Centro de Educação e Assessoramento Popular Boletim Eletronico - CEAP Ano 3 Nº 10 –2012 C Ainda nesta edição: FÓRUM SOCIAL TEMÁTICO DA SAÚDE E SEGURIDADE SOCIAL 2013 ELEIÇÕES 2012: SAÚDE NO CENTRO DO DEBATE O CAPITALISMO IRÁ SE RECRIAR NOVAMENTE? CURSO DE FORMAÇÃO: DIREITO HUMANO À SAÚDE EDITORIAL Publicamos, com satisfação, a décima edição do Boletim Eletrônico do CEAP. Iniciado em 2008 com o intuito de noticiar semestralmente as atividades institucionais, além de abordar temas de conjuntura. A décima edição traz como conteúdo as atividades realizadas no semestre entre os que destacamos: o curso Direito Humano à Saúde realizado nas três capitais da região sul do país para lideranças que atuam na temática da saúde; as reuniões realizadas com o Ministro da Saúde e movimentos da sociedade civil para discutir o tema da Seguridade Social, especialmente a agenda 2013, destacando a V edição do Fórum Social Mundial da Saúde e Seguridade Social-FSMSSS, prevista para março de 2013 na Tunísia e, a Conferência Nacional de Seguridade Social colocada em pauta para 2013. Além disso, o Boletim traz noticias sobre a publicação de dois textos produzidos por educadores do EXPEDIENTE Conselho Diretor: Moacir Filipin, Henrique Kujawa, Alessandra Schneider Elaboração e Editoração: Jorge Gimenez Peralta, Nara A. Peruzzo, Valdevir Both Centro de Educação e Assessoramento Popular CEAP Rua Independência, 95, Sala 02 CEP: 99010-040 Passo Fundo - RS Fone: (54) 3313-6325 [email protected] www.ceap-rs.org.br CEAP no terceiro informe sobre Direitos Humanos publicado este ano por 4 redes nacionais de Direitos Humanos, uma reportagem sobre as últimas eleições municipais e o tema da saúde como um dos temas marcantes do debate eleitoral, além dos desafios para os novos gestores. Destacamos ainda o texto sobre o COAP, o novo contrato de gestão na Saúde em processo de contratualização, problematizando alguns limites para o controle social e uma reportagem, que é tema da capa desta edição, sobre a crise econômica mundial, as soluções impostas pelos órgãos internacionais e suas consequências. Por último, na entrevista desta edição conversamos com a educadora do CEAP Nara Peruzzo que recentemente defendeu pesquisa realizada por ocasião do termino do mestrado em educação. Nara pesquisou sobre Cidadania da mulher em Jean-Jacques Rousseau, filósofo moderno, problematizando a questão do gênero a partir do autor. Estes e outros temas abordados nesta edição resumem as atividades realizadas pelo CEAP no período e colocam, para o ano que vem, algumas agendas, especialmente no âmbito nacional e internacional. Com isso, reforçamos o compromisso de trazer para a arena pública os temas que precisam, na nossa leitura, fazer parte do debate das organizações sociais, como o caso da Seguridade Social para citar um exemplo, e que se constituem, para nós, na centralidade da nossa identidade institucional de lutar por um outro mundo possível. Finalmente desejamos a todos e todas uma boa leitura, boas festas de fim de ano e votos de que 2013 seja um ano de muitas realizações. Conselho Diretor NESTA EDIÇÃO: Matéria da Capa: A crise continua. Para onde vai a Europa?.... p. 02 O capitalismo irá se recriar novamente?......................................p. 03 Fórum Social Mundial será na Tunísia.........................................p. 03 Fórum Social da Saúde e Seguridade na Tunísia......................... p.04 Reunião da Sociedade Civil discute sobre seguridade social.......p.04 CEAP realizou cursos de Formação na região sul.......................p.05 CEAP publica textos no Relatório Sobre Direitos Humanos...... p.05 Entevista: Nara A. Peruzzo, educadora do CEAP....................... p.06 Eleições Municipais: a saúde no centro do debate....................... p.07 Novo tipo de contrato no SUS....................................................... p.08 A crise continua. Para onde vai a Europa? Estamos mais do que acostumados com as inúmeras noticias, de todos os meios de comunicação, sobre os problemas financeiros dos países da zona do Euro e de forma geral do mundo global. Os noticiários diariamente publicam indicadores que de certa forma mostram a recessão da economia, a perda de competitividade dos bancos, o aumento do desemprego e indicadores negativos frente a estímulos econômicos e de gestão ENTREVISTA aplicados pelos governos. A crise, portanto, parece não ter fim. As consequências dessa turbulência financeira global são dramáticas. Os meios de comunicação mostram diariamente a reação da sociedade europeia, e de outras partes do mundo, às medidas adotadas para enfrentar o problema. Desde o surgimento da crise, ainda em 2008, nos Estados Unidos, a solução foi injetar trilhões de dólares no mercado financeiro com o intuito de dar fluxo ao capital e recuperar a dinâmica do mercado, uma vez que bancos simbólicos do capitalismo ruíram de um dia para outro. Os dólares injetados eram invariavelmente oriundos do Estado, o mesmo que os liberais criticam o tempo todo. Depois a crise passou a atormentar a zona do Euro, especialmente a Grécia e, posterior, a Espanha, Portugal, Itália e outros países da zona. Em geral, estes países, endividados com os bancos privados de forma exorbitante, apresentaram recessões econômicas seguidas e o endividamento acima da capacidade de pagamento dos Estados. A Espanha, por exemplo, irá destinar, em 2013, um a cada 4 euros do seu orçamento para o pagamento da dívida. A Grécia, apesar da ajuda do Banco Central Europeu, há dois anos vem apresentando indicadores negativos no que se refere à recuperação da economia. Para além dos problemas financeiros dos países, o dramático da situação europeia e do mundo como um todo, uma vez que a crise tem efeitos globais, são as medidas adotadas a fim de enfrentar a crise. A primeira, e principal elemento de enfrentamento da situação, é a chamada Austeridade dos gastos públicos. Isso implica na redução de salários, aumentos da idade mínima para aposentadoria e consequentemente aumento do tempo de contribuição, copagamento por serviços essenciais, até então gratuitos e universais como a Saúde na Espanha. Corte significativo dos gastos sociais na maioria dos países, gerando um significativo número de desempregados, congelamento dos salários dos servidores públicos, como fez a Grécia recentemente, entre vários outros fatores que implicam em violação de direitos sociais fundamentais conquistados pelos europeus. Portanto, invariavelmente, todos os países adotam medidas que restringem o gasto público, gerando mais d e s e m p r e g a d o s e consequentemente aprofundando a crise. Os órgãos monetários, como FMI e o Banco Europeu, exigem dos países medidas rigorosas que implicam na violação dos direitos acima citados. O caso emblemático é a Grécia que, apesar de milhares de manifestantes terem saído nas ruas manifestando contrariedade às medidas de austeridade, há dois anos vem implementando rigorosamente as receitas do liberalismo monetário e mesmo assim não demonstra indicativos de saída da crise. Até aqui, inúmeros direitos já foram congelados em nome da recuperação das contas do Estado, que na prática significa pagar as dívidas aos grandes bancos capitalistas. Ainda dentro das medidas liberais, o primeiro ministro português, numa recente entrevista, culpava pela crise o que ele chama de excessiva presença do Estado na economia do pais, propondo a privatização de empresas publicas como parte dos ajustes necessários para sair da recessão. Ou seja, todas as medidas adotadas até agora são da receita clássica do liberalismo monetário. O capitalismo irá se recriar novamente? Desde a grande depressão em 1929, o capitalismo tem enfrentado inúmeras crises e sobreviveu a todas elas. Parece ser da natureza do sistema a crise e a sua própria recriação. István Méssaroz, num recente livro publicado, disse que a crise atual não tem nada de novo. Pelo Contrário, é endêmica, cumulativa, crônica e permanente; e suas manifestações são o desemprego estrutural, a destruição ambiental e as guerras permanentes. Seria, por isso, insuficiente que os governos injetem milhões e milhões de dólares e euros para salvar as economias dos países e a consequência é visível nos países mais afetados pela crise. Apesar dessa dinâmica do sistema, de se recriar continuamente, a crise atual coloca para o mundo a necessidade de construir sistemas econômicos e políticas que supere a visão clássica da economia liberal de que apenas o mercado é capaz de se autoregular e que a solução aos problemas nos países passa apenas pelo comprometimento dos desemprego e comprometer a conquista de direitos sociais seculares. Além disso, é possível sim buscar outras soluções que não sejam aquelas que, aproveitando a crise e sob o argumento de uma única saída, aprofundam o problema e aplicam suas receitas já conhecidas desde as primeiras crises do capitalismo. É nesse sentido que as vozes dos movimentos sociais, intelectuais e sindicatos têm ganhado espaços com a ideia de que uma das soluções da crise econômica é aumentar o investimento público, maior presença do Estado na economia e regular o sistema financeiro global. Como afirma Amartya Sem numa recente entrevista publicada num jornal do Brasil: “As medidas intransigentes adotadas na Europa são baseadas em um raciocínio muito confuso. Você diz que elas foram adotadas "para combater a crise". Na realidade, porém, elas estão agravando e muito o problema da recessão, ao acabar com os incentivos para a expansão da economia da Europa (por meio do em pouco tempo é capaz de aumento da demanda), justamente comprometer todo um continente, quando é mais necessária”. colocar milhares de pessoas no direitos sociais fundamentais. O sistema monetário e financeiro precisa ser regulado à luz dos direitos humanos fundamentais, cuja responsabilidade de garantir são os Estados. Daí a necessidade que os Estados controlem cada vez mais a voracidade dos bancos, que Fórum Social Mundial 2013 será na Tunísia. A C o m i ssão de acompanhamento do Fórum Social Mundial confirmou a data da realização do Fórum em 2013. Será nos dias 26 a 30 de março na Tunísia, África. A Comissão também divulgou o calendário para inscrição de atividades, além do lançamento da página do Fórum que já está no ar (www.fsm2013.org). No calendário, divulgado pela Comissão, as atividades previstas até após o Fórum são: 5/10/12: lançamento da página do FSM 2013 e do processo de inscrição para as organizações e abertura de proposta de atividades; 01/12/12: fechamento da fase de propostas de atividades e publicação das propostas com dados de contato.; 2 a 15/12/12: fase de consolidação (aglutinação) das propostas; 16 a 31/01/13: registro das solicitações de assembleias de convergências e definição de espaços para as atividades. 1º a 28/02/13: elaboração do programa final e tradução do mesmo para os idiomas de comunicação do FSM; 1º a 20/03/13: implementação da logística, impressão do programa e organização do espaço físico do FSM; 26 a 30/03/13: realização do FSM 2013. 30/03/13: ato de encerramento; 31/03 a 1º/04/13: reunião com Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, na Tunísia. FÓRUM WORLD F O R O FORUM WORLD F O R O WORLD F O R O WORLD F O R O SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL MUNDIAL FORUM MUNDIAL MONDIAL MUNDIAL FORUM MUNDIAL MONDIAL MUNDIAL FORUM MUNDIAL MONDIAL MUNDIAL FORUM MUNDIAL MONDIAL DA SAÚDE E ON HEALTH DE LA SALUD DE LA SANTE DA SAÚDE E ON HEALTH DE LA SALUD DE LA SANTE DA SAÚDE E ON HEALTH DE LA SALUD DE LA SANTE DA SAÚDE E ON HEALTH DE LA SALUD DE LA SANTE SEGURIDADE AND SOCIAL Y SEGURIDAD ET DE LA SÉCURITÉ SEGURIDADE AND SOCIAL Y SEGURIDAD ET DE LA SÉCURITÉ SEGURIDADE AND SOCIAL Y SEGURIDAD ET DE LA SÉCURITÉ SEGURIDADE AND SOCIAL Y SEGURIDAD ET DE LA SÉCURITÉ S O C I A L SECURITY S O C I A L S O C I A LE S O C I A L SECURITY S O C I A L S O C I A LE S O C I A L SECURITY S O C I A L S O C I A LE S O C I A L SECURITY S O C I A L S O C I A LE Fórum Temático da Saúde e Seguridade Social na Tunísia. Como nas edições anteriores, o Fórum Temático da Saúde e Seguridade Social - FSMSSS também acontecerá no país sede do Fórum Social Mundial e iniciará dias antes do Fórum Social Mundial. O FSMSSS terá, em 2013, sua quinta edição e será marcado pelo debate da seguridade social no mundo, especialmente, considerando a realidade africana sobre este tema e a crise das políticas sociais nos países da zona do euro. O CEAP, enquanto Secretaria Executiva e o Comitê Internacional do FSMSSS já estão em processo de construção da programação do Fórum, das datas e outros detalhes referentes à realização do mesmo. As informações referentes ao evento serão publicadas no site www.fsms.org.br. Reunião da Sociedade Civil discute sobre Seguridade Social Na sequência da agenda realizada com o Ministro da Saúde, no mês de julho, as entidades ligadas ao Fórum Social Mundial da Saúde e Seguridade Social FSMSSS realizaram, no mês de agosto, reunião em Brasília para discutir sobre a agenda e os desafios da Seguridade Social no país. A reunião fez parte do processo de debate a ser construído na sociedade civil a partir do diálogo com o governo brasileiro, considerando as três agendas acordadas na audiência com o Ministro da Saúde. Na reunião em Brasília, os participantes iniciaram a reunião refletindo sobre a conjuntura atual da Seguridade Social à luz da crise europeia que afeta principalmente o sistema de seguros sociais dos países. No Brasil, na avaliação dos participantes, há um processo de construção e fortalecimento das políticas sociais, contrariamente ao que acontece nos países europeus e de outras regiões em crise. No entanto, há desafios importantes a serem superados e cujo debate a s o c i e d a d e p r e c i s a f a z e r, especialmente os movimentos sociais. Esse foi o objetivo da reunião. Definiu-se ainda pela realização de reuniões sistemáticas e debates com movimentos e organizações sociais de tal forma a produzir um diálogo nacional sobre esses desafios. Ao falar dos desafios, Armando de Negri, do Movimento Saúde dos Povos, disse que ”precisamos construir argumentos na academia, nos sindicatos e nas organizações sobre a seguridade social. Se conseguirmos fazer uma Conferência, o que vamos dizer? Vamos sair com 5.000 ideias?. Nós continuamos tendo, na saúde por exemplo, um sistema misto e fragmentado, apesar da sua universalidade. Não podemos ficar defendendo o SUS sem as demais políticas da seguridade social. Ana costa, do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde – CEBES, , afirmou que é necessário ampliar o debate na sociedade civil ampliando os atores para colocar este tema na agenda dos movimentos. Precisamos, segundo ela, juntar uma bandeira, quem sabe a retomada do Conselho Nacional de Seguridade Social, uma bandeira que gere mobilização na sociedade. Por sua vez a Claudia da Central Única dos Trabalhadores – CUT, falou da necessidade de ampliar o debate para dentro do governo de tal forma a colocar o tema na centralidade da agenda do Estado brasileiro. Este, segundo ela, deve ser um dos objetivos principais dos movimentos e organizações sociais. Vários outros temas foram discutidos no encontro. No final os participantes encaminharam a realização de reuniões mensais ou bimestrais para continuar com o debate, dois seminários em 2013 e trabalhar para que no próximo ano o governo brasileiro realize a Conferência Nacional de Seguridade Social, em cujo processo preparatório o grupo terá o papel de propor as diretrizes temáticas a serem debatidas. Além disso, ficou acordado a realização de mais um encontro como seguimento do processo, um na ocasião do Congresso da ABRASCO em Porto Alegre. CEAP realizou cursos de formação na Região Sul Nos meses de novembro e dezembro de 2012, o CEAP em parceria com a Organização PanAmericana de Saúde, realizou curso de formação em Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba para sessenta lideranças sociais com atuação em conselhos, fóruns ou outros espaços organizativos. Além das etapas formativas em cada estado, será realizado em fevereiro de 2013, em Passo Fundo, o seminário de encerramento que discutirá o tema: Democracia e Direitos Humanos; e publicará uma cartilha que sistematizará a experiência formativa. O objetivo da formação foi contribuir para que essas lideranças sociais, atuantes em conselhos, fóruns ou outros espaços organizativos, qualifiquem (ou qualificassem?) o debate da saúde pública nesses espaços. Por esse motivo, o curso primou por uma metodologia participativa e problematizadora da realidade de cada sujeito do processo. Além disso, durante os quatro dias, os participantes discutiram sobre vários temas referentes ao SUS, entre os quais, destacamos: a história da saúde no Brasil; a participação social no SUS; Planejamento e o novo processo de contratualização, o COAP. Na avaliação dos participantes, os temas abordados foram importantíssimos e contribuirão para qualificar a ação destes nos seus respectivos espaços organizativos. Os participantes dos três estados irão se encontrar em fevereiro de 2013 por ocasião do Seminário previsto em Passo Fundo para aprofundar o debate já realizado nos Estados, além de receber a cartilha a ser publicada, sistematizando o processo formativo realizado com as lideranças. CEAP publica textos no Relatório sobre Direitos Humanos O relatório é uma publicação periódica do P r o j e t o Monitoramento em Direitos Humanos no B r a s i l coordenado pelas redes Articulação de Entidades Parceiras de Misereor no Brasil, Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Processo de Articulação e Diálogo entre as Agências Ecumênicas Europeias e Parceiros Brasileiros (PAD) e Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca Brasil). A edição publicada este ano é o terceiro informe com o título: Direitos Humanos no Brasil 3: diagnósticos e perspectivas. Os educadores do CEAP publicaram dois textos na edição do informe. O primeiro, escrito pelo Valdevir Both, é uma análise do Direito Humano à Saúde no Brasil. Valdevir analisou no texto três aspectos importantes da saúde: o financiamento, uma leitura dos indicadores da saúde e a relação público privada no SUS. Ao mesmo tempo em que reconheceu o extraordinário avanço da saúde desde 1988, Valdevir aponta desafios importantes na consolidação do Sistema Único da Saúde. Segundo ele: “Se o caminho para a garantia do direito à saúde foi a construção do SUS, a sua implantação está sofrendo inúmeros obstáculos. A começar pela dificuldade de figurá-lo como prioridade no desenvolvimento do país, passando pelo limite no financiamento e sua relação complicada com a saúde privada, é possível afirmar que ainda estamos muito distantes de garantir o direito à saúde para todos e todas”. O segundo texto, escrito pelos educadores Nara Peruzzo e Jorge Gimenez, trata sobre a Participação e Controle Social no Brasil. No texto, os dois problematizam o conceito de controle social como radicalização da democracia, além de levantar alguns desafios contemporâneos ao exercício do controle. Segundo os autores, “deve haver um esforço conjunto, Estado e sociedade civil organizada, para que possamos avançar na difícil e lenta construção de um Estado radicalmente democrático. Este horizonte é o que mantém vivo o esforço militante de milhões de brasileiros que anualmente dedicam seu tempo para discutir a construção de um Estado inclusivo e democrático. Ou seja, um Estado para todos e todas” ENTREVISTA O Boletim Eletrônico entrevistou Nara Aparecida Peruzzo, educadora popular do CEAP, por ocasião do término do seu Mestrado em Educação. Nara Pesquisou sobre a questão da cidadania da mulher em Rousseau, questionando se a Mulher esta inclusa na cidadania na teoria política de Rousseau ou não. CEAP: Um dos pensadores mais influentes da modernidade, Rousseau, foi o autor pesquisado na tua dissertação de mestrado, qual a importância dele para o nosso século? Nara: Rousseau, autor de paradoxos, amado por alguns e criticado por outros, exerceu grandes influências no pensamento moderno. No campo pedagógico, traz o conceito de infância e coloca a criança no centro da aprendizagem. No campo político é considerado o pai da democracia moderna. É bom termos clareza que para Rousseau sociedade democrática é aquela em que todos podem participar em pé de igualdade das decisões do Estado, ou seja, a compreensão de democracia para Rousseau é a democracia direta. No campo social, defende que os seres humanos são naturalmente bons e livres e que é a cultura que os aprisiona e os corrompe. Essa compreensão contribui, e muito, para a compreensão de que todos têm direitos inalienáveis, fundamentando inclusive a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Outra contribuição de Rousseau, que vejo uma necessidade de retomada, é a relação estabelecida entre educação e política. Para ele não há como separar uma da outra, pois somente uma Paidéia justa poderá resultar em um estado justo. Os seres humanos precisam ser ensinados a serem cidadãos, para que de fato possam participar da arena pública e tornarem-se sujeitos da sua ação. E, talvez, por essa compreensão que decidi pesquisar a questão da cidadania da mulher em Rousseau. CEAP: Como dissestes, pesquisou o tema da cidadania da mulher em Rousseau. Como o autor tratou sobre isso e como essa visão marcou a sociedade contemporânea ocidental? Nara:Isso. A pesquisa pretendeu investigar sobre a proposta de educação desenvolvida por Rousseau às mulheres na Obra Emílio ou da Educação. Problematizando a finalidade da mesma, e consequentemente, a relação entre política e educação. De modo sintético, posso dizer que o questionamento central consistiu em saber se a mulher está inclusa ou nãoem uma cidadania efetiva em Rousseau. E como sabemos, para Rousseau, a educação é a ferramenta para a consolidação do estado ideal esboçado no O Contrato Social. Logo, iniciamos a pesquisa comparando o projeto pedagógico para Emílio e o para Sofia e constatamos a presença de dois projetos distintos. Enquanto um é voltado para a emancipação, o outro, para a submissão. O Homem será educado para ser cidadão da República e a Mulher para ser mãe, esposa e dona-de-casa. Percebese uma hierarquia valorativa, de saber e de poder entre homem e mulher. Hierarquia fundamentada a partir de questões biológicas e sexuais. Enfim, relacionando as três obras Emílio, Segundo Discurso e Contrato Social, concluímos que a mulher não é e nem poderá vir a ser cidadã no projeto político pensado por Rousseau. E por fim, respondendo a segunda parte, Rousseau não se dedica de forma direta ao tema, mas indiretamente não só se dedica como também toma sua posição em relação ao tema, sendo q u e , a s consequências são ainda visíveis em n o s s a s sociedades democráticas. CEAP: Por último, qual a importância dessa pesquisa para os movimentos e organizações sociais? Podemos dizer que o tema de gênero, considerando suas implicações, precisa estar na pauta dos movimentos sociais? Porquê? Nara: A agenda de gênero não é mais apenas uma especificidade, ela é estruturante para o tema da democracia. Entendemos que a questão da radicalização da democracia não é apenas um problema de classe social, mas também de gênero, de raça e etnia. É de extrema importância os movimentos e as organizações sociais incluírem esse tema em suas agendas políticas para que de fato possamos construir uma sociedade mais equânime em todos os campos. E, talvez, eliminar resquícios patriarcais de nossos d i s c u r s o s e d e n o s s a s l u ta s cotidianas. E o pensamento de Rousseau é atual e perpassa muito nossa sociedade. Desde a compreensão ontológica da mulher até o seu papel sócio-político na sociedade. Basta olharmos para a sociedade e percebermos que muitas vezes, a mulher, ainda é compreendida em relação ao homem. Ela ainda é secundarizada em todos os campos. De modo geral, acho que foi uma pesquisa interessante por dois motivos: primeiro por quase não tratarmos desse tema em Rousseau. Segundo, para percebermos que nos fundamentos do estado democrático moderno, a mulher não é compreendida como sujeito político. . Eleições Municipais: a saúde no centro do debate O processo eleitoral brasileiro comemorou mais uma festa da democracia ao realizar, no dia 07 de outubro, as eleições municipais. Novos prefeitos e vereadores deverão assumir o mandato, outorgado pelo povo através do voto, no dia 01 de janeiro de 2013. As novas autoridades terão, sob sua responsabilidade, o compromisso de, nos próximos 4 anos, conduzir a vida política, social e econômica dos mais de 5 mil municípios que compõem o Brasil. A eleição municipal é sempre um momento quase único de profundo debate sobre as questões que dizem diretamente à vida das pessoas, uma vez que é no município que acontece a vida das pessoas. Por isso as eleições municipais são intensas e envolvem um número significativo de pessoas que, identificados com um candidato ou outro, se envolvem ajudando os seus prefeitos e vereadores, na conquista da confiança traduzido em voto no dia da eleição. Nesse processo, os temas debatidos durante os três meses de campanha geralmente traduzem os desafios, as deficiências e os problemas encontrados nas vilas e nos bairros dos municípios. Foi assim que mais uma vez, a saúde ocupou a centralidade da campanha eleitoral. Nos debates, nos programas de TV e Rádio dos candidatos, este foi o tema central e seguramente os que fizeram o trabalho de visitar as vilas e bairros, devem ter sentido que a preocupação central dos cidadãos é com a saúde. Essa situação pode ser dada como termômetro da situação atual do SUS que, apesar das inúmeras conquistas, ainda tem muitas deficiências e as pessoas, especialmente aquelas que dependem exclusivamente do sistema, têm histórias de exames atrasados, consultas não realizadas, filas para cirurgia, ou situações extremas em que ainda, por incrível que pareça, famílias que precisam se desfazer de seu patrimônio para pagar determinados serviços de saúde. O tom da campanha, como muitos «há um desafio importante a ser enfrentado no âmbito da saúde e os novos gestores precisarão encarar isso com um planejamento bem elaborado, com metas, responsabilidades e objetivos concretos, incorporando o papel central da participação social.» analistas tem levantado, foi a saúde, junto com segurança pública, educação e transito. Aliás, esses temas tem sido decorrente nas últimas eleições, sejam municipais, estaduais ou nacionais. Daí decorre a importância desse processo eleitoral e o desafio dos novos gestores, especialmente aqueles que irão assumir a pasta da saúde na gestão municipal, de compreender o desafio de trabalhar com essa imensa demanda na área da saúde. Por isso, é fundamental que os novos gestores assumam suas funções públicas, sejam eles do executivo ou legislativo, compreendendo o desafio posto nas diferentes áreas, e para nós de forma específica a saúde. Essa compreensão exige respostas aos problemas elencados e para isso será fundamental que os elementos disponíveis para o exercício da gestão sejam realmente considerados como aliados importantes no esforço de responder os desafios colocados. Nesse sentido, os novos gestores deverão trabalhar, ainda em 2013, na realização da Conferência Municipal de Saúde, na elaboração dos Planos Municipais de Saúde, incorporando as diretrizes da Conferência e na organização e planejamento das regiões de saúde, um dos novos mecanismos de gestão incorporado pelo Contrato Organizativo de Ação Pública em Saúde – COAP, ainda em faze de pactuação. Em síntese, há um desafio importante a ser enfrentado no âmbito da saúde e os novos gestores precisarão encarar isso com um planejamento bem elaborado, com metas, responsabilidades e objetivos concretos, incorporando o papel central da participação social no vários ambitos de controle dos gastos públicos da saúde e na proposição das ações públicas em saúde. NOVO TIPO DE CONTRATO NO SUS Desde a constituição de 88 e da criação das leis orgânicas da Saúde (Lei 808/90 e 8142/90) percorremos várias normativas para organização e funcionamento do SUS. Recentemente, em 2011, tivemos a regulamentação da lei 8080/90 pelo Decreto 7.508/2011. Mesmo quase um ano e meio após o decreto as discussões a acerca da sua implementação são diversificadas. Alguns apostam na eficiência do decreto, outros, nem tanto. Mas, de uma forma ou outra, a maioria o incluiu em sua agenda de discussão na saúde. O grande ponto de discussão e controvérsias é o Contrato Organizativo de Ação Pública em Saúde – COAP. O COAP é um contrato realizado pelos três entes federados (Município, Estado e União), no qual são especificadas as responsabilidades de cada um para as ações e serviços do SUS de uma determinada região de saúde. O Planejamento será regional e integrado, organizando os fluxos e as redes de saúde, de modo que, todas as regiões de saúde garantam a integralidade dos serviços do SUS à população. De maneira geral é possível dizer que o COAP é o aperfeiçoamento do Pacto. A instância de contratualização será a CIR (Comissão intergestores). E aqui, está um dos nossos questionamento: como o Controle Social acompanha esse processo regional? Em que momento o controle social cumpre com o seu papel? Aliás, qual a concepção de controle social expressa no COAP? Esses questionamentos surgem, uma vez que o novo modelo organizativo será regional e, por não termos instâncias de controle social regional. Parece-nos que o controle social assume mais uma posição de fiscalizador das ações restritas ao munícipio do que uma posição de participação do todo do processo. AGENDA 2013 Seminário Regional Fórum Social Mundial V FSMSSS Em fevereiro de 2013 o CEAP realizará o Seminário regional “Democracia e Direito Humano à Saúde” O evento irá reunir lideranças sociais dos três estados do Sul e será realizado em Passo Fundo. A próxima edição do Fórum, em 2013, acontecerá no mês de março na Tunísia. As inscrições para atividades já estão abertas e podem ser realizadas no www.fsm2013.org Fórum Social Mundial da Saúde e Seguridade Social A Quinta edição do Fórum Social Mundial da Saúde e Seguridade Social acontecerá dias antes do Fórum Social Mundial também na Tunísia. Os detalhes do evento estão disponíveis no www.fsms.org.br