Editorial
Etat limite, adolescence, cannabis et cocaïne
Didier Lauru
Drogas, performance e psiquiatrização
na contemporaneidade
Joel Birman
Para uma clínica do uso de álcool e drogas
com adolescentes das comunidades
do Rio de Janeiro
Francisco Leonel F. Fernandes
O abuso de substâncias tóxicas na adolescência:
uma tentativa de incorporação do objeto?
Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
Dépendance aux images et élaboration
de la violence
Florian Houssier
Agressions sexuelles
et dépendance à l’adolescence
Jean-Yves Chagnon
Dépendance à l’adolescence : le vide par l’excès
Teresa Rebelo
Separation, dependance et depression
a l’adolescence
François Marty
Embaraço, humilhação e transparência psíquica:
O tímido e sua dependência do olhar
Julio Verztman
Proliferação das #hashtags: lógica da ciência,
discurso e movimentos sociais contemporâneos
Fernanda Costa-Moura
Estudos em T­eoria Psicanalítica
VOLUME XVII
NÚMERO ESPECIAL
AGOSTO DE 2014
ISSN 1516-1498
Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica UFRJ
Dependência e adolescência: a recusa
da diferença
Marta Rezende Cardoso
Estudos em Teoria Psicanalítica
Artigos
v. XVII
Especial
ISSN 1516-1498
Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica
Instituto de Psicologia UFRJ
9 771516 141211
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Estudos em Teoria Psicanalítica
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ÁGORA
Estudos em teoria psicanalítica
Editor Responsável
Joel Birman
Revista semestral do Programa de Pósgraduação em Teoria Psicanalítica do
Instituto de Psicologia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Comissão Executiva
Isabel Fortes, Simone Perelson
Publica trabalhos originais referentes a
pesquisas teóricas em psicanálise, no
sentido estrito ou nas articulações com
outros campos do saber, e pesquisas
em clínica psicanalítica, desde que
acompanhadas de discussão teórica
ou crítica. Publica, ainda, conferências,
traduções, artigos de valor histórico,
comunicações breves e resenhas de
interesse para o campo da psicanálise.
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e estar de acordo com as Normas para
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SecretáriO-executivO
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Joel Birman, Isabel Fortes, Maria Cristina
Poli, Marta Rezende Cardoso, Regina
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dos Santos
Conselho Editorial-Científico
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Université Paris VII
André Michels
Psiquiatra e psicanalista, Luxemburgo
Christian Hoffmann
Université de Poitiers
Edson L. A. de Sousa
Universidade Federal
do Rio Grande do Sul
Elizabeth Roudinesco
Université de Paris VII
Ernildo Stein
Universidade Federal
do Rio Grande do Sul
John Forrester
Cambridge University
agradecimento
aos PARECERISTAS
Fernanda Costa-Moura
Isabel Fortes
Marta Rezende Cardoso
Simone Perelson
Juan Carlos Cosentino
Universidad de Buenos Ayres
Judith Feher Gurewich
Center for Literary and Cultural Studies,
Harvard University
Jurandir Freire Costa
Universidade do Estado do
Rio de Janeiro
Luís Augusto Monnerat Celes
Universidade de Brasília
Luiz Fernando Dias Duarte
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mário E. C. Pereira
Unicamp
Michel Plon
CNRS/Université Paris VII
Olivier Douville
Université Paris X Nanterre
Vladimir Pinheiro Safatle
Universidade de São Paulo
Zeferino Rocha
PUC Pernambuco
Zeljko Loparic
PUC São Paulo e Unicamp
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ISSN 1516-1498
Estudos em Teoria Psicanalítica
VOLUME XVII
NÚMERO especial
AGOSTO DE 2014
Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica
Instituto de Psicologia
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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4
Laoreet Dolore Magna
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Catalogação na fonte
Biblioteca do CFCH/UFRJ
CDD 150.195
Ágora : estudos em teoria psicanalítica. vol. I,
n. 1 (1998) – Rio de Janeiro: Pós-graduação em Teoria
Psicanalítica IP/UFRJ. vol. XVII, número especial. Rio de
Janeiro, agosto, 2014.
Semestral.
ISSN 1516-1498
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1. Psicanálise – Periódicos. I. IP/Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Teoria
Psicanalítica.
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Sumário
Duis autem vel eum iriure dolor in hendrerit in vulputate
5
ISSN 1516-1498
Editorial____________________________________________ 9
Artigos
Etat limite, adolescence, cannabis et cocaïne_____________ 11
Didier Lauru
Drogas, performance e psiquiatrização
na contemporaneidade______________________________________ 23
Joel Birman
Para uma clínica do uso de álcool e drogas com
adolescentes das comunidades do Rio de Janeiro__________ 39
Francisco Leonel F. Fernandes
O abuso de substâncias tóxicas na adolescência:
uma tentativa de incorporação do objeto?_________________ 51
Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
Dependência e adolescência: a recusa da diferença_______ 63
Marta Rezende Cardoso
Dépendance aux images et élaboration
de la violence________________________________________________ 75
Florian Houssier
Agressions sexuelles
et dépendance à l’adolescence______________________________ 85
Jean-Yves Chagnon
Dépendance à l’adolescence : le vide par l’excès___________ 99
Teresa Rebelo
Separation, dependance et depression
a l’adolescence_____________________________________________ 111
François Marty
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Laoreet Dolore Magna
Embaraço, humilhação e transparência psíquica:
O tímido e sua dependência do olhar_______________________ 127
Julio Verztman
Proliferação das #hashtags: lógica
da ciência, discurso e movimentos
sociais contemporâneos____________________________________ 141
Fernanda Costa-Moura
ágora (Rio de Janeiro) v. XVII número especial agosto de 2014 1-10
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Contents
Duis autem vel eum iriure dolor in hendrerit in vulputate
7
ISSN 1516-1498
Editorial____________________________________________ 9
Articles
Borderline, teenagers, cannabis and cocaine______________ 11
Didier Lauru
Drugs, performance and psychiatrization
in the contemporary world_________________________________ 23
Joel Birman
For a clinic of drug and alcohol abuse
with adolescents from popular communities
in Rio de Janeiro______________________________________________ 39
Francisco Leonel F. Fernandes
The abuse of toxic substances in adolescence:
an attempt to incorporate the object?____________________ 51
Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
Dependence and adolescence: the refusal
of the difference____________________________________________ 63
Marta Rezende Cardoso
Image dependence and elaboration of violence____________ 75
Florian Houssier
Sexual aggressions and dependence
during adolescence__________________________________________ 85
Jean-Yves Chagnon
Dependence in adolescence:
the vacuum by the excess____________________________________ 99
Teresa Rebelo
Separation, dependence and depression
in adolescence______________________________________________ 111
François Marty
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Laoreet Dolore Magna
Embarrassment, humiliation and transparency:
The shy subject and his/her dependence
on the gaze__________________________________________________ 127
Julio Verztman
Proliferation of the #hashtags: logic of science,
discourse and contemporary social movements__________ 141
Fernanda Costa-Moura
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Editorial
Duis autem vel eum iriure dolor in hendrerit in vulputate
9
A internacionalização
da pesquisa em psicanálise
A
razão deste número especial da revista Ágora foram dois colóquios internacionais realizados pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica,
em colaboração com universidades e centros de pesquisa avançada na França.
O primeiro, ocorrido em maio de 2013, intitulado ‘Subjetividades e montagens
corporais no mundo contemporâneo’, se realizou em colaboração com o Centre
de Recherches Psychanalyse Médecine et Société, da Université Paris Diderot.
O segundo, em outubro de 2013, intitulado ‘Dependência e drogas na adolescência: entre subjetividade e cultura’, ocorreu em colaboração com o Collège
International de L’Adolescence e da Université Paris Descartes.
O que tais eventos evidenciam é a intensa relação de colaboração entre o
Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica e algumas universidades
francesas, que se realiza pelo intercâmbio de pesquisadores provenientes dos
dois lados do Atlântico e que revelam efetivamente um novo paradigma de
trocas de conhecimento em que a internacionalização da pesquisa se impõe de
maneira indiscutível.
O saldo desse intercâmbio se revela na ativa produção de conhecimento em
teoria psicanalítica e saberes afins, provenientes de diferentes setores das ciências humanas e da filosofia, que se conjugam de maneira criativa, de forma a
criar novos objetos e novas problemáticas de investigação. Assim, este número
especial de Ágora visa intencionalmente dar mostras desta produção conjunta,
de maneira a documentar não apenas o espírito de colaboração científica, mas
também a produção efetiva que foi realizada.
É preciso dizer, também, que este número especial de Ágora segue estritamente
os critérios de seleção de artigos, isto é, os artigos encaminhados pelo conselho
científico da revista foram submetidos à avaliação, como se faz em todo e qualquer
número regular da revista. Vale dizer: não se aceitaram os artigos simplesmente
porque foram apresentados nos referidos colóquios, mas sim porque passaram
por uma apuração acurada de nossos pareceristas. Ademais, mantivemos o caráter
bilíngue desta produção, publicando alguns artigos em português e outros em
francês, de acordo com a origem e a procedência dos colaboradores.
Esperamos que desta maneira possamos tornar mais viva a relação de colaboração com os nossos parceiros internacionais, da mesma forma que eles o fazem
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Laoreet Dolore Magna
com a publicação em revistas e livros franceses de artigos oriundos do Programa
de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica, caracterizando assim um produtivo
espírito de troca sem privilégios de nenhum dos lados implicados nestes acordos
entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Université Denis Diderot e a
Université René Descartes.
Em nome da pesquisa em teoria psicanalítica, conjugada com saberes afins,
esperamos que esta publicação contribua para o enriquecimento de nosso diálogo
e de nossas trocas para além das fronteiras brasileiras, e que incremente o dito
paradigma de internacionalização da pesquisa.
Joel Birman
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Artigos
Etat limite, adolescence,
cannabis et cocaïne
Didier Lauru
Didier Lauru
Psychiatre;
psychanalyste,
directeur médical
du CMPP Etienne
Marcel (Paris);
président du CILA.
ResumE : Les adolescents ont une appétence marquée pour les
substances psychoactives. Certains, selon leur personnalité, vont aux
limites de leur structure psychique. Dans la clinique, nous voyons
bien souvent des états limites se révéler, bien distincts des usuelles
adolescences problématiques. Les substances stupéfiantes, utilisées
dans un premier temps comme anxiolytiques, deviennent vite
source d’angoisse, et parfois mettant à jour des sujets en état limite.
Mots clés : Adolescence, état limite, cannabis, cocaïne.
Abstract: Borderline, teenagers, cannabis and cocaine. Teenag-
ers are fond of psychoactive products. Somme of them, according
to their personality, go to the limits of their psychic structure. In
the practical field, we can often observe the revealing of borderline states, very different from the usual problematic teenagers.
Psychoactive substances, used for the first time as anxiolytics,
become quickly a cause of anxiety, therefore revealing the subjects
in borderline states.
Keywords: Adolescences, border line state, cannabis, cocaine.
T
ous les adolescents recherchent leurs limites pour se construire. Le haschich est à la fois une aide pour l’explorateur
de mondes intérieurs nouveaux, ce qui rend compte d’une
partie de l’appétence pour ce produit, mais va vite induire
les limites de son utilisation, en particulier par l’apparition
de l’angoisse. La cocaïne, autre psychotrope puissant que
les adolescents utilisent de plus en plus en Europe et dans le
monde, permet aussi d’explorer d’autres limites de soi. Cette
tentative d’explorer les limites de son moi est une caractéris-
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Didier Lauru
tique commune à tous les adolescents. Ce qui l’est moins, c’est l’utilisation du
haschich pour évaluer l’extension du domaine de leur moi.
Au delà de cette recherche de limite souvent rencontrée, c’est l’installation
d’une pathologie plus invalidante qui est à craindre. Celle qui va circonscrire
l’adolescent dans un sujet en état limite. La marge est parfois étroite dans la
pratique clinique, et c’est le temps, les modalités transférentielles particulières
qui donneront consistance à cet état limite.
Le sujet à l’âge adolescent est dans une phase de construction active. Il est au
cœur de remaniements profonds de plusieurs de ses instances qui le définissent
dans son être au monde. Ainsi son rapport aux autres, à son entourage familial
comme à ses pairs va se transformer, radicalement. L’adolescent possède une
soif toute particulière à explorer les nouveaux contours de sa personnalité et
pour certains à aller aux points les plus extrêmes de soi-même (LAURU, 2004).
Dans ce cadre, un recours à la consommation de cannabis renforce cette
attrait tout particulier chez les adolescents à aller aux limites d’eux-mêmes, aux
limites de leur monde environnant, jusqu’aux limites des autres, dans une quête
de définition de leur positionnement subjectif, parfois à la limite du sujet.Comme
un physicien qui tente de donner des représentations de l’univers, l’adolescent
tente de se donner ses propres représentations de son propre univers : de ses
sensations, de ses liens d’affect nouveaux de ses modes de jouissance qu’il explore
seul ou parfois avec un(e) autre comme dans la relation amoureuse et sexuelle.
L’appétence de l’adolescent pour le cannabis
Pourquoi le cannabis représente-t-il un problème d’une telle ampleur chez le
sujet à l’âge adolescent et l’est-il moins à l’âge adulte ? Pourquoi les adolescents
ont-ils recours en nombre aussi important à des substances psychoactives et en
premier lieu au cannabis ? Que recherchent-ils vraiment au travers de ces conduites à risque, conduites d’exploration de soi et de l’autre ?
Existerait-il une complémentarité entre les problématiques de l’adolescence
et le cannabis ?
Si oui laquelle, étant donné que : d’une part, les adolescents y ont recours
en grand nombre et d’autre part, le cannabis aggrave de façon significative un
certain nombre de processus psychopathologiques, dont nous allons tenter
d’étudier une des facettes rencontrées dans la clinique à de multiples reprises.
À l’instar de l’angoisse, qui fait partie des affects couramment ressentis chez
les adolescents, nous percevons le cannabis comme un recours privilégié pour
tenter de lutter contre des effets trop envahissants. Nombre d’adolescents s’automédiquent, trouvant pour un temps dans le cannabis, ou autres produits, un
apaisement réel de leurs angoisses. Mais cela n’a qu’un temps. Tous les consomágora (Rio de Janeiro) v. XVII número especial agosto de 2014 11-22
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Etat limite, adolescence, cannabis et cocaïne
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mateurs le décrivent, certaines prises déclenchent des angoisses bien plus intenses
encore que celles pour lesquelles le haschich s’était avéré efficace. Ce curieux
retournement des rôles pourra nous servir d’indicateur pour ce que nous allons
aborder, à savoir les rapports du sujet et de sa limite dans son lien au haschich,
aussi bien comme outil explorateur que comme substance révélatrice de traits
psychopathologiques qui ne seraient pas apparus jusque-là, ou du moins sans la
participation du haschich.Tous les adolescents fumeurs de haschich ne vont pas
aussi loin dans leur exploration et n’ont pas la même fragilité personnelle que
Clément, exemple clinique illustrant notre propos.
Un adolescent et le haschich
Lorsque je reçois Clément pour la première fois, il a 17 ans et déjà un long
passé. Une consultation dans un haut lieu parisien des thérapies cognitives et
comportementales (TCC) et de la négation du sujet se concrétise, à l’âge de 15
ans, par une hospitalisation en milieu fermé, un traitement neuroleptique, ainsi
qu’un diagnostic assis sur des batteries de tests. Il est sans appel : schizophrénie!
Il est reçu dans le cadre d’un hôpital de jour pour adolescents auquel il s’adapte
mal. Il suit un traitement psychotrope, mais à sa façon, car il ne prend que ce
qui lui convient. Il utilise tous les jours des doses variables de cannabis qu’il
agrémente, les fins de semaine, avec de l’alcool ou des ecstasys. Il évoque les
effets du haschisch, ses bienfaits sans failles et l’aide qu’il obtient essentiellement
sur le plan de l’angoisse. Mais il décrit des nouvelles facettes de lui-même qu’il
dit découvrir grâce au cannabis. Avec l’appoint de la prise du toxique, toutes
les sensorialités sont explorées, ainsi que la découverte de la sexualité : il est
enthousiaste, le cannabis décuple les facettes des plaisirs qu’il éprouve.
Sur le plan formel, il fera de nombreux aller-retour, entre l’hôpital de jour où
il s’adapte mal, avec des tentatives, forcément ratées, de rescolarisation malgré un
potentiel intellectuel élevé. Sa consommation quotidienne reste incompatible avec
le cadre scolaire et ses exigences de concentration et de travail à fournir. Parmi
les essais de prise en charge, une admission dans une unité de soins-études lui
apporte un mieux-être temporaire, mais il ne peut se passer de sa consommation.
Ainsi, il est vite repéré comme un « gros fumeur ». Il sera même soupçonné de
trafic, ce qui l’amènera à quitter ce lieu pourtant rassurant et accueillant.
Je continue à le recevoir de façon très intermittente, et progressivement, il
émerge de son discours une demande de psychothérapie. Cette demande me
paraît recevable et elle va permettre enfin de sortir du factuel et qu’il puisse
aborder non seulement la reprise de son histoire, mais aussi explorer les bords
et les limites de ce qui le fonde en tant que sujet.
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Didier Lauru
Bonjour l’angoisse
Au travers de la prise répétée de cannabis, Clément recherche le point extrême de
sa non-existence, ou plus précisément de son existence sans l’angoisse. L’angoisse
prédominante chez Clément, comme chez bien d’autres patients que j’ai pu en
entendre, c’est précisément l’angoisse d’exister. Des questions philosophiques
s’égrènent derrière cette angoisse première : « Qui suis-je? », « Pourquoi suis-je
sur terre?», « Quel est mon désir? », et surtout « Qui est responsable de mon
existence? », « de ma misérable existence » me précisait Clément.
Cette série de questions est infinie à l’instar de celles du petit enfant qui pose
celle des pourquoi. Mais il n’existe pas de réponse ultime pour l’adolescent : il
n’y a pas de « c’est parce que » qui viendrait calmer l’angoisse. Au contraire, la
prise de haschich vient dans un premier temps aiguiser ces questions. Puis, grâce
à ses effets sédatifs, ces questions n’ont plus la même acuité, la même urgence
qui imposait une réponse immédiate. La dilatation du temps lié aux effets du
cannabis et la mise à distance des impératifs du réel induisent cette texture moelleuse qui s’insère entre le sujet et la réalité. Beaucoup de cliniciens décrivent
ces phénomènes de démotivation; il est vrai que le vif du sujet n’a soudain plus
la même importance.
Cependant Clément garde une certaine adaptation aux exigences de la réalité, par exemple n’a jamais raté de séance quel que soit son degré d’intoxication
cannabique, d’autant qu’à certaines périodes, il fumait au quotidien des quantités
impressionnantes.
Crainte de devenir fou
Il s’agit de la crainte de « rester perché » comme le disent entre eux les adolescents
fumeurs de cannabis. Ils désignent la persistance de symptômes psychotiques
plusieurs jours après la prise de haschich. Cet état comporte soit un tableau
hallucinatoire soit un état de dépersonnalisation ou de déréalisation. L’angoisse
est toujours présente, extrêmement forte, car le fumeur a une conscience partielle de son état, et s’inquiète à juste titre d’un éventuel retour à la normale.
Cette crainte est justifiée chez Clément car quelques-uns de ses amis sont restés
« perchés » après une prise en commun, dont un qui manifestement déclenché
un épisode psychotique. La peur de devenir fou, de passer « de l’autre côté »,
est omniprésente.
En utilisant le « bang » (sorte de pipe à eau artisanale, faite de bouteilles en
plastique) et autres « douilles »1 qui font « exploser la tête », il s’est déjà retrouvé
1 Les « douilles » sont des culots qui servent à consumer le cannabis très vite. La métaphore
accroît encore l’image de la pénétration violente, dans la tête d’un corps étranger, véritable
flash que décrivent les fumeurs inconditionnels.
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Etat limite, adolescence, cannabis et cocaïne
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dans des états confusionnels importants, dont les restes mnésiques recelaient
beaucoup d’angoisse et des idées de déréalisation.
L’euphorie est recherchée par tous, à l’instar d’autres substances psychoactives
comme l’alcool. Clément passant régulièrement par des phases de doute et de
dépression que certains qualifieraient de narcissique. L’élation, l’euphorie lui
donnent alors le cœur léger et le verbe facile. Baudelaire décrit « une hilarité
saugrenue et irrésistible » et il repère aussi que « les rapports des idées deviennent tellement vagues, les fils, qui relient vos conceptions, sont si ténus, que vos
complices, vos coreligionnaires seuls peuvent vous comprendre ».Tout fait rire,
alors que le monde peut s’écrouler autour. Cependant le réel reprend ses droits.
Il est difficile de s’abstraire de la disposition dans laquelle est le fumeur au
moment où il consomme. Baudelaire le précise : « J’ai oublié de dire que le
haschich causant dans l’homme une exaspération de sa personnalité et en même
temps un sentiment très vif des circonstances et des milieux, il était convenable
de ne se soumettre à son action que dans des milieux et des circonstances favorables. Toute joie, tout bien être étant surabondant, toute douleur, toute angoisse
est immensément profonde » (BAUDELAIRE, 1851/2000).
Ainsi les extrêmes sont atteints, dans le registre de l’euphorie comme dans
celui de l’angoisse. Je rajouterais aussi la dépression, à partir de ce que Clément
et bien d’autres livrent de leur expérience.
Il est possible de tenter un parallèle entre l’état maniaque et l’intoxication
cannabique, dans la mesure où l’inhibition, les freins relationnels et les conventions sociales sont atténués amoindries ou effacées. La levée de l’inhibition
correspond à ce que Freud décrit quand il précise l’opportunité d’une intoxication
externe. « L’humeur enjouée, d’origine endogène ou toxique, abaisse les forces
d’inhibitions, la critique en particulier, et rendent par-là de nouveau abordables
des sources de plaisir dont la répression fermait l’accès. Il est fort instructif de
noter combien l’exaltation de l’humeur nous rend peu exigeants sur la qualité
de l’esprit, comme l’esprit doit s’efforcer de suppléer à cette humeur qui offre
des possibilités de jouissance habituellement inhibées et, parmi ces dernières,
le plaisir de l’absurde » (FREUD, 1905/1969).
Les rires sont connus de tous les fumeurs de haschisch : rires immotivés ou
faiblement motivés qui rendent compte d’une élation de leur humeur caractéristique. Pour avoir écouté Clément en séance dans cet état particulier, il reste
abusif de parler de réaction maniaque, car les jeux de mots sont présents, les
coq-à-l’âne, mais cette impression est factice et rend compte de la difficulté du
sujet à se situer quand il est sous influence. Cet état est transitoire et se produit
surtout au début des effets. Cela cède la place à une douce torpeur et une extase
quasi hypnotique.
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Didier Lauru
Angoisses et limites du sujet
Point de référence, l’angoisse existe comme une boussole qui oriente la vie de
l’adolescent dans ses consommations de divers produits, principalement le cannabis. Pour se construire, il explore les limites de son moi, pourrait-on dire. En
d’autres termes, il part à l’aventure, cherchant les limites réelles et symboliques
de ce qui le constitue en tant que sujet. Tout adolescent passe, bruyamment ou
non, par ce type de défilé qui va le conduire à une meilleure connaissance de
ses fonctionnements psychiques et de ses possibilités relationnelles.
Traversant une période de découverte de son corps, il cherche en lui ses
coordonnées subjectives dans son lien aux autres, et au travers de ses nouvelles
modalités de jouissance. Ce versant exploratoire voire initiatique de l’adolescent
fait partie intégrante de son chemin sur la voie de la subjectivation. Il teste ses
nouvelles possibilités tant intellectuelles que sensorielles et perceptives et sexuelles bien sûr.
Les portes de la perception
Au-delà des effets attendus, il persiste une part d’incommunicable, pourtant au
cœur de l’expérience sensorielle et perceptive. « Le haschich induit une régression
vers un narcissisme primaire où la perception, mise au service de l’inconscient,
sert d’emblée à satisfaire un désir à la limite de l’indicible » (SAMI- ALI, 1971).
C’est surtout l’illusion de toute puissance narcissique qui donne au sujet un
sentiment de maîtrise. Dans ces séances sous cannabis, Clément avait l’illusion
d’une ouverture totale de sa personnalité. Il ressentait une impression de toute
puissance des idées qui le faisait saisir, sur l’instant, une vue d’ensemble de ses
difficultés subjectives. Une dimension onirique se manifeste non pas sur le plan
verbal, mais plutôt sensoriel. Il éprouve des sensations inédites parfois limites,
aux portes de la perception pour reprendre le titre d’Aldous Huxley, qui pour sa
part évoquait ses expériences sous Mescaline. Un extrait d’un poème de William
Blake est en exergue du livre d’Aldous Huxley, « Doors of perception », en français « Les portes de la perception » (HUXLEY, 1954/2001).
Dans cet ouvrage, l’auteur relate avec des détails d’une grande précision les
déformations sensorielles et esthétiques de ses expériences de prise de Mescaline,
puissant produit de synthèse tiré de champignons à effets hallucinogènes. C’est un
des textes les mieux écrits sur les effets de la prise de substance hallucinogène :
« If the doors of perception were cleansed every thing
Would appear to man as it is, infinite.
For man has closed himself up, till he sees all things
Thro’narrow chinks of his cavern. » (BLAKE, 1794/1988)
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« Si les portes de la perception étaient purifiées toutes les choses
Apparaîtraient à l’homme telles qu’elles sont, infinies.
Car l’homme s’est enfermé, jusqu’à voir toutes choses
Au travers des étroites fentes de sa caverne. »
L’homme qui s’enferme dans sa caverne n’est-il pas à l’image de chacun qui
se contente de rester au milieu de son espace propre et n’explore pas ses capacités
tant psychiques que sensorielles ou relationnelles ? Mais le champ des possibles
de chaque sujet n’est pas infini (LAURU, 2003). Cependant, les psychanalystes
l’expérimentent au quotidien; chaque sujet est inscrit dans une structure particulière, déterminé par son histoire personnelle, celle de sa famille, qui lui
propose une palette de signifiants. Chaque sujet s’en est choisi inconsciemment
un certain nombre qu’il s’approprie et qui fonctionne à l’intérieur de la structure.
Au-delà de la poésie, il s’agit bien du registre perceptif qui entretiendrait une
présence, un écran nous empêchant de prendre la dimension réelle de notre
monde environnant. N’est-ce pas l’imaginaire qui est ici nommé ? Le seuil de
l’imaginaire est la porte, avec une vision péjorative de cet interface entre l’homme
et le réel. Car il faudrait aller « de l’autre côté » pour apercevoir enfin le réel.
C’est pourtant la dimension imaginaire qui donne à l’homme son humanité et
sa nature désirante.
Les fumeurs de cannabis, à l’instar de Clément, éprouvent régulièrement
des sensations particulières, des sensorialités diffractées, des couleurs jamais
perçues avec une telle intensité, ou des musiques. Dans un air connu de l’inouï
est entendu, du jamais perçu jusque-là. Le toucher fait révéler des sensations
jamais encore perçues. C’est pourquoi Clément, comme nombre de fumeurs,
expérimentent des relations sexuelles en fumant, ce qui est censé aiguiser les
sensorialités entrant en jeu dans les échanges amoureux et sexuels, attiser le
désir, et aiguiser le plaisir.
Retour du déplaisir
Mais comme dans d’autres circonstances, il rencontre deux occurrences négatives : d’une part, la survenue d’épisode d’angoisse qui interrompt tout ébat
amoureux et d’autre part, la répétition de l’usage du cannabis émousse, amoindrit
son effet. Il se produit une régression sensorielle vers des niveaux primitifs, très
aigus des sensations. La distorsion du cadre spatio-temporel ne fait qu’accroître
les modifications des perceptions sensorielles, du corps propre du sujet et de
l’environnement.
Comment se laisser aller vers des niveaux de désorganisation sensoriels et
temporo-spatiauxqui risquent de mettre en péril l’équilibre de la structure du
sujet? Même si cette régression est voulue, avec l’inhalation du cannabis, comment
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ne pas percevoir la menace sur la cohérence des coordonnées subjectives? C’est
ce que Clément a compris au bout d’un certain nombre d’années d’intoxication
quand l’angoisse ne faisait que prédominer sur tous les possibles avantages ou
régressions apportées jusque-là. C’est une évanescence du sujet qui, bien que
recherchée quand elle s’accompagne d’une douce euphorie, devient insupportable
lorsque l’angoisse ou la panique domine, quand le sujet est au bord de lui-même,
à la limite du sujet.
La coordination perceptive se défait, parallèlement à une désorganisation de
l’activité mentale en général. Celle-ci amène conduit vers un fonctionnement en
processus primaire, vers une émergence d ‘angoisses archaïques qui saisissent le
sujet au point le plus vif de sa structure. Les perceptions sont dominées par des
activités inconscientes, qui à l’instar du rêve tendent vers la réalisation symbolique du désir, en y associant une levée au moins partielle des inhibitions. Les
états de somnolence ou de confusion passagère donnent au fumeur, dans un
après-coup, des souvenirs s’apparentant à ceux du rêve.
Dépersonnalisation
La prise de cannabis comporte des effets paradoxaux : comment un produit qui
procure régulièrement une douce euphorie, du plaisir et de l’insouciance, peut-il
entraîner, sans que cela puisse se prévoir, des angoisses qui atteignent une telle
intensité qu’elles sont de pures angoisses de mort. À l’issue de plusieurs années
de consommation importante, Clément s’est résolu, bien malgré lui, à arrêter
complètement toute prise de cannabis pour des raisons très claires : chaque fois
des angoisses « impensables » l’assaillaient avec des idées terrifiantes de sensations
de mort imminente. Mais le plus inquiétant pour Clément est l’impression de
dépersonnalisation, sentiment teint d’une étrangeté angoissante où les limites de
soi sont atteintes, jouxtant la frontière avec le bizarre et l’inconnu. Baudelaire,
pour sa part, avait remarqué qu’à forte dose « la personnalité disparaît, […] les
objets prennent des apparences monstrueuses. »
Comment continuer à se sentir exister quand ses propres coordonnées
subjectives s’estompent, s’effacent presque. Ces sentiments de néantisation, de
disparition subjective, font naître des angoisses majeures avec des impulsions
au passage à l’acte, en particulier suicidaire. Si la structure du sujet est plus
limite, les mécanismes obsessionnels ne pourront suffire à masquer les failles
symboliques. Ainsi émergent des angoisses de mort d’une telle intensité, qu’elles
paralysent toute pensée, provoquant une véritable panique avec des réactions
de fuite. Ce syndrome carrefour qu’est la dépersonnalisation est régulièrement
décrit dans les psychoses cannabiques, qui sont en fait des épisodes, moments de
folie transitoire. Néanmoins ils représentent une voie d’entrée possible dans le
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déclenchement d’une psychose. Mais ce qui se profile aussi chez Clément comme
chez certains adolescents, c’est l’évolution vers un tableau clinique de sujet en
état limite. D’autant que les oscillations transférentielles et certains passages à
l’acte allaient aussi dans ce sens.
À la limite du sujet
J’en suis venu à envisager la dépersonnalisation de Clément comme
l’aboutissement de sa quête, au cœur de sa subjectivité. Il avait atteint des limites
que peu d’adolescents auraient osé franchir. Étant presque passé de l’autre côté
du miroir où il est constitué comme sujet, il avait ainsi approché très près de
ses propres limites psychiques, ce qu’il recherchait. Mais aussi des limites de ce
qui le constitue, c’est-à-dire son désir. Le cannabis l’a aidé un temps à explorer
toutes les facettes de sa subjectivité, mais pour finir par ne lui renvoyer que ce
qu’il a de plus noir en lui, vers les rives du mortifère.
Le cannabis lui aura servi de support pour explorer ses limites et se connaître.
Il lui aura servi de révélateur à la vérité de ce qu’il est, et qu’il ne pouvait savoir
auparavant : un être souffrant et désirant. Après un certain temps où la cure se
poursuit, en remontant dans les méandres et les aléas de son histoire subjective
et familiale, en tentant dans le transfert, de s’approprier les signifiants qui le
structurent. Cependant des phases dépressives l’amènent à mettre cette plainte
au premier plan dans ses séances. Il s’auto médique à nouveau mais cette fois
avec de l’alcool qu’il utilise sans modération. Des ivresses pathologiques se succèdent. Souvent il ne se souvient plus de rien le lendemain. Des passages à l’acte
commencent à apparaître, et il se met dans des situations à risque, à la limite,
toujours à la limite. Il commence dans cette phase à consommer un produit
qu’il connaissait pour l’avoir utilisé occasionnellement auparavant, la cocaïne.
Freud avait expérimenté ce produit et a écrit un texte peu connu à ce sujet :
De la cocaïne, (FREUD, 1885/1976) en 1885. Ce texte un de ses premiers écrits
scientifiques, il offre en premier lieu un matériel abondant sur son usage en
Amérique du Sud, et sur l’effet que cela produit sur les hommes. Il fait bien
sûr allusion au propriétés anesthésiantes du produit. Surtout il se montre très
favorable à l’usage de la cocaïne, et se montre même très enthousiaste. Il décrit
les effets qu’il a relevés sur lui-même. Avec des mots choisis et une distance un
scientifique, il ne dit pas autre chose que ce que les patients nous relatent.
« On a l’impression d’être débarrassé du besoin de manger et de dormir »
Mais aux doses où Freud les a expérimenté, sur lui et sur quelques proches, il
ne décrit pas de symptômes particuliers après la prise de cocaïne. « L’euphorie
éveillée par la coca n’est suivie par aucun état de lassitude, par aucun type de
dépression ». Les patients et celui dont parle aussi décrivent des « descentes »
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difficiles, qui sont liées sans doute pour une part aux doses importantes qu’il
prennent ou aussi aux autres toxiques contenus dans ce qu’il achètent : en particulier substances amphétaminiques. Peu après la publication de cet article il
parle devant la société psychiatrique de Vienne, montre à ses collègues l’intérêt
de l’administration de cocaïne par voie interne et surtout la capacité de ce produit
de provoquer un sentiment général de bien être.
Après avoir parlé de ses propres recherches, il réclame l’expérimentation de
ce produit dans des états psychiatriques suivant faiblesse nerveuse ou dépression
sans lésion organiques. Il précise que l’efficacité reste à démontrer. Il est plus
optimiste sur l’action de la cocaïne dans les désintoxication de la morphine ce
qu’il avait expérimenté sur un cas. Mais pour ce qui est du sujet sain, il parle
principalement de lui, « On a l’impression de d’avoir atteint le maximum de
vigueur mentale et physique. On se sent en pleine euphorie, mais cet état se
distingue de celui de l’alcool, car il ne diffère nullement de l’état dans lequel
on se sent habituellement ».
Il évoque la dimension aphrodisiaque de la cocaïne. Mais surtout dans sa
correspondance à sa fiancée Martha, (FREUD, 2004) il en devient cocasse. Il ne
l’a pas vu depuis longtemps et le moment de la rencontre approche :
« Prends garde ma princesse, Quand je viendrai, je t’embrasserai à t’en rendre
toute rouge et je te gaverai jusqu’à ce que tu deviennes toute dodue. Tu verras qui
des deux est le plus fort : la douce petite fille qui ne mange pas suffisamment ou le
grand monsieur fougueux qui a de la cocaïne dans le corps. Lors de ma dernière
grave crise de dépression, j’ai repris de la coca, et une faible dose m’a magnifiquement remonté. »
Puis il ajoute, sans doute en pleine exaltation : « Je m’occupe actuellement
de rassembler tout ce qui a été écrit sur cette substance magique afin d’écrire
un poème à sa gloire. » A ma connaissance il ne l’a pas publié. Freud est peu
revenu sur la cocaïne au cours de son œuvre. Il évoque parfois les stupéfiants
qu’il nomme « des briseurs de soucis ». Il écrit à Lou-Andréa Salomé :
« L’intoxication à la cocaïne, par elle même, et donc l’abstinence également conduisent à l’apparition d’une maladie paranoïaque. (…) La rapidité du rétablissement
après administration de la cocaïne est très en faveur de cette conception et à la
décharge de l’analyse. Cette dernière est, du reste peu appropriée au traitement des
intoxications, car tout mouvement de résistance se termine en rechute. » (FREUD
& SALOME, 1978)
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Cette vision pessimiste de Freud se base sur sa pratique non seulement ancienne avec la cocaïne mais aussi avec ses patients en analyse. Cependant, il est
évident que nous ne pouvons récuser des demandes d’analyse chez des sujets
drogués. Car dans ce cas la relation analytique est le lieu où peut se décomposer le
stéréotype de la drogue, tandis que des doutes, des questions et surtout des dires
nouveaux ouvrent une autre place possible au sujet. Ici intervient la position de
l’analyste, et comment il se situe dans son désir pour le patient : veut il le guérir
ou qu’il soit abstinent ? Mais chacun sait l’impasse thérapeutique d’une telle
position. C’est justement l’abstinence de la position de l’analyste, qui opère avant
celle (éventuelle) du patient. La position de l’analyste rend possible l’émergence
d’un espace de parole, et évite l’écueil de devenir un rival de la drogue. D’autant
que c’est dans un travail de tressage de la jouissance avec son propre interdit,
qu’un décentrement subjectif puisse potentiellement s’opérer. Mais le toxique est
dans le corps de l’analysant, il fait corps avec lui, il lui procure un bien être que
tout analyste ne saurait lui offrir. Autrement dit la substance est un équivalent
de son corps propre, mais lui amène un lot de jouissance immédiate, loin de
l’abstinence de la cure analytique.
La cocaïne contrairement aux idées reçues entraine une forte dépendance ce
dont Freud s’est aperçu à ses dépends. Il y avait même vu une forme de produit
de substitution pour se défaire de la dépendance à la morphine. Pour revenir à
Clément, il a continué pendant la cure analytique a prendre des doses de plus
en plus importantes. Jusqu’à 5 grammes et au delà par jour. Ce qui est incarne
une mise en acte de sa destructivité inquiétante où l’analyste est interpellé dans
sa neutralité. L’angoisse atteignant des dimensions paroxystiques telles qu’il
augmentait sa consommation de façon très inquiétante. Il décrivait aussi des
« descentes», douloureuses et paniquantes, qu’il tentait de palier en abusant
d’alcool. Mais à ce stade le transfert se dispersait, il s’absentait de plus en plus à
ses séances. Rien de l’intéressait plus sauf son produit. Son entourage s’inquiétant,
lui proposa une hospitalisation pour tenter un sevrage. Celui-ci pu s’effectuer
avec un cocktail médicamenteux impressionnant.
Mais le plus important, semble être la reprise de la cure quelques semaines,
qui se construit alors sur de nouvelles bases, car il se sent exister ressentir le
vide de son existence mais sans être submergé par l’angoisse, sans se sentir « à
côté de lui même ». Il se dit plus serein, et exprime une demande renouvelée
de continuer le travail. J’accepte non sans quelques questions que je me pose et
surtout une énonciation nette de la remise en place du cadre de la cure. Il évoque
alors les insatisfactions de sa vie affective et sexuelle, et se plaint come un névrosé
je dirais. Après avoir été jusqu’aux limites de sa psyché, jusqu’aux limites de son
corps, le voilà enfin rassemblé reprenant un discours et des plaintes de névrosé.
Mais cette constatation s’observe dans nombre d’états limites.
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Aurait-il pu arriver à cette conclusion sans l’aide du cannabis, de l’alcool et
de la cocaïne ? C’est probable, mais il en est ainsi, c’est la voie qu’il a trouvée.
Ce long détour qu’il a emprunté avec le soutien ou le handicap des différents
toxiques, lui a permis de se trouver, de se révéler à lui-même, à la limite de
sa position de sujet, dans un état du synthome (LACAN, 2005) qui puisse lui
convenir, bref dans un sujet en état limite.
Recebido em 16/1/2014. Aprovado em 7/2/2014.
Références
BAUDELAIRE, C. (1851/2000) « Du vin et du hachisch », in Les paradis
artificiels. Paris : Le Livre de poche.
BLAKE, W. (1794/1988) Selected poetry. London : Penguin.
FREUD S. (1885/1976) De la cocaïne. Bruxelles: Edition Complexe.
. (1905/1969) Le mot d’esprit dans son rapport à l’inconscient. Paris :
Gallimard.
. SALOME, L-A (1/6/1916-1978) Correspondance. Paris : Gallimard.
FREUD S. Correspondance. Pris : Gallimard, 2004 (Lettre du 2 juin 1884).
HUXLEY, A. (1954/2001) Les portes de la perception. Paris : Édition du Rocher.
LACAN, J. (2005) Le synthome, Le Séminaire, Livre XXIII. Paris : Seuil
LAURU, D. (2003) Jim Morrison, L’état limite du héros. Paris : Bayard.
. (2004) La folie adolescente, psychanalyse d’un âge en crise. Paris : Denoël.
SAMI-ALI, M. (1971) Le haschisch en Égypte, essai d’anthropologie psychanalytique.
Paris : Gallimard (coll. Connaissance de l’inconscient), p.168.
. M. Marty, F. Lauru, D. (2004) Cannabis et adolescence,
Psycho média, n.1.
Didier Lauru
[email protected]
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Drogas, performance e psiquiatrização
na contemporaneidade
Joel Birman
Joel Birman
Psicanalista,
membro do
Espaço Brasileiro
de Estudos
Psicanalíticos e do
Espace Analytique;
professor titular
do Instituto de
Psicologia da UFRJ;
professor adjunto
do Instituto de
Medicina Social
da Uerj; diretor
de Estudos em
Letras e Ciências
Humanas,
Universidade Paris
VII; pesquisador
associado do
laboratório
Psicanálise,
Medicina e
Sociedade,
Universidade
Paris VII.
Resumo: Pretende-se estabelecer as relações existentes entre o uso
de drogas na atualidade e o imperativo da performance estabelecido
socialmente, indicando que isso ocorre tanto com as drogas ilícitas
quanto com as lícitas.
Palavras-chave: Drogas, performance, psiquiatrização.
Abstract: Drugs, performance and psychiatrization in the
contemporary world. The aiming of this paper is to establish the
relationships between the use of drugs today and the performance
in the social space, as well as showing that this process is reached
through legal and illegal drugs.
Keywords: Drugs, performance, psychiatrization.
I. Preâmbulo
A intenção primordial deste ensaio é a de estabelecer as relações
existentes entre a utilização regular de drogas e a produção da
performance na contemporaneidade, pelos indivíduos. É preciso dizer, antes de mais nada, que estas relações são múltiplas, de
maneira a modularem formas de subjetivação (FOUCAULT, 1976)
específicas, que é preciso colocar devidamente em evidência.
Contudo, é preciso dizer ainda, de forma preliminar, que
por drogas não é compreendido aqui apenas aquelas ditas ilegais, que estão na base da produção e do desenvolvimento do
narcotráfico, mas também as drogas ditas medicinais, prescritas como medicamentos, com a finalidade de regulação de
diferentes paixões e de diversas perturbações psíquicas. Isso
porque, se a ênfase colocada nas drogas ilegais já deu margem
para múltiplas publicações, a inscrição dos psicofármacos no
campo das drogas propriamente ditas, em contrapartida, não
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foi objeto de reflexão e de pesquisa como deveria. No que concerne a isso, as
publicações são escassas, para não dizer inexistentes.
Ao enunciar tal pretensão, portanto, o tema deste ensaio se alarga bastante,
pois o que estará em pauta não é apenas o binômio estabelecido entre os registros
da droga e da performance, mas o trinômio tecido nas relações entre a droga, a
performance e a medicalização da existência hoje. Além disso, é preciso enfatizar que uma das vias privilegiadas desta medicalização na atualidade se realiza pela
mediação da psiquiatria. Com efeito, foi pela trilha da psiquiatrização da existência
dos indivíduos, no Ocidente, que estas relações se estabeleceram, de maneira que
a construção e a expansão do código de classificação de transtornos psíquicos
(DSM), da Associação Americana de Psiquiatria, é o signo mais eloquente deste
processo abrangente.
Enfim, o que se impõe neste ensaio é a construção de uma problemática
(FOUCAULT, 1984, p.350-370; DELEUZE & GUATTARI, 1980) específica, pela
conjunção entre os diferentes registros da droga, da performance e psiquiatrização, pela qual se pretende enfatizar a produção de formas de subjetivação dos
indivíduos na atualidade.
II. Drogas e gramáticas
Assim, não existe qualquer dúvida de que nas últimas décadas, no Ocidente,
ocorreu não apenas um incremento ostensivo do uso de drogas ilegais, como
a emergência e a oferta de novas modalidades de drogas aumentaram decisivamente na atualidade. No que se refere a isso, são as drogas sintéticas as que
mais se disseminam e ganham a preferência dos usuários, pois são mais baratas
e facilitam o seu consumo em diferentes segmentos sociais das populações.
Além disso, é preciso evocar ainda que a articulação estabelecida inicialmente entre o consumo de drogas e a experiência da compulsão nos indivíduos,
como se esta fosse a condição concreta de possibilidade para a sustentação e o
desenvolvimento da adição, se ampliou e se disseminou de maneira vertiginosa.
O que se passou a formular nos últimos anos, é que a compulsão e a adição não
se restringem mais ao campo das drogas, mas se disseminou para outros objetos,
de forma que estas passaram a serem consideradas no seu uso como práticas
compulsivas. Foi o que ocorreu não apenas com o álcool e o cigarro, mas com
a comida, o computador, a internet, etc. (BIRMAN, 2012).
No que tange à relação estabelecida entre a compulsão e as adições é preciso
considerar devidamente que, numa leitura psicanalítica, a compulsão é a tentativa
desesperada realizada pelo sujeito para se desembaraçar e assim elaborar uma
experiência da ordem do trauma. Portanto, seria uma experiência traumática o que
estaria efetivamente subjacente no sujeito impelido às compulsões, de forma que
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a compulsão à repetição, descrita por Freud em Além do princípio do prazer (FREUD,
1920/1981), estaria na base desta experiência psíquica (BIRMAN, 2012).
No entanto, é preciso enunciar ainda que ocorreu uma transformação significativa no estilo (BIRMAN, 1996) de utilização de drogas no Ocidente, desde os
anos 1980 e 90. Assim, nos anos 1950, 60 e 70, a utilização de drogas se inscrevia efetivamente num projeto existencial, ético e político de transformação do
mundo. Assim, pela utilização de drogas os usuários buscavam a abertura das
portas da percepção, isto é, a assunção de novos limiares sensoriais, para parodiar
Huxley (1960), com vistas à transformação concreta do mundo. Portanto, neste
contexto, o uso de drogas visava a antecipação de novos mundos possíveis, que
seriam então freneticamente ritualizados pela experiência das drogas (BIRMAN,
1999, p.231-246).
Esta modalidade específica de uso de drogas retomava uma matriz constituída na primeira metade do século XIX (BIRMAN, 1999, p.231-246) no qual os
poetas, os pintores e os artistas em geral se valiam das drogas para delinearem
novos mundos, pela abertura de novos limiares sensoriais para a ocorrência da
percepção. Seria em decorrência da abertura de outros mundos possíveis que a
escrita poderia ser relançada em novos patamares, bem como a construção de
outros espaços pictóricos, de forma que a modelagem desta matriz existencial se
constituiu na tradição do romantismo, e Baudelaire foi um exemplo eloquente
disso na história do imaginário literário, no Ocidente (BAUDELAIRE, 1966).
Contudo, nos anos 1950, 60 e 70, as aspirações de novos mundos possíveis
não se restringiram apenas aos registros da literatura, da pintura e do teatro,
mas se deslocaram para o mundo da música popular e da prática política, de
maneira decisiva. Assim, não existiria mais então qualquer diferença entre as
posições da arte, da vida, do sonho e da política, de forma que as manifestações
sociais de maio de 1968, iniciadas em Paris e que se disseminaram em seguida
pelo mundo, foram a ritualização coletiva mais eloquente desta experiência
fundamental na recente tradição do Ocidente.
Porém, desde os anos 1980 e 90, ocorreu uma transformação radical na
gramática do uso de drogas, pois estas passaram a ser utilizadas sem qualquer
inscrição num projeto utópico de forjar outros mundos possíveis e se reduziram, assim, na sua abrangência existencial. Desde então o que passou a ficar em
pauta para o sujeito seria o de suportar as agruras do mundo presente, por um
lado, e o de incrementar a performance do sujeito nas demandas existentes na
atualidade. Enfim, constituiu-se uma nova gramática na utilização de drogas,
que se opunha nos menores detalhes da gramática existente no Ocidente, desde
a primeira metade do século XIX (BIRMAN, 1999, p.247-266).
Se na gramática anterior de utilização de drogas pelo sujeito o que estava
em pauta na sua utopia era a pretensão de encantamento do mundo, o que paságora (Rio de Janeiro) v. XVII número especial agosto de 2014 23-37
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sou a ficar em pauta desde os anos 1980 e 90 foi o desencantamento do mundo
(BIRMAN, 1999, p.231-246). Portanto, no mundo habitado pela figura de
“Dioní­sio desencantado”, o que está em pauta é o imperativo da performance e
é isso o que delineia a nova gramática da utilização de drogas no Ocidente. Em
decorrência disso, outras modalidades de subjetivação foram engendradas, para
modelarem o imperativo crucial da performance pelo sujeito.
III. Performance, atividade e domínio
É evidente que, do ponto de vista psicanalítico, esta promoção permanente da
performance se funda, na metapsicologia, naquilo que Freud, desde os Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade, denominou de pulsão de domínio (FREUD, 1905/1962,
p.54-66). Nesta, o sujeito buscaria não apenas controlar o objeto em busca de
realizar a experiência da satisfação, sem considerar nunca o que isso possa implicar de inquietação para o outro, em termos de dor e de sofrimento, mas quer
impor o seu poder sobre este de forma cruel. É o sadismo, portanto, que está
aqui em pauta de maneira crua, no poder que o sujeito quer exercer ativamente
sobre o outro.
Ao lado disso, a dita performance do sujeito se fundaria numa atividade permanente e insistente do sujeito, como se qualquer posição de passividade face ao
outro e ao mundo fosse uma marca eminentemente negativa, e devesse então
ser afastada, custe o que custar. Nesta atividade ininterrupta do sujeito o que se
enuncia efetivamente em ato é o privilégio absoluto assumido pelo gozo fálico na
atualidade, de maneira que qualquer marca de passividade no sujeito colocaria
em evidência uma feminilidade inaceitável e que por isso mesmo deveria ser eminentemente repudiada por aquele, pelo relançamento permanente da afirmação
fálica e sem trégua.
É preciso sublinhar ainda que, nesta articulação estabelecida entre os registros
da pulsão de domínio, do sadismo, da atividade e do gozo fálico, o que está em
pauta é a afirmação permanente da masculinidade, transformado que foi este signo
em bem supremo hoje face a uma feminilidade a ser sempre repudiada pelo sujeito.
O que implica dizer que a virilidade como valor moral está em alta na contemporaneidade, tanto entre os homens quanto entre as mulheres.
No que tange esta indistinção de gêneros, no que concerne à virilidade performática, a disseminação da violência e da crueldade é um dos efeitos mais eloquentes
desta modalidade de subjetivação. De fato, se a violência e a crueldade se incrementam hoje de maneira evidente, como atestam as pesquisas sociológicas
em nível internacional, isso se deve à ênfase assumida pela virilidade e pela
performance nas formas de subjetivação no mundo contemporâneo (BIRMAN,
2009, p.25-40; 2012).
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Drogas, performance e psiquiatrização na contemporaneidade
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É esta forma de subjetivação, que se construiu e se faz então patente na cultura
da performance, que se espraia agora, se evidenciando na nova gramática de
uso de drogas ilícitas. Porém, esta questão não se restringe a esta modalidade do
uso de drogas, mas se faz igualmente presente no campo das drogas prescritas
pela medicina.
IV. Inflação dos psicotrópicos
Entretanto, não se sublinhou devidamente que este incremento na utilização de
drogas ilícitas no Ocidente — que foi o corolário para a constituição de outra
gramática na utilização de drogas e para a construção de novas modalidades
de subjetivação — foi acompanhado de perto pela transformação na utilização
de drogas prescritas pela psiquiatria, com finalidade terapêutica. Decerto, a
revolução no campo da psicofarmacologia está na base desta disseminação das
drogas ditas ‘medicinais’.
Assim, se nas últimas décadas o tráfico das drogas ilícitas cresceu enormemente no mundo, não existindo qualquer dúvida em relação a isso, a comercialização e a utilização de psicotrópicos atingiram igualmente um crescimento
exponencial, de forma que este se transformou em uma das novas mercadorias
mais valorizadas no mundo contemporâneo. Se a economia do narcotráfico se
multiplicou e adquiriu ganhos incalculáveis, a indústria farmacêutica expandiu
bastante os seus lucros, e a acumulação de riqueza por ela possibilitada se empreendeu de maneira exponencial (JACOBSEN, 2013, p.298-322).
Porém, se a primeira expansão de drogas é o foco insistente da crítica da
mídia em escala internacional e está no centro da política de Estado dos países
hegemônicos, em contrapartida, não se fala quase nada desta segunda expansão,
de forma significativa. Assim, este silêncio eloquente sobre esta segunda expansão
maciça de drogas se justificaria então pelas finalidades terapêuticas que regulariam o seu uso, tendo, pois, uma legitimidade efetiva, pois estas se voltariam
para a promoção do bem e não do mal nas populações, contrariamente às drogas
ilícitas. Tudo se passa então como se isso não colocasse problema e não fosse
em si mesmo um problema, mas um serviço para a expansão da saúde e do
bem-estar, promovendo então a melhoria ostensiva das perturbações psíquicas
nas populações.
Além disso, não se falou que a expansão e a disseminação efetiva do narcotráfico, em escala internacional, tiveram como uma das suas condições concretas de
possibilidade a construção e a banalização de dispositivos tecnológicos oriundos
do discurso da ciência, promovidos que foram pela farmacologia em geral e a
psicofarmacologia em particular. Assim, graças às possibilidades entreabertas por
tais dispositivos tecnológicos, foi possível a instalação de laboratórios químicos
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de produção de drogas ilícitas em regiões inóspitas, como a Floresta Amazônica
e o Afeganistão, por um lado, e promover novas misturas que incrementaram
fartamente o ganho econômico dos narcotraficantes, pelo outro. Da mesma
forma, a produção de novas drogas sintéticas não teria sido possível sem a incorporação ativa pelo narcotráfico dos novos dispositivos tecnológicos promovidos
pelo discurso da ciência (BIRMAN, 1999, p.247-266).
Entretanto, pela produção dos processos de subjetivação que foram assim
promovidos, pelo uso legal dos psicofármacos, é preciso destacar ainda que se
produziu uma diminuição ostensiva nos sujeitos dos limiares de dor e de angústia, de maneira que hoje o nosso limiar para suportar tais paixões diminuiu
vertiginosamente, como efeito direto da regulação destas pelos psicofármacos
(BIRMAN, 2012).
Portanto, é o imperativo insofismável de psiquiatrização da existência humana, nos seus menores detalhes, o que está em pauta aqui de maneira eloquente,
de fato e de direito, nesta expansão da performance, que tem como contraponto
a regulação ostensiva das experiências da dor e da angústia. Seria isso, enfim,
o que estaria de fato em pauta como o que legitima e cauciona a inflação do
consumo de psicotrópicos pelos indivíduos hoje.
V. Desconstrução do espaço público e inflação da intimidade
Porém, para complexificar ainda mais a leitura aqui proposta, é preciso enfatizar
que a diminuição dos limiares subjetivos para a dor e a angústia, como corolários para o imperativo da performance do sujeito, se inscreve num novo mundo
de horizontes sociais que devem ser colocados devidamente em evidência. Os
discursos das ciências sociais procuraram teorizar sobre isso, ao destacar, nas
coordenadas constitutivas do espaço social, que uma inflexão decisiva se realizou
nas últimas décadas, qual seja: a desconstrução progressiva do espaço público e a expansão
correlata do espaço privado. Se, por esta inflexão, a intimidade na existência dos sujeitos
foi incrementada de maneira eloquente a expensas de suas inscrições no espaço
público, como ocorria na modernidade, o narcisismo como marca fundamental
nas formas de subjetivação foi o seu desdobramento efetivo e inevitável.
Assim, numa obra que foi publicada em 1976, Sennett deu o tom inicial que
marcou este grande debate. Já em O declínio do homem público, com efeito, Sennett
(1980) formulou como o campo do espaço público foi se esvaziando pouco a
pouco e teve como contraponto a inflação do espaço privado na existência dos
indivíduos. A contrapartida disso foi o incremento ostensivo das “tiranias da
intimidade” — que é, aliás, o subtítulo da obra em questão. Dessa maneira, o
espaço social constituído progressivamente desde a aurora da modernidade, no
final do século XVIII, e que foi ainda enfatizado nas suas coordenadas fundamenágora (Rio de Janeiro) v. XVII número especial agosto de 2014 23-37
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tais na modernidade avançada — centrado na importância conferida no espaço
público e à figura do cidadão —, começou a ser descontruído, invertendo as
suas linhas de força fundamentais, pois seria pela ênfase nos registros do espaço
privado e da intimidade que o espaço social estaria sendo reconfigurado hoje,
de maneira decisiva (SENNETT, 1980).
Em outra obra, publicada em 1979, Lasch (2006) destacou como o movimento
das linhas de força em direção ao espaço privado e à intimidade foi constitutivo
do que denominou de cultura do narcisismo, que é, aliás, o título do seu livro. De
fato, nesta inflexão em direção aos registros do privado e do íntimo, as formas
de subjetivação foram decididamente reconfigurados, marcadas que seriam pelo
narcisismo.
Em 1998, Sennett retomou este debate por outro ângulo de análise, mas que
seria complementar ao que delineara na obra inicial, pois se voltou agora para
as novas condições do campo do trabalho na atualidade. Enunciou assim, que
estas novas coordenadas instituídas no mercado de trabalho no novo capitalismo
— caracterizado que foi pela desconstrução do espaço público e a expansão do
espaço privado na existência dos indivíduos —, teria promovido ostensivamente
a corrosão do caráter dos trabalhadores (SENNETT, 1999), na medida em que estes
perderiam as linhas de força básicas de sua constituição simbólica e ficariam à
deriva nas oscilações existentes nesse mesmo mercado (idem). Em decorrência
disso, as categorias do espaço e do tempo, que seriam constitutivas do sujeito, não
funcionariam da mesma maneira na modernidade e na pós-modernidade. Enfim,
seria justamente por isso que seria promovida a dita desconstrução do caráter
nos indivíduos na atualidade.
Foi ainda no início deste contexto histórico, em 1967, que Debord enunciara
que o que caracterizava a modernidade avançada seria a constituição da sociedade
do espetáculo, na qual os registros do ser e do parecer deixariam de ser opostos e
diferenciados, pois estariam sempre misturados nos simulacros que forjariam as
subjetividades. Com efeito, a cena social estaria sendo transformada numa cena
teatral, tendo suas coordenadas orientadas pelo imperativo da performance e
pela disseminação de simulacros que as modelariam.
Em Sociedade de risco, obra publicada em 1986, Beck formulou como o espaço
social na atualidade seria marcado pelo imperativo do risco, que incidiria ao mesmo tempo nas subjetividades e nos laços sociais, de forma a relançar em outras
bases as linhas de força estabelecidas na aurora da modernidade e na modernidade
avançada (BECK, 1986/2010). Estaríamos constituindo assim outra modernidade,
na qual o imperativo do risco estaria então permanentemente presente.
Em 1983, o sociólogo francês Robert Castel formulara que, no espaço social
contemporâneo, o que estaria sempre em pauta era a gestão dos riscos — aliás, o
título de sua obra (CASTEL, 1983). Pode-se daí depreender como a leitura de
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Beck sobre o espaço social na atualidade se conjuga intimamente com o que foi
formulado um pouco antes por Castel, mas no mesmo contexto histórico. Enfim,
seria sempre o risco o que estaria em pauta desde então.
Pode-se dizer assim que, se a iminência do risco marca as subjetividades em
nossos tempos, isso se deve ao imperativo da performance que se impõe aos
indivíduos no espaço social. Existiria então um risco permanente no imperativo da performance, fundado na desconstrução do espaço público e na inflação
correlata do espaço privado, de forma que a tirania promovida na intimidade se
desdobraria na cultura do narcisismo, o que promoveria a corrosão do caráter
do sujeito.
VI. Neoliberalismo e mal-estar
Estas transformações sociológicas acima destacadas, que marcaram as descontinuidades existentes entre o espaço social na modernidade e na pós-modernidade,
em torno de certas dimensões fundamentais — dentre as quais a desconstrução
do espaço público e a expansão do espaço privado —, conduziram à performance e à sociedade do espetáculo, por um lado, e à emergência da sociedade
de risco, pelo outro. Elas remetem aos novos limiares do processo de globalização
da economia internacional e à constituição do neoliberalismo. Contudo, é importante
destacar que este não é apenas uma modalidade de gestão da economia, mas que
implica igualmente uma dimensão fundamental no campo da política (BORDIEU, 2000), que se evidencia pela construção do Estado neoliberal (BORDIEU,
1989-1992/2012; WACQUANT, 2009).
Desta maneira, o Estado neoliberal foi a contrapartida do Estado de bem-estar social
estabelecido no Pós-Guerra, no qual o Estado realizava a mediação no espaço social
e no campo da economia, no que tange à produção e à circulação de riquezas.
Porém, desde o final dos anos 1970 a proposição do Estado mínimo se impôs ao
Estado do bem-estar social, deixando à economia toda a liberdade para a sua
expansão, que passou então a comandar o funcionamento efetivo dos diferentes
Estados-nação. Estes perderam então o poder de realizar decisões fundamentais
no que tange às suas populações, ficando à mercê de decisões tomadas alhures
pelas empresas transnacionais. Vale dizer, com a constituição do Estado mínimo
o poder soberano dos diversos Estados foram restringidos, em nome do poder
assumido pela economia e pelo mercado. Com isso, enfim, a política foi esvaziada
em nome da gestão e a governança passou a regular assim as práticas do Estado
neoliberal.
É nesta perspectiva que se pode dizer que na pós-modernidade a sociedade, tal
como foi concebida na aurora da modernidade e que tinha na figura do cidadão
e na soberania popular as suas marcas fundamentais, entrou em processo ostensivo
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de desconstrução e foi substituída pelo mercado (REVAULT D’ALLONES, 2010;
BROWN, 2007). Com isso, os cidadãos perderam direitos fundamentais, na medida
em que o que se impôs foi a figura do consumidor como agente crucial do mercado.
Tal processo estaria subjacente na desconstrução do espaço público e na inflação
do espaço privado, com a construção da tirania da intimidade, segundo Sennett.
Estas transformações evidenciam, de maneira eloquente, que o neoliberalismo
vigente hoje não foi a simples retomada das coordenadas presentes no liberalismo existente no século XIX, mas implicou rupturas cruciais em relação a este.
Assim, no liberalismo clássico o Estado regulava parcialmente o funcionamento
da economia e não deixava esta se impor na sociedade de maneira autônoma e
imperativa, por um lado, e mesmo tomava ativamente para si algumas regiões
privilegiadas do espaço social, pelo outro. Contudo, com o neoliberalismo, um
conjunto de práticas sociais que estavam sob a regulação do Estado, passou a ser
transformado em mercadoria e se transformou em ativos do mercado, como a
educação, a saúde, a ciência, a arte e os saberes em geral.
Assim, a sociedade foi transformada num mercado, de forma que a figura
do cidadão foi transformada na do consumidor. Por conta disso, o risco se impôs
no espaço social de maneira generalizada, constituindo-se então a sociedade de
risco. Vale dizer, se a performance como forma de subjetivação passou a ser um
imperativo para os indivíduos neste contexto social, isso se deve ao fato que de
cada indivíduo foi transformado numa microempresa e num empresário de si
mesmo, em todos os campos das práticas sociais, como nos disse Foucault em
Nascimento da biopolítica (FOUCAULT, 2004).
Em nome da produtividade e da rentabilidade da economia, o desemprego
foi incrementado em níveis vertiginosos. Dentre os desempregados se destacam
os jovens que passaram a se inserir tardiamente no mercado de trabalho, e os
trabalhadores na faixa etária dos 50 anos, que foram demitidos e substituídos
por jovens trabalhadores, que custavam mais barato como mão de obra. Em
decorrência disso, a rivalidade social existente entre os trabalhadores se incrementou bastante, em nome da disputa pelos postos de trabalhos que se reduziram (BIRMAN, 2012, p.52-84). Pode-se daí depreender, inicialmente, como
a performance dos indivíduos se impôs como critério para a manutenção dos
postos de trabalho, por um lado, assim como os processos de avaliação das práticas
sociais se disseminaram, incidindo em todos os registros sociais (BIRMAN,
2010, p.217-244).
O desdobramento mais importante deste processo abrangente foi o incremento vertiginoso do mal-estar social e psíquico, para retomarmos o conceito
enunciado por Freud em Mal-estar na civilização (FREUD, 1930/1971). Com a disseminação do mal-estar, nos segmentos pobres e médios das populações, que
foram restringidos na oferta de trabalho e nos seus direitos sociais, a angústia e
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a perda da estima de si se incrementaram, em decorrência da mácula que atingiu a
identidade social destas populações. O que orientou este processo, no registro
das formas de subjetivação, foi a disseminação da vergonha como paixão, naqueles
segmentos sociais.
Do ponto de vista psicanalítico, o que está aqui em pauta é um processo de
desnarcisação dos indivíduos, resultante da mácula da vergonha que incidiu violentamente sobre as suas identidades sociais. Seria isso que promoveria a perda
significativa da estima de si destes indivíduos. Em consequência, o masoquismo se
espraiou nestas individualidades, como marca eloquente deste processo crucial
que promoveu a perda da autoestima destas.
Foi este campo do mal-estar, assim configurado, que se transformou na condição concreta de possibilidade para promover de forma precisa a psiquiatrização
das individualidades em nossos dias. O que esta pretende é a regulação ostensiva
do campo do mal-estar, para impedir que este seja transformado em agressividade
e em violência pelos sujeitos, na medida em que as instâncias institucionais de
poder não reconhecem a legitimidade das demandas políticas daqueles segmentos
sociais, destituídos que foram de quase tudo.
Em ensaio publicado em 1948, intitulado “A agressividade em psicanálise”,
Lacan formulou que, por um lado, a agressividade implica necessariamente o
registro do sujeito e não pode ser pensado no registro estrito do comportamento, e, por
outro, a agressividade é promovida pelo sujeito quando este não é reconhecido
pela legitimidade de suas demandas (LACAN, 1948/1966, p.82-102).
Portanto, retomando a hipótese de pesquisa, pode-se enunciar que o que
o processo de psiquiatrização pretende realizar, na contemporaneidade, é a
regulação do dito mal-estar, para impedir que este se enuncie como agressividade
e violência.
Porém, quando esta regulação falha, o que se impõe de fato é a criminalização e
a judicialização da agressividade e da violência, como forma de regulação do mal-estar social. Assim, é preciso evocar que existe um consenso entre os autores
de que ocorreu um incremento ostensivo do encarceramento no Ocidente,
nos tempos do neoliberalismo (WACQUANT, 2009). Além disso, esta inflação
significativa do sistema prisional se empreendeu sem que houvesse aumento de
homicídios, como nos disse Wacquant (2009), indicando, pois, que novas categorias de criminalidade foram forjadas pelo Direito Penal para realizar esta regulação,
tendo como contexto social básico a destituição dos direitos dos cidadãos no
neoliberalismo (BIRMAN, 2012).
Portanto, é pela via preferencial da psiquiatrização do mal-estar que os indivíduos são regulados hoje. É o que se verá em seguida.
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VI. Naturalismo, neurociência e cognitivismo
O processo de psiquiatrização do mal-estar se fundou nos discursos da neurobiologia e da psicofarmacologia, por um lado, e na expansão da psicologia
cognitiva, pelo outro. O que promoveu a conjunção destes diferentes discursos
teóricos foi a leitura que passaram a realizar da subjetividade, na qual esta foi
esvaziada do registro do sujeito e a ênfase foi colocada fundamentalmente no
registro de comportamento. Portanto, as dimensões simbólica e histórica do
sujeito foram silenciadas em nome do investimento promovido na dimensão
do comportamento. Enfim, foi por esta ênfase e investimento no registro do
comportamento que a psiquiatria se tornou autônoma da psicanálise, se transformando assim em psiquiatria biológica, sustentada que foi nos discursos das
neurociências e no cognitivismo.
Assim, a exceção e a diferença da condição humana no registro estrito da natureza,
centrada que eram nos registros da linguagem e nos códigos simbólicos, foram colocadas
em suspenso, em nome do imperativo da naturalização daquela condição específica.
Foi por este viés que a singularidade do sujeito foi eclipsada, pelo investimento
correlato do registro do comportamento.
Estas coordenadas epistemológicas, construídas no registro do saber, se condensaram na organização das diferentes versões do DSM, forjadas pela Associação
Americana de Psiquiatria, desde os anos 1950. Quais são as marcas fundamentais
constitutivas do DSM?
A primeira característica importante do DSM, de sua versão inicial em 1952
à última versão em 2013, foi o despojamento progressivo do registro do sujeito,
o que teve como contrapartida o incremento do registro do comportamento.
Neste contexto, as referências ao discurso psicanalítico foram pouco a pouco
silenciadas e tiveram como contraponto a inflação das categorias oriundas das
neurociências e do cognitivismo.
A segunda característica crucial, nas diferentes versões do DSM, foi o incremento progressivo do número de categorias nosográficas, de forma que as
particularidades comportamentais foram sendo cada vez mais colocadas em evidência, de maneira detalhada. De fato, se o DSM-I forjado em 1952 contava com
106 categorias diagnósticas, o DSM-III de 1980 contava já com 265 categorias e
o DSM-IV de 1994 contava com nada menos que 297 categorias diagnósticas, o
DSM-V forjado em 2013 conta com mais de 400 categorias diagnósticas.
No DSM-V, outras categorias diagnósticas foram incluídas, como a “síndrome
de risco de psicose”, a “depressão nervosa”, a “perturbação neurocognitiva menor”, a “ingestão alimentar excessiva”, a “perturbação da desregulação de humor
com disforia” e a “perturbação da acumulação”, que afetaria os indivíduos que
não conseguem se desembaraçar de coisas e dos objetos. Pode-se depreender facilmente disso não apenas a heterogeneidade destas novas categorias nosográficas,
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como a sua particularização crescente para registros inusitados da experiência
psíquica, como a “perturbação de acumulação”.
A terceira característica importante, nas novas versões de DSM, é que a construção das categorias diagnósticas se realizou pela conjugação interna de três
instâncias institucionais que convergem para o mesmo objetivo: os laboratórios
de pesquisa avançada em psiquiatria, as instâncias governamentais de saúde do
governo norte-americano e os laboratórios farmacêuticos. Portanto, o que estava
e continua ainda em pauta na construção do DSM foi a conjugação íntima entre
os registros do saber, do mercado e do poder. Além disso, costumam ser os mesmos
indivíduos os que se inscrevem nestes diferentes registros para a confecção
das novas versões do DSM. Enfim, esta conjugação evidencia como a pesquisa
psiquiátrica está diretamente ligada ao imperativo econômico do marcado e ao
imperativo do poder governamental.
A quarta característica importante do DSM, nas suas diversas versões, foi a
internacionalização efetiva do código de classificação diagnóstica. Se este foi forjado
de início pela Associação Americana de Psiquiatria, para ter validade no território norte-americano, este código foi sendo incorporado progressivamente em
outros países, pela mediação da Organização Mundial de Saúde e da Associação
Internacional de Psiquiatria, as quais legitimaram o DSM. Contudo, pode-se
evidenciar com facilidade, nesta internacionalização do DSM, que o que está em
pauta primordialmente é o imperativo de mercado dos laboratórios farmacêuticos,
que querem implantar seus produtos em escala internacional, pela justificativa
supostamente científica conferida pelo discurso psiquiátrico de se ter a mesma
categorização psiquiátrica em escala global.
Porém, se estas características delineiam o solo e balizam as marcas formais
do DSM, é preciso dar agora outro passo, para que se possam examinar as características do sistema em termos de seus procedimentos metodológicos e epistemológicos.
É o que veremos em seguida.
VIII. Psiquiatrização da normalidade
A construção das categorias diagnósticas no DSM se funda na posição estratégica
atribuída à categoria de síndrome no lugar da categoria de enfermidade, no discurso
da medicina. Assim, a síndrome se configura pela articulação existente entre
diferentes sintomas e sinais, delineando um quadro simplesmente funcional de
uma dada perturbação sintomática, na qual a categoria de espaço predomina e na
qual a categoria de tempo tende ao desaparecimento. Em decorrência disso, as
categorias de etiologia e de causalidade de uma dada perturbação somática se relativizam e ficam colocadas num segundo plano, de forma que a categoria de história
desaparece do discurso da medicina clínica. Portanto, todas estas características,
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que foram já silenciadas no discurso da medicina clínica na atualidade, existiam
quando neste discurso dominava a categoria de enfermidade.
Esta transformação fundamental no discurso da medicina começou a ocorrer desde os anos 1960, norteando o discurso da medicina em outras direções
teóricas (BIRMAN, 1999). Foi este novo modelo de descrição clínica, presente
na medicina somática, o incorporado pelo discurso psiquiátrico desde os anos
60, de maneira progressiva. Nesta perspectiva, as descrições cada vez mais
particulares e específicas presentes nos discursos psiquiátricos e transpostos na
construção do DSM são fundadas na categoria de síndrome e não na de enfermidade.
Além disso, no novo discurso da medicina somática, a cada síndrome funcional e especificamente configurada, foi associado um projeto terapêutico de
maneira a articular a categoria de síndrome com a proposição de um tratamento
específico. No que tange ao novo discurso psiquiátrico, o mesmo processo foi
repetido e incorporado, de forma que a cada síndrome configurada corresponde
um dado psicofármaco, que seria em princípio capaz de regulá-la terapeuticamente. Portanto, no DSM, a cada categoria nosográfica corresponde um dado
psicofármaco, que seria passível de aboli-la e de regulá-la.
Assim, a inclusão de um novo sintoma ou sinal numa síndrome já descrita no
discurso psiquiátrico o mesmo processo será repetido e incorporado, na medida
em que um novo psicofármaco será proposto para a regulação da nova síndrome.
Desse modo, a inclusão de um novo sintoma e sinal numa síndrome já descrita
implica a narrativa de outra síndrome, que implicará outros medicamentos
capazes de regulá-la. Com efeito, a articulação do sintoma ‘ansiedade’ na categoria
diagnóstica de depressão implicou outro medicamento específico para a nova
síndrome, que não seria o mesmo oferecido para a depressão pura. Da mesma
forma, a articulação do sintoma ‘dor’ na síndrome da depressão constituiria a
fibromialgia, e implicou outra síndrome e outro medicamento para regular tal
modalidade de depressão.
Entretanto, um terceiro processo estaria em pauta, além dos anteriores. Assim,
neste particular a lógica que nortearia o processo pretende realizar a psiquiatrização daquilo que até então era considerado normal. Assim, se a dor e a tristeza
sempre marcaram a tensão pré-menstrual, isso foi transformado, na atualidade,
numa síndrome específica, que se fez pela psiquiatrização da normalidade. Da mesma
forma, a tristeza que sempre existiu na experiência humana foi transformada
em matéria-prima das depressões, que se transformaram então numa epidemia,
psiquiatricamente induzida, nos anos 1980. Enfim, as variações de humor que
sempre marcaram a existência humana foi recentemente psiquiatrizada, para a
caracterização da bipolaridade como sendo a nova síndrome, desde o ano 2000,
a que se deve medicar com psicofármacos diferentes dos que eram utilizados
para a depressão.
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Dos anos 1960 até hoje, a psiquiatria biológica se centrou em três grandes humores e paixões humanas, para regulá-las com os psicofármacos, sem considerar
aqui os neurolépticos usados para as psicoses. Os ditos humores e paixões são
a angústia (1960-1980), a depressão (1980-2000) e a variação de humor (desde
2000). Porém, foram as razões de mercado as que conduziram às mudanças nas
ênfases dadas a estas paixões e humores, e não as razões de ordem científica.
De fato, se foi a consideração de que os ansiolíticos provocavam dependência
o que conduziu à epidemia da depressão nos anos 1980, pela oferta de novas
moléculas provocados pela indústria farmacêutica de então, o deslocamento da
ênfase na depressão para a bipolaridade implicou a entrada do Prozac para o
domínio público e o laboratório que o produzia investiu todas as suas fichas na
promoção de moléculas voltadas para a regulação farmacológica da bipolaridade
(JACOBSEN, 2013, p.298-323).
Foi nesta especificidade conferida para a síndrome, a que se articularia um
medicamento psicofarmacológico determinado, que a performance como imperativo ideal a ser promovida no sujeito pelo discurso psiquiátrico se disseminou
na contemporaneidade. Não está em pauta aqui o desenvolvimento científico,
como seria o caso na relação estabelecida entre infecção e antibiótico na medicina somática (JACOBSEN, 2013, p.298-323), mas algo que visa à promoção da
performance do sujeito, pela psiquiatrização ostensiva da normalidade.
Enfim, é este o horizonte da psiquiatria hoje, que psiquiatriza os indivíduos
normais para torná-los performáticos, para enfrentar então os desafios colocados
pela sociedade de risco da atualidade.
Recebido 29/11/2013. Aprovado em 20/12/2013.
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Joel Birman
[email protected]
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Para uma clínica do uso de álcool
e drogas com adolescentes
das comunidades do Rio de Janeiro
Francisco Leonel F. Fernandes
Francisco Leonel
F. Fernandes
Professor do
Departamento
de Psicologia da
Universidade
Federal
Fluminense;
supervisor clínicoinstitucional da
Erijad-Niterói/RJ.
Resumo: Analisando circunstâncias e elementos clínicos paradigmáticos, constata-se que as trajetórias de jovens das comunidades
populares no que se refere a problemas com a Lei por uso e tráfico
de drogas são, na verdade, típicas, isto é: indicam, sob eventos
meramente singulares, uma produção intensa e institucionalizada
desses jovens enquanto “foras da lei”. Omitir esta dimensão do
problema pode tornar a pesquisa científica aliada de estruturas que
produzem delinquência. No entanto, uma prática derivada da clínica
psicanalítica e amparada por uma reflexão sobre a institucionalidade
questiona como a relação que esses adolescentes constroem com sua
própria palavra nas instâncias de tratamento pode deslocar esses
mecanismos institucionais.
Palavras-chave: Psicanálise, adolescentes, abordagens psicossociais,
intervenção clínica, instituição.
Abstract: For a clinic of drug and alcohol abuse with adolescents
from popular communities in Rio de Janeiro. Parting from clinical
circumstances and paradigmatic elements, the paper argues that
many of the trajectories of youngsters from popular communities
facing problems with the law regarding the use and trafficking
of drugs are, indeed, typical. They indicate, under mere singular
events, an important and institutionalized production of these
young people as outlaws. Overlooking this dimension of the
problem may compromise scientific research with structures that
produce delinquency. Whereas a practice oriented towards psychoanalytic clinic, informed by some reflection on the institutional
framework, questions how the relation these adolescents develop,
to their own word, in treatment, can change these institutional
mechanisms.
Keywords: Psychoanalysis, adolescents, psychosocial approach,
clinical intervention, institution.
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Francisco Leonel F. Fernandes
Introdução
O mal-entendido enquanto falha intrínseca de toda comunicação está presente
e é estruturante das diversas práticas de intervenção psicossociais. É mesmo ele
que, frequentemente, determina as possibilidades operatórias destas intervenções. O campo da saúde mental não se apresenta como exceção a essa condição.
Abordaremos aqui uma dessas circunstâncias na qual ela está no cerne: a demanda de tratamento psicológico para os adolescentes das comunidades pobres,
ligados ao uso e ao tráfico de drogas — demanda que envolve uma miríade de
determinações e um conjunto amplo de instituições, sem falar dos determinantes
econômicos e históricos mais globais.
Além disso, trata-se de uma problemática que claramente excede, por sua
extensão coletiva, as possibilidades de um enquadramento psicopatológico, que
situaria o indivíduo como centro ou foco, dizendo respeito muito mais a uma
prática que se propagou a partir de mecanismos culturais que, nos últimos 40
anos, agiram nas fraturas das dinâmicas institucionais encarregadas de propor
e zelar pela ordem, com as consequências dramáticas que conhecemos, posto
serem divulgadas diariamente nas mídias. O fracasso da lei positiva e suas instituições ficam, então, evidentes.
Ora, é a partir desse real e de certo reconhecimento de que as abordagens
proibicionistas e punitivas que o Direito traz são inócuas — suspeitando-se mesmo que sejam partícipes daquilo que visam combater —, que se convoca uma
“tecnologia soft”, como se diz — as abordagens psicossociais —, para também
participar dos cenários de tratamento nas comunidades nas quais a circulação
de drogas é importante. E acontece de alguns dos quadros chamados a trabalhar nessas circunstâncias, como técnicos (médicos, psicólogos, enfermeiros,
assistentes sociais, etc.) serem instruídos pela psicanálise, como é o nosso caso.
Trata-se, então, para nós, de discutir o que é possível encaminhar a propósito
destas situações sendo dada essa mediação da psicanálise. E isso não de forma a
propor uma leitura da psicanálise ou qualquer articulação que se afirme orientada por seus conceitos de maneira muito cerrada a respeito dessa situação das
drogas nas comunidades. Visamos mais a tentar expor as dificuldades que se
apresentam, mais reconhecê-las servindo-nos de certa “sensibilidade” proveniente de uma prática informada pela psicanálise do que propriamente propor
um entendimento psicanalítico sistemático ou interno a seus conceitos mais
bem estabelecidos. Ficaremos satisfeitos se, ao final, nosso interlocutor puder
nos acompanhar quanto a admitir a enorme complexidade da situação que nos
solicita muito mais do que palavras de ordem simplistas que, infelizmente, têm
sido correntes nos debates sobre a questão.
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Um “quase” caso
Vamos iniciar com algumas indicações de um “quase caso”. Trata-se, nesse uso
do advérbio “quase”, de uma orientação metodológica articulada a uma manobra
retórica visando a ressaltar, de saída, a complexidade da situação, justamente,
em função da singularidade de alguns de seus termos. Por um lado, se trata de
evitar, tanto quanto possível, propor um entendimento em que o “empírico”,
as circunstâncias mesmas, apareçam como que “deduzidas” dos conceitos,
“comprovando-os”. Manobra que confunde o real com o sentido, e que tem
como principal consequência, precisamente, evacuar o real. Por outro lado, é o
caso de trazer circunstâncias que são paradigmáticas nessa problemática de forma
a indicar a massa de elementos copresentes nela, produzindo-a, e que lhe dão
uma opacidade na qual os níveis de determinação se embaralham, constituindo
mesmo sua extrema violência. Evidenciando para nós a precariedade de nossos
recursos para intervir nessa realidade, mas, ao mesmo tempo, indicando algumas
direções urgentes quanto a um tratamento possível.
Nosso entendimento é o de que esse estilo de apresentação faz justiça à
densidade dos fatos e é o mais justo no que diz respeito às possibilidades de
apreendê-los pela via da clínica. Esperamos que isso se evidencie melhor no
prosseguimento do texto. Vamos então ao “quase caso”.
Digamos que seja um menor em vias de se tornar “maior”, isto é, de completar seus 18 anos. Chega à unidade através do conselho tutelar ao qual foi
encaminhado por alguém, por vezes os próprios parentes. Ele é uma fonte de
transtornos, o que implica para a família muitas dificuldades com a comunidade
e, em especial, com o tráfico, pois não é apenas ele que é ameaçado de morte
por este, mas também os outros membros da família.
O ponto pivô de sua história poderia ser situado por ele mesmo, como ter
presenciado ainda garoto o assassinato do irmão mais velho por seus colegas
do tráfico. Sai da escola, ou “é saído”, por conta da exacerbação de condutas
agressivas com todos, colegas e professores. A partir daí, passa a percorrer um
conjunto extenso de instituições destinadas a tratar de menores infratores. Isso
porque, desde o assassinato do irmão, passou a praticar assaltos, inclusive na
comunidade, culminando com sua entrada para o tráfico de drogas. É possível
que em sua fala mesma apareçam relatos de participação em homicídios — não
sabemos se para nos atemorizar, como é comum nesses casos. Ele percorreu quase
todas as instituições de internação do estado, abrigos para menores infratores.
Além disso, recebeu quase todas as medidas estipuladas por lei dirigidas a estes.
Fugiu de todas essas instituições, participou de rebeliões, etc.. Em lugar de
estar cumprindo medida socioeducativa em uma delas, fugiu, digamos, foi re-
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capturado e, a partir do conselho tutelar e com o trabalho da Erijad,1 coloca-se
diariamente a questão do que fazer com estes jovens, uma vez que estão em vias
de completar 18 anos.
Desde 2011, esta equipe tenta fazer a mediação de situações como essa com
a Justiça e com a Assistência Social para que o sujeito em questão em cada caso
seja recebido também pela Saúde em um Caps AD.2
Então em nosso exemplo, ele chega a este Caps em 2013, prestes a entrar na
maioridade. Um ponto marcante é que, em todo lugar que chega, rapidamente
pode receber a atribuição de ‘indesejável’ e, como consequência, a própria instituição busca transferi-lo ou ele mesmo foge.
De fato, as instituições ficam desesperadas com a presença destes jovens. Mais
recentemente, em uma delas, um jovem desenvolveu uma nova manifestação:
desmaia e tem acessos de vômito. Ninguém sabe o que fazer com isso, dado que
não se sabe se é fingimento ou se é um quadro orgânico grave. O mecanismo
acionado pela instituição para lidar com essa situação foi, como sempre e mais
uma vez, transferir o rapaz para outra instituição. Ele tem problemas com o
tráfico, pois roubou os traficantes; tem problemas com a polícia, pois roubou
um policial.
E é assim: as pessoas se colocam em posição de ajudá-lo e são estas justamente
que, a seguir, são roubadas por ele. A mãe diz que ele é mau, é “o Mal”. Ele já
tem um filho do qual vive longe. Sua atual namorada abortou anteriormente
em razão de um espancamento seu e agora está grávida de novo. De seus quatro
irmãos, dois foram assassinados. Um é portador de HIV, também ex-participante
do tráfico, hoje religioso. O caçula é portador de necessidades especiais, por
sofrer de paralisia cerebral. Este irmão religioso é o único membro da família
que lhe dá algum suporte — o último foi encaminhá-lo para uma comunidade
terapêutica da qual em um primeiro tempo fugiu e, após retornar a ela, por seu
modo de presença, foi então expulso (usou droga lá).
A relação com a mãe, pelo vocabulário que a circunda, é muito característica:
de um lado, ela é a referência de sempre, no sentido de que é para sua casa que
retorna em suas fugas; por outro, é “uma puta safada; não gosta de mim”. Segundo ele, o pai é um babaca, um frouxo, “na verdade, não sou filho dele, meu
pai é um vizinho com quem minha mãe teve um caso — meu pai é um corno”.
Quanto a seu destino, segundo suas próprias palavras é CCC, cadeia, cadeira ou
1 E rijad, sigla de Equipe de Referência Infanto-juvenil de usuários de Álcool e Outras Drogas.
Equipe volante que acompanha adolescentes em situação de risco referida à Saúde Mental
do município de Niterói, RJ.
2 Caps-AD. Abreviação de Centro de Atenção Psicossocial dedicado à usuários de Álcool e
Outras Drogas. O município de Niterói tem um Caps-AD.
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caixão. Pelo que podemos saber, a mãe faz uso de drogas e a prostituição esteve
presente em sua vida.
A cultura e as instituições
Eis o “quase caso”. Por que “quase”? Porque apesar das aparências, se há algo
que pode singularizar esse sujeito não é cernido por essa narrativa. Na verdade,
como mencionamos, esse caso é típico: temos aí muito mais um tipo do que
propriamente um caso, embora seja um tipo concretizado como uma pessoa
em particular, e pouco receptivo às atribuições de praxe, sempre muito gerais
e comprometidas com recortes específicos dessas situações, conotando-os em
um tom de “façanhas” ou peripécias sem a marca trágica que, de fato, lhe é
intrínseca. Temos de falar desta forma, portanto, pela razão de que a massa de
adolescentes envolvidos com a droga e o tráfico nas comunidades tem um trajeto
semelhante ao esboçado. Estamos diante de uma produção institucionalizada de
delinquência que na verdade é muito anterior às drogas.
Já nossos romancistas, por exemplo, Jorge Amado (1937/1972) em Capitães
de areia, e até mesmo muitos relatos ainda da Primeira República, indicam essa
formação, e chegam mesmo a mistificá-la na figura do “malandro”. O jornalista
Sérgio Porto, o ‘Stanislaw Ponte Preta’ (1966/1996; 1967/1976), um observador
sarcástico da cena brasileira, fazia com todas as letras esta constatação de ser o
antigo SAM, o Serviço de Atendimento aos Menores, uma escola preparatória para
a delinquência, sendo o sistema penal o seu nível superior... isso ainda nos anos
1960, muito, muito antes do incremento do uso de drogas por toda a sociedade!
Esse é um primeiro ponto a considerar. Em mais de dez anos de trabalho
com essa população, nunca encontramos uma história mais branda do que essa.
Na verdade, escolhemos esse relato arbitrariamente e qualquer outro que escolhêssemos teria esses elementos. É nesse sentido que chamamos a atenção para
não se tomar essas trajetórias, tão carregadas de “peripécias mortíferas”, como
singulares. O que é alarmante é justamente esse fato de vermos aí uma produção
cultural, com a participação de instituições diversas, inclusive públicas. Começa
com a família, prossegue na escola, que, após o que ocorreu com o irmão, o
rejeita, mas também as outras, os abrigos, as internações diversas e a assistência
social. Desde os 11 anos, ele passa por elas e o resultado é este que ele mesmo
anuncia nas proximidades de seus 18 anos quanto a seu futuro: CCC, isto é, ou
cadeia, ou cadeira de rodas, ou caixão. Poderiam ter sido escolhidas, também,
situações em que crianças quase recém-nascidas circulam por todo tipo de instituição até chegarem à maioridade com esse mesmo destino — CCC.
Não se trata de denunciar, mais uma vez, o que todos já sabem. Há, contudo, que ressaltar alguns elementos nessa conjuntura, principalmente quando
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a psicanálise é chamada a dizer algo a seu respeito. A principal observação
nesse momento é a psicanálise não fornecer álibis que justifiquem o fracasso
das iniciativas públicas e que serviriam para adiar uma discussão mais consequente das conjunturas culturais que influenciam a formação de nossa juventude. Especialmente aquela oriunda das classes trabalhadoras menos abastadas,
herdeiras que são da escravidão. Sobretudo, é preciso evitar algo a que muitas
vezes a psicanálise inadvertidamente se presta — o psicologismo. Por exemplo,
será dito ou dir-se-á desse caso que a responsabilidade recai inteiramente sobre
a família, pois o fracasso desta implica necessariamente o fracasso de todas as
outras instituições. Neste caso, a psicopatologia de plantão aparece preparada
para propor como caso, como estrutura clínica, algo que claramente é desfecho
de um processo cultural, encoberto também com a ajuda das demais ciências
sociais, que também fornecem “conceitos-álibis”, por exemplo, econômicos,
quando a “pobreza” é declinada como propriedade genérica funcionando quase como uma maldição, ou políticos, como a segregação da pobreza, também
operada nessa mesma economia conceitual.
Tudo isso nos leva a levantar o difícil problema do que é fazer uma intervenção, clínica ou qualquer outra, que se dirija ao sujeito, que se dá no caso a caso
e em função das particularidades das situações, mas que incide em pessoas que
pertencem a grupos segregados e estigmatizados. Como fazer uma intervenção
que abra brechas para que elas possam tomar a palavra, se responsabilizarem,
sem que isso se confunda com se culpabilizarem por algo que lhes diz respeito
sim, mas que concerne também à História, sendo por isso da responsabilidade
da sociedade em seu conjunto — delas, inclusive.
Seguida a esta, outra consideração a se fazer gira em torno do fato de ser
evidente a participação das instituições nesse resultado cultural. Temos de ir
além da denúncia para alcançarmos as razões pelas quais as coisas acontecem
dessa forma, pois percebermos que dizer que a delinquência acontece com a
participação das instituições não quer dizer que saibamos como isso acontece.
Em geral, fica-se satisfeito com a denúncia, “os governos são os responsáveis”,
como se com esta atribuição “bem pensante” ficasse claro como as instituições
funcionam para produzir esse resultado. A teoria geral, certo consenso, é infantil:
ou seja, a de que as instituições fazem o que fazem de “propósito”, tratar-se-ia de
um conluio organizado contra os extratos mais vulneráveis de nossa classe trabalhadora, nosso lumpemproletariado, no sentido de marginalizá-los, de deixá-los
“fora do jogo”. O fato é que sucessivos governos muito bem intencionados não
mudaram substantivamente a situação, nem tampouco o nível da discussão. Basta
vermos a crise do sistema penitenciário e as origens da população carcerária —
precisamente a circunstância aqui abordada.
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Recentemente, temos visto essas discussões em torno da “internação compulsória”: fala-se que as práticas institucionais não se darão como antes, que
não se praticará mais a internação punitiva. Objetiva-se agora a cuidar e tratar.
Médicos, psicólogos, assistentes sociais, etc. serão contratados para que um trabalho técnico seja realizado e por isso não predominará mais nosso contumaz
desleixo institucional.
Muito bem, esses técnicos serão contratados para fazer o quê? Eles sabem o
que fazer? Deram provas disso? Onde estão estas provas? Se elas existem, por
que até hoje não se replicou simplesmente, sem tanto alarde, o que deram provas
de que podiam fazer?
De nossa parte, acreditamos que se trata de recomendar a prudência, certo
recolhimento e um pouco mais de modéstia, pois, de fato, sabemos pouco disso
tudo e, por isso, antes de mais nada, é preciso investigar essa realidade acatando
de algum modo sua densidade histórica e cultural.
Com efeito, no Brasil, o investimento no campo cultural, seja no extrato
da saúde, da educação, da assistência social ou qualquer outro, é muito baixo,
sobretudo quando o que está em jogo são as dinâmicas culturais das quais esses
extratos do Estado participam e agenciam. Até porque esse investimento não se
mede apenas pelo quantitativo dos aportes financeiros.
Aqui mesmo, em nossas universidades públicas, de que forma se preparam
os alunos, futuros técnicos dos serviços de saúde, a enfrentarem essas situações?
Disciplinas, estágios, especializações, pós-graduações, tudo isso se debruça sobre
a questão, para fazer face a ela na extensão que ela exige? Há uma configuração
do trabalho efetivamente proposta para enfrenta-la? Algo como uma política
abrangente coordenando vários planos de intervenção, com técnicos e funcionários motivados, capacitados e pagos corretamente?
É recente, por exemplo, esse convite à saúde para lidar com a juventude em
vias de delinquir e candidata a viver nos limites do sistema carcerário quando
adulta. Tivemos que esperar essa juventude se envolver seriamente com as drogas e seu tráfico, esse consumo adquirir a feição de um costume extensamente
praticado nas comunidades, e seu comércio adquirir características institucionais
do tipo empresarial para, isto tendo já avançado muito, começarmos a propor
tratamentos específicos para essa situação. Apesar de algum reconhecimento da
particularidade dessas conjunturas culturais, a situação ainda é muito confusa,
as propostas são, muitas delas, controvertidas, com resultados muito obscuros
e entre elas frequentemente contraditórias; falta sobretudo coordenação das
iniciativas em seu conjunto.
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A clínica, as condições históricas e culturais
Consideremos alguns pontos em que nossa sensibilidade de praticantes da psicanálise nos deteve. A família, sobretudo a situação do parentesco, e a organização
da autoridade. Bem poderíamos começar com a pergunta: o que se pode dizer
da família e do parentesco nesses casos (LÉVI-STRAUSS, 1983). Agora temos essa
iniciativa importante de o governo federal buscar fortalecer a Atenção Básica
através de uma abordagem da família — “Saúde da Família” é sua designação.
Ora, o que se entende por família (FONSECA, 2005)?
É muito comum, nessas conjunturas, a existência de grupos primários organizados em torno da autoridade materna, cujos filhos provêm de vários companheiros. O pai, muitas vezes decaído, quando não desconhecido, assassinado
ou preso. Trata-se de organizações que tendem a uma espécie de matriarcado
(a distinguir de uma organização do parentesco cuja linhagem é matrilinear,
o matriarcado é uma organização na qual a autoridade está centrada na figura
materna). Situadas muitas vezes à margem de uma inserção consistente no sistema
produtivo (integrantes com pouca ou nenhuma capacitação e entrada no mundo
do trabalho formal) — e praticando uma “economia do dom” em destroços.
Essa situação é histórica, pois, com efeito, uma das obras operadas pela colonização com os escravos foi o apagamento de suas marcas étnicas juntamente
com a não formulação de qualquer alternativa para eles estarem dentro da cultura,
propriamente, que não a de segregados. É importante inclusive ressaltar a esse
respeito que é recente, em nosso contexto cultural, uma espécie de marcação
étnica pela via real da cor, pois efetivamente nunca foi tolerado pelas elites que
as classes trabalhadoras se organizassem a partir das marcas simbólicas que
diziam respeito às suas origens.
Assim, ao dizer que seu pai é “corno” — e efetivamente encontrar um pai
como suporte de tal fala, sem possibilidade de produzir para isso qualquer relativização —, o sujeito apenas enuncia o lugar do pai nessa conjuntura cultural
ao longo das gerações. Não é por outra razão que ele espanca sua namorada no
ponto preciso em que esta o convoca a ser pai. Mais do que ser violento, ele
apenas reproduz a figura degradada de pai para seu filho a vir, pois sua namorada
terá de qualquer modo o filho e ele terá sido apenas mais um pai degradado,
tão violento em seu espasmo viril quanto impotente para realizar sua função de
relativizar a autoridade materna junto a seu filho. Este, por sua vez, terá de situar
essa mãe que o protege da violência desse seu pai como o polo de autoridade, uma
autoridade real, a orientá-lo na vida com todas as consequências daí advindas.
Finalmente, temos o modo como as instituições entram na vida dessas pessoas
quando consideramos a dimensão subjetiva, do endereçamento aos semelhantes
em função da posição no discurso. Charles Melman (1983/2000), seguindo a
via de Lacan (1950/1966/1998) nos lembra que a constituição do sujeito implica
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necessariamente o laço social enquanto endereçamento aos outros e ao Outro.
No caso da neurose, nossa normalidade, as estruturais sociais sendo simbólicas,
garantiriam, a partir desse fato, a possibilidade de o neurótico vir a praticar condutas reais — o que justamente configura a grande questão neurótica a respeito
de ações e atos. No caso da delinquência, ocorreria o inverso: as estruturas sociais
teriam incidência (apenas) real e as condutas do delinquente visariam instituir o
simbólico a partir do qual o sujeito poderia se situar — como se buscasse, pela
delinquência, constituir-se, encontrar um lugar como sujeito.
Isso apresenta muitas ressonâncias quando se consideram as origens históricas de nosso lumpemproletariado. Mas o que há a ressaltar aí é, sobretudo, as
respostas das instituições como estruturas sociais reais. Trata-se de um exercício
de autoridade presencial, em que a autoridade não é delegada e aquele que a
exerce não é, de modo algum, um representante, como seria o caso de uma
autoridade constituída simbolicamente. É uma autoridade que se apoia na força
de sua presença e se exerce diretamente a partir desta, sem mediação.
Vimos que a primeira figura a se colocar desse modo, ainda no grupo primário, é a mãe. Nada emerge no horizonte desses sujeitos que possa marcar o valor
da palavra enquanto possibilidade de pacto — é sempre o real que é indicado,
“meu pai é corno”: o pai enquanto representante é depreciado e seu pai “mesmo”,
o pai real é o vizinho; e ambos não valem grande coisa.
A seguir, as instituições o tomam como objeto, o sujeito é transferido de um
lugar a outro segundo os mais diversos desígnios e raras vezes é considerada a
questão de seus vínculos, do que tem ou não a dizer — ele é muito mais objeto
de um poder que o sabe tão completamente quanto o manipula sem assinalar-lhe
um lugar a partir do qual possa ter algo a dizer sobre seu destino. É nessa via
que ele assume a delinquência como sua assinatura. Mas isso é sem saída, pois
quanto mais a idade avança, mais suas atuações delinquentes justificam a ação
desse poder-saber sobre ele como exercício de uma autoridade real. O próprio
tráfico, com sua lei do cão, funciona do mesmo modo. A coisa culmina nesse
ponto, por ele mesmo formulado — o CCC —, já aos 18 anos, ou levará um tiro
e restará em uma cadeira de rodas, ou irá para a prisão ou será morto. Ou seja,
o sujeito é “lúcido” quanto ao fato de que seu destino se trava no real, pouco
a esperar de uma possibilidade de se fazer representar por sua palavra, mesmo
que sua conduta delinquente vise isto.
Para concluir: a gravidade da situação e o tratamento possível
Por fim, gostaríamos de lhes propor “medir” a gravidade da situação.
Esse sujeito, ao chegar ao Caps, ou seja, no momento em que entra em sua
vida uma instituição da Saúde, configura-se uma situação nova tanto para ele
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quanto para a própria equipe. Vejamos como: ele vem “ensaiado”, já sabe como
se conduzir nas instituições, provocá-las. É surpreendido pela psicóloga que o
atende, não tanto por sua habilidade técnica propriamente, mas pelo fato de ela
ter se permitido responder-lhe a partir de como foi afetada por sua fala. Em certo
ponto, quando ele comenta sobre os espancamentos em sua namorada, a psicóloga diz-lhe, transtornada, que isso não é possível, não pode ser assim. A partir
daí, ele passa a falar de outro modo, passa a falar mais “sério”. Chega a pedir
ajuda na forma de internação — o que é feito. Transcorrem algumas peripécias,
fugas, roubos, mas curiosamente é à psicóloga que ele retorna.
Não se espera que, ao nos oferecermos para receber essas pessoas, elas abandonem o campo de atuação no qual se exercem; junto com elas vem isso que é
delas, da condição delas; sobretudo esse franqueamento para a ação com todo
tipo de consequência que isso traz.
Em resumo, não se troca essa modalidade de se exercer pela atuação — se é
que isso é possível —, pela palavra, subitamente. Por exemplo, em uma ocasião,
um jovem vem ao Caps após roubar o celular de um vizinho e este, a seguir,
lá aparece acompanhado da mãe do rapaz para forçá-lo a restituir um telefone
que roubara. Ele foge. Sobrevêm as ameaças do vizinho, “quadro” do tráfico:
“é fácil matá-lo, nós [o tráfico] sabemos que ele está vindo ao Caps, basta um
tiro... só não fizemos isso porque é aqui um lugar de tratamento...”. A equipe,
muito corajosa, porquanto não desiste dele e se coloca em posição de acolhê-lo,
vai pouco a pouco observando, não sem surpresa de todos, uma modificação de
seu comportamento, e no teor do que diz: menos atuação e uma maior tematização através de sua fala de suas questões com sua psicóloga. Mas as estruturas
sociais enquanto reais se impõem e o provocam. Ele sabe a regra do jogo, vai se
realizando então algo que vem desde sempre em sua fala: dos três Cs, o destino
que se anuncia no presente para ele é a cadeia, uma resposta da justiça. Inclusive é onde ele situa uma dívida, um desfecho no qual se verifica não a queda
definitiva de seu corpo, como seria no caso do assassinato ou da invalidez, mas
um horizonte nem por isso menos sinistro — a prisão — de restituição. Um
pagamento também real, mas que lhe dá alguma chance de preservar a vida.
No entanto, para nós, uma questão insiste: que ele seja preso é um desfecho
jurídico, mas o que dizer de seu tratamento? Ele coincidirá com o exílio absoluto da vida coletiva e pública que é representado por nossas prisões? E seus
filhos? Sua namorada está grávida de gêmeos, seus filhos terão de, fatalmente,
percorrer esse mesmo trajeto que sua família percorre já há três gerações? Não
é demais destacar, nessa conjuntura tão difícil, a importância do prático clínico
informado pela psicanálise, para apreender aspectos cruciais da trajetória dessas
pessoas e, sobretudo, para sustentar o deslocamento que incide na formulação
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Para uma clínica do uso de álcool e drogas com adolescentes das comunidades do Rio de Janeiro
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mesma da problemática na medida em que se dá lugar à palavra, ao discurso,
e enfim, ao sujeito.
Na tomada da palavra em que o sujeito se realiza pode residir, num átimo,
uma chance de subversão da objetalização ordinária agenciada pela conjuntura
institucional. Bastará isso para produzir algum deslocamento efetivo que realize
o sujeito e marque a estrutura? Não se pode saber de antemão. A questão, como
se disse acima, é real. E constatar essa condição impede qualquer afirmação de
um decálogo moral. Pelo contrário, para aqueles que estão comprometidos com
a psicanálise isto acarreta as exigências relativas àquilo que Lacan (1964/1985)
nomeou como “presença do analista”: uma intervenção que se que se faz em ato
e que requer ser sustentada, a cada vez, por alguém que pague, com seu corpo,
suas palavras, e em ruptura com as pequenas estabilidades que organizam a vida
de cada um, o preço da aposta da psicanálise.
Recebido em 18/2/2012. Aprovado em 11/3/2014.
Referências
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n. 2. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
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Janeiro: Civilização Brasileira.
Francisco Leonel F. Fernandes
[email protected]
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O abuso de substâncias tóxicas
na adolescência: uma tentativa
de incorporação do objeto?
Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
Silvia Maria AbuJamra Zornig
Psicanalista da
Sociedade de
Psicanálise Iracy
Doyle; professora
do programa de
Pós-Graduação
em Psicologia
Clínica da PUCRio; coordenadora
do Curso de
Especialização em
Psicologia com
Crianças da PUCRio.
Resumo: Procura-se discutir a função do objeto na adolescência
a partir de um fragmento clínico em que a relação aos objetos se
dá por uma lógica incorporativa que impede o acesso às experiências de introjeção e aos processos de simbolização. Apesar de a
adolescência ser definida por alguns autores psicanalistas como
um momento lógico de apropriação subjetiva e confronto com a
castração e a finitude, este texto procura ressaltar a importância do
acompanhamento ‘vivo’ do analista para que o investimento do
vazio possa se dar sem angústia de aniquilamento.
Palavras-chave: Adolescência, psicanálise, simbolização, introjeção,
incorporação.
Abstract: The abuse of toxic substances in adolescence: an attempt
to incorporate the object? This paper aims at discussing the role of
the object in adolescence through a clinical vignette where the relationships to the objects are done through an incorporative fashion
that prevents the access to the experiences of introjection and symbolization. Even if adolescence is defined by some psychoanalysts
as a logic moment of subjective appropriation and confrontation
to castration and finitude, this paper attempts to emphasize the
importance of the “live” companionship of the analyst in order to
open the path toward the libidinal investment of the void without
annihilation anxiety.
Keywords: Adolescence, psychoanalysis, symbolization, introjection, incorporation.
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Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
A
reflexão sobre o estatuto do objeto na adolescência aponta para um paradoxo
importante, pois a adolescência é ao mesmo tempo um momento de confronto com a alteridade e com a solidão subjetiva como possibilidades criativas
de existir no mundo, mas também um tempo em que as falhas nas relações
com os objetos primordiais podem ser atualizadas em vivências de desamparo
e fragmentação.
Assim, se a adolescência é um momento lógico — e não cronológico — de
apropriação subjetiva do sintoma que a criança era no discurso parental (RASSIAL,
1999), quando o confronto com a diferença e a falta são elementos essenciais ao
trabalho de subjetivação, na clínica este trabalho muitas vezes é interrompido
por uma identificação melancólica como defesa contra a perda do objeto, perda
vivenciada não como investimento do vazio (GREEN, 1988), mas como uma falta
a ser, que aponta para uma falha na função simbolizadora do objeto primordial
(ROUSSILLON, 2010).
Este trabalho procura discutir a relação entre o uso abusivo de substâncias
tóxicas na adolescência (álcool e psicotrópicos), e as falhas nas relações com os
objetos primários que dificultam a instauração dos limites entre o eu e o outro
e, consequentemente, a internalização do objeto como estrutura enquadrante
(URRIBARRI, 2010). Apesar de esse uso poder ser paradoxalmente um exercício
de transicionalidade, na tentativa de separação de um objeto tóxico interno, pode
apontar também para uma passagem ao ato, marcada pela sedução da volta ao
estado zero de tensão — narcisismo negativo na aspiração ao não ser.
A aspiração ao não ser, à volta a um estado zero de excitação, é definida por
Green como uma descatexia radical que impede os processos de simbolização e
o sentimento de continuidade de existência, e é justamente a mediação do objeto
que possibilita a passagem da vacuidade que leva à morte psíquica à construção
de um espaço protetor que permita a experiência de silêncio e não comunicação
como estruturante e não mortífera (GREEN, 1988, p.60).
Nesta perspectiva, a importância da presença em reserva do analista (FIGUEI­
REDO, 2007) será o eixo de nossa reflexão teórico-clínica ao propor que a clínica
psicanalítica com adolescentes pressupõe um acompanhamento presente, mas não
intrusivo, que possibilite a vivência de ausência e o confronto com a alteridade
sem ameaça à integridade psíquica do sujeito.
O termo “acompanhamento” segue uma indicação winnicottiana que parece
muito apropriada para o processo psicanalítico na adolescência, como a possibilidade de um acompanhamento de uma crise que não está lá para ser curada,
mas para ser desenrolada e vivenciada, tendo o analista como presença não
intrusiva. Esta presença em reserva reabre a questão da presença e ausência do
objeto, agora diante de uma nova perspectiva, a perspectiva de “jogar” com a
ausência, fazendo uma catexia positiva do vazio, como propõe Green. No entanto,
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O abuso de substâncias tóxicas na adolescência: uma tentativa de incorporação do objeto?
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se o analista não conseguir sustentar a posição de testemunha, permitindo que a
encenação (a mensagem veiculada pelo corpo e pela ação) seja experimentada e
endereçada ao outro, há o risco de o sujeito utilizar mecanismos de defesa mais
primários como estratégias de proteção psíquica.
M. Khan, num belíssimo artigo intitulado “Ouvir com os olhos” (1971/1974)
ao discutir a problemática não neurótica, distingue entre uma clínica do conflito
e da confrontação — própria à neurose — e uma clínica da problemática limite
em que imperam os mecanismos da cisão e da clivagem. O autor enfatiza a
diferença no manejo clínico, pois enquanto no conflito neurótico a pessoa sabe
inconsciente ou conscientemente da existência dos dois lados da equação, nos
estados dissociados ela fica totalmente envolvida com cada aspecto, figurando-os
no corpo. “A encenação exige uma testemunha que a experimente e informe.
A atuação procura cúmplices para descarga e satisfação” (KHAN, 1971/1974, p.302).
Esta indicação permite articular a adolescência a uma “situação fronteiriça
(CARDOSO, 2001), na qual a dimensão narcísica e alteritária reaparece, ligada
à problemática dos limites intra e intersubjetivos. Nesta perspectiva, o lugar de
testemunha e de acompanhamento do analista é fundamental para propiciar a
transformação da descarga pulsional em endereçamento ao Outro, num possível
acesso aos processos de simbolização e síntese.
No caso de abuso de substâncias tóxicas (álcool e psicotrópicos) que ilustraremos a seguir, observa-se uma falha nos processos de introjeção e no papel
de mediação atribuído ao objeto, tendo como consequência a impossibilidade
do sujeito de vivenciar a escansão entre presença e ausência do outro, sem se
sentir ameaçado por angústias primitivas de aniquilamento. Por outro lado, a
tentativa de manter o objeto incorporado como defesa contra o reconhecimento
de sua ausência mantém o sujeito aprisionado a uma dependência patológica que
prejudica o trabalho de luto e o consequente acesso à reflexividade, provocando
um curto-circuito que muitas vezes impulsiona o sujeito a uma passagem ao ato.
É neste contexto que o enquadre se torna fundamental para propiciar a instauração de um espaço ‘ventilado’ entre sujeito e objeto, que permita o acesso aos
processos de simbolização. Lembremos Winnicott ao indicar que o adolescente
pode ser descrito “como um isolado” e que a preservação do isolamento pessoal faz parte do “estabelecimento de uma técnica pessoal de comunicação que
não leve à violação do self central” (WINNICOTT, 1963/1990, p.173). Assim,
alerta que a psicanálise pode ser um “estupro espiritual” para o adolescente, se
o analista não aceitar que a comunicação se origina do silêncio e que a crise da
adolescência deve ser acompanhada, e não curada.
Ogden propõe a noção de intersubjetividade analítica ao enfatizar a simultaneidade da dialética entre unicidade e dualidade, destacando que nenhum
destes polos existe em forma pura, mas num interjogo que produz um ‘entre’,
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um terceiro analítico, construído pelo analista e pelo analisando simultaneamente (OGDEN, 1995). Green corrobora esta ideia ao propor a noção de “objeto
analítico” como um objeto terceiro produzido pela comunicação entre analista
e analisando.
Nesta perspectiva, o trabalho analítico se apoia sobre um eixo diferente do
eixo clássico de interpretação e representação, pois o contexto analítico (situação analítica) deixa de ser silencioso, como no caso do tratamento dos conflitos
neuróticos, e se torna presente como espaço transicional que abrange o funcionamento mental do analista e as sensações e afetos do analisando (GREEN, 1988).
Esta indicação nos parece fundamental para pensar o trabalho analítico
na adolescência como um momento de ‘entre’, em que o analista precisa ficar
num lugar suficientemente semelhante para propiciar ao sujeito a experiência
de brincar com as identificações, mantendo-se, no entanto, como outro sujeito,
para que a análise funcione como interpelação ao adolescente sobre a dimensão
enigmática da alteridade (ROUSSILLON, 2010).
Roussillon propõe uma definição interessante para o termo ‘intersubjetivo’
ao indicar que este se refere a um “encontro entre um sujeito atravessado pulsionalmente e com uma vida psíquica inconsciente, e um objeto que também é
um outro sujeito que também é animado por uma pulsionalidade, parte da qual
é inconsciente” (ROUSSILLON, 2008, p.2, tradução livre). Assim, a noção de
intersubjetividade fica referida a uma relação que possibilita que o objeto reflita
para o bebê seu potencial criativo de forma especular, mantendo-se, no entanto,
como um outro-sujeito. O autor ressalta a função simbolizadora do objeto nos
primórdios da subjetivação à medida que sua presença qualitativa permite ao
sujeito iniciar os processos de simbolização, ao mesmo tempo que seu estatuto
como outro-sujeito — que poderíamos aproximar da noção de “significantes
enigmáticos” proposta por Laplanche — impede um estado confusional ou
fusional, pois há sempre algo no objeto (sexual e inconsciente, desconhecido
dele mesmo) que interpela e convoca o sujeito a um trabalho de elaboração
(LAPLANCHE, 1992).
Esta definição pode ser utilizada também para a adolescência se colocarmos
a ênfase na noção de um objeto que é outro-sujeito, ou seja, no reconhecimento
da alteridade do objeto, sem que esse reconhecimento seja vivenciado como um
vazio insuportável. Para que esta dimensão intersubjetiva seja possível, é necessário fazer o luto da ilusão de completude narcísica, da fantasia de “um corpo
para dois” (McDOUGALL, 2000).
Mas de que luto se trata na adolescência? De um luto que permite o abandono, ainda que relativo, da dependência ao outro, que é uma das características
da infância? Um luto de uma imagem inconsciente do corpo infantil? Um luto
como possibilidade de internalização, de representação, de uma necessária
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solidão subjetiva? Um luto de ter que se destacar do lugar de semblante de objeto
de desejo do desejo do outro? Um luto que permite o acesso à genitalidade e à
escolha objetal?
Freud, em Luto e melancolia (1917/1976), propõe uma diferenciação entre o
trabalho do luto e a metapsicologia da melancolia, indicando que enquanto no
trabalho de luto o sujeito procura elaborar a perda de um objeto, identificando-se a traços parciais do mesmo, na melancolia há algo do objeto que foi perdido,
mas não se sabe exatamente o quê. Assim “a sombra do objeto recai sobre o
eu”, fazendo com que o sujeito se torne o próprio objeto, impedindo sua perda
e consequente representação (FREUD, 1917/1976, p.249).
Roussillon retoma esta concepção freudiana de identificação melancólica para
subverter a lógica freudiana, colocando a ênfase na “sombra” do objeto, propondo
que sombra aponta para aquilo que o objeto não pode refletir para o sujeito sobre
ele mesmo, que não esteve lá para ser simbolizado, que tem a dimensão de vazio,
de um olhar que trespassa o outro e que não teve função de espelho. Assim,
segundo o autor, o pensamento está diante de um paradoxo: “para simbolizar
é necessário e suficiente fazer o luto da coisa, mas para fazer o luto da coisa é
preciso representá-la e simbolizá-la” (ROUSSILLON, 1999, p.223, tradução livre).
Este paradoxo é interessante, pois aponta para a dupla face da função simbolizadora do objeto: se a simbolização pressupõe a saída de uma especularidade
pré-simbólica e o reconhecimento da alteridade (a função do terceiro), este
processo só pode ocorrer com a necessária presença do objeto. Assim, se o processo de adolescer se define por um trabalho de luto frente ao reconhecimento
da castração e da incompletude, os remanejamentos identificatórios que este
momento produz e a reativação de conflitos pré-edípicos podem trazer à tona
fragilidades narcisico-identitárias relacionadas a falhas na relação ao objeto
primordial que favoreceriam não um trabalho de luto e de introjeção, mas sim
uma lógica da incorporação como identificação melancólica.
O conceito de Ferenczi (1912/1955) sobre a introjeção é primoroso por definir o mecanismo de introjeção como “uma extensão ao mundo externo dos
interesses originalmente autoeróticos, através da inclusão de seus objetos no ego”
(FERENCZI, 1912/1955, p.316, tradução nossa) ou, em outras palavras, como a
objetalização do autoerotismo. Segundo o autor, todas as formas de amor objetal
são uma introjeção, uma ampliação do Eu.
Abraham e Torok desenvolvem melhor esta ideia ao criticar a tendência na
psicanálise de se considerar as noções de introjeção e incorporação como sinônimos. Para os autores, o conceito de introjeção proposto por Ferenczi não se refere
a uma possessão incorporativa do objeto através de sua perda, mas justamente
o oposto, pois enfatiza a função de mediação do objeto que, por sua presença,
possibilita a inclusão dos processos inconscientes e das experiências pulsionais
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no Eu. A incorporação seria justamente o mecanismo fantasístico contra a
perda do objeto através de sua instalação no interior do sujeito. A identificação
melancólica se daria via incorporação, ou seja, como uma impossibilidade de
introjeção (ABRAHAM & TOROK, 1987).
Este modelo de introjeção pressupõe não uma incorporação do objeto, mas a
introjeção das experiências vivenciadas pelo sujeito, explorações de seu corpo,
sentidas na presença do outro materno. Assim, mesmo se nos primórdios do
psiquismo, incorporação e introjeção se confundem, a indicação de Abraham e
Torok é precisa por ressaltar que a diferença entre os dois processos se dá pela
qualidade da função do objeto. A presença implicada do objeto possibilita que
a boca cheia, repleta pelo seio possa gradualmente passar a uma boca vazia, a
experiências que permitam ao sujeito representar as experiências com o objeto
sem procurar mantê-lo via incorporação como uma recusa a perdê-lo. Nesta
perspectiva, os autores indicam que enquanto a introjeção põe fim à dependência
ao objeto, a incorporação reforça o vínculo original.
Fragmento clínico
O caso de Maria não só nos permite refletir sobre uma lógica da incorporação
através do abuso de álcool e psicotrópicos na adolescência, como coloca em
questão um fenômeno clínico frequente, o de análises que se iniciam na infância
e são retomadas na adolescência, a partir de sintomas depressivos.
É interessante notar que durante o processo analítico de Maria, iniciado
com a construção de uma neurose infantil como forma de instauração de uma
triangulação e de uma posição subjetiva (ZORNIG, 2008), ocorre um recuo
narcísico precipitado pela separação dos pais no início da adolescência, o que
faz com que sua relação aos objetos seja vivenciada por meio de uma prática
descomedida de sexo e drogas que pouco a pouco dá lugar a abuso de álcool e
comprimidos que a colocam numa posição estereotipada de excessiva, de sem limites,
numa temporalidade da ação.
Freud, na discussão do caso do pequeno Hans, pontua que as histerias de
angústia (fobias) são por excelência as neuroses da infância por seu caráter móvel, que faz com que a angústia se fixe numa representação substitutiva, e por
aparecerem desde muito cedo na vida da criança (FREUD, 1909/1975, p.116).
O autor sugere que as histerias de angústia têm também caráter estruturante
por permitirem à criança elaborar as vicissitudes e conflitos de seu percurso
edípico sem sofrerem o impacto maciço do recalcamento. Assim, o sintoma
da criança pode ser pensado como uma tentativa de mediação entre ela e seus
objetos primordiais, e a constituição da neurose infantil como ponto culminante
da organização psíquica do sujeito.
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Assim, as neuroses na infância poderiam ser definidas como a matéria-prima
do infantil — infantil que não se reduz à infância cronologicamente vivida, mas
que se mantém como produção fantasística do sujeito sobre sua própria infância
(ZORNIG, 2008).
Maria, com 7 anos, é trazida por sua mãe à análise em função de medos de
fantasmas e objetos extraterrestres, que se traduzem em recusa a sair de perto da
mãe e de frequentar o colégio. Nas entrevistas iniciais a mãe relata ter escondido
do marido a procura de análise para a filha, por achar que ele não concordaria
que “havia algo de errado com ela”. O pai é descrito como ausente, autoritário,
workaholic, explosivo, um pai que não se envolve afetivamente com a filha ou
com a mulher, reforçando uma lógica dual e claustrofóbica entre Maria e sua
mãe, que toma a criança como um objeto que tampona toda a problemática de
sua relação conjugal.
Ao funcionar como um elemento terceiro que se interpõe a ela e à mãe, a
análise é vista ao mesmo tempo como salvaguarda de sua integridade como
sujeito, mas também como um risco potencial que ameaça o gozo sintomático
de ficar colada ao outro: ante a angústia de separação, a mãe propõe como
solução incestuosa a compra de uma cama de casal para dormir com a filha,
interrompendo sua análise assim que a criança inicia um processo de individuação e separação.
Cabe aqui retomar a indicação de Abraham e Torok referente à incorporação,
pois a mãe de Maria reforça a fantasia de um corpo para dois ao se oferecer
como objeto de incorporação, tomando a filha como seu par, sem nenhuma
mediação que pudesse propiciar a introjeção de experiências de ausência na
presença do objeto.
O pai não consegue encarnar a função simbólica de limite ao desejo materno, oscilando entre uma omissão, vivenciada por Maria como abandono e
desinvestimento, e uma presença violenta que coloca em risco suas tentativas
de subjetivação.
Podemos dizer que não há constituição da neurose infantil, pois não é
possível a instauração de um sintoma que tenha a função estruturante de se interpor à criança e ao outro. Ao contrário, a triangulação edípica perde o caráter
de abertura aos processos de representação para funcionar numa lógica de ‘bi-triangulação’. Conforme sugere Green, o termo bi-triangulação indica que o sujeito
está lidando com um aparente triângulo que na verdade forma uma entidade,
como duas faces da mesma moeda: o objeto bom é sempre inacessível, levando
à depressão, enquanto o objeto mau é intrusivo e mobiliza muitos recursos do
ego para combater essa perturbação. O importante é que esta forma de relação
ao objeto impossibilita a constituição de uma ausência e bloqueia a capacidade
de pensar (GREEN, 1988, p.47).
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Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
Um mundo sem limites
Maria retorna aos 14 anos, logo após o divórcio dos pais, relatando enorme
tristeza, vontade de morrer, desânimo e preocupação extrema quanto a contrair
doenças graves, como Aids ou câncer. Este segundo tempo da análise é marcado
por um questionamento em relação à identificação com a mãe, quando ela se
pergunta se corre o risco de ficar também uma pessoa só e sem amigos. O medo
de morrer é associado ao desejo de vingar-se da mãe, de fazê-la sofrer com sua
perda, esta mãe “que só vive para ela” (sic), recurso radical para separar-se
desta dialética dual. O pai, agora numa situação financeira estável, lhe dá muito
dinheiro, dinheiro demais, de que ela não precisa. Por exemplo, quando ela
lhe pede dinheiro para um lanche, ele lhe dá R$200,00 e quando ela responde
que “é muito”, ele lhe diz para ficar com o troco. Não há nenhuma dívida a ser
reconhecida, mas só uma lógica do descomedido e do excesso que provoca em
Maria uma tentativa de instaurar em si a função paterna, colocando limites a seu
comportamento e atuação: não usa o cartão de crédito sem limite que o pai lhe
dá, estipula para si própria horários de retorno para casa, mesmo sem ter hora
para voltar, e assim por diante.
Neste momento, a mãe decide novamente interromper a análise da filha,
sob a alegação de não ter mais dinheiro. Cria-se um impasse: para continuar
o tratamento é necessário aceder ao pai, mas Maria, mesmo afirmando querer
continuar em análise, não concorda em deixar que o pai participe de seu tratamento, dizendo: “não posso contar a meu pai”. “Contar que você sofre”, indaga
a analista? “Exatamente”, responde, “ele acha que sou uma princesinha que tem
tudo e deve ser feliz”.
A “princesinha“ retorna aos 16 anos dizendo que seu motivo para voltar a
fazer análise é o casamento do pai com uma moça “quase” tão nova quanto ela.
O casamento coloca em evidência uma fantasia incestuosa que é o motor para
uma conduta de adição: inicia sua vida sexual com celebridades, num comportamento que se assemelha ao consumo de drogas, por levá-la a um clímax sem
orgasmo — clímax por conseguir causar o desejo de seus ídolos tão desejados,
mas uma previsível incapacidade de reconhecer seu direito ao prazer que o outro
poderia lhe proporcionar. A relação dita sexual indica a busca de uma gratificação narcísica que se exprime na frase: “ele me escolheu porque sou especial”,
como se a ilusão de completude nesse desencontro sexual fosse sempre atuada
para denunciar sua impossibilidade. Assim, sua vida se divide em altos e baixos:
intensidade e excitação nos shows de rock, na conquista dos roqueiros, e apatia
e tédio na vida cotidiana como princesinha rica, que tem que corresponder à
exigência paterna “se não ele morreria de desgosto”.
O pai é inserido numa lógica dissociativa: ela se mantém como objeto do
narcisismo paterno diante de filha amorosa e dedicada, enquanto seus desejos
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O abuso de substâncias tóxicas na adolescência: uma tentativa de incorporação do objeto?
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incestuosos são atuados na máxima de sexo, drogas e rock and roll. Há também uma
clivagem nesse pai dito amoroso: uma lembrança traumática da infância é evocada como um incidente em que pai tem uma crise de fúria e atira copos que
poderiam atingi-la e matá-la, se ela não tivesse se desviado. Desta construção ou
lembrança fica um ressentimento, e imenso ódio à mãe que não fez nada para
defendê-la de um pai que não hesitaria em matá-la se tivesse “atingido” o alvo.
Assim, nessa clivagem, o ódio é dirigido à mãe, por não conseguir exercer uma
função de contenção e de limite a esse pai da horda, enquanto o pai é mantido
como objeto idealizado, mas inacessível. Desviar-se da violência intrusiva do
outro não é reconhecido por ela como um movimento de subjetivação, mas antes
vivenciado como desamparo frente à omissão materna.
É interessante notar que este fragmento de sua infância é relacionado cronologicamente à idade de 7 anos, data de sua primeira experiência em análise,
sugerindo que se a adolescência “é este momento de retorno de uma questão
adiada” (PINHEIRO, 2001, p.71), o que retorna na análise de Maria não parece ser
somente uma questão edipiana, mas principalmente uma problemática narcísica
relacionada ao abandono e privação do objeto primordial.
Maria começa a beber descomedidamente, se envolvendo em acidentes
que a deixam assustada, mas que a impelem a beber mais. Passamos por um
longo tempo de abuso de álcool e de barbitúricos, overdoses no qual há sempre
um limite tênue que separa suas encenações de morte/separação radical do
objeto, e sua preocupação com o pai que poderia ter um enfarte se soubesse
do que ela é capaz. “Se eu morrer, meu pai não vai aguentar, diz ela: se ele
morrer, eu me mato” — oscilando entre manter um objeto intrusivo e tóxico
e separar-se dele pela volta ao estado zero de tensão, ou seja, pela completa
exclusão de si. A este respeito, vários autores indicam como na drogadição o
verdadeiro tóxico não é a droga, mas sim uma intoxicação primária engendrada
por falhas nas relações com os objetos primordiais (SAVIETTO, FIGUEIREDO
& SOUZA, 2013).
O uso que Maria faz do álcool e dos barbitúricos parece se relacionar a
uma estratégia desesperada para dar contorno a sua agonia, pois, como indica
Green, em contraposição a uma angústia de castração, há uma contradição formada pela dualidade de ansiedade de separação e de intrusão (GREEN, 1988).
Assim, a cada episódio de overdose, Maria testa o efeito que provoca em seus pais
— regozijando-se ante o desespero de sua mãe e de sua incapacidade de lhe dar
limites, sentindo culpa e preocupação com seu pai, pois “poderia matá-lo de
desgosto se morresse”. No entanto, o cansaço provocado nos outros por suas
frequentes encenações abre uma brecha para a constatação de que o outro poderia viver sem ela, e propicia a abertura de um espaço potencial onde começa
a reconhecer estratégias de separação em suas “atuações”, mesmo que pudessem
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também servir a um narcisismo de morte. É interessante pensar que a função
desobjetalizante da pulsão de morte é também fundamental para estruturar os
limites intra e interpsíquicos.
Considerações finais
Pretendemos, neste texto, articular a problemática dos sofrimentos narcisico-identitários na adolescência às falhas nas relações objetais do início da vida, para
discutir a função do objeto, assim como a importância do contexto/enquadre
analítico (incluindo aí a capacidade de pensar e de sonhar do analista) para propiciar o acesso do sujeito adolescente aos processos de simbolização e introjeção.
Apesar de termos demonstrado que autores contemporâneos relacionam o
momento da adolescência a um questionamento sobre os limites entre o eu e
o outro, entre o interno e o externo, e nesta perspectiva, aproximam a clínica
da adolescência à clínica dos casos-limite (CARDOSO, 2001; PINHEIRO, 2001),
nosso objetivo foi indicar que o processo analítico na adolescência deve propiciar
o acesso aos processos de simbolização que podem ser paralisados pela irrupção
pulsional que impulsiona o sujeito à ação em detrimento da elaboração.
O fragmento clínico apresentado é paradigmático de uma clínica em que a
noção da construção e da instauração de uma temporalidade contínua é fundamental, pois Maria foi atendida durante 20 anos permeados por longos intervalos
que foram acolhidos como necessários e estruturantes, e não como resistências
ou interrupções à análise e ao trabalho de apropriação subjetiva.
Assim como o caso de Maria, nossa observação clínica demonstra que muitas
neuroses da infância são retomadas na adolescência não só pela possibilidade de
retomar questões que possam ir além da sexualidade infantil e do autoerotismo,
mas, principalmente, quando a constituição de uma neurose infantil como ponto
culminante da organização psíquica do sujeito não se dá em função de falhas na
relação aos objetos primordiais. Dessa forma, os “buracos psíquicos” resultantes
de tais falhas produzem um recuo do trabalho de luto e reconhecimento da
alteridade, e a incorporação funciona como defesa extrema contra a perda do
objeto, impedindo o acesso aos processos de introjeção.
Como enuncia Roussillon (2010), para que o objeto possa ser simbolizado em
sua alteridade, diferença e falta, é imprescindível a presença do próprio objeto,
num jogo intersubjetivo que propicie um encontro entre o sujeito e seu duplo,
desde que este “duplo” seja reconhecido como outro sujeito.
Ampliando a contribuição winnicottiana sobre a utilização do objeto na
estruturação psíquica, o autor demonstra que o reconhecimento da alteridade
depende da “resposta” do objeto à destrutividade do sujeito. Ou seja, não basta
o objeto se mostrar psiquicamente presente sem retaliações ou confronto, pois
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O abuso de substâncias tóxicas na adolescência: uma tentativa de incorporação do objeto?
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é imprescindível que o objeto saia da órbita da destrutividade, mostrando-se
“criativamente vivo” no encontro com o sujeito.
Assim, na clínica da adolescência e dos sofrimentos narcisico-identitários,
é preciso que o objeto possa ser suficientemente semelhante para permitir a
experiência de um prazer compartilhado, colocando-se ao mesmo tempo como
objeto outro-sujeito que possibilite a descoberta da alteridade do outro, sem
uma vivência de desamparo.
Manonni (2004), criticando a psicanálise por não contribuir muito para
uma metapsicologia relativa à adolescência, ressalta que a análise com adolescentes deveria utilizar o brincar no sentido winnicottiano de propor um espaço
potencial ao adolescente onde ele pudesse jogar com as diversas possibilidades
identificatórias, desde que mantendo suas identificações primordiais, recor­tan­
do-as ou complementando-as secundariamente, vivenciando uma relação de
intersubjetividade sem risco de despersonalização ou morte psíquica.
Retomando a proposição de Laplanche (1992) ao ressaltar o aspecto sexual e
enigmático do inconsciente do adulto nos cuidados veiculados à criança, podemos
pensar que a adolescência reabre a questão do enigma, não só pela dimensão de
interpelação que o confronto com a alteridade produz, mas também pela possibilidade de brincar com desconhecido e com o vazio. Assim, se a adolescência
permite ir além da sexualidade infantil e reabre a capacidade de um trabalho do
negativo, pretendemos enfatizar que esta capacidade só tem lugar na presença
em reserva de um outro que possa reconhecer a função mensageira da pulsão,
propiciando um encontro intersubjetivo que sirva de ancoragem para a capacidade de estar só (WINNICOTT, 1958/1990).
Recebido em 21/1/2014. Aprovado em 18/2/2014.
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Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
[email protected]
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Dependência e adolescência:
a recusa da diferença
Marta Rezende Cardoso
Marta Rezende Cardoso
Psicóloga;
Psicanalista;
doutora em
Psicanálise e
Psicopatologia
Fundamental pela
Universidade de
Paris Diderot —
Paris 7; professora
associada do
Instituto de
Psicologia da
UFRJ (Programa
de Pós-Graduação
em Teoria
Psicanalítica);
pesquisadora
(bolsa de
produtividade
em pesquisa)
do CNPq;
pesquisadora
da Associação
Universitária
de Pesquisa em
Psicopatologia
Fundamental.
Resumo: Este artigo é dedicado à problemática da dependência
psíquica na adolescência a partir de dois eixos de análise: a relação
eu/outro e a polaridade interioridade/exterioridade. A experiência de separação do objeto está implicada nessa passagem da vida
infantil à vida adulta, vertente central da questão da dependência,
em particular nas adições. Pretende-se mostrar o caráter paradoxal
do processo de separação na adolescência, seu núcleo primário e
edipiano em cujo entrelaçamento situa-se o fundamento de seus
impasses. A dependência patológica é marcante na contemporaneidade. Na busca de um prazer absoluto, o sujeito tende a se ver
numa situação de isolamento o qual poderá ser mascarado pelo
estabelecimento de um elo passional com o objeto.
Palavras-chave: Dependência, adolescência, alteridade, contemporaneidade.
Abstract: Dependence and adolescence: the refusal of the differ-
ence. This article is dedicated to the problem of psychic dependence
in adolescence from two angles: the relationship of self / other and
the polarity interiority / exteriority. The experience of separation
from the object is implied in this passage from childhood to adult
life, central part of the issue of dependence, particularly in the
addictions. It is intended to show the paradoxical character of the
separation process in adolescence, its primary and Oedipal core,
on whose entanglement lies the foundation of its impasses. Pathological dependence is remarkable nowadays. In search of absolute
pleasure, the subject tends to find himself or herself in a situation
of isolation which can be disguised by the establishment of a
passionate link to the object.
Keywords: Dependence, adolescence, otherness, contemporaneousness.
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N
este artigo, proponho-me a aprofundar as questões discutidas no II Colóquio Franco-Brasileiro: Dependência e ‘drogas’ na adolescência: entre subjetividade e cultura. Realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, este
evento foi promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica
juntamente com o Collège International de l’Adolescence e a Université Paris
Descartes (França).
Apresentarei uma reflexão sobre a problemática da dependência com o intuito de investigá-la a partir do referencial teórico da Psicanálise. Busco uma
melhor compreensão dos elementos metapsicológicos e psicopatológicos, os
quais, entrelaçados, estariam situados na base dessa problemática. Nesta se
insere o uso de drogas, tema de inquestionável relevância nos tempos atuais
e em especial no que diz respeito à adolescência e juventude contemporâneas.
Porém, a utilização abusiva de substâncias tóxicas a que hoje assistimos, não sem
profunda preocupação, é apenas uma das facetas da situação de dependência
psíquica — esta, sim, central na adolescência, experiência subjetiva de travessia
da infância à vida adulta.
A questão da dependência na adolescência, tendo em vista a articulação entre
subjetividade e cultura será também aqui objeto de breve análise. A estruturação
e funcionamento da vida psíquica são indissociáveis de um contexto sociocultural determinado. De acordo com o que enunciei no argumento do mencionado
colóquio, a dependência às ‘drogas’, situação clínica que se situa no campo das
chamadas ‘novas patologias’, não cessa de nos interrogar sobre determinadas
particularidades da cultura contemporânea.
Para explorar os fundamentos da dependência psíquica e alguns de seus
desdobramentos, vou me dedicar em primeiro lugar à relação eu/outro, aspecto que me parece primordial no presente estudo. Em um segundo tempo, irei
articulá-la à polaridade interioridade/exterioridade.
Relação eu/outro: a dependência além da separação
O ponto de partida de minha reflexão se apoia na etimologia do termo dependência,
originado no verbo latino dependere cuja significação é “pender de”, levando-me a
sublinhar, de antemão, que a situação de dependência coloca em questão a dimensão de sujeição, de subordinação, de domínio. Mas faz-se necessário explorar
a dimensão de alteridade que daí se desdobra, particularmente a de “servidão
ao outro” (CARDOSO, 2010), seus elementos principais e destinos nas situações
de dependência extrema, patológica, em especial na adolescência. Trata-se, no
caso, de uma servidão ego-corporal em relação a um objeto o qual, no universo
intrapsíquico, insiste, sem se fazer ‘dissolver’, com seu caráter absoluto, sinistro
e persecutório. A contingência, marca da natureza pulsional do objeto, vê-se
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aqui, de certo modo, desviada. Nas situações de dependência, contrariamente
ao que seria próprio da pulsão, o objeto é fixo, pressupondo uma relação eu/
outro de tonalidade passional, adesiva, sem plasticidade, sem perspectiva de
separação ou de substituição.
Uma das principais vertentes da questão da dependência na adolescência é a
experiência de separação do objeto, implicada de forma direta nessa tumultuada
e, muitas vezes, traumática passagem. Mas este constitui apenas um elemento
inicial na análise que me proponho a realizar, pois, ainda que reconheça a sua
inquestionável pertinência e riqueza, tenho o objetivo maior de, partindo desse
aspecto, poder ir além dele, abrindo uma nova via. Busco assim aprimorar o
estudo da problemática da dependência, limitado, muitas vezes, à vertente da
separação, no sentido da ameaça de perda do objeto.
Nas palavras de Isée Bernateau (2010), em seu belo e rigoroso trabalho sobre
adolescência e separação, a adolescência é o tempo dos exilados. É também o tempo
dos inseparáveis. Segundo essa autora, “a especificidade psíquica da separação na
adolescência sustenta-se no seguinte paradoxo: nunca o objeto está tão presente
quanto quando está ausente” (p.15, tradução livre). Este paradoxo diz respeito
a uma presença dolorosa advinda da própria ausência do outro que provoca, de
uma só vez, o temor de dele se separar e de dele não poder se separar.
A partir dessas proposições, pode-se vislumbrar, dentre outros elementos,
a inescapável vivência subjetiva da solidão na adolescência, considerando toda a
complexidade dessa vivência. Esclarece a autora: “Entre a nostalgia melancólica
de um objeto para sempre perdido e a inquietante estranheza — o ‘estranho’
de um objeto onipresente em sua própria ausência — o processo de separação
se dá num limiar muito deslizante” (BERNATEAU, 2010, p.15 tradução livre).
O limiar aqui mencionado concerne à relação entre separação e perda, relação
sem dúvida tênue e fronteiriça, muitas vezes confusa para o sujeito adolescente,
suscetível de nele engendrar dor, dor psíquica. Porém, mesmo que comporte
uma face potencialmente traumática, a separação tem caráter estruturante.
É a singularidade da história psíquica de cada sujeito e de suas vicissitudes que
revelará, a posteriori, as aberturas e impasses desse processo de elaboração de
perdas e rupturas, inevitáveis na adolescência. Nelas confluem aspectos narcísicos e objetais, na confluência também do mesmo e do diferente e, de modo
complementar, do íntimo (familiar) e do estrangeiro. No interior do sujeito
adolescente há intensa confusão entre separação e perda. E isso tampouco pode
ser desvinculado da reviravolta que a puberdade inaugura, no plano da sexua­
lidade, nesse corpo já desde sempre ocupado e desviado pela emergência da
pulsão, motor da vida subjetiva.
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“A reproblematização do narcísico e do objetal, assim como as metamorfoses da
puberdade, reavivam a ameaça de uma perda irreversível. Os primeiros tempos
da vida são atravessados de novo. O processo de separação encontra aqui seu fundamento, pois a sexualidade humana requer, em seu exercício próprio, o descolamento
dos objetos da infância, sua substituição por outros objetos que serão os objetos do
desejo.” (BERNATEAU, 2010, p.59, tradução livre)
Estamos diante da revivência da situação de desamparo infantil, inescapável
na adolescência. Mas é da maior importância perceber que esta revivência se
impõe ao psiquismo adolescente em seu entrecruzamento com a repetição do
Complexo de Édipo, fazendo retornar, com toda a força, fantasias sexuais recalcadas que, a partir de então, emergem no contexto de um novo corpo. Este, apto
agora à realização do ato sexual e da reprodução, não mais dispõe da proteção
da própria condição infantil. O exercício da sexualidade, com sua exigência
incontornável de rompimento com os objetos da infância, é a condição para
que o sujeito venha a investir em outros objetos, aqueles que serão tratados de
modo concreto pelos jogos pulsionais como objetos de desejo. Temos aqui um
elemento a ser levado em conta se quisermos avançar no entendimento do eixo
separação/autonomia, fundamental na passagem da adolescência.
O plano do primário se integra ao do edípico — plano do secundário — e
interroga-nos acerca da retomada do infantil, sobre as suas potencialidades
e eventuais impasses, num movimento que se dá a partir da lógica do a posteriori.
É neste movimento, historicizante, que o novo corpo, vivido de início como
estrangeiro, poderá, no melhor dos casos, vir a ser integrado, tornado familiar.
É também por essa via de apropriação que o sentimento de solidão e o de temor
ou, mais precisamente, de angústia de separação, poderão ser ultrapassados.
Lembra-nos Bernateau (2010) que, em “Inibições, sintomas e ansiedade”,
Freud (1926/1996) fizera menção a três situações a partir das quais eclodiria a
angústia infantil: quando a criança está só, quando se vê na escuridão e quando encontra uma pessoa estranha no lugar daquela que lhe é familiar. Nas três
situações é a ausência da pessoa amada a condição da angústia. Mas a questão
no caso não é a do perigo ou da solidão por si mesmos: se a pessoa amada falta
à criança, isto se deve unicamente ao fato de apenas ela poder satisfazer suas
pulsões as quais, sem aquela presença, transformam-se em angústia. A angústia
de separação é, então, a consequência direta do estado de desamparo originário
do bebê, angústia destinada a desaparecer em seguida quando o sujeito pode
assegurar por si mesmo sua sobrevivência.
A adolescência produz a retomada violenta dessa angústia arcaica de separação
pelas múltiplas e violentas rupturas que promove, e pela exigência de trabalho
que impõe. Mas é necessário ter-se em mente — e este é o ponto que me inteágora (Rio de Janeiro) v. XVII número especial agosto de 2014 63-74
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ressa — que o caráter insuportável da angústia de separação é, ao mesmo tempo,
desejo de separação. Partindo desta suposição, devemos considerar, com a devida
atenção e rigor, a incidência do entrecruzamento, na adolescência, da revivência
do desamparo infantil e da do Édipo, às quais já fiz menção.
Entendido à luz dessa perspectiva, o problema da separação, em particular o
da angústia que essa experiência suscita, revela-se bem mais complexo e paradoxal do que poderia a princípio parecer. Como precisa Jacques André (2004,
p.55): “Na angústia de separação, não é, apesar das aparências, a separação que
é angustiante, mas sua impossibilidade”.
Em entrevista realizada com esse autor há vários anos (CARDOSO, 2000),
dedicada, dentre outros temas, ao da separação e ao papel que tem desempenhado na psicanálise contemporânea, a pergunta é: não estaríamos correndo o
risco de fazer da separação, da angústia a ela associada, a sua “cruz”? A resposta
que ele nos oferece é bastante instigante e não deixa de fazer pensar, mais uma
vez, no que Freud (1926/1996) sublinhara acerca da complexidade da angústia
de separação em “Inibições, sintomas e ansiedade”:
“A separação é uma experiência equívoca que é impossível de rebater sobre uma
significação única. Sabemos de que modo Freud interpretava a angústia de separação,
invertendo os termos. Não é a ausência da mãe que faz com que a criança tenha medo
na escuridão, ou da presença de um rosto estranho, mas sim o excesso paradoxal
de sua presença, sob a forma de uma fantasia incestuosa que ataca o ego de dentro,
sem encontrar fora as vias de uma possível satisfação.” (ANDRÉ, 2004, p.78-79)
Ou seja, o risco subjacente, em essência, é o de uma não separação com um
objeto com o qual se poderia restabelecer um elo perigoso, incestuoso. O risco
é, portanto, de um encontro insistente com o duplo de si, que traz em sua base
a angústia de dominação pelo objeto, angústia de passividade fundamental, de
servidão ao outro, mas, simultaneamente, de desaparecimento do outro. Reencontramos neste ponto, com bastante nitidez, as angústias paradoxais típicas
dos casos fronteiriços, estados limites nos quais há permanente oscilação entre
essas duas angústias.
Em vários adolescentes, “esta angústia dupla surge quando o objeto, sempre
próximo demais ou longe demais, ameaça tanto desaparecer como invadir”
(BERNATEAU, 2010, p.143-144, (tradução livre). Quando essa vivência interna
se cristaliza, as respostas defensivas tendem a comportar um caráter elementar e
precário, apelando, muitas vezes, ao registro do ato e do corpo. O acionamento
dessas defesas-limite pressupõe, na base do funcionamento psíquico do sujeito, a
presença de um afluxo pulsional excessivo, indissociável da fragilidade dos limites
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egoicos, quadro ancorado, portanto, na presença do traumático, configurando-se
como estado limite.
“A frequência do agir, das condutas marginais e delinquentes, das dificuldades escolares, das manifestações centradas no corpo, do sentimento de vazio e morosidade,
da massividade da projeção (do que é mal no exterior), da idealização inversa de
um bom objeto protetor, da recusa (do conflito) e, enfim, da fragilidade de uma
identidade deslizante autorizam a falar de estados limites próprios à adolescência.”
(RICHARD, 2001, p.53, tradução livre)
Como tive ocasião de desenvolver em “Adolescência e ‘violência’: uma questão
de fronteiras?” (CARDOSO, 2001), o sujeito adolescente terá que ir ao encontro
de um outro de si. Mas deverá, ao mesmo tempo, manter preservadas as suas
fronteiras egoicas. Há na adolescência intenso abalo das bases narcísicas do sujeito
em função do remanejamento das identificações secundárias nela implicadas.
O trabalho da adolescência demanda o desinvestimento das ligações aos objetos
da infância. No entanto, as identificações primárias deverão permanecer sólidas,
mesmo que em sombra, garantindo a permanência e continuidade do ser em
sua descontinuidade, para que a perda do objeto não venha implicar a perda do
ego. No meu entender, a adolescência constitui efetivamente uma problemática
de fronteiras.
Dependência adicta: uma recusa da diferença?
O mal amar, o não reconhecimento do sujeito em sua diferença, na singularidade de seus desejos, seja pela imposição de um amor mal colocado, excessivo
ou faltante, poderá ser responsável por uma má retomada, na adolescência, das
fantasias e roteiros próprios ao infantil. Estes fatores se aliam de forma sobredeterminada a outros — particularmente, como mostrarei adiante, àqueles advindos
na contemporaneidade de um universo sociocultural cuja marca seria um “além
do mal-estar”. De que modo esses vividos levariam a um estado de dependência
ao outro como é o caso, por exemplo, das adições, tão presentes na atualidade?
A adição implica “o ato e o corpo, a compulsão e a dependência, na busca
de uma satisfação solitária (mesmo em grupo), sem pensamento, sem palavra,
num tempo diferido ou abolido: o efeito do processo aditivo” (BRUSSET, 2010,
p.67, tradução livre). Lutando para superar um estado de dependência afetiva
em relação aos objetos internos e externos, o sujeito vê-se confrontado a outra
forma de dependência que, paradoxalmente, tenderá a acentuar essa própria
dependência que ele visa superar.
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Dependência e adolescência: a recusa da diferença
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O objeto da adição faz abolir a temporalidade, exclui o sexual, a linguagem;
atualiza-se assim um modo singular de relação ao objeto interno: o do domínio,
da servidão ao outro. Deste modo, o objeto é apagado em sua alteridade. Está aí
em jogo um estranho modo de relação objetal no qual impera a desobjetalização,
nos termos que Green (1988) considera a ação da pulsão de morte.
A propósito da relação aditiva, Joyce McDougall (2002) chama a atenção para
a questão da busca no mundo externo de uma situação na qual a função materna,
revelando-se faltante, poderá ter como resultado a impossibilidade de acesso do
sujeito à transicionalidade, que o capacitaria a ir ao encontro com a diferença.
Mas quais seriam as razões do perigo desse encontro com a diferença, perigo
de uma relação afetiva com outro diferenciado de si?
Sabemos que a prática solitária própria à conduta aditiva, “evita a relação com
o outro (...) tornando possível a experiência temporária ilusória do gozo numa
posição de onipotência por indiferenciação” (BRUSSET, 2010, p.72, tradução
livre). A dinâmica envolvida nesse fenômeno não é a do recalque, mas a da clivagem, clivagem ao eu, sob a lógica do irrepresentável e da autodestrutividade
cujos correlatos são, dentre outros, a fragilidade narcísica e as perturbações no
sentimento de identidade.
Como busca de prazer sem limite, prazer além do princípio do prazer, a
adição e as situações de dependência extrema, patológica, supõem a falência do
“trabalho do negativo”. De acordo com André Green (1993), este implica uma
dissolução do objeto em si, com consequente abertura à diferença. A dependência
patológica aponta para o elo com um objeto-coisa — coisa não transformável —
que Joyce McDougall (2002) trata em termos de objeto transitório por conta da
própria ausência que comporta de uma dimensão de transicionalidade. Trata-se
de um objeto sempre “fora”, incapaz de “resolver de forma durável a falta interna,
a ausência” (MCDOUGALL, 2002, p.22-23, tradução livre).
Nestes casos, a relação com o objeto é referida a um tempo oral, canibalístico,
arcaico e ‘informe’, “onde o objeto e o eu fazem (pelo gozo e misticamente)
um nessa identidade comum, tentativa sempre renovada de estabelecer um par
eu-objeto, mas tentativa sempre abortada em função de traumas/fissuras/clivagens precoces do eu que entravam o ‘trabalho do negativo’” (PIRLOT, 2010,
p.53, tradução livre).
A dependência corresponde a um entrave no encontro com o objeto, expressão, no meu entender, de uma recusa da diferença. Ao recusá-la, tenta-se uma
dominação-limite daquilo que tenho denominado “transgressão pulsional”, ou
seja, irrupção de um excesso pulsional nas fronteiras egoicas. Explorei esta modalidade de recusa, por exemplo, no artigo “Violência, domínio e transgressão”
(CARDOSO, 2010) no qual me voltei mais para a questão da violência manifesta,
atuada, em especial a resposta das passagens ao ato envolvendo agressividade.
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Penso, porém, que a recusa da diferença estaria também na base das situações
de dependência extrema, resultando, como resposta defensiva, na tentativa de
dominação-limite, domínio do outro por apropriação violenta, sem elaboração.
Deste modo, o objeto estaria supostamente sob o domínio do ego o qual permanece, no entanto, dominado pelo objeto interno, num estado de passividade radical.
O eixo interioridade/exterioridade
O objeto sempre “fora”, do qual nos fala McDougall (2002) através da noção de
objeto transitório, convoca um eixo de análise dos mais essenciais na problemática da dependência: a da interioridade/exterioridade, eixo central, aliás, no
campo dos estados limites, de modo geral. Nestes, “a interioridade vê-se suplantada por uma tendência à exterioridade, justamente em função dos limites da
capacidade de representação e de recalque” (CARDOSO, 2011b, p.83). Não há,
no plano interno, a constituição de uma zona fronteiriça entre o eu e o outro.
É preciso lembrar que a força pulsional excessiva constitui uma exterioridade,
uma “diferença” em relação ao espaço egoico.
Na dependência patológica, os objetos externos são instáveis pelo fato de
o acesso à transicionalidade ser precário, dificultando a dialetização do espaço
do dentro e do fora. “A perda do outro, o seu desaparecimento, corresponde a
uma perda de si” (idem, p.87). A ameaça nesses casos não seria a de perder o
objeto, mas a de não poder perdê-lo, o que torna essas situações bem distintas
da melancolia. Mas é preciso perceber que elas também se distinguem da psicose
onde, diz Jacques André (2001, p.106), “o outro é um eu”. Nos estados limites,
“o único eu é um outro, outro fora de si, no exterior”.
Vindo complementar esta discussão sobre a interioridade/exterioridade e seu
papel nas situações de dependência patológica, a questão do teste de realidade nos
estados limites mostrou-se uma via bastante frutífera. Apoio-me, neste ponto, nas
contribuições de Luis Claudio Figueiredo (2004) em “Os casos limites: senso,
teste e processamento da realidade”. Como indiquei antes, a problemática das
fronteiras psíquicas se articula de forma estreita à adolescência e, principalmente,
quando se trata de analisar as respostas atuadas com forte apelo ao corpo, tão
frequentes na adolescência atual.
Mostra Figueiredo que nos fronteiriços haveria singular dificuldade nos processos de discriminação entre interno e externo. Neles, os testes de realidade —
de acordo com a definição freudiana dessa noção — se fazem possíveis, mas de
forma ineficaz, por serem acionados de maneira excessiva, sempre necessária, o
que pressupõe a ausência de efetivo processamento de realidade. Em suas palavras:
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“Parece clara a função dos frequentes ‘testes de realidade’ em pacientes com esta
patologia, bem como os limites deste dispositivo de discriminação entre o interno
e o externo. Os indivíduos que recusam a diferença e a exclusão e não podem tolerar a
inclusão e a continuidade, são ameaçados, a partir desses dois lados, pelo aniquilamento. Recorrem ao teste de realidade para se livrarem, ora de uma ameaça, ora
de outra.” (FIGUEIREDO, 2004, p.515)
O uso do teste de realidade visa aqui à tentativa de se escapar dos extremos
desses dois polos: o da exclusão-diferença total e o da total inclusão-continuidade.
O ponto de ancoragem desta problemática é a relação com a alteridade. A recusa
da diferença vai de par com a intolerância à inclusão e continuidade.
Essas afirmações de Luis Claudio Figueiredo se sustentam não apenas em
elementos próprios ao plano das relações primárias, mas se baseiam sobretudo
na singularidade da configuração edipiana nessas situações clínicas. Defende o
autor, com justeza, que a precariedade dos processos de triangularização tem
papel determinante nesse apelo que se faz contínuo, repetitivo, aos testes de
realidade — exatamente pelo seu caráter incessante, sinal de visível ineficácia.
A construção do senso de realidade pressuporia uma temporalidade distinta
desse imediatismo presentificado e suporia, também, a presença de um espaço
interno suficientemente ampliado e multifacetado. “É a triangularização edípica,
no que contém de inclusão na exclusão e continuidade na diferença, que cria as
condições propícias para a instalação de um senso de realidade em suas dimensões espaciais e temporais” (FIGUEIREDO, 2004, p.514).
Desse modo, a dimensão traumática da cena primária, antes da entrada do
Édipo, é colocada em evidência nessa análise. Isto se dá pela imposição à criança
de uma experiência de exclusão radical e também pela sobrecarga de excitação
libidinal acompanhada de agressividade. Neste caso, a violência é de exclusão
e de inclusão por engolfamento, pelo fato de as relações diádicas ainda serem
predominantes, ou seja, estarem submetidas a uma temporalidade que precede
a possibilidade de o sujeito se situar como um terceiro em cena.
A hipótese do autor é que: “algo equivalente à cena primária está na origem
dos transtornos borderline, desde que se entenda que esta experiência traumática
tenha ocorrido sob a dominância das relações diádicas, impedindo a aceitação
mínima da realidade como limite, princípio da exclusão e da diferença” (FIGUEI­
REDO, 2004, p.510-511).
Trata-se, portanto, de uma recusa da diferença, que é obstáculo às relações
triádicas das quais dependeria a constituição e a qualidade dos processamentos
de realidade.
A precariedade da instalação do senso de realidade, manifestada no incessante
apelo aos testes de realidade aos quais fiz referência, caracteriza a dependência
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como patologia de externalização da luta psíquica interna, onde os movimentos pulsionais são expressos de maneira imediatista, presentificada, sugerindo,
como também o considera François Richard (2011, p.23), uma sensorialidade
generalizada, acompanhada de insatisfação e destrutividade dirigida contra si
mesmo e, muitas vezes também contra os outros.
Considerando o crescente apelo na adolescência e juventude contemporâneas
ao corpo e ao ato como modalidades de defesa radical, dentre elas as múltiplas
formas de dependência a um objeto-coisa, pergunto se não estaríamos hoje diante
de uma crise de subjetivação. Em razão da insistência do traumático, correlacionadas à má delimitação das fronteiras egoicas, a problemática-chave aqui é a do
dentro e do fora, aliada à do estrangeiro e do familiar. Os objetos são instáveis,
incertos nas configurações limites. Quando a perda do outro corresponde a uma
perda de si, a verdadeira ameaça é a de não poder perder, e esta seria, no entanto,
a condição necessária para se libertar do domínio do outro interno.
A dependência além do “mal-estar”
Encontramo-nos hoje em um além do “mal-estar” cuja expressão, dentre muitas
outras figuras, seria a presença insistente nos sujeitos de uma expectativa narcísica de caráter ilimitado. Esta pressupõe visível desconhecimento de seu próprio
sofrimento, ou melhor, de sua dor psíquica. A dependência patológica é uma das
figuras dessa dinâmica e economia psíquicas movidas por um transbordamento
pulsional e por uma insuficiência narcísica de base. Esta situação tem aguda
ressonância na dinâmica que parece mover, em grande parte, a formação dos
valores culturais próprios à contemporaneidade. Imerso numa cultura voltada
para o prazer absoluto, o sujeito tende a se encontrar numa situação de profundo isolamento o qual poderá vir a ser mascarado pelo estabelecimento de um
elo passional que vem uni-lo a um “objeto único”, objeto-coisa, objeto de uma
dependência extrema.
Se não há limite para as exigências pulsionais, não há, portanto, o estabelecimento de sólidos laços sociais. A economia pulsional tende a uma descarga
radical no exterior, a uma evacuação imediata da energia pulsional, perturbadora
no interior do psiquismo. “O afrouxamento nos processos de hierarquização
social, de marcação de limites, de papéis e funções sociais tem como possível
reação patológica, a des-inscrição psíquica dos elos coletivos” (CARDOSO, 2001,
p.52). Parece haver confusão entre igualdade e mesmeidade, com a consequente
perda progressiva da capacidade do sujeito de lidar com o outro, numa crescente
recusa da diferença. Este aspecto não pode deixar de ser invocado quando nos
perguntamos sobre as possíveis determinações desse incremento de casos limites, fronteiriços, que a clínica e a subjetividade contemporâneas parecem exibir.
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Porém, toda esta reflexão sobre a dependência patológica na adolescência,
apoiada na dimensão de trauma, de excesso, de transbordamento pulsional,
tendo em vista os impasses e turbulências que provoca no campo da relação eu/
outro, não deixa de nos fazer pensar sobre outros possíveis destinos no processo
de subjetivação da adolescência e da juventude, destinos não menos relevantes
e surpreendentemente atuais — e que acenam para uma perspectiva de criação,
e não de destruição.
O sentimento de insuficiência, de desespero e mesmo de desolação diante
da precariedade das condições de constituição subjetiva, e dos impasses que a
sociedade de hoje impõe aos sujeitos nos conduziram a abordar a questão da
“transgressão pulsional”. Esta é, no entanto, capaz de também fazer eclodir, numa
espécie de inversão em seu oposto, um ruidoso e violento vivido de indignação,
com todo o seu potencial criativo, de transformação e libertação.
A demanda de “passe livre” — expressão que escolhi, finalizando este artigo,
para invocar aquilo a que assistimos no Brasil nos movimentos de junho de 2013,
não sem grande impacto — parece apontar, além do seu sentido mais restrito,
para uma luta coletiva pela abertura na construção de laços sociais, luta por uma
ampliação de fronteiras e de trânsito entre elas o que, no plano individual, vai na
contramão do isolamento próprio à relação com um objeto-coisa, onipotente e
perseguidor, despertando o campo dos ideais e sua dominância na vida psíquica
e, portanto, a perspectiva de um reencontro com a diferença.
Mas, a participação dos jovens nas manifestações de junho demanda ainda
muita reflexão a partir do referencial de diferentes campos de saber, inclusive
o da Psicanálise, projeto que deixo aqui anunciado para um futuro trabalho.
Recebido em 3/2/2014. Aprovado em 6/2/2014.
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in CARDOSO, M. R. (Org.) Adolescência: reflexões psicanalíticas, Rio de
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Marta Rezende Cardoso
[email protected]
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Dépendance aux images
et élaboration de la violence
Florian Houssier
Florian Houssier
Psychologue
clinicien,
Psychanalyste,
Membre
du Collège
International de
l’Adolescence
(CILA), Professeur
en psychologie
clinique et
psychopathologie,
Laboratoire :
Unité Transversale
de Recherches :
Psychogenèse et
Psychopathologie,
Université ParisNord, Sorbonne
Paris Cité.
ResumE : Dans cet article, l’auteur explore l’usage des images violentes dans un jeu vidéo en interrogeant la fonction métapsychologique
des images à l’adolescence. A partir de l’exposé d’un cas clinique,
une discussion s’ouvre sur la différence entre le retrait sur les objets
internes et l’importance des rêveries adolescentes que le jeu vidéo
prolongerait, au service du processus adolescent.
Mots clés : Image, violence, jeu vidéo, adolescence, retrait, rêverie.
Abstract: Image dependence and elaboration of violence. The author explores the use of violent images in a video game, examining
the meta-psychological function of the images in adolescence. From
a clinical case, we discuss the difference between the withdrawal
on the internal objects and the adolescent daydreams, prolonged
by the video game helping on the adolescent process.
Keywords: Image, violence, video game, adolescence, withdrawal,
daydream.
D
ans le champ socio-médiatique, l’image est souvent désignée comme une source d’influence censée orienter voire
provoquer les passages à l’acte les plus violents. Pourtant, une
image seule ne pense pas, quel que soit son contenu. L’image
peut faire écran, lorsqu’on met en avant sa violence ou ses
effets supposés, c’est-à-dire le visible au détriment de ce qui ne
se voit pas, les processus internes qui lui donnent sa fonction
dans l’économie psychique du sujet.
A l’adolescence, le rapport à l’image interroge plus en
profondeur les relations d’objet et les remaniements instanciels. L’objet désigné comme l’ennemi intime, le corps pubère
(BIRRAUX, 1990) désormais source de toutes les désorganisations potentielles, s’articule avec les sentiments de perte
d’objet, sentiments en lien avec la haine de la vie psychique
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(GUILLAUMIN, 2001). L’objet d’amour ou de haine peut être représenté par
l’image via une multitude de substituts, montrant la dépendance du sujet à ses
objets internes au moment où les enjeux de d’individuation et de différenciation
deviennent cruciaux. Dans le même temps, la pulsionnalité sauvage qui assaille
les adolescents provoque la reprise de mécanismes de défense tels que la projection ou l’ascétisme, souvent sollicités par les joueurs vidéos (VLACHOPOULOU,
HADDOUK, HOUSSIER, 2014) : la projection des conflits psychiques via la médiation des jeux ; l’ascétisme comme défense contre ces pulsions encore trop colorées
de fantasmes incestueux et parricides. Alors que les conflits identificatoires créent
un champ de bataille interne, l’image peut nourrir ainsi les identifications ou
créer un leurre en rupture avec le projet identificatoire. Autrement dit, les jeux
vidéos peuvent être utilisés comme un moyen de mettre à distance les figures
parentales en tant que marqueur de la différence des générations ; ou comme
une voie d’entrée dans une forme de repli narcissique contre-identificatoire,
désaffilié, ce que nous discuterons à propos du retrait. La question qui traverse
cet article peut ainsi être formulée ainsi : le rapport à l’image est-il la création
d’un espace de jeu et de rêverie, dans la continuité de l’espace transitionnel
développé par D. W. Winnicott ? Ou une addiction à l’image qui participe d’un
mouvement de retrait vis-à-vis du monde externe et de son représentant central,
l’autre différencié ?
La rêverie est généralement associée à une continuité du jeu chez l’enfant ; à
l’adolescence, elle participe notamment de la capacité à différer la conquête de
l’objet sexuel non incestueux et extra-familial (FREUD, 1905/1962). A contrario,
le retrait dans une rêverie oniroïde est souvent envisagé comme un dispositif
anti-dépressif s’opposant à l’élaboration des désirs liés à l’Œdipe pubertaire
(GUTTON, 1996). Les extraits de psychothérapie que nous présentons interrogent l’articulation entre image de jeu vidéo et rêverie, posant le débat en ces
termes : l’usage de l’image en tant qu’objet culturel est-il addictif, participant
d’une impasse dynamique du processus d’adolescence ? Ou cet usage, aussi
compulsif soit-il, est-il lié à la capacité de rêverie caractérisant les transitions
nécessaires à l’adolescent, temps d’attente au service de l’élaboration des conflits
infanto-adolescents ?
L’usage des images, entre double narcissique et décorporation
Le virtuel, le monde des images n’est pas à incriminer en soi. C’est même un
support de construction de soi lorsqu’il s’inscrit dans la créativité, l’espace
d’illusion. Comme le rêve, il passe par la figurabilité, le déplacement, la condensation et la symbolisation. C’est la dépendance à ce type de moyen que trouve
l’adolescent qui est en cause, la difficulté et l’angoisse majeures étant pour lui
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précisément d’assumer sa métamorphose et sa nouvelle solitude face aux autres
adultes et pairs. Que ce soit à partir du jugement qu’il porte sur lui-même et
son image, ou le poids du regard des adultes dans son environnement, l’image
touche les mondes internes comme externes. Les adolescents ont à assumer une
transformation traumatique en même temps que le regard que portent les autres
sur cette transformation.
Deux exemples de l’usage des images peuvent être convoqués. L’image est
d’abord surface sensible avant de devenir support de sens. Elle est support de
projection du monde interne avant d’être regardée et interprétée, perçue et relue comme une réalité externe qui donnerait en quelque sorte des nouvelles de
soi-même. Ainsi, le « dialogue » avec son avatar virtuel peut être pensé comme
une figure du double narcissique, aussi triomphant dans le jeu que l’adolescent
peut se sentir impuissant face à l’intensité affolante des conflits pubertaires.
L’adolescent se regarde dans l’image qu’il perçoit et qu’il redessine mentalement. Elle est autant figuration d’un état interne qu’appel à représentation,
appartenant autant à la réalité externe qu’elle est écho réverbérant et créatif
du monde interne. Ce sont ces entrelacs qui donnent à l’image autant de poids
pour l’adolescent.
A contrario, cette sensibilité au percept conduit certains adolescents à rechercher les images qu’ils produisent sous l’effet de toxiques. Ces images sous
influence cannabique voire sous hallucinogène, offrent un certain plaisir esthétique et sensoriel en même temps. Comme les images du rêve, ces productions
hallucinées condensent une multitude de contenus, donnant la sensation à celui
qui les produit d’une grande facilité créatrice dont il est pourtant bien difficile de
parler ensuite. La rapidité et la fugacité des perceptions procurent une impression
particulière que ces adolescents recherchent ensuite dans les effets spéciaux de
certains jeux vidéo. La recherche de perception hallucinée d’images et de sensations mêlées montre à quel point le fonctionnement psychique de l’adolescent
sollicite les processus primaires. L’image, dans ce cas, n’est pas investie comme
support de représentation et de sens mais est recherchée comme porteuse de
sensations (MARTY, 2009).
A l’adolescence, la figure de l’anorexie mentale représente de façon paradigmatique la tentative de nier les changements psycho-corporels de l’adolescence ;
nier le corps passe par une « décorporation » (HOUSSIER, 2011) qui, souvent
à bas bruit, est présente dans l’usage intensif de jeux vidéos : nuits blanches
passées à jouer sans boire ni manger, surinvestissement des images recouvrant,
à la façon d’un souvenir-écran, d’autres représentations. Un des enjeux du rapport aux images est celui qui traverse le processus adolescent : l’envers de cette
décorporation relève de l’intégration de la violence d’un nouveau corps, cette
fois définitivement sexué ou en voie de l’être.
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Renaud, de l’écran maternel à la rencontre avec l’objet
« Quand mon père est mort de son cancer des os, j’avais sept ans. D’apprendre
aujourd’hui que quand il s’enfermait dans sa chambre, c’était pour se shooter,
ça casse l’image ».
Tels sont les propos tenus par Renaud, âgé de dix-sept ans, dans le cadre de
sa séance hebdomadaire de psychothérapie. Depuis le début de son adolescence, l’image a pris une place décisive dans sa vie, objet de conflits avec sa mère.
Lorsqu’elle apprend qu’il ne va plus en cours et reste à la maison pour jouer à
« World of Warcraft » en attendant son retour, les disputes éclatent ; reprenant
l’aspect passionnel dont il a gardé quelques souvenirs et dont ses sœurs lui ont
parlé, les scènes de dispute ressemblent à des scènes de ménage, rappelant les
conflits entre les parents avant la mort du père. Un monde familial en guerre,
pourrait-on ajouter en écho au titre du jeu vidéo ; notons à ce propos que ce jeu
fait partie de ce qu’on appelle les jeux d’Heroic Fantasy, fantasy pouvant être
traduit par « fantasme » notamment. Le caractère héroïque de ce monde fantastique rappelle le triomphe teinté de mégalomanie des rêveries adolescentes.
Toujours est-il que, dans l’actuel, la mère de Renaud finit par lui supprimer
son écran, forme de castration à la hauteur de l’intensité de l’investissement des
images-écran ; celles-ci viennent raviver les fantasmes de rivalité avec la mère
toute-puissante des premiers temps, celle qui grâce aux traductions/interprétations qu’elle propose à son enfant, est la principale pourvoyeuse d’images non
créées par le bébé. A la place du jeu vidéo, d’autres images provoquées interviennent lorsque Renaud commence à fumer du cannabis. « Je joue toujours
en réseau, avec les autres, ce n’est pas de l’isolement », dit-il comme pour se
justifier par rapport aux reproches maternels mais aussi pour m’en convaincre.
Dans ce jeu, il est question de passer des niveaux, pour explorer et trouver de
nouveaux territoires. Ce jeu exploratoire lui fait oublier sa tristesse, le relie à sa
mère — rester chez sa mère pour jouer, sur fond de phobie scolaire —, alors
qu’il le sentiment de perdre du terrain dans leur relation. Jouer en « séchant »
les cours lui permet de faire remarquer son absence dans une double identification : au père mort, à la mère insuffisamment présente. « C’est déprimant de
penser que lorsque je vais en cours, je vis ça comme un abandon de la part de
ma mère, je n’avais pas vu ça sous cet angle », dit-il suite à une interprétation.
Venir aux séances, c’est aussi se priver de ce ressort libidinal : se mettre
en absence pour mieux mobiliser et recevoir l’inquiétude et la sollicitude, le
holding source de ravitaillement affectif. Il manque régulièrement ses séances,
tout étant d’accord, avec sa mère et moi, pour les payer. L’ordinateur est le lieu
du conflit avec la mère, mais aussi un moyen d’exciter le lien à sa mère. Ou
encore, le moyen de « se changer les esprits », ce qui m’évoque l’image d’un
père qui reviendrait le hanter. Il protège coûte que coûte l’image de son père,
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trop endommagée pour qu’il puisse le supporter. A la suite d’une moquerie d’un
lycéen sur son père, il passe trois jours à jouer sur internet sans dormir, « pour
oublier », m’annonce-t-il. L’image dévalorisée du père contraste avec le fait qu’il
passe des niveaux à son jeu vidéo, qu’il avance triomphalement en surmontant
tous les obstacles de son jeu.
Mais voilà : la tentation du repli sur le monde des images cède maintenant
la place à autre chose, ça bouge. Il est très fier, après tant d’hésitations et de
conflits — rester avec ma mère ou rencontrer les autres au lycée ? —, d’avoir des
relations sexuelles avec une fille. L’image a fait écran jusqu’ici, mais la rencontre
avec l’objet sexuel s’offre à lui, ouvrant sur une potentielle complémentarité
des sexes. « Si je fixais un classement affectif, je mettrais mes deux sœurs en
premier, ma copine, je ne sais pas si j’inclurais ma mère dans ce classement, on
a une relation trop aléatoire ». Sa mère a rencontré un nouvel amant, elle n’est
plus là quand il rentre du lycée. « Je me demande ce que je ressentirais si elle
mourrait. Je serais sans doute triste à long terme, mais pas sur le moment, on
n’a plus la même relation qu’avant. » Puis, à la suite de séances qu’il manque, je
repère avec lui qu’en s’absentant, il maîtrise la relation, décide quand il vient,
tout en ne disant pas à sa mère qu’il manque les séances, me mettant dans une
complicité transgressive avec lui. En même temps, dans le transfert, il me fait
vivre la discontinuité de la relation avec son père.
« Mon rapport à l’absence est ce qu’on a trouvé de plus important ici, je crois ».
Mais avec son amie, il n’arrive pas à s’absenter, il la colle, elle le lui reproche,
elle rompt. Quand il rentre à la maison, il évite sa mère pour éviter les conflits,
un trop grand rapprochement entre eux.
Pendant que l’ombre du père continue de circuler dans le lien, la relation à
sa mère bascule. Pas de perte d’objet, mais plutôt un glissement le long d’une
autre équation symbolique : de la mère à l’objet post-maternel, pas encore l’objet
écran, celui du refoulement. Les zones de pensée sont encore trop proches, le lien
encore trop direct entre sa mère et les filles qu’il rencontre. Un préconscient encore traversé par des trouées : se reprennent la jalousie, la demande d’exclusivité,
l’omniprésence exigée vis-à-vis des filles qu’il rencontre. « Je n’arrive pas à oublier
la première, c’est avec elle que c’était le mieux, y compris sur le plan sexuel ».
Il se désespère : « Avec les filles, j’ai découvert une vraie addiction » ; sa première petite amie le quitte mais ils restent en contact et, après qu’elle a flirté avec
un autre adolescent, il la reconquiert. Les reproches à la mère sont maintenant
adressés à son amie ; elle se ment à elle-même, elle ne veut pas voir la réalité
en face, elle le trompe avec un autre. Il s’interroge sur son absence à certaines
séances : non, me dit-il spontanément, je ne lui ai pas trop manqué. Parfois, il
regrette de ne pas venir car il sait qu’il sera content d’être là, en ma présence. En
entendant cet énoncé, j’associe pour moi-même ; je me sens comme une figure
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paternelle dans les coulisses : plutôt dans l’ombre, non intrusif et peu inscrit
dans le réel, mais qu’il peut utiliser lorsque lui choisit de venir à sa séance alors
que la demande était avant tout « portée » par sa mère.
Un déplacement a bien lieu, l’image n’est plus nécessaire pour éviter de
penser et souffrir, la sexualité découverte recouvre l’image vidéo. L’image a été
le tenant-lieu d’espace psychique auxiliaire, le temps de découvrir le plaisir et
la conflictualité de l’addiction sexuelle et sentimentale, le temps de redécouvrir
l’objet, celui de sa passion. Un nouvel espoir émerge : ne pas revivre l’abandon.
« Tu te débarrasses de moi ! », reprochait-il à sa mère lorsqu’elle l’a envoyé en
pension à la suite de son absentéisme scolaire. Il se coupe alors au niveau des bras,
se désespère lorsqu’elle ne le remarque pas, malgré ses tee-shirts à manches courtes. L’angoisse d’abandon et la dépendance à l’objet sont maintenant représentées,
mises en acte dans des liens vivants ; il ne ressent plus, si ce n’est à l’occasion de
courts épisodes dépressifs, le désir de se replier sur un monde d’images.
Rêverie et espace d’illusion : aménagement
et remaniement internes
S. Freud (1908/1985) situe la rêverie dans le droit fil du jeu infantile, dont il
constitue un substitut. La rêverie corrige une réalité insatisfaisante par la construction fantasmatique de scénarios érotiques ou ambitieux. Les rêveries ne deviennent une voie latérale qui mène à la pathologie que lorsqu’elles deviennent
foisonnantes, investies comme des satisfactions fantasmatiques se substituant à
la relation sexuelle.
Se répandre en fantasmes, écrivait S. Freud à propos de l’adolescent qui patiente avant la rencontre de l’autre sexe. Consommer de l’image, c’est attendre
en donnant une place centrale à l’espace de la rêverie. Pour Renaud, la violence
de l’arrachement à la mère et les conflits qu’il mobilise renvoie à la violence des
combats mis en jeu par les images. Le contenu des jeux représente souvent des
scènes héroïques ou érotiques qui voient l’adolescent triompher de tous les obstacles : on peut y lire le souhait d’être l’enfant idéal oedipien, sous-tendu par la
supériorité sur le rival. Les conflits internes trouvent dans le jeu vidéo une surface
de projection externe (HOUSSIER, 2009), à la fois familière dans sa capacité de
contenance, et suffisamment à distance quant aux contenus exposés. L’adolescent
méconnait la destructivité adressée à l’objet primaire qui se rejoue dans le monde
des images ; de même, même si le terme nécessiterait une utilisation prudente au
vu de la polysémie de définitions qui le caractérise aujourd’hui, l’identification
projective n’est pas absente : si on suit le fil de l’identification quasi-adhésive au
personnage incarné dans le jeu, celui-ci est vécu par l’adolescent comme animé
de l’intérieur par ses désirs, évoquant à propos de la façon dont le nourrisson
envahit l’objet primaire pour le contrôler de l’intérieur.
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Dans un jeu vidéo centré sur des enjeux de conquête, le plaisir pris au spectacle de la destruction est relié au fait que voir est toujours absorber et détruire ;
destruction d’autant plus supportable dans l’inconscient qu’elle est sous-tendue
par une conviction toute-puissante : nous pouvons recréer l’univers par un
simple coup d’œil (Bonnet, 1981). Les traces, les résidus psychiques sollicités
par l’image fonctionnent comme un mobilisateur du paysage interne : en tant
qu’effet miroir, l’image montre la destruction de l’objet rival, ou la séduction
de l’objet de désir.
Jouer avec les images relève de la création d’un espace de maîtrise des objets
internes, à l’aide d’un média. Pour Renaud, cela consiste à attendre, encaisser
l’impact traumatique de l’adolescence, avant de pouvoir passer du virtuel au réel
de l’objet (HOUSSIER, 2008). Par analogie, on peut comparer la rêverie à un
jeu avec des images, comme le jeu vidéo à une forme de rêverie : dans les deux
cas, il est question d’exploration de mondes potentiels à l’aide de représentants
d’objet, dans un espace psychique aux potentialités étendues. Dans ce temps
de transition, l’espace d’illusion maintient le fantasme que tout reste possible.
Le sentiment de maîtrise que permet l’utilisation du jeu nourrit une illusion
omnipotente encore nécessaire ; cet espace d’illusion rappelle le cheminement
du nourrisson confronté à la tension entre voie hallucinatoire de satisfaction et
prise en compte du principe de réalité.
Passer par des moments régressifs implique une expérimentation en fantasme
avant le passage à l’action. La continuation du jeu et de l’espace de rêverie est une
expérimentation agie virtuellement, une action d’essai préparatoire, le temps
d’un travail d’élaboration, même partiel, des enjeux de perte qui émergent dans
la psychothérapie. A la façon de la création d’un nouveau roman familial, le jeu
vidéo revisite les origines pour les reformuler, les perlaborer dans un registre
plus génitalisé.
L’usage intense des images externes renvoie à la lutte que l’adolescent mène
contre la séparation avec ses objets internes, figures parentales incestueuses auxquelles il est question de renoncer. Le repli dans la rêverie — ou dans une de
ses extensions, le jeu écran — ne traduit pas toujours un rejet du monde externe.
Sa mise à distance témoigne de ce que l’adolescent lui attribue projectivement :
angoisse de castration, frustration, impossibilité de se préserver ou de fuir des
situations imaginées comme à haut risque anxiogène comme le permet la maitrise des attaques internes réinjectées dans le jeu ou que ce dernier remobilise.
Dans la rêverie, la réalisation de désir infantile est conservée, même si cette
satisfaction reste fictive, partielle.
La fuite du monde externe représente symboliquement une fuite de l’angoisse
dépressive. La pente addictive vis-à-vis des jeux vidéo apparaît chez Renaud
comme un temps dynamique, propice à l’élaboration progressive de l’angoisse
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de perte ; pour d’autres adolescents, l’usage de l’image s’inscrit dans un mouvement de retrait donnant une place prédominante à la sensorialité, au service
de satisfactions partielles peu soumises au primat du génital.
Retrait et objets internes
Dans le courant psychanalytique, adolescence et états-limites ont commencé
à faire l’objet d’un profond travail d’élaboration au même moment, dans les
années 50-60 (HOUSSIER, 2010). S’il est vrai qu’il se retrouve souvent dans
les problématiques borderline ou psychotiques, le retrait est aussi propre à la
névrose ou chez le sujet normal en période de tension. Davantage qu’un état,
il s’agit d’une position constituant une forme de cachette libidinale, alternant
de profonds moments de solitude et d’isolement avec des tentatives de contact
avec le monde extérieur et les autres. La zone de calme offerte par le retrait est
un repli dont souffre le patient, mais il peut être l’objet d’une idéalisation dans
le sens du refuge, passant aussi par le désinvestissement du corps. Le retrait
n’empêche pas de développer des relations, mais au détriment d’autres parties
de la vie du sujet, elles bloquées. « Le retrait fait alors office d’espace mental où
la réalité n’a pas à être affrontée, où le fantasme et la toute-puissance règnent
sans partage, et où tout est permis. », ajoute J. Steiner (1996, p.18). Ces aspects
rendent le retrait séduisant pour un adolescent, d’autant qu’il se sent à l’abri de
l’angoisse, un espace calme et relativement protégé. Dans cette perspective, le
retrait s’apparente à la retrouvaille avec une enveloppe de contenance restituant
les limites du monde interne.
La fonction du retrait est comprise ici comme une défense contre toute élaboration de la position dépressive, sur fond de relation d’objet sado-masochique.
Le retrait sert à se retirer pour gagner un sentiment de sécurité, en lien selon
nous avec un « fantasme de garantie » (Houssier, 2013 a) dans le sens où, dans
cette forme d’autosuffisance, une illusion est assurée et auto-alimentée, source
de chaleur et de sécurité, le sentiment que tout est toujours possible et sans temporalité définie. Secrètement se maintient la conviction que tout peut redevenir
possible, représentant le fantasme de permanence d’un lien de possession avec
ses objets les plus archaïques.
Cependant, ces propositions sont à tempérer au regard des travaux de Winnicott. Il propose, en lien avec la capacité à être seul en présence de l’autre,
une autre facette du retrait ; le retrait peut alors participer d’une capacité qui
n’entraîne pas la perte de l’identification avec celui dont on s’isole (WINNICOTT,
1963/1970). Le retrait peut être aussi une communication en cul de sac qui aide
le sujet à se sentir réel. C’est un état dans lequel la personne maintient une part
régressée de son self et prend soin d’elle aux dépens des relations externes ; le
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retrait ne soigne pas mais montre que le patient a dû tenir son self dans le passé ;
le retrait est un appel à l’aide (WINNICOTT, 1954/1969) où le patient maintient
le lien avec ses objets subjectifs ; cela témoigne alors d’une incapacité à être seul,
dans un renversement de perspective par rapport à la présence de l’objet. Etre
en retrait est une façon de maintenir le lien avec les objets internes, et non une
voie d’accès pour se couper de ses objets.
Sortir du retrait revient à affronter sa réalité psychique en passant par le
monde externe ; laisser partir l’objet signifie symboliquement le tuer ou le
laisser mourir, enjeu central du processus d’adolescence. C’est la souffrance et la culpabilité, inséparables des confrontations avec la réalité, qui sont
difficiles à tolérer et peuvent provoquer un retrait dans la toute-puissance,
qui pourrait correspondre, dans un processus non psychotique, à ce que
J. Steiner nomme « fermer un œil » (Ibid, p.190) ; fermer un œil correspond
à la peur d’affronter sa vérité intérieure, donnant lieu à la dissimulation, la
réalité étant alors faussement représentée et déformée par son travestissement.
L’impuissance infantile est camouflée par l’éprouvé de toute-puissance dans
le retrait, les figures de l’entourage étant trop faibles pour apporter de l’aide.
La régression — pulsionnelle, relationnelle, motrice — est antagoniste à la
mise en mot, jusqu’au début de la psychothérapie. Davantage que la capacité à
fantasmer, c’est la possibilité de dire qui est remplacée par le repli. Il représente
l’effort déployé par l’adolescent pour intérioriser un événement traumatique
tout à la fois source potentielle de sens et porteur des achoppements de son
histoire infantile (HOUSSIER, 2013 b).
Conclusion
Notre propos suggère un lien étroit entre l’usage de l’image et la rêverie à
l’adolescence ; sauf que mettre des images entre les pensées latentes et conscientes
revient à recréer un écran entre, une figure du préconscient. Le monde interne
de l’adolescent est parfois trop dangereux pour laisser libre cours à la rêverie,
pour se laisser aller à rêvasser, en contact avec ses conflits et représentations au
moment où elles peuvent faire irruption. Ici, comme un théâtre interne prolongé
dans le jeu vidéo, le jeu est un média qui sert de véhicule aux représentations ;
il protège le lien oedipien tout en préservant de l’angoisse de castration liée à la
rencontre avec l’objet sexuel extra-familial. Dans la dépression de l’adolescence,
l’espace d’illusion maintient une relation passive à la mère tout en différant les
enjeux de rivalité liés à la conquête de l’objet.
Les fantasmes adolescents relèvent de « représentations qui ne sont pas destinées à se réaliser » (FREUD, 1905). La dimension infantile du scénario fantasmatique choisi s’articule avec sa fixation par et dans l’activité fantasmatique,
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qui apparaît comme un des enjeux de l’adolescence : passer du désir agi dans le
fantasme à celui réalisé avec l’objet.
Lorsque la libido narcissique perdure, cela fait signe d’une problématique de
séparation où la rêverie devient représentative d’une fixation à un état narcissique
prolongé. L’image, à la façon d’une rêverie, peut être au service d’une satisfaction
substitutive érotisée, révélant l’impasse dans la rencontre à l’autre, préservant
la relation avec l’objet maternel primaire mais aussi maintenant la bisexualité
psychique de l’enfant perdure.
Recebido em 15/12/2013. Aprovado em 4/2/2014.
Références
BIRRAUX, A. (1990) L’adolescent face à son corps. Paris : Editions Universitaires.
BONNET, G. (1981) Voir. Etre vu. Paris : PUF.
FREUD, S. (1905) Trois essais sur la théorie de la sexualité. Paris : Gallimard, 1962.
. (1908) « Le créateur littéraire et la fantaisie », L’inquiétante étrangeté
et autres essais. Paris : Gallimard, 1985, p.31-46.
GUILLAUMIN, J. (2001) Adolescence et désenchantement. Le Bouscat : L’esprit
du temps.
GUTTON, P. (1996) Le pubertaire. Paris : PUF.
HOUSSIER, F. (2008) De l’image à la chair, Adolescence, 26, 4, p.891-892.
. (dir.) (2009) La violence de l’image. Paris : In Press.
. (2010) L’école d’Anna Freud. Créativité et controverses. Paris: Editions
Campagne Première.
. (2011) « Positions psychotiques dans la cure d’une adolescente
anorexique », in F. MARTY (dir.), Psychopathologie de l’adolescent : 10 cas
cliniques. Paris : In Press, p.213-233.
. (2013 a) Meurtres dans la famille. Paris : Dunod.
. (2013 b) « El adolescente, ese visitante de lo arcaic », Controversias
on Line. Psicoanalisis de ninos y adolescentes (APdeBA), 12, p.58-71.
MARTY, F. (2009) « Images violentes à l’adolescence », in F. Houssier
(dir.), La violence de l’image. Paris : In Press, p.49-69.
STEINER, J. (1996) Retraits psychiques : organisations pathologiques chez les sujets
psychotiques, névrosés et borderline. Paris: PUF.
VLACHOPOULOU, X., HADDOUK, L., HOUSSIER, F. (2014) « Le héros
virtuel comme révélateur de fantasmes archaïques à l’adolescence »,
Dialogue, 213, à paraitre.
WINNICOTT, D. W. (1954) « Repli et régression », in De la pédiatrie à la
psychanalyse. Paris : Payot, 1969, p.223-230.
. (1963) « De la communication et de la non-communication »,
in Processus de maturation chez l’enfant. Paris : Payot, 1970, p.151-168.
Florian Houssier
[email protected]
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Agressions sexuelles
et dépendance à l’adolescence
Jean-Yves Chagnon
Jean-Yves Chagnon
Professeur de
psychologie
clinique et de
psychopathologie,
UTRPP, Université
Paris 13, Sorbonne
Paris Cité ;
Psychologue
clinicien,
psychanalyste,
expert judiciaire,
membre du CILA.
ResumE : L’article, après quelques rappels épidémiologiques et
juridiques permettant de cerner la problématique en cause, présente les grandes caractéristiques cliniques et psychopathologiques
des adolescents agresseurs sexuels français. Puis l’exposé d’un cas
d’adolescent violeur rencontré dans un cadre expertal soutient
la proposition de quelques jalons théoriques relatifs à la place de
l’agir dit « sexuel » dans le temps de l’adolescence et ses rapports à
la problématique de dépendance. L’article se termine par quelques
propos cursifs sur les incidences thérapeutiques posées par la compréhension de ce type d’agirs, inscrits dans ce que nous appelons
aujourd’hui « les cliniques de l’extrême ».
Mots clés : Adolescence, agressions sexuelles, dépendance, identification projective, réalité externe.
Abstract: Sexual aggressions and dependence during adoles-
cence. After a brief reminder of the underlying epidemiological
and legal context, this article presents an overview of the clinical
and psychopathological characteristics of French adolescents who
have committed sexual aggressions. The author presents the case
of a young sex offender met in the framework of a psychological
assessment report. The results provide support for the introduction
of several theoretical contributions concerning the role of “sexual”
acting-out during adolescence and its connection with dependence.
The article concludes with a few remarks concerning the therapeutic
implications of this analysis within the field of what is today called
the “clinical study of extreme situations”.
Keywords: Adolescence, sexual aggressions, dependence, projective
identification, external reality.
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Introduction
En France les violences à l’adolescence sont depuis une vingtaine d’années (le
tournant des années 90) l’objet d’une focalisation et d’une dramatisation sociale,
politique et médiatique ayant justifié une progressive mutation des orientations
de la Justice des Mineurs, les préoccupations sécuritaires des différents gouvernements ayant entrainé de multiples remaniements de l’Ordonnance dite de
1945. Parmi ces violences les violences sexuelles à l’adolescence occupent une
situation particulière, de fascination ambigüe aux plans médiatique et sociétal, de
réelle préoccupation aux plans épidémiologique, clinique, psychopathologique,
judiciaire et thérapeutique ; elles interrogent enfin les rapports entre les individus, les sexes et les générations dans un temps — celui de l’hypermodernité
— caractérisé par d’importantes modifications socio-anthropologiques générant
une grande inquiétude collective sur l’avenir, ce que d’aucuns ont appelé « un
nouveau Malaise dans la civilisation » ou Mal-être contemporain (KAËS, 2012).
Dans le cadre de cet article, après quelques rappels épidémiologiques et juridiques permettant de cerner la problématique en cause, j’évoquerai rapidement
les grandes caractéristiques cliniques et psychopathologiques des adolescents
agresseurs sexuels. Puis l’exposé d’un cas d’adolescent violeur rencontré dans
un cadre expertal m’amènera à proposer quelques jalons théoriques relatifs à la
place de l’agir dit « sexuel » dans le temps de l’adolescence et ses rapports à
la problématique de dépendance ; enfin je terminerai par quelques propos cursifs sur les incidences thérapeutiques posées par la compréhension de ce type
d’agirs, inscrits dans ce que nous avons à Paris et à Lyon appelé « les cliniques
de l’extrême » (ESTELLON, MARTY, 2012). Celles-ci tout à la fois réinterrogent
les modèles de compréhension traditionnels (la perversion, la psychopathie) et
questionnent les relations complexes entre l’intrapsychique et l’intersubjectivité,
les différents niveaux de l’intersubjectivité, d’où des révisions importantes quand
aux modèles thérapeutiques.
Situation juridique et épidémiologique de la question
Les mineurs représentent aujourd’hui ¼ des auteurs des violences sexuelles
judiciarisées qui comprennent les viols, les agressions sexuelles stricto sensu,
l’exhibition sexuelle et le harcèlement sexuel.1 Notons qu’il s’agit de catégories
judiciaires et non psychopathologiques. Ce chiffre est à comparer à d’autres plus
généraux : les mineurs représentent environ 18 % des auteurs de délits et de
crimes en France, chiffre assez stable depuis les années 2000 : la délinquance
1 Viol : toute acte de pénétration sexuelle, de quelque nature qu’il soit, commis sur la personne
d’autrui par violence, menace, contrainte ou surprise ; agression sexuelle : toute atteinte
sexuelle commise avec violence, contrainte, menace ou surprise.
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des mineurs est certes en augmentation assez régulière sur le plan quantitatif
(le nombre de personnes incriminées) mais elle n’augmente pas plus que celle
des majeurs, du moins faut-il différencier les types de délinquances. En effet elle
augmente plus vite dans le registre des atteintes aux personnes (les agressions) et
plus spécifiquement celui des atteintes sexuelles où les mineurs, essentiellement
des adolescents (13-18 ans), sont donc surreprésentés. Ce premier fait « brut »
interroge ainsi le lien entre l’adolescence (même si celle-ci ne « s’arrête » pas à
18 ans), la propension à l’agir violent, et ce qui a priori peut être considéré comme
une forme de lien entre agression et sexualité.
Deuxième constat clinique, à ma connaissance non évalué sur le plan épidémiologique, mais régulièrement évoqué dans la littérature spécialisée (CIAVALDINI et coll., 2013) : la plupart des auteurs d’agressions sexuelles (AAS), quelles
qu’elles soient, disent, quand ils veulent bien le reconnaître, avoir débuté leurs
agressions à l’adolescence ou à la post-adolescence : à nouveau est questionnée
la place de l’adolescence en tant qu’âge, mais également en tant que processus
achevé ou inachevé et de l’émergence des problématiques de dépendance qui la
caractérisent, dans la genèse des agressions sexuelles.
Enfin dernier constat, selon les études entre 50 et 75% des AAS disent avoir
été victimes d’agressions sexuelles pendant leur enfance, préadolescence ou adolescence, événement à replacer dans le contexte d’un environnement primaire
défaillant dans ses fonctions protectrices : l’agression n’est que la face émergée
de l’iceberg, le traumatisme sexuel (chaud) cache le traumatisme narcissique
(froid), celui des carences et défaillances de l’environnement. Il sera alors intéressant de comprendre les enchainements qui amènent un sujet à ne pouvoir
élaborer psychiquement et à répéter activement à l’adolescence ce qu’il a souvent
subi passivement.
Qui sont les agresseurs sexuels à l’adolescence ?
Pour répondre à ces questions il faut maintenant présenter les caractéristiques
psychocriminologiques des adolescents auteurs d’agressions sexuelles. Je mêlerai mes propres travaux de recherche, pour certains déjà présentés au Brésil
(CHAGNON, 2008, 2009), constitués à partir d’une clinique expertale, aux
constats effectués par d’autres auteurs (ROMAN, 2012 ; CIAVALDINI et coll.,
2013). Un mot sur la psychocriminologie psychanalytique : celle-ci vise l’étude
du fait délinquant ou criminel et pour ce faire elle englobe et dépasse la seule
dimension psychopathologique : elle s’intéresse à la clinique du sujet (histoire,
état psychique, caractéristiques de personnalité), aux rapports entre l’auteur et sa
victime (âge, sexe, liens éventuels, etc.), au contexte de survenue, mais également
à la dimension comportementale, « opératoire » du fait criminel. C’est en effet
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dans les modalités les plus concrètes du crime que se « décharge » l’excitation
non mentalisée, mais également se « dit » par l’agir « quelque chose » de la
problématique traumatique souvent non subjectivée, non symbolisée, mais en
attente d’une contenance et d’une réflexion par l’environnement, elle est donc
potentiellement messagère même dans ses aspects les plus destructeurs et désobjectalisants (ROUSSILLON, 1999, 2010).
Du point de vue de la justice la question de l’évaluation psychocriminologique des adolescents auteurs d’agressions sexuelles (AAAS) est d’importance
car on sait que certaines conduites sexuelles « déviantes » peuvent n’être qu’un
accident de parcours, voire une manifestation un peu bruyante de sexualité
adolescente encore mal dégagée de ses aspects de sexualité infantile, perverse
polymorphe par définition, ou au contraire le point de départ d’une conduite
déviante répétitive à l’âge adulte, dont la composante narcissique-identitaire est
maintenant bien connue, en particulier depuis les travaux de C. Balier (1996),
A. Ciavaldini (1999), ou encore R. Coutanceau (2010).
Il est habituel de distinguer, en ce qui concerne les agressions sexuelles à
l’adolescence, les viols individuels — à l’égard d’enfants ou de jeunes femmes
— des viols collectifs, ces derniers représentant environ 60% des cas contre 40%
pour les premiers. Selon C. Legendre (2003), les viols collectifs seraient à situer
dans une dynamique psychique propre à l’adolescence, et ce dans un contexte
de dysfonctionnement parental, de carences identificatoires et de discontinuités
biographiques. Ils répondraient à une recherche agie de l’identité sexuelle chez
des sujets pour qui, face à l’incertitude adolescente de la sexuation, la fragilité
narcissique nécessiterait un passage à l’acte devant le groupe pour conforter une
identification sexuelle masculine. Le groupe aurait un effet désinhibant et fournirait, sur un mode violent et transgressif, une possibilité d’affirmation de soi et
d’identification par la domination-possession de la victime, souvent très proche
des auteurs. Une dimension initiatique apparentée aux rituels de passage a pu
être évoquée. Sans banaliser le phénomène, il s’agirait avant tout d’un phénomène de groupe qui ne concerne pas que les quartiers difficiles, et la plupart des
sujets concernés n’auraient pas eu individuellement les mêmes comportements.
Dans ma pratique j’ai eu l’occasion de rencontrer plusieurs adolescents ayant
agi en « réunion », dont un cas de figure inhabituel puisqu’il concernait deux
frères abusant de leur sœur. Si ces derniers relevaient d’un contexte socio-familial
très défaillant où l’incestualité caractérisait les relations familiales, les autres
adolescents relevaient pour certains de familles aisées sur le plan socioculturel
et économique. Les agressions sexuelles en cause, moins violentes qu’indélicates
et prestantes à l’égard des jeunes filles agressées, apparaissaient ponctuelles et
sans réel potentiel de répétition même si leurs victimes étaient méprisées et leur
altérité faiblement reconnue. S’ils ne niaient pas leurs actes ressortant de circonságora (Rio de Janeiro) v. XVII número especial agosto de 2014 85-98
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tances singulières et complexes où la seule dimension psychopathologique était
insuffisante à expliquer le passage à l’acte (groupe, foule, festivité, alcoolisation,
utilisation de drogues, etc.) ils en niaient en revanche le caractère de contrainte
ou de surprise, évacuant facilement leur propre pulsionnalité pour la projeter sur
le groupe ou la victime. Pour certains d’entre eux il s’agissait de leur première
expérience sexuelle, initiatique donc, pour d’autres les agressions s’inscrivaient
dans un activisme sexuel peu scrupuleux prolongeant une instabilité motrice et
affective préalable : les filles étaient considérées comme des objets de consommation rapide et jetable, évitant ainsi la peur récurrente d’un enfermement dans
une liaison stable, ce qui correspondait à la mentalité « machiste » des groupes
qu’ils fréquentaient, mais également de leurs propres familles.
Les agressions sexuelles et viols individuels commis par un adolescent seul
relèvent selon les chercheurs, d’une diversité de conduites telle qu’elle en interdit toute généralisation. C’est dans ces cas qu’on rencontrerait les perturbations
les plus importantes dans le processus d’adolescence, spécialement le travail
de séparation-individuation et de désidentification d’avec les objets primaires,
subsumé aujourd’hui sous le vocable de travail de subjectivation (CAHN, 2006).
Le processus d’adolescence génère des angoisses dépressives ou de néantisation,
angoisses colmatées par les « recours à l’acte » selon une terminologie proposée
par C. Balier (1996).
Je retrouve des constats semblables : du point de vue clinique la grande diversité des situations empêche effectivement la généralisation, mes cas balayant
des variations de la normale au pathologique le plus grave. Certains renvoient à
des défaillances éducatives parentales manifestes alors que ces sujets, en début
d’adolescence, ne présentent pas de troubles psychopathologiques majeurs, ce
qui ne signifie pas qu’il faille banaliser ces actes, car non reconnus ils peuvent
devenir organisateurs de l’adolescence à venir. Les autres (dont 4 cas d’incestes
frère-sœur) sont des sujets déjà perturbés psychiquement à des degrés divers :
troubles de la personnalité limite ou borderline, psychopathies avec ou sans
aménagements pervers, prépsychoses, un cas de psychose infantile.
Si dans leur histoire on retrouve souvent la notion d’un viol ou d’une agression
sexuelle subie, ou encore une imprégnation séductrice chronique, ces événements
ne prennent sens que rapportés au contexte familial ou social dans lequel ils
ont eu lieu : ce sont en effet les liens tendres qui ont échoué à structurer le sujet
selon une topique interne constituée, clairement différenciée de son support
externe, vectorisée par l’Œdipe, apte à supporter psychiquement l’angoisse et
les conflits inhérents au développement pulsionnel. Les traumatismes précoces
ont grevé la voie mentale (préconsciente), défensive et élaborative, dès lors
peu apte à retenir et traiter l’excitation pulsionnelle. Le couple représentation/
perception est déséquilibré, ces sujets restent dépendants des régulations externes,
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ils surinvestissent la perception, les recours sensori-moteurs et l’agir comme
voie d’écoulement des tensions et restent donc dépendants de l’environnement
objectal ou non, convoqué pour éprouver, contenir et au mieux transformer le
message contenu dans l’agir.
A partir du constat selon lequel les ¾ des AAAS (en réunion ou seuls) faisaient état d’une instabilité ou hyperactivité infantile j’ai déjà émis l’hypothèse
selon laquelle cette hyperactivité, que j’ai proposé de comprendre comme une
« hypo-passivité » (CHAGNON, 2009), mutait progressivement en caractère
narcissique-phallique dont les potentialités agressantes, pénétrantes ne s’exprimaient
qu’au moment de l’adolescence dans un renversement passif/actif bien connu
et typique de la lutte contre la dépendance. L’idée principale qui en découle est
que l’acte d’agression dite sexuelle est en fait peu sexuel : il vise moins la satisfaction pulsionnelle sexuelle (la plupart des viols n’aboutissent pas à une éjaculation) que la
recherche du calme psychique (d’où un potentiel de « récidive », c’est-à-dire de
réitération), et la restauration narcissique, voire le colmatage en urgence d’une
angoisse identitaire (néantisation, dépersonnalisation) générée par la situation,
le contexte relationnel sollicitant massivement la problématique de dépendance
irrésolue. La sexualité n’est pas l’objectif, le pénis est le moyen, l’arme vengeresse
d’un processus narcissique-identitaire. Cette perspective permet d’articuler deux
dimensions débattues, celles des rapports, non contradictoires de mon point de
vue, entre la dynamique et l’économique, le sens et la force. Elle permet également de réinterroger le modèle classique de la perversion entaché d’idéologie
et de dérive contre transférentielle négative face à ces sujets. Par des voies un
peu différentes F. Neau (2005) a aboutit à des conclusions proches en évoquant
un « masculin maniaque » en décalque du « féminin mélancolique » décrit et
théorisé par C. Chabert (2003).
Clinique de la violence sexuelle
Un cas « extrême », comme en révèle souvent la clinique expertale qui confronte, davantage qu’en psychiatrie, à l’inhumain, illustrera mon propos. Je
rencontre Christophe, jeune adulte de 20 ans, en expertise psychologique dans
le cadre de sa mise en examen pour viol : il a en effet violé une amie d’enfance
qu’il n’avait pas revue depuis plusieurs années. Niant dans un premier temps,
il finira par reconnaître ce viol et s’accusera même de l’avoir prémédité, ce qui
paraît peu probable.
Christophe est le premier enfant d’une jeune mère (17 ans) dite « cas social »,
né d’un père inconnu, sa mère n’ayant jamais voulu lui dire qui il était. Il porte donc
dans un premier temps de sa vie le nom de sa mère et se construit une version
selon laquelle ce père, dès lors grandiose, pourrait être un meurtrier incarcéré
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au moment où sa mère s’est retrouvée enceinte. Comme cette jeune mère était
incapable de l’élever, négligente et de surcroît maltraitante, Christophe lui sera
retiré vers l’âge de 3 ans et placé dans une famille d’accueil en même temps
qu’une demi-sœur issue d’un autre homme. Celui-ci deviendra le beau-père de
Christophe et, bien qu’alcoolique et maltraitant lui-même, il sera pourtant idéalisé
pour lui avoir donné son nom. Christophe ne se remettra cependant jamais de
cet arrachement d’une mère qu’il déteste mais ne peut pas quitter : J’arrive pas à
la comprendre et je suis souvent en conflit avec elle. Elle parle trop, elle prend ses enfants comme des
puzzles, les rassemble et les fait se disputer pour savoir qui l’aimera le plus […] J’avais l’impression
d’être enlevé de ma mère, je recherchais l’amour, il n’y avait que moi, il fallait qu’on rebouche ce
trou là, on m’avait enlevé à ma mère.
Enfant déjà agité, l’adolescence verra une éclosion de troubles du comportement (agitation, agressivité dans le cadre scolaire et de la famille d’accueil) du
fait de sa faible résistance aux excitations externes : Je suis très influent, je partais au
quart de tour, je n’étais pas violent physiquement mais coléreux. Je pars très vite. Je suis pas violent
mais il faut me laisser tout seul dans un coin. Quinze personne ça dégénère, je m’amuse, je déconne. Je
suis un garçon très influent, on me demande de faire quelque chose je le fais. Maintenant j’ai changé,
je me suis endurci. On retrouve également derrière ces troubles du comportement
un refus conscient de la dépendance pourtant massive sur le plan inconscient,
ainsi qu’une quête paternelle majeure habituelle dans ces cas de figures : J’aurais
voulu être occupé toute la journée. Il fallait qu’on s’intéresse à moi, sinon je faisais la tête, je refusais,
je redevenais un gamin de 5 ans […] Je me sentais pris entre ma mère et ma nourrice, j’étais déséquilibré. On remonte et on retombe bien vite […] À 19 ans, je montais sur les genoux de mon beau-père, je lui faisais des bisous. Ce beau père lui portera pourtant un coup de couteau
et Christophe m’exhibera en relevant son pull une longue cicatrice…
Christophe sera suivi en pédopsychiatrie à l’adolescence pour ces troubles
du comportement et médicamenté (neuroleptiques), l’éventualité de troubles
psychotiques étant envisagée. « Serré » par un juge des enfants, il est orienté
dans une ville voisine en internat et peut malgré tout investir une scolarité débouchant, après un passage par l’éducation spécialisée (SEGPA), sur différents
diplômes professionnels (CAP, BEP puis BAC professionnel) et enfin un contrat
d’embauche. Sur un coup de tête dont la dimension masochiste d’auto-sabotage
face à la menace identitaire de dépendance est plus qu’évidente sauf pour
l’intéressé, il laisse tout tomber, au moment où son employeur lui propose un
CDI, et ce pour se rapprocher de sa mère, sirène mystifiante lui laissant miroiter
ainsi que son beau-père des retrouvailles idéalisées. À 19 ans, en se rapprochant
géographiquement d’eux qui l’ont appelé pour disqualifier ses engagements et lui
promettre un travail jamais entrevu, Christophe rompt avec son foyer éducatif,
avec sa petite amie du même âge, avec son employeur prêt à l’engager, écourte
son contrat de jeune majeur avec l’ASE, cesse sa prise de traitement médicamenágora (Rio de Janeiro) v. XVII número especial agosto de 2014 85-98
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teux. Il finit par se retrouver au chômage, se met à boire et se met en ménage
avec une femme de quinze ans son aînée, elle-même mère de quatre enfants.
C’est au décours d’une brouille avec cette femme où elle rompt avec lui,
tout en le gardant sous son toit, que le viol aura lieu. La jeune femme violée du
même âge que lui était une amie d’enfance qu’il n’avait pas revue depuis plusieurs années et qui avait la double caractéristique de lui ressembler sur le plan
psychique (phobie de la séparation) et de le protéger alors qu’ils étaient ensemble
à l’école primaire puis au collège. Il tente de reprendre contact avec elle dans la
semaine qui suit la rupture d’avec sa concubine dont la composante maternelle
est plus qu’évidente. Lors des retrouvailles avec son amie d’enfance, il se laisse
aller à évoquer sa souffrance liée à cette rupture, elle a alors un geste tendre de
rapprochement et de consolation : elle le prend par l’épaule. C’est alors que tout
bascule : Pour moi, je sais pas qu’est ce qui a fait que ça c’est produit. J’arrive pas à me comprendre.
C’est comme s’il y avait eu un démon dans mon corps. Je suis pourtant pas violent. Après il y a eu un
déclic dans ma tête et je suis redevenu normal. Qui est Christophe quand il agresse (viole) et qui est sa victime à ce moment
là ? L’allusion au démon (confirmée par la victime qui s’est retrouvée brutalement face à quelqu’un d’autre, avec un regard autre) n’est pas une tentative de se
disculper, elle recouvre bien une réalité psychique complexe, maintenant bien
cernée, celle d’un dédoublement de la personnalité, une abolition subjective, le
sujet se dépersonnalisant pour laisser la place à des identifications archaïques,
en l’occurrence aux imagos parentales omnipotentes, en particulier à l’agresseur,
pour éviter le brusque retour des traumatismes précoces. Dans ce viol, comme dans beaucoup de cas semblables, la douleur de la perte de sa concubine
réactive en après coup la perte maternelle précoce inélaborable, le laissant dans
une passivité et une dépendance insupportables, que met à jour le geste consolateur de son amie. Le recours à l’acte vient interrompre ce que C. Balier (1996)
appelle un « péril d’inexistence » et mettre fin à un bref moment de catastrophe
psychotique devant l’explosion, la rupture du déni-clivage des traumas narcissiques précoces réactivés par la confrontation à son amie consolatrice. Plusieurs
moments se condensent alors :
Ÿ une rupture identificatoire empathique à son amie qui figure tant un double
narcissique féminin (sa sœur dira t-il) qu’un objet d’étayage protecteur,
Ÿ puis il semble se dépersonnaliser, entrer, via ce que j’appelle une identification projective à l’agresseur (Chagnon, 2011), dans la peau de ses imagos
omnipotentes : père imaginaire grandiose, beau père idéalisé, et, nous le comprendrons plus tard, le violeur de son enfance,
Ÿ parallèlement son amie perd son statut de sujet autonome, son altérité,
elle devient un objet ustensilitaire dans laquelle il projette, toujours sur un
mode identificatoire, différentes parties de lui-même, en particulier sa partie
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féminine-passive, souffrante, maltraitée, mais également l’image maternelle de
laquelle il tire vengeance par la terreur qu’il lui impose, renversant ainsi le sens
des excitations traumatiques subies dans la petite enfance.
Face à un éprouvé d’envahissement traumatique, de menace d’anéantissement
psychique, en se dépersonnalisant et en désobjectalisant sa victime, il opérerait
un mouvement de récupération narcissique-phallique par l’usage du sexe comme
moyen d’agression. Comme souvent, il s’agit moins de sexualité et de plaisir,
que de narcissisme et de vengeance : la violence destructrice prend le pas sur le
plaisir érotique (pénétration violente sans éjaculation). Par la pénétration active
et violente l’agresseur tenterait de faire entrer, pénétrer de force, et vivre à l’autre
ses propres éprouvés de passivation mortifère.
A un niveau légèrement plus évolué, il s’agit également de (mal)traiter les
angoisses de perte. Christophe apparaît toujours comme un enfant englué dans sa
mère, à moins qu’elle ne soit engluée en lui (BALIER, 1996) ,dont il cherche à se
défaire impérativement pour exister tout en la gardant (il ne semble ni pouvoir
la rejeter ni pouvoir l’intérioriser, en faire un objet interne fiable), un enfant
qui se sent exclu, arraché à cet objet maternel sans pouvoir s’en séparer faute de
cette assise paternelle quêtée et rejetée tout à la fois : « Après le jugement, je décide de
quitter X (sa ville), non, quitter ce quartier là, mettre un mur et qu’on me laisse tranquille. Je fais
une croix sur ma famille, ma mère me met trop dedans les ennuis. »
Passé un temps de déni, il reconnaîtra son geste et s’accusera même ultérieurement de l’avoir prémédité, ce qui ne correspond ni à la dynamique ni au contexte
de l’acte mais constitue une manifestation d’accusation mégalomaniaque, laissant
ouverte la question d’une possible évolution mélancolique, faute de capacité à
élaborer la perte. Laissé en liberté conditionnelle, Christophe reprendra la vie
commune avec sa compagne vivant de nouveau l’amour fou : On va se marier bientôt
et on essaie de mettre un enfant en route. Elle veut m’offrir le mien, mon enfant, le mien. Il doit alors
percevoir ma désapprobation que je ne cache pas et il fait marche arrière : Je me
pose quand même des questions, comment intégrer un enfant au milieu de quatre enfants. À 20 ans, on
est pas mûr à cent pour cent, mais ma femme ne comprend pas, pour elle c’est une preuve d’amour, ça
prouve si je lui fais un enfant que je veux passer ma vie avec. Un enfant c’est pas un jouet qu’on casse… J’attirerai l’attention des autorités judiciaires sur les potentialités de récidive.
La liberté conditionnelle sera assortie d’une obligation de soins que Christophe
ne suivra pas. Il sera incarcéré un an plus tard (après l’expertise), après avoir
tenté de violer une jeune voisine. Lors de son procès, il reconnaîtra avoir agressé sexuellement depuis son adolescence de nombreux enfants dont ceux de sa
concubine et l’un de ses jeunes demi-frères, âgé de 4 ans au moment des faits.
Il dira avoir été de nombreuses fois envahi par, et avoir dû lutter contre, l’idée
de tuer quelqu’un. Nous apprendrons qu’à l’âge de 4 ans, lors des retours chez
sa mère, il était violé par l’un de ses oncles… Ces actes s’étaient réellement
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produits, l’oncle en question ayant été jugé dix ans auparavant par la même
cour d’assises. Il n’avait parlé d’aucun de ces événements lors de l’expertise et
l’instruction. Enfin, sa mère dévoilera et lui apprendra à la barre qu’il aurait été
issu d’un viol incestueux proféré par cet oncle, son frère aîné à elle… La boucle
était bouclée. Christophe a été condamné à douze ans de réclusion et à cinq ans
de suivi socio-judiciaire comportant une injonction de soins : il se mit alors en
colère devant le jury, contestant non la peine de prison prononcée mais le suivi
socio-judiciaire ultérieur.
Sur le plan étiopathogénique, on retrouve des aspects malheureusement classiques : la problématique transgénérationnelle incestueuse, l’environnement primaire impitoyable, les traumatismes narcissiques (noyau froid) et sexuels (noyau
chaud) indissociables, les identifications narcissiques. La violence des interactions
primitives n’a pas permis que s’élaborent des identifications introjectives (assimilées, digérées) post-œdipiennes stables à des objets clairement différenciés et
l’adolescence a vu la prise en masse des identifications (incorporations) aliénantes aux imagos omnipotentes (gobées tout cru), dont l’identification projective
à l’agresseur, obturant ainsi le travail de mutations décisives, d’appropriation
subjective novatrice que l’adolescence comporte dans les bons cas.
Dépendance et passage à l’acte : propositions théoriques
Proposons maintenant quelques propositions théoriques sur les relations entre la
problématique de dépendance et ce type d’agir « sexuel » qui peut être considéré
comme un aménagement défensif de celle ci. Ainsi, comme nombre de collègues
du CILA, mes propositions s’inscrivent dans une tentative de repenser la théorie
des agirs. Les agirs ont du sens au double sens de signification (non symbolique)
et de direction, d’adresse à l’autre, fut-il placé sous emprise ou désobjectalisé,
privé de son altérité, atteint dans sa chair voire parfois malheureusement dans
sa vie. Cela s’inscrit dans une tentative contemporaine de décrire et théoriser un
langage du corps et de l’acte à l’adolescence, dont les conséquences thérapeutiques sont majeures puisqu’elles en appellent à l’utilisation de la dépendance à
la réalité externe et à l’environnement élargi (JEAMMET, CORCOS, 2003) pour
traiter ce qui de la réalité interne cherche à se dire par le corps, l’acte, et donc
le passage à l’acte sexuel.
Il n’est pas question ici de considérer toutes les agressions sexuelles sous le
statut des toxicomanies et addictions même si nous savons qu’il est possible de
parler de « toxicomanie sans drogue » (Fénichel) et d’étendre ainsi le spectre
des conduites addictives. C’est davantage sous l’angle de l’émergence des problématiques de dépendance et de leurs aménagements à l’adolescence que je me
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situe, et ce en référence aux travaux fondamentaux de Ph. Jeammet, seul ou en
compagnie de M. Corcos (2003).
Selon les auteurs, que je cite et résume largement, l’adolescence « est une période charnière qui impose un changement de l’équilibre entre dedans et dehors
comme de la relation avec les parents et avec le corps propre, (elle) remet en cause
le rapport narcissisme — relation objectale, dépendance — autonomie. Il y a de
ce fait, une fragilisation du monde psychique interne lequel est fortement sollicité
aussi bien dans ses assises narcissiques que dans ses investissements objectaux.
Le rapport à la réalité externe s’en trouve sensiblement modifié. Ce changement
contribue à conférer une portée heuristique, dans la saisie des comportements
à cet âge, à la notion de dépendance comme contre investissement de la réalité
interne par la réalité externe » (2005, p.1).
Toujours selon les auteurs, toute la psychopathologie de l’adolescence peut
ainsi être vue comme un aménagement de la problématique de dépendance.
Dans les cas les plus graves, pour les raisons précitées, du fait de la massivité des
traumatismes précoces ayant grevé la construction de « la voie mentale longue »,
celle de la symbolisation, de la liaison représentation/affects sous l’égide du
principe de plaisir modifié en principe de réalité, celle qui donne lieu au plaisir
de penser, de désirer, prélude à l’action spécifique, les régulations s’effectuent
essentiellement par les recours au comportement et à la sensori-motricité,
privant en retour les possibilités d’intériorisation, d’identification introjective,
de différenciation et de subjectivation qui viennent habituellement nourrir le
Moi et constituer l’identité. L’adolescence par ses « tâches développementales »
(intégrer une nouvelle identité sexuée, travail de séparation-individuation, de
subjectivation) vient mettre à l’épreuve les assises narcissiques, les différenciations dedans/dehors, et au-dedans entre instances (Moi, Surmoi-Idéal du Moi),
en bref l’inélaboré, l’inachevé de l’enfance. La balance entre investissements
narcissiques et investissements objectaux est alors déséquilibrée au risque d’un
antagonisme voire d’une rupture dite narcissico-objectale.
La crainte majeure de tout adolescent est celle de la perte de contrôle de
l’excitation et de la confrontation aux désirs passifs sollicités tant par les pulsions que l’objet. La question de la maîtrise du lien et du contrôle de la distance
objectale devient centrale. Quand l’équilibre narcissique est trop massivement
dépendant des appuis externes, au détriment des investissements internes, alors
des phénomènes de réaction en miroir, de renversement passif/ actif, subi/ agi
sont sollicités pour protéger l’identité : par exemple le sujet cherche à rendre
dépendant de lui l’objet dont il dépend, il cherche à lui faire vivre ce que lui-même a vécu ou vit passivement pour en retrouver la maîtrise. C’est à ce niveau
que jouent la relation et les mécanismes d’emprise, comme aménagement de
la dépendance, emprise à l’égard de l’objet de dépendance, mais également à
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l’égard de la réalité externe, celle du percept et des sensations, au détriment de
la réalité interne, celle des représentations et affects : le plaisir d’emprise prime
sur le plaisir de la satisfaction.
On peut reprendre le cas Christophe sous cet angle, auquel j’y ajoute
l’importance de la dimension identificatoire primaire comprise dans le passage à
l’acte sexuel (CHAGNON, 2011 ; 2013). La reviviscence des angoisses dépressives
de séparation amplifiées par le 2ème temps de l’Œdipe, surtout quand il n’a pas
été structurant (Œdipe sans complexe), fait resurgir les premières angoisses ou
excitations traumatiques mal surmontées car insuffisamment symbolisées et subjectivées. Les mécanismes archaïques sont alors remobilisés par voie rétroactive
avec le risque de devenir déterminants. Du fait des vicissitudes historiques (trop
peu de satisfactions tendres, emprise parentale dédifférenciatrice, intromission
d’objets transgénérationnels, deuils non faits, gelés, enkystés, etc.) « le psychisme
devient prisonnier d’incorporats hostiles ou hyperexcitants installés au cœur
de l’être » (CAHN, 2002, p.120-121). Quand le déni, le clivage et l’idéalisation
sont débordés et que les affects primitifs risquent de resurgir alors les mécanismes d’identification projective accompagnent les passages à l’acte qui permettent tant d’évacuer du psychisme la tension interne que de faire vivre à l’autre
l’innommable, ce qui peut épargner une décompensation psychotique. C’est en
effet cette dimension d’identification projective, intrusive, au sens donné par
Bion, qui me parait caractériser, au-delà de l’emprise, le passage à l’acte sexuel,
l’agir pathologique.
Conclusions : incidences sur le soin
Cette modélisation du passage à l’acte a des incidences assez précises quand à
l’organisation des soins et des traitements individuels, groupaux ou institutionnels, à médiation. Ici le travail thérapeutique ne peut plus se centrer sur la seule
réalité interne, à partir de laquelle on interpréterait l’utilisation de la réalité
externe. Tant les spécialistes de l’adolescence que ceux de la criminologie se rejoignent à ce niveau ; il s’agit d’aménager la réalité externe de façon à renforcer
la capacité d’élaboration psychique, de jeu et de déplacement, et secondairement de travailler sur la reconnaissance de la réalité interne. C’est l’ensemble du
dispositif de soin qui doit être repensé en référence à cette compréhension du
(dys)fonctionnement mental, à la dépendance perceptivo-motrice de ces sujets,
de la consultation initiale qui ne peut plus se contenter d’attendre une illusoire
demande (CHAGNON, HOUSSIER, 2012) aux modalités thérapeutiques nécessairement organisées par la nécessité de survivre à plusieurs à la destructivité.
Avec ces sujets clivés, l’essentiel du travail des soignants (la thérapie individuelle
n’est pas conseillée au moins d’emblée) sera de mettre en place et veiller au
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maintien d’un cadre collectif qui contienne la multiplicité des facettes d’une
même personne et d’accepter, dans la diversité des liens et des échanges avec
les collègues, d’endosser les rôles parfois désagréables que l’adolescent dépose
provisoirement en eux par identification projective, de façon à lui permettre en
les lui « réfléchissant », de les réintrojecter et se les réapproprier autrement. Le
contre transfert, y compris dans ses dimensions somatiques et agies, est alors
l’outil privilégié pour entendre et transformer l’innommable.
Recebido em 17/1/2014. Aprovado em 4/2/2014.
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Jean-Yves Chagnon
[email protected]
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Dépendance à l’adolescence :
le vide par l’excès
Teresa Rebelo
Teresa Rebelo
Maître de
Conférences en
Psychopathologie
à l’Université de
Rouen (EA 4700).
Psychologue
Clinicienne,
Psychanalyste.
Membre du Cila.
ResumE : Le lien est perçu à la fois comme une condition et une
variable de la formation psychique individuelle. Mais aussi la question qui renvoi à l’absence et à la séparation. Toutefois, pour certains
adolescents si la question centrale du lien est justement la possibilité
de symboliser une absence, on peut imaginer que la construction
d’un lien sera toujours complexe et constituée de plusieurs aspects.
Avec Daphnée, 17 ans, consommatrice de cannabis, nous allons
questionner la fonction para excitante du cannabis pour que les liens
intrapsychiques et symboliques puissent être préservés.
Mots clés : Dépendance, subjectivation, para excitation.
Abstract: Dependence in adolescence: the vacuum by the excess.
The link is perceived at the same time as a condition and a variable
of the psychic, but also the question which returns to the absence
and to the separation. However, for certain teenagers if the central
question of the link is exactly the possibility to symbolize an absence, we can imagine that the construction of a link will always
be complex and established by several aspects. With Daphnée, 17
years, consumer of cannabis, we are going to question the function
para-exciting of the cannabis so that the links intra-psychics and
symbolic can be protected.
Keywords: Dependence, subjectivities, para-excitation.
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a problématique du lien est centrale en psychanalyse depuis l’origine de cette
discipline. Le lien est perçu, à la fois, comme une condition et une variable
de la formation psychique individuelle. F. Marty (2002), par exemple, aborde
la question du lien du point de vue de la présence de deux éléments différents
qui ne sont pas soudés ou fusionnés. Ainsi, la problématique des liens renvoi
à l’absence, et à la séparation. Une autre question centrale à l’adolescence est la
question de subjectivation, telle qu’elle a été conceptualisée par R. Cahn (1991)
et développée ensuite par les travaux de B. Penot (2001). A cet égard, le travail
de l’adolescence serait la nécessaire élaboration de l’inquiétante étrangeté, propre
à l’adolescence.
Par ailleurs, et, en ce qui concerne certains adolescents en difficulté, on peut
constater un problème majeur : si la question centrale du lien est justement la
possibilité de symboliser une absence, on peut imaginer que la construction d’un
lien sera toujours complexe et constituée de plusieurs aspects, notamment celui
du lien intrapsychique qui se rapporte aux liens symboliques et représentationnels. Or, ceci est lié à un processus de subjectivation difficile peut donner lieu
à des problématiques psychopathologiques où la capacité de liaison est mise en
péril par l’excitation psychique à l’œuvre.
Nous allons questionner la fonction para excitante du cannabis pour que
les liens intrapsychiques et symboliques puissent être préservés à travers le cas
de Daphnée, une jeune femme de 17 ans, consommatrice de cannabis depuis
ses 14 ans, Une fonction économique qui permettrait au sujet de maintenir la
continuité psychique, en dépit de tout.
Daphnée 17 ans
Daphnée avait 17 ans quand le ciel lui est tombé sur la tête. C’était un jour comme
les autres : un peu de cours, un peu de copines, un peu de télévision, un peu
de musique et, surtout, beaucoup de cannabis. Oui, parce que Daphnée fumait
beaucoup de cannabis : beaucoup le matin, et l’après-midi et davantage le soir.
Ce jour-là, donc, Daphnée a fumé son cannabis avant de se coucher, c’était
une habitude. Elle aimait bien sa « taffe du coucher », comme elle l’appelait.
Et puis, elle s’est endormie, comme d’habitude. Mais ce soir là, on ne sait pas
pourquoi, les choses se sont déroulées autrement. On ne sait pas si les dieux
avaient décidé autre chose ou si un mécanisme inéluctable était en marche. Ou
même ci c’était les deux, parce que parfois c’est la même chose. On appelle ça
un destin, il paraît. Ce soir là, Daphnée a rencontré son destin comme elle me
l’a raconté et par conséquent, le ciel lui est tombé sur la tête.
Ce fut un monstre qui la réveilla, un monstre terrible qui voulait l’emporter
avec elle. Un monstre qui voulait la manger. Elle a beaucoup crié. Elle a crié
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afin de se rassurer que ce n’était qu’un cauchemar. Quelque part, au fond d’elle-même, elle savait qu’elle allait se réveiller. Donc elle cria. Mais, cette fois-ci,
ce fut différent, elle ne se réveilla pas. Et elle a crié encore plus fort, puis elle
a commencé à courir, pour fuir cet ogre qui voulait la dévorer. Il faisait froid,
humide, noir et elle courrait pieds nus. Puis, elle tomba, elle se leva et elle retomba et elle se leva, encore et encore. Elle ne pouvait attendre que l’inévitable
arrive sans lutter. Le monstre allait la tuer. Daphnée continua à crier de toutes
ses forces. Elle pleurait, elle criait, elle attendait la mort. Prise, par la panique et
dans l’horreur absolue, Daphnée s’est soudainement évanouie.
Elle s’est réveillée dans son lit, entourée par les surveillants du pensionnat
où elle était scolarisée. Daphnée avait fait un épisode hallucinatoire et elle avait
été trouvée dans le jardin du pensionnat, en larmes et en pyjama. Les parents
furent appelés et Daphnée est rentrée à la maison pour « se reposer ».
Elle m’a été envoyée par son médecin de famille pour essayer de « comprendre ce qui s’était passé ». Daphnée était la fille unique d’une famille argentée et
aristocrate. Elle était scolarisée dans un pensionnat à sa demande et sa famille
ignorait tout de sa consommation de cannabis. Elle avait commencé à « fumer »
à 14 ans. Au début c’était « juste comme ça ». Juste pour passer la journée et
aussi pour ne pas s’ennuyer au collège, Elle fumait pour être avec les autres, et
puis, petit à petit, elle a commencé à fumer , seule. A 16 ans, elle demande à
aller en pension. Elle se sent seule à la maison. Son père travaille en Suisse et sa
mère en Europe. Pendant la semaine, elle commence à fumer quand elle rentre
du collège, puis pour se lever, pour se réveiller, pour pouvoir dormir, pour ne
pas penser à sa vie et, « surtout pour faire le vide dans sa tête ».
Sa tête, elle, elle était bien pleine. Pleine d’angoisses d’abandon, d’une tristesse
infinie et, surtout, d’une envie de vivre une vie où elle ne serait pas elle. Elle
voulait vivre la vie d’une autre. Alors elle fumait et ça « s’envolait » pour ne pas
penser qu’elle se sentait seule, pour ne pas penser aux week-ends qu’elle passait
seule dans le grand appartement familial, pour ne pas ressentir le grand vide
en elle, et, surtout autour d’elle. Alors son besoin de fumer était motivé par la
peur du vide. Elle fumait pour ne pas ressentir le besoin d’être avec quelqu’un
d’autre qu’elle-même. Et surtout pour oublier son envie d’être quelqu’un d’autre,
de vivre la vie d’une autre.
La relation d’étrangeté de l’adolescent avec son corps
L’adolescence, comme nous le savons, constitue pour tous les individus une
période de vulnérabilité au plan identitaire où la continuité psychique est mise
à l’épreuve des changements internes (corporels, par exemple) mais aussi externes (les attentes et les exigences de l’environnement entre autres). Durant
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l’adolescence, les processus d’élaboration psychique sont eux aussi mis à mal par
une importante excitation interne qui met à l’épreuve les processus de pensée
et les liens aux objets, internes et externes.
En effet, la puberté agit comme un traumatisme potentiel, qui précarise
l’équilibre interne de l’adolescent. C’est le temps de la « dysharmonie évolutive »
décrite par Kestemberg (1962, p.445). En ce sens, le corps continue à être perçu
comme partie intégrante de soi mais, en même temps, la psyché le perçoit aussi
comme un corps étranger, surtout, parce que dorénavant, il échappe au contrôle
du Moi et plonge l’adolescent dans une relation de passivité. La psyché, au mieux,
suit et accompagne ce corps, mais elle n’a aucune emprise sur son évolution. Ce
sentiment « d’étrangeté » ne pourra qu’être progressivement outrepassé, s’il est
identifié et mis en relation avec l’histoire, le savoir et les expériences acquises par
l’adolescent. C’est ainsi que la psyché pourra intégrer le corps et le reconnaître.
Cependant, avant ce dénouement heureux, l’adolescent passe par des étapes
difficiles. Le corps n’est plus une forme figée derrière laquelle l’enfant pouvait
se cacher, il révèle, au contraire, ses émois et ses troubles les plus intimes.
L’adolescent peut être le maître de ses pensées et de ses idées mais il n’est sûrement plus le maître de son corps en pleine crise pubertaire.
« En temps de crise l’équilibre dynamique des (...) modes d’appréhension
des autres et de soi sont [est] remis en question et restructuré de façon plus ou
moins favorable en un nouveau mouvement évolutif maturant. ». Ainsi, Kestemberg (1962, p.443) considère la crise pubertaire comme un nouvel organisateur
du Moi.
Cela s’explique surtout par le fait que cette crise met en cause l’économie
psychique. Les mutations mettent en péril l’équilibre existant et l’adolescent, tel
un Phœnix renaissant de ses cendres, surgit sous la forme d’un être nouveau et
accompli, un adulte en d’autres termes. Kestemberg prend soin, tout de même,
de préciser l’importance de la qualité de l’étayage de l’environnement, ainsi que
des activités de groupe, des idéaux, du travail scolaire et / ou professionnel, et
de la qualité de l’insertion dans la vie sociale.
Pourtant, le processus ne se déroule pas toujours avec autant de facilité.
D’ailleurs, A. Green dit, avec un certain humour : « il faut remarquer que
l’adolescence a ceci de spécifique qu’elle est la seule crise dans le développement
humain dont il est attendu, par un consensus général, des effets positifs. » (Green,
1986, p.38). L’enjeu de la crise consiste en la capacité à faire l’articulation entre
la réalité interne et la réalité externe, sans tomber dans les excès de la rupture
avec l’une ou l’autre.
Quand cette articulation n’est pas possible et que la rupture advient, la possibilité pour l’adolescent de maintenir la continuité psychique dans un processus de
subjectivation est entravée par l’excitation continuelle. Dans ce cas, le danger d’une
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entrée dans un mode de fonctionnement psychique où l’apaisement viendrait
de l’extérieur, ou d’un tiers externe au sujet risque d’émerger, dans les problématiques addictives, par exemple et où le dernier cri de Narcisse résonne : « Je
suis le seul que je ne peux pas posséder » ou apaiser, pourrions- nous ajouter.
La subjectivation à l’adolescence
Selon Catherine Chabert (1991, p.295) « A l’adolescence deux tâches essentielles
s’imposent au sujet :
Ÿ Maintenir le sentiment de continuité d’exister qui fonde son espace identificatoire, en dépit des modifications patentes inscrites par la puberté à la fois
dans son corps et dans sa psyché.
Ÿ Déployer des potentialités de changement et notamment ouvrir son champ
relationnel grâce aux déplacements de ses choix d’objets originaires »
De plus, si comme, l’affirme C. Chabert, le paradoxe entre changement et
permanence est le grand défi de l’adolescence, pour certains, ce défi serait au-delà
du possible. La « catastrophe psychotique » (CAHN, 1991, p.36) sera au rendez-vous au lieu du compromis possible entre « ce que je suis et ce que je deviens ».
L’adolescence est donc la période de tous les dangers, de tous les remaniements, et sur le plan clinique, le temps de tous les possibles, notamment ; de la
possibilité de dépasser des pathologies anciennes, reprises dans le champ actuel
où elles se trouvent souvent amplifiées, mais ouvertes à des élaborations nouvelles.
Par ailleurs, R. Cahn (1991, p.39) avance l’hypothèse d’un « empêchement
de la subjectivation à des degrés divers » à travers un point de vue psychodynamique de l’adolescence :
« Ces obstacles à la subjectivation se rencontrent peu ou prou à tous les niveaux,
depuis l’instauration de l’objet subjectif jusqu’à la différenciation sujet-objet,
depuis les modalités d’internalisation de la fonction encadrante, pare-excitante
de l’objet primaire jusqu’à celles des identifications, des plus anciennes aux plus
différenciées, où le plus souvent prévaut l’intromission par rapport au mouvement
spontané d’introjection, depuis des relations pré-objectales jusqu’à celles avec
l’objet » (CAHN, 1991, p.39).
Pathologiquement ou normalement engagé, le processus de l’adolescence
rencontre « l’inquiétante étrangeté » (CAHN, 1991, p.39).
À l’adolescence, le phénomène de la non traduction de l’inquiétante étrangeté
resurgit : face à un éprouvé étranger à la rationalité, les explications des adultes,
quand elles existent, la crudité des représentations ou des fantasmes personnels,
ne sont pas des traductions adéquates. Il s’agit pourtant à nouveau de « traduire »,
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mais sans aide cette fois du pare-excitation maternel. La conquête narcissique de
l’adolescence passe par le renoncement au refuge maternel qui abandonne, autant
qu’on puisse l’abandonner, le renoncement aux aspects œdipiens des parents, et
ce, en leur présence, le renoncement à la bisexualité. Le passé est nostalgique
et la saudade inévitable. C’est au pare-excitation propre (et donc à sa capacité, sa
plus ou moins grande souplesse, sa force liante et surtout ouverte à des nouvelles
liaisons) de fournir la contention, d’intégrer l’inquiétante étrangeté nouvelle à
ce qui est déjà familier. La subjectivation est à ce prix.
Le vécu incompréhensible de l’adolescence, comme jadis les mauvaises
expériences de la toute petite enfance, font de l’adolescence un temps à la fois
nouveau et très ancien. Phénomène d’inquiétante étrangeté et réouverture inévitable des processus de subjectivation, affect et représentation, redeviennent
les protagonistes imposés du drame narcissique dans son intrication au drame
oedipien à l’adolescence (liaisons-déliaisons-reliaisons). Ils jouent un drame déjà
connu, mais ils doivent prendre en compte un élément nouveau : l’entrée du
sujet singulier dans les choix de sa sexualité adulte et dans le rôle que la lignée
a prévu pour lui mais qu’il doit à la fois faire siens et modifier.
Le sujet est « un agent pulsionnel pris dans un rapport signifiant (…) un
sujet pulsionnel et sexué dont le gain qualitatif se fait dans le sens d’apprendre
à mieux jouer, et notamment à mieux passiver, la féconde division structurelle
qui est la sienne. » (PENOT, 2001, p.252) et ainsi « subjectiver c’est s’éprouver
comme agent de sa vie (sa vie psychique avant tout ». Pour B. Penot (2006,
p.183) « chacun de ses termes est indispensable, car s’éprouver sans être agent
mène au tournoiement idéique sans fin du névrosé grave, tandis qu’être agent
sans éprouver caractérise les pathologies dites comportementales et le fonctionnement opératoire … C’est en fait le rapport dynamique entre les termes
de ces définitions qui leur fait figurer la subjectivation — entre énergétique et
signifiant — impliquant à la fois de s’approprier, de se reconnaître assujetti
et de se différencier « ex-sister »… ». Cette nécessaire appropriation passe par
un processus d’élaboration « des conflits qui serait l’aboutissement des grandes
étapes de la vie » (EMMANUELLI, 2005, p.272) et pour cela une pensée en lien
est plus que nécessaire pour donner sens à un monde qui change, aussi bien à
l’intérieur qu’à l’extérieur du sujet, sans que celui-ci puisse avoir un vrai contrôle
sur ces processus de changements.
Le sujet, selon B. Penot (1999, p.1.493) « ne se caractérise guère par sa
plénitude, ni son naturel, mais bien plutôt comme une fonction précaire car
indissociable au départ de la prématurité du nourrisson humain, de sa dépendance des premières transactions pulsionnelles avec la mère et du « discours »
(verbal, gestuel) de celle-ci. ». Cette « fonction sujet » serait dans tout être humain et liée à l’activité pulsionnelle. « À partir de là, le processus psychique de
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subjectivation se nourrit de la prise du sujet-agent pulsionnel dans un rapport
signifiant » (Penot, 1991, p.1.556). Ainsi, on ne naît pas sujet, on le devient.
Dans cette conception, le travail de l’adolescence serait la tentative d’un
remodelage du pare-excitation, ce qui constitue un des principaux défis de
l’adolescence. C’est un temps de subjectivation permettant à l’organisation œdipienne de ne plus agresser l’organisation narcissique, ou d’être moins menaçant.
Cette possibilité de travail conjoint de subjectivation et de remodelage est tributaire, comme le souligne Raymond Cahn (1991, p.285), « de l’espace qui aura ou
non été laissé à la psyché pour tenter de se dégager par de nouvelles liaisons ».
Ainsi, R. Cahn (1991) émet l’hypothèse que cette impossibilité est associée
surtout à un défaut du mécanisme de pare-excitation. Il s’agit d’un processus
internalisé à partir de la fonction maternelle, capable de lier et d’organiser les
excitations internes et externes tout au long de la vie. Il est donc nécessaire à la
différenciation progressive sujet-objet et à la liaison des affects à l’objet dans les
représentations et les symboles. Ce processus est la condition même du refoulement primaire et de la possibilité d’identifications structurantes.
Pour finir cette partie, j’aimerais aborder le texte de 1989 de Piera Aulagnier
« Se construire un passé », qui parle justement de la possibilité de faire un travail
de deuil de l’enfance mais d’un point de vue différent. Elle propose qu’une tâche
centrale de l’adolescence consiste en un travail de mise en mémoire et de mise
en histoire de son passé infantile, grâce auquel un temps passé peut continuer à
exister psychiquement. C’est une sorte d’autobiographie que chaque sujet, dans
la période d’adolescence, comme auteur de son histoire doit construire et reconstruire à partir des éléments infantiles qui constituent ce que Piera Aulagnier
nomme « fonds de mémoire ». Le « fonds de mémoire » garantirait à l’enfant
quelques points d’ancrage dans le registre des identifications auxquelles il pourra
faire référence. Il lui garantirait aussi un capital fantasmatique fondamental pour
élaborer ce travail à ce titre autobiographique.
« Le temps de l’enfance devra ou devrait se conclure par la mise en place et la mise
à l’abri de toute modification de ce que j’essaie de cerner sous le terme d’une part
de singulier. C’est ce travail, grâce auquel ce temps passé et perdu se transforme et
continue à exister psychiquement sous la forme du discours qui le parle, de l’histoire
qui le garde en mémoire, qui permet au sujet de faire de son enfance cet ‘avant’
qui préservera une liaison avec son présent, grâce à laquelle il se construit un passé
comme cause et source de son être. » (AULAGNIER, 1989, p.184)
Il est donc nécessaire que le Je puisse devenir ce que Piera Aulagnier (1989)
appelle « apprenti historien », à savoir quelqu’un qui se reconnaît comme coauteur indispensable de son histoire. L’échec de ce travail renvoie non seulement à la
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psychose, mais à d’autres configurations psychiques échouent à l’accomplissement
de cette tâche qui s’appuie sur une confusion des temps, due au manque de repères et à une enfance qui n’a pu être ni conclue, ni historicisée.
Ainsi, la possibilité d’investir son passé, de construire une histoire propre
et de se raconter au passé est fondamentale pour l’organisation d’un monde intérieur propre et privé. En revanche la rupture avec ses liens de filiation et avec
son histoire empêche une inscription du sujet dans une temporalité. Autrement
dit, on peut penser que sans ce travail de mise en histoire, le sujet ne peut pas
non plus avoir de points d’ancrage pour se projeter dans l’avenir.
Un autre aspect qui sera rudement mis à l’épreuve à l’adolescence en particulier est la possibilité ou la capacité de résister à la déliaison et rester dans le
lien au sens psychanalytique du terme. Autrement dit, dans une existence qui
puisse avoir un sens.
La problématique du lien à l’adolescence
La problématique du lien est centrale en psychanalyse depuis l’origine de cette
discipline. Freud s’interrogeait déjà sur les liens familiaux pour tenter de comprendre l’inscription du sujet dans un ensemble. Ainsi, la question désormais
fondamentale est celle de la consistance psychique inconsciente du lien. On peut
s’interroger sur les mouvements du désir inconscient, sur le désir de l’autre et
l’objet du désir de l’autre. Le lien est alors perçu à la fois comme une condition
et une variante de la formation psychique individuelle.
Une autre manière d’aborder la question du lien est proposée par F. Marty
(2002) qui, tout d’abord, nous rappelle que ce mot désigne à la fois un objet qui
sert à attacher et une fonction affective de lier. Le lien évoque alors la présence
de deux éléments différents qui ne sont pas soudés ou fusionnés et qui, du
coup, renvoient à l’absence, et à leur séparation. Il nous dira que : « Le lien est
une expérience affective qui s’intériorise. (..) Le lien est le signe d’une absence
intériorisée, donc d’une présence symbolisée. » (MARTY, 2002, p.11).
En revanche, on peut déjà constater un problème majeur : si la question
centrale du lien est justement la possibilité de symboliser une absence, et en
même temps si cela est d’une grande difficulté pour certains sujets, on peut
imaginer que la construction d’un lien sera toujours complexe et constituée de
plusieurs aspects. Au niveau intrapsychique, le lien sert à établir des relations
symboliques, à représenter et élaborer des scènes signifiantes pour maintenir
une certaine cohésion interne, de façon à préserver le sentiment d’existence et
la possibilité de reconstituer notre propre histoire malgré toutes les ruptures
et discontinuités de la vie.
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Dans ce sens, P. Aulagnier (1989) propose la notion de capital fantasmatique, qui décidera des possibilités relationnelles et des choix de ses supports
d’investissement. De plus, elle parle d’un principe de permanence constitué au
cours de l’enfance, qui est une matrice relationnelle singulière, et d’un principe
de changement qui balise le champ des possibles compatibles avec cette matrice
permanente.
Ainsi, l’appauvrissement de la vie fantasmatique implique des possibilités
relationnelles très réduites, rigides et répétitives. À partir de cela, on pourrait,
par exemple, se demander si le vide de la vie relationnelle est dû à une matrice
relationnelle singulière très pauvre, ou s’il vient des attaques des liens internes
de cette matrice par l’adolescent, ou encore si ces deux phénomènes combinés
en sont la cause. D’ailleurs, Freud (1924, p.299), dans son texte « La perte de la
réalité dans la névrose et dans la psychose », traite du conflit psychotique entre
le moi et le monde extérieur. En effet, dans la psychose, il y a un double refus
de la réalité externe et de la réalité interne qui entraîne, dans le second temps du
processus psychotique, une double création du monde intérieur et extérieur. Cette
création se fait à partir des désirs du ça, tout en rejetant la partie intolérable que
le monde intérieur projette dans le monde extérieur. Ainsi, on peut dire que ce
deuxième investissement sera toujours différent parce qu’il y a une réinvention
du monde à partir des objets substitutifs selon les désirs du ça.
Par conséquent, le travail de construction du lien avec un autre différent de
soi est parfois insupportable. C’est l’angoisse de la disparition face à une relation,
à une transformation, à une discontinuité qui, paradoxalement, entraîne une
rupture radicale de la continuité psychique.
La question des liens et de l’excitation psychique l’adolescence
A l’adolescence, on trouve fréquemment des forces destructrices, où la déliaison
prévaut sur l’activité de liaison. La continuelle excitation psychique provoque
des remaniements qui peuvent provoquer à la fois une rupture narcissique et
une rupture d’investissement objectal. Dans le premier cas, il s’agit d’un morcellement psychique tel que la construction d’un espace interne délimité et privé
ou d’une représentation de soi reste infaisable. Dans le deuxième cas, il s’agit
d’un retrait d’investissement des objets du monde extérieur et d’un repli sur
soi. Pourtant, cet enfermement en soi n’est pas une garantie d’investissement
narcissique, au contraire il empêche toute possibilité d’élaboration et de contact
du sujet avec lui-même.
L’attaque massive des liens intra- et inter-subjectifs apparaît alors comme
un mouvement destructeur. L’excitation insupportable du monde interne et
externe, qui ne trouve pas dans le sujet une source de pare-excitation, le mène
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à chercher une source tiers d’apaisement, comme dans le cas de Daphnée et son
cannabis apaisant.
La distance relationnelle pose également problème. Ce type de lien oscille
entre une menace d’abandon désorganisatrice pour le moi et une proximité
rapidement intrusive et persécutrice. Ainsi, le fait que dans les deux cas l’objet
a une fonction d’excitateur menaçant la stabilité du moi explique les efforts de
ces adolescents pour dénier le besoin de l’objet et la quête d’un objet apaisant.
Ainsi, s’approcher de cette position subjective, où les objets sont reconnus comme
des tiers apaisants est une partie fondamentale du processus de subjectivation.
À ce propos, C. Chabert (2002) évoque l’acceptation nécessaire de la passivité
par les adolescents : il faut accueillir les transformations corporelles et renoncer au pouvoir absolu et infaillible grâce à la possibilité de se placer dans une
position plus passive. C’est justement cette position qui est insupportable pour
les sujets trop fragiles. La passivité semble susciter chez eux le fantasme d’un
envahissement complet. De ce fait, on ne peut que lutter contre l’objet et partir
à en quête d’un autre qui puisse avoir une effet rassurant.
Ainsi, si l’on revient à la question du lien, on peut penser que les ruptures
de liens sont aussi en relation avec le vécu d’une dépendance et d’une passivité, brutalement rejetées, que le lien à l’autre génère. Le besoin de l’autre est si
menaçant que le sujet préfère, dénier l’existence de l’autre pour garantir une
illusion d’indépendance et de complétude.
Pour conclure, il me semble que, malgré les apparences, il y a une grande
concordance entre les différents auteurs sur un point essentiel celui de la question de la souffrance de l’adolescent aux prises avec l’impossibilité d’apaisement
de l’excitation interne. Des adolescents pour qui la para-excitation trouve des
remplaçants externes au moi. Des adolescents aux prises avec l’impossibilité
à faire sienne cette souffrance avant qu’un processus de subjectivation puisse
s’enclencher. Si le lien donne un sens à la souffrance, il fait aussi en sorte que
celle-ci fasse mal. Cette question de la souffrance ressentie peut se traduire par
le sens des symptômes et leur valeur économique. Je n’entends pas la question
du symptôme telle qu’une certaine partie de la psychiatrie adepte du DSM-IV
la comprend, c’est-à-dire, le symptôme en tant qu’objet d’étude en lui-même.
J’entends la question du symptôme au sens freudien du terme, autrement dit,
comme appartenant à un sujet et ayant une valeur économique pour celui-ci.
Ainsi, on pourrait avancer l’hypothèse clinique que, pour certains adolescents fragiles, pour qui la question des liens est directement associée à une problématique de subjectivation. Pour eux, le recours à des substances, comme le
cannabis, permet le maintien d’un équilibre psychique. Equilibre psychique où
le cannabis vient servir d’objet para-excitant, coûteux, par sa possible addiction
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Dépendance à l’adolescence : le vide par l’excès
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mais envisageable par l’excès car il permet l’accalmie, mais un apaisement de
l’excès par le vide.
Recebido em 13/1/2014. Aprovado em 4/2/2014.
Références
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de l’enfant, n.7, « Le narcissisme à l’adolescence », colloque de Monaco.
Paris : Le centurion, 194.
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CHABERT, C. (2002) « Les parents intérieurs » in Psychiatrie de l’enfant,
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. ; GUEDENEY, N. (1991) « Permanence et changement dans
l’évolution d’un adolescent psychotique », Adolescence, 9, 2, p.295.
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Teresa Rebelo
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Separation, dependance
et depression a l’adolescence
François Marty
François Marty
Psychologue,
psychanalyste,
professeur des
universités,
membre du
LPCPP EA 4056,
université Paris.
Descartes. Membre
du Collège
International de
L’Adolescence
(CILA). Institut
de Psychologie,
université Paris
Descartes.
ResumE : La dépendance est une étape, provisoire mais nécessaire
pour la constitution psychique du sujet. C›est une des figures du lien
sans laquelle il ne saurait y avoir d›autonomie. Mais la dépendance
traduit aussi un état pathologique dans le processus d’adolescence
où la capacité à jouer avec l’objet est rabattue au besoin de trouver
un objet qui comble, qui masque aussi la détresse du sujet et sa
difficulté à se séparer. Nous faisons l›hypothèse que la dépendance
pathologique est une façon de lutter contre la dépression et l›angoisse
d›effondrement qui lui est sous-jacente.
Mots clés : Séparation, perte d’objet, dépressivité, effondrement,
latence.
Abstract: Separation, dependence and depression in adolescence.
Addiction is a step, provisional but necessary for the psychological constitution of the subject. This is one of the forms of relation
without which there can be no autonomy. But dependency also
reflects a pathological condition in the process of adolescence where
the ability to play with the object is replaced by the need to find an
object which fills, as well as masks the distress of the subject and
its difficulty to be separated. We establish the hypothesis that the
pathological dependency is a way to fight against depression and
its underlying anxiety of collapse.
Keywords: Separation, object loss, depressiveness, collapse, latency.
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François Marty
Introduction
La dépendance est une étape, provisoire mais nécessaire pour la constitution
psychique du sujet, mais elle traduit aussi un état pathologique, une difficulté
majeure dans le processus d’adolescence où la capacité à jouer avec l’objet est
rabattue au besoin de trouver un objet qui comble, qui masque aussi la détresse
du sujet et sa difficulté à se séparer. C’est ainsi que nous comprenons la consommation abusive d’alcool chez les adolescents qui pose le problème de leur
fonctionnement psychique et celui des aménagements qu’ils trouvent ou tentent
de trouver pour faire face à certaines difficultés de leur vie. La dépendance qu’ils
développent vis-à-vis du produit traduit leur tentative d’éviter de rencontrer et
d’affronter la dépression qui est en eux. En buvant, ils luttent sans le savoir contre
la peur de s’effondrer et cherchent à mettre de côté ce qui pourrait les menacer.
Mais ce qui les menace est à l’intérieur d’eux, ce qui les oblige à mettre en place
des stratégies qui les rendent encore plus dépendants. D’où vient cette dépression
qu’ils dénient ou cherchent à fuir et en quoi la dépendance aurait un rapport
avec la dépression ? C’est ce que nous nous proposons d’examiner dans ce texte.
1. Le problème de la dépression
La dépression est une manifestation affective réactionnelle à la perte d’objet1 qui se
traduit par un affect de tristesse, une inhibition psychomotrice, un ralentissement
de l’action, des idées suicidaires, une auto dévalorisation, une baisse de l’estime
de soi, un sentiment de fatigue, souvent accompagné de troubles du sommeil ;
une douleur morale enfin, parfois intense qui semble accabler le sujet. Tous
ces signes ne sont pas nécessairement présents dans le tableau de la dépression.
Elle peut être considérée comme l’expression d’une souffrance traduisant une
difficulté majeure à faire le deuil d’un objet, mais elle peut être aussi envisagée
comme une tentative d’élaboration psychique de l’angoisse liée à cette perte de
l’objet ou de l’amour de cet objet. On distinguera la dépression mélancolique
(versant psychotique) où domine une très forte douleur morale, la culpabilité, la
persécution — l’auto accusation pouvant aller jusqu’au délire —, de la dépression
névrotique (versant décompensation névrotique) dans laquelle le sentiment de
culpabilité est plus discret, la douleur morale mois intense. Dans le premier tableau il s’agit d’un effondrement des défenses laissant apparaître le risque d’une
évolution vers la psychose bipolaire, la phase mélancoliforme de cette affection
étant alors souvent gravissime avec un fort risque de passage à l’acte suicidaire.
La dépression névrotique, quant à elle, se manifeste à l’occasion d’événements
de vie traumatisants relevant tous de près ou de loin de l’expérience de la perte
1
Ou : perte d’amour de la part de l’objet.
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d’objet. La fragilité narcissique de ces personnalités favorise la décompensation
névrotique. Dans les deux situations, le sujet ne parvient pas à élaborer cette
expérience du deuil de l’objet, le moi du sujet prenant en quelque sorte la place
de l’objet perdu dans le cas de la mélancolie, tandis que le travail de deuil momentanément ou plus durablement entravé conduit le sujet névrosé à mettre en
place des conduites et des stratégies anti-dépressives variées.
Si S. Freud (1920) a davantage travaillé la question de la mélancolie comme
pathologie du deuil que celle de la dépression névrotique, il a pourtant perçu le
travail qu’effectue l’enfant pour réagir face à l’absence de l’objet maternel en la
symbolisant par le jeu (de la bobine). Il a mis en évidence la façon dont l’enfant
en jouant s’approprie une expérience pour ne pas la subir. Il a montré ainsi
comment l’enfant échappe à la détresse de la disparition de l’objet primaire en
cherchant à maîtriser l’angoisse liée à cette perte d’objet par la représentation.
Mais il ne s’est pas directement intéressé à l’affect dépressif, sauf à considérer
que sa théorisation de la mélancolie, comme pathologie du deuil, soit une façon
fondamentale de poser la première pierre d’un édifice dont la construction sera à
venir. Dans la mélancolie, « l’ombre de l’objet tombe sur le moi » (FREUD, 1915),
pour reprendre sa célèbre formule, indiquant clairement le repli narcissique où
l’objet perdu est devenu le moi du sujet. Cette régression narcissique masque
l’agressivité initialement dirigée vers l’objet et secondairement retournée contre
le moi du sujet. L’édifice, ce sont M. Klein et D. W. Winnicott qui vont, parmi
les tout premiers, le construire en éclairant les modalités dépressives du lien à
l’objet comme expression affective normale éprouvée par l’enfant lorsqu’il est
confronté à l’absence de l’objet primaire et surtout à sa propre agressivité destructrice dirigée vers cet objet entraînant une culpabilité, source de dépressivité.
La position dépressive kleinienne (1934, 1940) et winnicottienne (1954-1955)
suppose au préalable une attaque de l’objet, une projection de cette agressivité
du sujet sur l’objet et une culpabilité liée à cette destructivité provoquée par
un surmoi précoce. La réparation de l’objet détruit ou endommagé fait suite à
ces mouvements psychiques du jeune enfant. Il conviendra donc de distinguer
nettement la position dépressive comme moment dépressif normal, s’inscrivant
dans un processus de maturation psychique, de la maladie dépressive qui, elle,
caractérise un état dans lequel le sujet ne trouve pas d’apaisement à sa détresse,
consécutivement à un abandon ou à une perte d’un objet libidinalement très
investi par le sujet. Il ne trouve pas de solution réparatrice envers l’objet, ni de
restauration narcissique pour lui-même. On mesure combien l’appréciation du
problème dépressif dépend da la qualité des étayages narcissiques, de celle de
l’intériorisation des objets, de la solidité des défenses du moi, de la façon dont
l’expérience de séparation d’avec l’objet primaire aura été vécue par l’enfant.
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On devine sans peine l’impact que ces expériences précoces auront, le moment venu, lorsque l’adolescent aura à revivre ces expériences de perte, lorsqu’il
devra résister à la violence interne de ses propres mouvements pubertaires. Cet
impact des expériences précoces entrera en résonance avec celui, traumatique,
de la puberté et des effets potentiellement désorganisateurs qu’elle peut avoir
sur la vie psychique. La consommation de produits comme le cannabis vient-elle
jouer le rôle d’amortisseur dans ce vécu traumatique ? Est-elle un évitement de
l’élaboration de la position dépressive qui se rejouerait à l’adolescence ?
Blessure narcissique et perte objectale favorisent la survenue d’un affect dépressif à l’adolescence. L’élaboration psychique permet habituellement de faire le
deuil des objets infantiles et d’intégrer la nouveauté pubertaire. L’affect dépressif
peut donc être considéré comme faisant partie de toute expérience adolescente.
La dépression clinique n’apparaît que lorsque le travail d’élaboration psychique
est en échec et que le caractère traumatique du pubertaire déborde par effraction le pare-excitations et les capacités de contenance psychique de l’adolescent.
Dans ce cas, cependant, la solution dépressive est constructive et maintient un
certain mode de fonctionnement psychique dans lequel le sujet reste en lien,
même de façon douloureuse, avec l’objet interne. Mais on est en droit de se demander jusqu’à quel point il s’agit de l’objet interne. Ne devrait-on pas, comme
le suggère P. Denis (1997), évoquer l’objet dépressif comme un substitut de
l’objet perdu, comme une façon de supporter son absence sans pour autant en
intégrer la perte dans un véritable travail de deuil ? Cette construction protège
néanmoins le sujet, mieux que d’autres montages (pervers en particulier) d’une
désorganisation psychotique ou psychosomatique. L’agrippement à l’objet dans
un mouvement dramatique pour ne pas subir sa perte comme une disparition
de soi, vient là parfois comme une autre solution (addictive).
Ce bref survol de la problématique dépressive laisse entrevoir les achoppements que l’enfant puis l’adolescent peut connaître dans son traitement et son
dépassement. Pour en mesurer la difficulté, il n’est qu’à prendre en compte les
expériences précoces de séparation, où, selon la nature des étayages narcissiques
qui ont participé à la construction subjective de l’enfant, l’expérience sera riche
d’individuation ou dramatique d’arrachement provoquant des angoisses agonistiques, des angoisses d’effondrement catastrophiques. Il n’est pas rare, dans ce
dernier cas, d’observer la mise en place de défenses plus rigides comme autant
de recherches de solutions (aménagements pervers, addiction, notamment)
permettant au sujet de survivre à cette menace d’effondrement.
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2. Rupture et séparation
La séparation est un travail psychique qui permet à deux sujets de se quitter
sans qu’aucun d’eux n’ait le sentiment d’être amputé d’une partie de lui-même
en n’étant plus en présence de l’autre. Se séparer nécessite d’être suffisamment
construit pour que, privé de l’autre, le sujet ne s’effondre pas. Se séparer contribue à créer le sentiment d’exister et permet au sujet de se nourrir de la relation
à l’objet. A contrario, lorsqu’un sujet n’a pas atteint ce degré d’individuation,
lorsqu’il est dépendant des objets externes pour se sentir exister, il peut éprouver le fait de se séparer comme une atteinte à son intégrité psychique et même
physique. L’absence d’angoisse d’abandon chez les enfants psychotiques, qui se
traduit par une grande facilité à quitter les bras maternels pour aller vers ceux
d’un inconnu, manifeste cet état d’indifférenciation où soi et l’autre ne sont pas
reconnus dans leur identité respective. R. Spitz (1955) a proposé de considérer
l’angoisse du 8ème mois si caractéristique de ce passage de l’indifférencié à la
reconnaissance de la séparation comme un des organisateurs précoces indiquant
le degré de maturation psychique de l’enfant sur le chemin de sa subjectivation.
C’est M. Mahler (1968) qui en fera un processus original en associant individuation et séparation, l’absence de ce couplage lui servant à diagnostiquer les états de
psychose symbiotique où, précisément, l’angoisse de séparation est envahissante
et le sentiment d’individuation à peine ébauché. Dans ces pathologies psychotiques de l’enfance, les moments où l’enfant est privé de sa mère créent des états
d’angoisse catastrophique, comme s’il ne pouvait exister sans la présence réelle de
cet autre. L’absence est donc perçue, contrairement à d’autres formes plus archaïques de psychose, mais elle ne peut être traitée psychiquement par l’enfant qui
s’appuie totalement sur l’objet externe pour se soutenir narcissiquement. Toute
séparation, même brève, est vécue comme un déchirement, un arrachement où
c’est littéralement la propre peau du sujet qui s’en va avec l’autre.
L’expérience de la séparation à l’adolescence
Dans son article de 1967 « Le second processus d’individuation », P. Blos esquisse
ce qui va devenir l’objet de la plupart des recherches actuelles sur l’adolescence
et, particulièrement, de celle qui nous occupe aujourd’hui, à savoir la question
de la séparation. Il est intéressant de noter combien P. Blos s’est inspiré de la
proposition de M. Mahler concernant le processus de séparation/individuation
intervenant normalement dans la relation mère/enfant pour poser le problème
de la spécificité de cette question à l’adolescence. La formule de P. Blos suggère
que se produirait à l’adolescence une répétition du processus qui se met en place
dans l’enfance. Or, il n’en est rien. Il s’agit moins d’une répétition que d’une
reprise de ce processus, reprise qui, on va le voir, donne lieu à une création,
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à une nouvelle interprétation de la relation à soi et à l’autre, à commencer par
l’autre parental. C’est ainsi que la séparation peut être envisagée ici comme un
travail psychique spécifique et distinct d’autres formes de transformation du lien
à l’objet comme peuvent l’être la rupture, l’abandon, la perte, l’arrachement, le
déchirement.
L’adolescence, lorsqu’elle est considérée comme le second processus de séparation individuation (Blos, 1967), confronte à nouveau l’enfant à ce mouvement de
désinvestissement des objets de l’enfance pour investir les objets de la génitalité.
C’est à l’occasion de cette mutation qui réorganise en profondeur les investissements libidinaux, la relation aux objets et les identifications qui en découlent
que peuvent se manifester des moments d’allure dépressive, sans réelle gravité
parce qu’ils sont l’expression d’un travail psychique de deuil. Peuvent apparaître
aussi des maladies dépressives qui traduisent, quant à elles, l’impossibilité pour
le sujet à faire face à ces exigences internes multiples, pour traiter l’angoisse
dépressive face à la menace de perte d’objet. C’est dans ces cas là que la perte
de l’objet externe idéalisé, dont le sujet est resté fortement dépendant, entraîne
un doute chez l’adolescent quant à sa capacité à pouvoir investir un autre objet
(JEAMMET, 1985). L’effondrement dépressif survient lorsque les élaborations de
l’angoisse (phobiques et/ou hystériques) ont échoué. En effet, la phobie, pour
prendre cet exemple, n’est pas seulement la manifestation pathologique d’un
dysfonctionnement dans la relation à l’objet, ici phobogène ; elle est aussi une
façon de traiter l’angoisse de perte d’objet en la projetant et en la fixant. Cette
capacité à projeter le mauvais à l’extérieur de soi, qui appartient en propre à la
phase schizo-paranoïde, semble faire défaut au sujet qui entre en dépression. La
maladie dépressive serait même la traduction d’une impossibilité à projeter sur
l’autre cette part mauvaise qui viendrait, dans un mouvement de détournement
(pour protéger l’objet ?) et de retournement, attaquer le sujet lui-même. Quant
à l’élaboration phobique (Birraux, 1990), nous pouvons la considérer comme
le moyen le plus primitif de traitement de l’angoisse d’abandon ; la dépression
survenant sur fond d’échec de cette élaboration primitive.
C’est dans ce contexte d’échec de l’élaboration de l’angoisse de perte d’objet
que le sujet peut recourir à des moyens moins intégrés psychiquement que
l’élaboration phobique ou hystérique, avec les aménagements pervers, installant
une véritable relation fétichique à l’objet (KESTEMBERG, 1978), qui « consiste,
au sein d’une relation avec une personne privilégiée, à la rendre désanimée pour
en assurer la perpétuité et pour l’investir en tant que garante du narcissisme du
sujet ». Cette maîtrise de l’autre s’apparente aux procédés pervers qui permettent
au sujet de survivre à l’angoisse de castration.
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3. La dépendance comme évitement de la dépression ?
La dépression est un travail psychique, un moyen particulier de traiter l’angoisse
de perte d’objet. Le recours à l’aménagement pervers, voire à la perversion, via
le fétiche, ou à la dépendance, constitue une tentative de nier (contourner ?)
la perte de l’objet et traduit un défaut de son introjection. Dans tous ces cas, il
s’agit d’une mesure conservatoire. Les objets addictifs ne sont pas intériorisés,
ils appartiennent à la réalité externe. Le sujet ne les hallucine pas, il ne les créée
pas mais doit les trouver en dehors de lui et les retrouver sans cesse pour qu’ils
puissent jouer leur rôle : colmater l’angoisse. N’étant pas intériorisés, ils ne
peuvent qu’être recherchés dans la réalité externe, d’où la dépendance qui s’en
suit pour le sujet vis-à-vis de ces objets de la réalité.
Rémy a 15 ans. Il vient me consulter pour une dépression qui ne dit pas son
nom. Il est triste, parle d’une voix faible. Ses yeux sont rougis par l’insomnie,
l’angoisse. Il est amoureux d’une fille de sa classe et semble perdu dès qu’il la
quitte pour rentrer chez lui. Il ne pense qu’à elle, cherche à la voir en dehors
de l’école. Elle est agréable avec lui pendant le temps scolaire, mais elle donne l’impression de ne pas rechercher sa compagnie en dehors. Rémy l’attend,
l’espère, la colle. Elle s’éloigne de lui et finit par rompre. Une autre histoire
commence, quelques mois plus tard. Le scénario se rejoue, à l’identique. Rémy
est comme un amoureux transi, dans l’attente anxieuse que l’aimée vienne
vers lui, le rassure de sa présence. Son angoisse se calme lorsqu’elle lui sourit,
lorsqu’elle accepte de faire quelques pas avec lui. Il me donne l’impression que
sa vie entière dépend du regard de son amie, il en est totalement dépendant.
Il est collé à elle, paralysé dans une passivité qui lui donne un air pathétique.
Rémy est né après un frère mort. Sa mère ne lui en avait jamais clairement
parlé avant le début de la psychothérapie. Elle est « morte d’inquiétude » pour
son fils Rémy, même si elle ne veut pas le lui faire sentir. Le père tente en vain
de rassurer Rémy et plus il le rassure, plus Rémy s’angoisse. Chaque fois qu’il
doit prendre l’avion pour partir en vacances, quinze jours avant, Rémy a peur.
Il a ce vertige phobique, ce vacillement, perte des repères, de la stabilité de base
où le sujet ne sait plus dans quel espace il se trouve. La phobie du transport
aérien peut être entendue comme l’expression d’une angoisse de séparation,
la peur de la chute et celle de ne plus pouvoir revenir en arrière. L’immobilité
dans la phobie confronte le sujet à l’impossibilité de se réfugier dans le corps
maternel. Rémy pense jours et nuits à ce moment, se demandant comment il va
faire pour lutter contre cette angoisse épouvantable qui le prend quand il entre
dans la carlingue. Cette peur lui gâche le plaisir de rêver à l’île lointaine où il
va se rendre, la mer bleue qu’il imagine, les plages, les poissons, etc. Non, il ne
peut pas, il a trop peur de ce voyage en avion. Lorsqu’il était petit, Rémy faisait
de l’asthme. Maintenant cela va mieux, mais périodiquement, il a des crises,
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des allergies. Il reste sous la surveillance attentive de ses deux parents. Pendant
la psychothérapie, les parents me téléphonent pour me demander comment je
trouve leur fils, s’il faut qu’ils soient plus sévères avec lui ou, au contraire, s’ils
doivent l’aider, le soutenir dans ses difficultés pour avoir confiance en lui. Rémy
évite le conflit avec les parents. Les objets parentaux ne peuvent pas être attaqués,
ils doivent être protégés par Rémy. C’est lui qui doit les rassurer. Et ça l’épuise.
Au moment d’investir un autre objet que la mère, il rejoue avec ses amies
l’angoisse qu’il éprouve et que sa mère ne parvient pas à calmer. Il cherche auprès
d’elles une mère secourable qui lui donnerait confiance. Il attend d’elles qu’elles
se comportent comme des mères. Elles semblent accepter un temps et puis finalement se détournent de lui, apeurées par sa passivité. Il attend du collage à
l’objet qu’il ne le quitte plus. Il rejoue la scène traumatique vécue par la mère
qui a perdu son enfant. En collant à elle comme il colle aux filles, il essaye de
rassurer sa mère en annulant la distance avec les autres (le voyage augmente la
distance, l’avion décolle le sujet de l’objet, du sol maternel), en figeant le lien à
l’autre. Pour conjurer la mort ?
Rémy semble avoir besoin d’un objet d’étayage externe, comme s’il ne l’avait
pas en lui-même, comme s’il n’avait pas fait le deuil de cet objet maternel secourable. Il est toujours dans une détresse semblable à celle d’un nouveau né,
dépendant de la mère pour sa survie psychique. Il n’a pas instauré de jeu dans la
relation avec l’autre ; il se tient au contraire serré, collé, sans espace, de peur de
perdre l’objet dont il a tant besoin. Cette dépendance affective traduit sa difficulté
à se sevrer de l’objet primaire, à asseoir une sécurité interne faite de confiance
et de fiabilité vis-à-vis de l’objet maternel. La phobie de Rémy dit l’angoisse de la
perte (la sienne et celle de sa mère) et traduit la tentative qu’il fait pour maintenir
ce lien à l’objet. Addicté à l’objet, il n’a pas de marge de manœuvre, attendant
toujours que l’objet veuille bien de lui. Il est à sa merci.
La dépendance est une construction originale, une façon particulière de
traiter le problème de l’angoisse fondamentale qu’éprouve tout sujet confronté à
la menace de la perte de l’objet. Elle s’apparente au montage pervers en donnant
l’illusion que l’objet est toujours à disposition, toujours là. Elle tente de faire
l’économie de l’angoisse liée à son absence ou à sa perte. Avec l’objet addictif,
le sujet cherche à colmater cette angoisse, faute d’avoir pu intérioriser l’objet,
faute de s’en être nourri en l’introjectant. Dans la dépendance, le statut de l’objet
n’est pas assuré, le sujet ne peut faire autrement que de s’appuyer sur un objet
externe, faute de l’avoir installé en lui. Ce travail de l’intériorisation de l’objet, du
surmontement de l’angoisse liée à sa perte appartient au processus de la névrose
qui contribue à donner au sujet le bénéfice de cette intériorisation de l’objet. Avec
la névrose, la conflictualité psychique permet de renoncer à l’objet primaire,
surmonter l’angoisse liée à sa perte. Avec l’identification, elle donne au sujet le
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moyen de s’enrichir de cet objet absent. La dialectique investissement narcissique
investissement objectal nourrit et enrichit le sujet. La dépression est un travail
particulier qui offre au sujet la possibilité de traiter cette angoisse fondamentale,
même si c’est au prix d’une souffrance intense qui laisse apparaître les défauts de
la construction subjective : tyrannie du surmoi, insuffisance des étayages narcissiques qui renforcent la tendance du sujet à retourner contre lui-même l’agressivité
destinée à l’objet. La dépression est une solution face à l’angoisse de perte, d’une
qualité supérieure à celle qui est trouvée avec la dépendance, dans la mesure où
elle introduit à la conflictualité psychique, tandis que la dépendance l’évite. L’une
est une opération d’intégration d’une expérience permettant la transformation
du sujet dans son rapport à l’angoisse. L’autre est une immobilisation du sujet
dans une opération de protection contre une menace d’effondrement et contre
la survenue de la douleur psychique. La dépression est également une opération
douloureuse, psychiquement, dans laquelle le sujet s’approprie cette expérience,
là où avec la dépendance, le sujet reste à la frontière de son monde interne.
Ne peut-on pas penser que pour certains adolescents le recours à l’objet
addictif est une façon de traiter leur dépression, là où pour d’autres ce procédé ne
fonctionne pas ? La solution addictive n’est pas l’équivalent d’un travail psychique,
elle n’est pas de même nature que celui qui est à l’œuvre dans la dépression. Cette
solution est suspensive, elle met à distance la douleur de penser. Avec l’exemple
de Rémy, nous avons vu que l’objet de la dépendance pathologique peut être un
autre qui n’est pas reconnu dans sa fonction tierce. L’objet de la dépendance est
toujours un objet partiel.
Une latence artificielle
Faisons un pas de plus dans la compréhension psychopathologique de la dépendance comme solution psychique, qu’elle soit consommation massive de cannabis que nous percevons (pour l’instant) comme une recherche d’anesthésie,
un évitement de la douleur de penser, un évitement du travail de la dépression
ou qu’elle se présente sous les traits de la dépendance à l’objet d’amour. Il est
frappant de voir combien la dépendance à ce type d’objet constitue véritablement
une latence artificielle, ces adolescents mettant en sommeil un pan de leur vie
psychique — et, en particulier, de leur problématique dépressive/agressive —,
repoussant à plus tard le moment où le sujet se sentira capable d’affronter pour
la traiter cette pathologie dépressive qui l’anime en le minant. C’est moins un
traitement de leur dépression qu’un report de l’abord de cette question dépressive qui les minent : latence artificielle, comme une plongée dans un sommeil,
artificiel lui aussi où, finalement, c’est le monde des sensations qui domine au
détriment des représentations ; un registre beaucoup plus proche de celui du
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corps que de celui de la psyché, plus proche de la sensorialité que de celui de
la symbolisation. Ces adolescents s’intéressent régressivement plus à la volupté
du sensoriel qu’au travail d’élaboration psychique pour essayer de contenir
et de transformer leur sentiment dépressif. Peut-être faut-il y voir une quête
d’éprouvés, voire des retrouvailles avec les liens primitifs au corps maternel, ce
qui a échoué à constituer pour eux des auto-érotismes suffisamment structurants
pour asseoir leur narcissisme.
Ce qui est recherché serait un monde psychiquement sans conflits, où tout
ce qui est douloureux, qui fait limite et qui oblige à penser serait mis à distance. Les effets du cannabis, pour reprendre cet exemple, donnent à l’adolescent
l’illusion de la facilité et d’un certain bien-être, au prix d’une absence à soi-même. Si le cannabis permet au sujet de lâcher prise, ce relâchement n’a pas la
valeur libératrice d’une négociation avec soi-même, ni celle d’une transformation
de l’activité en passivité. Si le cannabis “ féminise ” les adolescents — leur fait
lâcher leur côté actif, leur côté phallique, — il ne leur permet pas pour autant
que s’effectue en eux ce travail du féminin ; que cette passivité soit mise au
service de l’acceptation du féminin en eux.
Une latence artificielle n’est pas une latence. La suspension sans travail de
pensée, sans travail de latence constitue un mode de fonctionnement dans lequel
la vie psychique ne se transforme pas. En apparence, du moins.
Je pense à cet homme de trente ans, Louis, venu consulter pour dépression.
Vers l’âge de 11 ans, il perd son père ; au même moment, sa mère se déprime
gravement. Deux ans plus tard, il commence à fumer du cannabis, puis développe une polytoxicomanie (alcool, cocaïne, quelques essais avec l’héroïne).
Vers la trentaine, il ne reste de ce tableau qu’une dépendance aux jeux. Ce n’est
d’ailleurs pas pour cette dépendance que Louis est venu consulter. Mais avec
la diminution de la consommation des produits toxiques, il ne pouvait plus à
faire face seul à ce qui lui arrivait, à ce qui menaçait son équilibre psychique.
C’est à ce moment-là qu’est apparue une forte dépression. L’entrée en toxicomanie à l’adolescence avait contribué à mettre en latence le vécu dépressif que cet
homme ne pouvait affronter à l’âge de 12 ou 13 ans. Non seulement, il n’a pu
l’affronter ni le vivre, mais il a dû soutenir sa propre mère qui s’est effondrée
brutalement. A la sortie de sa toxicomanie, il retrouve ce qu’il avait laissé de
côté : sa dépression. Cet homme n’a pu faire le deuil de son père, occupé qu’il
était à soutenir sa mère. Avait-il commencé à rivaliser avec lui ? La mort du père
à l’entrée de l’œdipe pubertaire peut résonner pour le fils comme un accomplissement de vœux parricides. Il n’a pu se consacrer à faire le deuil de son enfance
au moment où la génitalité l’appelait vers de nouveaux investissements d’objets.
Confronté à tant de sollicitations, à tant de mouvements psychiques intenses et
contradictoires, il s’est réfugié dans un autre monde, protégé de la douleur de ces
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deuils impossibles à travailler, de cette culpabilité inconsciente qui a commencé
à émerger au début de sa psychothérapie. A peine entré en adolescence, il s’est
mis entre parenthèses.
Cet exemple montre d’un côté l’échec du travail de latence. Mettre de côté
ne suffit pas pour que le travail de latence opère ; les contenus qui sont écartés
momentanément de la conscience parce qu’ils sont porteurs d’une douleur trop
vive finissent par revenir sur le devant de la scène avec une valeur toujours fortement traumatogène. La latence offre à l’enfant qui s’y engage une sorte de répit
dans l’excitation qu’apporte la sexualité infantile. Elle permet à l’enfant, sous la
pression même de la poussée pulsionnelle, comme nous l’indique si justement
A. Freud (1949), de construire quelques défenses pour se protéger efficacement
de cet envahissement pulsionnel qui menace le moi de l’enfant. Ce qui est mis
en latence, ce sont des questions, même si ces questions prennent la forme de
théories. Comme toutes théories, d’ailleurs, elles seront tôt ou tard remises en
question. Ce qui est mis en latence ce sont des ébauches de traitement de contenus
psychiques qui restent encore trop énigmatiques et menaçants pour l’enfant pour
qu’il puisse poursuivre son élaboration. La latence intervient donc comme suspension d’un travail psychique en cours. Elle n’est pas seulement mise à distance
d’affects trop pénibles, elle n’est pas pur dépôt, mais mise en souffrance, au secret
dans le préconscient, de problématiques qui profitent secrètement des avancées
du moi conscient de l’enfant pour poursuivre leur chemin. Le refoulement de
la latence laisse place à de multiples échanges entre les instances psychiques
de l’enfant, il lui permet d’entretenir des relations intimes entre conscient et
inconscient ; « ça » continue à travailler, même si, en apparence, l’enfant s’est
assagi. Le feu continue de couver sous la cendre, préparant en secret, comme
Cendrillon (cette enfant de la cendre), une métamorphose, une renaissance que
rien ne pouvait laisser prévoir. Cette transformation n’est possible que parce que
sous le couvert du refoulement de la sexualité infantile à l’œuvre dans la latence,
la libido ne suspend pas ses investissements ; le travail psychique se poursuit,
entre défense et poussée pulsionnelle, la violence de la pulsion étant maintenant
mieux contenue grâce aux mécanismes de défense du moi, dans le travail de la
conflictualité psychique. Dans le cas de Louis, le caractère traumatique des événements vécus dans la vie réelle ne semble pas lui avoir permis de refouler de façon
satisfaisante ce travail de deuil, resté impossible à accomplir. Il ne s’agissait pas
d’une suspension, d’une mise en sommeil de contenus psychiques inélaborables,
mais d’une véritable interruption de ce travail de deuil, au seuil de son entrée
en adolescence. Nous avons là l’exemple même de ce que la psychothérapie ou
l’analyse d’adulte offre comme deuxième chance à l’adolescent. Elle reprend une
question laissée de côté par l’enfant entrant en adolescence, l’adolescence n’ayant
pas réussi à transformer cette problématique. Le processus d’adolescence est en
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panne, il ne constitue pas une deuxième chance offerte à l’enfant pour résoudre
ses questions. Ce sera au travail analytique d’accomplir cette reprise, ce sera lui
la deuxième chance offerte à l’enfant. L’analyse, dans ce cas, reprend ce que le
processus d’adolescence a laissé de côté, en souffrance.
En entrant en toxicomanie, Louis a tenté d’échapper à cette exigence de relecture du sexuel infantile dans l’après coup pubertaire, il a tenté d’échapper à
la nécessité d’élaborer la conflictualité œdipienne pubertaire, recherchant dans
les vertus d’oublis et d’anesthésie du cannabis une alternative à l’affrontement
de la dépression en lui. Il a confié au toxique le soin de lui éviter ce travail
psychique. Dans ce sens là, cette mise entre parenthèses toxicomaniaque est un
échec de l’élaboration psychique. Peut-être a-t-il utilisé le cannabis comme un
moyen de se protéger de sa violence pubertaire pour se consacrer à sa propre
survie en aidant sa mère à survivre. Il a dû renoncer à conquérir la femme dans
la mère pour sauver la mère dans la femme, celle qui venait de perdre son mari.
L’écart ainsi réalisé par cette coupure, ce détournement de soi qu’a entrepris
Louis au moment de son entrée en adolescence, lui a-t-il permis de reprendre
ce qui a été mis momentanément de côté, même si c’est 15 ans plus tard ? Cette
capacité de mettre en réserve des contenus de pensée qui ne peuvent pas être
travaillés sur le moment même permet peut-être au sujet de les transformer après
coup, même a minima, pour les rendre tolérables, voire travaillables dans le cadre
d’une psychothérapie. C’est cette transformation-là qui s’est vraisemblablement
opérée en lui quand il a pu abandonner, partiellement, il est vrai, sa pratique
toxicomaniaque et que sa dépression a refait surface au grand jour. Il a pu tolérer
alors ce qu’il ne pouvait pas depuis l’entrée en adolescence. Il a bien fallu qu’un
certain travail psychique se soit opéré en lui pour que se reprenne cette question
de la dépression, question que pourtant il avait cherché à enterrer à un moment
de son histoire où il ne pouvait l’affronter. Peut-être nous faut-il admettre que
le travail de latence prend des tours divers : même dans les situations où il semble en grande difficulté, voire absent, il se poursuit quand même, à bas bruit,
suffisamment en tous cas pour permettre non seulement la survie psychique,
mais aussi une certaine qualité de transformation de la vie psychique. Peut-être
pouvons-nous voir, dans l’usage des toxiques dans ces situations particulièrement
fragilisantes au plan narcissique pour le sujet, une façon de geler, d’immobiliser
les forces en présence ; une sorte de trêve du fonctionnement psychique qui ne
signifie pas pour autant un arrêt ou, pire, une défaite. Au contraire, il semble
que l’exemple de Louis nous conduise à penser qu’il s’agirait là d’une capacité
limite pour survivre, comme une manifestation des pulsions d’autoconservation,
capacité d’autant plus efficace que cette mise à couvert pendant une période de
vulnérabilité contribue à protéger la vie psychique du sujet en l’endormant.
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4. L’économie psychique de la dépendance
La solution perverse, l’élaboration phobique, la dépression et la dépendance
ont ceci de commun entre elles qu’elles appartiennent toutes à l’économie
narcissique. Mais elles ne sont pas équivalentes pour autant, elles ne présentent
pas toutes la même qualité d’élaboration, la solution n’est pas chaque fois comparable. La phobie, nous l’avons vu, offre au sujet la possibilité de projeter sur
l’objet externe une part de l’angoisse et de l’agressivité qui lui est liée. La peur de
l’objet est une façon de maintenir un lien avec lui et de traiter en même temps
la question de la destructivité. L’angoisse est fixée sur un objet externe, mais
l’objet est intériorisé, ce qui constitue la meilleure façon de ne pas le perdre ;
le sujet entretient avec lui des relations de conflictualité, voire de désir si l’on
considère que, dans l’élaboration phobique, le sujet craint consciemment ce qu’il
désire inconsciemment. La peur de l’objet est ici l’expression du désir (amour
et/ou haine) pour lui ; la dimension œdipienne est fortement présente. Sujet
et objet sont clairement distingués, au prix de cette fixation anxieuse. Avec la
dépression, la fragilité narcissique est au premier plan ; l’élaboration semble plus
longue, plus difficile, plus coûteuse pour le sujet et elle masque à ses propres
yeux son désir en retournant contre lui l’agressivité qui est destinée à un autre.
Mais, sauf lorsque la dépression se dégrade en mélancolie, lorsque le travail de
la dépression échoue, le sujet, comme dans la phobie, s’appuie sur cette solution
pour se construire ; l’objet construit le sujet. On peut même parler des bienfaits
de la dépression (Fedida, 2001) si l’on pense que c’est un temps que le sujet se
donne à lui-même pour trouver à son rythme (à vrai dire, c’est plutôt celui de
l’inconscient) la solution à ses conflits internes. Malgré ses voiles, ses affres, la
dépression est une solution porteuse d’avenir pour le sujet si, encore une fois,
elle reste dans le registre névrotique.
Avec la dépendance, la nécessité de recourir à un objet externe révèle la fragilité narcissique, la faillite de la négociation entre soi et l’autre, entre investissement
narcissique et investissement objectal. C’est la très forte pression pulsionnelle
qui ne trouve pas de défenses internes suffisantes pour la mettre à distance ou
pour en médiatiser la demande de satisfaction qui contraint le sujet à trouver
cet expédient. Le sujet ne semble se tenir qu’en s’appuyant sur cet étais. L’aspect
prothétique est manifeste, l’objet a du mal à s’intérioriser. L’objet de dépendance,
parce qu’il est trop accroché au corps, ne remplace pas l’objet transitionnel qui,
lui, n’a pu se mettre en place. La dépendance établit un circuit court de satisfaction,
sans en passer par l’autre. Il y manque l’espace du jeu, l’espace de l’illusion, de
l’hallucination entre soi et l’autre. Mais cet objet ersatz, cette prothèse de relation,
semble faire l’affaire pour le sujet, s’il accepte d’en être totalement dépendant.
L’objet de dépendance calme l’angoisse en suturant le manque, mais se paye au
prix de la dépendance que le sujet doit à cet objet. L’objet est toujours un objet
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partiel, un objet que le sujet ne peut promouvoir à la dimension d’un autre. La
solution addictive la classe nettement du côté des états limites où l’incertitude
identitaire domine le tableau, la conflictualité psychique y est embryonnaire.
De ce point de vue, la solution addictive ressemble à la solution perverse, l’objet
addictif est proche de l’objet fétiche. Quant à la perversion, précisément, elle
donne au sujet l’illusion de la solution parfaite en faisant l’économie de l’angoisse
de la perte, de la souffrance que peut représenter le désir comme expression du
manque. Elle donne au sujet l’illusion de la toute-puissance et de la complétude
narcissique. Mais elle est tellement narcissique qu’elle en sacrifie l’autre, qu’elle
réduit l’objet à un instrument de sa jouissance. Privé de l’apport de l’objet dans
la relation intersubjective, le mode de fonctionnement pervers est relativement
pauvre, et présente des rigidités telles que le sujet est obligé d’en passer par des
scénarios ritualisés, chaque fois identiques, sous peine d’éprouver une angoisse
catastrophique d’anéantissement. Humainement, c’est la pire des solutions parce
qu’elle aliène le sujet et son objet à son scénario dans une mise en scène toute
narcissique où l’altérité est exclue et où la recherche de satisfaction est impérative
et ne souffre aucun délai, aucune faille. La jouissance est à ce prix. Économiquement, c’est une solution qui s’avère plus coûteuse qu’il n’y paraît initialement.
L’objet addictif est contingent dès lors qu’il est disponible comme objet
partiel. Le cannabis pourrait se substituer par fixation ou régression à un objet
fétiche, venant combler le vide laissé par la perte de l’objet ; le vide et non la
place. Constituant un aménagement pervers, il empêche le travail de la dépression et y substitue un analgésique, comme un recours pour solliciter le registre
sensoriel et perceptif plutôt que celui de la représentation. Il fait faire au sujet
toxicomane l’économie d’une relation intersubjective pour obtenir le plaisir
recherché et l’apaisement des tensions que ce sujet ne peut parvenir à apaiser,
faute de traces psychiques, de représentations permettant de garder en soi les
souvenirs de satisfaction. Le recours répétitif, impérieux, à l’objet de dépendance,
voire à des procédés auto-calmants dans toute leur concrétude, ne relève-t-il pas
d’un défaut d’auto-érotisme ?
L’adolescent qui est dans une position de refus au nom de son exigence de
plaisir croit se libérer de la contrainte qu’un tel investissement demande. Il
pense se libérer et faire ce qui lui plaît. En réalité, il ne fait qu’obéir à un maître
encore plus exigeant, parce qu’inconnu de lui, qui le pousse sans relâche à
chercher cette voie courte du plaisir. Le refus de l’effort le conduit à s’opposer à
toute proposition émanant du monde des adultes et particulièrement celui des
parents. L’investissement du refus masque en réalité une difficulté à accepter ce
qui vient de l’extérieur, de ce qui n’est pas lui. Ce refus des propositions externes
correspond souvent exactement à sa difficulté à tolérer la discontinuité de son
développement, et va de pair avec le refus du féminin en lui. Ce refus traduit,
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enfin et surtout, l’importance de sa dépendance à l’égard des objets externes sur
lesquels il cherche un étayage à défaut d’avoir intériorisé ces objets.
Conclusion
Le problème que nous avons examiné s’avère être celui de la dépendance pathologique à l’objet, moins celui même du produit (de l’objet) que du processus
qui lie, et parfois attache, le sujet à l’objet. On observe la difficulté grandissante
que rencontrent ces adolescents à quitter le registre narcissique de leur investissement pour névrotiser leurs conflits internes. La question serait ici de réfléchir
aux processus de liaison et de déliaison pulsionnels, de la labilité de ce processus
ou au contraire de sa rigidité, de celles qui empêchent le sujet de passer d’un
investissement à l’autre, d’un objet à l’autre. Nous avons peu à peu été conduits à
nous interroger sur la fonction prothétique de l’objet-produit dans un processus
où l’objet devrait être à la bonne distance du sujet, ni trop près (collé, addicté,
partiel), ni trop loin (comme lorsque l’investissement auto-érotique se replie sur
le sujet, mettant l’objet hors de portée ; ou comme dans la phobie qui échoue
lorsque l’objet devient trop menaçant, voire persécuteur). Finalement, c’est bien
la dialectique de la relation dynamique entre investissements narcissiques et
objectaux qui est au centre de notre réflexion et particulièrement la résistance
narcissique à l’investissement de l’objet qui prend des accents non pas nouveaux,
mais renouvelés dans leur intensité au moment de l’adolescence. C’est bien de
cette économie particulière de la dépendance pathologique à l’objet dont il est
toujours question dans les problématiques de consommation massive de produits
toxiques (comme le cannabis, par exemple) ou dans les relations de dépendance
pathologique à un objet quelconque. Ce qui vient à manquer, ce n’est pas l’objet,
précisément, mais le tiers, celui qui va permettre que la dépendance à l’objet se
transforme en relation intersubjective dans l’autonomie.
Recebido em 16/1/2013. Aprovado em 4/2/2014.
Références
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François Marty
FEDIDA P. (2001)Les bienfaits de la dépression. Paris : Odile Jacob.
FREUD S. (1915/1968) Deuil et mélancolie, in Métapsychologie. Paris :
Gallimard, p.147-174.
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KLEIN M. (1934/1987) Contribution à l’étude de la psychogenèse des états
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MAHLER M. (1968/1973) Les concepts de symbiose et de séparation-individuation, in Psychose infantile. Paris : Payot, p.19-40.
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développement affectif normal, in De la pédiatrie à la psychanalyse. Paris
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François Marty
[email protected]
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Embaraço, humilhação e
transparência psíquica: O tímido
e sua dependência do olhar
Julio Verztman
Julio Verztman
Professor do
Programa de
Pós-Graduação em
Teoria Psicanalítica
IP-UFRJ;
coordenador do
Núcleo de Estudos
em Psicanálise
e Clínica da
Contemporaneidade
(Nepecc);
psiquiatra do IpubUFRJ.
Resumo: Pretende-se discutir os impasses experimentados pelo
sujeito caracterizado como tímido na sua relação com o olhar.
Formulou-se a hipótese de que a vergonha — emoção central do
tipo de subjetividade de que iremos tratar — é neste contexto vivida
como embaraço, humilhação ou transparência psíquica. Sugerimos
que a incidência do olhar exporá certas fragilidades narcísicas
quanto à construção de barreiras que protejam o campo da interioridade. Apresentaremos ao longo do texto os principais aspectos do
embaraço, da humilhação e da transparência psíquica, utilizando
vinhetas clínicas retiradas de uma pesquisa clínica.
Palavras-chave: Vergonha, timidez, narcisismo, olhar, clínica
contemporânea.
Abstract: Embarrassment, humiliation and transparency: The
shy subject and his/her dependence on the gaze. The main goal
of this article is to examine shy individuals and their troublesome
experiences concerning gaze. A clinic psychoanalytical research on
social anxiety disordered patients (social phobia) revealed that shame in this context is also endured as embarrassment, humiliation
and psychic transparency. This work suggests that they carry a frail
narcissistic development and therefore are unable to protect their
psychological inner selves. Features of embarrassment, humiliation
and psychic transparency can be found through various clinical
examples. Additionally, the recent analysis on shame implies a new
individual scope in contemporary society.
Keywords: Shame, shyness, narcissism, gaze, contemporary clinical
psychoanalysis.
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Julio Verztman
R
efletiremos, aqui, sobre algumas características do sujeito cuja principal
queixa gravita em torno da timidez — exatamente aquele que fica paralisado
diante do paradoxo de ser supervisível ou de ser invisível, de ter uma atitude voyeurista
ou exibicionista diante do outro, de ser invadido pela mirada de qualquer um ou
de ser completamente opaco a ela, de nunca poder ser visto a partir do ângulo
correto. Este sujeito expressa de modo paradigmático o sentimento de insuficiência narcísica diante do olhar, insuficiência articulada a um grau intenso de
dependência. O dito tímido depende em larga medida de um olhar privilegiado
para ter acesso aos principais parâmetros a respeito de si mesmo. Nosso intuito
é discutir sobre as vicissitudes desse olhar, sobre a relação de dependência nele
implicada e sobre algumas formas pelas quais essa dependência se estabiliza e
se constrói. Em função de alguns fatores da cultura atual (EHRENBERG, 1998;
GIDDENS, 2002; GOULEJAC, 1996; VERZTMAN, 2005; PINHEIRO, VERZTMAN,
VENTURI & BARBOSA, 2006), tais como o esvaziamento de alguns predicados
subjetivos correlacionados a ideais coletivos, a dificuldade de se relacionar com
o desejo do outro através de uma atitude interpretativa, ou mesmo os limites
contemporâneos para construir uma atividade imaginativa que prescinda do
referente à fisicalidade, o olhar se torna o ponto de partida e o ponto de chegada
da atitude avaliativa sobre si mesmo e sobre o outro.
Procurarei, ao longo do texto, demonstrar que os sujeitos implicados em nossa
investigação encontram saídas vacilantes para impasses na dinâmica do olhar, pagando o preço do embaraço, da humilhação ou da transparência psíquica. Muitas vezes essas
três características podem ser observadas em conjunto, embora o mais comum
seja a conjugação da sensação de transparência com uma das outras duas. Esta
reflexão tem como base uma pesquisa clínica realizada pelo Núcleo de Estudos
em Psicanálise e Clínica da Contemporaneidade (Nepecc, www.psicologia.ufrj.
br/nepecc), coordenado por Teresa Pinheiro, Regina Herzog e Julio Verztman,
acerca do atendimento psicanalítico a pacientes que apresentam o diagnóstico
psiquiátrico de fobia social. Sugiro a consulta ao material já produzido por este
núcleo de pesquisa (VERZTMAN, 2005; PINHEIRO, VERZTMAN, VENTURI
& BARBOSA, 2006; VERZTMAN, HERZOG & PINHEIRO 2010; VERZTMAN,
HERZOG, PINHEIRO & FERREIRA, 2012; VENTURI & VERZTMAN, 2012) para
que o leitor possa se familiarizar com o uso do referido diagnóstico psiquiátrico
na aproximação com o tema da timidez. Utilizamos as palavras tímido ou timidez
apenas para nomear uma característica presente em todos os pacientes atendidos por nossa equipe. Este termo foi pinçado de seus discursos porque respeita
um modo de autodesignação no que tange a uma qualificação de si mesmo e
de seus sintomas.
“Tímido” ou “timidez” não descrevem um universo psicopatológico restrito
que faça sentido para a psicanálise. Este sujeito que se queixa de timidez,
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Embaraço, humilhação e transparência psíquica: O tímido e sua dependência do olhar
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entretanto, nos oferece elementos importantes para estudarmos questões
narcísicas relacionadas à problemática do olhar e às suas formas de dependência.
É necessário, antes de tudo, informar que chegamos a este universo teóricoclínico a partir de um estudo anterior sobre a vergonha. Partindo da sugestão
freudiana presente em Luto e melancolia (FREUD, 1917/1993), segundo a qual o melancólico é capaz de afirmar as piores coisas de si sem experimentar esta emoção,
nos servimos de autores pós-freudianos de correntes heterogêneas (CICCONE &
FERRANT, 2009; GREEN, 2003; MILLER, 2003; TISSERON, 1992; ZYGOURIS,
1995), a fim de explorar os aspectos narcísicos da vergonha (VERZTMAN, 2011).
O que se segue está em continuidade com esta discussão.
As vizinhanças emocionais da vergonha
No projeto-piloto desta pesquisa, que envolveu o atendimento a apenas dois
pacientes com o diagnóstico de fobia social — antes da oferta de atendimento
aos demais — duas possibilidades de experiência da vergonha chamaram a
atenção: a vergonha vivida como embaraço e a vergonha vivida como humilhação. O paciente 1
(vergonha como embaraço) conseguia nomear alguns de seus medos diante da
exposição ao olhar do outro, conseguia evitar situações nas quais poderia sentir
vergonha. O motivo de sua vergonha lhe escapava inteiramente, e não percebia
qualquer animosidade intencional no outro, mesmo que isto fosse constantemente
temido. O paciente 2 (vergonha como humilhação), ao contrário, era muito mais
retraído, desconfiado, não conseguia sequer definir o que sentia e se precavia
permanentemente da possibilidade palpável de sofrer humilhação intencional
por parte do outro. Para a distinção entre embaraço e humilhação, seguiremos
alguns apontamentos de De La Taille (2002). Este autor, pesquisador no campo
da psicologia do desenvolvimento moral nos fornecerá parâmetros descritivos
relevantes para nossa discussão.
Embaraço
Em português e em francês (mas não em inglês) há certa sobreposição entre
vergonha e embaraço, mas mesmo assim há diferenças importantes. O embaraço em geral é considerado a vertente menos intensa e judicativa do universo
semântico da vergonha. O embaraço é a sensação de desconforto que ocorre quando
alguém se sente exposto (DE LA TAILLE, 2002, p.75-76). Ele denuncia os sofrimentos correlacionados com toda a trama relacional da exposição, tais como
estar na posição de objeto, não ter qualquer controle sobre o que está sendo
visto, sofrer as consequências da passividade diante do outro, suportar com dor
a reflexividade própria da relação com o olhar do outro, entre outros fatores.
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O desconforto com a exposição, entretanto, é um aspecto comum entre a vergonha e o embaraço:
“Longe de ser mera questão de definição, veremos que o sentimento de vergonha
decorrente do simples ‘ser objeto para outrem’ (e não somente do ‘ser objeto desprezado por outrem’) é importante para compreender o referido sentimento, notadamente no seu desenvolvimento durante a infância.” (DE LA TAILLE, 2002, p.77)
O simples fato de se sentir objeto do olhar de alguém pode produzir este
sofrimento, mesmo que o olhar alheio não traga um juízo negativo. Este é um
aspecto fundamental para o que caracterizamos em nossa pesquisa como o tímido
embaraçado. Ele procura permanentemente antecipar o perigo do julgamento negativo e, assim, do desprezo alheio, através de uma forma particular e crônica de
angústia (PACHECO-FERREIRA, 2012). Caso contrário, o permanente embaraço
se tornaria vergonha inconsolável. Isto porque, em comparação com a vergonha,
do ponto de vista moral o embaraço não ocupa papel relevante. A vergonha é
um passo adiante do embaraço, já que aí ser objeto do olhar de outrem equivale
a ser objeto de desprezo de outrem.
De la Taille sugere que o embaraço é uma forma muito antiga de experiência
da vergonha. O autor demonstra a indissociabilidade entre consciência de si,
consciência da própria perceptibilidade e embaraço como sofrimento produzido pela exposição. O embaraço testemunha aquilo que não é assimilável como
perfeição narcísica no desenvolvimento da criança. No processo de separação
da alteridade que consolida a estabilização da imagem narcísica, o perigo de ser
tomado como objeto do olhar alheio vai se conjugando a outros perigos: ser
malvisto e, consequentemente, deixar de ser objeto de estima do outro. O papel
do ambiente é fundamental para que estes perigos não sejam negados, ao menos
como perigos potenciais, mas também não se tornem ameaçadores a ponto de
paralisar o infante no seu gesto espontâneo. É neste sentido que Ciccone e Ferrant
(2009) propõem uma diferença entre vergonha experimentada e vergonha sinal de alarme:
“Numa primeira aproximação, a vergonha sinal de alarme pressente a analidade, a
confusão e a ferida narcísica como consequência do risco de perda de amor do
objeto. Como sublinhamos, ela veicula a memória afetiva das falhas parciais da
afinação entre o sujeito e seu ambiente, ao mesmo tempo que uma saída possível se
apoia nesse mesmo ambiente. Nesse tipo de situação atravessada por todos os seres
humanos, o fato de ser pequeno, dependente e correndo o risco de desamparo, é
constantemente tratado e cuidado pelas capacidades continentes de um ambiente
suficientemente atento e atencioso. A vergonha sinal de alarme veicula também os
fracassos parciais da aprendizagem da higiene, do controle esfincteriano e de todas
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as falhas da continência corporal. Essas inevitáveis feridas narcísicas são tratadas
ao longo do tempo — mesmo sem serem nunca completamente ultrapassadas —
pela colocação em jogo dos autoerotismos e dos processos de interiorização das
funções de salvaguarda atribuídas, de início, ao objeto.” (CICCONE & FERRANT,
2009, p.61-62. Tradução livre)
Voltando à nossa discussão anterior, podemos dizer que o embaraço, o qual
estamos associando à vergonha sinal de alarme — é um desconforto relacionado
ao disparo de um sistema de alarme que mobiliza o psiquismo a se proteger
contra feridas que atingiriam o domínio narcísico. Estamos aqui supondo que o
embaraço é a parte deste sistema que limita a exposição e a impede de se tornar
uma exposição que contraria a imagem idealizada — ou ao menos aceitável —
de si. Dessa forma, o embaraço implica um tipo de sofrimento cujo referente
não é o rebaixamento da autoimagem, fruto do julgamento alheio, própria das
experiências mais típicas de vergonha consumada. O embaraço é a antecipação da
vergonha. É a percepção do perigo de sentir vergonha, é uma proteção contra a vergonha. Para que
estas “funções de salvaguarda” diante do embaraço — para retomar a expressão
de Ciccone e Ferrant — possam se efetivar, é imprescindível o papel do objeto.
É o objeto que vai alçar a um futuro indeterminado ou a uma hipótese presente,
mas longínqua, a ameaça de expulsão subjetiva que as experiências mais intensas
de vergonha encerram.
Não sabemos ao certo os motivos, mas a clínica dos ditos ‘tímidos’ nos coloca
diante da suposição de que pode haver hipertrofia do embaraço. Nesse caso, a
ameaça da vergonha é tão presente e, ao mesmo tempo, tão pouco inserida em
qualquer narrativa ou aspecto integrado do psiquismo, que a vida gira em torno
de antecipar e prevenir sua emergência. Há um verdadeiro curto-circuito entre
exposição e vergonha, entre o alarme e sua consumação, o qual tem como pano
de fundo a fragilidade da proteção proporcionada pelo ambiente. Sempre que
o sujeito se expõe a um perigo que não consegue nomear, ou seja, o perigo de
vir a sentir uma vergonha irreparável, o simples contato com o olhar do outro
que enuncia tal ameaça o paralisa e o empurra para a solidão, um dos contextos
capazes de lhes assegurar proteção.
Alguns pacientes nos permitem um vislumbre deste tipo de vivência. O sentimento de vergonha nas relações sociais costuma ser a principal queixa. Uma
paciente relata que não gosta de andar na rua ou de ônibus. Não gosta de andar de
ônibus porque quando se senta, sabe que as pessoas do outro lado podem vê-la,
e fica, neste momento, terrivelmente exposta. Revela o temor de que pensem
algo negativo a seu respeito, embora não saiba dizer muito claramente o que
elas possam pensar. Suas fantasias quanto ao olhar do outro podem apresentar
caráter persecutório, mas estas são pouco elaboradas. Diz apenas que podem
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achar que ela tem “cara de boba” ou que é “magrinha”. Imagina com angústia
poder, por qualquer motivo, vir a fazer uma cena ridícula, como, por exemplo,
levar um tombo e ser motivo de riso. Esforça-se permanentemente para não
chamar a atenção alheia de nenhuma maneira, mas sabe que este esforço é infrutífero. Há uma afinidade natural entre si e o olhar invasivo de quem a circunda.
É frequente que esses sujeitos tenham poucas lembranças de infância. Outra
paciente, por exemplo, não sabe dizer quando começou a se sentir envergonhada,
afirmando que “sempre foi assim”. Após algum tempo de análise, ela propôs uma
origem para seu sentimento excessivo de estar exposta. Certa época, já adolescente, passou a ter que almoçar fora de casa. Foi muito difícil ter que pedir sua
própria comida. Estava acostumada ao fato de sua mãe sempre ter providenciado
isso por ela. Este breve momento de separação da mãe disparou nesta paciente um
sinal de alarme para o perigo de rejeição por parte de qualquer um que cruzasse
o seu olhar. Os fatos mais banais eram vividos com ansiedade, ruborização e
medo, contando como certo que, na sua fantasia pudessem ser observados por
terceiros. Quando discutirmos o tema da transparência psíquica, voltaremos às
peculiaridades deste tipo de relação intersubjetiva com a mãe.
Por ora, ressaltamos o embaraço permanente vivido pela paciente quando está
fora do alcance do olhar materno. Não supõe nenhuma animosidade clara por
parte do outro anônimo que “teima” em avaliá-la; todavia, teme ser tomada por
inadequada ou ridícula a qualquer momento. Desenvolve a estratégia de antecipar todos os ângulos nos quais a visão incidiria sobre ela, mas sua incapacidade
de construir uma barreira ao que será visível mantém seus sistemas de alarme
excessivamente sensíveis.
O embaraço, a princípio medida protetora no que tange a ameaças ao domínio narcísico, se torna um sofrimento permanente para certos tímidos. Este
sofrimento é a marca de uma relação com o objeto construída sobre a impossibilidade de prescindir de seu olhar. Estar longe — geralmente do olhar materno
— é estar em perigo. Um perigo desconhecido quanto à sua fonte e seu modo
de operar. As estratégias criadas para tornar a vida suportável são: permanecer
em estado de alerta — vivido como embaraço — ou estar ao abrigo do olhar
privilegiado já descrito. Autores como Mc Dougall (1992), com sua descrição
do amor materno fusional; Pontalis (1991), através de sua metáfora sobre um tipo de
possessão subjetiva que exerce sua dominação a partir de dentro; e Aulagnier (1990), com sua
bela proposição de direito ao segredo como condição de pensar, nos fornecem subsídios
para compreender um tipo de relação com o objeto materno pautada numa
atitude invasiva.
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A humilhação, em seu sentido forte, implica o sentimento de ser rebaixado
pelo outro. O ato de rebaixar ou o sentimento de ter sido rebaixado produzem
a frequente articulação entre vergonha e humilhação. Na vergonha, como vimos,
o sujeito se sente rebaixado diante de seus ideais. É uma emoção que pode ser
desencadeada quando qualquer membro da comunidade, o qual, aos olhos do
sujeito, encarna ou sustenta esses ideais, testemunha a sua queda. Este outro é
somente a testemunha, frisamos. A vergonha ocorrerá mesmo que o outro sequer
perceba os motivos que levaram o sujeito a ter que se esconder da sua mirada.
Ela pode acontecer ainda quando o outro não tem qualquer julgamento negativo
em relação a tal imagem. Como já dissemos, na vergonha o outro é apenas o
depositário de uma projeção narcísica desvalorizada; ela é o resultado de uma
operação na qual o que está em jogo é: o que eu sentiria se pudesse me ver do
lugar a partir do qual o outro me vê? Assim, ela é uma emoção referida ao campo
do narcisismo porque o olhar do outro tem pouca relevância nesta relação de si
a si. O que toma a cena é a maciça projeção sobre este olhar.
Desse modo, uma das condições para que a vergonha se desencadeie é a
plausibilidade dessa projeção, ou seja, deve existir alguma afinidade entre
a minha projeção e o modo como minha imagem é recebida. Tal plausibilidade se
organiza geralmente sobre traços amplos e vagos. O principal deles diz respeito
ao fato de o outro ser um membro da comunidade, que acredita nos mesmos
valores que o sujeito envergonhado contrariou.
Para retomar o tema do autorrebaixamento presente tanto na vergonha quanto em certos casos de humilhação, podemos dizer: só há vergonha quando o
sujeito assume internamente a sua desvalorização. Mesmo quando ela é imposta
violentamente a partir de fora, o sujeito envergonhado procura se esconder do
campo de visão do outro, porque sabe que sua simples presença pode produzir
indignação diante do que ele se tornou após ser coberto pela vergonha. Ele pode
então projetar no outro sua própria indignação.
Vejamos agora algumas características diferenciais do sentimento de humilhação. Humilhação implica violência (DE LA TAILLE, 2002, p.78), e violência,
neste caso, intencional. O outro não é apenas uma projeção da minha indignação quanto à minha própria imagem, mas é a fonte de uma indignação que
me toma a partir de fora. O sujeito se perde do lugar de origem de seu próprio
rebaixamento. O outro, por algum motivo enigmático ou completamente fora
do campo do sentido, é ativo em retirar coercitivamente os atributos narcísicos
articulados a certos valores mantenedores da dinâmica do sujeito com seus ideais. Vergonha e humilhação coexistem quando a violência é extrema a ponto
de o sujeito internalizar a imagem negativa imposta como se fosse a sua (DE LA
TAILLE, 2002, p.78-79).
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Supomos que para a humilhação se tornar vergonha deve haver desequilíbrio
entre a natureza da violência vinda do outro e as barreiras narcísicas capazes
de proteger o sujeito de incorporá-la à sua própria identidade. O sentimento
profundo de vergonha sentido por sobreviventes de campos de concentração
evidencia a fragilidade dessas barreiras em situações extremas de violência. No
outro lado da balança, percebemos que construções narcísicas frágeis podem
favorecer experiências marcantes de humilhação consumada ou medo permanente de ser humilhado. Nestas situações, ser visto pelo outro pode equivaler a
ser humilhado ou vir a ser humilhado pelo outro.
Examinemos o que Ciccone e Ferrant (2009) denominam vergonha de ser:
“O trauma narcísico primário relacionado à vergonha de ser é ligado à falha dessa
função de eco e de ‘espelho vivo’. O sentimento de continuidade narcísica apresenta
um furo, se torna inconsistente. Nessa conjuntura, o objeto não foi ‘psiquicamente
ausente’, foi ativamente desqualificante. A função espelho reenvia ao bebê que este
está inteiramente preso a uma desqualificação de suas necessidades, isto é, de seu
próprio ser. Pode-se dizer, nesse sentido, que a vergonha de ser é uma vergonha
primária.” (CICCONE & FERRANT, 2009, p.67-70)
Para estes autores, a vergonha de ser exprime um acontecimento tão primário
que só o outro pode sentir vergonha. O sujeito se esconde, mas não consegue
saber do que se esconde: ele sabe que o outro é capaz de humilhá-lo pelo simples
fato de ser visto, mas perde o contato com o que sente, exprimindo apenas seu
aspecto comportamental. Percebemos ressonâncias entre essa descrição e o que
caracterizamos como humilhação. Como afirmamos anteriormente, várias formas de fragilidade narcísica podem contribuir para experiências de humilhação
consumadas e sua repetição traumática ao longo da existência. Respeitando a
suposição de externalidade da vergonha presente no conceito de vergonha de ser,
encontramos na clínica sujeitos que não têm acesso ao sentimento de vergonha,
mas somente à intenção humilhante vinda de fora. Sabem que o olhar do outro
é perigoso, apesar de não saberem qual é o perigo.
Este é um ponto comum que aflige tanto tímidos embaraçados quanto tímidos
humilhados. Ambos temem permanentemente o que o outro possa ver diante de
sua imagem, sem representar — diferentemente do sujeito envergonhado — o
que precisa permanecer escondido. Diante dessa impossibilidade de decidir, procuram se defender do olhar escondendo-se por inteiro. Mas enquanto o sujeito
embaraçado coloca todas as suas fichas em seus sistemas de alarme, acreditando
que estes poderão controlar minimamente a exposição e, por conseguinte, a
consumação de uma vergonha insuportável, o sujeito humilhado já não alimenta
essa esperança. Ele conhece a intenção do outro de humilhar, embora não consiga
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estabelecer qualquer narrativa que envolva a si como ponto de amarração dessa
intenção. A única coisa que conhece do outro é a sua capacidade de humilhá-lo
— uma capacidade de humilhação sem história. O si mesmo se torna “aquele
que foi e será permanentemente humilhado”. As narrativas para essa humilhação
são prosaicas, demonstrando certa pobreza na atitude predicativa do eu.
As queixas desses pacientes, a duras penas formuladas em análise, nos dão uma
pálida ideia do sentimento de humilhação como resultado de parâmetros frágeis
para dar contorno à localização de si diante do olhar. O significado particular
com que usam a palavra “desconfiança” ou o modo como um deles descreve
seu hábito de “estudar as pessoas” para formular julgamentos que, por vezes,
se revelam precipitados e equivocados, expressa um tipo particular de relação
com a alteridade. Esse hábito de estudo excessivo do outro, que toma por inteiro suas
existências, os impede de se aproximar de outras pessoas, em decorrência do
medo de se decepcionar com elas. Vivem para antecipar a possibilidade do pior.
Um matiz merece comentário: não se trata de um mecanismo obsessivo.
A antecipação do pior é pura repetição da única experiência que encontra sentido em suas histórias, é o único saber que conseguem manejar. Sabem que,
do outro, devem esperar o pior. Mais uma vez, aqui há pouco espaço para a
dúvida e sua característica obsessiva. Ao examinarmos suas histórias, percebemos que nas suas relações mais iniciais o objeto não foi capaz de contribuir
para a integração e a internalização de experiências vividas como violentas. O
outro, externalizado e anônimo, se tornou uma mistura de receptáculo e fonte
de toda a agressividade.
Um de nossos pacientes refere que as raízes de seu problema se estendem até
situações de sua infância e adolescência, nas quais foi vítima de “racismo”, de
“rejeição” ou de “injustiças”. A expressão racismo para qualificar as zombarias de
colegas pelo fato de usar óculos demonstra a fragilidade de sua narrativa sobre
seu sentimento de humilhação. Percebe a hostilidade contra um traço seu como
algo que evocaria seu pertencimento a uma suposta raça. O racismo é, em seu
vocabulário, uma palavra que aponta para o pior tipo de exclusão violenta vinda
de um conjunto particular de seres humanos. Em seu caso, curiosamente, esta
exclusão atingiria uma raça relacionada diretamente a um instrumento para poder
ver o que os outros veem — a raça daqueles que não possuem a faculdade de
enxergar e se proteger do que enxergam. Uma raça que, por outro lado, precisa
de uma película para mediar o que se percebe do olhar que lhe é dirigido.
O paciente associa mais tarde que raízes anteriores de seu sentimento de
humilhação remetem a ter nascido com problemas na visão. Acredita que este
era o motivo para a rejeição por parte de crianças que se recusavam a brincar
ou estar com ele. Em ambas as situações mencionadas, percebemos sua solidão
ao enfrentar experiências de rejeição e exclusão. O sentimento permanente
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de humilhação é o único resquício de um tipo de relação em que o objeto se
ausentou de sua função de mediação e foi ativamente desqualificante.
A título de recapitulação: ao contrário da vergonha — quando “outro com
intenção de rebaixar” nem sempre existe — na humilhação há sempre esse outro. É comum a associação entre vergonha e humilhação se o sujeito humilhado
internalizar os valores de quem o humilhou. Nesse caso, o sujeito humilhado
aceita a imagem negativa imposta a partir de fora, de forma violenta. Se na vergonha algo é desnudado em função de alguma ação ou característica do sujeito,
na humilhação essa interioridade exposta é arrancada violentamente, rompendo
a dimensão de segredo, fundamental para a relação com o outro.
Para compreendermos melhor como o olhar do outro traz permanentemente o
risco de romper a dimensão do segredo, constituinte no psiquismo da construção
da interioridade, passemos ao exame da transparência psíquica.
A transparência psíquica
Numa primeira pesquisa clínica, que incidiu sobre a clínica de sujeitos melancólicos e outros sujeitos portadores de lúpus eritematoso sistêmico em atendimento analítico (VERZTMAN & PINHEIRO, 2012), já era evidente o tema
da transparência subjetiva como índice de fragilidade narcísica. Os sujeitos
melancólicos estavam vinculados a um ideal de transparência que apareceu sob
a forma da aspiração a uma linguagem unívoca, límpida e assim transparente
para qualquer um que se utilizasse de seus signos. Este era o aspecto linguístico
da transparência. Outro aspecto — que podemos denominar imagético — do ideal
de transparência ocorreu sob a forma da evocação de imagens para o analista
que não comportassem enganos, numa situação na qual seria impossível os dois
não enxergarem a mesma imagem do mesmo modo.
Podemos dar como exemplo desta aspiração à transparência a fala de um
paciente melancólico (VERZTMAN, 2012): “A verdade é uma só, como uma
identidade, um rótulo num pote em que está escrito — açúcar”. Este mesmo
paciente, no primeiro encontro com sua analista, trouxe consigo uma pasta
contendo receitas médicas, exames laboratoriais, textos de jornal e muitos outros documentos. Ali ele dizia que “estava tudo seu” (devidamente catalogado),
“a história”, e apontava para a importância da sua ciência sobre o que trazia.
Ele precisava se assegurar de que sua analista ia “olhar” para tudo aquilo, pois
tinha uma necessidade (embora com pouca esperança de rea­lizá-la) de “ser
visto como um todo”. É somente ao se tornar transparente que ele adquire
alguma confiança em ser percebido. Ele só podia acreditar no que percebia
de si mesmo se sua analista olhasse para “a história” exatamente do mesmo
modo que ele.
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Percebemos outro aspecto da aspiração à transparência — o qual podemos
denominar aspiração a ser visto por dentro — nesta passagem do tratamento de uma
paciente lúpica (VERZTMAN & PINHEIRO, 2012) Ela pergunta à sua analista:
“A senhora está notando alguma coisa?”. Visivelmente decepcionada pelo fato
de a analista não conseguir notar o que ela desejava que tivesse sido percebido,
a paciente arregaçou as mangas da blusa e exibiu o punho até então coberto,
dizendo: “perdi o meu relógio”. A paciente em questão estava testando a capacidade da analista de ver o que os olhos não podiam ver. E de ver o que não
podia ser visto. A visão estava pouco integrada a outras dimensões capazes de
conferir existência a algo tão complexo como ter um interior. Apenas se os limites
do corpo não fossem barreira ao olhar, a existência desse espaço interior invisível
poderia estar assegurada.
É importante notar que a aspiração à transparência nestas formas distintas não
se relaciona com a emergência de angústia ou significa qualquer tipo de ameaça.
A aspiração à transparência é um apelo ao reconhecimento do outro, expressa a
esperança de vir a ser percebido. Isto não ocorrerá do mesmo modo na timidez.
“A timidez, essa angústia social, indica que todos ficam sempre informados. O ser
é transparente sob o olhar do outro; o castigo está a caminho, apenas a fuga pode
salvar [...]. Como cada um de nós já notou, não há algo mais visível que um tímido.
Enrubescendo, gaguejando, fugindo ou procurando a melhor a melhor tática de
evitar os encontros [...].” (AVRANE, 2007, p.143. Tradução livre)
Entre os tímidos há também um desejo de transparência e um ideal de transparência, construídos na relação com adultos privilegiados, em relação aos quais
a barreira do olhar estaria esmaecida. Uma paciente afirma não ter segredos com
sua mãe. Ela e sua mãe dormem na mesma cama, apesar de a paciente ter seu
próprio quarto. Há um pequeno detalhe na ausência de segredos entre as duas:
ela nos informa não conseguir esconder nada da mãe; diz que ficaria muito aflita
caso guardasse algum segredo.
É nessa relação de transparência mútua que ela encontra alguma segurança. Segurança baseada na submissão à necessidade da mãe de conhecê-la
“por dentro e por fora”. Segurança de um olhar penetrante que a protege, ao
preço de ser sua única garantia contra os riscos de outro olhar que, encontrando barreiras para enxergá-la por inteiro, pode acabar por humilhá-la ou
ridicularizá-la. Desse modo, ao contrário dos pacientes de nossa pesquisa anterior, já referidos, os tímidos (sobretudo os que sofrem de embaraço) foram
alvo de uma promessa: se estes adultos pudessem ver através deles algo que
ninguém mais poderia ver, a segurança desse olhar privilegiado os protegeria
dos perigos do olhar externo.
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O investimento desejante do outro tem no ideal de transparência sua forma
mais acabada de perfeição narcísica. Para ser desejado pelo outro é preciso ser
transparente ao seu olhar. Há uma confluência entre o campo do desejo e o
fato de ser permanentemente observado. É através desta forma particular de
investimento escópico que o tímido encontra algum parâmetro para a experiência de
ser desejado. Note-se que ao contrário do sujeito melancólico, o sujeito tímido foi
alvo de maciço investimento parental. É fácil perceber que logo esse idílio de
comunhão de olhares vai encontrar seu fim: o olhar do outro vai se bifurcar
entre uma função protetora já descrita e uma função persecutória. O perigo da
mirada alheia será cada vez mais experimentado.
A impossibilidade cada vez maior de contar com a função protetora do olhar
do adulto privilegiado faz com que a sensação de transparência do tímido se
espraie pelo mundo, expressando ao mesmo tempo anseio de amor exclusivo do outro e receio intenso de que o outro não corresponda a esse anseio,
rejeitando-o e humilhando-o.
Outra paciente diz que tem muito a dizer, o que infelizmente não consegue,
sobretudo na presença de mais de uma pessoa. Este aspecto é frequente entre os
tímidos. O olhar de “mais de um” os dilacera. Segundo seu relato, ninguém diria
que ela é inteligente apenas observando-a, o que ela de fato aguarda. Ela suplica
pela segurança de uma mirada que extraísse os seus atributos ideais de uma só
vez. Ao invés disso, a opacidade do olhar alheio comum, “a outra pessoa, o mais
de um”, a reenvia para o abismo. Na sala de aula, é como se estivessem olhando
para ela e pensando: “coitada, ela não consegue”, “o que ela está dizendo?! Não
dá para entender nada!”, “quem ela pensa que é?!”. O outro privilegiado não
foi capaz de manter sua promessa.
A distância cada vez mais sentida entre proteção pela transparência e a experiência
de extensão da transparência a qualquer olhar faz com que o outro “mais de um” se torne
cada vez mais um estranho, a quem não posso conhecer, mas que pode (isto é
sempre uma pergunta, raramente uma certeza) me conhecer inteiramente na
minha transparência e, assim, me julgar.
O tímido se vê permanentemente como um réu num suposto “tribunal do
olhar” (AVRANE, 2007, p.160) e evita dar provas aos promotores de que há algo
abjeto em seu interior. “Ao tribunal do olhar, o tímido é convidado sem cessar.
Suas confissões se tornam um pleito [...]. Tanto as figuras mostradas quanto os
gestos ou textos expostos os colocam em evidência. As estratégias não são iguais,
mas a necessidade de um julgamento pelo olhar é absoluta” (idem, ibidem.
Tradução livre).
O tribunal, entretanto, ocupa cada vez mais espaço em seu mundo e um
perigo deve ser fonte de suas precauções: o perigo de ser descoberto. A angústia antecipatória do tímido (PACHECO-FERREIRA, 2012) é fonte privilegiada
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de mal-estar, uma vez que ele não tem como saber o que deve esconder. Esta
forma particular de angústia, como Freud já sublinhara (1917/1993), é uma
medida protetora. Está conjugada à necessidade de se mostrar incessantemente e conhecer todos os detalhes do modo como recebe o retorno deste olhar.
É também uma forma de apelo desesperado ao reconhecimento: “A timidez cede
lugar em seguida à provocação, isto é, a uma forma de procurar no olhar do
outro o reconhecimento e nele encontrar a imagem esperada” (AVRANE, 2007,
p.161. Tradução livre).
Esta provocação, sempre fracassada, expressa dois sentidos para a transparência psíquica: ser inteiramente acessível à percepção do outro ou, ao contrário,
ser invisível.
“O sujeito deseja ser reconhecido como objeto de investimento do outro, teme,
porém não possuir os predicados que o outro, supostamente, desejaria que ele
tivesse. Resultado: nem quer ser visto nem quer deixar de ser visto. O paradoxo é
o cerne do sujeito envergonhado” (COSTA, 2012, p.12).
Para concluir
Procuramos demonstrar, por meio do exemplo do sujeito dito ‘tímido’, que há
todo um universo do olhar a ser explorado pela clínica psicanalítica contemporânea. O tímido testemunha a hipertrofia do campo escópico, produzindo certos
tipos de sofrimento que qualificamos como embaraço, humilhação e transparência psíquica. Estas modalidades de padecimento interrogam diretamente os
limites do olhar para mediar de modo absoluto a relação com a alteridade. Cabe
aos psicanalistas descobrir, na clínica singular de cada um, meios de alcançar
alguma relativização para o peso da mirada alheia.
Recebido em 15/1/2014. Aprovado em 17/2/2014.
Referências
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Proliferação das #hashtags: lógica
da ciência, discurso e movimentos
sociais contemporâneos
Fernanda Costa-Moura
Fernanda Costa-Moura
Professora do
Programa de
Pós-graduação
em Teoria
Psicanalítica da
UFRJ; psicanalista,
membro do
Tempo Freudiano
Associação
Psicanalítica.
Resumo: Considerando a eclosão das manifestações acontecidas
em junho de 2013 no Brasil, relacionada à comunicação corrente
nas chamadas ‘redes sociais’, o artigo aborda a problematização
introduzida pela operação científica para a sustentação do lugar
do sujeito no campo discursivo. Examinam-se alguns dos novos
expedientes de encadeamento do laço social disponibilizados no
meio eletrônico-digital, para discutir os modos de representação
que nossa contemporaneidade atravessada pela ciência oferece à
subjetividade.
Palavras-chave: Psicanálise, sujeito, ciência, discurso, movimentos
sociais contemporâneos.
Abstract: Proliferation of the #hashtags: logic of science, discourse and contemporary social movements. Considering that the
outbreaks of the Demonstrations that arouse in June 2013 in Brazil
are very closely related to the type of communication that is currently found in the social-media platforms, the article intends to
discuss the problems that scientific operation introduces to sustain
the role of the subject in the field of the discourse. It examines some
of the new discourse starters and social relations arrangements
available in digital media, debating the forms and possibilities of
representation that contemporary society sponsored by science
offers to subjectivity.
Keywords: Psychoanalysis, subject, science, discourse, contemporary social movements.
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E
m junho de 2013 o Brasil testemunhou, admirado, a irrupção extraordinária
de uma das maiores mobilizações de massas na história recente do país. Sem
que ninguém pudesse prever, sem líderes identificados, sem partidos nem sindicatos em sua organização, a princípio sem apoio da mídia, espontaneamente,
foram tomando os espaços públicos, uns poucos de início, aos quais se juntaram
centenas, que se tornaram milhares e conseguiram o apoio de milhões. Sem
chegar a se definir mais precisamente contra, ou a favor de que, o movimento se
espalhou em rede e foi se transformando em indignação manifestada por meio da
impressionante ocupação das ruas por multidões expressivas em mais de 300 (!)
grandes, médias e mesmo pequenas cidades do país, rebentando até mesmo em
municípios periféricos — como São Gonçalo, Itaboraí ou Nova Iguaçu, no caso
do Rio de Janeiro —, com a maioria da população situada nas classes populares
e sem história marcante de maior participação política.1
A causa desencadeante era aparentemente diminuta — literalmente expressa
em centavos,2 não fosse seu valor de “gota d’água” (no fatídico dia 20/6/2013,
quando o país parou, um cartaz na Cinelândia dizia: “descobrimos o preço da
gota d’água: 20 centavos”). Ou antes, digamos com a rede, seu potencial de
viralização. Vale dizer: sua capacidade enigmática de atrair, mobilizar e congregar
milhares de indivíduos — ou de perfis (como veremos adiante).
As manifestações no Brasil seguiram justamente o processo de “propagação
viral” de protestos que aconteceram em outros lugares do mundo, como os levantes contra as ditaduras do Egito, Tunísia e Líbia que configuraram a chamada
Primavera Árabe e o Occupy Wall Street nos Estados Unidos (para ficar apenas nas duas
mais notáveis, entre as várias irrupções ocorridas nos últimos três ou quatro
anos). Aqui também os protestos iniciaram nas redes sociais da internet que são
espaços que escapam à dominância dos governos e empresas que monopolizam
os canais de comunicação (CASTELLS, 2012). E “se tornam um movimento ao
ocupar o espaço urbano” (idem, p.160). Mobilizando os jovens, especialmente,
depois de mais de uma década de relativa retirada da vida política, a estarem
presentes (“O povo acordou, o povo decidiu: ou para a roubalheira, ou paramos o Brasil”), a reivindicar (“Da copa, eu abro mão, queremos é dinheiro pra
saúde e educação”) e tomar em mãos o movimento (“O povo unido protesta
sem partido”).
1 De acordo com registros na Wikipédia, todos os 27 estados brasileiros, e suas respectivas
capitais, tiveram algum tipo de manifestação e várias cidades; e ao menos 18 países diferentes também apoiaram a causa. O auge da mobilização se deu no dia 20 de junho com cerca
de 1,5 milhão de pessoas nas ruas. Ao todo foram 13 dias de protestos, em cerca de 300
cidades, com média de 540 mil participantes nos cinco dias de maior aderência das cidades.
2 Embora não tenham se reduzido a esta reivindicação, os protestos começaram pela contestação do aumento de R$0,20 no preço das tarifas dos ônibus urbanos.
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Acontecimentos como este deixam muito a debater e um rol de questões que
é importante tentar não reduzir imediatamente ao que já sabemos. Primeiro,
porque como os movimentos urbanos envolvidos nestes atos políticos não se
esgotaram em obter concessões de curto prazo, eles parecem ser decorrência de
um desconforto e descontentamento maior (ZIZEK, 2011, 2013), que não pôde
se traduzir numa pauta de reivindicações objetivas, em nenhum lugar onde eclodiu e, por isso mesmo, desafia governos e governantes (ALI, 2011). Ao mesmo
tempo, nenhum destes movimentos deixou de mobilizar questões econômicas
e político-ideológicas, de maior ou menor radicalidade, que incluíram desde
reivindicações pela democracia (Tunísia, Egito, Turquia), até questionamentos
e exigências de reinvenção da própria democracia representativa multipartidária
atual, em função da inoperância deste sistema para combater os excessos do
capitalismo (Espanha, Grécia, EUA).
Trata-se, pois, de uma situação complexa e sobredeterminada. Evidentemente
se por estrutura ela interpela, e arrisca mesmo romper com a mediação política,
não se equipara por inteiro a um esvaziamento da política. Ao contrário, pode-se
dizer que resta daí uma “demanda de política” (SAFATLE, 2011); o clamor por
uma liderança que indique como seguir adiante após esta primeira etapa, e que
demonstre como dar os próximos passos — em que direção? —, sem recair nas
alternativas totalitárias. Por outro lado, na contraface desse âmbito mais amplo
da economia e dos governos, surge uma nova sensibilidade política. Uma nova
forma de participação que transforma a insatisfação em acontecimento — através
de ações pontuais, que apostam não nos ideais, nos fins, mas numa efetividade
dos meios, da presença real.
As variáveis em jogo são inúmeras e vão desde o estopim que dá início à expansão dos movimentos, até a resposta dos governos, a atuação da polícia diante
dos protestos violentos e não violentos, as novas formas de mídia e seu embate
com a imprensa dita tradicional, e por fim a grande questão que paira: como
chegar a escutar — e sobretudo dar consequência — ao que pode nos dizer essa
massa contingente de jovens que cresceu de súbito nas manifestações de rua?
Sem pretender abordar diretamente toda a extensão, a força e a complexidade
das manifestações que tomaram nosso país e o mundo nos últimos anos, este
trabalho pretende delimitar alguns elementos que permitem estabelecer uma
vinculação destes movimentos de massa com as relações discursivas surgidas
em algum ponto indiscernível entre o aparecimento de novas tecnologias e as
operações de formalização da linguagem que estão na base da operação da ciên­
cia. Não se trata de chegar a um saldo, extrair uma lição, visto que a história mal
começou, e sequer começou em junho (nem aqui). Não se sabe se, e de que modo,
a forma de fazer política será transformada pela irrupção destes “movimentos
articulados em rede” (CASTELLS, 2012, p.157 ss). Mas considerando que a onda
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recente de manifestações que varreu o país foi propagada por uma espécie de boca
a boca (ou tweet a tweet) eletrônico — com mensagens replicadas a milhares de
emissores —, buscamos distinguir algumas práticas de convocação, de endereçamento e registro que constituem o discurso eletrônico-digital difundido entre
os jovens. E mais especificamente, assinalar seu aspecto discursivo, sua função
de encadeamento de um laço social cujo paradigma é fornecido por expedientes
como ‘evento’, ‘perfil’, e ‘#hashtag’, como veremos a seguir.
Como se trata de elementos originados no processo de formalização da linguagem que está na base da ciência moderna, sua força de mobilização coloca
em questão os modos de representação que nossa contemporaneidade atravessada
pela ciência oferece à subjetividade.
Eles não usam cartazes
Em numerosas cidades de todo o mundo foram, sobretudo, os jovens — sem
contar tanto com uma formação política, mas com muita raiva e indignação —
que tomaram as ruas, as praças, viadutos e muros, que invadiram prédios, e
viraram carros, que apanharam e combateram a polícia, às vezes com pedras e
bombas, mas, em sua maioria, armados apenas de vinagre e camisetas enroladas
nos rostos. Com reivindicações particulares em cada região e formas de luta muito
semelhantes —arrojadas, insólitas, inovadoras — a onda de mobilização tomou
a dimensão de um protesto global. A tal ponto que não se pode dizer exatamente
o que cada um dos movimentos afirma ou reivindica. Nem precisa — uma vez
que a presença maciça da população nas ruas é o acontecimento em si (“Abaixo
tudo” — dizia o cartaz, na Cinelândia/RJ).
De qualquer modo, a cada dia surgem ocupações, rolezinhos, e vários tipos
de aglomerações instantâneas que recusam o espaço institucional tradicional e se
articulam por meio de redes de comunicação alternativas. A estratégia consiste
principalmente em tomar um espaço público — central ou periférico (praças,
esplanadas, cruzamentos, shoppings) — e com a simples presença dos corpos
ali, convertê-lo em espaço político. Quando todos os outros canais de expressão estão bloqueados — pelo poder das políticas de governo, do dinheiro e do
funcionamento social instituído — esse simples comparecimento no espaço de
convivência coletiva (real ou virtual) torna-se uma forma efetiva de oposição
e intervenção.
Apoiando-se nesta tática, herdada das lutas que se desenvolveram em Wall
Street, em Nova York, na praça Tahrir, no Cairo, Puerta del Sol, em Madri, praça
Syntagma, em Atenas, Taksim, em Istambul e, recentemente, como se viu, nas
aglomerações impressionantes que aconteceram nas avenidas de São Paulo, no
Centro e na periferia do Rio, e na Esplanada do Congresso em Brasília, a onda
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alastra-se de cidade em cidade, reavivada em pequenos e grandes agrupamentos, que fazem apostar numa potência dos movimentos de resistir e renovar a
própria falta de retórica.
Assim, os manifestantes mostram outro funcionamento da cidade — como
suporte, como campo de combate, e ao mesmo tempo região de uma interdependência que eles anunciam e usam em sua intervenção. Sabendo que o bloqueio
de um cruzamento importante compromete toda a circulação, os manifestantes
usam “a cidade como arma para sua própria retomada” (MOVIMENTO PASSE
LIVRE/SP, 2013, p.16). Pelo que gera de transtorno na organização usual dos
territórios, a gestão dos fluxos do espaço urbano expressa revolta, indignação e
protesto, em sua radicalidade. Fazendo ressoar o problema maior do alheamento
em relação aos processos políticos, econômicos e outros que determinam a vida
social, cada manifestação ou ocupação é ao mesmo tempo local e global. Nas
palavras do Movimento Passe Livre, “A organização descentralizada da luta é um
ensaio para outra organização do transporte, da cidade e de toda a sociedade”
(MPL/SP, 2013, p.17).
Falou-se bastante das manifestações que ocorreram no Brasil como um grito,
mas o que diz esse grito, o que diz ‘a voz das ruas’, como nomeou a presidente
Dilma Rousseff, é mais difícil de isolar. Num dado momento, em meio à onda
de manifestações que se sucediam na cobertura exibida ao vivo, um repórter
atônito com a força indescritível do levante que acontecia naquele final de tarde
na comunidade popular do Alemão (no Centro do Rio), narrava a movimentação de cerca de uma centena de homens, mulheres e crianças, que passavam
em frente à câmera, ostensivamente encapuzados. Diante daquele desfile, tão
contundente, o repórter comentou “eles não usam cartazes...”.3
De fato, essa foi mesmo uma das surpresas trazidas pelas novas maneiras
de participação que surgiram: onde estava o discurso? As bandeiras? O carro
de som com as palavras de ordem? Onde estavam os líderes? Quem liderava?
Aproveitando, e ampliando, o assombro do repórter, talvez se possa dizer que
há, aí mesmo, uma divisa: “eles não usam cartazes”. Ou, pelo menos, em sua
recusa da luta pelo poder, abominação dos partidos e demais entidades de representação política de qualquer tendência, aqueles rostos cobertos retiram os
cartazes do discurso reivindicativo. Às vezes em prol de um discurso perturbador que as câmeras registraram avidamente (“Tem tanta coisa errada que não
cabe em um cartaz”, dizia um cartaz); enquanto o essencial — é unanimidade
dizer com Malini (2013), Sakamoto (2013), Zizek (2012), Castells (2012), entre outros —, se transmite através de tags on-line, utilizadas em larga escala nas
3 Agradeço à Simone Gryner, que chamou minha atenção quanto a isso e me indicou a
reportagem mencionada.
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redes sociais, como facebook, tweeter e Instagram. Criando um protesto global que
mobiliza apoiadores em várias partes do mundo e inspira toda uma maquinaria
internacional de imprensa e comunicação alternativas à mídia centralizada nos
interesses político-econômicos usuais.
Em lugar de cartazes, portanto, #hashtags. Multiplicação dos likes — que se
disseminam de forma virtualmente infinita: #passelivre #vemprarua #ogiganteacordou #nãovaitercopa. “Diferentes movimentos dentro do movimento”
(MALINI, 2013).
99%
Mas o que implica esse elemento novo do discurso que não cabe no registro
da reivindicação, nem da palavra de ordem, e configura um domínio próprio,
outro: o streamming incessante das #hashtags? Protestos iniciados na rede e inteiramente articulados através das novas tecnologias de comunicação evidenciam,
a cada dia, que estas tecnologias não são apenas ferramentas de descrição do
mundo. Elas são formas novas de criação e desconstrução da realidade. Quando
alguém atua por meio dessas chamadas “redes sociais” não está simplesmente
reportando algo, mas está também gerando, engendrando, transformando o
real — alterando, de forma inédita, o ativismo político e social e os modos de
participação no discurso.
Em 13 de julho de 2011, a revista canadense de crítica cultural Adbusters postou
no seu blog a convocação: #occupywallstreet. A revista convocava para “um momento Tahrir” inspirado na ocupação da Praça Tahrir e nas acampadas da Espanha.
Um “movimento de resistência, sem liderança, com pessoas de muitas cores,
gêneros e opiniões políticas”; cuja reivindicação única era: “poder a pessoas
reais para criar uma mudança real” (http://web.occupywallst.org). “A beleza
dessa nova formula é sua simplicidade: falamos uns com os outros em encontros físicos e assembleias populares, saímos e tomamos uma praça de singular
importância simbólica e nos arriscamos para fazer com que isso aconteça”. No
dia marcado, 17 de setembro, aniversário da Constituição americana, o Parque
Zuccotti, em Nova York, foi se enchendo de gente com uma demanda simples
(separar a política do capital e do poder), irrealista (restituir a democracia ao
povo), mas enunciada numa pluralidade de vozes. O lindo pôster que anunciava
o evento mostrava uma bailarina diáfana se equilibrando em cima do “touro
de Wall Street” (o “charging bull” enorme escultura de bronze representando um
touro em posição de ataque que se tornou símbolo do distrito financeiro de
Manhattan). E suas placas traziam uma expressão nova: “Nós somos os 99%”.
We are the 99% era originalmente o nome de uma página do blog Tumblr criado em final de agosto por um ativista do movimento Anonymous conhecido
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(simplesmente) como “Chris”. A frase remeteria em princípio à notícia divulgada pela ONG britânica, Oxfam International, de que 1% da população possui
e controla 46% da riqueza do planeta. Mas #WeAreThe99% foi muito mais que
uma frase e o título de um blog. Foi um choque de realidade. Adotada como a
hashtag do movimento Occupy Wall Street (OWS), se multiplicou em textos, protestos
e notícias estarrecedoras sobre a concentração de renda que começaram a brotar
em toda parte. #NosSomosOs99%que vivem com 54% da riqueza mundial.
#NosSomosOs99%que não vão mais tolerar a ganância e a corrupção de 1%.
Não se tratava de pertencer ao 1%, e sim de chegar aos 99%: “Queremos ver
uma assembleia em todo quintal, em cada esquina, porque nós não precisamos
de Wall Street e não precisamos de políticos para construir uma sociedade
melhor” (occupywallst.org). Num mundo conectado pela internet, pode-se ter
acesso imediato a lutas e projetos que deixaram marcas de uma possibilidade
de mudança real — como meio de instaurar uma democracia real (#DemocraciaRealYa, como pediam os Indignados da Espanha).
Ora, nenhum desafio à autoridade do Estado fica sem resposta. A ocupação
iniciada em 17/9 no Zucotti Park foi seguida por um sem número de prisões
efetuadas pela polícia sob diversos pretextos. No caso das revoluções árabes e
no Egito, houve repressão aberta, censura à mídia e bloqueio da internet. Mas
a repressão não pode sustentar-se contra um movimento de massa articulado
pelas novas tecnologias de comunicação em rede. Quanto mais a polícia recorria
à repressão mais as imagens das ações policiais postadas no YouTube mobilizaram manifestantes. A resistência veio de muitas áreas, da engenhosidade dos
manifestantes primeiramente, mas sobretudo da vigilância da própria comunidade global da web: hackers, redes de militantes como o Anonymous e outras,
engajados na defesa dos direitos humanos, fanáticos por tecnologia e pessoas de
todo tipo para quem a internet se tornou um direito fundamental (e um modo
de vida). Quando, meses depois, a polícia nova-iorquina desocupou à força o
Zucotti, o Occupy Wall Street, não tinha mudado o mundo, mas problematizara
irreversivelmente a agenda política e econômica da civilização — pela simples
e maciça difusão mundial da ideia de que é inaceitável que a humanidade se
divida entre 99% e 1%.
O OWS dá bem a medida de como a catarse política protagonizada pelos
movimentos populares que eclodiram e se espalharam por várias regiões do
mundo colocou em xeque o modo de vida contemporâneo global. E juntamente
com isto, também o campo discursivo que esteia a vida social. Com imagens e
notícias espalhando-se pela internet, a ocupação (iniciada em 17/9) começou
de modo espontâneo em muitas outras cidades do mundo, nos primeiros dias
de outubro, atingindo mais de mil cidades, em todos os 50 estados, só nos
EUA — e até o gramado em frente à Casa Branca — com variadas formas de
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ocupações e de protestos (occupy.net). Essa força do movimento se deve à rápida
difusão de um ativismo on-line que intervém no fulcro do funcionamento social constituindo um tipo novo de participação. E mostra que a chamada “crise
da representação” não se limita a uma crise dos partidos e da política. Trata-se
antes de uma crise mais ampla, que atinge também o campo do discurso e das
instituições tradicionais em que o sujeito se constitui.
No caso do Occupy, como em outros, os protestos evidenciaram — ou criaram
— um vazio das ideologias correntes. A urgência de mudança, de imposição
de um basta à nossa civilização desregrada, e em especial a revolta dos mais
jovens contra quem quer que porte uma bandeira institucional, ou represente
algum tipo de autoridade — a polícia, os partidos, os governos, mas também as
grandes corporações e até a imprensa — demonstraram em ato o fracasso das
soluções pragmáticas usuais. E após décadas de repetição incessante de análises
socioeconômicas liberais, algumas centenas de jovens acampados puseram
novamente a força crítica do mundo em ação, em confronto com os problemas
mais estruturais da nossa civilização.
Em momentos extremos como estes, algo do recalque que a cultura vigente
institui cede, revelando a Outra cena que perpassa a nossa formação social. Daí por
diante, podemos dizer com Freud, o problema estará deslocado. Não conseguiremos mais lidar com as dificuldades da democracia e do capitalismo ignorando
o fato de que o que opera na vida social não é apenas uma economia financeira
e política, mas também o sujeito impulsionado pela ordem pulsional (FREUD,
1921 e 1932/1996). Uma ordem que é efeito do discurso, e da dependência do
sujeito à estrutura da linguagem. E que articula os interesses e apetites humanos
não à necessidade, mas a uma economia de gozo — que implica a economia
psíquica associada a uma economia do capital, na produção de um laço social
determinado (LACAN, 1968-9/2008; COSTA-MOURA & FERNANDES, 2011).
Dizendo de outro modo, e segundo a experiência da psicanálise, desde que
o laço capitalista transforma a perda implicada na civilização — ou, nos termos
de Lacan (1968-9/2008), a renúncia ao gozo que é correlata do advento do
sujeito no campo da linguagem —, em expropriação da atividade humana,4
sob a forma da mais-valia, emerge para o sujeito, uma marca de expropriação
que liga o sujeito aos objetos, como objetos (de um gozo) a recuperar. É essa
economia pulsional que impede, em última instância, que uma regulação meramente econômica possa operar a limitação de interesses necessária para a vida
em sociedade. Mais ainda, impossibilita que uma transformação deste estado
de coisas possa sobrevir imediatamente de uma ação global, revolucionária,
4 Em estudo anterior, trabalhamos a demonstração de Lacan de que a perda que é efeito da
constituição do sujeito na linguagem se mostra no capitalismo sob a forma da mais-valia.
(LACAN, 1968-9/2008; COSTA-MOURA & FERNANDES, 2011).
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como se sonhou durante décadas. Depois de Freud, é difícil aderir à aspiração
de Marx de que uma transformação da ordem econômica possa ter um efeito
regulador do capitalismo. O testemunho da psicanálise é, ao contrário, o de
que o passo em direção à limitação do gozo — de cada um, bem como aquele
da vida social — é um passo ético, cujo ordenamento não se faz por comando
(a força das catracas), mas tampouco, a rigor, se faz com o ‘passe livre’. Exigindo
antes um posicionamento que, no caso da vida social, tem que ser conquistado
nas lutas políticas específicas que podem chegar a impor perdas determinadas
a cada vez (COSTA-MOURA & FERNANDES, 2011).
A apostar na perspectiva psicanalítica, portanto, o desfecho destas situações
está em aberto. E a prova mais dura para a nossa cultura e nossa ordem social
hoje diz respeito a poder tomar lugar nas questões que permanecem, para além
da irrupção momentânea das massas nas ruas. E poder aceder ao que, nesta
irrupção, se articulou como um real que excede as intenções — e nos atinge a
todos. Assim, a interpretação do que está em jogo nos protestos não é apenas
um problema epistemológico — a débâcle da sociedade, da imprensa e dos analistas teóricos sobre qual seria a verdadeira mensagem da “voz das ruas” — e
nem mesmo meramente político. Há aí também, como já dissemos com base
na experiência psicanalítica, uma questão ética, que diz respeito ao destino que
daremos a esse real que vigora no epicentro destes movimentos. Um real — assim
o propomos — que está articulado à sua forma de interlocução e agenciamento.
‘#hashtags’, ‘perfis’ e outros ‘memes’
Foi nas redes sociais que o evento “Terceiro grande ato contra o aumento da
passagem” marcado para São Paulo, capital, se ‘viralizou’: 28 mil pessoas confirmadas. Aliás, pessoas não, perfis — porque se, juridicamente se associa umas
aos outros, sua correlação no real não é tão simples.
Um Perfil é um modo específico de tomar lugar e participar da vida social.
Entre os 28 mil confirmados, obviamente, havia inúmeros perfis de outros estados
e mesmo de outros continentes, pois em se tratando de um acontecimento que
se articula na rede essa possibilidade se abre: posso não ir, mas confirmo presença para declarar apoio. O chamado ‘evento’ do Facebook por sua vez vale como
uma espécie de mural embutido na interface. Nascido dos fóruns de discussão
que aglutinaram comunidades inteiras na rede desde 1979, quando a web veio
a público, mas diferente das antigas ‘comunidades’ (do Orkut, por exemplo),
os “Eventos” do Facebook têm como horizonte o desaparecimento. Um ‘evento’
acontece. E uma vez ‘pertencente’ a ele, o ‘perfil’ pode publicar conteúdo multimídia de todo tipo, endereçado instantaneamente a todos aqueles associados ao
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evento. Vale para uma festinha (uma ‘social’) de adolescentes ou uma passeata
com um milhão de pessoas nas ruas, parando o país.
Já um ‘meme’ de internet é um conceito, uma ideia ou mesmo um estilo que
se propaga rápida e intensamente pela www, sob a forma de hiperlink, vídeo,
imagem, website, hashtag, etc., podendo se espalhar de pessoa para pessoa através
das redes sociais, blogs, e-mails, fontes de notícias e outros serviços baseados na
web, tornando-se em geral o que se costuma adjetivar como “viral” — de onde
também se extrai o verbo “viralizar” que empregamos aqui e que é muito utili­
zado neste contexto para designar a propagação e, em especial, o momento de
virada em que uma unidade de informação adquire a capacidade de se transmitir
de forma vertiginosa.
Nas manifestações recentes o ‘evento’ tem funcionado como uma espécie
de Ágora contemporânea, um espaço em que vão se depositando narrativas
multifacetadas das lutas e acontecimentos menores — com possibilidade de
serem curtidas (apoiadas), seguidas (valorizadas em termos de popularidade),
comentadas (até o ponto de serem discutidas e virarem polêmicas no espaço
público) e, a mais reiterada das ações na rede, compartilhadas (difundidas pelos
perfis). Essa é justamente a potência mais específica das hashtags.
Uma hashtag é uma palavra ou uma frase prefixada, precedida pelo símbolo
# (hash, em inglês). Na verdade, e mais radicalmente, qualquer combinação
— mesmo aleatória — de letras ou caracteres liderados pelo símbolo # é uma
hashtag, porque se trata justamente de uma formalização da linguagem de tal
ordem que nenhuma semântica vem caracterizá-la como linguagem. Um ‘post’
qualquer, em mensagens curtas de microblogging e serviços de redes sociais como
o Twitter, Tumblr, Instagram, Flickr, Google + ou Facebook pode ser marcado com
um ou inúmeros — o número é ilimitado — “#” antes de palavras5 que passam
a fornecer um meio de agrupamento instantâneo de mensagens e metadados —
os quais, a partir daí podem ser acessados, ao alcance de um clique, de qualquer
lugar do planeta, juntamente com o conjunto todo (streamming) de mensagens
que circulam na rede com a mesma #.
As hashtags são usadas ainda para marcar mensagens individuais como pertencente a um grupo específico, ou marcar as mensagens como relevantes para
determinados tópicos ou assuntos. Funcionam também como balizas para que os
usuários encontrem e sigam (se filiem à cadeia) ou articulem listas de contatos
ou apoios públicos com outros usuários de interesses semelhantes. Além disso,
aparecem de modo informal, apenas para expressar algo em uma mensagem
5
Mais exatamente as #hashtags podem ser inseridas em qualquer lugar de uma mensagem:
antes do corpo de texto, foto ou vídeo que constitui um ‘post’; fazendo parte do corpo de
um ‘post’ (como em “Este é um #protesto que aconteceu na Ave. Paulista”) ou ao final do
corpo de um ‘post’.
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(como um contexto, por exemplo), sem nenhuma intenção de categorizá-la para
busca posterior ou compartilhamento. Uma # pode ajudar a expressar humor,
tristeza emoção, ou dar outras pistas contextuais, como por exemplo, #fofo,
#sarcasmo, #partiu (#partiu festa, #partiu praia, etc.), #love (utilizada mais
de 500 milhões de vezes só no Instagram) ou#me (200 milhões no Instagram —
ambos, segundo http://web.stagram.com/).
A importância das hashtags cresceu com a ascensão e popularidade do Twitter.
Mas elas se tornaram instrumento político durante os protestos relacionados às
eleições iranianas de 2009-2010, como meio de identificar e classificar os assuntos
dos posts e conectando (por meio das palavrinhas estanques e facilmente identificáveis) internautas dentro e fora do Irã, de modo a contornar a dificuldade da
língua. No Tweeter, onde surgiram, elas eram utilizadas em frases ou palavras
para interligar assuntos ou vários posts sobre um mesmo assunto — e acabaram
se tornando essenciais para a indexação de conversações por temas e palavras
(o sistema tendo sido por fim adotado por várias outras redes sociais como Instagram e Facebook). Com o tempo, mas em velocidade recorde, as hashtags se tornaram
verdadeiros fóruns de discussão ad hoc, não moderados, globais e horizontalizados. Qualquer hashtag, se promovida por número suficiente de posts pode virar
‘tendência’ e atrair mais usuários para discussão em torno do tópico proposto.
A partir de 2009, o Twitter começou a conectar em ‘hyperlink’ todas as hashtags
nos tweets do Twitter. Introduzindo a seguir (2010) um sistema de contagem e
levantamento de frequências que permite identificar os “Trending Topics” (ou seja,
aqueles tópicos que estão sendo mais discutidos, seguidos, republicados, aqueles
que formam uma ‘tendência’) na primeira página do Twitter (ou na barra de
pesquisa no cabeçalho de um site de rede social). Hoje existem várias empresas
fornecedoras de serviços (em sua maioria consumidos por outras empresas) de
“Tagboard” — ou seja, de medição e monitoração dos movimentos dos posts ou de
avaliação específica, as quais dispõem em termos visuais a distribuição gráfico-temporal para hashtags utilizadas em sites de mídia social.
Toda essa dinâmica das redes sociais ilustra a forma intrigante de relação dos
jovens com o espaço público (CASTRO, 2004, 2013) — em termos da articulação
‘rua e rede’ que emerge na contemporaneidade. Nas convocações para os eventos,
por exemplo, há aqueles que estão presentes na rua e há os que estão na rede.
Ambos ‘postando’, ambos dentro da mobilização — e da rede. Os primeiros,
relatando, fotografando enquanto os outros (alguns, certamente, do sofá, sem
que seu papel seja menos fundamental por causa disso) espalham, convocam,
incitam e comovem. A internet sendo ocupada tanto pelos “confirmados e presentes na rua” quanto pelos “confirmados e presentes na rede”.
Mas o que essa sucessão (sem substituição, segundo apontam Freitas & Costa,
2005) da oralidade, da escrita e da informática, como modos fundamentais do
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discurso aporta de complexificação e deslocamentos de centros de gravidade,
para o advento do jovem no laço social? O que estrutura esse laço discursivo que
emergiu com toda força na atualidade e cujas incidências apenas começamos a
interrogar? Que lugar reserva ao sujeito? Certamente não o centro. Quando um
‘evento’ ou ‘fórum’ ou ‘post’ ou ‘perfil’ viraliza, isto implica que aquela unidade
de informação adquiriu a capacidade de se reproduzir de forma autônoma, o
“streaming” se espalhando com força e velocidade exponenciais. Neste ponto
acontecem tentativas de stalkear (quebrar o código, “tomar a administração de”)
uma dada página, ou post, e/ou tentar identificar quem são “os líderes”, quem
teria convocado o movimento. Em geral, tarde demais, pois quando o número
de posts e tweets explode, não há mais um centro, e sim, milhares.
Essa é justamente a condição que distingue o sujeito que emerge com a ciência
moderna. Para o sujeito que habita o universo infinito no qual a ciência transmutou, o mundo fechado do Cosmos antigo (KOYRÉ, 1962/1998), o centro está
em toda parte e a circunferência em nenhuma. E no caso da contemporaneidade,
disseminada numa infinidade de máquinas pelo mundo, que formam, segundo
Mathias (2010), uma nebulosa informacional insondável. Uma dimensão na qual
não há mais lugar para lideranças e comandos centrais, retilíneos; só há lugar
para a chamada emoção n-1 (MALINI, 2013), ou seja, a ligação que deriva de um
efeito dos nós da rede (n) que atravessam o perfil (1).
E os canais n-1 / 1-n (este último designando um post que emana de um perfil
e ganha a rede) não se reduzem a nenhum ponto fixo: todos podem ser em algum momento a fonte primária de notícias. Quando alguém republica um (post
de um) perfil x (@fulano de tal), cria-se uma relação determinada com a rede.
Quando muitos outros fazem a mesma operação, o perfil x (@fulano de tal) ganha
uma dimensão a mais (o ponto vira traço, por exemplo), uma posição especial
na rede. A chamada ‘centralidade de autovetor’ é um modo de compreender a
posição de um perfil e sua relação com outros espaços da rede. Na prática, se
um tweet ‘postado’ por um perfil é muito republicado, o perfil ficará próximo
a perfis jornalísticos, políticos, empresariais, governamentais, de celebridades
e outros. Um post pode ganhar centralidade tenha ele vindo de um governante
poderoso (@barackobama), uma corporação global (@cocacola) ou de um
‘@fulano’ qualquer; a força que cria a posição do perfil não deriva de um desejo
do perfil, nem apenas de sua visibilidade, mas sobretudo de como este é apropriado pela rede. Para Malini (2013) “É o outro que cria a perspectiva. Quanto
mais relações com outras subredes, mais ‘centralidade de autovetor’ possui um
dado perfil, ou seja, mais força é atraída por ele”. Central, portanto, é aquele
perfil que consegue atrair uma intensidade multiplicadora de relações — e isto
muito para além do que alguém poderia deliberar, ou controlar (o que explica
também porque um perfil não coincide com uma pessoa).
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Observemos ainda que nessa nebulosa de linguagens transitórias, não apenas
se lê ou se escreve — no sentido usual destes termos, que os relaciona a decodificar: letras, palavras, sentidos, estruturas. Trata-se antes de sermos tomados
nesse laço, por assim dizer, envolvidos pelas múltiplas afetações possíveis. Como
‘usuários da rede’, somos antes de mais nada o efeito engendrado nessa prática
de “postar” que pode ser infinitizada.
Lógica da ciência, discurso e representação do sujeito
É conhecido o fato de que a operação científica implica a substituição da linguagem ordinária pela linguagem formal. Mas mais do que isso, sabemos hoje
— graças ao trabalho de autores clássicos como Koyré e Kuhn (1962 e 1970) e
também contemporâneos como Latour (1998) e Boltanski (2012), entre outros
— que esta substituição acarreta uma transformação radical da nossa relação com
a linguagem. E com Lacan (1965-6/1998), que este remanejamento do campo
discursivo porta inúmeras consequências para o sujeito.
Lacan (1969-70/1991) mostra como a ciência demarca significantes que se
organizam, que respondem a leis, sem estarem relacionados a um sujeito ou a
uma essência que se expressaria por seu intermédio. A partir da ciência, o campo
discursivo pode não ser mais o do significante — onde subsiste a presença do
Outro, na forma do mistério da significação, do enigma, por exemplo, ou da
metáfora —, e sim o da literalização, no qual pequenas letras intercambiáveis
valem, e são definidas exclusivamente a partir da ordem de suas comutações.
A formalização da linguagem que está na base da ciência produz esse esvaziamento da potência do significante para produzir equivocação, com a consequente
dissolução dos laços articulados pelas diversas culturas que ligavam os significantes a determinados campos semânticos. E no roldão dessa degeneração (e virtual
supressão) da diferença significante que poderia causar um sujeito a advir, o
significante, tornado pura sintaxe, se condensa em letra. Ganhando valên­cia real,
vale dizer: sua incidência torna-se compulsória, seu encadeamento, automático,
prescindindo do sujeito para sustentar-se.
Em trabalhos anteriores pudemos discernir como a neutralização da dimensão significante — que engendra a equivocidade da linguagem — pela formalização, problematiza a sustentação do lugar do sujeito no campo do discurso
que estrutura o laço social (FERNANDES & COSTA-MOURA, 2009, 2010). Nesta
direção argumentamos que a manobra formal de esvaziamento da dimensão
significante está na base de quase todos os aspectos que regulam nossa vida
cotidiana (tais como a numerização dos nossos dados, aferição de nosso saldo
no banco, de nossas medições sanguíneas, etc.), e mais ainda, que esta ambição
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de superar o significante compõe o modo de funcionamento do discurso que
constitui a tessitura mais fundamental do laço social contemporâneo.
A sustentação da vida social na dimensão formal da diferença (binária, previsível) dos traços, números e outras cadeias exclusivamente sintáticas substitui
o laço discursivo que daria lugar ao sujeito, na contemporaneidade, com a consequência exorbitante de propiciar um controle estrito, instantâneo e contínuo
de toda a gama de efeitos de linguagem que suscitariam o sujeito a advir. Mas
não se trata apenas da possibilidade de inserir os indivíduos no nó econômico,
técnico, científico de controle e vigilância. Dessa expropriação, como dissemos,
do que teria sido seu lugar simbólico, emerge um sujeito extirpado de essência
e substância. Um sujeito inteiramente apenso a este estatuto contingente dos
discursos que é efeito da introdução, pela ciência moderna, do significante
reduzido à radicalidade de seu jogo diferencial, como letra.
Este sujeito não pode mais dispor do saber imediato que emanaria de um
mundo bem ordenado. Restando-lhe a possibilidade (e o encargo) de ordenar
o mundo ele mesmo. Porém, quando a marcha da ciência substitui a ordem
significante pela precisão de um saber matemático, quanto mais o sujeito procura obter uma identidade, menos ele encontra um significante que possa vir
a representá-lo frente ao Outro, aos outros e à vida social. Recaindo no limite,
sobre o ato de asserção e afirmação de uma certeza que não pode ser senão antecipada (DESCARTES, 1641/2001; LACAN, 1945/1998, 1965-6/1998, 1967-8),
o único esteio no qual um sujeito pode se fundar. Doravante, no que concerne
ao sujeito que emerge com a ciência, se penso, logo existo (mas, e se eu não
penso — como mostrou Freud — e algo pensa em meu lugar?). Tendo que se
fazer representar pela letra que é cifrada, é o sujeito quem vacila, como resultante. Tornando-se, no limite, uma subsistência pontual, cuja substância além
de ser circunscrita a cada momento pelas determinações econômicas e sociais,
é dependente da efetivação de um laço discursivo que possa testemunhar, aqui
e ali, sua presença sintomática no real.
Entretanto, na contemporaneidade, o que se produz em lugar dessa ordem
discursiva que poderia ensejar um sujeito a vir se responsabilizar pelo desejo que
o constitui e o enlaça na vida social, é um comparecimento do sujeito adstrito à
esfera irresponsável do consumo. Esse sujeito articulado ao consumo é o que é
promovido exaustivamente pelo capitalismo e instrumentalizado pela ciência.
No limite se trata de uma exacerbação do que já está em jogo na própria dinâmica pulsional; um acossamento que erode, por outro lado, inevitavelmente,
os outros canais institucionalizados de representação do sujeito — até o ponto
inusitado de praticamente confinar esta representação às selfies, e posts do Facebook,
que não chegam a suportar uma inclusão mais decisiva do sujeito, no laço social.
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Para os jovens, então, esse problema da representação é candente. São eles
que experimentam de maneira mais radical hoje, que a internet, muito mais que
um instrumento de comunicação que conecta emissores à distância (como seria
o caso do telefone, ou dos correios) se apresenta para nós como um “fenômeno
total”(MATHIAS, 2010) ou totalizante; uma extensão cada vez real e opaca de
nossa vida, de suas exigências e mesmo, de seu sentido. Quando um jovem,
ou milhões, se engajam no discurso digital que se materializa na internet, que
laço se produz? A rigor estamos impossibilitados de saber a contento. Como já
mencionamos aqui, a experiência de cada um com a rede está circunscrita a programas e aplicativos dos quais somos menos que usuários; somos efeitos. Efeitos
de um laço discursivo formal no qual ingressamos, e que nos permite certas
operações — virtualmente infinitas por um lado, mas não obstante coadunadas
a um número restrito de gestos calculados, previstos e uniformes. Executamos
estes gestos o tempo todo sem ter a menor ideia do que implicam as leis de sua
formação, ou dos protocolos informáticos que utilizam em sua configuração.
É importante observar no entanto que não é apenas o espaço virtual e a internet
que estão em questão quando se trata destes novos expedientes de encadeamento
discursivo que circulam entre os (cada vez mais) jovens e fazem a rede. Trata-se
para cada um de nós, de nada menos do que o modo como tomamos a palavra e
nos responsabilizamos pela vida e pelo laço social. Trata-se da ordem do discurso,
como aquela que pode dar lugar ao sujeito (LACAN, 1971/2009).
Proliferação das #hashtags
Ainda que determine o sujeito, a ordem do discurso não lhe pertence e nem o
toma por referência. A ordem do discurso responde às leis da linguagem — à
diferenciação de lugares e circulação de elementos determinados por estas leis,
em sua incidência que é estrutural e constitui todo o domínio humano. Para a
psicanálise um sujeito é produto da articulação significante elementar que também engendra o discurso, mas não obstante, vale ressaltar, “o sujeito como tal
nunca domina essa articulação” (LACAN, 1971/2009, p.18). Como o discurso se
funda na estrutura (LACAN, 1971/2009, p.10), ele não pode ser o discurso de um
particular (genitivo subjetivo). E por isso também ele não comporta o exterior a
partir do qual se poderia julgá-lo. A própria ordem do discurso “exclui a possibilidade de [...] abarcar tudo” (LACAN, 1971/2009, p.12), de dizer inteiramente.
Não há, pois, metalinguagem que possa avaliar o discurso. E não há tampouco,
em nenhuma parte, um universo do discurso (LACAN, 1968-9/2008) — nenhum “discurso universal”, que valha por todos. Todo discurso tem condições
e é mesmo idêntico às suas condições. E como o discurso não faz Um; o(s)
discurso(s) circula(m) continuamente. Lacan (1969-70/1991) isolou quatro;
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nenhum se impõe o tempo todo, nenhum dura a ponto de suprimir por inteiro
os outros. Se a marcha da ciência explodiu o Cosmos como mundo fechado,
onde cada coisa e cada um tem seu lugar, o sujeito, em consequência, em lugar
de (re)encontrar sua casa no Universo infinito está constrangido necessariamente
a ordenar o mundo e se determinar a cada vez pela via do discurso — que não
cessa, que circula, que prolifera e condena o sujeito a habitar aquilo que Lacan
designou como um “desuniverso” (LACAN, 1971/2009, p.12).
Deixando de lado a pretensão de explicar e de compreender, se nos ativermos,
à maneira de Barthes (1971[1984]/1988), a fazer “levantamentos de discurso”
encontraremos talvez na multiplicação das #hashtags convocando e suportando
tantos movimentos sociais contemporâneos, este habitante de um desuniverso do
discurso criado pela tecnociência; e a própria prática linguageira dos jovens na
web configurando um modo de inserção que não se detém em analisar, discutir, decodificar a vida social, e sim de sobrecodificar, produzir, multiplicar,
amontoar linguagens. E deixar-se atravessar por elas. Contra um capitalismo
que se globalizou baseado em estruturas verticais e hierarquizadas, eis que
surgem movimentos que propõem e praticam formas de redes descentralizadas
(CASTELLS, 2012), rizomáticas (DELEUZE & GUATARRI, 1980); sem personificação de lideranças nem comando de partidos. Em lugar de uma única explosão,
ações locais, temporárias, experiências concretas de reapropriação do espaço
urbano e organização de outra experiência cotidiana da metrópole — numa
luta que tem a dimensão do mundo.
Vista por este prisma, a negatividade e a indefinição política do modo espontâneo de manifestação que brotou em nossas cidades são sua positividade
como movimento. São sua ação. A presença maciça de jovens nas ruas que estes
movimentos articulam realiza por si só uma reversão do que seria uma negatividade (falta de uma pauta consistente de reivindicações, de direção, de programa
político, etc.), em positividade. A positividade que faz da negação (do que está
posto, determinado pela máquina que reproduz o status quo), uma onda; uma
força que atinge o próprio campo do discurso — evidenciando a força de causa
que perpassa o significante, concentrada em tags.
Decerto as propostas alternativas ao modelo dominante que apenas começam a se esboçar no bojo destes movimentos, precisarão ainda ter seu tempo
de experimentação e de formulação. Mas ao que tudo indica, provavelmente,
como conclama o Movimento Passe Livre, “não começou em Salvador e não vai
terminar em São Paulo” (MPL/SP, 2013, p.13).
Recebido em 16/6/2014. Aprovado em 17/6/2014.
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O material deve ser acompanhado também
de uma declaração do(s) autore(s) atestando
o ineditismo do trabalho, conforme o seguinte
, declaro
modelo: Eu,
,
que o artigo intitulado
apresentado para publicação na revista Ágora – Estudos em Teoria Psicanalítica, não foi
publicado ou apresentado para avaliação e
publicação em nenhuma outra revista ou livro,
sendo, portanto, original.
Inicialmente, o trabalho será apreciado pelo
Editor, que enviará ao(s) autor(es) carta ou
e-mail comunicando o início do processo
editorial, caso o encaminhamento do material
esteja de acordo com as normas estabelecidas
pela revista. Em seguida, o manuscrito será
enviado para avaliação de dois pareceristas
anônimos, que poderão rejeitar, recomendar
a publicação com reformulações, ou aceitar
a publicação sem modificações. Caso haja
discordância entre os pareceres quanto à publicação, o trabalho será encaminhado a um
terceiro consultor ad hoc. Os pareceres serão
enviados ao(s) autor(es) para que se justifique
o resultado da avaliação ou para que sejam
realizadas modificações no texto, devendo
o(s) autor(es), neste caso, devolver o trabalho
reformulado no prazo máximo de vinte dias. O
trabalho será reenviado aos pareceristas, que
deverão se pronunciar com relação à revisão
efetuada. Caberá à Comissão Editorial a decisão
final quanto à publicação. Pequenas alterações
no texto poderão ser feitas pela Comissão
Editorial para atender aos critérios e normas
operacionais da revista.
12 Final 35.indd 159
Serão aceitos para publicação na revista Ágora
– Estudos em teoria psicanalítica somente
artigos que tenham como autor pelo menos
um mestre ou doutor. Haverá exceção a essa
regra no caso de autores que tenham notório
saber, sendo a Comissão Editorial responsável
por encaminhar os artigos destes autores para
avaliação dos pareceristas.
II. DIREITOS AUTORAIS
A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos de publicação nesta
revista, a qual terá exclusividade de publicá-los
em primeira mão. O autor continua­rá a deter os
direitos autorais para publicações posteriores.
III. APRESENTAÇÃO DOS ORIGINAIS
O autor deverá enviar o trabalho em duas cópias
impressas e uma cópia eletrônica – em disquete
(Word for Windows – versão 6.0 ou superior e
com extensão .doc) ou via e-mail. O texto deverá ser digitado em fonte Times New Roman,
corpo 12, formato letter, espaço 1,5 linha. Os
originais enviados não serão devolvidos.
As resenhas não poderão exceder o total de
três laudas.
Folha de rosto – Título em português; nome
do autor, seguido de créditos acadêmicos
e profissionais (no máximo três titulações);
endereço postal e eletrônico do autor; número
de telefone/fax.
Folha de resumo – Resumo em português (máximo de 100 palavras – aproximadamente 580
caracteres com espaço); palavras-chave em
português (no mínimo três e no máximo cinco
palavras); título em inglês, compatível com o
título em português; abstract em inglês, compatível com o texto do resumo; keywords em
inglês, compatíveis com as palavras-chave.
Texto – O corpo do texto (sem contar as folhas
de rosto e de resumo) deverá apresentar somente o título do trabalho e conter de 14 a 20
laudas com 2.000 caracteres com espaço cada
uma. O texto não deverá conter menos de 28 mil
nem mais de 40 mil caracteres com espaço.
Padrão das notas – As notas, utilizadas caso
sejam indispensáveis, devem ser indicadas por
algarismos arábicos ao longo do texto e digita­
31/08/2014 20:44:39
das no pé da página que contém a nota, com
a utilização de opção automática do Word.
IV. REFERÊNCIAS E CITAÇÕES
A referência a autores deverá ser feita no corpo
do texto, somente mencionando o sobrenome,
acrescido do ano da obra.
Ex.: (GREEN, 1982)
Em caso de autores cujo ano do texto ou da
obra é importante, colocar o ano em que foi
escrito o texto ou a obra seguido do ano da
edição utilizada.
Ex.: (FREUD, 1915/1974)
Caso haja coincidência de datas de um texto
ou obra, distinguir com letra (1915a, 1915b),
respeitando a ordem de entrada no artigo.
Em caso de compilação de textos de um mesmo
autor em uma obra, colocar o ano do texto seguido do ano da edição da obra utilizada.
Ex: (LACAN, 1946/1966)
Caso haja vários autores, todos deverão ser
citados, usando-se “e” ou “&”.
Ex: (PRIGOGINE & STENGERS, 1984)
Em caso de citações textuais, entre aspas,
deverá ser indicada a página.
Ex: “É que o saber não é feito para compreender, ele é feito para cortar” (FOUCAULT,
1984, p.28).
Citações textuais com menos de três linhas,
entre aspas, deverão ser mantidas no corpo
do texto.
Citações textuais com mais de três linhas deverão aparecer em destaque, observando um
espaço do tabulador, espaço simples, e digi­
tadas em Times New Roman, corpo 10.
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
As referências bibliográficas devem aparecer
no final do artigo, em ordem alfabética de
sobrenome. A lista se guiará pela ordem cronológica dos textos, ou seja, as obras de um
mesmo autor devem ser listadas segundo o
ano de publicação das mesmas.
Devem obedecer à seguinte ordem de itens:
Livro – sobrenome em caixa alta, iniciais do
autor, ano da edição – antecedido, se for o caso,
pelo ano em que foi escrito – entre parênteses,
título em itálico, cidade, editora.
Ex: FOUCAULT, M. (1984) Microfísica do poder.
Rio de Janeiro: Graal.
LACAN, J. (1959-1960/1988) O Seminário livro 7,
A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar.
Citação de Freud – sobrenome em caixa alta,
ini­ciais do autor, ano em que foi escrito e ano
da edição entre parênteses, título da edição
utilizada em itálico, cidade, editora. Em seguida, o título do artigo entre aspas, volume
e páginas.
12 Final 35.indd 160
Ex.: FREUD, S. (1975) The standard edition of
the complete psychological works. Londres:
Hogarth Press.
(1900) “The Interpretation of dreams”, v.IV e
V, p.1-734.
(1915) “Repression”, v.XIV, p.141-158.
Artigo de livro – sobrenome em caixa alta, ini­
ciais do autor, ano da edição entre parênteses,
título do artigo entre aspas, seguido de in (sem
itálico) e do nome do coordenador, título do
livro em itálico, cidade, editora.
Ex.: ANDRADE, R. (1995) “A teoria das pulsões
no romantismo alemão”, in MOURA, A.H. (org.).
As pulsões. São Paulo: Escuta.
Capítulo ou parte de livro – sobrenome em
caixa alta, iniciais do autor, ano da edição
entre parênteses, título da parte en­tre aspas,
seguido de in e do título do livro em itálico,
cidade, editora.
Ex.: LACAN, J. (1946/1966) “Propos sur la causalité psychi­que”, in Écrits. Paris: Seuil.
Artigo de revista – sobrenome em caixa alta,
iniciais do autor, ano da edição entre parênteses, título do artigo (sem aspas), nome da
revista em itálico, volume (v.), número (n.),
cidade, editora, páginas (usar p. para o singular
e o plural).
Ex.: SAFRA, G. (2000) Uma nova modalidade
psicopatológica na pós-modernidade: os
espectrais. Psychê, ano IV, n.6. São Paulo:
Unimarco, p.45-51.
Dissertações e teses – sobrenome em caixa
alta, iniciais do autor, ano de defesa, título
entre aspas, tipo de trabalho, programa, instituição, cidade.
Ex.: VIDAL, P.E.V. (2005) “Declinando o declínio
do pai”. Tese de Doutorado, Programa de PósGraduação em Teoria Psicanalítica, Instituto
de Psicologia, Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Artigo publicado em revista eletrônica – sobrenome em caixa alta, iniciais do autor, ano de
publicação entre parênteses, título do artigo,
nome da revista em itálico, volume (v.), número
(n.), endereço eletrônico e data da consulta.
Ex.: DI MATTEO, V. (2005) Fenomenologia do
espírito e psicanálise: aproximações. Revista
Eletrônica Estudos Hegelianos, ano II, n.2.
Disponível em http://w w w.hegelbrasil.org
Acesso em 10/3/2006.
Endereço para remessa de trabalhos
Revista Ágora – Estudos em Teoria Psicanalítica
A/c Programa de Pós-graduação em Teoria
Psicanalítica – Instituto de Psicologia UFRJ
Campus Praia Vermelha
Avenida Pasteur 250 fundos
Urca 22290-240 Rio de Janeiro RJ
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31/08/2014 20:44:39
ROTEIRO DE PARECER
O trabalho deve ser avaliado levando em
consideração os seguintes itens a serem
devidamente comentados:
Organização do trabalho
Adequação do título
Clareza e concisão do resumo
Pertinência das palavras-chave
Inserção na área de abrangência da revista
ConteÚdo
Delimitação e definição do foco do trabalho
Explicitação das premissas do trabalho
O parecer deve ser conclusivo quanto à
recomendação final (favorável, favorável
com modificações ou desfavorável).
Como este parecer será enviado para o
autor, é importante que venha com uma
justificativa detalhada, destacando as
modificações e sugestões necessárias, com
indicação das passagens e sua localização
(nº da página) no artigo.
No caso de parecer desfavorável,
solicitamos que explicite os motivos.
A Revista Ágora preserva o sigilo de seus
consultores.
Consistência do desenvolvimento da
questão
Conclusões decorrentes da argumentação
apresentada
Adequação da bibliografia ao problema
abordado
Redação
Gramática/ortografia
Clareza na expressão das ideias
Citações apresentadas corretamente
Apresentação, organização e tamanho do artigo
Acordo com as “normas de publicação”
Julgamento final
Favorável à publicação sem modificações
Favorável à publicação com modificações
Desfavorável à publicação
12 Final 35.indd 161
31/08/2014 20:44:39
ÚLTIMOS NÚMEROS
VOLUME XV NÚMERO 1
Janeiro/junho de 2012
Artigos
O SUJEITO E SEUS MODOS DE GOZO
Christian Hoffmann
VOLUME XIV NÚMERO 2
Julho/dezembro de 2011
Artigos
Afeto e adoecimento do corpo:
considerações psicanalíticas
Monah Winograd e Leônia Cavalcanti Teixeira
Medicina, Freud e obesidade:
diálogos multidisciplinares sob a
perspectiva de Foucault
Raquel Berg
Atuações delinquentes, passagens
ao ato suicida na adolescênciA
Michèle Benhaim
Corpo e novidade puberal
Olivier Ouvry
Objeto a: ética e estrutura
Fernanda Costa-Moura e Renata CostaMoura
A estrutura em psicanálise:
uma enunciação desde Freud
Glória Sadala
A relação transferencial para além
da interpretação: reflexões a partir
da teoria de Winnicott
Lívia Milhomem Januário e Maria Izabel
Tafuri
O patinho feio no imaginário
parental
Laura Kolberg Lipp, Ana Beatriz Guerra Mello
e Marianne M. Stolzmann Mendes Ribeiro
O lugar do saber na psicanálise e
na universidade e seus efeitos na
experiência do estágio nas clínicasescola
Vinicius Anciães Darriba
Resenhas
Clínica ao pé da letra
A neurose obsessiva no divã de Lacan, de
Charles Melman
Francisco Leonel F. Fernandes
Vale a pena queimar a psicanálise?
O livro negro da psicanálise. Viver e pensar
melhor sem Freud, organizado por Catherine
Meyer
Joel Birman
A “bela morte”
Laurie Laufer
Elucubrações sobre um sonho
elucidativo: o erro fetichista e o
acerto freudiano
Simone Perelson
TRAUMA: O AVESSO DA MEMÓRIA
Maria Manuela Assunção Moreno e Nelson
Ernesto Coelho Junior
DEFESA E TRAUMA: DO PROJETO À
ATUALIDADE
Sissi Vigil Castiel, Alexandra Dal Prá
Sibemberg, Luciana Salgado Firpo e
Rosangela Maria Martins da Silva
DA hamartiaΑCOMO FALTA E A DIMENSÃO
TRÁGICA DA VIDA NA PSICANÁLISE
Hugo Juliano Duarte Matias
HYSTORIZAÇÃO E ROMANCE: A
CONSTRUÇÃO DO PERSONAGEM NO
DIÁRIO ÍNTIMO DE ADOLESCENTES
Nádia Laguárdia de Lima e Ana Lydia Bezerra
Santiago
O CASO MARYLIN MONROE: EVIDÊNCIAS
DA FORCLUSÃO DO SUJEITO E DE SEU ATO
Jéferson Machado Pinto e Márcia Rosa
A REALIZAÇÃO IMAGINÁRIA DO DESEJO
INCONSCIENTE NUM GRUPO TERAPÊUTICO
DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-ESCOLAR
Jefferson Silva Krug e Nedio Seminotti
MODALIDADES DO ATO NA
PARTICULARIDADE DA ADOLESCÊNCIA
Carla Almeida Capanema e Angela Vorcaro
PEIRCE, LACAN E A QUESTÃO DO SIGNO
INDICiAL
Mauricio José d’Escragnolle Cardoso
Resenhas
A PSICANÁLISE, SEUS CONTORNOS E
SUAS BORDAS
Limites da clínica. Clínica dos limites.
Organizado por Cláudia Amorim Garcia e
Marta Rezende Cardoso
Maria Teresa de Melo Carvalho
NOVOS HORIZONTES NO DIÁLOGO ENTRE
PSICANÁLISE E MEDICINA
Um novo lance de dados: psicanálise e
medicina na contemporaneidade. Organizado
por Joel Birman, Isabel Fortes e Simone
Perelson
Silvia Alexim Nunes
Dissertações e teses 2011
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VOLUME XV NÚMERO 2
Julho/dezembro de 2012
VOLUME XV / número especial
dezembro DE 2012
Artigos
Editorial
Os processos subjetivos e os jogos
de verdadeda psicanálise frente à
transformação do lugar do pai
Maria Regina dos Santos Prata
O afeto e a reflexão
Sylvain Tousseul
Sublimação: da construção ao
resgate do conceito
Zeila Facci Torezan e Fernando Aguiar Brito
O papel da ilusão na psicanálise
freudiana
Zeferino Rocha
Lágrimas nas profundezas:
alegorias utópicas em Moby Dick e o
nominalismo na obra de William de
Ockham
Estevan de Negreiros Ketzer e Edson Luiz
André de Sousa
A metafísica do olhar: breve
interlocução com Sartre, MerleauPonty e Lacan
Paulo de Carvalho Ribeiro
O vampiro, um não morto ainda vivo
Max Kohn
A neurose obsessiva sob a ótica de
Melanie Klein
Marcos Leandro Klipan e Gustavo Adolfo
Ramos Mello Neto
A linguagem das resistências:
considerações sobre o trauma na
clínica psicanalítica
Fernanda Canavêz e Regina Herzog
Resenha
Um livro fundamental para todo
analistaem formação
Fundamentos da psicanálise de Freud a
Lacan, a clínica da fantasia, v.2, de Marco
Antonio Coutinho Jorge
Vanisa Maria da Gama Moret Santos
Homenagem
Homenagem a Jean Laplanche
Christophe Dejours e Francis Martens
Artigos
Música e um pouco de silêncio: da voz
ao sujeito
Carolina Mousquer Lima e Maria Cristina Poli
Para além da ilusão: o real na
crítica freudiana à religião
Claudia Maria Silva Moreira e Jeferson
Machado Pinto
Crítica do empirismo aplicado
à psicopatologia clínica: da
esterilidade do DSM a uma saída pela
psicanálise
Tereza Pinto
A psicose na contemporaneidade
e seus novos sintomas: do pathos ao
orthos
Rogério Paes Henriques
Erotomania: os impasses do amor
e uma resposta psicótica
Juliana Bressanelli e Antônio M. Ribeiro
Teixeira
Adolescência: muda psíquica
à procura de continentes
Nathalie de Kernier e Dominique Cupa
Críticas e alternativas de Winnicott
ao conceito de pulsão de morte
Leopoldo Fulgencio
O lugar do perito e o lugar do
analista na abordagem do louco
infrator
Romina Moreira de Magalhães Gomes
Tradução
Mal-estar na civilização e desastre
totalitário
François Villa
Resenhas
Verdade e metalinguagem em Lacan
Estilo e verdade na perspectiva da crítica
lacaniana à metalinguagem, de Gilson de
Paulo Moreira Iannini
Christian Ingo Lenz Dunker
A psicanálise é contra-hegemônica
Leituras da clínica, escritas da cultura, de
Maria Cristina Poli
Amadeu de Oliveira Weinmann
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VOLUME XVI / número especial
abril DE 2013
VOLUME XVI / número 1
Janeiro/junho de 2013
Editorial
Artigos
Artigos
Do debate sobre o Édipo à dissolução
do sujeito em Foucault e Lacan
Marlos Terêncio
Discurso freudiano e tradição
judaica
Joel Birman
Do vazio ao objeto: das Ding
e a sublimação em Jacques Lacan
Ariana Lucero e Ângela Vorcaro
O estatuto conceitual
do inconsciente em Freud e algumas
de suas implicações para a prática
psicanalítica
Helio Honda
“Medô medo”: Investigação sobre
a fobia em Freud, Lacan e autores
contemporâneos a partir
de um caso clínico
André Ehrlich e Vinicius Anciaes Darriba
Manuscritos freudianos inéditos:
das Ich und das Es
Juan Carlos Cosentino
Do fenômeno psicossomático
ao sintoma: a aderência do sujeito
ao diagnóstico médico e o trabalho
analítico
Doris Rinaldi, Roseane Freitas Nicolau e
Claudia Escórcio Gurgel do Amaral Pitanga
Escrita no corpo: gozo e laço social
Rita Manso e Heloisa Caldas
O a posteriori transferencial
dos traumas do início da vida
Jacques André
Bebês com risco de autismo:
o não-olhar do médico
Mariana Rodrigues Flores e Luciane Najar
Smeha
Resenhas
As ressonâncias subjetivas
da mudança de nome
Rajaa Stitou
Interdito e silêncio: análise
de alguns enunciados
Fabio Elias Verdiani ATfouni
Cultura e desejo: a construção
da identidade adicta no cenário
contemporâneo
Roberta Giacobone e Mônica Kother Macedo
As manifestações do ato e sua
singularidade em suas relações
com o feminino
Cristina Moreira Marcos e Carla de Abreu
Machado Derzi
O corpo e o feminino enquanto
lugares de subjetivação possível:
O aporte das artes visuais
Alessandra Monachesi Ribeiro
O complexo de Édipo nas obras de
Klein e Winnicott: comparações
Priscila Toscano de Oliveira Marchiolli e
Leopoldo Fulgencio
Laço social na psicose: impasses
e possibilidades
Fabio Malcher e Ana Beatriz Freire
A psicanálise no hospital:
dos impasses às condições
de possibilidades
Maíla Do Val Machado e Daniela Sheinkman
Chatelard
Dissertações de mestrado
e teses de doutorado/2012
Novos sentidos da psicanálise
Sofrimentos narcísicos, organizado por Julio
Verztman, Regina Herzog, Teresa Pinheiro e
Fernanda Pacheco-Ferreira
Mariana de Toledo Barbosa
A potência da dor
A dor psíquica, de Isabel Fortes
Andréa Barbosa de Albuquerque
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VOLUME XVI / número 2
Julho/dezembro de 2013
VOLUME XVII / número 1
Janeiro/junho de 2014
Artigos
Artigos
O estruturalismo em Jacques Lacan:
da apropriação à subversão da
corrente estruturalista no
estabelecimento de uma teoria do
sujeito do inconsciente
Luis Flávio Silva Couto e Luis Flávio Silva
Couto
A encenação dos sonhos: imagens de
Freud e de Benjamin
Alessandra Affortunati Martins Parente
Repressão e inconsciente no
desenvolvimento da metapsicologia
freudiana
Fátima Caropreso e Richard Theisen Simanke
Desvio do pensamento e da cultura
nas novlínguas (Klemperer, Orwell,
Canetti)
Claudine Haroche
Revisitando o primeiro modelo
freudiano do trauma: sua
composição, crise e horizonte
de persistência na teoria
psicanalítica
Antônio Luiz Pereira de Castilho
O índice de um enigma: o inconsciente
e o fenômeno da premonição
Ronaldo Manzi Filho
Por uma língua-objeto: o avesso do
gozo na cultura de consumo
Milena Maria Sarti e Leda Verdiani Tfouni
A fantasia no ciberespaço:
a disponibilização de múltiplos
roteiros virtuais para a
subjetividade
Márcio Rimet Nobre e Jacqueline de Oliveira
Moreira
A psicanálise é uma ciência e
o discurso analítico é uma práxis?
Tania Coelho dos Santos
A castração e seus efeitos
estilísticos: da parresia foucaultiana
a uma postura psicanalítica
Amos Squverer
O self como centro de ação em James
e Winnicott
Claudia Passos-Ferreira
Psicanálise e estética da recepção:
desacordos e entrecruzamentos
Gustavo Henrique Dionisio
A voz na experiência psicanalítica
Angélica Bastos
Maternidade do exílio. Quando
o deslocamento favorece a
fertilidade
Elise Pestre
Sobre o amor e suas falhas: uma
leitura da melancolia em psicanálise
Felipe Castelo Branco
A construção do caso clínico
como forma de pesquisa em
psicanálise
Alexandre Costa Val e Mônica Assunção Costa
Lima
O diagnóstico fonoaudiológico na
paralisia cerebral: o sujeito entre a
fala e a escuta
Giuliana Bonucci Castellano e Regina Maria
Ayres de Camargo Freire
Conceitos fundamentais dos métodos
projetivos
Elza Rocha Pinto
Resenha
“Agiste conforme o teu desejo?”
Antígona e a ética trágica da psicanálise, de
Ingrid Vorsatz
Betty B. Fuks
Resenha
As categorias do sujeito na
contemporaneidade
O sujeito na contemporaneidade, de Joel
Birman
Isabel Fortes
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Projeto gráfico e diagramação
Areté Programação Visual
Anita Slade
Sonia Goulart
Padronização de textos
Sonia Cardoso
Tânia Lopes
Pré-impressão e impressão
Sermograf
Tiragem
1.000 exemplares
Impressão da capa em cartão supremo
250g/m2 e do miolo
no papel pólen soft 80g/m2
Tipografia utilizada
Joana MT, Boton regular,
Univers e Univers condensed
Impresso em setembro de 2014
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31/08/2014 20:44:40
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Estudos em Teoria Psicanalítica
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31/08/2014 19:28:08
Editorial
Etat limite, adolescence, cannabis et cocaïne
Didier Lauru
Drogas, performance e psiquiatrização
na contemporaneidade
Joel Birman
Para uma clínica do uso de álcool e drogas
com adolescentes das comunidades
do Rio de Janeiro
Francisco Leonel F. Fernandes
O abuso de substâncias tóxicas na adolescência:
uma tentativa de incorporação do objeto?
Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
Dépendance aux images et élaboration
de la violence
Florian Houssier
Agressions sexuelles
et dépendance à l’adolescence
Jean-Yves Chagnon
Dépendance à l’adolescence : le vide par l’excès
Teresa Rebelo
Separation, dependance et depression
a l’adolescence
François Marty
Embaraço, humilhação e transparência psíquica:
O tímido e sua dependência do olhar
Julio Verztman
Proliferação das #hashtags: lógica da ciência,
discurso e movimentos sociais contemporâneos
Fernanda Costa-Moura
Estudos em T­eoria Psicanalítica
VOLUME XVII
NÚMERO ESPECIAL
AGOSTO DE 2014
ISSN 1516-1498
Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica UFRJ
Dependência e adolescência: a recusa
da diferença
Marta Rezende Cardoso
Estudos em Teoria Psicanalítica
Artigos
v. XVII
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Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica
Instituto de Psicologia UFRJ
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