Sobre a morte e o morrer Carlos Lima Rodrigues O que você faria se só te restasse um dia? O Último Dia Paulinho Moska Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria? Ia manter sua agenda, de almoço, hora, apatia Ou esperar os seus amigos, na sua sala vazia Meu amor, o que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria? Corria pra um shopping center, ou para uma academia Pra se esquecer que não dá tempo, pro tempo que já se perdia Meu amor, o que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria? Andava pelado na chuva, corria no meio da rua Entrava de roupa no mar, trepava sem camisinha Meu amor, o que você faria? O que você faria? Abria a porta do hospício, trancava a da delegacia Dinamitava o meu carro, parava o tráfego e ria Meu amor, o que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar Me diz o que você faria... A primeira experiência radical do ser humano é o nascer. A outra é o morrer. Lígia Py Perdas e o Processo de Luto • Objetos perdidos (parentes, amigos, trabalho) • Fragilidade no investimento em outros objetos • Luto saudável Perdas e o Processo de Luto • Objetos perdidos (parentes, amigos, trabalho) • Fragilidade no investimento em outros objetos • Luto saudável Luto Patológico(doente) Perdas e o Processo de Luto • Luto pela perda da Juventude • Luto pelas perdas corporais • Luto do indivíduo pela sua própria morte – a despedida da vida • Luto do profissional – a perda do vínculo • Quando a finitude do outro me faz pensar na minha finitude Relação emocional com o cuidador • Mudança de papel (do cuidar ao ser cuidado) • Perda de poder (mudança na relação) • O emocional de quem depende • O emocional de quem cuida O papel do profissional no processo de morte O tempo de morrer tem um valor. Acompanhar esse tempo exige de todos uma aceitação diante do inelutável, do inevitável, que é a morte. Isso implica o reconhecimento de nossos limites humanos. Seja qual for o amor que sintamos por alguém, não podemos impedi-lo de morrer, se tal é o seu destino. Também não podemos evitar um certo sofrimento objetivo e espiritual que faz parte do processo de morrer de cada um. O papel do profissional no processo de morte O tempo de morrer tem um valor. Acompanhar esse tempo exige de todos uma aceitação diante do inelutável, do inevitável, que é a morte. Isso implica o reconhecimento de nossos limites humanos. Seja qual for o amor que sintamos por alguém, não podemos impedi-lo de morrer, se tal é o seu destino. Também não podemos evitar um certo sofrimento objetivo e espiritual que faz parte do processo de morrer de cada um. Podemos somente impedir que essa parte de sofrimento seja vivida na solidão e no abandono, podemos envolvê-la de humanidade A ideia da morte e o medo que ela inspira perseguem o animal humano como nenhuma outra coisa. As diferentes culturas constituem sistemas simbólicos complexos que têm por função negar a realidade da morte, permitindo assim que as pessoas vivam com a ilusão de estarem imunes ao inevitável, sem o fardo de sua constante e penosa consciência. A convivência com a morte faz parte do cotidiano de trabalho de cuidadores de saúde, causando-lhes sobrecarga emocional, ansiedade e depressão. O preparo profissional nesta área, frequentemente se resume aos aspectos de desenvolvimento de habilidades técnicas e fundamentos teóricos da fisiopatologia. Prepara-se o profissional para preservar a vida e recuperar a saúde. Morte = fragilidade e vulnerabilidade Velhice = Finitude “Eu me sinto preparada, apesar da gente sentir que não deveria morrer, não deveria envelhecer” A busca da competência profissional é, na verdade, uma condução ética, a partir da humildade que funda a ousadia de um fazer compartilhado, solidário e transformador, na relação profissionais-pacientesfamiliares. Não trabalhamos sozinhos. Estamos, sempre, engajados em equipes profissionais que devemos tornar grupos. A busca da competência profissional é, na verdade, uma condução ética, a partir da humildade que funda a ousadia de um fazer compartilhado, solidário e transformador, na relação profissionais-pacientesfamiliares. Não trabalhamos sozinhos. Estamos, sempre, engajados em equipes profissionais que devemos tornar grupos. “Trabalho solidário, não solitário!” O trabalho desenvolvido pelo grupo implica num sistema dinâmico, no qual cada membro, com o seu papel individual, depende dos demais. Como você gostaria que fosse a sua morte? Humanizar o cuidado Nos dias de hoje a morte virou um tabu. O moribundo agora é poupado quanto à gravidade do seu estado, das decisões a serem tomadas e a saber que seu fim se aproxima. A regra é que o doente morra na ignorância da sua morte. A Morte de Ivan Ilitch “A partir da fala do médico, Ivan Ilitch concluiu que as coisas não estavam bem, mas que para o médico e provavelmente para todas as outras pessoas isso não faria a menor diferença, enquanto que para ele era simplesmente terrível.” “As pessoas em volta dele não entendiam, recusavam-se a entender e acreditavam que tudo no mundo continuava igual. Essa ideia atormentava-o mais do que qualquer outra coisa.” A Morte de Ivan Ilitch “E a farsa desgostava-o profundamente: atormentava-o o fato de que se recusassem a admitir o que eles e ele próprio bem sabiam, mas insistiam em ignorar e forçavam-no a participar da mentira.” A Morte de Ivan Ilitch Delicadamente, o médico tomou a mão de D. Maria entre as suas e, olhando-a com profunda ternura disse: “É verdade, minha amiga. Você está caminhando para o fim de seus dias. Agora, a medicina não tem muito a lhe oferecer para a cura de suas doenças, mas eu lhe prometo estar ao seu lado até o fim, aliviando suas dores, conversando com você e dando todo o apoio aos seus filhos.” Transcender a morte foi, no último século, um desejo concreto. Graças a esse desejo a medicina evoluiu vertiginosamente para então perceber que transcender a morte não é eliminá-la, mas dar a ela sua dignidade merecida. Morte difícil é aquela que não é aceita, em que se observa revolta e conflito com os familiares e, principalmente, quando há o sentimento de estar abandonado ou solitário. “Houve um tempo em que nosso poder perante a morte era muito pequeno. E, por isso, os homens e as mulheres dedicavam-se a ouvir a sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, nosso poder aumentou. A morte foi definida como inimiga a ser derrotada. Fomos possuídos pela fantasia onipotente de nos livrarmos de seu toque. Com isso, nos tornamos surdos às lições que ela pode nos ensinar.” Rubem Alves Bibliografia: Alves, R. “A morte como conselheira”. In: Cassorla, R.M.S. (Coord.). Da Morte: estudos brasileiros. Campinas: Papirus, 1991 Inácio, R. Resenha do livro: “A negação da morte”. Becker, E. Rio de Janeiro: Record, 2007. Santos, C.A.S.; Soares, L.; Gracioto, M.C.; Scipiecz, S.; Batista, V.; Velez. G.A. “A morte de idosos asilados – percepção dos cuidadores de enfermagem”. Revista Ciência, Cuidado e Saúde. Maringá, v.3, n3, p. 277-286, 2004. Py, L. “Cuidar do cuidador: transbordamento e carência”. Revista Brasileira de Cancerologia, 2004. Py, L. “O idoso e a finitude”. Tolstoi, L. “A Morte de Ivan Ilitch”. Porto Alegre: L&PM, 2010. Obrigado! Carlos Lima Rodrigues [email protected]