ID: 42160553
06-06-2012
Tiragem: 18000
Pág: 10
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 28,45 x 34,08 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 3
CONFERÊNCIA “DEMOGRAFIA E ECONOMIA – O FUTURO DECIDE-SE HOJE”
“Pior que a situação demográfica
é a falta de preocupação com isso”
FOTOS OJE/VICTOR MACHADO
A situação demográfica em Portugal é bastante preocupante, já que há 30 anos que a reposição de gerações não está assegurada,
mas é imprescindível que a comunidade política tome consciência dessa realidade e do seu impacto a longo prazo, alertou Alban
D’ Entremont na conferência promovida pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas
“
É
preciso que a opinião pública e os políticos tomem
consciência da situação
demográfica em Portugal”, defende Al ban D’Entremon,
professor de Geografia Económica e
Geografia Humana e orador convidado na conferência “Demografia e
Economia – o futuro decide-se hoje”, promovida em Lisboa pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) em parceria com o
OJE.
Al ban D’Entremon alertou para
o facto de a Europa viver uma situação atípica em termos demográficos, tendo em conta a trajetória de
declínio dos índices de fertilidade.
“É muito saudável que as mulheres
possam escolher se querem estudar
e ter filhos mais tarde. Mas a constituição de família fica cada vez mais
adiada e as condições para o fazer,
ainda que mais tarde, não são favoráveis”, sublinhou, lembrando que,
quando ele próprio era mais jovem,
“sabia que teria emprego e, logo,
podia casar cedo e começar a ter filhos.
A este propósito, Rita Campos e
Cunha, chairman da conferência,
salientou que o facto de a participação da mulher no mercado de tra-
balho e o seu nível educacional terem aumentado concomitantemente com a incerteza quanto ao mercado de trabalho veio a ter naturais
repercussões na decisão de ter filhos. “Os custos com a educação são
crescentes, a rede de transportes
públicos é deficiente e as famílias
gastam muito tempo entre a casa e
o trabalho, numa altura em que se
passa mais horas no trabalho com
receio de despedimento”, analisa
Rita Campos e Cunha. “As pessoas
estão a casar cada vez mais tarde, a
ter filhos mais tarde e o seu número de filhos tende a diminuir”, lamenta ainda.
É nesse contexto que Al ban D’Entremon defende que as famílias numerosas deveriam ter mais benefícios “porque os seus filhos são um
benefício para a sociedade”. Por isso, o professor canadiano, que
atualmente, reside em Espanha,
alega que é necessário estimular a
natalidade, já que a imigração deixou de ser um recurso válido para
melhorar a situação demográfica
do país.
MAIS VIDA E DESPESA EM SAÚDE
É um dos maiores negócios ao nível
mundial e tem provado ser um in-
vestimento estável e seguro mesmo
em contexto de crise. O setor da Saúde é assim analisado por Isabel
Vaz, presidente da Comissão Executiva da Espírito Santo Saúde, lembrando de imediato que, “a longo
prazo, as despesas com a saúde vão
continuar a crescer”. Mas, num país
tão envelhecido, “os jovens podem
vir a recusar-se a financiar a saúde
dos mais velhos por descrédito no
modelo social”, alerta Isabel Vaz.
Entre os fatores-chave de crescimento da procura e oferta de serviços de saúde na próxima década, a
presidente da ES Saúde identifica a
evolução dos rendimentos e o aumento da expectativa dos consumidores, os avanços tecnológicos, o
envelhecimento da população, o
número insuficiente de clínicos gerais e os estilos de vida atuais, com
um número crescente de doenças
crónicas. “E quanto mais tarde morremos, mais gastamos, embora os
custos com a saúde desçam no fim
de vida”, destaca Isabel Vaz.
PERFIL DE CONSUMO MUDOU
Designada muitas vezes como sociedade do consumo, esta sociedade
dos nossos dias vê a demografia refletir fenómenos que afetam o quo-
“As pessoas estão a
casar mais tarde, a ter
filhos mais tarde e o
número de filhos tende
também a diminuir”
de produtos para cozinhar, em alternativa aos produtos de “take-away”.
Paulo Caldeira não tem dúvidas de
que nasceu um novo tipo de consumidor, o “smart downtrader shopper”, que passou a comprar com
mais critério e preferindo os produtos mais baratos. “Uma tendência
que vai crescer no período de 2012 a
2014”, antevê Paulo Caldeira.
FALTA PREOCUPAÇÃO
tidiano das famílias e que tendem a
acentuar-se em contextos económicos como o atual. “É evidente uma
tendência de quebra de consumo”,
confirma Paulo Caldeira, diretor de
Marketing da Kantar Worldpanel,
empresa que monitoriza os comportamentos dos consumidores portugueses. “A crise está a acentuar a
procura de marcas brancas e com o
agravamento dos impostos os consumidores estão agora a gastar mais
e trazer menos volume de compras
para casa porque o preço médio dos
produtos aumentou”, constata
igualmente o responsável da Kantar.
“O perfil de consumo mudou muito
no primeiro trimestre de 2012”, revela, identificando pequenos fenómenos, como o aumento da procura
“Há 30 anos que a reposição de gerações não é feita em Portugal”, alertou Fernando Ribeiro e Castro, presidente da APFN, evidenciando o défice demográfico de 1,2 milhões de
crianças e jovens em Portugal. “Mas
pior do que a situação demográfica
é a falta de preocupação com isso,
porque o problema não é só de sustentabilidade da Segurança Social, é
um problema da própria sociedade”, alega o presidente da APFN.
Por isso, Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da APFN, defende que
“todos temos de ser agentes da mudança e ser criativos para mostrar
não só o que de mau pode acontecer, mas também o que de bom pode acontecer se forem tomadas as
medidas certas para inverter o défice demográfico do país”.
ID: 42160553
06-06-2012
Ideias para registar
“PORTUGAL TEM DÉFICE DEMOGRÁFICO
DE 1,2 MILHÕES DE CRIANÇAS E JOVENS”
FERNANDO RIBEIRO E CASTRO
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
DE FAMÍLIAS NUMEROSAS
Tiragem: 18000
Pág: 11
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 28,52 x 34,23 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
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Demografia
e economia
em análise
Precupados com a evolução demográfica do país,
vários participantes na conferência aproveitaram
a ocasião para expor os seus pensamentos sobre
o tema e ouvir os comentários dos especialistas
convidados
Rita Campos e Cunha, Alban D’Entremont e Fernando Castro
Há 30 anos que a reposição de gerações não
é feita em Portugal. Portugal tem um défice
demográfico de 1,2 milhões de crianças e jovens
e pior do que a situação demográfica é a falta de
preocupação com isso. Este não é só um problema
de sustentabilidade da Segurança Social,
é um problema da própria sociedade.
“AS PESSOAS ESTÃO A CASAR
E A TER FILHOS MAIS TARDE”
RITA CAMPOS E CUNHA
CHAIRMAN DA CONFERÊNCIA
Pedro Saraiva Frazão e Francisco Vilhena da Cunha
Ana Cid Gonçalves, José Veiga de Almeida e Carlos Seixas
da Fonseca
Francisco Ribeiro e Jorge Líbano Monteiro
Marieta Seixas da Fonseca, Mafalda e Benedita Calvão
Raquel Ribeiro, Cesaltina Camilo e José Veiga de Almeida
Filomena Oliveira, Ana Teixeira de Sousa e Ana Cid
Gonçalves
Flávio Paiva e José Cid Gonçalves
Guilherme Borba e João Pereira do jornal OJE
A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou, tal como o seu nível educacional,
mas aumentou também a incerteza quanto ao
mercado de trabalho. As pessoas estão a casar
mais tarde, a ter filhos mais tarde e o número
de filhos, naturalmente, diminui.
“AS FAMÍLIAS NUMEROSAS
DEVIAM TER MAIS BENEFÍCIOS”
ALBAN D’ENTREMONT
PROFESSOR DE GEOGRAFIA ECONÓMICA
E GEOGRAFIA HUMANA
É preciso que a opinião pública e os políticos
tomem consciência da situação demográfica em
Portugal. As famílias numerosas deviam ter mais
benefícios porque os seus filhos são um benefício
para a sociedade. Não se trata de obrigar mulheres
a ter filhos, mas de dar-lhes facilidades, caso elas
queiram ter filhos.
“AS DESPESAS COM SAÚDE
VÃO CONTINUAR A CRESCER”
ISABEL VAZ
PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA
DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
A longo prazo, as despesas com a Saúde vão continuar a crescer. Como gerir o aumento da despesa
com a Saúde se os impostos são insuficientes? Como
aumentar a eficiência na prestação de cuidados de
saúde? O modelo do Serviço Nacional de Saúde criado há 30 anos foi uma conquista civilizacional muito
grande, mas a solução está esgotada e há que pensar
noutra.
“O PERFIL DE CONSUMO MUDOU
NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2012”
PAULO CALDEIRA
DIRETOR DE MARKETING DA KANTAR WORLDPANEL
Os consumidores estão a gastar mais, mas trazem
cada vez menos volume de compras para casa
porque o preço médio dos produtos aumentou.
O perfil de consumo mudou muito no primeiro
trimestre de 2012. Nasceu o “smart downtrader
shopper”, que vai crescer em 2012-2014.
ID: 42160553
06-06-2012
Tiragem: 18000
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País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 22,19 x 6,33 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 3 de 3
CONFERÊNCIA “DEMOGRAFIA E ECONOMIA – O FUTURO DECIDE-SE HOJE”
“PIOR DO QUE A SITUAÇÃO
DEMOGRÁFICA É A FALTA
DE PREOCUPAÇÃO COM ISSO”
REPORTAGEM
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“Pior que a situação demográfica é a falta de preocupação com isso”