O MOVIMENTO ASSOCIATIVO DE BIBLIOTECÁRIOS NA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA O presente trabalho apresenta o contexto histórico em que surgiram os movimentos associativos de bibliotecários no Brasil de 1915 a 2013 com o objetivo de mostrar de que forma impulsionaram a comunicação científica, dando visibilidade àqueles que contribuíram para o desenvolvimento da profissão. Busca-se ainda uma reflexão sobre a desaceleração do movimento associativo após a Constituição Federal de 1988 e o advento da Internet, visto que a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB) em 1988 congregava 26 associações e 10 comissões permanentes, e atualmente apenas 15 associações e 1 comissão permanente. O que provocou este esvaziamento? Como os congressos brasileiros podem contribuir com o resgate do movimento associativo? Os bibliotecários estão contribuindo com o fortalecimento das associações, grupos e comissões profissionais? Foi feito um levantamento histórico dos primeiros cursos de Biblioteconomia, associações de bibliotecários, comissões permanentes, grupos especializados, e por fim sindicatos através de pesquisas nos sites da FEBAB, das Associações, dos Conselhos e dos Grupos, e nos Anais dos Congressos de Biblioteconomia e Seminários Nacionais de Bibliotecas Universitárias. Alguns dos cursos técnicos de Biblioteconomia existentes antes da regulamentação da profissão (1964) 1915 Primeiro curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional 1929 Curso de Biblioteconomia no Colégio Mackenzie SP 1936 Curso de Biblioteconomia promovido pela Prefeitura de São Paulo 1940 Curso de Biblioteconomia na Escola Livre de Sociologia e Política de SP Década 40 1951 Tabela 1 de Curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, curso da Prefeitura de Recife, curso na Universidade Federal da Bahia e Curso na PUC Campinas, Escola de Biblioteconomia da Faculdade de Filosofia Sedes Sapientiae SP, Escola de Biblioteconomia Nossa Senhora de Sion SP Curso de Biblioteconomia do Caetano de Campos SP DATA DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS CRIAÇÃO 1938 Concretização da primeira associação profissional, a Associação Paulista de Bibliotecas e sua posterior filiação à Federação Internacional de Documentação (FID) e à Association of Special Librarie and Information Bureaux (ASLIB). 1952 A Associação Rio-Grandense de Bibliotecários (ARB) foi fundada em 16 de maio. 1959 A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários – FEBAB foi criada, empenhou-se na normalização dos cursos, e o conseguiu através da Resolução de 16/11/1962, do Conselho Federal de Educação, o qual fixou o currículo mínimo e determinou a duração dos cursos de Biblioteconomia no Brasil. 1960 A Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais (ABMG) foi fundada em 17 de junho. 1962 A Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal (ABDF) foi criada. 1963 A ABC-CE – Associação de bibliotecários do Ceará foi fundada em 13 de junho. 1967 A ABEBD - Associação Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentação foi fundada com o objetivo de congregar o corpo docente dos Cursos de Biblioteconomia, criando uma comunidade empenhada em buscar solução de seus problemas, em atualizar os currículos plenos adotados nas várias escolas e em promover permanentemente o aperfeiçoamento dos professores desta área. 1975 A ACB (Associação Catarinense de Bibliotecários) foi fundada. 1978 A APBMS (Associação Profissional de Bibliotecários de Mato Grosso do Sul) foi fundada em 9 de dezembro. 1980 A Associação de Bibliotecários do Estado do Piauí (ABEPI) foi fundada. 1982 A Associação Profissional dos Bibliotecários de Sergipe foi fundada. 1989 A Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (Ancib) foi fundada em junho. 1990 A Associação dos Bibliotecários de Goiás (ABG) foi fundada em fevereiro Tabela 2 Congressos Brasileiros de Biblioteconomia e Documentação DATA LOCAL ACONTECEU 1954 Recife 1º Congresso organizado por grupos profissionais 1959 Salvador Proposta de criação da FEBAB 1961 Curitiba Posse da 1ª diretora da FEBAB (Laura Russo) 1963 Fortaleza “A educação através da biblioteca” 1967 São Paulo Estruturação da Associação Brasileira das Biblioteconomia e Documentação (ABEBD) 1971 Belo Horizonte Criação Comissões Permanentes Especializadas - CBDJ - Escolas de Comissão Bras. Documentação Jurídica 1973 Belém “Sistema Nacional de Informações Científicas e Tecnológicas” 1975 Brasília VI Encontro Nacional de Bibliotecários Jurídicos 1977 Porto Alegre “Integração do Sistema de Informação no Desenvolvimento Nacional / Educação bibliotecária / Movimento associativo” 1979 Curitiba “Biblioteconomia Brasileira: avaliação crítica e perspectivas” 1982 João Pessoa “Biblioteca e educação permanente” 1983 Camboriú “Informação e desenvolvimento nacional / Cultura, comunicação, ciência e tecnologia / O homem, o desenvolvimento” 1985 Vitória “”Informação no séc. XXI: lacunas presentes e perspectivas / Informação em uma sociedade democrática / Influência da problemática econômica no hábito de leitura do indivíduo / A questão profissional: a Biblioteconomia e a interface com outras Profissões. 1987 Recife “Biblioteca e democratização da informação.” 1989 Rio de Janeiro “Gerenciamento da informação” 1991 Salvador “Biblioteca e desenvolvimento econômico e social” 1994 Belo Horizonte “Transferência de informações no limiar do ano 2000” 1997 São Luís “Os cenários da Biblioteconomia em face da globalização da informação.” 2000 Porto Alegre “Informação para a cidadania e o profissional da informação do novo milênio.” 2002 Fortaleza “Dimensão humana, política e econômica da informação.” 2005 Curitiba “Livro, leitura e bibliotecas: exercício da cidadania” 2007 Brasília “Igualdade e diversidade no acesso à informação: da biblioteca tradicional à biblioteca digital” 2009 Bonito “Redes de conhecimento, acesso à informação e gestão sustentável” 2011 Maceió Reunião da Comissão Bras. Tratamento da Informação / ABECIN - CBBU - UNIRIO(FEBAB -100 Anos de Biblioteconomia no Brasil - FEBAB/IBCT/UnB / Declaração de Maceió sobre competência em informação 2013 Florianópolis Manifesto de Florianópolis sobre a competência em informação e as populações vulneráveis e minorias / Seminário de Informação e Documentação Jurídica Tabela 3 O Decreto 8.835 de 11 de julho de 1911 estabelece a criação do primeiro curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional graças ao esforço de seu diretor na época, Manuel Cícero Peregrino da Silva e assim começam a instalar cursos em São Paulo e em outros estados como mostra a tabela 1. A duração desses cursos até a década de 60 trouxe grandes oposições entre os bibliotecários de São Paulo com a influência norte-americana, tecnicista, e os bibliotecários do Rio de Janeiro com a influência européia, humanista, e por isso, houve a necessidade de padronização dos currículos para melhor entendimento entre os profissionais e a FEBAB, criada em 1959, que ajudou nesse processo, mostrando preocupação com a área, e assim, foi aprovado o currículo mínimo pelo Conselho Federal de Educação em 1962. A partir desse episódio, podemos perceber que a federação mostrou-se engajada em seu ofício desde o começo de sua atuação e assim surgiram as associações locais de bibliotecários agregando-se à federação, como mostra a tabela 2. O surgimento das diversas associações permitiu que houvesse uma integração entre os profissionais da área e a comunicação ajudasse no próprio desenvolvimento da profissão, sendo, o CBBD, o principal local de troca de informação entre eles em que podiam apresentar trabalhos feitos durante o ano e mostrar os resultados obtidos. Na tabela 3, observamos como os congressos foram importantes para o processo de comunicação científica entre os bibliotecários, onde discutiram temas importantes para o progresso da área. Depois dessa análise, concluímos que os encontros de profissionais de qualquer área do conhecimento possuem grande influência no avanço das profissões e que a provável razão para diminuição das associações tenha sido a rápida circulação das informações através das novas tecnologias de comunicação como as redes e a Internet, proporcionando o contato virtual entre pessoas de diferentes lugares sem a necessidade do contato pessoal. Mas o que podemos fazer para estimular esse contato pessoal? Motivar os profissionais a comparecerem aos congressos, encontros, simpósios da área. Acreditamos que esses eventos são primordiais para a discussão acadêmica e profissional e com isso, para a evolução da profissão. Assim como as associações, comissões, grupos e redes de bibliotecários especializados motivam os profissionais à participação, a capacitação e ao trabalho corporativo e colaborativo para maior desenvolvimento da comunicação científica na área. Torna-se hoje cada vez mais premente o exercício da cidadania, a defesa da profissão através de um movimento associativo fortalecido, com prática do advocacy onde as associações promovem a defesa da profissão junto às criações de leis e decretos em consonância com os sindicatos e conselhos. O papel dos CBBD(s) é fundamental para a integração entre profissionais, sindicatos e associações e contínuo desenvolvimento da Biblioteconomia como mostra Campello (2000) ao dizer que a possibilidade da comunicação pessoal entre pares é de extrema importância para o cientista, sendo frustante não poder participar de eventos da área profissional. Palavras-chave: Bibliotecário. Movimento associativo. Comunicação científica. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Neilia Barros Ferreira de. Biblioteconomia no Brasil: análise dos fatos históricos da criação e do desenvolvimento do ensino. Brasília, DF: UnB, 2012. Disponível em:<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/11170/1/2012_NeiliaBarrosFerreiradeAlmeida.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2015. ALMEIDA, Orlando de; MARTINS, Sonia Maria Grandão. História e trajetória do GIDJ/RJ. Rio de Janeiro: GIDJ/RJ: Juruá, 2000. FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS. Eventos: eventos antigos. Disponível em: <http://febab.org.br/?page_id=557>. 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