Trabalho de Projeto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Práticas Culturais para Municípios realizado sob a orientação científica de Professor Doutor António Camões Gouveia e Professor Carlos Vargas. i Dedico este trabalho ao meu filho Miguel Henriques, com quem desde sempre partilhei o gosto pelo saber e pela cultura. ii AGRADECIMENTOS Ao longo do caminho percorrido para a realização deste trabalho de projeto muitas foram as pessoas que me inspiraram e que contribuíram de várias formas para o resultado final, representando um valioso património de relações pessoais e profissionais, a quem expresso a minha profunda gratidão. Ao Dr. Mário Calheiros Coordenador do Setor do Arquivo Municipal e Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Odivelas, pela colaboração prestada na pesquisa de documentos, que me ajudaram a compreender o historial e a evolução do Centro Cultural Malaposta. A toda a equipa do Centro Cultural da Malaposta e em especial ao seu Diretor Artístico, Manuel Coelho pelas reuniões que me concedeu e pela documentação que me disponibilizou, à Coordenadora do Gabinete de Relações Públicas e Comunicação Vera Almeida, e ao Coordenador Técnico para a Construção e Maquinaria António Plácido, que se disponibilizaram e me ajudaram a encontrar respostas às minhas questões. À Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Susana Amador, ao Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Odivelas, Mário Máximo, ao Presidente do Conselho de Administração da empresa municipal Municipália, Rui Nascimento, o meu agradecimento pelas entrevistas que me concederam e que muito contribuíram para conhecer os desígnios municipais e compreender a visão estratégica e o modelo de administração deste equipamento cultural. Aos colegas de mestrado pela partilha de experiências e pela amizade que construímos ao longo deste percurso. A todos os docentes do Mestrado de Práticas Culturais para Municípios pelo seu empenho e dedicação e pelo estímulo à descoberta de novos horizontes do saber e da cultura. Finalmente um agradecimento muito especial ao Professor Doutor António Camões Gouveia e ao Professor Carlos Vargas, orientadores de excelência, sempre presentes e disponíveis ao longo do percurso, pelo estímulo e questionamento que foram imprescindíveis à elaboração deste trabalho. iii RESUMO TRABALHO DE PROJETO O Município de Odivelas e as Práticas de Cultura Um Estudo de Caso: O Centro Cultural da Malaposta (2007-2012) Maria Filomena da Conceição Viegas de Sousa PALAVRAS-CHAVE: Município, Território, Centro Cultural, Administração, Programação Cultural, Comunidades, Odivelas, Malaposta. O equipamento cultural de referência para este trabalho de projeto é o Centro Cultural da Malaposta, que constitui um exemplo de investimento autárquico na reabilitação de um edifício para a criação de infraestruturas destinadas à produção e à fruição artística e cultural. Trata-se de um equipamento cultural criado há cerca de 25 anos, que é tutelado pelo município de Odivelas. Descreve-se a evolução da instituição e apresenta-se uma análise da programação cultural deste equipamento, em 6 anos, entre 2007 e 2012. Trabalho de Projeto de Mestrado em Práticas Culturais para Municípios iv ABSTRACT PROJECT WORK The Odivelas county and its culture practices A Case Study: Malaposta Cultural Centre (2007-2012) Maria Filomena da Conceição Viegas de Sousa KEYWORDS: County, Territory, Cultural Centre, Admnistration, Cultural Agenda, Communities, Odivelas, Malaposta. The Malaposta Cultural Centre is the reference for this project work. Its premises are an example of municipal investment concerning building rehabilitation, thus creating important infrastructures for artistic and cultural productions. It is a cultural facility created about 25 years ago and managed by the Odivelas county. The institution‘s evolution is described and an analysis of a six year lasting cultural programme, between 2007-2012, is here by presented. Trabalho de Projeto de Mestrado em Práticas Culturais para Municípios v ÍNDICE 1. Introdução ................................................................................................................. 1 2. Contexto .................................................................................................................... 3 2.1. O Município de Odivelas .................................................................................. 3 2.1.1. O Território ..................................................................................................... 3 2.1.2. Evolução Demográfica ................................................................................... 5 2.1.3. Níveis de Escolaridade ................................................................................... 6 2.1.4. Estratégias de Desenvolvimento ..................................................................... 6 2.2. As Práticas de Cultura e os Equipamentos Culturais no Município de Odivelas 8 2.2.1. A Cultura na Orgânica Municipal.................................................................... 8 2.2.2. As Práticas de Cultura .................................................................................. 9 2.2.3. Os Equipamentos Culturais ........................................................................... 11 3. Caracterização do Centro Cultural da Malaposta ...................................................... 13 3.1. Génese do Centro Cultural da Malaposta ........................................................... 13 3.2. O Projeto Arquitetónico de adaptação do edifício .............................................. 16 3.3. Tipologia do Equipamento: Espaços e Valências ............................................. 21 3.4. Enquadramento Institucional e Modelo de Administração ............................... 22 3.5. Missão, Visão e Valores ................................................................................... 26 3.6. O Orçamento e as Fontes de Financiamento ..................................................... 27 3.7. Os Recursos Humanos ....................................................................................... 27 3.8. Os Públicos ........................................................................................................ 28 4. Análise da Programação Cultural............................................................................... 29 4.1. A Programação Cultural no âmbito dos municípios .......................................... 29 4.2. A Visão Estratégica de Programação do Centro Cultural da Malaposta ............ 34 4.3. Caraterização e Análise da Programação Cultural ........................................... 36 5. Conclusão .................................................................................................................. 48 Bibliografia .................................................................................................................... 51 Anexos ........................................................................................................................... 62 vi ÍNDICE DE FIGURAS GRÁFICOS E QUADROS Figura 1 - Mapa do Município de Odivelas 4 Figura 2 - Centro Cultural da Malaposta 20 Gráfico 1 - N.º de Sessões por Ano (2007-2012) 39 Gráfico 2 - Nº de Público por Ano (2007-2012) 39 Quadro 1 - Indicadores Gerais 4 Quadro 2 - Síntese da Programação Cultural por Tipologias e Categorias 37 Quadro 3 – N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia (2007-2012) 38 vii ÍNDICE DE ANEXOS Anexo1 - A Área Metropolitana de Lisboa …………………………….....… 66 Anexo 2 - O Distrito de Lisboa …………………………………….……....… 70 Anexo 3 - O Município de Odivelas ……………………………………........ 72 Anexo 4 - Mapa dos Concelhos de Lisboa, Belém e Olivais …….....…......… 77 Anexo 5 - Equipamentos Culturais do Município de Odivelas ………....…… 78 Anexo 6 - Mapa de localização do Matadouro Municipal ………………….... 79 Anexo 7 - Imagens do Matadouro Municipal de Olival Basto……………...... 80 Anexo 8 - O Projeto de Arquitetura do Centro Dramático/Teatro Malaposta .. 81 Anexo 9 - A Envolvente do Centro Cultural da Malaposta ………………..... 85 Anexo 10 - Imagens do Centro Cultural da Malaposta …………………….... 86 Anexo 11 - Imagens dos Espaços do Centro Cultural Malaposta ….….…....... 87 Anexo 12 - Modelos de Administração do Centro Cultural da Malaposta ….. 88 Anexo 13 - Lista das Entidades Parceiras ………………….…………….…... 89 Anexo 14 - Edital de classificação do Centro Cultural Malaposta ………....... 92 Anexo 15 - Análise de Programação Cultural 2007- 2012 …...…………….... 93 Anexo 16 - Entrevista ao Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta Manuel Coelho ………………………….………….……….... 101 Anexo 17 - Entrevista ao Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M. Rui Nascimento ……………….….……..... 117 Anexo 18 - Entrevista ao Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Odivelas Mário Máximo ……….………….......... 132 Anexo 19 - Entrevista à Presidente da Câmara Municipal de Odivelas Susana Amador …………………………….………................ 150 viii ÍNDICE DE FIGURAS DOS ANEXOS Figura 1 - Mapa da Área Metropolitana de Lisboa…………………………............ 68 Figura 2 - Mapa do Distrito de Lisboa………………………………………........... 71 Figura 3- Mapa do Município de Odivelas………………………………................ 72 Figura 4 - Acessibilidades e Infraestruturas Viárias……………………….............. 73 Figura 5 - Mapa dos Concelhos de Lisboa, Belém e Olivais………………............ 77 Figura 6 - Mapa de localização do Matadouro Municipal…………….……........... 79 Figura 7 - Fachada do Matadouro Municipal………………...…………...…......... 80 Figura 8 - Bloco do lado direito do Matadouro Municipal…………………........... 80 Figura 9 - Zona da Plateia ……………………………….…………………............ 80 Figura 10 - Planta do Centro Dramático/Teatro Malaposta.………........................ 81 Figura 11 - Envolvente do Centro Cultural da Malaposta …………...…............…. 85 Figura 12 - Vista aérea edifício do Centro Cultural da Malaposta ……….........…. 85 Figura 13 - Centro Cultural da Malaposta, 1989……………………………............ 86 Figura 14 - Centro Cultural da Malaposta……………………….…………............. 86 Figura 15 - Foyer ………………………………………..…………………............ 87 Figura 16 - Auditório ……..…..……………………….………….……….............. 87 Figura 17 - Café-teatro ……………….………………………………..……........... 87 Figura 18 - Sala de Cinema …………………………...….……...…………........... 87 Figura 19 - Sala Experimental de Teatro……………………………………........... 87 Figura 20 - Viedeoteca…………………………………………………….............. 87 ix ÍNDICE DE GRÁFICOS DOS ANEXOS Gráfico 1 - Evolução da População Residente no Município de Odivelas de 1900 a 2011 ……………………….…………….……….…........... 75 Gráfico 2 - N.º de Iniciativas por Tipologia 2007……………………………...... 93 Gráfico 3 - N.º de Sessões por Tipologia 2007………………………………...... 93 Gráfico 4 - N.º de Sessões por Tipologia 2008………………………………...... 94 Gráfico 5 - N.º de Público por Tipologia 2008………………………………....... 94 Gráfico 6 - N.º de Sessões por Tipologia 2009………………………………...... 95 Gráfico 7 - N.º de Público por Tipologia 2009………………………………....... 95 Gráfico 8 - N.º de Sessões por Tipologia 2010…………….........……………… 96 Gráfico 9 - N.º de Público por Tipologia 2010………………………….........… 96 Gráfico 10 - N.º de Sessões por Tipologia 2011………………………...........… 97 Gráfico 11 - N.º de Público por Tipologia 2011…………………….........……… 97 Gráfico 12 - N.º de Sessões por Tipologia do Projeto Educativo 2011.................. 98 Gráfico 13 - N.º de Público por Tipologia do Projeto Educativo 2011.………..... 98 Gráfico 14 - N.º de Sessões por Tipologia 2012………………………..........… 99 Gráfico 15 - N.º de Sessões por Tipologia 2012…………………….........…… 99 Gráfico 16 - N.º de Sessões por Ano (2007 - 2012) …………………………... 100 Gráfico 17 - Nº de Público por Ano (2007 - 2012) …………………………....... 100 x ÍNDICE DE QUADROS DOS ANEXOS Quadro 1 - Indicadores Gerais da Área Metropolitana de Lisboa ............................. 69 Quadro 2 - Indicadores Gerais do Distrito de Lisboa ............................................... 71 Quadro 3 - Reorganização Administrativa das Freguesias do Município de Odivelas. 73 Quadro 4 - Indicadores Gerais do Município de Odivelas ........................................ 74 Quadro 5 - População Residente nas Freguesias do Município de Odivelas de 1900 a 2011............................................................................................................ 75 Quadro 6 - População residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011.. 76 Quadro 7 - Variação da população residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011 ................................................................................................. 76 Quadro 8 - População residente segundo o nível de escolaridade 2001, 2011 .......... 76 Quadro 9 - Taxa de Analfabetismo no Município de Odivelas 1991, 2001, 2011 .... 76 Quadro 10 - Equipamentos Culturais do Município de Odivelas ............................. 78 Quadro 11 - Modelos de Administração do Centro Cultural da Malaposta................ 88 Quadro 12 - N.º de Iniciativas e de Sessões por Tipologia 2007.................................. 93 Quadro 13 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2008................................ 94 Quadro 14 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2009............................... 95 Quadro 15 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2010.............................. 96 Quadro 16 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2011............................... 97 Quadro 17 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia do Projeto Educativo 2011 ....................................................................................................... 98 Quadro 18 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2012 ............................... 99 Quadro 19 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia (2007 - 2012)................... 100 xi LISTA DE ABREVIATURAS ACIDI – Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural AMASCULTURA - Associação de Municípios para a Área Socio-cultural. AML - Área Metropolitana de Lisboa APPACDM – Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental CCDRLVT – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo CCM - Centro Cultural da Malaposta CEDEMA – Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Mentais Adultos CMO - Câmara Municipal de Odivelas CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa DPE – Departamento de Planeamento Estratégico EM – Empresa Municipal INE – Instituto Nacional de Estatística PDMO - Plano Diretor Municipal de Odivelas PROT – Plano Regional de Ordenamento do Território UCCLA - União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas xii 1. Introdução O equipamento cultural de referência para este trabalho de projeto é o Centro Cultural da Malaposta, que constitui um exemplo de investimento autárquico na reabilitação de um edifício para a criação de infraestruturas destinadas à produção e à fruição artística e cultural. Trata-se de um equipamento cultural tutelado por uma autarquia, criado há cerca de 25 anos, que fica situado na rua de Angola, freguesia de Olival Basto, no município de Odivelas. Os Centros Culturais e das Artes são equipamentos culturais, que fazem parte da história contemporânea da sociedade portuguesa. Criados e geridos por entidades públicas, têm como missão prestar um serviço público na área da cultura e das artes, às populações do território onde estão inseridos e procuram responder a uma nova perspetiva de descentralização e democratização da cultura, bem como de captação de novos públicos. Instalados, geralmente, em centros urbanos, assumem-se como um espaço físico de referência para a comunidade e como um polo de desenvolvimento cultural e social a nível local. São estruturas flexíveis, multifuncionais que desempenham funções diversificadas de criação, produção e difusão cultural, informação / formação e animação sociocultural, abrangendo várias áreas: teatro, música, dança, cinema, artes plásticas, exposições, seminários, congressos, oficinas, etc.. Estes equipamentos pela sua natureza e vocação abrangem uma diversidade de públicos, com diferentes interesses e formas de relacionamento com as obras e produtos culturais consoante a faixa etária, o nível de escolaridade, a história familiar e a experiência cultural. Dependendo na sua grande maioria da tutela da administração autárquica, constituem organizações culturais representativas de um modelo de gestão democrática. Por isso, estão sujeitos a crises cíclicas, de mudanças de gestão e de perspetivas de programação, tendo em consideração que os mandatos dos Conselhos de Administração correspondem à duração dos mandatos autárquicos, com ciclos de quatro anos. Neste estudo de caso sobre o Centro Cultural da Malaposta, pretende-se fazer uma análise deste equipamento na ótica da visão estratégia organizacional e da programação cultural, no período de atividade de 2007 a 2012, por se tratar de um período de estabilidade da Administração e da Direção Artística, num contexto de crise económica, e porque nunca foi estudado nesta perspetiva. 1 A questão de investigação que colocamos é a seguinte: como é que um centro cultural estabelece a sua programação de modo a cumprir uma missão de prestação de serviço público, numa área que é considerada estruturante para a comunidade? O estudo de caso é uma abordagem metodológica de investigação empírica especialmente utilizada, quando se pretende compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores. Yin (1994) afirma que é a estratégia mais adequada quando o investigador é confrontado com situações complexas e procura respostas para o ―como?‖ e o ―porquê?‖; quando o investigador procura encontrar interações entre fatores relevantes próprios dessa entidade; quando o objetivo é descrever ou analisar o fenómeno e quando pretende apreender a dinâmica do fenómeno, do programa ou do processo. 1 Como metodologia de investigação utilizou-se uma conjugação de diversos métodos e técnicas de investigação: observação direta2, análise documental, conversas informais com trabalhadores e frequentadores deste equipamento cultural e entrevistas semiestruturadas com informantes privilegiados: a Presidente da Câmara Municipal de Odivelas Susana Amador, o Vereador do Pelouro da Cultura Mário Máximo, o Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M. Rui Nascimento e o Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta Manuel Coelho. Este trabalho está organizado essencialmente em três partes: Na primeira parte apresenta-se uma caracterização sociodemográfica e cultural do Município de Odivelas e uma síntese sobre as práticas de cultura e os equipamentos culturais. Na segunda parte apresenta-se a evolução e a caracterização do Centro Cultural da Malaposta. Na terceira parte apresenta-se uma análise da visão estratégica e da programação cultural deste equipamento cultural, no período de 2007 a 2012. Na última parte apresentam-se as conclusões deste estudo. 1 2 YIN, R. (1994). Case Study Research: Design and Methods. (2ª Ed), Thousand Oaks, CA: SAGE Publications, Cap. I (p. 1-13). Outros autores, como Bell (1989) Hamel (1997) Stake (1995) Flick (2005) têm desenvolvido trabalhos de reflexão sobre a aplicação de metodologias de estudos de caso, nas ciências sociais e humanas. A metodologia de observação foi realizada na qualidade de espetadora frequente das atividades do Centro Cultural da Malaposta. 2 2. Contexto 2.1. O Município de Odivelas 2.1.1. O Território O território abrangido pelo município de Odivelas teve uma ocupação humana que remonta ao período paleolítico, conforme atestam alguns testemunhos arqueológicos, como: a Anta das Pedras Grandes na freguesia de Caneças, o Povoado Fortificado pré e proto-histórico da Serra da Amoreira, na freguesia da Ramada, os vestígios romanos encontrados na freguesia da Póvoa de Santo Adrião e uma possível presença islâmica na Paiã, freguesia da Pontinha.3 O núcleo mais antigo de Odivelas desenvolveu-se em torno do Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, mandado edificar pelo Rei D. Dinis (1261-1325), e construído entre 1295 e 13054, onde as populações locais encontravam trabalho e se foram fixando. Situando-se nos limites da cidade de Lisboa, a evolução deste território depende muito das dinâmicas entre o centro e a periferia. Devido à expansão da cidade de Lisboa e às reformas administrativas realizadas no séc. XIX, passou por diversas mudanças de jurisdição, tendo pertencido ao ―Termo de Lisboa‖ até 1852, data em que este foi extinto. Com a reforma administrativa de 11 de setembro de 1852, foi extinto o chamado ―Termo de Lisboa‖ e foram criados dois novos concelhos: Belém e Olivais. Na sequência dessa reforma Odivelas integrou-se no concelho de Belém. Em 1885, com a extinção do concelho de Belém, todo o território do atual município de Odivelas passou a ser administrado pelo concelho dos Olivais. Em 1886 foi extinto o concelho dos Olivais e foi criado o concelho de Loures, ao qual passou a pertencer, até à criação do município de Odivelas. 5 Enquanto divisão administrativa do território, o município de Odivelas tem uma existência muito recente. Foi criado a 14 de dezembro de 19986 por separação do município de Loures. O impulso para a sua criação teve origem num grupo de cidadãos locais, que se organizaram no ―Movimento Odivelas a Concelho‖, em prole do desenvolvimento desta região, gerando elevadas expetativas na população ao nível da resolução dos seus problemas. 3 CMO/PDMO (2009). Estudos de Caracterização do Território - IX Património Arquitectónico e Arqueológico, Vol. 4.2. p. 16, Odivelas: Câmara Municipal de Odivelas, in http://www.cmodivelas.pt/extras/pdm/anexos/Vol_4_2/V4.2_IX_ValoresCulturais_revisao_20090414_V2.pdf [Consulta realizada em 02/02/13] 4 Baptista, J. M. (1876). Chorographia Moderna do Reino de Portugal, Vol. 4 (p. 429). Lisboa: Typographia da Real Academia das Sciencias. 5 Silva, A. V. (1968). Dispersos, Vol. I, (2.ª ed.) (p. 50) Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa; Consultar Anexo 4 Mapa dos Concelhos de Lisboa, Belém e Olivais, Figura 5, p. 77. 6 Lei n º. 84/98, de 14 de dezembro, Diário da República n.º 287/98 - Série I-A (6810-6811). 3 Situa-se na região de Lisboa, a norte do rio Tejo, está integrado a Área Metropolitana de Lisboa7, no Distrito de Lisboa8. O município de Odivelas é limitado a nordeste pelo município de Loures, a sueste por Lisboa e a oeste por Amadora e Sintra.9 É um território que abrange uma área de 26,14 km2, com 144549 habitantes, (Censos 2011) tendo sido constituído na sua origem por sete freguesias: Caneças, Famões, Odivelas, Olival Basto, Pontinha, Póvoa de Santo Adrião e Ramada. Quadro1 - Indicadores Gerais Figura 1 - Mapa do Município de Odivelas 26,14 Km2 Área Habitantes 144.549 Famílias 57.782 Alojamentos 69.238 Edifícios 16.344 Compilação: Filomena Viegas, 2013. Fonte: INE, Censos 2011 Fonte: http://www.cm-odivelas.pt/Concelho/Mapa/index.htm Contudo, e de acordo com a nova reorganização administrativa das freguesias de 2013, o Município de Odivelas passa a integrar quatro freguesias com as seguintes denominações: Freguesia de Odivelas, União das Freguesias de Pontinha e Famões, União das Freguesias da Póvoa de Santo Adrião e Olival Basto, União das Freguesias de Ramada e Caneças. 10 Atualmente possui muito boas acessibilidades, tendo beneficiado com a construção recente da rede de infraestruturas viárias de caráter regional, que lhe conferem uma localização geoestratégica na região metropolitana de Lisboa: Radial de Odivelas (IC22), Radial da Pontinha (IC16), Circular Regional Interior de Lisboa (IC17), e Circular Regional Exterior de Lisboa (IC18).11 7 O Município de Odivelas integrou-se na AML por deliberação do Executivo Municipal, na 8.ª reunião ordinária da CMO, de 23/04/2004, in Boletim Municipal das Deliberações e Decisões n.º 9/2004, Ano V, p. 16; Consultar Anexo 1 - Área Metropolitana de Lisboa, p. 66. 8 Consultar Anexo 2 - O Distrito de Lisboa, p. 70. 9 Consultar Anexo 3 - O Município de Odivelas, p. 72. 10 Lei n.º 11-A/2013 de 28 de Janeiro de 2013, Diário da República n.º 19- 1.ª Série, p. 552 – (2) a 552 – (148). 11 Consultar Anexo 3 - O Município de Odivelas, Figura 4. Acessibilidades e Infraestruturas Viárias, p. 73. 4 Os serviços de transportes públicos aumentaram progressivamente ao longo dos últimos vinte anos, operando no território várias empresas de transportes com carreiras de autocarros que estabelecem a ligação entre a cidade de Lisboa e as diversas localidades do município de Odivelas. Em 1997, beneficiou da rede do Metropolitano de Lisboa com a abertura da estação da Pontinha e em 2004 com as estações de Odivelas, Senhor Roubado.12 2.1.2. Evolução Demográfica No contexto da Grande Lisboa, Odivelas é o terceiro município com maior densidade populacional, com 5530 hab/km2. Tem uma população correspondente a cerca de 7% dos residentes da Grande Lisboa. (Censos 2011) A população do Concelho de Odivelas registou desde 1900 um crescimento positivo, contínuo e regular até 1950. É entre 1950 e 1960 que se verifica um crescimento bastante acentuado, com uma população em 1960, cerca de três vezes superior à de 1950.13 De acordo com os indicadores demográficos disponíveis das últimas três décadas, verifica-se um crescimento da população, registando-se uma taxa de variação de 2, 9% entre 1991 e 2001, e de 8% entre 2001-2011.14 Segundo os dados dos Censos de 2011, a grande maioria dos residentes é natural de Portugal (84%), sendo uma minoria natural de países estrangeiros (16%). Em relação aos que nasceram em Portugal, cerca de 50,2% são naturais de outro concelho e 33,8% do concelho de Odivelas, dos quais 27% são naturais da freguesia de residência. A grande maioria da população residente no concelho de Odivelas tem nacionalidade portuguesa (88%), verificando-se, contudo, um decréscimo face a 2001 (94,3%) e a 1991 (98,2%). A comunidade de nacionalidade estrangeira tem crescido moderadamente. A diversidade da população, quer em relação à naturalidade, quer em relação à nacionalidade, indica uma tendência para a formação de uma comunidade multicultural, com diversas proveniências geográficas e culturais. 12 In http://www.metrolisboa.pt/ [Consulta realizada em 10/08/2013] CMO/DPE, (2004). Estudos Prévios de Planeamento Estratégico: Historial e Perfis Demográfico e SócioEconómico. Vol. I, p. 18 : CMO, in http://www.cm-odivelas.pt/extras/pdm/anexos/estudos_populacao_1.pdf [Consulta realizada em 02/02/13]; Consultar Anexo 3 - O Município de Odivelas, Gráfico 1. Evolução da População residente no Município de Odivelas 1900 a 2011, p. 75. 14 Consultar Anexo 3 - O Município de Odivelas, Quadro 7. Variação da população residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011, p. 76. 13 5 Relativamente à estrutura etária, a população pode caracterizar-se como jovem, mas verificam-se já alguns sintomas de envelhecimento, a curto e médio prazo. Entre 1991-2011, houve um decréscimo populacional nos grupos etários dos 0-14 anos e dos 15-24 anos e um aumento nos grupos etários dos 25-64 anos e dos 65 anos ou mais. O grupo etário dos mais novos (0-14 anos) constitui atualmente 15,16 % do total da população, enquanto a população potencialmente em idade ativa (15-64 anos) representa 68,47% e os idosos (65 anos ou mais) assumem um peso percentual de 16,36%.15 2.1.3. Níveis de Escolaridade A população caracteriza-se por um baixo nível de qualificações académicas, na medida em que mais de metade (51,2%) possui apenas o ensino básico, com especial incidência no primeiro ciclo (26,2%). Cerca de 20% da população possui qualificações de ensino secundário e 18 % de ensino superior (Censos de 2011).16 No entanto, entre 1991 e 2001 registou-se uma melhoria das qualificações académicas, com uma diminuição nas qualificações académicas mais baixas (até ao 2º Ciclo do Ensino Básico) e um aumento nas restantes. Importa, também salientar a significativa redução da taxa de analfabetismo registada no período de 2001-2011, que passou de 5,12% em 2001 para 2,86% em 2011, sendo um valor claramente abaixo do valor nacional (5,2%).17 2.1.4. Estratégias de Desenvolvimento O processo de urbanização no território do município de Odivelas desenvolveu-se de uma forma acelerada e desordenada, na segunda metade do séc. XX, provocando impactos na degradação do ambiente e nas condições de vida dos seus habitantes, défices ao nível dos equipamentos coletivos, conferindo-lhe o estigma de concelho dormitório. Pela sua localização no núcleo central da Área Metropolitana de Lisboa, o município de Odivelas está sujeito a uma forte influência da cidade de Lisboa, no que respeita ao emprego, serviços e equipamentos coletivos. Por esta razão, o seu desenvolvimento deve ser planeado em 15 Consultar Anexo 3 – O Município de Odivelas, Quadro 6. População residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011; Quadro 7. Variação da população residente segundo grandes grupos etários 2011, 2001, 1991, p. 76. 16 Consultar Anexo 3 – O Município de Odivelas, Quadro 8. População residente segundo o nível de escolaridade 2001, 2011, p. 76. 17 Consultar Anexo 3 – O Município de Odivelas, Quadro 9. Taxa de Analfabetismo no Município de Odivelas 1991, 2001, 2011, p. 76. 6 estreita articulação com as linhas de orientação estratégica para a AML, que estabelecem quatro prioridades: Sustentabilidade Ambiental, Qualificação Metropolitana; Coesão Socio-territorial e Organização do Sistema Metropolitano de Transportes.18 Relativamente às dinâmicas e tendências de mudança, o PROT-AML identifica sete tipos de espaços: Espaços Motores, Espaços Problema, Áreas Críticas Urbanas, Espaços Emergentes, Áreas com Potencialidades de Reconversão/Renovação, Áreas Dinâmicas Periféricas e Espaços Naturais Protegidos. De acordo com esta classificação, o município de Odivelas enquadra-se nos Espaços Emergentes, por abranger um «conjunto de novas infraestruturas rodoviárias, que lhe atribuem um papel chave na reestruturação do arco urbano envolvente norte, criando condições para o desenvolvimento de novas centralidades.»19 No entanto, devido à sua localização periférica, o município de Odivelas apresenta também características de um território suburbano, com zonas desqualificadas sob o ponto de vista urbanístico e ambiental de génese ilegal, com uma forte concentração residencial e alta densidade populacional, que implicam uma reconversão/renovação, pelo que pode ser inserido também, nos Espaços Problema e nas Áreas Críticas Urbanas. Em 2004, no âmbito dos estudos para a elaboração do Plano Estratégico e do Plano Diretor Municipal de Odivelas, foram estabelecidas seis Linhas de Orientação Estratégica para o Concelho de Odivelas20 para um horizonte de 2014, que devem ser entendidas de forma integrada, sem nenhum tipo de hierarquização: 1. Aposta numa produção urbanística integrada, na melhoria das formas de habitar, na mobilidade e nos equipamentos; 2. Aposta na melhoria do meio ambiente (físico e social) e da paisagem urbana no sentido da sustentabilidade; 3. Aposta no território no sentido da valorização do património, da criação de novas centralidades e no desenvolvimento do espaço público; 4. Aposta estratégica na Cultura e Educação como catalisador do progresso social dos Odivelenses; 5. Aposta estratégica na modernização da economia; 18 Plano regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa, Resolução do Conselho de Ministros n.º 68/2002 de 8 de Abril de 2002, Diário da República n.º 82, I Série-B, p. 3288, (3287-3328) 19 Idem, p. 3294. 20 Correia, P. (2004). Linhas de Orientação Estratégica para o Concelho de Odivelas – Proposta. Vol. I, p. 33: DPE/CMO, in http://www.cm-odivelas.pt/extras/pdm/anexos/linhas_orientacao_estrategica.pdf. [Consulta realizada em 02/02/13] 7 6. Aposta numa liderança política exemplar que fomente princípios de democracia participativa. Em relação aos setores da Cultura e da Educação foram traçadas seis linhas de orientação estratégica específicas, considerando como objetivos estratégicos a valorização do património e a valorização estratégica do espaço público, do lazer, da cultura e da informação: 1. Fortalecer Odivelas através da produção de conteúdos culturais; 2. Fazer da cultura, um elemento chave da coesão social; 3. Integrar Odivelas nos fluxos da cultura digital; 4. Valorização das identidades: Odivelas como um espaço cultural singular e metropolitano; 5. Criar uma rede de equipamentos culturais, valorizar os usos da rua e as sociabilidades; 6. Uma Cidade Educadora. De acordo com este documento Odivelas assume-se como «Um concelho que aposta nas novas tecnologias ao serviço da educação, da cultura, da cidadania, criando um território que proporciona igualdade de oportunidades, combate fenómenos de exclusão social, baseado em ―boas práticas‖ de governabilidade local que aprofundam e consolidam a democracia participativa e onde todos os agentes se regem por princípios de sustentabilidade.»21 2.2. As Práticas de Cultura e os Equipamentos Culturais no Município de Odivelas 2.2.1. A Cultura na Orgânica Municipal A promoção da cultura é uma função das autarquias locais contemplada na Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, que estabelece o regime jurídico das autarquias locais, o regime de transferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico. Esta lei contempla como uma das atribuições dos municípios: património, cultura e ciência. [Capítulo III, Secção I, Artigo 23, alínea e)] 22 21 22 Idem, p. 15. Lei n.º 75/2013 de 12 de Setembro de 2013, Diário da República n.º 176 - 1.ª Série (5688 – 5724). 8 O Organograma da Câmara Municipal de Odivelas inclui os serviços culturais no Departamento de Gestão Educativa, Juventude, Cultura e Ambiente, na Divisão de Cultura, Turismo, Património Cultural e Bibliotecas. A Câmara Municipal de Odivelas constituiu também em 2007, uma empresa municipal designada ―Municipália EM – Gestão de Equipamentos e Património do Município de Odivelas‖, que tem como objeto «a promoção e gestão de equipamentos coletivos e prestação de serviços na área da educação, ação social, cultura, saúde e desporto». 2.2.2 As Práticas de Cultura As práticas culturais podem ser entendidas como o «consumo dos bens e acontecimentos circulantes nos mercados da cultura de massas, do lazer e entretenimento»23. Do lado da procura e da fruição cultural os estudos do PDM revelam que «nas práticas culturais da população do concelho acentua-se o caráter doméstico das mais frequentes – as de tipo doméstico recetivo».24 E chamam a atenção para o facto das práticas culturais serem condicionadas pela estruturação dos tempos de trabalho versus tempos de lazer. Em 2002, a Carta de Equipamentos e Serviços de Apoio à População do INE refere que «O concelho de Odivelas apresenta-se com características essencialmente de dormitório, com carências generalizadas ao nível dos equipamentos e serviços, fundamentalmente nos domínios do lazer, desporto, convívio e cultura» e que «o tempo despendido no trajeto casa/trabalho/casa é de tal forma extenso que absorve aquele que poderia ser o tempo livre dos residentes».25 Contudo, esta situação inverteu-se consideravelmente, ao longo da última década, com a melhoria das acessibilidades, o aumento de transportes, o investimento em equipamentos educativos e culturais e o aumento das atividades culturais. Do lado da oferta cultural, uma análise mais aprofundada das dinâmicas culturais do Município de Odivelas implicaria um estudo da intervenção de todos os agentes culturais, que se podem agrupar em quatro grandes grupos: os serviços da Câmara Municipal de Odivelas, a Empresa Municipália gestora de alguns equipamentos culturais do município, as Juntas de Freguesia e outras instituições públicas e privadas, que atuam neste setor. 23 Fortuna, C. & Silva, A. (Orgs.) (2002). Projecto e Circunstância – Culturas Urbanas em Portugal. (p. 118). Porto: Edições Afrontamento. 24 Correia, P. (Coord.) (2001). Estudos Prévios de Planeamento Estratégico - Práticas, Representações e Aspirações da População. V. II, p. 170, DPE/Câmara Municipal de Odivelas, in http://www.cmodivelas.pt/extras/pdm/anexos/estudos_populacao_2.pdf [Consulta realizada em 02/02/13] 25 INE, (2003). Carta de Equipamentos e Serviços de Apoio à População - Região Lisboa e Vale do Tejo, 2002. 9 Não sendo possível aprofundar este estudo, limitamo-nos a apresentar uma síntese das principais áreas de intervenção dos serviços culturais da Câmara Municipal de Odivelas: - Estudos de história local e do património cultural que deram origem a um conjunto considerável de publicações e à realização de programas de visitas guiadas a locais de significativo valor histórico patrimonial e arquitetónico como: o Mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo, (Monumento Nacional), o Memorial de Odivelas, (Monumento Nacional), a Igreja Matriz de Odivelas (Monumento de Interesse Público), o percurso de Caneças do Aqueduto das Águas Livres (Monumento Nacional), a Igreja Matriz da Póvoa de Santo Adrião (Monumento Nacional) e o Padrão do Senhor Roubado (Monumento de Interesse Público). - Propostas de classificação de bens imóveis de interesse cultural e patrimonial, por exemplo: a Igreja Matriz de Odivelas, o Aqueduto das Águas Livres e seus aferentes e correlacionados (Caneças), o edifício ―O Velho Mirante‖ (Pontinha) a Biblioteca Municipal D. Dinis (Odivelas), o Centro Cultural da Malaposta (Olival Basto), O Regimento de Engenharia 1, com o núcleo museológico do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (Pontinha). - Requalificação dos equipamentos culturais existentes e construção de novos equipamentos culturais com diversas valências, como: o edifício dos Paços do Concelho na Quinta da Memória, com um auditório e uma sala de exposições (Odivelas), a Casa da Juventude (Odivelas) com um espaço polivalente, o Centro de Exposições de Odivelas, os polos da Biblioteca Municipal D. Dinis em Caneças e na Pontinha e o Pavilhão Multiusos (Odivelas). - Criação de núcleos museológicos como o Moinho da Laureana em Famões e o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, através de um protocolo com o Quartel do Regimento de Engenharia 1, na Pontinha. - Dinamização do associativismo cultural, através de um Programa de Apoio aos Agentes Culturais do Concelho de Odivelas, destinado a associações culturais sem fins lucrativos, que contribuam para a promoção e desenvolvimento da atividade cultural no concelho; - Desenvolvimento de projetos inovadores e eventos regionais, como por exemplo a organização das Bienais das Culturas Lusófonas, que se realizam simultaneamente em diversos equipamentos, através das quais Odivelas se afirma como ―Capital da Lusofonia‖. - A aprovação da ―Carta Municipal para os Assuntos da Lusofonia‖ em 2012 e a celebração de protocolos com diversas entidades (CPLP, a UCCLA, o ACIDI), como uma estratégia para promover a integração e a coesão social da população numa dimensão multicultural. 10 2.2.3. Os Equipamentos Culturais no Município de Odivelas Os equipamentos culturais integram-se nos equipamentos coletivos, que são considerados como elementos estruturantes do tecido urbano e social e apresentam tipologias muito variadas. Estes podem ser classificados como de natureza pública ou privada e os privados podem ter fins lucrativos ou não-lucrativos. No entanto, a oferta pública tem a responsabilidade de assegurar os valores mínimos de satisfação à população. Consideram-se equipamentos culturais todas as edificações públicas ou privadas, destinadas intencionalmente à produção/preservação e divulgação cultural. Estes equipamentos apresentam tipologias muito diversificadas, mas quanto à sua competência dominante, podem ser classificados como: Auditórios, Centros de Congressos, Bibliotecas Publicas, Cinemas, Teatros, Museus, Centros de Exposições, Centros Culturais. Quanto à área geográfica de influência podem ser classificados de âmbito nacional, supramunicipal/regional, municipal e freguesia. A Câmara Municipal de Odivelas tem efetuado diversos estudos de caracterização da rede de equipamentos culturais. De acordo com os estudos para a elaboração do PDM de Odivelas 26 «A caracterização da rede de equipamentos no concelho de Odivelas é feita por tipologias predefinidas e cuja distribuição territorial é cartografada na carta de equipamentos». Neste estudo foram consideradas as seguintes tipologias: Biblioteca Municipal, Auditório, Teatros, Cinemas, Museus, Parques de Exposições, Associações Culturais. No entanto, estes estudos são preliminares e contemplam listagens de equipamentos muito diversificados, quer no que respeita às tipologias, quer em relação ao regime de propriedade, tutela e administração, incluindo os equipamentos da Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, Associações de Cultura e Recreio, Escolas Publicas e Privadas (no caso das Bibliotecas Escolares), e de Entidades Privadas (no caso dos Cinemas), mas não caracterizam em pormenor as valências, e a frequência utilização. Por outro lado, atendendo à data em que foram realizados, já estão desatualizados, incluindo equipamentos que foram desativados e não contemplando outros de construção mais recente.27 26 Ventura da Cruz Planeamento Lda. (2003). Estudo Setorial dos Equipamentos de Utilização Colectiva - Estudo Prévio. Vol. 5, p. 34-35, PDMO/Câmara Municipal de Odivelas in http://www.cmodivelas.pt/extras/pdm/anexos/estudos_previos_v5.pdf [Consulta realizada em 02/02/13]. 27 Correia, P. (2004), Carta Cultural do Concelho de Odivelas – equipamentos culturais, espaços de sociabilidade e manifestações simbólicas (proposta preliminar 1.ª fase), DPE, CMO; Correia, P. (Dir.) (2005/2006), Carta de Equipamentos e Espaços Culturais. Vol. I e II, DPEDE/CMO; CMO/PDM (2009). Caracterização do Território VIII Equipamentos Colectivos, Vol. 4.2. in http://www.cmodivelas.pt/extras/pdm/anexos/Vol_4_2/V4.2_VIII_EquipColectivos.pdf [Consulta realizada em 02/02/13] 11 Na última década foram construídos vários equipamentos culturais e desportivos e outros foram requalificados. Atualmente, o Município de Odivelas possui equipamentos culturais de escala municipal ou mesmo supramunicipal como o Centro Cultural da Malaposta, o Centro de Exposições de Odivelas, o Pavilhão Multiusos de Odivelas (o segundo maior da Área Metropolitana de Lisboa) e outros de escala local, a nível de freguesia. Existem também equipamentos culturais de iniciativa associativa, que se caracterizam pela informalidade e pela polivalência das suas instalações e das suas práticas culturais. Torna-se assim necessário optar entre uma caracterização mais abrangente que inclua todos os equipamentos culturais existentes no território e os seus agentes e práticas culturais, ou uma caracterização mais restrita dos equipamentos culturais autárquicos. Atendendo a que as normas e critérios de programação da DGOTDU – Direção Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano, incidem apenas sobre os equipamentos culturais municipais, não abrangendo os outros equipamentos culturais existentes no território do município, optamos por fazer uma identificação sumária dos equipamentos culturais autárquicos, tutelados pela Câmara Municipal de Odivelas, com base nos documentos consultados.28 O município de Odivelas possui também um vasto e significativo património cultural, que importa estudar, proteger e preservar. No âmbito da elaboração do PDM de Odivelas foi efetuado o inventário de valores patrimoniais arquitetónicos de referência, classificados ou em vias de classificação, ao abrigo da Lei de Bases do Património Cultural,29 com o objetivo de delimitar áreas de intervenção, e em alguns casos recuperar ou reutilizar com fins culturais. Estes espaços encontram-se já georreferenciados.30 28 Consultar Anexo 5 - Equipamentos Culturais do Município de Odivelas, Quadro 10, p. 78. Lei n.º 107/2001 de 08 de Setembro de 2001, Diário da República N.º 209/01, Série 1-A (p. 5808-5829) - Lei de Bases do Património Português, que «estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural, como realidade da maior relevância para a compreensão, permanência e construção da identidade nacional e para a democratização da cultura.» 30 CMO/DPE/DPDM (2005). Carta do Património Cultural Construído - Inventário do Património Cultural Construído do Concelho de Odivelas, CMO; DSC/DJC/SEPCMNM (2008), Carta do Património Cultural do Concelho de Odivelas: CMO; Inventário do Património classificado do Concelho de Odivelas in http://www.cmodivelas.pt/Extras/Patrimonio/index.asp [Consulta realizada em 02/02/13]; CMO /PDM (2009). Estudos de Caracterização do Território, IX Património Arquitectónico e Arqueológico Vol. 4.2. in http://www.cmodivelas.pt/extras/pdm/anexos/Vol_4_2/V4.2_IX_ValoresCulturais_revisao_20090414_V2.pdf [Consulta realizada em 02/02/13] 29 12 3. Caracterização do Centro Cultural Malaposta 3.1. Génese do Centro Cultural Malaposta O projeto cultural e político que deu origem ao Centro Cultural da Malaposta foi concebido por iniciativa de quatro municípios da periferia da cidade de Lisboa, como uma necessidade decorrente do trabalho cultural desenvolvido por estes municípios: Amadora, Loures, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira. Numa conferência de imprensa realizada no Museu Municipal de Loures, no dia 8 de julho de 1987, para a qual foram convidados jornalistas, profissionais de teatro, representantes de organismos sindicais e de grupos de teatro amador, os Presidentes das Câmaras Municipais destes municípios apresentaram o projeto de criação da Associação de Municípios para a Área Socio-cultural - AMASCULTURA e do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett CDIAG, com componentes de produção artística, formação e animação cultural. 31 O Boletim Informativo Especial de Balanço da Actividade de 1987, da Câmara Municipal de Loures, anunciava este novo projeto municipal, indicando o local onde seria instalado: «Às portas de Lisboa, mais concretamente ao fundo da Calçada de Carriche, em Olival Basto, no antigo matadouro municipal de Loures, vai nascer em Março próximo um novo espaço cultural.» Neste equipamento cultural seria instalado o Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett (CDIAG) que «nasceu com o objectivo de assegurar um serviço público profissional, com carácter permanente e sistemático, nas áreas de produção, formação teatral e animação cultural. Trata-se da primeira companhia de teatro pública profissional constituída em Portugal à excepção da Companhia Nacional de Teatro D. Maria II. Esta companhia possuirá um elenco base de actores e técnicos e designar-se-á por Companhia da Malaposta, numa referência à primeira ocupação do seu espaço-sede – local de repouso de viajantes e de muda de cavalos do serviço de correios do século passado.» 32 Apresentada em Julho de 1987 e formalmente constituída a 6 de Janeiro de 1988, a Amascultura33 foi a primeira associação intermunicipal desta natureza criada em Portugal, para a prestação de serviços na área cultural, abrangendo o território dos quatro municípios, com uma área geográfica de 550 km2 e uma população de cerda de 700 mil habitantes. 31 Baptista, C. (1987). Loures vai ter Centro Dramático, in Jornal Diário Popular, 09/07/1987, p. 28. Câmara Municipal de Loures (1987). Cultura Desporto Tempos Livres: Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett, in Boletim Informativo Especial: Balanço de Actividades de 1987, p. 27. 33 Conforme Escritura e os Estatutos publicados no D.R. n.º 52, III Série de 3de março de 1988, (pp.3825- 3829). 32 13 O Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett foi o primeiro organismo desta associação intermunicipal, criado em maio de 1988, tendo como principais objetivos: a descentralização cultural, a produção teatral, a formação de atores, incentivos à produção de textos dramáticos nacionais, a criação de novos públicos e a animação cultural. O principal ideólogo do projeto cultural e da criação do CDIAG foi o ator e encenador José Martins, que refere «alguns aspetos que estando no centro da criação do CDIAG, acabaram por colocar o Município de Loures (juntamente com os restantes três municípios que com ele se associaram) na vanguarda de uma política de desenvolvimento cultural que não encontra paralelo em Portugal: desde logo a criação da primeira associação de municípios exclusivamente destinada à prestação de serviços culturais; depois, a consideração do teatro como motor privilegiado de uma política consequente de desenvolvimento cultural; finalmente, a assumpção do teatro como serviço público.»34 Para concretizar o projeto foi criada uma Comissão Instaladora com a seguinte composição: Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Loures, António Marques Ribeiro e os atores e encenadores José Soeiro Martins, José Peixoto e Mário Barradas.35 Tratou-se de um projeto cultural concebido há cerca de 27 anos, com características inovadoras e inéditas ao nível autárquico, por ter sido concebido e implementado por iniciativa conjunta de quatro municípios da periferia de Lisboa, que incluiu: a constituição de uma associação de âmbito intermunicipal especifica para a área sociocultural - Amascultura, a criação de um Centro Dramático Intermunicipal e uma companhia de teatro profissional para a prestação de um serviço publico, com instalações próprias, em edifício recuperado e adaptado para esta finalidade, que recebeu inicialmente o nome de ―Teatro Malaposta‖. O edifício era um antigo Matadouro Municipal, situado na localidade de Olival Basto que estava encerrado e degradado e foi disponibilizado pela Câmara Municipal de Loures. 36 34 Martins, J. (1990). Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett, in Jornadas de Reflexão Loures, Presente e Futuro, Comunicações da Secção de Juventude, Cultura e Tempos Livres, Tomo 5, Loures: Ed. Câmara Municipal de Loures, pp. 41-43. 35 José Martins, ator, encenador, fundador do Grupo de Campolide, atual Companhia de Teatro de Almada, e em 1991, fundador da Companhia de Teatro do Nordeste-Centro Dramático de Viana, instalada no Centro Cultural do Alto Minho; Mário Barradas, ator e encenador, fundador do Centro Cultural de Évora, em 1975 e do Centro Dramático de Évora (CENDREV) em 1989, instalado no Teatro Garcia Resende; José Peixoto, ator e encenador integrou a equipa inicial do Centro Cultural de Évora, e a equipa do Teatro da Rainha e em 2000 foi fundador do Teatro dos Aloés, instalado nos Recreios da Amadora. 36 Consultar anexo 6 - Mapa de Localização do Matadouro Municipal, Figura 6, p. 79; Anexo 7. Imagens do Matadouro Municipal de Olival Basto, Figura 7, Figura 8, e Figura 9, p. 80. 14 Como afirma Orlando de Almeida, Presidente do Conselho de Administração da Amascultura e Presidente da Câmara Municipal da Amadora, em 1993, «O Teatro foi a nossa primeira área de intervenção, seguindo-se o Cinema, as Exposições, o Centro de Documentação e a Dança. Este projecto de características inéditas no nosso país foi criado com o objetivo de gerir projectos comuns nos domínios da cultura e da produção e promoção sociocultural dos Municípios constituintes».37 No plano cultural e artístico, a conceção deste projeto insere-se no movimento de descentralização teatral, iniciado em Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974, protagonizado por criadores teatrais, que fundaram várias companhias de teatro com unidades de produção e formação sediadas em diversas localidades do país, designadamente: Centro Cultural de Évora (Évora), Grupo de Intervenção Cultural da Covilhã /Teatro das Beiras (Covilhã), TAS - Teatro de Animação de Setúbal (Setúbal), Teatro Laboratório de Faro (Faro), Centelha e Companhia de Teatro de Viseu (Viseu), Teatro de Portalegre (Portalegre), TEAR Teatro Estúdio de Arte Realista (Viana do Castelo), Trigo Limpo Teatro /ACERT (Tondela), Grupo de Teatro da Academia Almadense/ Companhia de Teatro de Almada (Almada), Os Bonifrates (Coimbra), Colombina (Leiria), Teatro da Rainha (Caldas da Rainha), Cena/Companhia de Teatro de Braga (Braga), Teatro Ensaio Transmontano (Vila Real) e TELA - Companhia de Teatro de Santarém e Centro Dramático Bernardo Santareno (Santarém). Segundo Carlos Porto «No entanto, no que se refere ao campo da descentralização suburbana, o acontecimento mais importante da história do teatro português consistiu na criação do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett (CDIAG), com sede em Olival Basto, a que estiveram ligados, José Martins, José Peixoto e Mário Barradas, por iniciativa dos Municípios da Amadora, Loures, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira. Trata-se de uma das mais fortes e produtivas estruturas do seu género, cujo projeto culminou em 1989 com a inauguração das suas excelentes instalações providas de espaços para atividades diversificadas.»38 37 Almeida, O. (1993). Amascultura um projecto inédito, in Boletim Cultural, n.º 6 novembro 93, p. 15-16, Loures: Ed. Câmara Municipal de Loures, 1993. 38 Porto, C. (1990). O teatro da explosão à crise, in António Reis, (Dir.) Portugal contemporâneo, a implementação do regime democrático e a descolonização. A modernização da economia e da sociedade. A cultura em liberdade, os novos valores. Vol. VI, (p. 316 - 317). Lisboa: Publicações Alfa S.A. 15 3.2. O Projeto Arquitetónico de adaptação do edifício A origem do nome do Centro Cultural da Malaposta está relacionada com a história do edifício onde foi instalado. A história que se conta sobre este edifício atribui-lhe duas funções distintas: a de ―Estação de Mala-posta‖ na fase primitiva da sua existência e a de ―Matadouro Municipal‖ numa segunda fase, com a posterior adaptação para um equipamento cultural. Esta narrativa é transmitida na ―memória descritiva‖ do projeto arquitetónico de recuperação do edifício, que ficou a cargo o Arquiteto Ricardo Hartmann: «Trata-se da recuperação de um edifício dos finais do século passado, de um edifício utilitário que traz nas suas pedras a memória de utilizações diversas, mas principalmente a da malaposta – que lhe empresta o nome – e a de matadouro municipal e, finalmente, a de um certo ostracismo.» 39 Num artigo intitulado ―Brevíssima história do projeto para o Teatro da Malaposta‖, Hartmann refere o seguinte «Não era um projeto de raiz, mas a recuperação de um vetusto edifício, com uma longa e quase desconhecida história entranhada nas suas pedras, que nasceu para ser estação da malaposta e acabou como matadouro municipal, antes desta nova fase da sua vida útil e utilitária. (…) Depois foi tratar de saber que edifício era este, que todos chamavam ―matadouro‖, mas que se descobriu ter sido, originalmente, a malaposta de Loures e pouco ou nada se descobriu.» 40 Fazendo alusão à história da Mala-posta em Portugal, Hartmann estabelece uma relação entre este edifício e a estação de Mala-posta de Casal dos Carreiros «No decorrer de 1855/1856, foi construída a posta de Casal dos Carreiros cujo projeto passou a ser utilizado como projeto-tipo repetido em diversos locais até ao final do século. (…) O ―nosso‖ edifício, em data altura, foi transformado em matadouro municipal, presumivelmente, alterando a sua imagem arquitetónica original, da qual ainda se pode reconhecer a traça.» O nome atribuído ao Centro Cultural da Malaposta e à Companhia de Teatro Malaposta surge assim, a partir da interpretação que o Arquiteto Ricardo Hartmann faz da estrutura do edifício, associando-a ao modelo da Estação de Mala-Posta do Casal dos Carreiros, que foi a primeira a ser projectada e edificada para esta função. De facto, a ―Estação de Mala-posta de Casal dos Carreiros‖ construída em 1856, fica situada na Estrada Nacional n.º 366 Carreiros, freguesia de A-dos-Francos, concelho das Caldas 39 Processo n.º 00037/DOM (1988). Adaptação das Instalações do Antigo Matadouro Municipal a Sede do CDTIT Malaposta, Vol.03, Olival Basto, Póvoa de Santo Adrião, pág. 167 – 176. 40 Hartmann, R. (1989). Brevíssima história do projecto para o Teatro da Malaposta, in malaposta Revista de Teatro do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett, N.º 3, 1989, pp. 2-5. 16 da Rainha, distrito de Leiria.41 Esta é a estação referida pelo Arquiteto Hartmann, que serviu de «edifício-tipo» e que apresenta algumas semelhanças com a estrutura do edifício do Centro Cultural da Malaposta. A interpretação apresentada nos estudos prévios e na memória descritiva do projeto de reabilitação do edifício criou assim uma narrativa sobre a origem da designação do Centro Cultural da Malaposta, que foi difundida ao longo dos anos, em diversas publicações municipais e em roteiros culturais. Alguns artigos afirmam mesmo, que o Centro Cultural da Malaposta foi construído no Casal dos Carreiros. Contudo, o historial do edifício tem gerado algum debate público e tem sido objeto de diversas investigações. Existem estudos mais recentes de dois autores, que investigaram a história deste edifício e que afirmam não ter encontrado documentos históricos, que comprovem ter existido a ―Mala-posta de Loures‖, neste sítio.42 A página web do Centro Cultural da Malaposta refere sobre o seu historial o seguinte: «Os factos não confirmam as afirmações que se têm feito sobre a Mala-posta de Loures, porque o transporte era feito de barco pelo rio Tejo até ao Carregado e daqui é que partia a diligência ou mala-posta, que levava o correio e os passageiros até Coimbra.»43 Revela também que o edifício onde funciona o Centro Cultural da Malaposta foi mandado construir pela Câmara Municipal dos Olivais no ano de 1873, numa propriedade denominada ―Quinta do Senhor Roubado ou do Painel das Almas‖, entre as estradas de Loures e a que segue para Odivelas. O seu proprietário, António Maria de Brito Pereira Pinto Guedes Pacheco, aceitou a expropriação de 2.600 metros quadrados, pelos quais a Câmara pagou a quantia de dois mil e quinhentos réis. Na pesquisa que fizemos sobre este assunto, com base em fontes primárias do final do séc. XVIII e do séc. XIX, também não encontrámos nenhuma referência a este edifício, que confirmasse a sua primeira função de estação de muda de mala-posta dos correios. No primeiro período em que foi implementado o serviço de carreiras da Mala-posta em Portugal, entre Lisboa e Coimbra (1798-1804), o trajeto fazia-se por Sacavém, como se pode 41 Segundo o IGESPAR trata-se de um edifício classificado como ―Imóvel de Interesse Público‖, de ―Arquitectura Civil‖, pelo Decreto-Lei n.º 129/77, DR 226 de 29 Setembro 1977. Esta estação dos correios, construída na segunda metade do século XIX, apresenta uma planta em ―U‖ com quartos, cozinha, cavalariças, casa dos arreios e vestíbulos. No centro tem um grande pátio de comunicação direta com a estrada. 42 Anciães, A. R. (1993). A Mala-posta e o Palácio do Correio-Mor. Pós-graduação em Museologia Social do Instituto Superior de Matemáticas e Gestão, disciplina de Museologia e História Local; VAZ, M. M. (2009). Memórias de Olival Basto. p. 59, Olival Basto: Ed. Junta de Freguesia de Olival Basto. 43 In http://www.malaposta.pt/historial.html [Consultada realizada em 07/08/2013]. 17 confirmar pelo Regulamento de Instrução para o Estabelecimento das Diligências entre Lisboa e Coimbra 44 e o jantar era servido nas estalagens da Castanheira e de Pombal. No segundo período (1855-1864) em que funcionou este transporte de correios e viajantes, o percurso fazia-se entre o Carregado e o Porto, como se pode verificar pelas tabelas de horários e de preços da época.45 A partir de 1856, com a instalação do caminho-de-ferro, este serviço de transporte de Mala-posta acabou por ser substituído pelo comboio. Quanto à função de ―Matadouro Municipal‖ existem vários documentos históricos, que comprovam a expropriação do terreno e a construção do edifício para esta função. Além disso, na segunda metade do século XIX, existiu na Calçada de Carriche, muito próximo do edifício onde está instalado o Centro Cultural da Malaposta, uma famosa estalagem ―Nova Cintra‖, que é mencionada em diversos roteiros de viagem da época. 46 O projeto de arquitetura foi concebido em função da existência prévia de um programa e de um conjunto de intenções transmitidas pela Comissão Instaladora sobre o projeto cultural da Amascultura e do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett - CDIAG.47 Para compreender melhor a articulação entre o projeto arquitetónico e o projeto cultural analisámos a comunicação ―Uma aposta autárquica numa nova visão da cultura‖, apresentada no colóquio sobre ―Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais‖, organizado em 1991, pela Fundação Calouste Gulbenkian, Encontros ACARTE.48 Nesta comunicação José Peixoto referia «Coube ao Teatro um lugar de destaque neste projecto de acção cultural, com reflexos imediatos na organização do complexo arquitectónico que constitui a Malaposta. (…) É sabido que o teatro pela sua comunicação directa, pela capacidade de reflexão social da cena, por se dirigir assembleias e não ser um exercício isolado, se situa em lugar primeiro entre os agentes transformadores culturais da sociedade. (…) Mas a 44 Diploma de 6 de Setembro de 1798, in Collecção da Legislação Portugueza (1791-798) redigida por António Delgado da Silva (1828) (pp. 501-508) Lisboa: Typ. Maigrense. 45 Anúncio de 02/05/1859, pela Sub-inspecção Geral dos Correios, D. G. N.º 104 de 5 de Maio de 1859, fazendo constar que a mala-posta saída do Carregado chegava até à Cidade do Porto, e quais eram as horas e do serviço e o preço dos transportes, in Colecção Official da Legislação Portugueza redigida por J. M. C. Leite de Vasconcellos (1860) p. 139, Anno de 1859. Lisboa: Imprensa Nacional. 46 Barbosa, V. (1862). Fragmentos de um Roteiro de Lisboa (Inédito) Arrabaldes de Lisboa. in Archivo Pittoresco, Semanário Illustrado, Vol. VI. (326-328; 332-333). Lisboa: Ed. Castro Irmão & C.ª; Lemos, I.M. (1859). Guia Luso-Brasileiro do Viajante na Europa. (p. 23), Porto: Tipografia de António José Silva Teixeira; Bordalo, F.M. (1863.) Novo Guia do Viajante em Lisboa e seus Arredores: Cintra, Colares, Mafra, Batalha, Setúbal, Santarém, etc. (p. 163-164) (2.ª Ed.), Lisboa: Editor J.J. Bordalo. 47 Consultar Anexo 8 - O Projeto de Arquitetura do Centro Dramático /Teatro Malaposta, Figura 10, p. 81. 48 Peixoto, J. et. al (1992). Uma aposta autárquica numa nova visão da cultura. in José Castanheira (Org.) Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais. (p. 259-276) Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 18 estruturação do espaço permitindo um lugar privilegiado ao Teatro não ignorou as outras artes.»49 O programa de recuperação e adaptação do edifício para esta nova função contemplou os seguintes espaços/valências: Para a atividade principal de teatro: uma sala de teatro para 224 espectadores, com boca de cena 10 x 6 metros e uma sala polivalente/ de teatro experimental para 100 espectadores, com plateia amovível. Para atividades complementares de cinema, exposições de artes plásticas, dança, formação: um foyer polivalente utilizável como sala de exposições, com apoio de livraria e cafetaria; um estúdio de cinema e vídeo de formato reduzido com 63 lugares; um estúdio de dança; uma sala de leitura/ centro de documentação e uma oficina de artes gráficas e cénicas. Para atividades de apoio técnico e serviços administrativos: sala de cenografia, oficina de carpintaria, ateliê de confeção de figurinos e guarda-roupa, camarins, gabinetes de serviços técnicos e administração, bengaleiro, instalações sanitárias.50 O projeto de recuperação do edifício procurou corresponder ao projeto cultural centrado na produção e formação teatral e animação sociocultural, contemplando uma estrutura flexível com espaços multifuncionais, destinados a atividades diversificadas. Nesta obra de considerável envergadura e complexidade para adaptação a uma função cultural foram efetuados estudos de controlo acústico, climatização e iluminação e selecionados os materiais mais adequados para revestimentos no estúdio de cinema, sala polivalente, foyer e caixa do palco, e instalados equipamentos de ar condicionado e ventilação, sistemas de deteção e de incêndio e de alarme contra a invasão do edifício. A construção é formada por três corpos recuperados do primitivo edifício, com uma estrutura em "U", com o acrescento da caixa do palco ao corpo central e alguns anexos. Foi respeitada a imagem exterior e a austeridade da traça original. O corpo do edifício do lado direito tem um 2.º piso, que inclui camarins e instalações sanitárias para os artistas e a recuperação da casa do guarda do matadouro, transformada num pequeno apartamento de duas divisões que foi destinado a dois funcionários da Câmara Municipal de Loures, destacados para o Centro Cultural da Malaposta. É de salientar que o edifício tendo sido adaptado em 1989, não 49 50 Idem, p. 261. Consultar Anexo 8 - O Projeto de Arquitetura do Centro Dramático /Teatro Malaposta, Figura 10, p. 81. 19 possui barreiras arquitetónicas, garantindo o acesso e a circulação a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. 51 A obra ocupou uma área total de construção de 2.570,00 m2 e foi realizada num prazo relativamente curto. Tendo sido iniciada nos finais de 1987, foi concluída em dezembro de 1989. O custo do investimento, incluindo equipamentos e mobiliário, foi de 350.000 contos.52 O ―Teatro da Malaposta‖ foi inaugurado a 20 de Dezembro de 1989, com um espetáculo do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett, a peça de teatro ―O Render dos Heróis‖, de José Cardoso Pires, cenário e figurinos de Eduardo Cruzeiro, Música de António Vitorino de Almeida e encenação de José Martins.53 Um edifício degradado pelo uso e pelo tempo deu origem a um novo espaço para a cultura, um Teatro, um Centro Cultural. A sua reabilitação provocou também a melhoria da envolvente, das acessibilidades e a valorização da freguesia do Olival Basto, que passou a ser mais conhecida e visitada pela localização e divulgação do Centro Cultural da Malaposta. Ao longo de vinte e cinco anos de existência, este equipamento cultural e toda a sua envolvente têm beneficiado de obras de conservação de remodelação e de requalificação, que valorizam a freguesia de Olival Basto e o município de Odivelas. Em 2013, a Câmara Municipal de Odivelas aprovou uma proposta de classificação do edifício do Centro Cultural da Malaposta, como ―imóvel de interesse municipal‖.54 Figura 2 - Centro Cultural da Malaposta Fonte: Arquivo do Centro Cultural Malposta (fotografia de Margarida Nunes) 51 Consultar Anexo 9 - Imagens da envolvente do CCM, p. 85 e Anexo 10 - Imagens do CCM, p. 86. Peixoto, J. et. al (1992). Uma aposta autárquica numa nova visão da cultura, in José Castanheira (Org.) Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais. (p. 275) Lisboa: ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian. 53 O livro ―O Render dos Heróis‖ de José Cardoso Pires foi publicado em 1961 e a peça foi representada pela primeira vez em1965, pelo Teatro Moderno de Lisboa, no cinema Império, em Lisboa. 54 Consultar Anexo 14 - Edital de Classificação do CCM como ―Imóvel de Interesse Municipal‖ p. 92. 52 20 3.3. Tipologia do Equipamento: Espaços e Valências Atualmente o Centro Cultural da Malaposta mantem-se no edifício onde foi instalado em 1989, que conserva a mesma estrutura física, com características multifuncionais, mas ao longo dos últimos dez anos, os espaços foram progressivamente reajustados em função do projeto cultural e da programação que desenvolve em áreas muito diversificadas: Cinema, Dança, Exposições, Música, Poesia, Teatro, Literatura, Oficinas, Encontros, Festivais, etc. Este equipamento cultural possui atualmente os seguintes espaços / valências: - Auditório /sala principal com 159 lugares, com boca de cena 10 x 6 metros; - Sala polivalente/ sala de teatro experimental, também designada ―sala estúdio‖, com capacidade variável (80 lugares/cadeiras, 100 lugares/assentos amovíveis); - Café-teatro com 20 mesas e capacidade para 80 a 100 lugares; - Sala Estúdio de Cinema com capacidade para 54 lugares; - Sala dos Espelhos, também designada ―Black-box‖, equipada para ensaios de dança, adaptada a exposições e outras atividades, com 60 lugares; - Videoteca equipada com cerca de 3.000 filmes. - Foyer polivalente utilizável como um espaço de exposições, ou para espetáculos musicais e encontros informais, com apoio de serviço de cafetaria - o ―Café do Desassossego‖ em homenagem ao poeta Fernando Pessoa, equipado com as antigas mesas e cadeiras do Restaurante Martinho da Arcada, em Lisboa.55 Os espaços de atividades complementares são: oficinas de carpintaria, de cenografia, de costura/guarda-roupa, camarins, gabinetes técnico/administrativos e instalações sanitárias. Segundo Manuel Coelho, Diretor Artístico «A ideia da adaptação e de reabilitação dos espaços existentes na Malaposta, foi operada exatamente para dar maior capacidade e facilidade de montagem aos vários projetos que programamos, como exemplo poderei citar, a sala de espelhos. Tratava-se de uma sala de ensaios e agora está apetrechada com equipamento próprio, estando já licenciada, com capacidade para 50 pessoas. O próprio Café-Teatro era uma sala de cenografia, também já está licenciado e com capacidade para 60 pessoas, dispondo também de equipamento próprio. De salientar que todos os espaços estão equipados para poderem receber variadíssimos espetáculos. Todos eles são espaços polivalentes, de maneira a oferecer ao criador uma base livre para a criação.»56 55 56 Consultar Anexo 11 - Imagens dos espaços do Centro Cultural da Malaposta p. 26. Consultar Anexo 16 - Entrevista ao Diretor Artístico do Centro Cultural Malaposta, Manuel Coelho, p. 101. 21 O Centro Cultural da Malaposta, apesar de funcionar num edifício antigo e adaptado, está em bom estado de conservação e tem condições razoáveis de trabalho para o desenvolvimento de diversos tipos de atividades artísticas e culturais. As condições de acessibilidade são muito boas, está bem servido de transportes públicos e possui parque de estacionamento próprio de acesso gratuito. O Auditório enquadra-se na tipologia de salas multifuncionais, em formato retangular com um palco à italiana, com entradas laterais, com uma boca de cena de 10 m x 6 m e uma teia cuja torre mede cerca de 13 m. O espaço útil de cena possibilita a receção de produções de média dimensão, em boas condições. Esta sala foi completamente remodelada em 2006. A plateia projetada inicialmente com 224 lugares foi reduzida para 159, devido à instalação de uma cabine de equipamento técnico de som e projeção, para melhoria das condições técnicas. É uma plateia confortável e garante muito boas condições de visibilidade de todos os lugares. Todas as outras salas são polivalentes, embora de dimensões reduzidas, e possuem equipamento técnico que permite a realização de atividades em simultâneo, com uma boa rentabilização do espaço físico. 3.4. Enquadramento Institucional e Modelos de Administração No contexto atual, os modelos de administração dos equipamentos culturais tutelados pelas autarquias locais suscitam questões pertinentes, que se prendem com o enquadramento legal e as atribuições da administração local, e que são objeto de debate e de análise nas suas várias dimensões designadamente, políticas, jurídicas, financeiras e culturais. Este equipamento cultural teve sempre uma tutela autárquica, mas ao longo dos seus vinte e cinco anos de existência, esteve subordinado a diversos modelos de administração.57 Entre 1989 e 2002, foi administrado pela Amascultura – Associação de Municípios para a Área Socio-cultural, com o estatuto de pessoa coletiva de direito público, constituída em 1988, pelos municípios da Amadora, Loures, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira, tendo como objeto «promover estudos e gerir projetos e planos comuns nos domínios da cultura e da promoção sociocultural, com vista ao desenvolvimento cultural e social das populações dos municípios associados».58 57 58 Consultar Anexo 12 - Modelos de Administração do Centro Cultural Malaposta, Quadro 11, p. 88. De acordo com a Escritura e os Estatutos publicados no Diário da República n.º 52, III Série de 3 de março de 1988, pp. 3825- 3829. 22 Esta modalidade de associativismo municipal com características inéditas no campo da promoção cultural em Portugal constituía nessa época uma forma dos municípios encontrarem respostas para problemas comuns, considerados de âmbito regional ou supramunicipal. 59 No domínio da promoção sociocultural, para além de possibilitar a produção e a itinerância de espetáculos, seria uma forma de gerir um equipamento cultural e de contratar os artistas, porque as autarquias não possuíam competências próprias nesta área e o quadro de pessoal não contemplava as carreiras e as categorias de pessoal artístico. Nessa época ainda não tinha sido regulamentado o estatuto de Empresa Pública, prevista na Constituição da Republica Portuguesa de 1976, que seria outro modelo de organização possível para gerir um projeto desta natureza. A justificação para a criação da Amascultura foi transmitida pelo Presidente da Câmara Municipal da Amadora, Orlando Guerreiro de Almeida, na qualidade de Presidente do Conselho de Administração da Amascultura, num artigo publicado em 1993.60 A nível financeiro, as comparticipações dos municípios foram estabelecidas de harmonia com os montantes anuais do Fundo de Equilíbrio Financeiro.61 Com a criação do Município de Odivelas em 1998, a Amascultura passou a integrar também este município, com alteração dos estatutos. 62 No entanto, após doze anos de existência, esta associação foi extinta, por decisão tomada por unanimidade, em Assembleia Intermunicipal de 07/03/2002, na qual os municípios expressaram a sua disponibilidade para transferir para o município de Odivelas todos os bens, direitos e obrigações relativos à Amascultura, prescindindo das suas quotas-partes, com a condição deste município se comprometer a salvaguardar a situação dos trabalhadores da Associação e de manter o acervo e a função cultural e artística.63 Através da análise documental e das entrevistas realizadas, depreende-se que a extinção da Amascultura está relacionada com três ordens de razões: a primeira de natureza política, devido aos resultados das eleições autárquicas de 1997, que alteraram a correlação das forças políticas na Amadora e em Vila Franca de Xira, deixando de haver coesão e consenso político, 59 A figura jurídica de Associação de Municípios, prevista no artigo 254.º da Constituição da República Portuguesa de 1976, foi instituída pelo Decreto-Lei n.º 266/81, D.R. n.º 212 - I Série de 15/09/1981, numa conjuntura político-administrativa decorrente da aplicação da Lei das Finanças Locais, n.º 1/79 de 2/01/1979. 60 Almeida, O. (1993). Amascultura um projecto inédito, in Boletim Cultural nº 6, Novembro 93, Câmara Municipal de Loures, p. 15-16. 61 Idem, p. 15. 62 Estatutos publicados no Diário da República n.º 278, III Série de 2 de dezembro de 2002, p. 25976 - (9). 63 CMO, (2002). Odivelas Boletim Municipal das Deliberações e Decisões de 28/05/ 2002, Ano III - N.º 13, p. 9. 23 em relação à continuação do projeto da Amascultura64; a segunda de natureza económica e que decorre da primeira, a decisão de não continuar a investir no equipamento nem suportar os encargos, pela análise de custos e benefícios, para cada um dos municípios;65 a terceira relacionada com conflitos ao nível das relações profissionais, entre o Conselho de Administração e a Direção Artística e alguns trabalhadores. Após um período de interregno do funcionamento do Centro Cultural da Malaposta, em outubro de 2002, foi constituída a empresa municipal Odivelcultur - Gestão, Produção e Divulgação Cultural, E.M 66 para administrar os equipamentos culturais do município de Odivelas: o Centro Cultural da Malaposta, o Centro de Artes e Ofícios (CAOS) e o Auditório Municipal da Póvoa de Santo Adrião.67 Entre 2002 e 2007, o Centro Cultural da Malaposta, com uma equipa de cerca de vinte trabalhadores, ficou subordinado à administração desta empresa municipal, sendo a Câmara Municipal de Odivelas a única acionista e entidade financiadora do equipamento. Os objetivos estratégicos desta empresa municipal em consonância com as orientações dos órgãos de administração municipal, para a gestão deste equipamento foram os seguintes: investir na requalificação das instalações, na qualidade da programação cultural e na integração na comunidade através da celebração de acordos e protocolos de cooperação. Em 2007, houve um processo de fusão de duas empresas municipais, por incorporação da Odivelgest - Gestão de Equipamentos, E.M. entidade gestora das Piscinas Municipais, na Odivelcultur - Gestão, Produção e divulgação Cultural E.M. entidade gestora de equipamentos culturais. Seguiu-se a alteração da denominação de Odivelcultur para Municipália – Gestão de 64 Em reunião plenária da Assembleia da República, o deputado do PCP, António Filipe fez uma intervenção condenando a atuação da Administradora-Delegada da Amascultura, por inviabilizar o projeto cultural, criado pelas Câmaras Municipais de Loures, Amadora, Vila Franca de Xira e Sobral de Monte Agraço afirmando: «logo após as últimas eleições autárquicas, que alteraram a correlação das forças políticas em vários municípios (incluindo na Amadora e em Vila Franca de Xira), algumas declarações dos novos responsáveis autárquicos vieram pôr em causa o projecto da Amascultura, suscitando justa inquietação junto de todos os que se preocupam com a actividade cultural.» in Reunião plenária de: 2000-01-13. Legislatura: VIII Sessão Legislativa: 1 [DAR I série Nº.26/VIII/1 2000.01.14 (pág. 997-1000)]. 65 Um artigo do Jornal Público referia o seguinte: «Depois de Loures se ter queixado de nada receber em troca do dinheiro que entrega à instituição é a vez de a autarquia ribatejana equacionar também a sua saída. O fim da Amascultura é uma hipótese que não está posta de lado.» Talixa, J. (2001). Vila Franca de Xira pondera a saída da Amascultura. in Jornal O Público de 02/01/2001, Caderno Local, Lisboa. 66 Criada ao abrigo da Lei nº 58/98 de 18/08/1998 - Lei das Empresas Municipais, Intermunicipais e Regionais, que permite a criação de empresas de âmbito municipal, intermunicipal ou regional, para exploração de atividades que prossigam fins de reconhecido interesse público, cujo objeto se contenha no âmbito das respetivas atribuições. 67 Por deliberação da 20ª Reunião Ordinária da CMO, de 02/10/2002, in Odivelas Boletim Municipal das Deliberações e Decisões, Ano III - Nº 23/2002 de 15 de Outubro: CMO, p. 7 - 9. 24 Equipamentos e Património do Município de Odivelas E.M., que administra atualmente o Centro Cultural da Mapalaposta.68 Segundo o Relatório de Gestão da Câmara Municipal de Odivelas de 2007 «Esta incorporação teve como objetivos, entre outros, a redução de custos através de uma maior racionalização da gestão, a desburocratização e simplificação administrativa, a redução de encargos gerais e a concentração de esforços e recursos nas diversas atividades de exploração que, devidamente integradas em termos de criação de sinergias, venham a possibilitar uma eficácia maior nos serviços prestados e o índice de satisfação dos munícipes».69 A Municipália é uma empresa local, de âmbito municipal, constituída ao abrigo da Lei n.º 53-F/2006 de 29 de dezembro, com participação exclusiva do município de Odivelas, que goza de personalidade jurídica e autonomia administrativa, financeira e patrimonial. No entanto, por força da alteração da legislação que regulamenta as empresas municipais em 2012, passou a reger-se pela Lei n.º 50/201270, pelos estatutos e subsidiariamente, pelo regime do setor empresarial do Estado. Enquadra-se no modelo de empresa local de gestão de serviços de interesse geral, nos termos do artigo 45º da Lei n.º 50/2012, alínea a), porque tem como objeto «a promoção e gestão de equipamentos coletivos e prestação de serviços na área da educação, ação social, cultura, saúde e desporto.» A Municipália tem como órgãos de gestão: a Assembleia Geral, o Conselho de Administração e o Fiscal Único. Os membros do Conselho de Administração são eleitos pela Assembleia-Geral e o Fiscal Único é designado pelo órgão deliberativo da entidade participante (Assembleia Municipal de Odivelas) sob proposta do órgão executivo (Câmara Municipal de Odivelas). Os mandatos dos titulares dos órgãos da Municipália E.M. coincidem com os dos órgãos do município de Odivelas. O Município de Odivelas enquanto detentor da totalidade do capital da Municipália E.M. exerce as competências da Assembleia-Geral. Para cada ano de exercício, são celebrados contratos-programa entre o município de Odivelas e a Municipália E.M. em conformidade como artigo 47.º da lei n.º 50/2012. Esta empresa tem a sua sede no edifício do Centro Cultural da Malaposta. 68 Segundo informações prestadas nas entrevistas realizadas ao Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M. e ao Vereador do pelouro da Cultura, este processo de fusão de duas empresas municipais foi inédito ao nível jurídico. Consultar entrevistas, Anexo 17, p. 117 e Anexo 18, p. 132. 69 CMO, (2007). Relatório de Gestão da Câmara Municipal de Odivelas de 2007, in http://www.cm-odivelas.pt/CamaraMunicipal/InstrumentosGestao/anexos/documentos_prestacao_contas/2007_ Relatorio_de_Gestao.pdf. [Consulta realizada em 13/04/2013] 70 Lei 50/2012 de 31 de agosto, Diário da República n.º 169 - I Série, que aprova o regime jurídico da atividade empresarial local e das participações locais. 25 3.5. Missão, Visão e Valores A missão, visão e valores representam a identidade de uma determinada organização. Identificam a razão da existência da organização. A missão traduz-se numa declaração concisa do desígnio e das responsabilidades da organização, perante os seus clientes ou os seus públicos, no caso específico das organizações de natureza cultural. A visão consiste na enunciação do futuro desejado para a organização e os valores definem o conjunto dos princípios orientadores, que norteiam os comportamentos e as atitudes dos colaboradores, para que na prossecução da missão, alcancem a visão. O Centro Cultural da Malaposta ao nível jurídico não é uma instituição autónoma, não possui estatutos próprios e não tem uma missão explícita.71 Sendo um equipamento tutelado pelo município e administrado por uma empresa municipal, a sua missão insere-se no âmbito das atribuições da autarquia e nos estatutos da Muncipália E.M., e a visão depende das políticas culturais estabelecidas pelos órgãos de gestão autárquica. Este equipamento está sujeito às mudanças dos mandatos autárquicos, dos Conselhos de Administração da entidade gestora e ao projeto de Direção Artística e Programação Cultural, que consequentemente podem provocar alterações na visão e missão. Segundo o Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M., Rui Nascimento «Quem traça a visão estratégica, como sabe, é o Executivo Municipal e cumpre ao Órgão de Gestão da empresa executar a missão e a visão estratégica para que está mandatado.»72 Como afirma a Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Susana Amador «Uma missão que eu acho que está a ser cumprida, que é a missão de levar a cultura a todos os segmentos da população, a todas as faixas etárias e a todas as classes sociais, ou seja, tornar a cultura um produto democrático. É assim que a Constituição a trata. Aliás, trata a educação e a cultura da mesma maneira, no mesmo artigo da nossa constituição, e acima de tudo esta missão é uma missão de cumprimento escrupuloso da Constituição da República Portuguesa, tornar a cultura acessível a todas as pessoas do nosso concelho e fora do concelho, porque o produto Malaposta é um produto metropolitano e um produto nacional. (…). Penso, sinceramente, que a missão deste equipamento deve ser a de acessibilidade da cultura.»73 71 Consultar Anexo 17 - Entrevista ao Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M., Rui Nascimento, p. 117. 72 Idem. 73 Consultar Anexo 19 - Entrevista à Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Susana Amador, p. 150. 26 Na situação atual pode deduzir-se da análise de diversos documentos e das entrevistas realizadas com os dirigentes, que o Centro Cultural da Malaposta tem uma missão de prestação de um serviço publico de produção e programação de atividades culturais, e de promoção do desenvolvimento sociocultural da população, proporcionando o acesso regular e diversificado a espetáculos de teatro, dança, música e outras artes do espetáculo. Para dar cumprimento a esta missão a Municipália E.M. tem celebrado protocolos de cooperação com um conjunto muito diversificado de instituições do município de Odivelas, da Área Metropolitana de Lisboa e outras de âmbito nacional, conforme lista em anexo.74 3.6. Orçamento e Fontes de Financiamento A principal fonte de financiamento é proveniente do orçamento do município com um subsídio a exploração concedido pela Câmara Municipal de Odivelas, como acionista único, à empresa Múnicipália através de contratos-programa anuais. O Conselho de Administração da Múnicipália, em conjunto com o Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta têm desenvolvido esforços no sentido de rentabilizar ao máximo os recursos existentes e de mobilizar outros recursos designadamente, através da obtenção de receitas próprias com a venda de produtos e prestação de serviços e do estabelecimento de protocolos de cooperação com diversas entidades, de patrocínios de empresas privadas e apoios das entidades parceiras. A título de exemplo, de acordo com os documentos de gestão previsional de 2012 da Municipália75, o Centro Cultural da Malaposta teve um orçamento anual no valor de €1.305.000,00. O subsídio à exploração atribuído pela Câmara Municipal de Odivelas, através de um contrato-programa foi de 1.080.000,00 € (um milhão e oitenta mil euros) e as receitas próprias no valor de 225.000,00 € (duzentos e vinte cinco mil euros.) 3.7. Os Recursos Humanos Compete à Câmara Municipal a tomada de decisão sobre os recursos humanos e financeiros, que são afetados a este equipamento cultural, com base nas políticas culturais e nas estratégias estabelecidas para o desenvolvimento do município e da sua população, face aos meios disponíveis e ao quadro jurídico que regulamenta o funcionamento das autarquias. 74 75 Consultar Anexo 13 - Lista das Entidades Parceiras, p. 89. Municipália E.M. (2011). Plano de Atividades e Orçamento para o Exercício de 2012, Novembro/2011, in http://www.municipalia.net/webcatalog/websitedocs/plano_de_atividades_e_orcamento_2012_intra2.pdf [Consulta realizada em 18/04/2013] 27 Este equipamento cultural sendo uma estrutura de produção e de acolhimento de projetos do exterior, tem recursos humanos fixos e outros de composição variável. O quadro de recursos humanos fixo é constituído por uma equipa de cerca de trinta trabalhadores de serviços técnicos e administrativos, com formações diversificadas e qualificações especializadas para a produção e receção de espetáculos, ações de caráter formativo e organização de eventos. O Centro Cultural da Malaposta recebe também alunos estagiários de vários cursos de formação profissional de escolas de ensino secundário, superior e profissional. 3.8. Os Públicos Os públicos que frequentam este equipamento cultural são muito diversificados. Esta diversidade está relacionada com diversidade da oferta cultural proporcionada pelo Centro Cultural, mas também com outros indicadores tais como: o local de residência, o sexo, a idade, as habilitações escolares, o estatuto profissional e o nível socioeconómico. Apesar da conjuntura de crise económica que Portugal tem enfrentado nos últimos anos, o Centro Cultural da Malaposta tem conseguido manter uma fidelização de públicos, e aumentar progressivamente o número de público. De acordo com a análise dos dados estatísticos de públicos, apresentada em anexo.76, é possível constatar que durante o período considerado para este estudo (2007-2012) houve um aumento progressivo e muito significativo dos públicos, registando-se em 2007, 42.608 espectadores e em 2012, 53.299 espetadores. Em relação ao ano de 2009, que correspondeu ao ano de celebração dos 20 anos de existência do Centro Cultural da Malaposta, verificou-se um valor mais elevado de 65.406. É conveniente salientar que este equipamento integra no seu projeto cultural um ―Projeto Educativo Infantil e Juvenil‖ e investe numa programação de atividades direcionadas para crianças e jovens, com o objetivo de sensibilizar, criar e formar novos públicos desenvolvendo o seu sentido estético e crítico. 76 Consultar Anexo 15 – Análise de Programação Cultural 2007 - 2012, Gráfico 17 – N.º de Público por Ano (2007 - 2012), p. 100. 28 4. Análise da Programação Cultural 4.1. A Programação Cultural no âmbito dos municípios A acção de programar cultura coloca um conjunto de interrogações: Qual é a legitimidade de quem programa? Em nome de quem? Para quê? Para Quem? Com que finalidade? Onde? Com que recursos? Como seleccionar os conteúdos? O conceito de programação cultural é um conceito polissémico, que precisa de ser contextualizado no tempo e no espaço, relacionado com um determinado território, com um equipamento cultural e com as pessoas a quem se destina. Numa primeira abordagem deste conceito podemos estabelecer uma distinção entre o ―ato‖ de Programar cultura e a ―actividade‖ de programação. O ato de pro gramar cultura é uma ato de criação, enquanto a actividade de programação é uma actividade de mediação. Esta distinção remete-nos para uma outra distinção que convém salientar, a distinção entre o sistema artístico e o sistema cultural. O sistema artístico envolve essencialmente os processos de criação e de produção, enquanto o sistema cultural envolve as dimensões de difusão, de fruição, de formação, de identidade cultural e de participação ativa dos cidadãos na vida cultural e implica uma mediação. Contudo, como afirma Duchamp «o acto criativo não é desempenhado apenas pelo artista; o espectador põe a obra em contacto com o mundo exterior ao decifrar e interpretar as suas qualidades internas e, acrescentando, assim, a sua contribuição ao acto criativo». 77 O que significa que sem receção, o ato criativo não é valorizado nem é legitimado, ou seja, sem recetor o ato criativo não acontece, o que nos remete para a função de mediação entre os artistas, as obras e os públicos. A programação cultural, enquanto ato criativo, implica uma série de opções da parte de quem realiza a programação. Uma programação cultural não é apenas uma calendarização de eventos culturais. Fazer programação implica ter o poder de decidir e de seleccionar determinadas obras e autores e de excluir outros. Neste sentido, o programador cultural pode ser considerado um criador, um curador, na medida em que faz escolhas de obras e de autores, constrói uma narrativa programática e valoriza, dá visibilidade ao trabalho dos artistas, através dos programas que apresenta ao público. 77 Duchamp, M. (1997). O Acto Criativo. Traduzido por Rui Cascais Parada, Portugal: Água Forte. [Texto apresentado à Convenção da Federação Americana de Artes em Houston, Texas, USA, abril de 1957]. 29 A este propósito, Pinto Ribeiro refere que «Uma programação implica sempre uma escolha. E uma escolha determinada, de entre as variedades possíveis de escolhas, significa que uma programação é muito mais do que a soma de um conjunto de atividades. Essa escolha implica uma certa ordenação do mundo a partir da ideia de uma comunidade de afectos, de eleições ideológicas, de visões desse mesmo mundo» 78 . Segundo este autor, o ato de programar cultura implica ainda um outro preceito, o da ―convicção‖ e não há programação cultural sem uma convicção. «Na programação que implica a produção contemporânea, esta atitude deve ser realçada porque significa que estamos em face da constituição de um imaginário e de fantasias que legaremos ao futuro, retribuindo assim o legado anterior.» 79 A programação cultural enquanto ―atividade‖ é uma atividade de mediação, que parte do conhecimento de uma realidade cultural, que abrange um determinado território, um contexto social, uma comunidade, que tem em consideração os espaços onde se programa com os seus limites físicos, técnicos e financeiros, as obras dos produtores, as propostas dos artistas e dos espectadores. Neste sentido, o programador cultural é um mediador entre os artistas e o(s) público(s) ou num sentido mais amplo, a comunidade local. A função de programação cultural desenvolve-se assim, a partir de um conflito, ou de uma tensão entre a vontade criativa do programador, do seu ato de programar e a expectativa de mediação que esta atividade requer. É uma função que decorre de uma inter-relação entre o programador e as pessoas a quem se destina o seu trabalho. Este conflito de interesses requer da parte do programador a capacidade de negociação, que é uma característica fundamental no processo de mediação. Como afirma Pinto Ribeiro «programar tem alguns preceitos. O primeiro diz que administrar é negociar no sentido mais remoto do termo, o que convém a ambas as partes. Ou seja: acordar entre o que é desejo do programador, a realidade artística e as expectativas públicas, estando bem consciente, como qualquer comerciante marroquino ou feirante beirão, de que há limites rígidos a partir dos quais a dignidade e a qualidade não podem estar sujeitas a quaisquer cedências.»80 Ainda segundo este autor, a programação tem que ver com a informação e o conhecimento, mas não se circunscreve só estas duas áreas, intervém diretamente na 78 Pinto Ribeiro, A. (2011). Programar em nome de quê? Ainda do Humano?! in Questões Permanentes: ensaios escolhidos sobre cultura contemporânea. ( pp. 149 -150) Lisboa: Edições Cotovia, Lda. 79 Idem. p. 150. 80 Pinto Ribeiro, A. (2011). Teatros & Arenas. in Questões Permanentes: ensaios escolhidos sobre cultura contemporânea, (p. 159), Lisboa: Edições Cotovia Lda. 30 constituição dos imaginários coletivos e particulares e é na cultura que o homem encontra as referências do seu ser na sociedade contemporânea.81 Nesta ordem de ideias, a política de programação não se impõe, constrói-se através de um processo relacional, no qual as pessoas devem constituir a preocupação central das políticas culturais municipais. A reflexão sobre a prática de programação cultural implica considerar um eixo triangular de vinculação entre um ―Programador‖, uma ―Entidade Circunstancial‖ e um ―Desígnio Cultural‖. O Programador Cultural que desenvolve a sua atividade profissional no âmbito de um município trabalha numa instituição pública e presta um serviço público. Neste sentido, o programador deve ter autonomia para desenvolver o seu trabalho, em função de um desígnio cultural e de princípios e valores éticos. A ―Entidade Circunstancial‖ na qual o programador desenvolve a sua atividade, do ponto de vista operacional pode ser uma cidade, um teatro, um centro cultural, uma biblioteca. Esta entidade designa-se como circunstancial, porque no momento em que se concebe uma determinada programação, deve ser observada e analisada de acordo com determinadas circunstâncias sociais, políticas, económicas, culturais, que podem inspirar mas também condicionar a atividade de programação, e em função de um determinado desígnio cultural. Torna-se assim necessário encontrar em primeiro lugar um desígnio cultural em função do qual se desenha uma determinada programação cultural. Será a partir do desígnio cultural e da entidade circunstancial, que o programador se vai inspirar para construir uma narrativa programática. A procura desse desígnio cultural remete-nos para uma outra questão fundamental que vai enquadrar a ação programática. O que é a cultura? Qual é o conceito de cultura que está subjacente à atividade de programação cultural? Existem diferentes perspetivas de abordagem da cultura. A este respeito Lipovetsky e Serroy referem que «a época pós-moderna transformou enormemente o relevo, o sentido e a face social e económica da cultura (…) a cultura transformou-se em mundo, em cultura mundo, a cultura-mundo do tecnocapitalismo planetário, das industrias-culturais, do consumismo total, dos média e das redes digitais. (…) nasceu uma espécie de hipercultura universal, que transcendendo as fronteiras e baralhando as antigas dicotomias (economia/imaginário, real/virtual, produção/representação, marca/arte, cultura comercial/alta cultura), reconfigura o 81 Idem, p. 160. 31 mundo em que vivemos e a civilização que se aproxima». 82 Ainda segundo estes autores, na sociedade contemporânea deixou de haver «oposição entre ―cultura popular‖ e ―cultura erudita‖, entre ―civilização‖ das elites e ―barbárie‖ da populaça. A este universo de oposições distintivas e hierárquicas sucedeu um mundo em que a cultura, que já não se separa da indústria mercantil, alardeia uma vocação planetária e se infiltra em todos os sectores de actividade.»83 Tendo em consideração, os processos de transformação da cultura, os efeitos da globalização que não são homogéneos mas diversificados e a necessidade de encontrar respostas para os novos desafios gerados por uma sociedade cada vez mais diversificada a nível económico e sociocultural, importa analisar a nível local, as políticas e as práticas culturais dos municípios e compreender o seu posicionamento, investigando nomeadamente os discursos políticos, a visão, a missão e as estratégias de atuação a curto, a médio e a longo prazo, em confronto com o enquadramento legal e as atribuições das autarquias locais. Na procura de um conceito de cultura mais operacional e que permita enquadrar as práticas culturais a nível local, podemos analisar o que é proposto pela documentação técnico-jurídica, a nível nacional e internacional, como a legislação das Autarquias, a Constituição da República Portuguesa, os Tratados Europeus e as Declarações Internacionais, onde a cultura está consignada como um direito dos cidadãos, o direito à cultura ou os direitos culturais. Segundo Vasco Pereira da Silva, o direito à cultura tem que ser ancorado na ―dignidade humana‖, mas o seu conteúdo "aberto no tempo e no espaço" vai sendo enriquecido através de sucessivas ―gerações de direitos‖ e com distintos níveis de proteção global, europeu, nacional e local. 84 No plano jurídico, a Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro estabelece as atribuições e competências das autarquias locais nas áreas de ―património, cultura e ciência‖, constituindo o enquadramento legal para a intervenção nestes domínios. A Constituição da República Portuguesa de 1976 consagra o direito fundamental à cultura, de uma forma multifacetada, contemplando direitos de caráter geral como os direitos de criação, fruição, de participação, e direitos de conteúdo específico como os direitos de autor 82 Lipovetsky, G. & Serroy, S. (2010). A Cultura-mundo resposta a uma sociedade desorientada, p.11, Lisboa: Edições 70. 83 Idem, p. 12. 84 Silva, V. P. (2007). A Cultura a que tenho direito: direitos fundamentais e cultura. Coimbra: Ed. Almedina. 32 e de fruição do património cultural. Contempla também deveres, tanto dos poderes públicos como dos particulares e tarefas e princípios de atuação.85 Relativamente à função de intervenção do Estado: «O Estado promove a democratização da cultura incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural, em colaboração com os órgãos de comunicação social, as associações e fundações de fins culturais, as coletividades de cultura e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de moradores e outros agentes culturais.»86 No que respeita à ―fruição e criação cultural‖ a Constituição da República Portuguesa considera simultaneamente como um direito e um dever dos cidadãos: «Todos têm o direito á fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural‖ incumbindo ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais, o dever de incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de ação cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio.»87 Encontramos assim, um princípio ético, que constitui um pilar essencial da diversidade cultural e da democracia cultural, que deve orientar as políticas culturais dos municípios e inspirar as práticas de programação cultural, para promover a interculturalidade e o desenvolvimento sociocultural da comunidade. Neste sentido, a programação cultural de um município deve partir das pessoas e pensar conteúdos ou eventos, que possam potenciar o desenvolvimento cultural, investindo simultaneamente na dinamização cultural e na difusão cultural, com continuidade e sustentabilidade. Nesta perspetiva, os programadores culturais devem ter competências para interpretar a realidade circunstancial e potenciar uma ação de mediação, numa lógica de desenvolvimento social e cultural das pessoas e da comunidade e de promoção do exercício de uma cidadania cultural, assumindo um papel de formadores, facilitadores, dinamizadores socioculturais, em função de um desígnio cultural identificado e partilhado para o município, para a cidade, para um determinado equipamento cultural, com uma visão estratégica orientada para o futuro. Assim, mediante as circunstâncias e as dinâmicas culturais de cada território, um município pode desempenhar funções diversificadas, como: Mediador entre a oferta cultural e artística privada e a procura cultural e artística; Regulador das dinâmicas culturais maioritárias face às dinâmicas minoritárias; Promotor ou co-produtor de eventos culturais e artísticos 85 Constituição da República Portuguesa de 1976, artigo 42.º, 73.º e 78.º Constituição da República Portuguesa de 1976, artigo 73º, n.º 3. 87 Constituição da República Portuguesa de 1976, artigo 78º, n.º 1 e 2. 86 33 através dos seus equipamentos culturais municipais; Incentivador das práticas artísticas e culturais locais e Formador, promovendo a organização de atividades de carácter formativo e proporcionando espaços de encontro e de debate. 4.2. A Visão Estratégica de Programação do Centro Cultural da Malaposta É a partir de janeiro de 2006 que começa a ser pensada a estratégia para o projeto cultural que o Centro Cultural da Malaposta desenvolve, nesta segunda fase da sua existência, enquanto equipamento cultural tutelado pelo Município de Odivelas. O programador do Centro Cultural da Malaposta é Manuel Coelho, ator, encenador, com uma grande experiência profissional, que foi convidado em finais de 2005, pelo Presidente do Conselho de Administração da empresa municipal Odivelcultur, Mário Máximo, para desempenhar as funções de Diretor Artístico, gerir os recursos humanos afetos a este equipamento e realizar a programação cultural. Exerce também funções como adjunto do Conselho de Administração da empresa Municipália, para a área técnico-artística. A Direção Artística funciona segundo uma lógica de conceção de um projecto cultural, que dê sentido à programação cultural e desempenha funções de gestão, planeamento, programação e divulgação cultural, tendo em vista o aumento da receção. Segundo Manuel Coelho «são múltiplas as funções, sendo a primordial, a de criar um projeto cultural que vá ao encontro das necessidades do Concelho onde se está inserido. Lançadas as bases de tal projeto será necessário iniciar a construção desse magistral arranha-céus que nunca arranhará o céu, fazendo o acompanhamento constante da equipa, para que possamos trabalhar num grupo sólido por forma a chegar às populações atingindo as metas delineadas. Emparceirando com todo o Grupo e criando um a equipa coesa, conhecedora e crente no projeto, partimos na aventura de criar, comunicar, divulgar e lançar sementes que façam nascer núcleos comunitários, como grupos de teatro amador, grupos seniores, a par de parcerias com escolas, com associações e centros de dia, por forma a que o projeto cultural germine e dê frutos. Núcleos que complementem participem e deem razão à existência do projeto. Coordenando todas frentes, nas estratégias definidas em cada ano, aferindo a evolução do projeto, por forma a evitar a acomodação e estagnação, creio que chegamos, meta a meta, aos objetivos programáticos pensados para cada etapa.»88 88 Consultar Anexo 16 - Entrevista ao Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta, Manuel Coelho, p. 101. 34 Esta visão estratégica tem um horizonte temporal a curto, médio e longo prazo e um percurso que se vai desenhando e que precisa de um tempo para que o projeto pensado se concretize e chegue aos seus destinatários. A conceção do projeto cultural implica conhecer o território, a sua história, as instituições e as pessoas que nele habitam e trabalham para definir os objetivos programáticos. Como refere Manuel Coelho «o projeto terá de ter uma aplicação não inferior a doze anos. E doze anos porquê? Quando lançamos as bases programáticas para um espaço cultural temos de em primeira instância levar a cabo a identificação do espaço e sua envolvência, de notar que cada espaço comporta uma história e uma complexidade imensa. Será portanto necessário estuda-lo e conhece-lo em toda a sua dimensão, depois adaptar a máquina à ideia e ao projeto que se tem, e os primeiros frutos, creia, só começam a ser claros e objetivos ao fim de oito anos. A experiência no Centro Cultural da Malaposta tem-me ensinado que só neste momento, passados oito anos de muito trabalho, começam a ser visíveis os primeiros sinais da existência de um público, que foi ficando fiel ao projeto e de jovens que há oito anos viam os nossos espetáculos infantis e que começam a ser o nosso público hoje em projetos juvenis e outros. Começamos, agora a sentir os primeiros resultados do projeto, ―malaposta uma casa com arte‖.»89 A implementação desta visão estratégica implica definir eixos estratégicos de intervenção, objetivos programáticos concretizáveis e indicadores de resultados a alcançar. Na opinião da Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Susana Amador, o resultado deste projeto cultural «Foi uma combinação feliz de várias variáveis. Antes de mais, obviamente, uma direção artística de excelência. O Manuel Coelho com uma visão cultural muito acertada, muito oportuna, muito eclética, uma pessoa de grande abertura, que desde muito cedo percebeu que além da programação que ele tinha em mente, era fundamental envolver toda a sociedade civil, envolver todos os agentes do concelho. Portanto, além da excelente programação, aquilo que eu digo foi levar o Centro Cultural às pessoas e dizer ―nós estamos aqui, participem e interajam connosco‖. A partir do momento em que essa abertura aconteceu, houve de facto este retorno muito grande das pessoas e uma adesão enorme.»90 Trata-se assim de uma visão estratégica, entre a utopia e o quotidiano, que vai traçando um caminho, por aproximações sucessivas à realidade, orientado para um futuro desejado em que cultura seja sentida como uma ―necessidade primária‖, através de um conjunto de 89 90 Idem. Consultar Anexo 19 - Entrevista à Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Susana Amador, p. 150. 35 estratégias possíveis e viáveis, em cada momento, envolvendo as organizações da comunidade, como parceiras na conceção de projetos estruturantes, para que este equipamento cultural seja ―um centro de proximidade‖ segundo o lema ―malaposta - uma casa com arte‖. Parece-nos ser uma visão estratégica integradora e inclusiva, que promove o desenvolvimento sociocultural e que desperta para novos horizontes da cultura. 4.3. Caracterização e Análise da Programação Cultural O projeto cultural do Centro Cultural da Malaposta envolve um trabalho de criação, produção, formação e difusão cultural. O Centro Cultural da Malaposta tem uma estrutura de produção própria, promove espetáculos em coprodução com outras companhias de teatro, acolhe projetos profissionais e desenvolve um trabalho de formação e apoio técnico com diversos grupos da comunidade. A sua oferta cultural inclui uma programação própria, atividades organizadas com outros serviços e equipamentos da Câmara Municipal de Odivelas e ainda atividades que envolvem a participação de diversas organizações e grupos da comunidade. A análise da programação cultural abrange o período de seis anos de atividade do Centro Cultural da Malaposta, entre 2007 e 2012, e foi efetuada com base nas agendas culturais, nos relatórios de atividade e nas entrevistas realizadas com o Diretor Artístico, o Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M, o Vereador do Pelouro da Cultura e a Presidente da Câmara Municipal de Odivelas. Face à diversidade da oferta cultural, num primeiro nível de abordagem da programação foi construído um quadro de análise, a partir da estrutura organizacional das agendas culturais, agrupando-se as atividades desenvolvidas com caráter regular, por tipologias e por categorias dentro de cada tipologia, de modo a obter uma visão panorâmica da programação cultural. Apresentamos a seguir um quadro síntese estruturado de acordo com esta metodologia de análise. 36 Quadro 2 - Síntese da Programação Cultural por Tipologias e Categorias TIPOLOGIAS CATEGORIAS CARATERIZAÇÃO Animação Artes para o Pequeno Público, Atividades ao ar livre, Comemoração do Dia Mundial da Criança, Comemoração do Dia do Ambiente, Comemoração do Dia da Mulher Atividades de carácter lúdico-pedagógico de curta duração, que abrangem diversas expressões artísticas, transdisciplinares, realizadas em diversos locais da comunidade. Cinema e Vídeo Cinema de Animação, Cinema para Infância e Juventude, Tardes de Cinema para Seniores, Ciclos Temáticos, Cinema Documental, Filmes Portugueses, Filmes do DOCLISBOA, Extensão do INDIE LISBOA Atividades de projeção de Filmes e Vídeos, organizadas em ciclos temáticos para diversos segmentos de públicos. Dança Dança para Bebes, Bailado para crianças, Dança Clássica, Dança Contemporânea Danças tradicionais de várias culturas Atividades que se manifestam através de vários estilos na área da dança. Eventos centrados na expressão oral e escrita de caráter formal e informal sobre diversas temáticas, que promovem informação, conhecimento e a partilha de experiências. Artes Visuais, formas de expressão artística que utilizam diversos instrumentos e técnicas de produção de imagens, objetos e ações (materiais ou virtuais) Conferências Conferências, Fóruns, Encontros, Debates, Seminários, Tertúlias Exposições Artes Plásticas, Escultura, Fotografia, Pintura, Adereços, Máscaras, Instrumentos Musicais, Artesanato, Escritores, Dramaturgos Literatura Contos e histórias para a Infância, Sessões de Lançamento de Livros, Feiras de Livros, Encontros de Escritores Atividades relacionadas com a produção, divulgação de obras literárias. Música Concertos para Bebes, Música para a Infância, Musica Clássica, Música de Câmara, Coros e Bandas, Ópera, Blues, Fado, Rap, Jazz. Atividades relacionadas com diversos estilos de expressão musical instrumental e de canto. Dança, Música, Cinema de Animação, Artes Terapêuticas, Expressão Dramática, Consciência Corporal Recitais de Poesia, Tertúlias de Poesia, Celebração do Dia da Poesia Atividades de carácter experimental e formativo em diversas áreas de expressão artística. Oficinas Workshops Poesia Atividades relacionadas com a poesia. Stand-up Comedy Espetáculos de Stand-up Comedy Espetáculos de humor, com textos originais, baseados na observação de temas do cotidiano. Teatro Teatro para a Infância, Teatro para as Escolas, Teatro de Marionetas, Espetáculos de Companhias Profissionais e de Grupos Amadores Espetáculos de teatro profissional amador, abrangendo todos os géneros. Eventos com organizações da Comunidade Bienal das Culturas Lusófonas Encontro de Artes para a Infância Encontro das Escolas no Teatro da Malaposta Festa do Teatro Amador Mostra-te(atro) com Escolas de Artes de Palco Festival dos Sentidos Festival de Solos de Dança Contemporânea Inserem-se neste grupo eventos de caráter anual e bianual, que envolvem a participação ativa de grupos da comunidade, e integram várias formas de expressão artística (iniciativas multidisciplinares com atividades de música, teatro, workshops, conferências, colóquios). e Compilação e Análise: Filomena Viegas, 2014. 37 Numa primeira análise exploratória da oferta cultural apresentada nas agendas culturais do período considerado neste estudo, pode-se caracterizar a programação do Centro Cultural da Malaposta como regular, intensa, diversificada, contemporânea e eclética, abrangendo um amplo conjunto de expressões e géneros artísticos. É uma oferta cultural que aposta na diversidade das expressões artísticas e na multiculturalidade, tendo em atenção diversos segmentos de públicos e que envolve a apresentação de produções de diversos grupos amadores, como resultado das dinâmicas de interação com a comunidade envolvente, com o objetivo incentivar o surgimento de novos talentos e dar visibilidade aos novos criadores e artistas emergentes. A oferta cultural inclui uma forte componente de atividades para crianças e jovens, que é transversal a todas as áreas artísticas, através da criação de um ―Projeto Educativo Infantil e Juvenil‖, com o objetivo de sensibilizar, criar e formar novos públicos desenvolvendo o seu sentido estético e crítico. Em seguida foi efetuada uma análise quantitativa do número de sessões e de públicos por tipologia para cada ano de programação cultural, com o tratamento estatístico de dados fornecidos pelo Centro Cultural da Malaposta, que estavam organizados por sala, por mês e por ano.91 Da análise quantitativa efectuada apresenta-se um quadro síntese que abrange os seis anos de programação cultural considerados neste estudo. Quadro 3 – N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia (2007-2012) Anos N.º Sessões N.º Público 2007 470 42608 2008 899 50525 2009 973 65406 2010 936 52733 2011 1120 53002 2012 1068 53299 Este quadro, assim como os gráficos que apresentamos a seguir, permitem-nos constatar que entre 2007 e 2012 houve um incremento progressivo e relevante do número de sesões realizadas (44%), bem como um incremento significativo do público, que passou de 42.608 em 91 Consultar anexo 15 – Análise de Programação Cultural 2007-2012, pp. 93 - 100. 38 2007 para 53.299 em 2012, registando o valor mais elevado no ano de 2009, ano que correspondeu ao aniversário dos 20 anos do Centro Cultural Malaposta. Gráfico 1 - N.º de Sessões por Ano (2007-2012) Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 2 - Nº de Público por Ano (2007-2012) Autora: Filomena Viegas, 2014 Estas metodologias de análise revelam-nos a amplitude das tipologias contempladas na programação cultural e dimensão dos públicos. Contudo, não permitem compreender a lógica interna e os objetivos específicos que estão subjacentes à seleção dos conteúdos programáticos de cada unidade de programação, principalmente quando se trata de iniciativas que estão associadas a projetos e que são concebidas numa perspetiva multidisciplinar ou transdisciplinar, incluindo diversas formas de expressão artística. Por isso, procuramos fazer uma análise transversal de todas as atividades incluídas na programação anual e uma análise longitudinal do período considerado para este estudo. 39 A análise longitudinal da programação realizada entre 2007 e 2012 revela-nos que esta oferta cultural tão diversificada, e multifacetada, não é aleatória, nem efémera. Está suportada por uma visão estratégica de longo prazo e é organizada por grandes tipologias de áreas artísticas, por ciclos temáticos e por projetos estruturantes, que mantém uma continuidade e uma evolução ao longo dos anos, com uma forte ligação às diversas organizações da comunidade, a nível local, regional e até internacional. Da análise efetuada ao longo dos seis anos, destacam-se os seguintes eventos: a) Extensão do ―Festival Sementes - Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público‖ que inclui atividades de animação em espaços públicos ao ar livre e representações em salas de espetáculo. Este festival de artes para a infância apresenta uma programação diversificada nas áreas de Teatro, Música, Circo, Dança, Marionetas, Cinema de Animação, Exposições, Jogos Tradicionais, Oficinas de diversas expressões artísticas, e um espaço de reflexão e intercâmbio de experiências, envolvendo cerca de duas dezenas de companhias internacionais oriundas de diversos países como: Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália, Dinamarca, Argentina, Peru, Brasil, República Checa, etc.. A organização desta Mostra Internacional é da responsabilidade do Teatro Extremo de Almada e é acolhida em vários municípios portugueses, que se associam ao evento como co-organizadores, designadamente: Almada, Odivelas, Moita, Seixal, Sesimbra, Palmela, Montemor-o-Novo e Barreiro. O Centro Cultural da Malaposta associou-se a este festival desde 2006, incluindo na sua programação cultural um conjunto de atividades para a infância, realizadas em diversos locais do município, como por exemplo, no Largo D. Dinis, na Biblioteca Municipal D. Dinis, no Centro Comercial Odivelas Parque e nas suas próprias instalações. Estas atividades constam nas agendas culturais de 2007, 2008, 2009 e 2010. Na organização do programa deste festival o Centro Cultural da Malaposta participa com a produção e coprodução de espetáculos que são apresentados no município de Odivelas e também em outros municípios associados ao evento. Indica-se a título de exemplo a peça de teatro ―Preto no Branco‖, uma coprodução do Teatro Extremo/Malaposta, em 2008. b) ―GEPETO - Encontro de Artes para a Infância‖ é um evento organizado pelo Centro Cultural da Malaposta destinado ao público infantil, que envolve atividades nas áreas de teatro, cinema, música, oficinas, pinturas faciais, escultura de balões, jogos tradicionais, 40 construção de instrumentos, insufláveis, workshops e a Comemoração do Dia Mundial da Criança a 1 de Junho, uma iniciativa destinada às crianças do Município de Odivelas. O ―1.º Encontro de Artes para a Infância‖ teve início em 2011, numa organização conjunta da Câmara Municipal de Odivelas e do Centro Cultural da Malaposta, com o apoio das Juntas de Freguesia de Odivelas e da Pontinha, e incluiu um espetáculo de um dia, de entrada livre, realizado no Largo D. Dinis em Odivelas, para a Comemoração do Dia Mundial da Criança, no dia 1 de Junho, com diversas atividades de: oficinas, contos/histórias, teatro de marionetas, pinturas faciais, e outras atividades para o publico infantil realizadas também na Biblioteca Municipal D Dinis. A 2.ª edição de ―GEPETO - Encontro de Artes para Infância‖, foi realizada em 2012. Para além do espetáculo de Comemoração do Dia Mundial da Criança a 1 de Junho, realizado ao ar livre, no Jardim da Música em Odivelas, este encontro apresentou um programa específico de 22 de maio a 16 de Junho, com peças de teatro, concertos, dança, filmes e workshops. De entre os diversos espetáculos incluídos neste programa destacam-se os seguintes: a peça de teatro ―O Medo Azul‖ com encenação e interpretação de José Caldas, inspirada no conto ―Barba Azul‖ de Charles Perrault, ―À procura do Ó-Ó- Perdido‖, uma peça de Pascal Sanvic, espetáculos de dança como ―A Cabra Bailarina‖ pela companhia SumoAssociação de Difusão Cultural. Ao nível do cinema este encontro incluiu sessões de cinema INDIE Júnior (uma extensão do INDIE Lisboa) e uma oficina de cinema. c) O ―Encontro de Escolas no Teatro da Malaposta‖ é um evento que teve o seu início em 2007, com um desafio lançado às cinco escolas de ensino secundário, do município de Odivelas através de protocolos de cooperação, tendo como principais objetivos: promover a interação com a comunidade envolvente, incentivar o surgimento de novos talentos nas artes de palco e criar novos públicos. Este encontro realiza-se todos os anos, nos meses de maio e junho com uma programação que integra os trabalhos desenvolvidos por grupos de alunos das escolas, nas áreas do teatro, dança, poesia e performance, proporcionando-lhes uma experiência de representação em contexto profissional, com o acolhimento e o suporte técnico da equipa do Centro Cultural da Malaposta. É um evento que inclui a participação de alunos, professores, auxiliares de ação educativa e familiares e que ao longo dos anos tem registado um número crescente de jovens participantes e de espectadores, dando visibilidade às atividades de teatro promovidas pelas 41 escolas. Atualmente, este projeto envolve a participação de escolas do ensino básico e secundário dos municípios de Odivelas, Loures, Amadora e Lisboa. d) A ―Festa do Teatro Amador da Malaposta‖ é um evento integrado no ―Projeto Teatro e Comunidade‖, que o Centro Cultural Malaposta desenvolve paralelamente à sua programação profissional e que se realiza anualmente nos meses de setembro e outubro. Este projecto tem como principais objetivos: promover a produção teatral desenvolvida no seio das comunidades, disponibilizar espaço para que os grupos de teatro amador tenham um local de acolhimento e proporcionar maior visibilidade à apresentação dos seus trabalhos. A primeira edição ocorreu em 2006 e realiza-se todos os anos, envolvendo progressivamente mais grupos de teatro amador da Área metropolitana de Lisboa, mas também de outras localidades do país. Cada edição inclui uma homenagem a um dramaturgo nacional. e) A "A MOSTRA-Te(atro)‖ é um evento criado em 2010, que tem como principal objetivo dar visibilidade aos projetos das Escolas de Artes de Palco da Grande Lisboa e proporcionar aos alunos finalistas uma oportunidade de se exporem num contexto profissional, contando com o apoio técnico e a promoção e divulgação do Centro Cultural Malaposta. Para este evento são dirigidos convites a diversas entidades e personalidades responsáveis pela promoção e dinamização das artes de palco e potenciais empregadoras, para assistirem aos espetáculos. A primeira 1.ª edição ocorreu em 2010 e teve continuidade nos anos seguintes registando um aumento progressivo das escolas participantes. Na 2.ª edição realizada em 2011, participaram 10 Escolas com 13 espetáculos, incluindo a participação de uma escola estrangeira oriunda de Madrid. Na 3.ª edição realizada em 2012, participaram 16 escolas vocacionas para o ensino das artes, com a apresentação de 20 espetáculos. f) O ―Festival Internacional de Solos de Dança Contemporânea‖ é um evento criado em 2006, através de uma parceria entre o Centro Cultural da Malaposta e a Associação Ilú, que tem como principal objetivo divulgar o trabalho de bailarinos e coreógrafos nacionais e internacionais, incluindo uma vertente de intercâmbio, de conhecimento e de pesquisa entre bailarinos e coreógrafos. O Centro Cultural da Malaposta promove e acolhe este festival todos os anos, no mês de Setembro, desde 2006. g) O ―Festival dos Sentidos‖ é um projeto cultural com atividades lúdicas, pedagógicas e terapêuticas, organizado em parceria com a CEDEMA - Associação de Pais e Amigos dos 42 Deficientes Mentais Adultos, uma instituição sem fins lucrativos, de utilidade pública, que visa o atendimento e o bem-estar das pessoas portadoras de deficiência mental e das suas famílias. O Centro Cultural Malaposta conhecendo a filosofia de trabalho e as atividades desenvolvidas pela CEDEMA lançou o desafio para a criação de uma ―Semana Temática‖, que se transformou no ―Festival dos Sentidos‖. Esta iniciativa teve a sua primeira edição em 2007, no ano em que a CEDEMA, celebrou os 25 anos de existência e em que se comemorou o ―Ano Europeu para as Igualdades de Oportunidades para Todos‖. Este Festival tem como principal objetivo promover e desenvolver a valorização e integração na sociedade das pessoas com deficiência. O reconhecimento da qualidade do Festival por parte do público, serviu de incentivo à organização, para a 2.ª edição do Festival dos Sentidos em 2009 e a 3.ª edição, em 2011. É um evento bianual que inclui atividades de animação, teatro, dança, concertos, filmes e que conta com a participação de grupos de várias instituições vocacionadas para a intervenção na área da reabilitação de pessoas com deficiência (CEDEMA, CRINABEL, CERCI Lisboa, APPCDM Lisboa) e de diversos artistas convidados e que tem o alto patrocínio da Dra. Maria Cavaco Silva. h) A ―Bienal das Culturas Lusófonas‖, um evento promovido pela Câmara Municipal de Odivelas em conjunto com a empresa Municipália e o Centro Cultural da Malaposta, ao qual se associam diversas organizações dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Tem como principal objectivo promover a cidadania global e reforçar a importância da língua portuguesa, criando um espaço de comunicação e de intercâmbio e debate das culturas lusófonas, nas suas várias dimensões: cultural, política e económica. Este evento teve a sua origem em maio de 2006, ano em que o Centro Cultural da Malaposta incluiu na sua programação ―A Semana Africana‖, com o objectivo de promover o diálogo multicultural e de envolver a participação da comunidade africana. A 1.ª Bienal das Culturas Lusófonas realizou-se em 2007, ano em que a Presidência do Conselho de Ministros aprovou o ―Plano para a Integração dos Imigrantes‖, com um conjunto de medidas, nomeadamente ao nível da cultura, como o ―reforço da expressão da diversidade cultural em todos os domínios e actividades com incidência na área da Cultura‖ e o ―apoio a iniciativas que promovam o diálogo intercultural e a multiculturalidade‖.‖92 92 Plano para a Integração dos Imigrantes, Resolução do Conselho de Ministros N.º 63-A/2007, de 3 de maio de 2007, Diário da República N.º 85 - I ª Série. p. 2964-(2). 43 Este evento realizou-se de 1 a 24 de março, com a participação de artistas de Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Brasil e Guiné Bissau. O programa incluiu uma exposição colectiva sobre o tema ―Encontro de Culturas‖, debates sobre diversos temas da lusofonia, e envolveu diversas formas de expressão artística. No teatro destacam-se as peças de teatro ―O Salário dos Poetas‖, uma co-produção do Teatro O Bando e da Companhia D´Artes do Brasil, ―A Dama e os Vagabundos‖ e ―Esperando Godot‖ do coletivo Boa Companhia do Brasil, ―Galeria 17‖, uma co-produção do Centro Cultural Malaposta, Espaço Evoé e Boa Companhia (Brasil). Na área da música destacam-se os concertos de Nancy Vieira (Cabo Verde), de Braima Galissá (Guiné Bissau), do Conservatório de Música D. Dinis (Portugal) e de Rão Kiao & Carlos Gonçalves (Portugal). Na área do cinema foram apresentados os filmes ―Oxalá Cresçam Pitangas‖ de Kiluange Liberdade e Ondjaki, ―Na cidade Vazia‖ de Maria João Ganga e ―Junod‖ de Camilo de Sousa. Na dança realça-se o ―Ballet Tradicional Kilandukilu‖ (Angola) e na poesia ―Recital de poesia de celebração da Mulher Lusófona‖ realizado no Dia Internacional da Mulher. A 1.ª Bienal de Culturas da Lusofonia teve uma Comissão de Honra presidida pela Dra. Maria de Jesus Barroso que integrou entre outros: Simonetta Luz Afonso (Presidente do Instituto Camões), Francisco Lopo de Carvalho (Secretário-geral da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa), Rui Marques (Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas), Malaca Casteleiro (Professor da Universidade de Lisboa) e Maria Máxima Vaz (Historiadora). Em 2009, foi organizada a 2.ª Bienal das Culturas Lusófonas, de 11 de Março a 5 de Abril. O programa incluiu uma exposição de pintura e escultura de artistas dos países de língua portuguesa, concertos, espectáculos de teatro e dança, sessões de cinema, conferências, recitais de poesia e um encontro de escritores lusófonos. Na área da dança destacam-se as danças tradicionais de Moçambique pelo grupo Xipane-Pane, formado por jovens moçambicanos, residentes em Portugal. Na área da música destaca-se a participação de música angolana com Yami Aloelela, moçambicana com André Cabaço, cabo-verdiana com Maria Alice, guineense com N‘Dara Sumanó e portuguesa com Luís Lopes e Victor Gama e um tributo ao brasileiro Tom Jobim. 44 No cinema, destacam-se os filmes ―Angola – Histórias da Música Popular‖ e de ―Kuduro, Fogo no Musseque‖ do realizador António Jorge, ―Ilhéu da Contenda‖ do caboverdiano Leão Lopes e ―Palavra e Utopia‖, um filme de Manoel de Oliveira sobre a vida do Padre António Vieira. No teatro destaca-se uma encenação do ―Auto de Floripes‖, de S. Tomé e Príncipe, ―Chuva Pasmada‖ baseado no romance de Mia Couto, e do Brasil as peças ―Que Mistérios tem Clarice‖ criado por Rita Reimor, ―Calendário de Pedra‖ de Denise Stoklos. Na literatura destaca-se a realização de um encontro de escritores lusófonos sob o título ―Encontro com a Palavra‖ e a realização de um encontro de conferências sobre a temática da lusofonia: ―Relações Históricas entre Portugal e África do século XV ao século XX‖ e ―Turismo Sustentável e Lusofonia‖, assim como a realização de um recital de poesia lusófona, no Dia Mundial da Poesia. A Comissão de Honra teve como Presidente a Dra. Maria de Jesus Barroso e integrou os Embaixadores de S. Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde, Timor, a Missão Permanente do Brasil na CPLP e outras personalidades relacionadas com a lusofonia. Em 2011, foi realizada a 3.ª Bienal da Lusofonia de 2 a 29 de Maio, com um extenso programa distribuído pelos principais equipamentos culturais do município de Odivelas. Este evento promovido pela Câmara Municipal de Odivelas, em parceria com o Centro Cultural Malaposta, ganhou uma maior visibilidade e projecção a nível nacional e internacional, contando com o Alto Patrocínio da Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, com da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A Comissão de Honra foi presidida pela Dra. Maria de Jesus Barroso e composta pelo Secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Miguel Anacoreta Correia, a Presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, e pela Presidente da Direção da Liga Portuguesa Contra a SIDA, Maria Eugénia Saraiva. Esta iniciativa, com a duração de um mês, incluiu uma programação de âmbito internacional, abrangendo exposições de artes plásticas, música, literatura, teatro, dança e cinema que ocorram em diversos equipamentos culturais do município de Odivelas. Do extenso programa destacam-se as seguintes actividades: - Um Fórum de Lusofonia com painéis subordinados aos temas ―Cooperação, Língua Portuguesa, Cultura Lusófona, Turismos e Economia‖, no Centro de Exposições de Odivelas; 45 - Uma exposição de artistas de referência da arte contemporânea dos países lusófonos distribuída pelos principais equipamentos municipais (Paços do Concelho, Centro de Exposições de Odivelas, Centro Cultural da Malaposta e Loja do Turismo); - A representação do ―Auto de Floripes‖ da Ilha do Príncipe, no Jardim da Música. - Concertos de António Pinto Basto e de Guto Pires no Centro Cultural da Malaposta. - Uma ―Feira de Livros de Autores Lusófonos‖ na Biblioteca Municipal D. Dinis; - O lançamento do livro ―Viagem a Moçambique‖, de Maria de Jesus Barroso; - Um encontro de escritores sobre o tema ―Encontros Lusófonos‖ repartido pelo Centro Cultural da Malaposta, Centro de Exposições e Biblioteca Municipal D. Dinis. A realização deste encontro mereceu o reconhecimento da Sociedade Portuguesa de Autores, que distinguiu a Câmara Municipal de Odivelas, no Dia do Autor, (dia 22 de maio de 2012) com um prémio na categoria de ―Pró-Autor‖ pela iniciativa ―Encontros Lusófonos‖. A descrição deste evento mereceu-nos uma atenção especial na análise da programação cultural do Centro Cultural da Malaposta, porque a sua concepção e implementação revelam uma estreita articulação com os órgãos de gestão municipal, com uma visão estratégica e uma planificação sistemática e continuada, que impulsionou a sua projecção a nível nacional e internacional e através do qual o município de Odivelas se assume como ―Odivelas Capital da Lusofonia‖. No trabalho desenvolvido para a comunidade e com a comunidade verifica-se a criação de vários núcleos de teatro amador, que contam com o suporte técnico de formação da equipa do Centro Cultural da Malaposta e que complementam a programação e dão consistência ao projeto cultural, como por exemplo: - O ―Grupo de Teatro Lusófono da Malaposta‖ constituído por jovens oriundos de vários países de língua oficial portuguesa residentes em Portugal, é um colectivo de criação teatral, cuja dinâmica se integra nas actividades do projecto ―Teatro e Comunidade‖ do Centro Cultural da Malaposta. Este grupo de teatro amador, constituído em 2009, tem como principal objectivo a promoção e a difusão de obras artísticas de vários géneros produzidas e realizadas no contexto do universo Lusófono. Como afirma Manuel Coelho, Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta «O grupo foi criado como uma forma de integração e dinamização dos jovens oriundos das várias comunidades lusófonas. Pretendemos criar um espaço de cidadania 46 e de convívio cultural para os jovens, espaço onde o multiculturalismo e o teatro sejam o tecto de acolhimento e crescimento dos jovens que compõem o Grupo».93 - O Grupo de Teatro de Jovens da Malaposta‖, constituído por estudantes do Ensino Secundário e Universitário que se dedicam à produção de peças de teatro relacionadas com os programas escolares, como os ―Maias‖ de Eça de Queiroz, ou ―Felizmente Há Luar!‖ de Luís de Sttau Monteiro, incluídas na programação de 2012, destinadas às escolas. - O ―Grupo de Teatro Sénior de Odivelas ‖ criado em 2009 é um projecto municipal, resultante de uma parceria entre a Câmara Municipal de Odivelas e a Municipália E.M. que envolve cerca de 20 idosos. Este grupo tem ensaios semanais no Centro Cultural da Malaposta, com o suporte da equipa técnica deste equipamento. As suas peças integram a programação do Centro Cultural da Malaposta no âmbito do ―Festival de Teatro Amador‖. Por último parece-nos importante destacar o ―Projeto Educativo‖ do Centro Cultural da Malaposta, como um projecto de carácter inovador, que dá consistência à programação cultural dedicada à infância e à juventude e que tem como principal objetivo sensibilizar, criar e formar novos públicos desenvolvendo o seu sentido estético e crítico. Como nos explica Manuel Coelho «A ideia de não o titular como serviço educativo, mas sim projeto educativo, nasce simplesmente de uma única razão, ou conceito se assim o desejar, o trabalho que desenvolvemos com as crianças e os jovens não é de todo um serviço, mas um caminho que pretendemos percorrer em cada ano, com cada grupo de crianças ou jovens com que trabalhamos e para quem trabalhamos. O trabalho desenvolvido é fruto de um labor diário onde a planificação é objetivada e participada em equipa. O projeto Educativo do Centro Cultural da Malposta é hoje um dos pontos altos do desenvolvimento do Centro, o qual tem levado a que muitas das crianças que assistiram pela primeira vez a um espetáculo com três ou quatro anos, continuem hoje a ser nossos espectadores oito anos volvidos. (…). Tratase como pode constatar de um trabalho de projeto. Todo o plano que foi lançado foi neste sentido e começa a obter os resultados esperados.»94 É um projecto de educação pela arte e para as artes, com uma componente de desenvolvimento pessoal e social, que investe na formação e na captação de novos públicos. Envolve a participação das crianças e dos jovens mas também das famílias, das escolas e de outras instituições de carácter educativo. 93 Gazeta dos Artistas (2013). Teatro Lusófono da Malaposta apresenta no Museu de Cerâmica de Sacavém ―Lusotopia?, in http://www.gazetadosartistas.pt/?p=20861 [Consulta realizada em 01/09/13] 94 Consultar Anexo 16 – Entrevista ao Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta, Manuel Coelho, p. 40. 47 5. Conclusão O Centro Cultural da Malaposta constitui um exemplo de referência ao nível das políticas e das práticas culturais das autarquias, apresentando na sua história vários factos inéditos, que merecem ser aprofundados e divulgados. Ao longo dos seus vinte cinco anos de existência, conseguiu desenvolver-se e afirmar-se como um Centro Cultural de referência no panorama cultural, a nível local, regional, nacional e até internacional. No que respeita ao projecto cultural implementado na segunda fase da sua existência, sob a tutela do Município de Odivelas, e à programação cultural desenvolvida entre 2007 e 2012, apesar de corresponder a um período de crise económica e de contenção financeira, verifica-se que houve uma expansão continuada em todas as vertentes artísticas e culturais e um incremento progressivo dos públicos. A análise da programação cultural revela que é uma programação construída a partir do conhecimento da realidade sociocultural e que existe uma relação entre a selecção dos conteúdos programáticos e as características da população do município de Odivelas, atendendo aos níveis de escolaridade e à sua diversidade cultural. É uma programação estruturada em termos de diversidade das expressões artísticas e de géneros, tendo em atenção a diversidade dos públicos. É uma programação que inclui uma forte componente de iniciativas para crianças e jovens, transversal a todas as áreas artísticas, integrada num ―Projeto Educativo Infantil e Juvenil‖, com uma dimensão formativa, tendo como objetivo sensibilizar, criar e formar novos públicos, desenvolver o seu sentido estético e crítico. É uma programação inclusiva, que integra a apresentação de produções de diversos grupos amadores, como resultado das dinâmicas de interação com a comunidade envolvente, e que tem como objetivo incentivar o surgimento de novos talentos e dar visibilidade aos novos criadores e artistas emergentes. No âmbito do trabalho desenvolvido para a comunidade e com a comunidade verifica-se a criação de vários núcleos de teatro amador, que contam com o suporte técnico de formação da equipa do Centro Cultural da Malaposta e que complementam a programação e dão consistência ao projeto cultural. Consideramos que o êxito da programação cultural do Centro Cultural da Malaposta resulta da conjugação de vários factores, destacando os seguintes: 48 - Uma visão estratégica da administração municipal, que estabelece nas suas Linhas de Orientação Estratégica para o Concelho de Odivelas, a ―aposta na Cultura e na Educação como catalisador do progresso social dos Odivelenses‖ e que pretende ―fortalecer Odivelas através da produção de conteúdos culturais‖ e ―fazer da cultura, um elemento-chave da coesão social‖. - Uma visão estratégica consensual e uma boa articulação entre os Órgãos de Administração Municipal e o Conselho de Administração da empresa Municipália, em relação aos desígnios do Centro Cultural da Malaposta. - O investimento em obras de requalificação das instalações e equipamentos técnicos. - A melhoria das acessibilidades relacionada com a construção de infraesturas viárias e o aumento dos transportes públicos, designadamente pela expansão da rede de metro, com uma estação no Senhor Roubado. - A estabilidade ao nível da Administração Autárquica em relação às políticas culturais, apesar de ter havido mudança de mandatos autárquicos. - A estabilidade do Conselho de Administração da empresa Municipália. Apesar de ter havido uma fusão de duas empresas municipais em 2007, houve uma continuidade ao nível das linhas de orientação dos Conselhos de Administração e dos planos de atividades. - A estabilidade ao nível da Direção Artística do Centro Cultural da Malaposta. - Uma visão estratégica da Direção Artística / Programação Cultural que conseguiu interpretar a realidade circunstancial e potenciar uma ação de mediação, numa perspectiva de desenvolvimento social e cultural das pessoas e da comunidade, em função de um desígnio cultural identificado e partilhado para o município e para este equipamento cultural. - Um projecto cultural que teve o seu início em 2006, que teve continuidade, que evoluiu através de uma relação de proximidade, de interação com a comunidade envolvente e do estabelecimento de parcerias e protocolos de cooperação com várias entidades do município de Odivelas e da Área Metropolitana de Lisboa. - Uma programação cultural construída para a comunidade e com a comunidade, tendo em atenção a diversidade dos públicos e dos seus interesses, e que foi progressivamente integrando outros agentes culturais e sociais do município de Odivelas e da Área Metropolitana. - Uma boa comunicação da imagem institucional e uma divulgação da programação cultural, que conta com a colaboração voluntária de todas as entidades parceiras. Contudo, este equipamento cultural apresenta alguns constrangimentos e pode correr alguns riscos, em relação aos quais identificamos os seguintes: 49 O Centro Cultural da Malaposta não é uma instituição juridicamente autónoma, não possui estatutos próprios e não tem uma missão e uma visão explícita. Sendo um equipamento tutelado pelo município e administrado por uma empresa municipal, a sua missão insere-se no âmbito das atribuições da autarquia e nos estatutos da Muncipália E.M., e a visão depende das políticas culturais estabelecidas pelos órgãos de gestão autárquica. Por isso, esta instituição é particularmente vulnerável às mudanças dos mandatos autárquicos, dos Conselhos de Administração da entidade gestora e do projeto de Direção Artística, que consequentemente podem provocar alterações na visão, missão e programação cultural. Relativamente ao modelo de administração, este equipamento cultural ao longo da sua existência passou por três modalidades de administração (apresentadas no ponto 3.4.) O município de Odivelas adotou a modalidade de empresa municipal para a administração deste equipamento cultural, por considerar que é uma organização mais flexível e menos burocrática, que permite agilizar os procedimentos de contratação de espetáculos e de profissionais com competências especializadas no domínio cultural e artístico, visto que o enquadramento legal da administração pública implica procedimentos mais longos e mais burocráticos e que os quadros de pessoal não comportam estas categorias profissionais. Contudo, a publicação da Lei 50/2012 de 31 de agosto, que aprova o regime jurídico da atividade empresarial local e das participações locais, impõe maiores constrangimentos ao funcionamento das empresas municipais, designadamente no plano da sustentabilidade financeira. Devido à alteração da legislação a empresa Municipália teve que elaborar um ―Plano de Restruturação Estratégica‖ em 2013. Por outro lado, um dos grandes constrangimentos do Centro Cultural da Malaposta é a limitação do espaço físico das instalações. Apesar de ter cinco salas polivalentes para realização de espetáculos, para além do foyer e do pátio exterior, onde também são realizadas algumas atividades, todas as salas são de dimensão reduzida. A dificuldade em aumentar a rentabilização do Centro Cultural da Malaposta, do ponto de vista do equilíbrio financeiro deve-se à dimensão reduzida dos espaços. Aumentar as receitas implicaria aumentar o custo dos bilhetes dos espetáculos, e por sua vez limitar o acesso à cultura. Em conclusão, a análise deste trabalho de projeto permite identificar, de forma sistemática e sustentada, um conjunto de características, e por que não dizê-lo, de qualidades que podem ser tomadas como exemplares na modelação de equipamentos culturais municipais, ao mesmo tempo que se identificam riscos e adversidades comuns à realidade autárquica em Portugal. 50 BIBLIOGRAFIA Abreu, J. A. P. (1865). Roteiro do Viajante no Continente e nos Caminhos de Ferro de Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade. Abreu, M. (Coord.). (2006). GAVE - Guia das artes visuais e do espectáculo. Lisboa: Ministério da Cultura /Instituto das Artes. Afonso, M. M. & VAZ, M. M. (2001). Monografia de Olival Basto. Olival Basto: Ed. Junta de Freguesia do Olival Basto. Alarcão, J. (1982). Introdução ao Estudo da História e do Património Locais. Coimbra: Instituto de Arqueologia e de História de Arte, Faculdade de Letras de Coimbra. Almeida, O. (1993). 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Amascultura, Um Projecto com Futuro, 2000. 60 Amascultura, Plano de Actividades e Orçamento de 2000 Amascultura, Plano de Actividades e Orçamento de 2001 Amascultura, Relatório de Contas de 2002 Odivelcultur, Relatório e Contas do Exercício de 2005 Odivelcultur, Plano e Orçamento para o Exercício de 2006 Odivelcultur, Plano e Orçamento para o Exercício de 2007 Municipália, Plano e Orçamento para o quarto trimestre de 2007 Municipália, Relatório e Contas 2007 Municipália, Plano e Orçamento para o Exercício de 2008 Municipália, Plano e Orçamento para o Exercício de 2008 Municipália, Relatório e Contas do Exercício de 2008 Municipália, Plano e Orçamento para o Exercício de 2009 Municipália, Relatório de Contas do Exercício de 2009 Municipália, Plano e Orçamento para o Exercício de 2010 Municipália, Relatório de Contas do Exercício de 2010 Municipália, Plano e Orçamento para o Exercício de 2011 Municipália, Relatório de Contas do Exercício de 2011 Municipália, Plano e Orçamento para o Exercício de 2012 Municipália, Relatório de Contas do Exercício de 2012 Municipália, Plano de Reestruturação Estratégica 2013 Centro Cultural Malaposta, Agendas Culturais 2007 Centro Cultural Malaposta, Agendas Culturais 2008 Centro Cultural Malaposta, Agendas Culturais 2009 Centro Cultural Malaposta, Agendas Culturais 2010 Centro Cultural Malaposta, Agendas Culturais 2011 Centro Cultural Malaposta, Agendas Culturais 2012 61 ÍNDICE DE ANEXOS Anexo1 - A Área Metropolitana de Lisboa …………………………….……. 66 Anexo 2 - O Distrito de Lisboa …………………………………….…….…... 70 Anexo 3 - O Município de Odivelas ……………………………………....….. 72 Anexo 4 - Mapa dos Concelhos de Lisboa, Belém e Olivais …….....…...…… 77 Anexo 5 - Equipamentos Culturais do Município de Odivelas ………....……... 78 Anexo 6 - Mapa de localização do Matadouro Municipal …………………....... 79 Anexo 7 - Imagens do Matadouro Municipal de Olival Basto……………....…. 80 Anexo 8 - O Projeto de Arquitetura do Centro Dramático/Teatro Malaposta.... 81 Anexo 9 - A Envolvente do Centro Cultural da Malaposta ………………....…. 85 Anexo 10 - Imagens do Centro Cultural da Malaposta ……………………..….. 86 Anexo 11 - Imagens dos Espaços do Centro Cultural Malaposta …....….…..... 87 Anexo 12 - Modelos de Administração do Centro Cultural da Malaposta …….. 88 Anexo 13 - Lista das Entidades Parceiras …………………....……………....… 89 Anexo 14 - Edital de classificação do Centro Cultural Malaposta ……….......... 92 Anexo 15 - Análise de Programação Cultural 2007- 2012 …...……………..... 93 Anexo 16 - Entrevista ao Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta Manuel Coelho …………………………….………….....………... 101 Anexo 17 - Entrevista ao Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M. Rui Nascimento ……………….…....………. 117 Anexo 18 - Entrevista ao Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Odivelas Mário Máximo ……….…………............. 132 Anexo 19 - Entrevista à Presidente da Câmara Municipal de Odivelas Susana Amador ……………………………….………...……................... 150 62 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Mapa da Área Metropolitana de Lisboa…………………………....... 68 Figura 2 - Mapa do Distrito de Lisboa………………………………………...... 71 Figura 3- Mapa do Município de Odivelas………………………………........... 72 Figura 4 - Acessibilidades e Infraestruturas Viárias………………………......... 73 Figura 5 - Mapa dos Concelhos de Lisboa, Belém e Olivais………………........ 77 Figura 6 - Mapa de localização do Matadouro Municipal…………….……........ 79 Figura 7 - Fachada do Matadouro Municipal………………...…………...…...... 80 Figura 8 - Bloco do lado direito do Matadouro Municipal…………………........ 80 Figura 9 - Zona da Plateia ………………………………..…………………....... 80 Figura 10 - Planta do Centro Dramático/Teatro Malaposta ..............………...... 81 Figura 11 - Envolvente do Centro Cultural da Malaposta …………...…..…...... 85 Figura 12 - Vista aérea edifício do Centro Cultural da Malaposta …………...... 85 Figura 13 - Centro Cultural da Malaposta, 1989……………………………........ 86 Figura 14 - Centro Cultural da Malaposta……………………….…………......... 86 Figura 15 - Foyer ………………………………………..…………………........ 87 Figura 16 - Auditório ……..…..……………………….………….………......... 87 Figura 17 - Café-teatro ……………….………………………………..……...... 87 Figura 18 - Sala de Cinema …………………………...….……...…………...... 87 Figura 19 - Sala Experimental de Teatro……………………………………...... 87 Figura 20 - Viedeoteca……………………………………………………......... 87 63 ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Evolução da População Residente no Município de Odivelas de 1900 a 2011 ………………………......…………….........………....…....... 75 Gráfico 2 - N.º de Iniciativas por Tipologia 2007…………………………….......... 93 Gráfico 3 - N.º de Sessões por Tipologia 2007……………………………….......... 93 Gráfico 4 - N.º de Sessões por Tipologia 2008……………………………….......... 94 Gráfico 5 - N.º de Público por Tipologia 2008……………………………….......... 94 Gráfico 6 - N.º de Sessões por Tipologia 2009……………………………….......... 95 Gráfico 7 - N.º de Público por Tipologia 2009……………………………….......... 95 Gráfico 8 - N.º de Sessões por Tipologia 2010…………….........…………………. 96 Gráfico 9 - N.º de Público por Tipologia 2010………………………….........……. 96 Gráfico 10 - N.º de Sessões por Tipologia 2011………………………...........…… 97 Gráfico 11 - N.º de Público por Tipologia 2011…………………….........………... 97 Gráfico 12 - N.º de Sessões por Tipologia do Projeto Educativo 2011.................... 98 Gráfico 13 - N.º de Público por Tipologia do Projeto Educativo 2011.........……… 98 Gráfico 14 - N.º de Sessões por Tipologia 2012………………………..........…….. 99 Gráfico 15 - N.º de Sessões por Tipologia 2012…………………….........………... 99 Gráfico 16 - N.º de Sessões por Ano (2007 - 2012) …………………………...….. 100 Gráfico 17 - Nº de Público por Ano (2007 - 2012)…………………………............ 100 64 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 - Indicadores Gerais da Área Metropolitana de Lisboa ............................. 69 Quadro 2 - Indicadores Gerais do Distrito de Lisboa ............................................... 71 Quadro 3 - Reorganização Administrativa das Freguesias do Município de Odivelas. 73 Quadro 4 - Indicadores Gerais do Município de Odivelas ........................................ 74 Quadro 5 - População Residente nas Freguesias do Município de Odivelas de 1900 a 2011 ...................................................................................................... Quadro 6 - População residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011.. 75 76 Quadro 7- Variação da população residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011 ............................................................................................. 76 Quadro 8 - População residente segundo o nível de escolaridade 2001, 2011 .......... 76 Quadro 9 - Taxa de Analfabetismo no Município de Odivelas 1991, 2001, 2011 .... 76 Quadro 10 - Equipamentos Culturais do Município de Odivelas ............................. 78 Quadro 11 - Modelos de Administração do Centro Cultural da Malaposta................ 88 Quadro 12 - N.º de Iniciativas e de Sessões por Tipologia 2007.................................. 93 Quadro 13 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2008................................ 94 Quadro 14 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2009............................... 95 Quadro 15 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2010.............................. 96 Quadro 16 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2011............................... 97 Quadro 17 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia do Projeto Educativo 2011 ................................................................................................... 98 Quadro 18 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2012 ............................... 99 Quadro 19 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia (2007 - 2012)................... 100 65 Anexo 1 A Área Metropolitana de Lisboa ―Área Metropolitana‖ é a designação atribuída «ao espaço geográfico de carácter urbano com elevada densidade populacional, que abrange uma grande cidade e os territórios política e administrativamente autónomos que lhe estão fronteiriços e próximos. Nos limites geográficos deste espaço, mais ou menos alargado, há uma grande mobilidade quotidiana de pessoas entre as áreas de residência e as áreas de trabalho e vice-versa. A complexidade de problemas que as altas densidades populacionais colocam constitui o justificativo principal para a criação desta estrutura de gestão com carácter supramunicipal»95 A ―Área Metropolitana de Lisboa‖ e a ―Área Metropolitana do Porto‖ foram criadas em 1991, pela Lei n.º 44/91 de 2 de agosto que as considera como «pessoas coletivas de direito público de âmbito territorial e visam a prossecução de interesses próprios das populações da área dos municípios integrantes.» 96 De acordo com a Lei n.º 75/2013 de 12 de setembro97 que estabelece o regime jurídico das autarquias locais, aprova o estatuto das entidades intermunicipais, estabelece o regime jurídico da transferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico, as atribuições da área metropolitana encontram-se expressas no art.º 67º: 1. As áreas metropolitanas visam a prossecução dos seguintes fins públicos: a) Participar na elaboração dos planos e programas de investimentos públicos com incidência na área metropolitana; b) Promover o planeamento e a gestão da estratégia de desenvolvimento económico, social e ambiental do território abrangido; c) Articular os investimentos municipais de caráter metropolitano; d) Participar na gestão de programas de apoio ao desenvolvimento regional, designadamente no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN); e) Participar, nos termos da lei, na definição de redes de serviços e equipamentos de âmbito metropolitano; 95 Área metropolitana in Infopédia, [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014, http://www.infopedia.pt/$areametropolitana>. [Consulta realizada em 02/02/2014]. 96 Lei n.º 44/91, D.R. N.º 176/91 Série I-A, de 2 de Agosto de 1991, pp. 3784-3787, Capítulo II art.º 1 § 2. 97 Lei n.º 75/2013, D.R. N.º 176, 1.ª Série de 12/09/2013, pp. 5688 - 5724. 66 f) Participar em entidades públicas de âmbito metropolitano, designadamente no domínio dos transportes, águas, energia e tratamento de resíduos sólidos; g) Planear a atuação de entidades públicas de caráter metropolitano. 2. Cabe igualmente às áreas metropolitanas assegurar a articulação das atuações entre os municípios e os serviços da administração central nas seguintes áreas: a) Redes de abastecimento público, infraestruturas de saneamento básico, tratamento de águas residuais e resíduos urbanos; b) Rede de equipamentos de saúde; c) Rede educativa e de formação profissional; d) Ordenamento do território, conservação da natureza e recursos naturais; e) Segurança e proteção civil; f) Mobilidade e transportes; g) Redes de equipamentos públicos; h) Promoção do desenvolvimento económico e social; i) Rede de equipamentos culturais, desportivos e de lazer. A mesma lei define os órgãos da área metropolitana no art.º 68º: Conselho Metropolitano – órgão deliberativo da Área Metropolitana de Lisboa, constituído pelos presidentes das câmaras municipais dos municípios que integram a área metropolitana. Comissão Executiva Metropolitana - órgão executivo da Área Metropolitana de Lisboa, constituído por um primeiro-secretário e por quatro secretários metropolitanos. Conselho Estratégico para o Desenvolvimento Metropolitano - órgão de natureza consultiva destinado ao apoio ao processo de decisão dos restantes órgãos da área metropolitana. É constituído por representantes das instituições, entidades e organizações com relevância e intervenção no domínio dos interesses metropolitanos, cabendo ao conselho metropolitano deliberar sobre a sua composição em concreto. A Área Metropolitana de Lisboa é uma entidade de nível intermédio da Administração Pública Local, de natureza associativa, que visa a prossecução de interesses comuns dos municípios que a integram. É uma entidade intermunicipal que engloba 18 Municípios – Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Sesimbra, Setúbal, Seixal, Sintra e Vila Franca de Xira. A Área Metropolitana de Lisboa constitui uma região estatística (NUTS II), que compreende aproximadamente a metade sul do distrito de Lisboa e a metade norte do distrito de Setúbal, 67 com18 concelhos (5,8% do total). Confronta a norte com a Região Centro; a nordeste, leste e a sul com o Alentejo, e a sul e oeste com o Oceano Atlântico. Ocupa uma superfície de 2 921,90 km², que corresponde a 3,3% do território nacional, com uma população estimada em 2 821 697 habitantes correspondendo a 28% do Continente e a 26,7% da população portuguesa. (Censos 2011) Figura 1 - Mapa da Área Metropolitana de Lisboa Fonte: http://protaml.inescporto.pt/ 68 Quadro 1 - Indicadores Gerais da Área Metropolitana de Lisboa Superfície (km²) População (2011) Densidade populacional (hab/km²) Freguesias 128,50 17 569 137 3 Península de Setúbal Almada 70,20 174 030 2 479 11 Península de Setúbal Amadora 23,77 175 135 7 368 11 Grande Lisboa Barreiro 33,81 78 764 2 330 8 Península de Setúbal Cascais 99,07 206 429 2 084 6 Grande Lisboa Lisboa 83,84 547 631 6 532 53 Grande Lisboa Loures 160,37 205 054 1 279 18 Grande Lisboa Mafra 291,42 76 685 263 17 Grande Lisboa Moita 55,08 66 029 1 199 6 Península de Setúbal Montijo 348,09 51 222 147 8 Península de Setúbal Odivelas 26,14 144 549 5 530 7 Grande Lisboa Oeiras 45,84 172 120 3 755 10 Grande Lisboa 462,87 62 805 136 5 Península de Setúbal 93,58 158 269 1 691 6 Península de Setúbal Sesimbra 195,01 49 500 254 3 Península de Setúbal Setúbal 170,57 121 185 711 8 Península de Setúbal Sintra 316,06 377 835 1 196 20 Grande Lisboa Vila Franca de Xira 317,68 136 886 431 11 Grande Lisboa 2 921,90 2 821 697 966 211 Município Alcochete Palmela Seixal Total Sub-região Área Metropolitana de Lisboa Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_%C3%81rea_Metropolitana_de_Lisboa [Consulta realizada em 02/02/2014] 69 Anexo 2 O Distrito de Lisboa O termo distrito designa uma divisão de um determinado território, que pode ser de natureza política, administrativa, militar, judicial, fiscal, policial ou sanitária. Em Portugal um ―Distrito Administrativo‖ ou, apenas, ―Distrito‖ é uma divisão administrativa criada pela carta de lei de 25 de Abril de 1835. Este é o primeiro documento legislativo que estabelece a circunscrição administrativa do ―Distrito‖, em substituição das ―Províncias‖ e das ―Comarcas‖ «Haverá no reino até dezassete Distritos Administrativos. Cada distrito será administrado por um magistrado de nomeação real, e nele haverá uma Junta de distrito electiva que terá as mesmas atribuições, que pelo decreto de 16 de maio de 1832, n.º 23, competiam às Juntas de províncias. Os distritos administrativos serão divididos em concelhos…». Cada distrito seria administrado por um ―Administrador-Geral‖, que a partir 1840 passou a designar-se ―Governador Civil‖. O cargo de governador civil manteve-se, desde essa época até à atualidade, sendo as suas funções progressivamente mais reduzidas. A Constituição da República Portuguesa de 1976, comtempla uma nova reforma da organização administrativa do estado e estabelece três categorias de autarquias locais para o território do continente que são: as freguesias, os municípios (substituindo a designação de concelho) e as regiões administrativas. (artigo 236º, parágrafo 1). Enquanto as regiões administrativas não estiverem instituídas, a Constituição prevê a manutenção da divisão distrital no espaço por, elas não abrangido (artigo 291º). O distrito de Lisboa é limitado a norte pelo distrito de Leiria, a leste pelo distrito de Santarém, a sul pelo distrito de Setúbal e a oeste pelo Oceano Atlântico, tem uma área de 2 761 Km2 e é o 16.º maior distrito português. O Distrito de Lisboa abrange as seguintes Unidades Territoriais: a) Região de Lisboa, sub-região Grande Lisboa, constituída pelos municípios: Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Odivelas, Oeiras, Sintra, Vila Franca de Xira; b) Região Centro, sub-região Oeste, constituída pelos municípios: Alenquer, Arruda dos Vinhos, Cadaval, Lourinhã, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras; c) Região Alentejo, sub-região Lezíria do Tejo, constituída pelo município da Azambuja. 70 Figura 2 - Mapa do Distrito de Lisboa Fonte: http://www.portugal-libelle.com/distrikt/lissabondistrikt.html Quadro 2 - Indicadores Gerais do Distrito de Lisboa Capital do distrito Lisboa Regiões Região de Lisboa, Região Centro, Região do Alentejo Província histórica Estremadura e Ribatejo Área 2 761 Km² População Total 2 250 533 hab.(Censos 2011) Densidade populacional 815 hab./km² (Censos 2011) N° de municípios 16 N° de freguesias 226 Compilação: Filomena Viegas Fontes: http://terrasdeportugal.wikidot.com/distrito-de-lisboa [ Consulta realizada em 03/10/13] http://www.online24.pt/distritos-de-portugal/[ Consulta realizada em 03/10/13] INE, XV Recenseamento Geral da População, Resultados definitivos 2011 [Consulta realizada em 03/10/13] 71 Anexo 3 O Município de Odivelas O Município de Odivelas fica situado no Distrito de Lisboa, na região de Lisboa, a norte do rio Tejo, sendo também o mais novo dos 18 municípios que constituem a Área Metropolitana de Lisboa (AML). Confronta a Norte com Loures a Oeste com Amadora e Sintra e a Sul com Lisboa. Ocupa uma área de 26,14 km2 com uma população de 144.549 habitantes, (segundo os censos de 2011) apresentando uma elevada densidade populacional: 5.530 hab/Km2. Foi criado pela Lei 84/98 de 14 de dezembro de 1998, que refere no artigo 1.º «Criação do município de Odivelas: Através do presente diploma é criado o município de Odivelas, com sede na cidade de Odivelas, que fica a pertencer ao distrito de Lisboa.» A constituição e delimitação são definidas no artigo 2.º: «O município de Odivelas abrangerá a área das freguesias de Caneças, Famões, Odivelas, Olival Basto, Pontinha, Póvoa de Santo Adrião e Ramada, a destacar do concelho de Loures, do distrito de Lisboa.» Figura 3 - Mapa do Município de Odivelas Fonte: http://www.cm-odivelas.pt/Concelho/Mapa/index.htm 72 Contudo, de acordo com a Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro/2013, de Reorganização Administrativa do Território das Freguesias, passou a integrar apenas quatro freguesias com as seguintes denominações: Freguesia de Odivelas, União das Freguesias de Pontinha e Famões, União das Freguesias da Póvoa de Santo Adrião e Olival Basto, União das Freguesias de Ramada e Caneças. Quadro 3 - Reorganização Administrativa das Freguesias do Município de Odivelas Fonte: Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro/2013 Figura 4 - Acessibilidades e Infraestruturas Viárias Fonte: http://viajar.clix.pt/mapas.php?c=310&lg=pt&w=odivelas 73 Quadro 4 - Indicadores Gerais do Município de Odivelas INDICADORES 1991 2001 4851 hab. /km2 4994 hab/Km2 5.530 hab. /km2 População Residente HM 130 015 133 847 144549 População Presente HM 129505 127817 138238 43443 48 853 57744 11 24 38 Núcleos Familiares Residentes 37850 40016 44746 Alojamentos Familiares - Total 50805 58 258 69198 Alojamentos Familiares - Clássicos 50374 57 599 69042 431 659 156 59 30 40 Edifícios 12210 14 115 16344 Variação População Residente -------- 1991- 2001 2.9% 2001- 2011 8% Percentagem de Jovens 20,06 14,77 15,17 Percentagem de Potencialmente Ativos 71,96 73,25 68,47 7,95 11,98 16,36 252,31 123,30 92,70 Índice de Envelhecimento 39,63 81,09 107,87 Índice de Dependência de Jovens 27,88 20,16 22,15 Índice de Dependência de Idosos 11,05 16,35 23,89 ---------- 39,7 40,2 4,9% 5,09% 2,86 População Economic. Ativa HM 69322 74 301 75838 Taxa de Atividade HM 51,7% 55,5% 52,47 --------- 4979 9202 6,2% 6,7% 12,13 Densidade Populacional Famílias Clássicas Residentes Famílias Institucionais Alojamentos Familiares - Outros Alojamentos Coletivos Percentagem de Idosos Índice de Juventude Índice de Longevidade Taxa de analfabetismo HM População Desempregada HM Taxa de Desemprego HM 2011 Compilação: Filomena Viegas, 2013 Fontes: INE, XIII Recenseamento Geral da População 1991 INE, XIV Recenseamento Geral da População e IV Recenseamento Geral de Habitação, 2001 INE, XV Recenseamento Geral da População, V Recenseamento Geral da Habitação, 2011 74 Quadro 5 - População Residente nas Freguesias do Município de Odivelas de 1900 a 2011 Ano/ 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011 Caneças * - - 1096 1181 1367 1962 2709 3812 6937 9664 10647 12324 Odivelas 1746 2313 2635 3174 3696 6772 27423 51037 84624 53531** 53449 59559 Póvoa Sto. Adrião 427 605 748 766 1006 1518 4966 9460 19386 14463 14704 13061 Pontinha - - - - - - - - - 26252 24023 23041 Famões - - - - - - - - - 7092 9008 11095 Ramada - - - - - - - - - 11667 15770 19657 Olival Basto - - - - - - - - - 7346 6246 5812 2173 2918 4479 5121 6069 10252 35098 64309 110947 130015 133847 144549 Freguesia Concelho Odivelas Fontes: CMO/DPE (2004), Estudos Prévios de Planeamento Estratégico - Historial e Perfis Demográfico e Socioeconómico, Vol. I, Odivelas. P. 18. (Adaptado e atualizado) INE, Censos 2011, Resultados Definitivos: Região de Lisboa Observações: *Caneças está representada só a partir de 1920 pelo facto de ter sido elevada a Freguesia em 1915. **Este valor aparentemente decresceu em 1991, para 53 531; no entanto esta situação está relacionada com a criação das freguesias da Pontinha (em 1984), da Ramada e Famões (em 1989), todas por desanexação da freguesia de Odivelas. Gráfico 1 - Evolução da População Residente no Município de Odivelas de 1900 a 2011 Fontes: CMO/DPE, (2004), Estudos Prévios de Planeamento Estratégico - Historial e Perfis Demográfico e Socioeconómico, Vol. I, Odivelas, p.19. (Adaptado e atualizado) INE, Censos 2011, Resultados Definitivos: Região de Lisboa 75 Quadro 6 - População residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011 Total Anos Grupos Etários HM H 0-14 Anos 15-24 Anos 25- 64 Anos N.º N.º N.º 1991 130 015 63 136 2001 133847 2011 144549 65 ou mais Anos % N.º % N.º % N.º % 26 092 20,06 21 607 16,61 71 975 55,35 10 341 7,95 65 197 19 771 14,77 20 261 15,14 77 781 58,11 16 034 11,98 68 847 21 923 15,17 15343 10,61 83634 57,86 23649 16,36 Compilação: Filomena Viegas, 2013 Fontes: INE, Censos 1991, XIII, Recenseamento Geral da População INE, Censos 2001, XIV Recenseamento Geral da População e Habitação INE, Censos 2011, XV Recenseamento Geral da População Quadro 7- Variação da população residente segundo grandes grupos etários 1991, 2001, 2011 Variação entre 1991 e 2001% Variação Total 2,9 0 - 14 15 - 24 25 - 64 -24,2 -6,2 8,1 Variação entre 2001 e 2011% 65 Variação ou mais Total 55,1 8,00 0-14 15-24 25-64 65 ou mais 10,83 -24,14 7,69 46,57 Compilação: Filomena Viegas, 2013 Fontes: INE, Censos 1991, XIII, Recenseamento Geral da População INE, Censos 2001, XIV Recenseamento Geral da População e Habitação INE, Censos 2011, XV Recenseamento Geral da População Quadro 8 - População residente segundo o nível de escolaridade 2001, 2011 ANO Total HM Nº Nenhum N.º % Ensino Pré-Escolar N.º % Básico 1º Ciclo N.º % 2º Ciclo N.º % 3º Ciclo N.º % Secundário Póssecundário N.º N.º % % Superior N.º % 2001 133847 12564 9,38 1928 1,44 41476 30,98 13331 9,95 16575 12,38 29848 22,30 1216 0,90 16909 12,63 2011 144549 11257 7,78 3180 2,19 37920 26,23 12347 8,54 23732 16,41 28741 19,88 1526 1,05 25846 17,88 Compilação: Filomena Viegas, 2013 Fontes: INE, Censos 2001, XIV Recenseamento Geral da População e Habitação INE, Censos 2011, XV Recenseamento Geral da População Quadro 9 – Taxa de Analfabetismo no Município de Odivelas 1991, 2001, 2011 Ano Taxa de Analfabetismo 1991 2001 2011 4,9 5,1 2,86 Compilação: Filomena Viegas Fontes: INE, Censos 1991, XIII, Recenseamento Geral da População INE, Censos 2001, XIV Recenseamento Geral da População e Habitação INE, Censos 2011, XV Recenseamento Geral da População 76 Anexo 4 Mapa dos Concelhos de Lisboa, Belém e Olivais Figura 5 - Mapa dos Concelhos de Lisboa, Belém e Olivais Fonte: BAEDEKER, Karl (1901), Handbook for travellers in Spain and Portugal. Leipsic. 77 Anexo 5 Equipamentos Culturais do Município de Odivelas Quadro 10 - Equipamentos Culturais do Município de Odivelas Freguesia Designação Tipologia Dominante Valências Entidade Gestora Caneças Biblioteca Municipal D. Dinis - Pólo de Caneças Biblioteca Biblioteca Câmara Municipal de Odivelas Famões Moinho da Laureana (Núcleo Museológico) Moinho Núcleo Museológico Núcleo Museológico Câmara Municipal de Odivelas Odivelas Auditório Municipal dos Paços do Concelho Auditório Câmara Municipal de Odivelas Odivelas Biblioteca Municipal D. Dinis Biblioteca Auditório Sala de Exposições Auditório Salas de leitura Galeria de Exposições Odivelas Casa da Juventude Polivalente Odivelas Centro de Artes e Ofícios CAOS Polivalente Odivelas Centro de Exposições de Odivelas Galerias de Exposições Odivelas Edifício Maria Lamas Auditório Sala de Exposições Odivelas Pavilhão Multiusos de Odivelas Polivalente Olival Basto Centro Cultural da Malaposta Centro Cultural Pontinha Pontinha Biblioteca Municipal D. Dinis - Polo da Pontinha Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (Núcleo Museológico) Polivalente Pequeno Auditório Oficinas de produção Auditório Galerias de Exposições 3 Oficinas de produção Auditório Espaços de Exposições Salas de Formação Polivalente com 3 naves e 4 ginásios (Desportivo e Cultural) Foyer Auditório Café-teatro Sala Teatro Experimental Sala de Cinema Sala dos Espelhos Câmara Municipal de Odivelas Câmara Municipal de Odivelas Câmara Municipal de Odivelas Câmara Municipal de Odivelas Câmara Municipal de Odivelas Câmara Municipal de Odivelas Câmara Municipal de Odivelas e Municipália E.M. Biblioteca Biblioteca Câmara Municipal de Odivelas Núcleo Museológico Auditório Sala de Exposições Câmara Municipal de Odivelas e Regimento de Engenharia 1 Compilação: Filomena Viegas, 2013 78 Anexo 6 Mapa de localização do Matadouro Municipal Figura 6 – Mapa de localização do Matadouro Municipal Fonte: Arquivo Municipal de Odivelas 79 Anexo 7 Imagens do Matadouro Municipal de Olival Basto Figura 7 - Fachada do Matadouro Municipal Fonte: Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992. Figura 8 - Bloco do lado direito do Matadouro Municipal Fonte: Malaposta Revista de Teatro do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett nº 3, 1989 Figura 9 - Zona da Plateia Fonte: Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais: ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian, 1992 80 Anexo 8 O Projeto de Arquitetura do Centro Dramático/Teatro Malaposta Figura 10 - Planta do Centro Dramático/Teatro Malaposta Fonte: HARTMANN, Ricardo, (1989), Brevíssima história do projecto para o Teatro da Malaposta, in malaposta Revista de Teatro do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett, N.º 3, 1989, pp. 2-5. 81 O conceito geral do projeto de arquitetura Em relação ao ―Conceito Geral‖ deste projeto de arquitetura, transcreve-se da memória descritiva o seguinte: «O presente estudo obedece às intenções transmitidas pela Comissão Instaladora, e preenche o programa base proposto. Do ponto de vista estético, pretende-se manter a imagem pré-existente, sem cedências ao recurso fácil de utilização de símbolos representativos de modas efémeras e aculturadas, preferindo-se antes respeitar a austeridade da traça original do conjunto edificado, e valorizá-la, pela correcção estética dos volumes acrescentados ao longo do tempo. É assumido, desta forma, o compromisso representado pelo grande volume que surgirá encimando o palco, que alberga o indefectível equipamento necessário à sua nova utilização. Buscou-se uma forma simples, o cubo, cujos parâmetros exteriores se pretende ver tratados com um material de revestimento nobre, mas neutro, a pedra, de modo a não fazê-lo competir com as formas simples do conjunto edificado existente.» 98 A conceção dos espaços / valências do equipamento cultural O programa de recuperação e adaptação contemplou os seguintes espaços: Para a atividade principal de teatro: uma sala de teatro para 224 espectadores, com boca de cena 10 x 6 metros e uma sala polivalente de teatro experimental para 100 espectadores, com plateia amovível, destinada a apresentações de teatro experimental, ensaios, música, etc.. Para atividades complementares de cinema, exposições de artes plásticas, dança, formação: um Foyer, considerado como um centro articulador de todas as funções e para onde convergem todas as áreas de atividades. É um grande espaço polivalente vocacionado para montagem de exposições temporárias, com apoio de livraria e cafetaria; um estúdio de cinema e vídeo de formato reduzido com 63 lugares; um estúdio de dança; uma sala de leitura/ centro de documentação e uma oficina de artes gráficas e cénicas. 98 Processo n.º 00037/DOM (1988). Adaptação das Instalações do Antigo Matadouro Municipal a Sede do CDTIT Malaposta Vol.03 ( p.p. 167 – 176).Olival Basto, Póvoa de Santo Adrião. 82 Para atividades de apoio técnico e serviços administrativos: sala de cenografia, oficina de carpintaria, ateliê de confeção de figurinos e guarda-roupa, camarins, gabinetes de serviços técnicos e administração, bengaleiro, instalações sanitárias. No corpo do edifício do lado direito que tem um 2.º piso de utilização interna, foi criada uma área para camarins e instalações sanitárias para os atores. Neste piso foi também recuperada a casa do guarda do matadouro, e transformada num pequeno apartamento de duas divisões independente com acesso pelo exterior, que foi destinado a dois funcionários da Câmara Municipal de Loures, destacados para trabalhar no Centro Cultural da Malaposta. É de salientar que o edifício tendo sido adaptado em 1989, não possui barreiras arquitetónicas, garantindo o acesso e a circulação de pessoas com deficiência ou mobilidade condicionada. A escolha do local Quanto à escolha do local para instalar o Centro Cultural, em Olival Basto, o encenador José Peixoto, apresenta as seguintes razões: «Em primeiro lugar na área urbana não é fácil encontrar um terreno disponível com a superfície de que dispõe a Malaposta. Em segundo lugar a Malaposta poderá beneficiar do facto de ficar numa encruzilhada obrigatória das vias que conduzem a localidades importantes, fica na confluência de diversos aglomerados, podendo servir a todos sem ser pertença de nenhum.» 99 No entanto, a localização deste edifício na várzea de Loures, envolve alguns riscos, como nos deixa antever o Engenheiro Teixeira de Macedo (Director do Departamento de Obras da Câmara Municipal de Loures) na comunicação apresentada no Colóquio, já referido anteriormente, afirmando o seguinte: «Localizado numa zona atingida pelas cheias da região de Lisboa, houve o cuidado de, à partida, se tomarem medidas que evitassem, ou pelo menos reduzissem ao mínimo, as consequências de situações semelhantes. Realizaram-se sondagens para determinar as características do solo de fundação dos novos corpos a criar, bem como a existência de lençóis freáticos, e tomaram-se cuidados especiais na execução das fundações. Pena é que, atendendo ao uso inicial do edifício (cavalariça) não se tenha procedido ao 99 Peixoto, J. et al. (1992). Uma aposta autárquica numa nova visão da cultura. in José Castanheira (Org.) Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio sobre Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais realizado em Outubro de 1991. (p 264) Lisboa: ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian. 83 isolamento conveniente das paredes a manter, pois fomos conduzidos ao aparecimento, embora em pequena escala, dos habituais problemas de ―salitre‖». 100 As opções do projeto de arquitetura em função do projeto cultural José Peixoto refere o seguinte: «Coube ao teatro um lugar de destaque neste projecto de acção cultural, com reflexos imediatos na organização do complexo arquitectónico que constitui a Malaposta. (…) É sabido que o teatro pela sua comunicação directa, pela capacidade de reflexão social da cena, por se dirigir assembleias e não ser um exercício isolado, se situa em lugar primeiro entre os agentes transformadores culturais da sociedade».101 Em relação à adaptação de salas destinadas aos espetáculos de teatro José Peixoto justificava deste modo as opções efetuadas: «Optamos por ter uma sala com palco à italiana por corresponder ainda à forma de relação cena-sala mais divulgada e mais solicitada. Mas tornou-se necessário, por oposição, criar um espaço não convencional que albergasse novas estéticas não compatíveis com o espaço anterior. Mas a estruturação do espaço permitindo um lugar privilegiado ao Teatro não ignorou as outras artes. Pelo contrário, a Malaposta organizou-se para possibilitar o convívio das diversas artes, porque é no convívio das diversas artes que a formação intelectual se torna complexa e profunda, se desenvolve a sensibilidade e a fruição estética se enriquece. (…) Impunha-se também a existência de um amplo espaço de recepção de público que fosse simultaneamente um lugar de convívio, (…) uma galeria para exposições de Artes Plásticas (…) um estúdio de cinema era fundamental tanto para avivar a memória do cinema como para estabelecer uma contra-corrente ao comércio cinematográfico actual (…) um estúdio de iniciação à dança (…) salas para formação, cursos, ensaios.»102 100 Idem, p. 272 Idem, p. 261 102 Idem, pp. 261-262. 101 84 Anexo 9 A Envolvente do Centro Cultural da Malaposta Figura 11 - Envolvente do Centro Cultural da Malaposta Fonte: Google Earth 2013 Figura 12 – Vista aérea edifício do Centro Cultural da Malaposta Fonte: Google Earth 2013 85 Anexo 10 Imagens do Centro Cultural da Malaposta Figura 13 - Centro Cultural da Malaposta, 1989 Fonte: Arqueologia e Recuperação dos Espaços Teatrais: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992 Figura 14 - Centro Cultural da Malaposta Fonte: Arquivo do Centro Cultural da Malaposta (Fotografia de Margarida Nunes) 86 Anexo 11 Imagens dos Espaços do Centro Cultural Malaposta Figura 15 - Foyer Figura 16 Auditório Figura 17 - Café-teatro Figura 18 - Sala de Cinema Figura 19 - Sala Experimental de Teatro Figura 20 - Videoteca Fonte:Centro Cultural Malaposta in http://www.malaposta.pt/ (Fotografias de Margarida Nunes) 87 Anexo 12 Modelos de Administração do Centro Cultural da Malaposta Quadro 11 - Modelos de Administração do Centro Cultural da Malaposta ENTIDADE AMASCULTURA Associação de Municípios para a Área Sociocultural ODIVELCULTUR Gestão Produção e Divulgação Cultural, E.M. TIPO DE ORGANIZAÇÃO Associação Intermunicipal Empresa Municipal MUNICIPIO/S Amadora, Loures, Sobral de Monte Agraço, Vila Franca de Xira, Odivelas (a) Odivelas DATAS OBJETO 2002 /2006 De 04/09/2002 a 30/09/2006 EQUIPAMENTOS ENQUADRAMENTO LEGAL Centro Cultural da Malaposta Criada ao abrigo do Decreto-Lei nº 266/81 de 15/09/1981 Centro Cultural Malaposta e outros equipamentos culturais. Criada ao abrigo da Lei nº 58/98 de 18/08/1998. Assembleia Intermunicipal 1988/2002 De 06/01/1988 a 07/03/2002 ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO Promoção de estudos; gestão de projetos e planos comuns nos domínios da cultura. Gestão dos Equipamentos Culturais do Município Conselho de Administração Intermunicipal AdministradorDelegado Assembleia Municipal Câmara Municipal Conselho de Administração Criada ao abrigo da Lei nº 53-F/2006 de Assembleia 29/1272006 MUNICIPÁLIA Promoção e gestão de Centro Cultural Municipal Rege-se pela Lei Gestão de equipamentos coletivos da Malaposta e Câmara Municipal n.º 50/2012 de Equipamentos e Empresa e prestação de serviços outros Odivelas 01/10/2007 31/08/2012 Património do Municipal na área da educação, equipamentos Conselho de Regime Jurídico da Município de ação social, cultura, culturais e Administração Atividade Odivelas, E.M. saúde e desporto. desportivos Fiscal-Único Empresarial Local (com a adequação dos Estatutos) a) O Município de Odivelas deliberou aderir à referida Associação, na 25.ª Reunião Ordinária da Comissão Instaladora do Município de Odivelas, realizada em 12 de Outubro de 1999, deliberação que foi ratificada por despacho do Secretário de Estado da Administração Local, por delegação do Ministro-Adjunto da Presidência do Conselho de Ministros, de 11 de Janeiro de 2000. Associação de Municípios para a Área Socio-cultural – AMASCULTURA, Alteração de Estatutos D.R. III Série, N.º 278. 02/12/2002. 88 Anexo 13 Lista de Entidades Parceiras Junta de Freguesia de Caneças Junta de Freguesia de Famões Junta de Freguesia de Odivelas Junta de Freguesia de Olival Basto Junta de Freguesia de Pontinha Junta de Freguesia de Póvoa Sto. Adrião Junta de Freguesia de Ramada. Agrupamento de Escolas Avelar Brotero AGUIPA – Associação Guineense e Povos Amigos APDM – Associação Portuguesa para a Dinamização do Mergulho ARACODI – Associação dos Residentes Angolanos do Concelho de Odivelas Associação Cantinho do Idoso da Pontinha Associação de Empresários da CPLP Associação de Estudantes da Escola de Superior de Enfermagem de Lisboa Associação de Estudantes da Escola superior de Enfermagem de Artur Navarra Associação de Ginásio Ópera Associação dos Amigos de Caneças Associação dos Antigos Alunos da Escola Secundária de Odivelas Associação Guineense para a Paz e Democracia Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Caneças Associação Positivo – Grupos de Apoio e Auto-Ajuda Associação Sindical dos Funcionários da ASAE BCM Bricolage S.A. (Leroy Merlin - Loja da Amadora) Câmara Municipal da Ribeira Grande Casa de Pessoal da RTP CEDEMA - Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Mentais Adultos Centro Comunitário Paroquial da Ramada Centro Comunitário Paroquial de Famões Centro Cultural e Recreativo do Bairro do Girassol Centro de Dia da Sagrada Família da Pontinha 89 Centro de Dia para a Terceira Idade de Olival Basto Centro de Formação Profissional para o Sector Alimentar (CFPSA) Centro de Karaté do Shotokan de Odivelas Centro Pró educação e Formação de Odivelas Clínica Médica Júlio Barros Clube BBVA Clube Millennium BCP COOL - Comissão Organizadora dos 2ºs Jogos da Lusofonia CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CGTP - Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional CRPIPSA – Comissão de Reformados Pensionistas e Idosos da Póvoa de Santo Adrião CURPIC – Comissão Unitária de Reformados Pensionistas e Idosos de Caneças CURPIO – Centro Unitário de Reformados e Pensionistas e Idosos de Odivelas Delegação de Loures da Ordem dos Advogados Escola Secundária Pedro Alexandrino Escola Secundária da Ramada Escola Secundária de Caneças Escola Secundária de Odivelas Escola Profissional e Agrícola D. Dinis - Paiã Escola Superior de Teatro e Cinema/ IPL Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa FAPODIVEL - Federação das Associações Pais e Encarregados de Educação do Concelho de Odivelas Farpas – Associação Cultural Federação Portuguesa de Desporto Para Deficientes FNAC Portugal FUNNY RULES Unipessoal, Lda. Ginásio Clube de Odivelas Governo da Região Autónoma do Príncipe Grupo Arnaldo Dias Grupo Desportivo do Metropolitano de Lisboa Grupo Desportivo e Cultural de Famões Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco BPI Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores da Imprensa Nacional Casa da Moeda 90 Grupo Desportivo Santtander Totta Grupo Recreativo e Cultural de Famões ISCE – Instituto Superior de Ciências Educativas Lar de Odivelas Missão do Brasil Junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa Odivelas Futebol Clube OTLIS – Operadora Transportes de Lisboa Rotary Clube de Odivelas Serviços Sociais da Caixa Geral de Depósitos Sindicato dos Professores da Grande Lisboa Sindicato dos Trabalhadores da Grande Lisboa Sindicato Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores Sociedade Musical e Desportiva de Caneças Sociedade Musical Odivelense SOLAMI – Associação de Solidariedade e Amizade Casal de Cambra West Icon Lda. Fonte: Centro Cultural Malaposta 91 Anexo 14 Edital de Classificação do Centro Cultural Malaposta como Imóvel de Interesse Municipal 92 Anexo 15 Análise de Programação Cultural 2007- 2012 1. Análise da Programação Cultural de 2007 Quadro 12 – N.º de Iniciativas e de Sessões por Tipologia 2007 Tipologia N.º de Iniciativas Animação 4 Cinema 25 Conferências /Tertúlias 7 Dança 12 Exposições 16 Música 40 Poesia 3 Teatro 58 Oficinas/Workshops 3 Totais 168 Autora: Filomena Viegas, 2014 N.º Sessões 8 47 7 20 106 50 3 182 47 470 Gráfico 2 – N.º de Iniciativas por Tipologia 2007 Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 3 - N.º de Sessões por Tipologia 2007 Autora: Filomena Viegas,2014 Nota: Neste ano não foi possível obter dados de público por sessão. O total de público de 2007 foi 42.608. 93 2. Análise da Programação Cultural de 2008 Quadro 13 – N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2008 Tipologia N.º de Sessões Animação 25 Cinema 78 Conferências/ Tertúlias 13 Dança 20 Exposições 284 Música 42 Poesia 10 Teatro 357 Oficinas/Workshops 70 Totais 899 Autora: Filomena Viegas, 2014 N.º de Público 5125 3192 513 3529 5429 3491 320 28227 699 50525 Gráfico 4 - N.º de Sessões por Tipologia 2008 Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 5 - N.º de Público por Tipologia 2008 Autora: Filomena Viegas, 2014 94 3. Análise de Programação Cultural de 2009 Quadro 14 – N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2009 Tipologia Animação Cinema Conferências/ Tertúlias Dança Exposições Literatura Música Poesia Teatro Oficinas/Workshops Stand-up Comedy Totais Autora: Filomena Viegas, 2014 N.º Sessões 47 87 12 37 313 3 46 3 397 24 4 973 N.º de Público 13512 4625 1132 5523 5765 294 2902 355 30190 909 199 65406 Gráfico 6 - N.º de Sessões por Tipologia 2009 Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 7 - N.º de Público por Tipologia 2009 Autora: Filomena Viegas, 2014 95 4. Análise de Programação Cultural de 2010 Quadro15 – N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2010 Tipologia Animação Cinema Conferências/Tertúlias Dança Exposições Literatura Música Poesia Teatro Oficinas/Workshops Stand-up Comedy Totais Autora: Filomena Viegas N.º Sessões 4 83 6 43 306 6 47 7 409 15 10 936 N.º Público 1677 4092 552 3350 7351 354 2981 327 31373 289 387 52733 Gráfico 8 - N.º de Sessões por Tipologia 2010 Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 9 - N.º de Público por Tipologia 2010 Autora: Filomena Viegas, 2014 96 5. Análise de Programação Cultural de 2011 5.1 Análise da Programação Cultural Global de 2011 Quadro 16 – N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2011 Tipologia N.º Sessões Animação 13 Cinema 127 Conferências /Tertúlias 6 Dança 34 Exposições 290 Literatura 33 Música 59 Poesia 5 Teatro 425 Oficinas/Workshops 16 Stand-up Comedy 12 Total 1020 Autora: Filomena Viegas, 2014 N.º Público 3131 6072 855 2410 7628 604 2639 271 28663 369 360 53002 Gráfico 10 – N.º de Sessões por Tipologia 2011 Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 11 - N.º de Público por Tipologia 2011 Autora: Filomena Viegas, 2014 97 5. 2 Análise da Programação do Projeto Educativo Infantil e Juvenil 2011 Quadro 17 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia do Projeto Educativo 2011 Tipologia Contos e Histórias N.º de Sessões N.º Público 2 40 Cinema Infantil 12 1132 Dança Infantil 3 254 Dia Mundial da Criança 1 1200 22 378 323 21335 363 24339 Oficinas/Workshops Teatro Infanto-Juvenil Totais Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 12 – N.º de Sessões por Tipologia do Projeto Educativo 2011 Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 13 - Nº de Público por Tipologia do Projeto Educativo 2011 Autora: Filomena Viegas, 2014 98 6. Análise de Programação Cultural de 2012 Quadro 18 - N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia 2012 Tipologia Animação Cinema Conferências/ Tertúlias Dança Exposições Literatura Música Poesia Teatro Oficinas/Workshops Stand-up Comedy Totais Autora: Filomena Viegas, 2014 N.º Sessões N.º Público 3 127 3 30 282 4 60 6 522 21 10 1068 1524 6143 301 1734 8314 170 2430 340 31956 174 213 53299 Gráfico 14 - N.º de Sessões por Tipologia 2012 Autora: Filomena Viegas Gráfico 15 - Nº de Público por Tipologia 2012 Autora: Filomena Viegas, 2014 99 7. Síntese da Análise de Programação Cultural de 2007-2012 Quadro 19 – N.º de Sessões e N.º de Público por Tipologia (2007-2012) Ano N.º Sessões N.º Público 2007 470 42608 2008 899 50525 2009 973 65406 2010 936 52733 2011 1120 53002 2012 1068 53299 Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 16 - N.º de Sessões por Ano (2007-2012) Autora: Filomena Viegas, 2014 Gráfico 17 - Nº de Público por Ano (2007-2012) Autora: Filomena Viegas, 2014 100 Anexo 16 Entrevista ao Diretor Artístico do Centro Cultural da Malaposta, Manuel Coelho Data: 27/09/2013 Local: Centro Cultural da Malaposta Introdução Esta entrevista insere-se num trabalho de projeto de Mestrado de Práticas Culturais para Municípios, que tem como objeto de estudo o Centro Cultural da Malaposta e a sua programação, no período de 2007 a 2012. F.V. - Quando é que ocorreu o seu primeiro contacto com este centro cultural? M.C. - O primeiro contacto com este Centro Cultural ocorre exatamente nos primórdios do pensamento da criação do mesmo, através do José Martins, ideólogo deste projeto, meu companheiro de Jornada nos primeiros passos da nossa existência no mundo do Teatro, o qual através de várias conversas que tínhamos nessa altura me ia pondo ao corrente da intenção da criação deste maravilhoso espaço cultural, e dos contactos que ia tendo com o então presidente da Câmara Municipal de Loures, Severiano Falcão. A base do projeto consistia na criação de um Centro Cultural, que tivesse características diferentes dos outros centros, ou seja, que comportasse um elenco fixo, ao mesmo tempo que reunisse as condições financeiras para a realização de grandes montagens e que congregasse a dinâmica de poder levar os seus espetáculos em itinerância por todo o país. Analisados os investimentos necessários, rapidamente foi constatado pelo edil de então, que tão maravilhoso sonho era demasiado oneroso para um único município, surgindo a ideia de juntar outras edilidades, na participação do projeto dando como contrapartida a circulação dos espetáculos, intermunicípios, por forma a suportar uma ―empresa‖ de tão grande envergadura. Assim aconteceu e assim nasceu a Amascultura, designação da estrutura que suportou durante doze anos este Centro. Na altura, e embora achando muito interessante o projeto, recordo-me de ter pensado que o mesmo corria um vício de forma. Falo do facto de a formação da Associação Cultural que geriu o Centro Cultural da Malposta ser formada por Municípios oriundos de um único partido, o qual, previa eu então, corria o risco, político, de havendo qualquer alteração na correlação de forças, poder abanar a estrutura e os seus pilares, e isso aconteceu logo à primeira mudança política dos municípios. 101 F.V. - Portanto, havia um projeto cultural e simultaneamente havia um consenso político de um determinado quadrante que estava no executivo das câmaras e rompida essa coesão, o projeto abanou? M.C. - Sim, a estrutura começou a sofrer grandes abalos. F.V. - E quando é que começou a trabalhar no Centro Cultural da Malaposta? M.C. – O Convite para dirigir artisticamente a Malaposta foi-me feito por Mário Máximo então Presidente do Conselho de Administração da Odivelcultur entidade que geria o Centro Cultural da Malaposta, e surge em finais de 2005. F.V. - Quais são as funções de um diretor artístico num centro que tem a tutela de um município e com atividades tão diversificadas. O que faz um diretor artístico de um centro cultural? M.C. – São múltiplas as funções, sendo a primordial, a de criar um projeto cultural que vá ao encontro das necessidades do concelho onde se está inserido. Lançadas as bases de tal projeto será necessário iniciar a construção desse magistral arranha-céus que nunca arranhará o céu, fazendo o acompanhamento constante da equipa, para que possamos trabalhar num grupo sólido por forma a chegar às populações atingindo as metas delineadas. Emparceirando com todo o Grupo e criando um a equipa coesa, conhecedora e crente no projeto, partimos na aventura de criar, comunicar, divulgar e lançar sementes que façam nascer núcleos comunitários, como grupos de teatro amador, grupos seniores, a par de parcerias com escolas, com associações e centros de dia, por forma a que o projeto cultural germine e dê frutos. Núcleos que complementem, participem e dêem razão à existência do projeto. Coordenando todas frentes, nas estratégias definidas em cada ano, aferindo a evolução do projeto, por forma a evitar a acomodação e estagnação, creio que chegamos, meta a meta, aos objetivos programáticos pensados para cada etapa. Pensar momento a momento e estando desperto para todo o panorama cultural que nos envolve, vendo e visionando centenas espetáculos e contactando vários projetos analisando e dando respostas a todas as propostas que nos vão chegando, creio criarmos as condições para em verdade fazermos o trabalho sério que ambicionamos atingindo as estratégias desejadas. F.V. - Em relação ao projeto cultural inicial, que é o projeto fundador de que falámos há pouco, criado por volta de 1989, esse projeto inscreveu-se num movimento que tinha que ver com a descentralização cultural, a descentralização teatral e, neste caso, com a 102 zona periférica da Grande Lisboa. Acha que essa perspetiva continua a fazer sentido hoje, ou que foi uma época e que hoje não faz tanto sentido? M.C. – Por certo não fará sentido nos mesmos moldes, dado terem existido alterações substanciais e estruturais do tecido cultural, bem como do tecido geográfico as quais alteraram, por vezes em sentido positivo outras em sentido negativo, os padrões de produção e contratação, de salientar que hoje, não existe o apoio financeiro então existente e dificilmente, nos tempos mais próximos existirá, ao mesmo tempo que nos fomos aproximando, quer por via da rede viária quer por via do Metropolitano do centro de Lisboa. De realçar que neste momento nos encontramos a escassos 15 minutos do centro da capital. F.V. - Também não havia a oferta cultural que existe hoje... M.C. – Não sei se não havia a oferta que hoje existe, por certo não haveria tanta diversidade de projetos. No entanto, a palavra de ordem de então era dinamizar polos culturais descentralizados, os quais se foram desenvolvendo e criando raízes muito importantes nos locais onde foram criados. F.V. - Fora dos grandes centros urbanos? M.C. - Fora dos grandes centros, sim. Não esqueçamos que um espaço como o do Centro Cultural da Malaposta, estando ao lado de Lisboa, dados os difíceis acessos que existiam, acabava por se encontrar distante. Odivelas estava órfã de projetos culturais, e quando digo Odivelas digo Loures, Amadora, Vila Franca e muitas outras localidades. A oferta era de facto diminuta, como ainda o é hoje. Confidencio-lhe que acabei de fazer uma digressão, com o Teatro Nacional de D. Maria II, e infelizmente, o que constatei foi uma cada vez maior desertificação cultural. Existem ainda hoje imensas cidades sem programação cultural nos espaços que dispõem. Se há 30 anos não havia espaços, ou espaços condignos, hoje existem, mas muitos estão ao abandono ou apenas exibem, de tempos a tempos, um filme. Embora e mesmo tendo em conta a melhoria das acessibilidades, nada justifica que a oferta cultural continue centralizada nas grandes urbes. F.V. - Há portanto uma maior mobilidade? M.C. – Sim existe maior mobilidade, mas temos de dar cada vez mais atenção a projetos de proximidade. O que, do meu ponto de vista faz sentido, e esse é, o objetivo programático que julgo importante, é o da criação de espaços ou centros culturais de proximidade, onde a comunidade detenha o lugar primeiro das prioridades culturais de cada projeto. Espaços culturais, de excelência e de qualidade, por forma a que as populações se revejam neles 103 tornando-os seus. Espaços que se diferenciem e que apresentem propostas criativas e inovadoras junto das escolas, dos seniores, dos jovens, Espaços que abram horizontes criativos no teatro, na dança, na poesia na pintura no cinema, espaços de liberdade e de arte. F.V. - É portanto numa relação com o território e com a população local? M.C. - É onde, penso que teremos de ser diferentes dos espaços culturais convencionais. É esse o trabalho que perseguimos e que se torna para a equipa do Centro Cultural da Malposta a obsessão diária. O lançamento de bases de conhecimento cultural, por forma a apetrechar a comunidade de mais conhecimento, incutindo-lhes a necessidade e hábito do usufruto e consumo cultural. E essa é quanto a nós a função do nosso centro cultural, ou seja, uma função que acima de tudo trabalhe na senda da educação pela arte. F.V. - Nas atividades que promove o centro cultural, fazem sentido os projetos de itinerância, ou seja, espetáculos que são produzidos ou co-produzidos ou realizados aqui, poderem circular e fazer permutas com outros centros? M.C. – Dado o deserto existente a itinerância faz sempre todo o sentido, e esse foi, e é o nosso intento. No entanto a realidade financeira não nos tem permitido levar a cabo tal desidrato como desejaríamos. Contudo, vamos fazendo sempre os nossos esforços e assim temos conseguido, com o nosso Grupo de Teatro Lusófono e o Grupo Sénior, ir a vários espaços. Estamos neste momento a candidatar-nos a um projeto em Manchester, para um trabalho de aprendizagem e de troca de experiências. Mas aqui e tal como referi, anteriormente, a importância do nosso trabalho e do projeto continua a passar mais uma vez pela comunidade. Continuamos a falar do ponto de vista da comunidade, desta feita da juventude, e do ponto de vista de criação de jovens aptos para o consumo de cultura e aptos também para um crescimento do ponto de vista individual aumentando-lhes a base de conhecimentos, que lhes poderão, cremos, vir a ser úteis na sua vida futura. E essa continua a ser a nossa aposta, seja através dos espetáculos por nós produzidos, seja por itinerâncias, seja na busca de conhecimentos internos ou no exterior, o objetivo é proporcionar aos jovens o maior leque de experiências e conhecimentos. F.V. - E o trabalho em rede com outros centros? Posteriormente a este movimento de descentralização cultural, alguns centros criaram redes de trabalho e de programação em comum. Isso faz sentido? M.C. – Tudo o que se desenhe na senda da cooperação faz sentido, mas os tempos e cortes para a cultura tem levado a que cada vez mais fiquemos isolados, e construamos ilhas de 104 sobrevivência. Tenho para mim que as poucas redes existentes são apenas fruto para quem, encontrando-se em melhores condições do ponto de vista financeiro, o pode consumir. Houve uma fase em que isso fez muito sentido, fase essa, em que as condições estavam mais equilibradas para as estruturas culturais, sendo obviamente mais produtivo e por vezes rentável para os centros e para os artistas, a circulação dos projetos. F.V. - Em termos económicos portanto, tinha vantagens? M.C. - Com os cortes aos apoios financeiros à cultura, que foram existindo ao longo deste tempo e que se avolumaram com esta crise, o que é que aconteceu? Aconteceu que, esses cortes vieram fazer com que os Centros Culturais e os Teatros fossem perdendo capacidade de contratualizar espetáculos. Como também muitos dos projetos que estavam financiados pela própria Secretaria de Estado, agora, e de tempos a tempos ministério, foram perdendo força e vigor e levaram a que muitos deles estejam por sua conta e risco. E estando por sua conta e risco, o que é que acaba por acontecer? Por dificuldade dos centros, por dificuldade das companhias, entrou-se num campo em que estamos quase que a fazer parcerias com os próprios artistas, no sentido de criarmos e produzirmos os próprios espetáculos. Eles com o ―know-how” artístico e nós com o “know-how” técnico juntamos sinergias, fazemos os projetos e eles partem para apresentação desses projetos em busca do público. Em certa medida, a minha ideia e aquilo que eu defendo neste momento, porque as coisas não são fixas, são mutáveis, perante a conjuntura e perante o que se está a passar em cultura, defendo que um centro cultural, como o Malaposta deve ser uma plataforma de projetos emergentes. Ajudá-los a dar-lhes forma e a fazer com que eles venham à tona, para depois navegarem. F.V. - Dentro de algumas dificuldades de funcionamento, e tendo em conta a situação atual, a conjuntura atual, há um outro aspeto, que é o facto de o Centro Cultural ser um equipamento tutelado por uma autarquia e também estar sujeito a ciclos de quatro anos, quer os próprios órgãos autárquicos, quer o conselho de administração da empresa Municipália, que gere este centro. Este modelo que assenta num modelo democrático, de eleições e de mudança dos órgãos de gestão municipal, que implicação é que tem no funcionamento no dia-a-dia e na programação de um centro, que tem uma vocação de ser um centro cultural? M.C.- Eu direi que a alternância tem lados positivos e negativos. Se me perguntar qual o tempo suficiente para implementar e ver resultados de um projeto cultural num Centro como o da Malaposta, dir-lhe-ei que no mínimo o projeto terá de ter uma aplicação não inferior a doze anos. E doze anos porquê, quando lançamos as bases programáticas para um espaço 105 cultural temos de em primeira instância levar a cabo a identificação do espaço e sua envolvência, de notar que cada espaço comporta uma história e uma complexidade imensa. Será portanto necessário estuda-lo e conhece-lo em toda a sua dimensão, depois adaptar a máquina à ideia e ao projeto que se tem, e os primeiros frutos, creia, só começam a ser claros e objetivos ao fim de oito anos. A experiência no Centro Cultural da Malaposta tem-me ensinado que só neste momento, passados oito anos de muito trabalho começam a ser visíveis os primeiros sinais da existência de um público que foi ficando fiel ao projeto e de jovens que há oito anos viam os nossos espetáculos infantis começam a ser o nosso público hoje em projetos juvenis e outros. Começamos, agora a sentir os primeiros resultados do projeto, malaposta - uma casa com arte. Este é o lado positivo. Quanto ao lado negativo o mesmo prende-se com projetos que muitas vezes se instalam e se tornam rotineiros não acompanhando as novas tendências e não procurando constantemente novos desafios, inquinando todo o processo criativo. F.V. - Podem cristalizar... M.C. - Exatamente. F.V. - Um outro aspeto que é extremamente limitativo atualmente, em termos da cultura do país, mas também a nível internacional, é a questão da crise económica que obriga a uma forte contenção de despesa e leva a que quem administra tenha que ter bastante prudência no investimento. A questão que se coloca é, apesar desta crise económica e apesar destas dificuldades que são conjunturais, como é que o Centro Cultural Malaposta consegue estabelecer a sua programação, de modo a dar continuidade às atividades que já vinha desenvolvendo, e a cumprir esta missão de serviço público, e pelo que se sabe com um aumento de público. Qual é o segredo? M.C. - Não há segredos. O primeiro ponto, e que é a base de todo o trabalho do Centro Cultural da Malaposta, é o de um respeito total e férreo em relação aos cêntimos do dinheiro público. É muito natural que agora, ao sairmos da porta, encontre alguém a discutir, por haver um parafuso que ficou perdido no chão. Porque cada parafuso tem um valor. Como é muito natural ver a equipa a aproveitar até ao centímetro, toda a madeira que foi utilizada no projeto anterior. Esta é a base fundamental para a nossa sustentabilidade. Esta é uma das nossas regras. Outra das regras é o constante apelo à imaginação e criatividade de toda a equipa, no sentido de não ir para o lugar-comum e fácil, quando estamos a elaborar um cenário, e procurar que a megalomania não tome conta de nós, mas sim a simbologia. 106 F.V. - E pode-se simplificar os suportes materiais? M.C. – Claro que sim, pode e deve. A equipa do Centro Cultural da Malaposta é formada por pessoas que são notáveis e criativas as quais são fundamentais, exatamente por terem um conhecimento total dos materiais a utilizar. É muito natural que um homem como o Manuel Moreira que tem 70 anos e é figurinista desta casa, um homem notável, quando vai comprar tecidos, consiga descobrir um tecido a baixo custo o qual produz melhor resultado que um, tecido riquíssimo. O saber que perante a luz de um projetor, uma peça que custa dois cêntimos, é bem melhor iluminada do que a outra que custa dois euros. Esse saber e visão fazem dele um homem de notável e fundamental valia para o projeto. Assim acontece com toda a equipa. Há uma gestão participada de todos, onde se tem sempre presente a necessidade de adquirir materiais de baixo custo que produzam melhores efeitos ou resultados que os de custo elevado. Esta é a realidade prática desta, nossa, vossa, casa. A outra realidade passa pelo trabalho direto que fazemos com as equipas que acolhemos. Procuramos sempre trazer projetos de qualidade, com pessoas de qualidade, capacitadas para os executar e trabalhamos para que o nosso público se interesse por esses projetos, de maneira a que a bilheteira possa vir a favorecer as partes envolvidas nesta dádiva cultural. Dádiva, afirmo, dado a maioria dos projetos que produzimos e acolhemos esperarem, da bilheteira, retirar os dividendos do que será o seu justo cachet. Em suma os custos desta casa são os custos de manutenção do próprio edifício e salariais, porque a programação e a divulgação encontram-se pagas pela receita de bilheteira, ou seja pelo próprio projeto. Esta é a gestão cuidada a que todos os dias nos obrigamos, nunca sem perder um ponto, que deve estar sempre presente, o de manter o nosso olhar sobre a realidade onde estamos inseridos e do fator social a que estamos obrigados e que temos que respeitar. F.V. - A função de serviço público, não é? M.C. - A função de serviço público, como tem uma biblioteca, uma escola, ou um centro de saúde. Estou constantemente a afirmar o cuidado a ter e o respeito que devemos manter sempre presentes pelos dinheiros públicos, porque todos pagamos impostos, portanto temos de ter respeito pelo que pagamos, e são esses valores que transmitimos à equipa. O que for desperdiçado, nosso dinheiro é, meu e vosso. E se este é o respeito, depositado por esta equipa e posto ao serviço de uma boa utilização e gestão dos dinheiros públicos colocados ao nosso cuidado, cabe, por sua vez, ao Estado pensar e perceber, algo que tem andado muito arredado do pensamento deste governo, que cada euro que investir, em termos de 107 equipamentos culturais ou educativos, é um euro a menos que investe em saúde, ou que investe em prisões. F.V. - Portanto não é uma despesa, mas é um investimento no desenvolvimento pessoal e social? Tem um retorno? M.C.- É uma receita. Cada jovem que nós acolhemos, e que está connosco, como aconteceu na parceria que assinámos com a Escola Avelar Brotero, para a reinserção de jovens com dificuldades no ensino, está a crescer de forma saudável. Enquanto estão aqui estão bem. E isso tem um custo, porque há pessoas que os estão a acompanhar. Mas o custo que tem estarem aqui, é um custo que não traz despesa, mas sim uma enorme valia e que se traduzirá em fatores de enorme produtividade e crescimento. F.V. - É um processo de aprendizagem e de inserção social. Estávamos a falar na questão da equipa como um dos suportes e de colaboração interna. Acha que tem a equipa suficiente, para o trabalho que faz? M.C. - Para o trabalho que estamos a fazer, por certo, necessitaríamos de mais dois ou três técnicos a avaliar pela carga, enorme, da equipa. A equipa queixa-se amiúde, dado muitas das vezes as coisas acontecerem de tal maneira em simultâneo, e de uma forma tão rápida, que a equipa dispõe de pouco tempo para acorrer na perfeição a todas as situações. Necessitaria sim, de mais dois ou três técnicos, não querendo contudo dizer que os projetos possam sair penalizados, mas muitas das vezes existem picos em que a equipa acaba por sair demasiado cansada. F.V. - Mas também depende do modelo que se tem. Há quem defenda que o centro cultural deve ser mais de acolhimento, receção e ter um staff mínimo. Há projetos que têm uma companhia de teatro residente, produção própria e uma linha estética, que era no fundo também o projeto fundador do centro. E há modelos mistos, que têm os técnicos de suporte que consideram necessários, e que produzem e também acolhem. Qual é o modelo do Centro Cultural Malaposta? M.C. - O Centro Cultural da Malaposta a par da sua produção própria acolhe, ao mesmo tempo, imensos projetos. Do Teatro ao Jazz, ao Cinema, às Exposições, à Dança. Trabalhamos muitas das vezes em três, quatro e cinco frentes em simultâneo, dias-a-fio. O que faz com que uma boa parte da equipa trabalhe em três turnos de manhã, tarde e noite. Somos um Centro Cultural simultaneamente de produção e acolhimento, o qual necessita de uma equipa forte, para dar resposta à diversidade de projetos culturais que produz e acolhe. Não há qualquer possibilidade de realizar comparações com, por exemplo, uma companhia 108 teatral de reportório. Para dar um pequeno exemplo, a Malaposta numa semana recebe seis a dez projetos. Isso faz com que a equipa técnica acompanhe em permanência cada projeto, participando na montagem e operação dos mesmos. Ou seja, no Centro Cultural da Malaposta estamos laboriosamente em constante montagem e desmontagem de projetos representado imensas horas de trabalho. F.V. - Mas também implica uma polivalência dos espaços? M.C. - Claro, polivalência, diversidade e versatilidade. F.V. - Estou a ver, por exemplo, a sala dos espelhos que pode servir para dança ou teatro… M.C. - Sim, dança, teatro, exposições. Já serviu imensos e diversos projetos. Assim acontece com o Café-Teatro, com a Sala de Cinema, com o Auditório, o Foyer e a Sala Estúdio. A ideia é manter os espaços totalmente funcionais e polivalentes. F.V. - O centro tem uma programação muito diversificada, com um leque muito variado de música, teatro, dança, poesia, etc., mas o teatro continua a ser a oferta dominante ou não? M.C. – Não me parece, se olharmos bem para a programação, aquilo que verificamos é que a par de diversificada, a programação é muito equilibrada relativamente a cada área artística. F.V. -Portanto, a conceção inicial do espaço físico, apesar de ter levado algumas obras quer de melhoria, quer de ajustamento ao funcionamento, não condiciona que possa haver esta diversidade, esta oferta multifacetada? M.C. – Não, de todo. A ideia da adaptação e de reabilitação dos espaços existentes na Malaposta, foi operada exatamente para dar maior capacidade e facilidade de montagem aos vários projetos que programamos, como exemplo poderei citar, a sala de espelhos. Tratava-se de uma sala de ensaios e agora está apetrechada com equipamento próprio, estando já licenciada, com capacidade para 50 pessoas. O próprio Café-Teatro era uma Sala de Cenografia, também já está licenciado e com capacidade para 60 pessoas, dispondo também de equipamento próprio. De salientar que todos os espaços estão equipados para poderem receber variadíssimos espetáculos. Todos eles são espaços polivalentes, de maneira a oferecer ao criador uma base livre para a criação. F.V. - Voltando às funções de diretor artístico, uma das funções do diretor artístico é precisamente esta da programação. Em que medida é que toda a sua experiência como 109 ator e encenador, profissional ligado ao cinema e à televisão, influência, quer a direção quer a programação? M.C. - Felizmente ou infelizmente influencia. Neste momento, e dadas as dificuldades económicas, influencia e muito. Costumo dizer muitas vezes que, ―sinto-me a fazer uma programação obtida à custa da palmadinha-nas-costas‖. Quero com isto dizer, que pelo facto de ter trabalhado ao longo de anos com imensos colegas altamente qualificados, e de os conhecer, e de ter com eles criado amizades, trouxe benefícios por forma a termos mantido em alta a fasquia de qualidade desta casa. Tem sido em muito baseado nessa amizade e nessa confiança profissional, que tenho e nutro por muitos colegas e amigos, que conseguimos criar e acolher, aqui projetos cujo custo tem sido possível ao orçamento destra casa. A ―palmadinha nas costas‖ e o carinho de todos os artistas que tem estado connosco tem-se revestido num enorme apoio aos desígnios programáticos do Centro Cultural da Malaposta F.V. - Há uma troca de serviços, uma rede solidária? Não direi troca de serviços nem rede solidária, antes a resposta da classe artística aos condicionalismos e estertor imposto por políticas insensíveis ao crescimento humano de forma sustentada e sensível. Óbvio que as parcerias que vamos fazendo são importantes, mas as mesmas colocam a classe artística muitas das vezes numa situação extremamente difícil do ponto de vista da sustentabilidade dos mesmos. Fator importante tem sido e esperemos que se amplie, a colaboração de empresas com quem articulamos serviços por forma a minimizar custos correntes como sejam, a título de exemplo, os da divulgação. F.V. - A Malaposta foi criando protocolos e parcerias com uma série de entidades? M.C. - Sim, parcerias e muita amizade que tem gerado cumplicidades tão importantes ao desenvolvimento criativo dos projetos. F.V. - E essa também é uma outra rede que ajuda ao funcionamento do Centro? M.C. – Claro que sim existindo também um factor importantíssimo que seria injusto se não o referisse, a relação excelente e frutuosa com os vários executivos da Câmara Municipal de Odivelas ao longo destes oito anos de direção artística. Sobretudo a espantosa relação com a Senhora Presidente Susana Amador, que tem uma visão das prioridades para o Concelho, na qual coloca a Cultura como factor primário do desenvolvimento. Prioridade, fundamental para um projeto cultural não só concelhio, mas nacional. Há muito que penso, e não me encontro só, que todo e qualquer investimento em cultura é uma mais-valia, tratando-se de um investimento cujo retorno se dá inevitavelmente ao capacitar os seres de instrumentos 110 que os tornam mais justos, mais sensíveis, mais conhecedores. Todo o investimento em cultura é também ele, um investimento educativo. Todo o trabalho que estabelecemos com escolas e associações, trabalho que nos tem levado a receber aqui imensos jovens, tem-lhes proporcionando um campo vasto de experiências e conhecimentos que sei os ajudará no seu crescimento e na sua construção como homens e mulheres de amanhã. E é esse lugar primário da cultura, que penso ser factor primordial para o desenvolvimento sustentado de uma sociedade, que tenho a felicidade de partilhar com imenso regozijo com a Senhora Presidente. F.V. - Há outros equipamentos culturais (museus, bibliotecas) que têm o Serviço Educativo. O Centro Cultural Malaposta tem um projeto educativo. Há aqui uma diferença de perspetiva no nome ou nos conteúdos, nos objetivos? Como é que surgiu este projeto educativo? M.C. - A ideia de não o titular como serviço educativo, mas sim projeto educativo, nasce simplesmente de uma única razão, ou conceito se assim o desejar, o trabalho que desenvolvemos com as crianças e os jovens não é de todo um serviço, mas um caminho que pretendemos percorrer em cada ano, com cada grupo de crianças ou jovens com que trabalhamos e para quem trabalhamos. O trabalho desenvolvido é fruto de um labor diário, onde a planificação é objetivada e participada em equipa. O projeto Educativo do Centro Cultural da Malposta é hoje um dos pontos altos do desenvolvimento do Centro, o qual tem levado a que muitas das crianças que assistiram pela primeira vez a um espetáculo com três ou quatro anos continuem hoje a ser nossos espectadores, oito anos volvidos. Esse é sem dúvida o resultado prático do nosso trabalho e a nossa enorme felicidade. Trata-se como pode constatar de um trabalho de projeto. Todo o plano que foi lançado foi neste sentido e começa a obter os resultados esperados. F.V.- É um trabalho de formação? M.C. – Sim de formação contínua, por forma a manter a responsabilidade, de acompanhar constantemente todo o processo do projeto e de ir aferindo os resultados. Não me interessa, de todo, ter um espetáculo em cena, onde, com a Escola, que se desloca ao Centro Cultural da Malaposta para assistir a esse espetáculo, e após a realização do mesmo, não se tenha mantido uma relação cúmplice, que leve os professores ou educadores a visitar-nos de novo e a manter laços de contínuas visitas. O projeto da Malaposta perspetiva-se em relações de proximidade com os conselhos diretivos, professores e educadores, numa base de confiança que os conduza a sentir que têm na Malaposta um parceiro do ponto de vista educacional 111 como mais-valia para o seu trabalho letivo. Os espetáculos infantis por nós realizados são espetáculos pensados com objetivos muito concretos. Numa ação de respeito e responsabilidade auto exigimo-nos que os espetáculos, defendam valores imprescindíveis a um crescimento saudável das nossas crianças, sejam a defesa do planeta em que vivemos ou o respeito que devemos manter para com o nosso companheiro ou companheira. F.V. - Portanto, não é um produto de consumo para entrar e assistir? M.C.- A título de exemplo, cito-lhe a sinopse por nós elaborada e que foi a base do projeto que serviu ao espetáculo ―Bela Adormecida‖. A proposta da Malaposta centrou-se num grupo de saltimbancos que anda de terra em terra, homens e mulheres pobres, que ganham a sua vida contando histórias. Cinco, atores percorrem quilómetros, por vales e montes, contando a história. E por falta de dinheiro para contratar mais atores e dado que o número de personagens da Bela Adormecida é superior ao número de atores da sua companhia, vão procurando nos públicos para quem vão trabalhando, pessoas, que integrem o espetáculo. Será assim que, o príncipe que irá acordar a bela adormecida sairá de uma das crianças que estará a assistir ao espetáculo, a qual será chamada a fechar a peça acordando a Bela. É como pode constatar dentro de um tecido muito sensível que vamos tecendo o nosso projeto. Neste momento estamos prestes a estrear o ―Capitão Miau Miau‖ peça que nos fala de Sonhos e da necessidade de os ter e acreditar neles. E todo o projeto vai lançando as bases junto das crianças de que é muito importante sonhar, tal como é muito importante que acreditem nelas próprias, como importante é que acreditem e lutem pelos seus desejos. Gostaria de salientar que o tema Sonho retratado neste projeto, não aconteceu por acaso. Acontece no momento, em que achamos da maior importância falar nele, bem como na importância de não baixarmos os braços e lutarmos por alcançar os nossos objectivos, sobretudo numa altura em que as adversidades são imensas. F.V.- Portanto é alimentar o sonho? M.C. – A nossa missão não se resume a programar peça a peça, mas sim acompanharmos e trabalharmos temas que tragam mais-valias em cada momento ao desenvolvimento educativo das crianças. E assim acontece também com os projetos que acolhemos. Todos os projetos acolhidos são visionados, e conversados com as equipas que deles fazem parte, e programados ou não consoante a sua mais-valia e qualidade artística e pedagógica. São imensos os projetos qualificados que temos acolhido, como sejam os projetos da companhia ―Lua Cheia‖ ou os projetos juvenis dirigidos por Nuno Nunes, que a partir dos textos do Gil Vicente criou um espetáculo notável de enorme interação com os jovens. Saliento ainda 112 como da maior importância o projeto que mantemos todos os anos letivos em carteira, com os alunos das escolas, os quais tem a oportunidade de expressar as suas capacidades artísticas apresentando o seu projeto escolar entre nós no programa Escolas no Teatro. Saliento ainda a existência neste momento de três grupos de jovens espantosos que ocupam os seus tempos livres fazendo teatro connosco. Grupos que apresentam neste momento ―Os Maias‖, dentro em breve representarão o ―Felizmente há Luar‖, a par do Grupo de Teatro Lusófono da Malaposta que está neste momento a trabalhar um coletânea de textos para a infância. Na Malaposta circulam diariamente para participarem connosco nos projetos que criamos mais de 40 jovens. F.V. - Só ao nível dos jovens? Isso faz parte do Projeto Educativo? M.C. – Dentro do projeto educativo sim só ao nível dos jovens. F.V. - Uma das questões que eu tinha era para quem trabalha a Malaposta? E de facto é difícil sistematizar, quem são os públicos da Malaposta hoje? M.C. – Em primeiro lugar para a comunidade onde está inserido e depois para TODOS OS PÚBLICOS. F.V. - E a comunidade, qual é a comunidade? É a comunidade mais restrita? É a comunidade do território? M.C. - As palavras estão gastas, como diria o poeta. É tremendo, mas é verdade. As palavras estão a ficar mesmo, muito gastas. Deixaram de ter o valor e o significado. Hoje em dia toda a gente aplica palavras, por aplicar. Toda a gente diz amo, toda a gente diz amor, e nem sabem ao certo o seu significado... A comunidade de que falo passa pelos jovens do Concelho que connosco trabalha, os seniores que nesta casa encontram um ponto de encontro, de partilha e de conhecimentos, passando pelos nossos amigos da Associação Comunitária dos Doentes Mentais de Odivelas que aqui vem amiudamente ver Exposições, Teatro ou Cinema, até à comunidade que habita os Centros de Dia, dentro e fora do nosso Concelho, e que nesta casa encontra horas de lazer e partilha através das tardes de cinema. F.V.- Quando há pouco dizia, que os jovens habitam esta casa, há aqui uma comunidade? M.C. - Sim, mas eu quero utilizar a palavra comunidade na sua força e dinâmica. Quando eu estou em falar a comunidade, eu estou a falar, por exemplo, na criação do Grupo de Teatro Lusófono constituído por jovens oriundos de África e não só e que habitam no nosso Concelho. O Grupo de Teatro Lusófono é formado por jovens oriundos do Brasil, Angola, 113 Moçambique, S. Tomé, e Cabo Verde, que neste espaço convivem e constroem os projetos que lhes dão enorme felicidade e confiança. Quando eu estou em falar a comunidade, estou também a falar, no projeto do Teatro Sénior criado através da parceria com a Câmara Municipal de Odivelas. Quando eu estou a falar em comunidade, eu estou a falar, no trabalho que desenvolvemos diretamente com as escolas, com as associações comunitárias ou com os Centros de Dia. F.V. - Quais são os principais constrangimentos, que sente nas suas funções e no próprio centro? O que é mais limitativo? É o espaço físico que não cresce, que não é elástico para a atividade que faz? É o orçamento? M.C. - O orçamento é o que é, e tenho que conviver com ele, potenciando-o. Essa é a minha função. Quanto a constrangimentos, o único que eu encontro neste espaço, é só um, o de ter um Auditório com apenas 159 lugares. Esse é um constrangimento, real. F.V. - Mas as condições do palco e os meios técnicos que tem são suficientes? M.C. - Não. Se me perguntar se as condições do palco são as ideais, eu direi que não são. É um palco construído em 1989, com um sistema de guias de vara mal construídas, com varas puxadas à mão, contrabalançadas. Pergunta-me, tal situação configura um constrangimento? Sim configura. Há de fato vários constrangimentos do ponto de vista de equipamento técnico da caixa de palco, mas espero que chegue a hora em que possamos encontrar apoios para poder remodelar e reapetrechar a caixa e aumentar as nossas condições técnicas. No entanto têm sido heróicos os esforços feitos, e posso afirmar-lhe de que estamos a melhorar ano após ano. Quando cheguei à Malposta a bilheteira, pasme-se, não estava informatizada, o próprio Centro Cultural não estava informatizado. Era impensável, há oito anos, vender bilhetes on-line e esta casa agora está em todas as frentes. O equipamento técnico tem vindo a melhorar a olhos vistos e todos os anos se vai melhorando, ainda estamos distantes do ideal, mas para lá caminhamos. No entanto podemos afirmar que temos condições para em qualidade servir todos os projetos que acolhemos. Precisamos de mais projetores, mais microfones e colunas? Claro que precisamos, mas a necessidade de uma gestão muito cuidada obriga-nos a procurar momento a momento as prioridades. Podemos contudo afirmar que os constrangimentos existentes não nos impedem, como não tem impedido, de crescer como o temos feito ano após ano. Eu costumo sempre dizer que exijo à medida do crescimento. Cada vez que vamos crescendo, vou exigindo. E o Centro Cultural da Malaposta tem aumentado as suas condições técnicas na medida do seu crescimento. 114 F.V. – Mas estamos a passar dos constrangimentos para os projetos futuros para os desafios futuros… M.C. – A minha forma de estar na vida obriga-me a que olhe para os constrangimentos como potenciais geradores de projetos. Eu nasci na dificuldade. Em criança divertia-me imenso a equilibrar os arcos das bicicletas com uma gancheta, que alegria e prazer tinham então. Eu cresci num Grupo Teatro, em que fazíamos projetores com latas de compressas e mesas de luz em tábuas, onde com interruptores domésticos geríamos o acender e apagar dos projetores. Falo do Grupo de Campolide hoje Companhia de Teatro de Almada e que foi considerado, então o melhor grupo de teatro do país. F.V. - Há uma aprendizagem… M.C. - Eu nasci e cresci na dificuldade, como atrás referi. Para mim as dificuldades geram projetos, geram ideias para crescermos e para criarmos. F.V. - Qual era a melhor prenda para os 25 anos? M.C. - A melhor prenda dos 25 anos era a construção de um teatro neste Concelho. Construção ou ampliação deste maravilhoso Centro, por forma a termos um Auditório com capacidade para 350 pessoas. F.V. - E neste momento o público justifica esse aumento? Temos estado a falar da oferta, mas a procura justifica essa construção? Claro que justifica. O patamar atingido de 57.600 espetadores, o qual ano após ano tem aumentado, fala por si. De salientar, ainda, que com um Auditório com maior capacidade, se podem programar outros espectáculos, os quais se pagariam a si mesmos trazendo mais-valias ao projeto “malaposta -uma casa com arte” e ao Concelho. F.V. - E poderia fazer só uma sessão? M.C. – Sem dúvida, dou como exemplo, o concerto de Jorge Palma, o qual vinha apenas por um só dia, e acabou por fazer três dada a afluência de público. Embora tendo esgotado todos os concertos obrigou o cantor compositor a realizar três espetáculos quando podia realizar um com maior rentabilidade para ambas as partes. F.V. - Que sonhos ou que projetos é que gostaria de realizar neste equipamento como diretor artístico? 115 M.C. - Eu tenho, um sonho que tem vindo a ser adiado, dado tratar-se de grande projeto teatral, de enorme envergadura, o qual necessita de um grande elenco e de cuja autoria é do magistral Cervantes. Estou, no entanto, a trabalhar nesse sentido, pensando e arquitetando a forma de, dentro das nossa capacidades, e sem ferir a qualidade que o mesmo tem de ter, de erigir esse enorme ―edifício‖. Esse é um sonho sim, é um sonho que tenho desde que cheguei a esta Casa, e que presigo e sigo e acredito que saberei criar as condições para com dignidade levar ao palco da Malaposta o belo texto de Cervantes. 116 Anexo 17 Entrevista ao Presidente do Conselho de Administração da Municipália E.M., Rui Nascimento Data: 16/10/2013 Local: Gabinete do Conselho de Administração - Centro Cultural da Malaposta Introdução Esta entrevista insere-se no Trabalho de Projeto do Mestrado de Práticas Culturais para Municípios, que tem como objeto de estudo o Centro Cultural da Malaposta e a sua programação, entre o período de 2007 e 2012. F. V. - Gostaria de começar por lhe perguntar quando é que ocorreu o seu primeiro contacto com o Centro Cultural da Malaposta? R.N. - O meu primeiro contacto com o Centro Cultural da Malaposta ocorreu por volta de 93, 94, não por uma questão cultural, mas porque aqui ocorreu uma Assembleia Municipal da Câmara Municipal de Loures e eu, na altura, vim cá fazer uma intervenção relacionada com a zona mal tratada onde vivia. Depois, mais tarde, assisti a dois ou três espetáculos. No entanto, o contacto permanente com a Malaposta ocorreu com a minha nomeação como Vogal do Conselho de Administração da Odivelcultur em 2005, aquando da presidência do Dr. Mário Máximo. Fui vogal durante três anos e, pouco e depois, voltei em 2009, como Presidente do Conselho de Administração da empresa Municipália. F.V. - E costuma assistir às atividades do Centro Cultural da Malaposta? R.N. - A uma grande parte quando o tempo o permite, porque nem sempre tenho disponibilidade para ir a todas as atividades da Malaposta, que são múltiplas e variadas, uma vez que tenho a gestão de três equipamentos, geridos segundo quatro áreas de negócio. F.V. - Da oferta cultural do Centro Cultural da Malapsta, que género de atividades é que aprecia mais? R.N. – Eu, como sou um amante da cultura, aprecio praticamente todas as atividades. Provavelmente, aquelas que tenho mais dificuldade em acompanhar são as que requerem uma apreciação visual — dança, expressões plásticas, etc. —, sendo as que consigo fruir, livremente, as que comunicam pelo som, como a música ou a maior parte das peças de teatro. A razão de ser desta minha relação com as artes é a da deficiência visual que tenho. No entanto, tendo alguém ao meu lado que me vá descrevendo tudo o que se está a passar, consigo imaginar e acompanho as peças, as exposições. 117 F.V. - Em relação ao edifício e às acessibilidades para pessoas com deficiência, qual é a sua opinião, nomeadamente no que respeita aos acessos externos e internos? R.N. – Creio que o Centro Cultural da Malaposta é o único Centro desta natureza, em Portugal, com acessibilidade para todo o tipo de deficiências, ou um dos poucos acessíveis a todas as pessoas com deficiência. Primeiro, em termos de metro estamos muito perto; não há barreiras arquitetónicas entre o metro e a Malaposta, tanto para cadeira de rodas, como para outro tipo de deficiências; há pontos de referência, que depois de conhecidos pelas pessoas, por exemplo com deficiência visual, lhes permite a mobilidade com relativa facilidade; e o Centro Cultural da Malaposta, em si mesmo, não tem barreiras arquitetónicas. Como tal, qualquer pessoa aqui dentro vai a todas as salas, sem precisar de apoio de terceiros. Muito embora seja um centro construído em 1987/89, já nessa altura foi concebido para que fosse acessível a todas as pessoas com deficiência. Julgo que o único espaço que não é acessível é onde nós nos encontramos neste momento, principalmente a pessoas com dificuldades de locomoção. Não nos esqueçamos que neste espaço, onde está a Administração, era onde habitava o caseiro, não tendo sido possível fazer a adaptação. Contudo, e tirando esta parte superior, a parte inferior é totalmente acessível. É um espaço perfeitamente acessível a todas as pessoas. F.V. - Quando é que iniciou as funções como Presidente do Conselho de Administração da Municipália? R.N. – Na sequência do que já disse, fui nomeado Presidente do Conselho de Administração a 6 de novembro de 2009, terminado o meu mandato muito em breve. F.V. - Portanto durante quatro anos? R.N. - Exatamente. Este mandato coincide com o dos Órgãos Autárquicos. F.V. - Quando é que foi constituída a Municipália, e com esta designação? R.N. - A Municipália é uma empresa que resulta da fusão, por incorporação, de duas empresas, ou seja existia a Odivelcultur, criada em 2002, e existia a Odivelgest, constituída logo depois da criação do Concelho de Odivelas. Entretanto, em 2007 foi mandatado pela Câmara Municipal de Odivelas, o então Presidente do Conselho de Administração Dr. Mário Máximo, para preparar um projeto de fusão das duas empresas. A Odivelcultur absorveu, isto é, incorporou nela a Odivelgest, tendo surgido a necessidade de alterar a denominação social da empresa. Desta forma, quer em termos históricos, quer em matéria 118 fiscal, manteve-se a pessoa coletiva ―Odivelcultur‖, a qual, e com a alteração da sua denominação, passou a ―Municipália‖ a 1 de outubro de 2007. F.V. - Quais as razões que levaram à incorporação de duas organizações? R.N. - A principal razão foi a economia de custos. Deixou de haver dois Órgãos de Gestão, dois Conselhos de Administração, passando a haver somente um a gerir integralmente dois equipamentos: o Centro Cultural da Malaposta e as Piscinas Municipais. Houve, também uma maior capacidade de rentabilização dos próprios recursos, nomeadamente os humanos. Posso dizer-lhe que foi um projeto muito interessante, porque foi o primeiro do género que ocorreu em Portugal, ou seja, o de fundir duas empresas municipais, pelo que, e sem histórico de processos desta natureza, acabou por ser uma experiência única. Se, posteriormente, ocorreram já havia história. Esta foi uma iniciativa da Sra. Presidente da Câmara, Dra. Susana Amador, que a propôs e que foi bem acolhida pelo Executivo Municipal, tendo o Dr. Mário Máximo sido mandatado para o efeito e foi um projeto com sucesso. F.V. - Quais são as principais áreas de intervenção desta empresa Municipália? R.N. - A Municipália intervém em quatro áreas de negócio, das quais três são fundamentais: Arte e Cultura; Água e Bem-Estar; e Desporto e Grandes Eventos. A Municipália gere o Centro Cultural da Malaposta com a área artística e cultural, as Piscinas Municipais de Odivelas com a atividade desportiva em água e, desde 2 de julho de 2012, o Pavilhão Multiusos de Odivelas com a área desportiva e de grandes eventos, nomeadamente os de carácter cultural. Há, depois, uma área de negócio, a da restauração, bares e cafetaria, que gere as várias unidades inseridas nos equipamentos geridos pela Municipália, bem como em espaços municipais da Câmara Municipal de Odivelas. São, portanto, quatro áreas de intervenção com características e objetivos diferentes, mas com um fim comum: o da prestação de um serviço público de qualidade. Esta articulação só é possível através de uma entidade local como a Municipália. F.V. - Uma das questões que é frequentemente debatida, relativamente aos modelos de administração dos equipamentos culturais dependentes das autarquias tem a ver com vantagens e desvantagens de uma gestão direta da estrutura orgânica da Câmara Municipal de Odivelas, ou através de uma organização mais autónoma, como seja uma associação municipal ou uma empresa municipal. Gostaria de saber qual é a sua opinião sobre este assunto e que vantagens e desvantagens encontra nestes dois tipos 119 de modelos de administração, principalmente quando se trata de um centro cultural como este, que é o Centro Cultural da Malaposta? R.N. - A minha opinião é a de que um centro cultural como o da Malaposta não funciona com uma gestão direta por parte da Câmara Municipal de Odivelas. Era impossível. Um centro cultural com estas características tem que ter uma gestão autónoma, ágil e célere, no âmbito da contratação pública. A Câmara Municipal de Odivelas está sujeita como instituição pública àquele tipo de contratualização, como o está a Municipália, podendo contudo esta entidade atuar de forma diferente no mundo jurídico, pelo que, de outro modo, o Centro Cultural da Malaposta o centro não funcionava. Caso fosse gerido diretamente pela Câmara Municipal de Odivelas, como algumas pessoas o defendem, teria um vigésimo da programação que tem e levaria a efeito dois, ou três espetáculos por ano e nada mais. A programação diversificada e múltipla acabaria, e com ela, as apresentações em cinema, teatro, música ou dança. A programação que nos é apresentada pelo Manuel Coelho, nosso Diretor Artístico, é uma programação que permite que este espaço, por exemplo, o ano passado tenha desenvolvido mil e sessenta e nove espetáculos, em trezentos e poucos dias. Não chega a trezentos e sessenta e cinco dias, porque estamos fechados cerca de um mês e meio. Portanto, dá quase uma média de três espetáculos por dia onde passaram cinquenta e três mil e trezentos espetadores. Não acredito, e basta vermos noutros concelhos em que os centros culturais são geridos diretamente pelos municípios, que haja uma programação com as características da que está disponível na Municipália, sobretudo num período de crise como o que atravessamos. Veja-se que num contexto de crise económica, em vez de termos assistido a uma diminuição de espetadores, pelo contrário, verificámos um aumento de ano para ano. É um fenómeno, que é bom estudá-lo, porque realmente isto é inédito. É que nós continuamos a aumentar o número de espetadores, num período em que, havendo crise, onde normalmente se corta ou quando se reduz despesas, é exatamente nestas áreas da arte e cultura. F.V. - Essa é uma questão que eu tinha e que eu considero importante, que é precisamente numa época de crise económica que obriga à contenção de despesas e à prudência no investimento, como é que o Centro Cultural da Malaposta consegue estabelecer a sua programação de modo a dar continuidade à sua atividade e a cumprir a esta missão de serviço público, e com um aumento progressivo do público? Qual é o segredo desta gestão e de programação? 120 R.N. - Eu sei que tinha essa pergunta para me fazer, mas só para concluir o meu raciocínio anterior, por exemplo, repare que muitas das Câmaras que têm teatros e centros culturais e que hoje algumas dessas forças defendem em Odivelas que o Centro Cultural da Malaposta deveria estar integrado na gestão direta da Câmara Municipal de Odivelas, nesses municípios, dou-lhe o caso concreto de Almada. O Teatro de Almada não é gerido pela Câmara: foi dada a sua concessão a uma companhia de teatro. Porquê? Porque só agilizando os procedimentos é que se consegue ter um equipamento destes a funcionar, como funciona. O segredo da Malaposta. Primeiro: estabilidade. Havendo estabilidade na gestão e principalmente na área da direção artística, há sucesso. E aqui houve essa estabilidade, o nosso programador e diretor artístico Manuel Coelho está connosco desde 2005. Estabeleceu-se um plano e digo-lhe, sinceramente, que em tempo de crise a Malaposta consegue prestar o serviço público para que está vocacionada, com uma redução de custos na programação, sem diminuir a qualidade da programação, fazendo, pelo contrário, com que tivéssemos mais público. É uma questão de gerir bem ou saber gerir bem aquilo o que se programa, porque programar por vezes é fácil, o difícil é gerir aquilo que se programa e o Manuel Coelho tem essa grande qualidade, programa e consegue gerir com eficácia aquilo que programa. Depois também temos uma equipa interna, residente na Malaposta, de excelência. A parte técnica que faz todo o trabalho necessário dentro da Malaposta. Nós não compramos nada, é tudo feito cá, grande parte na carpintaria, espaço dedicado à conceção, preparação e produção dos cenários. Depois há a cenografia e a rouparia. Entre estes três espaços nascem as produções próprias, bem como é dado todo o apoio técnico aos acolhimentos e à Programação. Só precisamos de adquirir a matéria-prima. F.V. - Em relação aos recursos humanos, uma outra questão que eu gostaria de colocar é a seguinte: sendo um centro cultural com estas características e com esta programação, tem provavelmente uma equipa com formação e saberes diversificados. Considera que esta equipa que depende da empresa Municipália poderia de algum modo estar integrada nos quadros autárquicos? R.N. – Não. Os quadros autárquicos não comportam este tipo de ―carreiras‖, digamos assim, porque há uma questão importantíssima… Como sabe, na administração pública as categorias são muito determinadas pelas habilitações literárias e esse regime não se compadece muito com a qualificação ou a qualidade técnica da equipa que trabalha na Municipália, nomeadamente num teatro. Muitas vezes para ser um bom carpinteiro de cena 121 não é necessária uma formação académica superior, é preciso saber trabalhar a madeira para o efeito estético e cénico, por exemplo, de uma produção teatral. A profissão de carpintaria ou de serralharia, comummente e no quotidiano, não requer a sensibilidade e o trabalho concetual, essenciais num centro cultural e num Teatro. Quem trabalha nestes espaços tem que ser artista. E isso não se compadece com o regime jurídico da administração pública, pelo qual se olha à habilitação e não à qualificação profissional. Ora, muitas das pessoas que aqui estão, se estivessem nos quadros da Câmara não podiam auferir os salários que têm hoje, e, provavelmente iriam procurar noutro sítio o seu sustento, porque é pessoal altamente qualificado. E quem vem à Malaposta conhece a qualidade, por exemplo, dos nossos cenários, que, como já disse, são feitos por quem cá trabalha. F.V. - Do ponto de vista da equipa e da programação há, como sabe, diferentes modelos de pensar o projeto cultural. Há centros que são só de acolhimento, ou seja recebem espetáculos de fora e portanto têm um staff que presta esses serviços de receção e de acolhimento a grupos que são contratados do exterior, depois há centros que têm uma companhia de teatro residente que produz os seus próprios espetáculos e ainda há modelos mistos, que acolhem grupos exteriores e que também têm um núcleo de produção interna ou coprodução de espetáculos. No seu entender qual seria o modelo mais adequado, ou seja qual é o modelo atual do Centro Cultural da Malaposta? R. N. - O modelo do Centro Cultural da Malaposta é exatamente o último. É um modelo misto. Nós acolhemos espetáculos e damos no Centro Cultural da Malaposta todo o apoio a esse acolhimento, bem como produzimos espetáculos. Como é do conhecimento comum, área da infância temos um espetáculo que é permanente e que começa, normalmente, em setembro/outubro, terminando no fim da época letiva. Neste momento temos o Capitão Miau-Miau já em cena, que é uma produção própria, com atores da Municipália. Portanto, são residentes neste momento e que trabalham nesses espetáculos e noutros que seja preciso realizar. E temos coproduções, também, com outras entidades, com as quais realizamos espetáculos em parcerias, como fazemos, também, acolhimentos. Nós aqui de facto temos essas três valências. E isso é, de facto, uma aposta ganha do diretor artístico e do Conselho de Administração que sempre o apoiou em todo este processo de restruturação do modus operandi da Malaposta. F.V. - O Centro Cultural da Malaposta tem estatutos próprios ou não? 122 R. N. - Não. O Centro Cultural da Malaposta não tem estatutos próprios. O Estatuto é o da Municipália, onde está o objeto definido nesta área. O Centro Cultural da Malaposta é um equipamento gerido pela Municipália, diretamente pelo seu Órgão de Gestão, não tendo, pois, estatutos próprios. F.V. - Em termos de missão do Centro Cultural da Malaposta, sendo um equipamento tutelado pela autarquia, como é que sistematiza a missão deste equipamento? R.N. – O Centro Cultural da Malaposta têm uma missão fundamental, e que é da promoção e da divulgação culturais. Como tal, tem um serviço público a prestar, que é o de proporcionar à população do Concelho de Odivelas, e concelhos limítrofes, a possibilidade de terem atividades culturais num espaço de excelência. Se me perguntar se o Centro Cultural da Malaposta é economicamente rentável, respondo que a sua atividade é comparticipada pela Câmara Municipal de Odivelas. Todavia, se nós formos aferir da sua missão, ou seja do papel que desempenha na comunidade e se analisarmos o Centro Cultural da Malaposta não do ponto de vista economicista, mas do seu papel, do seu peso, que tem no Concelho, é um centro cultural altamente rentável, atendendo ao benefício que presta, pelo menos a cerca de cinquenta e três mil pessoas. É por isto que o Centro Cultural da Malaposta cumpre, integralmente, a missão para que foi concebido: prestar um bom serviço público na área cultural e artística. F.V. - Do ponto de vista da visão estratégica para este equipamento cultural, enquanto Presidente do Órgão de Gestão, qual é a visão estratégica que está traçada para este equipamento? R.N. - Quem traça a visão estratégica, como sabe, é o Executivo Municipal e cumpre ao Órgão de Gestão da empresa executar a missão e a visão estratégica para que está mandatado. Desta forma, penso que o Centro Cultural Malaposta deve ser gerido de modo a não estragar o que estava feito, dando continuidade ao que estava a ser bem feito e melhorar aquilo que era de melhorar. Esta é uma das missões que eu trouxe quando para cá vim. E o próximo Conselho de Administração que vier, com certeza, terá a visão de não destruir o que está feito, bem como dar continuidade a um projeto, pois que o que está bem feito, como eu costumo dizer, não se deve estragar. Neste momento, o projeto Malaposta é um projeto ganhador, a nível local, regional, nacional e já a nível internacional. Como tal, um projeto ganhador não deve ser mexido, mas sim aprofundado, dando-lhe condições para continuar a sua missão e permitir que, daqui a uns anos o Centro Cultural Malaposta continue a ser um espaço de referência. 123 F.V. – E sendo um centro que está localizado na Área Metropolitana de Lisboa, muito próximo da cidade de Lisboa, em termos de âmbito ou de raio de ação geográfica, a quem é que se destina? R.N. - A Malaposta, antes de mais, destina-se aos munícipes do concelho, não esquecendo os concelhos limítrofes, a área da Grande Lisboa, bem como a nível nacional. De outro modo, o Centro Cultural Malaposta destina-se a todos aqueles cidadãos que gostem de cultura e que queiram assistir a apresentações de grande qualidade. Nós não trabalhamos para ―ninguém‖ em particular. É evidente que algumas atividades de natureza mais social poderão facilitar a deslocação de quem está mais próximo. Porém, repare, por exemplo, que as nossas tardes de cinema para os seniores são participadas por muitas pessoas que vêm de Lisboa. Porquê? Porque o Centro Cultural da Malaposta está bem localizado. Repare. Nós temos o metro ―à porta‖, a CRIL à porta ou a Calçada de Carriche. É caso para dizer que tudo vem dar à Malaposta. F.V. – Tem boas acessibilidades? É fácil a deslocação? R.N.- Como já falámos no início desta entrevista, uma das grandes mais-valias do Centro Cultural da Malaposta são as acessibilidades. Em resumo, destinamo-nos, em primeira linha ao Concelho, mas nunca esquecendo a nossa missão regional e nacional. Por exemplo, na área do Teatro infantil temos públicos que vêm do Alentejo ou do Minho, o que é interessante. F.V. - Voltando à questão de que estávamos a tratar há pouco, relacionada com a visão estratégica. O Centro Cultural da Malaposta, por ser um equipamento tutelado por uma autarquia, está sujeito a ciclos de quatro anos, uma vez que o mandato do Conselho de Administração da empresa Municipália, coincide com o dos Órgãos Autárquicos, e, portanto, tem os seus ciclos de quatro anos relacionados com as eleições para os Órgãos Municipais. Este modelo de administração, que implicação pode ter no funcionamento do equipamento? R.N. – Já me referi ao facto de que um dos grandes sucessos deste projeto ser a estabilidade do diretor artístico no Centro Cultural da Malaposta. Embora tenha havido uma alteração de Conselho de Administração, em 2009, o diretor artístico manteve-se desde 2005. Portanto, há uma continuidade de um projeto que permitiu fidelizar um público na Malaposta, que em quatro anos isso não era possível. Eu não acredito que em quatro anos nós conseguíssemos fidelizar um público na Malaposta como o conseguimos em oito. Porquê? Porque há um projeto que vem tendo uma continuidade, um aperfeiçoamento. Por exemplo, em termos de 124 programação começou a dar-se uma maior prevalência a acolhimentos do que a parcerias. E hoje podemos dizer que um equipamento, que em 2005 tinha cerca de oito mil espetadores, tem, em 2012, cinquenta e três mil e trezentos. É uma evolução substancial. Isto só é possível com uma estabilidade em termos de projeto para o Centro Cultural Malaposta. Agora se houver uma grande alteração ao fim de quatro anos no Centro Cultural da Malaposta, tudo depende de como as coisas possam vir a ser feitas, porque uma reestruturação pode ter vantagens e desvantagens. Este é um projeto ganhador, o outro poderia ser ou não. Uma coisa é falarmos no Conselho de Administração que é nomeado pelo Executivo Municipal, e sujeito à confiança daquele Executivo municipal, outra coisa é o projeto cultural que não pode estar sempre a sofrer influências, a não ser para o melhorar. Não há dúvidas que foi de facto uma estratégia ganhadora e o Manuel Coelho tem mérito em todo o trabalho que tem vindo a desenvolver nesta casa. F.V. - E o diretor artístico tem autonomia, dentro evidentemente, do orçamento? R.N. - O diretor artístico tem autonomia de gestão, não tem é autonomia financeira. Está muito próximo do Conselho de Administração, que nunca lhe criou obstáculos e ele tem consciência plena da forma como gere o Centro Cultural da Malaposta e os seus financiamentos. Estivemos sempre em harmonia, com uma boa articulação e funcionámos sempre muito bem. F.V. – O Centro Cultural da Malaposta tem feito uma série de protocolos, tem parcerias com muitas entidades. Quais são as parcerias mais significativas e quais são os objetivos que pretendem alcançar quando estabelecem essas parcerias? R.N. – No âmbito das parcerias tivemos duas fases: uma enquanto Odivelcultur; e outra enquanto Municipália. A segunda fase, a da Municipália, é um pouco diferente. O objetivo é proporcionar aos nossos parceiros melhores condições de frequência do Centro Cultural da Malaposta, estabelecendo como contrapartida a divulgação por parte dos parceiros da programação da Malaposta. Temos parcerias importantes com as escolas secundárias, e repare, nós temos relações privilegiadas com algumas escolas secundárias do Concelho, cujos seus formandos passam por aqui a fazer os seus estágios, bem como escolas fora do próprio concelho, que dou como exemplos a D. Pedro V e a Passos Manuel. No Concelho a Escola Secundária Pedro Alexandrino, a Escola Secundária de Caneças e a Escola Secundária de Odivelas têm aqui estagiários, do ensino básico e secundário. Temos parcerias com muitas instituições do próprio Concelho, como IPSS‘s e Juntas de Freguesia, e com entidades como a Metro de Lisboa ou FNAC. Alargámos, ainda, as parcerias às 125 Piscinas de Odivelas e ao Pavilhão Multiusos de Odivelas, pois é uma forma de termos as forças vivas connosco, como é o caso FAPODIVEL - Federação das Associações de Pais do Concelho de Odivelas. F.V. – E em relação a todos estes projetos que têm, o edifício com as condições atuais é suficiente ou começa a ter alguns constrangimentos? Quais são os principais constrangimentos? R.N. – Um dos grandes constrangimentos do Centro Cultural da Malaposta é o espaço. É extremamente difícil tornar rentável um espaço com a dimensão do Centro Cultural Malaposta, porque qualquer espetáculo que aqui se possa desenvolver não pode ter mais de 159 espetadores, que é o que comporta o Auditório (espaço principal e maior). Para realizar um espetáculo que aqui se queira desenvolver, e para ser rentável com 159 lugares, teríamos que cobrar valores extremamente elevados, incomportáveis para o nosso público. Como tal, a dificuldade em aumentar a rentabilização do Centro Cultural da Malaposta justifica-se na dimensão reduzida dos seus espaços. A sala maior, como já referi, é de 159 lugares, a sala experimental tem 100 lugares, a sala do café-concerto não leva mais do que 80 ou 85 lugares. E temos este grande problema, porque, imagine, um espetáculo musical que aqui queiramos desenvolver e que poderia encher um auditório com 1000 pessoas, não pode ser programado no Centro Cultural da Malaposta. F.V. - E faziam só uma sessão? R.N.- Faríamos uma só sessão, provavelmente com muito maior rendimento e proveito para a empresa, do que com os espaços que temos. Tendo em conta estes constrangimentos não posso considerar que seja um espaço muito oneroso à Câmara Municipal de Odivelas. F.V. – Portanto, o número de salas, a respetiva dimensão e o número de lugares que cada uma tem, é um dos principais constrangimentos? R.N. – Sim, principalmente porque poderíamos ter uma sala com maior dimensão que compensasse a ocupação das restantes. Como tal, criámos condições para rentabilizar o Centro Cultural da Malaposta com a abertura de mais uma sala de espectáculos, a ―Black Box‖, para a apresentação de peças como ―Felizmente há luar‖ e ―Os Maias‖, produzidas com alunos de escolas, e que tem mais 52 lugares ou 53 lugares. Para estes espetáculos, como os do Café-Teatro, as dimensões e o número de lugares são suficientes. Nós precisávamos era de ter uma sala com uma dimensão que pudesse acolher espetáculos com outras características, de outra envergadura. Se nós tivéssemos um auditório com 400 ou 126 500 lugares, o Centro Cultural da Malaposta seria um espaço onde conseguiríamos aliar a excelência à sustentabilidade, estritamente, financeira. F.V. - Em relação à adaptação do edifício, na sua conceção inicial como salas de espetáculos, previa-se só o Auditório e a sala polivalente para espetáculos mais pequenos, sendo as outras espaços para ensaios e de formação? Já se alteraram? R.N. – Sim, mas isso foi já na gestão da Odivelcultur. F.V. – Sim, mas já transformaram alguns espaços que eram de ensaios e ou de formação também em salas de espetáculos? R.N. – Sim. Nós tínhamos uma sala que era a sala de cenografia, que já na gestão da Odivelcultur, foi transformada no Café-Teatro. E tínhamos a última sala, que também adaptámos como já referi, e que era para ensaios de dança. Neste momento a ―Black Box‖ é polivalente, pois tanto dá para dança como para espetáculos, porque foi perfeitamente adaptada para o efeito. E portanto das duas salas iniciais, neste momento temos quatro e mais a sala de cinema, 5 espaços para programação, não contando com a entrada do Centro Cultural, o Foyer, onde acontecem exposições, espetáculos musicais ou conferências. F.V. – E muitas vezes estão a trabalhar em simultâneo? R.N. – Sim. Chegamos a ter as quatro salas a trabalhar em simultâneo, e com três, muito frequentemente. F.V. – Em relação ainda ao espaço físico, eu sei que têm esta polivalência e que têm vindo a introduzir obras de melhoria, ou de ajustamento ao projeto cultural que agora têm. Quais foram as obras mais relevantes ou mais significativas para qualificar o espaço? R.N. – Para mim foi a reestruturação do Auditório, em 2006, tornando-o num auditório digno de ser utilizado, e quem lá vai fica encantado. A reestruturação do Café-Teatro, que se ganhou uma sala com qualidade, com muita qualidade para o tipo de espetáculos que acolhe e foi também a preparação do Foyer, tornando-o um espaço agradável, onde as pessoas gostam de estar. Estas foram, para mim, as intervenções mais marcantes ao nível dos espaços do Centro Cultural da Malaposta. F.V. – E em termos de equipamento técnico? R.N. – Temos feito muito investimento em equipamentos de luz e som, para que os espaços do Centro Cultural da Malaposta possam funcionar simultaneamente e com qualidade, quer 127 por parte do Conselho de Administração anterior, quer deste. Se me perguntar se, ainda assim, é o suficiente, respondo que não, porque a atuação dos espaços, com qualidade técnica exigida, requer por parte da equipa que muitas vezes opere verdadeiros milagres. F.V. – E acha que os técnicos que têm, do ponto de vista dos recursos humanos, são em número suficiente ou com o projeto cultural e com a programação que têm precisariam de uma equipa maior? R.N. – Sabe que essa resposta, quem lha poderia dar de forma mais indicada, seria o Manuel Coelho. Eu penso que a equipa que nós temos e a dedicação que eles têm ao trabalho que fazem, responde, neste momento, às necessidades. Embora deles se exija muito, e eles próprios dêem muito de si esta casa, num esforço por vezes sobre-humano de manter três e quatro salas a funcionar em simultâneo. Mas desde que tomou posse, este Conselho de Administração reforçou a equipa da Malaposta. Nós tivemos a perda de um grande carpinteiro, o nosso mestre Zé Manel, que teve um problema grave de saúde. E no âmbito de um projeto que o Conselho de Administração estabeleceu com a Associação Vida e Emprego do Concelho de Loures (entidade que trabalha em Loures e Odivelas na área da reinserção de pessoas com toxicodependência) integrámos quatro pessoas na Malaposta. Vieram mais, mas há três que são técnicos, com muita qualidade — um carpinteiro, um serralheiro e um eletricista. Mais tarde entrou outra pessoa para as Piscinas Municipais. Vieram fazer um estágio, mostraram-se pessoas capazes e colaborámos na sua reinserção. Tem sido, de facto, um projeto ganhador. Numa primeira fase, e em colaboração com o Instituto de Emprego, alguns deles já estão no quadro e esperemos que os outros de facto também venham pela mesma senda. F.V. - Foi também um trabalho de reinserção social? R.N. - Sim. Nesta área da colaboração com a Associação Vida e Emprego, na reinserção de ex-toxicodependentes, porque eles já não são consumidores, estão na fase da reintegração, conseguimos fazer um bom trabalho, uma boa parceria e orgulha-me em ser a única empresa dos Concelhos de Loures e de Odivelas a ter cooperado com eles. E de facto é pena que mais não o façam, porque, efetivamente, há pessoas que, quando se lhes dá uma oportunidade agarram-na com as duas mãos. Isto é como a área da deficiência, com a qual as pessoas têm muitos problemas em lidar. Posso dizer-lhe que tem sido um sucesso muito grande nesta casa. F.V. – Quantas pessoas tem agora a equipa do Centro Cultural da Malaposta? 128 R.N. – Isso, agora de cabeça, não lhe sei dizer, mas sei que no Centro Cultural, na sua globalidade, devem trabalhar à volta de 36 pessoas. F.V. Mas está a contar também com as pessoas da Cafetaria? R.N. - Sim. Na equipa técnica devem trabalhar cerca de 10 a 12 pessoas. Posso fazer as contas. Posso dar-lhe uma lista. F.V. – Queria só voltar a uma questão curiosa, que este centro cultural tem em relação à longa história do edifício, e que tem alguns aspetos controversos. Inicialmente o nome de “Centro Cultural da Malaposta” parecia estar associado a uma Estação de Muda de Mala-posta que teria existido neste local, e de mais tarde ter sido, também, um Matadouro. O que é que me pode adiantar sobre estas várias funções? R.N. – Olhe, eu sobre essa matéria não sou um especialista. Nunca me debrucei sobre ela, nem nunca a fui aprofundar e se calhar um dia havemos de descobrir a verdadeira história do ―Centro Cultural da Malaposta‖. Do conhecimento que tenho baseado em algumas investigações realizadas, este terreno foi expropriado aos seus titulares para a construção de um matadouro em mil oitocentos e setenta e poucos, pela então Câmara Municipal de Olivais e Carnide, e que teria sido construído aqui um matadouro. O matadouro sei que funcionou até 1969, e que deixou de funcionar com a construção do outro grande matadouro dos Olivais, deixando de se justificar a existência deste, mas o que ele foi efetivamente, não sei. Inclusive, há histórias que rezam, não sei até que ponto são verídicas, que chegou a haver uma linha férrea até esta zona. Não sei se é verdadeiro ou falso, mas vestígios dela não existem e portanto, não me parece que tenha sido verdade. Contam-se muitas histórias, mas que funcionou como matadouro, disso não há dúvidas, não só por testemunhos de antepassados e de muitos hoje vivos, mas também por documentação que prova que isto foi um matadouro do concelho de Loures. Quando eu vim para Odivelas em 1975, já não funcionava aqui o matadouro. Aqui já não se abatiam animais. Mais tarde vim a saber que tinha encerrado portas em sessenta e nove. A partir daí a história toda se sabe, porque depois houve a criação da Amascultura, por Loures, Vila Franca, Amadora e Sobral de Monte Agraço, que apresentou um projeto para a restruturação e requalificação deste espaço, dando origem ao Centro Cultural da Malaposta. F.V. – Em relação à marca, “malaposta – uma casa com arte”, criada para promover o Centro Cultural da Malaposta, qual é o conceito que se pretende transmitir com este slogan? 129 R.N. – É mesmo o conceito de que Malaposta é uma casa com arte, ―venha cá que nós estamos consigo‖. F.V. – Portanto a ideia de casa, de acolhimento… R.N. – De acolhimento, de cultura, de arte. É no fundo, vender uma imagem de algo que é real, e que não é fictício. Não é vender uma marca enganadora, não é um produto enganador. Não é uma venda enganosa mas é de facto algo que é verdadeiro, e que é a marca ―malaposta – uma casa com arte‖. F.V. – Para concluir gostaria de saber qual é o balanço que faz dos últimos quatro anos em que ocupou o cargo de Presidente do Conselho de Administração da Municipália, especificamente no que se refere ao Centro Cultural da Malaposta e quais foram, no seu entender, os projetos mais relevantes que levou a cabo nesses quatro anos? R.N. – Isso é uma pergunta muito complexa, porque eu nunca gostei de falar de mim. Gosto mais da atividade dialogante e crítica. Vim para esta casa, dei o melhor de mim, reestruturei o que tinha que reestruturar, organizei a casa, criei-lhe uma macroestrutura, implementámos procedimentos. Houve, de facto, muita coisa que pegou. Sabe que, quem gere um equipamento, normalmente tenta adaptá-lo à sua imagem, à sua maneira de ser, à forma como gosta de trabalhar. E foi o que eu tentei fazer na Municipália: adaptá-la à minha forma de trabalhar. Se tive, provavelmente, a envolvência das pessoas em todo o projeto, foi uma das molas para o sucesso. Quanto aos outros equipamentos, uma das linhas que tracei foi a de dar continuidade a todo um bom trabalho, à semelhança, aliás, do que tinha sido feito na Malaposta, ou seja, não obstaculizar, colaborando e apoiando, sempre segundo o princípio da boa gestão financeira da empresa. Manteve-se a ―Bienal da Cultura Lusófona‖, em cooperação estreita com a Câmara Municipal de Odivelas, manteve-se a parceria com a CEDEMA, no ―Festival do Sentidos‖, aprofundou-se a relação com as escolas e com o teatro nas escolas. Quanto às Piscinas Municipais e ao Pavilhão Multiusos de Odivelas, realizei dois projetos de grande alcance para a empresa: a restruturação integral das Piscinas Municipais; e a operacionalização do Multiusos. No que respeita às Piscinas Municipais têm os seus espaços um novo rosto, uma nova cara, uma nova imagem, tanto do ponto de vista físico como organizacional, bem como na relação com os utilizadores. No que concerne ao Multiusos foi o pôr a funcionar de um equipamento, também ele de excelência. O Multiusos tinha algumas atividades esporádicas e foi-nos entregue em 2 de julho de 2012. E posso dizer que começámos a trabalhar a sério em setembro/outubro. Neste momento há 130 três projetos no Pavilhão Multiusos de Odivelas que considero ganhadores. O primeiro, os ginásios, que toda a gente achava que não íamos conseguir, e aí tive a colaboração do Pedro Gaspar que foi imprescindível para pôr os ginásios a trabalhar. Neste momento, os ginásios têm cerca de seiscentas pessoas inscritas. O segundo foi o projeto das Escolinhas de Futsal para os miúdos. Neste momento temos setenta e tal crianças já a frequentar, das quais nenhuma pertence a qualquer escola já existente no Concelho. Em terceiro e último, é o projeto do Multiusos Bar. Se me pergunta, mas o que é que se pode fazer mais? Muito. Nós estivemos um ano com o Sporting Clube de Portugal, o que não permitiu o desenvolvimento de grandes atividades, porque tínhamos todos os fins-de-semana ocupados com o Clube. A próxima Administração poderá começar com uma boa e forte campanha de promoção do Pavilhão Multiusos de Odivelas, para que, e fundamentalmente, seja assegurada a ocupação da Nave 1 (ou Nave Principal). Se assim for, o Pavilhão Multiusos será, seguramente, um projeto claramente ganhador da Municipália. F.V. – Porque é dos equipamentos mais recentes do concelho e é um equipamento de uma grande envergadura, em termos de capacidade? R. N. Para ter uma ideia é o segundo maior pavilhão da Área Metropolitana de Lisboa. Maior do que o Multiusos de Odivelas, só o Pavilhão Atlântico. F.V. - E o Concelho não tinha nenhum equipamento com essa dimensão… R.N. - Não, não tinha nenhum equipamento com estas características. É um equipamento que pode colocar, e tem colocado, o Concelho de Odivelas na rota dos grandes eventos desportivos, quer da europa, quer do mundo. F. V. – Tem essa dimensão na vertente do Desporto, mas na vertente da Cultura também? R. N. – Tem, porque pode desenvolver espetáculos com capacidade para cinco mil e quinhentas pessoas. F.V. - O espaço está licenciado para comportar cinco mil e quinhentas pessoas? R.N. – Sim. A Nave Principal está licenciada para cinco mil e quinhentas pessoas, sendo já um equipamento com uma grande dimensão. Depois é multifuncional, porque tem muitas salas por dentro, onde temos os quatro ginásios. É um projeto que tem pernas para andar, embora, neste momento, seja bastante oneroso à empresa. Este foi o último desafio que tivemos: o de pôr a funcionar um equipamento com a envergadura do Multiusos. 131 Anexo 18 Entrevista ao Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Odivelas, Mário Máximo (no mandato de 2009/2013 e anterior Presidente do Conselho de Administração da Empresas Municipais, Odivelcultur e Municipália, gestoras do Centro Cultural da Malaposta). Data: 08/10/2013 Local: Gabinete do Vereador da Cultura, Odivelas. Introdução Esta entrevista insere-se num projeto de Mestrado em Práticas Culturais para Municípios, que tem como objeto de estudo o Centro Cultural da Malaposta, no Município de Odivelas, no período de 2007-2012. A escolha do Dr. Mário Máximo, como um dos entrevistados tem a ver com uma particularidade, que é o facto de ter estado ligado a este centro cultural, em vários períodos e de várias formas, pelos cargos que tem exercido. F.V. - Começo por lhe perguntar quando é que ocorreu o seu primeiro contacto com este equipamento cultural? M.M. - Foi seguramente há muitos anos! O Centro Cultural Malaposta foi inaugurado em 1989. Pouco depois, realizou-se lá um concerto de uma Orquestra, cujo Maestro era Álvaro Cassuto. E foi a primeira vez que eu, realmente ouvi falar do Centro Cultural Malaposta. Eu conhecia o matadouro; depois vi o início da construção do edifício que se viria a tornar em centro cultural. Eu costumo dizer que foi o triunfo da vida (o teatro) sobre a morte (o matadouro). Aliás, eu vivi em Olival Basto (lugar, depois freguesia, onde se situa o centro cultural) até aos sete anos e depois, porque o meu pai aí vivia (e vive, felizmente de boa saúde) fui presença muitas vezes e pude ver muitos animais a caminho do seu triste fim e, depois, vi apenas o edifício degradado esperando pelo futuro. Até ver o Centro Cultural Malaposta já construído. F.V. - E depois, em exercício de funções no centro cultural, o primeiro período foi quando? M.M. - Foram dois anos como vogal do conselho de administração da Odivelcultur. Já tinha havido o fim da Amascultura e a criação da Odivelcultur. Houve ali um espaço ainda que 132 mediou, entre o fim de uma coisa e o início da outra. O presidente do conselho de administração era o Dr. Fernando Ferreira e eu fui vogal. F.V. - E isso, enquanto uma organização que foi criada para dar continuidade ao funcionamento do Centro Cultural da Malaposta, já na dependência só do Município de Odivelas? M.M. - Sim claro. A Odivelcultur foi uma empresa municipal criada para gerir especificamente o Centro Cultural Malaposta. F.V. – E este período de interregno… M.M. – Em 19 de Novembro de 1998 é criado o Município de Odivelas. É aí que se inicia todo o processo moderno. Em 2001 é criada a Odivelcultur. F.V. – Ou seja, há um projeto inicial fundador, criado por quatro municípios que também cria uma organização para gerir o Centro, que era a Amascultura, uma Associação Intermunicipal. Quando é criado o concelho de Odivelas, Odivelas ainda entra nesta organização que é a Amascultura e portanto passam a ser cinco municípios, e pouco depois há uma extinção desta organização e há esse período de interregno. No seu entender porque é que aconteceu a extinção da Amascultura e deste projeto que integrava os cinco municípios? M.M. - A Amascultura era constituída por Sobral de Monte Agraço, Amadora, Loures e Vila Franca de Xira (mais tarde agregaria Odivelas). Essa pergunta, eu acho extremamente motivante, porque eu não conheci a realidade da Amascultura, mas há uma coisa que eu conheço que é suficiente para perceber que aquilo que aconteceu, na criação do Centro Cultural Malaposta foi um ato, eu diria, de loucura positiva, ou seja, o que é que eu quero dizer com esta expressão estranha? Quero dizer que foi um momento de utopia. E estou à vontade para dizer isto, aliás já o disse até publicamente, em reunião de Câmara Municipal (enquanto Vereador), porque eram quatro municípios, quando é criada a Amascultura e é definido fazer-se o Centro Cultural Malaposta… eram quatro municípios todos da CDU, e o facto de serem da mesma força política ajudou de certeza, porque na altura o poder autárquico estava muito ligado nalgumas áreas à CDU e as vitórias eleitorais iam-se repetindo. E portanto, havia uma certa segurança, pensavam na altura eles, nesse sentido. Portanto, há aí uma unidade política, que facilita, primeiro ponto. Mas a unidade política não justifica tudo, porque efetivamente, o Centro Cultural Malaposta vai ser construído numa zona claramente periférica do território, na fronteira com Lisboa. E nem sequer era, 133 portanto, um ponto, que se podia dizer que fosse central para os quatro Municípios. Ou seja, há simultaneamente uma atitude de gestão muito bem pensada e uma atitude de gestão muito discutível. Muito discutível porque hoje, existem as acessibilidades, mas na altura não existiam essas acessibilidades. Hoje, Odivelas está no centro do mundo e é um dos seus grandes trunfos e vantagens, mas na altura não. Portanto, chegar ao Centro Cultural Malaposta não era fácil, até para quem vivesse em Loures, quanto mais em Vila Franca ou na Amadora ou em Sobral de Monte Agraço. Portanto, esta aposta de todos os municípios, dividindo responsabilidades, também financeiras, é uma aposta que tem o seu quê de solidário, e também de estranho, ainda bem que aconteceu. Isto se nós encararmos, no sentido de perguntarmos como é que os públicos chegam e como é que se pagam os serviços prestados. Mas por outro lado, tem uma visão já avançada e uma visão que hoje muitas vezes falha nas autarquias. Eu falo com conhecimento de causa, porque ainda hoje existem autarcas, que acham que quase em cada bairro tem que haver uma piscina ou um teatrito, pulverizando a oferta em vez de focalizar num espaço que tenha acessibilidade para ficar disponível para o público, no seu máximo expoente. Essa é que é uma ótica de boa gestão. Portanto, na altura houve essa confluência, de juntar quatro municípios, estarem politicamente coerentes e realizarem o projeto. Depois há a parte da obra em si, que eu acho que o mais importante até está mesmo aí. Houve este pensamento estratégico de ―unimo-nos e fazemos, aquele espaço não é o mais adequado, mas nós temos que ter a noção que ao investirmos, não podemos estar a investir nas capelinhas todas‖. Há aqui uma junção muito curiosa. Já sobre o edifício em si, também poderei falar, mas é um contexto diferente, e aí então muito melhor. Mas já agora adianto o seguinte, hoje há um conjunto de regras, muito objetivas, para a construção de edifícios públicos, para acesso a pessoas com deficiência, mas na altura não. Atualmente, ainda existem centros de saúde que têm escadarias e em que uma pessoa de cadeira de rodas não consegue entrar. Mas o Centro Cultural Malaposta de tal modo foi bem pensado na altura, que para além de ser harmonioso adaptando-se ao edifício que já existia do matadouro, todas as suas salas são acessíveis hoje como eram na altura. E portanto isto demonstra que, a conceção foi uma conceção avançada no tempo. F. V. - E a extinção da Associação Amascultura, a que se deveu? M.M. - Derivou do facto de haver mudanças políticas e derivou do facto de ter deixado de haver unidade política. Isso para mim é a questão essencial. Por outro lado, porque na altura houve eleições e ganhou o Joaquim Raposo na Amadora e a Maria de Lurdes Rosinha em Vila Franca de Xira. E, efetivamente, eu até posso compreender que essa vontade de rutura 134 tenha acontecido. Então nós temos tanta coisa apara fazer no nosso concelho e estamos a pagar para uma coisa que fica noutro concelho, longe e de acessibilidades complexas? Uma das razões é seguramente essa, houve falta de unidade política e os autarcas passaram a ter outros fatores de decisão. Exatamente, por não haver essa unidade política, cada um concentrou-se naquilo que considerava seu. Eu direi que é natural que o Centro Cultural Malaposta se tenha agregado a Odivelas, concelho recém-criado, pois era lá que se encontrava edificado e de lá não podia sair… F.V. - Portanto, uma das razões porque foi entregue ao Município de Odivelas, e porque passou a ser gerido por Odivelas, foi o facto de o edifício estar situado no território de Odivelas? M. M. – Sim, parece-me óbvio. E também perdeu sentido a intermunicipalidade política. F.V. - A condição foi entregar o edifício e Odivelas herdou, enquanto município, aquele Centro e os trabalhadores que lá tinha, e teve que criar uma forma de gerir? M. M. - Eu tenho que dizer que Odivelas nesse aspeto herdou o Centro Cultural Malaposta e também a Biblioteca D. Dinis, de Loures, mas é praticamente a única coisa que herdou de Loures, de relevante. De resto, Odivelas foi sempre tratada como periferia. Apesar de estar mais perto de Lisboa, Loures é que foi o polo aglutinador, o que até se pode compreender porque era a capital do concelho. Mas nesses dois casos, não. Quis a sorte, que a cultura fosse um bom pecúlio para Odivelas. F.V. - Mas isso obrigou, no fundo, a pensar um outro modelo de gestão. Extinta a Amascultura obrigou a pensar uma forma de gerir aquele Centro. E daí aquele período de interregno, que veio a dar origem à criação da empresa Odivelcultur… M.M. - É. Eu julgo que o facto de haver a necessidade de um conselho de administração Intermunicipal no início, acabou por dar o mote para a solução seguinte. É preciso ter em atenção que o município de Odivelas é criado em 1998, a Odivelcultur é criada em 2001, a sua atividade só começa em 2002. Há as eleições em que o Dr. Manuel Varges ganha (dezembro de 2001) e em 2002 a Odivelcultur começa a sua atividade. E portanto, é quando o Concelho de Odivelas se afirma, já com o primeiro executivo municipal saído de eleições efetivas, (porque como se sabe a Comissão Instaladora era nomeada), que é tomada então a decisão de criar uma empresa municipal, uma entidade exterior, para gerir aquele espaço. Já existia a Odivelgest, que vinha de Loures, para gerir as piscinas municipais e portanto esta atitude foi uma atitude coerente, correta, como o futuro o veio a comprovar malgré tout. 135 F.V. - Uma das questões que é muito debatida é a questão dos equipamentos culturais serem geridos diretamente por serviços da orgânica da Câmara Municipal ou por uma entidade mais autónoma, como uma Associação Municipal ou uma Empresa Municipal. No seu entender e pela experiência que tem, quer como presidente do conselho de administração, quer como Vereador da Cultura, quais são as vantagens e desvantagens destes dois modelos de gestão, face a um equipamento que é cultural e que tem atividade diária? M.M. - Eu tenho a vantagem ao responder a essa pergunta de ter sido sempre coerente. Quer quando era presidente do conselho de administração da Odivelcultur e depois da Municipália (da criação da Municipália mais à frente se falará) e de ter mantido a opinião que tinha durante os quatro anos de Vereador, em que sempre estive ao lado da empresa municipal. Há quem, por princípio, seja contra empresas municipais e ou empresas locais, e tendo uma visão claramente e totalmente municipalista, ou seja, há eleições, houve um conjunto de pessoas que representando diversas listas, ou uma só, depende dos resultados, foram eleitas e essas é que têm a função de gerir os equipamentos públicos. É uma visão municipalista e perfeitamente aceitável e legítima. E há alguns exemplos, que podem ser dados de gestão de equipamentos culturais e que têm funcionado assim. Aliás, eu acho que a pior coisa que pode haver é o preconceito na abordagem das situações. Há soluções que funcionam em certos lados e outras que funcionam noutros lados. E depois há, amiúde, aqueles municípios que optaram pela solução seguida em Odivelas, que é criar uma empresa local para fazer a gestão. Há casos em que isso se tornou apenas e só um centro de custos para o município e há casos em que se tornou um êxito completo, como acho que é o caso de Odivelas. Dir-se-á: mas não é um centro de custos? É um centro de custos, exatamente da mesma maneira que será, se um dia vier a ser integrado no Município. Um dos males maiores que a oposição (e aqui leia-se essencialmente o partido comunista e mais recentemente os independentes), teve em Odivelas relativamente à empresa municipal, é precisamente que ―o existir uma empresa municipal leva ao despesismo‖. Isso é uma questão absurda. Eu posso dizer, que num certo sentido, seria ao contrário. Das duas uma, ou se terminava com a Malaposta e se despedia as pessoas, ou para integrar as pessoas tem que se pagar os seus vencimentos. E a única coisa que ficaria de fora, eventualmente e mesmo assim é discutível, seria o Diretor Artístico, que não é funcionário e o Presidente do Conselho de Administração, que não é funcionário. Mas eu pergunto, como é que um espaço daqueles pode ser gerido sem um diretor artístico e sem um responsável estratégico. Um responsável estratégico tem que o ser a tempo inteiro. Eu fui o primeiro presidente do 136 conselho de administração a tempo inteiro, no sentido de ter dedicado a minha vida integralmente a isso, coisa que outros não fizeram antes. E por isso os resultados apareceram. Digo isto com orgulho, mas é verdade. Os resultados apareceram porque eu me dediquei inteiramente a isso com ciência e presença. Portanto, a grande economia que seria supostamente levantada, de redução de custos, é um vazio completo. Não haveria redução de custos. Provavelmente porque ficava depois metida no mesmo bolo da Câmara Municipal, por estranho que pareça se calhar ainda haveria menos meios de avaliação, porque a Odivelcultur era e a Municipália é, a casa mais vigiada do Concelho de Odivelas. E tem havido da parte de um conjunto de setores uma atitude claramente seletiva pelo negativismo e uma atitude intolerante, chegando ao ponto de dizerem: ―Sim a política cultural é boa, a programação cultural é boa, mas os conselhos de administração são maus‖. Isto não tem sentido algum. À partida não está escrito nem provado em algum lado, que a gestão de um teatro ou de um Centro Cultural tenha que ser feita por uma empresa municipal, por uma empresa local ou pelo município respetivo. Agora o que está provado em Odivelas é que a empresa municipal funciona e tem apresentado uma clara mais-valia em termos do resultado social, tornando-se o terceiro centro cultural do país. Já o era quando eu saí em 2009, manteve-se agora o terceiro centro cultural do país, em termos do número de pessoas, porque atingiu as sessenta mil pessoas. O problema aqui está na importância que critérios meramente quantitativos e contabilísticos podem gerar, ou seja se dá lucro em termos contabilísticos sim, se dá prejuízos em termos contabilísticos, não. A questão é esta: uma empresa só tratando da área da cultura, tem pouca probabilidade de dar lucro. Mais, uma empresa privada só tratando de assuntos da cultura, não dá lucro, vai buscar patrocínios, e são os patrocínios que suportam, em Portugal e em todo o mundo. Por exemplo, ―Os Miseráveis‖ ou ―O Cats‖. Quando deixa de haver os altíssimos patrocínios de IBM´s, disto e daquilo, a iniciativa cultural cai. F.V. - Portanto tem que haver sempre um suporte financeiro e isso coloca uma outra questão que é a seguinte: no município de Odivelas foram elaborados estudos para definir o Planeamento Estratégico e o PDM que contemplam um conjunto linhas de orientação também para a cultura. No seu entender qual é de facto a função da Cultura no Município de Odivelas? M.M. - Eu acho que em todos os municípios é essencial, mas no concelho de Odivelas mais. E mais por uma razão simples, Odivelas é o mais recente concelho do país, em conjunção com os concelhos de Trofa e Vizela. Desde aí, nunca mais foram criados concelhos. Duvido 137 aliás, que venham a ser criados concelhos. Eu julgo que o futuro até aponta para haver agregações, porque o objetivo da TROIKA era agregar concelhos como aconteceu na Grécia, não era agregar freguesias. E, portanto, eu sei que mais tarde ou mais cedo isso acontecerá. Mas um concelho só faz sentido se tiver uma identidade. Um concelho como uma agregação de áreas administrativas não é nada. Se nós pensarmos em Lisboa percebemos; Almada tem a sua idiossincrasia; Grândola tem a sua idiossincrasia; Faro e por aí a fora. E nós percebemos. Odivelas teve a divisão que teve, por desagregação de Loures. Na minha ótica, há um pecado original, deveria ter havido provavelmente a agregação de Sacavém, da zona da Expo a Odivelas, porque o concelho de Odivelas é criado com o pecado original de não ter espaço. Não por causa do tamanho, por causa de estar híperpovoado, porque é uma das áreas do país como maior densidade populacional mas também híper-povoado de cimento, e portanto não há sítio disponível. Eu, por exemplo, fui (e ainda estou a ser porque continuo em exercício de funções) Vereador também do pelouro das Atividades Económicas, e ―n‖ empresários e ―n‖ gestores me contactaram para encontrarem espaço para os seus novos investimentos e, muitas vezes, Odivelas não tinha esse espaço disponível. O município não pode ser apenas um conjunto de pessoas, tem de haver um critério superestrutural, existencial se quisermos, existencial enquanto comunidade claro, para agregar as pessoas. Odivelas tem um património cultural com grande intensidade, não porque seja muito vasto em quantidade, (aquele que é marcante, naturalmente), mas porque é muito significativo. O Mosteiro de Odivelas e a ligação à tradição de D. Dinis (que, como sabemos, que está aqui sepultado. Tem aqui o seu túmulo por decisão dele. Eu costumo dizer, em vida ele tomou a decisão de aqui ficar. Em vida tomou a decisão de descansar eternamente em Odivelas, no Mosteiro de Odivelas, que ele mandou construir, e viu-o. Porque uma boa parte dos reis mandavam construir os seus túmulos e depois não os viam, porque demoravam demasiado tempo a serem construídos). D. Dinis viu o mosteiro e viu também o túmulo, e portanto sabia onde ia ficar. Realmente tenho muita pena que não houvesse um desenho (um projeto) que tivesse resistido até hoje, para vermos como é que era o túmulo, na sua origem. É uma pena imensa que eu tenho, mas enfim… Eu e todas as pessoas que amam o património. O Padrão do Senhor Roubado, a Igreja da Póvoa de Santo Adrião, Caneças e as suas fontes, o Castro da Amoreira, a Anta das Pedras Grandes, a Pontinha mais recentemente com o Regimento de Engenharia, onde esteve sediado o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, a Biblioteca Municipal D. Dinis, um edifício que foi requalificado e restaurado (de algum modo, numa ótica moderna, mas foi), o 138 ―Velho Mirante‖ também classificado, o Centro Cultural da Malaposta também em vias de classificação, está praticamente classificado. Foi uma das coisas, que eu potenciei neste mandato. E claro, o Instituto de Odivelas, que estando integrado no convento, ganhou vida própria, tem uma tradição, nasceu em mil e novecentos e já é uma tradição porque faz cento e catorze anos. O Mosteiro de Odivelas é monumento nacional e o túmulo de D. Dinis também porque embora esteja no mosteiro, tem uma classificação à parte. Tudo isto para dizer que, o concelho Odivelas ao ter todo este património a defender e ao ter na sua génese de criar um lugar para a história, com a importância que D. Dinis atribuiu a estas terras ao ponto de querer aqui repousar eternamente de erigir aqui o mosteiro… Portanto, não me quero alongar muito mais, mas este ponto naturalmente é muito importante. D. Dinis, que é o fundador da língua portuguesa, tal como foi ―o plantador de naus a haver‖, como o definiu Fernando Pessoa, ao criar o pinhal de Leiria, é também ―o plantador de falantes de português a haver‖, é importante ter esta ideia. E hoje se existe lusofonia é porque houve um rei lá atrás, em mil duzentos e noventa e tal, que definiu que todos os documentos iam passar a ser redigidos, naquele português, enfim, na língua portuguesa que seria uma língua de unidade. É aí que se cria a nação. Até aí havia o Estado. As fronteiras ficam definidas no seu tempo. Ele já não é um rei conquistador, é um rei que concede forais, e portanto, povoador, num certo sentido, embora D. Sancho I tenha tido precisamente o cognome do ―Povoador‖. Aliás, ele teve todas as funções possíveis e imaginárias que um rei deve ter, foi um rei moderno, um rei global, como sabemos, mas em questão de língua portuguesa é fundamental. Daí também, a importância que eu acho que o concelho de Odivelas tinha de atribuir à língua portuguesa no mundo e à lusofonia, e o facto de ter avançado com as bienais de culturas lusófonas e outra ações sobre culturas lusófonas e o facto de ter aprofundado muito esse caminho. Depois de ser criado o concelho, eu direi que Odivelas irradiou para o exterior, através essencialmente de duas coisas: o trabalho feito na educação, que efetivamente isso irradiou fora de portas, e sobretudo o trabalho feito na cultura. Portanto, enquanto fenómeno identitário, hoje é reconhecido, a própria CPLP o reconhece e os seus sucessivos secretários executivos, Odivelas é uma capital da lusofonia em Portugal. Há outras iniciativas, pois há, mas Odivelas é que as assumiu de uma forma estratégica, continuada, com rumo e um rumo que vai continuar a ser seguido. A não ser que, de repente, houvesse uma chocante falta de visão estratégica. F.V. - E em relação aos equipamentos culturais que existem no Concelho de Odivelas qual é a sua opinião? 139 M.M. - À partida, mas eu sou suspeito, os equipamentos culturais para mim são sempre poucos. Mas é preciso ter cuidado, porque equipamentos demais ou equipamentos potenciados para outras realidades levam a equipamentos vazios, o que não é bom. Uma sala não deve fazer eco. Naturalmente que nós necessitaríamos de ter um espaço que pudesse albergar mais gente. Agora temos, embora não com uma função estritamente cultural, pois é um espaço essencialmente desportivo, o Pavilhão Multiusos de Odivelas, que pode suprir essa falta. Nós se quisermos fazer um congresso, fazemos. Se quisermos trazer o Rui Veloso, (em vez de trazer, passo a expressão, ―algumas piroseiras‖ que para aí têm sido trazidas), ou organizar um festival de música a sério, de música lusófona etc., temos um espaço para o fazer. Tenho pena que o Centro Cultural Malaposta não tenha mais de cento e sessenta lugares. Os duzentos, duzentos e cinquenta seria o ideal, mais do que isso, para a gestão normal, se calhar não seria necessário. E eu estive agora, em dois espetáculos recentes no Centro Cultural Malaposta, um para a criação da Orquestra da Malaposta e outro para o espetáculo do Carlos Mendes e os dois estavam praticamente esgotados. Portanto, significa que os equipamentos existentes são suficientes (em que o Pavilhão Multiusos, será essa talvez a sua principal função, permite solver um conjunto de necessidades que até aí nós não conseguíamos solver ou satisfazer). E portanto, eu acho que não precisamos de mais. Precisamos é de uma manutenção muito intensa dos equipamentos culturais existentes, da Biblioteca Municipal dos seus polos, obviamente do Centro Cultural Malaposta. Ainda bem, que as entidades centenárias como a Sociedade Musical Odivelense e a Sociedade Musical Desportiva de Caneças, estão com o apoio da Câmara, a tratar dos seus equipamentos. E como eu digo, mais um equipamento é sempre bom, mas o que eu acho é que o momento não é de grandes investimentos, é de apurar o que temos, e o que temos dá para aquilo que nós queremos neste momento. E é assim, quando fazemos um equipamento temos que o pensar de raiz. Em tempos, falou-se na hipótese de criação de um equipamento, e houve essa ideia na altura do PROQUAL, que como se sabe, era o Centro de Exposições de Odivelas e era a requalificação da Quinta da Memória onde está sediada a Presidência da Câmara Municipal e haveria um espaço que seria um espaço com auditório para congressos, etc. E uma das coisas que eu sempre disse, era que se esse projeto avançasse, se fizesse sempre uma pergunta, se fossem criar um auditório, era se o auditório teria condições para receber uma peça de teatro, um filme, uma orquestra, porque muitas vezes aquilo que se faz são espaços muito grandes para muita gente, depois têm um palco que não está devidamente aparelhado e equipado, e que serve para se fazer o discurso do aniversário do município, mais o discurso de Natal da festa dos trabalhadores e depois mais nada… 140 F.V. - Do ponto de vista das condições técnicas para se fazer um espetáculo…música… M.M. - Ora bem, também aí se demonstra a visão de quem fez o Centro Cultural Malaposta, não porque ele seja perfeito, mas tem uma boca de cena excelente, tem uma profundidade muito boa, menor que a do Teatro Nacional, não tão menor assim, é bom ter essa noção, mas é um espaço que precisa de estar sempre a ser melhorado, no som, na iluminação e nas infraestruturas. É bom ter esta noção. F.V. – Há um custo de conservação, de manutenção e de melhoria, não é? M.M. – É, tem que ser. Há ainda um defeito que os portugueses têm muito, que é o novo é que é bom, mas o novo rapidamente se torna velho se não houver a devida manutenção. O exemplo é vulgar mas é o que serve, um carro parado ao fim de um ano pode estar a caminho de estar completamente arrumado. Tem que haver esse grande cuidado. E portanto, não a investimentos demasiado emblemáticos, sim a um investimento estruturado. Eu acho que temos aquilo que necessitamos, porque nós queremos as salas cheias e neste momento conseguimos suprir as necessidades. E acho que, com o advento das acessibilidades, ninguém tem desculpa, no concelho de Odivelas, viva na Pontinha, em Famões, em Caneças, na Ramada, na Póvoa ou no Olival Basto, então no Olival Basto ainda é melhor que é mesmo ali, para não se deslocar aos espetáculos realizados, ali ou no Centro de Exposições. O Centro de Exposições foi um ganho imenso. O Centro de Exposições tem uma característica, é essencialmente para exposições. Eu acho que em termos de espaço de exposição poderia ser mais útil, mas o objeto, digamos, em si triunfou. Não há artista plástico com o qual eu fale, que não coloque reservas ―Ah, mas em Odivelas…‖A Malaposta conhecem, não conhecem o Centro de Exposições. E depois digo ―O.K. Então você vai lá e…‖. E quando os artistas chegam, dizem: ―Há isto, em Odivelas?‖ Ficam maravilhados com aquilo, sentem-se potenciados com aquilo, há ali um fator de modernidade que mexe com eles. E portanto, esse é outro ganho que nós tivemos. Evidentemente, não pode estar tudo perto do metro, como felizmente está o Centro Cultural da Malaposta, porque teve essa grande vantagem e por isso é uma grande placa giratória de públicos da Área Metropolitana de Lisboa, porque irradiou, porque hoje é normal aparecer em rodapé, nos noticiários ―Hoje na Malaposta, ou esta noite a peça de teatro não sei quê … ou o concerto não sei quantos ….‖. O espetáculo do Carlos Mendes, por exemplo, apareceu recentemente… 141 F.V. - A programação da Malaposta, no seu entender funciona para quem? A quem é que se destina? M.M. – Há uma unidade. A programação da Câmara Municipal no Centro de Exposições, na Biblioteca Municipal D. Dinis, tem um objetivo… O objetivo não é muito diferente, ou melhor nem podia ser diferente do objetivo do Centro Cultural Malaposta… que é apontar para os públicos, porque não há ‗público‘. Eu lembro-me, uma vez à saída de uma peça de teatro, há muitos anos, estava um repórter da televisão e de repente vem a sair o Igrejas Caeiro, e pergunta-lhe o jornalista: ―Acha que esta peça é uma peça adequada ao grande público?‖ E ele respondeu de imediato: ―Eu não sei o que é o grande público‖. E seguiu, não disse mais nada. De facto, eu também não sei o que é o grande público. O que eu sei é que existem diversos públicos. Evidentemente que, a Câmara Municipal de Odivelas existe para servir os munícipes do Concelho de Odivelas, mas também é evidente que as coisas têm-se modernizado, neste momento nada é estanque. Se há uma parte significativa de pessoas de Odivelas que vão trabalhar para Lisboa, há pessoas de Lisboa que também vêm trabalhar para Odivelas, de Loures e da Amadora, nós temos que servir também essas pessoas. Ou seja, a política cultural, não pode ser, que isso seria a pior coisa que se poderia fazer, uma política regionalista, tem que ser uma política metropolitana. Tem que ser uma política que, evidentemente, celebre o que há de identidade no concelho de Odivelas, e de património cultural, mas que não se feche sobre isso, e que não se torne uma espécie de sociedade recreativa de cultura. E aqui não se entenda como uma crítica à sociedade recreativa. A sociedade recreativa sim, tem como missão potenciar aquilo que nessa comunidade restrita de melhor se faz. Mas uma política de cultura tem que estar virada, sobretudo integrada na área metropolitana de Lisboa, para os públicos metropolitanos. Mas quando digo públicos metropolitanos eu estou a dizer, por exemplo, para Odivelas, as crianças de Odivelas vêm todas aqui. É um êxito, sobretudo para o Centro Cultural Malaposta, mas também muito para a Biblioteca Municipal. É um completo êxito da política que tem sido seguida aí. A terceira idade, portanto, os seniores como agora se diz eufemisticamente, também é um dos públicos fortes, com sessões específicas. Mas depois temos ações que serão mais populares, peças de teatro como as do Fernando Gomes, comédias, algumas quase revisteiras, (talvez aí se possa dizer o grande público), que podem interessar a uma grande diversidade de espetadores. Mas temos também políticas de culto, para públicos de culto, ou seja, eu lembro-me quando tivemos um ciclo de cinema de Rainer Werner Fassbinder, e a sala não é muito grande, a sala de cinema, mas esteve sempre quase cheia. 142 Uma das razões principais do êxito do Centro Cultural da Malaposta é que se alavancou na comunidade, para os jovens, para os seniores e para todos os restantes públicos. F.V. – Portanto, há parcerias, protocolos de cooperação? M.M. - Exatamente. Eu quando saí, em outubro/novembro de 2009, tinha celebrado cerca de cinquenta protocolos. Portanto, a razão da corrente do público se manter é porque os laços foram criados, estruturados e ganharam raízes. E há pessoas de Lisboa que já se habituaram a vir aqui. E depois é um espaço muito apelativo, porque é bonito, e às vezes há duas ou três sessões ao mesmo tempo, diferentes. Há diversidade. A razão principal do êxito do público é porque se soube ir bater à porta dos diferentes públicos. As pessoas sentem-se representadas, uns por determinado tipo de coisas que procuram, outros com outras e os terceiros por outras ainda. F.V. – E em relação aos constrangimentos deste edifício, do espaço público e do centro, hoje com a evolução que teve, com a programação que tem e com os públicos que serve, quais são as principais limitações? Estava a falar há pouco no Auditório? M.M. – Gostaria que o auditório tivesse um pouco mais de cadeiras… F.V. – Do ponto de vista da programação? De conseguir trazer artistas, grupos? M.M. - Exatamente. Suponha que conseguia trazer aqui o Bonga? Conseguia-se, mas o Bonga é ele e mais não sei quantos músicos e dançarinos, para cento e sessenta pessoas? Quer dizer, há aqui uma missão de serviço público, mas tem que haver aqui um grande equilíbrio, porque o grande objetivo do Centro Cultural da Malaposta é criar uma oferta de cultura, que seja o mais abrangente possível, que prime pela qualidade e que tenha também uma ótica de formação. Daí que, quando nós apostamos nos festivais, nos ―Solos de Dança‖, nas ―Escolas no Teatro‖, no ―Festival de Teatro Amador‖, lá está também na formação, outro fator que eu ainda não tinha feito referência, e que é extremamente importante. E portanto, o espaço, não há espaços perfeitos, aquilo é um espaço que, as pessoas à medida que lá vão, vão amando aquele espaço e vão percebendo a importância que aquele espaço no seu todo, o Centro Cultural Malaposta tem e isso é extremamente positivo. F.V. – Então e projetos para futuro? O que é que se propõe fazer no Centro Cultural? Eu sei que são ciclos de quatro anos, sendo um Centro Cultural tutelado por uma autarquia, ele está sujeito a ciclos de quatro anos, que correspondem ao mandato dos órgãos autárquicos e também do mandato do conselho de administração, tem implicações no funcionamento do centro, este modelo democrático de funcionamento? 143 M.M. - Sim pode ter. Se me dissesse que era de dois em dois anos, eu diria que isso seria desastroso. As políticas têm que ser sedimentadas. Hoje podemos dizer que, a corrente de públicos está fixada, mas basta uma má administração ou uma administração com uma visão errada, para voltarmos a ter aquilo que tínhamos em 2005, que era sete mil ou oito mil pessoas ano e não sessenta mil. Ah, isso é muito simples, é muito simples de fazer. Costuma-se dizer que, para construir uma coisa muito boa demora-se muito tempo e exige muito esforço, para destruir, é muito fácil, é um dia. Neste caso bastaria uma administração com uma administração errada. Este ciclo de quatro anos não me parece negativo, com toda a sinceridade porque nada é eterno, muito menos nos tempos que correm. Portanto, uma administração não podia estar vinte anos. As coisas têm que mudar. É positivo que haja essa mudança. Aí não vejo nada negativo e o ciclo de quatro anos permite fazer uma política, já sustentá-la e efetivamente há coisas que é preciso melhorar e corrigir. Por aí eu não vejo problema algum. Quanto aos projetos de futuro, aqui estou numa zona cinzenta para poder falar. Pois pelo menos por enquanto não sou de novo Presidente do Conselho de Administração que gere a Municipália. F.V. – Também se concluiu agora um mandato, não é? Estamos num fechar de ciclo… são estas as contingências de um centro cultural que depende de uma autarquia... M.M. - Como opinião pessoal, depois de quatro anos, à frente da Malaposta e depois de quatro anos à frente da cultura na Câmara Municipal, é para lhe dizer que acho que deve haver sempre um incremento, deve haver um reforço paulatino do trabalho em comum da empresa municipal e da câmara municipal, como é óbvio. Isso tem que ser. Eu acho que se tem progredido bastante nessa vertente, mas é preciso ainda potenciar e melhorar. Os recursos são escassos e então, o trabalho em comum deve ser potenciado. É preciso ter a noção que a programação que o Centro Cultural da Malaposta apresenta é conseguida com custos mínimos. É preciso ter a noção que os trabalhadores que agora estão a ser pagos, que é o custo maior, seriam os trabalhadores que se teriam que integrar na Câmara, havendo integração. Não vale a pena haver essa ilusão. Agora como digo estou aqui neste momento de charneira porque supostamente irei assumir funções na Malaposta e estou ainda como Vereador da Câmara. Acho que a Malaposta tem que seguir o caminho, que tem seguido. Estes oito anos foram oito anos muito importantes. O terceiro mandato tem que ser um mandato de consolidação do que de muito bom se fez e alteração daquilo que possa eventualmente ter resultado menos e fazer aqui uma refundação, no sentido de um conjunto 144 de projetos novos também. Portanto, está na altura, uma vez que a corrente de públicos está conseguida, com prudência, fazer essa junção de duas coisas, consolidação do que provou funcionar muito bem, mas golpe de asa para lançar também outras coisas. F.V. – Portanto haveria uma visão no sentido de captar novos públicos, manter os que têm e continuar … M.M. – Sempre. Tem que haver sempre essa preocupação. Vou-lhe dizer uma coisa, nós temos que ter uma visão despreconceituada. Eu quero motivar as empresas para terem informação sobre a Malaposta e se deslocarem à Malaposta. Quero fazer congressos em que se fale sobre questões ligadas às atividades económicas e ao relacionamento económico com os países lusófonos. Há muita coisa a fazer aí nesse espaço, no espaço dos debates, há muita coisa a fazer. Lembra-se que para além da Bienal de Culturas Lusófonas, o Fórum Lusofonia, que entretanto se potenciou, começou por ser um dia e passou a ser dois dias integrado na Bienal. Fizemos um ciclo de debates tendo como patrono precisamente o Presidente da AMI, Fernando Nobre, e que foi um êxito completo, trouxemos o Adriano Moreira e foi um êxito bastante grande. Porque é assim, Odivelas tem que se habituar a fazer os debates que são importantes, no momento em que eles são importantes, ou seja, não interessa debater coisas muito importantes que o são intrinsecamente, mas que não estão na ordem do dia. Por exemplo, há uma coisa que está na ordem do dia, o valor económico da língua portuguesa, o potencial económico da língua portuguesa. Isto é absolutamente fundamental para a lusofonia. Não tem que ver com história, nem com cultura, nem com andarmos todos agarradinhos, tanto que nós gostamos uns dos outros, dos oito países de expressão portuguesa. Não, mas isto é fundamental. Já esteve e aí estivemos à frente. Este livro foi lançado pelo Instituto Camões, apresentado por Marcelo Rebelo de Sousa, em dezembro e quatro ou cinco meses depois está a ser debatido precisamente com o Professor Luís Reto que é Reitor do ISCTE, no Fórum Lusofonia. F.V. - Portanto há aqui uma dimensão da economia na questão da cultura e na questão da língua. Está a ser descoberta esta dimensão das potencialidades económicas? M.M. – É. Isso é extremamente importante. Eu diria que qualquer dia os bebés nascem e têm ao lado (não quer dizer que eu ache que isso seja bom) e têm ao lado, um plano de viabilidade para o resto da sua vida. Ma o que é facto é que não vale a pena ter ilusões. Antigamente achava-se que o Estado era um poço sem fundo. E quando se quisesse, desde que houvesse vontade, tirava-se de lá mais um bocadinho, ia-se lá com umas pás e tirava-se mais umas verbas e fazia-se isto ou aquilo, desde que se quisesse. Evidentemente que a 145 vontade política é fundamental. Não há realidade sem vontade concreta, política, objetiva e às vezes arriscada, mas tudo tem que ser feito de uma forma devidamente potenciada. A língua portuguesa no mundo que é falada, uns dizem duzentos e quarenta, aqui fala-se em duzentos e cinquenta milhões de pessoas, mas a língua portuguesa está a crescer, a língua portuguesa está de algum modo a entrar na moda. Há uma coisa que aqui é falada, que eu falei muito e que logo aqui a abrir vem muito falado, que é o relacionamento e a facilidade com que os portugueses entendem o espanhol e os espanhóis entendem os portugueses. Supostamente este ―portunhol‖, brincando um bocadinho, esta capacidade de perceção do outro, é aqui que está verdadeiramente a questão, levaria a que tivéssemos um grande grupo geocultural de uma dimensão única no mundo, provavelmente mais forte até que a língua inglesa. Portanto há que ter a noção, de uma forma despreconceituada, integrar os fatores que têm que ver com a economia, na perspetiva da economia como disciplina nobre, tal como a política também deveria ser pelo menos, uma disciplina nobre. Porque a visão da cultura, não pode ser a visão da cultura só… Por si só, a cultura não é rentável enquanto avaliação estritamente financeira, a cultura é rentável enquanto balanço social. É aqui que a coisa é absolutamente relevante. F.V. - Acrescenta valor… tem uma mais-valia… M.M. – Exatamente. Acrescenta valor. E eu não tenho dúvidas que, e eu não sei se será no meu tempo (não é que eu esteja a pensar ir-me embora muito depressa), mas eu acho que, resolvidas um conjunto de situações, a língua portuguesa está nos quatro continentes com países de língua oficial portuguesa, está nos cinco continentes como nenhuma língua está, falada em todo o lado. Se nós fizermos este pensamento…repare. Daí a aposta da lusofonia ser absolutamente fundamental. É uma aposta que deve ser do país, é uma aposta que deve ser dos municípios. E aqui, então temos a tradição com D. Dinis. Aliás, vou-lhe fazer chegar a ―Carta Municipal para os Assuntos da Lusofonia‖ que foi aprovada, deliberada em reunião de câmara e em assembleia municipal e considero uma grande vitória ter feito. Julgo que será pioneira no país a ―Carta Municipal para os Assuntos da Lusofonia‖. Mas pense no continente americano, Brasil que é os cento e oitenta milhões, depois começamos dali para cima até chegar ao México inclusive. Em todos os países se fala português. Claro que a língua oficial é o espanhol, mas em todos esses países se fala português e há comunidades portuguesas. Basta referir Caracas, Venezuela. Há outras comunidades muito intensas. Depois vamos para os Estados Unidos, bem, comunidades intensíssimas da Madeira e dos Açores, sobretudo, mas muita gente. E o Canadá, portanto se nós pensarmos, o continente americano está tão longe, o português é uma das línguas mais faladas, provavelmente mais 146 falada do que o inglês, porque o Canadá essencialmente é francês, é relevante mas… Portanto, o Espanhol e o Português é que são as línguas mais faladas. Veja-se a importância estratégica que teria todo o cidadão de expressão oficial portuguesa saber ler e falar o espanhol e vice-versa. A importância que isto teria e o continente americano. Isto não é utopia, isto é a realidade atual. F.V. - Isso é criar uma outra visão da globalização? M.M. - Exato. Ora bem, se nós não tratarmos de nós, nós os falantes de língua portuguesa no mundo, os espanhóis vão tratar deles, os espanhóis quer dizer, os hispânicos vão tratar deles. A língua francesa está em regressão, a alemã, a italiana, a nossa não. Portanto, isto não é tão utópico assim. Portugal vai voltar aos seus grandes momentos, agora não é em dez anos, vai efetivamente voltar, se as políticas certas forem feitas, o plantar o pinhal de Leiria para as naus, a língua portuguesa para a lusofonia. Claro é o que nós temos que fazer agora. É dentro dessa perspetiva. E repare, veja na Europa, 30% da população de Luxemburgo é portuguesa, na Suíça é fazer as contas, na Bélgica também há, menos, na Alemanha muita gente, bem, França, Paris não só, mas França, Inglaterra... Onde é que não se fala português? Se nós formos ver, há centenas de milhares, para não dizer milhões. F.V. - E portanto isso são pontes para o mundo… M.M. Isso é lusofonia também. Aliás, por isso trouxemos escritores que escrevem em língua portuguesa, alguns têm dupla nacionalidade, e que vieram aqui ao encontro de escritores, porque muitas vezes são desprezados, vêm só brasileiros, angolanos, moçambicanos, vá lá de Cabo Verde. Não, é nestas áreas todas e para não falar também do que há no oriente. Ainda há dias veio uma notícia, que um alto responsável de Macau diz que está interessado em potenciar as lusofonias. F.V. - Mas de algum modo estas iniciativas relacionadas com a lusofonia revelam uma visão estratégica, mas também estão relacionadas com a composição da população do concelho que tem também toda essa diversidade? M.M. - Ora bem essa questão é fundamental. É isso que comprova o nosso trabalho. Eu vou pedir para me enviarem a Carta Municipal para os Assuntos da Lusofonia, para enviar para si. F.V. - Quando é que foi constituída a Municipália e quais as razões que levaram à sua constituição? 147 M.M. - Foi em Outubro de 2007. Era eu Presidente da Odivelcultur, que tinha assumido desde novembro de 2005, a Sra. Presidente fez-me um desafio (houve umas alterações políticas, que para o caso não interessam) e fez-me o desafio de assumir a liderança também da Odivelgest, ser Presidente do Conselho de Administração em simultâneo das duas empresas, tendo em vista fazer a fusão das empresas. E foram-me dados noventa dias eventualmente prorrogáveis por mais trinta, o que à partida as pessoas disseram: ―bem isso é impossível.‖ Eu devo dizer que ao fim de dois meses e meio apresentei à reunião de câmara o projeto e no dia 1 de outubro começou a funcionar a Municipália. Mas o que é a Municipália? Havia a Odivelgest e a Odivelcultur. Uma das coisas que eu disse à Sra. Presidente é que para fazer essa fusão, seria sempre a Odivelgest a integrar-se na Odivelcultur e nunca o inverso. Porque as piscinas ou o desporto têm que perceber a diferença que há relativamente à cultura, também são cultura, mas na base de tudo e do nosso concelho também tem que estar a cultura e portanto a integração tinha que ser essa. E havia felizmente razões também elas funcionais e de direito e de gestão, que aconselhavam isso. E isso foi feito. A Odivelgest na altura tinha um resultado líquido negativo, em final de setembro, e teve que se agregar um valor de duzentos e noventa e dois mil euros. Lembrome como se fosse hoje, e é agregado esse valor e é feita a integração. Dir-se-á, mas então, a Municipália porquê, se era Odivelcultur? Porque se entendeu, na altura e bem quanto a mim, que como se entrava num ciclo completamente novo, não deveria ficar o nome de Odivelcultur, dever-se-ia encontrar um nome integrador, tal como também os estatutos não foram exatamente os estatutos da Odivelcultur, foram os estatutos da Odivelcultur mas alargados permitindo (por exemplo, situações como a que agora está com o a gestão do Multiusos) integrar outras atividades e a gestão de outros equipamentos. Amanhã se a Câmara Municipal entender colocar os equipamentos de estacionamento, pois é possível, será outra área de negócio. Portanto a Municipália é criada nessa ótica. Dizer já agora, é uma questão que não é de somenos importância, a Municipália, nos três meses de funcionamento em 2007, teve um resultado líquido, que só não foi positivo, porque não houve uma transferência da Câmara Municipal de uma verba que devia, porque senão teria sido. E o único ano, o único exercício em que houve resultado líquido da empresa municipal foi positivo foi em 2008. O ano integral de 2008 teve resultado líquido positivo, depois em 2009 já não teve e entretanto não tem tido. Ainda há dias, estive com o revisor oficial de contas a falar sobre questões ligadas a estes assuntos, e houve uma pessoa que me quis cumprimentar, que foi a pessoa desse revisor oficial de contas, que liderou o processo tecnicamente, o Dr. Carlos Grenha, e que me veio dizer: ―Está bom Mário Máximo? Nunca 148 me esqueço que consigo fizemos aquela que, ainda hoje eu considero que deve ser única, mas se não foi a única, na altura foi de certeza a primeira, porque na altura nenhuma conservatória de registo comercial conhecia a fusão de empresas municipais‖. Portanto, agora provavelmente já haverá mas na altura foi a primeira. Isto ainda em 2007, que é feita a fusão, começou a funcionar em 1 de Outubro de 2007, mas é a Odivelcultur que está a funcionar, só que foi crismada e mudou de nome. 149 Anexo 19 Entrevista à Sra. Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Susana Amador (nos mandatos de 2005/2009, 2009/2013 e 2013/2017). Data: 08/01/2014 Local: Gabinete da Sra. Presidente da Câmara Municipal, em Odivelas. Introdução Esta entrevista insere-se num Mestrado em Práticas Culturais para Municípios, do Departamento de História da Universidade Nova de Lisboa e tem como objeto de estudo o Centro Cultural da Malaposta e a sua programação, no período de 2007-2012. F.V. – Em primeiro lugar gostaria de lhe agradecer a sua disponibilidade para colaborar neste trabalho de Mestrado, e começava por lhe perguntar, com todas as atividades inerentes ao cargo de Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, se ainda consegue ter algum tempo livre para dedicar a atividades culturais? S.A. – Claro que tento, até porque sem cultura eu não respiro. A verdade é que, desde criança, quer os meus pais, quer a minha família me habituaram a conviver com a arte, com a cultura com o espetáculo, seja no cinema, seja no teatro, seja através da dança. Uma família de classe média, mas onde a questão da cultura sempre esteve presente e tento passar isso para as minhas filhas. E portanto, todos os poucos tempos livres são para irmos ao cinema ou ao teatro infantil quando é o caso, ou então com o meu marido, como fui recentemente ver o ―Hobbit‖ e o Woody Allen, sempre que há filmes do Woody Allen, (penso que estará um para breve), que é um dos meus autores preferidos, faço todos os possíveis para ter esse espaço de respiração. Eu olho para a cultura como um espaço de respiração, onde me sinto livre, e acho que a cultura nos dá essa capacidade de humanização. Já dizia o Nadir Afonso que ―a cultura eleva o espírito e humaniza-nos‖ e é verdade. Essa frase que está afixada no nosso Centro de Exposições é muito verdadeira e tento praticá-la todos os dias. Eu acho que nós somos muito mais humanos quando temos acesso a bens culturais, desde o nascimento até à morte. F.V. - E ao nível das práticas de cultura, participa como público, mas também tem alguma prática específica de cultura, enquanto profissional ou enquanto amadora? S.A. – Essencialmente, ―pratico‖ como público, sou mais passiva, gosto depois de avaliar o espetáculo, fazer a sua análise crítica. Quando estudava na Alliance Française participei num 150 núcleo de teatro da Alliance Française. Aliás, tenho o diploma de língua e literatura francesa e havia muito a preocupação de fazer a parte da encenação, designadamente, fui ―Susana das Bodas de Fígaro‖. Se tivesse mesmo muito tempo, devo dizer que era algo que gostaria de fazer, porque é perfeitamente libertador. Gosto muito de ler e de declamar poesia, aliás, não faço nenhum discurso sem que tenha um apontamento de poesia ou um excerto de uma canção marcante, porque eu acho que a política pode ser muito secante e os discursos podem ser muito maçadores ou muito iguais e aquilo que os pode diferenciar é termos este registo, fazer minhas as palavras de outros, adaptando ao nosso contexto. E acho que as pessoas já se habituaram, em qualquer coisa que eu escreva, a ter um pequeno trecho de Pessoa, de Mia Couto ou de Sebastião da Gama, os meus poetas preferidos, entre outros. E assim acho que tornamos a política também o tal lugar do sonho coletivo, e nada melhor do que a cultura para tornar esse lugar possível. F.V. - E costuma assistir às atividades culturais do Centro Cultural Malaposta? S.A. – Sim, tento estar sempre presente nas estreias, ir ver as peças, estar com os artistas, saudá-los, estar com o diretor artístico, estar com os funcionários da Malaposta, porque acho que a minha presença é um imperativo político e ético; político, porque faz parte do meu cargo, ético no sentido de que a minha presença significa que estou com eles, que estou com a cultura, e que abraço esta causa e este projeto. Portanto, a minha presença tem muito esse efeito de contaminação positiva, porque espero que a seguir a mim também vão os Vereadores e vão os Presidentes de Junta e vão os funcionários. Considero que a liderança se faz pelo exemplo, seja ao nível das causas sociais ou da dádiva de sangue, por exemplo, ou fazendo um rastreio médico, ou estando presente num espetáculo. E claro que o faço com muito gosto, porque não o vejo só como algo inerente ao cargo, dum ponto de vista daquilo que é a minha paixão por estas áreas. Sempre que vou a um espetáculo da Malaposta, sempre que passo pelo centro cultural, acontece, um momento de descompressão, de lazer e de bemestar, e portanto, nada como o final do dia passado no Centro Cultural da Malaposta, recomendo a todos. F.V. – E da oferta cultural que o centro tem, que género de atividades é que aprecia mais? S.A. - Essencialmente, as que vejo mais são as ligadas ao teatro, à sala principal de que gosto bastante, mas também quando há tertúlias de poesia com o José Fanha, por exemplo, ou quando há um apontamento musical, como foi com o Jorge Palma, em que também estive presente. Por isso, seja na componente mais musical, seja na componente poética ou na 151 componente do teatro, são as áreas que eu frequento mais. No entanto, também aprecio particularmente os projetos do município, como foi o caso de ―Artes da Saúde‖, ou quando se realizam ―As mostras de Teatro Amador‖ com as nossas escolas. Digamos que aprecio preferencialmente o teatro, seguido da componente musical e da componente poética. F.V. - Em relação às características do edifício e à sua localização, qual é a sua opinião? S.A. – O edifício é muito interessante, do ponto de vista do seu desenho arquitetónico. Já teve múltiplas valências, que a Filomena irá espelhar na sua tese. E, acima de tudo, acho que é um edifício que não nos deixa indiferentes. Quando passamos, ele destaca-se do resto da sua envolvente, impõe-se por si, todo o arranjo verde também, as duas palmeiras imponentes, as melhorias que fizemos no exterior, o pequeno parque de estacionamento lateral, que também criou mais alguma possibilidade de melhoria das acessibilidades e do estacionamento. É, portanto, um edifício bonito e sobretudo com história e que qualifica o concelho de Odivelas, qualifica o território e que diferencia o Olival Basto de todas as outras freguesias, porque o centro cultural está no Olival Basto. Eu acho que esse é o elemento de diferenciação desse território e fonte de orgulho de todos os Olivalbastenses, de certeza absoluta. F.V. - E a localização acha que é favorável, enquanto centro cultural? Ele está numa ponta do Concelho, não é? S.A. - É, mas não deixa de estar na principal entrada do concelho, não é? Logo, quando explico a alguém como é que vem ao Centro Cultural da Malaposta, eu digo, é só seguir a Calçada de Carriche, é ao fundo da Calçada de Carriche. Não há ninguém que não conheça a Calçada de Carriche, até pelo célebre poema, e também se pode dizer: ―Sai no metro da estação do Senhor Roubado.‖ Com estas duas referências, ou descer a Calçada da Carriche ou sair na estação do metropolitano do Senhor Roubado, devo dizer que não vejo melhor sítio para a sua localização. Portanto, tem ali vários meios de transporte muito importantes para se chegar, seja por via automóvel, seja por via do metropolitano ou por outro tipo de transporte, e tem ali à noite sobretudo, na estação do metropolitano, um estacionamento vazio, basta atravessar a estrada e depois tem dois pequenos parques, que não são suficientes, mas ajudam a descongestionar, e por isso acho que a acessibilidade é ótima. O Olival Basto é mesmo ao encontro de Lisboa. O Olival Basto abraça Lisboa e Lisboa abraça o Olival Basto. Os sessenta mil espetadores que tivemos no último ano revelam isso mesmo, ou seja, não só a qualidade da programação mas também a sua acessibilidade, que noutro 152 sítio do concelho, tendo em conta as dificuldades que temos de estacionamento no concelho, em Odivelas ou noutro sítio não seria a mesma coisa. F.V. – E como Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, no seu entender qual deve ser a missão deste equipamento cultural? S.A. - Uma missão que eu acho que está a ser cumprida, que é a missão de levar a cultura a todos os segmentos da população, a todas as faixas etárias e a todas as classes sociais, ou seja, tornar a cultura um produto democrático. É assim que a Constituição a trata. Aliás, trata a educação e a cultura da mesma maneira, no mesmo artigo da nossa constituição, e acima de tudo esta missão é uma missão de cumprimento escrupuloso da Constituição da República Portuguesa, tornar a cultura acessível a todas as pessoas do nosso concelho e fora do concelho, porque o produto Malaposta é um produto metropolitano e um produto nacional. Portanto, um produto que não se esgota nas nossas fronteiras e temos muito orgulho que venham pessoas de outros municípios, de outras regiões assistir a um espetáculo e a este produto cultural. Penso, sinceramente, que a missão deste equipamento deve ser a de acessibilidade da cultura. E aquilo que temos feito e que se nota é que nós chegamos ao público infantil, chegamos ao pré-escolar e também chegamos aos mais idosos, uma vez que a programação também se adapta a eles, além de o projeto cultural não se esgotar na sua própria programação. À sua própria programação há uma abertura de receber outros agentes do concelho, agentes sociais, agentes culturais, os projetos municipais da Câmara Municipal, o teatro amador das escolas secundárias, trabalhar com os alunos do ensino profissional, como aconteceu com os alunos da Escola Avelar Brotero, alunos com mais problemas de retenção escolar, onde houve um curso para Assistente de Palco, etc. Eu acho que cumpre uma missão social indeclinável e tenho pena que outros agentes ao nível nacional não olhem para a Malaposta e para este centro cultural com os mesmos olhos que nós olhamos, ou seja, de uma missão que não se esgota apenas na sua própria programação cultural e nos seus públicos, mas que quer que os públicos trabalhem consigo. Há um trabalho de reciprocidade integrado, que também foi feito com os protocolos que nós fizemos com os sindicatos, com as sociedades centenárias, com escolas. Houve uma preocupação a partir de 2005 em particular, de perguntar às pessoas o que é que querem ver na Malaposta, e o que é que querem que a Malaposta seja. E quando nós fizemos esse trabalho de encontro com as pessoas e de construir e de desenhar uma programação com elas, onde elas também fazem parte, porque têm espaço naquele palco, ou no café-teatro ou noutros sítios, para poderem 153 demonstrar aquilo que são, passámos de sete mil espetadores para os sessenta mil. Acho que este número diz tudo. Abrimos o leque e tornámo-nos mais ecléticos. O produto da Amascultura era um produto bom, mas muitas vezes era um produto mais fechado para um determinado tipo de público, que não deve ser desprezado. A preocupação do Manuel Coelho e as nossas orientações também a nível municipal foram no sentido, abram o leque tornem-se mais ecléticos, tornem-se mais interclassistas, tentem ir ao encontro dos vários públicos. Daí, as revistas mais populares do Fernando Gomes, que chegam de facto a um determinado público, a dança contemporânea que chega a outro público, a ligação às escolas e tudo isso deu este resultado. E a mim o que me preocupa é que depois de todo este esforço, tão grande, de aglutinação, deste somatório de vontades individuais e coletivas, tenhamos chegado a este patamar de nos tornarmos o terceiro centro cultural mais frequentado do país, termos sido considerados pela Sociedade Portuguesa de Autores e pelo Jorge Letria, como um dos cinco melhores municípios em programação, na área da lusofonia em particular, e que depois possa haver aqui algum desfecho mais negativo nesta missão. Como digo, é uma missão de escrupuloso cumprimento da Constituição da República Portuguesa e temos a consciência tranquila nesse aspeto. F.V. - O Centro Cultural da Malaposta criou uma marca que é “malaposta - uma casa com arte”. Este conceito de “Uma casa com arte” como é que nós o podemos interpretar? S.A. - É uma casa com arte, porque acima de tudo, o produto e tudo aquilo que se desenvolve no seu seio, começa e acaba na arte, na arte de dizer bem e de fazer bem o teatro, na arte do cinema, na arte da dança, na arte da escultura, na arte da pintura. Ali há todas as formas de arte, estão todas espelhadas e cabem nesse centro cultural. Quem tem a ideia de que a Malaposta é só teatro, engana-se. É muito mais do que o teatro. Tem as diversas componentes, tem os ciclos de cinema, seja de cinema português, seja de cinema mistério, de cinema de ficção, e por aí fora, como a componente do teatro infantil que é um sucesso. Então, tem todos os segmentos. É arte pura e dura. Portanto, é uma casa com arte que soube casar muito bem a arte e casar muito bem essa arte com os desejos do público, porque as reações que temos das pessoas é ―continuem, continuem, continuem‖. E portanto, quando o público está contente e quando em alturas de crise, o público continua a ir e continua a esgotar as salas, é sinal que conseguimos fazer esta simbiose perfeita da qualidade versus o preço praticado, que é um preço simbólico, é um preço social. Daí, o apoio da Câmara 154 Municipal, ou seja, a nossa subvenção é para que se possa prosseguir o projeto social, com preços que temos a noção que são simbólicos, não pagam o real custo, e por isso esta contabilidade analítica deveria ser feita e não a contabilidade tradicional, porque a verdade é que se fossemos praticar o preço real, isso afastaria as pessoas e então já não estaríamos a tornar a cultura, o bem acessível que queremos que seja. A Câmara Municipal está disponível para fazer parte desse esforço e de dar essa subvenção. Agora houve, obviamente, um conjunto de situações complexas que teve a ver com a subida do IVA, teve a ver com um outro conjunto de circunstâncias que nos fizeram ter de facto alguns problemas financeiros, que atravessam todo o país, mas que não devem ser eles a fazer-nos arrepiar caminho, quando o caminho foi um caminho de conquista, de conquista do público, de conquista da cultura, e sobretudo de diferenciação do concelho. O que é que seria Odivelas sem a Malaposta? O que é que o distinguia da Amadora ou de Loures ou de outro concelho? Aquilo que nos distingue é aquilo que nós oferecemos de forma diferente. E a Amadora ou Loures não têm esta resposta do Centro Cultural como nós temos, terão outras respostas, mas não têm esta. E numa sociedade tão globalizada e num mundo tão globalizado, claramente que continua a ser a cultura que nos diferencia. E portanto, hoje sabemos se é português, se é francês, se é inglês, não é pela forma como veste, porque vestimos mais ou menos nas mesmas lojas, vamos aos mesmos sítios, ou até na forma como se come, porque infelizmente abandonámos a dieta mediterrânica que estamos a tentar retomar, mas essencialmente pela cultura. O Português tem este traço identitário, seja através das suas Janeiras, seja através do Fado, seja através dos seus poetas, dos seus autores, o Inglês através da sua cultura e o Francês a mesma coisa, e é isso que nos distingue. Se nós deixarmos a meio caminho o nosso produto cultural, as nossas tradições culturais, se deixarmos os nossos autores, não sobra nada, não há identidade e sobretudo não há futuro. F.V. - Em relação aos recursos humanos que o Centro Cultural Malaposta tem, que fazem todo esse trabalho e que são recursos humanos especializados, quando o Centro Cultural da Malaposta foi transferido para o Município de Odivelas, após a extinção da Amascultura, uma das condições que tinha sido estabelecida era a Câmara Municipal de Odivelas, o Município de Odivelas, assumir os recursos humanos que estavam afetos a este equipamento. Na sua opinião, acha que havia condições objetivas para poderem integrar os quadros da Câmara ou não? S.A. – Eu não acompanhei esse processo inicial. Naquela altura poderia ter sido mais fácil, hoje seria mais complicado, porque o mapa de pessoal ao nível da administração pública está 155 circunscrito a três categorias: Assistentes Operacionais, Assistentes Administrativos e Técnicos Superiores; e como disse, há especificidades e há remunerações que se fossem aqui no Município seriam uma revisão em baixa complexa, porque a pessoa tem um determinado tipo de habilitação, que a faria ficar como assistente operacional, mas depois tem uma especificidade que não se encontra, e independentemente de ter o 9.º ano ou o 12.º ano, a remuneração é feita em função dessa especificidade. Portanto, qualquer integração no mapa de pessoal seria hoje muito complexa, porque levaria a essa revisão em baixa. Acho que o modelo que se adotou foi o mais correto, ou seja, absorver as pessoas, mas estarem ao serviço de uma empresa municipal que segue um regime de direito diferente, que não é o regime administrativo, é um regime de direito comercial no âmbito privado, que permite esta flexibilidade na escala remuneratória e que permite outra coisa a meu ver muito importante, que é a agilidade no processo e nos procedimentos. Tudo aquilo que for necessário adquirir para montar o espetáculo é feito com base nesse tipo de procedimentos, do direito privado, muito mais rápidos, muito mais ágeis e que melhor conseguem cumprir a missão e a estratégia para a empresa municipal. Se este tipo de produto fosse assimilado pela Câmara Municipal diretamente, tendo em conta por exemplo, a lei de compromissos onde nós só podemos ―compromissar‖ e depois fazer o pagamento em função da previsão de receita até dez meses, essa legislação fez-nos perder muita agilidade. Já tínhamos menos do que no privado, agora ainda menos com esta lei de compromissos, o que levaria por exemplo, às vezes, ser preciso esperar quatro meses para adquirir um parafuso, ou uma necessidade qualquer que fosse necessária para a Malaposta e que não é compaginável com aquilo que é uma programação diária e uma necessidade diária, e que até com os fundos de maneio, cada vez é mais complicado resolver esse tipo de questões e de problemas. Nós estamos sujeitos hoje a uma rigidez de custos. Eu percebo a questão da moralização, em relação à contenção de despesas, que eu acho que deve acompanhar todo o poder local e poder central, mas isso não deve fazer com que a questão financeira seja uma obsessão de tal maneira que prejudique o essencial, que é satisfazer as necessidades coletivas das pessoas. E as autarquias não são empresas para dar lucro, têm que ser sustentáveis, têm que ter princípios de contenção e de ética financeira, mas nós sabemos que as necessidades são imensas e aquilo que queremos é ter a autonomia administrativa e financeira que perdemos. E portanto, o facto do projeto cultural estar inserto numa empresa municipal, permite-lhe uma autonomia administrativa, financeira e patrimonial e uma agilidade que, por exemplo, nós, câmara municipal, temos vindo a perder de forma crescente e estamos neste momento, a meu ver, no patamar mais baixo, em termos de cumprimento do princípio constitucional da autonomia 156 local. Vamos ver como é que a situação evolui, mas continuo a achar que a opção que se teve foi a mais correta, aquela que melhor responde também às necessidades das pessoas e ao seu mérito, do ponto de vista profissional e que na administração pública iríamos criar muitas injustiças relativas. Caso esse cenário se venha a colocar no futuro, deixa-me muito apreensiva, porque tenho noção de que se criarão injustiças relativas, no mapa e num sistema que hoje se esgota em três categorias. F.V. – Não só em relação aos recursos humanos, mas em relação também aos modelos de administração, uma das questões que é frequentemente debatida é sobre as vantagens ou desvantagens de uma gestão direta na dependência da estrutura orgânica da câmara ou através de uma organização mais autónoma, que pode ser uma associação ou uma empresa municipal. Estava já a adiantar-me vantagens e desvantagens. E no caso deste centro cultural, com estas características e com uma atividade diária e bastante diversificada, que trabalha de manhã à noite, acha que… S.A. - Continuo a achar que o modelo que temos atualmente é o modelo que melhor serve o espírito de missão e a visão estratégica que temos para o Centro Cultural Malaposta e para a produção cultural que ali se faz. Entendo que a flexibilidade que existe, de um ponto de vista dos recursos humanos, de um ponto de vista da agilidade que é indispensável, de um ponto de vista da própria disponibilidade das pessoas, dos trabalhadores, se enquadra melhor num projeto desta natureza do que num projeto municipal de gestão direta pelo município. E como lhe digo, nos tempos atuais, face às alterações que existiram, do ponto de vista da nossa própria autonomia, mais certa estou quanto à defesa deste modelo, porque fico muito preocupada, no caso de uma eventual extinção da empresa municipal, não só na questão da absorção dos recursos humanos e a questão das disparidades que possam ser criadas, mas como nessa própria absorção, porque aquilo que o legislador nos diz não me deixa tranquila. Sim, porque a verdade é que não há uma absorção automática, tem que haver concursos individuais para todas as pessoas, concursos feitos com base na legislação da administração pública, onde as pessoas que tenham vínculo têm direito de preferência, mas depois ficam numa situação de empate, se concorrem funcionários que estejam no mapa de disponíveis da administração pública. Tudo isso não é fácil de tratar. Além de que na componente das piscinas municipais temos muitas pessoas, que não têm vinculo nenhum, que são prestadores, designadamente os professores de natação. Portanto, essas pessoas não estão minimamente acauteladas, implicaria que a Câmara Municipal tivesse avenças, às quais o Tribunal de Contas é cada vez mais avesso, e também somos muito mais sindicados pelo 157 Tribunal de Contas do que no caso a Empresa Municipal. Ou seja, há aqui muitos estrangulamentos e muitas limitações, que me deixam apreensiva, e que sobretudo no caso de uma gestão da Câmara Municipal, do ponto de vista da própria programação e do ponto de vista das dificuldades, depois não haja impactos negativos de se fechar mais um dia, ou de se diminuir este ou aquele apontamento. Portanto, uma revisão em baixa na área cultural. Isso preocupa-me, porque o facto de ser a própria empresa a delinear a programação e a ter essa autonomia, ainda que nós como acionistas únicos vamos dizendo ―atenção vejam a questão da sustentabilidade, vejam a questão financeira‖, ainda assim, há aqui um diálogo e há um projeto e uma programação que depois se impõe. Sendo tudo feito pela Câmara Municipal, entrando no bolo de várias políticas sociais, habitacionais, culturais, etc., poderá haver de facto, essa revisão e essa tentação, depois de dedicar mais verbas a um conjunto de setores e não tanto a esse. Estando autonomizado esse, pelo menos sabe que todos os anos tem esta subvenção, tem este orçamento. Fico preocupada com os sinais que existem em relação à extinção de empresas. Acho que de facto, havia Câmaras Municipais que tinham três, quatro e cinco empresas, empresas para as obras, empresas para as escolas, que era claramente excessivo e pouco justificado ou pouco fundamentado. Agora um dos maiores municípios do país, com cento e cinquenta mil habitantes, que só tem uma empresa municipal? Espontaneamente em 2007 decidimos fazer a fusão das duas, sem que a lei o obrigasse, foi uma questão também de moralização para não haver dois conselhos de administração, e que a questão da remuneração do conselho de administração não fosse mais uma acha de arremesso político. Espontaneamente, fizemos esse exercício. Só temos esta empresa, e não me parece nada excessivo para a nossa ratio de população, para a nossa situação financeira, que tem sido de recuperação, recuperamos trinta milhões de euros em relação a 2005, data em que iniciei funções. Portanto, uma câmara municipal que hoje deve muito menos à banca, que deve muito menos a fornecedores, que está a encontrar o seu caminho de sustentabilidade, se nós cumprimos esses patamares todos, porque é que devemos ser martirizados com esta espada que está neste momento em cima da cabeça. Acho que é muito injusto e que não merecemos esta espada, mas lutaremos até ao fim como sempre. F.V. - O projeto fundador inicial do Centro Cultural da Malaposta, quando foi constituído por quatro municípios, também tinha adotado este modelo de gestão, não de empresa porque penso que na altura, esta figura de empresa municipal não estava regulamentada, mas tinha adotado o modelo de associação. Hoje, acha que ser uma 158 Associação Municipal poderia constituir uma alternativa a estes constrangimentos ou não? S.A. – Penso que tudo o que venha e contribua para tornar o mecanismo da gestão da Municipália, em algo mais ágil e mais eficaz, seja por via associativa, seja por via de empresa se ela se mantivesse, ou por outra via, parecem-me todas melhores e mais adequadas do que a gestão direta que, como digo, neste contexto e na conjuntura atual é o pior cenário que se pode colocar. Se fosse há dez anos ou há quinze anos atrás, teria algumas limitações, mas não teria tantos constrangimentos como hoje, porque o poder local nunca esteve num processo de tanto centralismo e de tanta perda de autonomia e com recursos tão escassos. E quando os recursos são muito escassos e quando estamos numa altura de crise, do ponto de vista da demagogia, a demagogia é fácil, normalmente a vox populi muitas vezes diz, e a oposição e os partidos políticos da oposição, o que dizem é ―isso não é prioritário, é mais prioritário a escola‖, que é. Mas é assim, a cultura também é escola, e a educação e a cultura e o conhecimento fazem parte do mesmo pilar, que é o pilar da cidadania. Estas dicotomias entre o prioritário e o não prioritário têm sempre ao longo dos anos, servido de bode expiatório para dar pouco apoio à cultura, em praticamente todos os governos a nível da administração central. Há crise, há austeridade, os primeiros a sofrer são os agentes culturais. Não se olha para a cultura e para os agentes culturais como um segmento de grande importância e peso económico numa sociedade, até porque se estamos tão preocupados com a questão económica, convém sublinhar que a cultura é uma alavanca económica fundamental. Portanto, esta visão que se tem, um bocado torpe, de que a cultura é uma fonte de despesa, e só, não olhado para a cultura como uma fonte e um pilar de cidadania e também como produto económico, revela de facto uma visão errada dos sucessivos governos. E aí, penso que a grande maioria penalizou sempre muito a cultura. Nós temos um PIB baixíssimo do ponto de vista europeu, para a área da cultura. E portanto, a verdade é que neste momento, atribuir a gestão deste equipamento cultural, num período de crise, seja a que autarquia for é perigoso, porque independentemente da vontade do Presidente de Câmara, e neste caso a minha vontade é total de apostar, haverá pressão para que se suspenda aqui este apoio e se vá ao encontro de outras necessidades. Eu olho para a questão educativa e social e cultural da mesma maneira, porque acho que fazem todas parte do mesmo eixo estratégico que é um eixo também de competitividade, pelo que lamento que a visão que nos tem acompanhado nos últimos anos a nível nacional não seja essa, e espero que possa mudar e que se possa perceber a importância do produto cultural e de uma política cultural de excelência a nível local e a nível nacional. 159 F.V. – Uma das coisas que surpreende e que deve ser objeto de estudo é esta questão de que a nível financeiro nós vivemos uma época de crise económica, que não é só local, mas também a nível nacional e internacional, e que obriga a esta contenção de despesas, e muito mais no plano da cultura, e prudência no investimento, mas o Centro Cultural apesar destes constrangimentos, consegue estabelecer uma programação que dá continuidade ao seu plano de atividades, e ao mesmo tempo tem-se assistido ao longo dos últimos anos, a um aumento progressivo de público. Portanto, esta é uma questão que nos interroga e que se procura saber qual é o segredo, se é o modelo de gestão se é o modelo de programação. No fundo quais são as estratégias que têm sido utilizadas para que se consiga este sucesso, que é ser o terceiro maior centro cultural do país em dimensão de programação e de público? S.A. – Foi uma combinação feliz de várias variáveis. Antes de mais, obviamente, uma direção artística de excelência. O Manuel Coelho com uma visão cultural muito acertada, muito oportuna, muito eclética, uma pessoa de grande abertura, que desde muito cedo percebeu que além da programação que ele tinha em mente, era fundamental envolver toda a sociedade civil, envolver todos os agentes do concelho. Portanto, além da excelente programação, aquilo que eu digo foi levar o Centro Cultural às pessoas e dizer ―nós estamos aqui, participem e interajam connosco‖. A partir do momento em que essa abertura aconteceu, houve de facto este retorno muito grande das pessoas e uma adesão enorme. E depois, de facto, a programação é muito diversa e sobretudo tem uma cadência, para o público infantil, todos os anos se sabe que se vai contar com duas peças, há uma ligação desde o início às escolas com os professores, com os pais e com as crianças. O público infantil, este segmento está perfeitamente alavancado, agarrado e atraído ao produto que a Malaposta oferece. Depois, trabalhou-se muito bem toda a componente mais popular, do tipo revista que foi muito importante para esta adesão. Associou-se ainda uma coisa que não existia que é criar eventos marcantes, com impacto nacional. A ―Bienal da Lusofonia‖ foi um deles, que decorre em vários equipamentos da Câmara Municipal também, mas onde na Malaposta tem o epicentro do apogeu, seja ao nível da pintura, da escultura, do teatro ou da música. A Bienal da Lusofonia veio para ficar e portanto é hoje uma imagem de marca do concelho de Odivelas, da qual não abdicamos. Associamos também o ―Festival dos Sentidos‖ da CEDEMA, pela sua singularidade, pelos públicos que vêm, pela componente da área social e de inovação social que têm, onde se trabalha a área da deficiência através da cultura. Portanto, é uma área da qual nós ainda não falámos, mas que é fundamental. Quer o nosso centro para a doença mental de Odivelas quer estas entidades perceberam já há muito 160 tempo, e o Hospital Júlio de Matos também, que a cultura é terapêutica e que através da pintura, do teatro e da escultura há diferenças que se esbatem e há problemas que diminuem. Portanto, este evento dos sentidos despertou todos os sentidos e todos os caminhos para a Malaposta. E houve momentos muito importantes também ao nível de uma exposição com Fernando Pessoa, à qual associámos a família de Fernando Pessoa, a ligação ao Café do Martinho da Arcada e ao próprio espaço com o Café Pessoa; a ligação através da CPLP ao Lauro Moreira com a Bienal da Lusofonia; ou seja, nós criamos ―Amigos da Malaposta‖ e esses amigos vêm de todos os quadrantes, vêm de todas as regiões e vêm dos países da lusofonia, não há nenhum angolano, moçambicano ou de São Tomé, ou de Macau ou de Timor, que não saiba onde é que é a Malaposta e portanto isso foi ganho. A partir do momento em que se apostou numa programação rica e de excelência, a partir do momento em que nos abrimos para dentro do concelho e nos abrimos para fora do concelho, alavancámos o produto em eventos de natureza nacional e internacional, a explosão de público está aí e está consolidada, temos é que continuar a corresponder. A fasquia está muito alta, temos é que continuar a corresponder às expectativas, como dizia, todas as salas estão cheias e ao mesmo tempo em paralelo e em simultâneo e temos que continuar a corresponder a essas elevadas expectativas das pessoas nestes momentos de dificuldades e não baixar a qualidade. Não podemos ter a tentação de baixar a qualidade ou a tentação de fechar três vezes por semana ou duas vezes por semana. Aí começamos na curva descendente e nós estamos numa curva ascendente, que ainda pode subir mais e depois é o desafio de a manter neste nível ascendente. A receita foi essa, foi uma receita de participação, de resultados, de qualidade e a qualidade atrai qualidade e amor atrai amor. E portanto, o resultado é mesmo muito, muito satisfatório. E outros projetos, como o da ―Banda Maior‖ que também têm vindo a afirmar a componente da solidariedade que tem havido também muito na Malaposta. Quando iniciei funções já era conhecida a Malaposta, mas era vista por muitas pessoas como uma ilha distante. E havia pessoas de Loures e de Sintra que pouco vinham, mas de Odivelas não vinham. Mas, essa ilha distante esbateu-se por completo, só restam as palmeiras que caracterizam as ilhas, mas de resto ela faz parte do ideário de toda a região metropolitana de Lisboa, neste momento. F.V. – E qual é a visão estratégica da autarquia para este equipamento, neste mandato que se está agora a iniciar? 161 S.A. – No que depender de nós, tudo faremos para manter o projeto Malaposta e o projeto Municipália com a qualidade que tem, com a programação que tem, com a estabilidade de recursos de, que carece, e com o necessário engenho e arte e criatividade, para manter este nível de qualidade, para continuarmos a ser reconhecidos pela Sociedade Portuguesa de Autores, mantendo os grandes eventos nacionais. Da nossa parte, a estratégia é uma estratégia para ser mantida, reinventada, porque nós temos que nos reinventar todos os dias, não podemos cristalizar, e temos que, em diversos segmentos provavelmente, melhorar. Acho que na componente musical podemos e devemos ter ainda mais espetáculos, mais artistas, há várias áreas que podem crescer ainda. No que depende de nós, a visão está estabelecida e que é ―Malaposta como marca de água do concelho de Odivelas‖. Aliás nas nossas linhas orientadoras do PDM, que vamos aprovar como nosso primeiro PDM, no decurso de 2014, se tudo nos for correndo bem, a verdade é que nós temos marcas de identidade, seja através da nossa história, como o mosteiro de São Dinis e com a ligação que queremos fazer à história e ao rei, seja na parte da contemporaneidade e na parte da cultura, mas claramente que a marca de água aqui é a cultura, seja na componente histórica, seja na componente cultural propriamente dita. E portanto, tudo faremos para manter essa estratégia e essa marca diferenciadora que nos distingue dos concelhos limítrofes e que nos distingue também no país, é essa diferenciação, senão éramos um simples concelho dormitório. Odivelas deixou de ser um concelho dormitório, acima de tudo, porque apostou na área cultural e na área de educação e do conhecimento. A partir do momento em que nós criamos escolas de qualidade, projetos de sucesso educativo, também claramente diferenciadores, desde o ―Sei Odivelas‖, à ―Hipoterapia da Paiã‖, à ― Segurança Rodoviária‖, aos ―Patrulheiros Escolares‖ tudo isto nos diferencia também na área cultural. Hoje as pessoas dizem que podem em Odivelas ir ao teatro, ir ao cinema, ver uma exposição de pintura ou de escultura, algum balé. Isto hoje é possível, não é necessário ir para Lisboa, temos estas respostas cá dentro. E é isto que começa a inverter o estigma de concelho dormitório. Foi aqui, que nós conseguimos inverter esse estigma. Portanto se queremos continuar a inverter, se não queremos ser um dormitório e queremos ter alma própria, esta programação não pode ser mexida. Da parte do governo, da parte da administração central, há esta espada de extinguir empresas municipais independentemente do seu objeto, olhando apenas para os resultados económicos, que nós sabemos, obviamente, que não sendo os preços reais, mas sendo preços sociais os que são praticados, há sempre um défice. Houve de facto, um aumento exponencial do IVA, injusto neste produto cultural, claramente deveria ser revisto, porque há anos em que a subvenção anual do município não chega, e tem que ir repondo 162 prejuízos. Todos eles tiveram justificações e o último ano tem ainda mais, tendo em conta que entregámos à Municipália o Pavilhão Multiusos e o Multiusos, de facto tem custos fixos de estrutura muito complexos. Portanto vai ser retirado da égide da Municipália e passará para a gestão Câmara Municipal por forma a evitar essa situação e o desequilíbrio que existiu, porque sem o Multiusos, a componente das piscinas é sustentável, a componente cultural tem aqui sempre esta limitação, mas que tem que ser vista depois com outras maisvalias e com outros ganhos. Como se costuma dizer, a fatura da ignorância é sempre muito mais pesada do que a despesa que ela mesma possa comportar, no que diz respeito à aposta na cultura ou à aposta na educação. Agora fizemos um plano de restruturação, onde retiramos o Multiusos para a Câmara Municipal para que esse peso de custos fixos não afete tanto a estrutura da empresa e também uma revisão na componente de bares, tendo em conta que os bares e as cafetarias não fazem parte do objeto essencial da empresa municipal. É uma empresa de cultura e uma empresa de desporto, vamos no fundo devolvê-la à sua génese e ao seu ideário. Expurgadas estas duas situações, tratadas essas duas situações, acreditamos que será possível a sustentabilidade e não ter que repor custos fixos. Vamos ver se o governo olha para este plano de restruturação, com olhos de ver, com adequada objetividade e sensibilidade, que o essencial não seja invisível aos olhos e espero que o essencial seja a cultura e que possamos ter aqui algum ganho de causa para continuar esta missão de alavancagem do concelho de Odivelas, na sua autonomia plena e na sua aposta cultural, que é uma aposta a meu ver ganha, e fonte de autoestima crescente. Sempre que vemos uma notinha de rodapé na televisão sobre a programação ―é diário‖, ―Malaposta no Olival Basto, Malaposta Odivelas, esta peça de teatro‖, isso faz muito bem à autoestima do território e às pessoas porque se orgulham de ter um centro cultural de referência e de excelência. E portanto lutaremos para que essa situação seja resolvida e se não for, cá estaremos para assumir as nossas responsabilidades, mantendo, obviamente, esta visão porque é uma visão que está no PDM e é para manter. F.V. - No mandato anterior a Câmara Municipal de Odivelas propôs a classificação do Centro Cultural da Malaposta. Como é que está esta situação? S.A. - Estamos a aguardar junto da Direção de Cultura, quer a classificação do Regimento de Engenharia 1, quer a classificação também da Malaposta. Entendemos que essa proteção será muito importante para o futuro, não só para a proteção dos edifícios, dos seus equipamentos, mas como para a proteção da atividade que se realiza. Aguardaremos, neste momento já não depende de nós, depende das entidades nacionais. 163 F.V. - E para concluir quais são os principais constrangimentos para este equipamento neste momento? S.A. - Da nossa parte o constrangimento é o mesmo que existe em relação a um conjunto de projetos. É um esforço. A Câmara municipal apoia com cerca de novecentos mil euros anualmente a empresa e o projeto da Municipália. Claro que tem um peso no orçamento, mas um peso que eu acho que tem retorno do ponto de vista da cidadania, da cultura, da marca de identidade, das respostas que damos às pessoas, porque se uma autarquia existe para satisfazer as necessidades coletivas, a cultura é uma necessidade coletiva e é um direito também fundamental e, por isso, neste aspeto, apesar desta limitação e desta dificuldade nós estamos disponíveis para continuar a cumprir. A verdade é que temos um orçamento que tem atualmente custos fixos de estrutura, mas que aposta em áreas estratégicas de educação, área social e área cultural. Há constrangimentos que nos foram colocados a nós, ou seja, se diminuímos em receitas próprias e do orçamento do estado, foi fruto de políticas económicas, a meu ver, erradas que nos penitenciaram. Se estamos agora sem saber se a empresa permanece ou não permanece, é uma legislação a meu ver cega, que tratou empresas diferentes de forma igual, violando o princípio da igualdade, que nos diz que temos que tratar de forma diferente aquilo que é diferente. Esta é uma empresa diferente, houve quem abusasse do mecanismo, nós não abusamos e estamos a ser penalizados injustamente. A maior parte dos constrangimentos foram-nos colocados de fora, não são nossos porque nós resolvemos os nossos, resolvemos os nossos estabelecendo, desde 2005, um plano de recuperação financeira, diminuindo horas extraordinárias, diminuindo o número da avenças, diminuindo os custos com combustível, os custos com eletricidade, ou seja, tentámos emagrecer para dentro, para fazer mais para fora, para cumprir a nossa missão. E estabelecemos planos de pagamento com os nossos fornecedores e com a banca, que temos vindo a cumprir. E portanto, nós fizemos dos nossos constrangimentos um caminho de sustentabilidade. E a verdade é que nos foram colocadas limitações de fora, muitas artificiais, alterando os cálculos do endividamento, alterando questões relacionadas com o IMI. Agora com a nova lei das finanças locais o ―IMT‖ e a ―Derrama‖ serão extintas em 2017, mais duas fontes de receita que desaparecem, retiraram-nos competências nos licenciamentos, retiram-nos competências num conjunto de áreas e receitas adicionais. Nós lidamos bem com os nossos constrangimentos e fizemos deles, oportunidades para o futuro. Com os constrangimentos que nos foram colocados de fora, temos mais dificuldade em lidar, mas são estas as necessidades da República, vivemos num estado de direito democrático e esta câmara irá cumprir essa legislação e essas limitações. Mas penso que se temos 164 autonomia administrativa e financeira, temos total liberdade para definir o nosso caminho e se o caminho da Câmara Municipal de Odivelas for o caminho da cultura, da educação e do conhecimento, não deve ser nenhum ministro das finanças a dizer-nos que não. Senão, isto não é autonomia nenhuma, senão nós voltamos ao tempo de Salazar onde os Presidentes da Câmara eram nomeados e eram correia de transmissão do poder central. A partir do momento em que nós não somos nomeados, e legitimados pelo voto popular, voto esse que é alavancado num programa eleitoral, que de forma clara diz quais são os caminhos também para esta área, a verdade é que tem que se respeitar essa autonomia, essa legitimidade e esse voto. E esse voto quis, de forma clara e inequívoca, no dia vinte e nove de setembro que se continuasse a apostar nas áreas sociais, educativas e nas áreas culturais e na Malaposta em particular. Por isso, esse voto deveria ser respeitado e essa legitimidade refrescada também. Vamos aguardar, eu sou uma pessoa otimista por natureza, tenho esperança e confiança que com o nosso plano este projeto possa continuar, e se não continuar, no seio da autarquia, ainda que sob gestão direta e com estas limitações a Malaposta nunca fechará portas. Enquanto eu for Presidente de Câmara assegurarei que nunca fechará portas, antes pelo contrário, está a abrir portas e janelas e horizontes de futuro e horizontes de cultura há muitos anos e assim deverá continuar. F.V. Muito obrigada pela sua colaboração. S.A. - Bom trabalho. 165