UNIVERSIDADE VALE DO PARAÍBA INSTITUTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO CARLOS EDUARDO DE ALBUQUERQUE ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS E HEMIPLÉGICOS COM ASSIMETRIA DA BASE DE APOIO DURANTE A MARCHA E O LEVANTAR São José dos Campos, SP 2009 Carlos Eduardo de Albuquerque ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS E HEMIPLÉGICOS COM ASSIMETRIA DA BASE DE APOIO DURANTE A MARCHA E O LEVANTAR Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Bioengenharia da Universidade do Vale do Paraíba, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. Orientadora: Profa. Dra. Maricilia Silva Costa São José dos Campos, SP 2009 42994 Albuquerque, Carlo,çEduado Análise comDarativa enfe indivíduos saudáveis e hemiplégicoscom assimetria da base de apoio durante a marcha e o levantar/ oÍientadoÍa: ProP- DÍa. Maricília silva costa. Sãojosé dos campos,2009. 1 Discolaset: coloÍ. Dissertaçãoapresentadaao Progrâmade Pós-GÍaduaçãoem da Bioengenhariâ do Institutode Pesquisae Desenvolvimenlo Univêrsidade do Valedo PaËíba,2009l.Marcha2. Hemiplegia3. AcÌdenteVasculaÍC,erebrall. Costa, MaÍcíliaSilvall. TÍtulo cDU:ô'15.8 para fins acadêmicose cientíÍicos,a Autorizo,êxclusivamente por processosfoto reprodução total ou parcialdestadissertação, desdequecitadaa fontê. eletrônica, ou trânsmissão copiadorês Assinaturado DaÍatúqlL4fáoqE CARLOSEDUARDODE ALBUQUERQUE .ANÁLISE COMPARATIVAENTREINDIVÍDUOSSAUDÁVEISE HEMIPLÉGICOSCOM ASSMETRIA DA BASEDE APOIODURANTEA MARCI{A E O LEVANTAR" eÍn Engenharia Disseíação aprovadacomo requisito parcial à obtençãodo grau de Mestre de Pesquisae Biomédic4 do Progama de Pós-Graduaçãoem Bioengenhari4 do Insútuto pcla seguinte Desenvolümentoda universidadedo Vale do Paraíba,são Josédos caÍnpos, sP, bancaexaminadora: Prof. Dra.ANA MARIA DO ESPIRITOSANTOGNIVAP) Prof. Dra.MARrCÍLIA SrLVA COSTA(ttNlvAP) Prof. Dr. RODRIGO I1RÁNCO DE OLII'EIRÀ (UNICAS Prof. Dra. SandraMaria Fonsecada Costa Diretor do lP&D - UniVaP SãoJosédosCampos,05 denovenbrcde2009' DEDICATÓRIA à Fran ...ps ...t AGRADECIMENTOS Obrigado a Deus. meus pais...Mariliene e Carlos obrigado a Fran aos filhos Fred, Giuli e Maria orientadora Profa. Maricília demais membros da banca as minhas meninas: Alice, Aline, Maribel, Carol e Aninha Obrigado aos colegas do Mestrado: Ricardo, Hélida, Rogério, Dan, Henrique, Luiz Alfredo, Wagner e demais colegas A todo pessoal de apoio e secretarias da UNIVAP A todos os amigos que colaboraram para a conclusão deste trabalho MUITO OBRIGADO. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS E HEMIPLÉGICOS COM ASSIMETRIA DA BASE DE APOIO DURANTE A MARCHA E O LEVANTAR RESUMO Os indivíduos com hemiplegia decorrente de Acidente Vascular Encefálico (AVE) apresentam alterações no equilíbrio, na ativação muscular e na realização de atividades funcionais, resultantes do surgimento se sinergias patológicas. Desta forma, esses indivíduos apresentam déficits no controle postural, na realização da marcha - principal característica de independência dos seres humanos - e na realização do movimento de sentado para em pé (STS) - atividade funcional mais comumente executada no cotidiano. Analisar a realização das atividades de vida diária, marcha e levantar de uma cadeira, em pacientes hemiplégicos pós AVE com assimetria da base de apoio. Os participantes deste estudo foram divididos em três grupos: Grupo hemiplegia (10 hemiplégicos), grupo adulto (10 adultos saudáveis) e grupo jovem (10 jovens saudáveis). Foi realizada avaliação funcional e pressão plantar. Após, os participantes foram orientados a caminhar sobre uma esteira elétrica durante 2 minutos e simultaneamente era realizada a eletromiografia dos músculos vasto lateral e bíceps femoral do membro afetado nos hemiplégicos e lado direito nos demais grupos. Foi realizada também a avaliação do movimento STS, durante o qual foram analisadas as seguintes variáveis: deslocamento do ângulo do joelho, trabalho realizado para o movimento e latência de ativação muscular. Os hemiplégicos apresentam alteração da simetria de distribuição da massa corporal dentro da base de apoio, sendo que a visão não influenciou na distribuição da pressão plantar e na largura da base de apoio de indivíduos hemiplégicos. Além disso, durante a marcha observouse uma diminuição da flexão de joelho nos hemiplégicos durante a fase de balanço médio em ambos os membros inferiores e aumento na flexão durante a fase de contato inicial no membro inferior afetado. Em relação ao movimento STS, o grupo hemiplégico apresentou atraso significativo (p< 0,01) na ativação muscular quando comparado aos demais grupos, porém os padrões de movimento encontrados não diferem entre os grupos. Hemiplégicos apresentam assimetria na base de apoio. Além disso, apresentam padrão de marcha diferente de indivíduos saudáveis na ativação muscular e avaliação cinemática e padrão semelhante de deslocamento do joelho a indivíduos saudáveis, menor trabalho articular no joelho e atraso do padrão de ativação muscular durante o movimento STS. Palavras-chave: AVE; Simetria; Avaliação Funcional. COMPARATIVE ANALYSIS AMONG HEALTHNESS AND ASSYMETRIC BASE OF SUPPORT HEMIPLEGICS PEOPLE DURING GAIT AND SIT-TO-STAND MOVEMENT ABSTRACT Individuals with hemiplegic stroke due to cerebrovascular accident (CVA) have changes in balance, muscle activation and performance of functional activities, resulting from the emergence of pathological synergies. Thus, these individuals have deficits in postural control, in the gait - the main feature of independence of human beings - and in making the movement from sitting to standing (STS) functional activity most commonly performed in daily life. Analyzing the performance of daily living activities, gait and rising from a chair in hemiplegic patients after stroke with an asymmetric base. The study participants were divided into three groups: Stroke Group (10 hemiplegics ), adult group (10 healthy adults) and young group (10 healthy young adults). A functional evaluation was performed as well as plantar pressure. Afterwards, the participants were instructed to walk on an electric treadmill for 2 minutes while the electromyography of the vastus lateralis and biceps femoris of the affected limb in stroke survivors was performed and in the right side in the other groups. It was also performed the evaluation of the STS movement and during this one was analyzed the following variables: knee angle dislocation, work for the movement and muscle activation latency. The stroke survivors have changes in the symmetry of body mass distribution within the support base, and the vision have not influenced the distribution of plantar pressure and in the width of the support base of hemiplegic individuals. Moreover, during the march there was a decrease in knee flexion in hemiplegic during the average balance in both lower limbs and increased in strength during the initial contact in the affected lower limb. For the STS movement, the hemiplegic group has showed significant delay (p <0.01) in muscle activation when compared to the other groups, but the movement patterns found have not differed between groups. Hemiplegics present asymmetry at the support base. They also have different gait pattern of healthy individuals in the muscle activation and kinematic evaluation and similar pattern of displacement of the knee in healthy individuals, the minor work the knee joint and delayed muscle activation pattern during the STS movement. Key-words: Stroke; Simmetry; Functional Assessment. LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS Figura 01 - Representação das fases de apoio e balanço da marcha. Fonte: Perry (2005a). .....................................................................................................37 Figura 02 - Representação das fases de contato inicial e resposta à carga durante a marcha. ..............................................................................................38 Figura 03 - Representação das fases de apoio médio e apoio terminal durante a marcha.. ..............................................................................................................39 Figura 04 - Representação da fase de pré-balanço durante a marcha. .............39 Figura 05 – Representação do balanço inicial, balanço médio e balanço terminal durante a marcha. . .............................................................................................40 Figura 06 - Fases do movimento STS. ...............................................................45 Figura 07 - Vasto Lateral. ....................................................................................51 Figura 08 - Bíceps Femoral. ...............................................................................58 Figura 09 - Avaliação da Pressão Plantar ...........................................................59 Figura 10 - Avaliação da Marcha.........................................................................60 C - Início do movimento D - Conclusão do movimento.....61 Figura 11 - Imagens da aquisição dos sinais durante o movimento STS............61 Gráfico 02 - Valores médios dos limites da base de apoio dos grupos avaliados em função da altura (barras representam o desvio padrão)................................65 Gráfico 03 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de balanço médio dos grupos avaliados – comparação intra-grupo (***p<0,001). ...........................67 Gráfico 04 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de contato inicial dos grupos avaliados – comparação intra-grupos (***p<0,01). ..................................67 Gráfico 05 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de balanço médio dos grupos avaliados – comparação entre os grupos (***p<0,01). .....................68 Gráfico 06 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de contato inicial dos grupos avaliados – comparação entre os grupos (***p<0,01). ............................68 Gráfico 07 – Variação do ângulo do joelho em ambos os membros inferiores durante o movimento de sentar para levantar nos grupos: a) Hemiplégico – b) Adultos – c) Jovem..............................................................................................70 Gráfico 08 – Valores do pico de ativação – RMS – do músculo vasto lateral durante a marcha nos grupos hemiplégico e adulto relativos ao grupo jovem (*p<0,05). ............................................................................................................71 Gráfico 09 – Boxplot da latência de ativação do músculo vasto lateral bilateral realizado durante o movimento de levantar para os grupos avaliados.(**p<0,01).72 LISTA DE TABELA Tabela 01 – Caracterização da Amostra. ............................................................54 Tabela 02 - Valores médios da distância entre a projeção do CoM e os limites da base de apoio (média + desvio padrão). .............................................................64 Tabela 03 – Valores de flexão de joelho encontrados nos grupos avaliados. .....66 LISTA DE ABREVIATURAS AVDs- Atividades de vida diária AVE - Acidente vascular encefálico BdA - Base de apoio BF - Músculo bíceps femoral BFpeak - Pico da contração muscular CEP - Comitê de Ética e Pesquisa CoM- Centro de massa corporal CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa D - Direita DLT - Transformação linear digital E - Esquerda EB - Escala de Berg EMG - Eletromiografia Flexmax - Flexão máxima de joelho Flexmin - Flexão mínima de joelho FRS - Força de reação ao solo GERLF - Grupo de estudos das lesões e recursos terapêuticos GM - Músculo gastrocnemio medial Hemi - Hemiplégico IB - Índice de Barthel IQT - Músculos isquiotibiais Lvl – Latência do músculo vasto lateral LBdA - Largura da base de apoio MMII - Membros inferiores MMSS - Membros superiores NL - Normal OA - Olho aberto OF - Olho fechado Qua - Músculo quadríceps RF- Músculo reto femoral RMS - Root mean square SNC - Sistema nervoso central Sol - Músculo soleo STS – Movimento de levantar da cadeira (sit-to-stand) TA - Músculo tibial anterior TUGT - Teste: Time up and go test VL - Músculo vasto lateral VLonset - Início da contração muscular SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15 1.1 Justificativa..................................................................................................... 17 1.2 Objetivos ........................................................................................................ 17 1.2.1 Objetivo geral .............................................................................................. 17 1.2.2 Objetivos específicos .................................................................................. 17 2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 1 2.1 Hemiplegia: Definição e Complicações Posturais .......................................... 19 2.1.1 Tipos de hemiplegia .................................................................................... 19 2.1.2 Hemiplegia por Acidente Vascular Encefálico (AVE) .................................. 21 2.1.3 Aspectos Sensoriais e Motores da Hemiplegia: Funcionalidade ................. 22 2.2 Controle Postural............................................................................................ 25 2.2.1 Controle Postural Anormal .......................................................................... 28 2.3 Análises em Biomecânica .............................................................................. 30 2.3.1 Antropometria.............................................................................................. 30 2.3.2 Cinemetria ................................................................................................... 31 2.3.3 Dinamometria .............................................................................................. 33 2.3.4 Eletromiografia ............................................................................................ 34 2.4 Marcha ........................................................................................................... 36 2.4.1 Fases da marcha......................................................................................... 37 2.4.2 Análise da Marcha....................................................................................... 40 2.4.3 Análise observacional da marcha................................................................ 41 2.4.4 Marcha hemiplégica .................................................................................... 42 2.5 O Movimento de Sentado para em Pé – Sit to Stand (STS)........................... 44 2.5.1 Fases do Sit-to-Stand.................................................................................. 44 2.5.2 Análise Biomecânica do Sit-to-Stand .......................................................... 46 2.5.3 Sit-to-Stand em Hemiplégicos ..................................................................... 47 2.6 Reabilitação.................................................................................................... 49 2.6.1 Reabilitação funcional na marcha ............................................................... 50 2.6.2 Reabilitação funcional no STS .................................................................... 51 3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 54 3.1 Delineamento do estudo................................................................................. 54 3.2 Amostra .......................................................................................................... 54 3.2.1 Critérios de inclusão .................................................................................... 55 3.2.2 Critérios de exclusão ................................................................................... 55 3.2.3 Testes Especiais ......................................................................................... 56 3.3 Instrumentação............................................................................................... 56 3.3.1 Cinemetria ................................................................................................... 56 3.3.2 Eletromiografia ............................................................................................ 57 3.3.3 Sincronização.............................................................................................. 58 3.4 Procedimentos ............................................................................................... 58 3.4.1 Avaliação inicial – Inclusão.......................................................................... 58 3.4.2 Avaliação da pressão plantar ...................................................................... 59 3.4.3 Marcha ........................................................................................................ 59 3.4.4 STS ............................................................................................................. 60 3.5 Variáveis do estudo ........................................................................................ 61 3.5.1 Base de Apoio ............................................................................................. 61 3.5.2 Cinemática .................................................................................................. 62 3.5.3 Ativação muscular – EMG ........................................................................... 62 3.6 Análise dos dados .......................................................................................... 63 4 RESULTADOS .................................................................................................. 64 4.1 Análises da base de apoio ............................................................................. 64 4.2 Análises cinemáticas ...................................................................................... 66 4.3 Análises de EMG............................................................................................ 71 5 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 81 APÊNDICE ........................................................................................................... 88 FICHA DE AVALIAÇÃO ....................................................................................... 89 ANEXO A - Termo de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) ......... 90 ANEXO B - Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................. 91 15 1 INTRODUÇÃO O estudo do controle postural envolve a complexa e intrigante capacidade de verificar as interações sensório-motoras deste processo, denominados programas motores. Os desafios impostos ao controle postural no dia-a-dia e ao longo da vida são de interesse comum a diversas áreas do conhecimento. A literatura apresenta modelos não conclusivos para esclarecer os processos envolvidos na manutenção da simetria postural. Os componentes neurais essenciais para o controle postural envolvem processos motores demonstrados através de sinergias musculares (DIENER; HORAK; NASHENER, 1988); processos sensoriais, abrangendo os sistemas visual, vestibular e somatossensitivo (HORAK; NASHNER, 1986; ENOKA, 2000); e integrações de nível superior, essenciais na garantia dos aspectos de antecipação e adaptação do controle postural às situações adversas do cotidiano (MASSION, 1992; JEKA; LACKNER, 1994; SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). Conhecer a tarefa do controle postural e examinar seus efeitos baseado no ambiente no qual se encontra são princípios necessários quando se pretende ponderar a cerca das funções de estabilização e orientação propiciadas pelo controle postural (NASHNER; MCCOLLUM, 1985; LATASH, 1997; DUARTE, 2000; SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). Para o indivíduo conseguir se manter em equilíbrio ele precisa ser capaz de projetar o centro de massa corporal (CoM) dentro dos limites da base de apoio, que nao é fixa e varia de acordo com a tarefa, o ambiente e o indivíduo (LATASH, 1997; ENOKA, 2000). Para os pacientes hemiplégicos, sequelados após lesão cerebral, esta projeção do CoM dentro dos limites é particularmente complicada devido as alterações na percepção do hemicorpo afetado e limitações motoras, causando menor distribuição de peso para este lado, assim o controle postural sofre 16 muitas alterações, dificultando a estabilização e independência desses pacientes (BOBATH, 2001; DAVIES, 1996a; GOMES, et al.,2006). Neste contexto a simetria da distribuição do peso corporal sobre a base de apoio significa um pré-requisito para execução de muitas atividades de vida diária e permite a adoção ou manutenção de um estilo de vida móvel e independente. A marcha humana e o movimento de levantar a partir de uma cadeira oferecem de forma simples e eficiente parâmetros de avaliação da condição do controle postural frente situações estabelecidas e reprodutíveis. A Eletromiografia (EMG) é o estudo da função muscular por meio da análise do sinal elétrico proveniente de contrações musculares, permitindo acesso ao processo fisiológico que levam o músculo a gerar torque e produzir movimento. A verificação e análise temporal da série de despolarizações musculares fornecem subsídios para estimar as interações neuro-musculares relativas às condições sensoriais, através da identificação das seqüências ou intensidades de respostas biomecânicas. A análise cinemática oferece os subsídios espaciais de referência para identificar as demandas neuro-musculares associados à tarefa proposta. Portanto, estas informações podem ser utilizadas como diagnóstico de alterações ou patologias dos sistemas responsáveis pelo controle postural, decorrentes de danos à função nervosa central. Este trabalho propõe uma análise da simetria na base de apoio para a boa realização de atividades funcionais em indivíduos com hemiplegia. Analisando a assimetria da base de apoio com alterações encontradas durante a marcha e levantar de uma cadeira e, através destas informações, evidenciar uma relação entre distúrbios de simetria e execução de atividades de vida diária. 17 1.1 Justificativa O paciente acometido por um acidente vascular encefálico sofre vários tipos de limitações e prejuízos nos diversos sistemas corporais de acordo com a extensão da lesão. O processo de reabilitação tem como objetivo minimizar essas limitações e devolver o paciente adaptado tornado-o independente no seu dia-a-dia. O estudo biomecânico dos movimentos desses pacientes colabora para o melhor entendimento das dificuldades encontradas por eles, e possibilita um melhor planejamento para reabilitação. Assim este trabalho vem colaborar para uma reabilitação mais objetiva e eficaz, pois demonstra a relação entre a assimetria na base de apoio em hemiplégicos durante os movimentos de levantar e marcha. Movimentos realizados com muita dificuldade por esses pacientes, de forma estereotipada e com grande gasto energético aplicados às várias atividades da vida diária. O melhor entendimento desses mecanismos procura revelar as causas do controle postural anormal adotado por esses pacientes, colaborando para a escolha de condutas que possibilitem retorno do controle postural normal ou funcional. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Analisar e comparar a execução das atividades de marcha e levantar de uma cadeira em adultos e jovens saudáveis e hemiplégicos pós acidente vascular encefálico com assimetria da base de apoio. 1.2.2 Objetivos específicos • Analisar a atividade do músculo vasto lateral bilateral nos MMII durante o movimento de levantar ns grupos avaliados; 18 • Analisar a posição da articulação do joelho durante as fases de balanço médio e contato inicial da marcha nos grupos avaliados; • Analisar a atividade muscular do músculo vasto lateral durante a marcha nas fases de contato inicial nos grupos avaliados; • Analisar a atividade muscular do músculo bíceps fenoral durante a marcha nas fases de balanço médio nos grupos avaliados; • Comparar os resultados entre os grupo. 19 2 REVISÃO DA LITERATURA Este capítulo apresenta sínteses de trabalhos sobre o controle postural humano, marcha, movimento de sentado para em pé, hemiplegia e suas alterações (conseqüências) mais comuns sobre o controle postural e de métodos de analise em biomecânica obtidos através de pesquisa bibliográfica. 2.1 Hemiplegia: Definição e Complicações Posturais A hemiplegia é o sinal característico do Acidente Vascular Encefáflico (AVE), ele resulta em um déficit neurológico súbito e específico. É o aspecto repentino do déficit neurológico – segundos, minutos, horas, ou poucos dias – que caracterizam o distúrbio como sendo vascular. Mesmo a hemiplegia sendo o sinal característico do AVE outras disfunções podem estar presentes, sendo igualmente incapacitantes, como a disfunção sensorial, afasia ou disartria, defeitos de campo visual e comprometimento mental e intelectual (UMPHRED, 1994). A hemiplegia apresenta diversas características decorrentes de suas causas. Este capítulo define: I) os tipos de hemiplegia; II) a hemiplegia resultante de um acidente vascular encefálico (AVE); III) conseqüências da hemiplegia sobre a funcionalidade e execução das atividades motoras na vida diária. 2.1.1 Tipos de hemiplegia Existem várias formas de hemiplegia classificadas conforme a topografia da lesão. A hemiplegia cortical é caracterizada por lesão da área motora e, geralmente, é menos extensa dos demais tipos. Já a hemiplegia subcortical ocorre por lesão no centro oval e há predomínio de déficit em um dos membros. As hemiplegias alternas são aquelas que comprometem a via piramidal ao nível do tronco encefálico; caracterizam-se pela paralisia de um hemicorpo (contralateral à lesão) e pelo déficit de um ou mais nervos cranianos (homolateral à lesão) (SANVITO, 2002). 20 Porém a forma mais freqüente de hemiplegia é a chamada hemiplegia capsular, que é decorrente do comprometimento do feixe piramidal concentrado num espaço reduzido na cápsula interna. Nessa, pode haver o comprometimento do tálamo em virtude de sua proximidade com a cápsula interna e, clinicamente, além do comprometimento das projeções talamocorticais, podem ocorrer distúrbios sensitivos associados ao déficit motor. Habitualmente, a hemiplegia capsular é de causa vascular (SANVITO, 2002). Relativamente à motricidade, em se tratando de alterações motoras, é importante distinguir as hemiplegias proporcionadas e desproporcionadas de acordo com a predominância do comprometimento motor voluntário dos membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII). De um modo geral, em termos de prognóstico, as hemiplegias proporcionadas têm evolução menos satisfatória, pois envolvem lesões no trato piramidal (principal trajeto das informações motoras no sistema nervoso central (SNC), que é responsável pelos movimentos voluntários, comprometendo igualmente, ou quase igualmente, os MMSS e MMII. Já nas hemiplegias desproporcionadas há um comprometimento maior do membro superior sobre o inferior, principalmente nos casos de AVE, nos quais a artéria cerebral média é mais comumente comprometida do que a artéria cerebral anterior, uma vez que a área cortical de perna e pé praticamente não é afetada se não há comprometimento da artéria cerebral anterior (LIANZA, 1995). Entre os distúrbios motores causados na hemiplegia por lesão encefálica, há os que afetam a tonicidade muscular, resultando em hipotonicidade e hipertonicidade. A hipotonia, menos freqüente, geralmente ocorre na fase inicial e sua persistência é indicativo de um prognóstico ruim, enquanto que a hipertonia pode ser caracterizada de duas maneiras; a) hipertonia plástica (ou alfa) é aquela que permanece durante toda mobilização passiva do membro afetado e; b) hipertonia elástica (ou gama) é a que cede com a mobilização passiva e lenta do membro afetado (UMPHRED, 1994). A ocorrência de espasticidade com lesão encefálica é decorrente do acometimento em áreas inibidoras do tônus muscular, dentre elas a zona 21 motora cortical e a via justa piramidal, levando à hiperatividade do sistema gama nos fusos musculares. Geralmente, essas áreas são o córtex cerebral e a cápsula interna (TEIXEIRA et al. 2003). 2.1.2 Hemiplegia por Acidente Vascular Encefálico (AVE) O AVE, a principal causa de incapacidades em adultos, apresenta a hemiplegia como repercussão mais comum de déficit neurológico súbito. Define-se AVE como qualquer alteração transitória ou definitiva, na qual uma área cerebral é afetada por isquemias ou sangramentos decorrentes de processos patológicos nos vasos cerebrais (REBELLATO; MORELLI, 2004). Indivíduos com hemiplegia pós-AVE apresentam distúrbios do movimento como principal sinal clínico, estes são decorrentes da incapacidade em recrutar unidades motoras no tempo e seqüência apropriados (UMPHRED, 1994). A maior parte dos pacientes com hemiplegia apresenta algum grau de espasticidade – aumento inapropriado do tônus muscular – o que torna os movimentos estereotipados e típicos (BOBATH, 2001). Para Teixeira et al. (2003), a espasticidade pode dificultar ou mesmo sobrepor a atividade motora voluntária com sua intensidade variando de acordo com a evolução da patologia. Segundo Umphred (1994), o desenvolvimento da espasticidade não se limita apenas aos MMSS ou MMII, mas também envolve a musculatura da cabeça, pescoço e tronco. A musculatura do tronco, principalmente ombro e cíngulo do membro inferior, é inicialmente atingida no desenvolvimento da espasticidade. Devido às seqüelas do AVE, freqüentemente são observadas dificuldades na seqüência de ativação muscular durante a realização de atividades funcionais, resultantes do surgimento de padrões motores estereotipados, denominados sinergias patológicas (REBELLATO; MORELLI, 2004). Além disso, os hemiplégicos apresentam também, perda significativa do controle postural, dificultando a execução de atividades funcionais, como a de mudar da posição sentada para a posição em pé (BOBATH, 2001). A 22 incapacidade de desempenhar essa competência básica pode levar os indivíduos à institucionalização, a perturbações funcionais e de mobilidade durante as atividades da vida diária (AVD’s) e até mesmo à morte (JANSSEN et al., 2002). Pacientes com hemiplegia, vítimas de um AVE, apresentam fraqueza muscular e baixa resistência à atividade física, o que pode levar ao isolamento social e depressão (JUDGE et al., 1993). Dessa forma, é imprescindível o tratamento, cujo objetivo é melhorar a qualidade do movimento no lado afetado pelo AVE para que, ao final do mesmo, ambos os lados funcionem da forma mais harmoniosa possível, dentro dos limites da lesão cerebral. Isso pode ser alcançado através da inibição dos padrões de movimento anormais, pois não há como sobrepor padrões normais em anormais (BOBATH, 2001). Para Umphred (1994), o manejo da hemiplegia deve ter como base o movimento normal, no qual devem ser utilizadas técnicas apropriadas que permitam o retorno do paciente a uma vida com qualidade, cujo objetivo é alcançar o mais alto nível de função possível. 2.1.3 Aspectos Sensoriais e Motores da Hemiplegia: Funcionalidade De acordo com a CIC (Classificação Internacional de Funcionalidade em Capacidade e Saúde), a funcionalidade é um termo que engloba todas as funções do corpo, atividades e participação; da mesma forma, incapacidade é um termo que inclui deficiências, limitação da atividade ou restrição na participação. Além disso, a CIF classifica a saúde e os estados relacionados com a saúde. Desta forma, a CIF não classifica pessoas, mas descreve a situação de cada pessoa dentro de uma gama de domínios de saúde ou relacionados com a saúde. Além disso, a descrição é sempre feita dentro do contexto dos fatores ambientais e pessoais. O quadro clínico da hemiplegia apresenta-se de modo bastante característico com comprometimento motor e outras alterações, inclusive sensoriais. Segundo Franzoi e Kagohara (2007), a hemiplegia é caracterizada por espasticidade e fraqueza muscular no hemicorpo contralateral à lesão, 23 podendo ser acompanhada por alterações sensitivas, cognitivas, perceptivas e de linguagem. particularmente, Dentre alterações as do perturbações campo sensoriais, visual, destacam-se, principalmente aquelas associadas à hemianopsia (LEITÃO; LEITÃO, 1995). Estas alterações podem resultar da compressão do nervo óptico, o que diminui a acuidade visual do mesmo lado da hemiplegia e dificulta a leitura e a locomoção dos indivíduos acometidos por hemiplegia, em conseqüência de um AVE (LIANZA, 1995). As perturbações visuais mais comuns encontradas em pacientes hemiplégicos, além da hemianopsia, são: visão insuficiente, diplopia (visão dupla) e a lesão de retina (O’SULLIVAN; SCHMITZ, 1993). Freqüentemente, após um AVE a perda da memória à curto prazo interfere na capacidade do paciente em beneficiar-se com a reabilitação, especialmente naquelas atividades que envolvam o uso de técnicas novas e, portanto, não-familiares (O’SULLIVAN; SCHMITZ, 1993). Outras perturbações sensoriais, além das alterações da visão, também podem influenciar na funcionalidade motora e no prognóstico de recuperação do paciente. Segundo Bobath (2001), a capacidade de iniciar e de realizar movimentos normais é profundamente afetada devido a distúrbios sensoriais e de percepção. Em todos os casos de pacientes hemiplégicos, é imprescindível testar a sensibilidade para se descobrir a extensão da deficiência motora. Esses pacientes podem apresentar vários graus de deficiência sensorial, desde a hipoestesia (perda parcial da sensibilidade) até a agnosia completa dos membros afetados, podendo ainda estar associado à hemianestesia (falta de percepção de todo lado hemiplégico), que varia desde distorções da imagem corporal e compromete apenas partes do lado afetado, até a perda total da percepção desse lado ou mesmo sua negação – heminegligência. O prognóstico de recuperação motora e funcional em hemiplégicos com alterações sensitivas é menos otimista, pois a falta de sensibilidade reduz seu potencial funcional, bem como, as alterações proprioceptivas e de esquema corporal dificultam seu equilíbrio, atividades de vida diária (AVD’s) e marcha (LIANZA, 1995). 24 Nos casos de hemiplegia, durante a movimentação voluntária de um membro, podem ser observadas ainda, reações associadas do membro homolateral, tal como quando o hemiplégico realiza extensão voluntária do membro inferior parético para subir um degrau, ocorrendo uma hipertonia flexora do membro superior desse mesmo lado. O controle dessas reações durante a reeducação motora é imprescindível para o aprimoramento motor voluntário (LIANZA, 1995). De acordo com Bobath (2001), a incapacidade de realizar movimentos voluntários ou realizá-los de maneira anormal, é devido à deficiência de reações posturais normais. A perda dos padrões de movimentos seletivos é um fator que dificulta a recuperação motora do hemiplégico, todavia, a presença da espasticidade, flacidez ou das alterações do mecanismo postural, representam os problemas mais graves do acometimento neuromuscular (LEITÃO; LEITÃO, 1995). A espasticidade impede o funcionamento das reações automáticas (reações de equilíbrio e endireitamento) no lado afetado, por isso o paciente hemiplégico reluta em deslocar o peso do corpo para esse lado ao realizar atividades como sentar, ficar em pé e caminhar (BOBATH, 2001). A hemiplegia espástica apresenta as seguintes alterações: o padrão anormal flexor do membro superior que pode redundar em deformidades resulta em adução, rotação interna e discreta protração da articulação escapuloumeral, flexão do cotovelo, pronação do antebraço, hiperflexão do punho e adução do polegar, além da flexão dos dedos. A articulação escapuloumeral é, em muitas ocasiões, responsável pela maior incapacidade do paciente devido aos fenômenos dolorosos (GOMES, 1995). No membro inferior, devido ao padrão anormal extensor e facilitado pela volta precoce à função de marcha com posicionamento inadequado em plantiflexão, levando a um alongamento aparente do membro inferior, atitude escoliótica, obliqüidade pélvica, adução de quadril, hiperextensão do joelho e pés equinovaros (BOBATH, 2001). Há um grande comprometimento da simetria postural, sendo a distribuição de peso menor sobre o hemicorpo acometido. Essa assimetria 25 mais a dificuldade em transferir o peso para o lado afetado causam um déficit na capacidade de manter o controle postural, impedindo a orientação e estabilidade para realizar movimentos com o tronco e membros, onde ocorrem as quedas (GOMES et al, 2006). Esses pacientes apresentam ainda um grande prejuízo na atividade dos músculos que controlam o tronco, particularmente nos músculos responsáveis pela flexão, rotação e flexão lateral (DAVIES, 1996b). Há uma prevalência de déficits posturais em pacientes com hemiplegia esquerda em oposição aos pacientes com hemiplegia direita, a literatura mostra que a hemiplegia esquerda está mais associada a indivíduos que apresentam maior déficit de equilíbrio postural em comparação aos hemiplégicos a direita (GOMES et al, 2006). 2.2 Controle Postural Normal O controle da postura ereta envolve a integração dos sistemas sensoriais múltiplos, fornecedores de informações sobre a posição dos segmentos do corpo em relação ao outro e ao ambiente. Sob circunstâncias normais, os sistemas visual, somatossensorial e vestibular fornecem as informações convergentes e redundantes permitindo o controle flexível do equilíbrio (NASHNER, 1970). Este controle postural é necessário para adquirir uma posição, manter um movimento estável, desempenhar atividades de vida diária ou mover-se livremente (ROSENHALL, 1975). Assim, a condição de equilíbrio é estabelecida quando respostas coordenadas sobre o centro de massa (CoM) corporal o mantêm nos limites da base de apoio, detectando tanto antecipada como momentaneamente a instabilidade (HORAK et al., 1989). Para manter a postura é necessário um rigoroso controle neuromuscular da estabilidade, onde os limites são a área no plano horizontal (base de suporte), na qual a projeção do CoM pode mover-se de forma segura. Eles 26 variam de acordo com três fatores: o indivíduo - a biomecânica corporal, ou seja, morfologia e configuração do corpo, capacidades e velocidades dos torques articulares e amplitudes do movimento articular; a tarefa - perturbações esperadas e inesperadas decorrentes da complexidade na execução do movimento; e o ambiente, em especial a base de suporte (condições de inclinações, estabilidade, complacência, área e forma). Alterações no indivíduo, tarefa e/ou ambiente mudam as respostas posturais. Um sujeito em pé com os pés firmemente apoiados no chão pode inclinar-se para frente cerca de 8º e 4º para trás sem perder o equilíbrio ou mudar o passo (MCCOLLUM; LEEN, 1989). A eficácia na estabilização do CoM depende da integração dos sistemas sensoriais e relacionamento sincronizado desta integração com a ação do sistema neuromuscular. Interpretado como dependência mútua entre a percepção sensorial e as ações executadas pelo sistema neuromuscular. As informações sensoriais influenciam nas respostas motoras, assim simultaneamente, o fluxo de informações sensoriais também sofre influência das ações motoras. Um exemplo é a postura em pé, onde a oscilação anterior detectada pelos sistemas sensoriais desencadeia padrões de contração muscular posteriores dos membros inferiores e tronco para reverter esta oscilação (KELLY, 1991). Concomitantemente a esta situação, ocorrem alterações nas informações sensoriais disponíveis, assim que a reversão das oscilações ocorre, novas informações estarão disponíveis advertindo sobre uma oscilação corporal na direção contrária. Numa circunstância oposta, quando a oscilação corporal ocorre no sentido posterior, os músculos da região anterior do corpo são ativados, repetindo o mesmo exemplo acima para reverter esta oscilação. De modo que esta dependência mútua entre informação sensorial e motora se manifeste de forma regular, formando um padrão cíclico percepção-ação (KELLY, 1991). O sistema postural necessita gerar, quantificar e coordenar as forças musculares para controlar a posição do corpo no espaço. Sendo assim, um dos principais problemas no estudo do controle do equilíbrio na postura em pé é 27 entender como os sistemas sensorial e motor trabalham juntos neste controle. Durante a postura em pé estática, a tarefa do sistema de controle postural é manter o CoM do indivíduo dentro de sua base de suporte. A estabilidade só é alcançada gerando-se momentos de força sobre as articulações do corpo para anular o efeito da gravidade ou outra perturbação, um processo contínuo e dinâmico executado durante toda a tarefa (ROTHWELL, 1994). A manutenção do equilíbrio postural representa um complexo sistema reflexo nutrido por impulsos neurológicos oriundos dos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo. Estas informações são processadas pelo sistema nervoso central (planejamento motor) e retornam, por vias eferentes, aos músculos antigravitacionais (execução do movimento) no controle do equilíbrio corporal (NASHNER, 1970). As constantes informações provenientes dos proprioceptores musculares e/ou articulares sobre o sistema nervoso central (SNC) geram respostas denominadas mecanismo retroalimentação ou feedback. Estes estímulos são integrados em vários níveis do SNC e produzem uma resposta rápida e coordenada adequada ao ambiente e tarefa (BRUNNSTROM, 1989). O feedback pode fornecer a estabilidade dinâmica necessária para manter o corpo alinhado verticalmente durante a posição estática, quando não há nenhuma perturbação externa aparente. A seleção do feedback postural utilizado está em acordo com a perturbação sofrida, pois esta interação gera a resposta motora. Portanto a seleção de um mecanismo de feedback postural isolado pode ser suficiente para descrever o planejamento motor apropriado ao contexto (HORAK et al., 1989). Existem também os movimentos pré-programados (antecipatórios), que podem restaurar o equilíbrio postural após uma perturbação, porém não são capazes de produzir estabilidade postural diante de todas as possíveis variações de movimento sem o auxílio do feedback. A modulação do feedback é de responsabilidade dos níveis superiores do SNC a partir da determinação do contexto do movimento. Se o CoM corporal não estiver dentro da base de apoio dos pés a pessoa cairá, a menos que a base de apoio seja alterada 28 dando um passo. Quando as estratégias são insuficientes para recuperar o equilíbrio, um passo ou salto é usado para alinhar novamente a base de apoio dentro do CoM (HORAK et al., 1989). Exemplos de movimentos pré-programados são as estratégias de movimentos, denominadas estratégias do tornozelo, quadril e passo. A estratégia do tornozelo é utilizada para manter o equilíbrio numa situação de perturbação de pequeno porte (ex.: na postura ereta estática) e em uma superfície estável. Esta estratégia requer contrações de grande magnitude dos músculos do tornozelo. Diante de maiores perturbações os músculos do tornozelo são incapazes de responder aos desequilíbrios do corpo e a estratégia do quadril mantém a estabilidade (HORAK; SHUPERT; MIRKA, 1989). O controle multissensorial da postura humana dificulta o estudo do equilíbrio. O conflito entre os modelos existentes, a robustez e flexibilidade do sistema e a possibilidade da influência de fatores psicológicos alertam sobre uma desconhecida interação entre a percepção sensorial e o controle sensoriomotor (MAURER; MERGNER; PETERKA, 2006). 2.2.1 Controle Postural Anormal A reabilitação da função após um problema neurológico é um processo complexo, que exige a reconquista de muitas capacidades. Sendo a manutenção da posição do corpo no espaço uma parte importante das atividades funcionais, a restauração do controle postural é essencial para a recuperação da função. No ambiente terapêutico, a capacidade de readquirir o controle postural exige uma estrutura conceitual que una as informações sobre a base fisiológica do controle postural normal com o conhecimento em relação à base da instabilidade (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). O controle postural normal exige a contribuição de informações sensoriais dos sistemas visual, somatossensitivo e vestibular e da coordenação das informações sensoriais com as ações motoras, ocorrendo alterações sensoriais podem comprometer o controle postural, por que: a) afetam a 29 capacidade do paciente em adaptar os dados sensoriais às mudanças nas demandas da tarefa e do ambiente e b) impedem o desenvolvimento de modelos internos acurados do corpo para o controle postural (LATASH, 1997). Parte importante da interpretação dos sentidos e da coordenação das ações que controlam a posição do corpo no espaço é a existência de um esquema corpóreo que fornece uma representação ou uma estrutura de referência postural exata. Uma representação, ou um modelo, exato dos limites de estabilidade é essencial para a recuperação do controle postural. Isso predispõe o aparecer de novas estratégias sensório-motoras estando os indivíduos dentro dos novos limites de estabilidade, independentemente dos comprometimentos resultantes da lesão neurológica (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). Assim a recuperação do controle postural após uma lesão neurológica inclui o desenvolvimento de uma representação nova e exata da capacidade do corpo. Geralmente, o modelo individual dos limites de estabilidade é consistente com os limites reais. Em muitos pacientes, os limites percebidos da instabilidade podem ser diferentes da realidade que foi alterada devido às limitações sensoriais e motoras que seguem uma lesão neurológica (UMPHRED, 1994). A diferença entre as representações real e interna dos limites de estabilidade pode resultar na instabilidade e no risco de quedas. Representações errôneas do corpo em relação ao controle postural podem limitar a capacidade do paciente de utilizar novas estratégias para o controle (DAVIES, 1996a). É comum pacientes neurológicos não conseguirem desenvolver modelos exatos de seu corpo para ter um bom controle postural. Isso resulta em padrões de movimento e sensação que parecem inconsistentes com as capacidades evidentes no paciente (LUNDY-EKMAN, 2004). 30 2.3 Análises em Biomecânica Biomecânica é uma disciplina que preocupa-se com análises físicas de sistemas biológicos, ou seja, utiliza princípios da mecânica para fazer análises dos movimentos do corpo humano. O corpo humano, por sua vez pode ser definido fisicamente como um complexo sistema de segmentos articulados em equilíbrio estático ou dinâmico, no qual o movimento é causado por forças internas atuando fora do eixo articular, provocando deslocamentos angulares dos segmentos, e por forças externas ao corpo. Desta maneira, a biomecânica do movimento tem como objetivo explicar como as formas de movimento dos corpos de seres vivos acontecem na natureza a partir de parâmetros cinemáticos e dinâmicos. Além da biomecânica, outras disciplinas fazem parte do campo de estudo da análise do movimento, entre elas a antropometria, a neurofisiologia, a fisiologia geral, a bioquímica, o ensino do movimento, a psicologia, a física (mecânica), a matemática, a eletrônica - instrumentação e processamento de sinais, etc (AMADIO; SERRÃO, 1997). 2.3.1 Antropometria A antropometria se preocupa em determinar características e propriedades do aparelho locomotor, como as dimensões das formas geométricas de segmentos corporais, distribuição de massa, braços de alavanca, posições articulares, etc. Definindo então, um modelo antropométrico contendo parâmetros necessários para a construção de um modelo biomecânico da estrutura analisada (FREITAS, 2004). Os segmentos corporais apresentam características antropométricas específicas em cada indivíduo, a partir delas é possível o cálculo de parâmetros inerciais como a massa de cada segmento corporal, a posição do centro de massa e o momento de inércia, que é a medida da distribuição da massa sobre um determinado eixo do segmento (VAUGHAN; DAVIS; O´CONNOR, 1992). A massa corporal é uma medida antropométrica que expressa a dimensão da massa ou volume corporal que pode ser utilizado como medida 31 do processo de crescimento e indicador do estado nutricional. Para verificar a massa é utilizada uma balança e a fita métrica para a estatura (PETROSKI, 1999). Os diâmetros são medidos através de um instrumento chamado paquímetro, que consiste numa barra de metal ou de madeira que permite movimentos deslizantes, composto por duas proporções, uma fixa e uma móvel. As mensurações dos comprimentos também são medidas pelo paquímetro e através da fita métrica com haste metálica, bem como os perímetros que podem ser mensurados com uma fita métrica flexível (PETROSKI, 1999). Esse método permite o estudo de parâmetros fundamentais para o estudo cinemático e cinético do movimento humano (FREITAS, 2004). 2.3.2 Cinemetria A cinemetria consiste na análise de parâmetros cinemáticos, tendo como base a coleta de imagens do movimento em estudo e a sua posterior análise, ou seja, pode ser definida como o conjunto de métodos que busca medir parâmetros cinemáticos do movimento como a posição, orientação e aceleração. Este método permite a caracterização cinemática das técnicas em estudo. Por exemplo, a análise da distância, do tempo, da velocidade e da aceleração obtida por um dado segmento corporal ou pelo centro de massa do sujeito ao realizar um determinado gesto motor (HIRATA, 2002). As câmeras oferecem um meio remoto de registrar o movimento de todo o corpo. A tecnologia de hoje nos permite registrar o movimento do ser humano pela análise observacional ou quantificando os dados. Os três sistemas básicos disponíveis hoje são classificados de acordo com o meio utilizado para capturar os dados. São eles: filme, vídeo visível e vídeo automatizado. Os sistemas de vídeo visível e filme podem servir para dois propósitos. Seu produto imediato é um registro visual e pode ser examinado a olho nu e pelo processamento do filme, assim um registro digital do movimento pode ser obtido. O vídeo eletrônico também pode ser usado como um sistema automatizado para a 32 quantificação direta do movimento. Uma variante deste é o sistema óptico elétrico, que utiliza pequenas luzes (diodos) para ativar a câmera (PERRY, 2005c). Atualmente, o meio mais prático de registrar o movimento articular é o filme fotográfico, mas a redução de imagens para valores numéricos é uma tarefa muito trabalhosa (PERRY, 2005c). Por isso e devido à facilidade e disponibilidade das modernas câmeras de vídeo e unidades de reprodução, o vídeo é hoje o meio cinematográfico mais comum usado para análise qualitativa do movimento. O vídeo padronizado oferece 30 quadros resolúveis por segundo (30 Hz), o que é suficiente para a maioria das aplicações qualitativas do movimento humano. Pesquisadores que realizam um estudo detalhado da cinemática do movimento humano necessitam de uma câmera de vídeo e de uma unidade de reprodução mais sofisticada (HALL, 2000). Para as aquisições de dados é preciso que pontos anatômicos estratégicos sejam identificados com a colocação de marcadores reflexivos passivos ou ativos, deixando desta forma os eixos internos dos segmentos selecionados mais visíveis para captura das imagens (LEG; POLLO, 2001). Os marcadores podem ser divididos basicamente em dois grupos: marcadores ativos e passivos. Os marcadores passivos são refletores e podem refletir a luz ambiente ou a luz projetada de volta ao sensor, já os ativos são conhecidos como LEDs e emitem luz infravermelha ao sensor (ROSE; GAMBLE, 1998). A utilização destes marcadores é um elemento de diferenciação para a análise de movimentos humanos (ARAUJO; ANDRADE; BARROS, 2005). Para a sincronização das câmeras (caso a análise seja feita em 1 plano 2D ou tridimensional - 3D) deverá ser adicionado ao sistema um conjunto de procedimentos que possibilitem a sincronização dos registros por software (LOSS; GAYA; VAZ, 1999). 33 2.3.3 Dinamometria A dinamometria abrange todos os tipos de medida de força e pressão. Sendo que as forças mensuráveis são as forças externas, transmitidas entre o corpo e o ambiente, isto é, forças de reação. As forças internas (forças articulares e musculares) são normalmente calculadas (AMADIO; SERRÃO, 1997). O procedimento utilizado para calcular as forças internas é o da dinâmica inversa. Com relação às forças externas, a força de reação ao solo (FRS) é a força externa mais investigada na análise do movimento, podendo ser mensurada através da plataforma de força (WHITTLE, 1996). A força de reação ao solo é uma força que atua da superfície de contato (solo) para o objeto (corpo humano) que está em contato com o solo. Essa força é uma resposta às ações musculares e ao peso do corpo, transmitidos através dos pés, e a direção e magnitude da FRS equivalem exatamente à direção e magnitude do movimento do centro de massa do corpo (MEGLAN; TODD, 1998). A plataforma de força é um equipamento composto por duas superfícies rígidas, uma superior e outra inferior, que são interligadas por sensores de força. Há vários modos de construção de uma plataforma de acordo com o posicionamento dos sensores, destacando–se três: 1) plataforma com um único sensor no seu centro; 2) plataforma triangular com sensores em três cantos; 3) e a plataforma retangular com sensores em todos os seus cantos, a mais utilizada para análise de marcha. Esta é geralmente embutida no solo, com sua superfície nivelada à superfície do mesmo, onde o indivíduo está, e os sinais captados pela movimentação sobre a plataforma, são transmitidos a um computador, onde é realizada a análise. Podem também estar acoplados a esteiras rolantes ou ainda através de resistores e capacitores elétricos ou transdutores colocados na sola do pé (BARELA; DUARTE, 2006). 34 2.3.4 Eletromiografia A Eletromiografia (EMG) é o estudo da função muscular através da análise do sinal elétrico enviado durante as contrações musculares, e tem sido muito utilizada para o estudo do movimento humano, uma vez que permite um acesso ao processo fisiológico que leva o músculo a gerar força e produzir movimento (BRONSTEIN et al, 2004). Os músculos são compostos de milhares de cadeias de elementos contráteis. Cada cadeia denominada fibra muscular está sob ativação neural direta. Os elementos contráteis são denominados sarcômeros. O controle é simplificado por ter um único neurônio que ativa um grupo de fibras musculares. Esta família de fibras musculares, com seu neurônio comum e a célula nervosa motora na medula espinal, constituem uma unidade motora. O sinal eletromiográfico indica a ativação da unidade motora. A efetividade da ação muscular é determinada principalmente pelo número de unidades motoras ativadas. Outros fatores importantes são o tipo de fibra, o tamanho e a integridade das unidades motoras, bem como os mecanismos intramusculares e externos. A função, assim como o tamanho dos músculos, parece influenciar na composição das unidades motoras (PERRY, 2005c). O número de fibras que constituem uma unidade motora é fortemente relacionado ao grau de controle requerido pelo músculo (LORENZ; CAMPELLO, 2003). Os sinais eletromiográficos são afetados pelas propriedades anatômicas e fisiológicas dos músculos, pelo esquema de controle do sistema nervoso periférico e pela instrumentação utilizada na coleta de sinal. Eles podem ser indicadores para o estudo da coordenação e controle dos movimentos e para os níveis de ativação muscular (MORAES, 2000). O sistema de registro típico para EMG consiste em um conjunto de eletrodos bipolares de superfície, de agulha ou de fio, colocados em cima ou a uma curta distância do ponto motor, no local de entrada da terminação nervosa do músculo. Um eletrodo adicional é também colocado sobre uma 35 protuberância óssea para servir como ponto de referência. À medida que o potencial de ação na fibra muscular percorre o músculo em direção aos dois eletrodos, o sinal de voltagem registrado passa por zero e então move-se no sentido negativo ao passo que se distancia dos eletrodos. Conseqüentemente, o sinal de EMG representa uma onda sinosoidal, flutuando entre o negativo e o positivo. Quanto maior a distância entre o potencial de ação e os eletrodos, menor é o sinal eletromiográfico (CAMPOS, 2004). A EMG de superfície permite ao indivíduo ser avaliado dinamicamente de forma indolor e não invasiva, o que ajuda na “naturalidade” do movimento. Entretanto, o eletrodo de captação aplicado nesse tipo de eletromiografia geralmente é utilizado apenas para verificar a presença ou não de atividade muscular, pois como ele não está diretamente em contato com o músculo, há dificuldade para detectar ou isolar o potencial de ação de um único músculo pelas interferências causadas por suas contrações. Um fator importante a ser considerado durante a aquisição de sinais de EMG de superfície, corresponde à fidelidade do sinal após realizar-se o processamento, principalmente em relação à atenuação das amplitudes dos componentes de altas freqüências do sinal (CAMPOS, 2004). Esse sinal original é, usualmente, submetido a um processamento para que possa haver uma melhor visualização para comparação com outros sinais biológicos (SENIAM, 1999). Os sinais eletromiográficos podem ser transformados em valores numéricos manualmente ou pelo computador. A quantificação manual normalmente gradua a amplitude do registro da EMG por uma escala arbitrária de três ou quatro degraus. Já a quantificação computacional envolve amostra digital, retificação e integração dos dados. A velocidade da digitalização (representada pela freqüência de amostragem) é uma consideração importante, já que ela deve ser rápida o bastante para reproduzir adequadamente o sinal (PERRY, 2005c). A utilização da eletromiografia na análise da marcha tem sido bastante explorada, obtendo grandes resultados e elucidações sobre processos complexos, como em que momento do ciclo da marcha um determinado 36 músculo ou grupo muscular está ativo e qual a intensidade dessa ativação; na reabilitação para a reeducação da ação muscular, no diagnóstico de doenças neuromusculares, ortopédicas etc (WALL, 2001). Para a análise do movimento sit to stand (STS), alguns autores utilizaram a EMG a fim de estudar a seqüência de ativação muscular durante o movimento e auxiliar na definição das fases do mesmo (GOULART; VALLSSOLÉ, 1999; MILLINGTON; MYKLEBUST; SHAMBES, 1992). Contudo, devido a sua grande sofisticação, a eletromiografia é altamente seletiva e requer um bom conhecimento do assunto e bom senso na aplicação. 2.4 Marcha Uma das principais características da independência dos seres humanos é a mobilidade, que pode ser definida como a capacidade de se movimentar de forma independente e segura, de um lugar para outro. A mobilidade inclui diversos fatores, dentre eles, a marcha. A marcha é um comportamento complexo, que envolve todo o corpo e requer a coordenação de vários músculos e articulações (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). A marcha pode ser definida como uma forma de progressão bípede na qual os membros inferiores executam movimentos repetitivos resultando em períodos de suporte duplo, quando ambos os pés estão em contato com o solo, seguidos por períodos de suporte único, enquanto o outro membro está se movendo acima do solo, indicando um padrão cíclico de movimentos corporais continuamente repetidos, a cada passo. Conseqüentemente, as descrições da marcha descrevem o que ocorrem em apenas um ciclo, pressupondo uma igualdade nos ciclos sucessivos (WALL, 2001). Durante o ciclo da marcha, um dos pés encontra-se em contato com o solo enquanto o outro se encontra no ar, caracterizando as fases se apoio e balanço, respectivamente (Figura 01). A fase de apoio pode ser dividida em 5 subfases: contato inicial, resposta à carga, apoio médio, apoio terminal e pré balanço, constituindo 60% do ciclo de marcha. Já a fase de balanço pode ser dividida em 3 subfases: Balanço inicial, balanço médio e balanço terminal, 37 constituindo 40% do ciclo de marcha (ABRAÃO, 2005; PERRY, 2005a; SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). Figura01 - Representação das fases de apoio e balanço da marcha. Fonte: Perry (2005a). 2.4.1 Fases da marcha O ciclo de marcha se inicia com a aceitação do peso, que é a tarefa de maior exigência do ciclo de marcha, e envolve duas fases: o contato inicial e a resposta à carga. O contato inicial corresponde ao momento em que o pé acaba de tocar o solo e constitui 0% a 2% do ciclo de marcha. Este tem o objetivo de posicionar o membro para iniciar o apoio com o rolamento do calcanhar. A resposta à carga é o período de apoio duplo inicial, e tem a função de absorção do choque, estabilidade para recepção do peso e preservação da progressão, constituindo 0% - 10% do ciclo de marcha (Figura 02) (PERRY, 2005 a). 38 Figura 02 - Representação das fases de contato inicial e resposta à carga durante a marcha. Fonte: Perry (2005a). O apoio simples se inicia quando a perna oposta se eleva para iniciar o balanço, e continua até que o pé oposto toque o solo novamente. As duas fases envolvidas no apoio simples são o apoio médio e o apoio terminal. O apoio médio inicia-se quando o pé oposto se eleva e continua até que o peso do corpo esteja alinhado sobre o antepé. Esta fase tem a função de progressão sobre o pé estacionário e estabilidade do tronco e do membro, constituindo 10% - 30% do ciclo de marcha. O apoio terminal constitui 30% - 50% do ciclo de marcha, iniciando-se com a elevação do calcanhar e continua até que o pé oposto toque o solo. Durante essa fase, o peso do corpo desloca-se para frente sobre o antepé, permitindo a progressão do corpo além do pé de sustentação (Figura 03) (PERRY, 2005 a). 39 Figura 03 - Representação das fases de apoio médio e apoio terminal durante a marcha. Fonte: Perry (2005a). Durante o apoio, inicia-se uma postura preparatória para suprir as altas exigências do avanço do membro, de forma que o membro oscila através de três posturas, conforme ele se eleva, avança e prepara-se para o próximo apoio. Durante o avanço do membro, observam-se quatro fases: pré-balanço, balanço inicial, balanço médio e balanço terminal. O pré-balanço, com a função de posicionar o membro para o balanço, constitui 50% - 60% do ciclo de marcha e começa com o contato inicial do membro oposto e termina com o desprendimento ipsilateral dos dedos (Figura 04) (PERRY, 2005 a). Figura 04 - Representação da fase de pré-balanço durante a marcha. Fonte: Perry (2005a). 40 O balanço inicial começa com a elevação do pé do solo e termina quando o pé de balanço está oposto ao pé de apoio. Esta fase tem a função de liberar do pé do solo e avançar o membro a partir de sua posição de queda, constituindo 60% - 73% do ciclo de marcha. O balanço médio inicia-se com a posição final do balanço inicial e termina quando o membro do balanço está anterior e a tíbia está vertical. Constituindo 73% - 87% do ciclo de marcha, esta fase tem por objetivo o avanço do membro e a liberação do pé do solo. Por fim, o balanço terminal, que se inicia com a posição final do balanço médio e termina quando o pé toca o solo, tem a função de completar o avanço do membro e preparar o membro para o apoio. Esta fase constitui 87% - 100% do ciclo de marcha (Figura 05) (ADAMS; PERRY, 1998). Figura 5 – Representação do balanço inicial, balanço médio e balanço terminal durante a marcha. Fonte: Perry (2005a). 2.4.2 Análise da Marcha Normal A análise laboratorial da marcha é, comumente, considerada como sendo a medição, o processamento e a interpretação sistemática dos parâmetros biomecânicos que caracterizam a locomoção humana e facilitam a identificação de limitações no movimento de modo a identificar procedimentos adequados de reabilitação (DAVIES, 1997). 41 A marcha desempenha um papel fundamental nas atividades de vida diária. Ela é, sem dúvida, essencial à locomoção humana, mas a capacidade de ficar ereto e mover-se sobre os dois pés também constitui um pré-requisito para inúmeras outras tarefas. Assim, não é surpreendente que fisioterapeutas e outros profissionais da área da saúde envolvidos na reabilitação de pacientes com incapacidades locomotoras, acabem voltando sua atenção para a aquisição de uma marcha independente (WALL, 2001). Deste modo, a análise deste movimento complexo tem sido cada vez mais explorada, buscando entender seus principais componentes e as alterações mais encontradas em diversas patologias (CAMPOS, 2004). Essencialmente, existem cinco sistemas de medida. Três deles focalizam eventos específicos que constituem o ato de andar; 1) a análise do movimento que determina magnitude e a duração da ação articular individual; 2) a eletromiografia dinâmica que identifica o período e a intensidade relativa da função muscular; e 3) a plataforma de força a qual, seus registros apontam as demandas funcionais experimentadas durante o período de sustentação de peso. Cada um destes sistemas serve como uma técnica diagnóstica para diferentes aspectos da marcha. As duas técnicas de análise da marcha restantes resumem os efeitos da mecânica da marcha de cada indivíduo. Para definir toda a capacidade de marcha, uma dessas técnicas mede as características da passada do paciente, enquanto a eficiência é revelada pela medição do gasto energético (PERRY, 2005a). 2.4.3 Análise observacional da marcha A abordagem tradicional observa a marcha dos pacientes e cuidadosamente tira suas conclusões, mas as informações obtidas desse modo apresentam inconvenientes importantes. O primeiro é que a qualidade da avaliação variará muito e será dependente da experiência do clínico; e o maior problema da avaliação visual da marcha é que sua validade e confiabilidade são questionáveis (ADAMS; PERRY, 1998). O processo observacional é facilitado pela existência de um formulário de análise que oriente o clínico. Além disso, para identificar os desvios de 42 marcha, a apresentação das fases em que cada desvio pode acontecer facilita o foco do observador (PERRY, 2005a). A aquisição de dados é melhor realizada em dois estágios. O primeiro é uma revisão geral para se perceber o curso da ação. Então a análise deve seguir uma seqüência anatômica para classificar os múltiplos eventos que acontecem nas diferentes articulações. A experiência clínica conduziu a prática de iniciar pelo pé e progredir para cima. Contato no solo, tornozelo, pé, joelho, quadril, pelve e tronco são avaliados nessa seqüência. Em cada nível, a direção e a magnitude do movimento em cada fase da marcha são observadas e registradas na memória do observador. Em cada área o desempenho do paciente é comparado com o normal e os desvios são anotados. Independente do aspecto grosseiro da marcha do paciente o observador deve seguir a ordem seqüencial de análise de cada área anatômica relacionada às fases da marcha e determinar os desvios antes de passar para o próximo segmento. A função total do membro é identificada pela soma de desvios de marcha que ocorrem em cada fase (ADAMS; PERRY, 1998). Deste modo, os movimentos que prejudicam a progressão ou a estabilidade são diferenciados das ações compensatórias. A causa destes impedimentos funcionais é deduzida a partir de achados físicos, como fraqueza, contratura, espasticidade e perda sensorial. Quando não se consegue chegar a uma conclusão, recomenda-se a análise da marcha instrumentada (ADAMS; PERRY, 1998). 2.4.4 Marcha hemiplégica O correto desenvolvimento do sistema músculo-esquelético e do sistema nervoso são necessários para o desenvolvimento da marcha, falhas no desenvolvimento ou lesão nesses sistemas podem resultar em padrões diferenciados de marcha, tornando-a muitas vezes pouco funcional, como pode se observar na hemiplegia (ABRAHÃO, 2005). Pacientes com seqüelas de AVE apresentam dificuldades em controlar o início do movimento, bem como o controle motor voluntário. A principal causa 43 desta interferência é a espasticidade, fazendo com que haja acometimento da habilidade do paciente em produzir e regular o movimento. Evidências que dão suporte a este argumento incluem a velocidade angular reduzida em músculos espásticos durante movimento articular isolado (CAMARGOS, 2006). Segundo Ochi et al. (1999), cerca de 70% dos pacientes que sobrevivem ao AVE, retornam a andar. Mizrahi et al. (1982), descreve a marcha hemiplégica como sendo lenta, abrupta e laboriosa, devido aos vários prejuízos na percepção-cognição, mobilidade articular, força, controle motor, tônus e equilíbrio. A maioria dos pacientes hemiplégicos possui uma alteração de distribuição do peso corporal em relação aos membros inferiores, menos peso é transferido para a perna afetada, a qual realiza menores amplitudes articulares. Além disso, a presença de espasticidade pode ser a causadora dessa limitação de amplitude, fazendo com que os hemiplégicos aumentem a cadência da marcha (OLIVEIRA, 2008). Vários autores constataram que a alteração mais comumente observada na marcha hemiplégica é a flexão insuficiente do joelho durante as fases de apoio e balanço, impedindo o posicionamento adequado do pé (ABRAHÃO, 2005). Em relação aos parâmetros cinemáticos, em geral ocorre uma diminuição na amplitude de movimento no plano sagital do tornozelo, joelho e quadril do membro afetado, quando comparado com o membro não afetado, durante todo o ciclo da marcha. A amplitude da extensão do quadril do membro acometido durante a fase de duplo suporte é diminuída. A flexão insuficiente do joelho e a dorsiflexão do tornozelo do membro afetado durante a fase de balanço são provavelmente associadas ao inadequado levantamento do membro inferior. Com isso o tempo da fase de balanço diminui e, conseqüentemente, aumenta o tempo da fase de apoio, principalmente o apoio duplo, associado a inadequada transferência de peso para o membro acometido (OLIVEIRA, 2008). 44 Pacientes hemiplégicos demonstram uma redução aparente no comprimento do passo e no ciclo da marcha quando comparado com sujeitos normais. Os aspectos temporais da marcha também sofrem modificações: ocorre aumento no período do ciclo com conseqüente redução de velocidade e cadência (ABRAHÃO, 2005). Em razão da velocidade reduzida da marcha e da hipertonia dos músculos do tronco, a rotação da pelve cessa e o balanço dos braços não ocorre mais. A espasticidade no próprio braço impede-o de oscilar livremente (DAVIES, 1996a). As fases inapropriadas da marcha resultam da soma de erros de controle e espasticidade. Como conseqüência, a ação de qualquer músculo pode ser prolongada ou encurtada, prematura ou tardia, contínua ou ausente (PERRY, 2005b). 2.5 O Movimento de Sentado para em Pé – Sit to Stand (STS) O movimento de STS é uma das atividades funcionais mais comumente executadas durante o dia-a-dia. Esse movimento exige a transição de uma base de apoio estável na postura sentada, para uma base de apoio consideravelmente menor na postura em pé (BRUNT et al., 2002). De acordo com Goulart e Valls-Solé (1999), a atividade de passar de STS é um movimento complexo, que requer dos membros inferiores uma maior amplitude de movimento e torque do que ao caminhar ou subir escadas. Além disso, segundo Lomaglio e Eng (2005), a execução do STS é uma condição prévia para a mobilidade e independência do indivíduo, principalmente no que diz respeito à realização de uma marcha mais segura. 2.5.1 Fases do Sit-to-Stand O movimento de STS pode ser dividido em duas, três ou quatro fases, dependendo do pesquisador, sendo que cada uma delas tem suas exigências quanto ao movimento e à estabilidade (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 45 2003). Schenkman et al. (1990) descreveram quatro fases do movimento de STS (I, II, III e IV), cujas representações podem ser observadas na figura 06. Figura 06 - Fases do movimento STS. Fonte: Schenkman et al. (1990). A fase I (flexão dinâmica) começa no início do movimento e inclui a flexão anterior do tronco e da pelve, terminando pouco antes da perda do contato das nádegas com a cadeira. Durante essa fase, o tronco e a pelve estão rodados anteriormente (em direção à flexão), resultando em um deslocamento anterior do centro de massa. A atividade muscular inclui a ativação dos músculos eretores da espinha, que realizam uma contração excêntrica para controlar o movimento de avanço do tronco. A fase II (momento de transferência) corresponde ao momento em que as nádegas são levantadas da cadeira e termina quando é alcançada a máxima dorsiflexão de tornozelo. Nesta fase do movimento, o centro de massa deve ser mantido dentro da base de suporte enquanto é realizada a transição para o movimento de pé. A atividade muscular, nessa fase, é caracterizada pela coativação dos músculos extensores do quadril e do joelho. A fase III (fase de extensão) começa logo após a máxima dorsiflexão de tornozelo ser atingida e é concluída quando o quadril está em extensão. A fase IV (estabilização) tem início após a extensão do quadril e continua até que todos os movimentos associados à estabilização em pé sejam concluídos, incluindo as oscilações anteriores e posteriores do corpo (SCHENKMAN et al., 1990) O momento de transferência (fase II) exige: a) força e coordenação suficientes para produzir o movimento da parte superior do corpo antes da 46 elevação; b) capacidade de executar uma contração excêntrica dos músculos do tronco e do quadril; c) contração concêntrica dos músculos do quadril e do joelho para produzir forças propulsoras verticais a fim de possibilitar a elevação do corpo (SCHENKMAN et al., 1990). 2.5.2 Análise Biomecânica do Sit-to-Stand O STS tem sido estudado e analisado utilizando-se vários métodos e instrumentos, atualmente sua análise pode ser feita através do uso de plataformas de força, análise de vídeo, uso de sistemas eletrônicos, acelerômetro e goniometria (JANSSEN; BUSSMANN; STAM, 2002). A maioria dos estudos relacionados à descrição dos padrões motores durante o STS demonstra mudanças nos padrões de ativação muscular, força e momentos articulares e, conseqüentemente, mensurações à respeito do perfil do centro de massa. Está claro que, o controle do momento horizontal é uma característica invariável do teste de levantar, sendo influenciada pelo equilíbrio postural final (BRONSTEIN et al., 2004). De acordo com Goulart et al. (2003) o movimento de STS caracterizase, em biomecânica, por um momento de inércia horizontal e outro vertical. Primeiramente, há um deslocamento anterior do centro de massa do corpo para dentro da base de suporte, o que gera um impulso na direção do eixo horizontal através da flexão do tronco em direção ao quadril, bem como da perna em direção aos tornozelos. O movimento horizontal termina com a desaceleração dos segmentos corporais, mudando a direção do deslocamento do centro de massa para o eixo vertical, resultando na extensão do quadril, joelho e tornozelo até atingir a posição ortostática. Além disso, conforme Camargos (2006) o desempenho da atividade de levantar pode ser influenciado por fatores como, idade, altura da cadeira, velocidade de elevação corporal, posição inicial do tronco, dos MMSS e MMII. A execução normal do STS exige essencialmente: a) produção de torque articular suficiente para elevação do corpo; b) estabilidade durante o movimento do centro de massa e; c) modificação de estratégias motoras para cumprir esses objetivos. Porém, idosos e indivíduos com comprometimento 47 neurológico, comumente como estratégia, fazem uso dos apoios para os braços durante a realização do STS, os quais auxiliam na produção da força e da estabilidade (SHUMWAY-COOK ; WOOLLACOTT, 2003). Uma estratégia alternativa, para permitir maior estabilidade, inclui flexão suficiente do tronco para colocar o centro de massa dentro da base de apoio dos pés antes da elevação. Essa estratégia exige a produção de forças menos intensas nos MMII para erguer o corpo na vertical (SCHENKMAN et al., 1990). O deslocamento horizontal do centro de massa, durante o STS, independe da velocidade e, provavelmente, é uma característica invariável e controlada para garantir que a estabilidade seja mantida durante a elevação do corpo (MILLINGTON; MYKLEBUST; SHAMBES, 1992). 2.5.3 Sit-to-Stand em Hemiplégicos O movimento de STS em hemiplégicos é caracterizado por um período mais longo, com modificações em relação aos deslocamentos anterior, posterior e medial do centro de massa, bem como, por assimetria na transferência de peso. A assimetria pode ser conseqüência de alterações musculares, como a fraqueza muscular, que dificultam a execução do movimento (ROY et al., 2007). De acordo com estes autores, estudos anteriores demonstraram uma associação entre o ganho de força e o alongamento dos MMII, sugerindo que os mesmos têm um papel importante na determinação da capacidade funcional dos músculos extensores do joelho e do quadril, essenciais para realização do STS. Pacientes hemiplégicos levantam-se mais lentamente; eles são inseguros e tendem a descarregar mais peso no membro inferior não afetado (BRONSTEIN et al., 2004). Em vista das limitações para conseguirem realizar o movimento de STS, indivíduos hemiplégicos desenvolvem estratégias compensatórias que causam alterações nos componentes de equilíbrio dinâmico e nos padrões de ativação muscular (LEE et al., 1997). Entre as estratégias compensatórias executadas para realizar o STS, observa-se, freqüentemente, que pacientes com hemiplegia empurram seu tronco para trás 48 quando tentam levantar, resultando em inclinação pélvica posterior e espasticidade extensora do membro inferior (UMPHRED, 1994). A avaliação do STS pode ser feita através do teste de STS, que foi introduzido por Csuka e McCarty a partir de 1985 como uma avaliação heterogênea da força muscular dos MMII. Posteriormente, foi modificado por meio da redução do número de repetições de 10 para 5, podendo então ser aplicado em pacientes pós-AVE (BELGEN et al., 2006). O estudo para determinar padrões de ativação muscular durante o movimento de STS em pacientes que sofreram um AVE é feito através da eletromiografia (EMG), uma ferramenta útil que registra a atividade muscular durante sua contração (CHENG et al., 2004). Normalmente, como método terapêutico, os hemiplégicos são encorajados pelos fisioterapeutas a descarregar o peso corporal em ambos os MMII, inclinar-se para frente e evitar o deslocamento médio-lateral do segmento cabeça-braços-tronco. A análise dinâmica do lado direito e esquerdo de hemiplégicos durante o estudo do STS, mostra que pacientes com lesão no hemisfério direito descarregam mais peso no membro não afetado quando comparados com os que têm lesão no hemisfério esquerdo. A utilização desse método também inclui visualização dinâmica da distribuição de peso e transferência lateral do corpo durante o levantar de hemiplégicos, particularmente da instabilidade do apoio duplo após a perda do contato das nádegas com a cadeira (BRONSTEIN et al., 2004). O estudo das características cinemáticas, dinâmicas e eletromiográficas do movimento corporal durante o STS têm sido analisado por diversos autores, principalmente devido à sua importância no processo de planejamento, controle e execução motoras por parte dos pacientes, bem como para avaliar a evolução no processo de reabilitação desses indivíduos (MANCKOUNDIA et al., 2006). 49 2.6 Reabilitação O tratamento adequado de um paciente com lesão cerebral depende da compreensão do processo motor-perceptivo – uma união de estímulos exteroceptivos e interoceptivos que o indivíduo deve selecionar, integrar e interpretar para poder agir. Um sistema normalmente funcionante é a chave necessária para a integração bem sucedida com o ambiente. O resultado de um sistema em mau funcionamento é o comportamento ineficaz (DAVIES, 1996a). Desta maneira, a presença da disfunção perceptiva precisa ser confirmada quando há a suspeita de interferência com a capacidade do paciente em desempenhar as atividades de vida diária (AVD´s) ou de evoluir na reabilitação (O’SULLIVAN, 1993). Durante a reabilitação só trabalhar com diferentes estímulos sensoriais, como por exemplo o contato com gelo, com uma escova, vibração ou relaxamento etc., provavelmente não resolverá o problema perceptivo do paciente. Em alguns pacientes hemiplégicos, até o exame clínico mais minucioso pode não revelar qualquer problema sensorial ou de percepção, onde o paciente irá responder a todas as avaliações de forma correta; e apesar desses impulsos sensoriais normais, ele consegue reagir somente com posturas e movimentos anormais. A razão para isso é que a lesão “isola” a atividade integrada superior e produz respostas motoras anormais, um tipo de “curto-circuito” nos padrões de espasticidade anormais liberados. Então devese tentar dar ao paciente sensações normais dos movimentos e ensiná-lo a controlar os movimentos anormais, de modo que ele consiga interferir na resposta motora. Para isso, é preciso ajudá-lo a adquirir aos poucos o controle sobre a sua atividade reflexa postural anormal, a contornar o “curto-circuito” em padrões anormais e, dessa forma, deixar que mais padrões motores normais sejam estabelecidos novamente (BOBATH, 2001). 50 2.6.1 Reabilitação funcional na marcha A locomoção é um dos componentes básicos do funcionamento independente e, é freqüentemente afetado por lesões, o objetivo da maioria dos protocolos fisioterapêuticos é de restaurar ou melhorar o estado deambulatório do paciente, tornando o re-aprendizado da capacidade de andar uma parte essencial do processo de reabilitação (CAMPOS, 2004). O treinamento da marcha é fundamental para a restauração da função e para ocorrer a re-aprendizagem e consolidação da memória de determinada tarefa motora, dessa forma faz-se necessário o treino repetido da mesma, ou seja, a aplicação de estímulos de forma constante e repetitiva para que as alterações em níveis funcionais comecem a acontecer. Em seguida acontecem as alterações estruturais, que consistem tanto da formação de novas sinapses, como no aumento da eficácia das mesmas (ABRAHÃO, 2005). Uma estratégia de reabilitação apropriada estimula a recuperação da função motora tanto em decorrência do uso de áreas não afetadas pela lesão, quanto da reorganização funcional, nos casos de lesões encefálicas permanentes (LINDQUIST, 2005). O tempo de reabilitação em hemiplégicos varia conforme o grau de prejuízo motor presente, no entanto, é reconhecida a importância dos primeiros seis meses no processo de readaptação, isso porque existe comprovadamente maior recuperação dos movimentos voluntários nesse período (MARCOTTI, 2005). Sendo assim, faz-se necessário a realização detalhada da análise da marcha, para que se alcance um objetivo preciso, que possa ser aplicado na reabilitação. Dessa forma, recuperação locomotora. influenciará significativamente no grau de 51 2.6.2 Reabilitação funcional no STS O movimento de STS é uma habilidade que ajuda a determinar o nível funcional de um indivíduo. Alterações na capacidade de realizar o STS podem ser encontradas em idosos e em pessoas com doenças incapacitantes, como o AVE, e estão relacionadas com os determinantes desse movimento (JANSSEN; BUSSMANN; STAM, 2002). O retreinamento da função motora para execução de atividades funcionais requer uma avaliação de como essa atividade é realizada. É importante avaliar os componentes de movimentos ativos, a amplitude possível, as mudanças de tônus, a habilidade para transferir peso e a necessidade de dispositivos adaptativos (UMPHRED, 1994). A capacidade de realizar o movimento de STS com facilidade e segurança após um AVE, constitui um pré-requisito para execução de diversas AVD’s, especialmente a marcha. Como dificuldades mais comuns, pacientes hemiplégicos apresentam assimetria durante a execução do movimento, transferência inadequada de peso e postura incorreta ao atingirem a postura ereta (DAVIES, 1996a). Hsieh et al.. (2002) relatam que para a aquisição de autonomia no desempenho das AVD’s, o controle de tronco e o equilíbrio na posição sentada e em ortostatismo são essenciais. Quando há dificuldade em realizar essas atividades, seja por alterações sensoriais ou motoras, há uma grande possibilidade da estabilidade e simetria também estarem alteradas, tanto na posição sentada quanto em pé (BENAIM et al.., 1999). Pacientes com lesão neural unilateral, como a produzida por um AVE, apresentam assimetria na postura vertical ou sentada, deslocando o peso do corpo para o lado nãohemiplégico como uma estratégia para compensar outros comprometimentos, dentre eles a fraqueza do membro inferior hemiparético. Quando isso ocorre, é importante reduzir a demanda de força necessária para erguer o corpo, permitindo que o paciente com fraqueza muscular execute o STS utilizando uma cadeira mais alta (SHUMWAY-COOK ; WOOLLACOTT, 2003). De acordo com Janssen; Bussmann; Stam. (2002), a altura da cadeira, a utilização dos 52 MMSS e a posição dos pés têm grande influência sobre a capacidade de executar o STS. De acordo com Davies (1997), ensinar o paciente a ficar de pé e levantar-se de modo normal, seja da cama, de uma cadeira ou do vaso sanitário, também é importante para o retreinamento da atividade seletiva do tronco e dos membros inferiores (MMII), tarefas imprescindíveis para tornar possível a marcha com segurança e funcionalidade. Por isso, Bronstein et al.. (2004) também sugerem que, inicialmente, sejam utilizadas atividades envolvendo o controle de tronco na postura sentada para ensinar o paciente a levantar. No retreinamento do STS, é importante que primeiro o paciente seja ensinado a sentar-se do que levantar-se, pois o controle da força excêntrica é, freqüentemente, obtido antes do controle da concêntrica. Por isso que ao ensinar o paciente a sentar-se, o terapeuta deve prepará-lo para o movimento fazendo com que o mesmo realize a flexão dos joelhos, o que requer contração excêntrica do quadríceps para controlar o colapso prematuro do joelho (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). A habilidade do tronco para estender-se e da pelve e tronco para fletir-se sobre os quadris (inclinação pélvica anterior), é crucial para a realização do STS (UMPHRED, 1994). A recuperação da capacidade de deslocar corretamente a base de apoio durante o movimento de STS é essencial para a independência funcional do indivíduo e um desafio para a equipe de reabilitação (HOWE et al.., 2005). Dessa forma, a atividade de passar de STS deve ser treinada precocemente, enfatizando o uso do membro inferior afetado para favorecer o retorno à atividade funcional (BRUNT et al.., 2002). A intervenção da fisioterapia nesse processo é baseada nos princípios da cinesiologia, onde a habilidade de transferência de peso é considerada imprescindível para permitir a realização das AVD’s (DAVIES, 1996b). O movimento de passar de STS, além de importante para realizar AVD’s, é ainda uma condição indispensável para interpretação do estado 53 clínico do paciente, bem como para avaliar o efeito terapêutico do tratamento (JENG et al.., 1990). 54 3 MATERIAL E MÉTODOS Neste capítulo são apresentados a descrição dos grupos avaliados, procedimentos realizados, recursos materiais e o método estatístico utilizado neste estudo. 3.1 Delineamento do estudo Este trabalho trata-se de um estudo transversal, exploratório não intervencionista, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa CEP – UNIOESTE registro no CONEP número 400/2008 (Anexo 01). 3.2 Amostra Para o desenvolvimento desta pesquisa foram avaliados 30 voluntários, que concordaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética da UNIOESTE (Anexo 02). Os participantes foram divididos em 3 grupos: Grupo Hemiplégico , composto por 10 pacientes com seqüelas de Acidente Vascular Encefálico (AVE), com marcha funcional, atendidos na Clínica de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE; Grupo Adulto, composto por 10 adultos saudáveis; Grupo Jovem, composto por 10 acadêmicos saudáveis da UNIOESTE. A caracterização da amostra está descrita na tabela 01. Tabela 01 – Caracterização da Amostra. GRUPOS n Sexo Idade anos TUGT s* IB 0~100* EB 0~56* Ashworth 0~4* Hemiplégico 10 4F/6M 58 +3,9 14 +4 80 +4 48 +8 3 +1 Adulto 10 10F 55 +4,7 12 +3 92 +3 52 +4 Na Jovem 10 10F 21 +1,4 08 +0 100 +0 56 +0 Na F=feminino; M=masculino; TUG=Teste Timed up and go; IB=Índice de Barthel; EB=Escala de Berg; Na=Não aplicável. (*Valores máximos e mínimos) 55 3.2.1 Critérios de inclusão Para o desenvolvimento do estudo, foram selecionados os participantes que atendiam aos seguintes critérios de inclusão para o grupo Hemiplégico: • Diagnóstico clínico de AVE; • Hemiplegia há mais de 6 meses; • Episódio único de AVE; • Tempo desde o AVE de até 5 anos; • Estar clinicamente estável; • Ser capaz de realizar marcha em segurança com ou sem dispositivo de apoio; • Ser capaz de se levantar de uma cadeira sem auxílio; • Ser capaz de compreender as instruções dadas. 3.2.2 Critérios de exclusão Na composição do grupo Hemiplégico foram excluídos do estudo indivíduos que apresentavam: • Incapacidade de compreensão para realização dos testes; • Menos de 6 meses de AVE; • Perda total da sensibilidade tátil profunda do hemicorpo hemiplégico; • Problemas músculo-esqueléticos decorrentes de outras doenças com repercussões funcionais; • Indivíduos com deficiência visual e/ou auditiva; • Portadores de outras doenças neurológicas do sistema nervoso central ou periférico. 3.2.3 Demais Grupos Para os grupos adulto e jovem foram admitidos indivíduos saudáveis sem comprometimentos neuro-musculares. 56 3.2.4 Testes Especiais A fim de classificar os grupos de interesse, os voluntários foram submetidos a testes específicos de funcionalidade: teste Time Up and Go (TUGT), a fim de avaliar a funcionalidade de marcha e equilíbrio do indivíduo durante um percurso de três metros, cujo valor normal é inferior a 13,5s (SHUMMAY-COOK; WOOLACOTT, 2003); Escala de Barthel (IB) que tem o objetivo de verificar a funcionalidade nas AVD’s , sendo que o valor de máxima funcionalidade é de 100 pontos e a mínima funcionalidade 0 pontos; Escala de Berg (EB) para avaliar equilíbrio estático, cujo valor máximo, que representa o melhor equilíbrio é de 56, e o valor mínimo (menor equilíbrio) é 0; Escala de Ashworth, para graduar espasticidade (aplicado apenas no grupo hemiplégico), com valores que variam entre 1 e 4, sendo que 4 representa o valor de maior tônus muscular e 1 o menor tônus. Os valores desses testes estão ilustrados na tabela 1. 3.3 Instrumentação 3.3.1 Cinemetria A análise do movimento foi realizada através da captação de imagens, composto por 02 (duas) câmeras de vídeo digitais (Panasonic – GS 180), com freqüência de aquisição de 60Hz; um volume de calibração e um software para o processamento das imagens segundo a metolodologia DLT (Transformação Linear Digital). As câmeras foram posicionadas perpendicularmente e a uma distância de 4,0 metros do paciente, sendo que o tempo de captação das imagens foi de 2 minutos. Para a análise do movimento, foram posicionados marcadores passivos bilaterais (esferas de isopor de 2,0cm de diâmetro) sobre as articulações do quadril, joelho e tornozelo, para identificação pelas câmeras e posterior rastreamento pelo software. Os dados foram extraídos do vídeo e processados posteriormente fornecendo deslocamento do movimento e a variação angular das articulações citadas acima. 57 3.3.2 Eletromiografia Os dados da eletromiografia foram coletados a partir do músculo vasto lateral e bíceps femoral, com um eletromiógrafo EMG1000 (Lynx-Brasil). Foram utilizados eletrodos bipolares, auto adesivos, pré-amplificados (ganho de 20x), com superfícies de captação de Ag/AgCl, e com 0,9 centímetros de diâmetro (MedTrace). A captação do sinal eletromiográfico foi realizada com uma freqüência de amostragem de 2000Hz. Durante o processo de captação foi utilizada uma filtragem digital por software tipo passa-baixa de 500Hz e passa-alta de 20Hz, com objetivo de minimizar interferência sobre o sinal. O equipamento conta com uma filtragem interna por hardware tipo Notch de 60Hz para minimizar as interferências da rede elétrica. Neste estudo os dados brutos foram convertidos em valores RMS (abreviação do inglês "Root-Mean-Square") correspontes à quantidade de sinal contínuo capaz de conter a mesma quantidade de energia. Matematicamente é definido como a raiz quadrada da média dos quadrados dos valores instantâneos do sinal. As análises foram realizados pelo software AqDados 7.0 (Lynx, SP, Brasil). Após a preparação da pele e limpeza com álcool o participante sentava sobre uma cadeira para posicionar e conferir o funcionamento dos eletrodos. No grupo hemiplégico, os eletrodos foram posicionados no membro inferior afetado, nos outros grupos, foram posicionados no membro inferior direito, sobre os músculos: vasto lateral (VL) - Figura 07 - no terço distal ântero-lateral do fêmur e bíceps (BF) - Figura 08 - na face posterior do fêmur – terço lateral distal. 58 Figura 07 - Vasto Lateral. Fonte: Senian,(1999) Figura 08 - Bíceps Femoral. 3.3.3 Sincronização Para a análise dos dados da eletromiografia e da cinemática do movimento foi necessário realizar a sincronização dos mesmos. Este procedimento consiste em emitir um pulso visual e elétrico comum aos sistemas de avaliação a partir do qual torna-se possível identificar qualquer instante dos dados. Esta ferramenta foi utilizada para analisar os períodos de interesse no movimento. 3.4 Procedimentos Os procedimentos desta pesquisa foram realizados nas dependências do Laboratório de Análise de Movimento Humano Aplicado do Grupo de Estudos das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos – GELRF no período de agosto à outubro de 2008, com parceria com o Laboratório de Fisioterapia Aplicada ao Movimento Humano (LAFAMH), da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). 3.4.1 Avaliação inicial – Inclusão A avaliação teve início com o esclarecimento aos pacientes sobre a realização da pesquisa e posterior assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Após a assinatura foi realizada a anamnese (Apêndice). 59 3.4.2 Avaliação da pressão plantar Para avaliar a simetria de apoio entre os membros, foi realizada a avaliação da pressão plantar, através da baropodometria digital (FootWork Pro, França). Para isso, o paciente permanecia na posição ortostática com os membros superiores ao longo do corpo durante 1,0 minuto para a aquisição da pressão plantar. A partir da pressão plantar o software estabelece os valores relativos aos limites da base de apoio e a projeção do centro de massa. Os exames foram realizados 3 vezes em cada condição: olho aberto e fechado. A figura 09 mostra a imagem fornecida pelo baropodometro. Figura 09 - Avaliação da Pressão Plantar 3.4.3 Marcha Para realizar a análise da marcha, foi utilizada uma esteira elétrica (Embreex-RT-570, Brasil). Anteriormente à coleta de dados, os pacientes foram treinados a caminhar sobre a esteira em segurança. Para a análise, os pacientes foram orientados a caminhar de braços cruzados sobre o peito na 60 esteira elétrica, com velocidade de 2.0km/h, com zero de inclinação, durante 2 minutos. Durante a marcha foi coletado o sinal eletromiográfico dos músculos VL e BF e foi realizada a captura das imagens (Figura 10). Durante a realização dos testes a esteira poderia ser desligada a qualquer momento sendo que nas avaliações de pacientes havia sempre um avaliador próximo para qualquer eventualidade. Figura 10 - Avaliação da Marcha 3.4.4 STS Para a análise cinemática e eletromiográfica do movimento STS, os participantes foram orientados a permanecer sentados em cadeira, sem apoio para os braços e com os pés posicionados de forma simétrica sobre o piso. Os indivíduos foram instruídos ainda, a permanecer com os braços cruzados sobre o peito, mantendo as palmas das mãos em contato com o tórax, para excluir o uso dos membros superiores na execução da tarefa. Após comando verbal, os 61 participantes levantavam-se o mais rápido possível e ao atingir a postura em pé, permaneciam nessa posição por 5 segundos, para a finalização dos registros. O procedimento foi repetido cinco vezes, com intervalo de 30 segundos para descanso, após os voluntários estarem familiarizados com o movimento (Figura 11). A - Instruções para levantar C - Início do movimento B - Pulso (vermelho) de sincronização D - Conclusão do movimento Figura 11 - Imagens da aquisição dos sinais durante o movimento STS. 3.5 Variáveis do estudo 3.5.1 Base de Apoio Através dos valores da avaliação de pressão plantar foram identificadas as variáves base de apoio (BdA) calculada pela diferença entre os valores dos limites da base de Apoio até a projeção do centro de massa (CoM) e largura da 62 base de apoio (LBdA): distância entre os limites da base de apoio. Essas variáveis são agrupadas nas condições olhos abertos e fechados. 3.5.2 Cinemática Através dos valores da avaliação cinemática processados matematicamente em rotina de ambiente MATLAB (MathWorks – USA) foi obtido o valor do ângulo da articulação do joelho. Neste trabalho o valor 0º representa a extensão total e o valor 165º a flexão total do joelho, de acordo com a figura 05. Para o movimento STS, os valores de deslocamento da articulação do joelho em graus são descritos em função do tempo após normalização. Para a análise da marcha, os valores de interesse são o valor máximo de flexão de joelho (FlexMáx) – representando a posição em graus da articulação do joelho na fase de balanço médio; e o primeiro valor mínimo de flexão de joelho (FlexMín) representando o momento no qual o joelho se estende na marcha para realizar o contato inicial. 3.5.3 Ativação muscular – EMG Os sinais de eletromiografia de superfície dos músculos vasto lateral (VL) e bíceps femural (BF) bilateralmente foram processados em rotina específica no ambiente MATLAB (MathWorks – USA). Na análise da marcha, foram obtidas as seguintes variáveis no formato Root Mean Square (RMS): EMGBF que se refere ao valor correspondente a máxima atividade do músculo bíceps femoral no momento do balanço médio; e EMGvl que se refere ao valor correspondente a atividade do músculo vasto lateral no início de sua atividade na fase de contato inicial. Durante o movimento STS, foram obtidas diferenças entre os instantes iniciais de ativação muscular do vasto lateral - LVL. Desta forma, nos grupos Adulto e Jovem, a latência é definida pelo período de tempo encontrado entre o início da atividade dos músculos VL, independente do hemicorpo que iniciar a 63 contração; no grupo Hemiplégico, o marcador do início da contração será sempre o membro não-afetado, portanto a latência está definida pela diferença entre o instante de ativação do membro hemiplégico menos o membro nãoafetado. 3.6 Análise dos dados Os dados da base de apoio, cinemetria e eletromiografia foram comparados entre os grupos hemiplégico, adulto e jovem pelo teste ANOVA e pós-teste Tukey. Para a análise entre os lados (hemicorpos) avaliados em cada grupo foi utilizado o teste t pareado. Os valores de EMGBF e EMGVL dos grupos hemiplégico e adulto foram normalizados em função do grupo jovem e comparados através do teste t. Em todas as análises o valor de significância estabelecido foi 5%. 64 4 RESULTADOS Neste capítulo são exibidos os resultados encontrados, tabelas, gráficos e análises estatísticas decorrentes deste trabalho. 4.1 Análises da base de apoio Os resultados encontrados pala análise do CoM mostram que os hemiplégicos apresentam uma maior distância entre os limites da base e a projeção do CoM, o que caracteriza uma alteração da simetria de distribuição da massa corporal dentro da BdA (Tabela 02). A variação da projeção do CoM em relação aos limites da base de apoio foi maior no grupo jovem. Tabela 02 - Valores médios da distância entre a projeção do CoM e os limites da base de apoio (média + desvio padrão). BdA para os grupos Hemiplégicos ADULTO JOVEM OA 4.15 +2.80 1.83 +1.53 0.99 +0.66 OF 4.49 +0.63 2.15 +0.63 1.39 +0.26 Valor p >0,05 >0,05 >0,05 OA – olho aberto; OF – olho fechado. Na comparação dos resultados entre os grupos avaliados o grupo hemiplégico apresenta aumento significativo na BdA na condição olho aberto quando comparado aos outros dois grupos. Na condição olho fechado o grupo hemiplégico apresentou diferença significativa somente quando comparado ao grupo jovem, pois o grupo adulto apresentou um aumento na distância entre os limites da base e a projeção do CoM, o que ocorreu também no grupo jovem, porém não perdendo a significância quando comparado ao grupo hemiplégico (Gráfico 01). O grupo hemiplégico não foi afetado pela ausência da visão, ou seja, não foi verificada alteração da distribuição da massa corporal sobre o apoio neste grupo. 65 Quando avaliados os limites laterais da BdA não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos, e nem intergrupos quando com os olhos abertos ou fechados (Gráfico 02). HEMI ADULTO JOVEM 9.00 Smetria de Apoio (cm) 8.00 7.00 *** 6.00 5.00 4.00 3.00 2.00 1.00 0.00 OA OF Gráfico 01: Distribuição da massa corporal sobre a base de apoio nos grupos avaliados (* p<0,05 comparação ao grupo jovem). OA OF 0.180 0.160 Base de apoio (%) 0.140 0.120 0.100 0.080 0.060 0.040 0.020 0.000 HEMI ADULTO JOVEM Gráfico 02 - Valores médios dos limites da base de apoio dos grupos avaliados em função da altura (barras representam o desvio padrão). 66 4.2 Análises cinemáticas Na avaliação da marcha no grupo hemiplégico foram encontradas diferenças significativas na comparação entre os lados (normal e hemiplégico) para os valores em máxima flexão – balanço médio (p=0,0003) (gráfico 03) e contato inicial (0,0029) (gráfico 04). Para os grupos adultos e jovens não foram verificadas diferenças. Os valores estão descritos na Tabela 03. Os resultados encontrados na avaliação entre os grupos e lados para a fase de balanço médio mostrou diminuição significativa dos valores nos pacientes hemiplégicos quando avaliados o lado normal e hemiplégico (p<0,01), conforme Gráfico 05. Na avaliação da fase de contato inicial foram encontradas diferenças significativas no grupo hemiplégico apenas no lado afetado (***p<0,001) – Gráfico 06. Tabela 03 – Valores de flexão de joelho encontrados nos grupos avaliados. FlexMáx Hemiplégico Adultos Jovens FlexMín Média Desviopadrão Normal 37.89 +2.70 Hemi 33.28 +4.90 D 42.09 +2.38 E 40.44 +1.26 D 41.78 +7.81 E 40.84 +6.98 Valor p 0.0003 0.2501 0.8289 Média Desviopadrão 3.26 +1.19 7.76 +2.37 2.62 +1.13 2.99 +0.76 4.14 +1.49 4.78 +1.12 Valor p 0.0029 0.5613 0.1813 67 D/NL E/HEMI 60 Ângulo do joelho (º) 50 ................................................................................................................................. *** 40 30 20 10 0 HEMI ADULTO JOVEM Gráfico 03 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de balanço médio dos grupos avaliados – comparação intra-grupo (***p<0,001). D/NL E/HEMI 12 *** Ângulo do joelho (º) 10 8 6 4 2 0 HEMI ADULTO JOVEM Gráfico 04 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de contato inicial dos grupos avaliados – comparação intra-grupos (***p<0,01). 68 HEMI ADULTO JOVEM 60 50 *** Angulo do joelho (º) *** 40 30 20 10 0 D E/HEMI Gráfico 05 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de balanço médio dos grupos avaliados – comparação entre os grupos (***p<0,01). HEMI ADULTO JOVEM 12 *** Angulo do joelho (º) 10 8 6 4 2 0 D E/HEMI Gráfico 06 – Valores de ângulo de flexão de joelho na fase de contato inicial dos grupos avaliados – comparação entre os grupos (***p<0,01). 69 A descrição da variação do ângulo do joelho nos grupos – Hemiplégico, adulto e jovem – durante a execução do STS foi normalizada para a realização do movimento e comparando os lados do mesmo grupo (Gráfico 07). O início da redução do ângulo do joelho não demonstra o início da fase II do STS. O término da movimentação da articulação do joelho conclui a fase III do STS. Através desses gráficos pode ser observado o início precoce da curva de deslocamento do ângulo do joelho dos hemiplégicos em comparação aos demais grupos. Entre os grupos adulto e jovem não são identificadas diferenças entre as variações da articulação do joelho. Na comparação entre os lados dos grupos, também não são observadas diferenças nos padrões do movimento. As fases II e III do movimento de STS incluem a ativação do músculo VL e a extensão completa da articulação do joelho, respectivamente. As fases II e III do movimento STS não podem ser diferenciadas no gráfico 07. a 70 b c Gráfico 07 – Variação do ângulo do joelho em ambos os membros inferiores durante o movimento de sentar para levantar nos grupos: a) Hemiplégico – b) Adultos – c) Jovem. 71 4.3 Análises de EMG Os valores de eletromiografia de superfície dos músculos vasto lateral e bíceps femoral nas fases de contato inicial (VLONSET) e balanço médio (BFPEAK), respectivamente na avaliação da marcha dos grupos hemiplégico e adulto, foram normalizados em função do grupo jovem. O músculo VL mostra atividade aumentada 4,5% no grupo hemiplégico e 1,7% no grupo adulto (p<0.05). Para o músculo BF os valores em função do grupo jovem foram aumentados em 3,3% e 1,2% em hemiplégicos e adultos sem diferenças significativas (Gráfico 08). Os resultados não foram comparados aos jovens. ADULTO E M G em função dos jovens (% ) 6 HEMI * 5 4 3 2 1 0 VL BF Gráfico 08 – Valores do pico de ativação – RMS – do músculo vasto lateral durante a marcha nos grupos hemiplégico e adulto relativos ao grupo jovem (*p<0,05). A avaliação da latência de ativação do músculo VL durante a execução do STS para os grupos avaliados mostrou em média: Jovem – 19,5s (+3,41); Adulto – 25,25s (+12,03); Hemiplégico – 97,14s (+30,36). O grupo hemiplégico apresenta atraso significativo (p< 0,01) na ativação muscular quando comparado aos demais grupos. Não foram verificadas diferenças entre os grupos adulto e jovem (Gráfico 09). 72 ** Gráfico 09 – Boxplot da latência de ativação do músculo vasto lateral bilateral realizado durante o movimento de levantar para os grupos avaliados.(**p<0,01). 73 5 DISCUSSÃO A análise cinemática do movimento e ativação muscular do joelho encontradas nesta pesquisa nos grupos adulto e jovem foi semelhante quando comparados os grupos e os lados D e E. Já as demonstradas pelo grupo hemiplégico mostraram-se alteradas. Esses resultados revelam as diferenças no movimento quando executado por pacientes hemiplégicos comparados aos indivíduos saudáveis. Essas diferenças podem ser resultado de adaptações desenvolvidas pelos hemiplégicos para executar os movimentos ou padrões resultante de sinergias patológicas. Os padrões de ativação muscular apresentados neste trabalho não são exclusivos de hemiplégicos, pois o aumento dos padrões de coativação do quadríceps e isquiotibiais durante a fase de apoio também foram encontrados em neuropatias diabéticas, lesões medulares e marcha infantil, esses achados sugerem que a atividade aumentada dos músculos da coxa podem ser relacionados a uma estratégia neuromuscular geral que visa proporcionar suporte adicional. Evidências para o uso dessa estratégia em pacientes que sofreram AVE vêm de uma recente simulação de atuação muscular na marcha hemiplégica em um estudo realizado por Higginson et al. (2006), que mostrou que a cocontração dos músculos da coxa durante o apoio médio pode ser usada para melhorar a estabilidade do joelho. Essa estratégia também pode estar relacionada com a força insuficiente dos músculos da panturrilha, os quais têm uma grande contribuição no suporte do corpo na fase de apoio. Pode ser discutido o uso de padrões similares de coativação da perna não afetada devido à deficiência de força muscular da mesma. É interessante notar que em alguns estudos foi verificado uma diminuição de força na perna afetada, principalmente notada nos flexores plantares (DEN OTTER et al., 2007). Lindquist (2005), descreve a presença de padrões de co-contração em toda musculatura do membro inferior, a fim de minimizar a fraqueza e instabilidade articular, como características freqüentemente encontradas em 74 indivíduos hemiplégicos em decorrência da perda das aferências corticoespinhais. Para minimizar essas limitações, algumas compensações entram em atividade, tais como: o uso dos flexores do quadril para puxar o membro inferior para frente e para cima durante a fase de balanço, uma vez que há o comprometimento na ativação dos flexores plantares resultando na fraqueza durante a fase de impulsão. De acordo com Shumway-Cook; Woollacott (2003), após um AVE, a capacidade de equilíbrio e a estabilidade durante a execução de atividades funcionais são afetadas devido a perdas sensoriais e problemas para iniciar a ativação antecipatória dos músculos durante a realização dos movimentos voluntários. Além de apresentar menor trabalho e início precoce da curva do movimento durante o STS, o grupo hemiplégico demonstrou alteração no recrutamento muscular com atraso no lado hemiplégico. Os dados da EMG do músculo vasto lateral revelam atraso na atividade muscular do lado hemiplégico durante o STS quando comparados aos grupos saudáveis. Os déficits na ativação muscular podem estar associados à incapacidade de recrutamento muscular, fraqueza, incoordenação ou tônus alterado no membro inferior afetado. Segundo Cheng et al. (2005), a intensidade de ativação e a ordem de recrutamento muscular estão comprometidas em pacientes hemiplégicos. Essa explicação concorda com o presente estudo, no qual foi observado atraso na latência de ativação do músculo VL nos hemiplégicos, verificando que os mesmos apresentam um padrão de atividade muscular distinto dos demais grupos. Baseados em critérios estatísticos foram identificados anormalidades nos parâmetros temporais relacionados à ativação muscular da marcha hemiplégica. Apesar da alta variabilidade individual são encontradas grandes diferenças de atividade muscular e coativação no membro afetado quando comparado com um indivíduo normal. Den Otter et al. (2007), verificou uma diminuição da atividade eletromiográfica do TA na fase de apoio simples e um aumento na fase de balanço, aumento da atividade do bíceps femoral (BF) na 75 fase de apoio simples no membro hemiplégico e no normal, e uma coativação anormalmente longa do BF e do reto femoral (RF). No estudo de Prudente (2007), foi analisado através da EMG a ativação dos músculos TA, SOL, QUA e IQT durante a realização do STS em pacientes hemiplégicos. O autor verificarou co-ativação muscular no membro inferior não afetado, sugerindo que, provavelmente isso ocorreu para compensar fraqueza muscular, incoordenação, lentidão e instabilidade existentes no lado hemiplégico. As diferenças nas latências para o início das contrações musculares, entre os grupos, podem ser atribuídas à velocidade do movimento, ao tempo pós-AVE e às características funcionais dos hemiplégicos, enquanto que em indivíduos saudáveis pode ser resultado de compensações e do padrão muscular adotado pelos mesmos. As características encontradas através deste trabalho concordam com o estudo em questão e revelam características do movimento quando executado por hemiplégicos. Alguns estudos avaliaram os padrões de ativação muscular em hemiplégicos e compararam a indivíduos saudáveis. Em um estudo realizado por Milot et al. (2006), que avaliou a força dos flexores plantares e flexores e extensores do quadril através do dinamômetro em indivíduos saudáveis e hemiplégicos, concluiu que apenas os flexores plantares tinham uma diminuição de força significativa quando comparado com o lado não afetado. Hwang et al. (2003), analisou a atividade eletromiográfica em adultos saudáveis em esteira nos músculos tibial anterior (TA) e gastrocnêmio medial (GM) não tiveram diferença de ativação quando comparado lado dominante e não dominante, já nos pacientes hemiplégicos eles apresentaram uma grande variabilidade na EMG, sendo que a ativação do GM era notada durante a marcha, mas a ativação do TA não. As ativações musculares dos flexores e extensores do quadril e os flexores plantares, fundamentais para manter a velocidade da marcha, sofrem alterações de momento de força devido à fraqueza muscular do membro acometido, após um AVE, influenciando significativamente na redução da velocidade da marcha (MILOT et al., 2006). 76 Durante o movimento de STS indivíduos hemiplégicos, geralmente, apresentam baixos índices de força vertical na fase de elevação corporal. Essa força resulta da atividade ininterrupta dos músculos extensores dos MMII e, portanto, explica a dificuldade encontrada por esses indivíduos durante a fase de extensão do movimento (KERR et al., 2007; LEE et al., 1997). Bronstein et al. (2004) afirmam que a dinâmica do STS em pacientes hemiplégicos é um pouco lenta, o consumo de energia é alto, a simetria e o balanço são precários. Conforme estes autores, se esses pacientes fossem encorajados a levantar rápido, seu consumo de energia seria menor e o deslocamento do centro de massa mais simétrico. Contribuindo para os resultados desse trabalho Chen et al. (2005), ao compararem a marcha em esteira de indivíduos hemiplégicos e saudáveis, encontraram um aumento na largura do passo e na duração da fase de balanço no membro inferior parético. Além disso, foram verificadas diferenças na extensão do quadril e na flexão do joelho, sendo em todos os casos menores nos pacientes hemiplégicos. Estes autores sugerem que as principais diferenças encontradas no andar na esteira são conseqüentes da alteração na propulsão da perna hemiplégica, do aumento na duração do balanço e da diminuição no ângulo de flexão do joelho. Dehail et al. (2007), relatam que exercícios de fortalecimento dos músculos extensores do joelho em idosos, podem ser um objetivo dos programas de reabilitação para prevenir quedas. No estudo de Bohannon (2007), cujo objetivo era determinar a importância da força de extensão do joelho e do peso corporal em indivíduos após um AVE, foi sugerido que um trabalho de força muscular dos MMII podem ajudar na independência para realização do movimento. Um exemplo da aplicação da AVD como recurso terapêutico foi descrito por ROY et al. (2007), que utilizou diferentes estratégias de posicionamento dos MMII para aumentar ou diminuir o esforço sobre o lado hemiplégico. Foram avaliados 12 hemiplégicos crônicos nos quais foi observada uma redução significativa do torque extensor do joelho no membro inferior afetado em comparação ao lado não afetado, sendo a magnitude da resposta influenciada pela posição dos pés (pé afetado posicionado atrás do pé não afetado). Além 77 disso, os autores demonstraram a presença de padrão assimétrico de torque articular também no joelho, mas este foi inferior ao do quadril. De acordo com Hu et al. (2005), pacientes hemiplégicos podem exercer uma maior descarga de peso na perna afetada durante o STS com o uso de uma bengala em comparação ao movimento realizado sem esse suporte. Os autores sugerem que o uso de uma bengala poderia aumentar a estabilidade e reduzir o tempo de execução do movimento, assim a energia necessária também seria menor. Além disso, Clark et al. (2002) sugerem que a posição assimétrica dos pés pode assegurar um maior grau de estabilidade ântero-posterior e permitir uma maior velocidade na realização do movimento. Segundo Mourey et al.. (1998), há uma relação entre as variações do controle motor na execução do STS, que aparecem durante períodos de instabilidade postural como efeitos do envelhecimento. No presente trabalho não foram verificadas alterações entre os grupos adulto e jovem em nenhuma das variáveis estudadas. No estudo de Malouin et al. (1992), 10 pacientes pós-AVE participaram de um programa de fisioterapia intensiva, 2 vezes por dia, 5 dias por semana, durante 5 semanas. Para promover o reaprendizado da marcha o programa incluía: ficar em pé o mais cedo possível, exercícios de transferência de peso, exercícios no Kinetron (dispositivo para reeducação da marcha) e marcha na esteira adaptada ao nível motor de cada paciente e com um cinto de segurança para evitar quedas. Observou-se, na segunda semana do tratamento intensivo, a realização da marcha na esteira na maioria dos pacientes. Esse estudo demonstrou que uma reabilitação intensiva pode ser bem tolerada por pacientes com AVE acelerando seu processo de evolução. O estudo de Parvataneni, Olney e Brouwer (2007), foi o primeiro a explorar as mudanças ocorridas nos músculos de acordo com a velocidade de marcha. Aumentando o trabalho dos músculos extensores do quadril com o estímulo verbal para a flexão de joelho durante a fase de balanço e a flexão plantar no contato inicial aumentando assim principalmente a flexão plantar do tornozelo, que propulsiona a perna afetada. Na realização da presente pesquisa as variáveis velocidade e apoio foram controladas para não interferir nos resultados encontrados. 78 Da mesma maneira, isso foi observado por Prudente (2007), que encontrou anormalidades na coordenação neuromuscular dos MMII de hemiplégicos durante o STS; sendo verificado que, enquanto que o membro inferior afetado apresentou inabilidade de recrutamento na amplitude e no tempo adequados, o membro inferior contralateral apresentou significativas compensações na realização do movimento. O movimento STS e a marcha são utilizados em inúmeras AVD’s e indicadores importantes do processo de evolução do paciente na clínica. Hemiplégicos se beneficiam do treinamento dessas atividades em função de estarem submetidos constantemente a desafios e necessidades. A variabilidade de apresentação da hemiplegia constitui um dos maiores desafios da pesquisa na Área de Fisioterapia na busca por um padrão de funcionalidade ou capacidade. A reabilitação do paciente com hemiplegia estimula o terapeuta a buscar estratégias e técnicas aprofundadas, a fim de obter, através de processo de avaliações sistematizadas, características comuns aos indivíduos hemiplégicos. O estudo do STS e da marcha em esteira como ferramentas de diagnóstico clínico ou laboratorial de disfunções do movimento, deve ser aplicado segundo metodologias e critérios científicos para fornecer ao terapeuta evidências nas quais poderá basear o seu programa de reabilitação. Variáveis como, tempo de execução, velocidade, aceleração, torque articular, impulso, função muscular durante o movimento da articulação estudada, cinemática, entre outras, devem ser encorajadas para futuros estudos por contribuir na quantificação e descrição dos movimentos. Outras variáveis e formas de investigação dos parâmetros biomecânicos e neurológicos de AVDs em hemiplégicos devem também fazer parte desta análise. Para tal são necessários investimentos em instrumentos específicos e qualificação pessoal permanente. Ainda não estão completamente elucidados os mecanismos reguladores do controle postural. Novas pesquisas, metodologias e estudos deverão ser 79 elaborados na intenção de identificar, analisar e propor formas de intervenção terapêutica ao controle postural. A reabilitação de pessoas com distúrbios do controle postural e suas conseqüências podem ser planejada com maiores índices de sucesso quando realizados diagnósticos precisos e identificados os processos neuromusculares envolvidos nessas alterações. 80 6 CONCLUSÃO Os hemiplégicos avaliados neste estudo mostraram assimetria de base de apoio e alterações cinemáticas e na ativação muscular sobre a articulação do joelho durante a marcha e levantar de uma cadeira. Durante a marcha houve maior flexão de joelho na fase de contato inicial e menor flexão no balanço médio; a atividade do VL está aumentada no contato inicial; no movimento de levantar de uma cadeira a ativação do músculo vasto lateral é atrasada. Entre os grupos adulto e jovem nenhuma alteração foi verificada durante a execução da marchar ou levantar de uma cadeia. 81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHÃO, F. 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