FACULDADE 7 DE SETEMBRO
CURSO COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
INTERNET, REDES SOCIAIS DIGITAIS E POLÍTICAS:
O TWITTER DO GOVERNADOR CID GOMES
GUSTAVO AUGUSTO PAULA VIEIRA
FORTALEZA – 2010
1
GUSTAVO AUGUSTO PAULA VIEIRA
INTERNET, REDES SOCIAIS DIGITAIS E POLÍTICAS:
O TWITTER DO GOVERNADOR CID GOMES
Monografia apresentada
à
Faculdade
7
de
Setembro como requisito
parcial para obtenção de
título de Bacharel em
Comunicação Social.
Orientadora:
Prof.
Alessandra Marques
FORTALEZA - 2010
2
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha saúde. À minha família, pelo bem mais precioso
que eu poderia herdar: a educação.
Aos meus amigos jornalistas,
especialmente Valdélio Muniz e Marcelino Leal, pelo forte apoio; meus
colegas de faculdade, Natalie Caratti e Antino Silva, pelo convívio, pela
compreensão e pela amizade; e as minhas chefes Cláudia Monteiro, Clícia
Weyne e Maryllenne Freitas. Grandes mulheres. Agradeço ainda os meus
professores de sempre: os que me ensinaram a ler, os da minha
adolescência no Colégio Piamarta e toda a equipe da
Faculdade 7 de
Setembro, pelo incentivo e pelo apoio constantes. E à Wilson Júnior
Baltazar, por tudo.
3
SUMÁRIO
Apresentação ….............................................................................6
PARTE 1 – Século XX: Transformações e quebras de paradigmas
1.1 - O período pós-Revolução Industrial …..........................................9
1.2 - A cibercultura e o ciberespaço …...............................................14
1.3 - O meio técnico-científico-informacional …...................................18
1.4 - Aspectos culturais da última década do século XX …....................20
PARTE 2 – Jornalismo na Internet
2.1 - A digitalização da imprensa …...................................................21
2.2 - O ciberespaço e as diversas possibilidades comunicativas …..........24
2.3 - O webjornalismo e o novo jornalista..........................................26
2.4 - Crise no jornalismo "analógico".................................................31
PARTE 3 – Internet e Liberdade de Expressão
3.1 - Possibilidades de democratização do conhecimento......................34
3.2 - Graus de interatividade e participação........................................36
3.3 - Blogs: informação com mediação..............................................38
3.4 - As redes sociais digitais...........................................................40
3.5 - O Twitter: a grande ágora virtual...............................................43
4
PARTE 4 – Análise do Objeto
4.1 - Twitter e participação política ….................................................48
4.2 - Os políticos no Twitter..............................................................51
4-3 - O cotidiano do governador Cid Gomes documentado pelo Twitter e a
repercussão na mídia …...................................................................55
4-4 - Outros episódios envolvendo o governador e o Twitter …..............80
Considerações Finais...................................................................86
Bibliografia..................................................................................90
5
APRESENTAÇÃO
"O Twitter é uma rede de informações em tempo real onde pessoas
ao redor do mundo compartilham e descobrem o que está acontecendo
neste momento". O sistema pergunta 'o que está acontecendo' e faz com
que as respostas atravessem o globo. Suas respostas repercutem para
milhões de pessoas, imediatamente". Essa é uma tradução livre da página
inicial do site de microblogs Twitter. A ferramenta da internet permite que
seus usuários transmitam ideias com até 140 caracteres. Por ser
totalmente livre e gratuito, o uso do site pode ser o mais diverso possível.
É permitido falar desde o que acontece na vizinhança até anunciar as mais
recentes descobertas científicas.
Este trabalho pretende fazer uma análise do uso político da
ferramenta através do estudo de caso do Governador do Ceará Cid
Ferreira Gomes. Nosso objeto de estudo utiliza o Twitter para disseminar
informações de seu governo, criticar a imprensa, anunciar sua agenda de
compromissos e defender seus interesses políticos. A ideia aqui não é
elaborar um discurso maniqueista do simples uso político de mais uma
ferramenta da internet. Aqui se propõe mostrar as múltiplas possibilidades
do uso desse recurso digital e a repercussão social do mesmo, inclusive na
práxis jornalística.
Uma das principais tarefas dos sociólogos e outros
estudiosos da comunicação de massa, ao apreciar essa
revolução da comunicação e as controvérsias geradas por
ela, é a de reunir dados científicos referentes ao impacto
provocado pelos veículos em seus respectivos públicos, a fim
de substituir a especulação emocional com uma
documentação realista que servirá de base para a discussão
pública desse assunto (DEFLEUR, 1971)
6
Na conjuntura política brasileira atual é comum que um governante
tente se aproximar do seu eleitorado. E essa relação pode se dar das mais
diversas formas. Pode ser um palanque no meio de uma praça. Nos
discursos prontos para televisão e para o rádio. Ou na inauguração de
uma obra. A internet não poderia ficar de fora dessa mediação. Sobretudo
após o crescimento de seu uso doméstico. A internet é um ambiente
totalmente livre ou seu uso político deve ser monitorado? Até que ponto
informações publicadas nos sites devem servir de base para as pautas dos
meios de comunicação de massa? Os novos usos da internet pelos
políticos são reflexos de uma forma mais autêntica de se construir um
espaço público mais rico de diálogos?
Figura 1 – Aspecto da página do Twitter do governador Cid Gomes
( http://www.twitter.com/cidfgomes)
7
Por conta da velocidade dos acontecimentos, ainda não é seguro
falarmos de fatos concretos, e sim de possibilidades. Se a tecnocultura
dessacralizou
a
vida
social,
a
cibercultura
contemporânea
parece
possibilitar (e é de possibilidades que estamos falando e não de certezas
ou causalidades fechadas) novas formas de re-encantamento social,
através das diversas agregações eletrônicas e do fazer artístico (LEMOS,
2002).
A velocidade do avanço tecnológico parece não ser
acompanhada pelo avanço da reflexão teórica (…) Essa
velocidade muitas vezes não nos permite refletir sobre essas
novas tecnologias e suas implicações em nossas vidas. Com
a mesma rapidez com que são desenvolvidos, esses novos
aparatos tecnológicos são incorporados ao nosso cotidiano,
em um processo que não desperta a reflexão crítica sobre o
impacto dessas tecnologias. (FURTADO, 2005)
8
PARTE 1 - SÉCULO XX: TRANSFORMAÇÕES E QUEBRAS DE
PARADIGMAS
1.1 - O período pós-Revolução Industrial
O período que surge cronologicamente após a Revolução Industrial é
comumente chamado de era pós-moderna ou contemporânea, embora
não ainda não haja um único conceito na academia que defina por
completo o tempo histórico atual. Alguns teóricos acreditam que vivemos
hoje em uma cultura que é consequência da industrialização e do
amadurecimento
do
sistema
capitalista.
Outros
preferem
encontrar
elementos que reforcem a ideia de que a "pós-modernidade" é um período
totalmente novo na História da humanidade. O fato é que, no século XX, a
humanidade experimentou rápidas e profundas transformações em seu
modo de vida (HOBSBAWN, 1995).
O notável desenvolvimento das telecomunicações e da informática
durante a Guerra Fria gerou muita expectativa entre a população que vivia
nos países capitalistas. Especulava-se, por exemplo, que, no "futuro", as
pessoas
falariam
interlocutores
e
em
telefones
que
os
que
carros
permitiam
seriam
ver
voadores.
claramente
os
Indiretamente,
acreditava-se que o "futuro" seria exatamente o final do milênio. O termo
"ano 2000" era carregado de subjetividade. Seria uma espécie de marco
de todas as transformações sociais. A indústria cultural, alimentava esse
sonho, através de filmes e seriados de TV, que fizeram sucesso durante a
corrida espacial, como "Os Jetsons", "Guerra nas Estrelas (Star Wars)",
"Jornada nas Estrelas (Star Trek), "2001 - Uma Odisséia no Espaço" e
"Laranja Mecânica".
9
O historiador angloegípcio Eric Hobsbawn escreveu uma obra
chamada "A Era dos Extremos". Era esse o termo que ele empregou para
definir
todas
essas
transformações
ocorridas
no
século
XX
e
as
espectativas da humanidade quanto ao futuro. À propósito, Hobsbawn
pertence ao time dos que consideram a "pós-modernidade" um período
totalmente novo na História da humanidade.
O futuro não pode ser uma continuação do passado, e há
sinais, tanto externamente quanto internamente, de que
chegamos a um ponto de crise histórica. As forças geradas
pela economia tecnocientífica são agora suficientemente
grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundações
materiais da vida humana. As próprias estruturas das
sociedades humanas, incluindo mesmo algumas das
fundações sociais da economia capitalista, estão na iminência
de ser destruídas pela erosão do que herdamos do passado
humano. No mundo corre o risco de explosão e implosão. Tem
de mudar.(HOBSBAWN, 1995)
Na obra “ A Condição Pós-Moderna”, o geógrafo britânico David
Harvey (1993) também pesquisou as mudanças nas práticas culturais na
segunda metade do século XX. Embora afirme que exista uma “mudança
abisal” nessas práticas, Harvey não vê uma possível ruptura com o
passado. “Confrontadas com as regras básicas de acumulação capitalista”,
essas mudanças se mostram mais como “transformações da aparência
superficial do que como sinais do surgimento de alguma sociedade póscapitalista ou mesmo pós-industrial inteiramente nova”.
Para definir essa fase, ele elabora o termo “pós-modernidade”, ou
seja, novo ciclo de “compressão do tempo-espaço” na organização do
capitalismo". Ele aponta a crise econômica do início dos anos 1970 como
um período de transição de um padrão de acumulação capitalista rígido,
representado historicamente pelo Fordismo e suas forças produtivas, aos
novos modos de acumulação do capital, que ele chama de “acumulação
flexível”.
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A única certeza histórica que tínhamos na virada do milênio, no ano
2000, era de que, no século XX, o homem teria ultrapassado todos os
seus limites. Contudo, o que viria a seguir era uma verdadeira incógnita.
Não sabemos para onde estamos indo. Só sabemos que a
história nos trouxe até esse ponto (...) Se a humanidade quer
ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento
do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro
milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço do fracasso,
ou seja, a alternativa para uma mudança da sociedade, é a
escuridão. (HOBSBAWN, 1995)
Foi justamente entre 1901 e 2000 que a tecnologia permitiu que as
pessoas vivessem com mais conforto. As necessidades foram substituídas
pelo fetiche. O excesso de industrialização criou, como consequência, a
Sociedade do Espetáculo
(DEBORD, 1997) conceito utilizado pelos
marxistas para definir o estilo de vida contemporâneo ou pós-moderno.
André Lemos (2002), explica que a Sociedade do Espetáculo é o
resultado
do
modo
de
produção
capitalista
industrial
aplicada
ao
entretenimento e à comunicação.
É a sociedade da retificação dos homens e das coisas, criando
o feiticismo em relação aos objetos, ao consumo trivial e
banalizado, acarretando assim um pseudo-gozo. A sociedade
do espetáculo aniquila, pelo poder técnico-midiático, a
realidade. A tecnologia é, sem dúvida, nesta perspectiva,
uma ferramenta sutil de controle das massas, de
racionalidade tecnocrática e de homogeneização social. A
sociedade do espetáculo lança os germes da sociedade de
simulação. (LEMOS, 2002)
Tudo era produzido industrialmente e em larga escala. As
previsões sobre o futuro eram as mais diversas possíveis. Porém, era
possível perceber sinais de que o estilo de vida contemporâneo poderia
entrar em colapso a qualquer momento. Os recursos naturais, matériaprima essencial da "indústria" (aqui vista pelo conceito mais amplo),
11
começaram
a
ficar
consequentemente,
escassos.
o
Não
consumo,
ato
havia
trabalho
para
retroalimentador
do
todos
e,
sistema
econômico, não era acessível a todos.
O futuro não pode ser uma continuação do passado, e há
sinais, tanto externamente quanto internamente, de que
chegamos a um ponto de crise histórica. As forças geradas
pela economia tecnocientífica são agora suficientemente
grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundações
materiais da vida humana. As próprias estruturas das
sociedades humanas, incluindo mesmo algumas das
fundações sociais da economia capitalista, estão na iminência
de ser destruídas pela erosão do que herdamos do passado
humano. No mundo corre o risco de explosão e implosão. Tem
de mudar. (HOBSBAWN, 1995)
Se por um lado, haviam dúvidas ou incertezas, por outro surgiram
diversas possibilidades. Nunca o homem havia aprimorado tanto suas
técnicas. Após o advento da eletrônica, a indústria passou a criar diversos
equipamentos, para os mais diversos usos. Os eletrônicos, em sua
maioria, foram ficando cada vez menores e cada vez mais acessíveis. Em
pouco tempo, seres humanos e máquinas passaram a conviver lado-a-lado
harmoniosamente. O que era impensável no final do século XIX, tornou-se
banal cem anos depois.
Entre esses equipamentos, vários deles foram idealizados para
atender a mais primária das necessidades humanas: a comunicação. No
início do século XX, os parisienses se encantavam com as primeiras
sessões de cinema. Empresas e famílias mais abastadas já podiam utilizar
o telefone para se comunicar com parentes e amigos à distância. Os
equipamentos telegráficos deram lugar aos transmissores e receptores de
rádio. E em seguida veio a televisão, levando som e imagens à lugares
nunca antes imaginados.
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Não bastasse tamanha evolução dos equipamentos de comunicação,
no decorrer do século, paralelo ao aprimoramento de todas essas
tecnologias, surgiram os primeiros computadores eletrônicos. O que, na
década de 1950, ocupava uma sala inteira, pesava toneladas e processava
dados mínimos, décadas depois a realidade era outra (BRETON, 1991). O
microcomputador era um equipamento essencial para o trabalho nas
firmas e desejo de consumo para o lazer das famílias. Era um
equipamento multimídia, emitia sons, exibia vídeos e escrevia textos.
Tinha cores, era relativamente fácil de usar. Se tornaria a central de
entretenimento da família pós-moderna. Se tornou acessível para as
classes médias urbanas. E estava ligado em rede
Eis um paradoxo contemporâneo. O microcomputador pessoal e
suas variantes, conectado à milhares de pessoas e possibilitando novas
formas de comunicação, poderia transformar radicalmente a organização
social. O computador seria o ícone de uma nova era. Muitos apostavam
que uma revolução estava por vir. Que o futuro havia chegado. A
tecnologia torna-se instrumento de conquista do mundo (abolição do
espaço, real tempo, onipresença) e de formação comunitária (LEMOS,
2002).
No entanto, ainda é cedo para falar em revolução. É certo que a
computação pessoal traria sérias modificações nas relações de trabalho,
no consumo de entretenimento e na participação política. Porém, no final
do século XX, havia mais possibilidades do que experiências de fato.
Contudo, em meio a tantas incertezas, uma das coisas que poderia ser
dita com uma mínima propriedade era de nada seria como antes.
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1.2 - A cibercultura e o ciberespaço
Um dos conceitos que tentam explicar essa "pós-modernidade" é a
Cibercultura, conceito amplamente aplicado no presente estudo. Embora
leve em consideração que vivemos em uma era de transição e, por isso, a
cibercultura
considera
nada
mais
natural
que
os
atores
sociais
hegemônicos predominantes na sociedade analógica ainda tenham forte
relevância na sociedade digital. A diferenciação se faz agora no peso do
fluxo
das
informações
transmitidas
por
esses
atores.
A
difusão
centralizada ao receptor disperso em um massa amorfa dá lugar a uma
difusão multidirecional que se dirige a um receptor que, na cibercultura,
também passa a ser um possível emissor. Os jogos de poder não se
alteram
profundamente
na
cibercultura.
No
entanto,
existem
possibilidades, no espaço virtual, de se questionar, opinar, dialogar,
retransmitir ou debater.
Através da internet, a racionalidade tecnológica, filha dileta
da modernidade, convive lado a lado com o símbolo, o mítico
e o religioso. É essa heterogeneidade que marca a emergente
cibercultura. O ciberespaço é, portanto, a casa do livre
pensar, da imaginação, espaço reservado para a vitalidade e
o dinamismo social. (FURTADO, 2005)
Lemos (2002) explica que o fluxo unidirecional de mensagens, a
difusão centralizada ao receptor disperso e homogeneizado da Sociedade
do Espetáculo dá lugar a digitalização dos media, do advento de um fluxo
de mensagens planetário, multimodal e bidirecional, onde o receptor
torna-se,
também,
um
emissor
potencial.
Para
o
pesquisador,
a
cibercultura quer por fim aos padrões. É importante lembrar que a
padronização é uma das mais marcantes características da sociedade
industrial. "A cibercultura tenta reverter, como uma revolta da vida sob
uma forma estagnada, a lógica mortífera da padronização tecnológica".
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Pierre Levy (199) defende que "o ciberespaço é efetivamente um
potente fator de desconcentração e de deslocalização, mas nem por isso
elimina os 'centros'". A máxima tenta resumir a principal razão pela qual
não podemos acreditar que já tenha surgido uma "nova sociedade" pósmoderna. O pensador francês acredita que a cibercultura "surge como a
solução parcial para os problemas da época anterior".
Já Alvin Toffler (1999) corrobora em partes com essa prerrogativa.
Ele dividiu a história da sociedade em três ondas de mudanças, que
representam a grandes transformações na organização da sociedade. A
primeira delas foi desencadeada há dez mil anos com a descoberta da
agricultura. A Segunda Onda foi provocada pela revolução industrial. E por
fim, ele acredita que estaríamos a mercê de uma terceira onda
Uma nova civilização está emergindo em nossas vidas e por
toda a parte há cegos tentando suprimi-la. Esta nova
civilização traz consigo novos estilos de família, modo de
trabalhar, amar e viver diferentes; uma nova economia;
novos conflitos políticos; e, além de tudo isto, igualmente
uma consciência alterada. Fragmentos desta civilização já
existem. Milhões de pessoas já estão sintonizando suas vidas
com o ritmo de amanhã. Outros, aterrados diante do futuro,
estão empenhados numa fuga inútil para o passado e tentam
restaurar o mundo moribundo que lhes deu o ser. (TOFFLER,
1999)
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1.3 - O meio técnico-científico-informacional
Além da "Terceira Onda" de Toffler e do conceito de cibercultura,
outra pressuposto teórico usado para discutir o espaço geográfico do
mundo atual é o meio técnico-científico-informacional. Como geógrafo,
Milton Santos fala das relações entre a sociedade e a natureza,
argumentando que o meio natural é substituído pelo homem por um meio
cada vez mais artificializado, ou "sucessivamente instrumentalizado"
(SANTOS, 2008). Para ele, a história do meio geográfico é dividida em
três etapas: o meio natural, o meio técnico, o meio técnico-científicoinformacional, sendo este último o meio geográfico do período atual.
O meio natural é definido com um período onde o homem realizava
poucas transformações no ambiente. Os sistemas técnicos não tinham
existência autônoma, o que faz muitos autores chamarem esse período de
"pré-técnico". Já o período técnico vê a emergência de um espaço
mecanizado, marcado por um entrelaçamento entre a cultura e a técnica.
Os objetos que formam o meio são, ao mesmo tempo, culturais e
técnicos. Já o período técnico-científico-informacional se distingue dos
anteriores pelo fato da profunda interação da ciência e da técnica.
Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sobre a égide do
mercado. E o mercado, graças exatamente à ciência e a
técnica, torna-se um mercado global. A ideia de ciência, a
ideia de tecnologia e a ideia de mercado global devem ser
encaradas conjuntamente e desse modo podem oferecer uma
nova interpretação à questão ecológica, já que as mudanças
que ocorrem na natureza também se subordinam a essa
lógica. Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao
mesmo tempo técnicos e informacionais (...) Quando nos
referimos às manifestações geográficas decorrentes dos
novos progressos, não é mais de meio técnico quie se trata.
Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos
chamando de meio técnico-científico-informacional. (SANTOS,
2008)
16
Diante disso, Milton Santos fala ainda em um bruto recuo da
natureza natural e por outro lado, aponto uma evidência de um meio cada
vez mais artificial. Nesse novo meio, a informação seria o vetor
fundamental para facilitar a circulação de coisas e pessoas. Assim, "os
interesses dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política
são incorporados plenamente às novas correntes mundiais". Ele define o
meio
técnico-científico-informacional
como
"a
cara
geográfica
da
globalização", porque "pelo fato de ser técnico-científico-informacional, o
meio geográfico tende a ser universal", dentro dessa nova realidade
(SANTOS, 2008)
17
1.4 - Aspectos culturais da última década do século XX
A última década do século XX apontava para o que viria a seguir no
que diz respeito aos hábitos culturais da sociedade ocidental de consumo.
Finalmente, o microcomputador se tornou um eletrodoméstico acessível
para as classes médias urbanas de todo o planeta. Além disso, havia um
esforço da indústria para aproximar as pessoas dessas máquinas, seja por
intermédio da criação de telecentros, cibercafés ou bibliotecas virtuais,
seja por conta dos financiamentos bancários, inclusive estatais. Neste
mesmo período, a interface, ou seja, a mediação entre o homem e o
microcomputador se encontrava desenvolvida a ponto de que, qualquer
pessoa, com um mínimo de treinamento, pudesse usá-lo.
Durante muito tempo polarizada pela "máquina", balcanizada
até
recentemente
pelos
programas,
a
informática
contemporânea - soft e hardware - desconstrói o computador
para dar lugar a um espaço de comunicação navegável e
transparente centrado nos fluxos de informação. (LÉVY, 1996)
Era o ápice do era PC ou personal computer (computador pessoal,
na tradução literal do inglês). Os computadores pessoais passam a ter
recursos multimídia, ou seja, emitem sons, exibem vídeos e permitem a
leitura e edição de textos. Ter um computador em casa era o sonho de
consumo da maioria das pessoas que viviam nas grandes cidades. A
possibilidade de jogar, acessar enciclopédias digitais, assistir filmes ou
ouvir discos era o principal argumento dos fabricantes, que vendiam as
máquinas como uma verdadeira central de entretenimento digital da casa.
Os sistemas operacionais, ou seja, os aplicativos que fazem às vezes
de principal interface entre o homem e a máquina, se tornaram intuitivos
a ponto de reproduzir virtualmente um ambiente de escritório. Eles
utilizam a chamada "metáfora do desktop". Ao ligar um computador, as
18
pessoas veem na tela uma representação icônica de uma mesa de
trabalho, com pastas e arquivos, uma lixeira, bloco de notas e calculadora.
O principal dispositivo de saída de dados era o monitor que parecia
bastante com o televisor que a maioria das pessoas já tinha em casa. Em
relação à entrada de dado, o usuário teria um teclado similar aos das
máquinas de escrever e o mouse, um acessório que serve para apontar na
tela os itens que ele deseja acessar durante o uso do microcomputador.
Paralelo ao acesso às máquinas, e à facilidade de uso delas, a última
década do século XX foi marcada também pela possibilidade de conexão
doméstica às redes mundiais de dados. Inicialmente desenvolvida para
fins militares, de forma que a queda de um ponto de acesso não
prejudicaria a conexão com os demais, a Internet passou a ser usada em
grandes centros de pesquisa e universidades e só passou a ser
comercializada no final da década de 1980. Sua interface era simples, com
linhas de comando e textos sobre um fundo escuro.
Com o desenvolvimento da
World Wide Web
- WWW ou teia de
alcance mundial – a Internet se tornou mais atrativa comercialmente. A
partir de então, a interface da Internet convergia com a "metáfora do
desktop". A organização visual das páginas exibidas em um computador
conectado à rede se tornou parecida com as mídias analógicas que o
usuário já conhecia, como as revistas e os jornais, o rádio e a televisão.
Através da World Wide Web as informações da internet
ganharam um novo e sedutor formato, cada vez mais
aproximado dos padrões gráficos e visuais das revistas e da
TV. Com a popularização dos recursos de multimídia, a WWW
agrega os recursos de som, animação, vídeo, iniciando um
processo cada vez mais crescente da aproximação da
internet com outras mídias. (FURTADO, 2005)
19
Ligados em rede, os computadores ganharam 'vida', tornaram-se
uma
extensão
do
cérebro
humano.
Passaram
a
trocar
dados
instantaneamente, de todos os lugares, a todo o momento. Criaram uma
interdependência entre homens e máquinas, alterando radicalmente a
relação existente entre eles. De espectadoras ou coadjuvantes do
processo
de
coparticipantes
transformação
e essenciais
social,
as
máquinas
nessa trajetória.
tornaram-se
André Lemos
(2002)
considera que, hoje, os computadores são meta máquinas ou dispositivos
de simulação, não mais equipamentos industriais nem ferramentas de
produção, no sentido de manuseio de matérias-primas e energia. Ele
utilizada o termo “computador conectado” para denominar a máquina que
fornece acesso ao ciberespaço de forma fixa (LEMOS, 2003). Essa
“máquina” pode ser um computador pessoal ligado à internet ou outro
equipamento eletrônico, como os telefones móveis.
A passagem do PC ao CC (computador conectado) será
prenhe de consequências para as novas formas de
relação social, bem como para as novas modalidades de
comércio, entretenimento, trabalho, educação, etc. Essa
alteração na figura emblemática maior da cibercultura, o
computador, nos coloca em meio à era da conexão
generalizada, do tudo em rede, primeiro fixa e agora, cada
vez mais, móvel. (LEMOS, 2003)
20
PARTE 2
- JORNALISMO NA INTERNET
2.1 - A digitalização da imprensa
O crescimento da Internet era notável. Havia um enorme interesse
social na nova tecnologia. Daí, os meios de comunicação de massa teriam
que, de certa forma, participar desse crescimento. Quem não estivesse na
internet em meados da década de 1990 era considerado antiquado. Uma
empresa consolidada precisava ter um endereço na rede. Não foi diferente
com os conglomerados de mídia. Técnicos e pesquisadores passaram a
desenvolver ideias criativas para o uso da rede. Surgiram novas profissões
ou especificações de trabalho. As agências de publicidade rapidamente
ocuparam o novo filão. Tudo isso deu suporte para o crescimento
comercial
da
rede.
Era
notável
que,
instituições
que
possuíam
determinado prestígio no mundo real, tinham mais chances de terem
sucesso no mundo virtual. E isso facilitou o ingresso dos meios de
comunicação de massa na Internet.
No Brasil, as primeiras iniciativas no sentido de disponibilizar
a internet ao público em geral começaram em 1995, com a
atuação do governo federal (através do Ministério da
Comunicação e do Ministério de Ciência e Tecnologia) no
sentido de implantar a infraestrutura necessária e definir
parâmetros para a posterior operação de empresas privadas
provedoras de acesso aos usuários. Desde então, a internet
no Brasil experimentou um crescimento espantoso,
notadamente entre os anos de 1996 e 1997, quando o
número de usuários aumentou quase 1000%, passando de
170 mil (janeiro/1996) para 1,3 milhão (dezembro/1997).
Em janeiro de 2000, eram estimados 4,5 milhões de
“internautas” (MONTEIRO, 2001)
Aqui no Brasil, o grupo Abril e o jornal Folha de São Paulo fundaram
o portal Universo OnLine (UOL). Duas grandes companhias telefônicas e
um grupo de investidores do mercado financeiro se uniram para o criar o
provedor IG, que fornecia acesso grátis para pessoas que queriam
navegar pela Internet. As organizações Globo, mesmo tardiamente,
21
lançou o portal Globo.com, sustentada pelo sucesso de sua emissora de
televisão e pela credibilidade do seu principal veículo impresso, o jornal
carioca O Globo.
A virtualização dos jornais marca o início de uma verdadeira
revolução na forma de coletar, editar, distribuir e acessar
informações. Em menos de dois anos, os jornais eletrônicos
deixaram de ser meras reproduções dos jornais impressos,
e aperfeiçoando-se, passaram a explorar todos os seus
recursos de interatividade e multimídia, iniciaram o
desenvolvimento de uma linguagem própria e alcançaram
uma autossatisfação financeira (FURTADO, 2005)
No segmento de comércio eletrônico, a tradicional rede de lojas de
departamento Lojas Americanas, abriu uma filial na rede. Os principais
bancos do país, Bradesco, Unibanco, Itaú e Banco do Brasil ao mesmo
tempo que financiavam computadores a longo prazo, ofereciam seus
principais serviços na tela do computador conectado à Internet. Havia
também um esforço do poder público, sobretudo federal, para incentivar o
uso da rede. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) abriu um
site para fornecer o serviço de busca de CEP e o rastreamento de
encomendas. A Receita Federal oferece, até hoje, a consulta de CPF e
CNPJ, e um dos endereços mais acessados pelos brasileiros que usam a
internet. E o poder executivo, como um todo, sempre utilizou amplamente
a Internet para divulgar suas realizações.
As pessoas passaram a exigir das empresas e dos órgãos públicos
um endereço na Internet. Além disso, surgiram diversas empresas que
nasceram dentro da Internet, sem nenhuma história anterior fora dela. E
dentro desse grupo existem vários veículos de comunicação. Entre eles,
estavam sites jornalísticos ou empresas de publicidade que passaram a
competir com os veículos tradicionais. Surgiu ainda uma demanda de
leitores para que estes veículos também tivessem conteúdo específico
para a web, além do que já é tradicionalmente impresso e digitalizado.
22
"A maioria dos sites jornalísticos surgiram como meros
reprodutores do conteúdo publicado em papel. Apenas uma
etapa posterior é que começaram a surgir veiculos realmente
interativos e personalizados" (...) "O potencial da nova mídia
tornou-se um instrumento essencial para o jornalismo
contemporâneo e, por ser tão gigantesco, está começando a
moldar
produtos
editoriais
interativos
com
qualidades
atraentes para o usuário: custo zero, grande abrangência de
temas e personalização"(FERRARI, 2003, p. 38)
No caso específico do jornalismo, essa “digitalização” se deu em três
etapas, de acordo com Luciana Mielniczuk¹ (2003). Na primeira etapa,
dominam os sites que publicam material editorial produzido edições em
outros meios, reaproveitados na reide. Em uma segunda fase, os
jornalistas criam conteúdos originais para a rede, passando a utilizar
hiperlinks para outros sites. A terceira fase, que está emergindo nesse
momento, caracteriza-se pela “produção de conteúdos noticiosos originais
desenvolvidos especificamente para a web, bem como o reconhecimento
desta como um novo meio de comunicação”.
__________
¹ Luciana Pellin Mielniczuk é professora do curso de Jornalismo e do Mestrado em
Comunicação Midiática da UFSM. Estuda jornalismo digital desde 1995, atualmente
coordena o Grupo Jornalismo Digital (UFSM) e participa do Grupo de Pesquisas em
Jornalismo Online (UFBA)
23
2.2 - O ciberespaço e as diversas possibilidades comunicativas
Continuidade do processo tecnocultural iniciado pela Revolução
Industrial ou o começo de forma de organização social totalmente nova, o
fato é que a vida contemporânea passa por uma processo de profundas
mudanças socioculturais, como define Pierre Levy (2001). André Lemos
(2002) defende que a cibercultura seria fruto dessas novas formas de
relação social.
O novo milênio começou aberto a novas formas de experimentar a
vida coletiva. Uma coletividade virtual, não necessariamente real. E um
coletivo montado através de redes. As expectativas eram as maiores
possíveis. As transações comerciais, as telecomunicações, os processos
educativos e o lazer já funcionavam em rede. A sociedade não seria mais
a mesma depois da cibercultura. As transformações no modo de viver e
trabalhar na virada do milênio criou a necessidade de implantar novas
profissões ou aperfeiçoar ofícios já existentes. "Pela primeira vez na
história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma
pessoa no início de seu percurso profissional estarão obsoletas no fim de
sua carreira" (LÉVY, 1999).
Se a tecnocultura dessacralizou a vida social, a cibercultura
contemporânea parece possibilitar (e é de possibilidades que
estamos falando e não de certezas ou causalidades fechadas)
novas formas de reencantamento social, através das diversas
agregações eletrônicas e do fazer artístico". (LEMOS, 2002).
O
magnata
Assis
Chateubriand,
um
dos
maiores
expoentes
brasileiros do século XX no segmento dos meios de comunicação de massa
disse, certa vez, que "quem quiser publicar suas opiniões que compre seu
próprio jornal” (MORAIS, 1994). E esse era o sonho dos internautas que
se aventuraram em emitir qualquer opinião na Internet, por meio de suas
páginas virtuais. Os anos 2000 foram marcados pelos blogs e pelas redes
24
sociais virtuais que, a grosso modo, permitiam que qualquer usuário
conectado à Internet.
Seria mais ou menos o que propusera Pierre Levy ao prever que
cada um se tornará autor, proprietário de uma parcela do ciberespaço.
(LEVY, 2001). Ao contrário do que possa parecer, a simples apropriação do
usuário de um “pedaço” da rede representa uma revolução na lógica do
fazer e consumir informações no meio digital. A lógica não era de
substituição, nem
transposição, mas de um fenômeno global de
mudanças socioculturais complexas (LEMOS, 2002). Ou seja, o mundo
ocidental de consumo estaria no início de uma revolução comunicacional
sem precedentes.
Para alguns, seus inventores e primeiros promotores, a rede
é um espaço livre de comunicação interativa e comunitário,
um instrumento mundial de inteligência coletiva. (...) Para
outros ainda, (...) o ciberespaço teria vocação para acolher
uma espécie de banco de dados universal onde poderiam
ser encontrados e consumidos, mediante pagamento, todas
as mensagens, todas as informações, todos os programas,
todas as imagens, todos os jogos imagináveis. (LÉVY, 1999)
Diante disso, era natural que a práxis jornalística também sofresse
mudanças durante esse período. Pierre Levy (1999) já previa que a
perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará
o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da
humanidade a partir do início do próximo século.
A internet consolidou-se como uma nova e poderosa mídia e
acabou por influenciar a técnica e a forma dos jornais
impressos. O desenvolvimento e popularização dos recursos
da Internet levaram a que os jornais, mesmo os que não
contam com uma versão eletrônica, utilizem-se, por
exemplo, do correio eletrônico para interagir com seus
leitores. Isso sem falar nas influências na programação
visual e na formatação dos textos e a ampla utilização de
ícones e infográficos. Existe cada vez mais hoje em dia uma
confluência, uma articulação e uma complementação entre
versões ]eletrônicas e impressas dos jornais. (FURTADO,
2005).
25
2.3 - O webjornalismo e o novo jornalista
O jornalismo eletrônico online nasceu quando a internet se
consolidou como meio de comunicação de massa, apropriada pelos
grandes conglomerados de comunicação hegemônicos de outrora. Já para
os usuários, seria uma nova forma de acessar, ler e perceber o mundo
(FURTADO, 2005).
Contudo, não foi apenas o jornal que mudou. O
jornalista também precisou mudar. Surgiram novos paradigmas para
definir o profissional que atua no jornalismo.
As mídias convencionais brasileiras começaram a pensar e
criar versões online de seus produtos em meados de 1995.
Tratou-se de um processo natural, em que, ao longo dos
anos, as novidades tecnológicas chegaram para ficar e foram
introduzidas nas redações. As velhas máquinas de escrever
cederam espaço a computadores novos, máquinas que muito
resistiram bravamente antes de render-se a modernidade.
Com o tempo, criou-se uma cultura, uma nova rotina de
trabalho, pois com tal ferramenta eletrônica, as velhas laudas
foram deixadas de lado, o texto podia ser corrigido, quantas
vezes fosse necessário, sem que toda a matéria tivesse que
se reescrever e assim por diante. (MARANGONI et al, 2002,p.
33)
A priori, com a digitalização das redações, o jornalista que já atuava
em um veículo teve que acumular novas funções atualizando sites e blogs,
sobretudo nos veículos menores. A solução para alguns foi procurar
trabalho fora das redações.
A atividade autônoma, freelance, é a que cresce na área do
jornalismo. Inúmero fatores podem ser atribuídos a essa
tendência. O principal, infelizmente, está ligado à
precarização do trabalho, fenômeno que atinge todas as
categorias profissionais nesta era de globalização canibal,
competitividade acirrada, desregulamentação da economia
e das relações trabalhistas. (RAINHO, 2008)
26
Embora
acredite
em
uma
precarização
do
trabalho
do
jornalista, Rainho aponta alguns aspectos positivos do avanço tecnológico.
Ele lembra que o jornalismo é uma atividade que casa bem com o
teletrabalho. Para Rainho, "as facilidades da tecnologia, como a internet e
a telefonia celular, criaram o ambiente físico propício à disseminação do
trabalho freelance", estimulando o empreendedorismo na profissão.
O jornalista hoje é cada vez mais contratado por tarefa, seja
na redação dos jornais, revistas, sites, TVs, rádios, agências
noticiosas e assessorias. Não adianta mais querer se apegara
funções, a editorias ou sonhar em fazer carreira interna. Isso
pode até ocorrer, mas o jornalista terá de ter espírito
empreendedor. Precisará trabalhar como se fosse um
prestador de serviços; todo seu tempo terá de ser dirigido
para a execução de uma tarefa, não mais para cumprir um
horário burocrático. (RAINHO, 2008)
A precarização do trabalho devido o avanço tecnológico não é uma
característica somente da comunicação e nem algo recente. Existe desde
o início da Revolução Industrial. O fim do emprego formal será abordado a
partir da perspectiva de Bernhoeft, que escreveu sobre as transformações
no mundo do trabalho e as alternativas que o mercado oferece ao
empreendedor
e
afirmou
que
"o
desaparecimento
do
emprego
convencional não significa que não exista trabalho. Ele existe, só que de
novas formas. Uma delas é a de criar suas próprias opções de negócio ou
atividade pessoal" (BERNHOEFT, 1996).
Para garantir uma melhor
inserção no novo mercado de trabalho que estava sendo formado, as
faculdades de jornalismo teriam que mudar.
A Escola necessita repensar seu papel nesse processo, com
urgência. Principalmente a partir das profundas mudanças
que estão ocorrendo na economia e no mundo do trabalho,
a escola não pode mais ser um simples agente que forma
pessoas eficientes e adaptadas para o emprego
convencional. As novas relações de trabalho, bem como as
suas oportunidades, tem características muito diferentes.
(BERNHOEFT,1996)
27
Por
outro
lado,
as
tecnologias
digitais
trouxeram
diversas
possibilidades aos profissionais da comunicação, como o jornalista. O
trabalho ficou mais rápido e fácil. Tornou-se possível, por exemplo,
acompanhar dados públicos divulgadas na rede.
E cruzar essas informações com outras fontes para desenvolver uma
reportagem. Como a Internet também encurtou as distâncias, o jornalista
poderia ainda entrevistar uma personalidade à distância por e-mail ou
através de uma ferramenta de bate-papo. Cremilda Medina (2008) afirma
que a entrevista, nas suas diferentes aplicações, "é uma técnica de
interação
social,
isolamentos
de
grupais,
interpretação
individuais,
informativa,
sociais;
pode
quebrando
também
assim
servir
à
pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação. A
Internet, assim como o telefone, permitiu uma aproximação maior do
repórter com sua fonte, facilitando esse diálogo.
O desenvolvimento da Internet como mídia mudou ainda o perfil dos
jornais impressos. Com a rapidez na transmissão das informações através
da rede, os jornais impressos passaram a ser mais analíticos. Além disso,
o webjornalismo, como a nova categoria jornalística passou a ser
chamada, ganhou características próprias, únicas para a produção e
divulgação de notícias em rede.
Escribir textos periodísticos par a Internet exige una
revisión dinámica de los modos habituales de presentar la
información, de la estructura textual, del estilo y de las
características de los lectores, a los que la interactividad
característica de la red convierte en actores que interactúan
con los medios y los periodistas. Y se hace necesario
adaptar el lenguaje a las posibilidades dela nueva situación
tecnológica y social, dejando claro desde el primermomento
que no estamos ante un modelo definitivo, sino en una de
las primeras fases de una viaje semántico, lingüístico y
estilístico que acaba de empezar y cuyo desarrollo depende
de los avances científicos y de la evolución del periodismo y
de la sociedad. (EDO, 2007)
28
Um dos elementos mais marcantes do texto digitalizado em rede é o
hipertexto. Pierre Levy (2001) prega que a web realiza progressivamente
a unificação de todos os textos em um único hipertexto, a fusão de todos
os autores em um único autor coletivo, múltiplo e contraditório. Ele
garante que não existe apenas um único texto: o humano.
No mundo digital da internet, mais especificamente na
WWW, os textos ganharam uma nova e definitiva
característica: a ausência de uma existência física, de uma
localização espacial. Não há mais um texto discernível,
individualizável, palpável. Na internet, qualquer "lugar" é
diretamente acessível a partir de qualquer outro. (FURTADO,
2005)
A falta de linearidade desse tipo de texto permite, por exemplo, que
o leitor escolhe que caminho quer percorrer ou que informações pretende
obter, garantir uma maior interatividade com o produtor de conteúdo que,
neste caso, é o jornalista. "O hipertexto permite ao utilizador definir os
percursos de leitura em função dos seus interesses pessoais pelo que a
redação da notícia deve ter em conta esse fator", garante o pesquisador
João Canavilas (2007). Ele argumenta que, "tal como aconteceu nos
meios tradicionais, o desenvolvimento do webjornalismo também está
umbilicalmente ligado aos processos de aperfeiçoamento da sua difusão".
Nas edições em papel, o espaço é finito e, como tal, toda a
organização informativa segue um modelo que procura
rentabilizar a mancha disponível. (...) Nas edições online o
espaço é tendencialmente infinito. Podem fazer-se cortes por
razões estilísticas, mas não por questões espaciais. Em lugar
de uma notícia fechada entre as quatro margens de uma
página, o jornalista pode oferecer novos horizontes imediatos
de leitura através de ligações entre pequenos textos e outros
elementos multimédia organizados em camadas de
informação. Em lugar do habitual relato cronológico dos
acontecimentos, os jornalistas passaram a organizar os
factos por valor noticioso, colocando os dados mais
importantes no início do texto e garantindo assim a chegada
dos dados essenciais aos seus jornais. (CANAVILAS, 2007)
29
Marcondes Filho (2002) acredita que o termo “jornalismo” vai se
tornando cada vez mais incerto e que sob as novas condições, "a prática
de produzir e divulgar notícias, operando sob o principio da rapidez, da
redução e racionalização linguística, da volaticidade, não deixa de
recolocar velhos problemas: até que ponto notícias produzidas em ritmo
de alta velocidade ainda são mais confiáveis". Ou seja, até que ponto o
que é publicado na Internet pode garantir credibilidade, uma vez que
qualquer um pode ter acesso às técnicas de produção e edição de
informações? No entanto, ele pondera que, na Internet, tem ganhado
terreno qualidades de saber administrar, reunir, classificar as demandas do
leitor e compatibilizá-las com as tarefas do jornalista.
É certo que a Internet induz incontornavelmente a novas
formas de jornalismo. Mas criar ou experimentar essas
formas não é fazê-lo à toa, como se o futuro nada tivesse a
ver com o passado. A maneira mais simples até de se
familiarizar com o novo meio é transpor para ele as formas
tradicionais e depois, e só depois, começar a experimentar.
(FIDALGO, 2004)
30
2.4 - Crise no jornalismo "analógico"
Não existe um formato específico para o webjornalismo uma vez que
a própria internet possui uma natureza mutante. As formas de atuação do
jornalista dentro do universo de possibilidades oferecido pela internet são
infinitas. E nesse contexto, sem fórmulas prontas, que entra justamente a
experimentação e o empreendedorismo do jornalista.
Jornalismo, independentemente de qualquer definição
acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista de
mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores e
ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa a arma de
aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no
caso da televisão, de imagens. Mas uma batalha nem por isso
menos importante do ponto de vista político e social, o que
justifica e explica as imensas verbas canalizadas por
governos, partidos, empresários e entidades diversas para o
que se convencionou chamar veículos de comunicação de
massa. (ROSSI, 2000)
São diversas as publicações que vislumbravam o webjornalismo
brasileiro como sendo uma reprodução do modelo instituído pelos grandes
grupos de comunicação. Marangoni (2002) tenta definir a mutação nas
redações durante o processo de digitalização dos veículos. Isso talvez
justifique a precarização do profissional em jornalismo e as demissões
constantes nesse período.
Uma característica que pode ser observado em várias
empresas que trabalham com jornalismo online é o fato de
suas redações serem formadas por equipes reduzidas, o que
faz com que algumas delas busquem formas de suprir essa
deficiência. De uma forma geral, as equipes são reduzidas,
porque as empresas que trabalham com internet estão ainda
se estruturando, avaliando formas de ampliar seus
departamentos - inclusive da equipe de jornalismo
(MARANGONI et al, 2002, p. 85).
Podemos entender essa afirmativa de Marangoni como se o texto se
referisse
a
uma
outra
realidade,
quando
os
grandes
grupos
de
comunicação ainda estavam migrando para a Internet. Ou ainda, os
autores ainda não conseguiam vislumbrar a Internet como o lugar da
31
quebra de paradigmas. Grande parte desses autores ainda veem o
jornalismo online como um modelo de negócio sustentando pelos anúncios
publicitários. Em nenhum momento, se fala aqui da possibilidade do
jornalista ter seu próprio veículo. Hoje, qualquer jornalista, experiente ou
não, pode criar veículos online que concorram com produtos criados pelos
grandes grupos tradicionais, como Estadão, Globo e Abril.
Coincidência ou não, o webjornalismo emerge exatamente no auge
da discussão sobre uma possível crise no jornalismo tal qual ainda
conhecemos hoje. Nilson Lage (2003) tenta elencar as razões da
existência dessa crise. Ele aponta a "concentração dos grandes veículos de
comunicação" com um dos principais problemas da era anterior e
apresenta "a existência crescente de veículos alternativos, dos quais o
mais
evidente
é
a
Internet",
como
uma
alternativa
para
essa
problemática.
Com a edição não-linear em rádio e televisão e a pluralidade
de canais, que já são centenas e poderão chegar a milhares
ou centenas de milhares em pouco tempo, abre-se um
campo fantástico à democratização da informação. Como a
produção jornalística obedece hoje a padrões profissionais
de qualidade, inigualáveis por amadores, coloca-se a
questão de formar produtores para essa intensa demanda"
(LAGE, 2003)
As opiniões de jornalistas sobre os possíveis rumos da profissão
depois do surgimento do webjornalismo são bastante otimistas. A diretora
de jornalismo da rede de rádio CBN, Marisa Tavares (2006), acredita que
"a sociedade da informação já começa a depurar e aperfeiçoar seu
controle sobre o conteúdo, da maneira mais eficaz: no lugar de um
controle externo para decidir o que é bom ou ruim, o próprio público faz
suas escolhas e manda para o limbo o que é lixo". Já o colega Franklin
Martins acredita na soma e não na sobreposição da Internet em relação
aos veículos de comunicação já existentes.
32
É claro que a essência do trabalho de um jornalista não
muda quando se muda de veículo. Os princípios gerais são
os mesmos: a busca da verdade, a segurança na
informação, a preocupação com a isenção, a luta pela
independência, o respeito ao leitor (ou ouvinte) e a
compreensão de que nossa primeira lealdade é com a
sociedade. Mas a forma do jornalismo varia – e muito – de
veículo para veículo. Rádio é rádio, televisão é televisão,
Internet é Internet, revista é revista, jornal é jornal. Cada
um desses meios apoia-se em recursos distintos, trabalha
com noções de tempo e diferentes e digere-se a públicos
diversos. (...) Nas últimas décadas, os jornalistas passaram
a contar com os novos meios e novas ferramentas que
deram notável velocidade a seu trabalho, como os
computadores, a Internet, a transmissão por satélite, as
câmaras digitais e os telefones celulares. O tempo que
decorre entre o fato e a sua divulgação é cada vez menos.
(MARTINS, Franklin in CBN, 2006)
A jornalista especializada em economia, Míriam Leitão (2006)
concorda com Franklin Martins e ainda aposta na convergência da Internet
com os demais veículos de comunicação.
As mídias vão se somando e não se substituindo, como
muitos previam. Achava-se que a televisão mataria o rádio,
que a Internet liquidaria os jornais. E isso não aconteceu. O
que houve é que um levou ao outro e o público consumidor
de informação está se ampliando. Há vários desafios para os
produtores de conteúdo na escolha da melhor plataforma, ou
na busca da convergência entre as mídias, mas as respostas
têm sido sempre surpreendentes, transformando o
jornalismo numa profissão que muda de forma veloz e
constante. (...) O futuro das comunicações não pode ser
inteiramente previsto, por causa da velocidade das
mudanças tecnológicas e das inesperadas novidades criadas
pela tecnologia. (LEITÃO, Miriam in CBN, 2006).
Apesar do otimismo, havia uma preocupação com o futuro da
profissão. Se qualquer um pode escrever no ciberespaço, qual será a
função social do jornalista daqui para frente? Os meios de comunicação de
massa terão o mesmo poder de outrora no que diz respeito à escolha dos
assuntos que serão importantes para a opinião pública? E como será a
participação do público daqui para frente? Tentaremos responder essas
questões logo adiante.
33
PARTE 3 - INTERNET E LIBERDADE DE EXPRESSÃO
3.1 - Possibilidades de democratização do conhecimento
As possibilidades trazidas pelos meios digitais de comunicação
puseram em cheque parte dos conceitos construídos para definir a
Indústria Cultural e outras teorias clássicas da comunicação. Ortega y
Gasset (2002) lembra algumas características que definem a Indústria
Cultural.
Na indústria cultural, quanto mais anônimo é o público, mais
existe a possibilidade de ser cooptado. Influencia-se, assim,
a qualidade do consumo os produtos culturais. (...)
Característica marcante da indústria cultural é que suas
mensagens possuem uma lógica de produção e distribuição
semelhantes às demais mercadorias no sistema capitalista.
(ORTEGA y GASSET, 2002)
É certo que podemos afirmar que a nova configuração dos meios de
comunicação tenha afetado profundamente a forma de fazer e receber
informações de interesse público embora não tenha causado, ainda, uma
grande ruptura. Numa analogia simples com as ciências naturais,
podemos dizer que todas essas transformações seriam a ponta do iceberg
de um grande bloco de gelo, que teria se desprendido no continente
antártico e estaria no oceano para uma direção ainda desconhecida.
Poderia parecer estranho sugerir que esses inventos, que
invadiram nossas casas, representam uma espécie de
revolução da comunicação, um conjunto de rápidas
transformações
tecnológicas
únicas
na
história
da
humanidade. Cada um desses veículos aumentou as
oportunidades totais diárias do uso da linguagem por parte
dos cidadãos medianos. Assim, a acumulação desses
inventos na história recente provocou uma aceleração
dramática na velocidade do comportamento comunicativo da
maioria das pessoas da sociedade ocidental; trata-se de uma
transformação fundamental, cujo impacto ainda não foi
perfeitamente apreciado. (DEFLEUR, 1971)
34
Teorias à parte, o que vemos na prática é a possibilidade de
qualquer pessoa com um mínimo de instrução de escrever uma
informação e disponibilizá-la para milhões de pessoas através da Internet.
Isso permitiu uma maior democratização sobre o que é lido e sobre o que
é produzido. Além disso, gerou diversas discussões sobre o que é
relevante ou não para a opinião pública. E por fim, tirou dos meios de
comunicação de massa a centralidade do poder no que tange o controle
do fluxo informacional.
Pierre Levy (1999) espera que essas mudanças tragam mais fôlego
para a democracia. "Colocar a inteligência coletiva no posto do comando é
escolher de novo a democracia, reatualizá-la por meio da exploração das
potencialidades mais positivas dos novos sistemas de comunicação” (LÉVY,
1999). Ele argumenta que "o nervo do ciberespaço não é o consumo de
informações ou serviços interativos, mas a participação em um processo
social de inteligência coletiva.
¿Qué es la inteligencia colectiva?
Es una inteligencia
repartida en todas partes, valorizada constantemente,
coordinada en tiempo real, que conduce a una movilización
efectiva de las competencias.
Agregamos a nuestra
definición esta idea indispensable: el fundamento y el
objetivo de la inteligencia colectiva es el reconocimiento y el
enriquecimiento mutuo de las personas, y no el culto de
comunidades fetichizadas o hipóstasiadas. Una inteligencia
repartida en todas partes: tal es nuestro axioma de partida.
Nadie lo sabe todo, todo el mundo sabe algo, todo el
conocimiento está en la humanidad. No existe ningún
reservorio de conocimiento trascendente y el conocimiento
no es otro que lo que sabe la gente. La luz del espíritu brilla
incluso allí. (LEVY, 2004, p. 24)
35
3.2 - Graus de interatividade e participação
O termo interatividade em geral, segundo Pierre Lévy (1999), serve
para ressaltar o beneficiário de uma transação de informação. O grau de
interatividade dentro de uma transação pode, segundo ele, ser medido ou
avaliado.
O grau de interatividade de uma mídia ou de um dispositivo
de comunicação pode ser medido em eixos bem diferentes,
dos quais destacamos: - as possibilidades de apropriação e
de personalização da mensagem recebida, seja qual for a
natureza dessa mensagem, - a reciprocidade da comunicação
(a saber, um dispositivo comunicacional "um-um" ou "todostodos"). - a virtualidade, que enfatiza aqui o cálculo da
mensagem em tempo real em função de um modelo e de
dados de entrada; - a implicação da imagem dos
participantes nas mensagens; - a telepresença. (LÉVY, 1999).
A partir desse debate sobre interatividade e democratização de
acesso e produção da informação, podemos dividir o webjornalismo ou
jornalismo
on-line
em
três
etapas.
A
primeira
delas
seria
uma
característica do período que surgiu logo após a "digitalização" dos jornais
impressos, onde os veículos passaram a interagir com o público através do
correio eletrônico, o e-mail, em detrimento das cartas e faxes. Essa fase
foi importante para moldar as bases do que viria ser o webjornalismo de
fato, com características únicas para veiculação no mundo digital.
A internet consolidou-se como uma nova e poderosa mídia e
acabou por influenciar a técnica e a forma dos jornais
impressos. O desenvolvimento e popularização dos recursos
da Internet levaram a que os jornais, mesmo os que não
contam com uma versão eletrônica, utilizem-se, por
exemplo, do correio eletrônico para interagir com seus
leitores. Isso sem falar nas influências na programação
visual e na formatação dos textos e a ampla utilização de
ícones e infográficos. Existe cada vez mais hoje em dia uma
confluência, uma articulação e uma complementação entre
versões eletrônicas e impressas dos jornais. (FURTADO,
2005)
36
Em seguida, temos uma segunda fase, que emerge logo após o
surgimento dos blogs². Aí sim, havia uma maior possibilidade de
apropriação e de personalização da mensagem por parte do usuário.
Inicialmente os blogs não passavam de diários on-line
publicados na Web, os Web logs (daí o nome - Web logs),
em geral feitos por adolescentes. Aos poucos foram sendo
transformados em verdadeiras revistas on-line, portais de
ideias, poemas, desabafos, informações técnicas e assim por
diante. (PINTO, 2002, p. 23)
Observa-se ainda que, com os blogs, os usuários possuem uma
maior reciprocidade da comunicação, uma vez que é o próprio usuário que
escreve as informações em sua página e que, em contrapartida, ele pode
receber
comentários
de
outros
usuários,
criando
uma
rede
de
relacionamentos que passou a ser chamada de blogosfera. Foram
exatamente com os blogs que os internautas passaram de fato a
expressar livremente suas ideias e opiniões, compartilhando-as com
outros usuários.
___________
² Blog (na verdade uma contração do termo "web log") é um site cuja estrutura permite
a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos ou "posts". Muitos
blogs fornecem comentários ou notícias sobre um assunto em particular, outros
funcionam mais como diários online.
37
3.3 - Blogs: informação com mediação
A popularização dos blogs provocou inúmeras discussões sobre a
práxis jornalística. Se agora qualquer um pode escrever, para que servem
os jornalistas? Se cada um pode "fazer seu próprio jornal", que fim vai
levar o jornal impresso? Será que os blogs tem credibilidade suficiente
para mobilizar a opinião pública em torno de um assunto?
Nas escolas de comunicação, os jornalistas ficavam cada vez mais
cientes de que, no futuro próximo, exerceriam a função de organizadores
ou agregadores de informações. O público, teria, cada vez mais poder de
interação. E os meios de comunicação se tornariam de fato, um meio, no
sentido mais direto da palavra.
Se cada pessoa pode emitir mensagens para várias outras,
participar de fóruns de debates entre especialistas e filtrar o
dilúvio informacional de acordo com seus próprios critérios (o
que começa a tornar-se tecnicamente possível), seria ainda
necessário, para se manter atualizado, recorrer a esses
especialistas da redução ao menor denominador comum que
são os jornalistas clássicos. Assim, a duplicação das formas
institucionais habituais no ciberespaço e o "acesso de todos"
a esse reflexo não podem se tornar uma política geral das
relações entre o ciberespaço e o território. (LÉVY, 1999)
Contudo, os blogs tinham um alto nível de mediação do diálogo. Um
comentário que não agrada o autor de determinado blog poderia ou não
ser publicado, de acordo com as vontades de seu dono. Se, por um lado,
isso garante uma maior autenticidade para o criador do blog, por outro,
temos uma blogosfera praticamente formada por opiniões moderadas ou
filtradas, o que não é interessante para a democracia plena no
ciberespaço. Lévy (1999) lembra que as comunidades virtuais, fóruns
eletrônicos
ou
newsgroups
são
frequentemente
moderados
por
responsáveis que filtram as contribuições de acordo com sua qualidade ou
pertinência.
38
Ao mesmo tempo em que temos blogs trazendo assuntos relevantes
para o interesse público e que esses mesmos assuntos não estavam sendo
contemplados pelas mídias analógicas, temos uma rede de canais criada
por pessoas que, em sua maioria, só querem debater aquilo que for ao
encontro aos seus interesses individuais.
Nas condições atuais, as técnicas de informação são
principalmente utilizadas por um punhado de atores em
função de seus objetivos particulares (...) O que é transmitido
à maioria da humanidade é, de fato, uma informação
manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto
é grave porque, nas condições atuais da vida econômica e
social, a informação constitui um dado essencial e
imprescindível. (SANTOS, 2000)
39
3.4 - As redes sociais digitais
Uma terceira etapa da interatividade e da democratização de acesso
e produção da informação surgiu com o desenvolvimento das redes sociais
digitais. As redes sociais aparecem cronologicamente depois do período da
digitalização da imprensa e o controle das informações por grandes grupos
empresariais e um nível mínimo de participação do público. Seguido
depois pela possibilidade de qualquer um escrever através dos blogs, que
permitem um elevado grau de interatividade, embora mediada. Foram as
redes sociais que permitiram finalmente, segundo a teoria de Levy (1999),
a máxima reciprocidade da comunicação. Uma rede social é formada por
representações virtuais dos atores sociais reais, segundo a pesquisadora
gaúcha Raquel Recuero.
Os sites de redes sociais são os espaços utilizados para a
expressão de redes sociais na Internet. Eles permitem a
construção de uma persona através de um perfil ou página
pessoal, a interação através de comentários, e a exposição
pública da rede social de cada ator. Os sites de redes sociais
seriam uma categoria do grupo de software sociais, que
seriam softwares com aplicação direta para a comunicação
mediada por computador. (RECUERO, 2009)
São
exemplos
(www.myspace.com)
de
que
redes
reúne
sociais
digitais
músicos;
o
o
MySpace
Facebook
(www.facebook.com), que permite ao usuário o compartilhamento de
fotos e mensagens com seus amigos; o You Tube (www.youtube.com),
onde qualquer um pode produzir e reproduzir pequenos vídeos e; ainda,
porque não, os programas de computador para compartilhamento
instantâneo de mensagens, com o Windows Live Messenger (MSN) e o
Google Talk. No Brasil, o site de rede social mais conhecido é o Orkut
(www.orkut.com). O serviço digital permite que cada usuário tenha uma
página
virtual
onde
reúne
informações
pessoais
como
amigos,
comunidades, fotos e vídeos. Cada pessoa possui uma espécie de mural
(scrapbook), onde seus amigos estariam livres para escrever o que quiser.
40
As redes sociais permitiram, a priori, reunir pessoas em torno de
interesses em comum formando grupos virtuais bastante atuantes. O
exemplo disso são os fóruns permanentes de discussão na Internet e as
redes (reais) de solidariedade, instituídas no ambiente virtual. Esse tipo
de organização social, embora sem presença física, foi de extrema
importância para a consolidação de diversos valores típicos da pósmodernidade.
O público dessas redes digitais está cada vez mais consciente
das
ideias
democráticas,
da
transparência
e
da
responsabilidade. Esses internautas estão aproveitando, a
todo momento, os pequenos espaços e estão avançando.
Nem todas as cruzadas são de interesse público, mas
algumas campanhas na web parecem estar surtindo bons
resultados." (MARQUES, 2009)
A tecnologia oferecida pela combinação entre computador e acesso à
internet se consolidou como portão de acesso a experiências únicas de
comunicação. O computador deixou de ser uma máquina de registro e de
processamento para se tornar uma máquina de comunicação, uma
representação simbólica da transformação de uma sociedade industrial
para uma sociedade emergente calcada pelos novos tipos de relações
sociais.
Para Pierre Lévy (1999), "as realidades virtuais compartilhadas, que
podem fazer comunicar milhares ou mesmo milhões de pessoas, devem
ser consideradas como dispositivos de comunicação 'todos-todos', típicos
da cibercultura".
Milton Santos (2008) argumenta que a sociedade instala uma
tecnosfera, dependente da ciência e da tecnologia, ao mesmo tempo em
que se lançam as bases de uma psicosfera, resultado de um novo
comportamento social, típico do meio técnico-científico informacional.
41
O meio geográfico atual, graças ao seu conteúdo em técnica
e ciência, condiciona os novos comportamentos humanos, e
estes, por sua vez, aceleram a necessidade de utilização de
recursos técnicos, que constituem a base operacional de
novos automatismos sociais. Tecnosfera e Psicosfera são os
dois pilares com os quais o meio técnico-científico introduz a
racionalidade, a irracionalidade e a contrarracionalidade, no
próprio conteúdo do território. (SANTOS, 2008)
42
3.5 - O Twitter: a grande ágora virtual
As
redes
sociais
digitais
ganharam
um
novo
status
com
o
surgimento dos microblogs. Um dos pioneiros dessa categoria, pelo menos
o que ganhou maior notoriedade, foi o Twitter (www.twitter.com), tema
deste trabalho. O Twitter é um serviço digital que permite ao usuário
escrever textos curtos, de até 140 caracteres, em uma página virtual. Nos
sites de rede social anteriores ao Twitter, para que se estabeleça uma
conexão entre duas pessoas, as duas devem aceitar o vínculo. Além do
tamanho do texto, a grande inovação do Twitter foi desfazer esse vínculo.
O site deixou de lado o conceito de "amigos virtuais", para criar o conceito
de "seguidos" e "seguidores", que detalharemos adiante
O sistema que deu origem ao Twitter foi concebido no início
da década de 90, por um programador de sistemas
americano chamado Jack Dorsey. A princípio, a função do
programa era o rastreamento de motoristas de táxi que,
pelo envio de mensagens curtas, mantinham uma central
informada sobre a sua situação ou localização. O uso “social”
do serviço, aberto indistintamente, só foi implantado em
2006, quando a tecnologia foi adaptada para a internet.
(LIMA & ABRAHÃO FILHO, 2009)
Embora seja descrito como um serviço de “microblog”, a dinâmica
do Twitter não remonta a mesma dinâmica dos blogs. O usuário
cadastrado no serviço pode escrever textos de, no máximo, 140
caracteres, medidos com espaços. É possível colocar ainda links para fotos
ou vídeos localizados em outras páginas da internet. A proposição
primeira do serviço, é responder ao questionamento “O que você está
fazendo?”, alterado em 2009 para "O que está acontecendo agora?".
Diferentemente de um blog, onde cada usuário possui uma grande
página para escrever textos do tamanho que quiser e mediar as respostas
43
como quiser, ao se cadastrar no Twitter, o usuário recebe uma página
virtual onde publica seus pequenos textos ao mesmo tempo que visualiza
os textos publicados por outros enunciadores, selecionados previamente
por eles.
Da mesma forma, cada texto publicado por um enunciador
qualquer é recebido e apresentado na homepage dos
interlocutores que escolheram “segui-lo”. Assim, todos os
participantes do Twitter são, potencial e simultaneamente,
enunciadores e co-enunciadores (LIMA & ABRAHÃO FILHO,
2009)
É importante lembrar que as informações publicadas são públicas.
Ou seja, não estão endereçadas a ninguém. O receptor desta mensagem,
ou seguidor, pode ser qualquer pessoa, seja ela usuária ou não do
sistema. Daí, surge uma esfera natural sobre assuntos de interesse
comum, grupos sociais ou sobre determinados usuários. O sistema do
Twitter permite ainda que um usuário faça citação ou referência a outro
usuário-emissor. Ou seja, além de promover relacionamentos, o serviço
estimula a troca de informações entre seus participantes. Assim como na
vida real, o usuário-emissor pode repassar conteúdo um conteúdo
publicado por outra pessoa. O nomes adotados para essa ação são
"retweet", "retuitar" ou simplesmente "RT".
Bares, padarias, botecos e cafés são lugares onde pessoas se
encontram para trocar informação, opinar sobre as notícias
do dia, pedir ajuda, dar risada, criar vínculos, cultivar
relacionamentos, falar entre si ou apenas acompanhar as
conversas dos outros. Ter essas oportunidades de
sociabilização é ao mesmo tempo prazeroso e útil, relaxante
e necessário para uma espécie que há milênios sobrevive
coletivamente. O Twitter é como o seu bar favorito
funcionando dia e noite: a hora que você aparecer
encontrará alguns frequentadores habituais e mais outras
pessoas relacionadas a eles. Você poderá ficar para um dedo
de prosa durante um intervalo no trabalho ou passar horas
interagindo e trocando ideias. (SPYER et al, 2009)
44
A comparação com um bar não é a única. Surgiram, dentro do
próprio Twitter, diversas interpretações sobre o funcionamento do sistema.
O Twitter seria, "um confessionário em praça pública”, "uma forma de
liberdade de expressão, em que você fala, quem quer ouvir escuta e
compartilha, quem não quer não ouve e não censura” ou um “pátio de
hospício: cada um falando ‘sozinho’. Como praticamente não existe
mediação vertical na esfera pública virtual do Twitter, quem escolhe a
relevância dos assuntos discutidos por lá é o público. E isso ocorre de
forma quase que espontânea.
Ao invés de comparar com um bar, ao exemplo de Spyer (2009),
aqui fazemos uma analogia com as praças públicas. São nesses espaços
públicos, onde ocorrem, desde a Grécia antiga, os conflitos da vida
cotidiana
da
sociedade,
nas
mais
diversas
manifestações
e
comportamentos que vão variar conforme o tempo (SOUZA & SILVA,
2006). Assim como nas praças, o Twitter garante espaço para o lazer e
para as amenidades, para a solidariedade, para os serviços de utilidade
pública e para, finalmente, a discussão política.
A praça é um espaço público, ou seja, um espaço livre para
ser usado pela sociedade. Mas não obstante seu atributo, ao
longo do tempo, a mesma vem se distanciando de seu papel
como espaço de auteridade. A organização do espaço
reproduz a estrutura sócio-econômica, de modo que a
pobreza e a riqueza se territorializam em espaços diferentes
no cotidiano da metrópole. Assim, os espaços de maior
congregação e que marcaram sobremaneira a história da
cidade, por conta da diversidade de acontecimentos que ali
se processavam, era as praças. Nelas, além dos momentos
de lazer, também se registravam momentos tensos,
referentes ao quadro político e econômico e, em outras
ocasiões, algumas figuras cômicas que chamavam atenção
aos frequentadores. (SOUZA & SILVA, 2006)
45
Dentro dessa perspectiva de comparação do Twitter com uma
grande ágora virtual, podemos lembrar que, na contemporaneidade, quem
quer ver e ser visto deve também ocupar esse espaço. E, naturalmente, o
crescimento do número de usuários do serviço fez com que empresas,
políticos e celebridade passassem a ter uma conta no sistema. Na "praça
pública" digital, havia desde a figura do jornaleiro, que insistia em "vender
seu pão", ali representado pelos grandes grupos de comunicação e seus
veículos. Como aquela pessoa bem informada, que sabia de tudo e tinha
credibilidade para noticiar algo. Os famosos que, embora nem sempre
tenham algo interessante a dizer, por algum motivo, sempre tem alguém
interessado em ouvir. Os que querem vender ou comprar alguma coisa. E
os políticos, que precisam se comunicar, de alguma forma, com seus
eleitores.
Foi
inevitável
que
o
jornalismo
se
apropriasse
dessa
nova
ferramenta. Os grandes veículos ganharam mais um canal para "vender"
informação e o Twitter, possui gente ávida para este consumo. Na "praça",
os jornalistas passaram a divulgar notícias em primeira mão, a encontrar
fontes
de
informação
e
para
monitorar
a
repercussão
e
os
desdobramentos de suas matérias e de veículos concorrentes. Isso, claro,
modifica mais uma vez a práxis jornalística, já que se transformou em
uma ferramenta vital para a realização de reportagens e promove a
aproximação
entre
leitores
e
veículos,
embora
muitas
empresas
jornalísticas insistem em proibir o seu uso.
Um dos principais dilemas para o uso do Twitter dentro das redações
é o posicionamento opinioso dos profissionais. Os donos dos grandes
veículos de comunicação passaram a questionar se o que está escrito ali
pelos seus funcionários estaria comprometendo ou não os interesses ou a
reputação daquele veículo. Por outro lado, o profissional de jornalismo se
torna o próprio veículo, sem precisar necessariamente comprar um, como
46
provocou Assis Chateaubriand (MORAIS, 1994). O Twitter permite que não
só profissionais de comunicação, mas qualquer um que esteja lá, escreva,
discuta, debata, opine qualquer informação, sobre qualquer assunto.
Não é mais apenas uma casta de especialistas mas a grande
massa das pessoas são levadas a aprender, transmitir e
produzir conhecimentos de maneira cooperativa em sua
atividade cotidiana. As informações e os conhecimentos
passaram a constar entre os bens econômicos primordiais, o
que nem sempre foi verdade. Ademais, sua posição de
infraestrutura - fala-se de infraestrutura -, de fonte ou de
condição determinante para todas as outras formas de
riqueza tornou-se evidente, enquanto antes se mantinha na
penumbra. (LÉVY, 1996)
47
PARTE 4 - ANÁLISE DO OBJETO
4.1 - Twitter e participação política
Na obra "Redes Sociais na Internet", Raquel Recuero (2009)
descreve dois momentos significativos que serviram para que o Twitter
ganhasse uma maior projeção, sobretudo quanto a seu uso político. O
primeiro foi a corrida presidencial norte-americana, que teve como
candidatos o democrata Barack Obama (@BARACKOBAMA) e republicano
John McCain (@senjohnmccain).
Nos Estados Unidos, o uso da internet para fins de campanha
eleitoral é totalmente liberado pela justiça. Nesse contexto, os dois
candidatos utilizaram massivamente o Twitter e outras redes sociais
digitais para provocar um ao outro, divulgar programas governamentais,
chamar o eleitorado para eventos públicos e arrecadar dinheiro para as
campanhas milionárias. Barack Obama saiu vencedor nessa disputa e
tornou-se o primeiro negro a assumir a Casa Branca.
A imprensa atribui o resultado das urnas à mobilização de um
exército de pequenos eleitores militantes na web descontentes com a
postura isolacionista do governo anterior, comandado pelo republicano
George W. Bush. O papel decisivo do Twitter durante as eleições norteamericanas provocaram uma discussão no Brasil sobre uma maior
liberdade quanto ao uso da Internet.
A campanha presidencial norte-americana de 2008 e a
utilização de blogs e microblogs como Twitter, pelo candidato
e agora presidente Barack Obama, trouxeram esse assunto
para o centro da discussão sobre redes digitais e sua
importância para a comunicação (MARQUES, 2009)
O outro momento se deu durante as enchentes em Santa Catarina,
em outubro do mesmo ano. Blogs, mensageiros instantâneos e o próprio
Twitter foram usados para divulgar os acontecimentos para o Brasil e para
48
pedir ajuda internacional. Os detalhes obtidos por essas informações
incentivaram a criação das primeiras campanhas de apoio às vítimas, o
que sensibilizou também as mídias convencionais.
Podemos citar ainda um outro exemplo de construção política feita
coletivamente através da rede, mais especificamente pelo Twitter. Em
junho de 2009, internautas denunciaram à imprensa internacional casos
de supostas fraudes no processo eleitoral do Irã. As mensagens foram
enviadas pelo Twitter e repassadas em segundos para pessoas do mundo
inteiro, chamando atenção inclusive das agências internacionais de
notícias que tinham difícil acesso ao país. O publicitário e pesquisador
Juliano Spyer (2009) tenta relacionar o Twitter com a política, explicando
como ele amplia o poder dos ativistas e apontando exemplos de uso do
site.
O Twitter amplia o poder de ativistas de várias maneiras:
Promove a distribuição rápida de informação - notícias de
última hora como a do assassinato da primeira ministra do
Paquistão Benazir Bhuto se espalham pelo serviço
amplificando a força e a velocidade da reação. Cria
consciência de grupo - antes, em eventos como palestras e
comícios, tradicionalmente apenas quem tinha acesso ao
microfone podia conversar com todos. Agora uma plateia
pode perceber quando muitos compartilham os mesmos
sentimentos e visões e, a partir dessa consciência, fazer seus
interesses valerem. Ajuda na coordenação de protestos manifestantes na Moldávia, Irã e China já usaram o Twitter
para se coordenar e organizar atos públicos e enfrentar a
censura e a repressão de seus governos. Aumenta a
segurança - ao ser preso cobrindo um protesto no Egito, o
jornalista americano James Kark Buck só teve tempo de
publicar no Twitter via SMS palavra “Arrested” [preso], e foi o
suficiente para amigos se mobilizarem e ele ser solto horas
depois. Fortalecer vínculos com a sociedade civil - o Corpo de
Bombeiros da cidade de São Francisco na Califórnia atende
pelo Twitter , Israel realizou a primeira coletiva de imprensa
governamental aberta ao público para debater a guerra em
Gaza. E a Nasa pôs um astronauta para tuitar do espaço.
(SPYER, 2009)
49
Figura 2 – Matéria do Correio Braziliense mostra que a estratégia usada por Obama pode
ser repetida por políticos brasileiros
Dados do Senado³ brasileiro revelam que a internet (19%) já é o
segundo meio de comunicação mais usado pelo eleitor brasileiro para
informar-se sobre política, atrás apenas da TV (67%). Em abril de 2009, a
agência Bullet divulgou o resultado de uma pesquisa 4 feita com 3268
usuários de Twitter no Brasil, feita com o objetivo de mapear o perfil desse
público.
O Twitter é considerado por esses usuários como uma fonte segura
de informações. 87% disse que confia nas opiniões de outros participantes
do serviço. 84% disse acreditar que o Twitter aproxima as pessoas.
__________________
³ http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=558JDB001
4
http://bullet.updateordie.com/insights/2009/06/bullet-divulga-o-resultado-da-primeirapesquisa-brasileira-realizada-no-twitter-2/
50
4.2 - Os políticos no Twitter
O
uso
da
Internet
como
uma
das
principais
plataformas
comunicacionais dos candidatos à presidência da república nos Estados
Unidos foi um assunto amplamente discutido pelos profissionais da
comunicação. A projeção que os candidatos americanos tiveram foi o
principal estímulo para que políticos brasileiros também entrassem no
Twitter. Deputados, senadores, governadores e prefeitos resolveram aderir
por conta própria ou através de assessores de imprensa. Além disso,
órgãos públicos também foram, aos poucos, criando oficiais contas na
rede digital.
Em Fortaleza, podemos citar os exemplos da Prefeitura Municipal, do
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e a Polícia Rodoviária Federal.
Esses órgãos usam o Twitter para divulgar informações oficiais e para
prestação de serviços. Já os gabinetes dos parlamentares viram o Twitter
como uma plataforma essencial para divulgar a agenda política, promover
debates de interesse público e se aproximar do público mais jovem,
geralmente mais próximo às redes sociais digitais.
Dos dos três senadores cearenses em exercício do mandato, dois
deles tem conta no Twitter: Inácio Arruda, do PC do B (@inacioarruda) e
Tasso Jereissati, do PSDB, (@TassoJer). Dos 22 deputados federais que
representam o Ceará em Brasília, pelo menos onze usam o Twitter para se
comunicar com os eleitores, ou seja, 50% por cento do total. São eles:
Ciro Gomes - PSB (@cirofgomes), Eunício Oliveira - PMDB (@eunicio),
Chico
Lopes
-
PC
do
B
(@chico_lopes),
Paulo
Lustosa
-
PMDB
(@paulolustosa), José Guimarães - PT (@guimaraes13), Gorete Pereira PL (@gorete_pereira), Ariosto Holanda - PSB (@deputadoariosto), José
Airton - PT (@joseairtonpt), Mauro Benevides - PMDB (@MauroBenevide),
Eudes
Xavier
-
PT
(@eudesxavierpt)
(@dep_salviano).
51
e
Manoel
Salviano
-
PSDB
Na Assembleia Legislativa do Ceará, 30% dos 46 deputados
estaduais, ou seja, 14 deles utilizam o Twitter: Marcos Cals - PSDB
(@marcoscals),
Bruno
-
PT
(@arturbruno),
Lívia
Arruda
PMDB
(@liviaarruda), Sergio Aguiar - PSB (@depsergioaguiar), Nelson Martins
PT - (@nelsonmartinsce), Heitor Ferrer PDT (@heitor_ferrer), Edson Silva
- PFL (@depedsonsilva), Rachel Marques - PT (@raquelmarques13),
Tomás Filho - PSDB (@tomasfigueiredo), Ronaldo Martins - PMDB
(@ronaldoprb10), Professor Teodoro - PSDB (@prof_teodoro), Caminha PHS (@depcaminha), Edísio Pacheco - PV (@edisiopacheco) e Augustinho
Moreira - PV (@augustmoreira).
Figura 3 - Lista com Twitter dos deputados federais cearenses
52
Já na Câmara Municipal de Fortaleza, dos 41 vereadores, apenas 11
utilizam o Twitter: João Alfredo - Psol (@joaoalfredopsol), Guilherme
Sampaio - PT(@verguilherme), Vitor Valim - PHS (@vitorvalim), Eliane
Novais - PSB (@ElianeNovais), Gelson Ferraz - PRP (@gelsonferraz),
Acrísio Sena - PT(@acrisiosena), Ronivaldo Maia - PT (@ronivaldomaia),
Salmito
Filho
-
PT
(@salmitofilho),
Eliana
Gomes
-
PCdoB
(@elianagpcdob), Leonelzinho Alencar - PTdoB (@leonelzinho) e Marcelo
Mendes - PTC (@MarceloVereador). O número de parlamentares que usam
o microblog representa 27% do total.
Neste contexto, os políticos que pretendem participar da corrida pela
sucessão presidencial brasileira de 2010 resolveram aderir às redes sociais
digitais. Três assessores norte-americanos responsáveis pela campanha de
Barack Obama nos Estados Unidos foram contratados para integrar a
equipe da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. O ex-governador de São
Paulo e também pré-candidato José Serra, do PSBD já usa o Twitter desde
2009 e escreve diariamente nas madrugadas.
O governo do Estado do Ceará possui uma página oficial na Internet
(www.ceara.gov.br), com notícias e documentos oficiais, servições online,
agenda oficial do governador e links para os diversos órgãos estatais. No
entanto, oficialmente, o governo cearense não possui uma conta oficial no
Twitter.
Por iniciativa própria, o governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes,
criou o seu perfil na página de microblog. Ao contrário do governador José
Serra, que prefere um tom mais autoral e opinioso em suas postagens,
Cid usa o Twitter principalmente para divulgar as ações do Governo do
Estado, sobretudo obras importantes e lançamentos de programas oficiais.
O governador costuma utilizar diversos recursos multimídia em suas
postagens, como vídeos, fotos e mapas. Geralmente, escreve no início da
53
manhã ou no final do expediente. E muito do que ele escreve, repercute
positivamente nos grandes veículos de comunicação de massa e em vários
blogs.
Uma leitura mais atenta às postagens feitas pelo governador na
página dele no Twitter nos passa facilmente todas essas informações.
Fizemos aqui uma análise do primeiro mês de uso efetivo do site, agosto
de 2009. Depois, mostraremos momentos posteriores, que tiveram
participação direta da rede, como a participação de programa de TV
gravado no litoral cearense e uma conversa no Twitter que rendeu uma
capa do jornal O POVO no dia seguinte.
54
4.3 - O cotidiano do governador Cid Gomes documentado pelo
Twitter e a repercussão na mídia
20 de junho de 2009 - Primeiro uso
Registros no próprio site do Twitter dão conta de que o governador
fez seu primeiro uso da ferramenta no dia 20 de junho de 2009, uma
sexta-feira útil, exatamente às 4:20 da tarde. Não havia mensagem
alguma. Apenas uma tentativa de contato com o apresentador de
televisão Luciano Huck, da TV Globo, um dos brasileiros mais influentes na
“twitosfera” brasileira. Cid postou o nome de usuário do apresentador
(@huckluciano)
como
se
estivesse
pronto
para
lhe
enviar
algum
comentário. No entanto, parou aí. Talvez tenha achado que o meio virtual
e público não era o ideal para um possível contato.
Figura 4 – Reprodução do site da TV Verdes Mares
55
Nesta data, o blog "Liberdade Digital", mantido pelo estudante de
jornalismo Emílio Moreno, noticia que o governador Cid Gomes telefonou
para o estudante cearense Pedro Henrique. Pedro havia participado do
concurso "Soletrando", promovido pela TV Globo no programa do
apresentado por Luciano Huck, chegando à semifinal. Dois dias depois, o
site da TV Verdes Mares registra a chegada do estudante no Aeroporto
Pinto Martins. Ele seria recebido pela Secretária de Educação. Em seu
blog, o jornalista Eliomar de Lima, anuncia que o governador faria uma
homenagem oficial ao estudante. É muito provável que aquela tentativa
de contato do governador com o apresentador Luciano Huck pelo Twitter
tenha sido para esse propósito.
Semana de 2 a 08 de agosto de 2009
Articulação política
O próximo "post" público só veio no dia 06 de agosto, quando às
14:42, ele comunicava aos seus seguidores que, naquele momento,
estava "almoçando
com os Deputados
Domingos
(Filho e
Neto)".
Domingos Filho é deputado estadual pelo PMDB, partido da base aliada de
Cid e presidente da Assembléia Legislativa do Ceará, ou seja, peça
essencial para o êxito político do governador. Ao contrário do que diz o
texto, Domingos Neto não possuía nenhum cargo político eletivo. Dois dias
depois, o jornalista Eliomar de Lima publicou em seu blog que o "filho do
presidente da Assembleia vai disputar mandato pelo PSB", partido do
governador e não o do pai. A disputa se daria na esfera federal. A notícia
também explicava que a "ida de Domingos Neto para o PSB foi um pedido
de Cid", para fortalecer o partido. Em resumo, Cid antecipou no Twitter
uma importância aliança política que estava sendo costurada.
56
Figura 5 – Reprodução do blog do jornalista Eliomar de Lima
Primeiro anúncio de obra estatal
No dia 08 de agosto, em três tweets, Cid anunciou que fora "dada a
ordem de serviço para a construção de uma adutora para o abastecimento
de água ao Município de Pereiro" e que a obra "atenderá à sede do
Município de Irapuan Pinheiro que todo fim de ano é socorrida por carros
pipas". Além disso, ele publicou um link com "o traçado de uma adutora
que começa a ser construída e estará pronta em cinco meses". Foi a
57
primeira vez que o governador utilizou o Twitter para anunciar uma obra
pública de seu governo.
Semana de 9 a 15 de agosto de 2009
10 de agosto - Divulgação do Twitter
Veio a empolgação. "Durante o lançamento do Anuário do Ceará, o
Governador do Ceará, Cid Gomes, disse que está usando o twitter para
divulgar realizações do seu governo. No perfil @cidfgomes, informações
sobre a aquisição dos tratores, o Centro de Eventos do Ceará e a modesta
quantidade de 43 seguidores", dizia o texto do blog Liberdade Digital,
escrito pelo estudante de jornalismo Emílio Moreno. O blog chamou ainda
o governador de "moderninho".
Figura 6- Reprodução do blog Liberdade Digital sobre o uso do Twitter pelo governador
Cid Gomes
58
11 de agosto de 2009 - Os primeiros mapas utilizados
Dos cincos tweets do dia 11 de agosto, três eram links de mapas
que mostravam os locais onde foram criadas duas estradas: GranjeiroCrato e Lameiro-Crato. Nesse dia, o governador anunciou que iria para
Brasĺia e retornava no dia seguinte para inaugurar as estradas. As
postagens foram feitas pela manhã, entre 10:41 e 10:50. Foi a primeira
vez que o recurso de mapas virtuais foi utilizado.
Figura 7 – Mapa de uma das estradas a serem construídas pelo Governo do Estado
Figura 8 – Mapa que aponta a exata localização de uma das obras do Governo
59
12 de agosto de 2009 - Notícia em primeira mão
A primeira informação dada em primeira mão dada pelo governador
via Twitter foi sobre o adiamento da visita que o presidente Lula faria no
Ceará ainda naquele mês. Logo cedo, às 6:52, Cid escreveu "Ainda estou
em Brasília. O Presidente Lula adiou a sua ida ao Ceará. A nova data
provável é 10 de setembro." Das oito intervenções daquele dia, essa foi a
mais importante e a que gerou mais repercussão na imprensa cearense.
As outras sete intervenções diziam da passagem do governador pelo
Cariri, onde visitou as obras do metrô e de um hospital.
Figura 9 - Notícia publica no site do jornal Diário do Nordeste
13 de agosto de 2009 - O dia inteiro no Twitter
As oito intervenções mostrava que o governador do Ceará parecia
bem empolgado com o Twitter. Começou a postar às 7:14 da manhã:
"Daqui a pouco, às 9:00hs, darei a ordem de serviço para o início das
obras de ampliação da emergência do Hospital do Coração de Messejana".
60
Às 12:11, no provável horário de almoço, tentou corrigir o erro de
português cometido no dia anterior: "no segundo "post" abaixo deveria ter
dito LAJE". Às 2:24, justificou a hora de chegada no Gabinete: "Estava
numa visita ao Eusébio onde o Governo trabalha para implantar um polo
de fármacos. A Fiocruz será a primeira". Três minutos depois, revela suas
impressões sobre o que viu: " Fiquei bem impressionado com a qualidade
de uma indústria cearense de antibióticos injetáveis - Isofarma - que gera
800 empregos no Eusébio". Durante a tarde postou links de dois mapas.
Às 06:04, se explicou: "reuni por 3 horas técnicos da SRH".
14 de agosto de 2009 - Dia longo
"Dia longo, hoje...", denuncia o primeiro tweet do dia, às 18:05 da
tarde. Afastado do microblog durante todo o dia, era preciso explicar a
ausência para seus seguidores. Foram, ao todo, seis postagens, o último
deles às 18:21. "Fizemos uma reunião de avaliação das obras de estradas
no Estado", "Durante quase três horas, tomei conhecimento das sugestões
feitas na consulta pública sobre o decreto de Zoneamento do Litoral", "A
direção da Cia. Docas do Ceará, Sérgio Novaes à frente, me entrega logo
mais a Medalha Virgílio Távora. Buscarei ser digno dela", "Foram
contratadas, hoje, as construções de 4 estradas". Mostra bom humor na
última intervenção. "Faltou espaço... rsrs...", escreveu e continuou a
informar. O que se percebe por aqui é que Cid resolveu utilizar o Twitter,
pela primeira vez, à noite, depois de um dia de trabalho, para resumir o
seu dia. Isso mostra que a ferramenta deveria se adequar à rotina do
usuário, e não ao contrário.
61
15 de agosto de 2009 - Apenas três postagens matinais
Logo cedo, às 06:47, antecipou sua agenda governamental: "Daqui
a pouco, às 9:00hs, em Palhano, inauguro a estrada da sede deste
município até a BR 116. Vou tentar enviar o link com o mapa". Dois
minutos depois, estava o mapa da estrada, como prometido. Às 12:59,
escreveu sobre a vida pessoal: "Um dos grandes prazeres da vida: vou já
comer um milhinho verde novinho que me mandou o amigo Dilmar,
Prefeito de Limoeiro do Norte”. Foram apenas três postagens durante o
dia.
Figura 10 – Reprodução das postagens realizadas pelo governador no dia 15 de agosto
de 2009
Semana de 16 a 22 de agosto
16 de agosto de 2009 — A volta do uso excessivo
Depois de dois dia com intervenções tímidas, o governador resolveu
voltar à ativa com dez postagens ao longo do dia. O governador
62
concentrou todas as suas postagens entre 09 e 10 horas da manhã.
17 de agosto de 2009 - O primeiro Twitpic - Cinturão Digital
Pela primeira vez, o governador Cid Gomes faz uso da ferramenta
TwitPic5 . TwitPic é um recurso nativo do Twitter que permite a publicação
de fotografias. Na ocasião, Cid mostrou um mapa com o projeto Cinturão
Digital, que promete levar internet de banda larga a escolas púlicas do
interior do Estado. O projeto já estava em andamento mas, pelo Twitter, o
governador divulgou que os testes para a rede já estavam sendo
realizados. A informação repercutiu positivamente no blog Liberdade
Digital e no site Invest Nordeste, dedicado ao noticiário econômico
regional.
Figura 11 – Mapa de implantação do projeto Cinturão Digital
________________
5
http://www.twitpic.com
63
Figura 12 - Repercussão do tweet sobre o projeto Cinturão Digital no blog Liberdade
Digital
18 de agosto de 2009 - Hospitais regionais e o primeiro vídeo
O governador começa a postar logo cedo , às 7:11 e segue até
7:41. Só volta a postar no final do dia, às 06:28, quando, segundo ele,
chega de uma viagem à Brasília. O governador se empenhou em divulgar
a construção do hospital regional do Cariri e a Escola de Educação
Profissional. Ele mostrou vários fotos com maquetes e com o andamento
da obra. Além disso, foi postado um vídeo em terceira dimensão sobre a
construção do hospital. Era a primeira vez que o recurso de vídeo foi
utilizado. Ele ainda "discursou" sobre as escolas públicos estaduais de
ensino médio, sobre as estradas que serão construídas no interior e ainda
pediu a benção de São Francisco para o lançamento do programa Ronda
do Quarteirão na cidade de Canindé.
64
Ao mesmo tempo que a popularidade do Governador cresceu no
Twitter, começaram a surgir os elogios e, por consequência, as cobranças
e críticas. Isso fica claro no momento em que ele mostra a foto com a
maquete do Hospital Regional do Cariri. Na página em que foi divulgado o
vídeo sobre o hospital, um "contribuinte" virtual lembra que não se deve
apenas construir o hospital, mas também contratar pessoas qualificadas
para trabalhar lá.
A repercussão na mídia de todos esses posts foi fraca. O site
Iguatu.org chegou a usar o mesmo vídeo divulgado pelo governador e
criou uma manchete supostamente exclusiva: "EXCLUSIVO: Iguatu.org
apresenta a maquete do Hospital Regional do Cariri".
Figura 13 – Reprodução do site You Tube que mostra o vídeo com a maquete digital do
Hospital Regional do Cariri
65
Figura 14 - Postagem no blog Iguatu.org sobre a maquete do Hospital Regional do Cariri
19 de agosto de 2009 - A primeira postagem feita por celular
No dia anterior, o Ministério do Trabalho havia divulgado dados
positivos a respeito da criação de empregos com carteira assinada no
Ceará, com destaque para o setor de serviços. A caminho de Canindé, Cid
fez uma postagem pelo celular e deixou isso claro. No caminho
comemorou os dados do Ministério do Trabalho e prometeu divulgar mais
detalhes a respeito do assunto. Aproveitou o espaço digital para anunciar
a construção de uma nova estação de tratamento de água entre Fortaleza
e Caucaia.
20 de agosto de 2009 - Mais comemorações e mais postagens
feitas pelo celular
Desde 7:05 da manhã, o governador escreve sobre os dados do
Ministério do Trabalho. Segundo eles, a média anual de empregos no
Estado entre 1999 e 2006 era de 23.229. Entre 2007 e 2008 essa média
subiu para 40.582, um crescimento de 75%. Cid ainda registrou a
inauguração do parque eólico de Parajuru ao lado do governador mineiro
Aécio Neves, colocando dois links com mapas do local. A inauguração
repercutiu nacionalmente, sobretudo nos blogs e sites que falam sobre
desenvolvimento sustentável.
66
Figura 15 – Postagem feita pelo celular
Figura 16 – Registro na imprensa sobre a agenda conjunta de Cid Gomes com o
governador mineiro Aécio Neves, antecipada pelo Twitter
67
Figura 17 – Notícia no portal O POVO Online sobre o lançamento do parque eólico de
Parajuru
68
Figura 18 – Repercussão do lançamento do parque eólico na imprensa nacional
21 de agosto - Agenda de obras no Cariri
A primeira postagem veio de manhã, às 7:11. O governador revelou,
no primeiro post, que dormiu em Juazeiro do Norte e que iria cumprir
agenda no Cariri naquele dia. Em seguida ele registrou o lançamento do
programa Ronda do Quarteirão em Barbalha, na noite anterior, além do
início das obras de construção da estrada Arajaras-Caldas. Veio um
terceiro post, sobre a agenda do dia: a inauguração do Detran e dois
trechos de estrada. Depois vieram mais dois posts sobre regularização
fundiária, todos no início da manhã. Ao longo do dia, entre 9:43 e 13:09,
Cid postou mais quatro links, totalizando nove postagens no dia.
69
O site JusBrasil praticamente copiou o material enviado pelo governo
(release) para repercutir o lançamento do programa Ronda do Quarteirão
e as obras nas estradas. Já o site Iguatu.org deu destaque a restauração
da rodovia entre Barbalha e Jardim, deixando de lado o lançamento do
Ronda, um das maiores prioridades da atual gestão estadual. E por fim, a
coluna "Cariri" do jornal O POVO do dia seguinte, falava sobre o povo
caririense. No entanto, um comentário positivo a favor da gestão estadual
foi deixado por um internauta, que quis valorizar as ações desenvolvidas
pelo governo naquela região. O Diário do Nordeste, por sua vez, antecipou
no dia 17 o lançamento do Ronda em Barbalha mas não fez cobertura
posterior.
Figura 19 – Notícia do lançamento do Ronda em Canindé no site JusBrasil
70
Figura 20 – Notícia sobre a restauração da rodovia Barbalha e Jardim no site Iguatu.org
Figura 21- Comentário positivo sobre as ações do Governo na região do
Cariri
71
22 e 23 de agosto - Fim de semana
Depois de vários dias cumprindo uma agenda exaustiva, parece que
o governador não cansou de divulgar suas ações no Twitter. Às 09:21 ele
começa a jornada virtual chamando a atenção para o link que ele postou
no dia anterior, que leva a um mapa com o local das obras de transposição
do Rio São Francisco. Depois, registrou que esteve na noite anterior a
praia de Canoa Quebrada, cidade de Aracati, para inaugurar estradas na
região. A inauguração contou com o show do músico Seu Jorge, segundo o
Twitter. Foram apenas três links no sábado, dia 22.
"Tirei o sábado e o domingo de folga... Sem internet e sem celular,
rsrsrs", escreve o governador às 19:28 do domingo, dia 23. Podemos
perceber que o governador ficou sem escrever no microblog entre a
manhã de sábado e a noite de domingo. Nos textos seguintes, ele fez uma
análise dos dados sobre a Balança Comercial Brasileira e dos Estados. Um
deles dizia que, nos dois últimos anos, o Ceará conseguiu ultrapassar a
casa do bilhão de dólares de exportação, até então inédita.
Semana de 23 a 29 de agosto
24 de agosto de 2009
A construção do Centro de Eventos do Ceará e do prédio da Divisão
de Homicídios da Polícia Civil foram os assuntos abordados pelo
governador nesta data no Twitter. Ele colocou links que levavam a fotos de
maquetes eletrônicas dessas obras, com espaço aberto para comentários.
O jornal Diário do Nordeste publicou em seu site: “Cid Gomes apresenta
maquetes de obras na internet”, citando o Twitter do governador e
reproduzindo uma das fotos apresentadas por ele.
72
Figura 22 – Maquete virtual do Centro de Eventos do Ceará
Figura 23 – Foto das obras do Centro de Eventos do Ceará
73
Figura 24 – Diário do Nordeste noticia as maquetes de obras do governo
25 e 26 de agosto de 2009
A exemplo do dia anterior, Cid aproveita para falar de mais obras.
Desta vez, ele investe na divulgação da construção da Policlínica de Brejo
Santo e do açude Missi, em Miraíma. A notícia da construção da Policlínica
vira notícia no blog Cruz Online, sobre a cidade de Cruz, situada no litoral
oeste do Ceará. Ele aproveita ainda para anunciar o lançamento do
programa Ronda do Quarteirão na cidade de Iguatu, notícia que ganhou
destaque na página do blogueiro Lindomar Rodrigues.
Figura 25 – Maquete eletrônica da Policlínica de Brejo Santo
74
Figura 26 – Site Cruz Online aborda a construção da Policlínica de Brejo Santo
27 de agosto de 2009
Muitos posts ao longo do dia. Agenda cheia. Primeiramente, Cid
lamenta, logo cedo, a perda do engenheiro Bolivar Gadelha, uma das
quatro
pessoas
que
trabalhavam
na
construção
da
ferrovia
Transnordestina e que morreram em um grave acidente na BR-116, no dia
anterior.
Cid volta a postar à noite, depois das 21h. Fala que teve um dia
muitas audiências em seu gabinete, “com pautas que variaram de um
inédito leilão de créditos de ICMS à novos investimentos em educação”.
Ele registra que recebeu em sua sala empresários varejistas e atacadistas
do setor farmacêutico. Eles teriam apresentado várias sugestões para
estimular o crescimento do setor. Cid anuncia que, no dia seguinte, irá à
cidade de Alto Santo assinar a ordem de serviço para a construção do
Açude Riacho da Serra.
75
Às 21:36, ele se despede com a seguinte mensagem: “estou indo
comer um caranguejinho pois ninguém é de ferro. Rsrs” (sic). A frase
representa um dos raros momentos em que o governador Cid Gomes
deixa de falar de trabalho para escrever algo relacionado à sua vida
pessoal. A notícia da construção do açude em Brejo Santo vira notícia no
portal Jangadeiro Online e no blog do jornalista Macário Batista.
28 de agosto de 2009
As três únicas postagens foram realizadas bem cedo, às 6:18 da
manhã. Ele lembra que, naquela data, será iniciada oficialmente a
transmissão
digital
da
TV
Ceará
(TVC),
canal
5.
Ele
parabeniza
publicamente o chefe da emissora estatal, Guto Benevides, e lança um
desafio: "fazer uma programação de alta qualidade".
Figura 27 – Foto do local onde será construída a barragem de Miraíma
76
Figura 28 – Blog repercute o lançamento do Ronda em Iguatu
Figura 29 – Notícia do açude em Alto Santo mostrada no site Jangadeiro Online
77
Figura 30 – Post sobre a construção do açude Riacho da Serra no blog do Macário
Dia 30 de agosto de 2009
“Esses dois últimas dias, sexta e sábado, foram dias puxados que
me impediram de 'postar' aqui para o Twitter...”, justifica o governador, às
7:50 da manhã. “Na sexta, à noite, fui a Iguatu, onde foi lançado o Ronda
do Quarteirão”, continua. “Ontem, fiz uma reunião com taxistas de
Fortaleza no velho 'Secai' – Sociedade Esportiva e Cultural Arco-íris.
Participei, à tarde, do X Congresso do meu partido, o PSB, que elegeu
novo diretório. E ainda, ontem, fui a Amontada (inaugurar uma pista de
skate) e a Itapipoca lançar o Ronda do Quarteirão... ufa!!! rsrs”.
Depois das explicações, Cid escreve sobre o projeto Cinturão Digital,
que pretende levar banda larga à diversos municípios do interior do
Estado. Depois, revela que pretende rever três filmes clássicos: `El Cid`,
`Braveheart` e `The Last Samurai`. Ele explica o conteúdo dos três
78
filmes. Mais tarde conta que só conseguir ver um (sem dizer qual). A
justificativa era uma reunião com a cúpula da segurança pública.
Dia 31 de agosto de 2009
Nesta data o governador repassou muita informação pelo Twitter.
"Acertamos a nomeação de 75 delegados de polícia que serão lotados em
todas as 19 regionais do Estado", começa, informando em seguida onde
cada equipe estará lotada. Depois, ele diz que seguirá para o Cariri. À
tarde, ele informa que viaja para Brasília, para participar do anúncio do
novo marco regulatório do pré-sal. "Retorno ainda hoje...", escreve. "A
tempo de participar de uma homenagem que se fará aos 'Cearenses da
Década'". A nomeação dos delegados virou um post no blog Diálogos
Políticos e no blog de Política do Jornal O POVO.
Figura 31 – Repercussão na imprensa de uma informação do Twitter
4.4 - Outros episódios envolvendo o governador e o Twitter
15 de setembro - O episódio da Rádio Monólitos
No dia 15 de setembro de 2009, o governador Cid Gomes posta no
Twitter uma planilha contendo os investimentos feitos pelo Governo do
Estado do Ceará no município de Quixadá. Uma emissora de rádio local,
79
chamada Monólitos FM, questionou os números de investimentos feitos
pelo Governo no Município. Cid divulgou no Twitter uma planilha em
resposta à rádio. A emissora, através do blog oficial parabenizou o
governador por ter mostrado a planilha e pediu para que o prefeito da
cidade, Ilário Marques, a fazer o mesmo.
Figura 32 – Prestação de contas pleo Twitter
Figura 33 – Cid Gomes responde ao blog da rádio Monólitos
80
16 de setembro - Governador "No limite"
Cid Gomes registra no Twitter as fotos de uma visita aos bastidores
do programa televisivo "No Limite", produzido pela TV Globo e gravado no
litoral do Ceará com apoio da Secretaria Estadual de Turismo.O jornalista
Eliomar de Lima, em seu blog, aproveita para fazer algumas críticas
inspiradas no título do programa. "Cid, realmente, anda no limite. No
limite com policiais civis; com os deputados federais Vicente Arruda (PR) e
Pedro Ribeiro (PMDB); com certas lideranças do Interior; e com tanta
crítica à área da segurança pública", registra.
Figura 34 – Participação do governador no programa “No Limite” da TV Globo
81
22 de setembro - Sistema de monitoramento e carro da linha sul
do metrô
Cid escreveu no dia 2 de setembro em seu Twitter que "toda obra,
com valor acima de R$ 3 milhões, terá uma câmera ligada a internet para
acompanhamento remoto". No entanto, foi no dia 22 de setembro que ele
postou uma foto do funcionamento do sistema de videomonitoramento
das obras do Estado. Dois dias depois ele divulga uma imagem do trem
que deve operar na linha sul do Metrô de Fortaleza. No dia 13 de outubro,
Cid Gomes divulga uma foto das obras de construção do Hospital Regional
do Cariri captada pelo sistema de videomonitoramento.
Figura 35 – Imagens do sistema de monitoramento do Governo do Estado
82
Figura 36 – Foto do metrô de Fortaleza
Figura 37 – Foto da obra da construção do Hospital Regional do Cariri
83
9 de setembro de 2009 - Capa do jornal O POVO
Rebeca Conrado (2009) narra o episódio em que um diálogo iniciado
no Twitter se transforma em matéria de capa do jornal O POVO. A repórter
Dalviane Pires foi pautada para colher informações sobre o Refis, um
programa de refinanciamento de dívidas governamentais. Com sérias
dificuldades em localizar a principal fonte de sua reportagem, a repórter
utilizou o Twitter para desabafar. Até, por um acaso, conseguir tudo que
precisava.
A jornalista Dalviane Pires (@dalpires) estava à espera de um
telefonema do secretário da Fazenda do Estado do Ceará,
Mauro Filho, para que pudesse fechar sua matéria. Em
momento de puro desespero, pois o secretário não retornava
a ligação, Dalviane posta em seu Twitter a seguinte
mensagem:“em pensar que o @cidfgomes salvaria minha
pauta... rsrs bem que ele poderia passar o número do
celular... rs”. Minutos depois o Governador o Estado do Ceará
Cid Gomes responde ao tweet da repórter do jornal O POVO
com a seguinte mensagem: “Diga o seu que eu ligo...”.
Assim, a jornalista Dalviane Pires passou através de uma
Direct Message o seu telefone para o governador, que
prontamente ligou para ela e forneceu-lhe a informação
necessária para fechar a matéria, que ainda foi capa da
edição do dia 9 des setembro de 2009 (CONRADO, 2009)
Os bastidores da matéria foi contado no blog dos jornalistas Plínio
Bortolotti e Nonato Albuquerque. Plínio escreveu a seguinte manchete:
“Twitter salva pauta; governador Cid Gomes vê mensagem e liga para
repórter". Já a manchete de Nonato Albuquerque chama atenção para a
força do Twitter na apuração de um fato.
84
Figura 38 – Repercussão da capa do jornal O POVO no blog do jornalista Plínio Bortolotti
Figura 39 – Post no blog do jornalista Nonato Albuquerque sobre a força do Twitter
85
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
uso
crescente
das
redes
sociais
digitais
aponta
para
o
deslocamento de uma esfera pública midiática vertical para uma esfera
horizontalizada.
A
comunicóloga
Dalva
Ramaldes 6
estuda
esse
deslocamento dentro do campo da política. Ela avalia o Twitter como um
espaço virtual que potencializa tanto a formação de redes de eleitores e
aliados, dedicados aos esquemas políticos promocionais, quanto intriga
políticas resultantes de seus entrecruzamentos ideológicos e partidários.
Pierre Levy (2001) acredita que a Internet permite a articulação de
múltiplos pontos de vista. Ele chega a prever, inclusive, que cada um se
tornará, no futuro, dono de um “pedaço” do ciberespaço. No entanto, ele
chama atenção para a apropriação política da rede. Apesar de todas as
possibilidades que existem na Internet, ter um site, escrever um blog ou
ter uma conta no Twitter não necessariamente representa uma maior
democratização.
A difusão de propagandas governamentais sobre a rede, o
anúncio dos endereços eletrônicos dos líderes políticos, ou a
organização de referendos pela Internet nada mais são do
que caricaturas de democracia eletrônica. A verdadeira
democracia eletrônica consiste em encorajar, tanto quanto
possível - graças às possibilidades de comunicação interativa
e coletiva oferecidas pelo ciberespaço - a expressão e a
elaboração dos problemas da cidade pelos próprios cidadãos,
a auto-organização das comunidades locais, a participação
nas deliberações por parte dos grupos diretamente afetados
pelas decisões, a transparência das politicas públicas e sua
avaliação pelos cidadãos. (LÉVY, 1999)
____________________
Líder do Grupo de Pesquisa " Mídia Digital Móvel" e Membro do grupo de Pesquisas
"Percursos Culturais em Comunicação" da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
6
86
Focando no nosso objeto de estudo, o uso político do Twitter a partir
do caso do governador do Ceará, Ciro Ferreira Gomes, observamos que o
usuário
@cidfgomes
utiliza
a
ferramenta
para
fazer
um
reforço
institucional das ações desenvolvidas pelo Governo do Estado do Ceará.
Ele está no poder desde 2006 e já se apresenta como pré-candidato à
releição para o quadriênio 2010-2014.
Os textos do governador, em sua grande maioria, são destinados a
anunciar obras e divulgar feitos do Governo e de sua equipe de
secretários. Dificilmente, o governador utiliza o Twitter para emitir
opiniões ou abordar aspectos de sua vida pessoal.
Uma outra característica marcante do perfil virtual do governador do
Ceará é a pouca interatividade. Praticamente não existe interação do
usuário @cidfgomes com os demais usuários. Ele não cita outros usuários,
nem reproduz textos de outras pessoas. Dentro do Twitter, essa atitude é
considerada negativa, uma vez que demonstra pouco interesse no que
outros usuários escrevem. Outra característica que demonstra isso é o
fato do usuário @cidfgomes seguir poucas pessoas, apesar de ter quase 9
mil seguidores. Nos primeiros meses em que passou a usar a ferramenta,
Cid seguia apenas o irmão, o deputado federal Ciro Gomes.
Mesmo com um nível baixo de interatividade, a participação do
governador do Ceará no Twitter tem bastante relevância para o jornalismo
local. Cid Gomes entra para a história do Ceará como o primeiro
governador do Estado a utilizar as redes sociais digitais para divulgar suas
realizações
aos
eleitores.
A
a
maioria
das
postagens
feitas
pelo
governador ganharam, de alguma forma, repercussão nos veículos de
comunicação como observado na parte 4 dessa pesquisa. Isso mostra que
o Twitter representa mais um canal para promover o agendamento da
imprensa local.
A Intercom (2008) explica, em breves termos, que a Teoria do
Agendamento (Agenda-setting Theory), consiste na formulação de um
87
conjunto de pressupostos teóricos e procedimentos metodológicos que
tentam compreender os dispositivos que a mídia determina para “pautar”
ou “agendar” a opinião pública.
A pesquisadora Andrea Reis7 estuda os twitters dos políticos
brasileiros e a partir dessa observação, faz uma análise da mídia
convencional
para
tentar
compreender
o
diálogo
entre
as
mídias
analógicas e as mídias sociais digitais. Em um artigo, ela se diz cada vez
mais convencida que o Twitter representa uma evolução da maneira de se
fazer notícia, uma vez que as novas mídias, segundo ela, estão pautando
a mídia tradicional.
A
principal
publicação
da
Intercom,
a
Revista
Brasileira
de
Comunicação, publicou uma entrevista com Maxwell McCombs, um dos
idealizadores da Teoria do Agendamento. Quase quarenta anos depois da
criação da teoria, McCombs chama a atenção para a hierarquização dos
veículos de comunicação, a partir da relevância social.
Na era eletrônica em que vivemos, a mídia define claramente
os distribuidores primários das notícias. Há muitos estudos
sobre conversas que identificam aquilo que as pessoas falam
a respeito são as coisas que vêm das notícias. Eles tendem a
conversar sobre aquilo que a imprensa apresenta.
(INTERCOM, 2008)
Nesse sentido, podemos concluir ainda que, a participação do
governador Cid Gomes no Twitter, sozinha, não é capaz de agendar a
opinião pública sem a ajuda de um mediador público mais relevante. Ou
seja, a atuação do governador sofre grande intervenção dos gatekeepers.
Em nosso caso específico, podemos citar os veículos de comunicação
convencionais ou blogs que fazem a cobertura hiperlocal, como por
exemplo o Iguatu.org, que pretende fazer a cobertura jornalística da
região sul do Ceará.
__________
7
Pesquisadora do Núcleo de Estudo em Arte, Mídia e Política (NEAMP) da Pontíficia
Universidade Católica de São Paulo.
88
No passado, os temas mais importantes para a opinião pública eram
apenas selecionados pelas mídias convencionais. No contexto da práxis
jornalística no Brasil, é fato que as novas tecnologias ganharam nos
últimos anos uma importância cada vez maior na elaboração da agenda do
público. Entretanto, a força do poder das mídias tradicionais, sobretudo o
jornal impresso e a televisão, ainda é muito superior ao uso do Twitter.
89
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