Abril 2010 DIAGNÓSTICO LOCAL As pessoas com deficiência em Maputo e Matola Representação social da Deficiência Situação sócio-económica Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais Sistema de actores locais Abril 2010 DIAGNÓSTICO LOCAL As pessoas com deficiência em Maputo e Matola Representação social da Deficiência Situação sócio-económica Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais Sistema de actores locais Ficha Técnica As pessoas com deficiência em Maputo e Matola Editores RAVIM & Handicap International Moçambique Equipa técnica Recolha de dados Eunice Bahule, Elisa Bila, Victor Bila, Elvino Bõa, Marta Bõa, Domingos Cambalane, Lurdes Como, Angelina Cossa, António Cossa, Nelson Machava, João Magaia, Tervolência Magaia, Natividade Mahanjane, Zaida Maposse, Celeste Munguambe, Paulino Sambo, Alfredo Simbine, Augusto Sitoe, Catarina Ubisse e Chadrec Vilanculos. Supervisão das pesquisas Manuel Amisse, Emmanuel Mounier e Luís Wamusse. Digitação dos dados Mateus Bernardo, Milton Caetano, Maria do Ceú, Leia Cuinica, Argentina Cuna e Elias Duvane. Apoio técnico Patrick Jullien (HI), Catherine Dixon (HI), Damien Hazard (Vida Brasil) e Olímpio Zavale (INE). Tradução Domingos Duarte e Teresa Gomes. Grafismo, impressão Layout, Maputo. Ass. técnica, redacção Emmanuel Mounier. Coordenação do projecto Ezequiel Mingane, Audrey Relandeau e Luís Wamusse. Créditos fotográficos © Equipas RAVIM-HI © Eliane Beeson / Handicap International © Emilie Frapsauce © Benoît Mounier / RAVIM e Handicap International © Guy Oliver / IRIN Maputo, Abril de 2010 Agradecimentos A equipa que elaborou este relatório agradece a todos os técnicos dos diferentes serviços, aos responsáveis das associações, aos funcionários dos órgãos do Estado e dos órgãos autárquicos, e ainda aos responsáveis políticos do território coberto pelo tempo que nos consagraram durante a recolha de dados. Este relatório foi produzido graças ao apoio financeiro da Delegação da União Europeia em Moçambique. 5 Resumo executivo A primeira parte do relatório apresenta uma análise sócio-antropológica da representação social da Deficiência no território. Vêmos que a deficiência é vista pelas comunidades como um problema sobretudo médico, que pode ter uma origem científica, divina ou mesmo mística. Em filigrana das dificuldades de integração social que elas podem ter, constata-se que elas são sobretudo vítimas de preconceitos no seio das suas comunidades. Quer seja na vizinhança, nas lojas, nos transportes, na escola, na empresa, no mercado, as pessoas com deficiência inqueridas durante o nosso estudo provam atitudes de desdém, de desprezo, até mesmo de rejeição pelos seus concidadãos. O segundo capítulo põe em evidência a situação sócio-económica particularmente preocupante das pessoas com deficiência en comparação com ao resto da população. Geralmente mais idosa e mais feminina, a população com deficiência que vive no território acumula numerosos factores que podem levar a exclusão social e alimentar o círculo vicioso da pobreza : fraco nível de alfabetização e de educação, situação profissional precária, fraco nível de adesão as associações de pessoas com deficiência… As condições de acesso aos serviços sanitários e sociais são analisadas na terceira parte onde constatase que algumas necessidades ordinárias e específicas exprimidas pelas pessoas com deficiência continuam difíceis a satisfazer, quer seja na área da saúde, da educação, da formação profissional e do emprego, dos programas sociais ou ainda do desporto e da cultura. Muitas barreiras limitam-lhes o acesso a estes serviços quer sejam de ordem económica, ou mesmo ligadas a falta de acesso físico aos edifícios, o fraco nivel de formação dos profissionais dos serviços... As cidades de Maputo e Matola conhecem uma expansão demográfica e espacial sem precedente, desde há mais ou menos trinta anos. Este rápido crescimento urbano, combinado com aumento das desigualidades sociais na sociedade liberalizada, provoca um fenómeno de marginalização dos bairros situados na periferia da aglomeração. Descentrados dos polos de actividade e mal equipados em serviços sanitários e sociais, estes bairros são palcos duma pauperização inquietante das camadas mais vulneráveis da população. Dentre elas, as pessoas com deficiência têm numerosas dificuldades em encontrar respostas satisfatórias às suas necessidades sanitárias e sociais mais elementares. Estima-se que em média 5,0% da população do aglomerado de Maputo e Matola tem algum tipo de deficiência, ou seja cerca de 90 000 pessoas. Este relatório apresenta as análises e recomendações provenientes do diagnóstico local da situação das pessoas com deficiência que vivem nos 9 bairros suburbanos da capital, realizado pelas associações RAVIM e Handicap International entre abril de 2009 e abril de 2010, no quadro do projecto Cidade e Deficiência. Este diagnóstico tinha como objectivo pôr em evidência a representação social da Deficiência no território, a situação sócio-económica das pessoas com deficiência, as condições de acesso aos serviços sanitários e sociais, e em fim o funcionamento do sistema de actores locais. 6 O funcionamento do sistema de actores locais está exposto na quarta parte deste relatório, que põe em evidência as dificuldades mas também as potencialidades de cada um dos actores do tríptico associações de pessoas com deficiência-provedores de serviços-poderes públicos. Embora elas disponham de trunfos interessantes, as associações de pessoas com deficiência tém capacidades muito limitadas para poderem remediar, elas sozinhas, as suas dificuldades. Os provedores de serviço estão demais saturados e centralizados em Maputo para poder absorver uma demanda social em constante aumento nos bairros periféricos. A falta de formação dos profissionais, as barreiras arquitectónicas, e a falta de informação tornam estes serviços pouco inclusivos para as pessoas com deficiência. Os poderes públicos locais, quer seja orgãos locais do Estado ou mesmo autárquias locais, mesmo se eles são muitas vezes voluntários, não conseguem provocar uma verdadeira dinâmica de desenvolvimento inclusivo no território em prol das pessoas com deficiência, no contexto as vezes confuso de descentralização. Enfim, a última parte do relatório propõe uma série de recomendações destinados aos actores locais, nacionais e internacionais, chamados a se mobilizar colectivamente para melhorar a participação social das pessoas com deficiência no território, e por conseguinte as suas condições de vida. Para além de alertar a opinião pública sobre a situação preocupante das pessoas com deficiência nos bairros periféricos de Maputo e Matola, este relatório apela a emergência duma dinâmica de desenvolvimento local mais concertado e mais inclusivo. 7 Sumário Ficha técnica 5 Resumo exécutivo 6 Prefácio do FAMOD 10 Abreviaturas 11 Introdução 14 A Deficiência em Moçambique Apresentação do diagnóstico local Metodologia Características da zona estudada Capítulo 3 III/ Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais I/ Acesso aos serviços de saúde II/ Acesso aos serviços de educação III/ Acesso aos serviços de formação profissional e emprego IV/ Acesso aos serviços e programas sociais V/ Acesso a outros tipos de serviços: desporto, cultura, lazer, transportes... Capítulo Capítulo 1 4 IV/ Sistema de actores locais I/ Representação social da Deficiência 27 I/ Crenças e representações colectivas relativas as causas da Deficiência II/ Aceitação da pessoa com deficiência na sociedade III/ Recursos comunitários como vector de integração social 45 59 I/ As associações de pessoas com deficiência II/ Os provedores de serviços sanitários e sociais III/ Os poderes públicos locais: Orgãos Locais do Estado e Autárquias Locais Discussão 2 Recomendações para os actores do território Capítulo II/ Situação sócio-económica 33 I/ Prevalência da Deficiência e tipologia das incapacidades II/ Género e Idade III/ Situação familiar IV/ Nível de educação V/ Situação profissional e actividades exercidas VI/ Participação associativa 8 75 I/ Por eixos de intervenção II/ Por sectores de intervenção Bibliografia 84 Anexos 86 9 Abreviaturas Prefácio “A problemática da acessibilidade causada por factores diversos com destaque para as barreiras arquitectónicas e ambientais, a falta de legislação específica, ausência de serviços especializados, no pais em geral e nas cidades de Maputo e da Matola, em particular, tornam cada vez mais vulneráveis e dependentes de terceiros as pessoas com deficiência. ADEMO Associação dos Deficiêntes de Moçambique AL Autárquia Local APCD Associação de Pessoas com Deficiência ARS Análise de Redes Sociais FAMOD Forúm das Associações Moçambicanas de Deficiêntes Decorridos mais de 20 anos sobre o surgimento do movimento da Deficiência em Moçambique, ainda hoje são visíveis as inúmeras dificuldades com se deparam as pessoas com deficiência para o acesso aos serviços básicos tais são a saúde, educação, transporte, emprego, protecção social, entre outros. FDLP Federação das Associações de Deficientes dos Países de Língua Portuguesa HI Handicap International IEC Informação, Educação & Comunicação IFP Instituto de Formação dos Professores INAS Instituto Nacional de Assistência Social Mais do que políticas e legislação, um dos aspectos não menos importantes prende-se com a necessidade de mudança de mentalidade dos provedores de serviços a diversos níveis em relação as pessoas com deficiência. INE Instituto Nacional de Estatísticas INEFP Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissionnal MMAS Ministerio da Mulher e da Acção Social ONG Organização Não-Governemental OLE Orgão Local do Estado PCD Pessoa Com Deficiência PDS Provedores De Serviços PEN Plano Estratégico Nacional de Combate ao HIV e Sida PNAD Plano Nacional de Acção da Area da Deficiência RAVIM Rede de Assistência ás Vitimas de Minas SINTEF Fundação para Pesquisa Científica e Industrial - Foundation for Scientific and Industrial Research SIOAS Serviço de Informação, Orientação e Acompanhamento Social SIPS Saúde, Incapacidades e Participação Social TPM Transportes Públicos de Moçambique WG Grupo de Washington - Washington Group Por isso, a implementação de um projecto da dimensão destes que esta sendo levado a cabo pela RAVIM em parceria com a Handicap Internacional visando melhorar o acesso das pessoas com deficiência aos serviços sanitários e sociais e promover a sua plena participação nas iniciativas de desenvolvimento local, constitui um legado para o FAMOD que endereça os seus sinceros agradecimentos a todos aqueles que tornaram possível esta iniciativa”. Ricardo Moresse ____________________________________________________________ Presidente do FAMOD (Fórum das Associações Moçambicanas de Deficientes) 10 11 Glossário Acessibilidade – declina-se em volta de 3 eixos: o meio ambiente construido, a comunicação e os meios de deslocação. Na área da construção, o princípio da acessibilidade procura pôr em prática medidas destinadas adaptar e a ordenar o espaço para facilitar o acesso das pessoas com deficiência aos edifícios, equipamentos e serviços da maneira mais independente e mais digna possível. Comununidade local – designa o meio físico próximo de uma pessoa , compreendendo a população e o conjunto dos vários intervenientes (públicos e privados), numa zona geográfica/um território delimidato(a), que partilha um sentimento de pertença comum, confrontado aos mesmos constrangimentos e que beneficiam das mesmas vantagens. Desenho universal – o desenho universal, ou inclusivo, pode ser chamado « arquitectura para todos ». A concepção dos produtos e espaços não é especialmente pensado para as pessoas com deficiência , mas toma em consideração as múltipas diferenças entre os indivíduos. Deste modo a acessibilidade é pensada da maneira mais larga para todos. Desenvolvimento local inclusivo – é um processo que consiste em fazer com que todos os grupos marginalizados/excluidos sejam incluidos no processo de desenvolvimento local. Apoiar-se sobre a abordagem do desenvolvimento local inclusivo para favorecer o acesso aos serviços significa que as pessoas com deficiência tenham/devam beneficiar dos mesmos serviços ou das mesmas actividades que os outros membros da sociedade. Estes serviços ou actividades são por conseguinte adaptadas as necessidades e não especializados. Eles são concebidos não para mas com as pessoas com deificência. Ex: uma escola acessível tanto paras as crianças com deficiência como para as crianças sem deficiência. Deficiência (conceito geral) - falamos de Deficiência (ou ‘’situação de impedimento’’) quando uma pessoa tem uma limitação na realização de seus hábitos de vivência (actividades quotidianas), por causa de obstáculos pessoais e/ou do ambiente. Não é um estado estático mas evolutivo: é um estado que pode ser modificado graça a redução das deficiências (alteração do corpo), ou do desenvolvimento das aptidões (diminuição das incapacidades) com as adaptações do contexto / meio ambiente (factores obstáculos transformam-se em factores facilitadores) para a realização efectiva dos hábitos de vivência da pessoa). Falamos de plena participação social quando a pessoa pode realizar plenamente seus hábitos de vivencia. Deficiência física - é uma alteração física do corpo, que seja das partes inferiores ou superiores do corpo. Deficiência visual - é uma alteração dos olhos da pessoa. Tem diferentes níveis de impacto sobre as capacidades de ver da pessoa. A pessoa pode ter pequenas dificuldades para ver até não poder ver nada. Deficiência intelectual - é uma alteração do cérebro, que tem um impacto sobre as capacidades intelectuais da pessoa. A pessoa pode ter dificuldades/limitações para aprender, e/ou memorizar e/ou outras capacidades intelectuais. Existe também as doenças mentais que tem um impacto sobre os comportamentos sociais, a estabilidade mental da pessoa, mais que não tem um impacto sobre a inteligência da pessoa. A deficiência intelectual e a doença mental não se tratam da mesma maneira. Infelizmente, é muito difícil diferenciá-las, sabendo que elas podem se cumular também. Governação local – é o fruto de um conjunto de instituições, de mecanismos e processos através dos quais os cidadãos e os grupos podem formular os seus interesses e as suas necessidades (fazem também parte os grupos vítimas de discriminações, como as pessas com deficiência, as mulheres, as minoridades e as pessoas que sofrem do HIV/SIDA), comunicar sobre as suas diferenças e exercer os seus direitos e obrigações ao nível local. Isto significa uma participação efectiva dos cidadãos, um fluxo de informação transparente e mecanismos de fiscalização efectivos. Plano de acção local na area da Deficiência – descreve acções a levar a cabo a fim de melhorar as condições de vida e a igualdade de oportunidades das pessoas com deficiência. Que pode desenvolver-se sobre dois anos e descrever as medidas a adoptar em cada ano, por exemplo. No ideal, corresponde a duração do mandato da autoridade concernida. Esta planificação sistemática permite reforçar progressivamente o respeito dos direitos fundamentais das pessoas com deficiência. Serviços ordinários – são ligados às necessidades fundamentais de todos os indivíduos (educação, saúde, emprego, serviços sociais e/ou protecção social). Devem ser perfeitamene acessíveis, afim de garantirem a participação social, a dignidade e a igualdade de oportunidades dos cidadãos. As pessoas com deficiência tém as mesmas necessidades fundamentais e por conseguinte o mesmo direito ao acesso a estes serviços que os outros cidadãos. Serviços especializados – são destinados a uma parte particular da população com deficiência, em função das suas necessidades específicas (ex : educação especializada, serviço de reabilitação física…). Estes serviços podem ser considerados como o prolongamento dos serviços ordinários mas devem continuar « abertos » ao exterior para a aplicação dum máximo de pontes com os outros tipos de serviços. Serviços de apoio – concebidos como serviços complementares individuais, permitem a cada pessoa, segundo as suas necessidades e suas escolhas, ter acesso aos serviços ordinários ao nível da comunidade, como qualquer outra pessoa. Um serviço de apoio facilita por conseguinte a inserção eficaz das pessoas com deficiência num meio ordináiro. Ex : material de compensação, intérprete em línguas de sinais, transportes adaptados… Deficiência auditiva - é uma alteração dos ouvidos da pessoa. Tem diferentes níveis de impacto sobre as capacidades de ouvir da pessoa. A pessoa pode ter pequenas dificuldades para ouvir até não poder ouvir nada. Uma pessoa com deficiência auditiva pode ter também uma dificuldade/impossibilidade para falar, mais não é sempre o caso. Sinalética – compreende as placas de direcção, indicação e enumeração das ruas, as placas de informação, os mapas… A sinalética, numa cidade como num edifício, deve ser clara, simples, fácil a ler e visível para ser acessível a todos. Serve para transmitir uma informação e permite uma melhor orientação no espaço. 12 13 Introdução A Deficiência em Moçambique Apresentação do diagnóstico local I/ Dados principais I/ O Projecto Cidade e Deficiência Até há pouco tempo, existiam poucos dados sobre o número de pessoas com deficiêcia em Moçambique. Em 1999 o INE estimava a taxa de prevalência da Deficiência no pais a 1,8% em média. Em 2009, a primeira pesquisa de âmbito nacional, financiada pela SINTEF e realizada pelo FAMOD em parceria o INE, permitiu a obtenção de uma percentagem de pessoas com deficiência, isto é, 6,0%, ou seja, 1,2 milhões de pessoas em todo país. As condições de vida das pessoas com deficiência são geralmente mais precárias que as do resto da população, de género e idade idênticos: nível de estudo, acesso ao mercado laboral, nível de rendimentos, acesso aos serviços, habitação, mobilidade, acesso a informação, participação social... Elas são vistas negativamente e sofrem muitas discriminações no seio das suas comunidades, mas também na sociedade em geral. A vulnerabilidade sócio-económica e as diversas discriminações são mais graves para as mulheres com deficiência, por efeito cumulativo. As pessoas com deficiência são particularmente vulneráveis ao HIV/SIDA por causa dos factores de riscos agravados e de grandes dificuldades no acesso aos mecanismos de prevenção e de testagem. O Projecto “Cidade e Deficiência” iniciou em Março de 2009 a sua implementação pelas associações RAVIM e Handicap International. Com uma duração de 4 anos, este projecto visa melhorar o acesso das pessoas com deficiência aos serviços sanitários e sociais e promover a sua plena participação nas iniciativas de desenvolvimento em 9 bairros suburbanos dos municípios de Maputo e Matola. Este projecto permite o desenvolvimento de um sistema de serviços inclusivo em todo o território por meio de acções de sensibilização e de formação dos fornecedores de serviços, da criação de um fórum de concertação reunindo os principais actores locais, bem como a criação de um Serviço de Informação, Orientação e Acompanhamento Social (SIOAS) para as pessoas com deficiência. A fim de melhor delimitar a problemática da deficiência no território, o primeiro ano do projecto “Cidade e Deficiência” foi dedicado à realização de um diagnóstico local participativo. Este diagnóstico foi realizado em conjunto pelas associações RAVIM e Handicap International, envolvendo em grande parte as associações de pessoas com deficiência, em parceria com o FAMOD, as autoridades locais e os provedores de serviços. II/ Objectivos do diagnóstico local II/ Quadro legislativo em vigor e datas importantes 1989 Criação da ADEMO, primeira associação de pessoas com deficiência em Moçambique. 1990 Introdução na Constituição da República de um artigo que garante a igualdade dos direitos para as pessoas com deficiência. 1999 Lançamento da Década Africana de Pessoas com Deficiência (1999-2009); Moçambique faz parte dos 5 países pilotos. Adopção da Política Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência (Resolução 20/99). 2000 Criação do FAMOD – Fórum das Associações Moçambicanas de Deficientes, que congrega 18 associações. 2006 Adopção do primeiro Plano Nacional de Acção da Área da Deficiência (2006-2010). 2007 Assinatura da Convenção das Nações Unidades para os Direitos das Pessoas com Deficiência (provável ratificação em 2010). 2008 Adopção do Regulamento de Construção e Manuntenção dos Dispositivos Técnicos de Acessibilidade e Utilização dos Sistemas de Serviços e Lugares Públicos à Pessoa Portadora de Deficiência Física ou de Mobilidade Condicionada (Decreto 53 / 2008) 2009 Adopção da Estratégia da Pessoa com Deficiência na Função Pública (2009-2013) (Resolução n°68/2009). Criação do Conselho Nacional da Deficiência. 2010 Pela primeira vez, toma-se em conta a vulnerabilidade específica das pessoas com deficiência em relação ao HIV/SIDA no terceiro Plano Estratégico Nacional de Combate ao HIV e Sida - PEN III (2010-2014). Moçambique é nomeado para a Presidência da Federação das Associações de Deficientes dos Países de Língua Portuguesa. Implementação do Conselho Nacional da Deficiência. Elaboração do PNAD II - Plano Nacional de Acção da Área da Deficiência (2011-2015) 14 Mais especificamente, o diagnóstico local teve por objectivo: Evidenciar a representação social da Deficiência Avaliar a situação sócio-económica das pessoas com deficiência Determinar o nível de acesso das pessoas com deficiência aos serviços sanitários e sociais e identificar as barreiras de acesso existentes Analisar o sistema de actores e os processos de decisão entre os poderes públicos, os provedores de serviços e a sociedade civil Formular uma série de recomendações para os actores do território III/ Calendário e fases principais de realização Realizado entre Abril de 2009 e Abril de 2010, o diagnóstico foi feito em 5 fases sucessivas: Fase 1: Preparação do diagnóstico (Abril – Maio de 2009) - Elaboração do quadro metodológico do diagnóstico - Procura de informação sobre a área coberta e as principais partes envolvidas Fase 2: Lançamento do diagnóstico (Junho de 2009) - Criação de um comité de gestão do projecto - Apresentação do processo de diagnóstico aos actores do território Fase 3: Pesquisas de campo (Julho de 2009 – Janeiro de 2010) - Pesquisa sobre a representação social da Deficiência (grupos focais qualitativos) - Pesquisa sobre a saúde, as incapacidades e a participação social (questionários quantitativos) - Pesquisa sobre os serviços sanitários e sociais (questionários quantitativos e qualitativos) - Entrevistas com as partes envolvidas da zona de estudo (entrevistas individuais) Fase 4: Análise dos dados (Outubro de 2009 – Março de 2010) - Análise das actas das reuniões e dos grupos focais - Análise estatística dos dados quantitativos recolhidos (EPI info, NetDraw) - Processo de escrita participativa Fase 5: Restituição dos resultados (Abril de 2010) - Publicação de um relatório, de uma síntese e de um directório de serviços - Seminário de apresentação dos resultados e das recomendações às partes envolvidas 15 Introdução Metodologia Seguindo uma abordagem participativa, procuramos consultar os principais grupos e actores sociais da zona estudada: representantes e funcionários dos Orgãos do Estado e dos Orgãos autárquicos, dirigentes e técnicos dos provedores de serviços sanitários e sociais, dirigentes e membros de associações de pessoas com deficiência, membros da comunidade em geral. 4 pesquisas foram realizadas sucessivamente permitindo combinar 4 abordagens diferentes: I/ Abordagem sócio-antropológica: pesquisa qualitativa por grupos focais Afim de melhor compreender a representação social da Deficiência na zona, organizamos, em primeiro lugar, uma pesquisa qualitativa através de grupos focais. A primeira série de 12 grupos focais permitiu mobilizar um total de 111 participantes representativos da população local: parentes de pessoas com deficiência, residentes da zona, membros das associações locais, funcionários das administrações, provedores de serviços... Um último workshop, agrupando 51 pessoas com deficiência, serviu para evidenciar especificamente barreiras que limitam o acesso aos serviços sociais existentes na zona. Cada um destes grupos de discussão, de uma duração média de 2 horas, articulou-se em volta de 3 temas principais: Origem e causa da Deficiência, Aceitação da Deficiência na sociedade, Integração social da pessoa com deficiência Perguntas abertas propostas aos grupos por um facilitador, encorajavam a narração e relato de cada participante a partilhar a sua história pessoal ou a sua experiência. Este dispositivo permitiu também a diversidade de pontos de vista e a liberdade de expressão entre os participantes durante as discussões. II/ Abordagem epidemológica: pesquisa quantitativa por questionário A abordagem epidemológica foi, também, usada durante a segunda fase da pesquisa de tipo SIPS (Saúde, Incapacidades, Participação Social) afim de determinar a frequência da deficiência no seio da população estudada, de melhor compreender o perfil sócio-económico das pessoas com deficiência e por fim avaliar o seu nível de acesso aos serviços de saúde e sociais. Para este fim, uma pesquisa quantitativa, por questionário, foi realizado durante 12 semanas na zona. a) Escolha da amostra A escolha da amostra das pessoas a inquerir foi feita a dois níveis: Em primeiro lugar, a selecção de 50 clusters alocados a cada um dos 9 bairros inqueridos, por probabilidade proporcional ao tamanho da população, segundo a seguinte repartição: Bairros J.Dimitrov Zimpeto Malhazine Magoanine A Magoanine B Magoanine C T3 Khongolote Ndlhavela Total População recenseada 40 963 25 645 8 753 4 022 12 065 12 065 16 636 27 649 57 246 205 043 Numero de clusters 10 6 2 1 3 3 4 7 14 50 Número estimado Número de agregados de casas a percorrer a entrevistar 800 160 500 100 170 34 80 16 240 48 240 48 320 64 540 108 1120 224 4000 800 Os limites geográficos dos bairros estudados sendo vagos e mal conhecidos pelos inqueridores ou representantes da população, cada centro dos clusters teve que ser definido de maneira aproximada por meio de uma cartografia aérea, com vista a partilhar os clusters de maneira homogénea nos bairros, tomando em conta a densidade aparente do habitat. O segundo nível da escolha da amostra diz respeito às famílias. A partir do centro definido de cada cluster, os inqueridores percorreram as ruas segundo a espiral dum caracol. As casas foram contadas nos dois lados das ruas percorridas. Cada 5ª casa fazia parte da amostra (5, 10, 15, etc...). A casa, ou família, seleccionada desta maneira, foi inquerida através da pessoa presente. Todos os membros da família, presentes ou ausentes, foram registados durante o inquérito, o presente tendo a responsabilidade de dar as características dos outros. As informações recolhidas durante o inquérito qualitativo foram em seguida analizadas segundo uma grelha de leitura sócio-antropológica a fim de permitir evidenciar o sistema de representações, de valores e de crenças na população estudada. Elas foram também reutilizadas na fase final da pesquisa de campo, sobretudo para a preparação do questionário da pesquisa SIPS. Estes grupos alvos serviram, também, de alavanca na mobilização das comunidades e das instituições, permitindo o estabelecimento das reflexões mais vastas e profundas sobre a questão da deficiência em todo o território. 16 17 Introdução Metodologia b) Aplicação do questionário Recorremos a um questionário concebido em duas partes: c) Número de pessoas inqueridas 9556 pessoas inquiridas Uma primeira parte compreendendo questões demográficas (sexo, idade), e questões de “filtragem” que permitiram identificar as pessoas que apresentam incapacidades. A fim de estabelecer uma base de comparação com outros estudos realizados, recorremos às 6 perguntas de filtragem do Washington Group, que são geralmente utilizadas para determinar a prevalência da deficiência numa dada população: - Você tem dificuldade em ver mesmo usando óculos ou lentes de contacto?, - Você tem dificuldade em ouvir mesmo usando aparelho auditivo? - Você tem dificuldade em andar ou subir escadas? - Você tem dificuldade de memória ou de concentração ? - Você tem dificuldade em tomar banho ou vestir-se sozinho? - Você tem dificuldade em compreender os outros ou fazer-se entender? A estas 6 perguntas do WG, acrescentamos 2 perguntas complementares a fim de determinar se as incapacidades declaradas pelas pessoas provocam ou não limitação de actividade, e por conseguinte limitação na participação social, desde pelo menos há 6 meses: - Devido a problemas de saúde, você está limitado nas suas actividades em casa, na escola ou no trabalho? - Esta dificuldade dura há pelo menos seis meses? Pelo menos uma resposta positiva as perguntas de filtragem levava o inqueridor a questionar a pessoa (directamente ou por intermédio do presente inquerido) usando a segunda parte do questionário, contendo questões sobre o nível de acesso aos serviços de saúde, educação, formação profissional e de apoio ao emprego, de programas sociais e outros tipos de actividades (cultura, desporto, transportes...). Cada vez que uma pessoa com limitação de actividades foi identificada, um vizinho do agregado do mesmo gênero e idade aproximada era inquerido, a fim de lhe submeter as duas partes do questionário e constituir desta maneira um grupo testemunho. 490 pessoas “com incapacidades” 492 pessoas “testemunhas” 8574 pessoas “sem incapacidades” (491 digitados) Por razões de falta de recursos e de tempo, não pudemos gravar todas as 8 574 pessoas ditas "sem incapacidades" no software EPI Info, isto é, que responderam "não" a todas as perguntas de filtragem, mas apenas 491. A amostra para análise é constituida por todos os questionários "com incapacidades" e "testemunhas" é por um questionário "sem incapacidades" sobre 17, o que permitiu a constituição de efectivos numericamente equivalentes. d) Verificação da representatividade das amostras A população na amostra corresponde a todos os agregados selecionados, isto é todas as pessoas "sem incapacidades" (8 574) assim como todas as pessoas "com incapacidades" e as pessoas “testemunhas” (982). Uma vez que apenas 491 pessoas "com incapacidades" foram registadas, teve que se seleccionar uma amostra equivalente a 1/17 "casos" (982/17=58). As duas listas (982+58=1040) constituem uma amostra teoricamente representativa da população base. Não apresentamos diferenças significativas sobre o sex ratio entre a população base e a população da amostra (p=0,8). Não existem também diferenças significativas entre faixas etárias entre a população base e a população da amostra (p=0,7). Nós dispomos de dados do último censo nacional distribuidos por idade apenas para os bairros inqueridos de Maputo. A verificação da representatividade sobre a idade é apenas feita para esta população e não para Matola. Uma equipa de 20 inqueridores foi seleccionada e formada em técnicas de inquérito e metodologia de selecção aleatória do grupo alvo. O acento foi posto, logo de início, sobre o respeito do equilíbrio do género e a inclusão, já que a metade dos inqueridores eram mulheres e cada binómio era composto de pelo menos uma pessoa com deficiência. Privilegiamos também a abordagem comunitária uma vez que os inqueridores vinham todos dos bairros em estudo, o que facilitou o conhecimento da zona e a relação com a população local. Uma equipa de supervisores composta de membros da RAVIM completava o dispositivo para garantir a qualidade dos dados recolhidos, no respeito do protocolo do inquérito já definido. Faixas etárias 5-9 10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 70 - 79 80 et + Total 18 Base 26,6% 24,7% 20,5% 13,0% 8,5% 4,0% 1,7% 0,8% 0,3% 100% 19 Mostra 23,6% 24,9% 23,6% 12,2% 9,6% 2,6% 2,6% 0,4% 0,4% 100% Introdução Metodologia No que diz respeito a distribuição das pessoas inqueridas por cidade, constata-se também que as proporções obtidas são muito próximas do peso real de cada cidade na população total dos 9 bairros: Cidade Maputo Matola Total Base 50,5% 49,5% 100% Mostra 50,2% 49,8% 100% Freq. 739 734 1.473 b) Modelização da rede local Com o intuito de analisar a rede de serviços sanitários e sociais da zona, recolheu-se dados referentes a 104 provedores de serviços. Foi-lhes pedido para descreverem os laços tecidos entre os actores locais que lhes rodeiam: outros provedores de serviços, orgãos do Estado, orgãos autárquicos, associações de pessoas com deficiência, empresas do sector privado, agências de cooperação, igrejas, plataformas de coordenação. Cada laço devia ser definido em função de: sua natureza (apoio técnico, apoio financeiro, referenciamento de utentes, troca de informação) sua intensidade (1=fraco, 2=intermediário, 3=forte) sua direccionamento (de X para Y ou de Y para X) Em fim, a repartição das pessoas com deficiência por bairros na nossa amostra, é também relativamente próxima da população base, como constatamos: Bairros Zimpeto Magoanine A Magoanine B Magoanine C J.Dimitrov Malhazine Ndlavela T3 Khongolote Total Base 12,5% 13,3% 20,0% 4,3% 27,9% 8,1% 13,5% 100% Mostra 10,2% 3,5% 4,3% 6,9% 19,9% 5,4% 25,6% 6,7% 17,5% 100% { Freq. 150 52 63 101 294 79 377 99 258 1.473 As informações foram em seguida codificadas e modelizadas com a ajuda do software NetDraw para melhor visualizar as interações existentes entre os diferentes actores da zona. As análises de redes permitiram conceber estratégias de intensificação e de diversificação dos fluxos de trocas inter-actores, sobre a base do sistema social já existente, a fim de gerar capital social no plano local. Este trabalho permitiu também fornecer numerosos dados quantitativos sobre os serviços existentes: repartição sectoriais, período de criação, fontes de financiamento, condições de acesso físico, nível de formação do pessoal... IV/ Análise do sistema de actores: entrevistas com os actores da zona Por fim, uma fase qualitativa de entrevistas individuais permitiu encontrar os 42 actores principais, implicados na área do desenvolvimento sanitário e social em Maputo e Matola, contribuindo deste modo directa ou indirectamente para uma maior inclusão das pessoas com deficiência na zona: 18 associações de pessoas com deficiência; 14 orgãos do Estado; 6 orgãos autárquicos; 4 redes e plataformas de coordenação1; Pode-se, por conseguinte, considerar que esta amostra é suficientemente representativa da população total, permitindo comparações no nosso estudo. A maioria das comparações realizadas nos resultados (análises multivariadas) tomam em conta variáveis "idade", e "género" o que permite reduzir ainda os erros das amostras. Estas entrevistas semi-abertas, duma duração média de duas horas, permitiram-nos recolher informações sobre as acções desenvolvidades ou concebidas pelas diferentes entidades, como também recolher as suas recomendações afim de favorecer a participação social das pessoas com deficiência ao nível local. Permitiram-nos, também, de analisar de maneira mais aprofundada as relações de força e as dinámicas que sustentam as lógicas de actores no plano local. III/ Análise de redes sociais: pesquisa quantitativa sobre os serviços a) Pertinência da análise de redes sociais A análise de redes sociais (ARS) foi utilizada durante o diagnóstico com o objectivo de evidenciar as relações existentes entre os diferentes actores da zona, e sobretudo entre os fornecedores de serviços. Esta abordagem inovadora, cada vez mais comum nas áreas da saúde ou da sociologia, procura compreender como a posição ocupada por um actor numa dada rede têm influência sobre o seu nível de acesso aos recursos financeiros, técnicos, ou ainda a informação que circula na rede. Com efeito, os actores estabelecem geralmente laços com outros actores a fim de aproximarem-se aos recursos e ás oportunidades existentes, e por conseguinte maximizar os seus benefícios potenciais (Clark, 2006). Muitas vezes de maneira consciente o inconsciente formam-se grupos de actores, no seio dos quais os mais informados estão em melhor posição ou inversamente. Os actores que tém o maior acesso a informação pertencem, muitas vezes, a vários grupos de actores, o que lhes confere um certo poder, pelo papel de intermediação que eles detém em prol de actores em posição desfavorável. Deste modo, a ARS permite melhor visualizar a organização e a estruturação destas dinámicas de trocas no plano local. 20 A lista das diferentes instituições encontradas durante as entrevistas vém no anexo deste relatório. 1 21 Introdução Características da zona estudada I/ Um meio urbano em plena mudança a) Um crescimento demográfico extremamente rápido em Maputo e Matola A África subsariana conhece um dos índices de urbanização mais elevados do mundo e tornar-se-á, durante os próximos 30 anos, mais urbana do que rural (Baker, 1997). Moçambique não se afasta desta dinâmica, uma vez que as suas cidades, e sobretudo a sua capital, conhecem um crescimento demográfico e espacial muito rápido de há uns 40 anos para cá. Enquanto a antiga capital colonial - Lourenço Marques, hoje Maputo – contava apenas com 375.000 habitantes na altura da independência, em 1975, a conurbação formada hoje pelas cidades de Maputo e da Matola agrupa agora cerca de 1.800.000, de acordo com os dados do último recenseamento realizado em 2007 (ou seja, 1.094.315 em Maputo e 672.508 na Matola). Este crescimento demográfico deve-se principalmente à duplicação da população da cidade da Matola, antigamente considerada a cintura industrial da capital e que entrou, progressivamente, “em colisão” com a sua vizinha cidade de Maputo, durante os últimos vinte anos. Matola é considerada actualmente como sendo a segunda cidade mais importante do país, depois de Maputo e o continuum urbanizado constituído pelas duas cidades agrupa cerca de 50% da população urbana de Moçambique. Zona de implementação Município Municipio da da Matola Matola Municipio Município de Maputo Maputo de Esta expansão demográfica fulgurante pode explicar-se por meio de 5 fenómenos principais (Serra, 2005): A Independência nacional conjugada com a nacionalização dos imóveis de renda em 1976, dando assim acesso à cidade de cimento aos moçambicanos antes confinados na cidade de caniço; A guerra civil e as deslocações massivas das populações do campo para os centros urbanos; O regresso dos refugiados depois do Acordo de Roma em 1992, e a sua reinstalação nas principais aglomerações do país, nomeadamente em Maputo; A degradação progressiva das condições de vida no campo e o êxodo rural resultante; O abrandamento nos anos 90 das migrações económicas para os países limítrofes, chegando por vezes ao repatriamento de trabalhadores moçambicanos. 22 b) A recente explosão da pobreza urbana De Lourenço Marques, caracterizada por uma forte segregação espácio-racial na época colonial, a Maputo, vitrina da experiência urbana na época socialista, a cidade transformou-se consideravelmente. A pobreza “explodiu“ verdadeiramente na viragem liberal de meados da década de 80, nomeadamente sob o efeito dos planos de ajuste estrutural que fragilizaram sectores inteiros da economia e levaram à pauperização massiva das classes populares. Esta pobreza urbana era então considerada como um fenómeno novo: até então, a pobreza e as suas causas estavam mais directamente associadas às condições de vida do mundo rural, assolado pelas intempéries, pela guerra e pelo fraco nível de produtividade de trabalho (Lachartre, 2000). Consequência directa da ascensão das desigualdades sócio-económicas, a cidade “liberalizada” consolidouse rapidamente em redor de dois pólos assimétricos: Um centro de cidade relativamente homogéneo, quadriculado por largas avenidas, composto por um habitat de concreto protegido por grades, sistemas electrónicos de segurança e guardas privados, rodeado de hotéis, casas de câmbio, restaurantes, cafés, pastelarias, supermercados e outras estações de serviços; E uma grande periferia de habitat multiforme, substituindo-se progressivamente à antiga cidade de caniço, com as suas estradas congestionadas, os seus dumba nengues, as suas barracas, as suas lixeiras públicas e os seus chapas, mundo de exclusão social e de complexidade cultural, de movimento e de mistura, um mundo de miscigenação permanente. c) Grupos sociais particularmente vulneráveis dentro deste contexto Se a liberalização praticada durante os anos 80 refere-se sobretudo a transição para o mercado e provoca transformações de grande amplitude na economia urbana (subida da economia informal e do trabalho feminino, modificação da estrutura predial, agricultura urbana…), provoca igualmente uma série de fenómenos sociais novos que a cidade autoriza e amplifica e que agitam profundamente a natureza do seu tecido social. A antropologia urbana sublinha que, na sua diversidade, estes fenómenos têm em comum desatar libertar o indivíduo da tutela do Estado e da autoridade dos seus representantes locais, e ainda os exercidos a nível familiar (Lachartre, 2000). As manifestações desta liberalização revestem-se de múltiplas formas: desintegração das unidades familiares, multiplicação das famílias monoparentais, crianças da rua… Esta liberalização devolve o indivíduo a si próprio, aos seus próprios recursos, para sobreviver e prover a sua existência. Aparentemente aberta a todos, a cidade produz em simultâneo mecanismos de exclusão e de decomposição social que marginalizam a vasta camada das populações mais desfavorecidas. Destas, encontramos os grupos mais vulneráveis, que não podem apoiare-se num quadro social suficientemente protector no seio das comunidades fragilizadas: mulheres sós, pessoas idosas isoladas, crianças órfãs e vulneráveis, pessoas sem emprego. E, ainda, as pessoas com deficiência. d) Interacção entre a pobreza, a exclusão social e a Deficiência Se considerarmos a situação de deficiência como proveniente da interacção entre os factores pessoais e os factores ambientais relativos a um modo de vida (Fougeyrollas, 2006), a pobreza continua a ser um factor particularmente agravante. Com efeito, a pobreza pode directa ou indirectamente levar à deficiência em virtude da falta de acesso aos cuidados de saúde preventiva ou curativa, da má alimentação, da falta de actividades, do sistema de transportes perigoso… Neste sentido, consideramos que existem muito mais pessoas com deficiência no seio das camadas mais pobres da população do que das mais ricas (Elwan, 1999). 23 Introdução Características da zona estudada Pelo contrário, quando a deficiência aparece ao longo da vida, pode em contrapartida gerar a exclusão social e levar à pobreza as pessoas que antes não eram pobres. Devido à falta de adaptação do seu meio físico, uma pessoa com deficiência pode, por exemplo, perder a sua capacidade de exercer uma actividade profissional. A sua família pode sofrer uma baixa substancial de rendimentos em virtude do tempo suplementar passado a cuidar dela ou das despesas adicionais a pesarem no orçamento familiar (material de compensação, medicamentos, outros serviços…). A pobreza e a deficiência podem portanto formar um círculo vicioso e alimentarem-se mutuamente. Estes bairros periféricos abrigam principalmente populações provenientes das diferentes províncias do país, dando origem a uma miscigenação de culturas e identidades entre o rural e o urbano. A cidade em expansão gera assim uma troca permanente entre o antigo e o moderno, criando modos de funcionamento e sistemas de valores profundamente alotrópicos (Serra, 2005). Os habitantes dos arredores podem assim ter por um lado, um pé no curandeiro tradicional e, o outro, num hospital ou centro de saúde ou ainda frequentar as instâncias alternativas de justiça e também a esquadra da polícia…o perfil sociológico da população a viver nestes bairros é portanto distinto da dos habitantes da cidade de cimento. II/ Os 9 bairros periféricos estudados b) Infra-estruturas básicas insuficientes e saturadas Na ausência de mecanismos de regulação urbana, a rapidez com a qual se produz esta expansão e a pressão predial subsequente tornaram difícil a expansão ou o redimensionamento das redes de infraestruturas básicas (água, saneamento, electricidade). A Empresa Águas de Moçambique não servindo estes bairros peri-urbanos, a distribuição de água faz-se aqui exclusivamente por pequenos operadores privados com capacidade limitada e em condições de salubridade variáveis. A recolha de lixo é feita por colectores informais de forma um tanto ou quanto aleatória. a) Bairros afastados dos principais pólos de actividade Limitado a oriente pelo Oceano Índico e a sul pelo estuário do Espírito Santo, o aglomerado pode estenderse sem limitações naturais para norte e oeste. É nestes bairros periféricos, criados originalmente para descongestionar a cidade de cimento, onde se vem estabelecer-se a maior parte dos recém-chegados, provenientes do campo em busca de condições de vida melhores. Situados para uns a norte do Distrito 5 do Município de Maputo (Zimpeto, Jorge Dimitrov, Malhazine, Magoanine A, B e C) e para outros a este do Município da Matola (Khongolote, Ndlavela, T3), os 9 bairros estudados abrigam um total de 205.043 habitantes, ou seja, 11,6% da população total do aglomerado. Estes bairros constituem a zona tampão entre Maputo e a Matola, atravessada pela Zona Verde, zona fértil agrícola peri-urbana, e pela Estrada Nacional n°1 que liga Maputo ao Norte do pais. Estes bairros têm igualmente em comum o facto de terem sido seriamente afectados pelas violentas explosões do paiol ocorridas em Março de 2007, causando 83 mortos, 350 feridos e inúmeros danos materiais. Khongolote Magoanine C A zona padece igualmente de um défice de equipamento em serviços de saúde e sociais, que não conseguem responder às necessidades crescentes das populações. Apenas existem 4 centros de saúde principais (ou seja, 1 centro de saúde para cada 50.000 habitantes em média), 13 centros de saúde do tipo II (ou seja, 1 para cada 15.00 habitantes em média). Além disso, cada uma das 33 escolas primárias e secundárias da zona acolhem em média 2.330 alunos com efectivos atingidos a 85 alunos por sala de aulas, sobretudo nos bairros de espansão como Khongolote ou Ndlavela. Não existe nenhum serviço especializado na zona para responder às necessidades específicas das pessoas com deficiências: inexistência de serviços de ortopedia, inexistência de fornecedores de material de compensação, pior ainda, não existe nenhum serviço de reabilitação física. Magoanine B Zimpeto Magoanine A Ndlavela Malhazine Jorge Dimitrov T3 24 25 Capítulo Representação social da Deficiência 26 1 I/ Crenças e representações colectivas relativas às causas da Deficiência 28 II/ Aceitação da pessoa com deficiência na sociedade 30 III/ Recursos comunitários como vector de integração social 32 27 Capítulo Representação social da Deficiência I/ Crenças e representações colectivas relativas às causas da Deficiência a) A Deficiência é essencialmente compreendida como uma doença A maioria das pessoas interrogadas durante os grupos de discussão associam em primeiro lugar a Deficiência à dimensão médica da incapacidade. A Deficiência é sobretudo considerada como uma doença que na maioria dos casos se “apanha” à nascença. A deficiência pode ser auditiva, visual ou motora principalmente em virtude da hereditariedade familiar ou ainda de uma má formação congénita ligada a casos de incesto entre parentes próximos ou ainda devido a complicações durante o parto. Alguns argumentam que a Deficiência pode também aparecer durante a vida, de forma súbita e traumática (acidente, ferimento de guerra, complicações pós-operatórias) ou ainda mais lenta e degenerescente (doença invalidante, consumo de álcool ou de drogas). Quando se convidam os membros da comunidade a exprimirem-se sobre as causas da Deficiência, vêse surgir em filigrana uma transposição do discurso habitual sobre os modos de transmissão do HIV. Massivamente alertados sobre o carácter transmissível, inreversível e invalidante do vírus, e sobre a necessidade de se protegerem de uma ameaça difusa, parece que os indivíduos teriam interiorizado paulatinamente os mesmos reflexos relativos à Deficiência. Elementos similares aparecem claramente entre as duas problemáticas e, de maneira inconsciente, a Deficiência é frequentemente vista como potencialmente contagiosa e transmissível de um indivíduo a outro, da mãe para o filho…etc. num reflexo higienista, parece então mais prudente isolar as pessoas “atacadas” por uma deficiência a fim de preservar os indivíduos “sãos” da comunidade. b) Crenças populares que estruturam profundamente as representações colectivas Mas é sobretudo o desconhecimento das causas da Deficiência que predomina na comunidade, abrindo frequentemente a porta a outras formas de interpretação bem enraizadas na cultura tradicional, sobretudo nos bairros periféricos principalmente povoados de neo-urbanos. O discurso social assenta-se em razões mais afastadas da racionalidade científica, quando se trata de examinar as causas da deficiência, como a maldição, o destino, a má sorte, ou muito simplesmente o azar. Inúmeras lendas e crenças populares alimentam as representações colectivas para tentar explicar o surgimento da Deficiência numa pessoa ou numa família, e 3 eixos figurativos aparecem particularmente estruturantes: Uma intervenção divina para punir os vícios ou os hábitos imorais dos pais: - “as famílias ricas são punidas pela sua avareza e é por isso que têm uma criança deficiente” - “se o primeiro filho de uma família rica nasce com uma deficiência, é considerado como o provedor de riqueza, um sacrifício voluntariamente consentido pelo pai da família ao curandeiro a fim de garantir a prosperidade futura da família”. - “uma criança nasce com uma deficiência quando os deuses punem uma mãe infiel”. Um diferendo entre inimigos vingado pelo recurso à magia negra: - “alguns dizem que é devido a um diferendo de vizinhança, resultado de uma vingança entre membros da comunidade”. - “a deficiência é frequentemente provocada por um curandeiro quando alguém procura vingarse de um inimigo. Ele não lhe pede para o matar mas de o tornar deficiente para lhe fazer mal, paralisando-lhe um braço, por exemplo”. Uma maldição de origem mística: - “uma pessoa que olhar para um albino e engolir ao mesmo tempo a saliva irá ter uma criança deficiente” - “quando uma criança aspirar dentro de uma peneira, torna-se surda” 28 1 - “diz-se que a criança que antes da puberdade anda no pátio da casa dos pais de capulana terá filhos deficientes quando se casar” - “diz-se frequentemente que as pessoas amputadas perdem uma parte do seu discernimento visto uma parte do seu corpo estar já no além”. - “um soldado que não for para casa para ver a esposa durante uma licença receberá uma bala na perna quando regressar ao campo de batalha”. - “diz-se que quando uma pessoa albina morre, o seu corpo desaparece para sempre da face da terra”. Constatamos que estas crenças e lendas têm igualmente uma função de regulação social: as mulheres devem velar pelos filhos, as crianças não se devem rir das pessoas com deficiência, os homens não devem praticar a infidelidade, as relações de vizinhança devem ser cordiais… A Deficiência é assim utilizada como uma ameaça à qual nos expomos se nos desviarmos da norma e da moral. Mesmo quando têm mais crédito entre as categorias sociais mais desfavorecidas, estas crenças populares estão manifestamente enraizadas no imaginário colectivo e transcendem a pertença social. c) O surgimento da deficiência é vivido como uma fatalidade Na altura do nascimento de uma criança com deficiência numa família, acontece frequentemente que a mulher seja pura e simplesmente abandonada pelo marido. Na realidade, esta é geralmente tida como responsável pela deficiência do recém-nascido (em virtude de um comportamento considerado impróprio durante a gravidez, de uma suposta infidelidade ou ainda de uma linhagem familiar reputada menos “pura” que a do marido). Quando a Deficiência aparece no decurso da vida, gera igualmente fenómenos de rejeição e de exclusão na célula familiar. O marido que sofre uma amputação é por exemplo considerado um indivíduo inútil, potencialmente incapaz de dar respostas às das necessidades da família. As famílias têm frequentemente o reflexo de ir consultar um curandeiro, logo nos primeiros dias, após o surgimento da deficiência (depois do nascimento, de um acidente…), para tentar atenuá-la ou fazê-la desaparecer por meio de um ritual de “purificação” e de um remédio especialmente preparado (macumba). Em caso de incesto de um pai com a filha, as pessoas vão ao curandeiro antes mesmo do nascimento da criança, a fim de afastar qualquer risco de má formação congénita. O tratamento da Deficiência representa assim uma fonte de rendimento particularmente para os curandeiros (tal como o tratamento do HIV/SIDA), principalmente junto de famílias em estado de aflição que já não têm outra alternativa que não seja ir aos médicos tradicionais, na ausência de uma medicina convencional acessível e eficaz. 29 Capítulo Representação social da Deficiência II/ Aceitação da pessoa com deficiência na sociedade a) A pessoa com deficiência é frequentemente isolada da família Face à vergonha sentida, algumas famílias vão ao ponto de esconderem os filhos, irmãos ou parentes com deficiência, e a mantê-los fora do olhar da comunidade. “Há casos de famílias que não levam os seus parentes com deficiência à igreja a fim de preservar a sua imagem entre os fieis” Acontece igualmente que algumas delas opõem-se, abertamente, ao casamento de um dos membros da família com deficiência, afim de não denegrir a reputação da família ou porque este não é considerado como suficientemente apto a garantir a segurança material do lar. Mas o mais normal, é sobretudo a falta de solução para um atendimento apropriado (creche, escola, centro de formação, posto de trabalho adaptado...) – principalmente quando a deficiência leva a uma situação de grande dependência – levando as famílias a manterem a pessoa em casa. Sem espaço de socialização para com o mundo exterior, torna-se então difícil prever uma integração ou a realização de um projecto virado para os outros. b) Um meio discriminador Paralelamente às dificuldades de integração social cujas pessoas com deficiência podem ser vítimas (ter um emprego estável, estudar, fundar uma família, ter uma casa em condições), constata-se que elas são acima de tudo vítimas de preconceitos no seio das suas comunidades. Que seja na visinhança, nas lojas, nos transportes, na escola, na empresa, no mercado (quando elas se fazem presentes) as pessoas com deficiência inqueridas falam de atitudes de desdém, de desprezo, até mesmo de rejeição pelos seus concidadãos. Para as crianças, estas atitudes manifestam-se pela exclusão nos jogos durante o recreio (nas escolas) ou mesmo na rua. Uma mãe inquerida disse que ela leva o seu filho com deficiência para brincar na rua com as outras crianças, os pais destes precipitam-se instando aos seus filhos para se afastarem dele para “não se tornarem também malucos”. E parece normal que as pessoas com deficiência recebam alcunhas particularmente humilhantes dadas por pessoas da rua ou da vizinhança, alcunhas referentes ao tipo de deficiência: cocho, chimbuinha, chigono, chikhurumba... Os motoristas de chapas cobram regularmente o preço de dois lugares a pessoas com deficiência que querem subir com as suas cadeiras de roda, e muitas vezes elas são ignoradas a beira das estradas para não perderem tempo. Existem pessoas que lhes cobram dinheiro na rua para um determinado favor feito podendo ser ajudar a atravessar a rua, carregar um cesto, ler um insignio... d) Alguns factores pessoais reforçariam ou atenuariam a discriminação social O tipo e o graú da deficiência Algumas deficiências parecem ser mais discriminantes que outras. A deficiência intelectual e mental, ou ainda o albinismo são consideradas como as mais estigmatizadas na zona do nosso estudo. Paralelamente, a gravidade da deficiência é proporcional a exclusão do meio. A idade A idade é também considerada um factor discriminante. As famílias tendem a ajudar, de maneira espontânea, uma criança com deficiência, a se lavar, a ir a casa de banho, movimentar-se dentro de casa... Quando esta criança torna-se adulta, ela é normalmente deixada de lado, carecendo assim de ajuda da família nas suas actividades quotidianas. As incapacidades agravam-se com a idade, quanto mais as pessoas com deficiência tornam-se adultas, a dependência se agrava, e a situação torna-se ainda mais problemática. O género As mulheres com deficiência sofrem muitas vezes uma dupla discriminação pelo seu meio e pela sociedade em geral, quer dizer barreiras para ter acesso a educação, ao emprego ou ainda ao lazer. Elas estão também, e de maneira muito particular, espostas ao risco do abuso sexual. « Conheço homens que abusam as mulheres com deficiência para satisfazerem seus desejos sexuais » fim da citação. Os casos de violação sexual colhidos durante o nosso inquérito mostram a extrema vulnerabilidade face ao risco de gravidez não desejada ou infecção por doenças sexualmente transmissíveis. A situação económica da pessoa e da família Uma pessoa com deficiência tem mais chances de ser aceite pela comunidade se a família tiver condições para satisfazer as necessidades básicas e específicas desta que a ajudam a tornar-se autonoma em relação ao resto da comunidade. Por exemplo, uma família rica pode contratar uma empregada doméstica para cuidar do seu filho ou filha com deficiência enquanto os pais trabalham, ela pode adquirir material de compensação que permite a mobilidade da criança no bairro. É muito mais fácil para a própria pessoa com deficiência considerar-se ou ser considerada normal pela comunidade se ela tiver um emprego ou frequentar uma escola c) A tentação da auto-exclusão Face as múltiplas formas de discriminação que lhes são sujeitas fora de casa, algumas pessoas inqueridas optam pela resignação e auto-exclusão. Por falta de auto-estima, ou mesmo pela dificuldade de aceitar a sua deficiência, elas preferem isolar-se do resto da comunidade a entrar em contacto com o mundo exterior. Vizinhos, estruturas sociais e comunitárias, serviços... A estigmatização provoca muitos problemas psíquicos nas pessoas excluídas ou que se traduz, normalmente, em complexo de inferioridade, falta de confiança nas suas capacidades, resignação. « Muitas vezes são as próprias pessoas com deficiência que se excluem das suas comunidades. Conheço alguém que vive fechado no seu quarto porque tem vergonha de sair » disse um dos inqueridos. Muitos crêm que a auto-estima é o primeiro passo a dar antes de se virar para os outros. 30 1 31 Capítulo Representação social da Deficiência Situação sócio-económica 2 III/ Recursos comunitários como vector de integração social a) Mecanismos de ajuda mútua e de caridade no seio das comunidades A visão essencialmente médica da deficiência e a percepção comunamente aceite segundo, a qual a pessoa com deficiência é um indivíduo passivo, vítima da fatalidade e sem capacidades proprias para construir a sua autonomia abre espaço a acções essencialmente assistencialistas. Esta abordagem caritativa, muitas vezes sustentada pelos discursos de compaixão das numerosas entidades religiosas que se encontram nos bairros populares, leva ao reforço dos mecanismos de dependência da pessoa com deficiência em relação ao seu meio familiar ou comunitário. Muitas associações com as quais se entrou em contacto dão assitência material directa (vestuário, medicamentos, alimentação) as pessoas com deficiência, sem qualquer estratégia específica de acompanhamento social. Apesar destes mecanismos de ajuda-mútua serem prejudiciais para a promoção do desenvolvimento individual da pessoa baseada na valorização das suas capacidades próprias, elas são essenciais para o estabelecimento de uma solidariedade de proximidade e da coesão do laço social. Para alguns, é menos difícil viver com deficiência em bairros periféricos que nas cidades porque, mesmo que os serviços básicos sejam de acesso mais difícil, os reflexos de ajuda-mútua são geralmente mais expontâneos, sendo estes nas cidades travados pelo anonimato e o individualismo. b) A família aparece como principal base de apoio para a integração das pessoas com deficiência Em todos os grupos inqueridos, a família aparece de forma unánime como principal vector de socilização e integração da pessoa com deficiência dentro da comunidade. É ela que se responsabiliza em primeiro lugar pelo indivíduo, deve tomar conta deste e acompanhá-lo no seu meio. A inclusão social, deve-se, em primeiro lugar, reflectir e realizar-se no seio do agregado familiar. Contudo, porque estas famílias encontram-se sócio e económicamente débis, o Estado, as autárquias locais, as associações, e mesmo as igrejas são convidadas a criar condições necessárias para permitir sustentar os seus membros com deficiência (serviços, mecanismos de protecção social, material de compensação...). « Do meu ponto de vista, é a família que deve, antes de qualquer outra entidade, assumir a responsabilidade sobre a pessoa com deficiência. Mas, também, as nossas capacidades são limitadas, por conseguinte precisamos da colaboração dos serviços de apoio. Nós devemos contar com o apoio de outras instâncias como o Estado ou a sociedade civil » rematou um dos inqueridos. 32 I/ Prevalência da deficiência e tipologia das incapacidades na zona de estudo 34 II/ Género e Idade 37 III/ Situação familiar 38 IV/ Nível de educação 38 V/ Situação profissional e actividades exercidas 42 VI/ Participação associativa 44 33 Capítulo Situação sócio-económica Com o intuito de evidenciar as dificuldades vividas pelas pessoas com deficiência na zona escolhida para o nosso estudo, definimos o perfil sócio-económico em função do resto da população. Apresentamos neste estudo os principais dados recolhidos durante o inquérito quantitativo acompanhado de pequenas análises I/ Prevalência da deficiência e tipologia das incapacidades na zona de estudo a) Quantas pessoas com deficiência vivem no territorio? Responder a esta pergunta é tanto quanto delicado assim que a definição da Deficiência varia de uma instituição para a outra e depende muito da metodologia utilizada. Com o intuito de estabelecer uma base de comparação com outros estudos já feitos, nós nos baseamos nas questões do Washington Group, que são normalmente utilizadas para determinar a prevalência da deficiência numa dada população. A partir dos dados obtidos, nós apresentamos neste relatório vários indicadores do estudo da Deficiência nos bairros periféricos das cidades de Maputo e Matola: Percentagem das pessoas de 5 anos ou mais segundo os critérios do Washington Group2 : • 5,0% [4,5-5,5%] da população apresenta pelo menos uma incapacidade, o que representa 9 200 a 11 300 pessoas nos 9 bairros estudados (cf. circulo azul do gráfico). • A extrapolação deste número para a aglomeração no seu todo leva-nos a concluir que 79 500 a 97 200 pessoas com deficiência vivem em Maputo e Matola. Segundo o gráfico abaixo, consideramos nas análises que se seguem 2 subgrupos distintos de pessoas com deficiência: O grupo 1 é constituido por pessoas com incapacidades definidas pelo Washington group, sem limitação de actividade: • 2,3% [2,0–2,6%], ou seja entre 4000 et 5200 pessoas nos 9 bairros inqueridos. O grupo 2, constituido por pessoas com incapacidades definidas segundo os critérios do WG e uma limitação de actividades desde há pelo menos 6 meses, aos quais acrescentamos as pessoas do grupo 2' tendo uma limitação de actividade, mais sem incapacidade segundo o WG: • 3,5% [3,1-3,9%], ou seja entre 6200 a 7800 pessoas na zona inquerida. Trata-se do grupo de pessoas com deficiência mais vulnerável. Incapacidades (WG) 5,0% Percentagem das pessoas de 5 anos ou mais segundo as duas perguntas addicionais relativas a limitação das actividades: • 3,5% [3,1-3,9%] da população apresenta uma limitação de actividades desde pelo menos 6 meses (cf. grupos 2 e 2' do gráfico). Limitações de actividades ha mais de 6 meses 3,5% Amputação de um membro inferior 0,29% Percentagem de pessoas de 5 anos ou mais segundo os critérios da pesquisa nacional (SINTEF 2007): • 3,8% [3,4-4,2%] da população apresenta pelo menos 1 incapacidade de nível intermediário (« muito ») ou mesmo 2 incapacidades de nível fraco (« um pouco »)3. Percentagem de pessoas de 5 anos ou mais com uma amputação e tendo declarado uma dificuldade: • 0,12% [0,06-0,22%] sofreu a amputaçao de um membro superior, ou seja em média 250 pessoas nos 9 bairros estudados. • 0,29% [0,19-0,44%] sofreu amputaçao de um membro inferior, ou seja em média 600 pessoas nos 9 bairros inqueridos. Grupo 2 Grupo 1 2,3% Incapacidades+limitações de actividades 2,7% Segundo a metodologia do WG, pelo menos uma resposta positiva as perguntas de filtragem permitiu-nos considerar a pessoa como tendo uma incapacidade. 3 Standard SINTEF. 2 34 2 35 Grupo 2' Limitações de actividades sem incapacidade Capítulo Situação sócio-económica b) Quais são as incapacidades apresentadas pelas pessoas com deficiência? A resposta a esta questão pede uma análise das respostas obtidas nas 6 questões do WG nas pessoas de 5 anos ou mais: Nehuma dificuldade Um pouco difícil Muito difícil Incapacidade total Total Q1 – Dificuldades visuais 97,4% 1,08% 1,46% 0,10% 100% Q2 – Dificuldades auditivas 99,1% 0,47% 0,38% 0,06% 100% II/ Género e Idade a) A população de pessoas com deficiência é geralmente mais velha... A média de idade das pessoas seleccionadas para o nosso estudo é de 36,8 anos [34,9-38,7] contra 21,0 anos [20,7-21,4] no restante da população. A diferença da média de idade é por conseguinte muito importante entre estes dois grupos o que nos parece lógico na medida em que um grande número de incapacidades aparecem no decorrer da vida, paralelamente ao envelhecimento da pessoa. Quanto mais velha se torna a pessoa, mais cnahce tem de se encontar em uma situação de impedimento. Pirâmide das pessoas com deficiência Mulheres Homens Q3 – Dificuldades de mobilidade 97,8% 0,61% 1,09% 0,48% 2 100% 90 a 99 80 a 89 Q4 – Dificuldades de memória ou concentração 98,9% Q5 – Dificuldades de tomar banho ou vestir-se 99,3% Q6 – Dificuldades de compreender ou fazer-se compreender 0,53% 0,57% 0,02% 70 a 79 100% 60 a 69 0,29% 0,22% 0,17% 100% Faixas etária 50 a 59 40 a 49 30 a 39 99,4% 0,29% 0,25% 0,06% 100% 20 a 29 10 a 19 As pessoas filtradas durante o nosso inquérito apresentam na sua maioria dificuldades de visão (2,6%), mesmo assim elas não chegam a cegueira total (0,10%). Embora na sua maioria elas sejam remediáveis, estas dificuldades são causas de sérios problemas na vida quotidiana, por exemplo: a falta de serviços de oftalmologia ou/e de materiais de compensação facilmente acessíveis. 0a9 b) … e mais feminina que o resto da população A população de pessoas com deficiência da zona inquerida não só é mais velha como também é globalmente mais feminina que o resto da população. A taxa de masculinidade é de 0,87 para o total da população estudada contra apenas 0,75 para a população das pessoas com deficiência, e o número de mulheres com deficiência é maior em todas as faixas etárias. Para 100 mulheres com deficiência, existem apenas, em média, 75 homens. As mulheres são mais afectadas pelas incapacidades, e as tornam mais frágeis porque elas veem acrescentar-se as outras discriminações ja existentes. As dificuldades de mobilidade são consideradas as mais problemáticas uma vez que 1,57% das inqueridas admitem que lhes é muito difícil, quase impossível de se movimentar no seu meio por causa do seu estado físico. Estas incapacidades são na maioria dos casos ligados a paralisia ou a amputação de um dos membros inferiores, sem se esquecer das consequências das doenças invalidantes. As dificuldades de memória/concentração e de compreensão ou de se fazer compreender normalmente associadas a deficiência intelectual afectam 2,1% e 0,6%, respectivamente, da população inquerida e são observadas com maior frequência na categoria de pessoas idosas. As dificuldades auditivas abragem 0,9% da população, uma média de 1900 pessoas da zona inquerida. Enfim, 0,7% das pessoas inqueridas afirmam ter dificuldades de tomar banho ou vestir-se sozinhas e devem por conseguinte contar com a ajuda duma outra pessoa para os seus cuidados de higiene quotidiana, o que nos dá uma ideia das problemáticas relativas ao nível da dependência. 36 37 Capítulo Situação sócio-económica III/ Situação familiar a) Estado civil O celibato diminui com a idade e é mais frequente nos homens que nas mulheres. O número dos solteiros é duas vezes maior nas pessoas com deficiência que no grupo de testagem (OR=1,8 [1,2-2,8]). É idêntico ao casamento, a união marital aumenta com a idade e é independente da questão do género. Em contrapartida é função da Deficiência: nas pessoas com a mesma idade, o número de pessoas vivendo em união marital é duas vezes inferior nas pessoas com deficiência que nas outras (OR=0,47 [0,35-0,64]). A viuvez aumenta também com a idade, independentemente do género, mas para os da mesma idade é 2 vezes mais frequente nas pessoas dos grupos com deficiência que nas outras. O divórcio ou separação aumenta com a idade e são 10 vezes mais frequentes, para os de mesma idade, nas mulheres que nos homens. O divórcio e a separação ocorrem independentemente da Deficiência. b) A estrutura dos agregados O número de crianças por agregado é em média 6,2 (IC = [6,0-6,4)]. É significativamente mais elevado nos agregados das pessoas com deficiência mais sérias (grupo 2 > grupo 1 > população total), mas em pequena proporção (6,5 filhos no grupo 2 contra 5,9 no grupo de testagem). Nas pessoas de mais de 15 anos, o facto de ser chefe de família aumenta com a idade e é 2 vezes mais frequente para os homens. Não se observa diferenças importantes relativas a Deficiência. IV/ Nível de educação a) Nível de escolarização alcançado O estudo comparativo das pessoas com deficiência e o resto da população apresenta a escolaridade segundo os níveis máximos alcançados da seguinte maneira: Nível escolar alcançado Nenhum Primário Completo Secúndario Geral Superior Técnico Escola Especial Outros Total Não-PCD 11.8% 57.1% 27.2% 0.0% 2.1% 1.8% 0.0% 100.0% PCD 21.9% 59.5% 16.9% 0.4% 0.8% 0.2% 0.2% 100.0% Total 17.7% 58.5% 21.2% 0.3% 1.4% 0.9% 0.1% 100.0% Nas pessoas que tiveram acesso a educação, a percentagem desta escolarização é relativamente idéntica entre as pessoas com deficiência ao nível primário (59% contra 57,1%). Mas verifica-se depois um verdadeiro desfazaramento na frenquência da escola entre o ensino primário e secundário pelas pessoas com deficiência. Se quase 78% das pessoas com deficiência afirmam ter frequentado o ensino primário, apenas 16,9% continuam o ensino secundário contra 27,2% para o resto da população. Observa-se ainda que é particularmente para além do ensino secundário nos bairros periféricos, uma vez que apenas 0,4% e 0,0%, respectivamente, das pessoas com deficiência e do resto da população frequentaram o ensino superior (Bacharelato, Licênciatura, Mestrado, Doutoramento). O nível escolar é progressivamente melhor para as gerações mais jovens, mesmo, para as pessoas da mesma idade, as mulheres e as pessoas com deficiência continuam sensivelmente desfavorecidas. b) Saber ler e escrever Para além das diferenças observadas sobre o nível de escolarização atingido, nota-se grandes disparidades entre pessoas com deficiência e o resto da população no que diz respeito as aptidões declaradas de leitura e escrita. Saber ler e escrever (15 anos ou mais) Homens Não PCD 94,4% PCD 82,0% Mulheres 71,3% 60,0% Total 81,6% 69,1% p <0,001 <0,001 A diferença é de 10 a 12 pontos, em média, em desfavor das pessoas com deficiência, quer seja nos homens como nas mulheres, nota-se uma diferença similar, entre homens e mulheres, nota-se uma diferença de 20 pontos. A alfabetização é menos frequente nas mulheres, e sensivelmente inferior nas mulheres com deficiência, por efeito cumulativo: apenas 60% das mulheres com deficiência sabem ler e escrever contra 94% dos homens sem deficiência. Cerca de 22% das pessoas com deficiência nunca tiveram acesso a escola contra mais de 12% no resto da população, o que ilustra a dificuldade de encontrar soluções educativas adaptadas para quase ¼ das pessoas com deficiência. 38 2 39 Capítulo Situação sócio-económica As representações gráficas abaixo mostram que a questão da alfabetização está estreitamente ligada a factores como o género e a idade. Nas pessoas sem deficiência, observa-se uma diminuição progressiva de discriminação ligada ao género, graças ao aumento espectacular da alfabetização nas mulheres mais jovens (taxa de alfabetização de 50% nos 50-59 anos contra mais de 90% nas mulheres de 10-19 anos, em média entre 2 e 5% a mais a cada ano sabem ler e escrever). É interessante sublinhar o aumento rapido do nível de escolarização nas pessoas mais jovens, consequência de políticas educativas voluntaristas praticadas em Moçambique desde há 20 anos. Taxa de alfabetizações das pessoas "sem deficiência" em função da idade e sexo 100% 80% taxa de alfabetização 40% 20% 0% significaria que o ensino dispensado é pouco eficaz para elas por razões de necessidades educativas específicas que nao foram tomadas em consideração pelo sistema escolar ou mesmo porque elas saem ao meio do primeiro ciclo sem contudo dominarem os saberes básicos. c) Perfil linguístico Tendo em conta a mesma faixa de idade e o mesmo género, as pessoas com deficiência tem menos domínio da língua portuguesa que as outras (OR=0,54 [0,35-0,84]). Esta diferença é provavelmente devido ao facto da escola ser o principal vector de aprendizagem do português (uma vez que o número de locutores tendo o português como primeira língua é pequeno, sobretudo nos bairros de expansão) e nota-se por conseguinte uma correlação muito estreita entre o nível de escolarizazão e o domínio da língua portuguesa. Uma vez que as pessoas com deficiência tém um nível de escolarização mais baixo que o resto da população não é surpreendente constatar que elas preferiram expressar-se em outras línguas que o português, constituindo assim a primeira barreira ao acesso a informação. Falar português Não-PCD PCD Total 60% 10-19 20-29 Homens 30-39 Mulheres 40-49 50-59 faixa etárias Nos grupos de pessoas com deficiência, a alfabetização continua, sensivelmente, menos alta que o resto da população, quer nos homens como nas mulheres. As diferenças entre homens e mulheres são ínfimas quando abaixo dos 40 anos, mas verifica-se pouca progressão de uma geração a outra, o contrário do total da população. Tudo leva-nos a crer que as pessoas com deficiência não beneficiam tanto como as outras dos progressos recentes em Moçambique na área da educação: Sim 88.2% 77.1% 81.7% Não 11.8% 22.9% 18.3% Total 100.0% 100.0% 100.0% Mesmo assim uma porporção significativa de pessoas inqueridas afirma falar português (81,7%), o changana continua a língua principal falada em casa: 55% afirma expressar-se em changana em casa4. A proeminência do changana sobre o português e as outras línguas regionais nos bairros periféricos explicase pela sociologia da população, principalmente constituida de novos habitantes vindos de zonas rurais, onde a língua portuguesa é menos presente que na capital e o nível de escolarização globalmente menos elevado. Idade 5-19 20-39 40-59 60-79 80-99 Total Taxa de alfabetizações das pessoas "com deficiência" em função da idade e sexo 100% 80% taxa de alfabetização 2 Português 48% 39% 27% 15% 0% 35% Changana 43% 53% 62% 65% 100% 55% Bitonga 1% 2% 3% 5% 0% 3% Chope 3% 3% 3% 8% 0% 4% Outra 5% 3% 5% 7% 0% 4% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 60% 40% 20% 0% 10-19 20-29 Homens 30-39 Mulheres 40-49 50-59 faixa etárias Sem compararmos estes dados aos precedentes relativos a escolarização primária, muito próximos entre as pessoas com deficiência e o resto da população, conclui-se que as pessoas com deficiência e sobretudo as mulheres saiem, em média, menos alfabetizadas do ciclo primário que o resto da população. O que 40 Contudo o changana tende a ser progressivamente substituido pelo português nos grupos mais jovens, provavelmente devido ao efeito do aumento geral da taxa de escolarização e de alfabetização desde há mais ou menos 20 anos (em média 10 pontos a mais de uma geração sobre a outra). As pessoas com deficiência sendo em média mais velhas e menos escolarizadas que o resto da população, elas encontramse relativamente afastadas desta dinámica e continuam a expressar-se, em geral, muito mais em changana que o resto da população. 4 Em toda a Cidade de Maputo acontece o inverso: 55,2% dos habitantes falam português em casa, contra 31,4% para o changana (dados INE, recentes 2007). 41 Capítulo Situação sócio-económica V/ Situação profissional e actividades exercidas a) Actividades principais exercidas O quadro abaixo apresenta as actividades principais exercidas pelas pessoas inqueridas. Mostra-nos a situação profissional das pessoas com deficiência em relação ao resto da população. Considerando que é mais vantajoso e protector de ter um emprego remunerado que trabalhar por conta própria (muitas vezes informal) ou mesmo que um trabalho não remunerado, permiti-nos compreender, mesmo assim de maneira indirecta, a situação económica das pessoas com deficiência. Actividade principal (15 anos ou mais) Emprego remunerado Conta própria, independente Trabalho não remunerado Estudante Domestico(a) Reformado Desempregado (por razões de saúde) Desempregado (outra razão) Outro Total Não PCD 20% 18% 2% 14% 36% 1% 1% 4% 3% 100% PCD 10% 13% 2% 9% 37% 6% 17% 4% 3% 100% O estatuto de doméstico não é directamente determinado pela deficiência, mais pelo género. As mulheres ocupam-se mais deste tipo de actividade (48%) que os homens (9,8%): com idade idéntica, 10 vezes mais mulheres que homens (OR=9,9 [6,5-14,9]). Em geral, o estatuto de reformado toca apenas um número ínfimo do total da população (3,3% [2,14,7%]). Contudo, com idade idéntica e legal, o número de homens é 15 vezes superior ao das mulheres (OR= 14,7 [3,9-55,2]). As mulheres tendo ultrapassado a idade legal para o estatuto de reformado (55 anos) e não tendo pensão para fazer valer continuam, provalvelmente, a registarem-se como domésticas ou trabalhador por conta própria (este estatuto compreende muitas vezes activos em desemprego disfarçado) fazendo com que a diferença relativa ao estatuto de reformado entre homens e mulheres seja ainda maior. E, dentre as raras pessoas que recebem a pensão de reforma, encontram-se as que tendo exercido um emprego formal remunerado (mais homens que mulheres como visto atrás) mas também antigos combatentes da luta armada de libertação e da guerra civill (aqui também sobretudo homens). Nos grupos de pessoas com deficiência não aparece, no nosso estudo, diferenças notáveis. Não-reformados Reformados Reforma em idade legal Homens>60 anos 60,5% 39,5% Constata-se que o emprego remunerado é duas vezes menos frequente para as pessoas com deficiência (10% de emprego remunerado) que para as pessoas sem deficiência (20%). Facto directamente ligado as questões do género uma vez que é 6 vezes mais frequente para os homens (27%) que para as mulheres (4,4%), independentemente da idade e do tipo de deficiência apresentada. O quadro abaixo mostra que quando os dois factores aparecem juntos (deficiência + sexo feminino) as mulheres com deficiência sofrem uma desvantagem muito grande, por efeito aditivo: Não-PCD PCD Emprego remunerado (15 anos ou mais) Homens 37% 19% Mulheres 6% 3% O estatuto de trabalhador independente não depende da idade nem do género da pessoa. Aparece menos influenciado pelo tipo de deficiência que o emprego remunerado, contudo existe um « défice » deste estatuto nos dois grupos de deficiência. A diferença é significativa para o grupo 2 (com idade e género idénticos): Trabalho independente (15 anos ou mais) Não-PCD Grupo 1 Grupo 2 18% 17% 10% 42 2 43 Mulheres>55 anos 95,7% 3,9% Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais Situação sócio-económica Capítulo 3 b) Taxa de desemprego mais alta em relação ao resto da população Obtemos melhor a taxa de desemprego real estimando apenas os supostos activos (assalariados, independentes, trabalhadores voluntários e estudantes, no sentido BIT) e os inactivos declarados (todas causas inclusas): Activos com emprego e desempregados (15 anos ou mais) Emprego remunerado Conta própria, independente Trabalho não remunerado Estudante Desempregados (por todas razões) Total Não-PCD 34% 30% 4% 23% 9% 100% PCD Total 18% 24% 4% 16% 39% 100% 25% 27% 4% 19% 26% 100% Como se pode ver, a taxa bruta de desemprego calculada mostra uma grande desvantagem para as pessoas com deficiência (39% contra 9%) e a probalidade de se encontrar sem emprego aumenta com a idade. Esta grande disparidade tem 3 causas principais: Com género e idade indénticos, o número das pessoas com deficiência desempregadas é 3 vezes mais elevado que no resto da população (OR=3,2 [2,2-4,6]) por causa de condições de saúde. Com nível global de qualificação académica ou profissional geral mais baixo que a média, as pessoas com deficiência tém mais dificuldades que as outras a inserir-se correctamente no mercado do trabalho; Num contexto onde a oferta de trabalho é rara, as pessoas com deficiência encontram-se relegadas para o último plano quando se fala de oportunidades de trabaho porque elas são vítimas de discriminações pela parte dos empregadores. I/ Acesso aos serviços de saúde 46 II/ Acesso aos serviços de educação 49 VI/ Participação associativa III/ Acesso aos serviços de formação profissional e emprego 41 Surpreendentemente apenas 6% das pessoas com deficiência afirmou conhecer uma associação de pessoas com deficiência (APCD). Número idêntico ao das pessoas sem deficiência, o que significa que as pessoas com deficiência não conhecem melhor a existência das APCD que o resto da população. O conhecimento de uma APCD depende muito do género uma vez que o número dos homens que conhece uma APCD é 2 vezes superior o das mulheres (p=0,02). IV/ Acesso aos serviços e programas sociais 54 V. Acesso a outros tipos de serviços 57 O nosso estudo revela-nos que apenas 2,5% das pessoas com deficiência são membros de uma APCD, o que põe em causa a capacidade de mobilização das APCD do seu público alvo... A idade e o género não influem na adesão nas APCD, o número dos homens e mulheres em todas as faixas de idade sendo idênticas. Em associações outras que as APCD (sindicatos, clubes desportivos, associações comunitárias...) encontram-se mais pessoas com deficiência do grupo 1 como membros que o resto da população, e o número é mais elevado para as pessoas com deficiência do grupo 2 (2,5% contra 3,9% e 8,1%). A adesão é mais frequente para os homens que para as mulheres, e estes são entre 2,1 e 2,4 vezes mais ligadas a uma associação. Embora de maneira moderada, as pessoas com deficiência aparecem em número maior, o que nos surpreende, inscritas em associações que as outras. O público para as associações é muito grande, sobretudo para as associações de pessoas com deficiência que continuam ainda desconhecidas nas comunidades. 44 45 Capítulo Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais Em função do Género: Afim de fazer uma avaliação quantitativa das condições de acesso para as pessoas com deficiência aos serviços sanitários e sociais existentes tivemos que analisar cada uma das 5 principais categorias de serviços (saúde, educação, formação profissional e emprego, serviços e programas sociais, outros serviços): Tipo de serviço o nível de conhecimento, de necessidade e de utilização dos serviços: A diferença entre o nível de conhecimento e o nível de necessidade indica-nos o nível de dificuldades na obtenção de informação sobre os serviços disponíveis; A diferença entre o nível de utilização e o nível de necessidade indica-nos o nível de cobertura real das necessidades exprimidas. I/ Acesso aos serviços de saúde a) Nível exprimido de conhecimento, de necessidade e de utilização de serviços Em função da Deficiência: NECESSIDADES PCD Não-PCD UTILIZAÇÃO PCD Não-PCD Serviços básicos de saúde 98% 88% 89% Médico tradicional 45% 12% 6% Serviço de testagem e tratamento do HIV 41% 27% 11% Serviço de apoio psicológico ou psiquiátrico 30% 15% Serviço de reabilitação física 20% Fornecedor de material de compensação 11% 7% 46 98% Médico tradicional 45% Serviço de testagem e tratamento do HIV 41% 27% 88% 10% 33% 89% 16% 6% 27% 11% 15% 2% Serviço de reabilitação física 20% 16% 22% Fornecedor de material de compensação 9% 29% 35% 1% 5% 4% A maioria das pessoas (próximo dos 90% do total) utiliza os cuidados básicos de saúde, independentemente do tipo de deficiência. Os postos de saúde, centros de saúde, clínicas, hospitais, constituem, muitas vezes, os primeiros recursos quando na família ocorrem problemas de saúde. Neste estudo os resultados são analizados de maneira diferenciada entre pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência, afim de medir a vulnerabilidade das pessoas com deficiência em relação ao resto da comunidade, mas também segundo uma leitura mulher/homem, afim de pôr em evidência algumas eventuais diferenças relativas ao género. CONHECIMENTO PCD Não-PCD CONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃO Homens Mulheres Homens Mulheres Mulheres Homens Serviços básicos de saúde Serviço de apoio psicológico ou psiquiátrico os obstaculos citados sobre o acesso aos serviços: que sejam de natureza económica, relativos ao meio ambiente, a mobilidaade ou mesmo ao acesso físico dos edifícios, estes indicadores permitem-nos compreender a diferença constatada entre o nível de necessidade e o nível de utilização do tipo de serviço. Tipo de serviço 3 A utilização e as necessidades exprimidas sobre outros tipos de estrutura são menos frequentes. Apenas 6% das pessoas inqueridas afirmam ter recorrido aos médicos tradicionais ainda que o número dos que exprimem esta necessidade é o dobro. Este número parece-nos muito baixo quando sabemos que existem 126 curandeiros referenciados pela AMETRAMO no único distrito n°5, contra 1 a 2 médicos convencionais em média por unidade de saúde pública. 11% das pessoas inqueridas afirmam frequentar os serviços de testagem e de tratamento do HIV enquanto que 27% afirmam precisarem destes serviços. A demanda aparece por conseguinte grandemente insatisfeita para este tipo de serviço. Mais preocupante é o facto de que apenas 41% das pessoas inqueridas afirmou conhecer este tipo de serviço na zona. As pessoas que sofrem de uma limitação de actividade desde há 6 meses utilizam mais estes serviços que as outras (10% e 14%) o que nos faz pensar que algumas incapacidades estão relacionadas com a doença. Poucas pessoas utilizam serviços de apoio psicológico, e nota-se uma diferença entre (as pessoas com deficiência cujas actividades são limitadas (4% os utilizam) e os outros (1%). Contudo, dos que exprimem a necessidade (13%), metade das pessoas com deficiência e ¼ das outras não conhecem estruturas deste tipo, o que mostra claramente as dificuldades de acesso a informação. O número das mulheres nos dois grupos, que não conhecem este tipo de estrutura é duas vezes maior que o dos homens. 3% 1% 22% 14% 5% 1% 43% 15% 7% 1% Naturalmente, os centros de reabilitação física e os provedores de material de compensação são mais utilizados pelas pessoas com deficiência (7%) que as outras (1%). Dos que não utilizam os serviços de reabilitação física, ¼ das pessoas com limitação de actividade exprimem a necessidade, dos quais 60% não os conhecem independentemente da deficiência, o que se explica pelo facto de que não existem na zona de estudo. Dos que não recorrem aos fornecedores de material, 40% das pessoas com deficiência e 15% das outras exprimem a necessidade, cuja maioria (85%) não tem o conhecimento. A necessidade de acesso aos fornecedores de material é por conseguinte grandemente insatisfeita para as pessoas com deficiência. 47 Capítulo Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais b) Os obstáculos ao acesso aos serviços de saúde Em análise univariada, todas as barreiras relativas ao meio abordadas são ressentidas com mais força (p<0,001) pelas pessoas com deficiência que pelas outras5. Os custos aparecem claramente como o problema principal (para 60% a 90% das pessoas com deficiência), bem distante do acesso físico (30%), do acesso a informaçõ (29%) e da qualidade do atendimento nos serviços (25% em média): Obstáculos para: Custear o material de compensação Custear os medicamentos Custear uma consulta médica Sair de casa para os serviços sanitários Entrar e movimentar-se nas unidades sanitárias Ter informação sobre os serviços sanitários Ser bem atendido pelos agentes de saúde Pess. sem deficiência 70,5% 45,0% 35,2% 9,6% 6,1% 14,8% 12,6% Pess. com deficiência 91,3% 68,8% 62,5% 32,4% 29,1% 28,8% 24,8% p <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Apesar dos cuidados e dos medicamentos serem em teoria gratuitos para as pessoas com deficiência mais vulneráveis6, nota-se uma grande dificuldade para a maioria da população em custear os serviços de saúde, o que provoca uma grande elasticidade da demanda em relação aos preços. Em outras palavras, custos elevados desencorajam facilmente os utentes e isto de maneira geométrica, o que por conseguinte não favorece o lançamento de uma abordagem preventiva da saúde que poderia limitar a emergência ou o desenvolvimento de deficiências em algumas pessoas. Os habitantes da zona em estudo só vão aos centros de saúde ou ao hospital no último caso, quando se encontram, absolutamente doentes ou quando constatam que a medicina tradicional não os pode ajudar. A incoerência temporal é de facto maior para as pessoas quando os custos são hoje pagos (transporte, medicamentos, perca de tempo de trabalho...) enquanto que os benefícios só podem ser obtidos a médio e longo prazo (melhoria do estado de saúde ou de mobilidade, prevenção de uma infecção...) (Duflo, 2008). Deslocar-se aos serviços de saúde continua ser delicado para muitas pessoas com deficiência por causa do défice de unidades sanitárias na zona (e da distância em relação ao domicílio dos necessitados), da falta de acesso aos serviços de transportes públicos e privados, e do mau estado das estradas (muitas delas não estão alcatroadas e cheias de areia). O acesso físico aos edifícios é particularmente problemático uma vez que apenas 24% das unidades sanitárias são acessiveis por fora e que só 3% das casas de banho são adaptadas as pessoas de mobilidade reduzida. O acesso a informação é claramente mais problemático para as pessoas com deficiência que para as outras, sendo as primeiras, muitas vezes a serem ignorados pelos mídias de massa ou mesmo pelas campanhas de sensibilização comunitária (sobretudo para as pessoas com deficiência visual ou auditiva). Segundo a Direcção da saúde da Cidade de Maputo, não existe um só agente de saúde com uma formação significativa na língua de sinais em toda a cidade, nem projectos de formação desta disciplina. 5 O quadro seguinte corresponde a uma análise univariada que compara as pessoas com deficiência e as pessoas sem deficiência, sem ter em conta o género e a idade. A coluna « p » dá uma probabilidade de erro causada pelas fluctuações na realização da amostra; considera-se habitualmente que uma diferença é retida se « p » é inferior à 0,05. 6 Em virtude do Decreto n°85/2009 que aprova o Regulamento do Subsistema de Segurança Social Básica. 48 3 Estas dificuldades de comunicação tém impacto directo sobre a vulnerabildade das pessoas com deficiência face ao HIV /SIDA, Mesmo sabendo-se que elas estão, de maneira geral, mais expostas que as outras ao risco de contaminação (abuso sexual, transfusão e injecçao medicamentosa, vida promíscua em instituições...). Existe uma verdadeira dificuldade em tomá-las em conta pelos serviços de informação, de testagem ou de tratamento do HIV por causa da falta de formação dos agentes de saúde, do uso de materiais d'IEC não adaptados ou mesmo pela falsa concepção segundo a qual as pessoas com deficiência não são sexualmente activas. II/ Acesso aos serviços de educação a) Nível exprimido de conhecimento, de necessidade e de utilização dos serviços Em função da Deficiência: Tipo de serviços Ensino Primárío Ensino Secundário Geral Ensino Superior Ensino Técnico Escola Especial Bolsas de estudo Alfabetização de adultos CONHECIMENTO PCD Não-PCD 84% 54% 66% 20% 21% 9% 10% 27% NECESSIDADES PCD Não-PCD 25% 26% 36% 16% 24% 18% 16% 11% 17% 22% UTILIZAÇÃO PCD Não-PCD 24% 12% 1,5% 1% 1,5% 0% 1% 1% 4% CONHECIMENTO Mulheres Homens 84% 56% 63% 17% 25% 17% 27% 9% 8% 13% 27% NECESSIDADES Mulheres Homens 25% 30% 19% 18% 14% 17% 26% 16% UTILIZAÇÃO Mulheres Homens 24% 12% 1,5% 1% 1% 1% 2% Em função do Género: Tipo de serviços Ensino Primárío Ensino Secundário Geral Ensino Superior Ensino Técnico Escola Especial Bolsas de estudo Alfabetização de adultos Globalmente na utilização das escolas primárias, secundárias superiores e técnicas há pouca discriminação para as pessoas com deficiência que as frequentam, em proporções comparáveis as outras pessoas. Contudo, podemos ver no capítulo II que havia um grande abandono das escolas pelas pessoas com deficiência a partir do secundário quando se comparado com o resto da população. Nota-se para estas duas últimas categorias uma grande diferença entre o nível de necessidade e o nível efectivo de utilização que traduz-se muito bem nas dificuldades de acesso ao grau subsequente de ensino depois do ciclo primário. 49 Capítulo Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais O ensino superior, técnico, as bolsas e emprestimos abrangem muito poucas pessoas (1% em média, sem distinção de deficiência). A educação inclusiva continua difícil a aplicar para um efectivo médio de 85 alunos por sala nas escolas da região. Não só os professores têm a dificuldade de propocionar um acompanhamento adaptado as necessidades educativas dos seus alunos que se encontram nestas condições, mas também a lacuna que tem sobre as questões da Deficiência, torna difícil a aplicação de uma política de inclusão ambiciosa ao nível do sistema escolar. Embora todos professores formados no IFP sejam sensibilizados a trabalhar com alunos com deficiência durante a sua formação, admite-se que esta sensibilização não é suficiente. A escala da aglomeração, só ha 5 professores com uma formação completa sobre a língua de sinais ( na escola Josina Machel), nenhum no ensino secundário, nenhum no ensino superior. Face a esta situação, 50% das pessoas com deficiência em idade escolar, em média, considera difícil ter um ensino adaptado às suas necessidades e 2/3 em média, de beneficiar de material didáctico adaptado as suas necessidades. A alfabetização de adultos abrange menos pessoas com deficiência que as outras, e deveria ser o inverso segundo a lógica (uma vez que as pessoas com deficiência são globalmente menos alfabetizadas, como vimos nos capítulos precedentes). Logicamente, as escolas especiais só são frequentadas por pessoas com deficiência. b) Os obstáculos ao acesso aos serviços de educação Em análise univariada, todos os obstáculos são ressentidos com mais força pelas pessoas de grupos de deficiência que pelas outras. Como o que acontece na área da saúde onde as barreiras económicas penalizam mais as pessoas com deficiência que pretendem aceder a educação (entre 65% e 74%), seguida da falta do apoio familiar (40%), falta de pedagogia adaptada (40%), falta de informação (entre 28 e 36%) e dificuldades de mobilidade dentro dos estabelecimentos de ensino (18 a 23%). As barreiras relativas a atitude dos professores dos alunos abrangem 13% das respostas. Pess. sem deficiência Pess. com deficiência Suportar os custos da sua carreira estudantil 58,9% 73,1% 0,001 Encontrar material didáctico adaptado as suas necessidades Ter o apoio da sua família Receber um ensino adaptado as suas necessidades Ter informações sobre os cursos escolares existentes Ter informações sobre as escolas que posso frequentar Sair de casa para a escola Entrar e movimentar-se na escola Ser aceite pelos professores / outros alunos 43,6% 30,5% 22,1% 25,0% 20,8% 11,2% 5,8% 5,5% 64,7% 39,9% 39,9% 35,9% 27,5% 22,9% 17,8% 13,3% <0,001 0,03 <0,001 0,01 0,09 0,001 <0,001 0,007 Obstáculos para: p Desta maneira, a capacidade de fazer face aos custos de educação condiciona em primeiro lugar o começo ou a continuação da escolaridade, sobretudo na passagem do ciclo primário ao ciclo secundário. Mesmo assim as escolas públicas são gratuitas, reconhece-se que ela engendra custos indirectos capazes de desencorajar as famílias: propinas para guardas, transporte, uniformes, material didáctico, etc. As pessoas com deficiência citam igualmente a falta de apoio familiar como um dos obstáculos a escolarização. Muitas famílias deixam de enviar seus filhos a escola porque pensam que eles não tém capacidades suficientes para passar de classe, mas também porque desencorajadas pela falta de soluções educativas adaptadas na zona e pelos custos subsequentes a educação. Por exemplo, as mães das crianças com deficiência escolarizadas na escola comunitária da ADEMO acompanham-as todas as manhãs e ficam no pátio da escola até ao fim das aulas, privando-se assim da possibilidade de exercer uma actividade profissional durante esse tempo. Escolarizar uma criança com deficiência nestas condições implica um esforço financeiro enorme para as famílias. 50 3 Em fim, as dificuldades relativas ao acesso físico são mais uma vez indicadas pelas pessoas com deficiência como uma barreira preocupante, uma vez que quase 20% delas tem dificuldades de mobilidade para e nos estabelecimentos escolares. O que não surpreende, uma vez que 72% das escolas tém uma entrada externa inacessível e que 87% das casas de banho estão inadaptadas as necessidades das pessoas de mobilidade reduzida. III/ Acesso aos serviços de formação profissional e emprego a) Nivel de conhecimento, de necessidade e de utilização dos serviços Em função da Deficiência: Tipo de serviços Centro de formação profissional do INEFP CONHECIMENTO PCD Não-PCD 17% 25% NECESSIDADES PCD Não-PCD 30% 3% 3% Programas de capacitação vocacional 10% 23% Serviço de acompanhamento aos desempregados 12% 26% Serviço de micro-crédito 34% 40% 51 UTILIZAÇÃO PCD Não-PCD 1,5% 3% 7% Capítulo Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais Em função do Género: Tipo de serviços Centro de formação profissional do INEFP Programas de capacitação vocacional Serviço de acompanhamento aos desempregados Serviço de micro-crédito CONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃO Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens 16% 26% 27% 35% 3% 7% 15% 20% 26% 3% 9% 17% 30% 39% 26% 37% 2% 44% 7% Poucas pessoas (3%) sem distinção de deficiência, utilizam serviços dos centros de formação profissional do INEFP. Contudo, dos que não os utilizam, 29% exprimem a necessidade, principalmente os homens jovens (p=0,01). E de todas as pessoas que exprimem a necessidade, 62%, sem distinção de deficiência, afirmam não terem conhecimento. 2,5% de pessoas beneficiam dos programas de capacitação vocacional, e 22% dos que não beneficiam exprimem a necessidade. Destes, ¾ não tém conhecimento. Um número pequeno de pessoas com deficiência (2,2%) utilizam um serviço de acompanhamento ao emprego, talvez porque não existe realmente na zona, para além de algumas iniciativas isoladas do sector associativo. Não apresentamos diferenças sobre o acesso ao micro-crédito (7% do total) entre as pessoas com deficiência e as outras, entre os homens e as mulheres. Entre as pessoas que não recorrem ao microcrédito, 37% exprimem a necessidade, dos quais 43% não conhecem serviços ou fornecedores de micro-créditos. Os homens sabem mais dos micro-créditos e mostram mais necessidades que as mulheres. Pode-se ver por conseguinte que em todos os casos que os homens tem mais informação dos serviços de formação profissional e de apoio ao emprego que as mulheres e as necessidades são exprimidas mais pelos homens que pelas mulheres. Em contrapartida, a deficiência aparece como um factor menos descriminante em relação a estes serviços, procurados por uma grande parte da população local. O acesso ao mercado de trabalho aparece como uma preocupação de todos, face a falta de alternativas profissionais para além do sector informal. 52 3 b) Os obstáculos de acesso aos serviços de formação profissional e emprego Em análise univariada, apresentamos poucas diferenças relativas ao acesso a este tipo de serviço entre as pessoas com deficiências e as pessoas sem deficiência. Todas percentagens relativas a percepção dos obstáculos convergem para o mesmo sentido: as dificuldades são sempre sensivelmente maiores para as pessoas com deficiência que para as outras. Em outros termos, as pessoas com deficiência e as outras são relativamente iguais face as dificuldades. Na área da formação profissional, são sobretudo os custos que desencorajam as pessoas com deficiência (78%), seguido da desponilidade do material didáctico (75%), a adequação da pedagogia de formação as necessidades especificas (62%) e por último a informação sobre as formações existentes (59%). Do lado do emprego, as principais barreiras citadas pelos inqueridos dizem respeito a sua empregabilidade no mercado de trabalho (86%), acompanhamento na criação de actividades económicas (81 et 85%), o acesso a informação sobre as vagas de emprego (77%), a ergonomia do posto de trabalho (62%), a guarda das crianças durante o serviço (44%) e por último as bareiras arquitectónicas no local de trabalho (31%). Obstáculos para: Ser admitido ao emprego que corresponde as suas competências Pess. sem Pess. com deficiência deficiência 84,5% 86,1% p 0,6 Obter um micro-crédito para desenvolver uma actividade econ… 81,4% 85,5% 0,3 Receber um acompanhamento técnico para a criação duma… Custear uma formação profissional / vocacional Ter conhecimento das vagas de emprego existentes na sua área Encontrar material didáctico adaptado as suas necessidades Receber um ensino adaptado as suas necessidades (pedagogia…) Ter condições de trabalho aceitáveis Ter informação sobre as formações profissionais / vocacion… Ser bem atendido pelos formadores / pessoal dos centros… Ter a guarda dos filhos durante o tempo laboral Entrar e movimentar-se no local de trabalho Sair da casa para o local de trabalho Ser aceite pelos colegas de trabalho 71,6% 80,8% 72,3% 68,8% 53,9% 56,2% 48,8% 46,3% 36,8% 25,6% 23,1% 15,5% 80,9% 78,0% 77,2% 74,7% 61,8% 61,6% 59,2% 49,6% 43,8% 31,6% 29,8% 21,7% 0,03 0,5 0,2 0,2 0,2 0,3 0,05 0,6 0,2 0,2 0,2 0,2 Parece difícil para as pessoas com deficiência – como para as sem deficiência - de ter acesso aos centros de formação profissional do INEPF. Esta dificuldade explica-se, sobretudo, pelo facto de não haver centros de formação deste tipo no território em estudo. Uma vez que é necessário deslocar-se até a Machava (Matola) ou ainda até ao Bairro central ou FPLM (Maputo), o transporte constitui uma grande barreira para o começo de uma formação. Para além disso, as formações propostas pelo INEFP são relativamente caras para as pessoas que não beneficiam de isenção de pagamentos, uma vez que um curso de 6 meses de mecânica ou electricidade custa 5.000,00 MT por exemplo. Afim de compensar o défice de empregabilidade, as pessoas com deficiência recorrem, as vezes, aos programas de capacitação vocacional propostos pelas associações locais ou igrejas, mas não são tão adaptadas as necessidades reais do mercado de trabalho e tém dificuldades de oferecer alternativas concretas de emprego. Muitas pessoas inqueridas afirmam multiplicar formações curtas em várias áreas e encontram-se, muitas vezes, confinadas a cursos sobre profissões manuais (corte-costura,croché e bordado, carpintaria...) que oferecem saídas limitadas ou pouco remuneradas. 53 Capítulo Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais As pessoas com deficiência tém muitas dificuldades em integrar o sector formal (supra-citado, apenas 18% delas afirmam ocupar um emprego remunerado) por causa de uma bagagem académica insuficiente para os requisitos exigidos, mas sobretudo, por causa da discriminação praticada pelos empregadores relativamente aos candidatos. As vezes, é simplesmente a empresa que não é acessível ou o posto de trabalho que não está adaptado a deficiência da pessoa, afastando-a por conseguinte a algumas oportunidades. As mulheres são particularmente discriminadas no acesso ao emprego formal – supra citado, elas são 6 vezes menos assalariadas que os homens – e elas dirigem-se, quando podem, maoioritariamente ao sector informal. Muitas delas simplesmente não conseguem encontrar soluções relativas a guarda das crianças durante o seu tempo de trabalho. Este facto é ainda mais problemático quando se trata de uma criança com deficiência, uma vez que elas são obrigadas a ficar em casa com a criança por falta de solução adaptada nas escolinhas da zona. Face a impossibilidade de obter um emprego formal, muitas pessoas com deficiência procuram virar-se ao auto-emprego, muitas vezes na esfera informal (pequenos negócios de rua, artisanato...). A dificuldade relativa ao acesso aos instrumentos de crédito e aos dispositivos de acompanhamento na criação de empresas limita em grande parte a aplicação de projectos de geração de rendimento. Geralmente com um nível de formação mais fraca, as pessoas com deficiência parecem ter mais necessidade que as outras de um acompanhamento específico na criação deste tipo de actividades. IV/ Acesso aos serviços e programas sociais a) Nível de acompanhamento exprimido, de necessidade e de utilização de serviços Em função da Deficiência: Tipo de serviços CONHECIMENTO PCD Não-PCD Escolinha 57% 71% Centro de Acolhimento da Criança 35% 45% NECESSIDADES PCD Não-PCD 20% 20% UTILIZAÇÃO PCD Não-PCD 3% 26% 6% 1% Centro de Apoio a Velhice 33% 29% 1% Centro de trânsito 15% 12% 1% Centro comunitário Aberto 10% 13% 1% Programa de Subsidio de Alimentos (PSA) Programa de Apoio social Directo (PASD) Programa Beneficio social pelo trabalho (PBST) Programa de Geração de Rendimentos (PGR) Programa de Desenvolvimento Comunitário (PDC) 21% 70% 60% 3% 11% 50% 38% 1% 10% 37% 2% 10% 39% 2% 11% 35% 2% 54 3 Em função do Género: Tipo de serviços CONHECIMENTO PCD Não-PCD NECESSIDADES PCD Não-PCD UTILIZAÇÃO PCD Não-PCD Escolinha 63% 71% 20% 5% Centro de Acolhimento da Criança 35% 44% 22% 1% Centro de Apoio a Velhice 33% 29% 1% Centro de trânsito 15% 12% 1% Centro comunitário Aberto 7% 13% 1% 21% 65% 3% Programa de Subsídio de Alimentos (PSA) Programa de Apoio social Directo (PASD) Programa Benefício social pelo trabalho (PBST) Programa de Geração de Rendimentos (PGR) Programa de Desenvolvimento Comunitário (PDC) 8% 14% 45% 1% 7% 14% 37% 2% 7% 15% 36% 44% 2% 8% 16% 32% 41% 2% Um pequeno número de pessoas (4,5%) utilizam as escolinhas, as pessoas sem deficiência mais que as pessoas com deficiência. Entre os que não vão, apenas 20% exprimem a necessidade, das quais 65% conhecem pelo menos uma. É de sublinhar que as pessoas com deficiência conhecem menos estes serviços que as outras (57 contra 71%). Muito poucas pessoas (1%) utilizam Centros de Acolhimento da Criança, Centros de Apoio a Velhice, Centros de trânsito e Centros comunitários Abertos. Pela simple razão que não existem este tipo de unidade social na zona em estudo. Contudo existe uma grande demanda destes serviços pelo público mais vulnerável, sobretudo pelas pessoas idosas e crianças em situação precária (29 e 23%, respectivamente). Não encontramos aqui diferenças relativas ao género. Só uma ínfima parte das pessoas inqueridas parece beneficiar dos vários programas do INAS (entre 1 e 3%), ficando por satisfazer uma grande parte da população (entre 35 e 60%). O programa de apoio social directo (PASD) e, sobretudo, a ajuda alimentar (PSA) são os mais solicitados pelas pessoas com deficiência (58 a 70%) que pelas outras, o que ilustra as problemáticas de subsistência que a maioria delas enfrentam. Para além das diferenças muito gritantes entre o nível de necessidade exprimido e o nível de utilização declarado é surpreendente constatar a falta de conhecimento dos habitantes da zona sobre os serviços existentes do INAS. Se o PSA é conhecido por 20% das pessoas inqueridas, sem distinção de deficiência, os quatro outros programas sociais do INAS são apenas conhecidos por 1/10 das pessoas, uma taxa que é relativamente baixa para programas de dimensão nacional, e que alguns já existem a 10 anos. Para além disso, nota-se uma diferença do conhecimento muito salinte entre os homens e as mulheres para cada um destes programas, em detrimento das mulheres. 55 Capítulo Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais b) Os obstáculos de acesso aos serviços e programas sociais Em análise univariada, todos os ítens são vistos como obstáculos ligeiramente mais agravantes para as pessoas com deficiência que para as outras. Dificuldades de elegibilidade (81%), a obter a informação sobre os programas existentes (72%), e a ser bem atendido pelos trabalhadores sociais são os principais obstáculos citados, seguidos das problemáticas de mobilidade (45%). Obstáculos para: Ser selecionado para beneficiar dos programas sociais Ter informação sobre os programas de acção social existentes Ser bem atendido pelos profissionnais dos programas sociais Sair de casa para o programa / serviço social Pess. sem deficiência 73,7% 63,8% 45,3% 31,9% Pess. com deficiência 81,0% 72,0% 59,9% 44,6% p 0,06 0,03 0,01 0,02 Embora sejam consideradas como um dos 6 grupos prioritários dos programas sociais do INAS (ao mesmo grau que as mulheres, as pessoas idosas, os doentes, os COV...), as pessoas com deficiência afirmam ter dificuldades em aceder ao benefício dos dispositivos de protecção social existentes. Com efeito, segundo as estatísticas oficiais, elas representavam apenas 3% dos 17.284 beneficiários do INAS ao nível nacional em 2009, ou seja somente 564 pessoas. De acordo com o INAS de Maputo Cidade, 317 pessoas com deficiência teriam sido incluídas em 2009 no programa PSA e o PASD terá permitido a distribuição de 11 cadeiras de rodas e um par de muletas, o que é relativamente insignificante se tomarmos em linha de conta a população da cidade. O INAS fez uma escolha pertinente na sua abordagem integrada nos seus vários programas de assistência social, mas na realidade estes programas não conseguem alcançar as pessoas com deficiência de maneira transversal. Na falta de recursos financeiros suficientes, sobretudo de um quadro metodológico e organizacional adaptado, elas beneficiam muito pouco dos progressos recentes das políticas de protecção social registadas ao nível nacional7. As dificuldades de acesso a informação sobre os programas existentes são muito evidentes, quer seja para as pessoas com deficiência quer para o resto da população (64 e 72%). Este facto tenta explicar as diferenças significativas constatadas entre o nível de necessidades dos programas e o nível de informação pela parte dos habitantes inqueridos. Tudo leva a crer que o INAS tomou em consideração este problema uma vez que ele pretende integrar na sua próxima estratégia plurianual o reforço dos mecanismos de divulgação dos programas existentes destinados as comunidades locais. Uma atenção especial deve ser dada as pessoas com deficiência sensorial para que elas possam, também, ser informadas dos seus direitos relativos a protecção social. V/ Acesso a outros tipos de serviços: desporto, cultura, lazer, transportes, accessibilidade a) Nível de conhecimento exprimido, de necessidade e de utilização de serviços Em função da Deficiência: Tipo de serviços CONHECIMENTO PCD Não-PCD NECESSIDADES PCD Não-PCD UTILIZAÇÃO PCD Não-PCD Actividades culturais ou desportivas 22% Actividades de tempo livre 14% 17% 8% Serviço de transporte 54% 60% 49% 17% 23% 4% Em função do Género: Tipo de serviços Actividades culturais ou desportivas CONHECIMENTO Mulheres Homens 16% 29% NECESSIDADES UTILIZAÇÃO Mulheres Homens Mulheres Homens 16% 25% Actividades de tempo livre 14% 17% Serviço de transporte 54% 60% 3% 6% 10% 6% 49% As actividades desportivas e culturais são pouco praticadas na zona, uma vez que apenas 4% das pessoas inqueridas afirmam participar regularmente em manifestações do género, sem diferenças significativas entre pessoas com deficiência e as outras. Em contrapartida, ha uma grande discriminação, uma vez que as mulheres são 2 vezes menos numerosas que os homens a participar destas actifidades. Contudo, 17% das pessoas com deficiência exprime a necessidade, o que mostra as dificuldades que estas têm em encontrar soluções adaptadas nesta área. Da mesma maneira, apenas 8% das pessoas frequentam associações que propõem actividades de lazer, sem diferença entre pessoas com deficiência e as outras. As mulheres aderem mais a estas actividades que os homens. Dos que não participam destas actividades, 11% exprimem a necessidade, dos quais 38% não tém conhecimento. 49% das pessoas afirma utilizar serviços de transportes, sem diferença entre pessoas com deficiência e as outras. Dos que não utilizam, 35% exprime a necessidade, dos quais 32% não tém conhecimento. Decreto n°85/2009 que aprova o Regulamento do Subsistema de Segurança Social Básica. 7 56 3 57 Capítulo Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais Sistema de actores locais 4 b) Os obstáculos ao acesso a outros tipos de serviço Em análise univariada, todos os itens são vistos como obstáculos veentemente relatados pelas pessoas com deficiência que pelas outras: os constrangimentos económicos (de 54 a 77%), a falta de infraestruturas disponíveis (76%), a falta de informação (50%), assim como a falta de acesso físico no espaço público (de 25 a 50%) ou no domicílio (14%). Pess. sem deficiência Pess. com deficiência p Custear as actividades culturais ou desportivas 62,6% 77,5% 0,001 Encontrar instalações que permitam a prática de actividades culturais ou desportivas 63,6% 76,6% 0,004 Pagar os transportes públicos 28,0% 54,8% <0,001 Ter informação sobre os eventos culturais e desportivos 39,4% 50,0% 0,02 Entrar e movimentar-se nos chapas, machimbombos, taxis... 27,5% 43,2% <0,001 Entrar e movimentar-se nos edifícios de atendimento público 6,7% 32,5% <0,001 Circular no espaço público (ruas, caminhos, estradas...) 5,5% 26,7% <0,001 Sair de casa a paragem 5,0% 24,6% <0,001 Entrar e movimentar-se dentro de casa 1,7% 13,5% <0,001 Obstáculos para: I/ As associações de pessoas com deficiência 61 II/ Os provedores de serviços sanitários e sociais 65 III/ Os poderes públicos locais: Orgãos Locais do Estado e Autárquias Locais 69 As praticas de actividades culturais e desportivas nao são realmente demacratizadas por falta de infraestruturas disponíveis nos novos bairros de habitação (campos de futebol, ginásios, cinéma...) e dos custos estimados altos das manifestações propostas. O desporto pode ser um excelente instrumento lúdico de reeducação e de realização pessoal, facilitando encontros e pondo em relação as pessoas com deficiência em contacto com o mundo exterior. Mas infelizmente um grande número de pessoas com deficiência limitam a sua implicação nestas actividades por falta de confiança nas suas próprias capacidades ou falta de auto-estima. A falta de acesso as infraestruturas, o custo elevado do material desportivo adaptado (bolas com guizo, cadeiras de rodas para o basketebol...) assim como as dificuldades em integrar grupos desportivos ou culturais constituem barreiras a transpor para a participação das pessoas com deficiência neste domínio. A questão do transporte é particularmente crítico para todos os habitantes da zona por causa das tarifas demasiadas elevadas, de veículos inconfortáveis, de difíceis interconexões, ou ainda por causa de paragens esporádicas nos bairros mais descentrados. Acrescentam-se a estas dificuldades, constrangimentos maiores relativos aos preços (55% contra 28%) e sobretudo o acesso físico nos chapas geralmente superlotados e estreitos (43% contra 27%). O cartão de pessoa com deficiência atribuido pelas associações de pessoas com deficiência permite em teoria de beneficiar dos transportes públicos (TPM) gratuitamente. Mas os bairros periféricos são, na sua maioria, servidos pelos transportadores individuais e privados – chapas e machibombos – e estes últimos aplicam regras próprias relativas ao preço e ao atendimento, pedindo, muitas vezes, o dobro do preço as pessoas com deficiência acompanhadas ou com cadeiras de rodas. 58 59 Capítulo Sistema de actores locais O funcionamento de serviços sanitarios e sociais define-se geralmente em função das relações e das interacções entre 3 famílias de actores: os utentes (pessoas com deficiência representadas neste caso pelas APCD), os provedores de serviços e os poderes públicos. Seguindo a lógica do esquema triangular abaixo, vamos proceder neste último capítulo a análise destes 3 principais grupos de actores que compõem o sistema de serviços em Maputo e Matola. PODERES PÚBLICOS Existem até hoje 18 associações de pessoas com deficiência activas em Maputo e Matola (cf. lista no Anexo 1). Muitas delas são de dimensão nacional, elas emergiram durante os últimos 20 anos em 3 vagas sucessivas: As duas outras vagas (1995-2003 e 2003-2008) resultaram da cisão que teve lugar com o andar do tempo no seio das associações já existentes, devido a divergências interna ou oportunidades de financiamento oferecidas pelos doadores (fundos de apoio as iniciativas…etc). Nível local: Aplica as políticas, põe em obra os sistemas, intermedia as necessidades Regula, provisionne, avalia Pedido, advocacia I/ As associações de pessoas com deficiência (APCD) A primeira vaga (1989-1995) foi a consequência directa do processo da liberalização política empreendida em Moçambique nos fins dos anos 90 (progressão das liberdades públicas, sobretudo com o reconhecimento da liberdade de associação). Nível central: define as políticas e os sistemas Avalia as necessidades, garante acesso a) Capacidades operacionais limitadas As APCD que operam em Maputo e Matola desenvolvem as suas actividades principalmente nas áreas da promoção e protecção dos direitos das pessoas com deficiência (33%), da saúde (18%), da formação (15%), do desporto (11%) ou ainda da educação (11%), como podemos ver no gráfico abaixo: Oferta de Serviços 2% 3% UTENTES (pessoas com deficiência, representadas pelas APCD) 4 Prestação de serviços Escolha, utilização, avaliação da qualidade 18% Actividades económicas 11% Educação PROVEDORES DE SERVIÇO Formação (públicos e privados) Num esquema equilibrado, os utentes são clientes e idealmente co-elaboradores do serviço porque eles podem e devem ter um papel activo na definição de prioridades e na avaliação regular dos serviços. Isto passa por mecanismos consultativos, mas também por acções de defesa e de monitoria das políticas públicas e da sua aplicação, acções geralmente conduzidas via as APCD. Todo tipo de melhoria de qualidade da cadeia de serviços passa por um estímulo da demanda dos utentes, de maneira a exercer uma pressão constante sobre os provedores de serviço e sobre as autoridades locais. Com efeito, um sistema de controlo imposto por cima sem nenhuma demanda da base não pode manter-se no tempo (Dufluo, 2008). 15% Desporto Cultura Promoção e protecção dos direitos 11% 33% Saúde Outras 8% Os provedores de serviços respondem de maneira directa às necessidades dos utentes e devem fornecer serviços de qualidade, baseados numa abordagem personalizada. Que se trate de estruturas governamentais, não governamentais, voluntárias, com fins lucrativos ou não, devem todas agir no quadro definido pelas autoridades locais/nacionais e respeitar as normas e os princípios de qualidade definidos. A maior parte das associações encontradas durante o diagnóstico afirma ter grandes dificuldades em exercer as suas actividades por causa de meios materiais insuficientes, de financiamentos esporádicos e instáveis. Este fenómeno é agravado pela presença de várias associações nos mesmos « furos » e em actividades similares, o que gera muitas vezes uma grande concorrência ao acesso dos fundos disponíveis, quer seja localmente, quer seja por via das agências de cooperação internacional. Por último, os poderes públicos, quer seja ao nível central ou local, tém a responsabilidade da definição das políticas públicas e dos mecanismos ligados a regulamentação dos serviços sanitários e sociais. A este título eles definem as grandes orientações e fornecem ou ainda organizam os recursos financeiros necessários de modo a garantir a disponibilidade dos serviços. Esta elaboração das políticas e dos sistemas deve se basear na avaliação regular das necessidades das pessoas com defiência, e nos direitos fundamentais reconhecidos pelos textos nacionais e internacionais. As políticas e os sistemas devem sobretudo garantir o acesso e a qualidade dos serviços. Estas associações parecem sofrer da falta de recursos humanos qualificados, sobretudo no que diz respeito a planificação estratégica, a elaboração de projectos, a angariação de fundos ou ainda a gestão do ciclo de projecto. O fraco nível de formação dos membros das associações, principalmente dos quadros intermediários, limita em grande medida as capacidades de lobbying do movimento sobre a cena internacional, quer seja para a opinião pública, quer seja para as autoridades locais, ou ainda para os provedores de serviços. 60 61 Capítulo Sistema de actores locais b) Um défice de mobilização e de representatividade Destas associações 15 são constituidas de pessoas com deficiência, as 3 outras sendo associações para pessoas com deficiência. Todos tipos de deficiência estão representadas no seio do movimento das APCD, mesmo se a deficiência motora continua predominante, a frente da deficiência auditiva, visual e intelectual como mostra o esquema: 80% 4 d) Uma dinâmica de coordenação entorpecida Destas associações 17 reuném-se no FAMOD, plataforma nacional de coordenação do movimento das associações de pessoas com deficiência, cujo mandato procura promover direitos das pessoas com deficiência em todo país. Também confrontado com a falta de meios financeiros, mateirais e humanos, o FAMOD tem dificuldades em exercer verdadeiramente o seu papel de defensor e de representante do movimento sobre a cena nacional e local. Na falta de uma plataforma suficientemente federadora, a dinâmica da coordenação inter-associações continua lamentavelmente fraca, como mostra o mapa da rede das APCD por nós modelizada: 70% 60% cerci 50% ammd 40% 30% cinfortecnica 20% amdv 10% codefam 0% Visual Auditiva Motora Intelectual ademimo Outra deficiência O número total dos aderentes destas 18 associações pode se calcular em média de 50 000 a 70 000 pessoas em todo o país, dos quais uma grande parte na região de Maputo, a sua base histórica. Este número continua a ser relativamente aproximado uma vez que a maior parte das APCD não tem registos dos seus aderentes actualizados e que as APCD estão pouco actualizadas no que diz respeito ao pagamento das quotas (taxa de pagamento de quotas muitas vezes inferior a 25%). Para além disso, duas associações (ADEMO e ADEMIMO) afirmam agrupar, só elas duas, 2/3 das pessoas com deficiência filiadas ao nível nacional. Por último, por causa de meios humanos e materiais limitados (veículos, material de comunicação), as APCD tém reais dificuldades em atingir o seu grupo alvo que vive nas zonas mais recôndidas da aglomeração. Existe um verdadeiro défice de representatividade uma vez que o nosso inquérito mostra que uma minoria de pessoas com deficiência conhece uma APCD (6%) e que apenas 2,5% era membro. As mulheres com deficiência estão também em representação muita ínfima no seio das associações – para memória, os homens são entre 2,1 e 2,4 vezes mais frequentemente membros duma APCD que as mulheres – assim como nos conselhos de direcção onde apenas 31% dos postos são ocupados por mulheres. Isto é particularmente surpreendente quando sabemos que há mais mulheres que homens com deficiência no território. c) Falta de renovação de quadros e de governação interna Embora existam milhares de aderentes, reveindicados em todo o país e mais especificamente na aglomeração de Maputo e Matola, constata-se que são sempre os mesmos indivíduos que se encarnava o movimento das APCD ao nível central. Embora contem-se oficialmente 150 quadros em média, a maioria voluntários, a dinâmica das associações repousa em primeiro lugar sobre a liderança de algumas figuras carismáticas presentes nos diferentes seminários, reuniões e formações organizadas localmente. A renovação de quadros é particularmente problemática e não é raro constatar-se que os fundadores duma associação mantém-se em postos de direcção, as vezes mais de 15 anos depois do nascimento da associação, por falta de práticas de governação que permitem a alternância. 62 ajodemo ravim adesu famod adpdm adppdcm ademo nlhuvuku Com. Paralímpico asumo acrideme acamo amofas Embora a presença de 5 a 6 associações em posição de « nós intermediários », nota-se que os laços existentes entre as APCD são particularmente distendidos e muitas vezes unidireccionais, o que prova a existência de uma rede pouco densa e pouco dinâmica. As APCD aparecem em níveis de integração muito diversos, algumas associações afirmam manter laços mais ou menos frequentes com outras associações, outras encontram-se particularmente isoladas sem nenhum laço com o resto do movimento fora da mediação do FAMOD (estas associações encontram-se na periferia da rede). Não é surpreendente constatar a fraca capacidade do movimento em fazer ouvir a sua voz no plano nacional ou local, porque para além das datas comemorativas (como o 3 de Dezembro, Dia Mundial das Pessoas com Deficiência), os espaços de coordenação, sobretudo de coprodução, entre associações continuam relativamente raros. 63 Capítulo Sistema de actores locais As interacções da rede das APCD, com o exterior são igualmente relativamente fracas, tanto com os provedores de serviços, como também e acima de tudo com as autarquias locais que quase nunca são solicitadas nas diferentes actividades organizadas. As APCD acantonam-se muitas vezes numa posição de intermediário entre as pessoas com deficiência e os serviços do Estado, sem procurar construir novas vias com novos actores no plano local. e) Potencialidades e forças existentes As associações de pessoas com deficiência apresentam, contudo, numerosas potencialidades para apoiarem as dinâmicas de desenvolvimento local. Historicamente implantadas no aglomerado de Maputo, elas gozam de um bom conhecimento do território. Militando já há muitos anos no seio da sociedade civil, os representantes das APCD conhecem muito bem o funcionamento das instituições locais, especialmente os serviços do Estado. A sua legitimidade foi recentemente confortada pela nomeação de Moçambique para a chefia da FDLP mas também pela criação recente do Conselho Nacional da Deficiência, associando estreitamente poderes públicos e sociedade civil. Este último deveria permitir as APCD participar mais na elaboração e dna monitoria das políticas públicas nacionais a favor das pessoas com deficiência. Os membros das associações poderão levar neste quadro uma perícia concreta aos outros actores do território. Sendo muitas vezes, elas também, pessoas com deficiência, elas possuem um bom conhecimento das problemáticas que lhes afectam individualmente, e podem propôr soluções adaptadas. 4 II/ Os provedores de serviços sanitários e sociais O nosso diagnóstico permitiu identificar um total de 143 serviços sanitários e sociais na zona estudada, repartindo-se da seguinte maneira: Actividades desportivas, culturais e artísticas Escolinhas e centros infantis Desporto Acolhimento de crianças e Cultura vulneráveis Centro de trânsito 9% Programas de apoio ás Serviços e pessoas vivendo com o HIV/ programas SIDA sociais Serviços básicos de saúde Medicina tradicional Farmácias Testagem e tratamento do HIV/SIDA Saúde mental Saúde Medicina e reabilitação física 23% Fornecedores de material de compensação 19% Formações profissionais Formação e Programas de capacitação Emprego vocacional 17% Micro-crédito Actividades de geração de rendimentos Acompanhamento aos desempregados Educacão 32% Ensino primário Ensino secundário Educação especial Alfabetização de adultos Um total de 2.564 pessoas trabalham no seio destes diferentes serviços, em regime de assalariado ou voluntariado, dos quais: 1.714 técnicos (professores, enfermeiros, médicos, educadores, coordenadores de projecto…) 850 pessoas de apoio (guardas, agentes de manutenção, motoristas...). a) Uma oferta de serviços saturada e centralizada em Maputo A maioria dos serviços sanitários e sociais identificados durante o diagnóstico local estão implantados na cidade de Maputo (73% contra apenas 27% na Matola). Esta diferença revela as grandes disparidades no que diz respeito ao equipamento das infraestruturas de base entre os dois municípios vizinhos. Estas diferenças afectam em grande medida as condições de utilização dos serviços uma vez que estes estão globalmente mais saturados nos bairros de Matola que nos de Maputo (particularmente quando falamos das escolas e dos centros de saúde). Este engarrafamento é reforçado pela falta de profissionais disponíveis, e sobretudo de pessoal qualificado (1 à 2 médicos apenas em média por unidade de saúde, por exemplo), o que favorece a multiplicidade das tarefas, fraca productividade no trabalho e um atendimento pouco atensioso dos utentes. Para além disso, os serviços disponíveis nos 9 bairros de implementação do projecto são exclusivamente serviços ordinários. Todos os serviços especializados encontram-se fora da zona, principalmente no centro de Maputo, o que leva as pessoas com deficiência a deslocarem-se, obrigatoriamente, quando há necessitadas de consultar um oftalmólogo, ter uma sessão de reabilitação física, de matricular os seus filhos nas escolas especiais ou turmas inclusivas…etc. O que provoca problemas enormes quando se tem dificuldades de mobilidade da periferia ao centro da cidade com um tempo de transporte de pelo menos 1h30. 64 65 Capítulo Sistema de actores locais 4 b) Serviços muitas vezes recentes, tendência progressiva para a privatização Existe, contudo, uma verdadeira vontade de recuperação e expansão das infraestruturas ordinárias nestes bairros uma vez que constata-se que 2/3 dos serviços existentes foram localmente criados na unica década de 2000-2010. Os novos serviços criados são principalmente centros de saúde, escolas primárias e secundárias, farmácias e escolinhas (paralelamente a explosão do trabalho feminino na cidade). Muitos outros serviços deveriam ser criados nos próximos anos afim de fazer face ao grande crescimento da aglomeração, sobretudo nos bairros de expansão como Khongolote, Ndlavela ou ainda Zimpeto. De igual modo o pessoal é pouco formado para lidar-se com as necessidades específicas das pessoas com deficiência, uma vez que apenas 1/4 das estruturas inqueridas afirma ter um pessoal suficientemente sensibilizado e competente para acolher convenientemente as pessoas com deficiência nos seus serviços. Não existe por exemplo nenhum agente de saúde e apenas um punhado de professores formados em línguas de sinais em toda a cidade de Maputo. Notemos contudo que 86% dos responsáveis de serviços inqueridos desejam que o seu pessoal possa beneficiar de acções de formação afim de melhorar o acompanhamento das pessoas com deficiência e de tornar deste modo os seus serviços mais inclusivos. Paralelamente a esta dinâmica de recuperação, constata-se uma tendência progressiva para a privatização dos novos serviços sanitários e sociais criados já há uma dezena de anos. Se somente 38% dos serviços eram privados em 2000, a situação inverteu-se completamente durante a última década e representam hoje 62% do total contra 38% públicos. Contudo, a passagem de uma gestão pública a uma gestão privada com fins lucrativos ou não, provoca inevitavelmente um aumento dos riscos de exclusão financeira dos utentes destes serviços, e em particular a dos grupos mais vulneráveis como as pessoas com deficiência. Ela deve necessariamente acompanhar-se da aplicação, em parelelo, de mecanismos de apoio que garantam o acesso dos grupos mais frágis aos serviços. Enfim, se 2/3 dos serviços visitados afirma ser gratuitos, mas na realidade muitas das vezes os utentes devem tirar dinheiro para a compra de uniformes ou de material nas escolas, para as propinas dos guardas… etc. Dos serviços pagos 69% afirma, contudo, oferecer condições de utilização preferenciais para os utentes mais vulneráveis (pessoas, mulheres sós, crianças vulneráveis, pessoas com deficiência…): isenção de pagamento, tarificação vantajosa, condições de utilização específicas, horários adaptados, bichas reduzidas… Mas face a dificuldade de obter um atestado de pobreza ou mesmo a fazer reconhecer o cartão de pessoa com deficiência, para poder beneficiar das condições preferenciais, os utentes mais vulneráveis acabam por se resignar pagando os custos exigidos… ou mesmo a frequentar os serviços só em último caso. c) Um sistema de serviços pouco inclusivo Enquanto que a maioria dos serviços visitados (90%) afirma receber às vezes pessoas com deficiência ou mesmo não ver inconveniência em atendé-las em última instância, os serviços da zona são globalmente vistos de maneira muito pouco inclusivos pelas pessoas com deficiência inqueridas durante o nosso estudo. d) Relações principalmene sectoriais e verticais O mapa da rede dos provedores de serviços, distingue visualmente 3 sub-conjuntos estruturalmente coesos, « arquipélagos » relativamente autónomos uns dos outros: Como visto acima, o acesso físico aos serviços é visto como um problema prioritário para muitas pessoas com deficiência. Enquanto que um terço dos provedores de serviços estima que os locais são fisicamente acessíveis às pessoas de mobilididade condicionada, a realidade é um pouco diferente, como mostra o quadro seguinte: O primeiro sub-conjunto agrega estruturas de saúde numa nuvem particularmente densa e homogénea (a), O segundo sub-conjunto reúne quase exclusivamente estruturas de educação, principalmente das escolas primárias e secundárias (b), Em fim, um terceiro sub-conjunto, aglomerado híbrido de estruturas de educação e de serviços sociais, principalmente escolinhas, que mostram haver uma certa interconexão entre os dois sectores (c). Pessoal formado Informação para o accessível atendimento de PCD Serviços Efectivo total Acesso exterior acessível Circulação interior sem obstáculo Casa de banho accessível Saúde 33 24% 42% 3% 3% 36% Educação 46 28% 33% 13% 7% 26% Formação e Emprego 24 33% 58% 8% 13% 25% Serviços e programas sociais 27 15% 44% 15% 0% 22% Desporto e Cultura 13 0% 8% 23% 0% 0% TOTAL 143 23% 39% 11% 5% 25% Educação Formação e Emprego Serviços Sociais (b) 66 Saúde (c) (a) Desporto e Cultura 67 Capítulo Sistema de actores locais Os outros dois sectores estudados durante a pesquisa (formação profissional e emprego, desporto e cultura) aparecem relativamente disseminados, mostrando uma coesão mais difusa, e tapam os interstícios da rede dos actores. Notemos, porém que alguns provedores de serviços continuam perfeitamente isolados, não ostentando até a altura do inquérito nenhum laço com outros provedores da rede (em cima, a esquerda do mapa). Podemos concluir que as relações entre os fornecedores de serviço da zona organizam-se estruturalmente segundo lógicas sectoriais e verticais: as estruturas de saúde interagem principalmente entre elas e num movimento top-down (hospital central para hospital geral, depois para o centro de saúde local…etc) por exemplo. Existe muito poucos fluxos entre actores de sectores distintos, permitindo oferecer aos utentes destes serviços pontes eficazes para serem orientados convenientemente considerando a globalidade das suas necessidades e dando-lhes respostas à sua medida em complementaridade com outros actores da zona. Constata-se, geralmente, que as situações de precaridade e de exclusão nascem da degradação conjunta das condições sanitárias e das condições de existência dos indivíduos, sem que seja sempre possível determinar se a saúde e o social degradam-se ou reforçam-se mutuamente. Afim de quebrar este círculo vicioso, parece imperativo favorecer uma maior interconexão entre os diferentes actores sanitários e sociais de modo a densificar a malhagem da rede. e) Mecanismos de coordenação e de referenciamento efectivos Contudo, a despeito da grande segmentação da rede dos provedores de serviços, observa-se uma proeminência de laços de referenciamento e de coordenação sobre as trocas de natureza técnica ou financeira. Esta constatação é particularmene verdadeira na área da saúde, onde os mecanismos de referenciamento entre diferentes graus do dispositivo sanitário tém um papel primordial no funcionamento da cadeia de cuidados. Existe por conseguinte, aparentemente, premissas duma cultura, sem dúvida, chamada a ser estimulada mais amplamente. Tipo de laço entre os provedores de serviços da zona Efectivo total Apoio técnico/ formação Apoio financeiro/ material Referenciamento de pacientes / clientes Troca de informação/ coordenação de actividade Total 45 19 136 190 390 Percentagem 11,54% 4,87% 34,87% 48,72% 100,00% III/ Os poderes públicos locais: Orgãos Locais do Estado e Autárquias Locais Quando se evoca os poderes públicos locais existentes em Maputo e Matola, distinguimos claramente dois tipos de actores, provenientes ambos dos dois processos de descentralização actualmente em curso em Moçambique: os Orgãos locais do Estado (OLE) e as Autarquias locais (AL). Os Orgãos locais do Estado respondem a uma lógica de deconcentração administrativa, o que quer dizer, um processo no qual o Estado não abandona as suas competências, mas onde ele põe meios de proximidade de modo a aproximar a acção administrativa dos administrados. Este processo procura melhorar a eficácia da acção do Estado delegando certas atribuições a escala administrativa central aos funcionários locais. Esta categoria agrupa as diferentes Direcções Provinciais e Distritais da Mulher e da Acção Social, da Saúde, da Educação, da Cultura… encarregues de administrar o território de Maputo e Matola ao nível mais próximo dos cidadãos. As Autárquias locais foram criadas numa óptica de devolução que procura atribuir-lhes competências próprias, distintas das do Estado, fazer eleger os seus representantes pela população de modo a assumir um melhor equilíbrio dos poderes sobre todo o território. Esta descentralização territorial procura desta maneira aproximar o processo de decisão aos cidadãos, para fovorecer a emergência duma democracia de proximidade. Esta categoria agrupa os Municípios de Maputo e Matola assim como as suas diversas vereações: vereação da acção social, serviço municipal da saúde, vereação da educação e da cultura… etc. Intensidade média dos laços (1 à 3) 2,29 2,53 2,21 2,35 2,34 Para além dos laços que podem entreter entre si, os serviços locais apoiam-se igualmente e sobretudo nos secretários de bairros quando procuram comunicar informações específicas as comunidades (início de uma campanha de vacinas, abertura de inscrições nas escolas, lançamento dum grupo de alfabetização…). 41% das estruturas afirma informar desta maneira a população sobre os serviços que elas propõem através dos funcionários das administrações locais contra apenas 8% através da rede local dos profissionais da acção sanitária e social por exemplo. Isto prova a preeminência do secretário do bairro como interface de comunicação a escala local e na ilusão da insuficiência dos fluxos entre profissionais. 68 4 69 Capítulo Sistema de actores locais MATOLA Orgãos do Estado Estado Ministério da Mulher e da Acção Social Direcção Nacional do INAS Provincia Direcção da Mulher e da Acção Social da Provincia de Maputo Delegação do INAS da Provincia de Maputo Direcção de Saúde da Provincia de Maputo Direcção de Educação e Cultura da Provincia de Maputo Direcção da Juventude e Desportos da Provincia de Maputo Distrito Autarquia local Conselho Municipal da Matola Gabinete do Gênero e Empoderamento da Mulher e Acção Social do Municipio de Matola Vereação da Cultura, Juventude e Desportos do Municipio da Matola Posto Administrativo de Infulene Bairro Khongolote, T3, Ndlavela Orgãos do Estado Provincia Distrito Serviços municipais Serviço de Saúde, Mulher e Acção Social da Cidade de Matola Posto administrativo Estado Nivel central MAPUTO Conselho Municipal de Maputo Direcção da Mulher e da Acção Social da Cidade de Maputo Delegação do INAS da Cidade de Maputo Direcção de Saúde da Cidade de Maputo Direcção da Educação e Cultura da Cidade de Maputo Direcção da Juventude e Desportos da Cidade de Maputo Nivel central Vereação de Saúde e Acção Social do Municipio de Maputo Vereação de Educação, Cultura e Desporto do Municipio de Maputo a) Um processo de descentralização ainda em embrião mas efectivo A primieira fase da devolução, que levou a criação dos Municípios de Maputo e Matola, só foi possível em Moçambique a partir de 19971. Foi seguida de uma fase de deconcentração administrativa, fixando as prerrogativas dos orgãos do Estado para os diferentes escalões das administrações (província, distrito, posto administrativo, bairro)2, a partir de 2003. Estes dois processos distintos, mas desenvolvidos paralelamente, são por conseguinte relativamente recentes e inacabados no território. Esta situação transitória gera uma certa confusão na repartição das competências e das prerrogativas entre os diferentes escalões administrativos e territoriais. Para além disso, enquanto que os distritos elaboram os seus instrumentos de planificação3 segundo uma lógica principalmente bottom-up, o distrito constitui a pedra angular do desenvolvimento local, os financiamentos seguem mais um caminho top-down da administração central para os escalões locais, o que cria uma certa desconexão entre a planificação e a orçamentação das acções. Sem afectação dos recursos correspondentes, existe ainda uma grande incerteza no que diz respeito a capacidade dos planos locais a serem efectivamente aplicados. Observa-se dificuldades de sincronização e de coordenação entre as transferências de responsabilidades e os recursos financeiros do Estado central para os orgãos locais ou mesmo para as autárquias locais (algumas responsabilidades são as vezes atribuidas sem que sejam alocadas recursos correspondentes, até mesmo o inverso…). Contudo, não obstante as dificuldades, a transferência da gestão de algumas unidades sanitárias e sociais de base começa a ser realizada4 , pelo menos em Maputo. Assim, no dia 1 de janeiro de 2010, todo o sistema educativo primário, até a 7ª classe (104 escolas) e os recursos aferentes foram transferidos para o Serviço da Educação, da Cultura e dos Desportos do município de Maputo. 21 centros de saúde sobre 28 que a cidade possue passaram também para a gestão municipal na mesma data. Assiste-se por conseguinte uma subida progressiva e em força do papel dos municípios nos assuntos sanitários e sociais, mesmo se ela não é acompanhada de objectivos claros em termos de melhoria da qualidade dos serviços públicos. Autarquia local Ministério da Mulher e da Acção Social Direcção Nacional do INAS Serviços municipais b) Uma governação urbana complexa Como podemos ver no esquema precedente, a estruturação orgânica dos municípios difere muito duma autárquia local para outra. Por exemplo, a saúde e a acção social são agrupados no seio do mesmo serviço em Maputo, enquanto que eles estão separados nos serviços municipais em Matola. Esta estruturação em geometria variável complica a correspondência entre os interlocutores dos dois municípios na área da acção sanitária e social. A repartição das competências entre os OLE e os AL não aparece também sempre claramente aos olhos dos actores do campo e das populações. Sem falar do facto que algumas entidades sejam colocadas sob a dupla tutela dum orgão local do Estado e do Município, o que não favorece absolutamente a legibilidade dos papeis de cada um (ex : posto administrativo de Infulene, administração do Distrito 5, secretários de bairros). Este enrolamento instituicional encoraja os actores locais a priviliegiar estratégias individuais de oportunidades sobre lógicas de concertação colectiva, na falta de relações claramente organizadas e estruturadas entre diferentes entidades descentralizadas. Vereação / Administração do Distrito Municipal n°5 Direcção Distrital da Mulher e Acção Social do Distrito Municipal n°5 Lei de municipalização 2/97. Lei 8/2003, Decreto 11/2005 e Decreto 6/2006. 3 Plano económico e social do Distrito (PESOD). 4 Em aplicação do Decreto 33/2006. 1 Bairro Jorge Dimitrov, Malhazine, Zimpeto, Magoanine A, B, C 70 4 Bairro 2 71 Capítulo Sistema de actores locais O contexo de descentralização ainda em evolução, acrescentado dum duplo corte administrativo do território (Cidade/Província de Maputo e Município de Maputo/Matola) tornam a governação urbana local particularmente complexa, sobretudo na área sanitária e social. Enquanto que a aglomeração de Maputo e Matola estão-se transformando num conjunto urbano cada vez mais homogênio, cujas dinâmicas sociais e urbanas interpenetram-se de maneira crescente, torna-se urgente adoptar uma abordagem global para resolver as dificuldades das pessoas com deficiência. c) Capacidades operacionais enxertadas de recursos insuficientes De maneira geral, constata-se que as capacidades dos OLE e dos AL a aplicar as leis e planos de acção já existentes ao nível nacional são relativamente limitadas, por falta substancial de recursos financeiros e materiais para desenvolver as suas actividades. Os serviços municipais da acção social só tém por exemplo uma dezena de pessoas para aplicar programas destinados a vários milhares de pessoas em situação de vulnerabilide. Por exemplo só há um único permanente do INAS em cada um dos 43 bairros de Maputo (cada bairro pode ter até 10 000 habitantes) encarregue de fazer o acompanhamento social de centenas de pessoas, sem meios logísticos a sua disposição. Em condições como estas, o trabalho social acaba sendo apenas um processo administrativo de tranferência de recursos sem nenhuma dimensão de acompanhamento social personalizado por falta de tempo e de meios. e) Os secretários dos bairros em posição de intermediação entre os utentes e serviços Os secretários de bairros constituem geralmente o primeiro recurso para a popoulação local quando aparece uma necessidade na família (escolarizar uma criança, cuidar dos pais doentes, beneficiar de prestações sociais…) e são por conseguinte muitas vezes eles que se encarregam de receber, analisar e canalizar o pedido social dos seus administrados para os serviços existentes localmente. Neste sentido, a administração local é interlocutor-chave, apartir do qual deve se elaborar estratégias de acompanhamento social das pessoas com deficiência. Os secretários de bairros preenchem também a função de eixo, de nó de intermediação entre os diferentes serviços sanitários e sociais. No mapa abaixo, apresentamos os nós correspondentes aos secretários dos bairros no meio da rede dos provedores de serviços sanitários e sociais. Vê-se o quanto a sua presença é estruturante para a rede local, correias incontornáveis de transmissão que permitem a articulação da cadeia de serviços e as trocas intersectoriais, sobretudo na área da educação e de serviços sociais. Saúde Educação Quer seja para favorecer a educação inclusiva ou para aplicar as disposições relativas ao acesso físico dos edifícios, a falta de recursos humanos suficientemente qualificados tecnicamente penaliza também os poderes públicos. Formação e Emprego d) Programas sociais chamados a aumentar em força De maneira mais favorável, constata-se uma dinâmica de desenvolvimento e de reforço dos dispositivos existentes, quer seja sobre o plano nacional – com sobretudo a nova Lei de Protecção social básica – ou seja sobre o plano local – através da criação recente de serviços de acção social ao nível de Municípios de Maputo e Matola. Embora as autárquias locais privilegiem neste momento uma abordagem mais caritativa da acção social (cesta básica, doação de material, doação de roupa…), e que as suas iniciativas sejam em grande parte desconectadas das acções levadas a cabo pelo INAS, estas iniciativas parecem ir em sentido dum melhor tratamento das populações vulneráveis. Dentre as populações vulneráveis, as pessoas com deficiência são consideradas como grupos prioritários pela maioria dos dispositivos de assistência social desenvolvidos pelas diversas entidades, quer seja dos orgãos locais do Estado quer das autárquias locais. Contudo por causa das dificuldades de comunicação existentes entre eles para com o seu público alvo, mas também por falta de recursos financeiros e materiais limitados, estes programas têm dificuldades por enquanto de atingir as pessoas com deficiência de maneira satisfatória. 72 4 Serviços Sociais Desporto e Cultura Secretários de Bairro Embora eficiente, porque historicamente e culturalmente muito ancorado, este sistema triangular que une utentes e provedores de serviços por intemédio dos secretários de bairro apresenta contudo alguns limites: O pessoal muita das vezes eleito secretários dos bairros não são sempre bem formados nem em técnicas do trabalho social e podem ter dificuldades na análise correcta dos pedidos que lhes são direccionados, sobretudo quando estes são complexos e específicos como no caso das pessoas com deficiência ; Muitas vezes só têm uma visão parcelada do leque de serviços existentes no seu bairro ou nos bairros vizinhos por causa da falta do acesso a informação, o que limita a sua capacidade na orientação dos seus administrados para as estruturas apropriadas em função das suas necessidades; A situação de gatekeeper que eles ocupam na intersecção da demanda social e da oferta do serviço pode levar ao desenvolvimento de lógicas clientelistas com os seus administrados. Com efeito mais os recursos são raros, mais os indivíduos sentem a necessidade de construir relações clientelistas com o detentor do poder ao nível local para facilitar a satisfação imediata das suas necessidades de base (Badie, 1992). 73 Discussão Recomendações para os actores do território 74 I/ Por Eixos de Intervenção 77 II/ Por Sectores de Intervenção 81 75 Discussão Recomendações para os actores do território Para além da opinião pública e da sociedade em geral, o conjunto dos actores do território deve mobilizarse com muita força para melhorar a situação e a participação social das pessoas com deficiência nas cidades de Maputo e Matola: A partir de sugestões recolhidas dos diferentes actores durante este diagnóstico, apresentamos aqui um conjunto de recomendações e de propostas que favorecem a sinergia e a convergência das iniciativas empreendidas no território em favor das pessoas com deficiência. I/ Por Eixos de Intervenção Eixo 1 Empresas do sector privado Provedores de serviços públicos e privados Sensibilizar e informar sobre os direitos das pessoas com deficiência Informar as pessoas com deficiência sobre os seus direitos fundamentais, sobretudo na área do acesso aos serviços, apoiando-se na Convenção das Nações Unidas para os Direitos das Pessoas com Deficiência. Doadores nacionais e internacionais Orgãos do Estado Sensibilizar a opinião pública a fim de fazer evoluir o olhar sobre as pessoas com deficiência, apoiando-se sobretudo nos médias e nas APCD. Informar as pessoas com deficiência sobre os programas do INAS existentes assim como sobre a nova Lei da Protecção social básica, através das APCD. ONG Internacionais de apoio PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Informar os profissionais da acção sanitária e social sobre os serviços desponíveis no território, por exemplo pela difusão de directorios de serviços. Sensibilizar os pais sobre a necessidade de escolarizar os filhos com deficiência, e prioritariamente no sistema inclusivo. Orgãos autárquicos Médias Sensibilizar e formar os técnicos em construção civil para tomarem em conta o acesso físico durante a concepção de edifícios novos, seguindo os princípios do Desenho Universal. Sensibilizar as empresas do sector privado sobre a contratação das pessoas com deficiência. Sensibilizar as empresas do sector privado sobre o melhoramento da acessibilidade e da ergonomia nos locais de trabalho. Associações de pessoas com deficiência Outras associaçãoes e grupos da sociedade civil Mundo académico e universitário Difundir e enriquecer o saber existente sobre a questão da Deficiência em Moçambique, e sobretudo no meio urbano, pela produção de estudos e de relatórios envolvendo estreitamente as APCD, o meio universitário e o INE. Eixo 2 Aplicar e melhorar o quadro legislativo existente Aplicar textos e leis existentes, sobretudo os que garantem: - O carácter gratuito dos medicamentos e dos cuidados de saúde para as pessoas com deficiência mais vulneráveis nas unidades de saúde e nas farmácias públicas - A isenção de taxas de escolaridade para as crianças com deficiência de famílias vulneraveis - A contratação de pessoas com deficiência no sector público Ampliar a implementação da educação inclusiva, sobretudo nas escolas secundárias e no ensino superior. Acelerar o estabelecimento do Conselho Nacional da Deficiência assim como a elaboração do PNAD II (2011-2015). 76 77 Discussão Recomendações para os actores do território Instaurar mecanismos aliciantes (vantagens fiscais) ou coercitivos (quotas mínimas) a fim de favorecer a contratação de pessoas com deficiência nos sectores públicos e privados. Implementar o quadro técnico e legislativo existente afim de tornar acessível: - Os edifícios públicos (administrações, hospitais infraestruturas desportivas…), - Os edifícios que acolhem o público (bancos, lojas, museus…), - Transportes públicos (chapas, machibombos…), - Espaços públicos (ruas, passadeiras, parques….). Clarificar as condições de atribuição e os direitos relativos ao cartão de pessoa com deficiência (o carácter gratuito dos transportes públicos, dos medicamentos, dos eventos culturais…). Clarificar a repartição das competências entre os Orgãos do Estado e as Autarquias Locais no processo de descentralização em obra, sobretudo nos sectores ligados ao desenvolvimento sanitário e social. Apoiar o processo de ratificação pela República de Moçambique da Convenção das Nações Unidas para os Direitos das Pessoas com Deficiência. Eixo 3 Tornar mais inclusivo o sistema de serviços sanitários e sociais Formar os profissionais dos serviços sanitários e sociais no acolhimento das pessoas com deficiência (professores, agentes de saúde, educadores desportivos, formadores…). Melhorar a acessibilidade física dos serviços sanitários e sociais segundo princípios do Desenho Universal (construção de rampas de acesso, acessibilidade interior, adaptação das casas de banho…) para lhes permitir acolher os utentes com deficiência numa abordagem inclusiva. Reforçar o acesso da informação para as pessoas com deficiência no seio dos serviços (Braille, audio, pictogramas, multilinguagem), a fim de adapta-las as diferentes incapacidades assim como as características linguísticas dos utentes. Favorecer o desenvolvimento dos serviços de apoio permitindo garantir ligações entre os serviços normais e os serviços especializados (serviços de transporte adaptado, serviços de tradução em língua de sinais ou Braille, serviços de adaptação de casas), sobretudo: - A criação no território de um serviço de apoio de Informação, Orientação e Acompanhamento Social (SIOAS) composto por equipas mistas (sociedade civil, comunidade, trabalhadores sociais da administração local). - A criação de serviços de apoio destinados mais particularmente ás mulheres com deficiência, muito mais excluidas do sistema dos serviços sanitários e sociais (aulas de alfabetização, creches, grupos de palavra, e de ajuda-mútua…). Fazer convergir as metodologias e os instrumentos de identificação e de acompanhamento das pessoas com deficiência. Apoiar-se nos secretários dos bairros para aplicar uma estratégia de comunicação social eficaz a escala local e para articular oferta e demanda de serviços. Reforçar as trocas de práticas entre os profissionais dos serviços normais e especializados. Eixo 4 Pôr a Deficiência no centro das estratégias de desenvolvimento local Favorecer uma abordagem transversal a fim de integrar de maneira sistemática as pessoas com deficiência dentre os grupos prioritários dos projectos e programas económicos e sociais implementados pelas diferentes instituições do território. Reforçar as capacidades dos serviços de acção social dos Municípios de Maputo e Matola, para melhor tomarem em conta as pessoas com deficiência. Clarificar os mecanismos de coordenação entre os serviços sociais dos OLE, dos AL e da sociedade civil ao nível operacional. Intensificar e diversificar os fluxos de troca entre serviços, entre os Municípios e o INAS a fim de gerar capital social no plano local: referenciamento dos utentes, trocas de práticas e de informação… Adoptar uma abordagem trans-territorial na resposta aos desafios locais afim de ultrapassar o corte administrativo entre Maputo e Matola e abordar a aglomeração na sua globalidade. Criar um Fórum de Concertação em Maputo e Matola envolvendo a sociedade civil organizada, as autoridades locais e os provedores de serviços, a fim de instaurar um diálogo permanente a escala do território. Elaborar e aplicar um «Plano de acção para a área da Deficiência” ao nível local, sobre o impulso do Fórum de Concertação, com objectivos anuais precisos em temáticas, actores responsáveis apontados e orçamentos claramente definidos. Desenvolver e experimentar um sistema de certificação dos edifícios e serviços inclusivos a escala da aglomeração (sistema único de pictogramas nos serviços públicos, hoteis, restaurantes, parques, edifícios que acolhem o público, paragems..). Definir com os utentes uma Carta de Qualidade dos serviços que permite a sua integra-ção no sistema comum. Estimular a demanda dos utentes com vista a fazer do melhoramento da qualidade dos serviços existentes uma revendicação política dos cidadãos. 78 79 Discussão Recomendações para os actores do território Eixo 5 Monitorar e avaliar II/ Por Sectores de Intervenção Reforçar as capacidades de advocacia do FAMOD e das APCD para velar sobre a implementação dos textos existentes e alertar a opinião pública sobre a situação das pessoas com deficiência. Saúde Criar indicadores específicos na area da Deficiência e reforçar as capacidades dos actores locais (Municípios, INAS, APCD…) a monitorar os programas sociais aplicados. Sensibilizar as pessoas com deficiência sobre os seus direitos em termos de saúde, apoiando-se sobretudo no Artigo 25 da Convenção e nas leis existentes ao nível nacional. Apoiar-se no Conselho National da Deficiência para realizar a monitoria e a avaliação das políticas públicas nacionais e locais em prol das pessoas com deficiência. Melhorar a acessibilidade física das unidades de saúde. Fiscalizar a aplicação das normas de acessibilidade para todas as novas construções públicas ou as destinadas a acolher o público, em parceria com a Inspecção-Geral de Obras Públicas. Fiscalizar a aplicação efectiva da Estratégia da Pessoa com Deficiência na Função Pública (2009-2013) adoptada em Setembro de 2009. Velar pela aplicação das disposições relativas, especificamente, as pessoas com deficiência no PEN III (2010-2014). Capitalizar as boas práticas e torná-las visíveis aos actores da zona. Melhorar o acesso a informação nas unidades de saúde, sobretudo as mensagens de sensibilização e de prevenção. Formar profissionais da saúde ao atendimento e a responsabilização das pessoas com deficiência. Melhorar o acesso aos medicamentos e aos cuidados de saúde para as pessoas com deficiência nas unidades de saúde e nas farmácias públicas : carácter gratuito dos medicamentos e dos cuidados, prioridade nas bichas dos postos de saúde, visitas domiciliarias para as pessoas com problemas de mobilidade... Facilitar o acesso ao material de compensação e as peças sobressalentes (criação de oficina de fabrico e manutenção do material de compensação por exemplo). Desenvolver estratégias específicas para as pessoas com deficiência em matéria de luta contra o HIV/SIDA. Melhorar os dispositivos de detecção e de prevenção da Deficiência nas unidades de saúde. Ampliar a rede sanitária ao nível local para responder a demanda de cuidados, sobretudo nos bairros de expansão. Educação Sensibilizar as pessoas com deficiência sobre os seus direitos em termos de educação, apoiando-se, sobretudo, no Artigo 24 da Convenção e nas leis existentes ao nível nacional. Sensibilizar os pais sobre a necessidade de escolarizar os seus filhos com deficiência, se possível no sistema inclusivo. Formar professores para que eles sejam capazes de receber crianças com deficiência nas turmas. Melhorar a acessibilidade física das escolas e universidades para lhes permitir acolher alunos com deficiência. Produzir e desponibilizar material didáctico adaptado aos diferentes tipos de incapacidade. Isentar taxas de escolarização às crianças com deficiência de famílias vulneraveis. Acelerar o desenvolvimento de educação inclusiva, sobretudo, nas escolas secundárias e no ensino superior. Desenvolver um serviço de tradutores em língua de sinais no seio do Ministério da Educação. 80 81 Discussão Recomendações para os actores do território Formação profissional Desporto e Cultura Melhorar a acessibilidade física dos centros de formação profissional. Adaptar os cursos e as metodologias de formação às necessidades das pessoas com deficiência. Favorecer o acesso das pessoas com deficiência ao sistema de formação profissional e diversificar as orientações possíveis. Reforçar o laço entre o sistema de formação e o sector privado para favorecer possível enquadramento após formação, sobretudo, através do desenvolvimento de um sistema de estágios nas empresas. Sensibilizar as pessoas com deficiência sobre os seus direitos em termos de participação na vida cultural e recreativa, lazer e desporto, apoiando-se, sobretudo, no Artigo 30 da Convenção e nas leis existentes ao nível nacional. Promover a prática de actividades físicas junto das pessoas com deficiência e das suas famílias. Facilitar emprestimos ou compra de material que permite a prática de desporto adaptado. Formar educadores na área do desporto adaptado. Melhorar a acessibilidade física das infraestruturas desportivas nos dois Municípios (estádios, ginásios …). Emprego Sensibilizar as pessoas com deficiêcia sobre os seus direitos em termos de emprego, apoiando-se, sobretudo, no Artigo 27 da Convenção e nas leis existentes ao nível nacional. Analisar o mercado de emprego em Maputo e Matola a fim de estudar a adequação entre as necessidades das empresas e a força de trabalho desponível composta por pessoas com deficiência. Criar centros locais de emprego a fim de favorecer a interacção entre a oferta e a demanda de emprego para as pessoas com deficiência, em parceria com o Ministério do Trabalho e o INEFP. Apoiar a formação de clubes e associações de desporto adaptado. Sensibilizar o público em geral sobre as actividades do desporto adaptado afim de suscitar uma mudança real na opinião sobre as capacidades das pessoas com deficiência. Facilitar a produção e a programação de obras envolvendo artistas com deficiência. Melhorar a acessibilidade física das infraestruturas culturais existentes : cinema, teatro, centros culturais… Favorecer a contratação de pessoas com deficiência nas empresas e administrações dos sectores públicos e privados, por exemplo instaurando mecanismos aliciantes (vantagens fiscais) ou coercitivos (quotas mínimas). Sensibilizar o sector privado no melhoramento da acessibilidade e da ergonomia nas empresas. Serviços e programas sociais Sensibilizar as pessoas com deficiência sobre os seus direitos em termos de protecção social, apoiandose, sobretudo, no Artigo 29 da Convenção e nos textos existentes ao nível nacional. Reafirmar a inclusão das pessoas com deficiência como grupo prioritário dos serviços e programas sociais. Informar as pessoas com deficiência sobre os programas de protecção social existentes, sobretudo a nova Lei de Protecção social básica apoiando-se nas APCDE. Reforçar as capacidades dos técnicos do INAS ao nível local, distrital e provincial para uma melhor inclusão e um acompanhamento mais eficaz das pessoas com deficiência nos programas de assistencia social. Reforçar as capacidades dos serviços da acção social dos Municípios de Maputo e Matola, para uma melhor inclusão das pessoas com deficiência. Melhorar a acessibilidade física das unidades sociais existentes em Maputo e Matola. 82 83 Bibliografia ALEJANDRO (V.A.), NORMAN (A.G.), Manual Introductorio al Analise de Redes Sociales, Mexico, 2005. BADIE (B.), L’État Importé, Collection l’Espace du politique, Paris, Fayard, 1992. BAKER (J.), Rural-urban Dynamics in Francophone Africa, Uppsala, Nordiska Afrikainstitute, 1997. BANFIELD (E.), The Moral Basis of a Backward Society, New-York, Free Press, 1958. 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SERRA (C.), At the Crossroads, A Study of Social Precariousness in Three Towns in Mozambique, Dakar, 2005. 84 TABELAS E ILUSTRAÇÕES Anexos ANEXO 1 - Lista das Associações de pessoas com deficiencia encontradas Associações de pessoas com deficiência Representante Ano de criação Tipo de deficiência dos membros ACAMO Associação de Cegos e Amblíopes de Moçambique José Diquissone 1995 Visual ACRIDEME Associação de pais e amigos de Crianças Deficiêntes Mentais Berta Biose 1994 Mental ADEMIMO Associação de Deficiêntes Militares e Paramilitares de Moçambique Virgilio Evaristo Wanela 1992 Visual / Auditiva / Motora / Intellectual ADEMO Associação dos Deficientes Moçambicanos Ricardo Moresse 1989 Visual / Auditiva / Motora / Intellectual ADESU Associação dos Deficiêntes do Ensino Superior Elias José David 1995 Mental Raimundo Manuel Patrocinio 2007 Visual / Auditiva / Motora / Intellectual Alberto Chave Ngoma 2003 Visual / Auditiva / Motora ADPPDCM ADPPDPM Associação de Desporto da Pessoa Portadora de Deficiência da Cidade de Maputo Associação Desportiva para Pessoas com Deficiência da Provincia de Maputo AJODEMO Associação dos Jovens Deficiêntes de Moçambique Cantol Alexandre Pondja 1995 Motora AMDV Associação Moçambicana dos Deficientes Visuais José Alvaro Macou 2003 Visual / Motora Eufemia Amela 2007 Motora Marilia Filomena Amade 1995 Auditiva Agostinho Foliche 1999 Auditiva 2002 Auditiva / Motora / Intellectual 2005 Visual / Auditiva / Motora / Intellectual 2002 Visual / Auditiva / Motora / Intellectual AMMD AMOFAS ASUMO CERCI CINFORTECNICA CODDEFAM Associação Moçambicana de Mulheres portadoras de Deficiência Associação Moçambicana dos Familiares e Amigos dos Surdos Associação dos Surdos Moçambicanos Cooperativa para a Educação e a Reabilitação de Nelson Beete Cidadões Inadaptados Associação de Jovens Técnicos Portadores de Deficiencia Sergio Manuel Simone de Moçambique Comité de Defesa dos Deficiêntes das Forças Armadas de Tomas Chigamane Moçambique CPM Comité Paralimpico de Moçambique Jorge Miguel Bai Bai 2008 Visual / Auditiva / Motora / Intellectual NLHUVUKU Grupo teatral João Magaia 1997 Motora RAVIM Rede para Assistência as Vitimas de Minas Luis Silvestre Wamusse 2005 Motora FAMOD Forum das Associações Moçambicanas de Deficientes Ricardo Moresse 1998 Rede nacional das APCD 86 87 Anexos ANEXO 2 - Lista dos Orgãos do Estado e dos Orgãos autárquicos encontrados Orgãos do Estado NACIONAL MAPUTO ANEXO 3 - Lista dos Provedores de serviços sanitarios e sociais encontrados Representante Provedores de serviços sanitarios e sociais Estatuto Bairro Ministério da Mulher e da Acção Social S.Excia Ministra Iolanda Maria Cintura Associação dos alvanários de Moçambique Privado 25 de Junho Direcção Nacional do Instituto Nacional de Acção Social Directora nacional Lúcia Bernardete Pedro Maivosse Direcção Distrital da Mulher e Acção Social do Distrito Municipal n°5 Público 25 de Junho A Centro ortopédico - A.F. Abegão Lda Privado Alto-Maé Direcção da Mulher e da Acção Social da Cidade de Maputo Directora provincial Angelina Paulo Lubrino Centro de saúde de Bagamoyo Público Bagamoyo Centro de saúde de Bagamoyo Público Bagamoyo Delegação do INAS da Cidade de Maputo Delegada provincial Cooperativa para a educação e a reabilitação de cidadões inadaptados Privado Baixa Departamento de medicina fisica e reabilitação do Hospital Central Público Central Cilda Antonio Cossa Direcção de Saúde da Cidade de Maputo Director provincial António Paulino Rodrigues Centro ortopédico do Hospital Central Público Central Direcção da Educação e Cultura da Cidade de Maputo Director provincial Gedião João Jamo Serviços de oftamológia do hospital central Público Central Direcção da Juventude e Desportos da Cidade de Maputo Centro de saúde Licuacuanine Privado Khongolote Director provincial Antonio Alberto Munguambe Centro de saúde de Khongolote Público Khongolote Direcção Distrital da Mulher e Acção Social do Distrito Municipal n°5 Centro de saúde de Denise Irmãos Privado Khongolote Directora distrital Ana Eduardo C. Invõa Farmácia Khongolote Privado Khongolote Direcção da Mulher e da Acção Social da Provincia de Maputo Farmacia Licuacuanine Privado Khongolote Director provincial Luciano José Centro de saúde de Magoanine A Público Magoanine A Delegação do INAS da Provincia de Maputo Delegado provincial Geraldo Abilio Bazo Associação dos Medicos Tradicionais de Moçambique Privado Magoanine A Centro de saúde Kungaya Privado Magoanine B Posto de saúde Magoanine Tendas Público Magoanine C Posto de saúde Magoanine Tendas Público Magoanine C Centro de medicina fisica e reabilitação Vikhela Privado Malhangalene Centro de reabilitação infantil de Malhangalene Público Malhangalene Centro de saúde Tinashe Privado Malhazine Farmacia de Malhazine Privado Malhazine Farmacia Aloe Vera Privado Malhazine Centro de saúde de Ndlavela Público Ndlavela Farmâcia Stefane Privado Ndlavela Posto de saúde de T3 Público T3 CINFORTECNICA Privado Urbanização Ministerio Arco- Iris Privado Zimpeto Centro de Saúde de Zimpeto Público Zimpeto Centro de saúde Moyo Privado Zimpeto Farmacia Zabdiel Privado Zimpeto Hospital psiquiatrico de Infulene Público Zimpeto Direcção de Saúde da Provincia de Maputo Directora provincial PROVINCIA Direcção de Educação e Cultura da Provincia Director provincial DE MAPUTO de Maputo Cremilda Alice da Silva Lucas Paulo Fernando Direcção da Juventude e Desportos da Provincia de Maputo Directora provincial Ana Albertina Wate Serviço de Saúde, Mulher e Acção Social da Cidade de Matola Directora Celeste Moreira Orgãos autárquicos Vereação de Saúde e Acção Social do Municipio de Maputo MUNICIPIO Vereação de Educação, Cultura e Desporto DE MAPUTO do Municipio de Maputo Representante Vereador Alexandre Munguambe Vereador Simião Mucavele Vereação / Administração do Distrito Municipal n°5 Vereador Gabinete do Genero, Empoderamento da Mulher e Acção Social do Municipio Directora MUNICIPIO Vereação da Cultura, Juventude e Desportos DA MATOLA Vereador do Municipio da Matola Posto Administrativo de Infulene Chefe do posto 88 Lourenzo Duarte Mabanga Florencia Muianga SAÚDE José Bento Coffe Manuel Ouana 89 Anexos ANEXO 3 - Lista dos Provedores de serviços sanitarios e sociais encontrados Provedores de serviços sanitarios e sociais Estatuto Provedores de serviços sanitarios e sociais Bairro Estatuto Bairro Escola primaria completa Wiryamu Público Zimpeto Escola secundaria Quisse Mavota Público Zimpeto Escola primaria completa Wiryamu Público Zimpeto Bairro Central ACAMO Privado Alto Maé Público Bairro Central Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Bairro Central) Público Bairro Central CERCI Privado Baixa Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Bairro Central) Público Bairro Central Associação moçambicana dos deficiêntes visuais Privado Hulene B Centro de formação profissional de eletrotecnia do INEFP Público FPLM Escola primaria completa 1 de Junho Público Jorge Dimitrov Associação comunitária Tintswalo Privado Jorge Dimitrov Escola primaria completa São Francisco Xavier Privado Jorge Dimitrov Caixa Comunitária de Microfinanças de Maputo - Norte Privado Jorge Dimitrov Escola comunitária Jorge Dimitrov Público Jorge Dimitrov Instituto Nacional do Emprego e Formação Profissional (Machava) Público Machava Escola primaria Unidade 29 Público Jorge Dimitrov Colégio Ilia Privado Magoanine A Escola Primária do 2° grau de Mubukwane Público Jorge Dimitrov Associação dos Medicos Tradicionais de Moçambique Privado Magoanine A Escola primaria Unidade 29 Público Jorge Dimitrov Centro de alfabetização de adultos da Igreja Assembleia de Deus Privado Magoanine A Escola primaria completa São Francisco Xavier Privado Jorge Dimitrov Privado Magoanine C Escola comunitária Missão Yoido Público Khongolote Privado Magoanine C Escola primeira completa de Khongolote Público Khongolote Privado Magoanine C Escola comunitária Missão Yoido Público Khongolote Escola comunitária da ADEMO Privado Malhangalene Escola comunitária Hitahlula Privado Khongolote Associação de crédito Josina Machel Privado T3 Escola primaria 19 de Outubro Público Magoanine A CINFORTECNICA Privado Urbanização Colégio Ilia Privado Magoanine A Centro juvenil Ingrid Chawner Privado Zimpeto Centro de alfabetização da Igreja Evangélica da Salvação de Moçambique Privado Magoanine A Associação Reconstruindo a Esperança Privado Zimpeto Público Magoanine A Ministerio Arco- Iris Privado Zimpeto Escola secundaria de Magoanine A Público Magoanine A Escola secundaria Quisse Mavota Público Zimpeto Centro de alfabetização de adultos da Igreja Assembleia de Deus Privado Magoanine A Associação Reconstruindo a Esperança Privado Zimpeto Centro de alfabetização e educação de adultos Público Magoanine A Associação Nthananu Privado Zimpeto Centro de alfabetização da Igreja Evangélica da Salvação de Moçambique Privado Magoanine A Associação Agro-Pecuária de Golhosa Privado Zimpeto Escola primaria de Magoanine B Público Magoanine B Associação Agro-Pecuária de Golhosa Privado Zimpeto Escola primaria Artur Hussene Canana Público Magoanine C Associação das escolinhas Privado Jorge Dimitrov Escola primária completa 10 de Janeiro Público Magoanine C Escola primaria completa São Francisco Xavier Privado Jorge Dimitrov Centro de recursos de Magoanine C Privado Magoanine C Centro infantil Sol de Khongolote Privado Khongolote Escola comunitária da ADEMO Privado Malhangalene Escola comunitária Missão Yoido Público Khongolote Escola primária completa de Malhazine Público Malhazine Colégio Ilia Privado Magoanine A Escola secundária de Malhazine Público Malhazine Centro de alfabetização da Igreja Evangélica da Salvação de Moçambique Privado Magoanine A Escola primária completa Samora Machel Público Ndlavela Escolinha Anjo Azul Privado Magoanine B Escola primária completa de Ndlavela Público Ndlavela Escolinha Sacrificio da Mãe Privado Magoanine B Escola secundária 3 de Maio Privado Ndlavela Escolinha Cantinho da Borboleta Privado Magoanine B Escola primária completa Unidade T3 Público T3 Escolinha Magoanine B Privado Magoanine B Escola primária Nossa Senhora do Livramento Público T3 Escolinha Glim-Glim Privado Magoanine B Escola comunitária Nossa Senhora do Livramento Privado T3 Centro infantil Casa da Familia Privado Magoanine C Escola comunitária Nossa Senhora do Livramento Privado T3 Centro de recursos de Magoanine C Privado Magoanine C Escola primaria completa de Zimpeto Público Zimpeto Associação cultural Muhodjo Privado Magoanine C Escola primaria completa Ingrid Chawner Público Zimpeto Ministerio Arco- Iris Privado Zimpeto Escola comunitária 1° de Maio Privado 1° de Maio Associação de cegos e ambliopes de Moçambique Privado Alto Maé Escola primaria completa Infulene Benfica Público Bagamoyo Escola de educação especial nº 1 Público Escola primária completa Especial n°2 EDUCAÇÃO Escola primaria completa de Magoanine A 90 EDUCAÇÃO FORMAÇÃO Associação das Mulheres Jovens Vítimas das Cheias de 2000 PROFISSIONAL Centro de recursos de Magoanine C E Associação cultural Muhodjo EMPREGO SERVIÇOS E PROGRAMAS SOCIAIS 91 Anexos ANEXO 3 - Lista dos Provedores de serviços sanitarios e sociais encontrados Provedores de serviços sanitarios e sociais SERVIÇOS E PROGRAMAS SOCIAIS DESPORTO E CULTURA Estatuto Bairro Centro de trânsito de Malhangalene Público Malhangalene Escolinha Santa Baquita Privado Malhazine Associação Yinguisseta Privado Malhazine Associação Yinguisseta Privado Malhazine Escolinha Alegria Privado Ndlavela Escolinha Nova Privado Ndlavela Centro infantil Funda Privado Ndlavela Escola comunitária Arco-Iris Privado Ndlavela Centro infantil Villas Privado Ndlavela Centro infantil Flor da Paz Público T3 Obra Dom Orion Privado Zimpeto Associação de activistas de educação para a sociedade Privado Zimpeto Associação de activistas de educação para a sociedade Privado Zimpeto Obra Dom Orion Privado Zimpeto Associação de activistas de educação para a sociedade Privado Zimpeto Associação de activistas de educação para a sociedade Privado Zimpeto Futebol Clube de Chindjerere Privado Jorge Dimitrov Associação comunitária Tintswalo Privado Jorge Dimitrov Associação comunitária Tintswalo Privado Jorge Dimitrov Futebol clube de Khongolote Privado Khongolote Comissão desportiva Privado Magoanine C Grupo cultural Ngalanga Privado Magoanine C Grupo cultural Muthimba Privado Magoanine C Centro comunitário aberto de Magoanine C Público Magoanine C Associação cultural Muhodjo Privado Magoanine C Selmas Ballet Privado Malhangalene Selmas Ballet Privado Malhangalene Selmas Ballet Privado Malhangalene Raizes Futebol Clube Privado Ndlavela 92 RAVIM - REDE PARA ASSISTÊNCIA ÁS VITIMAS DE MINAS Av. Milagre Mabote, nº 852 Bairro da Malhangalene, Maputo Tel: 21 417 859 E-mail: [email protected] HANDICAP INTERNATIONAL MOÇAMBIQUE Av. Agostinho Neto, nº 49 R/C Bairro da Polana Cimento B, Maputo Tel/Fax: 21 486 298/21 486 302 E-mail: [email protected] Website: www.handicap-international.org