INSTITUTO AGRONÔMICO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL SELEÇÃO ENTRE E DENTRO DE PROGÊNIES DE CAFÉ COM RESISTÊNCIA AO BICHO-MINEIRO, LEUCOPTERA COFFEELLA E À FERRUGEM HEMILEIA VASTATRIX JULIANA VIEIRA ALMEIDA NONATO Orientador: Oliveiro Guerreiro Filho Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical, Área de Concentração em Genética, Melhoramento Vegetal e Biotecnologia. Campinas, SP Abril 2013 Ao meu esposo, Francisco, por ter permanecido ao meu lado em todos os momentos. DEDICO. À minha família, pelo amor e carinho, em especial, ao meu irmão Mateus, que partiu cedo demais. OFEREÇO. iii AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Oliveiro Guerreiro Filho, que contribuiu com o meu crescimento acadêmico e pessoal com seus ensinamentos e orientação. Agradeço ainda pela dedicação e paciência. Ao Prof. Antonio Carlos de Oliveira, meu primeiro orientador, por ter me mostrado a importância da pesquisa científica. Ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), pela oportunidade de realizar o curso de Mestrado. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo apoio financeiro. Aos pesquisadores do Centro de Café ‘Alcides Carvalho’, pelos ensinamentos. Em especial, agradeço à Masako Toma Braghini pelo auxílio nos experimentos e pelos esclarecimentos de minhas dúvidas sobre a ferrugem. Aos professores do curso de Mestrado, que contribuíram, substancialmente, para minha formação. Aos colegas do curso de Mestrado, pela amizade e apoio durante o desenvolvimento desta dissertação. Aos amigos e colegas de trabalho do Centro de Café por tornarem o ambiente de estudo mais alegre e descontraído. Em especial, ao amigo Alex pela ajuda dispensada nas avaliações dos experimentos. Aos amigos Bárbhara e Paulo, pela convivência, pela ajuda e pelos diversos conselhos durante nossas conversas. Agradeço aos meus amigos Milena, Marisa, Tananne, Geová Junior, Juarez Alves, Cássio e Tatiane por fazerem parte da minha vida. Aos vizinhos e amigos Adelsom e Rosana, pelo companheirismo e momentos de descontração. À minha amiga Jamile, que além do incentivo e da amizade, contribuiu, na prática, com a realização da dissertação. Aos meus avós, tios, primos que sempre me apoiaram e acreditaram em mim. Em especial, agradeço aos meus primos e amigos Joselito Júnior, Samara e Lázaro, e às minhas tias Cátia e Celeste, pelo incentivo. Aos meus sogros, Norma e João, e à minha cunhada Ana Clara, pelo carinho, durante todos esses anos. iv A meus pais, Elza e Augusto, por não terem medido esforços para a realização de mais uma conquista e, agradeço ainda, à minha irmãzinha, Patrícia, pelo carinho. Vocês são a base da minha vida! Ao meu esposo e melhor amigo, Francisco, pelo amor e companheirismo. Agradeço a paciência, o estímulo e o apoio incondicional nos momentos mais difíceis desta empreitada. MUITO OBRIGADA! v SUMÁRIO LISTA DE TABELAS......................................................................................................... LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................... RESUMO............................................................................................................................. ABSTRACT.......................................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 2 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................................... 2.1 A Cultura do Café........................................................................................................... 2.2 Bicho-Mineiro-do-Cafeeiro, Leucoptera coffeella......................................................... 2.2.1 Biologia do inseto........................................................................................................ 2.2.2 Danos nas plantas e métodos de controle.................................................................... 2.3 A Ferrugem-Alaranjada-do-Cafeeiro: Hemileia vastatrix.............................................. 2.4 Melhoramento do Cafeeiro e a Utilização de Coffea racemosa Visando Resistência ao Bicho-Mineiro.................................................................................................................. 3 OBJETIVOS...................................................................................................................... 4 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................... 4.1 Material Vegetal............................................................................................................. 4.2 Características Agronômicas.......................................................................................... 4.3 Características dos Frutos e das Sementes...................................................................... 4.4 Avaliação do Nível de Resistência das Plantas ao Bicho-Mineiro................................. 4.4.1 Avaliações em condições de campo............................................................................ 4.4.2 Avaliações em condições de laboratório..................................................................... 4.5 Avaliação do Nível de Resistência das Plantas à Ferrugem........................................... 4.5.1 Avaliações em condições de campo............................................................................ 4.5.2 Avaliações das condições de laboratório..................................................................... 4.6 Análises Estatísticas........................................................................................................ 4.6.1 Modelo experimental adotado..................................................................................... 4.6.2 Análise em componentes principais (ACP)................................................................. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................... 5.1 Avaliações de Progênies Derivadas de Autofecundação e de Polinização Livre de Plantas Resistentes ao Bicho-Mineiro.................................................................................. 5.2 Avaliações de Progênies F1 de Retrocruzamentos entre Plantas Resistentes ao BichoMineiro com Cafeeiros da Cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 e do germoplasma Catuaí SH3, Suscetíveis à Praga....................................................................................................... 5.3 Análise Multivariada Completa de Progênies Derivadas de Autofecundação e Polinização Livre, e de Progênies F1 que Envolvem Retrocruzamentos Entre Cafeeiros Resistentes ao Bicho-Mineiro e Cafeeiros da Cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 e do germoplasma Catuaí SH3, Suscetíveis à Praga..................................................................... 6 CONCLUSÕES................................................................................................................. 7 REFERÊNCIAS................................................................................................................. vii ix xi xii 01 02 02 03 03 04 06 08 09 09 09 12 13 13 13 14 17 17 17 18 19 19 20 20 34 46 49 50 vi LISTA DE TABELAS Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 - Tabela 4 - Tabela 5 - Tabela 6 - Tabela 7 - Tabela 8 - Tabela 9 - Tabela 10 - Tabela 11 - Relação das progênies avaliadas no ensaio EP 507, em Campinas, SP......................................................................................................... 10 Relação das progênies avaliadas no ensaio EP 509, em Campinas, SP......................................................................................................... 10 Escala de pontos usada para a classificação do tipo de reação das plantas, em campo, em função da análise da intensidade de ataque do bicho-mineiro.................................................................................. 14 Escala de pontos para a classificação das plantas quanto ao nível de resistência, em laboratório, com base no tipo de lesão desenvolvida em discos foliares................................................................................. 16 Valores médios de cinco colheitas de frutos, em quilogramas de café da roça e sacas de café beneficiado por hectare (sc ha-1) e número de plantas por progênie com média superior à média e à melhor planta da testemunha em progênies do EP 507, em Campinas, SP......................................................................................................... 20 Ciclo de maturação dos frutos e frequência de genótipos das plantas em relação ao porte e à cor dos frutos em progênies de cafeeiros do EP 507, em Campinas, SP.................................................................... 23 Valores médios da porcentagem de frutos chochos e da massa de 100 frutos cerejas, em gramas, de progênies de cafeeiros do EP 507, em Campinas, SP................................................................................. 25 Valores médios do índice de avaliação visual, enfolhamento, altura e diâmetro da copa das plantas de progênies de cafeeiros do EP 507, em Campinas, SP................................................................................. 27 Avaliações relacionadas à incidência de Leucoptera coffeella, nível de reação no campo e número de plantas resistentes e suscetíveis em laboratório, em cafeeiros das progênies do EP 507, em Campinas, SP......................................................................................................... 29 Avaliações realizadas no campo e em laboratório relacionadas à incidência e à severidade de Hemileia vastatrix em cafeeiros das progênies do EP 507, em Campinas, SP.............................................. 31 Cafeeiros com resistência múltipla ao bicho-mineiro e à ferrugem selecionados no EP 507, em Campinas, SP......................................... 33 vii Tabela 12 - Tabela 13 - Tabela 14 - Tabela 15 - Tabela 16 - Tabela 17 - Tabela 18 - Tabela 19 - Valores médios de cinco colheitas de frutos, em quilogramas de café da roça e em sacas de café beneficiado por hectare (sc ha-1), e número de plantas por progênie com média superior à média e à melhor planta da progênie testemunha do EP 509, em Campinas, SP......................................................................................................... 34 Ciclo de maturação dos frutos e frequência de genótipos das plantas em relação ao porte e à cor dos frutos em progênies de cafeeiros do EP 509, em Campinas, SP.................................................................... 36 Valores médios da porcentagem de frutos chochos e da massa de 100 frutos cerejas, em gramas, de cafeeiros da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e de cinco progênies F1 do EP 509, em Campinas, SP......................................................................................................... 38 Valores médios do índice de avaliação visual, enfolhamento, altura e diâmetro da copa das plantas de progênies F1 e de cafeeiros da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 do EP 509, em Campinas, SP......................................................................................................... 39 Avaliações relacionadas à incidência de Leucoptera coffeella, nível de reação no campo e número de plantas resistentes e suscetíveis em laboratório, em cafeeiros da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e das progênies F1RC5 e F1RC6 do EP 509, em Campinas, SP..................... 41 Avaliações realizadas em campo e em laboratório, relacionadas à incidência e à severidade de Hemileia vastatrix em cafeeiros das progênies F1 e da cultivar Catuaí Vermalho IAC 99 do EP 509, em Campinas, SP....................................................................................... 43 Cafeeiros com resistência múltipla ao bicho-mineiro e à ferrugem selecionados no ensaio de progênies F1RC5 e F1RC6 do EP 509, em Campinas, SP....................................................................................... 45 Cafeeiros resistentes ao bicho-mineiro, à ferrugem alaranjada e com baixa incidência de frutos chochos, selecionados nos ensaios de progênies EP 507 e EP 509.................................................................. 48 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 - Figura 5 - Figura 6 Figura 7 - Figura 8 - Genealogia das progênies obtidas por cruzamentos e retrocruzamentos e avaliadas no ensaio de progênies EP 507............... 11 Genealogia das progênies obtidas por cruzamentos e retrocruzamentos e avaliadas no ensaio de progênies EP 509............... 11 Criação de insetos em laboratório. Gaiolas de criação (A); Plantas infestadas (B); Folha com crisálidas (C)...........…………………...….. 15 Aparato para infestação de folhas destacadas em gaiolas (A); Vazador, pinça e disco de folha (B); Câmara úmida usada na manutenção de discos de folhas infestadas (C)...................................... 16 Tipos de lesões causadas por Leucoptera coffeella em discos de folhas de cafeeiros com diferentes níveis de resistência à praga, sendo A) Lesões pontuais; B) Lesões filiformes pequenas; C) Lesões grandes irregulares; D) Lesões grandes arredondadas........................... 16 Produção de café da roça, em kg planta-1 ano-1, de cafeeiros das progênies que compõem o ensaio EP 507.............................................. 22 Produção de café da roça, em kg planta-1 ano-1, de cafeeiros das progênies F1 e da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 que compõem o ensaio EP 509......................................................................................... 36 Distribuição das progênies em plano 1-2 (A) e círculo de correlação das variáveis produção de frutos (PRO), índice de avaliação visual (IAV), porcentagens de frutos chochos avaliados em 2005 (CH1) e em 2011 (CH2), enfolhamentos avaliados em 2005 (ENF1) e em 2011 (ENF2), massa de cem frutos (MCF) e das sementes (MS), altura (ALT) e diâmetro da copa das plantas (DIA), níveis de resistência ao bicho-mineiro em campo avaliados em 2005-2007 (BM1), em 2010 (BM2) e em 2011 e 2012 (BM3), nível de resistência ao bicho-mineiro avaliado em laboratório (RBL), nível de resistência à ferrugem avaliado em campo para tipo de reação (FCT) e densidade de lesão (FCD) e nível de resistência à ferrugem avaliado em laboratório para tipo de reação (FLT) e densidade de lesão (FLD) (B) da análise em componentes principais realizada com 9 progênies do EP 507 e testemunha e 5 progênies do EP 509 e testemunha, em Campinas, SP............................................................... 46 ix Figura 9 - Distribuição das progênies em plano 1-2 (A) e círculo de correlação das variáveis produção de frutos (PRO), índice de avaliação visual (IAV), porcentagens de frutos chochos avaliados em 2005 (CH1) e em 2011 (CH2), enfolhamentos avaliados em 2005 (ENF1) e em 2011 (ENF2), massa de cem frutos (MCF) e das sementes (MS), altura (ALT) e diâmetro da copa das plantas (DIA), níveis de resistência ao bicho-mineiro em campo avaliados em 2005-2007 (BM1), em 2010 (BM2) e em 2011 e 2012 (BM3), nível de resistência ao bicho-mineiro avaliado em laboratório (RBL), nível de resistência à ferrugem avaliado em campo para tipo de reação (FCT) e densidade de lesão (FCD) e nível de resistência da ferrugem avaliado em laboratório para tipo de reação (FLT) e densidade de lesão (FLD) (B) da análise em componentes principais realizada com 8 progênies do EP 507 e testemunha e 5 progênies do EP 509 e testemunha, em Campinas, SP............................................................... 47 x Seleção entre e dentro de progênies de café com resistência ao bicho-mineiro, Leucoptera coffeella e à ferrugem, Hemileia vastatrix RESUMO O Brasil é o principal produtor e exportador de café, sendo responsável por aproximadamente 25% do volume internacional comercializado. As espécies com maior relevância no mercado mundial são Coffea arabica e C. canephora. Os principais problemas fitossanitários da cultura do café são o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) e a ferrugem (Hemileia vastatrix Berk. et Br.), que podem afetar substancialmente o potencial produtivo das lavouras. Os objetivos do presente trabalho foram o de avaliar e selecionar progênies e indivíduos pertencentes a diferentes gerações do programa de melhoramento do cafeeiro visando resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem, baseando-se em características agronômicas e tecnológicas e definir estratégias e ações para abreviar a obtenção de cultivares resistentes e produtivas. Para tanto, foram instalados dois ensaios de progênies (EP 507 e EP 509), em um delineamento experimental de blocos com tratamentos distribuídos ao acaso, no qual foram realizadas avaliações diversas relacionadas às características agronômicas e resistência das plantas ao bicho-mineiro e à ferrugem. Os resultados indicam que as progênies H13685-1-25 PA, H13685-1-25 AF, H20032 F1RC5, H20049 F1RC5 e H20050 F1RC6 apresentaram bom vigor vegetativo, produção elevada e estão segregando para a resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem, podendo ser usadas em futuras seleções. As progênies avaliadas nos dois ensaios possuem indivíduos resistentes ao bicho-mineiro e/ou à ferrugem, apresentando, no total, 10% das plantas com resistência múltipla aos agentes bióticos citados. Os estudos possibilitaram a seleção de progênies tanto para o avanço de gerações, visando à obtenção de novas cultivares com resistência múltipla propagadas sexualmente, como para a seleção de plantas individuais promissoras, visando a obtenção de cultivares via clonagem. Palavras-chave: Coffea arabica, bicho-mineiro, seleção, resistência a insetos xi Selection between and within coffee progenies with resistance to coffee leaf miner, Leucoptera coffeella and coffee leaf rust, Hemileia vastatrix ABSTRACT Brazil is the main producer and exporter of coffee, accounting for approximately 25% of the international market. The species most relevant on the global market are Coffea arabica and C. canephora. The main phytosanitary problems of coffee cultivation are the leaf miner (Leucoptera coffeella) and coffee leaf rust (Hemileia vastatrix Berk. et Br.), that may substantially affect the production potential of coffee plantations. The objectives of the present study were to evaluate and to select progenies and individuals within progenies belonging to different generations of the breeding program for resistance to coffee leaf miner and to rust, based also on agronomic and technological characteristics, and to define strategies and actions to abbreviate the time required to obtain resistant and productive cultivars. Two progeny trials (EP 507 and EP 509) planted in a randomized complete block design were evaluated for agronomic characteristics and resistance to leaf miner and rust. The results indicate that progenies H13685-1-25 PA, H13685-1-25 AF, H20032 F1BC5, H20049 F1BC5, and H20050 F1BC6 showed good vegetative vigor, high production and are segregating for resistance to leaf miner and rust. These progenies can therefore be used for further selection. Progenies evaluated in the two trials have individuals resistant to leaf miner and/or rust, with a total of 10% of the plants showing resistance to leaf miner and rust simultaneously. The studies allowed the selection of progenies both for the advancement of generations in order to obtain new seed propagated cultivars with multiple resistances and for the selection of individual trees in order to obtain cultivars via cloning. Key words: Coffea arabica, coffee leaf miner, selection, insect resistance. xii 1 INTRODUÇÃO O Brasil é o principal produtor e exportador mundial de café, responsável por cerca de 25% do volume internacional comercializado. A área atual ocupada pela cafeicultura no Brasil é de 2,37 milhões de hectares com 6,74 bilhões de cafeeiros. A produção de café arábica e conilon, no Brasil, para a safra de 2012/13 é estimada em 46,45 milhões de sacas de café beneficiado, representando uma redução entre 7,6% e 1,3%, quando comparada à produção obtida na safra anterior (CONAB, 2013). O Estado de São Paulo, de acordo com a primeira estimativa da safra de 2013, deverá colher de 4,0 a 4,7 milhões de sacas de café beneficiado. Essa baixa se deve ao ano bienal de baixa do cafeeiro, acentuado pela escassez de chuvas, assim como, pelas elevadas temperaturas observadas nos cinturões produtores de café do Estado (CONAB, 2013). O custo de produção da cultura é bastante variável de uma região a outra e possui relação estreita com a utilização de defensivos para o controle químico de pragas e doenças, que contribuem para a redução do potencial produtivos das plantas. Um dos mais importantes problemas fitossanitários da cultura é o bicho-mineiro Leucoptera coffeella (Guérin-Méneville, 1842). A praga, que só ocorria no Brasil em períodos secos, atinge níveis bastante elevados também em períodos chuvosos (PARRA et al, 1985), podendo chegar a perdas de mais de 50% da produção (SOUZA et al., 1998). A ferrugem-do-cafeeiro Hemileia vastatrix Berk. et Br. é a principal doença que ocorre nos cafeeiros do Brasil, e pode causar um prejuízo de, em média, 35%. Em condições de estiagem prolongada nos períodos de maior severidade da doença, esse prejuízo passa de 50% (ZAMBOLIM et al., 1999). As diferentes estratégias de controle dos principais agentes bióticos da cultura são bastante eficazes, especialmente, o controle químico com uso de pesticidas. Entretanto, eles reduzem a competitividade das lavouras em função do maior custo de produção e dos problemas ambientais que podem ocasionar. Por isso, a utilização de cultivares resistentes é a melhor estratégia no combate às pragas. A seleção de cafeeiros resistentes ao bicho-mineiro é realizada através da transferência de genes de resistência de C. racemosa para cultivares de C. arabica (MEDINA FILHO et al., 1977b). Hibridações entre cafeeiros resistentes à ferrugem alaranjada e ao bicho-mineiro 1 também são realizadas com o objetivo de selecionar novas cultivares com resistência múltipla aos principais problemas fitossanitários da cultura. Progênies sexuais ou clonais pertencentes a gerações avançadas do programa de melhoramento, visando à resistência ao inseto, são avaliadas em diferentes regiões produtoras dos principais estados. O presente estudo se relaciona ao desempenho de progênies obtidas a partir da autofecundação ou polinização aberta de plantas especiais, assim como de progênies F1 obtidas por retrocruzamento destas mesmas plantas com cultivares de C. arabica. 2 2.1 REVISÃO DE LITERATURA A Cultura do Café O cafeeiro pertence à família Rubiaceae, gênero Coffea, reunindo 124 espécies (DAVIS et al., 2011), todas nativas da África e Sul da Ásia (CHEVALIER, 1947). Entretanto, apenas as espécies C. arabica L., (Café arábica) e C. canephora Pierre ex A. Froehner (Café conilon ou robusta) são importantes economicamente no mercado mundial, correspondendo a 75 e 25%, respectivamente, da exploração comercial. A espécie C. arabica é originária do Sudoeste da Etiópia, Sudeste do Sudão e Norte do Quênia, regiões restritas e marginais às demais espécies do gênero (CHEVALIER, 1947). É uma espécie alotretaplóide (2n = 4x = 44 cromossomos), autógama e suas flores são, cerca de 90%, autofecundadas. Outras espécies do gênero Coffea são diploides (2n = 2x = 22 cromossomos) e, em sua maioria, alógamas e autoincompatíveis (FAZUOLI et al., 1999). As cultivares de C. arabica são responsáveis por cerca de 75% da produção mundial, mesma proporção observada no Brasil (CONAB, 2013). No Brasil, as cultivares dos grupos ‘Catuaí’ e ‘Mundo Novo’ merecem destaque pela elevada produção e adaptação a diversas regiões, representando cerca de 90% do café arábica produzido (CARVALHO et al., 2008). Existem atualmente 123 cultivares registradas no Registro Nacional de Cultivares (RCN) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Uma das mais disseminadas, a cultivar Catuaí, tem origem no cruzamento artificial entre ‘Caturra’ e ‘Mundo Novo’, realizado em 1949 no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), objetivando reunir características de produtividade e rusticidade da ‘Mundo Novo’, aliadas ao porte baixo da ‘Caturra’. As seleções que se originaram desse cruzamento apresentam frutos de coloração amarela ou vermelha e maturação média, suscetibilidade à ferrugem, sendo altamente adaptadas ao cultivo irrigado ou de sequeiro (CARVALHO et al., 1972). 2 No entanto, o potencial produtivo de nossas principais cultivares pode ser drasticamente afetado pela incidência de pragas e doenças. A principal praga da cultura é o bicho-mineiro-do-cafeeiro e as altas infestações ocasionam perdas superiores à 50% da produção (SOUZA et al., 1998). No que diz respeito às doenças, a ferrugem-do-cafeeiro Hemileia vastatrix Berk. et Br. é a principal delas. Diversas raças do fungo encontram-se disseminadas por todas as regiões cafeeiras, sendo a raça II, a mais frequente. Os prejuízos causados são em média, próximos a 35%, e passam de 50% em condições favoráveis à doença (ZAMBOLIM et al., 1999). A seleção de novas cultivares produtivas, resistentes aos principais agentes bióticos da cultura e com boa qualidade da bebida, tem sido realizada em diversos programas de melhoramento do cafeeiro conduzidos no Brasil. Sua obtenção certamente contribuirá para a melhoria da competitividade do café brasileiro. 2.2 Bicho-Mineiro-do-Cafeeiro, Leucoptera coffeella Os primeiros relatos da presença do inseto nas lavouras de café do Brasil ocorreram por volta de 1851. A introdução do bicho-mineiro foi feita, provavelmente, através de mudas de café originárias das Antilhas e Ilha de Reunião (antiga Ilha Bourbon). Entretanto, as primeiras notificações desta praga causando prejuízos relevantes datam de 1860, quase dez anos depois da introdução das mudas, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo (FONSECA, 1944). A praga adquiriu dimensões importantes na cafeicultura somente a partir de 1970 devido ao uso indiscriminado de defensivos químicos no controle da ferrugem (Hemileia vastatrix), ocasionando desequilíbrios na entomofauna e também, devido à utilização de espaçamentos mais largos entre linhas para facilitar o controle mecanizado da ferrugem, favorecendo o aumento da população do inseto (PARRA, 1985). 2.2.1 Biologia do inseto O bicho-mineiro é um microlepidóptero que apresenta metamorfose completa passando pela fase de ovo, lagarta, crisálida e adulta. Possui hábito crepuscular noturno, suas mariposas medem 6,5 mm de envergadura e possuem coloração branca-pardacenta e asas anteriores e posteriores franjadas. As lagartas, quando completamente desenvolvidas, medem 3 3,5mm e vivem dentro das minas ou lesões foliares construídas por elas mesmas quando se alimentam do tecido foliar (SOUZA et al., 1998). Os ovos depositados na epiderme adaxial das folhas, possuem aspecto gelatinoso e são de difícil visualização a olho nu (GUERREIRO FILHO et al., 1991). A duração desta fase é variável e sofre interferência principalmente da temperatura, uma vez que em temperaturas mais elevadas a eclosão das lagartas é mais precoce (PARRA, 1985). Na fase larval o inseto apresenta-se na forma de lagartas, que possuem três pares de patas torácicas e cinco falsas patas abdominais, apresentando aparelho bucal do tipo mastigador (SOUZA et al., 1998). As lagartas não entram em contato com o meio externo, pois assim que eclodem, perfuram a superfície foliar (cutícula e epiderme) e penetram diretamente no parênquima paliçádico, alimentando-se desse tecido. É nesse período que o inseto causa danos às plantas (SOUZA, et al., 1998). A fase seguinte, de crisálida, ocorre após o completo desenvolvimento das lagartas, quando elas se transformam em pupas, abandonando as minas e tecendo casulos de seda na parte abaxial das folhas. Normalmente, são encontradas um maior número de crisálidas no terço inferior das plantas, na região da 'saia' do cafeeiro (GALLO et al., 1978). Esta fase é também altamente influenciada pela temperatura, sendo que a faixa ideal está entre 27 e 30°C. Nessas condições, há cerca de 95% de emergência de adultos, cinco dias após as lagartas terem se transformado em crisálidas (PARRA, 1985). Na fase adulta, o bicho-mineiro é uma mariposa medindo aproximadamente 6,5 mm, de coloração prateada com uma mancha circular de halo amarelo nas pontas das asas e de hábito crepuscular noturno (SOUZA, et al., 1998). Essa fase dura aproximadamente 12 dias em temperaturas variando entre 20 e 27°C e, como também sofre influência da temperatura, a duração pode ser reduzida a cerca de quatro dias em temperaturas mais elevadas, acima de 30°C (PARRA, 1985). 2.2.2 Danos nas plantas e métodos de controle Os danos do bicho-mineiro nas plantas são ocasionados na fase larval, em que o inseto se encontra em forma de lagarta. Estas provocam minas ou lesões nas folhas, resultando em áreas necróticas e, em consequência, ocorre redução da capacidade fotossintetizadora das plantas (PARRA, 1985). Além disso, o ataque causa queda das folhas minadas e, dependendo da intensidade e da época de infestação da praga, ocorrem desfolhas intensas o que afeta drasticamente a produção de frutos (SOUZA et al., 1998). 4 A queda das folhas minadas é mais acentuada no terço superior da copa e as perdas de produção estão diretamente relacionadas com a intensidade e o período de ataque. As desfolhas, que ocorrem até julho, impedem a formação de botões florais nos meses de setembro e outubro e, consequentemente, a frutificação das plantas. Já as desfolhas drásticas que ocorrem entre os meses de agosto e outubro influenciam no pegamento das floradas das plantas e no desenvolvimento dos frutos (SOUZA et al., 1998). A praga, que só ocorria no Brasil em períodos secos, atinge atualmente níveis bastante elevados também em períodos chuvosos (PARRA et al, 1985). Estudando a flutuação populacional do inseto em municípios do Alto Paranaíba, do Triângulo Mineiro e do Jequitinhonha, SOUZA et al. (1998) relatou a ocorrência de lesões nas folhas o ano todo, onde foram notados dois picos de infestação, sendo o primeiro nos meses de abril e maio e outro ainda maior em setembro. Já em novembro, quando se iniciam as primeiras chuvas, a quantidade de lesões nas folhas diminui rapidamente. A incidência da praga também está extremamente relacionada com o genótipo do hospedeiro. As lavouras de C. arabica são bem mais infestadas quando comparadas às lavouras de C. canephora, sendo que nestas últimas o controle químico é praticamente dispensável (FERREIRA et al., 1979). O controle biológico do bicho-mineiro é um dos métodos utilizados para tentar minimizar os problemas com a praga. Os insetos predadores são mais eficientes no controle da praga do que aquele proporcionado pelos parasitoides, pois para seu desenvolvimento completo eles se alimentam de um número elevado de lagartas. Contudo, há uma maior quantidade de espécies de parasitoides identificados do que de insetos predadores das lagartas de L. coffeella (CONCEIÇÃO, 2005). As infestações de L. coffeella variam de acordo com as condições climáticas e o controle biológico, utilizado de forma isolada, não garante eficiência no controle da praga, devendo ser associado a outros métodos de controle, como o manejo da lavoura e o uso racional de produtos químicos. O controle químico do bicho-mineiro é realizado, basicamente, através da aplicação de inseticidas sistêmicos granulados no solo e/ou de inseticidas em pulverização. Os inseticidas sistêmicos granulados se destacam devido a sua eficiência no controle da praga e atuam matando as lagartas presentes em poucas lesões nas folhas e prevenindo posteriores infestações. O controle da praga também pode ser realizado através da aplicação de inseticidas em pulverização, e os mais recomendados são o carbamato cartap, alguns fosforados e piretróides. Os fosforados e o cartap possuem efeito de choque e uma ótima ação 5 de profundidade, penetrando nas folhas e matando as lagartas no interior das minas ou lesões. Já os piretróides atuam somente nas lagartas que eclodem dos ovos postos após a pulverização, pois possuem pouca ação de profundidade, não devendo, portanto, ser aplicado isoladamente, quando a praga já estiver ocorrendo no campo. Dos inseticidas aplicados em pulverização, o cartap é o único que apresenta uma razoável ação ovicida (SOUZA et al., 1998). O uso de defensivos é bastante eficiente no controle do bicho-mineiro, porém aumenta consideravelmente o custo de produção das lavouras, podendo levar a uma redução na população de inimigos naturais por apresentarem uma baixa seletividade. Em alguns casos pode levar ao surgimento de populações resistentes do inseto aos produtos aplicados (PINTO, 2006). Outro método de controle também utilizado é o genético, que consiste no controle do bicho-mineiro mediante uso de cultivares resistentes. Trata-se de método bastante trabalhoso que requer identificação de fontes de resistência e de uma metodologia eficiente na seleção de indivíduos resistentes em progênies segregantes, assim como na transferência dos genes de resistência às gerações subsequentes (MEDINA FILHO et al., 1977b; GUERREIRO FILHO et al., 1991). 2.3 A Ferrugem-Alaranjada-do-Cafeeiro: Hemileia vastatrix A ferrugem-alaranjada-do-cafeeiro é causada pelo fungo H. vastatrix, da classe Basidiomicete, sub-classe Teliomicetidae, ordem Uredinales e família Pucciniaceae (MATIELLO & ALMEIDA, 2006). A primeira constatação da doença, no Brasil foi em 1970, na Bahia. Atualmente ainda é uma das principais doenças da cafeicultura brasileira, causando perdas consideráveis na produção e na qualidade do café (FAZUOLI et al., 2007). O fungo causador da doença é biotrófico, ou seja, só sobrevive em tecidos vivos, não havendo vida saprofítica no solo. Ele pode ocorrer em várias espécies do gênero Coffea e apenas nele, não se conhecendo outra planta como hospedeira (MATIELLO & ALMEIDA, 2006). Os tipos de esporos produzidos pela ferrugem são os uredosporos, os basidiosporos e teliosporos, porém apenas os uredosporos infectam as folhas do cafeeiro. É através dos esporos que a doença é disseminada e multiplicada atingindo o cafeeiro. Os esporos são facilmente disseminados de planta a planta pelo vento e água da chuva (MATIELLO & ALMEIDA, 2006). 6 Os sintomas da doença podem ser observados na superfície abaxial das folhas, onde aparecem manchas de coloração amarelo-pálida, inicialmente pequenas, medindo aproximadamente 1 a 3 mm de diâmetro, que evoluem podendo atingir até 2 cm de diâmetro, quando então apresentam aspecto pulverulento e coloração amarelo-alaranjada característica da doença. Na superfície adaxial das folhas podem ser observadas manchas cloróticas amareladas correspondendo aos limites das pústulas na face inferior, que depois necrosam (ZAMBOLIM et al., 2005). As folhas atacadas, geralmente, caem prematuramente prejudicando o desenvolvimento das plantas jovens e comprometendo a produção das adultas. O maior índice de ataque é verificado em anos de alta produção dos cafeeiros (FAZUOLI et al., 2007). Os prejuízos nas regiões cafeeiras do Brasil, onde as condições climáticas são favoráveis, podem atingir, em média, 35%, podendo chegar a mais de 50% de perda, sob condições de estiagem prolongada nos períodos de maior severidade da doença (ZAMBOLIM et al., 2005). A ferrugem-alaranjada possui 45 raças fisiológicas identificadas até o momento, provenientes de várias regiões produtoras de café no mundo. A raça II é a que possui maior distribuição geográfica pelos países cafeicultores, seguida das raças I, III e XV. A agressividade de diferentes isolados de uma mesma raça pode variar quando inoculados em um mesmo hospedeiro (FAZUOLI et al., 2007). O surgimento de novas raças é o principal motivo para a quebra de resistência à ferrugem dos cafeeiros dificultando a obtenção de cultivares com resistência completa e durável (SERA et al., 2010). A resistência de cafeeiros às raças fisiológicas de ferrugem é conferida por um total de nove genes dominantes e aparentemente independentes. Estes genes receberam a sigla SH, que representa suscetibilidade ao fungo e são designados de SH1 a SH9 (FAZUOLI et al., 2007). A forma de controle da doença mais eficiente no Brasil é o controle químico, realizado mediante aplicação de fungicidas protetores cúpricos e/ou sistêmicos do grupo dos triazóis. Apesar de sua eficiência, o controle químico do fungo, em cafeeiros suscetíveis representa, em regiões de alta incidência da doença, aproximadamente 20% do custo total da produção (VEGRO & FERREIRA, 2000). Além disso, o uso de defensivos pode acarretar outras consequências como, contaminação do solo, dos frutos e, com frequência, a intoxicação de trabalhadores rurais. Finalmente, pode também contribuir para o surgimento de novas raças do fungo, selecionadas pelo uso dos fungicidas. A melhor forma de controle do fungo é o controle genético. No programa de melhoramento do cafeeiro do Instituto Agronômico, plantas resistentes ao bicho-mineiro selecionadas nas gerações RC4 e RC5 foram retrocruzadas com as cultivares Catuaí Vermelho 7 IAC 144 e com o germoplasma Catuaí SH3 objetivando melhorar a produção e a resistência a ferrugem de novas cultivares. O gene SH3 é oriundo da espécie C. liberica e até o momento nenhuma raça do fungo, conhecida no Brasil, pode anular a resistência de cafeeiros portadores do referido gene (BETTENCOURT & RODRIGUES JUNIOR, 1988). 2.4 Melhoramento do Cafeeiro e a Utilização de Coffea racemosa Visando Resistência ao Bicho-Mineiro O programa de melhoramento do cafeeiro do IAC tem como uma de suas vertentes o desenvolvimento de cultivares produtivas, buscando, sobretudo acrescentar características de interesse agronômico como resistência aos principais problemas fitossanitários da cultura como a ferrugem, o bicho-mineiro e os nematoides. O cafeeiro é uma espécie perene e de período juvenil longo, sendo bastante trabalhosa a obtenção de novas cultivares (FAZUOLI, 1999). Além disso, a diversidade genética em C. arabica é relativamente estreita, devido a natureza autógama da espécie, ao limitado centro de origem e ao reduzido número de sementes ou plantas usadas na dispersão da espécie (CARVALHO et al., 1993). O uso frequente do método genealógico na seleção de novas cultivares da espécie também contribuiu sobremaneira para a redução da variabilidade entre cultivares (MEDINA FILHO et al., 1984). As espécies mais utilizadas como fonte de variabilidade genética no programa de melhoramento do IAC são C. canephora e C. racemosa (FAZUOLI et al., 1983). No que diz respeito ao programa visando resistência ao bicho-mineiro, há uma grande variabilidade das espécies de café em relação à resistência ao inseto. Embora todas as cultivares ou acessos de C. arabica tenham se revelado suscetíveis, no Brasil, níveis variáveis de resistência são observados em espécies silvestres do gênero Coffea, como C. stenophylla, C. salvatrix, C. liberica, C. racemosa, C. eugenioides, entre outras (GUERREIRO FILHO, 1991). No melhoramento clássico, o uso de C. racemosa é a melhor alternativa para atender a demanda de novas formas de controle para o bicho-mineiro, uma vez que a espécie silvestre, apresenta nível elevado de resistência ao inseto, floração abundante e cruza-se relativamente com facilidade com C. arabica (MEDINA FILHO et al., 1977a). A espécie C. racemosa é originária de regiões áridas de Moçambique, apresentando também certa tolerância à seca. O sistema radicular é profundo, seus frutos maduros possuem 8 coloração vinho escura e a maturação é bastante precoce. Na região de Campina, SP, a espécie mostrou-se resistente ao ataque do bicho-mineiro (MEDINA FILHO et al., 1977a). O método de melhoramento mais utilizado nos programas de melhoramento do café arábica é o genealógico, associado a retrocruzamentos sucessivos principalmente quando se utiliza espécie silvestre de café. Esse método tem sido utilizado para o desenvolvimento de novas cultivares, sendo que nas diversas gerações são realizadas seleções para a resistência, produção e características agronômicas de interesse (GUERREIRO FILHO, 2006). 3 OBJETIVOS Este trabalho teve como principais objetivos: 1 - Selecionar progênies e indivíduos pertencentes a diferentes gerações no programa de melhoramento do cafeeiro visando resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem, com base em diversas características agronômicas e tecnológicas. 2 - Definir estratégias e ações para abreviar a obtenção de cultivares resistentes e produtivas. 4 4.1 MATERIAL E MÉTODOS Material Vegetal As progênies avaliadas pertencem ao programa de melhoramento genético visando resistência ao bicho-mineiro, conduzido pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Os experimentos estão localizados no Centro Experimental Central, na Fazenda Santa Elisa, Campinas, SP, e constituem de dois ensaios de progênies (EP) denominados EP 507 e EP 509. No ensaio EP 507, as progênies são oriundas de autofecundação ou de polinização aberta de plantas selecionadas no EP 473 e pertencem às gerações F3RC4 e F2RC5 (Tabela 1; Figura 1). As progênies que constituem o ensaio EP 509, foram obtidas a partir de retrocruzamentos de plantas selecionadas no EP 473 com seleções de C. arabica e pertencem às gerações F1RC5 e F1RC6 (Tabela 2; Figura 2). 9 Tabela 1 – Relação das progênies avaliadas no ensaio EP 507, em Campinas, SP. Progênie* 1. Catuaí Vermelho IAC 99 (testemunha) 2. H14066-12 C437 EP 388-PA 3. H14954-46 C1351 EP 473-PA 4. H13685-1-25 C1059 EP 473-PA 5. H13685-1 C1841 EP 369-PA 6. H14954-46 C1351 EP 473-AF 7. H14954-40 C1176 EP 473-AF 8. H13685-1-25 C1059-AF 9. H14954-10 C605 EP 473-AF 10.H13685-1 C1841 EP 369-AF Geração Parental F2RC4 F2RC5 F3RC4 F2RC4 F2RC5 F2RC5 F3RC4 F2RC5 F2RC4 Número de plantas 47 48 49 50 47 50 50 50 49 48 *PA = Polinização aberta; AF = Autofecundação Tabela 2 - Relação das progênies avaliadas no ensaio EP 509, em Campinas, SP. Progênie* Geração 1. Catuaí Vermelho IAC 99 (testemunha) 2. H20032 CV IAC 144 Lote 100 C164 x H 13685-1-25 C1059 EP 473 3. H20033 CV IAC 144 Lote 100 C168 x H 14954-29 C1023 EP 473 4. H20034 CV IAC 144 Lote 100 C173 x H 14954-46 C1351 EP 473 5. H20049 Catuaí SH3 EP500 C996 X H 13685-1-25 C1059 EP 473 6. H20050 Catuaí SH3 EP500 C996 X H 14954-29 C1023 EP 473 Parental F1RC5 F1RC6 F1RC6 F1RC5 F1RC6 Número de Plantas 15 15 15 15 15 15 *CV = Catuaí Vermelho; EP = Ensaio de progênies O delineamento experimental utilizado para os dois ensaios de progênies foi o de blocos com tratamentos casualizados. O EP 507 está organizado em dez tratamentos e cinco repetições, sendo as parcelas constituídas por dez plantas, totalizando 50 plantas por tratamento (Tabela 1) e o EP 509 possui seis tratamentos e cinco repetições, sendo as parcelas constituídas por três plantas, totalizando 15 plantas por tratamento (Tabela 2). As progênies utilizadas nos dois experimentos segregam para a resistência ao bichomineiro, devido introgressão de C. racemosa nos cruzamentos com C. arabica e também para a resistência à ferrugem, devido cruzamentos com cafeeiros dos germoplasma Icatu H4782-7882 e Catuaí SH3. No germoplasma Icatu houve a introgressão de genes de C. canephora e no germoplasma Catuaí SH3, a introgressão de genes de resistência à ferrugem de C. liberica. As genealogias das progênies obtidas por cruzamentos e retrocruzamentos dos dois experimentos acham-se nas figuras 1 e 2. 10 Figura 1 – Genealogia das progênies obtidas por cruzamentos e retrocruzamentos e avaliadas no ensaio de progênies EP 507. Cultivares utilizadas nos cruzamentos: IAC 62 = Catuaí Amarelo IAC 62; IAC 81 = Catuaí Vermelho IAC 81. Figura 2 – Genealogia das progênies obtidas por cruzamentos e retrocruzamentos e avaliadas no ensaio de progênies EP 509. Cultivares utilizadas nos cruzamentos: IAC 81 = Catuaí Vermelho IAC 81; IAC 62 = Catuaí Amarelo IAC 62; IAC 144 = Catuaí Vermelho IAC 144; CV SH3 = germoplasma Catuaí Vermelho SH3. 11 4.2 Características Agronômicas As avaliações referentes às características agronômicas das plantas foram realizadas nos dois ensaios de progênies, sendo as variáveis, descritas a seguir: Produção de frutos: a avaliação da produção de frutos foi realizada a partir de dados coletados durante cinco anos consecutivos, entre 2005 e 2009, mediante a pesagem, em gramas, de frutos de café da roça. Aspecto vegetativo e produção visual: avaliação realizada entre os anos de 2005 e 2012, através do Índice de Avaliação Visual (IAV), mediante atribuição de 1 a 10 pontos aos cafeeiros, sendo 1 às plantas pouco produtivas e pouco vigorosas e 10, às plantas mais produtivas e bastante vigorosas. Trata-se de um índice que leva também em consideração as seguintes variáveis: a carga de frutos da planta, o vigor vegetativo, a produção futura através da ramificação secundária dos ramos plagiotrópicos, a ausência de deficiências nutricionais e a sanidade do cafeeiro analisado. Enfolhamento: avaliação realizada através da atribuição de pontos de 1 a 10, sendo 1 às plantas totalmente desfolhadas e 10, às plantas com enfolhamento abundante. Utilizou-se também escala de 1 a 5 pontos, sendo 1 ponto atribuído às plantas totalmente desfolhadas e 5 às plantas com enfolhamento abondante. Maturação dos frutos: avaliação realizada, mediante análise visual da quantidade de frutos em diferentes estádios de maturação: verdes, maduros, passas e secos. As plantas foram classificadas de acordo com escala de notas de 1 a 5 pontos, sendo 1 ponto atribuído às plantas com maturação precoce; 2, às plantas com maturação de precoce a média; 3, às plantas com maturação média; 4, às plantas com maturação de média a tardia; e 5, às plantas com maturação tardia, considerandose a fase de maturação predominante dos frutos. Altura das plantas: distância tomada do nível do solo ao ápice vegetativo do cafeeiro, em centímetros. Diâmetro da copa: medida realizada a 1 metro do solo, corresponde à maior largura da copa da planta, em centímetros. 12 Porte das plantas: determinado segundo avaliação visual classificando as plantas como altas ou normais (ctct) e baixas ou caturras (CtCt ou Ctct) (CARVALHO & MÔNACO, 1972). 4.3 Características dos Frutos e das Sementes As avaliações relacionadas às características dos frutos e das sementes foram realizadas nos dois ensaios de progênies, sendo as variáveis, descritas a seguir. Cor dos frutos: determinada mediante avaliação visual das plantas, classificando os frutos em vermelhos (XcXc), amarelos (xcxc) e laranjas (Xcxc) (KRUG & CARVALHO, 1940). Incidência de frutos com lojas vazias ou frutos chochos: avaliação realizada com amostra de cem frutos maduros colhidos de cada planta, através de sobrenadagem em água, os frutos que boiam são considerados chochos e desprovidos de, pelo menos, uma semente. Massa de cem frutos: massa em gramas de cem frutos maduros colhidos de cada planta determinado com o auxílio de balança eletrônica. 4.4 Avaliação do Nível de Resistência das Plantas ao Bicho-Mineiro O nível de resistência das plantas ao bicho-mineiro foi avaliado em condições de campo e de laboratório, nos dois ensaios de progênies. 4.4.1 Avaliações em condições de campo As avaliações do nível de resistência das plantas em campo foram realizadas em períodos de alta intensidade populacional do inseto, que normalmente ocorrem nos meses de maio a junho e setembro a outubro, em Campinas, SP. É importante ressaltar que as infestações ocorreram de forma natural, não havendo a liberação de insetos no campo. As plantas foram classificadas mediante uso de escala de 1 a 5 pontos de acordo com a intensidade de ataque de L. coffeella, sendo 1 ponto atribuído para as plantas pouco atacadas e 5, para aquelas severamente atacadas (Tabela 3). As plantas consideradas resistentes foram 13 aquelas que receberam de 1 a 2 pontos, e as que receberam 3, 4 ou 5 pontos foram consideradas suscetíveis. Tabela 3 - Escala de pontos usada para a classificação do tipo de reação das plantas, em campo, em função da análise da intensidade de ataque do bicho-mineiro. Pontos 1 2 3 4 5 Classificação Resistente Resistente Suscetível Suscetível Suscetível Descrição Sem sintomas visíveis Algumas folhas com poucas minas Folhas moderadamente minadas sem desfolha Folhas com muitas minas e ocorrência de desfolha Sintomas muito severos com grande desfolha 4.4.2 Avaliações em condições de laboratório • Criação de insetos As infestações controladas foram realizadas através de uma população de bicho- mineiro que foi mantida em laboratório, em gaiolas medindo 60 x 60 x 60 cm, construída por estrutura e fundo de madeira, sendo as paredes laterais e a parede superior revestidas por tecido de algodão (voil) (Figura 3A). As gaiolas eram mantidas em insetário, sob condições controladas com temperatura de 27 ± 2º C, fotofase de 14 horas e umidade relativa de 70 ± 10% (KATIYAR & FERRER, 1968). Os insetos foram alimentados com solução de sacarose a 10% (PARRA, 1985), fornecida em papel de filtro localizado na parte superior das gaiolas, e trocado com frequência para evitar que ocorresse a fermentação da solução e o aparecimento de fungos. A manutenção da população de insetos nas gaiolas se dá através da infestação de mudas jovens de cafeeiros suscetíveis ao inseto. Após a infestação nas gaiolas as mudas eram colocadas em caixas plásticas e mantidas em prateleiras (Figura 3B), nas mesmas condições do insetário até que os insetos atingissem a fase de crisálida. Posteriormente, as folhas contendo crisálidas (Figura 3C) eram destacadas e recolocadas nas gaiolas de criação onde ocorria a emergência dos adultos, fechando-se assim, o ciclo biológico da praga. 14 Figura 3 – Criação de insetos em laboratório. Gaiolas de criação (A); Plantas infestadas (B); Folha com crisálidas (C). • Infestação e avaliação do nível de resistência das plantas ao bicho-mineiro bicho O nível de resistência das plantas foi avaliado nos dois ensaios de progênies que compõem o experimento, segundo metodologia descrita por GUERREIRO FILHO (1994), que consistee na coleta de folhas bem desenvolvidas, do terceiro ou quarto par de folhas, de ramos localizados no terço médio das plantas. As folhas coletadas foram levadas para o laboratório, lavadas e colocadas em um suporte de isopor (Figura 4A) vazado por tubos Eppendorf Ep distanciados 3 cm um do outro e contendo água em seu interior para que as folhas fossem mantidass hidratados durante o período de exposição aos insetos. Após a fixação das folhas, o suporte era colocado em gaiolas de criação de insetos, ficando as folhas folhas expostas à oviposição durante uma noite. Após a oviposição, na manhã seguinte, com o auxílio de um vazador de rolhas de 1 cm de diâmetro (Figura 4B), foram recortados três discos de cada folha nos locais onde os insetos realizaram as posturas, eliminando-se elimin se o excedente de ovos, deixando-se deixando apenas três ovos por discos. Os discos foram mantidos com a superfície adaxial voltada para cima, em caixas plásticas com espuma umedecida, exercendo a função de câmara úmida (Figura 4C), por aproximadamente dez dias, s, tempo necessário para o desenvolvimento das lesões. 15 Figura 4 – Aparato para infestação de folhas destacadas em gaiolas (A); Vazador, pinça e disco de folha (B); Câmara úmida usada na manutenção de discos de folhas infestadas (C). ível de resistência foi realizada em função do tipo de reação, através de A avaliação do nível escala de 1 a 4 pontos estabelecida por GUERREIRO FILHO et al.(1999) e adaptada por RAMIRO et al. (2004), que classifica as plantas quanto à resistência ao bicho-mineiro bicho de acordo com m o tipo de lesão apresentada após a infestação artificial (Tabela 4; Figura 5). Tabela 4 - Escala de pontos para a classificação das plantas quanto ao nível de resistência em laboratório, baseado no tipo de lesão desenvolvida em discos foliares. Pontos 1 2 3 4 Classificação Resistente Moderadamente Resistente Moderadamente Suscetível Suscetível Descrição Lesões pontuais Lesões filiformes pequenas Lesões grandes irregulars Lesões grandes arredondadas Figura 5 - Tipos de lesões causadas por Leucoptera coffeella em discos de folhas de cafeeiros com diferentes níveis de resistência à praga, sendo A) Lesões pontuais; B) Lesões filiformes pequenas; C) Lesões grandes irregulares; D) Lesões grandes arredondadas. (Escala de RAMIRO et al., 2004) 16 4.5 Avaliação do Nível de Resistência das Plantas à Ferrugem O nível de resistência das plantas à ferrugem, em condições de campo e de laboratório, foi avaliado nos dois ensaios de progênies. 4.5.1 Avaliações em condições de campo As avaliações do nível de resistência à ferrugem das plantas foram realizadas em períodos de alta incidência da doença, em condições naturais no campo, normalmente nos meses de maio a julho, em Campinas, SP. O nível de resistência das plantas à ferrugem foi avaliado através do tipo de reação e da densidade de lesões nas plantas (ESKES & TOMA-BRAGHINI, 1981). Para o tipo de reação foi utilizada escala de 1 a 5 pontos sendo: 1 = plantas sem lesões; 2 = poucas lesões cloróticas sem esporo e sem desfolha; 3 = poucas pústulas com esporos e baixa desfolha; 4 = pústulas generalizadas com esporos e desfolha; e 5 = pústulas generalizadas com muitos esporos e desfolha acentuada. As plantas com notas 1 e 2 de incidência de ferrugem foram consideradas resistentes e aquelas com notas 3, 4 e 5, como suscetíveis. Para as avaliações da densidade de lesões foi utilizada escala de notas de 1 a 10 pontos, em que 1 ponto corresponde à presença de lesões em poucos ramos e 10 pontos, à presença de lesões em quase todos os ramos da planta. 4.5.2 Avaliações em condições de laboratório O nível de resistência das plantas à ferrugem foi avaliado nos dois ensaios de progênies que compõem o trabalho de dissertação, segundo metodologia descrita por ESKES & TOMA-BRAGHINI (1981), que consiste na coleta de três folhas do segundo, terceiro e quarto pares de folhas de cada lado da planta. As folhas foram levadas para laboratório e, com o auxílio de um vazador de rolhas de 1,7 cm de diâmetro, foram feitos discos em cada uma das folhas. Os discos foram mantidos com a superfície abaxial voltada para cima, em caixas plásticas contendo espuma umedecida exercendo a função de câmaras úmidas. Os esporos utilizados para a inoculação eram da raça II e foram coletados na véspera do dia da inoculação em plantas suscetíveis localizadas no Centro Experimental do IAC, em Campinas, SP. A inoculação foi realizada mediante a aplicação de uma gota de 0,025 ml de 17 suspensão de uredosporos no centro dos discos. Após a inoculação os discos foram incubados no escuro, por aproximadamente 24 horas e posteriormente as caixas foram abertas para que as gotas secassem. As câmaras úmidas foram mantidas a temperatura de 22°C, umidade de 100% e intensidade de luz moderada. As avaliações foram realizadas de acordo com metodologia proposta por ESKES & TOMA-BRAGHINI (1981), assim que os primeiros discos começaram a esporular e as variáveis avaliadas foram: Período de incubação: número médio de dias entre a inoculação e o aparecimento dos primeiros sintomas da doença; Período de latência: número médio de dias entre a inoculação e o aparecimento dos primeiros sintomas da doença em 50% da parcela; Densidade de lesão: escala de 10 pontos adaptada de ESKES E TOMA-BRAGHINI (1981), sendo 1 para ausência completa de lesões e 10 para a incidência de lesões grandes, regulares e com intensa esporulação; Tipo de reação: avaliado através de escala de 1 a 5 pontos (Item 4.5.1). 4.6 Análises Estatísticas As análises de variância foram efetuadas individualmente para cada ensaio de progênies, sendo as médias dos tratamentos comparadas com a testemunha pelo Teste de Dunnett a 5% de probabilidade, com o auxílio do programa estatístico GENES 7.0. Os dados foram submetidos a Teste de Normalidade e transformados em √, exceto os dados da porcentagem de frutos chochos que foram transformados em arco seno da √ para a análise. Os dados da variável produção do EP 507, não foram transformados, e das variáveis produção, índice de avaliação visual, massa de 100 frutos altura e diâmetro da copa das plantas, do EP 509, também não necessitaram de transformação. 18 4.6.1 Modelo experimental adotado O modelo empregado para a análise de variância das variáveis referentes às características agronômicas das plantas, características dos frutos, avaliação do nível de resistência das plantas ao bicho-mineiro e à ferrugem, foi: Yij = m + bj + ti + ēij onde: Yij: observação do tratamento i no bloco j; m: média geral; bj: efeito do bloco j (j = 1,2,..., J); ti: efeito do tratamento i (i = 1,2,..., I); ēij: erro experimental ao nível de parcelas 4.6.2 Análise em Componentes Principais (ACP) A Análise em Componentes Principais (ACP) consiste em um método estatístico de múltiplas variáveis que tem por finalidade básica, a análise dos dados usados visando sua redução, eliminação de sobreposições e a escolha das formas mais representativas de dados a partir de combinações lineares das variáveis originais. O dados avaliados neste experimento foram submetidos à análise em componentes principais (ACP), considerando as médias das progênies. As análises foram executadas com o auxílio do software Statistica 6.0. 19 5 5.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliações de Progênies Derivadas de Autofecundação e de Polinização Livre de Plantas Resistentes ao Bicho-Mineiro Os resultados relacionados às avaliações da produção de frutos das progênies do EP 507 encontram-se na tabela 5. Tabela 5 - Valores médios de cinco colheitas de frutos, em quilogramas de café da roça e sacas de café beneficiado por hectare (sc ha-1) e número de plantas por progênie com média superior à média e à melhor planta da testemunha em progênies do EP 507, em Campinas, SP. 2005-2009 sc ha Catuaí Vermelho IAC 99 H14066-12 PA** H14954-46 PA H13685-1-25 PA H13685-1 PA H14954-46 AF*** H14954-40 AF H13685-1-25 AF H14954-10 AF H13685-1 AF Plantas com média superior à testemunha Produção de frutos Progênie* 37 33 41 42 35 39 34 41 31 25 -1 AV1 2005-2009 -1 -1 ───── kg planta ano ───── 3,68 3,28 4,02 4,18 3,44 3,84 3,33 4,08 3,11 2,43 a a a a a a a a a a ABC ABC AB A ABC ABC ABC AB BC C 1,18-5,40 0,12-5,17 0,52-5,66 0,24-6,79 0,56-6,06 0,96-5,48 0,76-5,07 0,09-5,82 0,54-4,58 0,74-5,02 Média (3,68) Maior valor (5,40) ─────── número ─────── 7 15 21 12 16 11 17 10 7 0 4 4 2 2 0 5 0 0 1 AV = Amplitude de variação *Médias de tratamentos seguidas de uma mesma letra minúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% ; Médias de tratamentos seguidas de uma mesma letra maiúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. ** PA = Polinização Aberta *** AF = Autofecundação Os valores médios da produção de frutos das progênies avaliadas, apresentados na tabela 5, não diferiram estatisticamente da testemunha Catuaí Vermelho IAC 99, pelo teste de Dunnett a 5 % de significância. Isso evidencia que todas as progênies possuem produções consideradas muito boas, uma vez que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 é bem produtiva e disseminada, sendo plantada na maioria das regiões cafeeiras do Brasil. As progênies H14954-46 PA e H13685-1-25 PA obtidas de polinização aberta e a progênie H13685-1-25 AF, oriunda de autofecundação de matriz selecionada no EP 473, se destacaram com valores médios de produção de café da roça de 4,02, 4,18 e 4,08 kg planta-1 ano-1, respectivamente, sendo superiores à testemunha que obteve média igual a 3,68 kg planta-1 ano-1. 20 Deve-se considerar que o ensaio de campo foi conduzido sem a aplicação de produtos fitossanitários (fungicidas e inseticidas) para o controle respectivo da ferrugem e do bichomineiro, aos quais a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, é altamente suscetível. Mesmo nessas condições, a produção média de frutos por planta da testemunha foi de 3,68 kg planta-1 ano-1 que corresponderia a cerca de 37 sacas de café beneficiado por hectare se considerarmos o plantio em espaçamento 3 x 1 m e o rendimento médio de 5,5 kg de café da roça por quilograma de café beneficiado (Tabela 5). Tal raciocínio tem apenas caráter exploratório, mas não deve ser usado em termos práticos, uma vez que o efeito ambiental em lavouras de café é sabidamente elevado, as vezes superior a 30%. Por esta razão, as médias não foram comparadas estatisticamente. As progênies H13685-1 PA e H13685-1 AF, ambas pertencentes à geração F2RC4 e obtidas respectivamente por polinização livre e a partir da autofecundação do cafeeiro H13685-1 (cova 1841 EP 369) apresentaram produções médias de frutos maduros iguais a 3,44 e 2,43 kg planta-1 ano-1. Os valores médios das progênies H1365-1-25-PA e H13685-125 AF, derivadas do cafeeiro H13685-1-25 (cova 1059 EP 473), uma geração à frente – F3RC4 – foram um pouco superiores, com médias de 4,18 e 4,08 kg planta-1 ano-1, respectivamente, sem diferir da testemunha (Tabela 5). Progênies F2RC5 derivadas por autofecundação ou polinização aberta, de plantas RC5 obtidas, por sua vez, a partir do cruzamento entre cafeeiros H13685-1 (cova 1841 EP 369) e a cultivar Catuaí Amarelo IAC 62 (Figura 1) apresentaram produções médias de frutos que variaram entre 3,11 kg planta-1 ano-1 (H14954-10 AF) e 4,02 kg planta-1 ano-1 (H14954-46 PA) (Tabela 5). Mais uma vez, transformando os valores médios de produção das plantas para sacas de café beneficiado por hectare, verifica-se que as progênies F2RC5, H14954-46 PA e H1495446 AF e as progênies F3RC4, H13685-1-25 PA e H13685-1-25 AF, produziram, em cinco anos consecutivos, médias de 41, 39, 42 e 41 sc ha-1, respectivamente, contra 37 sc ha-1 da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 (Tabela 5). Há de se considerar que os valores médios da produção de frutos apresentados na tabela 5, foram calculados a partir de dados coletados em plantas individuais, durante cinco colheitas consecutivas, realizadas entre 2005 e 2009. Além das variações relacionadas ao ciclo bienal da espécie, os valores mensurados são bastante dependentes dos genótipos dos indivíduos, que no caso das progênies avaliadas, são ainda bastante variáveis (Figura 6). 21 Plantas (n°) 35 30 25 20 15 10 5 0 0-3 * 3,1-6 6,1-9 *kg planta-1 ano-1 Figura 6 – Produção de café da roça, em kg planta-1 ano-1, de cafeeiros das progênies que compõem o ensaio EP 507. Assim, as maiores médias de produção das progênies segregantes são indicadoras da existência de indivíduos com produção bastante elevada e que podem ser selecionados para o avanço de gerações ou eventualmente, para a produção de clones a serem avaliados em novos experimentos. Os resultados apresentados na tabela 5, ainda revelam a variabilidade referente à produção de café da roça existente em cada uma das progênies do ensaio EP 507. As progênies F3RC4 H13685-1-25 PA e H13685-1-25 AF, que apresentam as maiores médias de produção, têm respectivamente 21 e 17 plantas com produção média anual superior à média da testemunha experimental. Juntas, elas têm 9 plantas com produção média anual superior à melhor planta da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 do ensaio de campo. No geral, 116 plantas, das nove progênies segregantes, apresentaram valores médios superiores à média da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99. Dessas, dezessete plantas se revelaram mais produtivas do que a melhor planta da testemunha. Os valores médios relacionados às avaliações de caracteres agronômicos das progênies do EP 507, como ciclo de maturação dos frutos, porte das plantas e cor dos frutos, encontramse na tabela 6. 22 Tabela 6 – Ciclo de maturação dos frutos e frequência de genótipos das plantas em relação ao porte e à cor dos frutos em progênies de cafeeiros do EP 507, em Campinas, SP. Progênie* Ciclo de maturação dos frutos1 Média P Catuaí Vermelho IAC 99 H14066-12 PA** H14954-46 PA H13685-1-25 PA H13685-1 PA H14954-46 AF*** H14954-40 AF H13685-1-25 AF H14954-10 AF H13685-1 AF P-M M M-T Genótipos das plantas T Porte2 Cor dos frutos3 Normal Caturra Vermelho Laranja Amarelo pontos ── número de plantas ── Ctct Ct_ XcXc Xcxc Xcxc 3,56a 3,06b 3,51a 3,47a 2,91b 3,37a 3,06b 3,40a 2,88b 3,10a 0 0 8 15 14 5 13 14 9 0 47 48 49 35 33 45 17 36 40 48 47 26 27 50 47 29 18 50 22 48 0 17 14 0 0 12 17 0 14 0 0 5 8 0 0 9 15 0 13 0 0 5 3 0 4 4 6 4 8 1 7 16 8 11 21 7 12 10 14 19 23 16 20 26 15 25 22 20 20 21 15 11 16 11 6 12 10 14 7 5 2 0 2 2 1 2 0 2 0 2 1 Avaliação realizada através da atribuição pontos ao estágio predominante de maturação de frutos nas plantas, sendo 1 = precoce (P); 2 = precoce para média (P-M); 3 = média (M); 4 = média para tardia (M-T) e 5 = tardia (T). 2 Ct_ = porte baixo; ctct = porte alto. 3 XcXc = Vermelho; Xcxc = Laranja e xcxc = Amarelo *Médias de tratamentos seguidas de uma mesma letra minúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. ** PA = Polinização Aberta *** AF = Autofecundação No que se refere à maturação dos frutos apenas as progênies H14066-12 PA, H136851 PA, H14954-40 AF e H149054-10 AF apresentaram diferenças estatísticas em relação à testemunha. As progênies H14954-40 AF e H14954-10 AF foram as que apresentaram maior número de plantas com maturação precoce, 6 e 8 respectivamente, enquanto as progênies H13685-1-25 PA e H14954-46 AF apresentaram maior número de plantas com maturação variando entre média e tardia, ambas com 39 plantas no total (Tabela 6), número bastante próximo ao observado na cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, com 40 plantas. Se agruparmos as plantas em apenas duas classes, sendo uma primeira classe formada pelo somatório de plantas classificadas como precoces ou precoces-médias, as progênies H14066-12 PA, H13685-1 PA, H14954-10 AF e H13685-1 AF apresentaram porcentagem superior a 40%, comparando com 15% observado na testemunha. Ao contrário, a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 apresentou cerca de 85% de plantas com maturação média ou mais tardia. Valores não muito distintos foram observados nas progênies H14954-46 PA, H136851-25 PA, H14954-46 AF e H13685-1-25 AF, com porcentagens variando entre 72 e 78% de plantas com maturação média ou mais tardia. 23 Embora a maturação dos frutos seja uma característica bastante influenciada pelas variações ambientais da região de cultivo, especialmente pela temperatura, nota-se pelos resultados obtidos uma componente genética importante relacionada à característica, uma vez que as médias das progênies H14954-46 e H13685-1-25 obtidas por autofecundação ou por polinização livre apresentaram valores muito próximos. É importante considerar que as referidas progênies são aparentadas, como ilustrado na figura 1, sendo a primeira oriunda de cruzamento do cafeeiro H13685-1 com a cultivar Catuaí Amarelo IAC 62 de C. arabica e a segunda, resultado da autofecundação do mesmo cafeeiro H13685-1. A exceção da testemunha e das progênies H14066-12 PA e H13685-1 AF compostas apenas por plantas de porte baixo, nas demais progênies observou-se segregação para a característica. Os cafeeiros H14954-10, H14954-40 e H14954-46, pertencentes à geração RC5 foram obtidos a partir do cruzamento entre H13685-1 (cova 1841 EP 369) e a cultivar Catuaí Amarelo IAC 62 de C. arabica, sendo o primeiro, o parental masculino, de porte baixo e heterozigoto para o alelo Ct e o segundo, o parental feminino, também de porte baixo e homozigoto para o mesmo alelo. Assim, a constituição genética das plantas mencionadas e que deram origem a quatro progênies F2RC5 avaliadas neste ensaio poderia se Ctct ou CtCt. Como todas elas segregaram na razão aproximada de 3 caturra: 1 normal, conclui-se que as três plantas matrizes selecionadas são heterozigotas para o alelo caturra (Figura 1). O cafeeiro H13685-1 pertencente à geração RC4 e obtido a partir do cruzamento entre o cafeeiro H11421-11 (cova 2818 EP 221), de porte normal e com uma planta da cultivar Catuaí Vermelho IAC 81, de porte baixo, apresenta porte baixo e constituição genética Ctct. As progênies dele derivadas, H13685-1 PA e H13685-1 AF deveriam necessariamente segregar na proporção de 3 plantas caturras: 1 planta normal. Isto ocorreu apenas com a progênie H13685-1AF, mas não com a descendência obtida por polinização aberta, formada apenas por plantas de porte baixo. Uma possível explicação para este fato, não esperado, pode se sustentar na eventual seleção casual, no viveiro, de plantas de porte baixo para o plantio no campo. Ou ainda, na posterior eliminação de plantas anormais ou de plantas de porte normal, no campo, uma vez que o plantio foi realizado com duas plantas por cova, sendo uma delas eliminada após a primeira avaliação do nível de resistência das mesmas ao bicho-mineiro. As plantas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, como esperado, apresentaram apenas frutos de coloração vermelha. O mesmo ocorreu nas progênies derivadas dos cafeeiros H13685-1 e H13685-1-25. Nas demais progênies, observou-se segregação, com a ocorrência de plantas produtoras de frutos de cor vermelha (XcXc), laranja (Xcxc) e amarela (xcxc). Por se tratar de dominância incompleta (KRUG & CARVALHO, 1940), tal fato só ocorre quando a planta 24 matriz é heterozigota para a característica, e quando isso ocorre a segregação esperada é de 1 fruto vermelho: 2 laranja : 1 amarelo. Entretanto, a frequência de plantas de frutos de cor vermelha foi sempre superior àquelas observadas nas duas outras classes. Portanto, pode-se supor, que a eliminação de uma das plantas da cova, no campo, após a primeira avaliação do nível de resistência das mesmas, tenha contribuído para este viés. Os valores médios da porcentagem de frutos chochos e da massa de 100 frutos cerejas referentes às 9 progênies do EP 507 e à testemunha Catuaí Vermelho IAC 99, são apresentados na tabela 7. Tabela 7 – Valores médios da porcentagem de frutos chochos e da massa de 100 frutos cerejas, em gramas, de progênies de cafeeiros do EP 507, em Campinas, SP. Frutos chochos Progênie* 2005 Massa de 100 frutos 2011 2005 g 12,94a 16,52a 17,73a 18,20a 20,55a 17,19a 22,16a 19,08a 22,95a 18,22a 150,11a 134,62a 138,34a 166,44a 144,35a 147,46a 139,55a 138,85a 145,70a 113,84a ───── % ───── Catuaí Vermelho IAC 99 H14066-12 PA** H14954-46 PA H13685-1-25 PA H13685-1 PA H14954-46 AF*** H14954-40 AF H13685-1-25 AF H14954-10 AF H13685-1 AF 6,93a 8,78a 9,58a 10,12a 12,27a 10,96a 17,67a 13,94a 17,43a 17,93a *Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. ** PA = Polinização Aberta *** AF = Autofecundação As médias das progênies não se diferenciaram estatisticamente da testemunha em relação à porcentagem de frutos chochos nos dois anos avaliados. A progênie H13685-1 AF registrou a maior taxa de frutos chochos no ano de 2005 e as progênies H14945-10 AF e H14954-40 AF obtiveram a maior taxa de frutos chochos nos dois anos. Esta característica é de extrema importância na seleção de progênies, pois está altamente relacionada com o rendimento das plantas, ou seja, quanto maior a porcentagem de frutos chochos menor o rendimento das plantas (MÔNACO, 1960). Dois aspectos ainda podem ser discutidos em relação à ocorrência de frutos chochos, sendo que o primeiro se refere aos efeitos ambiental e genético na expressão da característica. As mesmas plantas analisadas apresentaram maior frequência de frutos com pelo menos uma loja desprovida de sementes em 2011, quando comparadas aos dados coletados em 2005. 25 Estudando a ocorrência de lojas vazias em frutos de café Mundo Novo, ANTUNES FILHO & CARVALHO (1954) observaram que a quantidade de frutos chochos permanece aproximadamente inalterada de um ano a outro, em uma mesma planta. MENDES et al. (1954) observaram que a frequência de frutos chochos no café Mundo Novo está condicionada à presença de endosperma discoide e sugere como hipótese genérica para explicar o fenômeno, o controle genético da característica. Segundo os autores, plantas com alta frequência de chochos seriam heterozigotas para um par de alelos. Plantas com baixa frequência teriam os dois alelos dominantes. A presença de dois alelos recessivos seria letal. Esta hipótese foi confirmada por MENDES & MEDINA (1955). Os autores evidenciaram a existência de dois grupos de plantas em função da ocorrência de frutos chochos. O primeiro grupo, de constituição genética DD é caracterizado pela baixa incidência de lojas vazias. O segundo, de constituição genética Dd, reúnem plantas com alta porcentagem de frutos chochos. Em plantas dd, o crescimento do endosperma é paralisado na fase inicial de seu desenvolvimento, quando o mesmo se transforma em um disco (d). Estudos mais aprofundados realizados por MÔNACO (1960) evidenciam que a herança da característica é bem mais complexa. Com base nessas informações CARVALHO & ANTUNES FILHO (1955) fundamentaram o avanço de gerações na seleção de plantas mais produtivas das melhores progênies e que não apresentaram o defeito lojas vazias, reduzindo de 50%, na população original, para cerca de 2 a 7% na população selecionada, a incidência de frutos chochos. Os dados obtidos no ensaio de progênies EP 507 relacionados à variação na incidência de frutos chochos em dois anos distintos, contrastam com a fundamentação genética exposta, mas deve-se levar em conta que a natureza da população de cafeeiros analisada neste ensaio, oriundo de hibridação interespecífica, entre C. arabica e C. racemosa pode contribuir para a variação observada. VACARELLI et al. (2003) relatam que cafeeiros de origem híbrida interespecífica podem apresentar com frequência problemas de esterilidade, de compatibilidade e de formação de sementes. Além disso, a característica sofre, segundo MÔNACO (1960) influências ambientais diversas como altas temperaturas durante a florada, secas prolongadas, entre outras que parecem ser responsáveis pelas variações detectadas nos experimentos analisados. O segundo aspecto importante, relacionado à incidência de frutos chochos, tem relação com o teste de média aplicado que não revelou diferenças entre a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e os demais tratamentos. Em 2005, a porcentagem média de frutos chochos foi de 26 6,93% na testemunha e de mais de 17% nas seleções H14950-40 AF, H14950-10 AF e H13685-1 AF. O mesmo ocorreu em 2011, quando diferenças não significativas, da ordem de 10%, foram observadas entre a testemunha e alguns tratamentos, como H14950-40 AF e H14950-10 AF. As médias observadas em 2005 e 2011 nas progênies em seleção são caracterizadas por um desvio padrão importante, consequência da variação genética dentro de progênies que caracteriza a população em seleção e que não se observa na testemunha, a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99. No que diz respeito à massa de 100 frutos não houve diferença estatística entre as progênies e a testemunha, tendo a massa variado entre 113,84 e 166, 44g, destacando-se a progênie H13685-1-25 PA que apresentou maior massa de 100 frutos (Tabela 7). Os valores médios do índice de avaliação visual (IAV), enfolhamento, altura e diâmetro de copa das plantas das progênies do EP 507 estão apresentados na tabela 8. Tabela 8 – Valores médios do índice de avaliação visual, enfolhamento, altura e diâmetro da copa das plantas de progênies de cafeeiros do EP 507, em Campinas, SP. IAV1 Progênie* Catuaí Vermelho IAC 99 H14066-12 PA** H14954-46 PA H13685-1-25 PA H13685-1 PA H14954-46 AF*** H14954-40 AF H13685-1-25 AF H14954-10 AF H13685-1 AF Enfolhamento Média > 6 pontos pontos ── número de plantas ── 5,65a 5,68a 6,20a 6,01a 5,97a 6,22a 5,87a 6,03a 5,79a 4,66a 12 19 33 24 23 35 20 23 14 21 > 7 pontos 0 1 5 3 0 5 2 5 4 5 20052 20113 ─── pontos ─── 3,27a 3,34a 3,36a 3,30a 3,57a 3,36a 3,20a 3,48a 3,73a 3,01a 5,76a 7,19b 7,43b 7,72b 7,49b 7,42b 6,90b 7,42b 7,31b 5,91b Altura de Plantas Diâmetro da Copa ────── cm ─────── 243,70a 266,74b 281,81b 286,70b 282,63b 277,80b 294,80b 280,80b 274,16b 273,46b 200,50a 226,64b 239,98b 236,60b 237,56b 240,20b 234,60b 230,20b 221,30a 226,86b 1 IAV = Índice de Avaliação Visual. Média das avaliações realizadas de 2005 a 2012 através de escala de 1 a 10 pontos, sendo 1 = plantas pouco produtivas e pouco vigorosas e 10 = plantas produtivas e vigorosas. 2 Avaliação realizada através de escala de 1 a 5 pontos, sendo 1 = plantas pouco enfolhada e 5 = plantas muito enfolhada. 3 Avaliação realizada através de escala de 1 a 10 pontos, sendo 1 = plantas pouco enfolhadas e 10 = plantas muito enfolhadas. *Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. ** PA = Polinização Aberta *** AF = Autofecundação A análise dos dados relacionados ao índice de avaliação visual revela que as médias das progênies não apresentaram diferenças estatísticas em relação à média da testemunha Catuaí Vermelho IAC 99. Porém, as médias do IAV são relativamente baixas, variando de 4,66 a 6,22 pontos, em uma escala de 1 a 10 pontos. As progênies H 14954-46 PA e H 1495446 AF merecem destaque por apresentarem as melhores médias de IAV, 6,20 e 6,22 pontos 27 respectivamente. Progênies derivadas por autofecundação (AF) ou polinização aberta (PA) do cafeeiro H13685-1-25 (cova 1059 EP 473), também apresentaram IAV médio superior a 6 pontos. Mais uma vez é preciso atentar ao fato de que nenhum controle fitossanitário foi realizado desde o plantio do ensaio em 2003. Apenas 12 plantas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 apresentaram IAV médio superior a 6 pontos e nenhuma delas atingiu 7 pontos de média. Estes valores foram, entretanto maiores para as demais progênies, que apresentaram um mínimo de 14 plantas com média superior a 6 pontos. As progênies AF e PA do cafeeiro H14954-46, somaram 68 plantas com IAV médio superior a 6, sendo 10 delas, com média maior que 7. Deve-se considerar que a referida média refere-se às 8 avaliações realizadas anualmente entre 2005 e 2012. No total, 212 plantas das nove progênies avaliadas apresentaram IAV médio superior a 6, sendo que para 30 plantas, o IAV médio foi maior que 7. Nenhuma planta atingiu média 8. Uma característica extremamente relacionada com o IAV é o enfolhamento das plantas uma vez que se trata de uma componente do referido índice. Na avaliação do enfolhamento, realizada em 2005, não foram observadas diferenças significativas entre as médias, sendo que os valores médios variaram de 3,01 a 3,73 pontos em uma escala de 1 a 5 pontos (Tabela 8). Neste caso, as progênies foram consideradas com bom enfolhamento e aparentemente uniformes. Porém, na avaliação realizada em 2011, o resultado não se repetiu e as médias variaram entre 5,76 e 7,72 pontos, em uma escala de 1 a 10 pontos. Além disso, todas as progênies apresentaram médias com diferenças significativas em relação à cultivar Catuaí Vermelho IAC 99. A progênie H13685-1-25 PA apresentou a maior média de enfolhamento (7,72 pontos). Levando-se em consideração as variáveis IAV e enfolhamento relacionadas ao vigor vegetativo das plantas, as progênies H13685-1-25 PA, H13685-1-25 AF, H14954-46 PA e H14954-46 AF apresentaram as maiores médias sendo consideradas mais vigorosas e superiores em relação à testemunha e às outras progênies, sendo portanto consideradas mais promissoras para o avanço de gerações de seleção. O porte das plantas é determinado pela expressão do gene caturra que interfere no alongamento das hastes ortotrópicas, assim como, dos ramos plagiotrópicos (CARVALHO et al., 1984). Plantas homozigotas para o alelo ct apresentam porte normal, enquanto aquelas portadoras de pelo menos um alelo Ct apresentam porte baixo, sendo geneticamente denominadas como caturras. 28 O crescimento em altura e diâmetro das plantas normais (ctct) ou caturras (CtCt ou Ctct) é, entretanto, muito influenciado pelo ambiente de cultivo. Características edafoclimáticas e nutricionais, assim como, sistemas de cultivo e manejo de lavouras, contribuem, sobremaneira, para o desenvolvimento vegetativo das plantas. Assim sendo, na recomendação de novas cultivares deve-se considerar essa característica pela relevância que tem na adoção de espaçamentos adequados, na infraestrutura de colheita disponível e no correto planejamento de implantação de novas lavouras. Em relação à altura das plantas, todas as progênies apresentaram médias estatisticamente superiores à testemunha que variaram entre 266,74 e 294,80 cm. O fato de as progênies terem apresentado valores médios de altura de plantas mais elevado que a testemunha está relacionado à presença de genótipos de porte alto na população. Já em relação ao diâmetro da copa apenas a média da progênie H14954-10 AF (221,30 cm) não apresentou diferença estatística em relação à testemunha. Os dados relacionados à incidência do bicho-mineiro em campo e em laboratório são apresentados na tabela 9. Tabela 9 - Avaliações relacionadas à incidência de Leucoptera coffeella, nível de reação no campo e número de plantas resistentes e suscetíveis em laboratório, em cafeeiros das progênies do EP 507, em Campinas, SP. Progênie* Plantas n° Catuaí Vermelho IAC 99 H14066-12 PA** H14954-46 PA H13685-1-25 PA H13685-1 PA H14954-46 AF*** H14954-40 AF H13685-1-25 AF H14954-10 AF H13685-1 AF 47 48 49 50 47 50 50 50 49 48 Tipo de reação em campo 2005 e 20071 20102 2011-20123 ──────── pontos ───────── 2,40a 1,65b 2,01b 2,02a 1,90b 1,83b 2,00b 1,83b 1,93b 1,54b 3,54a 2,32b 3,10a 3,12a 2,66b 2,84a 2,64b 2,56b 2,68b 2,32b 3,53a 2,93b 3,08a 3,11a 2,90b 2,96b 3,15a 2,95b 2,72b 2,31b Tipo de reação em laboratório4 1 2 3 4 Resistentes Suscetíveis ── número de plantas ── Pontos 0 20 9 9 16 10 15 13 17 14 3,54a 2,32b 3,10a 3,12a 2,66b 2,84a 2,64b 2,56b 2,68b 2,32b 0 3 0 2 4 5 4 3 2 0 22 15 17 13 15 18 15 27 10 21 25 10 23 26 12 17 16 7 20 13 Média 1 Média das avaliações realizadas em 2005 e 2007, mediante de escala de 1 a 4 pontos. Avaliação realizadas em 2010 através escala de 1 a 10 pontos. 3 Média de quatro avaliações realizadas nos meses maio e setembro dos anos 2011 e 2012 através de escala de 1 a 5 pontos. 4 Avaliações realizadas nos meses de novembro e dezembro de 2011, mediante escala de pontos sendo 1 = Resistente; 2 = Moderadamente Resistente; 3 = Moderadamente Suscetível e 4 = Suscetível. *Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. ** PA = Polinização Aberta *** AF = Autofecundação 2 Analisando os dados que se referem às avaliações de campo da incidência do bichomineiro, pode-se observar que à exceção da progênie H13685-1-25 PA, todas as demais se 29 diferenciaram estatisticamente da testemunha, nos anos de 2005 e 2007, com valores médios inferiores a ela. Em relação à avaliação de campo realizada em 2010, apenas as progênies H14954-46 PA, H13685-1-25 PA e H14954-46 AF não diferiram da testemunha, sendo consideradas, em média, tão suscetíveis como a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99. Todas as outras progênies se diferenciaram da testemunha, em relação ao nível médio de resistência da progênie. No que tange as quatro avaliações realizadas nos anos de 2011 e 2012, as progênies H14954-46 PA, H13685-1-25 PA e H14954-40 AF foram consideradas suscetíveis ao inseto, por apresentarem médias estatisticamente semelhantes à testemunha. As médias das demais progênies foram inferiores e estatisticamente diferentes daquela apresentada pela cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, ou seja, 3,53 pontos. O desempenho das progênies obtido a partir de resultados das avaliações do nível de resistência ao inseto, realizados em laboratório, em 2011, foi similar aquele verificado em 2010, nas avaliações de campo, com as progênies H14954-46 PA, H14954-46 AF e H136851-25 PA apresentando médias estatisticamente iguais à testemunha. Os dados apresentados na tabela 9, ainda revelam que, sem exceção, as progênies segregam em relação ao nível de resistência ao bicho-mineiro. Entretanto, a frequência de plantas resistentes e suscetíveis é variável de uma progênie a outra, mas sempre com predominância de indivíduos suscetíveis. Um maior equilíbrio entre as classes é observado quando são consideradas as plantas da progênie H14066-12 PA, que resultou em 23 plantas resistentes e 25 plantas suscetíveis. A progênie H14954-46 PA, se encontra em um extremo oposto com 40 plantas suscetíveis e apenas 9 plantas resistentes. No geral, excluindo a testemunha, foram avaliadas 441 plantas, pertencentes à nove progênies de matrizes selecionadas nos ensaios EP 473 e EP 369. Dessas, 146 plantas foram classificadas como resistentes e 295 como suscetíveis em avaliação de laboratório realizada em 2011. A proporção obtida se aproxima de 1R: 2S, distanciando-se da segregação 9R: 7S, esperada para progênies obtidas por autofecundação ou polinização aberta, conforme sugerido por GUERREIRO FILHO et al. (1999). Algumas hipóteses podem auxiliar na compreensão destas distorções. A primeira delas seria a seleção, ainda no viveiro, de plantas mais vigorosas e bem formadas para o plantio do experimento de campo, mesmo sendo elas, suscetíveis à praga. A segunda seria a eliminação de plantas anormais, aneuploides e pouco vigorosas, realizada em cada uma das covas, no ensaio de campo, uma vez que o plantio foi feito com duas mudas por cova, seguida de desbaste, realizado com base nos critérios já descritos. 30 Em termos percentuais, a maior ocorrência de plantas resistentes foi observada na progênie H14066-12 PA, com 47%. Considerando-se o total de plantas de cada uma das matrizes H14954-46, H13685-1 e H13685-1-25, das quais foram derivadas progênies por autofecundação ou por polinização aberta, a maior frequência de plantas resistentes é observada nas progênies AF e PA, derivadas do cafeeiro H13685-1, com 35%. O avanço de gerações por meio de retrocruzamentos ou autofecundações, implicou na redução de plantas resistentes nas progênies H14954-46 (24%) e H13685-1-25 (27%). As avaliações referentes à incidência e à severidade da ferrugem das 9 progênies do EP 507 e da testemunha suscetível Catuaí Vermelho IAC 99, estão apresentados na tabela 10. Tabela 10 – Avaliações realizadas no campo e em laboratório relacionadas à incidência e à severidade de Hemileia vastatrix em cafeeiros das progênies do EP 507, em Campinas, SP. Progênie* Avaliações de Campo1 TR3 DL3 ── pontos ── Catuaí Vermelho IAC 99 H14066-12 PA** H14954-46 PA H13685-1-25 PA H13685-1 PA H14954-46 AF*** H14954-40 AF H13685-1-25 AF H14954-10 AF H13685-1 AF 4,28a 3,31b 3,38b 3,17b 3,44b 3,07b 3,52b 2,95b 2,93b 2,28b 9,15a 7,78b 6,91b 7,21b 7,20b 6,69b 7,60b 6,74b 7,23b 5,30b PI3 PL3 ─── dias ── 23,60 23,80 23,65 25,28 23,80 23,11 26,03 26,85 24,84 26,56 27,43 26,52 25,02 30,28 28,10 25,53 29,70 26,05 27,12 29,22 Laboratório2 Tipo de Reação4 DL3 1 2 3 4 5 Média pontos 7,62a 7,04a 3,36b 3,53b 4,28b 3,58b 3,71b 2,84b 4,56a 2,84b ── número de plantas ── 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 13 15 13 25 17 17 16 20 7 8 13 14 11 8 18 17 14 17 15 21 8 7 7 10 4 7 10 8 17 16 5 3 7 4 8 1 9 1 Pontos 4,20a 4,13a 2,95b 2,92b 3,06b 2,86b 3,05b 2,79b 3,24a 2,77b 1 Média das avaliações realizadas em junho de 2011 e 2012. Médias das avaliação realizadas em laboratório em 2012. 3 TR = Tipo de Reação; DL = Densidade de lesão; PI = Período de Incubação; PL = Período de Latência *Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. 4 Avaliações realizadas em 2012, mediante escala de pontos sendo 1 = Imune; 2 = Resistente; 3 = Moderadamente Resistente; 4 = Moderadamente Suscetível e 5 = Suscetível ** PA = Polinização Aberta *** AF = Autofecundação 2 A análise dos dados da tabela 10 nos permite concluir que, em condições de campo, todas as progênies apresentaram nível médio de resistência à ferrugem superior ao observado em cafeeiros da progênie testemunha, tanto em relação ao tipo de reação, quanto à densidade de lesões. A densidade de lesões observadas nas plantas no campo está relacionada com a frequência de lesões nas folhas. Na escala adotada para a avaliação, 1 ponto corresponde à presença de lesões em folhas de poucos ramos e 10 pontos, à presença de lesões em folhas de quase todos os ramos da planta. Nesta escala, a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, testemunha suscetível, apresentou, como se esperava, média superior a 9 pontos. Salienta-se que os 9,15 31 pontos refere-se a média de duas avaliações realizadas em junho de 2011 e junho de 2012, em 47 plantas distribuídas em cinco parcelas, no campo. As médias da densidade das lesões das demais progênies variaram entre 5,30 (H13685-1 AF) e 7,78 pontos (H14066-12 PA). Os resultados obtidos evidenciam o elevado índice de infecção da doença no campo e a possibilidade de selecionar progênies ou genótipos resistentes. Desempenho semelhante foi verificado na análise da variável tipo de reação das lesões em plantas, no campo. A cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 apresentou média de 4,28 pontos e a progênie H13685-1 AF, em outro extremo, obteve a menor pontuação média, 2,28 pontos, número que equivale à classificação ‘resistente’ na escala adotada. As demais progênies apresentaram médias em torno de 3 pontos, sendo consideradas, moderadamente resistentes. A resistência ao agente da ferrugem de cada uma das plantas do ensaio de progênies EP 507 foi avaliada também em laboratório a partir de variáveis consideradas componentes da resistência, como o período de incubação da doença, o período de latência, a densidade de lesões e o tipo de reação das lesões. O período de incubação correspondente ao número médio de dias entre a inoculação do fungo e o aparecimento dos primeiros sintomas da doença nos discos de folhas, em laboratório, variou entre 23,11 e 26,85 dias. Variações também bastante reduzidas foram observadas no período de latência, representado pelo número médio de dias entre a inoculação e o aparecimento dos sintomas da doença em 50% da parcela formada pelos discos foliares. A média da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 foi de 27,43 dias enquanto as médias das demais progênies variaram entre 25,02 e 30,28 dias, valores próximos aos observados por outros autores em diferentes cultivares e acessos de C. arabica (ESKES, 1982; ESKES & CARVALHO, 1983). Diferenças de maior magnitude entre a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e as demais progênies foram observadas nas componentes da resistência densidade de lesões e tipo de reação. A densidade média das lesões na testemunha foi superior à 7 na escala de 1 a 10 pontos proposta por ESKES & TOMA-BRAGHINI (1981). Apenas a progênie H14066-12 PA, com média também superior a 7, se aproximou da testemunha em termos numéricos. As demais progênies apresentaram médias variando entre 2,84 e 4,56 pontos. De acordo com ESKES & TOMA-BRAGHINI (1981), 7 pontos na escala de notas corresponderiam a 52 lesões e 33,1% da área lesionada na parcela. Três pontos, correspondem a 4 lesões e 2,5% da área lesionada enquanto 5 pontos, equivalem a 25 lesões e 9,7% de área lesionada. 32 O tipo de reação das lesões revelou correlação elevada (r2 = 0,982) com a densidade de lesões, de modo que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 foi considerada suscetível, assim como, a progênie H14066-12 PA. As oito demais progênies podem ser consideradas, em média, moderadamente suscetíveis, uma vez que a média de cada uma delas se aproximou dos 3 pontos da escala de 1 a 5 pontos usada na classificação das plantas. Entretanto, em cada uma dessas oito progênies, foram identificadas um mínimo de 13 plantas com nota 2, ou seja, plantas consideradas resistentes à raça II de H. vastatrix, raça predominante no país. Este número foi maior na progênie H14954-46 AF, composta por 25 plantas resistentes, número que equivale a 53% do total de plantas da progênie. A julgar pelas médias das progênies todas apresentaram valores absolutos inferiores àqueles apresentados pela testemunha para as variáveis relacionadas à resistência das plantas ao bicho-mineiro e à ferrugem. Entretanto, nenhuma progênie se revelou homogênea em relação às variáveis analisadas, indicando que a seleção individual de plantas deve ser considerada após a seleção das melhores progênies. Na tabela 11, apresentada a seguir, são relacionadas as plantas de cada uma das progênies que apresentaram resistência múltipla aos agentes bióticos ferrugem (raça II) e bicho-mineiro, tendo a seleção, sido realizada pelas variáveis tipo das lesões causada pelo bicho-mineiro obtida em 2011 e tipo de reação à ferrugem, obtida em 2012, ambas em testes de laboratório. Tabela 11 – Cafeeiros com resistência múltipla ao bicho-mineiro e à ferrugem selecionados no EP 507, em Campinas, SP. Progênie Catuaí Vermelho IAC 99 H14066-12 PA* H14954-46 PA H13685-1-25 PA H13685-1 PA H14954-46 AF** H14954-40 AF H13685-1-25 AF H14954-10 AF H1685-1 AF Plantas 150 173, 345, 347, 489 140, 314, 373, 552, 803, 810 477, 612, 762, 763, 764, 769 279, 280, 451, 642, 643, 644, 646, 659, 660, 661, 663 325, 328, 334, 790 207, 513, 514, 796, 798, 799 191, 337, 527, 534, 656, 657 444, 622, 623, 771, 774, 775, 776, 780 * PA = Polinização Aberta ** AF = Autofecundação 33 5.2 Avaliações de Progênies F1 de Retrocruzamentos entre Plantas Resistentes ao Bicho-Mineiro com Cafeeiros da Cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 e do Germoplasma Catuaí SH3, Suscetíveis à Praga. Os resultados obtidos referentes às avaliações da produção de frutos das progênies do EP 509, encontram-se na tabela 12. Tabela 12 - Valores médios de cinco colheitas de frutos, em quilogramas de café da roça e em sacas de café beneficiado por hectare (sc ha-1) e número de plantas por progênie com média superior à média e à melhor planta da progênie testemunha do EP 509, em Campinas, SP. 2005-2009 sc ha-1 Catuaí Vermelho IAC 99 H20032 H20033 H20034 H20049 H20050 1 Plantas com média superior à testemunha Produção de frutos Progênie* 21 37 24 30 41 32 2005-2009 AV1 ───── kg planta-1 ano-1 ───── 2,08 3,64 2,34 2,99 4,13 3,18 a b a b b b D AB CD BCD A BC 1,06-3,10 1,76-6,66 1,19-3,62 2,08-5,16 1,88-5,33 0,70-7,30 Média (2,08) Maior valor (3,10) ─ número de plantas ─ 13 9 14 14 11 10 3 5 14 9 AV = Amplitude de variação. *Médias de tratamentos seguidas de uma mesma letra minúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5%; Médias de tratamentos seguidas de mesma letra maiúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. Quando comparados pelo teste de Dunnett, os valores médios da produção de frutos das progênies F1RC5 e F1RC6 avaliadas, apresentados na tabela 12, indicam que apenas a progênie H20033 não apresenta diferença estatística em relação à testemunha Catuaí Vermelho IAC 99. As outras progênies apresentaram produções superiores à testemunha, evidenciando que possuem produções consideradas muito boas, uma vez que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 é altamente produtiva. Quando as médias dos tratamentos foram comparadas entre si pelo teste de Tukey, a progênie H20049 se destacou apresentando valor médio de produção de 4,13 kg planta-1 ano-1, mostrando-se, portanto, superior às outras progênies e, especialmente, à testemunha. A cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 apresentou produção média de frutos de 2,08 kg planta-1 ano-1, valor considerado médio, levando em consideração que não houve controle fitossanitário da ferrugem e do bicho-mineiro e que a cultivar é altamente suscetível aos dois problemas fitossanitários que afetam drasticamente a produção dos cafeeiros e que estiveram presentes no campo durante a realização do experimento. Assim como mencionado na discussão dos resultados do ensaio de progênies EP 507 (item 5.1), considerando-se um 34 plantio hipotético em espaçamento de 3 x 1m e o rendimento médio de 5,5 kg de café da roça por quilograma de café beneficiado, a produção da testemunha corresponderia a 21 sacas de café beneficiado por hectare. As progênies H20032 e H20049, obtidas através do cruzamento entre o mesmo cafeeiro H13685-1-25 (cova 1059 EP473) e plantas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 e do germoplasma Catuaí SH3, respectivamente, apresentaram produções médias de frutos superiores às outras progênies, 3,64 e 4,13 kg planta-1 ano-1. Convertendo os valores médios de produção para sacas por hectare, as referidas progênies F1RC5 produziram 37 sc ha-1 (H20032) e 42 sc ha-1 (H20049), enquanto que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 produziu, em média, 21 sc ha-1, aproximadamente metade da produção das progênies citadas anteriormente se adotarmos o mesmo raciocínio exposto anteriormente. A amplitude de variação das médias apresentadas na tabela 12 revela, além de uma componente ambiental, a variabilidade referente à produção de café da roça existente em cada uma das progênies do ensaio de campo EP 509. Essa amplitude e os valores extremos das progênies são, em algumas famílias, bem maiores do que a testemunha, possibilitando a seleção individual de plantas dentro das progênies F1RC5 e F1RC6 . O número de plantas com produção superior à média da testemunha ou à planta mais produtiva da testemunha, também aponta para a variabilidade dentro das progênies F1RC5 e F1RC6. A progênie H20049, que apresentou a maior média de produção, possui 14 plantas com produção média anual superior à da testemunha. As mesmas 14 plantas também apresentaram produção anual superior à melhor planta da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, do ensaio de campo. De maneira geral, 61 plantas das cinco progênies F1 segregantes apresentaram médias superiores à da testemunha. Dessas plantas, 41 foram mais produtivas do que a melhor planta da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 (Tabela 12). Os valores médios da produção são bastante variáveis entre os cafeeiros F1RC5 e F1RC6. Na figura 7, pode-se observar que todas as progênies avaliadas apresentaram um maior número de plantas individuais com médias de produção superior à 3,1 kg planta-1 ano-1, quando comparadas com a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99. Além disso, as progênies H20032 e H20050 foram as únicas que apresentam plantas com produtividade elevada, superior a 6,1 kg planta-1 ano-1, indicando que, nessas progênies segregantes, os indivíduos podem ser selecionados visando a produção de clones ou dando continuidade à seleção. 35 Plantas (n°) 16 14 12 10 8 6 4 2 0 < 3* 3,1-6 > 6,1 *kg planta-1 ano-1 Figura 7 – Produção de café da roça, em kg planta-1 ano-1, de cafeeiros das progênies F1 e da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 que compõem o ensaio EP 509. Os valores médios referentes às avaliações de características agronômicas das progênies F1RC5 e F1RC6 do EP 509, como ciclo de maturação dos frutos, porte das plantas e cor dos frutos, encontram-se na tabela 13. Tabela 13 – Ciclo de maturação dos frutos e frequência de genótipos das plantas em relação ao porte e à cor dos frutos na cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e em progênies F1RC5 e F1RC6 de cafeeiros do EP 509, em Campinas, SP. Progênie* Catuaí Vermelho IAC 99 H20032 H20033 H20034 H20049 H20050 Ciclo de Maturação dos Frutos1 P-M Média P Pontos ──── número de plantas ──── 3,50a 3,75a 2,67b 3,39a 3,74a 3,35a 0 0 3 0 0 0 1 1 7 4 0 3 M 9 5 3 7 8 9 M-T Genótipos das plantas 4 9 2 4 7 1 T 0 0 0 0 0 1 Porte 2 Cor dos Frutos3 ctct Ct_ XcXc Xcxc xcxc ────── número de plantas ────── 0 0 0 0 0 0 14 15 15 15 15 14 14 15 8 15 15 14 0 0 7 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Avaliação realizada através da atribuição pontos ao estágio predominante de maturação de frutos nas plantas sendo 1 = precoce (P); 2 = precoce para média (P-M); 3 = média (M); 4 = média para tardia (M-T) e 5 = tardia (T). Ct_ = caturra; ctct = normal. 3 XcXc = Vermelho; Xcxc = Laranja e xcxc = Amarelo *Médias de tratamentos seguidas de uma mesma letra minúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. 2 O ciclo de maturação de espécies e cultivares de café é bastante variável. A espécie utilizada como parental resistente ao bicho-mineiro na obtenção das progênies foi C. racemosa, que apresenta maturação precoce, com ciclo variando de 60 a 110 dias da antese à total maturação dos frutos. Os outros cruzamentos envolveram várias cultivares de C. arabica 36 com ciclos de maturação muito variáveis (de 180 a 250 dias da antese à total maturação dos frutos). (LEVY et al., 1989; MEDINA FILHO et al., 1984). O fato da espécie mais precoce ter sido utilizada como doadora de genes de resistência ao bicho-mineiro, implicaria em uma maior frequência de plantas e/ou progênies mais precoces na população. Porém, essa precocidade de maturação não foi observada nas progênies avaliadas em questão. Apenas a progênie H20033, revelou-se, em média, mais precoce do que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, e também, foi a única que apresentou plantas individuais com maturação precoce. Além disso, as progênies H20032 e H20049 foram as que mais se aproximaram da testemunha apresentando um maior número de plantas com maturação variando entre média e tardia, 14 e 15 plantas, respectivamente (Tabela 13). Dois fatores podem ter contribuído para que o ciclo de maturação variasse de médio a tardio, a saber: em primeiro lugar, a realização dos sucessivos retrocruzamentos com cafeeiros da cultivar Catuaí, que é sabidamente tardia (CARVALHO et al., 1972); a segunda possibilidade pode ter relação com a seleção de plantas em gerações sucessivas direcionada para a resistência ao bicho-mineiro e não para a precocidade de maturação de frutos. Em relação ao porte das plantas, não houve segregação para a característica, sendo o ensaio de campo composto apenas por plantas de porte baixo. Isso ocorreu, pois os cruzamentos que originaram as progênies foi realizado entre cafeeiros de porte baixo e de constituição genética Ct_ e a cultivar Catuaí de porte baixo e homozigota dominante para o aleto Ct , não havendo possibilidade da ocorrência de plantas de porte normal (ctct). Deste modo, as cinco progênies F1 citadas apresentam porte baixo e poderiam ser de constituição genética CtCt ou Ctct. Do ponto de vista agronômico, o porte baixo facilita a colheita, possibilita o aumento da densidade de plantio, alcançando produções mais elevadas por área e maior facilidade nos tratamentos fitossanitários (CARVALHO, 1979). Com exceção da progênie F1RC6 H20033, não houve segregação para a coloração dos frutos. As progênies apresentaram apenas frutos de cor vermelha (XcXc), uma vez que, os parentais possuem constituição genética XcXc, não proporcionando segregação para a característica nas descendências avaliadas. A única progênie que apresentou segregação para a característica, com a ocorrência de frutos com a cor do exocarpo vermelha (XcXc) e laranja (Xcxc) foi a H20033. Esta progênie é oriunda do cruzamento entre o cafeeiro H14954-29 (cova 1023 EP 473) que produz frutos de cor laranja e é heterozigoto para o alelo Xc e a cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 de constituição genética XcXc e que apresenta frutos de cor vermelha. Por se tratar de dominância incompleta o cruzamento entre matrizes XcXc e 37 Xcxc deve resultar numa segregação de 1 vermelha: 1 laranja, o que ocorreu com a referida progênie F1RC6 (Tabela 13). Os dados referentes à porcentagem de frutos chochos e ao massa de 100 frutos cerejas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e de cinco progênies F1 do EP 509, são apresentados na tabela 14. Tabela 14 – Valores médios da porcentagem de frutos chochos e da massa de 100 frutos cerejas, em gramas, de cafeeiros da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e de cinco progênies F1 do EP 509, em Campinas, SP. Progênie* Catuaí Vermelho IAC 99 H20032 H20033 H20034 H20049 H20050 Frutos chochos Massa de 100 Frutos 2005 2011 ──────── % ──────── 2005 g 35,33 31,37 31,17 26,80 20,63 18,77 14,70 18,73 33,93 16,47 22,13 22,50 103,75a 102,83a 115,77a 102,67a 132,00b 124,67a *Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. A porcentagem de frutos chochos considerada satisfatória pelos melhoristas é de aproximadamente 10%, por isso grande parte das cultivares comerciais possuem porcentagem de frutos normais próxima a 90% (CARVALHO et al., 2006). Baseando-se nestas informações foi possível observar que nenhuma das progênies avaliadas alcançou este valor, apresentando porcentagens frutos de normais bem inferiores a 90%. A porcentagem de frutos com lojas vazias das progênies foi estatisticamente semelhante a da testemunha em relação aos dois anos avaliados. Baseando-se na avaliação realizada no ano de 2005, a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e as progênies H20032 e H20033 foram as que apresentaram a maior incidência de frutos chochos com valores médios de 35,33, 31,37 e 31,17%, respectivamente. A cultivar Catuaí, sobretudo, apresentou alta porcentagem de frutos chochos (35,33%), valor médio muito acima do desejado em uma cultivar. Observando-se as médias obtidas em 2011, novamente a progênie H20033 teve valor de porcentagem de frutos chochos elevado, semelhante ao que ocorreu da avaliação de 2005 (33,93%). Já a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 teve substancialmente reduzida a porcentagem de frutos chochos de 35,33 %, em 2005, para 14,70 % em 2011, chegando próximo aos valores desejados em uma cultivar. 38 A alta frequência de frutos chochos na população avaliada pode ter ocorrido devido a duas hipóteses, sendo a primeira relacionada à influência ambiental, dos anos que foram retiradas as amostras, na expressão da característica. Outra possibilidade que pode ser levada em consideração é a natureza aneuploide do cafeeiro C1195-5-6-2 (MEDINA FILHO, 1977) usado como parental doador no início do programa de melhoramento visando resistência ao inseto. Como a baixa incidência de frutos chochos é condição importante para o lançamento de uma nova cultivar a seleção de plantas resistentes deve ser realizada levando em consideração também esta característica. A partir da análise dos dados da massa de 100 frutos, foi possível observar que apenas a progênie F1RC5 H20049 apresentou valor estatisticamente diferente da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, assim, obteve a maior média entre as progênies F1 analisadas (132 g) (Tabela 14). As médias do índice de avaliação visual (IAV), enfolhamento, altura e diâmetro da copa das plantas das 5 progênies F1 e da testemunha Catuaí Vermelho IAC 99 pertencentes ao ensaio de progênies EP 509 podem ser vistos na tabela 15. Tabela 15 – Valores médios do índice de avaliação visual, enfolhamento, altura e diâmetro da copa das plantas de progênies F1 e de cafeeiros da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 do EP 509, em Campinas, SP. IAV1 Progênie* Média pontos Catuaí Vermelho IAC 99 H20032 H20033 H20034 H20049 H20050 5,41a 6,43b 5,98a 6,13b 6,40b 6,35b > 6 pontos Enfolhamento > 7 pontos ─ número de plantas ─ 3 9 9 7 6 4 0 3 0 1 6 6 20052 20113 ─── pontos ─── 2,87a 3,40a 3,20a 3,33a 3,27a 3,53b 5,93a 8,20b 6,13a 7,53b 8,67b 8,77b Altura de Plantas Diâmetro de Copa ────── cm ────── 236,67a 271,33b 270,00b 259,67a 258,67a 244,50a 187,67a 218,00a 214,00a 207,67a 217,00a 196,00a 1 IAV = Índice de Avaliação Visual. Média das avaliações realizadas de 2005 a 2012 através de escala de 1 a 10 pontos. Avaliação realizada através de escala de 1 a 5 pontos. 3 Avaliação realizada através de escala de 1 a 10 pontos. *Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. 2 O índice de avaliação visual (IAV) é um índice subjetivo de seleção que tem como componentes principais a produção da planta no momento da avaliação e a produção futura através do crescimento dos ramos plagiotrópicos. Outros componentes também são considerados como o vigor vegetativo, a ausência de deficiências nutricionais e a sanidade das plantas avaliadas (FAZUOLI et al., 1991). Esta variável é de extrema importância na seleção de plantas, especialmente pela facilidade de uso. 39 A análise dos dados relacionados ao índice de avaliação visual (IAV) revela que, com exceção da progênie H20033, as progênies restantes apresentaram valores médios estatisticamente superiores ao da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 (testemunha). A média da testemunha foi de 5,41 pontos, enquanto a média das progênies variou entre 6,13 e 6,43 pontos, numa escala de 1 a 10 pontos. Na cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, de um total de 14 plantas, somente 3 plantas apresentaram valores médios de IAV superiores a 6 pontos e nenhuma delas atingiu 7 pontos de média. As demais progênies apresentaram valores médios de IAV maiores com um mínimo de 4 plantas com média superior a 6 pontos e pelo menos 1 planta com média superior a 7 pontos. As progênies H20049 e H20050, apresentaram juntas 22 plantas com IAV médio superior a 6 pontos, sendo 12 delas, com média maior que 7. No total, 51 plantas das cinco progênies avaliadas apresentaram valores médios de IAV superiores a 6 pontos, sendo que 16 plantas obtiveram IAV médio superior a 7 pontos. Considerando os fatores analisados no momento da avaliação do IAV, pode-se inferir que essas duas progênies são muito promissoras para a seleção, pois apresentam plantas com médias de IAV, elevadas. Outra característica relacionada ao vigor vegetativo das plantas é o enfolhamento. Nas avaliações realizadas em 2005, utilizando uma escala de 1 a 5 pontos, apenas a progênie H20050 se diferenciou estatisticamente da testemunha apresentando valor médio de 3,53 pontos, contra 2,87 da testemunha (Tabela 15). Já nas avaliações realizadas em 2011, as progênies H20032, H20049 e H20050 se destacaram das demais apresentando valores médios de enfolhamento superiores a 8 pontos (8,20, 8,67 e 8,77 pontos, respectivamente) em uma escala de 1 a 10 pontos, valores estes considerados elevados. Considerando-se as componentes IAV e enfolhamento, relacionadas ao vigor vegetativo das plantas e produção visual, as progênies H20049 e H20050 se destacam apresentando os maiores valores médios, sendo consideradas mais vigorosas e mais produtivas visualmente e, portanto superiores em relação à testemunha e as outras progênies. Essas observações sugerem que estas progênies sejam mais promissoras para o avanço de gerações de seleção. Através das avaliações relacionadas à altura e ao diâmetro da copa das plantas pode-se observar que, com exceção da progênie H20050, as outras progênies apresentam valores médios de altura da planta superiores quando comparados com a testemunha. Os resultados obtidos por essa progênie são considerados bons, visto que a altura e o diâmetro da copa das plantas estão relacionados com o desenvolvimento da planta. 40 A redução na altura e no diâmetro da copa das plantas está relacionada com mutação ocorrida em C. arabica, que foi denominada caturra, representada por plantas pouco desenvolvidas com redução no comprimento dos internódios, dos ramos plagiotrópicos e ortotrópicos (CARVALHO, et al., 1991). É importante ressaltar que as progênies estudadas são todas de porte baixo, o que provavelmente favoreceu a baixa variação na altura e no diâmetro da copa das plantas apresentada pelas progênies F1 em relação à cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, que é, evidentemente de porte baixo. Os dados relacionados à incidência do bicho-mineiro em campo e em laboratório das progênies do EP 509 são apresentados na tabela 16. Tabela 16 - Avaliações relacionadas à incidência de Leucoptera coffeella, nível de reação no campo e número de plantas resistentes e suscetíveis em laboratório em cafeeiros da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 e das progênies F1RC5 e F1RC6 do EP 509, em Campinas, SP. Progênie* Número de plantas Tipo de reação em campo 2005 e 20071 20102 2011-20123 ───────── pontos ───────── Catuaí Vermelho IAC 99 H20032 H20033 H20034 H20049 H20050 14 15 15 15 15 14 2,33a 2,07a 2,37a 2,07a 2,10a 2,25a 2,73a 2,80a 2,80a 2,60a 2,73a 2,87a 3,53a 2,96b 2,90b 3,11a 3,08a 2,93b Tipo de reação em laboratório4 1 2 Resistentes 3 4 Suscetíveis Média ── número de plantas ── 0 4 3 5 3 1 0 0 0 0 1 0 8 5 7 3 7 8 6 6 5 7 4 5 3,47a 2,87a 3,08a 2,80a 2,80a 3,23a 1 Média das avaliações realizadas em 2005 e 2007, mediante de escala de 1 a 4 pontos. Avaliação realizadas em 2010 através escala de 1 a 10 pontos. Média de quatro avaliações realizadas nos meses Maio e Setembro dos anos 2011 e 2012 através de escala de 1 a 5 pontos. 4 Avaliações realizadas nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2011, mediante escala de pontos sendo 1 = Resistente; 2 = Moderadamente Resistente; 3 = Moderadamente Suscetível e 4 = Suscetível. *Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. 2 3 Nas avaliações realizadas em campo, nos anos de 2005, 2007 e 2010, pode-se observar que as progênies F1 obtiveram médias estatisticamente semelhantes às da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, sendo consideradas, portanto, tão suscetíveis quanto à testemunha. Os valores obtidos pela testemunha nas duas avaliações foram baixos e, visto que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 é altamente suscetível à praga, isso pode ser indicativo de uma baixa infestação da praga no campo no momento das avaliações. Já em relação às quatro avaliações realizadas nos anos de 2011 e 2012, as progênies H20034 e H20049 foram consideradas suscetíveis ao bicho-mineiro por apresentarem médias estatisticamente semelhantes à testemunha. As outras progênies apresentaram valores médios inferiores e diferentes estatisticamente do valor apresentado pela testemunha, portanto podem ser consideradas com certo nível de resistência ao bicho-mineiro. 41 O desempenho das progênies, analisado através de resultados das avaliações do nível de resistência ao bicho-mineiro, em laboratório (2011), se aproximou dos resultados das avaliações de campo realizadas em 2011 e 2012. Porém, as progênies não apresentaram valores médios diferentes estatisticamente da testemunha. Estudos realizados por GUERREIRO FILHO (1999), relacionados à expressão da resistência ao bicho-mineiro, concluíram que a característica é governada por dois genes complementares e dominantes (Lm1 e Lm2) e que progênies oriundas de retrocruzamentos sucessivos com parentais suscetíveis segregam na proporção de 3 suscetível: 1 resistente. Analisando a frequência de plantas resistentes e suscetíveis dos tratamentos do EP 509, notase que a segregação é de 3 suscetíveis: 1 resistente, em todas as progênies avaliadas, mostrando que as mesmas segregam na proporção esperada para progênies F1 obtidas através de retrocruzamentos (Tabela 16). As avaliações da resistência ao bicho-mineiro, em laboratório, ainda permitem observar que as progênies H20032, H20034 e H20049 apresentaram nível de infestação inferior ao das outras progênies, apresentando o maior número de genótipos com nível de resistência elevado ao inseto, 4, 5 e 4 respectivamente. Além disso, das 88 plantas avaliadas as progênies tiveram um total de 17 genótipos resistentes ao bicho-mineiro contra 71 genótipos suscetíveis. Os resultados obtidos em relação à incidência e à severidade da ferrugem em campo nas progênies F1 e na cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 que compõem o EP 509 são apresentados na tabela 17. Os dados da incidência da ferrugem pelo tipo de reação nos permite concluir que, em condições de campo, apenas a progênie H20032 apresentou nível de resistência igual estatisticamente à testemunha. No entanto, em condições de laboratório, esta progênie F1 apresentou 12 plantas consideradas resistentes à ferrugem. A cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 apresentou média de 4,00 pontos, o que era esperado devido à alta suscetibilidade da cultivar à ferrugem. As progênies H20049 e H20050 obtiveram as menores médias, 2,16 e 2,40 pontos, respectivamente, equivalendo a classificação resistente na escala adotada. As duas progênies referidas são oriundas de cruzamentos com cafeeiros do germoplasma Catuaí Vermelho SH3 de C. arabica, que possui o gene SH3 que confere resistência à raça II do fungo, o que certamente contribuiu para a maior ocorrência de plantas resistentes nestas progênies. 42 Tabela 17 - Avaliações realizadas em campo e em laboratório, relacionadas à incidência e à severidade de Hemileia vastatrix em cafeeiros das progênies F1 e da cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 do EP 509, em Campinas, SP. Progênie* Catuaí Vermelho IAC 99 H20032 H20033 H20034 H20049 H20050 Avaliações de Campo1 3 TR DL3 PI3 PL3 DL3 Laboratório2 Tipo de Reação4 1 2 3 4 5 Média ─── pontos ─── ─── dias ─── pontos ─ número de plantas ─ 4,00a 3,53a 2,97b 3,31b 2,16b 2,40b 24.53 26.75 26.00 26.80 26.25 23.96 5.17a 2.27b 2.57b 2.23b 2.73b 3.07b 0 0 0 8 0 7 0 8 0 9 0 10 8,57a 7,53a 6,26a 7,70a 4,10b 4,67b 29.07 29.75 28.33 32.50 30.75 27.29 3 10 4 3 3 4 5 1 3 1 1 2 1 0 0 0 1 1 pontos 3.77 2.53 2.60 2.50 2.80 2.67 1 Média das avaliações realizadas em junho de 2011 e 2012. Avaliação realizada em 2012. TR = Tipo de Reação; DL = Densidade de lesão; PI = Período de Incubação; PL = Período de Latência 4 1= Imune; 2 = Resistente; 3 = Moderadamente Resistente; 4 = Moderadamente Suscetível; 5 = Suscetível *Médias de tratamentos seguidas de uma mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Dunnett a 5% de significância. 2 3 A densidade de lesões também foi avaliada no campo, em escala de pontos de 1 a 10, sendo que 1 ponto corresponde à presença de lesões em poucos ramos da planta e 10 pontos, a presença de lesões em quase todos os ramos da planta. Para esta característica, apenas as progênies H20049 e H20050 se diferenciaram da testemunha apresentando baixa severidade da doença. Como era esperado, a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, testemunha suscetível, apresentou média superior a 8,57 pontos. Este fato demonstra que ocorreu uma elevada incidência da doença no campo, possibilitando a seleção de progênies ou genótipos mais resistentes do que a testemunha. O nível de resistência dos cafeeiros das progênies F1 que compõem o ensaio EP 509 foi avaliado em laboratório através das variáveis: período de incubação, período de latência, tipo de reação e densidade de lesões. Ocorreram variações nas progênies F1 para o período de incubação (23,96 a 26,80 dias) e para o período de latência (27,29 a 32,50 dias). A cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 apresentou valores médios de período de incubação e de período de latência de 24,53 e 29,07 dias, respectivamente. Ainda foi possível observar que, com exceção do tratamento H20050, o período de latência e de incubação médio das progênies foram superiores aos da testemunha, evidenciando que há uma menor capacidade de penetração e colonização do patógeno, indicando que a doença evolui mais lentamente nos cafeeiros destes tratamentos. Em relação à densidade de lesão, foi observado que a testemunha obteve valor médio de densidade de lesões superior às progênies F1, apresentando severidade superior a 5 pontos, o que corresponde segundo ESKES & TOMA-BRAGHINI (1981) a um valor superior a 25 43 lesões e 9,7% de área de disco lesionada, sugerindo que a doença acarreta sintomas mais severos na cultivar Catuaí Vermelho IAC 99. Os valores médios para o tipo de reação das plantas ao fungo não revelaram diferenças estatísticas entre as progênies F1 avaliadas e a testemunha. De modo que, a cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 apresentou média de 3,77 pontos, enquanto que os valores obtidos pelas progênies variou de 2,50 a 2,80 pontos. Entretanto, foram identificadas, em cada uma das progênies um mínimo de 7 plantas com nota 2, ou seja, plantas consideradas resistentes à raça II da ferrugem. Estudos realizados sobre a herança da resistência à ferrugem em progênies F1 obtidas através de retrocruzamentos, a proporção fenotípica encontrada foi a de uma planta resistente para uma planta suscetível, indicando que a resistência à doença é governada por gene de natureza dominante (BETTENCOURT & RODRIGUES JÚNIOR, 1988; BRITO et al., 2005). Para estudar a frequência de plantas resistentes e suscetíveis à raça II do fungo, presentes no ensaio de progênies EP 509, as plantas foram agrupadas em duas classes: a primeira composta por plantas que apresentaram tipos de reação de 1, 2 e 3 pontos, sendo classificadas como resistentes e a segunda, por plantas que tiveram notas 4 e 5 pontos, classificadas como suscetíveis. Analisando as progênies H20032 (F1RC5), H20033 (F1RC6) e H20034 (F1RC6), oriundas de retrocruzamentos de cafeeiros resistentes ao bicho-mineiro com a cultivar Catuaí Vermelho IAC 144, suscetível a H. vastatrix, observa-se uma segregação de 12 resistentes: 3 suscetíveis, 10 resistentes: 4 suscetíveis e 13 resistentes: 1 suscetível, respectivamente. Devese salientar, que os primeiros cruzamentos dirigidos com o parental C1195-5-6-2, foram realizados com seleções de C. arábica e posteriormente com o cafeeiro H4182-1-882, planta do germoplasma Icatú, resistente ao fungo. Por essa razão, alelos de resistência devem ter sido mantidos nas populações selecionadas. Nos estudos da herança das progênies H20049 e H20050, originadas através do cruzamento entre cafeeiros suscetíveis e resistentes do germoplasma Catuaí Vermelho SH3, encontrou-se a proporção fenotípica de 12 resistentes: 2 suscetíveis e de 11 resistentes: 3 suscetíveis, respectivamente. O resultado encontrado pode ter ocorrido devido a seleção de plantas mais vigorosas e bem formadas, tanto no viveiro, como em campo, o que pode ter favorecido involuntariamente a seleção de plantas resistentes à ferrugem. Ainda, pode-se levar em consideração o fato de a resistência à ferrugem ser mais complexa do que relatam os estudos citados acima. 44 A incorporação de resistência múltipla ao bicho-mineiro e à ferrugem em cultivares de café é uma das metas na maioria dos programas de melhoramento. Estudando-se os genótipos do EP 509 através das avaliações realizadas em laboratório para o tipo de reação das lesões ao bicho-mineiro e tipo de reação das lesões de ferrugem, foi possível elaborar uma relação de plantas de cada uma das progênies que apresentaram resistência múltipla aos agentes bióticos citados (Tabela 18). Tabela 18 - Cafeeiros com resistência múltipla ao bicho-mineiro e à ferrugem selecionados no ensaio de progênies F1RC5 e F1RC6 do EP 509, em Campinas, SP. Progênie Catuaí Vermelho IAC 99 H20032 H20033 H20034 H20049 H20050 Plantas 955, 956 814, 815, 963 822 813, 828 929 A população em questão é formada por 9 plantas com resistência múltipla, seleção que corresponde a cerca de 10% do total de plantas do ensaio ou 12% do total de plantas das progênies segregantes, proporção semelhante à observada no ensaio EP 507 formado por progênies de origens distintas. 45 5.3 Análise Multivariada Completa de Progênies Derivadas de Autofecundação A e Polinização Livre, e dee Progênies F1 que Envolvem Retrocruzamentos etrocruzamentos entre Cafeeiros Resistentes ao Bicho-Mineiro Mineiro e Cafeeiros C da Cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 e do Germoplasma Catuaí SH3, Suscetíveis à Praga. A análise em componentes principais realizada com todas as variáveis mensuradas em famílias dos ensaios de progênies rogênies encontra-se enco na figura 8. A B Figura 8 – Distribuição ibuição das progênies em plano 1-2 1 (A) e círculo de correlação das variáveis produção de frutos (PRO), índice de avaliação visual (IAV), porcentagens de frutos chochos avaliados em 2005 (CH1) e em 2011 (CH2), enfolhamentos avaliados em 2005 2005 (ENF1) e em 2011 (ENF2), massa de cem frutos (MCF) e das sementes mentes (MS), (MS), altura (ALT) e diâmetro da copa das plantas (DIA), níveis de resistência ao bicho-mineiro mineiro em campo avaliados em 2005-2007 2005 2007 (BM1), em 2010 (BM2) e em 2011 e 2012 (BM3), nível de resistência ao bicho-mineiro bicho mineiro avaliado em laboratório (RBL), nível de resistência à ferrugem avaliado em campo para tipo de reação (FCT) e densidade de lesão (FCD) e nível de resistência à ferrugem avaliado em laboratório para tipo de reação (FLT) e densidade de lesão (FLD) (B) da análise em componentes principais realizada com 9 progênies do EP 507 e testemunha, e 5 progênies do EP 509 e testemunha, em Campinas, SP. Observa-se se pela figura 8A 8 que a progênie H13685-1-AF AF revelou-se revelo bastante distinta das demais que, por sua vez, se reuniram em um único grupo. Desta forma, uma nova análise an foi realizada excluindo esta progênie. Os resultados obtidos o encontram-se se na figura 9. 9 46 EP 509 A B EP 507 Figura 9 - Distribuição das progênies pro em plano 1-2 (A) e círculo de correlação das variáveis produção de frutos (PRO), índice de avaliação visual (IAV), porcentagens de frutos chochos avaliados em 2005 (CH1) e em 2011 (CH2), enfolhamentos avaliados em 2005 2005 (ENF1) e em 2011 (ENF2), massa de cem frutos (MCF) e das sementes (MS), (MS), altura (ALT) e diâmetro da copa das plantas (DIA), níveis de resistência ao bicho-mineiro mineiro em campo avaliados em 2005-2007 2005 2007 (BM1), em 2010 (BM2) e em 2011 e 2012 (BM3), nível de resistência ao bicho-mineiro bicho avaliado em laboratório (RBL), nível de resistência à ferrugem avaliado em campo para tipo de reação (FCT) e densidade de lesão (FCD) e nível de resistência à ferrugem avaliado em laboratório para tipo de reação (FLT) e densidade de lesão (FLD) (B) da análise em componentes mponentes principais realizada com 8 progênies do EP 507 e testemunha, e 5 progênies do EP 509 e testemunha, em Campinas, SP. Na figura 9, pode-se se observar que o plano 1-2 1 da ACP representa cerca de 60 % da variabilidade total dos experimentos analisados analisados conjuntamente. A cultivar Catuaí Vermelho IAC 99 testemunha dos dois ensaios de campo, se encontra à direita de cada campo (figura 9A), sendo caracterizada pela maior suscetibilidade ao bicho-mineiro bicho mineiro e à ferrugem. Ainda foi possível verificar um agrupamento agrupamento das progênies de cada um dos ensaios, sendo os grupos separados pelas variáveis correlacionadas pelo eixo Y, ou seja, a porcentagem de frutos chochos determinada em 2005, a resistência ao bicho-mineiro bicho avaliada em 2005-2007 e a massa de cem frutos também tamb determinado em 2005. Em termos médios, não houve ganho significativo relacionado aos valores de produção e resistência ao inseto com o avanço de gerações por meio de retrocruzamentos revelando a existência de progênies F2RC4, F3RC4 e F2RC5 com valores de d produção e nível de resistência semelhantes àqueles observados nas gerações F1RC5 e F1RC6. Assim,, nas melhores progênies a seleção de plantas mais produtivas e resistentes ao bicho-mineiro das melhores progênies deve ser realizada visando maiores ganhos e eficiência no melhoramento. Nesse sentido, uma alternativa bastante viável se relaciona à clonagem de 47 cafeeiros produtivos e resistentes ao bicho-mineiro, com bom nível de resistência à ferrugem e baixa incidência de frutos chochos. Na tabela 19 são listadas as plantas dos ensaios de progênies EP 507 e EP 509 com essas características. Tabela 19 – Cafeeiros resistentes ao bicho-mineiro, à ferrugem alaranjada e com baixa incidência de frutos chochos selecionados nos ensaios de progênies EP 507 e EP 509, em Campinas, SP. Ensaio de progênies 507 507 507 507 507 507 507 509 Progênie* H13685-1-25 PA H13685-1-25 PA H13685-1-25 PA H13685-1-25 PA H14954-46 AF H13685-1-25 AF H13685-1-25 AF H20034 Planta 133 371 803 810 280 206 513 822 Tipo de reação Bicho-mineiro** Ferrugem*** Frutos chochos ─────── pontos ─────── % 1 1 1 1 1 1 1 1 3 3 2 2 2 3 2 2 1 5 14 14 4 3 7 11 *PA = Polinização Aberta; AF = Autofecundação ** Avaliação realizada em laboratório, mediante escala de 1 a 4 pontos sendo 1 = Resistente; 2 = Moderadamente Resistente; 3 = Moderadamente Suscetível e 4 = Suscetível. *** Avaliação realizada em laboratório, mediante escala de 1 a 5 pontos sendo 1 = Imune; 2 = Resistente; 3 = Moderadamente Resistente; 4 = Suscetível e 5 = Suscetível. Todas as plantas selecionadas e listadas na tabela 19 apresentam produção média superior à melhor planta da progênie testemunha. Além disso, todas são altamente resistentes ao bicho-mineiro e apresentam nível de resistência à ferrugem, superior à cultivar Catuaí Vermelho IAC 99, testemunha nos dois ensaios de progênies. Adicionalmente, a incidência de frutos chochos é bastante reduzida em cinco plantas, e não muito elevada em outras três. Com base nas avaliações realizadas nos dois ensaios de progênies, as oito plantas listadas na tabela 19 são indicadas para multiplicação vegetativa visando à obtenção de cultivares clonais resistentes à praga. 48 6 CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que a maioria das progênies avaliadas nos dois ensaios (EP 507 e EP 509) apresentaram produção e vigor vegetativo superiores à cultivar Catuaí Vermelho IAC 99. As progênies H13685-1-25 PA e H13685-1-25 AF avaliadas no EP 507 e as progênies F1 H20032, H20049 e H20050 do EP 509, oriundas de retrocruzamentos, se destacaram apresentando considerável número de plantas com produção superior à testemunha, podendo ser utilizadas em futuras seleções. O ciclo de maturação dos frutos das progênies que compõem os dois ensaios avaliados é, no geral, de médio a tardio. Porém, segregação para a característica foi observada em todas as progênies analisadas nos dois experimentos. Indivíduos resistentes ao bicho-mineiro e/ou à ferrugem-alaranjada foram identificados em frequência variada nas diferentes progênies. No total, 10% das plantas do EP 507 e do EP 509 apresentaram resistência múltipla aos agentes bióticos bicho-mineiro e ferrugem.. O estudo minucioso das populações permitiu tanto a seleção de progênies para o avanço de gerações, visando à obtenção de novas cultivares com resistência múltipla propagadas sexualmente, como, a seleção de plantas individuais promissoras, visando a obtenção de cultivares via clonagem. 49 7 REFERÊNCIAS ANTUNES FILHO, H.; CARVALHO A. Ocorrência de lojas vazias em frutos de café “Mundo Novo”. Bragantia, Campinas, v.13, p.165-179, 1954. BETTENCOURT, A.J.; RODRIGUES JÚNIOR, C.J. Principles and practice of coffee breeding for resistance to rust and other diseases. In: CLARKE, R.J.; MACRAE, R. (Ed.). Coffee. London: Elsevier Applied Science, 1988. p.199-234. BRITO, G.G. de; ALMEIDA, R.F. de; CAIXETA, E.T.; LOUREIRO, M.E.; ZAMBOLIM, E.M.; ZAMBOLIM, L.; PEREIRA, A.A. Padrão de herança de fonte de resistência do cafeeiro à ferrugem (Hemileia vastatrix Berk. & Br.). In: Simpósio de Pesquisas dos Cafés do Brasil, Londrina. Anais eletrônicos...Londrina, PR, 2005. 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