5o. Encontro
LUZ QUE NÃO SE APAGAM
Conteúdo Central: Os Clássicos
Objetivos centrais:
- com os grupos de trabalho: (grupos menores organizados para realizar o projeto): Realizar um
passeio por alguns clássicos da literatura estrangeira e nacional, estudar a maneira pela qual
essas obras marcaram o pensamento ocidental e a literatura nacional (dar preferência aos
clássicos indicados no Mar de Histórias para a leitura coletiva).
- com o grupo todo: (todos que estão presentes na oficina): Criar um clima de acolhimento e
despedida do projeto, com exposição, sarau, contação de histórias, painéis de projetos, entre
outros.
Conteúdos:
- A importância das obras clássicas para o pensamento ocidental.
- O aprimoramento da leitura e da literatura através da breve análise de uma obra clássica e a
maneira como ela foi lida (e relida) através dos tempos, como por exemplo: A Bela e a Fera.
- Aprimoramento do entendimento de que o grupo compreende da palavra “clássica”.
Bibliografia Básica:
- Porque Ler os Clássicos - Ítalo Calvino - Companhia das Letras - São Paulo - 2001
- Como e Porque Ler os Clássicos desde cedo - Ana Maria Machado - Editora Objetiva - Rio de
Janeiro – 2002
- Variadas obras clássicas - autores e editores diversos (cada formadora levará um pequeno e
pessoal acervo)
- Vídeo: Clássicos para Sempre - Celinha Nascimento e Gabriel Nascimento - realizado para o
Centro de Estudos da Escola da Vila - 2004
Desenvolvimento do 5º encontro:
1. Pelo fato deste ser o último encontro do projeto, os participantes poderão estar agitados e
desejosos de mostrar seus trabalhos. Combine com o grupo como acontecerá a exposição e a
despedida, lembrando que deverá haver tempo para abordar o tema do dia que são as obras
clássicas.
2. Apresentar o conteúdo da apostila para este encontro. Perguntar o que sabem sobre o tema
tratado e se trouxeram clássicos para o Mar de Histórias. Este Mar será um grande clássico!
3. “Abrir” o mar com os livros da oficina e as possíveis contribuições dos participantes.
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4. Uma boa forma de começar este dia é olhando para o mar de clássicos que chegaram.
Levantar as seguintes questões ao grupo:
•
Será que são mesmo obras clássicas?
•
Qual conceito de clássicos que temos?
•
Por que esta ou aquela obra é considerada clássica?
Depois dessa discussão, fazer a leitura do Texto-farol 2 e comparar as respostas com as
definições dadas por Ítalo Calvino.
5. Para ilustrar a discussão, realizar a atividade de Estudo de Caso com os Textos-farol 4.
Chamaremos de Estudo de Caso, uma coletânea de textos inspirados em uma mesma história
clássica e em uma mesma fonte. Nosso caso recai sobre A Bela e a Fera, que muitos devem
conhecer dos contos de fada. Antes de começar, solicitar que alguém conte a versão que
conhece da história. Cada texto da coletânea precisa ser lido e estudado coletivamente para
que todos possam perceber e opinar sobre a maneira como cada escritor se utilizou da
narrativa clássica e fez sua releitura.
6. O texto-farol de Ana Maria Machado pode ficar como tarefa de casa. Porém, a formadora deve
indicar trechos e apresentá-lo ao grupo para que não fique esquecido. Trata-se de um texto
importante, pois retoma a necessidade de uma melhor compreensão e aprofundamento das
leituras das obras ditas Contos de Fadas que precisam reencontrar seu lugar na literatura e na
leitura para crianças e jovens.
7. Para finalizar esse passeio pelas obras, o vídeo Clássicos para Sempre é uma boa alternativa.
Recordar que o vídeo foi realizado com o objetivo de mostrar como o cinema apropria-se,
inspira-se e nutre-se de obras clássicas de maneiras bastante distintas e de como este uso
também pode ser distinto em sala de aula. Sugestões de aproximações contemporâneas ou
releituras contemporâneas: Robinson Crusoé e o Náufrago, uma continuação provável ou
improvável; A volta do Capitão Gancho, o herói e o vilão em papéis diferentes; uma lenda que,
por ser lenda, pode ser contada de maneira livre; Robin Hood; um conto de fadas moderno Uma Linda Mulher; o cinema fiel, como é o caso de Odisséia, etc. Essas diferenças do uso e
da leitura das obras devem ser evidenciadas. (acho que está bastante confuso este
parágrafo).
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8. Fazer a leitura do Texto-farol 1 como encerramento e recordar de comentar à respeito da lista
de atividades que estão no Texto-farol 5, pois elas são muito úteis para o trabalho com obras
clássicas.
9. O encerramento é o momento de exposição, troca de experiências sobre o projeto realizado
durante o ano e, muitas vezes, realiza-se um belo sarau de despedida!
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Texto Farol 1
A BIBLIOTECA DA HUMANIDADE
Teresa Colomer
Levar os clássicos para a escola responde a três objetivos: favorecer um sentimento de
pertencimento coletivo, aproveitar a reflexão que a humanidade tem feito sobre si mesma;
assegurar um leque de leitura de qualidade. Para atingir os objetivos é preciso ter consenso sobre
os conteúdos da aprendizagem literária e criar referenciais estáveis entre as gerações.
Porque dos clássicos
Tecer sociedades: o sentido de pertencimento sociocultural
Uma primeira razão para prestar atenção aos clássicos se refere ao casamento entre os leitores.
Trata-se da capacidade do discurso literário de favorecer a coesão social e oferecer um sentido de
pertencimento coletivo. Através da literatura, as crianças passam a compartilhar referenciais
lingüísticos, artísticos e culturais que permitem a eles relacionarem-se com as gerações anteriores
e as inscrevem em sua cultura. As formas habituais de narrar, os personagens evocados, as
alusões literárias que saltam dos registros e convenções do discurso resultam absolutamente
necessários para dominar a comunicação social.
Uma segunda razão para prestar atenção aos clássicos se refere ao casamento entre as obras.
Trata-se de sua capacidade para revelar o funcionamento da literatura como bagagem expressiva
da reflexão humana ao longo dos séculos. Algo que vá ao encontro da busca de sentido e se
oponha a tendência atual, que se ocupa da simples conexão e justaposição de referenciais.
Uma terceira razão para prestar atenção às obras tradicionais se refere ao casamento entre os
níveis culturais. Trata-se da capacidade dos clássicos para outorgar sentido de hierarquia entre os
níveis de elaboração e significado dos produtos culturais. Algo que se oponha à tendência atual
de nivelamento por baixo promovido por consumo indiscriminado dos produtos diversos.
Fonte: Teresa Colomer
Livro: Andar entre libros. La lectura literaria en la escuela.
Fondo de Cultura Económica, México - 2005
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Texto Farol 2
POR QUE LER OS CLÁSSICOS
Ítalo Calvino
Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e
amado, mas constituem uma riqueza para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas
melhores condições para apreciá-los.
De fato, as leituras da juventude podem ser pouco profícuas pela impaciência, distração,
inexperiência das instruções para o uso, inexperiência da vida. Podem ser (talvez ao mesmo
tempo) formativas no sentido de que dão uma forma às experiências futuras, fornecendo modelos,
recipientes, termos de comparação, esquemas de classificação, escala de valores, paradigmas de
beleza: todas as coisas que continuam a valer mesmo que nos recordemos pouco ou nada do
livro lido na juventude. Relendo o livro na idade madura, acontece reencontrar aquelas constantes
que já fazem parte de nossos mecanismos interiores e cuja origem havíamos esquecido. Existe
uma força particular da obra que consegue fazer esquecer enquanto tal. Mas que deixa sua
semente. A definição que dela podemos dar então será:
Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como
inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como
inconsciente coletivo ou individual.
Por isso, deveria existir um tempo na vida adulta dedicado a revisitar as leituras mais
importantes da juventude. Se os livros permaneceram os mesmos (mas eles mudam, à luz de
uma perspectiva histórica diferente), nós com certeza mudamos, e o encontro é um acontecimento
totalmente novo. Portanto, usar o verbo ler ou o verbo reler não tem muita importância. De fato,
poderíamos dizer:
Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.
Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.
Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das
leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas
que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).
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Isso vale tanto para os clássicos antigos quanto para os modernos. Se leio a Odisséia, leio
o texto de Homero, mas não posso deixar de perguntar-me se tais significados estavam implícitos
no texto ou se são incrustações, deformações ou dilatações. Lendo Kafka, não posso deixar de
comprovar ou de rechaçar a legitimidade do adjetivo kafkiano. Se leio Pais e Filhos de Turgueniev
ou Os possuídos de Dostoievski não posso deixar de pensar em como essas personagens
continuaram a reencarnar-se até nossos dias.
A leitura de um clássico deve oferecer-nos alguma surpresa em relação à imagem que
dele tínhamos.
O clássico não necessariamente nos ensina algo que não sabíamos; às vezes
descobrimos nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber), mas desconhecíamos
que ele o dissera primeiro (ou que de algum modo se liga a ele de maneira particular). E mesmo
esta é uma surpresa que dá muita satisfação, como sempre dá a descoberta de uma origem, de
uma relação, de uma pertinência. De tudo isso poderíamos derivar uma definição do tipo;
Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são
lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.
Fonte: Ítalo Calvino
Livro: Por que ler os clássicos
Companhia das Letras – São Paulo - 2001
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Texto Farol 3
ENCANTOS PARA SEMPRE
Ana Maria Machado
As Histórias populares que chamamos de contos de fadas constituem uma categoria
diferente entre os clássicos. Em geral, não são encaradas pelos críticos e pela academia com a
mesma nobreza e prestigio dos livros que viemos mencionando até aqui, mas poucas obras são
tão conhecidas e exerceram tamanha influência sobre nossa cultura. Além disso, poucas também
foram, sempre, tão oferecidas às crianças. Talvez justamente seja essa a acusa e o efeito de não
terem tanto prestígio e nobreza. Muitas vezes, são consideradas apenas "histórias infantis" e, por
isso, vistas como pouco importantes. Outras vezes, ocorre o processo inverso: por serem
consideradas pouco importantes e sem nobreza literária, se acha que podem então ser destinadas
às crianças.
Duplo preconceito. E inteiramente equivocado. Por um lado, não foram escritas com o
objetivo específico de procurarem a garotada como público alvo. Por outro lado, o alto nível de
sua qualidade artística e a sua força cultural são atestadas pela sua universalidade e sua
permanência. Só para darmos um exemplo: conhecia-se uma versão de Cinderela no antigo Egito
e, na mesma história, o motivo do pé pequenino que seria o único a caber num sapatinho de
cristal, muito provavelmente, vem da antiga China, onde existia o costume de comprimir os pés
femininos para não cres¬cerem, como ideal de beleza.
Esses preconceitos se explicam, provavelmente, pelo fato de que esses contos são
criações populares. Isso significa que foram feitos por artistas do povo, que ficaram anônimos, não
por escritores que ganharam a celebridade e o reconhecimento. E que trabalharam coletivamente
- quem contava um conto aumentava um ponto, acrescentava uma situação, modificava um
detalhe, repetia um elemento. Não foram obras de um único autor, consciente de seu ofício,
trabalhando elaboradamente em cima de uma idéia. Durante muitos e muitos séculos, nem ao
menos foram escritos. Sobreviveram e se espalharam por toda parte graças à memória e a
habilidade narrativa de gerações de contadores variados, que dedicavam parte das longas noites
do tempo em que não havia eletricidade para entreter a si mesmos e aos outros contando e
ouvindo histórias.
Sua origem deve ser muito antiga. Para muitos estudiosos, estão associadas a alguns ritos
das sociedades primitivas - sobretudo ritos de passagem de uma idade para outra, ou de um
estado civil a outro. Por isso, guardariam tantas marcas simbólicas da puberdade e do início da
atividade sexual. A insistência no sangue feminino (as gotas sobre a neve, que caem do dedo da
mãe que borda ao se iniciar Branca de Neve, ou de A Bela Adormecida que se pica no fuso de
uma roca) e no vermelho (como em Chapeuzinho Vermelho, ou a rosa de A Bela e a Fera), por
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exemplo, seriam vestígios da primeira menstruação. O pé-de-feijão que cresce involuntariamente
durante a noite, a torre alta que se ergue solitária, ou o enfrentamento de dragões e gigantes
(figuras paternas) que devem ser derrotados, por outro lado, se referiam a ritos de puberdade
masculina.
Várias histórias têm a estrutura de uma série de provas que devem ser vencidas pelo
herói, muitas vezes perdido no bosque tendo que encontrar seu caminho, como faziam algumas
sociedades com os adolescentes, para depois recebê-los no seio do mundo adulto. E a grande
maioria delas acompanha um processo de afirmação individual, de alguém que começa fraco e
indefeso como uma criança, dependendo totalmente da ajuda dois mais velhos, e vai aos poucos
superando os obstáculos que encontra no caminho, revelando sua astúcia, sua bondade, suas
qualidades morais posi¬tivas, até ser considerado apto a exercer o papel de alguém maduro na
sociedade: constituir sua própria família, casando e sendo "feliz para sempre".
Essas histórias corriam por todo canto e, de vez em quando, serviam de tema para
que algum escritor se inspirasse nelas e desenvolvesse sua própria narração. Algumas foram
recolhidas ou mencionadas de passagem em antologias - como fez o romano Apolíneo em O
Asno de Ouro ou o italiano Gianbattista Basile que seguiu o modelo de Boccaccio em seu
Decameron e escreveu um Pentameron, em que várias pessoas se reuniam em uma situação
fechada para uma verdadeira maratona de contar histórias. Várias delas eram versões de alguns
dos mais famosos contos de fada de hoje.
Na França do século XVII, algumas mulheres se dedicaram a recolher essas histórias que
as encantavam e a lhes dar uma forma mais literária, intercalando-as também com outras que
inventavam. As mais famosas dessas autoras foram Mademoiselle Lhéritier e Madame d'Aulnoy.
Mas quem iria realmente se celebrizar por fazer isso foi outro francês, Charles Perrault, que
seguiu esse exemplo e em 1667 recontou e publicou alguns poucos desses contos, especialmente
para as crianças da corte real, narrando-os em finos versos ou prosa burilada, e fazendo com que
todos se acompanhassem de uma moral. Embora abrangendo um número bastante reduzido de
contos de fadas, apenas 11, a obra de Charles Perrault associou para sempre o nome do autor e
o gênero, com ver¬sões imortais de Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, O Pequeno
Polegar, Barba Azul, As Fadas, O Gato de Botas, Pele de Asno, Cinderela, Os Desejos Ridículos,
Riquete do Topete...
Mais de um século depois, em 1802, na Alemanha, foi feita outra coletânea dessas
histórias populares. Muito mais extensa e completa, reunia 210 contos. Organizada por Wilhelm e
Jacob Grimm: Dois irmãos que eram pesquisadores e filólogos além de escritores, essa antologia
tinha outra grande diferença em relação à obra de Perrault: não se destinava à leitura da corte,
mas tinha como objetivo preservar um patrimônio literário tradicional do povo alemão e colocá-lo
ao alcance de todo mundo. Essa intenção era evidente desde o primórdio título do livro (Contos
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para o Lar e as Crianças). Com esse objetivo, os contos eram narrados em prosa e numa
linguagem bem próxima da oralidade, de um jeito parecido ao que era falado pela gente do povo
que contava essas histórias havia séculos, e com quem as pesquisas dos irmãos Grimm tinham
ido buscar as diversas narrativas. Mas esses relatos já existiam espalhados pela Europa em
diferentes versões. O grande trabalho dos autores foi compilar esse material, coletado com
cuidado, e recontá-lo com o máximo de fidelidade possível, bem próximo à linguagem dos
contadores populares. Além de outras versões dos contos que já constavam da obra de Perrault,
os irmãos Grimm ajudaram a trazer até nós alguns dos contos de fadas absolutamente eternos e
conhecidíssimos até hoje. Entre eles, Branca de Neve, O Rei Sapo, Os Cisnes Selvagens, Os
Músicos de Bremen (que tornou a fazer muito sucesso recentemente em adaptação de Sérgio
Bardotti e Chico Buarque, com o nome de Os Saltimbancos), O Alfaiate Valente, Rumpeltistiskin,
João a Maria, A Guardadora de Gansos.
Algumas décadas depois, outra grande antologia de contos de fadas surgiu também na
Europa. Mais exatamente, na Dinamarca. O responsável por ela foi Hans Christian Andersen. Mas
embora normalmente se considere a trindade Perrault-Grimm-Andersen como o grande trio
responsável pela compilação e difusão dos contos populares, o dinamarquês apresenta uma
grande diferença em relação aos outros dois. Tanto, que é muitas vezes chamado de "o pai da
literatura infantil".
É que Andersen, diferentemente de Perrault e dos irmãos Grimm não se limitou a recolher
e recontar as histórias tradicionais que corriam pela boca do povo, fruto de uma criação secular
coletiva e anônima. Ele foi mais além e criou várias histórias novas, seguindo os modelos dos
contos tradicionais, mas trazendo sua marca individual e inconfundível - uma visão poética
misturada com pro¬funda melancolia. Assim, seu livro, além de contos de fadas compilados nos
países nórdicos, trazia também novidades como O Patinho Feio, A Roupa Nova do Imperador,
Polegarzinha, A Pequena Sereia, O Soldadinho de Chumbo, O Pinheirinho e tantas outras.
Essa possibilidade acendeu a imaginação de outros autores. A partir daí, pela primeira vez,
algumas obras começaram a ser criadas especialmente para a leitura infantil, sem intenção
didática. Por outro lado, grandes escritores consagrados em outros gêneros também se
aventuraram a desafiar os preconceitos e fazer incursões criativas pelos contos de fadas - como o
inglês Oscar Wilde, por exemplo, que nos deu algumas obras-primas como O Rouxinol e a Rosa,
O Príncipe Feliz e o Gigante Egoísta.
Na segunda metade do século XX, o grande escritor italiano ítalo Calvino se dedicou
também a um projeto de compilação nacional de contos de fadas que anteriormente só tinham
sido recolhidos regionalmente e organizou Fábulas Italianas, um volume imperdível. Existem ainda
antologias de contos de fadas de várias nacionalidades: russos, chineses, irlandeses. Sempre
uma leitura fascinante. O tipo do clássico que deve ser conhecido desde cedo.
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Isso ninguém discute. O que se discute é como. Basta assistir ao desenho animado? É
suficiente ler uma versão ou episódio simplificado, ilustrado pela Disney? Essas histórias não são
violentas demais para se apresentar às crianças? Será que essas narrativas não soam muito
bobinhas e antigas para as crianças de hoje, muito mais sofisticadas intelectualmente e mais
informadas, em plena era dos computadores?
Essas são algumas das dúvidas mais freqüentes que surgem nos adultos quando se fala
em contos de fadas. Outras são de outra espécie e questionam a própria possibilidade de se
aceitar o estímulo à imaginação como algo convincente na educação dos pequenos. Ou então,
misturam exigências ideológicas com o prazer de contar e ouvir histórias, exigindo delas padrões
de correção política que entram em conflito com o universo narrativo em que essa tradição se
movimenta.
Entre as perguntas desse segundo tipo, algumas também se repetem. Será que devemos
incentivar o escapismo e a fantasia dos contos de fadas num mundo em que a realidade mostra
tantos problemas sociais e econômicos, e tanta gente sofrendo? Não seria uma forma de fuga?
Não é um absurdo contar histórias cheias de reis, rainhas, príncipes e princesas, como se fosse
desejável ser nobre e morar em palácios, esquecendo as favelas, as casas populares e os semteto que nem ao menos têm um lugar para viver? Não é um acinte apresentar as mulheres como
umas eternas bobo¬cas à espera de um príncipe encantado que tome todas as iniciativas e de
quem depende sua salvação? Não é antiecológico apresentar um Lobo como um vilão, já que se
trata de uma espécie animal ameaçada e que precisa ser protegida? Não seria melhor "passar a
limpo" essas histórias e só apre¬sentá-las às crianças em versões mais "aconselháveis", em que
o Lobo não é mau e não come Chapeuzinho Vermelho, por exemplo?
Podemos admitir que algumas dessas perguntas têm certa pertinência e as pessoas que
as formulam podem até estar cheias de boas intenções. Mas é indispensável reconhecer que
também estão carregadas de equívocos e impregnadas de mal-entendidos, que convém tentar
esclarecer e desfazer.
Para discutir esse problema, a primeira coisa a lembrar é que estamos falando de uma
forma de literatura. Literatura popular e que inicialmente era oral - mas, de qualquer forma,
literatura. Uma manifestação artística por meio de palavras. Uma forma de produção cultural que
tem seu próprio sentido, lentamente elaborado pelos diferentes elementos da narrativa, à medida
que a história se desenrola e se encaminha para seu final, consolidando seu significado profundo.
Esse significado pode não ser consciente por parte do artista ou dos artistas que criaram.
Raramente essas coisas se passam obedecendo a planos pré-traçados ou a uma vontade
explícita de passar alguma mensagem, diferentemente do que às vezes se pensa. Mas, de
qualquer maneira, toda narrativa literária se constrói em cima de elementos que vão se
correspondendo de modo coerente e que aos poucos vão erigindo um edifício de sentido. É para
isso que o homem conta histórias - para tentar entender a vida, sua passagem pelo mundo, ver na
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existência alguma espécie de lógica. Cada texto e cada autor lidam com elementos diferentes
nessa busca, e vão adequando formas de expressão e conteúdo de um jeito que mantém uma
coerência interna profunda que lhe dão sentido. Mexer neles é alterar esse sentido. Muitas vezes,
equivale a transformar a nova versão em alguma coisa esdrúxula, sem pé nem cabeça.
Os clássicos claramente destinados aos adultos são geralmente mais respeitados, mesmo
ao serem condensados e adaptados para a juventude. Os eventuais adaptadores costumam fazer
certa cerimônia com eles, não se acham no direito de adulterá-los com tanta profundidade como
fazem com as obras para a infância. Talvez apenas por medo de serem criticados e execrados
publicamente. Mas o fato é que respeitam mais. No entanto, quando se trata de histórias já de
saída consideradas infantis, como é o caso dos contos de fadas, é bastante freqüente que surjam
resultados que são um total absurdo, saído de cabeças que desejam censurar e exercer seu
poder sobre os pequenos e que não revelam grandes doses de sensibilidade ou inteligência para
lidar com um material tão precioso.
Essas versões expurgadas dos contos de fadas, em nome do moralismo, do didatismo, do
realismo ou do "politicamente correto", na melhor das hipóteses costumam combinar duas
características que não são apenas uma rima, mas uma lástima: arrogância e ignorância.
A arrogância desses adaptadores em se considerarem donos da verdade, mais sábios e
muito melhores do que aqueles que os precederam, superiores a gerações e gerações de
criadores que vieram lentamente estabelecendo as versões que conhecemos dos contos de
fadas. Os autores originais, geralmente "gente do povo" e de pouca instrução, muitas vezes
camponeses e predominantemente mulheres, eram humildes contadores de histórias tradicionais.
Despretensiosos, prestaram um imenso serviço cultural à humanidade, preservando esse
riquíssimo acervo de contos populares até os nossos dias. Não está certo que agora um candidato
a autor ou pretenso pedagogo se invista unilateralmente do poder de modificar essa criação, e
queira fazer crer a todas as gerações posteriores que é melhor do que eles - seja poupando o
Lobo de engolir a avó, seja fazendo Cinderela ficar amiguinha das irmãs. Em alguns casos, a
intromissão não se limita a apenas cair no ridículo, mas chega a extremos perniciosos, como
numa versão que pasteuriza o abandono de João e Maria na floresta (assim poupando os pais do
papel ativo e terrível que desempenhavam na versão tradicional) e, com isso, faz com que as
crianças se percam por serem desobedientes e passem a ser as únicas culpadas de todos os
males que lhes acontecem. Como se isso não bastasse, em seguida essa adaptação ainda vai
mais longe e evita que as crianças empurrem a bruxa no fogo, impedindo o efeito catártico de um
castigo bem dado ao vilão cruel e entravando o sentido profundo da história, segundo o qual
chega um dia em que as crianças crescem, se viram sozinhas, não se deixam mais explorar,
fazem justiça e passam a prover o sustento dos próprios pais. Não se mexe nessas coisas
impunemente. Dá em disparate - no cão, outro nome para o desastre literário e psicológico.
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A ignorância é que explica essas interferências, na maioria das vezes. A intenção era boa.
Mas com freqüência o adaptador dessas histórias, por não estar acostumado a conviver de perto
com muita leitura, passa por cima do fato de que não se lê literalmente. Quem não tem intimidade
com livros ignora isso.
Ler uma narrativa literária (como ninguém precisa ensinar, mas cada leitor vai descobrindo
à medida que se desenvolve) é um fenômeno de outra espécie. Muito mais sutil e delicioso. Vai
muito além de juntar letras, formar sílabas, compor palavras e frases, decifrar seu significado de
acordo com o dicionário. É um transporte para outro universo, onde o leitor se transforma em
parte da vida de outro, e passa a ser alguém que ele não é no mundo quotidiano.
Vários estudiosos já se ocuparam disso. Um deles, o crítico inglês Coleridge, usou uma
expressão muito citada para se referir a esse estado que passa a unir autor e leitor, ao dizer que
eles fazem uma espécie de pacto de "suspensão da descrença".
Trocando em miúdos: na vida quotidiana, nenhum leitor em sã consciência acredita que o
Lobo fala e conversa com a menina ao encontrá-la no bosque. Mas, para efeito de aceitar que a
história se desenrole, ele faz de conta que acredita e admite isso - como admite que depois o
animal é capaz de conversar com a avó, comê-la inteirinha sem que ela sinta dor e que, no final
da história, a velha pode ser retirada com vida de dentro da barriga do animal. Tudo isso é
possível no encontro do leitor com o texto literário, porque em literatura esse pacto fica muito
claro. Autor/contador e leitor/ouvinte sabem disso perfeitamente. Naquele espaço que estão
compartindo na situação de leitura, a linguagem é usada de forma bem diferente de seu emprego
quotidiano para situações concretas. Situa-se em outra esfera, significa de modo diferente.
Mesmo uma criança bem pequena, ouvindo Dona Baratinha enquanto está sentada no
colo da mãe, sabe que a baratinha pode recusar o boi e o cavalo como noivos ou aceitar o ratinho
como futuro esposo sem invocar diferenças de tamanho ou de espécie para o acasalamento, e se
baseando apenas na perspectiva de ter um companheiro que faça muito ou pouco barulho de
noite. Nada disso é para ser entendido literalmente. É tão evidente que nem passa pela cabeça de
alguém duvidar. Mesmo dos menorezinhos. A linguagem poética é simbólica, colorida, metafórica.
Querer tomar ao pé da letra é dar um triste atestado de ignorância sobre como se passam as
coisas no processo leitor.
Aceitando essa premissa, uma análise dos contos de fadas tradicionais revela que elas até
que não são tão retrógradas assim, como pode parecer ao ideólogo mais superficial e apressado.
Simbolicamente, refletem os anseios de ascensão social que caracterizavam a época em que se
difundiam - tanto de mulheres condenadas à rotina do trabalho doméstico, quanto das classes
menos favorecidas. Neles, tecelãs, cozinheiras, sapateiros, alfaiates, moleiros, lenhadores,
soldados que acabam de dar baixa, pescadores, camponeses, os mais diferentes artesãos, todos
estão dispostos a enfrentar um trabalho árduo porque sonham com dias melhores - e um golpe de
sorte que lhes dê um empurrãozinho para subir na vida. As diferentes histórias compõem um rico
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mosaico das rela¬ções sociais e mostram a preocupação popular com as condições de vida dura
e difíceis. São povoa¬das de personagens pobres que não tem nada de seu (no máximo, apenas
alguma coisa como um gato para quem um par de botas velhas pode ser algo tão maravilhoso
que lhe dá superpoderes), tendo que tentar sobreviver em situações de fome e carência. Uma
miséria tão extrema que às vezes até força os pais a abandonar as crianças no mato, por falta de
comida - como ocorre em O pequeno Polegar ou João e Maria.
Outra camada profunda que fica latente sob a linguagem simbólica dos contos de fada tem
a ver com os desejos, medos e anseios do ser humano em geral, independentemente de época,
classe social, nacionalidade. Daí seu imenso valor psicanalítico, já que por muito tempo eles
constituíram a forma mais cômoda e acessível para que as crianças e as pessoas mais simples
pudessem elaborar simbolicamente suas ansiedades, angústias e seus conflitos íntimos - como
demonstrou Bruno Bettelheim em A Psicanálise dos Contos de Fadas.
Essas histórias sempre funcionaram como uma válvula de escape para as aflições da alma
infantil e permitiram que as crianças pudessem vivenciar seus problemas psicológicos de modo
simbólico, saindo mais felizes dessa experiência. Davam-lhes a certeza de que no final tudo
acabava bem e todos iam ser felizes para sempre. Tratam do medo do abandono e da rejeição
(como nos dois con¬tos que acabamos de citar ou em O Patinho Feio), da rivalidade entre irmãos
(como em Cinderela ou A Bela e a Fera), da vontade de ocupar o lugar do pai ou da mãe.
Refletem os eternos conflitos das crianças com imagens contraditórias que têm dos pais, ora
vistos como bons e justos, provedores e protetores (reis, cavaleiros, fadas, gênios), ora temidos
como entidades muito mais fortes, podero¬sas, autoritárias e cruéis (gigantes, lobos, dragões,
bruxas, madrastas).
Entendidas e aceitas em sua linguagem simbólica, essas histórias de fadas tradicionais se
revelam um precioso acervo de experiências emocionais, de contatos com vidas diferentes e de
reiteração da confiança em si mesmo. No final, o pequenino se dá bem e o fraco vence. A criança
pode ficar tranqüila - com ela há de acontecer o mesmo. Um depois do outro, esses contos vão
garantindo que o processo de amadurecimento existe, que é possível ter esperança em dias
melhores e confiar no futuro.
Conhecer os contos de fadas, além de tudo, permite também que se possa aproveitar
plenamente sua ampla descendência, já que esse gênero foi um dos mais fecundos no imaginário
popular. Não apenas em novelas e filmes que continuam contando a história de Cinderela ou do
Patinho Feio em outra embalagem, mas na própria literatura que a eles volta inúmeras vezes, seja
por reimersão e reinvenção desse universo (como fizeram a inglesa Ângela Cárter e a brasileira
Marina Colasanti), seja como pretexto para inspiração (basta lembrar os contos A Bela e a Fera
de Clarice Lispector, ou Fita Verde no Cabelo, de Guimarães Rosa), seja como ponto de partida
para paródias críticas e divertidas. Entre nós, algumas boas obras da literatura infantil
contemporânea seguiram essa vertente. É o caso de Chapeuzinho Amarelo (de Chico Buarque), A
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Fada que Tinha Idéias (de Fernanda Lopes de Almeida). Procurando Firme e O reizinho Mandão
(de Ruth Rocha), Onde tem Bruxa, tem Fada (de Bartolomeu Campos Queirós), O Fantástico
Mistério de Feiurinha (de Pedro Bandeira), para só citar alguns dos mais conhecidos. A imensa
carga de significados trazida pelos elementos do conto popular tradicional permite ao mesmo
tempo uma grande economia narrativa e uma boa densidade semântica, enriquecendo as
possibilidades de se fazer uma paródia a eles e investindo-se de novos sentidos - como eu
mesma verifiquei em livros como História meio ao contrá¬rio. Passarinho me contou ou O menino
que espiava para dentro.
Como esses contos tradicionais são os clássicos infantis mais difundidos e conhecidos, a
gente sabe que pode se referir a eles e piscar o olho para o leitor, porque ele conhece o universo
de que estamos falando. Fica possível, então, fazer paródias aos contos de fadas e brincar com
esse repertório, aprofundando uma visão crítica do mundo a partir de pouquíssimos elementos.
Mas para que esse jogo literário possa funcionar plenamente, para que o humor seja entendido e
a sátira seja eficiente, é indispensável que o leitor localize as alusões feitas, identifique o contexto
a que elas se referem e seja, então, capaz de perceber o que está fora de lugar na nova versão. É
como uma brincadeira. Não dá para brincar de "pequeno construtor" com quem nunca viu uma
casa. Ou seja, nem que seja apenas para poder entender tanta coisa boa que vem sendo escrita
hoje em dia a partir de uma reinvenção desse gênero, os contos de fadas continuam sendo um
manancial inesgotável e fundamental de clássicos literários para os jovens leitores. Não saíram de
moda, não. Continuam a ter muito que dizer a cada geração, porque falam de verdades
profundas, inerentes ao ser humano.
Fonte: Ana Maria Machado
Livro: Como e Porque Ler os Clássicos Universais desde cedo
Editora Objetiva – Rio de Janeiro– 2002
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Texto Farol 4
ESTUDO DE CASO A BELA E A FERA
Chico Buarque
Ouve a declaração, oh Bela
De um sonhador Titã
Um que dá nó em paralela
E almoça romã
O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta
Não brilharia a estrela, oh Bela
Sem noite por detrás
Tua beleza de gazela
Sob o meu corpo e mais
Uma centelha num graveto
Queima canaviais
Queima canaviais
Quase que eu fiz um soneto
Mas que na lua ou no cometa
Ou na constelação
O sangue impresso na gazeta
Tem mais inspiração
No bucho do analfabeto
Letras de macarrão
Letras de macarrão
Fazem poema concreto
Oh Bela, gera a primavera
Abana o teu condão
Oh Bela, faz da besta - fera
Um príncipe cristão
Recebe o teu poeta, oh Bela
Abre teu coração
Abre teu coração
Ou eu arrombo a janela...
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A BELA E A FERA
Murilo Mendes
As flores se contraíram
O cristal partiu-se em mil.
Da carruagem de raios
Desce uivando o Minotauro.
Da cortina azul da nuvem
Os deuses fazem sinais
Eu confabulei com eles
De nada vale o diálogo.
O mundo inteiro se tinge
Do sangue do Minotauro
Até que branca Poesia
Lhe mostre o dedo mindinho.
Fonte: Murilo Mendes
Livro: Poesia Completa e Prosa - As metamorfoses – 1938 – 1941
Editora Nova Aguilar – Rio de Janeiro -1994
A BELA E A FERA
Clarice Lispector
(...)
"A beleza pode levar à espécie de loucura que é a paixão. Pensou: "estou casada, tenho três
filhos, estou segura."
(...)
Pensou assim, toda enovelada; "Ela que, sendo mulher, o que lhe parecia engraçado ser ou não
ser, sabia que, se fosse homem, naturalmente seria banqueiro, coisa normal que acontece entre
os "dela", isto é, de sua classe social, à qual o marido, porém, alcançara por muito trabalho e que
o classificava de "self-made-man" enquanto ela não era uma "self-made-woman". No fim do longo
pensamento, pareceu-lhe que - que não pensara em nada.
Um homem sem uma perna, agarrando-se numa muleta, parou diante dela e disse: -Moça, me dá
um dinheiro para eu comer?
"Socorro!!!" gritou-se para si mesma ao ver a enorme ferida na perna do homem. "Socorre-me,
Deus", disse baixinho.
Ela- os outros. Mas, mas a morte não nos separa, pensou de repente e seu rosto tomou o ar de
uma máscara de beleza e não beleza de gente: sua cara por um momento se endureceu.
Fonte: Trecho do conto A BELA E A FERA
Livro: A Bela e a Fera
Francisco Alves Editora -Rio de Janeiro – 1995
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A BELA E A FERA
O senador baiano António Carlos Magalhães recebe em seu gabinete no Senado a miss Bahia,
Alanna Valhyria da Silva, que não participou da visita ao Congresso anteontem.
Fonte: Folha de S. Paulo. 15 de março de 2003
Nem Belas nem Feras
José Roberto Torero - Colunista da Folha
Caros leitores, hoje estou rabugento. Mais que isso: ranheta, ranzinza e mal-humorado.
Sei que na função de cronista esportivo minha obrigação é lutar contra a própria ignorância e
defender a biodiversidade esportiva. Mas tudo tem limite! E a dura verdade é que há esportes
verdadeiramente chatos. Sim, isso mesmo: chatos, aborrecidos, enfadonhos. E, como hoje estou
política e esportivamente incorreto, vou citar nomes: nado sincronizado e levantamento de peso.
Aquelas meninas imitando Flipper não me emocionam nem um pouco. É apenas uma mistura de
bale com hidroginástica. E, para que não me acusem de ser contra a feminilidade e a graça no
esporte, digo que também não vejo nada demais no levantamento de peso. Para mim, são apenas
uns brutamontes de collant fazendo caras de prisão de ventre. Ontem, eu confesso, fiquei mesmo
é com saudades de um bom joguinho de futebol.
Fonte: Folha de São Paulo, 11 de agosto 2003
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Texto Farol 5
UMA POSSÍVEL LISTA DE ATIVIDADES
Celinha Nascimento
•
Traduções e adaptações devem ser muito bem avaliadas, estudadas, comparadas.
Cumprem a importante tarefa de aproximar os clássicos de todos os públicos e faixas
etárias, mas podem "destruir" elementos essenciais presentes no original. O mercado
editorial tem um trabalho importante voltado aos clássicos. Vez por outra, relançam, criam
coleções especiais e muitas delas com preços atrativos com os "livros de bolso". Sebos
são uma boa dica. Lá, livros com texto integral podem ser encontrados por bons preços.
•
Volte sempre aos livros já lidos. Eles ainda têm o que dizer. Divulgue uma obra lida e
amada.
•
Aproveitar filmes que estão em cartaz nos cinemas ou que serão exibidos na televisão:
Importante não deixar passar em branco, principalmente quando caem no gosto popular,
ou seja, quando o público tem uma empatia natural com tais narrativas.
No caso de transposição/adaptação/releitura de clássicos, trabalhar em sala de aula com a obra
original, apontando, identificando e auxiliando os alunos a conhecerem ou reconhecerem as
fontes. Procurar no texto original, o que foi mantido, o que foi completamente alterado, aquilo que
não foi de maneira alguma contemplado. O objetivo é manter aceso o interesse pela obra original,
provocando o desejo de sua leitura; o mesmo se aplica aos filmes que são releituras
contemporâneas, ou seja, transposição para a atualidade; trazer a discussão da adaptação para a
sala de aula. Muitas vezes nossos alunos não fazem a menor idéia de qual obra aquela releitura é
filha.
•
Iniciar a aula com a leitura de um trecho de um clássico: professores bons leitores são
excelentes exemplos para todos os alunos. Também é importante fazer a leitura sem se
preocupar com nenhum tipo de análise ou discussões posteriores: ler pelo simples desejo
de dividir sua emoção. Talvez os alunos queiram saber mais, procurem o livro... talvez
perguntem mais sobre a obra...
•
Conte obras clássicas para sua turma: Robin Hood é a história de um rapaz nobre e
valente que... Conte mesmo, a história inteira. Com suas palavras, do seu jeito, da maneira
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como ela a encantou. Não tenha medo de errar ou se emocionar. Conte ela como quem
conta uma passagem da própria vida. Passe para frente a sua paixão pela narrativa.
BOM TRABALHO!
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CONTATOS:
José Luiz Goldfarb
Coordenador Letras de Luz
Fone: (11) 9611-8841
E-mail: [email protected]
Simone Lozano
Coordenadora de Projetos
Fone: (11) 3037-4080
E-mail: [email protected]
Denise Silva
Coordenadora das Oficinas de Leitura
Fone: (11) 9614-2004
E-mail: [email protected]
Elaboração do material:
Celinha Nascimento
Com colaboração das oficineiras:
Denise Silva
Edi Fonseca
Heloisa Ramos
Redação Final:
Celinha Nascimento
Concepção do Programa de Leitura:
Celinha Nascimento
Regina Scarpa
COORDENAÇÃO GERAL:
Fundação Victor Civita
Mauro Morellato
Gerente de Projeto
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LUZ QUE NÃO SE APAGAM - Fundação Victor Civita