A Adaptação de Expatriados Organizacionais e Voluntários no Brasil Autoria: Bruno Felix von Borell de Araujo, Poliano Bastos da Cruz, Elise Malini RESUMO O objetivo deste estudo foi o de compreender possíveis diferenças na adaptação de dois tipos de expatriados no Brasil: organizacionais (EOs) e voluntários (EVs). O estudo contribui para a literatura sobre Negócios Internacionais ao oferecer uma atualização a respeito da adaptação de estrangeiros nesta cultura e adicionar conhecimentos a respeito das distinções no ajuste de EOs e EVs no Brasil. O estudo, de cunho exploratório e qualitativo, foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas com 20 EOs e 24 EVs com perfil profissional executivo e que residiram no Brasil por pelo menos dois anos. As três facetas da adaptação transcultural sugeridas por Black et al (1991) foram empregadas como norteadoras das entrevistas e categorias de análise. São elas: adaptação geral (clima, alimentação, compras e habilitação), adaptação ao trabalho (expectativas, padrões de desempenho e valores relativos ao trabalho dos locais) e adaptação à interação (diferenças de comunicação e estilos interpessoais usados na cultura de destino). Os resultados sugerem que os EOs, por contarem com maior apoio organizacional, conseguem superar mais facilmente a estrutura burocrática brasileira em seu processo de adaptação geral. Por outro lado, os EVs se sentem mais confortáveis nos dimensões de adaptação quanto ao trabalho e à interação com locais. O formalismo no Brasil foi identificado como um desafio para a adaptação geral de EOs e EVs, uma vez que o país se apresenta como burocrático e complexo em processos do cotidiano. Enquanto as empresas que possuem EOs no Brasil utilizam sua influência para facilitar processos como obtenção de visto, locação de imóvel e obtenção de carteira de motorista, EVs demoram mais para se adaptar em termos gerais e, quando o fazem, aprendem estratégias de navegação social com locais, como o jeitinho brasileiro. Os dados sugerem também que EOs latino-americanos têm sua adaptação geral dificultada pelo insuficiente suporte oferecido pela empresa em que trabalham. Na categoria de adaptação quanto ao trabalho, foram identificadas novas distinções entre esses dois tipos de expatriados. O EO, que cumpre designações estrangeiras e costuma impor uma cultura de trabalho alinhada aos valores do país e da organização de origem, difere-se do EV, que cumpre orientações de gestores brasileiros e procura liderar conciliando práticas competitivas internacionais com características da cultura local. Por último, na dimensão da adaptação quanto à interação, os dados indicam que EOs interagem socialmente em um ciclo de lugares e com um grupo de pessoas limitados - geralmente outros expatriados - enquanto EVs possuem círculos sociais compostos predominantemente por brasileiros. Dentre os EOs latino-americanos, percebeu-se uma tendência a evitar contatos sociais com locais, com receio de perder status diante de outros expatriados. Para as empresas, recomenda-se o desenvolvimento de técnicas de recrutamento e seleção de EVs no Brasil em razão do baixo custo envolvido na sua contratação. Sugere-se também que as empresas que possuem EOs latino-americanos designados para atuação no Brasil atentem para a necessidade de melhor apoiá-los em sua adaptação geral. 1 INTRODUÇÃO Os tempos atuais têm sido o cenário de uma transformação no perfil da demografia global. A multinacionalização das atividades de negócio por diferentes regiões do mundo produziu uma onda migratória na América do Norte, Europa e, mais recentemente, em mercados emergentes, inclusive o Brasil (Tanure, Barcellos & Cyrino, 2006). Em um ambiente de forte competição entre empresas globalizadas, tornou-se cada vez mais atrativo para as organizações contratar talentos internacionais. Em busca de profissionais com habilidades e técnicas gerenciais escassas, líderes que desenvolvam expertise de gerenciamento, transferência de tecnologia e lançamento de novos projetos (Brookfield Global Recolocation Services, 2010), diversas organizações têm competido globalmente pela atração e retenção de profissionais talentosos de diferentes países e culturas. Uma estratégia comum para desenvolver competências estratégicas globais é a expatriação de executivos, ou seja, o envio de um profissional para uma posto remoto em outro país por um período que varia entre 6 meses a 5 anos (Pertokorpi & Froese, 2009). Segundo Strack et al. (2007), esta se tornou uma prática comum e crescente no mundo corporativo. Apesar da redução no número de expatriados no mundo em 2010, provavelmente devido ao cenário de recessão em que se encontravam diversas economias mundiais, nos últimos anos a tendência geral foi de crescimento (Organisation for Economic Co-operation and Development [OECD], 2007; Brookfield Global Recolocation Services, 2010). Na academia tem sido comum o desenvolvimento de pesquisas a respeito das motivações das empresas e executivos nos projetos de expatriação (Miller & Cheng, 1978), de treinamento (Black & Mendenhall, 1990; Black, Mendenhall & Oddou, 1991) e sobre a adaptação dos expatriados (Black, 1988; Chen & Chiu, 2009; Ramalu, Rose, Kumar & Uli, 2010) e da sua família (Selmer, 2005; Andreason, 2008; Takeuchi, Lepak, Marinova & Yun, 2007), assim como investigações sobre as especificidades da expatriação feminina (Tharenou, 2010; Insch, 2008; Selmer & Leung, 2007) e o processo de repatriação desses profissionais (Begley, Collings & Sculling, 2008). Entretanto, como ressaltam Inkson, Arthur, Pringle and Barry (1997), grande parte dos expatriados no mundo não são enviados por empresas, mas decidiram migrar por iniciativa própria. Para Jokinen, Brewster and Suutari (2008), a expatriação voluntária representa uma vasta oportunidade para que organizações encontrem talentos com o perfil global desejado dimuindo consideravelmente os custos e riscos de adaptação de uma expatriação organizacional. Pires, Stanton and Ostenfeld (2006) sustentam que a migração global aumentou a diversidade em vários países e criou uma rede de contatos que facilitam novas chegadas. Apesar disso, a literatura sobre expatriação frequentemente trata os expatriados como um grupo homogêneo, falhando ao reconhecer as idiossincrasias dos executivos que cumprem designações organizacionais e daqueles que decidiram, por si, viver em outro país. Diante desse contexto, diversos autores têm reconhecido a importância de que novos estudos sejam realizados, considerando a distinção entre expatriados organizacionais e voluntários (Suutari & Brewster, 2000; Vance, 2005). Os estudos de Inkson et al. (1997), Suutari and Brewster (2000), Inkson and Myers (2003), Lee (2005), Myers and Pringle (2005) e, mais recentemente, de Jokinen et al. (2008), Fitzgerald and Howe-Walsh (2008), HoweWalsh and Schyns (2010), Selmer and Lauring (2010) e Peltokorpi and Froese (2009) contribuem para a compreensão das diferenças entre os tipos de expatriação e revelam os EVs como um grupo pouco lembrado na academia e no mercado. Se no mundo nota-se uma escassez de estudos sobre EVs, no Brasil o desconhecimento é ainda maior. Não foi identificado nenhum estudo brasileiro que tivesse como objeto tal sub-grupo. 2 Diante de tal contexto, o presente artigo foi escrito com o objetivo de compreender possíveis diferenças na adaptação de expatriados organizacionais e voluntários no Brasil. Sua originalidade reside na aplicação inédita no Brasil de uma nova perspectiva para o estudo da expatriação. O artigo contribui para a literatura sobre Negócios Internacionais de duas formas. Primeiro, oferece uma atualização a respeito da adaptação de estrangeiros neste país. Além disso, também representa um avanço neste campo de estudos ao adicionar conhecimentos para a academia e para o mercado a respeito das distinções na adaptação de expatriados organizacionais e voluntários na cultura brasileira. Este artigo se divide em algumas etapas. Inicialmente, realizou-se uma revisão a respeito da Adaptação Transcultural em termos gerais e no Brasil e apresentaram-se as distinções entre EOs e EVs. Em seguida, foi descrita a metodologia que orientou o estudo e os resultados foram apresentados e discutidos. O estudo encerra-se com a apresentação de sugestões práticas e acadêmicas e das limitações da pesquisa. REFERENCIAL TEÓRICO Adaptação Transcultural de Expatriados Para Takeuchi, Marinova, Lepak and Liu (2005, p. 129), a Adaptação Transcultural de Expatriados pode ser definida como o "grau do conforto psicológico em relação a uma variedade de aspectos em um novo ambiente". Já Black (1988) afirma que se refere ao grau em que os expatriados se sentem psicologicamente confortáveis e familiares com aspectos do ambiente externo. Lee and Van Vorst (2010, p. 630), por sua vez, afirmam que se trata do "grau de facilidade ou dificuldade que os expatriados possuem com relação a diferentes assuntos ligados à vida e ao trabalho no exterior". Todas essas definições parecem apontar para o fato de que o ingresso em uma cultura desconhecida tende a gerar um desconforto psicológico no recém-chegado. Investir na adaptação é de extrema importância pelo fato de que essa sensação de desajuste pode comprometer o desempenho profissional do expatriado (Church, 1982). Para Peltokorpi and Froese (2009), a adaptação transcultural envolve redução de incertezas e algumas formas de mudanças para que os estrangeiros comecem a se sentir mais confortáveis com as novas culturas e viver em maior harmonia nelas. Pesquisas que mensuraram o grau de adaptação de expatriados apontam para a ideia de que esse processo ocorre em quatro etapas comumente conhecidas como "Curva-U" (p.e., Abe & Wiseman, 1983; Black, 1988; Pires, Stanton & Ostenfeld, 2006). Segundo Black (1988), a primeira fase ocorre logo após a chegada no exterior, quando o estrangeiro está fascinado e em "lua de mel" com a nova cultura e ainda não vivenciou situações que lhe oferecessem uma percepção negativa do país. Em seguida, o expatriado se depara com situações do cotidiano em que percebe que seus hábitos não são congruentes com o ambiente em que se encontra. Nesta fase, é natural que haja um sentimento de rejeição ao país de destino e seu povo. Black (1988) descreve que esta situação se torna mais confortável quando o expatriado entra na terceira etapa, ocasião em que começa a dominar melhor o idioma, os meios de locomoção pela cidade e a aprender novos comportamentos mais apropriados à realidade local. O processo de adaptação se completa no quarto e último estágio, quando a pessoa conhece e consegue desempenhar os comportamentos esperados a tal ponto que lhe permite amenizar a tensão e ansiedades anteriormente presentes devido às diferenças culturais. Diversos fatores podem facilitar o processo de adaptação aqui discutido. Dentre as características do próprio expatriado, pode-se destacar a sua personalidade (Kim & Slocum, 2008; Shaffer, Harrison, Gregersen, Black & Ferzandi, 2006; Ayree & Chen, 2006), seus valores, como o de abertura a novas experiências (Church, 1982; Peltokorpi & Froese, 2009) e 3 sua habilidade para aprender novas culturas, chamada por Kumar, Rose and Subramaniam (2008) de Inteligência Cultural. Já a organização pode cooperar desenhando contratos psicológicos que eliminam barreiras psicológicas prévias (Chen & Chiu, 2009), provendo treinamentos sobre competências técnicas (Shaffer et al, 2006) e sociais (Pires et al.,2006) que levem em consideração as particularidades do país de destino (Tanure et al, 2006) e do perfil da organização (Selmer & Fenner, 2008) e oferecendo apoio nas áreas relacionadas ao trabalho, como moradia e colocação profissional do cônjuge, quando desejado (Chen & Chiu, 2009). O apoio da família (Van der Bank & Rothmann, 2006) e o perfil do país de destino (Lee & Van Vorst, 2010) também podem influenciar a adaptação dos expatriados. Caso o processo de adaptação seja mal sucedido, os expatriados podem sentir-se frustrados a ponto de pensar que as pessoas do país de destino estão criando dificuldades ao seu trabalho (Richards, 1996). O desconforto pode trazer quedas no desempenho e insatisfação quanto ao trabalho (Shay & Baack, 2006). Nos casos mais extremos, o expatriado pode retornar prematuramente ou ser desligado da empresa (Ramalu et al., 2010). Dentre as diversas abordagens para o estudo do ajuste transcultural de expatriados destaca-se a proposta de Black et al (1991). Para estes autores, a adaptação pode ser analisada sob três facetas: geral (satisfação psicológica, clima, alimentação, compras e habilitação), adaptação ao trabalho (adequação às expectativas, padrões de desempenho e valores relativos ao trabalho dos locais) e adaptação à interação (conforto psicológico relacionado às diferenças de comunicação e estilos interpessoais usados na cultura de destino). Estas facetas têm sido empregadas como categorias de análise de alguns estudos sobre adaptação cultural de expatriados (p.e., Searle & Ward, 1990; Bashkar-Shrinivas, Harrison, Shaffer & Luk, 2005; Peltokorpi & Froese, 2009), inclusive no Brasil (Gonçalves & Miura, 2002). Estas categorias representam tanto os aspectos da adaptação dos expatriados que são relacionadas ao trabalho, como aqueles que não o são. Adaptação Transcultural no Brasil Segundo o Brookfield Global Recolocation Services (2010), o Brasil foi classificado por gestores de todo o mundo em 9º lugar no ranking de destinos emergentes para expatriações. Na pesquisa do ano anterior, o país havia ocupado a 7º posição. Este mesmo órgão identificou o Brasil como o 6º destino com os maiores desafios para o processo de expatriação. Esta combinação de alta procura e complexidade como destino para designações internacionais configura uma demanda por pesquisas a respeito da adaptação de estrangeiros no Brasil. Entretanto, poucos têm sido os estudos dedicados a gerar conhecimento sobre as peculiaridades do contexto brasileiro para o recebimento de estrangeiros executivos. Alguns exemplos são as pesquisas de Gonçalves e Miura (2002) e Guiguet e Silva (2003). Há ainda outros que têm analisado a adaptação de brasileiros no exterior (Tanure, Barcellos & Fleury, 2009; Homem, 2005) e alguns ensaios teóricos (Pereira, Pimentel & Kato, 2005; Homem & Dellagnelo, 2006). Estes últimos, todavia, discutem aspectos gerais deste campo da literatura e não objetivam se aprofundar nas especificidades do Brasil enquanto país de destino. Gonçalves e Miura (2002) defendem que os expatriados entrevistados em sua pesquisa enfrentaram maiores dificuldades de ajuste nas dimensões de adaptação geral e relacionada ao trabalho, enquanto a adaptação quanto à interação com os locais foi menos problemática. Guiguet e Silva (2003) identificaram que a personalidade do expatriado e o apoio de sua família possuem papel fundamental na adaptação do estrangeiro. Esses estudos adicionaram à literatura informações úteis a respeito da adaptação de expatriados no Brasil. Entretanto, percebe-se que uma lacuna no que diz respeito à compreensão das particularidades da adaptação de expatriados voluntários se faz presente. No 4 estudo de Gonçalves e Miura (2002), quatro expatriados organizacionais foram entrevistados. Já no artigo de Guiguet e Silva (2003), foram entrevistados 12 EOs da empresa PSA Peugeot Citröen, sendo 6 deles com expatriação no Brasil. Mais recentemente, o estudo de Tanure et al. (2009) que, dentre outros aspectos, analisava brasileiros no exterior, foi realizado com a participação de EOs de 12 empresas. Homem (2005) também direcionou seu foco para executivos com designações de empresas no exterior. Diversos estudos têm sido realizados sobre a cultura nacional brasileira, quase sempre destacando traços culturais predominantes e sua influência na gestão empresarial brasileira (p.e.; Chu & Wood, 2008; Motta, Alcadipani & Bresler, 2001). Personalismo, formalismo, malandragem, hierarquia, sensualismo, estilo aventureiro, "jeitinho brasileiro", distância de poder, plasticidade e não valorização do trabalho manual são algumas das características comumente apontadas. Estes estudos revelam traços culturais que podem ser úteis para caracterizar o contexto brasileiro enquanto ambiente hospedeiro de executivos. Expatriados Organizacionais e Voluntários Apesar da literatura sobre expatriação frequentemente tratar EOs e EVs como um grupo homogêneo, alguns autores têm identificado a necessidade de distingui-los conceitualmente, devido às suas relevantes especificidades. Enquanto EOs são amiúde entendidos como profissionais enviados por multinacionais ao exterior para ocupar um cargo específico ou trabalhar pelo alcance de uma meta (Peltokorpi & Froese, 2009), Lee (2005, p. 173) define EVs como "qualquer pessoa que é admitida sob bases contratuais no exterior, e não transferida por uma organização". EOs se motivam pela expatriação por questões financeiras e como estratégia de carreira e possuem um prazo definido de permanência no exterior (Miller & Cheng, 1978), diferentemente dos EVs, que estão frequentemente em busca de autodesenvolvimento e do cumprimeiro de uma agenda pessoal e não costumam ter prazo para retornar ao país de origem (Howe-Walsh & Schyns, 2010; Peltokorpi & Froese, 2009; Tharenou, 2003). EOs geralmente recebem da empresa o direito a treinamento de idioma e cultural, apoio financeiro e suporte em aspectos não relacionados ao trabalho, como moradia, educação para os filhos (Brookfield Global Recolocation Services, 2010), enquanto EVs devem prover esses elementos por conta própria. Apesar disso, EVs tendem a apresentar maior interação social com os locais (Peltokorpi, 2007). Ariss (2010) defende a necessidade da distinção entre os termos "imigrante" e "expatriado voluntário", uma vez que o primeiro é frequentemente visto como um produto social indesejável que perturba a ordem social e, portanto, não despertaria o interesse das organizações no país de destino. Para ele, o EV possui um maior status social no país de destino que o imigrante e, por isso, o autor argumenta que o conceito de EV se diferencia do de imigrante. Diante disto, Ariss (2010) defende que um expatriado voluntário deve, necessariamente, ser proveniente de um país desenvolvido. Diversos autores têm se alinhado mais ao pensamento de Lee (2005) e têm classificado igualmente pessoas provenientes de países desenvolvidos e em desenvolvimento como EVs. Neste artigo, adota-se o entendimento de que é a qualificação para atuação em posições gerenciais, e não o grau de desenvolvimento econômico do país de origem em relação ao de destino, que diferencia um EV de um imigrante. Se a qualificação para que um indivíduo seja considerado hábil para cumprir uma designação como EO não leva em consideração o desenvolvimento do seu país de origem, mas sua qualificação gerencial e transcultural (Jokinen et al., 2008), entende-se aqui que seria lógico aplicar o mesmo critério ao conceito de EV. Sendo assim, assume-se neste estudo o entendimento de que expatriados voluntários são pessoas de qualificação gerencial que tomam a iniciativa de migrar para outro país com intenção de desempenhar atividades profissionais. 5 Os EVs também podem ser classificados em subgrupos. Suutari and Brewster (2000) identificaram seis tipos de EVs: jovens oportunistas (pouca qualificação profissional e buscam aprender línguas e obter vivência profissional e cultural internacional), caçadores de empregos (insatisfeitos com a oferta de empregos na sua cidade de origem), oficiais (pessoas que solicitaram uma expatriação a uma multinacional), profissionais localizados (decidiram permanecer fora do país durante um longo período, após um período como Expatriado Organizacional), especialistas ou "mercenários" (garimpam pelo mundo experiências internacionais com boas recompensas financeiras e de carreira) e casais de carreira dupla (pessoas acompanhando o cônjuge em expatriação internacional e que buscam dar sequência à sua própria carrreira). O critério adotado neste artigo para a classificação de um estrangeiro como expatriado voluntário - possuir perfil gerencial - desconsideraria apenas jovens oportunistas como EVs. Todos os demais tipos identificados por Suutari and Brewster (2000) foram considerados nesta pesquisa como expatriados voluntários. Apesar de a maior parte dos expatriados no mundo serem voluntários (Selmer & Lauring, 2010) e destes representarem uma opção vantajosa para a obtenção de talentos globais (Myers & Pringle, 2005), estudos que focam esse grupo ainda são escassos no mundo e, segundo o levantamento realizado nesta revisão da literatura, ainda inexistentes no Brasil. Jokinen et al. (2008), em um estudo com 200 expatriados finlandeses, identificaram que EVs tendem a trabalhar em níveis hierárquicos inferiores em relação aos EO e que isso afeta o seu potencial de carreira. Fitzgerald and Howe-Walsh (2008) realizaram uma análise interpretativa fenomenológica de 10 entrevistas conduzidas com mulheres EVs nas Ilhas Caimã e sugeriram que a identidade de expatriadas, e não o gênero feminino em si, como razão para discriminação no mercado de trabalho. A dimensão de gênero também foi explorada por Tharenou (2010) que, em uma revisão da literatura, destacou os aspectos éticos envolvidos na experiência internacional de mulheres EVs. Discordando dos achados de Fitzgerald and Howe-Walsh (2008), Tharenou (2010) argumenta que mulheres que vão ao exterior para dar prosseguimento a uma carreira executiva encontram discriminação de gênero, o que se reflete em menores salários e diferentes critérios de promoção. Já Peltokorpi and Froese (2009) buscaram comparar o processo de adaptação de EOs e EVs no Japão e identificaram que os EVs se adaptaram de forma mais satisfatória nas dimensões de adaptação geral e relativa às interações com locais (Black et al, 1991). Essa pesquisa foi de cunho quantitativo e contou com a participação de 124 EVs e 55 EOs. Em 2010, novos estudos foram realizados sobre o tema. Howe-Walsh and Schyns (2010) apontam sugestões práticas para a Gestão de Recursos Humanos no sentido de facilitar a seleção e adaptação de EVs. Mo and Jian-Ming (2010) afirmam que EVs e EOs possuem diferentes motivações, salários, competências profissionais e se encontram em distintos estágios de carreira. Selmer and Lauring (2010), em uma pesquisa realizada com 428 EVs de meio acadêmico, concluem que algumas motivações para a expatriação diferem segundo a idade e o gênero do expatriado. Por último, Tharenou and Caufield (2010), investigaram as razões para a repatriação de 546 EVs australianos e concluíram que deficiências na adaptação e a ocorrência de eventos isolados frustrantes no país de destino, assim como a facilidade para retornar ao país natal, contribuem para a decisão de retornar ao país de origem. Conforme salientado por Peltokorpi and Froese (2009), estudar as diferenças de adaptação entre EVs e EOs é de suma importância para a pesquisa sobre expatriação e para a compreensão de distintas culturas como ambientes hospedeiros. Assim, esta pesquisa traz avanços ao campo de pesquisa sobre EVs e adaptação transcultural ao analisar as diferenças de adaptação entre dois tipos de expatriados em uma cultura hospedeira emergente como destino para expatriação. 6 METODOLOGIA Devido à escassez de literatura sobre expatriação voluntária, optou-se por uma abordagem exploratória e qualitativa. Com base na orientação de Poirier, Clapier-Valladon et Raubaut (1983) de que, de forma geral, um total de 20 a 30 entrevistados permite o alcance da saturação de dados em pesquisas qualitativas, esta foi a meta adotada para a obtenção da amostra. Assim, foram entrevistados 20 EOs e 24 EVs com perfil profissional executivo e que residem ou residiram no Brasil por pelo menos dois anos. Esse critério de um prazo mínimo de vivência no país foi adotado para que as inferências a respeito da adaptação de EOs e EVs não sejam decorrentes de diferenças na etapa de adaptação (Black, 1988; Pires et al., 2006) em que os sujeitos de ambos os grupos se encontram. Os primeiros sujeitos da pesquisa foram identificados por meio de contatos em blogs e redes sociais disponíveis na internet sobre expatriados no Brasil. Convites para a pesquisa foram enviados para os e-mails pessoais disponibilizados pelos próprios executivos nessas redes sociais. De um total de 183 e-mails enviados, 32 expatriados retornaram a mensagem e aceitaram realizar a entrevista. Destes, 15 (9 EOs e 6 EVs) foram efetivamente entrevistados. Em seguida, empregou-se a técnica de amostragem bola-de-neve (Heckathorn, 1997). Solicitou-se aos já entrevistados que indicassem outros expatriados, criando-se ondas sucessivas de obtenção de informação. Este processo permitiu a realização de 44 entrevistas entre junho de 2010 a fevereiro de 2011, com uma duração média de 30 minutos. A tabela 1 sintetiza o perfil desses expatriados segundo a nacionalidade, sexo e idade. Tabela 1: Participantes da pesquisa Expatriados Organizacionais Código Nacionalidade Sexo EO1 EUA M EO2 EUA M EO3 EUA F EO4 EUA M EO5 EUA M EO6 EUA M EO7 EUA F EO8 EUA M EO9 EUA M EO10 França M EO11 França M EO12 Alemanha M EO13 Reino Unido M EO14 Japão M EO15 Espanha M EO16 Portugal M EO17 México M EO18 Argentina M EO19 Colômbia M EO20 Uruguai M Idade 36 38 45 43 28 43 49 34 38 46 49 42 35 43 47 38 48 50 57 40 * Casadas com expatriados organizacionais *Casados (as) com brasileiros (as) Expatriados Voluntários Código Nacionalidade Sexo EV1 EUA M EV2* EUA F EV3 EUA M EV4 Espanha M EV5* Espanha F EV6 Espanha M EV7 França M EV8** França M EV9 Reino Unido M EV10** Reino Unido M EV11 Portugal F EV12 Portugal M EV13 Itália M EV14 Itália M EV15** Canadá M EV16** Suíca M EV17* Japão F EV18** México F EV19 México M EV20* Argentina F EV21 Argentina M EV22 Chile F EV23** Uruguai M EV24** Venezuela M Idade 38 38 29 30 35 38 28 40 31 44 48 39 33 35 48 41 38 42 30 37 46 46 36 52 Nota. Fonte: Dados da pesquisa 7 As entrevistas foram realizadas por meio de um roteiro semiestruturado. As questões foram baseadas no modelo de adaptação transcultural de Black et al (1991) e foram analisadas por meio de análise categorial temática (Bardin, 1977). Inicialmente, as notas tomadas durante as entrevistas dos EOs e EVs foram classificadas separadamente segundo as facetas da adaptação transcultural propostas por Black et al. (1991). Desta forma, a primeira etapa da análise constituiu-se na identificação dos trechos das entrevistas segundo os critérios de tipo de expatriação (organizacional ou voluntária) e aspectos da adaptação (geral, relativa ao trabalho e relativa à interação). Em seguida, os trechos classificados nestas categorias de análise resultantes foram codificados segundo a interpretação de suas significações. Os temas com significados semelhantes e que se referiam a mesmo conceito foram reunidos sob o mesmo código. Na apresentação e análise dos resultados, foram citadas algumas evidências empíricas que originaram tais códigos que, por sua vez, foram apresentados na forma de proposições. A discussão a respeito das possíveis diferenças na adaptação transcultural de executivos organizacionais e voluntários no Brasil foi organizada a partir desta sistematização dos dados em função das proposições encontradas. É importante ressaltar que, em razão da natureza qualitativa do estudo, não se pretende generalizar os resultados aqui apresentados para toda a população de interesse do estudo. Todas as proposições apresentadas se referem aos sujeitos participantes da pesquisa. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO Como ponto de partida, os expatriados foram questionados a respeito do seu processo de adaptação geral. As questões buscaram abordar como o expatriado percebeu a influência do clima, alimentação, compras, habilitação, obtenção de visto e outros aspectos similares no seu conforto psicológico no Brasil. Adaptação Geral O Brasil é frequentemente apontado na literatura como uma cultura dotada de formalismo, que busca a redução da ambiguidade e da incerteza por meio da criação de muitas regras, normas e procedimentos que transmitam previsibilidade nos sistemas sociais (Chu & Wood; 2008). Esses procedimentos acarretam dificuldades para a realização de atividades e processos do dia a dia, como realizar pagamentos, fechar contratos para locação de residência e serviços públicos. Para um estrangeiro, tais normas e regras geram desconforto, uma vez que o tempo para a resolução desses detalhes tende a ser prolongado para além do normalmente tolerado. O cartão de crédito que eu usava para comprar no mundo todo não serve aqui. Para instalar internet no meu primeiro apartamento, eu precisava de uma conta anterior no meu nome para comprovar o endereço. Como, se eu havia acabado de chegar no país? Isso me deixou completamente sem saber como fazer (EV1, homem, estadunidense). Nas entrevistas, tanto EOs como EVs apontaram dificuldades de adaptação geral em decorrência da burocracia encontrada nos processos necessários à instalação do executivo no país. Entretanto, o suporte organizacional recebido pelos EOs foi essencial para que estes obtivessem e renovassem o visto de trabalho, encontrassem uma moradia adequada, escolhessem a escola dos filhos e resolvessem outras questões de instalação no país. Esse apoio da empresa não se dá apenas por meio da estrutura de processos internos para a recepção de expatriados, mas também pelos contatos que os profissionais responsáveis possuem e usam para superar as dificuldades impostas pela burocracia. A competência do nosso departamento de apoio ao expatriado foi essencial. Eles tinham aquela varinha mágica que abria as portas. Como eles têm o hábito de receber 8 estrangeiros, já têm uma estrutura montada e conhecem as pessoas certas para que as coisas sejam mais rápidas (EO1, homem, estadunidense). Diversos EOs relataram que funcionários da empresa em que trabalham usaram a influência pessoal para agilizar os processos necessários à sua instalação. Segundo Chu e Wood (2008), na cultura brasileira, a aplicação da lei não é universal, mas reservada ao cidadão anônimo, isolado e que não possui relações com pessoas de maior influência na sociedade. A autoridade e o status de uma grande organização fornecem credenciais para que o departamento de RH supere algumas barreiras burocráticas. Os dados mostraram uma diferença na forma como as empresas apoiam os EOs latinoamericanos. Estes relataram supresa quanto ao alto custo de vida no Brasil em comparação aos países da região e destacaram que recebem um apoio de instalação insuficiente por parte das empresas. Enquanto os EOs de origem norte-americana e europeia recebem pacotes de auxílio que incluem benefícios como escolas no perfil do país de origem para os filhos, auxílio-instalação, carro, curso de adaptação transcultural e idioma, o mesmo não ocorre com os latino-americanos. Meus filhos estão em escolas bilíngues, é diferente deles que têm direito a escolas igual ao país deles. Estou pagando curso de português para a minha esposa. Acho que eles pensam que português e o castelhano são mais parecidos do que são na verdade (EO20, homem, uruguaio). Sem contar com a influência de uma organização para apoiar o processo de adaptação, os EVs encontraram mais dificuldades para superar as burocracias. Quase sempre com poucos contatos sociais no país, os expatriados voluntários demoram mais para conhecer as estratégias de navegação social adequados à cultura brasileira. No Brasil, "jeitinho" é frequentemente apontado pelos EVs como o mecanismo para a resolução desses problemas. No começo não tinha outro jeito: eu acabava sofrendo as consequências. Paguei despachante para resolver problema de visto, esperei várias semanas para ter TV a cabo instalada, aluguei uma casa que não era a que eu queria porque não consegui cumprir todas as burocracias que exigiram. (...) Só depois, conhecendo mais pessoas, é que eu fui entender que tem que pedir. Mas tem que saber pedir (risos) (EV13, homem, italiano). Após criar um círculo social e passar por experiências às vezes frustrantes, o EV aprende o papel do "jeitinho brasileiro" na resolução de problemas do dia a dia. Trata-se de um genuíno processo brasileiro de atingir objetivos apesar de determinações contrárias. É uma estratégia usada para burlar normas e regras que dificultariam o alcance do objetivo da pessoa que pede o jeito. Desta forma, ele funciona como uma "válvula de escape individual diante das imposições e determinações" (Motta e Alcadipani, 1999, p. 9). Entretanto, mesmo sem o apoio organizacional, por vezes o expatriado se sente tratado como alguém especial e percebe que sua condição de estrangeiro pode lhe conceder vantagens para resolver problemas. Conforme sugerem Motta et al. (2001), um dos traços culturais do brasileiro é o estrangeirismo, ou seja, a fixação pelo estrangeiro e a valorização do que não é nacional. Uma vez fiquei em uma fila para tratar de um assunto no banco. Levou uns 25 minutos. Quando o gerente me atendeu, ele disse: 'Por que você não disse que era você? Se eu soubesse, não teria feito você esperar!' Até hoje não sei porque ele falou isso (EV17, mulher, japonesa). Desta forma, alguns EVs perceberam que o simples fato de serem estrangeiros poderia lhes conferir um tratamento social diferenciado. Esta característica social da sociedade 9 brasileira, quando percebida, passa a ser aproveitada pelos expatriados voluntários como estratégia de superação de problemas decorrentes do excesso de entraves burocráticos. Com base nessas observações, as seguintes proposições quanto à adaptação geral de expatriados podem ser recomendadas: Proposição 1: O formalismo no Brasil é um desafio importante para a adaptação geral de expatriados organizacionais e voluntários. Proposição 2: O personalismo usado pelo RH da filial brasileira é essencial para facilitar a adaptação geral de EOs. Proposição 3: EVs demoram mais para se adaptar em termos gerais e, quando o fazem, aprendem estratégias de navegação social com locais, como o "jeitinho brasileiro". Proposição 4: EOs latino-americanos têm sua adaptação geral dificultada pelo insuficiente suporte oferecido pela empresa em que trabalham. Proposição 5: A fixação do brasileiro pelo estrangeiro concede ao EV um status social que o ajuda a superar barreiras burocráticas relacionadas à sua adaptação geral. Adaptação quanto ao trabalho Alguns traços relativos à forma de trabalho do brasileiro foram destacados como facilitadores e dificultadores do processo de adaptação de EOs e EVs. Ambos destacaram as tradicionais características brasileiras de evitar conflitos, paternalismo e indisciplina como desafios à adaptação relativa ao trabalho. Tive que gastar um bom tempo para treinar diversos brasileiros sobre como corrigir e dar feedbacks negativos para seus liderados e companheiros. Percebo que vários brasileiros têm dificuldade de dizer para uma outra pessoa que ela não está indo bem (EO8, homem, estado-unidense). As pessoas aceitam atrasos e flexibilizações com muita facilidade. Na França, isso seria inaceitável. Os próprios líderes são tolerantes (EV7, homem, francês). As pessoas gastam muito tempo conversando e isso prejudica a produtividade. No telefone, as pessoas perguntam primeiro como vai a minha mãe, o meu pai e depois eles falam. Os e-mails são meio longos. Sei que isso é algo de latinos, mas (...) acho isso complicado (EO13, homem, inglês). A forma de lidar com esses conflitos relativos a diferenças culturais, de forma geral, varia entre EOs e EVs. Diversos EOs revelaram que apesar de terem recebido treinamentos a respeito da cultura brasileira, enfrentaram desafios para lidar com equipes com essas características. Frequentemente, a saída encontrada foi impor um padrão de trabalho mais alinhado com a organização de origem. Entre os EVs foi mais comum encontrar relatos que ressaltam a importância do expatriado aprender a obter resultados de uma equipe respeitando seus padrões culturais. Um dos EVs, casado com uma brasileira, ressaltou que: Você precisa aprender como as coisas funcionam aqui. Não dá para achar que o meu jeito de trabalhar é o único que dá certo no mundo. Conviver no dia a dia com uma mulher brasileira, me ajuda a entender como vocês são. Vocês precisam de pausas para produzir. Vocês ficam até muito mais tarde no trabalho que nós, mas fazem questão do cafezinho. Sabe, e isso mostra que não é falta de interesse ou efetividade. (EV15, homem, suíço). Em geral, relatos como esse revelam que a perspectiva temporária e a designação instituicional do EO lhe transmitem uma ideia de que ele vem ao país de destino como um missionário orientado a ensinar uma forma de trabalho entendida como ideal na organização de origem. Por outro lado, o fato de ser contratado por brasileiros e a decisão própria de 10 migrar para o Brasil torna o EV mais capacitado e predisposto para trabalhar de forma a considerar os preceitos compartilhados na cultura local. Entre os EOs latino-americanos notou-se um discurso que revela que a falta de apoio organizacional produz dificuldade para legitimar sua posição diante dos liderados brasileiros. Não recebi treinamento (...) para entender o brasileiro (...). Parece que a empresa acha que eu preciso dar graças a Deus por estar aqui (EO19, homem, colombiano). Brasileiro gosta de trabalhar com alguma flexibilidade. O problema é que no mundo moderno, prazo é tudo. Tem que ser pontual, tem que entregar no prazo. (...) Fico com a impressão de que eles acham que estou sendo um traidor ao agir assim com eles. Sou argentino, sou um vizinho, mas tenho um estilo gerencial mais europeu (EO18, homem, argentino). De acordo com essas palavras, pode ser que os líderes das organizações que os designam para atividades no Brasil suponham que os países latino-americanos possuem culturas mais semelhantes do que de fato são. Foi também destacada a percepção de que, por meio da designação internacional, estariam recebendo um favor, uma oportunidade rara de construir uma carreira internacional e que, por essa razão, deveriam esperar um apoio menor que aquele recebido por EOs originados de países desenvolvidos. Outra dificuldade de adaptação relatada por EOs latino-americanos se refere ao fato de que os brasileiros os vêem como pessoas com valores culturais semelhantes aos encontrados no Brasil. Com isso, esperam que o expatriado latino-americano trabalhe segundo os padrões culturais locais. Assim, não é raro que o EO latino-americano, que chega ao Brasil frequentemente imbuído dos valores de uma organização de origem norte-americana ou européia, sinta-se com dificuldades para comunicar esse perfil aos liderados locais. Um dos entrevistados chegou a afirmar que: Eles (os brasileiros) não nos veem como expatriados; é imigrantes. De certa forma, eu até entendo. Há uma diferença na forma como eles (a empresa) tratam os expatriados estrangeiros. Para eles tem tudo. Têm apoio de todos os jeitos. É óbvio que essa diferenciação traz consequências para a nossa imagem (EO17, homem, mexicano). Desta forma, o entrevistado revela a importância da discussão sobre o conceito de "expatriado". Ao usar o termo "expatriados estrangeiros" para se referir àqueles de nacionalidade norte-americana ou europeia, o participante da pesquisa desnuda uma crença de que o EO latino-americano seria tratado no Brasil como uma espécie de "expatriado nacional", uma expressão contraditória em si própria. Este dado poderia ser usado como suporte para a afirmação de Ariss (2010) de que, para ser chamado de expatriado, o executivo estrangeiro deve ter como origem um país desenvolvido. Entretanto, um dos EOs latinoamericanos (EV18, homem, argentino) relatou que não sente diferenciação no tratamento dispensado a ele e a expatriados de países desenvolvidos. Isso embasa o posicionamento apresentado no referencial teórico de que a habilidade gerencial e não a origem do expatriado, pode ser entendida como um requisito na definição do termo. O apoio organizacional a um EO latino-americano - e não sua origem - legitima sua posição como tal. Dentre os fatores destacados como facilitadores da adaptação ao trabalho, destaca-se a frequente citação à capacidade improvisação, adaptabilidade e criatividade do brasileiro. A partir das descrições apresentadas neste tópico, apresentam-se as seguintes proposições: Proposição 6: O EO cumpre designações estrangeiras e costuma impor uma cultura de trabalho alinhada aos valores do país e da organização de origem. Proposição 7: O EV cumpre missões transmitidas por gestores brasileiros e procura liderar conciliando práticas competitivas internacionais com características da cultura local. 11 Proposição 8: O insuficiente apoio oferecido a EOs latino-americanos no Brasil (proposição 4) reflete uma falta de legitimidade da liderança destes diante dos empregados brasileiros. Adaptação quanto à interação As características de comunicação e a visão quanto ao relacionamento interpessoal expatriado e da cultura de destino determinam o que Black et al. (1991) chama de adaptação quanto à interação. Quando questionados a respeito deste tema, EOs e EVs destacaram a aprendizagem da língua portuguesa como um grande desafio. Todavia, ambos ressaltaram que diversos brasileiros, não somente no ambiente de trabalho, apesar de frequentemente não dominarem outros idiomas, se esforçam para fazer-se entender por estrangeiros. Sem dúvida, a língua foi a maior barreira. Tenho dificuldades com o português. O problema é que em casa, minha família só fala em inglês. Se o povo não tivesse essa tolerância, minha esposa não sairia de casa, uma vez que ela não aprendeu praticamente nada do português (EO5, homem, estadunidense). Uma coisa que ajudou é que muitas pessoas, mesmo sem falar o inglês perfeitamente, tentam nos ajudar na minha língua. Isso ajudou muito no começo! Hoje em dia nem tanto, pois tenho muitos amigos que falam em português comigo o tempo todo, então já consigo me comunicar (EV9, homem, inglês). Historicamente, o brasileiro se acostumou a adotar uma postura solícita e dócil em relação ao imigrante. Caldas (1997, p. 79) utiliza o termo o "estrangeiro significativo" para descrever uma "figura arquetípica mutante, que se deslocou de nacionalidade e de origem no tempo e no espaço". Ele sustenta que lusitanos, parisienses, londrinos e norte-americanos ocuparam, em diferentes períodos a posição de estrangeiro significativo no Brasil, ou seja, de referência cultural, econômica e institucional. Esta característica histórica produziu uma cultura complexa, multifacetada e sempre aberta ao exterior. Hoje, tal postura se reflete no interesse em receber o estrangeiro de forma solícita e, segundo os entrevistados, pode ser considerada como facilitadora à adaptação de expatriados. Apesar de essa postura ser um auxílio à adaptação quanto à interação de ambos os grupos de expatriados, no longo prazo, o EV vivencia situações que favorecem mais o aprendizado do idioma local. Segundo alguns entrevistados, o próprio fato de necessitarem resolver diversos problemas ligados à adaptação geral por si próprios os faz passar por um processo urgente de aprendizagem do idioma e dos padrões de comunicação interpessoal. Peltokorpi e Froese (2009) encontraram resultados semelhantes em uma pesquisa sobre a adaptação de expatriados no Japão. O fato de receber maior apoio organizacional diminui a necessidade de interação entre os EOs e os locais. Aliado à temporalidade da sua permanência no Brasil e ao caráter cosmopolita das cidades onde vivem os expatriados entrevistados - Rio de Janeiro e São Paulo -, este fato cria um cenário de isolamento social do EO. Se você mora em um grande centro do Brasil, você se sente no mundo. Como as comidas que comia na minha infância, meus filhos estudam em escolas semelhantes àquelas dos Estados Unidos e ainda me reúno em bares com outros americanos para as finais da NBA, Superbowl... Você demora um pouco para encontrar um ciclo de lugares da cidade, mas depois disso, é só ficar restrito a esses lugares. Você cria um roteiro previsível e sem perigo (EO6, homem, estadunidense). Uma estratégia comum adotada é criar "ilhas de primeiro mundo" na cidade de destino. Assustado com a complexidade do trânsito de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, com as dificuldades com o idioma e com os rumores de violência urbana, o EO frequentemente resume sua vida social à interação com outros EOs em um ciclo de locais 12 conhecidos e de fácil acesso. Uma vez estabelecida esta rotina, os expatriados organizacionais entrevistados raramente arriscam novos destinos e ciclos sociais para interação. Diversos alegaram também que percebem uma excessiva demanda por demonstração de afeto e que isso acarreta uma resistência a interagir com locais. Por outro lado, os EVs que participaram da pesquisa mostraram uma maior necessidade de interagir com locais e "vivenciar um pouco do que é ser brasileiro" (EV11, mulher, portuguesa). Assim como encontrado por Vance (2005), não é raro que o expatriado voluntário seja casado com um local, o que facilita ainda mais seu processo de inserção social. Mais uma vez, os expatriados organizacionais latino-americanos apresentaram uma particularidade, conforme observado nos seguintes fragmentos: É estranho. Por mais que a minha esposa cobre, eu tenho resistência a me associar com brasileiros, pois soa mal diante dos outros expatriados. Soa mal dizer isso, eu sei, mas... Eu preciso manter uma postura (EO18, homem, argentino). O brasileiro é mais ou menos parecido com a gente do nosso país. Mas eu sou diferentes de ambos. Estudei muito tempo nos Estados Unidos, e de alguma forma, absorvi muito de lá (EO17, mexicano, homem). Apesar de serem originados de países com um perfil cultural mais próximo ao brasileiro que do europeu e do norte-americano, as falas dos expatriados latino-americanos entrevistados sugerem que o fato de terem cursado um MBA ou trabalhado no exterior lhes confere uma identidade de modernidade, que está associada à assimilação de comportamentos, valores e técnicas de gestão adotados nos países em que estudaram ou trabalharam. Para sustentar essa identidade e evitar perda de status, eles entendem que devem agir como os EOs norte-americanos e europeus, mesmo que, para isso, em alguns casos, necessitem reprimir uma demanda pessoal ou familiar por interação com locais. A partir dessas observações, as seguintes proposições são apresentadas: Proposição 9: EOs interagem socialmente em "ilhas de primeiro mundo", enquanto EVs possuem interagem predominante com locais. Proposição 10: O traço cultural brasileiro de abertura e fixação pelo estrangeiro, apreciado pelos EVs, é considerado como uma demanda social incoveniente pelo EO. Proposição 11: EOs latino-americanos evitam contatos sociais com locais, com receio de perder status diante de outros expatriados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo teve como objetivo compreender possíveis diferenças na adaptação de expatriados organizacionais e voluntários no Brasil. A comparação das entrevistas realizadas permitiu identificar que os EOs, por contarem com apoio organizacional mais amplo, conseguem superar mais facilmente a estrutura burocrática brasileira em seu processo de adaptação geral. Por outro lado, os EVs se sentem mais confortáveis nas dimensões de adaptação quanto ao trabalho e à interação com locais. Este resultado difere parcialmente do apresentado por Peltokorpi e Froese (2009) ao comparar as adaptações de EOs e EVs no Japão. Esses autores identificaram que os EVs alcançam uma adaptação geral mais satisfatória que os EOs em terras nipônicas. Talvez a explicação para esta diferença resida no alto grau de burocracia encontrado no Brasil para a resolução dos aspectos envolvidos na adaptação geral. Um aspecto inesperado e que parece ter sido um achado importante deste estudo se refere às características específicas da adaptação de expatriados latino-americanos no Brasil. Entre os EOs da Argentina, Colômbia, México e Uruguai, identificou-se uma percepção de que a empresa em que trabalham subdimensionam o apoio necessário para sua adaptação geral. Além disso, notou-se também que os EOs latino-americanos entrevistados afirmam que 13 este posicionamento da empresa acarreta perda de status e de legitimidade enquanto líder. A questão de ter a liderança respeitada apareceu como uma preocupação deste grupo de expatriados, o que os leva a evitar contatos sociais informais com locais. O caráter qualitativo e exploratório desta pesquisa não permite generalizações, no entanto os resultados apresentados possibilitam avançar na compreensão das tendências de como o contexto brasileiro influencia a adaptação de EOs e EVs de diferentes origens. Além disso, permitem também apontar sugestões para a prática gerencial e para pesquisas futuras sobre o tema. Uma limitação constatada foi o reduzido número de expatriados latinoamericanos encontrados. Uma vez que o objetivo do estudo centralizou-se na distinção entre dois tipos de expatriação, o processo de amostragem não objetivou segmentar a amostra por nacionalidade dos participantes. Novas pesquisas podem ser realizadas com mais expatriados latino-americanos buscando-se conhecer mais profundamente as propriedades da adaptação desses profissionais no Brasil. Ainda que a amostragem em pesquisa qualitativa não seja orientada por representatividade, acredita-se que novas entrevistas poderiam revelar outras propriedades importantes. Outra abordagem válida seria estudar a adaptação de expatriados brasileiros voluntários e organizacionais em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Por último, recomenda-se a realização de estudos quantitativos que mensurem possíveis diferenças na adaptação e nos valores de EOs e EVs no Brasil, o que seria útil para reafirmar a inadequação do tratamento dos dois grupos de forma homogênea em pesquisas. Para as empresas, recomenda-se o desenvolvimento de estratégias de recrutamento e seleção de EVs no Brasil. Apesar de ser um país geograficamente distante de países desenvolvidos, o Brasil é escolhido como destino de carreira por profissionais qualificados em nível gerencial. Conforme ressaltam Chu e Wood (2008) os gestores que atuam no Brasil enfrentam constantes pressões contraditórias: ao mesmo em que são pressionados a desenvolver traços típicos do período pós-globalização, como valorização do planejamento e da gestão do tempo, eles também interagem com pares e líderes pouco afeitos a disciplina. Desta forma, EVs representam uma alternativa de baixo custo para a internacionalização da gestão empresarial. Ao mesmo tempo em que diversos deles são conhecedores dos paradigmas de gestão orientados por forças competitivas e consagrados mundialmente, estão também adaptados à cultura brasileira e, assim, mais preparados para adotarem um modelo de gestão que melhor concilie ambas as perspectivas. Além disso, recomenda-se também que as empresas que possuem EOs latino-americanos designados para atuação no Brasil atentem para a necessidade de melhor apoiá-los na adaptação e legitimação da liderança. REFERÊNCIAS Abe, H.; Wiseman, R. L. A. (1983). 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