FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS ! ! ! ! VLADIMIR FERNANDES DE SANTANA ! ! ! ! ! PARCERIAS COM O SETOR PRIVADO EM SERVIÇOS DE SAÚDE E INOVAÇÕES NA GESTÃO DA ATENÇÃO BÁSICA: O caso da rede municipal de Suzano, SP ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Rio de Janeiro, dezembro de 2013 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS ! ! ! ! VLADIMIR FERNANDES DE SANTANA ! ! PARCERIAS COM O SETOR PRIVADO EM SERVIÇOS DE SAÚDE E INOVAÇÕES NA GESTÃO DA ATENÇÃO BÁSICA: O caso da rede municipal de Suzano, SP ! ! Dissertação apresentada à Banca examinadora do Mestrado Acadêmico em Administração da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - EBAPE da Fundação Getúlio Vargas - FGV, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração. Orientador: Rafael Goldszmidt Co-Orientadora: Monica Pinhanez ! ! ! ! ! ! Rio de Janeiro, dezembro de 2013 2 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV Santana, Vladimir Fernandes de Parcerias com o setor privado em serviços de saúde e inovações na gestão da Atenção Básica : o caso da rede municipal de Suzano, SP / Vladimir Fernandes de Santana. – 2013. 130 f. Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. Orientador: Rafael Goldszmidt. Coorientadora: Monica Pinhanez. Inclui bibliografia. 1. Serviços de saúde pública. 2. Política de saúde. 3. Medicina preventiva. 4. Administração municipal. 5. Parceria público-privada. 6. Promoção da saúde. 7. Sistema Único de Saúde (Brasil). I. Goldszmidt, Rafael. II. Pinhanez, Mônica de Maria Santos Fornitani. III. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. IV. Título. CDD – 352.14 RESUMO O objetivo dessa pesquisa é fazer uma avaliação dos resultados obtidos por novas políticas de saúde implementadas em escala municipal. Essa avaliação foi feita pela caracterização do processo de cessão parcial da rede de Atenção Básica de um município de médio porte - Suzano, SP - para gestão pelo setor privado por meio de convênio. As parcerias com o setor privado na prestação de serviços de saúde é uma das mais importantes políticas introduzidas no Sistema Único de Saúde (SUS) desde sua criação; contudo, existem poucos estudos que avaliem o seu impacto na saúde da população ou no acesso aos serviços de saúde, e isso se deve à falta de compreensão sobre os variados tipos de interação entre o sistema de saúde e os atores sociais e instituições que estão envolvidos em sua implementação e gestão. O estudo foi realizado com pesquisa bibliográfica sobre a contratualização, convênios e parcerias na saúde brasileira, seguida de trabalho de campo no município de Suzano. Lá foram ouvidos gestores públicos na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e, depois, foram realizadas 19 entrevistas semi-estruturadas com gerentes, médicos e enfermeiros de 12 equipamentos de saúde da rede de Atenção Básica municipal. Depois foram realizadas outras 4 entrevistas com gestores da SMS. O conjunto de unidades investigado reflete a diversidade de bairros, populações e necessidades de saúde de um município de porte médio, com uma rede de saúde bastante sofisticada e avaliada positivamente dentro dos parâmetros nacionais. Verificou-se que, apesar das dificuldades e dos objetivos que ainda não foram alcançados, existe um padrão recorrente na gestão do SUS que é bastante positivo: as reformas federais que foram implementadas paulatinamente desde 1990 têm baseado-se em avaliações corretas sobre os problemas do SUS e, ainda que lentamente, têm conseguido produzir transformações positivas no mesmo. ! ! ! ! ! ! ! Palavras-chave: Atenção Básica, Administração Pública Municipal, Parcerias, Sistema Único de Saúde ! ! ! ! ! 3 ! ABSTRACT This research’s aim is to evaluate how favorable has been the implementation of health policies at the municipal level in Brazil. This evaluation is done by portraying the process of outsourcing part of the Primary Health system of a mediumsized municipality, Suzano, in the state of São Paulo. This outsourcing was done through a partnership (Convênio) signed between the municipal government and a private not-for-profit organization, a type of firm called Organização Social de Saúde (OSS). Public-private contracts in health services have been one of the most widespread policies undertaken by the Brazilian Universal Health System (SUS) since its inception in 1990; however, there are few studies that assess the its impact on health indicators and access to health services. This deficiency is due to the lack of understanding on the various types of interaction between the health system and the social actors and institutions that are involved in its implementation and management. This study was carried out as follows: (1) bibliographic research on public-private partnerships in the Brazilian Basic Health Care system; (2) inquiries with public managers from Suzano’s Municipal Health Office (SMS); (3) 19 semi-structured interviews with managers, doctors and nurses from 12 municipal basic health units; (4) interviews with administrators from the SMS. These 12 units were selected because they reflect the diversity of a medium-sized city’s neighbourhoods, social groups and health needs - to which the city’s fairly sophisticated health system attends with above-the-average competence. This study found that, although there are obstacles and missed targets, the Brazilian Universal Health System has a very positive recurring pattern: the federal level reforms that have been progressively implemented since 1990 have been mostly based on accurate assessments about SUS’ problems and, slowly but surely, have carried out positive transformations in the Brazilian health system. ! ! ! ! ! ! ! Key words: Primary Health Care, Public Administration, Partnership, Brazilian Universal Health System ! ! ! 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Monica Pinhanez, não só pela orientação acadêmica no âmbito desta dissertação, mas pelos anos de colaboração, conversas, trocas, pelas oportunidades de trabalho e formação acadêmica. Pude conviver e aprender com ela enquanto aluno, assistente de pesquisa e parceiro de projetos. Sem suas sugestões, incentivos, generosidade e paciência, essa dissertação não teria sido possível. Agradeço a Vera Schattan Coelho, que me apresentou o tema da Contratualização de Serviços de Saúde um ano atrás, quando eu nem pensava em estudar esse assunto. Devo muito do que hoje conheço sobre o tema às referências, debates e idéias que ela me apresentou. Também sou grato a ela por ter sido convidado a integrar a equipe de pesquisadores do NCSD do CEBRAP, onde fui muito bem-recebido e tive importantes oportunidades de aprendizado. Agradeço a Felipe Szabzon, Lenora Bruhn, Rafael Kruchin, Marcelo Dias, Maria Luísa Levi, Raquel Alonso e Bruna Scaramboni, meus colegas de pesquisa, pelas idéias e sugestões que surgiram no nosso convívio. As idéias apresentadas nessa dissertação são, em grande parte, fruto das trocas que aconteceram no seio da equipe de pesquisa. Agradeço a Alketa Peci, Filipe Sobral e Rafael Goldszmidt, enquanto coordenadores do Mestrado em Administração Pública da EBAPE, por sua compreensão e auxílio durante os anos em que fui aluno do curso. Sem seu apoio, eu certamente não poderia apresentar essa dissertação hoje. Sou especialmente grato a Alketa Peci, com que tive uma intensa interlocução nos meus primeiros anos na 5 EBAPE, que foi da maior importância para minha formação acadêmica e compreensão do pensamento administrativo. Agradeço aos professores Gabriela Lotta (UFABC) e Gregory Michener (EBAPE-FGV), que participaram da minha banca examinadora, pelos comentários, sugestões e críticas à versão preliminar desse trabalho. Devo a eles muitas das idéias e análises que incluí nesta versão final da dissertação. Pelas idéias apresentadas aqui, devo muito às pessoas citadas neste agradecimento. Contudo, me responsabilizo inteiramente por quaisquer lacunas, limitações e impropriedades que constem nessa dissertação. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 6 ! ! LISTA DE SIGLAS AB - Atenção Básica ACS - Agente Comunitário de Saúde CAPS - Centro de Atenção Psico-Social CAPS-AD - Centro de Atenção Psico-Social para Álcool e Drogas CLT - Consolidação das Leis do Trabalho (1943), conjunto de leis trabalhistas; é usado como sinônimo de emprego formal, em oposição às formas de contratação mais flexíveis (emprego temporário, emprego informal) ou mais rígidas (regime de funcionário público concursado, com cargo vitalício). CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis ECSS - “Equidade e Contratualização de Serviços no SUS”, pesquisa realizada pelo Núcleo de Cidadania, Saúde e Desenvolvimento (NCSD) do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), coordenada por Vera Schattan Coelho, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com vigência entre julho de 2012 e julho de 2014. A presente dissertação foi realizada com dados primários coletados pelo autor enquanto trabalhando na pesquisa ECSS. ESF - Estratégia de Saúde da Família; este nome está sendo empregado desde 2011 em substituição ao PSF, indicando que não se trata mais de um “programa” (temporário) e sim de uma “estratégia” (de longo prazo). MARE - Ministério de Administração e Reforma do Estado (Brasil, 1995-1999) MS - Ministério da Saúde OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OS - Organização Social OSS - Organização Social de Saúde SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica SPDM - Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (OSS que atuava na contratação de pessoal na AB de Suzano em 2012) SUS - Sistema Único de Saúde PA - Pronto Atendimento PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde PMAQ - Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica PS - Pronto Socorro 7 PSF - Programa de Saúde da Família PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PT - Partido dos Trabalhadores RMSP - Região Metropolitana de São Paulo SES - Secretaria Estadual de Saúde SMS - Secretaria Municipal de Saúde SPDM - Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina UBS - Unidade Básica de Saúde UBSF - Unidade Básica de Saúde da Família USF - Unidade de Saúde da Família; é o nome que, ao final de 2013, está sendo empregado em substituição a UBSF. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 8 ! GLOSSÁRIO Acolhimento - Primeiro contato e avaliação feitos com o paciente quando ele ingressa na Unidade Atenção Básica / Atenção Primária à Saúde - Corresponde à prevenção de doenças e promoção da saúde. Difere dos serviços de Urgência e Emergência e dos serviços de Média e Alta Complexidade. Conselho, Conselho Gestor, Conselho Local - Em Suzano, a prática de criar conselhos para a participação direta da população na gestão de cada unidade de saúde é bastante disseminada. Esses “Conselhos de Unidade” são chamados simplesmente de Conselhos Gestores ou Conselhos; quando for feita referência a um Conselho atuante em outra escala (municipal, estadual ou federal), isso será destacado Contrato de Gestão - Firmado entre o poder público e a OSS, estabelece as obrigações de ambas as partes e as metas financeiras, de qualidade e de produção a serem cumpridas Equidade - é o termo que se usa para descrever a igualdade no acesso a serviços de saúde; a literatura sobre equidade indica que no Brasil, historicamente, existe falta de equidade na saúde: a população mais excluída (das perspectivas social, econômica e territorial) faz menos consultas médicas, menos coletas de exames, menos internações hospitalares etc. Por isso a equidade é um dos objetivos estratégicos do SUS. Até o momento, os estudos produzidos indicam que a criação do PSF teve um impacto bastante positivo sobre os índices de equidade. Equipamento - Unidades de Saúde são, muitas vezes, chamadas de Equipamentos Estabelecimento - o mesmo que Equipamento Níveis Hierárquicos - Nos sistemas de saúde, existem três níveis hierárquicos (primário, secundário e terciário) de complexidade da Atenção à Saúde. Serviços de baixa complexidade são consultas com auxiliares de enfermagem, enfermeiros, clínicos gerais, gineco-obstetras e pediatras, além da coleta de exames simples como o de glicose e papanicolau; na média complexidade estão procedimentos simples de outrs especialidades médicas; e na alta complexidade estão os procedimentos hospitalares em geral. Papanicolau - exame de coleta de tecido uterino, deve ser feito anualmente para prevenir o câncer de colo de útero. Prontuário - ficha em que se registram os dados do paciente. Produção - é o termo usado na Saúde para se referir ao número de procedimentos (consultas, coletas de exames etc) realizados. Assim, fala-se na produção de uma Unidade, um profissional etc. ! ! ! 9 ! SUMÁRIO I - Lista de Siglas ..................................................................................... 7 II - Glossário............................................................................................. 9 III - Nota Introdutória .............................................................................. 12 IV - Apresentação........................................................................................13 ! * * * ! 1) Introdução................................................................................................. 16 2) Referencial Teórico................................................................................... 20 3) Metodologia ............................................................................................. 37 4) Estudo de Caso.......................................................................................... 58 5) Considerações Finais................................................................................. 97 6) Bibliografia................................................................................................106 7) Bibliografia Selecionada - Mídia...............................................................118 Anexo I - TCLE..............................................................................................120 Anexo II - Lei Municipal 3977/05 de Suzano, SP………………………….122 ! 10 ! ! ! ! ! ! ! ! LISTA DE TABELAS Tabela 1.................................................................................................... 45 Tabela 2.................................................................................................... 47 Tabela 3.................................................................................................... 60 Tabela 4.................................................................................................... 60 Tabela 5.................................................................................................... 71 ! ! ! Tabela 6.................................................................................................... 74 LISTA DE FIGURAS Figura 1.................................................................................................. 61 Figura 2.................................................................................................. 62 Figura 3.................................................................................................. 63 Figura 4.................................................................................................. 64 Figura 5.................................................................................................. 65 Figura 6.................................................................................................. 66 Figura 7.................................................................................................. 67 Figura 8.................................................................................................. 68 ! ! ! ! ! ! Figura 9.................................................................................................. 69 11 ! Nota Introdutória A pesquisa aqui apresentada foi realizada entre junho de 2012 e junho de 2013, no contexto de um projeto de pesquisa maior, intitulado “Eqüidade e Contratualização de Serviços no SUS” (ECSS), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), coordenado por Vera Schattan R. P. Coelho e sediado no Núcleo de Cidadania, Saúde e Desenvolvimento (NCSD) do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Após o projeto ter sido desenvolvido pelo NCSD, e seu financiamento aprovado pela FAPESP, fui convidado a integrar a equipe de pesquisadores responsável pela pesquisa, na qual trabalhei durante o último ano. Assim, a dissertação ora apresentada é um estudo escrito individualmente, mas que resulta de um trabalho desenvolvido coletivamente, no convívio diário de troca de opiniões e pontos-de-vista com meus colegas de pesquisa. As idéias e referências aqui apresentadas foram influenciadas especialmente por Vera Schattan Coelho, que idealizou a pesquisa ECSS e esteve sempre à frente do trabalho da equipe, orientando os debates e integrando o trabalho desenvolvido individualmente pelos membros do grupo. ! ! ! ! ! ! ! 12 ! Apresentação O presente estudo aborda a parceria do setor público com o setor privado na prestação de serviços de saúde pública no seu nível de menor complexidade, chamado Atenção Básica. A Atenção Básica trata sobretudo da prevenção de doenças e da manutenção da saúde em pacientes com doenças crônicas (como diabetes), condições de saúde potencialmente perigosas (hipertensão, por exemplo) e grupos populacionais propensos a complicações de saúde (gestantes, recém-nascidos e idosos, entre outros). ! A pesquisa teve por objetivo identificar inovações introduzidas pela esfera municipal na gestão dos serviços de Atenção Básica, procurando mecanismos e boas práticas que possam ser replicados em mais municípios. A implementação de algumas políticas federais na esfera municipal também foi avaliada, para melhor entender as dinâmicas interfederativas de que depende o bom funcionamento do Sistema Único de Saúde - SUS. Dentre as novas formas de gestão observadas, a parceria do setor público com o setor privado na prestação de serviços teve destaque no estudo, por se tratar de processo poucas vezes analisado de forma sistemática - observou-se que, com freqüência, discussões sobre os efeitos de tais parcerias são feitas sem o necessário embasamento empírico. ! São dois os motivos que tornam oportuno um estudo sobre parcerias na Atenção Básica brasileira. Em primeiro lugar, nos últimos 25 anos as políticas nacionais de saúde têm caminhado claramente em direção à priorização da Atenção Básica, ante os níveis de Média Complexidade (ambulatorial) e Alta Complexidade 13 (hospitalar). No entanto, apesar de já existirem diversos estudos publicados sobre parcerias (e, especificamente, contratualização) em níveis de maior complexidade, não há muito que se possa aproveitar desses estudos para informar a compreensão das parcerias e convênios na Atenção Básica, uma vez que a gestão de uma rede de Atenção Básica é radicalmente diferente daquela de unidades hospitalares. ! O segundo motivo que torna relevante um estudo sobre as parcerias na Atenção Básica brasileira é que, ao longo das últimas décadas, a prática da gestão pública de saúde tem incluído o uso cada vez mais frequente dos contratos e convênios entre os setores público e privado (principalmente o privado sem fins lucrativos) para a expansão do sistema de saúde. Essa prática se apoia na política de saúde elaborada no período compreendido entre os anos 1995-2002, com a criação de instrumentos jurídico-administrativos como as Organizações Sociais de Saúde (OSS) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Ainda que, desde de 2002, os contratos e convênios não sejam mais a política de saúde declarada do governo, eles continuam se expandindo, devido à facilidade que esses instrumentos propiciam para a ampliação da rede de saúde. ! Duas razões levaram à escolha do Município de Suzano como estudo de caso para esta investigação. A primeira foi decorrência da decisão de estudar um município de porte médio (100.000 a 450.000 habitantes) no Estado de São Paulo, devido à existência de condições que serão detalhadas no quarto capítulo da dissertação. O segundo motivo foi que, entre os municípios que se enquadram nessa descrição, quase todas as secretarias municipais de saúde procuradas para a pesquisa responderam com 14 diferentes graus de baixa receptividade - hesitação, desconfiança, interesse apenas parcial ou rejeição imediata. A Secretaria Municipal de Saúde de Suzano foi a única que se interessou pela pesquisa, viabilizando sua pronta execução. No entanto, o município acabou por revelar-se dos mais inovadores em termos de gestão de saúde, e por isso passou a nos interessar especialmente. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 15 ! 1) INTRODUÇÃO ! 1.1) A Nova Constituição: Democratização e Descentralização Os 25 anos transcorridos desde a Assembléia Constituinte de 1988 permitem um distanciamento histórico propício à avaliação de alguns dos resultados da implementação das propostas de ordem política e social que, desde então, traduziramse no conjunto de diretrizes que vêm balizando a formulação de políticas de saúde pública no Brasil. Dentre as características principais da Constituição promulgada em 1988, duas são particularmente relevantes para esse estudo: no âmbito político, seu caráter democratizante; e, no âmbito administrativo, seu ímpeto descentralizador. Quanto ao elemento democratizante, é digno de nota que diversos cientistas políticos e legistas chamem-na “A Constituição Cidadã”. Para tal epíteto contribuem sobretudo dois aspetos do texto contitucional: primeiro, o destaque à necessidade de se reduzirem as desigualdades sociais, por exemplo, definindo educação e saúde como direitos universais; segundo, a legitimação da participação popular direta, através da promulgação dos Conselhos Populares como figura jurídica legalmente válida e canal de comunicação institucionalizado para representar os interesses e demandas da sociedade civil frente ao Poder Público, dando especial destaque para parcelas sociais historicamente marginalizadas. No que diz respeito ao elemento descentralizador, sua expressão máxima na Constituição foi aquele que veio a ser chamado Novo Pacto Federativo: um novo arranjo estabelecido a partir da redistribuição de prerrogativas e responsabilidades, 16 entre União, Estados e Municípios. Até 1988, a União centralizara, muito claramente, a imensa maioria dos poderes políticos, legislativos, fiscais, financeiros e administrativos; a nova Constituição transferiu legalmente uma boa parte desses poderes para os Estados e Municípios. Uma das medidas de descentralização administrativa introduzidas pelo Novo Pacto Federativo foi a transferência da responsabilidade sobre a prestação de serviços de saúde para a esfera municipal. Outra mudança importante foi a entrega de maior autonomia fiscal e financeira dos entes federativos frente à União, seja pela possibilidade legal de criarem seus própios impostos, seja com a criação de mecanismos de transferência automática de receita, recolhida pela União, para fundos municipais, os chamados repasses fundo-a-fundo que financiam parcela importante da saúde municipal no país (ARRETCHE, 2004). Ademais, entre 1986 e 1990, paulatinamente foram criados os instrumentos jurídicos, administrativos e fiscais que se consolidariam no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse conjunto de instrumentos, aliado aos repasses automáticos, permitiram que o SUS fosse efetivamente implementado em escala nacional a partir do ano de 1990, e desde então gradualmente aperfeiçoado (MOREIRA & ESCOREL, 2009). Gestores públicos vêm tentando tornar o sistema de saúde brasileiro existente o mais parecido possível com aquilo que foi promulgado na constituição de 1988; tem havido um esforço das três esferas federativas no sentido de se integrarem no planejamento e na implementação das políticas de saúde. Portanto, pode-se dizer que o SUS compreende a totalidade do sistema de saúde brasileiro, ou seja, que nenhuma parte da rede de saúde no Brasil esteja fora do sistema único, universal e gratuito decrito na Constituição. 17 No decorrer dos 25 anos que se seguiram ao Novo Pacto Federativo, outras políticas federais foram introduzidas com forte impacto na gestão da Saúde. Especificamente no setor da Saúde, o Programa de Saúde da Família (PSF) priorizou a Atenção Básica e reduziu a dependência de profissionais médicos, cuja falta é um dos maiores entraves para a ampliação da oferta de serviços de saúde no Brasil. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) aproximou os serviços de saúde das comunidades atentidas, tornando a promoção da saúde e a prevenção de doenças o foco de trabalho das unidades locais. Mais recentemente, em 2011, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) estabeleceu que as práticas inauguradas no PSF fossem adotadas como diretrizes nacionais para a Saúde. Fora da área de política de saúde propriamente dita, houve no plano fiscal um redirecionamento que teve efeito não previsto, mas de grande importância sobre as redes municipais e estaduais de saúde. Ao limitar a possibilidade de que os entes federativos se endividassem além de sua capacidade de arrecadação, a Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, levou prefeituras e governos estaduais a terceirizar muitos dos serviços de saúde. Cada uma dessas políticas trouxe novos parâmetros, metas, recursos e condicionalidades para a saúde. Em linhas gerais, as reformas na gestão têm procurado incorporar as seguintes características: - descentralização da gestão; - criação de parâmetros nacionais de qualidade e de produção; - produção de indicadores que permitam a avaliação dos serviços; - parcerias com o setor privado, objetivando melhora na eficiência, eficácia e efetividade; 18 - ênfase na Atenção Básica, na prevenção e na aproximação do sistema de saúde com a população atendida ! ! 1.2) Desafios da Descentralização Desde que a Constituição de 1988 redesenhou o Pacto Federativo brasileiro, os municípios passaram a desempenhar um papel central na prestação de serviços na área da Saúde. Essa redistribuição das responsabilidades tem exigido que os governos municipais deselvovam uma nova capacidade administrativa, da qual poucos deles já dispunham, passando a gerir os recursos transferidos fundo-a-fundo pela União, e visando investi-los de forma a garantir que a demanda de saúde de suas populações seja atendida. Com a descentralização da prestação de serviços de saúde, cabe hoje aos municípios produzir respostas para os desafios de saúde pública que vêm surgindo. Desenvolver essa capacidade administrativa é um processo que exije investimento e toma tempo. No redesenho federativo de 1988 ficou subentendido que a União teria de capacitar os demais entes federativos para tanto. No entanto, o grande número de municípios existentes no Brasil - 5.570 atualmente - torna muito difícil essa tarefa. Ademais, a falta de mecanismos institucionalizados para a replicação de boas experiências contribui para um cenário de persistente e acentuada desigualdade nos resultados da gestão de saúde dos diferentes municípios, estados e regiões. ! ! ! ! 19 ! ! ! 2) REFERENCIAL TEÓRICO Aqui serão apresentadas as características gerais do sistema de saúde brasileiro, com ênfase para o papel da Atenção Básica e, em seu âmbito, as dinâmicas de parceria do setor público com o setor privado na prestação de serviços. Como se verá, desde que o SUS começou a ser implementado, foram feitas nele diversas reestruturações e reformas, para que o sistema realmente atendesse às demandas da população da forma que se pensou quando da sua concepção: um sistema universal e gratuito, permeável à participação cidadã, e suficientemente capilarizado para corrigir a marcante exclusão de parcelas da população. Considerando 1990 como o ano de conclusão da primeira fase de implementação do SUS, é possível verificar que, desde então, os novos programas e políticas nacionais de Atenção Básica têm caminhado na direção da sua (1) priorização frente aos outros níveis hierárquicos de Atenção à Saúde; (2) municipalização; e (3) parceria do setor público com o setor privado na prestação de serviços de saúde. ! 2.1) A Criação do SUS Em 1986 foi realizada a 8ª Conferência Nacional da Saúde, evento de grande importância na criação do SUS: “As Conferências de Saúde sempre foram fundamentais para a democratização do setor. Em 1986 foi realizada a histórica 8ª Conferência Nacional de Saúde, cujo relatório final serviu como 20 subsídio para os deputados constituintes elaborarem o artigo 196 da Constituição Federal - ‘Da Saúde’. ” (CNS, s/d) Em 1988, com a promulgação da nova Constituição, foi estabelecido que a saúde é direito de todos e dever do Estado, e que o sistema de saúde nacional procuraria seguir as diretrizes desenhadas em 1986. Ao longo dos dois anos seguintes, o Poder Legislativo redigiu as leis 8.080 e 8.142, promulgadas no final de 1990, que deram início à implementação efetiva do SUS (CNS, s/d). 2.1.1) Os Repasses Fundo-a-Fundo Antes da Constituição de 1988, existia no Poder Público brasileiro uma divisão administrativa muito centralizada no Governo Federal. A nova Constituição redistribuiu de forma descentralizadora as responsabilidades pela prestação de serviços entre os entes federativos. Nessa nova divisão, coube aos municípios o papel principal no caso da prestação de serviços de saúde (ARRETCHE, 2004; BATALHA, 2012). No entanto, essa prerrogativa foi conquistada por entes federativos que, em sua maioria, não tinham recursos próprios para a financiar a gestão de saúde. (Tampouco possuíam os recursos técnico-administrativos para tanto, mas esse ponto será discutido mais adiante.) A criação dos repasses automáticos fundo-a-fundo da União para os municípios foi o mecanismo que viabilizou a autonomia financeira necessária para que a gestão local da saúde pudesse ser feita conforme o arranjo previsto na Constituição. Porque a União é quem recolhe maior volume de imposto na Federação, e tendo os municípios capacidade de arrecadação relativamente reduzida, os repasses fazem-se necessários para que os municípios possam cumprir com uma 21 atribuição que lhes foi designada acima de sua capacidade orçamentária (ARRETCHE, 2004; BATALHA, 2012). ! ! 2.1.2) Dependência e Independência Federativas na Saúde Arretche (2004) destaca que, apesar do pacto federativo de 1988 ter garantido bastante autonomia aos entes subnacionais frente à União, sua independência é menos plena no que se refere às políticas de saúde: ! “Na distribuição intergovernamental de funções, a União está encarregada do financiamento e da formulação da política nacional de saúde, bem como da coordenação das ações intergovernamentais. Isto significa que o governo federal isto é, o Ministério da Saúde - tem autoridade para tomar as decisões mais importantes nessa política setorial. Neste caso, as políticas implementadas pelos governos locais são fortemente dependentes das transferências federais e das regras definidas pelo Ministério da Saúde. Em outras palavras, o governo federal dispõe de recursos institucionais para influenciar as escolhas dos governos locais, afetando sua agenda de governo.” (ARRETCHE, 2004, p. 22) 2.1.3) Os Conselhos e a Participação Durante a ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985, os canais para participação da população na política estavam quase todos fechados. No entanto, agremiações de cunho social e político continuaram a existir, em geral de forma pouco organizada, já que a organização em torno de idéias políticas e reivindicações sociais era quase totalmente ilegal. Nesse período, uma das formas que os brasileiros encontraram para manifestar suas reivindicações foi em grupos setoriais - saúde, habitação, trabalho etc. - uma forma de participação direta e setorializada que viria a constituir a tradição dos Conselhos no Brasil. Quando foram retomadas as eleições diretas, a redemocratização robusta se tornou um dos objetivos centrais da nova Constituição. Foi considerado que a institucionalização de Conselhos setoriais, dos 22 quais a população participaria diretamente, seria um mecanismo efetivo para garantir o funcionamento democrático das incipientes instituições políticas brasileiras (TEIXEIRA, MORONI & MARX, 2008), (ABRANCHES, 2004). No caso da saúde, a “Lei 8.142/90 define conselhos e conferências de saúde como instâncias mandatórias que, nos níveis nacional, estadual e municipal, institucionalizam a participação.” (MOREIRA & ESCOREL, 2007). A composição dos Conselhos ficou definida da seguinte forma: “O Decreto n.º 99.438, de 7 de julho de 1990, regulamentou as novas atribuições do CNS e definiu as entidades e órgãos que comporiam o novo plenário, com 30 membros. Essa legislação fixou na composição do CNS entre representantes dos usuários, trabalhadores da saúde, gestores (governo) e prestadores de serviço de saúde. Os usuários ficaram com 50% das vagas, e os outros 50% eram divididos entre trabalhadores, gestores e prestadores de serviço. A composição do CNS de 1990 foi fruto de longa negociação do movimento social com o Ministério da Saúde.” (CNS, s/d) 2.2) Reforma Administrativa da Saúde A partir da década de 1990, a administração pública brasileira ingressou num processo de reformas liberais, que teve início com a criação do Ministério de Administração e Reforma do Estado (MARE) em 1995. Luiz Carlos Bresser Pereira, que foi ministro durante a maior parte 1da vigência do MARE (1995-1998), foi também a principal cabeça por trás das reformas (PAHIM, 2009). O MARE e as reformas que foram propostas naquele período tiveram grande impacto na administração pública brasileira, difundindo o debate sobre a necessidade de se gerir o ! 1 Claudia Costin esteve à frente do MARE durante um período de 6 meses em 1998. 23 país de forma mais eficiente, ou seja, fazendo melhor uso dos recursos físicos, técnicos, financeiros e humanos à disposição. O debate lançado pelas reformas do MARE a partir de 1995 vem permeando a gestão do Estado brasileiro desde então, tendo atingido desde o corpo administrativo da burocracia pública até o cidadão comum. As mudanças propostas pelo MARE são listadas sucintamente por Bresser Pereira: “O objetivo da Reforma da Gestão Pública de 1995 é contribuir para a formação no Brasil de um aparelho de Estado forte e eficiente. Ela compreende três dimensões: a) uma dimensão institucional-legal, voltada à descentralização da estrutura organizacional do aparelho do Estado através da criação de novos formatos organizacionais, como as agências executivas, regulatórias, e as organizações sociais; b) uma dimensão gestão, definida pela maior autonomia e a introdução de três novas formas de responsabilização dos gestores – a administração por resultados, a competição administrada por excelência, e o controle social – em substituição parcial dos regulamentos rígidos, da supervisão e da auditoria, que caracterizam a administração burocrática; e c) uma dimensão cultural, de mudança de mentalidade, visando passar da desconfiança generalizada que caracteriza a administração burocrática para uma confiança maior, ainda que limitada, própria da administração gerencial.” (BRESSER-PEREIRA, s/d) Uma das reformas empreendidas pelo MARE foi na área da Saúde. Foi feita uma revisão do que os entes federativos tinham sido capazes de implementar no sentido de criar o SUS, com todas as suas atribuições, e a avaliação foi bastante negativa. O MARE procurou identificar as dificuldades na implementação nacional do SUS, e propôs mudanças estratégicas na atuação dos Poderes Executivos das três esferas federativas. As mudanças propostas foram fiéis aos princípios do SUS; foi um redirecionamento gerencial, levando em conta as deficiências estruturais do sistema 24 político-administrativo brasileiro, e identificando uma agenda de pontos prioritários de intervenção (BRESSER-PEREIRA, 1995). O MARE, em seu Plano Diretor para a Reforma do Estado (PDRE), de 1995, definiu a prestação de serviços na área da saúde como sendo de “Serviços NãoExclusivos” do Estado; isso criou a meta de abrir para o setor privado a possibilidade de prestar serviços públicos de saúde, conforme fica claro no seguinte trecho do PDRE: “6.4 Objetivos para os Serviços Não-exclusivos: -Transferir para o setor publico não-estatal estes serviços, através de um programa de “publicização”, transformando as atuais fundações públicas em organizações sociais, ou seja, em entidades de direito privado, sem fins lucrativos, que tenham autorização específica do poder legislativo para celebrar contrato de gestão com o poder executivo e assim ter direito a dotação orçamentária. -Lograr, assim, uma maior autonomia e uma conseqüente maior responsabilidade para os dirigentes desses serviços. -Lograr adicionalmente um controle social direto desses serviços por parte da sociedade através dos seus conselhos de administração. Mais amplamente, fortalecer práticas de adoção de mecanismos que privilegiem a participação da sociedade tanto na formulação quanto na avaliação do desempenho da organização social, viabilizando o controle social. -Lograr, finalmente, uma maior parceria entre o Estado, que continuará a financiar a instituição, a própria organização social, e a sociedade a que serve e que deverá também participar minoritariamente de seu financiamento via compra de serviços e doações. -Aumentar, assim, a eficiência e a qualidade dos serviços, atendendo melhor o cidadão-cliente a um custo menor.” (MARE, 1995)! 25 Ainda que se mantendo de acordo com os princípios estabelecidos para o SUS desde 1986, a proposta de reforma da saúde do MARE de 1995 faz, claramente, uma releitura particular, e imbuída das idéias de Bresser Pereira, sobre as razões para os insucessos do SUS e as formas de melhorá-lo. Nuances dessa releitura aparecem, por exemplo, num trabalho apresentado por Bresser no CLAD de outubro de 1995, intitulado “Reforma Administrativa do Sistema de Saúde”: “A Constituição Brasileira de 1988 inscreveu a Saúde entre os direitos sociais, reconhecendo-a como um direito de cidadania extendendo-o a todos o [sic] brasileiros. Em 1990, na sua regulamentação, através da Lei Orgânica da Saúde, foi instituído o Sistema Único de Saúde - SUS. Iniciava-se então uma reforma sanitária de grande envergadura, definida a partir dos seguintes princípios: (1) universalidade de cobertura, ou seja, atendimento integral gratuito e eqüidade; (2) descentralização dos serviços para os estados e municípios, que participarão do financiamento; (3) não-concorrência mas unidade e hierarquização entre as ações de saúde da União, dos estados e dos municípios; (4) participação complementar do setor privado na oferta de serviços; (5) prioridade para as atividades preventivas; e (6) controle social, através dos Conselhos de Saúde e participação da comunidade.” (BRESSER-PEREIRA, 1995) A análise do MARE sobre o SUS trazia uma visão liberal (do ponto de vista do pensamento econômico) sobre o que estava impedindo o SUS de funcionar melhor - e, portanto, propõe soluções que se encontram no campo ideológico do liberalismo econômico. Essa reforma enfatiza a necessidade de que os estados e municípios se envolvam mais com a gestão e o financiamento dos serviços de saúde, de maneira que a administração do sistema não desperdice tempo e dinheiro com tramitações interfederativas; que a Atenção Básica seja priorizada, prevenindo doenças e, assim, poupando gastos; e, o ponto mais lembrado e discutido, que entidades privadas sem 26 fins lucrativos podem desempenhar um papel importante na prestação de serviços públicos como os de saúde, guiando-se pelos princípios de geração de bens públicos mas sem os entraves cotidianos das licitações e concursos (MARE, 1998). Este último ponto, a presença de entidades privadas (ainda que sem fins lucrativos) prestando serviços públicos gerou muita discordância (BATALHA, 2012). É importante lembrar que esse, no entanto, não era um arranjo novo, e sim a forma como a saúde funcionava até então - o que o MARE propôs foi criar regras para a atuação das entidades filantrópicas, que sempre prestaram serviços gratuitamente para indivíduos que não tinham acesso à saúde privada e, quase sempre, recebiam também apoio financeiro do poder público, num arranjo público-privado menos claro do que o proposto ao se criar as figuras jurídicas OSS e OSCIP (GRAEF & SALGADO, 2009). ! 2.3) Parcerias do Setores Público e Privado na Saúde O que justifica a necessidade deste estudo sobre as parcerias na Atenção Básica é que o impacto dessa prática ainda é relativamente desconhecido (ENGLAND, 2004). A principal deficiência na área é a falta de avaliações sobre o impacto desses contratos e convênios na eqüidade, qualidade e eficiência dos serviços de saúde prestados (LIU et al., 2007). ! 2.3.1) Vários Nomes, Mesmos Objetivos O primeiro ponto a se abordar para tratar da prestação de serviços públicos por pessoas jurídicas privadas é a atual confusão terminológica que existe nesse campo. Sobre as diferenças entre Organizações Sociais (dentre as quais as OSS) e OSCIP, Pietro (2009) afirma que 27 ! “O objetivo em ambas as entidades é o mesmo: instituir parceria entre o poder público e uma organização não governamental qualificada pelo poder público, sob certas condições, para prestar atividade de interesse públicomediante várias formas de fomento pelo Estado. Os dois tipos de entidade atuam na área dos chamados serviços públicos não exclusivos do Estado ou, mais especificamente, na área dos serviços sociais, que a Constituição prevê como serviço público e como atividade aberta à iniciativa privada, como saúde, educação, cultura etc. Só que, em um caso, a entidade assim qualificada recebe o título de organização social e, no outro caso, de organização da sociedade civil de interesse público: no primeiro caso, o instrumento jurídico pelo qual se concretiza a parceria é denominado de contrato de gestão; no outro, é denominado de termo de parceria. Trata-se de miscelênea terminológica para designar entidades que, em termos genéricos, apresentam características muito semelhantes e que, por isso mesmo, mereceriam submeter-se ao mesmo regime jurídico .” (PIETRO, 2009, pp. 251-252) Pietro (2009) relata, também, pouca clareza no uso de termos para designar o setor ocupado por essas organizações, apontando que ele é chamado de terceiro setor, setor público não-estatal e setor paraestatal. Também as entidades recebem esses títulos diversos, sem que a distinção nominal esteja vinculada a distinções conceituais. Considerando que a nomenclatura do campo ainda não está bem definida, é importante deixar claro que, na presente dissertação, o termo “parceria” se refere tanto a contratos como a convênios firmados entre setor público e entidades sem fins lucrativos do setor privado. Quando for o caso de se falar de um tipo específico de parceria, ele será chamado pelo seu nome (contrato de gestão ou convênio). No caso do município de Suzano, o que existe na AB é um convênio, assinado com uma OSS (situação que nem está prevista no quadro legal descrito).No entanto, apesar de o objeto de estudo ser um convênio, as observações servem para pensar parcerias de ambos os tipos, pois há características do convênio em questão que são muito próximas de situações de contrato de gestão - por exemplo, a organização privada ser uma OS e não OSCIP. ! 2.3.2) Organizações Sociais de Saúde 28 De acordo com a definição de Tanaka e Melo (2002), as Organizações Sociais são “pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, dirigidas à prestação de serviços sociais e qualificadas por ato do poder executivo. A relação da OS com o Estado se dará (...) utilizando-se como instrumento gerencial o contrato de gestão.” Na reforma da saúde pensada pelo MARE, as OSS cumpririam um papel importante ao atender a demanda por serviços de saúde que o Estado vinha tendo dificuldade em dar vazão (MARE, 1998). No contexto da promulgação de legislação concernente às OS, a já referida influência do MARE na administração pública brasileira transparece, conforme é descrito no trecho seguinte: “As organizações sociais foram previstas inicialmente em medida provisória depois transformada na Lei nº 9.637, de 15-5-98. Elas vinham sendo anunciadas pelo Governo Federal desde que lançado o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, em 21-9-95. No entanto, alguns Estados anteciparam-se e disciplinaram a matéria por meio de lei, seguindo o modelo que constava do referido Plano Diretor.” (PIETRO, 2009) ! A OSCIP é uma figura jurídica praticamente idêntica à OS (PIETRO, 2009). Na lei, o que as diferencia é que a OSCIP celebra um termo de parceria - em vez de um contrato de gestão - com o Poder Público. Ambos os intrumentos têm a mesma função: estabelecer as obrigações das duas partes, metas, contrapartidas, e formas de acompanhamento. O que se vê é que, nas duas Unidades Federativas que mais adotaram parcerias com o setor privado, em São Paulo as OS têm prevalência e, em Minas Gerais, são as OSCIP que estão mais presentes. ! 29 2.3.3) Contratualização As contratualizações nas redes municipais de Atenção Básica são regidas pelo princípio da maior eficiência na contratação, via processo de concorrência, de entes privados para prestar serviços públicos que não precisam ser prestados diretamente pelo governo. No caso da contratualização, o governo municipal cede a gestão de certas unidades de saúde para uma pessoa jurídica privada, em acordo cujos termos são validados por ambas as partes num contrato de gestão (PIETRO, 2009; RINNE, 2007). Supõe-se que esse arranjo permita que cada parte se concentre em uma atividade especializada – macroplanejamento e regulamentação cabem ao governo, enquanto implementação e gerência são responsabilidade da entidade privada. Monitoramento e avaliação seriam compartilhadas, de forma planejada, entre poder público, entidades privadas e sociedade civil organizada (BRESSER-PEREIRA, 1995). O arranjo de divisão de tarefas é pensado para que cada parte se especialize em menos funções – planejar e regulamentar, no caso do governo; implementar e gerir, no caso das entidades privadas. Assim, cada parte poderia fazer seu trabalho com mais eficiência (TANAKA & MELO, 2002). As diferenças entre gestão de Atenção Básica e a gestão de unidades hospitalares justificam a necessidade de se fazer um estudo sobre parcerias na Atenção Básica - a maior parte dos estudos existentes sobre contratos e convênios na saúde brasileira se debruçaram sobre a saúde hospitalar, e seus achados dificilmente podem se aplicar à compreensão das parcerias na Atenção Básica (VECINA NETO & MALIK, 2007; IBAÑEZ & VECINA NETO, 2007). ! 2.3.4) Críticas às Parcerias 30 Dentre os diversos setores críticos às parcerias na área da saúde, há três que se destacam, e que aparecem de forma recorrente neste estudo: políticos de orientação anti-liberal; funcionários públicos; e conselheiros2. O pensamento contrário ao liberalismo econômico é bastante difundido no Brasil, e amplamente representado na classe política. O liberalismo econômico é o princípio que rege a cessão da prestação de serviços públicos não-estatais para o setor privado; assim, aqueles que pensam que a gestão de um equipamento público (como uma unidade de saúde) é tarefa exclusiva do Estado, e não pode ser exercida pela iniciativa privada, são radicalmente contrários às parcerias discutidas aqui. Quanto ao funcionalismo público brasileiro enquanto categoria trabalhista, sua oposição à prestação de serviços públicos pelo setor privado (ainda que sem fins lucrativos) é expressa de forma clara e frequente, seja pelas declarações e práticas das entidades representantes de classe, seja pelas declarações individuais ouvidas durante a execução desta pesquisa. Também nos Conselhos de Saúde - de todas as escalas, Federal, Estadual, Municipal e Local - ouve-se com frequência críticas à gestão privada de serviços públicos. Do ponto de vista legal, as atribuições e poderes dos Conselhos não deveriam ser afetadas de nenhuma forma pela gestão privada de partes da rede de saúde. A literatura sobre o assunto indica que o que incomoda os conselheiros em lidar com uma entidade privada, em vez do poder público, é que tais entidades tendem a ser menos permeáveis ao diálogo e à participação. ! 2 ! Conselheiro é como se chama o participante de um Conselho Setorial. Os Conselhos mais difundidos pelo Brasil são os de Saúde, mas existem diversos outros (educação, cidades etc.); os Conselhos de Saúde existem nas escalas Nacional, Estadual, Municipal e Local (esta última refere-se a uma única unidade). Em Suzano, os Conselhos Locais são chamados de Conselho Gestor. 31 2.4) Atenção Básica e Outros Serviços de Saúde O município de São Paulo é um caso interessante para se observar como muitas mudanças e inovações importantes na gestão da saúde estão surgindo na esfera municipal. É também uma situação rica para se notar como atender plenamente às demandas de saúde da população exige um sistema público de saúde sofisticado, que ofereça serviços bastante variados. Pela riqueza de serviços prestados, é um caso excepcional, que permite imaginar o que fariam os outros municípios caso tivessem mais recursos. A resposta pode surpreender: a AB, que tem sido defendida pelo MS, acaba sendo preterida pela ampliação de serviços ambulatoriais (como os oferecidos pelas AMAs e AMEs), que são mais populares entre os eleitores por não desafiarem a cultura existente de usar serviços de saúde só para curar, e não para prevenir. Fica explícita, em São Paulo, a contradição que existe no seio da gestão da saúde pública: por um lado, gestores públicos de carreira ou eleitos sabem que a política de saúde que traz mais resultados com menos custo é a ampliação da AB; por outro, a administração pública deve responder aos anseios da sociedade, e a cultura atual dos brasileiros é de ignorar a AB e usar serviços de saúde apenas quando estão doentes, prática que onera desnecessariamente o orçamento. Em São Paulo, provavelmente pelo peso político do colégio eleitoral (o maior do Brasil), o sistema de saúde tem respondido mais aos desejos dos eleitores do que em outros municípios, e um dos resultados é a ampliação dos serviços ambulatoriais. Na gestão da prefeita Marta Suplicy (2001-2004), Eduardo Jorge, um sanitarista com histórico de atuação na promoção da eqüidade, atuou como Secretário Municipal de Saúde; em sua gestão foram criadas as Regiões de Saúde na cidade, com uma preocupação especial em ampliar o acesso à Atenção Básica nas periferias. Essa 32 política teve bons resultados, reduzindo bastante a diferença entre o acesso à saúde no centro (suficiente) e nas periferias (insuficiente) – ou seja, aumentando a eqüidade na saúde, um dos princípios que norteia o SUS desde sua criação (COELHO & PEDROSO, 2002; COELHO, 2007). Nas gestão municipal seguinte, dos prefeitos José Serra (2005-2006) e Gilberto Kassab (2006-2008), foi criado na rede municipal de Atenção Básica um novo tipo de Unidade de Saúde, a Assistência Médica Ambulatorial (AMA). As AMAs são unidades que atendem à demanda de baixa e média complexidade, com serviço de pronto-atendimento (sem necessidade de agendar a consulta). O serviços de AMAs contou, desde o início, com forte apoio da população, e por isso expandiuse rapidamente - em junho de 2013, São Paulo conta com 131 AMAs. Como foi apontado existe uma contradição entre a ampliação dos serviços ambulatoriais e os princípios do PSF, de prevenção: o serviço das AMAs e AMEs é voltado para a demanda espontânea, e nao para uma relação continuada da equipe com a comunidade. Por outro lado, numa megalópole como São Paulo, a presença das AMAs e AMEs faz muito sentido e tem sido elogiada. Esses estabelecimentos atendem, por exemplo, à grande população que mora em bairros e cidades da RMSP com poucos empregos e deslocam-se diariamente para a região central. Tais pessoas dificlmente estarão em casa no horário de funcionamento das UBSs e UBSFs, e ficariam ainda mais excluídas do SUS caso não tivessem acesso às AMAs e AMEs. Parece ser um serviço necessário, o que sugere que é vantajoso se equilibrar os princípios gerais do SUS (que atendem bem a boa parte da população) com as necessidades locais de regiões especificas, como a RMSP. 33 Olhar as inovações introduzidas em São Paulo exige cautela, certamente, já que parte dos serviços não seria compatível com municípios menores; trata-se de um universo bastante distinto do que se vê em outros municípios, sobretudo pela escala populacional e capacidade de arrecadação fiscal. ! 2.5) O Programa de Saúde da Família O PSF foi criado em 1994, a partir da expansão de um programa existente desde 1991, o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). A idéia do PSF é ter uma equipe de agentes comunitários de saúde que visitam os domicílios de bairros com índices de saúde ruim e ajudam os indivíduos e famílias e se integrarem ao SUS. O PSF aprofunda e transforma em políticas efetivas duas idéias já esboçadas na criação do SUS, (1) a importância da prevenção de doenças e promoção da saúde, dentro do espectro de atuação do Poder Público; e (2) aproximar a população das Unidades Básicas de Saúde, com a ação dos agentes comunitários. O funcionamento do PSF pode ser descrito sucintamente da seguinte forma: equipes de saúde da família ficam baseadas em uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF); cada equipe é responsável por um conjunto de entre 1200 e 2000 domicílios3; as equipes são compostas por um médico generalista, um ou dois enfermeiros, um ou dois auxiliares de enfermagem e de cinco a sete agentes comunitários de saúde. Cada agente comunitário de saúde é responsável por um conjunto de entre 120 e 200 domicílios, devendo visitar cada um deles ao menos uma vez por mês. O agente 3 ! O PSF atua na escala do “domicílio” ou “família”, que para o programa são conceitos mais ou menos intercambiáveis; a idéia central é que as pessoas que habitam o mesmo domicílio compartilham de uma série de condições que têm efeito sobre sua saúde, e portanto é eficiente que sejam tratados pela Saúde como uma unidade. 34 comunitário é um morador da região, com boa circulação entre os vizinhos, e que não precisa ter formação em saúde - a única exigência formal é ter completado o Ensino Fundamental. Após ser selecionado pelo programa, recebe um treinamento específico, que o habilita a realizar uma série de funções. Nas visitas domiciliares mensais, ele realiza (1) uma avaliação das condições do domicílio que tornem os moradores mais ou menos sujeitos a problemas de saúde, como por exemplo a presença ou ausência de água encanada, esgoto, luz elétrica, condições de umidade, telhas de amianto etc; (2) avaliação de hábitos domiciliares que tenham efeito direto sobre a saúde, como alimentação, sedentarismo, hábitos de higiene, tabagismo, alcoolismo e outras formas de dependência química; (3) avaliação preliminar da saúde dos indivíduos, identificando-os por grupos etários ou de risco (idosos, pessoas com sobrepeso, gestantes, crianças de até cinco anos); (4) acompanhamento dos indivíduos já diagnosticados pelo SUS e que estejam em tratamento ou observação, como é o caso de hipertensos, diabéticos, certificando-se de que estão tomando os remédios corretamente, procurando a unidade quando da manifestação de sintomas etc. Além disso, o agente comunitário de saúde está atento a outros aspectos da vida domiciliar que afetam a saúde dos indivíduos, como saúde mental, violência doméstica, o grau de marginalização ou integração social e laboral. O agente comunitário de saúde dá conta das funções ligadas à saúde que não exigem formação médica ou de enfermagem, aliviando o trabalho dos médicos e enfermeiros da equipe, mas também multiplicando seu efeito e alcance, uma vez que aproxima o sistema de saúde da escala domiciliar. Em reuniões realizadas regularmente, os agentes comunitários (cinco a sete por equipe) informam e discutem os casos acompanhados com a equipe de saúde da família. Numa conversa entre 35 agentes, auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médico, os agentes relatam as visitas e a equipe planeja suas atividades. Porque munidos dessas informações, os auxiliares, enfermeiros e médicos conhecem a população o suficiente para avaliar, por exemplo, se num determinado dia o melhor procedimento será atender na unidade ou fazer uma visita domiciliar a um paciente acamado. Além disso, as UBSFs sediam reuniões por grupos de morbidade, risco ou atenção especial, em que, além do acompanhamento de casos específicos, a população recebe orientações dirigidas de promoção da saúde. As principais frentes de atuação desse trabalho em grupo atendem os hipertensos e diabéticos, mas, nas unidades mais estruturadas, podem existir outros grupos, como saúde mental, dependência química, gestantes etc. A regularidade das reuniões e a assiduidade da população dependem muito da sensibilidade e da inciativa dos membros de cada equipe. Devido ao contato próximo e regular com a população, as Unidades Básicas de Saúde também funcionam como canal de comunicação da população com outros programas e áreas de governo, como é o caso do Bolsa-Família. Porque os repasses mensais do Bolsa-Família estão condicionado à promoção da saúde e prevenção de doenças (vacinas em dia etc.), a UBS (com ou sem PSF) acaba por desempenhar importante função de interação entre população e Estado, que vai além da atenção à saúde propriamente dita. Em lugares muito marginalizados e carentes de serviços, a UBS é muitas vezes a interface com o Estado disponível à população. Em 2006 o PSF foi adotado pelo Ministério da Saúde (MS) como o principal programa federal de saúde, com a intenção declarada de reestruturar o SUS dando mais ênfase à Atenção Básica. Em 2011, avaliando que a implementação do PSF havia trazido resultados satisfatórios, o MS transformou-o em Estratégia de Saúde da 36 Família (ESF), despindo-o assim de seu caráter transitório e designando-o como política de saúde estruturadora. ! ! ! 3) METODOLOGIA Este trabalho se debruça sobre o processo de formação de parcerias da Administração Pública com o setor privado em parte da rede de Atenção Básica de um município de médio porte na Região Metropolitana de São Paulo. Foi feito um estudo teórico sobre parcerias na Administração Pública e um levantamento bibliográfico sobre os atuais desdobrementos dessa prática no sistema de saúde brasileiro. Depois, ao fim de uma pesquisa sobre saúde pública em municípios paulistas foi selecionado o município de Suzano para estudo de caso. Após um estudo preliminar sobre o município, teve início a fase de trabalho de campo. Primeiro foram realizadas conversas exploratórias com gestores públicos na Secretaria Municipal de Saúde, e depois entrevistas com funcionários de equipamentos de saúde municipais, gestores da SMS e funcionários da SMS. Também foi acompanhada uma reunião do Conselho Municipal de Saúde. Por fim, as entrevistas foram analisadas - no contexto daquilo que foi observado em campo, estudado no levantamento bibliográfico e considerado no referencial teórico. Assim, o desenvolvimento da pesquisa pode ser descrito em quatro etapas: 1) Pesquisas teórica e bibliográfica 2) Conversas exploratórias com gestores da Secretaria Municipal de Saúde 3) Entrevistas 37 4) Análise das entrevistas à luz do referencial teórico e da pesquisa bibliográfica Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 20 funcionários de equipamentos públicos de saúde, três gestores da Secretaria Municipal de Saúde e dois funcionários da mesma SMS; o pesquisador também esteve presente em uma reunião do Conselho Municipal de Saúde, para observar a dinâmica da participação social. Foram entrevistados um ou dois profissionais por equipamento: primeiro, o gerente da unidade; nos casos em que este estava na unidade há pouco tempo, foi entrevistada também uma pessoa da equipe com mais tempo de experiência na unidade, dando preferência para profissionais de enfermagem, que também têm uma importante função de gerência dentro das unidades. As entrevistas tiveram, em média, uma hora de duração. Foram selecionados primeiro os equipamentos da Atenção Básica, e depois foram incluídos alguns outros equipamentos de saúde municipais importantes; foram 19 entrevistas (uma delas com dois entrevistados simultaneamente), realizadas num total de 12 equipamentos, que representam os diferentes setores do município (centro, periferia urbana, zona rural), os diferentes tipos de Unidade Básica de Saúde (tradicional, com Programa de Saúde da Família, e mista) e os pontos nodais mais importantes da rede de saúde pública municipal. As entrevistas foram realizadas no local de trabalho dos entrevistados, gravadas em áudio integralmente, com autorização por escrito dos entrevistados, com a garantia de anonimato, e analisadas posteriormente. Algumas das entrevistas foram feitas com uma assistente de pesquisa, que foi quem fez todas as transcrições4 a partir do áudio; 4 Ver Anexo III 38 o trabalho dessa pessoa foi viabilizado pelo financiamento da Fapesp à pesquisa ECSS5. Das 19 entrevistas realizadas em equipamentos de saúde, apenas 16 foram transcritas, tendo as outras três sido analisadas sem o uso do áudio, apenas com as anotações do pesquisador. Além das entrevistas em equipamentos de saúde, foram realizadas quatro entrevistas na SMS, sendo três delas com gestores ocupando cargos de confiança na chefia do órgão (Diretor de Planejamento, Diretor de Atenção à Saúde e Coordenador de Atenção Básica) e a quarta com os dois responsáveis pela recéminaugurada Ouvidoria da SMS. Apenas uma das quatro entrevistas realizadas na SMS foi gravada, mas não transcrita; as quatro foram analisadas a partir das anotações do pesquisador. ! 3.1) Contexto de Realização das Entrevistas Durante o segundo semestre de 2012, foi feita a preparação para o trabalho de campo. Primeiro, realizou-se um levantamento bibliográfico para melhor entender o objeto de estudo. O com base nele, foram realizados dez seminários para discussão da bibliografia com pesquisadores da área. A partir da bibliografia e da discussão, foram elaborados os questionários. Simultaneamente, foram selecionados os municípioscandidatos para a realização do estudos, e iniciaram-se os contatos com esses municípios. Foi feita uma tentativa de teste dos questionários em dos municípios, e ficou claro que não seria possível realizar as entrevistas nas unidades quando não houvesse autorização expressa das Secretarias Municipais de Saúde, já que os profissionais empregados nos equipamentos de saúde, fossem eles concursados ou 5 Equidade e Contratualização de Serviços no SUS. Realização: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - CEBRAP; Núcleo de Cidadania, Saúde e Desenvolvimento - NCSD. Coordenadora: Vera Schattan Coelho. Financiamento: Fapesp. Vigência: jul. 2012 - jul.2014. 39 contratados no regime CLT, não estavam dispostos a falar sobre o seu trabalho sem autorização prévia dos superiores, devido ao risco de retaliação e mesmo demissão caso as declarações viessem a desagradar alguém na SMS. Na SMS tampouco havia disposição entre os funcionários para falar sem autorização do Secretário. D e qualquer forma, esse período de teste permitiu constatar que, devido à grande heterogeneidade nas formas de gestão entre os municípios, e mesmo dentro dos municípios, seria melhor adaptar os questionários para o formato de roteiros de entrevista, estruturados em 15-20 questões abertas (ainda que direcionadas) que poderiam ser perguntadas ou não dependendo da situação específica do entrevistado e do equipamento em que este trabalhasse. Após ser decidido realizar a pesquisa em municípios de médio porte da RMSP, o passo seguinte foi tentar contato nos municípios-candidatos por dois meios: institucional, entrando em contato com as Secretarias Municipais de Saúde; e direto, procurando os Conselhos Municipais de Saúde. Logo ficou claro que, nos municípios em questão, os CMS tinham pouca autonomia frente às SMS. Ao entrar em contato pelos telefones e emails disponibilizados pelos CMS nas atas das Conferências Municipais de Saúde, o pesquisador acabou sempre conseguindo falar apenas nas SMS. Depois, ao fazer entrevistas com conselheiros de quatro dos municípioscandidatos (no contexto de outra pesquisa6) e acompanhar uma reunião do CMS de Suzano, ficou claro o porquê: os telefones de contato do CMS são da própria SMS, e é muito raro que um conselheiro tenha acesso próprio à internet, o que faz com que dependam da estrutura administrativa da SMS. 6 Equidade e Contratualização de Serviços no SUS. Realização: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - CEBRAP; Núcleo de Cidadania, Saúde e Desenvolvimento - NCSD. Coordenadora: Vera Schattan Coelho. Financiamento: Fapesp. Vigência: jul. 2012 - jul.2014. 40 Sem sucesso no contato direto com os conselheiros, tentou-se o contato direto com equipamentos de saúde. Foram feitas ligações para gerentes destes, para tentar agendar entrevistas. Nestas ocasiões, os gerentes sempre responderam com grande desconfiança, e não aceitarem receber o pesquisador sem que houvesse uma autorização de seus superiores imediatos. Assim, optou-se por fazer o contato com os municípios pela via institucional, iniciando a comunicação com as Secretarias Municipais de Saúde. As entrevistas estudadas nessa pesquisa foram realizadas com anuência da Secretaria Municipal de Saúde de Suzano. Para isso, foi necessário apresentar a pesquisa à Secretária Municipal de Saúde (por via digital) e depois responder, pessoalmente, às dúvidas de dois Diretores da Secretaria (Atenção à Saúde e Planejamento) e dois Coordenadores (Regulação, Avaliação, Controle e Faturamento, e Atenção Básica). Depender da autorização da SMS para realizar a pesquisa não é, claro, a situação ideal. Seria melhor que os pesquisadores tivessem sempre acesso franqueado às informações de que necessitam. No entanto, para a o desenvolvimento de pesquisas sobre administração pública no Brasil, essa situação tende a se repetir com frequência. No caso específico do presente estudo, essa limitação obrigou o pesquisador a tomar uma decisão difícil: para ter acesso aos depoimentos dos profissionais contratados pela prefeitura (que tinham sido identificados como a melhor fonte para os dados primários desejados), seria necessário submeter a totalidade da investigação ao ritmo e à escala que fossem convenientes também à SMS, sem criar conflitos que pudessem gerar animosidades e dificultar o restante da pesquisa. Essa decisão implicou, naturalmente, em certas restrições. Documentos oficiais que não puderam ser 41 localizados no Diário Oficial do município tiveram que ser requisitados à própria SMS, e o seu ritmo teve de ser acatado. Apesar da existência da Lei de Acesso à Informação, que estabelece prazos para que um órgão entregue os documentos solicitados, a realidade dos municípios ainda está bastante distante daquilo que a lei preconiza. Ademais, ao desenvolver uma pesquisa que depende de cooperação com um órgão público, o pesquisador optou por não ameaçar o órgão em questão com os prazos legais (para evitar um atrito que poderia inviabilizar o restante da pesquisa, bem como futuras pesquisas) e, em vez disso, acatar o ritmo de trabalho da SMS e continuar contando com a sua cooperação. ! 3.2) Anonimato dos Entrevistados Para a realização da pesquisa ECSS7, foi necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. O Comitê aprovou a realização da pesquisa, mas exigiu que os dados dos entrevistados fossem mantidos sigilosos, e que os entrevistados lessem e assinassem, antes da entrevista, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)8. Assim, trechos das transcrições das entrevistas puderam ser disponibilizados, mas foi necessário ocultar o nome e local de trabalho dos entrevistados. ! ! ! 7 Equidade e Contratualização de Serviços no SUS. Realização: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - CEBRAP; Núcleo de Cidadania, Saúde e Desenvolvimento - NCSD. Coordenadora: Vera Schattan Coelho. Financiamento: Fapesp. Vigência: jul. 2012 - jul.2014. 8 Ver Anexo I 42 3.3) Sistemas de Informação de Saúde Existentes - CNES Como consideração metodológica, é importante destacar que não foi possível usar as bases de dados públicas sobre a rede de saúde de Suzano devido a sérias deficiências das mesmas. O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) é uma ótima iniciativa do Ministério da Saúde, que padroniza as informações que devem ser prestadas por todos os estabelecimentos de saúde do país, inclusive clínicas privadas. No entanto, o nível de detalhamento das fichas do CNES é sua maior qualidade, mas também seu ponto fraco, já que muitas fichas são preenchidas de forma errônea ou incompleta. Há muitos casos em que é possível usar os dados e calcular a margem de erro mas, no caso dessa dissertação, havia um problema crucial: cerca de 90% dos profissionais contratados através da Organização Social de Saúde (OSS) estavam registrados como se fossem contratados diretamente pela prefeitura, com vínculo celetista. Esse erro de cadastramento já foi discutido com a Secretaria Municipal de Saúde de Suzano, que reconhece o problema e está tentando tornar o preenchimento das bases de dados mais preciso. Contudo, por mais útil que fosse ter todas fichas do CNES plenamente preenchidas com correção, tal situação ainda demorará a se consolidar, por demandar treinamento, infra-estrutura, boa comunicação e outras práticas de boa gestão. Assim, as prefeituras têm dado prioridade para o preenchimento correto de algumas partes das fichas; cito aqui o caso mais mencionado: registrar a carga horária efetiva de cada vínculo de cada profissional médico para evitar que esses assumam diversos vínculos trabalhistas e acabem se ausentando ou atrasando no trabalho, como se via frequentemente antes da 43 implementação do controle através dos CNPJs9 e registros de carga horária nas fichas do CNES. No segundo semestre de 2012 teve incício o processo de busca por municípios com alto grau de contratualização para servirem de objeto de estudo para a pesquisa ECSS. As bases de dados do CNES foram eleitas, inicialmente, como a melhor forma de se determinar a contratualização dos municípios, por cobrirem todo o estado de São Paulo e todo o período desde o fim da década de 1990. No entanto, ao fazer o download dos dados e começar a organizar um banco com todos eles, foi ficando claro que havia grandes lacunas no conjunto de dados; ficou especialmente evidente que, via de regra, quanto menor o município e mais distante a data, pior a qualidade dos dados. Ademais, olhando com mais atenção os dados, diversas incongruências começaram a aparecer - informações que não coincidiam com o que diziam outros pesquisadores da área, por exemplo. As razões para isso ficaram mais claras depois que tiveram início as idas a campo. Para ilustrar, será feita aqui a comparação do rol de profissionais registrados no CNES de uma unidade em Suzano e a lista fornecida ao vivo pela gerente da mesma unidade. Aqui, a tabela fornecida pelo CNES foi adaptada, sendo suprimidas as informações que não são de importância para o presente exemplo. O nome dos profissionais também foi suprimido, para preservar o anonimato dos entrevistados. ! ! ! 9 Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, ou CNPJ, é um número de registro que permite, no caso dos médicos, vincular a cada indivíduo uma série de informações trabalhistas, o que auxilia na identificação de violações dos parâmetros legais para o exercício da profissão. 44 Tabela n.1: Consulta CNES, Profissionais por Estabelecimento, Exemplo CBO AUXILIAR DE ENFERMAGEM CIRURGIAO DENTISTA CLINICO GERAL MEDICO PEDIATRA MEDICO PEDIATRA PSICOLOGO CLINICO MEDICO CLINICO PSICOLOGO CLINICO AUXILIAR DE ENFERMAGEM ENFERMEIRO PSICOLOGO CLINICO MEDICO GINECOLOGISTA E OBSTETRA AUXILIAR EM SAUDE BUCAL AUXILIAR DE ENFERMAGEM FARMACEUTICO TECNICO EM FARMACIA CIRURGIAO DENTISTA CLINICO GERAL FONOAUDIOLOGO AUXILIAR EM SAUDE BUCAL ENFERMEIRO TECNICO EM FARMACIA CIRURGIAO DENTISTA CLINICO GERAL AUXILIAR DE ENFERMAGEM CIRURGIAO DENTISTA CLINICO GERAL Vinculacao VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO Tipo ESTATUTARIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO ESTATUTARIO CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO ESTATUTARIO CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO Subtipo SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO 45 AUXILIAR DE ENFERMAGEM TECNICO EM FARMACIA CIRURGIAO DENTISTA CLINICO GERAL TECNICO EM FARMACIA MEDICO PSIQUIATRA FONOAUDIOLOGO TECNICO EM SAUDE BUCAL MEDICO CLINICO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO VINCULO EMPREGATICIO EMPREGO PUBLICO CLT ESTATUTARIO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO SEM SUBTIPO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO ESTATUTARIO CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO Fonte: CNES, 2013 CBO: Classificação Brasileira de Ocupações A informação que interessa, nesse caso, é o tipo e subtipo de vínculo empregatício - é no subtipo que deveria aparecer “intermediado por Organização Social”, informação que seria usada para determinar quais municípios do estado tinham alto grau de contratação via OSS10 na Atenção Básica. A tabela 1, em síntese, informa que trabalham, no estabelecimento, 36 profissionais, sendo as suas vinculações do tipo “Contrato por Prazo Determinado” (quatro pessoas), “Emprego Público” subtipo CLT (1 pessoa) e “Estatutário” (31 pessoas). A comparação com o relato da gerência do estabelecimento deixa clara a dimensão do problema com os dados: “São 33 funcionários. Temos dois médicos (clínico geral): um é concursado e o outro contratado (CLT – Prefeitura); uma médica pediatra concursada; uma ginecologista contratada (CLT – Prefeitura); um psiquiatra contratado pela SPDM e duas psicólogas (uma delas é da SPDM e a outra é concursada). Temos também uma fonoaudióloga concursada. Todos os enfermeiros são concursados e dentre os auxiliares de enfermagem, um é concursado e o outro é da SPDM. Os dentistas são todos concursados. Dos sete auxiliares administrativos, quatro são da SPDM. Dos três auxiliares de limpeza, dois são concursados e um é de 10 Sou grato ao Felipe Szabzon, meu colega no Cebrap, pela idéia de usar a frequência de cada tipo de vínculo empregatício como proxy para o percentual de contratação de cada município. Ademais, foi o Felipe quem organizou o banco de dados e montou o dicionário, viabilizando os levantamentos feitos, de forma que sou duplamente grato. 46 uma empresa terceirizada (Pioneira). A equipe é bastante variada em termos de tipos de vínculo.” (Entrevista com G3, gerente do equipamento) O cômputo do gerente do equipamento nos informa que há 33 funcionários no local, sendo: um terceirizado (vinculação “Autônomo”, tipo “Intermediado por Empresa Privada”, sem subtipo); dois contratados pela prefeitura em regime CLT (tipo “Emprego Público”, subtipo CLT); sete contratados pela Organização Social de Saúde SPDM (vinculação “Autônomo”, tipo “Intermediado por Organização Social”, sem subtipo); e o restante, aparentemente, concursados (tipo “Estatutário”, sem subtipo). ! Tabela n. 2 : Qualidade dos dados do CNES - Exemplo de Equipamento Categoria CNES Gestor Contrato por Prazo Determinado 4 0 Intermediado por OS 0 7 Emprego Público CLT 1 2 Estatutário (Concursado) 31 23 Terceirizado 0 1 TOTAL 36 33 Fontes: CNES e elaboração própria a partir de entrevista ! A Tabela n. 2 deixa claro que há uma grande diferença entre os dados alimentados no CNES e aquilo que encontramos na realidade. Fazendo o mesmo exercício para os diversos equipamentos, e perguntando sobre o preenchimento dos dados, foi possível compreender que o preenchimento correto de todos os dados que deveriam constar no CNES ainda não é considerado uma prioridade nos municípios 47 de médio porte do estado de São Paulo. Muitas vezes as pessoas responsáveis por preencher as fichas não sabem como fazê-lo corretamente (caso mais frequente quando as fichas são preenchidas nas unidades), ou então estão distantes da realidade do equipamento (quando o CNES é alimentado pela SMS). Em ambos os casos, não há cobrança ou punição para o mau preenchimento, nem incentivo para o bom preenchimento. O importante, como foi dito, é ter os profissionais registrados com seu CNPJ e sua carga horária. Nas primeiras duas linhas da Tabela 2 aparece uma indicação de outro problema, que fica mais evidente ao repetir o exercício de comparação para outros equipamentos do município de Suzano: dentre os contratados via OSS, os médicos são registrados algumas vezes como “Contrato por Prazo Determinado” e outras como “Autônomo, Contratação Intermediada por OS”, enquanto os outros profissionais da saúde são registrados como “Emprego Público, CLT”. ! 3.3.1) Sistema de Informação da Atenção Básica - SIAB Cabe, aqui, deixar uma explicação sobre outro sistema de informação da saúde pública que talvez possa ser usado em algum estudo, mas cujo emprego não era viável nessa pesquisa. Trata-se do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), que é alimentado sobretudo pelos equipamentos onde há PSF/ESF. Ele foi desenhado para permitir que as unidades e os municípios acompanhem sua produção (número de visitas, procedimentos e consultas realizados por profissional por mês) e alguns indicadores prioritários (número de gestantes, recém-nascidos, crianças, diabéticos e hipertensos na população). Assim, o conjunto de dados disponível no SIAB é bem diferente do que existe no CNES, tendo mesmo uma outra função. Para o presente 48 estudo, os dados do SIAB não são de grande interesse, mas seriam úteis, por exemplo, para traçar séries históricas sobre a produtividade dos equipamentos e profissionais, ou compará-la entre municípios. É preciso, também, destacar que, a julgar pelo que pode ser observado em campo e conversado nas entrevistas, os dados do SIAB, como os do CNES, têm sérios problemas de confiabilidade, ainda que a tendência seja, claramente, de melhora. Diferentemente do CNES, o SIAB não pode ser acessado pelo público, por conter informações sigilosas dos pacientes. Assim, uma pesquisa com o SIAB exigiria um compromisso (e um risco legal) que a maioria das SMS provavelmente gostaria de evitar, a julgar pela resistência que foi encontrada para realizar esta pesquisa (que nem chega a lidar com dados de paciente, que são os mais sensíveis e protegidos pela lei). Por fim, é interessante destacar que existe um projeto em curso para substituir o SIAB por outro sistema informacional, chamado e-SUS. Em 2013, esse sistema estava sendo implementado de forma experimental no município de São Bernardo do Campo, SP, onde já funciona, desde 2002, o sistema Hygia, considerado o mais avançado do país. O Hygia foi criado dentro do município, por gestores com vasta experiência na rede de AB, e é avaliado de forma muito satisfatória pelos gerentes de equipamentos (que, por contraste, consideram o SIAB muito ruim). Assim, é possível que, nos próximos anos, com a implementação do e-SUS, um sistema de informações melhor surja e possa ser empregado por pesquisadores na área da saúde pública. ! ! ! ! 49 3.4) Acompanhamento e Análise de Notícias Foi feito um acompanhamento das notícias nos anos de 2012 e 2013 em três11 dos principais jornais do estado de São Paulo sobre contratos e convênios municipais no setor da saúde com Organizações Sociais de Saúde. Foram encontradas notícias tratando de convênios e contratos da SPDM em 2013; sobre as parcerias da Prefeitura de Suzano com a SPDM; sobre convênios da Prefeitura de Suzano com outras entidades privadas sem fins lucrativos; e editoriais sobre as OSS e sua atuação no estado de São Paulo. A análise dessas notícias permitiu verificar que o convênio com a SPDM existente em Suzano em 2013 não difere de forma significativa de outras parcerias sendo travadas entre poder público e entidades privadas sem fins lucrativos no estado de São Paulo: os veículos estudados retratam a parceria em Suzano e outras parcerias dos municípios de São Paulo de forma praticamente idêntica. Não há nenhuma característica na forma de a mídia descrever a parceria de Suzano que difira das descrições empregadas para outros municípios e mesmo para as parcerias do governo estadual. Assim, esse acompanhamento de notícias permite fazer um tipo de controle e garantir que o caso estudado não é uma exceção. Foi feita uma seleção representativa das notícias publicadas sobre o tema nos anos de 2012 e 2013, que se encontra no item 7 dessa pesquisa. ! 3.5) Categorias de Análise das Entrevistas em Equipamentos As entrevistas foram desenvolvidas em torno de alguns temas que haviam sido identificados como centrais para a análise do objeto a ser estudado. Após serem finalizadas as entrevistas, procedeu-se à criação de categorias para a classificação do 11 Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e Valor Econômico 50 resultado. Toda análise implica na classificação de um conteúdo em categorias, seja essa classificação implícita ou explícita. As categorias implicam sempre na relação de, no mínimo, duas características (“Quais elementos do grupo A possuem a caractrística Z?”, por exemplo), e podem ser de tipo finito (A ou B; sim ou não) ou graduado (valores em uma escala contínua). As categorias que classificam o conteúdo também podem ser exclusivas ou não-exclusivas (FRANKS, 1996). Para a análise do conteúdo das entrevistas, foram empregadas categorias finitas (entre duas e cinco respostas exclusivas ou não-exclusivas para cada questão) desenhadas após a realização das entrevistas para facilitar a compreensão do seu conteúdo. Cada um dos seis blocos temáticos de perguntas do roteiro é composto por alguns temas centrais, cuja caracterização foi traduzida em termos de categorias de análise para codificar as respostas. Além dos seis blocos, havia um bloco introdutório (“Trajetória do entrevistado”) que servia para informar o restante das perguntas - por exemplo, se um entrevistado conhecia outros equipamentos do município, pedia-se que ele comparasse os equipamentos. ! Bloco 1: Características do Equipamento e da População B1.Questão 1: Qual o tamanho do equipamento? B1.Q1.Categoria 1: Grande (atende mais de 4000 pacientes) B1.Q1.C2: Pequeno (atende até 4000 pacientes) ! B1.Q2: Qual o tipo de território? B1.Q2.C1: Urbano central B1.Q2.C2: Urbano periférico 51 B1.Q2.C3: Rural pobre (sítio) B1.Q2.C4: Rural rico (subúrbio) ! B1.Q3: Quais os tipos de contratação presentes? (categorias não exclusivas) B1.Q3.C1: OSS B1.Q3.C2: Prefeitura, estatutário B1.Q3.C3: Prefeitura, CLT B1.Q3.C4: Terceirizado B1.Q3.C5: Outros ! B1.Q4: O quadro de funcionários está completo ou incompleto? B1.Q4.C1: Completa B1.Q4.C2: Incompleta ! B1.Q5: A rotatividade de funcionários é alta, média ou baixa? B1.Q5.C1: Alta B1.Q5.C2: Média B1.Q5.C3: Baixa ! Bloco 2: Relação com a comunidade de usuários e outros atores sociais B2.Q1: Como o entrevistado avalia a qualidade da comunicação com os usuários? B2.Q1.C1: Boa B2.Q1.C2: Ruim ! 52 B2.Q2: Existe Conselho Gestor em atividade no equipamento? B2.Q2.C1: Sim B2.Q2.C2: Não ! B2.Q3: Existem outros canais institucionalizados para comunicação direta do equipamento com usuários (e vice-versa)? B2.Q3.C1: Sim B2.Q3.C2: Não ! B2.Q4: Ocorre comunicação do equipamento com usuários (e vice-versa) por meio de outros órgãos (ex.: Ouvidoria) ou atores (ex.: vereadores)? B2.Q4.C1: Sim B2.Q4.C2: Não ! B2.Q5: Como o entrevistado avalia a qualidade da participação dos usuários na tomada de decisões e gestão do equipamento? B2.Q5.C1: Boa B2.Q5.C2: Ruim ! B2.Q6: A gerência do equipamento interage com outros atores ou organizações sociais locais? B2.Q6.C1: Sim B2.Q6.C2: Não ! 53 Bloco 3: Gestão do equipamento: B3.Q1: Gerência tem alguma autonomia para tomar decisões sobre os processos internos de trabalho do equipamento? B3.Q1.C1: Sim B3.Q1.C2: Não ! B3.Q2: Gerência tem alguma discrição orçamentária? B3.Q2.C1: Sim B3.Q2.C2: Não ! B3.Q3: Gerência tem meios para contratar e demitir? B3.Q3.C1: Sim B3.Q3.C2: Não ! B3.Q4: Gerência faz uso de avaliação e incentivos? B3.Q4.C1: Sim B3.Q4.C2: Não ! Bloco 4: Indicadores de saúde e dados de produção B4.Q1: Entrevistado e sua equipe controlam os gastos e o consumo de material (input) do equipamento? B4.Q1.C1: Sim B4.Q1.C2: Não ! 54 B4.Q2: Entrevistado e sua equipe trabalham com metas quantitativas de produção (output)? B4.Q2.C1: Sim B4.Q2.C2: Não ! B4.Q3: É feita avaliação qualitativa sobre o trabalho (outcomes)? B4.Q3.C1: Sim B4.Q3.C2: Não ! B4.Q4: Entrevistado conhece os índices epidemiológicos da população e parâmetros municipais? B4.Q4.C1: Sim B4.Q4.C2: Não ! B4.Q5: Uso do sistema de informação (SIAB) para avaliação e planejamento B4.Q5.C1: Sim B4.Q5.C2: Não ! Bloco 5: Relação com Secretaria Municipal de Saúde B5.Q1: Qualidade do apoio técnico B5.Q1.C1: Suficiente B5.Q1.C2: Insuficiente ! ! 55 B5.Q2: Qualidade do apoio material B5.Q2.C1: Suficiente B5.Q2.C2: Insuficiente ! B5.Q3: Qualidade do apoio político-administrativo B5.Q3.C1: Suficiente B5.Q3.C2: Insuficiente ! Bloco 6: Relação com o restante da rede de saúde B6.Q1: Como o entrevistado avalia a qualidade do atual sistema institucional de encaminhamentos? B6.Q1.C1: Boa B6.Q1.C2: Ruim ! B6.Q2: O entrevistado (ou seu equipamento) envia e recebe contrareferências regularmente? B6.Q2.C1: Sim B6.Q2.C2: Não ! B6.Q3: Como o entrevistado avalia a qualidade dos canais institucionais para o encaminhamento de pacientes e o envio de contra-referências? B6.Q3.C1: Bons B6.Q3.C2: Ruins ! 56 3.6) Análise das entrevistas na SMS e da reunião do CMS A análise das quatro entrevistas (totalizando cinco entrevistados) realizadas na SMS seguiu uma lógica diferente das entrevistas em equipamentos. pois cada uma trataou de um assunto, visto que os profissionais tinham funções muito diferentes dentro do órgão. Assim, sua análise não foi baseada em categorias finitas, e sim na aproximação das informações apresentadas com os cenários descritos na literatura acadêmica sobre os assuntos pertinentes. Essas interpretações foram usadas para informar a análise das entrevistas realizadas em equipamento e da observação participante no CMS. A reunião do CMS que foi acompanhada foi interpretada da mesma forma que as entrevistas na SMS. As interpretações dessas entrevistas e da reunião do CMS estão expostas em vários pontos do item 4 dessa dissertação, e algumas delas foram descritas em bloco no item 4.4.2. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 57 4) ESTUDO DE CASO 4.1) Suzano: População e Território População Com 210.000 habitantes, Suzano é um município de porte médio. Decidiu-se, nesta dissertação, por estudar um município de porte médio pois avaliou-se que implementar políticas públicas efetivas nesses municípios é uma forma muito eficiente de atingir positivamente um contingente muito expressivo da população. A razão para essa avaliação reside na distribuição da população brasileira (e também da população paulista) em faixas de municípios por porte populacional: muito pequenos, pequenos, médios e grandes. Por serem os municípios de porte médio poucos em número e comportarem grande contingente populacional, melhorias na gestão dos municípios médios têm um grande potencial de impacto positivo, como explica-se a seguir. Promover mudanças na gestão pública é algo difícil e custoso. Para cada município em que se queira aprimorar a saúde pública – seja seu porte populacional muito pequeno, pequeno, médio ou grande – é necessário um grande investimento de tempo e recursos humanos, técnicos e financeiros. É certo que, quanto maior a população do município, mais custoso será o processo de melhorar sua rede de saúde. No entanto, melhorar a rede de saúde de qualquer municípios, independente de seu porte, implica em um custo-base bastante alto, que é proporcionalmente menor nos municípios de maior porte populacional. Esse custo base está associado: ao treinamento intensivo dos profissionais da saúde para adequarem-se ao PSF; à aquisição de equipamentos de informática; à formação dos funcionários em 58 informática para que o sistema possa ser informatizado; à criação de uma rede municipal com dados sobre a saúde municipal. Formar os profissionais da Atenção Básica e informatizar as redes de prontuários e encaminhamentos são duas etapas particularmente desafiadoras desse processo, pois requerem muitas horas de trabalho de profissionais qualificados, e o Brasil hoje tem um notório déficit de mão-de-obra qualificada - que vem sendo chamado por muitos analistas do mercado laboral de “apagão da mão-de-obra“. Dada essa limitação de recursos, a proposta de investir prioritariamente na modernização das redes de saúde de municípios médios surge como uma boa solução: investe-se num número pequeno de prefeituras, mas atinge-se um contingente grande da população. Para melhor visualizar essa relação, foram elaboradas as tabelas apresentadas em seguida. Os municípios médios, apesar de não serem muito numerosos no Brasil (ver tabela 1) ou no estado de São Paulo (tabela 2), comportam cerca de 26% da população brasileira (tabela 1) e 32% da população do estado de São Paulo (tabela 2). São 66 municípios no estado de São Paulo com população entre 100.000 e 500.000 habitantes12. ! ! ! ! ! ! 12 Estimativa Populacional IBGE, Diário Oficial da União, jul. 2012. 59 ! Tabela 3: Municípios Brasileiros, por porte e contingente Faixa Populacional Número de Municípios Percentual de Municípios do País População do Grupo (milhares de habitantes) Percentual da População do País < 20.000 3896 69.95 32592 16.80 20.000 a 100.000 1381 24.79 54490 28.09 100.000 a 500.000 250 4.49 50140 25.85 > 500.000 38 0.68 56755 29.26 Fonte: Estimativa Populacional IBGE, Diário Oficial da União, jul. 2012 ! Tabela 4: Municípios Paulistas, por porte e contingente Faixa Populacional Número de Municípios Percentual de Municípios do Estado População do Grupo (milhares de habitantes) Percentual da População do Estado < 20.000 396 61.4 3063 7.31 20.000 a 100.000 174 27.0 7541 18.00 100.000 a 500.000 66 10.2 13590 32.43 > 500.000 9 1.4 17708 42.26 Fonte: Estimativa Populacional IBGE, Diário Oficial da União, jul. 2012 ! ! ! ! 60 Território Suzano é parte da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), uma conurbação de 39 municípios que somam mais de 20 milhões de habitantes – metade da população do estado de São Paulo, e mais de 10% da população do Brasil 13. O município se encontra no setor sudeste da RMSP (ver figura 1), no Alto Vale do Tietê. No centro de Suzano há uma estação da rede ferroviária da RMSP, que permite que muitos moradores de Suzano trabalhem na capital e desloquem-se de forma rápida e barata (em junho de 2013, a viagem até o centro de São Paulo dura cerca de 90 minutos e custa R$3,00). ! Figura 1: Imagem cartográfica dos municípios da RMSP Fonte: CONISUD - Consórcio Intermunicipal da Região Sudoeste da Grande São Paulo ! 13 Estimativa Populacional IBGE, Diário Oficial da União, jul. 2012. 61 Figura 2: Imagem cartográfica da RMSP, com destaque para Suzano Fonte: Base Cartográfica Digital Google, INEGI, MapLink, 2013 ! O território de Suzano é cortado em seu ponto mais estreito pela linha férrea da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que corre num vale parcialmente alagado por brejos. Este vale e a linha férrea dividem o território de Suzano entre norte (distrito de Rio Abaixo) e sul (centro e distrito de Palmeiras). O distrito de Rio Abaixo, tem características de periferia urbana; no centro fica efetivamente o centro comercial da cidade, região mais densamente ocupada e provida de infra-estrutura e serviços; e ao sul fica o distrito de Palmeiras, numa área muito mais extensa que a dos outros dois distritos, povoada de forma bastante esparsa, com relativamente pouca infra-estrutura e serviços, e cuja ocupação é um mosaico de bairros rurais e bairros de periferia urbana. 62 ! Figura 3: Croqui sobre imagem cartográfica dos três distritos de Suzano ! ! ! Legenda: A - Centro de Suzano Fonte: Base Cartográfica Digital Google, INEGI, MapLink, 2013 63 O distrito de Rio Abaixo, em comparação com o centro, é mais sujo, desorganizado, precário, há menos coleta de lixo, as calçadas são piores, o comércio é mais popular, os bens e serviços consumidos são de qualidade inferior, e nota-se muita auto-construção. Fora das avenidas principais, tem todas as características de uma periferia urbana: ruas de terra, sem calçada, predominância de auto-construção, esgoto a céu aberto, terrenos baldios acumulando entulho e lixo, loteamento e ocupação irregulares, construções em área de risco. ! Figura 4: Croqui sobre imagem aérea de Rio Abaixo ! Legenda: 1- Terreno baldio com entulho e lixo, evidência de serviço de coleta de lixo insuficiente 2- Vias sem pavimentação ou calçamento 3 - Terrenos baldios, sugerindo ocupação irregular dos terrenos e insegurança jurídica dos moradores Fonte: Bases Cartográficas Digitais Terrametrics 2013 e Google, MapLink, 2013 O território do distrito de Palmeiras é uma curiosa combinação de periferia urbana e zona rural. É uma área extensa, uma planície fértil, atravessada pela rodovia Índio Tibiriçá, que liga Suzano e os outros municípios do leste do Vale do Tietê (Poá, 64 Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Santa Isabel e Arujá) ao complexo viário Imigrantes-Anchieta – uma dupla de rodovias que fazem a ligação principal entre a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e o porto de Santos, que é o maior complexo portuário da América do Sul, por onde circula parte importante do volume de mercadorias importadas e exportadas pelo Brasil. ! Figura 5: Croqui de rodovias sobre imagem cartográfica da RMSP e Suzano Legenda: A-B: Rodovia Índio Tibiriçá B-C: Rodovia Anchieta Fonte: Base Cartográfica Digital Google, MapLink, 2013 !! !! !! !! !! !! !! 65 Figura 6: Croqui de rodovias sobre imagem aérea da RMSP e Suzano ! Legenda: A-B: Rodovia Índio Tibiriçá B-C: Rodovia Anchieta Fonte: Bases Cartográficas Digitais Terrametrics 2013 e Google, MapLink, 2013 Há diversas indústrias instaladas ao longo da rodovia Índio Tibiriça; a localização tem como vantagens (1) o acesso relativamente fácil ao mercado consumidor da RMSP e ao porto de Santos, canal de importação e importação; e (2) muito espaço à venda por preços relativamente baixos. A principal desvantagem é a má qualidade da infra-estrutura (inclusive a viária) e serviços. A oferta de trabalho nessas indústrias é, provavelmente, a razão para terem formado-se bairros com características de periferia urbana nessa zona relativamente distante dos centros urbanos da RMSP, com poucos serviços e infra-estrutura, e que mantém diversas características de zona rural. ! 66 Figura 7: Imagem cartográfica de Palmeiras e Rodovia Índio Tibiriçá Legenda: A- Centro de Suzano A- Início da Rodovia Índio Tibiriçá Fonte: Base Cartográfica Digital Google, MapLink, 2013 67 Figura 8: Imagem aérea de Palmeiras e Rodovia Índio Tibiriçá Legenda: A- Centro de Suzano A- Início da Rodovia Índio Tibiriçá Fonte: Bases Cartográficas Digitais Terrametrics 2013 e Google, MapLink, 2013 68 Figura 9: Croqui sobre imagem aérea de Palmeiras e Rodovia Índio Tibiriçá ! Legenda: 1- Indústria 2- Bairro com características de periferia urbana 3- Plantações de pequeno porte, características de agricultura familiar Fonte: Bases Cartográficas Digitais Terrametrics 2013 e Google, MapLink, 2013 !! !! !! !! !! !! !! !! !! !! !! !! !! !! !! 69 ! 4.2) A Rede de Saúde Municipal de Suzano A rede de Atenção Básica municipal de Suzano é composta de 21 Unidades Básicas de Saúde (UBSs), sendo dez delas UBSs tradicionais, 10 UBSFs (Unidades Básicas de Saúde da Família, ou seja, UBSs em que foi implementado o Programa de Saúde da Família, o PSF) e uma UBS mista, onde funciona tanto uma UBS tradicional quanto um conjunto de Equipes de Saúde da Família. Mais adiante, a função e o funcionamento das unidades dentro da rede de saúde municipal de Suzano será descrito. É necessário, antes de prosseguir, esclarecer apenas mais um ponto: antes de uma UBSF ser implementada, é criado um PACS: Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Trata-se de uma unidade provisória que mapeia as necessidades da comunidade local e identifica potenciais Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para atuarem na futura UBSF. Assim, o único PACS existente atualmente em Suzano (PACS Suzanópolis) é, em algumas passagens dessa dissertação, contabilizado como uma UBSF, apenas para efeito de simplificação das descrições. No nível médio de complexidade, Suzano conta com apenas um Ambulatório de Especialidades, para onde são encaminhados todos os pacientes que precisam ser atendidos por médicos especialistas não disponíveis nas UBS. Os serviços de ProntoAtendimento e Pronto-Socorro municipais de Suzano são realizados em três unidades, uma em cada distrito da cidade. Na Saúde Hospitalar (alta complexidade), Suzano não tem, no momento, nenhum equipamento público – municipal, estadual ou federal. O que existe nesse nível hierárquico, em termos de serviço gratuito para a população, é disponibilizado 70 pela Santa Casa de Misericórdia, uma Entidade Filantrópica com longo histórico de atuação no estado de São Paulo. A relação entre a Santa Casa e os governos estadual e municipal é bastante complexa, tanto em termos de gestão quanto de financiamento. A prefeitura de Suzano, apesar de não ter poder de gestão sobre as atividades da Santa Casa, repassa grandes somas de seu próprio orçamento de saúde para a mesma. Tratase de um arranjo bastante improvisado, em que interesses públicos e privados se misturam de forma pouco clara. Assim, o tema da saúde hospitalar de Suzano não será discutido, e esta dissertação trata apenas da Atenção Básica e, marginalmente, da Média Complexidade. Outros equipamentos e serviços de saúde da rede municipal de Suzano que não serão explorados aqui incluem os Centros de Atenção Psico-Social (CAPS) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). ! Tabela n. 5: Equipamentos Municipais de Saúde Tipo de Equipamento Número de Unidades UBS tradicional 12 (incluindo 1 unidade mista, e uma unidade que também funciona como pronto-socorro aos finais de semana) UBSF 9 (incluindo 1 PACS) Ambulatório de Especialidades 1 Pronto-Atendimento 1 71 Tipo de Equipamento Número de Unidades Pronto-Socorro 2 (um infantil e um para adultos) Farmácia 3 Laboratório 1 Fisioterapia 1 CAPS - Centro de Atenção PsicoSocial 3 (sendo 1 voltado para álcool e drogas - CAPS-AD) Fonte: Elaboração própria ! 4.3) Os Tipos de Unidade Básica de Saúde Até 2006, não existiam em Suzano UBSFs, pois o PSF ainda não havia sido implementado. A rede de atenção básica era totalmente baseada nas UBSs tradicionais. A partir de 2006, a prefeitura começou a mapear as áreas mais carentes de serviços de saúde na cidade e organizar os PACS, que viriam a se tornar UBSFs. A implementação do PSF foi feita pela SPDM - Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina. Trata-se de uma OSS ligada à Universidade Federal do Estado de São Paulo - UNIFESP, com atuação em diversos municípios da RMSP e em todos os níveis hierárquicos. Portanto, nos últimos sete anos a rede de saúde de Suzano mudou bastante, tendo a sua expansão se concentrado em UBSFs em zonas particularmente carentes. O PSF, como foi explicado no capítulo dois, tem um programa muito claro, tanto em 72 termos de gestão quanto de metas de produção. O mesmo não pode ser dito sobre a rede de UBSs tradicionais, que sempre foram operadas conforme a Secretaria municipal de Saúde achava mais adequado, de acordo com os recursos disponiveis. Isso criou, na pratica, uma situação que se assemelha à de duas redes de Atenção Básicas paralelas, cada uma com um funcionamento. Isso pôde ser observado claramente ao visitar as unidades e entrevistar os gestores. As UBSFs estão todas caminhando na mesma direção, estabelecida pelas políticas nacionais de saúde: implementação do PSF, resultando em priorização da prevenção e diálogo com a comunidade. Já as UBSs tradicionais que restaram no município parecem, em comparação, estar sem uma direção clara, com seus gerentes procurando atender à demanda da melhor forma que podem, mas sem uma política de saúde norteadora. Notou-se, ainda, que algumas das UBSs funcionam como pequenas clínicas de especialidades, reunindo dezenas de médicos especialistas e atendendo moradores de todo o município; há uma UBS que também funciona (durante os finais de semana) como Pronto-Atendimento de referência em seu distrito (Rio Abaixo); por fim, a UBS com mais problemas de gerenciamento é a que reúne, no mesmo edifício os dois tipos de unidade, UBS e UBSF. Nessa unidade, a incongruência dos dois tipos de Atenção Básica fica mais evidente, pois a parcela da população que tem o PSF se queixa da falta de médicos especialistas (que só atendem a UBS tradicional), enquanto os pacientes da UBS tradicional não entendem por que não recebem as visitas domiciliares e a atenção da equipe de saúde da família. ! ! ! 73 4.4) Trabalho de Campo e Resultados 4.4.1) Secretaria Municipal de Saúde Após a pesquisa e seus objetivos terem sido apresentados à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Suzano e aprovados pela mesma, pediu-se que a SMS indicasse algumas Unidades Básicas de Saúde para serem estudadas, e que o conjunto de unidades fosse representativo da diversidade de unidades do município. A partir da pesquisa bibliográfica e consulta das bases de dados do CNES, parecia que seria suficiente, para entender a rede de Atenção Básica municipal de Suzano, visitar apenas seis unidades: uma UBS tradicional e uma UBSF em cada distrito. No entanto, a SMS indicou 12 unidades: 9 UBSs (entre tradicionais e com PSF) e outros três estabelecimentos que complementam a rede de Atenção Básica de Suzano - o Pronto Socorro (PS) para adultos, o Ambulatório de Especialidades e a unidade de Pronto Atendimento (PA) de Palmeiras. Tabela n. 6 - Estabelecimentos de Saúde Visitados Nome Tipo Distrito Ambulatório de Especialidades Ambulatório Centro C.S. II UBS Centro Pronto Socorro Pronto Socorro Centro UBS Palmeiras UBS Palmeiras P.A. Palmeiras Pronto Atendimento Palmeiras Jardim Maitê UBSF Palmeiras Jardim do Lago UBSF Palmeiras Jardim Ikeda UBSF Palmeiras Jardim São José UBSF Rio Abaixo 74 Nome Tipo Distrito Jardim Alterópolis UBS e UBSF (mista) Rio Abaixo Eduardo Nakamura UBSF Rio Abaixo Boa Vista UBS e Pronto Atendimento Rio Abaixo Fonte: Elaboração própria ! A sugestao da SMS acabou sendo bem-vinda pois a compreensão da rede de saúde teria ficado muito prejudicada sem entrevistar os gerentes do Ambulatório, PA e PS. ! 4.4.2) Relatos de Gestores da SMS Nesta seção, serão relatadas algumas observações de gestores de saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Suzano feitas durante as conversas iniciais que o pesquisador teve ao apresentar os objetivos pesquisa para a SMS. ! 4.4.2.1) A Implementação do PSF Os municípios todos vão ter que se contratualizar. PSF era um programa e, por isso, as prefeituras eram obrigadas a gerir indiretamente. Ou seja, contratualizar os serviços. Agora que ele virou uma estratégia, a recomendação federal é que os municípios passem a contratar e gerir as unidades básicas de saúde diretamente. Contratar diretamente ao menos os agentes comunitários de saúde. Na visão dos gestores, as contratualizações que têm sido realizadas tanto em Suzano quanto em outros municípios da região - estão muito mais ligadas à facilidade de contratação de recursos humanos do que à gestão conjunta das políticas 75 municipais de saúde. Muitas vezes as entidades privadas são meros contratadorespagadores que trabalham pautados apenas por um mínimo de metas de produção, ou seja, não são co-gestores. Nos contratos de gestão, está prevista uma pactuação com mais envolvimento e metas, mas a prática não é assim. ! 4.4.2.2) A Santa Casa O caso da Santa Casa de Misericórdia é particularmente intricado: este equipamento, pertencente a uma Entidade Filantrópica, está funcionando atualmente com recursos da prefeitura, em um sistema de contratualização improvisado, desde que sua operação normal foi interrompida por uma intervenção contábil por parte do poder público. Num esforço de corrigir essa situação, a prefeitura de Suzano está tentando implementar em sua relação com a Santa Casa um controle por metas de produção. A implicação da prefeitura no serviço de saúde hospitalar, prestado pela Santa Casa, deveu-se ao fato de que o único outro equipamento de alta complexidade do município, um hospital privado, fechou as portas na mesma época em que a Santa Casa sofreu a intervenção. ! 4.4.2.3) O PMAQ O PMAQ - Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica, é um programa federal vinculado ao PSF e que começou a ser implementado em 2011. Com financiamento do MS, o PMAQ pagaria bônus (de até 100% sobre a remuneração dos profissionais) para as equipes que produzissem melhoras nos indicadores de saúde das populações que atendem. Dessa forma, o MS monitoraria consistentemente a população atendida pelo PSF usando uma série de 76 indicadores de saúde produzidos pelas equipes e UBSFs, ao mesmo tempo que se avaliaria e remuneraria o trabalho na ponta do SUS de acordo com sua efetividade. Contudo, foi informado na prefeitura que sua implementação não vem sendo seguida à risca. Por um lado, o conjunto de indicadores parece excessivamente grande e complexo para ser reportado consistentemente. Por outro, o dinheiro repassado pelo MS não vai direto para as equipes, como previsto; em vez disso, chega ao município junto com o resto do dinheiro da saúde e, assim, perde-se no orçamento geral. ! 4.4.2.4) Repasses No contexto orçamentário, foi feita outra crítica séria pelos gestores não referindo-se a Suzano, mas a outros municípios em que trabalharam. Foi dito que tem havido abuso nos Termos de Ajustamento Sanitário, que permitem que as prefeituras usem dinheiro dos fundos municipais de saúde em outras áreas. Como os repasses automáticos fundo-a-fundo chegam aos municípios pela secretaria de finanças (e não diretamente na saúde), isso facilita o emprego dessa verba em outras áreas. ! 4.4.3) Entrevistas Entre os dias 08/05 e 22/05/2013, foram realizadas 19 entrevistas semiestruturadas com duração média de uma hora em 12 estabelecimentos municipais de Saúde. Foram entrevistados os gerentes dos 12 estabelecimentos e, naqueles para os quais os gerentes haviam sido designados há pouco tempo (de uma semana a quatro meses), foram entrevistados também outros funcionários do estabelecimento com mais tempo de experiência no local. Nesses casos, foram entrevistados 77 preferencialmente os enfermeiros, que têm a melhor circulação entre gerência, administração, equipe médica e população, podendo falar com propriedade sobre mais aspectos do dia-a-dia da unidade. As entrevistas foram conduzidas dando espaço para os entrevistados trazerem os assuntos que lhes parecessem mais relevantes na sequência em que preferissem. A única preocupação do entrevistador era garantir que, em 60 minutos, os oito tópicos (listados a seguir) considerados essenciais fossem comentados pelos entrevistados. Dessa forma, as entrevistas puderam diferir bastante umas das outras no quanto cada assunto foi explorado pelo entrevistado. Isso foi considerado pelo entrevistador como um aspecto positivo da dinâmica das entrevistas, e foi reforçado conforme notou-se que tal dinâmica permitia que cada entrevistado discorresse mais sobre os tópicos de sua expertise ou seu interesse, passando mais rapidamente pelos tópicos com os quais tivesse menos familiaridade ou menos informações ou opiniões. As perguntas foram feitas de forma que os entrevistados falassem não apenas sobre a unidade em que estavam trabalhando no momento da entrevista, mas também sobre outras unidades em que já tivessem trabalhado - o que propiciou diversas reflexões a partir da comparação entre unidades maiores e menores, tradicionais ou com PSF, rurais e urbanas, mais envolvidas ou mais desligadas da comunidade etc. A seguir, os oito tópicos que foram abordados em cada uma das entrevistas, com uma breve listagem dos aspectos que se procurou abordar dentro de cada um. ! ! ! ! 78 Bloco de Introdução: Trajetória Profissional do Entrevistado -Formação profissional, Cargo atual -Experiências anteriores na área da Saúde: que cargos teve; que tarefas estavam envolvidas; rede pública ou privada; em que municípios; em que unidades do município de Suzano; de que nível hierárquico; que tipo de UBS (PSF ou não); em que tipo de bairro/comunidade (violento, carente, periférico, central, mobilizado, politizado, indiferente); em que tipo de infra-estrutura física (precária, suficiente, boa, excelente) -Já participou de experiência de implementação de PSF? Como foi? Em local onde não havia UBS, ou onde já existia uma UBS tradicional? Quais foram os desafios? Que medidas foram bem-sucedidas? ! Bloco 1: Características da Unidade -Tipo: UBS, UBSF, mista, PS, PA, ambulatório, ou com características particulares (‘mini-hospital’) -Tamanho da unidade/equipe; escala da produção; escala da região atendida -Composição do corpo profissional da unidade, em termos de categorias profissionais: médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde, farmacêuticos, cirurgiões-dentistas, auxiliar de saúde bucal, equipe administrativa, equipe de limpeza, equipe de segurança, outros profissionais. -Composição do corpo profissional da unidade, em termos de tipo de contratação: funcionário público concursado, funcionário público CLT, funcionário público contratado temporariamente, autônomo via OSS 79 -Rotatividade dos profissionais: alta, média, baixa? alguma variação por categoria profissional? e por tipo de vínculo trabalhista? a rotatividade prejudica a gestão da unidade? o quadro de funcionários está completo? é difícil conseguir preenchê-lo? ! Bloco 2: Relação com a Comunidade -Informal: na recepção, consultórios, corredores, sala da gerência -Formal: livro de sugestões, ouvidoria da SMS, ouvidoria da Prefeitura -Participação Institucionalizada: Conselho Gestor da Unidade, conselheiros -Outros canais: mídia, Ministério Público, políticos locais (vereadores) -Comunicação com Outras Instituições e Atores Sociais: Associação de moradores, biblioteca comunitária, escolas públicas, comunidade de praticantes de Tai Chi Chuan, Alcoólicos Anônimos e igrejas ! Bloco 3: Gestão da Unidade -Autonomia administrativa; Iniciativas próprias e resultados -Discrição orçamentária -Comunicação com a equipe; Seleção da equipe; discrição na composição do quadro de funcionários, turnos -Avaliação da Equipe ! Bloco 4: Indicadores e Dados de Produção -Planejamento: que ferramentas usa para auxiliar na gestão? Tem dados informatizados sobre os pacientes e a produção? Utiliza o SIAB no dia-a-dia, para 80 planejar as atividades da unidade? Acha útil na gestão? Aderiu ao PMAQ? Acha que os indicadores são bons? ! Bloco 5: Relação com a Secretaria Municipal de Saúde -Apoio técnico: Orientação, treinamento e formação continuada para os profissionais -Apoio material: infra-estrutura física, equipamento médico, material de trabalho, medicamentos, serviços de limpeza, segurança, Tecnologia de Informação (TI), manutenção predial -Apoio político-administrativo: discussão sobre políticas de saúde e sua implementação, diretrizes, metas, avaliação, incentivos ! Bloco 6: Relação com o restante da Rede de Saúde -Referências e contra-referências na rede municipal -Encaminhamentos semi-informais e informais 4.4.4) Discussão dos Resultados Nesta seção serão analisados os resultados das entrevistas, procurando identificar as principais dificuldades e desafios dos gestores, assim como as boas práticas e inovações que poderiam ser disseminadas. As categorias de análise do conteúdo das 19 entrevistas em equipamentos (ver item 3.5) foram usadas para compor o panorama geral da rede de AB do município, e o resultado da análise dessas categorias foi interpretado à luz das informações coletadas nas quatro entrevistas na SMS. Serão apresentadas as reflexões mais abrangentes sobre os dados primários 81 coletados, premeadas de trechos de entrevistas transcritos e comparados para ilustrar algumas das questões apontadas aqui. ! 4.4.4.1) Redes Informais e Gestão de Conhecimento Diversos gerentes de unidades destacaram a importância dessa rede informal de comunicação entre gerentes, dizendo que as reuniões promovidas pela SMS em que os gerentes se encontram para discutir as políticas de saúde municipais têm um papel importante na formação desses vínculos: “V. Você conhece os gerentes das outras unidades? Há um canal de comunicação? G5. Sim, mas quando muda a gestão e muda o governo, mudam as pessoas, porque este cargo é de confiança. Muitos já saíram. Há algumas pessoas com as quais tenho contato. Há pessoas, os “remanescentes” que a gente liga para pedir ajuda em alguma coisa.” (Entrevista com gerente de Unidade Básica) ! Outro elemento crucial para a criação dessa rede é a circulação dos profissionais pelas unidades do município. Profissionais que já trabalharam na mesma unidade sentem-se à vontade para ligarem uns para os outros e procurarem, em conjunto, soluções para seus problemas individuais - até mesmo fazendo empréstimo funcionários e vagas, como se vê nos dois trechos a seguir: “V. Como funciona esse “empréstimo” de funcionários para o P.S? G4. O gerente do P.S liga e solicita funcionário. Geralmente os funcionários são muito colaborativos e temos uma boa pareceria entre P.A e P.S. Já trabalhei com o atual gerente e um ajuda o outro.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G6: Ocorrem trocas entre gerentes via telefone para emprestar funcionário ou solucionar algum tipo de problema na unidade sem precisar passar pela secretaria.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! 82 Os gerentes indicaram que a Secretaria Municipal não se opõe ao funcionamento dessa rede e não interfere no sentido de fiscalizar essas interações. Aparentemente, a atuação da SMS em relação a essa rede é propiciar: (1) encontros entre gerentes nas reuniões de discussão de políticas de saúde distritais e municipais, (2) rodízio de funcionários enter as unidades e (3) que as decisões acordadas entre gerentes (sem a participação da SMS) sejam implementadas. Essa prática dos gerentes (rede informal de apoio) e a reação da Secretaria (não interferir, e apoiar quando é requisitada) condiz bastante com exemplos muito bem sucedidos de gestão de conhecimento. O caso mais conhecido é o da empresa Xerox, publicado na Harvard Business Review na década de 1980. Nesse caso, a rede informal de comunicação entre os funcionários da SMS de Suzano permite que o conhecimento tácito acumulado pelos profissionais circule e se dissemine (POLANYI, 1966). Assim, uma primeira análise sobre a gestão das unidades de saúde de Suzano revela que a autonomia e a articulação dos gerentes reflete-se diretamente na qualidade do serviço das unidades. Para amplificar essas boas práticas, a Secretaria poderia (1) disponibilizar às unidades um pequeno orçamento para solução de problemas pontuais, cujo gasto seria devidamente controlado; e (2) organizar oficinas de difusão de boas práticas gerenciais, como o Protocolo Padronizado, o agendamento quinzenal, as dinâmicas de grupos de morbidade etc. ! 4.4.4.2) Insuficiência do Atual Desenho Institucional O outro aspecto dessa dinâmica positiva de interação e solução de problemas, contudo, é que ela surge da necessidade de resolver uma série de problemas urgentes 83 que os gerentes enfrentam e cuja solução não estava prevista ou devidamente dimensionada pelo sistema de saúde municipal na época em que foi feita a pesquisa. Isso fica claro em diversos trechos de entrevistas, como nos três transcritos a seguir: “G4: Percebo certa resistência dos funcionários em trabalhar no P.S devido ao ritmo intenso de trabalho e ao clima de tensão que é constante devido a enorme demanda. Tudo acaba chegando ao P.S, mesmo casos que poderiam ser resolvidos em UBS ou no P.A. Costumamos ajudar o P.S enviando funcionários daqui para trabalhar por alguns dias a fim de dar conta de toda a demanda que chega.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G5: Na unidade Jd. Alterópolis o papel do gerente se limitava a resolver situações o tempo todo, devido a grande demanda que é maior que aqui. O gerente “apagava fogo” e precisava trabalhar em todos os setores para fazer a unidade funcionar. Enquanto que na unidade Jd. Alterópolis eram coletados sessenta, setenta exame por dia, nesta unidade são coletados vinte, quarenta. Vejo que aqui é possível fazer o papel de gerente. Lá a gente trabalhava na recepção, na farmácia. Aqui é diferente porque a equipe é maior. Tem o mesmo número de auxiliares de enfermagem que tem a outra unidade. As enfermeiras conseguem sair para fazer visitas conforme suas agendas e as auxiliares também. Hoje em dia temos um medico que faz VD (visita domiciliar). Fizemos mudanças na agenda para que o médico possa fazer as visitas uma vez por semana, meio período, aos pacientes acamados.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G5: A gente sabe das dificuldades da população. Se ela nos procura é porque tem necessidade. E quando só se diz não às pessoas que nos procuram...É preciso explicar a eles as nossas dificuldades, os problemas da Unidade e o motivo de não podermos ajudar a todos em suas necessidades. Sabemos que o Dr. Kléber saiu porque sofreu ameaças. Outro médico que também trabalhava aqui foi sequestrado nesta mesma unidade.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! 4.4.4.3) Ferramentas de Gestão Os gerentes entrevistados em UBSFs disseram considerar o SIAB um instrumento útil para: (1) avaliar a produção da Unidade e dos profissionais; (2) conhecer as demandas da população; e (3) planejar as atividades. Nas UBSs tradicionais, o SIAB não parece ter a mesma importância - principalmente porque, não havendo o PSF, a Unidade não tem como conhecer a população a que atende e, assim, se planejar de acordo com uma estimativa da demanda. Assim, uma sugestão 84 que surgiu nas entrevistas é que um instrumento como o SIAB deveria ser adaptado para a realidade das UBSs tradicionais. Assim como o SIAB, os indicadores a serem controlados no PMAQ também provocaram reações positivas da parte dos gerentes de UBSFs (o PMAQ destina-se à avaliação de equipes de saúde da família e, por isso, só diz respeito às UBSFs). Todos os entrevistados que participaram da avaliação das equipes feita para o PMAQ disseram que, apesar de terem ficado ansiosos com a possibilidade de serem malavaliados, acharam o processo de avaliação proveitoso para refletir sobre seu trabalho, e falaram com orgulho das avaliações positivas que receberam. Contudo, um aspecto importante daquilo que o PMAQ deveria ser, na proposta do MS, é totalmente desconhecido dos profissionais das UBSFs: o bônus na remuneração. Foi surpreendente verificar que nem os gerente das UBSFs nem os profissionais das equipes tinham consciência de que, dentro do PMAQ, haveria um bônus para as equipes que conseguissem melhorar os indicadores de saúde da sua população - bônus que pode chegar a 100% da remuneração padrão. A maioria dos entrevistados não tinha nem ouvido falar desse aspecto do programa, e os que ouviram falar tinham a impressão de que a informação era falsa ou incerta. Isso condiz com o que foi relato sobre o PMAQ nas conversas iniciais na SMS. Quanto a avaliações de profissionais (indivíduos ou equipes), o relato dos gerentes é que as avaliações mais eficazes são as informais, que serão descritas mais adiante. As avaliações formais (durante o Estágio Probatório para funcionários concursados, e durante os primeiros três meses de trabalho para os profissionais contratualizados) que o gerente da unidade produz sobre seus funcionários têm pouco efeito. No caso de funcionários concursados, o relato dos entrevistados é de que, por 85 piores que sejam as avaliações, os funcionário não será demitido (se o convívio for impossível, ele será realocado para uma unidade ou função em que não atrapalhe); e, no caso de profissionais contratualizados, a avaliação serve apenas para a SPDM ter algum tipo de controle - nem o gerente e nem o avaliado têm retorno algum sobre a avaliação. No entanto, apesar de as avaliações não produzirem efeito sobre a gerência das unidades nem provocarem reação nos entrevistados, estes responderam, quando estimulados, que seria interessante ter avaliações formais com regularidade, tanto os gerentes quanto para os outros profissionais; alguns dos entrevistados responderam com muito entusiasmo a essa idéia. As avaliações que ocorrem efetivamente nas unidades, assim como as medidas gerenciais tomadas a partir delas, são informais. Os gerentes observam a equipe e tentam melhorar o desempenho através de estratégias pessoais, que variam muito posto que os 12 gerentes entrevistados têm graus de experiência profissional bem distintos. Assim, nota-se que a rede de Atenção Básica de Suzano carece de uma forma institucionalizada de avaliação para os profissionais. Além do pouco uso de avaliações dos profissionais dos equipamentos pelos gerentes, também verificou-se que avaliações sobre a qualidade do trabalho feito nos equipamentos como um todo são raras. Um dos poucos casos mencionados está transcrito a seguir: “V. […] E do ponto de vista da qualidade, tem algum instrumento que vocês usam para avaliar? G2. De qualidade, no momento existe um caderno na recepção de elogios, sugestões, reclamações. E procuro conversar com as pessoas que me procuram na sala... V. Desses dois meios, o caderno de reclamações e a procura pela gerente para conversar, qual desses dois as pessoas usam mais? G2. Geralmente as pessoas me procuram para conversar com mais frequência do que escrevem no caderno.” (Entrevista com gerente de equipamento) 86 ! Além da falta de avaliação qualitativa, também foi possível notar que os gerentes, apesar de não se oporem ao PMAQ e ao SIAB, nem sempre são capazes de tomar para si os dados produzidos nos equipamentos. A falta de parâmetros para o trabalho de gerência das unidades, problema apontado no quesito de avaliação dos profissionais, repete-se em diversos outros segmentos da rede de saúde estudada. Ainda tratando dos profissionais, uma queixa frequente é a falta de treinamento inicial (antes de assumir o posto de trabalho) e de formação continuada. Profissionais de todas as categorias manifestaram interesse em melhorar sua formação participando de cursos e oficinas; alguns o fazem, outros não, e a tendência a investir em sua própria formação parece estar relacionada positivamente a maior estabilidade profissional: responderam ter participado de atividades de formação por iniciativa própria os funcionários concursados e os funcionários da SPDM que estavam há mais tempo contratados. Quanto às ferramentas de gestão, há uma última a mencionar que, no entanto, exige um investimento considerável: a informatização do sistema - que implica na compra e manutenção de computadores e softwares, criação e gerenciamento de uma rede de informação, e treinamento de diversos funcionários em todas as unidades (sendo que tal treinamento teria de se repetir quando houvesse troca de funcionário, o que ocorre com frequência relativamente alta nos cargos não-concursados). A SMS declarou já ter comprado as máquinas e estar se preparando para a informatização. A falta que faz um sistema informatizado apareceu em diversas entrevistas, como na transcrita a seguir: “V. O prontuário é informatizado, não? 87 G1. Não é. O paciente tem um prontuário no posto de saúde que ele frequenta e um aqui. V. No posto de saúde o prontuário também não é informatizado? G1. Também não. A única informatização que temos é um programa de Excel com o nome, telefone dos pacientes e o número do prontuário para localizar, é só por uma questão de localização. Mas as informações não.” (Entrevista com gerente de equipamento) Também foi verificada uma situação em que o gerente, por iniciativa própria, usou os recursos de informática disponíveis em seu equipamento: “G7. Uso dados estatísticos para justificar para a secretaria a demanda. A estatística é produzida pelo faturamento. Cada centro tem sua própria produção estatística: Sala de choque, emergência, setor adulto e infantil. Assim é possível saber quantas pessoas foram internadas. V. Esse sistema já existia? G7. Não. Eu criei um esquema juntamente com um rapaz da informática. E expliquei como deve ser preenchido.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! 4.4.4.3) Relação com a Comunidade A relação da comunidade usuário do SUS com as UBSs, e com o sistema de saúde em geral, foi um dos pontos mais problematizados pelos entrevistados. As queixas mais comuns eram de que as pessoas não entendem o sistema, e não sabem como usá-lo: não entendem a função de cada unidade dentro da rede de saúde, e por isso acabam, com frequência, procurando serviços em unidades onde eles não são oferecidos. Isso aparece em diversas entrevistas, como exemplificado nos trechos a seguir: ! “G1: Por ser uma unidade afastada do centro as pessoas procuravam o local como pronto-atendimento. E em todas as vezes em que isso ocorria a agenda do médico estava completa ou o médico não estava presente naquele momento. A gente se deparava muito com esse problema. Era preciso explicar ao paciente que ele tinha de pegar o ônibus e ir ao pronto-atendimento. Mas para eles é distante, tanto o P.A. de Palmeiras quanto o P.A. do centro.” (Entrevista com gerente de equipamento) “G1: Nessas reuniões [do Conselho Gestor] temos a oportunidade e chances de explicar porque tal coisa funciona ou não e de que modo. Se o usuário entende como é a dinâmica do sistema, ele é capaz de explicar para o outro porque funciona dessa ou daquela maneira. Por exemplo, saber que a unidade básica não é local para onde você vai quando se está com uma diarréia, mas sim para um pronto- 88 socorro. Coisas desse tipo, como diferenciar uma unidade básica, de um prontoatendimento e do pronto-socorro. E até nesta unidade isso ocorre: de pacientes que querem ser atendidos na hora. Então, temos que explicar que aqui não funciona desse modo. Trabalhamos com agendamento de consultas. Logo, podemos usar os conselheiros como multiplicadores dessas informações.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G5: E como a população é carente tem dificuldades de entender que não se pode usar a Unidade como Pronto-Atendimento. Nossa grande dificuldade são as demandas de urgência. Trata-se de uma demanda espontânea e que nem sempre é possível ser atendida na Unidade. Temos dois generalistas que estão sobrecarregados.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G5: Outro fator que gera dificuldades é o fato de lá ser uma Unidade mista. Os usuários não entendem que só podem passar com clínico e não com o médico especialista. Logo, há grandes dificuldades de se trabalhar com PSF em uma unidade que também é tradicional. Os pacientes não aceitam passar pelo generalista. E a grande dificuldade é que na Unidade mista não é possível bloquear essa demanda por um especialista e acho muito difícil trabalhar essa questão com a população.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! A falta de informação é um desafio particularmente difícil de se sobrepor; os relatos de progresso ouvidos vieram de profissionais que passaram alguns anos numa unidade em que a comunicação era uma prioridade da equipe e da gerência. Mais uma vez, viu-se que a atenuação dos problemas teve que partir dos gerentes ou profissionais, por sua iniciativa, e de acordo com suas idéias, experiências e recursos. A SMS, pelo que foi relatado, não desempenho papel importante, e nem o Conselho Municipa de Saúde ou o Conselho Gestor da unidade. Ou seja, os canais oficiais (Conselhos) de comunicação entre comunidade e UBS não são bem usados, e a SMS não tem uma resposta pronta para lidar com essa situação. Esse quadro também foi descrito por diversos dos entrevistados: “G5: A população não procura os conselhos. Suas reclamações e demandas chegam diretamente a mim, ao gerente ou à secretaria. Isso acontece devido à dificuldade de acesso ao conselheiro, que trabalha durante o dia e não está sempre disponível. O local de encontro da população e dos conselheiros é nas reuniões.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! 89 “G3: O conselho gestor não é atuante na unidade. Existe, mas não desempenha sua função junto a população e a unidade. A frequência é baixa nas reuniões e geralmente as demandas tendem a ser mais individuais, e não da população do bairro. Se funcionasse de outra maneira, o conselho poderia esclarecer a população sobre o funcionamento e dinâmica da unidade.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G3: Os conselhos seriam os únicos meios formais de comunicação com a população e como não funciona como deveria, as demandas e as reclamações chegam diretamente na sala da gerencia e aos enfermeiros.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “V: Aqui tem um conselho gestor? ! G2: Sim. Já nos reunimos três vezes. Mas o conselho gestor é um grupo de no máximo cinco pessoas que não fazem ideia do que seja um conselho gestor. Eu nunca participei. A meu ver eles não têm ideia do que seja um conselho gestor de um bairro. Por mais que se tenta colocar a ideia para eles de que é preciso pensar no conjunto, no todo, no bairro. Eles não tem esse olhar.” (Entrevista com gerente de equipamento) Os Conselhos Gestores, na visão unânime dos entrevistados, é baseado corretamente no princípio da participação direta, e traria grandes benefícios caso funcionasse, mas não funciona. Os gerentes e funcionários das UBSs e UBSFs parecem, pelo que disseram nas entrevistas, entender corretamente qual é o papel que o SUS prevê para os Conselhos e conselheiros. No entanto, poucos mostraram qualquer entusiasmo com a idéia de promover os Conselhos, suas reuniões e eleições. Há diversos trechos de entrevistas que exemplificam essa posição: “G1: Eu estou aqui desde janeiro e não conseguimos ainda fazer uma reunião. Os usuários chegam e são atendidos pelos especialistas e em seguida vão embora.” (Entrevista com gerente de equipamento) “G4: Eu nunca fui às reuniões [do CMS] nem fui às reuniões de conselho gestor. Pelo que ouvi não havia uma discussão séria. Às vezes aparecia vereadores chamados por conselheiros. Pensavam que ajudavam, mas atuavam de forma errada, prejudicando a unidade.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G5: Temos uma vereadora aqui no bairro e não sei se isso facilita ou prejudica nosso trabalho. Às vezes acontece de usar os problemas como politica e isso pode colocar a população contra essa unidade.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! 90 Quase todos os entrevistados tinha muito mais experiências negativas do que positivas com os Conselhos; no entanto, nenhum entrevistado questionou a importância ou a legitimidade de sua existência. Em geral, quando questionados sobre tais aspectos, os entrevistados disseram enfaticamente que promover os Conselhos é muito importante - expressando concordância com os princípios do SUS, ainda que sua experiência cotidiana ainda não houvesse apresentado os Conselhos em bom funcionamento. O relato a seguir exemplifica a situação: ! “G1: […] explicávamos que os conselhos são representantes da população, dos usuários... convidávamos os usuários para participar da próxima reunião para discutirmos... Mas não tinha adesão da população. As reuniões eram vazias e geralmente só os membros dos conselhos estavam presentes. Mas, poucas vezes não teve quórum. Mas a população propriamente dita pouco participava.” (Entrevista com gerente de equipamento) A principal crítica dos entrevistados sobre os Conselhos era a de que os conselheiros não entendiam que seu papel ali é representar a comunidade; em vez disso, os que freqüentam as reuniões (poucos, e de forma esporádica) o fazem para avançar interesses pessoais - tentar garantir na unidade uma vantagem para si próprio ou alguém próximo. Essa visão patrimonialista do ‘cargo’ de conselheiro foi descrita por quase todos os entrevistados, relatando alguns cenários que se desenvolvem por isso. Uma história repetida em diversas entrevistas é a de uma pessoa que quer ser conselheiro porque acha que vai ter poder ou privilégios e, quando percebe que não tem, se desinteressa. Outro relato freqüente é o de que alguém com pretensões de ser político profissional que começa a ‘carreira’ como conselheiro. Seria desejável se tal pessoa tivesse como objetivo ser político em um Estado de Direito; infelizmente, o que motiva tais casos é a visão patrimonialista do político e do Estado: em vez de representante das necessidades da população, o conselheiro tenta transformar-se num 91 vendedor de vantagens e privilégios na unidade, em troca de popularidade eleitoral. A seguir, estão transcritos alguns trechos de entrevistas que ilustram essa visão: “G4: [O Conselho] só serviu para atrapalhar, tanto no P.S como no P.A. Não sabem porque estão aqui e desconhecem a sua função como conselheiros. Acham que tem livre acesso à unidade, que podem pegar as fichas e passar na frente sem critérios, mas porque é de um conhecido e de um familiar. Acham que nós devemos obedecer e acham que podem nos dar ordens. Eles desconhecem nossa rotina, não sabem como as coisas funcionam por aqui e causam confusão, perda de fichas de paciente.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G4: [Predominam] Interesses particulares. Muitos saiam como candidatos a vereador e assessor. Muitos usam a unidade para se promover. Acabam usando o poder para se promover e não em prol da população mas de um grupo determinado e de si próprio.” (Entrevista com gerente de equipamento) ! “G8: É comum os conselheiros pensarem que por terem essa função eles têm prioridades no sistema de saúde. É preciso fazer um trabalho no sentido de conscientizá-los de que eles não tem poderes para conseguir vantagens ou passar na frente dos outros.” (Entrevista com gerente de equipamento) A SMS sempre insiste na importância de as unidades manterem seus Conselhos ativos, realizando as eleições bienais e as reuniões mensais. No entanto, foram poucos os relatos ouvidos sobre Conselhos ativos, participantes, representativos e politizados. Em geral, os relatos referiam-se ao passado (“durante algum tempo, o Conselho desta unidade foi ativo, mas isso acabou”); apenas em dois casos os entrevistados referiram-se a unidades que, no presente, teriam Conselho atuante. No entanto, ao visitar uma dessas unidades, o gerente local apresentou outra visão, relatando que o conselho daquela unidade não se reunia há muito tempo, como no caso do relato a seguir: ! “G1: Cada unidade tem seu conselho gestor. E na outra unidade em que trabalhei havia um conselho bastante participativo que fazia reuniões mensais. Mas geralmente surgem muitos assuntos pontuais, como por exemplo, marcar consulta para o vizinho. Essa é uma coisa que existe.” (Entrevista com gerente de equipamento) 92 ! 4.4.4.4) Serviços Terceirizados O serviço de limpeza, terceirizado para a empresa Pioneira, foi considerado bom em todas as unidades visitadas. Já o serviço de segurança, que era terceirizado até 2012, estava desativado no período em que foi realizada esta pesquisa - situação enfaticamente criticada em todas as unidades visitadas. Essa deficiência foi provocada por um descompasso entre o calendário eleitoral e os prazos dos contratos vigentes: a gestão municipal de 2009-12 encerrou seu mandato sem haver renovado o contrato com a empresa que fazia a segurança das unidades de saúde do município, e a gestão que se iniciou em 2013 ainda não tinha conseguido, no mês de maio, licitar um novo contrato. Funcionários com mais experiência na rede de saúde do município (e também de outros municípios) relataram que tal desarranjo não é incomum, chegando a afirmar que essa situação é, às vezes, criada propositalmente para desgastar a imagem de um adversário político quando há troca de partido na gestão municipal. Além da ausência do serviço de segurança, o vencimento de contratos conflitante com o calendário político também provocou, no período em que se fez o trabalho de campo, um princípio de escassez de medicamentos e materiais de uso médico. Dentre as 12 unidades visitadas, apenas duas se queixaram da falta de medicamentos ou material, enquanto numa terceira unidade a gerente relatou que já circulava, informalmente, a informação de que haveria, em breve, falta de medicamentos e material, devido ao atraso no calendário de contratos. Conforme um dos relatos, vê-se que a falta de medicamentos é capaz de provocar grandes comoções nas unidades: 93 “G6: Semana passada um vereador invadiu a unidade e causou confusão. Um médico quase o agrediu. O motivo da confusão gerada pelo vereador é a falta de medicação que ainda persiste. O vereador alegou que estávamos escondendo os remédios da população. Foi um escândalo. Marcamos uma reunião com a secretaria semana que vem para resolvermos essa pendência. Temos falta de vários itens de medicação devido a problemas na licitação. A antiga administração saiu sem fazer licitação. E isso é um problema politico, não é meu nem da Lucila. Acontece que todos que saem deixam os que ingressam numa situação mais difícil, sobretudo os que não são do seu partido.” (Entrevista com gerente de unidade) ! 4.4.4.5) Rede de Saúde As referências e contra-referências da rede municipal de Suzano têm uma dinâmica que, apesar de funcionar, poderia melhorar bastante. A porta de entrada de um paciente no SUS é pela UBS/UBSF, PA ou PS. Se o paciente precisar de um serviço ou profissional que não atua na unidade por onde o paciente entrou, ele será encaminhado para o serviço de que precisa; esse é o mecanismo chamado de “referência”. A contra-referência é o caminho inverso; por exemplo, um paciente é encaminhado pelo médico generalista de sua UBSF para uma consulta com um especialista em outra unidade, e este receita um tratamento que deverá ser administrado por aquele na UBSF. A contra-referência é, portanto, a resposta que a unidade básica recebe dos outros níveis hierárquicos da Atenção à Saúde quanto aos seus pacientes. É importante que a referência e a contra-referência sejam registradas de forma sistemática e que esses dados componham a ficha do paciente (prontuário), onde ficam registradas as informações relevantes sobre a sua saúde. Assim o SUS pode contribuir melhor para a promoção e manutenção da saúde dos usuários. No entanto, manter uma dinâmica assim em funcionamento é muito difícil quando o sistema não é informatizado - e a informatização de uma rede de saúde de é uma operação complicada, como já foi dito há pouco. O que ocorre em Suzano, então, 94 é que cada unidade básica mantém prontuários (físicos, em papel) de seus pacientes, e manda suas referências em malotes14 para a Central de Agendamento, que processa as referências, agenda as consultas e avisa as unidades básicas por telefone - estas, por sua vez, avisam o paciente. As contra-referências não são feitas, devido à dificuldade logística, de forma que os prontuários e, portanto, o acompanhamento dos pacientes pela unidade básica ficam incompletos. A seguir, um relato sobre a ausência de contra-referências: “G1: O paciente sempre retorna. Sempre estará na unidade por um motivo ou outro. Se ele foi encaminhado para o cardiologista e este resolveu o problema do paciente... para nós ele não leva essa demanda. Nesse sentido seria interessante um instrumento que contasse isso para nós. Fica registrado que o paciente foi encaminhado para determinada especialidade. Se tem alta não sabemos. Por exemplo, um caso que necessita de um acompanhamento com o cardiologista: fica registrado no prontuário que o paciente foi encaminhado para o cardiologista e os medicamentos são retirados no posto. Então é através disso que sabemos que esse paciente está em tratamento. Informações sobre alta não chega nesta unidade.” (Entrevista com gerente de unidade) ! Além dos canais formais de referência e contra-referência, existem os canais informais, compondo uma dinâmica que só é possível graças à existência de uma rede informal de contato entre os funcionários de diversas unidades. A dinâmica é a seguinte: um paciente aparece na unidade com um problema que não pode ser resolvido ali, seja porque aquele tipo de unidade não oferece o serviço que ele precisa, seja porque a unidade está, naquele momento, com alguma deficiência de pessoal ou equipamento. Alguém na unidade vai tentar ajudar o paciente a resolver seu problema, procurando alguma unidade próxima para a qual seja possível encaminhar o paciente. O médico, enfermeiro, gerente ou outro funcionário da unidade em que está o paciente liga para outra unidade e fala com alguém que possa resolver o problema. O ! 14 Pacotes de documentos; os malotes são recolhidos por carros da SMS em todas as unidades com freqüência média de três vezes por semana 95 paciente vai para a outra unidade sabendo com quem deve falar, e às vezes levando instruções por escrito do médico ou enfermeiro que o atendeu inicialmente. ! 4.4.4.6) Parcerias e Convênio com o Setor Privado Diferentemente do que se esperava encontrar ao iniciar-se a pesquisa, a presença de parcerias e convênios com o setor privado na prestação de serviços de saúde não parece ser, em si, suficiente para explicar diferenças entre as unidades de saúde ou segmentos da rede de saúde do município. Os efeitos das parcerias em Suzano não podem ser separados dos que decorrem da implementação, a partir de 2006, do PSF - que, além de inaugurar uma nova estratégia em política de saúde, também representou um importante aumento no gasto com saúde. Posto que há 100% de coincidência entre as unidades de saúde com alta presença de contratação via OSS e as unidades de saúde com PSF em Suzano, é impossível separar o efeito do convênio com OSS do efeito do PSF, seja sobre os indicadores de saúde da população, seja sobre a equidade no acesso à saúde. Talvez o único caso em que a presença da OSS faz diferença na rede municipal, pelo que é relatado, é na maior facilidade para contratar profissionais (já que o processo seletivo é mais rápido que um concurso público) e, por outro lado, na maior rotatividade desses profissionais (que não têm a desejada estabilidade de um cargo estatutário), como fica claro no depoimento a seguir: “G8: Há uma rotatividade muito alta quando o funcionário é contratado por empresa. Essa é a experiência que tive em outros municípios. Mesmo no caso de médicos. Os que são efetivos permanecem mais tempo que os contratados, a rotatividade de médicos efetivos é bem menor. Aqui em Suzano sempre trabalhei com funcionários da SPDM. Exceto os dois que eu já comentei.” (Entrevista com gerente de unidade) ! 96 5) CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta seção final, procuro resumir os aspectos do estudo que se destacam em relevância, elencando os desafios que o sistema de saúde brasileiro deve enfrentar para atender melhor às demandas da população, e também algumas boas soluções observadas nas escalas local e municipal. Parte dos problemas associados à gestão contratualizada da Atenção Básica não podem ser resolvidos apenas com investimento na área da saúde; são problemas complexos, que exigem boa articulação entre diversos setores da administração pública. Como se viu, não faltam iniciativas bem-intencionadas para promover melhoras no sistema de saúde brasileiro. Se estas não ocorrem com mais celeridade, é devido ao grande número de obstáculos que se apresentam. Conhecer esses obstáculos é o primeiro passo para superá-los, e isso faço aqui um elenco dos que, no contexto do presente estudo, mais chamam atenção. ! 5.1) Participação e Conselhos Após duas décadas de ditadura, um novo sistema político democrático começou a ser desenhado em fins da década de 1980 . A Constituição Federal de 1988 estabeleceu os Conselhos como um dos principais mecanismos de participação popular direta na tomada de decisões políticas e na administração pública. Na época, entre defensores da idéia havia grande excitação com a perspectiva de a participação popular ser um meio efetivo de acelerar as transformações sociais desejadas principalmente a redução da desigualdade. Contudo, conforme as décadas se passaram, constatou-se que poucas das experiências com conselhos populares trouxeram ganho significativo para as comunidades participantes. No geral, 97 constatou-se a falta de interesse em participar e o diminuto impacto das deliberações dos conselhos no quadro político (AZEVEDO, 2003). A dinâmica dos movimentos é diferente da dinâmica dos Conselhos. Segundo Gerschman (2004), houve desmobilização dos movimentos porque a institucionalização da participação social em canais como os Conselhos transmite certa segurança - mas que essa aparente garantia do Estado de que as demandas populares serão contempladas (posto que, na constituição de 1988, a existência de Conselhos de Saúde se tornou obrigatória) não condisse com a realidade. A obrigatoriedade dos Conselhos não garantiu que todos eles fossem instituições efetivas, atuantes e representativas. Além disso, Gerschman (2004) aponta que a coincidência da fase participativista-conselhista do Estado brasileiro com a onda mundial de liberalização e Estado mínimo (1978-2008) (BRESSER-PEREIRA, 2012) fez com que o Estado recuasse, com as reformas gerenciais, ao mesmo tempo que os movimentos também estavam desmobilizando-se. Esse recuo simultâneo nas iniciativas de oferta e demanda por serviços de saúde gerou, de acordo com Gerschman, uma desaceleração no processo paulatino de ganhos na saúde pública. ! 5.2) Explicitação do Caráter Político das Decisões sobre Políticas de Saúde Uma das constatações deste estudo é que, com freqüência, as políticas de saúde têm sido desenhadas de forma supostamente técnica, ou apolítica. Definir uma política de saúde é uma decisão política, ainda que construída sobre uma base técnica. No caso da priorização da Atenção Básica ante os outros níveis hierárquicos, a decisão política está bastante explícita nos pronunciamentos e documentos oficiais. Mas, no caso da parceria, ocorre o contrário: governantes da três esferas federativas 98 evitam, em geral, caracterizar suas decisões sobre parcerias com o setor privado como decisões políticas; mais ainda: evitam caracterizá-las como decisões. Isso ocorre pois a prestação de serviços públicos pelo setor privado é vista com muita desconfiança pelos brasileiros - é comum a visão de que, em tais situações, a apropriação patrimonialista dos bens e recursos públicos por parte das entidades privadas é inevitável. A última vez que se ouviu uma defesa explícita dessa política foi na campanha eleitoral para a presidência de 2002. O PSDB havia governado o país durante dois mandatos consecutivos, nos quais tratou de forma clara a sua preferência política pela criação de contratos de gestão e convênios; na campanha de 2002, tentava um teceiro mandato, mas foi derrotado pelo PT, e a derrota foi amplamente atribuída à impopularidade das políticas liberais (dentre as quais contratos e convênios com o setor privado), especialmente as privatizações de empresas públicas. Desde então, nenhum partido político importante defende explicitamente as políticas liberais como forma de gestão; no entanto, partidos de todas os campos têm feitos uso de tais políticas. Isso fica evidente na gestão da saúde nos municípios do estado de São Paulo: a forte expansão do PSF que se deu a partir de 2006 ocorreu predominantemente com a contratação de OSS para a prestação dos serviços. ! ! ! 99 5.3) Corporativismo15 A dificuldade de contratação de médicos para o sistema público de saúde brasileiro é um desses problemas, pois sua resolução implica numa pequena revolução na cultura corporativista que caracteriza o mercado laboral brasileiro como um todo ou seja, não apenas os setores trabalhistas vinculados à saúde. As origens dessa cultura remontam aos acordos laborais da década de 1930, criados no primeiro governo de Getúlio Vargas. Amarras corporativistas impedem que as parcerias - e, de forma geral, as reformas liberalizantes - tenham o impacto positivo desejado pelos quadros políticoadministrativos que a conceberam. Diversas expressões disso foram encontradas em campo, das quais cito três exemplos: 1- Falta de médicos Um problema generalizado, que se deve à oferta insuficiente de profissionais em relação à demanda geral da população. Suzano foi desprito pelos profissionais médicos como um município relativamente bom para se trabalhar, com salários competitivos e condições de trabalho (mobilidade, infra-estrutura e segurança) relativamente boas. Mesmo assim, o município não consegue preencher todas as vagas que tem para médicos. ! 2- Regulamentação restritiva criada por Entidades Laborais 15 Existe uma ampla literatura sobre o corporativismo na América Latina, que não é explorada aqui por não se tratar do tema central da pesquisa. Um bom ponto de partida para iniciar leituras sobre o assunto são os livros Authoritarianism and Corporatism in Latin America, de James M. Malloy (1977) e The New Authoritarianism in Latin America, de David Collier (1979). Para estudos mais recentes, ver Collier (1995), Siaroff (1999) e Cardoso&Mendonça (2012). 100 Existe uma série de regras arbitrárias definindo atribuições para as classes profissionais ligadas à saúde, que acabam atravancando o dia-a-dia das unidades e agravando a falta de médicos no mercado. Ademais, as associações de classe militam constantemente para criar novas restrições desse tipo. Em junho de 2013, estava tramitando pelo Poder legislativo o chamado Ato Médico, que poderia restringir ainda mais a atuação dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Parte da regulamentação é necessária, mas outra parte serviria apenas para garantir exclusividade para profissionais médicos em diversas atividades ligadas à saúde que, há décadas, são exercidas por enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Sem entrar no mérito de cada uma dessas atividades, é importante considerar que há falta de profissionais médicos no mercado e, portanto, faria sentido que, para suprir a demanda da população por serviços de saúde, se regulamentassem as atividades de cada classe profissional no sentido de aumentar, e não diminuir a participação de enfermeiros e auxiliares de enfermagem, reduzindo a dependência que o sistema atual tem da contratação de grande número de profissionais médicos. ! 3- Sistema centrado no profissional médico Este terceiro ponto é uma espécie de desdobramento dos dois anteriores. Os médicos, enquanto classe trabalhista, tem sido muito bem-sucedidos em garantir para si um papel central no sistema de saúde. Isso se apresenta nas regulamentações mencionadas no ponto anterior, mas também numa campanha constante, por parte das entidades profissionais, de disseminação de informações pouco precisas quanto à necessidade de profissionais médicos para avaliações, diagnósticos, coletas, exames etc. 101 Como resultado, a população tem a percepção de que só os médicos estão habilitados para uma série de atividades que, na realidade, podem ser realizadas por outros profissionais da saúde. Isso contribui para o sentimento de insatisfação com o sistema público de saúde, pois muitos pacientes ficam desconfiados e frustrados ao serem atendidos por profissionais não-médicos. Solucionar esse problema, advindo como o é de uma característica sóciocultural adquirida, exigirá um plano de ação de longo prazo, visando reverter campanhas empreendidas por entidades de classe já de muitas décadas, e que compõem hoje o imaginário da população. ! 5.4) Desigualdade, Pobreza e Marginalização Outro problema complexo que afeta as redes de saúde de muitos municípios como Suzano é a precariedade generalizada dos serviços públicos nas periferias urbanas mais pobres. A associação entre (a) pobreza material dos indivíduos, (b) falta de serviços públicos em outras áreas e (c) exclusão sócio-econômica da população das periferias cria sérios desafios para a gestão da Atenção Básica, especialmente no que se refere à informação sobre doenças crônicas, maus hábitos alimentares, uso de álcool e outras drogas, gestações de risco, violência doméstica e saúde mental. 5.4.1) Violência Um problema geral decorrente da extrema precariedade de certas periferias urbanas é a violência. Passando ao largo dos evidentes prejuízos que essa situação de violência generalizada acarreta à população (discussão importantíssima, mas que não cabe neste estudo) faz-se notar uma consequência especificamente sobre a gestão das 102 redes de saúde, pois há dificuldade em trazer profissionais para trabalhar nas áreas suposta ou efetivamente violentas. A possibilidade de assaltos e ataques, entre outras ameaças, torna as vagas indesejáveis ou pouco competitivas. Ademais, há o problema de se investir na informatização de sistemas, correndo-se o risco de ter os computadores roubados, como ocorreu em uma das unidades visitadas, na mesma semana em que foi feita a entrevista para este estudo. ! 5.5) Falhas de mercado Por princípio, a possibilidade de haver bons contratos e convênios do setor público com o setor privado depende da existência de um mercado em que diversas entidades privadas concorram na prestação de um serviço. Atualmente, porém, o que há na prática é um oligopólio, configurado por conta de mecanismos de pathdependency, das Entidades Filantrópicas que atuam historicamente na área da Saúde no Brasil, sendo as únicas aptas a candidatar-se aos contratos da Saúde, como a Santa Casa, o Hospital Santa Marcelina e o CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisa Dr. João Amorim (GRAEF & SALGADO, 2009). Tal configuração contraria o princípio liberal, segundo o qual a contratualização, convênio ou privatização podem melhorar a eficiência no uso dos recursos públicos, ao contratarem-se entidades privadas especializadas para a prestação de serviços com mais agilidade e economia. Se não há concorrência, não há estímulo para que as entidades contratadas procurem melhorar seus serviços, inovar e economizar. A própria lógica que informa a parceria da administração pública com o setor privado fica comprometida na sua base. ! 103 5.6) Paradoxos e Desafios da Descentralização na Gestão da Saúde Abundam iniciativas federais para revolucionar a Saúde mas, paradoxalmente, elas não chegam aos governos locais como políticas e sim como obrigações. No pacto federativo a União cedeu aos Estados e Municípios diversas prerrogativas, sem que estes tivessem a maturidade político-administrativa para tanto; no âmbito político, a população não estava habituada a eleições democráticas para os Poderes Executivo e Legislativo, nem à democracia direta dos conselhos. Ademais, ocorreu uma espécie de inversão de papéis: o Estado passa a submeter-se à sociedade. Foi uma constituinte extremamente elitista, no sentido de ser produto de uma elite intelectual, bastante descolada da realidade política do país, o que é exemplificado pelo momento em que a Constituinte considerou importante que a população votasse para decidir entre Parlamentarismo e Presidencialismo - ignorando, de certa forma, a vontade que havia sido expressa de forma tão clara no movimento pelas “Diretas Já”16. Como se viu, o Pacto Federativo de 1988 teve dois eixos principais: a redemocratização; e a descentralização que, de certa forma, foi um desdobramento da primeira, já que foi defendida como via de acesso a ela. A redemocratização encontrou sua expressão formal nos Conselhos; já a descentralização se deparou com mais obstáculos, sobretudo no que se refere à conquista efetiva de autonomia administrativa, fiscal e financeira por parte dos municípios. Promover um processo de democratização firme e homogêneo é um trabalho lento e com muitos contratempos, conforme indicam Moreira e Escorel: A observação é inspirada por análise apresentada pelo Prof. Dr. Eduardo Noronha (Ciências Sociais/ UFSCar), em palestra intitulada “Direitos Sociais e a Constituinte de 1987-88: as preferências de empresários e sindicalistas”, no dia 14/06/2013, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, por ocasião do lançamento da edição de junho de 2013 da revista Lua Nova. 16 104 “[...] as políticas públicas, além de setorais (saúde, educação, proteção social...) são subnacionais (formuladas em estados e municípios cujo poder político aumenta com a federalização do regime). Isto significa que a democratização ocorre, também, em termos micro, no qual os atores, seus interesses, o processo decisório, e o arcabouço institucional variam de acordo com as unidades subnacionais e com o setor público que produz as políticas.” (MOREIRA & ESCOREL, 2009) Ainda que tenham sido criados diversos instrumentos formais de descentralização, o processo dos últimos 25 anos, com seus avanços e recuos, não resultou em um jogo de forças equilibrado dentro da Federação. O arranjo federativo brasileiro não é simétrico: a União manteve a possibilidade de tutelar os outros entes e retomou para si, na década de 1990 o que foi cedido em 1988. A Constituinte foi uma espécie de utopia municipalista que procurou refundar a república rejeitando a centralização político-administrativa que caracterizou a Ditadura precendente. No entanto, passado o momento de euforia, as estruturas e hábitos político-institucionais brasileiros permaneceram aquém da descentralização e redemocratização idealizadas. Formou-se, assim, um pacto federativo frágil, pois que construído sobre o arranjo transitório de forças políticas que havia no momento da Constituinte17. ! ! ! ! ! ! 17 ! Este parágrafo está baseado em idéias apresentadas pelo professor Jefferson Goulart, da FAAC/ Unesp, no seminário “Processo Constituinte e Arranjo Federativo”, proferido na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 14 de junho de 2013. 105 6) BIBLIOGRAFIA ! ABRANCHES, M.; AZEVEDO, S. “A Capacidade dos Conselhos Setoriais em Influenciar as Políticas Públicas: Realidade ou Mito?”. In: SANTOS JÚNIOR, O.; AZEVEDO, S.; RIBEIRO, L. C. Q. (Orgs.). Governança democrática e poder local: a experiência dos conselhos municipais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, Fase, 2004. ABRUCIO, F. L. Contratualização e Organizações Sociais: reflexões teóricas e lições da experiência internacional. Debates GV Saúde, Vl. 1, 2006. ABRUCIO, F. L.; FRANZESE, C. Federalismo e políticas públicas: o impacto das relações intergovernamentais no Brasil. In Maria Fátima Infante Araújo, Lígia Beira (Orgs.), Tópicos de economia paulista para gestores públicos. Edições FUNDAP, São Paulo, 2007. ALCOFORADO, F. C. G. Contratualização e eficiência no setor público: as organizações sociais. X Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la administración Pública. Santiago, Chile, pp. 18-21, outubro, 2005. ALMEIDA, C.M. Reforma do Estado e reforma de sistemas de saúde: experiências internacionais e tendências de mudança. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Vol. 4, n.2, p. 263-286, 1999. ALMEIDA, M. H. T. A. “Federalismo e políticas sociais”. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, 28 (10), junho, p. 88-108, 1995. ANDRÉ, A. M.; CIAMPONE, M. H. T.; SANTELLE, O. Tendências de gerenciamento da unidades de saúde e de pessoas. Revista de Saúde Pública, 2013. ARRETCHE, M. Financiamento federal e gestão local de políticas sociais: o difícil equilíbrio entre regulação, responsabilidade e autonomia. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Vol. 8, n.2, p. 331-345, 2003. _____________. Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e autonomia. São Paulo em Perspectiva, 18(2): 17u-26, 2004. ARRETCHE, M.; MARQUES, E. “Municipalização da saúde no Brasil: diferenças regionais, poder do voto e estratégias de governo”. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Vol. 7, n. 3, p. 455-479, 2002. ASADA, Y. A framework for measuring health inequity. Journal of Epidemiology and Community Health; Vol. 59, p. 700-705, 2005. 106 ASSIS, Emerson; CRUZ, Valéria S.; TRENTIN, Elcio F. et. al. “Regionalização e Novos Rumos para o SUS: a experiência de um colegiado regional”. Saúde e Sociedade. Volume 18, supl.1, pp. 17-21, 2009. AZEVEDO, Sérgio de. Políticas Públicas: discutindo modelos e alguns problemas de implementação. FASE - Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional - Rio de Janeiro, IPPUR-UFRJ. 2003. AZEVEDO, S.; ANASTASIA, F. “Governança, “Accountability” e Responsividade: reflexões sobre a institucionalização da participação popular em experiências desenvolvidas em Minas Gerais”. SARTORI, G. A Teoria da Democracia Revisitada, V.1, O Debate Contemporâneo, SP, Ed. Ática, pp. 2-26, 1987. BARBOSA, N.B.; ELIAS, P.E.M. As Organizações Sociais de Saúde como forma de gestão público/privado. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Vol. 15, n. 5, p. 2483-2495, 2010. BARBOZA, N.B. O modelo de administração direta e as organizações sociais de saúde: um estudo comparado [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2005. BARRADAS, L.R.B. Novos mecanismos e instrumentos de gestão: parcerias, o papel da OSS. São Paulo, 2008. (Palestra proferida no Curso de Especialização em Gestão Pública e Saúde da Fundap e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo). BARRETO, M.L. Papel da epidemiologia no desenvolvimento do Sistema Único de Saúde no Brasil: histórico, fundamentos e perspectivas. Revista brasileira de epidemiologia. [online]. Vol.5, suppl.1, p. 4-17, 2002. BATALHA, E. Para Entender o (Sub)Financiamento do SUS. RADIS Comunicação e Saúde, n. 116. Fundação Instituto Oswaldo Cruz e Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro, abril 2012. BELTRAMMI, D. G. M. “Descentralização: o desafio da regionalização para Estados e Municípios”. Revista de administração em saúde. São Paulo, V.10, Nº41: pp. 159-163, out./dez, 2008. BORGES, A. Federalismo, dinâmica eleitoral e políticas públicas no Brasil: uma tipologia e algumas hipóteses. Sociologias, Porto Alegre, ano 12, n. 24, p. 120-157, mai/ago 2010. BRESSER-PEREIRA, L. C. Reforma Administrativa do Sistema de Saúde. Trabalho apresentado ao Colóquio Técnico prévio à XXV Reunião do Conselho Diretivo do CLAD. Buenos Aires, 25 de outubro, 1995. _______________________. Brasil, Sociedade Nacional-Dependente. Novos Estudos, n. 93, jul. 2012. 107 _______________________. Reforma Gerencial de 1995: Apresentação. Disponível em http://www.bresserpereira.org.br/rgp.asp; acessado no dia 30/06/2013. Sem data. BUSS, P.M.; PELLEGRINI FILHO, A. Iniqüidades em saúde no Brasil, nossa mais grave doença: comentários sobre o documento de referência e os trabalhos da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, Vol. 22, n. 9, 2006. CANESQUI, A. M. Produção Científica das Ciências Sociais e Humanas em Saúde e alguns significados. Saúde e Sociedade Vl. 21, n.1, p. 15-23, 2012. CARDOSO, J. L.; MENDONÇA, P. Corporatism and beyond: an assessment of recent literature. ICS Working Papers, 1, 2012. ! CARVALHO, A. X. Y.; DA MATA, D.; RESENDE, G. M. “Clusterização dos municípios brasileiros”. In: Dinâmica dos Municípios – Capítulo 5. CECILIO, L. C. O. Escolhas para Inovarmos na Produção do Cuidado, das Práticas e do Conhecimento: como não fazermos “mais do mesmo”? Saúde e Sociedade, Vl. 21, n.2, p. 280-289, 2012. CERRI, Giovanni G. A regionalização da saúde. Governo do Estado de São Paulo – fev. 2011. CNS - Conselho Nacional de Saúde. História do CNS. Disponível em conselho.saude.gov.br/apresentacao/historia/htm; acessado no dia 29/06/2013. Sem data. COELHO, J. S. Construindo a Participação Social no SUS: um constante repensar em busca de equidade e transformação. Saúde e Sociedade, Vl. 21, supl. 1, p. 138-151, 2012. COELHO, V. S. P. “A Democratização dos Conselhos de Saúde” Revista Novos Estudos 78, jul. 2007. COELHO, V. S. P.; DIAS, M. F.; FANTI, F. Fighting inequalities in the Access to Health Services: A study of the role of decentralization and participation. Metropolis and Inequalities. São Paulo: Centro de Estudos da Metrópole, 2010, p.1-28. COELHO, V. S. P.; FAVARETO, A. Participatory Governance and Development: In Search of a Causal Nexus. Geography Compass 5/9: 641–654, 10.1111/j. 1749-8198.2011.00446.x, Blackwell, 2011. COELHO, V. S. P.; FERRAZ, A.; FANTI, F.; RIBEIRO M.. Mobilization and Participation: a win-win game? In: V. Coelho and B. Von Lieres Mobilizing for Democracy. p:176-198. London: Zed Books, 2010. 108 COELHO, V. S. P.; PEDROSO, Marcel. Distribuição de Serviços Públicos de Saúde no Município de São Paulo. Novos Estudos, São Paulo, No. 64; Novembro 2002, p. 141-152. COELHO, V.S.P. e SHANKLAND, A. Making the right to health a reality for Brazil’s indigenous peoples: Innovation, decentralization and equity”. Medic; July, Vol 13, No 3; 2011, pp:50-3. COELHO, V. S. P.; SILVA, N. “Has the distribution of public health services become more equitable? Reflecting on the case of São Paulo”. In: S. Shantayanan; I. Widlund (Eds.); The Politics of Service Delivery in Democracies. Better Services for the Poor. Stockholm: EGDI 2007, p.1-21. COHN, A. Ciências Sociais e Saúde Pública/Coletiva: a produção do conhecimento na sua interface. Saúde e Sociedade Vl. 22, n.1, p. 15-20, 2013. COLLIER, D. (Org.). The New Authoritarianism in Latin America. Princeton University Press, 1979. ! ___________. Trajectory of a Concept: “Corporatism” in the Study of Latin American Politics. In Peter H. Smith (ed.), Latin America in Comparative Perspective. Westview, 1995. ! CONASEMS. Participação Social no SUS: O Olhar da Gestão Municipal. Cartilha, s/d. CORTES, S. V. “Instituições Participativas e acesso a serviços públicos nos municípios brasileiros” in “Efetividade das Instituições Participativas no Brasil: Estratégias de Avaliação” IPEA, Diálogos para o Desenvolvimento, V. 7, Brasília, 2011. COSTA, A. M. “Controle Social na Saúde: construindo a gestão participativa”. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, V. 27, Nº 65, pp. 358-363, set./dez. 2003. COSTA, L. S.; GADELHA, C. A. G.; BORGES, T. R.; BURD, P.; MALDONATO, J.; VARGAS, M. A dinâmica inovativa para a reestruturação dos serviços de saúde. Revista de Saúde Pública, 2012. COSTA, N.R.; RIBEIRO, J.M. Estudo comparativo do desempenho de hospitais em regime de Organização Social. Relatório da Pesquisa. In. Search of Execellence: strenghthening hospital performance in Brazil. Banco Mundial; 2005 (mimeo). COX, G.; MCCUBBINS M. Legislative Leviathan: Party Government in the House. Berkeley: University of California, 1993. DOURADO, D. A.; ELIAS, P. E. M. Regionalização e dinâmica política do federalismo sanitário brasileiro. Revista de Saúde Pública, 2011. 109 DOURADO, D. A.; DALLARI, S. G.; ELIAS, P. E. M. (in memoriam). Federalismo sanitário brasileiro: perspectivas da regionalização do Sistema Único de Saúde. RDisan, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 10-34, Nov.2011/Fev.2012. DOWBOR, M.; HOUTZAGER, P.; SERAFIM, L.; Enfrentando os desafios da representação em espaços participativos. São Paulo, CEBRAP, 2008. ENGLAND, R. Experience of contracting with the private sector – a selective review. Londres: Publicado pelo DFID Health Systems Resource Centre, 2004. FANTI, F. Políticas de saúde em juízo: um estudo sobre o município de São Paulo. São Paulo: Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, 2009. FARAH, M.F.S. Gestão pública e cidadania: iniciativas inovadoras na administração subnacional no Brasil. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, Vol. 31, n. 4, p. 126-156, 1997. FERREIRA JÚNIOR, V.C. Gerenciamento de hospitais estaduais paulistas por meio das organizações sociais de saúde. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, Vol. 37, n. 2, p. 243-264, mar/abr 2003. FERREIRA, M. P.; TRINDADE, M. P. “Avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema único de saúde na produção ambulatorial”. São Paulo em Perspectiva, V.22, Nº2, pp. 55-71, jul./dez, 2008. FLEURY, S. “Um remédio para matar ou salvar o SUS?”. Le Monde Diplomatic Brasil – 17/10/2012. FLEURY, S; OUVERNEY, A; KRONEMBERGER, T; ZANI, F. Governança local no sistema descentralizado de saúde no Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública. Vol.28, n. 6, p. 446–55, 2010. FRANKS, B. Types of Category in the Analysis of Content. LSE Methodology Institute, Discussion Papers - Qualitative Series, London, 1996. GADELHA, C. A. G.; COSTA, L. S. Saúde e Desenvolvimento no Brasil: avanços e desafios. Revista de Saúde Pública, 2012. GERSCHMAN, S. “Conselhos Municipais de Saúde: atuação e representação das comunidades populares” Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, V.20, Nº6:1670-1681, nov./dez., 2004. GOMES, M. H. A.; SILVEIRA, C. Sobre o uso de métodos qualitativos em Saúde Coletiva, ou a falta que faz uma teoria. Revista de Saúde Pública, 2012. GOVERNO DE RONDÔNIA. O que são as Organizações Sociais de Saúde? Núcleo Técnico de Gestão - NUTEGE/SESAU, s/d. 110 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. “Pacto pela saúde – Plano diretor de regionalização – PDR do Estado de São Paulo” Secretaria de Estado da Saúde São Paulo, pp. 2-35, jul. 2008. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/pdr_sp.pdf GRAEF, A.; SALGADO, V. As relações com as entidades privadas sem fins lucrativos no Brasil XIV Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la administración Pública. Salvador de Bahia, Brasil, pp. 27-30, outubro, 2009. GUIMARÃES, R., O mal-estar na saúde pública Texto base de conferência proferida no Instituto de Saúde Coletiva em 17 de agosto de 2012, por ocasião da imposição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia ao autor. HARRIS, M.; HAINES, A. Brazil’s family health programme. BMJ 2010; 341: c4945. doi: 10.1136/bmj.c4945. HARTZ, Z.A (Org.) Avaliação em saúde: dos modelos conceituais à prática na análise de implantação de programas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1997. HOFRICHTER, R.; BHATIA, R. (Ed.). Tackling health inequities through public health practice: theory to action. New York: Oxford University Press, 2010. IANNI, A. M. Z.; BARRETO JR, I. F.; MARTINS, C. L. A produção do conhecimento na interface entre as ciências sociais e a saúde pública/coletiva: editorial especial. Saúde e Sociedade Vl. 22, n.1, p. 9-14, 2013. IBANEZ, N.;VECINA NETO, G. Modelos de gestão e o SUS. Ciência & Saúde Coletiva. Vol. 12, Supl., pp. 1831-1840. Rio de Janeiro, 2007. JUNIOR, N. C. O setor público não-estatal: as organizações sociais como possibilidades e limites na gestão pública da saúde. 2002. 211 f. Tese (Doutorado em Medicina) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. KUBZANSKY, L. et al. “United States: Social inequality and the burden of poor health”. In: R. Hofrichter and R. Bhatia, Tackling Health inequities through public health practice. New York: Oxford University Press, 2010. LÉLIS, L. J. B. Indicador de Resolubilidade como Instrumento de Avaliação da Regionalização da Assistência à Saúde no SUS/MG. V Congresso CONSAD de Gestão Pública. Brasília, 2012. LEVCOVITZ, E.; LIMA, L.D; MACHADO, C.V. Política de saúde nos anos 90: relações intergovernamentais e papel das normas operacionais básicas. Ciência & Saúde Coletiva; Vol. 6, n. 2, p. 269-291, 2001. 111 LEVI M.L. Organizações Sociais de Saúde do Estado de São Paulo: inserção privada no SUS e gestão financeira do modelo pela Secretaria de Estado da Saúde. Tese (Doutorado em Ciências). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2009. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/ tde-08122009-185716/pt-br.php (acesso em 5/07/2011). LIMA, L. D.; DE ALBUQUERQUE, M. V; ELIAS, P. E. M; IBAÑEZ, N; IOZZI, F. L; VIANA, A. L. D. “Novas perspectivas para a regionalização da saúde”. São Paulo em Perspectiva. V.22, Nº1, pp. 92-106, jan./jun, 2008. LIPORONI, A.A.R.C. O Conselho Municipal de Saúde de Franca: Estudo sobre a Participação e o Controle Social. Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2006. LIU, X.; HOTCHKISS, D. R.; BOSE, S. “The Effectiveness os contracting-out primary health care services in developing countries: a review of the evidence” Health Policy and Planning. V. 23, pp. 1-13, 2008. LOYOLA, M. A. O lugar das Ciências Socias na Saúde Coletiva. Saúde e Sociedade, Vl. 21, n.1, p 4-14, 2012. LUCAS, Charles F.; MOREIRA, Marcelo R., et al. Democracia e Conselhos de Saúde no Brasil: Tendências, Dilemas e Desafios 8º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política – Área Temática: AT07 – Participação Política – Gramado, RS, agosto, 2012. MAHONEY, J.; THELEN, K. A Theory of Gradual Institutional Change. In Explaining Institutional Change: Ambiguity, Agency and Power. Cambridge University Press, 2010. MALLOY, James (Org.). Authoritarinism and Corporatism in Latin America. University of Pittsburgh Press, 1976 ! MARE - Ministério de Administração e Reforma do Estado. Plano Diretor de Reforma do Estado. Brasília, 1995. MARE - Ministério de Administração e Reforma do Estado. Organizações Sociais. Cadernos MARE de Reforma do Estado, vol. 2. Brasília, 1998. MARSIGLIA, R. M. G. Temas emergentes em Ciências Sociais e Saúde Pública/ Coletiva: a produção do conhecimento na sua interface. Saúde e Sociedade Vl. 22, n. 1, p. 32-43, 2013. MATUDA, C. G.; AGUIAR, D. M. L.; FRAZÃO, P. Cooperação interprofissional e a Reforma Sanitária no Brasil: implicações para o modelo de atenção à saúde. Saúde e Sociedade, Vl. 22, n.1, p.173-186, 2013. 112 MAZZA, S. R.; VASCONCELLOS, M. P. C. O Cotidiano na Investigação em Saúde Pública: um recorte teórico e metodológico. Saúde e Sociedade Vl. 21, n.1, p. 24-31, 2012. MEDICI, A. Propostas para melhorar a cobertura, eficiência e a qualidade no setor saúde. In E. L. Bacha e S. Schwartzman, Brasil: A Nova Agenda Social. pp 23-93. Rio de Janeiro: LTC, 2011. MEDICI, A.C; “Sistemas de financiamento e gestão hospitalar: uma aplicação ao caso brasileiro”. In: NETO, G. V. e MALIK, A. M. Gestão em Saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. pp. 50-72. MENDES, E.V. (Org.). A Organização da Saúde no Nível Local. São Paulo: HUCITEC, 1998. MINAYO, M. C. S.; A produção de conhecimentos na interface entre as Ciências Sociais e Humanas e a Saúde Coletiva. Saúde e Sociedade, Vl. 22, n.1, p. 21-31, 2013. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Relatório Final da Oitava Conferência Nacional da Saúde, Brasília, 1986. _______________________. Diretrizes Nacionais para o Processo de Educação Permanente no Controle Social do SUS. Documento aprovado pelo plenário do CNS na 158.a Reunião Ordinária, dias 14 e 15 de setembro de 2005. Série A. Normas e Manuais Técnicos. CNS - Conselho Nacional de Saúde, Brasília, 2006. _______________________. Regionalização da Assistência à Saúde: Aprofundando a Descentralização com Eqüidade no Acesso. Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS-SUS 01/01 (Portaria MS/GM n.o 95, de 26 de janeiro de 2001, e regulamentação complementar). Série A, Normas e Manuais Técnicos, n. 116. Secretaria de Assistência à Saúde, Brasília, 2001. _______________________. Regionalização Solidária e Cooperativa: Orientações para Implementação no SUS. Série Pactos pela Saúde 2006, Vl. 3. Secretaria Executiva (SE), Departamento de Apoio à Gestão Descentralizada (DAD), Coordenação-Geral de Integração Programática (CGIP), Brasília, 2006. _______________________. Colegiado de gestão regional na região de saúde intraestadual: orientações para organização e funcionamento. Brasília, 2009. 60p. _______________________. Programa de Reestruturação e Contratualização dos Hospitais Filantrópicos no Sistema Único de Saúde – SUS. Portaria GM/MS no 1.721, de 21.9.2005. Publicada no DOU de 22.09.2005, I Seção, pág. 51. _______________________. Saúde Brasil: Uma análise da desigualdade em Saúde. Brasília, 2006. 113 MOORE, M. H. “Criando valor público por meio de parcerias público-privadas”. Revista de Serviço Público. V.58, Nº2, pp. 151-179, Brasília, abr/jun, 2007. MOREIRA, M. R.; ESCOREL, S. “Conselhos Municipais de Saúde do Brasil: um debate sobre a democratização da política de saúde nos vinte anos do SUS” Ciência & Saúde Coletiva, V.14, Nº3: pp. 795-805, 2009. NEDER, C. “Os Conselhos Gestores e as Organizações Sociais de Saúde”. Blog Saúde Brasil – publicado em 07/03/2012. NETO, G. V; MALIK, A, M. “Tendências na assistência hospitalar”. Ciência & Saúde Coletiva, V.12, No4, pp. 825-839, 2007. OLIVEIRA, R. R.; ELIAS, P. E. M. Conceitos de regulação em saúde no Brasil. Revista de Saúde Pública, 2012. ONOCKO-CAMPOS, R. T.; CAMPOS, G. W. S.; FERRER, A. L.; CORRÊA, C. R. S.; MADUREIRA, P. R.; GAMA, C. A. P.; DANTAS, D. V.; NASCIMENTO, R. Avaliação de estratégias inovadoras na organização da Atenção Primária à Saúde. Revista de Saúde Pública, 2012. PAHIM, M.L.L. Organizações Sociais de Saúde do estado de São Paulo: inserção privada no SUS e gestão financeira do modelo pela Secretaria de Estado da Saúde. 2009. 142 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. PEREIRA, L. C. B. Reforma Administrativa do Sistema de Saúde. Trabalho apresentado ao Colóquio Técnico prévio à XXV Reunião do Conselho Diretivo do CLAD. Buenos Aires, 25 de outubro, 1995. PETER, F. “Health equity and social justice”. Journal of Applied Philosophy; Vol. 18, Issue 2, p.159-70, 2001. PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administração pública: Concessão, Permissão, Franquia, Terceirização, Parceria Públic-Privada e outras Formas. Editora Atlas, São Paulo, 2009. PIOLA, S.F et al. Saúde no Brasil: algumas questões sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), 2009. Disponível em: http://www.eclac.org/brasil/publicaciones/sinsigla/xml/4/35734/ LCBRSR200SaudenoBrasil.pdf (acesso em 5/07/2011). PIRES, R. R. C (Org.). Efetividade das Instituições Participativas no Brasil: Estratégias de Avaliação. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, Brasília, 2011. 114 PLOUGH, A. “Promoting Social Justice through Public Health Policies, Programs and Services”. In. R. Hofrichter and R. Bhatia, Tackling Health inequities through public health practice. New York: Oxford University Press, 2010. POGREBINSCHI, T. Participação como método democrático de gestão: o governo Lula e as políticas públicas participativas. Oitavo Encontro ABCP. ABCP Associação Brasileira de Ciência Política, Gramado, 2012. POLANYI, Michael. The Tacit Dimention. University of Chicago Press, Chicago, 1966. POMAR, P. E. R. A Saúde do Sistema Único. Desafios do Desenvolvimento, ano 10, n. 76. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, 2013. PRZEWORSKI, A. “Sobre o desenho do Estado: uma perspectiva agent x principal”. In: BRESSER-PEREIRA, L. C., SPINK, p (org). Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial, 5ª Ed. Rio de Janeiro, Ed. Faculdade Getúlio Vargas, 2003. PUCCINI, P. T. As Organizações Sociais e o Direito à Saúde. Publicado em: http:// www.idisa.org.br, março 2011. QUEIROZ, Lúcia Redes e Regionalização em saúde no Brasil e na Itália coord. Renato Tasca, Brasília – DF, 2011. RADIS - REUNIÃO, ANÁLISE E DIFUSÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE A SAÚDE. Comunicação e Saúde, 116, abril de 2012. FIOCRUZ. RADIS - REUNIÃO, ANÁLISE E DIFUSÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE A SAÚDE. Conselhos de Saúde e Controle Social. Súmula 81, FIOCRUZ, 2001. RAMOS, M. F.; CEZARE, J. P.; VENDRAMINI, P. R. J.; COUTINHO, S. M. V.; REIS, T. S.; FERNANDES, V. Conselhos Setoriais: perfil dos conselheiros e sua influência na tomada de decisão. Saúde e Sociedade, Vl. 21, supl. 3, p. 61-70, 2012. RINNE, Jeffrey; “Mejorando el Desempeño del Sector Salud en Brasil: comparación entre distintos modelos de hospitales”. Revista del CLAD Reforma y Democracia. Caracas, Nº37, feb, 2007. SANO, H.; ABRUCIO, F.L. Promessas e resultados da nova gestão pública no Brasil: o caso das Organizações Sociais de Saúde em São Paulo. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, Vol. 48, n. 3, pp. 64-80. São Paulo, 2008. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Saúde. Plano estadual de saúde 2008 – 2011. São Paulo, 2008, 300p. SEN, A. Why Health Equity?. Health Economics. Vol. 11, Issue 8, p. 659-666, 2002. 115 SIAROFF, A. Corporatism in 24 industrial democracies: Meaning and measurement. European Journal of Political Research, 36, 1999. ! SILVA, C. R. C.; MENDES, R.; NAKAMURA, E. A dimensão ética na pesquisa em Saúde com ênfase na abordagem qualitativa. Saúde e Sociedade Vl. 21, n.1, p. 32-41, 2012. SILVA, K. S. B.; BEZERRA, A. F. B.; SOUZA, I. M. C.; GOLÇALVES, R. F. Conhecimento e uso do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS) pelos gestores municipais, Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(2):373-382, fev, 2010. SOUZA, R. R. “A regionalização no contexto atual das políticas de saúde”. Ciência & saúde coletiva. São Paulo, V.6, Nº2: pp. 451-455, 2001. SOUZA. A. R.; ARAUJO, V. C.; “O estado da reforma: balanço da literatura em gestão pública (1994/2002).” Revista do Serviço Público, Ano 54, Número 2, 2003. TANAKA, O.Y; MELO E C. (Org) Inovação e gestão: a organização social no setor saúde. São Paulo: Fapesp, 2002. TEIXEIRA, Ana Cláudia C.; MORONI, José Antônio; MARX, Vanessa. Políticas de Participação e novas Institucionalidades Democráticas no Contexto Brasileiro Recente. In SERAFIM, Lizandra; MORONI, Antônio José (org). Sociedade Civil e Novas Institucionalidades Democráticas na América Latina. São Paulo: Pólis, 2008. TIBÉRIO, A. A.; SOUZA, E. M.; SARTI, F. M. Considerações sobre avaliação de estabelecimentos de Saúde sob gestão de OSS: o caso do Hospital Geral do Grajaú. Saúde e Sociedade São Paulo, v.19, n.3, p.557-568, 2010. UGA, Maria Alícia et al . Descentralização e alocação de recursos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Vol. 8, n. 2, 2003. VENANCIO, S. et al. Referenciamento regional em saúde: estudo comparado de cinco casos no Estado de São Paulo, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 16(9): 3951-3964, 2011. VIACAVA, F. et al. Uma metodologia de avaliação do desempenho do sistema de saúde brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva, Vol. 9, n.3, p. 711-724, 2004. VIANA, A.L.; DAL POZ, M.R. A reforma do sistema de saúde e o Programa Saúde da Família. Revista de Saúde Coletiva, Vol. 15, Supl., pp. 225-264. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/v15s0/v15s0a11.pdf (acesso em 5/07/2011). 116 VIANA, A.L.; LIMA, L.D (Org). Regionalização e relações federativas na política de saúde do Brasil. Rio de Janeiro: Contracapa, 2011. VICTORA et al. Health conditions and health-policy innovations in Brazil: the way forward. The Lancet, Vol. 377, Issue 9782, p. 2042 - 2053, 11 June 2011. WALZER, M. Spheres of Justice. New York, Basic Books, 1983. WHITEHEAD M.; DIDERICHSEN, F. “International Evidence on Social Inequalities in Health”. In: Drever F. and M. Whitehead Health inequalities – Deceninnial Supplement; DS Series; No. 15: 45-69. London: The Stationary Office, 1997. WHITEHEAD, M. The concepts and principles of equity and health. Copenhagen: World Health Organization, 1990. WORLD BANK. Brazil: Enhancing Performance in Brazil's health sector: Lessons from Innovations in the State of São Paulo and the City of Curitiba. Mimeo, 2006. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 117 7) BIBLIOGRAFIA SELECIONADA - MÍDIA BEDINELLI, T. Prefeitura de SP paga entidades da Saúde por consultas não feitas. Folha de São Paulo, 04/04/2013. BELFORT JR, R. Segurança em unidades de saúde. Folha de São Paulo, 20/07/2012. CAPRIGLIONE, C. Procuradoria cobra Unifesp por desperdício com aluguéis. Folha de São Paulo, 23/11/2010. COLUCCI, C. Alvo de polêmica, Organizações Sociais são ‘donas’ da saúde. Folha de São Paulo – 25/10/2012. COLUCCI, C. Médicos discutem novo modelo de formação, aliado à tecnologia. Folha de São Paulo, 10/03/2011. DE PIERRE, B. Presidente da SPDM fala sobre Organizações Sociais de Saúde. Luis Nassif Online (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif), 25/10/2012. FERRAZ, A. Atraso de salário causa paralisação. Estado de São Paulo, 10 de outubro de 2013. FERRAZ, A. Organizações sociais recebem da Prefeitura por consultas não realizadas. Estado de São Paulo, 29 de setembro de 2011. FERRAZ, A. SP paga por 1,2 mil médicos que não existem. Estado de São Paulo, 2 de agosto de 2013. FLEURY, S. Um remédio para matar ou salvar o SUS? Le Monde Diplomatique Brasil, 17/10/12. LEITE, F. Associação é condenada por “quarteirização.” Estado de São Paulo, 4 de maio de 2010. LEMES, C. “Para o bem da saúde pública dos paulistanos, Haddad precisa abrir a caixa-preta das OSs”. Blog Viomundo – publicado em 30/10/2012. FOLHA DE SÃO PAULO. Convênio para contratar médico pode gerar conflito, diz especialista. Folha de São Paulo, 02/04/2013. ______________________. Funcionários de AMAs entram em greve em SP por atraso de pagamento. Folha de São Paulo, 18/10/2013. ______________________. Governo de São Paulo deu verba a entidades reprovadas. Folha de São Paulo, 08/04/2013. ______________________. Os males do SUS. São Paulo, Folha de São Paulo, 30/06/2011, Editorial, p. A2. 118 ______________________. Outro lado: Corregedoria irá apurar possíveis irregularidades. Folha de São Paulo, 08/04/2013. ______________________. Promotoria quer devolução de R$32 mi pagos pela Prefeitura de SP na Saúde. Folha de São Paulo, 13/11/2013. ______________________. Tendências/Debates: Organizações sociais devem administrar hospitais públicos? SIM: Trata-se de um modelo consagrado. NÃO: TERCEIRIZAÇÃO SUCATEIA A SAÚDE PÚBLICA. Folha de São Paulo, 03/11/2012 ______________________. Unifesp desperdiça R$1,2 milhão com aluguéis. Folha de São Paulo, 22/11/2010. ______________________. Unifesp nega irregularidades em contrato com a Prefeitura de Campinas. Folha de São Paulo, 02/07/2008. MANDELLI, M. CGU aponta superfaturamento em imóveis da Unifesp. Estado de São Paulo, 23 de novembro de 2010. OLIVEIRA, R. Dinheiro público para entidades privadas. Valor Econômico, São Paulo, 29/08/2013. SIMIONATO, M. Justiça proíbe renovação de contrato da Unifesp com Prefeitura de Campinas (SP). Folha de São Paulo, 13/07/2010. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 119 ANEXO I ! TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 120 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ! ! Título do Projeto: Equidade e Contratualização de Serviços no SUS Pesquisador Responsável: Vera Schattan Ruas Pereira Coelho ! Este projeto tem o objetivo caracterizar, comparar e avaliar o processo de contratualização de serviços de saúde em curso em municípios do Estado de São Paulo. ! Para tanto, estamos realizando entrevistas com integrantes da administração pública, gestores e trabalhadores das entidades contratualizadas e conselheiros do sistema público de saúde. ! Pedimos seu apoio para a realização desta pesquisa, que oferece riscos mínimos aos seus entrevistados. A entrevista terá a duração prevista de uma hora de duração e ocorrerá em local de trabalho do respondente. ! Se em qualquer momento, durante a entrevista ou após sua realização houver algum desconforto ou, ainda, desejo de que os seus depoimentos não sejam utilizados, favor entrar em contato com Vera Schattan Ruas Pereira Coelho, por e-mail [email protected]; ou telefone (11) 5574-0399. ! Após receber explicações sobre a pesquisa, e estar informado sobre a possibilidade de: 1. Receber resposta a qualquer pergunta e esclarecimento sobre os procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa; 2. Recusa de participação ou retirada do consentimento, deixando de participar do estudo; 3. Manter a confidencialidade de minha identidade. ! ! Declaro estar ciente do exposto e desejar participar da pesquisa. ! __________________, _____de_______ de ______ ! Nome do respondente:____________________________________ ! Assinatura:_________________________________________________________ ! Eu (pesquisador),__________________________, declaro que forneci todas as informações referentes ao projeto ao participante e/ou responsável. ! ___________________________________ Telefone : Assinatura do Pesquisador ! Caso seja necessário qualquer esclarecimento ou denúncia quanto a questões éticas, procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo – SMS/SP, Rua General Jardim, 36 – 1° Andar. Tel: (11) 3397-2464. E-mail: [email protected] ! 121 ANEXO II ! LEI MUNICIPAL 3977/05 DE SUZANO, SP ! 122 ! ! Lei nº 3977 de 13 de setembro de 2005 ! O PREFEITO MUNICIPAL DE SUZANO, usando das atribuições legais que lhe são conferidas, FAZ SABER que a Câmara Municipal de Suzano aprova e ele promulga a seguinte Lei: ! Art. 1º Fica o Município de Suzano, através do Chefe do Poder Executivo, autorizado a firmar convênio, e seus respectivos aditamentos, com a "Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP" e a "Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina", visando a conjunção de esforços para implantação, coordenação e execução dos programas e ações de saúde no Município de Suzano, em regime de cooperação técnico-científica em matéria de interesse recíproco dos partícipes, conforme minuta de convênio de que trata o Anexo I desta Lei. ! Art. 2º As despesas com a execução da presente Lei correrão por conta de recursos próprios e/ou vinculados à Secretaria de Estado da Saúde e ao Ministério da Saúde, constantes do orçamento municipal, suplementados, se necessário. ! Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. ! Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário. ! Prefeitura Municipal de Suzano, 13 de setembro de 2005. ! ANEXO I ! TERMO DE CONVÊNIO que entre si celebram a_________, a UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - UNIFESP e a ASSOCIAÇÃO PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA, com o objetivo de estabelecer as bases para execução, desenvolvimento e coordenação das ações e programas na área da saúde. ! Por este instrumento de Convênio, a partícipe ___________, CNPJ nº _________, com endereço na ___________, representada neste ato _______, portador da Cédula de Identidade com RG nº ____ e do CPF/MF nº _______, doravante denominado __________, e do outro lado a entidade a Universidade Federal de São Paulo, autarquia federal de ensino superior, constituída pela Lei 8.957, de 15 de dezembro de 1994, com sede à Rua Botucatu nº 740, São Paulo, inscrita no CNPJ sob o nº 60.453.032/0001-74, neste ato representada pelo magnífico Reitor, _______, brasileiro, portador da cédula de identidade com RG nº _______ SSP/SP e inscrito com CPF/MF sob nº ________ e a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina - sociedade civil, sem fins lucrativos, de natureza filantrópica, com sede à Rua Napoleão de Barros, nº 715, Vila Clementino, São Paulo, representada por _________, brasileiro, portador da cédula de identidade com R.G. nº _______ e 123 inscrito com CPF/MF __________, doravante denominado COMPLEXO UNIFESP/ SPDM têm entre si, justo e acordado o presente convênio, com fundamento na Constituição Federal, artigos 194 a 200, e demais dispositivos legais pertinentes, considerados também os mútuos benefícios da conjunção de esforços para a consecução dos objetivos a seguir definidos, resolvem celebrar o presente, mediante as cláusulas e condições seguintes: ! CLÁUSULA PRIMEIRA - DO OBJETO ! O presente Convênio tem por objetivo a conjunção de esforços para implantação, coordenação e execução dos programas e ações de saúde no Município de _________, em regime de cooperação técnico-científica em matérias de interesse recíproco dos partícipes, delimitadas no presente Convênio com vistas a: ! I - Estabelecer um sistema de prestação de serviços de atenção primária e ambulatorial, assim como definir um sistema de referência e contra-referência, de forma a aprimorar o atendimento universalizado à clientela do Sistema Único de Saúde do Município; ! II - Implantar o Programa de Saúde da Família - PSF, Programa de Saúde Bucal PSB, Programa de Saúde Mental e outros de interesse recíproco; ! III - Implantar, em regime de colaboração entre os partícipes, o Programa de Cooperação Técnica e Educacional para a área de saúde; ! IV - Planejar, desenvolver e implantar o Programa de Humanização do Atendimento Am¬bulatorial e Atenção Básica; ! V - Aumentar a eficiência dos serviços de saúde oferecidos ou financiados pelo município, atendendo melhor o cidadão, visando acesso de forma universal e equânime. ! CLÁUSULA SEGUNDA - DAS OBRIGAÇÕES COMUNS DOS PARTÍCIPES ! Para a execução do presente Convênio, os partícipes convenientes obrigam-se mutuamente, dentro das respectivas responsabilidades, a proporcionar apoio técnico, administrativo, financeiro e operacional às atividades desenvolvidas em função deste Convênio. ! Parágrafo único: Obrigam-se ainda os partícipes a: ! I - Aceitar, cumprir e fazer a cumprir a legislação, as normatizações e instruções técnicas e administrativas de cada um dos partícipes e das instâncias gestoras do SUS/ SP; ! 124 II - Planejar, desenvolver e programar ações para a consecução do objeto deste convênio; ! III - Garantir a execução dos programas e a correta aplicação dos recursos a eles destinados; ! IV - Proporcionar a integração dos recursos físicos e humanos necessários à execução do Programa. ! CLÁUSULA TERCEIRA - DAS OBRIGAÇÕES DA PREFEITURA ! A PREFEITURA, para implantação do Programa objeto deste convênio, obriga-se através do presente termo a: ! I - Aprovar, fiscalizar e analisar minuciosamente o Plano de Trabalho elaborado anualmente pelo COMPLEXO UNIFESP/SPDM para execução do programa a ser desenvolvido; ! II - Repassar recursos financeiros até o último dia útil do mês em curso ao COMPLEXO UNIFESP/SPDM conforme Plano de Trabalho que é integrante do presente; ! III - Os eventuais acréscimos de despesas, decorrentes diretamente de demora nos repasses mensais, serão reembolsados pela PREFEITURA no mês subseqüente ao de referência, mediante apresentação pelo COMPLEXO UNIFESP/SPDM de relatório circunstanciado; ! IV - Dar apoio técnico ao COMPLEXO UNIFESP/SPDM; ! V - Alocar, nos locais em que se desenvolverão as atividades de Saúde da Família, os recursos materiais - bens móveis, imóveis, materiais permanentes e demais utensílios - necessários para a execução do Plano de Trabalho visando ao atingimento das metas estabelecidas na Cláusula Primeira deste Convênio; ! VI - Alocar os recursos humanos que tenham interesse em aderir ao Programa de Saúde da Família; ! VII - Responsabilizar-se pela manutenção dos imóveis, bens e equipamentos disponibilizados para o desenvolvimento das atividades de Saúde de Família; ! VIII - Identificar, de acordo com a localização dos serviços de saúde, objeto deste Convênio, unidades suas de saúde de maior complexidade, a fim de se estabelecer os mecanismos de referência e contra-referência; ! IX - Responsabilizar-se por todas as dívidas contraídas antes da assinatura deste Convênio através do repasse dos recursos necessários a seu adimplemento; 125 ! X - Cooperar, durante o período de transição, com apoio logístico para a implantação do objeto do presente Convênio; ! XI - Disponibilizar ao COMPLEXO UNIFESP/SPDM as estatísticas relativas ao atendimento, pelo Programa Saúde da Família, da população inserida na extensão geográfica objeto deste Convênio; ! XII - Prestar o apoio necessário ao COMPLEXO UNIFESP/SPDM para que seja alcançado o objeto deste TERMO DE CONVÊNIO em toda a sua extensão, relativo a recursos materiais vinculados ao plano de trabalho, tais como o fornecimento de insumos, medicamentos, equipamentos, entre outros necessários à realização das ações de responsabilidade do COMPLEXO UNIFESP/SPDM. ! Parágrafo Primeiro - Os servidores municipais alocados no Programa de Saúde da Família com fundamento no inciso VI da Cláusula Terceira se submeterão à coordenação técnica do COMPLEXO UNIFESP/SPDM. ! Parágrafo Segundo - A subordinação dos servidores municipais ao COMPLEXO UNIFESP/SPDM não substituirá o vínculo daqueles com a PREFEITURA, a qual manterá seus deveres de natureza trabalhista, estatutária e previdenciária. ! CLÁUSULA QUARTA - DAS OBRIGAÇÕES DO COMPLEXO UNIFESP/SPDM ! Para a consecução do objeto deste Convênio, O COMPLEXO UNIFESP/SPDM obriga-se, na forma e limites previstos nos Planos de Trabalho elaborados anualmente e respectivos Termos Aditivos, a: ! I - Assessorar a implantação do Programa de Avaliação de Desempenho junto ao corpo técnico; ! II - Responsabilizar-se integralmente pela seleção, recrutamento, contratação e pagamento de pessoal que vier a ser necessário à execução deste Convênio, pelos encargos e contribuições sociais e obrigações trabalhistas, inclusive verbas rescisórias, de acordo com o regime de contratação vigente nesta Instituição; ! III - Avaliar e propor medidas de atualização no ambiente tecnológico das Unidades de Saúde; ! IV - Capacitar, reciclar, desenvolver e treinar os Profissionais atuantes no Programa de Saúde da Família, conforme previsão orçamentária em Plano de Trabalho, de acordo com as necessidades detectadas pela equipe Gestora; ! V - Fornecer apoio técnico necessário ao desenvolvimento de programas, de acordo com as necessidades das Equipes; ! 126 VI - Alimentar o Sistema de Informação à Atenção Básica - SIAB, bem como consolidar e encaminhar seus dados, mensalmente, aos órgãos competentes, disponibilizando, ainda, a base de dados à PREFEITURA, juntamente com os comprovantes de transmissão; ! VII - Encaminhar, mensalmente, relatório das ações desenvolvidas, dos recursos aplicados, bem como de outros instrumentos à PREFEITURA para acompanhamento e fiscalização do mesmo e pelo Conselho Municipal de Saúde, além dos demais órgãos competentes; ! VIII - Colocar à disposição recursos humanos para o bom desenvolvimento dos programas e ações que constituem objeto do presente convênio, podendo ter quadro próprio de empregados sem vínculos com a Administração Municipal; ! IX - Acompanhar o gerenciamento e a administração das Unidades, sendo os dirigentes locais responsáveis, perante a PREFEITURA, pela prestação de contas e pela comunicação de eventos danosos ao patrimônio cedido na forma do inciso V, da Cláusula Terceira; ! X - Implantar e gerenciar os programas especificados no Plano de Trabalho; ! XI - Gerenciar econômica e financeiramente os recursos previstos no Cronograma de Desembolso, destinados à implantação, planejamento e execução dos Programas que constituem objeto do presente Convênio; ! XII - Manter estrutura administrativa no Município, em espaço cedido pelo Município; ! XIII - Promover a manutenção preventiva e corretiva dos bens públicos, reformas, ampliações e construções, utilizando os recursos financeiros destinados para tal fim, mediante apresentação de custo e conforme previsão orçamentária em Plano de Trabalho ou Termo Aditivo; ! XIV - Recolher, rigorosamente em dia, os encargos sociais e trabalhistas e comprovar a respectiva quitação, sempre que solicitado pela PREFEITURA. ! CLÁUSULA QUINTA - DA APLICAÇÃO DOS RECURSOS E ALTERAÇÃO DO PLANO DE TRABALHO ! Os recursos financeiros repassados pela PREFEITURA ao COMPLEXO UNIFESP/ SPDM deverão ser aplicados, única e exclusivamente, na implantação e execução do objeto deste convênio, em conformidade com o que foi aprovado no Plano de Trabalho e respectivo Termo Aditivo, sendo vedada qualquer alteração que implique em mudança no objeto deste. ! 127 CLÁUSULA SEXTA - DA FORMA DE REPASSE DOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS ! As despesas decorrentes deste convênio correrão por conta das dotações orçamentárias da PREFEITURA, próprias do orçamento vigente, suplementadas, se necessário. ! I - A liberação de recursos financeiros, que se dará em parcelas mensais e consecutivas, está condicionada à apresentação da prestação de contas referentes ao mês anterior; ! II - Os repasses previstos nos Planos de Trabalho e Termos Aditivos deverão ocorrer sempre na sua totalidade, não sendo possível repasses parciais; ! III - As despesas operacionais inerentes ao presente instrumento e constantes em Plano de Trabalho serão custeadas pela PREFEITURA, e podem apresentar as seguintes rubricas: ! a) Locações; b) Contratações; c) Demissões; d) Pagamento de taxas (inclusive bancárias); e) Serviços; f) Materiais de consumo; g) Materiais permanentes necessários ao desempenho das atividades administrativas; h) Apoio Técnico Operacional prestado pelo COMPLEXO UNIFESP/SPDM; i) Educação Permanente e Capacitação Profissional de Recursos Humanos. ! CLÁUSULA SÉTIMA - DA PRESTAÇÃO DE CONTAS ! O COMPLEXO UNIFESP/SPDM apresentará mensalmente à PREFEITURA prestação de contas dos resultados realizados no mês anterior, conforme legislação em vigor, respeitando as exigências do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e as orientações emanadas pelas instâncias gestoras do SUS - Sistema Único de Saúde. ! I - Os partícipes definirão em comum acordo as normas de formalização da Prestação de Contas; ! II - Os documentos originais comprobatórios das Despesas realizadas na execução do convênio serão obrigatoriamente arquivados pelas entidades, em ordem cronológica, ficando à disposição da PREFEITURA, Conselho Municipal de Saúde e Tribunal de Contas do Estado. ! 128 CLÁUSULA OITAVA - DO CONSELHO DE ACOMPANHAMENTO ! As partícipes deverão constituir um conselho de acompanhamento, composto por três membros indicados pela PREFEITURA e três outros indicados pelo COMPLEXO UNIFESP/SPDM, os quais se reunirão ordinariamente a cada três meses, ou em outro período, extraordinariamente, visando ao acompanhamento da execução e as eventuais adequações do plano de trabalho anual. ! CLÁUSULA NONA - DOS REMANESCENTES ! I - Cessando, por qualquer motivo, os efeitos do Convênio, a PREFEITURA será imediatamente reintegrada na posse dos bens patrimoniais disponibilizados para o desenvolvimento das atividades de Saúde de Família objeto deste Convênio, para darIhes a melhor destinação que entender; ! II - Cessando o Convênio com a PREFEITURA, os servidores municipais deverão se apresentar à municipalidade, ficando à disposição para o retorno a seus devidos cargos ou funções do concurso. ! CLÁUSULA DÉCIMA - DO PRAZO DE VIGÊNCIA ! O presente convênio vigorará até __________, a contar da data de sua assinatura, podendo ser prorrogado mediante acordo por escrito entre as partes. ! CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA - DA RESCISÃO ! O presente convênio poderá ser rescindido, durante o prazo de vigência, por mútuo consentimento ou unilateralmente por qualquer dos partícipes, mediante manifestação, por escrito, com antecedência mínima de 60 (sessenta) dias. ! I - Na hipótese de extinção do presente convênio, seja por natural advento do termo final do prazo ajustado, seja por denúncia de um dos partícipes, a PREFEITURA indenizará o COMPLEXO UNIFESP/SPDM pelos custos decorrentes da dispensa de pessoal por ela contratado para execução do objeto deste convênio e pela rescisão de contratos em geral, dentro do período previsto na legislação pertinente; ! II - O COMPLEXO UNIFESP/SPDM obriga-se a repassar à PREFEITURA todas as informações de que então disponha sobre o objeto deste ajuste, encerrando, na data de extinção do convênio, o balanço financeiro; ! III - Em face do estabelecido neste convênio, não decorrerá vínculo empregatício entre a PREFEITURA e o pessoal contratado pelo COMPLEXO UNIFESP/SPDM. ! 129 CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA - DAS DECLARAÇÕES ! A PREFEITURA declara que o presente termo não implica em sucessão trabalhista, previdenciária, fiscal ou indenizatória de qualquer espécie em relação a eventuais passivos de responsabilidade de entidades que tenham mantido preteritamente convênios e/ou parcerias para gerenciamento de programas similares no município. ! CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA - DAS ALTERAÇÕES ! Qualquer alteração do presente convênio ou das formas de sua execução descritas no Plano de Trabalho será objeto de Termo Aditivo, na forma da legislação vigente. ! CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA - DA PUBLICAÇÃO ! O presente instrumento será publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo e no Jornal Local, no prazo máximo de 20 (vinte) dias, contados da data de sua assinatura. ! CLÁUSULA DÉCIMA QUINTA - FORO ! É competente para dirimir toda e qualquer divergência relativa a este Convênio a Justiça Federal da Subseção Judiciária da Capital de São Paulo. ! Estando as partes justas e conveniadas, firmam o presente instrumento em 04 (quatro) vias de igual teor e forma, na presença de 02 (duas) testemunhas instrumentais, para que surta seus jurídicos e legais efeitos. ! Local, data de 2005. 130