SUBJETIVIDADE E PRÁTICAS INSTITUCIONAIS: a reforma psiquiátrica em foco Organizadora 24 Magda Dimenstein é professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN. É doutora em Saúde Mental pela UFRJ e orienta projetos de mestrado e doutorado na linha de pesquisa Processos de Subjetivação na Contemporaneidade. APRESENTAÇÃO “Por que é tão difícil não apenas conquistar, mas suportar a liberdade?” (Deleuze, 2002, p.15). Sabemos que a reforma psiquiátrica brasileira é um complexo processo em curso que ganhou força a partir do final da década de 1970, no bojo da reforma sanitária e da redemocratização da sociedade civil, como um movimento de crítica ao modelo dominante de atenção à saúde, ao “privilegiamento da prática médica curativa, individual, assistencialista, em detrimento da saúde pública... à lucratividade do setor saúde propiciando a capitalização da medicina e privilegiamento do produtor privado desses serviços” (Mendes, 1994, p.2). Particularmente na área da psiquiatria, apareceram inúmeras críticas em relação ao modelo asilar e propostas de desospitalização da assistência médico-psiquiátrica, devido aos efeitos prejudiciais da permanência prolongada, pelo questionamento da sua eficácia técnica e legitimidade ética (Lougon, 1993). De lá pra cá, muitos avanços aconteceram no setor, fruto de articulações e mobilizações políticas de usuários, familiares, técnicos e gestores de diferentes regiões do país, no sentido da implantação de uma rede de serviços substitutivos orientada por novos modos de cuidado. Superar a mera desospitalização, desinstitucionalizar a lógica fundante do paradigma psiquiátrico, do saber cristalizado sobre a loucura, das práticas de controle e tutela, assim como produzir políticas públicas com diretriz antimanicomial que ultrapassam somente a meta da racionalização financeira, são os desafios postos ao campo na atualidade. n. 32 2007 p. 25-31 25 Não é preciso ir muito longe para reconhecermos que por trás de um discurso aparentemente comprometido com a mudança no modelo assistencial em saúde mental, há um nítido interesse na manutenção das formas asilares de tratamento e de todo o aparato teórico-prático calcado em uma racionalidade científica que tem como eixos de sustentação a concepção de doença mental, a autoridade e o poder psiquiátricos, o enclausuramento e a contenção. Esse movimento de contra-reforma sempre existiu, mas vem ganhando adeptos nos últimos anos pelo seu poder de articular forças alinhadas ao conservadorismo, aos interesses econômicos dos empresários donos de hospitais e corporativos dos profissionais. Esse fato, entretanto, deve servir de alerta a todos nós envolvidos na luta antimanicomial, nesse projeto de invenção permanente da vida, de redes desejantes, de ruptura com as ideologias do medo, da exclusão e da intolerância, tão avassaladoras nos últimos tempos. apresentação presentation Rio de Janeiro, agosto de 2006, XI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Um manifesto a favor da reforma psiquiátrica brasileira é assinado por centenas de profissionais de saúde, indignados frente ao recrudescimento de posições retrógradas que tomam o hospital psiquiátrico como referência de cuidado em saúde mental, posições que vêm ganhando força na mídia nacional. Tal movimento vem sendo coordenado por setores da psiquiatria comprometidos com a “mercantilização da loucura” (Delgado, 1992), ancorados na argumentação de que o processo de reforma em curso tem sido insuficiente e negligente frente ao portador de transtornos mentais. É preciso deixar claro que a desmontagem do aparato manicomial é tarefa árdua, pois não se trata apenas da substituição dos hospitais psiquiátricos; é preciso desmontar dispositivos práticos e discursivos que, diferentemente daqueles presentes nas formas asilares de tratamento, apresentam-se como novas clausuras invisíveis. Estamos de acordo com Alarcon (2005, p.260) quando alerta que “não haverá maior contra-senso para a reforma psiquiátrica se ela, principalmente, não combater, também, a extinção das clausuras do espírito”. Referimo-nos, pois, à supervalorização dos medicamentos, à forma de lidar com a experiência da loucura, ao tecnicismo, à falta de clareza quanto à direção da luta antimanicomial, às identidades profissionais cristalizadas, ou seja, a todos os modos de dominação subjetivos e ao manicômio que transcende o hospital psiquiátrico. Segundo Almeida (2003, p.232), “O manicômio também está pulverizado pelos diversos lugares... lutar contra o manicômio, hoje, é denunciar a sua pulverização em milhares de lugares em que a subjetividade é negada e sua manifestação vista com desconfiança pelos gerentes dos templos maníacos”. Atualmente, de acordo com a Coordenação Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde – MS –, a reforma psiquiátrica precisa continuar avançando, expandir sua rede de atenção à saúde mental, garantir acesso e qualidade, consolidar as mudanças conquistadas e dar sustentabilidade ao seu projeto político: “A Reforma ainda tem que expandir-se, mas é preciso chamar a atenção para a necessidade de sua consolidação e garantia da qualidade dos serviços. Um sistema eficiente de monitoramento e avaliação precisa ser melhor implementado. A formação de recursos humanos tem que ampliar-se em quantidade e aprofundar-se em qualidade. Uma cultura permanente de pesquisa e produção de conhecimento precisa fazer parte do cenário quotidiano dos serviços. A articulação intersetorial – cultura, direitos humanos, justiça, educação, trabalho e renda, ação social – precisa adensar-se, tornando a rede de serviços uma parte viva da cidade e um instrumento de cidadania, como recomendam as diretrizes da Reforma” (Brasil, 2006, boletim 22). 26 Nesse sentido, indica que o componente principal da sua agenda para os próximos anos é ampliar a rede de atenção psicossocial em todo o país, ultrapassar os 1000 Centros de Atenção Psicossocial – CAPS – alcançados no final de 20061, abrir mais 61 Serviços Residenciais Terapêuticos2, acrescendo-os à lista dos 4753 já existentes, ampliar o número de beneficiários que vêm recebendo a verba do MS no Programa de Volta pra Casa (PVC)4, atualmente em torno de 2.600 pessoas. Além disso, incrementar o processo de redução e fechamento de leitos psiquiátricos, desenvolver ações de controle e avaliação da assistência hospitalar ainda existente, atuar junto a outras problemáticas – como o uso de álcool e outras drogas, na saúde mental infanto-juvenil, DST e AIDS – e na implantação de ações em saúde mental no sistema socioeducativo para adolescentes e jovens em privação de liberdade, dentre outras. Ou seja, a reforma psiquiátrica brasileira é uma realidade inconteste, e está em um momento decisivo. Mas decisivo por quê? Primeiramente por todas as questões anteriormente colocadas, que dizem respeito à legitimação de suas estratégias político-assistenciais e à consolidação de suas enormes conquistas. Em segundo lugar, porque essa consolidação depende do enfrentamento de uma série de desafios, bem explicitados no documento do Ministério da Saúde em que se discute a reforma psiquiátrica brasileira 15 anos depois da Conferência de Caracas (Brasil, 2005). De n. 32 2007 p. 25-31 forma sucinta, podemos chamar a atenção para alguns pontos. Um deles é a constituição de uma rede de serviços substitutivos integrada entre si e com outros equipamentos sociais presentes nas comunidades. Esse é um dos aspectos que apresenta mais fragilidades no contexto da reforma, pois, de fato, ainda não dispomos de uma rede ágil, flexível, resolutiva, em que o trânsito dos usuários seja facilitado e estes sejam acolhidos em suas diferentes demandas. Identificamos muito mais serviços isolados, que não se comunicam, fechados em suas rotinas. Nessa discussão, os CAPS ocupam lugar central como articuladores estratégicos das redes e da política de saúde mental. Têm como função, por excelência, regular a porta de entrada e dar suporte em saúde mental à atenção básica, especificamente às equipes de PSF. Nesse sentido, também identificamos problemas na medida em que tal função vem sendo precariamente cumprida na maioria desses serviços. Ou seja, observamos, no funcionamento de alguns CAPS, um modus operandi ambulatorial, centrado no trabalho individualizado de diferentes técnicos, com pouca inserção no território, o que dificulta a produção de trocas entre os diferentes atores sociais. Dificulta, da mesma forma, a concretização de sua meta, que é “a articulação em rede de diversos equipamentos da cidade, e não apenas de equipamentos de saúde, que pode garantir resolutividade, promoção de autonomia e da cidadania das pessoas com transtornos mentais” (Brasil, 2005, p.26). Reconhecemos o valor estratégico dos CAPS nesse processo, mas chamamos a atenção para a necessidade de retomada de seus princípios e de sua função, pois, além de prestar atendimento clínico, eles devem: promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação; e dar o apoio matricial às equipes de atenção básica, tal como referido anteriormente. Esse último aspecto vem sendo discutido pela área técnica de saúde mental do MS desde 2001, quando foi realizada uma oficina de trabalho para discutir a incorporação das ações de saúde mental na atenção básica. Desde então, considera-se que essa incorporação é fundamental para a mudança do modelo assistencial e que é preciso desenvolver estratégias institucionais para sua implementação. Sobre isso nota-se que pouco se tem avançado. Por um lado, segundo o relatório final5, há um desequilíbrio entre os recursos e investimentos da área hospitalar e os da atenção básica, e falta ainda uma rede de atenção nãohospitalocêntrica ampla e efetiva. Em se tratando da psicologia, especificamente, inúmeras discussões veiculadas pela literatura (Benevides, 2005; Camargo-Borges e Cardoso, 2005; Dimenstein, 1988, 2000, 2004; Franco e Mota, 2003; Lima, 2005) indicam que é um campo de conhecimento e de práticas que precisa operar mudanças na sua base conceitual e técnica para atuação na saúde pública. Recentemente ocorreu o I n. 32 2007 p. 25-31 27 Por outro lado, a mudança da organização dos processos de trabalho, fundamental nesse caso é um dos pontos problemáticos e de maior complexidade a ser trabalhado. A capacitação das equipes e o reordenamento dessa lógica de trabalho são alguns dos muitos elementos trazidos na oficina como de intervenção imediata. Consideramos, então, que é preciso retomar esse eixo de implementação da reforma psiquiátrica, envolvendo estados e municípios no desenvolvimento de ações que viabilizem essa articulação entre saúde mental e PSF. Uma via privilegiada, nesse sentido, é uma maior e melhor articulação entre as secretarias de saúde e as instituições de ensino e pesquisa, para o redirecionamento da formação acadêmica e para o planejamento de oficinas, capacitações, enfim de oportunidades de trocas efetivas que possam contribuir para a formação dos profissionais e os modos de atuação na saúde pública. Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública – Contribuições técnicas e políticas para avançar o SUS, promovido pelo Conselho Federal de Psicologia, que apresentou algumas teses para esse processo. Nesse momento de implantação das novas diretrizes curriculares dos cursos de Psicologia, é preciso garantir uma formação para a saúde pública de forma transversal, articulando política, teoria e prática. Isso implica inserir conteúdos referentes aos princípios e diretrizes do SUS, da política nacional de humanização, da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial. É necessário oferecer mais possibilidades de estágio em instituições públicas de saúde, abrindo espaço para a modulação de novas formas de atuação que superem o modelo clínico tradicional dominante no campo. Os psicólogos também precisam ser capacitados a respeito da atuação na atenção básica bem como na prática do acompanhamento terapêutico e do apoio matricial. Por fim, um último aspecto que faz com que o movimento de reforma psiquiátrica esteja em um momento decisivo é o fato de que construir um movimento incessante de resistência a uma lógica hegemônica de subjetivação que ultrapassa a esfera e os muros dos serviços e permeia as relações sociais de uma forma geral é uma tarefa árdua, sem certezas, sem receitas. Isso quer dizer que há uma série de questões que atravessam o campo da saúde mental que falam dos modos de existência, de linhas de subjetivação, de formas de vida produzidas nas sociedades contemporâneas, as quais, no nosso entender, dificultam a maquinação de movimentos de resistência. Sobre isso, Monteiro de Abreu e Coimbra (2005, p.42) discorrem: “As produções políticas operadas na modernidade em suas ações normalizadoras sobre a vida humana, destacamos inicialmente a produção subjetiva do modo-de-ser-indivíduo – movimento de interiorização apartado do coletivo de forças – em que se estabelecem certas naturezas, modelos e identidades que, de maneira dogmática, passam a orientar dominantemente tanto as práticas clínicas quanto as práticas políticas”. Que efeitos essa política de individualização e privatização de si e do mundo produz? Que realidades fabrica? Se estamos tratando de um modo específico de subjetivação que se torna hegemônico e que se caracteriza pela desconexão de um coletivo de forças, pelo enfraquecimento da potência e das forças criativas, pela reprodução de modos instituídos de pensar e sentir, pela adesão às normas e ao estabelecido, decorre daí que incidir nas maneiras de viver e de se subjetivar de forma a provocar alguns desvios, diferença, singularidade torna-se um desafio de enorme grandeza. Assim, nos questionamos: como produzir práticas em saúde mental que se constituam em movimentos de resistência e de criação de modos de existência potentes? Por onde sustentar a máxima foucaultiana da perpétua invenção de si como “fator de proteção” aos efeitos mortíferos da burocratização da vida? Como afetar os operadores do campo para uma “experiência de contratação”6 que se atualiza cotidianamente no coletivo de trabalho? 28 Deleuze (2005, p.113) chama a atenção para o seguinte aspecto: “A luta por uma subjetividade moderna passa por uma resistência às duas formas atuais de sujeição, uma em que consiste em nos individualizar de acordo com as exigências do poder, outra que consiste em ligar cada indivíduo a uma identidade sabida e conhecida, bem determinada de uma vez por todas. A luta pela subjetividade se apresenta então como direito à diferença e direito à variação, à metamorfose”. Um ponto problemático dentro do processo de reforma psiquiátrica diz respeito exatamente à falta de permeabilidade da sociedade à diferença que a n. 32 2007 p. 25-31 loucura traz frente aos modos de vida normalizados. Cotidianamente, tudo que escapa é abolido, ridicularizado ou medicalizado. Oliveira e Dorneles (2005, p.24) comentam: “O que marca, então, a exclusão da loucura é, sobretudo, a interpretação de sua linguagem pela normalidade que a ela se contrapõe, determinando, em algum momento, que o louco tornou-se, dada uma irreconciliável diferença entre sua estética de ser e a dos normais, mais que preocupante: insuportável. É nesse contexto que a instituição é chamada: como protagonista e determinante do comportamento permitido, marcando um curso doravante trágico para a loucura enquanto, ao mesmo tempo, tranqüilizador para a normalidade”. Dessa forma, observamos, na rotina diária dos serviços de saúde mental, em todas as suas modalidades, a reprodução de práticas de controle, de intolerância e até de hostilidade camufladas sob o discurso da proteção e do cuidado. Identificamos equipes profissionais pouco permeáveis ao inusitado da vida dos usuários desses serviços que, a todo momento, pede recomposição dos modos de atuar e das rotinas institucionais. Ou seja, a superação do estigma associado à loucura, do valor que o aparato psiquiátrico tem socialmente e das práticas de exclusão é algo que precisa ser enfrentado dentro e fora dos serviços de saúde mental. Essas questões resultam em pontos de estrangulamento importantes que precisam ser mais abertamente discutidos entre as equipes, evitando-se, como diz Barros (2003, p.203), a parada do movimento, a qual está indissociavelmente ligada à cronicidade. “Sabemos que algo se cronifica quando paramos seus fluxos, quando naturalizamos nossas explicações, quando encontramos sempre as mesmas saídas ou quando não conseguimos mais inventar novas perguntas”. Então, manter-se no movimento, como diz a autora, seja no plano macro seja no micropolítico, é condição para que a resistência opere e o vigor do instituinte se expanda. Nesse sentido, estamos apresentando neste número trabalhos que, em suas diferentes perspectivas, estão atravessados pelo desejo de refletir sobre os rumos desse amplo movimento conhecido por Luta Antimanicomial e contribuir para ele. Iniciamos nosso passeio pelo artigo de Arthur Ferreira, que, com base em Foucault, busca as condições de gênese dos saberes psicológicos a partir das práticas sociais presentes na irrupção de tais saberes. Heliana Conde Rodrigues pretende analisar alguns discursos atuais sobre a reforma psiquiátrica, cujo efeito é o de atenuação da radicalidade da história foucaultiana da loucura e do próprio processo de desinstitucionalização. Michele Vasconcelos, Simone Barbosa e Aline Morschel visam discutir alguns dispositivos clínicos e ranços manicomiais presentes nos serviços de saúde mental. Já Ellen da Cruz e Josevânia de Oliveira abordam a loucura como uma construção histórica atravessada por relações sociais, de classe e de poder. n. 32 2007 p. 25-31 29 Sintonizados nessa perspectiva e no intuito de estabelecer diálogos produtivos da rede de serviços em saúde mental e dos coletivos de trabalho aí inseridos com as instituições de ensino e pesquisa, elaboramos este número da Revista Vivência, que versa sobre Subjetividade e práticas institucionais. O eixo de discussão proposto é a temática da loucura e da subjetividade, enfocando a produção de diferentes práticas de atenção à saúde mental e suas relações com as políticas públicas de saúde. Ou seja, objetiva discutir perspectivas da reforma psiquiátrica e da desinstitucionalização em saúde mental no Brasil. Seguimos nosso percurso com os trabalhos de vários autores – Leila Machado e Cristina Lavrador; Roberta Romagnoli; Fátima Ávila e Tânia Galli Fonseca; Simone Paulon, Vera Resende, Cristiane Knijinik, Eler de Oliveira e Maria Conceição de Abreu; Ana Paula de Campos; Vládia Jamile dos Santos Jucá; Francisco Arnoldo Nunes de Miranda e Antônia Regina Ferreira Furegato –, todos voltados à problematização de questões conceituais e práticas referentes ao processo de desinstitucionalização psiquiátrica, tais como as concepções de loucura, de clínica, do morar, de resistência e invenção de novos saberes e fazeres no cotidiano dos serviços substitutivos em saúde mental. O processo de reabilitação psicossocial, que envolve usuários, técnicos e familiares e a produção de diversos tipos de dispositivos de organização, associativismo e empoderamento no campo da saúde mental no Brasil, é alvo dos artigos de Francisca Bezerra de Oliveira e Maria Lucinete Fortunato, Joel Lima Jr. e Thelma Maria Grisi Veloso, Eduardo Mourão Vasconcelos e Martinho Batista e Silva. Na seqüência, apresentamos relatos de experiências em saúde mental ocorridas em alguns municípios brasileiros trazidos por Nilson de Freitas e Lea Gomes em Sobral-CE; por Izabel Friche Passos, Maristela Duarte, Daniela Londe e Lucimar Barroso em Barbacena-MG; por Joana Oliveira e Eduardo Passos em Sergipe, bem como a discussão de intervenção em situações específicas, como casos de estupro, e na militância política do MST, trazida por Maria Helena Zamora, Jader Leite e Magda Dimenstein. Por fim, apresentamos o relato de uma experiência de acompanhamento terapêutico realizada por Rafael Figueiró junto a um adolescente com histórico de internação psiquiátrica no hospital João Machado em Natal-RN, cujo processo possibilitou, pelo encontro, a expansão de forças vivas, potentes, que se atualizaram nos seus escritos poéticos, apresentados a seguir. Convidamos a todos para um passeio estético pelos poemas de Zenildo Ferreira e desenhos de Daniel Barraco. Magda Dimenstein NOTAS 1 De acordo com a CSM-SAS-MS, até junho de 2006, 840 CAPS estavam implantados no país (Boletim 22). 2 As residências terapêuticas são alternativas de moradia para pessoas internadas há anos em hospitais psiquiátricos por não contarem com suporte adequado na comunidade. http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm 3 Brasil. Ministério da Saúde. CSM-SAS-MS - Boletim 24. 30 4 “O Programa de volta para casa dispõe sobre a regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial, instituído pela Lei 10.708, de 31 de julho de 2003, para assistência, acompanhamento e integração social, fora da unidade hospitalar, de pessoas acometidas de transtornos mentais, com história de longa internação psiquiátrica (com dois anos ou mais de internação). Este Programa atende ao disposto na Lei 10.216, de 06.04.2001, que, no Art. 5º, determina que os pacientes há longo tempo hospitalizados, ou para os quais se caracterize situação de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida”. http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm n. 32 2007 p. 25-31 5 Relatório final da oficina de trabalho para discussão do plano nacional de inclusão das ações de saúde mental na atenção básica. http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm 6 Segundo Passos e Benevides (2005), a contratação clínica resulta de um agenciamento de forças que, diferentemente da acepção de contrato tradicional no mundo capitalista, implica um vínculo de co-produção. A contratação, portanto, é uma experiência coletiva de encontro de corpos na qual não se tem determinados previamente os efeitos existenciais produzidos. REFERÊNCIAS ALARCON, S. 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