AMPLIANDO HORIZONTES DE APRENDIZAGEM: ENSAIOS SOBRE O USO DO MOODLE POR DEFICIENTES VISUAIS Alessandro Jatobá Samantha Vrabl Débora R Barros André Engelbrecht Vanessa Braganholo Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública/Coordenação de Educação a Distância Rio de Janeiro – Brasil Universidade Federal do Rio de Janeiro Núcleo de Computação Eletrônica (NCE)/Programa de Pós-graduação em Informática (PPGI) Rio de Janeiro - Brasil [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Rio de Janeiro - Brasil Resumo A educação a distância transpõe barreiras sociais e veicula estratégias de disseminação de aprendizagem por meio digital, como modo de inclusão. A acessibilidade se evidencia, nesse contexto, em iniciativas como o Laboratório de Educação a Distância (LED) do Instituto Benjamim Constant (IBC), que oferece cursos relacionados à deficiência visual. A partir dos resultados de um trabalho anterior, que resultou na elaboração de um framework de análise da colaboração em uma ferramenta wiki usada por deficientes visuais, nesse artigo propomos uma ampliação da análise, dessa vez voltada para a avaliação de ambientes virtuais de aprendizagem cooperativa para deficientes visuais. O trabalho envolve a realização de um estudo de caso exploratório, em que deficientes visuais e videntes participam em um curso a distância oferecido no ambiente Moodle, sobre o tema Web 2.0. O framework proposto nesse trabalho visa indicar caminhos e boas práticas para a adequação de ambientes virtuais ao uso por deficientes visuais, a fim de avaliar requisitos de colaboração, acessibilidade, usabilidade e aprendizagem. Abstract Distance education goes beyond social barriers and conveys strategies to spread learning and build a more inclusive society, through the digital resource. One of the outstanding concerns is accessibility, which is can be spotted at initiatives such as the Laboratory of Distance Education (LED) at the Institute Benjamin Constant (IBC), which offers courses related to the visual impaired public. 1 From the results of a previous work, which resulted in the development of a framework for analysis of collaboration in a wiki tool used by the visually impaired people, this paper proposes an extension of that analysis, this time focused on the evaluation of visually impaired collaborative learning virtual environments. The work involves conducting an exploratory case study, in which blind and sighted participants will take part in a distance education course held in Moodle on the subject of Web 2.0. The framework proposed in this paper aims to suggest a path and suggestions for efficient practice towards the suitability for the use of virtual environments by the visually impaired people, proposing to assess collaboration, accessibility, usability and learning requirements. 1. Introdução A educação do futuro demanda um novo conjunto de habilidades que nos torne capazes de desenvolver articulações contextualizadas, onde a emoção e a subjetividade se encontram imbricadas nesse processo. A inteligência geral, preconizada por Edgard Morin (2000), consiste em lidar com as multidimensões biológica, afetiva e social das situações, reconhecendo seu sentido (contexto) e sua relação entre as partes (complexidade) em um mundo cada vez mais global e diverso. A educação a distância propõe tal perspectiva como estratégia de inclusão social, porque transpõe barreiras sócio-econômicas e veicula estratégias de disseminação de aprendizagem por meio digital, possibilitando um ambiente multicultural articulado para a construção de novos saberes. Um caminho profícuo se pavimenta para atender a demanda reprimida por educação especial - o Censo de 2000 registrou 24,6 milhões de pessoas com necessidades especiais. Segundo o MEC, nos últimos quatro anos, houve um crescimento de 56% de novas matrículas de alunos com necessidade de educação especial no sistema de ensino. Em 2006, eles representavam 700.624 na educação básica (IBC, 2009). Portanto, a reflexão do artigo insere-se nas estratégias que subsidiam a ampliação do acesso dos deficientes visuais aos ambientes virtuais de aprendizagem, adotados também por videntes, cujos temas de estudo desvinculem-se aos relativos a sua condição. Entendemos que a inclusão social requer um caminhar de mão dupla, onde o deficiente, mesmo diante de ambientes não necessariamente projetados para ele, consiga desenvolver sua autonomia e colaboração, comunicando e compartilhando seus esforços e desafios de superação. As diretrizes essenciais de acessibilidade são promovidas pela W3C através do WCAG (Web Content Acessibility Guidelines), com o objetivo de analisar os critérios de construção de páginas eletrônicas. Essas regras gerais evidenciam recomendações técnicas que não abordam aspectos relativos a cognição, como, por exemplo, em caso de jogos virtuais de avaliação e diagnóstico de déficit de aprendizagem, como o jogo Cria Conto (Marques et al, 2009). Submetido ao site de avaliação ação Hera (http://www.sidar.org/hera/index.php.pt) ou Da Silva (http://www.dasilva.com.br) verificamos que o jogo atende em grande parte aos requisitos técnicos de acessibilidade, mas não possui indicadores de melhorias necessárias em seu 2 design a fim de facilitar a metacognição do deficiente visual. Por outro lado, o leitor de tela JAWs permite o acesso, mas algumas questões permanecem: ele é um leitor de texto de tela e não reconhece figuras e gráficos. O JAWs também é incapaz de descrever a localização dos gráficos na página. Um dos maiores desafios ao usar leitor de tela é a orientação e a navegação. Para que os cegos aprendam colaborativamente, expandindo possibilidades de aprendizagem, todos esses desafios precisam ser enfrentados. Acesso a informação em formulários eletrônicos é normalmente difícil para pessoas cegas. Tradicionalmente, o acesso dessas pessoas sé dá a dispositivos pouco sofisticados, como áudio ou texto em braille (Petrie et al. 1997). Os ambientes virtuais de aprendizagem devem ser capazes de prover acesso a todas as pessoas, deficientes ou não, e permitir que estas se relacionem, aprimorando o processo de ensino/aprendizagem. Esse trabalho se refere à avaliação de ambientes virtuais, contribuindo com a apresentação de um framework conceitual, através do qual é possível destacar aspectos relativos à aprendizagem colaborativa, a usabilidade e a acessibilidade. Ressaltamos que, embora o foco principal recaia na avaliação do processo de aprendizagem colaborativa, não podemos desconsiderar a acessibilidade das ferramentas tecnológicas que se propõem a aprimorar esse processo. A colaboração é definitivamente dependente da acessibilidade. Se não há acessibilidade, não há colaboração. Em nosso estudo de caso analisamos aspectos relativos a acessibilidade, usabilidade e colaboração no ambiente de aprendizagem Moodle, utilizado pelos deficientes visuais através de leitores de tela. Os participantes do estudo, deficientes visuais ou não, participaram de um curso sobre os fundamentos da Web 2.0. As questões de navegabilidade e os aspectos limitadores são tomados em consideração, sobretudo porque o público-alvo do estudo possui experiência como usuários de computadores e Internet e, dessa forma, suas observações oferecem um consistente referencial para a eficiência no uso de ambientes virtuais como ferramenta para a aprendizagem colaborativa. A avaliação foi realizada através da instanciação do framework, preenchido com dados coletados do ambiente virtual a respeito das atividades realizadas pelos participantes do curso, seu acompanhamento e observação e pela aplicação de um questionário. A principal contribuição desse trabalho é o fato de que o framework pode ser instanciado outras vezes, possibilitando que outros ambientes virtuais de aprendizagem o utilizem. Na próxima seção, apresentamos conceitos relevantes a respeito da aprendizagem colaborativa à distância. Em seguida, descrevemos o framework de avaliação de ambientes colaborativos de aprendizagem proposto por esse trabalho. Na seção 4, apresentamos o plano do experimento realizado como base do estudo exploratório em que esse trabalho dá foco, seguido dos resultados obtidos nesse experimento. Na seção 5, analisamos os dados 3 coletados e na seção 6 trazemos alguns trabalhos relacionados ao tema exposto e, finalmente, as conclusões e propostas de trabalhos futuros. 2. Aprendizagem Cooperativa a Distância Santoro et al. (2001) conceituam a aprendizagem cooperativa com uma técnica pedagógica na qual os estudantes se auxiliam mutuamente durante o processo de aquisição de conhecimento, e recebe mediação pedagógica também do professor. A participação ativa e a visão de que a aprendizagem é um construtor social são premissas que norteiam não somente o processo, mas o ambiente de aprendizagem, que deve oferecer funcionalidades para fins de desenvolvimento do grupo. Para que um ambiente de aprendizagem cooperativo se estabeleça Santoro et al. (2001) explicitam que é preciso que os participantes tenham comprometimento individual pelas informações produzidas pelo grupo, percebam que o sucesso é coletivo e não isoladamente de um indivíduo (interdependência positiva) e que tenham a habilidade de analisar a dinâmica do grupo, avaliando seu funcionamento e as contribuições efetuadas para a construção de uma tarefa em comum. Nesse ambiente o professor é um facilitador que auxilia a interação, muito mais do que fornecedor do conteúdo. Existem vários enfoques de aprendizagem cooperativa, e a que adotamos em nosso trabalho é a de questionamento progressivo, propício para "levantamento de questões, discussões, busca de teorias e embasamento, avaliação crítica, formulações mais precisas e aprofundamento para a elaboração de relatório ou proposta final" (Santoro et al., 2001). Ainda nesse trabalho nos preocupamos em como fornecer condições favoráveis à aprendizagem colaborativa suportada por computador. Arriada (2002) afirmam que “ao perceber-se a importância da cooperação no desenvolvimento cognitivo do aprendiz, fica claro que uma tarefa fundamental do educador é organizar atividades coletivas que contribuam e estimulem esses modos de interação entre os alunos”. 3. Framework de Avaliação de Ambientes Colaborativos de Aprendizagem Embora as ferramentas colaborativas estejam se tornando cada vez mais populares, sua avaliação ainda representa um grande desafio, devido, principalmente, à dinâmica social coletiva. A necessidade de um conjunto de diretrizes sistêmico para avaliação deste tipo de ferramenta fica clara com a observação dos resultados de Pinelle e Gutwin (2000), que analisaram diversos artigos referentes à introdução ou avaliação de groupware e concluíram que muitos não são avaliados ou não envolvem ensaios no mundo real. Estudos vêm sendo realizados com o intuito de padronizar a metodologia de avaliação destas ferramentas. Grudin (1994) identifica os oito desafios para 4 desenvolver groupware, entretanto, seu foco é direcionado para o sucesso da adoção e aceitação da ferramenta pela organização. Baeza-Yates e Pino (2006) propõem um framework básico, visando avaliar os benefícios do trabalho colaborativo, de acordo com três categorias: qualidade do produto final, ganhos individuais de cada membro do grupo e eficiência e redução de tempo perdido. Greenberg et al. (2000) adaptam o framework Locales (Fitzpatrick, 1998) para a avaliação heurística de groupware, porém os autores concluem que suas heurísticas melhor se adequam para avaliar o projeto e as ocorrências de fenômenos sociais em ambientes de groupware. Em contrapartida, Araújo, Santoro e Borges (2004) propõem um framework conceitual, chamado CSCW Lab, para guiar as avaliações de groupware e também para servir como um repositório de informações sobre avaliações realizadas. Este laboratório disponibiliza um conjunto de técnicas, regras e instrumentos que devem ser aplicados durante o projeto, construção e realização de uma avaliação. Jatobá et. al (2009) instanciam este framework para a avaliação da colaboração e acessibilidade de uma wiki para deficientes visuais. Com base na organização e sistematização do CSCW Lab e no êxito obtido por Jatobá e seus colegas, um framework de avaliação para o ambiente virtual de aprendizagem Moodle é proposto neste artigo, visando avaliar a usabilidade, acessibilidade, colaboração e aprendizagem proporcionada pela realização de cursos à distância para deficientes visuais. A primeira tarefa para se instanciar este framework é a identificação das dimensões a serem avaliadas. Os autores proponentes consideram as seguintes dimensões: a) Contexto de Grupo A dimensão de contexto de grupo trata da identificação das características do grupo consideradas relevantes para a avaliação dos resultados. A fim de levar em consideração a diversidade dos grupos, alguns aspectos são considerados: Número de membros: Para cada situação um tamanho diferente de grupo é mais adequado. Proximidade: Grupos podem estar em locais distintos ou na mesma localidade. Certamente o desempenho do trabalho é afetado por esse fator Comprometimento: A motivação e o envolvimento dos membros do grupo com o trabalho que está sendo realizado também afetam a produtividade e devem ser considerados na avaliação. Composição: o grupo deve ser categorizado com relação a sexo, faixa etária, características sócio-culturais etc. Os resultados podem ou não ser afetados pela homogeneidade do grupo. Organização: Grupos podem ser organizados hierarquicamente ou não, o que é relevante para a interpretação dos resultados. 5 Cultura Organizacional: Trata da cultura sobre colaboração da organização na qual será realizada a avaliação Neste trabalho, consideramos, também, os aspectos relativos ao domínio de informática, prática com leitores de tela e o conhecimento do ambiente utilizado. b) Usabilidade Para alguns autores a usabilidade de sistemas está associada a princípios como facilidade de aprendizado, de utilização e de relembrar como realizar uma tarefa após algum tempo, baixa taxa de erros e satisfação do usuário (Gould e Lewis, 1985; Nielsen, 1993, Shneiderman, 1998). Outros autores sugerem que os critérios tradicionais não são apropriados (Tselios, Avouris e Komis, 2008) para avaliar sistemas web de ensino ou são insuficientes e devem ser integrados com aspectos de aprendizagem (Squires e Preece, 1999). Jones et al. (1999) e Amershi et al. (2008) propõem a separação entre usabilidade e objetivos pedagógicos na avaliação de sistemas e Freitas e Dutra (2009) acrescentam ainda a interatividade nesta avaliação. Dada a importância da usabilidade e do ensino-aprendizagem ressaltada por estes autores para os sistemas de ensino, decidimos analisar ambos os aspectos na avaliação do ambiente virtual Moodle. Para isso, a dimensão usabilidade está sendo considerada como sendo o apoio à interação com o usuário e sua capacidade de contornar obstáculos de acessibilidade e sendo correlacionada com a aprendizagem, que constitui outra dimensão. c) Nível de Colaboração A dimensão de nível de colaboração é avaliada por Araújo, Santoro e Borges (2004) a partir de quatro categorias: comunicação, construção de conhecimento coletivo, coordenação e percepção. A comunicação trata da interação e participação dos membros, principalmente através das trocas de mensagens. Já a construção do conhecimento coletivo é observada a partir das contribuições dos participantes nas discussões e na elaboração dos trabalhos. A coordenação representa as estratégias e procedimentos desenvolvidos para trabalhar em grupo com harmonia e eficiência. Por fim, a percepção analisa a capacidade de perceber a participação de cada membro do grupo durante a execução do trabalho e como este foi realizado. A estas categorias foi adicionada, no framework proposto neste trabalho, a articulação do grupo, que, acreditamos influenciar a qualidade do trabalho produzido, com relação, por exemplo, ao grau de coerência, coesão e existência de repetição de idéias ao longo do trabalho. 6 d) Impacto Cultural A última dimensão proposta no CSCW Lab compreende as transformações que a ferramenta colaborativa foi capaz de provocar na maneira de trabalhar e nas atitudes dos indivíduos, do grupo e da organização em que foi avaliada. A estas quatro dimensões foram adicionadas mais duas, criadas especialmente para lidar com este tipo de ferramenta voltada para o ensino e para o objetivo proposto. e) Acessibilidade Enquanto a usabilidade trata da maneira como o sistema interagirá com o usuário, a acessibilidade busca analisar a flexibilidade do mesmo para disponibilizar o conteúdo e as suas funcionalidades para todos os diferentes grupos de usuários. Desta forma, esta dimensão pretende avaliar o Moodle com relação a sua flexibilidade para ser utilizado tanto por deficientes visuais, por meio de leitores de tela, quanto por videntes, de modo colaborativo. f) Aprendizagem A dimensão de aprendizagem compreende os aspectos pedagógicos do Moodle relacionados às características do grupo avaliado. Para tanto, são observados critérios sobre o conteúdo do material fornecido para o curso, o processo ensino-aprendizagem e o produto gerado pelos alunos. Para cada dimensão existe um conjunto de variáveis que são utilizadas para definir os dados a serem coletados. É preciso também, de acordo com o CSCW Lab, definir o cenário de interação e os instrumentos de coleta. Esta coleta de dados é realizada através de três eixos principais neste trabalho: Eixos de análise Tracking técnico: utiliza o próprio Moodle como instrumento de coleta de dados registrados durante as atividades realizadas pelos participantes. Esse eixo contém estatísticas que indicam colaboração e usabilidade, de acordo com o framework. Questionário: por meio de um questionário, pretendemos coletar dados subjetivos a respeito da usabilidade, acessibilidade, impacto cultural e aprendizagem. As perguntas são respondidas na escala Likert. Avaliação: avaliando os produtos dos trabalhos realizados e as interações dos alunos, obtém-se mais um indicador de que a colaboração ocorreu de forma harmoniosa e eficaz. 7 A tabela 1 mostra a instanciação do framework proposta, com suas dimensões e as respectivas variáveis e métodos de coleta. Para cada variável, é mostrado como será realizado o seu tracking técnico e/ou qual(is) pergunta(s) do questionário a abordam. Os códigos utilizados na coleta de dados remetem às tabelas 2 e 3, onde se encontra o conjunto de medições e perguntas correspondentes. Tabela 1. Dimensões, variáveis, domínio de valores e método de coleta de dados do framework proposto Dimensão Contexto Grupo Variáveis de Características sócio-culturais do Quantitativo grupo Usabilidade Aprendizagem Não há Conhecimento do ambiente utilizado Grau de motivação do grupo no uso do Moodle Não há Coleta de Dados Questionário Endereço, Escolaridade, Profissão, Grau de Deficiência Visual(total-parcial), Idade Quais leitores usa atualmente e tempo de experiência em Informática Já usou o Moodle (s-n) Postagens em Não há Fóruns, Chats e Wiki Não há Q1 M1 Q3 Não há Q6 M1 Q4 Não há Q5 Não há Q2 M2 Não há Cooperação M3 Não há Coordenação M4 Não há Percepção M5 Não há Articulação Não há Não há Satisfação do participante com o ambiente do curso Não há Q7 Aderência ao uso do ambiente virtual Material Didático Não há Q8 Não há Q9 Elaboração Cognitiva Não há Q10 Valoração Não há Q11 de Comunicação Impacto Cultural Tracking Técnico Não há Domínio de informática e uso de leitores de tela Facilidade de compreensão da Quantitativo navegação do ambiente Facilidade de utilização dos recursos do ambiente Grau de satisfação em navegar no ambiente Capacidade de contornar obstáculos da acessibilidade Como os usuários classificam a Quantitativo acessibilidade do Moodle Eficácia da interface entre leitor de tela e Moodle Acessibilidade Nível Colaboração Domínio de Valores Quantitativo 8 Tabela 2. Medições do tracking técnico agrupadas logicamente M1 Quantos usuários cumpriram todas as etapas estabelecidas Quantos participantes acessaram com êxito cada uma das funcionalidades propostas durante o curso: chat, fórum, upload de arquivo Número de mensagens trocadas nas discussões do grupo, por categoria (coordenação, conteúdo, informal) e por atividade Número de mensagens de conteúdo da atividade trocadas nas discussões do grupo (contribuições) por atividade Número de acessos a cada atividade do curso (participação) Número de mensagens de coordenação das atividades e de estratégia para resolução dos problemas trocadas nas discussões do grupo, por atividade Número de acessos a página de outros alunos e a lista de participantes M1 M2 M3 M3 M4 M5 Tabela 3. Conjunto de questões agrupadas logicamente que abordam cada variável Q1 Q1 Q1 Q2 Q3 Q3 Q3 Q3 Q4 Q4 É fácil compreender a navegação do ambiente. O conteúdo é apresentado de forma organizada. Os links são descritos de maneira clara e sugerem seu conteúdo. Não tive problemas na interface entre o leitor de telas e o Moodle É fácil usar chat do Moodle É fácil usar fórum do Moodle É fácil usar a Wiki do Moodle É fácil acessar o material do Curso Quando tive dificuldade em executar uma atividade no Moodle, desisti. Quando tive dificuldade em executar uma atividade no Moodle, pedi ajuda aos meus colegas de curso Q4 Quando tive dificuldade em executar uma atividade no Moodle, busquei ajuda fora do Moodle (outros colegas, internet ...) Q5 Consegui realizar facilmente todas as atividades do curso. Q5 Conseguir contornar a maioria das minhas dificuldades, por isso estou satisfeito com o Moodle Q6 O ambiente é bastante prazeroso para realizar as tarefas Q7 Estou bastante satisfeito com o ambiente no qual foi realizado o curso Q8 Gostaria de realizar novos cursos neste ambiente de aprendizagem Q9 O conteúdo do material fornecido foi suficiente para o acompanhamento do curso Q9 Houve uma sequência lógica de tópicos no curso que facilitou o aprendizado Q9 Os procedimentos de avaliação de desempenho foram adequados Q10 Participei e contribui com afinco nas realizações das atividades coletivas Q10 Percebi melhoras em meu processo de estruturação de pensamento, e consigo interpretar e refletir sobre os conteúdos apresentados pelos meus colegas de curso Q10 Entreguei todas as atividades dentro do prazo Q10 Esclareci minhas dúvidas sobre o conteúdo no ambiente de aprendizagem com meus colegas Q11 O nível das discussões durante a realização das atividades foi bom Q11 Aprendi bastante com meus colegas de curso 9 4. O Plano do Experimento O estudo de caso exploratório procura responder as seguintes questões de observação: O uso do Moodle para aprendizagem à distância permite que os deficientes visuais participem de cursos oferecidos por essa modalidade de ensino? As funcionalidades de colaboração do Moodle atendem aos deficientes visuais? O que fazer para tornar o Moodle acessível para deficientes visuais? A hipótese principal consiste na condição de que se o Moodle oferece usabilidade, acessibilidade e colaboração para os deficientes visuais, então eles estariam aptos a acessar mais cursos e aprender mais. Ou seja, a nossa hipótese é a de que um conjunto de recursos aplicados ao Moodle favorecerá a aprendizagem. A título de operacionalização, subdividimos em hipóteses auxiliares: Se o Moodle não for acessível então não pode ser colaborativo Se o Moodle é colaborativo então ele pode desenvolver atividades interativas. Para garantirmos a consistência, foi estendido o framework produzido por Jatobá et al. (2009), com base no CSCW Lab, com a inclusão de duas novas dimensões: acessibilidade e aprendizagem. A proposta é usarmos escala de likert como forma de objetivar a análise. Se o Moodle desenvolve interação, então é possível que o deficiente visual aprenda mais através da reflexão produzida nos instrumentos colaborativos – ou seja, é preciso que se identifique um conjunto de aspectos de avaliação da aprendizagem Se o Moodle é acessível e colaborativo pode ser considerado um instrumento eficaz para a inclusão digital dos deficientes visuais O principal objetivo deste experimento é avaliar as funcionalidades colaborativas mais usadas no Moodle (chat, fórum e ambiente de realização de exercícios) em relação ao framework de colaboração e acessibilidade, produzindo um conjunto de ações que precisem ser feitas para atender ao grupo e promover a aprendizagem. O público-alvo é formado por participantes da lista VoxTec, deficientes visuais e videntes, que possuem bom domínio de internet e leitor de tela. A convocação foi aleatória, segundo a aprovação dos participantes ao termo de consentimento. As técnicas utilizadas para coleta de dados são duas: a primeira, o tracking técnico, do Moodle, o qual, fornece os dados registrados pelos usuários e relatórios de suas ações. Esse eixo contém estatísticas que indiquem 10 colaboração e usabilidade segundo o framework. O segundo eixo corresponde à captação a reação dos usuários e sua atitude. Em linhas gerais, as atividades para a coleta de dados foram: 1. Apresentação do Moodle e suas as funcionalidades aos participantes 2. Explanação sobre as tarefas que os participantes deverão efetuar, sem detalhar os objetivos do experimento Abrir a página do Moodle Efetuar login Acessar um conteúdo preparado para estudo Efetuar um exercício em grupo com objetivo de reflexão sobre o conteúdo apresentado, através de um chat Registrar suas impressões em fórum 3. Acessar página de avaliação, para que os participantes avaliem o Moodle segundo os critérios contidos no framework. O Moodle foi utilizado em um curso a distância sobre fundamentos de Web 2.0. O conteúdo programático do curso e a estratégia de aprendizagem aplicada (que pode ser visto, a seguir) nortearam-se pela preocupação em oferecer condições favoráveis para a interação cooperativa efetiva nas atividades propostas, ou seja, não interferimos nas escolhas dos participantes do grupo com relação à definição de grupo ou parceiros. Na escolha das tarefas, propomos as que privilegiassem a interação, por meio de fórum de discussão, em que os participantes efetuaram brainstorming sobre experiências sobre o tema da Web 2.0. O compartilhamento de ideias e as atividades colaborativas favorecem a verbalização no plano racional, a aquisição de habilidades e do planejamento em conjunto, promovendo diferentes perspectivas e múltiplas soluções, bem como a explicitação do ponto de vista dos participantes. Em termos de duração da interação, fomos criteriosos em oferecer a todas as tarefas um intervalo de um dia entre uma e outra, permitindo assim a assimilação por parte de um parceiro das proposições do outro, servindo como um período de latência. Assim, os participantes não precisam dar seguimento imediatamente àquilo que foi dito pelo parceiro, mas sim à sua idéia. A outra dimensão considerada está relacionada com as possibilidades de planejamento dos processos interpessoais ou sociais. Criamos tanto tarefas gerais, independente do conteúdo trabalhado, como tarefas específicas, que estão diretamente relacionadas ao conteúdo concreto a estudar. Por exemplo, em nosso curso existem atividades de agendar as tarefas do grupo através de uma ferramenta web 2.0 o Google agenda, testar soluções para as dificuldades encontradas, relatar resultados de experimentos. Assim, possibilitando que os participantes se atribuam diferentes papéis, cada participante pode resolver um 11 problema sozinho, ou participar conjuntamente da execução de todas as tarefas, ou ainda dividir com mais alguém a execução de determinada tarefa etc. A última dimensão que norteou a construção do nosso curso diz respeito às dinâmicas básicas de aprendizagem cooperativa. Procuramos em nosso curso sugerir tarefas tanto divergentes como convergentes. Ao pedirmos aos participantes que façam um relatório em grupo sobre como uma ferramenta web 2.0 pode ser aproveitada em sua prática, visamos buscar um consenso entre o grupo do que exatamente se deseja fazer, sendo essa então uma tarefa divergente. Contudo, quando delegamos aos participantes experimentar essa idéia da tarefa anterior, acreditamos estar criando uma atividade convergente, na qual todos os indivíduos estão empenhados na concretização de um objetivo comum, o de testar a idéia, e mesmo com papéis distintos, pois suas práticas serão distintas, a ação é coletiva e a coesão do grupo é, em geral, bastante grande. Portanto, acreditamos ter criado um curso que abrange e testa a organização das atividades de aprendizagem cooperativa. PROJETO CREAD - EXPERIMENTO SOBRE COLABORAÇÃO E ACESSIBILIDADE NO MOODLE AUTORES: ALESSANDRO JATOBÁ, ANDRE ENGELBRECHT, DEBORA RAMALHO E SAMANTHA VRABL NOME DO CURSO: FUNDAMENTOS WEB 2.0 EMENTA: ORIGENS E CARACTERÍSTICAS DA WEB 2.0. VIVÊNCIA DOS PRINCIPAIS CONCEITOS. APRESENTAÇÃO DE PORTFOLIO DE FERRAMENTAS E DICAS PARA UTILIZAÇÃO EM COTIDIANO. PERÍODO: UMA SEMANA CARGA HORÁRIA: 36 HORAS MODALIDADE: A DISTÂNCIA OBJETIVO: APRESENTAR OS CONCEITOS PRINCIPAIS DA WEB 2.0 PÚBLICO ALVO: DEFICIENTES VISUAIS COM BOA EXPERIÊNCIA EM LEITORES DE TELA E EM INTERNET. LOCALIZAÇÃO:http://greco.ppgi.ufrj.br/academico/course/view.php?id=78 Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 Módulo 5 Descrição Orientações Vamos Que Pensando Pensando Experimenta Experim Avaliação Iniciais e começar? ferramenta em Web em Web ndo ento das Quem é Web 2.0 2.0 na 2.0 na envio do Ferramentas você? estamos prática. prática relatório falando? envio do Relatório Objetivo Instruir os Apresentar Dinâmica Seleciona O aluno Os alunos Incuir no Como o alunos sobre histórico e de grupo r uma publicará irão moodle objetivo de a dinâmica do definição que ferrament na Wiki experimentar um finalizar o curso. de Web objetiva a a Web 2.0 suas idéias na prática o relatório curso os Sondagem 2.0. pesquisa e e hipótese que eles sobre o alunos inicial, Sondagem sobre relacionáde uso. produziram experiem avaliarão a momento de inicial ferramenta la com a Compartilh no módulo 3, ento. criatividade, apresentação sobre a s Web 2.0 prática ando assim com o eficiência e e integração origem da de maneira profission com os objetivo de praticidade do grupo. Web 2.0 lúdica al de cada seus verificar se dos projetos aluno, a colegas um as intenções de utilização fim de relatório e de novas produzir sobre o usabilidades ferramentas reflexão a uso da levantadas Web 2.0 cerca de ferramenta. em seu modelos e relatório 12 Data 09.10 à 10-10 Recurso Fórum 11-10 à 1210 Fórum 11-10 à 1210 Chat e Fórum estratégia s de utilização. . 13.10 à 14.10 Fórum funcionam na prática. 13.10 à 14.10 Wiki e Upload de Arquivo 15.10 à 19.10 Fórum 15.10 à 19.10 Fórum O cronograma de execução do experimento foi realizado, e em seu processo, nos deparamos com uma série de aspectos imprevistos, motivando-nos a explicitá-los na próxima seção, de Resultados Obtidos. 5. Resultados Obtidos Foram convocados pela lista VoxTec e indicações 12 pessoas (8 deficientes visuais e 4 videntes) que preencheram o Termo de Consentimento e receberam acesso à ferramenta. Destes, 4 deficientes visuais e 3 videntes se inscreveram no curso por meio do ambiente Moodle, sendo que somente 2 pessoas, deficientes visuais, concluíram o curso até o momento da publicação deste artigo, o que representa uma taxa de evasão de 84%. Por conta disso, focalizamos a análise nos dois casos de sucesso. Em termos de contexto de grupo, os participantes se encontravam localizados em Estados diferentes, sendo cada um de sexo e com diferença de seis anos de experiência com uso de informática entre eles. Ambos desconheciam o ambiente virtual de aprendizagem empregado. Quanto à usabilidade, o questionário indicou grau de satisfação e facilidade para realizar todas as tarefas propostas no curso. Entretanto, um dos participantes relatou dificuldade de uso do fórum, conforme mostra o comentário: “Olá, eu utilizei o JAWs, tive um pouco de dificuldade para escrever nos fóruns. Consegui entender como fazia para poder escrever as respostas só na sexta dia 17 de outubro”. A acessibilidade foi avaliada tanto por tracking técnico como pelos questionários. Embora nos questionários não tenha havido consenso com relação a este aspecto, ambos os participantes completaram todas as atividades propostas, utilizando as funcionalidades disponíveis. Porém, apesar de conseguir utilizar todas as funcionalidades, alguns elementos destas não puderam ser acessados, conforme o comentário abaixo: “Sobre a formatação dos textos para escrever as respostas, tentei entender, mas não consegui. Escrevi do jeito que está mesmo”. 13 19.10 Fórum e Questionário Online O nível de colaboração entre estes participantes foi considerado satisfatório, tendo em vista a quantidade de mensagens trocadas, acessos para consulta (participação) e o cumprimento das tarefas dentro do prazo, com qualidade e coerência esperadas (não houve repetições de idéias, parafraseamentos e comentários fora do contexto). Por fim, os participantes concordaram que a aprendizagem colaborativa foi alcançada com êxito, reafirmando a qualidade do processo e do material utilizado. 6. Trabalhos Relacionados O uso de ambientes colaborativos vem se difundindo de maneira crescente ao longo dos anos, na medida em que a evolução tecnológica vem fornecer recursos para fazer com que atividades colaborativas se tornem mais atraentes e amplamente utilizadas. As pessoas com deficiências físicas não podem, de forma alguma, serem excluídas desse contexto. A colaboração ultrapassa barreiras físicas. A cooperação e a colaboração em ambientes como wikis ou outras ferramentas web 2.0 é natural, cada pessoa possui uma motivação pessoal e, dessa forma, é capaz de quebrar barreiras de exposição pessoal que eventualmente esse tipo de atividade pode ocasionar (Jatobá et al. 2009). Diversos aspectos precisam ser observados quando se pretende realizar ações de inclusão digital. A interação de pessoas portadoras de limitações físicas, em especial visual, com ferramentas tecnológicas demanda um conjunto de cuidados, e determinados práticas precisam ser adotadas. Shinohara e Tenenberg (2009) avaliam aspectos relativos à usabilidade de ferramentas tecnológicas destinadas a deficientes visuais. Os autores afirmam que os obstáculos físicos não são os únicos que afetam a interação entre pessoas cegas e os objetos de uso diário. Eles consideram que o significado também não pode ser desconsiderado, exercendo forte influência sobre o uso de artefatos digitais ou não digitais. Os autores entendem por significado, fatores como socialização, eficiência, flexibilidade e controle. Em seu estudo, Shinohara e Tenenberg observaram deficientes visuais utilizando tecnologias variadas. Os autores também aproveitam estudos anteriores, onde foram isolados alguns eventos a fim de entender como esses usuários interagem com tecnologia. A partir desse estudo, concluem que um conjunto de funcionalidades, combinado com questões de cunho social determinam quem usará uma determinada tecnologia e como essa tecnologia será utilizada. Segundo Kelly et al. (2005), enquanto no passado muito da dificuldade de interação dos deficientes visuais com páginas web se devia à falta de conhecimento dos designers, hoje isso ocorre predominantemente devido à complexidade da relação entre conteúdo web e acessibilidade, contexto e uso 14 pretendido do conteúdo web, interpretação e implementação das regras gerais de acessibilidade, capacidade de navegação e tecnologias assistivas disponíveis, e percepção do usuário final com relação à navegação e à tecnologia assistiva. Para os autores, embora a W3C tenha, através de seu guia de regras gerais para a acessibilidade de conteúdo web (WCAG-Web Content Acessibility Guidelines), criado em 1999, fornecido uma base sólida para a produção de design de conteúdo web acessível, ainda há uma demanda crescente por um arcabouço que torne possível a aplicação do WCAG de maneira holística. Eles afirmam que uma implementação inapropriada das regras propostas no WCAG pode levar a sérios problemas práticos de monitoramento da acessibilidade. Sendo assim, Kelly et al. (2005) propõem a construção de um framework, aplicado em um contexto de e-learning, com objetivo de avaliar de maneira holística a acessibilidade das funcionalidades dessas ferramentas. Nesse framework, o usuário tem papel central. É dada uma ênfase especial nos resultados da aprendizagem, e não necessariamente nos recursos de e-learning disponíveis nas ferramentas avaliadas. As necessidades do aluno são colocadas no centro, rodeadas por aspectos relacionados aos resultados da aprendizagem, acessibilidade, usabilidade, intra-estrutura e fatores locais. Segundo Rezende (2007), a inclusão da pessoa portadora de deficiência visual através da utilização de ambientes virtuais de aprendizagem é importante fator na obtenção de sua autonomia. Em seu estudo, o autor reúne informações sobre a acessibilidade de alguns ambientes virtuais de aprendizagem gratuitos e, dessa forma, classificam o Moodle como um ambiente que incorpora características essenciais de acessibilidade. A principal contribuição do trabalho de Rezende (2007) é a ferramenta EASY. Construída em código aberto, a ferramenta EASY implementa as regras estabelecidas pelo padrão WCAG 1.0 e, dessa forma, permite que o usuário deficiente visual seja capaz de obter informações e interpretá-las. O autor destaca que o Moodle sofre com alguns problemas de acessibilidade devido ao fato de que, nesse ambiente, os leitores de tela precisam interagir com páginas dinâmicas construídas em PHP, que não seguem diretrizes de acessibilidade. Já o EASY, embora ainda seja dependente do Moodle, pelo fato de implementar os padrões WCAG, não sofre com essas limitações. O uso da ferramenta EASY e os ganhos propostos foram validados através de uma pesquisa exploratória realizada em um instituto de apoio a deficientes visuais. Os dados coletados apresentam os resultados da utilização da ferramenta EASY com diversos leitores de tela e, segundo o autor, aprimoraram de maneira significativa a interação dos usuários deficientes visuais com o ambiente de aprendizagem. Para Tambascia et al. (2008), para aproveitar plenamente os recursos fornecidos pelas tecnologias atuais, os usuários têm que ser capazes de 15 decodificar conteúdos, dialogar com outros usuários e produzir conteúdos que reflitam a visão de mundo e a cultura do usuário. A simples disponibilização de dispositivos tecnológicos não garante que usuários com limitações físicas sejam incluídos digitalmente. Tambascia e seus colegas afirmam que as limitações de idade, formação intelectual, ou até mesmo físicas, não podem ser de forma alguma fatores impeditivos da inclusão digital. Sendo assim, promovem uma discussão a fim de estabelecer modelos de interação paras as tecnologias de aprendizagem online adequados a pessoas com qualquer tipo de limitação. Para os autores, também é fundamental, até mesmo para o estabelecimento desses modelos, que as características sócio-culturais do público alvo dos ambientes virtuais de aprendizagem sejam plenamente estudados, a fim de fornecer meios para que esses sejam capazes de se apropriar das tecnologias em questão. 7. Considerações Finais e Trabalhos Futuros Este trabalho visou avaliar as possibilidades de aprendizagem colaborativa em ambientes virtuais para deficientes visuais. Neste estudo, foi utilizado para compor a avaliação o ambiente Moodle. Baseado nas teorias da auto-regulação da aprendizagem (Freire, 2009 apud Zimmerman, 2000; Silva et al., 2004), criamos um curso, composto de um conjunto de atividades influenciadas pelas três fases propostas por esta metodologia. Na primeira fase, influenciada pelos construtos motivacionais, os objetivos de realização, a auto-eficácia e a valorização da aprendizagem, o aluno escolhe um plano estratégico do que vai fazer e qual meta pretende atingir. As orientações inicias, o fórum de notícias e as tarefas 1 e 2 propostas neste estudo, visaram oferecer esse estímulo, já que se aproximam do contexto do aluno, sua vivência e preferências pessoais. As tarefas possuíam datas de sugestão para serem concluídas, muito embora não houvesse punição para aqueles que não a seguissem. Na segunda fase, ocorre o cumprimento dos objetivos traçados na anterior, em que a auto-monitorização e o controle de atenção são imprescindíveis. Vimos que poucos alunos conseguiram controlar o comportamento, o ambiente e os processos dentro do Moodle. O aluno deveria encontrar a regra do exercício e perceber que a cooperação era aspecto principal. Isso foi evidenciado nas tarefas 3 e 4, nas quais eram requeridos preparação de relatórios e construção em grupo de um artefato Web 2.0. Seguindo a perspectiva do modelo de auto-regulação, não ensinamos nenhum método padronizado, nem decidimos sobre a formação dos grupos. 16 Na ultima fase, provocamos a auto-reflexão e auto-reação por meio de questionário e fóruns de avaliação (tarefa 5). Essa fase foi influenciada fundamentalmente pelos construtos motivacionais e cognitivos, para verificar os valores pessoais em relação às decisões tomadas. Foram observados a persistência e o abandono dos alunos às tarefas em função dos sentimentos provocados ao longo do curso. Foram coletados indícios de que o ambiente Moodle provê requisitos essenciais de acessibilidade, visto que os usuários foram capazes de concluir todas as atividades, utilizando as funcionalidades indicadas para isto. Entretanto, foi detectado que alguns elementos destas funcionalidades permanecem inacessíveis, forçando a sua utilização de uma maneira desconfortável. Os resultados da aprendizagem colaborativa, apesar do tamanho reduzido do grupo, se mostraram bastante animadores, de acordo com a auto-avaliação dos participantes e da análise dos trabalhos produzidos. Sendo assim, a princípio, o Moodle pode ser considerado mais um instrumento facilitador da inclusão digital e social dos deficientes visuais. Entretanto, reconhecemos que o experimento se encontra ainda em fase inicial e é necessário acompanhá-lo por mais tempo a fim de obter resultados mais conclusivos. Esperamos ainda que outros participantes iniciem sua participação no curso ou continuem suas atividades já iniciadas, aumentando as possibilidades de colaboração e interação e estimulando o aprendizado coletivo. Agradecimentos Gostaríamos de agradecer aos professores do Programa de Pós-graduação em Informática (PPGI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcos Elia, Claudia Motta, Amauri Marques da Cunha e Paulo Victor de Carvalho, e à Coordenadora Geral de Educação a Distância da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Lúcia Dupret. Vanessa Braganholo foi parcialmente financiada pelo CNPq, projeto número 306889/2007-2. Este trabalho foi parcialmente financiado pela CAPES e CENPES. Alessandro Jatobá Mestrando em Informática, na linha de pesquisa de Sistemas de Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Especialista em Tecnologia da Informação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2003) e Gestão Estratégica pela Universidade Cândido Mendes (2006), cursou também Especialização Internacional em Gestão de Políticas de Recursos Humanos em Saúde pela FIOCRUZ (2008). Atualmente é Analista de Gestão em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz. Desde 1996 trabalha com análise e projeto de sistemas orientados a objetos e possui, grande domínio e experiência com Linguagem Java 17 Referencias Amershi, S., Carenini, G., Conati, C., Mackworth, A. K., and Poole, D. (2008). Pedagogy and usability in interactive algorithm visualizations: Designing and evaluating cispace. Interacting with Computers, 20(1):64–96. Araujo, R. M. d., Santoro, F. M., and Borges, M. R. S. (2004). A conceptual framework for designing and conducting groupware evaluations. International Journal of Computer Applications in Technology, 19(3/4):139–150. Arriada, M. C. (2001). Critérios para a análise de ferramentas de apoio à aprendizagem Cooperativa. Tese de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina. Baeza-Yates, R. and Pino, J. A. (2006). Towards formal evaluation of collaborative work. Information Research, 11:paper 271. Fitzpatrick, G. (2002). The locales framework: making social thinking accessible for software practitioners. 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