MICRONÚCLEOS E SUA RELAÇÃO COM O DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS Barbon, Fabíola (1); Burille, Alessandra (2); Casarim, Daiane (3); Wietholter, Paula (4); Flores, Ricardo Antunes (5); Sabadin, Clarice Elvira Saggin (6); Rigo, Lilian (7) (1) Escola de Odontologia, Faculdade Meridional/IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Escola de Odontologia, Faculdade Meridional/IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (3) Escola de Odontologia, Faculdade Meridional/IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (4) Escola de Odontologia, Faculdade Meridional/IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (5) Escola de Odontologia, Faculdade Meridional/IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (6) Escola de Odontologia, Faculdade Meridional/IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (7) Escola de Odontologia, Faculdade Meridional/IMED, Brasil. E-mail: [email protected] MICRONÚCLEOS E SUA RELAÇÃO COM O DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS Resumo: A dificuldade no diagnóstico de neoplasias está relacionada a uma variedade de fatores como a grande diversidade de tipos histológicos e suas variantes, a pouca diferenciação celular e a similaridade das lesões. A instabilidade genômica é caracterizada pelo aumento considerado da frequência de alterações no material genético das células. A perda da instabilidade é um dos mais importantes aspectos da mutagênese e de transformações genéticas associadas à carcinogênese, tais como a presença de micronúcleos. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica a respeito da relação existente entre a presença de micronúcleos em células de portadores de diversas doenças e a sua associação com as mesmas. Foram realizadas pesquisas em bases de dados indexadas. A presença de micronúcleos está efetivamente associada ao desenvolvimento de diversas doenças. Entretanto, ainda são necessários mais estudos para confirmar a sua relação com outras. Palavras-chave: Micronúcleos; Citogenética; Patologias. Abstract: The difficulty in the diagnosis of cancer is related to a variety of factors such as the wide variety of histological types and variants, the little cell differentiation and the similarity of the lesions. Genomic instability is characterized by a considerable increase in the frequency of changes in the genetic material of cells. The loss of instability is one of the most important aspects of mutagenesis and genetic changes associated with carcinogenesis, such as the presence of micronuclei. The aim of this study was to review literature on the relationship between the presence of micronuclei in cells of patients with different diseases and its association with the same. Surveys were conducted in indexed databases. The presence of micronuclei is actually associated with the development of various diseases. However, further studies are needed to confirm their relationship with others. Keywords: Micronuclei; Cytogenetics;Pathologies. 1. INTRODUÇÃO A dificuldade no diagnóstico de neoplasias está relacionada a uma variedade de fatores como a grande diversidade de tipos histológicos e suas variantes, a pouca diferenciação celular e a similaridade das lesões. Além disso, muitos estudos são inconclusivos e contraditórios ao declararem a verdadeira origem celular de muitas lesões tanto benignas quanto malignas. A instabilidade genômica é caracterizada pelo aumento considerado da frequência de alterações no material genético das células. A perda da instabilidade é um dos mais importantes aspectos da mutagênese e de transformações genéticas associadas à carcinogênese (MARTINS; FILHO, 2003). Estudos demonstram que várias pessoas são geneticamente sensíveis a agentes genotóxicos tais como radiações, drogas e vírus, os quais podem resultar em danos ao DNA genômico, levando aos mais diversos tipos de alterações celulares, tais como a micronucleação (MARTINS; FILHO, 2003). A capacidade de identificar células com defeito cromossômico confere ao micronúcleo a propriedade de ser utilizado como marcador biológico da exposição à carcinógenos. Através de sua expressão, pode-se avaliar o grau de comprometimento da mucosa bucal, como também a eficácia de protocolos de prevenção. Na cavidade bucal, a formação de micronúcleos em células esfoliadas da mucosa tem sido utilizada como marcador biológico intermediário para avaliar o efeito preventivo de protocolos de quimioprevenção ou o grau de comprometimento da mucosa bucal (SETÚBAL et al, 2005). Este estudo tem por objetivo, mostrar a importância do micronúcleo como um marcador de alteração celular, presente em diversas de patologias. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O micronúcleo consiste numa porção citoplasmática de cromatina de forma redonda ou ovalada que se localiza perto do núcleo. A sua formação resulta de uma lise na molécula de DNA dias ou semanas após a ação de carcinógenos quando as células da camada basal estão em divisão. São constituídos de fragmentos de cromátide ou, cromossomos acêntricos ou aberrantes, que não foram incluídos no núcleo principal após a conclusão da mitose (SETÚBAL et al., 2005). A vantagem deste teste é sua capacidade de verificar, in vivo, o estado de uma mucosa que é simultaneamente exposta a carcinógenos, co-carcinógenos e entioxidantes. Essa exposição é de difícil reprodução in vitro (SETÚBAL et al., 2005). Outra vantagem da utilização deste método como marcador intermediário é a sua habilidade de mensurar de forma apurada e objetiva a frequência de defeitos no DNA. Além disso, o micronúcleo aparece após o dano, antes mesmo de qualquer alteração pré-maligna clínica ou até mesmo histológica (SETÚBAL et al., 2005). Após a remoção dos carcinógenos, nota-se que há uma redução de micronúcleos rapidamente. Estas evidências são confirmadas pela redução destes defeitos cromossômicos observados após o tratamento de neoplasias malignas com radioterapia, quando comparados a contagem dos que não foram irradiados (SETÚBAL et al., 2005). O teste do micronúcleo foi descrito pela primeira vez por Schimidt W., em 1975, tendo sido realizado em mamíferos in vivo. Ele tem a propriedade de detectar alterações cromossômicas durante a divisão celular, provocadas por substâncias mutagênicas (FLORES; YAMAGUCHI, 2008). Este teste tornou-se confiável pelo estudo de eritrócitos policromáticos da medula óssea em camundongos, tornando-se um dos mais úteis indicadores de dano citogenético. Por volta da década de 70, passou também a ser usado em linfócitos do sangue periférico e por fim em células esfoliadas, como por exemplo, da mucosa bucal (CORRÊA et al., 2009). Pesquisas apontam que vários indivíduos apresentam sensibilidade genética à agentes genotóxicos tais como: ambientais, radiações, drogas e vírus. Durante o processo mitótico existem dois agentes que agem no reparo celular, denominados clastogênicos, os quais permitem a quebra cromossômica, e os aneugênicos, onde possuem a capacidade de interferir no fuso mitótico. A atuação de forma anormal destes processos, associada a agente genotóxicos, dão origem as alterações cromossômicas, denominados micronúcleos. Sendo assim, a detecção de células binucleadas pode ser um bioindicador da presença de células que sofreram exposição a carcinógenos (CARRARD et al, 2007). Diversas doenças têm sido investigadas quanto a sua relação com a presença de micronúcleos, sendo que algumas já tiveram a sua confirmação efetivada e outras precisam de mais pesquisas. Doenças associadas à presença de micronúcleos: - Síndrome da imunodeficiencia adquirida (AIDS) O aumento das células micronucleadas é usado como um “dosímetro endógeno”, que tem capacidade de identificar condições pré-neoplásicas antes mesmo dos primeiros sinais clínicos. Pacientes portadores de HIV+ apresentam micronúcleos devido à condição de imunossupressão, sendo os mesmos encontrados em tecidos que são alvos de agentes genotóxicos ou citotóxicos. A condição de imunidade também pode alterar o número dos mesmos, pois quanto mais elevada à imunossupressão, maior será a indução de formação de micronúcleos (MENDES et al., 2011). - Tabagismo e Etilismo O fumo e o uso excessivo de álcool são comuns em inúmeros processos patológicos demonstrando assim, um interesse especial para estudos de etiopatogenia do câncer oral e do trato aerodigestivo. O mecanismo que associa esses agentes a um aumento do risco fundamenta-se na composição química e na interação com outros fatores (SETÚBAL et al., 2005). Danos ao DNA causados por agentes mutagênicos e carcinógenos são os principais responsáveis pelo descontrole genético no ciclo celular, e consequentemente, por alterações cromossômicas (MARTINS; FILHO, 2003). As células da mucosa oral respondem aos efeitos genotóxicos do tabaco e do álcool. Nota-se que em estudos que utilizam o teste de micronúcleos, o índice é mais elevado em fumantes do que em não fumantes e em etilistas do que não etilistas (MARTINS; FILHO, 2003). 3. Câncer de colo uterino O câncer de colo de útero é uma das mais frequentes oncologias femininas. O Papanicolau é um dos métodos mais comuns e baratos de prevenção, uma vez que a maioria dos cancros surgem de células descamadas do útero. As evoluções das neoplasias intraepiteliais cervicais são acompanhadas pela instabilidade genética ou mutações, tais como ganho ou perdas cromossômicas. A progressão de câncer de colo de útero é caracterizada pelo rearranjo de cromossomos (CAMPOS et al., 2008). A frequência de micronúcleos em amostras de colo de útero se dá pela presença de fatores de risco, tais como: idade, idade da primeira relação sexual, número de parceiros, uso de contraceptivos orais e números de gestações e abortos (CAMPOS et al., 2008). 4. Câncer de pele Muitas lesões mostram morfologia duvidosa e recursos rotineiros de histologia são, frequentemente, insuficientes para distinguir lesões benignas e malignas. Desta forma, a utilização de outros parâmetros histológicos, como a quantidade relativa de micronúcleos obtida por técnicas histoquímicas servem como ferramenta que diferencia lesões (MELO JUNIOR et al, 2009). Os possíveis desencadeadores das neoplasias de pele são os estímulos ou mutações genômicas, resultantes da ativação de oncogenes, responsáveis pelo crescimento celular e pela regulação da apoptose (morte celular programada), além de ocorrer inativação de genes supressores. A expansão clonal ocasiona mutações adicionais, induzindo assim a heterogeneidade celular e a consequente formação de um neoplasma (MELO JUNIOR et al., 2009). 5. Câncer oral O carcinoma escamocelular é uma neoplasia epitelial maligna que representa 90% de todos os casos de tumores malignos da cavidade bucal. Sua localização intrabucal mais comum é na língua, bordos laterais ou superfície ventral, seguida pelo assoalho de boca. Acredita-se que os carcinomas bucais são procedidos clinicamente por ulcerações, leucoplasias e eritroplasias, ou na combinação dessas condições (SETÚBAL et al, 2005). 6. Doença de Alzheimer A doença Alzheimer caracteriza-se por ser uma doença neurodegenerativa progressiva do envelhecimento e de etiologia complexa devido à interação entre fatores genéticos e ambientais (MISULIS; HEAD, 2008). O teste com micronúcleos pode vir a evidenciar danos genotóxicos que possam estar associadas a manifestações da doença de Alzheimer e ser empregado para conhecimento dos fatores etiológicos da mesma. Pesquisas relatam que a presença de micronúcleos é significativamente maior em células de familiares de Alzheimer quando comparados a pessoas que não possuem a doença. Embora sejam encontradas células binucleadas em indivíduos com hereditariedade da doença, estudos não confirmam a origem da alteração cromossômica, uma vez que as mesmas poderiam ser originadas de afecções ou maus hábitos cotidianos (LIMA et al., 2012), sendo necessários mais estudos. 7. Câncer de esôfago O diagnóstico de câncer de esôfago geralmente é feito quando há o aparecimento de disfagia, resultando em detecções nas formas avançadas, onde a sobrevida de cinco anos é inferior a 10% (DIETZ et al, 2000). Estudos mostram que a frequência de micronúcleos é significativamente maior entre fumantes e ex-fumantes, bebedores e ex-bebedores de erva mate. O aumento de micronúcleos entre fumantes pode estar associado com a existência de substâncias carcinogênicas no tabaco. Entretanto, ainda não existe comprovação de que a erva mate seja carcinogênica. Porém, ela poderia atuar como fator predisponente devido à alta temperatura em que é ingerida (DIETZ et al, 2000). A presença de micronúcleos na mucosa esofágica pode estar vinculada ao desenvolvimento de câncer nesta região. Entretanto, mais estudos são necessários para que esta associação seja confirmada. Havendo a confirmação, a presença de micronúcleos poderia atuar na participação de diagnósticos precoces (DIETZ et al, 2000). CONSIDERAÇÕES FINAIS O teste de micronúcleos se traduz em um importante biomarcador para diversas patologias. Através de um método não invasivo, simples e de baixo custo, pode-se monitorar o efeito de carcinógenos a células, podendo atuar como um exame preventivo. O teste de micronúcleos necessita, entretanto, de mais pesquisas, uma vez que a sua presença em uma célula ainda é uma incógnita em relação a diversas patologias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMPOS, L.M.F.R. et al. Prevalence of micronuclei in exfoliated uterine cervical cells from patients with risk factors for cervical cancer, Med J, v.126, n.6, p.8-323, 2008. CARRARD, V.C. et al. Teste dos Micronúcleos – Um Biomarcador de Dano Genotóxico em Células Descamadas da Mucosa Bucal, Rev Fac Odontol Porto Alegre, Porto Alegre, v.18, n.1/3, p.77-81, 2007. CORRÊA, N.S., et al. Monitoramento da ação genotóxica em trabalhadores de sapatarias através do teste de micronúcleos, Pelotas, Rio Grande do Sul, Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.14, n.6, p.22512260, 2009. DIETZ, J. et al. Pesquisa de micronúcleos na mucosa esofágica e sua relação com fatores de risco ao câncer de esôfago, Rev Ass Med Brasil , Porto Alegre-RS, v.46, n.3, p.11-207, 2000. FLORES, M.; YAMAGUCHI, M.U. Teste de micronúcleo: uma triagem para avaliação genotóxica, Revista Saúde e Pesquisa, v.1, n.3, p. 337-340, 2008. JUNIOR, M.R.M, et al. Avaliação Histomorfométrica de Micronúcleos e Colágeno como Métodos Adicionais no Diagnóstico Diferencial de Neoplasias Cutâneas, Arquiv Ciênc Saúde, Recife-PB, v.16, n.1, p.48-50, 2009. LIMA, F.B. et al. Estudo sobre a ocorrência de micronúcleos e alterações nucleares em indivíduos com a Doença de Alzheimer, Rev Ciênc Méd Biol, Salvador, v.11, n.1, p.23-26, jan./abr.2012. MARTINS, K.F; FILHO, J.B. Determinação da freqüência de micronúcleos e outras alterações nucleares em células da mucosa bucal de indivíduos não-fumantes e fumantes, Rev Fac Ciênc Méd, Sorocaba, v.5, n.1, p.43-53, 2003. MISULIS, K.E.; HEAD, T.C. Netter Neurologia Essencial, Edt. Elsevier, p. 116-122, 2008. MENDES, C.F. et al. Micronúcleos em células do colo uterino em mulheres HIV+ segundo sua condição de imunidade, Rev Bras Ginecol Obstet, Sorocaba-SP, v.33, n.10, p. 9-305, 2011. SETÚBAL, A.M.G. et al. Micronúcleo: um importante marcador biológico intermediário na prevenção do câncer bucal, Rev Odonto Ciência- Fac.Odonto/PUCRS, v.20, n.28, abr./jun.2005.