Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso
LAZER, CULTURA E SATISFAÇÃO
COM A VIDA DE PESSOAS IDOSAS
Autor: Ana Paula Carlos de Souza
Orientador: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros
Brasília - DF
2014
ANA PAULA CARLOS DE SOUZA
LAZER, CULTURA E SATISFAÇÃO
COM A VIDA DE PESSOAS IDOSAS
Monografia apresentada ao curso de graduação
em Psicologia da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para obtenção
do titulo de Bacharel em Psicologia.
Orientador: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros
Brasília
2014
Monografia de autoria de Ana Paula Carlos de Souza, intitulada “LAZER, CULTURA
E SATISFAÇÃO COM A VIDA DE PESSOAS IDOSAS”, apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia da Universidade Católica de
Brasília, em ________ de _______________ de ___________, defendida e aprovada pela
banca examinadora abaixo assinada:
_________________________________________________________
Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros
Orientador
UCB
_________________________________________________________
Prof.
_________________________________________________________
Prof.
Brasília
2014
Esse caminho do aprender não tem fim. O que
tem fim é o nosso caminho de vida, mas o
caminho do aprender não tem fim. (M2)
Tem jovem que é véio, e tem véio que é
jovem. (M1)
O envelhecimento é do corpo, mas o espírito
continua a crescer. (M3)
O planeta é um grande cérebro orientado por
uma grande mente. (H1)
RESUMO
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, ou seja, está ocorrendo em todas as
partes do mundo em diversos níveis de desenvolvimento. A interação de idosos em atividades
de lazer e participação social na comunidade tem apresentado resultados favoráveis à sua
saúde e a sua qualidade de vida. Neste sentido, o objetivo deste estudo é compreender a
percepção da relação entre satisfação com a vida e atividades de lazer e cultura em pessoas
idosas. A pesquisa teve caráter qualitativo, sendo os dados coletados por meio da entrevista
semiestruturada aplicada a 4 participantes: 3 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, com
faixa etária acima de 60 anos. Além da entrevista, foi aplicada a Escala de Satisfação com a
Vida. A metodologia utilizada para análise dos dados foi a Análise de Temática de Conteúdo
de Bardin. Foram identificados os seguintes temas: Atividade Física e Satisfação, Lazer,
Interação social e familiar, Participação social, Trocas, Identidade Cultural e Satisfação e
Repercussão das atividades na vida do sujeito – percepção na Satisfação. Os resultados
indicam que: a atividade física contribui para a socialização dos idosos e favorece a saúde
física, mental. As atividades de lazer proporcionam novos relacionamentos sociais, ampliação
da rede através da interação, das trocas, favorece a autoestima e proporciona senso de
identidade cultural, repercute de forma positiva às relações familiares e sociais. Os idosos
avaliam que as atividades de lazer cultural contribuem em geral para sua satisfação com
vida. Conclui-se que o lazer é, para a pessoa idosa, possibilidade de interação, participação
social, identidade, significação e autonomia.
Palavras-Chave: Envelhecimento, Lazer Cultural, Satisfação com a vida.
ABSTRACT
Population aging is a global phenomenon, in other words, it has been happening in all parts of
the world at different levels of development. Elderly interaction in leisure activities and social
participation in the community has shown favorable results for their health and their quality of
life. Therefore, the objective of this study is to understand the perception of the relation
between life satisfaction and cultural leisure activities in older people. The research used a
qualitative approach, the data was collected through semi-structured interviews applied to 4
participants: 3 females and 1 male, aged over 60 years. Besides the interviews, was applied
the Satisfaction Life Scale. The methodology used for data analysis was Analysis of Thematic
Content by Bardin. The identified thematic was grouped in three section: The first, Physical
Activity and Satisfaction, second, Leisure, social and family interaction, participation and
social exchanges, Cultural identity, the third, Satisfaction and Impact of activities in elderly
life- perception in satisfaction. The results indicate that: physical activity contributes to
elderly socialization, promotes physical and mental health. Leisure activities provide new
social relationships, enhance network through exchanges interaction, promotes self-esteem
and provides a sense of cultural identity, have a positively effects to family and social
relationships. Elderly evaluate that cultural leisure activity, in generally, helps to their life
satisfaction. It was concluded that leisure is, for the elder, a possibility of interaction, social
participation, identity, signification and autonomy.
Keywords: Aging, Cultural leisure, Life satisfaction.
SUMÁRIO
JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................... 6
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7
1.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................. 7
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................... 7
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA : ENVELHECIMENTO E SATISFAÇÃO COM A
VIDA E ATIVIDADES DE LAZER E CULTURA .............................................................. 9
2.1 ENVELHECIMENTO.......................................................................................................... 9
2.2 QUALIDADE DE VIDA E PERCEPÇÃO DA SATISFAÇÃO NO
ENVELHECIMENTO ATIVO ................................................................................................ 11
2.3 AUTONOMIA, ENVELHECIMENTO ATIVO E OPORTUNIDADES CULTURAIS .. 13
2.4 ATIVIDADE FÍSICA......................................................................................................... 15
2.5 LAZER E CULTURA ........................................................................................................ 16
3. METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................................... 20
3.1 PARTICIPANTES ............................................................................................................. 20
3.2 INSTRUMENTOS ............................................................................................................. 20
3.3 CUIDADOS ÉTICOS ........................................................................................................ 20
3.4 RISCOS E BENEFÍCIOS ................................................................................................... 21
3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS .............................................................. 21
3.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ............................................................. 21
4. RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ................................................... 23
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 40
6. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 48
ANEXOS ................................................................................................................................. 54
ANEXO A - CRONOGRAMA .............................................................................................. 54
ANEXO B - TCLE .................................................................................................................. 55
ANEXO C - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA INVESTIGAÇÃO DAS
ATIVIDADES DE LAZER E SATISFAÇÃO COM A VIDA. .......................................... 56
ANEXO D – (SWLS) ESCALA DE SATISFAÇÃO COM A VIDA.................................. 57
ANEXO E – CEP- PARECER CONSUBSTANCIADO ..................................................... 58
6
JUSTIFICATIVA
Meu interesse pela velhice tem uma trajetória pessoal na maneira como ocupo uma
parte do meu tempo livre de lazer e no decorrer da formação acadêmica. Em 1999, fazia
visitas voluntárias ao Lar dos Vicentinos, em Rio Branco, no Acre. Nos fins de semana ia
sentar-me ao lado deles e ouvir suas histórias e estórias. Esse era o meu prazer. Em 2001, nos
Estados Unidos, me juntei a um grupo de senhoras que reformavam roupas usadas para
arrecadar fundos à comunidade de baixa renda. Era uma diversão, um lazer muito
significativo para elas e com esse trabalho voluntário se sentiam importantes, úteis.
Academicamente,
o
interesse
pelo
tema
surgiu
durante
a
disciplina
de
Desenvolvimento II, ministrada pela professora Carmem Cárdenas. Ao longo da disciplina,
pude compreender melhor que a velhice não era a última etapa da vida, e sim mais uma delas.
O envelhecimento é um processo gradual e único, de valor significativamente subjetivo, com
variações de natureza biológica, psicológica e social.
No sexto semestre de curso, em 2011, no âmbito da disciplina de Estágio Básico I,
ministrada pela professora Gleicimar Cunha, percebi que poderia aprofundar os estudos nessa
questão do envelhecimento. A parte prática da disciplina foi uma breve pesquisa sobre idosos
institucionalizados, na qual foi abordada como os idosos percebem o processo de
envelhecimento, a partir dos significados que atribuem a essa fase.
A disciplina de Estágio Básico II, com ênfase no processo de envelhecimento, foi
ministrada pela professora Ana Beatriz Rocha. O estágio foi realizado na Escola de Avós, um
programa promovido pela Subsecretaria de Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Saúde.
As atividades promovidas são oficinas de promoção à saúde e ao bem-estar do idoso.
Assim, visto o atual cenário mundial em que a proporção da população idosa está mais
evidente, e a prática de atividades de lazer tem sido pronunciada por estar relacionada aos
benefícios associados à qualidade de vida do idoso. O estudo deste modo de interação
justifica-se de forma que as políticas em favor dessa população possam afinar-se aos
interesses subjetivos de cada um.
Dessa forma, durante minha trajetória, ainda que curta, reconheci a necessidade de um
olhar diferenciado sobre o idoso, não como algo à parte, mas em plenitude, pois cada idade
tem seu contributo, suas conquistas.
7
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como fundamento a consideração da satisfação com a vida por
parte de pessoas idosas que executam atividades culturais e de lazer. Busca compreender a
percepção que a pessoa tem entre suas atividades de lazer e sobre sua satisfação com a vida.
A interação de idosos em atividades de lazer e participação social na comunidade tem
apresentado resultados favoráveis à sua saúde e a sua qualidade de vida. Os benefícios
associados às atividades incluem o senso de autonomia pessoal, a identidade social que
favorece o significado atribuído pelo idoso à vida comunitária e a recuperação da autoestima.
Contribui também para mitigação da segregação social, favorece a saúde e física e
psicológica.
De acordo com Neri (2004), a proporção de pessoas idosas socialmente ativas,
saudáveis, que executam atividades de lazer em lugar de uma população idosa anteriormente
adoecida, inativa, incapacitada, é fruto do avanço social ocorrido em diversos países.
Dessa forma, identificou-se a necessidade de fomentar uma pesquisa acadêmica sobre
a participação, inclusão e o valor atribuído as atividades de lazer, para a qualidade de vida
dessa população assim nessa primeira seção apresenta-se os objetivos do projeto.
1.1 OBJETIVO
O objetivo deste estudo é compreender a percepção da relação entre satisfação com a
vida e atividades de lazer e cultura em pessoas idosas.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Conhecer as atividades culturais e de lazer das pessoas idosas;
•
Compreender e avaliar a significação que a pessoa atribui ao lazer, à cultura e às
trocas sociais em sua relação com a satisfação e a qualidade de vida;
•
Contribuir para a elaboração de políticas públicas de lazer e cultura no Distrito
Federal.
8
Na segunda seção, serão fundamentados os conceitos necessários para o estudo das
análises realizadas. Será visto o envelhecimento populacional, conforme a perspectiva de
Veloz, Schulze e Camargo (1999), Neri (2001), Faleiros (2013). As causas, a proporção
mundial, a qualidade de vida, condições de trabalho, permeiam este tópico a fim de
compreender a natureza heterogênea e o olhar multidimensionado ao Envelhecimento.
Em seguida, em consonância com Araújo (2001), Rolim (2009), Giacomoni (2004)
entre outros, serão detalhados outros conceitos importantes ao tema Envelhecimento,
focalizando a qualidade de vida, percepção e satisfação do envelhecimento ativo. Existem três
aspectos do envelhecimento que são consensuais.
O primeiro diz respeito a um fenômeno considerado universal onde há diminuição
gradativa das capacidades a que o indivíduo tem em se adaptar. O segundo fala sobre as
alterações características do processo de envelhecimento e o último às perdas físicas e
cognitivas significativas. Não é possível avaliar ou compreender os valores atribuídos aos
eventos da vida sem que estes possam perpassar pelo próprio indivíduo, ou seja, é preciso
sondar a experiência individual/social da vida, em que própria pessoa é seu avaliador,
portanto de cunho subjetivo.
Na subseção de autonomia, envelhecimento ativo e oportunidades culturais, objetos
deste estudo em foco, será feita a exposição pontual do envelhecimento ativo, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS). O conceito de envelhecimento ativo é um orientador
que ajuda a pessoa idosa a identificar suas potencialidades, a se perceber em seu processo de
envelhecimento, e assim a adquirir melhor saúde física, mental e psicológica no curso da vida.
Concomitante a este conceito, as principais formas de desenvolver o envelhecimento
ativo é pela Atividade física, observada por Rolim e Forti (2013), Todaro e Filho (2009),
Mazo et al. (2001), atentando para sua importância na vida do idoso. Outra forma vista será o
lazer e a cultura, percebidos por vários autores (WANG, KARP, WINBLAD, &
FRATIGLIONI, 2002) Dumazedier (1976), Mascarenhas (2006) Marcellino (1996), entre
outros, como fator de desenvolvimento ativo primordial.
Finalizada a resenha teórica, serão abordados na metodologia de pesquisa o tipo de
pesquisa, os participantes, os instrumentos utilizados, os riscos e benefícios, os procedimentos
de coleta e análise de dados. Por conseguinte, os dados do objeto de pesquisa serão expostos e
analisados para as devidas conclusões.
9
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: ENVELHECIMENTO E SATISFAÇÃO COM A
VIDA E ATIVIDADES DE LAZER E CULTURA
Este capítulo é consagrado à discussão dos conceitos de envelhecimento apresentados
por teóricos e estudiosos do envelhecimento em âmbito nacional, internacional e às políticas
relativas ao tema. Será feita a relação do processo de envelhecimento com os conceitos de
qualidade de vida, percepção, satisfação, envelhecimento ativo, autonomia, atividade física,
cultura e lazer.
2.1 ENVELHECIMENTO
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, ou seja, está ocorrendo em
todas as partes do mundo em diversos níveis de desenvolvimento. Segundo dados do relatório
Envelhecimento no Século XXI: Celebração e Desafio de 2012, do Fundo de População das
Nações Unidas e pela Help Age International – UNFPA, o envelhecimento da população é
uma das tendências do século XXI. Estima-se que por volta de 2050 mais de 64 países terão
30% de sua população idosa (UNFPA, 2012).
A proporção de população de idosos tem aumentado muito mais rápido do que as
outras parcelas da população. Conforme o Guia Global Cidade Amiga do Idoso pela
Organização Mundial da Saúde (2008), o envelhecimento populacional é uma das maiores
conquistas da atualidade.
Com relação ao Brasil, em um levantamento sobre as recentes pesquisas com idosos,
foi verificado, de acordo com o Projeto Política de Saúde (OMS, 2005), que por volta de
2025, o Brasil será o sexto país do mundo com maior número de pessoas idosas.
O idoso deve ser visto de forma privilegiada. Autoras como Veloz, Schulze e Camargo
(1999) afirmam esse privilégio, principalmente quando se trata de uma sociedade em
constantes mudanças sociodemográficas, caracterizada pelo crescimento populacional e pelos
valores atribuídos ao desempenho econômico.
10
De acordo com Faleiros (2014), as mudanças na condição de trabalho da mulher, o
modelo atual do mercado de trabalho e a queda na fecundidade têm repercutido nas
transformações familiares, ocasionando novos arranjos em sua estrutura.
De acordo com os dados previstos no Plano de Ação Internacional para o
Envelhecimento (2012), o percentual de pessoas de 60 e acima de 60 anos em todo o mundo
será duplicado entre o ano de 2000 e 2050, e assim passará de 10% para 21% da população.
A idade cronológica de 60 anos é notada como um marco de referência para
organização de ideias e políticas, embora isto se diferencie conforme a sociedade e a
população de cada país, tomando - se por base a expectativa média de vida da sociedade em
que vive.
A longevidade é fruto do desenvolvimento e é reflexo da menor taxa de crescimento
populacional em conjunto com menores taxas de natalidade e de fecundidade. Trata – se de
um conjunto de questões que podem ser atribuídas à qualidade de vida da população. Segundo
Faleiros (2014), a dinâmica social do envelhecimento inserida no contexto de mudança é
inerente à sociedade, não é linear, mas conflituosa nas relações de poder, de cultura e de
grupos.
A expectativa de vida tem aumentado e, de acordo com o relatório da UNFPA (2012),
um conjunto de fatores nutricionais, de atividades relacionadas ao lazer, sanitários, avanços na
área da medicina e na saúde do idoso tem contribuído para esse resultado.
O envelhecimento, numa perspectiva de curso de vida, é um processo que começa
desde o momento da concepção e só termina com a morte. Meirelles (2000) ressalta a
redução da taxa de mortalidade e a diminuição da taxa de fecundidade. O Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) afirma que a baixa taxa de fecundidade a partir dos
anos 1970 influenciou o perfil etário da população de idosos e têm relação significativa com a
estrutura etária da humanidade atualmente.
Quando se trata do conceito de envelhecimento humano a partir de uma perspectiva
biológica, não se encontram tantas definições. No entanto, Neri (2001) define o
envelhecimento como um processo que, visto deste ponto de vista biológico, o organismo
passa depois da maturidade biológica sexual, favorecendo a diminuição gradual das chances
de sobrevivência.
A autora aborda ainda que o conceito de velhice seja por vezes confundido com os
conceitos de velho e idoso. Entretanto, a velhice é vista como parte dos processos de
11
envelhecimento. “É a última fase do ciclo vital [...] é delimitada por eventos de natureza
múltipla, incluindo, por exemplo, perdas psicomotoras, afastamento social, restrição em
papéis sociais e especialização” (NERI, 2001, p. 69). Então, o envelhecimento é visto numa
perspectiva biopsicossocial, ou seja, em seu nível social, cultural, psicológico, biológico entre
outros.
O envelhecimento é definido por Baltes também como um processo multidimensional
(BALTES, 1990 apud NERI, 2006). Assim, esse período não pode ser simplesmente definido
e determinado por apenas uma de suas dimensões, uma vez que existem inúmeros fatores que
o influenciam esse processo. Como afirma Faleiros (2014), esse processamento aponta para
cinco dimensões: a transição demográfica; a transição do trabalho até a aposentadoria; a
transição jurídico – política; a transição na saúde e na educação e; por fim, a transição da
família quanto ao envelhecimento.
Tal como afirma Neri (2001), por sua natureza heterogênea, o envelhecimento requer
um olhar multidimensionado considerado político, psicológico, social, cultural, econômico e
demográfico.
2.2 QUALIDADE DE VIDA E PERCEPÇÃO DA SATISFAÇÃO NO
ENVELHECIMENTO ATIVO
O Grupo de qualidade de vida da OMS - Organização Mundial de Saúde acorda,
conforme a teoria exposta acima, que qualidade de vida tem várias dimensões, passando pela
trajetória e percepção subjetiva sobre a vida até as questões objetivas e culturais de cada
indivíduo.
Para a Organização Mundial de Saúde, estudada por Araújo (2001), a velhice é um
processo prolongado em um dos períodos do ciclo de vida de uma pessoa e que tal processo é
apresentado por perdas tanto fisiomorfológicas como sociais e psicológicas inerentes ao
Homem. Além disso, é visto de forma complexa, por ser tratado em níveis variados.
A literatura destaca que podem coexistir muitos conceitos e definições a respeito do
envelhecimento. No entanto, Rolim (2013) considera que existem três aspectos do
envelhecimento que são consensuais. O primeiro diz respeito a um fenômeno considerado
universal, no qual há diminuição gradativa das capacidades a que o indivíduo tem em se
12
adaptar. O segundo ponto converge em alterações características do processo de
envelhecimento e o último às perdas físicas e cognitivas significativas.
Avaliar a qualidade de vida do idoso tem sido uma tarefa que demanda bastante
investigação por estar associada a múltiplas variáveis e a características em sua definição. De
acordo com Neri (1999), alguns critérios como longevidade, eficácia cognitiva, satisfação,
saúde biológica entre outros, são algumas das multidimensões do envelhecimento, tidos como
parte dos indicadores da qualidade de vida. Ainda segundo a autora, os indicadores acima
citados estão associados ao bem-estar subjetivo e à “felicidade” (DIENER, 1984 apud NERI
1999).
Por se tratar de um conceito múltiplo, não há uma única e simples definição sobre o
bem-estar subjetivo. Portanto, para este estudo será utilizado o conceito a partir das definições
de Diener (1984), apresentado por Neri (1999), no qual busca compreender como as pessoas
avaliam sua vida e como experienciam positivamente os acontecimentos da vida.
Essas avaliações devem incluir prioritariamente dois componentes: os cognitivos, que
consistem na satisfação geral com os aspectos da vida e; os componentes afetivos, abarcando
as vivências de afeto positivo, ou felicidade, e as vivências de afeto negativo.
Campbell, Converse e Rodgers, (1976 apud GIACOMONI 2004), afirmam que
indicadores objetivos ou variáveis demográficas como sexo, idade, renda, raça, educação e
condição civil não devem ser consideradas como variáveis de maior peso para definir o bemestar subjetivo. Elas contam com menos que vinte por cento (20%) da variância do bem-estar.
No entanto, essa afirmação não deve ser generalizada. O próprio termo bem-estar subjetivo
define-se por si só, ou seja, a avaliação é subjetiva.
Assim essas avaliações só podem partir do próprio indivíduo social. Não é possível
avaliar ou compreender os valores atribuídos aos eventos da vida sem que estes possam
perpassar pelo próprio indivíduo, ou seja, por uma experiência individual/social da vida, em
que a própria pessoa é seu avaliador, portanto subjetiva.
Ainda nessa perspectiva em que a compreensão de bem-estar e lazer perpassa pelo
olhar de quem a percebe, Merleau-Ponty no livro “Fenomenologia da Percepção”,
(1945/1994), apresenta o conceito de percepção que difere dos conceitos da ciência
positivista, onde a percepção é desvinculada da sensação, quando a define apenas no sentido
de signo e significado.
13
A percepção segundo Nóbrega (2008 apud MERLEAU-PONTY, 1945) é o apreender
dos sentidos atravessado pelo corpo como expressão criadora de sentidos sobre o mundo e
sobre si. Por isso, a opinião do idoso é fundamental para a construção de conhecimentos capaz
de reunir as características e concepções a respeito do que o idoso considera como sendo
importante ou como percebe como fundamental para sua vida.
A seguir, enumeramos as atividades que serão objeto deste estudo, por serem
articuladas à relação corpo/mente de forma multidimensional.
2.3 AUTONOMIA, ENVELHECIMENTO ATIVO E OPORTUNIDADES CULTURAIS
A questão da qualidade de vida está articulada à relação entre autonomia e cidadania,
para que se fortaleça a autonomia relacional no processo de efetivação da cidadania (Faleiros,
2013).
O envelhecimento populacional se inscreve num cenário universal, e com isso urge a
preocupação: o que fazer para que essa população consiga, dentro de suas possibilidades e
características próprias, decorrentes do processo de envelhecimento, manter-se minimamente
emancipada no cotidiano?
Autonomia é uma das chaves para emancipação e é entendida de acordo com as
definições da OMS (2005), como a liberdade de tomar decisões e lidar com suas habilidades e
de acordo com suas próprias regras e preferências. Para tanto, se faz necessário que a pessoa
idosa diminua sua dependência quanto à mobilidade e ao cuidado pelo outro. Segundo ainda a
OMS, essas medidas são benefício de interesse tanto para o idoso quanto para a economia, ao
se promover programas e políticas que estimulem a saúde física e a autonomia da pessoa
idosa.
Sendo assim, a OMS (2008) lançou a iniciativa - Guia Global da Cidade Amiga do
Idoso - fundamentada a partir do conceito de envelhecimento ativo. Nas palavras da OMS
(2005, p.10), “Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde,
participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as
pessoas ficam mais velhas”. Tal processo deve também ser reconhecido como único para cada
indivíduo, ser considerado parte integrante e fundamental da subjetividade, ser suscetível a
modificações do processo natural de envelhecimento e também às mudanças de concepções.
14
Envelhecimento ativo é parte de uma proposta do Programa do Ministério da Saúde e
dos Direitos Humanos - “Brasil Saudável”, criado a fim de desenvolver políticas públicas de
saúde e modos saudáveis de vivenciar o envelhecimento para melhor qualidade de vida do
idoso.
A proposta foi criada pela Unidade de Envelhecimento e Curso de Vida da
Organização Mundial de Saúde (OMS) para Segunda Assembléia Mundial das Nações Unidas
sobre Envelhecimento realizada em abril de 2002, em Madri, Espanha, como linhas de ações
comuns para países em desenvolvimento. Trata – se de um documento elaborado para orientar
medidas normativas do envelhecimento e as novas configurações do século XXI envolvendo
essa temática.
O conceito de envelhecimento ativo é um orientador que ajuda a pessoa idosa a
identificar suas potencialidades, a se perceber em seu processo de envelhecimento, portanto,
adquirir melhor saúde física, mental e psicológica no curso da vida, e dessa forma alcançar
melhor participação ativa na sociedade. Perceber - se no processo diz respeito ao olhar que o
idoso faz de sua própria saúde física mental, espiritual, social e no que ele elege como sendo
qualidade de vida.
Para a OMS (2005), o envelhecimento deve acontecer de forma que o idoso tenha uma
participação atuante, ativa. Nesse sentido, uma participação ativa refere-se à afiliação da
pessoa idosa na construção de ideias e de questões sociais, econômicas, civis, de segurança
entre outros. É necessário ter essa perspectiva tanto de forma isolada como conjunta, e não
apenas como ativo fisicamente.
O envelhecimento ativo decorre de um conjunto de determinantes, que de acordo com
as diretrizes do Guia Global Cidade Amiga do Idoso da OMS (2008), são fundamentais, para
que uma cidade seja amigável à pessoa idosa. Entre eles, os predominantes são: determinantes
econômicos, sociais, no ambiente físico, nos serviços sociais e de saúde, de gênero e de
cultura.
Panoramicamente o “Guia” propõe: Mobilizar as cidades para que se tornem
amigáveis à convivência participativa, seja em trabalhos voluntários ou remunerados;
Proporcionar - lhes capacitação para fazer parte das tomadas de decisão do idoso na
sociedade; Promover a construção de ambientes físicos mais seguros que permitam o idoso
sair de casa com confiança para fazer atividades de lazer e cultura, e que se traduza em
segurança contra quedas e lesões; Garantir o desenvolvimento social favorável, a fim de
15
promover a inclusão social do idoso; Proporcionar condições de saúde em melhor qualidade;
Promover a cultura; Garantir independência e autonomia; Diminuir a vulnerabilidade nessa
fase de vida; Promover a diversidade, principal aliada na manutenção funcional do idoso,
entre outros.
A abordagem do envelhecimento ativo “baseia-se no reconhecimento dos direitos
humanos das pessoas idosas e nos princípios de independência, dignidade, assistência,
participação, e auto-realização”, estabelecidos pela Organização Pan - americana de Saúde,
(2005, p. 14). Uma das principais formas de desenvolver o envelhecimento ativo é pela
prática da atividade física.
2.4 ATIVIDADE FÍSICA
Quando se discorre a respeito da qualidade vida, a atividade física aparece como uma
das principais questões. A literatura gerontológica elucida a diferença entre atividade física e
exercício físico, sem, no entanto qualificá-las como melhor ou pior.
De acordo com Mazo et al. (2001), atividade física refere-se à atividade biológica do
sistema muscular esquelético voluntário que produz gasto energético para além dos níveis
considerados de repouso. O exercício físico por sua vez, afirma o mesmo autor, são
movimentos programados e sistematizados com movimentos de repetição que visa o
desenvolvimento de aptidões físicas.
A prática regular de atividade física provoca o
retardamento de possíveis declínios fisiológicos relacionados ao processo natural de
envelhecimento na saúde do idoso. A OMS (2005), afirma que frequentes atividades físicas
favorecem a diminuição da dependência de outras pessoas no cuidado que ele tem consigo
mesmo.
As autoras Rolim e Forti (2013) discorrem sobre os benefícios associados à atividade
física na melhoria e manutenção da qualidade de vida, relacionada aos âmbitos fisiológicos,
psicológicos e sociais vistos a seguir.
Entre os ganhos físicos pode-se destacar o aumento da força muscular e o fluxo
sanguíneo para os músculos; maior flexibilidade e amplitude dos movimentos; redução no
percentual de gordura; melhora nos aspectos neurais; redução nos fatores causadores da queda
16
e da resistência a insulina; manutenção ou melhora da densidade corporal óssea,
consequentemente diminuindo o risco de osteoporose; melhora a postura.
No aspecto psicológico encontra-se a melhora da estética corporal, autoestima e
autoimagem; favorece a integração, a socialização e alguns aspectos cognitivos; diminui a
ansiedade e alguns casos de depressão. Integração, socialização e inserção em um grupo
coletivo são benefícios sociais associados à atividade física.
As atividades devem ser promovidas de forma segura, e lideradas pela própria pessoa
idosa. Esse tipo de entendimento vai ao encontro com a referida questão de que as atividades
e o que se endereça ao idoso perpassam pelo seu próprio olhar, por sua autopercepção. Assim
justificam-se a participação do idoso na sociedade e a tomada de decisão, pois a própria
pessoa sabe o melhor desejável para si.
Todaro e Filho (2013) destacam que entre os benefícios ao bem-estar, atribuídos à
prática da atividade física, estão a saúde física, social, cognitiva e afetiva. Para que o idoso
possa aderir a uma atividade física, os referidos estudiosos ponderam ainda a necessidade em
individualizar os programas dedicados à atividade física, isto é, aproximar esses idosos a
atividades que tenham mais afinidade, baseadas em suas vivências e culturas.
Outra dimensão fundamental do envelhecimento ativo é o lazer, inscrito de forma
complexa à atual vida urbana, onde vivem 84% das pessoas idosas.
2.5 LAZER E CULTURA
A atividade de lazer é observada como a profundidade do que se tem vontade de fazer
com o tempo que se dispõe o idoso. São aquelas atividades voltadas para o enriquecimento de
si, vinculadas à satisfação do fazer orientadas pela escolha daquele que a faz, ou seja, sua
liberdade de escolha.
O lazer tem ocupado lugar especial na promoção de um envelhecimento ativo na vida
dos idosos de todo o mundo. Embora seja reconhecido que, com o passar da idade, ocorrem
alguns declínios característicos do envelhecimento, há evidências de que atividades de lazer
provêm benefícios para a saúde dos idosos. Estas atividades incluem diminuição do risco de
demência e redução dos riscos de doenças cardiovasculares. Tais benefícios estão também
17
ligados às interações sociais e à estimulação intelectual do idoso (WANG, KARP,
WINBLAD, & FRATIGLIONI, 2002).
Os benefícios associados às atividades de lazer incluem ainda o senso de autonomia
pessoal, a identidade social, favorecendo o significado que o idoso atribui à vida comunitária,
a recuperação da autoestima, mitiga a segregação, favorece a saúde física e psicológica.
A interação de idosos em atividades de lazer e participação social na comunidade tem
apresentado resultados favoráveis à saúde psicológica e a sua qualidade de vida. Na medida
em que o idoso interage em atividades de lazer, ele se percebe como autor de seu bem-estar.
A atividade de lazer está associada à saúde e contribui para a qualidade de vida. Para o
sociólogo Dumazedier (1976), o lazer pode ser entendido como movimento ativo do tempo
dedicado a si mesmo. Segundo a Carta Internacional de Educação para o Lazer (1993), esses
momentos de distração promovem saúde e bem-estar, que propiciam prazer nas atividades que
uma pessoa elege para si.
A atenção ao idoso transpassa as necessidades biológicas inerentes a essa fase. Requer
envolvimento e participação em atividades que possam contribuir e promover acesso à
criatividade, à espiritualidade e à interação social; envolvimento em atividades
complementares de caráter diverso, como a arte e a cultura, para melhor vivência desse
processo.
Hendricks e Cutler (2003) asseguram que quanto maior for o envolvimento do idoso
em atividades de lazer maior será a expectativa de vida, pontos que melhoram o estado de
saúde e aprimoram a qualidade de vida.
O conceito de lazer proposto por Dumazedier (1976) refere-se ao universo de
atividades livremente adotadas pelo indivíduo. São práticas voluntárias, seja para diversão,
melhora ou criação de habilidades, desenvolvidas após desembaraçar-se de suas obrigações
profissionais, familiares e sociais.
As atividades desenvolvidas durante o “tempo livre”, intitulado pelo autor, podem
tanto ser em ambiente familiar - fazer tricô na varanda da casa ou na praça do bairro, visitar a
feira de verduras e artesanatos da comunidade, como individuais - estudar, ler entre outros.
Esse tempo livre está intimamente associado à percepção de satisfação com a qualidade de
vida.
18
Para Mascarenhas (2006) o lazer pode ser um grande aliado para uma nova forma de
organização social se este for, de fato, aliado à atividade lúdica, criativa, cultural e ambiental.
O lazer promove a heterogeneização cultural, na medida em que fortalece a
socialização da pessoa idosa com o meio e sua interação com os mais jovens, bem como
constrói sentimento de pertencimento e aceitação social.
Marcelino (1996) reforça que a educação para o lazer pode ainda ser um instrumento
para desmistificar a ideia ou conceito de lazer apresentado pelos meios de comunicação de
massa, que vincula o lazer às atividades com alto padrão econômico. A educação para o lazer
propõe que a criatividade deve ser uma grande aliada para pessoas com recurso
socioeconômico limitado. Para o autor, o lazer vai muito além de um pano de fundo
econômico, é uma questão de cidadania.
O lazer não é algo estático, ele acompanha historicamente a sociedade, observa
Mascarenhas (2003), ocupa espaços de acordo com cada momento sócio-histórico. Dessa
forma, ao considerarmos que os dados demográficos apontam para um crescente movimento
rumo ao envelhecimento, o lazer deve então, de certa forma, acompanhar as demandas dessa
nova configuração.
Para Mascarenhas (2000) é preciso haver atuação político-pedagógica nas questões
relacionadas ao lazer, consciente de tal forma que se comprometa e seja orientada ao exercício
da cidadania.
O lazer transpõe-se a simples tarefa de ocupar um tempo que não se sabe o que fazer
com ele. A prática de atividades de entretenimento proporciona senso de liberdade, de
vontade e afinidade com as coisas que lhes são interessantes para a vida. A participação de
idosos em atividades satisfatórias dá-lhes consciência de si, do que gosta e do que é bom para
eles.
Lazer proporciona ao idoso um senso de autonomia pessoal e identidade social que
favorece o significado que o idoso atribui à vida comunitária (VANDER PAS; KOOPMANBOYDEN, 2009).
Como mencionado anteriormente, vida comunitária é, para pessoa idosa, de grande
valia. Com a diminuição das demandas, das obrigações de trabalho formal e das mudanças na
configuração familiar, os idosos dispõem de maior quantidade de tempo e por vezes se
envolvem em uma variedade de atividades de lazer. O que leva a questão se essas atividades
19
dizem respeito ao seu próprio interesse ou se são, na maioria das vezes, a demandas
familiares, por não saberem o que fazer com uma pessoa idosa dentro de casa.
Estudiosos do envelhecimento sugerem que os indivíduos nos quais se percebem mais
capazes, mais ativos são mais propensos a escolher atividades sociais e de lazer mais
diversificadas, por proporcionar-lhes mais autonomia. Nesse sentido, Neri e Resende (2009)
discorrem que o senso de autonomia pressupõe autodeterminação no diz respeito à
independência, ainda que o idoso tenha necessidade de suporte para instrumentalizar suas
escolhas até mesmo para o exercício de atividades diárias.
Neri (2005) assevera que o senso de autonomia é um importante aliado para a
qualidade de vida do idoso. Devido à impossibilidade de mudar aspectos do meio físico, como
ruas e calçadas apropriadas, isto pode causar-lhes sentimento de fracasso, advindo do não
conseguir ser como era antes e ao atribuírem tais fracassos às dificuldades pessoais. Assim,
são assaltados por uma sensação de ineficácia, o que implica em observar como o idoso
percebe sua vida e dá sentido a ela.
O envelhecimento está, por vezes, associado a um menor desempenho físico, fazendo
com que muitas vezes, seja também associado ao descompromisso social. A participação
social e a percepção do idoso em assuntos relacionados à cidadania e aos seus direitos é
fundamental, além de proporcionar a ela identidade de pertencimento e menor
“marginalização”.
O lazer está articulado à cultura, enquanto contexto de significações que a sociedade
constrói para a integração social. É nesse sentido que ela está considerada neste texto.
Assim sendo, as multidimensões do envelhecimento e seus amplos conceitos na
literatura são temas ricos e ainda há muito que se estudar a respeito e contribuir com seu
processo.
20
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, fundada na percepção e nos
significados que os sujeitos atribuem à relação entre lazer, cultura e qualidade de vida.
Segundo Minayo (1993), a pesquisa qualitativa visa à compreensão de fenômenos
caracterizados por opiniões, valores pessoais, crenças, hábitos e atitudes. As entrevistas e o
questionário semi-estruturado são instrumentos utilizados para coleta de dados em pesquisa
(Roteiro de entrevista no anexo C).
3.1 PARTICIPANTES
Constitui - se de uma amostra de conveniência, composta por quatro (4) pessoas
idosas, sendo três (3) do sexo feminino e uma (1) do sexo masculino, residentes no Distrito
Federal e sem diagnóstico declarado de demência.
3.2 INSTRUMENTOS
Foi apresentado um roteiro de entrevista semiestruturada (Anexo C) com cinco
questões norteadoras, relacionadas à qualidade de vida e ao lazer – e a Escala de Satisfação
com a Vida (Satisfaction With Life Scale – SWLS) elaborada e validada por Diener,
Emmons, Larsen e Griffin (1985 apud NERI, 2001), tendo como objetivo avaliar o bem-estar
subjetivo, ou seja, de que modo as pessoas validam positivas ou negativas as experiências da
vida (SIMÕES, 1992).
3.3 CUIDADOS ÉTICOS
Foi apresentado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos
participantes que assinaram ao concordarem em participar da pesquisa. O TCLE (Anexo B)
foi impresso em duas vias, ficando uma com o participante e a outra com o pesquisador. As
entrevistas se realizaram após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Católica de Brasília, tendo em vista os preceitos éticos que determinam pesquisas com seres
humanos, conforme Anexo E.
21
3.4 RISCOS E BENEFÍCIOS
Os riscos da participação na pesquisa estão relacionados a dúvidas referentes às
questões do questionário de entrevista, como a vontade de desistir, na qual foi esclarecido
sobre a liberdade de desistir.
Os benefícios da pesquisam puderam ser constatados pela melhor compreensão a
respeito do processo de envelhecimento e da qualidade de vida relacionada às atividades de
lazer.
3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os idosos foram convidados a participar da entrevista, cujo tema abordado foi o lazer
e a satisfação com a vida. Cada entrevista teve em média sessenta (60) minutos de duração.
Foram realizadas quatro (4) entrevistas com cada pessoa separadamente, nas quais duas (2)
foram realizadas no Centro de Convivência para pessoa Idosa e as outras duas (2) na
residência dos participantes após contato inicial.
Os dados foram coletados de acordo com a Resolução CFP nº 016/2000 referente à
pesquisa em psicologia com seres humanos e da Resolução do CEP/CONEP/CNS/MS No
466/2012 que trata da divulgação dos dados recentes à pesquisa, do Código de Ética
Profissional do Psicólogo. Os dados foram reunidos, analisados coletivamente de maneira
sigilosa.
3.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS
A partir da revisão teórica, observou-se que o envelhecimento é um processo
multidimensional, que contempla aspectos da saúde física, mental, social, emocional e acima
de tudo, em caráter subjetivo, ou seja, de cada um em seu próprio processo. Sendo assim, a
análise de dados parte do princípio que cada autor percebe e avalia seu processo
individualmente para além das características comuns entre eles. Para tanto, foi utilizado o
método de Análise de Conteúdo de Bardin (1977), que proporciona melhor compreensão e
categorização dos relatos, seguindo suas respectivas etapas do referido método (pré-análise,
exploração do material e tratamento dos resultados). Foram exploradas as leituras
complementares em livros e bases de dados em meio eletrônico sobre o tema estudado e o
método utilizado.
22
Os recursos para a execução do projeto são:
a) Recursos humanos: ___
b) Recursos materiais:
TIPO
QUANTIDADE
Computador
1
Impressora
1
Toner
1
Papel sulfite
100
Caneta
1
Gravador
1
23
4. RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Em primeira instância, apresentamos o perfil do universo dos participantes, conforme
idade, estado civil, escolaridade, renda e moradia, sendo três mulheres, denominadas de M1,
M2, M3 e um Homem, denominado de H1.
Tabela 1: Perfil dos participantes
Sujeitos Idade
Estado
Civil
Religião
Escolaridade
Renda
Moradia
M1
93
Viúva com
filhos
Católica
Primário
2 salários
mínimos
Própria
M2
62
Casada
com filhos
Católica
Primário
1salário
mínimo
Alugada
M3
69
Solteira
Não
Superior
Acima de 2
salários
mínimos
Própria
familiar
H1
84
Viúvo com
filhos
Católico
Ensino Médio
Patente Militar
Acima de 6
salários
mínimos
A seguir apresentamos os resultados da Escala de Satisfação.
Própria
24
Resultados da Escala de Satisfação
Apresentamos a informação sobre a pontuação da escala.
Satisfaction With Life Scale (SWLS)
Encontra a seguir cinco afirmações com as quais pode concordar ou discordar.
Utilizando a escala de 1 a 7 abaixo indicada, refira o seu grau de acordo com cada item
colocando o número apropriado na linha que precede cada um deles. Procure ser
sincero nas respostas que vai dar. Eis a escala de 7 pontos:
1 – totalmente em desacordo
2 – em desacordo
3 – mais ou menos em desacordo
4 – nem de acordo nem em desacordo
5 – mais ou menos de acordo
6 – de acordo
7 – totalmente de acordo
1.
Em muitos aspectos, a minha vida aproxima-se dos meus ideais.
4 5 6 7
1 2 3
2.
As minhas condições de vida são excelentes.
4 5 6 7
1 2 3
3.
Estou satisfeito com a minha vida.
4 5 6 7
1 2 3
4.
Até agora, consegue obter aquilo que era importante na vida.
4 5 6 7
1 2 3
5.
Se pudesse viver a minha vida de novo, não alteraria praticamente
4 5 6 7
1 2 3
nada.
25
Tabela 2: Perfil dos participantes, conforme a escala de satisfação
Itens
1
Sujeito
Em muitos
aspectos, a
minha vida
aproxima-se
dos meus
ideais.
2
As minhas
condições
de vida são
excelentes.
3
4
5
Estou
satisfeito
com a
minha vida.
Até agora,
consegui
obter aquilo
que era
importante
na vida.
Se pudesse
viver a minha
vida de novo,
não a alteraria
praticamente.
M1
7
7
7
6
5
M2
7
5
5
5
1
M3
7
5
6
6
2
H1
7
7
5
7
2
A tabela 2 de “Satisfação com a Vida” foi analisada em duas perspectivas. No
primeiro momento, uma análise geral para todas as suas respostas e no segundo momento
cada afirmação foi analisada para cada sujeito. Todas as falas transcritas estão conforme o
original. Nem todos os participantes fizeram comentários ou observações a todas as questões
da Escala. Assim sendo, somente algumas falas pertinentes serão transcritas.
Percepção unânime:
De forma geral os participantes avaliam sua percepção de satisfação com a vida, no
momento atual em que se encontram, como sendo positiva, pois a resposta unânime foi a de
número (7), que afirma estar totalmente de acordo com a assertiva: “Em muitos aspectos
minha vida aproxima-se de meus ideais”.
A visão da satisfação, conforme os sujeitos:
Na entrevista, em relação ao tema “Em muitos aspectos, a minha vida aproxima-se dos
meus ideais”, M1 e H1 afirmam que estão totalmente satisfeitas, embora para M1 haja alguns
26
aspectos que não são satisfatórios, como a questão do acesso a algumas atividades de lazer
por conta do transporte e da segurança. As cidades não são tão amigas dos idosos conforme
propõe o Guia Global da Cidade Amiga do Idoso (2008).
M1 também assinala na questão no 2 que, de forma geral, “as suas condições de vida
são excelentes”, sendo assim, está totalmente de acordo com a afirmação. Já H1 está mais ou
menos de acordo, pois ainda há muito a ser realizado. Segundo M3, todavia, suas atividades
de lazer têm influenciado na sua satisfação com a vida, pois usufrui de saúde física, mental e
espiritual.
No que se refere à questão nº 3, M1 ressalta que: “Aqui influencia na minha saúde, a
gente faz tudo. Saúde física, mental, a gente conversa, brinca, não fica pensando naquilo fixo,
ou coisa ruim ou coisa boa. Estou muito satisfeita”.
Na questão de no 4, M1 já não mais afirma estar totalmente de acordo, mas “apenas de
acordo”, enquanto H1 afirma estar totalmente de acordo com o que conseguiu obter até agora,
ou seja, o mais importante na vida, que em sua opinião é a sua saúde, a faz satisfeita, Ela
consegue fazer suas atividades de lazer e suas atividades diárias, além de cuidar da filha,
diagnosticada com problemas psiquiátricos. M2, por sua vez, está mais ou menos satisfeita,
pois gostaria de ter conseguido fazer mais atividades, como por exemplo, ter estudado. M3
afirma que está “apenas de acordo”, pois no final das contas ela tem o que precisa para viver
diariamente e usufrui de saúde física e psicológica.
Em virtude de mudanças na configuração familiar, de baixa renda familiar e da
aposentadoria é comum ser atribuído aos idosos, o papel de cuidador dos netos. Esse papel é
por vezes motivo para alguns deles não se engajarem em atividades de lazer. No caso de M1,
no entanto, a vinda dos netos e o cuidado da filha não a impediu de fazer suas atividades de
lazer no CCI, que frequenta há 20 anos. Diz ela: “Quem pariu Mateus que o embale [...] hoje
eu quero sossego, sombra e água fresca”.
Os dados observados no quadro da Escala de Satisfação com a Vida possibilitam
sugerir que, de forma geral, fazendo um recorte das condições de vida atual, os participantes
consideram que sua vida é satisfatória. No entanto, há uma particularidade a ser observada e
delicadamente pontuada na última questão da Escala. Para todas as questões as respostas
variaram entre 5 e 7, mas quando se tratou da questão de número 7, que remete às
experiências vividas no passado, as respostam oscilaram entre 5 e 1.
27
Panoramicamente infere-se que, em comparação com o presente, a história de vida dos
participantes é percebida como satisfatória, seja por condições de trabalho, seja financeira ou
socialmente. O passado dos idosos foi marcado por maior desigualdade e menos
oportunidades. Apenas recentemente, no Brasil foram assegurados seus diretos a partir do
Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), no qual se asseguram direitos e busca combater a
violência. Todavia, o fato de estarem satisfeitos com sua condição atual, não implica em dizer
que eles não reclamem melhor atenção.
Algumas dessas vivências não satisfatórias podem ser observadas nas falas dos
participantes, tanto nas respostas à questão 7 quanto no decorrer da entrevista. O passado não
aparece florido:
Eu não tive infância, não tive juventude, daí casei fui cuidar de filho. Então pra quê
vou querer infância? Até aqui tá bom, tendo saúde. Pra voltar ninguém volta. Se
pudesse mudar aí eu mudaria, eu teria estudado, oportunidade, seria outra pessoa.
Pra voltar minha juventude, eu não tive. (M1).
O trabalho também foi duro, além da perda da falta da escola. “Antes eu trabalhava,
saía de casa às 5 da manhã, pra ir pro Plano, antes naquela época era engolir poeira e agora tá
melhor, tem asfalto tem ônibus. Quando eu trabalhava, eu não sabia que fazia falta por eu
trabalhava”, diz (M1). Acrescenta, sentindo-se aliviada com situação de viúva:
Não sei nem o que eu sou, eu fui solteira fui criança, moça, casada, viúva,
desquitada, o que é que eu sou? Casei... Graças a Deus já morreu o marido...
(risos)... graças a Deus já foi embora, mas tudo deve dizer graças a Deus... Então...
tá com 50 anos que ele já morreu...graças a Deus já foi! (M1)
“Todos me tratam como gente mesmo, porque antigamente, véio era jogado no lixo,
agora não, agora véi tá bom, e ai daquele que não tratar bem.” (M1).
O homem entrevistado também reclama do passado, e hoje ressignifica a velhice com
o fato de ser menos rígido, o que lhe e era imposto pela vida militar:
[...] eu passei por muitas coisas na vida que me prejudicaram, então tive muita
dificuldade em me relacionar, em falar, fui uma pessoa fechada, falei pra dentro, era
parado... Então pra eu realizar esse sonho tenho que me expor e eu não gosto, então
tenho que quebrar isso [...] Antes eu era muito rígido e ainda era militar [...] (H1)
Acrescenta H1: “Então lá no curso eu estou me saindo, aprendendo a representar às
vezes erro né, em outra época se eu errasse a cara caía no chão, mas agora não... Errei, errei tá
bom. Em outra época era [sic] vixi...”. (H1)
28
Também M2 fala da vida na roça e da mudança de atividades:
Eu sou da roça, e lá não tinha essas atividades, era só cozinhar cuidar de filhos e
ajudar o marido na roça, e aqui não, a gente escolhe a atividade mais fácil pra gente
fazer, igual à história de papagaia velho aprende a falar, pois é como eu [...] Sou
uma papagaia velha querendo aprender. (M2)
As entrevistas conforme as temáticas
Além da aplicação da Escala e de seus comentários, foi feita uma entrevista com cada
um dos participantes, para aprofundar a percepção da relação das atividades físicas e de
lazer/cultura com a questão da qualidade de vida.
Para interpretação dos dados obtidos por meio dos relatos dos participantes foi feita
uma exploração e leitura flutuante das falas transcritas, conforme proposta pelo método de
Análise de Conteúdo de Bardin (1977). Após essa etapa, foi possível identificar os temas que
mais surgiram nas falas dos participantes. Os temas foram agregados em três unidades.
O primeiro tema aborda a relação das atividades físicas de lazer e a satisfação com a
vida. O segundo tema compreende a relação das atividades de lazer com a interação, com a
participação a partir do valor e da importância atribuída a essas interações, com a identidade
decorrente dessas trocas, e com a cidade. O último tema aborda a repercussão das atividades
físicas e de lazer na sua qualidade de vida a partir do olhar dos participantes.
Atividade Física e Satisfação
As atividades físicas são para os idosos um lazer. Para Rolim e Forti (2013), a
atividade física é uma aliada importante na qualidade de vida do idoso por auxiliar no
desempenho de seus afazeres diários e pessoais.
Estas práticas de lazer provêm benefícios para a saúde dos idosos, incluindo
diminuição do risco de demência por estimulação cognitiva e redução dos riscos de doenças
cardiovasculares ligadas ao sedentarismo.
A prática dessas atividades ajuda na independência do idoso por um tempo prolongado
e retarda o aparecimento de doenças que podem surgir nesse período da vida, além de
promover a socialização.
29
A atribuição de importância às atividades pode ser notada nas falas de H1 quando, aos
84 anos de idade, atribui à atividade física a melhora e manutenção da saúde.
Antes eu fazia os exercícios e os ossos ficavam trac-trac... vi as amarelinhas e
pensei em fazer um pouco de musculação para dar mais espaço entre os ossos e
parar os trac-trac... E realmente parou depois de fazer esses alongamentos e
exercícios, o músculo ficou mais firme, porque a tendência com a idade é a gente é
ficar mais murcho e os ossos começam a brigar um com outro... Veja o que faço...”.
[E mostrou como faz os movimentos de yoga ficando num pé só, mostrando firmeza
muscular e equilíbrio.] [...]melhorou a circulação do sangue, respiro melhor [...].
Para a M2, de 62 anos de idade, a prática da atividade física a ajudou, não apenas na
saúde física, mas também a sair de casa e a investir na vida social, além dos benefícios para
sua saúde mental e física.
Antes eu limpava a casa e dava um sono, dormia um sono e ficava cansada, sentia
dor nas juntas, dor no ombro... Agora a cabeça melhorou, porque antes quando a
gente não fazia atividades ficava parada pensando nas coisas da vida... Agora o
tempo passa mais rápido, melhorou as dores, caminho melhor. (M2)
E acrescenta que: “... faz bem pra saúde mental”.
A entrevistada M1, de 93 anos de idade, faz Capoterapia em um Centro de
Convivência do Idoso. Tal atividade física/exercício é uma variedade de capoeira tradicional e
música, e tem se mostrado de grande valia para o condicionamento físico da pessoa em
processo de envelhecimento. Esse trabalho colabora com a OMS, quando afirma que
beneficia tanto o idoso quanto interesses e benefícios econômicos, ao promover programas e
políticas que estimulem a saúde física e a autonomia da pessoa idosa. M1 atesta que a
atividade física faz bem a saúde do corpo e da mente quando afirma:
“[...] faz bem pra tudo, pro corpo, pra mente. Tudo é melhor, não tomo remédio não
tomo nada, o único remédio é um mocotozinho e uma feijoada de vez em quando [...]”.
Para M3, a atividade física, além de benefícios à saúde física, alcança ainda outra
percepção ligada à autorreflexão.
Quando parei de ser professora, comecei a caminhar, outro lado do prazer, agora
assim... não sei se porque era jovem, meu corpo tinha facilidades, hoje eu preciso
mais de caminhar mais do que antigamente, pra eu não enferrujar de todo. (M3)
Ela acrescenta ainda que: “Sou uma pessoa de natureza ativa, investigadora, então,
preciso estar sempre em ação, e caminhar representa essa ação, estar em movimento” e
30
“Então quando era professora eu não tinha tempo pra caminhar, apesar de sempre ter gostado
de caminhar, se eu pudesse atravessava o mundo caminhando”.
Lazer, Interação social e familiar, Participação social, Trocas, Identidade Cultural e
Satisfação
O segundo tema que emergiu das entrevistas se relaciona à articulação do lazer com a
construção sócio-individual, articulando subjetividade e socialização, na complexa relação
entre indivíduo e sociedade.
Neri (2013) atesta que atividade de cunho social beneficia a saúde física, a cognição, a
longevidade e a funcionalidade, favorece a manutenção da rede social, possibilita trocas
sociais e fortalece o senso de pertencimento dos idosos na sociedade.
Durante as entrevistas quando perguntado aos participantes sobre seu meio social e as
trocas, M1 ponderou que participa há mais de 20 anos de atividades sociais e de lazer no CCI
de Taguatinga Norte, afirmando que “sou outra [...] me sinto bem relacionada, bem vinda,
todas me respeitam também, se disseram alguma coisa eu estouro logo, não fico calada não
[...]”. Acrescenta:
Ajuda com os novos amigos com saúde... Trabalha com sua mente, a mente já é
outra... São todos mais jovens, mas todo mundo é amigo. Todos me trata como
gente mesmo, porque antigamente, véio era jogado no lixo, agora não, agora véi tá
bom... e ai daquele que não tratar bem. Tem jovem que é véio, e tem véio que é
jovem [...].
[...] Me sinto entrosada, se eu não sei uma coisa a outra sabe, a gente se ajuda. Se
não fizer assim sua memória nunca sai do lugar... Todo mundo brinca, a mais velha
sou eu, mas todo mundo me respeita, tem gente de todas as idades, jovem, crianças
[...].
Nas questões sobre como essas interações têm ajudado para sua satisfação com a vida,
M1 responde: “[...] e não é por isso mesmo que eu tenho minha idade desse jeito [risos]? Por
que se você brinca, se você conversa, não tem raiva, me trata bem, parece que você fica mais
jovem [...]”.
Já M2, que começou mais recentemente a participar de atividades recreativas,
culturais e de lazer no ICC, compartilha com M1 a opinião de que estar em um ambiente de
interação social com pessoas de variadas idades faz com que a autoestima seja favorecida por
31
meio das trocas de experiências e bem-estar social (descrito como estado de espírito, aquilo
que se faz sentir confortável).
E diz: “[...] a gente conhece gente nova que não conhecia. Maravilhoso...”. Assinala
ainda que a saúde mental se consolida:
[...] a cabeça fica bem melhor. Sim, porque uma conta uma coisa dali, outra conta
outra, sorri daqui e daí, conta história, e daí a gente fica bem animada. O tempo
passa e a gente volta bem animada pra casa [...].
A fala da entrevista M2 evidencia as oportunidades de novos aprendizados e de novas
amizades e outra relação com o tempo, ou seja, as trocas sociais contribuem para melhorar a
estima da pessoa em processo de envelhecimento.
Segundo Jardins, Medeiros e Brito (2006), lugares que proporcionam espaços sociais
para idosos tem sua importância, uma vez que oportunizam sua interação e visam positivar
seu processo de envelhecimento que contribui para o envelhecimento ativo.
[...] a gente faz novas amizades, [conhece] gente nova. E cada dia falta até tempo
pra aprender coisas novas aqui. Eu sou da roça, e lá não tinha essas atividades, era
só cozinhar, cuidar de filhos e ajudar o marido na roça, e aqui não, a gente escolhe a
atividade mais fácil pra gente fazer, igual a história de papagaia velho aprende a
falar, pois é como eu... Sou uma papagaia velha querendo aprender.
[...] sim, novas amizades e aqui a gente forma uma família... uma nova família... As
pessoas dão bom dia, perguntam pra onde a gente vai, dá carona. Elas se interessam
por nós. Melhorou a qualidade das amizades e aumentou as amizades.
Tal como elucida o referencial teórico, a multidimensionalidade do envelhecimento
transpassa as necessidades biológicas inerentes dessa fase, requer envolvimento e participação
em atividades que possam contribuir e promover acesso a criatividade, a espiritualidade e a
interação social, envolvimento em atividades complementares de caráter diverso como a arte e
a cultura para melhor viver esse processo.
Em contraste, entretanto, com o que observaram os participantes anteriormente
citados, M3, de 69 anos de idade, não participa de um CCI. Ela conta que não se sente
32
pertencente em lugares onde há preferencialmente idosos, embora goste da modalidade das
atividades oferecidas, não tem afinidade ao ambiente. Diz:
Nesses lugares para idosos, parece que as pessoas estão sempre reclamando, um
discurso do sofrimento... Eu nunca frequentei esses lugares para pessoas idosas,
embora tenha consciência da minha idade, do envelhecimento, mas eu não me sinto
uma pessoa velha... digo no sentido de que geralmente essas pessoas que se sentem
velhas, estão muito ligadas ao passado... Curtem o passado. (M3)
Um destaque especial apareceu nas falas em relação às atividades de dança e de
cinema.
A dança
Diz M3:
Gosto muito de dançar, mas vou dançar aonde? Não tem onde dançar... Agora um
problema da dança que eu vejo, é você, principalmente na minha idade, porque a
gente fica mais seletiva, e ainda esse lugares para idosos, ali tem todo tipo de
pessoas, não estou interessada em dançar com velho chato... Nunca dancei com
qualquer pessoa e não é agora que eu vou, só porque estou velha. (M3)
O cinema
Diz M3:
Cinema sempre foi minha paixão, mas agora a qualidade dos filmes que estão
passando não atingem meu gosto... Não vou ao cinema, mas não por falta de gosto,
mas falta de filmes para um público como eu... Então prefiro ver filmes alugados em
casa... Gosto de ver aqueles filmes com conteúdos que eu considero de valor e
fazem com que à noite eu me sinta bem, descansada, relaxada para dormir. (M3)
A questão de afinidade de atividades relatadas por M3 trata da trajetória do sujeito, da
relação de sua subjetividade com suas escolhas e são baseadas na percepção que a pessoa
idosa tem do que seja seu lugar. De acordo com Marcelino (1999), o lazer não é apenas o
tempo disponível de uma pessoa, e sim como essa pessoa escolhe vivenciá-lo, considerando
os aspectos históricos e culturais do indivíduo. M3 encontra-se em atividades cognitivas,
voltadas para espiritualidade, e menos manuais e físicas que estão de acordo com sua história
de vida, atuando como professora durante muitos anos.
Embora M3 não encontre no CCI um lugar de socialização, suas interações e trocas
são num grupo do Centro de Estudos Budista e em palestras na Sociedade Teosófica. Assim
33
fala M3: “Normalmente as pessoas ligam o prazer com sentidos físicos, mas o prazer/lazer
pode ter vários tipos”. Acrescenta:
[...] ir a esses lugares é interessante ver como eles apresentam o budismo, é até uma
terapia de grupo na verdade... Todo mundo partilha, aí tem gente de todas as
religiões e todas as idades... E me chama muito atenção um povo jovem... como é
dentro de uma instituição ligada a uma filosofia de vida, a uma psicologia, todos se
respeitam, todos dizem o que pensam no maior respeito, então não é um lugar que as
pessoas entram em conflito.
Eu sempre fiz amizades duradouras nesses lugares de afinidade, em grupos de dança
de estudo, amizades que duram até hoje. Eu sempre busquei grupos terapêuticos,
atividades voltadas para essas coisas internas minha.
Mostra sua reflexão pessoal, construída como sujeito histórico: “Em tudo que se faz é
preciso ter um sentido de utilidade, senão começa a morrer”. (M3)
Assim como M3, que não participa de um CCI, também acontece com H1, que não
frequenta centros para idosos, no entanto participa de um grupo de teatro onde encontra
pessoas de sua idade (84 anos) e com mais idade, além de pessoas muito mais jovens que ele.
Tornou-se menos rígido, como afirma: “[...] antes eu era muito rígido e ainda era militar.
Então, aqui em casa eles me disseram que já notaram a diferença”. Não se queixa de
discriminação e agora se sente em uma situação que pode errar:
[...] Nesse lugar eu fui bem recebido. Todo mundo me recebeu bem. Não tenho
queixa e nem reparos a fazer. Ali é tudo artista... Gente boa. E estar lá me ajuda a
decorar e ativa a memória... Conhecendo novas pessoas, fazendo novas amizades...
É muito legal... Me sinto a vontade lá, todos me respeitam e me acolhem. Me dá
satisfação [...] Me sinto a vontade lá. O mais difícil é decorar o texto e representar,
mas tudo bem, pode errar. Tô lá pra isso, perder o complexo de que não posso errar.
A interação nesse grupo de teatro o faz sentir-se acolhido e bem aceito. Tal atividade
tem sido fundamental para sua autoconfiança com propósito de realizar um sonho pessoal e
para seu novo arranjo de vida. Após a morte da esposa, conforme Dumazedier (1976), as
atividades de lazer transcendem o viajar, assistir à televisão, ir ao cinema, ao parque de
diversão, isto é, vão além, promovem a afetividade. Diz H1:
Atrás disso tudo tem uma razão, e quero que isso me dê força para realizar um
sonho... através dessas pessoas do teatro quero aprender a me expressar, a falar...
Porque eu passei por muitas coisas na vida que me prejudicaram, então tive muita
dificuldade em me relacionar, em falar, fui uma pessoa fechada, falei pra dentro, era
parado. (H1)
34
Com vista nos relatos e nos referenciais supracitados, observa-se que as atividades de
lazer auxiliam na saúde física e psicológica dos idosos, além de atribuir significado à vida
comunitária, essencial para mitigação da segregação social que lhes assegura identidade
social, sentimento de pertencimento e oportuniza novos conhecimentos e aprendizados.
As dificuldades da cidade
O Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento (2002), de Madrid e o Guia
Global da Cidade Amiga do Idoso (2008), referido no texto, elaboraram e propuseram às
cidades e aos governos medidas normativas que venham a favorecer e propiciar ambientes
adequados à execução de tarefas que dizem respeito ao idoso. Estas medidas visam melhorar a
qualidade de vida e seu bem-estar nessa fase de vida, orientados para integralidade do idoso
na sociedade e seu envelhecimento ativo.
Para realização de algumas atividades de lazer, dois dos participantes da pesquisa
encontraram dificuldades referentes a fatores estruturais da cidade onde vivem. As
observações contidas em alguns dos relatos dos participantes indicam que as cidades não são
consensuais com os pilares requeridos, segundo o Guia Global da Cidade do Idoso (2008), no
que se refere à segurança, iluminação, transporte e acesso. Assim se expressa M1: “Gosto de
música de festa, gosto do Teatro Nacional, mas à noite não tem como ir sem condução”.
Pondera:
[...] aí tá péssimo, eu ia pro plano ver a festa das crianças, mas o ônibus não passou.
No domingo, pior, não passou um ônibus, tive que pagar um táxi pra voltar pra
casa. O semáforo tão respeitando. Tem gente que reclama, mas assim, abriu o sinal
não dá pra atravessar tem que esperar um pouco, se der o braço fica sem [risos].
(M1)
A segurança tá muito pouca, mas na minha vizinhança, graças a Deus tá bom.
Calçadas estão boas, eu também não preciso de muleta de nada, minhas pernas estão
boas, mas as calçadas têm lugar que não tá bom não, tem dificuldades. (M1)
M3 aponta que transportes públicos e a estrutura da cidade não atendem a sua
necessidade para a realização de suas ocupações de lazer.
“[...] sair de casa, ir ao cinema e concerto sem carro, é muito difícil o acesso”.
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[...] Isso é complicado, porque em alguns lugares não posso ir sem que tenha carona,
porque o metrô não ajuda. É perigoso... ir pra parada de ônibus não dá. Iluminação
não tem boa. Aqui em Águas Claras é péssimo. Os motoristas e cobradores são
pessoas estressadas e indelicadas. Águas Claras as calçadas são péssimas, não
somente para o idoso, mas pro cadeirante também [...]. (M3)
As demais dificuldades na realização de suas atividades foram com relação à
adaptabilidade das atividades para sua idade, as limitações financeiras e seus interesses
pessoais. Conforme M1: “[...] aqui tem natação, mas não faço, a água da piscina é muito fria
pros ossos dos véi [...]”.
Para M2, a condição financeira não permite mais desfrutar de momentos de lazer:
“[...] Viagem eu gosto, só falta o dim-dim pra viajar [...] Uma amiga que faz hidroginástica
disse que dorme tão bem... ainda não consegui comprar o material para fazer, maiô e touca
são caros, então não faço, tenho que esperar mais um tempo”. Também M3 se queixa da falta
de dinheiro para viajar: “[...] Viagem: Ai, adoro viajar. Não viajo mais por que não tem
condições financeiras, mas quando era mais jovem colocava minha mochila nas costas e me
mandava, mesmo com salário de professora eu viajava para todos os lugares [...]”.
M3 diz também: “Gosto muito de dançar, mas vou dançar aonde? Não tem onde
dançar. E isso eu também resolvi fazer sozinha em casa. Fiz biodança. Agora um problema da
dança que eu vejo, é você, principalmente na minha idade, porque a gente fica mais
seletiva.[...]”. Ela considera que o parceiro de dança tem que ser adequado a ela: “[...] lugares
para idosos, ali tem todo tipo de pessoas, não estou interessada em dançar com velho chato...
nunca dancei com qualquer pessoa e não é agora que eu vou, só porque estou velha [...]”.
H1 foi ao teatro como estudante, no entanto, o conhecimento de que ele poderia ter
esse acesso não foi acessível e possível.
Neri (2007) assevera que o senso de autonomia é um importante aliado para a
qualidade de vida do idoso. Devido à impossibilidade de mudar aspectos do meio físico, como
ruas e calçadas apropriadas, pode causar-lhes sentimento de fracasso, advindo do não
conseguir ser como era antes e ao atribuírem tais fracassos às dificuldades pessoais. Deste
modo, os idosos são assaltados por uma sensação de ineficácia, o que implica em como eles
percebem as suas vidas e lhes atribui sentido.
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Repercussão das atividades na vida do sujeito: percepção na Satisfação.
O terceiro tema de análise se refere ao aprofundamento da percepção da satisfação,
uma vez que os resultados e as análises acima dão conta da diversidade de percepções, de suas
dimensões positivas.
Na medida em que a população idosa aumenta na sociedade, torna-se cada vez mais
imperativo examinar como as pessoas idosas experienciam e avaliam melhor a qualidade de
vida e de bem-estar. Entre os fatores que contribuem para a avaliação da qualidade de vida
está a participação do idoso em atividade de lazer.
Para o sociólogo Dumazedier (1976) o lazer pode ser entendido como movimento
ativo do tempo dedicado para si mesmo. Segundo a Carta Internacional de Educação para o
Lazer (2005), o entretenimento é promotor de saúde e bem-estar, que propicia prazer nas
atividades que uma pessoa elege para si. Tais benefícios estão também ligados às interações
sociais e à estimulação intelectual do idoso (WANG, KARP, WINBLAD; FRATIGLIONI,
2002).
O lazer como movimento ativo pode ser evidenciado por meio das falas dos
participantes da pesquisa e dos autores referenciados. Pode-se afirmar então que o lazer
promove a heterogeneização cultural na medida em que fortalece a socialização da pessoa
idosa. Na interação com o meio e com os mais jovens, esse movimento ativo favorece a
construção dos sentimentos de pertença e aceitação social, possivelmente otimizados pelas
oportunidades que emergem dessas interações, nas quais repercutem na vida do sujeito e na
percepção da Satisfação. Diz M1:
[...] Tudo é melhor, não tomo remédio não tomo nada, o único remédio é um
mocotozinho de vez em quando, uma feijoada [risos]. Mas quando eu comecei a
fazer, senti a diferença, e grande, de movimento que você faz... Tem uma colega
aqui outra ali brincando... Isso aqui é um lazer mesmo, todo mundo brinca, a mais
velha sou eu, mas todo mundo me respeita, tem gente de todas as idades, jovem,
crianças. (M1)
Nas questões sobre a repercussão das atividades de lazer na sua vida diária, a
participante com as mãos na toalha de crochê, responde animada “E não é por isso mesmo que
eu tenho minha idade desse jeito (risos), porque se você brinca, se você conversa, não tem
raiva, se me trata bem, parece que você fica mais jovem”. (M1). Ainda afirma: “Aqui me
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sinto entrosada, se eu não sei uma coisa a outra sabe, a gente se ajuda. Se não fizer assim sua
memória nunca sai do lugar. Se não fizer atividades, a sua mente não sai do lugar”.
M2 chama a atenção para o fato de ser humanamente tratada: “Todo mundo me trata
como gente mesmo, porque antigamente véio era jogado no lixo, agora não, agora véi tá bom,
e ai daquele que não tratar bem”. Reitera a respeito das atividades múltiplas: a cabeça fica
bem melhor. Sim, porque uma conta uma coisa, dali outra conta outra, sorri daqui e daí, conta
história e daí a gente fica bem amimada. O tempo passa e a gente volta bem animada pra
casa”. Assim, infere-se a valorização da saúde mental e a comunicação:
Agora a cabeça melhorou, porque antes quando a gente não fazia atividades ficava
parada pensando nas coisas da vida, fazendo uma atividade não, esquece do resto do
mundo, faz bem pra saúde mental. A gente conhece gente nova que não conhecia.
Maravilhoso. (M2)
Ajuda na comunicação, tanto aqui como em casa também... Em casa, chego
contando o que aprendi hoje, e eles gostam, fico muito feliz... Aqui a gente troca
ajuda... E aí quando aprende algo e a gente chega em casa e mostra, a filha fala:
‘Parabéns mamãe, parabéns!’ e a gente fica feliz. (M2)
O sentimento de felicidade de M2, do reconhecimento de seu trabalho produzido no
ICC, representa o sentimento de utilidade que, por vezes, se esvazia e assalta algumas pessoas
na idade adulta, principalmente depois que os filhos crescem e vem a aposentadoria.
M2 também se coloca bastante positiva. As atividades ajudam no seu humor: “às
vezes a gente amanhece com mau humor e vem pra cá e fica melhor, [faz] bem pra
autoestima, sorri melhor.”
As atividades físicas estão geralmente associadas basicamente ao corpo, no entanto
para M3 expressa um momento de reflexão.
Na caminhada tem a parte física e tem a subjetiva, porque quando a gente caminha a
gente tá liberando uma série de emoções também. Então caminhar representa muita
coisa pra mim... Caminhar representa essa ação, estar em movimento, não uma
pessoa de ficar ligada no passado. Eu gosto de coisas sempre em frente, dificuldades
da vida passando sempre em frente. Então caminhar tem a ver com essa coisa interna
minha. (M3)
M3: “Então o lazer, apesar de todo estresse que eu vivi quando era professora, mas eu
fazia aquilo porque era lazer pra mim... Digo lazer no sentido de prazeroso pra mim”.
M3: “O envelhecimento é do corpo, mas o espírito continua a crescer”.
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H1 conta de um sonho que deseja realizar. Para tanto, ele vê a necessidade de
contornar certas barreiras que foram construídas ao longo de sua vida. Encontra em suas
atividades de lazer uma oportunidade de rever alguns padrões, que segundo seu relato, era
bastante rígido e que o limitou. A atividade de lazer tem tido repercussões enormes em sua
vida, no tocante à auto-reflexão, à autonomia e à ressignificação em sua história de vida.
Eu me aproximei desse grupo querendo realizar um sonho... Meu primeiro contato
foi a psicóloga, que me ajudou a chegar lá. Antes não gostava de psicólogos, mas
hoje entendo a importância da terapia, mas quando me vi apertado, eu fui. (H1)
H1: “Me distrai, entrar em contato com outras pessoas do teatro... e daí a gente vai
aprendendo que a vida é assim. Se pudesse viver 200 anos, bem... seria bom. Mas na vida
tudo tem uma razão”.
H1: “Então esse meu hábito do exercício me proporciona a fazer esses exercícios e
outros também, e ativa a memória”.
Na questão: Como H1 percebeu as atividades na sua satisfação com a vida?
H1: “Sinto muito bem, o médico disse que vou passar de cem anos assim. Que seja
verdadeiro. A vida é difícil, mas ninguém quer sair. O universo é um cérebro gigantesco.
Deus que faz tudo, o homem só descobre”.
H1: Me sinto muito satisfeito, porque não esperava chegar nessa idade e aqui estou.
Fiz uma cirurgia de próstata aos 74 anos e deu tudo certo. Só não é melhor porque perdi
minha esposa, depois de 50 anos juntos ela faleceu.
Dizem que papagaio velho não aprende a falar... Eu estou aprendendo várias coisas
novas. Então lá no curso eu estou me saindo, aprendendo a representar, às vezes erro
né... Em outra época se eu errasse a cara caía no chão, mas agora não... Errei, errei
tá bom. Em outra época era vixi... Então, não é tanto, [mas] eu tô vencendo as
dificuldades, essas coisas né, e to indo. (H1)
Ao final da entrevista H1 pediu um feedback da entrevista, e após explicação de que
não havia um resultado, por não se tratar de um teste, o entrevistador disse: “Pude perceber
que o senhor tem se desafiado nesse seu novo lazer.” H1 ficou em silêncio reflexivo e disse:
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H1: “Você vai ser uma boa psicóloga, (sorrimos)... Você falou algo muito certeiro de
mim... Estou me desafiando. Me expondo, errando e procurando acertar, um lugar onde posso
errar. Estou muito satisfeito com sua entrevista”.
H1: Essas atividades de lazer vêm para complementar meu prazer de viver. Minha
alegria.
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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As reflexões discutidas têm como orientação as leituras sobre o envelhecimento e as
questões pertinentes aos temas que foram destacados, a partir da análise dos relatos dos
entrevistados. Portanto, a fim de alcançar os objetivos desse estudo, é possível compreender a
percepção dos idosos e sua relação entre a satisfação com a vida, as atividades de lazer e
cultura.
Relação das Atividades de Lazer e a percepção da Satisfação
Nesta pesquisa os idosos têm renda familiar que varia de um (1) a oito (8) salários
mínimos, e grau de escolaridade de nível básico ao superior. Foi possível observar que os
idosos com renda superior relatam maior participação em atividades cognitivas - de leitura,
habilidades musicais e culturais - enquanto os de menor renda se encontram em atividades
práticas manuais.
Outro aspecto que se destaca é que os entrevistados fazem atualmente a maioria das
atividades que já, exerceram durante sua vida. O entrevistado H1 foi músico em banda e fez
leituras sobre a história da música. M1 e M2 fazem atividades instrumentais de crochê
bordada, e assistem à televisão, afirmam que tais atividades estiveram incluídas nas tarefas
domésticas do seu cotidiano; M3 participa de vários grupos de estudo, o que se assemelha
com sua profissão de professora, portanto, as atividades de lazer escolhidas, são também
sócio-históricas.
Cabe frisar, assim como referido na fundamentação, o lazer como valor e percepção
diferenciada para cada um, de acordo com seus interesses, e ainda mais importante, em
decorrência de sua subjetividade.
O conceito de lazer é atribuído por Dumazedier (1976) à atividade que uma pessoa
escolhe fazer, desde que estas sejam atividades que conciliem com seus interesses pessoais e
sua vontade de fazê-las. Assim sendo, no momento em que o idoso se percebe em uma
atividade prazerosa, provavelmente ele conecta-se com o sentimento de reconhecimento de si
mesmo, bem como o de autovalorização, que tem como resultado principal a satisfação. Tal
conceito se revela na fala de M2 no relato sobre os artesanatos que aprende no CCI: “E aí
quando aprende algo e a gente chega em casa e mostra, a filha fala: - parabéns mamãe!
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parabéns! E a gente fica feliz... Em casa chego contando o que aprendi hoje, e eles gostam,
fico muito feliz”. Tal relato mostra a importância do papel família na valorização da
autoestima do idoso. De acordo com Saad (1997), a tendência em países desenvolvidos é
atribuir ao setor público a responsabilidade pelos seus idosos. No Brasil, entretanto, quando se
trata de reconhecimento e valorização da autoestima, o respaldo familiar ainda é o mais
importante.
Elementos das falas de H1, sobre as atividades que vivencia no grupo de teatro do qual
faz parte, pode revelar valor terapêutico que ali é atualizado. É possível que a ludicidade desta
linguagem contribua para o aumento do referido valor. H1 relata que a prática teatral o ajudou
a elaborar vivências negativas do passado, pois, segundo ele, hoje busca em suas atividades de
lazer o suporte para elaborar e ressignificar tais experiências.
H1 avalia também que o teatro como atividade de lazer, é ainda um ambiente
favorável à interação social, uma vez que ele pode ser ele mesmo, e sua idade não interfere na
forma de tratamento que recebe na convivência com pessoas mais jovens. Ele diz que se sente
respeitado em seu processo de desenvolvimento desta atividade de lazer da qual ele participa
a pouco tempo, e que ele mesmo jamais pensava ser possível na vida de um idoso de 84 anos
de idade.
A maneira como os idosos se envolvem nas atividades de lazer pode ser pensada como
uma manifestação de estratégias que o idoso adota para lidar com eventos estressantes,
ocasionados ao longo do curso de vida. Estudiosos do envelhecimento, como Neri (2001),
asseveram que há estratégias, principalmente entre as mulheres de classe média baixa, para
lidar com situações da vida.
Socialmente, o lazer se apresenta como um grande aliado contra o isolamento, a perda
do papel social e de possíveis maus tratos, pois nestes espaços, os idosos podem ampliar sua
comunicação, compartilhar informações, dividir afetos e angústias, aumentar ou adquirir
conhecimento sobre seus direitos.
As atividades de lazer percebidas pelos idosos entrevistados contribuem ainda para o
contato com intergeracionalidade, que por sua vez coopera para mitigar possíveis
preconceitos sociais contra idosos. M1, por exemplo, ao referir-se ao lugar onde pratica suas
atividades “[...] Trabalha com sua mente, a mente já é outra. Todos me tratam como gente
mesmo [...] isso aqui é um lazer mesmo, todo mundo brinca, a mais velha sou eu, mas todo
mundo me respeita, tem gente de todas as idades, jovem, crianças”.
42
Assim como M1, outro participante, M3, percebe o quanto o envolvimento nas
atividades de lazer trouxe-lhe benefícios no tocante à identidade social, e relata: “[...] É
interessante porque esses jovens... São jovens, mas estão ali procurando a mesma coisa que
eu, que é ter mais qualidade de vida, pois tem uma comunhão de interesses [...]”.
Todos os idosos entrevistados entendem que a interação social em suas atividades de
lazer lhes proporciona adicionar em suas vidas mais humor, mais identidade e significado à
vida. Avaliam que a participação nesse meio social favoreceu a afetividade entre si, bem
como o surgimento de novas amizades.
Acesso às atividades de Lazer e a percepção da Satisfação
Na análise das respostas referentes ao acesso às atividades de lazer, duas de quatro
participantes (M1, M3), fizeram observações quanto ao acesso às suas atividades e apontaram
para falta de segurança, o custo das atividades e pouco transporte.
Ainda para M3, as atividades de lazer propostas ao público idoso, principalmente em
Centros de Convivência, são passíveis de uma crítica severa, pois segundo ela são
generalistas. Os programas para idosos assumem que todas as pessoas com idade entre 60 e
94 anos têm os mesmos interesses, portanto as opções são restritas.
A experiência da participante M2 demonstra que há diferenças no que se refere ao que
M3 chama de generalização, uma vez que no CCI por ela frequentado há oficina de
artesanatos, aulas de natação e hidroginástica, passeios a bibliotecas, além de exibição de
filmes. Neste caso o idoso pode escolher a atividade de acordo com afinidade, disposição e
disponibilidade.
As diferentes concepções do CCI reportadas nas falas de M1 e M3 possibilitam fazer
duas observações: a primeira, no caso de M3, que a situação revela a pouca divulgação e
informação a respeito dos Centros de Convivência de idoso; na segunda, um olhar mais
otimista, que reafirma o conceito de lazer, ou seja, entender o lazer como as atividades que a
pessoa elege para si e a percebe como satisfatória. Designa autonomia da escolha. Corrobora
assim, com o conceito de lazer inscrito na Carta Internacional de Educação para o Lazer
(1993) onde o lazer é promotor da saúde e do bem-estar e que propicia prazer nas atividades
que uma pessoa elege para si, independentemente do olhar do outro.
43
Relação da Atividade Física e da percepção da Satisfação
Todaro e Filho (2013) destacam que entre os benefícios à saúde, atribuídos à prática
da atividade física, estão: saúde física, social, cognitiva e afetiva. Pondera ainda que, para o
idoso aderir a uma atividade física, deve-se, individualizar os programas de atividade física,
quer dizer, aproximar essas atividades àquilo que os idosos têm mais afinidade, baseadas em
suas vivências e sua cultura.
Todos os participantes consideram a atividade física um lazer. As participantes M1 e
M2, que frequentam o CCI, consideram que a prática da atividade física, além de exercitar o
corpo, favorece o encontro entre as pessoas, promove a troca de experiências, o diálogo entre
os pares acontece com maior fluidez. No caso de modalidades físicas, como fazer aula de
natação, auxilia na melhora da qualidade do sono; a capoterapia propicia a melhora dos
movimentos das articulações e favorece uma respiração mais completa. A participante M3 faz
caminhada há anos, ela identifica no caminhar momentos de reflexão e produção de
pensamentos sadios e H1 diz “também tem caminhado durante boa parte de sua vida”. Ele
atribui a esta atividade a tonificação dos músculos, de modo a possibilitá-lo a fazer outros
exercícios que exigem equilíbrio físico, como yoga.
Para os idosos entrevistados, as atividades físicas proporcionam saúde para serem
capazes de ir sozinhos aos lugares de interesse, uma vez que facilita o caminhar sem apoio de
bengalas ou carrinhos. Desta maneira, podem chegar inclusive às suas atividades de lazer sem
depender que familiares os levem, ou seja, ter autonomia física e mental.
De acordo com a OMS (2005), a autonomia do idoso é uma das chaves para
emancipação, é entendida como a liberdade de tomar decisões e lidar com suas habilidades,
de acordo com suas próprias regras e preferências. Contudo, para que o idoso alcance a
autonomia e envelheça de maneira ativa em seu processo, não basta apenas ter saúde física,
mas também ter acesso às atividades por eles elegidas como lazer, previstos no plano de ação
da Cidade Amiga do Idoso (2008).
Entre o conjunto de benefícios percebidos na prática das atividades físicas, dois
benefícios foram os mais citados pelos participantes: saúde física e mental.
Mediante os dados obtidos nos resultados da tabela da Escala de Satisfação com a
Vida, constatamos que foi unânime a consideração de satisfação com a vida atual. Entretanto,
44
todos consideram que mudariam os aspectos de desprazer que se deu no passado, assim como
no momento atual da vida, ainda existam aspectos a serem melhorados. Aqui se observa a
dialética natural, prevista e saudável da vida.
45
6. CONCLUSÃO
Compreender a relação entre lazer cultural e percepção da satisfação com a vida da
pessoa idosa é um desafio presente tanto no âmbito das Políticas Públicas quanto nas
instituições acadêmicas. Acredita-se que este estudo possa contribuir no processo desta
compreensão. Nesta pesquisa conclui-se que a prática do lazer e de atividades culturais
corrobora com os propósitos do conceito de multidimensionalidade e heterogeneidade do
processo de cada pessoa.
Cabe na definição de atividades de lazer, como foi relatado pelos participantes: a
produção de artesanato, atividades cognitivas - grupo de estudos, aula de artes cênicas. As
atividades lúdicas também estão incluídas como as que fazem parte do envelhecimento ativo,
pois promovem melhora na condição física, no humor, na atitude diante da vida atual,
favorece a autoestima, sentimento de pertencimento e identidade social.
Do mesmo modo, a prática dos exercícios físicos, especialmente quando
contextualizada em um quadro, tem contribuído para a saúde física, mental e para a interação
social, na medida em que percebem as diferenças no corpo e na mente antes e depois de seu
envolvimento nessas atividades. Entre as melhorias físicas percebidas estão: o fortalecimento
do tônus muscular, melhor funcionamento das articulações, melhor equilíbrio motor e maior
sentimento de utilidade.
Embora os idosos avaliem que em geral estão satisfeitos com sua vida e que há
políticas públicas à favor da melhoria da qualidade de vida, declaram que a cidade ainda não
oferece opções de atividade de lazer e qualidade de vida adequada, tanto em diversidade
quanto em viabilidade econômica.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O lazer tem o papel mediador entre a cultura de uma sociedade, ou de um grupo, e as
reações de um indivíduo às situações da vida cotidiana (Dumazedier, 1976).
A pesquisa alcançou seus objetivos, e pode mostrar que as atividades físicas trazem
possibilidades de novos contatos sociais para a prática de exercício físico. Além disso,
contribuem para a manutenção da saúde física e para as relações sociais de pessoas idosas.
Mostrou também que o lazer é, para a pessoa idosa, possibilidades de interação, participação
social, identidade, significação e autonomia.
A pesquisa está em conformidade com outras pesquisas que trabalham a temática,
assim, a título de endossamento de resultados, serão aqui citadas duas pesquisas.
A primeira, de Franciscatto et al. (2013), a referida pesquisa trata-se de revisão
bibliográfica acerca das melhorias na qualidade de vida proporcionada aos idosos, com ênfase
nas atividades físicas e de lazer. Assim, os autores afirmam que as práticas de exercícios
físicos contribuem, de uma forma efetiva, na obtenção e na manutenção da saúde. Estas são
utilizadas de forma terapêutica, para fins de socialização, ou simplesmente em busca do
prazer em realizar as atividades escolhidas.
A segunda pesquisa, em: Rolim e Forti (2013), é abordada a contribuição das
atividades físicas para a saúde e qualidade de vida na velhice, e salienta os benefícios de
natureza psicológica atribuídos às atividades físicas. Asseguram que no aspecto psicológico
encontra-se a melhora da estética corporal, autoestima e autoimagem; melhora da integração e
socialização de alguns aspectos cognitivos; e inserção em um grupo social como benefícios
associados à atividade física.
O direito à cultura deve ocupar lugar central nas considerações das questões de
direitos humanos, no sentido de promover uma organização mundial mais justa, não apenas
no sentido distributivo, mas inclusivo e, no caso do tema estudado, da população idosa. Nesse
sentido, as atividades culturais são parte do desenvolvimento humano, desde que haja
respeito, aceitação da individualidade de escolhas. No entanto, é preciso haver possibilidades
de escolhas, posto que há diversidade no processo de envelhecimento.
A metodologia da pesquisa foi adequada por permitir uma aproximação da Escala de
Satisfação com a Vida, que mostrou a diferença de percepção hoje e antigamente. Em
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comparação ao passado os idosos avaliam que a vida hoje é satisfatória. No entanto,
satisfatório não garante qualidade de vida. Ainda se pode observar que as políticas de acesso à
cultura deixam a desejar, embora as iniciativas do CCI e do Teatro tenham se mostrado
fundamentais. Segundo o relatório da Global Age Watch 2014, o Brasil ocupa o 58º lugar do
ranking mundial de qualidade de vida da população idosa. No domínio de Ambientes
Favoráveis aos idosos, o Brasil caiu do 47 º para o 87o lugar. O acesso a maior diversidade de
lazer depende da renda, que está relacionada à desigualdade de oportunidades.
A avaliação da percepção mostra que na velhice há invenção, criatividade, embora o
envelhecimento seja inexorável (FALEIROS, 2008). Cabe aqui resgatar a fala da participante
M2 quando afirma: “Esse caminho do aprender não tem fim. O que tem fim é o nosso
caminho de vida, mas o caminho do aprender não tem fim.” Essa afirmativa reflete sobre o
que diz Silva (2008), sobre a imagem tradicional associada ao idoso, de descanso eterno e
inatividade, esta tem sido substituída por um modelo ativo, participativo, criativo, identitário à
satisfação pessoal e a vínculos de afeto.
48
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54
ANEXOS
ANEXO A - CRONOGRAMA
O projeto foi executado de acordo com o cronograma abaixo a partir de Janeiro de
2014.
Etapa
Período- Meses
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10 11 12
Encontros com orientador
X X X X X X X X X X
Levantamento bibliográfico
X X X
Seleção do material bibliográfico
Elaboração das categorias analíticas do
estudo
X
X
X X X
X
Sistematização dos dados
X X X
Relatório Final
X
X X X
Coleta de dados
Interpretação dos dados
X
X X
(Modelo para a elaboração de um cronograma seguindo sugestão de Barros e Lehfeld, 1990).
55
ANEXO B - TCLE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O (a) Senhor (a) está sendo convidado (a) a participar da pesquisa intitulada: Lazer,
Cultura e Satisfação com a Vida de Pessoas de Idosas. Sob responsabilidade do Prof. Vicente de
Paula Faleiros e a aluna Ana Paula Carlos de Souza Ludewigs.
O objetivo desta pesquisa é: compreender a percepção de pessoas com 60 anos ou mais
sobre a relação entre o lazer cultural e recreativo e a satisfação com a vida a partir da percepção
da pessoa idosa.
O(a) senhor(a) receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da
pesquisa e lhe asseguramos que seu nome não aparecerá sendo mantido o mais rigoroso sigilo
através da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo(a). Senhor (a) pode
se recusar a responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de
participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo para o (a) senhor (a).
A sua participação será da seguinte forma entrevista será apresentada um roteiro
de entrevista semiestruturada que para melhor transcrição das informações, a entrevista será
gravada, terá questões relacionadas à satisfação com a vida e lazer. O tempo estimado para sua
realização: 60minutos.
Os resultados da pesquisa serão divulgados na Instituição de ensino superior, Universidade
Católica de Brasília podendo ser publicados posteriormente. Os dados e materiais utilizados na
pesquisa ficarão sobre a guarda do pesquisador.
Este projeto possui os seguintes benefícios: Compreensão do envelhecimento e da
qualidade de vida, e apresenta os seguintes riscos: dúvidas, vontade de desistir que serão
trabalhadas com informação sobre as mesmas e sobre a liberdade de desistir, que serão
minimizados através da escuta e esclarecimento do tema.
Se o (a) Senhor (a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor, telefone
para: Prof. Vicente de Paula Faleiros, na instituição Universidade Católica de Brasília. Telefone:
33492659.
Este projeto foi Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UCB, número do protocolo
________. As dúvidas com relação à assinatura do TCLE ou os direitos do sujeito da pesquisa
podem ser obtidos também pelo telefone: (61) 3356-9784.
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a
outra com o voluntário da pesquisa.
______________________________________________
Nome / assinatura
____________________________________________
Pesquisador Responsável
Nome e assinatura
Brasília, ___ de __________de _________
56
ANEXO C - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA INVESTIGAÇÃO DAS
ATIVIDADES DE LAZER E SATISFAÇÃO COM A VIDA.
Este instrumento foi elaborado com o objetivo investigar a percepção de pessoas com 60 anos ou mais sobre
a relação entre o lazer cultural e recreativo e sua qualidade de vida.
Nome
da
pessoa
idosa
entrevistada:
________________________________________________________________
Idade: _____________ Gênero: ______________________
Escolaridade: ___________________Renda _____________Moradia_________
Religião________________ Estado Civil_______________________________
Participa de Algum Centro de Convivência______________________________
Exercício Físico – Praça (__) e/ou Parque (__) Academia (__)
Trabalho- Aposentado (__) – voluntariado (__)
ATIVIDADE
SIM
NÃO
FREQUÊNCIA
TV
Cinema
Teatro
Música
Caminhar
Cozinhar
Dança
Festa
Viagem
Leitura
1.
Como percebe a(s) atividade (s) em seu corpo (antes e depois)? – cardiologia- dor- Articulação,
caminhar (AVDs).
2.
Como percebe a(s) atividade (s) na sua relação com amigos?
3.
Quais as dificuldades encontradas para essas atividades?- Cidade (moradia, rua as calçadas o acesso,
o transporte).
4.
Como as atividades são vistas no seu meio social? – Troca social.
57
ANEXO D – ESCALA
Satisfaction With Life Scale (SWLS)
Encontra a seguir cinco afirmações com as quais pode concordar ou discordar.
Utilizando a escala de 1 a 7 abaixo indicada, refira o seu grau de acordo com cada item
colocando o número apropriado na linha que precede cada um deles. Procure ser
sincero nas respostas que vai dar. Eis a escala de 7 pontos:
1 – totalmente em desacordo
2 – em desacordo
3 – mais ou menos em desacordo
4 – nem de acordo nem em desacordo
5 – mais ou menos de acordo
6 – de acordo
7 – totalmente de acordo
1. Em muitos aspectos, a minha vida aproxima-se dos meus ideais.
5 6 7
1
2
3
4
2. As minhas condições de vida são excelentes.
1 2 3 4 5 6 7
3. Estou satisfeito com a minha vida.
1 2 3 4 5 6 7
4. Até agora, consegue obter aquilo que era importante na vida.
5 6 7
1
2
3
4
5. Se pudesse viver a minha vida de novo, não alteraria praticamente 1
5 6 7
nada.
2
3
4
58
ANEXO E – PARECER CONSUBSTANCIADO
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE
BRASÍLIA - UCB
PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
Título da Pesquisa: Lazer, Cultura e Satisfação com a Vida de Pessoas de Idosas.
Pesquisador: Vicente de Paula
Faleiros Área Temática:
Versão: 2
CAAE: 35571314.7.0000.0029
Instituição Proponente:Universidade Católica de Brasília - UCB
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio
DADOS DO PARECER
Número do Parecer:
827.544 Data da
Relatoria: 03/10/2014
Apresentação do Projeto:
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, a qual irá investigar a importância de algumas atividades
de lazer na satisfação com a vida em homens e mulheres idosos.
Por meio de entrevistas os autores irão avaliar a percepção destes idosos e idosas com relação a
importância de atividades culturais de lazer como cinema, teatro, leitura e outros e avaliarão
também a satisfação com a vida deste público.
Objetivo da Pesquisa:
Avaliação da percepção subjetiva da satisfação de vida e sua relação com o lazer de idosos e
idosas.
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
Já apresentado
Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:
Como trata-se da segunda avaliação, cabe ressaltar que os autores cumpriram com todas as
solicitações iniciais de alterações.
Considerações sobre os Termos de apresentação
obrigatória: Já apresentado
59
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE
BRASÍLIA - UCB
Continuação do Parecer: 827.544
QS 07 Lote 01 EPCT - Anexo Bloco Central - Bloco- L Sala -14
Endereço:
Taguatinga
Bairro:
UF: DF
CEP: 71.966-700
Município:
Telefone:
(61)3356-9784
BRASILIA
Fax: (61)3356-3010
E-mail: [email protected]
Página 01 de 02
Recomendações:
Sugere-se aos autores que não investigem somente as experiências Culturais do Lazer, mas sim
todas elas como esportivo, manual, virtual, turistica dentre outras. Ver literatura de Marcelino.
Conclusões ou Pendências e Lista de
Inadequações:
Os autores apresentaram todas as justificativas e alterações solicitadas no primeiro parecer.
Assim considero o projeto apto a ser executado.
O documento apresentado, responde às exigências feitas. O projeto atende aos requisitos
fundamentais da Resolução CNS 466/12 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
UCB.
Após a conclusão da pesquisa é compromisso dos/das proponentes a entrega de relatório final
ou versão final do trabalho.
Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
Considerações Finais a critério do CEP:
BRASILIA, 10 de Outubro de 2014
Assinado por:
Yomara Lima Mota
(Coordenador)
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Ana Paula Carlos de Souza - Universidade Católica de Brasília