UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Módulo 02 Gerenciamento da Qualidade da Água O Ciclo Hidrológico Disponibilidade e Usos da Água Indicadores da Qualidade da Água Poluição da Água Principais Impactos dos Lançamentos nos Corpos d’Água 02 02 02 04 05 06 Escolha as Tecnologias Apropriadas para o Tratamento de Efluentes Líquidos Tratamento Físico Tratamento Químico Tratamento Térmico Tratamento Biológico Selecionando os Processos de Tratamentos Apropriados 14 16 23 25 28 32 Ar, Clima e Condições Meteorológicas Composição e Estrutura da Atmosfera Clima 35 35 37 Poluição Atmosférica Poluição do Ar Clima, Topografia e Processos Atmosféricos Disciplinamento do Uso e Ocupação do Solo Controle das Fontes Poluidoras 42 42 44 51 52 Bibliografia 57 1 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Gerenciamento da Qualidade da Água O Ciclo Hidrológico “Todos os rios correm para o mar e, contudo, o mar não se enche; para o lugar de onde os rios vêm, eles retornam novamente.” (Eclesiastes, 1:7) O ciclo hidrológico (ciclo da água) descrever a circula ção da água à medida que ela evapora da terra, dos corpos d’água e dos organismos; entra na atmosfera; condensa e é precipitada nas superfícies da terra; e move-se subterraneamente por infiltração ou superficialmente por escoamento para dentro dos rios, lagos, mares e oceanos. A quantidade total de água na Terra permanece aproximadamente a mesma, ano após ano: o ciclo hidrológico simplesmente a move de um lugar para outro. Este processo fornece água doce para as massas de terra e ao mesmo tempo tem um papel vital na criação de um clima habitável e na moderação das temperaturas globais. O movimento da água de volta para os mares e oceanos através dos rios e geleiras é uma das principais forças geológicas que moldam a terra e redistribuem os materiais. As plantas têm um papel importante no ciclo hidrológico, absorvendo a água subterrânea e bombeando-a para a atmosfera pela transpiração (transporte mais evaporação). Nas florestas tropicais, cerca de 75% da precipitação anual é retornada à atmosfera pela s plantas. Disponibilidade e Usos da Água Embora a maior parte do nosso planeta esteja coberta por água, somente uma pequena parcela da mesma é utilizável na grande maioria das atividades humanas. Os oceanos e mares constituem 97,2% da água existente na Terra, cobrindo 71% de sua superfície. Além disso, existem as águas presentes na neve, nas geleiras, no vapor atmosférico, em profundidades não acessíveis, entre outras, que não são aproveitáveis. A quantidade de água livre sobre a Terra atinge 1.370 milhões de km3. Dessa quantidade, apenas 0,6% de água doce líquida se torna disponível naturalmente, correspondendo a 8,2 milhões de km3. Desse valor, somente 1,2% se apresenta sob a forma de rios e lagos, sendo o restante (98,8%) constituído de água subterrânea, da qual somente a metade é utilizável, pois a outra parte está abaixo de 800 m, inviável para captação pelo homem. Assim, restam aproveitáveis 98.400 km3 nos rios e lagos e 4.050.800 km3 nos mananciais subterrâneos, o que corresponde a cerca de 0,3% do total de água livre do planeta. 2 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Em termos globais, a água disponível é muito superior ao total consumido pela população. No entanto, a distribuição é extremamente desigual e não está de acordo, na maioria dos casos, com a população e as necessidades para a indústria e a agricultura. A maior parte da Terra tem déficit de recursos hídricos, porque predomina a evaporação potencial sobre a precipitação. Além da má distribuição e das perdas, deve ser considerada a crescente degradação dos recursos hídricos, resultado da ação antrópica, tornando parte da água imprópria para diversos usos. Assim, muitas regiões do mundo apresentam problemas relacionados com a água, seja pela escassez ou pela qualidade inadequada da mesma. O homem utiliza a água para diversos fins, dela dependendo para sobreviver. Os usos da água podem ser consuntivos, quando há perdas entre o que é retirado e o que retorna ao sistema natural, e não consuntivos. São os seguintes os principais usos da água: Consuntivos: — abastecimento humano; — abastecimento industrial; — irrigação; — dessedentação de animais. Não consuntivos: — recreação; — harmonia paisagística; — geração de energia elétrica; — conservação da flora e fauna; — navegação; — pesca; — diluição, assimilação e afastamento de despejos. Para cad uso da água, há necessidade de que a mesma tenha uma determinada qualidade. A água para beber, por exemplo, deve obedecer a critérios mais rígidos do que a utilizada na recreação ou para fins paisagísticos. A qualidade desejável para a água usada na irrigação varia em função dos tipos de culturas onde será aplicada, se alimentícias ou não. O mesmo acontece com a água destinada às indústrias, cujas características dependem dos tipos de processamentos e produtos nas fábricas. Alguns usos provocam alterações nas características da água, tornando-a imprópria para outras finalidades. A recreação pode modificar a qualidade da água, prejudicando o abastecimento humano. A irrigação, como uso de fertilizantes e pesticidas, pode provocar a poluição de mananciais, causando prejuízo a outros usos. A água utilizada para diluir despejos, mesmo tratados, torna-se imprópria para consumo humano e para outros fins. Exemplos do uso da água Usos Litros Doméstico: Banheira Chuveiro Lavagem de roupas Cozimento de alimentos Descarga de sanitário (uma) Molhar a grama 100–150 20 por min 75–100 30 10–15 40 por min Agricultura e processamento de alimentos: 1 ovo 1 espiga de milho 1 pão 1 kg carne Produtos industriais e comerciais: 1 jornal de domingo 1 kg de aço 1 kg de borracha sintética 1 kg de alumínio 1 automóvel 150 300 600 19.000 1.000 220 2.200 7.200 380.000 3 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Indicadores da Qualidade da Água A água contém, geralmente, diversos componentes, os quais provêm do próprio ambiente natural ou foram introduzidos a partir de atividades humanas. Para caracterizar uma água, são determinados diversos parâmetros, os quais representam as suas características físicas, químicas e biológicas. Esses parâmetros são indicadores da qualidade da água e constituem impurezas quando alcançam valores superiores aos estabelecidos para determinado uso. Os principais indicadores de qualidade da água são discutidos a seguir, separados sob os aspectos físicos, químicos e biológicos. Indicadores de Qualidade Física • Cor: resulta da existência, na água, de substâncias em solução; pode ser causada pelo ferro ou manganês, pela decomposição da matéria orgânica da água (principalmente vegetais), pelas algas ou pela introdução de efluentes industriais e domésticos. • Turbidez: presença de matéria em suspensão na água, como argila, silte, substâncias orgânicas finamente divididas, organismos microscópicos e outras partículas. • Temperatura: é um parâmetro importante, pois influi em algumas propriedades da água (densidade, viscosidade, oxigênio dissolvido), com reflexos sobre a vida aquática. • Sabor e Odor: resultada de causas naturais (algas; vegetação em decomposição; bactérias; fungos; compostos orgânicos, tais como gás sulfídrico, sulfatos e cloretos) e artificiais (esgotos domésticos e efluentes industriais). Indicadores de Qualidade Química • pH: o pH da água depende de sua origem e características naturais, mas pode ser alterado pela introdução de resíduos; pH baixo torna a água corrosiva; águas com pH elevado tendem a formar incrustações nas tubulações; a vida aquática depende do pH, sendo recomendável a faixa de 6 a 9. • Alcalinidade : causada por sais alcalinos, principalmente de sódio e cálcio; mede a capacidade da água em neutralizar os ácidos; em teores elevados, pode proporcionar sabor desagradável à água; tem influência nos processos de tratamento da água. • Dureza: resulta da presença, principalmente, de sais alcalinos terrosos (cálcio e magnésio), ou de outros metais divalentes, em menor intensidade; em teores elevados, causa sabor desagradável e efeitos laxativos; reduz a formação da espuma do sabão, aumentando o seu consumo; provoca incrustações nas tubulações e caldeiras. • Cloretos: os cloretos, geralmente, provêm da dissolução de minerais ou da intrusão de águas do mar; podem, também, advir dos esgotos domésticos ou efluentes industriais; em altas concentrações, conferem sabor salgado à água ou propriedades laxativas. • Ferro e manganês: podem originar-se da dissolução de compostos do solo ou de despejos industriais; causam coloração avermelhada à água, no caso do ferro, ou marrom, no caso do manganês, manchando roupas e outros produtos industrializados; conferem sabor metálico à água; as águas ferruginosas favorecem o desenvolvimento das ferrobactérias, que causam maus odores e coloração à água e obstruem as canalizações. • Nitrogênio: o nitrogênio pode estar presente na água sob várias formas: N2 , NH3 , NH4 +, NO2 – e NO3 – ; é um elemento indispensável ao crescimento de algas, mas, em excesso, pode ocasionar um exagerado desenvolvimento desses organismos, fenômeno chamado de eutrofização; o nitrato, na água, pode causar a metaemoglobinemia; a amônia é tóxica aos peixes; são causas do aumento do nitrogênio na água: esgotos domésticos e efluentes industriais, fertilizantes, excrementos de animais. • Fósforo: encontra-se na águas nas formas de ortofosfatos, polifosfatos e fósforo orgânico; é essencial para o crescimento de algas, mas, em excesso, causa a eutrofização; suas principais fontes são: dissolução de compostos do solo; decomposição da matéria orgânica; esgotos domésticos e efluentes industriais; fertilizantes, detergentes; excrementos de animais. • Fluoretos: os fluoretos têm ação benéfica de prevenção da cárie dentária; em concentrações mais elevadas, podem provocar alterações da estrutura óssea ou a fluorose dentária (manchas escuras nos dentes). • Oxigênio Dissolvido (OD): é indispensável aos organismos aeróbios; a água, em condições normais, contém OD, cujo teor de saturação depende da altitude e da temperatura; águas com baixos teores de OD indicam que receberam matéria orgânica; a decomposição da matéria orgânica por bactérias aeróbias é, geralmente, acompanhada pelo consumo e redução do OD da água; dependendo da capacidade de autodepuração do manancial, o teor de OD pode alcançar valores muito baixos, ou zero, extinguindo-se os organismos aquáticos aeróbios. 4 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo • Matéria Orgânica (MO): é necessária aos seres heterótrofos, na sua nutrição, e aos autótrofos, com fonte de sais nutrientes e gás carbônico; em grandes quantidades, no entanto, pode causar alguns problemas, como: cor, odor, turbidez e consumo do OD pelos organismos decompositores. • Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): é a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da MO, por ação de bactérias aeróbias. Representa, portanto, a quantidade de oxigênio que seria necessário fornecer às bactérias aeróbias, para consumirem a matéria orgânica presente em um líquido (água ou esgoto). A DBO é determinada em laboratório, observando-se o oxigênio consumido em amostras do líquido, durante 5 dias, à temperatura de 20°C. • Demanda Química de Oxigênio (DQO): é a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da MO, através de um agente químico. A DQO também é determinada em laboratório, em prazo muito menor do que o teste da DBO. Para o mesmo líquido, a DQO é sempre maior que a DBO. • Componentes inorgânicos: alguns componentes inorgânicos da água, entre eles os metais pesados, são tóxicos ao homem: As, Cd, Cr, Pb, Hg, Ag, Cu e Zn; além dos metais, pode-se citar os cianetos; esses componentes, geralmente, são incorporados à água através de despejos industriais ou a partir das atividades agrícolas, de garimpo e de mineração. • Componentes orgânicos: alguns componentes orgânicos da água são resistentes à degradação biológica, acumulando-se na cadeia alimentar; entre esses, citam-se os pesticidas, alguns tipos de detergentes e outros produtos químicos, os quais são tóxicos. Indicadores de Qualidade Biológica • Coliformes: são indicadores da presença de microrganismos patogênicos na água; os coliformes fecais existem em grande quantidade nas fezes humanas e, quando encontrados na água, significa que a mesma recebeu esgotos domésticos, podendo conter microrganismos patogênicos. • Algas : as algas desempenham um importante papel no ambiente aquático, sendo responsáveis pela produção de grande parte do OD do meio; em grandes quantidades, como resultado do excesso de nutrientes (eutrofização), trazem alguns inconvenientes: sabor e odor; toxicidade; turbidez e cor; formação de massas de MO que, ao serem decompostas, provocam a redução do OD; corrosão; interferência nos processos de tratamento da água; aspecto estético desagradável. Poluição da Água A poluição da água resulta da introdução de resíduos na mesma, na forma de matéria ou energia, de modo a torna-la prejudicial ao homem e a outras formas de vida, ou imprópria para um determinado uso estabelecido para ela. Este é um conceito amplo, que associa poluição aos usos da água, e não somente aos danos que ela pode causar aos organismos. É, portanto, um conceito relativo. Uma água pode ser considerada poluída para determinado uso e não ser para outro. Quando a poluição da água resulta em prejuízos à saúde do homem, diz-se que a mesma está contaminada. Assim, contaminação é um caso particular de poluição. Uma água está contaminada quando contém microrganismos patogênicos ou substâncias químicas ou radioativas, causadores de doenças e/ou morte ao homem. Fontes de Poluição da Água e Suas Conseqüências Os poluentes podem alcançar as águas superficiais ou subterrâneas através do lançamento direto, precipitação, escoamento pela superfície do solo ou infiltração. As fontes de poluição da água podem ser localizadas (pontuais), quando o lançamento da carga poluidora é feito de forma concentrada, em determinado local, ou não localizadas (difusas), quando os poluentes alcançam um manancial de modo disperso, não se determinando um ponto específico de introdução. Como exemplos de fontes localizadas, citam-se as tubulações emissárias de esgotos domésticos ou efluentes industriais e as galerias de águas pluviais. Como fontes não localizadas, podem ser incluídas as águas do escoamento superficia l ou de infiltração. As principais fontes de poluição da água são: De águas superficiais: • esgotos domésticos; • efluentes industriais; • águas pluviais, carreando impurezas da superfície do solo ou contendo esgotos lançados nas galerias; 5 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo • resíduos sólidos (lixo); • pesticidas; • fertilizantes; • detergentes; • precipitação de poluentes atmosféricos (sobre o solo ou a água); • alterações nas margens dos mananciais, provocando o carreamento do solo, como conseqüência da erosão. De águas subterrâneas : • infiltração de esgotos a partir de sumidouros ou valas de infiltração (fossas sépticas); • infiltração de esgotos depositados em lagoas de estabilização ou em outros sistemas de tratamento usando disposição no solo; • infiltração de esgotos aplicados no solo em sistemas de irrigação; • percolação do chorume resultante de depósitos de lixo no solo; • infiltração de águas contendo pesticidas, fertilizantes, detergentes e poluentes atmosféricos depositados no solo; • infiltração de outras impurezas presentes no solo; • infiltração de águas superficiais poluídas; • vazamento de tubulações ou depósitos subterrâneos; • injeção de esgotos no subsolo; • intrusão de água salgada; • resíduos de outras fontes: cemitérios, minas, depósitos de material radioativo. As águas superficiais e subterrâneas, muitas vezes, se interligam. Em algumas situações, os mananciais da superfície proporcionam a recargas dos reservatórios subterrâneos, enquanto, em outras, as águas do subsolo descarregam em recursos hídricos superficiais. Assim, um manancial de superfície poluído, pode causar a poluição de um aqüífero subterrâneo, e vice-versa. Observe-se que a poluição da água está associada, também, às alterações provocadas no solo ou no ar. O carreamento de poluentes do solo e a precipitação de impurezas do ar constituem mecanismos de poluição da água. A Tabela da página seguinte apresenta as principais conseqüências da poluição da água, a partir de diversas alterações e respectivas fontes. Principais Impactos dos Lançamentos nos Corpos d’Água Conforme se pode depreender o item anterior, o lançamento de esgotos e efluentes em corpos d’água resulta em vários problemas ambientais, com impactos sobre o homem, a vida aquática e o ambiente como um todo. A seguir, são destacadas algumas dessas conseqüências. Consumo de Oxigênio Um dos principais problemas resultantes do lançamento de MO em corpos d’água é a redução do OD, com impactos sobre os organismos aeróbios e conseqüentes desequilíbrios ecológicos. Ao se lançar MO em um manancial de água, ocorre uma grande proliferação de bactérias aeróbias que, ao efetuarem a decomposição da mesma, utilizam o oxigênio do meio líquido para a sua respiração. O consumo do OD, pelas bactérias, pode reduzi-lo a valores muito baixos, ou mesmo extingui-lo totalmente, com impactos sobre a vida aquática aeróbia. Os peixes e outros animais que precisam de oxigênio para viver, desaparecem, surgindo organismos anaeróbios. A decomposição anaeróbia da MO, além de mais lenta e menos eficiente, produz gases e maus odores. Todo corpo d’água tem condições de receber e depurar, através de mecanismos naturais, uma certa quantidade de MO. No entanto, essa capacidade é limitada, dependendo das características do manancial e da quantidade de MO introduzida. Quando ocorre a recuperação, diz-se que houve a autodepuração do corpo d’água. A próxima Figura indica o comportamento do OD, da DBO e concentração de bactérias aeróbias, em um curso d’água, na autodepuração de uma carga de MO. A forma mais utilizada de estudar-se a autodepuração de um curso d’água é através da Curva de Depressão de Oxigênio, como mostrado na próxima Figura. Logo após o lançamento da carga orgânica, há uma queda no teor de oxigênio, denominada “déficit inicial de OD”. O OD continua decrescendo, até alcançar cerca de 40% do OD de saturação, no primeiro trecho, chamado de 6 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Poluentes Aquáticos e Suas Conseqüências Alteração Principais Fontes Conseqüências Elevação da Temperatura • águas de resfriamento; • despejos industriais. • aumento das reações químicas e biológicas, podendo ocorrer a elevação da ação tóxica de alguns elementos e compostos químicos; • redução no teor de OD, com reflexos sobre a vida aquática aeróbia; • diminuição da viscosidade da água, ocasionando o afundamento de organismos aquáticos. Sólidos • • • • • • assoreamento de recursos hídricos → diminuição de vazões de escoamento e de volumes de armazenamento → inundações; • soterramentos de animais e ovos de peixes; • aumento da turbidez da água → redução da transparência da água → diminuição da atividade fotossintética → redução do OD → impactos sobre a vida aquática. Matéria Orgânica • • • • • erosão do solo; esgotos domésticos; efluentes industriais; lixo; mineração. esgotos domésticos; efluentes industriais; chorume (lixo); dejetos de animais; proliferação de algas e plantas aquáticas (eutrofização); • decomposição de vegetação submersa. • redução do OD, devido à decomposição por bactérias aeróbias → prejuízos à vida aquática; • maus odores, quando a decomposição for anaeróbia. Microrganismos • esgotos domésticos; Patogênicos • outros resíduos contaminados (lixo, efluentes industriais etc.). • transmissão de doenças ao homem. Nutrientes • • • • esgotos domésticos; fertilizantes; decomposição de vegetais; efluentes industriais. • eutrofização da água → proliferação de algas e de vegetação aquática → sabor e odor; coloração; toxicidade; massa de matéria orgânica; corrosão; redução da penetração da luz solar; redução do OD; danos à vida aquática; prejuízos à recreação e à navegação; entupimentos; danos às bombas e turbinas; aspecto estético desagradável. Mudanças no pH • • • • esgotos domésticos; efluentes industriais; oxidação de MO; poluentes atmosféricos (chuvas ácidas). • • • • • Compostos Tóxicos • • • • • efluentes industriais; pesticidas; fertilizantes; lixo industrial; garimpo; mineração. • danos à saúde humana; • danos aos animais aquáticos. Corantes • efluentes industriais. • cor na água; • redução na transparência da água → diminuição da atividade fotossintética → redução do OD → prejuízos á vida aquática; • prejuízos aos usos (manchas). Substâncias Tensoativas • sabões e detergentes; • efluentes industriais. • • • • • • Substâncias Radioativas • reatores nucleares; • indústrias; • acidentes com materiais radioativos. • danos à saúde humana; • danos aos animais. corrosão; efeitos sobre a flora e a fauna; prejuízos à utilização na agricultura e em outros usos; aumento da toxicidade de certos compostos (NH3, metais pesados, H2S); influência nos processos de tratamento da água. redução da viscosidade; redução da tensão superficial; danos à fauna; espumas; sabor; toxicidade. 7 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Zona de Degradação. No trecho seguinte, Zona de Decomposição Ativa, o teor de OD atinge o valor mínimo, voltado a crescer até cerca de 40% da saturação. Segue-se a Zona de Recuperação, onde a aeração excede a desoxigenação e o teor de OD cresce até atingir o valor inicial. Finalmente, tem-se a Zona de Águas Limpas, com a água recuperando muitas de suas características, embora algumas mudanças ocorram de forma permanente. 8 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Características das Zonas de Autodepuração de um Curso d’Água, Após o Lançamento de uma Carga Orgânica Zona Características De Degradação As águas têm aspecto escuro, sujo; peixes afluem ao local em busca de alimentos; no ponto de lançamento, o teor de OD ainda é suficiente à sobrevivência de organismos aeróbios, mas decresce rapidamente com o tempo, até alcançar cerca de 40% do OD de saturação; há a sedimentação do material sólido; teor do gás amônia cresce; DBO atinge o valor máximo no ponto de lançamento, decrescendo a seguir; bactérias e fungos atingem valores elevados; as algas são raras. De Decomposição Ativa O teor de OD atinge o mínimo, podendo voltar a elevar-se, até atingir 40% da saturação; a DBO continua decrescendo; o número de bactérias e fungos diminui; o nitrogênio ainda predomina na forma de amônia; organismos aeróbios são reduzidos ou eliminados. De Recuperação A reaeração excede a desoxigenação e o teor de OD cresce até atingir o valor inicial; as águas têm aspecto mais claro; a DBO continua diminuindo; o nitrogênio predomina nas formas de nitratos e nitritos, podendo ainda existir como amônia; o número de bactérias é reduzido; peixes e outros organismos aeróbios voltam a aparecer; as algas proliferam. De Águas Limpas As águas retornam às condições primitivas, com relação ao OD, DBO e índices bacteriológicos; peixes e outros organismos aeróbios proliferam normalmente; algumas características indicam mudanças permanentes na qualidade das águas: aumento dos compostos inorgânicos, como os nitratos, fosfatos e sais dissolvidos, podendo resultar na intensa proliferação de algas. Vários fatores contribuem para a autodepuração de um curso d’água: Fenômenos Físicos: a) Diluição: é um dos fatores mais importantes, pois, quanto maior for a vazão do curso d’água em relação à vazão do esgoto, mais elevada será sua capacidade de autodepuração. b) Turbulência: quanto mais agitada a água, maior quantidade de oxigênio ela absorve da atmosfera. c) Sedimentação: deposição de MO no fundo do curso d’água, contribuindo para a redução da DBO. d) Temperatura: a concentração de saturação do oxigênio depende da temperatura, sendo menor para valores elevados desta. e) Luz solar: o Sol tem ação germicida, além de ser fonte de energia para a realização da fotossíntese pelo fitoplâncton, uma das fontes de oxigênio na água. Fenômenos Químicos: a) Reações de oxi-redução: ocorrem na respiração dos organismos aeróbios, causando a redução do OD. Entre os processos de redução, destaca-se a fotossíntese. Outro processo redutor importante é a desnitrificação, a qual consiste na ação de bactérias sobre os nitratos, na busca de oxigênio, transformando-os em nitritos e, posteriormente, em nitrogênio gasoso. Fenômenos Biológicos: a) Predatismo: consiste na destruição de microrganismos patogênicos por outros organismos (bacteriófagos). b) Aglutinação: alguns microrganismos têm a capacidade de aglutinação (Zooglea), favorecendo a junção de partículas e outros organismos, os quais tendem a ser arrastados para o fundo. c) Produção de antibióticos e toxinas: existem microrganismos aquáticos que produzem substâncias que têm ação antibiótica ou tóxica sobre alguns tipos de bactérias patogênicas. Dependendo dos fenômenos de autodepuração, três situações podem ocorrer. O OD da água pode ser reduzido e: (A) voltar ao valor inicial, sem alcançar valores inferiores ao limite mínimo estabelecido. (B) voltar ao valor inicial, ocorrendo, num trecho, valores inferiores ao limite mínimo estabelecido. (C) alcançar valores muito baixos (ou zero), não voltando ao valor inicial. 9 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Curva de Depressão de Oxigênio em 3 Condições de Autodepuração Nas duas últimas situações, há necessidade da adoção de medidas visando a reduzir a quantidade de matéria orgânica, de forma que a curva de depressão de oxigênio mantenha-se sempre acima do limite mínimo estabelecido para o OD. Demanda de Oxigênio A quantidade de oxigênio necessária para oxidar uma substância a dióxido de carbono e água pode ser calc ulada pela estequiometria, se a composição química da substância é conhecida. Esta quantidade de oxigênio é conhecida como a Demanda Teórica de Oxigênio (DTO). Em contraste com a DTO, a Demanda Química de Oxigênio (DQO) é uma quantidade medida que não depende do conhecimento da composição química das substâncias na água. No teste de DQO, um forte agente oxidante (ácido crômico) é misturado com a amostra de água e levado à ebulição. A diferença entre a quantidade de agente oxidante no início do teste e a restante ao final do teste é usada para calcular a DQO. Se a oxidação de um composto orgânico é conduzida por microrganismos que usam a matéria orgânic a com uma fonte de alimento, o oxigênio consumido é conhecido como a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). Somente sob circunstâncias raras a DTO, a DQO e a DBO serão idênticas. Se a composição química de todas as substâncias na água é conhecida e elas são capazes de serem completamente oxidadas tanto química quanto biologicamente, aí então as três medidas da demanda de oxigênio serão iguais. 10 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Quando uma amostra de água contendo matéria orgânica biodegradável é colocada em um recipiente fechado e inoculada com bactérias, o consumo de oxigênio segue tipicamente o padrão mostrado no gráfico abaixo. Durante os primeiros dias, a taxa de depressão de oxigênio é rápida por causa da alta concentração de MO presente. À medida que a concentração da MO decresce, também decresce a taxa de consumo de oxigênio. Durante a última parte da curva da DBO, o consumo de oxigênio é principalmente associado à decomposição das bactérias que cresceram durante a primeira parte do teste. Assume-se geralmente que a taxa na qual o oxigênio é consumido é diretamente proporcional à concentração da MO biodegradável restante em um tempo qualquer. Como resultado, a curva da DBO pode ser descrita matematicamente como uma reação de primeira ordem. Isto pode ser expresso como: dLt = −rA dt onde: Lt = oxigênio equivalente aos compostos orgânicos remanescentes no tempo t, mg/L –rA = –kLt k = constante de reação, d–1 (1) Rearranjando a Equação (1) e integrando, tem-se: dLt = −kdt dt L ∫ t ∫ dLt = −k dt dt L0 0 ln Lt = −k t L0 ou Lt = L0 ⋅ e − kt (2) onde L0 = oxigênio equivalente aos compostos orgânicos no tempo t = 0 Ao invés do Lt , o nosso interesse está na quantidade de oxigênio usada no consumo dos compostos orgânicos (DBOt ). A partir do gráfico acima, fica óbvio que a DBOt é a diferença entre o valor inicial L0 e Lt . Portanto: DBOt = L0 – Lt = L0 – L0 e–kt) = L0 (1 – e–kt) (3) 11 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo L0 é normalmente chamada de DBO última (DBOu ), ou seja, o máximo consumo de oxigênio possível quando o despejo tiver sido completamente degradado. A Equação (3) é chamada de a equação da taxa de DBO e é freqüentemente escrita na base 10: DBOt = L0 (1 – 10–Kt ) (4) Observe que o k é usado para a constante de reação na base e e o K é usado para a constante na base 10. Eles se estão relacionados através da equação: k = 2,303K. Embora a DBOu expresse bem a concentração da matéria orgânica biodegradável, ela não indica o quão rapidamente o oxigênio será consumido na água. A depressão do OD está relacionada tanto com a DBOu quanto com a constante de velocidade (k). Enquanto a DBO é diretamente proporcional à concentração de matéria orgânica biodegradável, o valor da constante de velocidade é dependente dos seguintes fatores: 1. A natureza do despejo; 2. A aclimatação dos microrganismos; 3. A temperatura: k T = k 20 (θ)T–20 onde: T = temperatura de interesse, °C k T = constante de velocidade na temperatura de interesse, dia –1 k 20 = constante de velocidade determinada a 20°C, dia –1 θ = coeficiente de temperatura. Este tem um valor de 1,135 entre 4 e 20°C e 1,056 entre 20 e 30°C Obs. •: O efeito de K sobre a DBOu para dois efluentes líquidos tendo a mesma DBO5 . Obs. ‚: O efeito de K sobre a DBO5 quando a DBOu é constante. 12 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Eutrofização O lançamento de nutrientes na água, principalmente nitrogênio e fósforo, resulta no crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas, fenômeno denominado de eutrofização. A eutrofização é mais comum em águas paradas (lagos, lagoas, represas), devido não serem favoráveis à mesma as condições dos cursos d’água (velocidade, turbidez). As águas contêm, normalmente, fitoplâncton, o qual depende dos nutrientes e da luz solar para sobreviverem. Quando se introduzem elevadas quantidades de nutrientes em um reservatório de água, oriundos de esgotos domésticos ou efluentes industriais, ou de fertilizantes, há um grande crescimento das populações de algas e de outras plantas, o que pode resultar em problemas, tais como: • Devidos à proliferação excessiva de algas: sabor e odor; toxicidade; turbidez e cor; massa de matéria orgânica, cuja decomposição resulta na redução do OD da água, com impactos sobre a vida aquática; aderência às paredes dos reservatórios e tubulações (lodo); corrosão; prejuízos ao tratamento da água. • Devidos às plantas aquáticas: prejuízos aos usos (navegação, recreação); assoreamento; redução gradual do reservatório; produção de massas de matéria orgânica, com decomposição e redução do OD; cobertura da água, com diminuição da penetração da luz solar; aumento da evapotranspiração; entupimentos de canalizações e grades; danos às bombas e turbinas hidrelétricas. Contaminação por Microrganismos A disposição de dejetos de origem humana em corpos d’água resulta em um grave problema sanitário, que é a contaminação por microrganismos patogênicos. Uma pessoa doente elimina, através das fezes, microrganismos patogênicos, os quais podem alcançar o organismo de outra pessoa por vários meios, sendo um dos principais as águas. Um corpo d’água que recebeu esgotos com dejetos humanos pode constituir-se num veículo de transmissão de várias doenças: febre tifóide, febre paratifóide, cólera, disenteria bacilar, amebíase, enteroinfecções em geral, hepatite infecciosa, esquistossomose, entre outras. Para indicar se uma água receber esgotos de origem humana e, portanto, pode conter microrganismos patogênicos, são utilizados, principalmente, os coliformes fecais, por existirem em grande quantidade nesses despejos. Estima-se que em 100 mL de esgotos domésticos estejam presentes de 106 a 109 coliformes fecais. O exame bacteriológico da água é muito importante quando a mesma se destina ao consumo humano ou a outros usos, tais como, irrigação de culturas alimentícias, fabricação de alimentos, recreação de contato primário (banhos), entre outros. Nesse caso, existem padrões definidos com relação ao número de coliformes fecais (NMP/100 mL). A água a ser ingerida pelo homem não deve conter coliformes fecais em amostras de 100 mL. 13 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Escolha as Tecnologias Apropriadas para o Tratamento de Efluentes Líquidos E mbora processos de fabricação químicos complexos possam ser operados efic ientemente, mesmo as instalações mais sofisticadas têm dificuldades em realizar um tratamento do(s) seus(s) efluente(s) líquido(s) que seja consistente e bem sucedido. O tratamento dos efluentes líquidos industriais tem se desenvolvido lentamente e, em alguns aspectos, não acompanhou os avanços das tecnologias de fabric ação. Uma das razões para este fato pode ser o excesso de confiança das instalações industriais no tratamento biológico para resolver todos os problemas dos efluentes líquidos. Um tratamento biológico apropriadamente operado é, sem dúvida, uma maneira barata e relativamente simples de se lidar com vários tipos diferentes de efluentes industriais. Entretanto, ele não pode resolver sozinho todos os problemas, Um artigo da revista CEP (Chemical Engineering Progress), apresentou um procedimento para o desenvolvimento de uma estratégia de tratamento de efluentes líquidos eficiente. Ele envolve, primeiramente, a caracterização de todas as correntes de efluentes líquidos da planta e a avaliação das necessidades de tratamento de cada corrente em relação aos padrões legais aplicáveis. Em seguida, as correntes que necessitem do mesmo tipo de tratamento são combinadas e tratadas como correntes compostas. Esta abordagem melhora a razão custo/benefício do esquema global de tratamento. Vamos discutir as várias tecnologias para o tratamento de efluentes líquidos em detalhe e comparar as suas aplic ações, vantagens e desvantagens. Características do efluente líquido A Tabela 1 lista características comuns de efluentes líquidos industriais e os risco inerentes a elas. Em geral, um efluente líquido pode ser caracterizado baseado nos seus parâmetros orgânicos globais, nas suas características físicas e nos seus contaminantes específicos. Os parâmetros de qualidade orgânicos globais medem a quantidade de matéria orgânica presente em uma corrente de efluente. Os parâmetros típicos são o carbono orgânico total (COT), a demanda química de oxigênio (DQO), a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e os óleos e graxas (OG) ou hidrocarbonetos de petróleo totais (HPT). Estes parâmetros não me- dem um componente específico, e sim, um grupo de constituintes. As medidas de COT, DQO e DBO indicam a quantidade de matéria orgânica presente em uma corrente de efluente que precisa de estabilização ou oxidação. A DBO mede os compostos orgânicos que são passíveis de serem tratados biologicamente, enquanto o COT e a DQO medem, respectivamente, a quantidade de carbono orgânico e a quantidade de carbono que, teoricamente, pode ser oxidado a dióxido de carbono além da de outros materiais inorgânicos oxidáveis. Por exemplo, um efluente com uma alta DQO ou COT e uma baixa DBO, indica um rejeito orgânico que não é passível de ser biodegradado; por outro lado, um com alta 14 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Tabela 1. Contaminantes de efluentes líquidos industriais típicos. Parâmetros Problema Orgânicos Globais COT DQO DBO Óleos e Graxas/HPT Pode ser tóxico; reduz o oxigênio Pode ser tóxico; reduz o oxigênio Reduz o oxigênio em águas receptoras Danifica a vegetação e a vida selvagem Físicos SST pH Temperatura Cor Odor Potencial Redox Turbidez; tóxico à vida aquática Acidez ou alcalinidade são tóxicas à vida aquática Tóxica à vida aquática Estético; destrói as algas Pode ser tóxico à vida aquática e aos humanos; estético Pode ser tóxico à vida aquática Contaminantes Específicos NH3/NO3– Fosfatos Metais Pesados Surfactantes Sulfetos Fenol Orgânicos Tóxicos Cianeto Tóxicos à vida aquática; eutrofização Eutrofização Tóxicos à vida aquática e aos humanos Tóxicos à vida aquática e aos humanos; estético Tóxicos à vida aquática e aos humanos; estético Tóxico à vida aquática e aos humanos; estético Tóxicos à vida aquática e aos humanos Tóxico à vida aquática e aos humanos DQO e um baixo COT indica que espécies inorgânicas oxidáveis estão presentes (a DQO inorgânica não é normalmente biodegradável). Os parâmetros OG e HPT indicam a presença de óleo ou hidrocarbonetos de petróleo, que tanto podem estar dissolvidos ou em uma fase separada. Estes parâmetros são úteis para a medida da qualidade orgânica de um efluente líquido somente quando se espera que tais compostos estejam presentes em grandes quantidades, como acontece nos efluentes líquidos de refinarias. As características físicas do efluente líquido incluem os sólidos em suspensão totais (SST), pH, temperatura, cor, odor e, algumas vezes, o potencial de oxirredução. Algumas das características físicas refletem qualidades estéticas de um efluente líquido (tais como odor de peixe ou cor escura), enquanto outras características, tais como pH e temperatura, podem ter um impacto negativo nos corpos d’água receptores. Os contaminantes específicos de interesse no efluente líquido podem ser de natureza orgânica ou inorgânica. A Tabela 1 lista alguns exemplos comuns. Prof. Eduardo Bessa Azevedo te em um ecossistema ambientalmente sensível ou em uma fonte de água potável terá que cumprir exigências mais severas do que um descarte em águas que não são usadas nem para o consumo humano e nem para a irrigação de lavouras. Tipos de Tratamento Uma vez caracterizado o efluente líquido e conhecidas as necessidades de tratamento, o próximo passo é conjugar estas duas informações. Para isto, é necessário um conhecimento básico dos diferentes tipos de tratamento disponíveis e o quê eles podem fazer, de forma a se selecionar aquele que seja o mais correto para a planta em questão. O tratamento de efluentes líquidos é geralmente classificado em quatro níveis — primário, secundário, terciário e quaternário. Cada nível de tratamento é destinado à remoção de uma classe de contaminantes específica. O tratamento primário envolve processos físicos simples que removem sólidos em suspensão e o óleo arrastado por uma corrente de efluente líquido. O tratamento secundário é projetado para remover materiais solúveis que não o podem ser por meios físicos simples. Existem numerosas tecnologias de tratamento secundário disponíveis, dependendo do constituinte que se deseja remover. O Qualidade do efluente Além de se conhecer as características de um determinado efluente líquido, deve-se também avaliar as necessidades de tratamento. A Tabela 2 resume os padrões de qualidade mais comuns que nas dos são permissões. exigidos nas permissões. Tabela 2. Padrões típicos para Os pa-râmetros que efluentes líquidos industriais. têm que ser monitoConcentração, mg/L rados e os seus res- Parâmetro pectivos níveis de DQO 300–2.000 100–300 descarga permissí- DBO 15–55 veis são de- Óleos e Graxas/HPT SST 15–45 terminados com base pH 6,0–9,0 na legislação fede- Temperatura Menor que 40°C ral, estadual e muni- Cor 2 unidades de cor NH3/NO3– 1,0–10 cipal. Fosfatos 0,2 Os requisitos Metais Pesados 0,1–5,0 específicos de trata- Surfactantes (Totais) 0,5–1,0 mento dependem do Sulfetos 0,01–0,1 0,1–1,0 ponto de descarte do Fenol 1,0 efluente líquido. Por Orgânicos Tóxicos (Totais) Cianeto 0,1 exemplo, um descar- 15 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Vertedouro de Entrada Prof. Eduardo Bessa Azevedo Chincana do Óleo Óleo Óleo Tampa Suspiro Conjunto de Placas Corrugadas Inclinadas Vertedouro do Efluente Compartimento de Entrada Entrada Saída Água Água Câmara de Separação Compartimento do Lodo Separador API Separador CPI a Figura 1. Os dispositivos mais comuns usados na separação por gravidade são os separadores API e CPI. tratamento terciário e o quaternário são usados para polir um efluente para remover um contaminante específico que não é removido no primeiro e no segundo estágios de tratamento. Além destes quatro níveis de tratamento, existem quatro classes de tecnologias de tratamento — físicas, químicas, térmicas e biológicas. Os processos específicos selecionados para a remoção dos contaminantes da fase aquosa podem ser usados separadamente ou em conjunto em várias combinações. TRATAMENTO FÍSICO Os tratamentos físicos produzem uma mudança física nas propriedades do(s) contaminante(s), ao passo que a natureza química dos compostos permanece inalterada. As propriedades físicas dos contaminantes são manipuladas para facilitar a remoção dos poluentes da fase aquosa. Os tratamentos físicos tipic amente empregados em efluentes líquidos industriais (Tabela 3) são: separação por gravidade, flotação com ar, coalescência do óleo, evaporação, filtração, adsorção em carvão ativado, arraste com ar ou vapor e extração líquido/líquido. A separação por gravidade é usada como um tratamento primário para remover óleo e sólidos em suspensão na corrente do efluente. A flotação com ar é usada como um processo secundário de remoção de óleo, retirando gotículas de óleo finamente dispersas e óleo mecanicamente emulsificado. A coale scência do óleo pode ser usada como um processo de remoção de óleo primário ou secundário, removendo óleo livre, gotículas de óleo e um pouco do óleo emulsificado. A evaporação e a filtração são empregadas quando o efluente contém uma alta concentração de sólidos ou outro material que possa ser separada em uma fase distinta. A evaporação reduz a quantidade de líquido que deve ser disposto ao final. A adsorção em carvão ativo, o arraste com ar ou vapor e a extração líquido/líquido, são tratamentos secundários, terciários ou quaternários destinados à remoção de contaminantes orgânicos específicos, baseado na natureza físico-química dos contaminantes. Separação por gravidade A separação por gravidade é usada para tratar efluentes nos quais os contaminantes podem ser separados da fase aquosa pelo fato das suas densidades serem maiores ou menores do que a da água, que é 1,0. Óleos com densidades entre 0,8 e 0,95 são separados como uma camada superior flutuante, enquanto os sólidos, com densidades variando tipicamente entre 1,05 e 2,6, sedimentam-se formando uma camada inferior de lodo. Quanto mais ou menos denso for o constituinte, mais rapidamente ele irá sedimentar no fundo ou flutuar para a superfície. Tipicamente, (Figura 1) são usadas câmaras de gravidade conhecidas como separadores API ou separadores óleo/água com interceptor de placa corrugada (tipo CPI). Os separadores API são normalmente tanques de concreto retangulares enterrados no solo. Para que ocorra uma separação eficiente, o líquido deve atingir condições de imobilidade. Quanto tempo isto levará para ocorrer depende do comprimento, da largura e da profundidade do tanque. A restrição de projeto é o comprimento do tanque — ele deve ser suficiente para permitir que a partícula com movimento mais rápido no efluente tenha tempo para sedimentar ou flutuar completamente. Se o efluente chegar à câmara antes de todas as partículas ou óleo terem descido ao fundo ou flutuado até a superfície, os contaminantes serão carreados para fora junto com o efluente. Por causa da necessidade de espaço para os tanques API subterrâneos, os separadores do tipo CPI 16 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Tabela 3. Resumo dos processos físicos de tratamento de efluentes líquidos. Processo Aplicações Vantagens Desvantagens Separação por Gravidade Óleo Livre, Sólidos em Suspensão Barato. Baixa manutenção. Sem elementos mecânicos. Relativamente seguro. Fácil de operar. Baixo consumo de energia. Emissões de voláteis. Não remove constituintes dissolvidos. Disposição do óleo e do lodo residuais. Flotação com Ar Óleo Emulsificado, Gorduras, Graxas, Sólidos em Suspensão Finos Quebra emulsões mecânicas. Barato. Relativamente seguro. Emissões de voláteis. Não remove constituintes dissolvidos. Não quebra emulsões químicas. Requer aditivos químicos. Disposição da espuma. Difícil manutenção. Alto consumo de energia. Coalescência do óleo Óleo Livre e Emulsificado Baixa manutenção. Sem elementos mecânicos. Quebra emulsões mecânicas. Melhor remoção de óleo. Sem aditivos químicos. Fácil de operar. Baixo consumo de energia. Não remove constituintes dissolvidos. Disposição do óleo residual. Não quebra emulsões químicas. Evaporação Orgânicos Voláteis, Redução do Volume de Água Reduz o volume do efluente. Remove contaminantes dissolvidos. Relativamente seguro. Fácil de operar. Emissões de voláteis. Alto consumo de energia. Suscetível a obstruções. Difícil manutenção. Filtração Óleo Livre e Emulsificado, Sólidos em Suspensão Remove alguns contaminantes dissolvidos. Relativamente seguro. Fácil de operar. Baixo consumo de energia. Suscetível a obstruções. Necessidade de retrolavagem. Odores, crescimento bacteriano. Elevada manutenção. Adsorção Compostos Orgânicos, Alguns Compostos Inorgânicos Remove contaminantes dissolvidos. Relativamente seguro. Fácil de operar. Baixos custos de capital. Suscetível a obstruções. Odores, crescimento bacteriano. Elevada manutenção. Necessidade de regeneração ou dispos ição. Arraste Orgânicos Voláteis, Alguns Orgânicos Semivoláteis Remove contaminantes dissolvidos. Mais ou menos seguro. Baixos custos de capital. Alto consumo de energia. Difícil manutenção. Suscetível a obstruções. Emissões de voláteis. Não remove inorgânicos. Extração Compostos Orgânicos, Alguns Compostos Inorgânicos Remove contaminantes dissolvidos. Mais ou menos seguro. Fácil de operar. Baixos custos de capital. Emissões de voláteis. Alto consumo de energia. Difícil manutenção. Correntes de efluentes adicionais a serem tratadas. 17 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Motor Motor Cone Difusor Óleo Pás Escumadeiras Injetor Ar Água Limpa Dispersor Água Bolhas de Ar Difundidas Água Rotor Braço Raspador Flotação com Ar Dissolvido Flotação com Ar Induzido a Figura 2. A flotação com ar é um método melhorado de separação por gravidade. têm se tornado cada vez mais populares. Os separadores CPI utilizam placas inseridas dentro da câmara de gravidade para aumentar a área superficial sobre a qual o efluente líquido flui. A área superficial adicional aumenta o comprimento efetivo que o efluente percorre sem alterar as dimensões externas do equipamento. (Em alguns casos, o conjunto de placas corrugadas pode ser adaptado a tanques API existentes para melhorar a separação.) As recentes regulamentações que governam as emissões de pla ntas de tratamento de efluentes líquidos industriais requerem que os separadores sejam tampados para reduzir as emissões atmosféricas e os odores. Adaptar tampas aos tanques API já existentes pode ser extremamente caro pelo fato das tampas terem que ser à prova de explosões e com suspiro(s) para evitar a concentração de gases explosivos sob a tampa. A maioria dos separadores CPI já vem equipada com tampas com suspiros (uma vantagem adicional é que as tampas podem ser facilmente removidas para a manutenção). Os tanques API apresentam um outro problema por serem abertos — eles são suscetíveis de receberem descargas acidentais, o que pode levar à mistura de efluentes incompatíveis. Os tanques são geralmente ligados aos processos de tratamento secundários, que podem ser negativamente afetados pela descarga, a um grande custo. Além disso, tanques de concreto subterrâneos são suscetíveis a vazamentos e rachaduras, podendo ser a causa de contaminações do solo e das águas subterrâneas. Flotação com ar A flotação com ar dissolvido (FAD) e a flotação com ar induzido (FAI) são métodos de separação gravitacional acelerados (Figura 2). A flotação com ar é útil para remover gorduras, graxas e materiais oleosos que naturalmente flutuariam se tivessem o tempo suficiente, mas que são um problema para os separadores por gravidade convencionais. O material oleoso presente no efluente líquido pode ser tornar mecanicamente emulsionado pela turbulência, pressurização ou bombeamento centrífugo. O material emulsificado não irá se separar rapidamente em condições de imobilidade porque o material foi tão finamente dividido na fase aquosa que é formada uma suspensão estável. Este óleo disperso pode ser removido usando-se gases dissolvidos, na forma de microbolhas, que formam aglomerados entre as partículas finamente divididas. A introdução de bolhas de ar reduz a densidade global dos aglomerados; o material aglomerado então flutua para a superfície, onde forma uma camada de espuma que pode ser removida por raspagem. Na forma mais comum de FAD, ar sob pressão é introduzido no fundo de um tanque aberto e, à medida que as bolhas de ar (agora a uma pressão menor) sobem para o topo do tanque, o material aglomerado flutua para a superfície. Em outras configurações de FAD, o próprio efluente líquido é pressurizado e supersaturado com ar; então, deixa-se a pressão do efluente diminuir até a atmosférica, fazendo com que o excesso de gases dissolvidos no efluente flutue para a superfície. Na FAI, ar é introduzido através de um rotor e dispersado usando-se difusores de ar. A flotação com ar é mais efic iente quando o tamanho da bolha de ar é pequeno — 2 mm é típico. É freqüente o uso de coadjuvantes de 18 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental coagulação para aumentar o tamanho dos aglomerados e facilitar a flotação. O processo não é eficiente para efluentes quimicamente emulsificados, tais como efluentes resultantes do processamento de aminas e de dessalinização, e efluentes contendo surfactantes; nestes casos, a emulsão química deve ser primeiramente quebrada para liberar o material em suspensão. Coalescência do óleo Coalescedores com leitos fibrosos têm sido usados, em escala piloto, no tratamento de efluentes líquidos para a remoção secundária de emulsões água/óleo que não puderam ser separadas nos separadores por gravidade. Os coalescedores consistem em elementos filtrantes fixos feitos de materiais fibrosos ou não, capazes de atrair o óleo. As gotículas de óleo têm uma grande afinidade por estas fibras, que coalescem as gotículas de óleo e quebram as emulsões. Algumas fibras têm menos do que 0,5 µm de diâmetro. Quando as emulsões de água e óleo são forçadas a passar através do elemento, as gotículas de óleo microscópicas crescem e migram através do elemento subindo para a superfície da água. O óleo flutuante é então removido da superfície da água por raspagem. A eficiência da unidade depende dos parâmetros de operação, tais como: concentração do óleo do afluente, tamanho da fibra, vazão, molhabilidade do óleo, tamanho da gotícula do óleo e concentração de sólidos. O processo geralmente requer um extensivo pré-tratamento e é suscetível ao entupimento devido a sólidos ou a microrganismos. Evaporação A evaporação envolve a vaporização de um líquido de uma solução ou de uma lama. O objetivo é concentrar uma solução composta de um solvente volátil e um soluto menos volátil. Portanto, esta tecnologia é útil para correntes de efluen- tes que contêm uma alta concentração de sólidos ou quando é necessária a minimização do volume da fase líquida para a redução dos custos de disposição. A concentração é conseguida pela retirada do solvente como vapor. Isto requer a transferência de calor suficiente (o calor latente de vaporização) de um meio aquecedor para o fluido de processo para vaporizar o solvente. A função do equipamento de vaporização é fornecer o meio para transferir o calor para o líquido e permitir que o processo de vaporização ocorra. Os três tipos mais comuns são os evaporadores de filme ascendente, de filme descendente e de circulação forçada; trocadores de calor, tanques de ignição, bombas e ejetores, são equipamentos auxiliares comuns usados nos sistemas de evaporação. Considerações importantes no projeto de um evaporador são as características de transferência de calor, as necessidades de energia e o potencial de corrosão, formação de espuma, carreamento, sujeira e incrustações. A evaporação é uma tecnologia cara tanto em termos de custos de capital quanto de operação. São produzidos uma corrente de fundo e um condensado, ambos necessitando de um posterior processamento. Os custos da evaporação solar são menores, mas o custo da terra para as necessidades de evaporação pode ser alto. As lagoas de evaporação requerem freqüentemente revestimentos no fundo e devem possuir dispositivos para o seu esvaziamento, de forma que são consideradas como uma prática de tratamento, e não uma prática de disposição como no passado. Filtração Os sistemas de filtração podem separar óleo livre e emulsificado de efluentes líquidos de refinarias. Eles podem ser usados independentemente ou em conjunto com os Prof. Eduardo Bessa Azevedo separadores por gravidade ou sistemas de flotação com ar. O mecanismo de remoção na filtração é a filtração direta e a coalescência induzida dos glóbulos de óleo no meio filtrante. O processo também quebra emulsões mecânicas. Materiais tais como: vidro, cerâmicas porosas, metais, plásticos, areia, antracito e grafite têm sido usados com meios filtrantes. Materiais filtrantes específicos têm que ser testados em cada corrente de rejeito para se determinar a sua eficiência. O meio filtrante é selecionado para uma corrente de reje ito em particular baseado na sua afinidade pelo óleo específico que está sendo carreado. A filtração também pode ser usada para remover sólidos em suspensão do efluente líquido antes do posterior tratamento para remoção de contaminantes específicos. O meio filtrante mais comumente utilizado para esta aplicação é a areia ou outros materiais sólidos inertes. Os sistemas de filtração são suscetíveis a entupimentos do meio filtrante, especialmente com correntes de rejeito onde sólidos estejam presentes. Os filtros têm que ser freqüentemente retrolavados e a água de lavagem reprocessada através do sistema de tratamento do efluente líquido. Nos filtros abertos, o crescimento bacteriano ou de algas no meio filtrante pode resultar na redução da eficiência de filtração e em problemas de odores e de presença de pequenos animais. Portanto, o afluente tem que ser pré-tratado com biocidas. Adsorção A adsorção envolve o uso de carvão ativado com uma alta área superficial para a adsorção de contaminantes orgânicos presentes do efluente líquido. A adsorção em carvão ativo pode ser usada para remover uma grande variedade de contaminantes orgânicos e, algumas 19 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental vezes, inorgânicos. O processo é relativamente não-específico e é usado como uma operação de tratamento secundária de amplo espectro. A adsorção deve ser considerada para a remoção de contaminantes orgânicos apolares, com baixa solubilidade ou que tenham altas massas molares. A adsorção com carvão ativado é geralmente realizada usando-se o carvão ativado em pó (CAP) em reatores de mistura perfeita ou o carvão ativado granular (CAG) em reatores de coluna ou de leito fluidizado (Figura 3). A concentração do contaminante do efluente será normalmente perto de zero até o “breakpoint” ou ponto de saturação dos sítios do carvão ativo, caso no qual a concentração do contaminante, tanto no afluente como no efluente, é a mesma. As colunas de adsorção são tipicamente operadas em pares de forma que quando ocorre a saturação da primeira colu- Prof. Eduardo Bessa Azevedo na, a segunda é colocada em linha e adsorve os contaminantes, enquanto a primeira coluna é regenerada. Pelo fato de mudanças nas características do afluente poderem resultar na exaustão prematura do carbono, o efluente tem que ser continuamente monitorado para indicar a eficiência do adsorvedor. O problema operacional mais comum com os adsorvedores com carvão é o desenvolvimento de uma excessiva perda de carga como resultado da acumulação de sólidos e do crescimento biológico no carvão. Este último pode levar à formação de sulfeto de hidrogênio por bactérias redutoras de sulfato em condições anaeróbicas. Portanto, o prétratamento do rejeito para remover os sólidos e a adição de biocidas são tipicamente necessários. Outro problema é a exaustão prematura do carvão. Os poros internos do carvão podem ficar bloqueados por contaminantes com Carvão em Suspensão altas massas molares, tornando-os inacessíveis aos contaminantes de interesse. Mudanças no pH do afluente também podem resultar em um efeito cromatográfico, no qual espécies previamente adsorvidas são substituídas por compostos com energias de adsorção mais altas, resultando em picos de concentração no efluente. Arraste com ar/vapor O arraste é um processo de tratamento físico no qual contaminantes dissolvidos são transferidos da fase ílquida para uma corrente gasosa (Figura 4). A força motriz para a transferência de massa é o gradiente de concentração entre as fases líquida e gasosa. No arraste com ar, a relação de equilíbrio governante é a Lei de Henry. Portanto, o processo só é aplicável a contaminantes que são voláteis sob as condições atmosféricas normais. O ar é introduzido no Afluente Recheio Reator em Batelada Efluente Coluna 1 Coluna 1 Adsorvedores em Coluna Afluente Carvão Novo Efluente Carvão Efluente Reator Contínuo de Mistura Perfeita Água Afluente Carvão Exaurido Reator de Leito Fluidizado Carvão Ativado em Pó Carvão Ativado Granulado Figura 3. O carvão ativado pode ser usado para remover contaminantes por adsorção. 20 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo em carvão ativo, dependendo da natureza dos contaminantes e das regulamentações ambientais aplicáveis. Queimador ou Incinerador Adsorção com Carvão Ativado Vapor de Topo Contaminantes Recuperados Água Afluente Torre Empacotada ou de Bandejas Entrade de Ar ou Vapor Efluente Figura 4. No arraste com ar e com vapor, os contaminantes são transferidos da fase líquida para a fase vapor. efluente líquido para remover contaminantes orgânicos dissolvidos relativamente voláteis. A corrente residual gasosa de saída contaminada tem que sofrer um tratamento posterior para remover os contaminantes antes de ser descartada na atmosfera. O arraste com vapor utiliza vapor vivo como fase gasosa. Neste caso, o equilíbrio líquido/vapor entre a água e composto orgânico é a relação-chave de equilíbrio. O arraste com vapor pode remover alguns compostos semivoláteis ou mais solúveis que não podem ser removidos facilmente pelo arraste com ar. O vapor de topo é então condensado para a recuperação dos compostos arrastados. A eficiência do arraste irá depender da concentração dos contaminantes na corrente do rejeito e no gás de saída, da razão área superficial/volume, da razão ar/água e da quantidade de sólidos. Vários tipos de meios de arraste estão disponíveis de forma a fornecer diferentes razões área superficial/volume — recheios plásticos são os mais comumente utilizados. Os problemas operacionais mais comumente encontrados são a obstrução dos meios ou a perda da pressão do ar. O arraste produz um corrente de gás de saída que normalmente contém altas concentrações de compostos orgânicos. Esta corrente de gás tem que então ser tratada antes de ser descartada na atmosfera. O tratamento do gás de saída é normalmente conseguido através de queima, incineração ou adsorção Extração líquido/líquido A extração líquido/líquido, ou extração por solvente, é a separação dos constituintes de uma solução líquida pelo contato com um outro líquido no qual os constituintes são mais solúveis. O segundo líquido (ou solução extratora) é normalmente imiscível com a água nas condições da extração. Os constituintes são transferidos de um líquido para o outro, mas não são alterados quimicamente. A solução extratora é selecionada de forma a poder ser reutilizada e facilmente separada do seio do efluente líquido. O processo de extração com solvente (Figura 5) consiste de quatro componentes básicos: • contato entre o efluente líquido e o solvente; • separação do efluente líquido extraído e do solvente; • tratamento do solvente para remover os contaminantes extraídos; e Alimentação do Efluente Extrato (Solvente e Contaminantes) Vaso de Extração Efluente (com Solvente Residual) Solvente Puro Figura 5. Na extração líquido/líquido, os contaminantes são transferidos de um líquido para o outro. 21 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental • tratamento do efluente líquido para remover resíduos do solvente. Os sistemas de extração variam desde simples decantadores-misturadores de único estágio até colunas de extração de múltiplos estágios. A separação do solvente e do contaminante pode ser conseguida pelo arraste com ar ou com vapor, destilação, evaporação ou uma segunda etapa de extração com solvente. O tratamento do efluente líquido extraído pode ser por arraste com ar ou com vapor, adsorção em carvão ou degradação biológica. A eficiência do processo irá depender da distribuição de equilí- Prof. Eduardo Bessa Azevedo brio do contaminante entre o efluente líquido e o solvente de extração, além da cinética da transferência de massa entre as duas fases líquidas. Para aumentar a eficiê ncia, a razão solvente/efluente pode ser aumentar ou serem empregados múltiplos estágios de extração. As principais preocupações em relação à segurança do processo de extração são a inflamabilidade e a toxicidade do solvente. E pelo fato de resíduos do solvente estarem presentes no efluente líquido tratado, deve-se tomar cuidado na escolha do solvente de forma que os seus resíduos não causem problemas adicionais de qualidade ao efluente. A extração é aplicável para constituintes que são completamente miscíveis tanto no solvente como na água. Ela é usada em aplicações onde a recuperação dos contaminantes é desejada para o reprocessamento ou com o propósito de minimização dos rejeitos. Hoje em dia, o processo é usado para a remoção de fenóis e ácido acético de efluentes industriais. São solventes típicos de extração: óleo cru, óleo leve, benzeno, tolueno, éter isopropílico, acetato de butila, metil isobutil cetona e cloreto de metila. Tabela 4. Resumo dos processos químicos de tratamento de efluentes líquidos. Processo Aplicações Vantagens Desvantagens Precipitação Química Inorgânicos, Metais Remoção de constituintes dissolvidos. Baixa manutenção. Recuperação de metais. Mais ou menos seguro. Baixo consumo de energia. Fácil de operar. Emissões de voláteis. É necessário o manuseio e a armazenagem apropriados dos reagentes. Disposição do lodo. Remoção seletiva. Requer aditivos químicos. Recuperação Eletrolítica Alta Concentração de Orgânicos, Inorgânicos e Metais Remoção de constituintes dissolvidos. Recuperação de metais. Relativamente seguro. Fácil de operar. Sem lodos residuais. Altos custos de capital e de operação. Remoção seletiva. Difícil manutenção. Alto consumo de energia. Suscetível a obstruções. Troca Iônica Baixa Concentração de Orgânicos, Inorgânicos e Metais Remoção de constituintes dissolvidos. Recuperação de metais. Relativamente seguro. Fácil de operar. A água pode ser reutilizada. Altos custos de capital e de operação. Remoção seletiva. Difícil manutenção. Alto consumo de energia. Suscetível a obstruções. Osmose Reversa Baixa Concentração de Orgânicos, Inorgânicos e Metais Remoção de constituintes dissolvidos. Recuperação de metais. Relativamente seguro. Fácil de operar. A água pode ser reutilizada. Altos custos de capital e de operação. Remoção seletiva. Difícil manutenção. Alto consumo de energia. Suscetível a obstruções. Oxidação/Redução Alta Concentração de Orgânicos, Alguns Inorgânicos Remove contaminantes dissolvidos. Alto grau de tratamento. Sem correntes de rejeitos. Altos custos de capital e de operação. Remoção seletiva. Difícil manutenção. Difícil de operar. Alto consumo de energia. 22 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Ajuste de pH Afluente Prof. Eduardo Bessa Azevedo Aditivos Químicos Coagulantes Pás Misturadoras de Baixa Velocidade Efluente Lodo Tanque de Mistura Rápida Vaso de Floculação/Sedimentação Figura 6. A precipitação química é útil para a remoção de metais tóxicos do efluente líquido. TRATAMENTO QUÍMICO Os processos de tratamento químicos manipulam as propriedades químicas dos contaminantes para facilitar a remoção do poluente da corrente do efluente líquido ou para decompor o composto na própria corrente. Os produtos finais do processo de destruição química podem ser então facilmente separados da corrente ou são inócuos e não causam problemas ao efluente se forem deixados em solução (tais como dióxido de carbono e água). Os processos de tratamento químicos mais freqüentemente empregados no tratamento de efluentes líquidos industriais (Tabela 4) são a precipitação e coagulação químicas, a recuperação eletrolítica, a troca iônica, a osmose reversa e a oxidação e a redução. A precipitação e a coagulação são processos de tratamento primários e secundários que removem metais e outros materiais sedimentáveis da corrente do rejeito. A recuperação eletrolítica, a troca iônica e a osmose reversa são processos de tratamento secundários, terciários e quaternários destinados a remover compostos metálicos da corrente de efluente para serem recuperados ou dispostos. A oxidação e a redução são processos de tratamento secundários e terciários que degradam ou alteram o contaminante (normalmente um composto orgânico ou metal pesado) baseado nas suas propriedades químicas específicas, de forma a reduzir a toxicidade. Precipitação química Na precipitação química, os contaminantes solúveis são convertidos em formas insolúveis por reações químicas ou por mudanças na composição do solvente que diminui a solubilidade dos contaminantes. Os sólidos precipitados são então removidos por coagulação, floculação e sedimentação ou filtração. O processo tem ampla aplic ação para a remoção de metais tóxicos — incluindo arsênico, bário, cádmio, cromo, cobre, chumbo, mercúrio, níquel, selênio, prata, tálio e zinco — da fase aquosa. O processo de precipitação química é implementado pela adição de um precipitante químico ao efluente contendo íons metálicos em um reator continuamente agitado (Figura 6). Os metais dissolvidos são convertidos a uma forma insolúvel pela reação química entre o metal solúvel e o precipitante. A floculação ou uma mistura a baixas velocidades, com ou sem a ajuda de coagulantes, é então utilizada para aglomerar os sólidos finamente divididos. O efluente floculado é direcionado para um clarificador primário, onde os sólidos decantamse da solução. A cimentação é um processo de precipitação eletroquímica no qual o metal de interesse é deslocado da solução por um metal com um maior potencial de oxidação. Este processo é usado para recuperar íons metálicos redutíveis, como na precipitação de prata das soluções de processamento fotográfico e cobre das soluções de circuitos impressos. A cimentação oferece vantagens econômicas significativas em relação a outros processos de tratamento porque metais valiosos (tais como ouro, prata ou cobre) podem ser recuperados. Por causa da natureza das reações químicas envolvidas, a precipitação química é mais eficiente quando correntes de rejeitos concentradas são segregadas da corrente principal. Muitas correntes de rejeitos contendo metais ou são muito ácidas ou muito básicas, devendo ser neutralizadas antes do processo de precipitação. O calor liberado na neutralização pode resultar em um aumento substancial de temperatura no reator, podendo causar projeções de material localizadas e a emissão de materiais voláteis. Além disso, a corrosão do equipamento de tratamento deve ser levada em conta. A adição de uma lama de cal ao tanque de reação antes da adição de um rejeito ácido pode revestir o tanque e permitir a dissipação do calor de reação através de todo o líquido no tanque. O resfriamento do tanque, tanto externamente quanto por aeração, é freqüentemente necessário, e uma ventilação adequada deve ser providenciada. 23 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Recuperação eletrolítica O processo de recuperação eletrolítica é usado principalmente para recuperar metais de correntes de rejeitos de processo ou águas de rinsagem, tanto pelo seu valor econômico quanto para cumprir critérios de descarte de efluentes. Ele tem sido usado para recuperar cobre, zinco, prata, cádmio, ouro e outros metais pesados. A recuperação eletrolítica envolve reação de oxidação e redução que ocorrem na superfície de eletrodos condutores (catodo e anodo). Os eletrodos são imersos no efluente e aplica-se uma determinada ddp. O íon metálico é reduzido à sua forma elementar no catodo enquanto produtos gasosos, tais como oxigênio, hidrogênio, nitrogênio ou cloro, evolvem do anodo. O principal equipamento de processo consiste no reator eletroquímico contendo os eletrodos, um sistema de exaustão de gases, bombas de recirculação e uma fonte de força. O processo é mais eficiente em Prof. Eduardo Bessa Azevedo correntes de rejeitos contendo metais altamente concentrados (> 1.000 ppm). A recuperação eletrolítica em efluentes líquidos mais diluídos pode resultar em polarização catódica, o que impede a migração do metal para o eletrodo. O processo não é eficiente para a recuperação de níquel por causa do seu baixo potencial padrão de redução e dos altos valores das constantes de estabilidade dos seus complexos. Troca iônica A troca iônica não é normalmente utilizada para o tratamento de efluentes líquidos. Quando ela é empregada, ela é usada com o propósito de reutilização da água. Ela é usada principalmente para a remoção de íons que causam dureza na água, tais como cálcio e magnésio, no tratamento para a potabilização da água, e para a remoção de ferro e manganês de águas subterrâneas. O processo de troca iônica envolve a troca de um íon preso a uma superfície sólida por forças eletrostáticas por um íon de carga similar que está presente na corrente do efluente. Tipicamente, são usadas resinas sintéticas sólidas com grupos funcionais iônicos solúveis. As resinas podem ser catiônicas (quando trocam cátions com o meio líquido) ou aniônicas (quando trocam ânions). A água purificada pode ser reciclada de volta ao processo industrial. Os contaminantes podem ser recuperados pela regeneração da resina de troca iônica usando soluções cáusticas ou ácidas. O processo é normalmente realizado em ciclos, alternando entre os modos de serviço e de regeneração. A troca iônica é bastante aplicável a detoxificação de grandes vazões de efluentes líquidos contendo relativamente baixos níveis de metais pesados contaminantes. Altas concentrações de contaminantes orgânicos (100 ppm ou mais) podem obstruir a resina, tornando necessárias freqüentes regenerações. Pressão Água Água Pura Água Solução Concentrada Água Pura Membrana Semipermeável Osmose Solução Concentrada Membrana Semipermeável Osmose Reversa Alimentação Bomba de Alta Pressão Água Pura Membrana Efluente Semipermeável Concentrado Sistema de Osmose Reversa Figura 7. A osmose reversa emprega uma membrana semipermeável para concentrar o efluente e recuperar água purificada. Osmose reversa A osmose envolve a migração de água através de uma membrana semipermeável que separa soluções de diferentes concentrações. A membrana é permeável à água, mas ela retém contaminantes dissolvidos tais como sais e compostos com alta massa molar. Na osmose, a água migra através da membrana do lado diluído para o lado mais concentrado, até que ambos os lados tenham iguais concentrações. Na osmose reversa, aplica-se uma pressão do lado mais concentrado para forçar a água a passar para o lado menos concentrado, no sentido reverso do fluxo osmótico normal — daí o termo osmose reversa (Figura 7). As membranas empregadas geralmente possuem uma permeabilidade extremamente alta à água e uma muito pequena permeabilidade a sais. Os materiais mais comuns das membranas são o acetato de 24 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental celulose e as poliamidas aromáticas. O material da membrana é tipic amente fabricado em módulos tubulares ou espirais, que são então empacotados dentro de um vaso de pressão. A alimentação é introduzida sob pressão e flui axial ou radialmente através dos módulos. Uma vantagem-chave da osmose reversa é que ela produz um efluente purificado de alta qualidade que pode ser reutilizado, enquanto a corrente de rejeito que requer disposição é concentrada e reduzida em volume. O grau de tratamento alcançado com o sistema de osmose reversa depende do tipo de membrana, da concentração de sólidos dissolvidos, da temperatura da alimentação e da pressão aplicada. O fator mais importante na performance da osmose reversa é a obstrução da membrana causada pelos materiais em suspensão no efluente líquido ou por materiais que precipitem durante o tratamento (normalmente devido à diminuição da solubilidade na solução concentrada). Este problema pode ser evitado pelo pré-tratamento das correntes de rejeito ou pelo reciclo do efluente tratado para diluir o afluente. Oxidação/Redução As reações redox são importantes no tratamento de efluentes líquidos contendo metais e toxinas inorgânicas. Elas também são importantes no tratamento de muitos rejeitos orgânicos, tais como: fenóis, pesticidas, aminas, mercaptans e clorofenóis. As reações redox utilizam equipamentos simples para misturar o efluente líquido com o agente químico do tratamento. Algumas reações são tão rápidas que podem ser conduzidas em um reator tubular, enquanto outras podem requerer várias horas e são conduzidas em reatores em batelada ou em reatores agitados contínuos em série. Agentes oxidantes típicos incluem o hipoclorito de sódio, o peróxido de hidrogênio, o hipoclorito de cálcio, o permanganato de potássio e o ozônio. Os agentes redutores incluem o dióxido de enxofre e o borohidreto de sódio. A oxidação, com ou sem o uso de catalisadores, é usada para remover compostos orgânicos do efluente líquido. O peróxido de hidrogênio e o ozônio são usados freqüentemente para oxidar compostos orgânicos tóxicos que são resistentes ao tratamento biológico. A oxidação do cianeto é conseguida usando-se tanto o hipoclorito de sódio quanto o de cálcio. A redução é usada mais freqüentemente para reduzir o Cr6+ para Cr3+, que é menos tóxico e pode ser precipitado e removido da solução facilmente. As reações redox conduzidas em fase aquosa são geralmente seguras. Entretanto, reações violentas e mesmo explosivas podem ocorrer com oxidantes fortes, como o peróxido de hidrogênio, sob certas condições. A armazenagem e o manuseio de agentes fortemente oxidantes ou redutores requer precauções de segurança por causa da instabilidade das soluções concentradas. As soluções são também extremamente corrosivas e requerem materiais de construção específicos, tais como ligas especiais ou aços recobertos. TRAT AMENTO TÉRMICO Os processos de tratamento térmicos utilizam temperaturas elevadas para decompor os contaminantes. As espécies metálicas são decompostas em suas formas elementares, tanto como cinzas ou como gases, enquanto os compostos orgânicos são decompostos a dióxido de carbono, água e haletos ou halogênios na forma gasosa. Devido às pressões e temperaturas utilizadas na destruição dos contaminantes (que geralmente estão perto ou são as do ponto crítico da água), toda a corrente de rejeito sofre decomposição ao invés de apenas o(s) contaminante(s) de interesse. É Prof. Eduardo Bessa Azevedo produzida água purificada através da condensação do vapor produzido ou pelo retorno da corrente de reje itos à temperatura e à pressão ambientes. Devido ao custo energético de levar a corrente do efluente líquido à temperatura e à pressão críticas ser alto, os processos térmicos são geralmente reservados para o tratamento de resíduos sólidos. Entretanto, em alguns casos, o tratamento térmico é selecionado como a única tecnologia de tratamento viável para um rejeito líquido. Os processos de tratamento térmicos empregos no tratamento de efluente líquidos industriais (Tabela 5) são a oxidação com ar úmido, a oxidação supercrítica e a incineração por injeção líquida. A oxidação com ar úmido e a oxidação supercrítica são ambas usadas principalmente para a remoção de contaminantes orgânicos específicos. A oxidação supercrítica é usada quando a reação de oxidação produz energia suficiente para manter a reação. A oxidação com ar úmido é freqüentemente usada como um processo de tratamento primário ou secundário para degradar compostos orgânicos recalcitrantes a formas mais facilmente biodegradáveis ao se usar os processos de tratamento biológicos convencionais. A incineração líquida é usada somente para rejeitos especiais que não podem ser tratados usando-se uma outra tecnologia, devido a restrições ambientais ou por não ser aplicável nenhuma outra forma de detoxificação (é o caso de rejeitos contendo altas concentrações de metais pesados que não podem ser precipitados eficientemente). Oxidação com ar úmido e oxidação supercrítica A oxidação com ar úmido ocorre quando um composto oxidável na fase líquida é misturado com ar em temperaturas de 150–325°C e pressões de 2.000–20.000 kPa. A 25 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Tabela 5. 4. Resumo dos processos térmicos de tratamento de efluentes líquidos. Processo Aplicações Vantagens Desvantagens Oxidação com Ar Úmido Alta Concentração Alta Concentração de Orgânicos, Compostos Tóxicos Remoção de constituintes dissolvidos. Processo destrutivo. Sem tratamento secundário. Alto consumo de energia. Altos custos de capital e de operação. Difícil manutenção. Um pouco inseguro. Difícil de operar. Oxidação Supercrítica Alta Concentração de Orgânicos, Compostos Tóxicos Remoção de constituintes dissolvidos. Processo destrutivo. Sem tratamento secundário. Pode ser auto-sustentável. Alto consumo de energia. Altos custos de capital e de operação. Difícil manutenção. Um pouco inseguro. Difícil de operar. Incineração Alta Concentração de Orgânicos, Compostos Tóxicos Remoção de constituintes dissol- Alto consumo de energia. vidos. Altos custos de capital e de Processo destrutivo. operação. Difícil manutenção. Um pouco inseguro. Difícil de operar. Tratamento do gás de saída. maioria dos compostos orgânicos é oxidada estequiometricamente a dióxido de carbono e água. O processo tem sido usado para tratar correntes de rejeito contendo compostos orgânicos muito diluídos para a incineração, mas muito tóxicos para a degradação biológica. Ele também é usado para regenerar o carvão ativado saturado e para pré-tratar rejeitos refratários gerando formas mais facilmente biodegradáveis. Rejeitos contendo cianetos e sulfetos orgânicos, compostos aromáticos halogenados e compostos heterocíclicos contendo nitrogênio oxigenado são facilmente oxidados. O processo não é adequado para rejeitos que contenham principalmente contaminantes inorgânicos. A oxidação supercrítica explora as propriedades da água na sua temperatura e pressão críticas (374°C e 25,3 MPa). Sob estas condições, as substâncias orgânicas se tornam completamente miscíveis e os sais insolúveis. Tanto a oxidação com ar úmido quanto a supercrítica podem ser auto-sustentáveis, em termos da necessidade energética, devido à natureza exotérmic a das reações de oxidação. Existe, portanto, um valor mínimo para o poder calorífico do rejeito para que ele possa ser tratado. Rejeitos mais diluídos podem ser tratados pela adição de um combustível. O projeto do reator e do trocador de calor envolve a consideração de materiais que possam resistir à pressão e à temperatura máxima da reação, como é o caso de aços especiais. A eficiência da reação varia de 99,99 a 99,9999%. O efluente geralmente contém alguns compostos orgânicos de baixa massa molar que são facilmente biodegradáveis. O efluente também conterá sólidos em suspensão se o afluente tiver um alto teor de metais. Os problemas associados com estes tratamentos são a formação de subprodutos devidos à oxidação incompleta se as condições da reação não estiverem certas e o tratamento dos gases de saída contendo compostos orgânicos de baixa massa molar. Estes compostos orgâni- cos voláteis podem ser removidos por adsorção em carvão ativado ou por incineração dos fumos. Além disso, a formação de sólidos no reator pode levar a obstruções. Incineração por injeção líquida A incineração líquida é um processo de destruição térmica onde o rejeito líquido é diretamente queimado ou injetado em uma chama ou em uma câmara de combustão de um incinerador. O poder calorífico do rejeito e a energia necessária para levar o rejeito às temperaturas de combustão são fatores críticos que devem ser considerados. Embora o processo resulte na completa destruição do rejeito, a energia necessária e as exigências de operação e manutenção são altas. Entretanto, para algumas correntes de rejeitos, como aquelas contendo certos metais pesados, bifenilas policloradas (PCBs) ou dioxina, a incineração é a única tecnologia viável. Os líquidos orgânicos e as soluções aquosas passam por três fases antes que a oxidação propriamente dita ocorra — eles são aque26 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental cidos, vaporizados e então superaquecidos até a temperatura de ignição. Ao mesmo tempo, o líquido deve estar em contato íntimo com o oxigênio. O oxigênio reage com as espécies oxidáveis presentes para liberar energia. À medida que isto ocorre, há um repentino aumento na temperatura, completando a reação de oxidação. Os incineradores com injeção líquida são normalmente câmaras com revestimento refratário equipadas com combustores primários e, freqüentemente, secundários. As temperaturas de operação estão na faixa de 1.000–1.700°C. Os tempos de residência variam de milissegun- Prof. Eduardo Bessa Azevedo dos a segundos. Os líquidos são injetados através de atomizadores, os quais quebram o líquido em gotículas e controlam a vazão do líquido. A maioria dos incineradores líquidos não produz sólidos ou cinzas e os problemas de poluição atmosférica são mínimos, embora lavadores tenham que estar presentes para remover os gases ácidos. As propriedades físicas, químicas e termodinâmicas do rejeito, tais como: corrosividade, polimerização, calor de combustão, viscosidade e reatividade, têm que ser consideradas no projeto dos sistemas de incineração. Sistemas típicos consistem em tanques de armazenagem, misturadores, bombas, atomizadores, combustores, revestimento refratário, sistemas de recuperação de calor e de resfriamento súbito e equipamento para o controle da poluição atmosférica. Outros sistemas consistem de um queimador com injeção líquida e utilizam reje itos líquidos como uma fonte auxiliar de combustível. O grau de tratamento alcançado nos incineradores é da ordem de 99,99% ou mais para a maioria dos constituintes orgânicos de interesse. Entretanto, a produção de subprodutos de combustão incompleta tem sido uma preocupação na incineração de certas correntes de rejeitos. Tabela 6. Resumo dos processos biológicos de tratamento de efluentes líquidos. Processo Aplicações Vantagens Desvantagens Lodo Ativado Baixa Concentração de Orgânicos, Alguns Inorgânicos Remoção de constituintes dissolvidos. Baixa manutenção. Processo destrutivo. Relativamente seguro. Baixos custos de capital. Relativamente fácil de operar. Emissão de voláteis. Disposição do excesso de lodo. Custo energético um pouco altos. Suscetível a choques de alimentação e toxinas. Suscetível a mudanças climáticas. Lagoas de Aeração e de Estabilização Baixa Concentração de Orgânicos, Alguns Inorgânicos Remoção de constituintes dissolvidos. Baixa manutenção. Processo destrutivo. Relativamente seguro. Baixos custos de capital. Baixo consumo de energia. Fácil de operar. Raramente há lodo em excesso. Emissão de voláteis. Custo energético um pouco alto. Suscetível a choques de alimentação e toxinas. Suscetível a mudanças climáticas. Grande necessidade de área. Sem controles operacionais. Filtros de Percolação, Reatores de Filmes Fixos Baixa Concentração de Orgânicos, Alguns Inorgânicos Remoção de constituintes dissolvidos. Baixa manutenção. Processo destrutivo. Relativamente seguro. Produção relativamente pequena de excesso de lodo. Emissão de voláteis. Suscetível a choques de alimentação e toxinas. Suscetível a mudanças climáticas. Custos de capital e de operação relativamente altos Suscetível a obstruções. Digestão Anaeróbica Baixa Concentração de Orgânicos, Orgânicos Clorados, Inorgânicos Remoção de constituintes dissolvidos. Processo destrutivo. Trata rejeitos clorados. Produz metano. Reduzida geração de lodo. Suscetível a choques de alimentação e toxinas. Suscetível a mudanças climáticas. Custos de capital e de operação relativamente altos. Alto consumo de energia se o metano não for recuperado. 27 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental TRATAMENTO BIOLÓGICO Os processos de tratamento biológicos utilizam mecanismos biológicos e bioquímicos para realizar uma mudança química nas propriedades dos contaminantes de interesse. As propriedades químicas são alteradas pela ação de uma grande variedade de microrganismos quando estes decompõem os compostos na corrente de rejeito. A decomposiç ão, ou metabolismo, dos compostos orgânicos produz mais massa biológica assim como a energia necessária aos microrganismos para manter a vida. Em outras palavras, os contaminantes servem como “alimento” para os microrganismos. Compostos inorgânicos, como a amônia e o sulfato, são também utilizados em processos metabólicos como fontes alternativas de oxigênio (ou oxidantes). O principal objetivo do tratamento biológico é estabilizar a matéria orgânica em uma corrente de rejeitos de forma que a degradação biológica não ocorra no sistema de distribuição de efluentes líquidos ou num corpo d’água receptor. Isto é feito para proteger o corpo receptor da diminuição de oxigênio dissolvido e outros nutrientes e o acúmulo de produtos descartados. Os produtos finais ideais da degradação microbiana são mais massa celular, dióxido de carbono, água, haletos, nitrogênio e enxofre elementares, calor e excesso de energia. Freqüentemente, a decomposição dos compostos orgânicos não é completa, sendo formados compostos de baixa massa molar, tais como: álcoois, cetonas e ácidos carboxílicos. Entretanto, estes compostos são normalmente de baixa toxicidade à vida aquática e são facilmente biodegradados a posteriori sob as condições apropriadas. Os processos de tratamento biológicos tipicamente encontrados no tratamento de efluentes líquidos industriais (Tabela 6) incluem os processos de lodos ativados, as lagoas de aeração ou de estabilização, os filtros de percolação ou reatores de filmes fixos e processos anaeróbicos. As lagoas de aeração e de estabilização são usadas quando existe uma grande área disponível. Os processos de lodos ativados são usados quando uma área menor está disponível e é desejável reduzir a quantidade de tempo necessária para a degradação dos rejeitos. Os processo com filtros de percolação ou filmes fixos podem ser realizados tanto em pequenos vasos ou em grandes áreas abertas, dependendo da vazão desejada. Estes são freqüentemente preferidos aos processos de lodos ativados devido à menor demanda de equipamentos para a aeração mecânica. Os processos de tratamento anaeróbicos são usados quando se deseja reduzir a quantidade de lodo que deve ser disposto e na degradação de rejeitos orgânicos clorados e halogenados em geral. Lodos ativados No processo de lodos ativados, um licor composto de microrganismos em suspensão, oxigênio dissolvido, compostos orgânicos e nutrientes, é continuamente homogeneizado ou aerado (Figura 8). (O termo “ativado” refere-se aos microrganismos vivos, em contraposição a material inerte.) A matéria biológica suspensa entra em contato com oxigênio, nutrientes e matéria orgânica para degradar os compostos orgânicos a dióxido de carbono e água (idealmente), que permanecem no licor. O tanque de aeração, onde a degradação ocorre, é seguido de um clarificador ou um estágio de sedimentação, onde a matéria microbiana em suspensão é removida da corrente de rejeito. A água tratada é então descartada ou é tratada posteriormente com processos de tratamento terciários, como a adsorção em carvão ativado, para remover resíduos orgânicos e contaminantes inorgânicos. Uma porção da biomassa decantada (ou lodo), é reciclada de Prof. Eduardo Bessa Azevedo volta para o tanque de aeração, enquanto o restante é disposto ou “descartado”. Freqüentemente, o lodo que é descartado sofre um posterior tratamento para estabilizar a matéria biológica (chamado de digestão do lodo) ou para reduzir o volume do lodo (chamado de espessamento do lodo). Em alguns casos, a oxidação com ar úmido ou a incineração pode ser usada para dispor o lodo. Na digestão do lodo, que pode ser aeróbica ou anaeróbica, deixa-se o lodo autodegradar-se em um reator que é homogeneizado (aeróbico) ou não (anaeróbico). Os microrganismos consomem a sua própria biomassa quando há a falta de uma fonte de alimentação disponível, reduzindo então a quantidade de material a ser disposto e estabilizando o rejeito à medida que o crescimento e a atividade dos organismos famintos diminuem. O espessamento do lodo envolve a remoção da água carreada para concentrar a biomassa. Isto é conseguido usando-se filtros prensa. A prática de recuperar e reciclar uma porção da biomassa ativa melhora a cinética de biodegradação no tanque de aeração. À medida que os organismos são reciclados através do sistema, a idade geral do lodo (ou o tempo de retenção do lodo) aumenta. Isto permite o desenvolvimento de uma biomassa mais madura e aclimatada. Os microrganismos se tornam naturalmente mais adaptados à corrente de rejeitos quanto mais tempo eles forem expostos a uma fonte de alimentos particular. Além disso, uma grande variedade de microrganismos pode proliferar em um lodo ativado. Certos microrganismos têm taxas de crescimento mais le ntas e seriam “lavados” para fora do sistema se tempos de retenção do lodo menores fossem empregados. Após o desenvolvimento de uma população de biomassa estável e variada, o processo de lodos ativados é auto-sustentável enquanto 28 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Ar Afluente Câmara de Cascalho Sedimentador Primário Cascalho Lodo Inerte Tanque de Aeração Tanque de Decantação Reciclo do Lodo Efluente Descarte do Lodo Figura 8. Os processos de lodos ativados degradam rejeitos mais rapidamente do que as lagoas aeradas. uma fonte de alimentação, oxigênio e certos nutrientes (tais como nitrogênio e fósforo) forem fornecidos. O tratamento de correntes de rejeitos concentradas pode gerar uma grande quantidade de biomassa em excesso que deve ser descartada. O tratamento de correntes diluídas, por outro lado, pode nunca necessitar de descartar lodo, ou então apenas muito raramente. Pelo fato dos microrganismos serem organismos vivos, eles são naturalmente suscetíveis a mudanças climáticas, choques de alimentação, presença de toxinas e outras perturbações no processo. Quando uma instalação industrial emprega um sistema de tratamento biológico, o impacto de cada mudança operacional ou perturbação no processo tem que ser considerado. A eficiê ncia do processo biológico irá depender, e muito, das características da corrente de rejeitos de entrada. Para prevenir choques de alimentação, a equalização ou outras formas de pré-tratamento (tal como o ajuste de pH) são realizadas. A atividade microbiana é ótima somente em uma estreita faixa de pH entre 6,0 e 8,0. A biomassa em suspensão no licor também pode ter a capacidade de adsorção. Compostos orgânicos e inorgânicos pode se aderir à superfície de aglomerados de biomassa e então serem removidos da corrente de rejeitos. Se um composto adsorvido é biodegradável, ele será posteriormente decomposto. Se não, ele será removido do sistema junto com o excesso de lodo descartado. A presença de excesso de óleo livre na corrente de rejeito irá recobrir a superfície da biomassa, impedindo a transferência do oxigênio necessário aos microrganismos e, portanto, reduzindo a eficiência do sistema. Por esta razão, muitas plantas de lodos ativados são precedidas por separadores água/óleo por gravidade e unidades de flotação com ar dissolvido. A presença de altas concentrações de metais tóxicos pode também representar um problema, pois eles podem precipitar e concentrarse no lodo, inibindo a atividade microbiana. A presenças deles no lodo descartada também pode representar problemas na disposição. Portanto, é recomendado um prétratamento para remover estes compostos. O projeto e a operação eficaz de sistemas de tratamento biológicos devem levar em conta a natureza complexa e as inter-relações entre os organismos vivos. O processo de lodos ativados é relativamente seguro, embora a presença de compostos orgânicos voláteis na corrente de rejeitos possa resultar em emissões atmosféricas excessivas no tanque de aeração. Muitos sistemas usam sopradores, os quais devem ser monitorados e normalmente necessitam de silenciadores. Se misturados de superfície forem usados, a manutenção dos misturadores pode ser bem difícil e perigosa, se não existir um sistema apro- priado de retirada. O mesmo se dá com os difusores de ar localizados no fundo dos tanques (dentro ou acima do solo). Um método seguro para a retirada dos difusores para a manutenção e reparos deve ser instalado — as considerações de custo e tempo para o esvaziamento de um tanque de aeração, geralmente fazem com que a manutenção seja realizada com os sistemas ativos. Recentemente, uma nova configuração do sistema de lodos ativados surgiu, chamada de reator em batelada seqüencial (RBS). Neste processo, um único tanque é usado para a degradação aeróbica dos contaminantes, a sedimentação da biomassa, a clarificação do efluente e a digestão do lodo. O processo engloba um tanque, misturadores, aeradores e um sistema de controle. Deixa-se o tanque encher com o efluente líquido e o conteúdo do tanque é misturado por um certo período de tempo para suspender a biomassa e estabilizar o rejeito. É fornecido ar pelos difusores ou por agitação. O ar ou os misturadores são então desligados e deixa-se a biomassa sedimentar para o fundo do tanque por gravidade. O efluente clarificado é descartado pelo topo do tanque. O lodo sedimentado se autodigere anaerobicamente por certo período de tempo antes do próximo ciclo de enchimento começar. 29 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Lagoas aeradas ou Lagoas de estabilização Na sua forma mais simples, as lagoas aeróbicas de estabilização são bacias grandes, rasas, feitas diretamente no solo, que usam processos naturais envolvendo tanto as algas quanto as bactérias para estabilizar o material orgânico presente em uma corrente de rejeitos. As lagoas são rasas de forma a que tanto a luz quanto o oxigênio possa penetrar a qualquer profundidade. Há uma suspensão de algas e bactérias e estas proliferam na lagoa. A proliferação das algas é encorajada pelo fato delas liberarem oxigênio durante o processo de fotossíntese que pode ser usado pela s bactérias para a estabilização da matéria orgânica. Os problemas operacionais associados com as lagoas de estabilização incluem a produção de odores desagradáveis e insetos (moscas e mosquitos) e a reduzida eficiência do tratamento em climas frios. Além disso, se o oxigênio presente não for suficiente, a lagoa irá começar a se tornar anaeróbica, aumentando os odores devidos aos rejeitos em putrefação e à produção de sulfeto de hidrogênio. Não há também uma maneira de controlar a atividade nas lagoas e grandes áreas de terreno são necessárias. Por muitos anos, as lagoas de estabilização foram um processo de tratamento biológico atraente devido à falta de necessidade de controles operacionais. Entretanto, as lagoas eram suscetíveis ao transbordamento devido a tempestades severas e à perda da biomassa. Além disso, a infiltração de compostos tóxicos no solo tem reduzido o uso de bacias feitas diretamente no solo. As lagoas aeradas (Figura 9) são similares às lagoas de estabilização, exceto por uma constante fonte de oxigênio, tanto por aeração quanto por agitação, que é fornecida para manter as condições aeróbicas na bacia. O lodo que é produzido Prof. Eduardo Bessa Azevedo sedimenta-se em certas áreas da lagoa e forma um lençol no fundo. O lençol de lodo se torna anaeróbico e o lodo se autodigere. A introdução do oxigênio elimina a produção de odores desagradáveis e permite que menores áreas sejam usadas, pois as lagoas podem ser mais profundas do que as de estabilização. As lagoas têm as suas próprias limitações e desvantagens. Elas precisam ter o lodo removido do fundo de tempos em tempos, para restaurar a capacidade hidráulica. Isto apresenta problemas operacionais, de segurança e de disposição devido ao tipo de equipamento necessário para a remoção do lodo de uma lagoa ativa (normalmente não é possível drenar a lagoa para que ela seja limpa). Quando certas condições prevalecem, os sólidos na lagoa não sedimentam e podem ser carreados juntos como efluente. A proliferação de algas nas lagoas aeradas não é desejada devido ao fato das algas permanecerem em suspensão (não sedimentam). E, pelo fato do lodo não ser continuamente descartado, concentrações tóxicas de metais e de orgânicos recalc itrantes irão se acumular, o que pode inibir a atividade biológica e apresentar um problema de disposição durante a limpeza da lagoa. O mecanismo de degradação nas lagoas de estabilização e nas lagoas aeradas é o mesmo dos lodos ativados, entretanto, o tempo de retenção do lodo é extremamente longo (da ordem de meses ou anos). Por esta razão, elas são freqüentemente usadas para a degradação de compostos recalcitrantes que, de outra forma, exigiriam reatores de aeração extremamente grandes. Reatores de filme fixo Uma alternativa para os processos biológicos de crescimento em suspensão aeróbicos são os processos de filme fixo. Nestes, os microrganismos não estão suspensos, e sim, presos a uma superfície. A população microbiana fixa forma uma camada de limo que absorve os nutrientes da corrente de rejeitos em movimento à medida que ela passa por cima do filme. O processo controlador é a taxa de difusão das fontes de alimentação e do oxigênio para dentro da camada de limo. Certos compostos também podem ser adsorvidos no filme fixo e são removidos desta forma. Os processos de filme fixo mais comuns envolvem os filtros de percolação ou reatores empacotados chamados de biotorres. O meio usado para a fixação dos microrganismos pode ser rochas, madeira, areia ou plástico. Ele deve ser permeável à água ou permitir a percolação da água através dos canais formados entre os elementos individuais do meio. Nos filtros de percolação, o efluente líquido é distribuído no topo do meio e é deixado percolar até o fundo do filtro (Figura 10). É necessário que a água mova-se lentamente através do meio, de forma a fornecer um tempo suficiente para Ar Afluente Lagoa Aerada Tanque de Decantação Reciclo do Lodo Efluente Descarte do Lodo Figura 9. As lagoas aeradas necessitam de grandes áreas. 30 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Afluente Câmara de Cascalho Sedimentador Primário Cascalho Lodo Inerte Prof. Eduardo Bessa Azevedo Filtro de Percolação Reciclo do Lodo Tanque de Decantação Efluente Descarte de Sólidos Figura 10. Os processos com filtros de percolação são realizados em pequenos vasos ou em grandes áreas abertas. que ocorra a difusão dos contaminantes para dentro do filme fixo. O meio deve ser aleatoriamente empacotado para fornecer caminhos complexos para o fluxo d’água. Alternativamente, em alguns reatores empacotados, o meio é submerso na água e o reator é projetado para fornecer um tempo de retenção hidráulico suficiente para ocorrer a difusão dos contaminantes. Em leitos não submersos, o oxigênio é fornecido pela convecção natural do ar, ao passo que se deve fornecer aeração para os leitos submersos. A diferença de temperatura entre o topo e o fundo da coluna suga o ar através do meio. Podem acontecer problemas com o sistema durante o verão, quando a diferença de temperatura entre o ar ambiente e a corrente de rejeitos é mínima. À medida que os microrganismos se fixam na superfície do meio e absorvem as fontes de alimento do efluente líquido, é formada uma camada de limo. Esta camada alcança uma espessura ótima, além da qual o crescimento adicional não pode ser sustentado. Isto se dá porque a taxa de difusão cai bruscamente com a espessura da camada de limo. Os microrganismos mais perto da superfície do meio podem morrer por falta de oxigênio e alimentos, causando o descolamento da camada de limo. Além disso, a turbulência da água e fluxos de ar podem retirar a camada de limo da superfície do meio. Portanto, uma unidade de sedimentação de sólidos pode ser necessária em seguida a um reator de filme fixo para coletar os sólidos descolados. Os sólidos não são normalmente reciclados em um processo de filme fixo, com exceção dos primeiros estágios da partida, quando a produção da camada de limo ainda está ocorrendo. O material descolado não pode ser novamente fixado ao meio — a construção da camada de limo tem que recomeçar do início. Por esta razão, suplementos ocasionais de organismos vivos são empregados para estimular a substituição dos filmes descolados. O efluente dos processos de filme fixado é normalmente reciclado. Isto é feito para melhorar a eficiência do tratamento e para diluir o efluente líquido na alimentação, pois a superfície da camada de limo é muito suscetível a quaisquer toxinas na corrente de rejeitos. Devido à taxa de difusão dos compostos através da superfície do filme ser pequena, os reatores de filme fixo têm que ser muito grandes, ou aceitar somente pequenas vazões — tipicamente de 1 a 10 m3 /m2 de área filtrante por dia. Portanto, eles são freqüentemente usados como filtros brutos antes de um processo de tratamento aeróbico convencional, como o de lodos ativados. O filtro remove uma certa porção dos contaminantes antes da segunda etapa biológica, onde o restante do processo de estabilização ocorre. Eles também são usados antes dos processos de nitrific ação biológicos (que converte amônia a nitrito) para remover uma certa porção do material orgânico, o que permite que os microrganismos nitrificantes proliferem preferencialmente. Para este uso, filtros menores com altas vazões podem ser empregados. As exigências de espaço para o processo de lodos ativados são também reduzidas e uma etapa de decantação de sólidos não é necessária, pois os sólidos descolados serão carreados para dentro do processo de lodos ativados. As principais vantagens dos processos de filme fixo são o menor consumo de energia com misturadores e aeradores e a redução na quantidade de lodo que tem que ser disposto. Assim como todos os processos biológicos aeróbicos, os processos de filme fixo são relativamente seguros e fáceis de se operar. Entretanto, quando usados em uma instalação industrial, deve-se tomar cuidado para proteger o sistema de choques de alimentação ou perturbações nas condições do processo. O desenvolvimento de uma camada de lodo eficiente pode levar meses. Portanto, a perda de um limo microbiano estabelecido no filtro pode causar perturbações nos parâmetros do efluente durante um longo período de tempo, até que um sistema estável tenha sido restabelecido. Degradação anaeróbica Em geral, os processos de tratamento anaeróbicos são similares aos processos aeróbicos, com exceção de que a degradação biológica dos contaminantes ocorre na ausência de oxigênio. Os produtos finais 31 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental da degradação anaeróbica são metano, dióxido de carbono e uma variedade de compostos de baixa massa molar. Os processos anaeróbicos não produzem tanta biomassa quanto os processos aeróbicos, pois muito menos energia é obtida através do metabolismo anaeróbico. Isto é freqüentemente considerado como uma vantagem devido à redução nos custos de manuseio dos sólidos biológicos descartados. Entretanto, devido à menor energia obtida através do metabolismo anaeróbico, a cinética é muito mais lenta do que a dos processos aeróbicos, sendo necessários tempos de degradação da ordem de meses para alguns constituintes, comparados com dias para os processos aeróbicos. A produção de metano a partir dos processos anaeróbicos é considerada uma vantagem, pois ele pode ser capturado e usado como combustível. Freqüentemente, é necessário o aquecimento nos processos anaeróbicos, especialmente durante o inverno, de forma que a recuperação do metano pode ajudar a reduzir os custos operacionais. Ao mesmo tempo, a produção de metano apresenta problemas de segurança, pois o acúmulo de metano nos reatores biológicos pode resultar em explosões desastrosas. Os microrganismos que realizam o metabolismo anaeróbico utilizam outros compostos, tais como: sulfatos, dióxido de carbono, nitrato e certos compostos orgânicos, como oxidantes ao invés do oxigênio. Estes microrganismos evoluíram de um gênero completamente diferente daquele dos microrganismos aeróbicos. (Eles também diferem dos microrganismos facultativos, que podem usar diferentes fontes oxidantes dependendo se o oxigênio está presente ou não.) Não apenas os microrganismos anaeróbicos não necessitam de oxigênio, mas eles também não sobrevivem em ambientes onde o oxigênio está presente, mesmo em pe- quenas concentrações. Sendo assim, os reatores anaeróbicos devem ser especificamente projetados para prevenir a infiltração do oxigênio. O oxigênio que está normalmente presente nos efluentes líquidos tem que ser reduzido pela degradação aeróbica antes que os processos anaeróbicos possam começar. A degradação anaeróbica está ganhando popularidade devido à natureza recalcitrante de certos contaminantes orgânicos sintéticos presentes nas correntes de rejeitos industriais. Em muitos casos, compostos clorados não podem ser degradados por microrganismos aeróbicos até que o cloro tenha sido retirado da molécula, pois estes organismos não possuem a enzima apropriada para quebrar a ligação do cloro. É necessário o tratamento anaeróbico para a remoção do cloro, seguido do tratamento aeróbico para degradar completamente o composto. Os processos de tratamento anaeróbicos podem ser realizados em configurações de reatores similares às dos processos aeróbicos, desde que os reatores sejam hermeticamente selados e seja providenciada a recuperação do metano. Recentemente, reatores com o formato de domos ou de ovo têm sido construídos. Estes reatores são eficie ntes na manutenção das condições térmicas corretas para a otimização do crescimento. A temperatura de entrada do efluente líquido é crítica para os microrganismos anaeróbicos e deve ser mantida na faixa de 30–40°C para os organismos mesófilos e de 50–75°C para os organismos termófilos. (As bactérias são classific adas baseadas na faixa de temperatura na qual elas funcionam melhor.) Mudanças de mais de 2°C por dia irão perturbar a população microbiana. O pH do efluente líquido e do licor também é crítico. O pH ótimo para as bactérias produtoras de metano (metanogênicas) é 7,0. A pro- Prof. Eduardo Bessa Azevedo dução de ácidos orgânicos durante o metabolismo pode resultar em quedas no pH que irão paralisar a atividade biológica. Portanto, a alcalinidade, ou capacidade de tamponamento, do efluente líquido é também uma consideração importante. Os microrganismos anaeróbicos são também muito suscetíveis a toxinas (mesmo em pequenas concentrações), a mudanças na composição do efluente líquido na entrada e ao acúmulo de subprodutos de degradação no licor. Além disso, a qualidade do gás metano produzido pela degradação anaeróbica irá depender o tipo de substrato que está sendo degradado. As condições de reação devem ser monitoradas de perto para se manter a eficiência do tratamento. SELECIONANDO OS PROCESSOS DE TRATAMENTO APROPRIADOS Uma vez possuindo-se um conhecimento técnico básico dos vários processos empregados no tratamento dos efluentes líquidos industriais, pode-se selecionar o processo (ou processo) que são mais adequados às necessidades. O primeiro passo na seleção do processo de tratamento apropriado é caracterizar o efluente líquido usando os parâmetros indicadores discutidos anteriormente (Tabela 2). A escolha dos parâmetros pode ser feita respondendo-se às perguntas da Tabela 7. Após a caracterização do efluente líquido, o fluxograma encontrado na Figura 11 pode ser usado para determinar a primeira rodada de processos que devem ser considerados. A partir deste ponto, deve-se realizar uma avaliação detalhada levando-se em consideração fatores técnicos, econômicos, legais, de segurança e de operação. Esta avaliação irá identificar um grupo menor de processos com uma alta probabilidade de sucesso para a corrente de reje itos de interesse. 32 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Tabela 7. Lista de verificação das características de um efluente líquido. Perguntas Análises Necessárias 1a. O processo de fabricação envolve matérias-primas, subprodutos ou produtos finais Metais totais inorgânicos? Alcalinidade DQO Sólidos dissolvidos totais. Outros contaminantes específicos 1b. O processo de fabricação envolve matérias-primas, subprodutos ou produtos finais COT orgânicos? DBO (DQO opcional) Óleos e graxas e HTP Outros contaminantes específicos 2. O processo gera correntes de rejeitos que são ácidas ou cáusticas? pH Capacidade de tamponamento 3. O processo gera correntes de rejeitos com alta temperatura? Temperatura 4. A corrente de rejeitos carreia sólidos? Sólidos totais Sólidos em suspensão totais Sólidos dissolvidos totais Turbidez 5. A corrente de rejeitos contém compostos nitrogenados? NH3 NO3– Nitrogênio Kjeldahl total 6. A corrente de rejeitos contém compostos cianetados? Cianetos totais Cianetos reativos 7. A corrente de rejeitos contém compostos sulfurados? Sulfetos Sulfatos Sulfitos 8. A corrente de rejeitos contém compostos fosforados? Fosfatos 9. A corrente de rejeitos contém surfactantes ou espuma excessivamente? Surfactantes 10. A corrente de rejeitos contém compostos tóxicos? Orgânicos tóxicos totais Metais tóxicos Após a redução da lista até estas tecnologias, devem ser realizados estudos de adequação e tratabilidade em escala laboratorial e, algumas vezes, em escala piloto. Tais estudos: • confirmam a adequação do processo em particular para uma determinada corrente de rejeitos; • desenvolve e coleta os dados necessários à determinação das eficiências de tratamento que podem ser esperadas; e • fornecem as informações de engenharia e de custos necessárias à aplicação da tecnologia em escala real. Além disso, a informação gerada durante a avaliação e o processo de teste, é útil na educação de operadores, técnicos, pessoal do meio ambiente e gerentes. Isto pode ajudar a assegurar um sucesso contínuo e de longo prazo do sistema de tratamento do efluente líquido. Bibliografia 1. 2. 3. 4. 5. 6. McLaughlin, L.A. et al., “Develop an Effective Effective Wastewater Wastewater Treatment Treatment Strategy”, Strategy”, Chem. Eng. Progress, 88(9), pp. 34–42 (Sept. 1992). Metcalf & Eddy, Inc., “Wastewater Engineering — Treatment, Disposal, Reuse”, McGraw-Hill, Nova Iorque (1979). Stenzel, M.H., “Remove Organics by Activated Carbon Adsorption”, Chem. Eng. Progress, 89(4), pp. 36–43 (Apr. 1993) Okoniewski, B.A., “Remove VOC’s from Wastewater by Air Stripping”, Chem. Eng. Progress, 88(2), pp. 89– 93 (Feb. 1992). Carroll, J.J., “Use Henry’s Law for Multicomponent Mixtures”, Chem. Eng. Progress, 88(8), pp. 53–58 (Aug. 1992). Belhateche, D.H., “Choose Appropriate Appropriate Wastewater Wastewater Treatment Treatment Technologies”, Chem. Eng. Progress, 91(8), pp. 32–51 (Aug. 1995). 33 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Natureza do Efluente Inorgânico É necessário um Sim pré-tratamento para neutralizá-lo? O efluente é passivel de ser biodegradado? Pré-tratamento Não O efluente contém contaminantes que Sim podem ser arrastados? (ex.: Amônia) Tratamento do Gás de Saída Arraste com Ar ou Vapor Não O efluente contém contaminantes que Sim podem ser precipitados? Coagulação, Floculação e Sedimentação Não O efluente tem que ser destruído. Sim Filtração ou Adsorção em Carvão Ativado Não Separação Água/Óleo O efluente contém contaminantes que Sim podem ser filtrados ou adsorvidos? Regeneração do Filtro ou do Meio Adsorvente Evaporação ou Extração Sólido ou Fase Concentrada Incineração ou Oxidação com Ar Úmido Não Filtro de Percolação ou Tratamento Biológico com Filme Fixo Sim É necessária a aeração? Sim Lodos Ativados ou Lagoa de Aeração Não É necessária a recuperação dos sólidos? Não Lagoa de Estabilização Arraste com Ar ou Vapor Óleo É necessário um pré-tratamento para Sim remover óleos e graxas? Dispõe-se de um terreno com uma grande área? Disposição dos Sólidos Não O efluente pode ser recuperado ou ter o Sim seu volume diminuído? O efluente contém Sim contaminantes que podem ser arrastados? Não Não Não O efluente contém contaminantes que Sim podem ser filtrados ou adsorvidos? Tratamento do Gás de Saída Orgânico Sim Tratamento Anaeróbio Filtração ou Adsorção em Carvão Ativado Regeneração do Filtro ou do Meio Adsorvente Não O efluente contém contaminantes que Sim podem ser quimicamente oxidados ou reduzidos? Oxidação/ Redução Química Não O efluente pode ser recuperado ou ter o Sim seu volume diminuído? Não O efluente tem que ser destruído. Evaporação ou Extração Fase Concentrada/ Solvente Usado Incineração ou Oxidação com Ar Úmido Figura 11. Use este fluxograma para selecionar as tecnologias apropriadas para o tratamento de efluentes líquidos industriais. 34 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Ar, Clima e Condições Meteorológicas As condições meteorológicas são uma descrição das condições físicas da atmosfera (umidade, temperatura, pressão e ventos), todas estas tendo um papel vital na modelagem dos ecossistemas. O dinamismo da atmosfera é mantido por um fluxo incessante de energia solar. Os ventos gerados por gradientes de pressão empurram grandes massas de ar com diferentes temperaturas e teores de umidade por todo o globo. As condições atmosféricas diárias são criadas pelo movimento destas massas de ar. O clima é uma descrição de conjuntos de condições atmosféricas de longo prazo em uma área em particular. Os climas freqüentemente sofrem mudanças cíclicas ao longo de décadas, séculos ou milênios. Determinar onde nós estamos dentro destes ciclos e o quê possa vir a acontecer no futuro é um processo importante mas difícil. Como as atividades humanas alteram as propriedades da atmosfera, se torna ainda mais difícil e mais importante o entendimento de como a atmosfera trabalha e quais serão as condições atmosféricas e o clima no futuro. As condições atmosféricas e o clima são importantes não apenas porque eles afetam as atividades humanas, mas também porque eles são os determinantes principais dos biomas e da distribuição dos ecossistemas. O clima de grandes áreas, de uma maneira geral, é freqüentemente menos importante para a vida de um determinado organismo do que o microclima da atmosfera e do solo no habitat específico. As fronteiras geográficas que separam as comunidades e os ecossistemas são estabelecidas principalmente pelas fronteiras climáticas criadas pela temperatura, umidade e padrões de distribuição dos ventos. O movimento e os efeitos dos poluentes também são fortemente ligados às condições atmosféricas e climáticas. Composição e Estrutura da Atmosfera Vivemos virtualmente no fundo de um oceano de ar. Estendendo-se por cerca de 1.600 km de altitude, este vasto e inquieto envelope de gases é muito mais turbulento e móvel do que os oceanos de água. Suas correntes e redemoinhos são os ventos. Composição Passada e Atual A composição da atmosfera tem mudado drasticamente desde a sua formação quando a Terra esfriou e condensou a partir dos gases solares. Muitos geoquímicos acreditam que a atmosfera terrestre primitiva era composta principalmente de hidrogênio e hélio, sendo centenas de vezes mais densa do que é hoje. Ao longo de bilhões de anos, a maior parte do hidrogênio e do hélio se difundiu para o espaço. Ao mesmo tempo, emissões vulcânicas adicionaram à atmosfera carbono, nitrogênio, oxigênio, enxofre e outros elementos. A atual composição da atmosfera terComposição atual da atmosfera inferior* restre é única no nosso sistema solar. Este é o único lugar que conhecemos que possui oxiSímbolo ou Porcentagem Gás gênio e vapor d’água livres na atmosfera. Fórmula em volume Acreditamos que virtualmente todo o oxigênio molecular no ar é produzido pela fotossíntese Nitrogênio N2 78,08 das bactérias cianofíceas, algas e plantas verOxigênio O2 20,94 des. Se esse oxigênio não estivesse presente, Argônio Ar 0,934 os seres heterótrofos (como nós) que oxidam Dióxido de carbono CO2 0,033 compostos orgânicos com fonte de energia Neônio Ne 0,00182 não poderiam existir. Como já vimos, produHélio He 0,00052 tores e consumidores mantêm o equilíbrio Metano CH4 0,00015 entre os níveis de dióxido de carbono e de Criptônio Kr 0,00011 oxigênio na atmosfera. A hipótese Gaia, priHidrogênio H2 0,00005 meiramente proposta pelo químico britânico Óxido nitroso N2 O 0,00005 James Lovelock, sugere que o equilíbrio ente Xenônio Xe 0,000009 o dióxido de carbono e o oxigênio atmosféri*Composição média do ar seco e limpo. cos mantido pelos organismos vivos, é respon35 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo sável não somente pela criação de uma composição química atmosférica única, mas também por outras características ambientais que tornaram a vida possível. Discutiremos mais adiante como os níveis de dióxido de carbono regulam as temperaturas. Os organismos — especialmente os humanos — continuam a modificar a atmosfera, mas a uma taxa dramaticamente acelerada, e de formas que podem ser desastrosas para outras formas de vida. A Tabela anterior apresenta os principais componentes do ar seco e limpo. As concentrações de vapor d’água variam de perto de zero a 4%, dependendo da temperatura do ar e da umidade disponível. Pequenas mas importantes concentrações de diminutas partículas e gotículas de materiais — coletivamente chamadas de aerossóis — também se encontram suspensas no ar. A produção de aerossóis pelas atividades humanas e os seus efeitos sobre a saúde humana e os ecossistemas naturais serão discutidos mais adiante. Um Envelope em Camadas A atmosfera é dividida em quatro camadas ou zonas distintas de temperatura, devido à absorção diferencial da energia solar. O conhecimento de como estas camadas diferem umas das outras e o quê as cria, ajuda-nos a entender as funções atmosféricas. A camada de ar imediatamente adjacente à superfície da Terra é chamada de troposfera. Sua espessura varia de 16 km acima da Linha do Equador a 8 km acima dos pólos, aproximadamente, sendo esta a zona onde a maioria dos eventos meteorológica ocorre. Devido à força da gravidade e à compressibilidade dos gases, a troposfera contém cerca de 75% da massa total da atmosfera. A composição da troposfera é relativamente uniforme ao longo de todo o planeta devido a esta zona ser fortemente misturada pelos ventos. A temperatura do ar cai rapidamente com o aumento da altitude nesta camada, alcançando cerca de – 60°C no topo da troposfera. Uma súbita reversão deste gradiente de temperatura cria uma fronteira abrupta, a tropopausa, que limita a mistura entre a troposfera e as zonas superiores. A estratosfera se estende a partir da tropopausa até cerca de 50 km. A temperatura nesta zona é estável ou até mesmo aumenta nas altitudes maiores. Embora mais diluída do que a troposfera, a estratosfera tem uma composição bastante similar, com exceção de dois importantes componentes: água e ozônio (O3 ). A porcentagem em volume do vapor d’água é aproximadamente mil vezes menor e a do ozônio cerca de mil vezes maior do que a encontrada na troposfera. O ozônio é produzido pelos relâmpagos e pela irradiação solar das moléculas de oxigênio, e não estaria presente se os organismos fotossintéticos não estivessem liberando oxigênio. O ozônio protege a vida na superfície terrestre pela absorção da maior parte da radiação solar ultravioleta que penetra na atmosfera. Diminuições na concentração do ozônio estratosférico acima da Antártida recentemente descobertas (e em um menor nível em todo o planeta), são preocupações sérias. Se essas tendências forem mantidas, poderemos vir a estar expostos a crescentes quantidades dos perigosos raios ultravioletas, resultando no aumento das taxas de câncer de pele, mutações genéticas, perdas de colheitas e o rompimento de importantes comunidades biológicas. Ao contrário da troposfera, a estratosfera é relativamente calma. Há tão pouca mistura na estratosfera que cinzas vulcânicas ou contaminantes derivados das atividades humanas podem permanecer em suspensão por muitos anos. Acima da estratosfera, a temperatura diminui novamente, criando a mesosfera ou camada intermediária. A temperatura mínima nesta região é de cerca de – 80°C. A uma altitude de 80 km, ocorre outra mudança abrupta de temperatura. Este é o começo da termosfera, uma região de gases altamente ionizados, estendo-se por cerca de 1.600 km. As temperaturas são muito altas na termosfera devido às moléculas que estão sendo cons tantemente bombardeadas pelas 36 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo radiações solares e cósmicas que são altamente energéticas. Entretanto, existem tão poucas moléculas por unidade de área, que se estivéssemos cruzando esta camada em uma nave espacial, não notaríamos o aumento de temperatura. A parte inferior da termosfera é chamada de ionosfera. É onde a aurora boreal aparece quando chuvas de energia cósmica ou solar fazem com que os gases ionizados emitam luz visível. Não existe uma fronteira definida que marque o término da atmosfera. A pressão e a densidade diminuem gradualmente à medida que se viaja da superfície terrestre para o espaço, até que se tornem indistinguíveis do quase-vácuo do espaço interestelar. A composição da termosfera também se funde gradualmente com a do espaço interestelar, sendo esta feita principalmente de hélio e hidrogênio. Clima As interações dos sistemas atmosféricos são tão complexas que as condições climáticas nunca são exatamente as mesmas em uma dada localidade de um momento para o outro. Embora seja possível discernir padrões ou condições médias ao longo de uma estação, ano, década ou século, flutuações complexas e ciclos dentro de ciclos tornam as generalizações difíceis e as previsões perigosas. Nunca temos certeza se as anomalias nos padrões climáticos de uma região representam variações normais, uma única anormalidade ou o início da mudança para um novo regime. Variações na temperatura global ao longo de quatro períodos: (a) os últimos 900.000 anos, (b) os últimos 10.000 anos, (c) os últimos 1.000 anos e (d)os 50 anos mais recentes. As linhas tracejadas em a, b e c representam as condições no início do século XX. As temperaturas foram consideravelmente mais quentes do que hoje durante o período de aquecimento medieval mas, para a maior parte dos últimos um milhão de anos, as temperaturas foram bem mais frias do que hoje. Cada unidade no eixo vertical representa uma mudança de 1°C. Note que o aumento nas concentrações de CO2 (linha tracejada em d) parece estar relacionado às tendência da temperatura nos últimos 40 anos. 37 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Catástrofes Climáticas Grandes catástrofes climáticas, tais como a da Idade do Gelo, tiveram efeitos drásticos nos grupos bióticos. Quando a mudança climática é gradual, as espécies têm tempo para se adaptar ou migrar para locais mais adequados. Quando a mudança climática é relativamente abrupta, muitos organismos são incapazes de responder antes que as condições excedam os seus limites de tolerância. Comunidades inteiras podem ser destruídas e, se a mudança climática for geral, muitas espécies podem ser extintas. Talvez o exemplo mais bem estudado deste fenômeno seja a grande mortandade que ocorreu à cerca de 65 milhões de anos no final do período Cretáceo. A maioria dos dinossauros — juntamente com 75% de todas as espécies de plantas e animais existentes — foram extintos, aparentemente como resultado do resfriamento repentino do clima terrestre. As evidências geológicas sugerem que esta catástrofe não foi um evento isolado. Parece ter havido várias mudanças climáticas importantes, talvez umas doze, nas quais grandes números de espécies foram exterminadas. Mudanças Climáticas Globais Causadas pelo Homem Estamos alterando a atmosfera de uma forma que poderia causar mudanças climáticas globais e desastrosas? As crescentes concentrações de gases absorventes de radiação infravermelha que são liberados na atmosfera pelas atividades humanas irão aprisionar o calor e aumentar a temperatura global? O aumento da temperatura na segunda metade do século XX esteve em estreita correlação com as concentrações dos gases do efeito estufa. Alguns climatologistas descrevem um futuro sombrio no qual o calor no verão será insuportável, as fazendas serão transformadas em desertos, a fome irá varrer o planeta, o derretimento das capas de gelo polares irá aumentar o nível dos mares e inundar as regiões costeiras e milhares ou mesmo milhões de espécies irão morrer por não conseguirem migrar ou se adaptar às mudanças climáticas repentinas. Gases do Efeito Estufa Cerca da metade deste aquecimento predito será devido ao dióxido de carbono (CO2 ) liberado na queima dos combustíveis fósseis, na fabricação de cimento e na derrubada e na queimada de florestas. Juntas, estas atividades liberam cerca de 8,5 bilhões de toneladas de CO2 anualmente, fazendo com que os níveis atmosféricos aumentem 0,4% aproximadamente a cada ano. Dois séculos atrás, no início da Revolução Industrial, a atmosfera continha cerca de 280 ppm de CO2 ; hoje em dia, ela contém 355 ppm. Se as tendências atuais persistirem, as concentraProcessos industriais ções de CO2 pré-industriais terão dobrado por volta do 24% ano 2075. Os modelos computacionais predizem que dobrando-se o CO2 atmosférico, seriam causados aumentos na temperatura global de 1,5 a 4,5°C. Isto pode Queima de não parecer uma grande mudança, mas a diferença combustíveis Desmatamento 14% entre a temperatura atual e a da última idade do gelo à fósseis Agricultura cerca de 10.000 anos atrás, quando a maior parte da 49% 13% América do Norte foi coberta pelas geleiras, é de apenas 5°C, aproximadamente. O dióxido de carbono não é o único gás que pode Clorofluorcarbonos causar o aquecimento do clima. Metano, clorofluorcarbonos 20% (CFCs), óxido nitroso e outros gases a níveis de traços também absorvem a radiação infravermelha e aquecem a atmosfera. Embora mais raros do que o CO2 , alguns destes Metano Dióxido de gases aprisionam o calor muito mais efetivamente. A 16% carbono 50% molécula do metano, por exemplo, absorve de vinte a trinta Ozônio vezes mais do que a do CO2 , enquanto os CFCs absorvem 8% aproximadamente 20.000 vezes mais. Óxido nitroso O metano é produzido pelas bactérias intestinais dos 6% animais ruminantes, plantações de arroz, vazamentos de tubulações, decomposição de resíduos em aterros e liberações em minas de carvão. O metano atmosférico está aumentando 1% por ano, aproximadamente. Os clorofluorcarbonos, usados como propelentes de sprays, agentes desengraxantes e refrigerantes, têm se acumulado a 5% por ano. O óxido nitroso (N2 O), produzido na queima de material orgânico e na desnitrificação do solo, tem aumentado 0,2% anualmente. 38 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Juntos, estes gases menores do efeito estufa teriam efeitos de aquecimento comparáveis à dobra das concentrações de CO2 . Isto significa que um aumento de temperatura de 1,5 a 4,5°C poderia ocorrer dentro de quarenta anos, ao invés de oitenta anos (se os modelos forem precisos). A maior parte dos gases do efeito estufa são produzidos pelos países desenvolvidos do mundo. Juntos, os Estados Unidos, a antiga União Soviética, a Europa e o Japão, são responsáveis por cerca de dois terços de todo o potencia l aquecimento global. Prof. Eduardo Bessa Azevedo América do Norte Leste Europeu Oeste Europeu China Restante da Ásia América Latina Pacífico África 0 10 20 30 % de Contribuição Efeitos do Aquecimento Global Se o aquecimento pelo efeito estufa ocorrer, ele provavelmente não será igualmente distribuído ao redor do globo. A evaporação nos oceanos e a cobertura das nuvens adicionais, irão provavelmente manter as áreas costeiras tropicais da maneira que elas são hoje em dia. As maiores mudanças de temperatura são previstas para as maiores latitudes e no centro dos continentes. A Sibéria e a parte ártica do Canadá podem vir a experimentar aumentos da ordem de 10 a 12°C. Chicago pode pular de uma média de 15 para 48 dias no ano, com temperaturas acima de 32°C. Dallas pode vir a ter 162 dias no ano com tais temperaturas, ao invés dos 100 de hoje. Entretanto, Calcutá, onde a temperatura é normalmente alta, não vai se tornar muito mais quente. As mudanças nos padrões de precipitação podem ser uma das conseqüências mais sérias do efeito estufa. Alguns modelos predizem que o centro da América do Norte, da América do Sul e da Ásia, irão se tornar signific ativamente mais secos do que são hoje. Isto pode ter efeitos calamitosos nos suprimentos de alimentos do planeta. Entretanto, os modelos não concordam neste ponto. Enquanto alguns mostram o cinturão do milho americano mais seco, outros predizem que ele se tornará mais úmido do que é hoje. A modelagem ainda não é uma ciência exata. Alguém ganha com estes cenários? Os residentes do norte do Canadá, da Sibéria e da Escandinávia podem ser beneficiados com temperaturas mais quentes e estações férteis mais longas. Uma maior umidade no oeste da África e no sul da Ásia também aumentaria a produção das colheitas. Mas os solos em algumas áreas não suportariam a agricultura, não importando o quão agradável fosse o clima. Os rompimentos ecológicos poderiam ser severos. Muitas plantas e animais selvagens seriam forçados a saírem das suas áreas atuais. Dadas as atuais barreiras às migrações, comunidades naturais poderiam nunca ser restabelecidas. O aumento do nível dos mares está entre os resultados potenciais mais desastrosos do aquecimento global. Alguns oceanógrafos calculam que somente a expansão térmica poderia aumentar o nível do mar em um metro ou mais no próximo século. Se as calotas polares derretessem, os oceanos poderiam ter seus níveis aumentados em 30 m. A maioria das principais cidades do mundo estão nas costas, a apenas alguns metros acima do nível do mar. As casas e os negócios de aproximadamente metade da população do mundo seriam ameaçados se as calotas polares derretessem. Uma grande quantidade de terras agricultáveis também seria perdida. Alguns países baixos, como as Ilhas Maldivas no Oceano Índico, poderiam desaparecer por completo. Uma outra preocupação relacionada ao aquecimento global é o aumento dos fenômenos atmosféricos viole ntos, tais como o Furacão Andrew. A área do oceano com águas superficiais quentes o suficiente (acima de 27°C) para gerar furacões expandiu-se 20% nos últimos vinte anos. Muitos cientistas estão convencidos de que mudanças climáticas globais já começaram. Eles apontam para o fato de que quatro dos cinco anos mais quentes de que se têm notícias ocorreram no final da década de 80 e no início da de 90. Eles prevêem que à medida que os aerossóis liberados pelo Monte Pinatubo forem lavados da atmosfera, as altas temperaturas irão retornar. Outros permanecem céticos, argumentando que as altas temperaturas recentes podem ser apenas uma anomalia aleatória. Infelizmente, os dados são equívocos. Alguns estudos mostram aumentos de temperatura; outros mostram que as temperaturas estão estáveis ou até mesmo diminuindo ligeiramente. Freqüentemente, bases de dados e métodos analíticos diferentes são usados nos estudos sobre o clima. Outras dificuldades incluem termômetros imprecisos, urbanização (estações de amostragem que um dia estiverem no campo hoje se encontram em cidades que, é sabido, retêm o calor) e locais de amostragem não representativos. 39 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Efeitos previstos da mudança climática global: (topo) mudança nas temperaturas em janeiro e (abaixo) mudança na umidade do solo em julho. Espera-se que o resfriamento mais extremo ocorra nas maiores latitudes durante o inverno. As regiões centrais dos continentes ficarão provavelmente mais secas — causando possíveis efeitos severos na agricultura. Além disso, os atuais modelos climáticos não representam adequadamente os efeitos do vapor d’água, nuvens, correntes de ar, circulação dos oceanos, aerossóis de sulfatos, decréscimo da radiação solar, processos oceânicos biogeoquímicos ou o possível estímulo ao crescimento das plantas verdes e do plâncton oceânico pelo aumento da concentração do CO2 . Se as considerações dos modelos são alteradas ligeiramente, as predições 40 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo mento da concentração do CO2 . Se as considerações dos modelos são alteradas ligeiramente, as predições mudam de tendências positivas (aquecimento) para negativas (resfriamento). Se alguns destes fatores forem introduzidos nos modelos, eles irão mostrar uma outra era glacial, ao invés do efeito estufa. Alguns cientistas afirmam que o aumento nos níveis de CO2 poderia ser benéfico, pois o aumento da concentração de CO2 estimula o crescimento de muitas plantas, podendo resultar numa utilização da água mais efic iente. Áreas hoje muito secas para a agricultura poderiam se tornar produtivas e o rendimento das colheitas poderia aumentar ao invés de diminuir. Parece haver evidência de um aumento do consumo de CO2 . No início da década de 90, o aumento atmosférico era de aproximadamente 2 bilhões de toneladas por ano a menos do que as emissões. Alguns cientistas acreditam que o CO2 “perdido” está sendo consumido por um aumento da fotossíntese nas florestas boreais. Outros afirmam que o crescimento do fitoplâncton (organismos fotossintéticos unicelulares) no oceano poderia estar absorvendo a maioria do CO2 adicional. Se for verdadeiro, isto poder ajudar a equilibrar as temperaturas globais e também aumentar a quantidade de alimentos marinhos disponíveis para o consumo humano. Cortando Emissões ou Aumentando a Absorção O quê devemos fazer acerca dos gases do efeito estufa em face de tal incerteza? Devemos tomar medidas para reduzi-los ou esperar para ver se os seus efeitos são tão negativos como alguns modelos sugerem? Infelizmente, quando tivermos a evidência de que um desastre está acontecendo, pode ser muito tarde para se tomar alguma providência. Por outro lado, pode ser um desperdício gastar centenas de bilhões de dólares e perturbar a vida de pessoas para reduzir estes gases se os riscos são pequenos. Entretanto, existem ações para a redução dos gases do efeito estufa que podem ser úteis mesmo se a mudança climática for menos danosa do que imaginamos. O climatologista Steven Schneider chama a isto da política de “sem arrependimentos”. Por exemplo, os países industrializados concordaram em interromper o uso dos clorofluorcarbonos devido ao dano que causam ao ozônio estratosférico além de absorverem calor. Poderíamos cortar as emissões de CO2 e economizar dinheiro pelo aumento da eficiência energéticos nos nossos lares, automóveis, fábricas e escritórios. O Canadá e alguns países europeus assumiram o compromisso com eles mesmos de diminuir as emissões de CO2 de 20 a 25% e acreditam que farão isto sem nenhum sacrifício. Entretanto, uma redução de 50% das emissões (o suficiente para reverter as atuais tendências) seria muito mais difícil. Isto poderia requerer mudanças significativas nos nossos estilos de vida para se alcançar este nível. Os países em desenvolvimento são contra limites e regulamentações que possam vir a restringir a sua habilidade de aumentar os padrões de vida. A indústria da energia nuclear afirma que os reatores são uma alternativa par os combustíveis fósseis e não produzem CO2 . Algumas pessoas sugerem espalhar fertilizantes no oceano para estimular o crescimento do fitoplâncton. Não sabemos quais complicações ecológicas poderiam advir de tais ações. Talvez seja mais sábio esperar até que saibamos mais antes de adotarmos algumas destas soluções arriscadas. 41 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Poluição Atmosférica Poluição do Ar O ar é um recurso natural indispensável ao homem, aos animais e à vegetação, sendo, portanto, essencial à manutenção da vida na Terra. O mesmo ainda é usado na comunicação, no transporte, na combustão, em processos industriais e como diluente de resíduos gasosos. A utilização, cada vez mais intensa, desse recurso, tem resultado, muitas vezes, em alterações na sua composição, com impactos sobre o homem, animais, vegetais e materiais. São muitos os episódios relatados de doenças e mortes ocasionadas, em vários locais do mundo, como conseqüência da presença no ar, de substâncias nocivas, resultantes, principalmente, da atividade antrópica. O homem não consegue viver sem ar, sendo obrigado a utilizar-se desse recurso natural nas condições em que o mesmo se encontra em seu ambiente de vida. Diferentemente da água, o homem não pode, com raríssimas exceções, tratar o ar, para obtê-lo com as características adequadas à sua utilização. Assim, os usos do ar devem ser feitos de modo a não provocar mudanças em sua composição, que resultem em prejuízos à saúde e ao bem estar do homem. A poluição do ar pode ser entendida como a presença, na atmosfera, de substâncias que: causem prejuízos ao homem, aos animais, aos vegetais e à vida microbiológica; provoquem danos aos materiais; interfiram no gozo da vida e no uso da propriedade. Essas substâncias que alteram de forma nociva a composição do ar são denominadas de poluentes atmosféricos. Principais Poluentes Atmosféricos Os poluentes atmosféricos são classificados em dois tipos: primários e secundários. Os poluentes primários são aqueles emitidos diretamente das fontes para a atmosfera, sendo os principais: — Material particulado (fumos, poeiras, névoas) — Monóxido de carbono (CO) — Dióxido de carbono (CO2 ) — Óxidos de nitrogênio (NO e NO2 ) — Compostos de enxofre (SO 2 , H2 S) — Hidrocarbonetos — Clorofluorcarbonos Os poluentes secundários são os formados na atmosfera, através de reações químicas, a partir de poluentes primários. Entre esses, destacam-se os oxidantes fotoquímicos, resultantes da reação entre os hidrocarbonetos e os óxidos de nitrogênio, na presença de luz solar. O ozônio (O3 ) é o oxidante fotoquímico que provoca mais danos ao ambiente. Outros oxidantes fotoquímicos são o peroxiacetilnitrato (PAN), o peróxido de hidrogênio (H2 O2 ) e os aldeídos. A Tabela abaixo indica as concentrações típicas de alguns poluentes, no ar limpo e poluído, bem como o tempo de permanência dos mesmos na atmosfera. Tempo de Permanência na Atmosfera e Concentrações Típicas de Poluentes no Ar Poluente SO2 H2 S CO NO/NO2 Hidrocarbonetos CO2 O3 Tempo de Permanência na Atmosfera 4 dias < 1 dia < 3 anos 5 dias ? 2–4 anos — Concentração Típica (ppm) Ar Limpo Ar Poluído 0,0002 0,0002 0,1 < 0,002 < 0,001 340 0,03 0,2 — 40–70 0,2 — 400 0,5 42 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Com o incremento e a diversificação das atividades industriais, muitas outras substâncias químicas são lançadas à atmosfera, podendo constituir-se poluentes, quando alcançam concentrações nocivas ao ambiente. Fontes de Poluição do Ar A poluição do ar pode originar-se de fontes naturais e antrópicas. Como fontes naturais, são citadas: — vulcões — florestas (queimadas) — decomposição anaeróbia de matéria orgânica — desnitrificação por bactérias Como exemplos de poluentes atmosféricos resultantes de fontes naturais, enumeram-se: emissão de SO 2 , pelas erupções vulcânicas; produção de NOx, a partir do solo e da água, como resultado da desnitrificação do nitrato, por bactérias; geração de H2 S e CH4 , nos processos de decomposição microbiológica anaeróbia; produção de SO2 , NOx e CO2 , pela queima da vegetação. As principais fontes antrópicas de poluição do ar, ou seja, resultantes das atividades humanas, são: — indústrias — meios de transporte — destruição e queima de vegetação — queima de combustíveis — queima do lixo — aplicação de agrotóxicos — fermentação de resíduos (dejetos, lixo etc.) — uso de “sprays”, refrigeração, fabricação de espumas plásticas, solventes — compostos radioativos As fontes de poluição do ar podem ser estacionárias ou móveis, sendo estas últimas constituídas, principalmente, pelos veículos, aviões, motocicletas, barcos, locomotivas etc. Os processos industriais são responsáveis pela emissão de material particulado e de vários gases poluentes, tais como: os óxidos de enxofre (SO 2 ), os óxidos de nitrogênio (NO e NO2 ), gás sulfídrico (H2 S), hidrocarbonetos, ácido clorídrico (HCl) e outros. As fontes móveis de poluição contribuem com o lançamento de material particulado, monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx), óxido de enxofre (SO 2 ), hidrocarbonetos e aldeídos. A combustão do carvão, do petróleo e da biomassa resulta na produção de material particulado, monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2 ), óxido de enxofre (SO 2 ) e óxidos de nitrogênio (NOx). A queima do lixo provoca o lançamento, na atmosfera, de material particulado, óxido de enxofre (SO 2 ), óxidos de nitrogênio (NOx) e ácido clorídrico (HCl). A decomposição anaeróbia de matéria orgânica, presente no esgoto, no lixo e em dejetos de animais, tem como subprodutos o gás sulfídrico (H2 S) e o metano (CH4 ), entre outros. Conseqüências da Poluição do Ar Nem sempre é fácil estabelecer uma rela ção direta entre um determinado poluente e os efeitos que o mesmo provoca no ambiente. A dispersão do poluente no ar, a distância que alcança, sua concentração e o tempo de exposição ao mesmo, são alguns fatores que influem nos impactos que pode causar. A incidência de doenças respiratórias, por exemplo, pode ser associada a certos poluentes atmosféricos, mas também resultar de outras causas. No entanto, há informações confirmadas de que em regiões onde se constata a poluição do ar ocorrem, com maior intensidade, esses tipos de doenças. A redução da visibilidade é um exemplo de um efeito evidente da poluição do ar. A poluição atmosférica pode resultar em impactos de alcances locais, regionais e globais. Os impactos locais são aqueles verificados nas áreas próximas às fontes de poluição, compreendendo: • danos à saúde humana: desconforto; odor desagradável; doenças do aparelho respiratório — bronquite, enfisema, asma, câncer; asfixia; irritação dos olhos, garganta e mucosas; outros distúrbios. • danos à vegetação: redução da fotossíntese; ataque à folhagem; alterações no crescimento e produção de frutos. • danos aos animais: diretamente, a partir dos poluentes atmosféricos, ou pela ingestão de vegetais contaminados. • redução da visibilidade, podendo ocasionar acidentes. 43 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo • danos aos materiais: sujeira; desgaste; corrosão; deterioração da borracha e produtos sintéticos; enfraquecimento; alterações da aparência de prédios e monumentos. • desfiguração da paisagem. • alterações das características climáticas: maior precipitação; redução da radiação e da iluminação; aumento da temperatura. Os impactos regionais ou continentais são aqueles observados a distâncias maiores das fontes, como acontece com as chuvas ácidas, resultantes da presença, na atmosfera, do dióxido de enxofre, dos óxidos de nitrogênio, do ácido clorídrico e do ácido fluorídrico. Os gases emitidos em determinados locais podem ser transportados para grandes distâncias, ultrapassando limites estaduais ou internacionais. Assim, emissões ocorridas em um país ou região podem degradar ecossistemas e recursos de valor econômico de outras jurisdições. Na Europa, por exemplo, a Escandinávia tem, com razão, reclamado da emissão de SO 2 e NOx, na Inglaterra e na Alemanha. Na América do Norte, tem-se estimado que 90% da deposição úmida e 43% da deposição seca do nitrogênio, e 63% da deposição úmida e 20% da deposição seca do enxofre, no leste do Canadá, têm origem nos Estados Unidos. Já os impactos globais são os que podem afetar o planeta como um todo, citando-se: • efeito estufa, devido à presença de CO 2 , CH4 , clorofluorcarbonos e outros gases, na atmosfera. • destruição da camada de ozônio, como conseqüência dos lançamentos de clorofluorcarbonos. Além das conseqüências da poluição do ar apresentadas anteriormente, podem ser enumeradas as resultantes de grandes fontes naturais, como as erupções vulcânicas e as queimas de florestas, ou dos lançamentos de poluentes radioativos, as quais podem ter alcance regional ou mesmo global. Na Tabela da página seguinte, estão relacionados os principais poluentes atmosféricos, com suas origens e conseqüências. Clima, Topografia e Processos Atmosféricos A topografia, o clima e os processos físicos na atmosfera têm um importante papel no transporte, concentração, dispersão e remoção de muitos poluentes atmosféricos. A velocidade do vento, a mistura entre camadas de ar, a precipitação e a química atmosférica, determinam se os poluentes irão permanecer na localidade onde eles foram produzidos ou irão para algum outro lugar. Inversões As inversões de temperatura ocorrem quando uma camada estável de ar aquecido sobrepõe-se a uma de ar frio, revertendo o declínio normal da temperatura com o aumento da altitude e impedindo que as correntes de convecção dispersem os poluentes. Vários mecanismos criam inversões. Quando uma frente fria desliza por debaixo de uma massa de ar adjacente mais quente ou quando o ar frio desce por uma montanha e desloca o ar mais quente do vale mais abaixo, é estabelecido um gradiente de temperatura invertido. Entretanto, estas inversões são normalmente instáveis, pois os ventos que acompanham estas trocas de ar tendem a quebrar o gradiente de temperatura bem rapidamente e misturar as camadas de ar. As condições de inversão mais estáveis são normalmente criadas por um resfriamento rápido durante a noite em um vale ou bacia, locais onde o movimento do ar é restrito. A cidade de Los Angeles é um exemplo clássico das condições que criam inversões de temperatura e o “smog” fotoquímico. A cidade é rodeada por montanhas por três lados e o clima é seco e ensolarado. O uso intenso de automóveis cria altos níveis de poluição. O céu é normalmente límpido durante a noite, o que permite uma rápi44 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Principais Poluentes Atmosféricos, Suas Origens e Conseqüências Poluente Origens Conseqüências Monóxido de Carbono • Veículos automotores • Combustão incompleta do carvão e do petróleo • Afeta a capacidade de oxigenação da hemoglobina → asfixia Óxidos de Enxofre • Queima de combustíveis fósseis • Queima de carvão • Processos industriais • • • • Óxidos de Nitrogênio • Veículos automotores • Processos industriais • Queima de combustíveis fósseis • Tóxicos ao homem; irritação da mucosa; carcinogênicos • Danos às plantas • Reagem com os hidrocarbonetos produzindo oxidantes fotoquímicos • Chuvas ácidas Hidrocarbonetos • Veículos automotores • Processos industriais • Queima de combustíveis fósseis • Carcinogênicos • Reagem com os óxidos de nitrogênio produzindo oxidantes fotoquímicos Oxidantes Fotoquímicos, principalmente o Ozônio • Reação dos óxidos de nitrogênio com os hidrocarbonetos, na presença de luz solar • Redução da visibilidade • Sujeira de roupas, prédios, monumentos (paisagem) • Deterioração da borracha, de produtos sintéticos etc. Material Particulado • Veículos automotores • Processos industriais • Redução da visibilidade • Sujeira de roupas, prédios, monumentos (paisagem) • Carreiam poluentes tóxicos para os pulmões Dióxido de Carbono • Queima do petróleo e do carvão • Queima da biomassa • Desmatamento • Efeito estufa Gás Sulfídrico • Decomposição anaeróbia • Indústrias químicas • Odor desagradável Clorofluorcarbonos • Refrigeração • “Sprays” • Fabricação de espumas plá sticas • Solventes usados na limpeza de circuitos eletrônicos • • • • Danos ao aparelho respiratório Corrosão do ferro, aço, mármore Empoçamentos Danos às plantas (amarelecimento e morte) • Chuvas ácidas Destruição da camada de ozônio Câncer de pele Catarata Danos à vegetação 45 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo da perda de calor por irradiação. As camadas de ar superficiais são resfriadas por condução, enquanto as camadas superiores permanecem relativamente aquecidas. Diferenças na densidade retardam a mistura vertical. Durante a noite, brisas terrestres, frias e úmidas, deslizam por debaixo do ar contaminado, compactando-o contra a capa de ar mais quente acima, concentrando os poluentes acumulados durante a noite. A luz solar matutina é absorvida pelos aerossóis e gases concentrados da camada de inversão. Esta mistura complexa reage rapidamente dando origem a um coquetel de compostos perigosos. À medida que o solo é aquecido no decorrer do dia, as correntes de convecção quebram o gradiente de temperatura e os poluentes são carreados novamente para a superfície, onde mais contaminantes são adicionados. O óxido nítrico (NO) gerado pelos motores automotivos é oxidado a dióxido de nitrogênio. À medida que os óxidos de nitrogênio são usados nas reações com os hidrocarbonetos não queimados, os níveis de ozônio começam a crescer. Pelo início da tarde, uma névoa castanha e acre está por toda a parte, fazendo com que os olhos lacrimejem e as gargantas queimem. Em um dia típico de verão, as concentrações de ozônio na bacia de Los Angeles podem alcançar 0,34 ppm ou mais até o final da tarde e o índice de poluição pode chegar a 300, um estágio considerado como de risco à saúde. Domos de Poeira e Ilhas de Calor Mesmo sem montanhas para bloquear os ventos e estabilizar as camadas de ar, muitas grandes cidades criam um ambiente atmosférico muito diferente do das condições circunvizinhas. Vegetação esparsa e uma grande quantidade de concreto e vidro nas áreas urbanas, permitem que as águas das chuvas escoem muito rapidamente e cria altas taxas de absorção durante o dia e de radiação à noite. Prédios altos criam correntes verticais convectivas que varrem os poluentes para o ar. As temperaturas no centro de grandes cidades são freqüentemente de 3 a 5°C mais altas do que a dos subúrbios adjacentes. Massas estáveis de ar criadas por esta “ilha de calor” sobre a cidade concentram os poluentes em um “domo de poeira”. As áreas rurais a favor do vento que vem de grandes áreas industriais apresentam, freqüentemente, uma significativa redução de visibilidade e um aumento de precipitação (devido ao aumento de núcleos de condensação na pluma de poeira), se comparadas com áreas vizinhas e com ar limpo. Transporte de Longo Alcance Os poluentes atmosféricos podem ser transportados por grandes distâncias pelas correntes aéreas. Em 1971, cientistas do Instituto de Pesquisas Aquáticas de Nagoya, observaram poeira passando do Japão para a Ásia. Alguns dias depois, a mesma poeira foi coletado no Havaí, a cerca de 10.000 km e do outro lado do Oceano Pacífico. O teor mineral, a cronologia dos eventos climáticos e as correntes aéreas calculadas, sugeriram que esta poeira surgiu como uma única onda a partir de uma tempestade no Deserto de Gobi. Tempestades de poeira similares no Sahara Algeriano têm sido rastreadas até as ilhas do Caribe. Os poluentes industriais também são transportados a grandes distâncias pelas correntes aéreas. Alguns dos materiais mais tóxicos e corrosivos transportados são poluentes secundários (tais como os ácidos sulfúrico e nítrico e o ozônio), produzidos pela mistura e interação de contaminantes atmosféricos à medida que são transportados através do ar. O rastreamento das fontes desses poluentes quimicamente alterados pode ser difícil. Os lagos e florestas na Suécia vinham apresentando evidências de contaminação por ácido sulfúrico há vários anos, até que a fonte da acidez foi rastreada até a Alemanha, Inglaterra e outras partes distantes da Europa. O controle de poluentes de longo alcance é um processo altamente político. A Alemanha e a Inglaterra não se mostraram acessíveis quanto à precipitação ácida até que as suas próprias florestas começaram a morrer. Em um outro caso, 90% da poluição que é precipitada no Lago Superior se origina a milhares de quilômetros, nos Estados Unidos, no Canadá e até no México. Entretanto, as fazendas e indústrias nestas distantes regiões resistem em gastar dinheiro para reduzir as emissões e proteger o meio ambiente dos outros. Equipamentos de monitoramento cada vez mais sensíveis começaram a revelar contaminantes industriais em lugares geralmente considerados entre os mais limpos do mundo. Samoa, Groenlândia e até mesmo a Antártida e o Pólo Norte, todos têm concentrações de metais pesados, pesticidas e elementos radioativos. Desde a década de 1950, os pilotos que sobrevoam o Ártico a grandes altitudes têm relatado densas camadas de névoa acastanhada cobrindo a atmosfera do Ártico. Aerossóis de sulfatos, fuligem, poeira e metais pesados tóxicos tais como vanádio, manganês e chumbo, foram transportados para o Pólo a partir das partes industrializadas da Europa e da Rússia. Estes contaminantes, aprisionados pelos ventos que circulam o pólo, são concentradas em altas latitudes e, eventualmente, sendo precipitados juntamente com a neve e o gelo, entram na cadeia alimentar. O povo inuíta da Ilha de Broughton, bem acima do Círculo Ártico, tem níveis de PCBs no sangue maiores do que qualquer outra população, com exceção de vítimas de acidentes industriais. Muito distantes de qualquer fonte deste subproduto industrial, estas pessoas acumulam os PCBs a partir da carne dos peixes, caribus e outros animais que eles comem. 46 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo A poluição de regiões altamente industrializadas na Europa e na América, é transportada por ventos circumpolares para o Ártico, onde altos níveis de “smog” se acumulam. O tempo de trânsito médio da Rússia para o Canadá é de apenas três dias. 47 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Ozônio Estratosférico Em 1985, o Observatório Atmosférico Britânico da Antártica anunciou uma descoberta perturbadora e ala rmante: os níveis de ozônio na estratosfera acima do Pólo Sul estavam caindo vertiginosamente durante os meses de setembro e outubro a cada ano, assim que o Sol reaparecia após o fim do longo inverno polar. Esta diminuição do ozônio estava ocorrendo, no mínimo, desde a década de 60, mas não havia sido notada porque os primeiros pesquisadores haviam programado os seus instrumentos para ignorar as mudanças nos níveis de ozônio, já que se presumia que isto era falha dos equipamentos. Estes mapas da concentração estratosférica do ozônio sobre o Pólo Norte mostram como o ozônio tem sido destruído desde 1979. As áreas vermelhas representam concentrações de ozônio maiores do que 500 unidades Dobson (DU); as concentrações diminuem no sentido verde, amarelo, azul, lilás até menos do que 270 DU. A concentração normal de ozônio nas latitudes temperadas é de 350 DU, aproximadamente. A cada ano o “buraco” na camada de ozônio cresce. Em 1995, cerca de 70% do ozônio estratosférico antártico havia sido destruído acima de uma área do tamanho da América do Norte. Ominosamente, este fenômeno está agora se espalhando também para outras partes do mundo. Cerca de 10% de todo o ozônio estratosférico mundial foi destruído durante o inverno de 1995 e as perdas acima do oeste do Estados Unidos e do Canadá alcançaram os 20%, enquanto na Sibéria elas ultrapassaram os 35%. Por que estamos preocupados com o ozônio estratosférico? Na superfície do planeta, o ozônio é um poluente nocivo, estragando as plantas, os materiais de construção e a saúde humana; entretanto, na atmosfera superior, onde ele absorve a perigosa radiação ultravioleta (UV) vinda do Sol, o ozônio é um recurso insubstituível. Sem este escudo, os organismos na superfície da Terra estariam sujeitos a queimaduras por radiação e a danos genéticos. Uma perda de 1% do ozônio resulta num aumento de 2% da radiação UV que chega à superfície do planeta, podendo resultar num acréscimo de cerca de um milhão de casos de câncer de pele por ano no mundo todo se nenhuma medida protetora for tomada. Portanto, é urgente que aprendamos o quê está atacando a camada de ozônio e encontremos maneiras de reverter estas tendências, se possível. As temperaturas excepcionalmente baixas na Antártida (– 85 a – 90°C) têm um papel importante nas perdas de ozônio. Durante os meses do longo e escuro inverno, o forte vórtex circumpolar isola o ar da Antártida e permite que as temperaturas estratosféricas caiam o suficiente para criar cristais de gelo em altas altitudes — algo que raramente acontece em outro lugar do mundo. As moléculas cloradas o ozônio são adsorvidas na superfície destas partículas de gelo. Quando o Sol retorna e a primavera fornece energia para liberar os cloro-radicais, reações químicas destrutivas se processam rapidamente. Os seres humanos liberam uma variedade de moléculas cloradas na atmosfera. As que são suspeitas de serem as mais importantes nas perdas de ozônio são os clorofluorcarbonos (CFCs) e os halons. Os CFCs foram inventados em 1928 pelos cientistas da General Motors que estavam procurando um refrigerante menos tóxico do que a amônia. Comumente conhecido pelo nome de Freon, os CFCs eram considerados como compostos maravilhosos. Eles são atóxicos, não-inflamáveis, quimicamente inertes, de produção barata e úteis em uma ampla variedade de aplic ações. Entretanto, devido a estas moléculas serem tão estáveis, elas persistem por décadas ou mesmo séculos uma vez liberadas. Quando elas difundem para a estratosfera, a intensa radiação UV libera radicais livres (Cl•) que destróem o ozônio. Uma vez que os cloro radicais não são consumidos nestas reações, eles continuam a destruir o ozônio por anos, até que finalmente difundam para o espaço sideral. Até 1978, as latas de aerossóis usavam mais CFCs do que qualquer outro produto. Embora não se conhecesse as condições da Antártida naquele tempo, suspeitava-se de que os CFCs pudessem ameaçar o ozônio estratosférico, de forma que foram promulgadas leis nos Estados Unidos, no Canadá e em alguns países europeus banindo usos não 48 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo essenciais. Ainda assim, até o ano de 1988, cerca de 320.000 toneladas de CFCs foram usadas mundialmente a cada ano, com refrigerantes, solventes, propelentes de “sprays” e agentes formadores de espuma. A descoberta das perdas do ozônio estratosférico deu origem a uma resposta internacional notadamente rápida. Na conferência de 1989 em Helsinki, oitenta e uma nações concordaram em encerrar a produção dos CFCs até o final do século. Como foram acumuladas evidências de que as perdas eram maiores e mais abrangentes do que se pensava anteriormente, a data-limite para a eliminação de todos os CFCs (halons, tetracloreto de carbono e clorofórmio) foi adiantada para 1996 e um fundo de $500 milhões foi estabelecido para assistir aos países mais pobres na mudança para tecnologias sem CFCs. Felizmente, já existem alternativas para a maioria dos usos dos CFCs. Os primeiros substitutos são os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), que liberam muito menos cloro por molécula. Eventualmente, esperamos sejam desenvolvidas moléculas sem halogênio que funcionem tão bem e com o mesmo custo dos CFCs. Já existem evidências de que o banimento dos CFCs já está tendo efeitos. O acúmulo dos CFCs na atmosfera está declinando mais rapidamente do que era esperado. Em cerca de 70 anos, espera-se que os níveis de ozônio estratosférico estejam de volta ao normal. Infelizmente, pode existir um aspecto negativo da interrupção da destruição do ozônio. O ozônio é um potente gás do efeito estufa. Alguns modelos sugerem que os níveis mais baixos de ozônio têm anulado uma parte dos efeitos do aumento da concentração do CO2 . Quando o ozônio for restabelecido, o aquecimento global pode ser acelerado. Neste caso, como acontece freqüentemente, quando perturbamos um fator ambiental, afetamos também outros. Deposição Ácida A maioria das pessoas se tornou cientes dos problemas associados com a precipitação ácida (a deposição de soluções líquidas ácidas ou partículas secas ácidas a partir do ar) somente na década passada, mas o cientista inglês Robert Angus Smith cunhou o termo “chuva ácida” nos seus estudos da química do ar em Manchester, Inglaterra, nos anos de 1850. Na década de 40, sabia -se que certos poluentes, incluindo os ácidos atmosféricos, podiam ser transportados a longas distâncias pelas correntes aéreas. Pensava-se que isto era apenas uma curiosidade acadêmic a, até que foi mostrado que a precipitação desses ácidos podia ter efeitos ecológicos bastante sérios. pH e Acidez Atmosférica Uma chuva normal, sem poluição, normalmente possui um pH de aproximadamente 5,6, devido ao ácido carbônico gerado pelo CO2 no ar. As emissões vulcânicas, a decomposição biológica, o cloro e os sulfatos dos “sprays” oceânicos podem diminuir o pH para valores bem abaixo de 5,6, ao passo que poeiras alcalinas podem aumentá-lo acima de 7. Nas áreas industrializadas, os ácidos antropogênicos no ar geralmente estão em muito maior quantidade do que a das fontes naturais. A chuva ácida é apenas uma forma na qual a deposição ácida ocorre. Névoa, neve, neblina e orvalho, também aprisionam e depositam os contaminantes atmosféricos. Mais ainda, a precipitação de partículas secas de sulfato, nitrato e cloreto, pode ser responsável por metade da deposição ácida em algumas áreas. Estas partículas são convertidas em ácidos quando são dissolvidas em águas superficiais ou entram em contato com tecidos úmidos (como os dos pulmões e olhos). 49 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Efeitos Aquáticos Há cerca de 30 anos que se sabe que os ácidos — principalmente o H 2 SO4 e HNO3 — gerados pelas emissões automotivas e industriais do noroeste da Europa são carreados pelos ventos predominantes para a Escandinávia, onde são depositados pela chuva, neve e precipitação seca. Os solos rasos e ácidos e os rios e lagos oligotróficos das montanhas do sul da Noruega e da Suécia, têm sido severamente afetados por esta deposição ácida. Cerca de 18.000 lagos na Suécia estão hoje tão ácidos que não suportam mais peixes e outros organismos aquáticos sensíveis. Metade dos lagos de grande altitude nas Montanhas Adirondack, em Nova Iorque, estão ácidos e sem peixes. O mesmo se dá com 48.000 lagos em Ontário e cerca de 1 milhão de lagos em Quebec. Cerca de 50% da deposição ácida no Canadá vem dos Estados Unidos, enquanto somente 10% da poluição dos Estados Unidos vêm do Canadá. Danos Florestais No início da década de 80, apareceram relatórios perturbadores sobre o rápido declínio das florestas, tanto na Europa quanto na América do Norte. Estima-se que 50% das florestas situadas em altas elevações nos Estados Unidos estão mortas e os 50% restantes estão morrendo. As florestas européias também estão morrendo a uma taxa ala rmante. Cerca de 4 milhões de hectares (50% da área total de florestas) estão em franco declínio. Emissões de dióxido de enxofre e a precipitação ácida advindas de uma fundição de cobre pertencente à Companhia de Níquel Internacional (ao fundo), mataram toda a vegetação ao longo de uma grande área perto de Sudbury, Ontário. Até mesmo os leitos de granito rosa ficaram enegrecidos. A instalação de lavadores tem reduzido dramaticamente as emissões de enxofre. Os ecossistemas mais afastados da fundição estão começando a se recuperar lentamente. Danos similares têm sido relatados na Checoslováquia, Polônia, Áustria e Suíça. Novamente, florestas altas são as mais severamente afetadas. Isto é um desastre para as vilas das montanhas dos Alpes que dependem das florestas para prevenir avalanches no inverno. Suécia, Noruega, Holanda, Romênia, China e a antiga União Soviética, também apresentam evidências de redução de crescimento, desfoliação, necrose das raízes, crescimento de sementes e morte prematura de árvores. Este fenômeno complexo tem provavelmente a contribuição de muitos fatores, mas a poluição do ar e a deposição de ácidos atmosféricos são consideradas as causas principais da destruição das florestas em muitas áreas. Um grande número de pesquisas tem mostrado que os ácidos são diretamente tóxicos para os brotos e as raízes tenras. As florestas altas são sujeitas a doses especialmente intensas destes ácidos porque as nuvens saturadas com poluentes tendem a se estacionar no topo das montanhas, banhando as florestas com uma sopa tóxica por dias ou até mesmo semanas de cada vez. Os cientistas têm sugerido que outros mecanismos participam do declínio das florestas. O excesso de fertilização com compostos nitrogenados tornam as árvores sensíveis a geadas. Minerais essenciais (como o magnésio) podem ser retirados da folhagem ou do solo pela precipitação ácida. Metais tóxicos (co- Folhas de soja expostas a 0,8 ppm de dióxido de enxofre por por um período de 24 horas, mostram uma mo o alumínio) podem ser solubilizados por águas subterrâneas enxofre extensa clorose (destruição da clorofila) em áreas ácidas. Microrganismos patogênicos e pragas podem danificar as brancas entre os veios da folha. 50 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo árvores debilitadas pela poluição do ar. Fungos que formam associações essencialmente mutualísticas (chamados mycorrhizae) com as raízes das plantas podem ser danificados pela chuva ácida. Outros poluentes atmosféricos (como o dióxido de enxofre, ozônio e compostos orgânicos tóxicos) podem danificar as árvores. Ciclos repetidos de derrubadas em florestas comerciais podem remover nutrientes e danificar relações ecológicas essenciais para o crescimento sadio das árvores. Talvez o cenário mais provável é o no qual todos estes fatores ambientais ajam cumulativamente, mas em diferentes combinações, na deterioração da saúde de árvores e de florestas inteiras. Uma das conseqüências da chuva ácida é vivamente ilustrada por estas duas fotografias de uma fl oresta na Alemanha. A da esquerda foi tirada em 1970; a da direita em 1983. Construções e Monumentos Em todas as cidades ao redor do mundo, algumas das mais antigas e gloriosas construções e obras de arte estão sendo destruídas pela poluição atmosférica. Fumaça e fuligem cobrem construções, pinturas e tecidos. Calcário e mármore são destruídos por ácidos atmosféricos a uma taxa alarmante. O Partenon em Atenas, o Taj Mahal em Agra, o Coliseu em Roma, afrescos e estátuas em Florença, catedrais medievais na Europa e o Memorial a Lincoln e o Monumento à Washington em Washington, Estados Unidos, estão lentamente se dissolvendo devido aos fumos ácidos no ar. Num nível mais mundano, a poluição do ar danifica também construções e estruturas ordinárias. A corrosão do aço de concretos reforçados enfraquece prédios, estradas e pontes. A pintura e a borracha deterioram-se devido à oxidação. Calcário, mármore e alguns tipos de arenito, tornam-se porosos e desmoronam. O Conselho de Qualidade Ambiental estima que as perdas econômicas nos Estados Unidos devidas aos danos arquitetônicos causados pela poluição do ar chegam a $4,8 bilhões em custos diretos e $5,2 bilhões em perdas do valor de propriedades a cada ano. Disciplinamento do Uso e Ocupação do Solo O planejamento territorial pode ser usado no sentido de minimizar a poluição do ar, através de medidas como: • Localização adequada das fontes poluidoras em relação às outras áreas. Por exemplo, zonas industriais devem situar-se afastadas de áreas residenciais ou de outros usos sensíveis à poluição atmosférica, observando o senti51 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo do predominante dos ventos. A Figura abaixo mostra um exemplo de zoneamento em uma área urbana, com a localização correta da zona industrial. • Utilização de barreiras, naturais ou artificiais, à propagação dos poluentes (Figura abaixo). • Distribuição adequada de edificações, de forma a garantir a circulação do ar e, conseqüentemente, a dispersão dos poluentes. • Melhoria da circulação dos veículos, através de um sistema viário adequado. A emissão de poluentes, de um modo geral, decresce com o aumento da velocidade média dos veículos. • Melhoria e incentivo ao uso do transporte coletivo. Os estudos de dispersão de poluentes são importantes para se estimar as concentrações dos mesmos em uma determinada área, a partir de uma ou mais fontes. Existem vários modelos de dispersão, os quais podem ser utilizados na definição dos locais onde deverão situar-se as fontes poluidoras do ar, de forma a garantir-se que os poluentes emitidos pelas mesmas não ultrapassem concentrações indesejáveis nas áreas receptoras. A velocidade e a direção dos ventos predominantes são informações importantes para a adequada localização de fontes de poluição do ar. A partir de dados colhidos em estações meteorológicas, é possível elaborar a “rosa dos ventos”, a qual indica as freqüências possíveis de ocorrência de direção e as velocidades do vento em determinada região. Controle das Fontes Poluidoras O controle nas fontes visa a reduzir a concentração dos poluentes, antes do seu lançamento na atmosfera. Isso é conseguido através das seguintes medidas: • altura adequada das chaminés das indústrias, em função das condições de dispersão dos poluentes; os modelos de dispersão podem ser usados na determinação de alturas apropriadas para as chaminés; • uso de matérias-primas e combustíveis que resultem em resíduos gasosos menos poluidores; • modificação dos processos industriais, objetivando reduzir a emissão de poluentes; • operação e manutenção adequadas dos equipamentos, visando a garantir o bom funcionamento dos mesmos, diminuindo-se o lançamento de poluentes atmosféricos; • melhoria da combustão; quanto mais completa a combustão, menor a emissão de poluentes. • controle da emissão de poluentes nos veículos; o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através das Resoluções Nº 07 e 08, de 31 de agosto de 1993, estabeleceu os padrões de emissão de poluentes a serem alcançados pelos veículos leves e pesados fabricados no Brasil. • uso de combustíveis menos poluidores, nos veículos (exemplo: gás natural); 52 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo • instalação de equipamentos de retenção de partículas e gases; existem vários tipos de equipamentos: a) de controle de emissão de partículas: ¯ requeimadores ¯ câmaras de sedimentação gravitacional ¯ ciclones precipitadores (coletores centrífugos) ¯ coletores úmidos ¯ lavadores Venturi ¯ precipitadores eletrostáticos ¯ filtros (de tecidos, de material granulado ou fibroso) b) de controle de emissão de gases: ¯ requeimadores ¯ absorção (contato do gás ou vapor com um líquido no qual é solúvel) ¯ adsorção (em carvão ativado, silicatos, alúmens ou géis especiais) ¯ condensadores de vapores. Poluentes Particulados Ciclones Para partículas de tamanho maior do que 10 µm de diâmetro, o coletor a ser escolhido é o ciclone. Ele é um coletor inercial sem partes móveis. O gás carregado de partículas é acelerado através de um movimento espiralado, que impõem uma força centrífuga às partículas. As partículas são projetadas para fora do gás e chocam-se com as paredes cilíndricas do ciclone. Elas então deslizam para o fundo do cone, onde são removidas através de um sistema de válvulas herméticas. Os ciclones são empregados somente para pós grosseiros. Algumas aplicações incluem o controle de emissões de pó de madeira, fibras de papel e de polimento. Filtros-manga Quando se deseja um controle altamente eficiente de partículas menores do que 5 µm, um filtro deve ser selecionado como o método de controle. As mangas são feitas de fibras naturais ou sintéticas. As fibras sintéticas são amplamente utilizadas como tecido de filtração devido ao seu baixo custo, às melhores características de resistência térmica e química e ao pequeno diâmetro das fibras. A vida útil das mangas varia de um a cinco anos. Um período de dois anos é considerado normal. O diâmetro das mangas varia de 0,1 a 0,35 m. O comprimento varia entre 2 e 10 m. Os filtros-manga são usados em várias aplicações. Exemplos incluem a indústria de negro de fumo, moagem de cimento, manuseio de grãos e de alimentos, gipsita, moagem de calcário e lixadeiras mecânicas. Lavagem com líquidos Quando o material particulado a ser coletado é úmido, corrosivo ou muito quente, o filtromanga pode não funcionar. Nestes casos usa-se a lavagem com líquidos. Aplicações típicas da lavagem incluem o controle das emissões de pó de talco, névoa de ácido fosfórico, poeira de fornos de fundição e fumos de fornalhas de aço de soleira aberta. 53 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Os lavadores variam em complexidade. Câmaras de “spray” simples são usadas para partículas de tamanho relativamente grande. Para uma remoção altamente eficiente de partículas finas, deve ser selecionada a combinação de um lavador Venturi seguido de um ciclone. Precipitação eletrostática Quando se deseja a remoção de partículas secas de uma corrente de gás aquecido com uma alta eficiência, usa-se a precipitação eletrostática. Os precipitadores eletrostáticos são construídos de placas e fios que se alternam. Um alto potencial (corrente contínua) de 30 a 75 kV é aplicado entre as placas e os fios. Isto resulta na criação de um plasma entre o fio e a placa. As partículas presentes na corrente de gás passam entre o fio e a placa, ficando negativamente carregadas. As partículas então migram para a placa positivamente carregada onde ficam presas. As placas são agitadas periodicamente e os aglomerados de partículas caem em um funil. Poluentes Gasosos Absorção Os dispositivos de controle baseados no princípio da absorção, tentam transferir o poluente da fase gasosa para a fase líquida. Este é um processo de transferência de massa no qual o gás se dissolve em um líquido. A dissolução pode ou não ser acompanhada por uma reação com um ingrediente do líquido. Estruturas tais como as câmaras de “spray” e as torres ou colunas, são duas classes de dispositivos empregados para absorver os gases poluentes. Nos lavadores, que são um tipo de câmara de “spray”, gotículas de líquido são usadas para absorver o gás. Nas torres, um filme fino de líquido é usado como meio absorvente. Independentemente do tipo de dispositivo, a solubilidade do poluente no líquido tem quer ser relativamente alta. Se a água é o líquido, isto geralmente limita a aplicação a uns poucos gases inorgânicos, tais como NH3 , Cl2 e SO 2 . Os lavadores são relativamente ineficientes, mas possuem a vantagem de serem capazes de remover simultaneamente o material particulado. As torres são absorvedores muito mais eficientes, mas ficam obstruídas pelo material particulado. Torre de Pratos Torre Empacotada Câmara de “spray” Adsorção É um processo de transferência de massa no qual o gás é ligado a um sólido. É um fenômeno superficial. O gás (o adsorbato) penetra nos poros do sólido (o adsorvente), mas não no retículo propriamente dito. A ligação pode ser física ou química. Forças eletrostáticas retêm o gás poluente quando a ligação física é significativa. A ligação química ocorre por uma reação com a superfície. São usados vasos de pressão com leitos fixos para sustentar o ad54 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo sorvente. Carvão ativo, peneiras moleculares, sílica gel e alumina ativada, são os adsorventes mais comuns. A propriedade comum destes adsorventes é uma grande área superficial “ativa” por unidade de volume. Eles são muito eficazes para hidrocarbonetos. Além disso, eles podem capturar H 2 S e SO 2 . Uma forma especial de peneira molecular pode também capturar o NO2 . Com exceção do carvão ativo, os adsorventes têm a desvantagem de adsorverem primeiramente a água antes de qualquer outro poluente. Portanto, a água tem que ser removida do gás antes dele ser tratado. Todos os adsorventes estão sujeitos à destruição em temperaturas moderadamente altas (150°C para o carvão ativo, 600°C para as peneiras moleculares, 400°C para a sílica gel e 500°C para a alumina ativada). Ciclo de Adsorção Ciclo de Dessorção Em contraste com as torres de absorção, onde o poluente coletado é continuamente removido pelo fluxo de líquido, o poluente coletado permanece no leito adsorvente. Portanto, enquanto o leito não estiver saturado, nenhum poluente será emitido. Quando o leito fica saturado, ele deve ser então regenerado. Combustão Quando o contaminante na corrente gasosa é oxidável a um gás inerte, a combustão é um possível método de controle alternativo. Tipicamente, o CO e os hidrocarbonetos caem nesta categoria. Tanto a combustão com chama direta por pós-queimadores quanto a catalítica têm sido usadas em aplicações comerciais. A incineração com chama direta é o método a ser escolhido se dois critérios forem satisfeitos. Primeiramente, a corrente gasosa tem que possuir um poder calorífico maior do que 3,7 MJ/m3 . Acima deste valor, a chama se torna auto-sustentável após a ignição. O segundo requisito é que nenhum dos subprodutos seja tóxico. Remoção do Enxofre Dessulfuração do Gás de Combustão Calcário moído, pasta de cal ou uma base (carbonato ou bicarbonato de sódio), podem ser injetados em uma corrente de gás para remover o enxofre após a combustão. Estes processos são freqüentemente chamados de lavagem do gás de combustão. Espargir soluções aquosas de álcalis ou pastas de calcário é um procedimento relativamente barato e eficaz, mas a manutenção pode ser difícil. São formadas camadas de rochas duras e de cinzas na câmara de “spray”, tendo que ser removidas regularmente. Soluções corrosivas de sulfatos, cloretos e fluoretos deterioram as superfícies metálicas. Os precipitadores eletrostáticos não funcionam bem devido à obstrução e a redução dos eletrodos após a lavagem úmida. 55 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo A injeção de álcalis secos (aspersão de bicarbonato de sódio sólido no gás de combustão) evita a maioria dos problemas da lavagem úmida, mas o custo dos reagentes apropriados é muitas vezes proibitivo. Um procedimento híbrido chamado de aspersão a seco foi testado com sucesso em experimentos em planta piloto. Neste processo, uma pasta de calcário pulverizado ou cal extinta é atomizada na corrente do gás. A taxa de aspersão e o tamanho das gotículas são cuidadosamente controlados de forma a que a água sofra calefação e um precipitado seco granular seja produzido. A passagem através de um filtro-manga remove tanto as cinzas quanto o enxofre muito eficientemente. A lavagem freqüentemente resulta na transformação de um problema de poluição atmosférica em um problema de disposição de resíduos sólidos. Uma usina grande pode produzir milhões de toneladas de escória de enxofre, gipsita e outros produtos por ano. Processo de Recuperação do Enxofre Ao invés de produzir substâncias que se tornam um problema de disposição de resíduos, o enxofre pode ser removido dos gases efluentes por processos que fornecem um produto utilizável, com o enxofre elementar, ácido sulfúrico ou sulfato de amônio. Conversores catalíticos são usados nestes processos de recuperação para oxidar ou reduzir o enxofre e para criar compostos químicos que pode ser coletados e vendidos. Controle dos Óxidos de Nitrogênio Quase toda a poluição atmosférica devida aos óxidos de nitrogênio (NOx) resulta dos processos de combustão. Eles são produzidos pela oxidação do nitrogênio presente nos combustíveis, pela reação entre o oxigênio e o nitrogênio presentes no ar de combustão a temperaturas acima de 1.600 K e pela reação do nitrogênio presente no gás de combustão com hidrocarbonetos radicais. As tecnologias de controle dos NOx são agrupadas em duas categorias: aquelas que previnem a formação dos NOx durante o processo de combustão e aquelas que convertem os NOx formados durante a combustão em nitrogênio e oxigênio. Prevenção Os processos nesta categoria empregam o fato de que a redução da temperatura do topo da chama na zona de combustão reduz a formação dos NOx. Nove alternativas foram desenvolvidas para reduzir a temperatura da chama: (1) minimização das temperaturas de operação, (2) troca do combustível, (3) pouco excesso de ar, (4) reciclo do gás de combustão, (5) combustão pobre, (6) combustão em etapas, (7) queimadores de NOx, (8) combustão secundária e (9) injeção de água/vapor. Pós-combustão Três processos podem ser usados para converter os NOx em gás nitrogênio: a redução catalítica seletiva (RCS), a redução não-catalítica seletiva (RNCS) e a redução catalítica não-seletiva (RCNS). O processo de RCS usa um leito catalítico (normalmente com uma base de vanádio-titânio ou platina e uma zeólita) e amônia anidra (NH3 ). Após o processo de combustão, a amônia é injetada antes do leito catalítico. Os NOx reagem com a amônia no leito catalítico formando N2 e água. No processo RNCS, amônia ou uréia são injetadas no gás de combustão a uma temperatura de 870 a 1.090°C. A uréia é convertida em amônia, a qual reduz os NOx a N2 e água. A RCNS usa um catalisador de três vias similar ao usado nas aplicações automotivas. Além do controle dos NOx, os hidrocarbonetos e o monóxido de carbono são convertidos a CO2 e água. Estes sistemas requerem um agente redutor similar ao CO e hidrocarbonetos antes do catalisador. 56 UERJ — Campus Regional de Resende FEN07-02162/2 — Introdução à Engenharia Ambiental Prof. Eduardo Bessa Azevedo Bibliografia • Mota, S. Introdução à Engenharia Ambiental. 1ª edição. ABES/ABEAS. Rio de Janeiro, 1997. • Cunningham, W.P., Saigo, B.W. Environmental Science: A Global Concern. 4th Edition. WCB — Wm. C. Brown Publishers. Dubuque, 1997. • Davis, M.L., Cornwell, D.A. Introduction to Environmental Engineering. 3ª edição. WCB McGraw-Hill. Nova Iorque, 1998. • Rouqueirol, M.Z. Epidemiologia & Saúde. 4ª edição. MEDSI. Rio de Janeiro, 1994. • Derísio, J.C. Introdução ao Controle de Poluição Ambiental. CETESB. São Paulo, 1992. • Henry & Heinke. Environmental Science and Engineering. Prentice Hall Inc. New Jersey, 1989. 57