Universidade Federal do ABC Engenharia de Instrumentação, Automação e Robótica Fundamentos de Máquinas Elétricas Prof. Dr. José Luis Azcue Puma Regulação de tensão Rendimento Ensaios de curto-circuito e circuito aberto Autotransformador 1 Regulação de tensão É um dos critérios de desempenho de um transformador projetado para suprir potência com tensão aproximadamente constante para uma carga. Indica o grau de constância da tensão de saída quando a carga é variada. A regulação de tensão do transformador é definida como sendo a variação da tensão do secundário em condições de plena carga e em vazio, tomada como porcentagem da tensão a plena carga, com tensão do primário mantida constante, ou seja: 2 Regulação de tensão Regulação em % V2, vazio V2,plenacarga V2,plenacarga 100 A tensão do secundário quando o transformador está em vazio é: V1 V2, vazio a Quando uma carga é conectada ao secundário, a tensão terminal é dada por: V2,plenacarga V2,vazio V2 3 Regulação de tensão A tensão no secundário pode aumentar ou diminuir, dependendo da característica da carga. ∆V será positivo cargas com fator de potência capacitivo ∆V será negativo cargas com fator de potência indutivo A variação da tensão ocorre devido à queda de tensão [∆V = (I)(Zeq)] associada à impedância interna do transformador. Para muitos tipos de carga, grandes variações de tensões são indesejáveis. Portanto, os transformadores são projetados de forma a apresentarem pequenos valores de Zeq. O termo regulação de tensão é usado para caracterizar a variação de tensão do transformador com o carregamento 4 Regulação de tensão A regulação de tensão de um transformador depende de sua impedância interna e das características da carga. Regulação de tensão positiva significa que se uma tensão nominal for aplicada ao primário a tensão efetiva na carga será menor que a nominal (carga indutiva). Regulação de tensão negativa significa que uma tensão nominal for aplicada ao primário a tensão efetiva na carga será maior que a nominal (carga capacitiva). A tensão no primário deve ser ajustada de acordo com a carga para que se tenha tensão nominal no secundário. 5 Regulação de tensão Exemplo Um transformador monofásico de 10kVA, 2400V:240V tem os seguintes parâmetros 𝒓𝟏 = 𝟑𝛀; 𝒙𝟏 = 𝟏𝟓𝛀; 𝒓𝟐 = 𝟎, 𝟎𝟑𝛀; 𝒙𝟐 = 𝟎, 𝟏𝟓𝛀 Utilize o modelo simplificado (sem o ramo de excitação) do transformador para calcular a regulação de tensão quando o fator de potência é 0,8 indutivo (em atraso). 6 Rendimento Os transformadores são projetados para operarem com alto rendimento. Os seguintes aspectos contribuem para que os transformadores apresentem valores baixos de perdas: O transformador é uma máquina estática, ou seja, não tem partes rotativas, não apresentando, portanto, perdas por atrito no eixo e por resistência do ar no entreferro. O núcleo é constituído por placas laminadas e dopadas de materiais de alta resistência elétrica, as quais têm o objetivo de minimizar as perdas no ciclo de histerese Materiais com alta permeabilidade magnética são utilizados para diminuir a corrente de magnetização. 7 Rendimento Rendimento de um transformador é definido por: P PSAIDA SAIDA PENTRADA PSAIDA PP ERDAS PENTRADA TRAFO PSAIDA PPERDAS = PENTRADA PSAIDA As perdas do transformador incluem: Perdas no núcleo – Pc (ferro) Perdas no cobre – Pcu (perdas ôhmicas) PSAIDA PSAIDA PENTRADA PSAIDA PC PCu 8 Rendimento Perdas no cobre: Podem ser determinadas se os parâmetros do transformador forem conhecidos (corrente nos enrolamentos e resistência dos enrolamentos). X l1 I1 V1 I 2' R1 R2 I Ic Im Rc Xm X l2 I2 E1 E2 V2 PCu I 12 R1 I 22 R2 I 12 Req ,1 I 22 Req , 2 Req,1 = resistência equivalente dos enrolamentos referida ao primário Req,2 = resistência equivalente dos enrolamentos referida ao secundário Perdas no cobre: proporcionais ao quadrado da corrente! 9 Rendimento Perdas no núcleo: podem ser determinadas pelo ensaio em vazio, ou a partir dos parâmetros do circuito equivalente. I E1 Ic Im Rc Xm E PC RC I C2 RC 1 RC 2 E12 RC Perdas no núcleo: Proporcionais ao quadrado da tensão aplicada! 10 Rendimento A potência de saída do transformador é dada por: PSAIDA V2 I 2 cos 2 onde, V2 e I2 representam a tensão e corrente na saída (carga) do transformador, respectivamente. E o ângulo θ2 representa a defasagem angular entre os fasores V2 e I2, ou seja θ2 é o ângulo da carga. P V2 I 2 cos 2 SAIDA PENTRADA E12 V2 I 2 cos 2 I 22 Req, 2 RC 11 Rendimento Considerando que a tensão na carga é mantida constante e que as perdas no núcleo praticamente não variam com o carregamento, pode-se concluir que o rendimento depende da corrente exigida pela carga (I2) e do fator de potência da carga (cos θ2) PSAIDA V2 I 2 cos 2 PENTRADA V2 I 2 cos 2 PC I 22 Req, 2 12 Determinação de paramêtros Ensaio de curto-circuito Aplicar no primario uma tensão de 10 a 15% ou menos do valor nominal resultará na corrente nominal no primario. Secundario em curto-circuito. 13 Determinação de paramêtros Tipicamente mede-se: A tensão eficaz (rms) de curto-circuito Vsc A corrente eficaz (rms) de curto-circuito Isc Potência Psc Referidas ao mesmo lado 14 Determinação de paramêtros Ensaio de circuito aberto (ou a vazio) Aplicar no primario a tensão nominal. Secundario em circuito aberto. 15 Determinação de paramêtros Tipicamente mede-se: A tensão eficaz (rms) de circuito aberto Voc A corrente eficaz (rms) de circuito aberto Ioc Potência Poc Ioc 16 Determinação de paramêtros Exemplo O transformador monofásico de 100 MVA, 200/80 kV tem os seguintes dados obtidos com os ensaios: Ensaio de curto-circuito: Vsc = 30 kV, Psc = 500 kW Ensaio de circuito aberto: Ioc = 20A, Poc = 10kW 17 Determinação de paramêtros Exemplo A partir do ensaio de curto-circuito A partir do ensaio de circuito aberto |𝑍𝜑 | 18 Autotransformador (ideal) Transformador especial no qual parte do enrolamento é comum aos circuitos do primário e do secundário. Pode ser analisado como um transformador de dois enrolamentos ligados em série ou como um transformador com um único enrolamento de onde se deriva o primário e o secundário. Transformador de dois enrolamentos Transformador de um enrolamento 19 Autotransformador (ideal) Transformador convencional E1 N1 a E2 N 2 I1 N 2 1 I 2 N1 a S V1 I1 V2 I 2 20 Autotransformador (ideal) – relação de tensão Conectado como autotransformador (observe que perde a capacidade de isolar o secundário do primário): Relação de tensão: V A E1 E2 N N2 N1 E2 E 2 1 N2 N2 N N2 E2 1 N2 VB V A N1 N 2 (a 1) trafo abaixador de tensão N2 VB 21 Autotransformador (ideal) – relação de corrente Relação de corrente N1 N 2 N1 I A I B I A I2 I A I A N2 N2 IA N2 1 trafo elevador de corrente I B N1 N 2 a 1 22 Autotransformador Potência aparente: Sautotrafo V A I A VB I B VB I1 I 2 VB I1 VB I 2 VBI1 é a potência diretamente transferida ao secundário pela corrente primária sem qualquer transformação. Ela é chamada potência condutiva. S cond VB I1 VBI2 é a potência transferida ao secundário pela corrente I2 e desde que esta parcela é efeito da ação transformadora ela é chamada potência transformada (ou eletromagnética). S transf VB I 2 23 Autotransformador Co-relação (α): Relação entre a potência transformada e a potência a ser transferida do primário para o secundário de um autotransformador. S transf VB I 2 VB I B I A I A VB 1 1 ST VB I B VB I B I B VA VB ST S transf 1 VA Quanto mais a tensão secundária se aproxima da tensão primária, menor a potência transformada e conseqüentemente menor tamanho do transformador. 24 Autotransformador Usualmente, autotransformadores possuem a relação da tensão entre o primário e o secundário menor que 3 (problemas de competitividade com o transformador normal). No caso limite de VA/VB = 3; 66,7% da potência transferida será através da potência transformada. Portanto, em termos de material ferromagnético, as dimensões do transformador não poderão ser reduzidas de forma considerável a partir deste limite. 25 Autotransformador Comparação entre a potência transferida do primário para o secundário em bobinas ligadas como transformador ou autotransformador: S autotrafo VA I A S trafo E1 I1 E1 I A VA VB I A S autotrafo VA I A VA 1 VA VB I A VA VB S trafo 26 Autotransformador Conclusão Sauto > Strafo (caso limite VA=VB) Isto ocorre porque a conexão elétrica entre os dois enrolamentos permite que uma quantidade de energia adicional possa ser (eletricamente) transmitida para a carga além da energia transmitida através do campo magnético. Obs: Os valores nominais de corrente de cada bobina (I1 e I2) continuam sendo respeitados como autotransformador. Mas a corrente de saída muda: IB=I1+I2. 27 Autotransformador Vantagens É possível transferir uma potência maior com o mesmo transformador quando este é ligado como um autotransformador (potência transformada + potência conduzida) Os autotransformadores possuem reatâncias de dispersão, perdas e corrente de excitação menores do que o transformador convencional. Autotransformadores têm melhor rendimento, são fisicamente menores e mais baratos do que um transformador convencional correspondente. Autotransformadores podem ser utilizados como fontes de tensão variável através de contatos móveis que variam a relação N1/N2, por exemplo os variac’s do laboratório. 28 Autotransformador Desvantagens A conexão elétrica entre o enrolamento de alta e de baixa tensão pode danificar a carga em caso de curtos-circuitos . Por conseguinte, o autotransformador demanda melhor sistema de proteção. O enrolamento de baixa tensão demanda melhor isolamento uma vez que está exposto à tensão do enrolamento de alta tensão (não há isolamento entre os enrolamentos) 29 Autotransformador Exemplo - Um transformador monofásico, 100kVA, 2000/200 V é conectado como autotransformador elevador de tensão, com tensão de entrada de 2000V. Calcule sua potência operando como autotranformador. 30 Autotransformador Strafo Eab I H Ebc I bc 100000 500 A 200 100000 I cb 50 A 2000 I L 500 50 550A IH VL 2000V VH 2000 200 2200V Sauto VH I H 2200 .500 1100 kVA Sauto VL I L 2000 .550 1100 kVA 31 Próxima Aula 1. Transformador trifásico 32 Referências Bibliográficas A. B. E. FITZGERALD, C. KINGSLEY, S. D. UMANS, Máquinas Elétricas, 6a edição, Bookman. Material de fundamentos de máquinas elétricas do prof. Julio C. Teixeira 33