SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Pró-Reitoria de Graduação
Diretoria de Processos Seletivos
PROCESSO SELETIVO – 2014-2
SEGUNDA FASE – SEGUNDO DIA
LITERATURA
SUGESTÕES DE RESPOSTAS
PRIMEIRA QUESTÃO
A)
Embora Lima Barreto tenha finalizado Clara dos Anjos no Brasil da Primeira República,
em 1922, e Nelson Rodrigues tenha trazido a público Anjo Negro em 1946, no fim do
Estado Novo e início do governo Gaspar Dutra, as duas histórias têm como cenário uma
sociedade excludente e intolerante, principalmente com relação aos afrodescendentes.
Cada um destes personagens reage a seu modo diante do preconceito. Clara dos Anjos
foi educada em um subúrbio pobre do Rio de Janeiro, mas dentro de uma moral
burguesa branca, a qual ela absorveu de forma pacífica, tanto que acreditava que o
casamento com um homem branco poderia melhorar sua condição social. Mas, quando
Clara dos Anjos engravida de Cassi Jones, é maltratada e repudiada pela sogra, a qual
não suportava a ideia de ver seu filho branco e burguês, casado com uma pobre mulata
costureira. Assim, depois de ser ofendida por dona Salustiana, Clara ganha consciência
da sua exclusão na sociedade e reage com raiva e rancor diante das humilhações pela
qual passava, mas depois, de forma subserviente e humilde aceita sua condição de
menina pobre e negra. Ao final do romance ela diz a sua mãe: “nós não somos nada
neste mundo!”.
Já o personagem Ismael da peça Anjo Negro, desde o início, repudia veementemente a
sua cor, introjectando de forma radical os valores brancos. Ismael reproduz a ética
branca e autoritária. Ismael nunca bebia cachaça, pois achava que era bebida de
negros, também evitava as mulheres mulatas e negras. Ismael reagia de forma violenta
e colérica diante das questões da negritude. Além de ter cegado seu irmão de criação
Elias, por invejar sua cor branca, Ismael cega também sua filha Ana Maria para que ela
nunca soubesse que ele era negro. E mais: Ismael, quando adolescente, tirou da parede
o quadro de São Jorge, atirando-o pela janela, pois acreditava que era um santo ligado
aos negros. Ismael se formou em medicina e só andava de branco, elegantíssimo de
chapéu panamá e sapatos de verniz. Também se casou com uma mulher branca e
morava em uma casa muito elegante, mas todos os seus empregados e serviçais eram
negros. Desta forma, Ismael, ao contrário de Clara dos Anjos, nunca aceitou
passivamente o fato de conviver em uma sociedade excludente. Se Clara dos Anjos, ao
final do romance, tem consciência da sociedade racista na qual ela vive e acaba
aceitando de forma humilde sua condição de afrodescendente, Ismael sempre negou
sua própria cor, reagindo de forma violenta ao fato de ser negro. Assim, apresentando
preconceito de si mesmo, ele reproduziu, infelizmente, o que de pior a elite branca lhe
pode oferecer.
B)
Elias revela para Virgínia que Ismael, desde pequeno, nunca se conformou em ser
negro e ter um irmão de criação branco. Ismael batia e maltratava Elias. Sempre
revoltado com a situação, aproveitou do fato de Elias apresentar um problema
oftalmológico, resolveu maldosamente trocar os remédios: o que causou cegueira nos
dois olhos da vítima. Segundo ainda Elias, mesmo depois de vê-lo cego, Ismael
continuou a atormentá-lo durante toda a sua vida. O ódio maior de Ismael por Elias
desaguou em um assassinato. Ismael atira em Elias, quando descobre finalmente, que o
irmão adotivo branco era amante de sua esposa Virgínia e a menina, Ana Maria, fruto
deste amor adúltero.
SEGUNDA QUESTÃO
A)
Os dois últimos versos da primeira estrofe “Canta dentro de ti a ave da graça/ na gaiola
dos teus quatorze versos”, fazem referência à forma fixa do soneto tradicional que é
composto de dois quartetos e dois tercetos. Assim, quatorze é a soma total dos versos
de um soneto. Como o poeta precisa moldar sua inspiração ou suas ideias neste espaço
pequeno e apertado desta forma fixa, às vezes, o soneto era chamado de gaiola, onde a
poesia do autor, aprisionada neste espaço, era considerada metaforicamente, como o
canto de uma ave. Assim, os dois últimos versos da primeira estrofe são metapoéticos,
ou seja, a linguagem da poesia se debruça sobre o próprio fazer poético, explicando
quantos versos existem em um soneto.
B)
Para Menotti Del Picchia, o povo que viveu fazendo versos, seria o povo brasileiro, o
qual usa geralmente o soneto para expressar seus sentimentos. Para o senso comum ou
para a maioria das pessoas no Brasil, o soneto ainda seria a única forma de se fazer
poesia, ou a forma mais autêntica e mais popular para desenvolver seus versos. Não se
pode esquecer que os poetas mais conhecidos do grande público médio são os
parnasianos Olavo Bilac, com o soneto “Última flor do Lácio”, Augusto dos Anjos, com
“Versos Íntimos”, Raimundo Correia, com “As pombas”. Daí o título do poema e a
homenagem que o poeta faz a essa forma de composição que é muito popular até hoje.
TERCEIRA QUESTÃO
A)
A epígrafe já anuncia a característica de Maria Irma, a prima do protagonista, que,
feiticeira, manipula a todos para realizar seu desejo amoroso dirigido ao noivo da amiga.
Por isso, ela direciona o primo, que lhe amava, para a amiga, liberando o noivo da outra
para si.
B)
Nesse conto, é possível pensar em várias outros momentos nos quais os pássaros são
citados como antecipadores ou reveladores de características dos personagens ou
episódios da narrativa. Entre outros, poderão ser citados:
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Os partidos políticos recebiam nomes de pássaros: o partido do tio do protagonista
era João-de-Barro, marcando a característica mais sólida do tio, e a oposição era
Periquito, que condiz com o modo como o adversário se gabava, sem, no entanto,
estar ganhando de fato.
Na pescaria com Bento Porfírio, o sabiá canta tristemente, o que condiz com o
estado de alma do peão, que está apaixonado por uma mulher casada. Bento diz
que não gosta deste pássaro, porque traz para sua alma um estado melancólico.
No episódio do assassinato de Bento por Alexandre, marido de sua amante,
novamente Bento se queixa do sabiá, cantando uma cantiga que faz com que o
sabiá vá-se embora. Assim, este pássaro que simbolizava o estado emocional de
Bento sai de cena, quando ele morre.
Quando se afasta da fazenda do tio, lamentando-se pela indiferença de Maria Irma
pelos seus sentimentos, o canto de um papagaio, cheio de gracejos e que a
empregada comenta ser a música que eles cantam por último, anuncia a virada da
situação. Após ouvi-lo, o protagonista comenta ter saído do estado de tristeza que o
acompanhava há dias.
QUARTA QUESTÃO
A)
Os textos de Felicidade clandestina se encontram nas fronteiras dos gêneros literários,
uma vez que podem ser considerados como narrativas, já que se guiam por uma ordem
temporal, apresentam um narrador e episódios, mas também trazem reflexões íntimas,
que os levam a um patamar do gênero ensaístico. Da mesma forma, apresentam
características da crônica, e também dos gêneros memorialísticos. Assim, são apenas
“isto”, textos impossíveis de serem classificados, o que os torna mais literários, já que
mais originais.
B)
Todos os textos perpassam por estas fronteiras. Entre outros, podem-se citar:
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“Felicidade clandestina”, “Cem anos de perdão” apresentam uma narrativa que
pode ser autobiográfica;
“Uma amizade sincera” é uma narrativa de uma amizade que apresenta reflexões
íntimas e densas, beirando o ensaio;
“Miopia progressiva”, “Legião estrangeira” é uma narrativa em que o foco
narrativo incide tão densamente sob as reflexões mais profundas do personagem,
que traz uma vislumbres da subjetividade que beira a poesia;
“A quinta história” traz marcas metalinguísticas tão fortes que a narrativa se dilui
no jogo da narração.
Assim, os vários textos deste livro confrontam a noção tradicional de gênero e propõem
novas leituras das possibilidades literárias.
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