CLAUDIA MARIA XATARA (UNESP) ABSTRACT: The monumental Tresor de la Langue Fran~aise consumed thirty years from great contempo-rary l{1xicographerswho worked with every one of the entries, making use of something much beyond a technique, namely, a thoroughly documented lexicolo-gic examination of all lexical units selected as entries, attentive to a linguistic coherence and philological exactness. For this tasle they had the support of the renowned CNRS in France, through the installations and fomenting from Instilu' NaJlonal de fa langue franfaise. KEY WORDS: Dictionary of language, Lexicography, Le-xicology, Philology. o famoso CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Cientffica) promovia em 1957 col6quios internacionais de lexicografia e lexicologia e respeitbeis partici-pantes como Bruneau, Matort, Quemada, Robert, Wagner, Ullmann, Battisti e yon Wartburg levantaram a importAncia de se poder dispor, em lingua francesa, de un instrumento lexicogratico tio prestigioso quanto 0 New English Dictionary, 0 Dicionario Hist6-rico de la Lengua Espanolae 0 projeto do Thesaurus da lingua italiana pela Academia della Crusca. 0 Littre ja nao satisfazia as exigencias da le:xicologia e da lexicografia cientffica (refer~ncias a campos nocionais, fraseologia, nfveis e registros de Ifngua, etc). Urn centro de pesquisa, entio, exterior ao CNRS, foi criado em 1960: 0 INALF, tendo recebido de inf-cio sua primeira missio desafiadora: a elabora~io do TLF (Thesaurus da lingua Francesa) - dicionario dos seculos XIX e XX (1789-1960), associando 0' trabalho artesanal tradicional (quem nega ser uma arte a lexicografia?) e os mttod6S de' tratamento documental facilitado pela mecanografia e eletrOnica. A elabora~l1o do TLF contou com inumeros colaboradores extemos (personalidades cientfficas, biblioteeas e 6rgaos de pesquisa) e mobilizou em torno de 150 pessoas, funcionarios e pesquisadores do INALF: urn diretor e redator-chefe, pessoal da reda~io (gropos de analise sincrOnica e gropos de analise diacrOnica etimologia e hist6ria, documentalistas, analistas fontticos e ortogrl1ticos,bibliotecarios, . encarregados da nomenclatura, coorden~ao e ficMrios, ttcnicos em manuscritos, assessores cientfficos), pessoal da mecanografia, dos servi~os eletrOnicos (analistas, programadores), dos servi~os gerais (secretarios) e urn comit~ de dire~l1o. SAo 16 tomos, cada urn com aproximadamente 1200 paginas no formato 40 x 20 Cffi. 0 primeiro volume inicia-se pOl um prefAcio de 35 paginas em que se discorre sobre 0 perfil do TLF, sobre 0 procedimento lexicografico adotado e sobre a teoria e pratica lexicograficas tradicionais .. Seguem 60 paginas com uma lista dos textos examinados • literarios, t&:nicos. col~oes. peri6dicos - representando 0 corpus que alimentou as abon~oes. Logoap6s. SaDmais 30 paginas de bibliografia te6rica, 2 sobre pronl1ncia, 5 de uma lista de abrevia~oes. 2 dos sinais convencionais. E para se ter uma id6ia do criterioso e exaustivo levantamento descritivo de cada unidade lexical realizado, citarfamos 0 verbete A, descrito como substantivo masculino, preposi~Ao e prefixo. que ocupa nada menos que 28 paginas. Escolhendo como entrada urna palavra compreendida como urna seqUencia de fonemas ou de grafemas. 0 TLF 6 urn dicionl1riode lingua, mas nAono sentido restrito de ser urn dicionl1rio de decodific~ao. pois al6m de ajudar seus usuarios a interpretarem 0 que ouvem ou leem, ajuda-os tamb6m a produzirem, dizendo e escrevendo corretamente, enunciados suscitados no momento do ato de fala. Assim, 0 TLF insere-se na tradi~Aolexicol6gica que estuda as palavras empregando 0 ponto de vista semasiol6gico, indo do significante ao significado. NAo sendo urn dicionario simplesmente descritivo, mas visando dar uma interpreta~ao lingilistica do funcionamento da lingua, 0 TFL conta com especialistas os lingilistas - que procuraram nao abusar da metalinguagem. evitando urna tecnicidade muito acentuada na red~Ao dos verbetes. o procedimento lexicografico adotado por ,eles explicita que entendem a lexicografia como urna disciplina mista de lingillstica e;fi.lologia. No TLF 6lingilistico tudoo que concerne Aanlllise dos dados lexicol6gicos,de suas rel~oes sintagml1ticase Asvezes estilfsticas. de emprego. Lingilistico. ainda. tudo o que se refere ao sumario hist6rico que acompanha os artigos, assim como as breves indic~Oes fon6ticas que os completam. E por que seria tamb6m filol6gico? Porque apoiando-se na filologia, cietIcia do discurso concreto e naturalmente ligada AprecisAo do detalhe, Anuan~a dos empregos, A exata situa~ao de cada ocorrencia de vocabulario em seu ambiente terml1tico. s6cio-cultural e hist6rico, os lexic6gra-fos do TLF dAo garantia aos seus _ consulentes de que se trata de urn dicionario confiavel. E filologia tudo 0 que concerne AsreferetIcias e, em larga medida, Apr6pria escolha dos exemplos, cujos enunciados sao obra, nao de redatOles, mas de autores que usam a lfngua sem preocupa~ao lingillstica direta. As unidades lexicais selecionadas para comporem 0 TLF, SaD oriundas de urn conjunto de trabalhos documentais (100 milhoes de ocorrencias): dicionanos, inventarios de toda natureza, indices, glossarios, concordfulcias, teses, livros. artigos de peri6dicos e de jornais. Dentre.os dicionarios, os que melhor serviram aos prop6sitos desse projeto foram 0 Dietionnai're de l'Acadimiefranc:aise, por atestar urn vocabulano seletivo caracterfstico de urn certo tipo de (alta) cultura e fornecer exemplos originais, cujos autores slio escritores; 0 Grand Larousse por extensivo e constantemente atualizado; 0 Littre pela riqueza de sua nomenclatura, pela precislio de suas defini~oes, pela prospec~lio da lingua "classica"; 0 Dictionnaire general pelo rigor l6gico de suas classifica~oes semlIDticas;0 Grand e Petit Robert pela densidade de uma inform~Ao lexicol6gica rigorosa e aberta; 0 Dictionnaire du ja~ais contemporain por seu prop6sito deliberado de tratar apenas do vocabul~io usual e excluir qualquer exemplo tomado de "escritores"; eo FEW, dicion~io etimol6gico de yon Wartburg pela quase exaustividade no tempo, espa~o geognHico e na distribui~l1os6cio-cultural. Mas 0 TLF diferencia-se de todos os dicionArios mencionados, por destinar-se explicitamente a urn publico cultivado econfigurar-se, de ante1IJAo,como uma coletatlea de inform~5es lexicol6gicas. Desse modo as anilises semAnticas sac mais indica~l1oe orient~11o de sentido que defini~Aoexaustiva; as precisoes estilfsticas, mais sugestAode nuan~a que tradu~Ao em metalinguagem; a not~11o das constru~5es gramaticais menciona com as regras restritivas as liberdades e varia~oes permitidas. Quanto a pron-uncia,indica-se a norma tradicional, e se possivel as modific~oes que vem sofrendo. Elementos de estatfstica dAouma ideia s~ia da atualidade de urna palavra no uso literArio.Cada palavra vem acompanhada de sua entrada na lingua, isto e, de sua etimologia, e das principais etapas de sua hist6ria. Dma breve bibliografia informa as fontes docurnentadas, 0 que possibilita prolongar uma pesquisa peSSOal'Alem de tudo isso, 0 consuiente do TLF, honiem de estudo, a partir do que jA sabe sobre 0 estatuto presente de uma Palavra ~ sobre 0 encaminhamento anterior de onde ela procede, poderA incitar-se pela pr6pria leitura dos exemplos, a criatividade ativa, indo, assim, de "jA expresso melhor compreendido" a uma expressl10pessoal inedita. As entradas desse dicionArio,enta~, sl10formas nominais em ordem alfabetica. Entram os neologismos autenticamente franceses; os derivados de nomes pr6prios de pais, povos, cidades ou pessoas; os termos regionais na medida em que sAoutilizados espontaneamente em determinada regil10por habitantes que nAo tern a consciencia de dialeto; unidade lexicais nao-autOnomas (elementos prefixais ou sufixais) agrupando urn grande nlimero de palavras, jA que a aplica~Aodo princfpio morfol6gico permite aliviar a nomenclatura de urn eJlCeSSO de palavras que iniciam ou terminam pelo mesmo elemento formador. Cada Palavra e considerada como ligada a urn radical e a cada radical podem ligar-se v~ias palavras constituindo com ele uma familia. Os elementos contextuais estAo presentes, pela anilise distribu-cional, para indicarem diferen~as como a do dominio, a da ret6rica (principalmente pela metonfmia, metAfo-ra e elipse), a da estilfstica (atraves dos nfveis e registros de lingua apontados), a das rel~5es morfossintagmAticas e a das condi~5es sematlticas. 0 uso de sinOnimospara explicitar 0 sentido e feito com muita prudencia, procurando-se evitar defini~oes circulares. A inform~l1o semantica principal consiste na dejini{;tio, que e a forma lexicogrAfica tradicional da anAlise componecial. De acordo com sua concep~l1o aristottlica, e concebida com urn enunciado que indica primeiramente 0 "genero pr6ximo" depoisa . "diferen~a especffica" (banco e pr6ximo a soja, mas e menos profundo, mais duro e nAo figura como mobfiia de uma sala); portm, a diferen~a da definic~o aristot6lica, a deftniy~ lexicogrcUica visa apenas a apreender as representayC1esda realidade sem se preocupar com sua verdade. No que concerne a descriylio fonttica, os lexic6grafos do TLF serviram-se de obras especiais como as de Barbeau e Rodhe, de FoucM, de Warnant. Ainda dentro da base documental do TLF, merece mencllo especial 0 IGLFInvenJaire general de la langue jranr;aise. Trata-se de uma coleylio de aproximadamente seis milMes de fichasclassificadas por autores e por textos examinados, divididos em duas grandes se~lIes: textos ditos "literm-ios" de todas as epocas da hist6ria da lingua, textos ditos "t~cos", isto e, que pertencem a domfnios de diversas especialidades atestando uma esp6cie de lingua mMia, pois visa mai.s a clareza da comunica~ao que a vivacidade da expressao, pr6xima do que se qUalifica habitualmente de norma. Em rela~ao a lin-guagem falada, universal e legitimamente considerada como 0 Iugar privilegiado das renovaylles do idioma, seus "representantes" (dil1rios,correspondencias, mem6rias, teatro em prosa, partes dialogadas dos romances) s~o reflexos dela, tao diretos quanto possfvel.Estipularam-se "concordl\ncias" como seqt1~n-eiasde contextos de tres linhas e "fichas" de 18. No que diz respeito a periodizayao, exigencia pfl1tica que evidentemente visa a facilitar 0 tratamento dos documentos, os limites do TLF sao da Revoluyao de 1789 att 1880 e, uma· segunda parte, ate 0 advento da segunda revoluyllo industrial, 1960, retendo-se importantes polos da evoluyao da sociedade francesa e humana. 0 valor simb6Iico dos fatos de 1789 dispensa maior detalhamento; a reorganizayiio do ensino prim4rio e universitario, a lei do div6rcio, 0 nascimento do nacionalismo tradicionalista, o desen-volvimento da pesquisa matemAticae medica, a morte de V. Hugo, 0 fentlmeno Zola e 0 simbolismo e 0 esboyo de uma corrente contrAria a "belle epoque" numa civiliza~lio cada vez mais tecmcista (acontecimentos esses referentes aos anos de 1880) e os sinais cada vez mais numerosos da era attlmica, a difusiio da informAtica e dos meios de comunicay~o cada vez mais poderosos, a for~a de grandes ideologias, os fenOme-nos racistas e anti-racistas, a descolonizayao e a contestayilo universal dos valores transmitidos despo-ticamente (referimo-nos agora aos acontecimentos em tomo de 1960) serviram de referlmcias para 0 corte da bist6ria do vocabull1rioem perfodos, pois sac valores que se refletem na linguagem, constatando-se que 0 principal criterio da periodizayao 6 externo a lingua enquanto sistema. Sendo, portanto, a dinamica social urn fator de motivaylio extema a criatividade da linguagem, vemos os fatos da hist6ria· de urn povo, jA manifestos ou em estado latente, ressoando inega-veltnente no vocabulmo, atravesde novas acep~Oesou contribuicC1esneol6gicas. o INALF publica, desde 1970, urn Bulletin analytique de linguistique jranr;aise (com 6nl1meros por ano); 0 Dicitionnaire de jriquences du vocabulaire jrtlnfais des XIXe et xxe siecles; em que se aplicou 0 coeficiente 7, 6 ou 5 para as unidades lexicais do seculo XIX e 4 ou 3 para as do seculo XX; e 0 Dictionnaire inverse, cuja utilidade e grande para analise dos derivados, nurnerosos em qualquer lingua natural "evolufda" e para reda~l[o dos artigos consagrados aos sufixos, que entram necessariamente no programa de urn dicionario que se quer tambem dicionario de produ~ao. Com todo 0 apoio do CNRS (0 CNPq da Fran~a), portanto, vem atuando 0 INALF, por entender a lingua francesa como monumento nacional. A quoi eet exemple nous pourrait-il servir? ... INALF. Tr~sor de la langue f1YJnfaise - dictionnaire du xIX'! et du Ga11imard, 1971-1993 (XVI tomes). xxe si~cle (1789-1960). Paris: