ÍNDICE Pág. SUMÁRIO EXECUTIVO _________________________________________________________________ 5 1. INTRODUÇÃO _____________________________________________________________________ 7 2. SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS ____________________________________________11 3. SÍNTESE E RECOMENDAÇÕES 3.1. Apreciações Gerais _________________________________________________________________ 17 3.2. Recomendações ___________________________________________________________________ 21 4. ANÁLISE DOS DADOS RECOLHIDOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO Categoria 1. Criação das Escolas Profissionais ___________________________________________ 31 1. Significado/papel/lugar das EP no âmbito da política educacional da província 2. Papel das direções provinciais na criação, promoção e desenvolvimento das EP 3. Adequação da forma do contrato programa previsto 4. Papel das organizações e empresas na criação, promoção e desenvolvimento das EP 5. Autonomia administrativa, financeira, pedagógica e cultural – forma de concretizar 6. Adequação do regime de recrutamento de professores/formadores e necessidades de melhorias 6.1. 7. Perfil docente Possibilidade de fortalecer a sustentabilidade do modelo das EP com receitas própria Categoria 2. Capacitação prévia de diretores 8. Perfil de formação e qualificação para a função Categoria 3. Inovação curricular pedagógica 9. ___________________________________________ 42 ___________________________________________ 44 Proporção de formação geral (40%/70%), formação técnica (60%/30%) no currículo 10. Sentido da proposta do ano complementar 11. Integração curricular 12. Formação para o desenvolvimento integral do aluno 13. Regime da avaliação das aprendizagens: conceção e formas de desenvolvimento 14. Características da Orientação Profissional nas EP Categoria 4. Prova de Aptidão Profissional ______________________________________________ 54 15. PAP – conceção e implementação Categoria 5. Estágio Profissional ______________________________________________________ 58 16. Estágio – conceção e implementação Categoria 6. Sucesso escolar dos alunos _________________________________________________ 62 17. Razão da escolha 18. Eficiência do modelo EP no combate à evasão (abandono) e insucesso 19. Inserção ocupacional 20. Avaliação dos percursos dos ex-alunos Categoria 7. Inserção sociocomunitária _________________________________________________ 69 21. Razões da escolha da Escola Profissional e importância do ensino profissional 22. Características que as EP devem ter para serem apropriadas/ajustadas às necessidades da província 23. Estratégias que devem ser usadas pelas ep para estarem adequadas às necessidades locais 24. Necessidade de uma instância de gestão participativa 25. Possibilidade de recorrer a formadores que mantenham atividade profissional efetiva 26. Outras ofertas de qualificação profissional pelas EP 27. Reconhecimento e valorização dos saberes adquiridos Categoria 8. Aspetos marcantes do modelo EP ___________________________________________ 74 28. Apreciação global do modelo EP 29. Acontecimento inesquecível ANEXOS ______________________________________________________________________________ 79 SIGLAS AC – Ano Complementar DAP – Diretor Adjunto Pedagógico DEP – Diretor de Escola Profissional DINET – Direção Nacional de EnsinoTécnico EE – Encarregados de Educação EG – Ensino Geral ELIDEP - Equipes Locais de Implementação e Desenvolvimento das Escolas Profissionais EP – Escolas Profissionais ET – Ensino Técnico FSC – Formação Sociocultural FTP – Formação Técnico Profissional MINED– Ministério da Educação OP – OrientaçãoProfissional PAP – Prova de AptidãoProfissional PIREP – Programa Integrado da Reforma de Educação Técnico Profissional UNIVA – Unidade de Inserção na Vida Ativa UTA/PEP – Unidade Técnica de Apoio ao Programa das Escolas Profissionais de Moçambique LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Escolas e interlocutores contactados Quadro 2 – Distribuição dos Cursos Profissionais por EP contatadas Quadro 3 – Perfil Docente por género Quadro 4 – Perfil face à formação psicopedagógica Quadro 5 – Matrículas e taxas abandonos/desistências por EP Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 4 SUMÁRIO EXECUTIVO Este relatório apresenta e sistematiza os dados de contexto e as questões para análise propostas nos Termos de Referência para a Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique, realizada no âmbito de um projeto da Fundação Portugal – África. Estrutura-se inicialmente numa apresentação geral das metodologias utilizadas na avaliação, nos seus aspetos quantitativos mais significativos bem como a sistematização das distintas categorias de análise. Os elementos resultantes do processo de avaliação são apresentados em forma de síntese das apreciações globais, completado com um conjunto de 33 recomendações. A análise, apresentação e discussão exaustiva de todos os elementos recolhidos integram a parte final do relatório, que se completa com um conjunto de anexos. Este relatório final incorpora também no final um conjunto de quatro anexos: Anexo I - Termos de Referência da Avaliação Internacional Anexo II - Regulamento das Escolas Profissionais Anexo III - Programa de Desenvolvimento da Avaliação (5 a 29 de Setembro de 2011) Anexo IV - Guiões dos Painéis Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 5 Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 6 Cartaz exposto na FACIM, 2011 1. INTRODUÇÃO 1.1. OBJETIVO E FINALIDADE Este relatório objetiva consubstanciar o estabelecido no Artigo 23º do Regulamento das Escolas Profissionais – “O modelo curricular e pedagógico, ora proposto, será sujeito a uma avaliação externa em moldes a definir pelo MINED” e tem a finalidade de atender a um projeto da Fundação Portugal África, cujos termos de referência se encontram apresentados no anexo I. Os trabalhos foram iniciados em 5 de setembro de 2011 e concluídos ao final de dezembro do mesmo ano. 1.2. ENQUADRAMENTO DOS CURSOS DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS NO CONJUNTO DA OFERTA EDUCATIVA TÉCNICO-PROFISSIONAL DE MOÇAMBIQUE Em Moçambique a oferta de formação técnico-profissional de nível básico é realizada através das Escolas Básicas e das Escolas Profissionais (que sucederam às Escolas de Artes e Ofícios no âmbito do programa de relançamento do Ensino Técnico-Profissional estabelecido na Estratégia do Ensino TécnicoProfissional em Moçambique 2002-2011) No caso das Escolas Básicas, a formação organiza-se ao longo de 3 anos e assegura simultaneamente a qualificação profissional de nível II e a certificação escolar correspondente à 10ª classe do Ensino Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 7 Secundário Geral. Nas Escolas Profissionais, a formação dura 2 anos, concluídos com a execução de uma Prova de Aptidão Profissional e de um estágio realizado em contexto empresarial, conferindo, neste caso, qualificação profissional de nível II e equivalência à 9ª classe. Para efeitos profissionais aos diplomados com os cursos técnico-profissionais de nível elementar, ministrados nas Escolas Profissionais, após a conclusão do estágio profissional, é conferida a equivalência ao nível básico técnico-profissional. Os alunos que tenham terminado a parte escolar com uma média igual ou superior a 12 (e realizado o estágio), poderão prosseguir estudos no chamado Ano Complementar (realizado nas EP), obtendo nesse caso equivalência à 10ª classe e ao ensino básico. A oferta profissionalmente qualificante de nível médio é realizada em Institutos Médios, com a duração comum de 3 anos, atribuindo a qualificação profissional de nível III e a certificação académica equivalente à 12ª classe. 1.3. METODOLOGIA UTILIZADA a) Análise documental dos principais instrumentos normativos do modelo da Escolas Profissionais; b) Preparação dos trabalhos de campo: confirmação dos segmentos interlocutores; construção, aferição e validação final dos instrumentos de consulta; c) Aplicação da metodologia de avaliação nas escolas participantes (e previamente identificadas): conhecimento dos espaços, instalações e equipamentos das Escolas Profissionais; entrevistas a direções Provinciais, diretores das EP, diretores adjuntos pedagógicos e realização de painéis com alunos, professores, encarregados de educação/autoridades e líderes locais, empresários e ONG; d) Consolidação das informações obtidas e redação do relatório. Critérios de composição dos painéis dos grupos e suas dimensões: oito alunos representantes do 1º, 2º ano e ano complementar por curso e por género; oito professores com representação equitativa das disciplinas socioculturais e técnico-profissionais; os demais painéis ficaram ao critério e à capacidade de mobilização das Escolas dos segmentos a serem consultados nas datas da visita das equipas de avaliação. Aspetos quantitativos: a amostra foi constituída por 14 escolas de oito províncias, envolvendo um total de 380 consultados, aos quais se devem acrescentar sete reuniões ao nível das Direções Provinciais. A consulta dos diferentes intervenientes das escolas profissionais foi realizada através de 13 reuniões com diretores de escolas profissionais, 14 reuniões com diretores adjuntos pedagógicos, 14 painéis com professores das EP (num total de 111 participantes), 14 painéis com alunos das EP (num total de 125 participantes), 14 painéis com encarregados de educação/autoridades e líderes locais (num total de 92 participantes) e 12 painéis com empresários/representantes de ONG (num total 25 participantes). Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 8 Quadro 1 – Escolas e Interlocutores contactados Escola Dir.Prov. Diretor Dir. Adj. Ped. Prof.s Alunos Encar.Educ. Empr. EP Moamba Sim Sim Sim 8 8 4 EP S. Francisco Assis Sim Sim Sim 8 6 14 EP D. Bosco EP Inhamissa EP Songo Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim 10 8 13 17 8 4 3 21 3 1 8 EP Inharrime EP Ilha Moçambique EP Massinga EP Montepuez EP Mangunde EP Mariri EP Chimoio EP Ocua Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim 8 8 9 6 9 6 8 8 8 10 9 8 9 8 13 9 11 4 7 1 9 3 4 4 3 3 3 1 1 1 3 EP Caia Sim Sim 13 Sim 14 8 111 8 125 4 92 1 25 Totais Quadro 2 – Distribuição dos Cursos Profissionais por EP contactadas Cursos Escolas EA EP Moamba EE EB M A RC EM B X EP S. Francisco Assis EP D. Bosco X X X X EP Inhamissa CM X X X X X X X X X EP Inharrime SC/ S X X EP Songo EP Ilha Moçambique SM X JF HF Tota l 3 X 7 4 3 X X 3 X X X X EP Montepuez OA P X X EP Massinga PL X X X 4 X 3 X 4 X 2 EP Mangunde X 1 EP Mariri X 1 EP Chimoio X X EP Ocua X X X EP Caia Total 1 3 1 2 1 2 5 6 10 5 X X 6 X 2 X 1 5 1 1 45 EA – Empregado Administrativo (área de formação: Administração, Serviços e Comércio) EE – Eletricista de Edificações (área de formação: Construção Civil) EB – Eletricista Bobinador (área de formação: Eletricidade) MA – Mecânico Auto (área de formação: Mecânica Auto) RC – Reparador de Carroçarias (área de formação: Mecânica Auto) Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 9 EMB – Empregado de Mesa e Bar (área de formação: Hotelaria) SM – Serralheiro de Manutenção Mecânica (área de formação: Metalomecânica) SC/S - – Serralheiro Civil / Soldador (área de formação: Metalurgia) CM – Carpinteiro / Marceneiro (área de formação: Construção Civil) PL – Pedreiro de Limpos (área de formação: Construção Civil) OAP – Operador Agro-Pecuário (área de formação: Agricultura e Mundo Rural) JF – Jardineiro / Floricultor (área de formação: Agricultura e Mundo Rural) HF – Horticultor / Fruticultor (área de formação: Agricultura e Mundo Rural) Aspetos qualitativos: é importante destacar o interesse e o envolvimento muito ativos das escolas na identificação e mobilização de participantes, com particular destaque para os elementos “exteriores” à escola. Foram expressivos a colaboração, o engajamento e a disponibilização de meios por todas as Direções Provinciais envolvidas no processo, bem como o entusiasmo e acompanhamento dos diversos interlocutores regionais. Referência especial cabe ser feita aos colaboradores da UTA/PEP, em particular ao fraternal acolhimento, atencioso apoio e sábios ensinamentos recebidos do Engº José Mingocho Abreu e Professores Francisco Massinga e Júnior Matsimbe, inestimável e diuturna assistência sem a qual esse trabalho não teria sido possível. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 10 Escola Profissional de Moamba 2. SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS O tratamento dos dados obtidos através da análise documental e do trabalho de campo realizado nas 14 escolas já referidas teve como suporte os guiões de entrevista apresentados no anexo IV e apontou para a constituição de oito categorias distintas de análise: Categoria 1 - Criação das Escolas Profissionais, Categoria 2 - Capacitação prévia de diretores, Categoria 3 - Inovação curricular e pedagógica, Categoria 4 - Prova de Aptidão Profissional, Categoria 5 - Estágio Profissional, Categoria 6 - Sucesso escolar dos alunos, Categoria 7 - Inserção sociocomunitária, Categoria 8 - Aspetos marcantes do modelo EP. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 11 As categorias consideradas encontram-se desdobradas em subcategorias, estreitamente ligadas às questões consideradas nos instrumentos de avaliação, e que seguidamente apresentadas: CATEGORIA 1 - CRIAÇÃO DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS 1. Significado/papel/lugar das EP no âmbito da política educacional da província, compreendendo o valor, importância e alcance das escolas profissionais no contexto da organização, direção e administração da educação provincial face às necessidades do desenvolvimento humano e das comunidades locais, de maior bem-estar social e fortalecimento das identidades e potencialidades endógenas dos territórios. 2. Papel das direções provinciais na criação, promoção e desenvolvimento das EP, compreendendo as ações concretas, esforços e perspetivas futuras de atuação das direções provinciais na estruturação da rede de EP no país, na mobilização de recursos, no apoio às dinâmicas locais e na criação de sinergias visando à expansão, adequação e aderência destas instituições ao contexto e às necessidades e demandas do desenvolvimento social. 3. Adequação da forma do contrato programa previsto, compreendendo as definições visando à sinergia e concretização de articulações, alianças e parcerias entre o setor público e o comunitário em favor da integração e entrelaçamento de recursos e potencialidades institucionais a serem mobilizados na criação, promoção e desenvolvimento das EP. 4. Papel das organizações e empresas na criação, promoção e desenvolvimento das EP, compreendendo as ações concretas, esforços e perspetivas futuras de cooperação das empresas e organismos estatais visando à interconexão de saberes e experiências, ao apoio à materialização dos projetos político-pedagógicos e ao desenvolvimento institucional das EP. 5. Autonomia administrativa, financeira, pedagógica e cultural – formas de concretizar, compreendendo as possibilidades encontradas pelas EP para viabilizar, com autodeterminação, a construção e efetivação de seus projetos político pedagógicos, de suas especificidades e identidades culturais, de suas bases de regulação administrativa e de seus potenciais de independência financeira. 6. Adequação do regime de recrutamento de professores/formadores e necessidades de melhorias/alterações, compreendendo a conveniência dos procedimentos utilizados para captar, selecionar, contratar e fornecer às EP docentes e formadores aptos, qualificados e em número suficiente para atender as vagas disponíveis e a consecução das metas institucionais a serem alcançadas. 6.1. Perfil docente, compreendendo as informações sobre a formação nas áreas de educação, didática e metodologias de ensino-aprendizagem; em conteúdos específicos dos cursos profissionais e experiências dos professores das EP no campo da educação profissional em contraposição aos desafios postos pelo modelo dessas instituições para funções docentes de planejar, formular e organizar atividades educativas, assim como de conduzir e avaliar processos de ensino-aprendizagem individuais e de grupo. 7. Possibilidade de fortalecer a sustentabilidade do modelo das EP com as receitas próprias, compreendendo as condições orçamentárias derivadas da geração de rendas, em Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 12 nível satisfatório para ajudar as EP nas suas necessidades de manutenção, sem que isso comprometa sua função essencialmente pedagógica e as bases de desenvolvimento futuro. CATEGORIA 2 - CAPACITAÇÃO PRÉVIA DE DIRETORES 8. Perfil de formação e qualificação para a função, compreendendo os atributos indicadores de capacidades de responder aos desafios da atividade de direção institucional das EP, conforme o padrão de gestão desenhado para estas escolas, especificidades do ambiente de atuação e do contexto sociocultural; recursos existentes; interesses, motivações e expectativas da comunidade escolar, dos setores externos e das políticas governamentais. CATEGORIA 3 - INOVAÇÃO CURRICULAR PEDAGÓGICA 9. Proporção de formação geral (40%/70%), formação técnica (60%/30%) no currículo, compreendendo a conveniência das dimensões de carga horária reservadas no currículo dos cursos profissionais para a parte dos conteúdos socioculturais (não específicos a um domínio profissional e de necessidade comum) e para a parte dos conteúdos e práticas da especialidade profissional concernente ao curso. 10. Sentido da proposta do ano complementar, compreendendo a perceção e apreciação sobre o lugar (no formato atual da organização curricular das EP) e a função (na trajetória formativa do aluno) do ano complementar (equivalente à 10ª classe da formação geral) aos dois anos de curso profissional, destinado aos que concluem esta fase com valores iguais ou superiores a 12. 11. Integração curricular, compreendendo o processo de correlação, combinação e ajustamento recíproco de elementos curriculares da formação sociocultural e da formação em especialidades profissionais com a perspetiva de propiciar aprendizagens mais estruturadas e ricas de conteúdos, métodos e sentidos; maior articulação dos conhecimentos escolares com a realidade social; situações que favoreçam a superação de hierarquias preconceituosas de saberes (disciplinares ou não); oportunidades de diálogo, cooperação e formação docente; educação integral e maior capacidade ao educando de intervir praticamente. 12. Formação para o desenvolvimento integral do aluno, compreendendo a composição e disposição de conjuntos de ações, situações e recursos educativos orientados ao desenvolvimento amplo do ser humano, considerando, globalmente, as dimensões psicoafectivas, intelectuais, estéticas, físicas, sociais, políticas, culturais, de modo a favorecer o desabrochar das potencialidades do educando e a afirmação de suas capacidades de pensar e agir de forma crítica, responsável e criadora. 13. Regime da avaliação das aprendizagens: conceção e formas de desenvolvimento, compreendendo o sistema que rege as relações pedagógicas, os procedimentos formais e informais de acompanhamento discente e os critérios utilizados para apreciar e mensurar graus de aproveitamento específico ou global no processo de ensino-aprendizagem, Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 13 considerando-se as condições institucionais; processos diagnósticos e formativos; os contextos, as experiências e os saberes dos educandos; os resultados obtidos e as necessidades de tomada de decisão para o redirecionamento do processo pedagógico tendo em vista os objetivos a atingir e as finalidades educacionais. 14. Características da Orientação Profissional nas EP, compreendendo as abordagens realizadas nas EP, em diferentes momentos dos processos de formação dos alunos, para que estes possam, considerando a realidade objetiva do mundo do trabalho e da produção, se autoconhecer, descobrir seus interesses e ter o suporte necessário às suas escolhas, confrontações e mobilizações subjetivas face ao percurso educacional, ao campo ocupacional e às oportunidades para empreendimentos individuais e ou associativos. CATEGORIA 4 - PROVA DE APTIDÃO PROFISSIONAL 15. PAP – conceção e implementação, compreendendo método de avaliação de aprendizagens, que oferece ao aluno oportunidades de desenvolvimento de suas aptidões profissionais mediante o enfrentamento dos desafios de escrever um projeto aplicado organizando metodicamente suas ideias, de executar praticamente o projetado e de apresentar os resultados alcançados por meio de relatório escrito, demonstração prática e exposição oral perante uma banca de examinadores. CATEGORIA 5 - ESTÁGIO PROFISSIONAL 16. Estágio – conceção e implementação, compreendendo o entendimento e a forma de operacionalizar o período de formação ou de aperfeiçoamento, que ocorre antes da conclusão de um curso profissional e no contexto real de trabalho, visando à inserção do concluinte no mercado de trabalho ou ao desenvolvimento de empreendimentos individuais ou associativos. CATEGORIA 6 - SUCESSO ESCOLAR DOS ALUNOS 17. Razão da escolha, compreendendo os sentimentos, interesses, expectativas e motivos referidos por alunos e familiares para justificar o ingresso numa EP e as escolhas dos cursos. 18. Eficiência do modelo EP no combate à evasão (abandono) e insucesso, compreendendo a qualidade ou a capacidade das EP de conseguir reter os alunos e de minimizar as reprovações garantindo índices de produtividade educacional e os benefícios sociais esperados. 19. Inserção ocupacional, compreendendo a efetivação do processo de transição entre formação e trabalho por meio de estratégias de acesso dos diplomados nos cursos profissionais a postos ou atividades de trabalho, inclusive a empreendimentos individuais ou associativos, por meio do levantamento de informações sobre oportunidades, contatos, encaminhamentos e incentivos financeiros visando à afirmação dos direitos básicos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 14 20. Avaliação dos percursos dos ex-alunos, compreendendo as formas mediante as quais as EP vêm realizando o acompanhamento de seus egressos com relação à situação social e de trabalho e ao desempenho profissional, tendo em vista verificar o impacto de suas ações na formação dos alunos; a formulação de estratégias de melhoria da qualidade do ensino e de melhor adequação dos currículos; a assistência àqueles com dificuldades de adaptação à situação pós-escolar e de inserção ocupacional; a manutenção dos vínculos de ex-alunos com a escola. CATEGORIA 7 - INSERÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA 21. Razões da escolha da Escola Profissional e importância do ensino profissional, compreendendo os sentimentos, interesses e motivos para a atribuição de valor, importância e alcance à função social desempenhada pelo ensino profissional e pelas EP e expectativas quanto ao conceito que elas vêm construindo. 22. Características que as EP devem ter para serem apropriadas/ajustadas às necessidades da província, compreendendo a maneira especial de desenvolver educação profissional, conhecimentos técnicos e inovações produtivas de modo a responder com enraizamento social, propriedade e relevância às necessidades da economia local, às potencialidades da província onde se encontra, fazendo-se parte da sua matriz histórica, ambiência e identidade cultural. 23. Estratégias que devem ser usadas pelas EP para estarem adequadas às necessidades locais, compreendendo o conjunto de objetivos operacionais e de ações coordenadas escolhidas para colocar em prática uma política previamente definida de atendimento às necessidades sociais e locais tendo em vista a promoção do desenvolvimento endógeno e sustentável. 24. Necessidade de uma instância de gestão participativa, compreendendo os investimentos que têm sido feitos concretamente para integrar encarregados de educação, alunos, eleitos locais, autarquias, instituições sociais, culturais e económicas locais à gestão das EP tornando-a aberta, próxima, sustentada por redes de apoio, efetivamente participativa. 25. Possibilidade da EP recorrer a professores/formadores que mantenham atividade profissional ou empresarial efetiva, compreendendo a abertura da EP e a disposição de meios para atrair e integrar ao trabalho pedagógico as contribuições de outros saberes e metodologias igualmente úteis e relevantes para o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos e dos cursos ministrados aos alunos. 26. Outras ofertas de qualificação profissional pelas EP, compreendendo a disponibilidade das EP para ações educativas sistemáticas e certificáveis de qualificação profissional voltadas à necessidade de postos de trabalho, de ampliação do grau de autonomia de trabalhadores e ao desenvolvimento sociotécnico das comunidades locais. 27. Reconhecimento e valorização dos saberes adquiridos, compreendendo os sentimentos experimentados pelos que se dizem devedores ou beneficiados pelos produtos Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 15 ou serviços simbolicamente representativos dos avanços conseguidos pelos alunos das EP na mobilização de suas inteligências, aquisição de saberes profissionais e criatividade individual ou coletiva. CATEGORIA 8 - ASPETOS MARCANTES DO MODELO EP 28. Apreciação global do modelo EP, compreendendo os aspetos que mais se distinguem no modelo pedagógico e curricular das EP considerando-se o conjunto dos seus elementos constitutivos. 29. Acontecimento inesquecível, compreendendo os fatos acontecidos e decorrentes da ambiência pedagógica das EP, que conduziram a situações vivenciais pessoais ou de grupo memoráveis. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 16 Escola Profissional de Mariri 3. SÍNTESE E RECOMENDAÇÕES 3.1. APRECIAÇÕES GLOBAIS CATEGORIA 1. CRIAÇÃO DAS ESCOLAS Os dirigentes provinciais expressaram uma perceção difusa quanto ao modelo das EP, mas as veem como importante instrumento da política educacional do país, centrado na qualificação dos jovens moçambicanos e, sobretudo, no estímulo do empreendedorismo popular. Recomendam cautela na expansão dessas escolas, pois o prioritário, no momento, é assegurar condições às existentes. As EP não têm tido, em geral, o patrocínio das maiores empresas moçambicanas e dos empresários; a principal contribuição tem sido a disponibilização de locais para estágios (ainda que com algumas restrições) e a participação em Conselhos de Escola. As EP consideraram difícil concretizar todas autonomias que lhes estão outorgadas, pois para isso dependem de todos os intervenientes no processo educativo, internos e externos, do compartilhamento de responsabilidades. As dotações governamentais não têm sido suficientes para satisfazer as necessidades de manutenção e desenvolvimento das EP e a sustentabilidade delas. Por outro lado, a ajuda advinda de receitas próprias nem sempre tem sido possível e apresenta diversas assimetrias regionais. O regime de recrutamento e colocação de professores é regido pelo modelo oficial, mas na sua aplicação às especificidades das EP precisa de aperfeiçoamentos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 17 CATEGORIA 2. CAPACITAÇÃO PRÉVIA DE DIRETORES DAS EP Os documentos consultados não referem o perfil, a qualificação necessária, nem as formas de provimento dos cargos de direção das EP. A formação continuada dos diretores se impõe em razão do perfil de formação inicial que apresentam e das responsabilidades que muitos deles possuem como membros das Equipas Locais de Implementação e Desenvolvimento das Escolas Profissionais (ELIDEP). Os investimentos que vêm sendo feitos nesse sentido têm sido importantes na solidificação do modelo que identifica essas instituições educacionais, ainda que os dirigentes ouvidos reivindiquem uma melhor preparação para o exercício de suas funções. CATEGORIA 3. INOVAÇÃO CURRICULAR E PEDAGÓGICA O modelo curricular das Escolas Profissionais moçambicanas fomenta de uma forma muito expressiva a inovação pedagógica em múltiplos sentidos, onde se destacam com clareza o investimento pelos professores na aplicação do regime modular e a perceção que os alunos têm dos ganhos desta modalidade na aquisição e avaliação das aprendizagens. O desenvolvimento dos cursos assente num currículo de 1º ano, 2º ano (rematado com a realização da PAP e do Estágio Profissional), ao qual se acrescenta o Ano Complementar (para os alunos com classificação superior a 12 valores, que optem pela sua frequência), mereceu uma profunda atenção por todos os intervenientes. A maioria não discutia a “bondade” da atual proposta de currículo (nomeadamente a possibilidade de saída profissional no final do 2º ano), mas considerava que realisticamente a maioria dos alunos optaria quase sempre pelo completamento da 10ª classe. Neste ponto os encarregados de educação mostraram-se muito exigentes quanto à necessidade de o educando completar o Ensino Básico, a que se associam inquietação e desconfiança face à noção de qualificação escolar de ensino elementar. A distribuição das disciplinas gerais versus técnicas, proposta no modelo foi considerada coerente com a natureza profissional dos cursos, embora seja nítida uma expressiva exigência pelos professores, de melhoria na conjugação e articulação entre as diversas disciplinas e reforço de meios de trabalho. A implementação do princípio da integração curricular demonstrou ser uma importante via para o fortalecimento simultâneo dos conteúdos da formação geral e da formação técnica, mas a garantia da concretização da interdisciplinaridade exige uma maior formação pedagógica dos professores. Destaca-se a necessidade de procurar melhorar a qualidade da procura e das escolhas pelo Ensino Profissional através de atividades de orientação profissional. As EP têm investido em diversas formas de divulgação – nomeadamente a semana do ensino técnico (visitas à escola/oficinas de alunos da 7ª classe - Escola Primária 2º grau), que parecem ter resultados prometedores. CATEGORIA 4. PROVA DE APTIDÃO PROFISSIONAL – IMPACTO NA VIDA DOS ALUNOS E NA COMUNIDADE A prova de aptidão profissional foi comummente aceite e valorizada como um aspeto inovador do modelo EP, sendo reconhecida por todos os intervenientes como uma eficaz forma de avaliação das aprendizagens dos alunos, permitindo-lhes mobilizar e demonstrar os seus saberes, perante um júri e a comunidade. A PAP é valorizada e compreendida pelos alunos e pelos encarregados de educação (nomeadamente como investimento pessoal no projeto e capacidade de falar em público) e alguns empresários demonstram conhecer bem o modelo, participando regularmente nos júris. Um aspeto destacado como boa prática relacionou-se com a realização de PAP conjuntas (integrando os trabalhos de alunos de diversos cursos num projeto mais amplo), sobretudo pela maximização de meios e recursos e pela dimensão de coletiva de projeto e trabalho integrado dos alunos. Deverá ser contudo especificado nessa prática o que este modelo terá de individual, evitando dificuldades de avaliação e Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 18 prevenindo a eventual desvalorização social da prova. Na opinião de alguns interlocutores (sobretudo dirigentes e empresários) as atividades da PAP podem ser entendidas na dimensão trabalho social, por oposição ao estágio, percebido enquanto trabalho profissional. CATEGORIA 5. ESTÁGIO PROFISSIONAL – ASPETOS E ORGANIZAÇÃO O conceito de estágio como momento formativo concreto de realização de aprendizagens profissionais está corretamente definido nos diversos normativos e é entendimento geral dos interlocutores a necessidade da sua realização – sempre que possível – em ambiente empresarial. Salienta-se a importância do estágio para concretização da formação, através do exercício do papel de trabalhador. Objetivamente promove a ligação com o emprego, embora não tenham sido encontradas evidências significativas de oportunidades de emprego através de uma contratação formal dos jovens diplomados. Assinale-se a recorrente dificuldade na concretização dos estágios em empresas e ambientes profissionais, o que tem conduzido a que repetidamente estas atividades se realizem na função de produção da escola. No contexto específico da agricultura, este aspeto ganha uma relevância diferente pois a função produção na escola demonstrou ser indutora de inovações, (modificações de processos produtivos, intervenções fitossanitárias, novos produtos) que são muito atentamente acompanhadas pela comunidade próxima e que daí tem-se beneficiado na melhoria e fomento da produtividade das suas próprias hortas. Para os empresários os alunos devem ter o estatuto de trabalhadores (embora supervisionados), no qual a responsabilidade pela segurança (preventiva) é da empresa, ainda que no caso de acidente deva ser a escola/família a responsabilizar-se pelo restabelecimento do estagiário. Algumas dúvidas quanto à posição do estágio na estrutura curricular do curso, mas sempre no final de um ano. O modelo previsto de acompanhamento regular durante o estágio pelos professores de apoio é de difícil execução. CATEGORIA 6. SUCESSO ESCOLAR DOS ALUNOS Os alunos demonstraram um elevado investimento pessoal na concretização das escolhas vocacionais realizadas, ainda que por vezes identificando objetivos externos (agricultura para combater a pobreza, desenvolvimento do país, falta de técnicos) e em muito casos foi referida a influência de modelos familiares (Encarregados de Educação eletricistas, serralheiros, mecânicos). A taxa de aproveitamento escolar do ano letivo de 2010 dos alunos das EP revela um melhor resultado comparativamente às escolas básicas e aos institutos médios. Em relação ao desenvolvimento curricular das EP verificou-se um grande consenso sobre a importância da organização modular dos cursos e da diversidade de formas de avaliação, uma das marcas fundamentais do modelo, para a diminuição das reprovações e das taxas de desistência/abandono. Ainda que maioritariamente orientados para o prosseguimento de estudos, os alunos mostram-se motivados pela segurança do certificado profissional, pela maior facilidade de emprego, possibilidade de autoemprego e ganhos de autonomia. Salienta-se pois uma elevada presença, no discurso dos alunos, do interesse/necessidade em serem empresários, fomentando o autoemprego: consequência tanto da formação em empreendedorismo, como da consciência de falta de emprego (por falta de empresas – questão já muito nítida nos estágios), ainda que esta situação se coloque de forma muito diferente na formação agrícola. As estratégias de acompanhamento da inserção socioprofissional dos alunos graduados consideradas apresentam resultados ainda muito débeis. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 19 CATEGORIA 7. INSERÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA As EP buscam se inserir social e comunitariamente atendendo necessidades locais de formação profissional, reforçando a luta pela diminuição da pobreza no país e o seu desenvolvimento mediante impulso a inovações produtivas e disseminação de técnicas e conhecimentos. Na perspetiva dos encarregados de educação e estudantes, elas significam mais oportunidades de acesso à educação. Nem sempre as EP possuem, porém, clareza sobre o alcance da sua inserção social e comunitária e pensam ser necessário avançar no seu enraizamento social. Para tanto, pretendem ser mais efetivas na gestão participativa, no aproveitamento das experiências e saberes existentes na comunidade, nas ofertas adicionais de cursos de qualificação para adultos. Dos encarregados de educação, comunidades e alunos, elas têm recebido o reconhecimento e a valorização dos benefícios advindos dos saberes que promovem. CATEGORIA 8. ASPETOS MARCANTES DO MODELO EP Os consultados destacaram como positividades do modelo das EP, a lógica modular de organizar currículos e avaliar aprendizagens; o foco prático do ensino e sua conexão ao mundo do trabalho; a aderência ao que o país precisa com relação à formação profissional e as situações de aprendizagem e de realização oferecidas aos alunos. Observações críticas foram feitas à insuficiência de infraestrutura material das EP; aos mecanismos de passagem dos alunos à continuidade dos estudos; ao viés pejorativo do adjetivo elementar de identificação das EP; à escassez de pessoal docente com perfil adequado quanto à qualificação técnica e pedagógica; à falta de intercâmbios entre as EP; ao número insuficiente de EP no país; à precária divulgação deste modelo para que possa ser melhor conhecido pelo país e pelas próprias comunidades. Houve menções à necessidade de tornar a educação profissional uma necessidade e tarefa de todos, incluindo o conjunto das instituições presentes no nível comunitário e dos diversos organismos ministeriais, de modo a se promover redes e alianças operativas e estratégicas, que levem à transformação das condições sociais, econômicas e políticas que reproduzem a pobreza. Nas suas memórias, alunos disseram que ficarão os acontecimentos, nas EP, que lhes deram possibilidade de provar suas capacidades profissionais, de superar medos e receios, de vivenciar sentimentos alentadores, de serem agraciados com distinções e de fazer boas amizades. O aproveitamento dessa energia, fortalecimento e sentimentos positivos experimentados pelos alunos e suas famílias, emergiu como uma força endógena ainda insuficientemente utilizada tendo em vista tornar o projeto educativo e cultural das EP efetivamente sociocomunitário. Constatou-se, portanto, que esforços adicionais precisam ser feitos de modo a tornar a ligação de cooperação e solidariedade comunitária, elemento essencial da concepção original desse projeto, um processo realmente efetivo e internalizado por todos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 20 3.2. RECOMENDAÇÕES ESCOLAS PROFISSIONAIS DE MOÇAMBIQUE 10 ANOS DE IDADE: PROPOSTAS PARA A SUA MATURIDADE Escola Profissional D. Bosco, Tete 3.2.1. ACENTUAÇÃO DA CENTRALIDADE DAS EP NO DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DAS COMUNIDADES ONDE ESTÃO INSERIDAS Esta avaliação permitiu salientar a contribuição das escolas profissionais (e do seu modelo educativo) para a compreensão pelas comunidades do papel da educação e da formação profissional na revelação do potencial produtivo e transformador dos jovens e no seu desenvolvimento integral, assim como no incremento da acessibilidade (direta e indireta) a novos (e melhores) produtos e serviços, no aumento da produtividade económica e da qualidade de vida. A importância das EP na comunidade foi particularmente destacada no domínio agrícola, uma vez que verdadeiramente servem à população, abrem horizontes de desenvolvimento, exercem ação no seu território, são agentes dinâmicos de mudanças, com resultados visíveis. Estas características poderão permitir campanhas de valorização do papel das EP e de mobilização das comunidades locais e dos seus recursos concretos visando ao fortalecimento destes empreendimentos educativos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 21 3.2.2. ALUNOS DAS EP – UM VALOR INESTIMÁVEL Devem ser destacados a resiliência e os sentimentos de autoeficácia (e segurança) observados nos alunos das EP, que no confronto com as inúmeras dificuldades vividas no contexto social e familiar (pela precariedade dos internatos e das alimentações, pela falta de condições das oficinas, de eletricidade, pelo isolamento, etc.), evidenciam as capacidades e experiências de sucesso (e mestria) resultantes tanto do modelo curricular e pedagógico como da apreciação e reconhecimento da comunidade. A observação dos alunos das EP e as interações que foram estabelecidas com eles deixaram entrever a interiorização de sentimentos, valores, crenças e normas de convivência relativamente à experiência escolar e à vida profissional futura, que se inscrevem num quadro mais amplo de uma cultura escolar e do trabalho, provavelmente, com características singulares e relativamente inovadoras face aos costumes, hábitos e tradições predominantes no país. Nesse sentido, os alunos das EP, com base na experiência comum e partilhada nestas escolas e na identidade de interesses que são estimulados a desenvolver, possuem um valor inestimável como pessoas com potencial para socializar conhecimentos, criar e implementar soluções, fazer a autogestão de empreendimentos, participar de cooperativas de produção, contribuir concretamente com o desenvolvimento local. ÊNFASE DO MODELO PERSONALISTA DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS 3.2.3. ACENTUAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DIFERENCIADORAS DO MODELO Fixação das características do modelo educativo das Escolas Profissionais enquanto fator de atração e diferenciação face a outras modalidades de conclusão do Ensino Básico, nomeadamente as turmas pequenas (30 alunos), o acompanhamento personalizado, a interação entre os professores, o sentido prático das aprendizagens, a integração curricular, a avaliação da aprendizagem orientada ao sucesso do aluno, a ligação com os EE e líderes locais, o sentido de capacitação emancipatória que resulta da (anunciada) possibilidade de autonomia no emprego da própria força de trabalho em atividades produtivas. 3.2.4. INCITAMENTO À INICIATIVA, EMPREENDEDORISMO Promover motivações e interesses nos alunos à reunião de condições para sua emancipação económica, tais como a apropriação de conhecimentos e desenvolvimento da criatividade, capacidade para inovar, da disciplina, perseverança, espírito de arrojo e de coragem, que lhes possibilitem perceber e aproveitar oportunidades, tomar iniciativas, avaliar investimentos necessários e riscos tendo em vista a criação de soluções alternativas à falta de empregos para todos ou à precariedade do trabalho. Promover, sobretudo, a formação de uma nova mentalidade comprometida com a criação das condições subjetivas que sejam favoráveis à libertação dos jovens das situações de dominação, dependência e submissão nas relações interpessoais e sociais, ou seja, à sua autonomia e autodeterminação. O fundamental é que os jovens, alunos das EP, possam se reconhecer como sujeitos e corresponsáveis na construção e na transformação de suas vidas, e da vida dos outros com quem convivem. Para tanto, é importante que as EP mantenham-se comprometidas com a perspetiva pedagógica emancipacionista e se tornem, de fato, espaços de produção de saberes e de cultura, de organização coletiva, de reciprocidade, de relações democráticas, de estímulo à solidariedade e ao associativismo, de modo a tornar seus alunos capazes de construir, com iniciativa e empreendedorismo, respostas ao desemprego estrutural, à estagnação económica e à pobreza. Nesse contexto se inscrevem a agricultura familiar, sistemas cooperativos, redes de produção e comercialização, fundos solidários e rotativos de crédito e outras estratégias individuais e Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 22 coletivas de trabalho criadas pelos setores populares. Seria, assim, recomendável que as EP reforçassem os conteúdos e as atividades de educação cooperativa e de educação autogestionária. 3.2.5. DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DOS JOVENS ALUNOS Fomento de atividades orientadas deliberadamente para o desenvolvimento integral dos jovens, sem que daí decorram maiores cargas letivas. Trata-se da maior atenção às dimensões psicoafectivas, intelectuais, estéticas, físicas, sociais, políticas, culturais, considerando o educando na sua totalidade. Promoção de projetos transversais – como marca diferenciadora da Escola Profissional - com impactos expressivos na comunidade de proximidade, em articulação com atividades desenvolvidas no meio e para o meio (como por exemplo as Provas de Aptidão Profissional). Promoção e valorização (pessoal e institucional) das experiências de maestria, que fomentem a capacitação e reconhecimento público das competências profissionais adquiridas pelos alunos das EP. Com isso, se espera sejam valorizados o engajamento ativo, a participação e a autonomia dos educandos no processo educacional, a associação entre trabalho manual e intelectual, meios ativos de aprendizagem, que facilitem o contato dos alunos com o ambiente e a vida social e cultural do seu meio comunitário. 3.2.6. PROMOÇÃO DO RÓTULO (MARCA?) ESCOLA PROFISSIONAL Desenvolvimento de estratégias de comunicação dirigidas a grupos distintos de pessoas e organizações de modo a conformar um conjunto de crenças, ideias e impressões que façam distinguir as EP como instituições educacionais diferenciadas e inovadoras no seu modelo curricular e pedagógico. Para tanto, é preciso que sejam amplamente divulgados seus objetivos e finalidades educacionais, metodologia do ensino, perfil dos profissionais que atuam nos processos educativos, condições físicas e materiais que são disponibilizadas, possibilidades oferecidas aos educandos, etc.. É importante que a construção dessas estratégias de comunicação seja compartilhada para que todos que se encontrem envolvidos no trabalho das EP possam se sentir reconhecidos como construtores dessa marca. É recomendável que cada EP crie e mantenha atualizado um portal na Internet contendo informações relevantes às comunidades intra e extraescolar sobre seu projeto político pedagógico e atividades. 3.2.7. ESTABELECIMENTO DE UMA REDE DE ASSOCIAÇÃO DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS Proposta de realização de um encontro nacional com a participação de todas as EP tendo em vista o estabelecimento de estratégias e plano de trabalho para o desenvolvimento de futuras cooperações e intercâmbios concernentes ao desenvolvimento e aperfeiçoamento do modelo curricular e pedagógico que lhes serve de referência. O plano de trabalho e as estratégias deverão contemplar as similitudes e diferenças entre as EP com relação ao padrão curricular e pedagógico adotado, as dificuldades encontradas para viabilizá-lo, os questionamentos recebidos, as contribuições para o seu aprimoramento, fortalecimento e consolidação. A rede a ser criada a partir desse encontro nacional também se encarregaria de promover ações e estudos no sentido de registrar a memória pedagógica e institucional das experiências das EP. Sugere-se que desse encontro nacional surja um comitê organizador da rede de associação das EP. 3.2.8. FOMENTO DE MODELOS E MOMENTOS DE INTERCÂMBIO ENTRE EP Estabelecimento de momentos regulados de intercâmbio (físico e na net) entre dirigentes, professores e alunos das escolas profissionais, seja em encontros de trabalho, seja em oportunidades de convívio (de natureza cultural e desportiva) entre alunos. Fomento da constituição de associações de alunos das EP e Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 23 do estímulo de uma espécie de “embaixadores do modelo EP” (ex-alunos com percursos de sucesso em termos empresariais e/ou académicos), que servissem de referência para a divulgação das características diferenciadoras do modelo Escola Profissional. 3.2.9. EXISTÊNCIA DE UM MOMENTO INICIAL DE CAPACITAÇÃO PRÉVIA (E DIAGNÓSTICA DOS ALUNOS) Estabelecimento de um momento inicial de capacitação prévia no início dos cursos, para homogeneização da formação de base nos componentes socioculturais essenciais para a aquisição dos conteúdos técnico-profissionais. Trata-se de ações pedagógicas destinadas a todos os novos alunos com o sentido de diagnosticar e minorar deficiências de aprendizagem e desníveis de saberes e capacidades referentes, sobretudo, à matemática, à escrita, leitura e interpretação de textos, tendo em vista atender aos padrões mínimos considerados necessários para a obtenção da qualidade académicas das EP. 3.2.10. REFORÇO DA IMPORTÂNCIA DO PAPEL DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL Promoção de ações de Orientação Profissional no fomento das escolhas pelos alunos do Ensino Profissional, tendo em vista uma opção mais consciente e com um investimento pessoal (e familiar) mais acentuado nos percursos de preparação para o exercício profissional. Necessidade de um acompanhamento mais sistemático de orientação profissional durante o próprio curso, sobretudo no fomento do sucesso educativo, na realização de escolhas significativas (por exemplo PAP e estágios) e na inserção profissional e/ou prosseguimento de estudos. No atual contexto das escolas profissionais, muitas destas funções poderão ser intencionalmente desenvolvidas por professores (ou outros profissionais) capacitados nesse domínio. APROFUNDAMENTO DO DESENVOLVIMENTO DAS EP ENQUANTO PROJETOS LOCAIS AUTÓNOMOS 3.2.11. EXIGÊNCIA DA VERIFICAÇÃO DOS REQUISITOS ESTABELECIDOS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO DAS EP Verificou-se que muitas EP resultaram de transformação e adaptação de antigas escolas primárias/básicas, que foram “descontinuadas” (e desocupadas) face à criação e construção de novas escolas básicas (de nível geral). O aproveitamento das antigas instalações, algumas ainda com marcas simbólicas das extintas Escolas de Artes e Ofícios, muitas vezes com acentuadas carências face à “outra” escola, tem sido experienciado de forma muito depreciativa pelos professores e EE, tendo os alunos uma consciência “sofrida” dessa diferença (muito nítida sobretudo nas escolas situadas no interior das províncias). A criação das novas escolas profissionais resultado tantas vezes de uma intrínseca dinâmica local, visando a otimização de instalações que (no passado) tiveram uma forte marca na sua matriz de profissionalização de jovens, deveria procurar precaver este acentuar da diferença entre duas modalidades/duas escolas/dois tipos de alunos. É essencial o estabelecimento de requisitos verificáveis e avaliáveis visando a valorização e melhoria dos espaços que serão (re)ocupados em novos projetos escolares formalizando a exigência da verificação de um conjunto de condições mínimas, sob supervisão da UTA para a concretização do modelo de escola. 3.2.12. ESTABILIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DA(S) AUTONOMIA(S) CONSAGRADA(S) NO REGULAMENTO DAS EP Pareceu evidente a autonomia das escolas na elaboração dos seus projetos pedagógicos, regulamentos internos, organização do planeamento anual, gestão dos módulos curriculares, regulação do tempo do Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 24 estágio, procedimentos para a realização das provas de aptidão profissional, etc.. Este processo que deverá ser reforçado sobretudo através da valorização e disseminação de práticas exemplares em momentos de formação e intercâmbio entre a rede de EP. 3.2.13. REGULAÇÃO DAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DAS ESCOLAS E ESTABILIZAÇÃO ORÇAMENTAL A avaliação permitiu verificar que efetivamente não existe autonomia financeira, resultante tanto da instabilidade orçamentária, o que restringe as margens de entendimento e desenvolvimento das autonomias referidas no regulamento, como da impossibilidade das escolas de obterem de forma consistente e contínua de complementos advindos de receitas próprias. Será essencial para a estabilização do modelo a garantia de condições que permitam a estabilização e regularidade dos fluxos financeiros do orçamento de estado e uma regulação com maior flexibilidade e estímulo de formas de gerar (algumas) receitas próprias. 3.2.14. PROMOÇÃO PÚBLICA DA COMPONENTE EMPRESARIAL DAS EP Na sua maioria as escolas profissionais não são percebidas localmente como fornecedoras de produtos e serviços. A contribuição da geração de receitas próprias para a sustentabilidade das EP apresenta diversas assimetrias, que resultam tanto da localização da escola (se em meio rural ou urbano, por exemplo), das especialidades de que tratam os cursos, da capacidade oficinal instalada e dos sucessos que cada escola vem conseguindo obter na gestão e comercialização dos seus produtos e serviços. O que se viu, na maioria dos casos, porém, é que as comunidades ainda não possuem uma perceção da EP como local de produção e venda de mercadorias. Numa perspetiva de divulgação desta componente “empresarial”, foi sugerida a promoção de contratos entre as EP e organismos públicos para a prestação de serviços e venda de produtos (carteiras para as escolas; produtos alimentares para hospitais, centros de saúde e cantinas de outras escolas, por exemplo) como forma de constituição das (possíveis) receitas visando ao fortalecimento da autonomia financeira das escolas. ACENTUAÇÃO DA URGÊNCIA DA QUALIFICAÇÃO DOS ATORES/AUTORES 3.2.15. PROMOÇÃO DE MODELOS LEVES DE QUALIFICAÇÃO PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DAS EP, SOBRETUDO OS DOCENTES DAS DISCIPLINAS TÉCNICAS Face à dificuldade logística e institucional de realizar, de forma maciça e generalizada, a capacitação dos professores das EP (ainda) sem formação pedagógica, deveriam ser fomentadas práticas de formação em escolas profissionais consideradas “educadoras” (três ou quatro em todo o país?). Estas escolas “educadoras” deveriam ter acesso (preferencial) a recursos educativos e pedagógicos (em termos de professores e instalações), que lhes permitissem níveis da formação e capacitação pedagógica básica (através de estágios de curta duração) dos jovens professores recém-formados pelos níveis médios de ensino, nas características inovadoras do modelo curricular e pedagógico das EP. Promoção do reconhecimento público dessas escolas profissionais educadoras e dos seus professores, com eventuais bonificações no financiamento das escolas 3.2.16. CONSEGUIR CONDIÇÕES PARA A PERMANÊNCIA DO CORPO DOCENTE Fomento da atratibilidade e estabilização dos professores nas EP, através de reconhecimento (valorização) dessa atividade para uma mais acelerada progressão na carreira docente (bonificação em termos de tempo de serviço). Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 25 3.2.17. ESTABELECIMENTO DO PERFIL E DA QUALIFICAÇÃO NECESSÁRIA DOS DIRETORES E DIRETORES ADJUNTOS PEDAGÓGICOS E REGULAMENTAÇÃO DAS FORMAS DE PROVIMENTO DOS CARGOS Fixação de requisitos considerados indispensáveis ao exercício das atividades de direção nas EP, considerando-se, especialmente: a função social destas escolas; a visão de educação profissional emancipadora; a gestão participativa e democrática; o acompanhamento e a avaliação do desenvolvimento da proposta pedagógica e dos indicadores de aprendizagem com vistas à melhoria do desempenho da escola; o desenvolvimento das autonomias da escola; os princípios e diretrizes da administração pública e o fortalecimento dos vínculos com as comunidades locais buscando estabelecerem, com outras instituições e lideranças comunitárias, parcerias que promovam o enriquecimento do trabalho da escola e da comunidade em que ela se insere. 3.2.18. CAPACITAÇÃO DOS MESTRES LOCAIS Estabelecimento de formas de capacitação pedagógica essencial (assegurada pela própria EP ou pela rede de associação das EP) de profissionais Mestres com conhecimentos e experiências reconhecidos nas especialidades técnicas dos cursos, por forma a possibilitar a legitimação dessa colaboração (possibilitando a certificação profissional e pedagógica dos Mestres convidados). 3.2.19. DOCÊNCIA SIMULTÂNEA DA FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E TÉCNICO-PROFISSIONAL Experimentação (nas áreas em que tal for possível) da possibilidade de professores com formação técnica e pedagógica poderem assegurar simultaneamente a disciplinas da formação sociocultural e técnico-profissional (em domínios para os quais estão qualificados). Tal situação permitiria a facilitação da articulação entre diferentes disciplinas/componentes e o acompanhamento e avaliação personalizada dos alunos (devendo esta experiência pedagógica ser cuidadosamente acompanhada e avaliada). DESENVOLVIMENTO DO MODELO CURRICULAR E PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS 3.2.20. FOMENTO DA INTEGRAÇÃO CURRICULAR ATRAVÉS DA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR A integração curricular, especialmente pela abordagem interdisciplinar, é vista como uma necessidade determinante do sucesso escolar e profissional do modelo curricular das Escolas Profissionais. No entanto tal processo exige manuais de apoio, quer quanto aos módulos, quer quantos aos recorrentes documentos normativos. 3.2.21. MODELO QUE NÃO LIMITE SUBJETIVAMENTE O PROSSEGUIMENTO DE ESTUDOS A maioria dos alunos que ingressam nas EP apresentam um fraco domínio das habilidades básicas, que muitas vezes o atual modelo curricular (2 anos + ano complementar) não consegue compensar totalmente, sobretudo ao nível dos conteúdos de formação geral. Esta situação tem aumentado a dificuldade de aprovação em exames destinados à continuidade dos estudos. Como a maioria dos alunos consideram (e sobretudo os seus EE) que deverão continuar seus estudos, foram frequentemente levantados a hipótese e o interesse de criação de cursos profissionais de nível médio especialização a realizar nas EP – ou então a existência de um contingente de vagas (para alunos das EP) Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 26 nos institutos técnicos na zona da escola e nos cursos mais diretamente relacionados com os frequentados nas EP. 3.2.22. CAPACITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL QUALIFICADO, NUMA PROGRESSÃO CURRICULAR INTEGRADA DE 3 ANOS, ASSEGURANDO O COMPLETAMENTO DO ENSINO BÁSICO Transformação do ano complementar em 3º ano de um único plano de ensino fundamentado na lógica da integração entre formação geral e formação profissional, destinando maior reforço nos conteúdos socioculturais, especialmente Português e Matemática, ao primeiro ano; a introdução dos conteúdos técnico-profissionais ao 2º ano e seu aprofundamento ao 3º ano, quando também seriam realizadas as provas de aptidão profissional e os estágios profissionais. Essa nova arquitetura curricular leva em conta a precária escolarização dos alunos que ingressam nas EP, os dilemas que têm surgido na constituição dos itinerários formativos discentes, as ambiguidades que o conceito de ano complementar tem suscitado, a consideração do interesse dos jovens e suas famílias pela continuidade dos estudos, a realização de estágios com uma formação geral e profissional mais sólida, a exigência da 10ª classe concluída por grande parte das empresas para fins de contratação e a necessidade de reforçar as possibilidades de inserção socioprofissional dos diplomados. 3.2.23. OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE REALIZAÇÃO DAS PAP Regulação clara e objetiva das formas e orientações específicas para a escolha dos temas e problemas das PAP, das condições para seu desenvolvimento individual ou coletivo, motivos justificados para sua não realização em período previsto, dos documentos ilustrativos da concretização do projeto, das condições da sua realização (quando feitas fora da escola) e sobretudo das condições em que se podem solicitar comparticipações materiais e/ou financeiras dos EE. 3.2.24. APERFEIÇOAMENTO DO MODELO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL Em sincronia com uma eventual mudança da estrutura curricular das escolas profissionais para um percurso de 3 anos (8ª, 9ª e 10ª classe), o estágio deverá realizar-se durante o 3º ano (10ª classe), sempre que possível no final do ano letivo (o que permite que os alunos estagiários tenham sempre, pelo menos 15 anos de idade). Possibilidade de serem oferecidas contrapartidas diretas ou indiretas às empresas que acolhem (e contratam) estagiários das EP. 3.2.25. MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DURANTE O ESTÁGIO PELOS PROFESSORES DE APOIO Na maioria dos casos, face ao contexto empresarial moçambicano, o estágio representa verdadeiramente uma situação de trabalho (às vezes com más condições) ainda que, muitas vezes, os EE e alunos considerem essa situação uma forma “normal” de socialização pelo trabalho, através da aprendizagem na “tarimba”, visando o acesso à condição de “mestre” (condição muito valorizada pelos alunos). No estágio o aluno deverá ser acolhido na condição de estagiário, em processo de formação no contexto de trabalho, com um acompanhamento intencional e regular (dentro das possibilidades das escolas versus locais de estágio). Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 27 3.2.26. FOMENTO DO MODELO ESCOLA-PRODUÇÃO NOS CURSOS DA ÁREA AGRÍCOLA As Escolas Profissionais com cursos na área agrícola produzem efetivamente, em ciclos relativamente curtos, produtos/bens resultantes do trabalho pedagógico dos professores e alunos. Particularmente neste contexto a produção pode ser concebida deliberadamente como uma metodologia pedagógica, aparecendo o trabalho diário dos alunos como um organizador dum sentido de e da vida. Este envolvimento permitiria motivar gradualmente os jovens também para outras aprendizagens escolares. As actividades de produção destas escolas podem gerar receitas com algum significado, melhorar a qualidade de vida na própria escola (sobretudo ao nível da alimentação), promovendo uma consistente intervenção na vida da comunidade próxima. Assim sempre que existam as condições tecnológicas para tal e observando-se estritamente a finalidade pedagógica da atividade, deverá ser incrementada a possibilidade de realização do estágio dos cursos na área da Agricultura nas próprias EP ou nos contextos comunitários próximos da escola, fomentando o sentido de responsabilidade social das escolas e dos próprios alunos. 3.2.27. PROMOÇÃO DE FORMAS DE ACOMPANHAMENTO DOS PERCURSOS ESCOLARES E PROFISSIONAIS DOS ALUNOS GRADUADOS NAS EP Esse acompanhamento deve contemplar a situação social e de trabalho do graduado, bem como seu desempenho profissional, tendo em vista assisti-lo no seu período de adaptação a novas situações pós EP, estimular a sua cooperação como ex-aluno nas atividades e necessidades da escola, obter informações sobre o impacto das ações institucionais na formação discente, aperfeiçoar os currículos e definir estratégias para a melhoria contínua da qualidade dos processos de ensino-aprendizagem. URGENTE MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS 3.2.28. LIGAÇÃO ÀS PRINCIPAIS EMPRESAS MOÇAMBICANAS Não foram percebidas ligações intencionais e de patrocínio das maiores empresas moçambicanas às escolas profissionais. Deverão ser criadas condições de estímulo à participação e à mobilização dos diferentes setores das comunidades, especialmente dos empregadores e das lideranças locais, garantindo maior adesão das empresas ao apoio às escolas e consolidação dos Conselhos de Escola. 3.2.29. FOMENTO DE UMA FORMA DE ASSOCIAÇÃO “FORMAL” ENTRE AS EP E OS EMPREGADORES Esta associação permitiria uma melhor definição dos perfis profissionais e a necessidade de formação de jovens, promovendo também o fomento/conhecimento das escolas profissionais e trocas de experiências entre os empresários. 3.2.30. ASSEGURAR PADRÕES MÍNIMOS DE EQUIPAMENTOS E CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO DAS EP Parece ser absolutamente urgente e necessário um maior investimento nas atuais EP, através do fornecimento dos meios de ensino-aprendizagem necessários e incentivos à produção de materiais didáticos apropriados a cada contexto e projeto curricular. A melhoria, evolução e estabilização das inúmeras virtualidades do modelo curricular e pedagógico das EP está dependente da existência de materiais pedagógicos e didáticos básicos, tais como livros adequados e adaptados aos conteúdos das disciplinas/componentes dos cursos (e que sejam acessíveis a todos os alunos), manuais técnicos e documentos de suporte para os professores. Muitos destes materiais pedagógicos poderão ser até propriedade da escola, já que se verificou uma relação incomum (numa leitura ocidental), de cuidado e Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 28 “estima” dos alunos pelos livros, que podem permitir a sua partilha futura com outros estudantes. É indispensável a existência de bibliotecas e salas de formação técnico-profissional, prática simulada e laboratórios adequados às exigências dos cursos. Num contexto de qualificação profissional cada vez mais exigente (em todos os domínios), são absolutamente necessários meios de comunicação, investigação e acesso a conhecimento, nos quais a internet constitui a ferramenta básica. Os alunos (muitos dos quais em regime de internato) gostariam que as escolas possuíssem equipamentos para poderem ouvir música e ter acesso a vídeos e filmes. A valorização da Formação Técnica nos curricula exige condições de aprendizagem que a generalidade das escolas não cumpre (ou não consegue cumprir...), sobretudo em função da inexistência de materiais pedagógicos e cuja responsabilidade não lhe pode ser assacada. É importante enfatizar a existência de inúmeras instituições internacionais, que trazem, como visão e missão, valores e intenções potencialmente aderentes e favoráveis ao projecto das escolas profissionais, especialmente com relação à melhoria da infraestrutura de equipamentos e instalações e à formação de professores e directores. Por meio de linhas de apoio financeiro e recursos não reembolsáveis decorrentes de fundos sociais e doações, uma rede internacional de instituições pode se aliar em parceria para patrocinar tais escolas nos seus mais diversos projetos. Dentre elas, podem ser citadas as seguintes organizações: Cáritas, W.K . Kellog Foundation, Ação Ecuménica Sueca – Diakonia, EZE - Associação Protestante de Cooperação e Desenvolvimento - Alemanha, The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, GTZ - Cooperação Técnica Alemã, PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Fundação Bank Boston, Ação Quaresmal Suíça, Brot fuer die welt, CCFD - Comité Catholique contre la Faim et pour le Développement, Christian Aid, Danchurchaid, Développment et Paix, Icco, Misereor, Oxfam, Terre des Hommes, Catholic Relief Services, United Way, EED - Serviço das Igrejas Evangélicas Alemãs para o Desenvolvimento, Novib - Organização Holandesa para Cooperação Internacional, FPH - Fondation Charles Leopold Meyer pour le Progrès de l’Homme. 3.2.31. EVIDENCIAR A NOTORIEDADE DOS RESULTADOS OBTIDOS PELAS EP, RESSALTANDO AS EFETIVAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DOS JOVENS Realização pelas EP de levantamento e catalogação dos seus sucessos e das consequências das suas atividades, tornando-os públicos, com o intuito de dar a conhecer e valorizar seu objetivo principal (a formação sólida e efetiva dos jovens); incentivar todos a conhecerem a escola, promover o reforço da imagem de marca da instituição e o despertar do interesse das pessoas por ela. Os bons resultados obtidos poderão ser explicitados mediante comunicação aberta, em locais de grande circulação de pessoas, por meio de cartazes, publicidade em veículos de transporte, média digital, emissoras de rádio e TV, folhetos e folders, etc.. Especial atenção deve ser dada e mantida às ações de comunicação em espaços frequentados por adolescentes, jovens e suas famílias, tais como escolas, igrejas e associações comunitárias. 3.2.32. ÊNFASE DA AÇÃO DAS EP NO COMBATE AO ABANDONO ESCOLAR E NA INTERVENÇÃO JUNTO DE JOVENS EM RISCO Fortalecer as medidas voltadas à permanência discente na instituição (de acolhimento e apoio à adaptação aos alunos que ingressam às atividades escolares, de incentivo à construção de vínculos com a escola, de formação da identidade como alunos de uma EP e de criação de situações que os estimulem e os façam se sentir desafiados); à gestão da assiduidade dos alunos (identificação dos alunos com faltas frequentes, controle do movimento escolar e dos casos de abandono escolar precoce); ao combate dos motivos mais frequentes para o absentismo (falta de incentivo dos pais, doenças, dificuldades ou deficiências no transporte, condição socioeconómica, trabalho precoce, insucesso escolar, etc.); à melhoria contínua do processo de ensino-aprendizagem (aumento do interesse discente pela escola, Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 29 superação das dificuldades de aprendizagem); ao envolvimento de todos os educadores em torno do objetivo de redução do abandono escolar; à sensibilização e conscientização dos pais e/ou responsáveis pelos alunos quanto à importância dos estudos formais e da formação profissional; à reintegração dos alunos com abandono precoce na comunidade escolar. 3.2.33. RELEVÂNCIA DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS COMO MODELO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL INICIAL DE JOVENS EM ÁFRICA A educação profissional tradicional africana (tal como a dos outros povos) era baseada em dois princípios fundamentais: aprendizagem pela ação (aprender fazendo) e aprendizagem com o grupo de pares (por maestria e experiencias vicariantes). O modelo curricular e pedagógico das Escolas Profissionais consagra a qualificação como um processo de aprendizagem altamente envolvido com a experiência, realizado ao longo do tempo, em diferentes tempos, de diversas maneiras, com objectivos e propósitos formalmente estabelecidos e regulamentados, mas sempre fortissimamente envolvidos nos contextos comunitários próximos. Os cursos das Escolas Profissionais conduzem a qualificações que são facilmente compreendidas (porque conhecidas) por todos, acessíveis de maneira sistemática e regular (com significativas incorporações de inovação). Mostram-se também relevantes para as necessidades locais e regionais, permitindo (e induzindo) o prosseguimento de estudos. O modelo de desenvolvimento das EP demonstrou uma sólida liderança (institucional e pedagógica), com ampla participação, experimentação, avaliação de resultados e sistematização de experiências. Como modelo educativo exigente (e com exigências), terá de se suportar numa rede estabelecida a nível local e regional que possa permitir a identificação de necessidades de qualificação, de locais de estágio e eventuais empregos. Sendo certo que esta tessitura implicará empenhados esforços na melhoria e qualificação dos espaços, no equipamento e reforço dos consumíveis necessários para as diversas especialidades, na urgente qualificação dos atores institucionais e pedagógicos (nos quais os professores das áreas técnicas são a urgência das urgências), na aproximação às comunidades, lideres locais, pais e encarregados de educação e, sobretudo, no estabelecimento de contratos de crença, confiança e investimento pessoal com os jovens alunos, o projecto das Escolas Profissionais de Moçambique afirma-se pela sua consistência e coerência (em termos curriculares e pedagógicos) como um exemplar modelo de qualificação profissional inicial. Esta modalidade de qualificação escolar e profissional incentiva e ressalta o entendimento da educação e formação profissional inicial como processo de desenvolvimento pessoal e social, que se atualiza ao longo do ciclo da vida, através dos quais se criam e transformam saberes e experiências em conhecimentos, competências, atitudes, crenças, valores, sentidos e emoções. Reafirma o aprender como o coração da humanidade e as escolas como “estaleiros de humanidade” (Joaquim Azevedo, 2010), numa sociedade aprendente, comprometida com uma cidadania ativa, os princípios democráticos, a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 30 Escola Profissional de Montepuez 4. ANÁLISE DOS DADOS RECOLHIDOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO CATEGORIA 1 - CRIAÇÃO DAS ESCOLAS Questões do roteiro Significado/papel/lugar das EP no âmbito da política educacional da província Papel das direções provinciais na criação, promoção e desenvolvimento das EP Adequação da forma do contrato programa previsto Papel das organizações e empresas na criação, promoção e desenvolvimento das EP Autonomia administrativa, financeira, pedagógica e cultural – formas de concretizar Adequação do regime de recrutamento de professores/formadores e necessidades melhorias/alterações Possibilidade de fortalecer a sustentabilidade do modelo das EP com as receitas próprias Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique de 31 Apreciações gerais Os dirigentes provinciais expressaram uma perceção difusa quanto ao modelo das EP, mas as veem com importante instrumento da política educacional do país, centrado na qualificação dos jovens moçambicanos e, sobretudo, no estímulo do empreendedorismo popular. Recomendam cautela na expansão dessas escolas, pois o prioritário, no momento, é assegurar condições às existentes. As EP não têm tido, em geral, o patrocínio das maiores empresas moçambicanas e dos empresários; a principal contribuição tem sido a disponibilização de locais para estágios (ainda que com algumas restrições) e a participação em Conselhos de Escola. As EP consideraram difícil concretizar todas autonomias que lhes estão outorgadas, pois para isso dependem de todos os intervenientes no processo educativo, internos e externos, do compartilhamento de responsabilidades. As dotações governamentais não têm sido suficientes para satisfazer as necessidades de manutenção e desenvolvimento das escolas e a contribuição das receitas próprias para o fortalecimento da sustentabilidade das EP tem sido um processo de difícil execução e com diversas assimetrias regionais. O regime de recrutamento e colocação de professores é regido pelo modelo oficial, mas na sua aplicação às especificidades das EP precisa de aperfeiçoamentos. 1. SIGNIFICADO/PAPEL/LUGAR DAS EP NO ÂMBITO DA POLÍTICA EDUCACIONAL DA PROVÍNCIA Os representantes das direções provinciais enfatizaram o papel das EP na qualificação profissional visando ao exercício autónomo de atividades profissionais e ao estímulo ao empreendedorismo popular. As EP se mostraram desejadas por tais organismos estatais pelo seu potencial e realizações na formação profissional de prestadores de serviços a terceiros. Uma menor correlação foi estabelecida por eles entre processos de criação de EP e a constituição de força de trabalho qualificada para o emprego assalariado. Os dirigentes provinciais expressaram um entendimento do modelo das EP como “produtor” de jovens qualificados, embora com uma perceção difusa quanto às suas especificidades (por comparação, por ex. com o “Ensino Técnico”), suportada numa necessidade de “coordenação” idêntica à estabelecida com as outras escolas do subsistema de educação técnico-profissional. As direções provinciais apreciam muitos dos aspetos inovadores no modelo das EP, mencionando, a título de exemplo, a lógica modular de organização curricular e de avaliação das aprendizagens. Alertaram, porém, que tais inovações obrigam à mudança de mentalidade, à superação de resistências e às novas aprendizagens para as quais se faz preciso um espaço de tempo. Foi ressaltado o facto de as EP constituírem um importante instrumento da política educacional do país ainda que a oferta de cursos e matrículas que elas propiciam não seja suficientemente ampla, diversificada e suficiente às necessidades do país. Mencionaram a importância de criação de outras unidades escolares desse modelo para contemplar uma cadeia mais vasta de distritos e estimular as dinâmicas sociais de desenvolvimento local. Contudo as direções provinciais, mesmo reconhecendo o grande valor da criação das EP e a indispensabilidade da sua expansão no país, entendem que isso deverá ser feito com cautela, sendo urgente, primeiro potencializar as 38 EP existentes, ainda muito carentes de investimentos. Em relação à proposta formativa, os dirigentes provinciais adotaram a linha de privilegiar a importância instrumental, utilitária e pragmática de criação dessas escolas visando, sobretudo, à disseminação do saber-fazer. A título de exemplo, citaram que há EP que despertam grandes elogios, pois seus alunos constroem suas próprias carteiras escolares ou reformam as de escolas públicas. Fatos como este levaram uma direção provincial a encaminhar ao governo central sugestão de concessão às Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 32 EP de prerrogativa de participação em licitações públicas de pequenos lotes de serviços a serem contratados pelo estado. Com isso, as EP poderiam ampliar seu potencial de apoio à reabilitação e expansão da rede pública de ensino ou de outros serviços públicos, estimulando o desenvolvimento educacional e social. Por outro lado, essa parceria seria um fator de estímulo à melhoria das próprias EP e de fortalecimento do reconhecimento social do seu significado para as comunidades. Foi mencionada a Construção Civil como uma área a ser privilegiada na criação de EP, dada a carência do país em infraestrutura e por ser este um campo aberto ao empreendedorismo de profissionais autónomos, particularmente carpinteiros, pedreiros, eletricistas e serralheiros. As EP também foram vistas pelos dirigentes provinciais como importantes fatores de estímulo aos setores produtivos em grande expansão no país, como a indústria do turismo, e aos setores que embora possuam grande potencial de crescimento, ainda se encontram timidamente explorados, como a atividade da pesca, do frio e da conservação. Foi salientada pelos dirigentes provinciais a exigência que as EP propiciassem uma formação humana mais ampla e sólida, possibilidade dificultada pelo processo de criação dessas escolas pouco articulado com o subsistema de educação geral. Romper com este distanciamento seria, assim, um fator importante à superação do estigma que acompanha o ensino profissional de modo geral, o de formação de categoria inferior. Por outro lado, as escolas de formação geral têm revelado nas suas práticas de encaminhamento de adolescentes às EP o entendimento de que estas foram criadas para atender, prioritariamente, alunos com problemas de aprendizagem, carentes do ponto de vista socioeconómico e órfãos. Ou seja, a destinação dos alunos às EP é ainda fortemente realizada com base no critério do assistencialismo e da educação compensatória e não pelo percurso escolar diferenciado que oferecem. Conjugada com esta constatação verificou-se que muitas EP resultaram de transformação de antigas escolas primárias/básicas, que foram abandonadas em função da criação e construção de uma nova escola básica geral, com melhores instalações. Ora este reaproveitamento de antigas instalações, sem obras de melhorias significativas, tem sido percebido de forma muito depreciativa pelos alunos e EE que têm consciência dessas diferenças. 2. PAPEL DAS DIREÇÕES PROVINCIAIS NA CRIAÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS EP Os representantes das direções provinciais convergiram sobre desafios enfrentados no exercício das suas funções com relação à coordenação dos esforços para a criação e apoio às EP. Por um lado, haveria as dificuldades emergentes que decorrem da implantação de um novo modelo educativo com suas especificidades e, por outro, as habituais, resultantes da amplitude e urgência das necessidades sociais a serem atendidas, dos parcos recursos financeiros e materiais disponíveis, da falta de quadros docentes com a formação técnica e pedagógica requerida e dos gargalos nos processos comunicativos permeando todos os níveis da política educacional. As direções provinciais, especialmente suas repartições de ensino técnico profissional, se mostraram sensibilizadas a dedicar maior atenção ao seu papel de realizar a coordenação do desenvolvimento das EP na sua esfera territorial. Os chefes destas repartições fizeram o acompanhamento in loco dos trabalhos da equipe de avaliação do modelo das EP. Houve por parte deles um grande apreço pela oportunidade que esta experiência lhes facultou com relação ao maior conhecimento da realidade das escolas visitadas e do próprio modelo que as constitui. Foi dada ênfase aos limites do financiamento, que inibem a alocação das condições necessárias e adequadas ao bom funcionamento das EP. Foi ressaltado que o custo médio das ações de educação profissional é em geral bem mais elevado do que o praticado nas escolas de educação geral e que não Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 33 tem sido possível assegurar às EP a disponibilidade dos recursos na quantidade e qualidade desejáveis, pois o país possui baixa capacidade para investimentos. Em resposta a este quadro, alegam desenvolver um trabalho de coordenação visando o estabelecimento de prioridades e a criação dos meios de sustentação das escolas, reiterando a necessidade de buscar apoio em dinâmicas e forças locais. Pensam ser necessário avançar no estímulo à participação e à mobilização dos diferentes setores das comunidades, especialmente dos empregadores e das lideranças locais. Mas, para tanto, não tem sido fácil conseguir viabilizar a cooperação e as parcerias necessárias, sanar problemas de comunicação, garantir maior adesão das empresas ao apoio às escolas e consolidar Conselhos de Escola. 3. ADEQUAÇÃO DA FORMA DO CONTRATO PROGRAMA PREVISTO O instrumento jurídico do contrato programa diz respeito à prestação de serviços públicos por parte das EP comunitárias e está previsto no Regulamento das EP. Por meio deste dispositivo, são constituídas e reguladas as obrigações mútuas das entidades mantenedoras e do poder público, que se associaram em regime de cooperação para a criação e desenvolvimento das EP comunitárias. Trata-se da efetivação da gestão associada de um serviço público, que explicita competências, serviços prestados, autorizações, concessões, condições e critérios técnicos a serem obedecidos etc. Por meio dessa associação, a administração educacional busca apoio das instituições da sociedade civil e a adequação dos projetos escolares a cada contexto local. Constatou-se, porém, a existência de EP autorizadas a funcionar mas sem que o contrato programa tivesse sido, nuns casos, assinado, e noutros concretizado e/ou renovado. Finalmente emergiu também a questão referente às especificidades das EP que também se orientam pelo modelo da Pedagogia da Alternância, onde há dúvidas sobre como se proceder em face da necessidade de compatibilizar quesitos dos dois modelos pedagógicos, o das Escolas Familiares Agrícolas e o das Escolas Profissionais, nomeadamente as definições sobre cumprimento de cargas horárias de cursos e disciplinas. São questões que ainda carecem de definição e que deveriam estar contempladas no instrumento do contrato programa. 4. PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES E EMPRESAS NA CRIAÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS EP Os representantes das direções provinciais e os diretores das EP entendem que o frágil tecido empresarial moçambicano lhes tem dificultado contar com empregadores para o estabelecimento de interlocuções e parcerias na criação e apoio a essas escolas. Isso tem tornado pouco nítida a ligação das escolas a empresários e/ou empresas, sobretudo em contextos socioeconómicos ainda pouco desenvolvidos como o interior de algumas províncias do centro e do norte do país. Não foram percebidas ligações intencionais e de patrocínio das maiores empresas moçambicanas às escolas profissionais, salvo o caso da Hidroeléctrica Cahora Bassa. As direções provinciais ponderaram, contudo, que as EP devem investir mais na busca do apoio empresarial como forma de viabilização das suas sustentabilidades financeira e material e da qualidade da formação a ser oferecida aos alunos. Na perspetiva dos dirigentes provinciais, dentre as possibilidades de contribuições dos empregadores, houve menções às seguintes: a) oferta de oportunidades de estágios para os alunos; b) participação em júris para avaliar alunos submetidos a provas de aptidão profissional; c) fornecimento de referenciais e orientações técnicas para a melhoria da qualidade dos produtos e serviços realizados pelas EP; d) disponibilização de informações sobre as necessidades tecnológicas e de formação profissional que emergem do desenvolvimento local; e) contratação preferencial de egressos das EP; f) indicação de outros empregadores com potencialidade para empregar graduados; g) conserto de máquinas das EP Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 34 que apresentem avaria; h) estímulo e orientação de grupos de alunos à criação de suas empresas; i) participação na formação continuada de professores das áreas técnicas e profissionais. Os empregadores contatados reconheceram que precisam contribuir mais com os esforços do país no campo da educação profissional. Disseram ter interesse em apoiar as EP, principalmente com a socialização de seus conhecimentos para que os alunos tenham melhor aprendizagem nas especialidades. Houve até empresários que propuseram a criação de uma associação para formalizar e fomentar as relações e as parcerias entre as EP e os empregadores. Esta associação teria, também, os objetivos de promover as trocas de experiências entre os empresários e de ajuda na disseminação de novos conhecimentos relacionados às especialidades. Relataram sentir maior abertura das escolas para este tipo de interação e mencionaram quatro motivos fundamentais para as parcerias com as EP. O primeiro se refere à necessidade que possuem de contar com pessoal habilitado para futuras contratações. O segundo, à oportunidade que as EP lhes oferecem de descobrir jovens talentosos e que tenham boa inclinação nas áreas de interesse da empresa. O terceiro, à carência do país de força de trabalho qualificada e sua dependência com relação ao fornecimento estrangeiro de produtos e serviços, tais como de esquadrias importadas da África do Sul e dos serviços de manutenção mecânica de máquinas simples contratados no exterior. O quarto, à necessidade que as empresas enfrentam de agregar complementos de aprendizagem aos fornecidos pelas EP aos seus alunos. Os empregadores explicitaram, contudo, algumas dificuldades para prestar suas colaborações às EP. A primeira delas reside nas suas próprias limitações de ordem material e financeira. Nesse sentido, disseram que há falta de espaço físico nas suas oficinas, pequenas para receber um número maior de estagiários; que possuem limitada quantidade e diversidade de ferramentas para dividir entre seus empregados efetivos e os alunos; que é oneroso o gasto, às vezes supérfluo, de materiais e de eletricidade feito pelos estagiários; que lhes é difícil suportar custos adicionais com a compra de material de consumo, energia e manutenção de máquinas. Em vista das dificuldades materiais e financeiras que sentem para apoiar a criação e o desenvolvimento das EP, os empregadores fizeram algumas sugestões e demandas: por um lado os alunos, ao serem enviados aos estágios, deveriam levar seus conjuntos de ferramentas, pois as que dispõem nas oficinas seriam insuficientes para compartilhar com eles; por outro, as escolas deveriam contribuir com o fornecimento de matérias-primas necessárias à prática dos alunos; e, finalmente, o governo deveria oferecer-lhes contrapartidas ajudando-os na aquisição de maquinarias e de materiais consumíveis ou ressarci-los dos gastos que fazem ao receber os alunos para estágios. A segunda ordem de dificuldades que os empregadores relataram para prestar suas colaborações às EP se refere aos alunos que vêm recebendo. Para eles, as EP estariam dando muita teoria e prestando pouca atenção à parte prática na formação dos jovens. Com isso, ao recebê-los para estágios, precisam começar do zero os ensinamentos que consideram necessários, tais como a designação das ferramentas básicas utilizadas na especialidade e as medições elementares. Alguns empresários avaliaram a formação recebida pelos alunos das EP como sendo muito inicial, pelo que assim estariam sendo formadas pessoas sem grandes possibilidades de serem empregadas e com baixa capacidade de adaptação às variações do mercado de trabalho. Para eles, na perspetiva de uma formação para o autoemprego, os jovens precisariam ser capacitados a fazer planos de negócio, o que não vem ocorrendo. O terceiro tipo de dificuldades relatado pelos empregadores no desenvolvimento de parcerias com as EP está relacionado com a necessidade de o modelo das EP proporcionar uma melhor orientação educacional e profissional aos alunos, pois muitos dos que eles recebem estão desinteressados em aprender o que as empresas estão dispostas a ensinar. Avaliam que as EP estão recebendo alunos muito jovens e que ainda não definem com muita clareza sobre o que querem fazer profissionalmente, pois alunos com 12/13 anos de idade são crianças, as EP apenas lhes acabam ensinando teorias. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 35 Os empregadores se manifestaram também positivamente face à oferta de contribuições ao processo formativo dos alunos no espaço da escola e antes da fase do estágio desde que por períodos de tempo curtos e que lhes fossem disponibilizadas as condições materiais adequadas. Contudo afirmaram que gostariam de ter mais informações sobre como as EP e suas oficinas funcionam na prática, pois nada ou pouco sabem sobre isso, condição necessária para que possam acompanhar a vida da escola mais de perto. Estarão também disponíveis ainda realizar palestras sobre assuntos técnicos e de orientação profissional, visando à ampliação das aspirações e horizontes dos alunos. Empregadores entrevistados e que já teriam trabalhado como mestres no ensino profissional, na sua avaliação, agora como empregadores, consideram que a aprendizagem profissional dos alunos precisa melhorar muito. Percebendo a diferença da proposta pedagógica das EP com relação às antigas Escolas de Artes e Ofícios, ressaltamos avanço com relação ao modelo anterior, mas, na sua avaliação, as EP deveriam estar mais equipadas com ferramentas, ter poucos alunos por turma (20), as necessárias matériasprimas para as atividades práticas, mestres com maior capacidade didática para saber lidar com os aprendizes. Houve empregador que disse: “Gostaria que um dia esses jovens me chamassem de pai e não de mestre”. Devem ser destacadas as observações feitas pelos representantes das diretorias provinciais de serviços e atividades económicas dos distritos, que compareceram às dinâmicas de avaliação do modelo das EP. Esses disseram que as parcerias dessas diretorias com as EP deveriam ser mais ampliadas, pois podem gerar benefícios mútuos muito importantes. Os distritos poderiam aproveitar mais da contribuição dos estagiários e também contratar os diplomados das EP para a efetivação de suas políticas públicas de desenvolvimento tecnológico, dinamização económica, assistência técnica, extensão rural etc. Foi apontado o fato de que as EP oferecerem formação profissional num nível inferior ao que necessitam, pois há demandas de atuação que os diplomados não conseguem corresponder por falta de capacidade técnica. Este nível de formação profissional oferecido pelas EP seria insuficiente também para o jovem que quer se estabelecer como autónomo em razão das exigências técnicas e administrativas que o empreendedorismo apresenta. Foi afirmado que as direções distritais de serviços e atividades económicas têm encontrado limites para atender as exigências dos termos de referência das ONG estrangeiras que lhe oferecem apoio, pois elas não aceitam a inclusão de pessoal que não tenha a formação técnica de nível médio. 5. AUTONOMIA ADMINISTRATIVA, FINANCEIRA, PEDAGÓGICA E CULTURAL – FORMAS DE CONCRETIZAR Quatro modalidades de autonomia foram atribuídas às EP, conforme o Regulamento que as orienta: a administrativa, a financeira, a pedagógica e a cultural. Tais outorgas impõem um novo padrão de política, planeamento e gestão escolar por oposição às práticas tradicionais de tutela escolar por órgãos externos. São prerrogativas que os diretores das EP consideraram muito importantes para a concretização de projetos educativos que realmente beneficiem os alunos e favoreçam o desenvolvimento local. Consideraram, entretanto, que elas são muito difíceis de serem concretizadas, pois pressupõem um exercício de construção institucional muito dependente das participações de todos os intervenientes no processo educativo, das interações sociais internas e externas às escolas, das responsabilidades e subsídios compartilhados. As autonomias, pedagógica, cultural e administrativas estariam sendo de mais fácil concretização, ainda que dependam muito da possibilidade de autonomia financeira, que foi considerada como a mais crítica à efetivação. Por isso, ponderaram não haver condições de corresponder integralmente às possibilidades de autonomia previstas no Regulamento. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 36 Os diretores das EP reafirmaram o exercício da autonomia das EP na elaboração dos seus projetos pedagógicos, regulamentos internos, organização do planeamento anual, gestão dos módulos curriculares, regulação do tempo do estágio, procedimentos para a realização das provas de aptidão profissional, etc.. Veem esse direito como uma condição importante para garantir que cada escola construa sua própria identidade local, social e cultural. Com isso, a autonomia pedagógica favorece a autonomia cultural, as ações de valorização da diversidade e da riqueza culturais locais, de articulação com a comunidade (sobretudo em termos de informação e sensibilização para questões relacionadas à saúde, saneamento e atividades culturais de teatro e música) como forma de superação das desigualdades e de promoção da abertura da escola à participação das comunidades. Entretanto, para que essas autonomias, pedagógica e cultural, avancem consistentemente faltam-lhes condições de exercício das autonomias administrativa e financeira, pois as EP não teriam, segundo os diretores ouvidos, o poder de praticar certos atos administrativos importantes para o desenvolvimento de suas atividades, serviços e atribuições. Citaram as dificuldades para a gestão do pessoal, já que não possuem flexibilidade para recrutar, selecionar, fazer indicações à contratação e alocar docentes, bem como argumentaram que as EP não contam com autonomia administrativa para eleger seus dirigentes. Houve menção às dificuldades para a realização de processos administrativos por falta de sistemas informáticos de gestão académica. Por outro lado, alguns procedimentos administrativos exigidos não estão claramente regulados, e para tal pensam ser interessante mobilizar o conjunto das EP numa tarefa coletiva, contando, especialmente, com a experiência das mais antigas. A questão financeira, porém, foi a que mais animou a reação dos diretores das EP ao serem questionados sobre formas de concretização das autonomias. Segundo disseram, inexiste uma situação de estabilidade orçamentária, o que restringe as margens de entendimento e desenvolvimento das independências funcionais referidas no regulamento. Os diretores das EP consideraram que o atual sistema de gestão financeira dessas escolas, por comparação com a anterior organização em duodécimos (que facilitava mais esta tarefa) não é muito eficaz, pois tudo que arrecadam como receita é transferido para o Estado e nem sempre retorna à escola para nela ser reinvestido. Nesse sistema, todas as receitas precisam ser declaradas e as escolas não têm autonomia para gastar qualquer valor que arrecadem, não podendo usar os recursos que geram. As direções provinciais explicitaram as expectativas governamentais de que as EP se guiem pelo modelo empresarial de produção de receitas próprias como forma de fortalecer a sustentabilidade delas. Entretanto, os diretores das EP afirmaram não existir (ainda?) capacidade endógena potencial de corresponder a tais expectativas, sinalizando para a necessidade do desenho de projetos visando à identificação de potencialidades concretas para que a implementação dessa ajuda seja possível. Lembram os diretores das EP que essa aspiração não pode ser condicionante da concretização e atendimento primordial das finalidades didáticas e pedagógicas das EP. A autonomia financeira implica contar com uma base de recursos e condições para agir independentemente e, principalmente poder implementar o projeto político-pedagógico com a qualidade desejada. Para tanto, é importante poder contar com certo dinamismo das atividades económicas locais e regionais, que possibilitasse às EP gerar receitas a partir da comercialização de seus produtos e serviços, o que não tem sido factível em razão da fragilidade socioeconómica do contexto local em que se encontram. Neste enquadramento consideram pois que a ajuda vinda das receitas arrecadadas face aos custos inerentes às atividades das EP, especialmente das que possuem instalações de internatos, é pequena. Algumas direções provinciais sugeriram a realização de contratos entre as EP e organismos públicos para a prestação de serviços e venda de produtos (carteiras para as escolas; produtos alimentares para hospitais, centros de saúde e cantinas de outras escolas, por exemplo) como forma de constituição de receitas capazes de prestar maior suporte à Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 37 autonomia financeira das escolas. Algo que os diretores das EP argumentam ser muito difícil de implementar. 6. ADEQUAÇÃO DO REGIME DE RECRUTAMENTO DE PROFESSORES/FORMADORES E NECESSIDADES DE MELHORIAS/ALTERAÇÕES O regime de recrutamento e colocação de professores nas EP rege-se pelo modelo oficial: há uma planificação central, mas cada província é encarregada de formar, recrutar e alocar seus professores. Das consultas realizadas obteve-se o entendimento de que a aplicação desse regime ao modelo das EP tem resultado diversos problemas. O primeiro deles diz respeito à insuficiência no provimento de professores. Os diretores das EP e os diretores adjuntos pedagógicos afirmaram que suas escolas nem sempre recebem do Estado professores em número suficiente ao que necessitam, situação confirmada pelas direções provinciais, que referiram enfrentar dificuldades para atender as demandas de professores encaminhadas pelas EP. Alegam que há falta de professores com formação adequada para atuação nos domínios das disciplinas técnicas e profissionais, insuficiência que compromete também a possibilidade de realizar outras ofertas de qualificação profissional, tais como cursos de curta duração para jovens e adultos, além das regulares dos cursos profissionais (citaram, como exemplos, as áreas de carpintaria, marcenaria, serralharia, agropecuária e contabilidade). Há EP que, por falta de professores para as especialidades técnicas oferecidas, dispõem de apenas um ou dois professores para todas as disciplinas técnicas profissionais de determinados cursos, provocando elevadas sobrecargas de trabalho. Para superar tais dificuldades, as EP comunitárias têm recrutado e remunerado, com recursos próprios, profissionais com conhecimentos e experiências reconhecidos na especialidade de cursos que oferecem. Esse problema de insuficiência no suprimento de professores por parte do Estado também atinge os das disciplinas de formação geral, o que tem levado professores de diversas EP (sobretudo com cursos no domínio da Agricultura) a assegurar simultaneamente disciplinas da formação técnica e da geral. Tal situação, que não sendo vista como modelar, tem provocado efeitos significativos não intencionais na forma de promover a articulação entre disciplinas. O outro problema relacionado ao recrutamento e colocação de professores nas EP se refere à alta proporção de ingresso de professores sem formação pedagógica, particularmente os que são destinados aos conteúdos técnicos. A prática tem sido de recrutamento de professores jovens, recémsaídos do ensino técnico, sem formação e experiência pedagógicas, tendo as direções provinciais argumentado que procuram selecionar os que se revelaram como os melhores estudantes no ensino técnico. Os dirigentes das EP se posicionaram favoravelmente a um maior investimento por parte das direções provinciais na oferta de estruturas e possibilidades de formação pedagógica para os professores dos conteúdos técnicos, pois o modelo dessas escolas traz inovações pedagógicas na organização curricular e no processo de avaliação das aprendizagens que requerem qualificação específica. Trazer professores de locais distantes das EP constitui um outro problema do regime de recrutamento de professores para essas escolas. Foi considerada inadequada essa prática, pois às vezes são recebidos professores vindos de longe quando no contexto local da escola existem já profissionais habilitados. Foi considerado que seria mais racional atribuir à própria escola a função de selecionar professores e fazer o preenchimento das vagas docentes, o que permitiria diminuir a grande rotatividade de docentes que atinge as EP. Esta rotatividade docente constitui um significativo problema no recrutamento de Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 38 professores para as EP, pois segundo os diretores das escolas, os professores ingressam nelas bastante jovens e permanecem por apenas três ou quatro anos, altura em que se mudam para outra atividade ou outra escola. Finalmente foi realçado, com desagrado, por diretores de EP a existência de práticas nepotistas nos processos de recrutamento e que estariam levando ao favorecimento na seleção de pessoas independentemente de suas qualificações, muitas vezes sem perfil adequado às necessidades das EP. 6.1. PERFIL DOCENTE (DADOS) O perfil docente encontrado nas EP consultadas com relação ao género é apresentado no quadro 3 Quadro - 3 Perfil docente por género Escola H M EP Moamba sd sd EP S. Francisco Assis 29 2 EP D. Bosco 21 9 EP Inhamissa 15 4 EP Songo 16 4 EP Inharrime sd sd EP Ilha de Moçambique 11 3 EP Massinga 23 11 EP Montepuez 29 2 EP Mangunde 9 4 EP Mariri 11 0 EP Chimoio 36 10 EP Ocua 15 1 EP Caia 9 2 sd – sem dados Total sd 31 30 19 19 sd 14 34 31 13 11 46 16 11 Em falta sd 4 3 -sd 2 2 5 4 - Em relação à formação psicopedagógica, os dados obtidos foram os apresentados no próximo quadro. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 39 Quadro - 4 Perfil docente face à formação psicopedagógica Com formação Sem formação Escola psicopedagógica psicopedagógica EP Moamba sd sd EP S. Francisco Assis 24 7 EP D. Bosco 8 22 EP Inhamissa sd sd EP Songo sd sd EP Inharrime sd sd EP Ilha de Moçambique 9 5 EP Massinga 14 20 EP Montepuez 13 18 EP Mangunde 5 8 EP Mariri 3 8 EP Chimoio 20 26 EP Ocua 14 2 EP Caia 7 4 sd – sem dados TOTAL sd 31 30 sd sd sd 14 34 31 13 11 46 16 11 A tabela acima confirma a informação existente nos relatórios analisados das escolas envolvidas nesta avaliação e nas afirmações dos seus dirigentes de que um número significativo dos docentes não possui formação psicopedagógica. Neste contexto foi destacada a importância de incluir essa formação na matriz curricular dos cursos técnicos, pois os alunos que neles se formam têm sido recrutados para dar aulas não somente nas EP como também nas escolas de formação geral do país. A carência de condições infraestruturais para dar suporte às diversas atividades da escola, sejam elas letivas ou não, tem dificultado aos docentes experimentar inovações curriculares e pedagógicas e se tornarem mais qualificados no exercício de suas profissões (o próprio regulamento das EP pareceu, em alguns momentos da interlocução com a equipe avaliadora, mal compreendido e interiorizado pelos próprios professores das escolas). Como se verifica uma grande rotatividade de professores, foi apontada a necessidade de se investir na permanência deles nas EP, no seu maior envolvimento com essa modalidade educacional; caso contrário, o investimento feito em qualificação docente não é canalizado em benefício dessas escolas. Além disso foi verificado que os professores das áreas técnicas apresentam um perfil de dedicação diferenciado. O trabalho deles não se limita à sala-de-aula, estão sujeitos a riscos de acidentes nas oficinas e atividades de campo e precisam estar disponíveis, inclusive nos finais de semana, para atender demandas provindas de situações imprevisíveis ou que requerem acompanhamento diuturno. Consideram-se pois mais sacrificados pois daí não tem nenhuma compensação económica. Do mesmo modo, também os docentes das EP em regime de Alternância possuem perfil de dedicação diferenciado em razão das demandas de atividades diferenciadas dessa pedagogia, pelo que foi considerada necessária a elaboração pelo Ministério da Educação de regulamentações que considerassem essas especificidades. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 40 7. POSSIBILIDADE DE FORTALECER A SUSTENTABILIDADE DO MODELO DAS EP COM AS RECEITAS PRÓPRIAS Segundo os diretores das EP, as dotações governamentais não satisfazem as necessidades de manutenção e desenvolvimento das escolas. As receitas das EP provêm das dotações do Ministério da Educação, das cooperações internacionais, da venda de produtos e serviços realizados com a colaboração dos alunos, das pequenas contribuições financeiras proporcionadas pelas matrículas dos alunos e das taxas que lhes são cobradas quando submetidos a exames extraordinários. As verbas públicas visam resguardar os salários do pessoal do Estado, parte das despesas correntes e de capital. Os trabalhadores que não são do Estado são remunerados por meio dos recursos advindos das receitas próprias, tais como as resultantes das matrículas. As EP pouco podem contar com as contribuições financeiras dos alunos, pois são de pequeno valor uma vez que as famílias sendo de baixa renda não podem oferecer mais do que o fazem. Tal situação é agravada pela chegada tardia, por volta do mês de junho, das dotações do governo. Foi reafirmado que as EP têm tido muitas dificuldades para fazer face também às despesas correntes, especialmente o provimento de materiais de consumo para as atividades práticas e manutenção dos equipamentos e instalações. Ficaram muito claramente demonstradas a urgente necessidade de recuperação de instalações e equipamentos e as carências de infraestrutura das oficinas, bibliotecas e dos internatos. Tem sido, sobretudo, por meio do uso da força de trabalho dos alunos que se tem resolvido algumas das dificuldades de infraestrutura física das escolas, seja por intermédio dos produtos e soluções que devem materializar no exercício das suas provas de aptidão profissional ou de atividades práticas rotineiras. Há escolas que têm sido praticamente construídas e conservadas com a ajuda dos próprios alunos e isso envolve áreas externas e as instalações prediais e mobiliárias. Foi destacado até o caso da intervenção de uma EP na reforma de escolas públicas numa província que, após as obras terem sido abandonadas por um empreiteiro, intermediou a contratação de um grupo de ex-alunos, composto por carpinteiros, serralheiros e eletricistas, que assumiu a finalização dos trabalhos interrompidos, atendendo plenamente ao que se requeria. Os resultados financeiros decorrentes da comercialização de produtos excedentes incorporados aos orçamentos das EP têm tido valores sobretudo simbólicos, na maioria dos casos. Verifica-se que a contribuição das receitas próprias para a sustentabilidade das EP tem sido um processo com diversas assimetrias, que resultam tanto da localização da escola (se em meio rural ou urbano, por exemplo), das especialidades de que tratam os cursos, da capacidade oficinal instalada e dos sucessos que cada escola vem conseguindo obter na gestão e comercialização dos seus produtos e serviços. Na maioria das situações, as comunidades locais e as instituições aí situadas ainda não possuem uma perceção da EP como local de produção e venda de mercadorias. Para as direções provinciais, embora tais condições ainda não estejam criadas, será preciso investir mais nesse sentido, fazer rentabilizar os recursos fornecidos. Uma forma de fortalecer esta sustentabilidade seria a realização prévia de convénios com empresas privadas e órgãos públicos para a contratação de produtos e serviços às EP. Mas, para isso, é necessário que elas estejam mais bem equipadas, com oficinas aparelhadas, laboratórios, recursos de informática, acesso à Internet, livros técnicos, matérias-primas, etc.. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 41 CATEGORIA 2. CAPACITAÇÃO PRÉVIA DE DIRETORES Questões do roteiro Perfil de formação e qualificação para a função. Apreciações Gerais Os documentos consultados não referem o perfil, a qualificação necessária, nem as formas de provimento dos cargos de direção das EP. A formação continuada dos diretores se impõe em razão do perfil de formação inicial que apresentam e das responsabilidades que muitos deles possuem como membros das Equipes Locais de Implementação e Desenvolvimento das Escolas Profissionais (ELIDEP). Os investimentos que vêm sendo feitos nesse sentido têm sido importantes na solidificação do modelo que identifica essas instituições educacionais, ainda que os dirigentes ouvidos reivindiquem uma melhor preparação para o exercício de suas funções. 8. PERFIL DE FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PARA A FUNÇÃO Os pressupostos político-pedagógicos e organizacionais do desenho do modelo das EP e os requerimentos para sua adequada operacionalização requerem daqueles que exercem funções diretivas nessas escolas habilidades e capacidades de gestão não apenas educacional e escolar, mas também social. Tais escolas estão destinadas a interagir com seu contexto económico, político, social e cultural tendo em vista a realização de suas finalidades primordiais de promoção do sucesso dos seus alunos e do desenvolvimento local. Logo, aos diretores se reservam funções amplas, que contemplam a construção de consensos, a administração dos meios (humanos, materiais, financeiros, etc.) com os quais as escolas contam ou das vias que possam torná-los possíveis, como também a gestão da relação da escola com seu contexto mais próximo, como é o caso das famílias dos alunos, e os contextos menos imediatos representados, pelas empresas, organizações da sociedade civil, instâncias do poder público, outras escolas etc.. A consulta realizada permitiu constatar que os investimentos que vêm sendo feitos na formação dos diretores destas escolas e na formação contínua dos professores e formadores têm sido importantes na solidificação do modelo que identifica essas instituições educacionais. Os desafios acima descritos com relação à concretização das autonomias pedagógica, cultural, administrativa e financeira pelas EP e das suas sustentabilidades requerem, de fato, uma aposta inequívoca na qualificação desses profissionais por meio de formação científico-técnica continuada e articulada com o contexto local e com o trabalho colaborativo de todos que integram o coletivo escolar. No entanto a maioria dos diretores das escolas profissionais e dos diretores adjuntos pedagógicos contatados eram possuidores de qualificações académicas de nível médio (sobretudo, em áreas técnicas) e quase sempre sem formação pedagógica. A maioria esteve envolvida em ações de capacitação protagonizadas pela Unidade Técnica de Apoio (UTA) às Escolas Profissionais de Moçambique ou pelo Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa. Muitos eram – em função dessas capacitações – membros das Equipas Locais de Implementação e Desenvolvimento das Escolas Profissionais de Moçambique (ELIDEP), criadas por meio do Diploma Ministerial nº 75, de 2010. As capacitações que receberam Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 42 abordaram assuntos relacionados à avaliação de candidaturas a Escolas Profissionais, projeto educativo de escola, avaliação interna de escolas, progressão e avaliação modulares, avaliação externa de escolas e o modelo educativo e formativo das Escolas Profissionais. Como membros das equipas eles também compartilham com os inspetores escolares a avaliação externa das EP. É importante destacar que os documentos consultados não referem o perfil, a qualificação necessária, nem as formas de provimento dos cargos de direção dessas escolas. Dos DEP e DAP consultados ouviuse que esses deveriam ser ocupados, preferencialmente, por pessoas com histórico de formação escolar, de nível médio ou superior, no campo de alguma especialidade técnica e que tivessem alguma experiência concreta de trabalho na especialidade em que se formaram, pois a educação profissional é uma modalidade complexa em razão das exigências específicas que traz e da missão a ser realizada. Em razão das elevadas exigências próprias do modelo das EP, os dirigentes citaram outras características pessoais de importância para o exercício das funções dirigentes, tais como: dinamismo; motivação; vontade; dedicação; responsabilidade; assiduidade; pontualidade; abertura cultural; flexibilidade; inspirar confiança; ter capacidade de se relacionar e dialogar com alunos, professores, encarregados de educação, empregadores, autoridades e pessoas da comunidade em geral; liderança. Os DEP e DAP consultados enfatizaram a necessidade de receberem formação continuada para o exercício de suas funções. Esta tem sido oferecida pelo MINED, mas, segundo eles, deveria ser programada para ser realizada com maior frequência. Os dirigentes entrevistados estão muito interessados e reivindicaram também a promoção da prática do intercâmbio sistemático entre os diretores de todas as EP. Dentre os conteúdos que mencionaram como fundamentais a esse processo de formação contínua, os DEP e DAP citaram: a compreensão da situação, necessidades e demandas de Moçambique e das atividades económicas locais e regionais concernentes à formação de profissionais; o contexto psicopedagógico e social das EP considerando-se as características do público-alvo e das comunidades atendidas; os princípios e as especificidades da educação técnica e do modelo das escolas profissionais; planeamento e administração educacional; gestão escolar participativa, especialmente no que concerne ao envolvimento dos encarregados de educação, dos empregadores e das autoridades locais; gestão dos espaços escolares e educacionais; gestão administrativa e financeira de instituições de formação profissional; sistema modular de organização curricular e de avaliação das aprendizagens; formas de implementar a integração curricular, especialmente as atenções entre os diálogos dos conteúdos gerais com os de cada especialidade técnica; elaboração, implementação e acompanhamento de projetos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 43 CATEGORIA 3. INOVAÇÃO CURRICULAR E PEDAGÓGICA Questões do Roteiro Proporção de formação geral (40%/70%) e de formação técnica (60%/30%) no currículo Sentido da proposta do ano complementar Integração curricular Formação para o desenvolvimento integral do aluno (cultural, desportivo etc.) Regime da avaliação das aprendizagens: conceção e formas de desenvolvimento Características da OP nas EP Perfil docente (dados) Apreciações Gerais O modelo curricular das Escolas Profissionais moçambicanas fomenta de uma forma muito expressiva a inovação pedagógica em múltiplos sentidos, onde se destacam com clareza o investimento pelos professores na aplicação do regime modular e a perceção que os alunos têm dos ganhos desta modalidade na aquisição e avaliação das aprendizagens. O desenvolvimento dos cursos assente num currículo de 1º ano, 2º ano (rematado com a realização da PAP e do Estágio Profissional), ao qual se acrescenta o Ano Complementar (para os alunos com classificação superior a 12 valores, que optem pela sua frequência), mereceu uma profunda atenção por todos os intervenientes. A maioria não discutia a “bondade” da atual proposta de currículo (nomeadamente a possibilidade de saída profissional no final do 2º ano), mas considerava que realisticamente a maioria dos alunos optaria quase sempre pelo completamento da 10ª classe. Neste ponto os encarregados de educação mostraram-se muito exigentes quanto à necessidade de o educando completar o Ensino Básico, a que se associam inquietação e desconfiança face à noção de qualificação escolar de ensino elementar. A distribuição das disciplinas gerais versus técnicas, proposta no modelo foi considerada coerente com a natureza profissional dos cursos, embora seja nítida uma expressiva exigência pelos professores, de melhoria na conjugação e articulação entre as diversas disciplinas e reforço de meios de trabalho. A implementação do princípio da integração curricular demonstrou ser uma importante via para o fortalecimento simultâneo dos conteúdos da formação geral e da formação técnica, mas o asseguramento da interdisciplinaridade exige uma maior formação pedagógica dos professores. Destaca-se a necessidade de procurar melhorar a qualidade da procura e das escolhas pelo Ensino Profissional através de atividades de orientação profissional. As EP têm investido em diversas formas de divulgação – nomeadamente a semana do ensino técnico (visitas à escola/oficinas de alunos da 7ª classe - Escola Primária 2º grau), que parecem ter resultados prometedores. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 44 9. PROPORÇÃO DE FORMAÇÃO GERAL (40%/70%) E DE FORMAÇÃO TÉCNICA (60%/30%) NO CURRÍCULO A diferença entre os tempos das duas modalidades foi considerada normal face à natureza do curso no modelo EP, predominante orientado para a qualificação profissional de jovens. Embora se considere a distribuição equilibrada, com relevância para os 60% de FTP (1º e 2º ano), foi reafirmado que os alunos que tiverem condições económicas irão continuar estudos no ensino secundário, quer face à inexistência de empregos, quer porque ainda serão muito novos (no final do curso) para trabalhar e/ou criar o seu próprio emprego. Complementarmente a esta análise e discussão da correlação percentual entre as cargas horárias de formação geral e de disciplinas técnico-profissionais foi salientada a questão do perfil discente, que deverá exigir um maior investimento na orientação/seleção dos alunos em termos dos seus próprios projetos pessoais e profissionais e, sobretudo, tendo em conta a idade de entrada no nos cursos e que poderá ser pelos 12/13 anos. Quer os professores quer os dirigentes alertam para o que consideram “fraco desenvolvimento das aprendizagens previstas para o ensino primário”, o que faz com que alguns alunos sejam considerados em “situação muito crítica” com relação às capacidades básicas de leitura, escrita e cálculo (mal saberão escrever seus próprios nomes) o que tem obrigado as escolas à premente necessidade de realização de ações e abordagens compensatórias de reforço escolar. Esta questão coloca-se sobretudo no início dos cursos e constituirá um esforço adicional para os professores das disciplinas de formação geral, pois sem a formação de base nos componentes socioculturais consideram que será difícil desenvolver os conteúdos técnicoprofissionais. Na ótica destes agentes educativos, a carga horária prevista e as infraestruturas (materiais pedagógicos, bibliotecas, espaço físico e disponibilidade de professores) têm sido insuficientes para permitir a realização do nivelamento mínimo dos pré-requisitos formativos que seriam necessários aos alunos. Alguns professores consideram que a resolução de tais dificuldades tem passado sobretudo por abordagens interdisciplinares e de integração curricular. Constata-se um discurso muito coerente sobre a necessidade da formação geral (por causa do prosseguimento de estudos) nesta modalidade de ensino profissional. Esta diferença é valorizada e considerada essencial para marcar a característica da EP, na sua relação com o mundo trabalho e a formação dos futuros trabalhadores. Na apreciação deste conceito verifica-se alguma confusão entre os termos geral e teórico, sobretudo porque na formação técnica também existem aulas ditas teóricas. Verificaram-se, ainda, apreciações assinalando que os conteúdos gerais não serão suficientes para prosseguir estudos pelo que consideram que se deveriam rever os objetivos dos programas da FSC (iguais aos do Ensino Geral) e adaptar os da FTP. Consideram que os conteúdos da formação geral que têm sido desenvolvidos apenas contemplando noções gerais e essenciais, uma vez que o tempo destinado às disciplinas seria muito curto. Nas matrizes curriculares da formação geral também não constariam determinados conteúdos considerados essenciais para a formação profissional em certas especialidades. [Por exemplo, a química orgânica, cuja ausência é vista como prejudicial tanto para formação dos alunos tendo em vista a continuidade dos seus estudos como também para a formação técnica, especialmente na área da Agricultura; do mesmo modo, a disciplina Mundo Atual, prevista para ser desenvolvida com base em unidades temáticas de interesse que contemplem também conteúdos de Geografia e de História, inclusive do próprio país, nem sempre terá sido trabalhada de modo a fornecer tais ensinamentos] Estes elementos têm gerado dúvidas em alunos, encarregados de educação e professores sobre a suficiência da formação geral recebida para fazer face às exigências dos processos seletivos destinados ao ingresso no ensino médio e nos institutos técnicos. Como acreditam que os jovens continuarão seus estudos, acham que eles terão oportunidades futuras de compensar eventuais lacunas na formação geral deixadas pelas EP. Além disso, os encarregados de educação consideram a possibilidade dos jovens recorrerem à preparação autónoma (isolada) nos conteúdos de formação geral para conseguirem a aprovação em Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 45 exames destinados à continuidade dos estudos. Os encarregados de educação e alunos gostariam de ver compensada a menor proporção quantitativa de carga horária dedicada à formação geral com o aumento da qualidade do ensino, salientando que os 40% da FSC seriam suficientes para o eventual prosseguimento de estudos, se houvesse uma maior qualificação pedagógica (e dedicação...) dos professores. Foram frequentemente levantados a hipótese e o interesse de criação de cursos profissionais de nível médio, especialização a realizar nas EP – que poderiam ser de outro nível (ou então reclamam um instituto técnico para a zona da escola), pois parece-lhes difícil remar contra a maré social da necessidade de uma maior escolarização (de nível secundário). Nas EP, a proporção de atividades práticas de ensino profissional prevista é mais alta do que a constante no modelo das tradicionais escolas básicas e isso foi considerado como positivo. Procura-se deliberadamente promover a prioridade às disciplinas técnicas, mas verificam-se dificuldades na aplicabilidade do modelo previsto no Regulamento essencialmente por ausência de condições, nomeadamente materiais de apoio ao aluno e ao professor (bem como noutros aspetos diretamente ligado com a qualidade da formação dos próprios professores). As disciplinas técnicas são muito apreciadas pelos alunos (face à sua natureza prática e experimental) mas aparecem muito penalizadas pela falta de materiais, consumíveis e consequente “exercitação”. A valorização da Formação Técnica nos curricula exige condições de aprendizagem que a generalidade das escolas não cumpre (ou não consegue cumprir...). O problema não parece ser tanto a forma de distribuição das cargas horárias (que lhes parece bem, embora a diferença horária da FSC face ao Ensino Geral tenha sido assinalada) mas sim a constatação das dificuldades de aprendizagens profissionais em disciplinas técnicas dadas em salas sem materiais, equipamentos e consumíveis e que se refletem negativamente na qualidade da formação. Foi recorrente a referência ao facto de estudarem só por resumos dos professores (apontamentos), sobretudo há falta de livros para as disciplinas da FSC (o que os preocupa, pois sabem que os da “outra escola” os têm). Os inquiridos não discutiram tanto a diferença na proporção entre FSC e FTP, mas sim a falta de condições quer nas disciplinas gerais (falta de livros, falta de fichas), quer na parte técnica (falta de materiais, falta de equipamentos) e a frequente ausência de uma biblioteca que lhes permita estudar na escola bem com a quase inexistência de computadores (e impossibilidade de acesso à internet). Além disso, para dar o acompanhamento necessário, é muitas vezes preciso dividir as turmas para as aulas práticas, o que tem sido um problema para a gestão dos espaços e tempos escolares. Em muitas escolas o papel estava praticamente desmaterializado, essencialmente porque não existia! Esta desmaterialização também foi nítida em algumas provas práticas quando por ausência de materiais os alunos se limitam a explicar oralmente como realizariam o exercício. 10. SENTIDO DA PROPOSTA DO ANO COMPLEMENTAR Em todos os interlocutores deste processo de avaliação verificou-se uma espécie de “compreensão” sobre a natureza optativa do ano complementar, embora contrastada com a apreensão que deveria ser antes um 3º ano obrigatório, proporcionando a equivalência à 10ª classe e ao Ensino Básico (com vantagens para uma eventual maioria que quer prosseguir estudos). Consideram essencial concretizar nas escolas profissionais o ensino básico, devendo o estágio realizar-se no final do curso. Essa integração, embora não resolvesse o problema das dificuldades dos alunos no exame de admissão aos Institutos Médios, seria menos conflituosa para as opções dos alunos face a uma eventual (mas rara) possibilidade de emprego no final do 2ºano (período em que se realiza o estágio). Repetidamente os alunos e encarregados de educação reportaram a importância da equivalência à 10ª classe (e conclusão do básico), pois ficar pela 9ª classe (e nível elementar) gera tanto inquietação como desconfiança face aos outros cursos técnicos das (ex) escolas industriais e aos da outra escola (existe quase sempre uma Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 46 escola básica nas proximidades das EP contactadas). O conceito de ano complementar para muitos alunos está longe de estar claro, pois a maioria o vê como parte integrante do curso profissional (embora este tenha sido previsto para ser completado em dois anos). Por isso, entendem que a parte de formação técnica e profissional e de práticas é pequena nesse ano complementar e acham que deveria ser ampliada. Ou seja, grande parte dos alunos não está ciente da função prevista para o ano complementar, que é de permitir que eles concluam a 10ª classe do ensino geral. A proposta de ano complementar como forma de dar equivalência nos estudos com a integralização da 10ª classe da formação geral tem dado ensejo a um dilema na constituição do itinerário formativo do aluno. Atualmente, a conclusão dos estudos na especialidade técnica é alcançada com a realização de um estágio profissional ao final do 2º ano, oportunidade importante para a conquista da inserção no mercado de trabalho. [embora tenha subsistido a dúvida se o aluno com o curso profissional e 9ª classe tem direito a uma retribuição acrescida]. Quando existe a escassa possibilidade de emprego (após estágio) é difícil a posição do aluno, ainda que alguns empregadores tenham referido que poderiam esperar pelo completamento dos estudos, pois ele não poderá frequentar o ano complementar, que é oferecido em horário incompatível com o da jornada laboral. Mantendo sua decisão de aceitar a oferta de emprego, ele deverá encontrar uma vaga nas escolas noturnas para realizar a 10ª classe, conciliando trabalho e escola, ou protelar a continuidade dos estudos. Se ele deixa de abraçar a oportunidade da vaga de emprego surgida por ocasião do estágio, não conta com a certeza de que poderá tê-la de volta no ano seguinte quando tiver completado o ano complementar. Aqueles que argumentaram a favor da transformação do ano complementar em 3º ano de um único plano de ensino, fundamentado na lógica da integração entre formação geral e formação profissional, consideraram que as trajetórias formativas dos alunos transcorreriam de forma mais harmoniosa, pois os alunos fariam seus estágios ao final desse terceiro ano e poderiam dar sequência ao aproveitamento de eventuais oportunidades de emprego surgidas nesse momento. Isso facilitaria, segundo os proponentes dessa mudança, a inserção socioprofissional dos alunos, pois estes poderiam apresentar-se aos estágios com mais conhecimentos e uma formação mais sólida, potenciais fatores incentivadores do interesse das empresas em contratá-los, já que estas, muitas vezes, têm exigido a 10ª classe/Ensino Básico Geral. Alguns professores consideram que pais e os alunos não compreendem o sentido do ano complementar. O ano complementar é interpretado pelos professores como uma forma de compensar a frágil formação geral dos alunos nos dois anos anteriores. Daí, o entendimento que esses dão à designação complementar, uma formação que viria suplementar a anteriormente recebida, que não teria sido suficiente. Esta função do ano complementar (fornecer a oportunidade da 10ª classe do ensino geral) tem o sentido de preparar os alunos que demonstraram melhores resultados nos dois anos de curso profissional à seleção e ingresso nos institutos técnicos. Como as famílias são pobres e anseiam que seus filhos sejam bem-sucedidos nos exames de admissão aos institutos, o ano complementar cumpriria uma importante função propedêutica. No entanto, a maioria dos professores (e alunos) considera o ano complementar como parte integrante de um único plano de ensino (com 1º, 2º e 3º ano), mas com uma perspetiva diferente. Afirmam que formalmente os dois primeiros anos e o ano complementar correspondem a dois planos de ensino diferentes, mas preferem vê-los integrados. Isso porque, para eles, em razão da precária escolarização dos alunos que recebem, é melhor fazer uma inversão na lógica da organização curricular: concentrar nos dois primeiros anos a maior ênfase nos conteúdos socioculturais para garantir uma base formativa mais sólida às disciplinas e práticas técnicas e profissionais, que seriam mais focalizadas no 3º ano (designação substituta da nomenclatura ano complementar), quando os alunos teriam também uma maior maturidade física, intelectual e afetiva. Nesta sugestão no primeiro ano seria feito um maior reforço em Português e Matemática, enquanto os conteúdos técnico-profissionais seriam desenvolvidos no 2º ano e, mais concentradamente, no 3º ano, Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 47 quando também seriam realizadas as provas de aptidão profissional e os estágios profissionais. Foi ainda assinalada a eventual perspetiva de uma formação em regime de alternância escola-empresa durante 3 anos do curso (embora com a consciência da sua quase impossibilidade no contexto socioeconómico moçambicano). Um argumento final foi ainda apresentado favorável a esta inversão lógica da organização curricular: quando um aluno passa ao ano complementar, cuja estrutura se assenta em 70% de formação geral e 30% de formação específica, ele tende a perder o investimento anterior na parte técnica, esta tende a cair no esquecimento por falta de experimentação e treino profissional. Neste enquadramento foi recorrentemente feita referência para que as EP tivessem cursos profissionais de dois níveis (básico e médio). A maior parte dos consultados (alunos, professores, encarregados de educação) ainda que resignados com a (regulamentar) exigência dos 12 valores no acesso ao ano complementar (3º ano…) consideraram que ela deveria ser automática para aqueles aprovados no 2º ano. Ou seja, preferiram que não houvesse o critério seletivo da nota na determinação de quem tem direito a prosseguir mais um ano na EP. Optaram pela perspetiva includente, pois a 10ª classe é fundamental para os projetos de continuidade dos estudos e vem responder as necessidades educativas das comunidades. Segundo depoentes, a exigência dos 12 valores está levando à perda de alunos e ao abandono escolar, pois não é confiável que saindo das EP eles deem entrada em outra escola para a realização da 10ª classe, pois terão dificuldades para passar no processo seletivo e, com isso, ficam estagnados. Isso tem sido constrangedor para o adolescente e para o país. Por outro lado, há alunos que possuem ritmos diferentes de desenvolvimento e adquirem responsabilidade ao longo do curso e isso não poderia ser tomado como fator de discriminação à sua progressão e sucesso escolar. Tais considerações reforçaram os argumentos na defesa da integração do ano complementar numa nova arquitetura curricular das EP, que passaria a contar, como regra, com três anos de formação geral e profissional, realizadas de forma conjugada. Com isso, se abririam mais possibilidades e oportunidades de estudo e de inserção socioprofissional para os alunos. Para muitos interlocutores a equivalência à 10ª classe é um fator de aumento da autoestima dos alunos, sobretudo aqueles de escolas muito degradadas. Os encarregados de educação, de uma maneira geral, explicitaram a expectativa de ver seus jovens concluindo os três anos de estudo e por isso, veem com entusiamo a possibilidade da integração do ano complementar como oferta a todos. Mesmo os interlocutores que concordam com o sentido optativo do AC referem o problema da idade de entrada dos alunos (12/13 anos), pois por um lado são novos demais para trabalhar e, por outro, congruentemente face ao seu sucesso escolar alimentam expectativas de prosseguir estudos. A concordância com que o formato atual - dois anos de curso profissional completados com um ano complementar (para os aprovados com valores iguais e superiores a 12) - é suportada nos seguintes motivos: o aluno consegue seu diploma na especialidade técnica ao cabo de dois anos e não de três, já pode trabalhar usufruindo das vantagens que tal documento lhe traz e realizar a 10ª classe quando e na forma que lhe for conveniente. Do mesmo modo os 12 valores, como critério de seleção ao ano complementar, é visto como estratégia para estimular os alunos do 1º e 2º anos a estudar. O sentido optativo (dois anos apareceu muitas vezes ligado aos alunos mais velhos - 18/19 anos -), onde foi acentuado o facto de estarem num curso profissional, ainda que conscientes das dificuldades em arranjar trabalho. Esses alunos (e os seus encarregados de educação) aceitam e valorizam o modelo face às possibilidades eventuais de trabalho e estão muito focados na acentuação do curso, na profissão, pelo que nesta situação acham que não devem desperdiçar as possibilidades de trabalho, “Moçambique é pobre, o trabalho é muito importante”. Apesar disso referem que mantém o interesse por continuar estudos à noite (por razões económicas) sempre com a esperança de arranjar emprego ou autoemprego (biscates). Em alguns contextos extremamente deprimidos os alunos irão trabalhar (inevitavelmente?) Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 48 de forma autónoma na agricultura em terrenos dos pais, mas mesmo assim todos desejam completar a 10ª classe. “Só verdadeiramente se gradua se tiver a 10ª!” 11. INTEGRAÇÃO CURRICULAR A integração curricular, especialmente pela abordagem interdisciplinar, é vista como uma necessidade determinante do sucesso escolar e profissional do modelo curricular das Escolas Profissionais. A administração do modelo é muito difícil e ainda está em construção, mas inquestionavelmente o melhor caminho passará pela articulação, que exige muito mais dos professores (num sentido da escola inclusiva). Os professores que mostram-se conscientes da importância da integração curricular como forma de fortalecimento simultâneo dos conteúdos da formação geral e da formação técnica e como medida de utilização racional do tempo escolar, pois muitos conteúdos se superpõem e, às vezes, há repetições desnecessárias no desenvolvimento das disciplinas e atividades. O ensino modular, na visão de alguns professores, contribui e facilita a integração curricular, permitindo o desenvolvimento de experiências de construção de matrizes por temas transversais envolvendo as diversas disciplinas do currículo. Os professores procuram desenvolver a integração (que muitas vezes designam por articulação) entre disciplinas sobretudo ao nível da Formação Técnica, embora subsista permanentemente a dúvida acerca da diferença entre o que é teórico e prático. Procuram fazer isso regularmente através de reuniões de planeamento (às vezes só dentro da área) e fomentam articulação com ajudas indiretas, nas quais são propostos temas (integrados) ao aluno para o trabalho em casa. Alguns professores consideram que realizam a integração curricular de forma espontânea e por iniciativa pessoal e isolada, mas argumentam que a realização da integração curricular exige esforço, trabalho adicional ao costumeiro e muita dedicação, havendo por isso resistências à sua implementação (“Na prática não existe! Ela é feita pelos próprios alunos…”).A avaliação diagnóstica procura acautelar isso, mas a integração é feita sobretudo pelos alunos (“na sua própria cabeça”) acentuada pela persistência da dificuldade de escrita dos alunos. Para tal seria urgente e necessário maior investimento das EP no fornecimento dos meios de ensino-aprendizagem necessários e incentivos à produção de materiais didáticos apropriados a cada contexto e projeto curricular. Para isso, precisam contar com a superação das atuais debilidades dessas escolas com relação à não existência de Internet, de acervos bibliográficos e do apetrechamento adequado das oficinas e para as atividades práticas. As disciplinas socioculturais são desenvolvidas, em muitos casos, sem a flexibilidade necessária ao diálogo com os conteúdos das disciplinas das especialidades técnicas. A integração curricular, embora seja um princípio fundamental do modelo das EP, não tem sido, ao que foi possível perceber, uma prática regular em muitas das EP. De modo geral, sentem-se muitas dificuldades para fazer a integração curricular e verificou-se que algumas iniciativas nesse sentido não foram bem-sucedidas. Do ponto de vista dos professores a integração estará mais facilitada em disciplinas como Matemática, Português, Inglês, Tecnologias, Eletricidade, sendo particularmente difícil ao nível dos conteúdos físico-químicos e de História. Foi repetidamente assinalada a dificuldade para colocar em paralelo e sincronizar o desenvolvimento dos conteúdos que precisam ser abordados de forma integrada e que as lacunas na formação prévia dos alunos ocorrida no ensino primário, já que a abordagem integrada exige que eles entendam a relação entre diversas informações sintetizadas em cada questão focalizada. Parece ser no terreno das aulas práticas e dos projetos que a integração ocorre com mais facilidade. Para que o modelo das EP se concretize no que diz respeito ao seu princípio de integração curricular, os professores consideram que precisariam de mais capacitação pedagógica e de tempo disponível para encontros, planeamentos conjuntos, intercomunicações. Para tal é preciso que cada professor se abra mais ao Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 49 diálogo com os colegas; tenha espírito de ajuda mútua, empenho e interesse pelos conteúdos de outras disciplinas; busque autoformação e contribua para a organização dos tempos escolares. 12. FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DO ALUNO Este conceito do modelo curricular situa-se, de alguma forma, numa área cinzenta do projeto EP, gerando apreciações muito diferentes entre os diversos interlocutores questionados, parecendo, em geral pouco exploradas as atividades educativas não letivas, fundamentais para o desenvolvimento integral dos alunos. Por um lado estas atividades parecem ser habituais em algumas escolas (sobretudo nas que tem internatos) com uma série de atividade dinamizadas (voluntariamente?) pelos professores: clubes culturais, clube ambiente, ativistas do Geração Biz (programa governamental de promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, incluindo a prevenção do HIV), atividades desportivas. Houve alunos que manifestaram o desejo de aprender a tocar instrumentos musicais e fazer teatro, assinalando a necessidade de diversão, de recreação e da prática de desportos. Reivindicaram maior atenção e condições materiais e de instalações para a realização das práticas desportivas e de educação física. Gostariam que fossem mais usuais os jogos escolares e os campeonatos desportivos envolvendoos não somente, mas também os professores e pessoas da comunidade. Os alunos reivindicam a necessidade de contactos com outras EP e referiram ter muito interesse em conhecer e em se relacionarem com colegas de outras escolas e de participar de intercâmbios, para partilharem experiências e adquirirem um certo sentido de comunidade educativa. Muitos apontaram a falta de meios de transporte como uma dificuldade muito sentida para o eventual desenvolvimento das atividades não-letivas, pois as distâncias a serem percorridas são muito grandes entre as escolas e suas casas. Em algumas escolas era mesmo impraticável aos alunos dedicarem mais tempo às escolas pois num dia escolar que vai das 6.45h às 16h - muitos alunos tem ainda que fazer longos percursos de regresso à casa a pé. A estas atividades não-letivas aparecem acrescentados momentos de presença obrigatória dos alunos na escola (labor) e que servem também para eles participarem em tarefas de manutenção/limpeza da escola. No âmbito das escolas que aplicam o modelo Salesiano está claramente presente um plano de formação integral dos alunos (Centro Juvenil, Festa Imaculada, Festa de D. Bosco). Os salesianos apresentaram também uma inovação curricular e em complementaridade com o modelo das escolas profissionais: a atividade chamada Ponto Focal em Género voltada à formação integral do educando. Na avaliação de diversos professores consultados, há necessidade de melhorar muito o trabalho pedagógico das EP com relação ao desenvolvimento do saber-ser, saber-estar, saber-conviver e saberescutar. Isso incluiria: o desenvolvimento emocional, da autoestima, da autoconfiança, da iniciativa, da proatividade, do saber viver em sociedade, da motivação e interesse dos alunos pelos cursos, do trabalho em equipa e da cooperação. Consideraram, inclusive alunos e encarregados de educação, que devem ser mais constantes e intensas as programações que contribuem para orientar os alunos para a vida, tais como sobre as implicações do uso de drogas; como cuidar da saúde e se prevenir contra a SIDA e outras doenças sexualmente transmissíveis; valores e atitudes de moralidade, civilidade, civismo, cidadania; como cultivar a paz e a harmonia; princípios éticos nas relações interpessoais e sociais. Também foi mencionada a importância do estímulo dos alunos ao trabalho social, às atividades de divulgação de conhecimentos em benefício das comunidades do entorno da escola. As demandas dirigidas às necessidades de desenvolvimento integral dos alunos foram também marcadas pelas reivindicações de melhoria das EP nos seus aspetos estruturais e administrativos. Grande parte do que foi dito sobre o cumprimento das finalidades da EP de propiciar formação para o desenvolvimento Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 50 integral relacionou-se diretamente com o efetivo atendimento das necessidades básicas dos alunos. A questão da alimentação foi considerada fundamental tendo em vista a melhoria do rendimento escolar. Concretamente houve reivindicação por melhor alimentação para os alunos internos e lanches para os externos. Citaram a necessidade de melhorar as instalações das escolas, onde é recorrente a falta e/ou deficiências de banheiros, alojamentos e refeitórios, incluindo o respetivo mobiliário. Numa perspetiva que atravessa também as designadas atividades letivas (mas que certamente influencia o desenvolvimento integral dos alunos) referiram frequentemente que as disciplinas de formação geral não dispõem de laboratórios, que há falta de livros para os alunos e de manuais técnicos, de equipamentos de informática e de Internet, de retroprojetores. Muitos gostariam que as escolas possuíssem equipamentos para poderem ouvir música e acesso a vídeos e filmes. Há EP onde por falta de antenas os alunos não conseguem ter acesso a rádios, a não ser à noite, para lhes permitir ouvir músicas e notícias, pelo que se sentem muito isolados com que acontece fora das escolas. Muitos alunos encontram o alicerce mais sólido, nesse processo de socialização, nos seus próprios colegas, através de formas de apoio, explicações, ensinando os que estão com dificuldades para aprender. Este sentido de solidariedade, de ajuda entre colegas, de tutoria e mentoria, parece ser uma importante evidência discreta deste processo de desenvolvimento integral do aluno. 13. REGIME DA AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS: CONCEÇÃO E FORMAS DE DESENVOLVIMENTO Os processos de avaliação realizados no contexto dos módulos das disciplinas das EP constituem (para os intervenientes) o “melhor” modelo de avaliação da formação, proporcionando um feedback seguro ao professor e ao aluno. Os professores foram unânimes no destaque que fizeram do regime de avaliação modular como uma inovação importante e segura introduzida pelo modelo das EP. Acham que seria bom divulgar esse regime para que a sociedade e as famílias moçambicanas possam compreender como acontecem as avaliações dos seus jovens nas EP, sugerindo também que esta inovação deveria ser “absorvida” pelas escolas de ensino geral. Esses métodos envolvem os professores em formas diferenciadas e inovadoras de avaliação que parecem dominar, sobretudo as que implicam a utilização da oralidade (por ex. observação/descrição de trabalhos e entrevista). Os professores estão praticando sistematicamente a avaliação por módulos, com resultados muito positivos, pois têm permitido conhecer melhor o aluno das EP; descobrir, a partir da avaliação diagnóstica, alunos que precisam de atenção diferenciada; acompanhar os progressos dos alunos e estabelecer uma relação mais próxima com cada um deles. Com isso, percebem uma mudança muito positiva na sua própria maneira de ser professor, garantindo um bom aproveitamento pedagógico, evitando quer a desistência ou o chamado desperdício. Para os professores esse regime de avaliação flexível, pausado, centrado no aluno, considerando ritmos diferentes de aprendizagem, dividindo os conteúdos, facilitando a sua compreensão e memorização e permitindo três possibilidades de avaliação por módulo, motiva mais os alunos a aprender. Ao mesmo tempo que facilita a fixação das matérias, permite ao aluno ter noção do seu próprio desenvolvimento, favorece um melhor aproveitamento e o sucesso escolar, possibilita que os professores identifiquem os processos de aprendizagem e dificuldades próprias de cada um dos seus alunos. De uma forma clara e intencional fortalece a relação pedagógica entre professor e aluno e ajuda na redução do índice de reprovação. Podem acontecer dificuldades quando o tempo concedido para uma segunda ou terceira chance de avaliação é mais curto, pois, neste caso, os alunos apresentam mais dificuldade para conseguir a aprovação. Também para alguns professores as facilidades do sistema modular (ao nível da avaliação e das diversas formas de recorrência) podem provocar preguiça nos alunos. Esta situação requer atenção - acumulação pelo aluno de módulos pendentes - pois é necessário conscientizar bem os alunos, deixando claro que eles que precisam se esforçar, pois é difícil fazer Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 51 recuperações de módulos quando sofrem muitas retenções. Verificam-se também dificuldades dos docentes para dar assistência aos alunos com módulos atrasados, pois não há pagamentos de horas extras para isso. Ainda assim a avaliação modular, nas suas diversas formas (nomeadamente oral ou apresentação de artigo), ajuda a “acatar” a matéria, descobrindo e colmatando as fragilidades do aluno. Os professores reconhecem que o regime de avaliação modular lhes oferece dificuldades e exige paciência para gerir as situações diferenciadas em que se encontram seus alunos (nomeadamente nas turmas que são numerosas e excedem os 35 alunos estabelecidos pelo Regulamento das EP). Quanto aos instrumentos de avaliação, alguns professores tenderam a valorizar mais as demonstrações práticas daqueles alunos com dificuldades para se exprimir com a escrita ou oralmente, sob a justificativa de que o que é mais importante é o saber-fazer. Como nas EP há uma grande rotatividade docente, há continuamente necessidade de realizar capacitações sobre o sistema de avaliação e progressão modulares, pois, segundo os professores, sua aplicação não é simples e não é fácil adaptar-se a ele. Foi nítida uma interlocução difusa entre os modelos das EP e o proposto pelo PIREP com relação ao conceito de módulo. Porém, as comparações não chegaram a ser aprofundadas, percebendo-se uma tendência a valorizar sobretudo a abordagem sobre módulo utilizada pelo modelo das EP. Foram repetidamente assinalados problemas nos módulos da FSC (como não há verdadeiramente módulos, serão os próprios professores a conceber/organizar os módulos).Para o melhor desenvolvimento dos diversos regimes de avaliação foi acentuada a “exigência” de manuais de apoio, quer quanto aos módulos, quer quantos aos recorrentes documentos normativos (que deverão ser feitos pelas próprias escolas), devendo ser fomentado o intercâmbio entre os próprios colegas como forma de partilhar informações sobre o que já foi produzido. Foi destacada a importância e o interesse pelo intercâmbio entre EPs, quer por professores quer por alunos. Houve, muitas referências a esta necessidade, no caso dos professores, pela importância da partilha de materiais e experiências; no caso dos alunos, pela necessidade de encontrar pares, colegas do mesmo modelo educativo. 14. CARACTERÍSTICAS DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NAS EP Foi considerada muito importante a existência da orientação profissional para fomentar as escolhas pelos alunos do ensino profissional, tendo em vista uma opção mais consciente e com um investimento pessoal (e familiar) mais acentuado nos percursos de preparação para o exercício profissional. Manifestou-se, junto dos alunos, professores e encarregados de educação, a perceção da necessidade da OP antes do curso (orientação, distribuição dos alunos pelas oportunidades de formação disponíveis), durante o curso (investimento no curso, preparação para o exercício de trabalhador e/ou prosseguimento de estudos) e no final do curso (orientação para os outros níveis/áreas de ensino e apoio na inserção profissional). É claramente reconhecida a necessidade de um trabalho mais sistemático de orientação profissional durante o próprio curso, por exemplo, no momento da escolha do local de estágio. Os alunos acham que recebem pouco conselho e orientação sobre o que fazer depois de formados. No entanto as EP, como a maioria das escolas moçambicanas, têm recebido alunos adolescentes que não passaram por programas de orientação (escolar e profissional), recebendo apenas diretrizes e influências dos encarregados de educação, de familiares, amigos ou de modelos profissionais que lhe estão próximos. Segundo professores, as EP estão recebendo alunos muito jovens, com 12/13 anos de idade, com pouquíssima clareza sobre seus interesses vocacionais e as escolas apenas podem usar como critério de seriação a disponibilidade de vagas para aceitar os candidatos. Foi considerada a necessidade de promover interesses manifestos, verdadeiras vocações, evitando a chamada opção por alternativa (sinal que não houve escolha). Por isso os alunos manifestaram grande interesse por oportunidades de ações de orientação para a continuidade dos estudos ou para o Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 52 investimento na vida profissional. Verifica-se, no entanto, uma diferença muito nítida (face aos rapazes) na possibilidade de prosseguimento de estudos pelas alunas, já que muitas vezes “o pai proíbe” ou então “o marido não deixa”, situação particularmente acentuada nas EP em meios rurais. Alguns alunos gostariam de desenvolver mais suas habilidades e de ter oportunidades de aprender técnicas relativas a outras especialidades que têm sido oferecidas pelas escolas que frequentam. Gostariam, também, de contar com mais apoio das escolas na abertura dos seus caminhos para que se realizem como profissionais. [Uma das EP consultadas estimula os alunos a conceberem um projeto profissional a ser desenvolvido depois da graduação. Na interação com alunos dessa escola, eles citaram alguns dos projetos profissionais que pretendem desenvolver quando se formarem: criação de abelhas, criação de peixes, propagação de cajueiros na comunidade onde moram, construção de viveiros de árvores frutíferas]. Os alunos referiram sucessivamente a importância da informação/conselho dos pais, dos professores e de outros colegas, admitindo que sentem necessidade de apoio, mas não formulam a questão em termos de Orientação Profissional. Boa parte dos alunos confirmou que não foi deles a decisão de entrar numa EP ou nos cursos que estão realizando, mas de seus encarregados de educação e, de acordo com professores, muitos alunos mesmo sem ter interesse são obrigados pelos pais a fazer um determinado curso. Outros são encaminhados à EP porque a escola primária que frequentavam avaliou que eles não se “sairiam bem” continuando na formação geral. Manifesta-se assim a importância na OP nos diversos níveis de ensino para evitar que a escolha das EP, como opção escolar e profissional, seja sempre uma espécie de escolha de segundo nível. Foram destacados resultados das chamadas “semanas do ensino técnico” (visitas à escola/oficinas de alunos da 7ª classe- Escola Primária), que parece dar bons resultados na divulgação junto da comunidade próxima. Nestas atividades são apresentadas, por alunos (veteranos e/ou caloiros) as especialidades oferecidas, fazendo a sua valorização e salientados as oportunidades do empreendedorismo. No entanto, segundo alguns professores, por falta de infraestrutura material das EP, de condições de transporte, de falta de clareza sobre o que é escola profissional, alguns alunos, quando entram, manifestarão logo vontade de desistir dos cursos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 53 CATEGORIA 4. PROVA DE APTIDÃO PROFISSIONAL – IMPACTO NA VIDA DOS ALUNOS E NA COMUNIDADE Questões do Roteiro PAP – conceção e implementação Apreciações Gerais A prova de aptidão profissional foi comumente aceita e valorizada como um aspeto inovador do modelo EP, sendo reconhecida por todos os intervenientes como uma eficaz forma de avaliação das aprendizagens dos alunos, permitindo-lhe mobilizar e demonstrar os seus saberes, perante um júri e a comunidade. A PAP é valorizada e compreendida pelos alunos e pelos encarregados de educação (como investimento pessoal no projeto e capacidade de falar em público) e alguns empresários que demonstram conhecer bem o modelo participando regularmente nos júris. Um aspeto destacado como boa prática relacionou-se com a realização de PAP conjuntas (integrando os trabalhos de alunos de diversos cursos num projeto mais amplo), sobretudo pela maximização de meios e recursos e pela dimensão de coletiva de projeto e trabalho integrado dos alunos. Deverá ser contudo especificado nessa prática o que este modelo terá de individual, evitando dificuldades de avaliação e prevenindo a eventual desvalorização social da prova. Na opinião de alguns interlocutores (sobretudo dirigentes e empresários) as atividades da PAP poderão ser entendidas na dimensão trabalho social, por oposição ao estágio que deverá ser percebido enquanto trabalho profissional. 15. PROVA DE APTIDÃO PROFISSIONAL – CONCEÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO A PAP foi considerada, por todos os intervenientes consultados, uma sólida e consistente modalidade de avaliação das aprendizagens profissionais dos alunos, pois permite a mobilização dos seus saberes, perante um júri e a própria comunidade. É uma fase dos cursos que mereceu avaliação muito positiva de professores, alunos, encarregados de educação, empregadores, dirigentes da escola e provinciais, indiciando que se trata de uma prova multifuncional, que atenderia a vários objetivos e finalidades. Foi bastante valorizado o fato de ser uma prova que requer a elaboração e desenvolvimento de um projeto concreto, que implica a defesa pública de um relatório, momento do qual podem participar a comunidade escolar, empregadores, setores das direções provinciais e as próprias famílias. Em geral a PAP é considerada um bom teste para o próprio aluno reconhecer suas capacidades, ver e mostrar o fruto do seu trabalho, demonstrar o seu saber-fazer e o seu valor, ganhar autoconfiança. Do ponto de vista pedagógico, os diversos painéis destacaram que as PAP promovem uma multiplicidade de ensinamentos. Ensina o aluno a fazer um projeto, pois ele deve previamente escrever sobre o que pretende fazer, levantar informações sobre o que precisa para isso, fazer cálculos, orçamentos e cronogramas. Ensina o aluno a redigir um relatório escrito e a fazer uma apresentação oral, a falar em público, a explicar para o outro, a enfrentar um júri, a superar medos. Ensina o aluno a pensar cientificamente, a expor suas dúvidas, a criar, a se virar, a perceber a necessidade de aprender mais, a querer continuar seus estudos. Ensina o aluno a transformar e a se transformar. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 54 Ao nível do modelo de organização das PAPs foi assinalada a valorização da ideia de PAP coletiva, envolvendo alunos do mesmo curso e/ou também de outras especialidades num projeto comum. Foi ressaltada a importância desta boa prática, integrando os trabalhos dos alunos num projeto mais amplo, sobretudo pela maximização de meios (que nem sempre podem ser suportados pelas famílias) e pela dimensão e reconhecimento do trabalho conjunto dos alunos. As PAP coletivas incluem uma componente de trabalho conjunto, realização de trabalho articulado e, portanto uma forte dimensão social e comunitária (aprendendo a viver e trabalhar juntos, na perspetiva da UNESCO). As PAP coletivas deveriam ser incentivadas (apesar de algumas reticências que serão enunciadas) pois nas individuais poderá haver uma tendência à simplificação das propostas. As coletivas poderiam favorecer o desenvolvimento de trabalhos mais complexos, a sustentação dos materiais consumíveis e o fortalecimento da capacidade de trabalho em equipa. O sentido coletivo das PAP poderá no entanto esconder trabalho gratuito e forçado, onde será eventualmente difícil de distinguir o que cada um faz e porque o faz. Nesta modalidade de realização de PAP conjuntas entre grupos de colegas e/ou especialidades, algumas vezes não ficou claro se era verdadeira obra coletiva ou obra encomendada (por ex. reparação de infraestruturas por grupos de alunos durante um mês, distantes de casa e com péssimas condições de instalação). Mas, por outro lado, PAPs individuais não são muito apropriadas para certos tipos de cursos como o de Pedreiro de Limpos, pois as obras requerem esforço coletivo. De modo geral, as EP não dispõem de equipamentos didáticos de suporte às apresentações dos trabalhos dos alunos, nem tão pouco de máquinas fotográficas para o registro das fases do desenvolvimento dos projetos. Vários professores argumentaram que seria importante assegurar uma memória das PAP, pelo menos de algumas mais significativas, pois seria uma forma de avaliar os progressos das EP em relação aos resultados dos alunos. Foi até proposto que poderiam ser criadas salas destinadas à exposição de produtos e à conservação dos documentos e das (eventuais) fotos. No desenvolvimento dos trabalhos de avaliação do modelo curricular, verificou-se que a PAP é desenvolvida em duas vertentes: uma primeira envolve a produção de uma obra concreta, ou seja (por exemplo) a construção de uma porta para a casa da família, de uma cama de ferro para a mãe, de um móvel para colocar a televisão, de uma estrutura de concreto para a escola etc.; enquanto numa segunda vertente a PAP concerne a ensaios realizados para testar vantagens e desvantagens de técnicas e produtos. Neste caso, a finalidade é a produção de conhecimento válido para ser socializado com as famílias e as comunidades. Citaram, como exemplos, testes sobre técnicas e produtos para a higienização de pocilgas; o tratamento de animais com suplementos minerais; o combate às doenças parasitárias em galinhas; o combate aos fungos em plantas e formas de evitá-los; os cultivos de feijão, cebola, tomate. Em relação aos projetos da área agrícola verificou-se que enfrentam dificuldades específicas de que resultam diversas perturbações, relacionadas com a maior amplitude do ciclo do tempo para apresentação de resultados (em relação aos outros cursos), possibilidade de fatores adversos ou imprevisíveis, como a seca, morte de animais ou roubo de produtos. Com relação à organização das PAP foi destacado por estes intervenientes que nos projetos é necessário, para que os resultados a serem obtidos estejam bem identificados e delineados, que todos os professores (tanto das disciplinas de formação geral ou técnica) sejam convocados a colaborar com os alunos. Neste enquadramento e em relação ao momento de realização da PAP, surgiram opiniões diferentes: a de que fosse realizada depois do estágio, pois poderia incorporar assuntos e desafios surgidos nesta experiência e, mesmo, a colaboração das empresas na sua realização; a de que ela é realizada no momento certo (final do 2º ano), pois o aluno deve ir para o estágio depois de ter demonstrado que está em condições de trabalhar; finalmente uma posição segundo a qual deveria ser realizada no 3º ano (nesse caso, considerando-se a ampliação do curso para três anos com a incorporação do ano complementar como oferta regular das EP). Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 55 Verifica-se o consenso entre os alunos de que a PAP se trata de um momento importante no seu processo de desenvolvimento, na medida em que eles são desafiados a usar seus conhecimentos de maneira interdisciplinar, a pôr em diálogo a teoria e a prática, a demonstrar responsabilidade como profissionais na especialidade em que se está capacitando. Os alunos compreendem e valorizam a PAP quer como forma de investimento pessoal num projeto profissional quer como modo de afirmação e crescimento pela necessidade/capacidade de falar em público, o que, de uma certa forma, se constitui com sinónimo de coragem e de autonomia pessoal (por norma, os pais/EE assistem à prova). A capacitação resultante da PAP evidenciava-se também na valorização pessoal pelos alunos de algumas marcas de profissionalidade, relacionadas por exemplo com a capacidade de poderem calcular um orçamento (“podem dar preços”) e a perceção de que a comunidade tem da visibilidade dessas suas competências profissionais. Os alunos consideram que a PAP é uma base para mostrarem o que valem, onde se sentem apoiados pelos mestres e onde também valorizam a componente coletiva. Na especialidade da construção civil foram recorrentes as referências à organização coletiva das PAP (“estamos a refazer o dormitório”). A escolha do tema das provas foi fonte de algumas ambiguidades, onde confluíam (e por vezes conflituavam) os objetivos e possibilidades das escolas, os interesses e conhecimentos técnicos dos alunos e que levava, muitas vezes, à necessidade de comparticipação dos pais na compra dos materiais (ainda que nem sempre os produtos da prova revertessem para os alunos). Destacaram-se também os benefícios advindos com os resultados dessas provas. O aluno pode oferecer um bem por ele produzido à sua família e sentir-se orgulhoso de poder ajudá-la. Muitos dos resultados das PAP estão de facto na escola: paredes reparadas e pintadas, cadeiras e mesas das salas de reunião e de aulas, instalações elétricas remodeladas realizadas pelos alunos [tivemos até o privilégio de nos sentarmos em diversas provas - cadeiras, entenda-se]. Os encarregados de educação se mostraram comovidos com o que os alunos fizeram para eles ou com o que eles estão se propondo a fazer. Contudo, a questão que surge como mais delicada com relação a este modelo de avaliação e que foi de destaque geral relaciona-se com as formas de financiamento dos materiais das PAP. Esta questão articula-se intimamente com a significativa enfatização dada à enorme dificuldade de encontrar forma para conseguir o financiamento dos projetos dos alunos, uma vez que os custos envolvidos na aquisição de materiais podem ser significativos face ao próprio orçamento da escola e às disponibilidades/possibilidades dos meios (muitas vezes rurais) onde a escola está inserida. Será por isso que quase todas as EP recorrem à colaboração material das famílias e, nesse caso, tendem a consultá-las sobre a obra que gostariam que seus filhos fizessem. Os encarregados de educação têm contribuído financeira e materialmente para a realização das PAPs e deveriam ter mais esclarecimentos a esse respeito, ainda que segundo os dirigentes das escolas não exista um referencial comum a elas sobre itens que poderiam ser alvo de financiamento pela família do aluno. Os encarregados de educação afirmaram que nem sempre as famílias são avisadas com antecedência da exigência de comparticipação nos custos da PAP. Neste contexto, por exemplo, uma EP realiza uma assembleia de encarregados de educação no meio do ano, que permite que eles se orientem quanto à necessidade de garantir os materiais consumíveis para a realização dos projetos. Nem todos os encarregados de educação têm como arcar com os custos das PAP, pelo que há escolas em que alunos não estão fazendo esses exames por falta de materiais, enquanto noutras os alunos face à falta de recursos materiais, acabam por não fazer os projetos de que gostariam, mas outros que se apresentam como alternativos. Os alunos saem muitas vezes prejudicados quando a falta de materiais os leva a paralisar a obra ou projeto que se propuseram a realizar. Se houver reprovações, os alunos e suas famílias arcam com os prejuízos materiais e os ónus para a realização de uma nova PAP. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 56 Para os diretores das Escolas Profissionais, os diretores adjuntos pedagógicos (responsáveis das escolas) e os professores, a PAP é uma estratégia relevante para trazer as famílias à participação da escola, de estimular a maior participação dos encarregados de educação na vida escolar dos educandos, e de perceberem os resultados das aprendizagens. Os professores consideram esta prova como uma importante inovação pedagógica e educacional, que caracteriza bem o modelo das EP e que deve ser divulgada amplamente. A PAP é necessária para avaliar o que os alunos sabem fazer, embora nem sempre isenta de dificuldade pois “os alunos não têm domínio científico sobre os temas tratados”, “temos relatórios só de duas linhas, escritas à mão”. Ainda que considerem que muitos alunos não estão preparados para esta avaliação, acham que a prova deve existir no modelo curricular das EP. Os responsáveis das escolas, professores consideram que as PAP têm trazidos muitos benefícios às escolas, uma vez que muitos projetos foram orientados para a edificação ou melhoria das suas instalações físicas, construção de janelas, portas, grades e mobiliários. Os empresários e outros tipos de empregadores locais apresentaram algumas dissonâncias no conhecimento e avaliação das PAP: de facto nalgumas EP demonstraram conhecer bem o modelo de avaliação, pelo que participam regularmente nos júris (essencialmente em contextos mais urbanos), enquanto noutros se constatou que nem sempre as EP conseguem trazer os empresários ou setores dirigentes das províncias para conhecerem os produtos das PAP ou participarem dessas avaliações. Este momento – realização das PAP – tem sido também aproveitado por alguns empregadores, principalmente quando querem fazer contactos e recrutamentos visando contratações para suas empresas. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 57 CATEGORIA 5. ESTÁGIO PROFISSIONAL – ASPETOS, ORGANIZAÇÃO Questões do Roteiro Estágio – conceção e implementação Apreciações Gerais O conceito de estágio como momento formativo concreto de realização de aprendizagens profissionais está corretamente definido nos diversos normativos e é entendimento geral dos interlocutores a necessidade da sua realização – sempre que possível – em ambiente empresarial. Salienta-se a importância do estágio para concretização da formação, através do exercício do papel de trabalhador. Objetivamente promove a ligação com o emprego, embora não tenham sido encontradas evidências significativas de oportunidades de emprego através de uma contratação formal dos jovens diplomados. Assinale-se a recorrente dificuldade na concretização dos estágios em empresas e ambientes profissionais, o que tem conduzido a que repetidamente estas atividades se realizem na função de produção da escola. No contexto específico da agricultura, este aspeto ganha uma relevância diferente pois a função produção na escola demonstrou ser indutora de inovações, (modificações de processos produtivos, intervenções fitossanitárias, novos produtos), que são muito atentamente acompanhadas pela comunidade próxima e que daí tem beneficiado na melhoria e fomento da produtividade das suas próprias hortas. Para os empresários os alunos devem ter o estatuto de trabalhadores (embora supervisionados), no qual a responsabilidade pela segurança (preventiva) é da empresa, ainda que no caso de acidente deva ser a escola/família a responsabilizar-se pelo restabelecimento do estagiário. Algumas dúvidas quanto à posição do estágio na estrutura curricular do curso, mas sempre no final de um ano. O modelo de acompanhamento durante o estágio pelos professores de apoio é de difícil execução. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 58 16. ESTÁGIO – CONCEÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO O modelo (e o regulamento) de estágio foi muito valorizado por todos os intervenientes consultados e considerado um componente inovador e muito positivo do modelo das EP, que deverá ser mantido. O principal aspeto que tendem a ressaltar é a aproximação do aluno ao mundo do trabalho e o que pode significar de oportunidade para conseguir a inserção socioprofissional. Particularmente, os alunos veem no estágio uma importante oportunidade para provar seu saber-fazer e demonstraram muita ansiedade em relação ao conseguir um bom local de estágio e, nele, oportunidades para se empregar. As escolas manifestaram dúvidas quanto à posição no currículo do estágio (durante o 2º ano ou inicio do 3º?), embora assinalando que deverá ser sempre no final de um percurso. Foi amiudadamente referida a complexidade da execução do estágio no final do 2º ano (meses de novembro/dezembro), pelo facto de coincidir com as férias de empresas (e das escolas...). Algumas EP exprimiram o seu receio de enviar alunos para os estágios porque não os consideravam aptos a enfrentar situações exigidas pelas empresas, já que, por falta de infraestruturas e materiais consumíveis, consideram que eles não vão desenvolver bem a parte prática. A maioria das EP tem procurado acautelar alguns dos problemas relativos à idade dos alunos para trabalhar através da obrigação de que os alunos entrem nos cursos com pelo menos 15 anos (aplicando uma regra do ensino técnico). Os locais de estágio repartem-se por empresas e oficinas e pela própria escola. Esta última possibilidade (escola-oficina de produção) tem sido muito utilizada, estando a situação de realização do estágio nas próprias dependências, oficinas e áreas de trabalho das escolas, prevista no Regulamento das EP. Esta situação contudo nem sempre é vista por professores e alunos como uma boa solução, pois os alunos não tem a possibilidade de viver situações reais em empresas, de ter acesso a conhecimentos novos e de se favorecer na disputa a potenciais vagas de emprego surgidas nas empresas que servem de campo de estágio. No caso dos Salesianos o estágio é sobretudo trabalhado pela escola (existe até o departamento Escola-Empresa) e orienta-se muito para projetos coletivos, quer na escola, quer na comunidade; os pais são só chamados para custear as deslocações e estadia dos alunos em locais longe da residência. No caso dos Salesianos existem visitas periódicas do representante escola-empresa (situação que não se verifica nas outras escolas). A regularidade de acompanhamento durante o estágio pelos professores de apoio foi reafirmada em algumas escolas, mas essa informação foi contraditória com a dos alunos, que alegavam que na maioria das vezes não havia nenhum tipo de apoio e acompanhamento (o que em alguns casos seria mesmo impraticável, face à distância dos locais de estágio em relação às escolas e às impossibilidades da própria escola em assegurar a deslocação dos professores). Vale a pena ressaltar a especificidade do estágio dos cursos na área da Agricultura (algumas das EP são eminentemente Escolas Agrícolas) onde se destaca a importância social dos estágios realizados na ajuda e interação com a comunidades, ajudando a combater pragas no amendoim, contribuindo para a arborização graças à plantação de muitas espécies arborícolas, fazendo ensaios envolvendo a lavoura mecânica e manual no cultivo do arroz, promovendo o ensaio e acompanhamento do ganho de peso de coelhos testando diferentes tipos de forragens. Destaca-se, também, o trabalho que os estagiários estão fazendo na realização de ensaios de agricultura de conservação. No caso modelar de uma EP agrária, orientada pela designada Pedagogia da Alternância, o estágio é mais um momento de troca de experiências, de entrar em relação com outras realidades locais e de realizar a socialização de conhecimentos. Para dirigentes locais os estágios realizados pelos alunos são de grande utilidade social, nomeadamente através da atuação no Campo de Demonstração de Resultados (CDR), oferecendo grandes contribuições, pois apresentam excelentes habilidades sociais e relacionais, fruto da Pedagogia da Alternância. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 59 Para os alunos o estágio configura uma forma de provar que sabem trabalhar. O estágio como que começa (continuando a...) na PAP e parece ter sempre a duração mais curta que a prevista no regulamento. Este momento é percebido como essencial na ligação com o emprego (na perceção de que trabalhar é bom), embora conscientemente não referindo grandes possibilidades de contratação formal pelas empresas (ainda que por vezes sejam convidados para o part-time/biscate) o que está claramente correlacionado com o frágil tecido empresarial das localidades onde as escolas se situam. A maioria desejaria continuar os estudos e conciliá-los com o trabalho, referindo também o interesse em melhorar as competências profissionais (através dos Institutos e Escolas Médias). Segundo os alunos, as empresas não fornecem qualquer tipo de ajuda de custo e que seus encarregados de educação não têm, muitas vezes, condições para arcar com suas despesas de alimentação e transporte. Essa situação é particularmente problemática quando os alunos conseguem vagas de estágio em lugares diferentes de onde moram, o que implica despesa com alojamentos (levando-os a situações de extremas dificuldades nem sempre colmatadas pelo alargado sentido de solidariedade e apoio familiar dos moçambicanos). Algumas empresas exigem que os estagiários usem uniformes e equipamento próprio, pelo que isso representa novamente mais um gasto para as famílias. Por causa das dificuldades que os estágios acarretam, há alunos que não estagiam, situação complexa pois esse componente curricular é obrigatório e sem ele os alunos não podem se formar. Para os alunos consultados, os estágios são realizados num contexto de pouca flexibilidade das empresas e uma exigência por vezes extremada (que vedam a entrada dos estagiários quando estes se atrasam por poucos minutos). Na avaliação dos alunos, as empresas são muito rigorosas, chegando a fazer intimidações aos estagiários, pelo que gostariam que as EP fossem mais empenhadas no acompanhamento das atividades dos estagiários. O estágio em muitos casos é verdadeiramente uma situação de trabalho (às vezes com más condições) ainda que, curiosamente, muitas vezes os alunos achem isso normal, já que assumem este período como forma de aprendizagem na tarimba, visando a maestria (o sentido de ser mestre é um termo muito valorizado pelos alunos). Os alunos e professores veem no estágio oportunidade para novas aprendizagens, não somente técnicas como também relacionais, necessárias ao saber-conviver, trabalhar em conjunto com profissionais. Essas novas aprendizagens são também resultado da vivência de ambientes mais exigentes, que cobram mais dedicação do aluno, situações que também os ensinariam a ser empreendedor. Os alunos, em relação às novas aprendizagens permitidas pelos estágios, se mostraram especialmente interessados em conhecer máquinas, equipamentos e ferramentas não encontrados na escola. No geral, os alunos, conforme se depreende dos depoimentos colhidos, fazem seus estágios despendendo uma carga horária igual ou inferior à prevista no Regulamento das EP, que é de, no mínimo, três meses (480 horas) e, no máximo, quatro meses e meio (720 horas). Além das dificuldades antes mencionadas, os alunos se veem na contingência de dar continuidade aos estudos no ano complementar (onde correm até o risco de “perder a vaga”), pelo que a realização do estágio num prazo maior entra em conflito com as demandas do novo projeto escolar. Uma solução reiteradamente indicada seria a assimilação desse ano complementar ao plano de ensino das EP, de modo que os cursos tivessem três anos de duração com a colocação do estágio ao final do terceiro ano. Os professores e dirigentes das EP consideram que o estágio completa a formação com o trabalho e o exercício do papel de trabalhador, embora repetidamente formulassem o problema da (eventual) inexistência de condições na preparação de base dos alunos (“a EP é quase ensino primário”). Salientaram ainda o valor dos estágios como forma de avaliação externa dos alunos e do trabalho formativo realizado pelas EP. Contudo, segundo os depoimentos dos professores e dirigentes, está a tornar-se um processo cada vez mais difícil encontrar empresas que ofereçam vagas para estágios (nomeadamente no domínio da agropecuária). Aos encarregados de educação e alunos é muitas (demasiadas?) vezes atribuída a responsabilidade de conseguir os estágios e que se confrontam com enormes dificuldades para chegar Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 60 às empresas e serem recebidos, pois muitas empresas (e empresários/oficinas locais) não estão dispostas a oferecer oportunidades de estágio. As EP que não fazem essa mediação alegaram que ela é muito trabalhosa e não possuem os meios administrativos e financeiros que isso requer. Seriam também essas as razões de também não fazerem o acompanhamento dos alunos no desenvolvimento das suas atividades de estagiários. Os empresários contactados manifestaram disponibilidade para fornecer vagas para estágios como forma de trabalho efetivo (embora supervisionado por tutores/monitores), reconhecendo as qualidades e qualificações do aluno. No estágio o aluno é aceito na condição de trabalhador (embora esteja previsto acompanhamento quinzenal). Como é uma espécie de período probatório considera-se que o aluno não deve ter benefícios por parte da empresa. As empresas referem que procuram acautelar os acidentes (com formação em Higiene e Segurança), sendo sua a responsabilidade pela segurança preventiva, mas em caso de acidente deverá ser a escola/família a responsabilizar-se pelo restabelecimento do estagiário. Os empresários ouvidos argumentaram que os alunos estagiários acham que têm muitas regalias, e que deveriam saber que há regulamentos na empresa, que os estágios envolvem custos para as empresas, que estas precisam disponibilizar mestres para fazer o acompanhamento deles, que é preciso ter ética na formação. Preferiram que o curso fosse de três anos de duração, pois assim poderiam receber alunos mais maduros, com maior qualidade técnica e comportamento mais adequado. Por outro lado, poderiam contratar aqueles que tivessem desempenho melhor, que são os que normalmente não ficam na empresa, pois eles voltam para a escola para fazerem o ano complementar. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 61 CATEGORIA 6. SUCESSO ESCOLAR DOS ALUNOS Questões do Roteiro Razões da escolha. Eficiência do modelo EP no combate à evasão (abandono) e insucesso. Inserção (UNIVA). Avaliação dos percursos dos ex-alunos (escola/trabalho). Apreciações Gerais Os alunos demonstraram um elevado investimento pessoal na concretização das escolhas vocacionais realizadas, ainda que por vezes identificando objetivos externos (agricultura para combater a pobreza, desenvolvimento do país, falta de técnicos) e em muito casos foi referida a influência de modelos familiares (Encarregados de Educação eletricistas, serralheiros, mecânicos). A taxa de aproveitamento escolar do ano letivo de 2010 dos alunos das EP revela um melhor resultado comparativamente às escolas básicas e aos institutos médios. Em relação ao desenvolvimento curricular das EP verificou-se um grande consenso sobre a importância da organização modular dos cursos e da diversidade de formas de avaliação, uma das marcas fundamentais do modelo, para a diminuição das reprovações e das taxas de desistência/abandono. Ainda que maioritariamente orientados para o prosseguimento de estudos, os alunos mostram-se motivados pela segurança do certificado profissional, pela maior facilidade de emprego, possibilidade de autoemprego e ganhos de autonomia. Salienta-se pois uma elevada a presença, no discurso dos alunos, do interesse/necessidade em serem empresários, fomentando o autoemprego: consequência tanto da formação em empreendedorismo, como da consciência de falta de emprego (por falta de empresas – questão já muito nítida nos estágios), ainda que esta situação se coloque de forma muito diferente na formação agrícola. As estratégias de inserção socioprofissional dos alunos graduados consideradas apresentam resultados ainda muito débeis. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 62 17. RAZÕES DA ESCOLHA As razões da escolha dos alunos dos percursos qualificantes das Escolas Profissionais de nível básico assentam basicamente em duas narrativas diferentes: uma mais de natureza política e outra mais relacionada com a utilidade social da profissão. Efetivamente sobressaíram, nas escolhas dos alunos, motivações sociais e políticas, de certo modo externas ao indivíduo, como por exemplo a escolha da Agricultura como forma de combater a pobreza e necessidade de subsistência alimentar, a Eletricidade como base do desenvolvimento do país, a importância do formação em hotelaria como fator essencial para a expansão do turismo em Moçambique, enquanto por outro lado emergiram outras motivações relacionadas com a utilidade social da profissão com argumentos do tipo “não existe uma casa que não tenha um produto de carpintaria”, “quero ajudar as famílias que vivem da agricultura compartilhando meus conhecimentos” e “o país precisa muito de serralheiros”. A escolha vocacional pelos cursos profissionais suporta-se sobretudo em desejos e gostos pessoais (“Agropecuária porque gosto de animais e plantas”, “escolhi Eletricidade, pois a luz é vida e inspiração para mim”) experiências anteriores (“antes do curso, eu já fazia algumas coisas de Eletricidade”) ou até curiosidade científica e prática (“escolhi Eletricidade, pois sempre quis saber como é possível fazer a luz aparecer”, “escolhi o curso de Pedreiro porque sempre quis saber como se constrói uma casa”). Complementarmente também se salientaram, de uma forma indireta, aspetos relacionados com a valorização do sentido tecnológico dos cursos para a concretização do desejo de ser independente (e empresário...) e a promessa de uma maior probabilidade de poderem trabalhar, por contra de outrem, como técnicos especializados. Apesar disso a maioria dos alunos manifestaram vontade de continuar estudos desde que tivessem condições económicas para isso (ou no imediato ou em complemento com um eventual trabalho). Para muitos alunos as características do modelo educativo das Escolas Profissionais foram um fator de atração, nomeadamente o sentido prático das aprendizagens, a eventual curta duração dos percursos formativos (“é um curso curto, em dois anos eu já posso me formar e começar a trabalhar”), aos quais também se associaram outros fatores como por exemplo a proximidade face à residência dos pais, ser uma “boa escola” e “encontrar vaga”. Apesar disto para alguns alunos esta foi uma escolha contrariada e forçada, quer em termos de escola, quer em termos do próprio curso (alternativa). Os alunos das Escolas Profissionais apresentam uma perceção (por vezes sofrida) da diferença face às outras escolas gerais e técnicas, mas reforçam a justificação desta dissemelhança pela importância da possibilidade de acesso a um emprego/trabalho. No dizer dos próprios alunos é muito destacada a necessidade/possibilidade de serem empresários e o apelo pelo autoemprego (“Sempre quis ser senhor das minhas obras”). Admitem que pode ser difícil encontrar o emprego (“ainda somos novos”), mas querem aplicar os conhecimentos adquiridos. Na escolha dos cursos profissionais é relevante o papel dos pais e encarregados de educação, dos irmãos e familiares, bem como de vizinhos. Alguns pais relacionaram as EP com certas características dos alunos como, por exemplo, ser indicada para os mais velhos e que têm dificuldade para aprender, para promover a disciplina e ter uma ocupação alargada dos tempos dos alunos e também por ser “uma escola que beneficia os carentes”. Outra linha de raciocínio muito usada pelos encarregados de educação para justificar a escolha desse tipo de escola liga-se com o facto de promover a autonomia e independência dos pais, capacidade de “poder trabalhar”, “quando terminar o curso, vai ter um emprego” e, sobretudo, garantir que os filhos/educandos não enveredam por caminhos de marginalidade e delinquência. A maioria dos alunos afirma que foram eles próprios que realizaram as escolhas, embora apoiados pelos pais e encarregados de educação. Pelo contrário os encarregados de educação (pais, irmãos, tios, avós ou pessoas que assumiram a responsabilidade por eles) consideram que as escolhas dos alunos foram concretizadas por sua determinação. Verifica-se frequentemente a existência de modelos Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 63 históricos familiares relacionados com essa opção (pais eletricistas, avô carpinteiro, tio serralheiro, “meu irmão formou-se aqui e tem uma oficina de serralharia” “o meu primo “exibia” o curso”) enquanto noutras vezes os modelos de identificação profissional são vizinhos ou empresários/oficinas onde já trabalharam. Em termos de informação, é feita uma significativa referência às ações de divulgação (palestras) feitas nas escolas básicas (7ª classe) e visitas às escolas profissionais no âmbito da designada Semana do Ensino Técnico. As consultas aos encarregados de educação confirmaram que, em grande parte das situações, eles têm grande peso no processo de escolha da escola ou do curso a ser realizado pelo adolescente, ainda que possam ouvi-los sobre a questão (“quem cria a iniciativa para o filho são os pais ou encarregados”, “Todos nós decidimos para os filhos, mas perguntamos o que querem ser”). Grande parte deles defendeu a escolha desse tipo de escola pela utilidade das aprendizagens aí realizadas e aproximação ao mercado de trabalho (“a pessoa precisa ter uma profissão”). A partir dessas referências, os pais/encarregados de educação reafirmaram a ligação entre a teoria e a prática nas escolas profissionais, que tendem a considerar mais relevantes do que o ensino geral. Na escola profissional o aluno consegue demonstrar naquilo que trabalha, consegue mostrar parcela da qual é responsável, “precisamos de gente fazedora, que sabe fazer as coisas”. Os alunos afirmam-se sobretudo focados no valor trabalho, no saber-fazer e nas possibilidades de terem autonomia pelo trabalho. Quase todos salientaram que a definição pela escola ou pelo curso foi a necessidade de trabalhar: “preciso de ter uma profissão”, “preciso de ganhar o meu sustento e o de minha família”. Também querer ou poder trabalhar como autónomo foi uma razão muito enfatizada pelos alunos, seja através da possibilidade de ter um pequeno negócio (oficina), seja pelo assumir de protagonismo ativo na inserção profissional (“não ficar esperando providências do governo”). Os alunos assumem explicitamente uma elevada motivação pelo valor e segurança do certificado profissional, pela maior facilidade de emprego, autoemprego, empreendorismo, mas também pela necessidade e interesse de fazer um curso prático, mais ligado a questões experimentais (houve alunos que já estavam na 8ª, 9ª e 10ª classe e que optaram pela inscrição na EP). Parece ser nítida uma diferença entre as razões da escolha das escolas mais urbanas e no litoral do país face às outras rurais em cidades do interior. Nestas últimas a amplitude da escolha foi menor e houve poucos alunos que tivessem voltado atrás (por estarem a frequentar anos mais adiantados face à 8ª classe). Nos meios rurais a maioria dos pais são camponeses e os processos de identificação e modelagem social são muito estritos e estreitos. 18. EFICIÊNCIA DO MODELO EP NO COMBATE À EVASÃO (ABANDONO) E INSUCESSO O documento “Dados sistematizados para análise de ingressos e aproveitamento escolar no ETP”, datado de 2011 e organizado pela Direção Nacional do Ensino Técnico Profissional do Ministério da Educação de Moçambique para o XXIII Encontro Nacional dos Diretores das Escolas e Institutos Técnicos – ENDET traz dados estatísticos importantes para a avaliação das EP com relação ao sucesso escolar. Em relação à taxa de aproveitamento escolar do ano letivo de 2010, as informações disponibilizadas são de que as EP obtiveram um melhor resultado comparativamente às escolas básicas e aos institutos médios, que também integram o subsistema do ensino técnico profissional do país. As EP obtiveram 76,5% de aprovação dos alunos; os institutos, 62% e as básicas, 58%. (MINED, 2001, p. 41). Em relação à taxa de graduados no ano de 2009, o desempenho comparativo das EP foi significativamente maior do que nas duas outras modalidades de ETP, alcançando um total de 85,0%. Em segundo lugar ficaram as escolas básicas com 65,5% e, em terceiro, os institutos com uma taxa de 56,4%. (MINED, 2011, p. 68). No ano de 2010, houve uma queda na taxa de graduados das EP, passando a 73,7%, mas esse resultado foi também superior aos obtidos pelas escolas básicas (67,4%) e institutos médios (63,1%) (MINED, 2011, p. 77). Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 64 Dos relatórios apresentados pelas EP visitadas foi possível retirar números que permitiram o cálculo das taxas de abandonos/desistências de alunos de cada uma delas: Quadro 5- Matrículas e taxas abandonos/desistências por EP Abandonos e Escola Matriculados desistências EP Moamba sd sd EP S. Francisco Assis (2010) 800 87 EP D. Bosco (2011) 399 18 EP Inhamissa (2010) 115 10 EP Songo (2011) 258 4 EP Inharrime sd sd EP Ilha de Moçambique (2011) 224 5 EP Massinga (1º sem. 2011) 387 22 EP Montepuez (2011) 184 4 EP Mangunde (2010) 72 2 EP Mariri (2011) 99 9 EP Chimoio (2010) 323 24 EP Ocua (2011) 237 23 EP Caia (2010) 157 11 sd- sem dados % de perda por abandonos e desistências sd 10,9 4,5 8,7 1.5 sd 2,2 5,7 2,2 2,8 9,0 7,4 9,7 7,0 Os responsáveis das diversas Direções Provinciais argumentaram que as EP têm tido bons resultados de aproveitamento escolar e proporção de graduados pois desenvolvem de uma “fórmula muito prática”, uma vez que os alunos logo desde o início dos cursos são introduzidos no modelo de aprendizagens aplicadas. Esta será a condição fundamental para a motivação dos alunos das EP e para o seu sucesso. Esse também será o ingrediente que torna o modelo atrativo, fazendo crescer a demanda por matrículas nas EP e a permanência dos alunos. Os professores acham que nas EP têm entrado muitos adolescentes que, em geral, pouco aprenderam no ensino primário devido à política governamental de retenção dos estudantes até à 7ª classe e as dificuldades de comunicação na língua portuguesa em razão da diversidade linguística. Isso explicaria, de certa forma, as dificuldades de aprendizagem em disciplinas da formação sociocultural dos alunos nas EP onde as notas são em geral mais baixas que nas disciplinas técnico-profissionais. Aliás o índice de reprovação dos alunos num determinado curso estaria diretamente relacionado com a maior proporção de conteúdos teóricos. As estratégias compensatórias e de nivelamento propostas, contudo, são muito dificultadas pelas deficiências infraestruturais das EP. Em relação ao desenvolvimento curricular das EP verificou-se um grande consenso sobre a importância da organização modular dos cursos e da diversidade de formas de avaliação, uma das marcas fundamentais do modelo, para a diminuição das reprovações e das taxas de desistência/abandono. Trata-se de modelo educativo mais simples na sua aplicação aos alunos, com um ensino mais personalizado, centrado no objetivo que todos os alunos consigam terminar o curso. Deste modo existirá um maior controlo da escola sobre o percurso dos alunos e, também, uma maior proximidade e acompanhamento pelos Encarregados de Educação. Outras razões da eficiência do modelo estarão muito ligadas ao facto de haver um acompanhamento personalizado (ainda que com abandonos e desperdício) e organização do curso em turmas menores (30 alunos) face à realidade das outras escolas básicas e técnicas. Foi também salientada a importância das atividades não letivas como Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 65 estratégias para evitar as desistências dos alunos. Relativamente aos problemas que têm levado ao abandono escolar verifica-se, nas raparigas, uma ocorrência significativa de casamentos precoces e os eventos de gravidez. Outros abandonos estão também relacionados com a absoluta necessidade de trabalhar de alguns que os impede de continuar frequentando as aulas (já que as EP funcionam durante o dia). Nas EP da Rede Salesiana de Formação Profissional, foi criado um Departamento de Género, que se encarrega de ir até à casa do aluno quando este falta regularmente às aulas. Há uma última questão suplementar, que entretanto, vem impactando negativamente as possibilidades de sucesso escolar: alunos em algumas EP não têm conseguido fazer PAP e estágios, duas condições indispensáveis para a obtenção do diploma. Isso tem acontecido sobretudo por causa das deficiências infraestruturais e administrativas das escolas e das dificuldades financeiras das famílias. 19. INSERÇÃO (UNIVA) Em relação à UNIVA não se verificou a existência efetiva desta unidade de inserção na vida ativa e a maioria das escolas desconhecem até se a terão de concretizar (apesar de estar estabelecida a sua criação no artigo 3º do regulamento das EP). Foram apresentados alguns casos de sucesso que têm alimentado as esperanças das EP na promoção da inserção socioprofissional de seus alunos, contudo sempre com caráter episódico e por conhecimento pessoal indireto, sobretudo dos professores das áreas técnicas. Neste enquadramento os encarregados de educação mostraram-se preocupados com a dificuldade dos ex-alunos de encontrarem uma ocupação depois de formados. Disse um deles: “Percebemos mudança no país, mas precisamos de mais trabalho. O governo precisa ajudar os formados, pois eles não têm como arrancar seus projetos profissionais. Eles se formam e ficam parados. Há muitos jovens nessas condições”. Conforme foi possível apreender, as EP ainda estão no geral pouco aparelhadas para servirem às comunidades como centros de irradiação do desenvolvimento local. Segundo um dos interlocutores, “há carência de pessoal com capacidade para ajudar o aluno a viabilizar seu projeto profissional”, e diversas Ideias foram apresentadas nesse sentido, tais como desenvolver uma estratégia de comunicação dirigida ao meio empresarial e à sociedade em geral, criar uma sala para expor e divulgar os produtos dos alunos etc. Salienta-se muito a pressão/necessidade/possibilidade no discurso dos alunos para serem empresários, fomentando o autoemprego: consequência tanto do “empreendedorismo” ou da consciência de falta de emprego (por falta de empresas – questão já muito nítida nos estágios). Duas estratégias de inserção socioprofissional dos alunos graduados foram consideradas e em ambas os resultados apresentados pelas EP ainda são débeis: a primeira visa libertar os alunos da premência de encontrar um emprego, fomentando antes o seu envolvimento em profissionais autónomos (seja autoemprego ou empresas individuais), enquanto a segunda visa a regular inserção profissional como assalariados por conta de outrem. A primeira estratégia pretende liberar os alunos da dependência de empregos e propiciar-lhes a formação profissional voltada ao sucesso como empreendedores. As próprias EP e serviços distritais se colocam como potenciais clientes. Tais iniciativas podem significar abrir uma pequena oficina de serralharia, promover a criação de pequenos animais como coelhos e aves ou o cultivo de uma horta, fazer instalações elétricas e consertos domésticos, montar um pequeno restaurante, etc.. Todos os interlocutores - DEP, DAP, professores, encarregados de educação, autoridades locais e também os alunos - disseram acreditar que esse é o principal caminho que dispõem e que poderá levar à superação da pobreza no país. Nesse sentido os professores insistiram na necessidade de fornecer conteúdos curriculares que possibilitem o acesso e desenvolvimento de saberes ligados à gestão, que fomentem a Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 66 criatividade e a inovação, que estimulem a melhoria da qualidade de processos, produtos e de serviços. Contudo, os alunos graduados, em sua grande maioria, precisam enfrentar a barreira representada pela falta de condições financeiras para responder a esses desafios. Neste sentido foi afirmado (nomeadamente por professores e alunos) que os graduados que se mostrassem interessados no empreendedorismo deveriam ser apoiados nos seus projetos profissionais por meio de políticas de incentivos, tais como acesso gratuito a kits de ferramentas, a linhas de créditos específicas, a incubadoras de empresas nas EP, a orientações sobre cooperativismo e associativismo. Por diversas vezes houve sugestões de que fosse incluído, nas normativas do Fundo de Desenvolvimento Local, dispositivo destinado à seleção de projetos promissores de ex-alunos das EP para fins de incentivo creditício a juros simbólicos. E também que fossem contactadas agências da Organização das Nações Unidas (ONU), particularmente a FAO, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola e o Programa Mundial de Alimentos com o mesmo propósito. Ainda neste âmbito foi sugerida a criação de programas governamentais de construção e reparação de habitações populares e de equipamentos sociais, tais como reformas de prédios e mobiliários escolares, que incorporassem os recursos humanos disponíveis e qualificados que saem das EP. Assinale-se que a rede salesiana está investindo na montagem de incubadoras conhecidas como Ninhos de Empresas com a finalidade de estimular o empreendedorismo e prestar orientações técnicas e gerenciais aos seus graduados no desenvolvimento de seus projetos profissionais. A estratégia escolhida consiste em fornecer materiais e estimular a associação de alunos para a produção de bens encomendados por empresas (como contrapartida, estes devem repassar à EP 10% do valor por eles comercializado). Além disso, o Ninho de Empresa se propõe a fazer a intermediação entre ex-alunos e empresários interessados em fazer recrutamentos e contratações. A segunda estratégia de inserção socioprofissional, assalariados por conta de outrem, é outro grande desafio, pois as atividades económicas locais e regionais têm sido incapazes de gerar postos de trabalho suficientes para as demandas da população economicamente ativa. Na área da agricultura, é ainda mais difícil, pois não há empresas agrárias, 80% das atividades agrícolas são de subsistência. Por outro lado, o mercado de trabalho que está se formando a partir dos investimentos modernos está exigindo um nível mais alto de qualificação com relação ao promovido pelas EP e a capacidade de absorção de força de trabalho por essas empresas é limitada. Também deste caso a rede Salesiana criou a estrutura Escola-Empresa, onde se tem desenvolvido diversas atividades de apoio à integração profissional. Apesar disso, há o sentimento por parte dos principais interlocutores institucionais de que as EP precisam investir mais em parcerias para viabilizar formas de prospeção, intermediação e encaminhamento a empregos para seus alunos. Consideram, sobretudo, que é preciso contribuir para que os alunos adquiram mais autoconfiança e se sintam apoiados em suas iniciativas. Como foi dito, “é preciso ter assegurada a retaguarda para que eles se encorajem”, ou como disse um encarregado de educação: “é preciso que, em primeiro lugar, o aluno valorize o que aprendeu para que os outros também o valorizem”. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 67 20. AVALIAÇÃO DOS PERCURSOS DOS EX-ALUNOS (ESCOLA/TRABALHO) Na prática não existe uma verdadeira avaliação dos percursos dos ex-alunos e que o se verifica é que o acompanhamento é feito por “seguimento” documental através de uma ficha dada para preenchimento pelos alunos. Este acompanhamento tem sido muito difícil e as EP não o estão conseguindo fazer pelos seguintes motivos: falta de estrutura administrativa e financeira, perda dos contatos devido à mudança frequente dos alunos de residência e dispersão do alunado, pois os jovens que estudam nas EP são provenientes de diferentes regiões, algumas bem distantes. Algumas EP (no âmbito de um projeto de cooperação da Fundação Portugal - África) conseguiram enviar ex-alunos para a continuidade de seus estudos em Portugal. São 44 jovens moçambicanos, que estão fazendo cursos técnicos com a duração de três anos e uma complementação de um semestre em formação pedagógica. A expectativa é a de que eles retornem como professores para fortalecer o quadro docente das EP e isso foi ressaltado como muito positivo pelos diretores, professores e familiares daqueles que foram contemplados com essas bolsas de estudo. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 68 CATEGORIA 7. INSERÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA Questões do Roteiro Razões da escolha da Escola Profissional e importância do ensino profissional Características que as EPs devem ter para serem apropriadas/ajustadas às necessidades da província Estratégias que devem ser usadas pelas EPs para estarem adequadas às necessidades locais Necessidade de uma instância de gestão participativa Possibilidade da EP recorrer a professores/formadores que mantenham atividade profissional ou empresarial efetiva Outras ofertas de qualificação profissional pelas EP Reconhecimento e valorização dos saberes adquiridos Apreciações Gerais As EP buscam se inserir social e comunitariamente atendendo necessidades locais de formação profissional, reforçando a luta pela diminuição da pobreza no país e o seu desenvolvimento mediante impulso a inovações produtivas e disseminação de técnicas e conhecimentos. Na perspetiva dos encarregados de educação e estudantes, elas significam mais oportunidades de acesso à educação. Nem sempre as EP possuem, porém, clareza sobre o alcance da sua inserção social e comunitária e pensam ser necessário avançar no seu enraizamento social. Para tanto, pretendem ser mais efetivas na gestão participativa, no aproveitamento das experiências e saberes existentes na comunidade, nas ofertas adicionais de cursos de qualificação para adultos. Dos encarregados de educação, comunidades e alunos, elas têm recebido o reconhecimento e a valorização dos benefícios advindos dos saberes que promovem. 21. RAZÕES DA ESCOLHA DA ESCOLA PROFISSIONAL E IMPORTÂNCIA DO ENSINO PROFISSIONAL Em geral, todos os consultados atribuíram grande importância às EP e ao ensino profissional. Dentre as razões foram feitas referências ao atendimento às necessidades locais de serviços profissionais e ao estímulo que as EP e o ensino profissional têm e podem propiciar ao desenvolvimento do país. Houve consenso entre os empregadores de que as EP estão formando trabalhadores em especialidades para as quais há deficits de força de trabalho qualificada. Um aspeto considerado positivo por eles foi o fato de que elas formam uma força de trabalho não muito cara. Também houve muita ênfase por todos os ouvidos no papel das EP na luta a favor da mitigação da pobreza no país já que elas vêm dando impulso a pequenas inovações produtivas e ajudando a disseminar novas técnicas e novos conhecimentos. A importância das EP na comunidade é muito nítida no domínio agrícola, pois servem à população, abrem horizontes de desenvolvimento, exercem ação no seu território, são agentes dinâmicos de mudanças, com resultados visíveis. Também não é por acaso que é na formação técnica em Agricultura que se encontram os professores mais capacitados e até meios de trabalho, faltando, no entanto, produtos importantes como vacinas, sementes etc. [Por exemplo, um aluno da EP Familiar Agrária de Mangunde foi premiado por ter desenvolvido um sabão em pó com aroma de bálsamo a partir da raiz de uma árvore nativa. O distrito de Chibabava, onde se encontra essa EP, não produzia a batata-reno e, graças aos ensaios realizados por essa escola, o cultivo desse tubérculo cresceu colocando esse distrito em segundo lugar em volume produzido na Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 69 província de Sofala. Essa escola também ajudou a introduzir o cultivo da manga Kent nessa província] . As EP estariam, portanto, contribuindo para que as comunidades possam ter acesso a melhores produtos e serviços e para aumentar a produtividade económica. Um empresário afirmou “é um modelo positivo porque dignifica meu país. Para eu crescer eu preciso dessa parceria. Nosso país é virgem em empreendimentos económicos e eu estou gostando muito dessa escola profissional”. Os encarregados de educação, autoridades locais e empregadores destacaram que as EP são importantes porque além de oferecem recursos para que os jovens encontrem formas de sobrevivência económica, encontrem trabalho e emprego, elas também ensinam bons comportamentos. Os encarregados de educação e os estudantes mencionaram que as EP representam maiores oportunidades de acesso à educação. De um pai, se ouviu: “só quero agradecer. Essa escola veio nos atender, pois nossos filhos tinham grande sofrimento para estudar, pois o deslocamento era um problema” e de uma mãe, “temos orgulho dessa escola, pois vemos nossos filhos crescerem”. Os estudantes e seus encarregados de educação destacaram, ainda, que o modelo das EP lhes oferece oportunidade para dar prosseguimento aos estudos. Foram feitas, também, demandas com relação ao caráter das escolas, já que alguns gostariam que elas fossem de nível médio e, finalmente, outros para que não fosse utilizado o termo elementar para designar a formação profissional oferecida por elas, por ser muito depreciativo. Consideraram que a mudança do nome de Escolas de Artes e Ofícios para Escolas Profissionais contribuiu muito para valorizar o novo modelo. Um pai assim se expressou: “minha filha está a estudar de verdade, numa escola profissional!”. Com relação ao leque das ofertas de cursos, houve demandas por sua ampliação e maior diversificação. De todos os segmentos consultados, houve demandas com relação à duração dos cursos, já que muitos disseram que seria melhor se os cursos tivessem a duração de três anos, tal como as escolas técnicas denominadas básicas. Foi expressiva (e emocionante) a perceção da resiliência e dos sentimentos de autoeficácia e segurança dos alunos das EP, sobretudo quando na habitual proximidade física entre EP e escolas básicas, se verifica que estas últimas são quase sempre mais recentes e modernas, o que leva a que os alunos refiram que os outros colegas (da básica) os consideram uns “explorados” e “escravos” (termo sentido de modo muito ofensivo), pela quantidade de trabalho que fazem (e as formas como os fazem). Os alunos das EP admitem que estão a sofrer com esses encargos, mas acham que escolheram bem cursando esse tipo de escolas, pois, “conseguimos garantir o nosso pão”. Esta capacidade de resiliência e autoeficácia será certamente o resultado conjugado das dificuldades vividas no contexto social e familiar (pela precariedade dos internatos e das alimentações, pela falta de condições das oficina, de eletricidade etc.), da possibilidade de terem experiências de sucesso (e mestria) promovidas pelo sistema curricular modular e pela apreciação e reconhecimento da comunidade. 22. CARACTERÍSTICAS QUE AS EP DEVEM TER PARA SEREM APROPRIADAS/AJUSTADAS ÀS NECESSIDADES DA PROVÍNCIA Os diretores das EP sabem que o modelo que as orienta demanda que a oferta dos cursos deve estar condizente como as características económicas, sociais e culturais e com as necessidades educacionais da província. Isso requer que tais informações sejam identificadas previamente e no transcurso da vida da escola para que os cursos propostos sejam coerentes e sejam ajustados a tais necessidades e demandas. Contudo, disseram que enfrentam muitas dificuldades para identificar o que as comunidades precisam ou as demandas dos empregadores e nem sempre possuem clareza sobre contribuições que poderiam estar dando para eles. As necessidades locais, pelo que se percebeu das ofertas de cursos praticadas pelas EP, estão quase sempre dentro de um leque muito limitado: serviços e produtos de Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 70 carpintaria, serralharia, construção civil, eletricidade, agricultura e mecânica-auto (mais rara). Considera-se que, em geral, os cursos que oferecem são aqueles que correspondem às necessidades locais e regionais e que as EP têm contribuído com o aperfeiçoamento das técnicas e com a formação de profissionais úteis às comunidades e empresas. A decisão pela oferta de cursos na área da Construção Civil e Eletricidade foi justificada como importante para todas as regiões do país devido às suas insuficiências em matéria de infraestrutura em geral, especialmente com relação às condições habitacionais da população e às demandas que a indústria turística, com grandes potencialidades de crescimento, têm apresentado. O potencial de riqueza natural em madeira foi o argumento utilizado para a necessidade de distinguir com mais qualidade os cursos de Carpintaria e de Marcenaria das EP, enquanto o crescimento do turismo também serviu de justificativa para os ajustes que precisam ser feitos com relação à infraestrutura dos cursos oferecidos na área de Hotelaria. A hegemonia das atividades agrícolas, principalmente de subsistência, no contexto económico moçambicano justificaria maior atenção aos cursos agropecuários. Os diretores gostariam, contudo, de aprofundar seus conhecimentos sobre os contextos em que se encontram suas EP e de contar com os meios que as tornassem mais relacionadas e em acordo com as necessidades e demandas locais, pois assim elas poderiam estar (ainda) mais enraizadas socialmente. 23. ESTRATÉGIAS QUE DEVEM SER USADAS PELAS EP PARA ESTAREM ADEQUADAS ÀS NECESSIDADES LOCAIS O recurso à participação da comunidade na identificação das necessidades locais tem sido utilizado por algumas, mas não significa que disso decorra o atendimento da demanda. Faltam estratégias para a identificação por parte das EP se há procura, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, para os cursos por ela oferecidos e se há procura por outros cursos ainda não disponibilizados por elas. Para os diretores das EP, a resposta a essa demanda exige uma melhor infraestrutura orçamentária, física, administrativa e de recursos humanos, pois para que as EP possam estar mais aderentes às necessidades locais será necessário: promover adequações frequentes nos currículos; contar com materiais pedagógicos; capacitar os professores e gestores; superar vícios da pedagogia tradicional; dispor de meios de transporte; realizar feiras para divulgar as produções da escola; estreitar e fortalecer a relação com as autoridades e lideranças locais; dinamizar os conselhos de escola; firmar convénios e parcerias com empresas, serviços distritais, institutos de investigação agrícola e outras escolas da região; fazer avaliações contínuas sobre os resultados alcançados pela escola e ajustar planeamentos. Pelo que se percebeu, as EP ainda não desenvolveram os instrumentos que lhes possibilitem, conforme preconiza o modelo adotado, conhecer se os alunos diplomados estão trabalhando, quanto tempo após o final do curso iniciam a atividade profissional, se estão trabalhando no domínio para o qual se formaram e em nível correspondente à sua qualificação e se as qualificações adquiridas se ajustam globalmente aos requisitos do exercício profissional. Muitas vezes o papel dos líderes locais foca-se na reclamação por mais cursos e, claramente, pela criação de escolas de nível médio. A estratégia de incentivar a ajuda das empresas foi vista como importante na definição das necessidades, mas elas argumentam que precisam conhecer mais as escolas, especialmente as oficinas para considerar o que precisa ser feito visando à melhor adequação das EP às necessidades locais. Os empregadores comentaram que o desenvolvimento do país vai apresentar muita necessidade de técnicos (por exemplo, nas áreas de Eletricidade e Hotelaria) e que as EP devem se preparar para isso. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 71 24. NECESSIDADE DE UMA INSTÂNCIA DE GESTÃO PARTICIPATIVA Os responsáveis das EP sabem que o modelo que as orienta credita grande importância à gestão participativa e que isso implica assegurar um bom diálogo e um bom relacionamento com as comunidades escolares (interna e externa) por meios de estratégias adequadas de comunicação e envolvimento. Argumentam também que os modelos instituídos para o desenvolvimento das provas de aptidão profissional e dos estágios só podem funcionar bem se houver gestão participativa, pois pressupõem o envolvimento de todos (professores, alunos, familiares, empregadores, etc.). Contudo, tanto os diretores como os professores disseram que as EP vêm enfrentando problemas para aprofundar seu enraizamento social e avançar na gestão participativa, especialmente com relação ao envolvimento das famílias dos alunos, pois grande parte delas mora em localidades distantes das escolas. Isso ocorre também com as EP que seguem a Pedagogia da Alternância, pois os meios de transporte que elas e famílias dispõem são muito limitados. Mesmo dispondo de Conselhos de Escola, os diretores e professores das EP disseram que tem sido difícil assegurar seu funcionamento regular. O Regulamento Geral das Escolas e Institutos Técnicos do País, recentemente aprovado, traz, também, recomendações e orientações sobre a questão. Algumas disseram realizar algumas assembleias gerais durante o ano letivo, uma semana chamada Escola Aberta e o envio de cartas visando estimular a participação dos interessados na avaliação da escola e no seu planeamento. 25. POSSIBILIDADE DA EP RECORRER A PROFESSORES/FORMADORES QUE MANTENHAM ATIVIDADE PROFISSIONAL OU EMPRESARIAL EFETIVA O Regulamento das EP abre esta possibilidade, o que é visto pelos diretores e professores consultados como um recurso importante, pois há, em geral, pessoas e organizações na comunidade com experiências e saberes que podem ser muito úteis ao processo formativo dos alunos e, mesmo, para os professores. Entretanto, fizeram duas ponderações. A primeira diz respeito aos aspetos pedagógicos: é importante que as pessoas que vierem a dar essa contribuição saibam lidar com adolescentes e jovens, que tenham certa familiaridade com o vocabulário técnico, que considerem as questões de segurança no trabalho no contexto da interação com muitos alunos e que sejam acompanhados por professores da escola. Estes ponderaram que os mestres não possuem qualificações formais e apresentam dificuldades para se expressarem na língua portuguesa, pelo que dificilmente poderiam avaliar os alunos no modelo curricular EP. A outra ponderação se refere aos aspetos administrativos e financeiros: as EP não dispõem de verbas para remunerações extras e essas parcerias precisam ter certa formalização. Da parte de alguns dos empresários consultados, houve demonstração de interesse em participar, embora só sob a forma de palestras. Outros ponderaram que há que se considerar as necessidades das empresas e suas dificuldades para dispensar trabalhadores para a realização eventual dessas colaborações. No caso das EP agropecuárias, seria ainda mais difícil promover esse tipo de mobilização, pois raras são as empresas existentes em zonas rurais do país. 26. OUTRAS OFERTAS DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL PELAS EP Trata-se de domínio de atuação percebido pelas EP como de grande relevância social para a formação inicial e continuada de adultos. Tais ofertas, possibilidade inscrita no Regulamento das EP, já são feitas por algumas delas, sobretudo em temas como o Inglês e a Informática. Houve manifestação geral de que as localidades do entorno das EP estão muito carentes desse tipo de oferta educacional e algumas EP apresentam experiência nesse sentido com resultados muito positivos. Os cursos curtos de Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 72 qualificação profissional que as EP consideraram mais aderentes às necessidades locais são: Empreendedorismo, Inglês, Corte e costura, Culinária, Informática, Avicultura, Construção civil, Empregado de mesa e bar e Agricultura. Há uma linha de atuação que ainda não foi muito explorada, mas que as EP creem ter alguma condição de implementar. Trata-se da negociação com empresas para o desenvolvimento de atividades formativas de trabalhadores, sobretudo se de acordo com os cursos que oferecem e a infraestrutura oficinal que dispõem. O pagamento das empresas por tais serviços é visto por elas como uma potencial e importante fonte adicional de receitas. No entanto as EP afirmam a significativa limitação que possuem para esse tipo de atuação e que diz respeito à não disponibilidade de apoio material e financeiro governamental, pois elas não podem usar os recursos (nomeadamente os professores) que são destinados aos cursos destinados aos alunos regulares. Nos contatos realizados, alguns encarregados de educação se mostraram muito satisfeitos por saberem que as EP também lhes poderiam oferecer oportunidades de matrícula em cursos curtos de qualificação profissional (“nós, grandes, precisamos também de cursos”). 27. RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO DOS SABERES ADQUIRIDOS Os encarregados de educação se mostraram muito orgulhosos pelo que os jovens vêm demonstrando saber-fazer nas especialidades que estão estudando e satisfeitos com os produtos e serviços deles recebidos. Os encarregados de educação manifestam-se muito satisfeitos por saberem que eles também têm feito melhorias nas instalações das escolas, no conserto de carteiras e na construção de portas, janelas e grades para as salas de aula. Mostraram-se animados por vê-los requisitados por vizinhos e pessoas da comunidade para prestar pequenos serviços (“essa escola ensina nossos filhos a utilizar os conhecimentos para fazer alguma coisa útil”). Dentre essas utilidades citaram: consertos domésticos, pequenas obras de construção civil, hortas, raladores de coco, fogões, assadeiras, brinquedos de madeira para as crianças etc.. Também alguns EE salientaram que já receberam alimentos produzidos pelos seus filhos na escola, tais como cebola, alho, alface, repolho. Referiram-se, também, a outras contribuições dos jovens para a comunidade como ajuda às crianças nos seus estudos, alfabetização de adultos, explicação de técnicas para as pessoas que lhes demandam orientação. Os alunos sentem-se valorizados pelos outros, sobretudo colegas e família, e consideram que há reconhecimento: “faz diferença usar a arte”. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 73 CATEGORIA 8 - ASPETOS MARCANTES DO MODELO EP Questões do Roteiro Apreciação global do modelo EP Acontecimento inesquecível Apreciações Gerais Os consultados destacaram como positividades do modelo das EP, a lógica modular de organizar currículos e avaliar aprendizagens; o foco prático do ensino e sua conexão ao mundo do trabalho; a aderência ao que o país precisa com relação à formação profissional e as situações de aprendizagem e de realização oferecidas aos alunos. Observações críticas foram feitas à insuficiência de infraestrutura material das EP; aos mecanismos de passagem dos alunos à continuidade dos estudos; ao viés pejorativo do adjetivo elementar de identificação das EP; à escassez de pessoal docente com perfil adequado quanto à qualificação técnica e pedagógica; à falta de intercâmbios entre as EP; ao número insuficiente de EP no país; à precária divulgação deste modelo para que possa ser melhor conhecido pelo país e pelas próprias comunidades. Houve menções à necessidade de tornar a educação profissional uma necessidade e tarefa de todos, incluindo o conjunto das instituições presentes no nível comunitário e dos diversos organismos ministeriais, de modo a se promover redes e alianças operativas e estratégicas, que levem à transformação das condições sociais, econômicas e políticas que reproduzem a pobreza. Nas suas memórias, alunos disseram que ficarão os acontecimentos, nas EP, que lhes deram possibilidade de provar suas capacidades profissionais, de superar medos e receios, de vivenciar sentimentos alentadores, de serem agraciados com distinções e de fazer boas amizades. O aproveitamento dessa energia, fortalecimento e sentimentos positivos experimentados pelos alunos e suas famílias, emergiu como uma força endógena ainda insuficientemente utilizada tendo em vista tornar o projeto educativo e cultural das EP efetivamente sociocomunitário. Constatou-se, portanto, que esforços adicionais precisam ser feitos de modo a tornar a ligação de cooperação e solidariedade comunitária, elemento essencial da concepção original desse projeto, um processo realmente efetivo e internalizado por todos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 74 28. APRECIAÇÃO GLOBAL DO MODELO EP Quatro aspetos do modelo sobressaíram-se nas avaliações positivas e globais dos consultados: a lógica modular de organização curricular, as aprendizagens práticas exigidas pelo exercício profissional, a adequação das EP às necessidades de Moçambique e, finalmente, a possibilidade de mostrar que possuem capacidades de produzir algo útil para si, para suas famílias e para a sociedade. O primeiro deles, e mais citado, se refere à lógica modular de organização curricular e de avaliação das aprendizagens. Esta permitiria o acompanhamento contíguo e individualizado dos alunos, a personalização do ensino, o foco na possibilidade de cada um concluir seu curso, o sucesso escolar. O segundo aspeto marcante trata-se da atenção dada pelo modelo pedagógico das EP às aprendizagens práticas exigidas pelo exercício profissional e à aproximação rápida do aluno ao contexto real de trabalho por meio de estágios e de provas de aptidão profissional, atividades consideradas fundamentais para a avaliação das aprendizagens dos alunos e a efetiva iniciação numa ocupação profissional. O terceiro aspeto aludiu à adequação das EP às necessidades do país. Estas responderiam muito bem aos desafios atuais de Moçambique de formação profissional, pois atendem às aprendizagens essenciais ao desenvolvimento das localidades e regiões. Por fim, mereceu destaque a possibilidade, que as EP vêm oferecendo aos alunos de descobrir e experimentar situações de aprendizagem e de realização, que servem para lhe mostrar que possuem capacidades de produzir algo útil para si, para suas famílias e para a sociedade. Oito aspetos, contudo, foram considerados bastante sensíveis pelos consultados com relação à apreciação global do modelo das EP: a precariedade de infraestrutura material das EP, dificuldades no prosseguimento de estudos, o desconforto pela utilização do adjetivo elementar, a falta de professores habilitados para a docência, o isolamento sentido por professores e alunos com relação aos seus semelhantes vinculados a outras EP, o número insuficiente de escolas profissionais existentes no país, a pouca divulgação que tem sido dada ao modelo das EP, e por fim, a frágil ligação sociocomunitária das escolas. O primeiro aspeto se refere aos prejuízos para o sucesso escolar e profissional dos alunos, que possivelmente estão sendo causados pela precariedade de infraestrutura material das EP. Esta abrange a insuficiência ou falta de equipamentos e de materiais de consumo para as atividades curriculares práticas; a falta de acesso à Internet; deficiências e até inexistência de bibliotecas; escassez de material didático; carência de dispositivos de segurança para atividades práticas, que envolvem riscos à saúde e à segurança dos alunos; indisponibilidade de transporte escolar; deficits e deficiências de alojamentos e de alimentação para os internos. Abrange, ainda, a falta de especificações técnicas sobre a infraestrutura básica que cada especialidade requer com relação a laboratórios, oficinas, materiais etc. O segundo reportou-se aos desconfortos causados pelas situações de trânsito dos alunos tendo em vista os condicionamentos à continuidade dos estudos, especialmente com relação às (im)possibilidades de ingresso nos cursos técnicos dos Institutos. O terceiro aspeto se refere também a desconfortos, mas àqueles causados pelo emprego do adjetivo elementar, visto como depreciativo, para identificar e caracterizar as EP. O quarto aspeto abordou a problemática da formação docente, englobando desde a falta de professores habilitados para a docência dos conteúdos técnicos e de formação pedagógica destes últimos até à necessidade de mais formação continuada para gestores e docentes, pois o modelo das EP traz exigências e especificidades pedagógicas e organizacionais, que não seriam simples. O quinto aspeto se referiu ao isolamento sentido por professores e alunos das EP com relação aos seus semelhantes vinculados a outras EP, motivando reivindicações de ambos segmentos por apoios a intercâmbios institucionais de modo a contemplar um maior entrosamento entre estas escolas. O sexto ponto aludiu ao número de escolas profissionais existentes no país, considerado como ainda muito Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 75 insuficiente em face das necessidades sociais e das demandas crescentes, que se observam a cada ano, por este tipo de escola. O sétimo se referiu à pouca divulgação que tem sido dada ao modelo das EP para a sociedade moçambicana, especialmente do seu sistema de avaliação modular, cuja adoção por outras escolas foi avaliada como muito pertinente e oportuna. Por fim, e de grande importância por ser elemento essencial da concepção do projeto das EP, a frágil ligação sociocomunitária das escolas, cuja superação requer esforços adicionais por meio de diversos tipos de ações, tais como as de animação e sensibilização das comunidades interna e externa às EP; de criação e fortalecimento de seus vínculos por meio de palestras, encontros, atividades de confraternização e projetos de interesse comum; de identificação e mobilização de saberes, recursos e disponibilidades de ajuda existentes na comunidade que podem ser incorporados a funções escolares específicas; de envolvimento da comunidade em conselhos e assembleias para a tomada de decisões, acompanhamento de processos e gestão de resultados das EP, dentre outras. 29. ACONTECIMENTO INESQUECÍVEL Os alunos consultados foram solicitados a citar um acontecimento de suas vivências na EP, que fosse digno de ficar em suas memórias. Com esta abordagem, teve-se a intenção de obter informações sobre suas perceções afetivas a respeito dos aspetos marcantes do modelo EP, que fossem complementares àquelas obtidas por meio da estimulação direta implicada na pergunta sobre apreciação global. Eles citaram diversos tipos de situações e eventos, quase todos relacionados com as oportunidades que encontram nas EP de experimentar ou de demonstrar o empoderamento, que o acesso a um saber-fazer fundamentado e bem orientado permite à pessoa. São acontecimentos que os projetam nas relações sociais que vivem, tal como expressou um jovem: “Quando vou para casa gosto de mostrar o que sei fazer” ou eventos diante dos quais se veem desafiados de alguma forma. Um deles rememorou o momento e a importância da primeira avaliação diagnóstica pela qual passou e na qual um professor lhe disse: “Vais fazer uma parede nos próximos seis meses!”. Há, também, os feitos derivados da experiência com tecnologias consideradas de ponta, tal como a aprendizagem da Informática. Ao narrarem os acontecimentos que consideraram memoráveis, mencionaram o quanto cada um dos feitos os ajudou à superação de medos e receios. Por exemplo, de pegar no alicate porta-eléctrodo e formar o arco voltaico para fazer uma solda; de operar um maçarico; de cortar uma chapa com a tesoura; de operar um trator; de lidar com um computador. “Foi na defesa da minha PAP, que consegui falar em público pela primeira vez na minha vida!”, afirmou uma adolescente. Citaram, com muita alegria, bens e serviços feitos por eles, tais como: um portão eletrónico que foi exposto na FACIM (Feira Internacional de Maputo); a cura de uma conjuntivite que acometeu um caprino; a descoberta e conserto de um defeito elétrico numa máquina; a construção do mastro para o hasteamento da bandeira do país na escola; o ralador de coco que serviu para presentear a mãe; a grade que está protegendo a sala de informática da escola; as fechaduras que hoje dão proteção à casa da família; a injeção num suíno; o plantio da primeira árvore etc. Disse um deles: “não me esquecerei do primeiro trabalho que fiz, um fogão!”. Narraram os novos sentimentos que tais experiências neles suscitaram. O de que a escola pode fazer mudanças nos alunos; o de que é possível vender as cebolas que se produz; o de que é possível arranjar um emprego depois que se forma numa EP; o de que há possibilidade de se sustentar a partir dos conhecimentos obtidos no curso que está fazendo. Alguns aproveitaram a oportunidade para relatar as distinções que a escola ou ele mesmo recebeu. Com relação à escola, o facto de ter sido visitada pela Vice-Ministra de Educação e pelo Diretor Nacional do Ensino Técnico. Como distinção pessoal, a Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 76 oportunidade e o orgulho de ter sido escolhido para representar a escola num evento importante; de ter sido escolhido o melhor carpinteiro da sua turma; de ter tido um trabalho desenvolvido na escola para ser exposto no Ministério da Educação e na FACIM; de ter sido entrevistado pela TVM (Televisão de Moçambique) para falar sobre sua escola; de ter merecido uma boa nota na prova de aptidão profissional; de ter recebido dos pais demonstrações de orgulho pelo que já sabe fazer. Enquanto alunos da EP relataram também as suas vivências dos receios, temores e penúrias que imaginam não poder esquecer: o estado de abandono sentido por ocasião da realização do estágio numa cidade distante e em más condições de alojamento e alimentação; a morte trágica de um colega; as dificuldades sentidas no primeiro ano e ter aguentado o ritmo da escola depois de ter pensado em dela desistir; sentir-se envergonhado por não saber escrever à máquina na primeira aula que teve de práticas administrativas. Mas sobretudo vivências alegres animaram as reminiscências dos alunos, especialmente as decorrentes da camaradagem juvenil e do bom relacionamento com professores, cujas imagens positivas lhes servem de referência sobre o que também poderão, eventualmente, ser no futuro: professores! Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 77 Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 78 ANEXOS Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 79 Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 80 ANEXO I - TERMOS DE REFERÊNCIA DA AVALIAÇÃO INTERNACIONAL AVALIAÇÃO INTERNACIONAL – TERMOS DE REFERÊNCIA 1) Dados de contexto a) b) A escola e o seu contexto Adequação da oferta formativa às necessidades locais/regionais 2) Questões para a avaliação a) b) c) d) e) Processo de criação das escolas (iniciativa de quem, promotores, projecto educativo...) Capacitação prévia de diretores (direção/gestão, direção pedagógica) Sucesso escolar dos alunos Provas de Aptidão Profissional, impacto na vida dos alunos e na comunidade Estágio profissional (quem organiza e como, articulação com a formação inicial e com o mundo do trabalho) f) Inserção sociocomunitária e a empregabilidade (relação com a formação inicial, opinião dos empregadores) g) Inovação pedagógica (experiências com impacto positivo na escola e nas aprendizagens) h) Actividades educativas não lectivas (culturais, recreativas, desportivas, etc.) i) Qualidade do serviço docente (habilitação inicial, nível etário, formação em serviço, etc. j) Opinião dos alunos, pais, formadores, direção sobre a educação ministrada (painéis em “focus group”) k) Impacto das escolas nas dinâmicas de desenvolvimento comunitário (opinião de dirigentes locais/regionais, empresários, ONG, Igrejas, etc.) 3) A avaliação decorrerá sob os seguintes requisitos a) De 5 a 29 de Setembro de 2011 b) Equipa de dois avaliadores c) Perfil: experiência de estudo e avaliação de ensino profissional a nível internacional, compreensão falada e escrita da língua portuguesa, capacidade de enfrentar algumas adversidades próprias de um país em desenvolvimento d) Envolver no mínimo 6 escolas (distribuídas pelo país) por cada pessoa e quinze dias de permanência e) Haverá dois dias iniciais de visitas em comum a 2 escolas, após o que a equipa se desdobrará f) No termo do trabalho de campo será realizado um encontro com os dirigentes do MINED, para apresentação das principais conclusões g) O relatório final será apresentado no prazo máximo de 30 dias após o trabalho de campo Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 81 ANEXO II - REGULAMENTO DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS REGULAMENTO DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS Preâmbulo O Ministério da Educação de Moçambique (MINED) através da Direcção Nacional do Ensino Técnico (DINET) tem vindo a estabelecer as bases para o relançamento de uma rede nacional de escolas provedoras de formação técnica e profissional de nível elementar, na perspectiva partilhada de que as formações aí ministradas e dirigidas a uma parte significativa da população de Moçambique constituem um pilar irrecusável de sustentação do seu desenvolvimento. Nesse sentido, a “ESTRATÉGIA DO ENSINO TÉCNICO-PROFISSIONAL EM MOÇAMBIQUE 2002-2011 – Mais Técnicos, Novas Profissões e Melhor Qualidade,” aprovada pelo Conselho de Ministros em 20 de Dezembro de 2001, aponta, claramente, as linhas de força da revitalização do ensino elementar, consignando que “a ampliação e renovação da rede das escolas de artes e ofícios e elementares de agricultura contribuirá para a formação de mão-de-obra necessária ao desenvolvimento rural, redução da pobreza e a fixação das populações do campo” ao mesmo tempo que aponta para um desejável “melhoramento e adequação da estrutura do sub-sistema do ETP e dos conteúdos de formação, introduzindo formas flexíveis de organização curricular, permitindo uma constante adaptação às necessidades locais, ao progresso científico e à evolução tecnológica bem como o alcance de uma maior eficiência interna” Assim, e na esteira do Diploma Ministerial n.º 138/2003 de 12 de Setembro publicado no n.º 53 do 3º Suplemento – I Série – do Boletim da República pelo presente, se publica o Regulamento das Escolas Profissionais de Moçambique. Artigo 1º – Missão das Escolas Profissionais (EP) 1. A missão das EP é qualificar profissionalmente adolescentes e jovens moçambicanos como núcleo de uma estratégia de desenvolvimento sócio-económico nacional que requer e repousa, em boa parte, na existência de uma mão-de-obra competente e apta a evoluir nos mais variados contextos profissionais e laborais. 2. O Projecto Educativo (PE) de cada escola profissional confere-lhe uma identidade própria que a distingue pela especificidade da sua proposta educativa – princípio da diferenciação de tal modo que as EP desempenham, para as regiões onde estão inseridas, um papel de “motor” de desenvolvimento local, privilegiando e construindo, em cada dia, num diálogo com os diferentes parceiros sociais, a identificação dos interesses e necessidades, num esforço permanente de valorização da sua acção, de uma maior transparência e de uma grande visibilidade. 3. As EP devem estar abertas à organização de outras ofertas complementares de qualificação profissional para jovens e para adultos, por iniciativa própria ou em parceria com outras instituições, nomeadamente empresas, de modo a assegurarem a qualificação das pessoas e Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 82 dos territórios locais em que elas se movimentam, promovendo, deste modo, um racional aproveitamento das suas capacidade instaladas. 4. A constituição de uma rede pública nacional de EP é um objectivo prioritário do MINED. 5. Integram a primeira fase do programa de relançamento do Ensino Técnico Profissional as Escolas Profissionais de: Moamba – Província de Maputo; Inhamissa – Província de Gaza; Massinga – Província de Inhambane; Ilha de Moçambique – Província de Nampula; Songo – Província de Tete. 6. O subsistema deverá expandir-se quer pela criação de novas escolas quer pela transformação de escolas já existentes. Artigo 2º – O modelo institucional Os princípios estruturantes fundamentalmente, cinco: a) b) c) d) e) do modelo institucional preconizado para as EP são, Integração, na medida em que se valoriza a integração institucional e a integração curricular; Diferenciação, fazendo com queo projecto educativo de cada escola, centrado na oferta de formações territorializadas, seja diferente do das outras; Flexibilidade, permitindo que cada escola incorpore a procura de soluções adequadas ao seu meio, aos seus alunos/formandos e aos seus professores/ formadores; Modularização, de tal modo que cada uma das disciplinas ou áreas disciplinares que compõem o plano de estudos é organizada em módulos; Profissionalização, que fará com que cada escola crie ambientes de formação próximos dos ambientes de trabalho, promovendo, deste modo, a qualificação profissional dos recursos humanos necessários à modernização empresarial e ao desenvolvimento das regiões. Artigo 3º – Atribuições As EP prosseguem, entre outras, as seguintes finalidades: a) Contribuir para a realização pessoal dos jovens, proporcionando-lhes uma adequada preparação para a inserção sócio-profissional; b) Promover a qualificação profissional de grau elementar e o desenvolvimento integral de cada um dos adolescentes e jovens que as frequentam, proporcionando-lhes um desenvolvimento que favoreça a integração e orientação profissional a partir da iniciação profissional; c) Fomentar, nos alunos/formandos, o gosto pelo empreendedorismo e pela iniciativa, em particular a iniciativa empresarial; d) Apoiar cada um dos alunos/formandos, uma vez graduados, no seu processo de inserção socioprofissional, através da criação de “ Unidades de Inserção na Vida Activa” – (UNIVA); e) Facultar aos jovens contactos com o mundo do trabalho e a experiência profissional; Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 83 f) Participar activamente nos esforços nacionais em prol do desenvolvimento socioeconómico, dotando o país dos recursos humanos que necessita; g) Contribuir para a diminuição do êxodo rural, favorecendo o desenvolvimento local e a fixação das populações em ambientes condignos integrando-se, de corpo inteiro, nos objectivos do PARPA; h) Permitir aos jovens o prosseguimento dos seus estudos, de acordo com o estipulado neste regulamento. Artigo 4º – Natureza e regime 1. As EP podem ser de natureza pública, privada e comunitária. 2. As EP gozam de autonomia administrativa, financeira, pedagógica e cultural, devendo seguir os normativos nacionais de gestão escolar. 3. As EP regem-se pelo presente normativo e pelos seus estatutos. Artigo 5º – Tutela No desempenho da sua actividade as EP estão sujeitas à tutela do MINED, através da DINET. Artigo 6º – Entidades Promotoras 1. Podem ser entidades promotoras das EP, entidades públicas, privadas, ou comunitárias. 2. Para as escolas de iniciativa não estatal será celebrado um contrato programa entre a entidade sua promotora e o MINED. 3. O contrato programa a que alude o número anterior contemplará os seguintes aspectos: a. b. c. d. e. f. g. Modo de integração na política educativa do país; Aceitação dos princípios de orientação política definidos para as EP; Particularidades de funcionamento; Modalidades de certificação e condições de exercício da mesma certificação; Regras de controlo e avaliação externa; Prazo de vigência do contrato e condições para a sua renovação; Procedimentos a adoptar em caso de incumprimento. Artigo 7º – Oferta de formação 1. A oferta de formação das EP deverá proporcionar um amplo leque de formação geral, comum a todos os alunos/formandos e facultar, também, uma especialização terminal, prévia à obtenção do primeiro emprego. 2. Cada curso integra-se numa área de formação profissional que funciona como raiz de formação, numa subárea de formação ou curso e numa área de especialização ou especificação terminal. 3. Os planos de estudo integram três componentes: a componente sócio-cultural, a componente técnico-profissional e o estágio. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 84 Artigo 8º – Regime de acesso 1. O público-alvo das EP é, constituído, prioritariamente, por alunos saídos da EP2, com a sétima classe concluída. Para estes alunos as EP oferecem cursos de qualificação profissional de dois anos de duração. 2. Em localidades onde o EP2 não esteja suficientemente desenvolvido, poderá ser facultado o acesso directo a estes cursos de qualificação a alunos oriundos do EP1, alargando-se a duração dos cursos, nesses casos, para três anos. Artigo 9º – Estrutura curricular 1. Os cursos técnico-profissionais de nível elementar têm uma estrutura que compreende um período de formação na escola e um período de formação nas empresas. 2. O período de formação na escola compreende as seguintes componentes de formação: a) Sociocultural, com um peso de aproximado de 40% do total da carga horária prevista, formada por duas sub-componentes: a geral, constituída pelas disciplinas de Português, Inglês, Mundo Actual e Educação Física e que será comum para todas as escolas e a científica de base constituída por um conjunto de disciplinas que suportarão técnica e cientificamente as aprendizagens da componente técnico-profissional; b) Técnico-profissional, variável em função do conjunto de áreas de formação e que visa favorecer aprendizagens em domínios específicos do saber, aplicados no exercício profissional nos vários tipos de actividades económicas; c) Área de projecto profissional, que visa criar um tempo dedicado ao desenvolvimento por parte do aluno/formando de um projecto concreto de aplicação dos conhecimentos e da experiência adquiridos ao longo da formação. § 1º. As componentes referidas em b) e c) têm cerca de 60% do peso total da carga horária prevista para a parte escolar do curso. 3. O período de formação nas empresas traduz-se num estágio profissional, que se seguirá ao período de formação na escola. 4. O estágio profissional, com duração variável, será devidamente acompanhado pelas escolas e pressupõe a existência de um Plano de Estágio por cada aluno estagiário. Artigo 10º – Ano complementar do nível elementar 1. Com vista ao prosseguimento de estudos e à aquisição de algumas competências profissionais relacionadas com o “saber supervisionar e conduzir” é instituído o “ano complementar” do ensino elementar, com a seguinte estrutura curricular: a) Formação sociocultural – comum para todos os cursos, com um peso de 70% da carga horária prevista, formada por duas sub-componentes com um peso de 35% cada: geral, constituída perlas disciplinas de Português, Inglês, Ciências HistoricoGeográficas, Formação Moral e Cívica e Educação Física, e científica, que engloba as disciplinas de Matemática, Ciências Físico-Químicas e Biologia; Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 85 b) Formação tecnico-profissional, igualmente constituída por duas sub-componentes: específica, com um peso de 20% da carga horária prevista e que engloba as disciplinas de Noções de Contabilidade e Gestão, Gestão de Recursos, Legislação Laboral e Informática Aplicada e disciplinas optativas , igualmente com um peso de 10% da carga horária prevista e que engloba até duas disciplinas da componente técnicoprofissional do curso de nível elementar frequentado anteriormente. 2. Em cada ano e em cada escola, poderão matricular-se no ano complementar os alunos que tendo completado o nível elementar, com estágio realizado, tenham obtido, na parte escolar do curso, uma média igual ou superior a 12 valores. 3. Os referenciais de formação e os planos de estudo do ano complementar dos cursos elementares do ensino técnico-profissional serão aprovados pelo MINED. Artigo 11º – Duração dos cursos 1. Para os alunos oriundos do EP2 os cursos elementares têm a duração de 2 anos, distribuídos por um conjunto de 4 períodos, ocupando 2520 horas de formação em contexto escolar a que se deve seguir um período de realização de estágio profissional, com uma duração mínima de 480 horas e máximade 720 horas 2. Para os alunos oriundos do EP1 os cursos elementares têm a duração de 3 anos, distribuídos por um conjunto de 6 períodos, ocupando 3780 horas em contexto escolar. 3. O ano complementar do nível elementar do ensino técnico-profissional a que alude o artigo anterior tem uma carga lectiva de 1120 horas distribuídas por 2 períodos. 4. O horário semanal previsto é de 35 horas para qualquer dos casos. Artigo 12º – Organização e desenvolvimento curricular 1. A definição das linhas orientadoras gerais para a organização dos programas e dos respectivos conteúdos, quer dos cursos elementares quer do ano complementar, são da responsabilidade da DINET e serão objecto de publicação de manuais técnico-pedagógicos específicos. 2. O desenvolvimento curricular modular dos programas, privilegiará não só a interdisciplinaridade e a flexibilidade na sequencialidade e duração dos módulos, de modo a potenciar a adaptabilidade destes ao projecto educativo que cada escola protagoniza, mas também, as necessidades de coordenação entre a formação sociocultural, a formação técnico-profissional e a formação prática. 3. Cada manual é constituído por: a) b) c) d) e) Perfil Profissional dos Graduados; Plano de Estudos; Elencos modulares por áreas disciplinares; Instalações, equipamentos, ferramentas e materiais; Bibliografia de apoio. 4. Cada escola, com a participação da sua equipa de professores/formadores, deverá, no exercício da sua autonomia e a partir das propostas programáticas da DINET constituídas por elencos modulares, elaborar, para cada curso, a sua proposta de desenvolvimento curricular modular, que fará parte integrante do plano de actividades da escola, de modo a garantir a adaptabilidade dos módulos às realidades do meio e do tecido sócio-ecónomico e cultural. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 86 5. A estrutura de cada módulo é constituída por: objectivos, conteúdos, actividades de aprendizagem, recursos, critérios de avaliação, articulações, duração. Artigo 13º – Regime de avaliação 1. A avaliação curricular processa-se segundo três modalidades: a avaliação diagnóstica, a avaliação formativa e a avaliação sumativa. 2. No início de cada módulo serão realizadas actividades de diagnóstico que testem os pré-requisitos necessários ao desenvolvimento dos respectivos conteúdos, ( conceptuais, procedimentais e atitudinais). 3. Ao longo do desenvolvimento do módulo a avaliação deve resultar da auto e hetero-avaliação dos alunos/formandos e da avaliação realizada pelo professor/formador. 4. O Regulamento de Avaliação, aplicável às Escolas Profissionais, constitui o Anexo I deste Regulamento. Artigo 14º – Progressão curricular O regime de progressão no plano de estudos segue a lógica modular, partindo de uma metodologia pedagógica e didáctica que permita individualizar os ritmos de aprendizagem. Artigo 15º – Prova de aptidão profissional (PAP) 1. A componente de “Projecto Profissional” será valorizada para efeitos de progressão de estudos e de certificação profissional. 2. Os alunos/formandos, para além da participação em seminários sobre empreendedorismo e sobre criação de auto-emprego, terão um tempo dedicado à realização de um projecto profissional, que será analisado na Prova de Aptidão Profissional. 3. A PAP é apresentada perante um júri constituído para o efeito, conforme se estipula no Regulamento de Avaliação, que constitui o Anexo I deste Regulamento. Artigo 16º – Estágio 1. Nos cursos técnico-profissionais de nível elementar, aprovado o aluno/formando, tanto na avaliação contínua como na Prova de Aptidão Profissional, integrada no período de formação na escola, deve seguir-se um período de formação nas empresasque compreenderá, a realização de um estágio profissional com uma duração compreendida entre 480 (mínima) e 720 horas (máxima). 2. A realização deste estágio profissionalé obrigatória, podendo, em caso de necessidade, ser realizado na própria escola, nas práticas de produção. 3. Após a realização do estágio profissional o aluno/formando apresentará relatório dos trabalhos desenvolvidos a um júri que será constituído conforme se estipula no Regulamento de Estágio e que constitui o anexo II deste Regulamento. 4. No ano complementar não há obrigatoriedade de realização do estágio. Artigo 17º – Regime de faltas Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 87 1. O máximo de faltas justificadas permitido aos alunos/formandos é de 10% do valor da carga horária atribuída a cada disciplina do plano de estudos. 2. Competeà Direcção Pedagógica de cada escola elaborar e aprovar os critérios adoptados para a justificação das faltas dos alunos/formandos. Artigo 18º – Certificação 1.Após a conclusão do curso (parte escolar e estágio), os alunos/formandos terão direito a um diploma profissional que deverá mencionar não só as classificações obtidas mas também, de forma sucinta, o descritivo da formação realizada, nomeadamente, o respectivo plano de estudos, o projecto profissional desenvolvido e o tipo de estágio realizado. 2. Compete à Direcção Nacional do Ensino Técnico elaboraro modelo de diploma a adoptar. 3. As acções conducentes ao reconhecimento e à certificação institucional dos cursos serão desenvolvidas pelo MINED. Artigo 19º – Equivalências 1. Para efeitos profissionais aos diplomados com os cursos técnico-profissionais de nível elementar, ministrados nas Escolas Profissionais, após a conclusão do estágio profissional, é conferida a equivalência ao nível básico técnico- profissional. 2. Aos diplomados com o ano complementar, é conferida equivalência à 10ª classe do ensino secundário geral. Artigo 20 º – Recrutamento de pessoaldocente 1. O regime de recrutamento de professores/formadores das EP seguirá o processo normal de recrutamento de docentes. 2. A selecção do pessoal docente reger-se-à pelo princípio da adequação dos perfis dos candidatos às exigências profissionais previamente definidas. 3. Para a docência das áreas técnicas as escolas podem recorrer a professores/formadores que mantenham actividade profissional ou empresarial efectiva e que pelas suas reconhecidas competências representem uma significativa mais valia para o processo de ensino/aprendizagem. Artigo 21º - Receitas Constituem receitas das escolas: f) g) h) i) j) k) As dotações que lhe forem concedidas pelo Estado; As propinas de matrícula e frequência; As receitas derivadas da prestação de serviços ou da venda de produtos e bens; Os juros de depósitos bancários dos dinheiros ou valores que recebam; Quaisquer outras receitas que lhe sejam atribuídas; Os subsídios e subvenções, comparticipações, doações e legados aceites a benefício de inventário. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 88 Artigo 22º – Impressos administrativo-pedagógicos 1. A progressão curricular modular requer a existência de impressos administrativo pedagógicos específicos. 2. Para garantir uma uniformidade nos processos administrativo-pedagógicos das escolas, a DINET editará os impressos que suportarão os diferentes registos que as escolas devem elaborar, nomeadamente: a. b. c. d. e. f. g. h. i. j. k. l. m. n. o. p. Pautas de avaliação formativa; Pautas de avaliação modular sumativa; Pautas globais de avaliação; Pautas de exame; Actas de auto e hetero-avaliação; Folhas de registo de assiduidade de alunos; Termo de encerramento de módulo; Livros de Ponto; Livros de Termos; Boletim de inscrição de estágio; Caderneta de estágio; Mapa de visitas do professor acompanhante; Grelha de Avaliação do monitor; Grelha de avaliação do estágio; Termo de encerramento do estágio; Diploma final Artigo 23º – Avaliação do novo modelo O modelo curricular e pedagógico, ora proposto, será sujeito a uma avaliação externa em moldes a definir pelo MINED. Artigo 24º – Disposições finais e transitórias 1. Para boa execução deste diploma a Direcção Nacional do Ensino Técnico elaborará os normativos de supervisão da experiência. 2. Casos omissos e de interpretação do presente regulamento serão da competência do MINED, através da DINET. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 89 Anexo I Regulamento de Avaliação nas Escolas Profissionais AVALIAÇÃO – Conceitos genéricos Pretende-se com o modelo educativo das Escolas Profissionais, fazer delas “ Escolas de Sucesso”. Para este objectivo assume particular importância o sistema de progressão modular bem como o processo de avaliação. O objectivo dos cursos do ensino técnico profissional elementar é preparar profissionais para o desempenho qualificado de uma profissão e para o exercício de uma cidadania consciente. Avaliar não é julgar. É, antes de mais, (i) informar o aluno acerca dos progressos, dificuldades e resultados obtidos na aprendizagem; (ii) esclarecer as causas do seu sucesso e insucesso;(iii) estimular o seu desenvolvimento global nas áreas cognitiva, afectiva, relacional-social e psicomotora; (iv) certificar os conhecimentos e competências adquiridas. As Escolas Profissionais adoptam a “estrutura modular”, como forma de organizar a formação profissional e o processo de ensino/aprendizagem e é à luz deste figurino curricular que os procedimentos avaliativos deverão ser definidos, de modo a permitirem o controlo e a retroacção contínuos. Artigo 1º – Objecto da avaliação O presente Regulamento de Avaliação define o regime de avaliação das escolas profissionais e estabelece: a) As disposições a observar na avaliação dos processos de ensino/aprendizagem dos alunos/formandos; b) As condições de progressão no plano de estudos e de aproveitamento dos alunos/formandos nos cursos; c) As formas de apuramento das classificações finais; Artigo 2º – Âmbito da avaliação A avaliação deverá incidir sobre a consecução das metas estabelecidas quer nos programas das disciplinas quer nas actividades educativas transdisciplinares previstas no plano de estudos e sobre as competências transversais a todo o plano de estudos, identificadas e estabelecidas pela direcção pedagógica, em cooperação com os demais actores educativos. Artigo 3º – Intervenientes no processo de avaliação Intervêm no processo de avaliação e de acordo com a especificidade de cada momento de avaliação, os seguintes actores: a) b) c) d) O professor/formador; O aluno/formando e os alunos/formandos; Os conselhos de professores de turma; O orientador educativo (director de turma); Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 90 e) f) g) h) i) O responsável de curso (delegado da especialidade); O director adjunto pedagógico; O Director do Lar / Internato; Representantes das associações empresariais, profissionais e sindicais; O Presidente do Conselho de Escola. Artigo 4º – Modalidades de avaliação A avaliação processa-se segundo três modalidades: a) A avaliação diagnóstica, realizada pelo professor/formador no início de cada módulo para testar a existência de pré-requisitos necessários ao desenvolvimento dos respectivos conteúdos; b) A avaliação formativa com carácter sistemático e contínuo, na qual intervêm essencialmente o professor/formador e o aluno/formando; c) A avaliação sumativa que terá lugar: c.1) no final de cada módulo com a intervenção do professor/formador e dos alunos/formandos; c.2) no momento da conclusão do conjunto de módulos de cada disciplina, através de reunião do conselho de turma. Artigo 5º – Instrumentos de avaliação 1. Compete aos professores/formadores desenvolverem e utilizarem os instrumentos de avaliação que considerem adequados a cada disciplina, módulo ou actividade de aprendizagem. 2. Para além dos instrumentos de avaliação constantes nos normativos nacionais de avaliação os professores/formadores deverão, ainda, utilizar uma diversidade de outros instrumentos e técnicas em função do tipo de informação que pretendam e do tempo de que disponham para a recolher, nomeadamente: a) Grelhas de observação directa; b) Listas de verificação; c) Registos de incidentes críticos; d) Questionários; e) Entrevistas; f) Portfólios de evidências de aprendizagem; g) Relatórios; h) Testes (verdadeiro / falso; sim/não; de escolha múltipla; de completamento; de associação; de resposta curta; etc) i) Outros. Artigo 6º – Momentos de avaliação As escolas deverão calendarizar, pelo menos, dois momentos de avaliação formativa e dois momentos de avaliação sumativa. Artigo 7º – Escalas de avaliação A tradução da avaliação sumativa faz-se utilizando a escala de 0 (zero) a 20 (vinte) valores. A tradução da avaliação formativa faz-se segundo a escala que se segue: Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 91 MF Muito Fraco F Fraco S Suficiente B Bom MB Muito Bom Artigo 8º – Publicitação da avaliação 1. A publicitação das classificações dos módulos deve ocorrer após a realização das avaliações acima referenciadas, devendo as escolas escolher os métodos de publicitação mais adequados à sua realidade. 2. Atendendo à lógica modular adoptada, a classificação final de cada módulo a publicar em pauta, só terá lugar quando o aluno atingir uma nota igual ou superior a 10 valores. 3. Compete ao director de turma em articulação com a direcção pedagógica, fornecer aos alunos e aos seus encarregados de educação uma informação sucinta sobre o desenvolvimento global das principais aprendizagens realizadas, das dificuldades evidenciadas por cada aluno e, ainda, com indicações relativas a actividades de remediação e/ou enriquecimento. Artigo 9º – Regime de progressão 1. O regime de progressão no plano de estudos segue a lógica modular, a partir de uma metodologia pedagógica e didáctica que permita a progressão curricular de tal modo a que os alunos/formandos progridam segundo os seus próprios ritmos. 2. Os módulos são unidades de ensino/aprendizagem coesas, flexíveis, combináveis entre si e definidas em termos de conteúdos, actividades, objectivos e tempo médio de duração. 3. No início de cada módulo serão realizadas actividades de diagnóstico que testem os prérequisitos necessários ao desenvolvimento dos respectivos conteúdos. 4. Ao longo do desenvolvimento do módulo, a avaliação deve ser a resultante da auto e heteroavaliação dos alunos/formandos e da avaliação realizada pelo professor/formador. 5. No final de cada módulo a avaliação traduzir-se-à por uma classificação quantitativa. 6. A aprovação num módulo implica uma nota igual ou superior a dez valores. 7. Sempre que o aluno/formando não atinja os objectivos essenciais, o professor/formador deverá dar-lhe uma nova oportunidade, definindo com ele as estratégias de superação que sejam adequadas, ajustando as estratégias de ensino-aprendizagem e dando-lhe mais tempo para a avaliação do módulo; se o aluno/formando atingir esses objectivos, então, o professor/formador registará a nota; caso contrário, o aluno/formando solicitará, administrativamente, uma avaliação extraordinária, devendo as escolas definir as regras e condições que regulem esta situação. Artigo 10º – Prova de Aptidão Profissional (PAP) 1. A prova de Aptidão Profissional (PAP) é um projecto pessoal, transdisciplinar integrador de todos os saberes e competências desenvolvidas ao longo da formação. 2. Os alunos/formandos, além de seminários sobre empreendedorismo, criação de autoemprego e de empresas, terão um tempo dedicado à realização de um projecto profissional que será objecto de análise e avaliação na sua Prova de Aptidão Profissional. 3.Compete a cada aluno/formando conceber, realizar e avaliar o seu projecto sob a orientação e acompanhamento de um ou mais professores/formadores. Este projecto deverá ocorrer após dois terços do plano curricular e realizar-se-à em verdadeiro contexto de trabalho. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 92 4. Do trabalho realizado o aluno/formando fará um relatório que será apreciado pelo júri da PAP; 5. O júri a que alude o número anterior será constituído pelos seguintes elementos: director pedagógico da escola, que preside, o director de turma, professores/formadores das especialidades envolvidas, um representante das associações empresariais, outro das associações sindicais, ou profissionais dos sectores afins do curso. § 1º O júri para deliberar necessita da presença de, pelo menos, três elementos, sendo obrigatoriamente, um representante do empresariado ou das associações sindicais. 6. Consideram-se aprovados na PAP os alunos que obtenham uma classificação igual ou superior a dez valores. 7. A PAP será valorizada para efeitos de progressão e de certificação. 8. As escolas deverão elaborar os normativos internos que presidem à realização da PAP. Artigo 11º – Estágio Profissional 1. Aprovado o aluno/formando, na formação em contexto escolar, isto é, em todos os módulos de todas as disciplinas do plano de estudo e na Prova de Aptidão Profissional, deve seguir-se um período de formação nas empresas, de estágio profissional obrigatório. 2. A realização do estágio deverá ser feita, preferencialmente, em empresas, mas, onde tal se torne impossível, por existência incipiente ou mesmo não existência de tecido empresarial, deverá ser realizado na própria escola, nas práticas de produção. 3. O estágio terá uma duração compreendida entre 480 horas (mínima) e 720 horas (máxima). 4. O estágio será avaliado qualitativamente seguindo a escala:Suficiente , Bom , Muito Bom. 5. Haverá lugar à repetição do estágio sempre que o aluno/formando não obtenha nenhuma das classificações referidas no número anterior. 6. O Regulamento de Estágio que constitui o Anexo II deste Regulamento, precisa as tramitações e procedimentos a adoptar nesta etapa do percurso de formação, dos alunos/formandos, em contexto real de trabalho. Artigo 12º – Classificações finais de cada disciplina A classificação final de cada disciplina obter-se-á pela média aritmética simples das classificações obtidas em cada módulo. Artigo 13º – Classificação final do plano de estudos A classificação final respeitante à conclusão do plano curricular obtém-se pela média aritmética simples das classificações finais de cada disciplina. Artigo 14º – Classificação Final do curso e Fórmula de apuramento A classificação final do curso (CF) obtém-se atribuindo peso 2 (dois) ao Plano Curricular (PC) e peso 1 (um) à Prova de Aptidão Profissional (PAP). Assim, a classificação final a inscrever no diploma é obtida aplicando a fórmula seguinte: CF = 2PC+PAP 3 Artigo 15º – Diploma final Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 93 No final do curso o diploma a emitir deve mencionar não só as classificações obtidas, tanto nas disciplinas como na PAP, mas também, deforma sucinta o descritivo da formação realizada, nomeadamente, o respectivo plano de estudos, o projecto profissional desenvolvido, o tipo de estágio realizado e respectiva classificação qualitativa. Artigo 16º – Casos Omissos Casos omissos e de interpretação do presente regulamento serão da competência do MINED, através da DINET. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 94 Anexo II Regulamento de Estágio Profissional REGULAMENTO DE ESTÁGIO – Nota introdutória O estágio profissional é um tempo de formação dedicado a uma vivência prática em posto de trabalho das diversas tarefas profissionais inerentes a cada uma das diferentes áreas de formação. Ocorrendo, desejavelmente, fora das escolas – ainda que possa vir a ser realizado nelas – o estágio profissional é um complemento de formação que permitirá aos alunos/estagiários integrarem-se nos contextos funcional e organizacional das empresas, o que muito valorizará as aprendizagens. Convindo harmonizar procedimentos e tramitações, pelo presente se publica o “Regulamento de Estágio” que faz parte integrante do Regulamento das Escolas Profissionais. Artigo 1º – Objectivo 1. O estágio profissional tem por objectivo a mobilização dos saberes e saber-fazer num contexto profissional particular, um saber transferir os conhecimentos adquiridos pelos alunos/estagiários para um contexto real de trabalho, a partir da execução prática de diferentes tarefas ou da concepção de projectos relacionados com as suas áreas de formação. 2. O estágio deve contribuir para a consciencialização da natureza do trabalho actual e futuro e deve ser uma importante componente do desenvolvimento pessoal, social e profissional. Artigo 2º – Âmbito e Natureza 1- O plano de estágio deverá ser concebido de forma a que se possa avaliar a transdisciplinariedade adquirida no quadro da formação e ajustar-se-à ao perfil de competências exigidas para cada perfil de saída. 2- Após a realização do estágio o aluno/estagiário deve ser capaz de executar sozinho as actividades concretas da sua profissão, e ser capaz de analisar e resolver os problemas encontrados. Artigo 3º – Temas e Planos 1 - Compete aos alunos/estagiários escolherem os temas sobre os quais pretendem realizar o estágio profissional, devendo os mesmos serem aceites e aprovados pelo Conselho Pedagógico (CP). 2 - Aprovados os temas pelo CP, a metodologia de trabalho será definida pelos intervenientes designados para esse fim (professor coordenador do estágio, professores acompanhantes, monitores das empresas envolvidas) com a participação dos alunos/estagiários Artigo 4º – Inscrição 1 - A inscrição no estágio é obrigatória e formaliza-se mediante o preenchimento de um boletim específico fornecido pela escola, podendo ocorrer após a aprovação do aluno/estagiário na parte escolar do curso e na prova de aptidão profissional. 2 - No acto da inscrição e no boletim a que se alude no número anterior, os alunos/estagiáriosdeverão mencionar os temas do estágio e, se não recorrerem à “Carteira de Sítios” oferecida pela escola, deverão, igualmente, indicar o local onde o querem realizar. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 95 Artigo 5º – Local de execução 1 - O estágio pode ser realizado na escola ou fora dela, em locais que constem da “Carteira de Sítios”, reconhecidos como idóneos pela escola e que garantam o acompanhamento dos alunos/estagiários. 2 - No caso dos alunos/estagiários indicarem o local onde pretendem realizar o estágio, compete à escola, de acordo com os princípios definidos anteriormente, aceitar, ou não, o mesmo. Artigo 6º – Duração, calendarização, e particularidades 1 – O estágio terá uma duração mínima de 480 e máxima de 720 horas. 2- A variabilidade deste período de tempo decorre do nível de competências já adquiridas pelo aluno/estagiário, ao longo da sua formação em contexto escolar. 3 – Tendo em conta o n.º 1 do presente artigo, compete ao Director Adjunto Pedagógico, atribuir o n.º de horas de estágio a cada aluno/estagiário, depois de ouvido o parecer dos professores/formadores da especialidade. 4 – Mediante proposta do professor acompanhante e do monitor da empresa o período de estágio inicialmente previsto pode ser alterado, não podendo, nunca, ultrapassar as 720 horas. 5 - Após a realização do estágio, os alunos/estagiários deverão fazer entrega nos serviços administrativos da escola da “Caderneta de Estágio” fornecida pela escola e, ainda, de dois exemplares do “Relatório Final de Estágio” que, obrigatoriamente, deverão elaborar. 6 - Salvo para casos especiais devidamente aprovados pelo CP e ratificados pela direcção da escola, a não conclusão do estágio dentro dos períodos estabelecidos, obrigará os alunos/estagiários à sua repetição. Artigo 7º – Orientação e acompanhamento 1 - Quando o estágio se realize na escola os alunos/estagiários serão acompanhados por monitores internos para além do professor acompanhante. 2 - Sempre que o estágio se realize em empresas exteriores e que reúnam as condições previstas no art.º 5º, a escola designará, igualmente, o professor acompanhante e as empresas indicarão os monitores que orientarão a formação. Artigo 8º – Vínculos e funções A) PROFESSOR - COORDENADOR DOS ESTÁGIOS 1 - O professor - coordenador dos estágios será nomeado pela direcção pedagógica da escola, sob proposta do CP e a ele competirá a organização e supervisão das diferentes acções, articulando-se com os professores acompanhantes, monitores e com os alunos/estagiários . 2 – O professor-coordenador estabelecerá, também, as regras gerais de funcionamento do estágio, assim como as regras para a escrita e apresentação do relatório final de estágio. 3 - O professor-coordenador do estágio manterá a direcção da escola, bem como o CP, ao corrente das acções desenvolvidas, apresentando-lhes os problemas que surgirem e que necessitem de resolução pontual. 4 - Compete, ainda, ao professor coordenador dos estágios, para casos excepcionais devidamente justificados, propor ao CP a anulação do mesmo para os alunos/estagiários que manifestem sucessivos incumprimentos, decisão que deverá, no entanto, ser ratificada pela direcção da escola. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 96 B) PROFESSOR - ACOMPANHANTE 1 - O professor-acompanhante (tutor) do estágio, nomeado pelo coordenador, terá como função o acompanhamento do aluno/estagiário durante o período da realização do estágio, inteirando-se dos seus progressos e dificuldades, a partir de informações recolhidas no local onde se desenvolvem as actividades e articulando-se com os respectivos monitores das empresas. 2 – As informações a que alude o número anterior serão comunicadas ao aluno/estagiário e registadas na “Caderneta de Estágio”. 3 – Ao professor acompanhante compete, igualmente, prestar apoio e orientações ao aluno/estagiário na organização do relatório final. C) MONITORES 1 - Os monitores terão como função específica a orientação e a avaliação das diferentes tarefas a realizar pelos alunos/estagiários, segundo parâmetros constantes na “Caderneta de Estágio” e previamente definidos entre o professor acompanhante e o monitor. 2 - Os elementos de avaliação deverão ser registados na respectiva Caderneta em colaboração com o professor acompanhante. Artigo 9º - Apresentação do relatório final do estágio 1 – Após a realização do estágio, o aluno/estagiário, de acordo o estipulado em A) ponto 2 do artigo 8º, deverá fazer a entrega de dois exemplares do relatório final que elaborou, bem como da “Caderneta de Estágio”. 2 - O relatório a que se alude no n.º anterior deverá ser dactilografado, ou processado em computador, em formato A4 e encadernado, seguindo as regras adoptadas em cada escola, conforme se estipula em A) ponto 2 do artigo 8º. 3 - O relatório será entregue ao professor acompanhante que fará uma primeira apreciação. 4 - Caso o relatório não atinja os objectivos considerados necessários, o professor acompanhante pode devolvê-lo ao aluno/estagiários para uma reformulação. 5 - Quando o professor acompanhante considerar que o relatório final atingiu os objectivos considerados necessários, informará o coordenador do estágio para que este convoque o júri de avaliação e marque a data da respectiva discussão. 6 - Os trabalhos que, pelo seu conteúdo, forem considerados de interesse para a escola, poderão ser publicamente elogiados e merecedores de louvor especial. Artigo 10º – Júri de avaliação do estágio 1. O júri que preside à avaliação do estágio é constituído pelos seguintes elementos: director pedagógico da escola, que preside, o professor acompanhante do estágio, monitor da empresa, um representante das associações empresariais, outro das associações sindicais, ou profissionais dos sectores afins do curso. 2. O júri para deliberar necessita da presença de, pelo menos, três elementos, sendo um obrigatoriamente, representante do empresariado ou das associações sindicais. Artigo 11º – Avaliação do estágio 1 - A avaliação do estágio efetuar-se-á a partir da apresentação e da discussão oral do relatório final de estágio, com uma duração máxima de 60 minutos. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 97 2 - Os alunos/estagiários poderão apresentar os seus trabalhos a partir de uma exposição oral, podendoa ilustrar com meios audiovisuais e multimédia, não podendo o tempo de apresentação exceder 30 minutos. 3 - A arguência será feita, principalmente, pelo professor acompanhante, podendo no entanto qualquer membro do júri interrogar o aluno/estagiário, a quem é dada a possibilidade de responder às críticas que lhe forem dirigidas. Artigo 12º – Classificação final do estágio 1 - A avaliação final do estágio será a resultante da apreciação da qualidade do trabalho desenvolvido, do seu carácter inovador e da defesa do mesmo por parte do aluno/estagiário. 2 - Do júri sairá uma classificação qualitativa, obtida a partir da avaliação quantitativa proposta pelos membros do júri, de acordo com as seguintes ponderações: - Professor acompanhante e monitor – nota com peso dois; - Outros intervenientes considerados no artº10 deste Regulamento – nota com peso um; 3 - A nota final obter-se-à pela média, ponderada, arredondada às unidades calculada a partir de cada nota dos intervenientes; 4 – A escala qualitativa, bem como a respectiva correspondência quantitativa, é a seguinte: AVALIAÇÃO QUALITATIVA REFERÊNCIA QUANTITATIVA Suficiente Bom Muito Bom 10-13 14-17 18-20 5- Das decisões do júri lavrar-se-á a respectiva acta. Artigo 13º – Carteira de Sítios de realização do estágio 1 – Os estágios oferecidos pelas escolas constarão, de uma “Carteira de Sítios” (CS), à qual os alunos/estagiários terão acesso, por solicitação expressa. 2 - A CS mencionará a designação das empresas ou instituições envolvidas, as suas características técnicas, os temas para os quais podem proporcionar a realização do estágio e outros aspectos considerados de interesse para os alunos/estagiários (possibilidade de alojamento, alimentação, transportes, prémios de trabalho, etc.) 3 - As candidaturas à CS serão solicitadas pelos alunos/estagiários através do preenchimento de um impresso que deverá ser apresentado no prazo previamente estabelecido. 4 - A selecção dos alunos/estagiários pelas respectivas empresas/instituições será feita pelo CP, e será publicamente anunciada. 5 - Os alunos/estagiários poderão reclamar da decisão relativamente à selecção a que se alude em 4, no prazo de 48 horas após a publicação do resultado. 6 - O CP deverá emitir o seu parecer sobre as reclamações no prazo de uma semana, o qual não é passível de nova reclamação. Artigo 14º – Caderneta de estágio 1 - A Caderneta de Estágio fornecida pela escola, destina-se a registar as tarefas executadas pelos alunos/estagiários durante o período de realização do estágio. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 98 2 - O preenchimento da caderneta é obrigatório. 3 – Na caderneta de estágio será, igualmente, registada a assiduidade do aluno/estagiário, competindo tal tarefa ao monitor de estágio. 4 – Quinzenalmente, o monitor procederá à avaliação do aluno/estagiário preenchendo a grelha específica. 5 – Sempre que o professor acompanhante visite o aluno/estagiário no seu posto de trabalho deverá fazer constar a visita na Caderneta de Estágio. 6 – No final do estágio o professor acompanhante e o monitor da empresa preencherão o “Termo de Encerramento do Estágio”, procedendo a uma avaliação global e qualitativa do aluno/estagiário. 7 - Depois do período de realização do estágio a caderneta de estágio disponibilizará para o aluno/estagiário informações de suporte à elaboração do Relatório Final. 8 – A quando da entrega do relatório final, conforme estipula o nº 5 do artigo 6º, o aluno/estagiário fará, igualmente, entrega da sua Caderneta de Estágio que estará acessível aos membros do júri durante a defesa e avaliação do estágio, na esteira do art. 11º do presente regulamento. Artigo 15º – Faltas Durante a realização do estágio os alunos/estagiários estão sujeitos ao regime geral de faltas em vigor nas empresas onde decorrerem os estágios, não podendo dar mais do que 5% do número de horas previsto para a realização do estágio. Artigo 16º – Casos Omissos Os casos omissos ou de interpretação, não contemplados no presente regulamento, serão objecto de resolução específica pelo Conselho Pedagógico. Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 99 ANEXO III - PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA AVALIAÇÃO (5 A 28 DE SETEMBRO) PROGRAMA DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS DE MOÇAMBIQUE AVALIAÇÃO INTERNACIONAL Programa 1. PREPARAÇÃO DO TRABALHO Dia 5 de Setembro de 2011 (2ª feira) Hora: 09 – 12:30h / 14:00 – 16:30h Local: Ministério da Educação - (MINED) – Avenida 24 de Julho, 167- 7º Maputo Apresentação do Programa das Escolas Profissionais de Moçambique; 1) Ponto de situação sobre o trabalho a desenvolver; 2) Logística das deslocações e versão final do cronograma das visitas 3) Eventual actualização do programa a ser desenvolvido; Participantes: Avaliadores e Equipa UTA (3 elementos) 2. TRABALHO DE CAMPO 2.1 VISITAS EM COMUM (TODOS OS INTERVENIENTES) Província Dia Maputo (3ª F) 6/9 (4ª F) 7/9 (5ª F) 8/9 (6ªF) 9/9 (Sáb) 10/9 Escola Hora de Partida Deslocação Intervenientes Escola P. de Moamba 6:30 Automóvel Avaliador A Avaliador B Equipa UTA (3) Feriado Nacional Escola P. de Moamba 6:30 Automóvel Escola P. S. Francisco 6:30 Escola P. S. Francisco 6:30 Avaliador A Avaliador B Equipa UTA (3) Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 100 2.2 VISITAS DESDOBRADAS ( 2 EQUIPAS EM SIMULTÂNEO) 2.2.1 Zona Sul/Centro (6 escolas) Província Gaza Inhambane Sofala Manica Sofala Maputo Dia (Dom) 11/9 (2ªF) 12/9 ( 3ª F) 13/9 (4ª F) 14/9 (5ª F) 15/9 (6ª F) 16/9 (Sáb) 17/9 (Dom) 18/9 (2ªF) 19/9 (3ª F) 20/9 (4ª F) 21/9 ( 5ª F) 22/9 (6ª F) 23/9 (Sáb) 24/9 (Dom) 25/9 (2ª F) 26/9 (3ª F) 27/9 Escola/ Acção Deslocação p/ Xai Xai Alojamento Hora de Partida 07:30 Escola P. de Inhamissa 07:30 Trabalho E. P de Chimoio 07:30 06:30 07:30 06:00 07:30 07:30 05:30 07:30 05:00 Trabalho na E.P de Caia 07:30 Partida para Maputo 05:30 Chegada a Maputo 19:00 Elaboração de relatório intermédio Apresentação dos resultados do relatório intermédio (5ª F) 29/9 Regresso ao Brasil Automóvel Professora Drª Lucília Machado + Elemento UTA/PEP (Júnior Matsimbe) 06:00 Deslocação para Caia Trabalho na E.P de Caia (4ª F) 28/9 Intervenientes 10:00 Escola P. de Inhamissa Deslocação para Inharrime e trabalho Trabalho na Escola P Inharrime Deslocação e trabalho na E.P. de Massinga Trabalho na na Escola P de Massinga Deslocação para Mangunde e Alojamento Trabalho E. P de Mangunde Trabalho E. P de Mangunde Deslocação para Chimoio Trabalho E. P de Chimoio Deslocação Avaliadores 09:00 Avaliadores e Convidados: (Técnicos do MINED/DINET, Membros das ELIDEP e representantes da Embaixada de Portugal, outros) Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 101 2.2.2 Província Tete Dia (Dom) 11/9 (2ªF) 12/9 (3ª F) 13/9 (4ª F) 14/9 (5ª F) 15/9 Nampula (6ª F) 16/9 (Sáb) 17/9 (Dom) 18/9 (2ªF) 19/9 Cabo Delgado (3ªF) 20/9 (4ª F) 21/9 (5ª F) 22/9 (6ª F) 23/9 (Sáb) 24/9 (Dom) 25/9 (2ªF) 26/9 (3ªF) 27/9 (4ªF) 28/9 Zona Centro/Norte( 6 escolas) Escola Hora de Partida Deslocação Deslocação para Tete 13:00 Avião Trabalho na EP D. Bosco 07:30 Trabalho na EP D. Bosco e deslocação para Songo 07:30 Trabalho na EP Songo 07:30 Regresso a Tete Voo para Nampula Deslocação para a Ilha de Moçambique Trabalho na EP Ilha de Moçambique Trabalho na EP Ilha de Moçambique e regresso a Nampula 06:00 11:35 Viagem para Pemba 11:55 Deslocação para Montepuez e Trabalho na EP de Montepuez Trabalho na EP de Montepuez Deslocação para Mariri e Trabalho na EP de Mariri Trabalho na EP de Mariri e deslocação para Ocua Automóvel Avião 15:30 7:30 Automóvel 07:30 Avião 08:00 Dr. José Manuel Castro + 1 elemento UTA/PEP (Francisco Massinga) 07:30 06:00 Automóvel 07:30 Trabalho na EP de Ocua 07:30 Trabalho na EP de Ocua e regresso a Pemba 07:30 Dia Livre em Pemba Regresso a Maputo 20:00 Avião Elaboração de relatório intermédio Avaliadores Apresentação dos resultados do relatório intermédio 9:00 Avaliadores e Convidados: (Técnicos do MINED/DINET, Membros das ELIDEP e representantes da Embaixada de Portugal, outros) Regresso a Portugal 08:00 Maputo (5ªF) 29/9 Intervenientes Voo TAP Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 102 ANEXO IV - GUIÕES DOS PAINÉIS Professores - Proporção de formação geral (40%/70%), formação técnica (60%/30%) no currículo - Sentido da proposta do ano complementar - Regime da avaliação das aprendizagens: conceção e formas de desenvolvimento - PAP - conceção e implementação - Estágio - conceção e implementação - Integração curricular (conjugação) - Formação para o desenvolvimento integral do aluno (cultural, desportivo, etc.) - Características da OP nas EP - Possibilidade da EP recorrer a professores/formadores que mantenham atividade profissional ou empresarial efetiva - Características que as EP devem ter para serem apropriadas/ajustadas às necessidades da Província - Apreciação Global do Modelo EP Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 103 Alunos - Razões da escolha - Proporção de formação geral (40%/70%), formação técnica (60%/30%) no currículo - Sentido da proposta do ano complementar - Regime da avaliação das aprendizagens: conceção e formas de desenvolvimento - PAP - conceção e implementação - Estágio - conceção e implementação - Integração curricular. (conjugação) - Formação para o desenvolvimento integral do aluno (cultural, desportivo, etc.) - Características da OP nas EP - Reconhecimento e valorização dos saberes adquirido (comunidade, família, amigos) - Acontecimento Inesquecível Pais, Encarregados de Educação e Autoridades da Comunidade - Razões da Escolha da Escola Profissional e importância da Ensino Profissional - Proporção de formação geral (40%/70%), formação técnica (60%/30%) no currículo. - Sentido da proposta do ano complementar - Regime da avaliação das aprendizagens: conceção e formas de desenvolvimento - PAP - conceção e implementação - Estágio - conceção e implementação - Integração curricular. (conjugação) - Formação para o desenvolvimento integral do aluno (cultural, desportivo, etc.) - Características da OP nas EP - Reconhecimento e valorização dos saberes adquirido (comunidade, família, amigos) - Outras ofertas de qualificação profissional pelas EP - Apreciação Global do Modelo EP Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 104 Empresários/ONG - Papel das organizações e empresas na criação, promoção e desenvolvimento das EP -Estratégias que devem ser usadas pelas EP para estarem adequadas às necessidades locais (identificação de outras necessidades- novos cursos)? - Estágio - conceção e implementação - Possibilidade da EP recorrer a professores/formadores que mantenham atividade profissional ou empresarial efetiva - Apreciação Global do Modelo EP Diretor Provincial - Significado/Papel/lugar da EP no âmbito da Política Educacional da Província - Papel da Direção Provincial na criação, promoção e desenvolvimento das EP -Características que as EP devem ter para serem apropriadas/ajustadas às necessidades da Província - Outras ofertas de qualificação profissional pelas EP - Apreciação Global do Modelo EP Diretor da Escola Profissional - Perfil de formação e qualificação para a função - Autonomia administrativa, financeira, pedagógica e cultural – formas de concretizar - Possibilidade de fortalecer a sustentabilidade do modelo das EP com as receitas próprias - Adequação da forma do contrato programa previsto - Adequação do regime de recrutamento de professores/formadores e necessidade de melhoria/alterações - Necessidade de uma instância de gestão participativa (Conselho Consultivo por ex.) -Características que as EP devem ter para serem apropriadas e ajustadas às necessidades da Província - Outras ofertas de qualificação profissional pelas EP - Apreciação Global do Modelo EP (outros modelos, generalização) Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 105 Diretor Pedagógico - Perfil de formação e qualificação para a função - Proporção de formação geral (40%/70%), formação técnica (60%/30%) no currículo - Sentido da proposta do ano complementar. - Regime da avaliação das aprendizagens: conceção e formas de desenvolvimento - PAP – conceção e implementação - Estágio – conceção e implementação - Integração curricular (conjugação) - Formação para o desenvolvimento Integral do aluno (cultural, desportivo, etc.) - Possibilidade da EP recorrer a professores/formadores que mantenham atividade profissional ou empresarial efetiva - Características da OP nas EP - Inserção (UNIVA) - Eficiência do modelo EP no combate à evasão (abandono) e insucesso - Avaliação dos percursos dos ex-alunos (escola/trabalho) - Apreciação Global do Modelo EP Relatório Final da Avaliação Internacional do Modelo Curricular e Pedagógico das Escolas Profissionais de Moçambique 106