ANÁLISE DO USO DE DROGAS ANTES E DURANTE A GESTAÇÃO Márcia Finimundi Barbieri 1 Simone Emer 2 Resumo: A adolescência constitui um período crucial no ciclo vital para o início do uso de drogas, seja como mera experimentação, ou seja, como consumo ocasional, indevido ou abusivo, e somado a gravidez se torna ainda mais crucial. O consumo de drogas durante a gestação pode ter efeitos adversos tanto no feto, que estará se desenvolvendo, como para o recém-nascido. Nesse contexto o objetivo dessa pesquisa é a investigação dos problemas causados pelas drogas antes e durante a gestação na adolescência, na busca de atender os anseios da comunidade escolar no que tange a ações preventivas no combate às drogas e a gravidez na adolescência. Assim como, investigar os problemas que as drogas podem causar na gravidez, com o propósito de possibilitar uma melhor organização da proposta preventiva. A pesquisa de opinião contou com a participação de 137 moradores e alunos do bairro Medianeira do Município de Farroupilha/RS, destes 54 do sexo masculino e 83 do sexo feminino com idades entre 12 a 60 anos. O estudo mostrou que mesmo a maioria dos entrevistados não ter concluído o Ensino Fundamental, têm consciência dos problemas que as drogas podem causar na gestação. Citando que o uso de drogas e a gravidez na adolescência é uma ocorrência absurda e desesperadora, e seus sentimentos em relação a essas pessoas são de pena e tristeza. E é através da televisão que os entrevistados procuram obter informações sobre os problemas que as drogas podem causar para sua vida e de sua família. Pois o uso de drogas ante e durante a gestação pode resultar em espermatozóides e óvulos defeituosos, aborto espontâneo, feto com defeitos nos membros, rins, intestino, sistema urinário e coração. Palavras-chave: Uso de drogas, Gravidez, Adolescência, Fatores de risco. INTRODUÇÃO A fase da adolescência constitui um período decisivo para o início do uso de drogas, sendo como mera experimentação, como consumo ocasional, indevido ou abusivo. E somado a gravidez se torna ainda mais preocupante. O consumo de drogas durante a gravidez pode ter efeitos adversos tanto para o feto, tanto para o recém-nascido. Por esse motivo os alunos da turma 703 da Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente Dutra, localizada no Bairro Medianeira, do município de Farroupilha, acharam importante ter conhecimento dos problemas quanto à ingestão de drogas antes e durante a gestação, assim como, os 1 Professora de Matemática do Ensino Fundamental da Escola Municipal Presidente Dutra. Bacharel em Administração de Empresas (CESF), Licenciada em Ciências Matemática (ULBRA), Mestre em Ensino de Ciências e Matemática (ULBRA), Doutoranda em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde (UFRGS). 2 Professora do Ensino Fundamental da área de História da rede municipal de Caxias do Sul, professora do Curso de Administração da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) na disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica, pesquisadora da Ação Educativa e IBOPE e Mestrando da área da Educação na linha de pesquisa de Informática Educativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Coordenadora dos cursos de especialização de Informática Educativa, Educação Infantil e Supervisão Escolar na FSG. cuidados a serem tomados pela mãe e pelo pai adolescente referente ao consumo de drogas. Os jovens primeiramente foram convidados a participarem da elaboração e execução do projeto de pesquisa, realizado na sala de aula, a partir da curiosidade dos mesmos envolvidos. O projeto se estendeu de março a junho de 2010, durante as aulas de Matemática e Ciências, o que originou o tema citado anteriormente. O objetivo geral deste projeto foi investigar os problemas causados pelas drogas antes e durante a gestação na adolescência, buscando atender os anseios da comunidade escolar no que tange a ações preventivas no combate às drogas e a gravidez na adolescência. Tanto quanto, possibilitar uma melhor organização da proposta preventiva, desenvolvendo a valorização e a melhoria da qualidade de vida no âmbito escolar. Na sequência do texto, apresenta-se uma reflexão teórica sobre o tema o uso de drogas antes, durante e após a gestação, como foi realizado o projeto, os resultados dos dados levantados nas entrevistas realizadas e algumas considerações referentes à pesquisa de opinião. REFERENCIAL TEÓRICO A gravidez e o uso de drogas perseguem a fase da adolescência podendo causar danos para o adolescente, para sua família e para sua futura família (COSTA, 1989). A utilização das drogas lícitas e ilícitas permeia a cultura da adolescência à velhice e, no caso do Brasil, notadamente por meio do consumo de álcool, fumo e maconha (TORRES, 2003). Não é um fenômeno único e isolado o fato do grande aumento do uso de drogas entre os adolescentes, durante a década passada tem-se como exemplo, o Brasil, Estados Unidos e em outros países. Segundo a Organização Mundial da Saúde, "droga é toda a substância que, introduzida em um organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções". Pode ser entendida também como o nome genérico de substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que podem causar danos físicos e psicológicos a seu consumidor. Seu uso constante pode levá-lo à mudança de comportamento e à criação de uma dependência, um desejo compulsivo de usar a droga regularmente, ao mesmo tempo em que o usuário passa a apresentar problemas orgânicos decorrentes de sua falta (FAUSTINI, NOVO, CURY e JULIANO, 2003). Embora a ONU estime que hoje existam 180 milhões de usuários no mundo, envolvendo tanto as drogas consideradas lícitas como as ilícitas, existem ainda vários preconceitos e estigmas em torno do tema e de seus usuários, bem como uma desinformação sobre os fatores que levam ao uso ilícito destas substâncias e que fazem com que ora seus usuários sejam vistos como doentes ou vítimas da sociedade (FAUSTINI, NOVO, CURY e JULIANO, 2003). E o Brasil ocupa o 4º lugar entre os consumidores de psicotrópicos do mundo. As mulheres e os homens que usam drogas são freqüentemente vítimas de outros problemas graves de saúde, as doenças sexualmente transmissíveis e problemas de saúde mental, como depressão. Alguns estudos constataram que pelo menos 70 por cento das mulheres consumidoras de drogas, foram abusadas sexualmente com idade inferior a dezesseis anos. A maioria destas mulheres teve pelo menos um progenitor que abusou, e estas grávidas, fazem uso de pelos menos um tipo de droga. Os Centers for Disease Controle and Prevention e a Organização Mundial da Saúde estimam que mais de 90% das mulheres grávidas, abusadas sexualmente, fazem uso de drogas como tabaco, álcool ou drogas ilícitas. As drogas são responsáveis por 2 a 3% de todos os defeitos congênitos (CAPUTO e BORDIN, 2008). As drogas passam da mãe para o feto, através da placenta, a mesma via utilizada e percorrida pelos nutrientes para o crescimento e desenvolvimento do feto. Na placenta, as drogas e os nutrientes presentes no sangue da mãe atravessam uma membrana fina, a qual separa o sangue da mãe do sangue do feto. As drogas que uma mulher utiliza durante a gravidez podem afetar o feto de várias maneiras, e algumas são: lesão, desenvolvimento anormal ou morte do feto, alteração da função da placenta, contração forçada da musculatura uterina (YAMAGUCHI, CARDOSO, TORRES e ANDRADE, 1998). Na placenta, o sangue materno passa pelo espaço que envolve os vilos (projeções diminutas) que contêm os vasos sangüíneos do feto. As drogas presentes no sangue da mãe podem atravessar essa membrana, passando para os vasos sanguíneos dos vilos e passam através do cordão umbilical até o feto. O modo como uma droga afeta o feto depende do estágio de desenvolvimento do mesmo, como também da potência e da dose da droga ingerida. Certas substâncias utilizadas no início da gestação (antes do 17º dia após a fertilização) podem matar o feto ou não, mas afetando-o em absoluto. Durante esse estágio, o feto é altamente resistente aos defeitos congênitos. Contudo, ele é vulnerável a esses defeitos entre o 17º e 57º dia após a fertilização, quando seus órgãos estão se desenvolvendo. As drogas que atingem o feto durante esse estágio podem causar aborto espontâneo, defeito congênito evidente ou um defeito permanente, ou até, pode não causar qualquer efeito perceptível (YAMAGUCHI, CARDOSO, TORRES e ANDRADE, 1998). É improvável que as drogas utilizadas após o término do desenvolvimento dos órgãos causem defeitos evidentes, mas elas podem alterar o crescimento e a função de órgãos e tecidos formados normalmente. Mas o problema não é somente no período da gestão, caso o homem e a mulher forem anteriormente dependentes ambos podem trazer consequências para o futuro feto, a mulher poderá apresentar uma gravidez de risco e o homem poderá apresentar espermatozoides anormais. DELINEAMENTO METODOLÓGICO A metodologia consiste em uma pesquisa de opinião, que preliminarmente foi desenvolvido um questionário com os educandos visando subsidiar os mesmos com informações a cerca do tema, através de pesquisas na internet, debates, material escrito, etc., bem como no sentido de investigar qual o domínio que o educando possui acerca do tema que foi tratado, para poder desenvolver em sala de aula atividades sobre: causas e consequências do uso indevido de drogas na gravidez, reflexão sobre valores e sentimentos, tipos e fontes de pressão que levam algumas pessoas a usarem drogas, desenvolvimento da auto-estima e alternativas para uma vida saudável. Após a exploração do tema foi elaborado um questionário com 14 perguntas fechadas e abertas. O questionário foi aplicado para 137 alunos e moradores do Bairro Medianeira, entre 12 a 60 anos de idade, 54 do sexo masculino e 83 do sexo feminino. Tabulados os dados, com os educandos, foi realizada a análise sobre as conseqüências individuais e coletivas do uso abusivo de drogas na gravidez na adolescência. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Dos 137 entrevistados, 79 encontram-se entre 12 a 17 anos de idade (34 do sexo masculino e 45 do sexo feminino) e 58 entre idades de 18 a 60 anos (20 do sexo masculino e 38 do sexo feminino). Da amostra total 66% não apresentam Ensino Fundamental completo. Ao serem questionados, alunos e moradores, sobre o que pensam sobre os problemas que uma criança poderá ter, sendo os pais usuários de drogas, os resultados apresentados foram que 91% afirmam que é possível que a criança tenha algum problema físico ou psicológico. Já referente ao que pensam sobre a gravidez na adolescência, 37% consideram uma ocorrência absurda e 29% desesperadora e 15% considera uma ocorrência natural. A maioria dos entrevistados não faz uso de drogas lícitas e/ou ilícitas, mas ainda 11% são fumantes. E 110 do total dos mesmos, conversam com a família sobre os problemas que as drogas podem trazer para a sua vida. E o meio de comunicação onde obtém maiores informações sobre os problemas que as drogas causam para si próprio e sua família é a televisão. No que se trata do sentimento em relação ao usuário de droga mais que a metade dos entrevistados sentem pena e tristeza, e somente um dos entrevistados declarou sentir carinho. Definindo a palavra droga como morte e destruição. O Gráfico 1, apresenta os dados referente ao grau de risco em relação ao uso de drogas antes, durante e/ ou após a gestação, grande parte tem consciência que a criança ou o feto apresentará algum risco ou grande risco nos seguintes itens: espermatozóides e óvulos defeituosos, feto com defeitos (membros, rins, intestino, sistema urinário e coração), aborto, crianças com incapacitações física e/ou mentais, criança com problemas de aprendizado, memória, atenção, comunicação, visão e audição. Gráfico 1. Riscos em relação ao uso de drogas antes, durante e/ou após a gestação. Fonte: Autora Outra questão que merece destaque são os cuidados durante o período da gestação que precisam ser tomados pela mãe e pelo pai, os entrevistados afirmam que pais fumantes têm maiores chances de ter bebê prematuro ou pequeno. Assim como adolescentes grávidas poderão apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações na gravidez e problemas no parto. E algo espantoso, em se tratando das respostas dos entrevistados, foi que 112 do total dos entrevistados afirmaram que sentem medo de se tornarem usuários de drogas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa de opinião tem como fator primordial na aprendizagem o trabalho em grupo, o que leva a ação de desinibição e o enriquecimento da abordagem, possibilitando o entendimento do tema, o uso de drogas antes e durante a gestação na adolescência. É fundamental ter consciência dos maléficos que drogas podem causar para o organismo humano, alertando adolescentes e comunidade dos danos que as mesmas podem causar para uma família e/ou futura família. Dessa forma devem-se apresentar, aos adolescentes, técnicas eficazes de resistência às drogas e a gravidez precoce, desenvolvendo a valorização e a melhoria da qualidade de vida no âmbito escolar. Deve-se destacar também a importância de atividades interdisciplinares na aprendizagem como um todo. A troca de conhecimento entre alunos, professores, palestrantes e comunidade deixam claro que é possível prevenir e alertar sobre os riscos do uso de drogas antes e durante a gestação na adolescência. Sendo responsabilidade da comunidade no geral e de cada um engajar-se para a prevenção do uso de drogas na gestação, pois o ser humano é um ser racional, e deve ter a consciência de que ao se prejudicar, estará prejudicando também o mundo que está a sua volta. A falta de consciência de algumas pessoas e também da comunidade pode ocasionar sérios danos a população futura, em se tratando de saúde e qualidade de vida, por esse motivo, é fundamental que todos estabeleçam pleno diálogo com a comunidade, para identificar as principais necessidades da população, em se tratando da prevenção do uso de drogas na gestação, e apontando algumas soluções. Entende-se também, que é de responsabilidade de cada elemento da comunidade alertar e preocupar-se com o problema do uso de drogas na sociedade, mas de responsabilidade de um pai e de uma mãe ao gerar um filho que venha a ter problemas pelo uso impensado de drogas. REFERÊNCIAS CAPUTO, Valéria Garcia; BORDIN, Isabel Altenfelder. Gravidez na adolescência e uso freqüente de álcool e drogas no contexto familiar. Revista saúde pública, v.42, n.3, p. 402-410, 2008. COSTA, A. C. L. A família e as drogas. In: Bucher, R. Prevenção ao uso indevido de drogas. 2v, p. 77-84. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1989. FAUSTINI, Dulce Méri Tótola; NOVO, Neil Ferreira; CURY, Maria Cristina Faria da Silva; JULIANO, Yara. Programa de orientação desenvolvido com adolescentes em centro de saúde: conhecimentos adquiridos sobre os temas abordados por uma equipe multidisciplinar. Ciência e saúde coletiva, v.8, n.3, São Paulo, 2003. TORRES, Patrícia Lupion (Org.). Uma leitura para os temas transversais: ensino fundamental. A transversalidade e noções sobre as drogas psicotrópicas. P. 275 – 321. Curitiba: SENAR-PR, 2003. YAMAGUCHI, Eduardo Tsuyoshi; CARDOSO, Mônica Maria Siaulys Capel; TORRES, Marcelo Luis Abramides; ANDRADE, Arthur Guerra de. Drogas de abuso e gravidez. Revista de psiquiatria clínica, v.35, s.1, São Paulo: 2008.