Modelos preditivos da biometria da tartaruga-da-amazônia Podocnemis expansa (SCHWEIGGER, 1812) com base em dados reprodutivos Rafael Antônio Machado Balestra¹, Ana Paula Gomes Lustosa1, Lilian Freitas Bastos2, Vívian Mara Uhlig1, Aline Garcia de Andrade Costa3 1 - Pesquisadores do RAN/ICMBio ([email protected] / [email protected] / [email protected]) ; 2 – Bióloga /PUC-GO ([email protected]) ; 3 – Gestora Ambiental/UEG ([email protected]) INTRODUÇÃO O tamanho do corpo dos organismos representa um parâmetro importante, inclusive para as espécies de quelônios, podendo gerar consequências na sua ecologia, atividades reprodutivas, evolução e desenvolvimento (Preston & Ackerly, 2004). Relação alométrica, na concepção original do termo, consiste no estudo do tamanho (ou do crescimento) de uma parte do corpo relacionado com o tamanho (ou crescimento) total do corpo do organismo (Peters, 1983). Atualmente extrapola-se esse conceito para correlações com outros fatores não corporais, como o tamanho de rastros, taxa de natalidade, dimensões de ninhos, etc. Este trabalho objetivou avaliar as relações alométricas entre a biometria de fêmeas reprodutoras de tartaruga-da-amazônia (figura 1) e a morfometria de ninhos e tamanho da postura, na expectativa de estabelecer Figura 1 - Exemplar de P. expansa em postura (fotografia de Ana Paula Gomes Lustosa) modelos preditivos da massa e comprimento corporais para a espécie. METODOLOGIA Para definir modelos preditivos da morfometria de P. expansa a partir de características dos ninhos, com dados coletados em estações reprodutivas da espécie, monitoradas entre 2009 a 2012, no médio rio Araguaia, Goiás, promoveu-se a regressão linear entre as variáveis independentes massa corporal e comprimento retilíneo da carapaça, com as variáveis dependentes largura, profundidade e o número de ovos por ninho. Testou-se as hipóteses nulas dos regressores pelo teste Tß e comparou-se por ANOVA os resultados simulados com os dados reais obtidos. Para essas análises foram utilizados os softwares STATISTICA® e Microsoft Excel 2010 ®. RESULTADOS E DISCUSSÃO A maioria dos trabalhos de alometria reprodutiva com quelônios de Tabela 01 – Regressão entre as variáveis massa corporal e quantidade de ovos por ninho água doce avalia a relação entre o comprimento retilíneo da carapaça e N F F signif. (p) F tab. Tb T tab. massa corpórea em fêmeas; o comprimento linear do plastrão da fêmea e 40 12,417 0,0037 0,05 7,709 3,524 2,776 Figura 02 – Plotagem dos resíduos da regressão entre massa corporal e quantidade de ovos por ninho fêmea (Pough, 1980; Dodd Jr, 1997; Bonach et al., 2006). Massa (Kg) - Plotagem de resíduos 20 Neste trabalho, constatou-se haver correlação de Pearson (r2) por Anova (p<0,05), testada a hipótese nula do regressor (ß1 =0), somente Comprimento da Carapaça (cm) - Plotagem de resíduos 10 Resíduos significativa (p<0,05) e consequente regressão linear, com adequação aferida Figura 04 – Plotagem dos resíduos da regressão entre comprimento retilíneo da carapaça e quantidade de ovos por ninho 40 0 0 10 20 30 40 Resíduos número de ovos; e o tamanho da câmara de ovos e largura do rastro da -10 entre as variáveis massa corporal e comprimento retilíneo da carapaça, em -20 Massa (Kg) -20 150 112,80)/3,05 (N = 45; p = 0,040) (r2 = 0,67). Ovos 100 Previsto(a) Ovos ninho de amostras (não consideradas na construção dessas equações), 0 10 20 30 Tabela 02 - Correlação (r) entre massa corporal e quantidade de ovos por ninho R múltiplo R-Quadrado R-quadrado ajustado 0,76 0,70 0,68 Erro padrão 8,47 N 40 estruturalmente estáveis durante a incubação, em média 55 dias na região em questão. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, conclui-se que: - o tamanho e massa das fêmeas reprodutoras de P. expansa não influenciaram a profundidade do ninho, demonstrando que matrizes menores podem construir ninhos tão profundos quanto matrizes maiores; - o tamanho e massa das fêmeas reprodutoras tem relação direta com a quantidade de ovos depositado; Tabela 03 - Massa hipotética simulada a partir da quantidade de ovos por ninhos reais Nº ovos 92 101 116 102 99 105 111 142 113 113 108 97 136 98 Massa real 20,50 21,00 33,50 25,50 25,00 23,00 25,50 34,50 29,00 27,00 27,50 23,00 33,50 23,50 Previsto(a) Ovos 0 20 40 60 80 Comprimento da Carapaça (cm) Tabela 04 - Anova entre as massas corporais hipotéticas e reais Grupo Contagem Massa real 14 Massa 14 hipotética Soma 372 Média 26,57 Variância 21,03 367,70 26,26 34,11 F 0,024 valor-P 0,878 F crítico 4,225 Tabela 05 – Regressão entre as variáveis comprimento retilíneo da carapaça e quantidade de ovos por ninho vista que propiciará a estratificação hipotética das populações monitoradas, partir de dados presentes nos ninhos, que são de fácil encontro e persistem Ovos 0 40 aferiu-se por Anova ( = 0,05) um nível de aproximação expressivamente principalmente de matrizes, em classes de tamanho e/ou massa corporais, a 80 Comprimento da Carapaça (cm) 50 Massa (Kg) corporais de P. expansa se mostra relevante aos estudos populacionais, haja 60 100 0 A determinação de modelos preditivos da massa e comprimento 40 150 Ovos da carapaça hipotéticas, a partir de dados reais de quantidades de ovos por 0,05) (massa: p = 0,87) (comprimento: p = 0,95) (tabelas 3, 4, 7, 8). 20 Comprimento da Carapaça (cm) - Plotagem de ajuste de linha 50 significativo em comparação a essas variáveis reais/teste (H0 = X1 = X2 / p ≥ 0 Figura 05 – Plotagem do ajuste da linha de regressão entre comprimento retilíneo da carapaça e quantidade de ovos por ninho Massa (Kg) - Plotagem de ajuste de linha = 0,69) e Comp. Carapaça = (ovos + Testando-se esses modelos para predição de massas e comprimentos 0 Figura 03 – Plotagem do ajuste da linha de regressão entre massa corporal e quantidade de ovos por ninho Ovos 44,89)/2,46 ( N = 40; p = 0,003) (r2 20 -40 relação ao nº de ovos por ninho (tabelas 1, 2, 5, 6; figuras 2, 3, 4, 5). Com isso, modelaram-se as seguintes equações: massa = (ovos - Coef. Coef. Linear (a) Regressão (b) 44,896 2,467 Massa Hipotética 19,15 22,81 28,91 23,22 22,00 24,43 26,87 39,48 27,69 27,69 25,65 21,18 37,04 21,59 N F F signif. (p) F tab. Tb T tab. 45 6,744 0,041 0,05 5,987 2,597 2,447 Tabela 07 - Comprimento corporal hipotético simulado a partir da quantidade de ovos por ninhos reais Tabela 06 - Correlação (r) entre comprimento retilíneo da carapaça e quantidade de ovos por ninho R múltiplo R-Quadrado R-quadrado ajustado Erro padrão N Coef. Linear Coef. Regressão (a) (b) -112,807 3,057 Comprimento Comprimento Nº ovos real Hipotético 95 70,00 68,13 79 65,30 62,89 103 70,50 70,75 135 75,00 81,25 105 66,00 71,41 88 72,20 65,84 77 61,00 62,23 91 68,00 66,82 0,73 0,68 0,61 10,69 45 Tabela 08 - Anova entre comprimentos corporais hipotéticos e reais Grupo Contagem Soma Média Variância F valor-P F crítico Compr. Real 8 548 68,5 19,31 Compr. Hipotético 8 549,31 68,66 36,67 0,004 0,951 4,600 - a quantidade de ovos depositados não tem relação com a profundidade e largura dos ninhos; - que em futuras abordagens, deve-se relacionar o sucesso de eclosão com as classes biométricas estimadas, propiciando, por exemplo, a definição e quantificação das classes que produzam mais ovos e mais filhotes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Preston, K. A. & Ackerly, D. D. 2004. The evolution of allometry in modular organisms. In: Pigliucci, M. & Preston, K. A. eds. Phenotypic Integration: Studying the Ecology and Evolution of Complex Phenotypes. New York, Oxford University Press. p. 80-106. Peters, R. H. 1983. The ecological implications of body size. Cambridge, Cambridge University Press. 329p. Pough, F. H. 1980. The advantages of ectothermy for tetrapods. The American Naturalist 115:92-112. Dodd Jr., C. K. 1997. Clutch size and frequency in Florida Box turtles (Terrapene carolina bauri): implications for conservation. Chelonian Conservation and Biology 2:370-377.