Projeto aposta no cultivo da seringueira
em consorcio com pupunha como fonte de
renda e sustentabilidade
De acordo com dados do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, apenas os
estados de São Paulo, Mato Grosso e Bahia são
responsáveis por mais de 80% da produção
nacional de borracha.
Pneus, preservativos, acessórios e calçados.
Estes produtos, tão constantes na vida moderna,
têm um material em comum na composição: a
borracha natural. Mas ao contrário do que pode
sugerir o senso comum, a produção da borracha
não se restringe mais ao extrativismo na
Amazônia, responsável pelo período áureo da
região do século XIX até as primeiras décadas do
século passado. Hoje, a hevicultura tem como
base um planejamento racional e está mais
distribuída pelo sudeste e centro-oeste do País.
De acordo com dados do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, apenas os
estados de São Paulo, Mato Grosso e Bahia são
responsáveis por mais de 80% da produção
nacional de borracha.
No Rio de Janeiro, um projeto apoiado pelo edital
de Apoio à Inovação Tecnológica, da Faperj,
segue esse movimento. Empreendedores do
Instituto Tecnológico da Borracha apostam no
cultivo da seringueira (Heveas brasiliensis) como
fonte de renda e sustentabilidade para o
município fluminense de Quatis, situado na
histórica região do Vale do Paraíba. Segundo o
diretor do instituto e coordenador da iniciativa, o
economista Marcello Tournillon Ramos, o projeto
é uma oportunidade para ajudar a disseminar o
cultivo de borracha no estado, que ainda é
inexpressivo. "O objetivo é criar uma
infraestrutura para o cultivo da seringueira
fluminense, para que o Rio de Janeiro participe
mais ativamente da produção nacional.
Contrariando o que muitos pensam, o clima e o
solo fluminenses, com destaque para o Vale do
Paraíba, são extremamente propícios a essa
cultura", afirma.
Renda e sustentabilidade - O projeto do
Instituto Tecnológico da Borracha (Iteb), que
tem entre seus parceiros a ONG Educa Mata
Atlântica, propõe a introdução da seringueira
como negócio socioambiental de longo prazo e
reabilitação de áreas degradadas - em Quatis,
inicialmente, para depois expandir a iniciativa
para outras localidades do Vale do Paraíba. "A
cultura da seringueira pode representar uma
fonte de renda para os pequenos proprietários
rurais da região. Ela pode gerar empregos
diretos e indiretos e criar condições favoráveis
para a fixação do homem no campo", destaca
Ramos. "Ao mesmo tempo, ela atende a
legislação ambiental e pode ser uma importante
aliada na preservação do meio ambiente",
completa.
Com esse propósito, criou-se um polo de
desenvolvimento da cultura em uma propriedade
rural situada às margens da estrada RJ -159, que
liga Quatis ao distrito de Falcão. Lá, os pequenos
produtores interessados recebem assistência
técnica e formação adequada para cultivar a
seringueira dentro dos parâmetros de
sustentabilidade. "Os agricultores aprendem todo
o processo de produção, desde a criação das
mudas em viveiro, com enxerto clonal, passando
pelo plantio, até a extração da borracha natural.
Além da prática do manejo, eles recebem
conhecimentos teóricos sobre o setor em geral e
sobre os critérios de preservação ambiental", diz
Ramos.
O diretor do Instituto Tecnológico da Borracha
recomenda aos agricultores que dividam seus
terrenos em dois modelos de plantação: o
modelo do seringal solteiro, ou seja, uma
plantação só de seringueiras, e o modelo
consorciado, que mistura seringueiras a outras
espécies, como a pupunheira. "A seringueira
demora seis anos para começar a produzir. Por
isso, o modelo consorciado é interessante, já que
a pupunheira dá frutos em dois anos, o que
garante renda durante esse período de carência",
explica. O modelo consorciado também é
ecologicamente correto. "O plantio de espécies
diversificadas ajuda a recuperar com mais
rapidez os solos degradados", acrescenta Ramos,
sugerindo que a atividade pode ser explorada em
Áreas de Preservação Permanente (APP), como
margens de rios e topos de morros.
Depois da atual etapa de capacitação dos
agricultores familiares e pequenos produtores
locais, o próximo passo será disponibilizar o
plantio de 10 mil mudas de seringueiras,
distribuídas em diversas propriedades da região.
Ao todo, as árvores vão ocupar 20 hectares. Esse
número terá um impacto positivo para o meio
ambiente. A floresta de seringueira propicia a
proteção do solo contra erosão e a proteção de
nascentes e mananciais. Outro aspecto
importante é que a Heveas brasiliensis é uma
das espécies cultivadas com maior potencial de
fixação dos gases causadores do efeito estufa,
processo chamado de "sequestro de carbono". "A
estimativa é que os 10 mil pés de seringueira,
em 15 anos, 'sequestrem' cinco mil toneladas de
carbono equivalente (CO2e)", ressalta Ramos.
Países asiáticos como Tailândia, Indonésia,
Malásia, China e Vietnã são os mais importantes
produtores mundiais de borracha natural.
"Atualmente, o Brasil ocupa o nono lugar na
produção mundial e precisa importar o produto
para abastecer o mercado interno", diz Ramos. A
heveicultura gera receita e impostos com a
venda da borracha natural, tanto in natura (látex
virgem ou coágulo) quanto beneficiada - com
produtos como o Granulado Escuro Brasileiro,
conhecido como GEB-1. "Temos que suprir uma
lacuna na produção interna de borracha do
estado do Rio de Janeiro, que tem instalações da
maior pneumática do mundo, a Michelin",
conclui. Também participam do projeto a
educadora ambiental Vânia Velloso e a diretora
do Educa Mata Atlântica, Rita de Souza.
(Agência Faperj)
Fonte : http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=78439
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