Comportamento organizacional – a percepção – Prof. Luiz Alberto Asato
A PERCEPÇÃO1
CONCEITOS
A passagem de O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, ilustra o quanto a percepção de
um mesmo objeto pode ser diferente para várias pessoas e nos permite iniciar um próprio conceito
acerca do mesmo tema.
No livro, o personagem relata que, impressionado ao
ver a gravura de uma jibóia engolindo um animal, fez o
seu primeiro desenho e mostrou aos adultos. Queria
saber se eles sentiam medo. "Por que um chapéu nos
daria medo?", perguntaram as pessoas. O desenho
feito
pelo
personagem não representava um chapéu, mas
uma jibóia engolindo um elefante. Por esse motivo,
foi necessário fazer o segundo desenho. "Os
adultos tem sempre necessidade de explicações
detalhadas," disse o personagem.
Tomando a ideia de "pessoas grandes" e "pessoas pequenas", podemos checar, sem grande
dificuldade o quanto esses dois mundos parecem distanciados em se tratando de percepção, e que
esse distanciamento encontra sua justificativa nas diferenças de linguagem.
"R", no consultório, reportava-se aos seus cinco anos de idade e o tanto que
chorava quando avistava aviões. Temia que seu pai, que "estava no céu", fosse
atropelado. Os adultos não entendem que, nessa faixa etária, não existe abstração
na criança que a faça entender "ir para o céu".
PERCEPÇÃO:
1- "um processo cognitivo2, uma forma de conhecer o mundo" (Davidoff, 2001).
2- a percepção "é a atividade cognitiva mais básica da qual surgem todas as outras" e que ajusta o
homem a esse mesmo mundo. (Neisser 1976)
A percepção tem uma importante função adaptativa por ser uma condição de ajuste das
pessoas às situações. Sempre atuamos em conformidade com a realidade percebida: se vamos à
praia, por exemplo, e avistamos uma bandeira vermelha (indicativa de condições impróprias para
mergulho), tendemos a nos comportar com prudência. Caso contrário, estaríamos nos expondo a
riscos. Quando somos convidados para um casamento, gastamos algum tempo pensando no que
vestir porque percebemos as situações mais protocolares como aquelas que nos exigem uma
melhor aparência. O mesmo acontece quando vamos a uma entrevista para nos candidatar a um
emprego ou para pedir desconto na faculdade.
Há fatores que influenciam na percepção, variáveis de pessoa para pessoa, o que justifica
diferenças perceptivas sobre um mesmo objeto, como analisaremos a seguir.
FATORES DE INFLUÊNCIA NA PERCEPÇÃO
1- Traços de Personalidade: há uma tendência muito grande em projetarmos características
próprias em outras pessoas ou em situações que estamos vivenciando. Pessoas que atuam de
modo sempre premeditado, por exemplo, tendem a não receber um presente sem a fantasia de que
1
A percepção é o capítulo 3 do livro Psicologia nas organizações da autora Vilma Cardoso Regato. Ed Rio, 2005
[Do lat. cognitus] Aquisição de um conhecimento. Psicol. O conjunto dos processos mentais no pensamento, na percepção, na
classificação, reconhecimento, etc.
2
a pessoa que está presenteando deseja alguma coisa em troca. Isso não as permite vivenciar o
prazer do presente simplesmente pelo presente.
2- História de Vida: as condições que nos são impostas ao longo da vida marcam o nosso modo de
perceber as pessoas e o mundo.
3- Estado Emocional: o momento porque passamos influi em nossas percepções.
4- Acuidade3 dos Sentidos: pessoas privadas de um sentido específico tendem a desenvolver
melhor os outros. Os cegos são um ótimo exemplo, pois desenvolvem percepções táteis, olfativas e
auditivas, muito superiores às das pessoas que têm visão. A percepção visual do bebê, em início de
vida, é limitada quando comparada a do adulto. O bebé requer um tempo mínimo para a percepção
de cores, volumes etc. A estimulação que recebe também conta para esse desenvolvimento.
5- Cultura e Meio: o conhecimento específico em determinadas áreas responde por leituras distintas
de objetos únicos. Um estudante de belas-artes, por exemplo, ao observar telas em uma exposição
tende a apresentar uma percepção informada, totalmente diferente de pessoas leigas que apreciam
as mesmas telas. Um médico não tem por hábito impressionar-se com um paciente de CTI
monitorado, ao contrário do leigo. A percepção da violência em meios onde ela frequentemente
acontece tende a ser subestimada.
6- Campo Visual: de acordo com o nosso campo visual, podemos perceber uns objetos, outros não.
Uma criança de três anos que chorava para que a mãe a pusesse no colo enquanto atravessavam a
rua, ouviu da mãe a seguinte resposta: "Você já está muito grande para colo." E a criança
respondeu: "Mas... mãe eu só vejo pernas!", referindo-se as dezenas de pessoas que passavam por
ela em direção oposta. Deve ser muito incómodo para a criança essa visão fragmentada das
pessoas.
7- Atenção: Neisser (1976 apud Davidoff, 2001) observa que a atenção é simplesmente um aspecto
da percepção, dizendo que as pessoas "escolhem" para o que atentar. Essa escolha pode ser mais
aleatória do que voluntária se considerarmos que há estímulos que nos roubam os olhos, dado o
impacto de seu surgimento, como um chamado, uma campainha etc. Em condições menos furtivas,
tendemos a nos ater sobre aquilo que mais nos interessa, o que revela, também, uma condição de
motivação pessoal.
Allport (1980) e Wickens (1980) observam que podemos realizar mais de que uma atividade ao
mesmo tempo, mas que a nossa capacidade de atenção é limitada. Observam ainda que tendemos
a realizar mais rapidamente uma tarefa já conhecida, o que suscita a ideia de automatismo e que
precisamos despender mais tempo nas tarefas menos conhecidas.
O advento da computação fez surgir o homem multitarefa e, por isso, cada vez mais nos é exigido
um emprego de atenção em atividades concomitantes.
8- Informações Visuais: o número de informações contidas num ambiente é maior do que a nossa
capacidade de assimilá-los. O que registramos é, geralmente, o que mais concentra a nossa
atenção que pode ser desde uma cor mais chamativa até algum objeto que seja um sonho de
consumo nosso. Profissionais que lidam com propaganda atentam muito para este dado no sentido
de obterem sucesso em suas campanhas de publicidade. O excesso de dados, ou informações
desnecessárias são "pecados" graves no mundo da propaganda.
9- Linguagem: conforme nossa linguagem vai se desenvolvendo, alteram-se os modos de
percebermos as coisas. A linguagem modela as nossas percepções. Se pensarmos em duas
crianças que sofreram molestações sexuais, sendo uma com dois anos e outra com 10 anos,
obviamente a de 10 anos sofrerá consequências psicológicas piores, uma vez que já poderá fazer
uma representação negativa do mesmo evento.
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Acuidade, Capacidade acentuada de discriminar estímulos sensoriais; agudeza.
Vale ressaltar que a linguagem a que nos referimos é a linguagem afetiva 4 que amadurece
juntamente com o ser humano. Conforme vamos crescendo, vamos expandindo a capacidade de
percepção sobre os fatos, no sentido de vê-los positivos ou negativos para as nossas vidas.
Como vimos são inúmeros os fatores que interferem na percepção e esses mesmos fatores
não são idênticos nas pessoas. Dessa maneira, não podemos defender a existência de uma
realidade única, pois cada um concebe a sua realidade.
Um exemplo são as perdas em fase adulta e criança: Os enlutados adultos que não suportam
a castração que lhes é imposta pelas perdas (sejam por morte ou perda de alguma situação como
emprego, casamento etc.), acabam criando, na própria dor, a presença do que foi perdido, tendendo,
muitas vezes, para a melancolia.
Uma das histórias clínicas relatadas nesse mesmo estudo discute a percepção da morte em
crianças, como analisaremos a seguir.
A percepção da morte difere muito entre adultos e crianças. Isso se da pela diferença da linguagem,
como já mencionamos, que gera uma dificuldade de assimilação do mesmo conceito para os
infantes.
"M" foi levado ao consultório quando tinha quatro anos. Ele era o único sobrevivente de um acidente
de carro que o fez perder: pai, mãe e irmã. Os avós paternos, que ficaram com a tutela da criança,
diziam-lhe (como é o mais comum nesses casos) que sua família foi para o céu. “M” foi surpreendido
pela tia na tentativa de saltar pela janela, A mesma conseguiu contê-lo, e ele, indignado gritava: "Eu
quero voar." Queria ir ao encontro da família perdida.
A percepção pode ser alterada ainda por fatores químicos que provocam alterações na própria
química do cérebro. Isto pode acontecer no uso de drogas e em doenças específicas. Estas
alterações podem fazer com que a pessoa possa ver e/ou ouvir estímulos não reais.
Situações geradoras de pânico e cansaço exacerbado também podem criar distorções perceptivas.
A FISIOLOGIA5 DA PERCEPÇÃO
O processo perceptivo depende tanto dos sistemas sensórios como do cérebro.
Os sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato) nos mantêm informados sobre o que
acontece ao nosso redor. Nos ajustamos aos estímulos ambientais, conforme a demanda dos
mesmos. Assim, buscamos a causa para um cheiro de queimado, em nossa casa; atravessamos a
rua ao avistar que o sinal está aberto para pedestres e tendemos a adiar aquele intencionado pedido
de aumento, quando percebemos o chefe estressado no momento em que íamos fazê-lo.
Há um sentido que detecta os atos do próprio organismo: o cinestésico (que permite nomear
os sinais do organismo como dor, sede, fome etc.) e que nos faz, também, atuar de modo a resolver
necessidades orgânicas.
Na visão, o processamento de informações tem lugar dentro dos olhos, em diferentes regiões
do cérebro e nos neurônios de ligação. Uma vez captada uma imagem pela nossa retina, é
acessado o nosso "banco de dados" para que possamos identificar e nomear o objeto visualizado.
Essa dinâmica é feita em fração de segundos.
O sistema visual nos dá um volume de informações desproporcionalmente grande sobre o
meio ambiente, por isso temos limitações na captação desses mesmos estímulos. A visão humana
pode ser considerada o sentido dominante na percepção.
IMPORTANTE:
Percepção e sensação são processos distintos.
A percepção implica interpretação, a sensação não. Nas sensações entram mais as capacidades
sensórias. O bebê que chora de fome no berço vive o desconforto provocado pelo estômago vazio.
Ele vive a sensação da fome. Ele só terá a percepção da mesma quando puder traduzir o seu
significado, ou seja, nomeá-la.
ESTRATÉGIAS DE PROCESSAMENTO DAS
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INFORMAÇÕES VISUAIS
Linguagem afetiva: a que exprime sentimentos e emoções que um indivíduo experimenta com contato com os outros
Fisiologia: [Do gr. physiología.] Parte da biologia que investiga as funções orgânicas, processos ou atividades vitais, como o
crescimento, a nutrição, a respiração, etc.
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A captação das informações visuais recebe a influência de uma série de fatores, internos e externos.
Podemos eleger como elemento mais importante numa tela a óleo, na qual figuram vários
elementos, uma casa se estivermos naquele momento pensando em comprar uma.
Há figuras intencionalmente construídas para demonstrar que as disposições
internas, os interesses e até o conhecimento ou desconhecimento de formas
específicas, fazem com que as pessoas variem na interpretação das formas
captadas pela retina. Estas figuras são tradicionalmente conhecidas como figuras
ambíguas.
O homem utiliza diversas estratégias de processamento para interpretar a
informação visual de objetos, entre elas a constância, a figura-fündo e o
agrupamento.
Constância: as imagens dos objetos captadas pela retina mudam de tamanho e, às vezes, de forma
conforme a distância e o ângulo do qual são observados. Uma casa parece maior quando observada
de mais perto.
Figura-fundo: sempre que olhamos em torno de nós, tendemos a ver objetos
(figuras) contra um fundo (plano). O mesmo objeto pode ser visto como figura ou
como fundo, dependendo de como você dirige a sua atenção.
Agrupamento: esta estratégia se refere à reunião de elementos visuais como
se fossem uma forma única. Existem cinco princípios que regem esse agrupamento,
1. Semelhança: os elementos visuais que têm cor, forma ou textura semelhantes são vistos
como sendo da mesma categoria.
2. Proximidade: os elementos visuais próximos entre si são vistos como pertencentes à
mesma categoria.
3. Simetria: os elementos visuais que constituem formas regulares simples e bem
equilibradas são vistos no mesmo grupo.
4. Continuidade: os elementos visuais que fazem com que linhas curvas ou movimentos
continuem numa direção já estabelecida tendem a ser agrupados.
5. Fechamento: os objetos incompletos são geralmente completados e vistos como
completos.
AS INFLUÊNCIAS DO MEIO SOBRE
A PERCEPÇÃO
Os bebés já nascem enxergando, ao contrário do que se pensava na época de nossas avós.
Obviamente, eles não tem a mesma acuidade visual de um adulto que pode enxergar em cores e
diferenciar pequenos detalhes. Se o bebê tem um pai barbudo, por exemplo, significa que ele
manifestará empatia por qualquer homem que use barba, imaginando que o mesmo possa ser seu
pai. Fora isso, o campo visual da criança é mais limitado, visto que, nas fases iniciais, ela está mais
no colo ou em posições que diminuem seu ângulo de apreciação do ambiente ao qual está inserida.
A capacitação para a apreciação de detalhes, cor, movimento etc. vai surgindo com a maturação da
visão e ainda com a estimulação de que ela necessita.
Há alguns fatores ambientais que, segundo Davidoff (2001), influenciam a percepção visual durante
toda a vida do homem como as experiências vividas no transcorrer da infância:
1- períodos breves ou não de estimulação sensorial;
2- disposições perceptivas (motivação pessoal, emoções, valores, objetivos, interesses e outros
estados mentais influenciam o que as pessoas percebem);
3- o ambiente cultural (experiências de ordem cultural podem influenciar o modo de processar a
informação).
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