Alternativas alimentares para caprinos e ovinos no semiárido Marcos Cláudio Pinheiro Rogério1; Henrique Antunes de Souza1; Roberto Cláudio Fernandes Franco Pompeu1; Luciana Shiotsuki2; Alexandre Ribeiro Araújo3 – Embrapa Caprinos e Ovinos, Sobral-Ceará 2Pesquisadora – Embrapa Pesca e Aquicultura, Palmas-Tocantins 3Professor – Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral-Ceará 1Pesquisadores 2 3 Introdução Importância da exploração de caprinos e ovinos; Falta de um manejo nutricional adequado devido à reduzida disponibilidade de alimentos. Isso pode ser convertido em prejuízos na quantidade e qualidade dos produtos; O manejo nutricional é o fator que reflete mais rapidamente sobre a produção; Os rebanhos de ovinos e caprinos podem ser criados em distintos sistemas de produção com diferentes formas de alimentação (Poli et al., 2008) É possível encontrar animais confinados em um sistema intensivo, até animais criados extensivamente, muitas vezes, quase em estado selvagem (Otto de Sá et al., 2007). 4 Introdução No semiárido, esses sistemas baseiam-se em combinações diversas com outras espécies como bovinos (Costa et al., 2008), o que pode comprometer ainda mais a disponibilidade de alimentos em quantidade e qualidade; Não há um sistema padrão para a criação de ovinos e caprinos que funcione de maneira eficiente em todas as regiões (Siqueira, 2001); Planejamento alimentar Estabelecimento de estratégias de produção, uso e armazenamento de alimentos para os animais; Atendimento das exigências nutricionais; Categorização do rebanho atendendo assim, as exigências nutricionais do rebanho durante todo o ano 5 Estratégias para a alimentação de pequenos ruminantes em regiões áridas e semiáridas Ensilamento de subprodutos agroindustriais; Agregação de valor e produção de rações/alimentos na forma de blocos alimentares ou peletizados; Recursos forrageiros da caatinga; Sistemas agrossilvipastoris Controle e reserva de recursos hídricos (Ben Salem, 2010) • Avaliação do desempenho de ovinos e caprinos em diferentes sistemas de alimentação • Cultivo estratégico de forrageiras anuais e perenes 6 7 Reflexões Hipóteses para o não investimento em forragens 1. Há uma concorrência entre a produção de forragens para conservação e a produção de alimentos, uma vez que boa parte dos ovinocaprinocultores são também agricultores e precisam produzir cereais no período chuvoso; 2. Há uma relação de risco climático para produção de forragens como o milho ou sorgo o que faz com que os produtores prefiram investir em rações concentradas; 3. Há também escassez de mão de obra para executar operações de plantio, colheita e reserva (ensilagem e fenação). 9 Reflexões • Desafio 1: Tecnologias para aumento da forragem disponível – Raleamento – Rebaixamento – Enriquecimento 10 Reflexões • Desafio 2: Suplementação concentrada 11 Reflexões 0 50 100 150 200 250 300 350 0 50 100 150 200 250 300 350 Fonte: Leite et al. (2002) A ENERGIA É O NUTRIENTE MAIS LIMITANTE NA CAATINGA CAATINGA ENRIQUECIDA AUMENTO DA FORRAGEM DISPONÍVEL 12 Reflexões Desafio 3: Aumentar a base de alimentos disponíveis • Forragem – Fenação e ensilagem Concentrado Mistura múltipla – Bancos de proteína – Capineiras irrigadas – Cana-de-açúcar – Palma forrageira – Pastejo rotacionado – Algaroba Subprodutos da agroindústria Cereais Frutas Tubérculos – Outras... 13 Planejamento alimentar As pastagens sofrem uma variação muito grande ao longo do ano, em função das condições climáticas. Mudanças nas áreas de pastagens, número de animais Alimentos volumosos de qualidade, baixo custo Planejamento Equilíbrio entre produção e demanda (produtividade e desempenho animal) Hábitos alimentares, particularidades no uso dos alimentos e exigências nutricionais; Valor nutritivo forrageira; dos alimentos e produtividade Viabilidade econômica 14 Planejamento alimentar Tipo, qualidade e quantidade Fornecimento alimentar Escrituração zootécnica Os pequenos ruminantes têm exigências nutricionais em termos de proteína, energia, minerais e água. É importante que o produtor pense não em alimentos milagrosos que possam atender a toda essas classes, mas em uma questão de balanceamento nutricional com a inclusão de ingredientes que possam de fato atender a essas exigências. 15 Planejamento alimentar Exemplo: Necessidades de forragem para um rebanho de 100, 200 ou 300 cabras ou ovelhas no semiárido (peso médio de 40 kg), por um período de seca de oito meses e consumo médio, por animal, de 3,0% do peso vivo em matéria seca (40 x 0,03 = 1,2 kg MS), calculam-se os seguintes quantitativos. 16 Planejamento alimentar Tabela 1. Simulações de consumo médio de matéria seca (MS) e reserva necessária de forragem para o período de estiagem. Número de Consumo médio animais kg MS/dia Consumo médio do rebanho kg MS/dia Reserva necessária para período seco 100 1,200 100 x 1,200 = 120 t MS 120 x 240 = 28,8 200 1,200 200 x 1,200 = 240 240 x 240 = 57,6 300 1,200 300 x 1,200 = 360 360 x 240 = 86,4 Para atender a necessidade do rebanho de 200 animais com a oferta de volumosos, essa reserva poderia ser formada com a produção de 67,8 t de feno (85% MS) ou 192 t de silagem (30% MS) ou 288 t de capim verde (20% MS). 17 Planejamento alimentar Com um bom planejamento, em um período de chuvas de cinco meses, os criadores podem realizar, em regime de sequeiro, dois cortes nas capineiras (com intervalos de 45 a 60 dias), com potencial de produção de 20 a 30 t de MV/corte. Essas 10 t MS (25 t MV x 2 x 20% MS) obtidas em apenas um hectare de capim-elefante, quando armazenadas nas formas de feno ou silagem, são suficientes para alimentar 40 cabras ou ovelhas por cinco meses de seca (40 x 1,5 kg MS/dia x 150 dias = 9 t MS). Em um sistema irrigado, onde o produtor pode obter seis cortes por ano com intervalo de 60 dias, pode-se então obter o triplo do rendimento acima (150 t de MV/ha e 30 t de MS/ha). 18 Planejamento alimentar Tabela 2. Valores médios, teste de F e coeficiente de variação para biometria e produtividade em plantas de milho consorciadas com gramíneas forrageiras em condições de sequeiro Consócio (C) N° Altura Diâmetro folhas Prod. Grãos Prod. Biomassa ------ kg ha-1 ------ m cm Milho-buffel 1,54 1,33 7,5 831 6.253 b1 Milho-massai 1,54 1,33 7,8 712 7.307 a Teste F 0,01ns 0,03ns 1,09ns 3,86ns 9,90* 1,44 1,27 7,83 599 3.894 Contraste Testemunha (T) ns, * e ** - Não significativo e significativo a 5 e 1% de probabilidade. seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não difere entre si pelo teste de Tukey (5%). 1Médias Fonte: Souza et al. (2015), no prelo. 19 Fonte: Souza et al. (2015) Planejamento alimentar Na produção especificada na tabela anterior, obteve-se 3,9 t MV/ha para o milho solteiro, 6,3 t MV/ha para o consórcio milho-buffel e 7,3t MV/ha para o consórcio milhomassai, o que representa em torno de 1,2 t MS/ha, 1,9 t MS/ha e 2,2 t MS/ha, respectivamente (MS=30%). 1,2 t MS/ha milho 5 cabras ou ovelhas por 5 meses de seca (5 x 1,5 kg MS/dia x 150 dias = 1,12t); 1,9 t MS/ha milho + buffel 8 cabras ou ovelhas por 5 meses de seca (8 x 1,5 kg MS/dia x 150 dias = 1,8t); 2,2 t MS/ha milho + massai 9 cabras ou ovelhas por cinco meses de seca (9 x 1,5 kg MS/dia x 150 dias = 2,0t). 21 Planejamento alimentar Para 40 cabras/ovelhas 8 hectares milho solteiro; 5 hectares milho + buffel; 4,4 hectares milho + massai. Em um sistema de sequeiro, como o que foi aplicado, com apenas 416mm de precipitação pluviométrica (março a junho de 2015) seria possível alimentar as mesmas 40 cabras ou ovelhas do exemplo anterior por cinco meses com sobras. 22 Planejamento alimentar Reserva diversificada: áreas de caatinga manipulada, diferentes gramíneas para pastejo, gramíneas para capineiras, bancos de proteínas, palma forrageira, entre outras alternativas. Tabela 3. Cobertura do solo e produtividade (kg MS ha-1) das áreas utilizadas µProdutividade (kg Cobertura Área Período do solo (%) reservada (ha) MS ha-1) Abril/2013 48,12 6,51 937,93 Junho/2013 55,78* 8,79* 1203,56 Agosto/2013 24,92 3,61 894,19 µEstrato herbáceo + Estrato arbustivo-arbóreo Fonte: Araújo (2015) 23 Planejamento alimentar Figura 1. Médias de gramíneas, dicotiledôneas herbáceas, arbustos e árvores selecionadas (% da composição florística total) por ovelhas na caatinga (Período 1abril/2013; Período 2-junho/2013; Período 3-agosto/2013). Fonte: Araújo (2015) 25 Planejamento alimentar Tabela 4. Proteína bruta (%) selecionada por ovelhas no pasto de caatinga 1Concentrado fornecido (g cab-1 dia-1) 2Períodos 0 200 350 500 Abril/2013 16,22Aa 15,81Aab 15,19Abc 15,04Ac Junho/2013 13,13B 13,10B 13,50B 13,06B Agosto/2013 11,83C 11,93C 11,85C 11,55C aALetras minúsculas distintas nas linhas e maiúsculas nas colunas diferem pelo teste Tukey (P<0,05); EPM - Erro Padrão Médio = 0,24 Fonte: Araújo (2015) 26 Planejamento alimentar Tabela 5. Desempenho produtivo de ovelhas na caatinga recebendo diferentes quantidades de concentrado Concentrado (g cab-1 dia-1) EPM 0 200 350 500 Peso Inicial 29,59 29,76 29,71 29,77 Peso ao Terço Final 31,15 32,40 33,98 34,70 0,60 Peso ao Parto 28,08 29,06 30,34 31,98 0,59 Peso na Lactação 25,05b 27,45ab 28,52ab 30,85a 1,57 Peso ao Desmame 24,94b 27,72ab 28,58ab 31,65a 0,69 Peso ao Nascer dos 2,025b 2,425a 2,500a 2,625a 0,06 Cordeiros Peso ao Desmame b 14,90ab 16,45ab 16,74a 12,78 0,53 ados Letras Cordeiros distintas na linha indicam diferença pelo teste Tukey (P<0,05); EPM - Erro Padrão Médio. Fonte: Araújo (2015) 27 Alimentação de pequenos ruminantes Eficiência de utilização dos alimentos concomitante com a redução dos custos com alimentação Manutenção da condição corporal ideal para cada fase do ciclo produtivo Normalmente existem quatro dietas na propriedade Formulada pelo nutricionista Preparada pelo funcionário alimentação do rebanho responsável pela Distribuída no cocho de alimentação Consumida pelos animais (Essa é que importa!) 28 Comportamento alimentar Oportunismo: Preferências alimentares: época do ano, disponibilidade e qualidade dos alimentos Altamente seletivos!!! Ramoneio (folhas largas, plantas herbáceas ou arbustivas) Confinados forma (inteiro, picado, desintegrado, peletizado...), freqüência de fornecimento, forma de conservação do alimento Gasta mais tempo com alimentação (procura, seleção e ingestão; maior extensão de área caminhada e explorada) 29 Manejo alimentar vigente – Época águas 30 Manejo alimentar vigente – Época seca 31 Manejo alimentar vigente-Sustentabilidade Alimento 1,0 Litro/dia 1,5 Litros/dia 2,0 Litros/dia Volumoso (%MS) 68,0 44,0 19,0 Concentrado (%MS) 32,0 56,0 81,0 32 Manejo da alimentação concentrada • Escolha econômica de ingredientes • Utilização de alimentos alternativos • Balanceamento do concentrado • Suplementação estratégica 33 Suplementação estratégica CURVA DE LACTAÇÃO MEIO LACTAÇÃO INÍCIO DA LACTAÇÃO Parto PERÍODO SECO FIM DA LACTAÇÃO 8a Sem Prenhez 60 dias pré-parto TRANSIÇÃO 3 semanas pré-parto Parto 34 E.C.C.= 1 E.C.C.= 3 E.C.C.= 2 E.C.C.= 4 Fonte: Albuquerque (2006) Alimentos alternativos 36 Alimentos alternativos • Suporte forrageiro – pastagem nativa enriquecida – Suplementação com alimentos volumosos (seca e águas) • Palma forrageira (Opuntia ficus) ALIMENTO VOLUMOSO TOLERANTE À SECA • Capim-elefante (Penissetum purpureum) – Silagem – Feno ???? ???? – Assistência técnica ?? • Concentrado (seca e águas) – Milho ???? SUPLEMENTAÇÃO CONCENTRADA ???? – Farelo de soja ???? 37 Subprodutos do processamento de frutas Bagaço de caju da extração do suco Foto – Extração do suco de caju Foto –Caju in natura 38 Tabela 6. Composição químico-bromatológica (%) dos subprodutos de abacaxi, acerola, caju e maracujá Componentes Abacaxi Acerola Caju Maracujá MS 88,51 82,46 89,10 88,26 PB 9,25 17,36 13,78 13,46 PBVD 4,91 11,08 2,89 9,85 NIDA 0,78 1,04 2,87 0,56 EE 1,34 1,57 3,91 7,97 FDN 66,14 74,18 79,23 57,14 FDA 34,41 59,90 68,59 44,16 CHOT TOTAIS 80,21 78,22 79,53 72,03 Ligninas 10,05 40,83 37,76 25,69 NDT 55,95 46,67 47,20 56,89 Fonte: Adaptado, Rogério (2005) 39 Cana-de-açúcar Ponta da cana Forragem verde 40 Subprodutos da cana-de-açúcar Melaço 41 Subprodutos da cana-de-açúcar Bagaço de cana 42 Sorgo 43 2,05t MS/ha Mandioca 45 Batata doce Foto – Raiz da batata doce Foto – Rama da batata doce 46 Soro de leite bovino Foto: Soro de leite sendo descartado (imagem da internet) 47 PROJETO “Estratégias para a Conservação e o Melhoramento Genético de Ovinos da Raça Morada Nova” Soro de leite bovino Tabela 7. Dieta para o teste de desempenho 2013-2014 em base de matéria natural (Como fornecido) Ingrediente Percentual de Inclusão Soro de leite 21,31% Feno de capim elefante 42,00% Farelo de soja 26,81% Milho 9,43% Calcário 0,45% *Sal mineralizado 30g/cordeiro/dia Fonte: Magalhães (2015) 49 Tabela 8. Índices zootécnicos médios dos testes de desempenho 6o Teste de 7o Teste de Desempenho Desempenho Índices médios Peso vivo inicial (kg) 18,58 17,55 Peso vivo final (kg) 31,81 31,15 Ganho de peso (kg) 13,23 13,60 Ganho diário (g) 159,35 159,43 2,14 1,37 1,90 1,21 Conversão alimentar 11,92 7,59 Sobras (%) 7,83 6,00 Consumo dietético (MN) (kg/dia/animal) Consumo dietético (MS) (kg/dia/animal) Fonte: Facó (2013); Shiotsuki (2014) Tabela 9: Indicadores de eficiência econômica dos sistemas de produção de terminação de ovinos no município de Morada Nova Fator agregado da produção/ indicador Sistema de produção econômico Sistema 1 Sistema 2 Resultado econômico Receita total (R$) 44.856,00 45.806,40 Custo total (R$) 43.942,20 52.640,12 913,80 -6.784,12 1.647,20 -7.050,72 Prazo de retorno do investimento (anos) 9,17 - Taxa interna de retorno – TIR (%) 8,92 0,0 1,16 -0,47 Renda líquida (R$) Renda da família (R$) Índice de lucratividade Fonte: Magalhães (2015) Considerações Finais A alimentação animal representa os maiores custos da atividade pecuária Utilização de fontes alternativas que possam substituir fontes alimentares tradicionais Adaptação à realidade do semiárido O programa nutricional não é receita de bolo, e por isso deve ser feito sob medida para cada categoria animal O planejamento das atividades dos sistemas de produção deve considerar as exigências nutricionais, disponibilidade e custos dos alimentos ao longo do ano 52 53 Obrigado [email protected]