CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA Faculdade de Tecnologia de Jundiaí Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental LETÍCIA ROSSINI ARANTES SAMARA MENDONÇA KRIEGER REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREA RURAL: com elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos e iniciativa de educação ambiental Jundiaí 2013 i LETÍCIA ROSSINI ARANTES SAMARA MENDONÇA KRIEGER REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREA RURAL: com elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos e iniciativa de educação ambiental Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Tecnologia de Jundiaí como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Ambiental, sob a orientação da Professora Ms. Ana Carolina B. G. Veredas. Jundiaí 2013 ii Trabalho de Conclusão de Curso apresentado, como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Ambiental, à banca examinadora da Faculdade de Tecnologia de Jundiaí. Nota: ___________________________ Data da defesa: ___________________ ________________________________ Orientador Aprovada Aprovada com restrições _______________________________________ Prof. Dra. Fernanda Alves Cangerana Pereira Reprovada iii Este trabalho é dedicado aos nossos amigos e familiares, pela paciência e entendimento da importância da realização deste trabalho para a nossa formação acadêmica e profissional, assim como pela contribuição com a sociedade e o meio ambiente. iv AGRADECIMENTOS Agradecemos a nossa orientadora Prof.ª Ms. Ana Carolina B. G. Veredas pela dedicação e contribuição com o desenvolvimento deste trabalho. Aos colaboradores e a direção da área de estudo pela permissão e envolvimento com o tema. À direção, à coordenação de curso e aos professores da FATEC-Jundiaí que de alguma forma contribuíram com o presente trabalho. E por fim e sem menos importância ao Centro Paula Souza pela oportunidade. v A harmonia com a Terra é como a harmonia com um amigo; não se pode segurar a mão direita e ceifar a esquerda. Aldo Leopold vi ARANTES, Letícia Rossini e KRIEGER, Samara Mendonça. REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREA RURAL: com elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos e iniciativa de educação ambiental 76 f. Trabalho de Conclusão de Curso de Tecnólogo em Gestão Ambiental. Faculdade de Tecnologia de Jundiaí. Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Jundiaí. 2013. RESUMO O aumento da população mundial e a demanda crescente por alimentos é uma das grandes preocupações atuais. Visando assegurar produtividade e qualidade tem sido empregados agrotóxicos em diversas etapas da produção agrícola: no tratamento prévio das sementes, durante o cultivo ou após a colheita (SANCHES et al, 2003). Dentro deste contexto, a realização de um diagnóstico ambiental, com enfoque na elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos químicos gerados em áreas rurais e iniciativas de educação ambiental, proposto neste trabalho, vem ao encontro para a contribuição da questão do correto manuseio destes produtos. Quatro atividades principais foram realizadas para obtenção do diagnóstico: revisão da literatura, questionário com o público alvo, avaliação in loco e registro fotográfico, gerando uma matriz de impactos que elenca os principais aspectos e impactos ambientais observados e suas ações de mitigação. Como resultado prático, originou-se um manual orientativo e aplicação de iniciativa de educação ambiental. Concluindo que, a gestão ambiental para a temática dos defensivos agrícolas é de suma importância para atingir a conformidade legal, garantindo a saúde e segurança do trabalhador, bem como a minimização de impactos ambientais. Palavras-chave: defensivos agrícolas, gerenciamento de resíduos, diagnóstico ambiental, iniciativa ambiental. vii ARANTES, Letícia Rossini e KRIEGER, Samara Mendonça. EXECUTION OF AN ENVIRONMENTAL DIAGNOSTIC IN RURAL AREA: with elaboration of a waste management plan and environmental education initiative 76 f. End of course paper in Technologist Course in Environmental Management. Faculdade de Tecnologia de Jundiaí. Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Jundiaí. 2013. ABSTRACT The increasing world population and the growing demand for food is a major concern today. Focusing to ensure productivity and quality have been used pesticides in various stages of agricultural production: the pretreatment of seeds, in cultivation or after harvest (SANCHEZ et al, 2003). In this context, the realization of an environmental diagnostic, with a focus on developing a waste management plan in rural areas and environmental education initiatives proposed in this work, meets the contribution to the issue of proper handling of these products. Four main activities were carried out to obtain the diagnosis: a literature review, questionnaire with the target audience, site evaluation and photographic record, generating an impact matrix that lists the main environmental aspects and impacts observed and their mitigation actions. As a practical result, there arose a guidance manual and application of environmental education initiative. Concluding that the environmental management for the theme of pesticides is extremely important to achieve legal compliance, ensuring the health and safety of workers as well as the minimization of environmental impacts. Keywords: pesticides, waste management, environmental diagnostic, environmental initiative. viii LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Detalhe para o rótulo em amarelo do agrotóxico – Classe II, Altamente tóxico .........................................................................................................................19 Figura 2 – Esquema prático da metodologia adotada para realização do diagnóstico ambiental na área em estudo ...................................................................................27 Figura 3 - Ciclo dos defensivos agrícolas .................................................................37 Figura 4 - Preparação do equipamento ....................................................................38 Figura 5 - Uso do EPI ...............................................................................................39 Figura 6 - Preparação da calda ................................................................................39 Figura 7 - Despejo da calda no tanque .....................................................................39 Figura 8 – Tríplice Lavagem .....................................................................................39 Figura 9 – Lavagem de utensílios ............................................................................40 Figura 10 – Pulverização ..........................................................................................40 Figura 11 – Elaboração da Iniciativa Ambiental .......................................................41 Figura 12 – Resultados do Diagnóstico ....................................................................43 Figura 13 – Ed. Ambiental I ......................................................................................47 Figura 14 – Ed. Ambiental II .....................................................................................47 Figura 15 – Ed. Ambiental III ....................................................................................47 Figura 16 – Sugestão para segregação da água residual da lavagem do tanque ....49 ix LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo a ANVISA ............19 Quadro 2 – Defensivos mais utilizados pela área de estudo ....................................28 Quadro 3 – Critério utilizado para classificação de impacto ambiental segundo sua importância ...............................................................................................................44 Quadro 4 – Levantamento de aspectos e impactos ambientais identificados na área de estudo ..................................................................................................................45 x LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Resultados do questionário Preliminar ..................................................51 Gráfico 2 – Conhecimento sobre os pontos abordados na Ed. Ambiental ...............51 Gráfico 3 – Resultado do Questionário final .............................................................52 xi SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 15 1.1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DOS AGROTÓXICOS ........................................................ 15 1.2 IMPACTOS À SAÚDE HUMANA............................................................................... 16 1.3 IMPACTOS AO MEIO AMBIENTE ............................................................................. 17 1.4 CLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA DOS AGROTÓXICOS .............................................. 18 1.5 GESTÃO AMBIENTAL EM ÁREAS RURAIS ............................................................... 20 1.6 NORMAS E LEGISLAÇÕES .................................................................................... 21 1.7 PROCESSO DE LOGÍSTICA REVERSA..................................................................... 23 1.8 ALTERNATIVAS E PRÁTICAS AGRÍCOLAS ............................................................... 24 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 26 2.1. APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ............................................................................ 27 2.1.1 Área - Atividade de Campo ....................................................................... 28 2.1.2 Área entrevistada – Laboratório ................................................................ 31 2.1.3 Área entrevistada – Administrativo ............................................................ 32 2.2. AVALIAÇÃO IN LOCO ........................................................................................... 33 2.2.1 Fluxograma da Atividade de Campo ......................................................... 36 2.3 REGISTRO FOTOGRÁFICO.................................................................................... 38 2.4 INICIATIVA AMBIENTAL ......................................................................................... 41 3 ANÁLISES E RESULTADOS ................................................................................ 43 3.1 MATRIZ DE IMPACTOS ......................................................................................... 43 3.1.1 Manual Orientativo .................................................................................... 46 3.1.2 Iniciativa de Educação Ambiental.............................................................. 46 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 APÊNDICE A – MANUAL ORIENTATIVO ............................................................... 60 APÊNDICE B - RELATO DE INICIATIVA AMBIENTAL........................................... 68 xii APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA AS ATIVIDADES ADMINISTRATIVO, LABORATORIAL E CAMPO .................................................................................... 70 APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO PRELIMINAR E FINAL APLICADOS NA INICIATIVA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL .............................................................. 72 13 INTRODUÇÃO O aumento da população mundial e a demanda crescente por alimentos é uma das grandes preocupações atuais. Visando assegurar produtividade e qualidade tem sido empregados agrotóxicos em diversas etapas da produção agrícola: no tratamento prévio das sementes, durante o cultivo ou após a colheita (SANCHES et al, 2003). Entretanto, seu emprego deve ser controlado devido à alta toxicidade de alguns deles (KNEZEVIC E SERDAR, 2009). Portanto, o uso adequado de agrotóxicos é um dos temas que vem atraindo a atenção de vários segmentos do setor agrícola, uma vez que tem implicações em três áreas básicas de grande importância no contexto global da sustentabilidade da agricultura: a preservação do ambiente, a segurança da saúde dos usuários e a segurança alimentar. Dentro deste contexto, a realização de um diagnóstico ambiental, com consequente elaboração de plano de gerenciamento de resíduos químicos gerados em áreas rurais, proposto neste trabalho, vem ao encontro para a contribuição desta questão do correto manuseio destes produtos. O presente trabalho tem como objetivo a realização de um diagnóstico ambiental com enfoque na elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos químicos e iniciativas de educação ambiental em áreas rurais, tendo como foco de estudo uma propriedade rural, localizada na cidade de Jundiaí-SP, por apresentar as condições favoráveis e necessárias para a elaboração do plano de manejo. No contexto apresentado, este trabalho tem como objetivos específicos: 1) Abordar o estado da arte de defensivos agrícolas e seu correto manejo; 2) Levantar os instrumentos legais e estudar os aspectos jurídicos e de regulamentação relacionados ao tema; 3) Fazer um diagnóstico ambiental, por meio de diferentes ferramentas que forneçam uma visão macro dos processos na área rural; 4) Propor medidas que priorizem o uso eficiente e ambientalmente adequado dos produtos em questão e sugerir alternativas, do ponto de vista de viabilidade técnica, operacional, financeira e ambiental, buscando promover as ações integradas de gestão de resíduos sólidos gerados em áreas rurais; 14 5) Elaborar um plano de gerenciamento, direcionado ao público alvo, consolidando as informações coletadas ao longo da pesquisa e desenvolvimento do estudo e advindas do diagnóstico; 6) Promover iniciativas de educação ambiental, buscando uma abordagem transversal nas temáticas da não geração, redução, consumo consciente, produção, consumo sustentáveis e orientação e adoção de ações de curto, médio e longo prazo. 15 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA As transformações ambientais, as quais o homem intensifica por meio do uso de técnicas, equipamentos e produtos químicos, interferem no equilíbrio dos ecossistemas com prejuízo para a qualidade do solo e sua microbiota, aos recursos hídricos, à fauna e flora e ao próprio homem. A perda da qualidade do solo está intimamente relacionada com a redução da capacidade de produção de alimentos. Causando assim danos à sustentabilidade da vida. (OLIVEIRA, 2012) Desta maneira é fundamental a adoção de medidas sustentáveis e ecologicamente corretas na produção agrícola no Brasil e no mundo. 1.1 Histórico e Evolução dos Agrotóxicos Os agrotóxicos foram desenvolvidos na Primeira Guerra Mundial e utilizados mais amplamente na Segunda Guerra Mundial como arma química. Com o fim da guerra, o produto desenvolvido passou a ser utilizado como "defensivo agrícola". No pós-guerra, os vencedores articularam uma expansão dos seus negócios a partir das indústrias que haviam se desenvolvido durante o conflito, e entre elas a indústria química. (SANTOS, 2009) Na Europa havia fome. Foi então que surgiu a revolução verde, que visava promover a agricultura, gerando comida para os famintos do mundo. A revolução verde chegou ao Brasil em meados da década de 60. Foi implantada através de imposição das indústrias químicas e do governo brasileiro: o financiamento bancário para a compra de semente só saia se o agricultor comprasse também o adubo e o agrotóxico. (SANTOS, 2009) Esta política levou a uma grande contaminação ambiental, sem que a fome fosse extinta. Hoje, 1/5 das crianças não ingerem a quantidade suficiente de calorias e proteínas que necessitam. E cerca de 2 bilhões de pessoas – terceira parte de humanidade – sofrem de anemia. A cada ano 30 milhões de pessoas morrem de fome no mundo e 800 milhões sofrem de subalimentação crônica. É preciso, desse modo, não só um modelo econômico diferente, mas também um modelo que atente para a problemática ambiental em prol de um bem-estar 16 social (PACOBAHYBA & BELCHIOR, 2011). No ano de 1987, as vendas dos agrotóxicos não ultrapassavam as 100 mil toneladas. Fazendo um comparativo com o ano de 2012, estas vendas ultrapassaram mais de 825 mil toneladas, o que movimentou para o agronegócio um pouco mais de US$ 8,5 bilhões somente em 2012. Ou seja, o uso de agrotóxicos pela população mundial cresceu e, atualmente, o Brasil é considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo (SINDAG, 2012). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o país é responsável por 1/5 do consumo mundial de agrotóxicos, uma vez que usa 19% de todos os defensivos agrícolas produzidos no mundo; os Estados Unidos, 17%; e o restante dos países, 64%. Tal configuração do modelo produtivo da agricultura atual acabou fortalecendo o mercado e o uso indiscriminado de agrotóxicos. Diante destas configurações e o consequente aumento da exposição aos agrotóxicos, os riscos à saúde dos trabalhadores que manipulam tais substâncias, bem como os impactos ambientais de seu uso, tem merecido especial destaque. 1.2 Impactos à Saúde Humana A aplicação indiscriminada de agrotóxicos afeta tanto a saúde humana quanto os ecossistemas naturais. Os impactos na saúde podem atingir tanto os aplicadores dos produtos, os membros da comunidade e os consumidores dos alimentos contaminados com resíduos, mas, sem dúvida, a primeira categoria é a mais afetada (BOWLES & WEBSTER, 1995). De acordo com Batista Filho (2012) para introduzir o assunto de uso de defensivos agrícolas e impactos na saúde humana, destacamos a seguinte declaração: “Só como forma de ingressar no assunto: a) somos os campeões mundiais no uso de biocidas agrícolas; b) dos 50 agrotóxicos mais utilizados nas lavouras de nosso país, 22 são proibidos na União Europeia, inclusive em nações onde se acham as matrizes externas de suas empresas produtoras.” Dados apontados pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) e Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) existem inúmeras doenças ou manifestações de intoxicação que estão vinculados à temática de defensivos agrícolas, algumas delas são: efeitos neurotóxicos retardados, alterações cromossomiais, lesões hepáticas e renais, 17 disfunções cardíacas, dermatites de contato, Doença de Parkinson, hipersensibilidade entre outros, declarando ser uma situação ameaçadora. (apud BATISTA FILHO, 2012). A toxicologia é uma importante área do conhecimento que estuda os efeitos nocivos de substâncias nos seres vivos, as principais consequências estudadas no campo de defensivos agrícolas dizem respeito ao câncer e aos defeitos congênitos. (ANDRADE & QUEIROZ, 2009) Em estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) é apontado que quantidades significativas de resíduos químicos foram encontrados em maçãs, que faz parte do cardápio de muitos brasileiros, em diferentes classes e concentrações. A questão da saúde humana no cenário do agronegócio tem seu expoente no uso e aplicação de defensivos agrícolas, muito foi apontado ao longo da história casos de intoxicação, seja de forma direta ou não pelo manejo inadequado desses produtos, caracterizando relevante o estudo e investimento no manuseio correto e adequado dos agrotóxicos garantindo a saúde do aplicador e segurança alimentar. 1.3 Impactos ao Meio Ambiente Os impactos ambientais sobre o solo, água e sua microbiota causados pelo uso dos agrotóxicos estão relacionados principalmente com o tempo de permanência de seus resíduos acima do necessário, para garantir sua ação. A persistência, por sua vez, é resultado da ausência de processos que modificam a estrutura química dos compostos e promovem sua dissipação, e é dependente de processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem no próprio ambiente. (RIBEIRO, 2010) Os defensivos agrícolas em primeiro momento foram criados para serem biodegradáveis na natureza, embora isso não tenha ocorrido conforme esperado, o principal problema está nos agrotóxicos organoclorados, onde sua composição química dificulta sua degradação rápida, acumulando no meio ambiente. (ANDRADE, I. QUEIROZ,S. 2009) Especificamente, a biota aquática está constantemente exposta a um grande número de substâncias tóxicas lançadas no ambiente, oriundas de diversas fontes 18 de emissão, sendo os principais contaminantes de origem agrícola os resíduos de fertilizantes e os agrotóxicos. Esses produtos, quando aplicados sobre os campos de cultivo, podem atingir os corpos d’água diretamente, através da água da chuva e da irrigação, ou indiretamente através da percolação no solo, chegando aos lençóis freáticos. Outras formas de contaminação indireta podem ocorrer através da volatilização dos compostos aplicados nos cultivos e pela formação de poeira do solo contaminado e/ou da pulverização de pesticidas, que podem ser transportados por correntes aéreas e se depositarem no solo e na água, distantes das áreas onde foram originalmente usados. As regiões de expansão dos monocultivos do agronegócio têm apresentado também problemas graves de contaminação ambiental das águas subterrâneas, como são os casos dos Aquíferos Guarani e Jandaíra – este nos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte (COGERH, 2009). Também as águas superficiais de rios, lagoas, açudes têm sido encontradas contaminadas, e até mesmo as águas disponibilizadas pelos sistemas de abastecimento às comunidades, onde já foram encontrados até 12 ingredientes ativos diferentes numa mesma amostra (RIGOTTO et al, 2010). Durante muito tempo os impactos ao meio ambiente foram tratados como secundário e o enfoque estava na produção de alimentos, após várias análises, estudos, artigos e legislações o meio ambiente influi diretamente na qualidade de vida do ser humano, merecendo sua devida atenção, por isso pesquisa no campo de defensivos agrícolas é bem vindo, para que possamos cumprir com a sustentabilidade, ou seja, produzir com o mínimo impacto. 1.4 Classificação Toxicológica dos Agrotóxicos Segundo a ANVISA (Agência Nacional da Vigilância Sanitária), os agrotóxicos serão enquadrados em quatro categorias de I a IV, sendo a classe I para os extremamente tóxicos e classe IV para os poucos tóxicos de acordo com a dose letal em cinquenta por centro dos animais testados (DL50), conforme Quadro 1 abaixo. 19 Quadro 1 – Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo a ANVISA. Classe Classificação Cor da faixa no rótulo da embalagem I Extremamente tóxico (DL50 menor que 50mg/kg de peso vivo) Vemelho vivo II Altamente tóxico (DL50 de 50 a 500mg/kg de peso vivo) Amarelo intenso III Medianamente tóxico (DL50 de 500mg a 5000mg/kg de peso vivo Azul intenso IV Pouco tóxico (DL50 maior que 5000 mg/kg de peso vivo Verde intenso Fonte: EMBRAPA Arroz e Feijão, 2013. Com relação às cores do rótulo, a ANVISA determinou que esta é a principal forma de comunicação entre fabricante e usuários com relação a toxidade, onde vão constar também os cuidados necessários quanto à manipulação, a aplicação que se destina (tipo de praga, por exemplo), os tipos de cultura, a dosagem, a carência e quais reações adversas se em contato com o homem. Figura 1 – Detalhe para o rótulo em amarelo do agrotóxico – Classe II, Altamente tóxico. 20 1.5 Gestão Ambiental em Áreas Rurais Todo tipo de processo, seja ele de um organismo ou de atividades não naturais, como a industrial, necessita de matérias-primas, energia e geram resíduos. Estes resíduos em processos naturais são degradados e entram novamente no sistema em forma de energia. No entanto, o uso intensivo de substâncias sintéticas ou de difícil degradabilidade, faz com estas permaneçam no ambiente por muito tempo, competindo por espaço, bioacumulando nos organismos e muitas vezes tendo um efeito sinérgico com outras substâncias. Em especial nas propriedades agrícolas, os tipos de resíduos gerados e a falta de conhecimento por parte dos produtores tornam-se agravantes no contexto de preservação do meio ambiente e de sustentabilidade. Conforme apontado pela Embrapa (2007) é fundamental a aplicação de gestão ambiental em propriedades rurais, por meio da adoção de práticas de gerenciamento de resíduos, educação ambiental e plano de manejo e adequação ambiental, visto que a gestão ambiental é um conjunto de práticas administrativas que permite um controle permanente da qualidade ambiental de produtos, serviços e ambiente. Apesar de haver legislações e boas práticas ambientais, muitos produtores rurais ainda apresentam falta de conhecimento. Segundo Oliveira (2012), os produtores rurais de Santa Margarida do Sul (RS) possuem uma preocupação com o meio ambiente, porém necessitam de maiores esclarecimentos quanto à gestão de resíduos, manejo do solo e determinações legais, visto que poucos realizam coleta seletiva de resíduos em suas propriedades. Isto demonstra a necessidade de práticas extensionistas de gestão ambiental como a capacitação dos profissionais da área e a implantação de programas de educação ambiental pra todas as pessoas envolvidas na produção rural, visando sistemas produtivos mais sustentáveis, onde eles possam aliar mais produção, maior rentabilidade e menor impacto ao meio ambiente. 21 1.6 Normas e Legislações Como a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos pode oferecer riscos à saúde humana e ao meio ambiente, nos últimos anos, países de todo o mundo tornaram-se mais exigentes em relação à qualidade dos alimentos que consomem, quer produzidos internamente ou importados. Para garantir tal qualidade, têm sido estabelecidos regras e controles cada vez mais rigorosos no que se refere às determinações de resíduos de agrotóxicos. Muitos obstáculos comerciais hoje existentes, como barreiras alfandegárias prejudicam os avanços da exportação, em especial para a União Europeia, que é o principal mercado agrícola dos produtos brasileiros. Segundo o Decreto Federal Brasileiro no. 4.074, de 4 de janeiro de 2002, entende-se por agrotóxicos: “Produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.” O mesmo Decreto Federal anteriormente citado define vários termos utilizados na temática do uso e manejo de defensivos agrícolas, dentre os quais separamos três principais, que são de suma importância para o bom entendimento do projeto desenvolvido, são eles: centro ou central de recolhimento, embalagem e Equipamento de Proteção Individuais (EPI), assim definidos: “Centro ou central de recolhimento - estabelecimento mantido ou credenciado por um ou mais fabricantes e registrantes, ou conjuntamente com comerciantes, destinado ao recebimento e armazenamento provisório de embalagens vazias de agrotóxicos e afins dos estabelecimentos comerciais, dos postos de recebimento ou diretamente dos usuários; [...] Embalagem - invólucro, recipiente ou qualquer forma de acondicionamento, removível ou não, destinado a conter, cobrir, empacotar, envasar, proteger ou manter os agrotóxicos, seus componentes e afins; Equipamento de Proteção Individual (EPI) - todo vestuário, material ou equipamento destinado a proteger pessoa envolvida na produção, manipulação e uso de agrotóxicos, seus componentes e afins.” 22 A legislação brasileira é um importante instrumento de fiscalização, monitoramento e controle do uso e manejo de defensivos agrícolas, se utilizado de maneira correta e eficaz, muitos inconvenientes ambientais e na saúde humana poderiam ser evitados. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria do Meio Ambiente (CETESB) junto com o Ministério da Saúde aponta limites aceitáveis permitidos por lei que pode ser encontrado na natureza, como lençóis freáticos e solos, já Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece limites aceitáveis de agrotóxicos em alimentos. (ANDRADE, I. QUEIROZ,S. 2009) No Brasil, até muito recentemente, os setores relacionados à gestão de resíduos sólidos sofriam com a falta de diretrizes claras. Isto mudou com a recente publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.305/10 e Decreto 7.404/2010). Este regulamento introduziu o tema de gestão integrada de resíduos sólidos, que é o conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos, considerando as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. Outro preceito inserido pela PNRS é o da logística reversa, que compreende o gerenciamento de todas as ações necessárias à retirada dos produtos pós-uso do consumidor até a sua destinação final ambientalmente adequada. A logística reversa, conforme definição da PNRS, é o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado pelo conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. Os resíduos e embalagens de agrotóxicos são considerados resíduos com logística reversa obrigatória. O conjunto de resíduos definido pela PNRS é constituído por produtos eletroeletrônicos; pilhas e baterias; pneus; lâmpadas fluorescentes (vapor de sódio, mercúrio e de luz mista); óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens e, por fim, os agrotóxicos, também com seus resíduos e embalagens. Vários dos resíduos com logística reversa já têm a gestão disciplinada por resoluções específicas do CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente. Especificamente a Resolução 334/2003 define os critérios mínimos para a construção de unidades para recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos, indicando os critérios mínimos para o armazenamento e complementa a legislação 23 anterior que responsabiliza o fabricante pelo recolhimento, transporte e destinação final das embalagens, assim como obriga o usuário pela tríplice lavagem e devolução das embalagens aos revendedores ou fabricantes. 1.7 Processo de Logística Reversa Por muito tempo a logística foi definida como uma atividade que consistia em transportar um material de um ponto até o destino. O termo logística reversa trata, de uma maneira simplificada, da movimentação contrária, trazer de volta ao ciclo produtivo materiais, embalagens e produtos. Segundo Filho (2006), isto traz um benefício às empresas, uma vez que o material devolvido oferece oportunidade de recuperação de valor e economia de custo. Além disso, as empresas passaram a adotar a logística reversa por pressão de legislações, como é o caso das empresas fabricantes de agrotóxicos, que necessitam incorporar no seu ciclo de vida do produto o recolhimento das embalagens vazias, tratamento e destinação. Apesar de o termo remeter a um processo simples, a logística reserva é mais complexa. Conforme apresentando por Stock (1992) apud Filho (2006), o processo de logística reversa deve englobar, além do retorno do produto, a redução de custo, reciclagem, reutilização de materiais, destinação adequada de resíduos, reaproveitamento, reparação e remanufatura de materiais. Do ponto de vista ambiental, ocorre uma redução no consumo de recursos naturais e controle da contaminação do meio pelos resíduos que podem ser descartados de maneira inadequada. De acordo com Carbone (2005), as questões ambientais tiveram peso na implantação da logística reversa uma vez que a conquista por novos consumidores deveria prever, no planejamento estratégico, o enfoque ambiental. Desta maneira, esta deve ser entendida como o gerenciamento da cadeia produtiva de maneira a sistematizar o retorno de resíduos de produtos para que ocorra o devido tratamento destes tornando-os inertes ao meio ambiente ou que possam ser utilizados novamente no processo produtivo. 24 As primeiras medidas para adoção de logística reversa para embalagens vazias de agrotóxicos foram adotadas em 1994. Antes disso, era bastante comum queimar as embalagens ou enterrá-las. Conforme apontado por Carbone (2005), o processo da logística reversa das embalagens vazias de agrotóxicos inicia-se no produtor rural, que tem definido em legislação que estas devem passar por uma tríplice lavagem, que tem por objetivo reduzir o potencial contaminante e fazer o aproveitamento de aproximadamente 3% do agrotóxico uma vez que o resíduo removido da embalagem pode ser armazenado para ser utilizado em campo posteriormente. Além disso, o produtor deve furar a embalagem de modo a inutilizá-la e entregar junto com a tampa. Em Jundiaí as embalagens lavadas devem ser entregues em um centro de recolhimento localizado em Vinhedo-SP, no entanto o local correto é sempre indicado na nota fiscal de venda do produto. Vale lembrar que as embalagens passam por inspeção para validar a entrega e o produtor recebe novamente um carimbo na nota fiscal, uma vez que é passível de fiscalização por órgãos ambientais. De acordo com dados da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), o Brasil encerrou o ano de 2009 com um aumento de 18% de embalagens recolhidas em relação ao ano anterior. Neste mesmo ano, foram processadas 28.771 toneladas de embalagens. Nos últimos oito anos foram processadas 136.000 toneladas de embalagens vazias. É possível constatar que a logística reversa está ganhando espaço e tem aumentado. No entanto, conforme apontado por Carbone (2005) o tamanho da propriedade rural influencia neste processo, necessitando assim maior investimento em trabalhos de instrução e conscientização da importância da devolução das embalagens vazias. 1.8 Alternativas e Práticas Agrícolas A utilização dos agrotóxicos tem trazido uma série de consequências para o ambiente, para a saúde do trabalhador e também para a população em geral, não só no meio rural. Essas consequências são condicionadas por fatores intrinsecamente 25 relacionados com uso inadequado desses produtos, a alta toxicidade de alguns deles, a falta de utilização de equipamentos de proteção individual e a precariedade dos mecanismos de vigilância para identificação das exposições e intoxicações. Esse quadro é agravado quando as populações expostas vivem em contextos de produção e reprodução marcados pela vulnerabilidade social. (Cabral, 2012) O manejo sustentável de uma área permite que ela seja utilizada constantemente, sem que ocorra a degradação ou abandono da área por exaustão. Usar sabiamente os defensivos agrícolas permite que haja maior eficiência agronômica, uma vez que o cultivo de grandes culturas para distribuição local, regional e até mundial é comprometida por pragas (insetos, ácaros, fito patógenos, plantas daninhas e etc.) é necessária à utilização de fitossanitários para proteção do cultivo. Com a evolução dos produtos agrícolas houve uma redução de dose e toxicidade aguda e dessa maneira, menor impacto ambiental e maior seletividade, sendo este o foco do nosso trabalho, a aplicação de técnicas de gestão ambiental que obedeçam ao tripé da sustentabilidade: economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. O manejo sustentável além de contribuir com a diminuição de impactos no meio ambiente, pode contribuir com o bolso do produtor. Isso porque, ao mesmo tempo em que reduz o custo de produção devido à diminuição do uso de produtos contra pragas, doenças ou plantas daninhas, ele pode aumentar a produtividade e valorizar o produto final na hora da comercialização. (Pitombeira, 2013) É apontado por Liechoscki e Mainier (2003) como uma solução em menor grau, o uso da agricultura orgânica ou biológica, a qual não utiliza produtos químicos, nem como agrotóxicos ou como fertilizantes. Existe também um respeito pelas condições naturais do solo e recursos naturais, porém não é apontada como solução para produção de alimentos em larga escala. Os mesmos autores ainda apontam que o perfil socioeconômico dos trabalhadores agrícolas é de idosos, com percentuais expressivos de analfabetismo e baixa renda, constituindo o uso de agrotóxicos como comum para eles, evidenciando a necessidade de mudar certas práticas agrícolas, não só com o repasse do conhecimento, que seria a própria educação ambiental, como o desenvolvimento de estratégias minimizando o uso de defensivos agrícolas e seus riscos. 26 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estudo foi desenvolvido no município de Jundiaí, cidade do interior do Estado de São Paulo, localizado a aproximadamente 60km da capital. O município é parte integrante do turismo rural, denominado circuito das frutas, sendo um importante representante de produção de frutas, principalmente a uva. Para o desenvolvimento do presente trabalho foi necessário realizar um diagnóstico ambiental de uma propriedade rural. A propriedade escolhida possui uma área verde agricultável considerável, contendo corpos d’água e manejo de algumas culturas, como pêssego, uva, entre outras, sendo eleita pelas graduandas como relevante e importante estudo de caso. Especificamente para realização do diagnóstico e respectivo processo de construção do plano de gerenciamento e das iniciativas de educação ambiental, foram levados em consideração hábitos, informações e comportamento do público alvo. Foram definidas como ferramentas: Revisão de literatura onde as fontes foram revistas especializadas, artigos científicos, dispositivos legais e normas técnicas vigentes relacionadas ao tema. Aplicação de questionário ao público alvo. Avaliação in loco. E a realização de um registro fotográfico. O diagnóstico foi estruturado com dados e informações sobre o perfil da área de estudo. Foi fundamental entender a situação dos resíduos sólidos gerados na respectiva área quanto à origem, características, formas e disposição final adotadas, bem como expectativas e aceitação de mudanças comportamentais e de procedimentos. Os sujeitos do processo de avaliação foram colaboradores do corpo técnico-administrativo e operadores. O esquema prático da metodologia adotada no estudo de caso por ser visualizada na Figura 2. 27 Figura 2 – Esquema prático da metodologia adotada para realização do diagnóstico ambiental na área em estudo. 2.1. Aplicação do questionário Foi elaborado um questionário (ver APÊNDICE C) para facilitar a avaliação da área de estudo, abrangendo os seguintes departamentos: administrativa e atividades de campo. Integrando como pontos principais: entradas e saídas dos processos, pontos de geração de resíduos, forma de acondicionamento, armazenamento e destinação dos resíduos gerados e nível de conscientização e conhecimento dos colaboradores acerca das exigências legais e impactos gerados. Para a elaboração do questionário foi realizada a identificação e levantamento dos requisitos legais, o atual estado da arte de defensivos agrícolas e seu correto manejo, a fim de contemplar todos os aspectos relacionados ao tema. As entrevistas foram realizadas no período de 16 de maio a 31 de julho de 2013 e por questões de confidencialidade os dados pessoais dos entrevistados, assim como da propriedade não serão revelados. As informações abaixo são descrições das percepções, anseios e observações passadas pelos entrevistados. A análise crítica e as sugestões de melhoria foram tratadas no item 2.2 Avaliação in loco. 28 2.1.1 Área - Atividade de Campo Pelo fato desta área estar intrinsicamente relacionada ao uso de defensivos agrícolas, foram definidos três colaboradores para serem entrevistados com funções diferentes, contemplando dessa maneira todas as atividades desenvolvidas. Abaixo seguem as informações tratadas durante as entrevistas: Quadro 2 – Defensivos mais utilizados pela área de estudo. Inclui-se também outros produtos químicos como fertilizantes (NPK granulado – 10-10-10, 4-14-8 e 20-5-20, a numeração refere-se a porcentagem de nutriente no saco). Uso dos EPIs: 29 Foi informado que todos utilizam o EPI adequadamente e conforme legislação. A melhoria apontada pelos entrevistados nesta atividade foi a de realizar a lavagem dos EPIs no próprio instituto, garantindo assim que os requisitos legais sejam atendidos, como por exemplo, lavar separadamente das roupas da família e não usar máquina de lavar. Foi verificado que quando haverá aplicação no dia seguinte não é feita a lavagem do EPI, pois este possivelmente não estará devidamente seco para o uso. A legislação recomenda que sejam feitas até 30 lavagens, após isso pode haver diminuição da eficácia e hoje isso não é controlado ou é solicitada a troca junto ao departamento responsável. Isto só acontece quando a roupa já está danificada. Forma de armazenamento: Os entrevistados descreveram que existem pontos positivos como a separação por prateleiras, identificação do produto por categoria (herbicida, fungicida ou inseticida) e que a utilização segue conceito de FIFO (first in, first out), ou seja, o produto com menor prazo de validade é utilizado primeiro e o próximo frasco só é aberto depois que acabou o anterior. No entanto, descrevem alguns pontos de melhoria, tais como a instalação de janelas para ventilação, piso frio para impermeabilização e área de contenção em caso de derramamento. Os passivos ficam no mesmo local e sem identificação. Uma alternativa apontada durante as entrevistas e aplicação do questionário foi a de mudar fisicamente a atual área de armazenamento, visto que a hoje existente fica próxima a um corpo d’água. A construção de uma nova área já contemplaria as melhorias apontadas, inclusive o correto distanciamento de corpos d’água e aderência aos requisitos legais, porém esta ação dependeria de tramitação interna. Descarte das embalagens vazias: As embalagens vazias são lavadas três vezes, furadas para sua inutilização e não são tampadas. Elas ficam armazenadas junto com os defensivos e após certo volume os próprios funcionários levam para uma área de recolhimento localizado em Vinhedo-SP (cidade próxima a área de estudo) ou eles aguardam o Campo Limpo, que trata-se de uma campanha realizada 30 pela prefeitura de Jundiaí que faz uma força tarefa para recolher as embalagens vazias e limpas do maior número possível de produtores rurais. Ciclo de uso dos defensivos: o Preparação da calda. Trata se de realizar as medições descritas na receita, adicionar água e misturar. Esta receita é definida pelos pesquisadores e pelo técnico agrícola. Os entrevistados apontam que após feita as medições descritas na receita, deve ser realizada a tríplice lavagem do balde de preparação da calda e das embalagens vazias. A água utilizada para realizar a tríplice lavagem é depositada no tanque de pulverização, evitando contato destes resíduos com outros meios. No entanto, hoje este processo é realizado sem uma estrutura adequada, visto que se houver um acidente com derramamento da calda, tanto na etapa de preparado como na etapa de depósito no tanque de pulverização, esta atingirá diretamente o solo e por consequência os corpos d’água mais próximos. O aparato ideal é o uso de rampa de mistura dotada de área de contenção e impermeabilização, porém dizem que esta estrutura só é comum em grandes produtores. o Pulverização em campo Após a etapa anterior, os operadores preparam o tanque para fazer a pulverização no campo. Os entrevistados informaram que na etapa de pulverização, todos seguem boas práticas de aplicação como não realizar a atividade em dia chuvoso, utilizar o vento contra para diminuir a incidência de vapores diretos no operador e o uso do EPI. Foi salientado que todos os aplicadores fizeram curso de aplicação de defensivo no campo e que este curso é obrigatório por lei. Informado também que os operadores se alimentam no campo durante a pausa nos trabalhos de pulverização, mas tomam cuidados de retirar as luvas, lavar mãos e rostos e manter os alimentos embalados e afastados da área de aplicação. o Lavagem do tanque de pulverização 31 Após a aplicação em campo deve ser feita a tríplice lavagem do tanque de pulverização, pois a calda corrói as mangueiras. Segundo os entrevistados sobra um resíduo no tanque, que se for feita uma outra aplicação da mesma calda no mesmo dia este resíduos é aproveitado, caso contrário deve ser feita a tríplice lavagem do tanque e este resíduo é despejado diretamente no solo. Considerase este um ponto crítico, e que pulverizar este resíduo no campo traria um prejuízo técnico, visto que iria diminuir a concentração do defensivo aplicado anteriormente e traria resistência às pragas. Descreveram que, no dia, logo ao término da aplicação ou da lavagem do tanque de pulverização, o operador deve tomar banho, onde a primeira ducha deve ser fria para fechar os poros e a partir disso podem usar água morna. Segundo os entrevistados, a melhor opção é ter um vestiário na própria propriedade, visto que hoje o funcionário tem que se deslocar até sua residência. Por fim, as vestimentas do EPI são lavadas na própria residência do operador. 2.1.2 Área entrevistada – Laboratório As principais atividades realizadas no laboratório são análises físicas e químicas em frutas e sementes como: Análise de tamanho do fruto; Peso; Cor; Quantidades de bagas; Acidez por titulometria; pH e Brix. Resíduos gerados pelo laboratório: o Restos de frutas: Hoje os resíduos de frutas não possuem um descarte adequado, algumas vezes são descartados no lixo comum e outras são descartados no pé de árvores, que causam mau cheiro e atraem insetos. o Resíduos de solução hidróxido de sódio 0,1 N: Utilizado na análise de acidez por titulometria. Os resíduos gerados na análise são descartados diretamente na pia. 32 o Resíduos de solução de fungicida para tratamento de sementes: Os resíduos gerados por esta atividade são descartados diretamente na pia. Além disso, a embalagem fica armazenada juntamente com produtos de limpeza em uma garrafa PET devidamente identificada. Com relação à Atividade de Campo, o entrevistado acrescentou uma observação que considera a armazenagem inadequada e que o ponto mais crítico é o uso de EPI, visto que na etapa de preparo da calda os operadores não utilizam todas as vestimentas do EPI e que as usam em mais de um ciclo de pulverização sem a devida lavagem. 2.1.3 Área entrevistada – Administrativo O foco da entrevista com a área administrativa eram as etapas de compra e transporte dos agrotóxicos. Compra: O entrevistado informou que um pedido anual é elaborado e é enviado ao departamento responsável da matriz. Eventualmente pode ser feita compra em agropecuárias, que saem com nota fiscal da loja já com o carimbo do posto de recolhimento, onde a embalagem vazia deverá ser devolvida. Transporte: Foi informado que não há controle da área de estudo a respeito do transporte dos defensivos do pedido anual, visto que tudo é organizado pela matriz. Nos casos em que as compras são feitas em agropecuárias, o transporte é feito nos carros nos próprios carros da propriedade que não possuem medida de segurança em caso de acidentes. 33 2.2. Avaliação in loco Depois de realizadas as entrevistas e pelo convívio com a rotina da área de estudo foi possível observar pontos positivos, pontos de melhoria e pontos críticos que incidem riscos ao operador e ao meio ambiente. Estes pontos são tratados abaixo: Laboratório: o Armazenagem de fungicida: É um ponto crítico visto que mesmo identificado, ele está armazenado junto com produtos de limpeza que são manipulados por pessoas com diferentes conhecimentos das rotinas do laboratório havendo o risco de intoxicação. o Descarte de resíduos: Com relação ao descarte de frutas consideramos como um ponto de melhoria, onde a forma correta de descarte precisa ser definida e informada a todos. O descarte de hidróxido de sódio e de solução de fungicida é um ponto crítico, visto que hoje é feito diretamente na pia. Administrativo: o Compras: Foi verificado que a ação é passiva por parte da área de estudo uma vez que eles já recebem a carga de defensivos vindos da compra da matriz. Nos casos onde ocorrem compras diretamente em casas agropecuárias normalmente os volumes são pequenos e isso ocorre eventualmente. o Transporte: Ficou claro que não existe definida nenhuma medida de prevenção do risco no transporte dos produtos de compra eventual, visto que os carros não são equipados com materiais absorventes ou EPIs em caso de derramamento. Atividade de campo: 34 o Armazenamento: Atualmente os defensivos ficam armazenados em prateleiras e as mesmas são identificadas por tipo (herbicida, fungicida e inseticida). Os frascos abertos ficam na frente dos outros frascos indicando uma sequência lógica de utilização. No entanto, foi possível constatar que: Falta adequação do local com relação a ventilação, luminosidade, altura e área de contenção. Vários produtos armazenados diretamente no chão sem uma organização, faltando ainda mais espaço para ventilação e com risco de contaminação. O armazém fica próximo a um corpo d´agua. Não há no local ficha de procedimentos que caso de acidentes; o Preparação da calda: No mesmo local de armazenamento existe uma mesa pequena onde o operador prepara a calda por meio da pesagem e dosagem dos defensivos. Foi possível constatar que: Os instrumentos, utensílios e equipamentos não apresentam condições satisfatórias de manuseio. Muitos entrevistados mencionaram que ocorre da pessoa que vai preparar a calda não usar todos os EPIs requeridos que são: calça e jaleco, botas, avental impermeável, respirador, óculos ou viseira, touca árabe e luvas de borracha. (MANUAL ANDEF, 2013) A ficha de controle de preparação da calda é ineficiente. Não houve tríplice lavagem de todos os utensílios. Quando a medição foi finalizada, o operador se encaminhou portando o balde até um ponto de água, acrescentou um pouco de água e misturou com a ajuda de uma vareta de madeira. O tanque de pulverização foi previamente testado e abastecido com o volume de água descrito na receita (300 litros), o operador despejou o volume do balde no tanque e efetuou a tríplice lavagem despejando esta água no tanque, porém não fez o mesmo com a 35 vareta utilizada para misturar, assim como com os utensílios usados para medir. O principal risco envolvido nas atividades descritas acima é: Ausência de área específica ou uma rampa de mistura, com contenha as condições de impermeabilização e de contenção necessárias. o Pulverização: Completada a etapa de preparação da calda o operador se deslocou até o campo para realizar a pulverização. Foi verificado que o operador se manteve com todos os EPIs e que utilizou medidas de segurança e boas práticas como usar o vento contra para evitar o encontro da névoa do defensivo contra o corpo. No entanto observamos pontos críticos conforme abaixo: Falta de identificação em campo quanto ao período de carência da cultura, sendo que esta sinalização evitaria risco de contato ou até consumo das frutas ainda com resíduo de defensivo (período de carência). E ingestão de alimentos na pausa da etapa de pulverização. o Tríplice lavagem do tanque: A aplicação normalmente leva uma manhã inteira e quando o operador retorna do campo e não havendo nova pulverização da mesma calda, ele faz a tríplice lavagem do tanque. Neste ponto identificamos que: A água contendo resíduos é descartada diretamente no solo e não há definida outra forma de descarte deste resíduo. o Higienização: Após feita a lavagem do tanque, o operador vai para casa com o traje do EPI onde impreterivelmente deve lava-lo e tomar seu banho. Neste ponto foi mencionado pelos operadores um ponto crítico: 36 Ausência de vestiário na área, uma vez que pode haver contaminação cruzada no ambiente onde operador irá manipular seus EPIs, apesar de serem instruídos a lavarem separado das roupas da família. Todos os entrevistados que tem contato com os defensivos informaram que não misturam o EPI com a roupa da família. 2.2.1 Fluxograma da Atividade de Campo Para melhor visualização do ciclo de uso dos defensivos foi elaborado um fluxograma de processos, representado na Figura 3, nota-se que os símbolos destacados de vermelho são aqueles que possuem resíduos de defensivos agrícolas, se tornando foco do plano de gerenciamento de resíduos. 37 Fluxograma de Processos Preparar o equipamento N Funcionou ? S Receita N EPI S Preparar a Vestir EPI calda Despejar calda no tanque Tríplice S N Fr. Armazenar Vazio Lavagem Lavar utensílios Pulverizar S Novamente ? N Lavagem do tanque Descartar resíduo Retirar EPI Acondicionar equipamento Realizar higienização Figura 3 - Ciclo dos defensivos agrícolas 38 2.3 Registro Fotográfico Foi realizado um levantamento fotográfico das etapas de Atividade de Campo, para ilustração e entendimento do uso e manejo dos defensivos agrícolas, sendo assim, possível acompanhar seu ciclo. O levantamento fotográfico ocorreu em dois momentos, um em junho feito por uma das componentes do grupo e a outro realizado em julho pela outra componente, objetivando obter percepções diferentes e complementares dos processos das atividades de aplicação dos defensivos agrícolas no campo. Dentre os processos e práticas registrados podemos evidenciar nas imagens a seguir, os principais momentos do ciclo dos defensivos agrícolas que ocorre na área de estudo em questão, obtendo assim a perspectiva dos processos através de imagens, onde a Figura 4 representa o início do ciclo e a Figura 10, o final. Figura 4 - Preparação do equipamento Fonte: Registro realizado por ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M. 39 Figura 5 - Uso do EPI Figura 6 - Preparação da calda Fonte: Registro realizado por Fonte: Registro realizado por ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M. ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M. Figura 7 - Despejo da calda no tanque Figura 8 – Tríplice Lavagem Fonte: Registro realizado por Fonte: Registro realizado por ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M. ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M. 40 Figura 9 – Lavagem de utensílios Fonte: Registro realizado por ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M. Figura 10 – Pulverização Fonte: Registro realizado por ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M. 41 2.4 Iniciativa ambiental A principal característica da educação ambiental é a mudança de comportamento, exercício da consciência e do discernimento perante as questões analisadas, sendo assim parte integrante e relevante do presente projeto. Portanto, foi elaborado um plano de iniciativa ambiental (ver APÊNDICE B), contendo o objetivo, meta, resultados esperados, cronograma e duração e ações e etapas de implementação. Figura 11 – Elaboração da Iniciativa Ambiental O relato ou a programação da iniciativa ambiental foi elaborado e apresentado para a direção da área de estudo para aprovação, sendo combinados dia e horário compatível para aplicação. Para avaliação do projeto de educação ambiental, foram considerados os critérios segundo Mayer (1989 apud TOMAZELLO & FERREIRA, 2001) que divide a avaliação em três grupos de indicadores: “O primeiro, considerado por ela como o mais importante, centra-se na mudança de valores, atitudes, hábitos e crenças dos alunos. O segundo grupo de indicadores descreve a estratégia educacional do projeto sob o ponto de vista cognitivo (relevância local do projeto, enfoque multi/inter/transdisciplinar) enquanto que o terceiro descreve a estratégia 42 educacional do projeto do ponto de vista afetivo, isto é, descreve as interações entre alunos, professores, família, comunidade e autoridades.” Sanmartí (1994 apud TOMAZELLO & FERREIRA, 2001) formulou algumas questões para análise de adequação de um projeto de educação ambiental, inspirado nessas questões foram formuladas novas perguntas adaptadas para a realidade do projeto, sendo elas: 1. O diagnóstico ambiental da área foi relevante para o entendimento dos trabalhadores? 2. As metas propostas no plano de iniciativa ambiental foram cumpridas? 3. Os resultados esperados foram alcançados? 4. O cronograma e a duração da iniciativa de educação ambiental foram respeitados? 5. Os temas selecionados são relevantes para o meio ambiente? 6. Os temas selecionados são relevantes para os trabalhadores? 7. O projeto promove ações dos indivíduos para solução de problemas? 8. Observou-se uma disposição à mudança de hábitos e comportamentos do diretor da área de estudo ou responsáveis? 9. Observou-se uma disposição à mudança de hábitos e comportamentos dos trabalhadores? 10. Observou-se uma disposição ao acato das novas adequações dos trabalhadores? (sinalização, EPIs) 11. Melhorou a capacidade de tomada de decisões por parte do diretor da área de estudo? 12. As ações e etapas de implementação foram cumpridas? 13. Houve comentários positivos ou negativos sobre o evento? Com o estabelecimento de critérios de avaliação e formatação da iniciativa ambiental foi possível verificar sua viabilidade na área de estudo e analisar os resultados de tal prática, podendo assim concluir os pontos positivos e negativos da educação ambiental direcionado para gerenciamento de resíduos químicos em áreas rurais. 43 3 ANÁLISES E RESULTADOS O estudo realizado possibilitou identificar os aspectos e impactos ambientais associados aos processos das áreas estudas da propriedade, sendo elas a área Administrativa, Atividade de Campo e Laboratório. Como produto do presente trabalho foi elaborada uma matriz de impacto que elencou por área os aspectos e impactos e suas respectivas alternativas de mitigação. Da matriz foi elaborado o plano de gerenciamento de resíduos, sob a forma de um manual orientativo, e a iniciativa de educação ambiental, onde ambos contemplam as ações de mitigação propostas na matriz sob suas diferentes realidades. Figura 12 – Resultados do Diagnóstico 3.1 Matriz de Impactos Para auxiliar na identificação, bem como qualificação e quantificação (quando passíveis de mensuração) dos impactos decorrentes das diversas atividades desenvolvidas na área de estudo, foi adotada matriz de impacto ambiental que busca identificar de forma sistemática, os impactos gerados por ações potencialmente causadoras de modificações ambientais. Após conhecido o processo potencial de mudança na qualidade ambiental preexistente, os impactos foram avaliados segundo um conjunto de atributos, conforme especificados e detalhados adiante, sendo que todo este conjunto de atributos permite classificar a magnitude dos impactos por meio de indicadores. Primeiramente foram identificadas todas as atividades, tarefas ou processos e seus respectivos aspectos ambientais. Este levantamento inicial contemplou todos 44 os aspectos (elementos das atividades, produtos ou serviços que podem interagir com o meio ambiente), independentemente das suas características, tais como probabilidade, magnitude ou frequência de ocorrência. Após foram relacionados todos os impactos (qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços), ou seja, as respectivas consequências reais ou potenciais no meio ambiente. Os impactos foram avaliados seguindo o critério de abrangência (A), frequência (F), influência (I) e magnitude (M), onde a forma mais branda de cada critério foi representada por uma menor pontuação e a forma mais severa por uma pontuação maior, conforme apresentado no Quadro 2. Quadro 3 – Critério utilizado para classificação de impacto ambiental segundo sua importância. Abrangência (A) Frequência (F) Considerou-se quatro condições com notas de 1 a 4, sendo 1 para a forma mais branda e 4 para a mais severa. Considerou-se três condições com notas de 1 a 3, sendo 1 para a forma mais branda e 3 para a mais severa. 1- Restrita – quando o impacto é pontual. 1 - Esporádica – uma vez por ano. 2 - Direta – são atividades intrínsecas à área de estudo. 1 - Insignificante – o efeito ambiental é muito pouco identificável. 2 - Local – o impacto abrange algumas áreas do local de estudo. 2 - Cíclica – uma vez por mês. 1 - Indireta – são atividades extrínsecas à área de estudo. 2 - Pequena – o impacto ambiental é desprezível. 3 - Regional – o impacto afetará também a circunvizinhança. 3 - Contínua – Sempre, sem interrupções. 4 - Global – o impacto afetará outras áreas, além da circunvizinhança do local de estudo. Influência (I) Magnitude (M) Considerou-se quatro condições Considerou-se duas condições e com notas 1 a 4, sendo 1 para a duas notas, sendo 1 para a forma mais branda e 4 para a forma indireta e 2 para a direta: mais severa. 3 - Média – o impacto compromete o meio ambiente, porém é reversível. 4 - Grande – o impacto ambiental compromete o meio ambiente e é de difícil reversibilidade. Com base nas pontuações atribuídas e no somatório destas, definiu-se a Importância (Im) do impacto ambiental, sendo assim Im = A + F + I + M. O resultado deste levantamento foi apresentado no Quadro 3, Matriz de Impacto. Para se definir um foco de atuação por impacto identificado foi adotado que os aspectos e impactos ambientais que constam na Matriz de Impactos com uma pontuação de Im maior ou igual a dez seriam tratados por ações que envolvam segregação, tratamento e destinação dos resíduos ou até mesmo ações de adequação da infraestrutura existente de acordo com requisitos de segurança ocupacional e ambiental dentro do plano de gerenciamento de resíduos, e por vezes estariam associados também com iniciativa de educação ambiental. Os itens com importância menor que dez seriam tratados como sugestão de melhoria e ou iniciativas de educação ambiental. 45 Quadro 4 - Levantamento de aspectos e impactos ambientais identificados na área de estudo. A F Nº ASPECTO I TRATATIVA M Im IMPACTO AÇÕES DE MITIGAÇÃO Transporte Armazenamento ADMINISTRATIVO LABORATÓRIO Som atório das notas igual Im portância (Im ) Preparação da calda x 2 3 10 Neutralização da solução para descarte na pia ou segregação deste resíduos para posterior destinação. x 2 2 2 7 Criação de compostagem ou descarte em locais afastados das áreas de circulação. x 1 2 3 7 Uso de kit de emergência nos carros oficiais como material de absorção, luvas, máscaras e óculos de proteção. x x x Contaminação de funcionários 3 2 2 2 Descarte inadequado dos resíduos da solução de hidróxido de sódio e fungicida Contaminação de água 3 2 3 Descarte inadequado dos Proliferação de pragas e resíduos de frutas vetores de doenças. analisadas no laboratório Mau cheiro. 1 1 4 Falta de medida de contenção nos veículos oficiais que transportam defensivos agrícolas em caso de acidente com derramamento. Risco de contaminação do solo, corpos d'agua e dos motoristas 5 Armazenamento inadequado dos agrotóxicos quanto a ventilação, iluminação e contenção Risco de contaminação do ambiente e dos operadores em caso de derramamento 2 2 2 3 9 Adequação da área de armazenamento com abertura de janelas na parte superior da parede, melhoria na iluminação e uso de material absorvente para contenção de líquidos em caso de vazamento. 6 Produtos armazenados diretamente no chão e sem organização Risco de contaminação do ambiente e dos operadores em caso de derramamento 2 1 2 4 9 Uso de demarcação no piso com identificação. Uso de pallets para suspenção dos passivos. 7 Área de armazenamento de defensivos próximo a um corpo d'água Contaminação do corpo d'água, fauna local e transitória e solo 3 3 2 8 Ausência de ficha de procedimentos em caso de acidente Risco de intoxicação do operador 1 2 Falta de rastreabilidade do produto utilizado Preechimento da ficha de implicando em 9 controle de preparação da comprometimentos em calda é ineficiente caso de sinais de intoxicação de operadores 1 Contaminação do operador, ar, solo e corpos d'água Ausência de tríplice lavagem de todos os Contaminação de solo e 11 utensílios usados para colaboradores preparar a calda (colher e vareta de mistura) Uso incorreto ou ausência 12 de partes do EPI na etapa de preparo da calda Contaminação do operador 4 Preparação e mudança para outra área, como exemplo as áreas do vivieiro. 12 Construção de nova de acordo com as normas estabelecidas em lei. x 2 3 Criação ficha de procedimentos 8 imediatos em caso de intoxicação como lavar a área, procurar ajuda e outros. x 2 2 3 8 Definição do preenchimento da ficha de controle x 2 3 2 3 10 Retirada dos materiais inseguros e substituição por outros. Melhoria na iluminação da área de preparo. x 2 2 2 3 9 Criação de instrução de trabalho e suas medidas de segurança obrigatórias. x 1 2 1 4 8 Criação de procedimento de preparo, uso do EPI e suas medidas de segurança obrigatórias. x Construção de rampa de mistura. x x x x 13 Ausência de rampa de mistura Contaminação do solo e corpos d'água 2 3 2 3 10 Realização de trabalho de educação ambiental e uso de placas de identificação e advertência quanto ao 10 período de carência da cultura, por meio de cores similar a sinalização de tráfego (semáforos). Higienização Tríplice lavagem do tanque Pulverização 14 Falta de identificação do 15 período de carência do defensivo na cultura 16 Ingestão de alimento na pausa do processo de pulverização 17 Despejo da água de lavagem do tanque de pulverização em local inadequado Ger. Resíduo 3 1 Estrutura insegura de preparo da calda. (equipamentos, utensílios, espaço físico) Sug. Melhoria O fungicida deve ficar junto com os produtos químicos do laboratório. Deve 10 haver instruções de segurança e manipulação e de emergência em caso de acidente. Armazenamento de fungicida no laboratório junto com produtos de limpeza 10 ATIVIDADE DE CAMPO Palestra Risco de intoxicação, seja pelo contato com a planta ou pela ingestão de frutos 3 2 2 3 Contaminação do operador 1 2 1 4 8 x Impermeabilização da área de mistura por meio da instalação de piso cerâmico e uso de material absorvente em caso de vazamento. Proibição de consumo de alimento em dias de pulverização. Segregar a água de despejo para posterior tratamento ou definição de local 10 adequado para o descarte. Uso desta água no preparo da mesma receita posteriormente. x Contaminação do solo e corpos d'água 3 2 2 3 Lavagem das vestimentas 18 do EPI na própria residência Contaminação cruzada de pessoas, animais domésticos e corpos d'água 1 2 2 2 7 Instalação de área de lavagem na propriedade rural x x Uso do EPI em mais de um ciclo de pulverização 19 seguido, sem a devida lavagem Contaminação cruzada de pessoas e animais domésticos 1 2 1 4 8 Cada operador deve ter um par de vestimentas ou sobressalentes na propriedade. x x x x 46 3.1.1 Manual Orientativo A matriz de impacto apontou que existem seis aspectos e impactos que deveriam ser tratados dentro de um plano de gerenciamento de resíduos que incluam etapas como segregação, armazenamento e destinação adequada quantos aos resíduos gerados. Desta maneira, com o objetivo de transformar estes dados em um documento onde os responsáveis técnicos da propriedade possam balizar a implantação das ações de mitigação sugeridas, foi elaborado um manual orientativo dando a tratativa adequada com relação aos resíduos gerados, assim como os cuidados e EPIs necessários em cada atividade, sejam eles do laboratório ou da atividade de campo. Sendo assim, o plano de gerenciamento de resíduo, na forma de um manual orientativo, pode ser observado no Apêndice A e este foi entregue à direção da propriedade para que possa dar a tratativa adequada a curto, médio ou longo prazo. 3.1.2 Iniciativa de Educação Ambiental A iniciativa de educação ambiental foi um dos objetivos específicos do presente trabalho, pois se imaginava que muitas atitudes que colocam em risco a saúde dos trabalhadores e que causa dano ao meio ambiente parte do próprio homem que desconhece ou ignora o resultado de suas ações. Com o desenvolvimento do trabalho, uso das metodologias anteriormente citadas ficou comprovada à necessidade da educação ambiental, conforme descrição da matriz de impacto (ver 3.1), onde aponta 8 aspectos e impactos ambientais a serem tratados por meio da iniciativa ambiental. Como estrutura da iniciativa foram selecionadas palestras expositivas, em um estilo descontraído, sem uso de linguagem técnicas, adequadas ao público alvo (aplicadores de defensivos agrícolas, trabalhadores da área de estudo), utilizou-se uma abordagem transversal nas temáticas da não geração, redução, consumo consciente, produção, consumo sustentáveis e orientação e adoção de ações de 47 curto, médio e longo prazo, a maneira educativa e participativa foi apontada pelos entrevistados como mais eficiente. A duração da iniciativa ambiental obteve um tempo de 1h30min, com duas palestras, sendo a primeira introdutória realizada pela Profa. Ms. Ana Carolina Veredas, a segunda expositiva, onde foi relatado o diagnóstico ambiental identificado na área de estudo e suas soluções, exposta pelas alunas participantes do presente projeto. Figura 13 – Ed. Ambiental I Figura 14 – Ed. Ambiental II Figura 15 – Ed. Ambiental III Na primeira palestra (Fig. 13) foi exposto o que foi o projeto, os responsáveis, objetivo, justificativa, metodologia, a importância e esclarecimento do por que, para quê e o que se esperava da educação ambiental. Na segunda palestra (Fig. 14 e 15) teve como intuito relatar os principais dados dos defensivos agrícolas no Brasil, seus riscos e efeitos nos seres humanos e meio ambiente; Esclarecer os principais pontos 48 levantados no projeto e propor soluções individuais e em conjunto, entre outros pontos como: Prevenir a geração do resíduo; Sempre que possível tratar internamente; Separar e armazenar o resíduo sempre que necessário; Dar correta disposição final ao resíduo; Adotar medidas de prevenção de acidentes: não ingerir alimentos quando estiver realizando trabalhos de pulverização e nunca retirar partes do EPI sem a devida higienização; Criar procedimentos de segurança em caso de acidente; Estabelecer o uso das fichas controle de preparo de defensivos agrícolas, para conhecimento de aplicadores e funcionários da área; Adequar as condições de armazenamento dos agrotóxicos e Sugestões: ter um vestiário próprio, realizar melhorias na área de preparo da calda como iluminação, ventilação e o ideal, construir rampa de mistura. Dessa maneira, foi realizada a análise dos resultados da iniciativa ambiental na área de estudo, conforme metodologia e critérios de avaliação da educação ambiental apontada no capítulo 2.4 deste trabalho, ressaltando que as respostas originaram da interpretação e observação dos multiplicadores do projeto. Sendo assim, ficou comprovado que o diagnóstico ambiental da área foi de suma importância para a caracterização da situação atual; as metas, o cronograma e as ações e etapas de implementação estipulados no relatório de iniciativa ambiental foram respeitados e cumpridos; os temas foram relevantes para os trabalhadores e para o meio ambiente. Dentre os resultados verificados ao longo da iniciativa ambiental estão os seguintes aspectos: Identificação de novos problemas: à medida que as palestras foram desenvolvidas, houve comentários de outros pontos não conformes sobre a temática de defensivos agrícolas e seu manuseio adequado, pontos que foram omitidos nos questionários ou novos casos; 49 Quanto ao período de carência: foi aceita a sugestão de sinalização através das placas verde e vermelha, cabendo a direção sua implementação; Quanto à segregação da lavagem do tanque: um dos pontos mais críticos da área de estudo, foi bem aceito por parte da direção e dos trabalhadores, onde se comprometeram a realizar tal sugestão, segregando a água residual do tanque em caixas ou bombonas para serem usadas em uma próxima pulverização, tendo a vantagem de um custo mínimo; Figura 16 – Sugestão para segregação da água residual da lavagem do tanque Quanto ao EPI: o ponto negativo do uso inadequado do EPI, onde foi identificado através do diagnóstico ambiental que era usado mais de uma vez sem a devida higienização foi solucionado pelos trabalhadores através de escalas de trabalho, com revezamento de duplas de aplicadores, não coincidindo com o tempo necessário para lavagem dos EPIs utilizados. Interessante ressaltar que os funcionários participam de programas e cursos de aplicação, algo levantado foi que o próprio trabalhador é quem deverá higienizar o EPI, não permitindo que as esposas ou alguém da família faça isso; Também foram aplicados dois questionários (ver APÊNDICE D) no momento da iniciativa ambiental. O primeiro com o objetivo de medir o conhecimento geral dos trabalhadores acerca da temática dos defensivos agrícolas, a fim de aguçar o sentido da reflexão no momento da palestra e o outro, no final, com o objetivo de 50 verificar o resultado da ação ambiental, através da percepção dos trabalhadores rurais. O questionário preliminar foi elaborado com sete perguntas, são elas: 1. Você usa o EPI completo? 2. Você ingere alimentos enquanto está pulverizando a cultura? 3. Você realiza a tríplice lavagem de embalagens vazias? 4. Você respeita o período de carência dos defensivos agrícolas? 5. Você lava o EPI logo depois da pulverização? 6. Você despeja resíduos no solo? 7. Você considera as condições climáticas, horário de aplicação e regulagem de equipamentos? Pode-se verificar através do Gráfico 1 que quase 80% dos trabalhadores sempre usam o EPI, que 45% dos trabalhadores ingerem alimentos enquanto esta pulverizando a cultura, tendo assim risco de contaminação; a tríplice lavagem é um procedimento consagrado; quase 80% dos participantes lavam o EPI logo depois da pulverização sempre ou na maioria das vezes; raramente é despejado resíduos no solo e que todos consideram as condições climáticas, horário de aplicação e regulagem de equipamentos. 51 Gráfico 1 – Resultados do questionário Preliminar Sobre os pontos abordados durante a inciativa ambiental foi verificado que a maioria deles era de conhecimento dos trabalhadores e que nenhuma pessoa desconhecia todos os aspectos e impactos ambientais da área de estudo. Gráfico 2 – Conhecimento sobre os pontos abordados na Ed. Ambiental 52 Sobre a satisfação da participação dos trabalhadores na iniciativa de educação ambiental e percepção de mudança de valores quanto a temática, podemos verificar através do Gráfico 3 os seguintes resultados: Todos os trabalhadores acharam proveitoso a educação ambiental realizada. Todos consideraram que as soluções apresentadas podem ser realizadas em curto e/ou médio prazo. E apenas 11,12% da amostra não sentiram a necessidade de mudança de hábitos. Gráfico 3 – Resultado do Questionário final Entre os resultados apontados na iniciativa de educação ambiental está o desconforto ao usar o EPI, por exemplo, o calor, sendo um aspecto determinante para o não cumprimento de certas normas, onde foi colocado que a teoria e a prática são incompatíveis em alguns casos, porém, todos os trabalhadores estão cientes do risco que assumem ao descumprir determinadas regras e orientações. De maneira geral, a aplicação da iniciativa ambiental foi importante para a direção e trabalhadores da área de estudo, bem como para os elaboradores desse projeto, como troca de conhecimento e alinhamento da situação atual com a legislação ambiental. 53 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve como objetivo a realização de um diagnóstico ambiental com enfoque na elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos químicos gerados em áreas rurais e iniciativas de educação ambiental, tendo como estudo uma propriedade rural, localizada no município de Jundiaí-SP, por apresentar as condições favoráveis e necessárias para a elaboração do plano de manejo. Para a realização do diagnóstico ambiental foram realizadas quatro atividades principais: revisão da literatura, questionário com o público alvo, avaliação in loco e registro fotográfico. Dessa maneira foi possível elaborar uma matriz de impactos que sinalizou dezenove aspectos e impactos ambientais, sendo que, conforme a Importância (Im), parte foi tratado dentro de um plano de gerenciamento de resíduos, sob a forma de um manual orientativo e parte por meio de ação de iniciativa de educação ambiental. Portanto, o manual orientativo e a iniciativa de educação ambiental foram os resultados práticos do diagnóstico ambiental, sendo que o primeiro deles visou definir as medidas de mitigação ambiental quanto à manipulação e geração de resíduos na propriedade rural e o último esclarecer a situação atual do uso e manuseio dos defensivos agrícolas para os trabalhadores rurais da área de estudo e propor através de palestras uma situação de conformidade com a legislação e demais questões ambientais. A aplicação dos pontos descritos do manual orientativo e esclarecidos também pela iniciativa ambiental ficou a encargo da direção e responsáveis técnicos da propriedade rural, sendo que dentre eles o sistema de sinalização através de placas (verde/vermelho); estabelecimento de fichas de controle de utilização e aplicação dos defensivos para conhecimento de aplicadores e funcionários; e segregação da água residual da lavagem do tanque para uma próxima pulverização foram acordadas como ações de curto prazo, de interesse comum e custo mínimo, ficando em aberto o convite para os elaboradores do presente trabalho a visitação à área rural, quando implementada tais ações. Ante ao exposto, ficou comprovado que impactos relacionados ao uso e manuseio inadequado dos defensivos agrícolas são de conhecimento geral sendo 54 necessária uma gestão ambiental adequada, que prevê uma caracterização da situação atual e fomenta uma mudança de hábitos e adoções de ações a curto, médio e longo prazo, obedecendo ao critério da sustentabilidade, para dessa maneira, atingir a conformidade legal garantindo a saúde e segurança do trabalhador, bem como a minimização de impactos ambientais. 55 REFERÊNCIAS ANVISA – Brasil usa 19% dos agrotóxicos produzidos no mundo. Governo registra 8 mil casos de intoxicação por agrotóxicos em 2011. Disponível em: http://www.mundosustentavel.com.br/2012/05/brasil-usa-19-dos-agrotoxicosproduzidos-no-mundo-governo-registra-8-mil-casos-de-intoxicacao-por-agrotoxicosem-2011/ (Acesso em janeiro de 2013). BOWLES, R. G. & WEBSTER, J. P. G., 1995. Some problems associated with the analysis of the costs and benefits of pesticides. 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APLICAÇÃO Este manual se aplica a todas as áreas da propriedade rural, em especial as áreas de Laboratório e Atividade de Campo onde a manipulação de reagentes químicos e defensivos agrícolas é inerente à atividade. 3. ORIENTAÇÕES 3.1 Uso de EPIs O uso de EPIs durante as atividades de manipulação dos defensivos agrícolas, sejam eles fungicidas, herbicidas ou inseticidas, é uma medida de segurança para a pessoa que está manipulando, visto que estes produtos possuem caráter de toxidade, de resposta a curto, médio ou longo prazo. As vias de intoxicação podem ser por meio do contato do defensivo diluído ou não, com a pele, mucosa (olhos, boca), por inalação ou ingestão. 61 Desta forma, o operador deverá usar os seguintes itens durante as etapas de preparação da calda, tríplice lavagem da embalagem vazia, pulverização em campo e lavagem do tanque: Viseira ou Óculos de proteção Touca árabe Respirador Avental impermeável Calça e jaleco Botas impermeáveis IMPORTANTE: o colaborador que manipular sementes com fungicidas no Laboratório deverá utilizar os EPIs descritos no Quadro 1, item “Sementes Tratadas”. No entanto, o colaborador que realizar o tratamento das sementes deverá utilizar os EPIs da etapa de pulverização. A forma de vestir o EPI deve seguir uma ordem: 1º Calça e Jaleco. 2º Botas impermeáveis. Obs.: a boca da calça deverá ficar por cima das botas. 3º Avental impermeável. 4º Respirador. 5º Touca árabe 6º Luvas de borracha. Obs.: devem ser vestidas de forma a evitar que o líquido escorra para dentro das mangas do jaleco. Da mesma forma a retirada dos EPI deve: 62 IMPORTANTE: Antes de qualquer coisa, deve-se lavar as mãos ainda com as luvas de borracha, que devem ser mantidas nas mãos durante o procedimento de retirada. 1º Touca árabe 2º Viseira/Óculos. 3º Avental impermeável. 4º Jaleco. Obs.: Deve-se puxar o jaleco pela gola com o corpo curvado para frente a fim de se evitar o contato do EPI contaminado com o rosto. 5º Botas 6º Calça. 7º Por último deve tirar as luvas para remoção do respirador. A limpeza das vestimentas devem seguir alguns cuidados que facilitam a remoção dos resíduos e aumentam a vida útil do EPI e serem feitas sempre após o término do trabalho de pulverização: Lavar separadamente das roupas comuns; Utilizar luvas e avental para proceder a higienização; Não utilizar detergentes que contenham em sua formulação alvejantes ou branqueadores, pois os mesmos retiram o tratamento impermeabilizante; Não deixar de molho ou esfregar. Em caso de dano à vestimenta (furos, rasgos, desgastes) ou se percebido que quando a vestimenta é molhada a água é absorvida pelo tecido, deverá ser solicitado junto ao departamento responsável um novo conjunto. 63 De maneira geral, o uso dos itens que compõem o EPI podem variar de acordo com o tipo de operação e exposição conforme apresentado no Quadro 1 abaixo. (ANDEF, 2013) Quadro 1 – Uso de EPIs de acordo com a operação e exposição. Fonte: ANDEF (2013). 3.2 Gerenciamento dos Resíduos É importante optar por ações que reduzam o volume de resíduos gerados. Desta forma a propriedade rural deve: Prevenir a geração do resíduo; Sempre que possível tratar internamente os resíduos, antes de destinar e onerar a unidade com este custo; Segregar e armazenar sempre que necessário, realizando a identificação das embalagens usadas para acondicionar os resíduos; E por último dar correta disposição final ao resíduo. IMPORTANTE: os resíduos nunca devem ser descartados em pias, no solo ou em corpos d’água sem que tenha havido o devido tratamento. 64 3.2.1 Resíduos químicos do laboratório: Sempre que possível os resíduos químicos do laboratório deverão ser tratados pela própria área, por meio de processos como neutralização, recuperação de solventes, oxidação química e outros. O procedimento a ser adotado depende das características do resíduo. Quando não houver outra opção por falta de materiais e tecnologia disponível, os resíduos deverão ser segregados em embalagens dos próprios reagentes, identificados e armazenados em locais apropriados para posterior. Identificação: Toda embalagem de resíduo deverá estar devidamente identificada por meio de etiqueta padronizada contendo as informações do(s) resíduo(s), conforme modelo abaixo. RESÍDUO QUÍMICO Identificação Origem Responsável Data _____ /_____ /________ 3.2.2 Resíduos de Defensivo Agrícola: É importante que a aplicação do defensivo agrícola seja baseada em critério de boas práticas agrícolas e nas informações trazidas nas bulas dos defensivos, principalmente com relação à quantidade. Desta forma: Nunca fazer aplicação quando não há condições meteorológicas favoráveis como chuvas ou em períodos do dia onde a temperatura exceda 30ºC. 65 Sempre utilizar as condições do vento a favor da aplicação evitando assim que a névoa do defensivo atinja o corpo do operador. Qualquer atividade que exija contato com defensivos agrícolas deverá ser feita com os EPIs necessários. IMPORTANTE: não deve haver no local de aplicação qualquer outra pessoa que não esteja devidamente equipada com os EPIs requeridos para o trabalho. Da mesma forma o acesso à coleção durante o período de carência deve ficar restrito aos colaboradores com os EPIs necessários, como respirador, jaleco e calça impermeável, luvas e botas de borracha. Resíduos da preparação da calda: todo resíduo gerado nesta etapa deve ser descartado no equipamento que está sendo preparado para a pulverização, seja ele costal ou turbo. Utensílios como balde, proveta, colher, bastão de mistura devem ser lavados 3 vezes (tríplice lavagem) e o resíduo deve ser descartado no equipamento de pulverização conforme figura abaixo. Estes materiais devem ser guardados junto com os defensivos agrícolas na área de Armazenamento e não devem ficar expostos, evitando assim o contato com outras pessoas. Com relação à embalagem vazia esta deverá seguir o procedimento abaixo: 66 Fazer tríplice lavagem e o resíduo deve ser descartado no equipamento de pulverização. Fazer um furo no fundo da embalagem para inutilizá-la. Dar meia rosca na tampa de maneira a mantê-la com a embalagem, porém não fechá-la totalmente. Armazenar junto com os defensivos agrícolas para posterior entrega à Central de Recolhimento. Resíduos da pulverização: neste item devem ser adotadas as medidas de boas práticas de aplicação mencionadas anteriormente, porém não deve ser permitido a alimentação na pausa da etapa de pulverização visto o risco de contaminação cruzada dos operadores. A área pulverizada deve ser sinalizada como área em período de carência. Para isso deve ser adotada placa de identificação conforme exemplo abaixo: Placa Verde: área com acesso liberado para trabalhos de manejo. Placa Vermelha: área em período de carência. Acesso somente com uso de EPIs. Resíduos da tríplice lavagem do tanque de pulverização: por ausência de uma rampa de mistura, o resíduo da lavagem do tanque de pulverização deverá ser 67 segregado em bombonas plásticas devidamente identificadas para posterior destinação. Este também poderá ser usado para completar o volume do tanque de pulverização numa posterior aplicação, de acordo com as exigências técnicas e determinações do técnico agrícola ou engenheiro agrônomo responsável. 5. RESPONSIBILIDADES É de responsabilidade de todo colaborador que manipule reagentes químicos, defensivos agrícolas ou não exigir e seguir as orientações determinadas neste manual, sem exceção para colaboradores terceiros, estagiários e visitantes. Fica sob responsabilidade de cada responsável de área, incluindo técnicos agrícolas, pesquisadores e diretores, a cobrança pela execução das orientações estabelecidas neste manual. 68 APÊNDICE B - RELATO DE INICIATIVA AMBIENTAL 1. Gestão Ambiental aplicada à área em estudo Sendo a área de estudo uma referência para agricultura, que garante a oferta de alimentos à população e coopera para a segurança alimentar e competitividade de mercado e que também se preocupa com as questões ambientais, foi realizado um estudo tendo em foco as principais características da área, no município de Jundiaí. 2. Caracterização da situação atual Com metodologia e técnicas de gestão ambiental para elencar os principais impactos ambientais na área rural referente ao uso e manuseio dos defensivos agrícolas, foram levantados 18 aspectos e impactos ambientais. Dos impactos ambientais apontados somente um pertence a área administrativa, três ao laboratório e os 14 restantes são referentes exclusivamente ao processo de aplicação dos defensivos agrícolas, sendo que dentre esses, a iniciativa de educação ambiental é apontado para 8 como ação de mitigação. Ainda para justificar a aplicação da iniciativa ambiental, foi possível identificar com a aplicação de questionário que a mudança no comportamento e forma de ver a situação dos defensivos agrícolas, desde o uso correto de EPI, sinalização de áreas com risco de intoxicação é um ponto chave a ser tratado com os trabalhadores para que possam se adequar a uma nova realidade. 3. Relatório da Iniciativa Objetivo Esclarecer a situação atual do uso e manuseio dos defensivos agrícolas para os trabalhadores rurais da área de estudo e propor através de palestras e manuais orientativos uma situação de conformidade com a legislação e demais questões ambientais. 69 Metas Realizar a iniciativa de educação ambiental, aplicar questionário de satisfação da educação ambiental, expor palestras orientativas e conversar com os trabalhadores rurais diretamente e entregar ao diretor da área de estudo o manual orientativo. Resultados esperados Espera-se que com a iniciativa ambiental seja aclarado a situação atual da área rural e que haja uma mudança positiva no comportamento e na tratativa dos defensivos agrícolas. Duração, cronograma Foi estipulado um período de 1h e 30 min com todos os trabalhadores do da área de estudo que estão envolvidos diretamente com a aplicação de defensivos agrícolas, com o seguinte cronograma: Horário Descrição Responsável 13:00 Aplicação de questionário preliminar L. Arantes e S. Krieger. 13:10 Introdução ao projeto: objetivo, Profa. Ms. Ana Carolina justificativa e metodologia. 13:30 Caracterização aspectos e da Veredas situação impactos atual: L. Arantes e S. Krieger. ambientais identificados e ações mitigadoras 14:20 Aplicação do questionário final L. Arantes e S. Krieger. Ações e etapas de implementação Entrega do manual orientativo como resultado do nosso trabalho; Verificar a motivação dos trabalhadores quanto as situações apresentadas. 70 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA AS ATIVIDADES ADMINISTRATIVO, LABORATORIAL E CAMPO Atividade Administrativa 1. Quem compra os produtos químicos? 2. Onde eles são transportados? 3. Como eles são transportados? 4. Onde eles estão dispostos? 5. Até onde vai a parte administrativa relacionada a compra de produtos químicos? 6. Depois de usados isso volta a essa área? Atividade Laboratorial 1. Quais resíduos químicos dão entrada no laboratório? 2. Onde ficam acondicionados? 3. Depois de usados como eles são descartados? Atividade de Campo 1. Quais são os defensivos agrícolas mais usados no campo? 2. Além dos defensivos, quais produtos químicos dão entrada? 3. Como ocorre a compra? O transporte? E a alocação? 4. Onde eles ficam alocados e de que forma eles estão dispostos? 5. Qual é o “ciclo” de uso do agrotóxico? (Mistura, trator, deslocamento, aplicação, deslocamento, acondicionamento). 6. A aplicação destes produtos gera resíduos no campo? 7. Os produtos depois de abertos ficam acondicionados onde? E de que forma? 8. As embalagens usadas são depositadas onde (lixo)? E qual é a destinação dada a elas? 9. Os EPIs são usados corretamente? São descartáveis? 10. Depois de usado o que os funcionários fazem com ele? 11. Onde é lavado? Onde são guardados? 71 12. Vocês acreditam que a forma como é tratado (compra, estoque, aplicação e destinação final) os produtos químicos está correto? 13. Quais os pontos negativos que vocês veem? (três principais) 14. Como funcionários, vocês aceitariam uma nova forma, uma forma correta, de manusear os defensivos agrícolas, obedecendo a legislação, etc? Como encarariam essa realidade? 15. O plano de resíduos propõe educação ambiental? Para você qual é a melhor forma de conscientizar o público? 72 APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO PRELIMINAR E FINAL APLICADOS NA INICIATIVA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Questionário Preliminar Formação/Nível de escolaridade: ______________________________________ O que é um agrotóxico? ______________________________________________ ___________________________________________________________________ Marque um X. Os agrotóxicos estão relacionados com: Sim Não Problemas ambientais Problemas à saúde Qual o principal problema ambiental que você enxerga na agricultura? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Você usa o EPI completo? ( ) Sempre ( ) Na maioria das ( ) Raramente ( )Nunca vezes Você ingere alimentos enquanto está pulverizando a cultura? ( ) Sempre ( ) Na maioria das ( ) Raramente ( )Nunca vezes Você realiza a tríplice lavagem de embalagens vazias? ( ) Sempre ( ) Na maioria ( ) Raramente ( )Nunca das vezes ( ) Desconhece o procedimento Você respeita o período de carência dos defensivos agrícolas? ( ) Sempre ( ) Na maioria ( ) Raramente ( )Nunca das vezes ( ) Desconhece a informação Você lava o EPI logo depois da pulverização? ( ) Sempre ( ) Na maioria ( ) Raramente das vezes ( )Nunca ( ) Desconhece o procedimento 73 Você despeja resíduos no solo? ( ) Sempre ( ) Na maioria das ( ) Raramente ( )Nunca vezes Você considera as condições climáticas, horário de aplicação e regulagem de equipamentos? ( ) Sempre ( ) Na maioria ( ) Raramente ( )Nunca das vezes ( ) Desconhece o procedimento Questionário Final Sobre os pontos abordados durante a iniciativa ambiental, responda: Você já sabia? ( ) Todos ( ) A maioria ( ) Um pouco ( ) Nada Foi de bom proveito? ( ) Sim ( ) Não ( ) Indiferente Você sentiu a necessidade de mudança de hábitos? ( ) Sim ( ) Não Você realizará alguma dessas mudanças? ( ) Sim ( ) Não Das soluções apresentadas você considera que é possível realizá-las? ( ) Sim ( ) Não Se sim, em quanto tempo? ( ) Curto prazo ( ) Médio prazo ( ) Longo prazo Escreva aqui sugestões e/ou reclamações (opcional) ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________