Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: 1415-6938 [email protected] Universidade Anhanguera Brasil Marques Lopes, Flavio; Lacerda de Oliveira, Eliene; Costa, Genilza Erica da; Aleluia Batista, Karla de Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 14, núm. 1, 2010, pp. 103-115 Universidade Anhanguera Campo Grande, Brasil Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26018705009 Cómo citar el artículo Número completo Más información del artículo Página de la revista en redalyc.org Sistema de Información Científica Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto Ensaios e Ciência Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde Vol. 14, Nº. 1, Ano 2010 Flavio Marques Lopes Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected] Eliene Lacerda de Oliveira Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected] Genilza Erica da Costa Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected] Karla de Aleluia Batista Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected] DOSAGEM SÉRICA DE PROTEÍNA C-REATIVA COMO MARCADOR MOLECULAR DE PROCESSO INFLAMATÓRIO EM PACIENTES QUE REALIZARAM CIRURGIA CARDÍACA SUBMETIDOS A CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA RESUMO O uso da circulação extracorpórea na cirurgia cardíaca desencadeia uma resposta inflamatória, pois o contato do sangue com superfícies não endoteliais leva a liberação de componentes moleculares estimulando assim a liberação de citocinas. O fígado responde a este processo com a sintetização da proteína C-reativa, sendo que esta é uma proteína de fase aguda. Durante o estudo, tivemos como objetivo principal a avaliação dos níveis plasmáticos da proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório cardíaco. A pesquisa foi realizada na cidade de Anápolis no Hospital Evangélico Goiano entre Julho de 2009 a Março de 2010. De abordagem quantitativa descritiva. Foi possível trabalhar com grupo de 27 pacientes sendo (66,6%) homens e (33,3%) mulheres, divididos em grupos que realizaram a cirurgia cardíaca sem circulação extracorpórea (40,74%) e grupos que realizaram cirurgia com circulação extracorpórea (59,25%). Os resultados foram obtidos no préoperatório, 6 e 12 horas após a cirurgia cardíaca. Concluindo que tantos pacientes que realizaram a cirurgia sem circulação extracorpórea quanto aos que realizaram a cirurgia com uso da circulação extracorpórea mantiveram os níveis plasmáticos de proteína C-reativa elevados nas 12 horas após o procedimento cirúrgico. Palavras-Chave: processo inflamatório; reperfusão; pré-operatório; pósoperatório. ABSTRACT Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original The use of cardiopulmonary bypass in heart surgery triggers an inflammatory response, because the contact of blood with nonendothelial surfaces leads to release of molecular components stimulating the release of cytokines. The liver responds to this process with the synthesis of C-reactive protein, and this is an acute phase protein. During the study, had as main objective the evaluation of plasma levels of C-reactive protein in the preoperative and postoperative heart. The survey was conducted in the city of Anápolis in the Hospital Evangélico Goiano from July 2009 to March 2010. Descriptive quantitative approach. It was possible to work with group of 27 patients (66,6%) and men (33,3%) women were divided into groups who underwent cardiac surgery without cardiopulmonary bypass (40,74%) and groups who underwent surgery with cardiopulmonary bypass (59.25%). The results were obtained preoperatively, 6 and 12 hours after cardiac surgery. Concluding that many patients who underwent cardiopulmonary bypass surgery without regard to who performed the surgery using the cardiopulmonary bypass remained the plasma levels of C-reactive protein elevated at 12 hours after surgery. Keywords: inflammatory process; reperfusion; preoperative, postoperative. 104 Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea 1. INTRODUÇÃO A inflamação é um fenômeno biológico que consiste em uma reação fisiológica frente a uma agressão, sendo também considerado como parte do sistema imunitário, chamado sistema imune inato, assim denominado por sua capacidade de proteção contra microorganismo que rompem as barreiras epiteliais e entram nos tecidos ou circulação (BLACHER; RIBEIRO, 2003; ABBAS; LICHTMAN, 2008). A fase aguda da inflamação ocorre em resposta a agentes bacterianos, virais, fúngicos, parasitários, traumas, isquemias, necrose, neoplasias e irradiações (FORTE, 2007). A inflamação consiste no recrutamento de leucócitos e no extravasamento de líquido intersticial no local da infecção levando a ativação destes leucócitos e de proteínas, por exemplo, as citocinas para eliminarem o agente infeccioso (MOURA et al., 2001). O sistema imunológico natural consiste em barreiras epiteliais, células circulantes e teciduais, e proteínas plasmáticas. As principais células efetoras da imunidade inata são os neutrófilos, os fagócitos mononucleares, e células natural Killer (NK). Algumas das células da imunidade inata especialmente macrófagos e células NK, secretam citocinas que ativam os fagócitos e estimulam a reação celular da imunidade inata (ABBAS; LICHTMAN, 2008). As citocinas são polipeptídios que atuam em concentrações muito baixas, podendo formar proteínas glicosiladas ou não, cuja ação é extremamente rápida, sempre são necessário receptores para efetuar suas ações (FORTE, 2007), funcionam como mensageiros intercelulares e atuam como um dos principais mediadores da resposta inflamatória, sendo responsáveis por respostas vasculares e por disfunções orgânicas verificada na sepse e na circulação extracorpórea (BRASIL et al., 1999). Quando pequenas quantidades de citocinas são liberadas nos tecidos predominam os efeitos benéficos, determinando ativação do mecanismo de defesa do organismo contra o agente agressor, entretanto se as produções desses mediadores são excessivas podem provocar efeitos maléficos ao organismo (BRASIL et al., 1999), tais como indução a agregação plaquetaria causando danos as celulas endoteliais, formação de ateroma e crises convulsivas (MACHIAVELLI; PIO, 2008). As citocinas cumprem um papel de estabelecer comunicação entre vários elementos do processo inflamatório, e pelo seu papel de ligação também são conhecidas como interleucinas (IL). As principais citocinas envolvidas na resposta inflamatória pós cirurgia cardíaca e circulação extracorpórea são IL-8, IL-6, IL-1, IL-10 e também podem Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista 105 ocorrer alterações da concentração do fator de necrose tumoral (BLACHER; RIBEIRO, 2003). Na resposta de fase aguda os níveis de algumas proteínas plasmáticas caem, enquanto outras aumentam marcadamente. As proteínas que a síntese é induzida por fator de necrose tumoral (TNF), IL-1 e IL-6 são chamadas de proteínas de fase aguda, algumas dessas proteínas são de especial interesse porque mimetizam a ação dos anticorpos, mas ao contrario dos anticorpos, essas proteínas têm ampla especificidade para padrões moleculares associados aos patógenos e dependem somente da presença de citocinas para suas funções (JANEWAY et al., 2007). A proteína C-reativa, é membro da família das pentraxinas, assim denominadas por serem formadas por cinco subunidades idênticas (JANEWAY et al., 2007) é uma proteína de fase aguda, produzida pelo fígado em resposta às citocinas, como a IL-6, possui meia-vida plasmática curta (possuindo uma meia-vida entre 8 a 12 horas) sendo responsável por amplificar a resposta imune, aumentando a lesão tecidual e participar na ativação do sistema complemento (TEIXEIRA et al.,2009). Este constituinte do soro foi descoberto em 1930 por Tillet e Francis, pois observaram a interação do soro de pacientes em recuperação de infecção pneumocócica com polissacarídeo C do Pneumococo, nesta reação formava-se floculados visíveis que permitiram extensos estudos, e purificação da proteína C-reativa (PCR) no soro. Demonstrando que a PCR está presente no soro de pacientes com outros distúrbios além de infecções pneumocócicas, mas que as concentrações desta proteína se elevam marcantemente sempre que houver necrose tecidual. Devido sua capacidade de reagir com o polissacarídeo C somático de Pneumococos e precipitá-lo recebeu o nome de proteína C-reativa (HENRY, 2006; WERLE et al., 2005). A dosagem da PCR pode ser útil para diferenciar entre desordens inflamatórias e não-inflamatórias. A verificação dos níveis da PCR pode detectar precocemente complicações inflamatórias em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca (WERLE, 2005). A PCR é um análito estável e não sofre habitualmente interferência da alimentação, portanto não sendo necessário jejum, além disso, a PCR exibe níveis estáveis nos indivíduos e variações circadianas insignificantes, é facilmente aferida e possui baixo custo, fazendo com que está proteína seja um método simples na marcação de processo inflamatório (COPETTI; LUTZ, 2009). A cirurgia cardíaca é importante devido ter capacidade de modificar a historia natural das malformações cardíacas, podendo ser paliativo ou curativo, oferecendo tanto correção fisiológica quanto anatômica (VIEIRA et al., 2002). A cardiopatia congênita pela 106 Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea sua complexidade requer quase sempre abordagem multidisciplinar, incluindo terapia intensiva, cardiologia intervencionista e a cirurgia. Os defeitos cardíacos congênitos incluem: comunicação interatrial, comunicação interventricular, persistência do canal arterial ou ducto arterial, coartação de aorta e tetralogia de Fallot (LEITE et al., 2009; SUZUKI, 2004; VIEIRA et al., 2002). Novas tecnologias, dentre elas a circulação extracorpórea possibilitam que o coração seja operado ficando sem atividade contrátil por um determinado período, assim podendo realizar de acordo com cada cirurgia as delicadas suturas no músculo cardíaco (LEITE et al., 2009). Existem três tipos de cirurgia cardíaca: as corretivas nas cardiopatias congênitas; as reconstrutoras que envolvem a revascularização do miocárdio e plastia de valva aórtica, mitral ou tricúspide; as cirurgias substitutivas sendo elas as trocas valvares e transplante (GALDEANO et al., 2006). A circulação extracorpórea (CEC) cardiopulmonar corresponde a uma forma mecânica de fazer circular e oxigenar o sangue do paciente (CINTRA et al., 2005), trata-se de um método padrão usado durante o procedimento de cirurgia cardíaca, cuja, função fundamental é desviar o sangue do coração e pulmões com a finalidade de propiciar um campo cirúrgico estacionário, sem sangue e promover preservação da função ótima do órgão (WOODS et al., 2005; MEEKER; ROTHROCK, 2007). A máquina de CEC é composta por cânulas venosas e arteriais; oxigenador de bolhas ou de membranas; trocador de calor; bomba de rolete; filtros; sucção de cardiotomia e sensores que detectam bolhas de ar (WOODS et al., 2005). Neste contexto a circulação extracorpórea é considerada uma tecnologia em permanente evolução, na qual os princípios básicos se encontram bem estabelecidos, porém, seus efeitos sobre o organismo humano ainda não estão inteiramente esclarecidos, bem como ainda são especulativos diversos mecanismos das reações do organismo à circulação extracorpórea (SOUZA, 2006). As doenças cardiovasculares representam importante problema de saúde pública, visto que constituem a principal causa de morbidade e mortalidade representando alto custo em assistência médica (GUS et al., 2002), levando conseqüentemente ao aumento de procedimento de cirurgias cardíacas. Durante as cirurgias cardíacas, vários fatores podem causar a síndrome inflamatória sistêmica, tais como: exposição do sangue a superfície e condições não fisiológicas, trauma cirúrgico, isquemia-reperfusão, liberação de endoxinas que contribuem para o desenvolvimento de complicações no pós-operatório (ARKADER; CASELLA, 2004). Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista 107 Este trabalho teve como principal objetivo avaliar a relação entre os níveis de proteína C-reativa e a cirurgia cardíaca correlacionando à circulação extracorpórea. 2. METODOLOGIA O presente estudo consiste em abordagem descritiva e quantitativa, foi realizada na cidade de Anápolis, Goiás, no Hospital Evangélico Goiano, com paciente que foram submetidos à cirurgia cardíaca e a dosagem sérica de proteína C-reativa foi realizada no Laboratório Evangélico. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Associação Anhanguera Educacional S.A. de acordo com o protocolo nº 014/2010. Durante oito meses foram obtido 27 amostras de pacientes de ambos os sexos submetidos à cirurgia cardíaca, que consentiram a participação no desenvolvimento do trabalho, por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta no pré-operatório foi realizada no Laboratório Evangélico Goiano, no pós-operatório foram realizadas duas coletas, sendo a primeira coleta 6 horas e a segunda coleta 12 horas após o procedimento cirúrgico com o paciente interno no hospital na Unidade de Recuperação de Cirurgia Cardíaca, como o laboratório está localizado nas dependências do hospital as amostras foram encaminhadas diretamente para o laboratório com os cuidados específicos para transporte do material. As amostras sanguíneas foram coletadas após realização de assepsia local com álcool a 70% por punção venosa, por meio de vacutainer, no entanto em pacientes com difícil acesso venoso a punção foi realizada com seringa de polipropileno estéril. As amostras foram distribuídas em tubos com gel separador para obtenção do soro. A determinação quantitativa da proteína C-reativa foi realizado por meio de turbidimetria automatizado (selectra XL), cujo principio analítico é o método turbidimétrico com látex aprimorado. A presença ≥5mg de PCR na amostra causa aglutinação das partículas de látex cobertos com anticorpos antiproteína C-reativa (antiPCR). O grau de aglutinação é proporcional a concentração de proteína C-reativa na amostra. Esse processo de aglutinação baseia-se na detecção ótica de partículas muito pequenas suspensa em meio líquido, formando imunocomplexos. A diluição adquire turbidez, que é proporcional a quantidade de antígenos presente na amostra (LIMA et al., 2007). Todas as análises foram realizadas em triplicatos, e os dados obtidos foram tabulados em planilha de Microsoft Office Exell, e transferidos posteriormente para Statistica 7.0 onde foram realizados os testes ANOVA e TUKEY. 108 Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea 3. RESULTADOS Foram avaliados 27 pacientes no período de julho de 2009 a março de 2010, sendo 18 (66,6%) homens, com média de idade 62,7 (±12,2) e 9 (33,3%) mulheres com média de idade 58,1 (± 13,1). Estes foram submetidos à cirurgia cardíaca sem CEC e com o uso da CEC, onde 59,25% dos pacientes realizaram a cirurgia sem CEC, sendo 62,5% do sexo masculino e 37,5% do sexo feminino e, 40,74% dos pacientes que realizaram a cirurgia com CEC 72,7% foram do sexo masculino e 27,3% do sexo feminino. Os níveis de PCR em pacientes do sexo masculino no pré-operatório apresentou um valor médio de 0,45 mg/dL, 6 horas após a cirurgia cardíaca sem a CEC é evidente um leve aumento (1,59 mg/dL) que se acentua após 12 horas de cirurgia como pode ser verificado na Figura 1. Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO. Figura 1. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no Hospital Evangélico Goiano sem circulação extracorpórea – Sexo Masculino. Analisando os valores encontrados para este grupo de pacientes é possível verificar uma diferença estatística significativa dos valores de pré-operatório e após 6 horas de cirurgia, bem como após 12 horas levando a observar aumentos gradativos de PCR nas primeiras horas, intensificando no segundo momento (Tabela 1). Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista 109 Tabela 1. Verificação de diferença significativa entre as dosagens de PCR em homens. Cirurgia SEM CEC Com CEC Tratamento n Pré-tratamento 10 0,45c 0,21 10 b 0,93 6 horas Valor de PCR 1,59 a Desvio padrão (+/-) 1,89 12 horas 10 11,52 Pré-tratamento 8 0,56c 0,77 8 b 0,90 6 horas 12 horas 8 1,59 11,75 a 1,8 Dados obtidos em um mesmo procedimento cirúrgico seguidos de letra diferente apresentam diferença estatística significativa (P < 0,05); Teste Tukey e ANOVA. Valores encontrados de PCR em pacientes do sexo masculino que realizaram cirurgia cardíaca com CEC no pré-operatório foi de 0,36 mg/dL verificou-se um discreto aumento nas 6 horas após o procedimento cirúrgico com média de 1,64 mg/dL, ao contrario dos valores obtidos após 6 horas nos resultados após 12 horas foi evidente um aumento com média de 11,43 mg/dL, podendo ser verificado na Figura 2. Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO. Figura 2. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no Hospital Evangélico Goiano com circulação extracorpórea – Sexo Masculino. Observando os valores encontrados para estes pacientes verificou-se uma diferença considerável dos valores de pré-operatório e 6 horas após a cirurgia, enquanto que nas 12 horas após o procedimento cirúrgico observou um aumento significativo dos valores de PCR (Tabela 1). A média de valores de PCR encontrados em pacientes do sexo feminino no préoperatório foi de 0,94 mg/dL, 6 horas após a cirurgia cardíaca sem CEC não houve aumento significativo (0,96 mg/dL), podendo observar que após 12 horas da cirurgia os 110 Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea níveis de PCR encontrados foram relativamente elevados podendo ser observado na Figura 3. Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO. Figura 3. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no Hospital Evangélico Goiano sem circulação extracorpórea – Sexo Feminino. Examinando os valores encontrados nos pacientes do sexo feminino não foi possível verificar diferença estatística entre o pré-operatório e 6 horas após cirurgia, podese observar um aumento dos níveis de PCR nas 12 horas após o procedimento cirúrgico (Tabela 2). Tabela 2. Verificação de diferença significativa entre as dosagens de PCR em mulheres. Cirurgia SEM CEC Tratamento n Valor de PCR Desvio padrão (+/-) Pré-tratamento 6 0,94b 0,90 6 horas 6 0,96 b 0,91 12 horas 6 8,67a 3,07 3 b 0,37 b 0,55 Pré-tratamento Com CEC 6 horas 12 horas 3 3 0,41 0,99 10,66 a 1,18 Dados obtidos em um mesmo procedimento cirúrgico seguidos de letra diferente apresentam diferença estatística significativa (P < 0,05); Teste Tukey e ANOVA. O nível de PCR do sexo feminino que realizaram cirurgia cardíaca com CEC, no pré-operatório apresentou uma média de 0,41 mg/dL, nas 6 horas após o procedimento cirúrgico é possível verificar um leve aumento dos níveis de PCR (0,99 mg/dL), no entanto após 12 horas de cirurgia observa-se um aumento destes valores com média 10,66mg/dL (Figura 4). Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista 111 Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO. Figura 4. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no Hospital Evangélico Goiano com circulação extracorpórea – Sexo Feminino. Após analise dos valores encontrados para este grupo não é possível observar uma diferença estatística significativa dos valores de pré-operatório e após 6 horas de cirurgia, nas 12 horas após o procedimento cirúrgico é evidente que a cirurgia com CEC favoreceu o aumento dos níveis de PCR, mas não apresentou diferença estatística entre os procedimentos cirúrgicos (Tabela 2). Correlacionando a dosagem de PCR entre sexo masculino e feminino é possível observar que para as mulheres os valores no pré-operatório e 6 horas após o procedimento cirúrgico sem CEC não apresentaram variações estatística, enquanto que para homens está diferença foi significativa. Após 12 horas da cirurgia cardíaca sem CEC observa-se que pacientes tanto do sexo masculino quanto feminino apresenta variações estatisticamente significante, podendo ser observado na Tabela 3. Tabela 3. Verificação de diferença significativa entre as dosagens de PCR entre sexo. Cirurgia Sexo SEM CEC Masculino Com CEC SEM CEC Feminino Com CEC Tratamento Pré-tratamento 6 horas 12 horas Pré-tratamento 6 horas 12 horas Pré-tratamento 6 horas 12 horas Pré-tratamento 6 horas 12 horas n Valor de PCR 10 10 10 8 8 8 6 6 6 3 3 3 c 0,45 1,59d 11,52a 0,56c,d 1,59c,d 11,75a 0,94c,d 0,96c,d 8,66b 0,41c,d 0,98c,d 10,66a,b Desvio padrão (+/-) 0,21 0,93 1,89 0,77 0,90 1,78 0,90 0,91 3,07 0,37 0,55 1,18 Dados obtidos em um mesmo procedimento cirúrgico seguidos de letra diferente apresentam diferença estatística significativa (P < 0,05); Teste Tukey e ANOVA. 112 Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea 4. DISCUSSÃO Galantier et al. (2008), demonstraram que a PCR tem uma elevação significativa de seus valores no período de segmento pós-operatório, podendo corresponder ao aparecimento de complicações infecciosa, ou ainda estar relacionado a um aumento da resposta inflamatória induzida pela CEC. Em nossos estudos não houve diferença significativa nos grupos do sexo masculino que realizaram cirurgia cardíaca sem e com CEC. Gomes; Braile, (2008), demonstraram que a cirurgia cardíaca sem CEC diminui a resposta inflamatória sistêmica. No entanto nosso estudo observou que não houve alterações significantes dos níveis de PCR em indivíduos que realizaram cirurgia cardíaca com e sem CEC, com exceção do sexo feminino na cirurgia cardíaca sem CEC apresentou um nível de PCR abaixo dos demais valores encontrados nos resultados de 12 horas. A resposta inflamatória sistêmica induzida pela CEC é uma seqüência de eventos que envolvem quase todas as células do corpo. Após a agressão, o organismo reage ativando o mecanismo de defesa no sentido de proteger o tecido afetado e destruir o agente agressor, dando início ao processo inflamatório (BRASIL et al., 1999). É difícil a diferenciação de processo inflamatório com infecção, pois os marcadores disponíveis utilizados como a PCR, contagem leucocitária são muitas vezes inconclusivo para realizar tal diferenciação (ARKADER; CASELLA, 2004). Estudos de Potsch et al. (2006), mostraram que o nível de PCR encontrava-se significativamente mais elevado nos pacientes que tiveram diagnóstico final de infarto agudo do miocárdio (IAM), justificando, os resultados apresentados na Figura 3, onde níveis de PCR esteve elevado no pré-operatório em três pacientes que são facilmente identificados por suas idades 50, 54 e 77 anos. Vegni et al. (2008), demonstraram em seus estudos que o uso de hemocomponentes está associado com aparecimento de infecções nosocomiais, dano pulmonar agudo, tempo de internação na UTI e letalidade. Neste mesmo estudo foi possível associar as complicações no pós-operatório com o tempo prolongado de CEC. No estudo de Brasil et al. (1999) avaliou-se que o emprego de hemofiltros durante a CEC tem a finalidade de retirar as citocinas da circulação, visando a diminuição da resposta inflamatória induzida pela CEC, e o uso de circuitos de CEC revestido com heparina tem como objetivo diminuir a resposta inflamatória pós-CEC, este procedimento não influenciou em nosso estudo, visto que os valores encontrados de PCR sem e com CEC não apresentaram diferença estatística. Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista 113 Kohler et al. (2003), observaram em seus estudos que a duração da cirurgia cardíaca e da CEC não estão associados com o processo inflamatório, o que pode ser justificado pelo desenvolvimento de melhores técnicas de proteção miocárdica intraoperatório, incluindo o emprego de soluções cardioplégicas e de novos anestésicos. Neste estudo os valores da PCR no pós-cirúrgico de 12 horas apresentaram valores médios significativamente diferentes em quase todos os resultados, na população do sexo feminino este valor apresentou-se estatisticamente diferente dos demais, isoladamente este grupo apresenta níveis diferentes para os procedimentos cirúrgicos sem e com CEC, levando a crer que o procedimento com CEC pudesse aumentar a resposta inflamatória em mulheres, mas para que tal hipótese possa ser confirmada será necessário ampliar o número amostral desta população. 5. CONCLUSÃO Com base nos dados obtidos por meio da análise estatística e na discussão dos resultados, podemos concluir que não foi encontrado associação do processo inflamatório (PCR) com o procedimento de CEC em pacientes que foram submetidos à cirurgia cardíaca, a não ser para a população do sexo feminino, quando observado os níveis de PCR após 12 horas do procedimento cirúrgico. Concluímos também que a proteína C-reativa esteve mais associado com o próprio trauma cirúrgico do que com o procedimento de CEC, tendo em vista que não houve elevação maior da PCR em pacientes que foram submetidos à CEC, pois os valores encontrados neste procedimento não apresentaram diferença estatística significante com os valores de PCR encontrados sem a CEC. Portanto a cirurgia cardíaca com o procedimento de circulação extracorpórea, em nosso estudo não influenciou a resposta inflamatória, este ponto positivo pode ser atribuído aos avanços tecnológicos, que contribuiu para o desenvolvimento de materiais biocompatíveis que são utilizados na máquina de CEC. REFERÊNCIAS ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H. Imunologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. ARKADER, R.; CASELLA, V. Valor da procalcitonina para o diagnóstico de infecção bacteriana no paciente submetido à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea. Einstein, São Paulo, v.2, n.2, p.120-122, 2004. 114 Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea BLACHER, C.; RIBEIRO, J.P. Cirurgia de revascularização miocárdica sem circulação extracorpórea: uma técnica em busca de evidencias. Arq. Bras. de Cardiol., v.80, n.6, p.656-662, 2003. 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