INICIAÇÃO A NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA
Allan de Oliveira Lopes*
Giovanni Eschenazi Nicolas Villas-Bôas*
Jullyana Corrêa de Alencar**
Rafael da Silva de Oliveira***
[email protected]
* Discentes do curso de graduação em Educação Física da Universidade
Castelo Branco (UCB/RJ).
** Discente do curso de graduação em Educação Física da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
*** Orientador. Graduado em Educação Física pela UNISUAM – RJ. PósGraduado em Educação Física Especial pela Faculdade Gama e Souza – RJ.
Treinador do Projeto Nadando Contra a Corrente – Instituto Superar (NCC/RJ).
RESUMO
Na busca pela melhoria da qualidade de vida, nos últimos anos o número de
pessoas com deficiência que tem procurado adentrar a prática de esportes, tem
crescido consideravelmente. A prática da natação traz inúmeros benefícios.
Com as pessoas com deficiência não é diferente. A natação gera benefícios
físicos, psicológicos, sociais e terapêuticos. Com uma periodização eficiente e
a consequente profissionalização dos atletas, surge um novo cenário na
natação paralímpica. Sai de cena o esporte como forma de reabilitação e entra
o esporte de alto-rendimento. Para deficientes físicos, normalmente a iniciação
na natação se dá pelo trabalho de reabilitação feito geralmente em hospitais,
clínicas ou Universidades. O retorno físico e psicológico da natação para as
pessoas com deficiências pode ser notado, principalmente, na facilidade de o
indivíduo locomover-se. Da reabilitação à prática da natação como esporte, é
uma questão de tempo e escolha. As adaptações dessa população dentro do
esporte, podem contribuir para as adaptações fora do ambiente esportivo, o
ambiente da sociedade. Na sociedade as pessoas que possuem limitações
precisam estar cientes de que estar com a auto-estima e a auto-imagem
equilibradas serão fatores essenciais para o convívio com as outras pessoas
ao seu redor.
PALAVRAS CHAVE: Pessoas com deficiência, Natação, Benefícios.
Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
ABSTRACT
In the quest for improving the quality of life in recent years the number of people
with disabilities who have been looking to enter sports, has grown considerably.
The practice of swimming brings numerous benefits. With the disabled is no
different. Swimming benefits generates physical, psychological, social and
therapeutic. With a periodization efficient and consequent professionalization of
disabled athletes, a new scenario in Paralympic swimming. Leaves off the sport
as a form of rehabilitation and enters the high-performance sport. Handicapped
usually initiation in swimming is through rehabilitation work usually done in
hospitals, clinics or Universities. The return of the physical and psychological
swimming for people with disabilities can be noticed, especially in the ease of
the individual to move around. Rehabilitation practice swimming as a sport, it's a
matter of time and choice. Adaptations of this population within the sport can
contribute to the adjustments outside the sporting environment, the environment
of society. People in society who have limitations need to be aware that being
with self-esteem and self-image will be key factors for balanced living with other
people around you.
KEYWORDS: People with disabilities, Swimming, Benefits.
Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
INTRODUÇÃO
Na busca pela melhoria da qualidade de vida, nos últimos anos o
número de pessoas com deficiência que tem procurado adentrar a prática de
esportes, tem crescido consideravelmente, devido ao bem-estar físico e
psicológico que os esportes proporcionam. Desde a década de 70, estudos têm
sido realizados para especificar os efeitos benéficos das atividades físicas nas
diversas patologias e as respostas fisiológicas com relação aos exercícios para
essa população (Neto, 2000).
Segundo Almeida, alguns dos maiores valores do desporto e da
atividade física para a pessoa com deficiência são: “elevar o potencial do
corpo, melhora da autoimagem e, simultaneamente, ampliar as condições de
efetiva função na sociedade”.
Dentro do contexto desportivo, Meier (1981) acredita que a natação
é o esporte prioritário entre os exercícios físicos, pois o aluno vivencia a
liberdade de movimentos, podendo ser executados em todos os sentidos
contra a resistência da água, assim, em todo o nado, a musculatura total do
corpo é requerida.
A água e suas propriedades facilitam a movimentação do indivíduo
pois sua capacidade de sustentação (empuxo) e a força da gravidade quase
eliminada, geram menos esforço físico. De acordo com Campion (2000), a
água alivia o estresse sobre as articulações, auxilia no equilíbrio tanto estático
quanto dinâmico, proporcionando melhor execução dos movimentos que
poderiam ser até impossíveis de serem executados em outros meios.
“Em se tratando de pessoas com deficiência, juntamente
com grande dificuldade de equilíbrio e desenvolvimento
da marcha, as características peculiares da água como
alta viscosidade, espessura, eliminação da gravidade vêm
contribuir para a realização de exercícios de educação
e/ou reeducação motora, proporcionando-lhes maior
segurança na execução dos movimentos”.
(LÉPORE, 1999).
Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
Após a segunda Guerra Mundial, a natação foi introduzida como
esporte de competição e tem se tornado uma das modalidades esportivas com
mais tradição dentre os esportes para pessoas com deficiência (Grasseli e
Paula, 2002).
DESENVOLVIMENTO
A natação está presente desde a antiguidade, quando saber nadar
era uma forma de sobrevivência do homem. Os povos antigos eram exímios
nadadores. O culto ao corpo dos gregos fez com que a natação se tornasse um
dos exercícios mais importantes e originaram-se assim as primeiras
competições. Essa modalidade era tratada como método de preparação física
dos romanos. Estava incluída no sistema educacional da época. Em 1914,
passou as ser controlada pela CBDA – Confederação Brasileira de Desportos
Aquáticos. Em 1935 as mulheres começaram a participar das competições.
(Abrantes, 2006)
No Brasil do início do século passado, as provas eram realizadas em
rios. O Rio Tietê foi local de célebres competições, onde as travessias
realizadas eram bastante populares.
A NATAÇÃO PARALÍMPICA
A natação paralímpica está no programa de competições desde a
primeir Paralimpíada, em Roma, no ano de 1960. O Brasil entrou no quadro de
medalhas em 1984 em Stoke Mandeville, na Inglaterra.
A entidade que controla a natação paralímpica é o IPC - International
Paralympic Committee, com atribuições semelhantes à FINA. Coordena as
principais entidades esportivas internacionais que estabelecem as adaptações
específicas para seus atletas: CP-ISRA (paralisados cerebrais); IBSA
(deficientes visuais); INAS-FID (deficientes intelectuais) e IWAS (cadeirantes e
amputados).
A prática da natação traz inúmeros benefícios. Com as pessoas com
deficiência não é diferente. A natação gera benefícios físicos, psicológicos,
sociais e terapêuticos. Com uma periodização eficiente e a consequente
Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
profissionalização dos atletas, surge um novo cenário na natação paralímpica.
Sai de cena o esporte como forma de reabilitação e entra o esporte de altorendimento (Abrantes, 2006).
A partir da fundação do Comitê Paralímpico Internacional, em 1989,
surgiu uma tendência mundial para a criação de Comitês Paralímpicos
Nacionais, os chamados National Paralympic Committees (NPCs). No dia 9 de
fevereiro de 1995, foi fundado o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Ciente da importância de se fomentar a prática esportiva entre os
atletas brasileiros, o CPB estabeleceu uma nova estratégia de incentivos, que
vão desde a divulgação e organização de competições até o envio de atletas
para eventos no exterior, proporcionando-lhes maior experiência esportiva. Em
2001, essas mudanças tornaram-se ainda mais visíveis. Pela primeira vez, um
deficiente assumiu o comando da entidade: Vital Severino Neto, cego desde a
infância, foi eleito presidente do CPB. Um ano depois, com a sede do CPB indo
para Brasília, a entidade ganhou maior visibilidade e acessibilidade por estar na
cidade que trata das principais decisões políticas do País. (Fonte: CPB)
REGRAS GERAIS
Na natação paralímpica, as regras gerais são as mesmas da
natação convencional com algumas adaptações, principalmente quanto às
saídas, viradas e chegadas e à orientação dos deficientes visuais.
As classes são definidas pela equipe de classificação que através de
testes e exames específicos irão ter o resultado esperado para divisão dos
atletas. Vale a regra de que quanto maior a deficiência, menor o número da
classe. As classes sempre começam com a letra S (swimming) e o atleta pode
ter classificações diferentes para o nado peito (SB) e o medley (SM). (CPB)
 S1 a S10 / SB1 a SB9 / SM1 a SM10 – nadadores com limitações
físico-motoras.
 S11, SB11, SM11 S12, SB12, SM12 S13, SB13, SM13 –
nadadores com deficiência visual (a classificação neste caso é a mesma do
judô e futebol de cinco).
 S14, SB14, SM14 – nadadores com deficiência intelectual.
Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
INICIAÇÃO AO ESPORTE
Para deficientes físicos, normalmente a iniciação na natação se dá
pelo trabalho de reabilitação feito geralmente em hospitais, clínicas ou
Universidades. O retorno físico e psicológico da natação para as pessoas com
deficiências pode ser notado, principalmente, na facilidade de o indivíduo
locomover-se. Da reabilitação à prática da natação como esporte, é uma
questão de tempo e escolha.
Existe um método muito utilizado para esses programas de trabalho
na natação paralímpica. O método Halliwick foi criado por James McMillan em
1949, na Halliwick School, em Londres. De acordo com Tsutsumi, “esse
método baseia-se nos princípios científicos da hidrostática, da hidrodinâmica e
da mecânica dos corpos”, tendo como objetivo trabalhar a natação com todas
as particularidades das pessoas com algum tipo de limitação. Esse
procedimento engloba atividades de habilidade, de resistência, de adaptação
do corpo com relação ao empuxo e ao equilíbrio e principalmente os
movimentos básicos e técnicas da natação.
Nesse método, a recreação é muito enfatizada, com o objetivo de
ensinar a natação em si, mas com ludicidade, jogos, brincadeiras e gerar
diversão em geral, para aumentar a autoestima e a vontade de se aprimorar
dentro do esporte. Estes jogos estimulam o deslocamento dos alunos, bem
como sua flutuação e superação, para atingirem as metas, assegurando que
todos participem com as mesmas condições de sucesso, proporcionando
meios (tapetes, boias, espaguetes, pesos) para que cada um possa jogar
adaptando suas condições funcionais. A partir desse ponto, o processo ensina
desde o controle da respiração até os movimentos básicos dos nados. São
ensinadas em seguida as técnicas, da mesma maneira que na natação normal,
sendo respeitada a individualidade de cada atleta. (Tsutsumi, 2004)
Resumindo então, o método de Halliwick consiste em:
Filosofia:
1 - Ensinar: "felicidade de se estar na água";
2 - Tratar os alunos pelo primeiro nome;
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3 - Dar ênfase na habilidade não na deficiência;
4 - Dar ênfase no prazer, colocando atividades em forma de jogos;
5 - Trabalhar em grupo, de forma que os nadadores se encorajem uns aos
outro.
Programa dos dez pontos do Halliwick.
1 - Ajustamento mental: Adaptação ao meio líquido de forma que a confiança
na água possa ser estabelecida.
2 - Desprendimento: é o meio pelo qual o nadador se torna mental e
fisicamente independente.
3 - Rotação vertical: é o movimento em torno do eixo transversal do corpo (da
posição deitada, para posição em pé)
4 - Rotação Lateral: é o movimento em volta do eixo da coluna vertebral (
Rolar: decúbito ventral para decúbito dorsal).
5 - Rotação combinada: combinação das duas anteriores sendo executada em
um único movimento.
6 - Empuxo: compreensão da força de flutuação da água.
7 - Equilíbrio: O nadador é capaz de manter a posição do corpo enquanto flutua
em descanso, fazendo pequenos ajustes quando há turbulência.
8 - Deslize turbulento: o nadador flutua, sendo levado através da água pela
turbulência criada pelo instrutor.
9 - Progressão simples: nadador realiza movimentos das mãos junto ao corpo
"Sculling" (remadas curtas)
10 - Braçada básica: com o nadador em decúbito dorsal, os braços são
movimentados lenta e amplamente sobre a água.
Os métodos de trabalho não são utilizados somente com deficientes
físicos. Quando se tem um grau muito forte na limitação intelectual, o lado
lúdico e recreativo deve ser trabalhado de forma intensa com essas crianças
para que elas sintam sempre prazer em estar praticando a atividade e
consequentemente, aprendendo e aprimorando a técnica da natação.
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“É preciso que o professor tenha os conhecimentos
básicos relativos aos seus alunos como: tipo de
deficiência, idade em que apareceu a deficiência, se foi
repentina ou gradativa; se é transitória ou permanente; as
funções e estruturas que estão prejudicadas, para que
possa desempenhar bem o seu papel.”
(Cidade e Freitas, 2002)
Para lidar com os deficientes físicos, não se utiliza tanto o lado
lúdico, a não ser em um dia atípico de atividades desse tipo especificado. Eles
conseguem entender a natação como um esporte que os sustenta, e que estão
treinando para se aprimorar cada vez mais em busca de objetivos, evoluindo o
corpo e a mente, com um intuito de subir de patamar a cada dia que passa,
tendo a parte técnica como prioridade. Dessa maneira, os atletas em
desenvolvimento conseguem atingir o nível do alto rendimento devido à
concentração e motivação que a prática de exercícios na água gera,
conseguindo também desenvolver seu lado espacial, onde sabem exatamente
o espaço que seu corpo exerce naquele ambiente.
Podemos encontrar esses métodos de trabalho e treinamento no
Projeto Nadando Contra a Corrente (NCC), do Instituto Superar. O projeto
atende crianças com diversas deficiências e limitações, tanto físicas quanto
intelectuais. Ele atende 30 crianças e adolescentes em cada turno, sendo um
pela manhã e outro à tarde. Conta com um professor e três estagiários em
cada turno.
Dentro do programa de treinamento e atividades, são divididas os
horários, por níveis de evolução, sendo utilizados exercícios de acordo com a
individualidade de cada pessoa. Os exercícios são feitos de maneira lúdica
e/ou objetivando o alto-rendimento.
CONCLUSÃO
A natação, como foi visto, pode aprimorar, educar, reeducar,
reabilitar e trazer diversos benefícios para todos os indivíduos que a praticam.
Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
As pessoas com deficiências vêm se tornando um publico cada vez maior
dentro da modalidade, onde podem se sentir mais a vontade e com mais
utilidade para elas próprias.
As adaptações dessa população dentro do esporte podem contribuir
para as adaptações fora do ambiente esportivo, o ambiente da sociedade. Na
sociedade as pessoas que possuem limitações precisam estar cientes de que
estar com a autoestima e a autoimagem equilibradas serão fatores essenciais
para o convívio com as outras pessoas ao seu redor.
Além dos benefícios citados acima, levar o esporte como aliado,
pode não só melhorar o lado social e motor, como também profissional. Os
indivíduos que praticam, podem se tornar excelentes nadadores e ter o esporte
como sua fonte de renda e de vida.
Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
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Revista Carioca de Educação Física, nº 8, 2013
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