UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: ESTUDO DE CASO DO DISTRITO DE CONCEIÇÃO DE IBITIPOCA-MG Raquel Cristina Fortes JUIZ DE FORA NOVEMBRO/2011 RAQUEL CRISTINA FORTES TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: ESTUDO DE CASO DO DISTRITO DE CONCEIÇÃO DE IBITIPOCA-MG Monografia, apresentada à Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF como requisito para a obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof.(a) Suzana Quinet de Andrade Bastos JUIZ DE FORA NOVEMBRO/2011 RAQUEL CRISTINA FORTES TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: ESTUDO DE CASO DO DISTRITO DE CONCEIÇÃO DE IBITIPOCA-MG Monografia, apresentada à Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF como requisito para a obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof.(a) Suzana Quinet de Andrade Bastos Juiz de Fora, 23 de novembro de 2011. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Prof. Dr. Paulo César Coimbra Lisboa Universidade Federal de Juiz de Fora ____________________________________________________ Prof.(a) Dr.(a) Suzana Quinet de Andrade Bastos Universidade Federal de Juiz de Fora JUIZ DE FORA NOVEMBRO/2011 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiro a Deus, por sempre iluminar meu caminho e por ter me dado a chance de conhecer alguns anjos, que ao longo de minha história contribuíram para realização de mais este sonho. Em segundo lugar, agradeço a minha família, principalmente meus pais, Vicente e Elizete, e meus irmãos, Gabriel e Camila, que sempre me apoiaram e estiveram presentes em todos os momentos de minha vida. Agradeço a minha orientadora, Suzana Bastos, que foi peça fundamental para execução deste trabalho, acreditou e me fez acreditar que este projeto poderia ser possível. Ao Igor Procópio e à Lilian Souza, que pacientemente me ajudaram a vencer alguns obstáculos deste percurso. Aos meus amigos da vida e aos novos amigos que conquistei durante o curso, que sempre me deram força para seguir em frente, com os quais dividi momentos divertidos e também sofridos, em especial Vanessa, Stephaine, Karlan, Lucas, Marcílio, Rodrigo, Cristiano, Luis Henrique, Gisele e Geraldo. Finalmente, agradeço a todos, que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão deste curso e desta monografia. RESUMO As transformações históricas, econômicas e sociais do distrito de Conceição de Ibitipoca (MG) culminaram na atual atividade econômica, que é o turismo. Diante da perspectiva de que o turismo pode contribuir para o desenvolvimento de uma região, a partir de seu efeito multiplicador, o presente trabalho busca analisar os impactos do turismo em Conceição de Ibitipoca. Para a consecução deste objetivo foram utilizados indicadores demográficos e socioeconômicos, referentes aos censos de 1991 e 2000, disponibilizados pelo IBGE, assim como dados da pesquisa de campo sobre os meios de hospedagem, realizada em 2011 em Ibitipoca. A partir destes, foi possível constatar que o turismo contribuiu para o desenvolvimento de Conceição de Ibitipoca, pois os principais indicadores apresentaram melhoras, tais como: aumento nos anos de estudo dos responsáveis pelos domicílios particulares, maior acesso aos serviços de saneamento básico (abastecimento de água, coleta de lixo e esgotamento sanitário), aumento de renda, entre outros. Esta constatação não tem a intenção de amenizar os problemas decorrentes do turismo, pois há muito que melhorar na região, principalmente no que se refere à infraestrutura urbana. Palavras - chave: Turismo; Desenvolvimento; Parque Estadual do Ibitipoca. ABSTRACT The changing historical, economic and social district of Conceição de Ibitipoca (MG) led to the current economic activity, which is tourism. Faced with the prospect that tourism can contribute to the development of a region, from its multiplier effect, this paper seeks to analyze the impacts of tourism Conceição de Ibitipoca. To achieve this goal we used demographic and socioeconomic indicators, relating to the censuses of 1991 and 2000, provided by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), as well as data from field research on the lodging facilities, held in 2011 in Ibitipoca. From these, it was established that tourism contributed to the development of Conceição de Ibitipoca as the leading indicators showed improvement, such as increase in years of schooling of those responsible for private households, greater access to basic sanitation services (supply water, garbage collection and sewage), increase income, among others. This observation is not intended to ameliorate the problems of tourism, because there is room for improvement in the region, especially in regard to urban infrastructure. Keywords: Tourism, Development, Ibitipoca State Park. LISTA DE TABELAS 1- Distribuição populacional de acordo com o sexo - Conceição de Ibitipoca (1991-2000)..................................................................................................................... 2- Distribuição populacional entre zonas rural e urbana - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) .................................................................................................................... 3- 27 Abastecimento de água dos domicílios particulares - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) .................................................................................................................... 6- 26 Anos de estudo dos responsáveis pelos domicílios particulares de Conceição de Ibitipoca (1991-2000) ..................................................................................................... 5- 26 Distribuição populacional de acordo com a faixa etária - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) .................................................................................................................... 4- 25 28 Tipo de esgotamento sanitário dos domicílios particulares - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) .................................................................................................................... 29 7- Destino do lixo dos domicílios particulares - Conceição de Ibitipoca (1991-2000)....... 30 8- Rendimento nominal mensal (salário mínimo) da pessoa responsável pelo domicílio - 9- Conceição de Ibitipoca (1991-2000) .......................................................................... 32 Evolução dos meios de hospedagem - Conceição de Ibitipoca .................................... 33 10- Tipo de Meios de Hospedagem ...................................................................................... 33 11- Quantidade de Unidade Habitacional (UH)..................................................................... 34 12- Naturalidade dos proprietários dos meios de hospedagem ............................................. 34 13- Residência dos proprietários dos meios de hospedagem ................................................ 35 14- Profissão anterior dos proprietários dos meios de hospedagem ..................................... 35 15- Nível de escolaridade dos proprietários dos meios de hospedagem ............................... 35 16- Tipo de melhorias realizadas nos estabelecimentos ....................................................... 36 17- Acesso dos proprietários a outra fonte de renda ............................................................. 37 18- Quantidade de funcionários empregados nos meios de hospedagem ............................. 38 19- Vínculo ocupacional com os meios de hospedagem ...................................................... 38 20- Local de origem dos trabalhadores dos meios de hospedagem ...................................... 39 21- Faixa etária dos trabalhadores dos meios de hospedagem .............................................. 39 22- Nível de escolaridade dos funcionários dos meios de hospedagem ............................... 40 23- Ocupação anterior dos trabalhadores dos meios de hospedagem ................................... 41 24- Ocupação atual dos trabalhadores dos meios de hospedagem ........................................ 41 25- Renda média declarada pelos funcionários dos meios de hospedagem .......................... 42 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 8 2 TURISMO E DESENVOLVIMENTO……………………………...11 3 DISTRITO DE CONCEIÇÃO DE IBITIPOCA ............................. 15 3.1 IMPACTOS DO TURISMO ................................................................ 20 4 METODOLOGIA E BANCO DE DADOS ...................................... 24 4.1 ANÁLISE DOS DADOS SOCIOECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS ... 25 4.2 PERFIL DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM .............................................. 32 4.2.1 PERFIL DO EMPREGO NOS MEIOS DE HOSPEDAGEM ............. 37 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 43 6 REFERÊNCIAS ................................................................................ 47 7 ANEXOS ............................................................................................ 51 8 APÊNDICE ........................................................................................ 54 8 1 INTRODUÇÃO O turismo é uma atividade econômica de grande relevância no mundo, pois possui uma dinâmica capaz de causar impactos diretos e indiretos em vários outros setores da economia. Entre as principais contribuições que o turismo pode trazer para o desenvolvimento econômico e social de regiões, destacam-se a capacidade de gerar empregos diretos e indiretos, captar renda para as regiões receptoras e ainda contribui para a melhor distribuição de renda entre regiões. (FERNANDES, COELHO, 2002). A Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001) define turismo como um conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares distintos do seu entorno habitual, por um período inferior a um ano, com fins de lazer, negócios e outros motivos não relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado (CUENTA1 apud INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), 2008). Em termos econômicos é definido como o resultado econômico gerado pelo consumo dos turistas, ou seja, pela demanda dos mesmos por atividades e produtos turísticos. Estas atividades e produtos turísticos são descritos no Sistema de Contas Nacionais, de acordo com a classificação das Atividades Características do Turismo (ACT), entre elas, serviços de alojamento, de alimentação, de transportes em geral, atividades de agências e organizadores de viagem, entre outras. (IBGE, 2008). Segundo Casimiro Filho (2002), o período de 1980 a 1999, o total de turistas no mundo cresceu de 285,3 milhões para 656,9 milhões, ou seja, um crescimento de aproximadamente 130%. Já a receita gerada pelo turismo em 19 anos cresceu aproximadamente 332%, passando de US$105,3 bilhões em 1980, para US$455,5 bilhões em 1999 (Gráfico 1). No entanto, vale ressaltar que este crescimento do turismo no mundo se dá de forma desigual entre os países, depende além das atrações turísticas oferecidas, de infraestrutura turística, das condições de segurança, de investimentos no setor, entre outros. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2011) entre os anos de 1950 e 2005, a chegada de turistas internacionais no mundo cresceu a uma taxa anual de 6,5% e a receita gerada por esse aumento de turistas internacionais alcançou 11,2% no mesmo período, 1 CUENTA satélite de turismo: recomendaciones sobre el marco conceptual. Nueva York: Naciones Unidas; Madrid: Organización Mundial del Turismo, 2001. 149 p. 9 superior ao crescimento registrado pela economia global. Em todo o mundo, as chegadas turísticas internacionais ultrapassaram 124 milhões nos dois primeiros meses de 2011, frente aos 119 milhões no mesmo período de 2010, neste aspecto, economias emergentes continuam a crescer em um ritmo mais rápido (+6%) do que os países mais avançados (+4%). Gráfico 1 – Evolução do turismo mundial, 1980/1999 (índice base 1980=100). Fonte: CASIMIRO FILHO (2002) Já no Brasil, o turismo foi o quinto principal produto na geração de divisas em moeda estrangeira no ano de 2007. No ano anterior, as 80 principais empresas do setor registraram um faturamento de R$ 29,6 bilhões, com crescimento de 29% em relação a 2005. Com isso, o turismo aciona uma gigantesca engrenagem de oportunidades de trabalho e renda em diferentes pontos do território, além de contribuir para tornar o Brasil mais conhecido ao olhar estrangeiro, e ao nosso próprio. Em 2006, houve um ingresso recorde de visitantes que gastaram US$ 4,3 bilhões no país. Um salto de quase 12% sobre a receita de 2005 e 116% acima do valor apurado em 2002. (BRASIL, 2007). A importância econômica, social e cultural que o turismo exerce, ainda é pequena perto do grande potencial desta atividade. Isto porque, apesar de uma modesta, mas crescente mobilização de políticas voltadas para o incentivo do turismo, ainda faltam investimentos públicos e privados em infra-estrutura, em transporte, em capital humano, em marketing e em serviços. E ainda são discretos também estudos econômicos referentes ao turismo, que possibilitem uma melhor alocação dos recursos públicos e privados, principalmente nas pequenas localidades com potencial turístico. 10 A partir da perspectiva de que do turismo possa gerar desenvolvimento local, através de seu efeito multiplicador, é que pequenas localidades o vêem como uma alternativa econômica e social para saírem de uma possível estagnação. Esse é o caso do Distrito de Conceição do Ibitipoca, Lima Duarte (MG), que após passar pelo ciclo do ouro, seguido por uma atividade agropecuária de subsistência, se viu incluída nos roteiros turísticos de Minas Gerais. Esta atividade se tornou oficial com a criação do Parque Estadual do Ibitipoca, em julho de 1973, que desde então recebe milhares de turistas por ano. Considerando a grande importância turística do Distrito de Conceição do Ibitipoca, este estudo busca analisar, os impactos do turismo na região. Mais especificamente, o objetivo do trabalho é analisar as possíveis transformações econômicas e sociais que o turismo pode ter causado no Vilarejo de Conceição do Ibitipoca. Para a consecução deste objetivo foram analisados dados demográficos e socioeconômicos do IBGE, tais como: distribuição populacional entre zonas rural e urbana, anos de estudo dos responsáveis pelos domicílios particulares, abastecimento de água, tipo de esgotamento sanitário, entre outros, referente aos censos de 1991 e 2000. Complementarmente foram analisados dados dos meios de hospedagem referentes à pesquisa de campo realizada em 2011. O presente trabalho será dividido da seguinte forma: além desta introdução, que é o primeiro capítulo, e das considerações finais, o último capítulo, serão apresentados mais três. O segundo capítulo contextualiza o turismo na sua relação com o desenvolvimento local. Para a compreensão de como o turismo se tornou a principal atividade econômica do distrito de Conceição de Ibitipoca, o terceiro capítulo apresenta um breve relato histórico do arraial. Por fim, no quarto capítulo, analisam-se os indicadores socioeconômicos e demográficos, bem como os dados resultantes da entrevista de campo. 11 2 TURISMO E DESENVOLVIMENTO O turismo, motivado pelo lazer, tal qual como conhecemos iniciou-se na Grécia Antiga. No entanto, no que se refere às relações de produção, este turismo não pode ser comparado ao turismo moderno, visto que os serviços eram prestados pelo braço escravo. O turismo moderno teve seu início no século XIX, após a Revolução Industrial, onde começaram as primeiras viagens por intermédio de um agente de viagens e, sempre esteve ligado ao modo de produção capitalista e ao desenvolvimento tecnológico (BARRETO, 1999). A melhoria dos transportes, com a construção de ferrovias e a utilização de navios, foi fundamental para o desenvolvimento desta atividade no século XIX. Outros fatores também contribuíram para este desenvolvimento, bem como para que o turismo gradativamente se transformasse em fenômeno mundial de massas, como o aumento da segurança, a salubridade, a alfabetização crescente e a reivindicação dos trabalhadores por mais tempo de lazer (BARRETO, 1999; OLIVEIRA, 2002). No século XIX, o turismo tomou novos rumos, a contemplação da natureza, a apreciação das paisagens naturais e a necessidade de descanso passaram a motivar também as viagens de turismo, caracterizando-o como ‗turismo romântico‘. A utilização do automóvel como meio de transporte popular, após a Primeira Guerra Mundial, permitiu que as famílias viajassem para longas distâncias de forma segura e econômica (OLIVEIRA, 2002). No pós Segunda Guerra, o avião como meio de transporte de civis, permitiu viagens mais longas e em menos tempo que os navios, que antes eram o principal meio de locomoção para estes tipos de viagens. A partir daí, o turismo foi rapidamente se desenvolvendo e, em 1970, já havia um número significativo de agências de viagens, de companhias aéreas e de cadeias hoteleiras (OLIVEIRA, 2002). O turismo, como atividade de massa, apesar de ser fenômeno recente no Brasil, desempenha importante papel no mundo. Porém, ainda não recebeu o devido destaque que merece no que tange a capacidade de gerar desenvolvimento. Desenvolvimento este, que não deve ser entendido apenas como desenvolvimento econômico, pois este pode ocorrer sem que haja necessariamente melhorias do quadro de concentração de renda ou dos indicadores sociais. Por isto, para Souza (2002, p.18) o desenvolvimento ―deve designar um processo de superação de problemas sociais, em cujo âmbito uma sociedade se torna, para seus membros, mais justa e legítima‖. 12 Segundo Tomazzoni (2009), o conceito de desenvolvimento econômico é determinado por vários aspectos e situações da vida humana, mas o critério mais utilizado é a renda. Entretanto, o aumento da renda per capita, a melhoria na distribuição de renda, redução da pobreza, e diminuição das disparidades regionais de renda per capita em relação à média nacional devem ser agregados ao conceito. Uma definição mais específica do termo desenvolvimento é o desenvolvimento endógeno, que surgiu no início da década de 1980, com enfoque territorial. Desenvolvimento endógeno visa atender às necessidades e demandas da população local, buscando o bem-estar econômico, social e cultural da comunidade local, através da participação ativa da mesma (BENI, 2006). O autor identifica três dimensões no processo de desenvolvimento endógeno: econômica, caracterizada por um sistema especifico de produção, que permite o uso eficiente dos fatores produtivos e melhoria dos níveis de produtividade; sociocultural, em que há a integração dos atores econômicos e sociais às instituições locais, incorporando os valores da sociedade ao processo de desenvolvimento; e política, que através de iniciativas locais, que possibilitam a criação de um entorno que incentiva a produção, favorecendo o desenvolvimento sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável aplicado ao turismo é recente, e busca integrar o uso turístico, a preservação do meio ambiente e a melhoria das condições de vida das comunidades locais, visando atender à demanda da população presente sem comprometer às necessidades das gerações futuras (SILVEIRA, 2002). Para Swarbrooke (2002), apesar de o termo ‗turismo sustentável‘ ainda ser um conceito amplo e mal definido, deve se considerar três dimensões que o caracteriza: o meio ambiente, tanto natural quanto construído; a vida econômica de comunidades e empresas e os aspectos sociais do turismo. Segundo Beni (2006), observa-se um relevante crescimento do turismo interno, que visa principalmente o reencontro com a natureza, com característica familiar e intimista, nas relações com o turismo e o meio ambiente. Corroborando assim, para o aumento da preocupação com a sustentabilidade. A partir da premissa do desenvolvimento endógeno e da sustentabilidade foi incorporada ao discurso turístico a redescoberta e a valorização da esfera local, tornando-se o turismo um vetor de desenvolvimento local, sendo capaz de elevar as condições de vida das comunidades envolvidas (HOLANDA; VIEIRA, 2003). É através desta perspectiva, que o turismo tem sido encarado como uma oportunidade econômica para muitas comunidades, gerando reestruturação econômica, principalmente 13 devido ao declínio de atividades baseadas nos recursos tradicionais, como a pesca, a mineração e a agricultura, que deixaram de ser viáveis economicamente nestas localidades (GILL, 2007). No entanto, para Holanda, Vieira (2003) o enfoque local, não se contrapõe ao nacional ou global, pois não dispensa o papel das políticas nacionais, que devem ser desenvolvidas conjuntamente. Assim, as mudanças em curso, possibilitaram pensar o desenvolvimento de uma forma mais ampla. (...) englobando as dimensões ambiental, social, econômica, política, institucional, ética, humanística e cultural. O espaço local foi valorizado como lócus em que todas essas dimensões da sustentabilidade podem ser mais facilmente integráveis na construção social de um projeto de desenvolvimento sustentável. (HOLANDA; VIEIRA, 2003, p. 277) Outro enfoque de desenvolvimento em que o turismo se baseia é caracterizado principalmente pela efetiva participação do cidadão como ator e sujeito do processo de transformação da sua realidade. Perspectiva esta expressa na teoria dos sítios e na idéia de desenvolvimento situado, desenvolvidas por Hassan Zaoual apud BURSZTYN, BARTHOLO, DELAMARO (2009), que vê o homo situs como o homem concreto em seu espaço vivido, seu sítio simbólico de pertencimento, uma comunidade de sentido que congrega crenças, mitos, valores, experiências, conhecimentos empíricos e/ou teóricos, e o saber-fazer — técnicas de ação em seu próprio contexto. E como cada sítio seja país, região, comunidade, traça o seu próprio e singular caminho, as suas diferentes dinâmicas e situações devem ser levadas em consideração, não tendo por isso, um modelo exato a ser seguido. Permitindo assim, que se afirmem ―as capacidades endógenas de juízo crítico como suporte de desenvolvimento situado e criativo, pois o homo situs tem no seu enraizamento numa localidade determinada uma condição de possibilidade para o exercício de sua liberdade e criatividade.‖ (BURSZTYN; BARTHOLO; DELAMARO, 2009, p.80) Convergindo com este conceito, surge o turismo de base comunitária, uma modalidade de turismo sustentável, focada principalmente no bem-estar e na geração de benefícios para comunidade receptora. ―Esse turismo respeita as heranças culturais e tradições locais, podendo servir de veículo para revigorá-las e mesmo resgatá-las.‖ (BURSZTYN; BARTHOLO; DELAMARO, 2009, p.86) Segundo Maldonado (2009), turismo comunitário é toda forma de organização empresarial sustentada na propriedade e na autogestão sustentável 14 dos recursos patrimoniais comunitários, baseada nas práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. Estas novas adjetivações de desenvolvimento, (tais como ―sustentável‖, ―local‖), são motivadas principalmente em decorrência do surgimento de novos paradigmas. Tanto que, desenvolvimento já foi sinônimo de crescimento econômico no pós Segunda Guerra, posteriormente houve uma diferenciação entre eles pelos economistas estruturalistas, onde crescimento era visto como mudanças quantitativas em uma dada estrutura, e desenvolvimento passa a ser conceituado como transformações qualitativas de uma estrutura econômica e social. Apesar da diferenciação, não há rompimento entre eles, pois para muitos, crescimento econômico é uma condição indispensável para o desenvolvimento (CRUZ, 2009). No entanto Colman; Nixon (1978) não compartilham desta idéia, já que para os autores, é possível que um país cresça e ao mesmo tempo aumente sua desigualdade na renda, assim como é possível que haja desenvolvimento com crescimento negativo. Este último caso ocorreria quando houvesse, por exemplo, reestruturações importantes nas atitudes, nas instituições políticas e relações de produção, embora isso possa no curto prazo causar uma redução no PNB. Neste contexto, podemos compartilhar da conclusão de que ―a variedade das definições e a complexidade do conceito de desenvolvimento econômico podem dificultar as atividades de mensuração do mesmo.‖ (OLIVEIRA JUNIOR; AMÂNCIO; ALVIM, 2006, p. 5) Apesar das divergências, alguns indicadores são bastante recorrentes nas definições de o que seria desenvolvimento, são elas: renda per capita, PNB per capita, educação, saúde, acesso ao saneamento básico, moradia, meio ambiente, lazer, enfim o mínimo para se atingir o bem estar social. Segundo Oliveira (2002, p.43), ―pensar em desenvolvimento é, antes de qualquer coisa, pensar em distribuição de renda, saúde, educação, meio ambiente, liberdade, lazer, dentre outras variáveis que podem afetar a qualidade de vida da sociedade.‖ 15 3 DISTRITO DE CONCEIÇÃO DE IBITIPOCA O povoamento de Lima Duarte é um dos mais antigos de Minas Gerais, e a mais velha referência consta da ―bandeira‖ do padre João de Faria de Fialho, em 1692. Este, que foi um dos pioneiros do descobrimento de Ouro Preto, cita entre as rotas percorridas um ―monte de Ebitipoca‖ (DELGADO, 1962). Inicialmente, colonizadores vindos de São Paulo, Rio de Janeiro e até de Portugal foram atraídos para a região em busca de ouro. Já em 1715, chegavam a dezenas os principais moradores da região de Ibitipoca que pagavam onerosos tributos à Fazenda Real pela posse de extensas terras. Ibitipoca tornou-se um dos maiores centros de colonização da Capitania. (DELGADO, 1962). A região de Conceição de Ibitipoca foi durante muitos anos um dos mais importantes centros da capitania, devido à atividade próspera de extração do ouro, o que ocasionou em um aumento significativo da sua população, atingindo em 1824 o registro de 7.272 habitantes, na área que abrange o distrito (BOTELHO, 2005). Com o crescimento do povoamento, surgiu um marco da civilização cristã, um templo de Nossa Senhora da Conceição (DELGADO, 1962). Essa construção foi substituída por uma igreja de adobe no início do século XVIII, e, em meados desse século, essa igreja precária foi demolida e construíram no lugar dela o templo atual, cuja sagração data de 1768, que contribuiu para a formação histórico-cultural da vila. A construção foi subscrita por um grupo de fazendeiros ricos da região, que trouxeram entalhadores, pintores e santeiros de São João dei Rei. Impedidos de freqüentar a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, os negros construíram na parte mais baixa da Vila a Igreja Nossa Senhora do Rosário, no início do século XIX (FJP, 2000). Apesar dos povoamentos que circundavam a região, esta zona permaneceu isolada. Isolamento este, que segundo Delgado (1962), era conseqüência dos extravios do ouro. Com a intenção de aumentar ainda mais suas terras de cultura e mineração, o coronel Manoel Lopes de Oliveira, proprietário da fazenda Borba do Campo, delatava tais desvios ao Governador José Antônio Freire, que proclamou a interdição destas terras ao povoamento e à mineração em 1736, confirmado em 1755. Somente em 1781, quando o novo governador Dom Rodrigo José de Menezes, que havia assumido o governo em 1780, foi pessoalmente em Ibitipoca é que a interdição foi interrompida. O novo governador confirmou as antigas posses e fez 16 novas concessões de terras a colonos vindos de diversas partes da Comarca do Rio das Mortes e de outras partes. Através de Decreto da Regência de Dom Pedro II, a sede da paróquia foi transferida para o distrito de Ibitipoca – atual município de Santa Rita de Ibitipoca-freguesia da Borda do Campo, em 1832, na Comarca do Rio das Velhas. O decreto não vigorou, pois Conceição do Ibitipoca continuou tendo o seu vigário (DELGADO, 1962). A partir da elevação do povoamento do Rio do Peixe – hoje município de Lima Duarte à vila, tem-se constituído o município em 1881, incluindo a freguesia de Conceição do Ibitipoca. Porém, apenas em 1884 o município é instalado, com a elevação da Vila à cidade de Lima Duarte, a qual o distrito de Ibitipoca pertence até hoje (DELGADO, 1962). Ainda de acordo com Delgado (1962), o apogeu do ouro não teve duração considerável. Três ou quatro décadas depois, a população já se dedicava à pecuária, criando grandes rebanhos, e à lavoura, cultivando cana de açúcar e café. A expansão cafeeira na Zona da mata e sul de Minas Gerais marcou a segunda metade do século XIX, pois favoreceu a expansão da malha ferroviária, chegando a Lima Duarte, que assume assim a sua importância como localidade principal. No entanto, com o declínio do café, as outras agriculturas prevaleceram, assim como a pecuária (NOGUEIRA, 2004). Com o esgotamento do ouro, a vila de Conceição do Ibitipoca perdeu expressividade econômica, mas Ibitipoca já despertava interesse de cientistas, excursionistas e turistas, por possuir fauna e flora exuberantes, furnas exóticas e um clima diferenciado. Delgado (1962) cita relatos da visita do cientista botânico August de Saint-Hilaire, em 1822: Atravessamos primeiro a vila de Ibitipoca, que conhecia mal e julgava ainda mais insignificante do que realmente é. Fica, como já expliquei, situada numa colina e se compõe de pequena igreja e meia dúzia de casas que a rodeiam, cuja maioria está abandonada, além de algumas outras, igualmente miseráveis, construídas na encosta de outra colina. (DELGADO, 1962, p.122) Ao longo dos séculos, a população tradicional da serra criou modos próprios de organização social, baseadas em atividades de subsistência, cultivando peculiares formas históricas de apropriação e uso dos recursos naturais e do meio rural, que se faziam presentes até as últimas décadas do século XX. Simbologias, mitos e ritos de sacralização do território, faziam parte daquele contexto, permitindo a união da paisagem natural com a devoção popular. O ‗Paredão de Santo Antônio‘, o ‗Morro do Cruzeiro‘ e o ‗Pico do Pião‘, que hoje 17 fazem parte dos roteiros turísticos do Parque, possuíam significado de ‗altar natural‘, onde a população local se reunia em suas práticas religiosas (BEDIM, TUBALDINI, 2006). Com uma grande percepção do futuro, Delgado (1962, p.115), já se dava conta da importância da beleza do distrito de Conceição do Ibitipoca e anunciava um grande desejo: Lançamos aqui a idéia de se criar na Serra da Ibitipoca, pelo estado ou pela União, um Parque Nacional nos moldes do de Agulhas Negras, para o aproveitamento dos recursos e divulgação das belezas que a natureza ali oferece exuberantemente. Oxalá tenhamos realizado esse sonho dourado. Entre 1932 e 1933 a Igreja demandou a posse das terras devolutas da Serra de Ibitipoca, as quais estavam sob pleito do Estado. No entanto, ao vencer o processo, o Estado se apropriou das terras onde posteriormente seria implantado o Parque Estadual do Ibitipoca, ―culminando no surgimento de uma nova atividade econômica que perdura até a atualidade: o turismo‖ (BEDIM, 2008, p. 170). Em quatro de julho de 1973, foi criado o Parque Estadual do Ibitipoca. ‗Ibitipoca‘, palavra tupi-guarani, significa "Serra Fendida". O Parque, localizado na Zona da Mata, nos municípios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca, ocupa o alto da Serra do Ibitipoca, uma extensão da Serra da Mantiqueira. Com uma área de 1.488 hectares, a unidade de conservação está no local onde se dividem as bacias do Rio Grande e do Rio Paraíba do Sul. (IEF, 2010). A Vila vivenciou nos últimos anos da década de 1980 o primeiro ‗boom‘ de visitação, mas entre 1984 e 1987 o Parque foi fechado para visitação, para realizar obras de infraestrutura e equipamentos turísticos (UFRJ, 2006). A partir de 1988 o número de visitantes aumentou gradativamente (gráfico 2). Porém, a partir de 1992 este aumento se revela significativo, o qual para Bedim (2008) teve forte relação com a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), mais conhecida como Eco 92, realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro. Na ocasião desta conferência, houve uma divulgação maciça dos recursos naturais de vários parques brasileiros enquanto atrativos turísticos singulares – incluindo-se as belezas naturais do PEIb, um dos ―parques bandeira‖ anunciados no evento. Deste contexto, temas como biodiversidade, ―ecoturismo‖, conservação e educação ambiental tornaram-se, subitamente, foco interino da imprensa nacional. Desde então, visitar áreas protegidas tornava-se, cada vez mais, um modismo ―ecologicamente correto‖. (BEDIM, 2008, p.263) 18 Gráfico 2- Número de visitantes no Parque Estadual do Ibitipoca (PEIb)- 19882010 Fonte: Dados do período 1988-1997 (UFRJ, 2006) De 1998 - 2010 (IEF, 2011) Contudo, o fluxo de turistas aumentou de forma desordenada, impactando negativamente na vida da comunidade, principalmente nos feriados onde há uma concentração intensa de visitantes, é o que relata a reportagem apud Bedim (2008); Principalmente após os feriados prolongados, quando a população do arraial chega a dobrar, qualquer um pode ver lixo aos montes, bem no meio das ruas, e ainda fezes e o cheiro da urina que ficava no ar, principalmente quando era permitido acampar em qualquer lugar do arraial. (CASTRO, L., 1994, s.p.) Para tentar conter a expansão de um turismo sem controle e evitar maiores transtornos futuros, foi criada em 1993 a AMAI- Associação de Moradores e Amigos de Conceição de Ibitipoca, que tinha como principal objetivo garantir a qualidade de vida aos moradores. E para isso, reivindicou a proibição de acampamentos na Vila, além de adotar medidas de segurança, principalmente durante os feriados, para resguardar a população local (BEDIM, 2008). No entanto, os maiores índices de visitação começam a ser registrados a partir de 1995, onde há um aumento de 121,87% em relação ao ano anterior, permanecendo em 19 acentuada ascensão nos anos posteriores. Até que em 2002 atinge o pico de 51.840 visitantes no parque, tal índice levou o IEF a restringir o número de visitantes, através da Portaria nº. 36, de 03 de março de 2003, para implementar medidas de proteção dos atributos naturais e da biodiversidade local (IEF, 2011). Em 2003, já se percebia o impacto da limitação do numero de visitantes, o número de pagantes passou de 51.840 em 2002 para 31.840 em 2003, uma queda de 38,58%. A tendência de queda começou a ser superada a partir de 2008, onde registrou-se um aumento de 32,82% em relação ao ano de 2005, no qual havia recebido o menor numero de visitantes após a limitação em 2002. Mas foi em 2010 que o número de visitantes do Parque atingiu o recorde, 52.974 visitantes, desde 1988, este foi o maior índice registrado (gráfico 2). De acordo com o jornal Hoje Em Dia (14/03/2011, p.19), este aumento no número de visitantes se deve ao calçamento de dez quilômetros no trecho de mais difícil acesso a serra, que facilitou a ‗descoberta‘ de Ibitipoca, assim como investimentos na estrutura do Parque e no acesso a unidade. As obras consumiram R$ 2 milhões de recursos destinados por meio do Projeto de Proteção da Mata Atlântica de Minas Gerais (Promata/MG), que foi financiado pelo Governo de Minas em parceria com o Ministério de Cooperação Internacional da Alemanha, por meio do Banco Kreditanstlt für Wiederaufbau (KfW). Dentre as reformas executadas, está a ampliação da portaria, da casa de hóspedes e de funcionários; dos Centros de administração e de visitantes, e do restaurante. Os banheiros e vestiários públicos também foram reformados, proporcionando maior conforto aos usuários. As obras incluíram ainda a construção dos Centros de Manutenção e de Apoio à Pesquisa, a reforma do alojamento e enfermaria, do calçamento de trechos da estrada interna do Parque (devido à erosão) e a construção de pequenas pontes nas passarelas dos atrativos turísticos do Parque e mirantes. Os recursos garantiram também a elaboração do Plano de Manejo do Parque e a aquisição de equipamentos e veículos que irão reforçar a segurança e fiscalização dentro da área da unidade. Além disso, foi construído um auditório com 50 lugares no anexo da Casa do Visitante, para a realização de palestras, cursos e seminários (IEF, 2011). É evidente que todas estas melhorias contribuíram para o aumento do número de visitantes de Ibitipoca, porém o fator principal é sem dúvida a exuberância do lugar, que é bastante divulgado pela mídia, que ressalta a beleza do Parque e as peculiaridades da Vila de Conceição de Ibitipoca. 20 E é lá, na divisa da Zona da Mata e do Campo das Vertentes, a sudeste de Minas Gerais, que a natureza de um exuberante parque florestal convive com a tradição pacata de um arraial onde o tempo passa devagar. (REVISTA MANCHETE, 1991, p. 43) Um desfile de cachoeiras, lagos, corredeiras, cânions e mirantes naturais de uma beleza literalmente rara. Assim como é a única chance de observar muitas espécies vegetais e animais que você apenas poderá encontrar nesse canto do planeta. (AVENTURA & AÇAO, 2008, p.61) As montanhas mineiras, que antes escondiam riquezas, hoje guardam belezas que valem ouro. Pertinho de Juiz de Fora, a Serra do Ibitipoca, uma formação rochosa moldada pela movimentação tectônica e constantemente retocada pela força dos ventos e das águas, é pedra preciosa que brilha para todos. (VIAJE MAIS, 2009, p. 99) E para atender a crescente demanda de turistas, a Vila de Conceição do Ibitipoca sofreu muitas transformações ao longo destes anos, buscando se adequar para atender melhor um público cada vez mais exigente, que busca principalmente tranqüilidade, belezas naturais e aventura, mas sem deixar de lado o conforto e a qualidade. 3.1 IMPACTOS DO TURISMO A criação do Parque somada à instabilidade das formas tradicionais de produção agropecuária conferiram a Ibitipoca novas alternativas econômicas. Na década de 1970, por iniciativa do IEF foram fichados no Parque 18 funcionários, todos agricultores, que constituiriam assim a força de trabalho para a manutenção das atividades do Parque. Seria o primeiro impacto direto do turismo na esfera produtiva local. No entanto, eram poucos os ‗nativos‘ que se arriscaram na exploração das novas possibilidades comerciais, até porque, não detinham capital suficiente para realizarem investimentos, visto que não houve acumulação no período anterior. Com isso, os homens continuavam a trabalhar na lavoura, enquanto que as mulheres adquiriram uma nova função, além de dona de casa passaram a servir almoço aos turistas. E outras viram na venda de suas quitandas uma oportunidade de contribuir com a renda familiar, entre elas a mais famosa é o pão folhado, conhecido pelos turistas como ―pão de canela”, que já virou referência do lugar (BEDIM, 2008). Inicialmente os homens da família se ocuparam nas obras de manutenção tanto de suas casas, para poder acomodar os turistas, quanto nas construções de residências secundárias, pousadas e estabelecimentos comerciais, que aumentaram sensivelmente a partir dos anos 90 21 (UFRJ, 2006). Fenômeno observado também por Bedim (2008), que relata que os ‗nativos‘ no início da década de 90 se voltaram para as novas alternativas proporcionadas pelo turismo, como a área da construção civil, por exemplo, que com a especulação imobiliária crescente, dilatou o número de vagas nesta área. Aos poucos, esses homens trocaram a enxada da lavoura por outras funções ligadas à prestação de serviços diretos ou indiretos em turismo: ocuparam-se como caseiros de residências secundárias (veraneio), guias turísticos, comerciantes, ajudantes de pedreiro, jardineiros, recepcionistas, garçons, etc. Alguns começaram a ampliar as próprias casas e a transformá-las em extensões domiciliares com leitos improvisados aptos à hospedagem. (BEDIM, 2008, p. 297) Em 1991, o arraial contava com aproximadamente 100 casas ao redor das duas Igrejas, a Matriz Nossa Senhora da Conceição e a do Rosário. Nesta época, os turistas podiam escolher entre apenas duas pousadas para se acomodarem e não havia restaurantes, as refeições eram disponibilizadas por moradoras, mediante encomenda, que as serviam em suas próprias casas (REVISTA MANCHETE, 1991, p. 51). Em evidente ascensão, o distrito no ano de 2000 já contava com dezoito pousadas, três campings, incluindo o do Parque, e onze locais de alimentação, além de bares e lanchonetes. Ressalta-se, que algumas moradoras que inicialmente serviam comida em suas próprias casas, ainda resistem e são procuradas pelos turistas, que valorizam e buscam a comida típica mineira feita em fogão à lenha (FJP, 2000, p. 128/130). Já em 2006, foram registradas dezenove pousadas e dezessete postos de alimentação, além de nove casas de aluguel (UFRJ, 2006). No site Ibitipoca.tur, que é o que mais completo sobre o arraial, constam divulgadas vinte e sete pousadas, quarenta e três casas de aluguel e onze postos de alimentação (Ibitipoca.tur, 2011). Quanto ao artesanato local, em 2000 já se observava uma tendência de declínio do número de pessoas que trabalham com este tipo de produção, destaque para as colchas e cobertas de lã fiadas em teares medievais 2, que algumas moradoras locais e do entorno ainda produziam, porém apenas uma vendia aos turistas, visto que a produção era pequena e atendia a família. Além de um artesão de peças de madeira, que produz e vende seus produtos no 2 O tecelão trabalha com os pés e mãos no movimento da máquina. Todo o trabalho começa com a tosa dos carneiros (FJP, 2000, p. 137). 22 arraial (FJP, 2000, p. 128/130). Existem poucas lojas de artesanato, e os produtos normalmente são trazidos de outras localidades (UFRJ, 2006). Aos poucos a infra-estrutura do arraial foi se desenvolvendo, segundo relatório da UFRJ (2006) em 1994 só existia um posto telefônico que atendia toda a comunidade e os turistas, na data do relatório já existiam linhas telefônicas particulares, assim como orelhões. Recentemente foi instalada uma torre de celular, que permite além da comunicação por aparelho móvel, a utilização da internet móvel, que apesar de disponibilizar sinal apenas para uma operadora, já representa um avanço para a comunicação e a interação da comunidade com o mundo. Entre os benefícios estão também, a pavimentação da Vila; a instalação em 2005 de um sub destacamento de Policia Militar, que funciona atualmente e garante a segurança do lugar, principalmente nos feriados onde o fluxo de turistas é maior; a implementação de um posto de saúde com atendimento médico, apesar de a maior freqüência de profissionais no atendimento ser uma reivindicação da comunidade. A coleta de lixo passou a ser freqüente e em dias determinados. O relatório menciona também o revigoramento do comércio de Lima Duarte, pois os donos de pousadas e comerciantes fazem suas compras nos supermercados da cidade, utilizam serviços bancários, postos de gasolina, lojas de material de construção, enfim contribuem para a circulação do capital. No entanto, o aumento da atividade turística promove também impactos negativos, como aumento do preço das mercadorias e do valor de mão de obra local, falta de água, congestionamento, acúmulo de lixo e barulho durante feriados prolongados. Outro fator negativo citado é o efeito que o comportamento do turista pode gerar sobre a juventude local principalmente, que imita o comportamento de ‗final de semana‘ dos visitantes, ocasionando diversos problemas como: ideal de consumo de bens, alcoolismo e outras drogas (UFRJ, 2006). Outra característica do turismo em Conceição de Ibitipoca é a sazonalidade, que vem sendo superada a partir da realização de um calendário de eventos, que visa atrair o público em períodos de baixa temporada, como o Ibitipoca Off Road, Ibitipoca Blues, Ibitipoca Jazz Festival, Ibitipoca Rock, além de festas juninas, julinas e da padroeira. (ibitipoca.tur, 2011) Assim como uma tentativa de integração entre os municípios, a partir de ações executadas pelo Circuito Serras de Ibitipoca. Através do Programa de Regionalização do Turismo adotado pela Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais, foi criada a Associação dos Municípios do Circuito Turístico Serras de Ibitipoca – AMATUR-IBITIPOCA. Com o intuito de agregar regiões próximas, com características geográficas, econômicas, sociais e culturais semelhantes o Circuito é 23 formado pelos municípios de Lima Duarte, Bias Fortes, Ibertioga, Pedro Teixeira, Rio Preto, Santa Rita de Ibitipoca, Santa Rita de Jacutinga e Santana do Garambéu (AMATURIBITIPOCA, 2011). Fomentar e desenvolver a atividade turística como alternativa para o crescimento da economia local, desenvolver de forma sustentável as comunidades, conservar a biodiversidade e preservação do patrimônio turístico, histórico e cultural de seus municípios são os principais objetivos desta integração. O Estado de Minas Gerais conta atualmente com 42 Associações de Circuitos Turísticos certificados, envolvendo todas as regiões do Estado (AMATURIBITIPOCA, 2011). A divulgação e o desenvolvimento do turismo nos outros municípios do Circuito Serras do Ibitipoca permitem descentralizar o turismo focado principalmente no PEIb, diminuindo o impacto causado pelo excesso de demanda na Vila de Ibitipoca, além de gerar uma melhor distribuição da visitação na região, promovendo diversificação na economia destas comunidades, possibilitando um aumento de renda, de emprego e melhorias na infraestrutura. A consolidação de novos roteiros turísticos na região também possibilitará à população de Ibitipoca uma maior independência socioeconômica em relação ao Parque, que hoje é seu principal atrativo. 24 4 METODOLOGIA E BANCO DE DADOS Com o objetivo de analisar as transformações econômicas e sociais do turismo no Vilarejo de Conceição do Ibitipoca foram utilizados indicadores econômicos e sociais presentes nos Dados do Universo do Censo Demográfico, disponibilizados pelo IBGE, referente aos anos de 1991 e 2000. Em paralelo, e complementarmente, foram utilizadas informações coletadas sobre a estrutura turística local, a fim de se traçar um perfil sobre a realidade turística do Distrito. Para isto foi usado em parte um banco de dados disponibilizado por Lilian Souza, coletado através de aplicação de questionários semi-estruturados, para seu Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção de grau de Bacharel em Turismo no Instituto de Ciências Humanas da UFJF em 2011. Nesta pesquisa, realizada entre os dias 03 e 05 de junho de 2011, foram aplicados 22 questionários aos proprietários de meios de hospedagem particulares dentre os 30 que anunciavam no site www.ibitipoca.tur.br nas categorias: hotéis, chalés, pousadas e campings. Destes 30, uma pousada havia sido fechada e dois campings são de propriedade de donos de pousadas, portanto são os mesmos proprietários, resultando num universo de 27 meios de hospedagem. Sendo assim 5 proprietários não foram entrevistados por Lilian Souza. Nesta ocasião também foram aplicados questionários aos funcionários dos meios de hospedagem, porém os mesmos não foram detalhados por Souza (2011). No presente trabalho todas as informações sobre os funcionários foram consideradas relevantes, já que esboçam um perfil dos trabalhadores em Ibitipoca, por isto foram incluídas. Durante a pesquisa, uma amostra de 55 funcionários respondeu ao questionário, pois pelo fato de alguns serem trabalhadores temporários, não foi possível localizar todos. De acordo com o proposto para este trabalho, verificou-se a necessidade de complementar os dados de Souza (2011). Em termos dos estabelecimentos, uma nova pousada foi incluída no site, totalizando um universo de 28 meios de hospedagem (anexo 2). Além disso, uma nova rodada de entrevistas foi realizada com os proprietários e funcionários não encontrados na primeira pesquisa e com alguns proprietários já entrevistados para averiguação de informações. A complementação da pesquisa se deu entre os dias 20 e 31 de julho de 2011. Pelo fato de muitos moradores de Ibitipoca alojarem turistas em quartos, ou até mesmo alugarem a própria casa em finais de semana e feriados, fazendo divulgação destes serviços ―on line‖, foi necessária uma delimitação da base do número de estabelecimentos a partir do 25 site Ibitipoca.tur, pois ―foram pesquisados apenas os meios de hospedagem que se vendem para o mundo enquanto tal, e para isso utilizou-se o site que é reconhecido como oficial pelos moradores do arraial‖. (SOUZA, 2011, p. 42) Após a seleção de todos estes dados, segue na próxima sessão a compilação dos mesmos, suas respectivas análises, assim como os resultados obtidos. 4.1 ANÁLISE DOS DADOS SOCIOECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS Entre as transformações causadas pelo turismo, está a reestruturação demográfica do lugar, em decorrência das alterações da esfera econômica de Ibitipoca. A população do distrito sofreu uma redução de 6,27% entre os anos de 1991 e 2000, passando de 1.036 para 971 habitantes, e esta queda foi mais significativa entre os homens, conforme dados censitários do IBGE, dispostos na Tabela1. Esta redução está associada à reconfiguração da distribuição da população entre o urbano e o rural, visto que a população rural sofreu um decréscimo de 24%, passando de 743 para 559, enquanto a população urbana aumentou 40%, pois eram 293 pessoas e passou para 412, entre 1991 e 2000, de acordo com Tabela 2. Tabela 1 - Distribuição populacional de acordo com o sexo - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Ano Homens 1991 2000 Variação % 568 522 -8,10 Mulheres 468 449 -4,06 Total 1036 971 -6,27 Fonte: IBGE (1991 e 2000) O adensamento da população na área urbana se deve ao declínio da atividade agrícola em prol do turismo, e consequentemente em virtude das especulações imobiliárias, que levaram os pequenos agricultores a venderem suas terras aos novos empreendedores. De acordo com Bedim (2008, p. 297 e 298), Parte da população local não vislumbrou outra opção senão lotear suas terras e vendê-las para quem intencionava estabelecer empreendimentos turísticos ou construir casas de veraneio na serra. Alguns dos que venderam seus sítios e fazendas mudaram-se para cidades vizinhas ou então se reagruparam espacialmente no arraial de Conceição de Ibitipoca. 26 Tabela 2 - Distribuição populacional entre zonas rural e urbana - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Situação do domicílio e sexo Ano Urbana Rural 1991 2000 Variação % Homens Mulheres 162 216 33,33 131 196 49,62 Total 293 412 40,61 Homens Mulheres 406 306 -24,63 337 253 -24,93 Total 743 559 -24,76 Fonte: IBGE (1991 e 2000) A análise da população através da distribuição por faixa etária evidencia que a mesma é predominantemente jovem em ambas as décadas, 1990 e 2000 (Tabela 3). Em 1991 são 603 habitantes (58%) entre 0 e 29 anos, e em 2000 apesar do decréscimo de 7% em relação a 1991, esta faixa etária corresponde a 51% da população. Verifica-se também que houve uma variação proporcional positiva de 6,8% no número de habitantes que possuem de 35 a 49 anos, possivelmente pessoas que saíram quando jovens para buscar alguma formação e/ou emprego em outras cidades e retornaram ao vilarejo. Tabela 3 - Distribuição populacional de acordo com a faixa etária - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Faixa Etária 0a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 ou mais Total 1991 2000 Frequência 101 90 123 96 92 101 77 57 54 41 43 47 33 37 21 10 13 9,75 8,69 11,87 9,27 8,88 9,75 7,43 5,50 5,21 3,96 4,15 4,54 3,19 3,57 2,03 0,97 1,25 82 82 92 70 88 78 87 75 65 54 43 44 28 39 19 13 12 8,44 8,44 9,47 7,21 9,06 8,03 8,96 7,72 6,69 5,56 4,43 4,53 2,88 4,02 1,96 1,34 1,24 -1,30 -0,24 -2,4 -2,06 0,18 -1,72 1,53 2,22 1,48 1,60 0,28 -0,01 0,30 0,45 -0,07 0,37 -0,02 1036 100 971 100 0 Fonte: IBGE (1991 e 2000) Frequência % População Variação % Proporcional % População 27 Mesmo com o decréscimo populacional houve um relativo aumento dos responsáveis pelos domicílios particulares permanentes, pois em 1991 eram 253 e em 2000 este número passou para 258. A Tabela 4 apresenta a variação dos anos de estudo deste grupo, nos anos de 1991 e 2000. É possível observar que só houve redução nos anos de estudo nos grupos com menor grau de instrução, impactando positivamente nas outras classes. Em 1991, 186 responsáveis por domicílio eram sem instrução ou possuíam até três anos de estudo, o que representava 73,51% deste grupo. Já em 2000, este número reduziu para 132, uma queda de 22,36%. Apesar de o resultado mais expressivo aparecer na classe que possui de 4 a 7 anos de estudo (aumento de 14,72%), as demais classes também apresentam resultados positivos. O grupo de anos de estudo compreendido entre 11 e 14, que possuía em 1991 apenas 4 (1,58%) representantes, em 2000 já apresentava 18 (6,98%), uma variação percentual positiva de 5,4%. Tabela 4 - Anos de estudo dos responsáveis pelos domicílios particulares - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes Grupos de 1991 2000 Variação % anos de estudo % % Frequência Frequência Proporcional População População Sem instrução e menos de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 anos ou mais Não determinado Total 96 37,94 60 23,26 -14,69 90 52 4 4 4 35,57 20,55 1,58 1,58 1,58 72 91 11 18 5 27,91 35,27 4,26 6,98 1,94 -7,67 14,72 2,68 5,4 0,36 3 1,19 1 0,39 0,8 253 100 258 100 0 Fonte: IBGE (1991 e 2000) Outro indicador que apresentou resultados positivos foi o abastecimento de água. De acordo com Tabela 5, em 1991 apenas 25,3% (64) dos 253 domicílios particulares eram abastecidos por rede geral de água, enquanto que 72,73% (184) utilizavam poço ou nascente que como forma de abastecimento. Em 2000, 39,53% (102) dos 258 domicílios já eram abastecidos por rede geral, reduzindo com isso o número de domicílios que eram abastecidos por poço ou nascente, que passou de 184 em 1991 para 133 em 2000. O decréscimo deste tipo de abastecimento impactou nos domicílios que utilizavam outra forma de abastecimento, em 28 1991 eram 5, já em 2000 passou para 23 o número de residências que não usufruíam nem de rede geral nem de poço ou nascente. Tabela 5 - Abastecimento de água dos domicílios particulares - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Domicílios particulares permanentes Forma de 1991 abastecimento de água Frequência 2000 % domicílios Rede geral Poço ou nascente* Outra Total Frequência % domicílios Variação % Proporcional 64 184 25,3 72,73 102 133 39,53 51,55 14,24 -21,18 5 253 1,98 100 23 258 8,91 100 6,94 0 Fonte: IBGE (1991 e 2000) *na propriedade De acordo com FJP (2000), o sistema de distribuição de água de Ibitipoca, que é subordinado ao Departamento Municipal de Água e Esgotos (DEMAE) de Lima Duarte, atende a 100% dos domicílios no perímetro urbano, no entanto, apresenta deficiências que precisam ser sanadas para evitar a falta de água, que ocorre eventualmente em épocas de maior pico de visitação e melhorar a sua qualidade. Entre outras medidas, foi sugerida pelo Plano Diretor (FJP, 2000) do distrito a cobrança da taxa de fornecimento de água, a fim de garantir maior qualidade e melhor fornecimento. Cabe ressaltar que esta medida já foi implementada no arraial em 2009, e a cobrança é realizada através de medição de consumo por hidrômetros instalados nas residências. Paralelamente às melhorias ocorridas no sistema de abastecimento de água do distrito, observa-se na Tabela 6 que o tipo de esgotamento sanitário também apresentou melhoras significativas. O principal destaque é a quantidade banheiros, visto que em 1991 apenas 149 dos 247 domicílios possuíam banheiro, ou seja, 98 (39,68%) não possuíam banheiro ou sanitário, em 2000 este número reduziu para 40 (15,5%) entre 258 domicílios. Nos anos 90 de acordo com a Tabela 6, dos 149 domicílios que possuíam banheiro, apenas 5,26% utilizavam rede geral de esgoto ou rede pluvial, 7,29 % possuíam fossa séptica sem escoadouro, 8,91% fossa rudimentar e 36,44% utilizavam outro tipo de escoadouro. No ano de 2000 dos 218 domicílios que possuíam banheiro ou sanitário, 48 (18,6%) fazia uso da rede geral ou rede pluvial, o que consiste em um aumento proporcional de 13,29%. Este tipo de esgotamento sanitário é o mais adequado, pois segundo IBGE (2011), a água e os dejetos são canalizados e ligados a um sistema de coleta, e conduzidos até um desaguadouro geral. 29 Tabela 6 - Tipo de esgotamento sanitário dos domicílios particulares - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Domicílios particulares permanentes 1991 2000 Tipo Frequência Rede geral de esgoto* Fossa séptica ** Fossa rudimentar Vala Rio ou lago Outro escoadouro Sem banheiro*** Total % domicílios 13 18 22 6 90 98 247 5,26 7,29 8,91 2,43 0,00 36,44 39,68 100 Frequência % domicílios 48 4 59 13 89 5 40 258 18,60 1,55 22,87 5,04 34,50 1,94 15,50 100 Variação % Proporcional 13,29 -10,25 12,3 1,94 40,83 -58,11 -24,17 0,00 Fonte: IBGE (1991 e 2000) *rede geral de esgoto ou pluvial **fossa séptica sem escoadouro ***não tinham banheiro ou sanitário Outra variação significativa pode ser percebida nos domicílios que utilizavam outro tipo de escoadouro, caracterizado pelo lançamento de dejetos diretamente em poços, buracos, fossas negras, dentre outros, podendo gerar problemas ambientais como contaminação do solo e água. Este tipo de escoadouro era utilizado em 1991 por 36,44% dos domicílios e em 2000 este número reduziu para 1,94%. Em 1991, não havia domicílio que utilizava rio ou lago como escoadouro sanitário, entretanto em 2000 40% dos domicílios faziam uso deste tipo de escoadouro, que não é recomendado pelos impactos ambientais que podem ser causados. Um aumento expressivo também é verificado entre os domicílios que utilizam a fossa rudimentar, os quais eram 8,91% em 1991 e 22,87% em 2000. Segundo FJP (2000), este tipo de fossa é normalmente utilizado pelos domicílios que estão localizados em áreas não atendidas pelo sistema de coleta de esgotos, pois geralmente são locais que apresentam dificuldades em se construir as redes coletoras, por não possuírem caimento suficiente ou por estarem a locais baixos de algumas ruas. O hiato existente entre os anos de 1991 e 2000 referente ao acesso às condições mínimas de saneamento, é explicado pela data de implementação do sistema de esgotos em Ibitipoca, que só foi construído pela Prefeitura Municipal de Lima Duarte em 1997. A rede atende a um percentual estimado de 80% dos domicílios (FJP, 2000) segundo o estudo sobre o sistema de saneamento básico do distrito de Conceição de Ibitipoca, que consta no Plano Diretor (FJP, 2000, p.284), 30 (...) o sistema de esgotos de Conceição de Ibitipoca, apesar de apresentar algumas deficiências e inadequações, atende razoavelmente à localidade em termos de coleta domiciliar. No que diz respeito à parte de coleta propriamente dita de esgotos, faz-se necessária a reconstrução de alguns trechos superficiais ou elevados. Ainda de acordo com o Plano Diretor, foi constatado que o lançamento de esgoto nos riachos próximos à Vila gera problemas ambientais, mas estes podem ser consideravelmente reduzidos se forem construídos interceptores e emissários que conduzam os esgotos para um único ponto mais afastado, onde poderão ser tratados. Em relação ao destino do lixo dos domicílios particulares, percebe-se na Tabela7 que em ambas as décadas, a maior frequência está representada pelos domicílios que queimam o lixo. Entretanto em 1991 esta opção era dominante, pois 83,81% (207) dos 247 domicílios queimavam o lixo, enquanto que em 2000 eram 45,35% (117) dos 258 domicílios. A maior variação no destino lixo está entre os domicílios que utilizam a coleta, pois em 1991 apenas um domicílio tinha seu lixo coletado, e em 2000 subiu para 103 (39,92%). Em contrapartida, o lixo que era enterrado e o que possuía outro destino, apresentaram uma queda sutil. Tabela 7 - Destino do lixo dos domicílios particulares - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Domicílios particulares permanentes Destino do 1991 2000 Variação % Lixo % % Frequência Coletado Queimado Enterrado Terreno baldio Rio ou lagoa Outro Total 1 207 4 28 2 5 247 domicílios 0,40 83,81 1,62 11,34 0,81 2,02 100 Frequência 103 117 3 31 3 1 258 domicílios 39,92 45,35 1,16 12,02 1,16 0,39 100 Proporcional 39,52 -38,46 -0,46 0,68 0,35 -1,64 0 Fonte: IBGE (1991 e 2000) Em 2000, segundo o Plano Direto, a coleta do lixo era realizada no distrito uma vez por semana, por um caminhão da Prefeitura de Lima Duarte, para onde o mesmo era levado. Mas já faz alguns anos que a coleta vem sendo realizada duas vezes por semana, contribuindo para que o mesmo não acumule nas residências nem nos latões dispostos pela Vila. Em 2000, foi construída uma usina de separação e reciclagem de lixo através de recursos disponibilizados pelo Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e projeto de técnicos da Universidade de Viçosa (MG), a qual dependia da aprovação da 31 Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e do Instituto de Gestão das Águas do Estado de Minas Gerais (IGAM) para liberar a perfuração de um poço de água em área próxima, de preservação ambiental. Assim, após 11 anos, constata-se que a mesma não entrou em funcionamento em Ibitipoca, mas foi transferida para Lima Duarte, onde é realizada a reciclagem do lixo. Uma das principais alternativas para o tratamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) são as usinas de reciclagem e compostagem, entretanto segundo Lelis e Pereira Neto (2001, p. 4), quando a administração pública se propõe implantar um sistema de tratamento sem a efetiva participação da população, a possibilidade de fracasso é grande (...) na maioria dos municípios em que se encontram ‗usinas‘ desativadas ou paralisadas, não foi realizado um trabalho de conscientização da população, objetivando a melhoria da limpeza urbana e sua adesão às campanhas de coleta seletiva, sendo esta última considerada de suma importância para o bom funcionamento dos sistemas destinados à triagem e compostagem dos resíduos. Mas não é só isso, segundo Prado Filho e Sobreira (2004), muitas das unidades que foram instaladas estão paralisadas por dificuldades dos técnicos das prefeituras em operá-las e mantê-las. Segundo Brandão (2006) a valorização de resíduos nem sempre é aplicável aos pequenos municípios. Na análise do rendimento nominal mensal (salário mínimo) da pessoa responsável pelo domicílio, conforme Tabela 8, verifica-se que as três menores classes de rendimento apresentaram queda, sendo que a mais significativa foi a classe de mais de 1/2 a 3/4 de salário, pois em 1991, 58 (22,92%) responsáveis de domicílios possuíam este rendimento, já em 2000 caiu para 18 (6,98%). Uma redução também foi percebida na classe salarial que inclui mais de 1 a 1 ¼, um decréscimo proporcional de 12,34%. Apesar de ter havido um modesto crescimento no número de responsáveis sem rendimento, nota-se um aumento nas classes com maiores rendimentos, sendo que a variação proporcional mais relevante aparece na classe que compreende mais de 3/4 a 1 salário mínimo, pois esta apresentava uma frequência de 43 (17%) e passou para 95 (36,82%) do ano de 1991 para 2000, um crescimento proporcional de 19,83%. Outro fator que merece destaque é o número de pessoas com rendimento acima de 15 salários em 2000, quatro, rendimento este que não se enquadra nos padrões econômicos de Ibitipoca. Entretanto, esse número pode ser explicado pelo aumento de pessoas que vieram de outras cidades (onde possuíam renda maior), para investir em meios de hospedagem em Ibitipoca e fixaram residência no local. 32 Tanto que em 1991, quando o número de meios de hospedagem era bem menor (Tabela 9), não havia ninguém com esta faixa de rendimento, e de acordo com Tabela 12, 75% dos proprietários dos meios de hospedagem atualmente não são naturais de Ibitipoca. Tabela 8 - Rendimento nominal mensal (salário mínimo) da pessoa responsável pelo domicílio - Conceição de Ibitipoca (1991-2000) Rendimento mensal da pessoa responsável pelo domicílio Classes de 1991 2000 Variação % rendimento Frequência % Frequência % População Até 1/4 ¼a½ ½a¾ ¾a1 1 a 1¼ 1¼ a 1½ 1½ a 2 2a3 3a5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 a 30 Sem rendimento Total 7 41 58 43 42 8 18 13 7 12 0 0 0 4 253 2,77 16,21 22,92 17 16,60 3,16 7,11 5,14 2,77 4,74 0 0 0 1,58 100 População 3 10 18 95 11 17 31 26 17 18 1 3 1 7 258 1,16 3,88 6,98 36,82 4,26 6,59 12,02 10,08 6,59 6,98 0,39 1,16 0,39 2,71 100 -1,60 -12,33 -15,95 19,83 -12,34 3,43 4,90 4,94 3,82 2,23 0,39 1,16 0,39 1,13 0 Fonte: IBGE (1991 e 2000) 4.2 PERFIL DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM A partir dos últimos anos da década de 1980, período em que Ibitipoca vivenciou o seu primeiro ―boom‖ de visitação, é possível notar transformações na Vila, principalmente no que se refere à estrutura turística oferecida aos visitantes, tanto na quantidade de meios de hospedagem e da alimentação, quanto dos serviços oferecidos. A Tabela 9 demonstra a quantidade dos meios de hospedagem no período de 1990 a 2011. Percebe-se que apenas 7,14% dos meios de hospedagem foram inaugurados até 1990, enquanto que no período entre 1991 e 1995 foram abertos 25% de estabelecimentos (7). Este aumento pode ser explicado pelo crescimento do número de visitantes após a reabertura do Parque Estadual de Ibitipoca, que esteve fechado para obras entre 1984 e 1987. 33 Tabela 9 - Evolução dos meios de hospedagem - Conceição de Ibitipoca Ano de Inauguração Até 1990 1991 a 1995 1996 a 2000 2001 a 2005 2006 a 2011 Total Frequência Percentual % 2 7 5 5 9 28 7,14 25,00 17,86 17,86 32,14 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) No entanto, o maior índice apresentado foi entre 2006 e 2011, atingindo 32% (9 estabelecimentos), demonstrando que há uma boa expectativa entre os proprietários para o turismo de Ibitipoca, impulsionado talvez pela evolução crescente no número de turistas no parque nos últimos anos (gráfico 2). Quanto aos tipos de meios de hospedagens, 50% foram classificados pelos proprietários como Pousadas, e em segundo lugar com 42,86%, aparece a opção Chalés, seguido da alternativa Hotel, que representa 7,14%, conforme Tabela 10. Nota-se que a opção camping não foi citada pelos proprietários, apesar de constar no site ibitipoca.tur. Este resultado pode ser explicado pelo fato de os proprietários dos campings possuírem, além destes, outros meios de hospedagem, optando por citar estes últimos. Tabela 10 - Tipo de Meios de Hospedagem Tipo Pousada Chalés (Outro) Hotel Camping Total Frequência 14 12 2 0 28 Percentual % 50,00 42,86 7,14 0 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Apesar do aumento no número de estabelecimentos de hospedagem nos últimos anos, verifica-se na Tabela 11 que a maior parte possui um pequeno número de unidades habitacionais (UH). Setenta por cento dos meios de hospedagem (20) possuem até 10 UH, 17% (5) apresentam de 11 a 25 UH e apenas três mais de 25 UH. O fato da maior parte dos meios de hospedagem ser de pequena dimensão pode estar relacionado com um sutil aumento no número de proprietários locais (tabela 12), que não dispõem de capital acumulado suficiente para fazer grandes investimentos, vendo nos pequenos estabelecimentos uma oportunidade de incrementar a renda, já que alguns 34 proprietários destes pequenos estabelecimentos continuam prestando serviços a outros meios de hospedagem de propriedade de pessoas não nativas em Ibitipoca. Tabela 11- Quantidade de Unidade Habitacional (UH) Quantidade de UH Frequência Percentual % 10 10 1 2 2 3 28 35,71 35,71 3,57 7,14 7,14 10,71 100 Até 5 6 a 10 11 a 15 16 a 20 21 a 25 Mais de 25 Total Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Segundo relatório da UFRJ (2006, p. 47) ―poucos nativos são responsáveis ou proprietários de empreendimentos. Das vinte pousadas existentes em Ibitipoca apenas duas são de nativos‖. No entanto, conforme Tabela 12, observa-se um aumento no número de proprietários locais, os quais representam 25% dos estabelecimentos (7). Tabela 12 - Naturalidade dos proprietários dos meios de hospedagem Natural de Ibitipoca Sim Não Total Frequência Percentual % 7 21 28 25 75 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Embora haja esta discrepância entre proprietários naturais e não naturais de Ibitipoca, há uma inversão de resultados quando o assunto é a residência no Distrito, pois de acordo com a Tabela 13, 21 proprietários residem em Ibitipoca, o que equivale a 75%. Muitos dos proprietários não nativos conheceram Ibitipoca como turistas e viram no local uma oportunidade de negócio e de melhorar a qualidade de vida, visto que a demanda de turistas seguia uma tendência crescente e os meios de hospedagem existentes não eram suficientes para atendê-los. Os novos investimentos em Ibitipoca, não decorreram de pessoas aventureiras e sem experiência no mercado, que simplesmente se deslumbraram com a possibilidade de lucrar com o turismo, pois de acordo com a Tabela 14, oito proprietários de meios de hospedagem 35 eram empresários, dois eram ligados ao ramo de hotelaria e dois comerciantes, que somados representam 42% dos proprietários. Em contrapartida, alguns proprietários, que antes prestavam serviços a terceiros, passaram a ser donos do próprio negócio, como é o caso dos pedreiros, domésticas e professores. Tabela 13 - Residência dos proprietários dos meios de hospedagem Reside em Ibitipoca Frequência Percentual % 21 7 28 75 25 100 Sim Não Total Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Tabela 14 - Profissão anterior dos proprietários dos meios de hospedagem Profissão Anterior Frequência Percentual % 8 3 2 2 2 2 2 7 28 28,6 10,7 7,1 7,1 7,1 7,1 7,1 25 100 Empresário Pedreiro Hotelaria Professor (a) Doméstica Comerciante Técnico Outras Total Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Aliado à experiência anterior dos proprietários, a Tabela 15 apresenta o nível de escolaridade: 25% (7) possuem curso superior completo, 14% (4) superior incompleto, 21% (6) ensino médio e 14% (4) possuem curso técnico. Tabela 15 - Nível de escolaridade dos proprietários dos meios de hospedagem Nível de Escolaridade Frequência Percentual % Fundamental incompleto Fundamental completo Ensino médio Curso técnico Superior incompleto Superior completo Total 3 4 6 4 4 7 28 10,71 14,29 21,43 14,29 14,29 25 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) 36 Uma realidade bem diferente se comparada ao baixo nível de escolaridade apresentado pelos funcionários destes meios de hospedagem (Tabela 13). Quanto à qualidade dos serviços disponibilizados pelos proprietários, verifica-se na Tabela 16, que existe uma preocupação em oferecer serviços de qualidade aos turistas e de reinvestir os lucros no próprio negócio. Ao serem questionados sobre realizações de melhorias em seus estabelecimentos, 78% disseram ter realizado algum tipo de melhoria, e os que não as fizeram, alegaram que seus negócios foram inaugurados recentemente. Dentre estas melhorias, destacam-se a ampliação (32%), confirmando que os proprietários estão acompanhando a demanda crescente de visitantes, seguida das opções reforma (28%), serviços (21%) e infraestrutura (17%). As melhorias associadas às três últimas opções são: televisão, frigobar, ventilador, secador de cabelo, piscina, sauna, ofurô, massagem, banheira de hidromassagem, internet, restaurante, melhor acesso à pousada, entre outras. Tabela 16 - Tipo de melhorias realizadas nos estabelecimentos Tipo Ampliação Reforma Serviços Infraestrutura Total Frequência 9 8 6 5 28 Percentual % 32,14 28,57 21,43 17,86 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) As modificações nos serviços de hospedagem expressam a tentativa de adaptação dos donos dos estabelecimentos aos anseios de turistas cada vez mais exigentes, que além de natureza, tranqüilidade e aventura, prezam também pelo conforto e pela qualidade. Oferecer um serviço de qualidade é fundamental para que o estabelecimento se torne uma referência no lugar, atraindo mais turistas, se destacando frente à concorrência e garantindo a satisfação e o retorno dos hóspedes, o que contribui para a redução da sazonalidade. A sazonalidade é um dos motivos que levam os proprietários a buscarem uma renda complementar. A Tabela 17 mostra que 20 proprietários (71%) possuem outra fonte de renda, não dependendo totalmente do trabalho no seu meio de hospedagem para sobreviver, e apenas oito (29%) não possuem outra fonte de renda. A qualidade dos serviços prestados pelos funcionários também é essencial para a sobrevivência do meio de hospedagem. Para a melhor compreensão do universo de trabalho, foi traçado na próxima seção um perfil do emprego. 37 Tabela 17 - Acesso dos proprietários a outra fonte de renda Outra fonte de renda Sim Não Total Frequência Percentual % 20 8 28 71,43 28,57 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) 4.2.1 PERFIL DO EMPREGO NOS MEIOS DE HOSPEDAGEM O IEF foi o responsável por causar o primeiro impacto direto do turismo na esfera produtiva de Ibitipoca ao contratar 18 agricultores locais para seu quadro de funcionários, na década de 1970. A decadência da agricultura de subsistência, responsável até então pelo sustento das famílias, associada às novas possibilidades que o turismo proporciona, modificou as relações de trabalho da comunidade. Essas modificações são relatadas por Bedim (2008, p. 307 e 308): (...) transformações na estrutura de trabalho através da inserção de ocupações não-agrícolas engendraram uma série de mudanças na dinâmica social local. O cotidiano, aos poucos, se distancia daquele modo de vida marcado pelas relações intensas com os fenômenos cíclico-naturais e estratégias de uso destes. O tempo de trabalho é então ditado a partir do tempo de não-trabalho dos turistas. O tempo de trabalho, no turismo, equivalente ao tempo de produção (prestação de serviços imediatos) e encontra-se condicionado à sazonalidade da demanda, já que a mesma se distribui irregularmente ao longo do ano (concentração do fluxo em determinadas épocas). De calendário agrícola ao calendário turístico: se, por um lado, os lavradores guiam suas ações pela observação das estações do ano e das fases da lua, por outro lado o ―calendário turístico‖ é que tende a conduzir o tempo de trabalho. Um simples feriado municipal em cidades como Rio de Janeiro ou Juiz de Fora é suficiente para levar milhares de turistas a visitarem a Serra. Apesar da expansão no número dos meios de hospedagem desde a década de 1990 (Tabela 9), observa-se na Tabela 18, que 28% deles não dispõem de funcionários e que são os próprios donos que prestam os serviços demandados pelo estabelecimento. A maior parte dos estabelecimentos de hospedagem possui de 1 a 3 funcionários (50%), sendo que apenas dois meios possuem mais 10 (7,14%). Este resultado confirma o que foi apresentado na Tabela 11, que predomina pequenos estabelecimentos na vila. Os 28 meios de hospedagem contam com 38 74 funcionários, sendo que 42 (56,76%) possuem carteira assinada, ou seja, contam com acesso aos benefícios do trabalho formal. Tabela 18 - Quantidade de funcionários empregados nos meios de hospedagem Quantidade Frequência Percentual % 8 14 3 1 2 28 28,57 50,00 10,71 3,57 7,14 100 Nenhum 1a3 4a6 7 a 10 Mais de 10 Total Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Na Tabela 19 observa-se que 51 funcionários (68,92%) estabelecem relação de contrato de forma permanente com os estabelecimentos de hospedagem, enquanto que 10 (13%) são contratados temporariamente em ocasiões como: férias, feriados, eventos especiais, obras de ampliação e reforma. Apesar de numericamente representar uma minoria, o trabalho familiar é presente nos meios de hospedagem, principalmente nos menores, sendo que somando os familiares que atuam de forma permanente com os que atuam temporariamente, estes representam 17,56%. No entanto, este número pode ser maior, pois os estabelecimentos que disseram não possuir funcionários, podem não ter incluído familiares, pelo fato de não exercerem trabalho remunerado. Tabela 19 - Vínculo ocupacional com os meios de hospedagem Vínculo ocupacional Frequência Percentual % 51 10 11 2 74 68,92 13,51 14,86 2,70 100 Contratado/permanente Contratado/temporário Familiar/permanente Familiar temporário Total Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Quanto ao sexo dos trabalhadores, o feminino predomina com 36 representantes (65%), enquanto que homens representam apenas 34% (19) dos trabalhadores, num universo de 55 entrevistados. Em relação ao local de origem dos trabalhadores, verifica na Tabela 20, que 56% (31) são do distrito de Conceição de Ibitipoca e 11 (20%) do município de Lima 39 Duarte. Os demais lugares isoladamente apresentam um percentual pequeno, porém em conjunto representam 23,65% (13). Tabela 20 - Local de origem dos trabalhadores dos meios de hospedagem Origem Distrito de Ibitipoca (MG) Lima Duarte (MG) Distrito dos Moreiras (MG) Barbacena (MG) Olaria (MG) Resende (RJ) Santana do Garambéu (MG) Santa Rita de Ibitipoca (MG) São Paulo (SP) Total Frequência 31 11 3 2 2 2 2 1 1 55 Percentual % 56,36 20,00 5,45 3,64 3,64 3,64 3,64 1,82 1,82 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Analisando a Tabela 21, referente à distribuição dos trabalhadores quanto à idade, verifica-se a ausência de trabalhadores menores de 15 anos e maiores de 56. Nas classes de 21 a 25 anos, são encontradas as maiores freqüências, com 27% (15), de 36 a 40 anos com 22% (12) e de 31 a 35 anos com 20% (11). A concentração de jovens trabalhando, pode ser explicado pela facilidade de os mesmos se adaptarem às exigências do mercado de trabalho, já que nasceram em um contexto turístico. Segundo Bedim (2008, p. 306), muitos jovens já nasceram inseridos nesta realidade, pois seus ―pais advêm dos ramos familiares que venderam suas terras na década de 1980 e se reagruparam espacialmente no arraial de Conceição de Ibitipoca‖. Tabela 21 - Faixa etária dos trabalhadores dos meios de hospedagem Faixa Etária Menores de 15 anos 16 a 20 21 a 25 26 a 30 31 a 35 36 a 40 41 a 45 46 a 50 51 a 55 56 ou mais Total Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Frequência 0 2 15 7 11 12 5 1 2 0 55 Percentual % 0 4 27 13 20 22 9 2 4 0 100 40 Quanto ao nível de escolaridade dos trabalhadores, verifica-se uma realidade inversa à dos proprietários dos meios de hospedagem, que apresentaram uma boa média de escolaridade (Tabela 15). De acordo com a Tabela 22, observa-se que 38 % dos trabalhadores (21) possuem ensino fundamental incompleto e 23% (13) o ensino fundamental completo, ou seja, mais de 61% dos trabalhadores estudaram até no máximo o primeiro grau. Em contrapartida, apenas 5% (3) possuem ensino médio completo, 3,64% (2) possuem curso técnico e curso superior completos. Tabela 22 - Nível de escolaridade dos funcionários dos meios de hospedagem Nível de Escolaridade Fundamental incompleto Fundamental completo Ensino médio incompleto Frequência 21 13 14 Percentual % 38,18 23,64 25,45 Ensino médio completo 3 5,45 Curso técnico Superior incompleto Superior completo Total 2 0 2 55 3,64 0 3,64 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Muitos destes trabalhadores sempre estiveram inseridos no mercado de trabalho turístico (21%), provavelmente os mais jovens, que já cresceram nesta nova realidade. Entretanto, a Tabela 23 demonstra que são diversas as áreas em que estes trabalhadores dos meios de hospedagem atuavam antes, destaca-se que 20% (11) eram domésticas. De acordo com relato de Bedim (2008, p.167) ―as mulheres de Ibitipoca, por sua vez, costuravam, teciam, fabricavam azeite de mamona e se encarregavam das demais tarefas domésticas – embora também ajudassem na lavoura quando necessário‖. Essas mulheres tiveram papel significante na transição econômica para o turismo, pois foram elas que abriram as portas de casa, para servir refeições e dar abrigo aos primeiros estudiosos e visitantes, que vieram conhecer Ibitipoca. Com a consolidação do turismo aos poucos a população de Conceição de Ibitipoca foi se inserindo no mercado de trabalho, mas a maior parte ainda cumpre tarefas que exigem menor grau de qualificação, conforme Tabela 24. Verifica-se que 30% (17) realizam serviços gerais, 14% (8) são cozinheiros (as) e 7% (4) são diaristas. Apesar disto, as funções de gerente/supervisor e de recepcionista aparecem com percentual significativo, 12% e 9% 41 respectivamente, o que pode ser considerado um avanço se comparado com as conclusões do relatório da UFRJ (2006, p. 55): Os moradores nativos ocupam postos de trabalho de menor qualificação, no turismo ou atividades a ele relacionadas, como a construção civil, usualmente não-formal, sendo menos beneficiados pela geração de renda proporcionada pelo turismo. Tabela 23 - Ocupação anterior dos trabalhadores dos meios de hospedagem Ocupação Turismo Doméstica Serviços gerais Diarista Comércio Pedreiro Servente de pedreiro Produção de eventos Produtor rural 1° Emprego Total Frequência 12 11 10 9 8 1 1 1 1 1 55 Percentual % 21,82 20 18,18 16,36 14,55 1,82 1,82 1,82 1,82 1,82 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Tabela 24 - Ocupação atual dos trabalhadores dos meios de hospedagem Ocupação Serviços gerais Cozinheiro (a) Gerente/supervisor Jardinagem Recepcionista Diarista Manutenção Camareira Garçom Lavadeira Balconista Total Frequência 17 8 7 6 5 4 3 2 1 1 1 55 Percentual % 30,91 14,55 12,73 10,91 9,09 7,27 5,45 3,64 1,82 1,82 1,82 100 Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) O fato de a maior parte dos trabalhadores ocupar funções de menor grau de qualificação pode estar relacionado com o nível educacional, pois como já salientado 61% possuem no máximo o ensino fundamental, o que dificulta a ocupação de um cargo com maiores exigências. 42 Em relação à renda declarada pelos trabalhadores, observa-se na Tabela 25, que 78% (43) recebem entre um (R$545,00) e dois (R$1.090,00) salários míninos, 16% (9) recebem até um salário mínimo e apenas 1,82% (1) recebe mais de três salários. Apesar dos valores, muitos nativos nem se quer tinham acesso à renda antes do turismo, como as domésticas por exemplo. Tabela 25 - Renda média declarada pelos funcionários dos meios de hospedagem Salário mínimo Frequência Percentual % 9 43 1 2 55 16,36 78,18 1,82 3,64 100 Até 1 1a2 Mais de 3 Variável Total Fonte: SOUZA (2011); FORTES (2011) Com o dinheiro proveniente da nova atividade os ibitipoquenses ampliaram o acesso aos meios de comunicação de massa, às leis, direitos e informação de um modo geral. Adquiriram televisão, vídeocassete, antena parabólica, etc. Tal alargamento dos horizontes comunicativos trouxe consigo outros efeitos e conquistas: entre eles, é apontada a previdência social – segundo relatos, até a década de 1980 eram raros os camponeses que pagavam algum tipo de contribuição previdenciária. (BEDIM, 2008, p. 304) 43 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O distrito de Conceição de Ibitipoca passou por transformações econômicas e sociais desde sua ―descoberta‖ pelos primeiros desbravadores em busca do ouro. O arraial vivenciou ciclos econômicos distintos, e, por isso, possui uma história rica e singular, que assim como suas belezas naturais, desperta nos turistas e estudiosos o interesse de se conhecer sua trajetória, como forma de compreender o arraial hoje. No século XVIII devido à extração do ouro, o arraial foi um dos mais importantes centros da capitania, no entanto o apogeu da atividade extrativista não perdurou por muito tempo devido ao esgotamento do mineral e a descoberta de novas minas em outras regiões. A perda de expressividade econômica fez com que os poucos moradores que decidiram continuar morando na vila se dedicassem à pecuária e à agricultura, de início cultivando principalmente a cana de açúcar e o café. Posteriormente, com o declínio do café, a comunidade voltou-se para o cultivo de outras agriculturas, destinadas basicamente à subsistência. Aparentemente isolada após o declínio do ouro, Ibitipoca continuou atraindo olhares, desta vez voltados para suas belezas naturais. Um dos primeiros relatos sobre a exuberância do lugar foi feito pelo cientista botânico August de Saint-Hilaire durante sua visita em 1822. Mas foi a partir da apropriação das terras devolutas da Serra de Ibitipoca pelo Estado, que iniciou-se uma nova atividade econômica, sendo oficializada através da criação do Parque Estadual do Ibitipoca em 4 de julho de 1973. Desde então o parque passou a receber milhares de visitantes, o que levou o IEF em 2003 a fixar um limite de visitantes por dia, para proteção dos atributos naturais e da biodiversidade local. A partir da análise dos indicadores socioeconômicos e demográficos presentes nos Dados do Universo do Censo Demográfico, disponibilizados pelo IBGE, referente aos anos de 1991 e 2000, assim como a utilização de informações coletadas através de entrevistas sobre a estrutura turística local, foi possível estabelecer comparações e extrair resultados, abaixo relacionados. Com a consolidação da atividade turística, a população rural se viu diante de uma nova possibilidade de geração de renda e emprego, já que a atividade agrícola vem declinando ao longo dos últimos anos. A venda das terras de alguns agricultores aos novos empreendedores em virtude das especulações imobiliárias e a busca por vaga de trabalho no arraial, contribuíram para um decréscimo de 24% na população rural de Ibitipoca, enquanto que a 44 população urbana aumentou 40%, passando de 293 pessoas para 412, entre 1991 e 2000. A população do distrito de um modo geral sofreu uma redução de 6,27% neste período, passando de 1.036 para 971 habitantes, no entanto o número de responsáveis por domicílio particular sofreu um relativo aumento, pois em 1991 eram 253 e em 2000 este número passou para 258. No que diz respeito à educação dos responsáveis pelos domicílios, entre 1991 e 2000 só houve redução nos anos de estudo nos grupos com menor grau de instrução, impactando positivamente nas outras classes. Em 1991, 186 responsáveis por domicílio eram sem instrução ou possuíam até três anos de estudo. Já em 2000, este número reduziu para 132, uma queda de 22,36%. O adensamento populacional na área urbana pode ter sido um facilitador ao acesso à educação, assim como a maior exigência do novo mercado de trabalho pode ter incentivado a busca por conhecimentos. Quanto ao saneamento básico, mais precisamente abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo, apesar da precariedade de alguns destes serviços, todos apresentaram melhoras. Cabe ressaltar, a importância do poder público para garantir a qualidade destes equipamentos urbanos, pois sendo Ibitipoca um lugar turístico, é imprescindível que todos estes serviços sejam de qualidade, podendo inclusive ser um diferencial na concorrência com outros destinos turísticos. Com relação aos serviços urbanos, em 1991 apenas 25,30% domicílios possuíam acesso ao abastecimento de água da rede geral, em 2000 passou para 39,53%. Em relação ao tipo de esgotamento sanitário, verificou-se o aumento na quantidade de banheiros que os domicílios dispunham, pois em 1991 98 (39,68%) domicílios não possuíam banheiro ou sanitário, em 2000 este número reduziu para 40 (15,5%) entre 258 domicílios. Dos que possuíam banheiro em 1991, apenas 5,26% utilizavam rede geral de esgoto ou rede pluvial, no ano de 2000 este número subiu para 18,6%. Houve também uma redução no número de domicílios que utilizavam outro tipo de escoadouro, diminuindo a probabilidade de ocorrência de problemas ambientais, como contaminação do solo e água, pois este é caracterizado pelo lançamento de dejetos diretamente em poços, buracos, fossas negras, dentre outros. Quanto ao destino do lixo dos domicílios particulares, observou-se que apesar de a maioria dos domicílios ainda queimarem o lixo, houve uma queda de 1991 para 2000. O mais importante é que ocorreu um aumento na quantidade de domicílios que utilizam a coleta, pois em 1991 apenas um domicílio tinha seu lixo coletado, e em 2000 subiu para 103. Cabe ressaltar que há alguns anos a coleta de lixo no distrito passou a ser realizada duas vezes por 45 semana e de forma regular, o que pode refletir um número ainda maior de domicílios que utilizam a coleta do lixo em detrimento de outras formas. A renda dos responsáveis pelos domicílios particulares foi outro indicador que apresentou um resultado positivo ao se comparar os dados de 1991 com os de 2000, pois apesar de ter havido um modesto crescimento no número de responsáveis sem rendimento, observou-se um aumento nas classes com maiores rendimentos, a mais relevante aparece na classe que compreende mais de 3/4 a 1 salário mínimo, em que 17% dos responsáveis possuíam rendimento nesta faixa e passaram para 36,82%. Esta melhora no rendimento pode estar relacionada com a ascensão da atividade turística no arraial a partir de 1990, pois além de absorver mão-de-obra local aumentando a renda dos trabalhadores, permitiu a outros serem donos do seu próprio negócio. Baseado nos resultados das entrevistas realizadas nos meios de hospedagem verificouse que houve um aumento no número de meios de hospedagem desde 1990, período em que Ibitipoca vivenciou seu primeiro ápice no número de visitantes, que sucedeu à reabertura do Parque, que estava fechado para obras de infraestrutura entre 1984 e 1987. Como a demanda dos visitantes continuou crescendo nos últimos anos, novos empresários passaram a investir nos meios de hospedagem, justificando assim o maior número de estabelecimentos entre 2006 e 2011. O número de proprietários locais também aumentou, passando de dois em 1990 para sete, o que demonstra que estes passaram a ter capital para investirem na nova atividade, ainda que de forma discreta. Este contexto comprova também a relação de dependência socioeconômica existente entre a população de Ibitipoca e o Parque Estadual do Ibitipoca, problema que o Circuito Serras do Ibitipoca vem tentando diminuir ao buscar desenvolver outros roteiros turísticos na região. Para atender às expectativas dos turistas, que são cada vez mais exigentes, os proprietários buscam reinvestir seus lucros no negócio, oferecendo maior diversidade e qualidade nos serviços. No entanto, é preciso investir também em capacitação de mão- de obra, já que foi constatado um nível educacional muito baixo entre os funcionários, pois 61% possuem no máximo ensino fundamental. Isso impacta diretamente nas funções exercidas por eles nestes meios de hospedagem, visto que a maior parte dos funcionários cumpre funções que exigem menor grau de qualificação, logo recebem menores salários. Ainda que esta não seja uma realidade ideal, houve melhoras, pois constatou-se que muitos só tiveram acesso à renda através do turismo, a inserção das domésticas neste mercado de trabalho confirma esta afirmação. A participação das mulheres na transição econômica para o turismo foi 46 fundamental, pois foram elas que realizaram as primeiras transações econômicas ao abrirem suas casas para servir refeições e oferecer hospedagem aos primeiros visitantes. Finalizando, conclui-se que o turismo foi um vetor que contribuiu para o desenvolvimento socioeconômico da população do distrito de Conceição de Ibitipoca, pois os principais indicadores apresentaram melhoras significativas. Esta confirmação não tem a intenção de amenizar os problemas decorrentes desta atividade, pois há muito que melhorar, principalmente no que se refere à infraestrutura urbana. Neste caso, a maior participação do poder público é fundamental para que se garanta à população de Ibitipoca uma melhor qualidade de vida e ao mesmo tempo gere nos turistas uma maior satisfação, incentivando o retorno, contribuindo assim para diminuir a sazonalidade, que foi um dos problemas identificados e que os moradores vêm tentando sanar. Outro problema identificado que envolve o poder público, mais especificamente a Prefeitura de Lima Duarte, é a falta de dados sobre o distrito. A ausência de dados sobre Ibitipoca é um limitante tanto para pesquisadores, que de alguma forma contribuem para o levantamento de políticas que podem ou devem ser adotadas no arraial; quanto para o próprio município, que deixa de aumentar a arrecadação de impostos, por exemplo, que poderia ser aplicada no distrito. Logo, o maior prejudicado será o morador, que depende dos recursos da prefeitura para ter acesso às mínimas condições que o possibilitam atingir um bem-estar social. Espera-se que o trabalho contribua para uma análise dos impactos causados pelo turismo em Conceição de Ibitipoca, e que sirva de subsídio para outros trabalhos, que assim como este, busquem aprofundar discussões que visem o planejamento e o desenvolvimento econômico e social do arraial. 47 6 REFERÊNCIAS AMATUR - Associação dos Municípios do Circuito Turístico Serras de Ibitipoca -. Lima Duarte, MG. BARRETO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 7. ed. Campinas: Papirus, 1999. BEDIM, Bruno Pereira. O processo de intervenção social do turismo na Serra de Ibitipoca (MG): simultâneo e desigual, dilema camponês no “paraíso do capital”, 406 f. Dissertação (mestrado) – Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, 2008. Disponível em <http://www.ibitipoca.tur.br/pesquisas/> Acesso em 08/03/2011. BEDIM, Bruno Pereira; TUBALDINI, Maria A. dos Santos. 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Acesso em 28/09/2011. 53 Anexo C- Mapa ilustrativo do Circuito Serras de Ibitipoca Fonte: http://www.turismo.mg.gov.br/component/content/article/48-zona-da-mata/987circuito-turistico-serras-do-ibitipoca- Acesso em 28.05.11. 54 8 APÊNDICE Questionário dos proprietários dos Meios de Hospedagem em Ibitipoca – MG A) MEIO DE HOSPEDAGEM 1) Tipo de meio de hospedagem: ( )Hotel ( )Pousada ( )Camping ( )Outro__________ 2) O estabelecimento funciona desde:___________ 3) Quantas UH‘s possui:___________ 4) Presta outros serviços (turísticos ou não): ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual?__________ 5) Acesso ao terreno: ( ) herança ( ) compra ( ) outro _______________________ 6) Origem do investimento? ____________________________ 7) Fez melhorias no estabelecimento nos últimos anos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais? _____________ Se não, por quê? ____________ 8) Utiliza produtos locais no estabelecimento? ( ) Sim ( ) Não Se sim, onde compra?___________ Se não, qual a origem deles? _________________________ 9) Produz algo na propriedade: ( ) Sim ( ) Não Se sim, o que? ___________________ B) PROPRIETÁRIO: 10)É natural de Ibitipoca? ( ) Sim ( ) Não Se não, qual a cidade de origem:___________ Como soube do arraial?_____________ 11)Reside em Ibitipoca ( ) Sim ( ) Não Se não, onde mora? ________________________ 12) Profissão atual: _____________________ Profissão anterior___________________ 13) Qualificação profissional:___________ 14)Tem outra fonte de renda? ( ) Sim ( ) Não Se sim, Qual?______________________ 55 C) FUNCIONÁRIOS: 24) Quantos funcionários tem o estabelecimento? _________ 25) Quantos possuem a carteira assinada? _________ 26) Quem trabalha? ( ) Família. Quando? ( )Permanente, quantos:_____ ( )Temporário, quantos_____ ( ) Trabalhadores contratados. Quando? ( )Permanente, quantos:_____ ( )Temporário, quantos_____ Caso existam trabalhadores temporários, quando eles são contratados? __________ 27) Informações dos funcionários: N° Sexo 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( )F ( )F ( )F ( )F ( )F ( )F ( )F ( )F ( )F ( )F ( Local de Origem )M )M )M )M )M )M )M )M )M )M Idade Nível Escolar Ocupação anterior Ocupação atual Renda