, de Machado de Assis;
A Metamorfose, de Kafka.
Duas ou mais figuras podem ocorrer ao mesmo
tempo em uma frase ou verso. Por exemplo, a
hipérbole e a comparação: “Os moços da cidade não
gostavam de sua cabeça, plana como mesa.”
Conto: Obra ficcional intensa em conteúdo e breve
na forma. Normalmente é engendrada a partir de
eventos e figuras imaginárias.
Figuras de palavras apresentam uma mudança do
sentido real para o sentindo figurado da palavra.
Crônica: Texto isento de qualquer formalidade;
traduz acontecimentos do dia-a-dia com uma
linguagem informal, sucinta. Apresenta pitadas de
humor e de crítica. Está na fronteira entre o
jornalismo e a literatura. Exemplo: Crônicas de
Machado de Assis.
Ensaio: Produção literária resumida, inserida entre o
gênero lírico e a didática. Nele o autor apresenta
seus conceitos, críticas e ponderações morais e
Comparação (Analogia): é uma figura que
consiste em tomar equivalentes coisas diferentes,
para realçar uma possível semelhança entre elas.
Em uma construção, quase sempre utilizamos
algumas conjunções entre os termos comparados:
assim como..., tanto..., quanto, como, tal qual, feito
etc.; Exemplos:
“Tal qual um dois de paus ela ficou calada”.
“A sombra das roças é macia e doce, é como uma
carícia”.
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Metáfora é o emprego de uma palavra ou
expressão fora de seu sentido normal, por haver
semelhança real ou imaginária entre os seres que
ela designa. A metáfora é a mais importante das
figuras de palavras:
Meu pai é um leão quando joga futebol.
Voltou da praia um peru assado.
Eu não acho a chave de mim.
Metonímia ocorre quando empregamos uma
palavra em lugar de outra, com a qual aquela se
achava
relacionada.
Os
principais
mecanismos
de
substituição se dão pelas relações de:
a) continente pelo conteúdo
Passe-me a manteiga.
Só bebi um copo.
b) marca pelo produto
Comeu Mc Donalds sozinho.
Limpou com Omo.
c) causa pelo efeito
Sócrates tomou a morte.
Cigarro incomoda os vizinhos
d) autor pela obra
Vamos curtir Gilberto Gil.
Ela adora ler Machado de Assis.
e) abstrato pelo concreto
Amanhã irei aos Correios.
Estou com a cabeça em Roma.
f) Símbolo pelo simbolizado
A balança impôs-se à espada.
A cruz é a salvação.
g) instrumento pelo ser
O violão foi a grande atração.
João é um ótimo garfo
A metonímia que estabelece relação entre as
palavras do tipo parte pelo todo recebe
denominação específica de sinédoque.
Os faróis apontaram na avenida.
Havia mais de cem cabeças no pasto
Antonomásia (Epíteto) é a substituição de um
nome próprio pela qualidade ou atributo que o
distingue. Exemplos:
Os brasileiros já esqueceram o Águia de Haia. (Rui
Barbosa)
O poeta dos escravos é o autor de célebre poema
“O navio negreiro”. (Castro Alves)
Sinestesia é uma variante de metáfora que
consiste em atribuir, a um ser, sensações que não
lhe são próprias, misturando sensações de sentidos
diferentes:
Isso me cheira a confusão.
O sol caía com uma luz pálida e macia.
Catacrese é o emprego de um tempo figurado por
falta de palavra mais apropriada. Não é
propriamente uma figura de estilo, pois ela só existe
em razão de um esquecimento etimológico. Veja os
exemplos:
formigueiro humano (Formigueiro = porção de
formigas);
realidade das coisas (Res = coisa);
espalhar dinheiro (espalhar = separa a palha);
péssima caligrafia (caligrafia= boa letra);
embarcar num avião (embarcar = tomar a barca)...
PERSONIFICAÇÃO (PROSOPOPEIA) é a figura
que consiste em atribuir sentimentos ou qualidades
humanas a seres inanimados ou abstratos.
Exemplos
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado
retumbante de um povo heróico...” (Hino Nacional)
“O cravo brigou com a rosa debaixo de uma
sacada...” (Cantiga Popular)
Figuras
de
apresentarem
oração.
Sintaxe
caracterizam-se
por
uma mudança na estrutura da
Elipse consiste na omissão de um termo facilmente
subentendido, ou ainda, que por ser depreendido
pelo contexto. Existe elipse de preposição,
conjunção integrante, de verbo e de outros
elementos do texto. Veja os exemplos:
“Ele estava bêbado, (com) a calça rasgada e (com)
a camisa na mão”.
Zeugma consiste em suprimir, ocultar verbos
(expressos
anteriormente)
para
evitar
sua
repetição. Observe os exemplos:
As quaresmeiras abriam a flor depois do carnaval,
os ipês (abriam) em Junho.
O rei da brincadeira-ê José
O rei da confusão-ê João
Um trabalhava na feira-ê José
Outro (trabalhava) na construção-ê João.
Pleonasmo (estilístico) é a repetição de um temo
já expresso ou de uma ideia já sugerida, com o
objetivo de realçá-la, torná-la mais expressiva...
Pode ser:
 Semântico: “E rir meu riso e derrama meu
pranto” (Vinicius de Moraes)
“E quem sabe sonhavas meus sonhos por fim”
(Cartola)
 Sintático: A mim, só me resta esperar.
O que você pensa, isso não me interessa.
Cuidado! Há o pleonasmo é vicioso, quando a
repetição for considerada desnecessária ou quando
a redundância não trouxer reforço algum à ideia:
Acabamento final, Adiar para o dia seguinte, Agora
já Ainda mais, Almirante da Marinha, Alocução
breve, Antecipar para antes, Bonita caligrafia,
Brigadeiro da Aeronáutica, Brisa matinal da manhã,
Canja de galinha, Chutou com os pés, Conclusão
final, Consenso geral, Continuar ainda, Conviver
junto, Criar novos, Dar de graça, Decapitar a
cabeça, Demente mental, Descer para baixo,
Efusivos parabéns, Elo de ligação, Emulsão do óleo,
Encarar de frente, Enfrentar de frente, Entrar dentro
(ou para dentro), Erário público, Estrelas do céu,
Exultar de alegria, Fato verídico, Faz muitos anos
atrás, Fraternidade humana, Ganhar grátis (ou de
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graça), General do Exército, Goteira no teto, Há
muitos anos atrás, Hábitat natural, Hemorragia de
sangue, Hepatite do fígado, Inaugurar novo,
Introduzir dentro, Já não há mais, Labaredas de
fogo, Lançar novo, Manter o mesmo, Metades
iguais, Monopólio exclusivo, Novidade inédita,
Panorama geral, Países do mundo, Pequenos
detalhes,
Prefeitura
Municipal,
Protagonista
principal, Regra geral, Relação bilateral entre dois…,
Repetir de novo, roeu com os dentes, Sair fora (ou
para fora), Sentidos pêsames, Sorriso nos lábios,
Sua própria autobiografia, Subir para cima,
Surpresa inesperada, Vereadores da Câmara
Municipal, Viúva do falecido.
Silepse ocorre quando efetuamos a concordância
não com os termos expressos, mas com a ideia que
associamos, em nossas mentes. Divide-se em:
Silepse de gênero:
A criança nasceu. Era magnífico.
“Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.”
Silepse de pessoa:
“Todos os sertanejos somos assim”.
“Os cinco estávamos no automóvel”.
Silepse de número:
O pelotão chegou à praça e estavam cansados.
“Coisa curiosa é gente velha. Como comem!”
Polissíndeto repetição da conjunção coordenativa:
“Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Olavo
Bilac)
“Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira” (Alberto de
Oliveira)
Assíndeto ausência da conjunção coordenativa:
“Suspira, chora, geme, sofre, sua...” (Olavo Bilac adaptação)
“Mãe gentil, cruel, traiçoeira” (Alberto de Oliveira adaptação)
Hipérbato consiste na inversão da ordem natural
das palavras na frase.
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos. (Luis Vaz de Camões)
Gradação consiste na sequência, que se agrava, de
ações.
Balbuciou, sussurrou, falou, gritou,...
A menina sentou-se, os olhos encheram d’água,
chorou.
Anacoluto consiste na quebra da estrutura
sintática da oração.
A menina, para não passar a noite só, era melhor
que fosse dormir na casa de uns vizinhos”. (Rachel
de Queiroz)
“Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e
escura”. (Manuel Bandeira)
Figuras de Pensamento são processos expressivos
que introduzem uma ideia diferente da que a
palavra habitualmente exprime.
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Antítese (Contraste) é a figura que salienta o
confronto oposto entre si:
“Toda guerra finaliza por onde devia ter começado:
a Paz!”
“Tristeza não tem fim, felicidade sim!” (Vinícius de
Moraes)
Oxímoro (Paradoxo) é a antítese levada ao
extremo. Exemplos:
“Tem, mas acabou!” (discurso proferido por
vendedores para justificar a ausência de um
produto na loja).
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer. (Luís Vaz de Camões)
Hipérbole é uma afirmação exagerada ou uma
deformação da verdade, visando a um efeito
expressivo:
Chorar rios de lágrimas, dizer um milhão de vezes,
desconfiar da própria sombra, morrer de rir.
Esotérico
Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí.
Pessoas até muito mais vão lhe amar,
Até muito mais difíceis que eu, pra você.
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões.
Todos iguais. (Gilberto Gil)
Ironia é a figura pela qual dizemos o contrário do
que pensamos, quase sempre com intenção
sarcástica: O ministro foi sutil como uma jamanta e
delicado como um hipopótamo...
Poeminha à glória televisiva
Não me contem!
Ele era tão famoso
Antes de ontem! (Millôr Fernandes)
OBS: A ironia consiste em sugerir pela entonação e
pelo contexto. Por isso, os sinais que mais
evidenciam um pensamento irônico são: ponto de
exclamação e reticências.
PERÍFRASE consiste em usar expressões ou frase
em lugar de uma palavra, com o objetivo de
destacar uma característica que a palavra sozinha
não evoca.
Veja: Pretendo visitar o país do sol nascente. (O
Japão)
EUFEMISMO é a figura que suaviza a expressão de
uma ideia desagradável, por meio da substituição
do termo exato por outro menos ofensivo, menos
inconveniente. Observe os exemplos:
O pobre homem entregou a alma a Deus. (morreu)
Quem faltar com a verdade, será punido. (mentir)
Figuras de Sonoridade são processos expressivos
que relacionam os sons das palavras.
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Aliteração consiste repetição de sons consonantais
próximos.
“Gil engendra em Gil rouxinol (Caetano Veloso)
Assonância consiste repetição de sons vocálicos
próximos.
Cunhã poranga na manhã louçã.
Onomatopeia consiste na tentativa de imitação de
um som natural ou mecânico.
Coxixo, tique-taque, zum-zum, toc-toc, miau, ...
Paranomásia (Trocadilho) consiste no emprego
de
palavras
parônimas
(com
sonoridade
semelhante) numa mesma frase.
Contudo ... ele está com tudo
A versificação ou metrificação é um
recurso estilístico utilizado por muitos poetas, cuja
existência não está necessariamente relacionada
com a noção de poesia. Consiste na técnica de fazer
versos, dedicando-se ao estudo dos metros, pés,
acento e ritmo, além de estabelecer normas para a
contagem das sílabas de um verso.
Grandes poetas, como Manuel Bandeira e
Carlos Drummond de Andrade, não se dedicaram
com muita frequência ao estudo da métrica, no
entanto, não deixaram de ser grandes nomes da
literatura brasileira. Muitos se dedicaram à
versificação sem nunca terem sido considerados
como nomes relevantes em nossa produção
literária. Na literatura brasileira, Olavo Bilac e
Guimarães Passos escreveram o Tratado de
versificação, tendo Bilac ficado conhecido por
defender ardorosamente a métrica, produzindo
diversos
poemas
dedicados
sobretudo
aos
elementos concernentes à versificação. Sendo
assim, não é pertinente que a versificação seja
confundida com poesia: esta é capaz de despertar
encantamento estético e está intrinsecamente
relacionada com o campo das sensações. Pode estar
presente em diversas manifestações artísticas e até
mesmo no cotidiano do homem. A versificação está
para o poema, pois o poema refere-se à forma, ou
seja, aos versos, estrofes e sua disposição.
O ritmo poético, noção elementar do conceito
de versificação, tem como principal característica a
repetição e é assegurado pela utilização dos
seguintes elementos:
1) Número fixo de sílabas: difere em muito
da contagem de sílabas proposta pela norma
gramatical. Na recitação, o que é relevante é a
realidade auditiva, e não a representação escrita da
palavra;
2) distribuição das sílabas fortes (ou tônicas)
e fracas (ou átonas);
3) cesura: pausa interna que pode ocorrer
em virtude da necessidade de uma interrupção
sintática ou pela necessidade de destacar algum
vocábulo;
4) rima: igualdade ou semelhança de sons
na terminação das palavras a partir da última vogal
tônica. Pode ser classificada como perfeita, quando
a identidade dos fonemas finais é completa, ou
imperfeita, quando essa mesma identidade fonética
não é completa;
5) aliteração: está relacionada com o desejo
de harmonia imitativa, repetindo fonemas em
palavras simetricamente dispostas. Observe a
repetição do fonema /v/ no fragmento do poema
“Violões que choram”, do poeta simbolista Cruz e
Sousa:
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
6) encadeamento: repetição de fonemas,
palavras, expressões
ou um
verso inteiro
simetricamente disposta;
7) paralelismo: consiste na repetição
simétrica das palavras dentro de seu conteúdo
semântico, cuja principal intenção é tornar o texto
mais elaborado e requintado. Observe a ocorrência
do paralelismo no fragmento do poema “Baladas
Românticas”, de Olavo Bilac:
Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!...
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho...
Como me pesa a solidão!
Carlos Drummond de Andrade certa vez
afirmou sua identificação e filiação ao movimento
modernista brasileiro que ganhou voz sobretudo em
São Paulo, no ano de 1922. Os poetas modernistas
prezavam maior liberdade à criação poética e uma
forte ruptura com o modelo literário vigente, o
Parnasianismo. Contudo, já em sua maturidade
como poeta, Drummond afirmou que a "liberdade
que não é absoluta, pois a poesia pode prescindir da
métrica regular e do apoio da rima, porém não pode
fugir ao ritmo, essencial à sua natureza”.
“Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
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como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem 3 há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça. (...)”
(Fragmento do poema “O lutador”,
de Carlos Drummond de Andrade)
Trovadorismo
Cumpre dizer, antes de tudo, que o
Trovadorismo se manifestou na Idade Média,
período este que teve início com o fim do Império
Romano (destruído no século V com a invasão dos
bárbaros vindos do norte da Europa), e se estendeu
até o século XV, quando se deu a época do
Renascimento. Nesse sentido, o artigo ora em
questão tem por finalidade abordar acerca do
contexto histórico-social, cultural e artístico que
tanto demarcou este importante período da arte
literária.
No que diz respeito ao aspecto econômico,
toda a Europa dessa época sofria com as sucessivas
invasões dos povos germânicos, fato este que
culminava em inúmeras guerras. Nessa conjuntura
desenvolveu-se o sistema econômico denominado
de feudalismo, no qual o direito de governar se
concentrava somente nas mãos do senhor feudal, o
qual mantinha plenos poderes sobre todos os seus
servos e vassalos que trabalhavam em suas terras.
Este senhor, também chamado de suserano, cedia a
posse de terras a um vassalo, que se comprometia
a cultivá-las, repassando, assim, parte da produção
ao dono do feudo. Em troca dessa fidelidade e
trabalho, os servos contavam com a proteção
militar e judicial, no caso de possíveis ataques e
invasões. A essa relação subordinada dava-se o
nome de vassalagem.
Quanto ao contexto cultural e artístico,
podemos afirmar que toda a Idade Média foi
fortemente influenciada pela Igreja, a qual detinha
o poder político e econômico, mantendo-se acima
até de toda a nobreza feudal. Nesse ínterim,
figurava uma visão de mundo baseada tão somente
no teocentrismo, cuja ideologia afirmava que Deus
era o centro de todas as coisas. Assim, o homem
mantinha-se totalmente crédulo e religioso, cujos
posicionamentos estavam sempre à mercê da
vontade divina, assim como todos os fenômenos
naturais.
Na arquitetura, toda a produção artística
esteve voltada para a construção de igrejas,
mosteiros, abadias e catedrais, tanto na Alta Idade
Média, na qual predominou o estilo romântico,
quanto na Baixa Idade Média, predominando o
estilo gótico. No que tange às produções literárias,
todas elas eram feitas em galego-português,
denominadas de cantigas.
No intuito de retratar a vida aristocrática nas
cortes
portuguesas,
as
cantigas
receberam
influência de um tipo de poesia originário da
Provença – região sul da França, daí o nome de
poesia provençal –, como também da poesia
popular, ligada à música e à dança. No que tange à
temática elas estavam relacionadas a determinados
valores culturais e a certos tipos de comportamento
difundidos pela cavalaria feudal, que até então
lutava nas Cruzadas no intuito de resgatar a Terra
Santa do domínio dos mouros. Percebe-se,
portanto, que nas cantigas prevaleciam distintos
propósitos: havia aquelas em que se manifestavam
juras de amor feitas à mulher do cavaleiro, outras
em que predominava o sofrimento de amor da
jovem em razão de o namorado ter partido para as
Cruzadas, e ainda outras, em que a intenção era
descrever, de forma irônica, os costumes da
sociedade portuguesa, então vigente. Assim, em
virtude do aspecto que apresentavam, as cantigas
se subdividiam em:
DE AMOR
CANTIGAS LÍRICAS
DE AMIGO
CANTIGAS SATÍRICAS
DE ESCÁRNIO
DE MALDIZER
Cantigas de amor
O sentimento oriundo da submissão entre o
servo e o senhor feudal transformou-se no que
chamamos de vassalagem amorosa, preconizando,
assim, um amor cortês. O amante vive sempre em
estado de sofrimento, também chamado de coita,
visto que não é correspondido. Ainda assim dedica à
mulher amada (senhor) fidelidade, respeito e
submissão. Nesse cenário, a mulher é tida como um
ser inatingível, à qual o cavaleiro deseja servir como
vassalo. A título de ilustração, observemos, pois,
um exemplo:
Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares de Taveirós
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Vocabulário:
Nom me sei parelha: não conheço ninguém igual a
mim.
Mentre: enquanto.
Ca: pois.
Branca e vermelha: a cor branca da pele,
contrastando com o vermelho do rosto, rosada.
Retraya: descreva, pinte, retrate.
En saya: na intimidade; sem manto.
Que: pois.
Des: desde.
Semelha: parece.
D’haver eu por vós: que eu vos cubra.
Guarvaya: manto vermelho que geralmente é usado
pela nobreza.
Alfaya: presente.
Valia d’ua correa: objeto de pequeno valor.
Cantigas de amigo
Surgidas na própria Península Ibérica, as
cantigas de amigo eram inspiradas em cantigas
populares, fato que as concebe como sendo mais
ricas e mais variadas no que diz respeito à temática
e à forma, além de serem mais antigas.
Diferentemente da cantiga de amor, na qual o
sentimento expresso é masculino, a cantiga de
amigo é expressa em uma voz feminina, embora
seja de autoria masculina, em virtude de que
naquela época às mulheres não era concedido o
direito de alfabetização.
Tais cantigas tinham como cenário a vida
campesina ou nas aldeias, e geralmente exprimiam
o sofrimento da mulher separada de seu amado
(também chamado de amigo), vivendo sempre
ausente em virtude de guerras ou viagens
inexplicadas. O eu lírico, materializado pela voz
feminina, sempre tinha um confidente com o qual
compartilhava seus sentimentos, representado pela
figura da mãe, amigas ou os próprios elementos da
natureza, tais como pássaros, fontes, árvores ou o
mar. Constatemos um exemplo:
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(...)
D. Dinis
Cantigas satíricas
De
origem
popular,
essas
cantigas
retratavam uma temática originária de assuntos
proferidos nas ruas, praças e feiras. Tendo como
suporte o mundo boêmio e marginal dos jograis,
fidalgos, bailarinas, artistas da corte, aos quais se
misturavam até mesmo reis e religiosos, tinham por
finalidade retratar os usos e costumes da época por
meio de uma crítica mordaz. Assim, havia duas
categorias: a de escárnio e a de maldizer.
Apesar de a diferença entre ambas ser sutil,
as cantigas de escárnio eram aquelas em que a
crítica não era feita de forma direta. Rebuscadas de
uma linguagem conotativa, não indicavam o nome
da pessoa satirizada. Verifiquemos:
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade
Cantigas de maldizer
Como bem nos retrata o nome, a crítica era feita de
maneira direta, e mencionava o nome da pessoa
satirizada. Assim, envolvidas por uma linguagem
chula,
destacavam-se
palavrões,
geralmente
envoltos por um tom de obscenidade, fazendo
referência a situações relacionadas a adultério,
prostituição, imoralidade dos padres, entre outros
aspectos. Vejamos, pois:
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês
Quinhentismo
Quinhentismo é a denominação genérica de
todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil
durante o século XVI, no momento em que a cultura
europeia foi introduzida no país. Note que, nesse
período, ainda não se trata de literatura
genuinamente brasileira, a qual revele visão do
homem brasileiro. Trata-se de uma literatura
ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota
a visão, as ambições e as intenções do homem
europeu mercantilista em busca de novas terras e
riquezas. As manifestações ocorridas se prenderam,
basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a
textos
escritos
pelos
viajantes, jesuítas e
missionários que aqui estiveram.
Literatura Informativa
A Carta de Caminha inaugura o que se
convencionou chamar de Literatura Informativa
sobre o Brasil. Este tipo de literatura, também
conhecido como literatura dos viajantes ou
literatura dos cronistas, como consequência das
Grandes Navegações, empenha-se em fazer um
levantamento da “terra nova”, de sua floresta e
fauna, de seus habitantes e costumes, que se
apresentaram muito diferentes dos europeus. Daí
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ser uma literatura meramente descritiva e, como
tal, sem grande valor literário. A principal
característica da carta é a exaltação da terra,
resultante do assombro do europeu diante do
exotismo e da exuberância de um mundo tropical.
Com relação à linguagem, o louvor à terra
transparece no uso exagerado de adjetivos.
Você conhece a Carta de Pero Vaz de Caminha? Leia
a seguir alguns fragmentos.
Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento
do Brasil
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa
frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa
Alteza a nova do achamento desta Vossa terra
nova, que se ora nesta navegação achou, não
deixarei de também dar disso minha conta. (...)
LÍNGUA PORTUGUESA
castiçal de prata e assim mesmo acenava para a
terra e então para o castiçal, como que havia
também prata. (...)
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata
nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha
vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares
frescos e temperados como os de Entre-Douro-eMinho, porque neste tempo d'agora assim os
achávamos como os de lá. Águas são muitas;
infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a
aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas
que tem! Porém, o melhor fruto que dela se pode
tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta
deve ser a principal semente que Vossa Alteza em
ela deve lançar. (...)
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de
longo, até terça-feira d’ oitavas de Páscoa, que
foram 21 dias d’Abril, que topamos alguns sinais de
terra (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã,
topamos aves, a que chamam fura-buchos. Neste
mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista
de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte,
mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao
sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao
qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte
Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz. (...)
capitão-mor: trata-se de Pedro Álvares Cabral.
conta: relato.
oitavas de Páscoa: semana que vai desde o
domingo de Páscoa até o domingo seguinte.
horas de véspera: final da tarde.
chã: plana.
cousa: coisa.
vergonhas: órgãos sexais.
çarradinhas:
alguns
historiadores
consideram
"saradinhas", isto é, sem doenças, e outros
consideram "cerradinhas", isto é, densas.
tinta: tingida.
alcatifa: tapete, que cobre ou se estende.
Entre-Douro-e-Minho: antiga província de Portugal.
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela
praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos
disseram, por chegaram primeiro. (...) A feição
deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de
bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus,
sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma
cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E
estão acerca disso com tanta inocência como têm
em mostrar o rosto. (...)
A literatura informativa satisfaz a curiosidade
a respeito do Brasil nos seus primeiros anos de
vida, oferecendo o encanto das narrativas de
viagem. Para os historiadores, os textos são fontes
obrigatórias de pesquisa. Mais adiante, com o
movimento modernista,
esses textos
foram
retomados pelos escritores brasileiros, como Oswald
de Andrade, como forma de denúncia da exploração
a que o país sofrera desde então.
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem
moças e bem gentis, com cabelos muito pretos,
compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão
altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras
que de as nós muito bem olharmos não tínhamos
nenhuma vergonha. (...)
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a
cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem
feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não
tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa
terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha, por
não terem a sua como ela. (...)
O capitão, quando eles vieram, estava assentado
em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por
estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui
grande ao pescoço. (...) Um deles, porém, pôs olho
no colar do capitão e começou d'acenar com a mão
para a terra e despois para o colar, como que nos
dizia que havia em terra ouro. E também viu um
Veja os principais documentos que compõem
a nossa literatura informativa:
1. Carta
do
descobrimento (Pero
Vaz
de
Caminha): foi escrita no ano de 1500 e publicada
pela primeira vez em 1817.
2. Tratado da terra do Brasil (Pero de Magalhães
Gândavo): foi escrito por volta de 1570 e impresso
pela primeira vez em 1826.
3. História da Província de Santa Cruz, a que
vulgarmente
chamamos
Brasil (Pero
de
Magalhães Gândavo): foi editado em 1576.
4. Diálogo
sobre
a
conversão
dos
gentios (Padre Manuel da Nóbrega): foi escrito em
1557 e impresso em 1880.
5. Tratado descritivo do Brasil (Gabriel Soares
de Sousa): escrito em 1587 e impresso por volta de
1839.
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