Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2014, v. 18, n. 18, p. 131 – 143
LEVANTAMENTO DIAGNÓSTICO DA VISÃO DISCENTE COM RELAÇÃO
ÀS AULAS PRÁTICAS E EXPERIMENTAIS EM ESCOLAS DE ENSINO
FUNDAMENTAL NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO – RJ
BIZARRO, Gabriel Henrique de Figueiredo¹
CAVALHEIRA, Rodrigo Guerra²
RODRIGUES, Ana Paula de Castro³
COELHO, Rosalina Sueli4
Resumo:
Segundo as pesquisas, existe uma grande variação no que se pensa realmente sobre as
aulas experimentais; alguns pesquisadores dizem que são de suma importância para o
processo de ensino aprendizagem pelo fato de acontecer uma exposição ao aluno, outros
autores já dizem que esse tipo de aula não é eficaz, tendo em vista que não é só a
resolução do problema que indagará o aluno à reflexão, questionamento e à curiosidade
em ciências. Neste tentamos analisar o que os alunos pensam sobre esse tipo de aula, e
principalmente se elas ocorrem de maneira natural ou não. Para isso foram feitas
entrevistas com 200 alunos do Ensino Fundamental, em quatro escolas da Zona Oeste
do Rio de Janeiro, sendo duas particulares e duas municipais. O estudo demonstrou que
poucos alunos têm acesso a este tipo de aula, e os que têm demonstraram mais interesse
nas aulas após a experimentação. Os alunos que não possuem gostariam de ter. Neste
artigo concluímos que as aulas experimentais, principalmente no que se refere ao
principal foco – de aprendizagem, para o aluno são de grande interesse.
Palavras-chave. Aulas experimentais - Ensino de ciências - Prática de ciências
¹ Acadêmico de Ciências Biológicas da Universidade Castelo Branco.
² Orientador Professor MSc. Rodrigo Guerra Cavalheira, docente Universidade Castelo Branco.
³ Coorientadora Professora DSc. Ana Paula de Castro Rodrigues, estagiária de pós-doutorado da
Universidade Federal Fluminense.
4
Professora MSc. Rosalina Sueli Coelho, docente da Universidade Castelo Branco.
__________________________________________________________________
Introdução
O uso de atividades práticas no ensino não é recente, porém há grande variação
no modo de fazê-lo nas diferentes tendências e movimentos dos últimos anos. Embora
presente no ideário de professores sobre o que consideram um "bom ensino de
ciências", fazendo parte da quase totalidade das propostas de ensino, ocupando espaço
na mídia, comparecendo em boa parte dos cursos de capacitação docente em ciências, a
experimentação frequentemente não é utilizada nas aulas, em especial nos primeiros
ciclos do Ensino Fundamental (BARRETO FILHO, 2001).
O trabalho experimental é, hoje em dia, uma forma de debate e reflexão na
educação em ciências, que faz emergir intervenções, por vezes divergentes, de todos os
setores da comunidade educativa (MARTINS & VEIGA, 1999). Em geral, professores e
alunos têm uma visão simplista sobre a experimentação. Muitas dessas visões pessoais
estão cunhadas pelo empirismo do observar para teorizar e por isso não causa surpresa
que muitos dos relatos de aulas com experimentações estivessem alicerçados sobre
essas compreensões (LEACH, 1998). As pesquisas de Galiazzi e Gonçalvez (2004)
apontam para a necessidade de discutir e enriquecer as teorias pessoais dos professores
sobre a experimentação, com o objetivo de superar visões simplistas que ainda pontuam
essa atividade.
Ainda existem muitos docentes que lecionam imaginando que pode comprovar a
teoria em laboratório, assim representando de forma passiva a visão de ciência; com isso
o professor faz dela como o certo definitivo e o aluno vai reproduzir da mesma forma,
assim passando um conceito de que só existe uma única resposta para a questão
proposta (AMARAL & SILVA, 2000). A ideia de experimentação tem muitas vezes se
baseado, na crença de se utilizar um método científico, seguindo vários passos para
comprovar um conhecimento objetivo (BARBERÁ & VALDÉS, 1996), entretanto,
como mostrado no estudo de Hodson (1994), ela é muito mais do que só a comprovação
de uma teoria, e sim a possibilidade de reflexão do aluno, assim construindo uma visão
crítica e analítica da situação vivida.
Em aulas tradicionais os alunos normalmente fazem papel de ouvintes; na
maioria das vezes as informações passadas pelos professores são memorizadas e
esquecidas em um curto período se tempo. Autores como Francalanza (1986) defendem
um modelo cognitivo de aprendizagem. Esse tipo de método leva situações cotidianas
(reais) para que os alunos possam repondê-las; mesmo que essa resposta não seja
satisfatória, deve se levar em conta a busca da solução pelos alunos. Algumas dessas
situações podem ser inseridas em modelos experimentais em laboratórios.
Nas práticas convencionais adotadas por professores (muitas vezes inconsciente)
incluem-se opções metodológicas fixas que acabam por excluir o ambiente propício à
realização de questionamentos e experimentações, o que faz com que surjam
dificuldades de diferentes origens na prática de ensino (ZANNON & FREITAS, 2007).
Para a realização de práticas de laboratório, não são necessários aparelhos e
equipamentos caros e sofisticados. Na falta deles, é possível, de acordo com a realidade
de cada escola, que o professor realize adaptações nas suas aulas práticas a partir do
material existente e, ainda, utilize materiais de baixo custo e de fácil acesso. Essas aulas
podem funcionar como um contraponto às aulas teóricas, assim vivenciando em um
modelo real, que por sua vez e pelo contato direto com o aluno, ajudam na fixação do
conteúdo (CAPELETTO, 1992). Depois de expor e apresentar uma “teoria”, conduz
seus alunos ao laboratório para que eles possam “confirmar” na prática a verdade
daquilo que lhes foi ensinado, limitando ao ensino experimental o papel de um recurso
auxiliar, capaz de assegurar uma transmissão eficaz de conhecimento científico e na sua
reflexão (LIMA, et al., 1999).
O objetivo deste trabalho é saber a aceitação dos alunos em relação às atividades
experimentais, se para eles ocorre um grau maior de interesse nas aulas de ciências com
esse tipo de aula, e saber se ocorrem ou não essas aulas nas escolas da Zona Oeste do
Rio de Janeiro, RJ, e o porquê de ocorrer ou não.
Procedimentos Metodológicos
Este trabalho foi desenvolvido pelo Aprenda fazendo, um projeto de extensão da
Universidade Castelo Branco que tem como objetivo a utilização de métodos práticos e
experimentais como uma abordagem para o processo de ensino e aprendizagem e
também, levar o aluno para o interesse na ciência.
Esta pesquisa foi desenvolvida em quatro escolas da Zona Oeste do Rio de
Janeiro, sendo duas particulares e duas municipais. O estudo teve aprovação dos
diretores das instituições, desde que os nomes fossem mantidos em sigilo. Foi utilizado
um questionário, que será anexado ao fim deste trabalho, dividido em dois tipos, um
para os que têm aulas experimentais e um para os que não têm, tentando avaliar seu
interesse por ciência e se aulas experimentais perfazem algum ônus a mais em seu
processo de aprendizagem.
Foram entrevistados 200 alunos de quatro escolas da Zona Oeste do Rio de
Janeiro, do período de início de fevereiro até o final do mês de abril, sendo duas escolas
municipais (102 alunos entrevistados) e duas particulares (98 alunos entrevistados); por
motivos administrativos não será mencionado o nome das escolas. Todos os alunos
entrevistados eram do Ensino Fundamental, do 6º ano até o 9º ano. As idades dos alunos
variavam de 11 a 18 anos. Em relação às escolas, todas as escolas municipais em que foi
realizada a pesquisa eram de grande porte e possuíam sala de ciências, laboratório,
biblioteca e sala de informática, já as escolas particulares eram pequenas e possuíam
somente sala de informática.
Análise de dados
Nas entrevistas, como indicado na Ilustração 1 abaixo, a minoria dos alunos
(24%) entrevistados tinha aulas experimentais, enquanto o restante da maioria (76%)
não possuía.
Alunos que possuem aulas
experimentais.
Possuem
Não possuem
24%
76%
Ilustração 1: Gráfico dos alunos que possuem aulas experimentais nas escolas.
Fonte: Próprio autor.
Alunos que possuem aulas práticas e/ou experimentais
A frequência na qual eles têm essas aulas é: a minoria (4,17%) diz que tem em
todas as aulas, a segunda maioria dos entrevistados (33,33%) possui de 1 a 5 vezes por
ano, maioria dos entrevistados (45,83%) diz possuir de 5 a 10 vezes por ano, e o
restante (16,67%) possui mais de 10 vezes por ano (Ilustração 2).
50
45,83 %
45
40
33,33 %
35
30
25
20
16,67 %
15
10
5
4,17 %
0
Toda aula.
De 1 a 5 vezes por ano
De 5 a 10 vezes por ano
Mais de 10 vezes por ano.
Ilustração 2: Frequência de aulas práticas que os alunos possuem ao longo do ano.
Fonte: Próprio autor.
Na pesquisa os entrevistados que disseram gostar das aulas experimentais ou/e
práticas foram a maioria (83,33%), também foi apontado que mais da metade dos alunos
(62,50%) que possuem essas aulas se sentem mais estimulados a pesquisar e estudar
ciências e também sentem mais facilidade de assimilar as aulas quando o professor
utiliza esses método pedagógico (Ilustração 3).
90
80
70
60
50
Sim
40
Não
30
Talvez
20
10
0
Gosta de aulas práticas.
Aumento de interesse pela
ciência, porcausa das aulas
práticas.
Ilustração 3: Interesse dos alunos pelas aulas experimentais.
Fonte: Próprio autor.
Alunos que não possuem aulas práticas e/ou experimentais:
Dos restantes dos entrevistados que não possuem as aulas experimentais (76%),
grande parte (80,26%) deles disse que gostaria de ter essas aulas, sendo que mais da
metade (59,21%) não sabem como é uma aula experimental e/ou prática. Muitos deles
(59,21%) acham que seu interesse em estudar ciências aumentaria com este tipo de aula.
Quando indagados para a possibilidade de ter aulas experimentais, a maioria (86,84%)
disse que nunca perguntou ao professor se poderia realizar esse tipo de aula; dos poucos
(13,16%) que perguntaram, a grande maioria obteve respostas do professor como falta
de equipamento na escola, falta de tempo do professor e turmas muito grandes
(Ilustração 4).
Sim
Não
Talvez
86,84%
80,26%
59,21%
50,21%
40,79%
27,63%
19,74%
13,26%
Alunos que gostariam de
ter aulas práticas.
Você tem idéia de como
seria uma aula
experimental.
O interesse do aluno
aumentaria , se tivesse
aulas experimentais.
13,16%
O aluno já solicitou ao
professor para que tivesse
aulas experimentais.
Ilustração 4: Respostas dos alunos que não possuem aulas experimentais.
Fonte: Próprio autor.
Discussão de resultados
No estudo, mostrou-se presente a pouca existência de aulas experimentais, e os
motivos para não ocorrerem são principalmente turmas grandes, falta de equipamento e
falta de tempo do professor, esse mesmo resultado também foi encontrado no estudo de
Firmino et al., (2013), e também em Amaral & Silva (2000), em que foi constado,
principalmente, o número excessivo de alunos nas turmas, a carga horária reduzida e
inadequação da infraestrutura da escola.
No estudo de Pedracini et al. (2007), mostra que, apesar do aluno ter contato
com certo conteúdo, ele acaba tendo ideias destituídas do real significado deste
conteúdo, demonstrando um falta de eficácia com aulas tradicionais. Em nosso estudo,
constatamos que os alunos têm mais interesse nos conteúdos com uma abordagem
experimental.
No estudo de Voigt et al. (2011), também constatou que atividades feitas com
materiais de fácil acesso despertaram a curiosidade dos alunos e fizeram com que eles
percebessem que sua realidade está inserida em sua aprendizagem, e principalmente no
papel da reflexão após a experimentação, que é um dos seus objetivos principais, como
na pesquisa de Hodson (1994), que diz que o ensino experimental precisa envolver mais
reflexão do que trabalho prático. Nenhuma atividade experimental assegura, por si só, a
obtenção dos efeitos esperados no processo de ensino-aprendizagem, assim como
Mortimer et al., (2000), que afirma que de nada adianta uma aula experimental, se não
propiciar um momento de discussão teórico prático.
Autores como Borges (2004), Silva e Zanon (2000) têm discutido a melhoria das
técnicas de ensino em ciências, e que as metodologias atuais não têm sido muito
eficazes. Entretanto, nos trabalhos de Praia et al. (2002), tem dado críticas sobre a ideia
de que as atividades experimentais que se destinam a ilustrar ou a comprovar teorias são
limitadas e não servem na construção de conhecimento do aluno, o que mostra uma
clara diferença do meu estudo, que ao, contrário desses autores, demonstra que
atividades experimentais aumentam o grau de interesse dos alunos em relação a
ciências, gerando assim curiosidades e procura na resolução de respostas, assim como
constatado no estudo de Gonzáles (1992), na qual ele diz que a resolução de problemas
dá significado ao ensino de ciências, e, por sua vez, as atividades experimentais
constituem uma verdadeira ponte teórico-experimental.
Considerações finais
Os resultados demonstraram que ainda há pouca utilização de métodos práticos
ou experimentais em aulas. Esta pesquisa realizada mostrou que os alunos gostam e que
possuem um grande grau de interesse pelas aulas experimentais existentes.
Grande parte dos professores não utiliza aulas experimentais ou práticas. A
maioria dos entrevistados gostaria de ter aulas experimentais ou práticas, embora nem
mesmo tenha conhecimento deste tipo de aula. Ainda assim, os alunos disseram que seu
interesse por aulas de ciência aumentaria com esse tipo de aula; quando indagados se já
pediram aos professores, a maioria disse que não, aos que disseram que sim, a resposta
na maioria dos casos foi a falta de equipamentos na escola, turmas muito grandes e falta
de apoio da direção.
Nesse estudo, podemos constatar que ainda faltam pesquisas, principalmente
com os professores da rede regular de ensino, para a utilização desses métodos em aulas
e talvez uma capacitação, demonstrando que não são necessários muitos materiais para
aulas experimentais.
Referências:
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Ciências: Uma Revisión. Enseñanza de Las Ciências, Barcelona, v.14, n.3, p.
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3. BARRETO
FILHO,
Benigno.
Um
diálogo
com
trabalhos
sobre
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Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2001, Atibaia. ATAS III
ENPEC. Porto Alegre: IF/UFRS, 2001.
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Cad. Bras. Ensino Física, 21, 9-30.
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UMA
PESQUISA
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QUÍMICA. Quim. Nova, Vol. 27, No. 2, 326-331, 2004
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Enseñanza de las Ciencias (10): 206-11
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Wellington, J. Routledge: London, 1998, cap. 4.
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um mundo de materiais. Belo Horizonte: Ed. UFMG. 1999. 78p.
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de Inovação Educacional.
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Curricular de Química do Estado de Minas Gerais: Fundamentos e Pressupostos.
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fundamental: ações que favorecem a sua aprendizagem. Ciências & Cognição
2007; v. 10: 93-103
Questionários para alunos:
1) Nas suas aulas de ciências, seu professor utiliza métodos experimentais ou práticos?
(
) Sim.
(
) Não
2) Se a resposta for sim, continue a responder daqui até a questão 4. Se a resposta anterior
foi não, então pule e comece a responder a partir da questão 5. Você gosta das aulas
experimentais ou práticas?
(
) Sim.
(
) Não
3) Com que frequência você tem esse tipo de aula?
( ) Toda aula.
a 10 vezes por ano.
(
(
) De 1 a 5 vezes por ano
) Mais de 10 vezes por ano.
( )De 5
4) Você tem mais interesse ou facilidade para assimilar as aulas, quando as mesmas são
práticas ou experimentais?
(
) Sim
(
)Não
(
)Talvez
5) Você gostaria de ter aulas experimentais?
(
) Sim
(
) Não
6) Você tem alguma ideia de como seria uma aula experimental ou prática de ciências?
(
) sim
(
)Não
7) Seu interesse em assistir aulas de ciências aumentaria, se você tivesse aulas
experimentais ?
(
) Sim
(
)Não
(
)Talvez
8) Você ou alguém da sua turma já cogitou a hipótese de pedir ao professor para fazer
aulas experimentais? Se a resposta for sim, por que ela não ocorreu?
(
) Sim
Não (
)
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